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FACULDADE DE DIREITO
CANOAS
2006
2
Aprovada em:
Banca Examinadora:
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RESUMO
Palavras – chave:
Homossexualidade; União estável; Direito de família; Analogia.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................8
1 AS UNIÕES HOMOSSEXUAIS E O DIREITO DE FAMÍLIA ................11
1.1 Características comuns entre as relações homossexuais e
heterossexuais ....................................................................................11
1.1.1 O vínculo afetivo ....................................................................................11
1.1.2 O vínculo patrimonial .............................................................................15
1.2 Os princípios do direito de família .....................................................18
1.2.1 A entidade familiar .................................................................................19
1.2.2 A evolução do direito de família .............................................................21
CONCLUSÃO ........................................................................................52
REFERÊNCIAS ......................................................................................54
ANEXOS ................................................................................................58
8
INTRODUÇÃO
Logo, assim como o Direito não tem como criar, e muito menos
controlar, os sentimentos dos que estão sob a sua égide, ele também não pode
negar a existência dos mesmos sob a justificativa de não se enquadrar em um
padrão que foi estabelecido há séculos atrás. É característica importante do
Direito a sua mutação para acompanhar a evolução da sociedade à sua mercê.
Podemos afirmar que todos são iguais perante a lei, e, salvo alguns
casos especiais, todos amamos da mesma forma também, mas não aos olhos
da mesma. Como diferenciar o amor homo do heterossexual? Baseado em
quais informações, sejam elas científicas, sociais ou culturais, se pode afirmar
que existe diferença entre os sentimentos apenas por eles serem direcionados
a uma pessoa do mesmo sexo?
1
OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.233.
2
DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2000.
13
3
DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2000.
14
4
RIOS, Roger Raupp. A homossexualidade no direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado :
Esmafe, 2001. p.107.
16
6
CZAJKOWSKI, Rainer. União Livre: à luz da Lei 8.971/94 e da Lei 9.278/96. 1.ed. Curitiba:
Juruá, 1997. p.103.
18
7
RIOS, Roger Raupp. A homossexualidade no direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado:
Esmafe, 2001. p.109.
19
8
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: Lei nº10.406,de 10.01.2002. 2.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2004. p.03.
20
9
“A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...]
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. [...]
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos
pais e seus descendentes. [...]” Constituição Federal, artigo 226.
10
OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
21
12
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, volume 5: direito de familia.
14.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. v.5. p.02.
23
13
PORTO ALEGRE. Tribunal de Justiça do RGS. Embargos infringente n° 7001112057.
Embargante: C.W. Embargado: Ministério Público. Relator: Des. José Carlos Teixeira Giorgis.
Acórdão 10 de junho de 2005. Disponível em:
<http://www.tj.rs.gov.br/site_php/consulta/index.php>. Acesso em 20 out. 2006
24
Tal reconhecimento pode ser visto como uma prova da evolução pela
qual passou o instituto da família, e também como uma das materializações da
evolução imensa pela qual passou o direito de família nos últimos 18 anos.
2.1 A analogia
união entre pessoas do mesmo sexo do rol de entidades familiares, isso foi,
claramente, intencional, pois já se havia discutido a idéia de inclusão da
expressão “orientação sexual” no rol das proibições por discriminação no artigo
5° da Constituição Federal, e a mesma foi duramente rejeitada. A redação
“entre homem e mulher” no parágrafo 3° do artigo 226 da Carta Magna
determinou a exclusão legislativa das uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Mas não é por isso que deixaremos de utilizar os diferentes métodos de
interpretação da lei, pois a má vontade dos entes legislativos não pode servir
de motivo para a negação de tutela por parte do Judiciário.
16
SEGANFREDDO, Sonia Maria S. Como interpretar a lei: a interpretação do Direito Positivo.
Rio de Janeiro: Rio, 1981. p.79.
29
17
“O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No
julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia,
aos costumes e aos princípios gerais de direito.” Código de Processo Civil, artigo 126.
30
Logo, podemos concluir que as lacunas da lei sempre existirão, por mais
que se tente preencher todos os espaços legislativos. Mas o mais importante
será o papel do magistrado, que deverá sempre ter a sensibilidade de saber
como solucionar e colmatar tais lacunas.
18
DINIZ, Maria Helena. As lacunas no direito. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p.18.
31
Temos como ponto inicial que a analogia pode ser aplicada onde o
objeto não seja idêntico, mas onde haja semelhança substancial entre um caso
e outro. Aí está a sutil, porém imprescindível característica: a analogia vem a
ser aplicada àquelas lides onde há uma causa de pedir que o ordenamento
jurídico desconhece, porém apresenta os mesmos pressupostos fáticos de uma
outra situação que está, sim, prevista juridicamente.
