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José Aristides da Silva Gamito

Uma
Metáfora do Divino

Caratinga
2006
INTRODUÇÃO

A presente dissertação pretende refletir sobre o divino e a possível relação do homem com Deus. O
método empregado será o metafórico. A metáfora constitui o modo de expressão mais adequado para tratar do
divino. Antes de discorrer sobre o assunto algumas considerações sobre o método serão necessárias.
Este texto não pretende dizer verdades sobre Deus. A metáfora a ser desenvolvida situa-se no campo
afetivo-existencial. A tradicional tentativa de construir discursos racionais sobre Deus pode incorrer em
diversos tipos de frustrações. As metáforas respondem a um dado momento, mas não se prendem a ele, têm
apenas um caráter mistagógico. Remetem-nos a uma dimensão de sentido do mistério. Elas não dizem tudo
que é a realidade, apontam para o sentido central. Transformá-las em princípios dogmáticos é um
procedimento inadequado. O discurso religioso é habitualmente metafórico.
O modo como o Ocidente encarou o discurso religioso resultou numa perda de sentido com o advento da
modernidade. O conhecimento religioso foi abordado num método que é estranho à sua natureza. Por esta
reflexão queremos convidar o apreciador não para pensar Deus, mas para senti-lo. Esta postura de maneira
nenhuma exclui a dimensão racional, somente salienta que não é totalmente racional. Experimentar Deus tem
sentido e não dá margem para afirmá-lo como dogma. Os farejadores de heresias se escandalizam quando
propomos tal discurso, porém este caminho não é estranho ao cristianismo. A linguagem dos místicos é
metafórica.
A metáfora não é absoluta, é transitória. O interlocutor no discurso metafórico deve encará-lo como um canal
que insinua uma realidade mais profunda, contudo dita de modo inadequado. A metáfora é uma mediação
despretensiosa, não trai a comunicação. Seu intérprete é que poderá traí-la. Se as metáforas são absolutizadas
e confundidas com a própria realidade que comunicam, tornam-se sem sentido.
A teologia é uma ousadia. Não se pode afirmar racionalmente princípios sobre Deus. A divindade se situa no
horizonte da gratuidade. Não há provas lógico-demonstrativas sobre a realidade e comunicação de Deus. É
contrário ao discurso sobre Deus fazer apologética, a atitude é de escuta atenta e de sentir profundamente a
realidade. A convicção sobre essa realidade nasce da poesia, das impressões da existência, do sentido do nosso
existir. É tão evidente que se torna obscuro. Existe um quid na inesgotável busca de explicação e de experiência
do universo e da nossa própria personalidade, aí reside o sentido do divino. A relação ao partir do horizonte
humano se dá de forma pessoal, para fortalecê-la nomeamos o inominável: Deus.
Essa exposição sobre a natureza do conhecimento do divino não pretende abandonar a razão e nem dizer que é
inútil pensar sobre Deus. É tão útil essa tarefa que a realizamos através desta dissertação. Porém, se Deus é
gratuidade nada pode resultar em dogmas no final de uma investigação teológica, somente a experiência do
sentido.
Portanto este texto tem um caráter desconstrucionista adotará a metodologia do sentido e não da verdade, será
antidogmático e mais mistagógico. Não podemos apreender Deus, já somos apreendidos pela sua realidade.
Mas o homem é o grande caçador do universo e busca incessantemente o significado das coisas. A experiência
de Deus não escapa de sua insaciedade de conhecimento.

