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FCCE

Federação das Câmaras de Comércio Exterior


Foreign Trade Chambers Federation

2006
19 de junho

Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL PORTUGAL
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

A FCCE é a mais antiga Associação de Classe dedicada Em passado recente a FEDERAÇÃO DAS CÂMARAS DE
exclusivamente às atividades de Comércio Exterior. COMÉRCIO EXTERIOR – FCCE assinou Convênio com
Fundada no ano de 1950, pelo empresário João o CONSELHO DE CÂMARAS DE COMÉRCIO DAS
Daudt de Oliveira (a ele se deve, cinco anos antes, a AMÉRICAS, organismo que representa as Câmaras de
fundação da Confederação Nacional do Comércio – Comércio Bilaterais dos seguintes países: ARGENTINA,
CNC ), a FCCE opera ininterruptamente, há mais de 50 BOLÍVIA, CANADÁ, CHILE, CUBA, EQUADOR, MÉXICO,
anos, incentivando e apoiando o trabalho das Câmaras PARAGUAI, SURINAME, URUGUAI, TRINIDAD E
de Comércio Bilaterais, Consulados Estrangeiros, TOBAGO e VENEZUELA.
Conselhos Empresariais e Comissões Mistas a nível Além de várias dezenas de Câmaras de Comércio
federal. Bilaterais filiadas à FCCE em todo o Brasil, fazem parte
A FCCE , por força do seu Estatuto, tem âmbito da Diretoria atual, os Presidentes das Câmaras de
nacional, possuindo Vice-Presidentes Regionais em Comércio: Brasil-Grécia, Brasil-Paraguai, Brasil-Rússia,
diversos Estados da Federação, operando também no Brasil-Eslováquia, Brasil-República Tcheca, Brasil-
plano internacional, através “Convênios de Coope- México, Brasil-Belarus, Brasil-Portugal, Brasil-Líbano,
ração” firmados com diversos organismos da mais alta Brasil-Índia, Brasil-China, Brasil-Tailândia, Brasil-ltália
credibilidade e tradição, a exemplo da International e Brasil e Indonésia, além do Presidente do Comitê
Chamber of Commerce (Câmara de Comércio Brasileiro da Câmara de Comércio Internacional, o
Internacional – CCI), fundada em 1919, com sede em Presidente da Associação Brasileira da Empresas
Paris e que possui mais de 80 Comitês Nacionais, nos Comerciais Exportadoras – ABECE, o Presidente da
cinco continentes, além de operar a mais importante Associação Brasileira da Indústria Ferroviária – ABIFER,
“Corte Internacional de Arbitragem” do mundo, o Presidente da Associação Brasileira dos Terminais de
fundada no ano de 1923. Contêineres, o Presidente do Sindicato das Indústrias
A FEDERAÇÃO DAS CÂMARAS DE COMÉRCIO Mecânicas e Material Elétrico, entre outros. Some-se,
EXTERIOR tem sua sede na Avenida General Justo no ainda, a presença de diversos Cônsules e diplomatas
307, Rio de Janeiro, (Edifício da Confederação estrangeiros, dentre os quais o Cônsul-Geral da
Nacional do Comércio – CNC) e mantém com essa República do Gabão, o Cônsul do Sri Lanka (antigo
entidade, há quase duas décadas “Convênio de Suporte “Ceilão”), e o Ministro Conselheiro-Comercial da
Administrativo e Protocolo de Cooperação Mútua”. Embaixada de Portugal.
A Diretoria
DIRETORIA PARA O TRIÊNIO 2006/2009
Presidente

JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1o Vice-Presidente

PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ

Vice-Presidentes Vice-Presidente Europa


Arlindo Catoia Varela Jacinto Sebastião Rego de Almeida (Portugal)
Gilberto Ferreira Ramos Vice-Presidente Nor te
Joaquim Ferreira Mângia Cláudio do Carmo Chaves
José Augusto de Castro
Vice-Presidente Sudeste
Ricardo Vieira Ferreira Martins
Antonio Carlos Mourão Bonetti
Vice-Presidente Sul
Arno Gleisner

Diretores

Diana Vianna De Souza Luiz Oswaldo Aranha


Marie Christiane Meyers Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida
Alexander Zhebit Oswaldo Trigueiros Júnior
Alexandre Adriani Cardoso Raffaele Di Luca
Andre Baudru Ricardo Stern
Augusto Tasso Fragoso Pires Roberto Nobrega
Cassio José Monteiro França Roberto Cury
Cesar Moreira Roberto Habib
Charles Andrew T'Ang Roberto Kattán Arita
Daniel André Sauer Sergio Salomão
Eduardo Pereira De Oliveira Sizínio Pontes Nogueira
José Francisco Fonseca Marcondes Neto Sohaku Raimundo Cesar Bastos
Luis Cesario Amaro da Silveira Stefan Janczukowicz

Conselho Fiscal (Titulares)

Delio Urpia de Seixas


Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
EDITORIAL

APOIO
Cinco séculos de
relacionamento
A corrente de comércio entre Brasil e Portugal está, evidentemente, muito aquém de
seu potencial. O que, para muitos, é visto como um problema crônico, para outros, é
tido como uma grande oportunidade. Se o comércio bilateral, a despeito dos incrementos
recentes, não deslanchou em sua plenitude, significa que há muito por fazer. Há ganhos
latentes à espera de empreendedores ousados. O tamanho de mercado consumidor
português não explica e nem justifica a situação, afinal, outros países europeus importam
produtos brasileiros em volume muito superior à sua capacidade de consumo, indicando
que são consumidores, mas também distribuidores para outros países da Europa. A
estratégia pode incrementar o fluxo comercial e proporcionar ganhos aos dois lados.
Outras estratégias como a diversificação da pauta e a ampliação da base exportadora
tendem a modificar o perfil dos bens transacionados, fazendo com que produtos de
maior valor agregado transmitam maior robustez à corrente de comércio.
Não seria exagerado poder contar, ainda, com um acordo bilateral entre o Mercosul
e a União Européia, da qual Portugal faz parte. A conclusão das negociações traria ao
Brasil ganhos adicionais, derivados da penetração, relativamente mais facilitada, de algumas
linhas de produtos no mercado europeu, incluindo o português. Traria aos europeus,
evidentemente, vantagens em outros setores do relacionamento econômico bilateral.
Seja onde for, ou de onde venha, o protecionismo é uma chaga que precisa ser removida
do plano internacional. Disfarçadamente, protege empregos e mascara ineficiências na
produção, deixando de gerar muitos outros postos de trabalho, retardando o progresso
CONSELHO DE
econômico, e bloqueando inovações na matriz produtiva.
CÂMARAS DE COMÉRCIO
Quando a Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE decidiu acompanhar DAS AMÉRICAS
os esforços do Governo Federal na batalha pela geração de saldos comerciais e pela
atração de investimentos estrangeiros, em 2005, não imaginava o sucesso que se tornariam
os seminários bilaterais por ela promovidos. Um ano e meio depois e mais de 15 seminários Expediente
realizados, orgulhamo-nos dos temas discutidos, dos entraves identificados e das soluções
propostas. Queremos um Brasil forte. Trabalhamos por isso. Produção
Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE
Portugal, por sua estreita e secular relação com o Brasil, foi, até agora, o único país Av. General Justo, 307/6o andar
contemplado com um segundo seminário. Os estreitos vínculos empresariais, criados a Tel.: 55 21 3804 9289
e-mail: fcce@cnc.com.br
partir de pujantes investimentos produtivos portugueses, denotam o estreitamento de
Editor
um relacionamento de cinco séculos que tende a se fortalecer. O coordenador da FCCE
Esta edição traz para o leitor o acompanhamento dos trabalhos do segundo Textos e Repor tagens
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-Portugal, realizado Elias Fajardo
Fernanda Pereira Ferreira
pela FCCE em 19 de junho de 2006, na sede da Confederação Nacional do Comércio José Antonio Nonato
– CNC, no Rio de Janeiro. Ao promover o seminário, não pretendemos ser meros Projeto Gráfico, Edição e Ar te
identificadores de deficiências no comércio bilateral. Vamos além: trazemos para o leitor Estopim Comunicação
opiniões e soluções apresentadas pelos mais destacados técnicos, políticos e empresários, Tel.: 55 21 2518 7715
www.estopim.com
dos dois países, envolvidos neste relacionamento. Destacamos, igualmente, não apenas Revisão
o vultoso investimento realizado por empresas portuguesas no Brasil, mas as Maria Virgínia Villela de Castro
oportunidades para empresas brasileiras em Portugal. Apresentamos, por fim, as Fotografia
perspectivas futuras em um Brasil dinâmico, que optou pelo caminho do Christina Bocayuva

desenvolvimento e do crescimento. Secretaria


Maria Conceição Coelho de Souza
Sérgio Rodrigo Dias Julio
Boa leitura.
As opiniões emitidas nesta revista são de
responsabilidade de seus autores. É permitida a
O EDITOR reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

6 E N T R E V I S TA 45 C O M É R C I O
Francisco Seixas da Costa “Portugueses devem
“Temos que ser mais conhecer melhor o
inventivos e ousados em mercado brasileiro”
matéria de comércio”
“Temos de ser um
Luiz Felipe Lampreia caminho de ligação entre
Os novos horizontes entre Brasil e Portugal os portugueses e os brasileiros”

“É preciso aumentar nosso fluxo comercial”


18 A B E RT U R A
As iniciativas para aumentar 48 E N G E N H A R I A
o comércio com Portugal
Uma nova ponte sobre o Tejo

20 P A I N E L I 50 H I S T Ó R I A
Relações bilaterais têm
bom potencial no setor A Padeira
de serviço e o Condestável

26 P A I N E L I I 52 P A R C E R I A
O setor de investimentos SENAC: Portugal redescobre a Bahia
tem crescido mais que o
comércio
53 H O T E L A R I A
Em debate, as PPPs e a Brasil, um mercado promissor
burocracia brasileira no
comércio exterior
57 E M P AU TA
32 P A I N E L I I I Eleita a diretoria da FCCE
para o triênio 2006–2009
Investimento é o destaque na relação
bilateral
59 I N T E R C Â M B I O
38 E N C E R R A M E N T O “Há muito a fazer para ampliar o nosso
comércio bilateral”
Um projeto de união bilateral

42 T E N D Ê N C I A 60 C U LT U R A
A salva de aparato e o
União para aumentar o nascimento da contrastaria
comércio na prata portuguesa

65 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S
44 A Ç Ã O SOCIAL
SESC: Saúde bucal ao alcance de todos 70 C U RTA S
ENTREVISTA

“Temos que ser mais


inventivos e ousados
em matéria de
comércio”
O Embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, é um ho-
mem profundamente experimentado em questões de política internacio-
nal, tendo atuado ativamente na política comunitária européia e trabalhado
durante muitos anos na ONU. Nesta entrevista exclusiva, ele fala franca-
mente das relações de Portugal com o Brasil e aposta em um aumento da
corrente comercial entre os dois países.

Com o está,hoje,a relação com erci- FSC – Creio que não devemos estar ofus-
alentre Brasile Portugal? cados com o desequilíbrio da nossa ba-
FSC – Os números do nosso comércio lança comercial. Toda balança comercial
têm crescido bastante. Quase poderíamos apresenta algum desequilíbrio e é natural
nos dar por satisfeitos, pois as exporta- que os países procurem compensá-lo.
ções de Portugal para o Brasil estão a cres- Estamos a falar de duas realidades dife-
cer a uma taxa de cerca de 20% ao ano, o rentes, de dois países com um padrão di-
que nos garantiria uma afirmação impor- ferente de exportações. Recentemente, o
tante no mercado brasileiro. Essa é uma Brasil começou a exportar petróleo para
leitura ilusória, pois estas taxas de cresci- Portugal, um produto de peso na balança
mento representam muito pouco. Durante comercial. Temos, portanto, de ser realis-
muitas décadas, nosso relacionamento co- tas e não burocratas. Temos possibilidades
mercial foi ínfimo, por causa da não coin- de continuar a crescer no universo dos
cidência ou da não complementaridade produtos tradicionais que enviamos ao
entre as necessidades brasileiras e a oferta Brasil, como vinho e azeite, embora eles
portuguesa. Por isso, o atual crescimen- representem muito pouco no universo to-
to, ainda que expressivo, não modifica tal das exportações. Precisamos olhar para
muito a situação geral. Este cenário signi- a oferta portuguesa de produtos de ex-
fica um potencial de crescimento não ape- portação e fazer uma análise criativa para
nas dos produtos que estamos a exportar, saber se há ou não mercado para estes pro-
mas também de novos produtos. Aí pas- dutos crescerem no Brasil. Este trabalho,
samos para uma outra questão, que é a de a meu ver, não está sendo feito. Temos nos
saber se a oferta portuguesa de produtos contentado muito com aquilo que já exis-
de exportação tem ou não condições de te e explorado pouco aquilo que deveria
se conjugar com os interesses brasileiros existir.
em matéria de importações. Além disso, a meu ver, há um déficit
no relacionamento entre entidades em-
O que o senhor diria do atualesta- presariais e associativas. Para mim, é um
do da nossa balança com ercial,que mistério a não existência de um tecido
pende m aispara o lado brasileiro? (como há na área de entretenimento) con-

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Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 7
ENTREVISTA

jugando entidades associativas portugue- por um lado, a angústia européia e, por ou- dois lados nessa negociação. O Mercosul
sas e brasileiras. Cada um faz seu trabalho tro lado, a potencialidade brasileira, é se não tem tido, digamos, uma evolução de
por seu lado e, às vezes, alguns dos nossos não valeria a pena, nesta fase, fazermos um tão grande sucesso como se esperava. A
eventos reúnem apenas portugueses com encontro destas duas realidades para que Europa tem seus próprios problemas.
portugueses e brasileiros com brasileiros. cada um pudesse conhecer melhor o espa- Haveria uma certa rigidez por parte dos
Temos que colocar as entidades em ço do outro. O Brasil tem um potencial de países do Mercosul face à UE que, ao
contato mais próximo, e a circunstância crescimento imenso de novas alternativas mesmo tempo, atua com rigidez com re-
de falarmos a mesma língua não significa, energéticas, e poderiam ser feitas parcerias lação ao protecionismo agrícola. Há uma
necessariamente, que nos conhecemos com empresas portuguesas do setor. Já evolução prevista neste cenário, entre
bem uns aos outros, principalmente nos existe até um exemplo na área de geração, 2007 e 2013, quando a Europa diminuirá
setores empresarial e comercial. Temos com a próxima inauguração, em Tocantins, o seu protecionismo na área. No âmbito
que ser mais inventivos e um pouco mais do Canal da Barragem, resultado de um do Mercosul, há resistências à entrada de
ousados, e penso que as entidades em- convênio entre portugueses e brasileiros. produtos industriais e serviços europeus
presariais têm um papel dinamizador a de- Na atividade de extração de petróleo, a em mercados da América Latina. Estes são,
sempenhar. Não podemos estar sistema- Petrobras tem estabelecido parcerias com a meu ver, os principais problemas.
ticamente aos pés do Estado, porque o empresas portuguesas. Há um espaço novo
Estado enquadra a exportação. Temos que
procurar novas formas de relacionamen-
to comercial, e há uma oportunidade im-
portante em 2007, quando será realizado
a ser explorado e que pode ser desdobrado
em eventos e fatos concretos. Precisamos
concentrar esforços nessa área e descobrir
novos nichos de negócios e parcerias.
“ É maisfácilinstalar
uma empresa brasileira
em Portugaldo quena
no Rio de Janeiro um congresso empre-
sarial Brasil-Portugal. Este evento precisa
ser preparado com cuidado para mobili-
O fato de seu paísser,hoje,m em bro
da U nião Européia – U E,aproxim a
Dinamarca ou na Estônia
O senhor disse que é preciso dar

zar novas áreas. Quando, num evento des- ou afasta Portugaldo Brasil? m aisatenção aosinvestim entos.Por-
te tipo, percebemos que as pessoas se co- FSC – Podemos dizer que, se não fosse tugalseriaum cam inho naturalpara
nhecem todas umas às outras, o evento membro da UE, Portugal poderia estabe- osinvestim entosbrasileiros?
falhou, porque os encontros empresari- lecer entendimentos maiores com o Bra- FSC – Desde que cheguei ao Brasil, apren-
ais são justamente para que as pessoas tra- sil. Hoje, sofremos algumas dificuldades de di que este país não tem uma tradição de
vem novos conhecimentos e possam fe- natureza pautal com relação a impostos de investimentos diretos no estrangeiro, fora
char negócios e investir em novas áreas. produtos europeus e portugueses direcio- da América Latina. As grandes empresas
nados ao mercado brasileiro. Esta questão brasileiras costumam investir no exterior,

“ Temosnoscontentado
com o quejá existee
explorado pouco aquilo
só será resolvida quando houver o planeja-
do acordo entre a UE e o Mercosul.
Temos que ser realistas. Ser membro da
UE não traz vantagens particulares no cam-
mas as pequenas e médias não estão habi-
tuadas a fazê-lo. Elas procuram aproveitar
as vantagens que encontram no mercado
interno. O mercado europeu, por sua vez,
que deveria existir”
O senhordestacou aim portânciado
” po das relações comerciais e traz-nos, na-
turalmente, alguns impedimentos, por cau-
sa da fixação de preços e marcas na Europa.
tem outra lógica e uma estrutura mais com-
plexa. Pensando no futuro, o Brasil não
pode trabalhar sem estimular suas peque-
petróleo na nossa corrente com er- Se não fosse membro da UE, Portugal po- nas e médias empresas a atuarem no exte-
ciale disse que Portugalvê com in- deria fazer desvalorizações competitivas e rior e o governo brasileiro já percebeu que
teresse a iniciativa brasileira de re- direcionadas dos nossos produtos e utilizar deve criar uma sustentação externa consis-
novação denossam atrizenergética. os mecanismos da moeda para aumentar tente para o seu empresariado. O Brasil
Existem possibilidadesde negócios nossa competitividade no comércio. pode entrar no mercado europeu com fa-
nesta área? cilidade, mas, obviamente, é mais fácil ins-
FSC – Não sou especialista em energia. Por que tem sido dada tanta ênfase talar uma empresa brasileira em Portugal
Na Europa, há um debate sério sobre a ao acordo da U E com o M ercosul? do que na Dinamarca ou na Estônia.
questão dos recursos energéticos. Portu- Q uala realim portância dele?
gal está procurando enveredar por novas FSC – Este acordo permitiria garantir mai- O senhor se disse um crítico do ex-
vias em matéria de energia e há, no Brasil, or liberação entre dois grandes e signifi- cesso de retórica no relacionam en-
um esforço notável e reconhecido inter- cativos espaços de comércio. Na Europa, to entre portugueses e brasileiros.
nacionalmente para o aproveitamento de há cerca de 550 milhões de consumido- Ao chegar aqui,percebeu que esta
novas fontes, principalmente o biodiesel. res e no Mercosul eles devem girar em retórica tinha algum sentido.Fale
A questão que coloco, levando em conta, torno de 200 milhões. Há dificuldades dos m aissobre isso.

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Um embaixador
de carreira
O Embaixador Francisco Sei-
xas da Costa nasceu em Vila Real,
Portugal, em 1948. É licenciado
em Ciências Sociais e Políticas
pela Universidade Técnica de Lis-
boa. Ingressou no Ministério dos
Negócios Estrangeiros em 1975,
tendo começado a prestar servi-
ço nas embaixadas de Oslo, Lu-
anda e Londres.
Suspendeu suas funções di-
plomáticas para integrar, como
Secretário de Estado dos Assun-
tos Europeus, o Governo portu-
guês entre 1995 e 2001. Foi, no-
O Embaixador de Portugal, Francisco Seixas da Costa, com o Secretário Mauricio Chacur. meadamente, o principal nego-
ciador português dos Tratados de
FSC – Ao chegar aqui, eu pensava ser ne- países de língua portuguesa? M o-
Amsterdã e de Nice, bem como
cessário agilizar e dar um sentido mais prá- çam bique e Angola,por exem plo,
presidente do Comitê de Minis-
tico às nossas relações, mas, hoje, dou- podem ser eventuaisparceirosdes-
tros do Acordo de Schengen e
me conta de que cultivar nosso relaciona- ta identidade de posições?
presidente do Conselho de Mi-
mento efetivo é, em si mesmo, um ganho. FSC – Estamos comemorando, este ano,
nistros do Mercado Interno da
Nossa relação está assentada em tradições o décimo aniversário da Comunidade dos
União Européia.
comuns e na proximidade entre nossos Países de Língua Portuguesa – CPLP. É
Em 2001, abandonou as fun-
povos. Em qualquer Copa do Mundo, se tempo suficiente para fazer este balanço.
ções políticas para regressar à car-
Portugal não estiver envolvido, os portu- Eu não estou exatamente otimista com re-
reira diplomática, assumindo car-
gueses torcem pelos brasileiros. Esses fa- lação às realizações da CPLP, mas acho que
go como representante perma-
tores sustentam o relacionamento em mo- há coisas importantes que se fizeram. Foi
nente de Portugal junto às Na-
mentos que elementos de natureza mais criada uma cultura de trabalho internaci-
ções Unidas, em Nova Iorque, em
concreta, como o comércio e o investi- onal cada vez mais densa entre os países
março de 2001. Na ONU, foi
mento, não estão presentes. Só para dar membros desta comunidade. Eu diria que
vice-presidente do Conselho
um exemplo, os diplomatas portugueses ainda estamos muito distantes do que po-
Econômico e Social; presidente
no exterior foram habituados, de uma ma- deria ser feito. Penso, ainda, que um ele-
da Comissão de Economia e Fi-
neira geral, a apoiar o Brasil. Isto não acon- mento fundamental nesse cenário seria um
nanças da Assembléia Geral; e
tece por acaso, mas porque há um subs- maior envolvimento do Brasil na CPLP.
vice-presidente da Assembléia
trato que acompanha nosso relaciona-
Geral. Presidiu, também, a troika
mento ao longo do tempo. O senhor é otim ista ou pessim ista
de observadores da ONU (junto
Qualquer expressão de afirmação do quanto ao relacionam ento com erci-
com os EUA e a Rússia) no pro-
Brasil no plano mundial está associada ao albilateralentre Portugale Brasil?
cesso de paz em Angola.
nosso relacionamento. É por isso que Por- FSC – Sou otimista, porque basta olhar
Assumiu o cargo de embaixa-
tugal defende que o Brasil seja membro para os números e verificar que estamos
dor de Portugal no Brasil em 13
do Conselho de Segurança da ONU. Nós tendo um crescimento sustentável ao lon-
de Janeiro de 2005.
estamos sempre com o Brasil, pois isso só go destes anos e o cenário atual aponta
Publicou os livros “Diploma-
soma. Não estamos a competir em maté- para a manutenção deste crescimento do
cia Européia – Instituições, Alar-
ria de política nem de mercado. nosso comércio. Sou, porém, um otimista
gamento e o Futuro da União
insatisfeito, porque temos que andar mui-
Européia” (2002) e “Uma Segun-
As posições com uns sobre a políti- to para que este relacionamento tenha,
da Opinião – Notas de Política
ca,por parte do Brasile de Portu- também, uma expressão quantitativa que
Externa e Diplomacia” (2006).
gal,tam bém se estendem aosoutros nos possa satisfazer.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 9


ENTREVISTA

Os novos horizontes
entre Brasil e Portugal
Neto de portugueses e com uma tradição familiar de diplomacia herdada da
geração de seu avô, Luiz Felipe Lampreia é um dos nomes mais respeitados na
área da política externa brasileira. De 1990 a 1992, ele ocupou o cargo de
Embaixador do Brasil em Portugal. Entre 1995 e 2001, foi Ministro das Rela-
ções Exteriores.
Segundo o Embaixador Luiz Felipe Lampreia, os horizontes mais pro-
missores na relação comercial luso-brasileira estão nas áreas de investi-
mentos e serviços, com ênfase no turismo e no setor de informática.
Nesta entrevista concedida à revista da Federação das Câmaras de Comér-
cio Exterior, ele analisa alguns pontos da política externa adotada pelo
governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e descreve a relação en-
tre o Brasil e seus parceiros comerciais. Em matéria de comércio exteri-
or, o ex-Chanceler acredita que é preciso investir em novos nichos de
mercado, sem que isso signifique substituir as relações com os países mais
desenvolvidos do mundo.

O que une e o que separa Brasile LFL – Em primeiro lugar, eu citaria os


Portugalem relação ao com ércio? serviços de turismo. Turismo tem sido
LFL – O comércio entre os dois países uma área de expansão extraordinária e,
não é um ponto forte, eu diria, porque hoje, a Transportes Aéreos Portugueses
Portugal é muito orientado, em cerca de – TAP conta com quase 50 vôos sema-
80%, na direção da União Européia. Para nais para o Brasil. Podemos mencionar,
o Brasil, são enviados apenas azeite, baca- também, o surgimento de uma rede de
lhau, vinhos, enfim, produtos de menor hotéis portugueses em território brasi-
expressão. Dificilmente essa situação mu- leiro, além de muitos portugueses des-
dará de forma significativa. Tem havido cobrindo as delícias de passar férias no
crescimentos razoáveis em outros seto- Brasil. Essa é uma mudança bastante sig-
res, mas esse panorama geral deverá se nificativa.
manter nestes moldes. Por exemplo, as Além disso, há o crescimento de uma
áreas mais promissoras são as de investi- série de outros serviços, inclusive na área
mentos e serviços. Aí, sim, nós temos de informática. Surpreendentemente, te-
possibilidades. Aí temos tido novidades mos uma presença significativa de em-
importantes e, creio, mais dinamismo. presas portuguesas de informática pres-
tando serviços a supermercados, a com-
A que tipo de serviços o senhor se panhias telefônicas, a processadores de
refere? dados, enfim, a todo tipo de consumido-

10 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 11
ENTREVISTA

Ivan Ramalho, Luiz Felipe Lampreia, Francisco Seixas da Costa e Arlindo Catoia Varela durante o seminário da FCCE.

res de tecnologia de informação no Bra- parte significativa do turismo de exporta- de potencial limitado entre os nossos
sil. O mesmo acontece no outro senti- ção de Portugal. países. O que está sendo feito entre Bra-
do. Essa é uma área muito dinâmica e sil e Portugal é algo voltado para a natu-
muito promissora. Estáse avizinhando,tam bém ,algum reza bilateral e está relacionado com al-
tipo de estreitam ento na relação gumas circunstâncias nacionais dos dois

“ Asáreasmaispromissoras
são a de investimentos
ea deserviços.
M ercosul– U nião Européia,tendo
com o protagonistas o Brasile Por-
tugal?
LFL – Estamos sempre à procura de um
países, com a língua, com a cultura, mui-
to mais do que qualquer iniciativa glo-
bal, mais ampla.

