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O Grande Evangelho de João – Volume II

Obras da Nova Revelação 1

RECEBIDO PELA VOZ INTERNA POR JAKOB LORBER

TRADUZIDO POR YOLANDA LINAU


REVISADO POR PAULO G. JUERGENSEN

Volume II

Edição eletrônica
Jakob Lorber
2

DIREITOS DE TRADUÇÃO RESERVADOS

Copyright by
Yolanda Linau

Jakob Lorber – O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO – 11 volumes

Traduzido por Yolanda Linau


Revisado por Paulo G. Juergensen

Edicão eletrônica

UNIÃO NEO-TEOSÓFICA
2001

www.neoteosofia.com.br
O Grande Evangelho de João – Volume II
3

ÍNDICE

1. Acerca da Punição de Criminosos 13


2. Judas Iscariotes, Ladrão 15
3. O Emprego Justo do Poder Milagroso e Curador 17
4. Visita e Descrição de Uma Caverna Estalactítica 20
5. História dos Tesouros Descobertos 23
6. Origem e Demolição da Caverna Estalactífera 25
7. Fausto Encontra os Tesouros Bem Organizados 27
8. O Reino do Céu 29
9. A Natureza do Céu e do Inferno 31
10. A Lei da Ordem 33
11. O Senhor e Seus Discípulos Partem Para Nazareth 35
12. Segunda Ressurreição de Sarah 38
13. Cena Entre Jairo e Sua Mulher 41
14. A Diferença Entre o Poder Humano e o Poder Divino 44
15. Philopoldo dá Testemunho da Divindade em Jesus 47
16. O Senhor se Dirige à Sinagoga 49
17. O Senhor Explica um Texto de Isaías 51
18. A Natureza de Deus e Sua Verdadeira Adoração 53
19. Ignorância e Perturbação dos Fariseus 55
20. Medo dos Templários Diante do Julgamento Romano 57
21. Cirenius e os Templários 60
22. Cura dum Artrítico. Testemunho do Nazareno 62
23. Admoestação Feita aos Nazarenos 64
24. Discurso de Cirenius a Respeito dos Nazarenos 66
25. Indignidade do Povo 67
26. Ensinamentos para Legisladores 69
27. Prejuízo para a Alma Através de Leis Humanas 72
28. A Liberdade do Espírito 73
29. Bênção da Evolução Independente 75
30. Evolução e Lei 77
Jakob Lorber
4

31. Jairo Fala Sobre os Efeitos dos Milagres 78


32. Tendências Básicas do Ser Divino 79
33. Cura da Família dum Velho Judeu 81
34. Cena Entre os Fariseus e o Genro do Velho 83
35. Os Fariseus Fazem a Leitura do Salmo nº 37. Sábio Conselho de Roban 84
36. O Velho Roban em Companhia de Jesus 88
37. Josa, o Velho, Agradece ao Senhor 90
38. A Natureza Humana e a Natureza Divina do Senhor 92
39. A Influência dos Anjos Sobre os Homens 94
40. O Amor para com Deus 96
41. A Natureza do Verdadeiro Amor 98
42. O Dia do Juízo Final 99
43. O Senhor e os Seus, na Pesca 100
44. Traços Pessoais de Borus 102
45. A Verdadeira Natureza dos Anjos 106
46. O Amor ao Próximo, dos Médicos 108
47. Uma Proposta a Jairo. Cerimônias Externas 110
48. Assuntos Hereditários de Jairo 113
49. Abdicação de Jairo. O Senhor na Sinagoga 115
50. Palestras dos Anciãos Sobre a Situação Judaica 119
51. Testemunho dum Orador a Respeito da Arca 121
52. Discurso de Defesa do Ancião 123
53. Chiwar Testemunha da Vida e das Ações de Jesus 125
54. Conselho dos Anjos aos Templários Convertidos 127
55. Relação Entre os Povos e Seus Dirigentes 129
56. Roban e Kisjonah Relatam Suas Aventuras 131
57. O Trabalho Cósmico dos Anjos 133
58. As Relações das Criaturas desta Terra para com o Pai 134
59. A Grande Luta Dentro do Homem 136
60. A Utilidade das Paixões 138
61. A Importância do Livre Arbítrio 139
62. O Pensar no Coração 140
63. A Volta do Filho Perdido 142
O Grande Evangelho de João – Volume II
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64. A Respeito do Ser, da Vida e do Trabalho dos Espíritos da Natureza 144


65. Contos de Gnomos. A Feitiçaria 145
66. Feiticeiros e Adivinhos 148
67. O Senhor Cura um Endemoninhado 150
68. Um Evangelho para os Ricos 152
69. Na Tumba de Jairo 155
70. Ressurreição de Josoé 156
71. Estupefação de Bab e sua Mulher. Promessa de Imortalidade Dada a
Josoé 158
72. O Verdadeiro Culto a Deus 160
73. A Ceia em Casa de Maria 161
74. Discussão Entre Judas e Thomás 163
75. O Senhor Adverte Judas 165
76. Humildade e Renúncia 167
77. As Três Qualidades de Amor 168
78. Plano Inteligente de Josoé 170
79. Dois Anjos Oferecem Seus Préstimos a Josoé 172
80. Cirenius Adota Josoé 174
81. Relato de Roban, Referente ao Novo Reitor 176
82. História e Fim de João Batista 177
83. Cena com o Novo Chefe do Templo em Nazareth 179
84. Chiwar Testemunha de João Batista e Jesus 182
85. O Senhor Louva Roban e Chiwar 184
86. Korah, o Novo Reitor, e Chiwar na Sinagoga de Nazareth 186
87. Chiwar e Korah Discutem a Ressurreição de Sarah 189
88. Opinião de Chiwar a Respeito do Templo 191
89. Palestra Entre Chiwar e Korah a Respeito do Messias. Satanás Desafia
Chiwar 193
90. Korah Lembra-se do Senhor 195
91. Os Amigos de Jesus em Casa de Borus 197
92. A Graça do Senhor Quanto à Humanidade 198
93. Borus Fala Sobre a Natureza Humana 200
94. Convivência dos Amigos do Senhor, em Nazareth 201
Jakob Lorber
6

95. A Cura Milagrosa e a Multiplicação dos Pães 203


96. Os Discípulos no Mar Tempestuoso 205
97. Judas Elogia os Milagres dos Essênios 207
98. João e Bartholomeu Explicam a Judas os Truques dos Essênios 211
99. Filosofia dos Essênios 213
100. Os Discípulos em Alto Mar 215
101. Pedro Dá sua Prova de Fé 216
102. Chegada à Cidade Livre Genezareth 217
103. O Senhor e os Seus no Albergue de Ebahl 219
104. O Senhor Abençoa a Família de Ebahl e Critica os Essênios 221
105. O Senhor e o Comandante Romano 224
106. As Experiências Mundanas do Comandante 225
107. A Pessoa e a Missão do Senhor 227
108. Relação Entre o Profeta e Deus 228
109. Os Profetas e a Diferença de Sua Atitude Quanto a do Senhor 230
110. O Prado Abençoado. O Passeio Sobre o Mar 231
111. A Verdadeira Prece 233
112. Ordem Doméstica e Amor 235
113. O Perigo do Elogio 236
114. Yarah Expõe Suas Experiências com Relação às Suas Preces 238
115. Yarah Vê os Céus Abertos 239
116. A Doutrina de Jesus Deve se Tornar Posse Comum 240
117. A Chegada de Doentes. Os Hóspedes de Jerusalém e Sua Missão 242
118. Cena Entre o Comandante e os Templários 243
119. O Poder do Amor 246
120. Sonho de Yarah Referente à Crucificação do Senhor 247
121. Palestra Entre o Comandante Julius e o Senhor 249
122. Grande Cura Milagrosa 251
123. O Senhor e o Chefe dos Fariseus 252
124. Dissertação de Julius Quanto à Bênção do Senhor 254
125. Três Documentos 256
126. Advertência do Senhor Quanto à Astúcia dos Templários 258
127. O Senhor Fala Sobre o Espírito do Amor 259
O Grande Evangelho de João – Volume II
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128. Palestra Entre os Templários e os Essênios 261


129. O Senhor e os Dois Essênios 263
130. Escalada Maravilhosa 264
131. No Cume da Montanha 266
132. A Natureza do Medo 268
133. Cristo, Mediador Entre Céus e Terra 269
134. O Levantamento do Mar Galileu 271
135. Prova de Amor de Yarah 273
136. O Poder dos Anjos. Visita a Uma Estrela 275
137. A Faculdade Interna para Contemplar a Criação 277
138. Um Instituto de Renúncia, no Além 279
139. Pesquisando a Organização Cósmica 281
140. Estados Evolutivos no Além 282
141. A Grandiosidade do Espírito Humano 283
142. A Verdadeira Grandeza Espiritual 285
143. Os Discípulos são Despertados 286
144. Discurso de Louvor de Yarah 288
145. Realidade do Sonho 289
146. Yarah e os Presentes que Recebeu 290
147. Convívio com o Senhor, pelo Coração 292
148. Os Fenônemos Naturais e sua Interpretação Espiritual 294
149. Observações Durante a Aurora 296
150. Os Essênios Recebem do Senhor a Incumbência de Construirem uma
Escola Maçônica 298
151. O Almoço Abençoado no Cume da Montanha 299
152. Aparição de Satanás 301
153. A Descida da Montanha 304
154. Milagre Curador na Hospedaria de Ebahl 305
155. Zelo do Amor 307
156. Questão de Sexo dos Anjos 308
157. A Distribuição de Esmolas e a Celebração em Memória de Alguém 310
158. O Salmo 47 de David 312
159. A Respeito do Amor aos Inimigos 315
Jakob Lorber
8

160. Os Marujos Relatam os Acontecimentos Noturnos 317


161. Rafael e o Marinheiro 318
162. Recepção dos Fariseus em Genezareth 320
163. O Comandante Julius Relata Episódios do Templo 321
164. A Imitação de Jesus 322
165. Cena entre Rafael e Yarah 324
166. Amor, Clemência e Paciência 326
167. Despedida do Senhor e Partida para Sidon e Tyro 328
168. Cena com a Mulher Cananéia, Perto de Tyro 329
169. A Obsessão 331
170. A Fonte Milagrosa 333
171. Grande Cura Milagrosa na Montanha 334
172. Predição do Senhor Quanto à Sua Doutrina 335
173. A Segunda Multiplicação dos Pães 337
174. Fariseus e Saduceus Tentam o Senhor 338
175. O Senhor Numa Pobre Cabana, em Cesaréia Philippi 341
176. O Testemunho dos Discípulos Sobre o Cristo 344
177. Marcus, o Dono da Cabana, Relata Crueldades do Templo 346
178. Fato Ocorrido com os Templários 347
179. Revolta dos Discípulos, em Vista das Crueldades Templárias 349
180. A Pesca Abençoada. O Estrume do Templo 350
181. Marcus e os Caçadores do Dízimo 351
182. O Senhor Prediz Sua Morte e Ressurreição 353
183. A Visita de Cirenius é Anunciada 355
184. Marcus Recebe Cirenius 356
185. Método de Ensino Angelical 357
186. O Presente de Cirenius a Marcus 360
187. A Assembléia no Mar 361
188. João Explica a Diferença Entre a Compreensão Natural e Espiritual 362
189. Chegada dum Navio Militar. A Pesca Abundante 364
190. Os Novos Hóspedes 365
191. Métodos de Ensino, Celestial e Mundano 366
192. Os Direitos Tributários do Templo 369
O Grande Evangelho de João – Volume II
9

193. Tratamento de Malfeitores e Obsedados 370


194. As Sábias Palavras de Yarah 372
195. Matéria e Espírito 374
196. Yarah Desata, por Josoé, o Nó Górdio 375
197. O Conhecimento Limitado das Criaturas 376
198. Que é a Verdade? 378
199. O Segredo da Origem de Toda a Sabedoria 379
200. Josoé e Yarah, em Palestra 380
201. Observações de Yarah Acerca de seu Jardim 381
202. Interpretação do Quadro 383
203. O Materialismo e seus Propagadores 384
204. Palestra entre Josoé e Yarah, a Respeito de Judas 386
205. Cada Povo Necessita de Seus Meios Evolutivos 387
206. Josoé Tenta Desculpar-se 389
207. Dissertação de Josoé 390
208. A Imposição da Lei, e o Amor 391
209. A Pureza da Alma 392
210. Corpo e Alma 394
211. Cirenius Faz um Discurso Socialista 396
212. A Miséria, um Meio Educativo 397
213. Consequências do Bem-Estar 399
214. O Contra-Senso Contido na Gênesis 399
215. A Formação do Primeiro Homem 401
216. O Processo de Crescimento do Trigo 403
217. A Evolução Espiritual do Homem 404
218. Alma e Corpo 406
219. A Criação de Céu e Terra 407
220. Terra e Luz 409
221. Separação de Luz e Treva 410
222. Fase Final da Criação 412
223. Parecer de Cirenius a Respeito da História da Gênesis 413
224. A Queda dos Arcanjos, de Adam, e o Pecado Original 414
225. O Poder da Hereditariedade 416
Jakob Lorber
10

226. As Preocupações Mundanas e Suas Consequências Nefastas para a


Alma 417
227. A Queda dos Arcanjos 419
228. Força e Resistência 422
229. A Natureza de Satanás 423
230. O Ensino Dos Arcanjos 425
231. As Consequências da Queda de Lúcifer 426
232. Invólucro e Alma 428
233. O Saber 429
234. Marcus Disserta Sobre o Próximo 431
235. Marcus Salva Fariseus Naufragados 433
236. Crítica dos Fariseus à Pessoa de Julius 435
237. Decisão dos Fariseus 437
238. Conselho do Senhor Quanto à Prática do Amor ao Próximo 439
239. Julius Aconselha os Fariseus 441
240. Yarah dá Testemunho do Senhor 443
241. As Intenções do Templo são Reveladas 444
242. O Milagre do Arcanjo Rafael 445
243. Dissertação do Jovem Fariseu 447
244. Julius Esclarece os Fariseus 448
O Grande Evangelho de João – Volume II
11

S eria ilógico admitirmos que a Bíblia fosse a cristalização de


todas as Revelações. Só os que se apegam à letra e desconhe-
cem as Suas Promessas alimentam tal compreensão. Não é Ele sem-
pre o Mesmo? “E a Palavra do Senhor veio a mim”, dizia o profeta.
Hoje, o Senhor diz: “Quem quiser falar Comigo, que venha a Mim,
e Eu lhe darei, no seu coração, a resposta.”

Qual traço luminoso, projeta-se o conhecimento da Voz Interna, e a


revelação mais importante foi transmitida no idioma alemão duran-
te o ano de 1864, a um homem simples chamado Jakob Lorber. A
Obra Principal, a coroação de todas as demais é “O Grande Evange-
lho de João” em 11 volumes. São narrativas profundas de todas as
Palavras de Jesus, os segredos de Sua Pessoa, sua Doutrina de Amor
e de Fé! A Criacão surge diante dos nossos olhos como um aconte-
cimento relevante e metas de Evolução. Perguntas com relação à
vida são esclarecidas neste Verbo Divino, de maneira clara e compre-
ensível. Ao lado da Bíblia o mundo jamais conheceu Obra Seme-
lhante, sendo na Alemanha considerada “Obra Cultural”.

Obras da Nova Revelação


O GRANDE EVANGELHO DE JOÃO
A INFÂNCIA DE JESUS
O MENINO JESUS NO TEMPLO
A CRIAÇÃO DE DEUS
A MOSCA
Jakob Lorber
12

BISPO MARTIN
ROBERTO BLUM
OS DEZ MANDAMENTOS
MENSAGENS DO PAI
CORRESPONDÊNCIA ENTRE JESUS E ABGARUS
PRÉDICAS DO SENHOR
SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO E A CAMINHO DE EMAÚS
AS SETE PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ
A TERRA E A LUA
PREPARAÇÃO PARA O DIA DA ASCENSÃO DO SENHOR
PALAVRAS DO VERBO
EXPLICAÇÃO DE TEXTOS DA ESCRITURA SAGRADA
OS SETE SACRAMENTOS E PRÉDICAS DE ADVERTÊNCIA
O Grande Evangelho de João – Volume II
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Permanência de Jesus e dos Seus em Kis e Nazareth.

Ev. Matheus – Capítulo 13 (continuação).

1. ACERCA DA PUNIÇÃO DE CRIMINOSOS

1. Altas horas da noite chegam os tesouros da caverna de Kisjonah,


representados em ouro, prata e uma quantidade enorme de pedras preci-
osas; há três libras de diamantes lapidados, cerca de sete libras em bruto,
outro tanto de rubis, o dobro em esmeraldas, jacintos, safiras, topázios,
ametistas e quatro libras de pérolas do tamanho de ervilhas. Em ouro,
vinte mil libras e em prata, cinco vezes mais.
2. Quando Fausto vê esta riqueza imensa, exclama: “Senhor! Como
filho de um dos mais ricos patrícios de Roma, tive oportunidade de apre-
ciar grandes tesouros; mas coisa idêntica, jamais vi! Isto sobrepuja todo o
poderio dos faraós e a fábula de Creso, cuja riqueza era tal, que desejou
construir um palácio de ouro, no que foi impedido pelo seu inimigo.
3. Agora, dize-me Tu, Senhor, que és conhecedor de tudo, como
poderiam estes onze servos de Satanás conseguir tamanha riqueza! Não
lhes teria sido possível por meios lícitos! Como, pois, deu-se isto?”
4. Digo Eu: “Amigo, não te preocupes mais! Não vale a pena perder
muitas palavras com estas imundícies do demônio. Asseguro-te, porém,
que em toda esta riqueza não há uma, sequer, moeda honesta! Seria per-
der tempo discriminar as traficâncias vergonhosas que esta ninhada de
víboras praticou para juntar tudo que vês.
5. Certamente não duvidas de que são todos uns criminosos, os mais
perversos; ninguém, porém, necessita saber até que ponto chega sua per-
versidade. Pela lei de Roma merecem dez vezes a morte, apenas pelo crime
de saque à caravana de impostos imperiais; e o roubo presente em nada é
mais atenuado, embora não atinja tão de perto os impostos romanos.
6. Mesmo se soubesses de tudo, não poderias matá-los mais de uma
vez. Podes aguçar o martírio, mas para que? Sendo violento, – usando de
Jakob Lorber
14

vossos termos jurídicos – não deixa de se tornar mortal; se for mais ame-
no, porém mais prolongado, o criminoso não sentirá muito mais do que
sentirias, caso uma mosca te importunasse. A alma, cega de conhecimen-
tos espirituais, apavora-se com a morte certa do seu corpo e se retrai para
dentro de sua morada mais recôndita; começa de livre e espontânea von-
tade a se libertar do invólucro material, que não lhe proporciona mais
estada, tornando-o deste modo completamente insensível. Poderás
martirizá-lo à vontade, que ele pouco ou nada sentirá. Se, de outro modo,
lhe aplicares uma dor muito intensa, a psique não a suportará por muito
tempo, rompendo o laço; poderás, então, queimá-lo ou assá-lo, que ele
nada disto sentirá.
7. Por isto sou contra a pena de morte, porque não tem valor para o
sentenciado e, muito menos, serve de escudo ou utilidade à justiça; terás
matado um – e milhares jurarão vingança! Sou a favor de que um crimi-
noso deva ser tratado com a maior severidade, até que se regenere com-
pletamente! Um açoite em época oportuna é melhor do que dinheiro e
ouro puro, pois a alma deste modo se liberta mais e mais de sua matéria
e, finalmente, acaba se dirigindo para o seu espírito; assim, ela é salva da
perdição e a criatura da morte eterna!
8. Eis a razão por que juiz algum deveria castigar o maior criminoso
com a morte física, que de nada vale, mas sempre com o açoite, de acor-
do com o crime cometido. Se assim fizer, será juiz das criaturas para o
Céu, – em caso contrário – para o inferno, pelo que jamais terá recom-
pensa de Deus, mas sim daquele reino, pelo qual julgou os criminosos!
Agora sabes bastante e podes mandar guardar os tesouros! Amanhã tam-
bém chegarão os de Chorazim e então se iniciará a distribuição e os des-
pachos de toda esta imundície de Satanás. – Agora, porém, entremos no
refeitório, que o jantar já nos espera! Realmente, este caso está Me abor-
recendo e é tempo de Me apressar para Nazareth!”
9. Diz Fausto: “Senhor, reconheço que tudo isto Te incomoda, mas
que fazer? Peço-Te, meu Senhor e meu melhor e maior amigo, que não
partas daqui antes de mim. Em primeiro lugar, nada poderei sem Ti, e
além disto, morreria de enfado sem Tua Presença, não obstante a minha
O Grande Evangelho de João – Volume II
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querida esposa aqui se encontrar! Espero que até amanhã à tarde tudo
esteja em ordem!”
10. Digo Eu: “Muito bem! Nada mais, porém, quero ver destes
tesouros, nem dos onze fariseus! Já Me repugnam como se fossem cadá-
veres!” Responde Fausto: “Tratarei disto!”

2. JUDAS ISCARIOTES, LADRÃO

1. Mal tínhamos iniciado a refeição quando dois servos conduzem


Judas perante o juiz supremo e lhe comunicam que aquele tivera a inten-
ção de furtar algumas libras de ouro; eles, porém, pegaram-no em fla-
grante, tiraram-lhe o ouro e o trazem até aqui.
2. Judas, horrivelmente envergonhado, diz: “Nem de longe me pas-
sou pela idéia apossar-me do ouro; apenas queria conferir o seu peso. E
estes tolos me acusam de ladrão e me apresentam como tal! – Peço-te,
Fausto, que este vexame me seja tirado!”
3. Diz Fausto aos servos: “Deixai-o ir! É um adepto do Senhor e por
isto poupá-lo-ei.” E, dirigindo-se a Judas: “Futuramente evita, principal-
mente à noite, pegar em barras de ouro, a não ser que sejas um taxador
imperial. Caso contrário sofrerás a punição judicial por tentativa de rou-
bo! Compreendeste bem o juiz supremo, Fausto?”
4. Responde Judas, todo confundido: “Senhor, não houve o mínimo
vestígio dum roubo tencionado, e apenas uma experiência do seu peso.’’
5. Digo Eu: “Vai e procura teu leito! Morrerás também deste mal,
pelo qual todos os ladrões morrem, pela mão de Satanás; pois foste, és e
serás um ladrão! Enquanto a severidade da lei te retém, não o és em ação;
mas, no teu íntimo, há muito tempo! Se Eu revogasse todas as leis, serias
o primeiro a pôr a mão nos tesouros. É uma lástima não pulsar sob tua
cabeça um coração mais prestável! – Vai dormir, a fim de que amanhã
sejas mais cordato!”
6. Com esta admoestação Judas se retira envergonhado e, no seu
Jakob Lorber
16

quarto, reflete durante duas horas como poderia se esquivar daquilo que
Eu lhe havia profetizado; mas não há saída no seu coração, porquanto
este faz ouvir constantemente a sua voz ávida pelo ouro. Deste modo,
adormece. – Como as duas noites anteriores nos tivessem cansado bas-
tante, também nos recolhemos. A alvorada, porém, não está longe.
7. Enquanto Fausto tenciona cochilar mais um pouco, eis que che-
gam os portadores do tesouro de Chorazim e ele se vê obrigado a levantar
para revistá-lo e taxá-lo. Quando termina, já nos encontra de pé e a me-
renda também se acha arrumada na sala de refeição. O juiz, exausto,
entra com sua jovem esposa e toma lugar ao Meu lado.
8. Em seguida Me conta que sua tarefa matinal já está terminada e
que tudo tinha seguido seu destino. Tanto os documentos, como as car-
tas judiciais se encontram prontos no escritório. O tesouro da caverna de
Kisjonah tinha sido bem dividido e munido de documentos comproba-
tórios, o mesmo se dando com o outro tesouro. Somente havia ainda
considerável quantidade de apetrechos de carpintaria, cujo dono não se
tinha manifestado.
9. Digo Eu: “Lá, na ponta da mesa, sentados ao lado de Maria,
estão dois filhos de José, de nomes Joses e Joel; isto lhes pertence!
Foi-lhes tirado como penhora junto à pequena casinha em Nazareth
e lhes será restituído!”
10. Diz Fausto: “Senhor, inclusive a casinha! Dou-Te a minha palavra!
Oh, Senhor e amigo! Quantos aborrecimentos já me proporcionaram estas
asas-negras; mas a lei é a favor deles e não há meios de condená-los. Prati-
cam as maiores injustiças diante dos meus olhos, sem que seja possível agir,
embora o poder me assista; aqui, porém, Satanás os abandonou e tenho
uma arma em mãos, que os fará tremer como uma folha seca na tempesta-
de! O relato ao governador Cirenius é uma obra-prima, atestada por ele e
imediatamente expedida para Roma. Partindo de Tyro, Sidon e Cesaréia, o
navio imperial, munido de uma vela possante, com vinte e quatro remado-
res estará em doze dias na costa romana, portanto, nas mãos do imperador!
Bom proveito para estes ladrões!
11. Digo Eu: “Amigo, afirmo-te que te regozijas cedo demais! Den-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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tro do Templo os doze terão que aguardar boa coisa; não serão mortos,
mas presos na câmara de penitência até o fim da vida! Perante Roma,
porém, serão abertamente desculpados, – e depois exigir-se-á de ti expli-
cações minuciosas a terás dificuldade em responder a todas as perguntas.
Por isto, deixar-te-ei Pilah, que te prestará bons serviços. Trata de arranjar
depressa uma indumentária romana para ele a fim de que não seja reconhe-
cido por seus colegas de Capernaum! Pois digo-te: nem o próprio Satanás
tem seu regimento tão bem adestrado como esta ninhada de serpentes. Por
isto, sê meigo como as pombas e precavido como a serpente, senão terás
dificuldades com esta geração!”
12. Diz Fausto: “Agradeço-Te bastante por este conselho! Como, po-
rém, este negócio teve solução, vamos tratar de coisas mais agradáveis!”
13. Digo Eu: “Pois não! Esperemos apenas por Kisjonah, que está
aprontando seu cofre!”

3. O EMPREGO JUSTO DO PODER MILAGROSO E CURADOR

1. Depois de algum tempo chega Kisjonah, cumprimenta a todos


com amabilidade e diz: “Meu querido amigo Jesus! Dou-Te este Nome
apenas externamente, pois sabes Quem és no meu coração! Agradeço
tudo isto unicamente a Ti! Isentei os pobres habitantes de Caná apenas
com a pequena soma de cinco mil libras e Tu me proporcionaste cinquenta
mil, não contando o valor incalculável dos tesouros restantes, que talvez
representem o dobro! Prometo, pelo amor indescritível para Contigo,
empregar tudo isto em benefício dos necessitados e oprimidos, e desta
imundície de Satanás ainda se fará ouro para os Céus de Deus!
2. Não pretendo, em absoluto, dar ouro e prata aos pobres, pois isto
é sempre um veneno para as criaturas fracas; proporcionar-lhes-ei casa e
terreno sem juros, dando-lhes também gado, pão e roupas. A todos os
beneficiados pregarei o Teu Verbo, anunciando o Teu Nome, para que
saibam a Quem devem tudo isto, pois sou apenas um servo mau e pregui-
Jakob Lorber
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çoso! Tu, ó Senhor, fortalece-me sempre quando servir em Teu Nome! Se


algum dia, porém, deixar-me tentar em dirigir apenas um sentido ao
mundo, faze com que todas as minhas forças fraquejem para que eu
mesmo possa reconhecer em mim um homem falho, nada conseguindo
pelo próprio esforço!”
3. Coloco Minha Mão sobre seu peito e lhe digo: “Amigo e irmão,
guarda-Me aí dentro e jamais te hão de faltar forças para a realização de
obras nobres! Na fé viva e no pleno amor puro para Comigo e na inten-
ção de fazer o bem às criaturas em Meu Nome, poderás mandar nos
elementos e eles te obedecerão! Tua chamada aos ventos não lhes será
incompreensível e o mar reconhecerá tua vontade. E ao falares à monta-
nha: “Levanta-te e joga-te no mar!”, ela obedecerá à tua ordem!
4. Se alguém, no entanto, exigir uma prova para sua fé, não o aten-
derás. Quem não quiser reconhecer a plena verdade, se esta não lhe for
prova suficiente, melhor será continuar em sua cegueira; pois, se for obri-
gado a aceitá-la em consequência da prova e não agir dentro da Doutri-
na, esta prova se tornará um julgamento duplo para ele. Primeiramente,
ver-se-á obrigado a aceitar a verdade por si mesma – reconhecendo-a ou
não em sua cegueira, – segundo, cairá forçosamente num julgamento
mais profundo em si próprio, em virtude da Ordem Divina, quando não
agir pela convicção da prova. Isto já é o bastante; a compreensão ou
incompreensão não justifica quem quer que seja.
5. Pois se alguém desejar um comprovante para confirmação da ver-
dade e disser: “Não reconheço a causa da verdade em tuas palavras; mas
se fizeres um milagre, aceitarei esta doutrina como autêntica!” Bem, ce-
dendo ao pedido de tal pessoa, ela não poderá se esquivar em aceitar a
Luz da Doutrina, mesmo não a compreendendo a fundo, pois a prova é
um testemunho convincente.
6. Como sua cegueira não lhe permite atingir a causa da mesma, e a
imitação da Doutrina lhe traz situações de vida muito incômodas, pensa
de si para si: “Deve haver algo nisto, pois do contrário não seria possível
esta prova; mas, mesmo assim, não vejo a causa de tudo, e se agisse de
acordo teria que me sujeitar a uma renúncia inclemente. Por esta razão,
O Grande Evangelho de João – Volume II
19

prefiro não fazê-lo e continuar na minha maneira de viver, que não me


proporciona fatos extraordinários, entretanto, agrada-me muito!”
7. Vê, nisto consiste o julgamento a que o pedinte se preparou pela
exigência de provas; por sua conduta contrária, declara-se um lutador
contra a Verdade Eterna, renegando-a completamente, não obstante a
prova obtida que lhe foi dada como indicador da verdade, que jamais
poderá ser desfeita. Por isto é muito melhor não fazer milagres como
prova da verdade!
8. Para beneficiar as criaturas, todavia, poderás agir secretamente
neste sentido, sem que alguma coisa te peçam, – e ninguém terá pecado
nem caído em julgamento. Depois de uma prova, poderás doutrinar a
pessoa, se tal desejo existir; caso contrário, faze lhe apenas uma séria ad-
vertência contra o pecado. Mas não te deixes levar em prosseguir na dou-
trinação, porquanto aqueles que curaste te tomariam por médico mago e
a prova não lhes seria um julgamento.
9. Todos aqueles que receberam o poder de agir milagrosamente,
deverão seguir fielmente este Meu Conselho, caso queiram fazer real-
mente a caridade.
10. Além disto, ninguém deve fazer um milagre num momento de
alteração ou aborrecimento! Pois toda prova só deve ser efetuada na base
do mais puro e verdadeiro amor e da meiguice! Se o motivo, porém, for
a ira ou o aborrecimento – o que é muito bem possível – então o inferno
já toma parte e tal prova não traz a bênção, e sim a maldição.
11. Se por diversas vezes já vos dei o Ensinamento de que deveis até
abençoar àqueles que vos amaldiçoam, com muito mais razão deveis evi-
tar uma maldição aos cegos de espírito!
12. Refleti bem sobre isto e agi assim, que transmitireis por todos os
lados as bênçãos, se bem que não espiritual, mas fisicamente, como Eu
fiz e ainda faço! As vezes, uma caridade puramente material age mais no
coração e no espírito do necessitado que cem dos melhores ensinamentos
virtuosos; tanto que está dentro da ordem da divulgação do Evangelho
abrir caminho no coração dos necessitados e só depois pregá-lo às índoles
sadias. Melhor assim do que passar adiante a prédica e em seguida lançar,
Jakob Lorber
20

através dum milagre, os pobres ouvintes numa miséria maior do que fora
o seu estado anterior.
13. Se fores chamado a socorrer um doente, antes de mais nada
toca-lhe com as mãos para que melhore; se ele te perguntar: “Amigo,
como te é possível isto?”, então dirás: “Pela fé viva no Nome Daquele que
foi enviado por Deus dos Céus para a verdadeira bem-aventurança de
todas as criaturas!” – Se depois perguntar pelo nome, dar-lhe-ás o ensina-
mento inicial, de acordo com a capacidade de assimilação, para que possa
compreender a possibilidade deste fenômeno.
14. Quando chegares neste ponto, podes-lhe proporcionar mais e
mais, na medida justa. Se durante estas palestras perceberes que o cora-
ção do ouvinte se anima de maneira positiva, poderás dizer-lhe muito,
que ele o aceitará e acreditará em todas as tuas palavras. Se, porém, lhe
deres demais, de uma só vez, seus sentidos se perturbarão, o que te dará
muito trabalho.
15. Do mesmo modo como não se dá às crianças recém-nascidas o
alimento de um adulto, que as mataria, assim também não se deve forne-
cer, de início, a uma alma infantil, um alimento espiritual completo, e
sim somente aquilo que possa assimilar; senão será aniquilada e difícil se
tornará revivificá-la espiritualmente! Tereis compreendido isto?”
16. Respondem todos com corações sensibilizados: “Sim, Senhor,
tudo isto é tão claro como o sol ao meio-dia e o cumpriremos fielmente!”
17. Digo Eu: “Bem, então vamos até à caverna, na qual os fariseus
haviam escondido seus tesouros; pois nessa gruta existe outra, que iremos
examinar. Muni-vos de archotes, vinho e pão; pois encontraremos seres
mui famintos!”

4. VISITA E DESCRIÇÃO DE UMA CAVERNA ESTALACTÍTICA

1. Kisjonah prepara tudo; Baram, que não se podia separar de nós,


faz com que seus estoques de vinho e pão sejam trazidos pelos emprega-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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dos. Jairuth e Jonael Me pedem para acompanhar a expedição.


2. E Eu digo: “Como não? Sois até muito necessários e Archiel nos
prestará bons serviços! Digo-vos mais: neste momento, uma delegação
de vossos eternos inimigos se encaminha de Sichar para cá, a fim de
convencer-vos a voltar em breve; o povo levantou-se contra eles e depôs
ontem o novo sacerdote, membro da delegação. Estarão aqui à noite e
serão bem tratados por nós! Agora, porém, vamos!” – As mulheres e
moças também fazem menção de acompanhar-nos.
3. Eu, porém, lhes digo: “Minhas queridas filhas, isto não é passeio
para vós; ficai em casa e tratai de um bom jantar!” Elas se acomodam,
inclusive Maria. Lydia, com prazer se teria juntado a nós, mas como vê
que isto não é de Minha Vontade, faz o mesmo que as outras.
4. Entretanto, encaminhamo-nos para a gruta, alcançando-a em al-
gumas horas. Imediatamente nela penetramos com os archotes incendi-
ados. Kisjonah se admira de sua grandeza e tão interessante formação
estalactífera, a mais considerável de toda Ásia Menor, que conta com
uma grande quantidade destas grutas. Figuras gigantescas de toda espécie
recebem os visitantes amedrontados.
5. O próprio Fausto, que não carece de coragem, torna-se medroso
e diz: “Aqui pode-se chegar à conclusão de que no subterrâneo habita
uma espécie de deus, que consegue efetuar estas obras colossais pelo seu
poder nefasto. Vejo figuras de homens, animais e árvores; mas, de que
dimensões! Perto disto, que são os formidáveis templos e as estátuas de
Roma? Vede aí, este árabe bem esculpido! Realmente, quem quisesse chegar
à sua cabeça levaria uma hora, subindo em degraus. Acha-se sentado – e
já fico tonto só de olhar para cima! Isto é sobremaneira raro, estranho e
não pode ser obra do acaso! Ali está um grupo de guerreiros com espada
e lança! Lá no fundo um enorme elefante nos ameaça; a figura nada deixa
a desejar! Senhor, como isto pôde ter surgido?!”
6. Digo Eu: “Amigo, observa tudo que se apresenta à tua visão e não
perguntes muito; a explicação natural seguirá depois. Ainda se dará muita
coisa aqui, que te causará grande admiração; mesmo assim, não indagues
demais! Quando tivermos deixado a caverna, esclarecer-vos-ei a respeito!”
Jakob Lorber
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7. Prosseguindo em nossa excursão, alcançamos um imenso vestí-


bulo, bem iluminado; pois existem aí várias fontes de petróleo, que ti-
nham sido incendiadas há muitos anos por pessoas que habitavam esta
gruta, e desde então ardiam constantemente! No alto deste vestíbulo há
uma saída, pela qual também cai uma forte luz durante o dia.
8. O solo apresenta diversas figuras: serpentes, sapos gigantescos e
múltiplas formas animais, regularmente bem esculpidas, bem como grande
quantidade de pequenas e enormes figuras, de cristais de todas as cores, o
que causa aspecto deslumbrante.
9. Fausto, então, diz: “Senhor, disto se fariam jóias imperiais de ta-
manha abundância, como jamais um imperador poderia imaginar! Cer-
tamente deve ser uma espécie de Tártaro, como foi descrito pelo grego
Mithe? Faltam apenas o Estígio, o velho Caron, os três implacáveis juízes
de almas, Aeko e Radamanto, finalmente o cão de três cabeças, chamado
Cérbero, algumas Fúrias e, talvez ainda, Pluto com a linda Proserpina, –
e o inferno estaria completo! Estes diversos fogos do solo e das paredes,
estas figuras medonhas de animais, – embora mortas e petrificadas –
anunciam estarmos perto, talvez já dentro do Tártaro. Ou então, o que
me parece mais admissível: esta gruta é na certa a base fundamental da
mitologia grega!”
10. Digo Eu: “Existe muita veracidade nisto, embora não em tudo;
pois o sacerdócio esperto de todos os povos sempre soube tirar o maior
proveito destas formações da Natureza. O mesmo fizeram em Roma e na
Grécia, dando livre curso à sua fantasia nefasta, conseguindo enganar po-
vos e povos, no que terão êxito até o fim dos tempos, ora mais, ora menos.
11. Enquanto a Terra apresentar formações consideráveis, de acordo
com sua múltipla maleabilidade, as criaturas em sua cegueira lhes atri-
buirão forças e efeitos divinos, porquanto criam em sua fantasia diversas
caricaturas, sem poder distinguir a verdadeira causa.
12. Vês aí o Estígio (rio), o navegador Caron e, além deste rio da
largura de doze braças e uma vara de profundidade, precisamente um lago
de fácil travessia no ponto mais raso, verás, numa fraca iluminação, os três
juízes, algumas Fúrias, Cérbero e Pluto com Proserpina – figuras estas, que
O Grande Evangelho de João – Volume II
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apenas são reconhecíveis duma certa distância, mas de perto e numa ilumi-
nação forte, parecem-se com tudo, menos com aquilo que a fantasia hu-
mana lhes atribui. – Agora vamos, sem pagar o Naulo (passagem) ao Caron,
a pé sobre o Estígio, para examinarmos de perto este Tártaro.”
13. Em seguida, atravessamos num ponto mais raso o dito rio, pe-
netrando o Tártaro através duma fenda bastante estreita, onde, pela ilu-
minação dos archotes, apresenta-se um tesouro imenso e desconhecido
de todos os fariseus; assim, pois, tudo que era tão oculto, surge por Mim
à luz do dia.

5. HISTÓRIA DOS TESOUROS DESCOBERTOS

1. Fausto, estonteado, chama imediatamente Pilah e lhe diz: “Não


tens conhecimento disto? – Fala, senão te verás comigo!”
2. Diz Pilah: “Senhor, não sabia coisa alguma e nunca penetrei tão
profundamente nesta gruta! Os velhos sacerdotes, certamente o sabiam;
porém, ocultavam-no para guardar o resgate de possível prisão.”
3. Fausto Me pergunta se Pilah fala a verdade e Eu lhe confirmo,
dizendo: “Amigo, se alguém desposar a filha de família conceituada, com
razão poderia esperar um dote. Até então, tiveste muito trabalho e ainda
não foste recompensado, – portanto, aceita este imenso tesouro e
considera-te seu legítimo dono; tem o valor de um milhão de libras.
4. As grandes pérolas, cada uma do tamanho de um ovo de galinha,
possuem maior valor. Um grande cofre de bronze está repleto delas. Tais
pérolas não surgem mais neste planeta, porquanto os crustáceos que lhes
deram origem, bem como muitos outros animais pré-históricos, não mais
existem. Outra particularidade é não terem sido pescadas no mar, mas
encontradas na terra pelo rei Nínias, também chamado Nino, durante as
escavações do solo quando mandou construir a cidade de Nínive. De-
pois de muitas peripécias chegou a Jerusalém uma pequena parte, na
época de David; a maior, porém, veio durante o reinado de Salomon.
Jakob Lorber
24

Para esta caverna foram trazidas quando os romanos conquistaram a Pa-


lestina, ou melhor dizendo, apossaram-se da metade da Ásia.
5. Os sumo pontífices, conhecedores de há muito da existência des-
ta gruta, transportaram todos os tesouros do Templo para cá, logo que
souberam da invasão romana. Os leões de ouro, que em parte carrega-
vam o trono de Salomon e em parte vigiavam seus degraus, ficaram so-
terrados durante a destruição de Jerusalém pelos babilônios, mas na épo-
ca da reconstrução foram descobertos novamente e recebidos pelos sacer-
dotes para uso do Templo. A maior parte também se encontra aqui; um
grande número de riquezas do Templo foi levado durante a invasão dos
babilônios poderosos para a conhecida caverna de Chorazim. Entretanto
os invasores, mais tarde ainda, encontraram vários cálices e outros obje-
tos preciosos, destinados ao uso perpétuo do Templo e os levaram para a
Babilônia. – Agora, ordena ao teu pessoal que tire tudo desta gruta; em
seguida, Archiel irá lacrar a entrada de tal maneira que jamais uma criatu-
ra aqui poderá penetrar!”
6. Fausto emite suas ordens, mas os empregados não são capazes de
suspender os cofres pesados. Então pedem-Me que lhes proporcione a
fúria necessária.
7. Neste instante chamo Archiel e digo-lhe: “Transporta toda esta
imundície para o grande armazém alfandegário em Kis!” – De súbito
desaparecem todos os cofres e Archiel também já está de volta, de sorte
que ninguém pôde perceber sua ausência.
8. Fausto, em seguida, afirma: “Isto ultrapassa tudo que se possa
imaginar! Meus servos teriam levado três dias para esta tarefa, – e agora se
fez tudo num abrir e fechar de olhos! Já não pergunto mais pela possibi-
lidade deste fato, é necessário um sentido divino para compreender e
avaliar com justiça tais milagres!”
9. Digo Eu: “Sim, tens razão! Por enquanto também não seria benefí-
cio para o homem se compreendesse tudo que se lhe apresenta. Pois consta:
“O dia em que comeres do fruto do conhecimento, morrerás!” Por isto é
melhor aceitar todo milagre como se apresenta, imaginando que para Deus
nada é impossível, do que tentar explicá-lo em sua origem, enquanto se
O Grande Evangelho de João – Volume II
25

compreende tão pouco depois da explicação como antes.


10. Basta que vejas ser a Terra feita para abrigar e nutrir as criaturas!
Se soubesses como foi organizada, perderia toda graça, nem sentirias mais
prazer algum, mas avidez de pesquisar uma outra. E caso descobrisses
nesta segunda a mesma base de formação e consistência, e assim também
numa terceira, quarta e quinta, não mais te interessaria analisar uma sex-
ta e sétima. Com isto, tornar-te-ias preguiçoso, enfadado, cansado da
vida, amaldiçoando a hora que te proporcionou tais conhecimentos, es-
tado este que representa a morte completa para tua alma!
11. Mas como tudo é de tal maneira organizado de acordo com a
Ordem Divina – que tanto o homem como também todo anjo só poderão
reconhecer pouco a pouco, o que se relaciona à Natureza Divina em si, em
todas as coisas criadas, e isto somente até certo grau, – a crescente vontade
de viver e o amor para com Deus e o próximo perduram e lhe facultam o
único meio para a bem aventurança eterna. – Compreendes isto?”
12. Diz Fausto: “Sim, Senhor e Amigo, compreendo-o completa-
mente! Portanto, também não mais Te perguntarei pela origem da for-
mação desta gruta!”

6. ORIGEM E DEMOLIÇÃO DA CAVERNA ESTALACTÍFERA

1. Digo Eu: “O conhecimento a respeito não aumentará nem dimi-


nuirá tua vida. Poderás, porém, saber que jamais a mão humana a for-
mou, mas unicamente a natureza dos elementos. As montanhas absor-
vem constantemente a umidade do ar, a chuva, a neve e a neblina que,
não raro, circundam seus cumes. Toda esta umidade ali depositada se
infiltra, na maior parte, pela terra e nas pedras, e quando atingem uma
zona oca, junta-se em gotas, que consistem em parte de cal diluída. Estas
gotas caem. A água pura vai se infiltrando mais profundamente ou, en-
tão, evapora-se no vácuo. A massa calcária se torna mais consistente, sur-
gindo, pela constante aglomeração, as múltiplas formas, que mais ou
Jakob Lorber
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menos assemelham-se às já existentes sobre a Terra. Desta maneira, surgi-


ram todas as formas nesta caverna de um modo natural, embora também
seja admissível que os servos de Satanás muito tivessem contribuído para
o aperfeiçoamento, a fim de ofuscar as criaturas fracas.
2. Portanto, é melhor impedir a penetração nesta gruta por todos os
tempos, porque ela muito favoreceu a superstição. Vamos, pois deixá-la,
para que Archiel possa executar sua incumbência!”
3. Fausto Me agradece por esta explicação e diz: “Compreendo isto
perfeitamente, pois já ouvi esta hipótese por físicos romanos. A sugestão
da cooperação de Satanás é de grande importância, – pois o inimigo da
vida não deixará de aproveitar tais coisas, e suas consequências desastro-
sas se apresentam nas três partes do mundo! Tudo isto me é claro; somen-
te uma coisa não compreendo, – a bem-aventurança de Deus!
4. Dize-me, que prazer Deus poderá sentir em Sua Própria Vida
Imutável, quando a razão intrínseca de todo Ser Lhe é eternamente cons-
ciente, quando para o homem seria um enfado mortal?”
5. Digo Eu: “Observa estas criaturas! São um prazer para Deus, quan-
do se tornam aquilo para que foram destinadas por Sua Ordem. Nelas,
Ele Se resplandece e seu crescimento constante em vários conhecimentos
e, através disto, em todo amor, sabedoria e beleza, representam o gozo e
a bem-aventurança eterna para Deus! Pois tudo que encerra a Eternidade
existe apenas para a pequena criatura e nada há que não fosse exclusiva-
mente criado para ela. – Agora também foste informado sobre isto! Va-
mos, pois sair daqui!”
6. Em poucos minutos tínhamos deixado a gruta e Eu dou um ace-
no a Archiel. No mesmo instante, ouve-se um grande estrondo. A aber-
tura folgada se apresenta agora como uma parede alta de granito, que
dificilmente um mortal poderia atravessar. Mas, para impossibilitar ter-
minantemente a penetração, fez-se um declive no terreno – após o nosso
afastamento dali – de sorte que a tal entrada apresentou-se então na altu-
ra de uns duzentos metros, mais ou menos, e teria sido preciso uma
escada desse comprimento para alcançá-la, o que, por sua vez, não traria
êxito, porquanto o paredão de granito seria um impecilho.
O Grande Evangelho de João – Volume II
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7. Quando Fausto e os outros assistem a esta transformação, diz-Me


aquele: “Senhor e Amigo, realmente, agora custo a me controlar. Os acon-
tecimentos estão se tornando demasiado fenomenais e distam uma Eter-
nidade de meu horizonte de assimilação! Positivamente, não sei se vivo
ou se sonho! Dão-se coisas tão extraordinárias, que a pessoa mais sensata
poderia perder a noção do seu próprio sexo. – Eis esta parede colossal de
granito! Onde se encontrava quando, há pouco, trilhávamos, comoda-
mente, o caminho que dá para a gruta?
8. O mais estranho é que, com toda esta transformação, não há
vestígio, sequer, de uma demolição violenta. Parece que isto já estava
assim, desde eras remotas! Se, por acaso, mil homens trabalhassem du-
rante anos, ainda duvido que tivessem conseguido remover estas massas
colossais! Isto é incrível! Estou curioso acerca da reação dos navegantes
quando derem com esta rocha! – Muitos não poderão orientar-se e ou-
tros farão o que faz o gado quando vê uma nova cerca!”
9. Respondo Eu: “Por isso, digo a vós todos que caleis a respeito e
nem façais menção disto às mulheres; não permiti que nos acompanhas-
sem porque não podem silenciar sobre fatos extraordinários. Podeis rela-
tar a formação da gruta e a descoberta de novos tesouros; mas, fora disto,
nem uma sílaba!” – Todos Me prometem assim agir e em seguida enceta-
mos a caminhada de volta para Kis, chegando lá ao pôr-do-Sol. Somos
recebidos pelas moças e mulheres que, naturalmente desejosas de saber
das novidades, são informadas serem importunas as perguntas, e que só
houve transporte de um tesouro oculto pelos fariseus. Elas se satisfazem
com isto e se calam. Nós, porém, fomos jantar, pois estávamos todos
com apetite.

7. FAUSTO ENCONTRA OS TESOUROS BEM ORGANIZADOS

1. Somente depois do jantar Fausto vai verificar se os tesouros estão


bem acondicionados no armazém. Tudo está numa ordem perfeita e uma
Jakob Lorber
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lista com o valor declarado, acompanhando as diversas preciosidades.


Fausto então, pergunta aos vigias quem havia feito esta lista.
2. Os vigias respondem: “Senhor, já encontramos tudo conforme
está e não sabemos quem a tenha feito.”
3. Continua a perguntar o romano: “Dizei-me, como chegou isto
aqui e quem o trouxe?”
4. Respondem eles: “Também não o sabemos; só pode ter sido um
jovem que, há dias, se encontra aqui em companhia do médico milagro-
so de Nazareth e que mandou que vigiássemos isto. Recebemos a ordem
pelo juiz subalterno e aqui nos encontramos há duas horas. Eis tudo!”
5. Fausto dirige-se, então, ao juiz com a lista e faz as mesmas pergun-
tas; este sabe tanto quanto os vigias. Como Fausto vê que ninguém em
Kis sabe algo da origem dos tesouros, pensa consigo: “Como nada sa-
bem, não mais chamarei a atenção sobre este fato.”
6. Voltando à sua residência, é recebido de braços abertos por sua
jovem esposa. Antes, porém, de recolher-se, ele Me procura para discutir
assuntos importantes. Eu, no entanto, transfiro isto para o dia seguinte e
o aconselho a dar o devido descanso ao corpo e à alma.
7. Cedo, porém, todos se levantam a fim de tomar o desjejum na
sala de refeição e depois disto rendem louvores a Jeovah, conforme cons-
ta no salmo 33, de David: “Regozijai-vos no Senhor, vós justos, pois aos
retos convém o louvor. Louvai ao Senhor com harpa, cantai a Ele com
saltério de dez cordas. Cantai-Lhe um cântico novo; tocai bem e com
júbilo. Porque a Palavra do Senhor é reta, e todas as Suas Obras são fiéis.
Ele ama a justiça e o juízo: a Terra está cheia da Bondade do Senhor. –
Pela Palavra do Senhor foram feitos os Céus e todo o Seu Exército pelo
Espírito da Sua Boca. Ele ajunta as águas do mar num montão; põe os
abismos em tesouros. Tema toda a Terra ao Senhor; temam-No todos os
moradores do mundo. Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apare-
ceu. O Senhor desfaz o conselho das nações, quebranta os intentos dos
povos. O Conselho do Senhor permanece para sempre; bem como os
intentos do Seu Coração de geração em geração. Bem-aventurada a na-
ção cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele escolheu para Sua Herança.
O Grande Evangelho de João – Volume II
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– O Senhor olha dos Céus e está vendo todos os filhos dos homens. Do
lugar da Sua Habitação contempla todos os moradores da Terra. Aquele
que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras.
Não há rei que se salve com a grandeza dum exército nem o homem
valente se livra pela força desmedida. Eis que os olhos do Senhor estão
sobre os que O temem, sobre os que esperam Sua Misericórdia, para lhes
livrar as almas da morte e para os conservar vivos na fome. A nossa alma
espera no Senhor: Ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois Nele se
alegra o nosso coração; porquanto temos confiado no Seu Santo Nome.
Seja a Tua Misericórdia, Senhor, sobre nós, como em Ti esperamos.”

8. O REINO DO CÉU

1. Fausto, que havia assistido a isto, pergunta-Me: “Mas, onde fo-


ram Teus discípulos buscar esta ovação maravilhosa, verdadeira e tão
merecida por Ti? Jamais ouvi coisa mais grandiosa!”
2. Digo Eu: “Procura arranjar a Santa Escritura com os fariseus e lê
os salmos do rei David; lá encontrarás tudo! O reitor Jairo com o qual
teremos um assunto a liquidar hoje, poder-te-á fornecer uma cópia. Há
dois dias sepultaram sua filha e ele está profundamente arrependido dos
seus pecados contra Mim. Por isto, será ajudado para que não se perca
para o Reino do Céu!”
3. Diz Fausto: “Senhor, que reino é este e onde se encontra?”
4. Respondo: “Bem, caro amigo, o verdadeiro Reino do Céu está
para os amigos de Deus em toda parte, para os inimigos, em parte algu-
ma; pois para estes é inferno tudo que se prende aos seus sentidos. Neste
ponto não existe diferença entre o que está em cima e o que está em
baixo. Não olha para as estrelas, nem tão pouco para esta Terra, que tudo
está sob julgamento, como teu corpo que morrerá um dia! Em vez disto,
investiga e procura no teu coração, onde encontrarás o que almejas. No
coração de cada criatura está a semente viva, da qual germinará a eterna
Jakob Lorber
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aurora da Vida.
5. Vê, o Espaço no qual flutua esta Terra, bem como o Sol, a Lua e as
incontáveis estrelas, que nada mais são do que sóis e terras, é infinito!
Com a velocidade dum pensamento poderias deixar este planeta,
projetando-te nesta velocidade em linha reta – e se, deste modo, percor-
resses eternidades sobre eternidades, jamais te aproximarias do fim! Em
toda parte, porém, irias encontrar criações mais raras e maravilhosas, que
preenchem e vivificam todo este imenso Espaço.
6. Pelo teu coração projetar-te-ás após a morte física, dentro deste
imenso Espaço Divino e de acordo com este teu coração, vê-lo-ás como
Céu ou como inferno!
7. Um Céu propriamente criado não existe em parte alguma, tam-
pouco, um inferno nesta qualidade; tudo vem do coração do homem.
Por suas obras, boas ou más, ele prepara no seu coração ou o Céu ou o
inferno, e de acordo como crê, deseja e age, manifestará sua fé, pela qual se
nutria sua vontade, entrando em ação.
8. Que cada um examine as próprias tendências e facilmente saberá
qual o espírito que o domina. Se essas tendências atraem o coração e seu
amor para o mundo e o fazem sentir o desejo de tornar-se algo de grande
e importante, quando o coração com tendências para o orgulho sente
um desagrado com a pobreza, desejando dominar outrem, sem ter sido
escolhido e ungido por Deus para este fim, – a semente do inferno já se
acha nele, e se não for combatida e sufocada, proporcionará o inferno ao
homem, após sua morte na matéria.
9. Quando o coração do homem é cheio de humildade, sentindo-se
feliz por ser o mais ínfimo entre os outros, servindo a todos, não ligando
a si mesmo, por amor a seus irmãos, obedecendo de boa vontade seus
superiores, amando a Deus sobre tudo, – então a semente no coração
germinará e tornar-se-á um verdadeiro Céu eternamente vivo! A criatura
que encerra no seu coração a plenitude do Céu repleto da fé verdadeira,
da esperança e do amor puríssimo, impossivelmente penetrará em algo
diferente do que o Reino do Céu de Deus, que já possuía há muito
tempo em toda pujança, no seu coração! Se consideras isto a fundo, com-
O Grande Evangelho de João – Volume II
31

preenderás com facilidade o sentido do Reino do Céu e do inferno!”


10. Diz Fausto: “Querido, mui sábio Senhor, Mestre e Amigo! Real-
mente, Tuas Palavras são muito profundas, mas desta vez não me foi
possível compreender e assimilá-las! Como pode o Céu e o inferno esta-
rem num lugar só, de modo que um teria que penetrar infalivelmente no
outro, isto é, para criatura materialista como eu, uma impossibilidade!
Ainda mais incompreensível é, que do meu coração deverá surgir um
Céu infinitamente feliz ou infeliz! Vejo-me, portanto, obrigado a pedir-Te
elucidação maior; do contrário, seguirei para casa, embora com toda a
luz do dia, numa cegueira completa de espírito!”

9. A NATUREZA DO CÉU E DO INFERNO

1. Digo Eu: “Então presta atenção, pois faço questão que sigas com
a visão espiritual.
2. Vê, numa casa moram dois homens. Um está contente com aqui-
lo que consegue extrair do solo com o suor do seu esforço e a Bênção do
Céu. Goza seu lucro escasso e o divide com imensa alegria com seus
irmãos mais pobres. Quando é procurado por um faminto, regozija-se
em poder saciá-lo e jamais lhe pergunta, com irritação, o motivo de sua
pobreza, nem lhe proíbe voltar quando a fome o perseguir de novo.
3. Não se queixa do Governo e quando lhe é pedido um imposto
qualquer, ele diz como Job: “Senhor, Tu mo deste; tudo é Teu! O que me
deste, poderás tirar; a Tua Santa Vontade se faça!”
4. Em suma, nada há que possa perturbar a alegria deste homem,
bem como seu amor e confiança para com Deus e, consequentemente,
sua dedicação para com o próximo; ira, inveja, discussão, ódio e orgulho
lhe são estranhos.
5. Em compensação, seu irmão é a criatura mais descontente! Não
acredita em Deus e diz: “Deus é uma idéia vã pela qual as criaturas desig-
nam o máximo grau dos heróis da Terra. Somente um tolo poderia ser
Jakob Lorber
32

feliz na pobreza, tal como os irracionais, que se contentam com a satisfa-


ção de seus instintos. Aquele, porém, que se elevou pelo intelecto acima
do instinto, não se deve dar por satisfeito com o alimento para animais,
nem cavar a terra com suas próprias mãos, destinadas para coisa melhor;
deve, sim, tomar da espada e se elevar a um poderoso general, a fim de
conquistar as grandes cidades. Sentir a terra estremecer sob as patadas do
ginete resplandecente de ouro e pedrarias, que garbosamente carrega o
senhor de poderosos exércitos.”
6. Com tal índole este homem amaldiçoa sua vida miserável, conjetu-
rando sobre os meios de angariar fortuna para realizar suas idéias altivas.
7. Detesta seu irmão feliz, e todo pobre lhe é um horror. De misericór-
dia não há vestígio, pois a tem como tendência ridícula de escravos covar-
des e macacos sociais. Aplica atenuadamente sua malvadez como pseudo-
generosidade, – mas isto mesmo, tão raro quanto possível! 0 pobre que o
aborda é recebido com as seguintes palavras: “Afasta-te de mim, seu pregui-
çoso! Trabalha, se desejas comer! Procura o desprezível irmão do meu cor-
po, mas não do meu espírito elevado! Ele trabalha como um burro de carga
para seu semelhante, e é misericordioso como um macaco social! Eu, ape-
nas, sou generoso, perdoando-te, por esta vez, tua vida miserável!”
8. Vê, estes dois irmãos, filhos dos mesmos pais, habitam na mesma
casa. O primeiro é um anjo, o segundo quase um demônio. Para aquele
a cabana tosca é um Céu; para este, um inferno completo. Vês, agora,
como Céu e inferno podem estar juntos?!
9. Certamente pensarás: “Bem, nesse caso ofereçamos um trono ao
altivo, que se prestará para proteger os povos e afugentar os inimigos!” –
Como não? Isto seria bem possível; mas onde está a justa medida, que lhe
prescrevesse o limite de suas ambições? Que fará com as criaturas que não
se submeterem à sua vontade? – Ele as fará martirizar horrivelmente e a
vida humana terá o mesmo valor que uma erva pisada! – Agora, pergun-
to: que espécie de homem é este? – Digo-te, um verdadeiro demônio!
10. Regentes e generais são indispensáveis, mas é preciso que sejam
destinados por Deus para estes fins. Ai daquele que abandona sua chou-
pana para conquistar, por todos os meios, o emblema do poder! Em
O Grande Evangelho de João – Volume II
33

verdade, teria sido melhor que nunca tivesse nascido!


11. Dar-te-ei mais um quadro, do Reino do Céu de Deus:
Compara-se a um bom solo, no qual crescem e amadurecem tanto as
uvas mais finas como os cardos e abrolhos! A diferença consiste unica-
mente no aproveitamento deste mesmo solo: a vinha o reverte para o que
é bom; os cardos e abrolhos para o que é nocivo e inútil.
12. Assim também o Céu penetra no demônio e nos anjos de Deus;
mas cada qual vale-se dele diferentemente!
13. Também pode ser comparado a uma árvore frutífera, que pro-
duz frutos bons e doces. Aproximam-se pessoas desejosas de saborear tais
frutos. Algumas, parcimoniosas, apenas aproveitam o que lhes satisfaça a
fome. Outras, ávidas, porém, comem tudo até o último fruto. A
consequência disto é a doença e, talvez, até a morte, enquanto aquelas
somente sentiram o benefício do mesmo fruto!
14. Do mesmo modo o Céu pode ser comparado a um bom vinho
que fortifica o sóbrio, prejudicando e matando o intemperado; portanto, o
mesmo vinho foi aproveitado por um para o Céu, e por outro para o infer-
no! Dize-Me, amigo, se compreendes agora o que seja o Céu e o inferno!”

10. A LEI DA ORDEM

1. Diz Fausto: “Senhor, vislumbro agora uma pequena luz! Em todo


o Infinito só existe um Deus, uma força e uma Lei da Ordem Eterna. A
criatura que acatar esta Lei encontrará em tudo o Céu; mas, quem procu-
rar reagir pelo livre arbítrio, só descobrirá em toda parte o inferno, sofri-
mento e martírio!”
2. Digo Eu: “Isto mesmo! – O fogo, por exemplo, é um elemento
utilíssimo e quem o empregar sabiamente, terá um benefício incalculável.
Seria muito extenso citar todas as vantagens que poderão advir ao homem
através do fogo. Mas, se alguém o empregar apenas para a distração fútil de
maneira a incendiar casas e matas, este mesmo fogo tudo destruirá!
Jakob Lorber
34

3. Durante o inverno não há quem não procure o calor da lareira,


mas aquele que caísse dentro dela sofreria as consequências do fogo.
4. Digo mais: As criaturas deste mundo têm que passar pela água e
pelo fogo, a fim de se tornarem verdadeiros filhos de Deus. O Céu, na
sua natureza intrínseca, é água e fogo, – e o que não for idêntico à água
será morto por ela e o que não for fogo, não poderá suportá-lo.”
5. Diz Fausto: “Senhor, eis outra coisa que não compreendo! Como
é isto? Como é possível alguém tornar-se água e fogo? Pois ambos são
elementos antagônicos; um destrói o outro. Sendo o fogo muito intenso,
transformará a água em vapor. Caso contrário, será apagado. Assim, se
para obter a Filiação Divina for preciso tornar-se água e fogo, dar-se-á
finalmente a dissolução? E o que seria do estado eterno da vida?”
6. Digo Eu: “Perfeitamente bem, na relação justa pela qual um ele-
mento gera e mantém o outro! Se não houvesse fogo dentro e em volta da
Terra também não haveria água e vice-versa .”
7. Pergunta Fausto: “Mas, como?”
8. Respondo: “Afasta todo o fogo de onde emana o calor, da Terra, e
ela se tornará uma massa de gelo duro como o diamante, na qual não
haverá vida. Em seguida tira toda a água da Terra, que ela se dissolverá em
pó! Pois sem água e fogo não poderá manter-se, não obstante ser tão
necessário a novas criações na Terra. Onde, porém, não se derem procri-
ações ou novas criações, a morte e a decomposição terão se estabelecido.
9. Observa uma árvore destituída de sua seiva e verás que, em pouco
tempo, ela terá apodrecido. Compreendes isto?”
10. Diz Fausto: “Sim, Senhor, não só isto como também reconhece-
mos que Tu és pleno do Espírito Divino e o Criador de todas as coisas.
Pois qual seria a criatura que pudesse reconhecer em si a causa e a Lei da
Criação? Isto só pode ser conhecido em toda a sua profundeza por Aque-
le que possui o Espírito e do Qual surgiram todas as coisas, que permane-
cem estáveis dentro da Ordem Divina. – Eu apenas poderei agradecer
com o coração cheio de amor para Contigo todos os benefícios materiais
e espirituais recebidos! Que outra atitude poderia adotar como homem
fraco e pecador diante de Ti, Senhor de toda a Eternidade?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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11. Digo Eu: “Tens razão; mas, por enquanto, silencia sobre tudo
que sabes, viste e conheceste; não Me denuncies antes do tempo e não
esqueças em tua felicidade terrena, dos pobres! Pois tudo que lhes fizeres
em Meu Nome, terás feito a Mim e a recompensa te será dada no Céu! –
Agora, como já terminamos a nossa tarefa em Kis, preparemo-nos para a
jornada a Nazareth!”

11. O SENHOR E SEUS DISCÍPULOS PARTEM PARA NAZARETH


Ev. Matheus – Capítulo 13, versículo 53

1. Diz Fausto: “Devo ordenar que transportem minhas coisas


para bordo?”
2. Digo Eu: “Já está tudo feito! Como os teus navios não eram bas-
tante grandes, Baram e Kisjonah emprestaram os seus para este fim, e já
está tudo pronto para a partida.”
3. Diz Fausto: “Confesso que não me admiro que assim seja, pois o
que não seria possível ao Onipotente?!”
4. Nisto Jonael e Jairuth se achegam a Mim com Archiel e Me agra-
decem por tudo. Mal se tinham encaminhado para Sichar, são alcança-
dos pela delegação predita por Mim, que os recebe com todas as honras,
implorando a Jonael reassumir o posto de sumo pontífice. Tanto Jonael
quanto Jairuth lembram-se daquilo que Eu lhes havia dito.
5. Neste ínterim – enquanto Eu havia terminado a explicação sobre
o Reino do Céu (Matheus 13, 53), despedido os sicharenses e, em segui-
da, recomendado a Kisjonah permanecer em casa, prometendo-lhe vol-
tar em breve – nós outros embarcamos, duas horas antes de meio dia,
num grande navio, em companhia de Fausto e sua esposa. Tomamos a
direção de Capernaum, que também serve de porto para Nazareth, não
muito longe dali.
6. No momento em que desembarcamos diz Fausto: “Senhor, irei
Contigo para Nazareth, a fim de restituir à Tua Mãe e a Teus irmãos o
Jakob Lorber
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que lhes pertence!”


7. Digo Eu: “Também isso já está feito, Meu amigo, e em tua casa,
bem como no teu distrito, encontrarás tudo na melhor ordem porque,
até aqui, Meu Archiel resolveu todos os teus problemas. Vai a Caper-
naum, e se encontrares o reitor Jairo, que certamente te contará sua gran-
de desdita, poderás dizer-lhe que ficarei por algum tempo por aqui! Caso
deseje algo, que Me procure, – mas, a sós!”
8. Diz Fausto: “Eu não poderia acompanhá-lo?”
9. Respondo: “Pois não, mas somente tu!” – Com estas palavras
nos separamos!
10. Acompanhado pelos inúmeros discípulos, dirijo-Me à Minha
pátria terrena, enquanto Fausto providencia uma quantidade de carrega-
dores e carroças, com que faz transportar os tesouros para sua casa em
Capernaum. É fácil se imaginar o alarido que isto causa, sobretudo pela
presença de sua jovem e bonita esposa. Também é de se esperar que Jairo
procure o juiz supremo, pois já sabe do caso dos doze fariseus, que moti-
vou a ida do romano a Kis.
11. Fausto o recebe com todo o respeito, dizendo: “Um homem
honesto foi salvo e as penhoras que tinham sido extorquidas injustamen-
te dos pobres judeus foram todas restituídas, e onze desses fariseus pade-
cem, no Templo de Jerusalém, o castigo merecido por tantas fraudes e
roubos. Seria muito demorado contar-te as minúcias; se algum dia tive-
res folga, vem e lê pessoalmente os autos, e ficarás com os cabelos arrepi-
ados! – Agora, outra coisa! Como está passando tua filha? Melhorou?”
12. Diz Jairo, tristíssimo e choroso: “Oh, por que me fazes lembrar
isto? – Infelizmente ela faleceu, pois não houve médico que lhe ajudasse!
O único médico, Borus de Nazareth, disse-me que teria poder para tan-
to, mas não o faria porque eu havia pecado demasiadamente contra o seu
amigo Jesus. E assim, faleceu minha filha querida! Dilacerou-nos o cora-
ção ouvi-la chamar por Jesus, pedindo socorro e lançando-me, acerba-
mente, toda a culpa, porquanto grande era o meu pecado contra Ele. Fiz
tudo para encontrá-Lo! Ele porém, não deu ouvidos aos meus mensagei-
ros, embora eu estivesse arrependido, mil vezes, da minha ação! Agora,
O Grande Evangelho de João – Volume II
37

tudo está terminado! Há quatro dias ela se encontra na tumba, já em


decomposição! Que Jeovah seja benigno e misericordioso para com sua
boa alma!”
13. Diz Fausto: “Amigo, sinto imensamente tua má sorte, mas te
asseguro que o Senhor Jesus Se encontra agora em Nazareth. De acordo
com minhas diversas experiências sei que nada Lhe é impossível! Que tal,
se O procurasses? Ele tem Poder suficiente para fazer ressuscitar tua filha
da tumba!”
14. Diz Jairo: “Mesmo que isto não mais seja possível, procurá-Lo-
ei para Lhe pedir perdão por tê-Lo ofendido e magoado, embora o tives-
se feito sob coação!”
15. Diz Fausto: “Pois bem, então vem comigo; encontrá-Lo-emos
em casa de Sua Mãe. Mas, cumprindo Sua Vontade, ninguém poderá
nos acompanhar!” Jairo, tocado por uma esperança imensa, concorda e
em pouco tempo eles cavalgam sobre mulas em direção a Nazareth. Pou-
cas horas antes do poente alcançam esta cidade, deixam as mulas num
albergue e se dirigem a pé para a casa de Maria, onde são aguardados por
Mim e Borus, um dos primeiros a Me receber.
16. Assim que Fausto penetra no quarto em companhia de Jairo,
este se joga a Meus pés e chorando copiosamente, pede-Me que lhe per-
doe a grande falta de gratidão cometida contra Mim.
17. Eu, porém, lhe digo: “Levanta-te! Tua falta te é perdoada, mas
não o faças uma segunda vez! – Agora, onde jaz tua filha?”
18. Responde ele: “Senhor, sabes que mandei construir, não longe
daqui, uma escola com uma casa de oração, onde fiz preparar um sepulcro
para mim; como Sarah faleceu antes, eu a sepultei ali. Dista daqui uns dois
mil passos. Se Tu, ó Senhor, quisesses ir até lá, ficar-Te-ia muito grato!”
19. Digo Eu: “Pois bem, leva-Me, mas além de ti e de Fausto, nin-
guém mais nos deve acompanhar!” Os apóstolos, porém, perguntam-Me
se não podem estar presentes.
20. Respondo: “Desta vez, ninguém mais do que os mencionados!”
21. Diz Borus: “Senhor, Tu me conheces e sabes que sei silenciar
como um peixe; que mal haveria se vos acompanhasse como médico?”
Jakob Lorber
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22. Digo Eu: “Já disse que ninguém mais nos acompanhará!”

12. SEGUNDA RESSURREIÇÃO DE SARAH

1. Com estas Minhas Palavras pessoa alguma ousa perguntar ou


pedir algo e nos dirigimos para a tumba. Aproximando-Me do corpo, já
em adiantado estado de decomposição, pergunto a Jairo se acha que sua
filha esteja apenas aparentemente morta.
2. Diz Jairo: “Senhor, tão pouco como da primeira vez, pois sabia
perfeitamente que minha querida Sarah estava morta. Apesar disso, fui
obrigado a dar este falso testemunho a Teu respeito para evitar que fosses
molestado, mais ainda! Tanto que chegou-se à conclusão de seres apenas
um andarilho vadio, que de quando em quando curava doentes e tenci-
onava fazer nome como profeta escolhido por Deus, – ou, talvez, o Mes-
sias Prometido. Este Messias era por demais temido pelo sacerdócio rico,
pois constava que, se o sumo pontífice dentro da ordem de Melchisedek
viesse à Terra, a casta judaica não levaria vantagens e Melchisedek reinaria
eternamente com seus anjos sobre todas as gerações.
3. Afirmo-Te não temer o sacerdócio nem o fogo, nem a tempestade
que passou diante da gruta que ocultava Elias; mas o sussurro delicado
sobre a gruta do grande profeta os apavora, porque dizem que o Messias
na ordem de Melchisedek viria de mansinho, como um ladrão, à noite, e
lhes tiraria tudo que haviam conseguido! – Eis a razão por que nem um
sacerdote quer assistir à chegada do Unigênito de Deus de Eternidade,
mas deseja prorrogá-la para um futuro longínquo.
4. Mas, como eles, mormente os velhos, reconhecem que sejas indu-
bitavelmente o Anunciado, tudo fazem para aniquilar-Te! Se isto, po-
rém, não conseguirem e fores plenamente o que presumem, farão peni-
tência com saco e cinzas, aguardando com intenso pavor o golpe tremen-
do pelo qual temem tudo perder; do contrário, não teriam apedrejado
quase todos os profetas. Vê, este foi o motivo por que preferi declarar-Te
O Grande Evangelho de João – Volume II
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um vagabundo, do que aquilo que realmente És! Pois, a homem algum é


possível despertar os mortos – isto só pode o Espírito de Deus, que na
minha opinião reside em Ti em toda a plenitude!”
5. Digo Eu: “Como sabia de tudo Eu vim de novo, para socorrer-te
por muito tempo. Este é o motivo pelo qual não quis que outros nos
acompanhassem. Quando o tempo chegar, saberão o “porquê”.
6. Em seguida Me debruço sobre a tumba, na qual estava Sarah
envolta em linhos, e digo a Jairo: “Já é noite e a lamparina ilumina mui
fracamente. Vai ao vigia desta escola-igreja e pede-lhe uma luz mais forte,
pois, quando ela ressuscitar, precisará de claridade.”
7. Exclama Jairo: “Oh, Senhor, isto poderia se dar? Ela já está em
decomposição! Todavia creio que para Deus tudo seja passível e voltarei
em breve, com uma luz melhor!”
8. Ele de pronto procura o vigia para este fim, mas ali também en-
contra o fogo infelizmente apagado, tanto que leva tempo para consegui-
lo através de dois pedaços de madeira que esfrega com força.
9. Logo que Jairo nos deixa, Eu desperto Sarah e lhe ajudo a sair
da tumba.
10. Um tanto sonolenta ela Me pergunta: “Por Jeovah! Onde estou?
Que aconteceu comigo? Achava-me num lindo jardim, em companhia de
muitas outras e, de repente, sou transportada para esta câmara escura!”
11. Digo Eu: “Sê contente e calma Sarah! Eu, teu Jesus, que há poucas
semanas te despertei da morte, fi-lo neste momento, de novo, dando-te
uma vida sólida! De agora em diante não sofrerás doença alguma e, quan-
do daqui a anos, teu tempo chegar, virei Pessoalmente dos Céus para
conduzir-te ao Meu Reino, que não terá fim por toda a Eternidade!”
12. Quando ouve Minha Voz, Sarah revive completamente e diz
com a voz mais amorosa deste mundo: “Oh, Tu, único amor de minha
jovem vida e coração! Eu sabia que aquele que Te ama sobre todas as
coisas não precisa temer a morte! Adoeci por um amor poderoso para
Contigo, meu primeiro portador de vida, pois não podia descobrir Teu
Paradeiro. E quando perguntava com o coração cheio deste amor,
respondiam-me que tinhas sido aprisionado e entregue à justiça severa,
Jakob Lorber
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como reles criminoso! Isto fez com que meu coração fraquejasse; fiquei
gravemente doente e morri pela segunda vez! – Como sou feliz agora, por
ter-Te encontrado de novo, meu único e mais elevado amor!
13. Bem que dizia no meu leito de morte: “Se meu divino Jesus
ainda for vivo, Ele não me deixará dentro da tumba fria!” – Eis que se deu
aquilo que meu coração dizia! Estou novamente viva e nos braços de meu
queridíssimo Jesus! Mas, de agora em diante nada haverá que me possa
afastar de Tua Companhia Divina! Seguir-Te-ei como a serva mais hu-
milde para onde fores!”
14. Enquanto Sarah assim fala Comigo, Jairo vem se aproximando
da tumba, com uma vela de resina. Eu, porém, digo a ela: “Aí vem teu
pai! Esconde-te atrás de Fausto para que não te veja de súbito, o que
prejudicaria sua saúde! Quando Eu te chamar, apresenta-te sorridente!”
Sarah segue Meu Conselho, ocultando-se no momento em que Jairo
penetra na câmara. Ele, então, pede desculpas por ter demorado tanto.
15. Eu, no entanto, respondo: “Não tem importância! Ninguém
pode pecar além do possível e, uma vez morto, não poderá tornar-se mais
morto em quinze minutos; pelo contrário, tornar-se-á mais vivo, caso as
condições de vida ainda se manifestem!”
16. Diz Jairo: “Senhor, se um pobre pecador pode arriscar a pedir-Te,
concede esta Graça, não a mim que não sou merecedor, mas a Sarah que
Te ama sobre tudo!”
17. Digo Eu: “Pois bem; mas a esta Graça prende-se uma condição:
não a despertarei para seu pai, mas unicamente para Mim! Ela Me segui-
rá e caso queiras também seguir-Me, de quando em quando, poderás
permanecer ao lado dela!”
18. Diz Jairo: “Que se faça a Tua Vontade, Senhor, desde que Minha
filha possa ressuscitar!”
19. Digo Eu: “Pois bem, então ilumina a tumba aberta!”
20. Com um suspiro Jairo se aproxima da beira, olha, olha – e não
vê senão os linhos, panos de cabeça e fitas amontoadas. Como não desco-
bre a morta, vira-se com tristeza para Mim e diz: “Senhor, que aconte-
ceu? Eu nada vejo! Teria alguém roubado o corpo? Por que, então não
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levou o resto?”
21. Digo Eu: “Porque a ressuscitada não precisa mais disto!”
22. Jairo solta um grito de alegria que num momento domina sua
dor: “O quê ! – Como?! – Onde está minha Sarah?”
23. Exclamo Eu: “Sarah, apresenta-te!”
24. No mesmo momento ela surge por detrás de Fausto e fala com
alegria: “Aqui estou, completamente viva e curada! Porém, não mais per-
tenço a ti, mas unicamente a Jesus! Tudo se fez para que o meu grande
amor para com Ele, o Senhor de toda a Vida, fosse considerado pecado,
ocasionando assim uma segunda morte ao meu corpo frágil! Mas, agora
este mesmo amor ressuscitou-me de novo! Vê, meu pai, tu me chamas de
filha, embora me tenhas dado uma única vez a vida! O que é, porém,
Aquele para mim e eu para Ele, que me deu a vida por duas vezes? Qual,
entre ambos, terá maior direito de pai sobre mim?”
25. Responde Jairo: “Tens razão, jamais me oporei ao teu amor por
Aquele que te deu por duas vezes a vida plena! Segue integralmente teu
coração e eu seguirei a ti e a teu amor, de quando em quando! Estás feliz por
isto, tu que foste tudo para mim nesta Terra e continuas a sê-lo, ao lado de
Jesus, o Senhor?” – Diz Sarah: “Sim, pai, estou plenamente satisfeita!”
26. Concluo: “E Eu também! Agora, voltemos para Minha casa! Lá
nos espera um bom jantar e Minha filha Sarah necessita refazer-se!”

13. CENA ENTRE JAIRO E SUA MULHER

1. Jairo cobre de novo a tumba, fecha a porta da câmara e nos acom-


panha. A uns setenta passos distantes da escola encontra-se a casinha do
vigia, que há pouco forneceu a vela a Jairo.
2. Como o luar é bastante forte o vigia logo reconhece a moça, que
em seus trajes brancos e compridos, caminha a Meu lado. Cheio de pa-
vor ele pergunta a Jairo: “Que é isso? Que vejo? Não é Sarah, vossa fale-
cida filha?! Então, também não morreu desta vez?”
Jakob Lorber
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3. Diz Jairo: “Seja lá como for! Nada tens a perguntar, mas calar
sobre tudo que vês aqui, sob risco de perderes teu emprego! Uma coisa,
entretanto, grava bem na tua alma: sabe e compreende que para Deus
tudo é possível! Para isto, porém, torna-se necessário uma fé integral e
uma confiança viva! Compreendeste?” – Diz o vigia: “Sim, mui venerá-
vel senhor!”
4. Diz Jairo: “Futuramente, não me importunes com tais títulos ho-
noríficos e fala como se fosse teu irmão! Agora, já que não tens de vigiar
mais um defunto, corre a Capernaum e não contes a ninguém o que acabas
de ver, nem mesmo à minha mulher. Dize-lhe, porém, que se dirija imedi-
atamente a Nazareth, a casa de José; pois tenho coisas importantes a
transmitir-lhe! Apronta boas mulas, para chegares mais depressa!”
5. O vigia, possuidor dum burro ligeiro, executa com rapidez sua
tarefa e dá o recado à mulher de Jairo. Ela se apressa em segui-lo. Dentro
de uma hora chegam a casa de Maria que, alegre por se encontrar de
novo na casinha de José, recebe-a de braços abertos. Quando a mulher de
Jairo penetra na sala (onde tomávamos o bom jantar, que desta vez fora
encomendado por Borus) ela avista Sarah, satisfeitíssima sentada a Meu
lado, saboreando com grande apetite um bom peixe, preparado com sal,
azeite e vinagre.
6. A mãe, não acreditando no que vê, diz a Jairo, batendo em seu
ombro: “Meu marido, aqui estou, tristíssima, e a quem queres falar coisas
importantes! Creio, porém, que já estou vendo sua importância! Dize-me,
estarei sonhando ou isto é realidade? Esta moça, ao lado de Jesus, não é a
imagem viva de nossa filha querida? Ó Jeovah, por que me tiraste Sarah?”
7. Diz Jairo, comovido: Tem fé, minha querida! Esta moça não se
parece apenas com nossa filha, mas é Sarah em pessoa! Nosso Senhor
Jesus a ressuscitou pela segunda vez! Sua boa aparência lhe vem do Divi-
no Poder que Ele possui! Agora, não interrompas o seu bom apetite, pois
muito jejuou!”
8. Diz a mulher, não se contendo de admiração e alegria: “Explica-me,
já que és sábio em Israel, qual tua opinião a respeito deste Jesus?! Estou
cada vez mais convencida ser Ele, não obstante Seu Nascimento humil-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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de, o Messias Prometido! Pois fatos idênticos jamais foram realizados por
profetas, muito menos por um homem qualquer!”
9. Diz ele: “Sim, é isto mesmo! Mas devemos manter o maior sigilo,
de acordo com a Vontade Dele; do contrário, teríamos de enfrentar em
breve toda Jerusalém e Roma, obrigando-O a uma reação milagrosa! Por
isto, silencia! A fim de não denunciá-Lo, Sarah ficará durante um ano sob
Sua proteção, ou sob os cuidados de Maria, e nós poderemos visitá-la de
quando em quando. Na realidade, também não possuímos direito sobre
ela, que recebeu de nós apenas uma vida miserável e enfermiça. Deus no-la
deu de alma sadia; nós, entretanto, só lhe proporcionamos um corpo fraco
e enfermo. Já por duas vezes ela morre e estaria perdida para sempre se Ele
não lhe desse duas vidas novas e perfeitas! Resta, portanto, saber quem tem
mais direito de pai e mãe, – Ele ou nós, pobres pecadores!”
10. Diz a mãe de Sarah: “Sim, és sábio, conheces a Lei e todos os
profetas, por isto tens sempre razão; para mim já constitui uma felicidade
imensa o fato dela viver e nós a podermos visitar de quando em quando!”
11. Aduz Jairo: “Agora, calemo-nos; o jantar terminou e talvez Ele
queira dizer algo!”
12. Eu, porém, chamo Fausto para dizer-lhe: “Amigo, lastimo não
possas pernoitar hoje aqui; mas como te esperam grandes negócios em
casa, dou-te permissão por alguns dias; em seguida, deves voltar. Caso se
fale a Meu respeito, saberás o que responder!”
13. Diz Fausto: “Senhor, Tu me conheces melhor do que eu mesmo!
Podes confiar em mim; um romano nato não é uma cana fraca e um
joguete para os ventos! Nem a morte obrigar-me-á a um “não”, quando
eu afirmar que “sim”. Assim vou indo, já que a mula está atrelada, e em
uma hora lá estarei. Em Teu Nome, meu Jesus, meus negócios terão um
bom desfecho. Entrego-me inteiramente ao Teu Amor, Sabedoria e Oni-
potência!” – Com estas palavras Fausto se afasta rapidamente.
14. Em seguida, a mãe de Sarah Me agradece, toda contrita, e con-
fessa não ser merecedora de tão imensa graça.
15. Eu a consolo e digo a Sarah: “Minha filhinha, eis tua mãe!”
16. Só então ela se levanta ligeira e cumprimenta delicadamente sua
Jakob Lorber
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genitora, observando-lhe, porém, que ficará em Minha Companhia, pois


seu grande amor não permite separar-se de Mim! Os pais a elogiam por
isto; pedem, no entanto, que não venha a esquecê-los de todo! Ela afirma
que os ama mais do que nunca, o que os satisfaz plenamente.

14. A DIFERENÇA ENTRE O PODER HUMANO E O


PODER DIVINO

1. Nisto se aproxima o grego Philopoldo, de Caná, e diz: “Senhor,


há três dias me encontro em Tua Companhia e ainda não me foi possível
falar como fui capaz de efetuar tudo de acordo com a Tua Vontade e
como consegui com a minha prédica converter a todos, depois de Tua
partida. Segundo me parece, tens agora uma pequena folga e peço-Te
que me ouças!”
2. Digo Eu: “Meu prezado amigo Philopoldo! Podes supor que Eu
não tivesse perguntado por isto ou aquilo referente a Caná, se não sou-
besse perfeitamente como andam as coisas? – Vê todos estes Meus ir-
mãos! O que falo com eles? Durante muitos dias nenhuma palavra, ex-
ternamente, mas muitas nos seus corações. E ninguém se levanta e per-
gunta: “Senhor, por que não falas comigo?” – Eu te digo, como já disse a
todos, que não aceito discípulos para com eles palestrar, mas para ouvi-
rem Minha Doutrina e serem testemunhas de Meus Atos! O que eles
sabem, Eu já sei há muito tempo e o que necessitam saber, transmito-lhes
no momento oportuno, pelo coração. Assim sendo, pergunta a ti mes-
mo, para que fim os Meus discípulos iniciados necessitam de conversa-
ção externa! Já que também és Meu discípulo, precisas suportar a organi-
zação de Minha Escola.
3. Com os que não são Meus adeptos preciso trocar palavras, pois
não poderiam ouvir-Me e compreender-Me em seus corações munda-
nos. Quando, porém, o tempo e as circunstâncias o exigem, falo também
externamente com Meus discípulos, mas isto, não por sua causa, mas
O Grande Evangelho de João – Volume II
45

pelos outros que ainda não o são! – Dize-Me, compreendeste isto?”


4. Afirma Philopoldo: “Sim, Senhor! Agora reconheço a Tua Graça
tão nitidamente como o Sol ao meio-dia e Te agradeço por esta explica-
ção cheia de bondade! Mas, Senhor, quando observo esta Sarah tão linda,
cuja beleza poderia concorrer com a de qualquer anjo, parece-me quase
impossível tenha ela permanecido no sepulcro por um segundo. Esta
frescura de vida jamais vi! Entretanto, sei que a ressuscitaste por duas
vezes! Sinto um forte desejo de saber como Te foi possível isto!”
5. Digo Eu, em surdina: “Penso que viste o bastante em Caná, para
saber Quem sou Eu! Assim, como podes perguntar de que maneira Me
foi possível vivificar um defunto? Pois o Sol, a Lua e todas as estrelas,
como esta Terra não surgiram de Mim e não fui Eu Quem povoou este
planeta com inúmeros seres vivos? Se Me foi possível dar-lhes existência e
vida independentes, por que não poderia fazer com uma só criatura o
que faço com seres incontáveis, de eternidades para eternidades? Se sabes
isto e até foste ensinado por um anjo, como podes ainda perguntar?
6. Vê, toda e qualquer pedra que poderia ferir teu pé, é apenas manti-
da pela Minha Vontade; se Eu a libertasse por um momento desta Minha
Vontade criadora e conservadora, ela no mesmo instante deixaria de existir.
7. Se bem que possas triturá-la até dissolvê-la, num fogo forte, numa
espécie de gás, como ensina a arte oculta da alquimia, – tudo isto só é
possível tanto com a pedra como qualquer outra matéria, – porque Eu
assim o permito para o bem da Humanidade. Se Eu não o permitisse,
não poderias removê-la, por menor que fosse, como tão pouco uma mon-
tanha. Podes também jogar uma pedra no ar e ela alcançará uma altura
considerável de acordo com tua força e habilidade; mas depois disto, ela
infalivelmente cairá por terra. Vê, eis a Minha Vontade e Permissão até
certo grau, onde consta: “Até aqui, e não mais além!”
8. Uma pedra jogada ao ar demonstra, nitidamente, até onde vai a
força e a vontade da criatura. Alguns momentos, – e a vontade fraca do
homem é alcançada pela Minha e repelida para a Minha Ordem Eterna,
a qual é equilibrada até o peso de um átomo, por toda a Eternidade! Se
isto tudo depende puramente da Minha Vontade e Permissão, como não
Jakob Lorber
46

Me seria possível fazer ressuscitar alguém?


9. Vai lá fora, traze-Me um pedaço de pau e uma pedra e
mostrar-te-ei como todas as coisas Me são possíveis pela Onipotência
do Pai dentro de Mim!”
10. Prontamente Philopoldo apanha uma pedra e um pedaço de
pau apodrecido, e Eu lhe digo, sempre à meia voz: “Olha, pego da pedra
e deposito-a no ar, – e ela não cai! Experimenta modificar sua posição!” –
Philopoldo o tenta, – mas a pedra não se move.
11. Prossigo: “Agora, permitirei que possas empurrá-la à vontade;
mas, se a largares, ela tomará esta mesma posição onde continuará fixa,
após algumas vibrações!”
12. Diz Philopoldo: “Senhor, deixa esta experiência, para mim basta
Tua Palavra Santa!”
13. Digo Eu: “Pois bem; quero, no entanto, que esta pedra se dissolva
e que este pau venha a verdejar e produzir folhas, flores e frutos, de acordo
com sua espécie!” No mesmo momento a pedra desaparece e o pau apo-
drecido torna-se verdejante, produzindo folhas, flores – e finalmente frutos
amadurecidos, isto é, vários figos, pois era um pedaço de figueira.
14. Alguns começam a nos observar, pois os demais discípulos já
dormitavam. Jairo e sua mulher, porém, continuam em colóquio amoro-
so com sua filha. Eu e Philopoldo tínhamos realizado nossas experiências
numa pequena mesa à parte, sob uma iluminação um tanto fraca, de
sorte que não fomos observados por muitos. Mas, quando Philopoldo
começa a manifestar grande admiração, logo atrai diversas pessoas. Eu,
porém, lhes ordeno calma e todos sossegam.
15. Agora ordeno à pedra que volte a existir, e ela se acha de novo
sobre a mesa; o galho com os figos deixo ficar, a fim de que Sarah os
saboreasse na manhã seguinte.
16. Aí pergunto a Philopoldo se estava a par de tudo, e ele, curvando-se,
diz: “Senhor, plenamente!” Digo Eu: “Então, vamos dormir!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
47

15. PHILOPOLDO DÁ TESTEMUNHO DA DIVINDADE EM JESUS

1. Philopoldo também procura repousar, mas não consegue dormir,


porquanto os acontecimentos do dia muito o tinham impressionado.
Além disso, os leitos não eram dos melhores; os credores tudo haviam
levado, pois encontramos a casa vazia. Durante a ressurreição de Sarah
tanto Borus quanto Meus irmãos, como também muitos outros discípu-
los, incumbiram-se de fornecer leitos, mesas, bancos e utensílios de cozi-
nha; mas, para várias centenas de pessoas, das quais muitas dormiam ao
ar livre ou então em albergues, era impossível arranjar rapidamente o
mais necessário.
2. E assim, Eu Mesmo passo esta noite em cima de um banco, com
um pouco de palha sob a cabeça – e Philopoldo no chão, e sem palha.
Por isto, é um dos primeiros a levantar-se de manhã. Quando Jairo, que
tinha conseguido um bom leito de palha para si, sua mulher e filha,
pergunta-lhe como tinha passado a noite, Philopoldo diz:
3. “Como o solo o permite! Mas tudo depende de hábito; depois de
um ano o corpo se prontificaria melhor a isto.”
4. Diz Jairo: “Por que não me falaste? Tínhamos uma quantidade
de palha!”
5. Diz Philopoldo: “Vê o Senhor, a Quem todos os Céus e mundos
obedecem e todos os anjos vêem Sua Vontade! Seu Leito em nada foi
melhor que o meu!”
6. Diz Jairo, no qual ainda havia muito de fariseu: “Amigo, por acaso
não dizes demais? Não resta dúvida que este Jesus esteja repleto do Espírito
Divino, muito mais do que qualquer outro profeta, pois Seus Atos sobre-
pujam todos os feitos de Moisés, Elias e outros, grandes e pequenos.
Parece-me, porém, uma suposição audaciosa alegar que Nele habite a Ple-
nitude Divina. Os profetas também ressuscitavam mortos pelo Espírito
Divino dentro deles; nunca, porém, ousavam atribuir a si mesmos a reali-
zação desses milagres. Se assim fizessem, teriam pecado gravemente contra
Deus, e Ele lhes teria tirado o espírito. Mas Jesus faz tudo de Si, como se
Jakob Lorber
48

fora um Senhor, o que diz respeito à tua suposição e no que, de certa


maneira, concordo. Mas, muita cautela! Pois isto também podia ser para
nos experimentar que provássemos a nossa fé em Deus Único! Se realmen-
te toda a Plenitude de Deus residir em Jesus, deveremos aceitar Seu Teste-
munho incondicionalmente! Que te parece?”
7. Responde Philopoldo: “Acredito que Seu Testemunho é inteira-
mente verdadeiro! Ele é Deus e não há outro senão Ele!
8. Torna-se difícil a explicação disto, numa época tão milagrosa como
a nossa, porquanto sempre haverá quem diga: “Por diversas vezes tive
oportunidade de assistir a fatos milagrosos de magos, e os profetas tam-
bém ressuscitavam mortos; – até houve um que cobriu um esqueleto
com carne e o vivificou, de modo que milagres não provam que um
mago seja um deus!
9. Outra coisa acontece com Jesus, o Senhor! Todos os profetas neces-
sitavam de preces contínuas e jejuns, a fim de que Deus os achasse merito-
sos para efetuarem um milagre. Os magos precisam de uma vara milagrosa
e de outras provas e fórmulas, unguentos, óleos, águas, metais, pedras, er-
vas e raízes, cujas forças ocultas bem conhecem, aplicando-as em suas pro-
duções; mas, onde alguém viu algo parecido com Jesus, o Senhor? Nem
vestígio de prece e jejum, muito menos apetrechos mágicos.
10. Além disso, todos os profetas falavam e escreviam por hierógli-
fos, e quem não os conhecesse, nada entenderia! Eu sou grego, mas não
desconheço vossa linguagem e li Moisés e todos os profetas! Duvido que
haja quem os entenda de ponta a ponta!
11. Jesus, porém, fala as coisas mais ocultas de maneira tão clara
que, não raro, até uma criança as entenderia! Ele explicou a Criação do
Cosmos e eu já me vi capaz de criar um mundo! Onde estaria o profeta e
onde o mestre dos mágicos, que falasse como Jesus?!
12. Quem jamais entendeu uma sílaba daquilo que o mago costu-
ma falar durante suas magias?! As palavras de Jesus, porém, contêm a
mais profunda sabedoria e são claras como o Sol do meio-dia; tudo o que
Ele quer, realiza-se num momento!
13. Se isto é a pura verdade, por que deveria duvidar de reconhecê-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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Lo como Senhor Absoluto dos Céus e da Terra, amá-Lo sobre tudo e


dar-lhe unicamente, toda a honra?!
14. Este galho fresco de figueira, cheio de frutos, é uma explicação
viva do que ontem Ele me ensinou, quando Lhe perguntei como era
possível ressuscitar os mortos . Pediu-me um pedaço de pau qualquer, e
eu apanhei no escuro um galho de figueira. Ele nem o tocou; apenas
deu-lhe uma ordem e o galho começou a verdejar, florescer – e aqui tens
os frutos maduros! Oferece-os à gentil Sarah, que muito apreciará!”

16. O SENHOR SE DIRIGE À SINAGOGA


Ev. Matheus – Capítulo 13, versículo 54

1. Jairo chama Sarah, que aliás já estava despertando, e lhe oferece o


galho magnífico; ela, com imenso prazer, começa a saborear seus frutos.
Nisto, desperto em cima do Meu banco.
2. Sarah é a primeira a Me dar um “Bom dia” e Eu lhe pergunto se
gostou dos figos. Ela responde com satisfação: “Senhor, estavam delicio-
sos como mel. Teu amigo Philopoldo mos deu em Teu Nome, e eu os
saboreei, todos! Certamente arrumaste-os para mim?!”
3. Digo Eu: “Minha querida Sarah, naturalmente que sim! Pois fos-
te a causa que Me levou ontem à noite a mostrar ao amigo Philopoldo
que Me é possível ressuscitar os mortos, vivificando um galho apodreci-
do de figueira, a fim de que produzisse, mais uma vez, os doces frutos de
sua espécie. Fizeste muito bem em tê-los comido, pois aumentarão tua
saúde! – Agora, saiamos, para que os quartos sejam limpos; depois, toma-
remos o desjejum para, em seguida, desempenharmos nossa tarefa!” –
Todos Me acompanham e apreciam a manhã deliciosa.
4. Jairo vem a meu lado e diz: “Senhor, jamais deixarei de agradecer-Te!
Antes que seja tentado contra Ti, renunciarei a meu cargo e tornar-me-ei
um seguidor fervoroso de Tua Santa Doutrina. Philopoldo será meu amigo
para sempre, pois devo a ele a verdadeira Luz sobre Tua Pessoa. Embora
Jakob Lorber
50

seja ele grego, é mais conhecedor de nossas Escrituras do que eu e todos


os escribas da Judéia, Galiléia, Samaria e Palestina! Em suma, estou com-
pletamente esclarecido, mas devo dirigir-me a Capernaum onde me es-
peram vários negócios. Por isto, recomendo a Ti minha mulher e filha! Se
me for possível desembaraçar-me à noite, voltarei com Fausto e Cornelius
e talvez, também com o velho Cirenius, que é esperado hoje naquela
cidade! Portanto, deixo-Te agora, pedindo Teu Amor, Paciência e Gra-
ça!” – Jairo, despedindo-se também dos seus, parte, montado na mula
ligeira. Enquanto isto, nós outros entramos para tomar o desjejum.
5. Em seguida, Borus Me chama de lado e diz: “Meu queridíssimo
amigo! Estou certo de que já sabes o que desejo falar-Te; mas, entre Teus
discípulos alguns há que, a meu ver, não necessitam saber o que pretendo
dizer-Te. Por isto, chamei-Te de lado.”
6. Digo Eu: “Não era preciso, pois o que desejas contar-Me Eu já
relatei e comentei com os discípulos, em Kis, externando Meu Conten-
tamento. Eles de tudo sabem, portanto não precisamos fazer segredos!”
7. Diz Borus: “Ah, neste caso serei franco!”
8. Com isto, voltamos à assembléia e Eu digo a Borus: “Meu amigo,
já sabemos de tudo, o que nos ias contar! O caso, portanto, está liquida-
do. Como grego, que professa livremente o judaísmo, não dependendo
de suas leis, tens toda liberdade para falar-lhes; mas, se fosses um verda-
deiro judeu pela circuncisão e pela lei, terias de medir tuas palavras. Mas
assim, falaste bem e está tudo resolvido. – Agora, porém, leva-Me à sina-
goga de Nazareth! Ensinarei ao povo para que saiba a quantas anda!”
(Matheus 13, 54). Maria pergunta se estarei de volta para o almoço.
9. Digo Eu: “Não te preocupes se venho; basta que Eu tome todas as
precauções a Mim! À noite, porém, estarei aqui!” – Pergunta-Me Sarah,
se pode acompanhar-Me.
10. Respondo: “Como não? Podes vir, embora pela lei a mulher não
possa penetrar na sinagoga, em companhia de homens. Mas isto deve
mudar! A mulher, tanto quanto o homem, tem o pleno direito ao Meu
Amor e Graça que emanam de Deus, o Pai, através de Mim. Ficarás a
Meu lado e servirás como testemunha potente! Para este fim, conserva a
O Grande Evangelho de João – Volume II
51

mortalha que também servirá de prova. – Agora, vamos!” – Após estas


palavras dirigimo-nos à sinagoga.

17. O SENHOR EXPLICA UM TEXTO DE ISAÍAS

1. Penetrando na escola, encontro um grupo de dez anciãos de Na-


zareth, com vários fariseus e escribas, sentados em volta de uma grande
mesa, discutindo os seguintes versos de Isaías: “Lavai-vos, purificai-vos,
tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus Olhos; cessai de fazer
mal. Aprendei a fazer bem; procurai o juízo; ajudai o oprimido; fazei
justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas. Vinde agora e arguí-Me, diz o
Senhor; ainda que os vossos pecados sejam escarlates, tornar-se-ão bran-
cos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, tornar-
se-ão como a branca lã. Se quiserdes e ouvirdes, comereis o bem desta
Terra. Mas se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; por-
que a Boca do Senhor o disse. Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela,
que estava cheia de juízo, que abrigava a justiça, é hoje habitada por
homicidas. Sua prata se tornou espuma, seu vinho se misturou com água.
Seus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um ama as
fraudes e corre seduzido pelo ganho fácil, não fazendo justiça ao órfão,
não chegando até ele a causa das viúvas. Por tudo isto, diz o Senhor, Deus
dos Exércitos, o Forte de Israel: Ah, consolar-Me-ei acerca dos Meus
adversários e vingar-Me-ei dos Meus inimigos!’’ (Isaías 1, 16-24). Embo-
ra discutissem, não conseguem compreender seu verdadeiro sentido.
2. Nisto, Eu Me adianto e lhes digo: “Como podeis conjeturar sobre
o que se apresenta diante de vós numa claridade dum Sol de meio-dia?
Olhai vossos órfãos, vossas viúvas! Que vida levam? Ao invés delas cui-
dardes, açambarcais o que possuem, e os órfãos ainda vendeis como es-
cravos, aos gentios, como há poucos dias queríeis fazer secretamente, mas
no que fostes impedidos pelo aduaneiro Kisjonah!
3. Bem que fala o Senhor: “Vinde e arguí-Me! Ainda que os vossos
Jakob Lorber
52

pecados sejam escarlates se tornarão brancos como a neve; ainda que


sejam vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a branca lã!”, –
mas, Eu pergunto: quando e sob que condição? Qual a vossa atitude, e
como se apresenta a Cidade Santa, que se chama “Cidade de Deus?”
Quantos pecados horrendos já se praticaram ali e quantos são levados a
efeito agora?
4. “Lavai-vos, purificai-vos e tirai a maldade de vossos atos de diante
dos Meus Olhos!”, eis que falou Jeovah pela boca do profeta. Lavais,
durante o dia, sete vezes o vosso corpo, limpais vossas roupas e caiais duas
vezes ao ano os sepulcros dos vossos mortos; mas, vossos corações conti-
nuam endurecidos e cheios de imundícies, tanto que sois semelhantes
aos sepulcros caiados, externamente limpos e adornados, mas interna-
mente cheios de podridão, ossadas e odor putrefato!
5. O profeta falou da purificação de vossos corações e vos advertiu
que tirásseis vossos pecados diante dos Olhos de Deus; vós, porém, ja-
mais aceitastes este sentido no vosso íntimo e continuais purificando a
pele, enquanto vosso coração se afunda nas imundícies do inferno! Ó
raça do inferno, quem te ensinou tal coisa?
6. Dizeis: “O bode ordenado por Moisés e Aaron, até esta data, é
coberto anualmente com os pecados de toda Israel; em seguida é morto e
jogado no Jordão!” (Levítico 16). Ó cegos, que culpa tem o bode de
vossos constantes pecados e de não purificardes os vossos corações?
7. Este ato representa somente aquilo que já devíeis ter aprendido há
muito tempo, isto é, que o bode demonstra vossas perversas tendências
mundanas, como sejam: o orgulho, que igual ao bode dá marradas e
cheira mal; a impudicícia e obscenidades em todas as coisas, avareza e
inveja! Com a destruição do bode expiatório devíeis aniquilar para sem-
pre, o bode de vossos corações – e assim teríeis cumprido o Mandamento
de Moisés e Aaron, o que, na certa, vos teria trazido grande benefício!
Matastes, porém, os bodes, o que de nada adianta, e os vossos corações
continuam os mesmos; por isso Jeovah executou Sua Ameaça e o fará
ainda mais quando vossa medida se encher.
8. Não deixa de ser louvável que os pagãos defendam os direitos do
O Grande Evangelho de João – Volume II
53

povo, cuidando das viúvas e órfãos! Mas, também é verdade o que diz o
profeta: “Consolar-Me-ei com os inimigos, os pagãos, e vingar-Me-ei por
eles!” Onde ficou vosso poder e força? Um pequeno grupo de pagãos do-
mina o antigo povo de Deus, tão poderoso! Que vergonha e desonra! Os
filhos da serpente são mais sábios e honestos do que vós, filhos da Luz!
9. Por isto, o mesmo acontecerá em breve; este solo santo será entre-
gue aos pagãos, e vós jamais tereis nem país, nem rei! Ireis servir aos
tiranos estrangeiros, como escravos; vossas filhas nobres serão ultrajadas
pelos pagãos e seus servos, e seus rebentos serão odiados como ninhada
de víboras, de serpentes!
10. Conjeturais pelas Escrituras dos profetas, que escreveram para
os vossos corações, como poderíeis aumentar a pompa na cerimônia du-
rante o ato da purificação de vossos corpos, roupas e sepulcros, para que
rendessem maiores oferendas. Mas não percebeis o que apraz a Deus! Ó
servos maldosos do diabo! Servis a ele com vossas cerimônias, – por isto,
ireis colher o prêmio no charco, como o mereceis!
11. Purifica-se o corpo quando for necessário, uma, duas, ou três
vezes ao dia e limpam-se as roupas quando sujas; isto foi ordenado por
Moisés, em benefício da saúde física. É preciso também cobrir os sepul-
cros com um palmo de barro e caiar esta coberta quando seca, várias
vezes, para que não rache. Pois isto poderia facilitar, nos primeiros anos,
a saída de gases nocivos, portadores de doenças, tanto para as criaturas,
como para animais e plantas.
12. Vede, esta é a razão por que se devem caiar os sepulcros! Como
podíeis engendrar desse fato uma cerimônia religiosa? Oh, que sois in-
sensatos e tolos! Qual o proveito desta tolice para a alma do falecido?!

18. A NATUREZA DE DEUS E SUA VERDADEIRA ADORAÇÃO

1. (O Senhor): “Quando morre uma criatura, sua alma é afastada do


corpo e, como corpo etéreo, levada a um sítio que corresponda a sua
Jakob Lorber
54

verdadeira natureza, tendo unicamente seu livre arbítrio e seu amor como
auxílio. Se vontade e amor forem bons, a zona que terá para o cultivo, de
acordo com a força e o poder dados por Deus, também será boa. Vontade
e sentimento sendo maus, também o serão suas obras, – do mesmo modo
como na terra uma árvore má não dará frutos bons e vice-versa. Orna-
mentai com ouro e jóias um espinheiro e observai se com isto vos dará
uvas! Se, porém, ornamentais ou não uma parreira, ela dará uvas doces e
de maravilhoso aroma!
2. Assim sendo, perguntai-vos qual o benefício que poderiam obter
as almas no Além, pelo caiar de seus sepulcros, que contêm apenas esque-
letos e podridão!
3. Julgais, realmente, que Deus seja tão imbecil e tolo que Se deixe
servir pela ostentação fútil e vã da matéria?
4. Digo-vos: Deus é Espírito, e os que quiserem servi-Lo deverão
fazê-lo em espírito e na verdade plena e pura de seu coração; jamais,
porém, na matéria, pois ela nada mais é que a Vontade do Pai Onipoten-
te e por Ele, por algum tempo, fixada!
5. Que diríeis a alguém que exigisse uma recompensa por ter destruído
vossa sementeira e ironicamente ainda afirmasse ter-vos prestado bom
serviço?! – A resposta que daríeis a este tolo atrevido, também vos dará o
Pai no Além, – e teríeis que vos afastar Dele para as mais longínquas
trevas, onde só há clamor e ranger de dentes!
6. Maria, Minha Mãe, é uma prova autêntica de como defendeis as
causas das viúvas, pois lhe tirastes tudo. E isto repetis sempre que possível!
7. É inaudito que as judias procurem defensores de suas causas entre
os pagãos, porque os judeus não as atendem! Satanás deve regozijar-se ao
ver que seus filhos ultrapassam os filhos de Deus, no que diz respeito à lei
e à justiça! Por isto, deverão os filhos do mundo se tornar filhos de Deus;
vós, porém, sereis filhos daquele a quem servis fielmente!
8. Já que lestes Isaías, não achastes aquela passagem onde diz:
“Regozijo-Me com a misericórdia e não com as oferendas!” – e mais além:
“Este povo adora-Me com os lábios, mas seu coração está longe de Mim?”
9. Se afirmais que Deus falou isto pela boca do profeta, de que ma-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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neira O respeitais se preferis sempre vossas leis desprezíveis ao invés das


Leis do Pai, considerando as que engendrastes para vosso lucro munda-
no, pisando os Ditames Divinos?! – Ó malvados servos do diabo! Como
tencionais enfrentar o julgamento de Deus?! Em verdade, os sodomitas
terão melhor sorte que vós! Pois se naquele tempo tivessem acontecido os
milagres a que assististes, teriam feito penitência com saco e cinza, e Deus
não os teria julgado com fogo do Céu! Ai de vós, o tempo é chegado em
que se dará aquilo que vos predisse!”

19. IGNORÂNCIA E PERTURBAÇÃO DOS FARISEUS

1. Após Minhas Palavras levantam-se os anciões, fariseus e escribas e


dizem: “Como te atreves a querer discutir conosco? Quais os milagres
que se deram aqui?”
2. Digo Eu, apontando-lhes a bem conhecida Sarah: “Conheceis
esta menina e sabeis o que lhe aconteceu pela segunda vez?”
3. Todos se fitam desapontados e dizem entre si: “Céus, esta é a filha
do reitor Jairo! Teria “ele’’ a ressuscitado de novo? Como isto foi possível?
Mas se assim for – que faremos? Jairo parece estar a favor dele, do contrá-
rio não lhe teria entregue sua filha amada! Ou será que nada sabe a respei-
to? Talvez o filho de José a ressuscitasse secretamente e deseje entregá-la a
seu pai! Este caso é muito suspeito! – É ela mesma, não resta dúvida!
Assistimos, entretanto, a seu enterro, assim como também a vimos mor-
ta em Capernaum! Que será, se este homem-deus realiza coisas tão im-
possíveis?” – Agora se calam.
4. Eu, porém, digo, fixando-os severamente: “Então, que diz vosso
coração maldoso a isto? É este milagre suficiente ou não, para vos provar
que falei a verdade?”
5. Respondem os anciãos: “Não somos médicos nem farmacêuticos,
que investigam as forças da Natureza aplicando-as em sua arte; tão pouco
entendemos de magia que se pode aprender do diabo, pois isto seria o
Jakob Lorber
56

maior pecado perante Deus; não sabemos, portanto, com que meios a
ressuscitaste! Por isto, não nos perturbamos com provas iguais a esta nem
pode isto abalar nossa fé em Moisés e nos profetas, bem como na inter-
pretação da Escritura autorizada pelo Céu, em favor do Templo! Existem
vários magos do oriente e do Egito que vieram nos mostrar seus milagres;
todos executam obras que judeu algum pode nem deve compreender,
pois isto tudo é causado pelo diabo. Afirmamos, portanto, o seguinte:
Teus milagres pertencentes à magia não têm valor para nós e provam
apenas que és um mestre íntegro na sua execução. Nunca, porém, hás de
conseguir que, em vista de teus feitos, aceitemos tua doutrina, que nos é
nojenta! Para nós, um médico está longe de ser um sacerdote e muito
menos um profeta, – e tu, em absoluto, o poderás ser, uma vez que te
conhecemos quase há trinta anos, como também conhecemos a teu pai!
Por isto, trata de abandonar a escola com teus larápios, do contrário usa-
remos de força!”
6. Diz Sarah: “Senhor, peço-Te, deixa estes miseráveis! São mais re-
nitentes que as pedras, mais obtusos que a noite e mais egoístas que um
abismo! Por duas vezes restituíste-me a vida e para eles isto nada repre-
senta! Julgam-Te um feiticeiro sacrílego e ousam, na sua cegueira, expul-
sar-Te da sinagoga! Senhor, isto é demais! Vamos, vamos! A presença
destes miseráveis é idêntica a de Satanás!”
7. Digo Eu: “Minha querida Sarah, acalma-te! Ficaremos aqui o
tempo que Eu quiser, pois sou o Senhor! Os poderosos da Terra já se
dizem “senhores” possuindo pouco poder; Eu, porém, tenho o Poder
sobre o Céu, o inferno e toda a Terra! Sou, portanto, um Senhor Íntegro
e não permito que se Me ordene! O que Eu executo, faço-o livremente,
porque sou o Senhor!”
8. Ouvindo isto, os anciãos rasgam suas vestes, gritando: “Afasta-te!
Pois agora ouvimos nitidamente que és um sacrílego! Executas tuas obras
com ajuda de Beelzebub, querendo, em compensação, afastar os povos
de Moisés e de Deus, através de tua doutrina, tanto que só nos resta
apedrejar-te!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
57

20. MEDO DOS TEMPLÁRIOS DIANTE DO


JULGAMENTO ROMANO

1. Em todas as escolas, bem como no Templo, guardava-se o mate-


rial para um possível apedrejamento. Os anciãos, fariseus e escribas, numa
terrível excitação, apressam-se em apanhá-lo. Os discípulos, por sua vez,
jogam-se contra eles e os ameaçam. Os outros, começam a gritar e reagir,
procurando arremessar as pedras contra Mim. Neste mesmo instante
Fausto, Cornelius, Jairo e o velho Cirenius penetram na sala de aula.
2. Quando os templários irritados avistam estes grandes senhores, os
quais bem conheciam, deixam cair as pedras e começam a fazer uma série
de reverências respeitosas.
3. Jairo dirige-se rápido para junto de Mim e de sua filha, abraça-Me e
fala em alta voz a Cirenius: “Ei-Lo, o Grande Homem dos homens, com
minha filha querida, que Ele ressuscitou por duas vezes da morte completa!”
4. O velho Cirenius se aproxima, com lágrimas nos olhos, e diz: “Ó
meu Deus e meu Senhor! Com que palavras poderei eu, criatura pobre e
fraca, agradecer-Te por todas as graças que me proporcionaste?! Oh, como
sou feliz por ver-Te, meu Santo Amigo! Há mais de vinte anos não tinha
notícias Tuas, embora pensasse diariamente em Ti e por muitas vezes
procurasse saber do Teu paradeiro!
5. Ah, como andei preocupado há poucos dias quando o imperador
começou a exigir com severidade os malogrados impostos do Pontus e da
Ásia Menor, e eu não sabia que fim haviam levado! Como, porém, fiquei
contente, sim, feliz, quando há três dias me foram enviados não só os ditos
impostos, mas ainda uma quantidade muito maior de preciosidades em
ouro, prata, pérolas e pedras preciosas, por parte dos meus sinceros amigos
Fausto e Cornelius – e isto tudo unicamente pelo Teu Santo Intermédio!
6. Meu Senhor, meu maior Amigo Jesus! Dize-me, que devo fazer a
fim de resgatar, em parte, a imensa dívida para Contigo? Se for do Teu
Desejo possuir minha coroa de vice-rei, com que imensa alegria e digni-
dade a depositarei a Teus Santos Pés!
Jakob Lorber
58

7. Realmente Senhor, Tu, minha vida, como sabes não dou valor al-
gum aos tesouros desta Terra; se aquilo que já expedi para Roma fosse meu,
milhares de pobres obteriam auxílio! Pertencia, porém, tudo ao imperador
e me esforcei por achar os impostos! Como isto teria sido possível sem Ti,
sem meu querido Fausto e o irmão Cornelius? – Oh, tiraste-me um peso
do meu peito! Agora trata-se de recompensar-Te dentro de minhas posses!
– Fala, fala, Tu, maior amigo dos homens, que devo fazer?”
8. Durante este comovente discurso de Cirenius a Mim dirigido,
aqueles que há pouco tencionavam apedrejar-Me, empalidecem qual
morto e tremem como varas, porque julgam que Me vingarei
denunciando-os a Cirenius, que temem mais do que a morte; pois Ele
jamais gracejava! Os juízes romanos são conhecidos como exagerada-
mente severos na execução de suas sentenças e veredictos; por isto, os
judeus sentiam verdadeiro pavor em presença deles, principalmente os
anciãos nazarenos, fariseus e escribas, dos quais alguns eram coniventes
no roubo dos impostos romanos.
9. Eu, porém, falo com a maior amabilidade a Cirenius: “Pensas, en-
tão, que o homem esqueceu o que fizeste à criança, quando teve de fugir de
Herodes, de Bethlehem para o Egito? Oh, o homem está bem lembrado de
tudo! Fizeste tudo sem interesse, porque Me amavas, – e deveria Eu agora
exigir uma recompensa qualquer? Não! Isto, nunca! Mas, como mandas
sobre toda a Ásia na qualidade de representante do imperador, ordena a
estes renitentes servos de Satanás que silenciem sobre tudo que fiz aqui,
caso contrário serão severamente castigados! Pois todo aquele que levantar
pedras contra o seu próximo será punido com rigor!”
10. Diz Cirenius: Estes miseráveis teriam ousado levantar pedras
contra Ti?”
11. Diz Sarah: “Sim, é verdade, nobre Cirenius! Quiseram apedrejar
o Senhor porque lhes falou a verdade! Dizem-se servos de Jeovah, entre-
tanto são ateus; consideram exclusivamente suas leis egoísticas e domina-
doras, dando aos crimes mais hediondos o cunho de divino!
12. Quem se não deixar ludibriar pelo seu brilho falso é contido por
um poder criminoso, não tendo mais liberdade neste mundo! Num con-
O Grande Evangelho de João – Volume II
59

fronto entre as Leis de Moisés, dos profetas e as deles, descobre-se com


facilidade o que eu, com meus dezesseis anos, já verifiquei há muito tem-
po! Em verdade, quem considera os nossos profetas, é deles inimigo de-
clarado! Igual aos samaritanos é ele considerado, diariamente, como amal-
diçoado e odiado de tal forma pelos templários que seu nome é idêntico
a uma maldição!
13. Eu, como moça, pergunto: É isto a palavra de Deus ou o culto a
Deus? Jesus lhes provou, claramente, que tal palavra só poderia vir do infer-
no, e o culto, como o deseja Satanás! Por isto querem-No apedrejar diante
do povo que, ciente de suas traficâncias, poderá reduzir-lhes o lucro!
14. Nobre senhor, já por duas vezes estive no Além e sei o que minha
alma vislumbrou! Vi Moisés e todos os profetas! Possuem a paz e seu
maior regozijo é a época atual, que chamam de o “Grande Dia do Se-
nhor”! Mas entre estes santos de Israel não vi nenhum fariseu, nenhum
escriba! Por isto perguntei onde se encontravam.
15. Eis que apareceu um anjo luminoso e mandou que o seguisse, o
que fiz. Em pouco tempo encontrávamos num lugar horrivelmente es-
curo, qual noite de tempestade. Bem no fundo havia um ponto incan-
descente, e o anjo falou: “Eis o charco onde habitam os que mencionas-
te!” Fixando o olhar vi apenas diabos, e perguntei: “Mensageiro do Se-
nhor! Só vejo demônios, onde estão, pois, aqueles que procuro?” O anjo
respondeu: “São eles mesmos, os que vês!”
16. Assustei-me muito pensando em meu pai, que é dirigente dos
fariseus; mas o anjo, percebendo o que se passava comigo, falou: “Não te
preocupes! Teu pai achará o caminho certo e serás ainda seu guia na Terra!”
17. Isto tudo vi e ouvi; falo, portanto, de experiência própria e não
necessito aprender algo destes tolos e maus, servos de Satanás; vi e apren-
di a única verdade e dela sou testemunha, pois que Jesus a ensina. Estes
doutrinadores tenebrosos, porém, ensinam e falam a mentira perfeita!
Tenho dito!”
Jakob Lorber
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21. CIRENIUS E OS TEMPLÁRIOS

1. Diz Cirenius: “Ouvistes o testemunho de uma ressuscitada con-


tra vós, que vos acusa muito mais que qualquer roubo ou assassínio? Que
farei convosco, após esta acusação tremenda? Crucificar-vos, seria muito
pouco! Vergastar-vos um dia inteiro e, em seguida, decapitar-vos, tam-
bém seria um castigo muito suave! Mas já sei o que fazer e ficareis satisfei-
tos comigo!” Diante destas palavras de Cirenius todos empalidecem, gri-
tam e imploram!
2. Em segredo, Cirenius Me pergunta se deve, realmente, condená-
los além do veredicto do silêncio que lhes tinha sido imposto.
3. Respondo: “Considera apenas o veredicto, ameaçando-os seria-
mente caso não cumpram o que exigi! Depois, manda-os embora!”
4. Cirenius se adianta, ordena silêncio e fala: “Ouvi-me, facínoras
miseráveis! Deveis unicamente a Este, a Quem quisestes apedrejar, so-
mente pela verdade de que vos falou, o fato de não vos mandar enxotar
para o deserto, e, uma vez expostos numa rocha que dá para o abismo –
vos fazer cegar! Mas, se algum de vós ousar externar sobre os fatos uma
sílaba sequer, seja verbalmente ou por escrito, por gestos ou sinais, sofrerá
as mais graves consequências!
5. Tão pouco deixarei impune o conhecimento de que talvez façais
sofrer e perseguir o povo, por extorsões indébitas, em virtude desta Santa
Verdade! Ensinai o povo a conhecer Deus e Suas Leis, a agir dentro delas
e sereis tão bem considerados como este Homem Divino, Jesus, que em
absoluto transmite coisa nova, mas a antiquíssima Doutrina de Deus.
Isto para Ele não constitui dificuldade porquanto é em Espírito, Aquele
Mesmo que, de acordo com vossa Doutrina, transmitiu-vos as Leis atra-
vés de Moisés, no Monte Sinai. Isto não é compreendido por vós; para
mim entretanto, que declarais pagão, é evidente. Não ouseis perseguir
Este Santo, pois tal perseguição custar-vos-ia a vida duplamente: aqui, no
corpo, e no Além! Compreendestes?”
6. Respondem todos: “Sim, nobre Senhor, e faremos tudo que exi-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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giste! Sabes, porém, que nós, criaturas, não somos deuses, tendo toda
sorte de fraquezas; se, portanto, alguém pecar num ou noutro ponto,
pedimos-te que apliques como homem um castigo humano!”
7. Diz Cirenius: “Os comerciantes e mercadores costumam fazer
negociatas, – os romanos porém, jamais! Considerai isto e agi assim, que
não necessitareis de indulgência. As criaturas só se tornam fortes e heróis
da ordem através de leis rigorosas e implacáveis!
8. Se o soldado não tivesse leis rigorosas a seguir, seria um covarde, e
quando mandado a perseguir, lutar e vencer o inimigo, relegaria seus
deveres – e a proteção da pátria seria um mito! Mas, a lei prescrevendo ao
militar todo passo a dar diante do inimigo, ele também o fará! Pois, não
o fazendo, a morte será seu destino; caso contrário, poderá até ser um
vitorioso e herói!
9. Eis a regra mais rigorosa de Roma: Uma lei severa fará criaturas
severas e ordeiras. Por isto não negociamos neste ponto com quem quer
que seja! Agi assim e sereis livres da lei.
10. A Terra toda e tudo que nela existe mantêm-se pela imutabilida-
de da Vontade Divina. Se Deus negociasse com suas criaturas, que aspec-
to apresentaria o orbe e todos nós? Tudo cairia em frangalhos!
11. O mesmo se daria com um povo: se uma das leis fosse afrouxa-
da, as outras também perderiam sua força e estabilidade, provocando em
breve a ruína do governo! Portanto, persisto na minha ameaça!”
12. A este revide enérgico do vice-rei, os anciãos e fariseus tomam
uma expressão de perplexidade e um, dentre eles, diz, num êxtase dolo-
roso: “Ó Roma, Ó Roma! És demasiadamente severa! – Jeovah! Libertas-
te Teus filhos da prisão babilônica depois deles se penitenciarem; acaso
jamais nos libertarás deste jugo mil vezes mais pesado?”
13. Digo Eu: “Se não vos modificardes inteiramente, não só conti-
nuareis para sempre como súditos de Roma, mas também sereis por ela
devorados como o cadáver pelos abutres! Deus terá paciência convosco
por tempo determinado, mas depois recairá sobre vós o castigo severo,
no qual sereis perseguidos até o fim do mundo. – Agora, ide, e não mais
nos aborreçais!”
Jakob Lorber
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14. Todos se retiram para os diversos cômodos; nós, entretanto, per-


manecemos na sinagoga, onde afluem muitos nazarenos, interessados
em ver os dignitários romanos. A fim de não sermos imprensados pelo
povo, somos obrigados a subir, finalmente, nos bancos e nas mesas.

