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Rousseau e a Teoria da Autogestão Social Page 2 of 13
Jacques. O para desconhecer sua contribuição para uma teoria da autogestão social. As razões da
Contrato Social. produção intelectual de Rousseau só podem ser compreendidas através de toda uma
São Paulo, Martins
Fontes, 2001.
análise do seu processo histórico de vida no contexto sócio-histórico no qual ele viveu,
o que não pretendemos realizar aqui.
Viana, Nildo. O
Pensamento O que queremos ressaltar é que a relação entre Rousseau e a teoria da autogestão
Político de social é bastante complexa e que deve ser analisada historicamente. Rousseau não é
Rousseau. In:
BARBOSA, Walmir
um precursor da teoria da autogestão social, pois sua concepção não apontava para a
(org.). Estado e transformação social, elemento inseparável de tal teoria. É claro que aqui não se pensa
Poder Político – Do a autogestão social como mera “gestão operária” de empresas ou “democracia direta”.
Pragmatismo Autogestão social significa o autogoverno coletivo e generalizado em uma sociedade, o
Político à Idéia de que pressupõe a ruptura com o Estado e o mercado, elementos antitéticos à autogestão
Contrato Social.
Goiânia, Ed. da
social. Por conseguinte, a dinâmica da autogestão social é uma nova sociedade, com
UCG, 2005. relações de produção e formas de regularização radicalmente diferentes das existentes
na sociedade capitalista. No capitalismo, a produção de mais-valor é o seu elemento
fundante e no comunismo, é a autogestão social (Bernardo, 1975).
O pensamento de Rousseau é uma expressão ideológica da visão burguesa de mundo,
embora com um certo radicalismo que o colocava a frente de outros ideólogos da
burguesia de sua época, os representantes do iluminismo. E é justamente este
radicalismo que coloca a existência de uma relação entre Rousseau com a teoria da
autogestão social, que não é uma relação de precursor, pois sua perspectiva era outra,
já que o proletariado ainda não havia se desenvolvido o suficiente para ter sua
expressão teórica ou política mais desenvolvida. Rousseau se relaciona com a teoria da
autogestão social ao colocar – e não resolver, pois serão outros que irão resolver o
problema colocado por ele adequadamente – o problema da propriedade privada, cuja
solução reside não no nivelamento da propriedade e sim em sua abolição, tal como
Marx, Proudhon, entre outros, propuseram posteriormente – e na preocupação com a
vontade geral e a soberania do povo.
A questão da vontade geral foi ressaltada por Guillerm e Bourdet (1976), embora a
abordagem rousseauniana seja metafísica e que toma as vontades particulares apenas
como diferentes, sem perceber que na sociedade capitalista, elas são antagônicas e
que por isso somente uma ruptura revolucionária que destrua as bases desta sociedade
é que poderia proporcionar um interesse coletivo não antagônico. A questão da
soberania está intimamente ligada à questão da vontade geral, mas também não tem
solução no pensamento de Rousseau, pois o soberano convive com o governo e este,
tal como o próprio Rousseau reconhece, possui a tendência de monopolizar o poder,
embora não seja uma questão de tendência e sim de essência: o governo governa...
Assim, a abolição do governo e das bases da sociedade capitalista (relações de
produção capitalistas) não são propostas por Rousseau e por isso ele não defende a
formação de uma sociedade autogerida. Porém, ele coloca problemas fundamentais
sem resolvê-los: o da propriedade privada – principalmente em seu Discurso Sobre a
Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens (1989) – e o da
soberania ou, em termos mais adequados e atuais, o da decisão coletiva, tal como se
vê em O Contrato Social (2001).
Assim, Rousseau colocou problemas que só poderiam ser respondidos adequadamente
no futuro, em um contexto histórico no qual o proletariado fosse uma força política
poderosa e esboçasse suas tentativas de revolução, o que faria surgir sua expressão
teórica, o marxismo, bem como o anarquismo. Assim, Rousseau não é um precursor da
teoria da autogestão social por simplesmente não ter apontado para a sua possibilidade
efetiva, mas apenas apresentado alguns elementos abstratos que possuem alguma
semelhança com elementos da autogestão social. A sua grande contribuição foi ter
colocado determinados problemas que não pôde responder devido às limitações de sua
consciência burguesa e que os pensadores socialistas posteriores, ao conseguirem se
desvencilhar de tais limites por expressarem a perspectiva de outra classe social – o
proletariado, conseguiram materializar uma resposta proletária e inaugurar a teoria da
autogestão social. Porém, o mérito de colocar os problemas e ser um ponto de partida
para reflexões que buscam respondê-los, faz de Rousseau um dos maiores pensadores
do século 18 e um pensador político que contribuiu com uma problematização que seria
o ponto de partida para a teoria da autogestão social, uma superação do pensamento
rousseauniano. A ruptura com o pensamento de Rousseau é um passo necessário para
a criação de uma verdadeira teoria da autogestão social e ele não possuía uma
consciência antecipadora que não tinha as bases sociais para existir naquele momento
e por isso a relação de Rousseau com a teoria da autogestão social não é a de um
antecessor ou precursor e sim o de um obstáculo que deve ser ultrapassado, o que não
lhe retira o mérito da problematização que realizou e foi desenvolvida num sentido
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proletário e revolucionário pelos teóricos da autogestão social. A teoria da autogestão
receber os social conservou a problematização de Rousseau mas não suas respostas abstratas e
informes mensais que não ultrapassaram os limites da sociedade burguesa.
da Revista Espaço
Acadêmico
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