Aí,sim,temospossibilidades
Q ue esforçosestão sendo em preen-
” acordo bi-regional que possa ser a mol-
dura para a expansão de nosso relaciona-
mento econômico. No momento, esta-
“ Importamosde Portugal
produtosda mesa.
Há um certo saudosismo.
didos para a dinam ização desses mos na dependência da evolução da Ro-
setores? Na área de turism o, por dada Doha, da Organização Mundial de Não importamosprodutosde
exem plo,há algum tipo de m ovi- Comércio – OMC, mas também estamos
m ento ou ação que o senhor pode-
ria citar?
LFL – Há uma ação muito sistemática dos
trabalhando num acordo específico entre
o Mercosul e a União Européia. Acho per-
feitamente possível que ele avance.
maiorconteúdo tecnológico

Por que a antiga relação com ercial



grandes grupos portugueses, e da TAP es- entre o Brasil e Portugal não tem
pecificamente, que tem criado novas pos- O que m ais o senhor teria a dizer evoluído no decorrer dosanos?
sibilidades, abrindo rotas, dando vantagens sobre um a m aior aproxim ação co- LFL – Porque, historicamente, nós impor-
em termos de condições, prazos e preços m ercialentre o Brasile Portugal? tamos de Portugal produtos da mesa. Há
aos visitantes portugueses. Há um esfor- LFL – Esse acordo possivelmente não um certo saudosismo. Não importamos pro-
ço deliberado para criar esse novo merca- vai afetar muito a questão de Portugal, dutos de maior conteúdo tecnológico. Por-
do, que, hoje, já é responsável por uma porque o comércio exterior é uma área tugal, no que diz respeito a esses produtos,

12 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


exporta, sobretudo, para a Europa e para os
Estados Unidos. Uma trajetória diplomática
Estam os no fim do prim eiro m an- Luiz Felipe Palmeira Lampreia
dato do Governo de Luiz Inácio nasceu em 1941, no Rio de Janeiro,
Lula da Silva.Com o o senhor avalia e graduou-se em Sociologia e Polí-
a política externa desse governo? tica pela Pontifícia Universidade Ca-
LFL – Ela tem peculiaridades novas em tólica do Rio de Janeiro, em 1961.
relação à política tradicional, e tem tido al- Tirou o primeiro lugar no concurso
tos e baixos, ou seja, tem tido êxitos, mas para o curso de formação de diplo-
também derrotas significativas. Ela é um matas do Instituto Rio Branco. Ocu-
tanto diferente do que tem sido, tradicio- pou importantes cargos no Minis-
nalmente, a política externa brasileira. tério das Relações Exteriores e
exerceu inúmeras funções em dife-

“ O Brasilnão precisa
proclamarsua liderança,
porque isso pode
rentes áreas daquela pasta. Serviu em
Nova Iorque e em Genebra, junto à
ONU. Foi assessor econômico do
ministro das relações exteriores, se-
incomodarosvizinhos
U m a dessas diferenças é a tenta-
” cretário de imprensa e porta-voz do Governo Federal. Foi, também, ministro
conselheiro em Washington, embaixador em Paramaribo (Suriname), embai-
xador em Lisboa, representante permanente do Brasil em Genebra e secretá-
tiva de o Brasil de ser tornar um rio-geral. Chefiou o Departamento de Cooperação Técnica, Científica e
líder regional forte na A m érica Tecnológica e foi diretor executivo da Agência Brasileira de Cooperação. Foi o
Latina. O senhor acredita que principal negociador brasileiro na fase conclusiva da Rodada do Uruguai do
essa política poderá render fru- GATT, uma etapa decisiva na definição das regras do comércio internacional.
tos para o país? Entre as outras missões de que participou, podem ser citadas as de membro
LFL – Eu acho que o Brasil é grande de- da delegação do Brasil nas reuniões da Junta Executiva e Conselho da Organi-
mais e importante demais para estar pro- zação Internacional do Café; membro da delegação do Brasil na Conferência
clamando a sua liderança. Acho que o Bra- das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento; membro da delega-
sil não precisa proclamar sua liderança, ção do Brasil na Conferência dos Países Não Nucleares; da delegação do Brasil
porque essa proclamação pode incomo- na Conferência do Desarmamento; da delegação brasileira às conferências ne-
dar nossos vizinhos. gociadoras dos convênios internacionais do café, açúcar, cacau, estanho e trigo;
e, também, das missões negociadoras de petróleo ao Oriente Médio. Foi dele-
O senhor estaria se referindo à in- gado brasileiro no Subgrupo Consultivo do Comércio Brasil-Estados Unidos;
tenção de obterum assento perm a- foi assessor na Assembléia Anual do Fundo Monetário Internacional e do Ban-
nenteno Conselho deSegurançadas co Mundial. Chefiou delegações brasileiras a Moscou, Caracas e Santa Cruz de
Nações U nidas? la Sierra (Bolívia), além de integrar comitivas de visitas oficiais de presidentes e
LFL – Exatamente. Isso é um ponto críti- chanceleres brasileiros ao exterior. Foi agraciado com dezenas de condecora-
co que cria dificuldades com a Argentina ções e medalhas, entre elas a Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco, do Ministé-
e com o México, por exemplo, e com rio das Relações Exteriores.
uma série de outros países.

O Brasil parece apostar em novas meio de acordos com a África do Sul, com LFL – É correta. Acho que o Brasil tem
parcerias com a África e a Ásia, a China e com a Índia. Não houve, porém, a que priorizar uma multiplicidade de par-
principalm ente a China,além das intenção de substituir as relações com os ceiros comerciais.
já tradicionais.Isso pode repercu- países mais desenvolvidos do mundo, que
tir de um a form a interessante na são nossos principais parceiros comerciais. O senhor é neto de portugueses.
nossa econom ia e no com ércio in- Com o surgiu a sua vontade e o seu
ternacional? O senhorconsiderainteressanteessa desejo de trabalhar com relações
LFL – Acho interessante e importante. aparente intenção do governo Lula internacionais?
Aliás, durante o governo Fernando Henri- de apostarna m ultilateralidade,em LFL – Meu pai era diplomata e meu avô
que Cardoso, nós fizemos isso. Inaugura- detrim ento daênfaseem canaism ais também foi diplomata. Trata-se de uma
mos essas linhas com muita ênfase, por específicos? família de diplomatas.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 13


Pesquisa por produto, país de de
ou nome do exportador

Disponível em 4 idio
inglês,espanhol e f

Relação
atu
stino

mas: português,
rancês

de exportadores
alizada mensalmente
ABERTURA

Antonio de Almeida Lima, Ivan Ramalho, Luiz Felipe Lampreia e Francisco Seixas da Costa na abertura do seminário dedicado a Portugal.

As iniciativas para aumentar


o comércio com Portugal
O Presidente da Federação das Câ- Seixas da Costa e o Ministro, interi- Cabral; o Presidente da Câmara de
maras de Comércio Exterior – no, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Internacional – ICC,
FCCE, João Augusto de Souza Lima, Comércio Exterior, Ivan Ramalho. Theóphilo de Azeredo Santos; oVice-
deu início à sessão solene de abertu- Compuseram a mesa o Cônsul-Geral Presidente da FCCE, Arlindo Catoia
ra do Seminário Bilateral de Comér- de Portugal no Rio de Janeiro, An- Varela; o Vice-Presidente da Associa-
cio Exterior e Investimentos Brasil- tonio de Almeida Lima; o Secretário ção de Comércio Exterior do Brasil
Portugal convidando para presidir a de Comércio e Serviços do MDIC, – AEB, José Augusto de Castro.
mesa o Embaixador Luiz Felipe Edson Lupatini, o Presidente da Câ-

O
Lampreia, ex-Chanceler e ex-Embai- mara Portuguesa de Comércio e In- presidente da mesa, Embaixador
Luiz Felipe Lampreia, fez uma pe-
xador do Brasil em Portugal. Para o dústria do Rio de Janeiro, Luis de quena explanação, lembrando a
pronunciamento de abertura foram Avillez; o Consultor e Representan- vinda de portugueses para o Brasil desde
os tempos da colonização, o que “certa-
convocados o Embaixador Plenipo- te da Confederação Nacional do Co- mente foi o marco inicial dessa fase co-
tenciário de Portugal, Francisco mércio – CNC, Senador Bernardo mercial”. Ele chamou a atenção para o fato

18 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


de que até meados da última década a rela- turo. Portugal habituou-se e viciou-se em sas, que começou com Marcio Fortes de
ção comercial Brasil-Portugal era pouco exportar para dentro da União Européia Almeida, hoje Ministro de Estado das Ci-
articulada e em moldes antiquados. Esta e, talvez, por isso, tenha perdido algumas dades, e, na época, Secretário Executivo do
situação se transformou e, hoje, os dois pa- oportunidades em outros mercados”. MDIC. Foi dado início a um processo de
íses têm uma relação dinâmica, de duas Segundo Francisco Seixas da Costa, nos consultas e reuniões bilaterais entre Brasil
mãos, apesar de uma expansão comercial últimos anos têm crescido expressiva- e Portugal. Prosseguimos com esse traba-
modesta. mente os investimentos no mercado tu- lho e temos, hoje, uma agenda mais signifi-
“O comércio nunca será um elemento rístico e na área hoteleira. “Algumas em- cativa com as autoridades portuguesas”.
fundamental porque as estruturas produti- presas portuguesas têm vindo para o Bra- Ivan Ramalho destacou que, nesta pauta
vas de um país e de outro são relativamente sil trabalhar em estreita articulação com de reuniões, as embaixadas e ministérios
difíceis de compatibilizar. Na área de servi- alguns estados brasileiros na área de em- têm buscado soluções não só para ques-
ços e, sobretudo, na área de investimentos, preendimentos turísticos, e esse setor é tões comerciais, como também para ou-
existe um patrimônio extraordinário que é visto de maneira bastante próspera”. tros problemas que empresas portuguesas
preciso dinamizar, ampliar e cuidar. É exata- enfrentam no Brasil. “Temos recebido
mente sobre este assunto que o Embaixa- O comércio bilateral apoio das autoridades portuguesas nos te-
dor Francisco Seixas da Costa, um dos mais O Ministro, interino, do Desenvolvi- mas que são do interesse das empresas bra-
destacados integrantes da nação portuguesa, mento, Indústria e Comércio Exterior, sileiras em Portugal. Esse trabalho de apro-
de sua geração, vai nos falar.” Ivan Ramalho, iniciou seu pronunciamen- ximação apresenta alguns resultados que
to destacando que Brasil e Portugal têm ainda não se refletem nos números do co-
Saldo brasileiro potencial para ampliar não só suas trocas mércio, mas que abrem espaço para uma
O Embaixador Plenipotenciário de comerciais, mas também seus investimen- participação mais expressiva das empresas”.
Portugal, Francisco Seixas da Costa, iniciou tos, e mostrou alguns dados relativos ao O Ministro, interino, do Desenvolvi-
seu pronunciamento destacando o salto comércio bilateral. mento, Indústria e Comércio Exterior
quantitativo e qualitativo do comércio bila- “Em 2005, o Brasil exportou para Por- destacou que, por meio de seminários e
teral Brasil-Portugal, a partir do final da tugal um pouco mais de US$ 1 bilhão e eventos como os que têm sido realizados
década de 90. O incremento foi fruto das importou aproximadamente US$ 230 mi- pela FCCE, poderá ocorrer uma amplia-
estratégias e oportunidades criadas pelas lhões, o que significa um superávit da or- ção no número de empresas que partici-
próprias empresas, dos capitais disponíveis dem de US$ 800 milhões. O Brasil tem pam do comércio e dos investimentos bi-
e de políticas adotadas, sobretudo, a do es- uma corrente de comércio anual mundial laterais. Para ele, “o MDIC pode dar apoio
tabelecimento de uma parceria permanen- superior a US$ 200 bilhões, portanto, man- buscando simplificar o processo, elimi-
te. Para ele, o Brasil representa um espaço ter com um parceiro tão importante como nar problemas e tentar, evidentemente,
em crescimento natural. “O relacionamen- Portugal, por razões de natureza histórica e estimular uma participação maior das em-
to bilateral se mantém com base numa di- cultural, uma corrente de comércio de ape- presas. Isto tudo está sendo feito”. Segun-
nâmica que tem muito a ver com o relacio- nas US$ 1,2 bilhão é, de fato, uma situação do ele, um exemplo positivo é a inaugu-
namento humano. Aprendi, aqui no Brasil, com a qual não podemos, evidentemente, ração, em julho de 2006, pelo Ministro
a conhecer melhor o meu país”. nos contentar. São 2142 empresas brasilei- Luiz Fernando Furlan, de um centro de
Francisco Seixas da Costa ressaltou que ras exportando para Portugal e 878 em- exportação da Agência de Promoção de
se o comércio não é expressivo, na área presas brasileiras importando produtos Exportações – APEX, do Brasil, em Lis-
de investimentos o Brasil é visto pelas em- portugueses. Temos que fazer um esforço boa, que terá a missão de distribuir pro-
presas portuguesas com expectativas de para que o comércio e o nível de investi- dutos brasileiros não só em Portugal, mas
crescimento. “O parente pobre deste re- mentos entre Brasil e Portugal cresçam.” também em toda a comunidade européia.
lacionamento é o comércio, e a base e as Outro ponto considerado favorável ao
condições para o crescimento são limita- Iniciativas importantes comércio bilateral será o avanço nas ne-
das. A balança comercial está desequili- Segundo Ivan Ramalho, apesar do cres- gociações do acordo Mercosul-UE.
brada em favor do Brasil e a taxa de co- cimento de cerca de 20% nas exportações “Quando esse acordo for concluído, te-
bertura das importações e das exporta- portuguesas, em 2005, este não foi sufici- remos a ampliação do comércio do Brasil
ções em Portugal é muito baixa. Mesmo ente para reduzir o desequilíbrio que existe com os países europeus e, particularmen-
com as exportações portuguesas para o hoje, com o saldo bastante favorável ao Bra- te, com Portugal. Estamos nos empe-
Brasil crescendo anualmente em torno de sil. “A participação de cada um de nossos nhando em negociações para que o co-
20%, não é possível cobrir aquilo que o países no comércio com o outro, hoje, fica mércio e os investimentos entre os dois
Brasil exporta, hoje, para Portugal. Digo em torno de 1%. Por isso, temos feito, des- países possam continuar crescendo, e
isso com a maior das franquezas para não de 2005, um trabalho bastante grande de acredito que esse seminário é uma grande
termos grandes ilusões em relação ao fu- aproximação com as autoridades portugue- colaboração neste sentido”.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 19


PAINEL I

Relações bilaterais têm bom


potencial no setor de serviço
Reflexõessobreopassadocomum enovosinvestimentosem turismo

Não só questões históricas de-


vem criar a dinâmica da relação
bilateral. Enfrentar o mundo
contemporâneo, identificar e
gerir oportunidades comuns,
entre elas o turismo, foram al-
gumas das reflexões que marca-
ram o painel I.

D
ando início aos trabalhos do pai-
nel I do Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimen-
tos Brasil-Portugal, o Presidente da
FCCE, João Augusto de Souza Lima con-
vidou o Secretário de Comércio Exterior
do Ministério do Desenvolvimento, In-
dústria e Comércio Exterior – MDIC, Ar-
mando Meziat, para presidir a mesa e fazer Para Armando Meziat, diversificar produtos e mercados ajudará no crescimento das exportaçôes.
um pronunciamento. Para moderador, foi
convidado o Chefe de Gabinete do Secre- nunciamento ressaltando sua satisfação mente na gestão do Ministro Luiz Fer-
tário de Estado de Turismo do Rio de Ja- por participar de um seminário dedicado nando Furlan. Nesses últimos três anos, o
neiro, Sérgio de Mello Ferreira. Os expo- a um país irmão. Em seguida, fez alguns que se viu foi uma movimentação extre-
sitores foram o Diretor Geral do Vila Galé comentários sobre as exportações brasi- mamente grande do governo e dos em-
Brasil-Hotéis, José Wahnon e o Diretor leiras. Lembrou que, há bem pouco tem- presários brasileiros, em diversas partes
de Relações Internacionais da Câmara po, nossas exportações não eram tão gran- do mundo, com objetivo de fazer marke-
Portuguesa de Comércio e Indústria do des e se concentravam em poucos produ- ting e vender nossos produtos. As metas
Rio de Janeiro, Annibal Schleder. Também tos, poucos destinos e poucas regiões pro- que tinham sido definidas para o atual go-
fizeram parte da mesa o Diretor de Co- dutoras. Segundo ele, nosso país sempre verno foram superadas. A primeira delas
mércio Exterior do MDIC, Arthur teve um mercado interno muito podero- era aquela famosa barreira dos US$ 100
Pimentel; o Presidente da Câmara Portu- so e as empresas brasileiras se dedicavam bilhões que se imaginava atingir ao final
guesa de Comércio e Indústria do Rio de mais a vender suas produções para o mer- do governo e foi atingida em março de
Janeiro, Luis de Avillez; e o Diretor do cado interno do que para o mercado in- 2005, chegando a US$ 118 bilhões. Para
Departamento de Planejamento e Desen- ternacional. Ressaltou, ainda, a recente cri- 2006, a meta é US$ 132 bilhões, envol-
volvimento de Comércio Exterior do ação de uma mentalidade exportadora por vendo um crescimento de 12% em rela-
MDIC, Fábio Martins Faria. parte do empresariado e da indústria. ção a 2005. O que vimos, no período de
O Secretário de Comércio Exterior do “É com muito otimismo que, hoje, vejo janeiro a maio de 2006, foi um crescimen-
MDIC, Armando Meziat, iniciou seu pro- os resultados desse trabalho, principal- to superior a este.”

20 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


Taxa de câmbio senvolvendo, também, um comércio bi-
Segundo o secretário de comércio ex- lateral intensificado com vários países.”
terior do MDIC, o desempenho das ex- Armando Meziat mencionou, ainda, o
portações brasileiras para este ano tem trabalho da comissão bilateral Brasil-Por-
sido posto em dúvida devido a taxa de câm- tugal e uma evolução em diversos temas
bio. Esta é uma discussão presente e atual que estão sendo debatidos em diferentes
em toda a área de comércio exterior. fóruns.
“As empresas que importam matérias- “Este é um caminho moderno para a
primas, ou usam o drawbackou tiveram va- atividade comercial: por meio de contatos
lorização de preços de seus produtos no bilaterais, conversas e seminários, como
mercado internacional, e têm sustentado o este da Federação das Câmaras de Comér-
crescimento da exportação. Outros seto- cio Exterior. Vejo com muito otimismo
res, no entanto, estão sofrendo os impac- que o comércio exterior brasileiro está
tos do câmbio desvalorizado: aqueles que no caminho certo e lógico. Existem per-
têm seus custos em reais; aqueles que não calços, mas o Brasil mudou de patamar. A
usam a importação de matéria-prima e seus nossa corrente de comércio supera os US$
componentes; aqueles que são intensivos
em mão-de-obra. Essas empresas estão
começando a sofrer. Basta ver o que está
200 bilhões, e nossa exportação, em 2006,
deve superar os US$ 130 bilhões. Acredi-
to que esse tipo de encontro é o caminho

Portugaléo terceiro
maiorpaísem termosdefluxo
acontecendo com o setor de calçados.
Ocorre um fato curioso com todos os se-
tores: em alguns casos, a receita cambial
para que o futuro seja cada vez melhor
nessa área.”
deturistaspara o Brasil
SÉR G IO DE M ELLO ”
FER R EIR A N

continua a mesma, ou permanece em cres- Perfil do turista português no Brasil


cimento por conta da valorização do pro- Lazer como motivo da viagem 75%
duto no mercado internacional. Na reali-
dade, está se produzindo e vendendo me- Hotel como meio de hospedagem 77,4%
nos e, em última instância, o que gera em-
Viagem organizada por agência 44%
prego não é o valor exportado e sim a quan-
tidade exportada. Vários setores estão ex- Pretendem voltar ao Brasil 97,8%
perimentando essa situação: queda no vo-
Permanência média 13 dias
lume de vendas, mas com valorização do
preço e, quando se multiplica um pelo Gasto médio US$ 81,24
outro, temos receita cambial superior à do
Renda média US$ 24.546,00
ano anterior. O volume de vendas, entre-
tanto, aparece em queda. Esse problema
não está acontecendo com a maioria das Portugueses no Brasil na e, em terceiro lugar, Portugal. Em segui-
empresas exportadoras. Em síntese, as ex- Em seguida, o Chefe de Gabinete do da vêm Alemanha, Itália, França, Inglaterra,
portações continuam indo muito bem, mas Secretário de Estado de Turismo do Rio Espanha, Chile e Canadá.”
se a taxa de câmbio fosse outra, poderiam de Janeiro, Sérgio de Mello Ferreira, usou Sérgio de Mello Ferreira relatou os
estar melhor.” a palavra para comentar o turismo de Por- resultados de uma pesquisa feita junto ao
tugal para o Rio de Janeiro. Ele falou, tam- Ministério do Turismo sobre o perfil do
Caminho moderno bém, sobre os investimentos realizados no turista português, que indicou o lazer
Segundo Armando Meziat, hoje, há estado e a respeito da presença de empre- como o principal motivo da sua viagem ao
uma tentativa de diversificar produtos e sas portuguesas em diversas áreas. Brasil (75%); e identificou o hotel como
mercados para manter o crescimento das “De 2004 para 2005, tivemos um cresci- o meio de hospedagem mais utilizado.
exportações. Há pouco mais de dez anos, mento de 12,93% no número de visitantes Grande parte das viagens é organizada por
o Brasil exportava essencialmente para os portugueses no Brasil. Em relação ao Rio de agências, e 97,8% dos turistas pretendem
Estados Unidos e Europa e, hoje, a situa- Janeiro foram 29.518, em 2004, e 61.342, voltar ao Brasil. A permanência média do
ção mudou: há vários mercados novos em 2005, perfazendo um crescimento de português no Brasil é de 13 dias, e as cida-
apresentando um crescimento bastante 50%. O Rio de Janeiro é o portão de entra- des mais procuradas são Recife, Fortale-
acelerado do fluxo comercial. “A Ásia e o da, com aproximadamente 38% de todo flu- za, Salvador e Rio de Janeiro.
Mercosul passaram a ser grandes merca- xo turístico que chega ao país. Os principais “É importante ressaltar que o cresci-
dos compradores do Brasil, que está de- emissores são os Estados Unidos, a Argenti- mento ocorre porque as empresas por-

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 21


PAINEL I

tuguesas vêm apostando nessa área. Temos Angra dos Reis. Estamos realizando di-
o grupo Vila Galé, com investimentos em versos encontros comerciais com repre-
hotelaria no Nordeste, e o grupo Pestana, sentantes do governo e da iniciativa priva-
que atua no Nordeste e no Rio de Janeiro. da. Temos um projeto chamado ‘O Rio é
Alguns desses grupos fretam vôos para de vocês, o Brasil é de vocês’, por meio
trazer turistas portugueses para seus em- do qual convidamos representantes de ho-
preendimentos aqui no Brasil.” téis e agências de viagem brasileiras a irem
ao mercado português e a desenvolverem
Investimentos em turismo contatos com agentes de viagem de Lis-
Segundo Sérgio de Mello Ferreira, as boa e do Porto. Iniciativas como essas re-
principais regiões turísticas do Estado do sultaram num crescimento de quase 100%
Rio de Janeiro são a Costa Verde, abran- do turismo no Rio de Janeiro, de 2004
gendo Angra dos Reis, Paraty e Manga- para 2005. Coloco a Secretaria de Turismo
ratiba; Rio-Niterói; Agulhas Negras, do Rio de Janeiro à disposição dos grupos
Itatiaia e Resende; o Vale do Café (princi-
palmente Barra do Piraí, onde há um
grande número de fazendas, hoje utiliza-
das como pousadas); a Serra Verde Im-
portugueses que desejem trabalhar co-
nosco e que queiram um contato com os
municípios, para que possamos ser
“ O potencialturístico interno
do Brasile a proximidade
culturalcom Portugal
facilitadores dessa possibilidade de inves-
perial, que inclui Petrópolis, Teresópolis
e Friburgo; e a Costa do Sol, com atra-
ções como Búzios, Rio das Ostras e Cabo
timentos no nosso estado.”

Liberdade e eficácia
facilitaram nosso investimento
JO SÉ W AH NONN ”
Frio. “A Costa do Sol é servida pela em- Em seguida, foi a vez da exposição do “Somos um grupo, de fato, investidor.
presa portuguesa Pró-Lagos no abaste- Diretor Geral do Vila Galé Brasil-Hotéis, Estamos em décimo lugar, em Portugal,
cimento de água e saneamento básico. As José Wahnon, que apresentou o grupo no rankingde grupos hoteleiros; qüinqua-
condições de abastecimento de água em constituído em 1986, em Portugal. Com gésimo sétimo lugar no ranking europeu;
toda a região vêm melhorando significa- 20 anos de experiência, tem 18 hotéis em e décimo nono no Brasil. No Vila Galé, as
tivamente. Na Costa Verde, o turismo operação. palavras chaves que procuramos difundir
marítimo e náutico vem sendo desenvol-
vido com a combinação de praias, ensea-
das e montanhas. São 365 ilhas em Angra
dos Reis e 1.000 pequenas praias, um
produto bastante diversificado. Nessa
região, o grupo Pestana fez o seu primei-
ro investimento.”
O moderador destacou, também, o
trabalho que vem sendo feito para me-
lhorar a infra-estrutura na Região dos La-
gos, que inclui a duplicação da rodovia RJ-
140. “O governo do estado está negocian-
do a reforma do aeroporto internacional
de Cabo Frio, que vai facilitar, também, o
transporte de equipamentos para a área
de exploração do petróleo em Macaé”.
Em seguida, o Chefe de Gabinete do
Secretário de Estado de Turismo do Rio
de Janeiro afirmou que muitas novas ini-
ciativas turísticas têm-se desenvolvido em
território fluminense.
“Continuamos abertos a novos inves-
timentos portugueses. Um bom exem-
plo é o grupo Pestana, que tem o hotel
Pestana Rio Atlântico, na cidade do Rio de
Janeiro, e o Pestana Angra Resort, em As águas límpidas, a Mata Atlântica e uma igreja antiga no litoral de Angra dos Reis.