1. A GÊNESE DA EXISTÊNCIA HUMANA

A primeira manifestação do divino deu-se no ato da existência. A partir daqui cabe uma metáfora sobre
o divino. Para recuperarmos a experiência religiosa original há necessidade de desconstrução de muitos
conceitos e de preconceitos. Principalmente preconceitos em relação às religiões orientais. Toda realidade está
em Deus. Esta consideração anula o princípio da criação a partir do nada. Na verdade há que se evitar o termo
criação. Simone Weil nos sugere a palavra decréation. No ato existencial do cosmos a divindade se afasta e se
desdobra sobre si para em si existir a totalidade. O afastamento doador da existência confere à “criação”
liberdade e gratuidade. Desde então o cosmos é uma realidade autônoma dentro de Deus. Esta inserção não
tolhe a autonomia, não é asfixiante, é pura gratuidade. O universo evolui de maneira surpreendente para Deus.
E este em torno do universo e afastado simultaneamente se apresenta maternalmente.
O desdobramento do divino permite a liberdade ao homem. A história é independente. O universo se
situa no útero de Deus. A divindade cede em si um espaço objetivo para nele existir a totalidade. Isso constitui
um momento de alteridade divina. O tempo brota na eternidade por necessidade querida por Deus. A grande
explosão geradora do universo é uma ruptura da solidão divina. O outro com leis próprias numa tensão
dialética se relaciona com Deus. Esta autonomia provoca admiração em Deus. A alteridade exigiu um
afastamento para doação de liberdade, porém a consciência profunda do homem guarda um ponto de
comunhão com Deus (o Selbst).
O universo surge do amor não-contido de Deus, que se dispõe à abertura para o objetivo com o qual
fará comunhão, tornando-se o bem-amado. O desdobramento progressivo da alteridade do divino resultou na
aparição do homem, que é o ponto central da objetividade do outro de Deus. A curvatura do divino sobre si
mesmo dá liberdade e faculdade ao homem de construir um universo derivado. A epifania criacional só pode
ser pensada a partir de metáforas, não podemos procurar descrições físicas desse evento. O fato se refere a um
conhecimento pré-consciente, e isto é racionalmente impossível.
A matéria primitiva continha potencialmente o universo na sua totalidade extrema possível. O
afastamento e a tomada de distância por parte de Deus é uma atitude própria da alteridade em quem ama. A
gratuidade divina e a liberdade humana começam perfazer uma trajetória de ações com sentido no tempo e no
espaço, à qual chamamos de história. Esta é uma construção coletiva de sentido para o universo e para a
existência humana. A epifania criacional é do amor incontível divino que realiza um momento de alteridade,
afastando-se de si, abrindo-se para o outro, cria em si o finito. A pós a criação, Deus não se esconde com o
afastamento, continua presente mediado pela temporalidade, comunicado pela profundidade da consciência
do homem. Cada cultura desenvolveu sua mediação religiosa, captando os apelos do divino no cosmo. A
presença não constringente, por isso parece ausência, ela é gratuita.
Portanto, a idéia de providência divina não pode ser entendida como governo do mundo por parte de
Deus, mas como co-participação o mesmo na história. Uma co-participação mediada pela perscrutação atenta
dos apelos do mistério pelo homem. A história é uma evolução espiral, irregular e multiforme, aparentemente
cíclica, na qual o progresso e o desfecho cabem ao ser humano. Deus não é um mero assistente, é o co-
participante, exerce no cosmo um papel salvífico que não sobrepõe a decisão humana, antes de tudo, supõe sua
alteridade receptiva.

