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Especial Vestibular

OS FILÓSOFOS MAIS INFLUENTES DO MUNDO CONTEPORÂNEO.

Para entender a sociedade em que vivemos é necessário conhecer as ideias que estão por trás dela. Nesse
sentido, é especialmente interessante conhecer o pensamento de filósofos que, desde o século XVII, transformaram a
visão que o homem tinha de si mesmo e do mundo ao seu redor. Conheça esses pensadores que fizeram a cabeça do
mundo contemporâneo

JOHN LOCKE:
Todo conhecimento provém da experiência - Filósofo inglês que
influenciou muitos pensadores de seu tempo, John Locke era contrário
a qualquer forma de autoritarismo e via na educação um poder
transformador. Acreditava que a mente humana ao nascer é como uma
folha em branco (no quadro, Sibila com a Tabula Rasa, de Velásquez)
que deve ser preenchida pela experiência

JOHN LOCKE e o empirismo


britânico
Todo conhecimento provém da experiência
Uma das questões mais antigas que a filosofia tenta responder é "Qual a fonte do conhecimento humano?". Como
podemos saber se Deus existe, que dois mais dois são quatro ou que o céu é azul? Será que já nascemos com algumas
informações a respeito do mundo?

A moderna biologia genética nos diz apenas que possuímos uma história, inscrita em nossos genes, que irão determinar
algumas predisposições para desenvolvermos certas doenças hereditárias, tendências sexuais e comportamentais ou
mesmo o gosto por sorvete de chocolate.

Mas aquilo que somos depende de uma combinação de fatores genéticos com o ambiente em que fomos criados.
Seríamos, portanto, o resultado das escolhas que fizemos segundo as imposições de nosso patrimônio genético e das
oportunidades que temos na vida.

Mesmo assim, a ciência contemporânea ainda não responde às perguntas a respeito de como conhecemos as coisas e
como podemos estar seguros de possuir um entendimento verdadeiro. Filósofos como Platão (428/27-347 a.C.), Santo
Agostinho (354-430), e Descartes (1596-1650) acreditavam na doutrina das ideias inatas, ou inatismo, que sustenta que
o homem nasce com determinadas crenças verdadeiras.

Segundo eles, a alma humana teria uma espécie de repositório de informações conferidas por Deus, e isso validaria as
certezas sobre as coisas do mundo. Platão, no diálogo Fédon, diz que conhecer é recordar-se daquilo que nossas almas
imortais, que habitavam o Mundo das Ideias, já sabiam, mas que ao nascer nos esquecemos.

Contra essa doutrina, John Locke (1632-1704), um dos mais importantes filósofos ingleses modernos, escreveu um livro
chamado Ensaio Acerca do Entendimento Humano (1690), que inaugurou a escola chamada Empirismo Britânico. Na
época, Locke foi muito influenciado pela ciência moderna, baseada em observações.

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Tábula rasa
Para Locke, o princípio do inatismo, além de não provar nada, é completamente desnecessário para uma teoria do
conhecimento. Se realmente nossas almas imortais compartilhassem um mesmo estoque de informações, por que
todos não teríamos as mesmas concepções científicas de mundo, por exemplo? Por que os europeus desenvolveram a
ciência, enquanto índios que habitavam as Américas, não?

Segundo Locke, Deus nos conferiu apenas as faculdades para que pudéssemos adquirir conhecimento, dentro de certos
limites. Contrariando o inatismo, ele afirma que, ao nascermos, somos como uma folha em branco - "tábula rasa",
diziam os empiristas - que é escrita na medida em que vivemos e temos experiência de mundo:

"Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem
quaisquer ideias; como ela é suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do
homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do
conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela
deriva fundamentalmente o próprio conhecimento." (1978, I, II, ii).
Basicamente é isso que o empirismo sustenta: contrapondo-se ao racionalismo, que privilegia a razão como fonte
segura do conhecimento, esta escola enfatiza o papel da experiência. Junto com Locke, fazem parte do empirismo
britânico os filósofos George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e John Stuart Mill (1806-1873).
Mas isso não quer dizer que, para Locke, a razão não tem nenhuma função no processo cognitivo e que apenas
aprendemos por meio das sensações. Seria um absurdo dizer isso, porque equivaleria a dizer que um matemático, para
saber que um triângulo possui três lados, teria que encontrar um triângulo andando de metrô ou vagando pelo bosque.

LIMITES DO CONHECIMENTO NAS IDEIAS

O que Locke diz é que somente a experiência nos fornece as ideias que habitam nossos pensamentos. Em outras
palavras, que o conhecimento tem um início externo, fora do homem.

Ideias, segundo o filósofo inglês, são os objetos do conhecimento, isto é, a matéria da qual o conhecimento é formado.
Elas são percebidas pelos sentidos, mas é o entendimento que confere o, por assim dizer, acabamento final.

Todo conhecimento, portanto, está fundamentado na experiência, que nos fornece as ideias que constituem tudo
aquilo que podemos saber sobre o mundo. As fontes dessas ideias, diz Locke, são duas:
Sensação, ou sentido externo: é a percepção de objetos sensíveis e particulares, como o gosto de uma maçã, a
sensação de uma xícara quente de café, o som da voz de nossa mãe ou a visão de um pôr do sol.
Reflexão ou sentido interno: é a percepção da operação de nossas mentes com as ideias já ali depositadas pela
sensação, derivando as dúvidas, crenças, vontades e o conhecimento propriamente dito.

É somente com o segundo estágio, da reflexão, que atingimos o entendimento das coisas; mas, sem as janelas abertas
para a luz vinda da experiência, nossa mente permanece como um quarto escuro. Os limites do que podemos conhecer,
desse modo, são as ideias. Não podemos ir além delas.

Locke ainda divide as ideias em:


Simples: são as que nos chegam misturadas num objeto, mas que podem ser separadas pelos diferentes sentidos
pelos quais as recebemos: a textura lisa, o aroma perfumado, o gosto doce, a consistência firme e a cor vermelha são
ideias simples que podemos distinguir da maçã.
Complexas: quando nossa mente é preenchida dessas ideias simples, podemos formar, combinando-as, ideias
complexas, como, por exemplo, homem, beleza, maçã ou universo.
Boa parte do Ensaio Acerca do Entendimento Humano é dedicado ao exame dessas ideias simples e complexas que são
a base de todo entendimento, o que permite a Locke propor resoluções para importantes problemas filosóficos
envolvendo conceitos como espaço, tempo, infinidade, substância, Deus, liberdade e poder.

GRAUS DE CONHECIMENTO

Em resumo, diz Locke: "Conhecimento consiste na percepção do acordo ou desacordo de duas ideias. Parece-me, pois,
que o conhecimento nada mais é do que a percepção da conexão e acordo, ou desacordo e rejeição, de quaisquer de
nossas ideais." (1978, IV, I, ii).

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Por exemplo, quando sabemos que branco não é preto, ao perceber que ambas as ideias ("branco" e "preto") estão em
desacordo; ou que os três ângulos de um triângulo são iguais a dois retos, ao perceber a igualdade entre eles.
Em relação à clareza e certeza dessas afirmações, Locke classifica os graus de conhecimento em três:
Intuitivo: é aquele em que a mente percebe o acordo ou desacordo entre duas ideias imediatamente, sem a
necessidade de outras ideias. Por exemplo, quando percebo que o branco não é preto, o quadrado não é triângulo ou
1+1=2. É o tipo mais seguro e claro de conhecimento humano.
Demonstrativo: é quando a mente necessita de ideias subsidiárias para perceber o acordo ou desacordo entre outras
duas ideias - são as chamadas provas. Para saber, por exemplo, que três ângulos de um triângulo são iguais a dois
ângulos retos, preciso verificar essas medidas.
Sensível: é a percepção que temos de objetos particulares externos através dos sentidos. Apesar de Locke incluir este
terceiro tipo entre os graus de conhecimento, mesmo sendo o menos claro e seguro dos três anteriores, o filósofo diz
que o raciocínio que não for intuitivo ou demonstrativo é artigo de fé ou de opinião, não conhecimento propriamente
dito.

Com base em sua classificação dos tipos de conhecimento, Locke diz que as certezas provenientes da matemática e a
moral são indubitáveis e evidentes, pois são alcançáveis pelo raciocínio com ideias presentes na mente humana,
enquanto as ciências empíricas, como a física, que necessitam de uma verificação e confronto com a realidade sensível,
não configuram verdades universais. A teoria do conhecimento lockeana influenciou os filósofos iluministas, Kant e os
positivistas lógicos, entre outros.