22 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


e vivenciar são: valorização, inovação, le- dade com Portugal. O Brasil possui 180 O Estado do Rio de Janeiro,
aldade, ambição, garantia, sensibilidade, milhões de habitantes e um potencial de
liberdade e eficácia. Nossos 18 hotéis con- crescimento fantástico na área de hotelaria.
com sua caprichosa
tam com cerca de 1.800 colaboradores, A partir de 2000, abrimos um hotel em combinação de praias e
4.262 quartos ou apartamentos, como se Fortaleza, com investimento global de montanhas, grandes centros
diz no Brasil e 9.104 leitos ou camas.” cerca de R$ 31 milhões; um em Salvador, urbanos e sítios históricos
A grande dimensão que o grupo adqui- com investimento de R$ 28 milhões; e, oferece as mais variadas
riu em Portugal tornou possível expandir por fim, um outro empreendimento em opções de turismo: marítimo
o investimento em direção ao Brasil. Guarajuba, na Bahia, com cerca de R$ 75
e náutico, ecológico e de
“Analisamos diversas regiões e ficamos milhões investidos. Temos, ainda, outros
impressionados com o Brasil, pela tradi- projetos: um pequeno hotel abandonado aventura, histórico e cultural,
ção cultural e lingüística e pela proximi- que vamos reformular para funcionar rural e de praia

Arraial do Cabo. Parque Nacional de Itatiaia.

Petrópolis.

Paraty. Fazenda de café no interior fluminense.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 23


PAINEL I

como hotel escola, e um mega projeto, a como serviços e informática, mas a difi-
30 km de Fortaleza, numa área de 500 O Hotel Vila Marina e o culdade é bastante grande.”
hectares, onde pretendemos construir Hotel Vila Galé Atlântico, O Diretor de Relações Internacionais
cerca de quatro hotéis com campos de na região do Algarve, aliam da Câmara Portuguesa de Comércio e In-
golfe e área de lazer. Temos boas relações a tradicional hospitalidade dústria do Rio de Janeiro disse, ainda, que
com os governos dos estados onde traba- existe um preconceito histórico secular,
portuguesa ao conforto
lhamos e com as instituições brasileiras, e no universo cultural, em relação aos po-
esses empreendimentos são importantes, contemporâneo. vos ibéricos, produzido, de certa forma,
não só para nós, como também para os pelo setor acadêmico.
municípios onde se situam.” de uma grande instituição financeira do “Um grande número de autores brasi-
Segundo o Diretor Geral do Vila Galé, o Brasil. Hoje, sou professor e consultor leiros assume essa rejeição à cultura ibérica
Brasil recebe cerca de 4 milhões de turis- em Lisboa e no Brasil, nas áreas direcio- que está relacionada com questões antro-
tas por ano, e Portugal 12 milhões. Ele nadas a viabilizar negócios entre os dois pológicas, sociais e geopolíticas. Uma his-
concluiu, afirmando que o Brasil poderá países, e escrevi uma tese de doutorado tória de 500 anos pode ser considerada re-
ser o destino turístico do século XXI, se as tratando dessas questões. Sei das dificul- cente. A colonização portuguesa é vista
autoridades apoiarem os grupos que que- dades que enfrentamos para viabilizar es- como um pecado original dessa terra, ve-
rem expandir as suas atividades no país. ses negócios.” dando o acesso ao paraíso e à modernidade.
Para Annibal Schleder, os negócios en- Grande parte da nossa história foi produzi-
Preconceito histórico tre Brasil e Portugal não caminham na pro- da com a herança cultural de um precon-
O Diretor de Relações Internacionais porção que deveriam ter considerado nos- ceito contras os ibéricos. Obstáculos ao de-
da Câmara Portuguesa de Comércio e In- sa história e passado comuns. senvolvimento brasileiro derivariam de tra-
dústria do Rio de Janeiro, Annibal Schleder, “Existe algo no campo simbólico ou ços de caráter herdados dos colonizadores
iniciou seu pronunciamento esboçando místico que dificulta a evolução dos ne- portugueses, o que provocou uma aversão
uma reflexão histórica e cultural sobre a gócios. Temos que melhorar a qualidade à cultura ibérica, encampada por alguns his-
relação bilateral Brasil-Portugal. dessa relação bilateral. Tenho levado em- toriadores, e que se traduz no senso co-
“Por mais de 20 anos fui diretor exe- presas brasileiras para Portugal e vice-ver- mum das piadas, das brincadeiras e tudo
cutivo da área de comércio internacional sa para tentar viabilizar negócios em áreas mais. Temos que desconstruir essa idéia.”

24 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


Segundo Annibal Schleder, visões
Portugal, meu avozinho
diversificadas e antagônicas sobre essa tese
têm sido produzidas por grandes escrito- (Manuel Bandeira)
res e estudiosos brasileiros. Como foi que temperaste,
“Alguns autores constroem um mo- Portugal, meu avozinho,
delo simbólico que rompe com a questão Esse gosto misturado
cultural e nos remete a uma possibilidade De saudade e de carinho?
dinâmica de produção e de crescimento.
Essa é a visão que nos remete à causa da Esse gosto misturado
reflexão refratária à cultura ibérica. O au- De pele branca e trigueira
tor Gilberto Freyre, por exemplo, que – Gosto de África e de Europa,
escreveu a famosa obra ‘Casa Grande & Que é o da gente brasileira?
Senzala’, discute o ato colonizador e cita Gosto de samba e de fado,
com generosidade a originalidade e a ino- Portugal, meu avozinho,
vação como marcas dessa miscigenação do Ai Portugal que ensinaste
povo brasileiro. Várias visões conflitantes Ao Brasil o teu carinho!
sobre esses temas influenciam e atuam
sobre nossos negócios. Especular quem Tu de um lado, e do outro lado
teriam sido os melhores colonizadores é Nós... No meio o mar profundo...
uma bobagem, mas é importante tentar Mas, por mais fundo que seja,
refletir sobre as visões demarcadas, sobre Somos os dois de um só mundo
a construção da imagem atemporal e seus Grande mundo de ternura,
reflexos atuais nas relações comerciais.” Feito de três continentes
Ai, mundo de Portugal,
Alta tecnologia Gente mãe de tantas gentes!
Hoje, Portugal pode se tornar-se um
grande centro de distribuição europeu, Ai Portugal de Camões,
exportador de investimentos produtivos, Do bom trigo e do bom vinho
enfim, um país da alta tecnologia. Esta foi Que nos deste, ai avozinho
mais uma idéia defendida no pronuncia- Esse gosto misturado,
mento de Annibal Schleder, que afirmou, Que é saudade e que é carinho
também, a tese de que os brasileiros já
estão começando a mudar a imagem que cas devem criar a dinâmica da relação bila-
têm do país que os colonizou. teral; uma visão mais pragmática do mun-
“A mais recente geração brasileira de do de negócios impõe esse novo relacio-
estudos históricos sociológicos, e até es- namento. ‘Ter remorso é pecar pela segun-
téticos e literários, impressiona por uma da vez’, dizia Spinoza, um filósofo influente
nova idéia sobre Portugal. Rompendo a na leitura do atual mundo dos negócios.
tradição dessa refração em relação à cul- Nada de remorsos ou ressentimentos so-
tura ibérica, o que se escreve, hoje, sobre bre relações passadas; o que importa é o
Portugal, felizmente impressiona. É im- hoje, é o enfrentamento do mundo con-
perativo reafirmar, portanto, esta nova e temporâneo, é identificar e gerir oportuni-
realista visão de Portugal, explorando um dades comuns. Temos que ter capacidade
excelente momento das relações bilate- de gerir os negócios conjuntos. Um belo
rais, e transferir para os negócios interna- poema (Ver box) de Manuel Bandeira nos
cionais esta nova realidade.” fala da imagem do avozinho português, mas

“ Temosquedesconstruir
o preconceito histórico secular,
no universo cultural,em relação
Annibal Schleder afirma que os resulta-
dos corporativos e o desempenho dos pró-
prios estados, por meio de suas políticas
externas, podem, cada vez mais, dinamizar
não podemos pautar nossas relações pela
visão dos portugueses como eternos
avozinhos.Temos gerações de cidadãos em-
preendedores com a mesma idade e os
aospovosibéricos

A N N IB A L SC H LED ER N
tais relações, inclusive com o emprego de
uma visão moderna e empreendedora dos
negócios globais. “Não só questões históri-
mesmos anseios de desenvolvimento eco-
nômico. Somos e devemos ser parceiros
históricos. A escolha é só nossa.”

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 25


P A I N E L II

Claudinei Martins e Antonio de Almeida Lima durante o painel I do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos promovido pela FCCE.

O setor de investimentos tem


crescido mais que o comércio
“A presença brasileira em Portugal: FCCE, e vice-Presidente do Conse- tor de investimentos tem apresentado
grande dinamismo.
investimentos realizados e novas lho das Câmaras Portuguesas no Bra- “Portugal, nos últimos dez anos, tem
oportunidades”. Este foi o tema do sil, que também realizou um pro- sido um dos países que mais investe no
Brasil. A atração que os portugueses sen-
painel II do Seminário Bilateral de nunciamento. Os expositores foram: tem pelo Brasil tem sido um elemento
Comércio Exterior e Investimentos Gustavo Assad, Diretor Adjunto da importante neste sentido. Como os inves-
timentos e os negócios são sempre feitos
Brasil-Portugal. Presidido por An- Área Internacional da Construtora entre homens e mulheres, naturalmente
tonio de Almeida Lima, Cônsul-Ge- Norberto Odebrecht, e Claudinei as relações humanas são importantes e isto
se reflete no mercado. Nesse cenário, não
ral de Portugal no Rio de Janeiro, Martins, Gerente Regional de Co- podemos deixar de nos referir às influên-
teve como moderador Arlindo mércio Exterior do Banco do Brasil. cias culturais; é impressionante a presen-
ça da arte e da cultura brasileira em Por-
Catoia Varela, ex-Presidente da Câ- tugal. Esta é uma situação relativamente
Aproximação cultural nova que indica uma aproximação natural
mara Portuguesa no Rio de Janeiro
Antonio de Almeida Lima abriu os tra- entre os dois países; uma entrada natural
e Vice-Presidente da Federação das balhos ressaltando que, dentro do relaci- do Brasil em Portugal que deve ser ex-
Câmaras de Comércio Exterior – onamento bilateral Brasil-Portugal, o se- plorada.”

26 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


O presidente do painel passou, em se- Segundo Gustavo Assad, a satisfação do
guida, a palavra a Arlindo Catoia Varela, cliente inclui não apenas a da instituição que
que analisou a situação de Portugal no contratou a Odebrecht, mas também o aten-
contexto internacional. Segundo ele, Por- dimento à comunidade, “porque nós enten-
tugal tem um território pequeno, entre o demos que a engenharia existe exatamente
mar e a Espanha, com população na faixa para, ao influenciar o meio ambiente, pro-
de 10 milhões de habitantes. Quanto aos piciar à comunidade uma melhor qualidade
investimentos diretos de Portugal no ex- de vida. Normalmente, por se tratar de obras
terior, 52% deles estão concentrados em de infra-estrutura, atendemos, sobretudo,
atividades financeiras; 21% em indústria comunidades extremamente carentes. Fa-
de transformação; e 17% em hotelaria e zemos, então, um trabalho de apoio em edu-
comércio. Os países que mais investem cação, profissionalização, inserção profissio-
em território português são Alemanha, nal e cultural e saúde. Para a Odebrecht, o
Reino Unido e França. homem é o começo, o meio e o fim de todas
“O investimento brasileiro em Portu- as coisas. Por isso, a educação e a inserção da
gal está na ordem de US$ 2 bilhões e se comunidade no contexto de benefícios do
concentra na construção civil, com a contrato é de fundamental importância para
Odebrecht; em siderurgia, com a partici- a empresa.”
pação da Companhia Siderúrgica Nacio- A Odebrecht começou a trabalhar no
nal – CSN; em aviação, com a Embraer;
em motores elétricos, com a participação
da Verger; e em carrocerias, com a Marco-
exterior em 1979, no Peru, e já atua em
18 países, contando com 27.000 colabo-
radores, sendo 9.000 no exterior.

A Odebrechtatua
pensando na satisfação
dascomunidades,dosclientes
polo. As atividades financeiras são desen- “Uma das marcas de que nós efetiva-
volvidas, principalmente, pelo Banco Itaú
e pelo Banco do Brasil.”
Segundo Arlindo Catoia Varela, Portu-
mente nos orgulhamos é que, nesses 25
anos no exterior, não tivemos nenhum
projeto interrompido e nenhum descum-
e dosacionistas
G U STA V O A SSA D N ”
gal importa do Brasil máquinas, petróleo,
água mineral, alimentos, material de trans-
A Odebrecht no mundo
porte, produtos químicos e energéticos,
têxteis, calçados, minérios, metais, peles, Atuação em 18 paísesdequatro continentes
madeira, cortiça e papel. Integrantes
O principal produto português impor- Brasil 18.020
tado pelo Brasil é o azeite. Exterior 9.140
Total 27.160
Atuação internacional ORIENTE MÉDIO
Iraque
Em seguida, foi a vez da exposição de Kuw
uwait
ait
EUROPA
EUROP A
Gustavo Assad, que traçou um panorama Emirados Árabes
Por
ortugal
tugal
da atuação internacional da Odebrecht.
Segundo ele, a Odebrecht é a maior
empresa de construção da América La-
tina e a maior exportadora de serviços
de construção do Brasil. Em 18 anos de AMÉRICAS
atuação em Portugal, foram realizadas EUA
México
142 obras. Rep. Dominicana
ÁFRICA
Angola
“A Odebrecht sempre pautou sua atua- Panamá
Djibouti
ção, tanto na área nacional como na inter- Venezuela
Colombia
nacional, por princípios filosóficos bem Equador
definidos: confiança nas pessoas; satisfação Per
eruu
Brasil
do cliente; retornos aos acionistas; atuação Bolívia
descentralizada; parceria com diferentes Uruguai
Ur uguai Atuação em 18 países
setores dos países onde atua; desenvolvi- Chile
Argentina de quatro continentes
mento e capacitação dos funcionários; e
reinvestimento dos resultados.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 27


P A I N E L II

Metrô de Lisboa. Molhe do Porto de Sines. Construção da barragem

Auto-estrada Estarreja-Ovar-Maceda.

Em 18 anos de atuação em
Portugal, a Odebrecht
realizou 142 obras de
grande porte, entre rodovias,
pontes, ferrovias e
barragens
Ponte Vasco da Gama, em Lisboa.

primento de quitação ou de financiamen- ação da Odebrecht na Europa. No Velho de investimentos nessa área, inclusive para
to ou até mesmo de obras. No início, está- Continente, a empresa brasileira já cons- acelerar a conclusão do que os portugue-
vamos muito concentrados na América do truiu mais de 500 km de rodovias. ses estão chamando de Plano Rodoviário
Sul e na África, principalmente em Ango- Em seguida, Gustavo Assad passou a Nacional.”
la, mas hoje estamos nos voltando tam- descrever vários projetos da empresa em O diretor adjunto da área internacio-
bém para os mercados norte-americano território português, que incluem barra- nal da Odebrecht apontou grandes vanta-
e europeu.” gens, pontes, estradas de rodagem, ferro- gens nas PPPs, visto que elas permitem
vias e outras obras de infra-estrutura de unir o setor público e o privado em inici-
Odebrecht em Portugal grande porte. Muitas destas obras são re- ativas de grande porte, viabilizando a ques-
Em 1986, Portugal aderiu à União Eu- alizadas em parcerias com empreiteiras tão financeira, já que o Estado pode pagar
ropéia – UE. Em 1988, a Odebrecht ad- portuguesas e européias. a obra em longo prazo com receitas oriun-
quiriu a João Bento Pedroso Filho, uma Gustavo Assad afirmou, ainda, que, a das do próprio negócio.
empresa com 53 anos de atuação no mer- partir da iniciativa do governo português “Como já disse, o nosso foco principal
cado português. Hoje, a empresa Bento de investir em parcerias público-privadas é a participação da comunidade e, em Por-
Pedroso Construções S.A. é a base de atu- – PPPs, “houve um aporte muito grande tugal, não é diferente dos outros países.

28 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


vendo mais a necessidade de trânsito de
papéis.”
Claudinei Martins informou, também,
que mais de 80% das empresas que atu-
am no comércio exterior são clientes do
Banco do Brasil. Além disso, as 200 mai-
ores exportadoras brasileiras, onde há
uma grande concentração do valor ex-
portado, operam regularmente com o
Banco do Brasil na área de comércio ex-
terior. O banco tem presença física em
mais de três mil pontos no Brasil. Conta
com 18 gerências regionais de apoio ao
comércio exterior e com 105 gerentes
de negócios internacionais; profissionais
especializados que atuam como gerentes
de Alqueva. de mercadologia do comércio exterior

Eu, então, ressaltaria a contribuição cul-


tural da empresa, que apóia iniciativas
como publicações de livros e elaboração
junto aos clientes.

Banco do Brasil:
“Temosdesenvolvido
treinamentosvoltados
para pequenosempresários
apoio ao comércio exterior
de estudos em que são detalhados os pro-
jetos que estamos desenvolvendo e que
têm sido discutidos com técnicos das uni-
versidades locais.
19.446 exportadores
84% têm relacionamento com o BB
que desejam exportar
C LA U D IN EI M ”
A R T IN SN

24.966 importadores
Ao término de sua exposição, Gustavo as empresas brasileiras na realização de
Assad agradeceu a atenção de todos e con- 79% têm relacionamento com o BB operações no exterior e na conquista de
vidou os presentes a visitarem o site da Grandes empresas novos mercados. É muito freqüente o
Odebrecht: www.odebrecht.com, para Banco do Brasil mandar um representan-
As 200 maiores exportadoras do Brasil
obter maiores detalhes sobre a atuação in- te local para apoiar as missões que o go-
são clientes do BB
ternacional da empresa. verno brasileiro realiza no exterior.
Micro, pequenas e médias empresas “Em alguns países, atuamos com foco
Banco do Brasil no nos imigrantes brasileiros. As salas de ne-
85% da base exportadora brasileira
comércio exterior gócio são uma parceria que fazemos com
é cliente do BB
Em sua exposição, Claudinei Martins câmaras de comércio. Por meio delas, pro-
analisou o papel do Banco do Brasil em “Para apoiar o esforço do governo de curamos identificar potenciais importado-
termos de comércio exterior. ampliar constantemente as exportações, res de produtos brasileiros, e temos um
O Banco do Brasil é a maior instituição o Banco do Brasil, hoje, tem pelo menos foco nos fornecedores em função da ne-
bancária do país e da América Latina. Sua um gerente de negócios internacionais em cessidade de ganho de competitividade.
base de clientes tem sido comparada, mui- cada unidade da federação. No exterior, Internamente, apoiamos a inserção das
tas vezes, a populações inteiras de alguns somos o banco brasileiro com maior rede micro e pequenas empresas, por meio de
países. e presença: são 40 dependências em 23 uma linha de crédito para financiar sua
“No comércio exterior, o banco é lí- países. Uma delas é a agência de Lisboa, participação em feiras e eventos no exte-
der absoluto nos mercados de expor- onde atuamos com uma sala de negócios rior ou em feiras internacionais aqui no
tação, com 28%, financiando 31,5% das com o Brasil. Trata-se de um espaço desti- Brasil.”
linhas tradicionais. É líder no mercado nado ao empresário brasileiro para dar su- Além disso, o Banco do Brasil oferece,
de importação e pioneiro em operações porte às suas negociações, quando pre- às micro e pequenas empresas, consulto-
de exportação via Internet. É a única ins- sente em missões. Ele também pode uti- rias em negócios internacionais, asses-
tituição financeira que oferece essa lizar o nosso pessoal local para o desen- soramento técnico e cursos básicos sobre
oportunidade ao cliente e, agora, com a volvimento de negócios.” comércio exterior, câmbio e financiamen-
certificação digital, os clientes podem O banco atua captando recursos de ins- tos. Em 2005, foram treinados cerca de
realizar exportações até o limite de R$ tituições financeiras para fomentar o co- 10 mil empresários e, em 2006, até o
500 mil, totalmente via Internet, não ha- mércio exterior brasileiro. O banco apóia momento, em torno de 1.500.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 29


P A I N E L II

Renovação em Cascais e está implantando dois novos tias dadas pela matriz no exterior e repas-
Fundado em 1808, na época da vinda escritórios: um na cidade do Porto e ou- sa recursos aqui, internamente.”
da Corte Portuguesa para o Brasil, o ban- tro no Parque das Nações. Segundo Claudinei Martins, o banco
co está chegando aos 200 anos como líder “Nosso foco de atuação é atender pes- presta serviço a brasileiros que trabalham
e lançador de inovações tecnológicas soas físicas, jurídicas e instituições finan- em Portugal e querem remeter recursos
como, por exemplo, o Balcão de Comér- ceiras por meio do mercado bancário, bus- para o Brasil.
cio Exterior: um sitede negócios no qual cando captar recursos para financiar ex- “Essas são algumas das parcerias que o
os exportadores brasileiros podem agre- portações. Muitas vezes, empresas por- Banco do Brasil tem feito para atender às
gar seus produtos à marca do Banco do tuguesas querem investir no Brasil, mas grande empresas e também para apoiar as
Brasil e atingir o mercado externo sem não querem internalizar esses recursos. micro e pequenas empresas na sua tenta-
custos. No Rio de Janeiro, o Banco do O Banco do Brasil, então, atua com garan- tiva de inserção no comércio exterior.”
Brasil apóia o pólo de confecção de moda
íntima, em Nova Friburgo; o pólo de moda
praia e o turismo.
“Na área de capacitação dos recursos Em debate, as PPPs e a burocracia
humanos, temos desenvolvido treinamen-
tos em negócios internacionais voltados brasileira no comércio exterior
para os pequenos empresários que que-

A
rem começar a exportar. pós a realização do painel II, houve CAMEX está acima de tudo isso. Na reali-
O gerente regional de comércio exte- um debate com participação do pú- dade, uma parte do pessoal do governo ten-
rior do Banco do Brasil mencionou, ain- blico presente, aberto por Paulo ta estimular as empresas a exportarem e
da, uma parceria do banco com a Ode- Werneck, da Receita Federal. Ele questi- uma outra parte acaba dificultando a ex-
brecht, com o apoio do SEBRAE do Rio onou o sistema de cadastramento, chama- portação.”
de Janeiro, com o objetivo de auxiliar for- do RADAR, considerado muito restritivo. Em seguida, Aires Luiz Lima, ex-Pre-
necedores a exportarem, de forma direta Arthur Pimentel, Diretor de Comércio sidente da Câmara Portuguesa de Comér-
ou indireta, não só para os projetos da Exterior do MDIC, respondeu a esta ques- cio e Indústria do Rio de Janeiro, pediu
Norberto Odebrecht, mas também para tão, afirmando que “existe um trabalho que Gustavo Assad falasse sobre a posição
que possam atender a projetos de outras conjunto da Receita Federal, da Secretaria da Odebrecht a respeito das parcerias pú-
empresas no exterior. de Comércio Exterior do MDIC, do Ban- blico-privadas – PPPs.
“Queremos contribuir com as micro, co do Brasil e de outras instituições no O diretor adjunto da área internacio-
pequenas e médias empresas do Estado sentido de resolver este problema. Exis- nal da Odebrecht declarou: “Na nossa atu-
do Rio de Janeiro na sua inserção ou no tem passos que a Secretaria de Comércio ação no exterior, levamos, trazemos e ab-
aumento de sua participação no comér- Exterior não pode dar sem o consenti- sorvemos tecnologia, e isso nos permite
cio exterior. Nossa intenção é dar credi- mento da Receita Federal. É preciso ha- agregar valor ao nosso negócio e nos des-
bilidade e gabaritar a atuação dessas em- ver um entendimento das instituições en- taca perante os nossos clientes. A iniciati-
presas no comércio internacional.” volvidas para agilizar os procedimentos.” va do governo português de incentivar as
Ainda no Estado do Rio de Janeiro, o PPPs mostra que esse modelo efetivamen-
Banco do Brasil firmou um convênio com
a Secretaria Estadual de Desenvolvimento
Econômico, para realizar treinamento de
“ Váriasinstituiçõesestão
trabalhando em conjunto
para melhoraro sistema
te pode ser aplicado. É um benefício que
desonera o Estado, permitindo que a ini-
ciativa privada tenha uma participação mais
funcionários das secretarias municipais de efetiva no processo de infra-estrutura.
desenvolvimento econômico, de modo a
capacitá-los na área de câmbio e comércio
exterior, para que possam dar maior su-
de cadastramento
A R T H U R P IM ”
EN T EL N
“No Brasil, podemos perceber que o
governo abriu um canal de comunicação
com a iniciativa privada que significa uma
porte aos investidores interessados em re- Paulo Werneck retrucou, afirmando evolução muito grande. Existe um pro-
alizar empreendimentos nos municípios. que, “segundo a Receita Federal, a necessi- grama do governo brasileiro chamado
Desse convênio participa o Departamento dade do RADAR é preventiva. Trata-se de Proex que é fundamental para a atuação
de Planejamento – Depla, da Secretaria de um mecanismo criado para impedir, por das empresas brasileiras no exterior. O
Comércio Exterior exemplo, que uma empresa laranja possa governo estabeleceu como meta expor-
fazer lavagem de dinheiro no exterior. Eu tar US$ 120 bilhões este ano e, para reali-
Presença em Portugal trabalho na Receita Federal, ou melhor, sou zar esta meta, vamos contar com uma con-
Em Portugal, o Banco do Brasil tem aduaneiro, e entendo que a CAMEX já de- tribuição forte do empresariado e com a
uma agência em Lisboa, uma sub-agência via ter batido o martelo, porque acho que a participação fundamental do governo bra-

30 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


sileiro, viabilizando instrumentos de finan-
ciamento às exportações brasileiras para
podermos ter um posicionamento dife-
renciado no mercado internacional.”
“Voltando às PPPs, elas são muito im-
portantes, mas é preciso analisar com cui-
dado as questões jurídicas que elas criam,
pois não podemos passar por cima de as-
pectos legais. De qualquer modo, as PPPs
estão se consolidando, mas é necessário
operacionalizá-las. Isso, evidentemente,
leva tempo. Na Inglaterra, por exemplo,
nos cinco primeiros anos após sua implan-
tação, quase não se criaram PPPs, mas de-
pois disso elas começaram a surgir. Esse é
o processo. Você começa, aprende, corri-
ge alguns erros e problemas. Para mim, o
mais significativo é a consolidação, no go-
verno brasileiro, da importância dessas
parcerias.”