22. CURA DUM ARTRÍTICO. TESTEMUNHO DO NAZARENO


Ev. Matheus – Capítulo 13, versículos 55 e 56

1. Borus, neste ínterim, conduz pessoalmente um artrítico, cujas


mãos e pés estão inteiramente ressequidos e contorcidos, de sorte que
médico algum fora capaz de curá-lo.
2. Borus, fazendo transportar o doente por dois homens em uma
maca, diz em alta voz, diante da multidão: “A este enfermo somente Deus
poderá curar! Sou um dos primeiros médicos em toda a Galiléia e muitos
doentes de Jerusalém e Bethlehem já curei; mas a este não me foi possível!
Peço-Te, meu Santíssimo amigo Jesus, a Quem nada é impossível, que lhe
dês o poder de caminhar com saúde, se tal for de Tua Vontade!”
3. Digo Eu: “Amigo, aqui existem muitos descrentes, o que dificulta
tal cura! Mas, a sós, poderei curá-lo!”
4. Alguns entre o povo começam a cochichar: “Oh, o filho do car-
pinteiro é bem esperto! Quer experimentar a cura secretamente para ver
o resultado!”
5. Como ouço esta observação maldosa, digo: “Que sois tolos e doi-
dos! Conheceis esta menina ao lado de Jairo? Não é sua filha, por duas
vezes falecida? Quem lhe restituiu a vida? Tolos! Se o Filho do homem
tem poder para ressuscitar os mortos, certamente poderá dizer a este do-
ente: Levanta-te e caminha?!” A fim de que vejais que tenho este Poder,
ordeno-te, tu, que és artrítico, que te levantes e caminhes com saúde!”
6. No mesmo instante um fogo atravessa o corpo do entrevado, que
se torna completamente são, levantando-se em seguida e caminhando
alegremente. Seu corpo havia se enrijecido de músculos, dando-lhe um
O Grande Evangelho de João – Volume II
63

aspecto remoçado. Cheio de admiração ele diz, após alguns instantes:


“Isto só a Deus é possível! Sem remédios, sem passes, unicamente pela
palavra, conseguir esta cura, – jamais alguém assistira! Senhor Jesus, con-
fesso e acredito plenamente que és o Filho de Deus ou Deus Mesmo
Encarnado! Tenho vontade de adorar-Te”
7. Digo Eu: “Deixa isto e não faças alarido por tal! Guarda apenas o
que sentes em teu coração! Tempo virá, em que necessitarás desta eleva-
ção de sentimentos – e então poderás orar ao Pai no Céu que deu, so-
mente a Seu Filho, tal Poder!” A estas palavras o curado silencia.
8. O povo, entretanto, apavora-se a diz: “Donde lhe vem tal sabedo-
ria, tais atos e tal força? Não é o filho do carpinteiro? Sua mãe não é
Maria? E seus irmãos, Jacob, Joses, Simão e Judas? (Matheus 13, 55) E
suas irmãs não estão todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isto?”
(Matheus 13, 56)
9. Enquanto assim estão perguntando e conjeturando, muitos se
escandalizam, dizendo: “Isto é para enlouquecer! Nossos filhos estuda-
ram em Jerusalém, angariando conhecimentos em várias artes e ciências;
além disso, cursaram a escola, ainda existente, dos profetas,
aperfeiçoando-se na interpretação dos hieróglifos egípcios! E este carpin-
teiro que, como se sabe, jamais frequentou uma escola, e que vimos tra-
balhar com plaina e serrote, confunde-nos e a nossos filhos, de maneira a
causar admiração às mais altas personagens governamentais de sorte que
quase o consideram um deus! Isto é realmente detestável! Ele é tudo em
tudo, fala todos os idiomas, é um profeta “non plus ultra”, fazendo mila-
gres que haveriam de gloriar qualquer deus; nossos filhos, porém, e nós
mesmos, que também aprendemos algo, damos a impressão de não po-
der contar até dez!”
10. Diz um outro grupo: “Onde teria aprendido algo? Descontando
alguns meses, sempre esteve em casa, trabalhando com seu pai e seus irmãos;
nunca percebemos nele algo de excepcional! Costumava ser sisudo, e quando
se lhe perguntava algo, às vezes não respondia ou, então, mui parcamente, de
tal forma que era considerado tolo, – e agora se apresenta como homem que
atrai as vistas de todo o mundo! Isto é por demais aborrecido!
Jakob Lorber
64

11. Que, finalmente, passou-se com ele? Sabemos que durante sua
infância mostrou certas faculdades mágicas. Seus pais acreditavam que
viesse a ser um dia algo de importante; entretanto, tais faculdades pro-
missoras se perderam no decorrer dos anos. Jamais frequentou uma esco-
la e assim tornou-se um simples carpinteiro. Por várias vezes perguntei ao
velho José sobre a atitude de Jesus em casa, e sua resposta era: “Ele, em
casa, é mais calado do que em qualquer outra parte!” Seus irmãos diziam
o mesmo! – Assim, donde lhe vem o dom da palavra?”

23. ADMOESTAÇÃO FEITA AOS NAZARENOS


Ev. Matheus – Capítulo 13, versículo 57

1. Como, todavia, pelos Meus Atos, Eu tivesse dado provas de um


profeta, um velho nazareno conta o seguinte: “Certa feita ouvi um babilônio
que viajava por estas zonas – fato comum entre esse povo que se exibe
como mágico e quiromante – predizer o seguinte ao meu vizinho:”
2. Nazareth, entre tuas muralhas habita um homem que desconhe-
ces! É calado e compenetrado; mas quando chegar o Seu Tempo, as mon-
tanhas, os ventos e o mar obedecer-Lhe-ão, e a morte diante Dele estre-
mecerá, impossibilitada de impor-Lhe seu poder! O povo desta cidade
escandalizar-se-á por isto; mas, ninguém poderá enfrentar Sua Fúria!
Quando, porém, quiser deixar este mundo para subir ao Céu, permitirá
que Seus inimigos O matem por três dias; no terceiro, entretanto, afasta-
rá de Si o poder da morte, ressuscitando em toda pujança para, em segui-
da, ascender ao Céu, com o Seu Corpo! Ai daqueles que O perseguirem;
seu destino será um julgamento pavoroso, jamais visto sobre esta Terra!
Ai dos judeus orgulhosos! Não terão pátria até o fim dos tempos, peram-
bulando sobre este orbe qual caça maldita no deserto. Prepararão um
alimento intragável de espinhos, cardos e abrolhos, a fim de saciar a fome
morrendo em consequência deste alimento!”
3. Eis as palavras de tal babilônio, ditas há três anos; é realmente
O Grande Evangelho de João – Volume II
65

estranho que se apresente, neste Jesus, tal homem em nossa cidade, cujas
palavras e ações confirmam tudo que acabo de narrar! Mas, que fazer? Se
um fato já se realizou, o outro, ou seja o julgamento, também virá! Por
isto sou de opinião que O deixemos agir, pois será difícil desafiá-Lo!
Quem ressuscita mortos, terá poder para algo mais! Será impossível ven-
cer a Quem as montanhas, os ventos e mares respeitam! Por isto, repito,
deixemo-Lo, já que, como vides, várias centenas de pessoas seguem Sua
Doutrina de corpo e alma, considerando-O o Messias Prometido!”
4. Estas palavras do velho nazareno a muitos ainda mais aborrecem;
no entanto, ninguém se atreve a dizer palavra.
5. Eu, todavia, observo que nada alcançaria com este povo, sem fé e
confiança, e digo que todos Me escutem: “Por que vos aborreceis? Não
ouvistes que sempre se diz: Em parte alguma um profeta vale tão pouco
do que em sua pátria e sua casa?! (Matheus 13, 57) Assim sendo, por que
então vos aborreceis? Quereis ser espertos: Eu, porém, vos digo que sois
cegos, surdos e tolos! Se Eu sou Quem sou, provando isto por palavras e
Ações, por que não Me acreditais? Acaso é preciso que um profeta seja do
estrangeiro para merecer crédito? Ou seu lugar de nascimento deve ser
desconhecido, bem como seu idioma?
6. Se tivesse vindo da Pérsia ou da Índia, fazendo milagres que ja-
mais alguém houvesse conseguido, ajoelharvos-íeis, gritando: “Deus
visitou-nos, que estamos cheios de pecados! Quem nos protegerá de Sua
Ira?” Mas, como sou o por vós conhecido filho de José, perguntais: “Donde
lhe vem isto?” Cegos, tolos! Acaso este solo aqui não é, tanto quanto na
Pérsia ou na Índia, o solo de Deus? Não brilha aqui o mesmo Sol e os
frutos daqui como de lá não crescem e amadurecem pelo constante Po-
der Divino? Lua e estrelas, Sol e Terra – serão aqui, talvez, menos divinos?
Se faço milagres diante de vossos olhos, impossíveis a um persa ou hindu,
por que então não Me será possível angariar vosso respeito e fé? Realmen-
te, se Me dirigisse aos gregos e romanos, eles fariam templos e altares em
Minha Honra!
7. Vós, entretanto, perguntais pelo simples motivo de ter nascido
em vosso meio: “Donde foi buscar este carpinteiro desajeitado o dom
Jakob Lorber
66

para estes milagres?” Esperai um pouco! Este palerma deixou de sê-Lo,


fazendo-vos grandes benefícios – primeiro como palerma, e agora como
Mestre e Salvador; no futuro, porém, deixará de fazê-los!” – Estas pala-
vras irritam mais ainda os fariseus que deixam a escola.

24. DISCURSO DE CIRENIUS A RESPEITO DOS NAZARENOS

1. Diz Cirenius: “Senhor e Mestre, pelo que vejo, trata-se aqui mais
de ignorância do que de maldade! Pois os nazarenos, com exceção de
alguns, são conhecidos como tolos que custam a compreender algo.
Dotados de pouco ensino, nenhuma experiência, geralmente pobres –
eis os nazarenos! Normalmente vivem da lavoura e criação de animais, e
a Jerusalém vão uma vez por ano, onde nada aprendem, ao contrário,
perdem intelectualmente. Onde, portanto, deveriam buscar maior capa-
cidade intelectual, a fim de poderem julgar Tuas Palavras e Ações? Além
disso, as criaturas tolas costumam também ser invejosas e este é o motivo
do seu aborrecimento: seus filhos, embora frequentassem todos os colé-
gios possíveis, não podem concorrer com Tua Sabedoria, Conhecimento
e Ação! Assim, vejo apenas uma imensa tolice em seu proceder;
deixêmo-los!
2. Também não temo um assalto à Tua Pessoa, pois se tens Poder
suficiente para pôr em fuga um exército bem adestrado – quanto mais
fácil não Te será enfrentar estes tolos! Além do mais, tens a Teu favor a
nossa presença como dignitários romanos sobre toda a Ásia e não Te
faltará proteção! Se, por acaso, fores perseguido, saberás onde ficam as
cidades de Sidon e Tyro! Vai para lá e terão fim as perseguições!
3. Estes moradores de Nazareth são quase destituídos de qualquer
educação e a prova é que não cumprimentaram, nem a mim, nem a ne-
nhum outro representante de Roma! Vieram aqui por mera curiosidade,
portando-se qual burros e carneiros, julgando-se donos do mundo! Devido
a esta estultícia não os posso acusar de pecado e penso que Tu, ó Senhor e
O Grande Evangelho de João – Volume II
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Mestre, conhecendo-os mil vezes melhor, também não os culparás!”


4. Digo Eu: “Disto podes estar certo! Mas Me empenho que reco-
nheçam em seus corações Quem Eu sou; pois disto depende sua Vida
Eterna! Não Me conhecendo, também não o farão com Aquele que Me
enviou ao mundo e muito menos, que Eu e Aquele somos Um Ser Uno!
Enquanto isto não fizerem, não Me possuirão em seus corações, tão pou-
co a Vida Eterna e, por conseguinte, – são mortos em espírito! Eu Mes-
mo sou esta Vida Eterna e a Minha Doutrina é o caminho para lá!
5. Quem, portanto, não aceitar a Mim e a Minha Doutrina, deixa
de aceitar a Vida Eterna, dando preferência à morte.
6. Todavia, não Me é possível forçar alguém para a fé, pois toda
coação é um julgamento para o espírito, que lhe traria tanto a morte
como o faria a incredulidade; assim é difícil, até para Deus, agir de modo
tal que a criatura não seja prejudicada psiquicamente! Qual o meio para
fazer despertar o seu espírito?
7. Não aceitando Meu Verbo Vivificado, também não aceita a Mim
como única Fonte de Vida em todo o Infinito! Pergunta a ti mesmo,
donde irás buscar a Vida da qual sou Portador?”
8. Diz Cirenius: “Sim, compreendo tudo perfeitamente, pois já Te
conheço há trinta anos; mas, deixemos isto de parte; saberei como levar a fé
a esta gente! Vamos, portanto, ver onde podemos almoçar, pois já é bem
tarde!” Saímos da escola e da cidade, dirigindo-nos à Minha casa, onde nos
aguarda um bom almoço. Passamos este dia alegres e bem dispostos.

25. INDIGNIDADE DO POVO


Ev. Matheus – Capítulo 13, versículo 58

1. Fazem-se muitos comentários a respeito dos acontecimentos em


Ostracina, no Egito, onde passei Minha Infância e até Maria toma parte,
com satisfação, nas conversas do vice-rei da Ásia, título que honrava Cirenius.
2. Jacob, filho de José, que também sabe escrever, apanha um rolo
Jakob Lorber
68

bem volumoso do seu armário, entregando-o a Cirenius com as seguin-


tes palavras: “Nobre senhor, anotei aqui todos os acontecimentos desde o
Nascimento até aos quinze anos de Jesus. Suas Ações constam até aos
doze anos, pois dali em diante perdeu Seu Dom Divino. Por isto, nada
consta nos treze, catorze e quinze anos, pois além de algumas Sábias
Palavras nada de maior sucedeu; com isto, o relato de Sua Adolescência
está terminado. (Vide “A Infância de Jesus”).
3. Existe, no entanto, além destas minhas anotações, uma quantida-
de de obras falsas, certamente de velhas mulheres de pescadores; peço,
portanto, a todos, considerarem exclusivamente as minhas como verda-
deiras! Se, com isto, posso te proporcionar uma alegria, peço-te aceitares
este pequeno trabalho como recompensa de minha parte por todos os
benefícios que nos prestaste!”
4. Cirenius aceita os pergaminhos com muita satisfação, folheia-os
e, em seguida, passa a ler vários trechos, o que é uma alegria para todos,
principalmente para a gentil Sarah e sua querida mãe.
5. Após alguns minutos, Sarah exclama, com os olhos rasos de lágri-
mas: “Que mais seria preciso para constatar o que já reconheci desde
minha primeira cura?! Meu Deus! Tais Fatos, tais Milagres, – e nada de
fé, nem compreensão, nem conhecimento do Divino! Senhor, como pobre
e fraca pecadora, peço-Te: Não mais faças um milagre sequer, em Naza-
reth! Este povo não o merece! Confesso que, se tivesse poder para tal,
faria que estas criaturas passassem pela miséria e pelo açoite, até que reco-
nhecessem o quanto pecaram por não terem reconhecido esta Santa Época
de Tua Vinda!”
6. Digo-lhe Eu: “Meu coração, não te aborreças por isto! Conheço-os
e a sua incredulidade; e como é de teu desejo, não mais darei provas do
Meu Poder. (Matheus 13, 58) Tu, Meu escrivão Matheus, anotarás isto,
a fim de que o mundo venha a saber da dureza dos corações dos Meus
conterrâneos em vida! Contudo, ficaremos mais alguns dias, a fim de que
tenham motivo para o seu aborrecimento, tornando-se assim maduros
para o reino de Satanás!”
7. Diz Cirenius: “Lastimo imenso não poder permanecer aqui além
O Grande Evangelho de João – Volume II
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de um dia, em virtude de meus negócios; entretanto, podendo Te ser útil


em qualquer coisa, em vista deste povo miserável, espero Tuas Ordens! Se
o quiseres, farei açoitar a povoação toda!”
8. Digo Eu: “Deixemos isto! Já estão castigados pelo fato de não Me
acreditarem! Sua incredulidade será o juiz implacável! Em verdade, digo-te:
é mais fácil um impudico, um adúltero e um ladrão entrarem no Céu do
que estes incrédulos! Digo mais, não que lhes seja impossível acreditar;
não o querem, a fim de poderem pecar mais livremente! Pois, aceitando a
Minha Doutrina, sua consciência os acusaria de suas faltas; por isto, pre-
ferem não crer, procurando através de discussões sofísticas duvidar de
toda possível verdade, para viver uma vida voluptuosa! Amigo, teria muita
coisa a dizer; mas é melhor calar! Deixemo-los como são; o que é do
diabo, dificilmente pode se tornar divino pelo caminho natural!”

26. ENSINAMENTOS PARA LEGISLADORES

1. Diz Cirenius: “É bom saber isto! Mas, como não aceitam Tua
Doutrina, tratarei de uma outra! Farei publicar por Fausto e seus servos,
certas ordens imperiais permitidas há meio ano; talvez o “evangelho” de
Roma lhes incuta mais respeito! Esta ordem contém cem pontos como
leis, sancionadas pela cruz e pelo açoite! A poligamia é sustada, a impudi-
cícia castigada com o açoite; o adultério, roubo e fraude, com a crucifica-
ção; o contrabando com o açoite e mais cem libras de prata, e uma quan-
tidade de leis menos severas, mas cujo não cumprimento tem como
consequência o açoite e cem libras de prata. As viagens sem passaporte
são proibidas; o passaporte é conseguido com o pagamento de cem li-
bras! Sim, isto eu farei, manobrando estas leis com todo o rigor para as
cidades na Galiléia – e quero ver se este povo não tem consciência!”
2. Digo Eu: “Isto compete ao teu âmbito governamental e não te
poderei dizer “sim” ou “não”. Faze o que quiseres; mas não nos dificultes
as viagens pelo país!”
Jakob Lorber
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3. Diz Cirenius: “Em absoluto! Artistas, médicos, sábios e professo-


res são excluídos destas leis! Seus testemunhos, suas obras e prédicas ser-
vem de passaporte e ninguém os poderá impedir em suas funções, sob
pena de morte. Dar-Te-ei um diploma que Te auxiliará!”
4. Digo Eu: “Alegro-Me sempre de tua boa vontade; mesmo assim,
poupa-te este trabalho! Enquanto quiser empreender Minhas viagens,
não haverá poder humano que Me possa impedir. O dia que Eu Me
quiser sacrificar em benefício da Humanidade, ninguém Me poderá pro-
teger; mesmo oferecendo-Me proteção, não a aceitaria! Porque, Meu
amigo, Aquele, a Quem Céus e Terra obedecem, forçosamente é mais
poderoso que todas as criaturas deste orbe, que mal Me serve para escabelo!
Portanto, faze o que quiseres, que não adiantaria muito! Podes elaborar
uma lei da maneira mais perfeita: verás em breve com que habilidade os
homens a conseguem contornar – e nada poderás fazer.
5. As Leis de Deus, dadas ao povo por Moisés, são perfeitas; mas, os
homens conseguiram modificá-las habilidosamente em seu próprio be-
nefício, de sorte que não se perturbam em transgredi-las, uma vez que se
justificam com seus próprios estatutos.
6. Por isto, faze o que quiseres que não Me oporei; mas também te
digo: Quanto maior o número de leis, maior o dos criminosos, para os
quais, com o tempo, vossas cruzes e açoites não serão suficientes!”
7. Diz Cirenius: “Tudo que dizes é justo e verdadeiro, mas, a fim de
orientar-me, pergunto: quais os meios aplicáveis à teimosia das criaturas,
que, iguais a esses nazarenos não acreditam em Deus ou numa revelação do
Alto, agindo contrariamente aos Mandamentos Divinos?! Deverão viver
sem as severas leis do mundo, para que possam usufruir uma vida voluptu-
osa, agindo entre si e com seu próximo de maneira mais brutal que os
animais selvagens?! Sou de opinião que tais bestas humanas só poderão
retornar à ordem e à compreensão de Deus, através de leis vigorosas!”
8. Digo Eu: “Não resta dúvida; pois não existe outro caminho pos-
sível e imaginável que o imperativo das leis mundanas! Entretanto, de-
pende muito de seu caráter.
9. Para este fim é necessário um conhecimento profundo da nature-
O Grande Evangelho de João – Volume II
71

za humana, considerando a verdadeira razão que levou a Humanidade à


perversão, do contrário, o legislador assemelha-se ao médico que tencio-
na curar todas as doenças com apenas um remédio. Não observa ele que
as diversas enfermidades têm suas diferentes causas. Tal médico talvez
consiga curar um ou outro doente, para o qual seu remédio foi adequa-
do. Centenas de outros, entretanto, cujo mal é de origem diversa, não
somente deixam de melhorar, mas pioram ou talvez até morram!
10. Se, portanto, torna-se difícil curar o corpo visível e palpável,
quanto mais o não será determinar o verdadeiro remédio para uma alma!
11. A lei é um remédio quando acompanhada por um ensinamento
justo que lhe explique o motivo; mas considera que:
12. Ora defrontas com uma alma enraivecida; ora, com outra cheia
de pavor; talvez, ainda, com uma terceira, intrigante ou invejosa, avaren-
ta ou simuladora. Mais além, deparas com uma criatura perspicaz, ao
lado de uma ociosa. Numa casa habitam quatro almas humildes, noutra,
cinco renitentes, – e assim, entre milhares encontras as mais diversas ten-
dências, fraquezas e paixões.
13. Agora pretendes dar a estes múltiplos caráteres uma lei em co-
mum; mas, qual o resultado? O medroso se desesperará, o enraivecido
pensará em vingança, o ocioso continuará o mesmo e o pesquisador per-
derá toda coragem, desistindo de seu trabalho; o avarento se tornará mais
mesquinho, o orgulhoso se juntará ao raivoso e o intelectual fará um
pacto com ambos!
14. Considera estas e mais outras consequências desastrosas que sur-
giriam da aplicação de uma lei tola e reconhecerás que, se bem que seja
necessária tal ordem, imprescindível se torna um minucioso exame para
verificar se condiz com todos os caráteres!
15. Assim não sendo, uma lei jamais deverá ser sancionada, por-
quanto só prejudicará.
16. Deus, o Sábio Criador, só deu Dez Mandamentos, adequados
para todos os males psíquicos e aplicáveis por todas as criaturas. Assim,
como pode um imperador pagão instituir cem leis de uma só vez, para a
salvação da Humanidade?
Jakob Lorber
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27. PREJUÍZO PARA A ALMA ATRAVÉS DE LEIS HUMANAS

1. (O Senhor): “Digo-te: Enquanto o povo judaico se manteve sob


a direção dos juízes, que consideravam unicamente as Leis Divinas, a
vida que levou era justa, salvo pequenas exceções. Quando, porém, teve
oportunidade de observar a pompa dos reis pagãos, seus suntuosos palá-
cios e como seus povos diante deles se curvavam no pó, também exigiu
um rei dado por Deus, pois se julgava o povo mais poderoso do mundo.
Deus, entretanto, não quis atendê-lo em seu desejo tolo, advertindo-lhe
e mostrando as consequências nocivas que deveria esperar sob o domínio
dum soberano. Mas os profetas incumbidos desta tarefa pregavam a ou-
vidos surdos: o povo queria a todo preço um monarca.
2. E Deus lhe deu na pessoa de Saul o primeiro rei, ungido pelo Seu
velho e fiel servo Samuel. Em breve decretou Saul leis mui severas, que
provocaram a queda dos judeus até à atual perversão.
3. A quem cabe a culpa disto? – Vê, às leis inapropriadas, feitas pelo
homem que não conhece sua própria natureza e, muito menos, a de seu
próximo, aniquilando-lhe a vida da alma.
4. Reflete um pouco no efeito que um palrador conseguisse em que-
rer consertar um mecanismo artisticamente trabalhado, que funcionou
por certo tempo, correspondendo à idealização do seu inventor, mas um
belo dia viesse a parar! Qual seria a consequência de suas mãos desajeita-
das? O prejuízo não seria maior do que o benefício, pois que ele nada
entendia do mecanismo? Talvez até conseguisse estragá-lo por completo,
de sorte que nem o próprio idealizador o pudesse reparar!
5. Se tal coisa pode acontecer com um simples mecanismo cujas
partes internas são visíveis e palpáveis, quanto mais não se dará com a
criatura, – que em todas as suas partículas é o mecanismo vital mais
artístico e sabiamente construído, de cuja função total só Deus possui o
máximo conhecimento e compreensão, – se um legislador ignorante e
orgulhoso tenta melhorá-la, através de leis contraproducentes e inúteis,
sem possuir o mais leve vislumbre dum conhecimento que lhe dê, ape-
O Grande Evangelho de João – Volume II
73

nas, a noção de fazer crescer um cabelo?!


6. Por isto, Meu querido amigo Cirenius, desiste das cem mencionadas
leis; pois não conseguirias melhorar uma pessoa sequer! Aplica as Leis Divi-
nas, que conseguirás fazer das máquinas humanas, criaturas verdadeiras.
7. Uma vez isto conseguido, expõe-lhes as necessidades do Estado, e
elas, com a verdadeira compreensão farão mais do que escravas de leis severas.
8. Digo-te, somente aquilo que o homem fizer de livre vontade,
dentro de uma compreensão bem formada, é certo e terá um ou outro
benefício; enquanto todo trabalho e ato forçados não valem um ceitil.
Pois, neste caso, somente tomarão parte ira e vingança contra o legisla-
dor, que jamais abençoarão as obras.
9. Se tu, caro Cirenius, refletires um pouco sobre Minhas Palavras,
confessarás que falo unicamente a verdade!”
10. Diz Cirenius: “Divino e nobilíssimo amigo, não é preciso; com-
preendo tudo e farei o que disseste. Sancionarei novamente a lei moisaica
e saberei levar o povo a agir dentro dela! Se fosse de Tua Vontade faria o
mesmo, na Grécia, com Teu Auxílio! Para isto, também não me faltariam
motivos políticos, pois é sabido que existem constantes divergências en-
tre judeus e gregos, em virtude da crença diversa. Dão-se sérios atritos em
consequência disto!
11. Se eu, entretanto, der aos gregos a Lei Divina como obrigatória,
sancionando-a, estes atritos terminarão. Senhor e Mestre, farei bem agin-
do assim? Em caso afirmativo, peço-Te que me digas, através de Tua
Imensa Sabedoria, como agir para conseguir êxito completo!

28. A LIBERDADE DO ESPÍRITO

1. Digo Eu: “Amigo, tua vontade é boa, mas tua carne é fraca. Tua
boa intenção terá efeito no decorrer de um século e poderás fazer muitos
benefícios para teu povo, – mas, resguarda-te em assuntos espirituais, do
imperativo romano, que prejudica em vez de beneficiar. Todo imperati-
Jakob Lorber
74

vo é uma obrigação, não admitindo a liberdade, único campo fértil no


qual a semente da Vida germina e frutifica!
2. Se alimentares um pássaro recém-nascido a fim de que em breve
possa levantar vôo, mas, ao mesmo tempo lhe cortares as asas, dize-Me,
qual o benefício do alimento, por melhor que seja? Ele vegetará sem
poder fazer uso de suas asas enquanto as cortares.
3. O mesmo acontece com o espírito do homem, se o imperativo da
lei lhe corta as asas do conhecimento livre! O espírito, sem liberdade de
ação, já é morto, porquanto lhe falta o que constitui sua vida intrínseca.
4. O prejuízo será muito menor se deres centenas de leis para a vida
da criatura, compelindo-a a uma obrigação, do que se sancionares uma
Lei Divina.
5. O que é do espírito precisa se manter dentro da liberdade, deter-
minando a própria criatura a sua ação e, com isto, o possível julgamento.
Só assim o espírito alcançará a perfeição na vida.
6. O livre conhecimento do bem e da verdade é a luz da vida do
espírito, donde este determina as leis que com ele condizem. Tais leis são
livres e eternamente aplicáveis para uma vida independente. A vontade
do espírito dentro do conhecimento da verdade é a lei espontânea, e a
eterna necessidade de agir dentro desta vontade representa a eterna san-
ção, pela qual espírito nenhum poderá agir doutra maneira.
7. Vê, eis também a Ordem Divina que determina a Si Mesma,
porquanto Deus não tem legislador acima de Si.
8. A Libérrima Vontade de Deus, portanto, determina dentro de Si
a Lei, de acordo com os perfeitos Conhecimentos Eternos, sancionando-A
pela própria necessidade. Eis a causa de todas as coisas e sua consistência
imprescindível, enquanto esta for necessária para a formação e fixação e,
finalmente, completa independência do espírito.
9. O espírito do homem, porém, deve se tornar tão perfeito, em
si e por si, como o Espírito de Deus; do contrário, seria a morte de
sua individualidade.
10. A fim de que o espírito do homem possa isto conseguir, é preciso
que tenha oportunidades dentro do tempo, assim como o Espírito de
O Grande Evangelho de João – Volume II
75

Deus Se formou, de eternidades, por Si Mesmo!


11. Vê, teria o Poder necessário dentro de Mim para obrigar todas as
criaturas a agirem estritamente de acordo com qualquer lei, de sorte que
não pudessem fugir desta coação. Mas, neste caso, o homem deixaria de
ser homem, igualando-se a um irracional. Executaria seu trabalho numa
precisão única, – mas este trabalho seria idêntico ao das abelhas.
12. Caso tivesses o ensejo de querer educar seres irracionais para algo
de mais elevado, dentro da tua compreensão, terias tão pouco êxito como
aquele que quisesse ensinar as abelhas a construirem suas casas de manei-
ra mais apropriada.
13. Por isto, não deves considerar a inclinação humana para o peca-
do tão vil e criminosa; pois sem a capacidade de poder agir contra as leis,
o homem seria um animal!
14. Digo-te: o pecado dá ao homem o testemunho de ser ele ho-
mem; pois do contrário, seria um irracional!

29. BÊNÇÃO DA EVOLUÇÃO INDEPENDENTE

1. (O Senhor): “É bom e justo castigar os pecadores, quando se


desviaram completamente daquela ordem que Deus Mesmo estabeleceu
para a obtenção certa e rápida da bem-aventurança; mas ninguém deve
ser impedido, através de uma lei férrea, da possibilidade de cometer um
pecado. Em verdade te digo: Prefiro um pecador que se penitencia do
que noventa e nove justos na medida da lei, jamais necessitando de peni-
tência. O pecador regenerado é um homem perfeito, enquanto os outros
o são apenas em parte!
2. Isto não quer dizer que um pecador renitente seja mais agradável
a Meus Olhos do que um justo, porquanto a permanência no vício o
iguala ao animal que leva uma vida imunda dentro de seus próprios ins-
tintos. Trata-se de um viciado que reconhece em si o mal por ter agido
contra a lei, começando a se modificar em uma criatura que passou por
Jakob Lorber
76

todas as vicissitudes.
3. Tal espírito terá capacidade para grandes realizações no Meu Rei-
no, enquanto o outro, que nunca se desviou um palmo da lei de pavor da
mesma, tornou-se uma máquina, reduzindo sua própria vontade, tanto
física como espiritualmente.
4. Toma duma pedra joga-a para o ar! De acordo com a lei existente
tanto nela como na Terra, cairá em breve. Deve a pedra ser louvada por
ter obedecido estritamente à lei? Podes conseguir muita coisa com uma
pedra quando se tratar de formar uma base sólida; agora, proporciona-lhe
uma atividade livre, que ela jamais abandonará sua inércia!
5. Por isto, não deves querer fazer pedras dos homens através de leis
imperativas, mas educá-los dentro de sua liberdade, – e terás agido plena-
mente dentro da Ordem Divina.
6. Vê, se as criaturas de destaque não fossem tão ociosas, – com raras
exceções – em pouco tempo verificariam que o homem, conseguindo
um certo grau de educação, jamais se conformará com a monotonia ani-
mal. Já não usará mais palha e barro para a construção de seu casebre,
mas talhará as pedras e fará tijolos, construindo uma mansão com um
muro cerrado e munido de torres, dentro das quais poderá vislumbrar ao
longe os inimigos.
7. Assim, mil pessoas de certa cultura construirão mil casas, uma
diferente da outra, tanto na forma quanto na decoração interna; em com-
pensação, jamais verás uma diferença nos ninhos dos pássaros e nos leitos
dos animais! Observa o ninho da andorinha, do pardal, analisa o tecer da
aranha, a célula da abelha e outros tantos produtos e obras dos animais, –
e não verás uma tendência para melhor ou pior! Vê, no entanto, as cons-
truções do homem: que variabilidade quase infinita não descobrirás ali!
Entretanto, são sempre as mesmas criaturas que conseguem isto com
muito esforço!
8. Disto se deduzirá com facilidade que Deus, dando ao homem um
espírito semelhante ao Seu, não o criou para que se animalizasse, mas
para alcançar a Sua completa e livre semelhança!
O Grande Evangelho de João – Volume II
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30. EVOLUÇÃO E LEI

1. (O Senhor): “Se o homem, portanto, foi criado por Deus para


esta tarefa máxima – sem distinção de sexo, cor e posição social – jamais
seu espírito poderá ser sujeito a uma lei categórica. Toda lei deve ser dada
como um dever e o castigo justo só deve ser aplicado em oponentes mal-
dosos, considerando sempre a melhoria da criatura de tal forma que a
punição não seja arbitrária, mas, possa ser considerada como consequência
inevitável da lei não aplicada. Assim, o espírito do homem chegará a
conjeturar independentemente aceitando a lei e agindo dentro dela. Uma
punição arbitrária sempre exaspera e revolta a alma, tornando-a diabóli-
ca; seu desejo de vingança não se apagará até que consiga este intuito,
aqui ou no Além, o que lhe é permitido, porquanto nunca poderia me-
lhorar no inferno do próprio coração.
2. O legislador e punidor jamais deverá esquecer que o espírito do
homem, bom ou mau, é eterno! Enquanto vivo, podes te defender e
afugentá-lo, se te persegue; uma vez fora do corpo, capaz de se aproximar
de ti de mil diversas maneiras para te prejudicar a cada passo, sem que o
possas ver e perceber, – Dize-Me, com que armas o enfrentarás?
3. Agora te digo: tua grande desdita que, sem Minha Ajuda, teria te
alquebrado, deves exclusivamente àqueles espíritos que se tornaram teus
inimigos imperdoáveis em virtude de manteres tão severamente as leis
romanas. Aceita este Meu Ensinamento e te tornarás um bom trabalha-
dor na Vinha de Deus, pois não te faltam poder, meios e uma boa vonta-
de equilibrada; acabas de receber aquilo que te faltava. Aplica-o fielmen-
te, e a coroa de frutos benditos será o teu prêmio!
4. Diz Cirenius, comovido ante a Sabedoria prática do Meu Ensina-
mento: “Ó Tu, meu santíssimo, primeiro e maior amigo, Mestre e Deus
do meu coração! Agora estou bem a par de tudo e muitos fatos de minha
vida surgem diante de meus olhos; reconheço que eu mesmo, apesar de
toda a boa vontade, pequei muito mais contra a Ordem Divina do que
aqueles, que por mim foram julgados num excesso de justiça. Como
Jakob Lorber
78

livrar-me destes meus grandes pecados, ó Senhor?”


5. Digo Eu: “Amigo, acalma-te! Para Deus tudo é possível e Eu já
remediei tudo, – do contrário não estarias a Meu lado!”

31. JAIRO FALA SOBRE OS EFEITOS DOS MILAGRES

1. Diz, em seguida, Jairo: “É verdade, ó poderoso Cirenius, tens


plena razão em assegurares que estás bem informado; pois todos nós
reconhecemos a verdade imutável, a razão das coisas e como o homem
deveria agir. Mas, que fazer? A Humanidade é completamente viciada,
não mais entende uma doutrina livre e dócil, e seria – falando seriamente
– perder tempo, o querer melhorá-la! Portanto, por um meio suave nada
se conseguirá, pelo menos com os judeus!
2. Ensinar o povo através de milagres trará dois prejuízos: primeiro,
que o homem levado a crer através deles, torna-se dependente e tolhido.
Acredita, não por livre convicção, e sim, por medo dum possível castigo,
agindo dentro deste complexo. Se, no entanto, alguém conseguir persuadi-
lo de que tal milagre não é possível, ou talvez seja uma fraude, – o outro
nem mal cogita do Verbo, nem da fé! Segundo, o milagre, sendo relatado a
posteriores gerações, perde seu efeito e passa a ser um conto de fadas.
3. Se fosse possível dar ao milagre efeito permanente, ou se os dou-
trinadores possuíssem este dom, em pouco a Humanidade o classificaria
como aparição natural. Se fosse efetuado constantemente pelos doutri-
nadores tornar-se-ia algo corriqueiro como os magos, os quais, contudo,
não posso imitar.
4. Não é milagre tudo que nos rodeia? O que vemos, ouvimos, senti-
mos e apreciamos – significa milagre! Mas como é fato permanente, den-
tro duma ordem preestabelecida, perdeu o cunho miraculoso, não pren-
dendo a atenção da criatura. Somente os naturalistas se ocupam cientifi-
camente com isto. Esforçam-se até em ouvir, se possível, o capim crescer.
Embora nada disto consigam, dão a entender que o sabem. Mas como
O Grande Evangelho de João – Volume II
79

não conseguem, não obstante toda a sua sapiência, fazer nascer um pé de


capim, procuram aprender certas magias, enganando os cegos e fazendo
rir os sabidos.
5. Portanto, está confirmado que os milagres não melhoram a Hu-
manidade: despertam na maioria a curiosidade, não conseguindo soltar
as algemas do coração, não obstante todo pavor a que é submetida a alma
– fator imprescindível para sua libertação – e a criatura continua a mes-
ma, perguntando ingenuamente: “Como é possível a este homem mila-
groso conseguir tal coisa?” Os mais tolos, no entanto, só vêem nisto a
obra dos demônios.
6. Assim sendo, julgo razoável, perguntar: “Senhor, que fazer como
doutrinador? O milagre prejudica, a lei severa também! E para o ensina-
mento livre pela Sabedoria Divina, poucos se prestam! Como nos livrar-
mos deste dilema? Como navegar entre a Szylla e a Charibdis, sem ser-se
tragado por uma ou outra?”

32. TENDÊNCIAS BÁSICAS DO SER DIVINO

1. Digo Eu: “Meu amigo, julgaste bem; no entanto, esqueceste que para
Deus muita coisa é possível, embora para as criaturas seja inacreditável. Ob-
serva Meus discípulos; poucos dentre eles possuem instrução. Eu os despertei
primeiramente pela Palavra, atraindo-os a Mim e em seguida os fiz sentir o
mencionado poder do Verbo Divino. Um milagre efetuado após a palavra
pura não mais é um julgamento, e sim, uma confirmação daquela.
2. Não quero, no entanto, dar provas do poder do milagre, mas da
luz da palavra e afirmo: Quem viver inteiramente de acordo com o Meu
Verbo, sentirá a convicção viva de que Minhas Palavras não são huma-
nas, mas Divinas!
3. Quem, em verdade, não receber em seu coração a prova ora pro-
nunciada, não obterá benefício com provas materiais! Minhas Palavras
são Luz, Verdade e Vida!
Jakob Lorber
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4. A pessoa que ouve Meu Verbo, aceita-O e vive de acordo com ele,
aceitou-Me dentro de seu coração. E quem Me recebe, tê-lo-á feito com
Aquele que Me enviou ao mundo e, no entanto, está integrado Comigo!
O que Eu quero, também Ele o quer! Ele não sendo Outro que Eu, nem
Eu Outro que Ele e até mesmo o envoltório de nós Ambos! A criatura,
porém, que igual a Mim, acolhe o Amor e a Sabedoria, é identificada
Comigo e com Aquele que Me enviou a este mundo para Salvação e
Bem-aventurança de todos que acreditarem no Filho do homem! –
Compreendeis isto?”
5. Respondem alguns: “Sim, Senhor!”, outros, porém, dizem: “Se-
nhor, eis um ensinamento difícil que não compreendemos. Como é pos-
sível que Tu e o Teu Verbo sejais uma só coisa?”
6. Digo Eu: “Se não compreenderdes isto, embora vos ilumine como
a luz do meio-dia, como ireis assimilar coisas mais grandiosas? Não en-
tendendo o que seja do mundo, como percebereis aquilo que é celestial?
– O que e Quem é o Pai? Ouvi-Me: O Pai é o Amor Eterno em Deus! –
O que e Quem é o Filho? O Filho é aquilo que emana da chama do
Amor, – a Luz, como sendo a Sabedoria em Deus! Assim como o Amor
e a Sabedoria estão unidos, Pai e Filho são Unos!
7. Acaso existe algum de vós que não possua certo grau de amor e
um idêntico de inteligência? É ele, com isto, um duplo ser? Não é sufici-
ente uma lâmpada com uma forte chama, semelhante ao fogo, para ilu-
minar um quarto escuro? Ou seria necessário um incêndio em todo o
quarto? A luz, por acaso, não emana da chama? Assim sendo, é ela outra
coisa do que a chama iluminadora? – Ó cegos que sois! Coisas tão terrenas
não podeis compreender, que será com a assimilação de assuntos celestes?
8. Quem, por isto, aborrecer-se Comigo, vá para casa, fazendo e
crendo o que lhe parecer justo! Pois no Além cada um viverá de acordo
com sua fé, e as ações que praticou através do seu amor, serão seus juízes!
9. E isto, porque jamais alguém será julgado por Mim; o próprio
amor de cada criatura será seu juiz – de acordo com que acabo de vos falar!”
10. Após esta explicação, os que não Me haviam compreendido,
aproximam-se, perguntando se podiam ficar Comigo; já Me entendiam
O Grande Evangelho de João – Volume II
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melhor e se esforçariam ainda mais neste intuito!


11. E Eu digo: “Dei-vos unicamente o conselho: seria melhor, para
vossa salvação, que fôsseis embora do que vos aborrecêsseis Comigo; ja-
mais tive intenção de vos afastar de Mim. Portanto, ficai, se sois de bons
sentimentos!” Satisfeitos com Minhas Palavras, eles se juntam aos outros.

33. CURA DA FAMÍLIA DUM VELHO JUDEU

1. Nisto um velho judeu da zona de Nazareth penetra no quarto,


perguntando todo aflito por Mim. Os discípulos Me apontam e ele cai
de joelhos, chorando:
2. Querido Mestre, filho do meu velho amigo José! Ouvi do teu poder
milagroso de curar e venho, num grande desespero, pedir-te socorro.
3. Vê, já passei dos noventa anos e me sinto muito alquebrado; te-
nho filhos e netos, que sempre me trataram com todo o amor e dedica-
ção. Acontece, porém, que uma moléstia desconhecida e maligna os ata-
cou a todos e eu, como ancião, sou o único de pé sem poder agir. Vizinho
nenhum tem coragem de vir à minha casa, tanto que não sei mais o que
fazer! Orei a Deus, o Senhor, que me ajudasse – mesmo pela morte, se tal
for de Sua Vontade!
4. Enquanto me encontrava assim orando, eis que apareceu um ho-
mem na minha janela, dizendo: “Por que duvidas, se o socorro está tão
próximo?! Vai a casa de José! Lá se encontra Jesus, Ele somente quer e
pode te ajudar!” Em seguida me animei, entregando todos os meus do-
entes a Deus, o Senhor, e vim até aqui. Como tive a felicidade de te
encontrar, querido e bondoso Salvador, peço-te, de coração, que venhas
e socorras os dezessete enfermos, que muito estão sofrendo!”
5. Digo Eu: “Embora não mais tivesse intenção de fazer milagres
nesta zona destituída de fé, ajudar-te-ei, porque a tens! Vai, e que se faça
conforme acreditaste!”
6. O ancião agradece muito comovido e se vai. Aproximando-se da
Jakob Lorber
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casa, é ele recebido pelos filhos e netos tão cheios de saúde como se nunca
tivessem adoecido. Todos afirmam que recuperaram a saúde perfeita ha-
via meia hora, achando-se mais fortes do que nunca. Já o tinham procu-
rado, preocupados com sua ausência.
7. Ouvindo isto, o velho percebeu que a cura se dera no momento
em que Eu lhe prometera.
8. Perguntado onde tinha ido, diz ele: “Haviam me contado que o
milagroso Jesus se achava novamente em Nazareth, e então fui a ele,
pedindo que vos ajudasse – e vede, atendeu-me e disse: “Que se faça
conforme acreditaste!” E recuperastes todos a saúde no mesmo instante!
Dizei-me, coisa idêntica já se deu em Israel?”
9. Dizem os curados: “Pai, se for assim, ele deve ser mais do que um
curador milagroso! Talvez seja um grande profeta, maior do que Isaías,
Jeremias, Ezechiel e Daniel, quem sabe, é igual a Moisés, Aaron e Elias! Só
estes podiam fazer tais milagres com ajuda de Jeovah, porquanto lhes obe-
deciam todos os espíritos, de cima e de dentro da terra, da água e do ar!
10. De que maneira, porém, teria o filho do carpinteiro conseguido
tal Graça Divina? Todos nós o conhecemos bastante; não faz bem três
anos que trabalhou conosco em companhia de seus irmãos! Jamais vimos
algo de excepcional em sua pessoa! Deve ter recebido esta Graça há pou-
co tempo! Foi muito devoto e correto. Trabalhava calado, falando unica-
mente o necessário. Nunca foi visto rindo. Talvez estes fossem os motivos
de Jeovah lhe conceder esta Graça!”
11. Diz o velho: “Sim, podeis estar com razão. Mas, neste caso,
temos que ir amanhã cedo e lhe apresentar nosso louvor e agradecimen-
to! Pois diante dum profeta ungido pelo Espírito Divino, todos deverão
se ajoelhar! Não é o profeta que fala e sim Deus Mesmo através daquele
coração e daquela boca!” Dizem todos: “Amém, eis nosso maior dever!” –
Com isto, entram para a ceia.
O Grande Evangelho de João – Volume II
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34. CENA ENTRE OS FARISEUS E O GENRO DO VELHO

1. Os fariseus de Nazareth, entretanto, souberam que os moradores


dessa casa se achavam tão enfermos que não haveria mais salvação. Por
isto se dirigiram para lá, a fim de combinar o enterro e o dízimo da
herança. Após a morte não mais lhes caberia este direito, porquanto os
doentes teriam falecido sem ajuda deles e neste caso, o Estado entraria de
posse dos bens. Chegando lá à noite, no momento em que os curados se
iam recolher, os gananciosos “despachantes” de almas sofrem grande de-
cepção quando vêem todos com boa saúde.
2. O primeiro fariseu, retendo a respiração como medida preventi-
va, entra e diz: “Mas, que é isto? Sois vivos? Julgávamos que, no mínimo,
a maior parte de vossa família tivesse morrido, tanto que vimos para
encomendar vossas almas e enterrar-vos, de acordo com o hábito de nos-
sos patriarcas! Quem vos curou? Borus, certo que não! Sabemos que ele
não atendeu vossa chamada, naturalmente por medo do contágio da
moléstia. Quem, portanto, foi vosso médico?”
3. Diz o genro do velho, um homem vigoroso no trabalho e no falar:
“Por que indagais? Não nos ajudastes, por isto nada vos devemos! Não
viestes aqui para nos socorrer, mas sim, pelo dízimo da herança! Digo-vos:
afastai-vos daqui! Pois, se não quereis, não podeis e não vos esforçais por
socorrer os que estão em perigo, dispensamos vossa ajuda! Sois piores que
os vermes perigosos da terra, que existem exclusivamente para comer, des-
truindo todos os bons frutos. Ide, ide! Do contrário, vos ajudaremos nisto!”
4. Diz um velho fariseu: “Pois bem, já vamos; mesmo assim, podeis
nos contar quem vos curou! Diariamente fizemos preces, durante sete
horas, e desejávamos saber se isto vos auxiliou tão milagrosamente! Pois
que por meios naturais nada era possível fazer!”
5. Diz o genro: “Afastai-vos, mentirosos! Vossas possíveis preces cer-
tamente pediram pela nossa morte; pois não viestes aqui para nos cum-
primentar como restabelecidos, mas para vos assegurar do dízimo! Mise-
ráveis, bem que vos conheço e as vossas preces! Ide embora, que não
Jakob Lorber
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mereceis pronunciar o nome daquele que nos curou!”


6. Insiste o velho: “Pois bem, seja lá como for, não podemos nos
modificar! Mas aqui deu-se um milagre, que poderia alterar nossa manei-
ra de pensar e agir! Por isto, relatai-nos o fato!”
7. Diz o genro, irritado: “Nada neste mundo poderá vos modificar,
nem Deus Mesmo! Vosso deus é o dinheiro, servindo-lhe de coração,
usando a vestimenta de Moisés e Aaron unicamente para salvar as apa-
rências, a fim de que possais mais facilmente atacar as manadas de cordei-
ros, estraçalhando-as em seguida!
8. Jeovah, no entanto, vos conhece e vos dará a paga merecida! Deus
houve por bem despertar Jesus, filho do carpinteiro José, como o fez com
Moisés. E este Jesus que nos curou, somente pela palavra, também vos
poderá esclarecer sobre vosso mérito perante Deus. Ele é compenetrado
do Espírito Divino – vós, porém, da influência de Beelzebub! Por isto,
convido-vos pela última vez a deixardes esta casa e nunca mais voltardes,
– do contrário sofrereis as consequências!”
9. Os fariseus se afastam, conjeturando coisas escabrosas sobre Jesus,
que os privara dum lucro esperado. Enquanto assim discutem, ouvem de
repente um forte estrondo atrás de si, que os faz voltar à cidade.

35. OS FARISEUS FAZEM A LEITURA DO SALMO Nº 37.


SÁBIO CONSELHO DE ROBAN
1. Chegando a casa procuram os salmos de David, e abrindo o livro
a esmo, deparam com o 37º Salmo, e o mais velho começa a ler:
2. “Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja de
que obrem a iniquidade. Porque cedo serão ceifados como erva e mur-
charão como verdura. Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na Terra
e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, que
te concederá os desejos do teu coração. Entrega teu caminho ao Senhor;
confia Nele, e Ele te atenderá. Fará sobressair tua justiça como a luz e o
teu juízo como o meio-dia.
O Grande Evangelho de João – Volume II
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3. Descansa no Senhor, e espera Nele; não te indignes por causa


daquele que prospera em seu caminho, em virtude de seus astutos inten-
tos. Deixa a ira e abandona o furor; não te indignes por fazer somente o
mal. Porque os malfeitores serão desarraigados da Terra, enquanto aque-
les que esperam no Senhor a herdarão.
4. Pois, dentro em pouco o ímpio não existirá; olharás para o seu
lugar, – e não aparecerá. Mas os mansos herdarão a Terra e se deleitarão
na abundância da paz. O ímpio maquina contra o justo e contra ele
range os dentes. O Senhor Se rirá dele, pois vê que vem chegando o Seu
dia. Os ímpios puxaram da espada e entesaram o arco, para derribarem o
pobre e necessitado, e para matarem os de reta palavra. Sua espada, po-
rém, entrar-lhes-á no coração e seus arcos hão de se quebrar.
5. Vale mais o pouco que tem o justo do que as riquezas de muitos
ímpios. Os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor susterá os
justos. O Senhor conhece os dias dos retos, a sua herança permanecerá
para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de
fome se fartarão. Mas os ímpios perecerão e os inimigos do Senhor serão
como a gordura dos cordeiros; hão de desaparecer e em fumo se desfarão.
O ímpio toma emprestado e não paga; mas o justo se compadece e dá!”
6. Depois deste versículo um fariseu se levanta e diz ao velho leitor:
“Que tolices estás lendo? Não percebes que as maldades se referem a nós,
enquanto que o filho do carpinteiro faz o bem? Eis um testemunho con-
denável contra nós mesmos, – e fazes esta leitura como se fosse um lou-
vor do Pontífice de Jerusalém, a nós dirigido!”
7. Diz o ancião: “Amigo, que mal há nisto, se estes versículos nos
esclarecem um pouco sobre o que se refere a nós próprios?! É preferível
fazer isto agora do que sermos, em breve, descobertos perante o mundo
como embusteiros do povo! Depende, finalmente, de Deus quanto tem-
po continuarmos ilesos neste nosso modo de proceder; portanto, conti-
nuarei a leitura deste salmo extraordinário!”
8. Exclamam vários: “Tens razão, continua!” E o ancião prossegue:
“Porque aqueles que Ele abençoa herdarão a Terra e os que forem por Ele
amaldiçoados serão dela desarraigados!”
Jakob Lorber
86

9. Interrompe o fariseu, perguntando: “Quem são os abençoados, e


quem os amaldiçoados?”
10. Responde o ancião: “É evidente, não sermos nós os primeiros,
em virtude da crescente perseguição dos romanos! Pois se fôssemos os
abençoados, Deus não nos teria castigado com tal praga! O resto, é fácil
de se deduzir! Agora, continuarei a leitura:
11. “Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor e
deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o
Senhor o susterá com Sua Mão. Fui moço, e agora sou velho; mas nunca
vi desamparado o justo, nem sua semente a mendigar o pão. Compadece-se
sempre e empresta, e a semente é abençoada.
12. Aparta-te do mal e faze o bem que ficarás para sempre. Porque o
Senhor ama o juízo e não desampara os Seus santos; são preservados por
todos os tempos; mas a semente dos ímpios será desarraigada. Os justos
herdarão a Terra e habitarão nela para a Eternidade.
13. Pela boca do justo fala a sabedoria; sua língua, do juízo. A Lei de
seu Deus está em seu coração; seus passos não resvalarão. O ímpio esprei-
ta o justo e procura matá-lo. O Senhor não o deixará em tais mãos, nem
o condenará quando for julgado.
14. Espera no Senhor, e guarda Seu Caminho, e Ele te exaltará para
herdares a Terra; vê-lo-ás quando os ímpios dela forem desarraigados.
15. Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde,
na terra natal. Mas, passou e já não aparece: procurei-o, mas não o
pude encontrar.
16. Nota o homem sincero e considera o reto, porque o fim deles é
a paz. Quanto aos transgressores, serão destruídos, assim como as religi-
ões dos ímpios. Mas a salvação dos justos vem do Senhor; Ele é a sua
fortaleza na angústia. E o Senhor os ajudará e os livrará. Ele Mesmo os há
de salvar e ajudar, porquanto confiam Nele!”
17. Com isto o ancião termina o salmo; o fariseu, no entanto,
grita-lhe, enraivecido: “Idiota, não percebes que neste salmo somos apon-
tados como ímpios e aqueles que aderem a Jesus, como justos? Não per-
cebes que nós seremos desarraigados do solo pátrio, enquanto eles ficarão
O Grande Evangelho de João – Volume II
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no país? Acaso não estamos conjeturando matá-lo, como justo, enquan-


to Deus o protege? Que salmo apropriado para nós!”
18. Diz o ancião: “Não fui eu quem o escreveu! Consta no Livro! E
se continuarmos como somos, deveremos suportá-lo! Compreendes isto
e a Onipotência Divina?!”
19. Diz um outro: “Entendo-o melhor do que vós todos! Nosso
amigo Roban teve de ler este salmo; foi a ação do poder incompreensível
do filho do carpinteiro. Pois se foi capaz de curar a família toda que
acabamos de procurar, a fim de nos apoderarmos de sua herança, tam-
bém lhe será fácil nos obrigar a ler somente aqueles salmos que dão teste-
munho contra nós mesmos, como o fizeram com os inimigos de David.
20. Além disso, consta que o velho José descende deste rei, de sorte
que se cognomina Jesus, por ser também Maria, sua mãe, da mesma estir-
pe, um “Filho de David.” Isto certamente levou José, que sempre foi esper-
to, a que fizesse Jesus aprender toda sorte de magias, para que se apresentas-
se diante dos romanos e gregos como um filho de Júpiter ou Apolo, o que,
na certa, faria com que Roma o declarasse imperador! E se os dirigentes de
Roma forem tão cegos como os da Ásia, que há muito são por ele fascina-
dos, não levará tempo e ele dará novas leis aos romanos!”
21. Diz um outro: “Uma missiva secreta ao imperador impediria isto!”
22. Responde o primeiro: “Será difícil conseguir tal coisa, quando
sabemos que “ele’’ tem visão milagrosa que em tudo penetra. Pois não foi
ele quem nos assustou com aquele estrondo, porquanto devia ter ouvido os
nossos planos?! E por que fez com que lêssemos tal salmo que nos acusou
tão seriamente? Por certo, porque soube de nossas intenções contra ele! Vai
e experimenta fazer tal missiva secreta para o imperador, – e te garanto que
não serás capaz de escrever uma palavra sequer, ou talvez serás obrigado a
escrever aquilo que não desejas, em virtude do seu feitiço!
23. Além do mais, o reitor Jairo estima-o muito, porque ressuscitou
por duas vezes sua filha, protegendo-o sempre que necessário, – e será
difícil agirmos contra ele. Por isto, acho melhor aderirmos como seus
alunos, do contrário nada de bom nos espera.”
24. Diz o velho Roban: “Também sou desta opinião! Só há dois
Jakob Lorber
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caminhos: um, mantermo-nos indiferentes; outro, acompanhá-lo!”


25. Concordam todos: “Será melhor seguir o primeiro, pois neste
caso não nos incompatibilizamos nem com Roma nem com Jerusalém.”
Em seguida se acomodam em seus leitos e cada um reflete sobre o melhor
caminho a seguir.

36. O VELHO ROBAN EM COMPANHIA DE JESUS

1. Na manhã seguinte Roban Me procura em casa e deseja falar-Me.


2. Eu, no entanto, digo-lhe: “Já sei o que tencionas dizer; ignoras,
porém, o que tenho a falar-te; portanto, ouve-Me!”
3. Diz Roban: “Podes falar que estou pronto para te ouvir!”
4. Digo Eu: “Leste ontem o salmo 37, que vos abalou um tanto e
por isto conjeturastes qual a atitude que deveríeis tomar para Comigo.
Este é o motivo que te traz aqui.
5. Eu, no entanto, digo nem sim, nem não! Se desejas ficar, fica; caso
contrário, podes ir! Tenho adeptos de sobra! Todos os cômodos de Mi-
nha casa estão repletos! Lá fora vês várias tendas, todas elas habitadas por
discípulos Meus. Ao lado deste Meu pequeno quarto fica a sala de refei-
ção e de trabalho; nela acomodam-se os dignitários de Roma – Meus
adeptos! Pegado a esta dormem o reitor Jairo com esposa e filha – igual-
mente Meus seguidores! Assim sendo, penso que também poderás te
tornar um deles, se o quiseres!”
6. Diz Roban: “Senhor, eu fico, – e é bem possível que outros cole-
gas meus também adiram! Pois estou percebendo que existe mais dentro
de ti do que as magias dum prestidigitador! És um profeta ungido por
Deus como jamais foi visto!
7. Bem consta que não surgiria profeta da Galiléia, mas, não consi-
dero isto; prefiro a ação à palavra mística da Bíblia, que ninguém entende
em verdade. Além disto, não és da Galiléia, nasceste em Bethlehem; por-
tanto, podes muito bem ser um profeta. Sinto uma grande atração por ti
O Grande Evangelho de João – Volume II
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e ficarei contigo. Não possuo grande fortuna, porém a que tenho, basta
para nós todos vivermos durante trinta anos! Se desejas um pagamento
em troca daquilo que ensinas, dar-te-ei metade de minha posse!”
8. Digo Eu: “Pergunta a Meus discípulos o que pagam, e terás que
fazer o mesmo!”
9. Roban se dirige a vários e recebe a seguinte resposta: “Nosso Mes-
tre jamais pediu algo de nós, embora fôssemos mantidos por Ele. Exige,
unicamente, fé e amor!”
10. Indaga Roban: “Também já sois capazes de efetuar ações mila-
grosas? E se assim for, como isto é possível?”
11. Diz Pedro: “Sendo necessário, também fazemos milagres pelo
Poder Dele dentro de nós e compreendemos perfeitamente como são
possíveis. Dar-se-á o mesmo contigo, caso te tornes Seu verdadeiro discí-
pulo. O amor estabelece a lei e a sabedoria a executa!”
12. Continua indagando Roban: “Já te foi dado observar a partici-
pação de Satanás nesses fatos extraordinários?”
13. Diz Pedro: “Que imensa tolice é esta?! Como poderia isto ser
admissível quando os Céus influenciam poderosamente? Eu e todos nós
os vimos abertos e os anjos descerem à Terra; vimos como serviam a Ele
e a nós! Como, pois, é possível a influência satânica?!
14. Se não podes acreditá-lo, vai a Sichar e informa-te com o sumo
pontífice Jonael e o comerciante Jairuth que habita o conhecido castelo
de Esaú! Aqueles amigos te dirão fielmente Quem é Aquele cujos discí-
pulos somos por uma Graça imerecida! Lá, até mesmo encontrarás anjos
em corpos aparentes.”
15. Ouvindo isto, Roban se acerca de Mim cheio de respeito e per-
gunta se tenho algo a opor a uma viagem sua a Sichar.
16. Digo Eu: “Em absoluto! Vai e cientifíca-te! Quando voltares,
informarás teus irmãos e colegas sobre aquilo que viste e ouviste! Isto
feito, poderás voltar para Me seguir, pois será fácil saber para onde Me
terei dirigido! Se passares por Sibarah, a primeira alfândega daqui, por
Kis e Caná, na Samaria, e te perguntarem em nome de quem estás via-
jando, – basta dizeres Meu Nome que terás livre passagem. Mas não
Jakob Lorber
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vistas a indumentária dum chefe de fariseus, que não irias longe. Vai à
paisana que ninguém te impedirá!”
17. Roban, em seguida, põe-se a caminho, procurando no estran-
geiro o que se encontra tão perto dele.
18. Mas sempre haverá criaturas que julgam que no estrangeiro haja
mais coisas para ver, conhecer e aprender do que no próprio país; no
entanto, o Sol em toda a parte é o mesmo. Sim, poder-se-á conhecer
outras zonas, criaturas, hábitos e idiomas diferentes, mas o coração nada
ganha com isto!
19. Aquele que vai ao estrangeiro exclusivamente para sua distração
e prazer, nada lucrará para a formação de sua alma. Quem, no entanto, o
faz a fim de levar nova luz às criaturas, terá um grande benefício! Todo
profeta fará melhores negócios no estrangeiro que em sua pátria.

37. JOSA, O VELHO, AGRADECE AO SENHOR

1. Após a partida de Roban, o velho judeu chamado Josa vem, em


companhia de seus filhos e netos, agradecer-Me a graça recebida, pedin-
do ao mesmo tempo para permanecer, com os seus, este dia Comigo.
2. E Eu lhe digo: “Faze o que for da tua vontade! Tivestes ontem que
enfrentar uma luta árdua com os fariseus, por Minha Causa, e vos saístes
bem. Por este motivo sereis livres, futuramente, desta praga! Agora procu-
rai Meus discípulos que vos orientarão sobre a fé e vossas ações futuras!”
3. Pedro se levanta e os conduz ao escrivão Matheus, que lhes dá a
leitura da Minha Doutrina e daquilo que até então havia sucedido.
4. Após terem recebido o alimento espiritual, apresentam-se Cirenius,
Cornelius, Fausto e o reitor Jairo com esposa e filha, cumprimentando-Me
mui amavelmente e agradecendo pelos sonhos maravilhosos que tiveram
durante a noite. Respondendo sua atitude amável, apresento-lhes os
recém-vindos.
5. Cirenius se aproxima e se informa de todas as minúcias. Quando,
O Grande Evangelho de João – Volume II
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porém, ouve das artimanhas dos fariseus, ele se altera, dizendo: “Senhor,
isto não poderei perdoar a esses adeptos de Satanás! Fá-los-ei castigar, sob
risco de perder minha vida! Em toda a Ásia não haverá hienas e raposas
iguais a estas! Qual a diferença entre estes facínoras e os piores ladrões e
assaltantes? Dizem-se servos de Deus e se fazem homenagear durante o
dia. De noite, porém, praticam os roubos mais criminosos! Esperai, esperai,
que levareis a paga de tudo!”
6. Digo Eu ao exaltado Cirenius: “Amigo, não faças isto! Já os tratei
durante a noite e a consequência será que em breve aceitarão a Minha
Doutrina. O mais velho de nome Roban, já o fez hoje; por isto, mandei-o
como Meu adepto a Sichar, onde poderá ver e aprender muita coisa. Em
dois dias estará de volta, fazendo com que seus colegas o sigam! Vê, isto é
melhor do que o açoite e a cruz!”
7. Diz Cirenius, mais calmo: “Está muito bem; mas faço questão
dum interrogatório minucioso!”
8. Digo Eu: “Pois bem, mas somente à tarde! Vamos aproveitar a
manhã para coisa melhor! Agora, vamos ao repasto!”
9. Borus já tinha dado ordens para a arrumação ao ar livre de várias
mesas, – no que Meus irmãos, carpinteiros, lhe prestaram bons serviços,
– de sorte que íamos festejar um ante-sábado, isto é, um feriado. Havia
cinquenta mesas e bancos, grande quantidade de alimentos e vinho, e
dava prazer observar as centenas de hóspedes em volta das mesas, entoan-
do cânticos de louvor e saciando-se com os bons pratos. No centro havia
uma espécie de tribuna, na qual uma grande mesa bem ornamentada nos
esperava e nós – Eu, Cirenius, Cornelius, Fausto, Jairo e sua família,
Minha Mãe e os doze apóstolos, – sentamo-nos, a fim de participarmos
do bom repasto.
10. Lydia, porém, a jovem esposa de Fausto, não estava presente,
pois ele a deixara em Capernaum, em virtude dos seus múltiplos negóci-
os. Por esta razão Minha Mãe o repreende com carinho; arrependido por
tê-la deixado em casa, ele resolve buscá-la.
11. Eu, no entanto, lhe digo: “Espera; pois Eu o querendo, ela estará
aqui ao meio-dia!”
Jakob Lorber
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12. Fausto Me pede que o faça e Eu lhe prometo. No mesmo instan-


te aparecem dois lindos jovens ao Meu lado em vestimenta azul clara.
Curvando-se até o chão, dizem: “Senhor, Teus servos aguardam humil-
demente Tuas Ordens!”
13. E Eu lhes digo: “Ide e trazei Lydia para junto de nós!”
14. Os dois desaparecem, e Cirenius pergunta, admirado: “Amigo,
quem são esses jovens tão lindos? Jamais vi figuras tão sublimes!”
15. Digo Eu: “Vê, todo senhor tem seus servos e, chamando-os, eles
têm de aparecer e lhe servir. Como também sou Um Senhor, também os
tenho e eles anunciam Minhas Ordens para todo o Infinito! Tu não os
podes ver, mas Eu, sim; onde nada supões, existem milhares aguardando
Meu Aceno. Embora apresentem-se tão frágeis, têm força suficiente para
destruir esta Terra, caso lhes desse esta ordem! – Vede, – aí já estão de
volta, junto com Lydia!”
16. A estas palavras, os que estão sentados à Minha mesa se apavo-
ram, e Cirenius diz: “Como isto é possível? Não podiam se ter afastado
mais do que quinhentos passos – até Capernaum leva-se perto de duas
horas, – e eis que já estão de volta! Isto é incrível!”
17. Lydia, após ser recebida carinhosamente por seu esposo, é inter-
rogada por Cirenius: “Gentil Lydia, como chegaste tão rapidamente aqui?
Acaso já te encontravas em caminho?”
18. Diz ela: “Não vês os dois anjos de Deus? Foram eles que me
trouxeram tão rápido como uma flecha. Nada pude vislumbrar, tal a
velocidade. Mas pergunta-lhes que saberão melhor responder!”

38. A NATUREZA HUMANA E A NATUREZA DIVINA


DO SENHOR

1. Cirenius, dirigindo-se a eles, indaga sobre a possibilidade de tal fato.


Os dois anjos, entretanto, apontam-Me respeitosamente com suas lindas
mãos e falam, com voz melodiosa: “A Vontade Dele é o nosso ser, nossa
O Grande Evangelho de João – Volume II
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força e velocidade! Por nós próprios nada podemos; Ele o querendo, assi-
milamos a Sua Vontade, conseguindo tudo através da mesma. Nossa bele-
za, porém, que ora te ofusca, é o nosso amor para com Ele e este amor é,
unicamente, Sua Vontade em nós! Se vos quiserdes tornar semelhantes a
nós, aceitai Seu Verbo Vivo em vossos corações e agi de livre vontade, que
tereis a força e o poder deste Verbo em vós. Ele, chamando-vos para agirdes
dentro de Sua Vontade, podereis conseguir todas as coisas e fareis ainda
mais do que nós, pois tereis surgido puramente do Seu Amor, enquanto
nós, de Sua Sabedoria. Agora sabes o “porquê” da nossa ação. Age futura-
mente dentro do Seu Verbo, que farás o mesmo!”
2. Cirenius arregala os olhos e diz: “Então, tenho razão se considero
Jesus, Deus Único, e Criador do Cosmos?”
3. Dizem os anjos: “Certo; mas não faças alarde disto! E se notares
algo de humano Nele não te deves aborrecer, pois tudo aquilo que é
humano não o seria se não fosse Divino de Eternidade! Se Ele, portanto,
movimentar-Se de vez em quando em formas por ti conhecidas, fá-Lo-á
senão na forma que corresponda à Sua Dignidade. Pois cada forma, cada
pensamento, Nele teve origem antes que determinasse, através de Sua
Vontade, uma outra. Esta Terra e tudo que nela existe é somente Seu
Eterno Pensamento fixado que, através do Seu Verbo, tornou-se verdade.
Se Ele, portanto, – o que Lhe seria facílimo – abandonasse esta Idéia
Básica, não mais haveria Terra, nem coisa alguma que ora vês.
4. A Vontade de Deus, todavia, não é semelhante a dos homens; é
eternamente uma só e nada a fará desistir de Sua Ordem Imutável. Esta
Ordem, porém, contém a máxima liberdade, tanto que Deus pode fazer
o que deseja, como todos os anjos e criaturas. Isto poderás observar com
facilidade contigo mesmo.
5. Embora possuas esta livre vontade não poderás alterar a forma
intrínseca das coisas por serem sujeitas à Ordem Divina.
6. A parte externa da Terra é fácil de ser modificada: nivelar as monta-
nhas, desviar os rios, secar os lagos, fazer surgir outros; poderás construir
pontes por cima dos mares e transformar o deserto num solo abençoado e
fértil – tudo isto poderás alcançar, – no entanto, não conseguirás aumentar
Jakob Lorber
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o dia e encurtar a noite, tão pouco dominarás os ventos e as tempestades.


7. Tens de suportar inverno e verão, jamais podendo modificar a
forma e a constituição da criatura. Do cordeiro não farás um leão e
vice-versa, e nisto podes constatar a Ordem Divina.
8. Aqui, porém, está Aquele que elaborou esta Ordem de Eternida-
des, podendo-a desmantelar quando o quiser. Do mesmo modo que tu,
dentro desta Ordem Imutável que determina o teu ser e tudo que te
rodeia, és livre no pensar, querer e agir, – Deus também o é, porém, de
maneira íntegra.
9. Por isto, repito: Não te deves aborrecer em Se apresentando Ele
diante de vós em Forma Humana, porquanto é Sua Própria Obra!”

39. A INFLUÊNCIA DOS ANJOS SOBRE OS HOMENS

1. Este ensinamento convence Cirenius de maneira plena a respeito


do Meu Ser Divino, tanto que se Me aproxima, dizendo: “Senhor, agora
compreendo tudo! Tu O és!
2. De há muito meu coração isto me dizia; no entanto, Tua Forma e
Manifestação Humanas novamente me incutiam dúvidas. Mas, agora,
tenho minha fé convicta, que nada poderá abalar. Como sou feliz, por ter
visto Aquele que me criou e, certamente, conservar-me-á para sempre!”
3. Digo Eu: “Meu querido amigo, esta posse será eternamente tua!
Guarda-a, por enquanto, para uns poucos amigos iniciados, pois se o
comentasses em público prejudicarias Minha Causa e os descrentes. Além
disto, não te aborreças Comigo; antes que existissem anjos e criaturas, Eu
fui o Primeiro Homem e possuo o direito de sê-Lo, no convívio com
Meus Filhos!”
4. Diz Cirenius: “Com tudo que farás, continuarás para mim eter-
namente o Mesmo que és! Tenho, no entanto, o desejo que estes dois
anjos fiquem em minha companhia, até a minha morte!”
5. Digo Eu: “Isto não é possível, pois não suportarias sua presença
O Grande Evangelho de João – Volume II
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visível e tua alma não teria benefício com isto. Invisivelmente, porém,
continuarão teus protetores, como o foram desde tua infância! Como
ficam o dia de hoje em nossa presença, poderás ainda palestrar com eles.
6. Ser-te-á possível fazê-lo até mesmo em sua ausência e ouvirás as
respostas nitidamente em teu coração. E isto vale mais que um diálogo
externo! Digo-te: a palavra depositada por um anjo em teu coração é
mais benéfica para tua alma que mil palavras proferidas! Porque aquilo
que ouves em teu coração já é tua posse; sendo que as palavras pronunci-
adas tens que pôr em ação, a fim de se tornarem uma conquista tua.
7. Se tens o Verbo no coração e te deixas induzir ao pecado, tua
consciência que não concorda com isto, obrigar-te-á à confissão e ao
arrependimento, deixando de ser pecador. Se, entretanto, a palavra se
acha apenas no cérebro, para lá conduzida pela audição, e pecas, o cora-
ção fútil nisto te acompanha e não te obrigará nem ao conhecimento
nem ao arrependimento do pecado, que permanecerá latente em tua
alma, tornando-te culpado diante de Deus e dos homens!
8. Assim, Meu amigo, é-te muito mais salutar não veres teus prote-
tores, enquanto viveres neste mundo; uma vez deixando-o vê-los-ás como
espírito. – E não somente estes dois, mas uma imensidade de outros!”
9. Diz Cirenius: “Estou plenamente satisfeito e aproveitarei a opor-
tunidade de hoje para palestrar com eles.
10. Digo Eu: “Mas, como será isto? Avisaste aos fraudulentos fari-
seus, em Meu Nome, querer aplicar-lhes uma boa corrigenda e neste
caso terás que desistir da companhia dos anjos?!
11. Diz Cirenius: “É verdade, já me havia esquecido disto! Que
maçada! Que farei?”
12. Digo Eu: “Que tal se Eu te desobrigasse de tua promessa, por-
quanto já os amedrontaste tanto?”
13. Responde Cirenius: “Senhor, se for do Teu Agrado, desistirei
com prazer de minha ameaça, entregando-os a Ti e ao velho Roban que
os endireitará em poucos dias.”
14. Digo Eu: “Oh, nada tenho contra isto! Pois sabendo que muda-
rias de idéia, Eu transferira o teu propósito para a parte da tarde. – Como
Jakob Lorber
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o dia hoje é tão radiante, iremos pescar algo para nossas refeições. Quem
quiser, poderá Me acompanhar!”

40. O AMOR PARA COM DEUS

1. Pedro e Nathanael, porém, perguntam: “Senhor, estamos sem


apetrechos de pesca; que fazer? Desejas que peçamos alguns emprestados
aos pescadores?”
2. Digo Eu: “Não é preciso; a dificuldade consiste em falta de me-
mória, pois esqueceis a cada momento que sou o Senhor a Quem tudo é
possível! Ficai, portanto, no grupo e esclarecei, durante a pesca, ao velho
Josa e a sua família sobre a Força e Onipotência Divinas, também presen-
tes no homem!” – A estas palavras ambos se retiram e meditam sobre a
própria cegueira, referente à pergunta tão material. O próprio Josa faz
observação a respeito!
3. Diz Nathanael: “Amigo, somos criaturas como tu e muito habitu-
adas às condições mundanas, de sorte que, de vez em quando, apresenta-
mos algo de tolo; mas, no futuro, teremos mais cuidado!”
4. Nisto Sarah se aproxima e pergunta se pode Me acompanhar.
5. Digo Eu: “Naturalmente! Este empreendimento é feito em tua
consideração! Continuas sendo Minha amada! Por que motivo não te
sentaste a Meu lado na hora do desjejum em conjunto?”
6. Diz Sarah, toda trêmula: “Senhor, não tive coragem; imagina os
três grandes de Roma a Teu lado e eu Tua pobre serva! Onde iria buscar o
ânimo para tal?”
7. Digo Eu: “Mas, Meu amor, pude observar, nitidamente, que teu
desejo era ficar Comigo! A Mim não escapa o que se passa no coração de
alguém, por isto te quero muito!
8. Mas, dize-Me, Minha amada Sarah, agradam-te estes dois jovens?
Não darás preferência a um deles? Vê, fisicamente não posso concorrer
com os mesmos!”
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9. Diz Sarah: “Mas, Senhor, meu amor único e eterno, como podes
sugerir tal coisa? Não trocaria um Céu repleto de anjos mais sublimes do
que estes por um fio Teu de cabelo; quanto menos um destes dois pela
Tua Pessoa Integral? Embora sejam maravilhosos, pergunto: Quem lhes
deu tal beleza? Foste Tu! Para isto era necessário que a beleza estivesse
dentro de Ti!
10. Para mim, Tu és tudo em tudo e jamais Te abandonarei, mesmo
se me quisesses ofertar uma imensidade de anjos mais sublimes!”
11. Digo Eu: “É isto mesmo! Assim é que deve ser! Quem Me ama,
deverá fazê-lo sobre todas as coisas, desejando que Eu também o ame! A
beleza destes anjos é incontestável; no entanto, quero-te mais do que a
eles, por isto deves ficar sempre Comigo! Entre muitas és verdadeiramen-
te Minha noiva! Compreendes isto?”
12. Responde ela: “Senhor, de que modo me seria possível? Como po-
deria ser Tua noiva? Acaso poderei tornar-me aquilo que minha mãe é para
meu pai? Tu és o Senhor de Céu e Terra, e eu, – apenas Tua criatura; portanto,
onde a possibilidade de uma união entre o mais ínfimo e o Altíssimo?”
13. Respondo: “Muito fácil, pelo motivo que o por ti mencionado
ínfimo também surgiu do Altíssimo – assim, também faz parte Deste.
14. Eu sou a árvore da Vida e tu és o seu fruto. O fruto é aparente-
mente menor e menos consistente que a árvore; mas em seu centro existe
uma semente alimentada e amadurecida pelo mesmo fruto. Esta semen-
te, por sua vez, contém árvores da mesma espécie, capazes de gerar os
mesmos frutos com sementes vitais.
15. Daí poderás concluir, com facilidade, que a diferença entre Cri-
ador e criatura, até certo ponto, não é tão imensa como calculas; pois ela
é em si e por si a vontade do Criador – fundamentalmente Bom e Digno.
Se esta livre vontade emanada do Criador e idêntica à Sua Forma se
reconhece no seu isolamento independente de sua origem primária e age
de acordo com ela, torna-se igual a Ele e é, em sua pequenina medida,
perfeitamente aquilo que é o Criador em Sua Plenitude. Enquanto esta
partícula liberta da Vontade Divina não reconhece isto em si, não deixa
de ser o que é, no entanto, não poderá alcançar o máximo destino, até
Jakob Lorber
98

que reconheça o que é realmente.


16. A fim de facilitar o trabalho do conhecimento de si próprias, a
estas partículas libertas que se chamam “criaturas”, o Criador deu em
todas as épocas revelações, leis, Doutrinas dos Céus, e agora até desceu
em Pessoa à Terra.
17. Compreenderás, portanto, a relação que existe entre Criador e
criatura e também assimilarás como tu, completamente idêntica a Mim,
poderás ser Minha noiva e esposa, eternamente unida a Mim pelo teu
amor! Compreendes isto que acabo de te revelar?”

41. A NATUREZA DO VERDADEIRO AMOR

1. Diz a jovem e atraente Sarah: “Sim, perfeitamente; mas neste caso


todas as filhas de Eva têm o mesmo direito à Tua Pessoa?”
2. Digo Eu: “Naturalmente, quando iguais a ti; não o sendo, poderão,
todavia, tornar-se Minhas servas, mas nunca Minhas esposas. Pois, se Da-
vid possuía muitas e era um homem como Deus o desejava, por que não
deveria Eu fazer o mesmo, porquanto sou mais do que David? Digo mais,
sou capaz de manter, numa felicidade máxima, tantas esposas como existe
areia no mar e erva sobre a Terra e nenhuma terá um desejo sequer, que não
lhe seja satisfeito integralmente. Assim sendo, não poderás te sentir dimi-
nuída quando desejo dar a muitas o que te dou em abundância!”
3. Diz Sarah: “És o Senhor, Único, o Amor e a Sabedoria em Pessoa
e tudo que fazes é sabiamente feito; mas, não é minha culpa eu Te amar
tão intensamente, desejando possuir-Te unicamente para mim! Perdoa
isto ao meu coração, um tanto infantil!”
4. Digo Eu: “Justamente isto está certo. Quem não Me ama cheio
de ciúme não Me procurando possuir exclusivamente, não tem o verda-
deiro e vivo amor para Comigo! Neste caso não terá a plenitude da Vida
dentro de si; pois Eu Sou a Própria Vida na criatura, pelo amor de sua
alma para Comigo e este amor é o Meu Espírito na criatura.
O Grande Evangelho de João – Volume II
99

5. Quem, portanto, desperta o amor para Comigo, tê-lo-á feito com


o espírito dado por Mim e como este espírito sou Eu Mesmo, – porquan-
to não existe outro espírito vital fora de Mim, – ele, o homem, terá des-
pertado a Mim Mesmo! Com isto nasceu para a Vida Eterna e jamais
morrerá, nem poderá ser destruído, – ainda que pela Minha Onipotên-
cia, pois tornou-se uno Comigo. De igual modo Eu também não Me
posso destruir a Mim Mesmo, pois que Meu Ser Eterno jamais poderá Se
tornar nulo. Não penses, por isto, que teu amor para Comigo seja tolo;
ele é como deve ser! Persiste nele que jamais verás nem sentirás a morte!”
6. Este esclarecimento dado a Sarah fê-la inteiramente feliz, de sorte
que começa a Me abraçar e beijar com todo carinho.
7. Sua mãe a repreende, dizendo: “Minha filha, isto não fica bem!
Que falta de educação!”
8. Diz ela: “Qual o quê! Também não fica bem quando se morre;
mas quando vem o Senhor, desperta o defunto e o tira da tumba, o que
não deixa de ser algo de extraordinário, qual é a opinião alheia? Minha
mãe, a única coisa que fica bem perante o mundo é o nosso amor a Jesus!
– Tenho razão, meu querido Jesus?”
9. Digo Eu: “Inteiramente! Quem no mundo se vexa de Me amar,
abertamente, sobre tudo, levar-Me-á a fazer o mesmo e Eu Me vexarei
de amá-lo perante os Céus e despertá-lo para a Vida Eterna no Dia do
Juízo Final!”

42. O DIA DO JUÍZO FINAL

1. Muitos, então, indagam quando viria o Dia do Juízo Final.


2. E Eu digo: “O dia mais próximo só virá depois de passado o
anterior. Como não posso despertar alguém no dia que passou, fá-lo-ei
no seguinte. Não é, pois, todo o dia que viveis no momento, o dia pre-
sente? Ou poderia alguém assistir a um que não fosse presente? Vede,
todos nós vivemos hoje o dia mais recente! O de ontem não mais o
Jakob Lorber
100

poderá ser e o de amanhã ainda não chegou. Disto se conclui que, afinal,
existem tantos dias recentes como os que a criatura já passou! Eu vos
digo, o Dia do Juízo Final é aquele em que morrereis; portanto só pode-
reis despertar neste mesmo dia, da morte para a vida. E como todas as
criaturas terão que passar por isto, não se dará no dia anterior e sim, no
presente! Este dia não é determinado nem por Mim nem por um qual-
quer espírito angelical, porquanto todo dia vindouro se prestará para
tanto. Compreendestes isto?
3. Os indagadores recuam um pouco perplexos, dizendo: “Realmen-
te, isto é tão claro como o ar e no entanto, fizemos uma pergunta tão tola!
Se costumamos falar dos dias passados, é certo que haverá os mais recentes!
Que tolice nossa! Ela requer da parte Dele uma paciência infinita!”
4. Diz Sarah, sorrindo: “Sim, o Senhor tem muita paciência para
conosco! Mas, a respeito do Dia do Juízo Final e de sua vinda, – já sabia
desde minha infância que amanhã virá o tal dia! Não sabíeis isto?”
5. Respondem os outros: “Fomos bem tolos em não sabê-lo e tínha-
mos verdadeiro pavor do tal Dia do Juízo Final!”
6. Digo Eu: “Não vos apoquenteis! Sobre esta pedra, milhares de
criaturas tropeçarão no futuro e muito se profetizará e escreverá para o
povo ignorante, a respeito.
7. Agora, porém, tratemos da pesca, pois já chegamos à beira-mar.
Está tudo preparado, e os dois jovens, com os quais Cirenius está pales-
trando, ajudar-nos-ão! Mãos à obra!”

43. O SENHOR E OS SEUS, NA PESCA

1. Todos, porém, admiram-se, pois não sabiam como tinham feito o


trajeto de Minha casa à beira do mar.
2. Mas Eu lhes digo: “Como vos podeis admirar? Já não assististes a
coisas semelhantes? É compreensível que Josa, seus filhos e netos se sur-
preendam; mas, que vós o façais não se admite, pois sabeis nitidamente
O Grande Evangelho de João – Volume II
101

que nada Me é impossível!


3. Vede, digo “inadmissível”, porquanto toda admiração sobre uma
Atitude Minha, extraordinária, representa uma falta de fé oculta na alma.
A criatura duvida, de antemão, da possibilidade dum fato extraordinário;
mas, se, não obstante sua dúvida, tal coisa acontece, o cético pergunta,
perplexo: “Como isto foi possível?” O que externa com esta pergunta?
Nada mais do que o seguinte: “Duvidei e, no entanto, a prova é evidente!
Que coisa extraordinária!”
4. É compreensível que o leigo assim se manifeste, mas, se os Iniciados
assim agem, provam que fazem parte dos chamados “leigos”! Não mais vos
admireis, por isto, em presença de estranhos, quando Eu fizer algo de ex-
cepcional, do contrário, os estranhos vos classificarão como eles mesmos!”
5. Dizem os discípulos: “Senhor, sabes que Te amamos sobre tudo e
sabemos Quem és; mas, apesar disto, não podemos evitar a admiração de
Teus Atos, sobretudo quando surgem inesperadamente. – Vê, muitas
vezes já vimos uma aurora e um crepúsculo; mas, qual seria a criatura que
se não sentisse mais ou menos extasiada, na contemplação deste fenôme-
no habitual? O mesmo acontece conosco! No entanto, és mais do que
milhares de auroras e pedimos que nos desculpes esta falta.”
6. Digo Eu: “Está bem! Mas, no futuro aceitai Meu Conselho dian-
te dos estranhos, para que possam reconhecer em vós os Meus verdadei-
ros adeptos! Agora, vamos à pesca! Acontecerão também pequenos mila-
gres; mas, agi como se nada acontecesse! Os estranhos devem descobri-los
por si próprios e julgar se são fatos comuns ou não!”
7. Após esta explicação necessária, os discípulos sobem rapidamente
nos botes e começam a jogar as redes, mas a pesca é quase nula. Pedro faz
a observação de que o vento forte toca os peixes para o fundo. Um outro
alega que antes do anoitecer não se conseguirá muita coisa, pois como o
Sol esteja muito forte, os peixes procuram as profundezas.
8. Nisto, os dois jovens sobem nos botes, a fim de jogar as redes. Diz
André: “Se estes não forem assistidos por um milagre, poderão tentar a
pesca em alto mar, durante dez anos, sem conseguir um peixe sequer!
9. Os dois, porém, fazem uma boa redada, trazendo trinta bons
Jakob Lorber
102

peixes à praia. Diz André: “Não é propriamente milagre, mas não deixa
de ser coisa considerável pescar estes trinta peixes em alto mar.”
10. Finalmente, Eu tomo um bote e Sarah, outro, e estendemos uma
grande rede. Logo na primeira redada pegamos uns quinhentos peixes de
bom tamanho, de sorte que os dois jovens se vêem obrigados a socorrer
Sarah que não pode aguentar o peso. Em seguida, os peixes são trazidos à
praia e guardados em barris, que aí se encontram em quantidade.
11. Os discípulos, porém, fazem mais uma tentativa, mas só conse-
guem alguns pequeninos peixes. Diz Pedro: “Para hoje basta! Não vale a
pena que um velho pescador igual a mim tente uma redada!” – Com isto
faz menção de jogar os peixinhos para dentro do mar.
12. Eu, porém, lhe digo: “Guarda o que pescaste, pois os pequenos
são muitas vezes melhores e por Mim preferidos aos grandes, cuja carne
costuma ser dura. Lembra-te desta lição!
13. Quando te dedicares à pesca humana, não te aborreças se, na
rede do Evangelho, só caírem alguns peixinhos, pois que os prefiro! Tudo,
porém, que é grande e importante diante do mundo é, de certa maneira,
um horror para Mim! – Deixemos agora a pesca e vamos para casa! Te-
mos o suficiente para hoje e amanhã.”
14. Em seguida recolhem-se as redes, guardando uma quantidade
de peixes diversos no grande reservatório construído por José, ao lado de
Minha casa.

44. TRAÇOS PESSOAIS DE BORUS

1. Chegando a casa uma hora depois de meio-dia, espera-nos um


bom almoço que Borus havia mandado preparar e, por isto, não tinha
tomado parte na pesca. É sua maior alegria preparar refeições para mui-
tos, principalmente ao ar livre. Sua fortuna é tão grande como a de Kisjo-
nah, pois com facilidade pode suprir, diariamente, seis a sete mil pessoas
e satisfazê-las com o melhor vinho! Os motivos de sua abastança eram os
O Grande Evangelho de João – Volume II
103

seguintes: Primeiro, por ser filho dum grego muito rico de Atenas, que
possuía terras e ilhas na Ásia; segundo, era o único herdeiro disto tudo;
terceiro, como médico mais afamado da Judéia fazia-se pagar muito bem
pelos ricos, tratando gratuitamente dos pobres e sendo considerado o
maior benfeitor do país.
2. Além disso, era solteiro – e sentia um imenso prazer em presente-
ar enxovais à mocidade pobre. Seu bom humor, no momento, era tanto
mais compreensível, porque julgava no seu íntimo que Eu fosse desposar
a jovem e bonita Sarah.
3. Assim se Me aproxima durante a refeição e pergunta, em surdina,
quando isto iria realizar-se!
4. Respondo-lhe Eu: “Querido irmão e amigo! Conheço teu nobre e
bondoso coração. Sei que só te sentes feliz quando podes levar a felicidade
aos outros. Até hoje não pensaste em ti mesmo, e como observaste um
grande amor entre Mim e Sarah; ouviste como falamos de noiva e esposa,
já antegozavas a alegria duma possível união entre nós. Estás muito errado!
Vê, todas as mulheres que vivem, já viveram e ainda viverão na Terra são,
quando levarem vida pura, mais ou menos, Minhas Noivas e Esposas. Esta
íntima união, porém, não as impede de serem Esposas de homens justos –
e este fato está se dando entre Mim e Sarah. Muito bem poderá se tornar
tua esposa, sendo espiritualmente Minha por toda a Eternidade!
5. Penso o seguinte: Como auxiliaste a tantos bons rapazes, quando
pobres, na união com boas moças, desejo também proporcionar-te esta
felicidade! Justamente esta adorável Sarah será tua esposa! Defendeste-Me
após sua primeira ressurreição quando jazia, pela segunda vez, no leito de
morte; Eu a despertei, pois, para teu prêmio justo. Ela conservará sua
atual aparência até aos setenta anos! Compara-a com os dois anjos que
palestram com Cirenius; não é ela mais linda? Dize-Me, sinceramente, se
já não a fitaste por várias vezes e o que teu coração sentiu!”
6. Diz Borus, um pouco encabulado: “Senhor, é inteiramente impos-
sível ocultar-se algo diante de Ti! Por isto, digo: Sarah é a única criatura que
desejava para mim! Já passei dos trinta anos e ela conta apenas dezesseis, –
mas meu coração não parece ter alcançado sua idade primaveril! Se se tor-
Jakob Lorber
104

nasse minha esposa, amá-la-ia mil vezes mais que minha vida!”
7. Sarah tinha prestado muita atenção a esta nossa conversa. Quan-
do Eu a fito e pergunto se o assunto discutido entre Mim e Borus lhe
agradava, ela enrubece e diz: “Mas é preciso que observes tudo?! Olhei a
Borus uma única vez, por ser ele muito bondoso e prestativo!”
8. Digo Eu, gracejando: “Sim, mas em teu coração já o olhaste por
várias vezes, se não Me engano!”
9. Diz Sarah, ocultando seu rosto: “Mas Senhor, és impossível! É
preciso que saibas de tudo?!”
10. Digo Eu: “Sarah, se ele te pedisse para esposa, acaso o rejeitarias?”
11. Diz ela, agradavelmente surpreendida com esta pergunta: “Se
não o fizesse, como poderia me tornar Tua Esposa? Amar só me é possível
a Ti, embora deva confessar que prezo muito a Borus; parece-me o me-
lhor homem em toda a Judéia, excluindo a Ti!”
12. Digo Eu: “Pois bem, haverá um jeito! Pensa um pouco e observa
Lydia que, espiritualmente, é Minha Esposa, enquanto fisicamente per-
tence a Fausto! Isto não se interpõe à nossa amizade espiritual, portanto;
também continuarias a ser Minha Noiva e esposa!”
13. Diz Sarah, após uns instantes: “Mesmo que me fosse agradável
uma união com Borus, não posso saber o que pensam meus pais! Já não me
oponho a isto para Te ser agradável, mas preciso saber a opinião deles!”
14. Digo Eu: “Pois bem, olha para eles, que já lhes perguntei e con-
cordam Comigo. Mas Eu não te obrigarei a isto. Tens a livre vontade!”
15. Diz ela, cada vez mais encabulada: “Senhor, sim, bem o sei,
mas... eu... sim, eu... não quero!”
16. Digo Eu: “O que não queres?”
17. Diz Sarah: “Ora, estás me encabulando horrivelmente! Por que
fui olhar o simpático Borus?”
18. Digo Eu: “Mas, ainda não Me contaste o que é que não queres!
Portanto, Minha Sarah, coragem, dize-Me o que é!
19. Diz ela: “Mas Senhor, como podes perguntar? Sabe-lo perfeita-
mente! Faze as perguntas e eu responderei por sinais o que não quero!”
20. Digo Eu: “Pois bem, ouve: Não queres que Borus adoeça de
O Grande Evangelho de João – Volume II
105

tristeza se tu lhe recusares tua mão!”


21. Sarah se levanta, bate com sua mãozinha no Meu ombro e diz,
aparentemente aborrecida: “Ora, fazes logo a pergunta... Quase que me traio!”
22. Digo Eu: “Então, dize a verdade!”
23. Responde ela: “Pois bem, por quê dizes logo a verdade?!”
24. Digo Eu: “Vê, Eu sabia que aprecias muito mais a Borus do que o
manifestas! Mas está tudo certo! A moça deve dar pouca demonstração dos
seus sentimentos para com o outro sexo. Só quando se trata duma afeição
séria pode abrir seu coração àquele que a deseja desposar, – do contrário o
atrai antes do tempo. Quando se apresentam os impedimentos o coração
dele entristece e sua alma se inquieta! Isto tudo deve ser evitado!”
25. Diz ela: “Mas, Senhor, nada disto eu fiz!”
26. Digo Eu: “Bem o sei e por isto te elogiei como modelo! – Agora,
poderás externar a Borus os teus verdadeiros sentimentos!”
27. Protesta ela: “Ah, – agora não digo; quando for meu marido
ainda haverá tempo!”
28. Digo Eu: “Mas se ele da Minha parte já o é, o que então?”
29. Diz Sarah, agradavelmente surpreendida: “Bem, como? – Bem,
então... então, então deveria manifestar-me abertamente?”
30. Digo Eu a Borus: “Ela não é adorável? Toma e cuida bem dela
como se fora uma planta delicada; recebe-a do Céu como prêmio mere-
cido. Deixai-vos abençoar por seus pais e depois vinde a Mim, para que o
possa fazer mais uma vez!”
31. Borus Me agradece, incapacitado de falar, de tanta emoção, – e
Sarah se levanta, graciosa, e diz cheia de alegria: “Senhor, faço-o unica-
mente por ser a Tua Vontade; se não fosse teria lutado contra o meu
coração, mas agora agradeço-Te pelo melhor homem de toda a Judéia!”
32. Os dois se aproximam dos pais de Sarah que os abeçoam; em segui-
da voltam para junto de Mim; abençôo-os, unindo-os para o matrimônio
verdadeiro e válido em todos os Céus, pelo que Me agradecem sensibilizados.
33. Deu-se, portanto, uma união inesperada, uma das poucas entre
as mais felizes deste mundo. Daí se conclui que aquilo que a pessoa Me
oferece de coração, jamais o perderá, pois ser-lhe-á restituído cheio das
Jakob Lorber
106

mais sublimes bênçãos e isto, quando menos o espera. Borus andava


apaixonado por Sarah e teria dado todos os tesouros em troca; no entan-
to, ofertou-Ma e desejou celebrar, com tudo que possuía, as Minhas
Núpcias. O mesmo se deu com Sarah; Eu, então, dei-lhes aquilo que de
todo coração Me tencionavam dar. – Quem agir assim, receberá o mes-
mo prêmio que eles!
34. Este ensinamento serve para todos que o ouvirem ou lerem; pois é
o único caminho para conseguir-se tudo de Mim. Quem Me oferece mui-
to, no entanto, guarda algo para si, só receberá aquilo a que renunciou.

45. A VERDADEIRA NATUREZA DOS ANJOS

1. Após este acontecimento notável Cirenius se Me aproxima, dizen-


do: “Senhor, abordei diversos assuntos com estes dois anjos; de tudo que
disseram nada mais aprendi do que aquilo que já ouvi pela Tua Bondade e
Graça. O que me surpreendeu foi que ambos se mantinham completa-
mente desinteressados por tudo que se passava! Falam de uma Sabedoria
profunda e sua voz ultrapassa as harmonias delicadas da harpa; seu sorriso
é qual a aurora; seu hálito tem a fragrância das rosas, do jasmim e do âmbar,
seus cabelos se parecem ao ouro e suas mãos, da cor do alabastro, são tão
perfeitas e delicadas que não há iguais; em suma, poder-se-ia enlouquecer
de amor diante de tanta perfeição! Mas, com todos estes predicados que
emanam somente do Amor e poderiam transformar a mais dura pedra em
cera, – são eles tão insensíveis e indiferentes como uma estátua de mármo-
re! Isto me deixa tão frio como a frieza que irradiam.
2. Manifestam nada de repelente, nem pela palavra nem pelo gesto;
nada, porém, os faz sair de sua isensibilidade. Externam-se a Teu respeito
numa profunda sabedoria, mas tenho a impressão que estejam fazendo a
leitura de uma carta, cujo idioma não se entende.
3. Explica-me, como isto é possível com dois seres puramente celes-
tiais? Este é hábito dos espíritos em Teus Céus?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
107

4. Digo Eu: “Em absoluto! Estes aqui se manifestam tal como de-
vem; no entanto, possuem uma vontade livre e um coração cheio dum
amor intenso, que te destruiria num momento, caso o externassem!
5. A criatura humana poderá suportar a mais elevada sabedoria dos
anjos; seu amor, porém, somente quando se lhes tiver tornado idêntico
em seu coração.
6. Poderás observar isto no fogo e em sua luz. Suportarás a luz que
emana do fogo, mas nunca a sua chama.
7. O Sol contém a luz mais intensa, em relação a esta Terra, e o
suportas com facilidade! Mas, se no aumento da luz se intensifica o calor,
já não mais suportarás a luz. Consegues, acaso, aguentar fisicamente como
o anjo a atmosfera do Sol? Digo-te: ela destruiria num minuto a Terra
toda, com tudo que nela existe, como uma gota d’água que caísse em
cima de uma chapa de aço incandescente!
8. Quem quisesse permanecer em tal luz e tal fogo, deveria antes se
tornar idêntico a esses elementos! Eis o motivo porque os dois anjos não
podem externar seu amor contigo! Compreendeste?”
9. Responde Cirenius: “Mais ou menos, – como outras tantas coi-
sas! Pois não percebo como um amor tão intenso me poderia matar!”
10. Digo Eu: “Pois bem, dar-te-ei um exemplo! Tens um filho e uma
filha mui queridos! É difícil analisares o grau do teu grande amor para
com eles. Agora imagina que tanto ela quanto ele morressem subitamen-
te e pergunta a teu coração se suportaria a dor que tal perda te causaria!
Vê, já sentes uma verdadeira aflição, apenas porque mencionei esta possi-
bilidade! O que não seria o fato real? Conhecendo teu coração, afirmo
que não suportarias esta dor mais de três horas e morrerias de desgosto!
11. Que representa, porém, o amor de teus filhos comparado com o
destes mensageiros celestes? Se te olhassem com carinho e permitissem
que os acariciasses, teu amor se elevaria de tal forma que te não seria
possível suportá-lo. E se eles te abandonassem mesmo aparentemente,
sentirias tal tristeza que sucumbirias!
12. Embora sejam de beleza rara, ela nada representa diante daquela
que manifestariam compenetrados pelo Meu Amor! Tudo que o mundo
Jakob Lorber
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apresenta de Beleza e Amor se desfaria! Penso Me teres compreendido?!”

46. O AMOR AO PRÓXIMO, DOS MÉDICOS

1. Diz Cirenius: “Sim, meu Senhor e meu Deus, agora compreendo


perfeitamente; sua aparente frieza não deixa de ser puro amor!
2. Recordo-me da lenda de uma moça que era duma beleza excepcio-
nal. Todos os homens, tanto velhos quanto moços, desafiavam-se, a fim de
decidir quem a desposaria. O número de pretendentes aumentava dia a
dia, para perdição dos que se desafiavam. Reconhecendo que não chega-
vam a um resultado satisfatório, concluíram: “Esta criatura não pertence à
Terra, senão aos Céus, portanto é uma deusa! Por isto somente oferendas
elevadíssimas poderão decidir! A quem dos muitos pretendentes ela ofere-
cer sua mão, este a possuirá para sempre!” Logo após começaram a lhe
ofertar tesouros riquíssimos, prestando-lhe homenagem divina. Esta idola-
tria chegou ao ponto de não mais adorarem aos deuses. Estes, por vingan-
ça, proporcionaram-lhe maior atrativo, porém fizeram que seu hálito se
tornasse venenoso, de sorte que todo e qualquer atingido perdesse os senti-
dos por várias horas. Além disto, sua língua munida dum aguilhão veneno-
so podia matar quem se lhe aproximasse em demasia.
3. Um dia, porém, apareceu um jovem de figura mui atraente e o
coração da donzela começou a vibrar. Mas, que fazer para poder amá-lo,
sabendo quanto era irresistível? Contemplando-o, cairia ele por terra,
desacordado; beijando-o, matá-lo-ia! Por isto, virou-lhe as costas e
mostrou-se indiferente, amando-o pela aparente frieza.
4. Do mesmo modo os dois jovens amam as criaturas deste ínfimo
planeta, pois sabem que elas não suportariam a chama do amor de seus
corações celestes!”
5. Digo Eu: “Sim, apenas seu hálito não é venenoso e sua língua não
tem aguilhão; pelo contrário, o primeiro vivifica, enquanto sua língua
abençoa a Terra.”
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6. Nisto se aproximam Borus e Sarah e ele pergunta o que deveria


fazer, a fim de se mostrar grato pela imensa graça recebida!
7. Digo Eu: “Meu amigo e irmão, onde estaria a criatura que, como
tu, Me fosse mais afeiçoada desde Minha Infância?! Quando menino
eras o Meu constante companheiro e tudo fazias que Me pudesse agra-
dar. Sempre que passavas uma temporada na Grécia, em companhia de
teus pais, Eu era o primeiro a quem procuravas quando de volta,
trazendo-Me sempre lembranças dessas viagens. Até deixaste de te abor-
recer quando quebrei com o martelo um templo de Diana feito de prata,
proibindo de Me trazeres presentes tais.
8. Quando moço e quase ninguém Me dava atenção, eras o único
que continuavas o mesmo. Portanto nada mais fiz do que retribuir-te um
favor que te devia há muitos anos. Por isto não exageres! Recebeste a mais
linda e, espiritualmente, a mais adiantada esposa, – e Sarah o melhor e,
sob todos os pontos de vista, o mais rico e conceituado esposo. Minha
Bênção jamais vos faltará e tu serás o melhor médico, não só desta zona,
mas do mundo inteiro! Acho, portanto, que podeis viver bem!
9. Não esqueçais, no entanto, dos verdadeiramente pobres; não aceites
algo pela arte curadora, inalcançável a quem quer que seja, por parte
deles, tão pouco de um empregado, seja em dinheiro, trabalho, cereais
ou gado!
10. Mas dos ricos, corretores e agiotas, comerciantes e proprietários
deves exigir pagamento justo; pois quem tem e deseja viver, deve de vez
em quando, fazer um sacrifício por sua vida! Haverá pobres em quanti-
dade aos quais poderás favorecer com o dinheiro pago pela vida do rico!
11. Um médico como tu vende a vida aos homens, o que para as
criaturas humanas representa a maior dádiva. Devem, por isto, pagar
bem e se dar por satisfeitas por existir nesta Terra alguém que lhes possa
vender a vida.
12. Afirmo-te: É a maior e mais pura arte que jamais o homem do
mundo poderá aprender, – o curar pela palavra, pela vontade e, de vez
em quando, pelo passe, todas as doenças entre a pior obsessão, inclusive
todas as pestes, e o mais leve resfriado! Purificar os leprosos, fazer com
Jakob Lorber
110

que os cegos vejam, os surdos ouçam, os coxos e entrevados caminhem –


e além disto transmitir aos pobres de espírito a Boa Nova do Reino de
Deus! Amigo, vai e procura no mundo inteiro um que se compare conti-
go! Digo-te, além de ti e de Mim não existe outro!
13. Em Sichar também inspirei um médico para que realizasse con-
sideráveis curas; mas não consegue se separar inteiramente de suas ervas,
portanto não pode concorrer contigo!
14. Meus discípulos te imitarão dentro de alguns anos; mas nem
todos que ora vês aqui.
15. Minha querida Sarah também aprenderá uma arte: a de partei-
ra, pois diante de Deus consiste num grande mérito ajudar as parturien-
tes. De sorte que ambos estais tão providos como jamais o estiveram um
rei e uma rainha!
16. Dou-te, no entanto, ainda este conselho: se um doente te procu-
rar deves perguntar-lhe sempre com gravidade: “Acreditas que te possa
ajudar em Nome de Jesus, o Salvador Celeste?” – Se ele responder, con-
victo: “Sim, creio!”, podes curá-lo. Se ele duvidar, não o cures até que isto
lhe seja possível! – Agora umas palavras a ti, Jairo!”

47. UMA PROPOSTA A JAIRO. CERIMÔNIAS EXTERNAS

1. Diz Jairo: “Senhor, estou pronto para te ouvir e aplicar


Teu Conselho.”
2. Digo Eu: “Pois bem; se o fizeres serás feliz para todo o sempre! És
chefe dos fariseus e de suas escolas em todas as zonas de Nazareth, Caper-
naum e Chorazim, de Caná na Galiléia e muitos outros lugarejos, vilas e
aldeias. Teu conceito, portanto, na Galiléia é quase idêntico ao do sumo
pontífice em Jerusalém. Com tudo isto não conseguiste evitar que tua
filha morresse por duas vezes!
3. Um cargo tão importante só serve para aumentar o orgulho de tal
pessoa e a tendência para o bem-estar, enquanto sua capacidade de auxí-
O Grande Evangelho de João – Volume II
111

lio ao próximo se torna cada vez mais fraca. Pois quem não pode ou não
quer socorrer aos necessitados é tão pobre quanto eles.
4. Um ofício igual ao teu não tem valor nem mérito; que tal, se o
restituísses às mãos do sumo pontífice em Jerusalém e mais tarde fosses
morar em companhia de teu genro, com o qual passarias melhor que no
convívio com os teus colegas? Poderias esclarecer Borus, pouco a pouco,
sobre a Escritura, o que lhe seria muito útil; ele, por sua vez, ensinar-te-ia
algo a respeito da arte de curar. Com isto não te imponho uma obriga-
ção, depende tudo da tua vontade! Farás bem seguindo o Meu Conselho;
no entanto, não pecarás por não fazê-lo!”
5. Diz Jairo: “Senhor, externaste meu mais sincero desejo! Já o tive
há muito tempo; mas, como agora se apresenta uma oportunidade tão
feliz, mandarei amanhã mesmo o pedido de minha demissão a Jerusa-
lém! Não faltará pretendente, pois até os há que se prontificam ao paga-
mento de taxas dez vezes mais elevadas ao valor de tal cargo, de sorte que
os senhores do Templo se darão por satisfeitos com este meu pedido.
Costumam eles até propor a desistência do cargo àqueles que o ocupam,
porquanto com isto um novo aspirante teria oportunidade de enriquecer
o sinédrio, com mais algumas libras de prata e ouro! Tais negociatas ren-
dem grande lucro em Jerusalém!”
6. Digo Eu: “Oh, isto sei melhor do que tu! Lá se dá maior valor à
matéria e não ao espírito do homem! Se te apresentasses como profeta,
pregando qual um Moisés ou Elias, mostrar-te-iam em breve as pedras
malditas com as quais se apedrejou a maioria dos profetas; mas, se apare-
cesses com dez mil libras de ouro, serias recebido com todas as honrarias!
Manda levar dois bois cevados ao Templo e podes estar certo que terás
mais agrado que Moisés e Elias. – Mas, deixemos isto de parte! O tempo
não está longe que dará aos templários, bem como a Jerusalém, a paga
merecida! Tratemos, porém, de outro assunto! Que se fala de João?
Encontra-se ele ainda no cárcere?”
7. Responde Jairo: “Não me consta que fosse posto em liberdade!
Mas se for de Tua Vontade mandarei indagar sobre isto pelo meu mensa-
geiro, que levará meu pedido de demissão!”
Jakob Lorber
112

8. Digo Eu: “Deixa isto; Herodes é uma raposa ladina e poderia


causar aborrecimentos a teu portador. Além disto, vejo em espírito a
situação de João Batista. Depois de amanhã receberemos más notícias,
que abalarão a todos!”
9. Após estas Minhas Palavras, Cirenius e Cornelius perguntam se é
de Minha Vontade que também desistam de seus cargos elevados.
10. Respondo: “Em absoluto! Vossos cargos são diferentes, mui neces-
sários e de grande importância! Deveis preenchê-los com retidão e justiça e
tratar a todos igualmente, dentro da lei! Todavia, como já ouvistes de Mim,
fazei que o amor anteceda à justiça e considerai que o pecador, agindo
muitas vezes por ignorância contra o poder governamental, não deixa de
ser uma criatura, destinada como vós, à Vida Eterna no Reino de Deus!
Manipulando o vosso direito dentro desta compreensão, agireis como os
anjos do Céu que são servos de Deus, como vós o sois do imperador!”
11. Diz Cirenius: “Faremos isto à toda risca! Mas resta esclarecer o
seguinte: Somos romanos e pagãos; devemos continuar como tais ou
renunciar abertamente ao paganismo e aceitar a circuncisão?”
12. Digo Eu: “Nem uma nem outra! Pois quem, como vós, foi cir-
cuncidado no coração, pela fé e o amor a Deus, nada disto necessita para
a obtenção da Vida Eterna. Além disso, Meus discípulos repletos do Es-
pírito Divino, procurar-vos-ão daqui a alguns anos, a fim de vos batizar e
assim recebereis tudo que necessitais. – Agora, sabeis de tudo; como já é
quase noite, vamo-nos recolher mais cedo por ser um ante-sábado. Após
a ceia nada mais haverá para discutir.”
13. Eis que se Me aproximam os dois anjos pedindo para permane-
cerem estes dias em Minha Presença Física, pois isto lhes seria a máxima
Bem-aventurança.
14. Respondo em alta voz: “Tendes plena liberdade de ação; mas
não esqueçais vossa tarefa! Os sóis centrais necessitam de grande atenção
e sabeis a imensidade existente no Espaço Infinito!”
15. Dizem os anjos: “Senhor, já está tudo feito e continuará a sê-lo.
16. Digo Eu: “Sim, já sei; por isto podeis ficar; pois a mais ínfima
entre estas criaturas representa mais que incontáveis sóis centrais, parélios
O Grande Evangelho de João – Volume II
113

ou planetários! Mas todos eles foram criados por causa do homem e por
isto necessitam de muito trato!” – Os anjos se curvam contentíssimos,
juntando-se aos discípulos, esclarecendo-os a respeito de muitos assuntos
importantes. Borus, porém, vai tratar duma boa ceia.

48. ASSUNTOS HEREDITÁRIOS DE JAIRO

1. Após a ceia, que durou mais de uma hora, Cornelius se dirige


a Cirenius: “Nobre irmão, que te parece? Devemos ficar aqui ou – em
vista de possíveis negócios urgentes – irmos embora? Sujeito-me às
tuas determinações.”
2. Responde Cirenius: “Já devia ter partido de manhã cedo. Mas,
dize-me: Quem poderia partir sabendo o que aqui se passa? Seria difícil
alguém abandonar um imperador amigo se este dissesse: “Se quiseres
ficar, fica!” Mas que representa um tal dirigente mundano perto do Cri-
ador dos Céus e da Terra? Além disto, Seus anjos obtiveram permissão
para aqui permanecer, e nós poderíamos aproveitar muita coisa com este
convívio. De jeito algum irei embora! Disto nem o Império Romano me
convenceria! – Portanto, também poderás ficar, que te dou permissão
para tal; mesmo que aconteça algo de extraordinário em Roma, a Mão
do Onipotente possuirá meios suficientes para normalizar tudo.”
3. Diz Cornelius: “Nobre irmão, estou contentíssimo com teu pare-
cer, pois não sinto o menor desejo de abandonar este ambiente! Fiz a
pergunta apenas em virtude de ordem política. Seria, no entanto, razoá-
vel ordenarmos a um vigia que procurasse saber da opinião a respeito de
nossa presença aqui.”
4. Diz Cirenius: “Se isto for da Vontade do Senhor poderemos assim
agir, acho porém, que tanto Ele como os dois anjos farão o papel de
polícia secreta. Uma vez afastados deste convívio celeste teremos que usar
de meios naturais.”
5. Digo Eu a Cirenius: “Está tudo bem assim; além do mais sei
Jakob Lorber
114

desde o Alpha ao Ômega tudo que se passa na cidade. Nada há que


temer! Este povo é ignorante e tolo demais para certas maldades! De
Nazareth nunca surgirá uma revolta. Além disto Meu Borus é um polici-
al fiel; tão fácil não lhe escapa algo de importante. Também poderia orde-
nar a Meus dois anjos efetuarem a espionagem, tanto, que saberíeis num
momento muito mais que se investigásseis durante dez anos; mas, como
já disse, nada disto é preciso, portanto iremos nos recolher. Jairo somente
terá que mandar um mensageiro a Jerusalém, por causa de sua demissão.
Amanhã haverá outro assunto a resolver.”
6. Diz Jairo, tristonho por ter que nos deixar: “Senhor, não seria
possível preparar este documento aqui e fazê-lo entregar, em Jerusalém,
por um portador? Tudo que possuo é uma casa em Capernaum, com
tudo que ela contém, a qual deixarei para meu genro. Munido dum ates-
tado comprobatório poderá entrar de posse dos meus bens, como se fosse
meu herdeiro e tanto eu como minha esposa somos dispensáveis nesta
transação. Meus verdadeiros amigos já se encontram aqui e não necessito
despedir-me naquela cidade.”
7. Digo Eu: “Pois bem; podes ficar que mandarei um dos Meus
Mensageiros; mas somente amanhã, sábado!”
8. Opõe Jairo: “Penso que este dia não seja apropriado para tal fim,
porquanto os templários o consideram com rigor!”
9. Digo Eu: “Deixa estar, fazem isto porque uma possível transgressão
lhes traria lucro. Entrega-lhes ouro e prata num feriado e verás como o
transgridem. Por isto não te preocupes; Meu servo liquidará este negócio!
10. Julgas que seria do agrado dos fariseus se não houvesse quem
ultrajasse o Dia do Senhor? Quanto mais ultrajes, principalmente da
parte dos ricos, maior regozijo dos senhores do Templo! Meu servo será
bem recebido durante o sacrifício e além do mais, já existem dez aspiran-
tes para o teu posto. Irão interromper a cerimônia para iniciar o leilão e
saberás pelo mensageiro o nome do sucessor. Vê, assim andam as coisas
na Casa do Senhor em Jerusalém, que se tornou a cidade de Satanás.
Como já organizamos tudo, vamo-nos recolher!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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49. ABDICAÇÃO DE JAIRO. O SENHOR NA SINAGOGA

1. Em seguida todos vão repousar. Apenas Meus Irmãos, Maria e Bo-


rus estão ocupados na cozinha, a fim de tudo prepararem para o sábado, no
que são acompanhados por Sarah e Lydia. Logo após, também se recolhem
e na manhã seguinte Maria é a primeira a se levantar, acordando as ajudan-
tes para a organização do necessário antes do pôr-do-sol, como é de uso
entre os judeus. Borus também ajuda e quando nos levantamos, as mesas já
se encontram postas, com travessas de peixes, pão e vinho.
2. Cantam-se salmos de louvor e todos se entregam ao bom desjejum.
Após a refeição, mando o mensageiro a Jerusalém. Preocupado, Jairo espe-
ra sua volta. Depois de duas horas de negociações o mensageiro chega para
satisfação de Jairo, trazendo-lhe a notícia da agradável surpresa que sua
desistência do cargo despertara, e mais o agradecimento e louvor por tê-lo
desempenhado fielmente. Também é-lhe transmitido o nome de seu su-
cessor, com o pedido de auxiliá-lo em caso de necessidade.
3. Jairo, todo contente, dirige-se a Mim: “Senhor agradeço-Te do
fundo do meu coração por esta boa solução do meu caso, pois neste
ofício teria me tornado uma presa de Satanás!”
4. Digo Eu: “Pois não te disse que se pode interromper num sábado
a hora do sacrifício quando se trata dum bom negócio?! Por aí vês, o
quanto os templários prezam a Deus e Suas Sábias Leis!
5. Agora, porém, iremos, por causa do povo, visitar a sinagoga para
ver o que lá fazem os fariseus; tomaremos assentos nos últimos bancos
para que não sejamos logo descobertos por eles!’’
6. Diz Jairo: “Não irei, pois sou conhecido por todos os meninos e
teria que me sentar no presbitério, o que vos denunciaria!”
7. Respondo: “Não te apoquentes! Quando Eu te aconselho algo
podes Me seguir que nada sofrerás! Vamos!” – Em seguida saímos, alcan-
çando em poucos minutos a escola. Qual não é nossa surpresa ao encon-
trar apenas fariseus serventes na sinagoga! Pouco a pouco chegam alguns
velhos judeus que se assentam nos seus lugares de costume para se entre-
Jakob Lorber
116

gar à habitual soneca.