Referência
LOCKE, John. "Ensaio Acerca do Entendimento Humano", em Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

DAVID HUME e o empirismo britânico: O argumento cético


que abalou a filosofia
É comum termos a impressão de que a filosofia é algo
muito abstrato, distante de nossa realidade. É o caso de
algumas metafísicas construídas com base em conceitos
que carecem de qualquer significado mais concreto.
Na história das ideias, dificilmente encontramos um
pensamento tão fatal para esse tipo de metafísica
quanto aquele que o filósofo escocês David Hume (1711-
1776) expôs em suas Investigações sobre o
Entendimento Humano (1748).
Os argumentos de Hume foram tão convincentes que
despertaram Kant de seu "sono dogmático" e
influenciaram algumas das principais correntes
contemporâneas da filosofia angloamericana.
A obra Investigações sobre o Entendimento Humano trata, essencialmente, da teoria do conhecimento, que é aquele
ramo da filosofia que busca responder questões sobre a origem e a validade de tudo que podemos conhecer.
A este respeito, Hume era empirista, ou seja, acreditava que todo conhecimento provém da experiência. Mas, diferente
de Locke, para quem a mente do homem, ao nascer, era uma "folha em branco" a ser preenchida pela experiência
sensível, Hume era também cético a respeito de uma fundamentação para o que aprendemos com base na experiência.

FONTES DO CONHECIMENTO

PARA HUME, TUDO AQUILO QUE PODEMOS VIR A CONHECER TEM ORIGEM EM DUAS FONTES DIFERENTES
DA PERCEPÇÃO:

Impressões: são os dados fornecidos pelos sentidos. Podem ser internas, como um sentimento de prazer ou dor, ou
externas, como a visão de um prado, o cheiro de uma flor ou a sensação tátil do vento no rosto.

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Ideias: são as impressões tais como representadas em nossa mente, conforme delas nos lembramos ou imaginamos. A
lembrança de um dia no campo, por exemplo.

De acordo com o filósofo, as ideias são menos vívidas que as impressões e, por isso, são secundárias: "(...) todas as
nossas ideias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões, ou percepções mais vivas."

Por isso, a experiência seria a base de todo conhecimento, que podemos chamar de raciocínio sobre questões de fato.
Enquanto que o segundo modo dos objetos externos se apresentarem à razão é chamado relação de ideias.

As ideias, por sua vez, se relacionam umas com as outras de três modos:
por semelhança (uma fotografia que nos leva a ter a ideia do fato original);
por contiguidade de tempo e lugar (o dizer algo a respeito de um cômodo de uma casa me leva a perguntar sobre os
demais); e
por causalidade (ao nos recordarmos de uma pessoa ferida, imediatamente pensamos também na dor que ela deve ter
sentido - o ferimento, neste exemplo, é a causa; a dor, o efeito).

Nas relações de ideias, o conhecido obtido é chamado de demonstrativo, intuitivo ou dedutivo. É o caso da matemática
e da geometria.

Examinemos dois exemplos dados por Hume. No primeiro, temos a seguinte proposição: "O quadrado da hipotenusa
(1) é igual à soma dos quadrados dos dois lados (2)". Ela expressa a relação entre a ideia (1) e (2), que são, ambas,
figuras geométricas.

No segundo exemplo, a afirmação "Três vezes cinco (1) é igual à metade de trinta (2)" resulta da relação entre
números: 3 x 5 (1) e metade de 30 (2).

A partir daí podemos inferir três coisas: (a) que esse tipo de conhecimento independe completamente de objetos
externos; (b) que é necessariamente correto, seguro; e (c) que sua prova é dada inteiramente pela razão: seria um
absurdo lógico dizer o contrário daquilo que é afirmado, como, por exemplo, que dois mais dois é igual a cinco, não
quatro.

Mas, e em se tratando de questões de fato, ou seja, de coisas que afirmamos acerca da realidade? Tome-se a seguinte
proposição: "As rosas são vermelhas". Nada me impede de pensar, e dizer, que as rosas são brancas, ou mesmo azuis
ou verdes. Não haverá qualquer contradição lógica, mesmo que isso não corresponda, de fato, à rosa a qual me refiro.

Em outro exemplo, dado por Hume, dizer que "O Sol não nascerá amanhã", não é menos absurdo, do ponto de vista
lógico, do que dizer "O Sol nascerá amanhã". Qual deve ser, então, o fundamento do conhecimento empírico?

Causalidade Segundo Hume, todo raciocínio empírico, sobre questões de fato, se assenta sobre relações de causa e
efeito. Na proposição "A pedra esquenta porque foi exposta aos raios solares" tenho uma afirmação que parte de duas
impressões sensíveis, uma tátil ("a pedra esquenta") e outra visual ("exposta aos raios solares"). O que une essas duas
impressões é uma relação de causalidade: a pedra esquenta (efeito) porque foi exposta aos raios solares (causa).

Portanto, para saber qual é o fundamento do conhecimento empírico, Hume precisou analisar o fundamento dessa
relação causal.

A primeira coisa que se pode dizer é que não há aqui nenhuma base lógica, dedutiva. Se tenho uma pedra em minha
mão e a solto, espero que, como efeito, ela caia no solo. Mas poderia naturalmente pensar que ficasse suspensa no ar
ou voasse em direção ao céu. Podem ser coisas impossíveis de acontecer, mas concebíveis pelo intelecto.

Isso significa que, por meio da razão, é impossível chegar da causa (a) para o efeito (b). São duas coisas completamente
diferentes: a pedra se soltar da minha mão (a) e cair no solo (b). Para relacionar duas impressões sensíveis, preciso
primeiro tê-las, isto é, preciso ver a pedra caindo no solo para, então, dizer com segurança que ela caiu porque eu a
soltei de minha mão.

Diz Hume: "O intelecto jamais poderá encontrar o efeito numa suposta causa, mesmo pelo mais acurado estudo e
exame, porquanto o efeito difere radicalmente da causa, e por isso não pode de nenhum modo ser descoberto nela

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(...). Uma pedra ou um pedaço de metal erguido no ar e deixado sem nenhum apoio cai imediatamente; mas quem
considera esse fato a priori poderá descobrir na situação alguma coisa que sugira a ideia de um movimento para baixo e
não para cima, ou qualquer outro movimento na pedra ou no metal?"

Qual deve ser, então, o fundamento da causalidade e, assim, do conhecimento empírico? Para Hume, não há nenhum,
a não ser o costume, o hábito que temos, pelo fato de inúmeras vezes termos visto, anteriormente, pedras caindo no
solo e o Sol nascendo a cada manhã. Esperamos que aconteça sempre a mesma relação causal devido a uma crença, de
cunho psicológico e subjetivo. Nunca podemos, portanto, ter certeza do que estamos dizendo a cerca de questões de
fato.

Metafísicas Este é, em resumo, o argumento cético de Hume sobre a causalidade. Ele foi devastador para a filosofia
porque todas as metafísicas também apelam para esse tipo de relação causal para explicar o mundo. Por exemplo:
Deus existe porque é a causa de tudo que existe (Santo Tomás de Aquino) ou as ideias claras e distintas da razão são
causas de nossos conhecimentos sobre a natureza (Descartes).

Não que Hume fosse avesso à filosofia, pelo contrário. O que ele dizia é que tais sistemas filosóficos carecem de
amparo nas impressões sensíveis, são muito abstratos e usam métodos demonstrativos da matemática que não servem
de fundamento para questões de fato.

O que Hume queria era fazer uma espécie de "faxina" na filosofia, de modo a livrá-la de suas pretensões e ideias
estéreis. Assim, ele influenciou Immanuel Kant, Auguste Comte, filósofos pragmatistas como Charles Sanders Peirce, os
empiristas lógicos e a filosofia analítica, entre outras importantes correntes do pensamento contemporâneo.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

As comunidades formadas por grupos familiares


Rousseau chamou de "idade de ouro" da humanidade
Recentemente, a Funai (Fundação Nacional do Índio)
mapeou 39 grupos indígenas que vivem isolados na
Amazônia e que, em tese, nunca tiveram qualquer contato
com o "homem branco".
Neste estado "primitivo", o homem viveria em
harmonia com seus semelhantes, livre da violência que
aflige as grandes cidades? E, no caso do "homem
civilizado", a ciência que o tornou dependente de
tecnologias como luz elétrica e aparelhos celulares também contribuiu, de alguma forma, para sua evolução moral?
Para o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que viveu numa época em que não existia luz elétrica e,
muito menos, aparelhos celulares, as respostas a estas perguntas podem ser respondidas da seguinte forma: "O
homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros". Com isso, ele quer dizer que o homem possui uma
natureza boa que é corrompida pelo processo civilizador.
Neste caso, bastaria irmos para a floresta e viver como nossos antepassados para sermos felizes? Não é essa a
proposta de Rousseau. Em sua obra "Do Contrato Social" (1757/ 1762) ele reflete sobre como deveriam ser as
instituições para que possamos ter uma organização social mais justa, que preserve a liberdade, bem supremo do
homem.