“ Para realizarasmetasdo
comércio exteriorbrasileiro,
precisamosda participação
Na platéia, representantes dos governos federal e estadual, além de empresários e jornalistas.

dasempresasedo governo
G U STA V O A SSA D N ”
Após a explanação de Gustavo Assad,
Paulo Marques, Professor de Relações
Internacionais, presente à platéia, colo-
cou uma questão sobre a burocracia es-
tatal, trazendo o que ele considerou uma
pergunta e uma resposta ao mesmo
tempo. Segundo Paulo Marques, a bu-
rocracia na área do comércio exterior
seria uma herança dos governos milita-
res e, hoje, a sociedade democrática está Aires Luiz Lima pediu informações sobre a O Professor Paulo Marques questionou a
tendo certa dificuldade em implantar posição da Odebrecht em relação às PPPs. burocracia no comércio exterior brasileiro.
medidas anti-burocráticas.
Novamente, a resposta foi dada por dimentos e, hoje, existe um único órgão, sidente do painel II para os agradecimen-
Gustavo Assad. Ele citou um exemplo que se chama Comitê de Financiamento e tos finais.
recente de simplificação de mecanis- Garantia às Exportações – COFIG, que trata “Muito obrigado à Odebrecht e ao Ban-
mos burocráticos na área de comércio tanto de financiamento como de garantia. co do Brasil pela contribuição que deram
exterior. Isso foi um avanço muito grande porque e pela presença no mercado português.
“Há alguns anos, existiam dois fóruns agilizou e reduziu alguns procedimentos As comemorações dos 200 anos da vinda
de apoio à exportação no governo: um de- burocráticos, mas, insisto, a burocracia exis- de Dom João VI para o Brasil, que ocorre-
les era o Comitê de Comércio Exterior – te, e existe uma boa vontade do governo no rão em 2008, são uma boa possibilidade
CECEX que tratava de financiamento, e um sentido de reduzi-la, mas leva tempo para política e diplomática para o Rio de Janei-
outro que era o Conselho Diretor do Fun- que isso possa ocorrer.” ro se reafirmar como grande capital da lín-
do de Garantia às Exportações – CFGE, Após o debate, o Cônsul-Geral de Por- gua portuguesa e como capital da relação
que tratava das garantias. Pleiteamos, junto tugal no Rio de Janeiro, Antonio de luso-brasileira. Muito obrigado a todos e
ao governo, a simplificação desses proce- Almeida Lima, usou a palavra como pre- dou por encerrado esse painel.”

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 31


P A I N E L II I

Investimento é o destaque na
relação bilateral
Comércioentreosdoispaísesestáaquém dopotencial.
Osinvestimentos,porsuavez,nãoparam decrescer.
O painel III do Seminário Bilateral
de Comércio Exterior e Investi-
mentos Brasil-Portugal foi dedica-
do ao estado atual das relações co-
merciais entre os dois países. Foi
presidido pelo Embaixador Virgilio
Moretzsohn de Andrade, Chefe do
Escritório de Representação do Mi-
nistério das Relações Exteriores no
Rio de Janeiro e contou com a mo-
deração e o pronunciamento espe-
cial de Fábio Martins Faria, Diretor
do Departamento de Planejamento
e Desenvolvimento de Comércio
Exterior do Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio
Exterior – MDIC.
João Pedro Mota Pinto e o Embaixador Virgilio Moretzsohn de Andrade, que presidiu o painel II.

O
s expositores foram João Pedro seminário dedicado a Portugal. Ele lem- ram inspiração nos grandes navegadores
Mota Pinto, Diretor do Instituto brou que, nos anos 90, participou dos portugueses que, no século XVI, lança-
de Comércio Exterior de Portu- primeiros passos que deram origem à cri- ram-se ao mundo com bastante destemor,
gal – ICEP e Maurício Chacur, Secretário ação da Comunidade dos Países de Língua buscando não só conquistá-lo fisicamen-
de Estado de Desenvolvimento Econô- Portuguesa – CPLP, da qual fazem parte te, mas conquistá-lo comercialmente.
mico do Rio de Janeiro. Esteve presente, Brasil e Portugal. Isso ajudou o comércio exterior brasilei-
ainda, para compor a mesa o Subsecretá- Em seguida, passou a palavra a Fábio ro a dar um grande salto nos últimos anos,
rio de Estado de Desenvolvimento Eco- Martins Faria, que iniciou seu pronuncia- com crescimento bastante notável.”
nômico do Rio de Janeiro, Jorge Cunha. mento. Segundo Fábio Martins Faria, o inter-
“Temos um carinho muito especial por câmbio brasileiro com Portugal vem
Laços afetivos Portugal, país onde encontramos nossas crescendo de forma acentuada. O mes-
O Embaixador Virgilio Moretzsohn de raízes históricas. Eu queria dizer que as mo tem acontecido com relação a ou-
Andrade abriu os trabalhos falando de sua empresas brasileiras, que nesse momento tros países, visto que, em 2005, as ex-
satisfação em presidir um painel de um estão se voltando para o exterior, busca- portações brasileiras fecharam em US$

32 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


118 bilhões, o que significou um aumen- Evolução do investimento direto português no Brasil
to de 22%. De janeiro a maio de 2006, o
crescimento das exportações girou em
3.000
torno de 14%, um percentual conside- 2515
2409 Total até 2005 US$ 11,4 bilhões
rado bastante expressivo. Maior investidor per capita
“Outro fenômeno que se observa esse 2.500 (ao lado da Espanha)
ano é um crescimento das importações,
que gira em torno de 22%, enquanto em 1755
2.000 1665
2005 foi de 19%. Em 2006, as nossas
importações estão aumentando de for-
1.500
ma mais intensa do que as exportações, 1019
fazendo com que nosso intercâmbio com
o mundo continue crescendo. É preciso 1.000 681
571
haver um maior equilíbrio. Essa tendên-
335
cia tem possibilitado ao país gerar um 202
500
superávit expressivo nas suas transações
com o exterior, o que permitiu um
equacionamento muito favorável das 0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
nossas contas externas. Tudo isso tem-se Fonte: Banco Central do Brasil – BCB
traduzido num crescimento dos investi-
mentos no Brasil, na redução da nossa
vulnerabilidade frente a outros países, “Nossas refinarias foram desenhadas
numa diminuição do risco-país e na para trabalhar com um petróleo mais
melhoria da situação de todas as nossas fino, mas grande parte de nossa produ-
contas externas.” ção é de um óleo mais pesado, haven-
do, então, necessidade de intercâmbio.
Crescimento O petróleo já é o terceiro produto da
O diretor do departamento de plane- nossa pauta exportadora. Na seqüência,
jamento e desenvolvimento de comércio vem o complexo de soja, seguido de
exterior do MDIC informou, ainda, que a produtos químicos, minérios, carnes,
meta atual, estabelecida pelo Ministro Luiz máquinas e equipamentos. O Brasil,
Fernando Furlan, é de chegar ao final de hoje, exporta máquinas para diversos
2006 com US$ 132 bilhões de exporta- países que detêm tecnologia de ponta.
ções, o que vai significar um crescimento Vendemos, sobretudo para os Estados
de 12% em relação ao ano passado. Os Unidos, América Latina e Europa, equi-
produtos industrializados já representam pamentos elétricos, papel e celulose,
a maior parte do que o país exporta, em- calçados e açúcar.”
bora os produtos básicos ainda tenham um Nesse cenário, o café, que no início dos
peso bastante significativo.
“Em termos de conteúdo tecnológico
daquilo que o Brasil vende para o mundo,
“ Estudosquetemosfeito
indicam que empresas
portuguesasinvestiram
anos 60 representou cerca de 65% das
nossas exportações, hoje não tem peso
tão relevante, embora continuemos sen-
há uma presença expressiva, que se mante- do grande exportador deste grão. Segun-
ve de janeiro a maio deste ano, de produtos
manufaturados (56%), sendo 27% o
percentual de exportação de produtos bá-
US$ 14 bilhõesno Brasil
JO Ã O P ED R O M O TA ”
P IN T O N
do Fábio Martins Faria, desejamos conti-
nuar mantendo esta posição.
“Os produtos de alta tecnologia estão
sicos. Como produto líder, em 2005 e todo material advindo da atividade siderúr- crescendo cada vez mais na nossa pauta
2006, temos o material de transporte, en- gica, e, em terceiro, o petróleo, sendo Por- exportadora. Enquanto isso, diminuem
volvendo automóveis, autopeças, tratores, tugal um dos destinos mais importantes da os produtos de baixa tecnologia. Em ter-
ônibus, caminhões e, também, produtos nossa pauta de exportação deste produto.” mos de destino das nossas exportações,
da indústria aeronáutica. A exportação de Segundo Fábio Martins Faria, o Brasil chamo a atenção para a grande represen-
aviões é o principal item e tem um grande tem aumentado sua exportação de petró- tatividade que passou a ter a América La-
valor agregado que se incorporou às nos- leo sem que isso signifique diminuição das tina, onde nossas vendas vêm crescendo
sas exportações. Em segundo lugar, temos importações. de forma bastante intensa. A proximida-

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 33


P A I N E L III

Principais investidores portugueses no Brasil Na área de energia, a Petrobras tem com-


Portugal Telecom Telecomunicações, tecnologia e imprensa. prado petróleo com mais intensidade ora
> US$ 7 bilhões. do Oriente Médio, ora de países afri-
Energias de Portugal Energia elétrica. 2 bilhões de euros no Brasil. canos.Também é significativo o que ocorre
Grupo Espírito Santo Finanças, agribusiness, hotelaria, imobiliário etc. nesse setor com relação a Portugal.
> a US$ 1 bilhão “Temos tido um crescimento continu-
Brisa Acionistas da maior concessionária de rodovias. ado das nossas exportações de petróleo
Grupo Pestana Hotelaria, 8 unidades. > a US$ 150 milhões para Portugal, já que este país importa o
SGC TV por assinatura, rent-a-car e imobiliário. produto brasileiro para revendê-lo. Além
CIMPOR Cimentos, investimentos superiores a US$ 1 bilhão disso, em termos de produtos de valor
Petrogal Participação em mais de 50 poços petrolíferos,
agregado, o Brasil é um grande exporta-
em parceria com a Petrobras.
dor, e Portugal é um mercado expressivo
Banco Privado Entrada no Capital da OHL
Português (2ª maior concessionária de rodovias do Brasil)
para produtos básicos brasileiros. O gran-
de produto exportado em 2005 para Por-
Principais projetos de investimento anunciados ou em execução tugal foi o petróleo, seguido de laminados
Energias de Portugal Finalização das obras da hidreléctrica planos, soja, couros e peles, calçados,
de Peixe Angical (>R$ 1 bilhão) madeira e motores para veículos. Uma si-
Galp Energia Investimentos em exploração de petróleo tuação parecida está acontecendo nos cin-
US$ 140 milhões até 2010
co primeiros meses desse ano.
Solverde, D.Pedro Hotéis, Projecto "Aquiraz Golf & Beach Villas“, o maior
Portugal é, hoje, o nosso 46º fornece-
A. Jordan e BPP projecto turístico do Brasil.
Espírito Santo Turismo Anunciou um investimento de 60 milhões de reais para
dor, sendo que o principal continua sendo
construção de um empreendimento em Genipavu (BA) os Estados Unidos, e em seguida estão Ar-
Brisa Interesse em novas concessões rodoviárias. gentina, Alemanha e China.”
Família Vaz Guedes Está em construção um resort exclusivo em Itacaré (BA),
considerado o projeto hoteleiro mais vanguardista e Investimentos
exclusivo do Brasil Após a exposição de Fábio Martins Fa-
Somague Interesse linha de metro Centro-Aeroporto de Guarulhos. ria, foi dada a palavra ao Diretor do Insti-
Vila Galé Resort Vila Galé Mares (BA), já inaugurado com 454 tuto de Comércio Exterior de Portugal,
apartamentos; Cumbuco Golf Resort (CE) João Pedro Mota Pinto. Ele iniciou seu
Grupo Pestana Interesse em construção/aquisição de 1 hotel a cada ano. pronunciamento analisando as relações
SGC Operação de serviços 'triple-play', (TV por assinatura,
econômicas entre Portugal e o Brasil.
telefonia fixa e ADSL)
“Durante muitos anos, os especialistas
Fonte: Instituto das Empresas para os Mercados Externos – ICEP, Portugal
diziam que os dois países estavam empa-
de física e a identidade cultural são fato- Importações tados e estagnados em matéria de comér-
res que beneficiam nossas vendas para Segundo Fábio Martins Faria, parte das cio. Pode-se dizer que, realmente, a im-
os mercados latino-americanos. Temos nossas importações são matérias-primas portância de Portugal, enquanto parceiro
aproveitado esse quadro favorável.” que vão integrar o processo produtivo comercial do Brasil, está muito aquém do
Um outro destaque no panorama das brasileiro e, portanto, vão gerar produção potencial que existe na relação entre os
exportações brasileiras, indicado pelo di- local, agregando valor e dando maior dois países. Hoje, já se pode dizer que Por-
retor do MDIC, é o crescimento das ven- competitividade à nossa indústria. tugal investe muito mais no Brasil do que
das para a Ásia, principalmente para a Chi- o Brasil investe em Portugal. Na área de
na. Isto tem ocorrido sem prejuízo das ex-
portações para os mercados tradicionais,
que são os Estados Unidos e a União Eu-
“ Nossasexportaçõesde
petróleo para Portugaltêm
crescido,já queestepaís
turismo, por incrível que pareça, Portu-
gal envia, atualmente, mais turistas para o
Brasil do que o Brasil envia a Portugal.”
ropéia. Esse novo cenário,por um lado, Segundo João Pedro Mota Pinto, o
promoveu, entre outras coisas, um au-
mento expressivo do comércio exterior
na participação do PIB brasileiro. Por ou-
compra para revender
FÁ B IO M A R T IN S ”
FA R IA N
atual cenário das relações bilaterais leva
a crer que tem crescido a importância
do Brasil enquanto destino privilegiado
tro lado, esta mudança também trouxe “Esse ano temos, também, um au- dos investimentos portugueses. Ele dei-
maior destaque para o Brasil no comércio mento de cerca de 12% de importações xou claro, também, que, nos últimos
mundial, visto que, nos três últimos anos, de bens de consumo, já que a situação anos, o destaque do relacionamento são
o país apresentou uma taxa de crescimen- da taxa de câmbio favorece esse cresci- os investimentos diretos no território
to superior àquela do resto do mundo. mento.” brasileiro.

34 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


Segundo o diretor do Instituto de Co-
mércio Exterior de Portugal, este proces-
so se intensificou a partir das privatizações
brasileiras.Vieram para o Brasil grandes gru-
pos portugueses como a Portugal Telecom.
“Atualmente, já estamos numa outra
fase: a de consolidação dos investimentos
portugueses no Brasil . Um exemplo são
as novas iniciativas feitas nas áreas imobili-
ária e de turismo, principalmente no Nor-
deste. Um outro dado interessante é que
muitas empresas portuguesas estão
reinvestindo no território brasileiro os
lucros obtidos, e isso é muito saudável.
Nos primeiros quatro meses de 2006, as
empresas portuguesas já haviam investi-
do no Brasil cerca de US$ 100 milhões,
ou seja, o triplo do valor no mesmo perí-
odo do ano passado.”
Após o pronunciamento de João Pedro
Mota Pinto, o presidente do painel, Em-
baixador Virgilio Moretzsohn de Andrade,
apontou, como um aspecto positivo, o au-
mento do volume de comércio entre os
dois países e o potencial de crescimento
para o futuro.
Fábio Martins Faria, do MDIC, ao lado do Secretário de Desenvolvimento Econômico, Mauricio Chacur.
Globalização
“Estudos realizados indicam que em- do em segundo lugar no cômputo geral. Mauricio Chacur iniciou seu pronun-
presas portuguesas já investiram US$ 14 Em primeiro lugar fica o Chile. ciamento falando das relações entre os
bilhões no Brasil. Muitos desses investi- “Em outro capitulo, e com crescimen- dois países.
mentos são realizados por meio de outras to acentuado de 90%, embora ainda apre- “Como já foi dito aqui, o relacionamen-
nações, como os Países Baixos e as Ilhas sentem números muito pequenos, ficam to entre Brasil e Portugal vive um momen-
Caimán. Um outro aspecto muito impor- os bens de equipamento. Acreditamos que to bastante positivo, pois, além dos seus
tante que devemos levar em conta é que, este é o grande produto em que devemos fundamentos tradicionais, como amizade,
neste momento, existem mais de 60 em- apostar em termos de futuro.” vínculos históricos, étnicos, culturais e
presas portuguesas instaladas no Brasil, Em seu pronunciamento, João Pedro lingüísticos, os investimentos portugueses
que geram mais de 150 mil postos de tra- Mota Pinto abordou, ainda, o relacionamen- no Brasil têm crescido significativamente.
balho no território brasileiro.” to da Petrobras com a Petrogal. Segundo ele, A Portugal Telecom foi a ponta de lança
João Pedro Mota Pinto destacou, ain- o petróleo extraído no subsolo brasileiro é desse processo. Nós, obviamente, agrade-
da, que os principais produtos exporta- muito pesado e o país não possui muitas re- cemos muito pelas iniciativas que têm sido
dos por Portugal para o Brasil são os tra- finarias adequadas a este tipo de óleo. Por realizadas no Brasil porque, no momento
dicionais vinho, azeite e bacalhau, além de isso, parte da nossa produção é enviada para em que existiu uma pressão de globalização
pêras e castanhas. Em 2005, o azeite re- ser refinada em Portugal. Além disso, como muito grande, Portugal resolveu olhar para
presentou cerca de 25% de todas as ex- parte da parceria entre as duas empresas, a o Brasil como parceiro preferencial.”
portações portuguesas para o Brasil. A Petrogal está explorando 54 postos de ven- Na época, segundo o Secretário de Esta-
maior parte de todo o azeite consumido da de petróleo em território brasileiro. do de Desenvolvimento Econômico do Rio
no Brasil vem de território português. de Janeiro, o Brasil apresentava alguns pon-
Quanto ao bacalhau, ele é comprado nos Grande esforço tos muito atraentes: o maior país da América
países nórdicos, processado em Portugal “Portugal tem feito um grande esforço Latina; um dos maiores PIBs do mundo; o
e, em seguida, revendido ao Brasil. Portu- em direção ao Brasil, o que nos leva a crer líder do Mercosul; a mesma língua, um fa-
gal é, também, o país europeu que mais que os portugueses são, hoje, os maiores tor diferencial muito interessante diante da
exporta vinhos para os brasileiros, estan- investidores percapita no país” política de globalização.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 35


P A I N E L III

“Portugal estava numa desvantagem Hoje, cerca de 17% dos investimen- “Só a Vivo emprega mais de 7 mil tra-
muito grande frente a capitais alemães, tos portugueses no Brasil se concentram balhadores de forma direta no estado. O
franceses e americanos, países com mais no Estado do Rio de Janeiro, enquanto grupo Pestana tem 1.100 empregados di-
tecnologia e recursos. Nesse cenário, o 48% são realizados em São Paulo. Isto retos em seis hotéis no Brasil, sendo dois
Brasil se encaixou como uma luva na es- obedece a uma lógica econômica, em no Rio de Janeiro e os outros em São Pau-
tratégia lusitana de diversificação, num função do tamanho do PIB dos respecti- lo, Goiânia, Natal e Curitiba.”
momento em que havia uma consolida- vos estados. Segundo Maurício Chacur, estes resul-
ção da democracia tanto aqui quanto lá. “Acreditamos que nosso estado tem tados foram conseguidos porque o Esta-
Tratava-se de um contexto de abertura de condições de melhor atrair essa presen- do do Rio de Janeiro conseguiu reverter
mercados em todo o mundo, no qual Por- ça portuguesa, como tem atraído inves- um déficit crônico de décadas e, no ano
tugal buscava uma integração com a Co- timentos de outros países. Hoje, o Rio passado, obteve um saldo de US$ 1,5 bi-
munidade Européia. As duas nações se de Janeiro é um líder na captação de in- lhão na balança comercial e passou a se
redescobriram e aconteceu, então, uma vestimentos. Vale citar dois exemplos: a destacar em matéria de exportações.
‘invasão’ portuguesa no Brasil, que trou- articulação da Companhia Siderúrgica do “O petróleo é uma atividade impor-
xe resultados muito positivos para ambos. Atlântico com a Companhia Vale do Rio tante no território fluminense e susten-
No período compreendido em 1995 e Doce para uma participação com investi- tou a economia do estado em momen-
2004, tivemos US$ 11 bilhões de investi- mentos calculados em torno de US$ 3,5 tos difíceis, mas hoje a nossa economia
mentos portugueses no Brasil.” bilhões, e o investimento da Petrobras de é muito mais diversificada e está em
Segundo Mauricio Chacur, após um US$ 6,5 bilhões em uma nova refinaria crescimento. O petróleo contribui, atu-
período inicial de grandes inversões, houve em território fluminense. Ou seja, den- almente, com cerca de 19% do nosso
uma redução nos investimentos diretos. tro de cinco anos, o Rio de Janeiro será PIB, o que é um dado bastante signifi-
“Apesar disso, hoje, esperamos que a re- um estado completamente diferente, por cativo, mas, como vocês podem ver, te-
lação bilateral se incremente nas duas causa dessas duas iniciativas. Muitas ou- mos muitos outros setores ativos e di-
mãos, ou seja, com capitais brasileiros em tras irão ocorrer, graças ao esforço do nâmicos. Só para dar um exemplo, o Rio
Portugal e capitais portugueses no Brasil. estado de desconcentrar suas indústrias de Janeiro passou a ser o quinto estado
Nós estamos numa grande expectativa de e atividades de serviço.” exportador brasileiro e acreditamos que
que a TAP invista aqui, agora, apoiando a Como exemplo, Maurício Chacur ci- ele poderá ocupar o terceiro ou quarto
VARIG que está realmente precisando de tou o seguinte dado: há seis anos, a capital lugar neste ranking.”
recursos. A VARIG é um grande símbolo do estado contribuía com 62% para o PIB Em seguida, Mauricio Chacur afirmou
do nosso país.” estadual, e todo o interior fluminense (in- que o Rio de Janeiro é um ator importan-
clusive a região metropolitana da capital) te na relação com Portugal. Em 2005, o
Portugueses no Rio contribuía com apenas 38%. Hoje, capital estado representou 15% das importações
O Secretário de Estado de Desenvol- e interior se igualaram e detêm, cada um, e 33% das exportações, as quais se con-
vimento Econômico do Rio de Janeiro cerca da metade do PIB. O secretário con- centram principalmente em petróleo, fer-
considerou, ainda, a diversificação nas ati- siderou esta mudança como um resulta- ro, aço e derivados.
vidades e nos portes das empresas portu- do positivo da política de descentralização “Isso demonstra que nós temos gran-
guesas que aqui investem. A atividade de física das atividades econômicas. Ele men- de espaço para crescimento de ambos os
comércio, principalmente focada em pe- cionou, também, a presença de empresas lados. Nós importamos de Portugal pro-
quenos negócios, tem cedido espaço para portuguesas no estado, como a compa- dutos tradicionais como pescado, vinho e
grandes empreendimentos industriais e de nhia de bebidas e sucos Sumol, a cerveja- frutas secas, mas temos espaço e mercado
serviços. ria Cintra, o Grupo Espírito Santo de ser- para importar outros itens de maior valor
“Temos uma presença portuguesa sig- viços financeiros, o Grupo Pestana, que agregado, assim como temos, também,
nificativa nas áreas farmacêutica e de ser- tem hotéis na capital fluminense e em capacidade de exportar produtos de mai-
viços financeiros. No Estado do Rio de Angra dos Reis, a Portugal Telecom, que or valor tecnológico.”
Janeiro destacam-se, ainda, os setores de injetou US$ 7 bilhões na Vivo, além da O Secretário de Estado de Desenvol-
hotelaria, bebidas, telecomunicações, con- presença do Grupo Laboris na área far- vimento Econômico finalizou seu pro-
cessões rodoviárias e engenharia civil.Tudo macêutica. nunciamento parabenizando a Federação
isto traz um grande benefício ao estado, já O Secretário de Estado de Desenvol- das Câmaras de Comércio Exterior –
que gera emprego, renda e receita, mas os vimento Econômico lembrou que o mer- FCCE pela iniciativa de criar seminários
investimentos poderiam ser ainda maio- cado fluminense é cerca de 15 vezes mai- que estreitam os laços comerciais do
res, uma vez que a maior colônia portu- or que o mercado português e que a ten- Brasil com os mais diferentes países e
guesa no estrangeiro está estabelecida no dência, por isso, é de as empresas portu- que podem gerar novos ciclos de inves-
Rio de Janeiro.” guesas continuarem vindo para cá. timentos.

36 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


FCCE
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimentos


Calendário 2006

20 de fevereiro RÚSSIA

20 de março ÁFRICA DO SUL

24 de abril FRANÇA

22 de maio PERU

19 de junho PORTUGAL

17 de julho CHINA

21 de agosto PANAMÁ

18 de setembro SUÉCIA

23 de outubro ESPANHA

13 de novembro FINLÂNDIA

11 de dezembro ALEMANHA

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 37


ENCERRAMENTO

Um projeto de união bilateral


Reformulaçãodaimagem doempresariadoportuguêseum maior
conhecimentoentreosdoispaísesreforça correntecomercial

João Augusto de Souza Lima, Antonio de Almeida Lima, Arthur Pimentel, Marcio Fortes de Almeida, Mauricio Chacur e Francisco Seixas da Costa.