8. Após o sacrifício concluído e a leitura monótona dos Mandamen-
tos, dum Salmo e do Cântico dos Cânticos de Salomon, um orador sobe
ao púlpito e começa a falar com voz rouca: “Amados de nossos pais
Abraham, Isaac e Jacob! Vivemos numa época atribulada, idêntica a de
Noé quando construiu a Arca, fechando-se nela com os seus, a mando de
Jeovah! Encontramo-nos no lugar sagrado do qual Daniel predisse o hor-
ror da devastação – como os escravos banidos pela bruxa, Megera, vêem
os martírios de seus irmãos, esperando apavorados a sua vez de serem
atirados dentro do aço incandescente – sem nos podermos mexer para a
direita ou para a esquerda! Estamos tão abandonados como um tronco
seco há muito tempo, como prova de que nestas zonas se encontravam,
em épocas remotas, florestas verdejantes! Que fazer? Eis a pergunta! Uma
coroa de diamantes àquele que seja capaz de achar resposta razoável! Que
não deixe, no entanto, de considerar a nossa posição extremamente agri-
lhoada pelo mundo!
9. De um lado os romanos nos pesam na nuca como se fora o Mon-
te Sinai, – do outro, o filho do carpinteiro que surgiu, como se caísse das
nuvens, qual profeta jamais visto desde Abraham. Todos o seguem, gran-
des e pequenos, jovens e velhos! Se hoje Jeovah surgisse em Pessoa, não
faria atos mais grandiosos! Cura todas as doenças pela palavra, desperta
os defuntos e dá-lhes vida completamente nova! Assim também ordena
aos ventos e às ondas do mar – e eles lhe obedecem como escravos a um
senhor! Quando fala manifesta uma sabedoria luminosa e todos são arre-
batados e o seguem! Além disso, os nobres de Roma são a seu favor e o
auxiliarão com legiões, em caso de necessidade. Nós, porém, estamos à
beira dum abismo, podendo ser tragados a cada momento e não temos
um ser vivo ao nosso lado, a não ser estes velhos dorminhocos na sinago-
ga! Repito, pois, minha pergunta: Que devemos fazer?
10. Que nos adiantam Moisés e todos os profetas e mesmo Jeovah,
que com eles falou, deixando-nos, porém, há mais de um século no mais
tenebroso lodo? Gritamos por socorro de tal maneira, que as estrelas mais
distantes nos deveriam ouvir, – mas, Jeovah não Se manifesta e nos aban-
O Grande Evangelho de João – Volume II
117

dona de pior modo que um noivo pirata poderia proceder com sua noi-
va, por ele enganada! Além disso, possuímos o título de “Povo de Deus”,
enquanto os falados pagãos têm reputação, riquezas mundanas e poderes
idênticos aos que Jeovah prometeu a David de acordo com a Escritura, –
fatos que nunca se realizaram!
11. Lê-se verbalmente: “Teu Reino jamais terá fim!” Fitemos, pois,
o Reino Eterno de David! Que mentira mais flagrante dum profeta
bajulador! David teve o prazer de assistir ao efeito negativo dessa profecia
– e se não fora o carvalho que prendesse seu filho Absalom pelos cabelos,
este teria subido ao trono! – Deixemos, porém, o passado e consideremos
o atual Reino Eterno de David! Bonito Reino! Talvez sua alma se dirigisse
aos Césares de Roma, cujo reino se apresenta mais vistoso e durável que
o do grande homem mandado por Deus! Irmãos, não vedes que nossa
velha doutrina é apenas um mito com um nome fabuloso?! E nós, tolos,
ainda nos prendemos a isso, como se nos trouxesse a salvação! Qual o
imbecil que vestiria farrapos se os pudesse trocar por novas vestes?!
12. Tanto a História quanto a nossa experiência demonstram clara-
mente que a Doutrina de Moisés e dos profetas nada mais é que uma
casca oca, – no entanto, a ela nos agarramos como a um cálculo certo e
não arredamos pé, muito embora a água tente afogar-nos, entrando pela
boca como o Jordão pelo Mar Morto!
13. Deixai-nos, por isto, aderir ao filho do carpinteiro, que estaremos
abrigados! Faz ele coisas que os patriarcas jamais contaram de Jeovah! Penso
ter com este meu discurso respondido minha própria pergunta; segui meu
conselho que todos nós melhoraremos, tanto física como moralmente!
14. Roban, nosso superior, deu-nos o exemplo; sigamo-lo, que lu-
craremos com isto! Talvez este não considerado carpinteiro Jesus se preste
para restabelecer o infeliz Reino de David, ao menos por algum tempo!
Através de seu poder mágico que desafia qualquer outro, poderá com
facilidade impor tal respeito aos romanos que suas legiões invencíveis
debandem aos milhares!”
15. Nisto se levantam os anciãos, escribas, fariseus e levitas, dizendo:
“Entendes mal a Escritura, falando de modo tão herético; com relação à vida
Jakob Lorber
118

material pareces ter razão, mas relativamente ao espírito, cometeste um crime


sacrílego contra a incontestável Majestade Divina; por isto, vêmo-nos força-
dos a te expulsar do nosso meio, para o convívio dos pagãos!”
16. Responde o orador: “Julgais, com isto, castigar-me? Oh! Que
erro tenebroso! Se desejardes continuar os mesmos tolos a morrer de
inanição, fazei-o, que permanecereis nas vossas trevas! Cabeças ocas, dai-me
um exemplo de qualquer orador da Palavra Divina que despertasse um
morto da tumba, como o fez este carpinteiro!”
17. Dizem os anciãos: “Isto será feito por Deus no Dia do Juízo Final!”
18. Diz o orador: “Pois sim! Esperareis em vão! Pessoa alguma sabe
que Jeovah, como O conhecemos pela Escritura, jamais tivesse feito vol-
tar à vida alguém! Assim sendo, e enfrentando após uma curta vida terre-
na, a morte eterna, a criatura se apavora, perguntando cheia de temor:
“Quem sou, para onde irei quando esta vida terminar?” – Como nunca
faltassem os tais servos de Deus, como temos a honra duvidosa de nos
chamar, eles tinham que inventar, para consolo dos indagadores e de si
mesmo, o mencionado despertar no Dia do Juízo Final! E nós, tolos
pensadores, enganamo-nos a nós próprios, – e esta cegueira impede que
possamos considerar os fatos milagrosos que se passam em nossa frente!
19. Que tencionais com estes velhos trastes dos judeus que, com o
esclarecimento dos povos, não durarão mais meio século? Eu, por mim,
não esperarei o final deste ensinamento tolo, o qual nada de positivo tem
a não ser os nomes históricos!
20. Se Jeovah não puder falar e ensinar com mais lógica, como qual-
quer filósofo grego, que frequente primeiro tal escola! Com isto não quero
dizer que não suponho Jeovah mais sábio que um filósofo! – Deixai-me em
paz com vosso Jeovah! Realmente, como homem sincero, envergonho-me
de ter seguido uma doutrina tão tola! Se a doutrina de Moisés continha
algo de bom, este algo foi tão deturpado que nada mais existe, ou, então,
possui um nome falso! Serei, portanto, ainda hoje discípulo do carpinteiro
Jesus! Ele é bom e não rejeitará um companheiro honesto!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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50. PALESTRAS DOS ANCIÃOS SOBRE A SITUAÇÃO JUDAICA

1. Exclamam os anciãos, irritados com o orador: “Hereje! Sacrílego!


Sabes que pelas tuas explanações mereces, de acordo com Moisés, seres
apedrejado dentro da escola? Como te atreves a abalar a fé de outros em
Deus e Moisés, só porque não a tens?
2. Teu raciocínio tão fraco é a não veres que a vida duma criatura não
basta para alcançar a sabedoria através da experiência? Por isto Deus ensi-
nou aos homens as letras, a fim de que pudessem anotar aquilo que sucedia
naquela época. Isto já nos prova a experiência de nossa vida, porquanto não
há dias, semanas e anos idênticos! Investiga na Crônica e te daremos tudo
que possuímos se nos provares já ter ocorrido o que ora acontece!
3. Que tencionas, portanto, com tuas graves suspeitas contra a Es-
critura, herança sagrada de nossos ancestrais, que nos ensina uma condu-
ta impecável e as diretrizes necessárias, pelas quais os descendentes conse-
guem levar uma vida mais agradável a Deus?! Acreditas que sejamos tão
tolos que nos fosse impossível julgar o que se passa na nossa frente?
Enganas-te! Aproveitamos a sabedoria de nossos pais, que tudo analisa-
ram antes de aceitá-lo!
4. Se tivessem tua fé tão vacilante, não teriam apedrejado os profe-
tas, pois quando verificavam que, apesar de apedrejados, continuavam
convictos do que afirmavam, aceitavam suas profecias! Se isto fizeram
nossos pais, achas que seja razoável supor nossa Sagrada Doutrina nada
mais que um panfleto?!
5. Declaraste-nos tolos e bobos; mas, surge a pergunta: não és o maior
dentre nós? Não fica bem a um descendente da estirpe de Levi julgar rispi-
damente seus irmãos! Se, no entanto, tencionavas examinar se ainda somos
os mesmos, não obstante os acontecimentos extraordinários desta época,
tiveste uma atitude desprezível e mostraste teu verdadeiro sentimento!
6. Toda criatura demonstra pelo zelo excessivo suas paixões. O ou-
vinte calmo tira suas deduções levando a vantagem de conhecer bem seu
adversário. Pensas não sabermos que, principalmente, a prática da nossa
Jakob Lorber
120

Doutrina contém muitas aberrações que, por infelicidade, obscurecem


Moisés e os profetas mais intensamente que as mais densas nuvens tem-
pestuosas, o Sol? A pura Doutrina, porém, não pode ser prejudicada e o
verdadeiro escriba sempre saberá onde achar a Verdade!
7. Observamos tão bem como tu que estes abusos exterminarão, no
final, a verdadeira Religião, como o fazem os vermes numa árvore verde-
jante, naquelas criaturas semelhantes a ti. A Doutrina, entretanto, conti-
nuará sempre a mesma e terá seus fiéis. Já não viste os parasitas nas árvo-
res, sugando-lhe o viço? Por tal motivo deixam estas de ser o que são?
8. Nós, criaturas, ignoramos a causa disto; uma coisa, porém, sabe-
mos: essas aberrações não existiriam se não fosse da Vontade de Deus! Por
que existem lobos que só servem para destruir as manadas pacíficas? E o
leão, o tigre, a hiena e outros animais selvagens, – por que o condor ao
lado da pomba? Eis os segredos insondáveis para os homens ignorantes!
9. Um lavrador, por exemplo, cultiva o seu campo; tudo germina
maravilhosamente. Ele até aumenta seus celeiros para que comportem a
grande colheita; mas, de repente, tudo é destruido por um temporal!
Não poderia se perguntar: “Meu Deus, se fosse de Tua Vontade que este
campo não desse fruto por ser o camponês um pecador, tinhas Poder de
sobejo para destruir os gérmens, poupando-lhe a despesa e trabalho!” Vê,
quantas vezes isto acontece sem que possamos saber do motivo!
10. Do mesmo modo, vemos os deslizes praticados na Doutrina de
Moisés e observamos os viandantes em caminhos errados. Mas, que nos
é dado fazer? Não é obra nossa, portanto, devemos suportá-la, mesmo
sendo condenável!
11. Ao nosso espírito não foi imposto limite; reconhecemos a verda-
deira Doutrina na sua pureza original e esta nossa compreensão nem por
Deus pode ser contestada. Seria ridículo se Deus nos falasse a cada um
em particular: “Vai e destrói o Templo que está cheio de detritos; Eu,
Deus Onipotente, aborreço-Me com estes horrores!” Isto justificaria ao
homem a seguinte resposta: “Senhor, vê que absurdo exiges de mim,
criatura fraca! Se minha existência Te incomoda, basta um Teu Pensa-
mento para destruí-la; exigir, porém, o impossível de mim, é o mesmo
O Grande Evangelho de João – Volume II
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que ordenar a um mosquito que carregue um elefante nas suas costas!”


Achamos que Deus é Sábio de tal forma que reconhece ser impossível a
um homem nadar contra a maré! – Agora, dize-nos, se concebes a plena
verdade de nossa opinião, que te perdoaremos os impropérios que nos
lançaste em rosto!”

51. TESTEMUNHO DUM ORADOR A RESPEITO DA ARCA

1. Responde o orador que durante este discurso não perdeu a calma:


“Queridos amigos e irmãos! Tudo que acabastes de falar também o sei!
No entanto, regozijo-me em saber, pela primeira vez em minha vida, que
não sois tão ignorantes como eu também não o sou! Falastes certo; mi-
nha pergunta, porém, não foi respondida. Consegui apenas que exter-
násseis claramente vossa opinião pela primeira vez no nosso convívio
durante vinte anos! Esta mútua compreensão não atenua o mal em que
nos encontramos; resta saber qual a medida a tomar.
2. Como filho dum Pontífice de Jerusalém e educado no Templo,
sei perfeitamente da situação da Arca. Madeira, prata e ouro ainda são os
mesmos; mas a vara verdejante de Aaron secou até tornar-se pó, as tábuas
com os Mandamentos se quebraram, o Maná só existe na imaginação! E
a coluna de fogo, onde ficou?! Sabe-se pelos anais da Escritura que todo
leigo perdia a vida quando tocava na Arca com mãos profanas; agora
pode-se nela pisar e tocá-la à vontade, sem que deite fogo mortífero.
3. Quando estrangeiros desejam vê-la por muito dinheiro e promes-
sas de sigilo, é-lhes concedido isto, mas somente um dia após a concessão!
Pois neste caso produz-se artificialmente a coluna de fogo, – não por cima
da antiga Arca, mas acima da nova, feita de metal! Contém na parte supe-
rior, ao centro, uma taça preta, colocada dentro da tampa, de maneira que
não pode ser vista no escuro, produzindo fogo e fumaça. Nessa taça
mistura-se um puríssimo óleo de nafta com outros óleos aromáticos, que se
acendem mais ou menos uma hora antes. Queimando numa altura de seis
Jakob Lorber
122

palmos, representa a coluna de fogo. Se os curiosos, após a terem apreciado,


desejam ver o interior da Arca, tira-se com cuidado a sua tampa, sob ceri-
mônias e preces incompreensíveis, e aos visitantes são mostradas as novas
pedras de Moisés como sendo verdadeiras. Assim também se faz com o
Maná fresquinho e a vara verdejante de Aaron.
4. Alguns ficam inteiramente comovidos; outros, principalmente
gregos, saem de lá sorrindo e dizem: “Eis um espetáculo interessante!” A
maioria se queixa da sujeira no interior do Templo. Aposto como atual-
mente já nem mais existe a velha Arca.
5. Se não me quereis dar crédito podemo-nos disfarçar em romanos,
ir a Jerusalém e nos portarmos como estrangeiros dentro do Templo. De
pronto seremos abordados por um servente, que examinará nossas inten-
ções quanto à origem, o que procuramos, o tempo que permaneceremos
na “Cidade de Deus”, se possuímos dinheiro, se não queremos vender
ouro ou prata, e, finalmente, se não desejamos ver o Santíssimo por uma
pequena taxa. Perguntando pelo preço, responder-nos-á algo de cem li-
bras de prata. Alegando ser muito dispendioso e que não nos interessa tal
coisa, mas que pagaríamos dez libras, imediatamente é-nos mostrado o
Santíssimo, se prometermos ao vigia jamais relatar este fato, nem na Ju-
déia nem no Estrangeiro. Isto feito, seremos conduzidos ao Santíssimo –
e vos podereis certificar se menti a respeito da Arca!
6. Amigos e irmãos, quando uma pessoa esperta viu estas coisas no
Templo torna-se-lhe difícil, como homem honesto, fazer o papel dum
impostor e mentiroso pago! Quantas vezes não pensei o seguinte: “Se o
Santíssimo, no qual se baseia a Doutrina Sagrada e todas as Suas Leis, é
um logro infame, que esperar do sentido da Mesma?” – Externei minha
opinião e estou pronto para vos ouvir!”
7. Diz um ancião: “Tiveste permissão para relatar estes segredos?
Não foste obrigado a fazer um juramento de sigilo eterno antes de deixar
o Templo como Iniciado?”
8. Diz o orador: “Certo, mas, tomo a liberdade de rompê-lo, por
não ter valor algum e declaro ao mundo inteiro como fui enganado!
Além disso não se toma estas coisas tão a sério aqui, em Nazareth, e
O Grande Evangelho de João – Volume II
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pode-se muito bem agir sem escrúpulos.”

52. DISCURSO DE DEFESA DO ANCIÃO

1. Dizem os velhos: “Reconhecemos que de certo modo tens razão;


falta-te, porém, a experiência. Nem sempre as coisas no Templo anda-
vam neste pé! Se pensas um pouco deves aceitar o seguinte: se nunca
houvesse algo verdadeiro e real, ninguém poderia ter a idéia de imitá-lo!
Por que motivo a falsificação de diamantes, pérolas e prata?
2. Sabemos que os persas tecem os melhores e mais finos xales e
outros tecidos, tingindo-os de acordo com sua arte oculta, motivo pelo
qual seus produtos têm tanto valor. Se fores a Jerusalém, Sichar ou Da-
masco, é preciso que sejas um conhecedor apurado, a fim de não com-
prares as imitações feitas em nosso país!
3. Se nunca houvessem coisas legítimas ninguém teria a idéia de
imitá-las. E se o genuíno não tivesse valor tão elevado, a cópia seria dis-
pensável. Por aí vês que se não teria feito uma falsa arca com coluna de
fogo, se realmente não tivesse existido a verdadeira.”
4. Diz o orador, chamado Chiwar: “Muito bem! Isto é claro; resta
saber qual o acontecimento que fez com que a velha Arca, a bem dizer,
morresse! Ela existe e, de vez em quando, acha-se no lugar da falsa, –
coisa rara, porém, em virtude das frequentes visitas. Sabe-se perfeitamen-
te que, há trinta anos atrás, ninguém podia penetrar no Santíssimo além
do Pontífice, possuidor do direito de sentar-se na cadeira de Aaron. Qual,
portanto, a razão de o Santíssimo só o ser pelo nome, pois no fundo o é
tão pouco como esta nossa sinagoga?”
5. Diz um ancião experimentado: “Qual o motivo disto nem eu nem
um Iniciado em toda Israel poderá saber; certo é que a coluna de fogo se
apagou após o homicídio do sacerdote Zacharias, ocorrido entre o Altar e o
Santíssimo, e nunca mais apareceu, não obstante as múltiplas preces.
6. Compreendes não ter sido possível relatar este acontecimento ao
Jakob Lorber
124

povo, pois se teria rebelado. Com os romanos no país, uma revolta teria
sido de consequências funestas! Assim que, além de nós, Iniciados, pes-
soa alguma tem conhecimento disto, e estes galileus que ora estão dor-
mindo nos bancos não poderão ter ouvido algo. Mesmo se assim não
fosse não teria importância, porquanto desprovidos de fé, defendem o
seguinte ponto de vista: preciso que haja religião para conter o povo.
7. Que interesse pode ter o galileu legítimo na genuinidade da Arca,
quando esta tem o efeito desejado sobre o povo supersticioso?! Por isto,
pode-se agir com sinceridade, quanto a este assunto, nas redondezas de
Nazareth, Capernaum e Chorazim, sem prejudicar alguém. Com refe-
rência aos romanos e gregos, sabemos o que fazer! Foi este o motivo do
aprisionamento de João Batista, pois temia-se que ele, como filho de
Zacharias, pudesse revelar a fraude feita com a Arca! Eis por que também
o carpinteiro é tão perseguido, de sorte que devemos guardar este segredo
para nós!”
8. Diz Chiwar: “O assunto é deveras muito sutil; espero que os que
se acham sentados na entrada da sinagoga não tenham ouvido algo!”
9. Diz o ancião: “Cochichamos apenas e mesmo que eles ouvissem
algo não o entenderiam, pois são gregos e romanos.”
10. Obtempera Chiwar: “Vi entre eles o filho do carpinteiro, Jesus,
o vice-rei Cirenius, o reitor Jairo, o comandante Cornelius, Fausto e ou-
tros conhecidos!”
11. Diz o outro: “Contra estes não há proteção; portanto, não impor-
ta se nos ouviram ou não! Se quiserem transmitir isto ao povo, fá-lo-ão,
pois devem estar a par da situação da Arca do Templo; não o querendo,
nossa palestra não lhes terá trazido motivo para tanto, – por isto não preci-
samos nos preocupar! Devemos evitar a divulgação do fato e, se algum dia
isto se tornar necessário, teremos que agir com muita precaução!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
125

53. CHIWAR TESTEMUNHA DA VIDA E DAS AÇÕES DE JESUS

1. Diz Chiwar: “Realmente, preciso elogiar vossa inteligência! Em-


bora trabalhássemos juntos desde muitos anos, nunca se havia dado uma
oportunidade de vos conhecer mais de perto, e folgo em ver que sois mais
inteligentes que os servos do Templo. Contudo, a pessoa do carpinteiro
Jesus é o que há de mais extraordinário visto até hoje. Adam, com suas
experiências centenárias, nada vale! Henoch faz parte dos mendigos espi-
rituais! Abraham, Isaac e Jacob, Moisés, Aaron e Elias são uns pobres
coitados, em comparação a nós mesmos! Um dia traz maiores milagres
que os que foram assistidos pelos patriarcas!
2. Desde ontem venho fazendo o observador secreto daquilo que se
passou em casa do velho José. Repito: milagres sobre milagres! Dois anjos
perfeitamente vivos lhe servem! A esposa de Fausto se encontrava em
Capernaum e o carpinteiro quis que ela tomasse parte no almoço; no
entanto, sua busca levaria cerca de quatro horas. O que aconteceu? O
carpinteiro fez um aceno aos dois anjos que desapareceram por alguns
minutos, trazendo Lydia, alegre, sã e salva a Nazareth! – Que dizeis? Po-
deis assimilar isto?”
3. Perguntam os anciãos: “Que mais viste?”
4. Responde Chiwar: “Conheceis a filha de Jairo e sabeis que morreu
por duas vezes e que na última já estava alguns dias na sepultura; ignorais,
no entanto, que esta linda Sarah se tornou esposa de Borus! Não é extraor-
dinário que uma moça por duas vezes falecida possa até se casar, coisa
nunca vista na Terra?! Quando recebia a bênção do carpinteiro ela viu os
Céus abertos e uma imensidade de falanges de espíritos preenchiam o éter,
louvando a Deus por ter manifestado esta Honra e Graça ao mundo! Após
esta cena os Céus se fecharam com o aceno do carpinteiro; ficaram somen-
te os dois anjos, como os vedes perto da porta da escola. Mirai-os e dizei se
é possível que sejam de outras zonas que não dos Céus?
5. Se isto se deu tal qual como vos acabo de contar, por que então
não considerá-lo mais elevado que um simples adepto dos essênios, aos
Jakob Lorber
126

quais nunca poderia ter visto, porquanto, a meu ver, nunca se afastou
daqui, a não ser umas poucas vezes que foi a Nazareth, em companhia do
pai e irmãos. Consta que foi uma vez a Sidon, para ajudar na construção
duma casa.
6. Embora se saiba que era muito calado e comumente considerado
pouco inteligente, ninguém ignora que se deram fatos estranhos desde
seu nascimento até aos doze anos; até o próprio nascimento consta ter
sido milagroso, de acordo com o relato do comandante Cornelius!
7. Por isto pergunto se é admissível hesitarmos em considerar este
Jesus, pelo menos, um Filho de Deus; pois seus atos e a forma pela qual
ordena aos anjos, leva a crer ser ele pleno do Espírito Divino! Não sei,
portanto, por que razão devemos continuar presos à Arca morta, se a
“viva” caminha e age diante de nossos olhos! Podemos continuar sendo
externamente o que fomos, por causa do povo; mas, no íntimo, devería-
mos professar suas idéias!”
8. Diz o sábio ancião: “Ou tudo, ou nada! Se for pleno do Divino
forçosamente detestará meios-termos; não o sendo, será melhor continu-
ar com a Arca sem vida, relembrando seu estado anterior, que aceitar algo
cuja causa se desconhece!”
9. Aduz Chiwar: “Por isto analisaremos o fato: eu, por mim, não
preciso investigar coisa alguma, – sei o que faço, seguindo-o!”
10. Opõe o outro: “Julgas que o Templo nada fará se uma comuni-
dade após outra dele se afastar? Sou de opinião que não demorará em
mandar seus algozes por toda parte! Coitados dos que cometeram apos-
tasia, que serão seriamente castigados! Os discípulos dos filósofos gregos
levarão vantagem sobre os adeptos de Jesus, que não são nem inteira-
mente judeus nem gregos, sabendo mais ou menos que o Templo já não
possui mistérios para eles! Digo-vos: nada haverá de mais perigoso para o
sinédrio que a atuação profética de Jesus e seus adeptos! Tudo fará para
impedir a divulgação de uma doutrina que, forçosamente, arruinará sua
existência!
11. Não viste no ano passado a ação do Templo com um grego que
divulgara ser lá aceito dinheiro romano, enquanto só era destinada a
O Grande Evangelho de João – Volume II
127

moeda de Aaron para este fim, não podendo ser recebido outro qual-
quer? Foi atraído por promessas de lucro, para em seguida, ser morto de
tal maneira jamais anotada na Crônica! – Por isto, muita cautela! Deve-
mos, ou nos tornarmos gregos aderindo a Jesus de corpo e alma, ou,
então, continuarmos o que somos!”
12. Diz Chiwar: “Tens razão no que se refere ao cuidado mundano;
mas, que dirás se este carpinteiro for o Messias Prometido, isto é – como
David O chama, num profundo respeito – Jeovah em Pessoa? Devemos
então usar de subterfúgios ou, então, aderir à Sua Bandeira Celeste, não
nos deixando amedrontar pelas artimanhas de Satanás, pois teremos com
Ele a certeza da Vida Eterna mesmo isto nos custando esta miserável vida
terrena?! Com esta proposta de Chiwar, todos ficam estatelados e não
sabem o que decidir.

54. CONSELHO DOS ANJOS AOS TEMPLÁRIOS CONVERTIDOS

1. Nisto, os dois anjos se lhes aproximam, dizendo: “Chiwar falou


certo e tu, ancião, também tens razão no que diz respeito detestar Deus
meios-termos! Nós, no entanto, como testemunhas dos Céus, dizemos:
Não temais àqueles que não podem prejudicar vossas almas e sim Aquele
que é o Senhor sobre toda a Vida nos Céus e na Terra! Sem Ele não existe
Vida! Por isto, aceitai o conselho do vosso amigo Chiwar!
2. Indaga o ancião: “Mas quem sois, que vos dizeis testemunhas
dos Céus?”
3. Respondem eles: “Pergunta a Chiwar, que nos viu buscar a esposa
de Fausto!”
4. Diz o ancião: “Assim sendo, não há mais que refletir, pois renun-
ciaremos ao Templo!”
5. Dizem ambos: “Não façais isto, queridos amigos; o Senhor é
Condescendente em tudo! Se Lhe seguirdes no coração, acreditando que
somente por Ele se cumpre a Escritura, fazeis o bastante; quanto ao resto,
Jakob Lorber
128

conservai-vos como sois, a fim de que os servos do mundo e do diabo,


dos quais o Templo está repleto, não sejam despertados antes da hora!
Ensinai o povo a respeito de Moisés e os profetas e mantende o cumpri-
mento das Leis Divinas; as instituições do Templo, porém, não precisais
considerar – e com isto sereis tão bem Seus discípulos como os que ele
escolheu entre os pescadores.
6. Passados dois dias recebereis um novo reitor de Jerusalém que, no
início, terá idéias templárias; mais tarde, entretanto, mudará, conceden-
do uma quantidade de indulgências, por dinheiro. Pessoalmente, ele não
acredita no Templo, tão pouco vos fará dificuldades. Jairo está aposenta-
do e morará em casa do genro. Quanto ao novo reitor não lhe conteis
algo de milagres aqui ocorridos!”
7. Diz Chiwar, respeitoso: “Servos Divinos do Reino da Luz e da Vida
Eterna! Vossos conselhos são ótimos; eu, porém, prefiro coisa melhor! Que
vos parece, se eu aderisse integralmente aos discípulos do Senhor?”
8. Respondem eles: “Toda criatura deste mundo é livre e pode fazer,
crer e falar o que quiser; mas, se alguém, como vós, recebe um conselho
dado pelos Céus, fará bem em aceitá-lo. Pois, sobre os atuais adeptos do
Senhor, virão épocas de grande tentação – sendo experimentados pelo
espírito, terão que fazê-lo também pelo fogo – e muitos fraquejarão, re-
nunciando à justa causa! Vós, não tereis muita dificuldade, podendo al-
cançar em paz aquilo que os outros só conseguirão sob grande pavor e
perseguição! Podes, no entanto, fazer o que te agrada; será, porém, me-
lhor continuar em tua atual posição!”
9. Diz Chiwar: “Sim, ficarei; mas, enquanto o Senhor aqui perma-
necer, desejo acompanhá-Lo, a fim de aproveitar os Seus Ensinamentos!
É isto possível?”
10. Respondem os anjos: “Como não? O Senhor, no entanto, pou-
co falará e tão pouco realizará milagres, pois que as criaturas daqui não
têm fé e O julgam um mago. Vós, porém, tereis oportunidade de
orientá-las, o que vos será recompensado por Ele. Hoje, à noite, Roban
voltará ao vosso meio, trazendo-vos provas importantes a favor do Mes-
tre e tornar-se-á vosso instrutor, pois é um dos espíritos mais fortes entre
O Grande Evangelho de João – Volume II
129

vós.” – Ditas estas palavras os anjos aderem ao outro grupo.

55. RELAÇÃO ENTRE OS POVOS E SEUS DIRIGENTES

1. Nisto, Cirenius Me pergunta se não é aconselhável absolver da lei


severa estes fariseus, anciãos, levitas e escribas, na opinião dele, completa-
mente convertidos.
2. Digo Eu: “Quando a pessoa tem o poder legislativo nunca deve se
precipitar em formar novas leis! Mas, uma vez que assim aconteceu, muito
menos deverá se apressar em querer sustá-las; neste caso, o Conselho de
Justiça terá de apreciar as razões. Se formares uma nova lei, terás inimigos
naqueles que por ela serão atingidos; no caso de a revogares, apontar-te-ão
como fraco, dizendo: “Vede o tirano! Como percebe a maioria de oponen-
tes, procura reabilitar-se com o povo pela revogação da antiga lei. Mas não
terá êxito com isto, pois um tirano nunca deixa de sê-lo!”
3. Por isto é melhor não revogar leis; no entanto, é possível fazê-lo
em segredo e, caso surgirem reincidências, deve-se aplicar a indulgência,
não julgando com severidade. Numa possível mudança de governo de-
pende do regente modificar o legislativo. A não ser que sejas procurado
para amenizar a severidade de teu governo, no que poderás ceder, mas
sempre sob condição de, num caso de reincidência, renovares com rigor
o teu poder.
4. Eis a prudência que todo regente deveria ter, caso almejasse o
progresso de seu povo! Um negligente em breve perceberá que um afrou-
xamento das rédeas governamentais a todos trará prejuízo.
5. A posição dos povos com referência aos dirigentes é a mesma que
entre filhos e pais. Quando estes forem severos e sábios terão filhos bons,
obedientes, e prestativos; ao passo que transigentes são dominados e até
expulsos pelos filhos. O amor em conjunto com a sabedoria estabelecem
uma Lei Eterna; quem agir dentro deste conceito jamais falhará, obtendo
bons resultados. Compreendeste-Me bem?”
Jakob Lorber
130

6. Diz Cirenius: “Sim, Senhor; e sempre foi assim no mundo. Penso


que a perfeição se encontra entre um governo transigente e um severo,
não é assim?”
7. Digo Eu: “Exatamente, no meio está a felicidade, como acabo de
te mostrar! Agora, porém, vamos para casa que já é tarde!”
8. Pergunta Cornelius: “Mas, Senhor, – estes velhos ficarão dormin-
do? Podiam ter tirado a soneca em casa, a fim de não incomodar a outros
com seu ronco! É de fugir! Como se portam! Aguento muita coisa, mas o
roncar de alguém me leva ao desespero!”
9. Digo Eu: “Ora, deixa estar; enquanto roncam não pecam! E se
não o fizessem, teriam ouvido coisas aborrecidas para eles! Agora, va-
mos!” Com isto, dirigimo-nos à saída, mas os fariseus e anciãos se adian-
tam, ligeiros, abrem a grande porta, dizendo: “Senhor, está escrito: Abri
as portas e os portais para darem passagem ao Rei da Glória! Quem é Este
Rei? É Jeovah Zebaoth! Por isto, dedicamos-Lhe todo louvor e toda hon-
ra, para sempre!”
10. Diz Cirenius, amável: “Sim, assim é e deve ser por toda a Eterni-
dade! Que o Senhor esteja convosco!”
11. Aduzem eles: “E com o teu espírito, a fim de que sejas misericor-
dioso conosco! Tuas leis até hoje nos oprimiram duramente, pior que a
morte; mas como nos tornamos alunos do Senhor e aceitamos livremen-
te os teus preceitos, deixaremos de sofrer. Mesmo assim te agradecemos
pela severidade do teu governo, pois sem ela facilmente nos tornaríamos
traidores desta Santa Causa! Por isto, também não te pedimos a revoga-
ção das leis, pois pelo idêntico pensar, crer e agir contigo, elas deixam de
existir como tais!”
12. Diz Cirenius: “Deste modo também não mais as considero e
estou convicto não necessitar renová-las por vossa causa. Não vos deixeis
enganar e segui severamente o conselho dos dois anjos de Deus, que
seremos os melhores amigos! E se por acaso houver perseguição por parte
do novo reitor por serdes adeptos de Jesus, o Senhor de Eternidades, –
sabereis como encontrar-me – e os vossos direitos físicos e espirituais
serão protegidos! Agora repito: O Senhor esteja convosco!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
131

13. Eles respondem: “E contigo para todo o sempre!” Em seguida


todos se curvam, respeitosos, dando-nos passagem pelas alas abertas.
Chegando a casa nos espera um bom desjejum com pão, vinho e uma
grande variedade de frutos saborosos.

56. ROBAN E KISJONAH RELATAM SUAS AVENTURAS

1. À noitinha, chega Roban acompanhado de Kisjonah e cumpri-


menta de longe todos que avista; Kisjonah dirige-se a Mim de braços
abertos, com lágrimas nos olhos e só em seguida cumprimenta sua filha,
que segurava e beijava a mão dele. Depois saúda seu genro e Cornelius, e
quando sabe que o romano a Meu lado é o vice-rei Cirenius, pede-lhe
perdão por não tê-lo reconhecido.
2. Comovido, Cirenius pega de sua mão e diz: “Eu é que deveria te
pedir desculpas por não ter-te cumprimentado; pois não te conhecia!
Além do Senhor Jesus, que merece todo louvor e honra, devo a ti, meu
amigo, a maior gratidão! Pois entre todas as pessoas de Kis, fizeste o má-
ximo para me salvar duma situação que, facilmente, ter-me-ia custado a
vida! Que imenso prazer conhecer-te pessoalmente!”
3. Kisjonah, todo satisfeito, relata entre outros fatos, que visitara Si-
char em companhia de Roban e palestrara com Jonael, Jairuth e Archiel,
que ora vivia como mortal e ninguém desconfiava nele um espírito puro.
4. Do mesmo modo procurara o médico Joram em seu palacete,
bem como sua esposa querida, ouvindo por parte deles narrativas mara-
vilhosas. Roban fazia apenas papel de ouvinte e não cessava de extasiar-
se; só de vez em quando, dizia de si para si: “Sim, darei minha vida e meu
sangue a este Divino Mestre de Nazareth! Não é possível que seja um
homem; sim, é Deus Mesmo, pois do contrário não faria estas coisas!”
5. Enquanto Kisjonah isto menciona, Roban se aproxima de Mim e
diz, somente: “Senhor, sou Teu e não haverá poder, a não ser a Tua Von-
tade, que de Ti me poderá afastar!”
Jakob Lorber
132

6. Digo Eu: “Sabia de antemão que assim farias; mas, ainda ignoras
que teus irmãos e colegas também são Meus discípulos, sem deixar de ser,
perante o mundo, o que são, até que o novo reitor se tiver ambientado.
Teus irmãos te orientarão sobre o que deverás fazer e falar perante vosso
novo chefe, que no começo usará uma vassoura dura. Mas não levará
meio ano e tereis conseguido o que desejais, porquanto não faz fé no
Templo e sim, no dinheiro. Mais tarde, porém, modificar-se-á. Agora,
vai e transmite a teus irmãos o que presenciaste em Kis!”
7. A estas Minhas Palavras, Roban agradece Kisjonah por tudo que
lhe fizera, dizendo: “Na certa haverá poucos Kisjonah sobre a Terra, por
isto, és o único que me tocou o coração! O Senhor te abençoe por tudo
que fizeste a mim e a milhares de outros!” – Em seguida se curva diante
de nós e procura os outros na sinagoga – onde encontra todos reunidos,
exceto aqueles que lá costumavam tirar uma soneca. É recebido com
muita alegria e atenção e logo após troca suas impressões surpreendentes
com os colegas.
8. Também nós estamos bem-humorados, porquanto Kisjonah trou-
xera vários animais carregados de vinho, trigo, queijo, pão, mel e uma
quantidade de bons peixes defumados, de sorte que Maria mal sabe onde
guardar tudo isto. Por tal motivo pede-se a um vizinho para acondicionar
o resto em sua grande despensa, o que fez, não por gentileza, pois era
avarento – mas sim, por Kisjonah lhe ter oferecido algumas moedas de
ouro. Mostrou-se ele com isto tão solícito que no afã esbarrou com vio-
lência contra o apóstolo João. Este lhe dirige as seguintes palavras: “Ami-
go, sê mais cuidadoso no teu zelo pago, do contrário prejudicarás a ti, e a
outros! Todavia, serias feliz se fosses tão cuidadoso a favor do Reino de
Deus, que está tão próximo de ti! Ó cegueira, que jamais deseja ou pode
reconhecer o Altíssimo!” O vizinho, porém, não liga importância a João
e continua no seu trabalho pago.
9. Eis que João pergunta: “Senhor, é possível que uma criatura seja
tão cega em sua alma?”
10. Respondo: “Deixa-o! Existem na Judéia milhares destes imbecis,
mais tapados que os burros e seu prêmio será adequado!” Os ouvintes se
O Grande Evangelho de João – Volume II
133

riem e Philopoldo acrescenta, que é mais fácil a criatura enxergar tudo


que a rodeia, que aquilo em cima de seu nariz! – Todos confirmam isto e
em seguida nos recolhemos.

57. O TRABALHO CÓSMICO DOS ANJOS

1. Todos procuram seus leitos, dormindo até a manhã seguinte; tam-


bém Eu descanso por algumas horas. Os dois anjos, no entanto, execu-
tam sua tarefa cósmica durante a noite, e ao pôr-do-sol se Me aproxi-
mam, dizendo: “Senhor, está tudo em ordem no Grande Homem Cós-
mico. (*) Os principais sóis centrais continuam em suas órbitas; a trajetó-
ria dos sóis de segunda categoria também se faz normalmente e os de
terceira rodeiam os de segunda classe na máxima ordem, como os de
quarta dimensão com seus milhões de sóis planetários, dentro da medida
por Ti ordenada, ora mais, ora menos! Os incontáveis sóis planetários
dependem, em conjunto, com seus pequenos planetas sem luz e suas
luas, da ordem dos grandes sóis-guias, – de sorte que neste conglomerado
solar, que temos a incumbência de vigiar, tudo se encontra numa ordem
perfeita e por isto podemos permanecer mais um dia na Tua e na compa-
nhia de Teus caros filhos!”
2. Digo Eu: “Muito bem; mas aproveitai cada minuto com ensina-
mentos úteis, pois que os Meus filhos muito o necessitam!” Os dois recu-
am contentes e cumprimentam Maria, os discípulos, Cirenius, Cornelius,
Fausto, Jairo, Kisjonah e Borus. Cirenius, porém, que ouvira algo dos
múltiplos sóis, indaga logo a respeito, porquanto conhece somente um.
3. Os anjos respondem, atenciosos: “Querido amigo e irmão do Se-
nhor, não queiras saber aquilo que não podes conceber e do que, tão pou-
co, depende a salvação da tua alma! Pois aquilo que comentamos com Ele,
matar-te-ia se o assimilasses de modo comum a nós. Todas as estrelas que

* Nota da tradutora: Todo o Cosmos perfaz a forma dum homem.


Jakob Lorber
134

avistas numa noite serena e muitas outras que tua visão não abrange, são
mundos solares duma imensidade incalculável para o teu cérebro. Aquele
Sol, que costumas ver, é um dos menores e, no entanto, mais de um milhão
de vezes maior que esta Terra. Imagina, agora, um Sol Central, apenas de
quarta categoria, em redor do qual giram no mínimo milhões destes sóis
planetários em órbitas distantes, com seus planetas semelhantes a este que
habitas! Seu tamanho é tão imenso como a soma das dimensões de todos
os sóis planetários com seus planetas e luas, multiplicado por mil! – Dize-nos,
amigo, podes fazer uma idéia desta grandiosidade?”
4. Diz Cirenius: “Gentis servos de Deus, peço-vos, nada mais me
digais a respeito, pois já estou ficando tonto! Quem jamais teria sonhado
com tal coisa? E vós podeis observar isto tudo de um relance? Que poder
e profundeza de Sabedoria Divina não deveis possuir! Como sou muito
curioso, peço-vos unicamente, que me digais o que há nestes incontáveis
e imensos sóis?”
5. Respondem os dois: “Tudo que vês nesta Terra, mais nobre e
imenso encontrarás nestes conglomerados solares. Homens, animais e
plantas de toda espécie, imensas e maravilhosas construções, perto das
quais o Templo de Jerusalém e o palácio do imperador de Roma são
meras habitações de lesmas, – e de tudo isto é Jesus o Senhor, Único e
Eterno Criador!”

58. AS RELAÇÕES DAS CRIATURAS DESTA TERRA PARA


COM O PAI CELESTE

1. Ouvindo isto, Cirenius diz, compenetrado duma imensa venera-


ção: “Amigos e servos de Deus, apenas agora sei Quem é o Senhor e
quem sou eu! Sou totalmente nada e Ele é Tudo em Tudo! Só não com-
preendo nosso atrevimento, a Ele nos dirigindo como se fora semelhante
a nós!”
2. Dizem os dois anjos: Ele Mesmo assim o quer; pois os filhos têm o
O Grande Evangelho de João – Volume II
135

direito, de Eternidade, de palestrar à vontade com o Pai! Por isto, não faças
perguntas tolas; não depende de ti seres um homem, mas unicamente Dele
que assim te criou de Si Próprio, prendendo-Se apenas ao Seu Próprio
Conselho. Como também poderia Ele perguntar a alguém, a não ser a Si
Mesmo, porquanto não havia um ser antes Dele, em todo Infinito?!
3. Fazes bem, se com Ele falares como se fosse Idêntico a ti; pois, Deus
não tem, além de Si, com quem falar. Mas Suas criaturas são tão livres que
o podem fazer, – merecem seu Criador como Ele vos merece. Cada ser é
testemunha da Onipotência, Sabedoria e Amor Divinos, não havendo es-
pírito tão poderoso que pudesse criar algo de si! Compreendes isto?”
4. Diz Cirenius: “Servos mui sábios da Onipotência Divina, quão
compreensível me é vosso ensinamento! Em verdade, o homem não ne-
cessita envergonhar-se do que é, sendo Obra-Prima do Criador, quando
vive dentro da Vontade de Deus. Caso contrário, deturpa esta Obra e
não mais corresponde àquilo que era e deveria ser, para sempre! Por isto é
o pecado uma ação contra a Ordem Primária de Deus e o homem se
torna criador de sua natureza vilipendiada!”
5. Dizem os anjos: “Tens razão! A criatura, no entanto, continua
sendo uma Obra Digna de Deus quanto à sua forma, utilidade, capaci-
dade e independência, no que o espírito se pode manifestar livremente.
O que, porém, diz respeito à educação moral de coração e alma, pode
rebaixar-se ao nível dum monstro do inferno, no que consiste o maior
pecado, pois terá deturpado a Obra Divina, e Deus terá que pelejar numa
paciência incalculável em modificá-lo para o que fora.
6. Em consequência duma infinidade de Obras assim deturpadas, o
Mestre veio Pessoalmente ao mundo; mas as criaturas continuarão a fazer
o mesmo e por isto Ele inaugurará uma Nova Instituição, pela qual elas
se poderão reabilitar a si próprias. Quem não quiser dela fazer parte de
livre vontade estará perdido para sempre! Compreendes o que acabamos
de explanar?”
7. Diz Cirenius: “Compreendi bem e por isto sou de opinião que se
deve obrigar por leis às criaturas a fazerem uso desta Instituição!”
8. Dizem os anjos: “Isto acontecerá, mas não trará benefícios, pois
Jakob Lorber
136

somente é útil ao homem aquilo que fizer de livre vontade. Todo o resto
prejudica. Se fosse possível levá-lo à perfeição por vias obrigatórias, exter-
nas ou internas, teríamos poder de sobra para tanto sem que jamais se
pudessem livrar desta influência. Mas com isto conseguiríamos apenas a
criação de máquinas, sem atitude própria! Daí poderás concluir que só
pelo ensinamento verdadeiro e a determinação individual, conseguir-se-á
viver dentro da Ordem Divina! – Assimilaste isto?”

59. A GRANDE LUTA DENTRO DO HOMEM

1. Diz Cirenius: “Infelizmente o compreendo, pois prevejo pouco


êxito! Onde as criaturas, que fossem capazes de assimilar um bom ensi-
namento? E, mesmo entre os ensinados, quantos existem que o pusessem
em prática? Entre mil haverá, talvez, dez que terão vontade e coragem
para aplicarem uma doutrina bem explanada! De que isto lhes adianta-
ria, se por este motivo serão amordaçados pelos fanáticos?!
2. Sois servos imensamente sábios do Senhor, mas como estadista
experimentado, afirmo: Sem coerção, jamais será aceita esta Doutrina,
verdadeiramente sagrada! Pelo menos torna-se necessário acabar com a
superstição, do contrário será inútil divulgá-la!
3. Acreditamos nesta Verdade Eterna que nos foi revelada, entretan-
to, não o fazemos inteiramente livres. Porque vós, o Senhor e Seus Atos
não deixam de constituir uma certa coerção, sem a qual não haveria tan-
tos seguidores. Se este móvel não nos transformou em meras máquinas,
penso que uma obrigação externa, que modificasse as criaturas em verda-
deiros filhos de Deus, não seria tão prejudicial!”
4. Dizem os dois anjos: “De certo modo tens razão e não faltarão
meios coercíveis externos; todavia, convencer-te-ás que são mais contra-
producentes que os internos! Pois Satanás também deles faz uso para man-
ter a superstição; se nós, portanto, tivermos que aplicar os mesmos meios
que ele para a nossa Causa, – pergunto qual o benefício para as criaturas?
O Grande Evangelho de João – Volume II
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5. A superstição sempre se estabeleceu e firmou com fogo, armas e


derrame de sangue; se, agora, a Palavra de Deus deverá fazer o mesmo,
haverá, acaso, uma criatura inteligente que a aceite como vinda dos Céus?
Não será obrigada a dizer: “Meu Deus, não basta que a Humanidade seja
perseguida pelo espírito do mal, de sorte que também Tu, ó Onipotente,
de nós Te aproximas pelos mesmos caminhos?” Vês, querido amigo e
irmão, o contra-senso deste projeto! Sim, infelizmente tempos virão em
que se divulgará a Doutrina de Jesus, deturpada, com fogo e armas; mas
isto será de grande prejuízo para os povos. Compreendes?”
6. Diz Cirenius: “Com pesar, e continuo perguntando se estas cala-
midades não serão evitadas pelos Céus e qual o motivo da permissão do
mal no mundo!”
7. Dizem os dois: “Querido amigo, se possuis alguma sabedoria,
julga por ti mesmo se poderá haver um “pró” sem um “contra”? Onde
teria surgido um herói sem luta? E esta, acaso, ter-se-ia manifestado, se
apenas existissem cordeirinhos? Ser-te-ia possível experimentar tua força,
se não houvesse objetivos que a ti se opusessem? Haveria uma subida sem
a possibilidade de uma descida? Ou serias capaz de fazer o bem se não te
pedissem um auxílio? Vê, em um mundo em que o homem se deve
formar um verdadeiro filho de Deus, é preciso que se lhe dê oportunida-
des boas e más!
8. Deve haver calor e frio, para que o rico possa prover com roupas
seus pobres irmãos. Do mesmo modo estes existem para dar oportunida-
de aos abastados a se exercitarem na caridade, – e os necessitados na
gratidão. Os fortes ajudarão os fracos e estes deverão reconhecer com
humildade que estão desprovidos de poder. Assim haverá os tolos e os
inteligentes, pois do contrário o conhecimento destes seria inaplicável! Se
não houvesse os maus, onde a medida que o bom aplicasse para conhecer
o grau de sua bondade?!
9. Em suma, nesta instituição de ensino próprio, de criaturas e filhos
livres do Pai, terá que haver uma infinidade de “prós” e “contras”! Afir-
mamos que, enquanto o homem não tiver expulso a Satanás de próprio
poder e vontade, através de lutas e vicissitudes, – estará longe da comple-
Jakob Lorber
138

ta Filiação Divina! Como, porém, tornar-se-á vencedor deste inimigo,


tirando-lhe todas as oportunidades de contato? Sim, o Verdadeiro Reino
de Deus exige uma batalha infrene pela liberdade completa para a Vida
Eterna, e para tanto são necessárias as lutas entre Céu e inferno!”

60. A UTILIDADE DAS PAIXÕES

1. (Os anjos): “Sabes que o homem é possuído de muitas paixões;


um sente ânsia de possuir tudo que tem algum valor: evidentemente é a
usura um pecado. E vê, a este pecado se deve a navegação; pois somente
criaturas gananciosas poderiam ser tomadas pelo desejo ardente, mesmo
com risco de vida, de achar meios para a descoberta de outros países.
Após grandes lutas alcançam, além-mar, um país despovoado. As peripé-
cias sofridas amenizam sua paixão pela posse, tirando-lhes a coragem
para a volta. Estabelecem-se e povoam, deste modo, novas terras. – Julga
por ti mesmo se as criaturas teriam descoberto estas zonas sem a volúpia
da posse?!
2. Tomemos a volúpia carnal: exclui tal tendência, imagina a Huma-
nidade celestialmente pura – e terás prazer na vida virtuosa que levarão os
castos até a idade avançada. Mas que aspecto tomará a procriação, de
acordo com a Ordem Divina? Por aí vês que esta inclinação é necessária
para povoar a Terra. Se existem criaturas que se excedem, agem elas con-
tra as Determinações de Deus e caem no pecado. O excesso, no entanto,
é preferível à extinção dessa tendência.
3. Todas as forças dadas ao homem e que se manifestam como pai-
xões desenfreadas, devem ter capacidade evolutiva para o bem ou para o
mal, do contrário ele permaneceria uma água morna, caindo no ócio
detestável. Afirmo-te: nada te dará testemunho tão verídico da finalidade
divina do homem como os grandes vícios, ao lado das mais elevadas
virtudes; por aí se evidenciam as capacidades infinitas dadas às criaturas
deste planeta. Do mais sublime Céu Divino que até a nós é vedado, até o
O Grande Evangelho de João – Volume II
139

mais ínfimo inferno, – eis a trajetória do homem! E se assim não fora,


impossível seria alcançar a Filiação de Deus!
4. Lidamos com criaturas de incontáveis mundos; mas, que diferen-
ça! Lá existem barreiras, tanto físicas como espirituais, dificilmente trans-
poníveis. Aqui tendes tão poucos empecilhos como o Próprio Senhor e
podeis fazer o que vos agrada. Podeis vos elevar à Morada mais íntima do
Pai, mas em consequência disto vos precipitar no inferno, como fez Sata-
nás, o libérrimo espírito de Deus. Sua queda foi completa e ser-lhe-á
difícil achar o caminho de volta, porquanto ao vício é dado, por Deus, a
mesma perfeição infinita como à virtude.

61. A IMPORTÂNCIA DO LIVRE ARBÍTRIO

1. (Os anjos): “Nesta Terra tudo depende do livre arbítrio da criatu-


ra e do ensino sem constrangimento, dado pelo Senhor de tal maneira
que toda pessoa o compreenda de uma só vez; ninguém, portanto, pode-
rá se desculpar de não o ter assimilado! O Mandamento “Ama a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!”, é tão compreensí-
vel que dispensa explicação! A pessoa que segue esta Lei que tudo con-
tém, recebe em seu coração a sabedoria pelo Próprio Senhor, podendo se
tornar uma orientadora para o próximo. Desta forma um guiará o outro,
até que Deus Mesmo o eduque para a Filiação. Eis a justa divulgação da
Doutrina Sagrada, na Ordem Divina; o resto é prejudicial, não trazendo
bênçãos para o Viveiro de Deus. Compreendeste-o bem?”
2. Diz Cirenius: “Não só isto como também o destino grandioso
desta Terra e seus filhos; a única fatalidade é que, ao lado dos filhos de
Deus, os do inferno frequentam a mesma escola, cada qual em sua esfera!
Mas percebo que, do ponto de vista da mais profunda Sabedoria Divina,
não há outro meio. O Senhor, no entanto, é tão Bom e Sábio que saberá
dar também ao inferno uma outra direção! A Eternidade é bastante longa
para tomar as medidas necessárias, a fim de que, em diversas modalida-
Jakob Lorber
140

des, tanto os filhos quanto seus tentadores se rendam!”


3. Dizem os dois anjos: “Tua suposição excede nosso horizonte de
sabedoria! Tu, porém, como filho do Senhor, estás mais perto do Pai que
nós, meros seres, e poderás sentir melhor uma necessidade divina em teu
coração; sabemos, apenas, que para Deus nada é impossível. Além disto
nada mais concebemos. Se desejas mais profundos esclarecimentos neste
assunto, deves dirigir-te ao Senhor Mesmo; julgamos, porém, que Ele
não revelará tais coisas a um mortal, em virtude da audição apurada de
Satanás. E preciso muita cautela com este inimigo, a fim de não fazê-lo
pior do que já é!”
4. Diz Cirenius: “Compreendo e calar-me-ei!”
5. Digo Eu: “Não precisa falar em voz alta; ouço também o que falas
e perguntas no coração.”

62. O PENSAR NO CORAÇÃO

1. Diz Cirenius: “Senhor, desde minha infância estou habituado a


pensar no cérebro; como agir para poder fazê-lo no coração?”
2. Digo Eu: “Nada mais fácil! Tudo que pensas e sentes tem origem
no coração; pois o pensamento mais sutil deve ter tido um motivo, a fim
de que fosse criado. Uma vez criado, de acordo com uma necessidade
qualquer, o pensamento sobe ao cérebro, para que seja contemplado pela
alma e esta, então, movimenta o corpo, a fim de executar o pensamento.
Assim, é inteiramente impossível a criatura pensar apenas com o cérebro.
O pensamento é uma criação meramente espiritual, portanto tem ori-
gem no espírito que habita o coração da alma e dali vivifica a criatura
toda. Como poderia surgir uma criação da mais sutil matéria como é o
cérebro, que por isto, nunca será causa, mas sim, dele só emanarão efei-
tos?! É-te possível compreendê-lo e talvez, até sentir que pessoa alguma
poderá pensar com o cérebro?”
3. Diz Cirenius: “Senhor, sim, sinto-o vivamente! Mas como é possível?
O Grande Evangelho de João – Volume II
141

Tenho deveras a impressão que desde sempre pensei com o coração! Estra-
nho! Que se passa? Sinto reais palavras no coração, palavras pronunciadas!”
4. Digo Eu: “É a consequência natural pelo despertar do teu espíri-
to, que é o amor para comigo e, através de Mim, para com todas as
criaturas. Em pessoas, cujo amor espiritual ainda não despertou, os pen-
samentos surgidos no coração não podem ser vislumbrados, por ser este
ainda mui material. Percebem-nos somente no cérebro onde, já mais
materializados em virtude do ímpeto para a ação, criam formas e amalga-
mam-se com as impressões do mundo exterior através dos sentidos. As-
sim, tornam-se visíveis para a alma, de acordo com a individualização
material e, portanto, a base necessária para as más ações. Por isto, toda a
criatura tem que renascer no coração, isto é, no espírito, do contrário não
entrará no Reino do Céu!”
5. Diz Cirenius a Pedro, que se encontra perto dele: “Compreendes
este renascimento do espírito, no coração, onde e o que é o Reino do
Céu, do qual Ele fala com os anjos, prometendo-nos isto como recom-
pensa de nossa fé?”
6. Responde Pedro: “Certo que o compreendo e se não o fizesse iria
para casa tratar da minha vida. Investiga, nobre senhor, no teu coração,
onde encontrarás mais do que se eu te orientasse durante cem anos!
7. Observa-nos, Seus primeiros discípulos e testemunhas, se falamos
algo externamente com Ele! No entanto, fazêmo-lo internamente mais
que tu e outros pela palavra pronunciada; falamos com Ele apenas no
coração, perguntamos-Lhe mil coisas e recebemos as respostas em pensa-
mentos nítidos, portanto, ganhamos duplamente. Pois uma resposta do
Senhor no coração da criatura já é sua posse, enquanto a palavra externa
deve ser constantemente aplicada em vista do treino psíquico.
8. Deste modo, nobre senhor, podes fazer as perguntas em teu cora-
ção a respeito do anjo do mal e o Senhor te responderá secretamente, de
sorte que Satanás, nada ouvirá! Da mesma maneira poderás indagar do
Senhor quanto ao renascimento do espírito dentro do coração e do Rei-
no de Deus, que receberás uma resposta completa!”
9. Diz Cirenius: “Agora compreendo porque nunca dirigis a palavra
Jakob Lorber
142

a Ele o que muito me admirou! Bem, tentá-lo-ei! Se o Senhor é tão Mise-


ricordioso convosco, também o será comigo! Pois demonstro meu imen-
so afeto para com Ele pelo fato de me ter afastado do meu governo pelo
tempo de Sua Presença aqui, fortalecendo minha alma com todas as Pa-
lavras vindas de Sua Boca Santificada!
10. Creio, também, que já fiz muito mais por amor a Ele do que
todos vós, pois conheço-O desde criancinha e Dele cuidei em longínqua
terra dos pagãos, assim como de Seus pais e irmãos! Enquanto sacrificastes
somente vossas redes de pescador, eu estou pronto a desistir de minhas
honrarias mundanas, se Ele o aceitar. Segui-Lo-ia como o mais simples
entre vós, ofertando minha vida a Seu Favor – como já o fiz por várias
vezes tanto por Ele quanto por vós não considerando uma possível perse-
guição de Roma! Assim sendo, julgo que mereço o mesmo que vós!”
11. Digo Eu: “Meu fidelíssimo amigo e irmão! Por que te alteras
com aquilo que já possuis? Experimenta perguntar-Me algo em teu cora-
ção, que nele depositarei a resposta clara, compreensível e audível, pois
que Me amas sinceramente!”

63. A VOLTA DO FILHO PERDIDO

1. A este Meu Conselho, Cirenius indaga a respeito de Satanás, seu


fim e se era possível cogitar de sua volta a Casa do Pai.
2. E Eu lhe dou a resposta audível no coração: “Todos os aconteci-
mentos têm o seguinte objetivo: procurar aquele que se perdeu e oferecer
remédio ao enfermo, considerando sempre a livre vontade; impedi-lo em
seu livre arbítrio seria transformar a infinita Criação material e todos os
seus elementos, em pedra duríssima incapaz de sentir a menor vibração
de vida. Todo o Cosmos representa este grande espírito caído e desagre-
gado em inúmeros mundos. Deste único ser são tirados miríades de cri-
aturas, na maioria iguais a deste planeta e transformadas, pela Onipotên-
cia, Poder, Amor e Sabedoria Divinos em seres semelhantes a Deus – o
O Grande Evangelho de João – Volume II
143

que em síntese, não deixa de ser uma volta do grande anjo caído!
3. Quando, porém, todos os planetas e sóis se tiverem transformado
em criaturas, nada mais sobrará “daquele”, a não ser o seu puro “eu”, que
no completo abandono em épocas vindouras, prontificar-se-á para a vol-
ta, caso não queira ser entregue ao eterno definhamento! Então não mais
haverá Sol nem terras materiais girando no Espaço Infinito, e sim, uma
Nova e Maravilhosa Criação Espiritual com seres felizes e livres que pre-
encherá o Infinito e Eu serei Deus e Pai de todos os seres, por toda a
Eternidade! Haverá então um rebanho, um aprisco e um Pastor!
4. Esta época, porém, jamais poderá ser determinada! Mesmo se Eu te
desse a era precisa não a poderias assimilar, porquanto não te seria possível
somar os anos, contando os grãos de areia do mar e da Terra, as ervas em
todos os campos e matas, as gotas do mar, dos lagos e dos rios, das cascatas
e fontes – a fim de determinar o tempo da salvação definitiva!
5. Por isto, satisfaze-te com o seguinte: Trata, antes de mais nada, da
conquista do Reino de Deus e Sua Verdadeira Justiça, que serás desperta-
do por Mim após tua morte para a Vida Eterna, e naquele Reino dos
Espíritos Puros mil anos passarão como se fora um dia!
6. E lá, Meu amigo, no Meu Reino cheio das maiores bem-
aventuranças com facilidade aguardarás aquilo que aqui te parece eterno!
Por ora, nem tu nem um dos Meus discípulos podereis ser iniciados em
toda a Sabedoria dos Céus, – somente depois, quando fordes batizados,
daqui a alguns anos, pelo Espírito Santo de Deus! Ele vos conduzirá a
toda Sabedoria Divina e verás então, numa Luz Completa tudo aquilo
que ora te parece tão incompreensível! Guarda o que te revelei, pois deve-
rá ser segredo ainda por muito tempo!”
7. Cirenius se assusta não pouco e diz, após alguma reflexão: “Sem
dúvida ouvi a Tua Palavra no coração; mas é preciso que a advertência
final deva ser considerada tão rigorosamente? Não seria possível transmi-
tir algo a pessoas honestas e devotas?”
8. Digo Eu: “Meu amigo, este conhecimento não prejudica quando
é assimilado pela voz do espírito, como tu o acabaste de fazer, mas exter-
namente recebido, seria de grande dano. Como e porquê, – já te falaram os
Jakob Lorber
144

Meus anjos, portanto deixemos este assunto. Temos outras coisas que
resolver para já, enquanto tua pergunta toca a Eternidade!”

64. A RESPEITO DO SER, DA VIDA E DO TRABALHO DOS


ESPÍRITOS DA NATUREZA

1. Cirenius se contenta com esta explicação; Kisjonah, porém,


apresenta-se e pede para fazer uma pergunta a respeito duma determina-
ção Minha, que se não realizou.
2. Digo Eu: “Fala, amigo dos amigos e inimigos!”
3. Diz Kisjonah: “Senhor, quando transportávamos o tesouro de
minhas cavernas, ordenaste que levássemos pão e vinho em quantidade,
pois que haveríamos de encontrar muitos famintos e sedentos! Eu assim
fiz e fiquei esperando, tanto perto quanto dentro da gruta, que viesse
alguém que disto necessitasse! Mas..., nada! Ninguém apareceu!
4. Depois de termos saído da caverna que mandaste lacrar através do
Teu Poder manifestado em Archiel, pão e vinho haviam sumido e ne-
nhum dos carregadores sabia explicá-lo. Não me foi possível observar o
momento preciso que tal fato aconteceu. No dia seguinte, quando deixa-
vas Kis, todos em minha casa só falavam de Ti e se comentava, no míni-
mo, o dobro de Tuas Ações, como sempre acontece em casos semelhan-
tes. E eu condenava isto como invenções duma fantasia prodigiosa, mas,
o relato do desaparecimento de pão e vinho também a mim estonteou.”
5. Digo Eu: “Sabia que isto iria te preocupar e, como Me pedes que
te esclareça, ouve, pois: Tanto nas montanhas como no ar, dentro da
terra, na água e no fogo, existem certos espíritos da natureza que ainda
não passaram por uma encarnação, por não lhes ter sido facultado oportu-
nidade para tanto no momento da concepção. Em todos os elementos
existem quantidades enormes de tais almas não encarnadas.
6. As que atuam nas montanhas já adquiriram mais consistência
pelo ar e não sentem especial necessidade de uma encarnação. Preferem
O Grande Evangelho de João – Volume II
145

até, por serem dotados duma certa inteligência, continuar o mais possível
num estado livre. Possuem mesmo sentimento de justiça e temem o Es-
pírito de Deus e os mais velhos, às vezes, têm conhecimento claro da
Divindade! Os mais jovens costumam ser atrasados e maus, aplicando
sua maldade quando não são impedidos pelos outros. Sua tarefa princi-
pal consiste em formar quantidade de metais e organizá-las nas fendas e
galerias montanhosas.
7. Estes espíritos tomam alimento pela natureza, isto é, pelo reino
vegetal. Trabalham arduamente na remodelação das rochas, na demoli-
ção de partes montanhosas, no esvaziamento de cavernas cheias de água
etc., numa atividade intensa, a fim de perderem seu amor aos montes e
procurarem uma encarnação, porquanto desde então, nenhum espírito
poderá alcançar a verdadeira felicidade sem ter passado pela carne.
8. Estes elementos, Meu querido Kisjonah, mormente os que cui-
dam das tuas montanhas, incumbiram-se de uma tarefa pesada a realizar
no fechamento de tal gruta e, por isto, tinham que se fortalecer com pão
e vinho! São estes de que falei, que iríamos encontrar, famintos e seden-
tos! Assimilaram tudo e, com ajuda do Meu anjo, o imenso trabalho foi
bem concluído. Compreendeste?”

65. CONTOS DE GNOMOS. A FEITIÇARIA

1. Diz Kisjonah: “Sim, Senhor, tanto mais quanto meus mineiros


incumbidos da procura de metais, muitas vezes me contavam que o pão
e o vinho que tinham levado ao trabalho desapareciam sem descobrirem
o ladrão! Se estes mineiros famintos se aborreciam, ouvia-se uma forte
gargalhada e alguns alegavam terem visto pular pequeninos seres de co-
res: azul, vermelha, verde, amarela e, até, preta.
2. Não há muito, o mineiro mais idoso contou-me que um gnomo
azul lhe aconselhara a levar, no futuro, pão e vinho na bolsa de couro, que
assim os outros não se poderiam dele apossar. Pessoa alguma deveria falar
Jakob Lorber
146

em voz alta nas galerias, muito menos assobiar ou praguejar. Os gnomos


não o suportavam, prejudicando os que o fizessem! Também não tolera-
vam as gargalhadas. Se o meu pessoal de vez em quando lhes fornecesse
sua merenda, os gnomos lhes auxiliariam na procura de metais.
3. Embora tivesse, por várias vezes, fiscalizado os poços das minas,
nunca tive provas da existência destes seres, por isto atribuía-lhes o valor
de contos de fada; mas agora, após Tua Bondosa Explicação tudo me é
claro! Apenas uma coisa não percebo no momento: como estes gnomos,
sendo espíritos, possam assimilar alimento natural! Como o fazem?”
4. Digo Eu: “Mais ou menos da maneira como o fogo destrói o que
alcança! Se depositares nele uma gota de vinho ou uma migalha de pão,
verás quão rápido desaparece! Os gnomos dissolvem rapidamente a ma-
téria transformando a existente substância espiritual em matéria psíqui-
ca, integrando-a no seu ser, – e isto, num momento! – Agora também
estás informado a respeito dos gnomos!”
5. Diz Kisjonah: “Senhor, agradeço-Te por esta explicação, pois ale-
gra muito a minha alma e reconheço mais nitidamente que tudo que me
rodeia é vida!”
6. Digo Eu: “Muito bem, Meu querido amigo! Peço-te, porém, que
tu e os que Me ouviram guardeis este conhecimento para vós, pois não é
útil para qualquer um. Todos os feiticeiros egípcios e persas costumam
trabalhar com auxílio de duendes e gnomos. Essas magias são um horror
para Deus e quem as pratica dificilmente entrará no Reino do Céu! Os
mencionados feiticeiros impedem que aquelas entidades possam encar-
nar e, quando morrem, estas pessoas tornam-se prisioneiras de tais almas
incompletas e dificilmente poderão ser libertas, porquanto assimilam cons-
tantemente suas inferiores vibrações. Digo-vos o seguinte: Amaldiçoado
seja o feiticeiro! Jamais conseguiu uma boa ação pelo seu feitiço! Sempre
prevalece a ganância e o domínio desmedidos, e estes espíritos receberão
no inferno seu prêmio humilhante!”
7. Diz Fausto: “Senhor, prevejo nada de bom para os muitos feiticei-
ros e magos no vasto Império Romano! Pois esta gente é lá considerada
com honrarias divinas e consegue, com uma palavra, paralisar a vontade
O Grande Evangelho de João – Volume II
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do imperador ou dum herói, – e em caso contrário, animá-los de tal


forma que as montanhas estremecem diante de seus atos!”
8. Digo Eu: “Bem, Meu amigo, estes magos de atitudes semi-divinas
não passarão bem; sabem que traem torpemente os incautos, pois vendem
o “nada” por muito dinheiro, induzindo as pessoas a perversidades horren-
das. São verdadeiros criadores do mal, para a perdição do próximo!”
9. Perguntam vários romanos, presentes: “Não poderão alcançar a
bem-aventurança eterna, caso melhorem?”
10. Respondo: “Como não? Mas a lástima é que estas pessoas pouco se
prestam para a regeneração! Facilmente podeis converter assassinos, ladrões,
salteadores, adúlteros etc., e um imperador, um rei, também, desfazer-se-ão
das coroas; mas um mago não se separa de sua vara! Seus asseclas invisíveis
não o permitem e o dominam quando os deseja abandonar.
11. Por isto, repito: Amaldiçoada seja a feitiçaria! Pois por ela os peca-
dos vieram ao mundo! Quem desejar fazer milagres terá que receber o
poder de Deus; e só deverá fazê-lo onde exista necessidade premente! Quem
agir por mistificações através de rimas e sinais não mais necessita ser amal-
diçoado, pois já o é pela sua vontade! Por isto, preservai-vos da magia,
como da predição, da buena-dicha etc., pois muito prejudicam o espírito!”
12. Quase todos se assustam com Minhas Palavras e indagam se
também não mais deviam guiar-se pelos prenúncios dos tempos, aprova-
dos pela experiência.
13. Digo Eu: “Oh, sim! Mas apenas quando se baseiam em cálculos
científicos. Não o sendo, torna-se isto um pecado, pois que a criatura
aceita uma segunda crença que enfraquece a fé pura na Providência Divi-
na e, finalmente, liga mais às manifestações da Natureza do que ao Deus
Único e Verdadeiro.
14. Quem permanecer na fé inabalável e pura, poderá pedir porque
receberá ainda mesmo que as experiências atmosféricas provem o contrá-
rio; aquele, entretanto, que se fia nos sinais terá as provas de acordo. Os
fariseus também acreditam neles e se deixam pagar para explicá-los; por
isto, serão amaldiçoados!
15. Não fez Deus tudo que servisse de prova para o homem? Será,
Jakob Lorber
148

portanto, Senhor e Guia sobre tudo! Se Ele assim fez, como poderiam as
coisas e os sinais determinar algo sem Ele? Por isto deve o homem pedir
a Deus que tudo pode, independentemente dos sinais! Não é isto mais
confortador que milhares de explanações místicas?”
16. Dizem todos na Minha mesa: “Senhor, isto é certo e verdadeiro!
Se, porém, fosse de Tua Vontade que todo o mundo assim pensasse e
agisse, em pouco tempo tudo se modificaria! Nós, que Te rodeamos, não
temos dificuldade para tanto, pois que és a Base de Todo Ser e Vida! Mas
isto não se dá com milhões de criaturas não possuidoras desta Imensa
Graça da Tua Presença, tão pouco podem ouvir de Ti as Palavras de Vida!
Certo é que também almejam vislumbrar Aquele de Quem a Criação dá
testemunho tão evidente! Mas esta Graça não lhes é satisfeita. É fácil,
portanto, compreender-se que feitiços e magias as atraem, pois
oferecem-Ihes algo, embora falso, que não deixa de ter aparência divina!”

66. FEITICEIROS E ADIVINHOS

1. Eis que Cirenius toma de novo a palavra e diz, seriamente: “Se-


nhor, ninguém pode contestar a Tua Divindade; mas confesso que, nesta
explicação sobre feiticeiros e adivinhos, nada senti de Tua tão conhecida
Misericórdia e Teu Amor! Nessas condições tudo depende de Ti, – pois
Tu Mesmo aplicas golpes fortes ao homem, que muito o magoam; mas,
ai dele, quando começa a gemer! Não sei se isto também é justo! As
criaturas deste mundo são, na maioria, cegas e tolas e, como tais, perver-
tidas. Pergunto, onde está a culpa e como surgiu o mal! Assim como ora
pergunto, milhares de romanos o farão!
2. Não é admissível que o homem surgisse de Tuas Mãos com más
tendências, tão pouco como uma criança possa nascer como demônio.
Se, portanto, o primeiro homem foi bom, como podiam tornar-se maus
o segundo e terceiro? Foi isto da Tua Vontade, ou, daquele que o gerou?
Tudo que aconteceu estava dentro da Tua Sabedoria! Por que, então, a
O Grande Evangelho de João – Volume II
149

maldição daqueles que, realmente salvaram a Humanidade do desespe-


ro, pois que Tu não Te mostravas com sua súplica?! Por isto Te peço, sê
Justo e não Inclemente; a criatura não tem armas contra seu Criador, e só
pode pedir, sofrer e se desesperar!”
3. Digo Eu: “Amigo Cirenius, já esqueceste de tudo aquilo que ou-
viste tanto de Mim quanto dos dois anjos?! Acaso disse que Eu Mesmo
julgava tais pessoas? Há poucos dias tencionavas mandar castigar os fari-
seus, pela razão de quererem Me apedrejar, e Eu te impedi naquilo! Agora
pareces querer tomar o partido deles! Talvez entendas melhor proporcio-
nar meios adequados, pelos quais os homens consigam a Filiação Divina,
quando o quiserem? Vê, como ainda és fraco?! Acaso és tão entendido na
História da Humanidade que Me repreendas ter Eu, somente agora, di-
rigido Minha Atenção aos rogos dos homens?
4. Não viveram as primeiras criaturas em Minha Presença constan-
te? Quem foi o sumo pontífice Melchisedek, que viveu como um Justo
Rei dos Reis em Salem, desde Noé até Moisés? Quem foi o Espírito na
Arca? E como este Me penetrasse, – pergunto: Quem Sou Eu? Os
clamadores desejavam-Me atrair das estrelas, porquanto Eu lhes era mui
simples e pouco divino, não querendo brilhar como os astros!
5. Aquilo que acaba de te agitar está errado, e Satanás, percebendo que
trazes o segredo dele dentro de ti, deitou-te uma armadilha, – e já tenciona-
vas discutir Comigo! Reflete se te assiste direito naquilo que falaste?!
6. Poderia Eu, algum dia, ser Injusto e Inclemente? Sou, por acaso,
Injusto em te oferecendo o ouro verdadeiro, ao invés do falso? Ou deve-
ria vos deixar na velha e inútil superstição? Não teria Eu, o Senhor, maior
direito para aniquilar os perversos fariseus do que tu? Acaso os julguei?
Vê, quão curta é tua visão? Penso, Meu amigo, que tudo aquilo que viste
e ouviste deveria proporcionar-te maior lucidez!”
7. Cirenius, arrependido, pede que lhe perdoe, assim como todos os
presentes, pois reconhecem seu erro. Eu os conforto, dizendo: “Oh, ain-
da passareis por muitas experiências semelhantes; mas, então, não esque-
çais este acontecimento e a lição que acabais de receber. Caso contrário,
podeis cair em piores tentações e de nada vos adiantariam o Meu Conví-
Jakob Lorber
150

vio e Minhas Palavras; pois neste caso sereis vítimas do mundo, compar-
tilhando com os que acabais de mencionar: Procuraram e chamaram a
Mim e Eu, a fim de os poder condenar, ofereci-lhes magos e adivinhos!”
– Todos Me pedem de novo perdão, – e Eu os abençôo.

67. O SENHOR CURA UM ENDEMONINHADO

1. Logo a seguir chega um grupo de cidadãos e anuncia que um


homem fora acometido de um acesso de loucura. Eu lhes pergunto o que
lhe deveria fazer. E os cidadãos respondem: “Sabemos que és um médico
milagroso, pois os fariseus nos contaram hoje que curaste, apenas pela
tua vontade, a família de Josa e que és mais que o carpinteiro Jesus! Por
isto te pedimos, como teus conterrâneos, que cures este obsedado!”
2. Pergunto: “Qual o motivo de sua loucura?”
3. Respondem eles: “Querido Mestre, ele foi mordido por um cão e
estes acidentes jamais foram curados! Se morrer, sua casa será queimada, pois
bastaria alguém tocá-lo para ser contaminado do mesmo mal! Por este moti-
vo prendemo-lo em sua casa e te pedimos que nos libertes desta praga!”
4. Digo Eu: “Ide e soltai-o, a fim de que se cure e todos os que por
ele se contaminaram!”
5. Opõem os cidadãos: “Ó Mestre, como fazê-lo? Pois quem o tocar
estará condenado a morrer!”
6. Digo Eu: “Se não crerdes e não tiverdes fé, não poderei
socorrer-vos!”
7. Respondem eles: “Mestre, se te foi possível curar a família de Josa
sem que os enfermos fossem conduzidos à Tua Presença, também deveri-
as ter o mesmo poder para com este obsedado!”
8. Digo Eu: “Josa tinha fé, vós não, e viestes apenas descobrir o que
Eu faria com este pobre homem. Por isto, repito: Trazei-o aqui, que tanto
ele como vós sereis ajudados! Pois vós todos já fostes contaminados e a
raiva poderá explodir a cada momento! Mas se tendes fé a ponto de soltá-lo,
O Grande Evangelho de João – Volume II
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este veneno satânico será aniquilado dentro de vós!”


9. Após estas Minhas Palavras eles vão buscar o raivoso, amarrado,
que, com aspecto horrendo, uivava feito cão! Os Meus hóspedes se apa-
voram, tanto que as mulheres se refugiam dentro de casa. Até Minha
Mãe ali se oculta e Meus Próprios discípulos se afastam um pouco. Judas
se esconde atrás de uma árvore. Somente Cirenius, Fausto, Cornelius,
Kisjonah e Borus permanecem a Meu lado. Eis que digo aos cidadãos:
“Libertai-o!”
10. Todos se apavoram e gritam: “Senhor, então estaremos perdi-
dos!” E não têm coragem para obedecer-Me, pois o povo, junto com os
discípulos fazem uma gritaria tremenda!
11. Digo Eu a Borus: “Vai e desata-o! Já está curado em Meu Nome
e não mais poderá prejudicar alguém!”
12. Cheio de coragem, Borus se dirige ao raivoso e diz: “O Senhor
Jesus esteja contigo, curando-te em Seu Nome!”
13. No mesmo instante o homem se acalma e sua pele quase preta
volta ao normal, pedindo ele a Borus que lhe tire as cordas. Este assim faz,
– e elas estão inteiramente limpas! O curado se Me aproxima, agradece a
grande graça recebida e Me pede que, no futuro, fique isento deste mal.
14. Digo-lhe Eu: “Tu e todos que contaminaste sois curados; mas,
no futuro, não sede amigos dos cães e sim, dos homens! Por que tendes
cães em quantidade? Só deverão ser mantidos pelos que deles necessitam
nas caçadas de animais ferozes e pelos pastores, como proteção de seus
rebanhos; além disto, ninguém deles precisa. Quem já tiver um deve
mantê-lo acorrentado, a fim de não afugentar os pobres que, porventura,
vos queiram pedir algo. Quem, daqui por diante, não seguir este conse-
lho terá a mesma paga que tu. É preferível manterdes crianças pobres em
vossa casa ao invés de cães perigosos e inúteis, que jamais sereis acometi-
dos da raiva, cujo veneno deriva de Satanás!”
15. Todos Me prometem acabar ainda neste dia com os cães que
possuem; mas alguns fracos na fé indagam se realmente estão livres deste
mal, mesmo para o futuro.
16. Digo Eu: “Ó incrédulos! Não vistes como o raivoso ficou cura-
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do? Este o sendo, muito mais o sois vós, que ainda não fostes atacados
por esta moléstia! Se posso chamar os mortos da tumba, tais males não
poderão ser piores que a própria morte! O tempo vos dará o testemunho
verdadeiro a respeito! Agora ide calmamente para casa! Mostrai-vos aos
fariseus e escribas e ofertai no Altar o que Moisés determinou aos purifi-
cados da lepra!”
17. Todos Me agradecem de coração e perguntam o que deveriam
fazer como reconhecimento. E Eu lhes digo: “Acreditai e fazei aquilo que
os templários vos ensinarão!”
18. Eles se retiram satisfeitos e vão diretamente à sinagoga, onde
contam tudo que lhes sucedera e fazem uma rica oferenda. Os fariseus,
ignorando o caso do raivoso, muito se admiram, dizendo: “Realmente,
esta cura só a Deus é possível! Jamais houve coisa idêntica em Israel! Este
homem faz coisas jamais vistas pelo maior profeta! Não há doença que
ele não curasse e tão pouco um morto que não fosse despertado por ele!
Voltai aqui amanhã que discutiremos este assunto!”

68. UM EVANGELHO PARA OS RICOS

1. Os cidadãos se dirigem a seus lares e acompanham o curado a sua


casa, onde é recebido por sua mulher, contentíssima, e seus dez filhos.
Todos choram de alegria e Me procuram para agradecer de joelhos esta
imensa graça. Ao mesmo tempo oferecem sua moradia a Mim ou a qual-
quer pessoa que Eu lhes indicasse!
2. Digo Eu à mulher: “Tudo que fizeres em Meu Nome a um pobre,
tê-lo-ás feito a Mim! Pelo pouco tempo que aqui permanecer Minha casa está
provida de tudo. Quanto à Minha volta, serás informada!”
3. Ela chora de alegria e gratidão e diz: “Senhor, ó Verdadeiro Mes-
tre, dado pelo Céu! Sou possuidora de grande fortuna e farei distribuir a
metade entre os pobres e a outra parte administrarei em seu benefício;
assim, nada lhes faltará. Penso ser isto razoável, pois sei que os necessita-
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dos não sabem como empregar grandes meios, gastando demais de uma
só vez para depois ficarem desfalcados no momento de necessidade!”
4. Digo Eu: “Faze isto, querida! Assim todos os ricos deveriam agir e
os pobres não passariam misérias. A pobreza é um grande mal e tenta a
criatura a maiores vícios que a riqueza. O rico mantém sua honra diante
do mundo e raramente dá tanto escândalo quanto um pobre, capaz das
piores ações, pela miséria. O rico desapiedado, porém, que aproveita os
pobres na prática de seus vícios, é com toda sua honra mundana mil
vezes pior que o pobre viciado. Este se torna assim em consequência de
sua miséria, e o rico é o criador do vício em sua abastança desmedida.
5. Da maneira, porém, como irás administrar a tua fortuna, a riqueza
se torna uma Bênção dos Céus, trazendo temporária e eternamente o mai-
or benefício a seu dono! Por isto, quem quiser ser virtuoso que seja sempre
econômico, a fim de que possa socorrer os pobres na hora de penúria.
6. Digo-vos a todos: Vosso amor para com os vossos filhos deve
arder como uma chama; mas, o amor para com os filhos dos pobres, –
como uma imensa fogueira! Ninguém no mundo é mais pobre que uma
criança abandonada, seja o sexo qual for. Quem a recebe em Meu Nome,
dela cuidando tanto material quanto espiritualmente como se fora seu
próprio sangue, aceita a Mim e Aquele que Me enviou ao mundo, intei-
ramente Uno Comigo!
7. Se desejais atrair a Bênção Divina para os vossos lares e aumentá-los
como um grande campo de colheita, criai viveiros para crianças pobres,
que sereis cumulados de Bênçãos, qual torrente que tudo inunda. Mas se
enxotais os pequeninos e, por cima, ainda vos aborreceis com sua presen-
ça, – a Bênção vos abandonará como o dia que morre diante dos passos
largos da noite! Com isto, vai, Minha Filha, faze o que to disse e lembra-te
das viúvas e dos órfãos!”
8. A mulher se levanta com os filhos, agradece-Me e exclama: “ó Deus
de Abraham, Isaac e Jacob, como és Bom e Santo, Poderoso e Sábio, dando
a nós, – que somos pecadores – um Homem de Teu Coração, capaz de
curar todos os nossos males físicos e psíquicos! A Ti, Pai Santíssimo dedica-
mos todo louvor, honra e gratidão! Querido Pai, como és Bom para com
Jakob Lorber
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aqueles que somente em Ti confiam! Castigas os que não cumprem Teus


Mandamentos; mas, se o pecador arrependido Te chama: “Querido e
Santíssimo Pai, perdoa-me!”, Tu o salvas do seu sofrimento!
9. Ó criaturas, segui o meu exemplo! Também eu fui uma pecadora
e Deus me fez sentir, poderosamente, Seu Açoite Divino; mas, eu não
vacilava na confiança para com Ele, arrependi-me das faltas e roguei fer-
vorosamente ao Pai nos Céus. E vede, Ele atendeu as minhas súplicas,
salvando-me da imensa miséria! Por isto, confiai apenas Nele! Pois quan-
do não há mais auxílio humano, Ele vem na certa e socorre o desespera-
do! Eis porque devemos louvá-Lo constantemente! A Ti, querido Envia-
do dos Céus, toda a minha gratidão, pois deves ser um Instrumento
Sagrado nas Mãos do Deus Onipotente!”
10. Esta exclamação, que se refere a Mim, faz-Me verter muitas lá-
grimas de comoção, tanto que tenho de Me virar. Cirenius percebe-o e
diz: “Senhor, que tens, pois estás chorando?”
11. E Eu respondo: “Amigo, existem poucos filhos iguais a esta!
Deveria Eu, o Pai, tão sinceramente por ela elogiado, não Me comover?
Digo-te, mais que qualquer outro pai! Esta é como todas deveriam ser e
Eu muito Me alegro com ela! Mas também deverá saber o que representa
Eu ter chorado de regozijo por sua causa!”
12. Enxugando Minhas Lágrimas, digo-lhe, pois que nela vibra um
amor intenso para com Deus: “Minha querida filha! Teu amor e tua fé
em Deus, sendo tão imensos como jamais vi, não posso deixar-te assim.
Manda teu filho mais velho, chamar teu marido, que tenho algo de im-
portante a lhe dizer!” O menino corre à cidade e em pouco tempo volta
com o pai curado.
13. Então, digo-lhe: “Amigo, chamei-te a fim de que não sejas ape-
nas são de corpo e sim, também da alma, que viverá eternamente, e
saibas de tudo que aqui sucedeu. Hoje à noite serás Meu hóspede com
tua mulher e filhos e, além disto, assistirás a muita coisa para saberes
Quem te curou. Isto será uma grande alegria para vós todos. Antes da
ceia, porém, daremos um pequeno passeio à sinagoga construída por
Jairo, e ele, sua esposa, sua filha e esposo, Cirenius, Cornelius, Fausto,
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Kisjonah e tu com tua família nos acompanhareis. Lá verás o que fortifi-


cará tua fé!”
14. Diz o curado, chamado Bab: “Mestre, far-se-á de acordo com a
tua vontade! Estou pronto a seguir-te até o fim do mundo!” Em seguida
dirigimo-nos à sinagoga, alcançando-a em quinze minutos.

69. NA TUMBA DE JAIRO

1. Chegamos, portanto, à sinagoga e de lá nos dirigimos ao sepul-


cro, no qual Sarah ficara mais de quatro dias e onde ainda se acham os
lençóis e as faixas com as quais fora envolvida. Mas ali também repousa
um outro defunto, das relações de Jairo. Trata-se dum menino de doze
anos que falecera há ano e meio, duma enfermidade maligna.
Encontrava-se ele num caixão de cedro e estava completamente putrefa-
to, até aos ossos.
2. Ao passar perto do caixão, Jairo começa a chorar e diz: “Este mundo
é algo doloroso! Faz surgir as flores mais delicadas, e qual seu destino? Morte
e destruição! O perfume balsâmico da rosa se torna desagradável e o lírio
mimoso e inocente emana um odor pestilento quando deteriorado.
3. Este menino, foi, ao pé da letra, um anjo! O temor de Deus já o
animava desde o berço e, com a idade de dez anos, entendia a Escritura e
mantinha os Mandamentos como um adulto. Para encurtar: seu com-
portamento realmente devoto e suas faculdades espirituais justificavam
as maiores esperanças. Eis, então que adoeceu, – e não houve médico que
o curasse e assim tudo que se podia dele aguardar, desvaneceu-se.
4. É justo, portanto, perguntar-se porque Deus, o Senhor, cheio de
Amor e Misericórdia, age de tal forma com as criaturas que Nele confi-
am! Milhares de crianças pobres vagueiam sem teto e sem cultura, e Deus
não as chama! Mas aquelas, cujos pais têm posses para educá-las de ma-
neira agradável a Deus, geralmente morrem cedo! Por que isto? Se é do
agrado do Pai criar apenas imbecis, incapazes de pronunciar cinco pala-
Jakob Lorber
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vras, fará bem chamar para Si aquelas crianças que manifestam um espí-
rito elevado!”
5. Digo Eu: “Caro amigo Jairo, falas de maneira humana; Deus, po-
rém, age como a Sua Sabedoria Eterna Lhe orienta, do contrário, ninguém
e nada teria vida! Portanto, és injusto em tua reclamação! Pois se Deus
tirasse da Terra todas as crianças que desde cedo manifestassem inteligência
e talento, todos vós que Me rodeais estaríeis na tumba! Alcançastes, no
entanto, a idade atual! Embora em vós se externasse um certo grau de
inteligência e vossos pais também não fossem pobres, Deus vos deixou
com vida, enquanto tirou aos pagãos milhares de filhos através da disenteria
e outras moléstias. Sofreram eles tanto quanto os pais deste menino que,
em seu lugar, adotaram três filhos de pobres. Estes três, porém, são sucesso-
res dignos deste filho que, com o tempo, teria sido extremamente mimado
pelos genitores em consequência de seus talentos e, no fim, não teria
correspondido às suas elevadas esperanças. Teria ele se tornado orgulhoso e
vaidoso, e nenhum escriba poderia lhe ensinar algo!
6. Prevendo isto, Deus o afastou em tempo desta Terra, entregando-o
aos anjos para uma educação melhor, a fim de que possa alcançar o seu
destino. Ao mesmo tempo, Deus previu que agora chegou a época em
que Seu Nome deve ser glorificado, por vossa causa. Fez com que este
menino morresse há ano e meio, para que se encontrasse em completa
decomposição naquele momento em que Deus, o Senhor, o ressuscita-
ria. Tirai o caixão e abri-o!”

70. RESSURREIÇÃO DE JOSOÉ

1. Imediatamente Borus e Kisjonah, descem à tumba e tentam le-


vantar o caixão. Isto, no entanto, não lhes é possível, por ser o mesmo de
cedro maciço e, além disto, ornamentado com metal, ouro e prata. Após
várias tentativas diz Borus: “Senhor, não conseguimos levantar este cai-
xão! Lembro-me que foi aqui depositado com máquinas e só poderá ser
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retirado do mesmo modo!”


2. Digo Eu: “Então saí, que os dois jovens se incumbirão!” Borus e
Kisjonah obedecem e os anjos suspendem o esquife como se fora uma
pluma. Bab, sua mulher e filhos arregalam os olhos e dizem: “Que força
possuem estes dois jovens que não aparentam mais de quinze anos! Isto
jamais aconteceu!”
3. Digo Eu: “Deixai isto de parte, pois sereis testemunhas de coisas
mais grandiosas! Mas, uma coisa vos recomendo seriamente: não comenteis
algo do que suceder, mesmo aos Meus discípulos! Por ora não o poderão
saber. – Abri o caixão, a fim de que vejamos o estado de decomposição
deste menino!”
4. Abre-se, então, o esquife e o que resta do corpo é, por Borus,
desembaraçado dos panos e tiras. Todos contemplam com horror aquele
miserável esqueleto.
5. Fausto, então, diz: “‘Ecce homo’ ! Que destino maravilhoso da
carne tentadora! Um crânio horrendo no qual ainda estão colados uns
poucos cabelos! A pele sobre o peito, marron-esverdeada, perfurada por
algumas costelas meio apodrecidas, a espinha dorsal enegrecida, sobre a
qual se vêem vestígios das vísceras cobertas de mofo! E os pés, – coisa
horrível! Nossas narinas percebem que não se encontram no bazar dum
vendedor de perfumes, pois o cheiro é pior que eu pensava! Este quadro
serve bem para apresentar à criatura a nulidade do seu ser, pois este desti-
no a todos nós espera! Por isto prefiro a cremação do defunto!”
6. Digo Eu: “Mas, se o Filho do homem tem o Poder de ressuscitar
defuntos iguais a este, e todos que, desde Adam, jazem na terra, – este
quadro também será horrendo? Pode a morte ter algo de pavoroso, se existe
um Mestre que a domina? A fim de que todos vejais que Eu, um Filho do
homem, tenho Pleno Poder para ressuscitar também tais corpos, vivificá-los
e torná-los imortais, – este menino disto vos dará a prova!”
7. Assim, pois, exclamo: “Josoé, digo-te, levanta-te e vive, e testemunha
que Eu tenho o Poder de ressuscitar defuntos como tu!” No mesmo instante
faz-se sentir uma forte rajada de vento! O mofo desaparece, sobre os ossos se
estica a pele, o corpo começa a surgir e em poucos minutos se levanta do
Jakob Lorber
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caixão o menino completamente vivo! Reconhece logo Jairo, Fausto e


Cornelius, que conhecia de Nazareth, e pergunta àquele: “Querido tio, como
cheguei eu dentro deste caixão? Que aconteceu comigo? Encontrava-me em
companhia tão agradável e não sei como aqui cheguei!”
8. Diz Jairo: “Querido Josoé, vê Este a teu lado que é o Senhor sobre
a vida e a morte! Morreste fisicamente e já te encontravas há ano e meio
neste caixão, não havendo poder humano capaz de te restituir a vida!
Mas Este, aparentemente um homem, fez com que ressuscitasses! Por
isto, deves agradecer-Lhe do fundo de tua alma!”
9. Estonteado, o menino Me olha dos pés à cabeça, e diz, após uma
pequena meditação: “Mas é justamente Aquele Que me chamou do meu
grupo maravilhoso, dizendo: “Josoé, vem cá, tens de Me servir como
testemunha, que Me é dado todo Poder nos Céus e na Terra!”
10. De boa vontade Lhe segui, pois logo observei que tinha sido
mandado por Deus, sendo Pleno da Onipotência Divina! É tal qual como
O vi no mundo dos espíritos. Agora tudo se me torna claro e estou ciente
de que já vivi nesta Terra; mas não me lembro de que maneira morri! Mal
deixara este mundo, – encontrei-me numa bonita casa e em companhia
muito agradável. De quando em quando via e falava a meus pais e irmãos
sobre Assuntos Divinos, que me foram ensinados pelos companheiros
experimentados. Mas Este Santo dos Santos não mais vi, a não ser agora,
quando me chamou!”
11. Dirigindo-Me aos dois jovens, digo: “Trazei roupa, pão e vinho, a
fim de que sua carne se fortaleça e ele seja capaz de nos acompanhar a
Nazareth!” – No mesmo instante, os dois apresentam o que havia pedido.

71. ESTUPEFAÇÃO DE BAB E SUA MULHER. PROMESSA DE


IMORTALIDADE DADA A JOSOÉ

1. Este acontecimento é demasiado forte para Bab e sua mulher, que


lhe diz: “Querido, não percebes que somos grandes pecadores, pois que
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aqui, em Jesus, manifesta-Se a Plenitude Divina? Não é Aquele de Quem


predisseram todos os profetas, até Zacharias e seu filho João? Não é Aquele
que David chamou seu Senhor, quando diz: “O Senhor falou ao meu
Senhor?” Meu marido, eis aqui Jeovah e ninguém mais! Nós, porém,
somos pecadores e não merecemos a Presença Dele!”
2. Digo Eu aos extremamente comovidos: “Quem desperta os mortos
também pode purificar sem ajuda de Moisés! Por isto, ficai! Pois Moisés
não é mais que Eu e Aquele Que o despertou para aquilo que foi! Perdoa-
dos são vossos pecados e não necessitais de Moisés, que nada é sem Mim!”
3. Diz Bab: “Então ficaremos, pois não duvido que assim seja!”
4. Aduz sua mulher: “De ora em diante serei uma serva de meu
Senhor e tudo que for de Sua Vontade farei! Sua Presença Santíssima, no
entanto, quase me sufoca!”
5. Digo Eu: “Filha, ouvi tua veneração divina em Nazareth e fiz o
que viste, por tua causa! Assim, poderás muito bem suportar Minha Pre-
sença. Agora, porém, repito que não comenteis uma sílaba sequer a res-
peito, não por Minha ou vossa causa, e sim, em virtude dos muitos incré-
dulos, a fim de que não sejam forçados a acreditar no Filho do homem,
mas façam-no livremente através do Evangelho!
6. Por uma tal prova as criaturas de hoje seriam como que obrigadas
a crer em Mim, pelo que sua vida sofreria um grande dano; seus descen-
dentes, todavia, não a aceitariam senão como pura invenção da fantasia
humana, escandalizando-se com a Doutrina e a Verdade Eterna. Eis por
que é melhor silenciar sobre Meus Feitos Milagrosos, mormente no iní-
cio de Minha Doutrinação.
7. Tu, Jairo, entregarás Josoé a seus pais numa época propícia,
dando-lhes as necessárias diretrizes. Deverão crer, sem fazer alarde diante
das pessoas! Este menino, no entanto, tendo passado pela decomposição,
não mais morrerá fisicamente. Quando o seu tempo chegar, será chama-
do por um anjo, seguindo-o livremente, – e jamais um mortal o verá
nesta Terra! Agora, tendo já se fortalecido com pão e vinho, vamos para
casa, que a noite não está longe!” – A seguir, saímos da sinagoga, cujo
túmulo é fechado por Jairo e Borus depois de os anjos lá terem deposita-
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do novamente o caixão, a seu pedido.

72. O VERDADEIRO CULTO A DEUS

1. Lá fora Me diz Cirenius: “Senhor, se isto tivesse ocorrido em


Roma, até as pedras teriam Te adorado; e nós, aqui, agimos como se fosse
algo corriqueiro! Senhor, tem paciência – ou com nossa fraqueza ou com
nossa estultícia!”
2. Digo Eu: “Se esta fosse a Minha Intenção, teria nascido em Roma e
não em Nazareth! Fazei apenas o que vos exijo! O resto faz parte do paga-
nismo e é pecado. Ainda ignoras que “Amar a Deus sobre tudo e ao próxi-
mo como a si mesmo” é, indizivelmente, mais que construir miseráveis
templos de pedras e madeira, em honra do Senhor dos Céus e da Terra.
3. Se, de acordo com Salomon, Céus e Terra não comportam a
Majestade Divina, o que significa então uma miserável construção de
pedras alcantiladas, quando tanto a Terra quanto o Infinito por Deus
foram criados?!
4. Dize-Me, que diria um pai a seus filhos que, tolamente, constru-
íssem uma casinha e uma imagem dele de sua matéria fecal, adorando-o
de joelhos? Que farias tu, se teus filhos fizessem tal coisa e, embora o
proibindo, continuassem nesta adoração imunda, obrigando até pelo
castigo seus semelhantes a seguir-lhes e, por cima, ainda lhes exigissem
uma taxa beata? Acaso te alegrarias com tal adoração imunda por parte
dos teus filhos?
5. Vê, já te sentes mal com esta expectativa, no entanto, afirmo-te que
ainda seria mais admissível que a veneração humana, dirigida a Deus nos
templos! Pois os filhos ainda utilizariam para sua obra aquilo que alimen-
tou o pai; mas os homens edificam dos excrementos de Satanás igrejas, nas
quais adoram a Deus, o Criador! Que te parece esta veneração?”
6. Diz Cirenius: “Senhor, se me fosse possível, destruiria com mil
raios os templos desta Terra, coisa de momentos para os Teus anjos!”
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7. Digo Eu: “Amigo, isto já aconteceu, está acontecendo e ainda


acontecerá no futuro, – e os homens continuarão a construir templos! O
de Jerusalém será arrasado assim como os dos pagãos! Mas no lugar dos
poucos virão milhares, – e enquanto esta Terra for habitada os homens
edificarão igrejas, grandes e pequenas, e lá procurarão sua felicidade. Pou-
cos, porém, dedicar-se-ão ao empreendimento de construir um Templo
vivo no coração, onde Deus poderia ser dignamente reconhecido, vene-
rado e adorado, porquanto é o exclusivo meio de vida para a alma!
8. Enquanto as criaturas habitarem em palácios e por este motivo
se deixarem adorar por aqueles que nada disto possuem, também se
edificarão igrejas para um suposto deus, não para adorá-lo em verdade
mas para a elevação de seu construtor. Desta forma os homens se darão
a honra que a Deus pertence e seu prêmio corresponderá a este atrevi-
mento! No Além, entretanto, não terão mérito, pois serão expulsos
para as trevas tenebrosas onde o clamor e o ranger de dentes determina-
rão seu destino! Por isto, deixemos tudo conforme está, pois cada nó
será desatado no mundo dos espíritos!”

73. A CEIA EM CASA DE MARIA

1. Enquanto isto alcançamos a Minha casa, onde nos aguarda uma


boa ceia constituída, como sempre, de pão, vinho e uma quantidade de
peixes bem preparados. Josoé os aprecia muito e se alegra da fartura.
2. Jairo, no entanto, diz-lhe: “Querido sobrinho, não te deves ali-
mentar com tanta avidez, pois que teu “novo” estômago não poderá su-
portar uma quantidade tão grande de matéria!”
3. Diz o menino: “Não te preocupes com isto, tio! Aquele Que me
ressuscitou, certamente não iria implantar tal apetite no meu estômago,
caso isto lhe prejudicasse! Pois, não é brincadeira a pessoa passar sem
comer durante ano e meio! Se isto te tivesse sucedido, compreenderias o
meu apetite. Além Daquele Que me ressuscitou, sei perfeitamente se esta
Jakob Lorber
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refeição me pode prejudicar!”


4. Diz Jairo: “De minha parte me alegro do teu apetite e só tive boas
intenções em minha reprimenda!”
5. Enquanto tomamos alegremente a refeição, muitos comentários
são feitos a respeito de Jerusalém. Os discípulos, entrementes, informam-se
acerca do menino, pois não sabem a sua origem. Tanto as perguntas feitas
ao próprio menino, quanto a Jairo e aos dois jovens, de nada adiantam,
pois ninguém lhes dá uma resposta satisfatória.
6. Observando a impaciência dos apóstolos, Maria lhes diz: “Por que
indagais coisas que não necessitais saber? Fazei o que Ele vos disser e assim
agireis de acordo com a Sua Vontade, certos do prêmio eterno! Tudo, po-
rém, que for contra a Vontade do Mestre, vosso Salvador, é pecado – físico
e espiritual! Gravai bem isto!” Com esta advertência de Maria os discípulos
deixam as indagações, confabulando entre si; Pedro, porém, dirige-se a
Meu Amado João e lhe pergunta o que pensa daquele menino.
7. João lhe diz: “Parece não teres ouvido as palavras meigas de Maria,
tanto que não desistes de querer saber aquilo que o Senhor, por motivos mui
sábios, não nos deseja transmitir? Vê, a mim isto não preocupa; basta saber o
que sabemos! Se nossa curiosidade excede àquilo que devemos saber, comete-
mos uma tolice e merecemos tudo, menos sermos Seus discípulos!”
8. Diz Pedro: “Sim, tens razão; no entanto, é a curiosidade uma
dádiva implantada pelo Senhor no coração do homem, sem o que se
assemelharia ao animal. A tendência divina da curiosidade consiste em
ser a mesma comparável à sede que uma alma venha a sentir durante o
sonho. Necessita ela de grande quantidade de água e vinho, que, no en-
tanto, mais ainda estimulam sua vontade de beber. Nossa curiosidade
insaciável demonstra, nitidamente que em Deus repousa uma Plenitude
de Sabedoria que jamais será sondada por algum espírito pesquisador!
Assim sou de opinião que esta minha curiosidade não será pecado.
9. Vê, dá-se comigo e com meus irmãos o mesmo que acontece com
crianças gulosas que, enquanto não vêem as guloseimas, não sentem von-
tade de saboreá-las. Convida-as, porém, a uma mesa de doces e proíba-lhes
de provar algo, – e em breve verás lágrimas em seus olhos e água em suas
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bocas. Contudo, tens razão: pois do mesmo modo que um pai sábio
proibirá aos filhos se servirem dos petiscos, a fim de que se exercitem na
renúncia – nosso Pai Celeste parece fazer o mesmo, até que consigamos
um certo grau de abnegação. E assim, dar-nos-emos, por satisfeitos com
aquilo que possuímos e sabemos, a fim de que se cumpra a Sua Vontade!”
10. Digo Eu: “Caro Simon Juda, assim está bem e certo! Nem todo
conhecimento e experiência se prestam para a ressurreição do espírito e a
vivificação da alma. Pois consta: “E Deus falou a Adam: O dia que come-
res da árvore do conhecimento, morrerás!”
11. No conhecimento jaz o julgamento e a lei; pois enquanto igno-
ras uma lei, não haverá condenação que a siga. Por isto, queira saber
apenas aquilo que Eu te revelo, que saberás o suficiente. Quando o tem-
po chegar, tudo te será desvendado!”

74. DISCUSSÃO ENTRE JUDAS E THOMÁS

1. Com esta orientação todos se satisfazem, louvando a Minha Bon-


dade, Sabedoria e Onipotência. Apenas Judas reclama em voz alta: “Aos
fariseus, que fazem ver aos estrangeiros o Santíssimo, por dinheiro, Ele
recrimina ao ponto de chamar chuva de enxofre, dos Céus, mas, quando
demonstra aos romanos a Sua Santidade e disto exclui Seus filhos, – acha
que esteja dentro da Ordem Divina! Alguém teria assistido à coisa idên-
tica? Quando é feita em Jerusalém, torna-se um pecado; – Ele o fazendo,
fá-lo-á dentro da Ordem de Melchisedek! Nada há que fazer; no entanto,
isto dá para a pessoa se aborrecer!”
2. Diz Thomás, como sempre mentor de Judas: “Vê só! Achaste algo
que te não agrada? De há muito me admiro não discutires com o Senhor
por ter Ele localizado o Sol tão distante da Terra, de sorte que não possas
secar tuas panelas com menos gastos!
3. Como seria bom se pudéssemos voar qual passarinhos! Confesso,
muitas vezes tive ímpeto de acompanhar o vôo das andorinhas, chegan-
Jakob Lorber
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do mesmo a pular e a movimentar os braços; o peso do corpo, porém,


impedia-me de me elevar do solo! De cada vez me conformava, pensan-
do: Se fosse da Vontade de Deus que as criaturas voassem, Ele lhes teria
dado asas. Prevendo que tal faculdade seria prejudicial ao homem, o Pai
lhe deu dois pés firmes e sólidos e, além disto, duas mãos bem úteis e um
intelecto capaz de alcançar as estrelas, com o qual ele, em substituição às
asas, pode conseguir uma infinidade de vantagens. E duvido que os pás-
saros possam avaliar suas asas, como o homem seus pés e intelecto!
4. Vê, da mesma forma é difícil à criatura movimentar-se na água,
mas, seu intelecto lhe faculta os meios para a construção dum navio e,
por certo, nossos descendentes farão grande progresso neste campo, – e
quem sabe se algum dia não conseguirão elevar-se da Terra por meio de
asas artificiais, como faziam os antigos hindus?!”
5. Eis que Judas interrompe bruscamente Thomás e diz: “Acaso
destinei-te mestre de correção, para me cansares constantemente com
tuas prédicas? Guarda tua sabedoria para teus filhos e deixa-me em paz,
do contrário serei obrigado a te fazer calar! Varre a soleira de tua porta,
que me incumbirei da minha. Se algo não me agrada nada tens a ver com
isto! Recorda-te de como o Senhor apaziguou a nossa disputa em Kis e
satisfaze-te com isto! Compreendes?”
6. Diz Thomás: “Judas, meu irmão, que te fiz eu que tanto te abor-
reces comigo? Acaso não é verdade que reclamavas, por Deus ter coloca-
do o Sol tão longe da Terra e por te não ter dado um par de asas?”
7. Como Judas não responda, Thomás, continua: “Se queres zangar-te
comigo, fá-lo-ás sem razão! Tal atitude na Presença do Senhor não me
parece muito louvável, pois índole igual à tua não deveria fazer parte dos
discípulos do Senhor e farias melhor voltando para junto de tua olaria,
do que importunando a Companhia de Jesus por motivos fúteis. Já es-
queceste do Sermão da Montanha, no qual Ele manda amar aos inimi-
gos, abençoar aos que nos amaldiçoam e fazer o bem pelo mal?
8. Não querendo seguir o Verbo do Pai, humilhando-te sempre que
possível, – pergunto-te, por que nos molestas com tua presença?! Passas
dias sem nos dirigir palavra; alguém te perguntando, não lhe respondes
O Grande Evangelho de João – Volume II
165

ou, o fazes de maneira tão bruta que não anima à outra tentativa. É este
o comportamento dum discípulo do Senhor? Vai-te embora ou então
corrige-te! Realmente, arrependo-me cada vez mais de ter-te trazido ao
nosso meio! Implorarei ao Senhor, de joelhos, que te afaste daqui, caso
não o queiras fazer de boa vontade!”
9. Diz, finalmente, Judas retendo sua íntima raiva com ares de sorri-
so: “Nem tu nem o Senhor podereis determinar se vou ou se fico! Sou
um homem livre e posso fazer o que me agrada! Vê, se eu não soubesse
que tu te aborreces tanto, de há muito teria procurado outra companhia!
Por isto, fico para te servir de prova na aplicação da paciência e do amor
ao próximo, desejando aprender pelo Sermão praticado, a Doutrina de
Jesus! Compreendeste-me, sábio Thomás?”
10. Diz este, dirigindo-se a Mim: “Senhor, todos nós Te pedimos a
exclusão deste elemento! Pois a seu lado não há possibilidade de união
fraternal, tão pouco a prática de Teus Ensinos! Além disto é ele um trai-
dor e instigador! Por que deveria aqui permanecer se não só não aplica as
Tuas Leis, como zomba dos que se esforçam por fazê-lo?”

75. O SENHOR ADVERTE JUDAS

1. Digo Eu a Judas: “Thomás tem uma queixa justa contra ti!


Advirto-te: modifica teu coração e torna-te um homem! Como diabo
Me és repugnante e podes ir! Pois Minha Companhia é Santa por ser
bafejada pelo Espírito Divino, – e em tal ambiente demônio algum po-
derá permanecer!”
2. Estas palavras levam Judas a cair de joelhos e pedir perdão a
Thomás. Este, porém, diz: “Amigo, não mereço isto e sim, Aquele, cuja
Doutrina vilipendiaste, falando contra mim!” Judas se levanta rápido e
repete a atitude a Meus Pés.
3. Eu, no entanto, digo-lhe: “Modifica teu coração mau, pois teu pe-
dido de perdão apenas de lábios, sem a devida regeneração, não tem valor
Jakob Lorber
166

perante Mim! A forma externa assemelha-se à serpente que seduz pelas


curvas graciosas os pássaros do Céu, a fim de que os devore. Repito: Tem
cuidado para não te tornares vítima de Satanás, que não larga sua presa!’’
4. Judas se levanta e diz: “Senhor, chamas os mortos da tumba, – e
eles vivem! Por que deixas que meu coração se perca no pecado? Quero
modificar-me, mas não o posso por ser incapaz de melhorar o meu ínti-
mo! Por isto, faze-o Tu, que, serei outro!”
5. Digo Eu: “Eis o grande mistério da regeneração do homem! Tudo
lhe posso fazer, e ele continuará a ser homem! O coração, entretanto, é seu
e deverá ser transformado, caso deseje preparar-se para a Vida Eterna. Se
Eu Pessoalmente fosse empregar a lima no coração da criatura, ela perderia
sua independência, tornando-se maquinal. Recebendo o Ensinamento, o
homem deve agir de própria vontade, a fim de reformar a sua índole.
6. Após ter purificado o coração, Eu ali penetro e habito, e a criatura
com isto renasce em espírito, jamais podendo se extraviar! Torna-se una
Comigo, como Eu o sou com o Pai, do Qual Eu surgi, vindo ao mundo
para mostrar as criaturas o caminho espiritual que devem trilhar, a fim de
alcançar a Deus na Verdadeira Plenitude! Por isto, deves, – como todos
vós, – pôr mãos à obra na reforma do coração; do contrário estarás perdi-
do, mesmo Eu te ressuscitando mil vezes da tumba material!”
7. Diz Judas: “Senhor, então estarei perdido, porquanto tenho um
coração indomável e não posso socorrer a mim mesmo!”
8. Digo Eu: “Neste caso ouve teus irmãos e não te enraiveças quando
te advertem com carinho; pois ajudam-te nessa reforma! Aprende com
Thomás, que com tua mal-criação não se absteve de te admoestar, quando
davas margem à maldade dentro de ti. Por isto, ouve suas palavras de amigo
que melhorarão o teu íntimo! Se, porém, não aceitares conselhos dos ir-
mãos, como até agora o fizeste, serás presa fácil de Satanás!
9. Antes de tudo abstém-te da raiva e da ganância, senão serás filho
da morte! Arrependimento e penitência no Além-túmulo não têm valor
e tão pouco auxiliarão uma alma impura e enegrecida. Vai e reflete sobre
Minhas Palavras!”
10. Judas recua pensativo e, tomando uma meia-resolução, diz a
O Grande Evangelho de João – Volume II
167

Thomás: “Bem, irmão, verás que Judas se modificará, tornando-se um


exemplo para todos! Consigo muito, quando quero e agora me decidi!”
11. Responde Thomás: Irmão, se te elogias com antecedência, o
resultado será nulo; com isto também te tornarás um exemplo, não esti-
mulador, mas detestável! Se desejas te tornar melhor que nós, conhece-
dores de nossas fraquezas e misérias, da falta de mérito perante o Senhor,
– deves julgar-te sempre o de menor valor que teus irmãos, jamais cogi-
tando em querer servir de exemplo. Então serás, sem o querer, aquilo que
ora pretendes, tão orgulhosamente. – Vive, portanto, dentro desta regra
que não é posse minha, pois é Ensinamento do Senhor, cuja base é a
verdadeira humildade e renúncia, – e alcançarás aquilo que almejas! –
Agora, pergunta ao Mestre se minha orientação foi acertada!”

76. HUMILDADE E RENÚNCIA

1. Judas, chamando-Me, pergunta: “Senhor, é certo o que Thomás


acaba de falar num tom de mando?”
2. Digo Eu: “Sim! Quem entre vós mais se rebaixa diante dos ir-
mãos, é o primeiro no Reino de Deus; toda presunção leva a criatura ao
último degrau. Se algum de vós sentir algo de altivez e presunção dentro
de si, ainda não se terá libertado do inferno que tudo destrói e está longe
do Reino de Deus; pois seu espírito está algemado. Reduzindo-se, po-
rém, abaixo dos irmãos, prontificando-se a lhes servir com tudo que pos-
sui, – será o primeiro no Reino de Deus e um exemplo para seu seme-
lhante. Somente aquele, capaz de se rebaixar perante todos, possui um
espírito divino!”
3. Diz Judas: “Neste caso depende dos outros deixar-se servir por
ele, a fim de que possa conseguir a prioridade celestial! – Que será se eles
não aceitarem seu serviço, pois lhe fazem concorrência? Quem, então,
será o primeiro?”
4. Digo Eu: “Todos que o fizerem de bom coração. Aqueles, porém,
Jakob Lorber
168

que, levados dum certo amor-próprio, não aceitarem o auxílio do outro,


a fim de não lhe dar oportunidade de ser um primeiro no Reino de Deus,
– serão os últimos e ele o primeiro, porquanto quis socorrê-los por amor
e verdadeira humildade!
5. No Além tudo será medido e pesado minuciosamente, – e se
surgir algo de egoístico, a balança não registrará a boa ação. Por isto tens
de ter a plena verdade dentro de ti, senão será impossível o teu ingresso
no Meu Reino! Somente a verdade pura vos libertará diante de Deus e de
Suas criaturas! – Compreendes isto?”
6. Diz Judas: “Sim, compreendo-o; no entanto, também reconheço
ser inteiramente impossível alcançá-lo, pois não existe possibilidade do
homem renunciar completamente ao amor-próprio. Há de comer, be-
ber, tratar de casa e roupa, – o que não deixa de ser uma ação egoística.
Ele procura uma esposa apenas para si, – e ai daquele que a queira con-
quistar! Não é isto um certo egoísmo?
7. Se possuo um campo bem semeado e chegar a época da colheita,
deverei, acaso, procurar meus vizinhos e dizer-lhes: “Amigos, podeis co-
lher o que semeei; pois sou o mais despretensioso e vosso servo, traba-
lhando apenas por vós?!” Penso haver necessidade dum limite na renún-
cia estipulada por Ti, pois sem isto só se demonstraria o critério desvan-
tajoso que se faria do próximo. Julgar-se superior ao outro não deixa de
ser orgulho! Mas neste caso imaginemos a Humanidade daqui a cem
anos – e veremos se não comerá capim qual gado no pasto – nem haverá
vestígio dum idioma, muito menos duma habitação e cidade! Qual é,
pois, o limite do amor-próprio?”

77. AS TRÊS QUALIDADES DE AMOR

1. Digo Eu: “Pois bem, darei uma medida, pela qual todos vós sabe-
reis aplicar o amor-próprio, o amor ao próximo e o amor a Deus.
2. Toma o número seiscentos e sessenta e seis que, em boas ou más
O Grande Evangelho de João – Volume II
169

condições, designa ou um homem ou um demônio perfeito!


3. Divide o amor em seiscentas e sessenta e seis partes; darás, então,
seiscentas a Deus, sessenta ao próximo, ficando com seis! Se quiseres ser,
porém, um demônio perfeito, inverterás os valores!
4. Vê, são os empregados e servos que cultivam os campos de seus
patrões. Julgando por ti, deveriam guardar a colheita, pois que é fruto de
seu trabalho; eles, entretanto, regozijam-se em poder dizer ao dono: “Pa-
trão, teus celeiros estão repletos, no entanto, ainda há metade nos cam-
pos! Que faremos?” E seu regozijo aumentará, o patrão respondendo:
“Louvo vossa assiduidade e zelo desinteressados; ide em busca de cons-
trutores, a fim de que construam, rapidamente, outros celeiros que com-
portem o resto da colheita, para épocas que talvez não sejam tão abenço-
adas!” Vê, nada pertence aos lavradores, não possuem celeiros e despen-
sas, no entanto, trabalham por um ordenado pequeno, como se fosse em
seu benefício; pois sabem que não lhes faltará algo enquanto o patrão
tiver abundância.
5. Na justa atividade do servo consiste a relação da verdadeira criatu-
ra quanto a si mesma, ao próximo e a Deus. O verdadeiro empregado
cuida para si, seis vezes; para seus colegas, a fim de conquistar sua amiza-
de, sessenta vezes, e para o patrão, seiscentas vezes, ganhando sem querer
seiscentas e sessenta e seis vezes. Pois os outros lhe estimarão por ser ele
destituído de amor-próprio, e o dono o elevará. Mas um empregado que
apenas tratar do seu bolso, preferindo ser o último no trabalho e procu-
rando a tarefa mais leve, será logo malquisto pelos outros e o patrão
perceberá que é um preguiçoso. Não o elevará a posto melhor, mas dimi-
nuirá seu ordenado, fazendo-o sentar no fim da mesa. Ele não se corri-
gindo será dispensado com más referências, e, por conseguinte, dificil-
mente achará outro emprego. Se, porém, ainda tiver um amigo, ao qual
algum dia manifestou-se desinteressado, este o poderá acolher em sua
casa, pelo que o Senhor não o criticará. Compreendes isto?
6. Toda pessoa deve ter um certo grau de amor-próprio, sem o qual
não poderia viver, – mas, como digo, o menor grau possível; excedendo-se
em algo já altera a relação puramente humana, pois a Balança Divina até
Jakob Lorber
170

um cabelo pesa! – Tens com isto o limite delineado e veremos como o


porás em prática!”
7. Diz Judas: “Para tal é necessária uma sabedoria profunda, a fim de
podermos julgar se conseguimos a medida justa do amor-próprio! Como
será possível a um homem de curta visão?”
8. Digo Eu: “Deve fazer o que puder, que Deus preencherá as lacu-
nas. Ninguém, todavia, deverá se preocupar se possui menos de seis par-
tes de amor-próprio, muito menos criaturas de tua índole!” Judas se cala,
levanta-se pensativo a fim de preparar um leito para si.
9. Eis que Josoé se manifesta, dizendo: “Quase não mais suportei a
estultícia deste homem! É Teu discípulo, no entanto, tão cego como uma
coruja à luz do dia. Entendi tudo que Tu, ó Senhor, lhe falaste; ele, po-
rém, nada compreendia, porquanto sempre perguntava e fazia objeções,
afastando-se, finalmente, tão ignorante como se Tu nada lhe tivesses fala-
do! As perguntas duma criança são perdoáveis; mas, um adulto que pre-
tende ser inteligente caindo neste erro – evidentemente com más inten-
ções – força a pessoa a se aborrecer! Aceitarei por três vezes a morte, caso
este homem se modifique! Parece avarento e calcula o lucro que lhe seria
facultado se possuidor de Teu Poder Milagroso! E eu, Josoé, tudo daria e
sofreria, se fosse possível Judas modificar-se!”
10. Digo Eu: “Meu caro Josoé, deixa estar; precisamos de diversos
servidores na edificação dum novo Céu e duma nova Terra, e nisto Judas
nos será útil! – Agora, porém, dize-Me que dirás a teus pais, quando os
encontrares dentro de alguns dias?”