SENTIMENTO

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Rousseau não construiu um sistema filosófico, como Aristóteles ou Kant, por exemplo, mas apresentou contribuições
originais não somente à filosofia, mas também à pedagogia e à teoria política, influenciando movimentos políticos e
intelectuais europeus como a Revolução Francesa e o Romantismo alemão.
Sua teoria da bondade natural do homem pode parecer estranha e, mesmo no século 18, foi objeto de
escárnio por parte de filósofos como Voltaire. Contudo, a crítica de Rousseau é direcionada aos poderes exacerbados
da razão e da ciência, que ele foi o primeiro pensador a questionar em plena vigência do Iluminismo.
É muito comum agirmos de maneira polida e educada mesmo quando, na verdade, queremos prejudicar,
manipular ou levar vantagem sobre os outros. Para Rousseau, certas normas sociais estabelecidas nos grandes centros
urbanos afastaram, desta forma, o homem de sua verdadeira natureza. O caminho para este conhecimento primordial,
segundo ele, é o sentimento, não a razão e o progresso científico.
Razão põe ordem no mundo, talvez em demasia, segundo o filósofo francês. Era preciso então sentir o mundo.
E qual a forma de fazer isso, senão buscando uma comunhão com a natureza, que em suas formas é pura expressão de
sentimento e liberdade, que experienciamos ao contemplar um pôr-do-sol ou quando caminhamos descalços na praia?
Ao dizer isso, Rousseau rompeu também com toda uma tradição do determinismo, proveniente de uma linha
de começa com Bacon e Galileu até Newton e Einstein, e que concebia o universo como um relógio preciso.
Seria necessário então, voltando à questão inicial, abrir mão de toda comodidade da vida moderna, como fez a
personagem Danielle Rousseau do seriado "Lost" (inspirada no próprio filósofo)?

O CONTRATO SOCIAL

A metáfora do "bom selvagem" é somente uma forma que Rousseau encontrou para questionar a filosofia
iluminista e a política moderna. O problema do "Contrato" é como resguardar a justiça e a liberdade do estado de
natureza no meio social.
Para responder às suas necessidades de conservação, o homem precisa desenvolver habilidades e alterar a
natureza, produzindo cultura. Sozinho, ele não teria como garantir sua sobrevivência. Busca, então, socializar-se.
Os homens primeiro se reuniram em pequenas comunidades, formadas por grupos familiares, o que Rousseau
caracteriza como a "idade de ouro" da humanidade. Em seguida, nas primeiras formas de ordenação social e política,
foi preciso exigir a obediência dos mais fracos aos mais fortes (regimes de escravidão), afastando o homem, assim, de
sua condição igualitária.
Em Rousseau, portanto, é fundamental substituir a liberdade natural, irrestrita mas subordinada ao poder do
mais forte (e sempre haverá alguém mais forte para assumir a liderança), pela liberdade convencional, sustentada pela
criação de um pacto social, de forma a equilibrar ordem e justiça.
A principal cláusula deste contrato social afirma que "cada um, dando-se a todos, não se dá a ninguém". Quer
dizer, somente garantindo a liberdade de todos é que as liberdades individuais serão também preservadas.
Um fumante, por exemplo, tem o direito de fumar. No entanto, essa liberdade não pode ferir a de um não-
fumante, que em um recinto fechado vai inalar a mesma fumaça de cigarro involuntariamente. Como resolver isso?
Criam-se regras, ao acordo de todos e que todos devem seguir, restringindo o fumo em locais adequados, de modo a
conservar a liberdade tanto de fumantes quanto de não-fumantes.

VONTADE GERAL

Desse modo, para que o pacto funcione, diz Rousseau, os cidadãos devem se submeter à vontade geral, que é
soberana. Uma vez firmado o contrato, todos devem obedecer o que ficou deliberado por todos, não somente por uma
maioria.
Ou seja, o filósofo não reconhece a representatividade, como vereadores, prefeitos, etc. Para ele, a soberania
se exerce pela vontade popular, logo, pela participação direta do povo. Participação que não se resumiria a comparecer
às urnas, por exemplo, mas em que cada cidadão tivesse participação efetiva nas decisões que afetem a comunidade.
Esta total submissão a um Estado, que expressa a vontade geral, pode parecer um tipo de totalitarismo, em
que o indivíduo se submete integralmente à coletividade, a ponto de abrir mão de seu livre-arbítrio. Mas deve-se

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atentar que: 1) Rousseau subordina a liberdade individual à coletiva para afirmar a primeira; e 2) uma vez que este
Estado não expresse mais a vontade geral, o povo tem o direito de derrubar o governo (apesar de Rousseau preferir as
armas da educação do que as da revolução para isso).
Força não estabelece direitos: o poder só é obedecido quanto ele for legítimo e, para Rousseau, ele só é
legítimo na medida em que se respeita o contrato.
O grande problema em Rousseau é aplicar suas teorias à prática. Formas de governo, como a democracia,
demandam aperfeiçoamentos constantes. E nenhum sistema político e econômico foi perfeito o suficiente para
equilibrar igualdade e liberdade. O contrato social, no entanto, continua servindo de inspiração para dilemas que
acompanham o homem contemporâneo.

LEITURA

"Do Contrato Social" é um clássico que possui várias traduções para o português. Recomendo a tradução da professora
Maria Constança Peres Pissara, com prefácio de Bento Prado Júnior, publicada pela Editora Vozes. A obra também foi
publicada na coleção "Os Pensadores", da Editora Abril Cultural. As duas edições podem ser encontradas em sebos.

IMMANUEL KANT
Na Crítica da Razão Pura, o filósofo alemão
Immanuel Kant (1724-1804) tinha um problema a
resolver, que dizia respeito à seguinte questão: como
posso obter um conhecimento seguro e verdadeiro
sobre as coisas do mundo? A resposta de Kant iria
mudar o rumo da Filosofia Ocidental.
Duas escolas filosóficas, tradicionalmente,
respondiam de formas diversas ao problema do
conhecimento. Para os filósofos racionalistas (Platão,
Descartes, Leibniz e Espinosa), todo conhecimento
provém da razão, enquanto que, para os empiristas
(Aristóteles, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume), ao contrário, somente os dados da experiência sensível forneceriam as
bases para o conhecimento humano.
Tanto em um como em outro caso, surgem obstáculos. A razão especulativa, na medida em que deixa de
validar suas investigações em testes práticos, torna-se dogmática. Já o empirismo encontra oposição no ceticismo, que
argumenta que a Natureza é o reino do contingente e, por esta razão, não pode ser fonte de conhecimento universal.
O filósofo inglês David Hume (1711-1776), cuja obra Kant afirma tê-lo acordado do "sono dogmático", colocou
sob suspeita o princípio de causalidade, que determina que, dado uma causa x, tem-se um efeito y. Por exemplo, tenho
uma pedra em minha mão e a solto de certa altura (causa), tendo como conseqüência sua queda no chão (efeito).
Segundo Hume, não existe nada na causa (solto a pedra da mão) que contenha a relação objetiva de seu efeito
(a queda no solo). Por mais vezes que eu repita a experiência, nada no mundo me dará a certeza de que a pedra cairá e
não levitará, por exemplo. Portanto, conclui o filósofo inglês, a causalidade não está no mundo, mas é produto de
nossos hábitos, ou seja, de tantas vezes ver a pedra cair ao ser solta, acreditamos que haja uma relação causal nos
objetos, quando não passa de uma espécie de condicionamento psicológico.