A
sessão solene de encerramento do mércio Exterior do Ministério do Desen- O presidente da FCCE fez, também,
Seminário Bilateral de Comércio volvimento, Indústria e Comércio Exteri- um registro importante sobre a trajetória
Exterior e Investimentos Brasil- or – MDIC; Arlindo Catoia Varela, Vice- da Federação das Câmaras de Comércio
Portugal foi presidida pelo Embaixador Presidente da FCCE; Luis de Avillez, Pre- Exterior. “É a associação de classe, que tra-
Plenipotenciário de Portugal, Francisco sidente da Câmara Portuguesa de Comér- ta exclusivamente de comércio exterior,
Seixas da Costa, e contou com o pronun- cio e Indústria do Rio de Janeiro; Fábio mais antiga do Brasil. Ela é a sucessora da
ciamento do Ministro de Estado das Ci- Martins Faria, Diretor do Departamento Federação das Câmaras de Comércio Es-
dades, Marcio Fortes de Almeida. de Planejamento e Desenvolvimento do trangeiras do Brasil, fundada em 1932,
Fizeram parte da mesa João Augusto de Comércio Exterior do MDIC; e Maurício entre outras pela mais antiga das Câmaras
Souza Lima, Presidente da Federação das Chacur, Secretário de Estado de Desenvol- de Comércio Exterior de Portugal, que é
Câmaras de Comércio Exterior – FCCE; vimento Econômico do Rio de Janeiro. a Câmara Portuguesa do Rio de Janeiro”.
Antonio de Almeida Lima, Cônsul-Geral João Augusto de Souza Lima iniciou a Ele ressaltou, então, que, por lógica his-
de Portugal no Rio de Janeiro; Embaixa- sessão agradecendo a participação do Em- tórica, “a FCCE, sucessora da Federação
dor Virgilio Moretzsohn de Andrade, Che- baixador Virgilio Moretzsohn de Andrade. das Câmaras de Comércio Estrangeiras,
fe do Escritório de Representação do Mi- “Contamos com Vossa Excelência nos foi fundada, na realidade, pela Federação
nistério das Relações Exteriores no Rio de próximos seminários para que possa, mais das Câmaras de Comércio Exterior de
Janeiro; Arthur Pimentel, Diretor de Co- uma vez, nos auxiliar e nos prestigiar”. Portugal, conforme muito bem nos lem-

38 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


ENCERRAMENTO

brou seu ex-presidente e atual vice-pre- Brasil, mas não para ela tão-somente. Do gem gera distorções que impedem a com-
sidente da FCCE, Arlindo Catoia Varela”. mesmo modo, a Alemanha tem importa- preensão exata do atual papel dos portu-
João Augusto de Souza Lima chamou ções que não são apenas para ela”. gueses no Brasil.
para presidir a mesa “com deferência, res- “Se vocês forem a um ponto de ônibus
peito e admiração”, o Embaixador Pleni- Língua portuguesa e perguntarem qual a nacionalidade da em-
potenciário de Portugal, Francisco Seixas Em seguida, o ministro das cidades co- presa Vivo, vão dizer que ela é brasileira.
da Costa. mentou que a língua portuguesa – por Ninguém sabe que ela é portuguesa.
uma questão de sotaque – é, hoje, um Como também não sabem que PT, no Bra-
Figura central fator que mais nos afasta do que nos une sil, fora o partido político, quer dizer Por-
“Para esta sessão solene, vamos ter o a Portugal. Para confirmar sua teoria, per- tugal Telecom. Não existe uma associação
pronunciamento de alguém que tem uma guntou aos presentes se alguém já vira entre o investimento e a imagem do país”,
responsabilidade muito especial no rela- um filme português. Ao plenário ele tam- concluiu, ressalvando algumas organiza-
cionamento econômico entre Portugal e bém dirigiu uma pergunta sobre a audi- ções como a Rede de Hotéis Pestana e o
Brasil” afirmou o presidente da mesa ao ência brasileira do canal Rádio Televisão Banco Espírito Santo, que, ao contrário
anunciar o Ministro de Estado das Cida- Portuguesa – RTP, que talvez seja menor de instituições da área de tecnologia, pa-
des, Marcio Fortes de Almeida. do que, por exemplo, a audiência brasi- recem realizar uma ligação mais direta da
“Quando aqui cheguei, vi as dificulda- leira da inglesa BBC, da espanhola TVE e atividade com o seu país de origem.
des que surgiam no plano bilateral em al- da italiana RAI. “O investimento em imagem é tão im-
gumas questões de natureza comercial e portante que o Ministro Luiz Fernando
empresarial. Pude sempre contar com o
apoio do então Secretário Executivo do
Ministério do Desenvolvimento, Indús-
“ O Brasiléum bom mercado,
ePortugaluma ótima pontepara
o Brasil.Osdoisprecisam
Furlan tem tido o cuidado de desenvolver
a marca Brasil”, explicou o Ministro
Marcio Fortes de Almeida, afirmando que,
tria e Comércio Exterior, Marcio Fortes associada a esta imagem, devem vir
de Almeida”, lembrou.
Francisco Seixas da Costa disse, ainda,
que o atual ministro das cidades foi a figu-
M
exploraresse contato
A R C IO FO R T ES DE A LM ”EID A N
acoplados todos os aspectos positivos da
produção brasileira.
O ministro citou também, entre os in-
ra central na equalização de pontos im- “O que nos separa, por incrível que vestimentos de Portugal no Brasil, a área
portantes para promover a atividade ex- pareça, é a língua. O sotaque do portugu- do saneamento. Segundo Marcio Fortes de
portadora brasileira para Portugal. ês nos parece estranho. Temos que traba- Almeida, está sendo discutido um marco
Marcio Fortes de Almeida agradeceu lhar para nos aproximarmos cada vez mais, regulatório para o setor, e já existe uma
as palavras do embaixador e disse que es- para que artistas e jornalistas portugueses comissão no Congresso Nacional dedicada
tava apenas cumprindo sua missão da for- participem das nossas novelas, dos nos- a definir a relação entre estados, municípi-
ma habitual: com muito empenho. sos jornais, das nossas entrevistas e, da os e investimentos estrangeiros. O BNDES,
“Havia um mal-entendido entre Brasil cobertura do futebol”, afirmou. por exemplo, poderá ser um parceiro na
e Portugal a respeito da localização do cen- ampliação do setor de saneamento, se hou-
tro de distribuição da Agência de Promo- Refazer a imagem ver crédito de companhias estrangeiras.
ção de Exportações – APEX. O impor- O ministro também ressalvou a neces-
tante, naquele momento, era desfazer o sidade de reconstruir a imagem do país Oportunidades
mal-entendido, e dizer que Portugal não europeu em terras brasileiras, onde tradi- “A relação Brasil-Portugal está basea-
estava sendo abandonado pelo Brasil, ao cionalmente considera-se que o investi- da num desequilíbrio entre o investimen-
contrário, estava sendo priorizado na dis- mento português é voltado apenas para to e o comércio”, afirmou o ministro, pon-
tribuição dos produtos brasileiros”, os pequenos negócios. derando as vantagens e desvantagens das
relembrou o ministro. “O Brasil passou pelo mesmo proble- trocas entre países de continentes dife-
Marcio Fortes de Almeida contex- ma. O país da mulata, do futebol, do sam- rentes. “É muito fácil exportar para países
tualizou a localização do centro de distri- ba, da exportação do café, soja, minério da Europa, lá estando. Na Europa expor-
buição em Portugal. Alegou como justifi- de ferro, de repente, começa a exportar tadores e importadores estão mais próxi-
cativa o fato de que as exportações brasilei- aviões. Do mesmo jeito é Portugal. Que mos. As mercadorias podem ser transpor-
ras vão crescer ainda mais. “Se vai ser um país é esse que, de uma hora para outra, tadas de caminhão de um país para o ou-
centro de distribuição para a Europa, é cla- está aqui no Brasil com a Telecom e inves- tro, ou, até mesmo, de automóvel, como
ro que Portugal vai ganhar também no re- timentos de mais de US$ 7 bilhões?” acontece, muitas vezes, na venda de balas
passe e na distribuição. É o que acontece Usando exemplos do cotidiano, Mar- e confeitos”.
com as nossas exportações para a Holanda. cio Fortes de Almeida explicou que a fal- “Temos que ter capacidade para encon-
A Holanda é um grande importador do ta de investimentos em atualização da ima- trar oportunidades de negócios pontuais.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 39


ENCERRAMENTO

gistrou. “A maneira brasileira de falar por-


tuguês nos passou por meio das novelas.
Elas naturalizaram essa fala de forma a
ajudar muita gente em Portugal a perce-
ber o léxico brasileiro e as diferenças de
vocabulário nesta variante da língua por-
tuguesa”, esclareceu. Em seguida, elo-
giou o trabalho dos artistas e das emisso-
ras: “a capacidade técnica da televisão bra-
sileira é extraordinária. Nós não vivemos
mais sem as telenovelas brasileiras.” Em
contrapartida, observou que essa rela-
ção não é recíproca. “No que diz respeito
à língua, por exemplo, os brasileiros têm
dificuldade de entender a modalidade fa-
lada em Portugal”, alertou, informando
que as notícias sobre as eleições em seu
país, por exemplo, são dadas nos jornais
O Embaixador Francisco Seixas da Costa conversa com o Ministro Marcio Fortes de Almeida. brasileiros por meio de empresas de co-
municação de outros países, como a in-
Ninguém vai dispensar vinho, bacalhau e empresa brasileira. Em Miami existe um glesa Reuters.
azeite, mas podemos encontrar outros metrô feito por uma construtora brasileira. O embaixador admitiu que Portugal
itens para importação. Se não vierem pro- Em Angola há várias empresas do nosso país. precisa renovar sua imagem no mercado
dutos portugueses, podem vir investimen- Empreiteiras brasileiras estão marcando pre- brasileiro, mas alertou que isso depen-
tos que vão gerar a remuneração do capi- sença no mundo inteiro”, afirmou, destacan- de, inclusive, da participação dos brasi-
tal investido.” do que a bandeira nacional tremula até – leiros que vivem em Portugal, que po-
O ministro também lembrou ao plená- ainda que com pouca força – na China. dem ajudar na troca de informações so-
rio características curiosas acerca do turis- “Muitos diziam que a China tinha uma bre os dois países.
mo entre os dois países como, por exem- reserva local para as empresas de engenha- Antes de encerrar formalmente a ses-
plo, o fato de o empresário brasileiro, nor- ria, mas empresas brasileiras apareceram e são, o embaixador agradeceu a hospitali-
malmente, entrar na Europa por Paris ou se adaptaram à legislação do país”, asseve- dade da Federação das Câmaras de Co-
Frankfurt, e dificilmente por Lisboa. rou, citando, ainda, casos de participação mércio Exterior e passou a palavra a João
“Temos que ter atração para a área de empresarial brasileira nos Estados Unidos Augusto de Souza Lima. “Há pouco tem-
negócios. Considero que o centro de dis- e no Iraque. “O Brasil é um bom mercado e po, foi eleita uma diretoria da FCCE para
tribuição da APEX em Lisboa vai fazer Portugal, com a entrada na União Euro- o triênio 2006/2009. Temos represen-
com que o fluxo de empresários também péia, é uma ótima ponte para o Brasil. Os tações em todas as regiões do Brasil e
se volte para Portugal. Desta forma, o tu- dois precisam explorar esse contato”. uma representação na Europa. Nesta ca-
rismo de negócios em direção a Portugal O embaixador agradeceu as palavras do deira, está um português que foi nosso
será incrementado.” ministro e reiterou a importância das re- diretor durante anos, o grande amigo Ja-
lações humanas entre os dois países, como cinto Sebastião Rego de Almeida”.
Crescimento lastro para o desenvolvimento, indepen- O presidente da FCCE prosseguiu,
O ministro afirmou que economia do dente dos momentos mais ou menos fa- afirmando que o Seminário Bilateral de
Brasil está crescendo e, com isso, os negó- voráveis do tráfego comercial ou da rela- Comércio Exterior e Investimentos Bra-
cios se diversificam, surgindo oportunida- ção econômica. sil-Portugal foi o décimo-sétimo de uma
des para todos os que desejam investir no Francisco da Costa Seixas concordou série que tem o apoio do Governo Fede-
Brasil. Cada país e cada setor empresarial com a colocação do ministro – por mais ral e na qual Portugal foi o único país a
deve fazer uma pesquisa de mercado para paradoxal que pareça – a respeito da lín- merecer dois seminários.
descobrir quais as oportunidades mais ade- gua como um difícil elemento de ligação “Vossa Excelência, senhor Embaixa-
quadas. O Brasil também está em busca de entre os dois países. “Eu me recordo dos dor Seixas da Costa, é um amuleto para
novos negócios, com o objetivo de expor- primeiros filmes do novo cinema brasi- nós. Graças à presença de pessoas de ga-
tar serviços para diferentes países. leiro, em Portugal. Eu não entendia rigo- barito, como Vossa Excelência, que aqui
“A nova ponte sobre o Tejo, em Lisboa, rosamente nada. Nós não estávamos habi- compõem a mesa, nossos seminários têm
foi construída com participação de uma tuados a ouvir o português do Brasil”, re- alcançado bastante sucesso.”

40 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


ENCERRAMENTO

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 41


TENDÊNCIA

União para aumentar o comércio


VirgílioMoretzsohn deAndradecrêqueaexploraçãodenovasáreasvai
expandirofluxocomercialdoBrasilcom orestodomundo
Chefe do Escritório de Representa-
ção do Ministério das Relações Ex-
teriores no Rio de Janeiro, o Em-
baixador Virgílio Moretzsohn de
Andrade é um otimista em relação
ao rumos da diplomacia brasileira.
Um dos motivos é a construção dos
primeiros alicerces da Comunidade
Sul-Americana de Nações, estabele-
cidos com a finalidade de integrar
os países vizinhos por meio de obras
de infra-estrutura, como a via oceâ-
nica que fará a ligação entre os oce-
anos Atlântico e Pacífico. Entusias-
mado com o Mercosul, o embaixa-
dor aposta na intensificação do co-
mércio do Brasil com o mundo. Se-
gundo Virgílio Moretzsohn de
Andrade, “hoje, nossas trocas comer-
ciais com a América do Sul já estão
se ombreando e ultrapassando o Virgilio Moretzsohn: “A busca pelo multilateralismo tem sido constante na diplomacia do Brasil”.

volume de comércio que temos com VM A – Em primeiro lugar, eu acho que cial. Não é uma novidade. A América do
os Estados Unidos”. a busca pelo multilateralismo em políti- Sul sempre foi uma prioridade, pelo
ca externa tem sido uma constante na di- menos na retórica, nas relações externas
plomacia brasileira. O que o governo brasileiras. Agora, há um esforço visível
Luiz Inácio Lula da Silva tem feito é ex- em tornar esse anseio mais palpável.
Com o o senhor avalia a diplom acia plorar novas áreas de relacionamento, e Nesse sentido, também é importante
e a política internacionaldo gover- não só centralizar a política nas relações notar que várias iniciativas estão frutifi-
no do Presidente Luiz Inácio Lula com os países industrializados. Acho que, cando, entre elas a criação da Comuni-
da Silva? Acredita que a ênfase no se há alguma diferença de ênfase, seria dade Sul-Americana de Nações, que é
m ultilateralism o é um a estratégia em abrir mais o leque do Brasil para o uma decorrência da criação do Merco-
eficaz para o desenvolvim ento de mundo. Nessa linha, as relações com a sul. Em um mundo globalizado, onde os
nossa política externa? América do Sul ganham um relevo espe- países se organizam em blocos, não faria

42 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


sentido que nós, constituindo um sub- liga o Brasil ao Peru, e já foi inaugurada. Relações Exteriores. Naquela época, di-
continente com identidade própria, não O próprio gasoduto Brasil-Bolívia não é zia-se que as relações entre Brasil e Por-
fizéssemos o mesmo. obra deste governo, foi projetado e reali- tugal estavam muito aquém do potencial
zado antes, mas de qualquer maneira ca- dos dois países, o que tem a ver com nos-
Com o está o processo de desenvol- minha na mesma direção: tornar mais sas ligações culturais e históricas. Parece
vim ento da Com unidade Sul-Am e- densas as relações entre os dois países, que esse problema continua. Talvez tenha-
ricana das Nações? com benefícios claros e com o objetivo mos uma expectativa muito grande com
VM A – A Comunidade está dando os pri- de tornar esses países mais unidos. relação a este comércio. É claro que mui-
meiros passos, e eles são bastante efeti- to ainda pode ser feito para expandir esse
vos. É claro que todo o processo de intercâmbio bilateral.
integração, que busca a união entre países,
não ocorre de forma linear, pois sempre
passa por algum tipo de dificuldade. Te-
“ Num mundoquese
organiza em blocos,não faria
sentido quenós,um subcontinente
O senhor poderia abordar um pou-
co do trabalho do Escritório de Re-
mos o exemplo da União Européia. Volta presentação do M inistério das Re-
e meia, eles sofrem alguns revezes. No com identidade própria, lações Exteriores no Rio de Janei-
ano passado, o projeto de uma Constitui-
ção Européia foi recusado pela França.
Esse projeto de Constituição provinha de
não fizéssemoso mesmo
V IR G ÍLIO M O R ETZ SO H N D E ”
A N D R A D EN
ro? Q uais as funções principais do
escritório?
VM A – O Itamaraty decidiu ter escri-
um dos próceres franceses; no entanto, o tórios nas principais capitais brasileiras.
povo definiu-se contra. Todos os proces- Q ualo significado dessa ênfase na Hoje, já há escritórios em quase todas
sos de integração costumam sofrer alguns Am érica do Sulem term osde polí- elas. O objetivo é estabelecer uma ponte
contratempos. Isso acontece também com tica externa? Ela poderia im plicar do Governo Federal, por meio da pasta
a Comunidade Sul-Americana das Nações. num enfraquecim ento dasrelações, das Relações Exteriores, com os gover-
por exem plo,com a Europa? nos dos estados e as prefeituras locali-
A Com unidade Sul-Am ericana das VM A – Não. A ênfase na América do Sul zadas nessas capitais. No caso do escri-
Nações envolve que países? significa desbravar uma área que estava tório do Rio de Janeiro, além dessa fun-
VM A – Todos os países da América do Sul. desatendida. Hoje em dia, as nossas tro- ção, há a conseqüência de a cidade ter
cas comerciais com esses países já estão sido, durante muito tempo, a sede do
O sobjetivosdaCom unidadesão pa- se ombreando e ultrapassando o volu- Governo Federal. No início da Repú-
recidoscom osdo M ercosul? me de comércio que temos com os Es- blica, o Palácio Itamaraty foi sede do
VM A – Não. O Mercosul tem um obje- tados Unidos. Isso é uma coisa extraor- governo. Depois passou a ser a sede do
tivo específico que é a união aduaneira dinária. Com todos os países somados, o Ministério das Relações Exteriores, que
entre os países membros permanentes, comércio do Brasil com os países da precisa ser preservada. O escritório ad-
que originalmente eram quatro e, agora, América do Sul chegou a números que ministra, também, o palácio, onde nós
com a entrada da Venezuela, passam a ser já ultrapassam o nosso comércio com os temos importantes coleções na biblio-
cinco. O objetivo da Comunidade é mais Estados Unidos. Não quer dizer que nos- teca, com obras de grande valor, além
amplo, pois abarca outros tipos de so comércio com os Estados Unidos te- de uma mapoteca e do arquivo históri-
integração: na área política e na área da nha decaído; ele cresceu também, mas o co do Ministério.
integração da infra-estrutura desses paí- comércio com a América do Sul cresceu
ses, para torná-los mais próximos e para muito. Isso não quer dizer que a política O senhor poderia citar algum tipo
eliminar as barreiras que ainda existem externa parou apenas nesse objetivo. Ex- de parceria ou estreitam ento de re-
entre eles. O Presidente Luiz Inácio Lula pandimos muito nossas relações com a laçõesjá cim entado entre o Gover-
da Silva, numa de suas declarações, disse África e com o mundo árabe, mais espe- no Federal,o governo do estado e a
que, para comercializar com os países cificamente com o Oriente Médio. Há prefeitura do Rio de Janeiro?
andinos, o Brasil tinha que fazer, muitas uma tentativa de transformar, na prática, VM A – Mantemos as melhores rela-
vezes, uma triangulação ou por Miami ou o Brasil em um globaltrader, comerciali- ções. Todas as vezes que uma missão es-
por outro porto e outro aeroporto, pois zando com o mundo inteiro. trangeira visita o Rio de Janeiro, nós fa-
não havia uma ligação direta entre o Bra- zemos a ponte entre o governante que
sil e esses países. Daí a necessidade de O senhor poderia falar um pouco nos visita e as autoridades do estado e
realização de uma série de obras na área sobrearelação específicaentreBra- ajudamos na programação da visita. Ti-
de infra-estrutura. Por exemplo, a via sile Portugal? vemos aqui, há pouco tempo, o presi-
interoceânica que vai ligar o Atlântico ao VM A – Nos anos 80, eu chefiei a Divisão dente da União Européia, o português
Pacífico, e a ponte sobre o Rio Acre, que da Europa Ocidental do Ministério das Durão Barroso.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 43


AÇÃO SOCIAL

SESC:
SAÚDE BUCAL AO
ALCANCE DE TODOS

E
m um país onde 64% das pessoas dimentos clínicos, ações de prevenção e moção da saúde voltadas para o contexto
têm acesso restrito à atenção de educação em saúde. de vida de sua clientela. Para tanto, o pro-
odontológica, é de enorme rele- O projeto define como diretriz básica jeto sugere que as ações sejam desenvol-
vância o trabalho realizado pelo Odonto- o estabelecimento de parcerias para sua vidas a partir de um planejamento partici-
SESC, tanto em odontologia quanto em implementação. Essas parcerias são, pativo, buscando envolver a Prefeitura, a
educação em saúde e formação de agen- prioritariamente, firmadas com prefeitu- comunidade, os profissionais de saúde, as
tes multiplicadores. Utilizando unidades ras municipais ou outras instituições e instituições e organizações locais.
móveis – carretas com quatro cadeiras envolvem itens como: recursos humanos, A chegada de uma unidade móvel do
odontológicas e diversos equipamentos, infra-estrutura física e segurança. OdontoSESC é um momento de grande
inclusive aparelhos de raio-x – os profis- Extrapolando o atendimento clínico, participação comunitária, quando princi-
sionais do OdontoSESC circulam pelo o projeto enfatiza, também, a capacitação palmente as escolas tornam-se parceiras
Brasil desde 1999, oferecendo saúde bu- dos recursos humanos locais, com vistas a nas ações educativas, com intenso envol-
cal a milhares de pessoas em pequenas garantir a disseminação das informações vimento dos alunos e professores. Nessas
cidades e na periferia das capitais, onde se sobre saúde bucal. O foco é a difusão de ocasiões, os moradores dessas localida-
avolumam as demandas nesse setor. ações de prevenção, reduzindo a instala- des participam de um programa de
Hoje, o projeto conta com 44 unida- ção de doenças dessa natureza nas popu- capacitação, que os torna responsáveis pela
des móveis, que circulam em 24 estados, lações assistidas. multiplicação dos conhecimentos adqui-
além do Distrito Federal. Essas unidades Sua proposta de trabalho alia o atendi- ridos na comunidade em que vivem.
móveis trabalham com odontólogos, mento clínico odontológico curativo, de- É o SESC contribuindo para um Brasil
atendentes de consultório e agentes de senvolvido em unidades móveis, à reali- mais saudável e uma população com me-
saúde que atuam desenvolvendo proce- zação de ações coletivas e práticas de pro- lhor qualidade de vida.

44 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


COMÉRCIO

“Portugueses devem conhecer


melhor o mercado brasileiro”
Arlindo Catoia Varela, Vice-Presi-
dente do Conselho das Câmaras Por-
tuguesas de Comércio no Brasil,
concedeu a seguinte entrevista à
revista da Federação das Câmaras de
Comércio Exterior – FCCE.

Com o o senhoranalisaacorrentede
com ércio entre Brasile Portugal?
ACV – Hoje, o Brasil importa apenas 20%
do total que exporta para Portugal, mas
esta situação pode ser modificada e am-
pliada. O estado que importa mais de Por-
tugal é o Rio de Janeiro, e o que mais ex-
porta para Portugal é São Paulo. Na ver-
dade, tanto os portugueses como os bra-
sileiros poderiam descobrir todo o terri-
tório nacional, ou seja, é necessário esti- Segundo Arlindo Catoia Varela, o Rio de Janeiro é o maior importador de produtos portugueses.
mular tanto a importação quanto a expor-
tação, a partir de outros estados fora do Brasil costuma consumir. Poderíamos am- ta de outros países da Europa e que poderia
eixo Rio-São Paulo. pliar nossas transações, por exemplo, com passar a importar de Portugal.
itens de alta tecnologia que Portugal já
O que poderia ser feito para conse- produz e que costuma comercializar na Porque o Brasiltem dado tanta ên-
guirm aiorequilíbrio nanossabalança Europa. Hoje, cerca de 80% das exporta- fase à necessidade de aproxim ar-se
com ercialcom Portugal? Este equilí- ções portuguesas são destinadas a países com ercialm ente da U E?
brio é tão im portante assim ? europeus. ACV – O interesse do Brasil pela UE vem do
ACV – Este equilíbrio é extremamente fato de que se trata de um grande mercado
importante para ambos os países, porque Q uala im plicação da U nião Euro- consumidor que adquire produtos de alto
vai incrementar mais as importações e as péia – U E no com ércio Brasil-Por- valor agregado. Isto pode fomentar o desen-
exportações. É preciso estimular as ex- tugal? volvimento do nosso comércio exterior.
portações portuguesas para o Brasil, que ACV – O maior importador de produtos
representam um volume pequeno diante portugueses é a Espanha, que faz fronteira O senhor é otim ista ou pessim ista
das exportações brasileiras. Isto significa com o território português. De qualquer quanto ao desenvolvim ento do co-
que os portugueses devem conhecer maneira, Portugal tem hoje uma ótima li- m ércio do Brasilcom Portugal?
melhor o mercado brasileiro e, também, nha de produtos que exporta apenas para a ACV – Tanto o governo brasileiro como o
de certa forma, o mercado exportador Europa e que poderia, perfeitamente, ex- português estão trabalhando neste senti-
brasileiro precisa conhecer mais, e me- portar, também, para o Brasil. Nesse cená- do, desde o momento em que assinaram
lhor, as necessidades do mercado portu- rio, é evidente que temos de levar em con- um acordo, no final de 2005, durante o
guês. Se olharmos a pauta de nossas im- sideração as facilidades comerciais propici- Terceiro Congresso das Câmaras Portugue-
portações de Portugal, veremos que ela é adas pelo fato de Portugal pertencer à UE. sas de Comércio no Brasil, para a criação
composta, basicamente, por produtos que A questão estaria mais centrada em identi- de centros de distribuição. Foi criado um
a comunidade portuguesa radicada no ficar quais os produtos que o Brasil impor- centro de distribuição de produtos brasi-

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 45


COMÉRCIO

leiros em Portugal, que já está iniciando Paulo. Tivemos um período áureo de re-
suas operações, e um centro português no lações comerciais antes da Segunda Guer-
Brasil. Isso vai facilitar o fortalecimento da ra Mundial e, depois, o comércio bilate-
corrente de comércio entre os dois países. ral se reduziu. A diferença na estrutura é
que os demais países têm uma única câ-
Com o éaestruturadasCâm arasPor- mara com escritórios nos estados, en-
tuguesasde Com ércio no Brasil? quanto que as câmaras portuguesas são
ACV – O papel das câmaras de comér- diferentes: cada estado tem sua própria
cio é fomentar as relações entre os dife- câmara, que possui autonomia e indepen-
rentes países. As Câmaras Portuguesas de dência de ação. Isso é extremamente sa-
Comércio no Brasil existem ,hoje, em lutar devido ao cenário econômico: o PIB
11 estados brasileiros. A câmara do Rio de vários estados brasileiros é equivalen-
de Janeiro foi fundada em 11 de setem- te ao de vários países da América do Sul e
bro de 1911. Depois, surgiu a de São ao de alguns países europeus.