78. PLANO INTELIGENTE DE JOSOÉ

1. Diz Josoé, sorridente: “Senhor, penso ser isto bem fácil! Serei
reconduzido pelo tio Jairo a casa de meus pais, pois, na certa ainda lasti-
mam a minha morte. Admirar-se-ão de ver um menino tão parecido
com o Josoé. Jairo, então, dirá que sou um exposto e, casualmente, uso
O Grande Evangelho de João – Volume II
171

também o mesmo nome do falecido. Meus pais me adotarão e amarão


mais do que aquele. Pouco a pouco poderão ser integrados na verdade de
que sou, realmente, seu filho. Estará bem assim, Senhor?”
2. Digo Eu: “Teu plano é bem traçado, Meu querido Josoé; há,
porém, um pormenor nocivo, pois que tencionas dizer uma mentira.
Não sendo um exposto, como irás justificar esta afirmação diante de teus
pais e de Deus?”
3. Responde o menino: “Senhor, quando sorris, as coisas não an-
dam mal; portanto, já me acho justificado por Ti como o foi Jacob diante
de seu cego pai, Isaac, quando meteu suas mãos em pele de carneiro!
Penso que aquilo foi muito mais uma mentira do que se eu for entregue
como exposto aos meus! Se Deus, naquela ocasião, mostrou-Se benigno
aceitando a primogenitura de Jacob, não vejo porque deva Ele repudiar o
exposto Josoé, que é realmente isto, como nenhum outro sobre a Terra!
Não haverá pessoa mais abandonada e perdida como alguém que tenha
morrido; portanto, também não haverá um que mais mereça este título!”
4. Digo Eu: “Ótimo, conseguiste uma boa defesa em teu favor! Agora,
só desejo saber como irás te apresentar a teus pais como filho verdadeiro!”
5. Diz Josoé: “Oh, Senhor, nada mais fácil! Uma vez em casa,
portar-me-ei como dantes; farei as mesmas perguntas, procurarei os meus
brinquedos, – e a maneira de usá-los certamente causará admiração a
meus pais, que dirão: “Eis nosso Josoé, que talvez fosse despertado por
Borus com seus remédios misteriosos!” Então, deixo-os algum tempo
nesta fé, e quando a época for propícia, saberão da verdade.”
6. Digo Eu: “Eis outra mentira! Pois deixar ficar alguém consciente-
mente num engano é o mesmo que uma mentira! Que farás?”
7. Diz Josoé: “Senhor, aceito Teu Sorriso como bom agouro e penso
ser tal mentira de qualidade especial. Apresentar uma mentira como verda-
de com más intenções, é algo diabólico! Todavia uma aparente, pela qual se
oculte a verdade pelo tempo indispensável que o outro necessite para
suportá-la, não pode ser maléfica, pois surge dum coração benevolente!
8. Neste caso, toda parábola poderá ser considerada uma mentira,
porquanto oculta uma verdade elevada. Entretanto, os patriarcas e profetas
Jakob Lorber
172

costumavam falar em quadros! E que Borus, como afamado médico, assu-


ma o Teu Lugar, é o mesmo que, na época de Abraham, terem os três anjos
que o procuraram, tomado o lugar de Jeovah; assim, também a mentira de
José, no Egito, feita a seus irmãos, à procura de trigo, não foi registrada por
Deus como pecado. Tal mentira aparente é, a meu ver, uma precaução
divina, enquanto uma verdadeira faz parte da astúcia satânica!”
9. Digo Eu: “Vem cá, Meu querido Josoé, e deixa que Eu te abrace!
Embora ainda garoto, és mais sábio que um velho escriba!”
10. Josoé dá a volta em redor da mesa, abraça-Me e beija, e diz numa
alegria incontida: “Vede, velhos espíritos e elementos poderosos, e ocultai
vossos semblantes! Jamais vistes o que ora se dá! O Eterno e Santo Pai,
Presente no Filho Jesus, deixa-Se abraçar e beijar por uma Sua criatura! O
Eterno atraindo um ser temporário, beija-o, eternizando-o deste modo!
Ó Tu, Verdadeiro e Único Pai das criaturas, quão doce é o Teu Amor!”

79. DOIS ANJOS OFERECEM SEUS PRÉSTIMOS A JOSOÉ

1. Em seguida, aproximam-se os dois anjos e dizem: “Sim, adorável


menino, falaste certo! Jamais nossos olhos, que muito antes de um sol
manifestar sua presença no Eterno Espaço Divino, contemplavam o In-
finito, assistiram à cena presente! Permanece neste ânimo que te inspira
de modo tão sublime, que seremos eternamente teus irmãos!”
2. Diz Josoé: “Quem sois, falando tão sábias, palavras? Porventura
não sois humanos?”
3. Dizem ambos: “Querido irmão, espiritualmente somos o que tu
és; nunca, porém, encarnamos! Somos anjos do Senhor, aqui presentes
para Lhe servir. Se Ele futuramente, conceder-nos a Graça duma encar-
nação seremos o que ora és. Por enquanto tens esta vantagem sobre nós;
a Eternidade, porém, é longa e nivelará todas as diferenciações.
Oferecemos-te nossos préstimos como fiéis servidores; externa tuas or-
dens que as cumpriremos!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
173

4. Diz Josoé: “Que ajuda vos poderia pedir? Todos nós temos um
Deus, um Senhor e um Pai de Eternidade. A Ele compete exigir de mim
e de vós; nós, por Ele criados, de ninguém devemos exigir algo, mas
servir-nos mutuamente por amor, se anjo ou criatura de algo necessite!
5. Já não considero perfeito aquele que, embora mui prestativo, socor-
ra um irmão necessitado; pois neste caso apenas receberá ajuda quem pos-
sua oportunidade e coragem de expor sua miséria. Quem, desta forma,
ajudará uma pessoa que não tenha ocasião e ânimo para pedir um auxílio?
Se já não aceito um socorro implorado, muito menos um exigido!
6. Por isto afirmo na Presença Daquele Que é Senhor sobre vida e
morte: se perceberdes que necessito de algo, ajudai-me sem que vos peça,
ou, talvez, ordene como se fosse um senhor! Faria o mesmo com relação
a vós!
7. Todo aquele que, de qualquer maneira, desfrute posição avantaja-
da, deve averiguar com assiduidade a pobreza do próximo, a fim de
socorrê-lo. Deste modo será, a meu ver, agradável aos olhos do Pai – Que
sempre assim age – justificando a Santa Medida de Deus, pela qual foi
criado! Muito longe desta Perfeição estará quem socorrer somente a quem
lho pedir, e muito mais ainda quem aceitar tal ordem!
8. Vede, meus amigos, se vossa sabedoria não for além de oferecer às
criaturas que vos ordenem quando de vós necessitarem, não trocarei mi-
nha posição de garoto com a vossa, angelical. Se, entretanto, queríeis
apenas experimentar-me, penso não me ter saído mal neste exame; e, se
por acaso, ouvistes algo que sensibilizasse vossos ouvidos, deveis levar-me
em conta. Não vos falei a fim de vos doutrinar, mas em prol da verdade,
que não foi o móvel de vossa oferta. Como espíritos perfeitos, deveríeis
penetrar e conhecer o meu íntimo, de modo que saberíeis, de antemão,
da minha resposta à vossa oferta pela qual não vos posso agradecer!”
9. Os dois jovens recuam algo humilhados e dizem: “Realmente,
esta Sabedoria Pura e Divina anjo algum teria suposto neste menino!”
10. Digo Eu: “Sim, Meus queridos, os Olhos de Deus até nos anjos
perfeitos descobrem máculas, – assim como um coração puro é seme-
lhante à menina-do-olho de Deus! Permiti este fato não por vossa causa,
Jakob Lorber
174

mas em consideração aos hóspedes, a fim de que ouvissem pela boca


dum menor, o quanto lhes falta para a Perfeição Divina. Além disto,
possui ele de nascença um espírito extraordinariamente lúcido, por isto
ninguém deve supor que Eu tenha depositado as palavras que proferiu
em seu coração e, afinal, em sua boca. São propriedade sua, razão por
que, em tempos, será um instrumento de grande valor!”

80. CIRENIUS ADOTA JOSOÉ

1. Diz Cirenius: “Senhor, tinha vontade de levar este menino comi-


go e, ele o aceitando, não só igualá-lo a meus filhos, mas até considerá-lo
mais ainda que os próprios. Realmente, ficaria contentíssimo se fosse
meu, pois é mais anjo que criatura humana! Também encontrará dificul-
dades na companhia dos pais, restando saber se o aceitarão. Ciente de
tudo poderei, com o tempo, facilitar as condições para que eles o reco-
nheçam. Querendo recebê-lo poderão se decidir, com a condição de que
Josoé ficará comigo, isto é, acompanhando-me nas minhas viagens pela
Ásia, Europa e África!”
2. Digo Eu: “Combina isto com Jairo e Josoé! Estou de acordo com
tudo, pois ele Me será fiel onde quer que esteja!”
3. Diz o menino: “Pai, por certo não duvidarás de mim? A não ser
que Tu Mesmo modifiques a minha índole! Se pudesse determinar sobre
o meu futuro preferiria ficar a Teu lado! Acaso haveria algo de mais eleva-
do, sublime e bendito em toda a Eternidade, que permanecer Contigo, a
Fonte Primária do Amor, da Sabedoria e da Vida? Este seria o meu mais
forte desejo; além disto, porém, sei obedecer à Tua Vontade! Tanto irei
com Cirenius que muito prezo, quanto também voltarei para junto dos
meus; mas, sem a Tua Vontade nada farei!”
4. Digo Eu: “O teu caráter demonstra claramente que tens esta aspi-
ração, a qual também se cumprirá; por ora, entretanto, necessitas de al-
gum repouso, através dum afastamento de Minha Pessoa, a fim de que se
O Grande Evangelho de João – Volume II
175

firme a relação entre corpo e alma. Daqui a um ano poderás voltar para
junto de Mim, sem que Eu necessite conter tua alma dentro da matéria.
Eis o motivo por que permito o teu afastamento! Resolve, porém, com
quem desejas viver! Uma coisa é certa: lucrarás muito mais com Cirenius
do que sendo um exposto aparente na casa paterna.”
5. Diz Josoé: “Muito bem, sabendo disto acompanharei o vice-rei.
Tinha, porém, vontade de rever meus pais e ver sua admiração.”
6. Diz Cirenius: “Será fácil fazê-lo amanhã, quando nos dirigirmos
por Capernaum a Sidon e Tyro! Quando em Capernaum almoçarmos
em casa de meu irmão Cornelius, que vês a meu lado, farei convidar os
teus pais com outras notabilidades – e então terás oportunidade de revê-los.
Cuidado, para te não traíres! Pela vestimenta não te reconhecerão, pois
arranjar-te-ei uma toga. Mas, como já disse, cuida de tua língua, para não
te denunciares!”
7. Diz o menino: “Não te preocupes! Com a ajuda do Senhor tudo
correrá bem.” Cirenius acaricia-o e diz: “Amo-te mais que a meus própri-
os filhos e àqueles que adotei e dos quais também sou pai amoroso, como
de ti, pois ser-lhes-ás de grande proveito espiritual!”
8. Diz Josoé: Alegro-me bastante com isto, pois foi sempre uma
grande satisfação o poder ser útil a alguém.”
9. Digo Eu: “Bem, Meu Josoé, vendo que futuramente és fiel a teu
propósito, dar-te-ei um Poder dos Céus, pelo qual ser-te-á mais fácil aju-
dar ao próximo. Em que consiste tal Poder, sentirás no momento opor-
tuno! Agora vamo-nos recolher, que já passa de meia-noite. O que o dia
de amanhã nos trouxer de bom será nossa parte, e do mal saberemos nos
afastar!” – A seguir todos se recolhem.
Jakob Lorber
176

MORTE DE JOÃO BATISTA. JESUS NO DESERTO E NO


LAGO DE GENEZARETH

Ev. Matheus – Capítulo 14

81. RELATO DE ROBAN, REFERENTE AO NOVO REITOR

1. A manhã seguinte é radiosa e muitos hóspedes já se acham fora de


casa quando Eu, os discípulos, os romanos e Kisjonah nos levantamos.
Daqui a pouco aparece Bab com sua família; haviam dormido em casa, a
fim de não nos dar trabalho. Conta ele, rapidamente, que na cidade,
mormente na sinagoga, havia tanta agitação que não teve coragem de
perguntar o motivo.
2. Digo Eu: “É consequência da ação do novo reitor que, na certa,
veio fazer uma inspeção em Nazareth! Nada há demais nisto, portanto,
vamos tomar nosso desjejum.” A seguir digo aos dois jovens ainda pre-
sentes: “Ide à sinagoga e buscai Roban, pois preciso lhe falar! Não vos
denuncieis com atitudes sobrenaturais!” – Ambos se afastam e nós nos
entregamos à refeição.
3. Mal deixamos a mesa, chega Roban com seus companheiros, curva-se
respeitosamente diante de Mim e dos nobres romanos e diz, extenuado:
“Ó Senhor, eis o Céu, e lá, na sinagoga, o inferno no auge! Senhor, nada
necessito dizer-Te, pois sei que és o Onisciente, mas é de desesperar o que
faz o nosso atual reitor! Se não for um verdadeiro irmão de Satanás, desisto
de minha integridade! Primeiramente, não só nos tira o que possuímos em
dinheiro, mas também saqueia-nos todos os bens, de modo a não saber-
mos com que viver no futuro. Tirou-nos todo o trigo, cereais e peixes defu-
mados; marcou bois, vacas e garrotes, carneiros e burros, como sendo posse
do Templo! Além disto nos declara apóstatas, querendo impingir-nos toda
sorte de multas! Alega que em Jerusalém se sabe tudo o que aqui acontece,
tendo ele a incumbência de Te prender como revolucionário e entregar-Te
às autoridades! – Que me dizes a respeito?
4. Herodes é sabedor de todos os Teus Passos e já teria agido há
O Grande Evangelho de João – Volume II
177

muito, se não fosse de opinião, inculcada por um adivinho, discípulo de


João, – seres Tu João Batista ressuscitado! Havia ordenado sua decapita-
ção a pedido de Herodias, apresentando-lhe a cabeça do profeta como
prova de sua promessa! Por aí vês, Senhor, como andam as coisas! Se não
Te opuseres a isto com todo o Teu Poder, estarás perdido com aqueles
que te acompanham! É o inferno desenfreado – e Tua Cabeça representa
o valor de dez mil libras!”
5. Eis que chamo Matheus e lhe digo: “Anota o que ouvires!” Ele de
pronto, presta-se a esta tarefa. A seguir digo a Roban: “Relataste ligeira-
mente a triste história de João; repete-a tal qual como vos foi contada
pelo novo chefe! Faço questão que seja assim anotada.” Diz Roban: “Com
a melhor boa vontade; temo, porém, que se perceba minha ausência, – e
corremos perigo que este chefe satânico aqui nos venha procurar!”
6. Digo Eu: “Não te aflijas, que ainda temos o Poder suficiente para
detê-lo!” Aduz ele: “Neste caso passarei a contar literalmente a história de
João Batista!”

82. HISTÓRIA E FIM DE JOÃO BATISTA


Ev. Matheus – Capítulo 14, versículos 1 a 12

1. (Roban): “Os fiscais de imposto do Tetrarca Herodes há pouco


falaram sobre Ti e Teus Atos, e que dispersaste seus delegados, pois não se
podiam opor contra o Teu Poder. Eis que Herodes consultou seu adivi-
nho. Este sendo, secretamente, um discípulo de João, não perdoava o
homicídio com ele praticado e aproveitou a oportunidade para se vingar
em Herodes, declarando-lhe: “Eis João Batista, ressuscitado dos mortos,
que ora age contra ti!”
2. Herodes se assustou não pouco e, tremendo, disse aos emprega-
dos: “Não se trata do carpinteiro Jesus, que bem conheço, pois há cinco
anos construiu com seu pai um novo trono para mim. Embora fosse
muito sisudo era habilidoso como um artista. É João Batista, por minha
Jakob Lorber
178

ordem decapitado, que, como espírito, atua contra mim de maneira mi-
lagrosa. (Matheus 14, 2) Nada façais contra ele, pois que isto seria a
minha desgraça!”
3. A esta explicação os servos se afastaram perplexos, pois sabiam
que Tu não és João Batista, – mas não ousavam contestar o Tetrarca. A
seguir perguntamos ao reitor o que havia de verdadeiro com o homicídio
de João, pois nada disto sabíamos. Eis que ele, então, contou-nos: Embo-
ra superficialmente, Herodes, no início também foi adepto dele,
considerando-o um sábio. Por isto o levou à corte e quis dele aprender a
ciência oculta. Mas, como não queria desistir de sua paixão para com
Herodias, mulher de seu irmão Philippe, (Matheus 14, 3) João se alte-
rou, dizendo ao Tetrarca: “Não te é lícito possuí-la! (Matheus 14, 4) Pois
consta: Não cobiçarás a mulher do teu próximo!” – Herodes, enraiveci-
do, mandou encarcerá-lo e também o teria matado, se não fosse o medo
ao povo, que o considerava profeta. (Matheus 14, 5)
4. Acontece, porém, que poucos dias após, Herodes festejava seu
aniversário, e a bela filha de Herodias dançou diante dele e dos nobres
convivas, o que muito lhe agradou. (Matheus 14, 6) Jurou dar-lhe tudo
que ela exigisse. (Matheus 14, 7) Salomé, porém, consultou Herodias,
que havia jurado vingança a João, por este haver querido interferir em
suas relações com Herodes. E a mãe a instruiu de forma a que viesse
exigir a cabeça do profeta.
5. Eis que a filha se dirigiu ao Tetrarca e lhe disse: “Dá-me, num
prato de ouro, a cabeça de João Batista!” (Matheus 14, 8) O rei se afligiu,
não por causa de João, mas pelo povo, de quem temia vingança. Entre-
tanto, pelo juramento e pelos presentes à mesa, ordenou se desse a Salo-
mé o que exigira. (Matheus 14, 9) E os servos degolaram João no cárcere
(Matheus 14, 10) após terem dali afastado seus discípulos. Levaram sua
cabeça numa bandeja à sala de refeição para entregá-la à Salomé, e esta
ofertou-a à sua mãe! (Matheus 14, 11)
6. Quando ali voltaram os adeptos, só encontraram o corpo de João
Batista. Levando-o consigo, enterraram-no (Matheus 14, 12) à vista de
milhares, que, chorosos, praguejavam contra Herodes Antipas e sua fa-
O Grande Evangelho de João – Volume II
179

mília. Herodias, porém, quando viu o semblante de João caiu morta por
terra contorcendo-se horrivelmente, e sua filha acompanhou-a poucos
minutos após. Herodes e seus hóspedes fugiram apavorados.
7. Eis, Senhor, a triste história de João Batista, que batizava no Jor-
dão, não distante do deserto de Bethabara, onde o rio desemboca no
lago, atravessando-o, a fim de dirigir-se ao Mar Morto. – Que me dizes?
Será possível que criaturas se tornem demônios numa época em que Tu,
a Quem Céus e Terra obedecem, caminhas como Homem sobre o orbe?
Acaso não tens raios e trovões à Tua Disposição?
8. Manifestam-se Cirenius e Cornelius alterados: “Senhor, o perigo
é iminente! Não podemos esperar com Tua Paciência, é preciso agir! O
mais tardar, em dez dias, esta raça do inferno, junto com o Templo, deve-
rão ser dizimados!”
9. Digo Eu: “Bastariam estes dois jovens para executar, num mo-
mento, o que o poderio romano não conseguiria em um século! Se isto
estivesse dentro da Ordem Divina, seria coisa de minutos para Mim!
Mas tudo isto tem de acontecer, em vista da formação dum novo Céu e
duma nova Terra! Tratai, porém, de vos afastar daqui; este reitor é mau –
e Satanás lhe mostra mil caminhos para vos prejudicar! Por isto, ide!
Também Eu deixarei esta zona, por tempo indeterminado, pois convém
fugir dos cães raivosos! Ele tem ouro e prata em quantidade, do contrário
não poderia ter comprado este posto. Tu, Roban, volta para lá enquanto
ainda não deram pela tua ausência!” Diz ele: “Que responderei, caso me
perguntarem a Teu Respeito?” Respondo: “Isto te será revelado na hora!”

83. CENA COM O NOVO CHEFE DO TEMPLO EM NAZARETH

1. Imediatamente Roban se dirige a sua casa, onde logo é procurado


por um mensageiro que lhe transmite a ordem de comparecimento na
sinagoga. O chefe, sabendo que Roban Me procurara em Sichar, deseja
falar-lhe. Em lá chegando, ele o descompõe.
Jakob Lorber
180

2. Roban, porém, diz: “Sou decano de Nazareth e estou perto dos


oitenta anos, ao passo que tu ainda estás longe dos trinta! O fato de teres
conseguido te tornar nosso chefe, devido à tua fortuna, não te dá o direi-
to dum Moisés ou Aaron, tão pouco o de ensinares-me algo que eu não
soubesse antes de teres nascido! Todos nós desempenhamos nosso cargo
a contento do teu predecessor e do Templo, considerando os aconteci-
mentos ocorridos sob o critério de judeus devotos, impondo barreiras
onde necessário. Se tu, porém, entenderes melhor destas coisas e quise-
res, de um golpe, converter em judeus todos os gregos e romanos, garan-
to-te que serás o único na Galiléia, além de nós!
3. A vila de Jesaíra, por este motivo, tornou-se grega, obrigando a
todos os fariseus, escribas e sacerdotes, a abandoná-la! Faze uma tentativa
e inicia uma sindicância naquele local, que seus habitantes te esclarecerão
de tal forma que farás uso de tuas pernas! Por que, então, apostataram
aquelas pessoas? Em consequência do rigor e do domínio daquele sacer-
dócio, culpado deles se terem tornado adeptos de Pythagoras! O mesmo
acontecerá aqui, – e todos nos poderemos congratular! Não sejas tão
cego e reconhece a verdade!
4. Os mais elevados cargos de Estado são preenchidos por gregos e
romanos, que folgariam se os judeus aderissem à sua nova fé. Como
evitarás esses incidentes, quando todos na Galiléia sabem que o sacerdó-
cio se assemelha a uma casca de noz? E quem mais que os próprios tem-
plários gananciosos são culpados disto, pois apresentam o Santíssimo aos
estrangeiros, os quais, não obstante a promessa de sigilo, comentam este
fato ridicularizando-o perante o povo?! Vai e pergunta aos moradores
desta cidade, que te contarão o mesmo!”
5. Diz o reitor: “O quê? O povo sabe disto tudo?” Responde Roban:
“Exatamente! Vai, porém, e tira-lhe este conhecimento!” O chefe, pensa-
tivo, caminha de lá para cá e diz, depois de algum tempo: “Na certa o
profeta nazareno tem culpa nisto! Portanto, suceder-lhe-á o que foi feito
a João, a mando de Herodes!”
6. Diz Roban: “Sim, depende duma tentativa de pôr mãos neste
médico milagroso, que o povo, os judeus, romanos e gregos,
O Grande Evangelho de João – Volume II
181

considerando-o um deus, terão algo a te contar! Eu, ancião de Nazareth,


dou-te um conselho de amigo: se caminhares nas pegadas de teu prede-
cessor Jairo, irás bem, por algum tempo; se, porém, procurares a confu-
são, poderás, em breve, ir em busca de outra colocação em Jerusalém.
Jairo está nas mãos dos gregos; Borus, seu genro, um segundo médico
milagroso e abastado, terá uma boa conversa contigo! Em suma, faze
uma experiência e depois me conta se te dei um conselho errado!”
7. O reitor bate com o punho cerrado na mesa e diz: “Sois todos do
demônio e pareceis fazer conchavo com os antagonistas do Templo, ade-
rindo à doutrina daquele revolucionário! Por isto expulsar-vos-ei da sina-
goga, preenchendo vossos postos com elementos novos e vos entregando
as autoridades! Por isto repito: Que foste fazer em Sichar?”
8. Diz Roban: “Tenho setenta e nove anos e sei o que faço! Tua
ameaça não me assusta, nem tão pouco a algum outro! Se nos quiseres
entregar à Justiça, podes tentá-lo, e veremos quem por ela será preso, – tu
ou nós! Felizmente somos benquistos por parte do vice-rei, irmão do
imperador Augusto, portanto não será tão fácil aprisionar-nos! O Tem-
plo, porém, que odeia Jesus por motivo de domínio, agradece-lhe o fato
de não ter sido arrasado pelos romanos! Certamente ouviste falar no grande
roubo de impostos, praticado há cinco semanas pelos seus agentes, cujo
transporte vergonhoso fora apreendido pelo ricaço Kisjonah. Vê, aí foi
Jesus, o injustamente odiado pelo Templo, porém venerado pelos roma-
nos mais que a Júpiter, quem desviou, pela palavra e ação milagrosa, a
tempestade que iria desabar sobre Jerusalém! Mas ainda não foi de todo
sustada; uma teimosia de vossa parte, – e ela se desencadeará! Além disto,
basta uma notificação por parte de Borus, Jairo e eu, que te aconselho
procurares daqui a vinte e um dias o lugar do Templo, – e dificilmente o
encontrarás! – Compreendeste-me bem?”
9. O chefe, alterado, bate com o pé e diz: “Quem poderá positivar
tal afirmação, se os implicados neste caso se acham no Templo!”
10. Diz Roban: “Pela lei de Roma o criminoso não pode jurar, mas
podem as testemunhas, as quais, quando necessário, havê-las-á aos mi-
lhares, o que bastará contra dez criminosos!”
Jakob Lorber
182

11. Completamente desanimado diz o reitor: “Quer dizer que não


se pode mais confiar em Jeovah, Moisés e os profetas, e suas Leis não
deverão ser consideradas, por causa dos romanos?!”
12. Diz Roban: “Não venhas te querer reportar a eles! Nenhum de
vós os considera; pois o Templo há trinta anos foi reformado numa casa
de agiotagem e negócios! O que lá existe é apenas a máscara e os lobos
vorazes se revestem de pêlo de carneiro, a fim de devorarem com mais
facilidade os pobres rebanhos. Se considerasses as Leis de Moisés não te
terias deixado levar pela aquisição do cargo que ora ocupas! Dou-te mi-
nha vida se provares ter Moisés determinado tal coisa!”
13. Esta réplica de Roban quase faz estourar o outro de raiva, que
grita: “Isto não importa! Acharei um meio para vos dominar!” Diz Ro-
ban: “É possível! No entanto, também conhecemos tuas traficâncias, de
sorte que resta saber se já não impedimos teus planos escabrosos! Faze
uma tentativa e verás o resultado!”
14. Dizem os outros a Roban: “Mas por que impedes que este mons-
tro seja aniquilado? Está em nossas mãos e poderá clamar pelo socorro do
Céu, se tomarmos a liberdade de lhe fazer provar as pedras de Nazareth!”
– E voltando-se ao reitor: “Somos fariseus e escribas como tu e até mais
que isto, pois descendemos de Levi, enquanto compraste este direito!
Hoje em dia até o Céu é comprável! Portanto és um intruso e sacrílego, e
deverias ser apedrejado!” Esta ameaça faz com que o chefe se torne, ao
menos aparentemente, mais acessível, tanto que diz: “Não me julgueis
mal; também eu conheço as deficiências do Templo, mas trata-se de
encobri-las, para que ele volte a ter seu poder antigo!”

84. CHIWAR TESTEMUNHA DE JOÃO BATISTA E JESUS

1. Diz em seguida Chiwar: “Para que este trabalho insensato? Não


fui servo do Templo, dos onze aos vinte e cinco anos? Sei muito bem o
que lá se passa. Se tivesse más intenções, de há muito poderia ter relatado
O Grande Evangelho de João – Volume II
183

aqueles horrores! Mas o povo cego necessita do Templo! Por que deveria
tirar-lhe a fé, que lhe dá a esperança ilimitada e a nós, sacerdotes, um
bom passadio? Se, entretanto, dedicarmo-nos em demasia ao esclareci-
mento do povo, teremos que, em breve, procurar outro sustento!
2. Que fazer contra o crescente número de inimigos? Julgas que o
sinédrio nos protegerá? Em Roma vivem muitos judeus em palacetes
suntuosos que construíram com dinheiro ilicitamente ganho no Templo!
Serão estes tão pouco nossos defensores como os colegas daqui que, há
muito, já se acham prontos a encetar uma viagem para a Itália e nunca
mais voltar. Por isto, deveremos continuar com dignidade em nossos
postos como sacerdotes e, além disto, considerar o termo romano “In
medio virtus” (no meio está a virtude); do contrário, teremos que nos
dedicar à pescaria!
3. Para completar, aparecem precisamente agora dois homens, cujo
poder incompreensível seria capaz de conquistar o mundo inteiro com sua
nova doutrina! João Batista, o primeiro, que já não mais está entre os vivos
e cujos ensinamentos quase toda a Judéia e Galiléia aceitaram! Foi possível
à perversidade de Herodes decepar a cabeça deste autêntico profeta. Seria
também capaz de fazê-lo ao seu espírito e à sua doutrina? Não o creio; pois,
justamente, pela perseguição toda boa doutrina se torna invencível!
4. No lugar de João surgiu Jesus que, comparado àquele, é igual ao
poderoso Ararat perto dum montículo de areia! Sua apresentação e atitu-
des meigas e bondosas, a profunda sabedoria de cada Palavra Sua, cuja
verdade sublime não deixa, numa criatura com o mínimo grau de bom
senso no coração, – a menor dúvida, pois dirá em relação aos Seus Atos:
Isto somente a Deus é possível! Que poderíamos nós fazer contra Ele?
Poderemos nos tornar antipáticos e odiados e isto, não a nosso favor,
senão para o nosso maior prejuízo! Assim, trata-se aqui dum comporta-
mento prudente e de contar com o futuro para podermo-nos manter em
nosso posto!”
5. Diz o reitor: “Achas, portanto, que se não deva prender este Jesus,
e esperar que nos aniquile?”
6. Diz Chiwar: “Tenta prendê-Lo, se te for possível! Que não fize-
Jakob Lorber
184

mos nós contra Ele e de que valeu? Conseguimos que aumentasse Seus
discípulos com mil adeptos novos e quase tivemos a sorte duvidosa de
cair nas mãos dos romanos, que O consideram Deus! Além disto, Ele é
constantemente acompanhado por anjos que, embora de aparência frá-
gil, possuem uma força inaudita! Ainda tencionas botar tuas mãos sobre
Ele? Peço-te, não sejas doido! Antes que possas dar um passo com más
intenções, já estarás aleijado! Julgas que Ele ignore o que ora discutimos?
Todos aqui são testemunhas como, há poucos dias, era do Seu conheci-
mento o que conjeturávamos em segredo!
7. É muito agradável ouvir falar duma tempestade em alto-mar!
Coisa diferente, porém, ter passado por ela! Desempenha o teu cargo
com calma e sem escândalo, que não terás de aguardar aborrecimentos!
Se agires com tirania, todos nós te garantimos que tu, Capernaum e
Jerusalém, caireis no abismo! Com prudência será possível manter esta
última por uns cinquenta anos, – mas também pode-se provocar sua
queda em poucas semanas! Podes escolher livremente o que te agrada;
nós estamos garantidos pelos romanos! Afirmo-te que todos os dignitári-
os de Roma se deixam conduzir por Jesus, qual cordeiros! Sendo pruden-
te poderás te tornar amigo dos romanos e passarás bem como teu ex-
colega Jairo!”
8. Esta dissertação não deixa de surtir efeito: o reitor se acalma e
reconhece ser razoável seguir o conselho de Roban e Chiwar. Deste modo
a primeira tempestade dentro da sinagoga foi apaziguada.

85. O SENHOR LOUVA ROBAN E CHIWAR

1. Passada uma hora, Chiwar volta para junto de Mim, querendo


contar-Me o sucedido. Eu, porém, lho impeço, dizendo: “Amigo, poupa
teu esforço, pois sabes que nada Me é oculto! Tenho apenas que elogiar a
ambos, que vos saístes bem, pois o reitor teria cometido horrores! Mas
convenceu-se ser melhor não agir contra os romanos. Não podeis, no
O Grande Evangelho de João – Volume II
185

entanto, confiar nele integralmente e convém não perdê-lo de vista. Como


foste o defensor mais zeloso de Minha Pessoa, e ainda o és, – dar-te-ei a
faculdade de curar os doentes, através de preces e passes, conhecer pela
intuição os planos do novo reitor e tomar a devida e rápida precaução
para conseguires um resultado! Abençôo-te, portanto, para tal fim!”
2. Chiwar se ajoelha e Me pede com fervor esta Graça. Depositando
Minha Destra sobre seu coração e a Esquerda em sua cabeça, ele se torna
iluminado e diz: “Senhor, toda penumbra desapareceu de dentro de mim,
fazendo meu corpo tão transparente qual diamante pela luz do dia! Se-
nhor, deixa que esta Bênção perdure comigo, que procurarei dela me
tornar digno!”
3. Digo Eu: “Permanece na Minha Doutrina, que não terás motivo
de queixa sobre a perda desta Luz!” Chiwar se levanta e observa que além
de Borus, Jairo, Maria e Meus irmãos não há mais um hóspede na sala, e
pergunta a razão.
4. Digo Eu: “Isto tinha que ser assim! Vê, em pouco teremos outono
e inverno. O tempo da colheita está próximo e tenho de ir à procura de
trabalhadores para o campo e para a vinha. Se tudo for recolhido, podere-
mos descansar no inverno, a fim de reiniciarmos o trabalho na primavera.
5. Ainda hoje deixarei esta zona; pois Herodes é uma raposa ladina,
o novo reitor, seu servo – e Minha casa não deverá ser um campo de
batalha. Há poucas horas enviei Meus discípulos e Kisjonah a Kis, onde
aguardarão adeptos de João Batista, para lhes anunciarem a aproximação
do Reino de Deus. A noite, todos estarão de novo aqui, a fim de, juntos,
seguirmos caminho. Saberás pela intuição o nosso destino.
6. Procura agir em combinação com Borus e Jairo; são os mais dig-
nos em Nazareth, possuem todo Meu Amor e, por Mim, a Plena Graça
de Deus! Nenhum dos Meus discípulos até hoje conseguiu amar-Me e
conhecer-Me como eles! Não levará tempo e todos os Meus adeptos
aborrecer-se-ão Comigo. A Borus e Jairo, porém, nada perturbará; pois
sabem Quem Eu sou! Procura-os sempre, que te tornarás idêntico!”
7. Inteiramente satisfeito Chiwar pergunta pelos dois anjos que tam-
bém não mais ali estavam.
Jakob Lorber
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8. Eu lhe digo: “Levanta teu olhar que verás, não só dois, mas inú-
meras falanges em torno deles!” Assim fazendo, Chiwar avista os dois
arcanjos rodeados por miríades de anjos prontos para Me servirem. Hu-
mildemente ele baixa os olhos e diz: “Senhor, sou pecador e não posso
suportar esta visão santa; mas tudo farei por merecê-la!”
9. Digo Eu: “Age com justiça, que teu prêmio no Céu, cuja orla
acabas de ver, será grande! Volta, agora, à sinagoga; pois o reitor, que
permanecerá por alguns dias em Nazareth, não deve sentir tua falta, por-
quanto considera tua opinião!”

86. KORAH, O NOVO REITOR, E CHIWAR NA SINAGOGA


DE NAZARETH

1. Com estas palavras se afasta o honesto Chiwar e, chegando à


escola, sabe que o reitor deu por sua falta, pois lhe pergunta onde esteve
e que fizera. Diz Chiwar: “Tive um caso complicado com um viajante,
ao qual dei solução, tanto que pôde seguir viagem!”
2. Diz o reitor: “Donde veio ele e para onde foi? Poderei ainda lhe
falar?” Responde o outro: “Era um judeu que veio de cima e já partiu!
Não poderás vê-lo, a não ser quando voltar! Quando? Em alguns dias!”
3. Diz o reitor: “Tua resposta ambígua não me satisfaz! Dá-me o
nome do albergue em que se hospedou, pois quero ir até lá informar-me
de tudo! Uma interferência importante por parte dum fariseu é algo de
extraordinário e merece ter sido testemunhada por muitos!”
4. Diz Chiwar: “Vai, se queres saber mais que eu! Esteve hospedado
na casa do carpinteiro José! Se fores até lá não deves esquecer de proteger
tuas costas, que haverá pancada de sobra! Pensas que o povo respeita
pessoas iguais a nós? O mínimo deslize terá, como consequência, uma
pancadaria em regra! Mas, como já disse, basta fazer uma tentativa para
se adquirir experiência!”
5. Diz o reitor: “Por tuas palavras deduzo que todos vós vos insurgistes
O Grande Evangelho de João – Volume II
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contra mim! Mas, não importa! Dentro em breve espero descobrir a trama
toda e, então – ai de vós! Dize-me, como se chega a casa do carpinteiro?”
6. Responde Chiwar: “Chega à janela que verás, a uns dois mil pas-
sos, a morada dele. Vai e convence-te, inclusive das pancadas!” Diz ele:
“Exijo que me acompanheis!” Respondem todos: “Pois sim! Só se fôsse-
mos doidos!” Diz o reitor: “Bem, então irei em Nome de Jeovah e quero
ver quem terá coragem de tocar num ungido de Deus!”
7. Retruca Chiwar: “Ungidos iguais a nós, esta unção nada mais é
que uma fraude vulgar, sem valor diante de Deus, que não nos protegerá
contra coisa alguma! Pois, como já disse, o povo sabe muito bem o que
deduzir do Templo!” Diz o reitor: “Seja como for, irei agora! Ai de vós se
encontrar as coisas de modo diverso!”
8. Responde Chiwar: “Dificilmente ouvirás o que desejas saber, mas
receberás outra coisa que te produzirá sofrimento!” Não mais prestando
atenção às palavras de Chiwar, o reitor se dirige à rua. Mal é visto, a
garotada o persegue, gritando: “Eis o novo reitor mau! Fora com ele!’’ –
De todos os lados se juntam mais crianças e adultos munidos de pedras e
porretes, que o fazem sentir no corpo esta recepção “animadora”! Rápi-
do, volta à sinagoga, fechando a porta, que recebe a chuva de pedras.
Entrando na aula diz ele, cheio de raiva, aos fariseus: “Isto é obra vossa!
Saberei vingar-me!”
9. Responde Chiwar, irritado: “Que falas, miserável? Como poderia
ser obra nossa, quando te prevenimos ao saíres? Somente depois de teres
sido recomendado por nós, poderás te dirigir ao povo, que não te consi-
dera por teres comprado este teu posto! Se tencionas, como prólogo de
teu exercício, tiranizar-nos, serás odiado por todos e farás bem passando
teu cargo a um que o mereça.
10. Terias que te modificar completamente, caso tenciones conquis-
tar nossa simpatia! Isto, no entanto, será difícil, pois que não adianta
externares uma feição amável quando possuímos a intuição de ler teus
pensamentos! Se modificares teu coração, deixando que nele penetre a
sabedoria divina, então louvar-te-emos diante do povo; ao passo que de
nada te valem o sumo pontífice, Pilatus e, muito menos, Herodes!”
Jakob Lorber
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11. Diz o reitor: “Como podes saber que eu estava pensando nesses
três amigos?”
12. Responde o outro: “Através do meu espírito profético, diante do
qual será difícil te ocultares! Será, portanto, impossível empreenderes algo
sem que não tomemos as devidas precauções! Estás satisfeito conosco? Vê,
ainda somos sacerdotes verdadeiros! O Espírito de Jeovah nos acompanha,
embora tenha abandonado de há muito o Templo de Jerusalém! Se te qui-
seres manter em nosso meio, terás que te tornar um real sacerdote!”
13. Diz o reitor: “Malditos servos do sinédrio! O meu dinheiro vos
agradou, – no entanto, não calculastes que, ao invés dum posto rendoso,
fui buscar um ninho de marimbondos! Vereis que Korah não vos deu tal
fortuna de graça!” – Após alguns minutos dirige-se ele de novo a Chiwar,
perguntando: “Que devo fazer para conquistar vossa amizade e a do povo?”
14. Diz aquele: “Tanto eu quanto Roban já te demos as devidas ins-
truções, – e aqui tens a Escritura que te revela a Vontade de Jeovah. Age de
acordo, que tudo correrá bem! Terás que conquistar a Graça de Deus por ti
mesmo, – então tudo mais ser-te-á dado por acréscimo!”
15. Responde Korah: “Sim, fá-lo-ei dentro de minhas posses. Na certa
não vos será de todo desagradável se eu transferir para cá minha residência,
pelo espaço de um ano? Pois aqui terei muita oportunidade de aprendiza-
gem, ao passo que em Capernaum e Chorazim só se vêem bajuladores!”
16. Dizem todos: “Teremos o maior prazer em te servir como reitor!
Aqui não há fraudes nem mistificações, não se vende estrume nem gado;
nossa pequena Casa de Oração ainda é o que deve ser! Não possuímos
uma arca com uma tal chama divina; em compensação nossos corações
ardem num amor sincero para com Deus, o que Lhe deve agradar mais!
A falsidade dos templários grita aos Céus! Ornamentam, anualmente, os
sepulcros dos profetas, por eles assassinados! Caso nos convidem a uma
festa qualquer em Jerusalém, teremos a liberdade de recusar o convite,
esperando por uma morte natural, ao invés de procurá-la nos recintos
secretos do Templo!”
17. Diz Korah: “Estou bem informado de tudo, e o sinédrio poderá
se regozijar das amabilidades que lhe proporcionaremos!” Diz Chiwar:
O Grande Evangelho de João – Volume II
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“Nada lhe faremos propositadamente; ai dele, porém, se nos desafiar,


pois temos material de sobra para uma ação contra ele!’’ Nisto, o cozi-
nheiro convida a todos para o almoço.

87. CHIWAR E KORAH DISCUTEM A RESSURREIÇÃO DE SARAH

1. Enquanto todos saboreiam o bom ágape, entra Borus, cumpri-


menta a todos e lhes apresenta sua esposa, Sarah, pedindo para que seja
registrado seu matrimônio. Chiwar apanha o livro de registro e os inscre-
ve como casados, diante de Deus e do mundo!
2. O reitor, então, pergunta se isto era possível, sendo Borus grego.
Responde Chiwar: “Como não? Aqui tudo se admite – e seria ridículo
não querer registrar um casal, de há muito abençoado por Deus!”
3. Diz o reitor: “Donde sabes isto?” Diz Chiwar: “Sei de muita coisa
que ainda ignoras, pois aqui existe um outro regime que o do Templo!”
O reitor sorri e se cala. Nisto, Borus apanha em sua algibeira a taxa pres-
crita e a deposita na sacola. Após ter deixado a sala, o reitor, verificando a
importância, diz: “Mas, – eis além de cinco libras de ouro com o cunho
de Augusto, mais algumas de Tibério! Isto, aqui é hábito? No Templo
bastaria uma libra de ouro como dádiva de honra!” Diz Chiwar: “Doa-
ções iguais a esta não são raras; Borus, depois de Jesus, o maior médico, é
muito distinto e rico e não necessita mostrar-se mesquinho!”
4. Pergunta o reitor: “Quem é sua esposa, tão simpática?” Diz Chiwar:
“É filha de Jairo e foi ressuscitada duas vezes pelo Salvador Jesus!” Diz o
outro: “Certamente ela apenas estava desacordada, fato comum às moças!’’
5. Diz Chiwar: “Ora, penso não haver sombra de vertigem quando
a pessoa permanece quatro dias na sepultura e o mau cheiro se torna
insuportável! Jesus a ressuscitou apenas pela palavra; hoje é mais linda e
saudável que antes, – e muito jovem, pois conta apenas dezesseis anos!”
6. Diz o reitor: “Quanto tempo faz que foi ressuscitada?”
7. Responde Chiwar: “No máximo há seis ou sete dias! Não posso
Jakob Lorber
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precisar bem, sei que foi no começo da semana passada!” Diz o outro,
perplexo: “Realmente, tal jamais foi visto! A não ser que tenhas inventa-
do uma história, este lugarejo parece milagroso!”
8. Diz Chiwar: “É verdade! Principalmente é Jesus Quem atrai toda
atenção sobre Si! Seus Atos excedem tudo que foi escrito pelos profetas!
Não existe doença que Ele não cure, mesmo sem ver ou tocar no enfermo!
9. Eis outro caso: a renúncia de Jairo, há quatro dias, a cujo requeri-
mento foi apresentado no Templo, no mesmo instante! De modo natu-
ral esse talvez só hoje fosse lá recebido; no entanto, já chegaste há dois
dias em Capernaum e hoje aqui, como seu sucessor. És, deste modo
milagroso, sumo sacerdote da Galiléia, – enquanto o documento de Jairo
se acha nas mãos do Pontífice – e isto tudo é obra de momentos! Tam-
bém nos contaram que Jesus ameaçou um tufão marítimo e que mar e
vento obedeceram imediatamente à Palavra do Messias – e bem se pode-
ria supor que este homem fosse assecla de Satanás, se Suas Palavras não
nos convencessem do contrário!
10. Digo-te sinceramente: Seus Atos são maravilhosos, no entanto,
tornam-se de valor secundário, em vista do Poder Estupendo de Sua
Doutrina! São verdades jamais sonhadas por um profeta! Descreve a vida
da criatura, de modo a não deixar dúvida a respeito da imortalidade da
alma! Em suma, é tão extraordinário que se pode afirmar consciente-
mente: Homem igual não habitou a Terra! Os elementos Lhe obedecem,
miríades de espíritos O assistem; assim ouvi contar pelos Seus discípulos
que, durante a viagem de Sichar a Caná, na Galiléia, fez o Sol ocultar-se
por minutos!
11. Roban e outros nos relataram que Ele reconstruiu em Sichar
dois velhos burgos – a antiga casa de José e Benjamim e o castelo de Esaú,
ora pertencente a Jairuth – de tal maneira, que os atuais construtores
confessam serem precisos no mínimo dez anos para tal fim! Não só a
construção é tão perfeita, como também seu aparelhamento é completo,
nada deixando a desejar! Philopoldo, um grego de Caná, na Samaria,
contou-me coisas incríveis que tinha de acreditar porque foram confir-
madas por mais de mil testemunhas!
O Grande Evangelho de João – Volume II
191

12. Estes fatos obrigam a criatura a tomar este homem como o mai-
or profeta! Diz Ele, porém, que toda pessoa seria capaz de tais coisas, caso
tivesse uma fé inabalável e convicta. Penso, entretanto, que uma fé desta
ordem já seria milagre, como consequência duma capacidade consciente
que concretiza o êxito.
13. Quem conhece suas forças, deve-se-lhas confiar para a realização
dum fato ou obra. Excedendo sua fé além destas forças, esta pessoa será
presa, pouco a pouco, de dúvidas em relação ao seu poder, não conse-
guindo o desejado. Encontrando no seu caminho uma pedra de várias
libras, não duvidará em poder tirá-la. O mesmo não acontecerá com
uma rocha dum peso muito maior, pois a vontade poderá ser levada ao
máximo sem algo conseguir, porquanto faltará a convicção subjetiva para
tal possibilidade.
14. A Jesus, porém, tudo é possível! Uma montanha ou um grão de
poeira são idênticos para Sua Vontade! Terra, água e fogo Lhe obedecem
como carneiros a um pastor, e até ao raio Ele ordena! Que deduzir disso?
Peço-te que externes tua opinião como reitor!”

88. OPINIÃO DE CHIWAR A RESPEITO DO TEMPLO

1. Diz o reitor: “Não duvido de tuas palavras, e penso estar ele em


união íntima com o Espírito Onipotente de Jeovah; talvez seja idêntico a
Moisés, ou Elias, o qual também tinha o poder de chamar o fogo do Céu.
2. Consta até que este último vivificou, certa ocasião, uma quantidade
de esqueletos que se cobriram de carne, pele e cabelos! Também fez com
que as fontes do Eufrates secassem por três anos – e impediu as nuvens de
surgirem no céu durante o mesmo prazo. Só depois das criaturas se peni-
tenciarem, ele libertou tanto as fontes quanto as nuvens! Além disso há
uma infinidade de fatos referentes a esse profeta; dele se diz que voltará
antes do Fim do Mundo, convertendo as criaturas em penitência, através
de grandes provas, porquanto nunca morreu, mas subiu aos Céus num
Jakob Lorber
192

carro de fogo. É, portanto, bem possível que Jesus seja a encarnação desse
grande profeta, fazendo milagres que só por Deus seriam realizáveis!”
3. Diz Chiwar: “Poderia aderir à tua opinião se não tivesse sido tes-
temunha visual de coisas que deixam atrás Elias, por uma eternidade!
Certamente desejas saber quais sejam. Eu, no entanto, não teria palavras
para descrevê-las; seria preciso a pessoa tê-las presenciado. Por isto estou
convicto, como milhares, de que Jesus é o Messias! Seria possível algum
outro fazer coisas mais grandiosas? Além disto, descende Ele, de acordo
com a Crônica, que vai até o avô de José, diretamente da linha de David.
(Matheus 1, 14-17) Achim foi pai de Eliud; este de Eleasar; Eleasar, pai
de Matthan; este, de Jacob; Jacob foi pai de José e José pai de Jesus.
Continua neste retrocesso que chegarás a David. Além do mais, consta
que o Messias haveria de descender de David, e que todos O reconhece-
riam pelos Atos.
4. Tudo isto prova ser Jesus o Esperado! É evidente que o Templo
orgulhoso não concordará; nós, porém, não nos deveríamos importar
com ele, que mal nos sustenta – a não ser que lhe tenhamos pago tanto que
dez pessoas pudessem viver por cem anos! Calcula a importância que pa-
gaste pelo teu cargo e verás que daria para teu sustento por um século.
Deixa que os romanos te persigam e procura proteção no Templo; verás
que lá não se pode nem sequer proteger alguém, a não ser que pagues
mais outro tanto, para receberes em troca uns conselhos tão obscuros
como os do oráculo de Delfos, que sempre tem razão com sua resposta
dúbia sobre um futuro bom ou mau.
5. Graças ao Senhor, conheço toda a patifaria do Templo e não vaci-
lo em enganá-lo sempre que possível! Acaso pensas que se possa alcançar
algo de bom pela justiça e bondade? Lembro-me dum certo grego, de
nome Bars. Era muito rico. Este homem falava pouco, e quando o fazia,
– era só mentira! Exigiu dos templários a importância de mil libras, dan-
do em troca um pergaminho que, talvez, valesse um talento. O sumo
pontífice deu de ombros; Bars fez uma cara ladina, dizendo cinicamente:
“Hum, ou tudo, ou nada!”, com que o Pontífice empalideceu,
entregando-lhe o dinheiro. Mais tarde soube-se ser ele trapaceiro, pois o
O Grande Evangelho de João – Volume II
193

Templo nunca mais recuperou a importância.


6. Havia judeus honestos que chegavam a pedir empréstimos aos
fariseus, sob boa fiança; nada, porém, recebiam, pois eram honestos de-
mais para que pudessem ser atendidos! De sorte que mantenho o seguin-
te principio: é preciso enganar o Templo caso não se queira ser por ele
enganado! E com isto também não perguntarei se Jesus é o Messias, pois
para mim Ele o é! Que te parece?”

89. PALESTRA ENTRE CHIWAR E KORAH A RESPEITO DO


MESSIAS. SATANÁS DESAFIA CHIWAR

1. Diz o reitor: “Amigo, simpatizo com tua pessoa, pois nunca vi alma
tão sincera como a tua! Tens razão sobre o que diz respeito a Jesus. Mas resta
saber a opinião de vós todos e dos templários de outras cidades!”
2. Diz Chiwar: “O que acabo de te dizer é convicção de todos daqui;
os de Capernaum não estão longe de aderirem – e quanto às outras,
deixemo-las nas suas velhas ilusões para mais tarde! Se exerceres teu ofício
aqui, em Nazareth, garanto-te que em poucos anos a Galiléia se terá
desprendido do sinédrio! Os romanos e gregos são a nosso favor e algo da
Proteção Divina também, – portanto estamos seguros!”
3. Diz Korah: “Concordo plenamente contigo! Precisamos, porém,
considerar que o arcanjo Miguel, o mais poderoso, lutou durante três
dias e três noites contra Satanás, pelo corpo de Moisés! Caso o príncipe
das trevas nos desafiasse, que farias?”
4. Diz Chiwar: “Embora não seja um arcanjo, não temo nem um,
nem mil! É preciso ter coragem e impedir a penetração deste verme, que
só poderá nos prejudicar se lhe dermos oportunidade! Tão certo como
Deus me criou: jamais edificarei um templo ao anjo do mal, espargindo-lhe
incenso para que me deixe em paz! Se quiser lutar comigo, que venha, –
e verás que lhe darei cabo em menos de três dias!”
5. Diz o reitor: “Amigo, arriscas muito em desafiar um leão, en-
Jakob Lorber
194

quanto és mosquito! Deverias pedir a Deus que te protegesse eternamen-


te de suas perseguições!”
6. Diz Chiwar: “Sim, conheço um Nome que afugenta legiões de
demônios! Onde está ele, se tem coragem para lutar comigo? O mosqui-
to é, pela força, um nada perto do leão; pode, porém, afugentá-lo quan-
do quer! Basta que lhe zuna dentro do ouvido, para o leão, crente que se
aproxima um tremendo temporal, esconder-se apavorado! Não é preciso
muita força a fim de vencer o mais forte; basta ser prudente! Tu mesmo
vieste aqui com uma boa porção de tendências satânicas; e vê, – minha
prudência fez com que tudo se endireitasse. Estás agora à nossa frente
como homem livre e nosso reitor, sem que Satanás nos prejudicasse! Sei o
que sei, e garanto que ele jamais se tornará meu mestre e senhor!”
7. Diz Korah: “Amigo, não fales tão alto; pois o mau tem olhos e
ouvidos por toda a parte. Deus nos proteja de sua visita!”
8. Diz Chiwar: “Não desejo a luta, mas também não a temo!” Mal
pronuncia estas palavras, aparece um gigante horrendo na sala, posta-se
furioso diante de Chiwar e diz-lhe com voz de trovão que faz estremecer
as colunas: “És tu o reles mosquito que pretende fazer uma trovoada no
ouvido do leão? Experimenta, verme do pó, lutar comigo! Sei de algo que
desconheces! Vê, o teu Messias depende unicamente de minha benevo-
lência, pois não me constitui honra travar batalhas com insetos; mas, se
ele fizer muitas trapaças, fá-lo-ei pregar na cruz, onde o poderás adorar!
Que farias se te desfizesse em átomos?”
9. Chiwar, levantando-se vagarosamente, fulmina Satanás com as
seguintes palavras: “Sai do mesmo modo por que conseguiste entrar, se-
não serás julgado por Jesus, o Senhor!”
10. Ouvindo este Nome, o gigante recua vários passos, prevenindo
Chiwar a não mais pronunciá-lo!
11. Este porém diz: “Tenho de fazer um zunido para que proves como
um leão foge de um mosquito!” – A seguir: “Jesus, Filho do Altíssimo, há
de te justiçar e castigar! Jesus, Filho do Altíssimo, há de te tocar daqui! Jesus,
Filho do Altíssimo, castigar-te-á pelos teus inúmeros ultrajes!” Não ouvin-
do o final da sentença, Satanás foge com gritos de pavor.
O Grande Evangelho de João – Volume II
195

12. Em seguida dirige-se Chiwar ao reitor, que treme feito vara:


“Viste como se toca um leão? Por que não me reduziu a pó? Eis sua
fraqueza! Que volte quando quiser e te garanto que fugirá mais rápido!”
13. Diz o reitor: “Ouve, amigo, admiro tua coragem e me sinto
transportado aos tempos dos patriarcas! Em todo caso, evita, no futuro,
desafiá-lo! É muito engenhoso, podendo usar todas as formas, inclusive a
dum anjo, quando, justamente, torna-se mais perigoso!” Diz Chiwar:
“Obtivemos uma pequena prova disto; agora, podemos estar descansa-
dos que ele não voltará tão cedo!’’

90. KORAH LEMBRA-SE DO SENHOR

1. A seguir, Korah pergunta se não é possível travar conhecimento


Comigo, e diz: “Sinto que existe algo de extraordinário em teu Messias e
peço-te que me leves a ele!’’
2. Diz Chiwar: “Pois não; o povo, porém, não é a teu favor e nos
arriscaríamos a levar umas pedras na cabeça; além disto, Ele Se prepara
para viajar e convém esperar Sua Volta, para o inverno.”
3. Diz Korah: “Tens razão; entretanto, não posso conter o desejo
que sinto de conhecer este homem, no qual age a Plenitude da Glória e
Poder Divinos! Aliás, lembro-me dum caso durante a Páscoa em Jerusa-
lém! Talvez seja o mesmo Jesus que enxotou os agiotas, derrubando suas
mesas?! Os animais debandaram por todos os lados, numa barulheira
infernal! Pois tal homem, com quem falei – de maneira não delicada –
também era galileu e se chamava Jesus. Em sua companhia achava-se um
grupo de homens e mulheres de aspecto ordinário de sorte que se pareci-
am com um bando de vagabundos. Jesus, porém, não se destacava por
algo excepcional. Falava pouco e o que dizia era profundo e verdadeiro!
4. Naquela ocasião, em Jerusalém, ele curou muitos enfermos; quan-
do, porém, Herodes soube do caso, este homem milagroso desapareceu
como por encanto e não se sabia para onde tinha ido. Semanas depois
Jakob Lorber
196

surgiram boatos do filho do carpinteiro. Entretanto, não podíamos su-


por que este homem simples, sisudo e inculto – pois não sabia ler nem
escrever – fosse o mesmo que fez tremer milhares dentro do Templo.
Neste caso, já o conheço e não necessito me tornar importuno”.
5. Diz Chiwar: “Sim, é Ele Mesmo! Conheço-O há vários anos,
como também a seu pai, o velho José, que faleceu há um ano! Nunca
observei algo de incomum Nele, embora se tenham dado fatos milagro-
sos por ocasião de Seu Nascimento, até aos doze anos. Dali em diante
perdeu Suas Faculdades extraordinárias, continuando Ele a ser carpintei-
ro, como atualmente. Era muito calado; no entanto, sempre bondoso
para com as crianças e os pobres. Fugia de reuniões alegres, amando a
solidão. Estranho é que raramente era visto numa sinagoga ou escola,
que visitava algumas vezes ao ano, a pedido dos pais, deixando-o aborre-
cido. Num templo nunca foi visto. Por estas particularidades acontecia
que era tido por atrasado.
6. Com trinta anos desapareceu da casa paterna, permanecendo algum
tempo no deserto de Bethabara, onde se encontrava o célebre João, sendo por
este batizado. Desde ali surgiu doutrinando, cheio de Poder Divino, curando
enfermos e expulsando demônios. Eis, em poucas palavras, Sua Biografia
que, em parte me foi por Ele contada, em parte por outros.”
7. Diz Korah: “Sim, tens razão! Esse caso de Bethlehem fez grande
alarde há trinta anos; e se não me engano foi este o motivo de Herodes ter
ordenado o infanticídio em massa. Ele, entretanto, fugira para o Egito. –
Então, é ele mesmo?! Que vontade tinha de falar-lhe antes que deixasse
esta cidade!”
8. Diz Chiwar: “Como quiseres! Mas para este fim teria que fazer o
arauto na cidade, referindo-me favoravelmente à tua pessoa; pois conhe-
ço os nazarenos!”
9. Diz Korah: “Pois então manda rápido vários mensageiros pelas
ruas, senão ele é capaz de partir!” Chiwar assim faz e o povo se regozija
tanto que prepara presentes, com os quais deseja homenagear o novo
reitor no próximo ante-sábado.
10. Ciente desta agradável novidade, Korah diz: “Vamos depressa,
O Grande Evangelho de João – Volume II
197

não há tempo a perder!” Diz Chiwar: “Estou pronto; deveríamos todos


Dele nos despedir; mas neste caso iremos sós!” Em seguida, ambos saem.
A alguns passos fora da cidade, porém, encontram Jairo, Borus, sua espo-
sa e Maria, que lhes contam ter o Senhor deixado o lugar há meia hora,
em companhia dos apóstolos e os adeptos recém-vindos de João.

91. OS AMIGOS DE JESUS EM CASA DE BORUS

1. Esta notícia entristece o reitor. Convidado por Borus, ele e Chiwar o


visitam em sua residência, onde tudo é feito para uma boa recepção. Bab e
Roban se juntam e todos passam a falar de Jesus, o Senhor.
2. Finalmente pergunta o reitor: “Dizei-me o motivo por que não
mais quis permanecer aqui! Parece temer Herodes! Um homem a quem
obedecem Céus e Terra e, além disto, conta com a amizade do comandante
romano, – não deveria ter motivo para fugir do Tetrarca! Seja lá como for,
não ficará bem, diante dos habitantes desta Terra, se Deus começa a temer
os demônios! Quanto mais reflito, mais estranho isto me parece!
3. Dai-me uma explicação concisa; senão, ver-me-ei obrigado a decla-
rar que vos enganastes a respeito deste homem. O Onipotente não necessi-
ta temer um Tetrarca que, talvez nunca pensou em persegui-Lo! Como um
seu favorito conheço-o bem, e sei que se arrependeu mil vezes de ter assas-
sinado João. A morte súbita de Herodias e sua filha o apavoram tanto, que
jamais fará matar um profeta! Assim, deve haver um outro motivo para a
inesperada partida de Jesus. Quem de vós me poderia esclarecer?”
4. Diz Borus: “Caro amigo, isto não será fácil, porquanto também estra-
nhamos Seu Regresso, embora saibamos Quem Ele é! Evidentemente tinha
receio de ti, no que não Lhe posso dar razão, por ver que és a Seu favor!”
5. Diz o reitor: “Contai-me o que se passou antes de sua despedida!”
6. Diz Borus: “Desde cedo Ele enviara Seus apóstolos à beira-mar a
fim de que Lhe preparassem uma embarcação, – e talvez para averiguar se
não havia espiões de Jerusalém. Em Sibarah, uma alfândega pertencente
Jakob Lorber
198

a Matheus que é discípulo de Jesus, os apóstolos encontraram sete adep-


tos de João. Estes lhes contaram o ocorrido com seu mestre, e que Hero-
des – embora confirmasse ser Jesus o ressuscitado João – havia enviado
seus asseclas com a seguinte ordem: se sua opinião fosse acertada, deveri-
am deixar Jesus em paz; caso contrário – matá-lo-iam! Isto conseguido,
poderiam contar com um grande prêmio por parte do Tetrarca. Caso isto
não fosse possível por ser Jesus um Homem-deus, imortal, as condições
de prêmio seriam as mesmas, pois que ele então se tornaria um Seu adep-
to, bem como toda a corte!
7. Quando Jesus ouviu isto, disse: “Jamais deverá Herodes ser Meu
adepto por esta prova! A Terra é imensa para Me dar um cantinho onde
ele não Me encontrará! Acaso o Filho do homem veio para Se tornar
aquilo através de assassinos contratados? Não! Jamais! Aquele que, de
armas na mão, perguntar Quem sou, nunca obterá resposta! Além disto,
já está em tempo de partirmos; portanto, vamos, a fim de encontrarmos
criaturas, em solo estranho, que, sem armas, acreditem sermos o que
somos!” Destarte preparou-se a partida; pois Jesus ainda disse: “Vamos
depressa, pois vejo através de Minha Vontade, que Herodes enviou seis-
centos assassinos ao Meu encalço e já se acham perto daqui!” – Assim foi
e penso estarem Jesus, Seus apóstolos e os adeptos de João, já em alto
mar, a caminho de Sibarah!”

92. A GRAÇA DO SENHOR QUANTO À HUMANIDADE

1. Diz a seguir o reitor: “Agora a questão muda de aspecto! Ele não


partiu de medo e sim por precaução, a fim de evitar que Herodes se torne
pior do que já é! O Tetrarca é uma criatura difícil de se compreender: ora é
bom, ora é um demônio de primeira categoria! Hoje seria ele capaz das
maiores promessas; mas ai de ti, se amanhã o fores lembrar disto! Serias de
tal forma recebido que jamais o procurarias! Por tal razão também é difícil
fazer-se um pacto de amizade com ele, pois é o primeiro a não cumpri-lo! E
O Grande Evangelho de João – Volume II
199

o nosso Salvador Jesus deve muito bem saber disto, motivo por que se lhe
desviou! Além do mais, o Tetrarca é esperto, sabe extorquir os impostos,
assim como ficar devendo o arrendamento aos romanos, e eu sei como o
faz; deixemos, porém, isto para mais tarde! Desejo apenas de vós saber se o
nosso Mestre Jesus não voltará aqui; não vos falou a respeito?”
2. Diz Borus: “Nada definitivo; mas espero que Ele passe o inverno
em nossa cidade! Caso Ele tencione passar esta temporada em Sidon ou
Tyro, informar-nos-á, a fim de que nos possamos dirigir para ali!”
3. Diz Maria, tristonha: “Certamente só virá por alguns dias!”
4. Aparteia o reitor: “Ora, não te aflijas; não Se esquecerá de nós e
muito menos de ti!”
5. Diz ela: “Por certo que não; é-me, porém, doloroso, saber como
as criaturas más e cegas desconhecem seu benfeitor máximo,
perseguindo-O sempre que possível!”
6. Diz ele: “Vê, querida, as criaturas são como são e teve razão David
quando exclamou em sua desdita: “Quão inútil é todo auxílio humano
se não pode socorrer os aflitos!” Além disso, sempre foi a triste sorte das
pessoas providas de faculdades excepcionais, vindas de Deus, serem per-
seguidas pelos vermes maldosos, como andorinhas pelo poderoso con-
dor.
7. Observa os grandes profetas! Qual foi seu destino? Pobreza desde o
nascimento, toda sorte de privações, inveja, perseguição e, finalmente, morte
violenta por mãos assassinas! Por que razão Deus assim o quis, – sempre me
foi um enigma! Resta apenas a esperança duma vida melhor no Além! Teu
filho divino teria poder de sobejo, pelo que ouvi, para acabar, de um só
golpe, com esta miséria humana! Que tal não é de sua vontade já nos
mostrou sua fuga diante de Herodes, ao invés de exterminá-lo! Embora
podendo, ele não o faz, – e assim continua o estado precário! Quando
voltar aqui, procurá-lo-ei para uma palestra a respeito!”
8. Diz Borus: “Não terá resultado! Pois fui testemunha de como o
vice-rei, sendo tio do imperador, fazia-Lhe toda sorte de propostas, – e
tudo em vão! Demonstrou Ele a Cirenius, o que é a Humanidade e a
maneira de conduzi-la sem provações excepcionais, quando deseja con-
Jakob Lorber
200

quistar, pelo ensinamento da Verdade Absoluta e através do livre arbítrio,


seu destino eterno, implantado por Deus! Tanto Cirenius quanto todos
nós, tivemos que Lhe dar razão; de sorte que tua planejada palestra não
surtirá efeito!”

93. BORUS FALA SOBRE A NATUREZA HUMANA

1. Diz o reitor: “Isto ainda poderá ser discutido; pois, considerando


as relações terrenas, a Humanidade jamais melhorou! Qual seu critério a
respeito dos profetas? Digo-vos: nos meios intelectuais se ri deles,
tomando-os por mitos religiosos, inúteis para o espírito do homem,
sobrepondo-se-lhes a filosofia de Pythagoras e Aristóteles! Uma prova
evidente que a Instituição de Jeovah, por mais sublime e verdadeira que
seja, não consegue a finalidade propalada! De que vale a Revelação, quando
não se lhe dá meios necessários pelos quais, unicamente, seria possível
manter as criaturas no respeito à Palavra Divina? Se os pais fizessem uma
tentativa de educar os filhos sem o castigo – em breve veríamos o respeito
que lhes seria tributado, não obstante todos os ensinos sábios e bons! Por
este motivo não dou valor às doutrinas e, mesmo, às leis, se não forem
transmitidas pelo açoite e a espada; o homem é mau e tem que ser força-
do para o Bem!”
2. Diz Borus: “Neste ponto concordo contigo; existe, no entanto,
um grande “senão”, que conhecerás quando ensinado por Ele Próprio!
Vê, quando observamos uma obra mecânica ficamos admirados.
Identificando-nos com ela, logo descobriremos uma série de falhas e so-
mos possuídos duma ânsia de corrigi-las. Para este fim procuramos o
mestre, informando-lhe de nossa observação. Ele, todavia, esboçará um
sorriso, dizendo: “Amigos, isto não é possível, pois a máquina correspon-
de a determinadas exigências! Quem a mandou construir, fê-la de acordo
com suas necessidades e a mínima alteração a prejudicaria! Necessita ape-
nas duma certa desenvoltura; qualquer excesso romperia o fio da meada
O Grande Evangelho de João – Volume II
201

e o tecelão nada conseguiria produzir! Somente depois de usada e im-


prestável, será chegado o momento de tocá-la, a fim de que volte a ser
o que foi!” Eis a resposta do mestre, e nós só podemos lhe dar razão.
3. Resposta idêntica nos será dada por Jesus, o Senhor, se Lhe per-
guntarmos o motivo da maldade das criaturas, a par da Bondade Divina!
Que sabemos nós da formação e constituição interna do homem? Mui-
tas vezes somos levados a amaldiçoá-lo, enquanto o Senhor o abençoa
Plenamente! Pois não compreendemos o Bem e o Mal no seu todo!
4. A pessoa, por melhor que seja, não deixa de ter algo de
amor-próprio. Nesse estado, ela sempre se torna juiz do seu próximo,
considerando-lhe as ações como falhas, quando não estão de acordo com
suas próprias idéias egoísticas. Como todos pensam egocentricamente, o
critério relativo ao semelhante será sempre falho. Estes julgamentos pro-
vocam insatisfação recíproca, aborrecimento, raiva e sentimentos afins.
Quem, portanto, é culpado do atraso das criaturas, senão elas mesmas?
O maquinismo da Humanidade se desgasta com o tempo, necessitando
ser reformado pelo Mestre Sublime. E tal período parece ter-se aproxi-
mado, depois de decorrido quase um milênio. Esta reforma equilibrará
as criaturas por um certo tempo, mas não além de dois mil anos, do que
seremos testemunhas no Além!”
5. Diz o reitor: “Realmente, congratulo-me contigo! És um discípu-
lo digno do teu Mestre! Reconheço não poder concorrer com tua sabe-
doria. Esforçar-me-ei por consegui-lo em breve, ao lado do meu amigo
Chiwar, pois a atual sapiência do Templo não basta para este fim!”

94. CONVIVÊNCIA DOS AMIGOS DO SENHOR, EM NAZARETH

1. Nisto, alguns cidadãos trazem um doente, que há anos sofria de


loucura. Como era pobre, os parentes não se animavam a procurar um
médico, e muito menos tinham coragem de Mo trazer, porquanto mui-
tos afirmavam que, os por Mim curados, prescreviam sua alma a Beelze-
Jakob Lorber
202

bub! A mesma opinião cursava a respeito de Borus, do qual alegavam ter


aprendido por Mim estas maquinações de Satanás!
2. Por isto Borus pergunta: “Que aconteceu, que trazeis este doente
aqui? Que fez ele para quererdes entregá-lo ao demônio?” Respondem
todos: “Senhor, fomos informados de algo melhor!” Diz o médico: “Quem
o disse?” Respondem eles: “Precisamente aqueles, que há muito nos deti-
nham nesta tolice pelos seus ensinamentos!”
3. Diz Borus, sorrindo: “Compreendo! Mas, que farei com o louco?
Pois o mal dele se firmou, devido a vossa grande estultícia, e será difícil
curá-lo, considerando vossa fé duvidosa!” Dizem os outros: “Se assim
fosse, não o teríamos trazido!”
4. Responde o médico: “Pois bem, veremos o que pode a Onipotên-
cia dentro do homem!” – Descobrindo sua cabeça, Borus se aproxima do
raivoso e diz: “Quero, em nome de Jesus, o Senhor de Eternidades, que
tenhas saúde e sejas livre deste mal!”
5. No mesmo instante o louco é curado, dando honra a Deus por
ter munido o homem de tal poder! Borus o acompanha em sua excla-
mação e, em seguida, presenteia-o ricamente, fazendo que se lhe sirva
uma boa refeição.
6. Aproxima-se, então o reitor e diz: “Realmente nunca poderia supô-lo!
Vi hoje na sinagoga que do Nome de Jesus emana um Poder ao qual até as
forças do inferno obedecem; mas que as enfermidades também se lhe ren-
dessem, só agora presenciei. Deve haver um outro fator que se prenda a este
Nome, e haveremos de conversar a respeito!” Com isto ele procura o cura-
do e lhe pergunta se este se sente perfeitamente bem!
7. Diz o outro: “Nunca me senti tão bem disposto em meus cinquenta
anos – e isto quer dizer alguma coisa!” O reitor o confirma e lhe oferece
uma boa importância. O curado a recusa com as seguintes palavras: “Se-
nhor, aqui em Nazareth existe gente mais pobre, – dá-lhes isto, pois que
agora posso trabalhar!”
8. Diz-lhe o ofertante: “Isto se chama ser “altruísta”! Não o esperava
de ti! Bem, sou o reitor da escola de Nazareth e de toda a Galiléia; caso
precises de algo, achar-me-ás!” Diz o outro: “São poucas as pessoas
O Grande Evangelho de João – Volume II
203

caridosas e é preciso conhecê-las, para uma possível eventualidade! Agra-


deço tua proposta!” Em seguida se levantam, o curado e seus guias, agra-
decem ao médico e seguem para seus lares, não longe de Minha casa.
9. Este acontecimento é muito comentado, tanto que se recolhem
depois de meia-noite. Maria permanece mais alguns dias na residência de
Borus, onde nada lhe falta. A organização doméstica cabe aos Meus dois
manos mais velhos, e Borus lhes fornece tudo que necessitam. Deste
modo Meus amigos vivem em harmonia durante Minha ausência, apli-
cando e ensinando Minha Doutrina.
10. O reitor analisa tudo, sendo sempre levado a dúvidas; pois é
destas pessoas que esquecem o que na véspera prometeram. Assim Chiwar
e Roban lutavam dia a dia com este homem propenso a ser justo, mas
que se movia entre vários princípios de justiça e parcialidade, qual folha
ao vento. Quando se lhe provava que a justiça consiste unicamente na
aplicação das Leis Divinas, ele o compreendia e aceitava. No dia seguin-
te, porém, achava ele uma série de razões contrárias, de modo que Chiwar
não raro tinha dificuldades em contrapô-las. Este, então, lembrava-se de
que Eu lhe recomendara precaução com o reitor, pois não era possível
confiar nele inteiramente. O que mais lhe preocupava era o Poder de
Meu Nome. Quando, às vezes, ele se excedia, Chiwar o convertia por
este meio. Borus, porém, tinha a maior ascendência sobre ele. Com isto
ficou provado o que fizeram os nazarenos na Minha ausência; voltemos,
portanto, àquilo que se prende à Minha Pessoa.

95. A CURA MILAGROSA E A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES


Ev. Matheus – Capítulo 14, versículos 13 a 24

1. Como já foi dito acima, deixei Nazareth com os discípulos, to-


mando um navio em Sibarah. Durante a travessia para Bethabara eles
Me relataram seus feitos, pelo que Eu os elogiei. Chegando ao destino
mandei ficasse a maioria a bordo, levando apenas alguns adeptos, que
Jakob Lorber
204

Me acompanharam ao deserto à procura dum lugar seguro contra as


perseguições de Herodes.
2. Houve, porém, várias embarcações pequenas que Me seguiram, e
logo souberam, onde Me encontrava, pois não era de todo Minha Inten-
ção ocultar-Me completamente das criaturas necessitadas. Por este moti-
vo Meu paradeiro no deserto não durou um dia – e de todas as cidades,
vilas e aldeias, afluiu grande multidão, em conjunto com mais oitocentos
adeptos, que um dia antes haviam regressado a seus lares, e agora Me
estavam seguindo.
3. Entre eles havia vários de Caná da Galiléia e Caná da Samaria,
outros de Jesaíra, de Kis e Sibarah, de Capernaum, Chorazim, Cesaréia,
Genezareth e Bethabara; anunciaram-Me eles em outros tantos lugare-
jos, de sorte que uma grande multidão lá Me procurou, em parte a pé e
em parte de barco, trazendo consigo muitos enfermos. Como já disse,
mal se faz o dia, algumas mil pessoas dão com Meu pouso.
4. Este, sendo no deserto, consistia duma gruta espaçosa e achava-se
num planalto rodeado de árvores. Diante da gruta havia um terreno imen-
so no qual vários milhares se podiam acomodar. Vendo este constante
acúmulo de pessoas que Me bloqueavam a gruta, Meus discípulos se
preocupam por Minha Causa. Entregam o navio aos oito marujos, a fim
de Me avisar da multidão e alegando que não se podiam responsabilizar
se fizessem parte da mesma alguns asseclas do Tetrarca.
5. Ciente do fato, saí da gruta e, olhando o povo Meu Coração se
condoeu, pois todos Me pediam chorosos que Eu curasse os doentes. E
Eu os curei a todos, inclusive àqueles, ainda a caminho do planalto. (Ma-
theus 14, 14) Isto, naturalmente, despertou manifestações de júbilo e
louvor que se estenderam até à noite. O lugar em frente à gruta já estava
tão cheio que os discípulos começaram a se apavorar; jovens havia que
subiam nas árvores, a fim de observar-Me.
6. Quando a noite desceu, os discípulos se Me aproximaram, dizen-
do: “Senhor, estamos no deserto; a hora é avançada e, pelo que vemos,
ninguém trouxe algo para comer! Despede a multidão para que procure
alimentos pelas aldeias!” (Matheus 14, 15) Disse-lhes Eu: “Não é neces-
O Grande Evangelho de João – Volume II
205

sário que o façam, dai-lhes vós alimento! (Matheus 14, 16) Para beber só
precisam de água, abundante nestas fontes.”
7. Responderam os discípulos, um tanto admirados: “Senhor, te-
mos apenas cinco pães de trigo e dois peixes fritos. (Matheus 14, 17) De
que vale isto para tanta gente?”
8. Disse-lhes Eu: “Trazei-Mos aqui!” (Matheus 14, 18) Mandando
que o povo se acomodasse na relva, tomei os cinco pães e os dois peixes,
ergui os olhos ao Céu, agradeci ao Pai, partindo os pães e dando-os aos
discípulos, que os levaram à multidão. (Matheus 14, 19) Os dois peixes e
um pedaço de pão sobraram para os adeptos.
9. E todos comeram e se saciaram. As sobras juntaram nos cestos,
que o povo costumava levar consigo. Eram de bom tamanho, carregados
nos ombros, e se encheram doze deles. (Matheus 14, 20) O número dos
que se saciaram, era, excetuando mulheres e crianças – de cerca de cinco
mil pessoas. (Matheus 14, 21) Este provimento do povo durou uma hora
e despertou grande admiração, de sorte que queriam proclamar-Me Rei.
Percebendo este plano, mandei que os discípulos embarcassem para al-
cançar a outra margem, até que Eu despedisse o povo. (Matheus 14, 22)
Com isto impedi aquela manifestação, dizendo em seguida aos que Me
procuraram, que se podiam retirar. Quando só, (Matheus 14, 23) subi ao
monte e orei, a fim de unir mais intimamente a Minha Natureza huma-
na com o Pai. Deste cume avistei ao luar o navio dos discípulos, lutando
contra as ondas açoitadas por um vento contrário. (Matheus 14, 24)

96. OS DISCÍPULOS NO MAR TEMPESTUOSO

1. É fácil de se imaginar que o ânimo dos discípulos não é dos me-


lhores; fazem, por isto, várias observações sobre Minha Pessoa, e até Pe-
dro se externa da seguinte maneira: “Não tinha Ele coisa mais interessan-
te a fazer do que expor-nos à morte pelas ondas? É realmente estranho da
parte Dele! Não tenho coragem para fazer os marujos remarem, pois
Jakob Lorber
206

dentro em pouco tocaremos rochas e bancos de areia, e eu, como velho


pescador, por nada me responsabilizo! Assim, é melhor continuarmos
nesta altura, até de manhã!”
2. Diz Thomás: “Desejava saber o que ele pretendia, quando nos
mandou seguir na frente!”
3. Diz André: “Que eu saiba, não há embarcação na costa deserta – e
pergunto: como Ele nos há de seguir? Por terra levará catorze horas até juntar-
se a nós, em Kis, por Sibarah. Indo pela costa do norte, levará dois dias!”
4. Diz Judas: “Todos vós nada sabeis! De há muito percebi que nos
tornamos importunos; por isto ele aguardou uma boa oportunidade para
se descartar de nós. Duvido ser esta sua atitude louvável!”
5. Diz João, Meu Amado: “Não, jamais Ele faria isto! Conheço-o
muito bem! Não o faria como homem, muito menos como Filho de
Deus, na Plenitude do Espírito Divino! Deve ter Suas Razões para tal e
pressinto que, em breve, convencer-nos-emos disto! Meu Deus, se Ele, a
Quem obedecem Céus e Terra, Se quisesse descartar de nós, bastaria um
sopro de Sua Boca e todos nós estaríamos do outro lado do planeta,
como o fez há três ou quatro semanas, transportando-nos numa veloci-
dade incrível para junto Dele! – Meu caro irmão Judas, evita estas obser-
vações ridículas que apenas provam a tua incredulidade!”
6. Diz Nathanael: “Concordo contigo, João; julgo, apenas, ter sido
possível, apesar de todo o zelo de consciência, termos pecado contra Ele
sem que o quisesse mencionar. Por isto, deixou-nos a sós para meditarmos
sobre nosso comportamento. Ele voltará, tão logo nos tivermos purificado.
7. Já fiz um exame introspectivo, sem ter achado algo que me pareça
condenável. Realmente, para mim, um pecado consciente seria um alí-
vio, pois reconheceria, por tal certeza, que mereço esta reprimenda do
Senhor, arrependendo-me em seguida! Agora, até invejo um pecador!
Não que eu pretenda sê-lo; sentiria, porém, um consolo, tornando-me
penitente diante de Deus e do mundo! Como, no entanto, seria possível
a um homem justo trajar-se da vestimenta de rigoroso penitente sem se
tornar ridículo perante o Pai?”
8. Diz Bartholomeu: “Mas, que idéia esquisita! Como podes prefe-
O Grande Evangelho de João – Volume II
207

rir um pecador a um justo?”


9. Diz João: “Não é de todo errado! Naturalmente trata-se, neste caso,
dum pecador por fraqueza e paixão irrefletida, e não dum servo do inferno!”
10. Diz Jacob: “É verdade! Nem de longe podemos concorrer com a
sabedoria de Nathanael! Fala pouco e quando o faz, todos lucram em
ouvi-lo, pois suas palavras são profundas!”
11. Responde o lisonjeado: “Meu irmão, deixa de elogiar-me quando
digo qualquer coisa! O Senhor sabe melhor o quanto vale minha fraca
sabedoria; pois se fosse de valor, de há muito seria um mensageiro igual a ti;
no entanto, continuo sendo um simples discípulo. Possuo um espírito po-
ético e não profético, como João, que o tem desde o nascimento; por isto,
o Pai o destinou para escrivão de coisas ocultas em relação ao espírito!”
12. Diz João: “Não digas! Neste caso, o que é Matheus?”
13. Responde Nathanael: “Este é destinado a escrever e divulgar
fatos relativos ao mundo!”
14. Diz João: “É possível; assim sendo, é da Vontade do Senhor
dar-nos isto – e temos que aceitá-lo!”
15. Interrompe Judas, resmungando: “Na certa, nada mais nos dará!
A ampulheta já se esvaziou quatro vezes, enquanto as ondas nos atacam, e
não vejo embarcação que nos siga!” Replica João: “Não importa; pois Ele
não determinou a hora para seguir-nos!” Diz Judas: “Terá seus motivos!”
16. Responde João: “Amigo, dize-me sinceramente, se depois de
teres passado por tantas provas, ainda não crês e sentes que Jesus seja
Deus em Verdade, que possui Poder de Ação, tanto no Céu quanto na
Terra?! Fala com sinceridade!”

97. JUDAS ELOGIA OS MILAGRES DOS ESSÊNIOS

1. Diz Judas: “Se o fizesse irrestritamente, seria tão fraco na fé como


tu e muitos de vós! Não faz meio ano que o acompanhamos, e temos
visto coisas realmente extraordinárias; como sois criaturas simples, não
Jakob Lorber
208

viajadas, e jamais assististes outros fenômenos do que os produzidos por


Jesus, compreende-se que lhe atribuais Poder Divino. Comigo isto não se
dá; pois muito viajei, assistindo a coisas milagrosas. Observai os essênios
e os tomareis por deuses, como o fazem romanos e gregos que os adoram,
levando-lhes grandes oferendas.
2. Tudo isto que fez Jesus como algo extraordinário, também podeis
admirar com os essênios. Assim não vejo por que lhe atribuir as prerroga-
tivas duma divindade total. Se ele fosse o único sobre a Terra a quem
obedecem os elementos, seria fácil acreditar-se em sua divindade. Como
minhas vastas experiências me provaram haver várias pessoas que usam
túnica inconsútil, deve este Jesus fazer muito mais para que se possa acre-
ditar ser ele Jeovah, como o foi de Eternidade!
3. Classificais a ressurreição, a multiplicação dos pães, as constru-
ções suntuosas de palácios, as provas em Lua e Sol, como sendo milagres
divinos! Isto tudo ainda não prova a Divindade de alguém, porquanto
coisas idênticas deparei diversas vezes com os essênios. A cura de enfer-
mos ali é fato vulgar; eu mesmo fui testemunha como o chefe deles escre-
veu em três idiomas dentro da Lua! Assim também escureceu o Sol em
pleno dia! Após ter feito certos desenhos e cálculos, nos disse: “Dentro de
uma hora enviarei uma praga aos homens, pois ocultarei o Sol por vários
momentos, para que se façam trevas em todo o mundo!”
4. Nesta expectativa, não muito agradável, aguardamos, sob tensão
nervosa, a praga predita, pois escurecia mais e mais! Quando a areia pas-
sou para o outro lado da ampulheta, o chefe estendeu suas mãos e falou
pausadamente: “Sol, oculta-te! Eu o quero!” No mesmo instante se fez
noite sobre a Terra! A seguir, e levado pelos nossos pedidos insistentes,
estendeu de novo suas mãos que pareciam chispar fogo, falou: “Basta!
Incendeia-te, pouco a pouco, e aquece o orbe!” E, vede, a este mando
deu-se o que ele ordenara!
5. Não longe do mosteiro dos essênios, com seu grande jardim cir-
cundado de altos muros, havia uma montanha, duas vezes da altura do
mesmo. Eu costumava procurá-los quatro vezes ao ano, para lhes vender
meus utensílios caseiros. Numa destas ocasiões um essênio me disse: “Se
O Grande Evangelho de João – Volume II
209

desejas assistir como até as montanhas obedecem à força de vontade de


nosso chefe, fica e terás a prova disto. Pois aquele monte está nos obstru-
indo a vista e em seu lugar verás, amanhã, um suntuoso palácio!”
6. Observando a montanha a uns quatrocentos passos do mosteiro,
vi que era uma rocha coberta de musgo e alguns arbustos. Então, disse
sorrindo ao essênio: “Se isto for uma rocha verdadeira, vosso mestre de-
verá possuir poder divino se pretende transformá-la numa construção!”
7. Disse o outro: “Se duvidas, vamos até lá!” Eu respondi: “Amigo, o
que vejo não necessito apalpar, pois vislumbro de longe os menores obje-
tos!” Respondeu-me ele: “Então permanece aqui, – e verás uma quanti-
dade de milagres!”
8. A seguir levou-me ele a uma câmara escura, na qual havia no
mínimo uns cem cadáveres expostos – e o mau cheiro não deixava dúvi-
da do seu estado. Enquanto ainda os observávamos – e até os tocamos,
quatro carregadores trouxeram mais dois defuntos, deitaram-nos ali e
saíram. Perguntando ao meu guia se não tinha receio de ficar ali, no meio
de tantos mortos, respondeu-me ele: “Por quê? Enquanto mortos nada
me poderão fazer e quando os ressuscitar, agradecer-me-ão por esta graça!
São homens, mulheres e jovens – e é pena não haver crianças em seu
meio. Não te assustes quando se levantarem a meu mando!”
9. Postei-me na saída, para o caso de que quisesse fugir! O essênio
levantou as mãos e exclamou, com voz vibrante: “Ressuscitai, vivei e tra-
balhai para vosso sustento! Dai, porém, ao grande Espírito de Deus, a
devida honra, por ter dado às criaturas tanta sabedoria e poder!” No
mesmo momento todos se levantam e agradecem ao essênio a graça rece-
bida, manifestando alegria e saúde. Ele os cumprimenta e despede.
10. Que me dizeis desta ressurreição de cento e dois defuntos? –
Perguntei àquele homem milagroso se isto acontecia várias vezes ao ano e
ele disse: “Isto se dá uma vez por semana. O chefe, porém, até ressuscita
esqueletos, de sorte a obterem vida normal como estes que viste agora!
Mas tal poder não me assiste!” Em seguida conduziu-me a uma câmara
mais escura, onde se via uma quantidade de esqueletos; podia-se
vislumbrá-los através duma luz mortiça. Assim ficamos alguns minutos,
Jakob Lorber
210

quando se aproximou o chefe com aspecto grave e perguntou ao meu


guia se conseguira ressuscitar os outros. E ele respondeu, respeitosamen-
te: “Sim, nobre e sábio mestre!” Disse o chefe: “Bem, então presta aten-
ção! Iniciar-te-ei em presença deste estrangeiro, para que possas, no futu-
ro, vivificar também os esqueletos! Vai e toca em cada um com o polegar
e o dedo mediano de ambas as mãos, o tórax e o crânio, conta até sete e
exclama: “Cobri-vos de carne e pele, e que o fogo vital emane das pare-
des, vivificando-vos em criaturas normais!”
11. Meu guia obedeceu, de sorte que, com sua exclamação,
desprendiam-se verdadeiras labaredas, – e os esqueletos se apresentaram
como criaturas perfeitas, cheias de vida, em número de cem, –
cumprimentaram-nos e agradeceram ao chefe a graça alcançada. Este
mandou que respirassem o ar puro dos jardins, pois disto necessitavam
para refazer as suas forças! Que me dizeis a isto? E o nosso mestre? Onde
fica com seus milagres?
12. Em seguida me convidaram para a ceia e sentamo-nos a uma
mesa longa e vazia. O chefe fez uma oração num idioma estrangeiro,
levantou o olhar para o alto e nós seguimos seu exemplo. De repente
ouviu-se um estrondo, como se o teto tivesse desabado! Nem eu nem
algum outro soube dizer como se deu o fato, – pois a mesa estava repleta
de bons pratos e bebidas, comuns a um banquete régio! Mais tarde ainda
fui verificar o monte, que nesta noite deveria ser transformado num pa-
lácio e depois repousei num recinto à parte.
13. Logo cedo meu guia veio chamar-me, dizendo: “Vem olhar!” –
Fui todo curioso e, – nem sombra mais havia da rocha: em seu lugar se
achava um palácio imperial, por cujos salões fui conduzido,
convencendo-me de que o milagre não era fraude. Pergunto-vos agora se
nosso mestre Jesus já fez coisa mais milagrosa! É, no entanto, por vós
declarado Jeovah em Pessoa! Por isto não deveis vos aborrecer se, ele vol-
tando, eu de vez em quando, fizer perguntas que não vos agradem!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
211

98. JOÃO E BARTHOLOMEU EXPLICAM A JUDAS OS


TRUQUES DOS ESSÊNIOS

1. Diz João: “Isto que acabas de contar dos essênios, eu e outros de


há muito já sabíamos e ainda sabemos mais: são mistificadores e fraudu-
lentos, piores que os visionários de Delfos, os quais hoje em dia a nin-
guém mais enganam! Os essênios – como remanescentes da velha casta
sacerdotal do Egito, riquíssimos pelos tesouros de pérolas, pedras e me-
tais preciosos – construíram, na fronteira entre a Terra Abençoada e o
Egito, um verdadeiro engenho milagroso, e outro, perto de Jerusalém,
que lhes dá boa renda! Admiro-me de que tu, tão esperto, não o saibas!”
2. Diz Judas: “Sempre usei dos meus cinco sentidos!”
3. Afirma João: “No entanto, nada viste e compreendeste! Acaso
pensas que os “mortos” eram defuntos?”
4. Diz Judas: “O quê, então?”
5. Responde João: “Nada reparaste na câmara escura? Os tais mor-
tos eram tão vivos como tu – e a exclamação, apenas a chamada para que
se levantassem. Pergunta ao nosso irmão Bartholomeu, que lá trabalhou
durante dois anos como defunto, conseguindo finalmente fugir do claustro
horroroso de fraudes!
6. Conforme me contou, fazia ele este papel quatro vezes por sema-
na. Primeiro, na câmara dos recém-mortos e, a seguir, na dos esqueletos,
em estantes em cujos tampos eram pintados, enquanto nos primeiros
eram pregados, por serem feitos de madeira. As estantes eram uma espé-
cie de bancos com tampas abauladas, munidas de tiras de abrir e fechar.
As criaturas se deviam deitar neles; a seguir se fechavam as tampas, onde,
nas faces externas, havia esqueletos pintados. Como a câmara seja bem
escura, com facilidade se efetua a ressurreição diante de estrangeiros. A
exclamação é feita para que os servos, do lado de fora, incendeiem resina
pulverizada, soprando o fogo através de pequenos orifícios para dentro
da câmara.
7. Com esta encenação os visitantes se assustam e os outros aprovei-
Jakob Lorber
212

tam o momento de balbúrdia para abrir o esquife, levantando-se contri-


tos e agradecidos por esta imensa graça! Nisto consiste a ressurreição!
Aqui está Bartholomeu, para testificá-lo!”
8. Reconhecendo a farsa, Judas diz: “Ótimo! Muito bem engendra-
do! Isto deve dar rios de dinheiro a estes mistificadores! Mas, como con-
seguem transformar o monte num palácio?”
9. Responde Bartholomeu: “O palácio de há muito foi construído.
Não viste acima dele uma cúpula, pousando numa possante coluna?”
10. Diz Judas: “Oh, sim! ...E me admirei daquilo!”
11. Diz, a seguir, Bartholomeu: “Vê, dentro da cúpula está o segredo
feito de linho, pelo qual os essênios transformam o palácio num monte apa-
rente, e vice-versa! Compreendeste, ou é preciso que me explique melhor?”
12. Responde Judas: “Oh, compreendo perfeitamente! Mas quem po-
deria supor que esses simuladores fossem tão deslavados? Resta saber, ago-
ra, que há com a escrita na Lua cheia e o obscurecimento total do Sol!”
13. Diz Bartholomeu: “Isto atinge o ridículo! Quantas vezes não
suspendi a lua artificial, com outros cinquenta homens fortes, numa vara
comprida? Ela consiste em dois arcos cobertos de pergaminho e ao cen-
tro se encontram quatro lamparinas a óleo que, quando acesas, produ-
zem uma forte luz. A parte virada para o castelo é escrita em letras garrafais,
em três idiomas! Que dizes desta Lua cheia?”
14. Responde Judas: “Esta fraude é incrível! Como, porém, se efetua
o obscurecimento total do Sol verdadeiro?” Diz Bartholomeu:
“Conseguem-no através de cálculos, pelos quais se positiva a passagem
da Lua em frente do Sol. Estes cálculos são reais, pois que tocam à ciência
que os essênios aprenderam com os egípcios. Quanto à mesa milagrosa-
mente posta, isto se prende a um mecanismo fácil e idêntico ao dos cai-
xões dos defuntos. Eis os milagres essênios, dos quais não viste nem a
centésima parte e se prestam a deixar perplexos os incautos.
15. Existe num terreno baldio uma floresta, onde se ouvem falar as
árvores; noutro canto o fazem os rochedos e, além, a fonte! Num lago
profundo vê-se uma quantidade de serpentes inofensivas, diariamente
alimentadas com leite, as quais também, de vez em quando falam! Num
O Grande Evangelho de João – Volume II
213

lugar especial, até mesmo o capim! Necessitaria de tempo para te descre-


ver tudo; basta, porém, que te diga serem ludibriados por dia trinta a
quarenta pessoas, em troca de ouro e prata!

99. FILOSOFIA DOS ESSÊNIOS

1. (Bartholomeu): “O mais interessante é que, às vezes, aceitam-se


crianças realmente falecidas, de pais ricos, para fins ressuscitáveis, as quais
são devolvidas apenas depois de um ou dois anos. Neste caso, um curador
essênio visita os tristes genitores e se informa de todas as minúcias con-
cernentes ao extinto. É preciso mencionar tudo: a idade, o que a criança
porventura ouviu e aprendeu, suas predileções alimentícias, a descrição
de seu quarto, quem e como eram seus amiguinhos, tudo que sucedeu,
onde e em que ocasião. Em suma, nada deve ser oculto, do contrário, diz
o essênio, não é possível se efetuar a ressurreição!
2. Os pobres pais, com prazer, atendem a este pedido, acreditando
que tal seja imprescindível ao desejado fim! O proponente, porém, tem
outro plano!
3. Como já disse, possuem eles na fronteira do Egito um grande
instituto de crianças de todas as raças. Lá escolhem um tipo semelhante
ao falecido, sendo este último bem enterrado. Levando tal criança consi-
go, educam-na em tudo que sabem sobre o morto, levam-na secretamen-
te a lugares frequentados por aquele e convidam seus amigos ao conven-
to, para com ele terem contato. Este substituto é informado da arruma-
ção do futuro lar paternal: descrevem a disposição dos quartos, a fim de
que possa perguntar aos pais por tudo, e estes tenham uma verdadeira
alegria. A impostura é tão bem engendrada que os genitores não têm a
mínima dúvida de ser aquele o filho legítimo. Pagam, por isto, uma soma
enorme, e com muito prazer.
4. A pais pobres tal milagre nunca acontece; em compensação, é-lhes
dado um consolo animador e, através de pequenas magias de pouca mon-
Jakob Lorber
214

ta, fortifica-se-lhes a crença de que seu filho falecido subiu ao Céu, em


linha reta.
5. No fundo, os essênios defendem bons princípios, pois dizem: É
preciso que haja uma sociedade de pessoas cultas, que tudo faça para a
felicidade do próximo por meios prestáveis. Essa sociedade conclui, através
de longas pesquisas, ser a morte o fim de tudo, não mais havendo consciên-
cia ou vida de espécie alguma após a mesma. Seus membros têm bastante
filosofia para desprezar a vida, não a considerando a maior dádiva; entre-
tanto, é preciso difundir a crença duma vida completa da alma após a
morte, a fim de levar a felicidade às criaturas. E para este fim se usa de
milagres aparentes que, quanto mais assombrosos, maior efeito surtem!
6. Os iniciados têm de manter o máximo sigilo e o dever rigoroso de
fugir, diante de estranhos, da verdade, pois que ela torna o homem escra-
vo da morte. Por isto Moisés falou na Gênesis: “Quando comeres da
árvore do conhecimento – isto é, da árvore da Verdade, – morrerás!”
Assim, fundou ele uma casta sacerdotal para os judeus, que se manteve
até a presente data, embora hoje completamente desvirtuada.
7. O conceito principal é o amor, cuja aplicação as criaturas devem
considerar como dever sagrado através de Leis dadas por Deus. Esta virtu-
de deve ser praticada com persistência e como desejada pela Divindade: o
Pai Bondoso para os bons, ao mesmo tempo que Juiz Implacável para os
renitentes. Por estes meios se induz a Humanidade a praticar boas ações.
8. Caso encontrando uma pessoa que propale a verdade, lançando
suspeitas contra a ideologia dos essênios, deve ser considerada um mons-
tro que traz a morte a milhares através sua doutrina, e esta sociedade tudo
deve empreender para afastá-la, ou melhor ainda, conquistá-la para seus
fins! Pois nada é pior que um esclarecimento no campo da fé em um deus
e numa vida eterna! Vê, Judas, eis os princípios dos teus tão prezados
essênios! Falando mundanamente não se lhes pode criticar; quanto ao
espírito, porém, são condenáveis. De sua boca jamais um leigo ouvirá
uma sílaba de verdade, e tentando-o, selará sua própria execução!”
9. Diz Judas, irritado: “Mas, que feras! Jamais poderia supor tama-
nho embuste e acredito por tu me dizeres, sendo ex-essênio! – Como
O Grande Evangelho de João – Volume II
215

conseguiste fugir ileso?”


10. Diz Bartholomeu: “Fiz-me iniciado, prestando todas as provas e
fui designado para cá, num serviço externo. Como merecia toda confian-
ça, deixaram-me nesta incumbência; é um privilégio concedido pelo con-
vento que só lhe dá lucro. Encontrando, todavia, a plena verdade, prefiro
não mais voltar! Por mim os do claustro nunca serão informados do que
sei; com o tempo, os que estão fora saberão quem são eles!’’

100. OS DISCÍPULOS EM ALTO MAR

1. Diz Pedro: “Já deve ter passado uma hora após meia-noite e ainda
não há vestígio dum barco!” Responde André, possuidor de ótima visão:
“Também nada vejo!”
2. Diz Matheus, o aduaneiro: “Se ao menos o vento se acalmasse! Os
marujos já estão exaustos, embora lhes tivéssemos ajudado. Somente a
manhã nos trará outro vento!”
3. Diz Nathanael: “Eu com coisa alguma me importo, – queria ape-
nas que o Senhor chegasse, – do contrário, seria aconselhável voltarmos à
procura Dele! Talvez caísse nas mãos de servos herodianos?!”
4. Diz Simon: “Ora, mais isto?! Ele, o Senhor dos Céus e da Terra –
nas mãos daqueles assassinos?! Ele disse que viria – e tudo que diz é verda-
de! Não teremos alcançado a outra praia e Ele estará em nosso meio!”
5. Afirma João: “Também concordo! Confiemos Nele que nunca nos
abandonará! Não teríamos resistido a esta ventania que nos castiga há cinco
horas, se não fosse o Seu Poder de contê-la! Pelo que vejo, nosso navio
continua no mesmo ponto, de sorte que podemos deixar de remar!”
6. Diz Pedro: “Sim, tens plena razão!” E, assim dizendo, dirige-se
aos remadores, afirmando-lhes que não precisam cansar-se. Dizem eles:
“Vemos a costa beirando o deserto, a maré está furiosa! Não nos sendo
possível parar aqui, pereceremos todos!”
7. Diz Pedro: “Só se não fôssemos discípulos Seus! – Esperemos a
Jakob Lorber
216

madrugada, que tudo melhorará!” Os remadores, pouco a pouco, dei-


xam de remar e percebem que o navio não se move, acreditando que isto
se dê devido a Meu Poder.

101. PEDRO DÁ SUA PROVA DE FÉ


Ev. Matheus – Capítulo 14, versículos 25 a 33

1. Neste meio tempo se aproxima a quarta ronda. O vento se acalma


e André, observando o mar ainda revolto, vê alguém caminhando sobre
as ondas como se pisasse solo firme. (Matheus 14, 25) – Chamando
pelos outros, aponta-lhes aquela figura e diz: “Este não é um bom agou-
ro, é um fantasma do mar! Quando é visto, os navegantes nada de bom
podem aguardar!” (Matheus 14, 26)
2. Todos são da opinião de André, apavoram-se e gritam: “Ó Jesus,
por que nos abandonaste a ponto de perecermos? Oh, se ainda Te encon-
tras em alguma parte, lembra-Te de nós e salva-nos da morte certa!”
3. Nisto chego a dez passos do navio, e lhes falo: “Tende fé, pois sou
Eu! Não vos amedronteis!” (Matheus 14, 27) – E os discípulos se acal-
mam. Diz André: “Céus! É Jesus, nosso Senhor e Mestre!” Pedro, no
entanto, ainda duvida, pois responde: “Se for Ele, que me faça cami-
nhar sobre a água para que possa, como Ele, experimentar se é sólida!”
4. Pergunta André: “Terias coragem, se te chamasse?” Responde
Pedro: “De certo! Sei que o mar aqui é bem profundo, se for Ele, nada
me sucederá, – se não for, de qualquer maneira estaremos perdidos. Serei
o primeiro a me afogar, preparando-vos uma morada!”
5. Com isto, Pedro se dirige à parte mais baixa do navio e grita:
“Senhor, se fores Tu, manda-me ir ter Contigo por cima das águas!”
(Matheus 14, 28)
6. Digo-lhe Eu: “Vem e convence-te!” Sob gritos de pavor dos ir-
mãos, Pedro pisa sobre o mar. Quando os outros vêem que não afunda,
dissipa-se-lhes a dúvida e acreditam ser Eu.
O Grande Evangelho de João – Volume II
217

7. Pedro se apressa a vir junto de Mim. (Matheus 14, 29) Faltando


para isto sete passos pequenos, vê que um vento forte levanta as ondas.
Assusta-se muito, imaginando que poderia ser por elas tragado – e ape-
nas essa dúvida é bastante para que afunde até os joelhos. Neste momen-
to grita aflito: “Senhor, ajuda-me!” (Matheus 14, 30)
8. Aproximando-Me, rápido, estendo-lhe a mão, com o que firma
de novo seus pés sobre a água, e lhe digo: “Oh, como és fraco em tua fé!
Por que duvidas? (Matheus 14, 31) Ainda ignoras que unicamente a fé
inabalável é soberana sobre os elementos?”
9. Diz Pedro: “Senhor, perdoa-me! Vês que ainda sou fraco, pois
deixei-me amedrontar pelo vento e as vagas!”
10. Digo Eu: “Está bem! Vamos subir ao navio!” Assim fazemos e a
ventania se acalma. (Matheus 14, 32) Todos a bordo, inclusive os rema-
dores, recebem-Me com as seguintes palavras: “Agora reconhecemos
que és verdadeiramente o Filho de Deus!” (Matheus 14, 33)
11. João, porém, abraça-Me e beija-Me numa alegria incontida, di-
zendo: “Ó meu querido Jesus, finalmente estás de novo em nosso meio!
Agora já não há motivo para medo! Nunca mais nos abandones, pois é
horrível estarmos sem Ti! Jamais esquecerei esta noite! Nunca passei tan-
to pavor e susto! Se a ventania se quiser manifestar, que o faça! Pois temos
seu Mestre em nosso meio, que a fará aquietar-se!”

102. CHEGADA À CIDADE LIVRE GENEZARETH


Ev. Matheus – Capítulo 14, versículo 34

1. Digo Eu: “Embora não Me vejais, sempre estarei convosco! Acre-


ditando em Mim, confiando em Meu Nome e amando-Me verdadeira-
mente, sempre estarei em vosso meio! Quem duvida de Mim, não Me
possuirá – mesmo estando Eu a seu lado!
2. Além disto, Bartholomeu fez bem em vos esclarecer (principal-
mente a Judas) a respeito dos essênios. Conquanto este último não lucre
Jakob Lorber
218

muito com isto, tal não se dá convosco! Pois Judas aprecia tais truques e
pensa: “Se não aprendê-los com Jesus, procurarei os essênios!” – É e será
avarento, apreciando mais dez libras de ouro que a Verdade Celestial e a
Vida Eterna! Se Herodes lhe propusesse um vultoso lucro, ele nos trairia
a todos, pois esta Terra dificilmente o corrigirá!
3. Por tal razão, nada mais é tão perigoso para a Vida Eterna que os
tesouros deste mundo! De que serve ao homem conseguir riquezas mate-
riais, sofrendo dano em sua alma? Antes que se dê conta, esta lhe será
tirada e lançada nas trevas, onde há eterno clamor e ranger de dentes!
Que benefício lhe darão seus tesouros? Por isto deveis todos ajuntar os
tesouros do espírito, inatingíveis pela ferrugem e as traças, que tereis abun-
dância por toda Eternidade!
4. Vede, aí, no fundo do mar jazem muitos navios com seus donos e
tripulação! Que lucro tiveram, querendo açambarcar grandes somas no
mercado? Uma tempestade finalizou seu intento inescrupuloso, enter-
rando suas almas nas profundezas do mar!
5. Vossa embarcação, lutando esta noite contra uma ventania incle-
mente, achava-se repleta de tesouros indestrutíveis do Espírito e da Vida de
Deus, – e a borrasca não vos conseguiu exterminar! Por isto, vim sobre as
vagas para junto de vós, mostrando que somente o portador das riquezas
celestes se pode elevar, com facilidade, sobre as tempestades e ondas na luta
contra o mundo, nele marchando sem sofrer dano e, finalmente, tornando-se
senhor acima de todas as vicissitudes. Quem abarrota o barco da vida com
os tesouros da Terra, sendo atingido pela borrasca das preocupações mun-
danas sossobrará, assim como seu barco! Entendestes isto?”
6. Respondem todos: “Sim, Senhor! Foi claro e explícito!” Digo Eu:
“Pois bem, então deixai-nos navegar para a outra costa, a cidade Genezareth
e ao pequeno povoado livre que usa o mesmo nome!”
7. Em meia hora chegamos àquele local. (Matheus 14, 34) Neste
ponto o mar transforma-se numa grande enseada, sendo ligado à cidade
por um estreito, que se chama “Lago Genezareth”. Desembarcamos no
lado esquerdo, porquanto os navios que passam o estreito têm de pagar a
tarifa alfandegária. Atracamos o navio, deixando nele dois marujos; os
O Grande Evangelho de João – Volume II
219

outros nos acompanham à cidade onde compram pão, sal e algum vi-
nho, pois a noite os havia deixado exaustos. Abençôo-lhes o pouco que
compraram, de sorte a estarem providos por vários dias.
8. Permaneço algum tempo em Genezareth, uma cidade livre, onde
não é possível que sejamos atacados por Jerusalém, pelo Templo e tão
pouco por Herodes, pois que os romanos a protegem, havendo lá um
acampamento sob a direção de Capernaum. Isto não consta nas Escritu-
ras por ser de somenos importância, entretanto é verdade.

103. O SENHOR E OS SEUS NO ALBERGUE DE EBAHL

1. Em ali chegando vamos ao albergue dum homem honesto, cha-


mado Ebahl. Recebendo-nos hospitaleiramente, diz: “A julgar pelas apa-
rências, sois galileus da zona de Genezareth?” Confirmando-lhe isto, ele
nos manda servir pão, vinho e peixes, dizendo: “Estareis isentos de paga-
mento durante três dias e três noites! Sendo-vos possível informar-me
sobre o Salvador Jesus, que dizem curar todas as moléstias, abrigar-vos-ei,
gratuitamente, pelo tempo que quiserdes!
2. Se for verdade o que se diz, tudo farei para encontrá-lo! Este povo-
ado, embora livre, sofre grande miséria, pois é assolado por toda sorte de
enfermidades. Não são mortais, porém castigam muito! Tudo faria para
trazer o Salvador aqui! Tenho uma grande hospedaria repleta de doentes
que mal podem andar de dores, impossibilitados de voltar a seus lares;
existem até egípcios, persas e hindus no meio deles. Além desses, tam-
bém alguns fariseus e escribas de Jerusalém e dois essênios, gravemente
enfermos, sem que os médicos e curadores de todas as zonas os possam
curar! Por isto, dizei-me, como poderei falar a este Jesus de Nazareth!”
3. Digo Eu: “Por que não Lhe mandaste um mensageiro, sabendo
que Se encontra em Nazareth?”
4. Responde Ebahl: “Isto já fiz por várias vezes, sem tê-lo encontra-
do. Meus mensageiros me contaram verdadeiros milagres a seu respeito,
Jakob Lorber
220

mas nunca tiveram a felicidade de conhecê-lo!”


5. Digo Eu: “Pois bem, como vejo que não és levado pelo egoísmo a
respeito do Salvador, mas tens, unicamente, o desejo de socorrer os afli-
tos sem distinção de nacionalidade – o que Me trouxe até aqui – sabe,
para teu consolo e alegria, que Eu Mesmo sou o tal Jesus que tanto pro-
curavas e estou curando, neste momento, os teus enfermos! Manda inda-
gar no albergue se lá ainda se encontra algum!”
6. Ebahl, quase louco de alegria, exclama: “Mestre, se tu o és, não
necessito mandar saber e acredito em tua palavra; por isto louvarei a
Deus por ter permitido que esta Graça aqui sucedesse! Mestre, grande e
divino Mestre, externa os teus desejos, que és dono desta casa e todos têm
que te obedecer!”
7. Enquanto ele assim fala, chega a notícia de que os doentes da
hospedaria, – perto de dois mil – haviam ficado curados. Devia ter acon-
tecido um milagre! Todos eles viriam, a fim de patentear seus agradeci-
mentos ao hospedeiro!
8. Diz Ebahl: “Dizei-lhes que não necessito disto e também não
mereço um agradecimento de espécie alguma, mas unicamente Deus,
por nos ter mandado o curador Milagroso a esta cidade! Exigi dos ricos e
estranhos uma pequena importância pela hospedagem; dos aqui radica-
dos nada peçais!” Os servos se afastam com esta incumbência.
9. Após isto, Ebahl se ajoelha diante de Mim, agradecendo com
lágrimas nos olhos a grande Graça. Faço-o levantar e Me apresentar sua
família. Ele se vai, a fim de cumprir Minha Ordem. Quando Me apre-
senta duas mulheres e dezesseis filhos, entre estes dez homens e seis mo-
ças, diz: “Vês em mim um israelita genuíno! Assim como outrora, Jacob,
pai de nossa estirpe, tinha duas mulheres – Léa e Rahel – gerando filhos
com elas, o mesmo fiz eu, sendo que as minhas não são irmãs. Com a
mais velha criei dez meninos que hoje são homens; as seis moças são da
mais jovem, e eu conto setenta anos.
10. Todos eles foram educados dentro da Lei; o mais velho é escriba,
não a serviço do Templo, mas para si e seus descendentes! Também os
outros sabem algo da Escritura, conhecem a Vontade de Deus,
O Grande Evangelho de João – Volume II
221

cumprindo-A rigorosamente. Amam a Deus, mas também O temem;


pois o temor de Deus é o início da sabedoria. Em minha casa se considera
os verdadeiros versos de Jesus de Sirach. Estás satisfeito com esta minha
ordem doméstica?”
11. Digo Eu: “Como foi estabelecida, nada tenho a contrapor nem
proíbo que alguém tenha duas, três ou mais mulheres, pois foram elas
criadas para a procriação da Humanidade. Deus não Se apraz com uma
mulher estéril, a não ser que o seja de natureza, pelo que não tem culpa.
12. Daqui por diante todo homem se deverá casar somente com
uma, virgem ou viúva; pois se fosse da Vontade de Deus que o homem
tivesse mais de uma, Ele teria criado outras para Adam.
13. As criaturas mais tarde se afastaram desta Lei e principalmente
entre pagãos, tornou-se um vício, porquanto um regente tomava para si
todas as moças mais lindas e até comprava outras tantas no estrangeiro;
mas tal não foi da Vontade de Deus e sim, da do homem sensual; pois
muitas destas moças não eram destinadas à procriação, mas a despertar a
potência aniquilada do homem. E todos deixam de viver dentro da Or-
dem Divina, não cumprindo a primeira Lei de Deus!
14. Outra coisa será se a mulher for estéril como o foi Rahel; neste
caso o homem poderá tomar outra, tendo em vista a prole. Estás dentro
da Ordem e tens o senso da justiça, portanto és justo diante de Deus; do
contrário, não teria vindo à tua casa!”

104. O SENHOR ABENÇOA A FAMÍLIA DE EBAHL E


CRITICA OS ESSÊNIOS

1. A seguir abençôo-lhe os filhos e as duas mulheres como se fossem


uma só, pois eram de uma só índole e jamais discutiam. Então falo a
Ebahl: “Podes-te congratular com teus filhos, que não há um entre eles
que seja pervertido, material ou espiritualmente. Todos vendem saúde,
possuem corações puros, cheios de beatitude e obediência – e tuas mu-
Jakob Lorber
222

lheres ainda parecem jovens! O ar nocivo desta zona não parece ter influ-
ência sobre teu lar!”
2. Diz Ebahl: “Para os habitantes, tanto o ar como a água são ino-
fensivos, um estranho basta passar alguns dias e se tornará doente, de
sorte a não poder deixar o leito, não raro durante um ano! Uma vez
vencida a crise, poderá morar aqui o tempo que quiser, pois nada mais
lhe acontecerá.
3. Isto se torna um prejuízo para o país, pois é difícil se encontrar
trabalhadores, e os estrangeiros evitam esta zona como a peste; os que
ficam, em virtude de negócios urgentes, caem enfermos. Por este motivo
a maior parte da ocupação militar dos romanos está acamada, sem que
médico algum a possa socorrer!
4. Estranho é que, raramente, duas pessoas apresentem os mesmos
sintomas. Uma tem febre, outra, uma erupção, uma terceira, distúrbio
intestinal, a quarta, uma tosse forte, e assim por diante; tanto que os
médicos não sabem como agir. Talvez te fosse possível curá-los e receitar
um preventivo que os protegesse contra futura recaída!”
5. Digo Eu: “Como tenciono permanecer por alguns dias nesta ci-
dade, os curados poderão informar aos habitantes. Os que vierem serão
curados, mas não os outros; pois ninguém é tão gravemente enfermo que
não possa fazer a caminhada!”
6. Diz Ebahl: “Se fosse do teu agrado, Mestre, poderia enviar men-
sageiros às redondezas!” Respondo Eu: “Deixa estar; sabê-lo-ão por
toda a parte!’’ Dentro em pouco chegam vários sarados, entre esses,
fariseus e escribas de Jerusalém e dois essênios, a fim de Me agradece-
rem pela cura e, se possível, aprender de Mim a ciência de realizá-la ape-
nas pela palavra.
7. Eu, porém, digo-lhes: “Que pesquisais? Vossa questão se prende
ao mundo e sua matéria, por vós tão apreciada; aqui, trata-se de algo
espiritual! Ainda não compreendestes o que seja a matéria; como, então,
perguntais pelo que vem do Espírito? Principalmente vós, essênios, que
pregais um Deus e uma ressurreição, produzindo milagres que muito
dinheiro custam, apenas para conseguirdes adeptos! Vosso princípio é
O Grande Evangelho de João – Volume II
223

este: É preciso enganar o próximo, a fim de fazê-lo feliz, pois a verdade


destrói o bem-estar das criaturas!
8. Se, portanto, vossa base vital é a mentira, como podeis querer
ouvir que vos fale da Verdade? Tudo vos falta para o conhecimento do
Reino de Deus sobre a Terra e sois os últimos, julgando-vos, porém, os
primeiros! Se continuardes como sois, jamais Dele compartilhareis! Que
vos adianta a boa vontade de querer levar ventura aos seres através de
fraudes e mentiras se, em consequência disto, aniquilais as almas igno-
rantes? Qual não será vossa situação no Além, quando os ludibriados vos
enfrentarem como juízes?
9. Na certa não acreditais no que digo, entretanto é verdade! Minha
Base de felicidade humana consiste em salvar a alma à custa do corpo e de
sua pretensa felicidade, para preparar-lhe uma Vida Eterna e Verdadeira!
Se Minhas Palavras não despertam vossa fé, dai ao menos crédito às Mi-
nhas Ações, que jamais por outrem foram praticadas! Estas, sendo verda-
deiras, provam o que digo!
10. Pessoa alguma vos poderia relatar algo da Índia, a não ser que de
lá viesse; do mesmo modo, ninguém vos poderá informar sobre o Além
senão quem de lá vos procura – Que sou Eu! Quem acredita em Minhas
Palavras terá a Vida Eterna; não o fazendo, será tragado pela morte sem
fim! Pois elas não são humanas; representam e transmitem a Vida a quem
as aceita, agindo pelo Espírito nelas contido!
11. As que vós, essênios, pregais ao povo são apenas mentira e frau-
de, porquanto não lhes dais crédito! Possuís uma doutrina dupla: uma
para o povo e outra para vós, que alegais verdadeira, mas que a multidão
deve ignorar para poder viver uma suposta felicidade.
12. Digo-vos, porém: destes ao povo, com vossa pretensa mentira,
mais de verdade que a vós mesmos. Pois, o que julgais verdade – é men-
tira completa e, o que ensinais aos incautos, só o é em parte; por isto
Deus vos tolerou. Para o futuro, ensinai a verdade, crendo nela que sereis
servos meritosos de Deus; a mentira e a fraude devem ser evitadas para
sempre, do contrário o julgamento recairá sobre vós!”
13. Respondem os dois essênios: “Mestre, reconhecemos que falaste
Jakob Lorber
224

certo; no que se refere a nós, tudo faremos para introduzir teu ensina-
mento em nossa sociedade; entretanto por nada nos responsabilizamos!
Nossos confrades não são maus e talvez fosse possível falar-lhes entre
quatro paredes – se, porém, surtirá efeito, não o garantimos!”
14. Digo Eu: “Fazei o que é de vossa obrigação que Deus dará Sua
Bênção! Acreditai a plena verdade que vos libertará para sempre!” Dizem
ambos: “Senhor e Mestre, permite que permaneçamos aqui durante a tua
estada.” Respondo Eu: “Tendes a liberdade de fazer o que vos agrade!”