2. O SENTIDO DA EXISTÊNCIA DO HUMANO

O sentido existencial constitui a segunda epifania axial do divino. Esta se refere ao presente de cada ser
humano vivente. A graça na decriação tange de modo singular toda história e humanidade toda, indiferente da
época e território. A crise original, denominada de pecado, é a crise de liberdade. O homem desajeitado na sua
subjetividade hermética se distancia da comunhão cósmica e corrompe-se pelo egoísmo. É uma crise de
sentido. Porém, cada homem experimenta este abalo de seu fundamento, assim toda geração tende a superá-la.
Na novidade cristã, Cristo a suplantou.
A existência não possui um significado em si mesma. Se o tem, só ganha explicitação através da racionalidade
humana. O homem é quem dá significado à existência. Partindo deste princípio, a cultura é a construção
histórica do fazer humano com significado. Nesta questão se insere a religião como contemplação do existir
significativo em Deus. A religião é uma das mediações instituídas do divino. O homem está criando
significados e mediações para interagir com a natureza. A mediação é temporal e não é absoluta. A matéria e a
consciência profunda são os instrumentos da mediação.
Desde os primórdios todas as culturas sentiram os apelos do divino. O homem seduzido por essas intuições
percorreu um caminho de busca de Deus. A expectativa de relação de Deus é perene, uma espera constante. O
afastamento divino produziu a gratuidade. Por coube ao homem responder primeiro historicamente à
comunicação divina. O problema do pecado que é sempre interposto na relação divino-humana é um problema
especificamente humano não atinge a realidade divina. A ruptura de comunhão nas realidades pecaminosas do
homem. O amor de Deus é absoluto e incondicional. Ele circunda a dimensão física do universo e envolve
tempo e eternidade. Esses últimos se coincidem na infinitude de Deus. Toda afirmação sobre o mistério divino
é uma ousadia, o enunciado se faz segundo os efeitos e impressões da graça na existência pessoal e na história.
Como resultado a consciência de profundidade produz um discurso revelativo, no qual o sentido fundamental
é que Deus é amor e fundamento da totalidade. As construções em cima dessa revelação são puramente
hermenêuticas.
Os grandes problemas nas religiões decorrem da impostação de princípios morais na relação com o divino. A
divindade não pode ser afirmada em contraposição ao mal. Ela reside além da moral. Situa-se numa dimensão
estética. Não se pode procurar em desfechos históricos como punições ou recompensas. A educação do crente
para a gratuidade é a tarefa mais difícil das religiões. A superação dos critérios de bem e mal soa como heresia.
Indubitavelmente, a realidade de Deus é amor. O pecado e o mal são problemas humanos que devem ser
administrados pela justiça. A liberdade e a racionalidade tornam o homem apto para a justiça. A gratuidade na
existência é um princípio geral que envolve o homem, mas transforma quem se deixa tocar por ele. O resultado
é a resignação para suportar o mal sem acusar Deus.
No reino da gratuidade as coisas porque são. A existência é o tão evidente desprovido de sentido, uma
complexidade de fascinação e angústia. O homem anuncia a realidade, atribuindo-lhe significado. A
profundidade da consciência intui o significado fundamental da totalidade – Deus. A gratuidade confere ao
humano um atributo próprio do divino, que é o amor. Há uma distinção a ser feita. A gratuidade é um
existencial. A graça é um atributo divino. A gratuidade é maneira como a graça toca a existência. No homem a
resposta à graça produza o amor e por necessidade histórica, a justiça provém da gratuidade. A racionalidade
instaura a justiça pelo fato de o agir humano ser livre, possível e agravado pelo egoísmo.
A justiça é um serviço entre os homens. O homem, à analogia da unidade cósmica, torna-se
comunitário. É uma tensão que se desenvolve na história, a tentativa de superação do egoísmo e do
isolamento. O homem forma comunidades para mediarem a justiça e o progresso mútuo. Dentro da
comunidade os serviços se condensam na forma de ministérios. A aptidão ministerial se desenvolve no lugar
ontológico de cada pessoa.
O sentido existencial é compreendido habitualmente como chamado à vida. A dignidade humana
consiste na comunicabilidade com o divino. O homem possui esta particularidade entre os existentes. Que