“Temos de ser Q uais os produtos portugueses de


m aiorsucesso no Brasil?
um caminho de LA – Há alguns produtos tradicionais de

ligação entre os
que o brasileiro gosta muito, entre eles o
azeite e o vinho portugueses. Nos últimos
anos, acho que o Brasil tem procurado,
“ Ascâmarasdecomércio
devem ajudartanto os
portugueses e como alvo, o próprio capital português, empresáriosdo Brasil
os brasileiros”
Presidenteda Câmara Portuguesa
pois Portugal tem investido no território
brasileiro alguns bilhões de dólares em
diversas áreas, principalmente no turismo.
como osde Portugal
L U ÍS DE ”
A V ILLEZ N

Nós, da Câmara Portuguesa de Comércio e


deComércio eIndústria do Rio de Indústria do Rio de Janeiro, nos esforçamos time, atrealtime. Mesmo o empresário
Janeiro ressalta a necessidade de por apoiar e auxiliar os investimentos dos com mentalidade mais conservadora, não
reforçaroslaçosentreosdoispaíses cariocas e fluminenses em Portugal e vice- vai conseguir se esconder por muito tem-
versa. Mudamos nossas instalações para den- po. Se empresas brasileiras querem ex-
tro do prédio da Federação das Indústrias do portar para Portugal, eu tenho que ajudar

O comércio bilateral entre brasilei-


ros e portugueses e a influência
da cultura, em especial da música bra-
Estado do Rio de Janeiro – FIRJAN, o que
demonstra uma forte parceria neste estado.
O que pretendemos é ser um caminho real
e dar as informações necessárias. Não pos-
so dizer que estamos mais interessados em
que Portugal exporte para o Brasil. Isso
de ligação. Por exemplo, quando empresá- não é problema das câmaras. As câmaras
sileira, hoje, em Portugal, foram al- rios portugueses querem vir para o Rio de têm que prestar serviços aos associados.
guns dos temas abordados durante a Janeiro e têm perguntas a fazer, nós nos dis-
entrevista do Presidente da Câmara pomos a respondê-las e também as repassa- Fala-se m uito,entre osem presários
Portuguesa de Comércio e Indústria mos para a FIRJAN. Do mesmo modo, quan- do setor,na falta de inform ação so-
do um empresário brasileiro quer ir para bre o m ercado de am bos os países.
do Rio de Janeiro, Luis de Avillez, à Portugal e tem dúvidas gerais ou específicas Na sua opinião,quaisasm aioresdi-
revista da Federação das Câmaras de sobre o mercado ou algum produto, nós ficuldadesencontradasno nosso co-
Comércio Exterior — FCCE. podemos dar a ele essas respostas. O papel m ércio exterior?
fundamental da câmara é fazer essa ponte e LA – Eu acho que uma das piores coisas é
Q uais os produtos brasileiros m ais ajudar tanto brasileiros como portugueses. a burocracia que se criou.
apreciados pelos portugueses?
LA – Moro no Brasil há quase 30 anos. Com o o senhor analisa o m ercado Seria possívelcom parar a burocra-
Hoje, há muitos brasileiros vivendo em internacional? cia brasileira com a portuguesa?
Portugal, e todo esse apelo por produtos LA –É preciso trabalhar pensando gran- LA – A de Portugal eu acho que é pior.
brasileiros passou a ser uma realidade.Acre- de; não adianta tentar se esconder para não Os povos latinos adoram criar institui-
dito que as sandálias Havaianas e o guaraná importar. A globalização, de que tanto se ções. Só no Rio de Janeiro há, hoje, cerca
são muito apreciados em Portugal. fala, é uma realidade, pois vemos tudo all de 50 instituições portuguesas.

46 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e InvestimentosB R A S I L • P O R T U G A L


Poderíam os dizer,então,que os do a TV Globo começou a exportar tele- O senhor observa algum a influên-
brasileirosherdaram essatendência novelas para o território português, a ma- cia da cultura portuguesa,atual,no
de Portugal? neira de falar da juventude mudou com- Brasil?
LA – Sim, e vocês ainda inventaram a fi- pletamente. Antes se dizia: “Olá, estás LA – Temos menos habitantes que vocês
gura do despachante, para fortalecer um bom?” Hoje se diz: “Oi, tudo bem?” E isso e não cantamos tão bem.
pouquinho mais essa burocracia. O nosso só aconteceu por causa da telenovela bra-
propósito, ao contrário, tem que ser o de sileira. A forma do jovem vestir-se e a
diminuí-la. maneira de torcer, no futebol, foram trans-
formadas. Hoje, os portugueses passaram
Q uaisasprincipaisinfluênciasbra- a colocar as bandeiras dos times na janela,
sileirasem Portugal? hábito que não existia. A influência na cul-
LA – Uma das coisas que mais mudou tura também é grande, principalmente na
em Portugal, nos últimos anos, foi a lin- música, com Daniela Mercury, Ivete
guagem, por causa das telenovelas. Quan- Sangalo e Maria Bethania.

“É preciso aumentar nosso


fluxo comercial”
Cônsul-GeraldePortugalno Rio deJaneiro defendea idéia deuma maior
aproximação entre instituiçõesempresariaisportuguesase brasileiras

“A corrente comercial está crescen-


do, realmente, a um ritmo expressi-
vo, mas não ao ritmo exponencial que per-
de relações por meio de um acordo de
livre comércio entre a União Européia –
UE e o Mercosul.
“ Nestemomento,a Europa
tem acordosde livre comércio
mitiria, de fato, darmos um salto qualitativo.
Partimos de patamares muito baixos e há
que procurar aumentar nossos fluxos.” Esta
“Trata-se de uma iniciativa que está sen-
do discutida e pode beneficiar a corrente
comercial entre vários países. Neste mo-
com regiõesdo mundo inteiro
A N T O N IO DE A LM EID A L IM AN”
é a opinião de Antonio de Almeida Lima, mento, a Europa tem acordos de livre co- empresarial entre os dois países que vai
Cônsul-Geral de Portugal no Rio de Janei- mércio com regiões do mundo inteiro. Na buscar a adoção de medidas para estimu-
ro, em entrevista à revista da Federação das América Latina, a UE celebrou acordos com lar o comércio de produtos de tecnologia
Câmaras de Comércio Exterior — FCCE. o México e o Chile e, a partir disso, houve de ponta. Os setores prioritários são o de
O cônsul-geral preocupa-se, especi- um aumento impressionante dos números informática e o de energia, e esta iniciativa
almente, em intensificar as trocas comer- relativos à importação e à exportação entre deverá abrir as portas para outros seminá-
ciais entre seu país e o Rio de Janeiro, se- os europeus e esses dois países. No caso de rios e encontros de aproximação entre os
gundo ele, uma cidade profundamente Portugal, houve aumentos de até 30%, em dois países.”
marcada pela influência portuguesa e com 2005. Um simples acordo faz avançar bas- Antonio de Almeida Lima considera,
uma fortíssima presença de portugueses tante as transações e dá mais oportunida- ainda, que é preciso criar melhores con-
e de seus descendentes. des à relação comercial. Isso explica o inte- dições de infra-estrutura e instrumentos
“Isso, para mim, significa um mercado resse no acordo com o Mercosul.” legais mais aprimorados que permitam in-
potencial a explorar. Os empresários por- tensificar este intercâmbio.
tugueses têm muitos laços com o Brasil e Tradição e tecnologia “Nesse processo, acho que há respon-
os brasileiros também têm relacionamen- Com relação às exportações portugue- sabilidades divididas entre os vários agen-
tos próximos com Portugal. Isso é uma sas para o Brasil, o cônsul-geral acha inte- tes sociais envolvidos: o governo, os em-
boa base para incrementarmos nossa cor- ressante manter o comércio de produtos presários e toda a sociedade. As institui-
rente comercial.” tradicionais, como o vinho e o azeite, mas ções empresariais, entre elas as confede-
Como a maioria dos portugueses pre- diz que também é necessário abrir novas rações de comércio, têm papel relevante
sentes ao Seminário Bilateral de Comér- frentes de negócios, envolvendo serviços a representar. Nesse sentido, iniciativas
cio Exterior e Investimentos Brasil-Por- e produtos de tecnologia de ponta. como esse seminário são interessantes,
tugal, Antonio de Almeida Lima destacou “No último trimestre de 2007, será re- pois podem ajudar a tornar mais intenso o
a possibilidade concreta do estreitamento alizado no Rio de Janeiro um congresso nosso relacionamento comercial.”

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e InvestimentosB R A S I L • P O R T U G A L 47


ENGENHARIA

Uma nova ponte sobre o Tejo


Odebrechtparticipadamaiorobrapúblicaem andamentoem Portugal

A
Lezíria, uma planície aluvial que se na margem esquerda do rio mais impor- plementar de Empresas (ACE) liderado
estende pela margem esquerda do tante de Portugal. São 13 km de viadutos pela Moniz da Maia, Serra e Fortunato
rio Tejo, ocupa uma boa parte da e 970 m de ponte sobre o rio, com duas (MSF); e composto pela Construtora do
região do Ribatejo, um dos ecossistemas pistas em cada sentido. Um empreendi- Lena; Odebrecht Construtora (por meio
mais férteis e protegidos do território mento que vai custar cerca de duzentos do seu ramo português, a Bento Pedroso
português. Constitui-se em uma espécie milhões de euros. Construções); Construtora do Tâmega;
de celeiro onde é cultivada a maior parte A travessia será uma alternativa de tráfe- Zagope e Novopca.
do arroz, milho, trigo, legumes e verdu- go para quem vem do Norte em direção ao O Diretor Geral da obra, Paulo Ferreira,
ras consumidos pelos portugueses. Por Sul de Portugal, evitando a passagem por da MSF, afirmou que “cada empresa colo-
sua sensibilidade ambiental e importância Lisboa, ajudando a reduzir o tráfego na ca- cou suas pessoas e recursos, e demos a par-
econômica, é considerada uma espécie de pital. A obra servirá, também, para fechar o tida. Há entrosamento, disciplina e um pro-
menina dos olhos do país. anel que vai circundar toda a região metro- cesso dinâmico a serviço do cliente. Todos
Nesta região está sendo construída a politana de Lisboa. Terá, ainda, um papel sabemos qual é a nossa missão”.
Travessia do Tejo, entre Carregado e importante na ligação entre o Ribatejo e a A Bento Pedroso é representada no ACE
Benavente. Trata-se da maior obra pública zona litorânea do Oeste de Portugal. por Carlos Valente, um engenheiro carioca
em andamento no país, prevista para ter- Encomendada pela Brisa – Auto-Es- que trabalha há 20 anos na Odebrecht. Ele
minar em abril de 2007, e que fará a liga- tradas de Portugal, a ponte está sendo é o Diretor Comercial da Travessia e decla-
ção entre a Auto-Estrada 10 (Bucelas/ construída por um Agrupamento Com- rou: “A nossa capacidade de reagir é direta-
Carregado), na margem direita do Tejo, e a mente proporcional à integração dos líde-
Auto-Estrada 13 (Almeirim/Marateca), res. A integração é sempre fruto da confi-
ança entre todos. Aqui, isto existe”.

Desafios
O grande desafio foi atravessar o rio e
a região da Lezíria, com seus cultivos
verdejantes, com um mínimo de impac-
to ambiental. A solução foi construir
quase 14 km de via suspensa. Serão cra-

48 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


vados 54 mil metros lineares de estacas, e
as fundações chegam a 55 m de profundi- A travessia do Tejo, o rio
dade. A central de pré-moldados produz da nacionalidade
quatro vigas por dia, cada uma delas com
44 m de comprimento, pesando 120 to-
portuguesa, mereceu
neladas. Cerca de 150 toneladas de cimen- tratamento especial.
to são consumidas diariamente na obra. A ponte entre Carregado
No trecho sobre o rio, o concreto será e Benavente, um projeto
lançado por meio de uma tubulação que
atingirá 900 m de distância. que busca atravessar a
O caminho de serviço, no qual circu- sensível região do
lam trabalhadores, veículos e máquinas, é Ribatejo, com um mínimo
um aterro sob o qual foi colocada uma
de impacto ambiental,
manta geotêxtil que protege o solo de
contaminação. Uma vez concluída a obra, fará a ligação entre as
este aterro será removido e tudo voltará a auto-estradas Bucelas-
ser como antes. Apenas os pilares do via- Carregado e Almeirim-
duto ficarão em contato com o solo e a
Marateca.
vegetação original.

A obra está sendo monitorada pela Co-


missão Ambiental do Ministério das Cida-
des e Meio Ambiente de Portugal e pelo
Instituto Português de Arqueologia, já que
a área é um importante sítio arqueológico.

Equipe internacional
Cerca de mil pessoas, de 14 nacionali-
dades diferentes, estão trabalhando na
construção da Travessia Carregado-
Benavente. Destas, 850 vivem nos aloja-
mentos da obra. Cada quarto abriga qua-
tro trabalhadores, e um dos cuidados dos
administradores foi agrupá-los de modo
que seus costumes e crenças não interfi-
ram no seu relacionamento pessoal e nem
no trabalho.
A internacionalidade está presente,
também, em outros aspectos da constru-
ção da travessia. As embarcações e os equi-
pamentos embarcados, bem como seus
operadores, são holandeses. As gruas vie-
ram do Japão. A central de pré-moldados
foi projetada por italianos e as fundações
estão sob responsabilidade da Brasfond,
uma empresa brasileira.
A Odebrecht participa ativamente da
obra e foi escolhida, entre outros motivos,
por já ter executado trabalhos importantes
em território português. Destaca-se o tre-
cho Fátima-Leiria, da Auto-Estrada 1, que
liga Lisboa à cidade do Porto, concluído
em setembro de 1991.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 49


HISTÓRIA

A Padeira e o Condestável
H EN R IQ U E D O AM A R A LN é o mais popular, como também o mais
razoável.

U
ma pá de forno de padaria, muito Sete soldados, na medida que saiam do
bem manejada pelas mãos de forno, onde haviam se refugiado, eram
uma mulher, foi decisiva para que devidamente recepcionados por Brites, e
Sua Majestade, o Rei Dom João I, e seu sua pá, que os “carimbava” tranqüilamen-
Condestável, Dom Nuno Álvares Perei- te, quebrando-lhes os pescoços. Empu-
ra, consolidassem o Estado de Portugal! nhava, de forma segura e decidida, esse
instrumento de padaria que em suas mãos,
Aljubarrota. A batalha final. de 12 dedos no total, tornava-se mortífe-
No dia 14 de agosto de 1.385, os por- ro. Pois é, Brites possuía, além de suas qua-
tugueses, na desvantagem de 1 para 5, ex- lidades belicosas, seis dedos em cada mão!
pulsam definitivamente os “castelhanos” Esta padeira era, realmente uma mu-
comandados pelo Rei Dom Juan I e aca- lher terrível. Totalmente fora dos padrões
bam com a pretensão desse monarca de femininos, de qualquer época, era mestre
se tornar Rei de Portugal, em função de na arte de usar a espada e o bastão, tendo
seu casamento com a única filha de Dom gasto todo o pouco dinheiro que recebera
Fernando, a infanta Beatriz . de herança para se aprimorar nessas ativi-
Assume o trono português Dom João, dades pouco femininas.
Mestre de Aviz, o primeiro de seu nome,
eleito que foi no ano anterior “regedor e
defensor do Reino”, aclamado Rei, pelas
Cortes de Coimbra, em Abril do históri-
co ano de 1.385.
Com o apoio dos ingleses, que aplica-
ram suas vitoriosas táticas de guerra tais
como o “quadrado”, as “cavernas de lobo”
e os “fossos anti-cavalaria”, (utilizadas já
nas batalhas de Crécy e Poitiers, e, poste-
riormente, na famosa Azincourt) os
castelhanos, apoiados pelos franceses, so-
freram a mais fragorosa e retumbante der-
rota, eliminando, assim, definitivamente,
as pretensões do monarca de Castela ao
Reino de Portugal.
No comando das tropas portuguesas,
na linha de frente, encontrava-se o
Condestável Dom Nuno Alvares Pereira.
Porém, na retaguarda, contaram, as tro-
pas aliadas, com a atuação de Brites de O mural de azulejo, que Exibindo-se em feiras e praças públi-
Almeida, uma “padeira”que se encarregou cas, nunca foi derrotada por homem al-
de “limpar” o que sobrou das tropas espa- representa a famosa Padeira gum, sendo que um soldado, conhecido
nholas, esquartejando centenas de espa- de Ajubarrota, e a estátua pela sua valentia e coragem, desafiou-a:
nhóis em fuga e eliminando, um a um, do Condestável Dom Nuno “se me venceres, matas-me; se eu vencer,
todos os soldados que haviam se refugia- Álvares Pereira, fazem justa terás que casar comigo”. E Brites de
do no interior do forno de sua padaria. Almeida, simplesmente, matou-o!
homenagem aos heróis da
Diz a lenda que foram mais de 30, porém Perseguida pela justiça, porque já na-
vamos considerar o número de sete, que nacionalidade portuguesa quela época matar um soldado era crime,

50 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


Brites rouba um barco e foge em direção Foi nessa ocasião que os castelhanos contravam escondidos, na medida em que
à Espanha. tiveram a péssima idéia de invadir Portu- eles tentavam sair do forno.
Na viagem, é capturada por piratas gal, com a ajuda dos franceses, se esque- Diz a lenda que Brites ficou horas espe-
sarracenos e vendida como escrava. Escapa cendo, naturalmente, da existência de rando, sentada na boca do forno, para po-
do cativeiro, mata dois ou três guardas, dis- nossa querida “padeira”. der ir eliminando todos os soldados, um a
farça-se de homem (o quê para ela, conve- É de duvidar que Sua Majestade o Rei um, tão logo eles botavam a cabeça para
nhamos, não era muito difícil) e volta a Dom Juan de Castela tivesse tentado essa fora do forno... Não escapou nenhum!
Portugal, mais precisamente para a cidade invasão se soubesse que, no seu caminho, É claro que a maior parte destes fatos e
de Torres Vedras, para ser “almocreve”, alu- encontraria a “Padeira de Aljubarrota”! relatos é lenda, folclore, picardia... Mas,
gando e conduzindo animais de carga. Após a vitória dos portugueses, não feliz do País que pode contar com a va-
Mas, a nossa “meiga” Brites continuou tirando os méritos de Sua Majestade e lentia, a determinação e, sobretudo, com
se metendo em encrencas, envolvendo- de seu Condestável, nossa Brites chefia o patriotismo e a consciência de cidadania
se em várias lutas, provocando inúmeras um grupo de populares, os quais, muito de uma Brites de Almeida.
mortes na zona de Lisboa, espalhando o bem organizados, saíram atrás dos espa-
terror e o medo entre os pobres repre- nhóis em fuga, eliminando, massacran- O Convento de Santa Maria
sentantes do sexo masculino, que ousa- do e esquartejando algumas centenas de da Vitória (também
vam enfrentá-la... infelizes! conhecido como Mosteiro
Com esse curriculum, Brites, já vestida Chegando em casa, naturalmente can- da Batalha), uma das obras
de mulher, apanhou um barco e foi para sada dessa “limpeza”, Brites ouve sons no
mais impressionantes da
Vaiada, indo parar em Aljubarrota. Lá, para interior do forno de sua padaria...
sobreviver, começou a pedir esmolas, até Ali estava, “escondidinho”, um monte arquitetura portuguesa,
que uma velha padeira, percebendo nela de espanhóis derrotados. foi mandado edificar por
um enorme potencial de trabalho (não era Não tiveram sorte. Além de derrota- D. João I como
para menos) contratou-a como assistente dos na batalha, tiveram o pior dos desti- agradecimento do auxílio
em seu estabelecimento, o qual foi herda- nos, que foi enfrentar Brites de Almeida, a divino e celebração da vitória
do pela nossa Brites anos depois, quando qual, com sua pá de colocar pão no forno,
na Batalha de Aljubarrota
da morte da antiga proprietária. eliminou todos os soldados que se en-

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 51


PARCERIA

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC

Portugal redescobre a Bahia

Augusto Carreira (Vice-Presidente da Câmara portuguesa) e Carlos Amaral (Presidente do Conselho Regional do Senac e da Federação do
Comércio do Estado da Bahia) assinam convênio.

N
o dia 9 de março, o Senac/BA e a nária Baiana em Lisboa (no restaurante do acordo de cooperação. “Por duas vezes,
Câmara Portuguesa de Comércio Hotel Dom Pedro). o Senac realizou festivais gastronômicos
no Brasil -Bahia assinaram, na Casa De acordo com Manoel Augusto no Hotel Dom Pedro, em Lisboa, e em
do Comércio, em Salvador, um acordo de Duarte Carreira, vice-presidente em exer- ambas tivemos grande sucesso. O que
cooperação mútua que visa promover e cício da Câmara, o acordo ainda pode di- não me admira, visto que Bahia e Portu-
executar investimentos e fortalecer a re- namizar a realização de eventos bilaterais gal são irmãos”, disse. “No que depender
lação comercial entre os dois países. que resultarão na ampliação do comércio da Federação do Comércio da Bahia, es-
O convênio abre espaço para que as entre o Brasil, mais especificamente, a ses laços de união só se fortalecerão”,
instituições promovam seminários, con- Bahia, e Portugal. Dado o grande número completou.
ferências, feiras, exposições, além de or- de empresários portugueses com negóci- Já Marina Almeida, diretora do Senac/
ganizar missões e encontros de negócios os já instalados na Bahia, principalmente BA, aproveitou para salientar que o acor-
em ambas as regiões. A parceria também na área hoteleira, as expectativas de novos do é um desdobramento de alguns tra-
permitirá que os empresários associados investimentos são muito boas: “Não pos- balhos que a Instituição já vinha desen-
à Câmara Portuguesa tenham o acesso fa- so ainda prever o volume de investimen- volvendo além-mar. Dessa forma, o
cilitado aos serviços do Senac, como cur- tos para o futuro próximo, mas além dos Senac vai ampliar a oferta de produtos,
sos preparatórios de culinária, garçons, empresários lusos que aqui já estão, te- levando a gastronomia e promovendo
animadores e camareiras. O primeiro fru- mos muitos outros interessados em vir intercâmbios educacionais, incluindo ar-
to dessa aliança será a realização dos festi- para a Bahia”. tes plásticas e artesanato locais. “Enfim,
vais gastronômicos Semana de Culinária Na ocasião, o presidente da Federação vamos levar um pouco da cultura baiana
Portuguesa,em Salvador (no restaurante da do Comércio da Bahia, Carlos Amaral, para lá e trazer um pouco da portuguesa
Casa do Comércio) e da Semana deCuli- declarou sua satisfação em assinar esse para cá”, conclui.

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HOTELARIA

Brasil, um mercado promissor


DiretorGeraldogrupoVilaGaléHotéisdizqueosinvestimentos
portuguesesnoBrasilsãosempredelongoprazo

Nesta entrevista concedida à revista da


Federação das Câmaras de Comércio Exterior —
FCCE, o Diretor Geral no Brasil do grupo
português Vila Galé Hotéis, José Wahnon, analisa
a capacitação dos profissionais de turismo e
afirma que cada salto na economia brasileira
representa um grande número de turistas
internos. Segundo ele, é fundamental investir em
infra-estrutura hoteleira para impulsionar a
indústria turística no país.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 53


HOTELARIA

Com o foia trajetória do Vila Galé Por que os interesses dos senhores um exemplo, até bem pouco tempo o seu
H otéisdesdesuainstalação no Brasil? têm -se voltado para o Nordeste? país não tinha uma oferta expressiva de
JW – O grupo foi criado em 1987, em JW – A vocação primária do nosso grupo hotéis de praia, apesar de contar com uma
Portugal e, nesses 20 anos, tem crescido foi sempre o turismo de lazer, embora costa imensa.
numa média de um hotel por ano, apro- também tenhamos, hoje, hotéis de negó- O Brasil tem duas capitais com grande
ximadamente. No Brasil, ele foi implan- cios, como o caso de Salvador. Acredita- potencial turístico: São Paulo e Rio de Ja-
tado após analisarmos muitas oportuni- mos que, tanto para o turista internacional neiro. Essas são cidades que vivem de tu-
dades. Há dez anos, descobrimos uma quanto para o público interno, a área pre- rismo de negócios, sobretudo São Paulo,
estrutura abandonada na Praia do Futu- ferida seria o Nordeste. que é o centro empresarial do país. Em
ro, em Fortaleza. Compramos o prédio termos de ofertas turísticas direcionadas
em 2000 e, em outubro de 2001, abri- Com o se deu o crescim ento da rede ao visitante europeu, o Brasil não tinha
mos nosso primeiro estabelecimento no nessescinco anosno Brasil? muitas opções. Salvador, por exemplo, à
Brasil: o Vila Galé Fortaleza, um hotel JW – No início, o crescimento se dá num exceção da Costa do Sauípe, não tinha
cinco estrelas, com 300 apartamentos. ritmo lento e depois vai aumentando. Em hotéis de praia. Natal desenvolveu um
Em seguida, apareceu-nos a oportunida- 2005, tivemos um grande número de hos- bom potencial de praia há pouco tempo.
de de comprar um terreno na Bahia que pedagem e, esse ano, a expectativa é, pelo O próprio Recife também não tinha, até
pertencia a um grupo de construtores. menos, mantermos a mesma clientela. que surgiu o Porto de Galinhas.
Eles possuíam também um hotel em Sal- Acreditamos que o Brasil é um mercado Para ter demanda, tem que ter oferta.
vador e, simultaneamente à compra do promissor, com forte crescimento poten- Não adianta querer receber 2 milhões de
terreno, nós começamos a gerenciar esse cial e que as coisas vão melhorar. As nos- turistas se não há onde colocá-los. Os pró-
hotel, que acabamos por adquirir em fe- sas unidades vão atingir seu pico dentro prios aeroportos nordestinos como são
vereiro de 2004. de dois ou três anos. hoje começaram a funcionar há bem pou-
Mais tarde, nesse terreno que fica em co tempo. O aeroporto de Fortaleza, que
Guarajuba, a 30 km de Salvador, inicia- O que estim ularia a vinda de m ais é relativamente novo, data de 2000. O de
mos a construção do nosso maior hotel, turistas portugueses ao Brasil? H á Recife foi inaugurado no final de 2005; o
que deverá ser, também, o maior hotel do necessidade de políticas públicas e de Maceió foi inaugurado agora; o de Sal-
Nordeste do Brasil, com 447 apartamen- de m aisincentivo ao turism o? vador também tem cerca de três anos.
tos. Assim, podemos dizer que são três JW – Acho que a vinda de mais turistas Tudo isso são questões interligadas.
hotéis com quase 1000 quartos no total. não depende só de iniciativas do governo. Para ter um aumento de turistas, é preci-
Estamos ainda neste mês a desenvolver Para atrair mais visitantes, é preciso criar so contar com infra-estrutura. Paralela-
um mega projeto turístico no Ceará, cujas novas opções, e o Brasil, até hoje, não ti- mente a isso, os estados, individualmen-
obras devem começar em julho de 2006. nha muitos produtos turísticos. Para dar te, e o próprio Brasil, como nação, vão

54 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


Os hotéis do grupo
Vila Galé, no
Nordeste brasileiro,
têm a natureza
como atração
ter que desenvolver uma política muito
principal e o
mais agressiva de captação de turismo. conforto e a
Aliás, acho fundamental que os estados satisfação do
entendam a importância do turismo para hóspede como meta.
as suas economias. Tudo está relacionado
com o peso econômico que o turismo
tem, e cada estado deve investir no setor
com prioridade.