105. O SENHOR E O COMANDANTE ROMANO

1. Nesta altura chega Ebahl e convida a Mim e a Meus discípulos


para um almoço farto; além de sua família, ninguém deveria nele tomar
parte. Isto não é do agrado dos fariseus, que sempre pretendem ser os
primeiros. Se bem que fossem servidos numa sala à parte, tal não lhes
satisfaz, por verem que Ebahl Me trata com mais atenção. Por isto per-
guntam a um servo, se o dono da casa achava a companhia deles de tão
pouca importância, que não os convida à sua mesa.
2. O servo, inteligente, diz: “O patrão tem muito que falar ao médi-
co milagroso, desejando, por tal motivo, ficar a sós com ele!”
3. Perguntam os fariseus e escribas: “Acaso tu e teu patrão ignorais
que nos devem ser relatados todos os segredos da casa por nós visitada?
Somos nós que vos purificamos, curando-vos quando enfermos!”
4. Diz o servo: “Assim sendo, por que não podeis curar a vós própri-
os? Se o médico milagroso de Nazareth não tivesse passado por aqui,
ainda estaríeis sofrendo da nevrite. E quem, como ele, tem esta faculda-
de, também merece uma especial atenção!” A esta boa resposta eles se
calam, não por convicção, mas por necessidade.
5. A noitinha, o número dos que Me pedem auxílio ascende a mais
de cem, os quais são por Mim curados. Todos Me agradecem sensibiliza-
dos e louvam a Deus por ter dado este poder a um homem. Mais tarde,
O Grande Evangelho de João – Volume II
225

ainda aparece o comandante, rogando-Me que também ajude sua guar-


nição militar.
6. E Eu lhe digo: “Vai, pois se dará como acreditas!” Verificando que
todos os soldados do acampamento ficaram sãos, ele volta satisfeito para
junto de Mim com a intenção de Me gratificar com ouro e prata.
7. Recuso tudo, dizendo-lhe: “Amigo, jamais curei alguém pelos
tesouros materiais, mas pelos do Céu, que consistem numa fé viva e num
verdadeiro amor, desinteressado, a Deus e ao próximo, não obstante sua
posição. Trata teus subalternos com carinho, como se fossem teus irmãos
verdadeiros, e terás Me recompensado meritosamente! Aquilo que tenci-
onavas dar-Me, poderás entregar a Ebahl; sua hospedaria lhe custa muito
e deve ser mantida.
8. Além disto seria aconselhável que vós, romanos, erigísseis hospe-
darias para os pobres, ao invés de templos pagãos. Vossos deuses de ma-
deira, metal e pedras, são criações mortas, às quais podeis adorar o quan-
to quiserdes que não vos socorrerão. Se, porém, abrigais leprosos, aleija-
dos, cegos e mudos, dedicando-lhes bom trato, – o Deus Único e Verda-
deiro olhará vossas obras de caridade, abençoando-vos mil vezes. Vossos
deuses mortos não vos recompensarão as boas ações, nem punirão as
más. Sois obrigados a fazer uso de armas, pretendendo manter a ordem
no país. Neste caso fazeis pela força o que Deus faria se O considerásseis
e cumprísseis Suas Leis!”

106. AS EXPERIÊNCIAS MUNDANAS DO COMANDANTE

1. Diz o comandante: “Amigo, reconheço que falaste a verdade; mas


o mundo é uma torrente poderosa, dificilmente enfrentada por alguém.
Sempre foram tragados pelo redemoinho aqueles que o tentaram. Isto
apenas é possível numa cidade pequena e calma, cujos habitantes ainda
não foram contaminados pelo hálito pestilento do mundanismo. Vai a
Roma, Atenas e Jerusalém – e se não fores um deus sentirás em breve o
Jakob Lorber
226

gume da espada dos poderosos, como aconteceu a João Batista, decapita-


do por Herodes, na prisão.
2. Este homem foi, sem dúvida, um inspirado, que pela máxima
renúncia pregou a verdade às criaturas. Milhares aceitaram sua doutrina,
fazendo penitência e entrando no bom caminho. Quando, porém, co-
meçou a se manifestar no Jordão, perto de Jerusalém, foi preso pelos
carrascos herodianos, para mais tarde ser morto. Seus adeptos poderão
em segredo difundir a doutrina; mas resta saber se ela em cem anos ainda
será a mesma como jorrou de sua boca!
3. Nossa crença religiosa se baseia no mesmo princípio da judaica,
pois se fundamenta num ser divino, ao qual todos os deuses obedecem. A
mitologia lhe deu várias denominações: os gregos o chamam “o deus des-
conhecido” a os romanos, “destino”, do qual dependem todas as demais
forças. Observa a atual doutrina greco-romana e verás que contém apenas
fábulas e contos vãos, baseados tanto nas virtudes como nas fraquezas hu-
manas. É imposta aos homens com fogo e espada! Procura modificá-la, se
isto te é possível; da minha parte não te porei pedras no caminho.
4. O melhor exemplo nos dá tua própria crença moisaica! Lê os
profetas e analisa o que se passa no Templo, onde nem uma vírgula da-
quelas verdades é respeitada! Deus Mesmo teria dado no Monte Sinai
Suas Leis salutares aos homens, firmando a velha união entre Si e Seu
Povo. Os que se atreveram a apostatá-las foram castigados por diversas
maneiras, e até mortos! De que adiantou isto?
5. Onde se encontra a Arca milagrosa, sobre a qual Deus jazia numa
coluna de fogo? Sim, sendo romano poderás contemplar uma chama de
nafta, desde que pagues para isto! Mas da verdadeira – nem sombra!
6. Assim, acho que nada se consegue pelas revelações e doutrinas;
pois as criaturas em pouco tempo as deturpam de tal forma que podem
ser comparadas ao quadro de um ancião junto a um recém-nascido. As
múltiplas paixões e necessidades humanas transformam em lodo o que
há de mais sublime. E a maior e jamais vencida testemunha é a História,
que por ninguém poderá ser negada!
7. Amigo, embora não tenha a pretensão de me tornar teu profes-
O Grande Evangelho de João – Volume II
227

sor, julgo – descontando teus vastos conhecimentos ocultos em a Natu-


reza – possuir mais experiência que tu, e te aconselho fugires das grandes
cidades, nas quais as criaturas são mais que pervertidas. Não confies nos
fariseus, escribas e em tua própria doutrina, evita aquelas zonas de domí-
nio herodiano, – e poderás fazer a caridade por muito tempo. Do contrá-
rio, terás a mesma sorte que João!”

107. A PESSOA E A MISSÃO DO SENHOR

1. Digo Eu: “Considero-te Meu amigo, pois tudo que acabas de


falar é verdade. Se Eu fosse uma criatura igual a ti, sem dúvida seguiria o
teu conselho, pois em teu peito pulsa um coração justo. Entretanto, sou
bem diferente do que julgas! Pois tanto as forças do Céu como as da Terra
têm que Me obedecer; deste modo, nada há que temer. Se bem que a
Escritura se cumprirá em Mim de maneira dolorosa, tal não se dará pela
vontade deste mundo, mas pela do Pai do Céu, Que ora está em Mim e
Eu Nele, desde todo o sempre! Mesmo assim, Meu Poder em nada será
atingido. Pois se o quisesse, esta Terra seria dizimada a pó num momen-
to, com tudo que nela existe; como Meu Princípio se chama “conserva-
ção”, tal coisa não se dá!
2. Poderá acontecer que Me acusem de amotinador e hereje, por
ódio a vingança dos templários que Me pregarão à cruz! Contudo, isto
não quebrará o Meu Poder, tão pouco prejudicará a Minha Doutrina até o
fim dos tempos! Não obstante as criaturas mundanas fazerem com Minha
Religião do Amor o que os egípcios, gregos e romanos fizeram com o
ensinamento básico dado a Adam, – muitos haverá que conservarão a Mi-
nha Doutrina tão pura como ora é por Mim transmitida, possuindo, por
este motivo, a força que emana pela fé viva no Meu Poder! Sou, portanto,
também um Senhor, não temendo leis mundanas!”
3. Responde o comandante: “Amigo, falaste muito, em poucas
palavras! Estou quase certo desta possibilidade, após ter assistido à tua
Jakob Lorber
228

cura – embora milagres idênticos não me sejam estranhos. Pois é sabido


que acontecimentos extraordinários produzem um efeito na saúde física
e psíquica, de acordo com o temperamento da pessoa. Haja vista que um
forte susto restitui audição e fala a um surdo-mudo.
4. Em resumo, desejo apenas afirmar que tua maneira milagrosa de
curar, em absoluto me convence que estejas imunizado contra as forças
celestes e materiais! Não tenciono duvidar – pois para Deus muita coisa
é possível; entretanto, existe um abismo entre a possibilidade e a execu-
ção! Peço-te não tomares a mal minhas palavras um tanto presunçosas,
pois falei como o entendo, sem ter maldade no coração. No momento
devo me afastar a negócios; amanhã estarei às tuas ordens!”
5. Digo Eu: “Podes ficar, se o desejares, pois teu serviço foi feito em
teu nome!” Responde o comandante: “Já estaria escuro, se não fosse o
luar; irei, num momento, ao acampamento para ver se os vigias se posta-
ram.” Ele sai rápido e é elogiado por Ebahl como uma felicidade para
Genezareth, pela justiça e prudência que aplica.
6. Digo Eu: “Isto é deveras uma vergonha para os judeus, possuidores
do Verbo e das Leis Divinas, porquanto seus corações estão repletos de
mentiras, fraude, contendas, ódio, adultério e coisas vis. Por isto acontecerá
que o Reino Prometido a David será tirado dos judeus e entregue aos pa-
gãos, e os descendentes de Hagar regerão sobre os de Isaac, não obstante a
salvação, nesta época, vir sobre a Terra partindo do tronco Judá.”
7. Diz Ebahl: “Mestre, prefiro-te salvador ao invés de profeta, pois
nunca compreendi por que motivo eles todos predisseram coisas más em
vez de boas. Tal é preciso ou acreditam manter com isto seu prestígio
misterioso? Querido Mestre, eis a conclusão que tirei de tuas palavras, e
talvez te fosse possível dissipar-me esta dúvida acerca dos profetas.”

108. RELAÇÃO ENTRE O PROFETA E DEUS

1. Digo Eu: “Um profeta é, igual a ti, uma criatura simples e co-
O Grande Evangelho de João – Volume II
229

mum, cheia de fraquezas; como, porém, possui um coração compreensi-


vo, isento de ira, vingança, inveja, orgulho e falsidade, – o Espírito Divi-
no purifica-o das tendências mundanas. Deste modo purificado, ele re-
cebe uma luz do Céu, dada pelo Pai.
2. Ciente disto e de que esta luz se manifesta em palavras perceptí-
veis no seu coração, basta que as pronuncie – e a criatura já está profeti-
zando. Sendo, portanto, necessário, o profeta é levado pela Vontade de
Deus a se externar diante do povo, o que nada mais é do que o Verbo
Divino transmitido por uma boca humana.
3. Um profeta, entretanto, em nada é melhor que outra pessoa qual-
quer, desprovida desta Graça. Pelo contrário, o julgamento que o atinge
quando não segue a Vontade Suprema é pior, por ter tido ciência direta
daquilo que Deus lhe havia exigido. Uma outra que, pela cegueira de sua
alma, não crê no que lhe é dito pelo profeta, sofrerá um castigo mais bran-
do; mas para esta última não há desculpas como tão pouco para aquele
que, embora acredite, não cumpre a Vontade do Pai por amor ao mundo.
4. Contudo, o prêmio dum profeta será maior do que de outra pessoa,
porquanto carrega sete vezes mais. Todos, aos quais falou, bons e maus,
ser-lhe-ão entregues no Além, sendo por ele julgados em Meu Nome por
cada palavra vã. Aquele que receber um verdadeiro profeta em Meu Nome
e em nome do mesmo, será seu amigo e poderá aguardar igual prêmio.
Coisa idêntica acontecerá se lhe facilitar sua missão de profeta.
5. Ai daqueles que abandonam tal criatura em consideração do
mundo, lançam-lhe suspeitas por algo ou, talvez, a perseguem; pois
jamais verão o Semblante Divino! Quem investir contra um profeta será
punido com o fogo eterno, porquanto seu coração, sua boca, mãos, pés,
olhos e ouvidos são de Deus! Onde estiver um profeta estará o Pai; por
isto deveis pisar sua morada com veneração, pois é santificada! Conside-
rai isto não pelo profeta, mas pela Divindade Que fala e age por ele. O
motivo dum profeta apenas predizer julgamentos se baseia na perdição
do mundo, cujas criaturas se entregaram aos vícios! Dize-me, Ebahl, se
estás a par do que seja um verdadeiro profeta!”
6. Responde este: “Perfeitamente, prezado Mestre, e presumo que
Jakob Lorber
230

também sejas um?!”


7. Digo Eu: “Não o sou, pois consta que não surgiria algum na
Galiléia! Sou, no entanto, mais que um profeta, porquanto no Meu Peito
habita o Mesmo Espírito que por eles falava e ainda falará. Quem, no
futuro, guardar o Meu Nome cheio de fé em seu coração, possuirá o
espírito da profecia. Compreendes isto?”
8. Diz Ebahl: “Senhor e Mestre, parece-me que homem algum po-
derá falar como tu! Em ti existe alguém, oculto pelo teu corpo!”

109. OS PROFETAS E A DIFERENÇA DE SUA ATITUDE


QUANTO A DO SENHOR

1. Enquanto Ebahl assim opina, chega o comandante de volta, con-


tando, cheio de alegria e admiração, ter encontrado tudo na melhor ordem
e que seus subalternos se admiraram por seu regresso, porquanto ele já
tinha, da primeira vez recomendado uma boa ordem! Ele, porém,
esquivara-se com a alegação de que quisera apenas assegurar-se do cumpri-
mento de suas exigências. A seguir, pergunta-Me ele quem tinha sido o seu
substituto, tendo concluído de maneira tão louvável a sua tarefa.
2. Digo Eu: “Não te havia dito que tenho à disposição todas as forças do
Céu e da Terra? Não Me querias dar crédito. Agora saberás que não necessito
temer a morte e também sou Alguém Que possa dizer e mandar algo!”
3. Diz o comandante: “Sim, Senhor e Mestre, deves ser um Deus! A
nossa religião pagã não mais me parece tão fabulosa, porquanto tenho
em ti a plena convicção de que, vez por outra, um deus se afasta do seu
Céu, a fim de se mostrar a seus filhos mortais; presenteia-os com toda
sorte de tesouros espirituais e materiais para que possam cultivar a Terra
deserta, tornando-a uma morada para deuses imortais! Tenho razão?”
4. Digo Eu: “Isto nada mais é do que um conto vão, não contendo
uma fagulha de verdade, como supões. Se entendesses por “Terra” os
conhecimentos e a vontade dos seres, seria razoável; deuses, porém, que
O Grande Evangelho de João – Volume II
231

não existem, jamais pisaram este solo. Aquelas criaturas pelas quais falava
o Espírito Divino e, de acordo com Sua Vontade, muitos milagres reali-
zaram, não eram deuses, mas profetas, pessoas iguais a ti, morrendo fisi-
camente, – só sendo eternos sua alma e seu espírito. Por Mim o Espírito
Divino pisa pela primeira vez esta Terra, sendo o Mesmo do Qual todos
os patriarcas, sábios e profetas predisseram em suas visões!”
5. Falando deste modo ao comandante entra um servo, dizendo que
lá fora há um grande número de enfermos à espera do Meu socorro.
Digo-lhe Eu: “Vai e lhes afirma que poderão seguir para seus lares!”
6. Rápido ele volta e encontra todos que, minutos antes, se queixa-
vam e lastimavam, alegres e felizes, louvando a Deus. Só então lhes trans-
mite o Meu recado, com que todos se afastam. Seguem-se então os co-
mentários usuais às curas, já bem conhecidos. Durante a palestra sabore-
amos algum pão e vinho, para depois nos recolhermos.

110. O PRADO ABENÇOADO. O PASSEIO SOBRE O MAR

1. Na manhã seguinte a praça já está repleta de doentes. Ebahl Me


procura a fim de que Eu lhe ajude, pois a multidão lhe bloqueia a casa de
modo a não permitir entrada ou saída. Já tinha feito o comandante uma
tentativa de ali penetrar, sem que isto lhe fosse possível.
2. Então Me dirijo à porta, levanto as mãos, – e todos se curam,
gritando de alegria! Eu lhes imponho silêncio e mando que voltem a casa
sem mais pecarem no futuro; e todos Me obedecem.
3. A seguir digo a Ebahl: “Se no decorrer do dia ainda vierem alguns
pedindo ajuda, que se dirijam ao prado acima da rua, e ali serão curados!”
– Abençôo, pois, o prado, de forma a que todos que o pisassem obte-
nham saúde. Neste dia vieram várias centenas de enfermos de todos os
cantos e não houve um que se não curasse.
4. Os dois essênios arregalavam os olhos e os templários não menos,
porquanto seu prestígio se reduzia a nada; ninguém com eles se preocu-
Jakob Lorber
232

pava e os servos de Ebahl, de quando em quando, davam-lhes a entender


que o tempo estava bom, não impedindo que voltassem a Jerusalém! Eles
no entanto, continuavam ali firmes.
5. Após alguns minutos um deles se Me aproxima, perguntando se o
prado continuaria com aquela característica. Digo Eu: “Só pelo dia de
hoje, até ao pôr-do-sol!”
6. Pergunta ele: “Por que não para sempre?” Respondo Eu: “Porque
há certas pessoas que iriam cercá-lo, exigindo ouro e prata dos que nele se
curassem! Como tal não é de Minha Vontade, a ação milagrosa termina-
rá à noite, porquanto a procura é grande. Amanhã, os poucos que vierem
serão curados através de sua fé e confiança!”
7. Com esta explicação eles Me viram as costas, aborrecidos, nada
mais perguntando. O comandante com isto se irrita e com gosto lhes
teria chamado a atenção; Minha Pessoa, porém, o impede. Em compen-
sação, muito o fizeram os dois essênios. À tarde mando que falassem
com Meus discípulos, entre os quais descobrem Bartholomeu, o que muito
os alegra. Entretêm-se com todos até à meia-noite, acerca de Minha Dou-
trina, Ações e Sabedoria.
8. Eu, à tardinha, dou um passeio ao mar com o comandante, Ebahl
e sua família e encontramos os oito marujos ocupados com a restaura-
ção do navio. Nossa chegada muito os alegra, contando ao romano o
meu passeio sobre a água, pois este acontecimento não lhes saía da cabe-
ça. Ouvindo este comentário, o comandante Me pergunta como podia
isto ter sido possível.
9. Digo-lhe Eu: “Já te falei ontem que os elementos Me têm que
obedecer. Como podes indagar pela possibilidade? Aliás, tendo coragem
de pisar sobre a água e Eu o querendo, poderás caminhar o tempo que Eu
quiser! Se todos vós tendes vontade, poderemos fazer uma experiência!
Mas não duvideis e sim, segui-Me!”
10. Diz o comandante: “Estaria tudo muito bem se a água não fosse
tão profunda neste ponto! Bastaria um passo em falso, para se fazer com-
panhia às salamandras!”
11. Digo Eu: “Como és fraco na fé! Pensas que Eu teria tal audácia se
O Grande Evangelho de João – Volume II
233

não soubesse Quem sou? Quem de vós tiver fé e coragem, que Me siga!”
A seguir piso a superfície da água, que Me carrega qual terra firme. Tendo
dado dez passos distantes da praia, volto-Me e convido o grupo a
seguir-Me; ninguém, no entanto, se anima. Então chamo a filha mais
nova, de doze anos, de Ebahl, e ela, corajosa, pisa com um pé sobre a
água. Vendo que esta não cede, pula alegremente para junto de Mim!
12. Todos lhe seguem o exemplo, com exceção do comandante! Pouco
depois, mais animado, ele Me pergunta. “O que seria se viesse um vento
forte?” Respondo Eu: “Vem e certifica-te!” Finalmente ele o tenta e, com
cuidado, retendo a respiração e procurando tornar-se mais leve, chega até
perto de Mim, feliz por poder pisar este solo incomum.
13. Digo Eu: “Bem, já que vos convencestes ser a água solo firme
para os crentes, – continuaremos nosso passeio!” Com prazer o romano
teria voltado; as seis moças, alegres, o encorajam com seus pulos gracio-
sos, de tal modo, a nos acompanhar uns cinco mil pés em alto mar.
14. Eis que se levanta um vento forte, que joga as ondas em nossa
direção. Todos sentem pavor, e o comandante pede que Eu volte. Eu,
porém, digo: “Não temas! As ondas só te querem persuadir de que,
iguais ao vento, devem Me obedecer!” Dentro em pouco, porém, como
as vagas se tornem mais fortes, ele dá meia volta e – corre desabalada-
mente, alcançando ileso a praia, onde se sacode, nervoso, para depois
marchar com satisfação sobre a areia firme. Em poucos minutos
juntamo-nos a ele.

111. A VERDADEIRA PRECE

1. Encontrando-nos todos à beira-mar, diz o comandante: “Senhor,


agora tenho provas de sobejo seres, ou o Deus Supremo ou Seu filho;
pois um mortal não seria capaz de tais coisas!” A estas palavras todos se
ajoelham, fazendo menção de adorar-Me.
2. Mandando que se levantem, digo-lhes: “Nem Deus, nem Eu ne-
Jakob Lorber
234

cessitamos disto; a verdadeira adoração consiste no amor sincero ao Pai


no Céu e ao próximo. O resto não tem valor diante de Deus e de Mim.
3. Jeovah nunca ensinou as criaturas a adorarem-No com os lábios,
deixando frios seus corações. O fato de terem Samuel e outros profetas
orado em voz alta diante do povo, de ter David cantado seus salmos e
Salomon seu Cântico, – levou o povo a imitá-los. Diante de Deus tais
preces acompanhadas por oferendas e promessas são um horror! Quem
não souber orar no coração que deixe de fazê-lo, a fim de não se tornar
hipócrita! Deus não lhe deu pés, mãos, olhos, ouvidos e lábios para que
externassem sua prece, mas unicamente o coração!
4. A criatura, entretanto, poderá orar com os pés quando distribuir
socorro e consolo aos necessitados; com as mãos, socorrendo aos enfer-
mos; com os olhos, não se escandalizando com a miséria; com os ouvi-
dos, pela maneira como ouve e aplica o Verbo Divino, não se fazendo de
surdo aos rogos dos pobres e, finalmente, com os lábios, tomando a defe-
sa das viúvas, órfãos e prisioneiros, tantas vezes injustamente condena-
dos! Do mesmo modo, a criatura ora com os lábios, ensinando aos igno-
rantes, despertando-lhes a fé, o verdadeiro conhecimento de Deus e o
desejo de aplicar as virtudes divinas. Sabeis agora o que quer dizer: Ado-
rar a Deus em Espírito e Verdade.
5. Bem consta que a criatura deva orar constantemente, não dese-
jando cair em tentação. Que coisa ridícula! Pois neste caso deveria per-
manecer ajoelhada dia e noite, pronunciando preces vãs! E quando cum-
priria seus deveres? Se, entretanto, orardes conforme vos ensinei acima,
fá-lo-eis constantemente, recebendo as Bênçãos Divinas aqui e no Além!
Tereis compreendido isto?” Respondem todos: “Perfeitamente, Senhor!”
Digo Eu: “Muito Bem, Meus amigos, voltemos então à cidade!” – Aos
oito marujos Ebahl ordena que alguns o acompanhem, pois quer provê-los
de pão, vinho, peixes e frutos.
O Grande Evangelho de João – Volume II
235

112. ORDEM DOMÉSTICA E AMOR

1. Em chegando a casa, as crianças também desejam ficar em Minha


companhia. Ebahl, no entanto, apologista de boa ordem doméstica,
proíbe-lhes, principalmente as moças, dizendo: “Já assististes muita coi-
sa; agi de acordo como vos foi dito pelo Senhor, pois sereis abençoadas.
Agora voltai à vossa tarefa.” Elas se despedem de nós de corações tristes,
dirigindo-se a seus aposentos.
2. Eu, entretanto, digo a Ebahl: “Amigo, por que as mandaste em-
bora? É muito salutar às mulheres e às crianças serem afastadas do mun-
do; mas aqui, em Minha Presença abençoada, não existe tal perigo, mas
sim, a influência do Céu, onde tal cuidado é inútil e não lhes devias ter
privado desta Bênção!”
3. Ouvindo isto, Ebahl diz: “Oh, não Te importunando, chamá-las-ei
de volta! Fiz isto por saber que são muito curiosas e tagarelas.”
4. Digo Eu: “Nada no mundo, a não ser a maldade, poderá
importunar-Me; – vai buscá-las!” Ebahl assim faz e a menorzinha logo se
Me achega e acaricia. Seu pai a repreende, por falta de educação.
5. Eu, porém, afirmo-lhe: “Amigo, deixa que o faça, pois ela já esco-
lheu a melhor parte! Digo-vos a todos: Quem não Me procurar como esta
criança, jamais penetrará no Reino de Deus! Deveis Me buscar com amor,
amor intenso, se desejais herdar a Vida Eterna! Esta menina prova o que
sente; vós, porém, falais de maneira sábia, mantendo frio o coração! Não
percebeis Quem realmente sou?” – Todos caem de joelhos e Ebahl beija
Meus Pés, exclamando após uns instantes de contrição: “Senhor, já o senti
de há muito, faltava-me a coragem de manifestar-me!”
6. Digo Eu: “Então não deves castigar tua filha, que vos encorajou a
todos a caminhar sobre as águas e agora vos animou a Me amar! Oh, como a
quero bem! Já possui o que levareis tempo para achar! Esforçai-vos no verda-
deiro amor a Deus e ao próximo, e tereis a Graça e a Bênção plenas!”
7. Diz o comandante: “Senhor, jamais amei alguém, além de minha
família, agindo dentro da justiça. Mantive as leis, não pela severidade,
Jakob Lorber
236

mas com meiguice, obtendo bons resultados. Sinto, agora, ser possível
amar as criaturas, fazendo-lhes o bem na medida que esperamos que a
nós seja feito. Neste amor ao próximo está compreendido o amor a Deus,
por ser Ele o Amor em Pessoa, o Criador amoroso de todas as coisas.
8. Minhas observações durante estes dias me convenceram seres Tu
o Criador Personificado ou Seu Filho, apresentando-Te como um nosso
semelhante, ensinando-nos o amor para Contigo. Embora não tenha a
coragem de imitar esta menina, faço-o dentro do meu coração, e penso
ser isto o mesmo!”
9. Digo Eu: “Está bem; melhor seria se o amor crescesse em ti como
nela! Vê só, como está radiante!”

113. O PERIGO DO ELOGIO

1. Diz a irmã mais velha, um tanto enciumada: “Yarah sempre foi de


natureza apaixonada, enamorando-se de tudo que vê; portanto, não é de
estranhar que se apaixone por um homem atraente como tu! Também eu
poderia fazê-lo; mas, de que adiantaria, se ela já te conquistou?”
2. Digo Eu: “Vê, irmã ciumenta, não terias assim falado se possuís-
ses um verdadeiro amor em teu coração! Tal não se dá devido ao mimo
que te foi dispensado. Yarah ama sem perguntar se é amada! Amigo ou
inimigo lhe são idênticos; só se acha feliz podendo amar a todos! Jamais
cogitou de ser amada, pois seu afeto aos pais e irmãos é mais profundo do
que possas imaginar! É por vós considerada por último, sem que isto
perturbe seu sentimento. Isto se chama amar verdadeiramente!
3. Tu, quando amas, queres que te amem dez vezes mais; e quando
este tributo não te é pago, tornas-te desconfiada e revoltada no teu cora-
ção cheio de amor próprio! Yarah, porém, jamais exigiu paga por sua
dedicação. Eis por que poderá amar-Me o quanto quiser! Pois vim aqui
por sua causa e também será motivo para Eu ficar mais alguns dias. Por-
tanto, deveis a ela o fato de Eu ter curado todos os doentes.
O Grande Evangelho de João – Volume II
237

4. Onde vou, procuro sempre o mais ínfimo e oprimido! Aquilo que


o mundo considera digno e respeitável é, diante de Deus, um horror! Por
isto, esforçai-vos por ser o que é Yarah, e vos encontrareis a Meu lado
física e espiritualmente, para todo o sempre! Elogiai apenas quem o me-
rece, evitando que se torne vaidoso; a vaidade é a semente do orgulho,
espírito de Satanás!”
5. Diz Ebahl: “Mas, Senhor, – Teu elogio a Yarah, diante dos irmãos,
não a fará vaidosa?”
6. Digo Eu: “Não te preocupes, pois quem Me abraçou jamais se
tornará vaidoso! Dize-Me, Yarah, se te julgas superior a teus irmãos por
Eu tanto te querer?”
7. Responde ela, acanhada: “Oh, Senhor! Ninguém é culpado disto!
Desejava, porém, que Tu amasses mais as minhas cinco irmãs que a mim,
pois são mais bonitas e inteligentes. Sempre fui por elas chamada de feia
e tola. O que bem mereço. Espero, entretanto, tornar-me mais inteligen-
te quando for mais velha.
8. Não permito que lhes acuses de algo, pois me ensinam coisas
muito úteis e queremo-nos muito! Senhor, é preciso que da mesma for-
ma as queiras bem! Pois fico triste quando as vejo acabrunhadas e desejo
tudo lhes dar para alegrá-las! Prefiro tomar a mim a tristeza e desgraça de
todos, se com isto se tornarem felizes! Por isto, peço-Te, meu querido
Jesus, ama-as tanto quanto a mim!”
9. Digo Eu: “A ti, Minha querida Yarah, nada posso negar! Tuas
irmãs já reconhecem o motivo do Meu Amor para contigo – e se procu-
rarem se tornar idênticas a ti, amá-las-ei também! Assim como tu não
podes ver um infeliz sem o desejo de socorrê-lo, – o mesmo, porém de
maneira completa, dá-se Comigo: o desejo e a Vontade Poderosa de aju-
dar a todas as criaturas! Procurar quem se perdeu, aliviar os enfermos e
libertar os algemados de corpo e alma, – eis Meu Intuito e Minha Vonta-
de, não obstante o livre arbítrio da pessoa. Dize-Me, concordas Comigo,
querida Yarah?”
Jakob Lorber
238

114. YARAH EXPÕE SUAS EXPERIÊNCIAS COM RELAÇÃO ÀS


SUAS PRECES

1. Diz Yarah: “Como não? Faria o mesmo se me fosse possível! Mas,


que me adianta minha vontade humanitária, se não posso ajudar? Em se
tratando de pequeninas coisas, peço a meus pais para aliviarem aos neces-
sitados e quase sempre sou atendida; às vezes, porém, recriminada, por
possuir um coração mui sensível.
2. Meu pedido a Deus, o Onipotente, nem sempre foi considerado!
Pedia sem cessar; mas, quando ia verificar se era ouvida, tudo continuava
no mesmo. Então perguntava a meu pai por que motivo Deus era tão
surdo! Ele então me explicava que Deus sabia a razão dum sofrimento mais
prolongado para este ou aquele, e media bem o tempo necessário para sua
penitência. Nesse caso não adiantava a prece, até que o penitente se regene-
rasse. Isto me acalmava; entretanto, não deixava de pedir por ele.
3. Havia ocasiões, porém, em que Nosso Senhor me atendia com pres-
teza, com o que me alegrava muito. A Tua Vinda, ó Senhor, parece-me uma
prece considerada! Pois todos nós ouvimos falar dos feitos dum carpinteiro
Jesus. No começo, aceitamo-lo como sendo um conto; entretanto, chegaram
aqui pessoas por ele curadas, de sorte que acabamos por acreditar.
4. Assim, vi-me tomada de grande amor para com esse homem,
tanto que pedi, dia a dia, que Deus no-lo enviasse, através de Sua Onipo-
tência. Eis que Ele me atendeu! Quando soube que tinhas vindo, senti-me
tão feliz que mal pude me conter! Oh, se fosse menos acanhada teria Te
abraçado; mas fui obrigada a me abster, à vista de meus pais e irmãos!
Agora, porém, chegou o momento feliz de eu poder ficar a Teu lado!
Estás aqui e eu posso Te amar, sendo por Ti amada! Nem os anjos no Céu
poderão ser mais felizes que eu! Nunca, porém, deves nos abandonar,
pois morreria de tristeza!”
5. Digo Eu: “Meu coração, jamais te deixarei! Nunca deverás sentir
e ver a morte, pois Meus anjos te levarão deste mundo para junto de Meu
Pai no Céu! Minha querida Yarah, Aquele a Quem pediste Sua Presença,
O Grande Evangelho de João – Volume II
239

acha-Se a teu lado e te quer com o Amor Divino de todos os Céus;


portanto, tens razão em afirmares tua felicidade! Levanta o teu olhar e
verás o que te disse!”

115. YARAH VÊ OS CÉUS ABERTOS

1. Yarah levanta os olhos dum azul celeste e vê, numa transfigura-


ção, as profundezas dos Céus. Depois de alguns minutos começa a bal-
buciar com voz meiga e doce: “Oh, oh, oh, Tu meu Santíssimo Criador!
Que maravilhas avisto! Os Céus Infinitos repletos de seres angelicais!
Como devem ser felizes! Entretanto, a pobre Yarah é mais feliz que eles!
Pois o Trono Eterno no centro dos Céus Imensos, rodeado pelas falan-
ges de espíritos, está vazio, e elas exclamam: “Santo é Aquele, cujo Trono
aqui está erguido! Regozijai-vos, Eternidades, pois em breve Ele terá con-
cluído a Imensa Obra, inenarrável, a fim de ocupá-lo, o Trono da Glória
de Deus!” Aquele a Quem unicamente cabe este direito, acha-Se como
homem ao lado da pequena Yarah! Louvai-O e honrai-O; pois Dele é o
Trono Eterno da Glória e do Poder Divinos!”
2. Após estas palavras ela volta a si e cai nos Meus Braços, dizendo:
“Tu, Santíssimo! Não me repudies por eu Te amar, embora tenha visto as
Glórias dos Céus!”
3. Digo Eu: “Meu coração, pois se foi esse o motivo de Eu te haver
mostrado o Meu Reino!? Continua assim, que não te prejudicará!”
4. Yarah Me abraça com todo o fervor, o que Me leva a dizer aos
outros: “Segui seu exemplo! Conta apenas doze anos e Me dedica um
afeto jamais visto em toda Israel; e quem a imitar, dar-lhe-ei em plenitu-
de o que o mundo nunca possuiu e Israel jamais sentiu!”
5. Após esta cena comovedora, os servos de Ebahl indagam se está
na hora de servir a ceia. Responde ele: “Se for da Vontade de nosso Se-
nhor Jesus!” Digo Eu: “Trazei o que tendes! O amor dá e recebe, o que
também Eu desejo fazer! Esta menina é Meu Alimento preferido, pois
Jakob Lorber
240

Me dá mais que todas as Eternidades!”


6. Os empregados se aprontam para servir. Qual não é sua surpresa,
não mais achando seus pratos arrumados! Entretanto, encontram as des-
pensas repletas dos mais saborosos alimentos, frutas e vinhos, e voltam à
sala para saber o que deviam fazer.
7. Digo Eu: “Trazei o que há nas despensas; por hoje sois Meus
hóspedes! Meus discípulos, os dois essênios e os fariseus já foram servidos
daquilo que preparastes. Não os interrompais, pois necessitam de suas
energias num empreendimento que se estenderá até à meia-noite.”
8. Ebahl e o comandante, no entanto, dizem alegres: “Senhor, já não
mais nos surpreendem tais fatos, pois sabemos que tudo Te é possível! Só
nos resta saber como merecemos tal Graça!” Nisto são trazidos os ali-
mentos celestiais e todos os saboreiam com prazer, pois nunca experi-
mentaram idênticos.

116. A DOUTRINA DE JESUS DEVE SE TORNAR POSSE COMUM

1. Digo-lhes Eu: “Felizes vós, que acreditais ter o Filho do homem


vindo do Pai, dos Céus, a fim de erguer os caídos e libertar os presos!
Observai, porém, que nada seja divulgado a respeito dos Meus milagres!
Uns, aborrecer-se-iam, não acreditando e vos declarando doidos; outros,
de crença fácil, seriam por tal razão tolhidos em suas ações livres, no que
matariam a alma!
2. A Doutrina, unicamente, deve ser divulgada; pois Minhas Pala-
vras são Verdades Eternas e libertam os que as aceitam como norma de
vida e reconhecem serem elas de Deus, encerrando o Ser Eterno. Infeliz-
mente muitos haverá que a perseguirão como inimigos. Outros lhe fugi-
rão como à peste, de medo dos poderosos da Terra, e com isto não pene-
trarão na Vida Eterna, compartilhando da morte infinita! Quem preza a
vida do corpo e procura mantê-la a todo preço, perderá com a morte a
vida eterna da alma! Quem fugir à vida da matéria ganhará a da alma!
O Grande Evangelho de João – Volume II
241

Guardai bem isto! Quem tiver dúvida, que Ma exponha!”


3. Diz o comandante: “Senhor e Mestre, que mais poderíamos per-
guntar?! Sabemos e sentimos Quem és, reconhecemos a necessidade duma
conduta dentro dos Teus Ensinos, pois tens e podes dar a Vida Eterna a
todos que se esforçam! Logo, sabemos o que nos é útil, porquanto –
segundo me asseguraram Teus discípulos – até seremos capazes de curar
os enfermos em Teu Nome!
4. Nossa gratidão será indene além da ação do mal e do tempo, por
esta Graça imerecida e eterna, e patenteamos com ela o que nos vai no
coração! Penso, portanto, podermo-nos recolher, uma vez que já é tarde!
Antes, ainda, verificarei o meu acampamento!”
5. Digo Eu: “Deixa isto, pois está tudo em ordem! Vigiarei até além
de meia noite e vereis o porquê: chegarão ainda uns viajantes de Jerusa-
lém, entre esses alguns fariseus e escribas que nos darão trabalho.”
6. Diz Ebahl: “Que maçada! Tais hóspedes são sempre desagradáveis;
pois um exige tanta atenção como cem outros que pagam, enquanto eles
tudo querem de graça, mormente quando viajam a negócios do Templo.
Ora, Senhor, que notícia me foste dar! Quais os preparativos a fazer?”
7. Digo Eu: “Não te preocupes! Despensa e adega estão cheias; leitos
existem para cem pessoas, e é quanto basta. Foram enviados a Nazareth à
Minha procura, mas como aqui vão Me encontrar mudarão de itinerá-
rio. Amanhã tereis um grande aborrecimento por sua causa; Eu, porém,
falar-lhes-ei às claras, de sorte que abandonarão este local!” Diz Ebahl: “A
fim de fazerem queixa ao Templo, o que será pior!” Digo Eu: “Evitarei
isto!” Com esta afirmação todos se calam e meditam sobre o que lhes
havia dito.
Jakob Lorber
242

117. A CHEGADA DE DOENTES. OS HÓSPEDES DE JERUSALÉM


E SUA MISSÃO

Ev. Matheus – Capítulo 14, versículo 35

1. Dentro em pouco ouvem-se vozes e os cães começam a latir. Diz


Ebahl: “Pronto, já chegaram!” Digo Eu: “Ainda não! São enfermos à
Minha procura e deverão esperar até amanhã; (Matheus 14, 35) mas, em
breve, os outros também virão! Vai e acomoda os doentes num albergue;
os que tiverem fome e sede, sacia-os!”
2. Ebahl, em companhia de alguns empregados segue para o pátio
cheio de enfermos, romanos, gregos e egípcios. Todos pedem que sejam
conduzidos à Minha Presença. Ele, entretanto, indica-lhes uma hospeda-
ria onde são bem tratados. Voltando para junto de nós, diz: “Graças ao
Senhor! Foram atendidos sem grande trabalho; se, ao menos, já tivesse
feito isto com os anunciados do Templo...” Enquanto assim resmunga,
chega um servo e os anuncia. Ebahl e sua família se apressam em recebê-los;
apenas Yarah fica em Minha Companhia.
3. O comandante, então, diz: “Saberia o que fazer se fosse Ebahl!
Mandaria que meus empregados aplicassem uma boa surra nestes tem-
plários, e não seria a primeira vez que teriam tal recepção! Quando aqui
entrarem, far-lhes-ei um interrogatório sem par! Demonstrarei que todo
comandante possui o direito de aprisionar aqueles que se aproximam
dum acampamento romano, altas horas da noite! Quero-lhes pregar bom
susto, porquanto não executarei minha ameaça!”
4. Digo Eu: “Amigo, faze o que te agrada, se tencionas agir como
autoridade, tens que te apresentar junto com alguns subalternos!” Diz
ele: “Já sei o que fazer, Senhor!” A seguir chama a guarda; o romano,
então, determina: “Manda um mensageiro ao acampamento, com or-
dem ao tenente de enviar uns trinta homens para cá! Vai!” Em dez minu-
tos se apresentam aqueles, sem serem observados pelos templários, e o
tenente pede ordens. Diz o comandante: “Esperai, é preciso manter o
respeito! Mantende-vos calmos e aguardai meu comando!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
243

5. Em seguida Ebahl abre a porta do salão, fazendo entrar uns vinte


fariseus. Entende-se que vinham acompanhados por servos, incumbidos
de cuidar da bagagem carregada por mulas. Penetrando na sala, os judeus
perguntam a Ebahl a finalidade da presença dos soldados romanos. Diz
Ebahl: “Certamente para vos dar a devida honra!” Diz um deles: “Não
me parece! Em todo caso manda que nos sirvam algo!”
6. Rápido Ebahl e seus filhos aprontam uma grande mesa. Após terem
lavado as mãos, os judeus se sentam, comem bem e bebem perto de sessen-
ta taças de vinho. Daí a pouco começam a tagarelar e também explicam a
razão de sua vinda, indagando: “Nada ouvistes acerca dum vagabundo,
nascido em Nazareth? Parece ser carpinteiro, exerce o feitiço, divulga uma
nova doutrina, cura os enfermos, exorciza os espíritos e atiça o povo contra
o Templo e o imperador. Vamos para este fim até Nazareth. Como consta
que age por toda a Galiléia, é possível que saibais de algo!”

118. CENA ENTRE O COMANDANTE E OS TEMPLÁRIOS

1. Manifesta-se o romano e diz: “Conheço o homem que procu-


rais e sei de Seus Feitos, inclusive daqueles realizados há poucas semanas,
em Kis. Se não fosse por Sua Ação milagrosa, o juiz Fausto não teria
conhecimento do imenso roubo praticado por vossos colegas, com os
impostos romanos e tesouros vindos do Pontus, fato que causou grande
abalo ao vice-rei Cirenius e pôs em perigo todo o reino judaico.
2. Se os impostos não tivessem aparecido com a ajuda de Jesus, to-
dos os judeus teriam sido marcados com ferrete por pena infamante;
portanto, deveis a Ele vossa vida! É uma calúnia que O classifiqueis de
amotinador, pois se o fosse não seria amigo de Cirenius!
3. Mudemos, porém, de assunto, meus senhores! Deveis saber que
aqui, em Genezareth, há anos se acha um acampamento romano, de
sorte que todo viajor, independente de nacionalidade e profissão, neces-
sita de passaporte. Assim, peço-vos a apresentação deste documento, so-
Jakob Lorber
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bretudo por terdes aqui chegado à noite. Caso não possais satisfazer esta
exigência, ver-me-ei obrigado a vos prender e fazer açoitar em público,
mandando-vos em seguida de volta a Jerusalém!
4. Diz o chefe dos fariseus: “Senhor, sou pessoalmente o documento
vivo para todos! Sou tão bom chefe quanto tu, – e posso viajar com o
privilégio imperial, dia e noite, por todo o país! Somos ungidos por Deus,
– e ai de quem nos tocar!”
5. Diz o comandante: “O privilégio imperial só é válido em cidades
livres de guarnições militares.” Diz o outro: “Como tal lei não nos foi dada a
conhecer, não podíamos respeitá-la. Mas, neste caso, expediremos um men-
sageiro a Jerusalém, e amanhã, a esta hora, terás os documentos exigidos.”
6. Diz o romano: “Nada disto é preciso, porquanto depende de que
vos dê crédito. Sereis rigorosamente vigiados – e a mínima suspeita vos
fará prisioneiros! Durante vossa permanência tereis forte vigia para escol-
ta – contra pagamento de cem moedas de prata – até a fronteira. Se
possuísseis o salvo-conduto, nada pagaríeis.”
7. Diz o chefe. “Esse pagamento será efetuado pelo hospedeiro, por-
quanto não podemos levar dinheiro em viagem. A Terra é de Deus e
nós somos Seus servos; temos o direito de chamá-la nossa e podemos
colher onde não semeamos. Todo judeu sabe que sua posse é apenas
emprestada, assistindo-nos o direito de exigi-la quando quisermos! Por
este motivo nunca somos estranhos, mas senhores das propriedades, para
tanto mandamos que Ebahl pague por nós, pois sua casa é nossa!”
8. Como este assunto toca de perto o hospedeiro, ele diz: “Meus
senhores, estais equivocados! Primeiro, esta zona é livre e, com exceção de
Deus e do imperador, ninguém lhe poderá exigir algo. Segundo, é posse
de minha segunda esposa, grega de nascença; portanto, eu nada possuo e
sereis obrigados a pagar a importância! Perguntai ao comandante se não
é verdade!”
9. Diz aquele: “É isto mesmo e não adianta objetar!” Replica o fari-
seu: “Se mandarmos agora um mensageiro a Jerusalém, ele estará de volta
amanhã à tarde!” Diz o romano: “Tanto faz! Tendes de pagar por falta de
documentos; agora basta!” Pergunta o outro: “Mas, donde tiraremos o
O Grande Evangelho de João – Volume II
245

dinheiro, se não o possuímos?” Responde o comandante: “Neste caso,


agiremos pela penhora; pois tendes um considerável carregamento, que
vale a multa!”
10. Diz o chefe dos fariseus: “Mil vezes mais; entretanto, são objetos
consagrados a Deus, e fariam morrer quem os tocasse! Portanto, nada
feito!” Diz o outro: “Não deve ser tanto assim e averiguaremos se vossos
bens “consagrados” são, realmente, tão perigosos!” Gritam os templários:
“Não, não, arranjaremos o dinheiro, pois nosso pessoal o tem!”
11. A seguir, um fariseu vai buscar uma sacola com a importância, a
qual o comandante manda depositar na caixa dos pobres pecadores. O
chefe, porém, obsta: “Hábito estranho o depositar dinheiro consagrado
na caixa dos pecadores! Ignoras que quem ofende um servo de Deus
também terá insultado Jeovah?”
12. Diz o comandante: “Que tenho eu a ver com vosso deus? Sou
romano! O deus ao qual servis, jamais será o meu! Para mim sois pecado-
res empedernidos, – e vosso dinheiro foi bem depositado! Compreendes-
tes?” Responde o outro: “Sim, compreendemos estarmos lidando com
um pagão, que tanto despreza os judeus quanto sua doutrina!”
13. Diz o comandante: “Não é bem isto. Consideramos o velho
judaísmo; vossas instituições, vossa própria falta de fé e as fraudes cho-
cantes é que repudiamos como à morte. Sois apenas judeus pelo nome;
sei, perfeitamente, o que houve com a vossa Arca. Onde, então, acha-se
hoje o Espírito de Deus?” Responde o judeu: “Tudo permanece o mes-
mo, como na época de Aaron!”
14. Diz o romano: “Ouvi-me! Não faz três anos que visitei o tal
Santíssimo pelo preço de setecentas pratas. Mas, que vi? Um caixão de
aço em cima duma estante, de cujo centro saía uma labareda de nafta,
exalando um cheiro não muito agradável. Comigo não precisais gastar
vosso latim! Se fosse o imperador, far-vos-ia dependurar no pelourinho!”
15. Diz o chefe: “Senhor, não menciones isto diante do povo, que se
revoltaria!” Diz o romano: “Nada há que temer. Pois todo galileu sabe
disto e ninguém fala em revolta. E em tal caso nós, romanos, saberemos
abafá-la!” Diz o chefe dos fariseus: “Bem, já paguei a multa e podemos
Jakob Lorber
246

mudar de assunto. Que me dizes a respeito do mago Jesus, pois temos


ordem do Templo para relatar quanto a sua doutrina duvidosa?”
16. Responde o comandante: “Já vos disse que O conheço bem e
teria sido o primeiro a prendê-Lo se me desse impressão dum amotinador.
Se fôsseis iguais a Ele, Jerusalém seria a Eterna Cidade de Deus para
todos os tempos e o Espírito Divino pousaria sobre a Arca, como na
época de Aaron! Transmiti-o a vossos colegas, a fim de que saibam ser
arenoso o solo que carrega o seu Templo. Amanhã sereis testemunhas de
vários fatos, portanto podeis vos recolher!”
17. Diz o chefe: “Ficaremos sentados a esta mesa, pois tuas palavras
nos tiraram o sono. Quem quiser dormir que vá; eu ficarei! – Lá no
canto da mesa se acha um hóspede com uma menina. São teus prisionei-
ros e talvez, também por não possuírem documentos?” Responde o co-
mandante: “Não vos incomodeis com Ele; está sob minha proteção! Es-
pero que amanhã O conheçais melhor.”

119. O PODER DO AMOR

1. Ouvindo tais palavras os fariseus se calam. Em seguida, Me


levanto, cumprimento o romano que Me retribui a saudação,
acompanhando-Me e Yarah a um outro aposento, onde há um leito pre-
parado para Mim. Digo, então, ao comandante: “Se quiserdes ficar Co-
migo podeis fazê-lo, sem que isto vos cause cansaço para o dia de ama-
nhã. – Além do mais, falaste como Meu amigo aos fariseus; estão cheios
de pavor, contando os grãos de areia de suas ampulhetas, na expectativa
daquilo que ouvirão!
2. Por sorte Meus discípulos não se apresentaram, pois estavam ocu-
pados com os outros judeus e os dois essênios. Se tivessem vindo teria
sido um alvoroço! Muito bem, que farei, entretanto, com Minha querida
Yarah? Esta menina não Me larga!”
3. Diz ela: “Senhor, enquanto Te encontrares em nossa casa não Te
O Grande Evangelho de João – Volume II
247

deixarei – e se por acaso morresses, eu Te acompanharia! Quando nos dei-


xares sem que me possas levar Contigo, chorarei e implorarei ao Pai no Teu
Coração, que Te traga de volta, pois não mais poderei viver sem Ti!”
4. Digo Eu: “Vede um exemplo justo de como se deve amar a Deus,
a fim de ser por Ele amado! O Amor Divino tudo abrange sem conter ira
ou vingança; entretanto, existe uma grande graduação no Amor que Deus
dispende a Suas criaturas. Enquanto respiram, provam o Amor do Pai,
sem o qual estariam mortas. Quem, todavia, ama a Deus, como esta
menina, força-O a tomar morada em seu coração, com o que a criatura já
possui a Vida Eterna, sendo una com Ele!
5. Não é dado a todos amarem tão poderosamente a Deus como
Yarah; no entanto, poderão fazê-lo de acordo com suas forças, recebendo
destarte Seu Espírito e Graça, que os protegerão da queda. Mesmo trope-
çando, serão erguidos, continuando compenetrados da Vida Eterna.
Agora, Minha querida, como Me amas tanto, podes nos contar uma
história das muitas que conheces!”
6. Diz Yarah, sorrindo inocentemente: “Oh, Senhor! Não queiras
isto; pois seria demasiado tolo, considerando Tua Sabedoria!” Digo
Eu: “Não, isto não te deve confundir, conhecedora que és de Minha
grande Indulgência! Entendo não apenas o choro, mas a linguagem das
crianças. Costumas ter sonhos estranhos e podes nos relatar algum.”

120. SONHO DE YARAH REFERENTE À CRUCIFICAÇÃO


DO SENHOR

1. Diz Yarah: “Pois não; acontece, porém, que meus sonhos geral-
mente são horrendos, mostrando-me as criaturas mundanas em sua figu-
ra satânica. Foi o que se deu da última vez. Vi um homem de aparência
majestosa, que se parecia Contigo, Senhor. Achava-se ele amarrado como
criminoso. Perguntando aos que o seguiam chorosos, todos diziam o
mesmo: “Foi grande benfeitor da Humanidade. Jamais cometeu injusti-
Jakob Lorber
248

ça, externando sua boca apenas a Verdade Pura. Por este motivo foi acu-
sado pelos fariseus egoístas de falsário – e entregue à justiça romana. Está
sendo levado ao suplício, e poderás nos acompanhar para ver o escárnio
que lhe é praticado pelos homens maus!”
2. Acompanhei-os até um pequeno monte – e vi aquele homem
honesto carregando uma cruz pesada, enquanto o sangue lhe corria do
corpo vergastado! Chegando ao lugar do suplício, foi ele despido e jogado
em cima da cruz na qual se lhe pregaram mãos e pés com cravos pontudos!
Senhor, que quadro horroroso! Sinto-me desfalecer ao relatá-lo! Finalmen-
te, ergueram a cruz, enterrando-a numa cova feita para este fim. O mais
estranho, porém, é que ele não dava um gemido de dor, enquanto dois
outros, que não foram tão martirizados, gritavam horrivelmente.
3. Nisto acordei, toda trêmula. Este sonho foi algo de horrendo para
mim, que sou tão sensível! Por isto, pedi ao Pai do Céu que me preservasse no
futuro destas visões, – e desde aí nada mais sonhei. Meu pai sempre afirma-
va que sonhos não têm significação e derivam de distúrbio físico. Isto, no
entanto, não compreendo, por ter saúde boa, ânimo alegre e expansivo.”
4. Digo Eu, um tanto tristonho: “Minha querida Yarah, teu sonho
tem um grande significado e te podes considerar abençoada por tê-lo
recebido, pois foram poucos os profetas alvos de tal Graça. Muita coisa é
vedada aos homens nesta Terra e o “porquê” lhes será revelado somente
no Além. – Conta-Me mais aquele outro sonho que tiveste três dias após,
com a mesma pessoa.”
5. Diz Yarah: “Oh, como não?! Foi maravilhoso! Encontrava-me eu
de manhã cedo num jardim pitoresco, de onde, todavia, avistava a men-
cionada praça de suplício. Tomada de grande pavor, orei, em sonho, que
o Pai do Céu evitasse aparições horrendas, porquanto via ainda ali as três
cruzes erigidas.
6. No mesmo momento apareceu um jovem de aparência celestial
que me consolou e confortou com as seguintes palavras: “Não te ame-
drontes, ó alma pura e sensível! Aquilo que viste há três dias tinha que se
dar de acordo com a determinação de Deus, do contrário criatura alguma
poderia chegar à bem-aventurança e à contemplação do Pai. O Filho de
O Grande Evangelho de João – Volume II
249

Deus foi crucificado, sendo que a Divindade estava Nele. Agora, passa-
dos os três dias, o Filho de Deus ressuscitará, com Sua Própria Onipotên-
cia, da morte física e reinará sobre todo o Infinito, sendo Sua Glória e Seu
Reino Eternos. Diante de Seu Nome se curvarão todos os potentados – e
os que se Lhe opuserem serão dizimados. Chegou o momento feliz, por
isto observa a laje da tumba!”
7. Mal o jovem acabara de falar, levantou-se a pedra pesada – e o
mesmo homem, que vira crucificado, surgiu num deslumbramento iné-
dito! Via até mesmo as provas do suplício em suas mãos e pés!
Aproximou-se de mim e me disse, com voz melodiosa: “O que acabas de
ver é apenas uma prova da realidade que um dia presenciarás. A Mim
verás ainda em Pessoa, e após Minha Ressurreição!” – Em seguida acor-
dei e muito tenho meditado sobre aquela visão; além de Ti, não conheço
quem se assemelhasse àquele!” – Digo Eu: “Quem sabe se sou Eu? Agora,
porém, deixemos isto!”

121. PALESTRA ENTRE O COMANDANTE JULIUS E O SENHOR

1. (O Senhor): “Os fariseus que por Minha causa vieram de Jerusa-


lém, os quais o nosso amigo soube tão bem afastar, dar-Me-ão muito
trabalho. Contudo, ouvirão pela primeira vez uma verdade completa. Os
doentes que já se encontram aqui e os que ainda vierem, necessitam ape-
nas tocar a orla de Minha túnica para se curarem. Meus discípulos deve-
rão, em seguida, desjejuar sem lavarem as mãos, – o que será suficiente
para irritar estes arquifilisteus! Começarão a fazer suas perguntas capcio-
sas e Eu lhes darei respostas mais amargas e ácidas que vinagre e fel, com
que costumam mitigar a sede dos pecadores. – As horas até a alvorada
passaremos em silêncio.
2. Meus discípulos já se recolheram com os dois essênios e alguns
templários – e fizeram bom serviço com esta conquista. Pilah de Kis e
Ahab de Jesaíra chegaram aqui ontem pela manhã e muito os auxiliaram
Jakob Lorber
250

nesta tarefa, porquanto Meus discípulos, na maioria pescadores, não pos-


suem grande verbosidade. Ebahl, transmite-lhes que não devem lavar as
mãos para o desjejum, enquanto os recém-convertidos se ocultam até a
partida dos colegas de Jerusalém. Só então os abençoarei. Caso queiram
continuar em Minha Companhia ou manter as aparências diante do
mundo – isto depende somente deles!”
3. Ebahl se vai, cumpre Minhas Ordens e todos prometem seguir as
Minhas Determinações. A seguir, o comandante diz: “Alegro-me com o
dia de amanhã e acrescento, levado pelo sonho estranho de Yarah, que
aqueles judeus não deverão aguardar boa coisa. Caso queiram fazer tra-
paças, fá-los-ei açoitar até que o sangue lhes escorra pelas costas!
4. Seria bem possível que esses asseclas de Jerusalém Te aplicassem
aquilo que nos foi relatado por Yarah, pois Pontius Pilatos não tem fibra
para reagir. Se eu fosse prefeito naquela cidade, – garanto-Te que faria
enforcar todos aqueles que ousassem tocar-Te! Infelizmente sou desta-
cado para esta localidade e não Te poderei socorrer em caso de perigo!
Por isto, quero ao menos que recebam uma lição bem aplicada!”
5. Digo Eu: “Podes fazer o que te agrada, que não te impedirei. És um
dos Meus mais sábios amigos e possuis uma compreensão verdadeira, tan-
to em tuas palavras quanto nas atitudes. Tudo isto, no entanto, não surtirá
efeito; fá-los-á, ao contrário, mais perversos e maldosos. Poderás conseguir
enxotar um demônio, mas seu lugar será ocupado por dez.”
6. Diz o romano: “Tão certo como me chamo Julius, somente os
fustigarei em caso extremo!” Digo Eu: “Tens toda a razão! Deves aplicar a
máxima paciência; num excesso de abuso, porém, convém tomar medidas
drásticas, a fim de que os criminosos não julguem tratar-se de pilhéria.”
7. Afirma o comandante Julius: “De pleno acordo. Agora sugiro
aproveitarmos as poucas horas para um repouso!” Digo Eu: “Sim, que
assim seja!” Em seguida tudo silencia e cada um cai num sono agradável,
do qual desperta como se tivesse dormido toda noite.
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122. GRANDE CURA MILAGROSA


Ev . Matheus – Capítulo 14, versículo 36

1. Ebahl manda imediatamente preparar o desjejum pelas filhas mais


velhas. Os fariseus, tendo ocupado uma grande mesa no refeitório, são
servidos com pão, vinho, mel e alguns peixes fritos. Só depois de terem
terminado a refeição, Ebahl manda aprontar uma outra mesa para Mim, os
discípulos, o comandante, ele próprio e sua família. Antes que penetrasse
na sala incumbi-o de conduzir os enfermos ao refeitório, instruindo-o de
que bastaria tocar a orla de Minha vestimenta para readquirirem a saúde.
2. Após isto, entramos, sentando-nos à mesa sem tomar conheci-
mento ou cumprimentar os templários, o que os escandaliza. Nisto abre-se
a porta – e perto de duzentos enfermos Me vêm pedir para tocar o Meu
manto. Eu lhes permito isto, enquanto tomo o desjejum em compa-
nhia dos outros, – e todos que o fazem se curam. (Matheus 14, 36)
3. Alguns fariseus há que, invejosos, infiltram-se no meio de al-
guns doentes, dizendo-lhes em surdina: “Não toqueis a roupa deste
nazareno, que já conhecemos, – e também ficareis bons!” – Os que se-
guem tal conselho, porém, não se curam. Percebendo isto, pedem-me
para tocar-Me. Eu, entretanto, lhos proíbo, dizendo: “Viestes por Mim
ou por causa daqueles que vos insinuaram à desconfiança? Procurai os
que mereceram vosso crédito!” Ouvindo estas palavras, os fariseus se
enraivecem e seu chefe Me diz: “Então, és aquele que procuramos?”
4. Eu não lhes dou resposta; o comandante, que se acha à Minha
direita, responde peremptoriamente: “Sim, é Ele, a Quem não mereceis
olhar! Por que impedistes a estes pobres de se curarem como os demais?
Miseráveis, não sabeis outra coisa senão infelicitar as criaturas, sempre
que possível!”
5. A esta altura aceno a Julius para que se contenha, do contrário
teríamos atritos chocantes. Ele se reprime, mas insiste em que o chefe lhe
diga a razão de ter impedido os pobres em sua cura.
6. Diz o fariseu, encabulado: “Foi nosso fito certificarmo-nos se,
Jakob Lorber
252

realmente, isto era possível; uma vez convencidos do fato, nada os obsta
de procurarem sua saúde.”
7. Dizem os enfermos: “Se não fôssemos tão fracos e doentes,
aplicar-vos-íamos uma lição que dificilmente esqueceríeis! Mas não im-
porta! Um dia, quando sãos, saberemos onde vos encontrar!”
8. Digo-lhes Eu: “Afastai a vingança de vossos corações, se desejais
que vos socorra!” Exclamam os doentes: “Mestre, faremos tudo que exi-
gires; apenas, ajuda-nos!”
9. Digo Eu: “Então, vinde e tocai Minha vestimenta!” Nem bem as-
sim procedem – são curados! O comandante, agitado, dirige-se aos outros:
“Então, cegos d’alma, vindos da “Cidade de Deus”! Estais convencidos que
este homem, a cujo respeito fostes tão condenavelmente informados e que
deveis capturar, seja o mesmo por vós ontem mencionado?”
10. Respondem os templários: “Certificamo-nos que dele emana
um poder curador excepcional; isto, no entanto, não prova que o faça
através de força divina, pois notamos que ele e os que o acompanham
não seguem os ditames dos anciãos!” Diz o comandante: “Isto não en-
tendo! Dirigi-vos a ele, pessoalmente!”

123. O SENHOR E O CHEFE DOS FARISEUS


Ev. Matheus – Capítulo 15, versículos 1 a 9

1. A seguir, o chefe encaminha-se para Mim, dizendo: “Mestre, quem


são os que te acompanham?” (Matheus 15, 1) Digo Eu: “São Meus dis-
cípulos!” Continua ele: “Por que transgridem eles as leis dos patriarcas?
Pois não lavam as mãos antes de comer!” (Matheus 15, 2)
2. Então Me levanto, enfrento o chefe e digo com seriedade: “Por
que violais vós as Leis Divinas em virtude de vossos princípios? (Matheus
15, 3) Deus falou: “Deves honrar pai e mãe – e quem os amaldiçoar,
deverá morrer!” (Matheus 15, 4) Vós, porém, ensinais aos filhos a dize-
rem o seguinte aos progenitores: “Ser-vos-á mais útil fazermos por vós
O Grande Evangelho de João – Volume II
253

uma oferta no Templo que honrar-vos, constantemente, como de uso!”


E se assim fazem, dizei-lhes: “Agistes bem!” (Matheus 15, 5) Qual a
consequência disto? Vede, quase ninguém mais honra seus progenitores!
Revogastes, portanto, a Lei de Deus em vosso favor! (Matheus 15, 6)
Quem vos deu tal direito? Como, entretanto, nunca acreditastes em Deus,
pudestes assim agir, pois aquele que é espiritualmente morto, não tem
mais consciência!”
3. Manifesta-se o comandante: “Ah, as coisas andam neste pé? É
preciso ser anotado! Este, então, é o motivo de não poderdes reconhecer
a Natureza Divina de nosso Mestre e Salvador?! Vosso deus existe apenas
para o vosso conforto e bem-estar! Muito bem, já que vos conheço assim,
podeis prosseguir!”
4. Diz o chefe: “Somos servos de Deus pela ordem de Aaron!”
5. Digo Eu: “Ó hipócritas miseráveis! Bem que Isaías de vós falou:
(Matheus 15, 7) “Este povo Me honra com os lábios, seu coração, po-
rém, está longe de Mim! (Matheus 15, 8) Veneram-Me inutilmente, pois
ensinam ao povo doutrinas formuladas nos conceitos humanos!” (Ma-
theus 15, 9)
6. Retruca o chefe: “Nossas leis, que muito úteis são às criaturas, não
revogam as de Deus!”
7. Digo Eu: “Acabo de vos provar isto com uma apenas, acaso dese-
jais saber como vilipendiais as outras, sobrepondo-lhes as vossas?”
8. Exclama ele: “Não faças isto diante do povo!” Diz o comandante:
“Testemunhai, então, à vista da multidão que o Mestre vive e age de
acordo com a Lei de Deus!” Esquiva-se o chefe: “Isto só é possível no
Templo e pelo sumo pontífice!”
9. Diz o comandante: “Tal se classifica em Roma: “Ars longa, vita
brevis!” (A arte é longa – a vida, curta). Isto quer dizer que se tenciona
prorrogar indefinidamente uma questão, a fim de fugir dela. Eu vos afir-
mo que o vosso testemunho quanto a um Mestre como Jesus de Naza-
reth, é péssimo e miserável! Se pretendeis fazer um relato falso a respeito
de Jesus, aos vossos colegas em Jerusalém, participarei ao imperador de
Roma a maneira pela qual praticastes o roubo dos impostos! E não se
Jakob Lorber
254

passará um ano – e o vosso ninho infernal será destruído de sorte a não


mais deixar vestígios! Guardai bem isto! Pois um romano cumpre o que
diz! Compreendestes-me?”

124. DISSERTAÇÃO DE JULIUS QUANTO À BÊNÇÃO DO SENHOR

1. A esta declaração do comandante Julius os fariseus se reúnem


perplexos, conjeturando o que fazer. Um deles opina que seria melhor
dar tal documento exigido pelo romano.
2. Diz o chefe: “Como poderíamos, se despreza ele as leis do Tem-
plo?! Se o fizéssemos apenas aparentemente de nada adiantaria, porquan-
to tal testemunho nos poderia prejudicar mais tarde. Faremos, portan-
to, o que exige o comandante, pois no caso de sermos chamados à
responsabilidade pelo sumo pontífice, poderemos nos desculpar!” –
Após esta resolução eles se calam.
3. Eis que Me levanto e digo ao chefe dos fariseus: “Não podes e não
queres documentar vossas diretrizes contrárias à Minha Doutrina para
defender teu corpo miserável!? Se o tivesses feito terias alcançado a felici-
dade tanto aqui como no Além; agora, no entanto, este momento pas-
sou! O Filho do homem não necessita do teu testemunho, pois Suas
Obras e Palavras já o demonstram plenamente! A fim de que tu e teus
colegas vejais que não temo aos homens direi ao povo, em vossa presen-
ça, que vossas leis de nada valem e aquele que as seguir como as ensinais
será pecador diante de Deus!”
4. Diz o chefe: “Não faças isto, se não queres sofrer as consequências!”
5. Diz o romano: “Pois sim! Ele o fará sem que algo Lhe suceda!
Guardai, isto, miseráveis! Aqui vos encontrais em meu poder; a mínima
atitude suspeita de vossa parte e vos farei esquartejar e jogar no mar! A
História prova que os templários, há trezentos anos, nada de bom fize-
ram para os crentes. E caso aparecesse uma criatura mais bondosa em seu
meio, fariam-lhe o que sucedeu ao pobre Zacharias!
O Grande Evangelho de João – Volume II
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6. Jesus foi mandado por Deus a esta zona insalubre que contava
vários milhares de enfermos; dos meus próprios soldados mais que a
metade estava acamada, muitos há mais de um ano. Eis que vem este
Salvador e os cura a todos. Não é justo que se Lhe construa um altar, a
fim de honrá-Lo devidamente?
7. Quais foram vossas ações caridosas? Encheste-vos gratuitamente
com os alimentos fornecidos por Ebahl, e por gratidão tencionais aniqui-
lar o nosso Benfeitor! Deveis a Ele não ter Cirenius convocado as legiões
na Ásia, a fim de dizimar vosso ninho de serpentes! Confessai, se não sois
piores que o próprio demônio?!”
8. A seguir ele se dirige a Mim: “Senhor, ensina-nos a verdade e o
que é preciso que o povo faça em vista dos conceitos humanos! Sei que
Céus e Terra e todos os elementos Te obedecem e que Te seria facílimo
destruir com um sopro estes infames; no entanto, estou – embora como
criatura fraca – a Teu dispor, até o último soldado! Pois estes miseráveis
deverão me conhecer!”
9. Diz o chefe com voz trêmula: “Que provas tens de nossa intenção
de aniquilar este homem? Vimos para examiná-lo, o que não se pode
condenar; porém, não se cogitou de destruição! Tu podes falar convicta-
mente, pois o conheces através de seus atos e ensinos. Além da cura mila-
grosa de hoje nada sabemos a seu respeito, portanto é justo que examine-
mos este taumaturgo!
10. Sabemos que o solo que nós, templários, pisamos é oco; contu-
do, é ele melhor que outro qualquer – e é obrigação do Estado, protegê-lo
até que Deus nos dê um mais firme! Por isto te peço não nos ameaçares
com a espada só por trocarmos algumas palavras com este Jesus! Que faça
e ensine o que deseja, para podermo-nos integrar melhor em suas idéias.
Se forem aplicáveis, mudaremos de critério, pois não somos tolos e nosso
coração ainda é capaz de formar um juízo acertado.”
11. Diz o comandante: “Vossa recusa referente ao documento exigi-
do não prova a justiça de vossos sentimentos, – porém, veremos!”
Jakob Lorber
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125. TRÊS DOCUMENTOS


Ev. Matheus – Capítulo 15, versículos 10 a 14

1. Imediatamente convoco a multidão que em parte consiste dos


curados e em parte dos habitantes, que consideram este dia feriado por
ser um ante-sábado.
2. Quando todos se acalmam, digo: “Ouvi-Me e compreendei! (Ma-
theus 15, 10) O que entra pela boca não contamina o homem, mas sim,
aquilo que dela sai. (Matheus 15, 11) Comer o pão de mãos não lavadas
não corrompe o homem. Afirmando-vos isto, revogo para sempre este
preceito mundano!” – Minhas Palavras despertam júbilo e louvor do
povo. Os discípulos, no entanto, rodeiam-Me e perguntam: “Observaste
como os fariseus se aborreceram com o que disseste?” (Matheus 15, 12)
3. Respondo-lhes: “Todas as plantas que Meu Pai Celestial não plan-
tou, serão arrancadas. (Matheus 15, 13) Deixai-os! São guias cegos, e quan-
do um cego conduz outro, ambos cairão na cova! (Matheus 15, 14) Podem
se aborrecer à vontade, pois o pai deles não é o Nosso, Que é de cima!”
4. Ouvindo isto, os fariseus se enchem de raiva e o chefe diz: “Já
ouvimos o bastante! Ultrajou tanto a Deus quanto a nós! Sabemos, por-
tanto, com quem lidamos e comunicaremos ao sumo pontífice quem é
este nazareno!”
5. Diz o comandante: “É fácil de se entrar num local, de acordo com
o próprio desejo; a saída, porém, depende da vontade daquele que ali
manda; por isto, obrigo-vos a ficar!” A estas palavras do romano os tem-
plários se assustam de tal forma que não conseguem dizer palavra.
6. Vendo o efeito de sua atitude enérgica, o comandante prossegue:
“Antes de vos deixar seguir, teremos muita coisa a esclarecer: trata-se da
elaboração de dois contratos e de um testemunho por vós escrito em
presença do povo, de cujo cumprimento depende vossa vida! Basta que
eu seja informado pelos meus espiões de que deixastes de cumprir um
ponto sequer, para que a morte vos atinja, mesmo vos ocultando entre as
paredes do Templo!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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7. A seguir ele manda buscar o necessário material e escreve: “Con-


trato nº 1: Se algum de vós se atrever a falar algo que desabone Jesus de
Nazareth – entre vós ou a estranhos – será condenado à morte! – Contra-
to nº 2: Castigo idêntico atingirá aquele que comentar em Jerusalém e
no Templo o que sucedeu aqui, dando testemunho prejudicial a Jesus,
nosso Senhor! E que ninguém se iluda com a esperança de que tal não
seria descoberto, pois no mesmo momento em que não cumprirdes o
que sois obrigados a prometer, o castigo vos alcançará!”
8. Logo após, o comandante escreve a seguinte declaração: “Nós,
abaixo assinados, confessamos como prova da verdade e em memória
eterna, que praticamos o conhecido roubo dos impostos imperiais e
dos tesouros do Pontus, cujo transporte para Jerusalém foi denunciado
em Kis por Jesus de Nazareth, não verbalmente, mas através de sua
influência. Em consequência disto teríamos sido condenados à morte
pelo juiz Fausto, se não fôssemos salvos pela interferência do mesmo
Jesus! Esta é a verdade pela qual depositamos nossa vida!”
9. Tendo assim preparado os três documentos, o comandante lê seu
teor aos fariseus cujas fisionomias manifestam uma revolta sem par. Fi-
nalmente, quando se cientificam do último, gritam desesperados: “E isto
devemos assinar?”
10. Responde o romano: “Exatamente! Não o fazendo, esperam-vos
os carrascos munidos de açoites e espadas!” – Ante a seriedade do mo-
mento eles resolvem assinar, no que são lembrados pelo comandante de
aporem seus verdadeiros nomes. Aqueles entre o povo que sabem escre-
ver, também assinam. Depois de tudo terminado, diz o comandante:
“Agora tenho em mãos o que de há muito desejava! Podeis seguir viagem,
a escolta vos levará até a fronteira!” Dentro de meia hora os templários
deixam Genezareth, sem terem proferido mais uma palavra.
Jakob Lorber
258

126. ADVERTÊNCIA DO SENHOR QUANTO À ASTÚCIA


DOS TEMPLÁRIOS

1. Uma vez longe dali o comandante diz: “Senhor, espero que se


venham a calar, devido a esses documentos! Além disto, é plena verdade
que saberei dentro de oito dias o que comentarem!”
2. Digo Eu: “Sim, silenciarão; mas sua raiva será tanto maior, por-
quanto nunca se esquecerão do que se passou. Por isto, tende cuidado!
Conjeturarão novos meios de vos prejudicar e enviarão outro grupo de
espiões, conseguindo até falsas testemunhas contra vós!”
3. Diz o comandante: “Senhor, agradeço-Te por esta advertência! Todos
que aqui vierem terão que se precaver, principalmente os de Jerusalém!”
4. Digo Eu: “Sim, pois são maneirosos como pombas; no íntimo,
porém, mais venenosos que uma serpente egípcia! Virão disfarçados como
comerciantes persas, gregos, egípcios e até romanos e será difícil distinguí-los
entre os verdadeiros. Apenas num exame rigoroso o descubrireis!”
5. Diz o romano: “Ó Senhor, agradeço-Te mais uma vez! Agora
saberei como agir no futuro! E se tiver caso difícil a solucionar, permitirás
na certa que chame pelo Teu Nome Poderoso, dizendo: “Espírito Oni-
potente do meu Senhor! Ilumina meu coração, a fim de que saiba como
agir!” E Tu não deixarás de me socorrer!”
6. Digo Eu: “Amigo e irmão! Permanece deste modo com relação a
Mim, que Meu Espírito te acompanhará a toda hora de todo dia!”
7. Diz Yarah ao Meu lado: “Mas, Senhor, falas como se fosse de Tua
Intenção abandonar-nos?! Peço-Te que fiques mais alguns dias, pois és
minha vida! Como viverei sem Ti? Tens que ficar, pois não Te deixarei ir!”
8. Digo Eu, amavelmente: “Minha mui querida Yarah, a ti jamais
deixarei! Mesmo Me afastando dentro em pouco, em virtude de Minha
Incumbência, Meu Espírito continuará contigo – e poderás Me falar,
que te darei resposta perceptível a todas as perguntas! Compreendes isto?”
9. Diz ela: “Sim, meu queridíssimo Jesus, porquanto sei que tudo Te
é possível; entretanto, prefiro Tua Presença em Pessoa. Desde que aqui
O Grande Evangelho de João – Volume II
259

estás tudo parece tão maravilhoso e celeste! Duvido que os Céus sejam
mais deslumbrantes! Por tal razão tens que permanecer mais alguns dias!”
10. Digo Eu: “Bem, não é possível recusar algo a um amor tama-
nho! Regozija-te, pois, que escolheste a melhor parte!”
11. Louca de alegria, Yarah corre para junto do pai e diz: “Vê, pai, o
Senhor continuará conosco!” Diz ele: “Querida filha, eis uma Graça imere-
cida, pois Ele é o Senhor dos Céus e Terra! O que deseja e faz se acha oculto
nos Seus Desígnios pelos quais nossos cabelos são contados como os grãos
de areia! Mas, concordo que não Lhe fará grande diferença se ficar mais um
pouco, pois um dia é, para Ele, idêntico a mil anos. Assim, não O deixes,
pois te prefere entre todos!” Diz Yarah: “Jamais O deixarei!”

127. O SENHOR FALA SOBRE O ESPÍRITO DO AMOR

1. Eis que Me aproximo despercebidamente de Yarah e tomando-a


em Meus Braços, digo: “Meu amor, como irás prender-Me, se sou mais
forte que tu?”
2. Diz ela, após Eu a ter de Mim desprendido: “Sei que és imensa-
mente mais forte que eu, fraca criatura, pois mantens pela Tua Onipo-
tência, Céus, Terra e mar em suas profundezas! Apenas creio que Te dei-
xarás prender por mais algum tempo em nosso meio pelo meu amor
indescritível para Contigo!”
3. Digo Eu: “Tens plena razão, pois tudo se consegue Comigo pelo
amor! E quem se Me dedica como tu, conseguirá o que almeja. Tal exi-
gência do amor surge dos recônditos da Ordem Divina. Minha Presença,
no entanto, de nada vale; Meu Espírito é o único móvel de Minhas Ações!
Por amor a ti, porém, ficarei mais alguns dias, – amanhã, sábado, e de-
pois, domingo. A seguir irei a Sidon e Tyro, voltando no inverno.”
4 .Diz Yarah, radiante: “Todo louvor ao Pai por tal Graça que me
enche de alegria!” Os presentes admiram a atitude da menina e um velho
diz: “Nesta criatura delicada se oculta um anjo!” Diz um outro: “Exato!
Jakob Lorber
260

Ela conta apenas doze anos e meio, no entanto aparenta dezesseis. Corpo
e alma são identicamente desenvolvidos, e feliz, quem a desposar!”
5. Ouvindo isto, Yarah diz: “Um coração que ama a Deus não ne-
cessita do amor dum noivo egoísta, pois já foi conduzido à Casa do Pai!
Amo as criaturas em suas necessidades e procuro sempre fazer-lhes o
bem; mas dum certo amor a um jovem nada sei e também nunca o
conhecerei, a não ser que seu coração também seja repleto do amor puro
a Deus!”
6. Diz um outro judeu: “Eh, eh, menina! Falas como um anjo; entre-
tanto, és feita de carne e osso, que se manifestarão em época oportuna!”
7. Diz Yarah: “Desde pequena sei que a criatura é humana, todavia ela
pode, pelo justo amor a Deus, tornar-se mestre de seu corpo, porquanto
Deus lhe ajuda neste propósito. Ele sempre auxilia integralmente – e aquilo
que hoje sucedeu ao vosso físico doentio, foi a manifestação do Auxílio
Divino!” – A estas suas palavras ninguém mais ousa falar.
8. Tomando de sua mão, digo-lhe: “Ótimo, falaste tão bem quanto
um profeta!”
9. Diz ela à meia-voz, sorrindo: “Coisa fácil estando a Teu lado e
recebendo por Ti as palavras no coração! Se tivesse falado por mim,
certamente só teria proferido tolices!”
10. Respondo, também em surdina: “Bem possível, Minha Yarah! De
agora em diante poderás sempre falar sabiamente, caso mais tarde não te
tornes infiel! Diz ela: “Senhor, se isto fosse possível, preferiria morrer!”
11. Digo Eu: “Quer dizer que tal não se dará?!” Diz Yarah,
abraçando-Me com fervor: “É isto mesmo, pois seria loucura trocar ouro
puro por detritos!”
12. Digo Eu: “Então, dás valor ao ouro?” Responde ela: “Sim, dou
tudo pelo ouro da alma! Mencionei este metal para dar um exemplo!”
13. Digo Eu: “Já te compreendi e apenas estava te provocando por
te querer muito!” Diz ela: “Podes fazê-lo, que não me impedirá de te
amar! Bem sei que Deus experimenta, com toda sorte de provações, aos
que Ele ama especialmente; portanto, se Tu me provocas, provas o quan-
to me queres!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
261

14. Digo Eu: “Minha filha, corações tão puros quanto o teu nunca
são experimentados pelo Pai, e sim os que, embora O amem, de quando
em quando se deixam atrair pelo mundo! Compreendes?” Diz Yarah:
“Como não, Senhor, Alento do meu coração?!”

128. PALESTRA ENTRE OS TEMPLÁRIOS E OS ESSÊNIOS

1. Pedro, ao lado, começa a considerar: “Não percebo a fácil com-


preensão desta menina! Sou velho e tenho minhas experiências, entretan-
to encontro dificuldade na percepção espiritual. Haja vista não entender
a parábola do Senhor: “Apenas o que sai da boca prejudica o homem, e
não o que entra por ela!” Caso alguém vomite ou tussa – como isto
poderá prejudicá-lo? Moisés nada falou a respeito!”
2. Dizem os outros discípulos: “Também não o entendemos! Vai e
indaga em nome de todos como devemos interpretá-lo!” Pedro anima-se
e diz: “Senhor, explica-nos a última parábola que nenhum de nós a com-
preendeu!” (Matheus 15, 15)
3. Digo Eu: “Até vós ainda não a entendeis? (Matheus 15, 16) Quanto
tempo devo suportar-vos? Não percebeis que tudo que entra pela boca,
passa pelo estômago para depois ser expelido? (Matheus 15, 17) Mas o
que sai por ela procede do coração e contamina o homem! (Matheus 15,
18) Do coração surgem os maus pensamentos, mortes, adultério, roubo,
falso testemunho e injúrias. (Matheus 15, 19) São estas coisas que conta-
minam o homem; comer, porém, sem lavar as mãos, não o prejudica!
(Matheus 15, 20) Compreendestes?”
4. Respondem os discípulos: “Sim, Senhor e agradecemos por esta santa
Luz!” Digo então ao escrivão Matheus: “Anota a multiplicação dos pães,
nossa viagem noturna e o que hoje sucedeu, mas em poucas palavras! Mais
tarde poderá ser acrescentado algo a esta parte essencial do Evangelho.”
5. A seguir os discípulos retornam a seus quartos, onde os esperam
os convertidos fariseus e os dois essênios. Aí são esses bem informados a
Jakob Lorber
262

respeito de seus colegas de Jerusalém, o que os leva a comentar a cegueira


daqueles, à vista de tantas provas concludentes, dizendo: “De que lhes
adiantou toda sua astúcia? Agora estão presos pelos documentos, de tal
forma que nem podem trocar idéias entre si!”
6. Dizem os essênios: “A questão com Jesus é muito clara e eles
nada percebem. Conosco dá-se o seguinte: Conseguimos uma educação
mundana perfeita, pois cursamos todas as escolas da Pérsia, do Egito e da
Grécia, e bem conhecemos as velhas doutrinas dos judeus. Isto, porém,
não nos impede de confessar que, tanto pela Sabedoria quanto pela Pala-
vra, Jesus é um Deus Perfeito.
7. Observamos que ambas as Emanações de Sua Divindade são per-
feitas. Os Céus se abrem ao Seu Aceno, enviando milhares de anjos a Seu
serviço; basta que Ele o ordene para que as despensas vazias transbordem
de alimentos e as adegas, de vinhos saborosos! Acaso isto não tem valor?
Ordena ao mar que se torna firme, permitindo que as criaturas nele ca-
minhem. Tudo isto foi demonstrado àqueles homens; no entanto, conti-
nuam os mesmos, de índole maldosa! Que me dizeis?”
8. Respondem os fariseus e escribas: “Tens razão; a criatura que, apesar
dessas demonstrações continua teimosa, só pode ser um demônio!”
9. Dizem os essênios: “Somos de vossa opinião, depois que acredita-
mos existirem realmente maus espíritos que prejudicam as criaturas,
tentando-as para más ações!”
10. Diz Judas: “Se não fosse tão convicto de Sua Onipotência Divi-
na, poderia até começar a me preocupar com Ele pois esses homens seri-
am mesmo capazes de expulsar a Deus de Seu Trono. Os templários,
após a expulsão dos samaritanos, os quais os continham em seus exces-
sos, são capazes duma ação extrema antes de renunciarem ao seu
bem-estar!”
11. Diz Pedro: “Julgas que nosso Senhor esteja seguro da astúcia deles
com toda a Sua Onipotência? Se Ele não enfrentar esses assassinos como
implacável juiz, será em breve vítima de sua vingança insaciável! Sim, um
judeu é destinado a coisas grandiosas; no entanto, não haverá demônio
pior que um judeu pervertido! Por isto, o Senhor devia Se precaver com o
O Grande Evangelho de João – Volume II
263

Templo; se for lá como homem bondoso, estará perdido. Contudo Ele


conhece a índole das criaturas e saberá fugir de seus planos!”
12. Diz um fariseu: “Ele, começando a se esquivar, já prova a pouca
segurança. Somente a vontade de querer evitar todo alarido desculpa Sua
esquiva. Penso que enfrentará a perversidade do mundo somente quan-
do sua medida estiver completa!”
13. Dizem os essênios: “Concordamos! A não ser que Se entregue de
Própria Vontade nas mãos da justiça humana, dizendo: “Aqui estou, fi-
nalizai em Mim, vosso Criador, vossa perversidade, a fim de que a Justiça
Divina vos castigue!” – Mas, com isto Ele nada perderá, porquanto po-
derá permitir que se Lhe cause a morte física; quem, todavia, poderá
prejudicar o Seu Espírito eternamente Onipotente? E ai daqueles inimi-
gos e demônios; pois saberão a Quem perseguiram!! Que me dizeis?”
Respondem os outros: “Concordamos, embora não o desejemos!”

129. O SENHOR E OS DOIS ESSÊNIOS

1. Neste ínterim Ebahl faz a chamada para o almoço e todos pene-


tram de bom grado no refeitório. Então pergunto a Meus discípulos qual
o assunto que fora discutido.
2. Respondem os dois essênios: “Senhor, em virtude de Tua Onisciência
deves saber de tudo, não ignorando que nada de mal falamos a Teu respeito!”
3. Digo Eu: “Pelo contrário; falastes bem, porquanto recebestes as
Palavras do Pai! Guardai-as, pois que as criaturas são cegas, tolas e más! –
Vamos à mesa!”
4. O almoço é farto; os oito marujos haviam feito uma boa pesca, pelo
que são recompensados com pão e vinho. Os peixes são bem preparados.
Os essênios, alunos de Aristóteles e Epicuro, consideram uma boa cozinha
e se externam quanto à qualidade e ao preparo dos peixes. O próprio co-
mandante os aprecia de tal forma que teme dano para seu estômago.
5. Eu lhe digo, porém: “Não te preocupes, querido Julius, pois em
Jakob Lorber
264

presença do médico nada te prejudica!” Satisfeito, ele se acalma. (Esta


Minha Afirmação conservou-se até à época de hoje entre os médicos).
Terminado o almoço, Julius indaga: “Que tal, Senhor, se fizéssemos um
pequeno passeio, pois que o dia está maravilhoso?”
6. Digo Eu: “Este também é Meu intento; escalaremos desta vez
uma montanha!” Diz o comandante: “A mais próxima se chama “Auro-
ra”; é a mais alta e íngreme e, no seu todo, um colosso de pedra. Se
tencionas subir ali não alcançaremos o pico antes da noite – e não será
interessante pernoitarmos naquelas alturas onde sempre há neve e gelo.”
7. Digo Eu: “Amigo, isto tudo não nos impedirá de escalar aquela rocha,
mormente porque conheço o caminho certo. Em menos de duas horas esta-
remos no cume; quem, portanto, quiser tomar parte, que venha!”
8. Diz o romano: “Senhor, Contigo iria até ao fim do mundo; mui-
to mais facilmente Te acompanharei nesta escalada. Convém levarmos
algum pão e vinho?”
9. Respondo Eu: “Pois não! Mas que faremos com Minha querida
Yarah, que talvez tenha dificuldade na subida?!”
10. Diz ela: “Contigo, Senhor, tudo me será fácil; se for da Tua
Vontade não só subirei a “Aurora” como andarei Contigo até no fogo,
como o fiz na água!”
11. Digo Eu: “Sabes dar sempre a resposta justa do teu coração,
cheio de amor e verdade! Podes, portanto, acompanhar-nos!” – Ela se
apronta rapidamente e diz: “Senhor, estou bem assim?”

130. ESCALADA MARAVILHOSA

1. Yarah com um vestido azul, sapatos trançados e um chapéu de


palha, pega de Minha Mão e diz: “Mas, Senhor, minha vida, peço-Te que
me digas se Te agrado?”
2. Digo Eu: “Isto já estás vendo, Minha Yarah! Seria melhor que
todas as criaturas Me fossem tão agradáveis como tu, que és um anjo!
O Grande Evangelho de João – Volume II
265

Agora, vamos!”
3. Todos, com exceção dos empregados, Me seguem, sendo que Ya-
rah, Ebahl e o comandante vão ao Meu lado. Quando chegamos à parte
da rocha cortada por fendas profundas, o romano diz: “Senhor, de modo
natural não haverá possibilidade para esta escalada. As fendas são íngre-
mes, úmidas e, às vezes, cobertas de espinhos.”
4. Digo Eu: “Como podes ter receio, se já vencemos a maior parte?!
Olha para trás e hás de ver em que altura estamos.” Ele assim faz e se
assusta quando percebe que atingimos a parte mais inclinada. Numa
excitação nervosa ele diz: “Isto compreenda quem puder! Como foi pos-
sível subirmos a este desfiladeiro, sem sentir o mínimo cansaço?”
5. Digo Eu: “Então não vês, que não estacionamos no caminho?”
6. Diz ele: “É verdade! Mas se olho para cima, não sei como subir!”
7. Digo Eu: “Para tanto é preciso que se tenha um bom guia, a fim
de transpor todos os obstáculos! Vê, este desfiladeiro à nossa frente, já é a
passagem para o cume!” Exclama o romano: “Mas, de que forma? Não
andamos nem uma hora – e mais alguns passos estaremos em cima!”
8. Diz Yarah: “Julius, como podes indagar, quando Deus, o Senhor,
é nosso Guia?! Podia-nos ter transportado pelos ares sobre estes estreitos
jamais pisados por alguém, e cabe-nos agradecermos do fundo do cora-
ção por esta Graça! Perguntar-Lhe, porém, sobre a possibilidade, é suma-
mente tolo! Caso ele nos desse uma explicação, resta saber o quanto assi-
milaríamos e se também nos tornaríamos onipotentes!”
9. Digo Eu: “Ó pequena sábia! Quem esperaria tanta luz em ti?! Digo-te,
são poucas que possam concorrer contigo; no entanto, algo há que necessi-
to te dizer, não obstante o Meu Amor: no futuro deves ser mais econômica
em tua sabedoria e apenas externar o necessário. Aqui, em Minha Presença,
tal não se dá, porquanto também sei responder concisamente às perguntas,
de quem quer que seja! Se o nosso amigo não fosse tão sábio, tê-lo-ias
magoado. Procura aproximar-te das criaturas com modéstia, e terás te tor-
nado Minha Noiva! Compreendes Minhas Palavras?”
10. Responde Yarah, tristonha: “Oh, sim, Senhor; temo, porém,
que já não mais me queiras tanto como dantes, o que me entristece!”
Jakob Lorber
266

11. Digo Eu: “Preocupa-te com outras coisas! Pois te quero mais
que anteriormente!” Diz ela: “E o comandante?”
12. Responde este: “Querida Yarah! Agradeço-te pelo grande ensi-
namento! Teremos muita coisa para discutir, pois vejo que teu coração
contém a sabedoria celeste; por isto, seremos amigos!”
13. Digo Eu: “Então, Yarah, estás satisfeita?” Diz ela: “Muito! Mas
também prometo controlar-me, pois que a indiscrição foi sempre o meu
fraco.” Digo Eu: “Pois bem; então daremos os últimos passos ao pico!”

131. NO CUME DA MONTANHA

1. Em poucos minutos alcançamos o cume, que é mais um despe-


nhadeiro escarpado e mal comporta trinta pessoas que não sofram de
vertigem. O comandante, não satisfeito com isto, diz: “A vista é deslum-
brante, mas o planalto tão alcantilado, prejudica este prazer!”
2. Digo Eu: “Senta-te, amigo, e vós outros também; Eu ficarei de
pé!” Diz o romano: “Mas, onde? Além do mais estou com medo, embora
saiba que nada me sucederá! Por que isto?”
3. Digo Eu: “Por não admitires a impossibilidade da queda. Obser-
va Minha querida Yarah, como pula alegremente duma rocha para outra,
enquanto seus irmãos e Ebahl estão lívidos de pavor! Tende fé que nada
vos sucederá!”
4. Diz o comandante, que sente uma pedra se afrouxar debaixo de
seu pé: “É mais fácil um condor ter fé, pois suas asas o carregam por sobre
todos os penhascos! Oh, o que não daria para estarmos lá em baixo!”
5. Aproxima-se dele Yarah, pulando alegremente: “Caro Julius,
peço-te que não sejas tão medroso, pois nada te vai acontecer! O Senhor
nos conduziu são e salvos até aqui, sem que um de nós caísse no abismo;
como podes cogitar desse fato, quando alcançamos o pico da montanha!
Vem comigo, que não posso ver teu semblante tão apreensivo!”
6. Com isto ela tenta levá-lo para o outro lado; ele, porém, grita:
O Grande Evangelho de João – Volume II
267

“Não! Larga-me, pequena bruxa! Pouco falta – e me jogas no abismo!


Conheço-te bem; és boazinha e inteligente; mas, às vezes, és tomada dum
espírito traquino e por isto digo: não me toques! Sei que nada nos suce-
derá; mas que culpa tenho de sofrer de vertigem?”
7. Diz Yarah: “Que idéia supores que te queira assustar! Não sou, em
absoluto, uma bruxa!” Seus olhos se enchem de lágrimas, e o comandan-
te se arrepende de suas palavras, dizendo: “Não te zangues! Quando esti-
vermos lá em baixo, te acompanharei num passeio, mas aqui não posso
vencer a tontura!”
8. Diz ela: “Isto é doença! Por que não pedes ao nosso Salvador que
te cure?!” Diz o romano: “Esta sugestão é ótima e vou segui-la!” Nisto ele
se vira para Mim e pede: “Senhor, liberta-me do medo e da tontura!”
9. Digo Eu a Ebahl: “Dá-Me um pouco de vinho!” Em seguida dou
um cálice de vinho ao romano e lhe digo: “Toma, que ficarás melhor!”
Ele o faz – e todo o medo desaparece, de sorte que se deixa levar por
Yarah para todos os lados, olhando calmamente para o fundo do abismo!
10. Quando os outros observam isto, também Me pedem que os
liberte do mesmo mal – e após terem tomado do vinho, o cume se torna
tão movimentado como praça pública. Uns cantam, outros apontam
zonas distantes e alguns procuram um caminho para a descida. Como
não encontrem e o Sol esteja prestes a desaparecer no horizonte, os discí-
pulos Me dizem: “Senhor, dentro em pouco estará escuro; que faremos?”
11. Digo Eu: “Não é de vossa conta! Quem tiver fé verá esta noite a
Glória de Deus nestas alturas!” Os discípulos se retiram e procuram um
lugar seguro. O mesmo faz o comandante. Apenas Yarah diz, apontando
o ocaso: “Jesus, meu amor, não irás tão cedo? Pois tinha tanta vontade de
ver a aurora!”
12. Digo Eu: “Passaremos a noite aqui e todos vós vereis a Grandio-
sidade Divina!” Isto alegra tanto Yarah que quase desfalece.
Jakob Lorber
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132. A NATUREZA DO MEDO

1. Assim que o Sol desaparece, levanta-se da zona norte um vento


forte e frio. Todos sentem receio e o comandante diz: “Se este vento
aumentar será capaz de nos jogar no precipício!”
2. Digo Eu: “Deixa o vento, que agora é sua vez de soprar – e não te
esqueças que ele tem um Mestre que o criou e o fará acalmar quando
quiser!” O comandante se dá por satisfeito e se deita no chão, no que é
imitado pelos outros.
3. Apenas Yarah continua firme a Meu lado e diz: “Senhor, donde
vem o pavor destas criaturas, que tantas provas tiveram de Tua Onipo-
tência? Principalmente me admira partindo de Teus discípulos e em Tua
Presença; explica-me a razão disto!”
4. Digo Eu: “Trata-se da influência do mundo, ainda não inteira-
mente afastada de dentro deles; se isto tivessem feito como tu, não teriam
medo, porquanto o espírito é bastante forte para subjugar a Natureza.
5. Encontramo-nos no cume da montanha jamais por alguém esca-
lada, pois seus despenhadeiros não permitem subida nem descida. Viste
que, após termos alcançado a metade da montanha, esvaneceu-se toda
possibilidade de galgarmos pelas paredes escarpadas. Tanto o comandan-
te quanto os outros então perguntavam: “Que será de nós?” – Eu, po-
rém, continuei contigo e eles nos seguiram. Como se deu tal fato?
6. Vê, foi obra do espírito por Mim despertado dentro das criaturas
que as levou até o cume. Como tal ação não fosse habitual a ele, uma vez
alcançado o pico, retraiu-se novamente no recôndito da sua alma, que se
encheu de medo. A alma humana se integra na carne através duma vida
mal dirigida, ou então, no seu espírito, por uma conduta justa, pelo que
está unificada com Deus, assim como a luz do Sol nele está integrada.
Amalgamando-se a alma em sua carne, em si morta e recebendo vida por
ela enquanto o corpo não sofre dano, – ela em tudo se une à matéria. Nesta
constante integração psíquica, onde a própria alma se torna carne, é ela
acometida da sensação destruidora como qualidade da matéria; tal sensa-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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ção é o medo que finalmente enfraquece e incapacita o homem em tudo.


7. Coisa diversa se dá quando a alma se integrou, desde sua infância,
com o espírito. A destruição para ela não existe, porquanto sua índole é
idêntica à constituição de seu espírito, eternamente indestrutível. Não
verá nem sentirá a morte por ter-se unido a ele, senhor sobre o mundo da
Natureza. A consequência, facilmente compreensível, para o homem
encarnado é a ausência de medo; pois onde não há morte não há pavor.
8. Por tal razão as criaturas devem se interessar o menos possível
pelas coisas do mundo, buscando, unicamente, que sua alma se identifi-
que com o espírito. De que adiantaria ao homem ganhar os tesouros
terrenos se com isto sua alma sofre o maior dano imaginável? Pois este
mundo, com suas maravilhas quais bolhas de ar, um dia se desfará, bem
como o Céu e estrelas, a seu tempo; mas o espírito continuará eterno
bem assim cada Palavra por Mim proferida.
9. É muito difícil ajudar às criaturas integradas no mundo; compre-
endem a vida apenas pelas coisas fúteis, vivem num pavor constante e são
inatingíveis pelo caminho espiritual. Aproximar-se-lhes por meios natu-
rais precipita seu julgamento na matéria e a morte de sua alma.
10. A criatura mundana que quiser salvar sua alma, terá de aplicar
enorme violência, renunciando a tudo que lhe cause agrado. Se fizer isto
com grande dedicação e zelo, salvar-se-á, obtendo ingresso para a Vida
Eterna. Caso contrário só se libertará por sofrimentos atrozes, morais e
físicos, a fim de que aprenda a desprezar o mundo e seus prazeres.
Dirigir-se-á, então, a Deus, procurando o Seu Espírito dentro de si para
se unir a Ele. Digo-te em verdade: A felicidade terrena é a morte da alma!
Compreendeste isto?”

133. CRISTO, MEDIADOR ENTRE CÉUS E TERRA

1. Diz Yarah: “Senhor, meu amor e minha vida! Pela Tua Graça
compreendi tudo muito bem; no entanto, fico triste que as criaturas não
Jakob Lorber
270

o queiram ou possam entender. Senhor, faze com que elas possam assi-
milar esta Santa Verdade e se regenerarem, do contrário, enfadar-me-ia
de viver entre mortos.”
2. Digo Eu: “Não desanimes; pois este é o motivo que Me trouxe ao
mundo. Até então havia falta de caminhos aplainados, e os Céus estavam
afastados da Terra; agora serão unidos, a fim de que todos possam se
aproximar do Céu. Ninguém, no entanto, deverá ser tolhido no seu livre
arbítrio. Ai, porém, de todos vós que o sabeis mas não vos modificardes!
Tereis maior prejuízo que os de antanho, muitas vezes cheios de vontade
de melhorar, sem que o pudessem! Compreendes?”
3. Diz Yarah: “Senhor, compreendi tudo. A possibilidade é boa, mas
prevalece a livre vontade. As criaturas vêem e gozam o mundo, dos Céus
porém, nada sabem; por isto, muitos não quererão trilhar o caminho
indicado – e a situação será pior que dantes, porquanto a renúncia é o
mais difícil na vida do homem.”
4. Digo Eu: “Não te preocupes; os preparativos para a melhoria
serão muito extensos, entre a Terra e o Além! – Vê, durante a nossa pales-
tra todos, inclusive o comandante, adormeceram. Que faremos?”
5. Diz ela: “Senhor, isto saberás melhor do que eu.”
6. Digo Eu: “Certo! Fiz com que adormecessem, a fim de sonharem
com aquilo que verás em realidade. Os Céus se abrirão e todos os anjos
nos servirão! Amanhã, esta montanha apresentará um suave declive, de
sorte que todos poderão descer sem dificuldade. Presta atenção à cena
que se desenrolará diante de teus olhos!”
7. Após estas Minhas Palavras, Yarah levanta o olhar e fita o Céu
estrelado. Como nada de incomum se lhe apresente, diz com voz melo-
diosa: “Senhor, minha vida, meu amor, nada vejo e como saberei distin-
guir algo de excepcional?”
8. Digo Eu: “Querida, deves usar os olhos da alma e não da cabeça,
– e verás em breve maravilhas numa luz deslumbrante! Faze uma experi-
ência e te certificarás de que tenho razão!”
9. Seguindo Meu Conselho, Yarah avista os Céus abertos e incontá-
veis falanges de anjos descerem sobre a Terra, cantando: “Espargi, ó Céus,
O Grande Evangelho de João – Volume II
271

toda a Graça aos justos deste planeta! Pois Santo é Aquele que nele cami-
nha para a Salvação dos perdidos, que caíram antes que um sol ardesse na
Luz da Graça Divina, na imensa Eternidade! Ele aceita as criaturas gera-
das por Satanás, tornando-as Filhas do Seu Amor! Por isto compete-Lhe
toda Honra e Glória; tudo que faz é justo e Sua Ordem é o Amor, ligado
à Sabedoria. Ele, unicamente, é Santo e diante de Seu Nome todos se
curvam no Céu, sobre e dentro da Terra! Amém!”

134. O LEVANTAMENTO DO MAR GALILEU

1. Terminado este cântico sublime, Yarah se dirige a Mim: “Senhor,


é deveras difícil diferenciar o que seja mais deslumbrante: o canto, as
palavras, as luzes multicores ou esses incontáveis e luminosos cantores!
Agora, somente, estou tendo uma idéia do que sejam os Céus Divinos!
Tinha vontade de morrer para me integrar na fileira destes seres! Dize-me,
Senhor, são eles realmente o que parecem ou foram criados apenas para
este momento?”
2. Digo Eu: “São anjos surgidos em épocas remotas, antes que hou-
vesse o vislumbre duma criação material. Chama um deles e te certifica-
rás de que é um ser verdadeiro como seus semelhantes. Embora de apa-
rência etérea, possuem força e poder tamanhos que o mais fraco poderia
destruir a Terra toda, de tal forma a não deixar o vestígio dum átomo!
Faze uma experiência com um deles!”
3. Diz Yarah: “Senhor, não me atrevo; pois sua beleza me desperta
certo receio!”
4. Digo Eu: “Mas, filha, não te expliquei o que vem a ser o medo?
Não deves sentir coisa idêntica, senão provas que reside algo de munda-
no em teu coração. Encontras-te Comigo; como, pois, sentes medo?’’
5. Diz ela: “É verdade; no entanto, cena tão deslumbrante comove
um jovem coração! Contudo, dominarme-ei!” Acenando a um anjo pró-
ximo, este dela se aproxima flutuando e pergunta com voz meiga e cari-
Jakob Lorber
272

nhosa: “Yarah, filha querida do meu Senhor de Eternidade, que deseja


teu coração puro e amoroso?”
6. Diz Yarah, um tanto confusa pelo brilho e majestade do mensa-
geiro celeste: “Sim, é verdade, – o Senhor, me disse que todos vós sois tão
poderosos que desejava me certificar. Que prova, porém, pedirei, saben-
do somente aquilo que desde alguns dias ouvi de Jesus, o Senhor?”
7. Diz o anjo: “Ó linda flor do Céu, ajudar-te-ei em teu embaraço! Vê,
lá em baixo, o extenso e profundo Mar Galileu! Que tal, se o levantasse por
uma hora, fazendo-o flutuar diante de teus olhos?”
8. Diz ela: “Isto seria maravilhoso; o que, porém, aconteceria aos pei-
xes, aos navios atracados nas praias e aos que se acham no fundo do mar?”
9. Diz o anjo: “Será minha incumbência que não suceda dano aos
peixes e navios. Se o desejares, executarei a tarefa!”
10. Diz a menina: “Pois bem, já que nada de prejudicial acontece!”
11. Diz o anjo: “Então, olha aqui! O lago está vazio e toda água
flutua qual balão, diante de ti!”
12. Yarah, numa tentativa de querer olhar para baixo, toca com a
testa na parede fria e úmida da imensa bola d’água, cuja circunferência
é de quase quatro mil braças. Então diz, acanhada: “Mas como isso te
foi possível neste instante? O leito do Mar está realmente seco?’’
13. Afirma o anjo: “Vem e certifica-te!” Pergunta ela: “Mas, como?”
14. Responde o mensageiro celeste: “Se consegui suspender a massa
colossal de água, também terei o poder de levar-te até lá! Mas é preciso
que seja da tua vontade; respeitamos mais o menor vestígio do livre arbí-
trio humano do que o Poder Divino dado a nós por Deus! Assim, é
necessária tua ordem para que eu possa agir!”
15. Diz ela: “Pois bem, dá-me esta prova!” No mesmo momento
encontra-se no fundo seco do Mar e o anjo lhe entrega uma linda pérola,
como lembrança e prova para os outros que tudo acompanham em so-
nho. Enquanto Yarah guarda este presente no bolso de seu avental, o anjo
pergunta: “Então, acreditas que toda a água se encontre naquela bola
imensa que vês acima de nós?”
16. Diz ela: “Sim, e também teria acreditado sem esta prova. Leva-me,
O Grande Evangelho de João – Volume II
273

por favor, para junto de Jesus, pois não posso viver longe Dele!” Mal
tinha pronunciado estas palavras – e se acha a Meu Lado, no cume da
montanha. Eu, então, pergunto sua opinião a respeito do que viu.
17. Diz ela: “Senhor, sei convictamente que tudo Te é possível, mas
como um anjo possua o poder que reside em Ti – até ele não saberá
definir!” Digo Eu: “Respondeste certo; no teu coração acharás mais tarde
a explicação deste milagre. Mas, agrada-te este anjo?”

135. PROVA DE AMOR DE YARAH

1. Diz Yarah: “Ele é indescritivelmente lindo, mas perto de Ti, Se-


nhor, todos os anjos e Céus, com sua Luz deslumbrante, nada represen-
tam; pois sua beleza vem de Ti Próprio! Jamais poderia amar algum!”
2. Digo Eu: “Acaso sou mais vistoso que este anjo? Olha Minhas Mãos
rudes e calejadas, Minha Pele queimada do Sol; Minha Idade não é atraen-
te, enquanto ele tudo isto possui – e até os Céus o classificam de lindo!”
3. Diz Yarah: “Senhor, o externo nada vale para mim, se o íntimo
não corresponde ao Teu Coração!”
4. Digo Eu: “No entanto, o Meu Amor e Sabedoria irradiam dos
seres celestes; se tu Me amas em virtude do Meu Amor, a mim, sendo o
Senhor, não vejo porque não possas amar a este da mesma forma!”
5. Diz ela: “Senhor, meu amor e minha vida! Destes dois elementos
vitais todas as criaturas foram criadas, entretanto não as posso amar como
a Ti. Amo a todos, mormente aos necessitados e faço tudo para socorrê-los;
mas não lhes posso dedicar tanto afeto como a Ti, e o mesmo se dá com
este anjo. Amo-o; meu coração e minha vida porém, só Te pertencem! A
não ser que Tu, ó Senhor, repudies meu afeto, pelo que ficaria mui triste,
dizendo: “Ele, o Puro e Santo, achou que o teu sentimento não O mere-
ce; por isto, afastou-te!” Após estas palavras ela começa a chorar e diz,
soluçando: “É isto mesmo! Excedi-me no meu amor e não considerei, na
minha ignorância, Quem é Aquele que meu coração procurou! Por isto
Jakob Lorber
274

afastou-me com meiguice e deu-me um anjo, a fim de que purifique o


meu sentimento. Que dor imensa! Sei, porém, que Ele é o Senhor, tanto
que tudo suportarei!”
6. Digo Eu: “Meu Amor, que reprimendas vãs fazes ao teu coração!
Quem não Me ama deste modo, preferindo algo no mundo mais que a
Mim, não Me merece; tu, porém, a quem todos os anjos não podem de
Mim afastar, és de há muito um anjo perfeito, do qual Eu Mesmo Me
apaixonei! Vem cá e busca no Meu Coração a recompensa por esta pe-
quena prova!” Estas palavras confortam a menina, que se apega nova-
mente a Mim.
7. Eis que o anjo diz: “Ó sublime bem-aventurança! Que represen-
tam os Céus, diante deste amor? Nós, anjos perfeitos, já desfrutamos
felicidades incontáveis, que nada são em vista desta; pois Tu, o Pai Santís-
simo, tomas Tua Filha em Teus Braços, apertando-a com visível amor
contra Teu Peito! Que felicidade não deverá sentir esta menina!?”
8. Digo Eu: “É imensa, como também para Mim! Mas também a
sentireis um dia, quando tudo estiver concluído, tendo vos saciado na
Mesa do Pai! Agora, faze com que a água volte ao seu lugar! Em seguida,
Minha Filha terá outra tarefa.” Chegando o Meu Rosto à cabecinha de
Yarah, digo: “Não é, Meu Amor, ainda terás outras incumbências para os
Meus anjos?”
9. Diz ela, inocente e meiga: “Oh, sim; farei tudo que for da Tua
Vontade! Basta que o digas, – e eu me jogarei ao fogo ou neste precipício!”
10. Digo Eu: “Contudo, não haveria algum, na Terra, que te pudes-
se queimar, pois já te tornaste um fogo poderoso! Tão pouco pedras ou
águas poderiam prejudicar-te, porquanto teu caráter tornou-se mais sóli-
do que diamante, dentro de Minha Ordem – e tua índole é mais meiga
que as águas dos Céus! Por isto, dou-te liberdade para ordenares aos anjos
como se fora Eu! Imagina qualquer tarefa, pois este está ansioso por exe-
cutar uma ordem tua!”
11. Diz Yarah: “Querido mensageiro celeste, se for possível, faze, em
Nome do Senhor, que esta montanha venha a ter um caminho de fácil
ascensão, até o lado marítimo!” Diz o anjo, curvando-se graciosamente
O Grande Evangelho de João – Volume II
275

diante da menina: “Adorável soberana em Nome do Senhor! Vê se estás


satisfeita com meu trabalho, pois já foi feito!”

136. O PODER DOS ANJOS. VISITA A UMA ESTRELA

1. O anjo conduz a menina a todas as partes da montanha e ela se


convence de que esta não perdeu sua altura e é, no entanto, de fácil acesso
por todos os lados. Por isto exclama: “Este fato é tão grandioso que começo
a duvidar de meus sentidos, sem saber se estou sonhando! Explica-me o
seguinte: há pouco suspendeste o Mar Galileu como se fora uma imensa
gota d’água; agora preparaste vários caminhos para a escalada desta monta-
nha! Como isto te foi possível, pois não te ausentaste por um instante?!”
2. Diz o anjo: “Por ora não o podes conceber; mas tempo virá em
que esta concepção te será facultada! Posso apenas adiantar-te que nós,
anjos, nada podemos por nós próprios, – mas tudo fazemos pela Vontade
Onipotente do Senhor, a Quem tanto amas.
3. Vê, a Terra e todos os Céus nada mais são que Pensamentos e
Idéias de Deus, contidos pela Sua Vontade Imutável; se Ele recolher Sua
Idéia e dissolver Seus Pensamentos, incontinenti se dissolverá a Criação
visível; se, porém, elaborar um novo pensamento e o retiver pela Sua
Vontade poderosa, a criação se tornará visível a todos.”
4. Pergunta Yarah: “Qual, então, é vossa tarefa?”
5. Responde ele: “Somos puramente receptáculos da Vontade Divi-
na e Seus executores. De certo modo representamos as asas ou a Própria
Vontade de Deus, bastando o mais leve pensamento nosso unido ao Po-
der do Pai, para que a obra esteja concluída; daí a rapidez da execução.
6. Vês aquela estrela luminosa no levante? Se houvesse um caminho
direto até lá, não haveria número suficiente de grãos de areia, representados
em anos, necessários a um pássaro para esta trajetória – muito mais tempo
levaria um homem, por mais ligeiro que fosse! Eu, entretanto, posso ir e
voltar num momento, sem que percebas minha ausência. Acreditas?”
Jakob Lorber
276

7. Diz Yarah: “Por que não? Mas com isto não estou convicta, nem
sinto o menor desejo de acompanhar-te em tal viagem!”
8. Diz o anjo: “Mas, por quê? Não sabes que para Deus tudo é
possível? Se for de Sua Vontade, levar-te-ei sem que algo te suceda!”
9. Diz ela a Mim: “Senhor, isto pode-se dar?”
10. Digo Eu: “Sim, na mão deste anjo. Se o quiseres, poderás te
entregar a ele e em poucos minutos estarás de volta; não te esqueças de
trazer uma lembrança de lá!”
11. A estas palavras Yarah se vira para o anjo e diz: “Pronto, podes-me
levar contigo!” Ele a toma nos braços, apertando-a carinhosamente con-
tra o peito – e desaparece. – Em dez segundos estão de volta – e Yarah Me
apresenta uma pedra luminosa como a estrela Vênus. Depois de se ter
refeito da estupefação, ela pergunta: “Senhor, são todas as incontáveis
estrelas idênticas àquela que acabo de ver com estes meus olhos? Nossa
Terra me parece tão pequenina como a casinha de uma lesma comparada
a esta montanha. Existem lá criaturas perfeitas, habitando em templos
imensos e de construção maravilhosa. Aqueles seres, porém, são tão gi-
gantescos que medem três vezes mais que esta rocha.
12. Encontrávamo-nos no pico duma montanha colossal e avistáva-
mos uma planície sem fim, que era banhada por caudalosos rios, cujas
ondas tinham as cores do arco-íris. O solo era cultivado em maravilhosos
jardins. Num momento nos achamos lá em baixo, perto dos templos e
seus moradores. De longe estes têm aspecto deslumbrante, mas de perto
se assemelham a montanhas andantes. Seria, por certo, necessário usar
duma escada comprida para alcançar apenas o dedo mínimo de um de-
les! Para encurtar, teria assunto até o fim de minha vida, contando-Te o
que vi, em poucos segundos! Desejava apenas saber se todas as estrelas
são iguais a esta?”
13. Digo Eu: “Sim, Minha Filhinha, e há maiores e mais deslum-
brantes! Acreditas, então, que visitaste aquela em corpo e alma?!”
14. Diz Yarah: “Senhor, meu amor e minha vida, na ida fizemos
quatro estágios e, antes de alcançarmos a última etapa, a estrela ainda se
apresentava como dantes; por fim, tornou-se tão grandiosa como o nosso
O Grande Evangelho de João – Volume II
277

Sol. Mais um segundo – e já estávamos naquele mundo maravilhoso. Eis


aí, a prova da excursão estelar que empreendi naquela montanha.”

137. A FACULDADE INTERNA PARA CONTEMPLAR A CRIAÇÃO

1. Digo Eu: “É o bastante! Mostrar-te-ei agora um modo, pelo qual


uma criatura perfeita pode visitar as estrelas sem que necessite se afastar
desta Terra. Apenas não poderá trazer uma lembrança dali. Gravaste bem
a estrela mencionada?” Diz Yarah: “Sim, Senhor!” Digo Eu: “Se assim é,
projeta-a vivamente em teu coração, fixando esta visão interna, e relata-Me
sua aparência!”
2. Yarah assim faz e exclama após alguns minutos: “Senhor, meu
amor e meu Deus, – vejo-a como na última etapa; mas sua luz é intensa,
quase insuportável. Por felicidade não sinto minha visão afetada por este
clarão imenso, que acaba de abranger todo o Firmamento! Deus, meu
Deus, quão maravilhosas são Tuas Obras; entretanto, caminhas como
homem simples e despretensioso entre os vermes desta Terra!
3. Oh, encontro-me novamente naquela montanha e vejo o mesmo
quadro maravilhoso: os templos, as criaturas, os jardins e as flores. A
menor entre elas é maior que uma casa daqui! Vejo até animais e aves
estranhas, porém, – de que tamanho! As árvores colossais estão carrega-
das de frutos e há duas pessoas que deles se nutrem. Um desses frutos
talvez uma pêra – seria suficiente para alimentar mil habitantes do nosso
planeta, por um ano!”
4. Digo Eu: “Presta atenção, pois verás uma cidade: que tal?”
5. Yarah solta um grito de deslumbramento, dizendo: “Senhor, essas
maravilhas jamais alguém sonhou! São indescritíveis! Que imensa fileira
de templos! As colunas, as cúpulas! Essa riqueza é demais! Senhor, leva-me
de volta!”
6. Digo Eu: “Fecha teus olhos, pensa em Mim e tudo estará como
dantes!” – Yarah assim faz e avista a estrela como tal. Depois de ter recu-
Jakob Lorber
278

perado o ânimo, diz: “Senhor, teria o anjo me mostrado aquele astro


como Tu ou despertou acaso a minha visão interna?”
7. Digo Eu: “Não, ele te conduziu realmente até lá: isto te foi permi-
tido por teu coração transbordar de amor. Jamais seria possível com outra
pessoa, pois se o tentasse, a sua simples aproximação mataria tal criatura.
8. Todas as estrelas são mundos, como esse que acabas de visitar. Vê,
quando um noivo conquista sua eleita oferece-lhe seus tesouros, a fim de
a tornar mais amorosa. O mesmo faço Eu contigo para que, chegado o
momento da tentação mundana, não venhas a renunciar às Minhas Ri-
quezas, pois não sou tão pobre como pareço. Sou teu querido e por isto te
mostrei algo de Minhas Posses!”
9. Diz Yarah: “Senhor, minha vida, se fosse preciso ver ainda outras, a
fim de me preservar duma infidelidade, arrepender-me-ia de ter visto aquela
estrela; és para mim infinitamente mais do que Todas elas com suas maravi-
lhas! Para Te amar, necessito somente de Ti; nada mais! Mas se for do Teu
Agrado, contemplarei os milagres de Tua Onipotência e Sabedoria!”
10. Digo Eu: “Ouve, Minha querida Yarah, leio em teu coração o
quanto Me estimas; mas és ainda uma criança. Até então te achavas sob a
proteção dos Meus anjos, e os maus espíritos do mundo não podiam se
aproximar de ti. Quando cresceres, terás que resistir com tuas próprias
forças às tentações, a fim de conquistares o solo firme interior, de acordo
com Minha Ordem Imutável, instituída para todos os seres,
aproximando-te de Mim, deste modo, em Espírito e Verdade. Vê, o
mundo tem um grande poder sobre a criatura por ser dominado em
grande parte pelo inferno, e a alma necessita lutar destemidamente para
não ser por ele tragada.
11. És de aparência atraente. Dentro em pouco os jovens se desafia-
rão para te conquistar e terás dificuldade para enfrentá-los. Aí, então,
lembra-te de Mim, de tudo que testemunhaste, – e a vitória sobre a
matéria te será mais fácil!”
12. Diz Yarah, um pouco triste: “Desde Eternidades deves saber se
me tornarei infiel! Já que o prevês, como podes amar-me e permitir que
uma futura pecadora de Ti se aproxime?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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13. Digo Eu: “Este conhecimento é por demais elevado para tua alma!
Em virtude do Meu Grande Amor dir-te-ei o seguinte: Se for da Minha
Vontade saberei o futuro da criatura; no entanto, desvio o Meu Olhar de
sua pessoa, a fim de que possa agir livremente na época do seu crescimento,
a não ser que Me peça com fervor o auxílio na luta contra o mundo.
14. Por este motivo não quero prever o teu futuro, para que possas
agir com independência. Neste sentido agora te oriento a respeito das
tentações futuras, para que te lembres das Minhas Palavras. Teu anjo da
guarda também se afastará de ti, voltando somente quando tiveres venci-
do o mundo, para poder te servir em tudo. Compreendeste isto?”