pode ser atributo de algum ser analógico possivelmente existente em outra região do universo. Seguindo o
caráter desconstrucionista do texto, analisemos o termo vocação. O chamado é uma metáfora tomada em
sentido dogmático. A preocupação numa reflexão orientada pela fé não deve se prender no chamado divino, já
é uma questão resolvida. O lançamento do homem na existência é um convite para inter-relação. A foco da
reflexão deve ser transferido para as respostas mediadas pelo tempo e pela cultura, isto é especificamente uma
questão institucional.
Portanto, nesta reflexão usaremos o termo responsabilidade no lugar de vocação. A existência dotada
de sentido leva o homem a uma responsabilidade. Etimologicamente responsabilidade é uma resposta.
Existem três verbos latinos da mesma raiz: respondeo significa corresponder a um compromisso solenemente
feito; spondeo é tomar um compromisso solene e respondo é resistir a, opor-se a. Este compromisso constitui
um ministério de cuidado diante da solicitação da presença dos outros. Que pode encontrar resistência. Os
homens movidos por necessidade de colaboração mútua constituem comunidades, nas quais organizam
administração dos serviços. Os representantes das comunidades tornam os mediadores que preparam,
nomeiam e confirmam os servidores. A história como sempre dialética nos mostra uma perversão dos serviços.
Em muitas épocas dignidade e função foram confundidas. Os ministros receberam dignidade superior aos seus
servidos. Estes últimos tornaram-se seus súditos. A função é uma atividade específica, que não altera a
dignidade universal da pessoa humana.
A questão do serviço ganha uma dimensão muita notável no cristianismo. Deus participou da história
manifestando-se como servidor. A responsabilidade existencial se sustenta no sentido do existir. Quando se
contempla a beleza e dignidade do cosmo e da pessoa, em seu valor inalienável, responsabiliza-se por tudo isso
em nome de Deus. A Igreja deve ser especialista em ministérios. Apesar da mediação institucional a
responsabilidade é carismática e espontânea. Recordando que o carisma se situa numa mediação cultural.
Percebe-se que a justiça é uma causa humana responsável pela efetivação do reinado divino. O amor é uma
realidade divina, mais profunda que a justiça. Porém, justiça pode ser sustentada racionalmente em qualquer
circunstância. Enquanto o amor é processo depende de uma disposição interior em longo prazo. A justiça é uma
exigência histórica, ao passo que o amor a transcende.
O julgamento não pertence à realidade de Deus. O amor se apresenta para os homens historicamente
como misericórdia. A fragilidade humana se torna relativa aos olhos da eternidade. Enquanto o mal e o
sofrimento são transferidos para esfera do puramente histórico. Deus é fundamento de todo sentido, a origem e
a confluência da humanidade. O pecador de culpado transforma-se em carente dos cuidados divinos. Na
abertura dialogal do homem, Deus atualizando nele a condição de amar.
A doutrina cristã é simples, depende somente desta dupla relação de amor humano com o divino e
humano com o humano. A primeira produz gratuidade e sentido e a segunda, a justiça e fraternidade. A teologia
complicou esses princípios com seu método racional. Muitas definições dogmáticas surgem da cristalização de
metáforas, ignorando sua transitoriedade. Uma experiência gratuita transforma em princípios de lógica e de
verdade. O fundamentalismo religioso é sempre produzido pela absolutização de uma experiência religiosa
condensada num dogma. Os critérios morais como determinantes na relação com Deus são os principais
agravantes. Assim, o diferente é abominável aos olhos de Deus, devendo ser, portanto, eliminado. A religião
na sua dimensão divina é gratuita, há exigência somente na relação inter-humana.
O outro é mediação do amor divino. As controvérsias sobre a providência divina caem por terra com o
princípio de gratuidade. Os homens são responsáveis uns pelos os outros. O mal não escandaliza o amor divino,
torna-se relativo diante do mesmo. O universo não se confunde com a realidade divina. A angústia provém de
nossas incertezas, e teremos que conviver com elas. Deus não é um problema, o para pensar Deus é que se torna
um problema. O apelo teológico é para sentir o divino. Um sentir que refaz nossas relações humanas.