A PRIORI, A POSTERIORI, JUÍZO ANALÍTICO E JUÍZO SINTÉTICO

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Kant também vai se voltar para o sujeito em sua réplica ao ceticismo humeano, mas revestido de um caráter lógico e
transcendental (e não psicológico, como em Hume). Antes de analisar a resposta de Kant, vamos ver como ele a
formula a questão nos conceitos de a priori, a posteriori, analítico e sintético.
Um conhecimento que seja totalmente independente dos sentidos é chamado a priori. São, por exemplo,
equações matemáticas, que posso fazer mentalmente sem me apoiar em qualquer evidência material. Um
conhecimento que possui sua fonte na experiência é dado a posteriori, como as leis da física clássica, que necessitam
de testes práticos para serem comprovadas.
Quando emito um juízo em que o predicado está contido no sujeito, ele é chamado juízo analítico. Por
exemplo, quando digo "Azul é uma cor", o predicado "cor" já é uma qualidade do sujeito "azul" e a informação, por
isso, é redundante. Mas quando faço um juízo em que um predicado é acrescentado ao sujeito, ele é chamado
sintético. Por exemplo, na frase "A cadeira de minha sala é azul", acrescento ao sujeito "cadeira de minha sala" o
predicado "azul" (afinal, ela poderia ser verde, vermelha, etc.). É uma informação nova, pois você poderia imaginar que
a cadeira fosse de qualquer outra cor.
Todos os juízos da experiência são sintéticos, uma vez que, para obter um juízo analítico, não é preciso sair do
próprio conceito, isto é, recorrer à experiência (não preciso sair de "azul" para saber que é uma cor, mas preciso ver a
"cadeira" para saber de que cor ela é).
Agora podemos entender a questão central da Crítica da Razão Pura, que é "Como são possíveis os juízos
sintéticos a priori?". Ou seja, como podemos ter um conhecimento a priori de questões de fato, de coisas do mundo?
Em outros termos, como posso, observando um fato A, dizer algo a respeito de um fato B, uma vez que somente tenho
a experiência deste fato A? Para voltar ao exemplo de Hume, como, tendo uma pedra em minha mão (fato A), antes
mesmo de soltá-la sei que, ao soltá-la, ela irá cair no solo (fato B)? (Lembrando que, para Hume, não há na Natureza
nada que demonstre a relação causal entre A e B.)
Formulado ainda de outra maneira: como posso, ao observar fatos particulares (uma pedra que cai), tirar daí
uma regra de caráter universal (a lei da gravidade), que seja aplicada a todos outros fatos da mesma natureza?

SUJEITO TRANSCENDENTAL

Kant chamou de "revolução copernicana" sua resposta ao problema do conhecimento. O astrônomo Nicolau
Copérnico (1473-1543) formulou a teoria heliocêntrica - a teoria de que os planetas giravam em torno do Sol - para
substituir o modelo antigo, de Aristóteles e Ptolomeu, em que a Terra ocupava o centro do universo, o que era mais
coerente com os dogmas da Igreja Católica.
Como pode ser constatado pela observação direta, o Sol se "levanta" e se "põe" todos os dias, o que tornava
óbvio, aos antigos, que a Terra estava fixa e que os astros giravam em torno dela. Copérnico demonstrou que este
movimento é ilusório, porque, na verdade, a Terra é que gira em torno do Sol.
Kant propôs inversão semelhante em filosofia. Até então, as teorias consistiam em adequar a razão humana
aos objetos, que eram, por assim dizer, o "centro de gravidade" do conhecimento. Kant propôs o contrário: os objetos,
a partir daí, teriam que se regular pelo sujeito, que seria o depositário das formas do conhecimento. As leis não
estariam nas coisas do mundo, mas no próprio homem; seriam faculdades espontâneas de sua natureza
transcendental. Como Kant afirma no prefácio da segunda edição da Crítica da Razão Pura:
"Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se regular pelos objetos; porém todas as
tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que ampliaria o nosso
conhecimento, fracassaram sob esta pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas
tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento, o que concorda melhor
com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos objetos que deve estabelecer algo sobre os mesmos
antes de nos serem dados."
O que Kant quer dizer é que o sujeito possui as condições de possibilidade de conhecer qualquer coisa. Ele
possui as regras pela quais os objetos podem ser reconhecidos. Não adianta buscar essas regras no mundo exterior,
pois se cairia no problema de Hume. O mundo não tem sentido a não ser que o homem dê algum sentido a ele. O que
conhecemos, então, é profundamente marcado pela maneira - humana - pela qual conhecemos.

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O computador no qual escrevo, a janela do escritório que me permite ver todas as coisas do mundo, tudo isso
é matéria de conhecimento não porque exista um Deus que me faculte entender as leis dos objetos por meio da razão
(como no caso de filósofos racionalistas) ou porque estes objetos sejam imprimidos em minha mente pela percepção
(empirismo), mas porque eles são capturados por formas lógicas no sujeito.

COISA-EM-SI

Mas ao voltar o foco para o sujeito que conhece, que "constrói" o mundo, é bloqueado todo pretenso acesso à
essência dos objetos do mundo. Só temos acesso às coisas enquanto fenômenos para uma consciência. O que a
realidade é, em si mesma, o que Kant chama de coisa-em-si, não é matéria de conhecimento humano, sendo, portanto,
incognoscível (aquilo que não pode ser conhecido).
A coisa-em-si não pode ser conhecida mas pode ser pensada, desde que seja contraditório (conhecer, em Kant,
diz respeito ao que é possível de ser objeto da experiência).
Três objetos de estudo da metafísica podem ser pensados mas não conhecidos: Deus, a imortalidade da alma e
a liberdade. Deus e a alma não podem ser conhecidos porque não aparecem como fenômenos no espaço e no tempo. A
liberdade, porque contraria o princípio de causalidade: liberdade é aquilo que não tem causa, e o que é absolutamente
livre não pode ser matéria de conhecimento. São, no entanto, postulados para a ética de Kant, da qual não trataremos
neste artigo.
A filosofia crítica de Kant consiste, desta forma, em impor à razão os limites da experiência possível. O filósofo
alemão pretende, com isso, fornecer rigor metodológico à metafísica, livrando-a de seu caráter dogmático e trazendo-a
para o rumo seguro da ciência. Este método que analisa as possibilidades do conhecimento a priori do sujeito, dentro
dos limites da experiência, é chamado de transcendental.

SUGESTÕES DE LEITURA

A Crítica da Razão Pura foi traduzida para o português e publicada pela Editora Abril, na coleção "Os Pensadores", e
pela editora portuguesa Calouste Gulbenkian. Ambas são recomendadas. É de grande ajuda, para o domínio do
vocabulário kantiano, o Dicionário Kant (Jorge Zahar Editor), de Howard Caygill. Também da Jorge Zahar, o livro Kant &
A Crítica da Razão Pura, de Vinicius Figueiredo, propõe introduzir o leitor nessa obra densa e de difícil leitura.

Pós-kantianos : FICHTE, SCHELLING e o Idealismo alemão


A filosofia de Kant deixou, para seus sucessores, um
problema: como conciliar os dualismos entre razão teórica
(conhecimento) e razão prática (moral), entendimento e sensibilidade,
coisa-em-si e fenômeno, sujeito e objeto? O pensamento pós-kantiano
teve como objetivo tentar restabelecer uma unidade na filosofia,
conciliando os antagonismos na obra do filósofo.
O pensamento pós-kantiano, que pode ser datado entre 1780
e 1850, e situado principalmente nas universidades de Iena e Berlim
(Alemanha), ficou conhecido como idealismo alemão. Em comum,
além do fato de trabalharem sobre a obra de Kant, esses filósofos
tentaram construir um sistema ideal de pensamento que explicasse todas as coisas do mundo.
Os primeiros idealistas alemães eram, em sua essência, kantianos, e buscavam resolver impasses na filosofia
kantiana. Mas Fichte, Schelling e Hegel, construíram filosofias originais. Este artigo apresenta, sucintamente, as idéias
dos dois primeiros filósofos.

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A LIBERDADE INFINITA DO EU

O mais audacioso dos pós-kantianos foi Johann Gottliebe Fichte (1762-1814), que conciliou os dualismos
kantianos em um princípio denominado Eu, exposto em sua principal obra, Doutrina da Ciência.
Em Kant, tínhamos um mundo subjetivo, depositário das formas a priori do conhecimento, e um mundo
objetivo, a coisa-em-si, que só pode ser conhecido quando se torna fenômeno para o sujeito. Em Fichte, o mundo
objetivo nasce do mundo subjetivo, como se a realidade fosse apenas um palco que o homem teria criado para agir.
O que é esse Eu que produz a si mesmo e a realidade? É pura liberdade, pura possibilidade. Ele é infinito e
ilimitado. Por exemplo, posso ser o que imaginar ser, desde que não saia de meu mundo interior. Mas, para ser alguma
coisa, preciso agir no mundo externo.
Ao agir, o Eu cria o não-Eu, que é a própria realidade. Ou seja, segundo Fichte, o mundo não existiria se não
fosse colocado pela vontade do Eu, pela ação do sujeito. Ele faz isso para se definir, por meio de suas ações, e vencer os
obstáculos da vida.
Um exemplo pode ajudar a entender melhor a idéia. Posso ter vários talentos, para desenho, música ou
matemática. Mas, para desenvolver um destes talentos, preciso estudar, fazer uma faculdade ou exercitar muito estas
habilidades. Ao fazer isso, me confronto com uma série de dificuldades (a falta de dinheiro, o fato de minha cidade não
ter escolas especializadas, etc.). Porém, é somente superando tais empecilhos que defino esse Eu, dizendo, por
exemplo, "Eu sou músico" ou "Eu sou filósofo".
Em Fichte a realidade é criada, na interioridade do sujeito, para que o Eu atinja todo seu potencial e
desenvolva suas aspirações.