138. UM INSTITUTO DE RENÚNCIA, NO ALÉM

1. Diz Yarah: “Compreendi-o bem, – mas tal fato não deixa de ser
triste para todos nós, pois entre mil não haverá um que possua a força
para enfrentar o mundo como Tu o desejas!”
2. Digo Eu: “Por este motivo Eu vim a vós, para vos fornecer pela
Minha Doutrina e Ações, o meio fácil de conseguirdes o auto-domínio.”
3. Diz Yarah: “Mas existem na Terra um sem número de criaturas
que talvez nem em mil anos saberão algo de Ti. Qual será seu preventivo
contra as tentações? Merecem o mesmo que nós, judeus.”
4. Respondo Eu: “Os povos da Terra são comparáveis aos muitos
filhos dum pai criterioso: o primogênito terá educação diversa daqueles,
nascidos, três, quatro e cinco anos após. O filho mais velho terá se torna-
do homem e a filha, moça; além desses existem alguns de tua idade e três
ainda no berço. Seria justo se o pai tratasse os últimos como os adultos?”
5. Responde Yarah: “Tal atitude seria mui tola.”
6. Digo Eu: “Pois bem, eis a razão pela qual alguns povos só terão
conhecimento de Minha Doutrina após adquirirem a necessária maturida-
de. Compreendes?” Diz ela: “Perfeitamente; mas qual será o destino de
povos no Além, que ainda não alcançaram este grau de adiantamento?”
Jakob Lorber
280

Digo Eu: “Mostrar-te-ei neste instante. Fixa o teu olhar naquele astro que
vês no Oriente numa luz avermelhada e em breve terás a resposta.”
7. Dentro em poucos minutos Yarah diz: “Ó Senhor, Criador Oni-
potente de Céus e Terra, eis um mundo bem maior que o outro, inunda-
do de luz maravilhosa! No entanto, não é tão clara como a outra: É dum
vermelho suave, de tom alaranjado. Agora já se está tornando mais inten-
sa e me vejo transportada no solo desse mundo. Que maravilha! Peque-
nos montes circundam vales frutíferos, onde vejo uma espécie de cabanas
com telhados, em cima de sete colunas cor de rubi. Há centenas dessas
casinhas, enfileiradas e iguais, – mas, por ora, não vejo os seres causadores
desta arquitetura. Coisa interessante que tudo seja tão igual: árvores, flo-
res etc. Não deixa de ter aspecto agradável, mas com o tempo deve se
tornar cansativo. Encontro-me neste momento diante duma dessas ca-
banas onde há criaturas idênticas a nós. Um homem se postou em cima
dum palco e parece fazer um sermão, e os outros lhe ouvem atentos.
8. Na cabana seguinte percebo várias pessoas com vestimentas am-
plas, fazendo uma refeição em mesa bem provida; à volta deles se acham
muitos famintos, sem que se lhes dê algo. Na terceira vejo algumas moças
bonitas, completamente despidas, em colóquio com uns homens um
tanto palermas; no fundo se acha um grupo de rapazes de aparência sen-
sual, acenando às moças; entretanto, não são atendidos nos seus desejos.
Que ordens domésticas estranhas! Conquanto uma casa se pareça com a
outra, as ocupações dos moradores são mui variadas. Prefiro nosso pe-
queno planeta – sem os maus, naturalmente!”
9. Digo Eu: “Tudo que vês é apenas uma amostra na prática da
renúncia. Continua a pesquisar que verás outros quadros! “Yarah obede-
ce e súbito solta um grito que quase desperta os outros.
10. Inquirida pelo motivo, ela diz: “Ó Senhor, este deslumbramen-
to, esta riqueza sobrepuja tudo que a fantasia humana possa imaginar!
Vejo um palácio tão grandioso como a maior montanha de nossa Terra!
As paredes são cravejadas de pedras preciosas. Milhares de escadas doura-
das enfeitam sua parte externa, cuja extremidade tem forma de ponta.
Em redor, os mais lindos jardins estão repletos de flores e nos lagos desli-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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zam obras artísticas. Senhor, que significa isto tudo? Quem são os habi-
tantes desse palácio deslumbrante?”

139. PESQUISANDO A ORGANIZAÇÃO CÓSMICA

1. Digo Eu: “Esse palácio é morada dum reitor da zona que acabas
de ver. Dirige ele aquelas cabanas escolares, assim como as obras de arte
que deslizam no lago e que são usadas, em certas épocas, como meio de
ensino na alta sabedoria. Na zona central desse mundo luminoso, exis-
tem centenas de milhares de moradas semelhantes a essa, além de alto
número de grandes cidades. Ao todo há setenta e sete zonas, cada uma
com organização própria, sendo esta a menor. Esse mundo, assim como
o primeiro, são, na realidade, dois sóis iguais ao nosso, diferenciando-se
apenas no que concerne ao seu volume; pois o Sol que avistaste antes, é
mil vezes maior que o nosso e este, quatro mil vezes.
2. Atualmente a compreensão das criaturas a respeito do Cosmos é
ainda bastante deficiente; mas no futuro, quando souberem calcular
melhor, obterão resultados certos.
3. Em torno de cada Sol giram inúmeros planetas, que por sua vez
são acompanhados de satélites. Cada um mantém número igual de zonas
correspondentes a seus satélites, com exceção dos sóis centrais, destina-
dos a conservar e guiar os sóis telúricos, sendo milhões de vezes maiores
que dez milhões de sóis iguais a esses, que acabas de ver.
4. Um Sol Central não é dividido em zonas, e sim, em extensos
territórios destinados a prover os sóis telúricos; e cada território é de mil
a dez mil vezes maior que a superfície de cada sol, inclusive seus planetas.
Um Sol Central é rodeado, no mínimo, de milhões de sóis telúricos.
5. Existem três categorias de sóis centrais: os de primeira, segunda e
terceira, acompanhados de incontáveis sóis telúricos com seus planetas e
satélites. Têm a sua classificação numérica de acordo com a maior ou
menor distância, que os separa do Sol Central de todo o sistema, guia
Jakob Lorber
282

desse imenso cortejo de astros; assim, os de terceira têm a menor órbita,


pois se encontram mais pertos do Sol Central, os de segunda, a órbita
média e os de primeira a órbita maior. Compreendes isto, Yarah?”
6. Diz ela: “Senhor, quem poderia assimilar tal grandiosidade? Um
simples esforço já me atordoa! Como, no entanto, processa-se a vida dos
povos primitivos no Além?” Digo Eu: “Afasta teu olhar deste quadro e
Me ouve!”

140. ESTADOS EVOLUTIVOS NO ALÉM

1. Digo Eu: “Todas as criaturas não evoluídas são, na maior parte,


conduzidas ao Sol que acabas de ver, e ensinadas em escolas especializa-
das nos assuntos vitais. As crianças falecidas são educadas na zona central
de nosso Sol, isto é, na parte espiritual deste astro.
2. Almas não evoluídas recebem no mencionado Sol um corpo –
sem nascimento – que se torna etéreo como a alma, podendo integrar-se
no espírito. Já aprendeste como são transportadas tais almas e por quem,
durante tua viagem pelo primeiro Sol. Aquele anjo que ainda vês é o guia
e soberano de todos os mundos e sóis que mencionei. Por aí vês que força
e sabedoria lhe são afins.
3. Os inúmeros anjos que avistas em teu redor têm tarefa idêntica;
pois nas profundezas eternas existem conglomerados solares incontáveis
para a percepção humana, cada um acompanhado de um Sol Central,
ora descrito, sendo cada um dirigido por um desses anjos. Embora vejas
inúmeras falanges, elas não perfazem a milionésima parte dos grandes
anjos soberanos, sem mencionar os menores, incumbidos do controle e
direção de sóis, terras e pequenos corpos cósmicos. Minha Tarefa consis-
te em cuidar espiritualmente de todos, e se afrouxasse este zelo por um
segundo sequer, – tudo se desfaria em pó! Que Me dizes?”
4. Responde Yarah: “Oh, Senhor, se os fariseus de Jerusalém pudes-
sem apreciá-lo, por certo se modificariam! Suas almas serão conduzidas
O Grande Evangelho de João – Volume II
283

àquele Sol Central?”


5. Digo Eu: “Em absoluto, Minha Yarah; pois fazem parte dum
povo amadurecido. Tais almas, se se integrarem na maldade, serão leva-
das às profundezas da Terra, por ser a matéria seu elemento. Tudo será
tentado para sua salvação: misérias e dores serão permitidas para fazer
com que se desprendam da matéria. Se algum o conseguir será levado às
escolas existentes na parte espiritual desta Terra e, só depois, transportado
para a Lua. Conseguindo lá todos os graus da renúncia, tornando-se
forte, assim, será levado a um planeta mais perfeito, a fim de aprender a
justa sabedoria.
6. Quando a alma penetrar na luz da verdade que pouco a pouco irá
se intensificando, produzir-se-á o calor da vida espiritual, o que fará sua
união com o espírito, de sorte a sua vida se tornar amor. Tendo este
sentimento evoluído à força necessária para uma integração na verdadei-
ra e interna chama de vida, será então a alma completamente ilumina-
da e apta a ser admitida no mundo dos espíritos felizes, onde será conduzida
como criança.
7. Para que uma alma, sendo materialista, possa alcançar este grau
evolutivo, passarão, no mínimo, várias centenas de anos. – Vejo agora
uma pergunta em teu coração que poderás fazer ao anjo, pois te dará a
resposta certa.”

141. A GRANDIOSIDADE DO ESPÍRITO HUMANO

1. Yarah, virando-se para o anjo, diz: “Com permissão de nosso Se-


nhor, peço-te que me digas por que meus pais e irmãos, bem como os
Seus discípulos se encontram adormecidos, vendo em sonho o que vejo
com meus próprios olhos?”
2. Diz o anjo, com voz melodiosa: “Por teres integrado completa-
mente tua alma em teu espírito, pois não tens quase ligação com a maté-
ria, enquanto os outros, não; tua visão externa tornou-se posse da alma, e
Jakob Lorber
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esta, visão do teu espírito eterno. És, portanto, formada como foi previs-
to por Deus.”
3. Todo espírito humano é de tal forma constituído que, igual ao
Espírito de Deus, contém o Infinito dentro de si. Se tu, portanto, assimi-
las um astro, ou algo diferente, com tua alma pura, que de certo modo é
igual à visão do espírito, e através da alma, para lá também diriges a visão
externa, – dá-se uma colisão entre o quadro existente no teu espírito e a
forma externa. Deste conflito se faz a luz completa na alma com referên-
cia ao objeto, que se apresenta em sua real forma.
4. Afirmo-te com segurança: tal fenômeno seria fato comum a todas
as criaturas se fossem de alma idêntica à tua. Esses que se acham, aqui
adormecidos, estão longe deste estado, pois sua alma não transpassa o
sentido da visão externa e a do espírito está ainda completamente velada.
Por tal motivo torna-se necessário capacitar primeiro a alma a alcançar,
com os sentidos mais sutis, a percepção do sobrenatural, tirando-lhe
através do sono a ligação com a matéria.
5. O sono desses aqui é incomum e raramente conseguido de modo
natural. Existem pessoas de alma e espírito fortes que o realizam; em
outra de índole fraca, apenas pela aplicação das mãos. Tu, por certo, não
duvidas que o Senhor faça tudo através de Sua Vontade?”
6. Diz Yarah: “Que o Senhor te abençoe pelo esclarecimento que
assimilei tão bem! Mas, outra pergunta: como poderei compreender tua
ação rapidíssima?”
7. Diz o anjo: “Adorável filha de Deus! Tal só compreende um espí-
rito puro, que nada tem a ver com tempo e espaço. Por nós mesmos nada
somos, pois tudo que vês em nós pelos olhos do teu espírito é o Pensa-
mento de Deus, Suas Idéias e Seu Verbo. Nós, portanto, somos espíritos
inteiramente puros e a matéria não nos pode ser impecilho, de sorte que
cá e lá para nós são idênticos. A matéria não possui movimento tão rápi-
do como o nosso, porquanto ela encontra obstáculos no mais tênue éter.
8. Existem no Espaço Infinito os sóis centrais de terceira categoria,
precedidos pelo Sol-mater! Esses sóis se movimentam em torno deste
numa velocidade incalculável para tua concepção, a fim de que permane-
O Grande Evangelho de João – Volume II
285

çam nas distâncias prescritas.


9. Toma, como exemplo, esta Terra, uma esfera muitas cem mil ve-
zes maior do que como a avistas daqui. Suponhamos que ela consista
totalmente de grãos de areia e calculemos o número necessário para
preenchê-la. Imagina para cada grãosinho, uma distância equivalente
àquela que nos separa da estrela que visitamos primeiro – e terás o diâme-
tro da órbita duma estrela central de terceira categoria. Tal órbita é per-
corrida pelo mencionado Sol central, apenas em milhões de anos; como,
porém, essa trajetória é bastante extensa, tal Sol terá percorrido num
minuto mil vezes a distância daqui ao astro que visitamos.
10. Por certo pensarás: “Neste caso, tal Sol se movimenta mil vezes
mais rápido que tu, espírito puro; pois, se tivéssemos voado com essa
rapidez, teríamos lá chegado mil vezes antes!”
11. Digo-te, porém, que a velocidade do Sol é, comparada à minha,
uma viagem de lesma; porquanto eu, ou um outro anjo igual a mim, per-
corremos esta distância tão velozmente que nem percebes nossa ida e volta.
Deste modo existe uma grande diferença entre a velocidade dum espírito e
dum corpo cósmico, por mais rápido que seja. Eis a capacidade de nós
anjos puros, pois que não encontramos obstáculos no Infinito! – Dize-me
agora, filha de Deus, compreendeste também isto?”

142. A VERDADEIRA GRANDEZA ESPIRITUAL

1. Diz Yarah: “Compreendi-o com o Auxílio de Nosso Senhor; no


entanto, sinto-me novamente atordoada, pois estou convicta de que um
espírito criado necessitará de uma eternidade, a fim de pesquisar apenas
um daqueles imensos sóis centrais. Quanto tempo não levaria na pesqui-
sa de todos?!
2. Seria tolice de minha parte se tal fosse meu desejo! Prefiro perma-
necer no amor e penso que, embora seja tal Sol algo de imenso e um
testemunho poderoso da Sabedoria e Onipotência Divinas, – ele, o Sol,
Jakob Lorber
286

não pode compreender e amar o Criador tal qual como posso! Sou de
opinião que isto vale mais do que ser um astro grandioso nas profundezas
do Espaço!
3. Vê, esta nossa Terra é, comparada àquele astro, uma poeira imper-
ceptível; no entanto, o Senhor pisa seu solo, pelo que deduzo ser a gran-
diosidade interna mais considerada aos olhos de Deus. Que sou eu, me-
nina, fisicamente falando, perto do nosso globo? Entretanto, sinto em
meu peito um espaço tão imenso que com facilidade comportaria todo o
Cosmos! Meus olhos pequeninos abrangem, de um só golpe, milhões de
estrelas; esta faculdade também é afim aos grandes sóis?”
4. Tomo de novo a palavra e digo: “Tens razão, Minha Yarah, equivales
a todos os sóis no Espaço! No entanto, sempre é salutar ao homem conhecer
Minhas Obras, para que aumente seu amor para Comigo, o Pai!”
5. Agora já está clareando e teremos que acordar nossos amigos!
Fá-lo-emos, porém, paulatinamente – e tu nada contarás até o momento
em que este anjo te der um aviso; pois ficará em tua companhia até à tua
maturação, porém, em outras vestes. Os outros espíritos deverão desapa-
recer; que assim seja!” No mesmo instante, resta apenas um só de nome
Rafael que usa vestes à maneira da cidade de Genezareth.
6. Yarah, então, diz: “Agora, aprecio-te mais que dantes, em tua
glória celeste. Assemelhas-te a uma criatura comum, o que me facilitará
te querer bem! Mas, quem assumirá tuas tarefas cósmicas?”
7. Responde o anjo: “Não te preocupes; já te disse que para mim
não existe espaço nem tempo. Além do mais sempre me apressarei em
voltar para junto de ti, pois te quero muito. Olha, o Senhor irá despertar
os irmãos; por isto, silêncio!”

143. OS DISCÍPULOS SÃO DESPERTADOS

1. Digo Eu a Rafael: “Vai e acorda primeiro Simon Juda (Pedro)!”


Pedro, despertado pelo anjo, olha em volta de si e pergunta: “Mas, então,
O Grande Evangelho de João – Volume II
287

dormi realmente? Parecia-me estar acordado a noite toda! Entretanto,


lembro-me de ter tido sonhos maravilhosos! Por certo, não foram sem
importância, Senhor?”
2. Digo Eu: “Olha em torno de ti, – talvez descubras algo na mon-
tanha que também tenhas sonhado!”
3. Pedro assim faz e diz: “Senhor, de fato vi em sonho, o que se deu na
realidade!” Como ele queira continuar a falar, digo-lhe: “Desperta primei-
ro os outros!” Os discípulos levantam-se e externam a mesma surpresa.
4. Judas, porém, afirma: “Não creio que tenha dormido; pois discuti
contigo, Pedro, a respeito de diversos assuntos, sendo que me contradizi-
as sempre, replicando: “Todos estes milagres não impedirão que te tornes
um traidor de todos nós, por algumas moedas de prata!” Aquilo me re-
voltou de tal forma que tentei jogar-te no abismo, mas eis que Thomás se
precipitou sobre mim, e eu caí no chão! – Dize-me, Pedro, nada sabes a
respeito?” Responde ele: “Nem uma sílaba! Não me lembro de ter sonha-
do contigo!”
5. Digo Eu: “Averiguai se não se realizou algo que vistes em sonho!”
Os discípulos se dirigem aos diversos pontos da montanha – e caem em
êxtase! André então diz: “Assistimos, no decorrer de meio ano, a tantos
milagres, que se tornou difícil concebermos a idéia de que algo maior ou
coisa tão grandiosa pudesse suceder. Eis, no entanto, que nossos sonhos
se realizaram.
6. Vi o anjo escolhido por Yarah suspendendo toda a água do Mar
Galileu, fazendo-a flutuar qual gota enorme; vi-lhe o fundo seco, a linda
concha que foi guardada por Yarah no seu avental e, em seguida, como o
anjo obedecendo à ordem desta menina, aplainou a montanha,
tornando-se fácil agora sua escalada! E isto foi um fato real!
7. Quais serão as palavras e ações nossas que honrarão devidamente
Nosso Senhor e Mestre? Onde estará o anjo, capaz de depositar em nos-
sos corações pensamentos tão excelsos que os achemos dignos de Sua
Santidade? Oh, nada somos diante Dele, Deus Onipotente!
8. Os patriarcas tremeram no Sinai quando ele deu a Moisés as Leis
Divinas do Amor, sob raios e trovões! E quando Moisés de lá voltou, sua
Jakob Lorber
288

face resplandecia mais perante a Majestade Divina, que o Sol do meio-dia;


foi preciso que ele se cobrisse com uma tríplice coberta, para que o povo
dele se aproximasse. Usando temporariamente aquela coberta, os visio-
nários do Senhor profetizaram por muito tempo, e ainda hoje admira-
mos sua alta sabedoria! E agora, Ele, Deus, – está aqui Pessoalmente! O
Sinai tornou-se lava incandescente sob Seus Passos, – e como poderemos
continuar frios como noite invernal em Sua Presença?! Por isto,
levantemo-nos rápidos, a fim de Lhe render toda a Honra, todo o Amor
e Adoração!”
9. A este discurso de André todos se enchem dum zelo entusiástico,
– com exceção de Judas, que o considera um zeloso exagerado – e Me
saúdam com um “Hosana” caloroso.

144. DISCURSO DE LOUVOR DE YARAH

1. Ao som deste hino, todos os que ainda dormiam despertam, acom-


panhando o ato de louvor; Yarah, porém, abraça Meus Pés e chora de
alegria e felicidade! Em seguida, levanta-se e diz, com entonação proféti-
ca: “Ó Terra, quando serás novamente tão feliz de ser tocada por estes
Santos Pés? Acaso sentes, ó externação muda dos vícios, Quem ora te
pisa? Não, não o podes sentir por seres muito pequenina! Como poderias
assimilar aquilo que é imensamente grandioso e santo para os incontá-
veis miríades de seres no Espaço Infinito?! Onde começarei, onde termi-
narei, a fim de louvar Sua Glória, apenas numa gota de orvalho? Pois Ele,
Deus, o Eterno, criou tanto a gota quanto os imensos sóis! Ó Senhor,
meu Deus, aniquila-me, porque meu coração não suporta o amor pro-
fundo para Contigo!
2. Antes de conhecer Tua Glória, amava-Te eu como criatura perfeita.
Pressentia em Ti o Espírito Divino, amando-O indescritivelmente; no en-
tanto, imaginava-Te o Filho do Altíssimo! Agora, porém, tudo mudou! És
o Altíssimo Mesmo! Não há outro além de Ti! Portanto, perdoa-me que sou
O Grande Evangelho de João – Volume II
289

um verme do pó, que na sua cegueira ousou amar-Te como criatura!”


3. Digo Eu: “Meu Amor, nada tenho a perdoar-te; permanece neste
amor! Pois quem não Me ama como tu, não Me ama, em absoluto! Quem
não amar a Deus como sendo o Homem mais Perfeito, não poderá amar
ao seu próximo, criatura muito imperfeita! Se consta que Deus fez o
homem de acordo com Sua Imagem, como poderia ser Ele diferente?
Talvez perdesse Eu algo de humano, por teres tido algumas demonstra-
ções da Minha Glória?”
4. Diz Yarah: “Oh, não, és o Mesmo e o meu coração também sente
o mesmo! Sim, tenho vontade de guardar-Te dentro dele e abraçar-Te
com tanto fervor até que se me rompessem as veias; sim, desejo cobrir
Teu Semblante com milhares de beijos e jamais deixar de beijar-Te! Não
sei expressar o que faria por amor a Ti! És, no entanto, o Ser Supremo e
julgo ser muito indigna em amar-Te como se fosses uma criatura. Todas
estas conjeturas, porém, não são consideradas pelo coração que Te ama
cada vez mais!”
5. Digo Eu: “Está bem assim! Que tua alma siga sempre a tendência
pura do coração, incendiando nele a chama verdadeira, para que o Espí-
rito Divino possa dela surgir como um sol, em cuja Luz e Calor vitais
germinará a Semente de Deus, alimentando a alma com todos os frutos
da Vida Eterna! O Espírito Divino só pode ser despertado na criatura
pelo amor a Deus e através deste, o amor ao próximo. Por isto, permane-
ce em teu afeto, que tem mais valor para nós dois que todas as maravilhas
que avistaste! Vamos agora ouvir as impressões dos outros acerca dos
acontecimentos desta noite.”

145. REALIDADE DO SONHO

1. O comandante levanta-se com cuidado e diz: “Senhor e Mestre!


Agradeço-Te por me achar vivo, pois facilmente poderia ter caído no
abismo se no sono tivesse dado duas voltas! Peço-Te, porém, que nos
Jakob Lorber
290

conduzas a todos, destas alturas horrorosas até Genezareth! Enquanto


tiver de me preocupar com a descida, não poderei me sentir bem!”
2. Digo Eu: “Nada sonhaste nesta noite?”
3. Responde ele: “Oh, sim, é verdade; de medo quase me esqueço
do sonho maravilhoso que tive! Se esta montanha fosse como a vi em
sonho, seria um prazer descê-la!” Diz Ebahl a seu lado: “Vai, verifica seu
estado e te certificarás de que é de fácil acesso, até mesmo pelo lado do
mar!” Diz o romano: “Não será engano de tua visão?” Responde Ebahl:
“Como, se eu e minha família já andamos por todos os lados e vimos o
que acabo de te falar?”
4. O comandante se convence da veracidade dos fatos e diz: “Real-
mente, não resta dúvida ser este Jesus, Deus e homem ao mesmo tempo!
Procuremos Yarah, a fim de que nos mostre as lembranças que trouxe de
suas viagens celestes. Vi como guardou uma grande concha e uma pedra
apanhada no Sol, que visitou com um espírito. Se aquelas provas tam-
bém forem reais, não mais necessitaremos de outras!”

146. YARAH E OS PRESENTES QUE RECEBEU

1. Dito e feito, Ebahl e o comandante pedem a Yarah que lhes mos-


tre os mencionados presentes. Ela os tira do bolso de seu avental e diz:
“Então, Julius, acreditas agora e deixas de ter medo?’’
2. Responde o romano: “Sim, minha fé tornou-se tão sólida como
esta montanha! Mas teus presentes são dum preço inestimável! Só a concha
equivale ao valor da cidade de Jerusalém, pois comporta vinte e quatro
pérolas do tamanho dum pequeno ovo e o valor de cada é de cem mil libras
de ouro! Esta pedra, por sua vez, transparente e mais brilhante que Vênus,
não pode ser avaliada, porquanto não se coaduna materialmente com coisa
alguma que a Terra nos apresenta! Em suma, és, tanto espiritual como
materialmente falando, a moça mais rica do mundo. Que te parece?”
3. Diz Yarah com modéstia: “Estas duas lembranças só têm valor da
O Grande Evangelho de João – Volume II
291

recordação dos indescritíveis milagres de Deus, feitos aos pobres e fracos


habitantes de Genezareth. O Senhor não permanecerá para sempre em
nosso meio; estas lembranças, entretanto, recordá-Lo-ão em nossos cora-
ções, inflamando sempre o nosso amor! Eis meu parecer.
4. Além disto, Ele ainda me deixou outra prova desta noite mila-
grosa, que ficará comigo até que eu tenha alcançado os dezesseis anos.
Deixar-me-á, então, voltando apenas quando eu o merecer.”
5. Pergunta seu pai: “Não queres nos mostrar tal prova?”
6. Diz Yarah, apontando o anjo Rafael: “Aqui está!”
7. Responde Ebahl, após analisar o anjo dos pés à cabeça: “Esta
lembrança é deveras a mais preciosa. Temo, porém, que te apaixones,
antes do tempo, por este jovem; ele, afastando-se, causar-te-á um gran-
de sofrimento.”
8. Diz Yarah: “Não penso isto, pois quem ama a Deus como eu o
faço, não olha nem mesmo as belezas celestes! Quero-o muito, pois é
sábio, forte e ligeiro!”
9. Pergunta o comandante: “Donde veio? Não me lembro de tê-lo
visto em Genezareth, entretanto, traja-se como o povo de lá! Admiro
seus traços finos e delicados e sua indumentária de branco e azul lhe fica
muito bem. Realmente, nada vejo neste jovem que pudesse justificar tua
rejeição. Quanto mais o fito mais atraente se me apresenta – e tu, Yarah,
podes-te considerar feliz com esta dádiva.
10. Que farás, no entanto, com ele? És simpática e bonita, mas,
perto dele, até perdes teus encantos. Seria ótimo se vos unísseis num
matrimônio; se ele, porém, for apenas teu companheiro, teu coração
muito breve há de incendiar-se. Que te parece?”
11. Diz Yarah: “Falas assim por não conheceres o espírito! Este será
meu protetor e guia até meus dezesseis anos e ensinar-me-á a Sabedoria
Divina!” Diz o romano: “Depois casarás com ele?’’ Responde ela: “Oh,
Julius, que pergunta! Já não te disse que então me deixará por um certo
tempo, conforme for determinado pelo Senhor, pois meu coração per-
tence unicamente a Ele?!”
12. Diz Ebahl: “Querida filha, por ora tens razão; mas, com o tempo
Jakob Lorber
292

terás de enfrentar a luta com tua carne. Desejo-te que possas ser vitoriosa!”
13. Afirma o romano: “Teu pai está certo! Ainda és criança, no en-
tanto, tens um coração ardente. Por enquanto ele almeja apenas o mais
elevado; mas quando esta atração se afastar, sentirás a necessidade do
amor material, e não levará tempo para estenderes teus braços a outros
objetivos, pois a fome de amor é mais sensível que a do estômago. Que-
rida Yarah, o amor é algo poderoso e necessita de orientação segura, para
evitar que se aniquile a si próprio!”
14. Responde a menina: “Talvez tenhas razão? Suponho, porém,
que o Senhor socorre a quem Lhe pede?!”
15. Diz Julius: “Lembro-me das Palavras que proferiu durante esta
noite. Ele é Deus, e o espírito da criatura só Dele se poderá achegar
quando se tiver formado e positivado dentro das forças que recebeu; nes-
te período, Deus Se afasta da criatura. Quando esta época chegar, pode-
remos conversar a respeito!”
16. Responde ela: “Confio e creio que Ele não me abandonará de
maneira total!” Diz o comandante: “Por certo! Não obstante, sentirás
Sua Ausência mais fortemente pelo grande amor que Lhe dedicas! – Va-
mos agora voltar para junto Dele!”

147. CONVÍVIO COM O SENHOR, PELO CORAÇÃO

1. Os três se dirigem a Mim e o comandante indaga: “Senhor, que


faremos? Parece que tens algum projeto?”
2. Digo Eu: “Não vês a aurora deslumbrante? Prestai todos atenção,
pois assistireis a um espetáculo inédito; embora seja um fenômeno natu-
ral, contém ele um sentido oculto, pois uma aurora encontrará outra!”
3. Diz Pedro: “Senhor, como devemos interpretá-lo?”
4. Respondo: “Quanto tempo terei que aturar-vos?! Depois dum
convívio tão longo ainda não percebeis que por Mim surgiu em vossa
alma um Sol Celeste, que vos iluminará cada vez mais?!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
293

5. Diz Pedro: “Senhor, não Te aborreças; sabes que somos criaturas


simples, apenas com alguma noção de escrita e de leitura. Se Te tivésse-
mos compreendido, a pergunta seria um atrevimento.”
6. Digo Eu: “Teria justificativa se ignorásseis a possibilidade duma
palestra em vosso íntimo; portanto, não é a pergunta, e sim a maneira de
fazê-la o erro que critico. Vede os essênios e fariseus, admirados por terdes
Me perguntado algo em voz alta, porquanto, como seus mestres, deve-
ríeis saber que deposito no coração do indagador a resposta plena!
7. Vossa atitude não resulta de ignorância ou teimosia, mas dum hábito
enraizado em vós; tende mais cuidado para o futuro, a fim de que os outros
reconheçam que sois Meus verdadeiros discípulos, pois não deveis perder este
conceito diante do mundo, útil à vossa missão. – Agora ide e esclarecei os
adeptos, do contrário inquirirão o motivo de vossa indagação!”
8. Diz Pedro: Senhor, quer dizer que jamais poderemos externar um
pensamento Contigo?”
9. Respondo: “Oh, sim; mas tudo a tempo e a hora e quando vos
autorizar! – Ide e fazei o que vos disse!”
10. Os discípulos se dirigem àquele grupo, com as palavras: “Não
estranheis que às vezes perguntemos algo ao Senhor, porquanto ainda
estamos presos aos velhos hábitos!”
11. Dizem os dois essênios: “Já imaginávamos tal coisa, pois fizemos
aquela pergunta em nosso íntimo e recebemos, no mesmo instante, a
resposta clara. O que mais nos preocupa são as visões que todos nós
tivemos esta noite, sendo que sua realização representa o maior milagre!
Cremos convictamente ser este nazareno mais do que um homem perfei-
to, pois em Seu Coração habita a plenitude da Onipotência Divina! Ago-
ra, porém, deixai-nos prestar atenção à aurora milagrosa!”
12. Diz Pedro: “Bem, não sei se vai ser milagrosa; em todo caso
teremos um espetáculo deslumbrante, do qual poderemos deduzir que
nossa alma também já foi banhada por uma Aurora Eterna!”
13. Acrescenta um dos essênios: “Sim, uma Aurora não somente
para nós, mas para toda a Criação; pois nos parece que a Encarnação do
Supremo Espírito Divino repercute em todo o Infinito! Difícil é compre-
Jakob Lorber
294

ender a razão que O levou a escolher a Terra, pois teria miríades de sóis
deslumbrantes para tal fim! Outrora, quando opinávamos ser o globo o
único mundo no Universo, tal hipótese era admissível. Julgávamos que o
Sol, a Lua e as estrelas existissem somente para iluminar este planeta.
Resta, portanto, saber o que motivou esta Graça? Que dizeis? Seria ad-
missível perguntar-Lhe a respeito?”
14. Responde Pedro: “Fazei uma tentativa em vosso coração. Se não
vier resposta, prova será que ainda não estamos amadurecidos para tal
ensinamento. – Vede só, o Sol está prestes a surgir, as pequeninas nuvens
têm um brilho tão forte que quase nos cega!”
15. Dizem os essênios: “É verdade! Que quadro encantador! Mas
não percebeis como algo se movimenta acima das nuvens? Parece serem
estrelas de fulgor estranho. Que será?”
16. Responde Pedro: “A verdadeira causa somente o Senhor a co-
nhece! Nós, pescadores, chamamos isto de “peixinhos da manhã”, que
prometem boa pescaria; à noite, geralmente, desencadeia-se um tempo-
ral. “Dizem os dois essênios: “Vamos para junto do Senhor! Está em
palestra com Ebahl e seus filhos.”

148. OS FENÔNEMOS NATURAIS E SUA INTERPRETAÇÃO ESPIRITUAL

1. Aproximando-se todos de Mim advirto aos dois essênios presta-


rem atenção aos fenômenos concernentes à aurora. Dizem eles: “Senhor,
compreendemos haver muito que aproveitar; nossa alma, porém, estará
apta para tal? Fitamos de olhos ávidos as profundezas luminosas de Tua
Criação; se, entretanto, nossa cegueira nos impede de avaliarmos os mila-
gres contidos numa gota de orvalho, muito menos o conseguiremos com
as estrelas no Firmamento. Já fizemos comentários com Pedro acerca dos
pontos luminosos que se movimentam acima das nuvens; queres nos dar
uma elucidação a respeito?”
2. Digo Eu: “Não é de grande importância, pois trata-se dum fenô-
O Grande Evangelho de João – Volume II
295

meno natural, idêntico ao que se dá com o mar: quando este se acha em


movimento podes observar o mesmo, se te encontras naquele ponto onde
os raios solares se quebram.
3. A atmosfera terrestre não alcança as estrelas, mas ultrapassa em
sua máxima altitude aproximadamente quatro vezes esta montanha; após
essa altura é ela abruptamente isolada, assim como a água do ar, e apre-
senta, tal como aquela, uma superfície fulgurante e lisa, manifestando
ondulações constantes, tais como as ondas marinhas.
4. A luz do Sol, quando resplandece sobre essas vagas aéreas, reflete
como a superfície do mar. Sendo fortes as ondulações, a luz é refletida
para a Terra de quando em quando, e mais facilmente quando o Sol se
apresenta aparentemente por detrás do horizonte, onde seus raios ilumi-
nam a superfície do mar atmosférico, por baixo. Assim, são essas luzes
saltitantes nada mais que reflexos solares, tendo seus movimentos condi-
cionados às vagas da atmosfera.
5. Mas que essas luzes, no momento, em que o Sol quase atinge a
linha do horizonte, são vistas especialmente sobre estas nuvens tão ilumi-
nadas, tem sua causa no fato de que as ondas atmosféricas absorvem a luz
refletida, destas nuvens, entretendo-as num jogo continuo. – Eis a expli-
cação deste fenômeno natural.
6. A respeito disto tudo, porém, existe espiritualmente a seguinte
explicação: Imaginai o Sol espiritual! Sua luz é absorvida da superfície
sempre ondulante do Mar da Vida, que a reflete formando imagens gro-
tescas, embora ainda num brilho tênue, pois perderam todo vestígio da
Forma Divina Original; por isto, é tanto o paganismo quanto o judaís-
mo uma aberração de tudo que é Divino.
7. Se, porém, vedes um plácido espelho d’água, no qual o Sol está
brilhando, será ele refletido com igual majestade, tal como se encontra
no Céu. Da mesma forma é necessário um temperamento sereno e desa-
paixonado, somente conseguido por uma completa renúncia do “eu”,
humildade, paciência e amor puro, a fim de refletir a Semelhança de
Deus no espírito do homem.
8. Neste estado tudo se torna verdadeiro dentro da criatura, capaci-
Jakob Lorber
296

tando a alma a observar as profundezas da Criação Divina. Assim, po-


rém, que ela se agita, as imagens primárias são destruídas, levando-a a
toda sorte de enganos, dos quais só se poderá afastar pelo completo re-
pouso em Deus.
9. Eis o verdadeiro descanso do sétimo dia, instituído por Jeovah.
Nesse dia a criatura deve se abster de todo trabalho físico que obrigue a
alma a lhe prestar suas forças; agita-se ela deste modo, provocando uma
irritação no espelho de sua água vital, impossibilitando-a de reconhecer a
Verdade Divina. Ninguém deve trabalhar nesse dia, destinado ao repou-
so, a não ser que as necessidades do próximo o exijam.
10. Muito mais, porém, a alma deve se abster das paixões que a
atormentam quais tempestades, pois que agitam sua água vital, dilace-
rando a Semelhança Divina, como a perfeição do Sol é deturpada pelas
vagas do mar. E se a tempestade for de longa duração, surgirão do mar os
vapores condensados, preenchendo a atmosfera celeste da alma de nu-
vens pesadas, impedindo que a luz do Sol espiritual alcance as águas da
Vida, – e a alma se tornará obtusa, não mais podendo diferenciar a verda-
de da mentira, tomando a fraude do inferno como luz celeste. Uma alma
assim já estará perdida! Serão precisos os ventos fortes, isto é, provações
duríssimas, a fim de rasgarem suas nuvens trevosas, proporcionando-lhe
o verdadeiro repouso!
11. Eis o sentido verdadeiro e útil desta aurora maravilhosa. Quem
o considerar, permanecerá na Verdade e em toda Luz que é a Sabedoria,
tendo como prêmio a Vida Eterna. Quem, no entanto, a desprezar, mor-
rerá para sempre.”

149. OBSERVAÇÕES DURANTE A AURORA

1. (O Senhor): “Observai agora como o Sol estende seu lado oeste


sobre o horizonte; que vedes?’’
2. Respondem os essênios: “Apenas a superfície luzidia que surge
O Grande Evangelho de João – Volume II
297

com muita rapidez; os pontos luminosos desapareceram, bem como as


pequenas nuvens. Neste momento o Sol aparece completo e sentimos
uma brisa fresca. Eis tudo.”
3. Digo Eu: “Dirigi vossos olhos às planícies e vales terrenos e dizei-Me
o que observais.”
4. Dizem eles: “Estão cheios de neblina cinzenta, de que também o
mar se acha coberto. Terá isto um sentido oculto?”
5. Respondo: “De certo, nada na Terra acontece sem causa espiritu-
al. O Sol corresponde inteiramente ao Ser Divino; a Terra, com tudo que
apresenta, ao homem externo.
6. As neblinas que se interpõem entre Sol e Terra constituem as múl-
tiplas preocupações, pequeninas e vãs das criaturas, através das quais a luz
solar só penetra de vez em quando, pois as neblinas sobem, cobrindo até as
montanhas. Estas correspondem ao bom entendimento humano, que tam-
bém é turvado pelas preocupações fúteis das criaturas ignorantes.
7. Por isto surgem as brisas matinais, que dispersam as neblinas de sobre
montanhas e campos, a fim de serem iluminadas e aquecidas pelo Sol, que
fará amadurecer os frutos da Vida. – Penso ser bem clara esta explicação?”
8. Dizem os essênios: “Tão clara como o Sol. Oh, que Doutrina
Maravilhosa! Este conhecimento deve ser bem mais eficaz que a noção
do próprio “eu”. Senhor, será incumbência nossa divulgarmos o ensina-
mento a respeito do repouso justo no Dia do Senhor, pois ultrapassa
tudo que até então ensinaste! Para isto foi preciso que os Céus se abris-
sem, a fim de transmitir aos homens esta Doutrina Santa! Como
agradecer-Te condignamente por tudo? Dá-nos um mandamento de como
louvar-Te!”
9. Digo Eu, depositando Minhas Mãos sobre seus ombros: “Meus
amigos, agi de acordo com Minhas Leis, que Me dareis em troca a mes-
ma alegria. Vosso mérito será grande levando outros a este caminho!”
Jakob Lorber
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150. OS ESSÊNIOS RECEBEM DO SENHOR A INCUMBÊNCIA


DE CONSTRUIREM UMA ESCOLA MAÇÔNICA

1. (O Senhor): “Edificai uma escola nestes moldes e ensinai a con-


servação do Dia do Senhor; entregai-vos a este descanso diariamente, por
algumas horas, que em breve sentireis os grandes benefícios.
2. Este edifício deve ser livre de muros e ferrolhos. Sede verdadeiros
pedreiros livres, iniciando de tal modo uma obra nova das escolas de
profetas. Que seja vossa maior preocupação considerar Minha Doutrina
fielmente sem mesclá-la de outros preceitos, como é de praxe por parte
dos fariseus e anciãos. Vossos atuais ditames devem ser exterminados a
fundo, dando lugar ao Meu Verbo, que deve ser ensinado de livre e es-
pontânea vontade, senão o Meu Espírito não terá ação, conforme foi
predito pelos profetas.”
3. Os essênios agradecem por este ensinamento, prometendo
cumpri-lo religiosamente; pedem, apenas, que Eu lhes confira a justa
proteção e a força necessárias na aplicação e divulgação aos sedentos da
Verdade Divina.
4. Digo Eu: “Jamais faltarei com o que Me compete; tende, no en-
tanto, cuidado de evitar futuras ambições de posto. O mais experiente
dentre vós seja vosso professor e guia; isto, porém, não o deve levar a crer
ser mais que o menor em vosso meio. Deve ser amado e honrado e seu
conselho seguido por todos como se fora lei. Ai daquele que o atacar, pois
Meu Olhar irado o perseguirá!
5. Na escolha dum guia e professor pedi e analisai a quem pretendeis
eleger; pois um mau e imprudente numa sociedade é o mesmo que um
pastor descuidadoso com seu rebanho. Vendo a aproximação do lobo, é
ele o primeiro a fugir, entregando seus cordeiros ao inimigo; ou, talvez,
também se torne espiritualmente um lobo, como o são atualmente os
fariseus e sacerdotes. Caminham em pele de cordeiros, mas, no íntimo,
são lobos vorazes. Recusam-se a alimentar uma mosca; quando, porém,
o fazem, exigem em troca um camelo!
O Grande Evangelho de João – Volume II
299

6. Não vos torneis seus iguais. Habitam em construções sólidas,


sempre trancadas e vigiadas, para que ninguém se lhes aproxime e obser-
ve suas traficâncias. Havendo um corajoso que tente penetrar em tal re-
cinto do Templo, será declarado hereje, e apedrejado!
7. Por isto, relembro: Construí vossas escolas sem muros, para que
todos possam frequentá-las. Que lá não haja mistério! Iniciai a todos que
o desejem, dentro de sua compreensão, pois não vos vendo gato por lebre
com esta Minha Doutrina, – digo-vos a pura Verdade e não oculto coisa
alguma, a não ser aquilo que a prudência pede em benefício de cada um.
Sede verdadeiros, mas também, prudentes; a sinceridade não deve
exceder-se, a ponto de jogar pérolas aos porcos!
8. Teria muito que vos dizer, mas que não poderíeis suportar. Quan-
do, porém, o Espírito da Verdade Plena despertar dentro de vós,
conduzir-vos-á a toda Sabedoria; este Espírito é a Semelhança Divina em
vosso Coração e será por vós despertado pela consideração, que dareis ao
grande Dia do Senhor. Compreendestes?’’
9. Respondem os essênios, contritos: “Sim, Senhor, pois Tuas Pala-
vras não derivam dum ser humano, possuindo luz, calor e vida! Temos a
impressão de que cada uma faz gerar novas e imensuráveis criações, e
sentimos este fenômeno dentro de nós. – Regozija-te, pois, ó Terra, que
foste escolhida entre milhares para receber a Bênção dos Passos do Se-
nhor da Eternidade, ouvindo Sua Voz Santíssima! – Ó Senhor, qual deve
ser o número dos seres que projetas através de Tuas Palavras e Teu Háli-
to?! Deixa que Te honremos e louvemos, ó Santo Eterno!”

151. O ALMOÇO ABENÇOADO NO CUME DA MONTANHA

1. Digo Eu: “Bem, bem, Meus queridos amigos e irmãos! Vamos


agora tratar um pouco de nosso físico, já que saciamos nossa alma. Ebahl,
tens alguma provisão?”
2. Responde ele: “Existem umas poucas sobras de pão e vinho!”
Jakob Lorber
300

3. Digo Eu: “Vai buscá-las, a fim de que as abençoe e tenhamos o


suficiente para todos.” – Ebahl manda trazer metade dum pão e cerca de
três cálices de vinho que sobrara no odre, dizendo: “Eis tudo!” – Digo
Eu: “Distribuí-o, – e se algo ficar, nós também nos saciaremos!”
4. Ele começa a repartir pequenos pedaços de pão que, no entanto,
não diminui. Por isto espalha fatias maiores, – e o fenômeno é o mesmo.
Como percebe o apetite dos hóspedes, inicia novamente a distribuição
entre os trinta, restando-lhe um bom bocado. Então diz: “Senhor, eis o
que ficou. Será suficiente para Ti, Rafael, Yarah e eu?”
5. Digo-Lhe: “Deixa que Yarah o divida que dará para todos.” A menina
dá primeiro um pedaço a Mim, a seguir a Rafael, Ebahl e come o resto.
Percebendo isto o comandante diz a Ebahl: “Amigo, por que não fui conside-
rado na segunda distribuição? Não me achas com mérito para tanto?”
6. Digo Eu: “Irmão, não te aborreças por tão pouco! Ebahl calculou
que nada sobrasse, motivo por que iniciou a distribuição tão parcamente,
mas sem desejar que fizesses parte dos que nada receberiam. Como, po-
rém, algo sobrou de acordo com a Minha Vontade, fez-se a segunda
partilha. Se fizeres questão, dar-te-ei a Minha Parte!”
7. Responde ele: “Ora, está bem; lembrei-me apenas dum velho
hábito romano! O que me admira é de ver o apetite de Rafael; parece o
mais faminto entre nós. É mais espírito do que homem, no entanto,
come como se tivesse nascido aqui. Sua atitude é deveras simpática. –
Sinto agora que o pão, não obstante muito saboroso, desperta forte sede.
Haverá algo para beber?”
8. Digo Eu a Ebahl: “Reparte o vinho, começando pelo nosso ami-
go Julius!”
9. Intervém este: “Senhor, peço-Te que Te sirvas primeiro, pois deve
haver certa ordem numa refeição!”
10. Concordo: “Também considero isto; como, entretanto, não
estamos à mesa e tão pouco somos convivas, toma o vinho à vontade!
Quem tiver mais sede pode beber primeiro!” Satisfeito, o comandante
esvazia o cálice, dizendo: “Senhor, agradeço-Te por este conforto celeste,
pois nunca tomei vinho idêntico.”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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11. Digo Eu: “Todos se alegram que agora te sintas bem, nesta altu-
ra.” Diz ele: “Senhor, perdoa se vou dizer uma tolice; mas tenho a im-
pressão de que o próprio Satanás haveria de sentir-se bem aqui.”
12. Digo Eu: “Poderei chamá-lo, caso tenhas vontade de vê-lo e te
certificarás se este ambiente lhe agrada.” Diz o romano: “Se realmente
existir um demônio em pessoa, que me apareça!”

152. APARIÇÃO DE SATANÁS

1. Mal o comandante pronuncia estas palavras, eis que se vê forte


raio acompanhado por fragoroso trovão, e Satanás se posta numa figura
descomunal, toda em brasa, diante do romano. Bate com tanta violência
com o pé que a montanha estremece, e diz: “Que esperas de mim, mise-
rável incestuoso? Por que me chamas a esta altura, que me é mil vezes
mais antipática que todo o fogo do inferno?!”
2. Responde o comandante, irritado pela expressão “incestuoso”: “Con-
tém-te, inimigo da Humanidade e de Deus; não te compete fazer julga-
mento diante Dele, teu Senhor! Se pequei no sono pelo aturdimento, dos
sentidos, sou eu o único prejudicado. Penso, porém, ser Deus mais do que
tu e não me classificou de tal forma! Aconteceu que aos catorze anos prati-
quei este ato abominável com minha mãe, que se havia disfarçado numa
grega, usando máscara sobre sua linda face. Contava ela vinte e oito anos e
eu treze e meio. Em Roma figurava como o jovem mais atraente; por isto,
ela usou de disfarce, a fim de levar-me ao pecado! Como podes, por tal
razão, chamar-me de incestuoso? Acaso seria assassino aquele que, na que-
da dum telhado, matasse um transeunte? Fala, miserável!”
3. Satanás, por sua vez, irritado com as palavras do romano, diz: “Vejo
apenas a ação e não o modo como foi praticada; não considero atenuante,
portanto, fazes parte do inferno e não escaparás do meu poder!”
4. Reage o comandante: “Tolo que és! Conheces Este, à minha direi-
ta, que Se chama Jesus de Nazareth?”
Jakob Lorber
302

5. Com o pronunciamento do Meu Nome, o demônio cai por terra,


ameaçando o romano para não mais citá-lo. Conhece bem o nazareno e
odeia-o por pretender conquistar a Onipotência Divina, pouco lhe fal-
tando para se tornar senhor dos Céus e Terra!
6. Diz o comandante: “Ignorante! Ele é e será para sempre o que foi,
e somente Ele julgará a mim como a ti! Se te julgas tão poderoso, por que
Seu Nome te faz fraquejar? Observa como este planalto é alegre e o bem
estar que todos sentimos. Se não fosses tão imbecil poderias desfrutar da
mesma alegria! Converte-te e reconhece em teu coração – se é que pos-
suis um – ser Jesus o Senhor de todo Infinito, e serás tão feliz como nós!”
7. Satanás ri com escárnio, dizendo: “Repetes ainda este maldito
nome?! Se não tens outro assunto podes, ao menos, circunscrevê-lo; pois
me irrita, mais que dez mil infernos no auge do seu fogo irado! Além
disto sou um espírito e devo permanecer como tal, e pela vossa salvação;
portanto não me posso converter a favor de vosso Senhor e Deus! Estou
condenado para sempre, não havendo redenção para mim!”
8. Diz o comandante: “Mentiroso! Se tivesses vontade de te converter,
serias aceito com todo o teu séquito; existe dentro de ti uma teimosia mal-
dosa, pela qual não te queres redimir, pois constitui uma satisfação diabóli-
ca desafiar o Senhor, em virtude do livre arbítrio. Afirmo-te que Ele não te
condenou definitivamente! Regenera-te, que serás recebido e perdoado!
9. Sou pagão e adorei, quando moço, a Natureza e os ídolos feitos
por mãos humanas; em breve, porém, reconheci que estava trilhando o
caminho errado. Tu, no entanto, foste criado como espírito puro, por
Aquele que ora habita no coração deste nazareno e ao Qual Céus e Terra
obedecem. O conhecimento da verdade te será fácil, enquanto eu pe-
rambulei por muito tempo nas trevas. Basta que o queiras e voltarás a ser
o anjo da Luz!”
10. Exclama Satanás: “Não posso!” Indaga o comandante: “Por quê?”
Responde o anjo do mal: “Porque não quero!” Irrita-se o romano e diz
com voz alterada: “Então afasta-te, pois sinto asco de ti! Que o Senhor te
julgue!” Como se um raio o tivesse fulminado, Satanás cai por terra; Eu
aceno a Rafael para que o enfrente.
O Grande Evangelho de João – Volume II
303

11. O anjo aparta os dois e diz a Satanás: “Eu, servo humilde do


Senhor Jesus-Jeovah-Zebaoth, ordeno que te afastes desta zona que, pelo
teu hálito, tornou-se prejudicial às criaturas!”
12. Diz Satanás, raivoso: “Para onde irei?” Responde Rafael: “Para
onde te esperam teus servos com imprecações! Vai! Que assim seja!” Sata-
nás, transformado numa bola de fogo, desaparece como raio em direção
ao Norte. O anjo arranca do solo, onde Satanás pisara, uma pedra de
cinquenta toneladas, atirando-a com tanta violência para dentro do mar
que se dissolve em pó pela pressão atmosférica.
13. Todos admiram este ato, e o comandante diz: “Que atirador
estupendo! Vale mais que dez legiões romanas! Além do mais, agradeço-
Te, ó Senhor, por esta revelação; pois cheguei a conhecer pessoalmente o
eterno inimigo do Amor, da Luz e do Bem! Jamais melhorará!
14. Para Deus todas as coisas são possíveis; neste caso, porém, penso
que Lhe será difícil levar este espírito ao arrependimento e à penitência.
Se continuar com o livre arbítrio não se regenerará; se este no entanto,
for-lhe tirado, deixará de existir. Querer convertê-lo pelo sofrimento, será
o mesmo que encher de água, com uma peneira, um tonel furado! No
meu parecer será a prisão eterna e sem padecimento o melhor meio para
evitar que prejudique as criaturas.”
15. Digo Eu: “Amigo, não podes conceber a razão disto tudo e o
tempo terreno não possui medida para determinar a época da possível
remissão de Satanás. Isto talvez seja possível quando o primeiro Sol Cen-
tral se tenha dissolvido; onde, porém, estarão, nesta época, a Terra e o
Sol? Pois um tão imenso corpo cósmico necessita de um tempo incalcu-
lável para que toda sua matéria se desintegre até o último átomo, numa
vida livre e espiritual. Mas, como já disse, não o podes conceber por ora.
Nem os anjos o poderiam; tempo virá em que não duvidarás disto que
acabas de ouvir. Agora, basta! Levantai-vos, encetaremos a descida!”
Jakob Lorber
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153. A DESCIDA DA MONTANHA

1. Diz Yarah, que havia coberto o rosto durante a presença de


Satanás: “Senhor, volto com prazer para a cidade, pois a aparição do
anjo do mal prejudicou nossa estada aqui em cima. Jamais tornarei a
pisar esta montanha.”
2. Digo Eu: “Não viste como ele foi enxotado e como Rafael limpou
o lugar onde pisou? Alem do mais, não te trará prejuízo ou benefício tua
volta a esta altura. A melhor escalada para a criatura é a do próprio cora-
ção – e quem tiver penetrado em suas profundezas terá alcançado a má-
xima visão espiritual. – Agora vamos, pois já passou a terceira hora deste
sábado. Segui-Me pelo próximo atalho!”
3. Diz o comandante: “Senhor, se não me engano, falou-se que per-
maneceríamos todo o dia aqui?”
4. Respondo: “Não Me entendeste bem; referi-Me à consagração do
sábado – o Dia do Senhor – pela contemplação introspectiva. Vamos,
pois lá em baixo nos esperam vários doentes. Antes de deixar este lugare-
jo quero curar a todos.”
5. Em companhia de Yarah e Rafael tomo a dianteira, e após duas
horas e meia já estamos perto de Genezareth. Então reúno os visitantes
da montanha e lhes digo: “Ouvi-Me! Repito que guardeis por enquanto
o que se passou lá em cima! Quando receberdes um aviso do Céu podeis
contá-lo àqueles de boa vontade; aos materialistas tais coisas deverão con-
tinuar ocultas como o centro da Terra. Pois a razão externa jamais as
poderia assimilar, condenando-vos como doidos, julgamento este que
sentenciaria suas almas à morte.
6. Gravai bem: “Minhas Palavras e Ações são mais preciosas que as
pérolas raras de Yarah, e tudo que vem do Alto é destinado aos que de lá
vieram. Para cães e porcos servem unicamente os detritos do mundo;
pois o cão volta àquilo que vomitou, e o porco se deita no lodo por ele
próprio há pouco produzido. Por isto, segui o Meu Conselho!”
7. Obtempera o comandante: “Senhor, se pessoas curiosas nos per-
O Grande Evangelho de João – Volume II
305

guntarem o que ocorreu na montanha, que diremos?”


8. Digo Eu: “Dizei-lhes que, de acordo com a Minha Advertência,
deveis ficar calados, e eles nada mais perguntarão.” O romano, satisfeito, se
junta aos outros e continuamos a trajetória pela cidade, até a casa de Ebahl.

154. MILAGRE CURADOR NA HOSPEDARIA DE EBAHL

1. Em lá chegando, os servos de Ebahl nos vêm dizer que na hospe-


daria há uns cem enfermos, sequiosos pela Presença do Senhor e Salva-
dor Jesus de Nazareth.
2. Digo Eu aos empregados: “Comunicai-lhes que podem voltar
com calma a seus lares, pois sua fé no Poder de Minha Palavra já os
curou!” Os servos encontram todos em pé, cantando louvores pela saúde
reconquistada e pedem para ver-Me!
3. Eu, porém, digo: “Já vos falei que podiam ir para casa, pois con-
seguiram o que procuravam – e para coisas elevadas não possuem inteli-
gência.” Recebendo este recado os curados dizem: “Não fica bem per-
guntar-se a uma pessoa se deseja aceitar um agradecimento; portanto,
vamos, que ele não nos rejeitará, possuindo nós as melhores intenções.”
4. Com isto dirigem-se a casa onde estou e batem na porta do gran-
de refeitório. Ninguém lhes ordena a entrada. Como continuem baten-
do, digo a Ebahl: “Deixa-os entrar, à vista de sua fé tão positiva!” Aquele
assim faz, e eles enchem o quarto, externando-Me sua gratidão.
5. Mando que se calem, dizendo: “Um louvor de boca e um agrade-
cimento de lábios nada valem perante Deus e Mim! Quem se quiser
aproximar de Minha Pessoa, faça-o de coração, que o considerarei; uma
gritaria, porém, na qual o coração nada sente, é, diante de Meus Olhos, o
que representa o ar pestilento às narinas. Recebestes o que procuráveis e
além disto, nada vos interessa. Vosso louvor não Me agrada! Voltai e não
provoqueis alaridos nesta casa! Guardai-vos da impudicícia, adultério e
gula, – do contrário sofrereis males piores!”
Jakob Lorber
306

6. Minhas Palavras penetram em seus corações, tanto que começam


a perguntar entre si, como podia Eu saber que seus sofrimentos deriva-
vam, na maioria, de obscenidades. São tomados de pavor por julgarem
que Eu pudesse por a descoberto tais fatos. Assim se retiram. O coman-
dante percebe-o e Me pergunta: “Que houve? Por que se afastaram tão
depressa? Mal lhes falaste de seus pecados e desapareceram!”
7. Respondo: “São peritos no campo da devassidão. Praticam toda
sorte de obscenidades e um adultério é fato corriqueiro; as mulheres são
para eles propriedade comum e a violação de uma virgem lhes é idêntico
a um gracejo! Entre eles se acham ainda muitos que praticam a sodomia,
a fim de evitar o contágio de moléstias, o que não lhes imuniza de contra-
ir outras piores. Foi este motivo que Me levou a tratá-los com aspereza,
pois palavras meigas não teriam efeito algum!”
8. Pergunta o romano: “De que zona são?”
9. Digo Eu: “De Gadara; mais para o Norte existem uns vilarejos e
quatro aldeias. Seus habitantes são judeus, egípcios, gregos e romanos.
Quase não possuem religião; seu ofício consiste, na maioria, da criação
de porcos, que exportam para a Grécia e Europa, onde o suíno é muito
apreciado. Já por esta profissão são eles impuros; no entanto, não seria
pecado se em suas tendências não fossem mil vezes piores que os bichos!”
10. Diz o comandante: “É bom que eu saiba disso. Aquelas zonas
são sujeitas à minha ordem, tanto que não me descuidarei em dar-lhes
um mestre de correção para fiscalizar suas atitudes imorais. Senhor, sou
apenas uma criatura simples; minha vida em assuntos do governo fez-me
compreender que o melhor meio de educação para o homem pervertido
é um regime severo e o açoite.”
11. Digo Eu: “Sim, tens razão no que concerne àquela zona; apli-
cando, porém, tais meios, indistintamente, provocarás grande prejuízo.
O remédio deve atender à doença, e não vice-versa. Mas, como já disse,
naquela comunidade teu medicamento produzirá o efeito desejado. O
açoite nunca deve ser erguido na mão da ira, mas na do amor!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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155. ZELO DO AMOR

1. Diz o comandante: “Reconheço isto; deu-se, porém, um fato em


minha vida, no qual o amor não surtiu efeito. Foi o seguinte: Entre os
meus soldados havia um jovem ilyrio (habitante de uma zona ao Norte
do Mar Adriático) duma força física extraordinária. Sua espada pesava
cinquenta libras, no entanto, manobrava-a como se fosse uma pluma.
Este guerreiro, munido de escudo e couraça, conseguia mais do que cem
outros. Durante a guerra era, pois, aproveitável; mas não em tempo de
paz, pois brigava com todos e não se passava uma semana sem que eu
tivesse de apaziguar uma contenda. Sempre o tratava com amor, fazen-
do-lhe ver o prejuízo de sua atitude. Ele então, prometia corrigir-se. Mas
não se passavam mais de dez dias, – lá vinham as queixas de todos os
lados e era preciso pagar indenizações. Inquirido porque fazia tal coisa,
respondia: “Estou-me exercitando na arte guerreira!”
2. Esses exercícios levavam-no, não raro, a procurar os rebanhos, a
fim de cortar-lhes a cabeça de um só golpe. Um dia regozijou-se de haver
decapitado cem bois, o que nos custou mil moedas de prata!
3. Minha revolta foi tão grande que o fiz amarrar a uma árvore e
açoitar durante uma hora, até que desfaleceu. Então mandei tratar de
suas feridas, restabelecendo-se dentro de vinte dias, completamente mu-
dado! Tornara-se pacífico e modesto, tanto que o fiz nomear tenente – e
até hoje me agradece pelo castigo exemplar que o levou à regeneração. Se
não fosse minha raiva, não teria conseguido modificá-lo!”
4. Digo Eu: “Não foi propriamente este móvel de tua ação, mas sim
o zelo do amor, pelo qual também ajo, quando necessário. Não fosse o
amor zeloso, – e o Infinito estaria até hoje desprovido de seres, pois toda
a Criação deve sua existência ao grande zelo do Amor Divino. Foi, por-
tanto, teu zelo que te levou a aplicar-lhe o que merecia pois do contrário
tê-lo-ías matado. Teu amor deixou que fosse vergastado sem exceder-se
naquilo que ele suportaria.
5. Se for preciso, poderás aplicar o mesmo método em Gadara; a
Jakob Lorber
308

primeira tentativa, porém, seja a da aplicação do amor e do ensino. Quando


as criaturas percebem que se lhes dá leis severas, a fim de que melhorem,
suportam tudo com resignação. Se o poder legislativo se manifesta como
tirania, ninguém se corrige, convertendo até os bons duma comunidade
em demônios, à cata de vingança. Compreendeste?”
6. Diz Julius: “Sim, Senhor, tanto que ainda hoje enviarei um men-
sageiro com uma ordem para o tenente em Gadara, e amanhã as comu-
nidades estarão informadas. Assim, procurarei por alguns instantes meu
pessoal para tratar deste assunto.”

156. QUESTÃO DE SEXO DOS ANJOS

1. Ato contínuo o comandante dirige-se a casa; Ebahl lhe pede não


demorar muito, porquanto estava na hora do almoço. Julius lhe respon-
de: “Caso não haja assunto importante, voltarei em breve!”
2. Em casa, o tenente lhe conta o que se passara durante sua ausên-
cia, entregando-lhe uma ordem dirigida à comunidade de Gadara, escri-
ta pelo próprio comandante. Este verifica que era tal e qual ele imaginara,
por isto chama um mensageiro, que se apresenta em indumentária roma-
na. Não percebendo que Rafael se disfarçara de tal forma, o romano lhe
pergunta se é capaz de entregar a missiva naquela cidade distante.
3. Responde o anjo: “Senhor, levá-la-ei com a rapidez duma flecha,
e em poucos instantes terás a resposta!” Só então o comandante o reco-
nhece e lhe entrega o pergaminho. Depois dum certo tempo o anjo está
de volta conforme prometera. Julius se admira pela demora e pergunta
pelo motivo.
4. Diz Rafael: “Foi apenas o tempo necessário para o tenente res-
ponder. – Vamos agora a casa de Ebahl, que nos espera para o almoço.”
5. Chegando perto, Julius observa que Rafael está novamente com a
vestimenta de Genezareth e lhe pergunta onde deixara a outra indumen-
tária. Diz ele sorrindo: “Temos vida mais fácil do que vós, pois carrega-
O Grande Evangelho de João – Volume II
309

mos nosso guarda-roupa bem provido dentro de nossa vontade; basta


querê-lo, – e já estamos vestidos. Se tu me avistasses em minha vestimen-
ta de luz, teus olhos cegariam e tua carne se dissolveria. Comparada à
minha roupagem, a luz do Sol é apenas treva!”
6. Diz o romano: “Amigo, a possibilidade de se poder vestir à vonta-
de muito me agrada e seria bem útil para os pobres, no inverno! Quanto
à forte luz de tuas vestes que impossibilita a nossa aproximação, não acho
conveniente, ao menos aqui na Terra. Desejava uma orientação tua, já
que ninguém nos ouve: Existe entre vós diferença de sexo?”
7. Responde o anjo: “Que pergunta imprópria! Enfim, como deriva
apenas de quereres satisfazer tua falta de conhecimento, respondo: não!
Entre nós, arcanjos, prevalece o masculino-positivo; no entanto, tam-
bém se acha presente em nós, o princípio feminino-negativo, de sorte
que todo anjo representa o matrimônio perfeito dos Céus. Depende de
nosso desejo nos manifestarmos na forma feminina ou masculina.
8. Eis a razão por que – como andróginos – jamais envelhecemos, pois
ambos os pólos se equilibram dentro de nós. Nas criaturas são eles separa-
dos por uma personalidade de sexo diferente, não encontrando equilíbrio
neste isolamento. Se os pólos personificados e separados se tocam, perdem
sua vitalidade e se assemelham a um odre, que enruga à medida que se lhe
tira o conteúdo. Se fosses capaz de imaginar um que restituísse o que se lhe
abstrai, jamais irias encontrar os sinais da velhice. Compreendes?”
9. Diz o comandante: “Um pouco; talvez tenhamos oportunidade
de nos aprofundar no assunto. Está na hora do almoço!” Diz Rafael:
“Ótimo, já estou com fome!” Diz o romano: “O quê? És espírito puro,
como poderás alimentar-te?” Diz Rafael, sorrindo: “Melhor do que tu!
Todo alimento é por mim absorvido inteiramente e transformado em
vida contemplativa, – contigo apenas no que corresponde à tua polarida-
de vital, e o resto é expelido. Vês, portanto, que aproveito melhor o que
se refere à alimentação!”
10. Diz Julius: “No Céu também se come e se bebe?”
11. Responde Rafael: “Sim, mas somente de maneira espiritual. Pos-
suímos dentro de nós o Verbo Divino, pelo qual Céu e Terra foram cria-
Jakob Lorber
310

dos; este Verbo é, primeiramente, nosso ser e o verdadeiro pão e vinho de


Vida! Ele flui em nossas veias como em vós o sangue, estando nossas
vísceras repletas de Pão de Deus!”
12. Diz o romano: “Oh, como falas sabiamente! Este ponto é preciso
que o Senhor me esclareça, – Agora, calemo-nos, pois já estamos atrasados!”

157. A DISTRIBUIÇÃO DE ESMOLAS E A CELEBRAÇÃO EM


MEMÓRIA DE ALGUÉM

1. Ao chegarem, são abordados por Yarah, que lhes diz: “Mas, que
demora! Tu, Rafael, já pareces ter adotado a nossa contagem de tempo.
Vinde depressa, pois que o almoço já está servido.” – Ambos entram
rápidos e Me saúdam.
2. O comandante faz menção de Me agradecer pela Minha Ajuda;
Eu, porém, lhe digo: “Amigo, satisfaço-Me com teu coração! Vamos forta-
lecer nosso corpo, a fim de cuidarmos em seguida das coisas espirituais.”
3. Todos agradecem e se sentam à mesa, mas o romano não conse-
gue desviar o olhar do anjo, que come e bebe com grande apetite. Por fim
não se contém, dizendo com humor: “Ignorava que os anjos tivessem
tanta disposição para comer. Nosso amigo Rafael até come por três!”
4. Diz Ebahl: “É verdade; mas há outro fato mais extraordinário: seu
prato não fica vazio! Aqui aplica-se o provérbio: Aquilo que o Céu tira,
devolve-o no mesmo instante! Esta mesa será considerada para sempre
como relíquia e anualmente haverá um festejo, no qual os pobres desta
zona serão alimentados.”
5. Digo Eu: “Deixa a mesa ser mesa e continua tu como eras! Se um
pobre te procurar em qualquer dia, ajuda-lhe sempre, pois uma festança
anual não trará benefício a ambos, mormente quando em Meu regozijo.
Quem desejar lembrar-se de Mim, que o faça durante todas as horas do
dia, porquanto uma comemoração anual não Me satisfará!
6. Assemelhar-te-ias aos templários em Jerusalém, que o fazem três vezes
O Grande Evangelho de João – Volume II
311

ao ano, distribuindo pão aos pobres como se ficassem alimentados até a


próxima celebração. Que absurdo contêm estas festas ridículas! As ofe-
rendas recebidas nesses dias dariam para os templários viverem durante
cem anos! O pobre, porém, que se satisfaça com três côdeas anuais! Por
isto deixa esta mesa conforme é; tu Me darás uma festa agradável se aju-
dares, se possível, diariamente, a um pobre que te procure.
7. Se por acaso fores procurado dia a dia pelo mesmo mendigo,
não lhe perguntes se não existem outras pessoas que o socorram; pois isto
o amedrontaria de tal forma que por muito tempo deixaria de bater à tua
porta, – e tua boa obra perderia todo o valor diante de Mim!
8. Tão pouco é do Meu Agrado que distribuas algo entre os pregui-
çosos, capazes de trabalhar; faze-os trabalhar, a fim de que possam rece-
ber comida. Não aceitando serviço, embora sejam fortes, também não
devem comer! Agindo deste modo, terás sempre comemorado um dia
honroso para Mim! Com tal festividade anual, porém, não Me aborreças!
9. Em que sentido a época dum ano seria melhor que a de um dia
qualquer? Quem, por exemplo, honra o aniversário do pai uma vez por
ano, deveria, ao menos, honrar diariamente a hora de seu nascimento!
10. Tais comemorações mundanas nada representam para Mim, a
não ser que sejam consideradas cada dia, sim, cada hora no íntimo da
criatura. Assim também são fúteis a lua nova, os jubileus, a festa da liber-
tação de Jerusalém do poderio babilônico, a da reconstrução da Cidade e
do Templo, a festa de Moisés, Aaron, Samuel, David e Salomon, – pois
têm tanto valor como a chuva caída no mar há mil anos.
11. No início tais comemorações são consideradas num sentido re-
ligioso, em memória de alguém ou dum fato que assistiram. Na segunda,
terceira e quarta geração se tornam uma cerimônia vã, na qual milhares
nem sabem do motivo, – e mais tarde converte-se numa ação pagã.
12. Todavia, não quero, com isto, revogar as verdadeiras comemora-
ções; devem, apenas, não só conter a tradição anual, mas o da aplicação
diária, do contrário serão sem efeito. Quanto a esta mesa, já te dei Mi-
nhas Ordens!”
13. Diz Ebahl: “Será tudo realizado dentro da Tua Vontade, Senhor;
Jakob Lorber
312

consideraremos as festas diárias, socorrendo o próximo em tudo que nos


seja possível, comemorando assim as festas anuais.”
14. Digo Eu: “Deste modo provareis que sois Meus discípulos. Ago-
ra, levantemo-nos da mesa e vamos conversar com os pescadores, que
sempre sabem contar fatos extraordinários. Aqui teríamos pouco sosse-
go, porquanto dentro de uma hora chegará uma caravana de Bethlehem,
da qual fazem parte alguns fariseus com quem não quero entrar em con-
tato; tratai que sejam ainda hoje transportados para Sibarah!”
15. Diz o comandante: “Com muito gosto, pois não existe criatura
mais repugnante para mim.” Todos nos levantamos, encaminhando-nos
para a praia.

158. O SALMO 47 DE DAVID

1. Encontramos os marujos entretidos com a leitura dos salmos de


David. Após os cumprimentos, seu mestre se dirige a Mim, dizendo:
“Senhor, somente Tu poderás nos tirar deste embaraço. Ontem à noite
chegaram alguns fariseus e escribas, pedindo uma travessia para Zebulon
e Chorazim. Recusamo-nos em virtude de não sermos os donos, mas
empregados do barco e, além disto, estávamos ocupados com a leitura
dos salmos, por ser o ante-sábado. Nisto um jovem escriba pegou dos
salmos e leu o 47º:
2. “Aplaudi com as mãos, todos os povos, cantai a Deus com voz de
alegria. Pois o Senhor Altíssimo é tremendo e um grande Rei sobre toda a
Terra. Subjugará todos os povos e nações, debaixo de nossos pés. Destinou,
para nossa herança, a glória de Jacob, a quem amou. Deus subiu com
júbilo, e o Senhor ao som da trombeta. Cantai, cantai louvores ao nosso
Rei! Pois Deus é Rei de toda a Terra, por isto cantai-Lhe louvores com
inteligência! Deus também é Rei dos pagãos e Se assenta no Trono Santifi-
cado. Os príncipes dos povos se ajuntam para um só, diante do Deus de
Abraham; pois Deus foi elevado pelos escudos da Terra!” – Terminada a
O Grande Evangelho de João – Volume II
313

leitura, ele perguntou: “Entendeis este salmo?” Infelizmente tivemos que


negar. E desde manhã cedo estamos quebrando a cabeça, sem resultado.
Mil vezes pensamos em Ti, pois se o quiseres, poderás nos esclarecer.”
3. Digo Eu: “Perguntai a esta menina a Meu lado, pois saberá fazê-lo!”
4. Diz o mestre do barco: “Como poderá possuir a sabedoria de
Salomon, se não ultrapassou os catorze anos?!”
5. Digo Eu: “Sim, não só a de Salomon como a de todos os sábios da
Terra e algo mais comporta este coração! Até aqui não houve quem vis-
lumbrasse coisa alguma além das estrelas; ela, porém, poder-vos-á infor-
mar. Possui o segredo da pedra filosofal em seu avental; portanto, fazei
uma tentativa a respeito do salmo!”
6. Diz o barqueiro aos outros: “Ela parece ser inteligente, mas sua
figura bonita não promete muita sagacidade; sempre tive a experiência
de que as meninas mais belas também eram as mais tolas. São, geralmen-
te, tratadas com muito mimo, o que lhes desperta a vaidade, descurando
os estudos. A uma criança de poucos atrativos não se dá muita atenção,
castigando-a sempre quando malcriada; isto a faz humilde, modesta e
obediente, portanto apta para estudar. Todavia, veremos o que esta pe-
quena nos poderá esclarecer sobre o salmo.”
7. Ouvindo este pedido, Yarah diz: “Amigos, apesar de não haver
aprendido qual escriba, sinto dentro de mim que aquilo que David pro-
fetizou há muitos séculos realiza-se plenamente diante de nossos olhos.
8. Não vistes como Ele, – de Quem David falou e que ora está em
nossa presença, – caminhou sobre o mar e curou milhares em poucos
dias? E vede esta montanha, que transformação lhe sucedeu! Quem pode
transpor montanhas e suspender o mar de suas profundezas? Quem é
Este, a Quem os anjos e os elementos obedecem? Vede, aqui está, diante
de nós, Aquele, mencionado por David!
9. A Ele devemos aplaudir com as mãos, através de obras de verda-
deiro amor ao próximo! A Ele devemos louvar com a voz pura da verda-
de, sem falsidade, hipocrisia e astúcia! Pois ai daquele que O louvar com
a voz da mentira! Sendo amoroso e meigo para com os justos, é também
terrível com os que ocultam mentira, falsidade e vilania em seus corações;
Jakob Lorber
314

pois consta: “Horrendo é cair nas mãos de Deus; Ele é um Rei Poderoso
sobre toda a Terra e ninguém se poderá ocultar diante Dele!”
10. Ele veio, a fim de convencer todos os povos, através de Sua Dou-
trina, a aderirem a nós, compartilhando destarte da nossa salvação. As
nações são os filhos do mundo, depositados a nossos pés para que sejam
julgados. Pois somente nós somos herdeiros da Vida Eterna. Quando
Jacob afirmou: “Senhor, Tu somente és minha glória!”, tornou-se Seu
amado, amado Deste que ora Se acha em nosso meio!
11. Não permanecerá aqui para sempre, mas subirá aos Céus Eternos
com a alegre voz da Verdade Plena, pela qual criou uma nova Terra e um
novo Céu por toda a Eternidade. Ele é e será o Senhor, – e o som claro de
Sua trombeta, que representa o Verbo pronunciado, anunciará isto a todas
as criaturas na Terra e nas estrelas, tanto espiritual quanto materialmente.
12. Já sabendo Quem Ele é, devemos honrá-Lo e louvá-Lo de cora-
ções puros e sábios, e não como o fazem os fariseus hipócritas: aproxi-
mam-se dum falso Deus com os lábios e cerram seus corações a este
Verdadeiro e Vivo Jeovah, Dele se afastando.
13. Não é apenas nosso Deus e Rei, mas de todos os pagãos, pois
dirige do Trono Eterno de Sua Onipotência e Glória todos os seres da
Criação Infinita. À Sua frente os principados se reúnem como diante deles
fazem seus povos; pois Ele é o Deus Único de Abraham, Isaac e Jacob. É
elevado por Si Mesmo sobre tudo e sobre os escudos dos poderosos!
14. O fato Dele ter vindo a nós, até aos anjos é uma Graça incom-
preensível! Chegou, no entanto, anunciado por todos os profetas, que
não eram compreendidos em virtude da crescente dureza dos sentimen-
tos humanos. Agora, porém, veio Pessoalmente, revelando-Se a todos
que são de boa vontade.
15. Para os que possuem corações orgulhosos e maus, será Ele evi-
dentemente, algo pavoroso, pois a maldade tem como juiz implacável a
onipotente e eterna justiça! Do mesmo modo que uma boa balança re-
gistra o peso dum cabelo, tão pouco poderá enfrentá-Lo a menor falsida-
de, erro, maldade, injustiça e toda sorte de embrutecimento. Por tal razão
é Ele um horror para todo pecador empedernido e mau. Entendestes
O Grande Evangelho de João – Volume II
315

agora o sentido do salmo nº 47?”

159. A RESPEITO DO AMOR AOS INIMIGOS

1. Diz o barqueiro: “Menina maravilhosa, quem te deu tal sabedo-


ria? Sobrepuja a de Abraham, Isaac e Jacob!”
2. Responde Yarah: Não vos demonstrei, há pouco, Quem está em
nosso meio? Como podeis indagar donde me vem este conhecimento
profundo?! Ele é o Doador de todas as boas dádivas! Quem O ama e crê
ser Ele o Senhor Jeovah Zebaoth, receberá Sua Eterna Luz, que iluminará
a criatura, tornando-a compenetrada da Sabedoria Divina. Se tiverdes
um pouco de compreensão, deveis sentir a quantas andamos!”
3. Diz o barqueiro: “Sim pequeno anjo, já o compreendemos; aque-
les, que ontem nos abordaram por causa da travessia, não o aceitarão.
Somos criaturas simples e não necessitamos de milagres para acreditar-
mos, o que não se dá com eles!”
4. Diz Yarah: “Por este motivo, seu julgamento será horrendo! Pois
os ventos farão divulgar Seu Verbo aos quatro cantos da Terra, – e ai
daqueles que o ouvirem, compreenderem e, no entanto, rejeitarem-No!”
5. Digo Eu aos marujos: “Então, que vos parece a inteligência desta
Minha Filha?”
6. Respondem eles: “Senhor e Mestre, já não mais se trata dum
milagre, pois se Te foi possível fazer com que o burro de Bileam profeti-
zasse, muito mais fácil será preparar a boca desta menina para uma pro-
fecia. Acreditamos plenamente em suas palavras, por isto Te pedimos
que transformes nossa fraqueza em força, a fim de nos protegermos con-
tra os inimigos da Luz e da Verdade! É deprimente sermos obrigados,
como judeus, a nos orientar com os pagãos. Jerusalém tornou-se um
antro de ladrões e assassinos e, caso queiramos algum conforto espiritual,
somos forçados a procurá-lo em Sidon e Tyro, entre gregos e romanos.”
7. Digo Eu: “A paz esteja convosco! Ninguém se julgue superior ao
Jakob Lorber
316

próximo! Sois todos irmãos; aquele, no entanto, que procura servir aos
outros por se achar o mais simples, é o mais elevado! Se vos exijo a coope-
ração, sois realmente o Meu Poder. Tanto que todo servo é a força de seu
senhor; este porém, sua justiça! Amai-vos uns aos outros, fazei o bem aos
inimigos, abençoai aos que vos maldizem e pedi pelos que contra vós
praguejam! Pagai o mal com o bem, não empresteis dinheiro a quem vos
possa pagar juros; – e conseguireis a plenitude da Bênção e da Graça
Divinas! Deste modo compartilhareis da Luz, da Verdade, da força e do
Poder, pois da maneira com que derdes, vos será restituído!”
8. Diz um ajudante do barqueiro: “Senhor, sentimos que Tua Doutri-
na é verdadeira, mas muito difícil de seguir. Não deixa de ser louvável fazer-
se o bem a quem nos prejudica; quem, no entanto, seria capaz de enfrentar
a maldade com uma paciência constante? E resta saber se um castigo não
seria mais conveniente, a fim de evitar uma reincidência. Acho, por isto, ser
melhor enfrentar destemido o maldoso e construir uma muralha em volta
da casa, para impedir a tentação do roubo. Isto modificaria o sentimento
do mau, dando-lhe oportunidade de se tornar um amigo.”
9. Digo Eu: “Sim, do ponto de vista humano, mas que nada contém
de divino. Pelo castigo intimidarás o outro, – mas nunca será ele teu
amigo! Se pelo mal que fez, o auxiliares na miséria, ele reconhecerá seu
erro, arrependendo-se e tornando-se teu amigo incondicional. A carida-
de feita a um pecador, melhorá-lo-á; o castigo, porém, fará dele um ad-
versário declarado!
10. Se o primeiro ato for praticado com atrevimento, o segundo será
feito com ira e vingança. Por isto repito: Fazei o que vos disse, que recebereis
a Bênção e a Graça Divinas!
11. Quem quiser ser por Mim abençoado, terá que aceitar o Meu
Verbo, portador da Graça, Luz, Verdade e Poder.
12. Vede o Meu Exemplo: Sou meigo de coração, humilde e pacien-
te para com todos! Não irradia o Sol sua luz sobre justos e injustos, bons
e maus; não cai a chuva fertilizante tanto no campo do pecador como no
do justo? Sede, pois, perfeitos em tudo, como é Perfeito o Pai do Céu,
que sereis abençoados em plenitude! – Compreendestes?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
317

13. Respondem todos: “Sim, Senhor, tudo é verdade e prometemos


nos esforçar em segui-lo ao pé da letra; no entanto, o início não será fácil.”
14. Digo Eu: “Sim, Meus amigos, nesta época o Reino do Céu re-
quer violência – e quem não agir desta forma não o penetrará! Todo
aquele, que aplica energia numa conquista é um sábio e um construtor
prudente; pois não edificando sobre areia, e tendo uma base sólida, as
tempestades e enchentes não lhe poderão prejudicar.
15. O mesmo acontece na luta pelo Reino do Céu: uma vez con-
quistado, será para sempre. As tempestades mundanas não poderão aba-
lar a criatura. Quem não o conseguir pela aplicação de suas forças e cora-
gem, será tragado pelas intempéries, perdendo aquilo que já possuía! –
Lembrai-vos disto, porque virão tempos que o requererão.”
16. Dizem os marujos: “Por tudo só Te podemos agradecer, reco-
nhecendo que nada teremos a dar se nada recebermos de Ti. Ordena –
que faremos como gratidão e louvor!”
17. Digo Eu: “Fazei o que vos disse, será bastante! – Contai-nos, ago-
ra, o que vistes esta noite, pois os pescadores assistem a coisas estranhas.”

160. OS MARUJOS RELATAM OS ACONTECIMENTOS NOTURNOS

1. Sentamo-nos na relva, com exceção de Rafael, que é convidado por


um marujo a seguir o nosso exemplo. Responde-lhe o anjo: “Começai o
relato, pois que me sentarei quando estiver cansado. Além disto, poderia
acontecer que um de vós perdesse o equilíbrio e minha ajuda seria rápida.”
2. Diz o marinheiro: “Tu, com teus quinze anos? Há bem pouco ainda
usavas fraldas – e te julgas com forças de amparar um de nosso grupo?”
3. Diz o anjo: “Não demoreis tanto a contar o que é da Vontade do
Senhor; quanto ao resto, aguardemos os fatos!”
4. O marujo se cala e seu chefe inicia o relato: “Era justamente a
hora da primeira ronda quando se deu um grande clarão. Como sua
causa não fosse visível, julgamos que além dos montes houvesse uma
Jakob Lorber
318

fogueira imensa, cujas labaredas durassem quase toda a noite e numa


intensidade como a luz do dia. É compreensível que este fato nos deixas-
se um tanto amedrontados. Vieram até algumas pessoas da cidade e opi-
naram ser o mar causador deste fenômeno.
5. Nossa estupefação, porém, aumentou quando olhamos o mar:
não havia ali uma gota d'água sequer – e nosso navio jazia no fundo!
Tivemos oportunidade de ver a profundeza marinha! Que horror! Nosso
navio estava encostado numa rocha saliente, que por todos os lados apre-
sentava abismo imenso! Pela praia de Genezareth, porém, o fundo era
raso, animando-nos a apanhar algumas conchas.
6. Estávamos entretidos com este passatempo quando se viu um
forte relâmpago, seguido de estrondoso trovão! Fugimos para a margem
esquecendo nossas bonitas conchas, com exceção de algumas que eu ti-
nha guardado no bolsa. Só depois, quando na terceira ronda o mar co-
meçou a encher as margens, começamos a discutir sobre este fenômeno!
7. Um velho morador desta zona então nos disse, ser aquilo obra dos
espíritos irados das montanhas e do ar, castigando os da água! Achamos
tal assertiva ridícula, mas na aflição se aceita até uma explicação tola.
Durante a quarta e quinta rondas a noite tornou-se mais escura – e subi-
mos no navio, a fim de dormir. Eis, em suma o que assistimos durante
esta noite.”

161. RAFAEL E O MARINHEIRO

1. Mal o barqueiro termina sua história, o primeiro marujo que


tenciona ir buscar as conchas por ele guardadas durante a noite, tropeça,
caindo em cheio. Os outros se riem, dizendo: “É sempre o mesmo desa-
jeitado”. Isto o aborrece. Rafael, porém, acode-o, rápido, dizendo: “Vês
como foi bom eu ter ficado de pé? Previa tua queda, e eu, “rapazola” de
quinze anos, pude socorrer-te!”
2. Resmunga o marujo em suas barbas: “Sim, está bem. Mas garotos
O Grande Evangelho de João – Volume II
319

como tu andam sempre cheios de traquinagem e provocam tais coisas! Já


os conheço! Pareces honesto, – mas és malandro; por isto, – três passos
distantes de minha pessoa!”
3. Diz Rafael: “Amigo, cometes um grande erro, que te perdôo
por não saberes quem sou.”
4. Diz o marinheiro: “Ora, quem poderás ser? No máximo um prín-
cipe de Roma ou seja lá que for! Quiçá pretendes ser adorno poderoso de
Nosso Senhor?”
5. Diz Rafael: “Sim, mais ou menos. – Mas, vai apanhar tuas con-
chas!” O marujo assim faz e nos apresenta três de pouco valor. Rafael,
então, diz: “Servem como lembrança, simplesmente. Que farás com isto?”
6. Responde o marujo: “Espertalhão! Pretendes ficar com elas, e de
graça! Pensas que o velho Dismas seja tão tolo?! Se me deres três moedas
de prata, poderás levá-las.”
7. Diz Rafael: “Não me interessam! Tenho apenas que obstar tua
intenção de quereres vender algo que não te pertence. Encontraste estes
moluscos em terras de Ebahl – pois que as arrendou, inclusive esta praia
– portanto, são posse dele, a não ser que tas presenteie.”
8. Responde Dismas: “Vê só este maroto! Fala como um juiz de
Roma! És um ótimo jurista e serias capaz de me tirar as vestes rotas,
alegando poder para tanto! – O mar sempre foi posse dos navegantes e
tudo que pescam n’água ou na praia é propriedade sua. Por isto, passa-
me as três moedas, que terás as conchas!”
9. Diz Rafael: “Nada disto. Enquanto Ebahl não as declarar como
tuas, não as poderei comprar! “Dismas dirige-se neste sentido a Ebahl,
que lhe diz: “Rafael tem razão; mas como não farei uso dos meus direitos
de proprietário podes ficar com os moluscos”. Satisfeito, Dismas se vira
para Rafael: “Então, que há com o dinheiro?”
10. Responde o anjo: “Toma lá! As conchas podes entregar a Ebahl.”
Este, por sua vez, entrega-as a Yarah, dizendo: “Guarda-as, minha filha,
por terem grande valor estimativo para nós.” Diz ela contente: “Como
são lindas! Que brilho furta-cor! Poder-se-ia exclamar como Job: “Quão
maravilhosas são Tuas Obras, ó Deus!” Mas quem ensinou à lesma a
Jakob Lorber
320

construir tal casa, tão bonita? Sem tijolos e vigas é ela mais deslumbrante
que Salomon, em seus trajes reais!”
11. A seguir indaga de Rafael onde tinham ficado os moluscos
como donos das conchas. E ele responde: “Minha querida Yarah já
morreram há vários mil anos, enquanto suas casas ainda poderão durar
outro tanto, pois são de matéria calcária e jamais se destroem, mormente
debaixo d’água. Eis o que posso afirmar; o resto saberás no Além.”

162. RECEPÇÃO DOS FARISEUS EM GENEZARETH

1. Neste momento chega da cidade a notícia de que os referidos


fariseus e escribas de Bethlehem tinham vindo, apresentando uma or-
dem do Templo no sentido de serem logo transportados a Nazareth.
2. Diz Ebahl, revoltado com esta exigência: “Eis o que se dá seguida-
mente! Nesses cinco dias em que aqui Te encontras, já assististe ao quarto
transporte desses impertinentes, que neste vaivém dão mais prejuízo que
as nuvens de gafanhotos! Que farei? Até um anjo perderia a paciência!”
3. Digo Eu: “Amigo, calma! Alcançarás tudo pela tolerância! Entre-
ga a questão a Julius que, fazendo-os seguir rápidos, impedirá que te
importunem tão repetidas vezes.”
4. Diz Julius ao sargento: “Convoca vinte soldados e ide depressa à
cidade! Declara aos atrevidos que esta vila se acha em estado de sítio, e
devido à constante ocupação militar, ninguém podia penetrá-la sem or-
dem expressa duma alta patente romana. Quem não respeitá-la, será ver-
gastado e, em seguida, ser-lhe-ão vendados os olhos, tapados os ouvidos
com barro, mãos a pés amarrados! Se os bethlemitas tiverem dinheiro,
que paguem o resgate do açoite com duzentas libras de prata; caso não o
tenham ou não o queiram desembolsar, deverá cada um receber quinze
chicotadas! “Dixi, fiat”!”
5. O sargento executa a ordem e encontra em casa de Ebahl catorze
templários, que amaldiçoam os empregados por se negarem a lhes servir.
O Grande Evangelho de João – Volume II
321

Como lhes é exigida documentação comprobatória, dizem eles: “Somos


sacerdotes de Deus; aqui está a prova do Templo, – é quanto basta!”
6. Eis que o sargento lhes transmite a ordem dada por Julius. Eles,
por sua vez, chamam o mordomo de Ebahl e exigem que lhes empreste as
duzentas libras. Este responde: “Meu patrão não vos chamou; como
deveria pagar por vós? Quem algo vos empresta tem jogado o dinheiro
no mar! Aliviai vossos burros de carga que ficareis isentos do açoite!”
7. Não tendo outra saída, os templários se vêem obrigados a seguir
este conselho debaixo das vistas do militar, o que muito os constrange.
Após ter recebido o resgate ele os põe em grilhões e conduz à espaçosa
barca, que os leva sob escolta, ao destino mencionado. Revoltam-se eles
contra este tratamento, mas de nada lhes adianta. Decorrido uma hora o
sargento nos relata o fato. O comandante o elogia, perguntando onde
havia deixado a importância. Ele, então, diz que fizera entrega da mesma
ao mordomo.

163. O COMANDANTE JULIUS RELATA EPISÓDIOS DO TEMPLO

1. (O comandante): “É preciso agir com os templários de modo


inescrupuloso! Nunca senti prazer em castigar um criminoso, sempre
considerando as circunstâncias que o teriam levado àquela ação. Mas
por esses não sinto a mínima compaixão, pois são os maiores crimino-
sos da Humanidade.
2. Assisti pessoalmente, em Jerusalém, como procuravam conven-
cer um pobre coitado, que possuía apenas umas poucas moedas, de ofertá-
las ao Templo. O bom homem depositou realmente uma na sacola, des-
culpando-se por guardar as outras, porquanto sua caminhada para casa
era longa. Em vão! Os fariseus fizeram-no ver quão salutar seria para sua
alma morrer de fome, por amor a Deus e do Templo! Caso contrário,
haveria ele de padecer nas chamas da Ira Divina! Tremendo de medo, o
homem depositou o último níquel na sacola. Os templários murmura-
Jakob Lorber
322

ram algo semelhante a uma prece, mandando que seguisse caminho.


3. De longe fui seguindo o pobre e, quando afastado do Templo,
acerquei-me dele com as seguintes palavras: “Bom amigo, como podes
ser tão fraco, a ponto de deixar que te extorquissem o pouco que tens?
Esses maldosos jamais acreditaram naquilo que disseram; como vós, po-
rém, julgais que sejam semi-deuses, é-lhes facílimo tal ação repugnan-
te, pois esta esmola lhes serve para suas guloseimas, enquanto morreis de
inanição. – Toma aqui o teu dinheiro e não voltes mais ao Templo, que é
um antro de ladrões!” O pobre olhou-me admirado, aceitou o dinheiro e
disse: “Nobre senhor, deves saber mais do que eu, portanto tens razão!”
Com isto, foi andando.
4. Fatos semelhantes vi aos milhares; presenciei como tal sacerdote
tentara uma jovem a roubar sua mãe que, muito esperta, nunca havia
feito uma oferenda ao sinédrio. Como ambas eram samaritanas, a tática
do templário não surtiu efeito. Muitas vezes tive vontade de agir, sem ter
o necessário apoio como subalterno do prefeito.
5. De Pontius Pilatus nada se deve esperar, pois é geólogo e amigo
do peito dos cientistas de Pompéia e Herculanum. Não se interessa pelos
negócios do Estado, deixando que Herodes e os templários ajam a bel
prazer, desde que paguem pontualmente o tributo a Roma. Por sorte sou
destinado aos serviços de Cornelius e este, aos do velho Cirenius que,
igual a mim, é inimigo declarado do Templo. Deste modo aproveito
sempre a oportunidade para enfrentar devidamente esses ateus, no que,
por certo, não há pecado!”

164. A IMITAÇÃO DE JESUS

1. Digo Eu: “Perante Mim não pecas; considera, porém, em todas as


tuas ações que também és irmão do pecador!” Quando teu coração ma-
nifestar ira pelo pecado do próximo, deves largar do açoite; pois, pela
raiva este instrumento de castigo deixa de ser o orientador salutar, tor-
O Grande Evangelho de João – Volume II
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nando-se uma serpente que injeta veneno na ferida que produziu, e causa
a morte.
2. Tão pouco deves julgar que te livraste dum inimigo, pelo motivo
de o teres matado. Pois se em vida foi um simples adversário, pela morte
será, como espírito livre, cem vezes pior, martirizando-te com toda sorte
de sofrimentos sem que te seja possível a libertação.
3. Por isto procura castigar apenas com amor, nunca pela ira! Nada
de excessos com os fariseus! Considera serem guias cegos de cegos! Foi o
mundo que os cegou e o mundo é de Satanás, que acabaste de conhecer.
Vê, tenho Poder sobre Céus e Terra e poderia exterminá-los com um
Pensamento; no entanto, suporto-os com paciência, até que sua medida
de maldade se encha.
4. Se bem que as criaturas Me aborreçam e entristeçam Meu Coração,
Eu as trato com indulgência e amor, a fim de que melhorem, podendo,
destarte ingressar no Reino da Vida Eterna, razão por que foram criadas.
Se, portanto, quiseres te tornar um juiz verdadeiro, terás que Me seguir!
5. É muito mais fácil pronunciar um julgamento que suportá-lo;
aquele, porém, que assumir o veredicto dum culpado, zelando pelo seu
progresso, terá grande mérito no Reino de Deus. Guardai bem isto, to-
dos vós! Pois se Eu assim ordeno, acaso podereis querer outra modalida-
de? Sou Senhor sobre vida e morte! Unicamente Eu sei o que seja a vida
e o que é preciso, a fim de preservá-la para sempre numa eterna bem-
aventurança! Se agirdes de acordo com Minha Doutrina a Vida Eterna
será vossa; do contrário, perdê-la-eis pela morte espiritual, o estado mais
infeliz das almas, igual ao fogo que nunca se extingue, ao verme que
nunca morre!”
6. Diz o comandante: “Senhor, reconheço a necessidade disto tudo,
mas também vejo a dificuldade de se viver dentro desse rigor. É preciso
que nos ajudes!”
7. Afirmo: “Eis o motivo por que vim a este mundo, isto é, para vos
socorrer! Por isto, confiai em Meu Nome, que conseguireis realizar o
impossível! – Agora, entremos, pois o Sol está prestes a desaparecer!”
8. Pergunta o primeiro marujo quando deveriam aprontar o barco
Jakob Lorber
324

para a partida. Digo Eu: “A qualquer momento deveis estar prontos, a


fim de que o dono do navio, vindo antes do tempo, não vos encontre
inativos e preguiçosos e vos expulse sem ordenado! Entretanto, – é mais
fácil servir a Deus do que aos homens!”
9. Diz o tal marujo: “Senhor, se acaso amanhã voltarem os fariseus, que
ontem foram a Jesaíra para converter os judeus transformados em pagãos,
e desejarem discutir o Salmo 47 conforme anunciaram, que diremos?”
10. Digo Eu: “Prometei-lhes sete talentos se forem capazes duma
boa explicação; não o sendo, será chegado o momento de vossa exigência
neste sentido e, caso se neguem, recorrei ao auxílio militar!”
11. Aduz o comandante: “Vinde a mim, que os farei pagar sete vezes
sete talentos, sem dó nem piedade!”
12. Satisfeitos, os marujos se retiram. Voltamos à cidade, a casa de
Ebahl, que mandara preparar o jantar. Julius apanha as duzentas libras de
prata, entrega-as ao dono da casa e diz: “Toma isto como pequena inde-
nização pelas centenas de enfermos, que acolheste sem cobrar algo. És
realmente o único homem honesto nesta cidade!” Ebahl as recebe com a
observação de aplicá-las para fins de caridade.

165. CENA ENTRE RAFAEL E YARAH

1. A seguir todos se sentam à mesa bem provida, e Yarah oferece um


grande peixe a Rafael. Ele, no entanto, diz: “Querida irmã, isto é demais
para a noite, dá-me um menor.”
2. Diz ela: “Oh, então não vi como no almoço te serviste de vários?
Portanto, poderás dar cabo deste! Vê, o Senhor é um Espírito infinita-
mente mais nobre que tu; todavia, já se serviu do segundo, tomando
vinho e pão nos intervalos. Faze o mesmo; atualmente és humano como
nós e não deves menosprezar atitudes humanas por seres arcanjo!”
3. Diz Rafael: “Já que isto é de tua vontade, fá-lo-ei!” Tomando o
peixe de dois quilos e meio, Rafael o come num instante. Diz Yarah
O Grande Evangelho de João – Volume II
325

estupefata: “Mas..., onde puseste o peixe enorme? Com esta capacidade


poderias comer um monstro marinho sem mais nem menos!”
4. Diz Rafael: “Não só um, mas milhares iguais àquele que me ofe-
receste. Poderia tê-lo comido como tu; isto, porém, levar-te-ia a crer que
eu fosse uma criatura humana. Tal idéia seria nociva, porquanto poderias
te apaixonar por mim! Se, portanto, eu, de quando em quando, te mos-
tro que não sou o que supões, tu te assustas, permanecendo em teu lugar.
Ainda verás outras peças minhas, pois, quando quero, sei também ser
traquinas, mas sempre com motivo muito sábio!”
5. Diz ela: “Não me agrada teu intento de querer conseguir algo de
bom por uma traquinagem. O Senhor consegue tudo sem este meio. Por
que não O imitas? Sou de parecer que apenas o bem fará o bem – e te
advirto que não me trates deste modo! Sou um verme perto de ti; no meu
coração, porém, habita o amor a Deus, nada suportando mesmo com sim-
ples aparência de maldade. – Compreendes isto, meu querido Rafael?”
6. Diz ele: “Como não? Tua resposta demonstra nitidamente que tu
é que não me compreendeste. Dou-te um pequeno exemplo, pelo qual
verás que a travessura celeste também é virtude.
7. Nós, espíritos, possuímos longa visão; teu pensamento não alcança
esta percepção visual. Acontece que, principalmente neste orbe, a criatura
se torna cheia de teimosia maldosa. Mais de cem vezes é afastada, por nosso
intermédio, dum grande perigo, – mas em vão! Procura novamente o mes-
mo risco. Então deixamos que faça o que deseja, sofrendo duramente os
resultados. Esta experiência dolorosa a corrige, tornando-a boa.
8. Assim os pais advertem os filhos das brincadeiras perigosas, sem
que sejam atendidos. Aí entramos com nosso jogo celeste, fazendo com
que se prejudiquem e, às vezes, até deixamos que tal criança pague sua
desobediência com a morte, para servir de exemplo às outras.
9. Há anos já te apliquei certas traquinagens que te foram de grande
valia, de sorte que te tornaste uma menina boa! Qual é agora tua opinião
a respeito?”
Jakob Lorber
326

166. AMOR, CLEMÊNCIA E PACIÊNCIA

1. Diz Yarah, um pouco acabrunhada: “Bem, se assim for, nada


tenho a dizer. Se me tivesses falado antes, não teria feito objeção. Quando
te externas com meiguice te estimo muito, pois com tempestuosidade
até a verdade se torna chocante.
2. Por isto acho que até os mais perfeitos anjos deveriam se esforçar
por falar como o Senhor e Criador. Suas Palavras, mesmo em assuntos
sérios, soam brandas e fluem como leite e mel. Deste modo, todos os
doutrinadores e guias deveriam imitá-Lo; pois a meu ver a palavra meiga
contém o máximo poder. Quem grita e fala com violência muitas vezes
ofende, quando deveria socorrer. Observa a Face sempre amável do Se-
nhor, tanto para com amigos quanto para inimigos; quem poderia admi-
rar-se dos enfermos se curarem apenas pelo Seu Olhar?! Assim, tua fala e
ação devem sempre se manter sob este regime, a fim de que teus passos
sobre a Terra transbordem de bênçãos!”
3. Atraindo Yarah ao Meu Peito, digo a todos: “Eis Minha mais perfei-
ta discípula, cuja escola até os anjos poderão frequentar. Compreendeu-
Me profundamente, por isto também possui o Meu Amor em Plenitude!
4. Em verdade, se fordes doutrinar os povos em Meu Nome, lembrai-
vos das palavras desta menina, amorosa e meiga, que vossos passos serão
acompanhados de bênçãos! Sedes pacientes e, em tudo, cheios de mei-
guice! Meu anjo Rafael foi levado a falar daquele modo para que Yarah
externasse este ensinamento; além do mais é ele tão meigo como a brisa
benéfica da noite e dócil como a lã mais macia do carneiro.”
5. Todos estão de acordo, exceto o comandante, que diz: “Tudo isto
é sublime e divino; se eu, porém, falar com meiguice a meus soldados,
farei uma figura triste e ninguém me obedecerá! Quando me altero e
grito, – tudo vai às mil maravilhas!”
6. Digo Eu: “Não se trata tanto duma meiguice externa, e sim, da
interna. Onde for estritamente necessário fazer uso sábio da severidade
celeste, deve ela ser aplicada; pois a regra de toda sabedoria é: “Sede astu-
O Grande Evangelho de João – Volume II
327

tos como a serpente, porém meigos como as pombas!”


7. Diz o romano, radiante: “Senhor, agora tenho a chave de tudo!
Deste modo as ações dum justo refletem a sabedoria Divina! Mas é pre-
ciso saber calcular, como fez Euclides: adicionando à determinada dose
de astúcia, idêntica de amor, paciência e meiguice!”
8. Digo Eu: “Sim, este cálculo sempre dará bons resultados e toda
justiça e julgamento encontrarão nele sua estabilidade. Eis a necessária
base para a construção espiritual. Tratai da mesma antes de construirdes
vossa morada eterna e vosso esforço não será inútil.
9. Sois de Deus e deveis vos tornar idênticos a Ele, que não Se apres-
sa no criar. Primeiro surge a semente, depois, o gérmen. Deste nasce a
árvore que dá folhas, flores e, finalmente, o fruto saboroso, onde se acha
a semente original amadurecendo para a reprodução.
10. O mesmo processo vedes no mundo: o Sol não surge no hori-
zonte sem prenúncio; e uma tempestade sempre manda seus mensagei-
ros. Se Deus Mesmo considera esta ordem com rigor, com a máxima
paciência e perseverança, vós, como Meus verdadeiros discípulos, tereis
que palmilhar o mesmo caminho, a fim de não vos perderdes na própria
trilha! Compreendestes?”
11. Diz o comandante: “Senhor, compreendi e creio que entre nós não
haja quem não o assimilasse; por isto, rendemos-Te toda a nossa gratidão!”
12. Digo Eu: “Sim, todos o entenderam, inclusive um, que o fez
apenas com o intelecto!” Minhas Palavras os confundem, tanto que Me
perguntam a quem Me refiro.
13. Eu, porém, digo: “Ainda não está na hora para tal; em época
oportuna vos lembrareis de Minhas Palavras. Quem de vós tiver uma
suspeita que a guarde, pois não se deve abater uma árvore antes do tem-
po!” Então compreendem que Me refiro a Judas Iscariotes; no entanto,
não dão demonstrações e se calam. Matheus e João indagam se podem
anotar este ensinamento tão benéfico para o mundo.
14. Digo Eu: “Podeis fazê-lo num pergaminho à parte, pois voltarei
ao assunto, dando-vos autorização para tal. – Agora, vamos descansar e
dedicar-nos novamente à contemplação introspectiva, pois ela é a verda-
Jakob Lorber
328

deira consagração do sábado!” Tudo silencia durante três horas. Decorri-


do este tempo, digo: “Está terminado, daremos, pois, ao corpo o repouso
necessário!” Todos Me seguem e dormimos até bem tarde.

167. DESPEDIDA DO SENHOR E PARTIDA PARA SIDON E TYRO

1. Após o desjejum dei a Ebahl várias orientações agrícolas, o cultivo


dos campos, frutos e vinhas, a fim de que dessem boas colheitas. Ensinei-
lhe a inoculação de plantas frutíferas e a propriedade de várias ervas úteis
para uso caseiro; o plantio e emprego de certas batatas, desconhecidas
dos judeus. Mostrei-lhe o preparo da carne de coelhos, lebres, corços e
veados e como devia abatê-los.
2. Fiz também com os discípulos uma pequena horta para Yarah,
com ervas, legumes e batatas, recomendando-lhe todo o cuidado. Ela
Mo promete, e assim tudo se acha na melhor ordem em casa de Ebahl.
Nestas ocupações se passam domingo, segunda e terça-feira e Eu Me
apronto para a jornada. Todos, porém, pedem-Me que passe a noite em
sua companhia; assim, fico até quarta-feira.
3. De manhã, chegam alguns marujos, contando que os fariseus
tinham vindo no dia anterior, sem mencionar o salmo 47. Em compen-
sação haviam se interessado por Minha Pessoa, pois queriam chamar-Me
à responsabilidade pelo fato de Eu ter apartado Jesaíra do Templo. Que
eles, os marujos, não lhes tinham respondido, mas sim exigido os sete
talentos, pagos com revolta e imprecações. Em seguida haviam embarca-
do para Capernaum, certamente no Meu encalço.
4. Assim informado, mando que aprontem o barco dentro em bre-
ve. Yarah, ouvindo que Eu estou prestes a partir, desata a chorar amarga-
mente, pedindo que demore mais uma hora.
5. Eu a consolo com a promessa de Minha Volta breve, dizendo que
poderia falar-Me espiritualmente, pois lhe daria a resposta nítida. Além
disto, Rafael a conduziria pelo caminho certo. Isto a acalma. Abençôo a
O Grande Evangelho de João – Volume II
329

família de Ebahl e Me encaminho para o mar, no que todos Me acompa-


nham. Os dois essênios e o grupo de templários convertidos pedem para
seguir-Me.
6. Eu lhes digo: “Ficai, a fim de que não haja atritos. Pois os pássaros
têm ninhos e as raposas covis, mas o Filho do homem não tem uma
pedra para pousar Sua Cabeça. Como, portanto, não tenho posses, mas
sou acompanhado por uma multidão falar-se-á: “Com que ele os ali-
menta? Não tem horta nem rebanhos! Na certa é ladrão e impostor!” A
fim de evitar isto, convém ficardes, e vós, essênios, voltai para junto de
vossos confrades e contai-lhes tudo; modificar-se-ão, mudando de senti-
mentos e intenções.
7. Vós, outros, acaso chamados pelo Templo para orientar os que
Me perseguem, – não faleis sobre Minhas Ações, porém acerca de Minha
Doutrina. Não temais aqueles que num caso extremo poderiam matar-
vos, pois não causariam dano a vossa alma eterna. Contudo, não vos
prenderão. Se fordes expulsos, procurai os essênios que vos hão de rece-
ber de braços abertos!”
8. Intervém o comandante: “Podeis também ficar comigo; dar-vos-
ei indumentária romana e uma espada, o que vos tornará soldados e
protegerá contra o Templo e seus asseclas.”
9. Aduzo: “Sim, podeis aceitar esta proposta. Sede sempre precavi-
dos como as serpentes e meigos como as pombas, que tereis paz no mun-
do!” Com isto subo com Meus vinte discípulos ao navio, que nos leva
rápido em direção de Sidon e Tyro, (Matheus 15, 21) bem distante do
Mar Galileu.

168. CENA COM A MULHER CANANÉIA, PERTO DE TYRO


Ev. Matheus – Capítulo 15, versículos 22 a 29

1. Desembarcando na praia oposta, temos que encetar marcha for-


çada até à zona de Tyro, altas horas da noite. Uma mulher de Caná na
Jakob Lorber
330

Galiléia, casada há quinze anos com um grego, reconhecendo-Me, cla-


ma: “Senhor, Filho de David, tem piedade de mim, pois minha filha se
acha horrivelmente martirizada por um demônio!” (Matheus 15, 22) –
Eu, no entanto, deixo-a gritar, passando de largo.
2. Como, porém, não se cale, os discípulos de Mim se acercam,
dizendo: “Despede-a! Há meia hora nos importuna com esses gritos!
(Matheus 15, 23) Não podendo ou não querendo ajudá-la, faze ao me-
nos com que se afaste, do contrário os transeuntes pensarão que lhe fize-
mos algum mal!”
3. Digo-lhes Eu: “Eu não sou enviado senão às ovelhas perdidas da
casa de Israel!” (Matheus 15, 24)
4. Os discípulos, admirados, fitam-se sem saber o que pensar. Judas,
de pronto, começa a Me acusar de inconsequência em máximo grau,
dizendo a Thomás: “Às vezes tenho vontade de explodir de raiva por
tamanhas incoerências no Seu Falar e Agir! A esta pobre Ele alega ser
apenas enviado às ovelhas de Israel; os romanos, porém, mais pagãos que
ela, um tanto grega e judia, sempre socorre!”
5. Diz Thomás: “Desta vez não estás de todo errado; creio, porém,
ter Ele motivo concludente em não atender esta criatura!”
6. Enquanto os discípulos assim confabulam, a mulher se joga a
Meus Pés e pede: “Senhor, ajuda-me!” (Matheus 15, 25)
7. Fitando-a, digo: “Não é justo que se tire o pão dos filhos e se
jogue aos cães!” (Matheus 15, 26)
8. Diz ela: “Sim, Senhor, – no entanto os cachorrinhos comem as
migalhas que caem da mesa de seus senhores!” (Matheus 15, 27) Esta
resposta a todos admira e Pedro observa: “Nunca vi sabedoria tão pro-
funda numa judia; além do mais é ela grega, embora nascida em Caná,
na Galiléia. Conheço-a de há muito e já lhe vendi vários peixes.”
9. Eu, porém, fitando-a, digo: “Ó mulher, grande é tua fé; seja feito
conforme o desejas!”
10. Ela se levanta e agradece, dirigindo-se rapidamente a casa onde
encontra a filha curada. (Matheus 15, 28) – As pessoas que tinham fica-
do em companhia da moça contam que o demônio a deixara havia meia
O Grande Evangelho de João – Volume II
331

hora, esbravejando furiosamente. A mãe, então, percebe que fora naque-


les minutos em que Eu lhe falara.
11. Nisto, os discípulos indagam se devem procurar um albergue
distante da cidade ou se deviam fazê-lo na fronteira.
12. Eu lhes digo: “Nada disto! Dirigir-nos-emos ao sudoeste, onde
alcançaremos novamente o Mar Galileu. Existe lá uma montanha, atin-
gível dentro de duas horas, onde pernoitaremos.” Dito e feito, após pe-
quena marcha subimos ao cume, a fim de repousarmos na grama. (Ma-
theus 15, 29)

169. A OBSESSÃO

1. Após termos apreciado algum tempo a calmaria, Pedro diz: “Se-


nhor, já tenho noção de muita coisa, mas a possessão – mormente em
crianças inocentes – é algo que não entendo! Como podem Tua Ordem
e Sabedoria permitir tais aberrações?! A filha da mulher que hoje nos
seguiu conta treze ou catorze anos, e pelo relato da mãe, já há sete sofre
esta atração diabólica, durante sete horas diárias. Por que isto?”
2. Digo Eu: “São coisas que vosso raciocínio não alcança em seu
todo. Como, no entanto, estamos sós, esclarecerei alguns pontos.
3. A Terra é portadora de duas classes de criaturas: uma, descende
desde o início do Alto, no que se entende os Filhos de Deus. A outra,
ínfima, é da Terra. Sua alma é de certo modo um conglomerado de par-
tículas vitais extraídas de Satanás e aprisionadas, como matéria, na massa
telúrica. Dali passam pelo reino vegetal ao animal, formando-se, através
dos múltiplos graus evolutivos, numa potência de incontáveis partículas
psíquicas, até formarem uma alma humana. Tomando corpo, mormente
nas concepções não abençoadas, nascem como os filhos da Luz, provin-
dos das esferas espirituais do Céu.
4. Tais crianças – cuja natureza foi extraída de Satanás – são mais ou
menos expostas ao perigo de se tornarem vítimas da possessão dum espí-
Jakob Lorber
332

rito mau, isto é, da alma perversa dum demônio já vivido nesta Terra.
Isto tanto mais é possível quando uma alma jovem, surgida das partículas
satânicas da Terra começa a encetar uma direção espiritual. Pois essa ati-
tude faz com que uma parte vital seja arrebatada violentamente da esfera
infernal, o que produz dor insuportável àquela esfera, razão por que o
inferno tudo empenha para impedir tal ferimento.
5. Admiras-te de como isto poderia provocar uma dor ao inferno,
pois que uma alma é ali, muito mais insignificante que um pequeno fio
de cabelo comparado ao homem. Não deixas de ter razão; no entanto,
procura o fio de cabelo mais insignificante do teu corpo e arranca-o!
Verás que não só sentirás dor em tal lugar como também em todo o
corpo, o que te levaria ao desespero caso durasse uma hora. Por esta
explicação já podes compreender porque se dá a possessão dos demônios
nesta Terra, até sua final dissolução.
6. Tal possessão, todavia, traz um benefício para a vítima, pois a
alma é purificada por este sofrimento e protegida contra outra influência.
Em época oportuna virá para ela o auxílio do Alto, conquistando essa
alma mundana para o Céu. – Compreendeste?”
7. Responde Pedro: “Sim, perfeitamente; mas, neste caso, melhor
seria não ajudar até o pior obsedado?!
8. Digo Eu: “Se alguém te pede socorro não deves privá-lo de tua
ajuda; o Meu Zelo prevê que um atuado não procure alívio antes do tem-
po. Por isto deve-se ajudar a todos que pedem. Compreendeste agora?”
9. Diz Pedro: “Sim, Senhor, e por isto Te agradeço de coração, pois
vejo que não há no mundo o que não externe o máximo Amor e Sabedo-
ria Divinos!”
10. Acrescento: “Exato; eis por que nunca deveis fraquejar diante
das aparições mais horrendas. O Pai no Céu as conhece, como também
sua causa. Assim também a maioria das doenças são preventivas contra a
integração demasiada da alma com a carne, pois esta, até dos filhos da
Luz provém de Satanás, com a diferença de que suas dores são permitidas
e enviadas do Alto, tão logo a alma procure amalgamar-se na matéria. As
dores dos filhos do mundo têm igualmente a mesma origem; entretanto,
O Grande Evangelho de João – Volume II
333

representam sofrimentos infernais, quando o inferno registra uma dor


violenta pelo desintegrar duma parte de sua totalidade através duma in-
fluência poderosa dos Céus. Assimilaste também isto?” Afirma Pedro:
“Sim, Senhor; a Ti todo o meu amor!”

170. A FONTE MILAGROSA

1. Prossigo: “Observastes se alguém nos viu subir este monte?”


2. Respondem os discípulos: “Senhor, durante a caminhada não
encontramos pessoa alguma, o que terá impedido que fôssemos vistos.”
3. Digo Eu: “A mulher cananéia, no entanto, descobriu-nos e isto
será bastante para sermos procurados amanhã por milhares.”
4. Propõem eles: “Mestre, não estamos cansados, portanto podería-
mos deixar este monte após meia-noite, seguindo para outra zona, onde
não fôssemos molestados!”
5. Replico: “É da Vontade do Pai que aqui fiquemos durante três
dias, a fim de curar vários enfermos. Tratai pela manhã conseguirdes o
pão necessário para tal fim.”
6. Diz Judas: “Nesse caso teremos que procurá-lo longe daqui, pois
neste lugar não existe padeiro!” Afirma Pedro: “Tratarei disto, pois co-
nheço todas as aldeias praianas. Em duas horas terei o que preciso”.
7. Digo Eu: “Pois bem, Pedro, determina quem te deve acompa-
nhar”. Diz Pedro: “Levarei dez colegas, que facilitarão o transporte de
pães e peixes fritos.” Digo Eu: “Muito bem; ide, que nós descansaremos!”
8. Em breve todos dormem. Somente pela manhã concilio o sono,
despertando com o raiar do Sol. Pedro, já de volta, traz boa quantidade
de alimentos, que Matheus comprara numa embarcação que navegava
de Magdala para Jesaíra. Estamos, pois, bem providos, apenas falta água
e a pouca quantidade de vinho não chega para tantos.
9. Dizem Pedro e João: “Senhor, Tu és mais que Moisés! Basta falares
a esta rocha, que ela nos dará a melhor água!”
Jakob Lorber
334

10. Digo Eu: “Se tiverdes bastante fé, posai vossas mãos na rocha e
ordenai em Meu Nome, que ela obedecerá!”
11. Ouvindo isto, ambos procuram um lugar adequado onde colocam
as mãos. A rocha não se manifesta! Após terem ficado nesta posição mais de
uma hora, a pedra se move, afastando-se uns dez passos. Este bloco havia
caído como meteoro, entupindo a única fonte existente nesta montanha.
Como é afastada, surge pujante, enchendo uma grande bacia. Deste modo a
montanha fica provida para sempre da melhor água, como se constata ainda
hoje. Mas, nem Pedro nem João compreendem como a pedra pôde se mover
pelo aplicar das mãos. Os outros fazem a mesma tentativa, inutilmente. João
e Pedro fazem nova experiência, – e a pedra se move! Então aqueles indagam:
“Senhor, por que isto não nos é possível?”
12. Respondo: “Por vossa fé ser um tanto fraca; no entanto, digo-
vos que se não duvidásseis daquilo que desejais realizar, até poderíeis re-
mover uma montanha. O que, porém, por ora não vos é possível, futura-
mente o conseguireis. – Agora, tomemos o desjejum, pois dentro em
breve seremos quase que espremidos pela multidão! Os provimentos de-
positai em cima da rocha por vós removida!”
13. Depois disto feito apreciamos a vista magnífica que abrange Si-
don e Tyro. O planalto é vasto e permitiria facilmente a construção duma
cidade. Súbito ouvem-se várias vozes de lástima e queixa.

171. GRANDE CURA MILAGROSA NA MONTANHA

Ev. Matheus – Capítulo 15, versículos 30 e 31

1. Ouvindo o vozerio, Judas reclama: “Adeus, paz e sossego; pois aí


vem uma verdadeira invasão de doentes!”
2. Digo Eu: “Que te importa isto? Por certo não serás procurado a
fim de curá-los, – e se Meu Convívio te incomoda, volta para junto de
tuas panelas! Em Minha Presença terás de te submeter às Minhas Or-
O Grande Evangelho de João – Volume II
335

dens, pois sou o Senhor!”


3. Resmunga Judas: “Pronto, – basta eu abrir a boca para errar! Tam-
bém posso silenciar como pedra!”
4. Diz o sábio Nathanael: “Seria isto uma atitude inteligente, ja-
mais vista partindo de ti. É proveitoso ouvir o sábio falar; o tolo, con-
vém emudecer!”
5. Enquanto Nathanael procure relembrar alguns provérbios de
Salomon, aparece por todos os lados uma multidão amparando enfer-
mos de toda espécie. Deitam-nos, cerca de quinhentos, num semi-círcu-
lo, pedindo que Eu os cure. Eu assim faço, dizendo-lhes: “Levantai-vos e
caminhai!” (Matheus 15, 30)
6. Primeiro são os cegos que recuperam a plena visão; depois os
mudos, respondendo com alegria. A seguir os aleijados e coxos experi-
mentam movimentar os membros torcidos. E não há um que se não
cure, inclusive de outras enfermidades.
7. A multidão se admira e louva o Deus de Israel (Matheus 15, 31),
ficando até o terceiro dia, embora tivessem gastado as rações trazidas.
Durante esta estada são todos doutrinados por Mim e pelos discípulos,
não havendo quem tome o partido dos fariseus. Pelo contrário, queixam-
se amargamente das experiências dolorosas, que o contato com os tem-
plários lhes causara.