Para se aplicar a analogia, não basta apenas que o juiz aplique uma
norma que ele entenda cabível. Temos que entender tal instituto como uma
faculdade dada aos magistrados, por se partir do pressuposto de que tais
19
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua
portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p.131.
32
20
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 18.ed.2.tir. Rio de Janeiro:
Forense, 1999. p.214.
21
SILVEIRA, Alípio. Hermenêutica jurídica: seus princípios fundamentais no direito brasileiro.
4.ed. São Paulo: Leia Livros, s.d.
33
ser aplicado. Com a presença destes dois requisitos, não pode o juiz se eximir
da responsabilidade, pois estaria contrariando a própria lei, que estabeleceu a
analogia como forma válida de se resolver as lides, conforme relata Elcias
Ferreira da Costa:
22
COSTA, Elcias Ferreira da. Analogia jurídica e decisão judicial. Porto Alegre: Fabris, 1987.
p.45.
34
23
BITTENCOURT, Edgar de Moura. O concubinato no direito. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora
Jurídica e Universitária, 1969. v.1. p.105.
24
OLIVEIRA, José Sebastião de. Fundamentos constitucionais do direito de família. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.156.
35
conceito tão amplo e tão inclusivo, esse da união estável, que a Constituição
colaborou para ajudar a regular milhares de relações que, antes dela, não
gerariam todos os efeitos desejados pelos companheiros e necessários para
uma aplicação proporcional das leis à tais uniões. Ainda assim, na maioria dos
casos, quando é declarada a união estável, se geram efeitos que vão além do
direito obrigacional. Ou seja, muitos juízes e doutrinadores ainda relutam em
utilizar a terminologia constitucional por entenderem que as uniões que não
buscaram a proteção legal do Estado só deveriam gerar efeitos meramente
patrimoniais.
uma definição legal de união estável no artigo 1° da lei 9278/96 com a seguinte
redação: “É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura,
pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de
constituição de família.” No mesmo sentido vai a redação do artigo 1723 do
novo Código Civil.26
25
VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável. São Paulo: Saraiva, 1999. p.29.
26
“É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.” Novo Código Civil, artigo 1723.
36
27
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, volume 6: direito de família. 4.ed. São Paulo: Atlas,
2004. p.59.
28
PORTO ALEGRE. Tribunal de Justiça do RGS. Apelação cível n° 70015822208. Apelantes:
D.P.G. e M.R.P. Apelado: Ministério Público. Relatora: Desa. Maria Berenice Dias. Decisão
monocrática 16 de agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.tj.rs.gov.br/site_php/consulta/index.php>. Acesso em 20 out. 2006
37
2.2.2 Requisitos
Podemos afirmar que o fato de não haver tal disposição legal é positivo
no sentido de que dá uma flexibilidade maior ao conteúdo constitucional, e
assim respeita a enorme gama de casos diferenciados entre si que chegam ao
judiciário. Como parte integrante do direito de família, não poderia a união
estável ficar atrelada uma normatização temporal que poderia se demonstrar
totalmente equivocada.
Dessa forma, temos como norte que uma relação, para ser considerada
contínua, deve estar provida de estabilidade, ou seja, deve ser uma união
sólida e com firmes propósitos não apenas de formar família, mas também de
construir uma união duradoura e longínqua. Como não se dispôs um período
mínimo para que uma relação seja considerada estável, fica a critério do
magistrado, com base nas provas apresentadas pelos companheiros, decidir se
aquela relação está revestida de estabilidade suficiente para ser enquadrada
como união estável.
Esses são os três primeiros requisitos para que uma relação possa ser
reconhecida juridicamente como união estável. Conforme vimos, tais requisitos
estão expressos em lei. Mas a doutrina ainda recomenda que se observe mais
dois critérios para que a relação possa ser considerada válida.
Entendemos que a redação do parágrafo 3° artigo 226 foi infeliz por não
respeitar os próprios princípios da Constituição Federal. Não há que se falar
em inconstitucionalidade de tal dispositivo, pois inexiste em todo o nosso
sistema legal a previsão de inconstitucionalidade de normas constitucionais, já
que o nosso sistema constitucional é rígido, e possui um tribunal pleno que tem
como sua principal função interpretar e servir de guardião para a Carta Magna:
o Supremo Tribunal Federal. Além disso, tal erro pode ser sanado, a qualquer
tempo, por meio de emenda à Constituição.
Já vimos, sob a forma de exposição, quais são os meios que podem ser
utilizados e os motivos que justificam sua utilização. No ponto atual,
comprovaremos as maneiras de aplicação das normas jurídicas existentes, a
fim de mostrar que é possível a interpretação das uniões homossexuais como
entidades familiares através do uso da analogia.