3. A DESTINAÇÃO DA EXISTÊNCIA HUMANA

A finalidade e o sentido da existência são dados pelo homem. Assim como o desfecho histórico da
humanidade depende da mesma. A compreensão do sentido produz múltiplas posturas existenciais. A
Revelação não nos daria a conhecer a verdadeira finalidade? A resposta é possível por metáforas. Revelação é
intuição da consciência de profundidade. Uma imersão no assombro abissal da existência nos revela um quid.
Intuímos que a especialidade do ser humano não pode ser vã. Isto não faz o homem superior aos demais seres. A
sua singularidade está na capacidade de comunicar a sua especialidade. Todo o universo entra em comunhão
com divino.
Deus trans-temporal se epifaniza no tempo. O passado contém a epifania da Origem; o presente contém a
epifania para o homem no seu lugar ontológico; o futuro reserva, como esperança, a Comunhão Final. Na
morte toda pessoa experimenta a ressurreição para a comunhão universal na eternidade.
A tradição religiosa trabalha muito com a imaginação. Há muitas definições sobre o natural cheias de detalhes,
para uma reflexão séria isto é uma ousadia. Os arquétipos céu e inferno dificultam uma compreensão da
esperança final. A salvação é um dom universal. A dignidade salvífica da gênese e da consumação histórica é
a mesma. Os crentes estranham este pensamento por achá-lo justificador do pecado. A motivação para não
pecar não pode se vincular a punição, isto é inautêntico. A salvação não é o prêmio da boa ação. O homem
realiza o bem por já ser salvo. A vida justa é expressão da salvação na vida do homem.
A acolhida da salvação no homem produz santidade. Na inter-relação da graça. Deus participa com a
salvação e o homem com a santidade. A santidade é a acolhida ativa da salvação por parte do homem. O
pecado é um processo de desumanização fundamental. Não é transgressão de uma lei, mas destruição da
dignidade própria e da alheia. Os efeitos da salvação são existenciais, o fechamento dificulta a santidade.
Pode haver até condicionamentos culturais, que dificultam uma medida do grau de liberdade.
Na metáfora central proposta para entender a misericórdia divina, o universo é o útero de Deus. A morte é a
transcendência uterina. A vida no universo ocorre na eternidade por mediação do tempo. Com a morte toda
mediação é encerrada. A realidade fundamental e ultra-histórica é a eternidade. A vida eterna é participação
objetiva e direta da pessoa no todo divino. Não se trata de diluição pessoal no indistinto de Deus. É uma
relação interpessoal. A eternidade é a estética absoluta, não pode haver nela o mal absoluto. Então, o inferno
é absurdo. Da mesma forma o céu está vinculado a um critério moral. A eternidade é amoral. O céu é apenas
uma metáfora do eterno, muito antropomórfica. Na ressurreição acontece a transcendência absoluta da
pessoa humana. Este processo mantém a sua corporeidade e pessoalidade. A Comunhão Final faz parte da
esperança humana. A eternidade é toda realidade fundamento que circunda o universo. A eternidade
subjetiva é pessoal, é Deus. Enquanto a objetiva é fundamento da realidade existente.
E quem recusar Deus? A irresistibilidade de Deus e a universalidade da salvação só podem ser suplantadas
pela extrema liberdade humana. Nada pode ser pensado fora de Deus, e o próprio nada é impensável. A
possibilidade da ex-comunhão eterna poderá ser entendida como metáfora da solidão absoluta do homem no
eterno. A liberdade humana inclui esta possibilidade. Que não pode ser afirmada historicamente. Não existe
uma outra vida, é a mesma que transcende espaço e tempo para uma dimensão ultra-histórica. A recusa á
comunhão pode ser uma solidão eterna. A pessoa se insere plenamente na eternidade.
O tempo na eternidade é uma contradição que possibilita a liberdade humana em Deus. O divino cria o
universo em si para neste útero gerar pessoas para a plenitude do amor. O cerne da contradição é a
possibilidade da negação de Deus. Porém, esta postura não afeta o amor de Deus, a perda constitui no campo
humano. Negação da divindade é a negação da fonte de toda humanidade. Não entender aqui esta negação
como confessional, negação de artigos de fé. O sentido é mais profundo, refere-se a uma ruptura de sentido
existencial, um naufrágio do ser no abismo da existência. Por fim, a consumação histórica é uma exigência
da esperança, quando gênero humano fará o grande reencontro, no qual tudo será recuperado e instaurado o
sentido supremo do sem sentido do cosmo e da história.