172. PREDIÇÃO DO SENHOR QUANTO À SUA DOUTRINA

1. Em meio deles há alguns gregos, sumamente admirados quanto à


Doutrina, e um diz: “Eis um ensinamento extraído do fundo da Natureza!
Não haverá outro igual, pois contém leis condicionadas à vida da criatura,
capazes de conservá-la para sempre de maneira benéfica. Não demonstra
tendência egoística ou de domínio, e é aplicável para toda a Humanidade.
Se fosse reconhecida e considerada, o mundo se tornaria um Céu!
2. Para tal, porém, seria preciso uma nova geração! O imprestável
Jakob Lorber
336

refugo humano tem que ser exterminado, a fim de transformar os seres do


futuro! O luxo e a tendência para o bem-estar alcançaram um nível por
demais elevado e o poderoso sabe se aproveitar dos pobres e fracos; eis por
que poucos são felizes e a massa padece! O miserável começa a duvidar, por
fim, da Providência Divina, enquanto o rico esquece de Deus no seu con-
forto; a consequência disto é que ambos se tornam diabólicos!
3. Tua Doutrina é, em si, a verdade pura e divina, ou melhor: ela é a
Vida Pura. Mas os grandes representantes do mundo dirão: – “Para que
fim verdade, amor, meiguice, paciência e sabedoria? Vive-se muito bem
ao lado de Zeus, Apolo e Mercúrio!”
4. Onde estaria aquele que aceitasse Tua Doutrina de amor fraternal,
enquanto a escravatura fornece o máximo bem-estar? Mestre, vai e faze
milagres, propalando a escravidão, mostrando ao povo misérrimo que ape-
nas César possui direito de viver, – o populacho, porém, na medida que
ama o ditador! Além disto, testemunha de viva voz ter ele o direito indiscu-
tível de resolver sobre vida e morte de cada súdito, arrecadando os tesouros
da Terra, – que serás trajado em vestimenta de púrpura!
5. Por ser Tua Doutrina contra estes ditames, pregando a fraternida-
de universal, classificando todo homem como filho de Deus, – serás per-
seguido, juntamente com Teus Ensinamentos!”
6. Digo Eu: “Amigo! Infelizmente é certo o que acabas de dizer e a luta
será feroz entre os pagãos poderosos até Me compreenderem! Uma vez isto
conseguido, porém, serão os potentados Meus Apóstolos mais ativos! Fa-
rão demolir os templos pagãos, edificando Casas de Deus, nas quais os
irmãos se poderão reunir, dando honra ao Deus Único e ensinando aos
filhos esta Doutrina, que ora vos dou para vossa salvação eterna!
7. Isso não será possível de hoje para amanhã, pois primeiro é preci-
so deitar a semente, para que germine e dê frutos. Sei desde toda a Eter-
nidade que este Meu Verbo será atacado pelo mundo materialista. Sim,
esta Minha Doutrina meiga desencadeará, com o tempo, guerras san-
grentas, sem que tal possa ser impedido; pois a vida surgiu duma luta
titânica dentro de Deus, luta que continua para que a vida possa ser
mantida! – Compreendes isto?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
337

8. Responde o grego: “Senhor e Mestre, Teus discípulos talvez o


possam assimilar; para mim, porém, é por demais profundo!”
9. Digo Eu: “Sim, tens razão; entretanto assim é e será para toda
a Eternidade!”
10. O povo se admira não pouco com Minhas Palavras e vários
observam entre si: “O nosso patriarca de Pathmos falou bem, mas dentro
de sua concepção humana. Quando este jovem Mestre se externa, é como
se Deus Mesmo falasse, alegrando nossos corações!” Tais observações se
repetem, mormente no terceiro dia, após receberem maior orientação
acerca de Minha Doutrina.

173. A SEGUNDA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

Ev. Matheus – Capítulo 15, versículos 32 a 39

1. Estão de tal modo contentes com Minha Doutrina, que se esque-


cem da escassez dos provimentos; somente pela tardinha começam a sen-
tir fome e indagam entre si, se não há alguma coisa para comer; sem
resultado, porém, porquanto nada mais havia desde o dia anterior.
2. Percebendo-o, chamo os discípulos e digo: “Ouvi-Me! Tenho pena
deste povo que há três dias está Comigo e nada mais tem para comer!
Não quero despedi-lo assim, a fim de que não pereça no caminho, pois
muitos vieram de longe! (Matheus 15, 32) Dai-lhes de comer!”
3. Dizem os discípulos: “Senhor, sabes dos nossos provimentos reduzi-
dos. Donde buscar tantos pães para saciar esta multidão?” (Matheus 15, 33)
4. Pergunto-lhes: “Quantos pães ainda sobraram?” Respondem eles:
“Sete, e alguns peixinhos.” (Matheus 15, 34) Digo Eu: “Trazei-os!”
5. Em seguida abençôo tudo e mando que se acomodem na relva
(Matheus 15, 35) e agradeço ao Pai, que habita em Meu Coração em
toda a Plenitude. Reparto o alimento, passando os pedaços aos discípu-
los que os dão aos famintos. (Matheus 15, 36) Todos comem à vontade,
Jakob Lorber
338

saciando-se plenamente. As sobras são tantas que enchem sete cestos.


(Matheus 15, 37) O número dos que comem é cerca de quatro mil pes-
soas, além de mulheres e crianças. (Matheus 15, 38) Então despeço o
povo, que, agradecendo, segue caminho.
6. Meia hora mais tarde descemos à praia, onde encontramos um
navio à espera de mercadoria. A tripulação já Me conhece de Caná na
Galiléia, tanto que só pede Minha Bênção para a viagem.
7. Digo-lhes: “Se não for muito além de vossa rota, conduzi o navio
para perto de Magdala!” – E um vento bom nos leva rápido ao destino.
(Matheus 15, 39)

JESUS NA ZONA DE CESARÉIA PHILIPPI

Ev. Matheus – Capítulo 16

174. FARISEUS E SADUCEUS TENTAM O SENHOR

Ev. Matheus – Capítulo 16, versículos 1 a 12

1. Há na fronteira uma grande hospedaria, onde sempre se acomo-


dam pessoas de várias classes, como: judeus, gregos, romanos, egípcios,
samaritanos, saduceus, essênios, fariseus e escribas. Assim que chegamos,
os templários procuram se informar a nosso respeito, sem que esta curio-
sidade seja satisfeita de pronto.
2. Uma serva que havia sido curada de lepra, por ocasião do último
milagre, reconhece-Me e cai de joelhos, agradecendo novamente pela
graça recebida. Percebendo este fato, os fariseus deduzem ser Eu o afama-
do Jesus de Nazareth. Durante a noite não nos importunam; entre eles,
porém, e os saduceus, conjeturam sobre a maneira de Me armarem uma
cilada no dia seguinte.
3. Quando de manhã, por ocasião do desjejum participo aos Meus
discípulos não haver aqui o que fazer, – eles Me abordam, atrevidamente.
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Com amabilidade louvam Minhas Ações Meritosas, a fim de Me leva-


rem à tagarelice. Um saduceu até diz: “Mestre, estamos prontos para
seguir-te como adeptos, se nos deres uma prova, pois que muitos te cha-
mam de Filho de Deus.” (Matheus 16, 1)
4. Perscrutando seus corações, constato neles apenas malícia; pois
cada palavra é uma mentira vergonhosa! Por isto, respondo-lhes: “À tar-
de, dizeis: Amanhã haverá bom tempo, porque o Céu está vermelho!”
(Matheus 16, 2) E pela manhã: “Hoje haverá tempestade, pois o Céu
está de um tom sombrio!” Hipócritas! Sabeis diferençar a face celeste; por
que não o fazeis com os sinais dos tempos, na esfera da vida espiritual do
homem? (Matheus 16, 3) Se de acordo com vossas palavras, ouvistes
coisas extraordinárias, e afirmais entender a Escritura, deveríeis observar
que, por Mim, tudo que foi predito pelos profetas se realiza! Externa-
mente sois amáveis e vossa face é como leite e mel; vossos corações, no
entanto, estão cheios de fel, ódio, impudicícia e adultério!”
5. Extremamente confusos e ofendidos eles recuam, sem Me ousa-
rem dirigir mais uma palavra, pois o povo que se havia juntado começa a
fitá-los com espanto; assim, resolvem afastar-se. A multidão Me elogia
por Eu ter falado tão às claras com estes mistificadores.
6. Eu, porém, não lhes dou atenção, porquanto também sua índole
não é das melhores, e digo de passagem aos discípulos: “Esta geração má
e adúltera exige um milagre; mas não lhe será concedido outro senão o
do profeta Jonas!” (Matheus 16, 4) Afasto-Me dali, rápido, para o navio,
em companhia dos Meus, mandando que tome o rumo donde viemos
na noite anterior.
7. Após uma travessia agradável, encontramo-nos, novamente, ao
pé da montanha onde se tinha realizado a multiplicação dos provimen-
tos. Só aí os discípulos se lembram que não haviam comprado pão em
Magdala; (Matheus 16, 5) por isto alguns resolvem voltar para lá.
8. Como Me pedem conselho, digo: “Fazei o que vos agrade; evitai,
porém, o fermento dos fariseus e saduceus!” (Matheus 16, 6) – Eles,
então opinam: “Esta reprimenda se refere ao nosso esquecimento sobre
os pães!” (Matheus 16, 7)
Jakob Lorber
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9. Observando estes pensamentos negativos, digo-lhes: “Ó homens


de fé vacilante! Por que vos aflige o fato de não terdes comprado pão?!
(Matheus 16, 8) Ainda não Me compreendeis? Não vos lembrais dos
cinco que reparti entre os cinco mil e das grandes sobras?! (Matheus 16,
9) Tão pouco dos sete de ontem para os quatro mil, excetuando mulhe-
res e crianças, e do restante que guardastes nos cestos? (Matheus 16, 10)
Como é possível não entenderdes que não Me refiro ao pão, mas que vos
guardeis contra o fermento dos fariseus e saduceus, (Matheus 16, 11)
pelo que se entende a falsa doutrina que estas criaturas divulgam, com
gestos aparentemente amáveis e promessas vãs, regozijando-se no ínti-
mo, quando conseguem uma pescaria farta de almas ignorantes.
10. Quem propala mais veementemente a imortalidade da alma, o
paraíso e os horrores eternos do Hades, – quando eles, os saduceus, em
nada disto acreditam, pois são ateus? Compreendeis agora o que vem a
ser o “fermento?” (Matheus 16, 12) – Esta noite ficamos a bordo, ali-
mentando-nos das sobras.
11. No dia seguinte, mando alguns discípulos para Cesaréia Philippi,
uma pequena cidade em zona grega, a fim de investigarem a opinião do
povo quanto à Minha Pessoa. Assim fazendo, Meus adeptos se admiram
não pouco quando percebem que este lugar, jamais por Mim procurado,
já Me conhece e as pessoas relatam inúmeras ocorrências, pois que os
discípulos apenas dão a entender algum conhecimento sobre o Salvador.
12. É fácil de se deduzir a existência de muitos exageros, tanto que
os Meus até proíbem a divulgação do seguinte fato: Constava ser Eu
capaz de desdobrar o Meu Físico a tamanho gigantesco e também redu-
zi-lo ao dum anão; assim como ora Me apresentava Eu muito velho, ora
moço. Havia quem Me tivesse visto como mulher perfeita. Outros, ale-
gavam Me terem visto em figura de bicho!
13. É compreensível que os discípulos proibissem terminantemente
tais absurdos; o fato de terem surgido tais disparates até mesmo em
locais onde doutrinei e curei, – eis um enigma para os próprios anjos.
Daí a origem de cerca de cinquenta evangelhos, queimados como apó-
crifos durante o primeiro Concílio no Oriente, em si um benefício. Pois
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no fundo somente os Evangelhos de João e Matheus, a História dos Após-


tolos, as Cartas e a Revelação de João são autênticos. Os Evangelhos de
Marcus e Lucas têm seu valor relevante e abençoado, muito embora di-
virjam em pequenos senões. – Cientes disto, podemos continuar nossa
peregrinação evangélica.

175. O SENHOR NUMA POBRE CABANA, EM CESARÉIA PHILIPPI

1. Enquanto os discípulos assim se desincumbem de sua tarefa, Eu


permaneço naquela enseada à beira da montanha. Somente à tardinha
Me encaminho com os outros para Cesaréia Philippi, onde encontro o
primeiro grupo numa simples cabana, cujos moradores estão entretidos
no preparo do jantar. Não leva tempo e são informados a Meu respeito.
Eis que o dono do casebre se joga a Meus Pés, exclamando: “Que fiz eu,
pobre pecador, de bom e meritoso, para merecer esta Graça? Que devo
fazer para agradecer-Te?”
2. Digo Eu: “Bom amigo, trata dum jantar de peixe, pão e vinho; a
seguir, manda preparar-nos um simples leito, – e terás feito tudo que desejo!”
3. Levanta-se o pobre, dizendo com tristeza: “Tudo que possuo estará
à tua Disposição; pois sei que és Filho de David e, além disto, um grande
profeta. A provisão de pão e peixes nos suprirá até amanhã, mas o vinho é
escasso em toda a zona. Tenho algum suco de framboesas, porém, já está
velho e ácido; costumamos tomá-lo com água ou mel. Fora disto tenho
algum leite coalhado, que, tomado com pão, é um bom alimento!”
4. Digo Eu: “Pois bem, traze o que tens! Mas, que finalidade têm
aqueles odres, se não tens vinha?”
5. Responde ele: “Fabrico-os para o mercado da cidade, vendendo-
os por pouco!”
6. Digo Eu: “Então, enche-os com água!” Pergunta o pobre: “Para
que fim?” Digo Eu: “Amigo, não perguntes, faze sempre o que te digo e
serás feliz!”
Jakob Lorber
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7. O pobre chama sua mulher e filhos – seis moças e dois rapazes –


para encherem os cinquenta odres. Isto feito, pergunta-Me o que então
deveria fazer.
8. Digo Eu: “Leva-os para a gruta, na parte de trás da cabana!” – O
homem cobre o chão com palha, deposita os odres com cuidado e per-
gunta se está bem assim.
9. Digo Eu: “Pois não; agora enche alguns cântaros com o conteúdo
dum odre, prova-o e dize-Me se te agrada o gosto da água!” Ele obedece,
enchendo doze cântaros e percebe o bom aroma do vinho. Ao
experimentá-lo não mais se contém, dizendo aos filhos: “Isto, cérebro
algum pode conceber! A água transformou-se em vinho! Provai-o!”
10. O mais velho, então, diz: “Pai, sabes que sou entendido na Escri-
tura e conheço os profetas e seus atos; assim, sei que nunca fez alguém
coisa idêntica! Este homem estranho é mais que um profeta!”
11. Afirmam as moças: “É verdade, pai! Talvez seja Elias, destinado a
preparar a Vinda do Prometido! Ou, quem sabe, o Grande Messias Mes-
mo?” Diz o velho: “É bem possível! Mas..., como isto sucedeu tão rápido?”
12. Enquanto assim conjeturam, aparece a mulher toda contente:
“Vinde ver o que sucedeu em nossa cabana! A despensa está abarrotada
de víveres! Isto só poderia ter partido do Mestre, que há uma hora nos
pediu hospedagem!”
13. Diz o marido: “Não resta dúvida! Mas, como? Quem é ele? Se
alegamos ser ele profeta, não o classificamos à altura. Se afirmamos que é
Deus, diremos demais! Deus é Espírito; ele, porém, um homem. Quem
sabe se não é Zeus ou Apolo? Vamos servi-lo da melhor forma, pois esta
Graça é imensa!”
14. Com isto, todos começam a nos servir, e o velho, dirigindo-se a
Mim, diz com humildade: “Senhor e Mestre! Quem és tu, possuidor de
tal poder? Tremo de veneração diante de ti! Não és igual a nós; por isto,
quem és?”
15. Digo Eu: “Meu amigo, dir-te-ei algo de onde poderás tirar uma
conclusão. Quando de madrugada vês que o dia vai surgir avermelhando
o Céu, dizes: “O Sol está prestes a aparecer!” Mas também, clareia-se o
O Grande Evangelho de João – Volume II
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Céu com o surgir da Lua, havendo apenas a diferença de sua fraca luz não
prometer uma aurora, nem tão pouco as flores abrirem suas pétalas para
receber um jato frio e morto!
16. As pequenas e luminosas nuvens, mensageiras da aurora, são
bem mais alvas que a Lua cheia; se, porém, não a seguisse o Sol, o aspecto
da Terra seria idêntico ao dos países setentrionais, que durante nove me-
ses não vêem sua claridade. O mesmo fato se dá no país eterno do espíri-
to, pelo qual surgiu e consiste a matéria.
17. Surge uma quantidade de doutrinadores e profetas ensinando as
criaturas. Às vezes apresentam algo de verídico, mas, ao lado duma fagu-
lha de verdade caminham milhares de mentiras, de aparência inversa.
Todos esses doutrinadores e profetas se assemelham ao brilho do luar,
que muda constantemente e, grande parte das vezes, deixa de iluminar
durante a noite, quando mais necessário.
18. Ao lado dos falsos, no entanto, existem os verdadeiros e sinceros,
dimanando a Luz Divina através dos olhos, coração e palavras. São compa-
ráveis às nuvens luminosas, precursoras da aurora. Se, porém, não forem
seguidas pelo Sol, os corações das criaturas se tornarão frios, endurecidos,
mortos. Com o surgir do Sol, isto é, pelo primeiro raio de luz projetada
sobre as montanhas azuladas e os vales sombrios, – tudo desperta cheio de
alegria e vida: os passarinhos cantam seus salmos à origem da luz e do calor,
os insetos e escaravelhos levantam vôo, zunindo de entusiasmo; as flores
dos campos erguem suas cabecinhas regiamente enfeitadas e abrem suas
boquinhas balsâmicas, a fim de bafejar o Doador Celeste.
19. Desta exposição verdadeira poderás deduzir qual o lugar que Me
compete em teu coração. Nem a luz das estrelas, tão pouco a da Lua ou o
brilho dourado das nuvens são capazes de libertar as algemas da existên-
cia, presa à matéria desta Terra, a fim de aliciá-la para a vida independen-
te e ativa. Isto só será possível ao Sol.
20. Quem, todavia, entre as criaturas poderia ser Aquele, a cuja Voz
e Vontade todos os espíritos algemados à matéria obedecem, – e de cuja
Vinda todos os profetas falaram?”
21. O pobre, confundido, entra pensativo na cabana onde perma-
Jakob Lorber
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nece para não nos molestar durante a ceia.

176. O TESTEMUNHO DOS DISCÍPULOS SOBRE O CRISTO


Ev. Matheus – Capítulo 16, versículos 13 a 20

1. Enquanto ceiamos, o velho nos prepara um leito. Mais tarde, diz à


família: “Ouvi! Eis, sem dúvida, o Messias Prometido; isto é, Jeovah em
Pessoa, o Eterno Sol dos espíritos, precedido pelos profetas compenetrados
da Luz Divina! Estou bem a par de tudo; mas, que fazer?! Falta-me até o
ânimo de falar-Lhe, ao Santo Eterno, a Quem servem incontáveis falanges
de anjos invisíveis! E Este, é hoje nosso hóspede! Regozijai-vos, tremei de
alegria, pois Ele ficará esta noite conosco nesta miserável cabana!”
2. Neste ínterim, pergunto aos discípulos que haviam feito investigações
naquela zona: “Quem dizem os homens que Eu sou?” (Matheus 16, 13)
3. Respondem eles: “Uns julgam seres realmente João Batista ressus-
citado. Outros alegam seres Elias, do qual consta que voltaria antes da
Chegada do Prometido, a fim de incentivar as criaturas à penitência.
Alguns opinam seres Tu Jeremias ou um profeta qualquer; (Matheus 16,
14) outros tantos, Zeus disfarçado.”
4. Digo Eu: “Muito bem, externastes a opinião alheia; desejo, po-
rém, ouvir o vosso critério. Pergunto-vos seriamente, pois vejo que de
quando em quando mudais de opinião, por verdes que Minhas Ações
tocam o campo terreno. Por isto, dizei-Me, por quem Me tomais vós?!”
(Matheus 16, 15)
5. Perplexos, os discípulos se calam. Judas, porém, tocando Tho-
más, diz: “Fala! És sempre tão inteligente e sábio! Deve ser facílimo res-
ponderes à pergunta estranha do Mestre!”
6. Replica Thomás: “Fala tu, se te achas competente para tal! Tomo-
O por aquilo que Ele diz de Si! Sempre falou: “Sou Filho do homem, e
Deus é Meu e vosso Pai!” Se bem que aja de maneira inédita, seus Atos
têm o Cunho Divino. Para o Espírito Divino, tanto faz transpor monta-
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nhas ou destruí-las por um escolhido!”


7. Insiste Judas: “Então, achas que seja apenas um profeta?”
8. Responde Thomás: “Exato, e o maior que a Terra até hoje aco-
lheu; isto, porém, não é mérito seu, mas de Deus que, unicamente, pode
fazê-lo surgir. Assim fez com Samuel, criança, e até com o burro do falso
profeta Bileam, animal que, profetizando, também tornou seu dono um
profeta verdadeiro. Se compreendemos isto e mais o testemunho que
Jesus dá de Si Mesmo, isto é, ser apenas um Filho do homem, embora
munido do Poder Milagroso de Deus, pronunciando, por vezes, o “EU”
Divino, – impossível termos outra opinião. É, portanto, um Filho Divi-
no em perfeição, assim como nós, embora imperfeitos.”
9. Diz Judas: “E a respeito do critério de muitos, que O julgam o
Messias Prometido, e de certos romanos e gregos, que até o classificam de
Deus Único?”
10. Diz Thomás: “Também estão certos; pois o Poder Divino nele é
o verdadeiro Messias e, por conseguinte, Jeovah Mesmo.” Judas se dá por
satisfeito e Eu Me calo.
11. Pedro observa Meu silêncio e diz: “Senhor, noto entre os ir-
mãos opiniões diversas a Teu respeito. Permite que dê meu testemunho
de viva voz!”
12. Digo Eu: “Faze-o!” – Diz ele: “Do fundo do meu coração digo e
confesso diante do mundo: Tu és Cristo, Filho de Deus Vivo!” (Matheus
16, 16)
13. Respondo-lhe Eu: “Bem-aventurado és tu, Simon, filho de Jona;
pois isto não te foi revelado por tua carne e por teu sangue, mas por Meu
Pai que está no Céu! (Matheus 16, 17)
14. Mas também afirmo que és Pedro, uma rocha, sobre a qual
edificarei Minha Igreja, e as portas do inferno não a dominarão! – (Ma-
theus 16, 18) Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu, e tudo que ligares
sobre a Terra, sê-lo-á também no Céu, e o que desligares sobre a Terra,
será desligado no Céu!” (Matheus 16, 19)
15. Diz Pedro: “Senhor, agradeço-Te por esta Graça sublime, da qual
me acho o menos digno, porquanto fui e ainda sou grande pecador. Quan-
Jakob Lorber
346

to ao ligar e desligar, confesso que não o entendo e peço que mo expliques!”


16. Digo Eu: “Em tempo oportuno tudo te será esclarecido; por
ora, proíbo-vos severamente divulgardes que Eu sou Jesus, o Verdadeiro
Cristo!” (Matheus 16, 20) Após este esclarecimento importante Matheus,
o escrivão, indaga se deve anotá-lo.
17. Respondo: “Não necessitas mencionar o milagre e a palestra
entre Thomás e Judas, mas somente aquilo que falei a Pedro. Escreve
sempre o que ouves no coração, que tudo estará certo!” – Matheus, satis-
feito, vai dormir; nós, entretanto, palestramos até meia-noite, em com-
panhia da família pobre.

177. MARCUS, O DONO DA CABANA, RELATA


CRUELDADES DO TEMPLO

1. O cabaneiro, chamado Marcus, sabe de muitos fatos acerca dos


fariseus e pretensos escribas. Entre outros menciona as crueldades ocultas
dos templários, inimigos de todos que, porventura, manifestassem tendên-
cias espirituais, ou, talvez, proféticas. Eram secretamente exterminados! Pri-
meiro, eram convidados com amabilidade e honrarias; uma vez nos recin-
tos privados do Templo, dava-se cabo deles! – “Inconcebível”, diz Marcus,
“Deus permitir crimes tão horrendos. A situação em Sodoma e Gomorra
era péssima, mas em vista da de Jerusalém, não era nem uma gota d’água
comparada ao mar. Não obstante os rogos de Abraham, Deus fez chover
fogo sobre aquelas cidades! Por que, então, Ele não age em Jerusalém?”
2. A esta boa pergunta, respondo: “Amigo, Deus sabe de tudo que se
passa! Sabe dos múltiplos e horrendos crimes dos sacerdotes, e por este moti-
vo Eu vim ao mundo, isto é, a fim de que esta raça de víboras complete em
Mim suas crueldades; quando, porém, chegar este momento, ai deles!”
3. Diz Marcus: “Senhor e Mestre! Se não possuíres a força de extermi-
nar centenas de criaturas apenas pelo hálito, serás alvo de compaixão, caso
tenciones aparecer um dia em Jerusalém para operar milagres! Sou homem
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simples, mas entendo de muita coisa jamais sonhada pelos templários.


4. Como, porém, me tomam por imbecil, às vezes me deixam vis-
lumbrar seus segredos nefastos. Nessas ocasiões descubro coisas que me
fazem duvidar da Existência de Deus! Pois o homem é, pela doutrina de
Platon, fisicamente de descendência simiesca e, psiquicamente, de ori-
gem bestial. Por isto torna-se necessário um Sansão forte e inteligente,
que conduza a comunidade pelo açoite! Tais são meus pensamentos ao
assistir às maquinações tenebrosas dos templários. A fim de dar-Te uma
pequena prova contar-Te-ei o que assisti há bem pouco! Não posso saber
onde estas asas negras buscaram idéias tão absurdas; com Satanás por
certo que não, pois sua perversidade não vai tão longe!”

178. FATO OCORRIDO COM OS TEMPLÁRIOS

1. (Marcus): “Existe nos confins da Ásia Menor, uma zona onde, na


maioria, as mulheres são estéreis. Não sei a causa, mas além disto é fato
sabido que, se elas se casarem com judeus ou samaritanos, concebem
como as nossas. Pois bem; os fariseus, enviando seus apóstolos nefastos a
todas as zonas, de há muito descobriram-nas e mandam-lhes verdadeiras
caravanas, a fim de curar sua esterilidade. Constava isto apenas como ato
amistoso, mas os respectivos maridos, em breve, descobriram como eram
logrados. Suas mulheres não eram propriamente fecundadas num insti-
tuto especial, construído pelos missionários de Jerusalém na fronteira
daquele país, porquanto eles compravam crianças recém-nascidas na Ju-
déia. Eram transportadas ao dito instituto, no qual as supostas mães de-
viam ficar durante dez meses. Decorrido este período em que aqueles
apóstolos tenebrosos abusavam das mulheres, inculcavam-se-lhes as cri-
anças compradas de modo tal que acabavam por crer serem filhos legíti-
mos! Com o tempo, porém, tanto os maridos quanto elas próprias de-
ram pela fraude, através da denúncia dum honesto samaritano.
2. Incontinenti os logrados reclamaram este fato escandaloso! Os
Jakob Lorber
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templários espertos, porém, acharam uma saída, descrevendo os samari-


tanos de tal forma, que os reclamantes compreenderam serem aqueles –
amaldiçoados apóstatas de Deus e dos judeus – os únicos culpados da
esterilidade reinante.
3. Os bons samaritanos, em vista disto, foram alvo de duas vingan-
ças: uma pela denúncia feita aos maridos, outra, por acreditarem estes na
mentira dos templários que os diziam feiticeiros, porquanto, há muitos
anos, um samaritano havia sido assassinado por ter tido ligação com
mulher daquela região. Eles, porém, os fariseus, sabiam dum remédio
eficaz que venderiam a bom preço aos ditos maridos! – Agora, Mestre,
ouve esta obra verdadeiramente satânica!”
4. Digo Eu: “Prossegue, a fim de que os discípulos o saibam!”
5. Continua Marcus: “Quereis saber em que consistia o remédio
contra a esterilidade? Ouvi pois: Era preciso arranjar o sangue de crianças
samaritanas, que seria tomado fresco ou pulverizado, por ambas as par-
tes; isto possibilitaria a concepção, quebrando o feitiço dos samaritanos e
fazendo as mulheres normais! – Mas, como conseguir o sangue? – Ora, o
Templo se encarregaria disto, mediante bom pagamento!
6. O contrato seria estipulado e aceito pelos interessados. Em segui-
da, os templários fariam caça – como até hoje – às crianças. Eram elas –
entre um e doze anos – levadas àquele instituto e bem alimentadas, du-
rante certo tempo, a fim de aumentar o volume do sangue. Isto alcança-
do, despiam-se as vítimas que eram conduzidas a uma câmara especial e
entregues ao verdugo. Este as amarrava com tiras fortes em pés e mãos,
prendendo os pequenos a um poste, no centro de uma banheira. Final-
mente, vendavam-lhes os olhos, para depois cortar as veias de mãos e pés.
Enquanto assim morriam de hemorragia, os “apóstolos” da Cidade de
Deus se portavam como se nada tivessem a ver com o fato. Os cadáveres
eram cremados e o sangue vendido, como já disse. O inferno deve ter
abençoado esse remédio pavoroso, porquanto as mulheres que o tomam
se tornam realmente fecundas!
7. Por que Deus não age contra esses crimes? Continua o Mesmo de
há trinta anos, quando permitiu que cerca de cinco mil crianças de am-
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bos os sexos fossem massacradas em Bethlehem.


8. Aprendi na Escritura ser Deus bom, sábio e misericordioso; mas,
observando esses fatos horrendos, chego à conclusão de que, ou Ele não
existe ou não liga às criaturas deste mundo! Acaso poderia alguém conde-
nar-me por isto? Por certo que não, pois meu coração vibra pela dor
alheia! Se, portanto, algo de divino se oculta em Ti, Senhor, faze um
milagre, exterminando esses miseráveis!”

179. REVOLTA DOS DISCÍPULOS, EM VISTA DAS


CRUELDADES TEMPLÁRIAS

1. Digo Eu: “Amigo! Isto que acabas de Me contar não é nem a


sombra daquilo que Eu vejo e sei; careces do conhecimento profundo da
Ordem Divina para acusares, com alguma razão, a aparente indolência
de Deus. Como possuis um coração honesto e sincero, permanecerei
contigo durante seis dias, dando-te o devido esclarecimento sobre tudo.
– Como agora já é quase meia-noite, vamo-nos recolher!”
2. Dizem os discípulos: “Senhor, não há diferença entre vigiarmos
dentro ou fora de casa; assim, aqui ficamos, pois o relato de Marcus nos
tirou o sono! Realmente, o sangue nos ferve nas veias de revolta contra
essas feras humanas do Templo! Senhor, faze no mínimo chover fogo do
Céu, pois isto ultrapassa o que de perversidade se ouviu falar até hoje!”
3. Digo Eu: “Por isto mesmo procuraremos nos livrar deste ímpeto;
uma vez mais calmos, poderemos julgar com maior critério!” – Ninguém
ousa retrucar Minhas Palavras e todos se dirigem aos leitos.
4. Poucas horas mais tarde já estamos de novo ao ar livre e Pedro diz:
“Senhor, consegui dormir pouco, porquanto aquele caso não me sai da
mente! Isto jamais foi visto! Até eu não posso entender Tua Paciência,
quando penso como nos castigas com palavras ou olhares se fazemos
pergunta imprópria; entretanto, assistes durante séculos a tais infrações
contra a lei. São coisas que não podemos compreender e Marcus não erra
Jakob Lorber
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ao formular sua opinião sobre Deus. Certo é que recompensas no Além


tais mártires por sofrimentos de instantes; no entanto, para a vítima,
representam eternidades!”
5. Digo Eu: “Já vos falei ontem que daria o devido esclarecimento;
por isto, tende paciência! É preferível ajudardes Marcus a recolher a pesca
que Eu abençoei!”

180. A PESCA ABENÇOADA. O ESTRUME DO TEMPLO

1. A estas Minhas Palavras todos os discípulos ajudam a Marcus e


seus filhos. Em seguida ele se aproxima de Mim, cansado da tarefa, e diz:
“Senhor e Mestre! Creio convictamente teres sido o causador, tanto do
milagre do vinho quanto desta pesca abundante. Agradeço-Te, pois, por
tudo que nos proporcionaste com tanta fartura. Os barris estão cheios
dos melhores peixes – e se for do Teu Agrado, minha mulher poderá
preparar alguns!”
2. Digo Eu: “Pois não; depois podes mandar alguns cestos a Cesa-
réia Philippi, que terás bom lucro.”
3. O velho assim ordena e dois filhos se dirigem munidos de dois
cestos com peixes àquela cidade. Mal os expõem no mercado, apresentam-
se vários compradores e, em poucas horas, estão de volta, com um saco
repleto de dinheiro. Então os dois rapazes perguntam ao pai se é possível
repetir tal empreendimento, pois que muitos ficaram sem serem atendi-
dos. O velho o permite, – e a venda é mais rápida que da primeira vez.
Marcus não se contém de alegria, pois sua longa miséria acabara de findar.
4. Enquanto isto fazemos uma boa refeição, e o assunto mor das
palestras se refere aos servos do Templo. A filha mais velha de Marcus, de
dezenove anos, mostra-nos um recipiente com estrume do Templo, per-
guntando se ele, de acordo com a garantia dos vendedores atrevidos,
fertilizava campos e jardins.
5. Todos se riem a valer, e Thomás diz: “Que vergonha! Esta fraude
O Grande Evangelho de João – Volume II
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está sendo feita há cinquenta anos e muitos sacerdotes honestos se rebe-


lam, sem nada conseguir; o lucro é por demais rendoso. E as criaturas são
tão cegas que dão crédito a esta chantagem!”
6. Diz a moça: “Não é bem isto! A maioria não o crê; mas, que fazer?
Não comprando este estrume logo se é maltratada pelos fariseus rudes;
assim, prefere-se comprá-lo, a fim de se livrar deles. Mesmo o despejando
n’água às suas vistas, não se alteram, pois sabem que um ano depois é-se
obrigada a comprá-lo novamente!”
7. Diz Pedro: “Trapaça, mentira e fraude são suas virtudes, eles
que se dizem servos de Deus! Somente Tu, ó Senhor, saberás o motivo
desta permissão.”
8. Digo Eu a todos: “Deixemos isto; é quase meio-dia! Como não está
muito quente, vamos procurar um lugar apropriado, a fim de palestrarmos!”
9. Propõe Marcus: “Senhor, a uns cem passos daqui há um pequeno
morro com uma velha castanheira, debaixo da qual coloquei um banco
espaçoso. De lá se avista Cesaréia Philippi e outras cidades.”
10. Digo Eu: “Muito bem, leva-nos até lá.” – Marcus toma a dian-
teira e em pouco tempo alcançamos a frondosa árvore. Todos começam
a localizar diversas cidades.

181. MARCUS E OS CAÇADORES DO DÍZIMO

1. Ao mesmo tempo verificamos que vários fariseus se encaminham


para a choupana de Marcus. Diz Matheus, o aduaneiro: “Esta corja deve
ter tido notícia do Teu Paradeiro. Será que os filhos de Marcus Te denun-
ciaram?” Diz o velho: “É possível, pois gostam de tagarelar. Irei para
certificar-me.”
2. Digo Eu: “Não é preciso que vás. Ninguém Me denunciou, e sua
intenção é que lhes presenteies cem peixes, direito que lhes assiste onde se
efetua uma boa colheita. Tua pesca não deixa de sê-lo, portanto, vai e dá-
lhes o que te disse!”
Jakob Lorber
352

3. Indaga Marcus: “Como irão transportar cem peixes?”


4. Digo Eu: “Não te preocupes; além disso trazem uma mula
para tal fim.”
5. Marcus verifica este fato, e diz: “É verdade; vou separar os peixes,
o que, por certo, deixá-los-á perplexos.”
6. Digo Eu: “Está bem; mas se te perguntarem como poderias sabê-
lo, deves dar uma resposta prudente, pois não deves mentir!”
7. Mal o velho se dispõe para tal, alguns fariseus se aproximam,
perguntando por ele. Adiantando-se ele diz: “Aqui estou, e neste barril se
acha o dízimo de peixes especiais, motivo de vossa vinda!”
8. Estupefatos, eles se fitam e um retruca: “És um profeta, para sabe-
res, de antemão, deste acontecimento?”
9. Diz ele: “Para isto não é preciso ser profeta. Apanhai vossos peixes
e ide em paz! Tenho muito que fazer!”
10. Sugere um fariseu: “Devias acrescentar mais trinta como paga-
mento de multa, pois é injusto não teres mandado a que temos direito,
porquanto, como servos de Deus, sempre Lhe rogamos pela tua salvação!”
11. Diz o velho: “Toma, não trinta, mas quarenta! E peço-vos que
me deixeis em paz!”
12. Retrucam eles: “Temos direito de vir e ir quando isto nos agrade!
Manda que os peixes sejam postos nos recipientes!”
13. Os filhos de Marcus concluem esta exigência e o velho diz: “En-
tão, estais satisfeitos?”
14. Responde um fariseu atrevido: “Não, não e não! Pois falas co-
nosco como se fôssemos criaturas repugnantes, esquecendo que somos
serviçais de Deus Onipotente e podemos aniquilar-te com um sopro!
Tua atitude desrespeitosa será castigada com o confisco de tuas posses!”
15. Isto excede a paciência de Marcus: apanha rápido um pergami-
nho no qual consta ser ele cidadão romano, possuidor de todos os direi-
tos e prerrogativas.
16. Diz o fariseu, estupefato: “Desde quando és pagão? Pois, há bem
pouco, ainda eras judeu?!”
17. Responde Marcus: “Sou romano de nascimento e servi como
O Grande Evangelho de João – Volume II
353

soldado pelo espaço de trinta anos; apenas, fui judeu incircuncidado a


título de experiência, por três anos. Não obstante reconhecer a sublimi-
dade da Doutrina judaica, em breve me convenci serem os sacerdotes
mistificadores inescrupulosos, que servem a Deus só às vistas do povo e
enterram seus corações no fundo do inferno! Eis por que são capazes de
negociar com o sangue de inocentes crianças samaritanas, motivo de eu
voltar a ser romano! Portanto, afastai-vos o mais depressa possível!”
18. Dizem os fariseus: “Marcus, como te podes ter tornado tão inte-
ligente?! Conhecemos-te há muito como homem de pouca sagacidade!
Como se deu esta metamorfose?”
19. Responde ele: “Isto foi apenas máscara para descobrir vossas trapa-
ças, fraudes e crimes! Garanto-vos que entendo mais de Moisés e dos pro-
fetas que vós, – embora seja romano, mas, no íntimo judeu verdadeiro!”
20. Dizem eles: “Sem circuncisão não é possível alguém se tornar
judeu e aproximar-se de Deus!”
21. Contesta Marcus: “Nunca almejei a maneira pela qual dele vos
aproximais; faço-o no coração, pelos ensinamentos de Isaías. Se Deus me
condenar por eu não ser circuncidado, nada tendes a ver com isto. Julgo
apenas ser Ele mais sábio e justo que os homens, aceitando um coração
puro; porquanto a circuncisão é algo material e nada tem a ver com o
espírito. Não obstante, dou-vos, como judeu verdadeiro, o dízimo! Agora,
ide! Do contrário tirar-vos-ei os peixes! Compreendestes?” A estas palavras
enérgicas os templários nada dizem, encetando o caminho de volta.

182. O SENHOR PREDIZ SUA MORTE E RESSURREIÇÃO

1. Marcus apronta rápido o almoço, para em seguida nos contar o


atrito havido com os sacerdotes. Louvo-o por este fato, dizendo: “Mar-
cus, a este povo foi dado, desde o início, conhecer a Verdade – e a grande
promessa se realizou. Mas como é obstinado e não quer aceitar o mo-
mento atual de provação, – pois prefere procurar os benefícios no charco
Jakob Lorber
354

da vida – é-lhe permitido completar a medida de seus crimes, assassinan-


do seu Deus e Senhor!
2. Por tal motivo toda Graça, Luz e Justiça serão dadas a vós, pagãos,
pois que tendes boa vontade e aceitais, embora ignorantes, aquilo que os
judeus conscientes rejeitaram. A Luz do Alto vos fará videntes no coração;
os filhos da Luz, porém, serão expulsos para as trevas. Terão que procurar
migalhas entre povos estrangeiros e o título de “povo” lhes será tirado!”
3. Diz Marcus: “Então poderia acontecer que eles na sua ira Te pren-
dessem e matassem, como fizeram com quase todos os profetas?”
4. Respondo: “É isto mesmo! Mas tal fato concluirá o número de
seus crimes!”
5. Aduz ele: “Deves, portanto, evitar a dita cidade de Deus! – Co-
nheço os servos do Templo! Sua amizade é uma maldição e esta, a morte!
A vida do semelhante é, para eles, idêntica a de um insignificante inseto.”
6. Obtemperam os discípulos: “De acordo com a compreensão que
temos do Mestre, toda a perfídia do Templo será dizimada pela Sabedo-
ria do Senhor, pois Ele que ordena à morte e que ressuscita os mortos,
não poderá ser assassinado!”
7. Digo Eu: “Sim, no entanto, Ele será morto para testemunhar
contra eles, completando suas medidas. Uma vez que tiverem profanado
a Santidade Divina, te-lo-ão feito a Mim, positivando o seu próprio jul-
gamento! Quem assim o quer não poderá alegar injustiça, se for conde-
nado. Tornando-se criminosos quanto aos mensageiros, não pouparão
Aquele que os enviou.
8. Haverá, porém, uma circunstância fatal: consiste no assassinado
surgir após três dias como Vencedor Poderoso da morte e de Seus inimi-
gos, para consolo eterno de Seus amigos e irmãos! Conjeturarão, pois,
como matar o Ressuscitado, o que os levará à queda. Tal acontecerá,
trazendo o cumprimento da Minha Promessa. Bem que ficareis tristes,
sofrendo horrores por Minha Causa! Tudo isto, porém, modificar-se-á
em alegria imensa quando virdes o Ressuscitado com todo o Poder sobre
vida e morte!”
9. Diz Marcus: “Se assim é, não será difícil Te deixares matar “pro
O Grande Evangelho de João – Volume II
355

forma”, com a possibilidade de ires a Jerusalém quando Te aprouver, pois


nada Te acontecerá! Se após a morte serás mais poderoso que antes, posso
imaginar o pavor de Teus inimigos, porque seus atos horripilantes serão
visíveis a todos, impedimento suficiente para continuarem a praticá-los! Ó
Senhor, já sou velho e meu tempo nesta Terra está contado. Por isto gosta-
ria de assistir a este fato, para que se tornasse minha morte mais suave!”
10. Digo Eu: “Ainda não está certo que assim seja, embora tudo
indique este desfecho. Mas, já passou de meio-dia e necessitamos dum
alimento. Desçamos!” Diz Marcus: “Muito bem; já está tudo pronto. Se
for da Tua Vontade poderemos voltar aqui.” – Digo Eu: “Sim, amanhã;
pois hoje à tarde teremos outro programa.”

183. A VISITA DE CIRENIUS É ANUNCIADA

1. Durante o farto almoço que tomamos ao ar livre, à sombra dum


velho castanheiro, Marcus, o honesto guerreiro, conta-nos com sua habi-
tual verbosidade vários acontecimentos, dando oportunidade aos Meus
de apreciarem suas vastas experiências.
2. Terminado o almoço aparece um mensageiro da cidade, transmi-
tindo a Marcus a notícia de que Cirenius, o idoso vice-rei da Ásia, havia
chegado a Cesaréia Philippi. Seria, portanto, oportuno Marcus externar-
lhe – como conhecido soldado – seu estado de necessidade, pois que
Cirenius certamente o atenderia.
3. Diz ele, entretanto, ao mensageiro: “Agradece por mim ao bom
colega, por se ter lembrado de minha miséria. Apesar disto não poderei
aceitar seu oferecimento, porquanto entre os meus hóspedes está o Se-
nhor e Mestre, que já me livrou das dificuldades. Este Senhor e Mestre,
prometeu-me permanecer aqui durante seis dias e, caso o nobre governa-
dor nos queira dar o prazer de sua visita, tudo será feito para recebê-lo
condignamente!” O mensageiro se afasta e Marcus diz: “Espero que o
vice-rei não me tome a mal!”
Jakob Lorber
356

4. Digo Eu: “Não te preocupes. Quando souber de Minha Presença


aqui, tudo fará para Me ver, pois Me conhece desde pequeno!”
5. Diz ele: “Não duvido; mas sua posição elevada obriga-o a evitar
tudo que desabone sua conduta. Daí não crer que me dê a grande honra
de sua visita.”
6. Digo Eu: “Nem bem o mensageiro lhe transmita a notícia, Cirenius
deixará tudo para ver-Me. Avisa tua mulher e filhas que aprontem um
almoço para o agrado de todos!” Marcus obedece, pedindo refeição para
mais umas trinta pessoas. A mulher não sabe se o leva a sério; ele, porém,
convence-a da urgência da ordem e ela segue para a cozinha.
7. Seus filhos são mandados ao cume da montanha para anuncia-
rem a possível chegada do visitante. Em pouco tempo retornam, avisan-
do a aproximação dum grupo de pessoas. Marcus, então, pergunta: “Se-
nhor, é preciso que o recebamos com especiais honrarias?”
8. Respondo: “Em absoluto; quem se sente atraído por Mim virá
sem recepções formais! Cirenius é um espírito forte e dispensa o
convencionalismo. Somente um fraco, que se tenha encaminhado para
nós, requer amparo, a fim de não tombar em meio do caminho!”

184. MARCUS RECEBE CIRENIUS

1. Mal acabo de falar ouvimos um vozerio: É Cirenius com seu


séquito, e Josoé, o por Mim ressuscitado na tumba de Jairo, cavalga a seu
lado em lindas vestes romanas. Alcançando a cabana, Cirenius indaga
dos moços se esta é a morada do velho soldado Marcus; no mesmo ins-
tante aparece este, dizendo: “Nobre senhor, nada neste mundo me teria
impedido de procurar-te; acontece, porém, que tenho um hóspede com
vários alunos e acompanhantes, o qual, por certo, deve ser um deus,
porquanto consegue pela vontade o que jamais foi possível a um mortal.
À vista disto não poderia deixá-Lo; ademais, cumulou-me de tantas bên-
çãos que me tornei rico.”
O Grande Evangelho de João – Volume II
357

2. Diz Cirenius: “Regozijo-me por encontrar-te tão feliz; peço-te,


porém que me leves à Presença deste Hóspede que deu motivo à minha
chegada. Pois, pela descrição do mensageiro, presumo ser ele o Divino
Jesus, ao Qual jamais poderei agradecer o que me fez. Onde está?”
3. Como Cirenius não Me havia visto debaixo da frondosa árvore,
Marcus o conduz em companhia de Josoé até Mim. Quando Me vê, seus
olhos se enchem de lágrimas de alegria, dizendo: “És Tu Mesmo, conforme
imaginava! Como sou feliz por me ter sido proporcionado novamente a
Graça dos Céus de poder ver-Te, que és tudo para mim, e ser abençoado e
vivificado pelo Teu Hálito! Ó Senhor, meu amado Jesus, Soberano Eterno
de mundos e Céus! Sou Teu grande devedor por cada minuto de vida que
se passa e além disto, pela imensa ação caridosa auferida em Kis através Tua
Sabedoria Insondável, conseguindo eu descobrir o roubo das taxas imperi-
ais! Quantas vezes ao dia me lembro do grande embaraço do qual me
salvaste, e nesses momentos só posso chorar de gratidão e adorar-Te!”
4. Digo Eu: “Amigo e irmão, vem e senta-te à Minha Direita, po-
dendo teu séquito tomar lugar em outra mesa. Dentro em pouco almo-
çaremos. Como está passando Meu Josoé? Dá-se bem com a temporária
visita do anjo?”

185. MÉTODO DE ENSINO ANGELICAL

1. Aproxima-se o garoto, com aspecto mais forte, dizendo: “Senhor


e Vida de toda vida, estou completamente bom e meu apetite é dos me-
lhores; mas o anjo de Sichar, que de três em três dias me procura por
alguns instantes, não me agrada, porquanto sempre faz objeções às mi-
nhas palavras. Aprecio todo ensinamento útil, – no entanto, se alguém
me quer convencer de que um mais um não são dois, mas podem repre-
sentar espiritualmente um número qualquer, – aborreço-me e discuto
com o professor! Jamais considera verdade o que, anteriormente, por ele
foi estipulado. Em suma, às vezes me faz arrepiar os cabelos! Por isto,
Jakob Lorber
358

Peço-Te que digas ao meu mentor espiritual que tenha outro método, ou
então deixe de me procurar!”
2. Digo Eu: “Meu querido Josoé, tenta suportá-lo, que te levará à
verdadeira sabedoria celeste! Os cálculos dos espíritos divergem dos do
mundo! Se Eu te falasse numa linguagem celestial, nada entenderias.
Falo como homem de carne e sangue, de forma humana sobre assuntos
do espírito, – e as criaturas se aborrecem Comigo por não Me entende-
rem, e muitas porque não o querem. Teu professor espiritual ensina-te
como deve; tu, porém, só o entenderás melhor na velhice; a luz completa
te será dada no Além, onde as impurezas da carne e do sangue não mais
poderão turvar tua alma. Compreendes?”
3. Diz Josoé: “Oh, Senhor, a Ti compreendo com muita facilidade!
Quando, porém, o anjo me diz que, na síntese, ira e amor são uma só
coisa, tudo se revolta dentro de mim; como também alega serem Céu e
inferno idênticos! Entenda-o quem quiser, pois para mim é um perfeito
contra-senso!”
4. Digo Eu: “O anjo tem razão, porque é assim mesmo. Dar-te-ei
um exemplo que te facilitará a compreensão. Ouve: Quão benéficos são
os raios solares num dia de inverno; no entanto, quando nos desertos da
África começam a derreter a areia e tu és obrigado a suportá-los, tornam-
se infernais! Compreendes?”
5. Responde Josoé: “Sim!”
6. Continuo: “Pois bem! A noite que segue a um dia quentíssimo
torna-se grande amiga e benfeitora da Humanidade extenuada; deixe-
mos, porém, que permaneça durante trinta dias – e as criaturas começa-
rão a amaldiçoá-la! A razão disto é que faria morrer toda vida orgânica
sobre a Terra, tornando-se de benfeitora um verdadeiro inferno.
7. Se após longa marcha num dia de verão alcançares uma fonte crista-
lina, quão celestial sentirás seu benefício! Mais abaixo, no entanto, a água se
junta numa bacia profunda – e se tu lá caíres morrerás na certa! Vês, portan-
to, que também esta água tanto pode ter efeito celeste como infernal.
8. Aprecias um bom gole de vinho: tenta beber, porém, um odre
inteiro, que seu efeito maléfico te matará!
O Grande Evangelho de João – Volume II
359

9. Alegra muito teu coração a escalada duma montanha, a fim de


gozares a paisagem deslumbrante; se ela, no entanto, soltar uma pedra
enterrando-te com seu peso, dar-se-á o mesmo fenômeno!
10. A brisa que num dia de calor passasse em tua testa, por certo te
daria alívio. Crescendo, o temporal que arrancasse frondosas árvores, acaso
te sentirias confortado? Procurarias fugir dele, que se tornara pela sua
força algo de prejudicial!
11. Por isto é dado às criaturas medida justa em tudo, de acordo
com a força e espécie. Se permanecem nessa medida, mantêm-se elas na
Ordem justa, dada por Deus e tudo que as rodeia é o “Céu”; ultrapassan-
do-a, atrairão o peso da matéria sobre seus ombros, que as aniquilará! A
justa medida é um Céu, tanto para as criaturas quanto para os anjos; o
excesso, todavia, é o inferno pleno para todos. Terás compreendido tudo?”
12. Diz Josoé: “Oh, sim! Alegro-me muito e desejo saber por que
meu mentor não me esclarece deste modo?”
13. Digo Eu: “Por muito sábias razões! Se assim fizesse, nunca te
darias ao trabalho de discernir e julgar por ti próprio; o certo é que te
ensina de maneira verdadeira e celeste. Quando necessário e tu tiveres
alcançado a justa maturação, ele te dará para cada ensinamento o quadro
correspondente. Antes disto terás que ativar tua alma, pois de outra for-
ma não assimilarás as verdades profundas da Sabedoria Celeste. Estás
bem a par disto?”
14. Responde Josoé: “Inteiramente; agora também sinto uma gran-
de afeição para com meu tutor!”
15. Acrescento: “Este amor te proporcionará o meio que tornará fácil
o ensino. – Agora, mudemos de assunto! Os filhos de Marcus estão arru-
mando as mesas pare o almoço. Servi-vos à vontade, pois que em Minha
Presença todos se deverão saciar, tanto física como espiritualmente!”
Jakob Lorber
360

186. O PRESENTE DE CIRENIUS A MARCUS

1. Cirenius muito elogia a mulher de Marcus pelo saboroso almoço;


em seguida dirige-se a este com as palavras: “Meu velho companheiro de
lutas! Minha mula branca traz ouro e prata, que te hão de facilitar a
construção duma boa casa e a aquisição de um campo para lavoura. O
restante guardarás para um caso de emergência; pois enquanto vivermos
nesta Terra pela Vontade do Pai, não nos deve faltar o necessário para o
sustento. Precisamos trabalhar e ganhar o pão de cada dia; mas quem,
como tu, já o fez em excesso, merece conforto na velhice. Vai e aceita a
pequena recompensa, e que o Senhor ta abençoe!”
2. Comovido, Marcus agradece a Cirenius – mas, no íntimo, dirige-
se a Mim pois sabe que sou Eu o Causador de tudo!
3. Assim lhe digo: “Aceita e emprega o que te é dado, mas não lhe
dês muito valor; pois, se podes medir uma dádiva material, isto não te
será possível com tua própria vida! Hoje és dono de teus tesouros, –
amanhã tua alma será chamada para o Além – e que darás, a fim de salvá-
la da morte eterna! Por isto, deves primeiro procurar o Reino de Deus,
que receberás o resto por acréscimo!
4. Aquilo que te é dado não deve ser guardado, mas ter proveito real
pare ti e teu próximo. Encontrarás grande número de verdadeiramente
necessitados; deves te regozijar por teres os meios materiais e espirituais que
mitiguem a miséria e alegrem o coração entristecido de teu semelhante!
5. Cada coração que tenhas alegrado em Meu Nome, será no Além
um Céu cheio de bênçãos sem conta, e já aqui, em vida há de te propor-
cionar satisfação e verdadeira paz, – paz que o mundo desconhece! Por-
tanto, vai para receberes o que é teu!”
6. O velho leva seus filhos, a fim de que tragam as sacolas cheias de
dinheiro, guardando-as em lugar seguro. A seguir Me agradece, indagan-
do de Meus Planos para a tarde.
7. Digo Eu: “Manda preparar teus barcos para um pequeno passeio,
durante o qual poderás novamente jogar tua grande rede ao mar.” – Em
O Grande Evangelho de João – Volume II
361

poucos instantes ele manda aprontar tudo e Eu Me levanto.

187. A ASSEMBLÉIA NO MAR

1. Chegando à praia subo no barco maior, em companhia de Cirenius,


Josoé, Marcus, cujos filhos pegam dos remos, Pedro, João e Jacob. Os
outros discípulos e o séquito de Cirenius embarcam nos outros, ficando
a grande rede conosco. Já bem longe da praia, diz Marcus: “Senhor, dize-
nos quando devemos iniciar a redada.”
2. Digo Eu: “Por enquanto, não; pois não devemos despertar os
elementos da água. À tardinha o faremos. Se alguém quiser saber algo
poderá Me perguntar.”
3. Diz Cirenius: “Estranho a força física de teus filhos, Marcus; tam-
bém eras atleta quando moço, mas eles te ultrapassaram!”
4. Responde Marcus: “É verdade; mas hoje admiro-me de como
possam remar com tanta ligeireza. Por certo Tua Vontade, Senhor, está
em jogo neste caso?!”
5. Digo Eu: “Sim, Meu amigo, ela influi em tudo que apresenta o
surgir, ser e manter do mais elevado ao mais ínfimo, do contrário o Espa-
ço em pouco estaria vazio. Podes, portanto, admitir que Minha Vontade
esteja ativa em teus filhos.”
6. Dizem os três discípulos entre si: “Nosso Senhor e Mestre é, às
vezes, um tanto enigmático! De quando em quando fala como Senhor
Único de Céus e Terra, agindo de acordo; em outras ocasiões é Ele apenas
homem, não deixando transparecer Sua Divindade! Tudo que diz é su-
mamente sábio; mas, que num futuro breve se deixará martirizar até a
morte com todo Seu Poder e Sabedoria, – isto não se pode classificar de
sábio! Qual o benefício da Humanidade com este flagelo? Poderá até
duvidar, alegando ter Ele sido – embora Poderoso – vítima dos mais
poderosos. Tendo a força de ressuscitar mortos e remover montanhas,
dever-Lhe-ía ser fácil exterminar Seus inimigos!
Jakob Lorber
362

7. Na época de Noé foi preciso que toda a Humanidade perecesse,


com exceção deste e de sua família; entretanto, as criaturas não eram tão
perversas como hoje. E por serem tão maldosas Ele quer Se lhes entregar
em vez de castigá-las, como em Sodoma e Gomorra! Em suma, muitas
de Suas Ações são bem incompreensíveis!”

188. JOÃO EXPLICA A DIFERENÇA ENTRE A COMPREENSÃO


NATURAL E ESPIRITUAL

1. João, que ouvira atentamente as palavras de Pedro, diz: “Analisan-


do o fato do ponto de vista mundano, nada tenho a contrapor-te. Julgan-
do-o, porém, pelo espírito, tudo muda de figura, pois a Sabedoria Divina
não considera a sapiência do homem.
2. Por acaso sabes qual a finalidade de muitos vegetais infrutíferos?
Caso dêem frutos, de nada servirão eles, diante de nossa compreensão. A
mesma variabilidade se nota no reino animal: desde o parasito até o enor-
me leviatã que domina os mares, – para que existem eles, excluindo os
poucos animais caseiros? Quem poderia dizer o “porquê” da existência
de inúmeras feras? E da imensidade de estrelas? Qual a finalidade da Lua?
Para o nosso raciocínio, tudo isto parece tolice! Para Deus, porém, há
sempre motivo mui sábio, tanto que não nos devemos admirar de não
compreender Suas Ações. Que me dizes?”
3. Responde Pedro: “Sim, tens razão! Não deixa, no entanto, de ser
verdade que algumas Determinações do Senhor se apresentam como se
alguém afirmasse que dois mais dois fossem sete!”
4. Digo Eu: “Sim, Pedro, podes ter esta impressão. Fica, porém,
sabendo: para Deus muita coisa é possível, mas foge do alcance do inte-
lecto humano. Toma esta pequena rede e joga ao mar! (Simon assim faz).
– Agora verifica quantos peixes contém!”
5. Diz Pedro: “Quatro!” Digo Eu: “Conta outra vez, pois são sete!”
Ele constata a veracidade de Minhas Palavras e as repete, admirado: “Sim,
O Grande Evangelho de João – Volume II
363

para Deus muita coisa é possível!”


6. Digo-lhe Eu: “Pois bem; evita, portanto, tagarelar coisas inúteis.
Seria preferível te calares, – para não te assemelhares aos fariseus!”
7. Defende-se Pedro: “Senhor, sabes o quanto Te amo; entretanto,
recriminas meus erros de forma tal que não me atrevo a fazer perguntas!
Tudo aceito com o máximo de paciência, não podendo todavia evitar
uma pequena tristeza da alma por ser alvo de Tua Severidade!” Com isto
vira-se para o mar, olhando-o com amargura.
8. João aproxima-se dele, dizendo: “Irmão, te ressentes com a pe-
quena reprimenda do Senhor, mas, observa: Seu Amor e Sabedoria co-
nhecem a razão disso e, se analisares profundamente teu coração, desco-
brirás o “porquê”!
9. Replica Pedro: “Mas, que será? Dize-me tu!”
10. Explica-lhe João: “Vê, no que diz respeito ao conhecimento e à
fé viva e inabalável, és entre nós, evidentemente, o mais forte e, pelo
testemunho do Senhor, uma verdadeira rocha. Contudo, tens momen-
tos em que te sobrevém uma espécie de amor-próprio, que não dista
muito do orgulho! A fim de que te livres desta tendência o Senhor te
submete a certas humilhações. Já por diversas vezes tenho observado isto,
sem encontrar oportunidade propícia para te esclarecer. Espero, portan-
to, que não tomes a mal o que te falei?!”
11. Diz Pedro: “Sim, tens toda a razão; apenas não compreendo
porque Ele não nos adverte em tempo, pois nos habilitaria a uma condu-
ta acertada.”
12. Conclui João: “Também terá Seus motivos justos. Tenho a im-
pressão de Ele desejar que a criatura venha primeiro a conhecer a si pró-
pria, antes de tocá-la com Sua Mão aperfeiçoadora e tomar morada, com
Sua Luz, no coração do homem. Eis por que Ele nunca aponta os defei-
tos vitais, senão por vias indiretas, isto é, por certos acontecimentos que
obriguem a alma a um exame de consciência, reconhecendo seus erros
através daquela Luz, livrando-se destarte das fraquezas que a impediam
viver dentro da Ordem Divina. Eis minha opinião. Que te parece?”
13. Responde Pedro, pensativo: “Sim, terás razão pois entre nós re-
Jakob Lorber
364

conheces mais profundamente os Pensamentos do Senhor! No futuro


tuas palavras me servirão de fanal!”
14. Em seguida Pedro se vira para Mim com gestos gratos, por Eu
ter revelado este ensinamento a João. Então lhe observo que ajude os
moços a jogarem a grande rede. Assaz contente ele assim procede, pois
um olhar amoroso de Minha parte lhe representa mais que todos os te-
souros do mundo; aliás, todas as criaturas deveriam o mesmo sentir, quan-
do desejosas de conquistar a Vida Eterna.

189. CHEGADA DUM NAVIO MILITAR. A PESCA ABUNDANTE

1. Enquanto isto, aproxima-se uma grande embarcação militar.


Cirenius, então, se manifesta: “Em virtude de minha posição social, prefe-
riria desviar-me daqueles soldados, por encontrar-me num barco simples.”
2. Digo Eu: “Não necessitas te preocupar com tais coisas, pois quan-
do o Sol está no zênite parece menor do que quando no horizonte – e
ninguém o pode fitar naquela altura. – Aquele barco, por mais aparatoso
que esteja, em nada aumentará tua dignidade, pois aquilo que és, sê-lo-ás
no cume do Ararate ou em cima dum monte de areia. A verdadeira con-
sideração, ligada ao amor, ser-te-á proporcionada onde se aproximarem
de ti com facilidade! E digo mais, este encontro te será de grande valia!”
3. Cirenius aguarda, curioso, a chegada do navio. Como vento con-
trário parece impedi-lo, ele sugere tomar a mesma rota. Eu, porém, digo:
“Nada disto, pois ainda saberás em tempo o que te interessa. Por ora
assistiremos à pesca.”
4. Decorrido algum tempo a grande rede está tão abarrotada de
bons peixes que é preciso tocar para a praia, a fim de depositá-los num
lago apropriado. Perfazem o total de mais de sete mil e o velho Marcus
não se contém de alegria e gratidão.
5. Digo-lhe Eu: “Amigo, ainda hoje receberás outra dádiva, por oca-
sião da chegada do navio romano. Não consistirá em peixes, ouro ou
O Grande Evangelho de João – Volume II
365

prata, mas sim em Palavras Minhas que abrirão caminho para a Vida
Eterna! – Presta atenção, que se fará a Luz em tua alma agora e sempre! –
Compreendeste-Me?”
6. Responde ele: “Sim, Senhor! Meu coração me diz: Marcus, velho
guerreiro, hoje tua vida será desenferrujada! Ouvirás a Voz dos Céus de
Jeovah e tua alma sentirá a realidade de tua salvação!”

190. OS NOVOS HÓSPEDES

1. Mal os filhos de Marcus estendem a rede para secar e o navio está


próximo da margem, os marujos pedem que se mandem alguns barcos
para os viajantes, pois não é possível fazer atracar a embarcação devido a
pouca profundidade d'água. Qual não é a surpresa de todos quando des-
cobrem o comandante Julius, Ebahl e Yarah entre os romanos!
2. Além destes, porém, há cinco salteadores, que agiam nos desfila-
deiros entre a Judéia e a Samaria, tendo já praticado vários crimes de
morte. Viajavam disfarçados de rabis e tinham aparência simpática, no
entanto, em seus corações habitam legiões dos piores demônios, que os
forçam a assaltarem os viajores, assassinando-os em seguida para não se-
rem denunciados. Tais delinquentes são, todavia, favorecidos às ocultas
pelos templários, porquanto por suas ações condenáveis impossibilitam
encontros entre samaritanos herejes e judeus, o que constituiria algo de
prejudicial à doutrina farisaica. Os romanos têm conhecimento disto e
castigam implacavelmente tais criminosos.
3. Há ainda alguns outros, autores de crimes políticos, que a mando
do Templo, fazem propaganda subversiva contra Roma; todo este trans-
porte humano é destinado a Sidon. – A fim de não ser visto por um
grupo de fariseus à Minha Procura, Eu Me oculto para evitar o cumpri-
mento de Ebahl, Yarah e Julius.
4. Cirenius saúda Julius muito amavelmente, o que é do agrado
deste, porquanto o vice-rei é bastante circunspecto diante de seus subal-
Jakob Lorber
366

ternos. Logo de saída ele pergunta se Julius já tem sentença formada


quanto aos criminosos, pois que um julgamento só poderia ser revogado
pelo próprio imperador. Julius, entretanto, deseja que justamente Cirenius
o faça e, para este fim, quer fazer transportar os delinquentes a Sidon.
5. Diz Cirenius: “Não ages mal, mas tão pouco eu serei juiz dessa
causa; sê-lo-á Alguém, mais Poderoso!”
6. Indaga Julius: “Nobre senhor de toda a Ásia! Por acaso acha-se o
imperador neste país?”
7. Responde Cirenius: “Não, caro Julius; trata-se de Alguém que ordena
em todos os países do mundo, portanto acima, de igual modo, do meu
irmão coroado, Augusto! Zeus chegou a nós com todo o Seu Poder Divino;
Suas Palavras são obras realizadas!” Cirenius assim fala a Meu respeito, para
não Me denunciar, também ignorando que Julius já Me conheça.
8. Por isto Julius responde: “Meu chefe, vivemos numa época de mi-
lagres e os deuses se mostram mui magnânimos para com os mortais; pois
eu, da mesma forma, tive há poucos dias, a estranha oportunidade de co-
nhecer um Homem semelhante a Zeus! Um ano não bastaria para te rela-
tar tudo que fez Ele em Genezareth e, principalmente, em casa de Ebahl!”
9. Cirenius arregala os olhos e, encabulado, não sabe o que dizer,
pois logo percebe que se trata de Mim; só não queria, porém, perturbar a
crença de Julius. O mesmo fato ocorria com este. E assim ambos fazem
rodeios em volta de Minha Pessoa, até que Eu, finalmente, apresento-
Me, dissipando suas dúvidas recíprocas.

191. MÉTODOS DE ENSINO, CELESTIAL E MUNDANO

1. Tanto Ebahl quanto Yarah confirmam o testemunho de Julius,


pois se acham a caminho de Sidon para encontrar esse Homem Milagro-
so, do Qual a menina sente grande saudade. Aparentemente admirado,
Cirenius indaga como isto é possível, porquanto ela se acha em compa-
nhia dum rapaz muito atraente.
O Grande Evangelho de João – Volume II
367

2. Como sabemos, Yarah nunca fica devendo resposta, pois lhe re-
plica: “Nobre senhor! Como podes negar Aquele que tantas provas já te
deu de Sua Divindade, classificando-O como um dos muitos deuses
mortais? Vê, eu sinto Sua Presença e tu também, – no entanto, O negas!
Acho ser isto não muito louvável, tanto de tua parte como da de Julius!
3. Além disto, acusas-me de eu estar enamorada Dele; amo-O como
todas as criaturas o deveriam fazer: adorando-O como meu Criador, Deus
e Senhor com sentimentos de pureza. Como poderia estar enamorada?
Pergunta a este meu companheiro e professor, pois sabê-lo-á explicar
melhor. É mais sábio e forte que todos os heróis, com exceção Daquele
que procuro. Por isto, indaga deste jovem!”
4. Cirenius vira-se para Rafael, mas Josoé o impede em sua intenção,
dizendo em surdina: “Nada lhe perguntes, pois é igual àquele que me
procura de vez em quando. Estes seres nada suportam de impuro, tão
pouco uma pergunta imprópria.”
5. Dirige-se Cirenius a Ebahl: “É de se admirar a sabedoria de tua
filha! Não é crível que a tenha aprendido em poucos dias do Mestre dos
Mestres e, muito menos, daquele jovem. Esta categoria de professores,
embora raros na Terra, não obtém grandes resultados com os mortais. Sei
por experiência com meu filho adotivo Josoé, que, de quando em quan-
do, recebe a visita dum rabi. Depois de terem discutido algum tempo
não se sabe quem tem razão, pois não obstante as opiniões divergentes,
ambos estão certos. O ensino redunda numa sábia contenda, da qual
ambas as partes saem vitoriosas.
6. Josoé torna-se, às vezes, um tanto intempestivo com o seu místico
professor, de sorte a mandá-lo embora; mas o outro não se perturba,
reafirmando seus absurdos e deixando – finalmente, transparecer alguma
Luz. Penso que o de tua filha faça o mesmo.”
7. Diz Ebahl: “Realmente, nunca pude positivar quem tivesse razão.
Não há ensino, propriamente dito; o jovem mestre procura apenas con-
fundir as noções de sua aluna deixando que esta as organize. Se tenciona,
porém, anular as objeções do rabi, é preciso que apresente argumentos
tão concisos que o impeçam de uma saída. Com isto prova estar certa!
Jakob Lorber
368

Minha filha já conseguiu deixar seu professor em tais aperturas que, só


pela ajuda dela própria pôde se salvar, – o que também confessou!
8. O ensino celeste é bem estranho! Na maioria dos casos o aluno
ensina ao mestre, o que muito lhe agrada. Aprovo este método com pra-
zer, pois numa hora se aprende mais que numa escola mundana, durante
um ano. Nesta, o aluno se torna, tanto física quanto espiritualmente,
escravo do professor, pois só aprende aquilo que o outro sabe. E caso
pergunte pela veracidade dos dogmas é severamente castigado.
9. Não raro tenho visto crianças duma lucidez espantosa! Qual não
teria sido seu futuro, se tivessem educação apropriada; no entanto, ensi-
navam-lhes a tecedura de cestos, deixando o espírito à mingua. Eis a
grande diferença entre o ensino celeste e o mundano: um educa a alma
dentro da liberdade, fazendo-a caminhar através de máximas relativas ao
espírito; o professor mundano faz o contrário, isto é, abate o espírito em
prol da matéria! Estarei certo?”
10. Responde Cirenius: “Perfeitamente; de há muito compartilho
desta opinião. Mas, que fazer? Os professores só poderão ensinar aquilo
que sabem, e assim se tornam guias cegos de cegos! Aprendemos a Imen-
sa e Santa Verdade Daquele que, com ela, nos fez discernir a Luz das
trevas; mas até que esta Luz seja posse comum da Humanidade muitos
cestos serão trançados por espíritos lúcidos! Dize-me, qual o futuro de
tua filha? É um espírito de Luz e além disto, ensinada por um mestre dos
Céus. Será, porventura, uma dona de casa?”
11. Diz Ebahl: “Nobre senhor! Observa nossas escolas! Realmente,
são vergonhosas instituições! Penso que um bom educandário feminino
seria algo de se desejar, pois a mãe é a primeira e melhor professora dos
filhos. Se ela possuir inteligência e sentimento na justa medida, os fi-
lhos não construirão suas moradas em bases arenosas, tão pouco poderão
ser desencaminhados. Se as mães, porém, forem mais tolas que os vermes
– o que hoje em dia é fato comum – nada se poderá aguardar de seu
ensino. Não é isto?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
369

192. OS DIREITOS TRIBUTÁRIOS DO TEMPLO

1. Diz Cirenius: “Tens plena razão e, reconhecendo em ti um ho-


mem de especial valor, nomear-te-ei para algum cargo!”
2. Obtempera Ebahl: “Isto não será fácil, porquanto sou judeu e
impedido pelo Templo de aceitar qualquer nomeação romana.”
3. Diz Cirenius: “E se eu te fizesse cidadão romano?! Seria, para
todos os efeitos, de grande utilidade!”
4. Responde Ebahl: “Nobre senhor, aceito tua proposta por me dar
a liberdade dum natural de Roma; no íntimo, porém, continuarei judeu,
verdadeiro, pois não posso mudar a convicção de que o judaísmo veio
dos Céus, para trazer a salvação à Humanidade.”
5. Diz Cirenius: “Pois bem, terás este documento com todos os direitos
da cidadania romana, que te protegerá contra os templários.” Em poucos
instantes ele manda aprontar o pergaminho, que entrega a Ebahl. Comovido
este agradece, prometendo levar outros judeus ao mesmo caminho.
6. Diz Marcus: “Amigo, é justo que te alegres, pois esta liberdade
representa valor. Sou romano de nascimento; não obstante, sou obrigado
a pagar ao Templo – qual judeu – um tributo anual. Os judeus apenas
pagam o dízimo; mas de nós, romanos, exigem um certo tributo, em
virtude dum direito sub-reptício, e é preciso que nos conformemos com
isso. Roma deveria cortar aos templários esta prerrogativa, por fazê-los
muito atrevidos.
7. Neste transporte de criminosos a Sidon acham-se vários implica-
dos e subornados pelo Templo. A obrigação tributária vigora apenas
em alguns principados de Canaan, onde o Templo possui deveras autori-
zação para tanto. Os templários, porém, não se satisfazem com isto e,
munidos de documentos falsificados obrigam os romanos ao pagamento
do dízimo. Ainda hoje de manhã paguei-lhes o correspondente aos pei-
xes, do contrário teria sido molestado. Sou de opinião que se deveriam
revogar todos os privilégios dados ao Templo, pois Roma corre perigo de
revoltas em quantidade, na Ásia!”
Jakob Lorber
370

8. Diz Cirenius: “Este caso ainda poderá ter solução. Quanto ao


mencionado tributo, os templários terão que enfrentar a justiça roma-
na!” (Virando-se para Julius): “Tu, Julius, vais receber hoje alguns perga-
minhos por mim redigidos, onde lavrarás algumas sentenças. Compre-
endeste-me?”
9. Diz este: “Estaria tudo bem se o tetrarcado da Judéia não viesse
sendo arrendado pelo guloso Herodes! Além disto vive em Jerusalém
Pontius Pilatus, um prefeito comodista, que não deseja ser importunado.
Ainda que dites ao Templo mil leis, as mais severas, ele saberá sonegá-las.
Agir pela violência seria arriscar muito, pois o povo tem os sacerdotes –
mormente na Judéia – por semi-deuses. Assim, é preciso muita cautela,
caso se queira agir contra o sinédrio.
10. Ele soube se munir de muitos privilégios por parte de Roma,
que teremos de respeitar, enquanto romanos, e as “cartas brancas” pouco
efeito terão. Em Genezareth e seus arrabaldes já cortei aos sacerdotes a
extorsão do dízimo e do tributo, e sei que Cornelius fez o mesmo em
Capernaum. Na Judéia, porém, isto por ora será difícil. Eis minha opi-
nião; estou, no entanto, às tuas ordens!”

193. TRATAMENTO DE MALFEITORES E OBSEDADOS

1. Cirenius louva Julius, externando-lhe a seguinte opinião: “Meu


amigo, sabes o quanto te considero e sempre apreciei teu tirocínio. En-
tretanto, parece-me, o que acabas de falar não vem do teu intelecto,
mas que o assimilaste por Alguém!”
2. Diz Julius: “Oh, por certo! A verdade não está no fogo, mas em
sua luz suave; por isto sou muito mais benigno e condescendente desde
que O conheço! Se me fosse possível encontrá-Lo de novo!...”
3. Afirma Yarah a seu lado: “Também este é meu ardente desejo!”
Nisto aproximo-Me por detrás de Julius, e Cirenius diz: “Vê só: atrás de ti
está Alguém querendo-te falar!” Ele se vira rápido e quase perde os sentidos
O Grande Evangelho de João – Volume II
371

de alegria por Me ver aqui; Yarah solta um grito de êxtase – e cai desfalecida
em Meus Braços, levando meia hora a voltar a si.
4. Como esteja anoitecendo, digo a Marcus: “Cuida dum bom jan-
tar de peixes, pão e vinho.” Diz ele: “Senhor, que faremos com os crimi-
nosos atados a pilastras e vigiados por militares?”
5. Digo Eu: “Ficarão sem alimento algum, a fim de se curarem dos
inúmeros elementos perniciosos que os dominam. Tu, Meu irmão Julius,
apresentar-lhes-ás um veredicto onde se leia a sentença de morte atroz
por fogo brando! Somente amanhã serão perdoados e, talvez, libertos. O
imenso pavor fará com que os elementos se mortifiquem, até se afasta-
rem. Atai-os bem, do contrário vos darão muito trabalho! Os sete rebel-
des políticos poderão ficar mais à vontade; anuncia-lhes o castigo com o
açoite e dá-lhes algum pão e água. De manhã veremos se é possível sustar
o castigo!”
6. Cirenius se dirige a Julius com a ordem: “Vai, parte o bastão e
transmite-lhes o que os aguarda amanhã!” Julius, de pronto, dirige-se
com alguns soldados à praia, cerca de quinhentos passos distante da casa
de Marcus. Chegando junto dos criminosos, atados a estacas na margem,
ele ordena que sejam mais fortemente amarrados. Só após os soldados
isto terem feito, com fortes cordas e correntes, Julius comunica aos cinco
salteadores o que lhes aguarda a partir de amanhã cedo. Ao mesmo tem-
po cientifica aos sete implicados políticos da flagelação.
7. Quando orientado a respeito o primeiro grupo começa a gritar
desesperadamente, pedindo a morte, pois não seria capaz de suportar
tamanho castigo. De modo idêntico o outro pede clemência; Julius, po-
rém, afasta-se sem lhes dar ouvidos. Ao encontrar-se de novo conosco
ele diz: “Francamente, – isto não é brincadeira! Tamanha gritaria e deses-
pero até afugentariam um animal! Que expressões horrendas! Estou para
ver como se apresentarão amanhã!”
8. “Vês”, digo Eu a Julius, “tal foi o efeito dos maus elementos
que abrigam! Dificilmente suportarão o grande pavor até amanhã,
abandonando em parte suas vítimas, e nosso trabalho será fácil para
libertá-los integralmente!”
Jakob Lorber
372

9. Indaga Cirenius: “Que será feito com eles? Continuarão por al-
gum tempo sob vigilância?” Digo Eu: “Claro, pois nenhum poderá ser
liberto sem a devida educação; nem os sete criminosos políticos, pois
homem algum se livra do pecado na mesma rapidez que o cometeu. Para
tanto os cinco levarão mais que um ano; os outros, seis meses. – Agora,
vamos jantar.”

194. AS SÁBIAS PALAVRAS DE YARAH

1. Diz o velho Marcus: “Senhor e Mestre, através de Tuas Palavras


ouvi tantas verdades como nunca, de sorte que Tua Promessa de conhe-
cer eu a finalidade do homem e o Reino do Céu se realizou. Farei, agora,
com que nosso físico também se refaça.”
2. Digo Eu: “Isto mesmo, pois, após o jantar, algo virá te iniciar mais
de perto no Reino de Deus!”
3. Diz ele: “Senhor, que se passa com esta menina que parece não
tencionar mais deixar-Te?!” Digo Eu: “Indaga-lhe, pois não te ficará de-
vendo resposta!” Marcus assim faz e Yarah, levantando-se, diz: “Ouve,
prezado e velho amigo! Quem tiver conquistado a Este, nunca O deverá
largar; pois isto seria idêntico a perder a Vida Eterna. Todos nós devería-
mos conservá-Lo deste modo em nossos corações!
4. Quem ama sua vida e, por vezes, esquece o Senhor da Vida por
causa do mundo, perdê-la-á como a Ele. Mas quem a desconsiderar, clas-
sificando de Vida Verdadeira apenas aquela que se dedica ao Senhor
da Vida, tê-la-á conquistado, mesmo morrendo mil vezes!
5. Da primeira vez que vi o Senhor, reconheci-O em meu coração,
amando-O sobre tudo; se Ele desejasse que eu morresse agora, tal morte
seria um prazer! Pois sei e sinto que o amor para com Ele é imorredouro
e imune do pecado, que para a alma representa a morte. Se a alma estiver
morta, a criatura também o estará. Guarda isto, pois sou da escola do
Céu, que é Amor, Verdade e Vida!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
373

6. Entusiasmado, Marcus exclama: “Ó filha dos Céus, és demasiada


boa e pura para este planeta! Realmente, deixando o Senhor esta casa,
procurar-te-ei, a fim de aprender a Sabedoria Celeste! Que diferença en-
tre ti e minhas filhas! És um sol, enquanto elas mal transmitem o brilho
deste astro numa gota de orvalho! Oh, Ebahl! Como és feliz por seres pai
deste anjo!” Com lágrimas nos olhos ele vai à cozinha, onde conta às
filhas o ensinamento recebido por Yarah. Elas por isto lhe pedem para
lhes proporcionar o convívio com a menina.
7. Em seguida vamos para a mesa, onde Yarah recita um salmo de
David e pede que Eu abençoe os alimentos. Cirenius está à Minha es-
querda e Yarah à direita; ao lado dela se acha Rafael e, em frente deste o
velho Marcus, que se admira de como o anjo se alimenta, pois tudo que
leva à boca desaparece.
8. Josoé, observando o espanto de Marcus, indaga-lhe o motivo. Diz
o velho: “Filho de meu nobre senhor, que coisa estranha! Este jovem não
abre a boca, não mastiga, entretanto os alimentos são ingeridos! Que
milagre é este?”

195. MATÉRIA E ESPÍRITO

1. Diz Josoé: “Daí deves depreender que matéria alguma poderá


penetrar nos Céus, como este anjo, que dissolve todo alimento em suas
potências espirituais, dele assimilando apenas o que é espírito. Ele é um
ser puríssimo e representa o Céu em forma diminuta; os alimentos signi-
ficam as criaturas mundanas, por ora enterradas na matéria. Se bem que
ela fosse – como estes pratos saborosos – preparada no fogão do Grande
Mestre, que isto nos ensinou pessoalmente, – não podemos, todavia,
com ela penetrar no Reino do Céu.
2. Quando formos chamados por Deus a deixar este mundo, um
anjo nos fará o mesmo que este com o alimento, isto é: libertará num
instante tudo que pertence ao espírito, entregando a matéria à dissolu-
Jakob Lorber
374

ção. A alma e seu espírito e tudo que na matéria lhe pertence, serão
unificados numa perfeita forma humana, conduzindo a primeira ao
mundo dos espíritos puros, de acordo com a Vontade Eterna e Imutável
de Deus. Eis a dedução obtida da atitude deste anjo!”
3. Diz Marcus, admirado com a sabedoria de Josoé: “Deste-me
um ensinamento muito importante, pelo qual sempre te serei grato;
todavia, quanto mais sei mais desejo saber, no que diz respeito à disso-
lução da matéria.”
4. Responde Josoé: “Amigo, não convém ao homem saber demais;
no entanto, digo-te, ser ela nada mais que espíritos fixados pela Vontade
Onipotente de Deus. Tal anjo é a expressão personificada de Sua Vonta-
de e só pode agir de igual maneira.
5. Deus querendo dissolver a matéria duma criatura, a Onipotência
Divina dela se apodera, e sua unificação é sustada, o que a faz desapare-
cer, integrando-se em seu elemento de origem espiritual e permanecendo
o que fora, então enobrecida e aperfeiçoada. Inúmeras potências outrora
isoladas são unidas a um indivíduo perfeito que se apresenta como alma
humana, de acordo com a Vontade Divina. Compreendeste?”
6. Responde Marcus: “Sim, porém, não mais farei perguntas, pois
tua sabedoria é por demais elevada! Apenas desejaria ouvir-te palestrar
com Yarah, pois isto deve ser qualquer coisa de maravilhoso!”
7. Obtempera Josoé: “Eis o que considero um tanto fútil! Acaso
seria prudente despejar o conteúdo dum cálice num outro, cheio, para
que fosse entornado sem necessidade? O que sei ela também saberá,
portanto, nenhum de nós aprenderia alguma coisa com o outro. Procura
tu mesmo falar com ela, pois vós todos lucrareis com isto. Até hoje moça
alguma passou por tais experiências, por isto é conhecedora de coisas,
que tem ciência apenas o Senhor!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
375

196. YARAH DESATA, POR JOSOÉ, O NÓ GÓRDIO

1. Digo Eu: “Meu Josoé, como afirmas que o amor de Yarah se


baseia numa sabedoria tão elevada e possuir ela conhecimentos que so-
mente Eu sei?”
2. Responde ele: “Senhor como podes perguntar-me, se foste Tu
que me inspiraste para falar de tal modo?”
3. Digo Eu: “Muito bem; assim sendo, dize-Me por que o faço, quando
conheço os pensamentos de teu coração muito antes de tu os elaborares?”
4. Perplexo, Josoé procura uma resposta, mas – em vão! Depois de
algum tempo diz, encabulado: “Senhor, não é possível responder razoavel-
mente, dentro de meu conhecimento ainda escasso. Talvez o fizesse “pro
forma”, como fazem os rabis com os educandos. Existe, entretanto, grande
diferença entre Ti e um deles, que só sabem do seu próprio conhecimento,
ignorando o do aluno. Tu, porém, não só és ciente do que sei, mas de todos
os pensamentos ocultos das criaturas e dos anjos – e mo perguntas?! Eis o
nó górdio que ignoro como desatar, pois não sou Alexandre!”
5. Digo Eu: “Por que és inquirido pelo anjo de Sichar, tendo ele tão
profundo saber? Até se deixa ensinar por ti, como se fosse teu aluno?”
6. Replica Josoé: “Senhor, eis aí minha constante queixa, pois se eu
lhe faço uma indagação, ele responde: “É justamente o que ia perguntar-
te!” Hoje de manhã já me referi a este método estranho. O pai de Yarah
desenvolveu uma teoria aplicável também à Tua pergunta presente. Não
estou, porém, de pleno acordo. Tal método é admissível com alunos de
vastos conhecimentos, pois os estimula a pensar, sentir e deduzir por si
próprios. Com um analfabeto o resultado seria nulo; portanto, a boa
opinião de Ebahl não é praticável neste momento e digo com sincerida-
de: não sei responder, Tu precisas fazê-lo por mim!”
7. Digo Eu: “Que tal se Yarah nos esclarecesse?”
8. Diz Josoé, um tanto perplexo: “Como não? Se lhe for possível.
Se Tu, Senhor, lhe deres a resposta no coração, ela não terá dificuldade
neste certame!”
Jakob Lorber
376

9. Digo Eu: “Por certo que não o farei!”


10. Responde ele: “Então obterá o mesmo resultado que eu!”
11. Digo Eu amavelmente: “Veremos! Yarah, dize-nos por que motivo
fiz uma pergunta a Josoé, se Eu de há muito já conhecia a devida resposta?”
12. Diz ela, um tanto encabulada: “Senhor, se é que devo falar, pare-
ce-me que lhe fizeste uma indagação oculta, a fim de que sua alma forte-
mente vibrátil fosse um pouco humilhada. Afirma ele não haver assunto
a discutir comigo, alegando saber de tudo que sei. Esquece, que Tu distri-
buis as dádivas espirituais – até entre os anjos – do modo mais variado, de
sorte que o espírito mais perfeito terá que aprender com outro idêntico.
13. Opino, por isto, teres Tu formulado essa pergunta para que Jo-
soé conseguisse um conhecimento que lhe fizesse compreender a humil-
dade. Embora – contradizendo-se – afirmasse a Marcus, ter feito eu ex-
periências através de Tua Graça como ninguém nesta Terra, – ele se com-
para a um cálice cheio! Assim, não compreendo porque não desejava
palestrar comigo. De minha parte creio que – não obstante minhas expe-
riências sem par – muita coisa poderei lucrar com ele! Por esta dedução
vejo, que seu cálice não estava tão repleto que não comportasse mais uma
gota do meu vinho! Não quero, em absoluto, criticar meu bom amigo;
falo como sinto. Mas, se cometi um pecado, começarei a penitenciar-
me!”
14. Digo Eu: “Não, de modo algum! Vejo teu coração fiel; fizeste
um grande favor ao Meu querido Josoé, pois foi, no ponto mencionado
por ti, um tanto fraco, o que com o tempo, prejudicar-lhe-ia. Agora está
curado e terá muito prazer numa palestra contigo!”

197. O CONHECIMENTO LIMITADO DAS CRIATURAS

1. (Virando-Me para Josoé): “Então, que Me dizes a esta resposta


precisa de Yarah?”
2. Diz ele: “Senhor de toda Vida! Esta menina não é humana, mas a
O Grande Evangelho de João – Volume II
377

personificada Luz Celeste de primeira grandeza, – enquanto eu, apenas


uma estrelinha! Também conto com experiências raras aos mortais, –
pois permaneci durante quase dois anos com a alma no mundo dos espí-
ritos e o corpo em decomposição dentro da tumba; contudo, depois
ressuscitei através de Tua Misericórdia. Apesar disso, confesso não me
achar com mérito de simples aluno, diante desta menina e ficarei imen-
samente grato caso ela me queira doutrinar um pouco!”
3. Diz Yarah: “Caro Josoé, és filho dum rei; eu, filha dum judeu,
hospedeiro em Genezareth, – portanto, falando mundanamente, seria pre-
tensão minha aproximar-me de ti! Se quiseres descer de tuas alturas, encon-
trarás dois braços estendidos e a porta aberta de minha choupana simples!”
A esse convite, Josoé mal sabe o que responder. Cirenius então lhe diz:
“Vai, Josoé, senta ao lado de Yarah, pois até eu estou curioso por ouvir-vos!”
4. Diz ele: “Ah, ela não ordenou que eu me sentasse a seu lado! Além
disto não parece admitir eu não ser filho dum rei, tão pouco que o orgu-
lho de nascimento me seja mais distante que o Céu da Terra. Sou unica-
mente pela verdade! Desprezo tudo que lhe fique abaixo; mas, acima
dela, como sendo os Segredos de Deus, adoro-os e não exijo clareza do
inadmissível para os vermes deste orbe!
5. Em Deus reside a Plenitude da Sabedoria Infinita; em nós – nem
um átomo! Tudo que sabemos é imperfeito; torna-se difícil descobrir o
caminho entre o Alpha e o Beta; muito menos até ao Ômega! Nos Céus
brilham miríades de estrelas; quem as conhece? A Sabedoria Divina as
criou e as rege!
6. Sabemos o que Deus nos revela; além disto, permanecem as tre-
vas para a alma e ai daquele que arriscasse rompê-las, pois seria por elas
tragado. Nós, criaturas, somos receptáculos de certa medida, porém, de
capacidades diversas. A minha é evidentemente, a menor; a de Yarah é
bem dilatada, de sorte que me poderá prover de algo. Não posso, contu-
do, sentar-me a seu lado por ser ela mais sábia!”
Jakob Lorber
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198. QUE É A VERDADE?

1. Digo Eu a Josoé: “Meu filho, falaste mui sabiamente, expressan-


do tuas palavras muita coisa boa e verídica; entretanto, preciso chamar-te
a atenção sobre certo ponto. Como és sábio, posso externar-Me de modo
mais profundo.
2. Disseste literalmente: “Sou apenas pela verdade!...” É justo ser a
criatura inclinada à verdade; este princípio, porém, é atravessado por
uma indagação poderosa, formando destarte uma cruz perfeita! Se tu, ou
algum outro, puderdes resolver esse problema, – Meus Ombros ficarão
livres da cruz.
3. Dize-Me: o que vem a ser a verdade, pela qual te empenhas?
Porventura é o que vês? Tudo se apresenta de forma nebulosa e aquilo
que hoje nos aparece como verdade, amanhã já não mais o é! Vê, lá no
horizonte se movimenta uma pequena nuvem em forma de peixinho.
Quanto tempo permanecerá como tal? O próximo momento a declarará
uma mentira!
4. Se Eu te der três pêras confirmarás seu número. Considerando as
sementes nelas contidas, como irás positivar o cálculo exato? Terás, assim
as três frutas como número certo ou são elas somente uma aparência sob
a qual se ocultam outras tantas, como os guerreiros no ventre do cavalo
de Tróia?!
5. Onde começa a verdade e onde termina? É o homem, tal como se
apresenta, uma verdade? Olha uma criança e observa, em seguida, um
ancião! Será uma cidade algo real? Hoje existe, amanhã poderá ser destruí-
da!
6. A verdade só existe para aquele que se acha dentro dela; para
outrem, apenas aquilo que nele é verdadeiro. Uma verdade temporária é
relativa; a verdade plena, porém, será eternamente o que é a cada mo-
mento. O que, portanto, vem a ser a verdade plena?”
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199. O SEGREDO DA ORIGEM DE TODA A SABEDORIA

1. Josoé pensa daqui e dacolá e não sabe o que dizer! Cirenius, então,
responde: “Senhor, eis uma pergunta com a qual todos os sábios e filóso-
fos quebraram a cabeça. A julgar por Tuas Expressões, tudo que vemos
não é verdade plena e sim, pela metade mentira?! Quem poderá neste
caso ter confiança em uma palavra? Tua pergunta até me entristece. Terás
que ter a gentileza de respondê-la Tu Mesmo, pois não haverá sábio que
desvende este mistério!”
2. Digo Eu: “Não te incomodes! Nesta mesa há muitos capazes de
solvê-lo, pois sabem donde sopra o vento! Quero, porém, que Yarah so-
corra Josoé! Por isto (voltando-Me para ela), Minha filha, vê se encontras
em teu coração uma resposta acertada!”
3. Diz ela, sorrindo: “Realmente, surpreende-me que o tão sábio Josoé
não tenha encontrado a solução precisa para esta fácil questão! A verdade
plena e eterna é Deus Mesmo, o Qual, sendo a Perfeição, é em Espírito o
Mesmo, isto é, Imutável, porquanto em Sua Perfeição não pode haver
mutação possível. Deus é a única e eterna razão de todo ser. Tudo que existe
nada mais é que Suas Idéias fixadas; e estas, a Vida de Deus.
4. Assim, só há verdade plena em Deus, porquanto nada existe além
Dele, – e em nós, apenas o que concerne à nossa união com Seu Espírito,
através do amor puro para com Ele. Essa união nos ilumina em todas as
situações. Essa Luz Original, em Sua máxima pureza, é a verdade eterna
e imutável. – Julgo ter dado a única resposta possível.”
5. Digo Eu a Cirenius: “Então, que Me dizes? Não penses que Eu a
tenha inspirado; encontrou esta conclusão em seu íntimo. Digo-vos a
todos: Yarah não pronunciou uma palavra demais ou de menos.
6. Mas, donde lhe vem isto, enquanto Josoé afirmava ser apenas pela
verdade e não a encontrou? Vede, o amor puro e desinteressado desta
menina une seu coração a Mim, de sorte a capacitá-la na busca da Luz
pelo caminho mais curto, integrando-se de toda Sabedoria provinda des-
ta Luz e da Verdade, que em Mim são idênticas. Se tu, Meu Josoé, és pela
Jakob Lorber
380

verdade que dirás à tua amiga que vive pelo amor?”


7. Responde ele, embaraçado: “Senhor, reconheço a mancha em
minha alma; no entanto, não sei como exterminá-la! Fui injusto para
com Yarah e desejo reabilitar-me; se me permites sentar-me-ei a seu lado.”
8. Digo Eu: “Pois não! A Assembléia toda aguarda com prazer vossa
controvérsia. Digo-te, que ao lado dela encontrarás aquilo que tanto pre-
zas!” – Ele se levanta rápido e se assenta entre Rafael e Yarah.

200. JOSOÉ E YARAH, EM PALESTRA

1. Quando a seu lado, Josoé lhe diz: “Não me queiras mal! Ignorava
que tu, uma menina, possuísses sabedoria mais profunda que todos os
sábios da Terra. Peço-te, porém, que me reveles algo do teu vasto cabedal!”
2. Diz Ela: “E tu faças o mesmo, pois és conhecedor de coisas estra-
nhas para mim!”
3. Diz Josoé: “Não lucrarás muito, por ser minha medida pequena
e, além disto, furada como peneira! – Portanto, começa tu! Estou tão
encabulado que não saberia o que dizer. Na Presença da Sabedoria Divi-
na é mais fácil calar e ouvir. Tu, porém, possuis para tanto uma boa ponte
podendo buscar o que te agrada!”
4. Afirma Yarah: “Mas, Josoé, não fica bem a uma menina querer
tomar a dianteira! Poderás arguir-me, que te responderei!”
5. Diz ele: “Não seria difícil se me ocorresse uma idéia! Quando
criança tinha perguntas em quantidade; mas, depois que a pessoa já se
deu as respostas a si mesma, é menos fácil perguntar do que responder.
Peço-te, que dês início à questão!”
6. Diz ela: “Já que o queres, dize-me por que Deus, o Senhor, permi-
te que, mormente em nossa época, Seus servos e privilegiados distribui-
dores de Seu Verbo sejam as criaturas mais maldosas e orgulhosas e prati-
quem os atos mais repelentes sem titubear? Por que não temem a Deus,
cujo Poder e Glória anunciam diante do povo com pompa cerimonial?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
381

7. Replica Josoé: “Esta pergunta é muito importante; como não sei


respondê-la, és tu obrigada a fazê-lo!”
8. Intervém Cirenius: “Mas, Josoé, terás algo a dizer?! Tuas constantes
evasivas já me aborrecem! Não és tão ignorante que não saibas dizer qualquer
coisa. Se errares, – há nesta mesa muitas pessoas que te poderão esclarecer!”
9. Diz Josoé: “Ilustre pai e senhor! É fácil mandar; obedecer, porém,
é amargo, quando, como eu, não se é capaz de demonstrar obediência!
Imagina a máxima Bondade e Sabedoria Infinitas de Deus ao lado de
atos repugnantes praticados a toda hora! Analisando tais pólos verás ser
mais difícil responder que provar o resultado de três vezes três! Algum
outro faça esta tentativa e verá não ser brincadeira!”
10. Diz Cirenius: “Concordo seja indispensável se possuir um grau
elevado de sabedoria; em todo caso, ficaria satisfeito em saber por que motivo
Deus permite tais fatos. Penso que se além de Ti, Senhor, e Yarah, ninguém
souber explicar sua causa será preciso que Te prontifiques a fazê-lo!”
11. Digo Eu: “Somente se ela não o conseguir. Faze uma tentativa,
Yarah, provando não ter Eu arranjado teu jardim em Genezareth por
tão pouco.”

201. OBSERVAÇÕES DE YARAH ACERCA DE SEU JARDIM

1. Ela se levanta qual orador e começa: “Muito bem; minha horta


foi abençoada pelo Alto e, quanto ao meu zelo aplicado apenas há três
dias, posso relatar o seguinte: lucro material ainda não foi possível obter;
todavia, já me proporcionou um benefício espiritual muito maior.
2. Aquela horta é para mim um livro de profundos conhecimentos
e aprendi neste curto lapso mais do que Salomon poderia com toda a sua
sabedoria. Assim, a presente resposta surgiu nesse jardim de maneira bri-
lhante, tornando-se posse minha, dada pelo Senhor! Se desconhecesse a
resposta certa, nunca teria feito a pergunta a bel prazer, arriscando talvez
uma que não se coadunasse com meu entendimento. É aplicável não só
Jakob Lorber
382

para agora, mas para todos os tempos em que a Palavra Divina e o respec-
tivo sacerdócio existirem sobre a Terra! Ei-la:
3. Semeei no bom solo de meu jardim várias espécies de bons grãos.
Alguns germinaram no dia seguinte, e no terceiro os brotos alcançaram a
altura de quatro dedos.
4. Sempre fui muito curiosa e não me contive em observar de perto
um gérmen mais desabrochado entre os outros. Para tanto tive que desen-
terrar alguns e... vede – encontrei a semente apodrecida e a terra em volta
mesclada de mofo! Desta tumba surgiu a tenra plantinha e da semente,
propriamente dita, existia apenas um pouco de sua casca indestrutível.
5. Além dessa observação importante, verifiquei terem sido vários
grãos exterminados pelo mofo nada restando que prometesse uma com-
pleta germinação. Contudo não passou despercebido aos meus olhos o
crescimento de pequenas plantinhas sobre a terra mofada, completamente
diversas da boa semente. Logo deduzi que esses falsos gérmens também
eram produto do que havia eu semeado; acontecendo apenas que a terra
faminta dele se nutrira, impedindo que desabrochasse. De que lhe adian-
tara isso? Em lugar de um gérmen nobre surgiram trinta agrestes, extra-
indo talvez mais alimento do solo que uma boa plantinha.
6. O ouro não necessita ser tratado como o cobre, basta purificá-lo
uma vez para que brilhe durante séculos. A vinha dá frutos no pior solo;
os cardos e abrolhos procuram geralmente o melhor. Os animais caseiros
são raras vezes vorazes, enquanto um lobo, uma hiena e outros, sentem
fome a toda hora. De modo idêntico, o homem bom é parcimonioso; ao
materialista, porém, coisa alguma satisfaz.
7. Vede, o solo de meu jardim foi um tanto avaro, desejando nutrir-
se de meus grãos especiais. Qual foi a consequência? Teve de nutrir, em
vez de uma planta boa, cem, vorazes e agrestes!
8. O mesmo acontece às criaturas desejosas dum Céu sobre a Terra
com todos os prazeres efêmeros. Um dia terão que deixar sua fortuna,
conquistada com tanto sacrifício, para outros esbanjarem-na de modo
inescrupuloso. Isto é apenas o preâmbulo à resposta. Gravai bem este
quadro que achá-la-eis por vós mesmos!” – Todos se absorvem em medi-
O Grande Evangelho de João – Volume II
383

tações e se admiram da profunda sabedoria de Yarah.

202. INTERPRETAÇÃO DO QUADRO

1. Nisto ela se volta com delicadeza para Josoé, dizendo: “Ainda não
recebeste uma luz clara em teu coração?”
2. Diz ele: “Sábia Yarah! Parece-me que vislumbro algo. Continua,
portanto, com teu esclarecimento!”
3. Prossegue ela: “Se meu quadro foi por vós assimilado,
compreendereis também o que se segue: Espiritualmente falando, as cri-
aturas da Terra são idênticas ao solo de meu jardim; a Palavra Divina que
veio dos Céus através de Adam, dos patriarcas e profetas designados por
Deus Mesmo, é comparável aos grãos bons e nobres que semeei. Não há,
porém, semente que dê logo frutos quando depositada na terra, o mes-
mo acontecendo com o Verbo Divino.
4. Quando penetra a alma do homem, necessário é vivificá-lo pelas
ações correspondentes à vitalidade alimentar do solo, tornando-se deste
modo um gérmen justo, destinado ao fruto verdadeiro e poderoso da
Vida Espiritual em Deus. Se, porém, aqueles que primeiro aceitam o
Verbo – como sejam os profetas e sacerdotes – a fim de disseminá-lo no
imenso campo da Humanidade após a devida maturação no seu íntimo,
fazem o mesmo que o solo quando absorveu a semente nobre, nutrindo-
se a si próprios, – não é de admirar que nesse campo só cresçam a erva
daninha, cardos e abrolhos.
5. Embora tal aconteça, não é de todo contra a Ordem e a Sabedoria
Divinas, pois quando o fruto nobre amadurece é ele recolhido nos celei-
ros. A erva daninha fica no campo estrumando a terra que, com isto,
torna-se pujante para a próxima semeadura, ávida por assimilar uma nova
semente e vivificá-la.
6. O mesmo ocorre conosco: se já fôssemos saciados da Verdade
Pura dada por Deus, ela não mais nos interessaria para o futuro. Ele, o
Jakob Lorber
384

Senhor, prevendo tal fato permite que a Humanidade obtusa seja ali-
mentada por certo tempo com ração para porcos, a fim de fertilizar seu
solo através do matagal. Só então se torna ávida do fruto nobre da Palavra
Divina, como acontece conosco.

203. O MATERIALISMO E SEUS PROPAGADORES

1. (Yarah): “Realmente, acontecem crimes horrendos a mando de


tais servos de Deus! Os que possuem noção das Escrituras indagam como
isso é possível diante da Onipotência Divina?! Essas indagações são mui-
to úteis, tornando-se o móvel da verdadeira ação humana, sem a qual
jamais poderia penetrar na verdadeira liberdade espiritual, imprescindí-
vel à vida eterna de alma e espírito.
2. É justo que a criatura exclame diante das maquinações do sacer-
dócio: “Senhor, não tens raios, granizo, enxofre e piche que façam casti-
gar esses homens-tigres com a máxima violência de Tua Ira?” Como res-
posta, eis que se manifesta uma voz suave do fundo do coração e diz: “Sê
prudente e sábio, olha onde pisas! Desvia-te da serpente no caminho;
pois a terra toda ainda não está coberta delas!”
3. É preciso que haja noite para o homem reconhecer a luz do dia!
De dia ninguém sente necessidade da luz de lamparina; mas a noite obri-
ga a criatura a se prover mesmo de fraca iluminação, que sempre é me-
lhor do que nenhuma.
4. Vê, quando o Senhor provê as criaturas de bens materiais, elas
em pouco se tornam ousadas, dedicando cuidado demasiado ao cor-
po, enquanto a alma, portadora do espírito é absorvida pela carne do
corpo, ao invés de conseguir o alimento necessário para o desabrochar do
Espírito Divino. Para este fim Deus deu à alma o corpo. Quando ela é
absorvida pela matéria, poderá apenas apresentar espinhos, cardos e abro-
lhos.
5. Tal criatura é, a bem dizer, espiritualmente morta! Ignora o que
O Grande Evangelho de João – Volume II
385

vem do espírito, negando-o e materializando o que existe. Além da maté-


ria grosseira nada mais há para ela: seu estômago e sua pele sensível são
dois deuses, em prol dos quais se prontifica a qualquer sacrifício. Para tais
criaturas não existe Deus, e, tornando-se sacerdotes, infelizmente um
fato comum, não é preciso que se indague: “Por que razão esses servos da
carne se tornaram súditos do Templo se para eles alma, espírito, Deus e
Seus Céus nada mais são que expressões fantasiosas?” Basta observar suas
barrigas cheias que dão a resposta concisa!
6. Para esses distribuidores do Verbo Divino tanto faz alimentarem
sua comunidade com o Pão Celeste ou com detrito da sarjeta; basta que
sejam bem pagos! Por este motivo não nos deve escandalizar o relato de
ocorrências tenebrosas por parte do Templo.
7. Que esperar duma criatura que sinta de sua dignidade moral tan-
to quanto uma víbora da floresta? Convém evitá-la, pois o Senhor está
com todos aqueles que O procuram sinceramente, não desamparando o
filho que na miséria pede socorro!
8. Todos nós, habitantes das margens do Mar Galileu, de há muito
somos um joguete do Templo. Em compensação recebemos a Luz Divi-
na, enquanto a Judéia ainda se mantém nas trevas. Fomos os primeiros a
sentir a voracidade egoística do solo templário pelo que entendo o sacer-
dócio; conseguimos, contudo, libertarmo-nos dele. Como semente de
Deus, não desperdiçamos nossa potência germinadora no abarrotar do
grande estômago do Templo, mas sim, volvemos à Ordem Divina, por
nós reconhecida, encontrando-nos, destarte, como fruto inúmeras vezes
abençoado, no solo imenso e maravilhoso de Deus. Os da Judéia, da
Mesopotâmia e países meridionais levarão tempo para reconhecer como
são enganados pela casta sacerdotal.
9. Por esta minha resposta extensa todos os presentes poderão cons-
tatar, que a menina de Genezareth sabe definir os Ditames de Deus! Tu,
ó Senhor, queiras desculpar eu ter abusado da palavra, a Teu lado! Não
era intenção demonstrar meu conhecimento, mas falei o que me vinha
da alma!”
Jakob Lorber
386

204. PALESTRA ENTRE JOSOÉ E YARAH, A RESPEITO DE JUDAS

1. Digo Eu: “Filha do Meu Coração! Não pronunciaste uma palavra


demais ou de menos; por isto, aconselho-vos a todos que guardeis o que
acaba de falar e procureis agir de acordo. Caso alguém tenha uma obje-
ção a fazer, que se pronuncie!”
2. Judas se levanta e diz: “Há muita coisa com que não concordo,
embora admire profundamente a sabedoria de Yarah.”
3. Irritado, Josoé o ataca: “Ó criatura sumamente tola! Não ouviste
o testemunho do Senhor? Abre teus olhos e vê a meu lado um anjo
celeste, cujo ser é a luz pura. Além disto, vês Yarah, a sábia oradora e por
certo não és tão cego que não vejas o Senhor Mesmo, – no entanto,
atreves-te a não concordar com a dissertação daquela?! Dize-me, quem és
para debater-te com o Supremo?” Estas palavras enérgicas de Josoé inti-
midam Judas de tal forma que volta para seu lugar.
4. Continua o outro: “Não é ele um dos principais adeptos? Parece-
me já ter visto esta fisionomia em Nazareth. Ah, lembro-me de ter ele
discutido por várias vezes com Thomás!”
5. Diz Yarah: “Deixa, Josoé! Se ele tivesse a nossa fácil compreensão,
calar-se-ia para meditar; como é de sentimento rude, concebe com difi-
culdade uma explicação elevada!”
6. Diz o menino: “Tens toda a razão! Julgo, entretanto, não lhe pre-
judicar a pequena admoestação, pois sei que é muito atrevido. Procura
ser um dos primeiros para que os outros lhe peçam conselho; isto, natu-
ralmente, não se dá, porquanto são mais sábios e compreensivos, o que
muito o aborrece.”
7. Diz Yarah: “Sim, lembro-me duma discussão calorosa em
Genezareth. O Senhor terá Suas Razões para aturá-lo, pois eu de há mui-
to o teria dispensado. Causa-me repugnância e sinto que um dia nos
poderá afligir muito. Não confio em pessoas que não me olham ao falar!
Parecem temer uma denúncia de seu íntimo através dos olhos. Essa qua-
lidade não louvável é por Judas manifestada.”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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8. Digo Eu a Yarah: “Minha filha, há bem pouco esclareceste porque


permito ao lado do trigo o crescimento do joio. Vê, este adepto é o joio no
Meu campo fértil. Quando o trigo for recolhido em Meus Celeiros, o joio
permanecerá no campo; será queimado para estrumar e tornar mais fofo o
solo duro. Se bem que deva ser solto para o bom crescimento do fruto, –
também não o deve ser em demasia! Numa terra muito solta as raízes não
poderão se firmar, sendo facilmente queimadas pelo Sol ou arrancadas pela
enxurrada. Eis porque a criação dos filhos de Deus necessita de uma base
mais sólida; temos de nos conformar com o aparecimento do joio em meio
do trigo, pois sem tomar parte na safra permanecerá como adubo, a fim de
que a próxima colheita seja mais abundante. Compreendes?”

205. CADA POVO NECESSITA DE SEUS MEIOS EVOLUTIVOS

1. Responde Yarah: “Oh, sim! Os filhos carecem duma educação


mais rigorosa de que os escravos; pois aqueles terão posteriormente a
incumbência de cuidar da posse paterna, enquanto os outros necessitam
apenas saber o que seu serviço monôtono lhes exige. Contudo seria inte-
ressante saber por que razão Deus, o Senhor, permite que na Terra um
sirva como escravo a outrem, existindo até leis sancionadas pelo impera-
dor, para decisões de vida e morte.”
2. Digo Eu: “Querida filha, esclarecer-te na íntegra, levaria muito
tempo; não obstante mencionarei alguns exemplos. Quem os compreen-
der, saberá a quantas anda. Vê, existem diversas qualidades de grãos: tri-
go, cevada, aveia e milho; além disto, várias espécies de feijão e lentilha.
Cada qual necessita dum solo apropriado, a fim de que dê boa colheita.
3. Do mesmo modo as criaturas necessitam de educação diversa, de
acordo com suas tendências. O exemplo que vês com os vários filhos
dum só pai, aplica-se à comunidade e a povos. Um precisa dum governo
brando para não debandar e, com isto, tornar-se uma praga. Outro pos-
sui inclinação definida para o domínio e a tirania. Para tais almas nada
Jakob Lorber
388

melhor que uma escravidão por vários anos, para que sejam humilhadas.
Uma vez que se submetam com resignação e paciência, tornar-se-ão cri-
aturas livres e úteis à Humanidade.
4. A fim de te facilitar a compreensão, toma como exemplo as diver-
sas partes do corpo, cada uma de forma diferente, necessitando de trata-
mento especial em caso de doença. Haja vista que o olho carece dum
remédio diverso do pé. Quem sofre de distúrbios intestinais tem de usar
precauções adequadas; além disso uma enfermidade recente é curável
por meios suaves, ao passo que um estado crônico requer remédios drás-
ticos. A alma da criatura é semelhante aos diversos órgãos do seu corpo; à
medida que corresponde a um órgão mais ou menos nobre, deve ser
aplicado o tratamento individual.
5. As diversas relações humanas correspondem à esfera psíquica de
seus membros. Um dente infeccionado terá que ser extraído, a fim de
não prejudicar os outros; de modo idêntico um homem corrompido terá
que ser expulso da sociedade, devido ao seu contágio prejudicial. Um
povo inteiro, às vezes, é aniquilado moralmente para evitar a corrupção
de outros.
6. Estuda a Crônica e verás a grandeza dos povos: babilônios, ninivitas,
medas, persas, egípcios, gregos, fenícios e troianos. Onde se acham eles?
Onde os gomorritas e sodomitas, os povos das dez cidades? Se ainda
existem alguns remanescentes, jamais serão reconhecidos como tais. Nada
há pior que um nome velho e tradicional, portador de orgulho fútil. Seus
descendentes se julgam melhores que outros que, pela meiguice, humil-
dade e amor para com seus irmãos se acham justificados diante de Deus.
7. Observando tais fatores com atenção, logo sabereis testemunhar a
Bondade e Justiça do Pai. A Terra foi destinada para educar, por toda a
Eternidade, filhos do Espírito Divino; eis por que é necessário que seu
solo seja mais duro e estéril do que fofo e fértil.
8. O joio que aparece com o trigo não prejudica o germinar abenço-
ado do fruto, porquanto servirá para adubar o solo. Em suma: Tudo que
Deus permite é bom e, para o puro, nada que surge sobre a Terra é impu-
ro. Compreendestes-Me?”
O Grande Evangelho de João – Volume II
389

9. Diz Cirenius: “Senhor, como não? Pois é claro como o Sol!” Digo
Eu: “Pois bem; Josoé, então, poder-nos-á externar seu parecer!”

206. JOSOÉ TENTA DESCULPAR-SE

1. Diz Josoé: “Senhor, minha opinião é, por certo, vacilante! Com-


preendo o assunto em seu todo; todavia, não me sinto capaz de discutir a
respeito. Seria ótimo se Yarah tomasse a si essa incumbência; pois embora
procure externar-me com inteligência, sempre haverá o que contrapor.
Assim prefiro ouvir com humildade as lucubrações dos sábios quando
emanam irradiações luminosas como o Sol. Além disto acho supérfluo
fazer reflexões sobre um assunto tão bem esclarecido. Quem teria idéia
de acender uma lâmpada ao meio-dia, a fim de aumentar a luz solar? Se
alguém tiver dúvidas a respeito de Tuas Palavras tão claras, que se externe.
2. Bem sei que é preciso obedecer-Te, Senhor; mas desta vez vejo-
me obrigado a desobedecer em virtude de minha justa humildade! Isto,
porque facilmente Tua Exigência poderia se tornar provação para mim,
levando-me, por um sentimento de amor-próprio, a querer iluminar o
Sol com uma lamparina defeituosa. Meu coração, porém, diz: “Tem cui-
dado menino vaidoso; o Senhor está te arguindo! Vê se não fraquejas
diante Dele!” Ouvindo palavras tais, sei que me devo manter no meu
lugar modesto. Tenho razão?”
3. Digo Eu: “Sim e não, caro Josoé; pois sei o porquê quando te
exijo algo. E, caso queiras ter segurança em tua salvação, necessário se
torna obedeceres, seja lá em que sentido for! Mesmo exigindo-te a vida,
terias que deixá-la com prazer, pois nunca o faria para tua infelicidade.
4. Sei o que paralisou tua língua. Foste um pouco precipitado no
afirmar que eras apenas pela verdade; e como Yarah, uma simples menina
de Genezareth, envergonhou-te pela resposta brilhante, perdeste um tanto
de tua coragem. Este desânimo não é, no fundo, uma humildade sincera,
mas sim a vaidade ofendida de tua alma! Eis o motivo por que não te
Jakob Lorber
390

decides a falar! Quero, porém, que consigas vencê-la, pois para uma alma
vaidosa é preferível ser ridicularizada que, pelo caminho do triunfo, ver-
se alvo de homenagens! Por isto fala, quando faço tal exigência. Externa
tua opinião a respeito de Meu Ensinamento sobre a escravidão.”

207. DISSERTAÇÃO DE JOSOÉ

1. Diz Josoé: “Em Teu Nome farei uma breve tentativa; duvido ser
ela muito certa. Evidentemente os pés do homem se acham em situação
menos elevada que as mãos; se eles, porém, não levassem a criatura à
fonte, não poderiam ser por elas lavados da poeira. Eis por que acho, que
tanto os escravos quanto os senhores sejam necessários. Quando os pés
tropeçam levam o homem à queda, o que justifica cuidar-se mais deles –
embora escravos do corpo – que dos outros membros. Involuntariamen-
te são os pés às vezes obrigados a carregar o corpo numa longa trajetória,
recebendo por tal serviço pequeno conforto num riacho, enquanto o
corpo procura se fortalecer com comida e bebida.
2. Por isto opino ser a escravidão uma necessidade que jamais poderá
ser abolida caso a Humanidade deva permanecer na ordem prescrita, a
não ser que os homens inventem com o tempo outro meio de locomo-
ção, dispensando o serviço escravo dos pés. Seria, em todo caso, preferível,
abolir-se o cativeiro deprimente, fato que talvez ocorra daqui a muito.
3. O escravo é considerado comumente o joio entre as criaturas, o
que não impede a preguiça e indolência dos donos. Todavia a escravidão
é uma escola de humildade, portanto, benfazeja aos orgulhosos. Foi pena
ter a prisão babilônica durado tão pouco, pois que os israelitas melhora-
ram consideravelmente. Nem bem se viram libertados, procuraram reor-
ganizar sua antiga pompa. Com o levantamento das muralhas do Tem-
plo surgiu também o antigo orgulho, e a índole dos judeus tornou-se
pior que dantes. Eis por que quarenta anos de prisão não foram suficien-
tes; deveria ter durado, no mínimo, um século.
O Grande Evangelho de João – Volume II
391

4. Considero, pois, a escravidão de grande utilidade e penso ser mais


elevada a moral dum cativo, porquanto pode ser espiritualmente livre, ao
passo que o outro é escravo de seus sentidos. Existe grande diferença
entre a pessoa dona de sua vontade – o que acontece com o escravo – e
outra, cuja vontade desconhece obediência. Por isto, reafirmo: se esta
escola de humildade se extinguir as criaturas serão grandemente prejudi-
cadas, enquanto não viverem de acordo com Tua Doutrina! Peço-Te,
Senhor, que apontes as falhas de minha exposição, para que possa pene-
trar igualmente na verdade desta esfera.”
5. Digo Eu: “Caro Josoé, tens razão; apenas te excedeste quanto à
prisão babilônica. Toda prisão e escravidão são castigos permitidos por
Deus. No entanto, nada mais são que uma obrigação externa para que se
modifique o procedimento nocivo para a alma; pois quem evita o mal
somente por causa das consequências, está longe do Reino de Deus. Ape-
nas aquele que faz o bem pelo bem e foge do mal por ser contra sua
índole, é um homem perfeito; pois enquanto não se esforçar na conquis-
ta da verdadeira Luz, permanecerá escravo em espírito e excluído do Rei-
no de Deus. As contingências externas muitas vezes levam as criaturas
aos atalhos da vida moral, o que vos explicarei.

208. A IMPOSIÇÃO DA LEI, E O AMOR

1. (O Senhor): “Certa moça é mandada pelos patrões a resolver um


assunto caseiro na vizinhança; atrasa-se, porém, de sorte que na volta é
surpreendida pela escuridão. No caminho dá com a morada dum eremi-
ta, como os há em todas as zonas da Judéia, que leva vida austera. Ela bate
à porta pedindo pousada para a noite chuvosa.
2. O eremita abre e verifica tratar-se de uma jovem, por cuja presen-
ça sua cabana, por certo, seria profanada. Por isto ele diz, tomado de zelo
beato: “Não te atrevas a pisar em minha choupana abençoada, mulher
impura; segue o caminho donde vieste!” Sereno e calmo fecha a porta,
Jakob Lorber
392

deixando a moça chorosa entregue a seu destino. Agradece o ermitão a


Deus por tê-lo protegido contra o perigo para sua alma, sem se preocu-
par com possível acidente a essa criatura.
3. Após uma hora ela alcança, completamente encharcada, a casa
dum publicano difamado, que perante os judeus é grande pecador. Já de
longe ele lhe ouvira os gritos, porquanto não é amigo do sono, sendo
mesmo cognominado malandro, desordeiro.
4. Este pecador acende uma tocha e vai ao encontro da infeliz; quando
a vê mancando e aflita, consola-a, preparando-lhe uma ceia e um bom
leito. De manhã, atrela duas mulas e faz-lhe companhia até a casa dos
patrões. – Vê, o eremita é penitente rigoroso, vivendo constantemente
numa sujeição voluntária e evitando tudo que possa prejudicar sua su-
posta alma pura, na certeza de que Deus Se compraz com ele. Além
disto, faz questão que o mundo o julgue santo, pois sua choupana jamais
fora pisada por mulher. É evidente que esta pureza moral lhe proporcio-
ne certos benefícios materiais, que escasseariam caso fosse denunciado
por haver recebido uma moça.
5. Ao publicano não importa a opinião do mundo, pois sua casa
de qualquer maneira é considerada impura; por isto, judeu algum ali
penetra, pois perderia sua pureza por dez dias. Dize-Me, Josoé, a quem
darias preferência?”
6. Diz este, sorrindo: “Oh, sem vacilar, ao publicano! Realmente, se
me fosse possível conferir o Céu após a morte, o ermitão seria o último a
receber um lugarzinho, pois não lhe daria oportunidade de melhoria até
que se tornasse idêntico ao primeiro! Estarei certo?”