Ocorre que essa previsão legal não fez com que todos os
relacionamentos homossexuais deixassem de existir como num
passe de mágica. Ao contrário, apenas ignorou-os, como se esta
fosse a melhor forma de resolvê-los.32
32
SPENGLER, Fabiana Marion. União homoafetiva: o fim do preconceito. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2003. p.81.
42
Pode a própria Carta Magna conter um dispositivo legal que vai contra
seus princípios elencados no artigo 5º? Não seria essa previsão do artigo 226
claramente inconstitucional por violar os princípios da igualdade e da dignidade
humana? Aqui neste trabalho defendemos que sim, mas também entendemos
que tal falha pode ser facilmente suprimida com a aplicação da analogia para
enquadrar as uniões homossexuais como merecedoras da proteção do artigo
226 da Constituição Federal. A respeito disso, Débora Vanessa Caus Brandão
explana:
À primeira vista, parece uma situação fácil de ser resolvida, porém não o
é. As tentativas de reconhecimento das entidades familiares homossexuais no
judiciário vêm encontrando posicionamentos bem distintos, dependendo do
Estado onde a demanda é ajuizada, e ás vezes, até dependendo de qual
Câmara a ação for ser julgada.
reconhecer uma entidade familiar homossexual por se entender que esta não
preenche nenhum dos requisitos existentes no direito de família, configurando,
assim, simples sociedade de fato.
35
RIOS, Roger Raupp. A homossexualidade no direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado :
Esmafe, 2001. p.111.
36
DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2000. p. 93.
45
37
BRASÍL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 238.715 - RS. Recorrente: Caixa
Econômica Federal - CEF. Recorridos: R.P.C e outro. Relator: Ministro Humberto Gomes de
Barros. Acórdão 07 de março de 2006. Disponível em:
< https://ww2.stj.gov.br/revistaeletronica/Pesquisa_Revista_Eletronica.asp >. Acesso em 20
out. 2006
46
Além de ter que pensar com maior antecedência sobre eventos futuros,
como adquirir um imóvel, ou até mesmo escolher um plano de saúde que
contemple companheiros homossexuais, mesmo que duas pessoas do mesmo
sexo compartilhem tudo, ainda vão enfrentar resistências e desconfianças
sobre a verdadeira validade da sua união.
42
BRASIL. Projeto de lei nº 1151 de 26 de outubro de 1995. Disciplina a união civil entre
pessoas do mesmo sexo e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/sileg/MostrarIntegra.asp?CodTeor=15012> Acesso em 05 nov.
2006.
43
DAGNESE, Napoleão. Cidadania no armário: uma abordagem sócio-jurídica acerca da
homossexualidade. São Paulo: LTr, 2000. p.62.
50
Vemos com bons olhos tal tentativa, na medida em que ela ajudaria a
resolver casos de partilha e sucessão de patrimônio e direitos em caso de
morte ou separação. Mas não podemos nominar como “parceria civil” uma
relação estável entre duas pessoas adultas, até porque tal nomenclatura
denota um sentido de “sociedade”, e sendo assim, não se necessitaria uma lei
específica, pois poderíamos continuar apenas a tratar as uniões homossexuais
como sociedades de fato.
44
BRASIL. Projeto de emenda à Constituição Federal n° 70 de 02 de setembro de 2003. Altera
o parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição Federal, para permitir a união estável entre casais
homossexuais. Disponível em <http://www6.senado.gov.br/mate/servlet/PDFMateServlet?
s=http://www.senado.gov.br/sf/ATIVIDADE/Materia/MateFO.xsl&o=DESC&m=61093> Acesso
em 05 nov. 2006.
45
Folha OnLine, São Paulo, 2006. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u84800.shtml> Acesso em 12 nov. 2006.
46
A respeito disso, vide matéria da revista Super Interessante. Disponível em:
<http://super.abril.uol.com.br/super/edicoes/202/capa/conteudo_43624.shtml> Acesso em 05
out. 2006. Ver anexo B.
51
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
COSTA, Elcias Ferreira da. Analogia jurídica e decisão judicial. Porto Alegre:
Fabris, 1987. 116 p.
DINIZ, Maria Helena. As lacunas no direito. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
317 p.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. 23.ed. São Paulo: Saraiva,
1998. v.6. 416 p.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, volume 6: direito de família. 4.ed. São
Paulo: Atlas, 2004. 497 p.
57
ANEXO A
FUNDAMENTAÇÃO LEGAL:
Ação Civil Pública nº 2000.71.00.009347-0
(*) Republicada por ter saído com incorreção, do original, no D.O. nº 110-E, de
8/6/2000, Seção 1, pág 4.
ANEXO B