Em Salvador,ossenhoresinstalaram
um hotelde negócios.Por que esse
em preendim ento,já que,com o o
senhordisse,a vocação prim ária do
grupo é o turism o de lazer?
JW – Salvador é uma cidade muito impor-
tante que permite o turismo de curta esta-
dia. Hoje, é basicamente a sede dos negóci-
os do Nordeste, já que nela se encontram
as grandes empresas da região. A capital da
Bahia gera um grande turismo de negócios,
aliado ao turismo de congressos e, tam-
bém, de lazer, mas de curta estadia. Salva-
dor precisava desesperadamente – e o go-
verno do Estado da Bahia percebeu isso –
de estabelecimentos nas praias, que é o que
nós temos, que permitissem aos turistas
conhecer a cidade por dois ou três dias e
depois explorar a orla. Hoje, o litoral nor-
destino apresenta uma oferta que já está
gerando demanda. Temos recebido muitos
ingleses, por exemplo. Essa demanda vem
com os novos hotéis.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 55


HOTELARIA

Existem planos de expandir a rede de viajar, gosta de passar férias. O calendá- rito, está capacitando pessoal para traba-
em outrasáreas? rio escolar brasileiro, que é demasiado lhar com hotelaria. Por outro lado, não há
JW – Esse hotel de negócios em Salvador apertado, é um problema, mas se as pes- o que temos em Portugal e em outros
veio por acréscimo. Compramos o terreno soas têm poder de compra elas começam países da Europa e do mundo, que são
e acabamos ficando com o hotel, embora a fazer mini-férias e férias partidas. É uma cursos técnicos de hotelaria. São cursos
nossa vertente não fosse a de negócios. tendência atual: na Europa ninguém tira que formam profissionais com capacitação
Além disso, gostaríamos de ter uma ban- 30 dias de férias. O sistema tem que evo- em hotelaria em áreas específicas, por
deira no Rio de Janeiro e outra em São Pau- luir neste sentido, para que as pessoas te- exemplo, como garçom, cozinheiro, ca-
lo, seja de gerenciamento, seja de constru- nham férias partidas, e isso vai ser vantajo- mareira, mas que, simultaneamente, per-
ção própria. São duas praças muito impor- so para toda a cadeia econômica. mitem que a pessoa fique com sua apren-
tantes: o Rio como entrada no Brasil, e São dizagem curricular resolvida, ou seja, o
Paulo como centro de negócios de onde Com o o senhoravaliaam ão-de-obra estudante, ao mesmo tempo em que faz o
tudo sai. São Paulo é um grande emissor de brasileira,a qualificação e a quali- segundo grau, fica com uma especializa-
turistas para o resto do mundo. dade de atendim ento? ção profissional. Isso é um caminho im-
JW – Estou no Brasil há cinco anos e per- portante, que os estados brasileiros deve-
O que sustenta osinvestim entosdo cebo que, sobretudo no Nordeste, existe riam explorar. Isso é fundamental.
grupo:o m ercado interno ou o ex- uma matéria-prima ótima; aquilo que é Antes da abertura do hotel em Guara-
terno? preciso para fazer vingar o turismo: a sim- juba, no litoral baiano, fizemos três meses
JW – O mercado interno é fabuloso, mas patia. Claro que a técnica é importante, de parceria com o SENAC e queremos
é preciso equilibrar os dois. Não se pode mas a simpatia é fundamental. Senti, tam- continuar essa parceria de formação. Te-
viver só com o externo e, hoje em dia, bém, que, no Brasil, a pirâmide está inver- mos um projeto de hotel-escola para rea-
ainda não dá para viver só com o interno. tida, ou seja, produzem-se aqui doutores lizar cursos internos de reciclagem, mas
Estou convencido de que cada salto na em turismo, doutores em hotelaria, licen- não cabe a nós fazer esse hotel. Eu acho
economia brasileira representa um gran- ciados em turismo, licenciados em que há, no Brasil, uma grande carência,
de número de turistas internos. Brasileiro hotelaria, mas há carência na base. Por um não só em termos de formação e treina-
é um pouco consumista por natureza, gosta lado, existe o SENAC que, com muito mé- mento profissional mas, principalmente,
de formação básica. Como vou formar
uma pessoa como garçom se ela não sabe
ler nem escrever? Esse seria um papel fun-
damental da escola técnica: aumentar a
base de conhecimento e realizar o apren-
dizado técnico simultaneamente. A falta
de preparação básica, da educação básica,
é a grande falta que eu sinto aqui.

Q uais as diferenças em trabalhar


com hotelariaem Portugaleno Bra-
sil?O estilo de receber é diferente?
JW – São muitas as diferenças. Eu costu-
mo dizer que só conhece o Brasil quem
mora aqui. É preciso morar aqui para per-
ceber que é tudo diferente. A legislação, a
maneira de trabalhar e a própria produtivi-
dade são diferentes. É muito gostoso tra-
balhar aqui, mas é muito difícil, porque,
para nós, é tudo diferente daquilo que
aprendemos: a cultura e, também, os pró-
prios processos de comercialização, ad-
ministração, compra e pagamento são dife-
rentes. É preciso, portanto, estar impregna-
do da cultura local para poder avançar. Pos-
so dizer que o investimento em hotelaria no
Interiores confortáveis e com amplas janelas que fazem da paisagem mais um elemento da decoração. Brasil é um investimento de longo prazo.

56 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


EM PAUTA

Eleita a diretoria da FCCE para


o triênio 2006 – 2009

João Augusto de Souza Lima, presidente reelito da FCCE, preside a Assembléia Geral, que contou com a presença de Gustavo Affonso
Capanema; Arthur Pimentel; e Arlindo Catoia Varela, entre outros.

N
o dia 8 de junho, reunidos os mem- No que diz respeito à Presidência e
bros do Conselho Deliberativo da Vice-Presidência do Conselho Superior,
Federação das Câmaras de Comér- eleita juntamente com a Diretoria Admi-
cio Exterior, em Assembléia Geral espe- nistrativa, foram homologados os nomes
cificamente convocada, de acordo com os dos Diretores-Conselheiros Theóphilo de
Termos do Estatuto, elegeram a Diretoria Azeredo Santos, para presidente, e, para a
que comandará os destinos da FCCE nos vice-presidência, foi escolhido o Diretor
próximos três anos. Gustavo Affonso Capanema.
A chapa apresentada ao plenário atra- Nessa mesma Assembléia Geral foi
vés abaixo-assinado de inúmeras câmaras eleito, por unanimidade, para o Conselho
bilaterais e associações de classe, apresen- Superior, o Professor Carlos Geraldo
tou algumas novidades, “sangue novo” para Langoni, ex-Presidente do Banco Central
dirigir a FCCE. do Brasil e Presidente do Centro de Eco- Arlindo Catoia Varela, Gustavo Affonso
Dessa forma, verificamos o ingresso, na nomia Mundial da Fundação Getulio Capanema e João Augusto de Souza Lima,
qualidade de Diretores, da Cônsul-Geral Vargas. A eleição do Professor Langoni apreciam trabalho realizado pela FCCE.
do Grão Ducado de Luxemburgo, Marie foi decorrência do falecimento do Dire-
Christine Meyers, do Presidente do Con- tor Nilo Neme, o qual exercia, inclusive, lientando o Presidente re-eleito, João
selho de Câmaras de Comércio das Améri- a Vice-Presidência na ocasião. Augusto de Souza Lima, que sua presença
cas, José Francisco Marcondes Neto, e do O plenário da Assembléia Geral regis- em muito engrandece o Conselho, hon-
Presidente da Câmara Bilateral do Sri Lanka, trou um voto de louvor e boas-vindas ao rando assim seus colegas, e prestigiando a
Eduardo de Oliveira, entre outros. novo membro do Conselho Superior, sa- Federação das Câmaras de Comércio Exterior.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 57


EM PAUTA

Diretoria Triênio 2006 – 2009

Presidente
JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1oVice-Presidente
Paulo Fernando Marcondes Ferraz

Presidentedo Conselho Superior


Professor Theóphilo de Azeredo Santos
Vice-Presidentedo Conselho Superior
Gustavo Affonso Capanema

Vice-Presidentes
Arlindo Catoia Varela
Gilberto Ferreira Ramos
Joaquim Ferreira Mângia Augusto Tasso Fragoso Pires e o Presidente da Câmara Brasil-Iran, Sérgio Costa e Silva.
José Augusto de Castro
Ricardo Vieira Ferreira Martins
Vice-Presidente“EU ROPA”
Jacinto Sebastião Rego de Almeida
(Portugal)
Vice-Presidente“NO RTE”
Cláudio do Carmo Chaves
Vice-Presidente“SU D ESTE”
Antonio Carlos Mourão Bonetti
Vice-Presidente“SU L”
Arno Gleisner

Diretores
Diana Vianna De Souza
Marie Christiane Meyers
Alexander Zhebit
Alexandre Adriani Cardoso Da esquerda para a direita: Elysio Belchior, Haroldo Bezerra, Roberto Cury e Roberto Habib.
Andre Baudru
Augusto Tasso Fragoso Pires
Cassio José Monteiro França
Cesar Moreira
Charles Andrew T’Ang
Daniel André Sauer
Eduardo Pereira De Oliveira
José Francisco Fonseca Marcondes Neto
Luis Cesario Amaro da Silveira
Luiz Oswaldo Aranha
Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida Stefan Janczukowicz Luiz Oswaldo Aranha
Oswaldo Trigueiros Júnior
Raffaele Di Luca Sizínio Pontes Nogueira Elysio de Oliveira Belchior
Ricardo Stern Sohaku Raimundo Cesar Bastos Walter Xavier Sarmento
Roberto Nobrega Stefan Janczukowicz Suplentes
Roberto Cury Haroldo Bezerra
Roberto Habib Conselho Fiscal José Luiz Zanatta
Roberto Kattán Arita Titulares Jovelino Gomes Pires
Sergio Salomão Delio Urpia Sedcas

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INTERCÂMBIO

“Há muito a fazer para ampliar o


nosso comércio bilateral”
DiretordoInstitutodeComércioExteriordePortugaldizqueasempresas
deseu paísdevem consideraroBrasilcomoum mercadoprioritário

E
m entrevista à revista da Federação
das Câmaras de Comércio Exterior
– FCCE, o Diretor do Instituto de
Comércio Exterior de Portugal – ICEP,
João Pedro Mota Pinto, reafirmou a longa
tradição comercial existente entre Brasil e
Portugal. O diretor apresentou dados sig-
nificativos e esboçou algumas perspectivas.
Para ele, a relação comercial Portugal-Bra-
sil vem sendo construída desde 1500.
“Desde a época das grandes descober-
tas, Portugal vem transacionando bens com
o Brasil e nunca parou de fazê-lo. O co-
mércio entre os dois países encontra-se,
porém, muito aquém do que poderia ser. A
corrente comercial tem grande potencia-
lidade para crescer. Atualmente, o Brasil é,
apenas, o 24o fornecedor de Portugal e
Portugal é o 44o ou 45o fornecedor do Bra-
sil, portanto, o fluxo de bens e serviços
está aquém das potencialidades dos dois pa-
íses. Portugal exportou para o Brasil, em
2005, US$ 230 milhões, e o Brasil expor-
tou para Portugal cerca de US$ 1 bilhão, João Pedro Mota Pinto: “Em 2005, as exportações portuguesas para o Brasil cresceram em torno de 9%”.
valores considerados pequenos. Há, aqui,
muito a fazer para incrementar as trocas elevados no Brasil. É muito complicado As empresas portuguesas precisam olhar
comerciais entre Portugal e Brasil.” para o exportador brasileiro financiar as im- para o Brasil, não como um mercado que
Para João Pedro Mota Pinto existem portações e isso é um grande obstáculo”. nós fundamos, mas sim como um merca-
muitas razões para que esta relação comer- O diretor do ICEP afirmou que esses do prioritário, no qual é preciso apostar e
cial não seja mais intensamente explorada. entraves não podem servir de desculpa, investir mais.”
“Há um certo protecionismo por parte da porque há muitos países na União Euro- Apesar do cenário que esboçou na en-
economia do Brasil. Os impostos de im- péia que exportam mais para o Brasil do trevista, João Pedro Mota Pinto acredita que
portação são muito elevados neste país e que Portugal, como a Espanha, que ex- as perspectivas são muito positivas e os nú-
algumas barreiras burocráticas da alfânde- porta mais de US$ 1 bilhão; a Itália e a meros atuais indicam isso. “Em 2005, as ex-
ga dificultam as trocas comerciais. A greve França, que exportam cerca de US$ 3 bi- portações portuguesas para o Brasil cresce-
da Receita Federal, e outras greves realiza- lhões cada uma; e a Holanda, o maior ex- ram acima de 9%, em relação a 2004. Neste
das recentemente, podem ser considera- portador europeu, com US$ 6 bilhões. ano de 2006, até abril, cresceram 17,7%. Se
das entraves às exportações de Portugal “As empresas exportadoras portugue- as exportações portuguesas para o Brasil
para o Brasil. Há, ainda, problemas no aces- sas têm uma economia intra-comunitária continuarem a crescer a um ritmo sustentá-
so ao crédito para a empresa brasileira de – 80% das trocas comerciais de Portugal vel, acima dos 15%, acho que rapidamente
exportação. Além disso, os juros são muito são feitas com países da União Européia. poderemos atingir um bom patamar”.

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 59


CULTURA

A salva de aparato e o
nascim ento da contrastaria
na prata portuguesa
H EN R IQ U E D O AM A R A LN

Salva de aparato com decoração

O
conjunto de peças em prata, quer em ponta de diamante, o mais
sacras, quer profanas, do início raro de todos os motivos
da consolidação do Estado Por- decorativos da época,
por conta da dificul-
tuguês (nos séculos XIII e XIV) é muito
dade para se
pequeno e desordenado. “repuxar” a prata,
Somente no século XV registramos, de modo a criar a
não só uma produção mais significativa, impressão de um
como também uma tentativa de ordena- conjunto de tiras
concêntricas
ção e controle dessa atividade.
iguais. No detalhe,
Assim nascem as famosas, e tipicamente abaixo, é possível
lusitanas, Salvas de Aparato. identificar, clara-
Essas salvas nada mais são que bandejas, mente, o contraste
relativamente pequenas (entre 20 e 40cm municipal da cidade
de diâmetro) sem qualquer utilidade práti- de Lisboa, o famoso
contraste do barco,
ca, a não ser a ostentação das habilidades de
utilizado somente durante
seus prateiros, e a fortuna e poder de seus o final do séc. XV até o início
proprietários, que as exibiam em cima de do séc. XVI.
mesas e aparadores para registrar suas con- Coleção particular (Brasil).
dições privilegiadas e sua opulência. As Sal-
vas de Aparato eram de tal forma trabalha-
das, repuxadas e marteladas, que sua su-
perfície não comportava qualquer tipo de
objeto, nem mesmo pequenas frutas ou pa-
péis. Serviam, exclusivamente, como de-
coração e deleite visual.
Pelo seu artístico trabalho decorativo,
eram extremamente detalhadas, demora-
vam muito a ser confeccionadas, e, por
essas razões, custavam muito dinheiro!
Somente grandes prateiros as produziam,
e só comprava quem podia e tinha dispo-
nibilidade financeira para tal. Daí, seu
nome de Salva deAparato.
Com essas peças, além de poucos ob-
jetos de uso litúrgico e doméstico, come-

60 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


ça a ordenação e o controle da produção
de objetos de prata, em solo português.

O aparecimento
dos Contrastes e Marcas
De início, é importante esclarecer que
contrastes e marcas são coisas diferentes,
e independentes entre si, já que o “con-
traste” é a confirmação do exame de qua-
lidade e pagamento de imposto à comu-
nidade, enquanto que a “marca” é, sim-
plesmente, o registro que o autor faz na
peça.
Pode haver peça só com contraste, ou
só com marca ou, ainda, simplesmente,
sem qualquer tipo de identificação. Isso
dependia muito da decisão do compra-
dor, se ele queria ou não pagar impostos,
se desejava registrar o nome do autor-pra-
teiro etc. Salva de aparato de pé alto, também
Muitas vezes, os nobres medievais uti- conhecida como fruteira,
lizavam esse tipo de peça, de alto valor apresentando vestígios de
agregado, como uma espécie de “caixa 2” prata dourada e decoração
típica do séc. XV, que são
(o lusitano “saco azul”), vem daí o fato de
mascarões, animais
que hoje se conhece um grande número marinhos fantásticos e
de trabalhos daquela época sem qualquer flores de cardos. Ao
marca ou registro. centro, a
Registre-se, também, a existência, mui- representação de
uma nau
to rara, de peças com até três marcas. Essa
portuguesa, alusiva
terceira marca corresponde ao atestado do às conquistas
Juiz de Ofício, confirmando o teor da prata, daquela época. O
o qual deveria estar sempre dentro dos pé, com friso
níveis estabelecidos pelas autoridades renascentista,
competentes. apresenta a mesma
decoração que a salva.
A mais antiga informação de que se tem
No detalhe abaixo,
registro sobre esse assunto é de dezem- podemos ver três marcas
bro de 1401, e foi feita durante o reinado de prata: o contraste da
de D.João I, por meio de um Regimento cidade do Porto (“P” gótico), a
da Cidade do Porto. Todavia, não se co- marca do Juiz de Ofício e a marca do
prateiro; circ. séc. XV/XVI.
nhece nenhuma peça dessa época contras-
Diâmetro 25cm, altura 10cm.
tada ou marcada. Existem alguns traba- Coleção particular (Brasil).
lhos desse período, extremamente raros,
que apresentam um “sinal” que pode ser
classificado como de “acervo” ou “propri-
edade”, jamais como contraste municipal
ou marca de prateiro.
Essa situação manteve-se inalterada até
que, no reinado de D. Afonso V, mais pre-
cisamente em novembro de 1460, a Co-
roa portuguesa promulga uma lei regula-
mentando o assunto, criando, assim, as
“Marcas Municipais” (“contrastes” das ci-
dades do Porto e de Lisboa).

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 61


CULTURA

Salva de aparato decorada com


triângulos góticos, delimitados por fieira
de pérolas formando uma coroa, com
flores-de-lis intercaladas, na parte
externa da borda. No medalhão central,
uma grande nau alusiva às conquistas
portuguêsas.
No detalhe, as marcas da cidade de
Lisboa.
Diâmetro: 25cm
Coleção particular (Brasil).

D. João IV, a época “filipina” da ocupação


espanhola, não houve marcação de prata
em Portugal!
Expulsos os espanhóis, restaurada a
monarquia portuguesa com o Duque de
Bragança, D. João IV, seu segundo filho, D.
Pedro II, promulgou uma lei até hoje co-
nhecida como “Regimento de 13 de julho
de 1689”, a qual restabeleceu os contras-
tes e marcas da prata, não só para Porto e
Lisboa, mas também para outras cidades;
lei essa que vigorou até o final do século
XIX, quando, então, esse assunto passou a
ser controlado pela Casa da Moeda, situa-
ção que perdura até os dias de hoje.
Nessa lei ficam definidas as figuras do “quem prata nova lavrar,dequalquerma- Apesar dessas “idas e vindas”, dessa
“barco” para Lisboa, e a do “P” gótico para o neiraelavorqueseja,em quehajaesmal- natural confusão que se faz, até hoje,
Porto, e também, a obrigatoriedade de os teevasas,quefaçaeponhaasditasvasas entre prata marcada e prata contrastada,
fabricantes colocarem sua identificação da prata de11 dinheiros,easfaça mar- a “Salva de Aparato”, sobretudo da vira-
(“Marca”), tudo isso com a finalidade de carda‘marca’da dita Cidade” da do século XV para o XVI, continua
arrecadação de impostos e controle de qua- É curioso notar, ainda, que no século sendo a “rainha das peças de prata por-
lidade. Eis uma parte do texto legal: XVII, entre os reinados de D. Sebastião e tuguesas”!

62 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


A prata da casa temas decorativos e os adornos foram in-
fluenciados pelas viagens empreendidas
Salva em prata dourada,
apresentando apenas vestígios
No século XV, Portugal e Espanha pelos portugueses. Era comum aparece- da douração, procedimento
empreenderam as grandes navegações, rem nas peças cenas de batalha, lutas com muito comum da época.
Sua decoração, em estilo
algo tão fantástico, em termos de tecno- índios e negros e até animais extraordiná-
manuelino, delimitada por fieira
logia e de administração, como foi, por rios (um misto de realidade e fantasia) em de pérolas, compõe-se de
exemplo, a chegada do homem à lua no meio a florestas luxuriantes. figuras humanas, animais
século XX. Nesta época, e com a conse- Nem é preciso dizer que todas as peças silvestres e mitológicos e de
qüente riqueza que as grandes descober- eram feitas artesanalmente, mas talvez seja imagens fitomórficas.
Diâmetro: 29cm
tas geraram, começou a desenvolver-se o bom acrescentar que, segundo o ensaísta
Coleção particular (Brasil).
gosto português pelos artigos de prata. mexicano Octavio Paz, Prêmio Nobel de
Assim, a prata portuguesa, a prata da casa,
pode ser considerada um marco histórico
e artístico, que vem acompanhando as di-
ferentes fases da vida política e comercial
do país. Se, nos períodos de grande pros-
peridade, os prateiros portugueses fize-
ram peças opulentas, nas épocas de crise
financeira, como por exemplo, no século
XVII, os trabalhos em prata eram mais
despojados, mas nem por isto estetica-
mente menos elaborados.
Entre as primeiras peças, destacavam-
se as travessas e os jarros. Como a arte, de
qualquer modo, sempre reflete a vida, os

Marcas e contrastes tinham,


na época, um papel parecido
com o desempenhado pelas
logomarcas contemporâneas:
conferiam credibilidade e
atestavam a procedência da
prata portuguesa

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 63


CULTURA

Salva de aparato tipicamente


manuelina, apresentando borda lisa
com cordão que delimita a decoração
de alcachofras dentro de arcos.
Ao centro, medalhão de cardos
encrespados, delimitados por
bordados de fieiras de cordões e
lauréis.
Detalhe, ao lado, do contraste da
Cidade do Porto (“P” gótico) e marca
do prateiro.
Início do séc. XVI
Coleção particular (Brasil).

Literatura, o artesanato conserva a alma in-


dividual e coletiva de quem o fez e registra
um tempo em que ainda não havia uma se-
paração entre peças artísticas e utilitárias.
O apogeu da prataria portuguesa acon-
teceu na fase final do período manuelino,
época de fausto e prosperidade material.
No século XVIII, a produção das peças
em prata recebeu forte influência france-
sa. Alguns especialistas acham que os tra-
balhos ganharam, por um lado, em refi-
namento, mas perderam, por outro, a ori-
ginalidade da alma portuguesa. No final
desse século e no começo do século XIX,
foi a vez do estilo inglês, principalmente o
Adam, influenciar a produção da prata em
Portugal.
As peças de prata portuguesas produ-
zidas no final do século XIX recebiam con-
trastes apostos por membros da Corpo-
ração dos Ourives, que verificavam o teor
de prata na liga e classificavam a prata como
11, 10 e 9 dinheiros (toque mínimo), que
correspondiam a 11/12, 10/12 e 9/12 contraste, a localidade onde a peça foi portuguesas é a dificuldade para reconhe-
de metal fino da liga, ou ainda o equiva- fabricada e o autor do trabalho. cer com exatidão a data de fabricação. Os
lente a 22, 20 e 18 quilates. Em 1896, Os contrastes antigos tinham, normal- arquivos das câmaras municipais, quando
foram fundadas as contrastarias ligadas à mente, uma inicial geralmente coroada, existem, são incompletos ou de difícil en-
Casa da Moeda. Os números antigos usa- que identificava a origem da peça de prata. tendimento. A Câmara de Lisboa possui
dos pela Corporação dos Ourives foram Assim, o Porto era representado por um um único livro com 129 termos de 1791
substituídos, mantendo a equivalência, por “P”; Guimarães tinha um “G”; o “C” é de a 1833, a Confraria de Santo Elói do Porto
0.916, 0.833 e 0.750, especificações que Coimbra; o “B” de Braga; “S” para Setúbal e tem 322 marcas. O Arquivo Municipal de
se mantêm válidas até hoje. Para serem Santarém e um “E”para Évora. O teor de Braga registra 292 termos de registro da-
usadas, as marcas municipais eram obri- prata é representado por algarismos ro- tando de 1725 a 1883 e a maior quantida-
gadas a ter registro nas câmaras das cida- manos (XI, X e IX dinheiros) ou algaris- de se encontra na Casa da Moeda, que re-
des de origem e, ainda, constar numa mos arábicos. O fabricante normalmente cebeu o arquivo de Vicente Manuel de
corporação chamada de Confraria de San- usava suas iniciais para identificar a peça. Moura (meados do século XIX) com cer-
to Elói. Os símbolos indicam, além do O problema maior com relação às pratas ca de 1.000 marcas de ourives.

64 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


RELAÇÕES BILATERAIS

Em 2005,o Brasilfoio décimo maiorfornecedor


deprodutospara Portugal,destacando-seentreos
seusprincipaisparceiroscomerciais.