4. UMA FORMULAÇÃO ÉTICA DA GRATUIDADE

A proposta desta reflexão é desenvolver uma metáfora sobre o divino. A sua pretensão não é dogmática, quer
induzir a uma dupla experiência: estética e ética. Essas afirmações se situam no campo da hermenêutica do
sentido. O objetivo não um discurso da verdade, mas do sentido. A presença de Deus na natureza é uma
constante. O que escandaliza é a incompreensão do mal, sempre com a culpa projetada no além.
A relação com o divino é uma experiência estética. Deus seduz a consciência humana pela
profundidade, gratuidade e sentido existencial. Diante da beleza cósmica, acontece uma relação mística. O
sentimento provocado no homem é a fascinação. O fascínio produz sentido e desejo de perenidade para as
coisas, induzindo a uma experiência ética. Não uma coincidência automática entre ética e estética. A
experiência com Deus é estética, acontece através da graça e do amor. É uma relação de pura gratuidade, não
exige comportamento moral. O requisito é a dignidade que já é um dom congênito.
Uma vez o homem se descobrindo salvo, a admiração estética diante da dignidade do outro salvo
imprime uma responsabilidade. É no impulso da estética que o homem assume a dignidade de seu gênero
como responsabilidade. Esta inter-relação entre os amados de Deus é marcada pela sacralidade, daí nasce a
experiência ética. Esta envolve liberdade e justiça. O amor é um estágio mais profundo, universal, porém
lento na história. Justamente por ser a máxima expressão da gratuidade, o sentimento que reflete diretamente
a realidade divina.
Ao construir esta metáfora do divino como mãe que gera para o amor, desejo enunciar a postura ética
que nasce desta consciência bem vivenciada pelo crente. Este é o princípio de gratuidade. Esta postura tem
uma sustentação nos Evangelhos. Em Mateus, capítulo 5, entre outros discursos de Jesus, o evangelista nos
dá suporte para pensarmos uma ética da gratuidade como central no cristianismo. A partir do versículo 20 há
um convite para os discípulos superarem a justiça dos fariseus, que era totalmente baseada na recompensa. A
fraternidade é uma condição para uma autêntica relação com o divino. Ao longo dos versículos percebemos a
novidade da justiça de Cristo. A reconciliação fraterna, o diálogo sincero e solicitude apontam para um
relacionamento gratuito com os outros. A espinha dorsal aparece no pedido para dar aos outros além do que é
solicitude. Este acréscimo gratuito supera a justiça farisaica. Superar a expectativa de recompensa amando os
inimigos, saudando os não-parentes, realizando além do normal esperado, é o enunciado da moral da
gratuidade. O versículo 48 conclui pedindo para se basear na perfeição divina, que é pura misericórdia. Ele dá
chuva e sol para os bons e os maus.
O princípio de gratuidade é atitude moral que reflete o amor divino. Realiza o bem pelo seu sentido
fundamental, superando as expectativas de recompensa e de classificação moral. A ética da gratuidade é uma
construção lenta na história da humanidade. Muitas pessoas, que marcaram moralmente a humanidade, a
viveram. A humanidade se aperfeiçoa na ação dessas pessoas.
A religião terá uma incidência mais prática na história quando se tornar menos moralista. Os requisitos
para isso são uma teologia poética, a verdade como metáfora do sentido e a ética da gratuidade.A espiritualidade
deverá ser vista como uma experiência do amor humano-divino. E jamais um conjunto de atitudes ditadas por
um mestre espiritual ou por uma ordem monástica. A existência humana continuará na tensão dialética, ainda
restará a tarefa árdua da construção do reinado de Deus tão cara ao cristianismo. A religião não resolve os
problemas existenciais humanos, não tem função clínica ou psicoterapêutica. É relação estética gratuita.
Na contradição existente na realidade, a fascinação e a angústia convivem paralelamente como igual
possibilidade. O conflito é constante, a religião não poderá redimir o homem disso.A ética produz a angústia.
Há um bem a ser realizado, mas não se concretiza plenamente. O mal continua acontecendo. A fascinação
cotidianamente produzida pela experiência estética faz desejar a harmonia, porém os desafios éticos distanciam
esta plenitude no desconcerto da angústia. A realidade como gratuidade não promete recompensas e consolação
para os bons. O bem não pode ser um meio. A tragédia alcança tanto o bom quanto o mau. O homem educado
para a gratuidade supera essas contradições sem se escandalizar e nem perder o sentido de fazer o bem.