PREGUIÇA É O PIOR DOS MALES

A lição da filosofia moral de Fichte é de que precisamos agir no mundo para afirmar nossa liberdade. Existir,
para ele, é confrontar os obstáculos da vida, pois assim posso predicar o Eu. O pior vício, segundo o filósofo alemão, é a
preguiça, e todos os outros vícios decorrem deste. Preguiça é aquilo que bloqueia a ação e nega a realização da
liberdade humana.
A Natureza é, por assim dizer, uma pedra diante do Espírito, que precisa ser superada pelo aprimoramento
moral do homem. O Eu não é bom nem mau. Suas virtudes são decorrentes de sua ação no mundo, de seu agir. Por
isso, a filosofia de Fichte é uma filosofia prática, uma filosofia do agir, pois somente agindo no mundo posso exercer
minha liberdade. Afinal de contas, não é superando obstáculos que vencemos nossos limites e nos tornamos melhores?

FILOSOFIA DA NATUREZA

O ponto de partida da filosofia de Friedrich Wilhelm Joseph Von Schelling (1775-1854) é exatamente o ponto
em que ele discorda de Fichte: ao condicionar o objeto ao sujeito, Fichte mantém uma concepção determinista da
Natureza, isto é, a Natureza é meramente produto da razão humana. Schelling não concorda com essa idéia.
Para Schelling, existe uma organização na natureza, cujo princípio criador é exterior ao Eu mas que, no
entanto, compartilha o mesmo Espírito. Como não existe a possibilidade de uma consciência fora do Eu, este Espírito é
inconsciente. Segundo o filósofo, há um mesmo Espírito fora do homem e uma mesma Natureza dentro do homem, a
diferença é que o homem é consciente disso, a Natureza, não.
A concepção de divindade em Schelling é panteísta, o que significa que Deus, para ele, está em todas as coisas.
Deus se faz Natureza para existir (necessidade) e ascende do inconsciente na Natureza para o consciente no homem
(liberdade) para que este possa se autoconhecer: Ele se vê na Natureza através do homem. Temos então:

Espírito (Deus):
Inconsciente na Natureza (necessidade)
Consciente no homem (liberdade)

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E quando sujeito e objeto, homem e Natureza, se tocam, se tornam uma Unidade? Na experiência estética, diz
Schelling. Uma onda do mar ou um pôr-do-Sol são obras de arte, com seus matizes e formas únicas, expressões de
diversidade, originalidade, liberdade e beleza. Também o homem pode produzir o belo em obras de arte, como uma
pintura, uma música ou uma dança.
É a mesma liberdade que se manifesta de formas diferentes: de forma real no mundo dos objetos, e de forma
ideal no mundo da Arte.

O GÊNIO ARTISTA

E é na experiência de contemplação de uma obra de arte ou da Natureza que o homem tem contato com Deus,
que cria beleza de forma consciente no homem (obra de arte) e inconsciente na Natureza (diversidade); em que
liberdade (criação artística) e necessidade (materialidade da obra e das coisas do mundo), o infinito e o finito, são
unidos.
Quando contemplamos um quadro de um grande mestre da pintura, não vemos um objeto, mas
transcendemos o objeto na contemplação. O objeto da arte é finito em sua materialidade, sua objetividade, mas é
infinito na abertura de suas interpretações. Por este motivo é um equívoco perguntar a um artista o que ele quis dizer
com sua obra: ele não tem nada a explicar porque a arte é pura expressão de sentimento, de liberdade e poesia (é por
isso que sempre que lemos um bom livro temos sensações e interpretações diversas a cada leitura).
A percepção estética é uma via de acesso do Uno, ao contrário da dualidade sujeito-objeto que faz a ciência.
Todo procedimento científico cinde sujeito (que conhece) e objeto (aquilo que é conhecido). Na Arte, o que foi
separado é de novo reunido na contemplação do infinito (Deus) naquilo que é finito (a obra). Assim, Deus, em Schelling,
não é alcançado pelo filósofo, mas pelo gênio artista.
A Filosofia da Arte é um elemento original em Schelling, que é o primeiro autor, imbuído do espírito do
Romantismo alemão, a colocar a experiência estética como faculdade primária do homem. Ele também é o primeiro
filósofo moderno a questionar a visão da Natureza como relação de causalidade, entendendo-a, ao contrário, como
essencialmente uma força criativa.

LEITURAS

A literatura sobre idealismo alemão é escassa nas livrarias brasileiras. Vale a pena uma visita aos sebos para procurar A
Filosofia do Idealismo Alemão, de Nicolai Hartmann (Calouste Gulbenkian), a melhor introdução ao tema, e começar as
leituras de Fichte e Schelling pelos textos da coleção "Os Pensadores", da Editora Abril Cultural.

MARX – Alienação : Do Espírito Absoluto de Hegel à


realidade concreta

"Esses jovens de hoje, tão alienados...". Esta


expressão, que a maioria de nós já ouviu alguma vez na
vida, provavelmente foi entendida como se referindo ao
fato de que, na juventude, não temos muita
responsabilidade, queremos mais é curtir a vida. Mas,
afinal de contas, será que somos alienados? O que é,
então, alienação?
O termo entrou no vocabulário contemporâneo
graças a Karl Marx, que, assim como no caso do conceito

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de dialética, retirou a idéia de alienação de suas leituras de Hegel, mas o revestiu de um caráter inovador e, como em
tudo em Marx, muito crítico.
Tanto em Marx quanto em Hegel, alienação está ligada ao trabalho. Para Hegel, o trabalho é a essência do
homem, quer dizer, é somente por meio de seu trabalho que o homem pode realizar plenamente suas habilidades em
produções materiais.
Mas quando o pensamento puro se torna pensamento sensível, visando uma realização material na forma de
trabalho, nos alienamos, isto é, nos separamos da essência pura e abrimos caminho para uma separação entre ideal e
real, que de novo irão se unir ao que Hegel chama de Espírito Absoluto.
Muito abstrato? Marx também achou, mas viu nestas idéias algo interessante, que poderia explicar as relações
sociais no capitalismo e, mais do que isso, desvendar um dispositivo fundamental da máquina capitalista.

Para isso, voltou-se para a realidade concreta, em que os trabalhadores eram explorados em fábricas e
deixavam seus patrões cada vez mais ricos, enquanto eles e suas famílias ficavam cada vez mais pobres. Como
poderiam aceitar tal coisa?

TRABALHO ALIENADO

Alienação, para Marx, tem um sentido negativo (em Hegel, é algo positivo) em que o trabalho, ao invés de
realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. O homem troca o verbo SER pelo TER: sua vida
passa a medir-se pelo que ele possui, não pelo que ele é. Isso parece familiar? Pois é, vamos ver os detalhes.
O filósofo alemão concebeu diferentes formas de alienação, como a religião ou o Estado, em que o homem,
longe de tornar-se livre, cada vez mais se aprisionaria. Mas uma alienação é básica, segundo Marx: a alienação
econômica.
A alienação econômica pode ser descrita de duas formas: o trabalho como (a) atividade fragmentada e como
(b) produto apropriado por outros.

TEMPOS MODERNOS

No primeiro caso, a separação do trabalho, em todas as suas instâncias, aliena o trabalhador, que não se
reconhece mais em uma atividade - porque ele faz apenas uma peça de um carro em uma escala produtiva e não tem a
visão do conjunto, por exemplo - e porque acaba desenvolvendo apenas uma de suas habilidades, seja braçal ou
intelectual, provocando, com isso também, uma divisão social.
Essa divisão do trabalho foi fundamental para a organização da sociedade capitalista. Não seria possível sequer
vestirmos tênis se não existissem trabalhadores que os produzissem em larga escala em fábricas, onde cada um é
responsável por uma etapa na produção.
O melhor exemplo de como funciona este processo e suas conseqüências sociais pode ser visto no filme
"Tempos Modernos" (1936), dirigido e estrelado por Charles Chaplin, que mostra, de forma bem humorada, a vida de
um operário sendo controlada pela máquina na linha de montagem de uma fábrica.

