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A MULTIPLICIDADE ADOTIVA

Sara Andréia Turcatto Elias*

A busca pelo acolhimento através da paternidade/ maternidade é, sem


dúvida, um dos mais difíceis papéis que o ser humano tem a desempenhar. Exige
maturidade, envolve desejos inconscientes e é revestida de profunda expectativa social,
o que o torna uma tarefa ainda mais complexa. Quando consideramos as expectativas
sociais, os desejos conscientes e inconscientes e as possibilidades individuais de
vivência da função parental percebemos que há sempre uma conotação idealizada no
modo como a mesma é sentida, independentemente do tipo de paternidade/maternidade:
biológica ou afetiva. Em nossa cultura, a paternidade/maternidade tem significados
diferentes quando são disseminados pela cultura para homens e mulheres. Do homem é
socialmente esperado que mostre sua virilidade através da concepção de filhos naturais
e autoridade sobre a família; da mulher se espera abnegação e amor incondicional na
tarefa de ser mãe, com ênfase na sua moralidade; da criança, a obediência e a
dependência. A maternidade/paternidade inaugura a maturidade aos pais, facilitando sua
entrada ao mundo adulto e nas redes que compõe a sociedade. A motivação interna é
que nos arrasta para a maternidade/paternidade. Esse desejo demonstra que ter filhos é
uma função mais ampla, o que reflete nosso desejo de imortalidade. Consciente e
inconscientemente, os elementos afetivos e cognitivos que irão constituir a maneira
como o indivíduo vai assumir a função parental vão, ao longo da vida, integrando e
alternando o modo como o exercício da paternidade/maternidade irá consolidar-se em
diferentes fases do ciclo de vida. O tornar-se pai/mãe é um processo que vai muito além
de determinações biológicas. Nesse sentido, tanto a paternidade biológica como a
paternidade pela adoção tem as mesmas possibilidades e as mesmas dificuldades para se
consolidarem. Os pais projetam nos filhos seu ideal de ego e esses são receptores das
fantasias de imortalidade. Também para os pais a adoção ainda é algo complicado
porque, fundamentalmente, coloca em xeque a potência paterna e materna. Tanto na
literatura como em relatos1 e depoimentos pessoais, aparece de forma marcante o medo
mais comum dos pais adotivos: perder sua criança. É como se eles sentissem
continuamente que a sua relação corre perigo. Portanto, deixam para “mais tarde” falar
sobre sua condição de adotada. Tal atitude, segundo estudiosos do tema, pode acarretar
sentimentos de rejeição na criança de sua vida anterior e consequentemente de sua
vinda. Da mesma forma que pais biológicos contam as histórias a seus filhos sobre o
seu nascimento, a escolha do nome etc., geralmente após um interrogatório inicial da
criança, a adotiva também vasculhará informações sobre o percurso dos seus pais atuais
em sua busca e para muitas delas, os motivos de seu abandono. No entanto, por mais
estranho que possa parecer, já presenciamos casos em que a curiosidade frente à origem
e ao conhecimento dos progenitores é aliviada como num passe de mágica, quando os
pais adotivos permitem a busca. Parece-nos que a curiosidade é sentida pela família
como deslealdade, traição, abandono dos filhos aos pais e traz à tona a ferida narcísica
do abandono, quando o caso é de esterilidade. Freqüentemente, as pessoas expressam
seu medo de que as coisas dolorosas do passado necessariamente se repetirão. Na
verdade, quanto mais conscientes estes medos são, menor a possibilidade de repetição
compulsiva. Outra questão refere-se às fantasias em que o laço sangüíneo é
*
Formada em Psicologia pela UNESP – Assis (SP) e Mestre em Psicologia pela mesma instituição, atua
em consultório e na casa-abrigo Lar de Amparo à Criança Filhos de Deus e consultório. É professora e
coordenadora do Curso de Pedagogia da Fasert/Anhanguera Educacional.
1
Estes relatos foram coletados na pesquisa “Segredos na Adoção: estudo exploratório sobre o processo de
revelação em famílias com filhos adotivos”. (FAPESP).
determinante do tipo de relacionamento que irá se desenvolver entre pais e filhos. O que
ainda vemos nas famílias adotivas é a preocupação dos pais e filhos em encontrarem
marcas corporais semelhantes para mascararem a adoção e a não consangüinidade.
Percebemos que as atitudes, gestos e falas dos pais adotivos estão marcados por intensas
preocupações e receios pela filiação adotiva. Encontramos sentimentos atravessados por
crenças antigas, como por exemplo, a de que a ligação genética ameniza a não
ocorrência de conflitos entre pais e filhos; de que o segredo sobre a adoção assegura que
a criança permanecerá emocionalmente bem; de que na falta de semelhanças físicas a
adoção seja relembrada em muitos momentos e, sendo assim, não é esquecida,
tornando-se um entrave para o relacionamento familiar. Assim, faz-se relevante
procurarmos investigar o que se passa nessas situações para melhor compreendermos
esses acontecimentos que acabam demarcando, muitas vezes de maneira confusa, os
vínculos entre pais e filhos adotivos. Assim que os passos para uma adoção são
completados, a partir do momento em que a criança foi entregue aos adotantes, os pais
biológicos passam a ser os pais “ocultos”. Percebemos através de relatos de pais
adotivos uma atitude ambígua frente à sociedade ao comentarem sobre os pais
biológicos. Essa ambigüidade é demonstrada pela variedade de nomes que se lhes
outorgam. São: “os primeiros”, “os de nascimento”, “os naturais”, “os biológicos”, “os
reais”, “os verdadeiros”, “os de sangue”, “a outra mamãe”. Entre essas designações,
algumas são particularmente ofensivas para os pais adotantes, tais como “os verdadeiros
pais” ou os “pais naturais”, essa última porque implica considerar os adotantes como
“não naturais”. Desse modo, essa omissão dos pais biológicos por parte dos adotantes
contribui para que a adoção se torne um segredo na família e um problema para ser
enfrentado.

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