5. CONCLUSÃO

Ao concluir o desenvolvimento dessa metáfora do útero, alguns pontos merecem ser destacados. A
teologia é uma ousadia, como defende Rubem Alves, deveria ser poética. O método adequado é o metafórico,
da hermenêutica do sentido e não o da razão dogmática. Portanto, a experiência é estética. Dela se aprende a
fascinar pela profundidade do real e reconhecer nele a dignidade humana. O impulso da comunhão provoca
alteridade, requer uma relação afetivo-moral com o outro. O qual não se pode julgar em nome de Deus.
Quando a eficiência do método teológico faz-se necessária a desconstrução de muitos conceitos. Os conceitos
de criação e de providência divina complicam a distinção entre a graça e a historicidade. Deus não comprime o
homem. A existência é desprovida de sentido o homem que a significa. A vida apesar da graça é sem graça. A
criação ou a proposta decréation é um momento de alteridade do divino. Deus dispõe seu amor para a
experiência do outro capaz de se relacionar com ele.
A finalidade da existência apesar de toda irracionalidade e contradição, é a comunhão universal. No meio da
contingência nasce o amor capaz de fazer comunicar o tempo e a eternidade. A gênese do universo é um ato de
dispensação do amor, que impulsiona seu objeto amado para a eternidade. A existência é imposição. Mas a
destinação do homem é livre. A salvação é graça no dar e no receber.
A relação com Deus é amor. A espiritualidade é uma dupla postura. Em relação a Deus, é estética; em relação ao
homem, é ética. A estética impulsiona o homem para a ética. A tensão existencial provém dessa inter-relação. O
homem crê e peca simultaneamente, mas a eternidade é a cura de todos os males. A responsabilidade ética exige
uma construção de um mundo de homo amans e não somente de homo sapiens. Onde a dignidade humana como
reflexo estético da divindade converta-se em cuidado ético. Por fim, o problema de Deus, uma vez intuído, está
resolvido. O problema real é o religioso. As tentativas de definir Deus e demonstrar a sua vontade são graves
empecilhos para a experiência de Deus.
Concluímos que a linguagem apta para o divino é a metafórica. E os problemas teológicos, que causam dilemas,
decorrem de uma proposição inadequada. A experiência de Deus é estética. A exigência de critérios morais na
relação com o divino deve ser desconstruída em todas suas formas existentes. A construção ética e a santidade é
que são problemas humanos impulsionados pela experiência de Deus. E o amor de Deus na história pressupõe
a mediação do outro. Tudo que expressar sobre Deus são metáforas como essa encerrada aqui.

TEXTOS DE APOIO
JOHN HAUGHT, O que é Deus? Paulinas.
SIMONE WEIL, O conceito de decréation em A Gravidade e A Graça.
EMANUEL LÉVINAS, Conceito de alteridade.
Significado de RAHAMIM.
Idéia de ATMAN e BRAHMA nos Vedas.
BÍBLIA DE JERUSALÉM, Mateus 5.

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