EXPLORAÇÃO

No segundo caso, o trabalhador tem a riqueza gerada pelo seu trabalho tomada pelos proprietários dos meios
de produção. Ele é levado a gerar acumulação de capital e lucro para uma minoria, enquanto vive na pobreza.
Um empregado de uma fábrica de TV de LCD, por exemplo, em oito horas diárias de trabalho produz, ao final
do mês, um número considerável de aparelhos, mas recebe apenas uma pequena parcela disso em forma de salário. O
que recebe não permite sequer adquirir aquilo que ele produz - uma TV de R$ 5 mil - e o modo de vida de sua família é
muito diferente daqueles que consomem seu produto.
O trabalhador não reconhece mais o produto de seu trabalho e não se dá conta da exploração a que é
submetido. O que se exterioriza não é sua essência, mas algo estranho a ele.

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Diz Marx: "A alienação aparece tanto no fato de que meu meio de vida é de outro, que meu desejo é a posse
inacessível de outro, como no caso de que cada coisa é outra que ela mesma, que minha atividade é outra coisa e que,
finalmente (e isto é válido também para o capitalista), domina em geral o poder desumano".
Divisão do trabalho e acumulação de capital, que, juntos, formam a base de uma sociedade capitalista, são
também as fontes de alienação moderna, segundo Marx, por meio das quais se constitui um sistema de dominação.

COMUNISMO
Qual a solução? Se o trabalho, no sistema capitalista, é fonte de alienação, e se o capital é, basicamente,
propriedade privada, isto é, a posse e o acúmulo de objetos, a superação do homem alienado só virá, para Marx, com a
sociedade comunista.
Segundo Marx, somente com o comunismo as pessoas deixariam de ser alienadas, pois tudo seria de todos e
não haveria necessidade de divisão ou expropriação do trabalho alheio. "A superação da propriedade privada é, por
isso, a emancipação total de todos os sentidos e qualidades humanas", diz Marx.
Marx, provavelmente, ficaria muito aborrecido em ver que, na prática, os ideais do comunismo, na forma de
dogmas, somente trouxeram mais alienação. Sua crítica, no entanto, parece atual diante de uma juventude destituída
de ideais políticos que se contenta com prazeres imediatos proporcionados pelo consumo. É o celular da moda, o tênis
de marca e o carro de luxo que definem sua essência?

SCHOPENHAUER: O mundo como vontade e representação


Talvez nenhum outro filósofo tenha exercido maior influência no mundo das artes do que o alemão Arthur
Schopenhauer. O compositor Richard Wagner, por exemplo, disse ter criado uma de suas maiores óperas, "Tristão e
Isolda", como reação à leitura de Schopenhauer.
Na literatura, o número de romancistas e contistas que compartilharam das ideias de Schopenhauer é imenso:
os russos Tolstoi, Tcheckov e Turguêniev, os franceses Zola, Maupassant e Proust, os ingleses Hardy, Conrad e
Maugham, sem falar no argentino Jorge Luís Borges e no brasileiro Machado de Assis.
Também se encontram no mesmo caso poetas como escritor de língua alemã Rilke e o inglês T. S. Eliot, além
de dramaturgos como o inglês Bernard Shaw, o irlandês Samuel Beckett e o italiano Luigi Pirandello.
Mas a influência de Schopenhauer não para por aí: Friedrich Nietzsche disse ter se tornado filósofo devido à
leitura de Schopenhauer, que também foi o ponto de partida da filosofia de Wittgenstein. Sigmund Freud, o pai da
psicanálise, reconheceu que a análise da repressão - um dos pilares da teoria psicanalítica - foi feita pioneiramente por
Schopenhauer, que é com frequência citado por Carl Gustav Jung.

ESQUECENDO O ESQUECIMENTO

No entanto, na segunda metade do século 20, Schopenhauer foi deixado de lado e se tornou tão ignorado
como foi na maior parte de sua própria vida. Vivo, só obteve reconhecimento depois dos 60 anos. De certo, isso o
magoava, mas não o impediu de pensar de modo original e contrário ao pensamento oficial de seu tempo, que
desprezou e atacou em suas obras.
Esqueçam-se, porém, esses aspectos todos, que são circunstanciais. O que importa é a filosofia
schopenhaueriana. Esta se encontra exposta numa obra-prima que ele escreveu ainda na casa dos 20 anos: "O Mundo
como Vontade e Representação", de 1818, e da qual lançou uma edição revista e ampliada (a definitiva) em 1844.
O ponto de partida schopenhaueriano foi a obra de Immanuel Kant, que, segundo Schopenhauer, constituiu
um divisor de águas na filosofia que lhe antecedeu, a partir de Descartes. Kant concebe o mundo de uma maneira
dualista, apontando dois aspectos da realidade:

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1) aquele suscetível de ser experimentado pelo homem (sujeito), o mundo dos fenômenos, que são, por assim dizer, as
coisas tais quais as percebemos (ou seja, uma relação entre sujeito que percebe e objeto percebido);

2) aquele não suscetível de ser experimentado, a coisa-em-si, incognoscível.

CRÍTICA A KANT

Para Kant, a ciência é a chave do conhecimento do mundo da experiência e ela não tem ação fora desse
mundo. O que se encontra além dele - a coisa-em-si, seja o que for - jamais será conhecido.
Schopenhauer compartilha dessa visão dual, mas a critica, considerando que assim leva adiante a concepção
kantiana. Para ele, a realidade também consiste em fenômenos e na coisa-em-si. Esta última, porém, não consiste de
coisas diferentes. Para existir diferença, é preciso que existam tempo e espaço, mas o tempo e o espaço são categorias
que pertencem à concepção humana, ao mundo fenomênico.
Onde não há tempo nem espaço tudo é indiferenciado e uno. Assim é a realidade da coisa-em-si. Ela também
não pode ser causa do fenômeno, pois uma conexão de causalidade só funciona no mundo fenomênico. Desse modo, o
fenômeno é, na verdade, uma manifestação da coisa-em-si.

VONTADE E REPRESENTAÇÃO

Em última análise, a mente e a consciência nos permitem ver a representação da coisa-em-si. Esta, entretanto,
não tem nada que ver com a mente ou consciência. É uma força impessoal que Schopenhauer chama vontade.
O filósofo emprega este termo porque a Vontade é a experiência direta mais próxima que podemos ter disso. É
a Vontade o motor de nossas vidas.
É importante notar aqui que a coisa-em-si, segundo Schopenhauer, é incognoscível, mas experienciável, no
que ele também se afasta de Kant. Por outro lado, o filósofo se aproxima do pensamento oriental, hinduísta e budista,
que, pela via religiosa, chega às mesmas conclusões que Schopenhauer chegou: o mundo sensível é uma ilusão (Maya)
que mascara uma realidade una e transcendente.

ATEÍSMO E PESSIMISMO

Nesse sentido, convém lembrar que Buda e Schopenhauer eram ateus. Para os dois, essa realidade una,
absoluta e transcendental eram respectivamente o Vazio e a Vontade. Para Buda, o homem deve esquecer e superar
suas paixões e desejos terrenos para atingir a iluminação e escapar ao sofrimento. Para Schopenhauer este mundo é
também uma ilusão e não devemos nos preocupar com ele, mas sim repudiá-lo.
O filósofo alemão, contudo, vê na arte a possibilidade de transcendência, em especial na música, que nos
retira do tempo, do espaço e até do nosso corpo, resgatando-nos momentaneamente do suplício da existência.
A visão de mundo de Schopenauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos.
Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está
repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos
"Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável", resume o comentarista inglês
Brian Magee, ao referir-se ao modo como Schopenhauer encara a existência.

ÉTICA DA COMPAIXÃO

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Por outro lado, apesar dessa visão sombria da existência, Schopenhauer apresenta uma visão da moral e da
ética que se opõe à de Kant, aproxima-se do budismo e do cristianismo, chegando a dizer que se pode qualificar sua
doutrina como a "verdadeira filosofia cristã".
Qual o fundamento da ética para Schopenhauer? O fundamento não é a razão, como pensava Kant. Ao
contrário, como nossos corpos são apenas uma manifestação fenomênica da unidade da coisa-em-si, somos indivíduos
separados apenas na aparência. No fundo, tudo e todos são um. Isso nos possibilita a identificação com o outro, a
compaixão e o amor, em seu sentido mais lato.

