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Resumo:
O presente artigo aborda as implicações da produção do chamado “boi verde”, tida como
ecológica. É feito um paralelo com a problemática ambiental, a chamada globalização e a questão
agrária brasileira para indagar se, de fato, é possível qualificar de ambiental e sustentável uma
atividade tida como impactante. O texto destaca a contradição que representa a certificação social
e ambiental para esta atividade uma vez que ela retira a vegetação, imobiliza grandes extensões
de terra e gera poucos empregos.
Introdução
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engenheiro agrônomo; mestre em ciência ambiental pelo Procam-USP; analista agrário junto ao INCRA-
SP; alyjunior@itelefonica.com.br
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economista, professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp, peramos@unicamp.br
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recursos hídricos, devido a produção ser realizada com base no confinamento em grandes
criatórios.
No caso brasileiro, a associação entre a criação de bovinos e a questão ambiental tem um
rebate na questão agrária. Isso acontece por que se respalda uma atividade tida como impactante
sobre o meio ambiente, por se associar ao desmatamento das florestas tropicais, e por necessitar
de pouca mão-de-obra.(Folha de São Paulo, 2004)
Dessa forma a moderna pecuária de corte feitas em grandes áreas (de forma extensiva)
porém, com a redução da idade de abate e aumento da lotação de animais nas pastagens (de
forma intensiva) está ganhando uma nova dinâmica e uma certificação ambiental e sanitária.
Esta nova situação contribui para agravar a resolução de um dos principais elementos da
questão agrária brasileira: a inclusão econômica e social da mão-de-obra excedente.
A discussão sobre os sistemas de produção de carne bovina de corte está relacionada com
a forma de como ocorreu a implantação portuguesa na América Latina, através das grandes
unidades de exploração, dada a abundância de terras e a quase inexistência de mão-de-obra. E foi
por este meio que se constitui a teia de interesses e de poder sobre o qual nas fases subseqüentes
da história do País girariam as decisões sobre o desenvolvimento nacional, principalmente do
meio rural. (Furtado, 1972)
Não é possível falar de pecuária bovina de corte no Brasil se não se fala da grande
propriedade e não se pode falar de desenvolvimento ambientalmente sustentável se não se
enfrenta o debate sobre os impactos que a produção de carne bovina ocasiona sobre o meio
ambiente.
No caso brasileiro, e de outros países subdesenvolvidos, esta atividade está diretamente
relacionada com a destruição das florestas tropicais (principalmente a o Centro-Oeste e a região
Amazônica), chamada por alguns de “conexão hamburguer”, e com a valorização imobiliária
facilitada pela pecuária bovina extensiva, já que ela é pouco intensiva em capital e garante a
ocupação da área.
O crescimento das exportações de carne bovina a partir da disseminação da doença da
vaca louca pela Europa abriu para o Brasil a possibilidade da produção e exportação de carne
certificada avalizada por Ong’s e outras certificadoras ambientais.
Novaes, citando o relatório elaborado por Mark Muller para o Instituto para a Agricultura
e Políticas Comerciais, dos Estados Unidos, afirma que para o caso da soja, será ganhador no
aumento da produção o país que estiver disposto a suportar os baixos preços pagos pelo produto e
um maior grau de dano ambiental, podendo amenizar essa situação repassando esses custos para
os seus contribuintes. Essa afirmação permite traçar um paralelo para outras commodities como a
carne bovina, cujo preço no mercado internacional é declinante. (Novaes, 2000)
Este autor, revela um meio pelo qual a globalização impacta sobre a agricultura e o meio
ambiente, é o caso de uma nova divisão internacional do trabalho que está se esboçando. A idéia
de reconstruir plataformas exportadoras de produtos agrícolas empurra países como Austrália,
Brasil e Argentina na direção de retornar ao que se chamava antigamente de um modelo primário
exportador e arcar com os custos ambientais dessa condição. (Graziano da Silva, 1998; Furtado,
1992)
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O consumo mundial de carnes tem crescido continuamente desde 1980, porém, esse
aumento está mais relacionado com o consumo das carnes de frango e suínos. O consumo de
carne bovina tem aumentado muito lentamente no mundo como um todo, a exceção fica por
conta da Ásia. (IEL-Sebrae-CNA, 2000)
Em dezoito anos a produção mundial saltou de 45,5 milhões de toneladas, em 1980, para
53,7 milhões de toneladas, em 1997. Nesse mesmo período a produção de carne bovina na área
da União Européia caiu de 8,5 milhões de toneladas para 7,9 milhões de toneladas. Nos EUA, há
quase vinte anos a produção de carne bovina se encontra estagnada em 19 milhões de toneladas e
as exportações têm compensado a queda do consumo interno. (Gazeta Mercantil, 22/08/01; IEL-
Sebrae-CNA, 2000)
Existem duas características marcantes com relação ao consumo mundial de carne bovina.
A primeira diz respeito a uma mudança nos padrões alimentares por que tem passado a
sociedade, influenciada principalmente pelo crescimento da renda, pelas mudanças nos preços
relativos das carnes concorrentes (frango e suínos) e também, por uma preocupação crescente
com a saúde e, com a conservação do meio ambiente.
A segunda característica está diretamente relacionada à primeira e diz respeito à
estabilidade esperada no consumo de carne bovina no futuro. Efeitos compensatórios entre as
regiões desenvolvidas e as em desenvolvimento do mundo, explicam porque o consumo parece
ter atingido uma certa estabilidade. (IEL-Sebrae-CNA, 2000; Novaes, 2000; May, 1997)
Com referência a influência do preço, na opção entre adquirir carne bovina ou suas
substitutas, é importante destacar que este é um dos elementos mais importantes que influenciam
a demanda.