Comércio Exterior de Portugal


ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE Evolução da balança comercial de Portugal
DO DEPARTAMENTO DE 1990 a 2005 – US$ bilhões

PLANEJAMENTO 65.000
E DESENVOLVIMENTO DO
C OMÉRCIO EXTERIOR 55.000

DA SECRETARIA DE COMÉRCIO Exportação


Expor tação Importação
Impor tação Saldo
45.000
E XTERIOR DO MDIC
35.000

25.000
Portugal é um país históricamente de-
ficitário em sua relação comercial com o 15.000
resto do mundo. De 1990 a 1998, o défi-
cit comercial portugês manteve-se prati- 5.000

camente estável em torno de US$ 10 bi- 0


-5.000
lhões. A partir de 1999 – ano da criação
do Euro – até 2003, Portugal apresentou -15.000
déficits de US$ 15 bilhões anuais. Em
2004, o saldo negativo no comércio exte- -25.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
rior portugês foi de US$ 19,2 bilhões. No Fonte: OMC
último ano, saltou para US$ 22,3 bilhões.
O aumento do déficit comercial de
Portugal, em anos recentes, decorreu de Exportações de Portugal
um maior crescimento de suas importa- Principais produtos – 2005 – participação %
ções em relação ao aumento das exporta-
Fonte: Global Trade Atlas
ções. Em 2005, as vendas externas portu- 12,8
guesas foram de US$ 37,9 bilhões, valor
5,8% superior a 2004 quando foi de US$ 10,4
35,8 bilhões. Já as importações aumenta-
ram em 9,5%, passando de US$ 54,9 bi- 8,3 8,3
lhões para US$ 60,2 bilhões.
A pauta das exportações de Portugal é
composta basicamente por produtos in-
dustrializados. Automóveis é o principal 4,2 4,2
3,6
item exportado pelo país com um total 3,1
2,7 2,7
de US$ 4,9 bilhões, o equivalente a 12,8%
das exportações portuguesas totais. En-
tre os principais itens que compõe a pauta
lusa encontram-se: maquinaria elétrica
Automóveis

Maquinaria
Elétrica

Combustíveis
Minerais

Calçados

Plásticos

Papel e Cartão

Cortiça e Obras

Móveis
Máquinas e
Equipamentos
Mecânicos
Artigos de
Vestuário de
Malha

(participação de 10,4% no total, soman-


do US$ 4,0 bilhões); máquinas e equipa-
mentos mecânicos (8,3%, US$ 3,2 bi-

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 65


RELAÇÕES BILATERAIS

Importações de Portugal Importações de Portugal


Principais produtos – 2005 – participação % Principais países fornecedores – 2005 – participação %

14,7 Fonte: Global Trade Atlas 30,0


28,7 Fonte: Global Trade Atlas

11,5 25,0
10,5
9,5
20,0

13,4
10,0
3,5 3,4 8,4
3,3
2,1 2,0 2,0 5,2
5,0 4,2 4,2
2,8 2,2 2,2 1,7
Máquinas e
Equipamentos
Mecânicos

Instrumentos
Óticos e
Médicos
Combustíveis
Minerais

Maquinaria
Elétrica

Produtos
Siderúrgicos

Produtos
Farmacêuticos
Automóveis

Plásticos

Pescado

Papel e Cartão
0,0

ça

ia

ica

lia
nido
s

Uni stados

sil
aixo
anh

anh

Itál
Fran

Argé

Bra
Bélg

dos
oU
Esp

Alem

es B

E
Rein
País
Exportações de Portugal
lhões); artigos de vestuário (8,3%, US$ 3,2 bilhões), combustí- Principais países de destino – 2005 – participação %
veis minerais (4,2%, US$ 1,6 bilhão); calçados (4,2%, US$ 1,6
30,0
bilhão); plásticos e obras (3,6%, US$ 1,4 bilhão); papel e cartão Fonte: Global Trade Atlas
(3,1%, US$ 1,2 bilhão); e móveis (2,7%, US$ 1,1 bilhão). 25,6
25,0
Em 2005, o produto com maior participação na pauta impor-
tadora do País foi o combustível, um montante de US$ 9,0 bi- 20,0
lhões, o equivalente a 14,7% do total. Os demais principais pro-
dutos importados foram: automóveis (participação de 11,5% no 15,0 12,9
11,6
total, somando US$ 7,0 bilhões); maquinaria elétrica (10,5%,
US$ 6,4 bilhões); máquinas e equipamentos mecânicos (9,5%, 10,0 7,9
US$ 5,8 bilhões); plásticos e obras (3,5%, US$ 2,2 bilhões); 5,4
4,1 3,7
5,0 3,2
produtos siderúrgicos (3,4%, US$ 2,1 bilhões); produtos far- 2,6
1,2
macêuticos (3,3%, US$ 2,0 bilhões); pescados (2,1%, US$ 1,3
0,0
bilhão); papel e cartão (2,0%, 1,2 bilhão); e instrumentos óticos
a

ça

ia

ica

ola

ra
nido

Uni stados

s
aixo
anh

anh

Itál

apu
Fran

Bélg

Ang
dos
oU
Esp

Alem

es B

Cing
e médicos (2,0%, US$ 1,2 bilhão).
E
Rein

País
No que concerne aos países de origem das importações por-
tuguesas, a participação das mercadorias brasileiras é relevante,
representando 1,7% em 2005. Nesse ano, o Brasil foi o 10o Participação do Brasil no comércio exterior de Portugal
maior fornecedor de produtos ao país. Os principais fornece- 2000 a 2005
dores, como era de se esperar, são países comunitários: Espanha
Fonte: MDIC/SECEX e OMC
(28,7%), Alemanha (13,4%), Itália (5,2%), Países Baixos
(4,2%), Reino Unido (4,2%), Bélgica (2,8%), Argélia (2,2%)
e Estados Unidos (2,2%). 0,5% 0,6%
Por outro lado, a participação das compras brasileiras nas ex- 0,7%
0,8%
portações de Portugal é reduzida. Em 2005, O Brasil foi destino 0,5%
de apenas 0,6% das vendas portuguesas, ocupando a 18a coloca-
0,7%
ção como maior país comprador de produtos oriundos do País.
Os principais mercados compradores de Portugal, em 2005, fo- 1,8% 1,7%
1,4%
ram: Espanha (25,6% do total), França (12,9%), Alemanha 1,3% 1,3%
(11,6%), Reino Unido (7,9%), Estados Unidos (5,4%), Itália 1,0%

(4,1%), Bélgica (3,7%), Países Baixos (3,2%), Angola (2,6%) e


Cingapura (1,2%).
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Importação de Portugal Exportação de Portugal

66 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


Intercâmbio comercial entre Brasil e Portugal – 2005
O fluxo comercial entre Brasil e Por- Evolução do intercâmbio comercial Brasil/Portugal
tugal alcançou um novo patamar nos dois 1996/2005 – US$ milhões FOB
últimos anos. Em 2004, a corrente de co-
1.100
mércio bilateral foi de US$ 1,153 bilhão,
aumento de 49,5% em relação a 2003. No 1.000
ano de 2005, essa cifra foi de US$ 1,245 Exportação Importação Saldo Comercial
900
bilhão, 8,0% superior a 2004.
Em 2005, pela primeira vez as ex- 800
portações brasileiras para Portugal su-
700
peraram a marca do bilhão e somaram
US$ 1,015 bilhão, representando acrés- 600
cimo de 5,5% em relação à cifra do ano
500
anterior, de US$ 962 milhões. No ano,
Portugal foi o destino de 0,9% das ex- 400
portações totais do Brasil.
300
As importações brasileiras de produ-
tos portugueses somaram US$ 230 mi- 200
lhões em 2005, cifra também inédita no
100
comércio bilateral. O aumento das com-
pras brasileiras provenientes de Portu- 0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
gal foi de 20,4% em relação a 2004, Fonte: MDIC/SECEX
quando tinha somado US$ 191 milhões.
Ressalte-se que esse crescimento foi
superior ao aumento das compras globais brasileiras de 17,1%. Intercâmbio comercial Brasil/Portugal
No ano, 0,3% da importação do Brasil se originou do mercado 2005/2004 – US$ milhões FOB
português.
Fonte: MDIC/SECEX
O saldo comercial bilateral é historicamente favorável ao Bra- Variação % 2004/2005: 1.245
Exportação: 5,5%
sil. Em 2005, o superávit foi de US$ 785 milhões, ligeiramente Importação: 20,4%
1.153

superior ao ano anterior quando somou US$ 771 milhões. 1.015 Corrente de comércio: 8,0%
962
Apesar do crescimento das exportações brasileiras para Por-
tugal em 2005, o País ocupou a 23a posição no ranking de mer- 771 785

cados compradores de produtos brasileiros, duas posições abai-


xo da ocupada em 2004 (21a). As vendas a Portugal responde-
ram por 3,8% das exportações brasileiras à União Européia
(US$ 26,5 bilhões). O país é o oitavo maior destino dentre os 230
191
Estados-membros do Bloco Europeu.
Relativamente às importações, em 2005, Portugal ocupou a
46a posição no ranking de mercados fornecedores de produtos Exportação Importação Saldo Corrente de
ao Brasil, mesma anotada em 2004. As importações de Portugal Comércio
2004 2005
equivaleram a somente 1,3% das aquisições provenientes da UE,
que somaram US$ 18,1 bilhões. Sua posição no ranking de países
que compõem o Bloco Europeu revela-se igualmente modesta, total); soja em grão (8,7% do total); carne de frango (1,7%);
o
figurando apenas como 13 mercado comprador. carne bovina (1,5%); café cru em grão (1,5%); e fumo em
Em 2005, a pauta de exportação para Portugal foi composta folhas (1,0%). Os industrializados com maior participação na
por 44,4% de produtos industrializados e 55,2% de básicos. Os pauta exportadora foram: laminados planos de ferro ou aço
produtos manufaturados cresceram 6,6%, os básicos, 7,7%, en- (10,9%); couros e peles (3,2%); madeira serrada ou fendida
quanto os semimanufaturados recuaram 9,1%. (3,2%); calçados e suas partes (2,4%); motores para veículos
Dentre os produtos básicos exportados para Potugal, des- (2,3%); polímeros de etileno, propileno e estireno (2,0%);
tacam-se: óleos brutos de petróleo (US$ 356,7 milhões, prin- motores e turbinas para aviação (1,9%); e livros, revistas e
cipal item da pauta exportadora, respondendo por 35,2% do jornais (1,4%).

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 67


RELAÇÕES BILATERAIS

Ranking de Portugal nas exportações brasileiras Ranking de Portugal nas importações brasileiras
2005/2004 – US$ milhões FOB 2005/2004 – US$ milhões FOB

Ordem País Valor '% Part% Ordem País Valor '% Part%

2004 2005 2005/04 2004 2005 2005/04


1 1 Estados Unidos 22.741 11,8 19,2 1 1 Estados Unidos 12.851 11,6 17,5
2 2 Argentina 9.915 34,5 8,4 2 2 Argentina 6.239 12,0 8,5
4 3 China 6.834 25,6 5,8 3 3 Alemanha 6.144 21,1 8,4
3 4 Países Baixos 5.283 -10,7 4,5 4 4 China 5.353 44,3 7,3
5 5 Alemanha 5.023 24,5 4,2 6 5 Japão 3.407 18,8 4,6
6 6 México 4.064 2,9 3,4 9 6 Argélia 2.838 45,9 3,9
9 7 Chile 3.612 41,9 3,1 7 7 França 2.700 18,0 3,7
8 8 Japão 3.476 25,6 2,9 5 8 Nigéria 2.652 -24,3 3,6
7 9 Itália 3.224 11,0 2,7 10 9 Coréia do Sul 2.327 34,5 3,2
21 23 Portugal 1.015 5,5 0,9 8 10 Itália 2.276 11,1 3,1
Fonte: MDIC/SECEX 46 46 Portugal 228 19,4 0,3

Entre os produtos que mais cresceram nas exportações, pode- Exportações brasileiras para Portugal por fator agregado
se destacar: carne de frango em conservas e preparações 2005/2004 – US$ milhões FOB
(+411,5%, para US$ 1,5 milhão); policloreto de vinila
(+297,0%, para US$ 2,3 milhões); carne de frango “in natura” 560 Variação % 2004/2005:
520 Básicos: + 7,7%
(+268,1%, para US$ 17,0 milhões); chassis com motor Semimanfaturados: - 9,1%
(+137,8%, para US$ 2,2 milhões); máquinas e aparelhos para Manufaturados: + 6,6%

uso agrícola (+117,7%, para US$ 1,5 milhão); aparelhos para


359
cozinhar (+110,7%, para US$ 1,9 milhão); rolamentos para en- 337
grenagem (+79,9%, para US$ 4,3 milhões); fio-máquina de fer-
ro/aço (+62,8%, para US$ 9,0 milhões); café cru em grão
(+60,0%, para US$ 14,8 milhões); petróleo (+51,4%, para US$
356,7 milhões); madeira perfilada (+50,7%, para US$ 2,8 mi- 101 92
lhões); sisal e outras fibras (+38,5%, para US$ 5,3 milhões); e
calçados e partes (+37,7%, para US$ 24,8 milhões).
No mesmo período, a pauta de importação brasileira de produ- Básicos Semimanufaturados Manufaturados
tos portugueses foi composta por 79,7% de produtos industriali- 2004 2005 Fonte: MDIC/SECEX
zados e 20,3% de produtos básicos. Os principais produtos indus-
trializados importados foram: azeite de oliva refinado (responden-
do por 18,7% da pauta); óleos lubrificantes (8,1%); vinhos de uva (+1.457%, US$ 2,5 milhões); ferragens para portas e janelas
(6,6%); azeite de oliva virgem (5,9%); cabos e fibras sintéticas (+1.238%, US$ 2,2 milhões); e máquinas e aparelhos para im-
(5,0%); autopeças (3,5%); e máquinas para empacotar (1,8%). pressão tipográfica ou por ofsete (+1.170%, US$ 1,6 milhões).
No tocante aos produtos básicos, os principais itens que compuse- Das unidades da federação, o Rio de Janeiro foi a que mais
ram a pauta de importação foram: bacalhaus e outros peixes secos exportou para Portugal em 2005, um total de US$ 332 milhões,
(8,4%); minérios de cobre (6,9%); e pêras frescas (1,8%). com participação de 32,7% no total das vendas brasileiras ao
Destacam-se os seguintes produtos importados de Portugal país. As vendas do Estado ao País consistiram, principalmente de
pelos seus crescimentos relativos: azeite de oliva refinado (au- petróleo em bruto, um montante de US$ 223 milhões no ano,
mento de 9.817%, para um total de US$ 42,6 milhões); baca- 67,2% do total. Os demais principais estados exportadores para
lhaus (+8.382%, US$ 19,1 milhões); óleos lubrificantes Portugal foram: Bahia (participação de 17,7%, um total de US$
(+4.992%, US$ 18,5 milhões); máquinas e aparelhos para en- 180 milhões), São Paulo (12,0%, US$ 122 milhões), Rio Gran-
cher e/ou empacotar (+3.361%, US$ 4,2 milhões); azeite de de do Sul (6,8%, US$ 69 milhões), Minas Gerais (6,0%, US$ 61
oliva virgem (+3.354%, US$ 13,5 milhões); vinho de uvas milhões), Paraná (5,3%, US$ 54 milhões), Mato Grosso (4,2%,
(+2.866%, US$ 15,1 milhões); aparelhos de ar condicionado US$ 42 milhões), Santa Catarina (3,4%, US$ 34 milhões), Pará
(+1.854%, US$ 3,2 milhões); moldes para borracha ou plástico (3,0%, US$ 31 milhões) e Goiás (1,3%, US$ 14 milhões).

68 Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L


As importações nacionais provenientes de Portugal são concen- Principais produtos exportados pelo Brasil para Portugal
tradas em São Paulo. Em 2005, essa Unidade de Federação foi res- 2005/2004 – US$ milhões FOB
ponsável por 41,7% das compras de produtos portugueses, princi-
357 Fonte: MDIC/SECEX
palmente: azeite de oliva; bacalhaus; máquinas e equipamentos me-
cânicos; e máquinas e equipamentos elétricos. Os demais estados
importadores de Portugal que se destacaram foram: Rio de Janeiro
(15,1%, US$ 35 milhões), Bahia (9,4%, US$ 22 milhões), Rio Grande
do Sul (8,6%, US$ 20 milhões), Santa Catarina (7,2%, US$ 17 mi-
lhões), Espírito Santo (6,8%, US$ 16 milhões), Paraná (5,9%, US$
14 milhões), Minas Gerais (1,4%, US$ 3 milhões), Pernambuco 111
(1,4%, US$ 3 milhões) e Amazonas (1,0%, US$ 2 milhões). 88

Na exportação, 2.142 empresas realizaram vendas a Portugal 33 32 25 23 20 19 17


em 2005, 43 empresas a menos que em 2004 (2.185 empresas),
significando declínio de 2,0%.

Laminados
Planos de
Ferro e Aço

Motores e
Turbinas para
Aviação
Petróleo
em bruto

Couros e
Peles

Madeira
Serrada

Motores para
Automóveis

Polímeros de
Plástico

Carne de
Frango
Soja em Grão

Calçados
Com relação à importação, 878 empresas compraram merca-
dorias de Portugal, ante 869 em 2004, representando acréscimo
de 1,0% (+ 9 empresas).

Principais produtos importados pelo Brasil de Portugal Estados brasileiros que mais exportam para Portugal
2005/2004 – US$ milhões FOB 2005 – US$ milhões FOB

56 Fonte: MDIC/SECEX 332 Fonte: MDIC/SECEX

180

19 19 122
16 15
11 77
69 61
8 54
4 4 42 34
3 31
14
Cabos e Fibras
Sintéticas ou
Artificiais
Óleos
Lubrificantes

Minério
de Cobre

Máquinas e Apa-
relhos p/ Encher
ou Empacotar

Dispositivos Elé-
tricos de Ignição
ou Arranque
Azeite de Oliva

Bacalhau

Vinhos

Autopeças

Peras Frescas

Rio Grande
do Sul

Paraná

Santa
Catarina

Goiás
Rio de
Janeiro

São Paulo

Mato
Grosso
Bahia

Minas
Gerais

Pará

Demais
Estados brasileiros que mais importaram de Portugal Número de empresas brasileiras exportadoras e
2005 – US$ milhões FOB importadoras no comércio com Portugal
96 Fonte: MDIC/SECEX Fonte: MDIC/SECEX
2.185 2.142

35 869 878

22 20
17 16 14
3 3 2 4
Rio Grande
do Sul
Santa
Catarina
Espírito
Santo

Paraná
São Paulo

Bahia
Rio de
Janeiro

Minas
Gerais

Pernanbuco

Amazonas

Demais

2004 2005
Exportadores Importadores

Seminário Bilateralde Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P O R T U G A L 69


CURTAS

Tendência 1 papel e a pasta de papel lugar de destaque no Promoção Comercial da


• Analistas do comércio (considerados produtos comércio de comidas e Embaixada do Brasil em
internacional consideram tradicionais) foram bebidas na cidade do Rio de Lisboa, ou junto à Divisão de
que os novos setores da responsáveis por 9,6% das Janeiro, possuindo vários Informação Comercial do
economia portuguesa são os exportações no mesmo ano. restaurantes que servem Ministério das Relações
principais responsáveis pelo Portugal é líder no mercado tradicionais iguarias Exteriores, em Brasília.
crescimento das exportações de cortiça, e detém uma cota portuguesas, como bolinhos
do país. Essas áreas, que acima de 60% das de bacalhau, iscas de fígado à Técnico de exportação
cresceram com os exportações mundiais do lisboeta, bacalhau à Gomes • Nos últimos anos, um
investimentos estrangeiros, produto, que é extraído da de Sá etc. Os restaurantes “produto” brasileiro vem
têm superado os setores casca de uma árvore. são simpáticos, o serviço é obtendo boas cotações no
tradicionais. Um item Do outro lado da balança, de qualidade e os cariocas e mercado internacional. Trata-
significativo são as máquinas Portugal é considerado um turistas adoram freqüentar o se do técnico de futebol,
e o material elétrico, que em grande importador de Manoel & Joaquim, seja no profissão que tem tido uma
2003 foram responsáveis por produtos energéticos, Centro da cidade, seja na grande aceitação na Europa,
19,7% das exportações matérias-primas para a Zona Sul. No coquetel no Oriente Médio e no
portuguesas. Entre estes indústria, equipamentos de realizado em homenagem ao Japão. Felipão, o técnico da
produtos estão moldes para transportes e produtos Embaixador Seleção Portuguesa é, no
indústrias de plástico, agroalimentares. Plenipotenciário de momento, o exemplo mais
ferramentas, fios, cabos Portugal, Francisco Seixas destacado de sucesso
elétricos, transformadores e Cachaça da Costa, após o profissional de técnico
micro-conjuntos eletrônicos. • O grupo Manoel & encerramento do Seminário brasileiro no exterior. Com
Já a madeira, a cortiça, o Joaquim ocupa, hoje, um Bilateral de Comércio seu entusiasmo e dedicação,
Exterior e Investimentos conseguiu que o time
Brasil-Portugal, promovido português tivesse uma boa
pela Federação das Câmaras atuação na Copa do Mundo,
de Comércio Exterior – realizada na Alemanha.
FCCE, o Manoel & Joaquim
ofereceu degustação de seu Obra portuguesa
lançamento, a cachaça • A ligação do Nó da Barrosa
Leviana. com a Avenida da República
é uma parte da Rodovia IC
Regime especial 23, que está sendo tocada
• Empresários brasileiros pela empresa portuguesa
A Revista dos Seminários Bilaterais de que desejarem colocar seus Bento Pedroso, pertencente
produtos em Portugal têm ao grupo brasileiro
Comércio Exterior e Investimento, condições de usufruir das Odebrecht. A obra tem
organizados pela FCCE, é distribuída entre vantagens oferecidas ao Brasil 2,5km de extensão, dois
as mais destacadas personalidades, do pelo Sistema Geral de túneis, cinco viadutos, além
Preferências Generalizadas de 26 muros de concreto
Brasil e do exterior, que atuam no (SGP), criado pela União armado em ambos os lados
comércio internacional. Européia – UE. Diversas da via e, também, em seus
mercadorias podem ser acessos.
beneficiadas com isenção ou A via expressa passa no
Anunciar aqui é fazer chegar o seu redução de tarifas aduaneiras, meio da cidade de Vila Nova
produto a quem realmente interessa, a desde que estejam de acordo de Gaia, situada na margem
com as normas e esquerda do Rio Douro, no
quem decide.
regulamentos elaborados Norte de Portugal. Do
Procure-nos. pela UE. Os interessados outro lado do rio fica a
podem obter maiores histórica e tradicional cidade
Tel.: 55 21 2221 9638 informações sobre este do Porto, famosa pela
eduardo.teixeira@abrapress.com.br assunto, entrando em produção do vinho do
contato com o Setor de mesmo nome.

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Trata-se de uma obra difícil, Exportação
porque atravessa o centro da • O Instituto de Comércio
cidade, uma área Exterior de Portugal – ICEP
densamente povoada, com está trabalhando num
grandes lojas, praças, programa para incentivar as
edifícios residenciais e até exportações portuguesas em
um cemitério. A empresa todo o mundo. A instituição
Bento Pedroso procura agir identifica a Espanha como
de modo a provocar o um mercado prioritário, visto
mínimo de interferência na que, pela proximidade física
vida e no cotidiano dos com Portugal, o comércio
moradores da cidade. Nos entre os dois países é
dias de chuva, por exemplo, considerado muito vantajoso.
os veículos da construtora No seu esforço no sentido de
não podem sair do canteiro diversificar as exportações
da obra antes de ter seus portuguesas, o ICEP está
pneus lavados, uma desenvolvendo estudos para
providência tomada para não identificar novos mercados.
sujar de barro as ruas Foram incluídos países como
próximas. A Bento Pedroso O Mosteiro dos Jerônimos, de estilo manuelino, é atração em Lisboa. Brasil, Angola, China,
é a única empresa de Estados Unidos e Rússia. O
engenharia e construção de Corrente comercial Brasil e a Rússia têm
Portugal que possui • Em 2006, o volume de merecido um destaque
conjuntamente certificados exportações brasileiras para especial, já que são
de qualidade, segurança e Portugal foi de pouco mais produtores de petróleo e gás
saúde no trabalho, de US$ 1 bilhão. O total das natural.
preservação do meio importações brasileiras foi
ambiente e atuação com de US$ 230,2 milhões. No Tendência 2
responsabilidade social. mesmo período, as • O Seminário Bilateral de
exportações do Rio de Comércio Exterior e
Turismo Janeiro para Portugal Investimentos Brasil-
• A atividade turística – giraram em torno de US$ Portugal, realizado pela
chamada de “indústria verde”, 331,6 milhões, o que FCCE, foi um sucesso.
por gerar empregos e renda significa dizer que elas Empresários de ambos os
sem provocar poluição – Esporte naútico em Cascais. corresponderam a 32,7% países, pessoal da área
participa, hoje, com 8% do do total das exportações diplomática, técnicos e
Produto Interno Bruto de de hotelaria e a infra- brasileiras para Portugal. Os estudantes das áreas de
Portugal e gera cerca de 10% estrutura para a prática de principais produtos comércio exterior e
dos empregos do país. O esportes, entre eles o golfe; exportados pelos relações internacionais,
turismo local vem se as atividades náuticas e as empresários fluminenses lotaram o auditório da
desenvolvendo em torno de práticas radicais, como o foram óleos brutos de Confederação Nacional de
atrações climáticas (Portugal montanhismo. Em 2003, petróleo, ferro fundido e Comércio, no Centro, no
é um dos países menos frios entraram no país cerca de aço. As importações do Rio de Janeiro. A maioria
da Europa), geográficas, 27,5 milhões de pessoas, das Estado do Rio de Janeiro de dos pronunciamentos
paisagísticas e culturais. quais 11,7 foram produtos portugueses destacou a seguinte
Visitantes vindos consideradas turistas. Os foram de US$ 34,8 milhões tendência: o comércio entre
principalmente da Europa, da portugueses estão em (representando 15,1% das os dois países está aquém de
Ásia e dos Estados Unidos vigésimo lugar no ranking importações brasileiras de seu potencial. Quanto aos
costumam se encantar com a mundial da geração de Portugal). Os principais investimentos, há enormes
beleza da costa e das praias, receitas com a atividade produtos importados foram possibilidades de negócios
dos locais históricos, e com a turística. O resultado é de óleos lubrificantes em portugueses no Brasil e
hospitalidade da população. mais de 6 bilhões de euros aditivos, pescados, frutas vice-versa, principalmente
Destacam-se, também, a rede por ano. secas e azeites. na área de turismo.

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madnezz.com.br

A exportação de serviços de A atuação global da Odebrecht gera


engenharia traz divisas para o país, mais que benefícios para os países
promove exportações de pequenas e em que atua, traz desenvolvimento
médias empresas, reduz a vulnerabilidade para o Brasil. Operando há mais de 25
anos nos quatro continentes, a maior
externa nacional e, assim, colabora para
empresa de engenharia e construção da
desenvolvimento brasileiro. América Latina já acumula mais de
500 obras no exterior. São contratos
que geramexpor tações de bens eserviços
nacionais intensivos em tecnologia e,
assim, contribuem para o crescimento
econômico brasileiro.

Servindo ao desenvolvimento há mais de 60 anos

www.odebrecht.com

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