NIETZSCHE: Individualismo e "vontade de poder"


Friedrich Nietzsche era formado em filologia clássica e
não em filosofia. Tornou-se filósofo, segundo ele mesmo diz,
devido à leitura de Schopenhauer. Concorda com a visão de
mundo deste filósofo em três questões essenciais: a) a inexistência
de Deus; b) a inexistência de alma; c) a falta de sentido da vida,
que se constitui de sofrimento e luta, impelida por uma força
irracional, que podemos chamar de vontade.
No entanto, ao contrário de Schopenhauer, Nietszche não vê a
realidade repartida em duas, o fenômeno e a coisa em si.
Considera que este mundo é a única parte da realidade e que não devemos rejeitá-lo ou nos afastarmos dele, mas viver
nele com plenitude. Como, porém, fazer isso num mundo sem Deus e sem sentido?
Nietszche começa a resolver o problema fazendo um ataque à moral e aos valores existentes na sociedade que
lhe é contemporânea. Segundo o filósofo, esses valores derivam de civilizações já inexistentes, como a grega e a
judaica, e de religiões em que muitos - senão a maioria - já não têm fé. Precisamos, portanto, de uma nova base para
assentar nossos valores.

JUSTIÇA DOS FRACOS

A civilização, de acordo com o Nietzsche, foi criada pelos fortes, pelos inteligentes, pelos homens
competentes, os líderes que se destacaram da massa. Moralistas como Sócrates e Jesus, porém, negaram essa
realidade em nome dos fracos.
Propagando uma moral que protegia os fracos dos fortes, os mansos dos ousados, que valorizava a justiça em
vez da força, eles inverteram os processos pelos quais o homem se elevou acima dos animais e exaltaram como
virtudes características típicas de escravos: abnegação, auto-sacrifício, colocar a vida a serviço dos outros.

"SUPER-HOMEM"

Considerando que tais valores não têm origem divina ou transcendente, Nietzsche afirma que somos livres
para negá-los e escolher nossos próprios valores. Ao "tu deves" devemos responder com o "eu quero". É a vontade de
poder que permite ao indivíduo que se autoelege desenvolver seu potencial máximo de modo a tornar-se um super-
homem ou um ser além-do-homem - isto é, que se coloca acima da massa.
Nietzsche identifica o "super-homem" em personagens como Napoleão, Lutero, Goethe e até mesmo Sócrates
(não por suas ideias, mas pela coragem de levá-las às últimas consequências). Enfim, no líder que tem vontade de
poder, que ousa tornar-se o que realmente é. É assim que se afirma a vida e se pode atingir a auto-realização.
Naturalmente, o filósofo sabe que isso não vai abolir os conflitos e nem se preocupa com isso, pois considera
os conflitos como um estímulo. De resto, querer abolir a competição, a derrota e o sofrimento é o mesmo que
pretender abolir a lei da gravidade.

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DESAFIO E RESPOSTA

O pensamento nietzschiano pode ser avaliado sob duas perspectivas. Por um lado, ele postula um supremo
desafio ético ao propor uma reavaliação radical dos valores morais da humanidade. Nesse sentido, ele apresentou o
problema sobre o qual iriam se debruçar muitos filósofos do século 20, a partir dos existencialistas.
Por outro, a resposta que ele propõe a esse desafio - marcada pelo individualismo e pela "lei do mais forte"
(que pode ser também o mais inteligente ou o mais talentoso) - desaguou no nazi-fascismo, que se apropriou de suas
ideias e o usou em sua propaganda. No encontro histórico de Mussolini e Hitler, em 1938, o líder alemão presenteou o
italiano com uma coleção das obras de Nietzsche.
Convém lembrar, porém, que o filósofo já em sua época ridicularizava o nacionalismo alemão. Quanto ao seu
propalado anti-semitismo, pode ser desmentido por um de seus próprios aforismos: "Os anti-semitas não perdoam os
judeus por terem intelecto e dinheiro. Anti-semita: outro nome para 'roto e esfarrapado'".
Não se pode falar de Nietzsche sem comentar o aspecto literário de sua obra. A maioria de seus livros não é
escrita no tipo de prosa dissertativa característica da filosofia, com argumentos e contra-argumentos expostos na
íntegra. Ao contrário, estão sob a forma fragmentária de aforismos e parágrafos numerados separadamente, ou ainda
como epigramas ou na linguagem dos textos religiosos, como se vê em uma de suas obras mais conhecidas: "Assim
falou Zaratustra".

Filosofia da ciência: KARL POPPER, falseabilidade e limites


da ciência
Karl Popper nasceu em 1902, praticamente junto com o século
20. Nessa época, a ciência parecia ter atingido o auge do
prestígio. A revolução industrial iniciada na Inglaterra do século
18 se fundamentou na divisão e organização do trabalho e nas
novas tecnologias que aproveitaram as possibilidades abertas
pela ciência determinista de sir Isaac Newton.
A utilização maciça das aplicações técnicas do
conhecimento científico produziu um período de progresso
material acelerado, no qual a humanidade avançou mais em dois
séculos neste campo do que nos quatro mil anos anteriores.
Esse progresso acelerado colocou o conhecimento científico numa posição de destaque, que, no século 19,
culminou no cientificismo, a crença de que tudo poderia ser explicado pela ciência, que deveria ser colocada acima de
todos os outros modos do saber.

SUPERVALORIZAÇÃO DA CIÊNCIA

Essa combinação de fatores sócio-históricos gerou grandes distorções, como o fato de a ciência, tornada laica
pelo iluminismo europeu, ganhar status religioso em doutrinas como o positivismo e outras, durante o século 19 e
início do 20.
É neste ambiente de supervalorização do progresso científico e de deturpação da natureza original da ciência
que surge Karl Popper, que se tornaria o mais influente e respeitado filósofo da ciência entre os homens que a fazem
nos dias de hoje. Austríaco de nascimento e britânico por opção, Popper é o autor da definição atualmente mais aceita
de teoria científica:

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"Uma teoria científica é um modelo matemático que descreve e codifica as observações que fazemos. Assim,
uma boa teoria deverá descrever uma vasta série de fenômenos com base em alguns postulados simples como também
deverá ser capaz de fazer previsões claras as quais poderão ser testadas."
Com esta definição, a simplicidade e a clareza voltavam a ser virtudes identificadoras da boa ciência, que assim
se separa das mistificações que nos dois séculos anteriores tentaram pegar carona em seu prestígio.

OBSERVAÇÃO E TEORIZAÇÃO

Popper defendeu que, se a ciência se baseia na observação e teorização, só se podem tirar conclusões sobre o
que foi observado, nunca sobre o que não foi.
Assim, se um cientista observa milhares de cisnes, em muitos lugares diferentes e verifica que todos os cisnes
observados são brancos, isto não lhe permite afirmar cientificamente que todos os cisnes são brancos, pois, não
importa quantos cisnes brancos tenham sido observados, basta o surgimento de um único cisne negro para derrubar a
afirmação de que eles não existiriam.
Assim, qualquer afirmação científica baseada em observação jamais poderá ser considerada uma verdade
absoluta ou definitiva.
Uma teoria científica, no máximo, pode ser considerada válida até quando provada falsa por outras
observações, testes e teorias, mais abrangentes ou exatos que a original.

FALSEABILIDADE

A possibilidade de uma teoria ser refutada constituía para o filósofo a própria essência da natureza científica.
Assim, uma teoria só pode ser considerada científica quando é falseável, ou seja, quando é possível prová-la falsa. Esse
conceito ficou conhecido como falseabilidade ou refutabilidade.
Segundo Popper, o que não é falseável ou refutável não pode ser considerado científico. As teorias da
gravitação universal de sir Isaac Newton são científicas, por que além de se enquadrarem na definição ao propor
equações simples que descrevem os modelos cósmicos gravitacionais, também é possível se fazer previsões acertadas
com base nelas.
E as teorias de Newton também são falseáveis. Tanto que o foram, quando Albert Einstein com sua Teoria da
Relatividade demonstrou que a mecânica newtoniana não era válida em velocidades próximas à da luz.