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Apesar do avanço da carne brasileira no mercado internacional, ela ainda sofre várias
restrições quanto a sua entrada nos países desenvolvidos: os Estados Unidos, o Japão e o Canadá
não importam carne in natura brasileira. A União Européia (UE) cobra uma tarifa de 12,8% sobre
o valor do produto. Com relação a carne bovina industrializada, os EUA cobram 29% sobre o
valor do produto, o Japão 25,9% e a U.E. cobra uma tarifa de US$ 2.200,00 por tonelada
importada. (Gazeta Mercantil, 11/09/2001)
Esse é um dos problemas que se buscam superar nas negociações levadas a cabo pelo país
em termos da sua adesão a alguns dos blocos econômicos (Alca ou Mercado Comum Europeu)
ou pela via das certificações sejam elas de caráter ambiental, pureza de raça, etc.
Inmetro, por prestação de serviços de qualidade e está certificando carne para as grandes redes de
supermercado, como é o caso do Grupo Pão de Açúcar.
Outro campo de ação do Fundepec será a certificação de carne orgânica no Brasil. Em
2002, o Fundepec passou a certificar frigoríficos aptos a abaterem o “Red Beef Conection” um
modelo de carne, ainda em estudo, 5/8 européia e 3/8 zebu, sempre com sangue angus, que será
rastreada da fazenda ao supermercado.
A segunda experiência em andamento está localizada na região do Pantanal,
principalmente no Estado do Mato Grosso do Sul. Ali, com o apoio do Governo do Estado, está
sendo desenvolvido o Vitelo do Pantanal (Vitipan), que será criado em pastos naturais, sem
rações. A meta é abater o animal com cerca de 180 quilos, com idade de 7 a 12 meses. (O Estado
de São Paulo, 15/08/01 e; 07/01/04)
Os atores envolvidos na criação do vitelo orgânico pantaneiro consideram que este é um
produto sofisticado, criado para o mercado internacional e para o consumidor exigente do Brasil
A terceira experiência se localiza na região do Triângulo Mineiro, onde está sendo
produzido o Boi Verde Mineiro, que deverá receber o selo Tropical Beef. Esta produção
certificada se dá em torno do Núcleo de Criadores de Novilho Precoce do Triângulo Mineiro. (O
Estado de São Paulo, 15/08/01)
Com relação ao que se pode conceituar com produção carne “verde” ou “orgânica”,
Darolt (2001) e Melado (s/d), consideram que ela é resultante da pecuária a campo, que exclui o
uso de agrotóxicos no controle das pragas do pasto e do gado, e minimiza o uso de
medicamentos. É necessariamente uma carne livre de resíduos químicos, resultantes da aplicação
de defensivos, antibióticos, aditivos alimentares ou modificações orgânicas. Além disso, é
preferível que ela seja obtida de um animal jovem, que tenha nascido e crescido em um ambiente
confortável e acolhedor, que mais se aproxime de seu hábitat ideal.
Ainda admite-se neste sistema de criação que o animal receba sal proteinado e que fique
semi-confinado no fase final da engorda. Essa receita permite levar os bovinos ao abate aos 18
meses de idade e produzir uma carne de qualidade comum custo de R$ 35 por arroba. Esse valor
é cerca da metade dos gastos realizados pelos criadores dos Estados Unidos e Austrália. (Globo
Rural, ago, 2001; Darolt, 2001; Melado s/d)
O presidente do frigorífico Independência, Antonio Russo Neto, considera que o boi verde
é a terceira revolução vivida pela pecuária nos últimos trinta anos, depois do sucesso da
braquiária nas pastagens e da redução na idade de abate. (Gazeta Mercantil, 2001, Mielitz Netto,
1994)
No Brasil, o IBD (Instituto Biodinâmico) é um dos agentes que respondem pela
certificação do boi verde. O sistema de produção veta o uso de agrotóxicos e fertilizantes
químicos, substitui medicamentos por homeopatia e fitoterapia e conta com rastreabilidade
completa desde a fazenda até o frigorífico. (Gazeta Mercantil, 2001)
Considerações Finas
O aumento da exportação de carne bovina pelo Brasil é mais um reflexo da crise dos
sistemas de produção desenvolvidos na Europa que não vem acompanhado de um aumento no
consumo desse produto e da diminuição de barreiras protecionistas (tarifárias e não tarifárias) dos
blocos U.E. e Nafta.
Já com relação a transferência da produção de carne bovina para o Brasil, esta parece
estar relacionada ao papel que o Brasil no caso comércio internacional de produtos agropecuários
com a Alca e a União Européia tenderá a ficar com as atividades que provocam maior impacto
sobre o meio ambiente.
No Brasil esse “boom” da produção de carne bovina vem ganhando contornos ecológicos
pela sua característica extensiva, que produz uma baixa lotação de animais por hectare e garante
uma alimentação a pasto. Isso só foi possível devido a imobilização de extensas áreas agrícolas.
Este surto exportador aliado ao advento da “certificação ambiental” conferidos à produção
de carne bovina, que ajuda a firmar o conceito do direito de não produzir, contribuem para
dificultar a resolução de problemas históricos que estão relacionados com a formação da nação
brasileira, o do desenvolvimento do mercado interno como elemento para impulsionar o
crescimento do país e o da garantia dos direitos de cidadania –principalmente ocupação produtiva
e renda- para a maioria da população excluída, que para serem alcançados passam
necessariamente, como afirmou Caio Prado, pela realização de um amplo processo de reforma
agrária.
Por último, também é importante afirmar que a produção ecológica de carne bovina para o
mercado internacional, por exigir certificação ambiental e impor um pacote para a sua produção,
não representa uma ampla oportunidade de acesso àquele mercado para o conjunto de pecuaristas
brasileiros.
Bibliografia