209. A PUREZA DA ALMA

1. Digo Eu: “Perfeitamente, e afirmo: quem não se tornar igual ao


publicano não entrará no Reino do Céu. Prezo, acima de tudo, a pureza
verdadeira da alma, ao passo que a do ermitão de nada vale. Basta ser
puro de coração diante de Deus, sem que o mundo seja informado a
O Grande Evangelho de João – Volume II
393

respeito pois quem espera os aplausos mundanos não precisa aguardar


elogios de Minha Parte.
2. A verdadeira atitude do homem deve-se manifestar da seguinte
forma: “Senhor, sê misericordioso para comigo, que sou pecador!” Ja-
mais deverá cair no juízo temerário, orando pelos inimigos e fazendo o
bem àqueles que o maldizem e muitas vezes, prejudicam-no.
3. Em verdade, quem age desta forma está purificado perante Mim
– mesmo se de quando em quando cometer um pecado carnal. Considerá-
lo-ei Meu irmão, reinando em Minha Companhia nos Céus e em suas
maravilhas! Isto porque, embora a carne seja atormentada por influênci-
as maléficas, a alma continua à procura do Meu Espírito.
4. Até os anjos são, às vezes, obrigados a descer ao inferno, mas
quando voltam são tão puros como dantes. O mesmo acontece, não
raro, com Meus irmãos na Terra; não obstante, externamente, descerem
ao inferno, a fim de manter o equilíbrio da Ordem e Onipotência Divi-
nas, suas alma permanecem puras na união com Meu Espírito.
5. Em suma: quem for humilhado por pecado semelhante ao do
publicano, terá descido por instantes, como anjo, ao inferno, para lá esta-
belecer a ordem e a calma; quando voltar, porém, sentir-se-á enojado, o
que purifica a alma. Quem, por sua vez, torna-se orgulhoso pelo vício e
nele permanece já é um demônio, embora aparentemente de índole pura.
6. Aconselho-vos o seguinte: Jamais repudieis aos pecadores que vos
peçam socorro; ajudai-os como se nunca tivessem errado! Deveis empre-
gar todos os meios de futuro progresso para vossos tutelados, pelo Amor
e pela Sabedoria, aquela sabedoria que deriva do Amor.
7. De acordo com as Leis de Moisés, a adúltera deve ser imediata-
mente apedrejada pela primeira pessoa que a encontre. Eu, porém, digo:
Quem a receber em seu lar e procurar salvá-la, física a espiritualmente,
será por Mim bem-vindo no Além, – e suas culpas serão escritas na areia
e o vento as apagará! Quem lhe atirar uma pedra, não estando isento de
pecado, terá de enfrentar julgamento rigoroso; mas quem Me encami-
nhar aquele que se perdeu, receberá grande prêmio no Reino do Céu.
Ficai sabendo: quem julgar pela lei deverá aguardar o mesmo desfecho!
Jakob Lorber
394

8. Diz Cirenius: “Senhor, tudo que falaste é claro e compreensível;


apenas existe um ponto...”
9. Interrompo: “Já sei; queres saber como uma criatura de sentimen-
tos bons e puros poderá descer ao inferno por um pecado cometido, a fim
de lá estabelecer ordem e calma, voltando purificada. Isto é fácil de se com-
preender, sabendo-se a fundo o que sejam o pecado e o inferno! Ouvi-Me!”

210. CORPO E ALMA

1. (O Senhor): “O corpo é matéria e consiste das mais grosseiras e


primitivas substâncias psíquicas, que, pela Onipotência e Sabedoria do
Eterno Espírito Divino, foram forjadas de acordo com a forma destinada
à alma.
2. No início a alma em nada é melhor que o corpo, porquanto também
descende da alma originária e impura de Satanás. O corpo é para a alma
impura nada mais que um instrumento de purificação, mui sabiamente ela-
borado. Entretanto, a centelha divina habita na alma, através da qual recebe
noção de si mesma e da Ordem Divina, pela voz da consciência.
3. Além disto é o corpo provido dos cinco sentidos, pelos quais a
alma adquire impressões externas, boas e más. Através do critério do
espírito ela, em breve, sabe distinguir o bem do mal; pelos sentidos faz
experiências de variados matizes, recebendo por Deus, através de Revela-
ções extraordinárias, o caminho para a Ordem Divina.
4. De tal forma constituída, a alma pode determinar sua conduta,
fator imprescindível à sua existência livre e eterna. Cada alma ansiosa de
vida tem que desenvolver-se com os meios facultados, do contrário teria
que compartilhar da sorte do corpo. Também se poderia ver na contin-
gência de abandoná-lo, não completamente evoluída, deixando o físico
imprestável, pelo que se veria obrigada a continuar sua tarefa num meio
penoso e desconsolador.
5. O corpo, constituído de partículas condenadas ao julgamento e,
O Grande Evangelho de João – Volume II
395

portanto, mortal, é para todos o inferno, no sentido mais restrito; a ma-


téria cósmica é o inferno, no modo mais amplo.
6. Quem, portanto, muito cuida do físico faz seu próprio inferno,
alimentando seu julgamento e morte para a própria destruição. O corpo
necessita de certo alimento, a fim de que possa servir à alma no seu des-
tino elevado; quem, no entanto, preocupar-se com ele meticulosamente
dia e noite, tê-lo-á feito para seu inferno e morte.
7. Quando o corpo atiça a alma a agir para a satisfação dos sentidos, tal
ânsia deriva sempre dos múltiplos elementos da Natureza, que perfazem a
construção física. A alma, dando ouvidos às exigências biológicas, entrará
em contato com tais elementos, descendo, deste modo, ao seu próprio
inferno. Neste caso terá cometido um pecado contra a Ordem Divina.
8. Se ela persiste com prazer nesta fraqueza, torna-se tão impura
como os elementos de seu corpo, – e embora viva no mundo, é espiritu-
almente morta, sentindo e se apavorando com a morte. Tudo que faça
em seu inferno não lhe proporcionará vida, embora a ame sobre tudo.
9. Eis a razão pela qual milhares de pessoas nada sabem da vida
duma alma após a morte; caso alguém algo lhes transmita, riem-se ou se
aborrecem, pedindo-lhe comunicar tais baboseiras aos animais selvagens.
Não obstante, toda criatura deveria, aos trinta anos, ter chegado à forma-
ção do seu “eu” de tal forma, que a vida libérrima e feliz após a morte lhe
fosse fato comum. Entretanto, quão distantes se acham aqueles que ape-
nas formulam tal indagação, sem mencionar os que nada desejam ouvir!
Tais criaturas se acham durante a vida em pleno inferno ou morte.
10. Pode, porém, acontecer que uma alma se tenha purificado e por
isto lhe seja dado certo tempo para a purificação de seu corpo e seus
elementos impuros, pelo que a parte física mais nobre atrai a imortalida-
de da alma, sendo despertada no conjunto, após a morte, a parte mais
grosseira de sua natureza.
11. Eis que, então, almas purificadas se vêem obrigadas a descer de vez
em quando ao próprio inferno (corpo), quando este se manifesta mui exi-
gentemente, a fim de satisfazê-lo. Tais almas não mais poderão se tornar
impuras, porquanto o são apenas durante a permanência no inferno, que
Jakob Lorber
396

não suportam por muito tempo, voltando tão puras como dantes. Terão
apenas estabelecido ali calma e ordem, podendo se dirigir novamente às
coisas do espírito. – Aquele entre vós que tenha alguma compreensão, sa-
berá interpretar Minhas Palavras; e tu, Cirenius, que Me dizes?”

211. CIRENIUS FAZ UM DISCURSO SOCIALISTA

1. Diz Cirenius: “Senhor e Mestre, eis um ensinamento completa-


mente novo e não resta dúvida que apenas Tu, como Criador, poderás
saber de tais coisas. As múltiplas experiências da vida provam esta veraci-
dade, mas não houve sábio que descobrisse a razão para tanto, pois exigi-
ria conhecimento total da natureza humana, desde o espírito à matéria.
2. Quem poderia penetrar em tal conhecimento? Quem conhece o
corpo físico no seu todo ou já viu uma alma? Deve, porém, haver meios
pelos quais o homem consiga noção mais profunda de si próprio, e
enquanto não lhe for possível averiguar o que é, para que finalidade exis-
te e como alcança a meta que o Criador lhe destinou, – de nada lhe
adiantam todas as doutrinas e leis. Sua alma se aprofundará cada vez mais
em seu corpo, devido às exigências imperiosas do mesmo; a fome rói, a
sede arde, o frio queima, enquanto o bem-estar físico não somente é
necessidade, mas constitui até certo luxo!
3. As exigências da matéria são tão preponderantes que muitas vezes
abafam o grito da alma! – Como, portanto, admirarmo-nos que milhões
de criaturas nem pressintam tal conflito? É fato comum que pessoas ne-
cessitadas de tudo não sentem o menor vestígio de elevação espiritual.
Qual a causa disto? A completa carência de provimentos. Se o homem
precisa enfrentar as intempéries, a fim de conseguir alguma coisa para seu
sustento, não é possível que se lhe exija ânsia pelas coisas espirituais. Nas
grandes cidades, Roma por exemplo, onde o povo se supre de tudo que
precisa, o conhecimento da alma de há muito é divulgado, o que facilita
vida moral e sadia.
O Grande Evangelho de João – Volume II
397

4. Também acontece, porém, que os ricos se enterram em seu bem-


estar físico, menosprezando a formação psíquica. Contudo lhes é mais fácil
a procura de algo melhor, pois a linguagem e o contato com outros sempre
é lucro para a alma. Por isto opino ser aconselhável se trate de suprir primei-
ro as necessidades materiais, e depois desperte as almas para o lado espiritu-
al. É difícil se pregar a quem sente fome! Senhor, tenho razão?”

212. A MISÉRIA, UM MEIO EDUCATIVO

1. Digo Eu: “Por certo, não falaste uma palavra falsa. Imagine, en-
tretanto, condições de vida tais que todas as pessoas, sem muito esforço,
tivessem o necessário pare o sustento, – e em breve terias os povos nórdi-
cos em tua frente.
2. Eram eles, em tempos remotos, providos na Ásia, – o berço da
Humanidade – tão bem e ainda melhor que os romanos de hoje e, além
disto, educados pelo Alto. Havia sábios entre eles, como a Terra nunca os teve
antes de Minha Vinda. Qual a consequência? Comiam e bebiam comoda-
mente, tornando-se dia a dia mais ociosos, decaindo de geração em geração
no que são hoje. Agora vêem-se obrigados a cuidar do sustento com o suor
do seu rosto, embora não de todo desprovidos de doutrinadores.
3. Precisamente tal miséria os levará a um grau de educação superior
à atual em Roma. Por isto não é salutar que o homem seja fisicamente
provido de tudo, pois torná-lo-ia tão preguiçoso que nada lhe despertaria
o interesse. Esta tendência deriva do corpo, de certo modo inerte. A alma
que, geralmente, tem de procurar sua consistência no corpo através duma
justa atividade, também se acomodaria à inércia, porquanto nela predo-
mina esta inclinação desde eras remotas.
4. Pelas necessidades dolorosas da matéria a alma é despertada de
sua letargia, – pois sente que a miséria física lhe traz a morte. Assim age
por todos os meios, cuidando primeiro do plano material. Como, po-
rém, sente pavor da morte, em breve procura também se aprofundar na
Jakob Lorber
398

verdadeira vida, e no despertar do amor à mesma, reconhece que sobrevi-


verá à morte física.
5. Daí surge uma espécie de fé em sua imortalidade, que pouco a
pouco se positiva tornando-se uma necessidade para o homem. Pessoas
de inteligência mais apurada não se satisfazem somente com a fé, tentan-
do experimentar sua força e poder por todos os meios disponíveis.
6. O povo classifica tais pesquisadores de videntes ou auditivos, in-
fluenciados por espírito elevado, que, pelo convívio com almas desencar-
nadas, conseguem noção profunda da vida do Além. Estas pessoas são
geralmente elevadas a sacerdotes que, observando a necessidade do povo,
abusam muitas vezes de sua confiança, locupletando-se de vantagens ter-
renas. Contudo sempre há algo de bom, por que as massas permanecem
em contato com o Alto.
7. De vez em quando – pois a fé cega nos sacerdotes diminui cada
dia mais – aparecem entre o povo novos pesquisadores, que analisam as
opiniões antigas e aproveitam o que é bom. Esses resultados juntam às
próprias idéias inovadoras e, finalmente, surge uma nova doutrina. Não
mais se satisfaz esta com a fé cega, mas apenas com a convicção baseada
em fatos que, se preciso, poderão ser apresentados diante de todos.
8. Deste modo a nova geração encontra, por fim, embora com dificul-
dades, a verdade, e através de múltiplas experiências, as leis, pelas quais as
criaturas poderão viver felizes, facilitando-lhes a conservação da verdade.
9. Se a essa descoberta, surgida unicamente pela crescente atividade
humana, é acrescida uma revelação do Céu numa Luz maravilhosa, tal
povo já é salvo e como que renascido em espírito! Isto jamais será efeito
duma vida materialmente garantida, mas da abençoada miséria e aflição
dos homens! Afirmo-te: na miséria até mesmo o animal se torna enge-
nhoso, – quanto mais o homem! Quando é forçado pela necessidade a
refletir, o solo sob seus pés começa a verdejar; levando vida folgada, pare-
ce-se com um irracional que nada faz e pensa.
10. Bastaria que Eu proporcionasse à Humanidade cem anos de
colheitas abençoadas e as criaturas começariam a tresandar como a peste.
Como faço que as boas revezem as más, são elas obrigadas a cuidar de seu
O Grande Evangelho de João – Volume II
399

sustento, caso não queiram perecer à mingua. Compreendeste-Me?”

213. CONSEQUÊNCIAS DO BEM-ESTAR

1. Diz Cirenius: “Senhor, és realmente o Mestre da Criação e agora sei


a quantas ando. Apenas não compreendo por que razão um povo teria que
cair numa completa inércia, tendo algo mais a gastar que os escravos.”
2. Digo Eu: “Amigo, consulta a História dos povos: do velho Egito,
Babel e Nínive, Sodoma e Gomorra, dos israelitas no deserto alimenta-
dos por Mim, durante quarenta anos com maná – e terás aí o resultado
do bem-estar!
3. Uma moça, por exemplo, que se crie nessas condições, nada mais
fará que enfeitar-se o dia todo; em breve, até mesmo para tal terá pregui-
ça, deixando que outros o façam por ela. Mas não levará tempo e tal
criatura até para isto não se animará, igualando-se a um bicho preguiço-
so. Que fazer com ela? A que meios de educação poderia ser submetida?
Digo-te: não serviria nem para a prostituição! Isto se deu em Sodoma e
Gomorra, eis por que o povo começou a se perverter. Compreendes?”
4. Responde Cirenius: “Realmente, nunca foste tão generoso em
Teus Ensinamentos. Falta-me apenas esclarecer uma dúvida; devo inqui-
rir-Te ou já lês meu pensamento no coração?”
5. Digo Eu: “Formula tua pergunta para que os outros dela se inteirem.”

214. O CONTRA-SENSO CONTIDO NA GÊNESIS

1. Diz Cirenius: “Desde que me conheço medito acerca da maneira


que as primeiras criaturas de nosso orbe chegaram ao conhecimento dum
Ser Supremo e de sua própria entidade psico-espiritual. Li a respeito em
livros do Egito, da Grécia e de vosso Moisés, e até consegui uma obra da
Jakob Lorber
400

Índia, que fiz traduzir por hindu, em Roma. Em todos, porém, dava com
alegorias místicas incompreensíveis a quem quer que fosse – e muito mais
para o meu entendimento, pois que me julgo, desde pequeno, menos inte-
ligente que os outros. Em toda parte deparei absurdos tremendos.
2. Haja vista o que consta em Moisés: “No princípio criou Deus
Céu e Terra, e a Terra estava deserta e vazia e havia trevas nas profundezas;
e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. E Deus falou: “Que se faça
luz!” E assim foi e Deus viu que era boa a luz e separou-a das trevas,
chamando à luz, dia, e às trevas, noite. E foi da noite e da manhã o
primeiro dia.”
3. Em seguida fala-se da separação das águas, o aparecimento da
porção seca, a criação das ervas, arbustos e árvores, com que se passam
três dias e noites. Como, porém, passou a haver desde a criação da pri-
meira luz, dias e noites, não vejo porque Deus necessitou criar mais duas
luzes no quarto dia, uma para determinar a noite, a outra, maior, o dia.
4. Comparando-o com Tua Explicação sobre o Sol, a Lua e as estre-
las, chega-se à conclusão de que a História da Gênesis é o maior contra-
senso ouvido sobre a Terra. Quem entenderá isto? Sabemos ser a Terra
não um disco, mas uma bola imensa, conforme Tu mo afirmaste quando
ainda eras criança, no Egito. Também aprendemos que nunca é noite em
todo o globo, porquanto uma parte sempre é iluminada pelo Sol.
5. Loucura, portanto, é afirmar que da noite e da manhã se fez um
dia. Além disto a expressão de Deus ter reconhecido “que era boa a luz” é
outra baboseira, pois Sua Sabedoria, como Luz Eterna, devia sabê-lo pre-
viamente. No livro hindu diz-se que houve uma criação de espíritos pu-
ros, mormente o primeiro, chamado Lúcifer. Mais um motivo, portanto,
para a opinião de Deus ser boa a luz! Por aí vês que toda essa história é
muito confusa, razão por que não me admiro que os escribas não lhe
dêem crédito; mantêm-na, entretanto, por causa do povo.
6. Todos os princípios sobre a Criação, conforme implantados à
nossa época, são simples mitos e fábulas. Uma vez isto evidenciado
surge a pergunta: Como se deu a Criação do primeiro homem? Como
chegou ao conhecimento de Deus e de si próprio, quem lhe ensinou a
O Grande Evangelho de João – Volume II
401

diferençar o bem e o mal?”

215. A FORMAÇÃO DO PRIMEIRO HOMEM

1. Digo Eu: “Meu amigo, de certo modo já tiveste um ensinamento


a respeito, quando te apontei os efeitos da miséria dos povos. Que além
disto a História da Gênesis, aplicada literalmente à Criação da Natureza,
apresente-se como mero contra-senso, não existe quem o conteste.
2. A pessoa, porém, que se aprofundar na sequência dos livros de
Moisés, verificará que ele em suas alegorias reportava-se apenas à forma-
ção original do sentimento e do intelecto dos primeiros seres da Terra, e
não à Criação cósmica; eis por que ligava a evolução psíquica à história.
Esta, porém, só podia ser produto da formação do intelecto e nunca da
natureza muda, que continuará a mesma para todo o sempre.
3. De modo idêntico acontece com os livros hindus, nos quais se
fala primeiro da formação dos espíritos puros, a seguir da queda de alguns
sob o titulo “As Guerras de Jeovah”, da criação do mundo dos sentidos, dos
animais e, por fim, do homem. Tudo isto deve ser tomado em sentido
espiritual, mormente no que se refere à formação moral humana.
4. Quem tiver uma orientação do espírito e se integre na interpretação
do mundo material e do espiritual, facilmente deduzirá o aparecimento do
primeiro através do segundo, como e de onde surgiram os sóis, planetas e
seus habitantes. Para este fim é preciso ser o homem despertado pelo espí-
rito, pois somente a mais remota testemunha de todo Ser e Criação poderá
iluminar aqueles labirintos impenetráveis aos olhos humanos.
5. Além do mais, que a idade da Humanidade no aperfeiçoamento
atual corresponda ao cálculo de Moisés quanto à matéria e ao tempo, –
disto podes ter certeza absoluta. Houve, muito antes de Adam, uma es-
pécie de animais gigantescos, que se assemelhavam à imediata criação
humana, não pela forma, mas pela inteligência apurada, embora mais
instintiva. O elefante é um exemplo, conquanto degenerado. Animais
Jakob Lorber
402

como esses cultivaram o solo como predecessores do homem, pois a terra


foi por eles povoada muitos milhões de anos antes.
6. Era preciso que o solo árido fosse amolecido, a fim de prepará-lo
para o cultivo de plantas e outros animais, menores, antes de produzir a
natureza delicada do homem dentro do plano divino, plano este já trans-
mitido a cada alma não materializada, todavia existente na atmosfera.
7. Quando o solo telúrico se achava inteiramente produtivo, Deus
chamou uma alma perfeita do éter, a fim de que formasse do barro ferti-
lizante um corpo de acordo com a Imagem Divina nela encerrada. A
entidade mais completa e forte assim fez, apresentando-se destarte num
corpo robusto e bem organizado, que podia observar o mundo e suas
criações precedentes.
8. A criação dos animais enormes em parte já havia desaparecido da
Terra muito antes que o primeiro homem a pisasse em sua majestosa
semelhança divina. Não obstante, sempre se encontrará vestígios seus,
sem que os homens lhes possam dar destino.
9. Pouco a pouco os sábios chegarão à conclusão de que a Terra
antecede ao cálculo de Moisés, o que trará a este um grande descrédito.
Eu, porém, designarei outros sábios, pelos quais este profeta será integral-
mente reabilitado. E não levará tempo para que o Reino de Deus sobre a
Terra se estabeleça, obrigando à morte dela desaparecer. Antes disto, po-
rém, muitas atribulações cairão sobre este orbe.
10. Será preciso adubá-lo por muitas vezes com sangue e carne hu-
manos, e através deste adubo espiritual começará a época fisicamente
imortal deste planeta, assim como em tempos de Adam havia-se iniciado
a era em que, pelo estrume fertilizante do lodo foi possível à alma formar
um corpo perfeito como Deus.
11. As criaturas que, em vida, renascerem completamente em espí-
rito, governarão para sempre esta nova criação, como anjos e espíritos
puros, enquanto que os outros, retardados na perfeição virão à Terra, em
tal época, em corpos imortais, porém, num estado de grande miséria.
Terão de se sujeitar a serviços pesados o que não lhes agradará, pela lem-
brança de sua primitiva e feliz condição, quando encarnados. Este perío-
O Grande Evangelho de João – Volume II
403

do perdurará até que tudo se transforme em vida puramente espiritual,


de acordo com o eterno plano de Deus. Eis a trajetória de todas as coisas
que surgem, permanecem e se transformam dentro da Ordem Divina!

216. O PROCESSO DE CRESCIMENTO DO TRIGO

1. (O Senhor): “Observa o grão de trigo! Quando depositado na


terra, apodrece, a fim de fazer surgir o gérmen delicado. Que representa
isto, com relação à natureza humana?
2. Vê, o depositar da semente sadia representa o primeiro apareci-
mento do homem. É idêntico à encarnação da alma completamente for-
mada, cujo local de permanência anterior é o ar, mormente nas regiões
centrais montanhosas, onde terminam as florestas, até às glaciais.
3. Tão logo uma alma perfeita tenha alcançado a consistência plane-
jada, desce às habitações humanas, onde adquire alimento pela aura que
todos possuem, permanecendo onde é atraída pela homogeneidade de
sua natureza.
4. Quando um casal é levado a ceder à atração física, a referida alma
recebe um aviso instantâneo através da aura, penetrando pela simpatia
no sêmen que, por sua vez, a deposita num óvulo. Daí em diante a alma
é semelhante ao grão de trigo semeado na terra; passa no corpo materno
por todos os estados evolutivos até o nascimento, tal como a semente que
projeta o gérmen fora do solo.
5. Eis que começam os diversos graus de educação, externa e inter-
na. Com a planta as raízes permanecem na terra, sorvendo o alimento
que lhes proporcionaria a morte se não fosse purificado pela luz solar.
6. O primeiro sedimento da haste é um tanto material; quando,
porém, depositado no fundo, a haste é, de certo modo, isolada por um
anel. Por este passam filetes muito finos, que filtram os líquidos. Destes
forma-se um segundo anel; como as substâncias ainda sejam grosseiras,
cria-se um outro, munido de tubos mais finos, pelos quais passam apenas
Jakob Lorber
404

os líquidos vaporosos para alimentar a força vital, conforme consta em


Moisés: “E o Espírito de Deus pairava sobre as águas.”
7. Com o tempo também estes líquidos se tornam por demais conden-
sados para a vida vegetal, com risco de sufocá-la; por isto, forma-se mais outro
anel, com tubos finíssimos, pelos quais apenas passam os humores mais afins
com o espírito que paira sobre eles. Esta força vital logo percebe se o líquido
se presta para a formação posterior. Se descobre ser um tanto grosseiro, e que
há nele vestígios do julgamento e da morte, formará esta força tantos anéis até
que toda partícula material tenha desaparecido.
8. Dá-se, então, uma nova fase de crescimento: os humores etéreos,
que passam pelos finíssimos tubos, formam o botão e a flor, munidos de
órgãos capazes de conceber a vida pura dos Céus.
9. Após ter prestado este serviço fenece a flor, pois é uma ostentação
vã da sabedoria, por cuja beleza e estímulo é atraída a vibração da vida do
amor, que tudo possui, prescindindo dum aparato externo. Toda flor é
qual noiva enfeitada, ávida por atrair o noivo em suas pétalas! Uma vez,
porém, consumada a posse, os enfeites fúteis do noivado são despidos,
dando início ao humilde rigor da vida. Eis que surge o verdadeiro fruto.
Após a aplicação de toda a atividade, em seu amadurecimento, a vida
protege-se nele, como por fortalezas e burgos, conseguindo escapar dos
possíveis perigos.
10. Quando a vida procura se desenvolver e sazonar-se mui rapida-
mente, não tem a devida consistência; basta se aproximar um adversário
para logo ser atraído. Dá-se, com isto, uma união, na qual a semente é
depositada no fruto precoce! Esta manifestação anormal e fictícia atrai a
vida delicada da planta, estragando-a e aniquilando-a. Os frutos bichados
são mais do que uma prova convincente.

217. A EVOLUÇÃO ESPIRITUAL DO HOMEM

1. (O Senhor): “O mesmo acontece com todas as criaturas. Tomai,


O Grande Evangelho de João – Volume II
405

por exemplo, uma menina fisicamente desenvolvida. Conta apenas doze


anos, no entanto, parece uma moça. Tal criatura atrai todo homem sensual
com muito mais poder que cem outras, embora bonitas. Fica então, por tal
motivo, exposta a mil perigos, e compete aos pais o maior zelo em protegê-
la. Se for entregue, muito jovem, a homem sensual, perderá sua fecundida-
de. Se for evitado todo contato nocivo, seu físico perde o viço e ela se torna
pálida, debilitada e, quase sempre, morre jovem. Comendo pouco, isto é,
fazendo regime, fica triste e desanimada; se, pelo contrário, alimenta-se
bem engorda em demasia, torna-se preguiçosa e de aspecto doentio.
2. O mesmo acontece com uma prematura e exagerada educação
psíquica. Quando se obriga as de pouco talento a seguirem rigorosamen-
te os estudos que os pais lhes exigem, tais almas enfraquecem, extempo-
râneas que são no desenvolvimento físico.
3. Tudo tem seu tempo dentro da Ordem Divina. Quando nasce
uma criança a eterna centelha divina é depositada no coração da alma,
tal como o fruto ao despir a flor, iniciando sua consolidação. Uma vez
desenvolvido o corpo, inicia-se o desenvolvimento do espírito no cora-
ção da alma, no que ela tudo deve fazer pare o resultado final. A alma
é qual raiz e haste, – o corpo, o solo; portanto, não deve alimentar o
espírito com matérias grosseiras.
4. Os anéis que ele desenvolve são as humilhações da alma. Quando
ela tenha passado pela última, o espírito se desenvolve por si próprio,
assimilando tudo que na alma lhe é afim. Consolidando-se deste modo,
torna-se eternamente indestrutível, processo que verificamos em grande
número de plantas.
5. Após o fruto ter quase conseguido amadurecer no caminho da or-
dem, as centelhas do gérmen vital, que repousam dentro dos grãos, são
depositadas em tênues invólucros anteriormente preparados. Em seguida o
grão se isola por certo tempo, consolidando-se como por conta própria;
entretanto, fá-lo em parte, através do éter vital do fruto que o circunda.
6. Com o tempo o fruto externo começa a murchar e secar. Por quê?
Pelo motivo da alma penetrar no espírito germinador dentro do grão.
Uma vez que toda a força se tenha integrado neste potencial, a haste,
Jakob Lorber
406

anteriormente viva, seca de maneira completa; todavia a vida vegetal se


une à do gérmen, não podendo jamais ser destruída, presa ou não à
matéria da semente. Deste modo podes observar a mesma ordem em
todas as coisas.”

218. ALMA E CORPO

1. Diz Cirenius: “Senhor, perdoa! Tenho a fazer uma observação!


Que acontece com o gérmen, quando o trigo é moído, assado e, final-
mente, ingerido com o pão? Continua vivo?”
2. Digo Eu: “Por certo; pois quando te alimentas, a parte material
do trigo é expelida do corpo por via natural; a vida do gérmen, porém,
integra-se como potência máxima na vida psíquica. A parte mais mate-
rial do gérmen que, semelhante à água da Gênesis, sempre serviu de base
sólida para o Espírito Divino, torna-se alimento para o corpo, passando,
por fim, devidamente purificada, à alma, onde forma e alimenta os ór-
gãos psíquicos, como sejam os membros, cabelos etc.
3. Que a alma consiste das mesmas partículas que o corpo podes
observar convincentemente no anjo Rafael, neste momento em palestra
com Josoé. (Dirigindo-Me ao primeiro): Rafael, vem cá e deixa tocar-te
por Cirenius!”
4. Diz o vice-rei da Ásia: “Realmente, ele possui um corpo idêntico ao
nosso, porém mais nobre e perfeito, e sua face é duma beleza insuperável!
Sem ser feminina, é, no entanto, ainda mais atraente! Até aqui não lhe dei
muita atenção; agora, quanto mais o fito mais lindo me parece! Que coisa
extraordinária! (Dirigindo-se ao anjo): Ouve, também sentes amor?”
5. Responde este: “Por certo, pois meu corpo espiritual é idêntico à
Sabedoria Divina e minha vida é o Amor Eterno de Deus, portanto, o
amor puro. Aquilo que Deus, o Senhor de Eternidade foi, é, e sempre
será, também devemos ser; pois somos perfeitos, portanto em tudo, Sua
Natureza Divina, assim como o raio do Sol é e produz o que está nele!”
O Grande Evangelho de João – Volume II
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6. Diz Cirenius: “Sim, está certo e também o saberia sem tua expli-
cação; apenas indaguei para ouvir tua voz. Estamos quites e podes voltar
ao teu lugar.”
7. Responde o anjo: “Esta ordem compete unicamente ao Senhor!”
8. Diz Cirenius: “Amigo, pelo que vejo és com toda a tua sabedoria,
beleza e amor um tanto teimoso!”
9. Responde o anjo: “De modo algum! Apenas não posso e não devo
aceitar sugestões de mortais, pois, além de ser em tudo, criação divina, o
meu “eu” é perfeitamente livre! Além disto, não preciso temer algo como
as criaturas deste mundo, pois disponho de poder e força, incompreensí-
veis para teu alcance. Inquire o comandante Julius, minha aluna Yarah e
os discípulos do Senhor, que todos confirmarão minhas palavras.”
10. Diz Cirenius: “Senhor, dize-lhe que se sente, do contrário come-
çarei a temê-lo! Torna-se cada vez mais rude e agitado, o que muito pre-
judica sua beleza!”
11. Digo Eu: “Pois bem; Rafael, volta para teu lugar!” – E o anjo
obedece, para alívio de Cirenius.
12. Indagam João e Matheus se poderiam anotar o que se passou.
13. Respondo: “Sim, mas somente para vós, pois o mundo ainda é
dois mil anos jovem demais para compreendê-lo. Nunca se deve deitar
pérolas aos porcos, que as comeriam como milho.” Os dois discípulos o
fazem em quadros alegóricos, anotando os ensinamentos em hebraico.

219. A CRIAÇÃO DE CÉU E TERRA

1. A seguir Cirenius Me pede explicação para a Gênesis de Moisés.


Digo Eu: “Amigo, o que iniciei também terminarei, apenas duvido que o
possais entender. Para tal é indispensável noção sobre o ser humano, tão
difícil quanto a compreensão justa e completa de Deus.
2. Teria de desmembrar a construção física, psíquica e espiritual do
homem, de fibra em fibra, para demonstrar como a alma se desenvolveu
Jakob Lorber
408

e formou do espírito, e a matéria da alma, em suas múltiplas correspon-


dências, conforme acontece entre os raios de luz e as trevas. Por aí vedes
que isto não poderá ser feito tão fácil e rapidamente como julgais; contu-
do, dir-vos-ei tanto quanto assimilardes, de acordo com vossas experiên-
cias psíquicas.
3. Se diz Moisés: “No início criou Deus Céu e Terra”, em absoluto se
referia ao mundo visível porquanto, como sábio, tinha apenas como ob-
jetivo a verdade plena. Ocultava, porém, sua sabedoria em quadros cor-
respondentes, dando prova disto quando teve de cobrir sua face lumino-
sa com uma tríplice coberta.
4. No tocante ao “Céu” deve-se entender que Deus projetou, em
eras remotas, de Seu Centro Eterno e Espiritual, a capacidade intelectiva,
exteriorizando-a. Mas, como disse: apenas a capacidade intelectiva, se-
melhante a um espelho que, mesmo numa noite trevosa possui o poder
de refletir em sua superfície polida. Sem objetividade, no entanto, não
tem valor.
5. Por tal motivo Moisés menciona além da projeção do Céu, ou
seja, a capacidade intelectiva isolada do Centro Vital de Deus, uma cha-
mada criação simultânea da Terra. Que vem a ser a Terra? Por acaso isto
que pisamos? Nunca!
6. A Terra representa a capacidade de assimilação e atração das inteli-
gências afins, semelhantes àquilo que os egípcios e gregos denominavam
associação de idéias, da qual, finalmente, surge uma frase verdadeira.
7. Se, portanto, devido à projeção da capacidade intelectiva, a afini-
dade recíproca é condicional, a atração é evidente, – e Moisés não pode-
ria encontrar quadro mais apropriado para esse ato puramente espiritual
do que a Terra, que nada mais é que um conglomerado de partículas
substanciais de afinidade simultânea.
8. Moisés prossegue: “Havia trevas nas profundezas.” Quereria ele,
deveras, apontar a escuridão sobre a Terra recém-criada? Digo-vos, nunca
sonhou tal idéia, pois era profundo conhecedor da natureza terráquea,
iniciado na sabedoria e ciência dos egípcios. Não ignorando, portanto,
que a Terra, – filha do Sol, milhões vezes milhões de anos mais jovem –
O Grande Evangelho de João – Volume II
409

não poderia estar nas trevas quando foi criada. Moisés apenas apontou
figuradamente que a capacidade intelectiva e a afinidade de atração das
inteligências não possuíam noção, compreensão e consciência, de si pró-
prias – tudo isto idêntico à luz – mas sim, o contrário, até que se apode-
raram reciprocamente, atrito que finalizou em luta. Ainda não observas-
tes o fenômeno produzido pelo atrito de duas pedras ou paus, de que
deriva o fogo e a chama? Eis a luz da qual fala Moisés!

220. TERRA E LUZ

1. (O Senhor): “Sabemos, portanto, o que seja a luz; consta, porém,


que a Terra estava deserta e vazia! Por certo; pois, somente a capacidade
de assimilar qualquer coisa e a noção desta necessidade de modo al-
gum seriam suficientes para encher uma vasilha, ficando neste estado o
receptáculo vazio.
2. O mesmo sucedeu durante a Criação. Bem que havia sido proje-
tada, por Deus, uma quantidade de pensamentos e idéias através da
Onipotência de Seu Amor e Sabedoria no Espaço Infinito, projeção que,
há pouco, denominamos as diversas capacidades intelectivas e isto por-
que todo pensamento é, de certo modo, o reflexo no cérebro daquilo que
o coração ativo produz.
3. Um pensamento ou uma idéia por si só se assemelha a um recep-
táculo vazio ou a um espelho num porão em trevas, portanto a afinidade
recíproca de idéias apresenta o mesmo quadro. Não existe atividade entre
elas, mas apenas capacidade para tal.
4. Todas essas idéias inativas da Sabedoria Divina são comparáveis à
“água”, na qual também se acham amontoados inúmeros elementos especi-
ficados em um só, do qual, todavia, o mundo absorve sua existência variada.
5. Mas todos os pensamentos grandiosos e as idéias deles surgidas
dentro da Sabedoria Divina – embora sublimes e verdadeiros – jamais
poderiam ter conseguido se concretizar, tal como acontece a um sábio se
Jakob Lorber
410

lhe faltam os meios adequados. A fim de imaginarmos uma realidade


como sequência de pensamentos e idéias torna-se necessário conseguir os
meios correspondentes, pelos quais a verdadeira atividade das idéias é
ativada por uma elevada força.
6. Se uma pessoa deseja dar corpo a alguma idéia, precisa, além dos
recursos materiais, sentir um grande amor por tal empreendimento. O amor
acaricia o projeto, pelo que tudo se torna mais claro e compreensível. E vede,
tal amor é o Espírito de Deus que paira sobre as águas, onde se apresenta a
massa infinita dos pensamentos e idéias divinos, ainda informes.
7. Vivificados por esse Espírito os pensamentos de Deus começaram
a se unir numa idéia grandiosa e um pensamento impelia outro. Com
isto se deu, automaticamente, na Ordem Divina o “Que se faça luz!” e “A
luz se fez!”, e explica-se por si mesmo o grande ato criador e natural desde
início, – equivalente ao processo evolutivo psico-espiritual da criança re-
cém-nascida até o ancião, do primeiro homem da Terra até o fim dos
tempos – em tudo!
8. Moisés externa uma frase pela qual se poderia deduzir que Deus
reconhecesse ser a luz boa, após sua aparição pelo fogo da atividade amo-
rosa do Espírito. É claro que isto não se dá; testemunha apenas a Sabedo-
ria Infinita de Deus, pela qual essa luz é a Vida Espiritual verdadeiramen-
te livre, surgida pela atividade dos pensamentos e idéias divinos dentro
da Sabedoria. Poder-se-ão, deste modo, desenvolver para seres indepen-
dentes com inteligência própria, sob influência constante de Deus! Eis o
que se deve entender sob o aditamento de Moisés; nunca, porém, supor
ter Deus chegado à noção subjetiva ser a luz algo de bom.

221. SEPARAÇÃO DE LUZ E TREVA

1. (O Senhor): “Agora, porém, temos algo mais difícil de compreen-


der. Ei-lo: Deus separou a luz das trevas, denominando à primeira “dia” e
à segunda “noite”. Ser-vos-á mais fácil classificar as noções de “dia” para
O Grande Evangelho de João – Volume II
411

vida independente, liberdade, vida consciente do Amor Divino, surgida


na criatura, enquanto que para “noite”, morte, julgamento, prisão, pen-
samentos e idéias de Deus ainda não vivificados.
2. Esta ordem também se vos depara em cada planta que apresenta
até o surgimento do fruto nada além de treva ou morte, porquanto o
Divino Espírito paira sobre as águas das profundezas antes do preparo
vital dentro da matéria. Havendo, porém, uma base sólida, de sorte que
o último anel na haste da Criação possa ser formado, dando início à
verdadeira vida do espírito numa consciência própria, – é evidente a se-
paração entre luz e treva, da vida liberta e imutável do seu julgamento
temporário, idêntico à noite.
3. A seguir, consta: “Da noite e do amanhecer fez-se o primeiro dia.”
Que vem a ser isto? – A noite é semelhante às condições preparatórias,
onde a assimilação da vida do Amor Divino, pela influência da onipo-
tente Vontade de Deus, concretizam-se como se pensamentos isolados se
unissem a uma idéia. Uma vez firmados para a formação do último anel
debaixo da espiga do trigo, a noite terá findado, dando início à ação livre
e independente do fruto. Como as criaturas denominassem de “manhã”
a passagem da noite para o dia, de modo idêntico se classifica o estado
transitório de constrangimento do homem, antes de se libertar de sua
mente. Moisés, portanto, não cometeu erro de lógica quando fez surgir o
primeiro dia da noite e da manhã seguinte.
4. A razão dele fazer seguir seis dias após o primeiro, baseia-se na
observação segura de que cada coisa, desde o início até sua perfeição, terá
de passar por seis períodos dentro da Ordem Divina, assim como acon-
tece à espiga de trigo quando amadurece na haste seca.
5. Da semeadura ao germinar dá-se o primeiro dia; até a formação
da haste e das folhas protetoras, o segundo; daí ao último anel rente à
base da espiga, o terceiro; da formação dos vasos respectivos, tal como os
aposentos nupciais para a geração da vida independente até a flor, o quar-
to dia; daí à queda da flor, a formação do fruto vital e sua livre ação –
embora ainda ligado aos estados primitivos de aprisionamento, dos quais
uma parte nutritiva é absorvida para formar as películas, não obstante o
Jakob Lorber
412

alimento principal ser assimilado dos Céus de luz e calor – até o comple-
to desenvolvimento do fruto, o quinto dia; finalmente, a queda da casca
que o envolve já amadurecido, fase em que a semente exige o alimento
celeste para sua consolidação, nutrindo-se livremente para uma vida
indestrutível, o sexto e último dia de formação e plena liberdade vital. No
sétimo se apresenta o repouso, o estado da vida perfeitamente consolida-
da para a Eternidade e munida da plena Perfeição Divina.

222. FASE FINAL DA CRIAÇÃO

1. (O Senhor): “Se fordes capazes de meditar um pouco mais que o


comum das criaturas sobre o que vos acabo de falar, compreendereis,
embora não em sua profundeza, que Moisés se referia à única e verda-
deira aparição do desenvolvimento de todas as coisas, desde seu início
à perfeição máxima, dentro da Ordem da Sabedoria Eterna.
2. Quem não o entender desta forma não deve ler os livros desse
profeta, pois interpretá-lo-á erradamente, aborrecendo-se com a estultí-
cia e finalmente, com aqueles que desejem por meio de armas, incutir tal
ensinamento aos demais como divino.
3. Fazendo a leitura dentro da compreensão acima, a pessoa reco-
nhecerá não só ser Moisés profeta mui sábio, iluminado pelo Espírito de
Deus, dotado da maior capacidade de inspiração e vontade firme, capaz
de transmitir às criaturas a verdade plena sobre a Divindade e Sua Cria-
ção, da maneira como a recebeu por Deus em seu espírito gigantesco.
4. Deste modo surgiram sóis, planetas, isoladamente e tudo que
comportam, ao mesmo tempo com relação ao Todo. Apareceu o homem
num sentido restrito, e de modo geral, porquanto toda partícula – da
maior à menor – da Criação material e espiritual corresponde ao ho-
mem, por ser dela o móvel e a causa principal, além de ainda representar
o produto final do Plano Divino, conquistado através de todos os empe-
nhos precedentes de Deus.
O Grande Evangelho de João – Volume II
413

5. Por ser o homem o que Deus queria alcançar através dos ciclos
anteriores, de que sois prova irrefutável – tudo que está nos Céus e no
Cosmos corresponde a ele, conforme foi explicado pelo profeta. Anali-
sai-o cautelosamente e chegareis a esta conclusão. Tu, Cirenius, estarás
satisfeito com Moisés?”

223. PARECER DE CIRENIUS A RESPEITO DA HISTÓRIA


DA GÊNESIS

1. Diz Cirenius: “Senhor, Tua Sabedoria ultrapassa tudo que a Terra


até hoje apresentou. Consiste em grande vantagem o homem ser sábio;
muito maior valor terá, porém, podendo explicar a profunda Sabedoria
de Deus de tal forma, a torná-la acessível a pessoas sem especial educação
filosófica, conforme acontece conosco. Somente Deus poderia nos dar tal
elucidação, tão fácil e clara. Pois um homem, por mais sábio que fosse,
poderia interpretar, como Moisés, a sabedoria recebida, pelo Espírito Divi-
no através de quadros alegóricos, ou talvez a recebesse como sementes que
lançaria no solo do coração humano. Dali surgiriam os frutos correspon-
dentes; as criaturas, no entanto, não os reconheceram, como também já
não se haviam apercebido das sementes depositadas em suas almas, de sorte
que a colheita posterior não lhes foi útil, por não saberem empregá-la.
2. De modo geral os primeiros disseminadores da sabedoria não a
aplicam devidamente, e muito menos o fazem os posteriores adeptos;
por isto, os erros dos profetas quanto à aplicação da doutrina são respon-
sáveis pelos enganos subsequentes.
3. Por certo Moisés e Aaron viveram dentro dos Ensinamentos da-
dos pelo Espírito de Deus; no entanto, duvido que tenham compreendi-
do a Doutrina como acabas de nos explicar. É fácil traduzir de um idio-
ma para outro; difícil, todavia, é entender-lhe o sentido.
4. Do modo como Tu nos elucidaste a Gênesis, não poderá perdurar
uma dúvida no coração do homem e o cumprimento de tal Doutrina só
Jakob Lorber
414

pode ser justo. Uma vez que demonstras tanta benevolência com a reve-
lação das verdades mais profundas, poderias nos dar pequena explicação
acerca da dita queda dos anjos como os primeiros seres criados, da queda
de Adam e, finalmente, do pecado original!”
5. Digo Eu: “Caro amigo, eis um ponto mais difícil que a Gênesis,
embora esteja nela contido, brilhando qual ouro para o pesquisador te-
naz. Se desejas apenas uma explicação concisa poderei satisfazer-te, pois
um ensinamento completo levaria muito tempo e já soou a hora da ter-
ceira ronda.

224. A QUEDA DOS ARCANJOS, DE ADAM, E O


PECADO ORIGINAL

1. (O Senhor): “A queda dos arcanjos ou das idéias livres e vivas de


Deus no Espaço é a separação da qual Moisés diz: “Deus separou a luz
das trevas!” Já vos demonstrei como deveis legitimamente interpretá-lo; a
consequencia daquele fato – o mundo material com seus sóis, planetas e
luas e todo o seu conteúdo – acha-se espalhado no Espaço.
2. Quanto à queda de Adam há nela mais objetividade do que na
queda dos anjos; no entanto, é, na interpretação espiritual, homogênea.
Apenas surgiu com o primeiro homem uma lei positiva, enquanto na
rebelião dos anjos não havia lei, pois naquela época se iniciara a grande
evolução dos seres a serem libertados e, além de Deus, não existia inteli-
gência sujeita à lei.
3. Por tal razão deu-se sob a chamada “queda dos anjos” uma separa-
ção necessária e forçada, enquanto a adamítica, surgindo da primeira, já era
um ato livre do primeiro homem encarnado, liberto em todas as esferas
psíquicas. Em seu todo representa, entretanto, também um acontecimen-
to previsto dentro da oculta Ordem Divina, embora não sendo obrigação
absoluta, é dado ao homem – numa livre escolha entre “tu deves” e “tu não
deves” de seu livre arbítrio, – a fim de se consolidar pela própria ação.
O Grande Evangelho de João – Volume II
415

4. Há diferença entre uma criatura inapta para o uso de suas pernas


e que, portanto, tenha de ser carregada dum lugar para outro, – e uma
sadia e treinada. Quem sabe marchar não necessita ser transportado –
qual criança recém-nascida – a um destino desejado em seu benefício;
basta que se lhe mostre o caminho direto. A pessoa que deseja alcançá-lo,
assim o fará; se andar por atalhos e desvios, terá culpa quando chegar à
meta um tanto atrasada e depois de muitas peripécias.
5. Este quadro se nos apresenta em Adam. Se tivesse ele considerado
o mandamento positivo, a Humanidade, isto é, a alma perfeita do ho-
mem, não teria chegado a um físico tão duro, pesado e alquebrado, aco-
metido de muitas fraquezas e males. A desobediência à lei positiva levou
o primeiro homem a um desvio, no qual alcançará o destino muito mais
tarde e dificilmente.
6. Duvidas que uma pequena lei moral não respeitada pudesse
influenciar em a natureza total do homem, julgando que Adam teria
sido o mesmo homem carnal sem o gozo fútil da maçã, sendo sua
morte a de todas as criaturas de hoje!
7. Em parte tens razão, pois o saborear duma maçã não pode ser
mortal; entretanto era proibido até uma época incerta, para que a alma se
consolidasse ainda mais. Ela, porém, ciente de seu livre arbítrio, descon-
siderou a lei, invadiu de certo modo sua natureza, produzindo um feri-
mento profundo e de difícil cura. Embora, esta ferida venha a sarar, uma
quantidade de vasos é obstruída de tal forma a impedir a circulação dos
humores psíquicos, provocando na cicatriz uma pressão dolorosa.
8. Por este motivo a alma é desviada de cuidar somente do livre
progresso do espírito, aplicando a maior parte de sua atividade no apagar
da cicatriz. E esta cicatriz se chama “o mundo”.
9. A alma tenta dela se libertar, por atormentá-la nesta preocupação
mundana. Quanto mais se esforça neste sentido, maior se torna a cica-
triz, aumentando sua preocupação. No final nada mais faz além de se
ocupar da cura da mesma, isto é, livrar-se da preocupação, enterrando-se
totalmente na cicatriz e desviando-se do seu espírito. Nisto consiste o
dito “pecado original”!
Jakob Lorber
416

225. O PODER DA HEREDITARIEDADE

1. (O Senhor): “Haverá quem indague: Como isto poderia ser pas-


sado por herança? – De modo muito fácil, mormente na formação orgâ-
nica da alma, pois aquilo que tiver assimilado perdurará por milênios,
caso não seja posto em ordem pelo espírito. Vede o tipo dum povo, ima-
ginando a figura de seus ancestrais – e observareis uma acentuada seme-
lhança. Se os antepassados foram bons e meigos, todo o povo o será, com
raras exceções, e vice-versa.
2. Se um indelével traço físico ou moral dum antepassado mani-
festa-se nos descendentes no decorrer de milênios, quanto mais não
será com o do primeiro homem, já que sua alma era, no início, muito
mais susceptível e irritável que as posteriores. Nessas se impregnava o
cunho paternal no momento da concepção, que não podia ser apagado e
exterminado de modo natural. Infelizmente a alma fica desfigurada por
tal cicatriz, e Deus empregou todos os meios, a fim de que ela conseguis-
se livrar-se para sempre de mácula tão perniciosa. Tal empreendimento,
porém, não obteve completo êxito até então, motivo por que Eu vim
Pessoalmente apagar esse velho e indesejável estigma.
3. Consegui-lo-ei; apenas, porém, pelas muitas feridas aplicadas em
Meu Corpo. Por ora não o compreendereis; somente quando tal aconte-
cer e Meu Espírito vos conduzir a toda Sabedoria.
4. Já lestes em Moisés a respeito da maldição de Jeovah sobre a Terra:
“Prepararás o teu pão no suor do rosto!” E mais além: “Produzirás cardos
e abrolhos!”
5. Se fôsseis interpretá-lo literalmente, isto é, dentro da matéria, teríeis
razão de acusar Deus duma incoerência completa. Mas como tal expres-
são deve ser tomada apenas no sentido psíco-espiritual, essa acusação é
infundada. Deve o homem atribuir a si mesmo qualquer agravante em
sua natureza, como também a responsabilidade das más colheitas. No
que diz respeito aos estados atmosféricos, nem tudo depende da Vontade
de Deus, mas do próprio homem.
O Grande Evangelho de João – Volume II
417

6. Quando uma alma tiver plena consciência de si mesma, fazendo


uso do bom senso, de sorte a reconhecer em si a Ordem Divina, terá chega-
do o momento de sua independência, em virtude de sua consolidação.
Deixando de assim agir em alguma tendência, ou fazendo algo inverso, ter-
se-á prejudicado em tal ponto e não se poderá libertar por conta própria.
Toda sua ação será mais ou menos desordenada e com o tempo surgirão
recalques psíquicos, como sejam: ignorância, tolice, incompreensão, inér-
cia, medo, reduzida capacidade de assimilação, desencorajamento, tristeza,
pavor, aborrecimento, tédio, raiva e, finalmente, desespero. Eis os cardos e
abrolhos que a Terra, isto é, a atrofiada capacidade intelectiva, da alma fará
surgir, como parasitas nos galhos sadios.
7. A “maldição” de Deus nada mais é que a compreensão nítida,
transmitida a uma alma pervertida por culpa própria, em virtude de se
ter mantido contra a Ordem, pelo que é obrigada a procurar seu pão pelo
próprio esforço.
8. O “suor do rosto” é a mencionada cicatriz da preocupação psíqui-
ca que a alma contraiu pelo saborear da maçã, que muito bem poderia ter
sido evitada.

226. AS PREOCUPAÇÕES MUNDANAS E SUAS


CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS PARA A ALMA

1. (O Senhor): “Por isto vos afirmo ser necessário que abandoneis


todas as preocupações fúteis; cada preocupação mundana representa um
laço material que prende a alma à cicatriz adamítica. Quanto mais a
psique se une à matéria física, tanto mais o desenvolvimento do espírito
é atrofiado, pois pela preocupação com o corpo – que em si é apenas um
julgamento, simples necessidade fatal, portanto a morte mesma, – ela
perde a consciência e o conhecimento da vida eterna e imutável dentro
de si. Se, porém, desprender-se deste laço, mais livre se tornará em tudo
– e à proporção que se for unindo à centelha divina, mais viva e ilumina-
Jakob Lorber
418

da será sua consciência da vida eterna.


2. Aquele que sente pavor da morte mantém sua alma numa forte
união com o corpo e numa fraca ligação com o espírito; pois grande
amor à vida terrena demonstra que a alma pouco se dedica à vida do
espírito, no que é culpada a velha cicatriz que Adam aplicou a si e a todas
as almas encarnadas.
3. Todavia, cada uma pode, quando quer, sarar dessa ferida. Deus
Mesmo providenciou os meios seguros em presença de Adam, tanto que
pôde este se curar quase integralmente, no fim de sua vida. Henoch con-
seguiu-o de forma completa a ponto de se transfigurar em vida, o mesmo
se dando com alguns outros patriarcas. Como seus descendentes se
tenham unido aos de pais não abençoados, a herança adamítica perdu-
rou mais ou menos forte como provação do homem.
4. Daí derivam os partos e mortes dolorosos; pois uma alma ferida
pelo sêmen une-se de modo tenaz à carne materna, sendo necessário
romper esses laços com violência, na hora do parto. Filhos como Isaac
nasceram sem causar sofrimento às mães.
5. O mesmo acontece com a desencarnação. Criaturas muito presas à
vida, cuja preocupação convirja apenas para esse lado, sofrem muito quan-
do na carne, adoecendo, não raro, psíquica e, em seguida, fisicamente.
Antes da morte enfrentam sempre sofrimentos insuportáveis, desprenden-
do-se do corpo numa dor atroz, que tudo abafa, percutindo seu eco ainda
no Além, mormente quando se trata de pessoas habituadas à existência
cheia de conforto e bem-estar. As almas, porém, que em vida chegaram à
conclusão salutar de que todos os tesouros de nada valem – perecíveis que
são como o corpo, libertando-se o mais possível da cicatriz adamítica e
encontrando em compensação seu espírito, o athma de Deus, pelo zelo
cuidadoso desta dádiva divina, – poucas moléstias têm de passar.
6. Uma vez estabelecida a união entre alma e espírito, o corpo pouco
a pouco aceitará direção espiritual, tornando-se insensível às impressões do
mundo, pois toda doença surge geralmente pelo rompimento de um laço
material. Em suma, o corpo é abarrotado pela alma faminta com inúmeras
necessidades. Se, em consequência de circunstâncias climáticas etc., não é
O Grande Evangelho de João – Volume II
419

possível satisfazê-la, é preciso romper os laços, um por um, com que o


corpo adoece unido à alma, de certo modo portadora do sofrimento.
7. Alma e corpo habituados a múltiplas privações do reino mortal
do mundo, terão poucos laços entre os bens perecíveis da Terra e o corpo,
facilitando o desprendimento na hora da morte. Se deste modo é sustado
todo motivo para as moléstias, desejava saber de que forma poderiam
infiltrar-se em corpo e alma. Em tais criaturas ele pouco sente, ainda
mesmo martirizado por meios brutais.
8. Lembrai-vos dos jovens, no interior da fornalha! Cantavam e louva-
vam a Deus! Embora fosse o corpo destruído pelo poder do fogo, eles nada
sentiam, porquanto de há muito se haviam libertado de todos os laços
mundanos, unindo-se ao espírito divino. Nessa união a alma não sofre na
hora da morte, porquanto sua ligação ao corpo é muito fraca; sente, ao
contrário, um bem-estar sublime em toda sua compleição, não perdendo a
consciência, a luz da visão espiritual e tão pouco a audição, o olfato, a
gustação e o tato mais apurados, conforme os possui o anjo Rafael.
9. Como já disse, porém, para consegui-lo, necessário é que o ho-
mem se livre do pecado adamítico, conforme vos demonstrei: as preocu-
pações mundanas têm de ser exterminadas da alma, pois só assim conse-
guirá penetrar novamente na Ordem Divina. Eis o pecado original, de
certo modo a carne da alma; espiritualmente são as preocupações pelo
seu bem-estar a herança de Adam, deixada para todos os seus descenden-
tes. Além do meio por Mim apontado existe ainda outro, que será dado
às criaturas para a salvação de suas almas, após terminar Minha Missão e
do qual João Batista foi o arauto escolhido.

227. A QUEDA DOS ARCANJOS

1. (O Senhor): “O que sucede com o homem na medida ínfima,


isto é, sua queda no erro vilipendiador de sua natureza, ocorreu também
na criação dos arcanjos.
Jakob Lorber
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2. Uma vez que os Pensamentos e as subsequêntes Idéias de Deus se


tinham tornado conscientes, de sorte a se solidificarem em seres de inte-
ligência ilimitada, de acordo com a Forma Divina, começando a se inte-
grar em sua independência, – necessário era dar-lhes oportunidade de
ação, ensinando-lhes o caminho.
3. De que modo? Por acaso, dizendo-lhes apenas: Sois livres e podeis
fazer o que vos agrade?! – Resta saber se tais seres inexperientes teriam
capacidade para uma ação qualquer ou se precipitar-se-iam unicamente,
qual pólipos, à saciedade de sua natureza, o que se vos apresenta em
povos espiritualmente atrasados cuja preocupação e atividade se dirigem
apenas à satisfação da fome.
4. Haverá quem diga: De acordo com sua inteligência, poderiam
ser instruídos quanto à sua ação. – Bem, digo Eu; se a inércia, porém,
prepondera nesses seres – pois surgiram da inação – e não existe senso
de atividade e também não pode ser desperto, – que fazer? Talvez sugirais
que se lhes force através da Onipotência Divina?
5. Pois não! Que aconteceria, porém, à absoluta independência, pela
qual, unicamente, um ser criado poderá alcançar sua liberdade, pois do
contrário seria qual máquina que age apenas quando acionada pela von-
tade e inteligência livre de seu mestre?
6. Vedes, portanto, ser este meio impossível, pois por obrigação só
máquinas podem agir, sendo a própria Terra uma pequena amostra. Os
inúmeros sóis, planetas e luas são simples máquinas no Espaço, como
também seus habitantes, – e o corpo humano nada mais é do que um
engenho artístico, movimentado pela livre vontade da alma.
7. De que modo, portanto, deveriam os arcanjos alcançar sua inde-
pendência? Evidentemente apenas por um mandamento, embora não
tão positivo como foi dado a Adam.
8. A lei, no entanto, teria sido dada inutilmente, se com ela não
estivesse enraizado em todos os seres originais o desejo de infringi-la.
Uma vez a tendência da infração fazendo parte da natureza dos seres
primitivos, deve acompanhá-la qual castigo uma consequência desagra-
dável e automática, sendo preciso demonstrar sua realidade, causa e efei-
O Grande Evangelho de João – Volume II
421

to. Este ensinamento dado aos anjos mostra a necessidade da obediência.


9. Torna-se até necessário apontar-lhes que pela infração poderá sur-
gir no começo um benefício passageiro, o qual, mais tarde, acarretará um
prejuízo prolongado e doloroso. Deste modo orientados os seres poderão
fazer verdadeiro uso de sua livre inteligência e atividade correspondente,
ou para o bem, ou para o mal. Em suma, eles começarão a agir com
liberdade, fator principal para a verdadeira e plena emancipação num
caminho mais curto ou mais longo, evitando-se com isto a destruição
completa duma entidade inteligente.
10. Quanto ao Criador, tanto faz se a independência por ora seja feliz ou
infeliz, pois para todos está aberta a porta que conduz – nos caminhos
demonstrados – à bem-aventurança. Tudo depende da livre vontade da
criatura. Infeliz ou não, – ela terá de corresponder à Ordem Total do Cri-
ador.
11. Cientes disto, não será difícil deduzir-se a queda dos primeiros
anjos, pois também para eles foi preciso estabelecer uma lei acompanha-
da da tentação de infringi-la, ligada a vantagens momentâneas. De outro
lado, dar-lhes esclarecimentos necessários quanto aos verdadeiros e eter-
nos benefícios, embora tardios, caso agissem dentro da lei estabelecida.
12. A Criação material prova que apenas uma parte dos seres respei-
tou o mandamento, sendo uma consequência ou um castigo do não
cumprimento; espiritualmente falando nada mais é que o caminho mais
longo à existência feliz e livre dos seres criados.
13. Além disto, o anjo ora aqui presente é uma prova nítida de que
inúmeras falanges de espíritos livremente criados consideraram o manda-
mento, muito embora não fosse tão positivo quanto ao dado a Adam, de
sorte que a Criação material é subordinada ao seu poder, força e sabedoria.
14. Este anjo não poderá provar à posteridade não ter uma enorme
parte de anjos puros caído pelo mandamento dado; tal conhecimento
também torna-se desnecessário para a bem-aventurança de todas as cria-
turas, mormente se ainda não alcançaram o conhecimento próprio atra-
vés de seu espírito. Uma vez alcançado este estado, o homem poderá, a
qualquer momento, ver, como se diz, os sete Céus abertos, sendo-lhe
Jakob Lorber
422

possível de lá buscar as provas que desejar. Deste modo, tudo ficou pre-
visto. – Agora dize-Me, Cirenius, se podes formar uma idéia quanto à
queda dos arcanjos.”

228. FORÇA E RESISTÊNCIA

1. Responde Cirenius, todo feliz: “Senhor, tanto meu coração quan-


to o cérebro Te darão provas disto. Creio, entretanto, haver atrás desses
esclarecimentos maravilhosos infinidade de outros, com os quais nem
os anjos puros talvez sonhassem. Por mim, estou plenamente satisfeito
e terei assunto para meditar até o fim da vida, pois tudo isto excede o
mais elevado horizonte do saber e conhecimento humanos. Apenas
Satanás e seu séquito de demônios continuam sendo um enigma! Pode-
rias nos dar sobre isto uma pequena explicação?”
2. Digo Eu: “É demasiado prematuro para teu entendimento escla-
recer-te este assunto em seu todo. Darvos-ei, todavia, uma pequena elu-
cidação, a bem de vossa compreensão.
3. Vede, tudo que existe vibra através de certa luta constante. Toda
existência, inclusive a divina, contém em si uma quantidade de contras-
tes negativos e positivos, que se chocam como calor e frio, treva e luz,
duro e mole, amargo e doce, pesado e leve, largo e estreito, alto e baixo,
odioso e amoroso, mau e bom, errado e certo, mentiroso e verdadeiro.
4. Não existe força capaz de agir se não houver resistência. Imaginai
um gigante, cujo vigor físico poderia desafiar um exército. De que lhe
adiantaria isto, se fosse colocado qual nuvem no espaço? Bastaria para
impeli-lo uma leve brisa, que mal movimentasse uma pequena folha, não
obstante sua força!
5. A fim de que o gigante pudesse fazer efetivo uso da mesma, neces-
sário seria um solo firme que o sustentasse. O solo, neste caso, é seu
contraste, pois necessita para exercício de livre movimentação e de uma
base sólida onde se ligasse à estabilidade segura do solo, oferecendo-lhe
O Grande Evangelho de João – Volume II
423

possibilidade para enfrentar um suposto ataque. Sendo o solo uma ro-


cha, não pode haver movimento, por mais poderoso, capaz de agir con-
tra sua estabilidade, a não ser que seja mais elevada que as forças ali con-
centradas. A base sendo flexível, portanto menor à capacidade de movi-
mentação violenta do gigante, seu vigor encontrará pouca resistência no
solo e será difícil ele enfrentar outra força, menor.
6. Para maior elucidação imaginai ser este gigante capaz de levantar,
num solo firme, o peso de mil pessoas. Imaginemos tal experiência em
cima dum brejo, que mal suportaria o peso dele; se mesmo assim tentasse
erguer cem ou apenas dez pessoas, – nada poderia conseguir, porquanto
afundaria e toda sua força seria anulada por não ter a resistência precisa
debaixo de seus pés.
7. Não há força que se possa externar, caso não se tenha polarizado
com outra, idêntica, num certo atrito. No caso do gigante o solo firme
luta contra seu peso e movimento, vencendo-os até certo ponto; e tal
vitória estável do solo se transforma em base para a força e medida motora.

229. A NATUREZA DE SATANÁS

1. (O Senhor): “Por este exemplo palpável nos convencemos da ra-


zão por que não haverá existência sem resistência, assim como a força do
gigante no livre espaço seria nula quanto ao efeito, pois necessita dum
pólo oposto para sua ação. Esta relação deve existir em tudo dentro da
medida justa, do contrário não entraria em evidência.
2. De tal forma, a Existência Perfeita de Deus contém em Si os
contrastes mais desenvolvidos, sem os quais não haveria vida. Tais con-
trastes estão em combate ininterrupto, de modo tal que a constante vitó-
ria de uma força serve de apoio à vencida, conforme observamos na vitó-
ria do solo firme sobre a força do gigante.
3. Se Deus, portanto, desejava criar seres semelhantes, tinha de muni-
los de forças antagônicas, que desde Eternidades Ele possui dentro de Si,
Jakob Lorber
424

naturalmente num equilíbrio perfeito, do contrário jamais teria tido ação.


4. Pois bem; os seres foram criados de acordo com a Semelhança
Divina e, finalmente, apossaram-se da capacidade de consolidação atra-
vés da luta surgida pelos contrastes dados por Deus.
5. Todos os seres receberam as tendências de calma e movimento,
inércia e senso ativo, treva e luz, amor e ira, impetuosidade e meiguice
etc.; apenas havia diferença quanto à medida. Em Deus todos os contras-
tes se achavam desde Eternidades na mais perfeita ordem. Nos seres cri-
ados tinham de alcançar, pela luta independente, igual posição.
6. Eis que se registraram diversas vitórias: numa fileira a estagnação
vencia o movimento, tanto que o último se esforçava constantemente
por amolecer a pedra, para que se lhe tornasse semelhante, sendo comba-
tido pela calma, mais fraca, a fim de conseguir um equilíbrio justo. Nou-
tras, o movimento se tornava preponderante.
7. Em muitos seres os contrastes alcançaram uma justa medida den-
tro da Ordem Divina, tornando-os perfeitos por se equilibrarem conti-
nuamente através de suas capacidades intelectivas, idênticas.
8. Se uma força qualquer, num ser prestes a se consolidar, procura
fazer emudecer através dum esforço tenaz todas as potências contrárias,
atraindo-as para sua esfera, – tal força se aniquila a si própria, pois afasta
todas as oportunidades para manifestar-se. Como já disse: uma força sem
oposição não tem poder, conforme vimos no exemplo do gigante.
9. A que seja dominada por si mesma tende a atrair outras, a fim de
se livrar de seu doloroso estado de prisão, no que podeis observar o que
seja Satanás e os demônios.
10. Satanás é uma personalidade poderosa e corresponde à estagna-
ção e ao ócio; queria ele unir em si todas as demais forças, tornando-as
em parte inertes. Mas as potências nele vencidas não estagnavam com-
pletamente, pois manifestam atividade constante, personificando-se; por
tal atividade individual vivificam elas sua origem – Satanás – com uma
vida aparente, em relação à manifestação livre e verdadeira da Vida.
11. Tais forças vencidas, contudo, não aceitando a derrota, são o que
se chama demônio ou espírito mau. – Dei-te uma pequena elucidação;
O Grande Evangelho de João – Volume II
425

caso desejes algo mais, fala!”

230. O ENSINO DOS ARCANJOS

1. Diz Cirenius: “Tenho a impressão de entender qualquer coisa a


respeito; longe, porém, estou de compreendê-lo a fundo, porquanto o
assunto é por demais sutil. O equilíbrio das forças entre si é de tal forma
complicado que dificilmente poderá entrar numa relação ordenada em
criaturas como eu, manifestando-se em seguida como entidade de perfei-
ção divina.
2. Por isto julgo não ser possível culpar-se um espírito original, se-
melhante a nós, que se haja excedido contra a boa ordem. Quem poderia
atribuir a alguém a culpa plena de sua brutalidade, se desde o nascimento
não teve ocasião de adquirir bons hábitos, comuns a pessoas educadas?
3. Como admitir, houvesse nos seres primitivos – que através dos
pensamentos e idéias de Deus se consolidaram – aquela compreensão
necessária para desenvolver-se dentro da Ordem Divina? A natureza in-
dividual de Satanás não podia possuir o entendimento do arcanjo Mi-
guel, do contrário lhe seria idêntica. Em suma, Senhor, estou vacilando
entre luz e treva, pois quando me aproximo da primeira, tenho a impres-
são de que sua chama me venha queimar; afastando-me, acho-me na
treva anterior. Por isto será necessário despejar mais algum óleo na lam-
parina do meu intelecto!
4. Por ora posso comparar-me a uma pessoa meio adormecida du-
rante a madrugada: dum lado os olhos estão cerrados pelo sono, doutro
lado a claridade atua sobre eles, de sorte a não se poderem entregar à
sonolência. Desperta, Senhor, inteiramente os meus olhos, do contrário
poderá acontecer que eu adormeça, não obstante o pleno conhecimento
da Ordem Divina na Sabedoria e Amor totais!”
5. Digo Eu: “Caro amigo; avisei-te ser difícil assimilar estas coisas
em seu todo. Tentarei esclarecer-te por meio de quadros e parábolas, por-
Jakob Lorber
426

quanto é do teu desejo conseguir uma noção mais profunda.


6. Enganas-te, julgando que Deus tivesse entregue os seres criados à
própria educação, antes de possuírem a capacidade de reconhecer e assi-
milar em si a Ordem Divina. Precederam longos períodos de ensino até
que fossem entregues à própria liberdade e à educação individual.
7. Calcula o tempo decorrido entre Adam e hoje, – durante o qual
o ensino perdura de modo variado! E após este preparo Eu vim Pessoal-
mente mostrar às criaturas os caminhos que deverão palmilhar pela pró-
pria força interior, que até então recebeu a devida formação do “pró” e do
“contra”. Pela Minha Presença é dada ao homem a plena liberdade para
seu aperfeiçoamento, acompanhada por nova lei de amor, contendo to-
das as demais leis e a Sabedoria de Deus.
8. Quem viver dentro deste novo mandamento, desenvolverá indu-
bitavelmente sua vida dentro da Ordem Divina, podendo ingressar na
plenitude do verdadeiro e eterno ser. Não o aceitando e deixando de
organizar suas ações dentro de tal princípio, por certo não atingirá a meta
do aperfeiçoamento verdadeiro.
9. Ninguém poderá afirmar: “Não sabia o que fazer!” Mesmo que
diga, distante daqui: “A chamada divina não chegou aos meus ouvidos!”,
terá a seguinte resposta: “Desde agora não existe criatura na Terra, que
não sentisse no coração qual seu proceder dentro da justiça!”
10. Todos possuem voz de consciência, que os guia para o bem e a
verdade; quem a seguir, alcançará conhecimento maior, iluminando-lhe
todos os caminhos da Ordem Divina.”

231. AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA DE LÚCIFER

1. (O Senhor): “Quão curto é o período de Adam até nós, compara-


do à duração, inconcebível do entendimento humano, entre a era do
surgimento dos arcanjos até a época em que podiam fazer pleno uso do
livre arbítrio.
O Grande Evangelho de João – Volume II
427

2. Existem no Espaço Infinito sóis primários que, devido à grande


distância não obstante seu tamanho incalculável, mal podem ser vistos
como pequeninos pontos luminosos. Têm mais ou menos a duração da
época que dista entre a queda dos anjos puros até nossos dias. A superfí-
cie da Terra não comportaria o número de anos correspondentes à idade
de tais astros! E se tomasses para milhões de anos um grão de areia da
Terra, na hipótese que toda ela contivesse tais grãos – este cálculo ainda
não lhe corresponderia! Entretanto, nada representa quanto à duração
daquela era em que Deus começou a projetar Seus Pensamentos e Idéias,
formando os primeiros espíritos. E que não foi feito para o aperfeiçoa-
mento de seu livre arbítrio!
3. Contudo houve no fim daquele longo período de formação espi-
ritual uma quantidade de anjos, os quais, embora tivessem compreendi-
do os caminhos evolutivos de Deus, não desejavam segui-los, desviando-
se em troca de pequenas vantagens para a estrada da destruição própria.
4. O principal espírito de luz, que acolhia dentro de si inúmeros de
outros, cada qual possuidor de várias inteligências, falou de si para si: “Que
mais necessito? Possuo todos os atributos divinos, pois Deus depositou em
mim todo Seu Poder. Agora sou forte e poderoso, porquanto Ele tudo me
deu, ficando isento de forças; veremos se a vantagem da infração contra a
Lei será deveras curta. Opino poder estendê-la a eternidades, providos que
somos, eu e meus afins, de todo poder e força. Quem nos poderá obstar? O
Espaço Infinito que preenchemos não comporta outro poder e inteligên-
cia; assim, quem seria capaz de contestar a vantagem?”
5. Eis as conjeturas do anjo de luz, dirigidas a si próprio e seus asse-
clas. Dito e feito! A consequência, porém, manifestou-se em sua própria
prisão e estagnação, com que surgiu a criação da matéria dentro da Or-
dem Divina, pois o êxito completo do não cumprimento da Lei Divina
foi tão bem previsto como o estado libérrimo daqueles espíritos cumpri-
dores do mandamento.
6. Deste modo, o primeiro anjo e todos os espíritos inferiores e afins
se haviam algemado tremendamente pela própria teimosia. A duração
deste aprisionamento voluntarioso ninguém conhece, incluindo os an-
Jakob Lorber
428

jos, além de Deus.


7. Uma coisa é certa: os espíritos isolados, contidos nesse filho perdi-
do da luz, serão despertados de sua inércia pelo Poder Divino e encarna-
dos neste orbe, o que lhes dará oportunidade idêntica a dos filhos do Alto
para evoluírem à perfeição máxima dos Filhos de Deus.
8. A matéria toda é um espírito isolado, cuja alma poderá ser re-
nascida em cada criatura para a Vida Eterna. Quando todos os elementos
isolados dum mundo tiverem surgido à luz, este orbe terá alcançado o
fim de sua existência. Num planeta como o nosso isto levará muito tem-
po; um dia, porém, terá chegado o fim.

232. INVÓLUCRO E ALMA

1. (O Senhor): “Existe, porém, algo dentro da matéria que nunca se


achará numa alma: o conhecido invólucro, no qual é enfeixada uma qual-
quer potência psíquica isolada, até alcançar um certo grau de indepen-
dência. Após ter conseguido um estado de amadurecimento tal potência
rompe o pequeno invólucro e une-se imediatamente a outras, idênticas e
já libertadas, criando dos elementos correspondentes do ar, da água e da
terra um novo invólucro, como podeis observar em grãos, arbustos, ár-
vores, óvulos de insetos, pássaros e anfíbios.
2. Este invólucro é apenas uma emanação da fixação da Vontade
Divina, nada contendo duma inteligência psíquica propriamente dita;
somente representa um meio necessário, pelo qual a mencionada inteli-
gência se forma, como por si mesma, neste isolamento, para um ser com-
pletamente livre.
3. A matéria é, portanto, dois terços alma e um terço membrana
desvitalizada, como portadora da vida psíquica, no início isolada, mas
que pouco a pouco se vai unindo num ser concreto e sazonado. A maté-
ria do invólucro, ou seja, o Pensamento fixado de Deus, é por tal motivo,
uma instituição de salvamento, pela qual os espíritos isolados, levados à
O Grande Evangelho de João – Volume II
429

queda por Satanás, poderão alcançar sua perfeita liberdade dentro da


Ordem estabelecida, – embora num caminho mais longo que o palmi-
lhado pelos demais anjos da era primitiva.
4. Como o tempo não aflige e perturba a Deus, porquanto Ele fixa
a realização completa de Suas Idéias como algo presente, – não obstan-
te sua duração, – mil anos Lhe são idênticos a um dia ou um momen-
to! Um planeta poderia necessitar, para a libertação de todos os espíritos
contidos em seus invólucros, maior número de anos do que a quantidade
inexpressível de seus próprios grãos de areia, – e para Deus seria o mesmo
que um momento.
5. Afirmo-vos existirem no Espaço Infinito alguns mundos que já
concluíram sua tarefa. Perduram como portadores de novos e livres seres,
apenas mais puros e sólidos, e em sua estrutura imutável de acordo com
a Vontade de Deus, que corresponde à Sua Sabedoria e Ordem Eternas,
imprescindível à existência dos seres.
6. Pois, não obstante possuírem após sua perfeição espiritual, uma
existência inteiramente livre, como que independente do Ser Divino,
essa liberdade não poderia ter duração se não fosse de toda Eternidade
fixada por Deus, dentro de Sua Ordem, a Ele se unindo. Essa fixação
constitui a duração eterna e a manutenção de todos os seres.
7. Daí se conclui automaticamente que jamais poderá ser destruído
algo que Deus tenha criado. Poderá mudar de forma, ou para outra mais
nobre e sublime, ou então para pior, como no caso do arcanjo e seus
seguidores. – Diz-me, Cirenius, compreendes melhor este assunto?”

233. O SABER

1. Diz Cirenius: “Sim, Senhor e Mestre, compreendo-o dentro de


minha capacidade ocasional. Claro é que haveria ainda muita coisa a
indagar, porém reconheço que o excesso de saber não é de utilidade para
o homem, pois lhe anularia a atividade.
Jakob Lorber
430

2. Tal criatura se me apresenta como um rico: para que fim haveria


de querer arar a terra? Seus celeiros estão repletos, as adegas cheias do
melhor vinho e seu palácio abarrotado de ouro, prata e pedrarias. Por isto
seria tolice e loucura dedicar-se à lavoura; entrega-se ao descanso, gozan-
do seus bens terrenos.
3. Ao passo que a pessoa desprovida de vastos conhecimentos está
sempre à procura da verdade, sentindo imensa alegria quando se lhe faz a
luz. Por isto acho que já sei o suficiente nesta esfera; o que me falta repre-
sentará o motivo de minha atividade constante. Tenho razão?”
4. Digo Eu: “Tanto o excesso quanto a carência não são de proveito;
todavia, é preferível demais que de menos, pois aquele que tiver em abun-
dância poderá prover aos necessitados. Por tal razão é melhor possuir em
excesso a Sabedoria Verdadeira; pois o ignorante jamais poderá transmi-
tir algum conhecimento. Uma coisa, porém, digo: não seria útil, nem aos
anjos, possuir onisciência, como Deus!
5. Ele até isto prevê, pois assim como um espírito jamais poderia
preencher o Infinito, tão pouco a sabedoria do espírito mais perfeito
seria capaz de analisar e assimilar todas as profundezas da Sabedoria
Divina. – Compreendes?”
6. Responde Cirenius: “Perfeitamente, pois aplica-se ao ditado: Quod
licet Jovi, non licet bovi. (Nem tudo serve para todos). Perante Deus convém
aos homens e anjos não saberem em demasia, porque, segundo a lei da
Natureza, a vida perderia sua graça se não houvesse sempre algo a pesquisar.
7. Por isto considero mui sábio o fato de que nenhum espírito, por
mais perfeito que seja, jamais se possa aproximar da Sabedoria Divina,
pois o que é infinito não pode ser alcançado pelo finito.
8. Não convém perder palavras sobre tal assunto, porquanto haverá,
por certo, uma quantidade de outros, cuja revelação nos será mais útil
que a confecção da medida, pela qual o fraco espírito humano pudesse
calcular a Sabedoria Divina. O amor é, evidentemente, mais elevado que
toda sapiência, humana e espiritual.
9. Afirmaste há pouco ser possível curar-se a velha cicatriz psíquica
pela nova lei do amor ao próximo, pela qual o homem se compenetrará
O Grande Evangelho de João – Volume II
431

da consciência plena quanto à verdadeira Vida Eterna. Tal será sua maior
conquista, pois lhe facultará meios de realizações grandiosas e sublimes.
10. A noção cruciante da morte e o desaparecer do palco da vida,
fazem com que o homem perca toda coragem para uma atitude nobre, –
ou então, leva-o a precipitar-se nos prazeres efêmeros, a fim de afugentar
o pensamento de sua extinção, procurando gozar a vida da matéria como
se fosse eterna; seria de suma importância criar uma lei que facultasse ao
homem encontrar dentro de si o paraíso perdido por Adam. Consta ser o
amor ao próximo o meio para tanto. A questão é saber como se deve
considerar tal mandamento, importantíssimo, dentro da Ordem Divina,
a fim de alcançar o destino por Ti prometido.”
11. Digo Eu: “Eis uma boa observação de tua parte, para a qual não
deixarei de fornecer-te a resposta certa. Antes, porém, ouçamos o parecer
de nosso anfitrião, a respeito do amor ao semelhante. Dize-nos, Marcus,
quem consideras realmente teu próximo, merecendo todo o teu amor?”

234. MARCUS DISSERTA SOBRE O PRÓXIMO

1. Diz o velho Marcus: “Senhor, sinto-me tão comovido por tudo


que acabo de ouvir em minha casa, que não me julgo capaz de externar
uma palavra razoável; muito menos poderia afirmar quem seja meu ver-
dadeiro próximo.
2. Não resta dúvida seja aquele meu semelhante, ao qual me pren-
dem laços de parentesco e tem direito ao meu auxílio. Ao mesmo tempo
meu vizinho seria meu próximo, assim como minha mulher e filhos.
3. Durante a atividade militar, meus camaradas faziam jus a esta
classificação. Por outro lado, toda pessoa, não obstante sua religião diver-
sa, será meu próximo no momento de necessidade. Até nossos animais
caseiros o são; em suma, penso dever o homem seguir o Governo Divi-
no, fazendo que o Sol do seu amor irradie sobre todos, assim como Deus
faz com todos os seres. Justamente por ser criatura finita, o homem con-
Jakob Lorber
432

segue imitar a Deus de modo limitado; entretanto, sua semelhança divi-


na lhe facilita o desenvolvimento das faculdades conferidas por Deus. Eis
minha conclusão; prefiro que Te externes, Senhor, se é que o tencionas
fazer a estas horas.”
4. Digo Eu: “Sim, falarei, embora já tenha passado a meia-noite.
Antes, faremos um pequeno intervalo, a fim de prestar ouvidos a uma
possível chamada de socorro vinda do mar!” – Súbito ouve-se um vozerio
na direção da praia. Marcus e seus filhos indagam se deveriam prestar
socorro aos possíveis náufragos, que talvez enfrentem forte ventania numa
frágil embarcação ou, então, algum redemoinho.
5. Digo Eu: “Trata-se duma péssima embarcação de jovens levitas e
fariseus, das zonas de Capernaum e Nazareth, a caminho de Jerusalém.
Preferiram a via marítima, por ser mais curta e fácil; em Sibarah conse-
guiram apenas um barco de pescador com fendas, que agora faz água e a
situação tornou-se perigosa, a menos que sejam socorridos.”
6. Diz Marcus: “Senhor, não seria de lastimar se esses fossem devora-
dos pelos peixes! Mas se for de Tua Vontade os auxiliaremos!”
7. Digo Eu: “Não afirmaste há pouco que o homem, criado segun-
do a Imagem Divina, deveria imitá-Lo, fazendo espargir os raios do pe-
queno sol de seu coração sobre todos, considerando como próximo –
amigo ou inimigo – aquele que necessita de amparo?
8. Tuas palavras são justas e verdadeiras e necessário se torna aplicá-
las, do contrário a verdade não tomaria vida em teu lar! A verdade pura
de nada adianta à vida eterna do homem, enquanto não vivificada pela
ação. Somente pela aplicação a Luz da Vida Eterna se esparge e ilumina
todos os recônditos emaranhados da alma humana, tal como o Sol ao
meio-dia fornece luz a todos os vales e covas, preenchendo-os de calor e
vida. – Agora, faz o que te agrada.”
9. Diz Marcus: “Mãos à obra, mesmo que o barco comportasse ur-
sos, tigres, leões e hienas!” Rápido ele e seus filhos se encaminham à
margem, soltam um bom barco, que dirigem ao lugar donde as vozes de
socorro se tornavam mais angustiadas.
O Grande Evangelho de João – Volume II
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235. MARCUS SALVA FARISEUS NAUFRAGADOS

1. Em breves momentos Marcus atinge o bote prestes a sossobrar,


ajudando trinta náufragos a passarem à sua embarcação; reboca em seguida
o bote e todos alcançam em pouco tempo a margem. Uma vez em terra
firme, os levitas indagam o preço que sua salvação merecia, pois reconhe-
cem em Marcus um romano. Se fosse judeu não o teriam feito, porquanto
constitui grande mérito conferido por Jeovah, o fato de alguém poder sal-
var Seus servos de algum perigo. Deus permite tais ocorrências, a fim de
dar oportunidades às criaturas de demonstrar a solidez de sua fé e inabalá-
vel devoção ao Templo, única morada digna da Divindade.
2. Replica Marcus: “Embora romano, possuo conhecimento mais
profundo acerca de Deus Verdadeiro do que vós, pois, se O conhecêsseis,
de há muito não mais seríeis fariseus e levitas, mas criaturas íntegras!
Como careceis deste conhecimento, digo-vos: Amaldiçoado seja quem
exigir recompensa por ter salvo seu irmão. Deus não desconsidera uma
boa ação feita em Seu Nome; neste caso, por que razão deveríamos aguar-
dar pagamento recíproco? Sois todos servos maus, alegando servi-Lo en-
quanto exigis dos pobres um preço exorbitante pelos supostos préstimos.
3. Por isto aprendei comigo, velho guerreiro romano, como se deve
servir ao Único, eternamente Vivo e Poderoso Deus, quando se espera
ser por Ele recompensado. Eis por que não aceito paga por um serviço
prestado a alguém. Trabalhando para minha família exijo pagamento
razoável, deixando que me paguem os peixes que levo ao mercado. Se
tencionais fazer aqui uma refeição, tereis que me indenizar.”
4. Dizem os socorridos: “Falaste como judeu, o que, contudo, não
criticamos; entretanto, não concordamos com o que alegas contra nós.
Somos apenas levados pela corrente do sinédrio e não é fácil enfrentá-lo.
Se houvesse um meio de saída, seríamos os primeiros a apostatar, por-
quanto o Templo de Jerusalém nada mais é que uma instituição fraudu-
lenta, que não traduz uma sílaba sequer de verdade. Roma, porém, san-
cionou-a e nada há que fazer.
Jakob Lorber
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5. Além disto, se é que Deus vive, terminará em breve esses absur-


dos. Se não existe e tudo que sabemos é apenas um velho mito, – faremos
o mesmo que o Templo, pois o mundo prefere o engano à verdade e não
é possível exigir-se mais de nós, nem dele.”
6. Diz Marcus: “Sois realmente uns heróis! Epicuro é vosso mestre,
não obstante de há muito falecido. E como o estômago é vosso ponto
sensível, dizei-me se desejais algo para comer.”
7. Indaga um deles: “Que hóspedes são estes, que a esta hora ainda
se acham acordados frente a tua casa? Também foram salvos duma ressa-
ca? Pois o mar está bravio!”
8. Responde Marcus: “Não vos interessa; são dignitários de Roma e
não podeis arriscar em falar-lhes, pois vosso caráter é demasiado corrup-
to. Entre eles acha-se o comandante Julius de Genezareth e, se lhe quiser-
des falar, posso me dirigir a ele neste sentido.”
9. Ouvindo isto os levitas e fariseus se assustam, pedindo a Marcus
evitar um possível contato, pois neste grupo se encontram alguns a quem
Julius, há dias, havia mandado tapar olhos e ouvidos com barro, fazendo-
os reconduzir a Capernaum sob escolta militar.
10. Marcus lhes assegura: “Nada temais, basta apresentar o salvo-
conduto, exigência rigorosa dos romanos.”
11. Externa-se um do grupo: “Eis nossa dificuldade: o Templo não
quer se sujeitar às ordens de Roma, ocasionando-nos grandes aborreci-
mentos em nossas constantes viagens a serviço do sinédrio, que nunca
nos indenizou um prejuízo.
12. Somos filhos de pais ricos, pois do contrário o Templo não nos
teria atraído; agora, presos por suas leis, não nos é possível fugir. A
consequência é sermos os bodes expiatórios para todo mundo. Liberta-
nos, se te for possível! Terás dum lado nossos familiares fanáticos e obsti-
nados, e doutro lado a obrigação templária. Em tais condições ninguém
consegue movimentar-se livremente!”
13. Diz Marcus: “Quereis saber algo? A julgar por vossas palavras, deve-
ríeis entrar em contato com o grupo em frente a minha casa. Acompanhai-
me, defenderei vossa causa e talvez seja possível salvar-vos das artimanhas do
O Grande Evangelho de João – Volume II
435

Templo, que parece ser tão “humanitário” com os seus servos!”


14. Dizem os outros: “Seria ótimo, caso Julius não estivesse presente
e se tivéssemos documentação!”
15. Acalma-os Marcus: “Deixai isto por minha conta e segui-me!
Julius é, como eu, amigo de pessoas sinceras!” A esta persuasão do velho
guerreiro os templários se animam a acompanhá-lo.

236. CRÍTICA DOS FARISEUS À PESSOA DE JULIUS

1. Aproximando-se de nossa mesa o grupo de judeus, faz-se lugar


para que todos se acomodem. Em seguida Marcus Me procura e indaga
se permito que se lhes ofereça pão, sal e vinho.
2. Digo Eu: “Se eles pedirem e teu coração desejar, fá-lo! Eis uma
regra principal para o amor ao próximo. Deve o necessitado pedir, ou por
palavras, clamando por socorro, ou num caso extremo, pela miséria visí-
vel, o que levará teu coração a querer agir por amor; assim, este sentimen-
to ao próximo será empregado dentro da Ordem Divina – e o efeito se
apresentará tanto na alma quanto no espírito do doador. Compreendes?”
3. Responde Marcus: “Como não? E farei tudo para agir dentro
deste ensinamento.”
4. Digo Eu: “Então vai; mas não Me denuncies, pois neles não se
pode confiar inteiramente. Seus corações se acham nas trevas e suas al-
mas estão longe duma compreensão mais profunda.” Incontinenti Mar-
cus procura os judeus para saber se necessitam de alguma coisa.
5. Responde um do grupo: “Amigo, bem que estamos com fome e
sede; nossa fortuna consiste apenas em nove moedas de cobre, e por este
preço será difícil se conseguir comida nesta zona; se te for possível nos
oferecer qualquer coisa, nosso dinheiro será teu.”
6. Diz Marcus: “Nesse caso não é preciso pagamento, mas podeis comer
à vontade.” Em seguida, ele e os seus dão rapidamente algum alimento ao
grupo recém-vindo, pois de manhã teriam algo mais substancial. Os famin-
Jakob Lorber
436

tos não se fazem de rogados, apreciando pão e vinho. Acerca deste último
suas opiniões divergem entre um produto egípcio, persa e romano.
7. Contesta o velho: “Nada disto; o vinho nasceu aqui!” Tal afirma-
ção muito os surpreende, sabendo-se que a Galiléia fornecia o pior dos
vinhos. Dentro em pouco todos começam a tagarelar, sem se perturbar
com nossa presença. Julius, sentado próximo dum jovem fariseu, indaga-
lhe se não teria negócios a resolver em Genezareth.
8. Responde o outro: “Senhor, não sei de tua origem, mas afirmo que
essa cidade não presta nem para um demônio, quanto mais para uma pes-
soa honesta como eu! Basta dizer que lá vive o conhecido comandante
Julius e quem privar com ele, tê-lo-á feito com Satanás. Não o conheço
pessoalmente, mas já experimentei suas ordens, deduzindo daí seu caráter.
9. Parece ser inimigo declarado dos habitantes de Jerusalém, do con-
trário não lhe teria sido possível agir tão barbaramente com pessoas de
nosso quilate. É justo uma certa antipatia pelos templários, após se desco-
brir suas tramas e fraudes; mas é preciso abrir exceções para poder julgar
com critério em que circunstâncias alguém faça parte dum instituto. Se a
pessoa agiu de livre vontade, não terá direito para queixas. Mas quantos
não são membros dum péssimo grêmio, onde foram obrigados a ingressar!
10. Um juiz honesto deveria analisar quais os motivos que levaram
pessoas como nós a fazerem parte dum sinédrio. Se fôssemos voluntários
poderíamos ser castigados. O mesmo se daria se um jovem honesto fosse
assaltado e conduzido à caverna de ladrões; lá seria ameaçado de toda
sorte de castigos mortais, caso não desejasse compartilhar do grupo. Toda
e qualquer tentativa de fuga seria punida com a morte.
11. Acontece que essa sociedade de assaltantes é atingida pela justi-
ça, sofrendo a pena adequada. Seria justo que o jovem honesto partici-
passe da mesma sorte? Dever-se-ía tentar para ele todos os meios possí-
veis de salvamento, ao invés de pendurá-lo à cruz e quebrar-lhe as pernas.
É fácil julgar e condenar para aqueles que têm armas e poder nas mãos! –
Mas, como, – eis outra questão!
12. Sinto ser melhor soltar dez vagabundos, cuja culpa não pudesse
ser inteiramente provada, do que executar um, conforme acabo de relatar.
O Grande Evangelho de João – Volume II
437

Seria o pecado mais ignóbil contra os direitos sagrados do homem. Já sen-


do condenável fazer-se a infelicidade de alguém, quanto mais aumentar a
desdita dum miserável, em vez de empenhar-se por salvá-lo a todo transe!
13. Eis nossa situação como jovens templários: fomos, como filhos
ricos, votados por obrigação ao Templo sem pertencermos ao tronco Levi,
pois tal prerrogativa é atualmente negociável. Somos levitas, impedidos
de nos libertar desta profissão. Poderíamos fugir e ingressar no exército
romano; com isto, porém, teríamos atraído aos nossos familiares toda
desgraça possível – e nem Deus os salvaria da morte pela água maldita.
Todos que foram obrigados a tomar tal veneno, tiveram morte horrível.
14. Contaram-nos que, há trinta anos, houve um casal da Galiléia
que não morreu após beber essa água satânica. Possível, – mas não o
assistimos. Aquele que, após considerar nossa situação, fizer-nos tratar
como bestas humanas, pouco direito terá à honra de ser homem – e a
justiça romana é bem duvidosa!
15. Eu e mais alguns do nosso grupo, fomos tratados em Genezareth,
pelo dito comandante Julius, de forma tal, que será compreensível se
evitarmos, futuramente, este lugar como a peste!”

237. DECISÃO DOS FARISEUS

1. Diz Julius: “Hum, estranho isto dum homem que sempre foi
considerado justo e honesto. Por acaso poderias relatar-me o motivo que
o levou a tal atitude severa? Deve ser possível reconsiderar uma injustiça,
do contrário as comunidades sociais de nada valeriam!”
2. Diz o jovem fariseu: “Oh, poderia ter tido diversos motivos, que
redundariam na possibilidade duma criatura se tornar criminosa por
obrigação ou, no mínimo, alvo de suspeita. Afirmam vossas leis ser ne-
cessário uma intenção má ou premeditada para uma ação criminosa, o
que deve ser provado; do contrário, dever-se-ía crucificar aquele que, na
queda dum telhado matasse uma criança!
Jakob Lorber
438

3. Nós, jovens fariseus, somos sempre enviados do Templo em as-


suntos aparentemente honestos; acontece, porém, sermos obrigados a
realizar ações maldosas, condenadas no fundo do nosso coração. Mas,
que fazer? Somos quais guerreiros, que a mando do superior invadem
um país, anarquizando tudo apenas por motivos ocultos, dos quais os
soldados nunca terão conhecimento. Têm de agir como máquinas, que
em caso de desgaste são postas de lado.
4. Opino, portanto, sendo o Templo com suas intenções escabrosas,
uma instituição tão bem conhecida em Roma, que pessoas como o co-
mandante Julius deveriam exterminar o mal pela raiz e não pelos peque-
nos galhos, isentos da culpa de terem nascido num tronco tão ignóbil.
Eis a minha e também a opinião de todos os colegas, que se justifica
diante de Deus e das criaturas justas!”
5. Diz Julius: “Falaste dentro da verdade e, evidentemente, fostes mal-
tratados em Genezareth, o que vos valerá uma indenização. Tal coisa não se
teria dado se não tivésseis invadido a casa de Ebahl de modo tão brusco.
Mas deixemos isto, pois é possível que o Templo vos tivesse dado ordens
para tal procedimento. O que desejo saber é, como amigo de todas as
causas justas, quais foram as intenções do sinédrio naquela ocasião.”
6. Responde o outro: “Demonstrar-te-ei o motivo oculto para pro-
var que, em absoluto, somos aquilo que os romanos julgam. Vê, em
Jerusalém, mormente no Templo, consta viver na Galiléia um homem,
divulgador duma nova doutrina anti-templária, que opera grandes mila-
gres para confirmação da mesma, de sorte que até fariseus velhos se decla-
ram a seu favor.
7. Deves compreender que este homem não pode ser bem visto pelo
Templo. Por tal razão fomos ali juramentados e enviados, a fim de averi-
guar a veracidade de tais fatos. Encontrando-o, deveríamos procurar
conquistá-lo para o Templo; caso contrário, enviá-lo para o outro mun-
do. Eis a intenção “louvável” do Templo, cujos mensageiros inofensivos e
inocentes somos nós. Entende-se que o mencionado, por certo honesto e
bom homem, jamais teria de temer-nos, pois se o localizássemos, nada
lhe sucederia.
O Grande Evangelho de João – Volume II
439

8. Chegamos a saber, por toda parte, ser ele deveras um homem


extraordinário: verdadeiro, honesto e bondoso, – qualidades que sabe-
mos apreciar. Em suma, se o tivéssemos encontrado, o Templo de nada
saberia, tão pouco nos empenharíamos em conquistá-lo a favor do siné-
drio. Se em nosso íntimo fôssemos idênticos aos sacerdotes não te falarí-
amos tão abertamente, não obstante o vinho tomado.
9. Alimentamos a intenção secreta de fugir do Templo, ainda que
com risco de vida de nossos parentes. Assim, fizemos a travessia à noite e
desejamos alcançar Tyro ou Sidon, a fim de esclarecer nossa situação a
Cirenius, homem de visão ampla. A maior parte de nosso grupo é de
parecer que deveríamos antes ir até Jerusalém, pelo caminho mais curto,
para angariar certa importância com a família, a fim de custear uma
suposta viagem no interesse do sinédrio, que nos facilitaria os meios ne-
cessários. Além disto, precisamos de indispensável documentação, que
também requer dinheiro.
10. Eu e mais alguns outros pensamos de modo diferente: nossa
fuga já trará grandes atribulações aos nossos; assim seria injusto, pedir-
lhes o dinheiro que necessitariam para escapar do castigo com a água
maldita, – fato não raro, pois que o Templo explora até isto. É difícil
tomar-se uma decisão. Por mim optaria pela fuga secreta, o que levaria
tanto o Templo quanto os parentes, a presumirem que tivéssemos sofrido
um acidente. Neste caso todos teriam ensejo de orar por nós. Qual tua
opinião, como amigo da verdade e da justiça?”

238. CONSELHO DO SENHOR QUANTO À PRÁTICA DO


AMOR AO PRÓXIMO

1. Diz Julius: “Agrada-me vossa intenção; os meios para a execução


não me convêm, porquanto não se baseiam na verdade, apesar de que
não podereis alcançar o fim pela aplicação da mesma. Deixai-me refletir
um pouco, talvez encontre um caminho pelo qual sereis justificados di-
Jakob Lorber
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ante de Deus e do mundo.


2. O juramento no Templo é o maior impecilho. Como contorná-
lo? Se fosse possível desconsiderá-lo, – em virtude de vosso Deus Verda-
deiro – bastaria uma palavra para vos desembaraçar do jugo templário.
Procurarei entendimento com alguns companheiros esclarecidos, a fim
de verificar se existe uma solução.”
3. Diz o jovem fariseu: “Ter-nos-ás feito com isto um grande favor.
Antes, dize-me quem são os hóspedes para que lhes possamos render o
devido respeito. O ancião deve ser, ou um romano nobre, ou, talvez, um
grego rico?”
4. Diz Julius: “Deixemos isto de parte, para tais esclarecimentos te-
remos tempo amanhã!” Dirigindo-se a Mim, Julius fala no idioma roma-
no: “Senhor, que devemos fazer? Se de minha parte agir com violência,
anular-se-á todas as leis e juramentos templários. Com isto apresentar-
me-ía como desrespeitador do mais sagrado dos juramentos, atingindo-
me a responsabilidade do perjúrio. Não que os considere apenas como
exigidos na execução de deveres maldosos, pois desprezo-os por ser Deus
implorado como Testemunha e Auxiliador de ações condenáveis; aqui,
trata-se do Templo de Jerusalém.
5. De um lado é ele, de eras remotas, uma casa de oração, purifica-
ção e oferendas, pelo que é considerado por milhares; de outro lado pra-
ticam-se nele os maiores crimes de modo inescrupuloso. Eis o ponto que
me leva ao desejo de querer quebrar todos os juramentos. Dize-me Tu, o
que seja justo diante de Deus, pois se o que estes jovens relatam é verda-
de, desejo socorrê-los.”
6. Digo Eu: “Já apontei a maneira pela qual se deve praticar o verda-
deiro amor ao próximo. Se teu coração concorda com o desejo desses
templários, saberás como agir. Além disto, nunca fizeste juramento que
te prendesse ao sinédrio; assim, que te impede de agir dentro da verdade?
7. Por diversas vezes empregaste violência com relação a sociedades,
não obstante estarem presas a velhos hábitos e fórmulas, sem que isto te
obstasse, porquanto tais hábitos continham quase sempre crueldades secre-
tas; eis por que neste assunto poderás agir dentro de teu senso de justiça.
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8. Violência por parte de Roma susta toda e qualquer obrigação feita


por juramento, mesmo diante de Deus, isto é, quando o sectário reco-
nhece de livre vontade ter sido: primeiro, obrigado contra sua determi-
nação; segundo, que tal juramento visava um fito maldoso, sancionado
por leis mundanas.
9. Libertar uma criatura presa num juramento prejudicial, ou seja, de
Satanás, constitui uma obra meritória de amor ao próximo, ainda mesmo
que tal pessoa continuasse algemada pela crença, – muito mais neste caso,
em que a compreensão plena é manifestada por estes jovens. Age dentro de
tua boa intenção, e meu amigo Cirenius não te negará auxílio.”
10. Diz Cirenius: “Não somente isto; aplicarei aos trinta templári-
os poder judicial para o consciencioso desempenho de Julius, e o Tem-
plo poderá pedir contas a mim.” Todos os presentes se regozijam com
esta determinação.

239. JULIUS ACONSELHA OS FARISEUS

1. Dirigindo-se ao grupo dos fariseus, Julius diz: “Bem, amigo, já en-


contramos o meio seguro pelo qual vós e vossos pais sereis plenamente
justificados diante do Templo, facilitando por fim aos familiares uma justa
queixa às autoridades romanas. Por esse meio o Templo será condenado a
uma indenização referente à perda de seus filhos, pois que a desconsidera-
ção do sinédrio às leis de Roma, em virtude dos salvos-condutos, levou os
romanos a vos prenderem, integrando-vos na legião estrangeira! Com isto
declaro-vos presos para o vosso bem, estais satisfeitos?”
2. Respondem todos: “Senhor, este conselho só Deus poderia trans-
mitir-te; realmente, deste modo alcançaremos um bom propósito para
nós e os nossos. Estamos tão contentes que desejamos tomar mais um
gole deste delicioso vinho, pois fomos libertados do inferno e transporta-
dos aos Céus. Os judeus cegos ainda aguardam a chegada do Messias
Prometido, que os libertará do jugo romano. Nós, no entanto,
Jakob Lorber
442

encontramo-Lo em vós, prezados romanos, pois a verdade pura é o ver-


dadeiro Messias de todas as criaturas! Vai, velho hospedeiro, deixa brin-
darmos nossos salvadores!”
3. Marcus ordena que se sirva pão e vários cântaros de vinho, e o
jovem orador torna a perguntar a Julius sua identidade e quais eram os
personagens do nosso grupo. Diz ele: “Já te falei há pouco que o por ti
tão acerbamente criticado Julius de Genezareth indenizar-te-á de toda e
qualquer injustiça aplicada contra a sua vontade, pois eu mesmo sou o
temido Julius. Em minha frente está o vice-rei da Ásia e Egito, – Cirenius,
que iríeis procurar em Sidon. Agora pergunto: estás satisfeito conosco,
romanos intransigentes?”
4. O jovem fariseu ouvindo tais palavras muito se assusta, mas logo
se refaz e diz: “Nobre senhor, por acaso te aborreceste com a minha críti-
ca, que não te poderia agradar? Não foi minha a culpa, nem tão pouco a
tua, termos sido transferidos para Capernaum, com olhos e ouvidos ta-
pados com barro. Hoje, por certo, conhecendo-nos melhor, não o farias.
Perdoa-nos o conceito acerca de tua pessoa!”
5. Diz Julius: “Gosto de palestrar com pessoas sinceras, nunca me
ofendendo com a verdade; ai daqueles, porém, cujos pensamentos não
correspondam às palavras! Condeno a mentira – e é preferível morrer ao
invés de querer salvação por uma inverdade. Conhecedor de vossas rela-
ções desde Jerusalém e Bethlehem, sei que vos externastes sinceramente.
Contudo, ocultais algo em vosso íntimo; ser-vos-á, entretanto, fácil
reconhecê-lo se mantiverdes fidelidade à toda prova e devoção fraternal
aos romanos.”
6. Responde o jovem orador: “Ilustre senhor, sê também sincero e
dize-nos, abertamente, tua observação quanto à nossa índole. É claro
existir muita coisa que não mencionamos; uma, por ser escasso o tempo,
outra, por não convir que estourássemos com tais assuntos numa reunião
tão ilustre, mormente em presença do vice-rei da Ásia. Além disto, acha-
se uma menina em companhia dum jovem nesta mesa, o que nos obriga
a conter a língua. Uma vez a sós nada ocultaremos de tua pessoa. Por ora
te pedimos que nos esclareças quanto aquele homem, ao qual te dirigiste
O Grande Evangelho de João – Volume II
443

em romano!”
7. Diz Julius: “Esta apresentação seria de vosso máximo interesse!
Hoje, porém, não há mais tempo, por isto deixêmo-lo para amanhã.”
Conformados, os templários se servem novamente de pão e vinho, be-
bendo alegres a saúde de todos.

240. YARAH DÁ TESTEMUNHO DO SENHOR

1. Por fim um deles se lembra de brindar o “nobre Nazareno”, di-


zendo: “Saúde também àquele que procuramos sem encontrar! Jamais
seremos inimigos de sua vida, a qual é a salvação das criaturas! Caso o
tivéssemos achado, teria sido esclarecido acerca do Templo para tirar-lhe
a vontade de dirigir-se para lá. Ao menos queremos oferecer este gole
abençoado ao bom médico de corpo e alma, de Nazareth!”
2. Tais palavras comovem Julius e Cirenius, Yarah e Meus discípulos.
Dirigindo-se em surdina a Mim, a menina diz: “Ó Senhor, se me fosse
possível falar, quanto não lhes poderia relatar a Teu respeito!” Digo Eu: “Se
não Me traíres, poderás te fazer ouvir!” Responde ela: “Ah, então pedirei
que me ouçam!” Acrescento: “Está bem; cuidado para não chorares!”
3. Com isto Yarah se levanta e diz, com voz melodiosa: “Ouvi, ami-
gos que acabais de brindar o Salvador de Nazareth! Compartilho convos-
co de todo coração, pois tive a felicidade imensa de privar com Ele em
Genezareth. Por isto, posso-vos transmitir um relato fiel de Seu Caráter e
Faculdades excepcionais, caso isto vos agrade!”
4. Respondem todos: “Menina adorável, com o máximo prazer te
ouviremos, se não te cansares muito!”
5. Diz ela: “Em absoluto. Ouvi, pois: Nossa zona foi sempre a mais
insalubre de toda a Galiléia – e o estrangeiro que lá permanecesse alguns
dias cairia doente e impossibilitado de seguir, razão por que a evita. Mui-
tos até se viam obrigados a ficar além de um ano. Os habitantes, em
geral, não adoeciam.
Jakob Lorber
444

6. Quando ouvi os comentários a respeito do Salvador, pedi fervoro-


samente ao Deus de Abraham, Isaac e Jacob que O trouxesse a Genezareth.
E não levou tempo para que Ele chegasse, curando a todos, mesmo das
mais antigas moléstias, incuráveis, apenas pela Vontade. Coxos, cegos, sur-
dos, aleijados, obsedados, entrevados, leprosos e centenas de outros enfer-
mos sararam. Julius, romano, é testemunha entre centenas.
7. Entretanto, Ele não só curava o físico, mas também a alma, des-
pertando sua compreensão, varrendo a superstição dos corações dos tolos
e ensinando aos ignorantes de modo fácil e compreensível, com que não
raro conquistava maior admiração que através dos milagres. Além disto,
demonstrava-Se Senhor e Mestre sobre a Natureza; obedecem-Lhe os
quatro elementos, o Cosmos e os anjos celestes.
8. Retribuo Seu Amor, embora não seja um homem bonito. É de
estatura mediana, Mãos ásperas e calejadas, – Sua Cabeça, porém, de
formação nobre e Seus Olhos, os mais expressivos que já vi! Sua Boca
traduz a máxima amabilidade, às vezes, um traço de rigor. Sua Voz é
verdadeiramente cativante e mais agradável que o canto mavioso. Eis um
pequeno esboço do Célebre Salvador de Nazareth, do qual poderão tes-
temunhar centenas de pessoas. Isto vos agrada?”

241. AS INTENÇÕES DO TEMPLO SÃO REVELADAS

1. Dizem os fariseus: “Nada de novo nos relataste, pois disto toda


Jerusalém é ciente. Como os boatos a seu respeito são extraordinários, muitos
foram enviados pelo Templo, a fim de conduzi-lo aos maiorais numa ten-
tativa de aproveitar suas faculdades em seu benefício. Caso ele rejeitasse tais
propostas, o que era de esperar por ser homem bom, honesto e muito
sábio, o cárcere o esperaria. A menos que fosse deveras onipotente. O Tem-
plo tornou-se tão vil, que Satanás poderia frequentá-lo, aprendendo ali
maquinações escabrosas. Opinamos que o Salvador de Nazareth jamais se
prestaria para tanto; neste caso, tornar-se-ía vítima do sinédrio.
O Grande Evangelho de João – Volume II
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2. Consta, terem vários fariseus aderido à sua doutrina; mas, que


adianta isto? Tiveram de enfrentar situações diabólicas com seus colegas,
a fim de poderem levar vida menos atribulada e além disto, tinham que
proferir as piores mentiras.
3. Se o sumo sacerdote disser: “Hoje não haverá sol!”, nenhum dos
templários poderá arriscar a observação de que o dia seja radioso. E se ele
disser: “Hoje fluirá, durante sete horas, apenas sangue no riacho Cidron!”,
– ai daquele que não confirmar tal absurdo. Se aparecesse um doente e o
sumo sacerdote lhe dissesse: “Meu filho, estás curado; vai fazer uma
oferenda e volta para teu lar!”, continuando, porém, o enfermo no mes-
mo, que alegava por tal motivo não poder ofertar um sacrifício, – ai dele!
Para encurtar: a palavra do sacerdote tem de curar e tal serviço deve ser
pago, embora sem resultado positivo.
4. Compreendes, portanto, serem as faculdades extraordinárias do
Salvador um achado para o Templo, motivo pelo qual se lhe faz caça. Con-
tudo te agradecemos a descrição, pois talvez tenhamos um dia a felicidade
de encontrá-lo. A Jeovah rendemos todo louvor, por nos ter libertado das
garras do Templo! Voltando para lá como guerreiros romanos, – o sinédrio
poderá regozijar-se por isto! Caso tiveres algo mais a contar a respeito desse
homem excepcional, ficar-te-emos gratos, pois nos interessa sumamente!”

242. O MILAGRE DO ARCANJO RAFAEL

1. Diz Yarah: “Se me fosse permitido, fá-lo-ia com o maior prazer;


mas como Ele Mesmo mo proibiu, apenas relatarei pequenos fatos. Quan-
do há pouco mencionei que o Cosmos e os anjos Lhe obedecem, alguns
dentre vós menearam a cabeça. Afirmo-vos, porém, que falei a verdade, e já
vos teria provado isto antes se não fosse vosso sorriso duvidoso. Agora vos
darei a prova de que não sou uma tolinha que comumente exagera quanto
ao alvo de seu amor. Esse fato é incontestável nas moças mundanas; comi-
go, não há nem sombra disso, o que vos provarei de modo insofismável.
Jakob Lorber
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Observai o jovem que ocupa o segundo lugar à minha direita e está em


palestra com o filho do nobre Cirenius, – por quem o tomais?”
2. Respondem eles: “Ora, por uma criatura semelhante a nós!”
3. Diz Yarah, meneando a cabeça e sorrindo: “Longe disto, meus
amigos! É um arcanjo que escolhi, com autorização do Salvador, entre
um sem número de outros, para que me instruísse e guiasse por certo
tempo. Se não me derdes crédito, convencei-vos através dos sentidos!”
4. Diz o primeiro orador: “Sem prova palpável esta afirmação atin-
giria o absurdo!” Levantando-se, diz o jovem fariseu: “Então, pequena,
como me convencerás?”
5. Respode Yarah: “Basta te aproximares dele, cujo nome é Rafael!”
6. Assim fazendo, o fariseu é inquirido pelo anjo: “Por que não acre-
ditas nas palavras de minha aluna? Toca minha mão; que te parece?”
7. O judeu assim faz e diz admirado: “Estranho, sinto apenas minha
própria mão cerrada, isto é, atravesso a tua e reconheço não seres de carne
e osso, como nós.”
8. Ordena Rafael: “Dá-me uma pedra!” O jovem apanha uma de
trinta libras, observando: “Se minha mão atravessa a tua, esta pedra cairá
de tuas mãos, podendo até esmagar meu pé.”
9. Diz Rafael: “Se tal acontecer, curá-lo-ei no mesmo momento!
Dá-me a pedra!” Quando o anjo começa a jogar a pedra de uma para
outra mão, como se fora uma bola, o fariseu diz: “Ouve, espírito ou seja
lá o que fores, não será razoável entrar em luta contigo. Donde te vem
esta força?”
10. Diz Rafael: “Isto nada representa; reduzi-la-ei a pó!” No mesmo
momento vê-se um montão de pó fino sobre a mesa! Todos os fariseus se
levantam, a fim de observar de perto este milagre. Diz o anjo: “Não é tão
difícil reduzi-la a pó como fazê-la voltar ao que fora. Pois qualquer pessoa
pode, se bem que não igual a mim com as mãos, mas com bom martelo,
dizimá-la. Presta atenção!” Juntando o pó, a pedra retorna ao seu estado
primitivo. Os assistentes estão de tal forma estupefatos, que não profe-
rem palavra.
11. Prossegue Rafael: “Ainda não terminei!” E dirigindo-se à pedra:
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“Dissolve-te em éter!” A este mando a pedra desaparece e Rafael indaga


do fariseu: “Então, serias capaz de imitar-me?”
12. Diz o outro: “Isto é inacreditável! Creio mesmo seres um anjo!
Apenas não compreendo como te podes sujeitar a uma criatura, possui-
dor de tal força!? Existe realmente um poder sobre a Terra pelo qual vos
sujeitaríeis? A Escritura aponta casos em que anjos serviam a mortais, a
mando de Deus; mas da forma pela qual te apresentas entre nós, não há
exemplo! Não, meus amigos, aqui há qualquer coisa! Tanto podes ser um
anjo quanto um..., bem, já sabeis a que me refiro! É meia-noite, a hora
preferida por eles! Neste caso temos ensejo de fugir daqui o mais depressa
possível!” Nesta altura todos se levantam para retirar-se, no que são im-
pedidos por Cirenius. De novo tomam assento, – mas como se os bancos
estivessem salpicados de agulhas.

243. DISSERTAÇÃO DO JOVEM FARISEU

1. Diz Julius ao jovem orador: “Julgava-te mais inteligente! Como


podes confundir um arcanjo com um demônio? Não concluíste de nos-
sas palavras que, em absoluto, somos amigos de Satanás?! Acaso ele se
teria alguma vez mostrado misericordioso para com o necessitado? Ce-
gos! Nunca vistes um obsedado? Pois eu já privei com vários, torturados
tremendamente! Se na vossa estultícia nos julgais diabólicos, pelo que
classificais os templários, apontados, há pouco, como mestres de Sata-
nás?! A nós, que sempre procuramos fazer o bem ao próximo, igualais aos
demônios, somente pelo motivo dum espírito celeste ter dado uma pe-
quena prova de seu poder e força? Desejo, portanto, saber que aparência,
a vosso ver, manifestaria aquele que não fosse demônio?”
2. Diz o fariseu, mais calmo: “Por favor, nobre Julius, não nos criti-
ques tão severamente. Vê, o corpo absorve o alimento que lhe é dado;
sendo este de boa qualidade, o proveito será idêntico, e vice-versa. O
mesmo se dá espiritualmente: fomos providos, durante anos, de alimen-
Jakob Lorber
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to nocivo – e levará tempo para expeli-lo do estômago de nossa alma!


3. Nossas noções e conhecimentos mais favoráveis devemos ao con-
vívio com romanos e gregos. Basta, porém, voltarmos ao Templo para,
em poucas horas, classificarmos aqueles ensinamentos de absurdos. Não
é de se admirar, portanto, que em tais oportunidades a alma, apenas,
receba um raio de luz, para depois cair na maior treva. Assim, pedimos-te
paciência; já nos contentamos por ora com a compreensão do nosso esta-
do precário, pois dum tronco rude e duro não se realiza uma figura com-
pleta apenas com algumas pancadas de formão.
4. Já ouvimos e lemos a respeito de anjos celestes: os três estranhos
que visitaram Abraham; o de Lot; os da escada de Jacob; o burro de
Bileam, que anunciava ao profeta a presença dum anjo; os protetores de
Tobias; os israelitas que viram o anjo da morte bater de casa em casa,
entre os egípcios; os três jovens na fornalha, que avistaram anjos, – e na
Escritura comenta-se várias vezes o contato visível entre anjos e criaturas.
Por que tal fato não poderia ocorrer agora?
5. Nestas circunstâncias, porém, a presença dum anjo é tão extraor-
dinária que dificulta sua aceitação. É fácil crer em algo do passado, por-
quanto este se apresenta na imaginação melhor do que o momento atual.
Julga a pessoa não possuir mérito para tais aparições, sem refletir que em
Sodoma e Gomorra Deus não tinha motivo para regozijar-Se, do contrá-
rio não teria feito chover fogo do Céu. Para encurtar: deves compreender
que este acontecimento é inaudito, provocando uma atitude ridícula de
nossa parte.”

244. JULIUS ESCLARECE OS FARISEUS

1. Diz Julius: “Bem, já vos havia dito que manifestáveis uma certa
ignorância, provinda de vossa educação, mas que, com o tempo, teria de
ser removida. Não será possível consegui-lo de uma só vez, pois é mais
fácil curar uma moléstia do que extirpar uma tolice da alma. Um meio
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justo, finalmente, cura ambas.


2. Ninguém é culpado de ser ignorante, porquanto sua educação
não lhe facultou conhecimentos maiores. Uma vez que a pessoa tenha
oportunidade para alcançar vastas experiências, podendo assimilar a ver-
dadeira sabedoria, com quem a possua em todos os assuntos, necessário
se torna abandonar suas falsas concepções, prontificando-se a aceitar o
que lhe é mostrado e explicado. Numa resistência teimosa tal criatura
merece castigo, ou então, a exclusão do convívio com pessoas bem inten-
cionadas, pois é preferível levá-la a um asilo de alienados que permitir
que provoque aborrecimentos.
3. Convosco tal não se dá, pois vossa inteligência já foi despertada
no contato com romanos e gregos, as criaturas mais cultas da Terra, em-
bora, de acordo com vossa opinião, não acreditemos no Deus de Abraham.
Se perguntássemos até que ponto vossa crença se firmou dentro da con-
cepção cerimoniosa, vossas atitudes responderiam: “Não temos crença
alguma, porém, simulamos possuí-la diante do povo, deixando-nos pa-
gar por tal mistificação.” Comparando-a com nossa fé em Jeovah, é ela
muito mais convincente.
4. Reconhecemos ser vosso Deus, o Único e Verdadeiro, do Qual
nossos deuses apenas apresentam Seus Atributos, personificados pela
imaginação humana. Vós, entretanto, não O reconheceis, tão pouco Suas
Qualidades Sublimes, que adoramos em quadros alegóricos. Eis por que
muito vos falta para aprenderdes e averiguardes a verdadeira causa de
tudo que existe.
5. Uma vez que tenhais encontrado a verdade, deveis aceitá-la, amol-
dando vossa vida de acordo com ela e tornando-vos realmente filhos de
Deus, porquanto até hoje apenas o alegáveis – como todos os judeus –
sem nunca terdes na verdade, acreditado que Deus existe!”

Fim do Segundo Volume


AIB

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