TEORIA DA RELATIVIDADE

O clássico experimento do eclipse, no qual Einstein provou que a luz era afetada pelos campos gravitacionais e
o experimento posterior, que provou que cronômetros de altíssima precisão postos em alta velocidade em relação à
Terra apresentavam pequenos atrasos quando comparados a cronômetro idêntico mantido imóvel na superfície, trouxe
a ciência aos novos tempos em que o tempo não mais era absoluto.
Mesmo assim, as teorias de Newton continuam válidas para a maioria das aplicações cotidianas, quando a
influência da velocidade pode ser considerada desprezível para as aplicações práticas. A ciência mais uma vez mostrava
seu poder de se renovar e melhorar a partir de suas próprias definições.
Por outro lado, seguindo as definições e o conceito da falseabilidade de Popper, a astrologia de horóscopo
moderna não pode ser considerada científica.
Todo o gigantesco arcabouço da mecânica newtoniana, o mais prestigiado modelo científico de todos os
tempos, foi falseado por dois experimentos simples e uma equação magistral (E = mC2).
Mas não existem experimentos possíveis que possam falsear a teoria de que a posição de determinados corpos
celestes afetam a vida de pessoas nascidas em determinado período de determinada forma.

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A abrangência das previsões e a falta de um modelo simples e claro que as expliquem tornam a astrologia de
horóscopo não falseável e, portanto, não científica.

LIMITES DA CIÊNCIA

Com Popper, os limites da ciência se definem claramente. A ciência produz teorias falseáveis, que serão válidas
enquanto não refutadas. Por este modelo, não há como a ciência tratar de assuntos do domínio da religião, que tem
suas doutrinas como verdades eternas ou da filosofia, que busca verdades absolutas.
O melhor no velho filósofo, que se opôs ao nazismo e dedicou sua vida à defesa de boas causas, é que suas
teorias se aplicam a elas próprias. Assim, se amanhã alguém redigir uma melhor definição de teoria científica, as ideias
de Popper humildemente sairão de cena para tomar seu lugar na história da ciência.
Entre as muitas virtudes que nossa ciência adquiriu dos grandes sábios que lhe deram grandeza, Popper nos
mostrou uma ciência que se faz grande na virtude da humildade.

WITTGENSTEIN e o argumento da linguagem privada

O filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) é conhecido


por ter desenvolvido duas filosofias bem distintas em sua
vida, uma exposta na obra Tratactus Lógico-
Philosophicus, de 1921, e outra em Investigações
filosóficas, publicado postumamente, em 1953.
Os dois livros são representativos no
pensamento de Wittgenstein por exporem duas teorias
da linguagem bem diferentes. A primeira, de que a
linguagem figura o real, influenciou os positivistas lógicos
do Círculo de Viena, enquanto a segunda, de que a
linguagem expressa o real em suas funções práticas,
contribuiu para mudar os rumos da filosofia analítica, na Escola de Oxford.
Uma maneira interessante de verificar essa distinção é analisando o chamado "argumento da linguagem
privada", que Wittgenstein, apesar de nunca tê-lo chamado com esse nome, trabalha em Investigações filosóficas.

LINGUAGEM E PERCEPÇÃO

Para a tradição filosófica desde Descartes, a linguagem se refere a um conjunto de dados dos sentidos. A frase
"dor de dente", assim, se refere a uma sensação de dor que a pessoa sente em algum dente.
Mas como saber se o que estou sentindo e chamo de "dor de dente" corresponde àquela mesma sensação que
você teve e que também chamou de "dor de dente"? Ou o que você chama de "amor", será que é o mesmo referente
que eu designo quando uso essa palavra? Ou ainda, quando um repórter na TV pergunta para uma pessoa o que ela
está sentindo, depois de sobreviver a uma enchente, por exemplo, o relato corresponderia realmente às mesmas
sensações que teríamos se tivesse acontecido conosco?
É razoável supor que podemos usar palavras de forma equivocada, como quando digo que uma cor é "lilás" e
outra pessoa diz "roxo". Estamos tendo a mesma percepção do espectro de luz? Diz o filósofo: "O essencial das
vivências privadas não é que cada um possua seu exemplar, mas que nenhum saiba que se o outro tem também isto ou
algo diferente. Seria pois possível a suposição - ainda que não verificável - de que uma parte da humanidade tenha uma
sensação do vermelho e outra parte uma outra sensação" (IF § 272).

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Como aprenderíamos a ligar o nome a uma coisa, se o nome fosse inventado tendo como base a minha
percepção das coisas? Como saber que estamos falando da mesma coisa? Wittgenstein dá ainda o exemplo da caixa
contendo um besouro: "Suponhamos que cada um tivesse uma caixa e que dentro dela houvesse algo que chamamos
de 'besouro'. Ninguém pode olhar dentro da caixa do outro; e cada um diz que sabe o que é um besouro apenas por
olhar seu besouro. Poderia ser que cada um tivesse algo diferente em sua caixa" (IF § 293).
Poderia também inventar um nome completamente distinto para as coisas de modo que somente eu
compreendesse aquilo, como uma linguagem privada que não pudesse compartilhar com o mundo. Um vocabulário e
uma gramática desconhecida dos demais, um código próprio que somente quem o criou pudesse compreender.
O argumento da linguagem privada de Wittgenstein nega que tal coisa seja possível. Basicamente, faz isso por
rejeitar a noção de que as palavras tenham como referentes diretos as sensações, que elas representariam.

LINGUAGEM E COMPORTAMENTO

Para o "segundo" Wittgenstein, não aprendemos que a palavra "dor de dente" significa uma sensação de dor
de dente, mas aprendemos a expressar um comportamento. Em outras palavras, uma criança não aprende a essência
de um dado sensível representado por um signo (a palavra "dor", por exemplo), mas como expressar um determinado
comportamento, um uso prático.
Vejam o que Wittgenstein diz: "Como as palavras se referem a sensações? (...) Por exemplo, da palavra 'dor'.
Esta é uma possibilidade: palavras são ligadas à expressão originária e natural da sensação, e colocadas no lugar dela.
Uma criança se machucou e grita; então os adultos falam com ela e lhe ensinam exclamações e, posteriormente, frases.
Ensinam à criança um novo comportamento perante a dor" (IF, § 244).
Quando uma criança sente dor, ela reage com uma expressão natural de dor, o choro. Mas fica muito difícil
para uma mãe, por exemplo, saber se uma criança que chora está com dor de ouvido, cólica ou apenas irritada e com
sono.
Com o tempo, a criança é adestrada a substituir uma expressão natural por uma outra, simbólica. Assim,
quando sente dor, usa uma frase para expressar a dor, que substitui ou complementa um grito ou choro, dizendo
"Estou com dor de ouvido" ou "Minha barriga dói".
Não somos, deste modo, ensinados a usar uma palavra para significar um objeto, mas um uso linguístico,
simbólico e convencional, que pode substituir uma expressão natural para tais sensações.
Para Wittgenstein, o significado de uma linguagem é dado em seu uso, e como são usos diferentes, ele fala em
jogos de linguagem. Não aprendemos o nome das coisas, mas um comportamento expressivo que substitui o
comportamento natural.
Para concluir, a solução para o problema da caixinha do besouro: "Mas, e se a palavra 'besouro' tivesse um uso
para essas pessoas? Neste caso, não seria o da designação de uma coisa. A coisa na caixa não pertence, de nenhum
modo, ao jogo de linguagem nem mesmo como um algo: pois a caixa poderia também estar vazia. Não, por meio desta
coisa na caixa, pode-se 'abreviar'; seja o que for, é suprimido. Isto significa: quando se constrói a gramática da
expressão da sensação segundo o modelo de 'objeto de designação', então o objeto cai fora de consideração, como
irrelevante" (IF § 293).
Isso quer dizer que não importa a sensação que tenhamos - a suposta "essência" de nossa linguagem -, mas
simplesmente sua função, seu uso no cotidiano.

CONHECIMENTO EMPÍRICO

As reflexões de Wittgenstein o levam a concluir que é impossível falar de uma linguagem privada, pois o que se
aprende não é uma palavra que designa uma coisa, mas um conjunto de regras sociais para cada uso que fazemos da
linguagem. Isso tem, pelo menos, duas consequências para a filosofia analítica:

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Como a linguagem não descreve sensações de objetos físicos exteriores, não há nenhum sentido em se falar de
enunciados verdadeiros ou falsos em relação à palavra com seu objeto.
Não tendo como distinguir entre enunciados verdadeiros ou falsos em relação a questões de fato, se torna
impossível fundamentar o conhecimento empírico nos dados dos sentidos, com queriam os positivistas lógicos.
As especulações de Wittgenstein iriam repercutir no trabalho de teóricos importantes, como no pragmatismo
do filósofo americano Willard Van Orman Quine (1908-2000) e na teoria dos atos de fala do filósofo inglês John
Langshaw Austin (1911-1960).

Referência bibliográfica
WITTGENSTEIN, Ludwig. "Investigações Filosóficas", em Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1991. [Citados como
IF, seguido do parágrafo].

FONTE:

UOL VESTIBULAR

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