Sei sulla pagina 1di 76

FCCE

Federação das Câmaras de Comércio Exterior


Federación de las Cámaras de Comercio Exterior

2006
22 de maio

Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL PERU
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Federación de las Cámaras de Comercio Exterior

La FCCE es la más antigua Asociación de Clase de- En un pasado reciente, la FEDERACIÓN DE LAS CÁ-
dicada exclusivamente a las actividades de Comercio MARAS DE COMERCIO EXTERIOR – FCCE firmó Con-
Exterior. venio con el CONSEJO DE CÁMARAS DE COMERCIO
Fundada en el ano 1950, por el empresario João DE LAS AMÉRICAS, organismo que representa a las Cá-
Daudt de Oliveira (se debe a él la fundación de la Con- maras Bilaterales de Comercio de los siguientes países:
federación Nacional de Comercio – CNC, 5 años an- ARGENTINA, BOLIVIA, CANADÁ, CHILE, CUBA,
tes), la FCCE opera, ininterrumpidamente, desde hace ECUADOR, MÉXICO, PARAGUAY, SURINAME, URU-
más de 50 años, incentivando y apoyando el trabajo de GUAY, TRINIDAD Y TOBAGO y VENEZUELA.
las Cámaras Bilaterales de Comercio, Consulados Ex- Además de varias decenas de Cámaras Bilaterales de
tranjeros, Consejos Empresariales y Comisiones Mixtas Comercio afiliadas a la FCCE en todo Brasil, forman
a nivel federal. parte de la Directoria actual, los Presidentes de las Cá-
La FCCE, por fuerza de su Estatuto, tiene ámbito na- maras de Comercio: Brasil-Grecia, Brasil-Paraguay, Brasil-
cional y posee Vicepresidentes Regionales en diversos Rusia, Brasil-Eslovaquia, Brasil-República Checa, Bra-
Estados de la Federación, operando también en el plano sil-México, Brasil-Belarus, Brasil-Portugal, Brasil-Líba-
internacional, a través de “Convenios de Cooperación” no, Brasil-India, Brasil-China, Brasil-Tailandia, Brasil-Italia
firmados con diversos organismos de la más alta credibi- y Brasil-Indonesia, además del Presidente del Comité
lidad y tradición, a ejemplo de la International Chamber Brasileño de la Cámara de Comercio Internacional, el
of Commerce (Cámara de Comercio Internacional – Presidente de la Asociación Brasileña de las Empresas
CCI), fundada en 1919, con sede en París, y que posee Comerciales Exportadoras – ABECE, el Presidente de
más de 80 Comités Nacionales, en los 5 continentes, ade- Ia Asociación Brasileña de la Industria Ferroviaria –
más de operar la más importante “Corte Internacional de ABIFER, el Presidente de la Asociación Brasileña de los
Arbitraje” del mundo, fundada en el año 1923. Terminales de Contenedores, el Presidente del Sindi-
La FEDERACIÓN DE LAS CÁMARAS DE COMER- cato de las Industrias Mecánicas y Material Eléctrico,
CIO EXTERIOR tiene su sede en la Avenida General Jus- entre otros. Súmese aun, la presencia de diversos Cón-
to nº 307, Río de Janeiro, (Edifício de la Confederación sules y diplomáticos extranjeros, entre los cuales, el
Nacional de Comercio - CNC) y mantiene con esta enti- Cónsul General de la República de Gabón, el Cónsul de
dad, hace casi dos décadas, “Convenio de Respaldo Admi- Sri Lanka (antiguo “Ceilán”), y el Ministro Consejero
nistrativo y Protocolo de Cooperación Mutua”. Comercial de la Embajada de Portugal.
La Directoria
DIRECTORIA PARA EL TRIENIO 2003/2006
Presidente

JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1o Vicepresidente

PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ

Vicepresidentes

Gilberto Ferreira Ramos


Joaquim Ferreira Mângia
José Augusto de Castro
Ricardo Vieira Ferreira Martins

Antonio Carlos M. Bonetti – São Paulo


Sohaku R. C. Bastos – Bahia
Claudio Chaves – Norte

Directores

Diana Vianna de Souza Daniel André Sauer


Alberto Vieira Ribeiro Jeferson Malachini Barroso
Alexander Zhebit José Paulo Garcia de Pinho
Alexandre Adriani Cardoso Juan Clinton Llerena
André Baudru Luis Cesario Amaro da Silveira
Antonio Augusto de Oliveira Helayel Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida
Arlindo Catoia Varela Mariano Marcondes Ferraz
Augusto Tasso Fragoso Pires Oswaldo Trigueiros Junior
Bruno Bastos Lima Rocha Raffaele Di Luca
Carlos Fernando Maya Ferreira Ricardo Stern
Cassio José Monteiro França Roberto A. Nóbrega
Cesar Moreira Ronaldo Augusto da Matta
Charles Andrew T‘ang Sergio Salomão
Claudio Fulchignoni Stefan Janczukowicz

Consejo Fiscal (Titulares)

Delio Urpia de Seixas


Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
EDITORIAL

APOIO
A Nação Sul-Americana
O Brasil redirecionou suas prioridades. Sem minimizar a importância de seu comércio
atlântico, voltou-se para a integração física e energética sul-americana. Compreendeu a
relevância da aproximação com os países vizinhos, para a superação do subdesen-
volvimento histórico, a partir de ganhos de escala proporcionados pela ampliação do
mercado consumidor. Acordos de livre comércio e desenvolvimento vinham sendo
firmados desde os anos 60. Acordos de complementação econômica ampliaram ainda
mais as possibilidades do livre comércio. Faltava, porém, o facilitador logístico. O Brasil,
de dimensões continentais, que vivera em seus primórdios o modelo de arquipélagos
econômicos, no qual cada área comunicava-se apenas com a metrópole, após promover
a integração nacional, percebeu que faltava superar as dificuldades físicas de acesso aos
países vizinhos. Incentivou, apoiou e acordou, enfim, com os objetivos e pressupostos
da Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, objetivando a construção
de eixos de integração e de desenvolvimento. Nesse contexto, Brasil e Peru construíram,
em 2003, durante a visita do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma aliança estratégica
que privilegia a intensificação da relação comercial, cultural e política. A
complementaridade econômica, a convergência de interesses políticos e a promoção do
comércio e dos investimentos objetivam, sobretudo, a erradicação da pobreza. São os
passos iniciais para a construção de uma nação sul-americana.
O marco dessa integração física foi a inauguração, em janeiro de 2006, da ponte
binacional sobre o rio Acre, que contou com a presença dos presidentes do Peru e do
Brasil. A Rodovia Interoceânica objetiva integrar o Mercosul à Comunidade Andina e é
o indicador de que a Comunidade Sul-Americana de Nações, lançada em 2004, durante
a 3a Reunião de Presidentes da América do Sul, em Cuzco, no Peru, não foi um mero
exercício de retórica.
CONSELHO DE
O Peru é, sem dúvida, um parceiro estratégico. A proximidade física com o litoral
CÂMARAS DE COMÉRCIO
daquele país, sinaliza a oportunidade de acesso facilitado aos mercados da Bacia do Pacífico. DAS AMÉRICAS
O Peru, no entanto, não pode ser entendido, simplesmente, como um corredor de
escoamento. O esforço do governo daquele país em aumentar o acesso a novos mercados,
por intermédio de acordos de livre comércio, exalta uma gama de oportunidades a serem Expediente
aproveitadas pelos exportadores brasileiros. Destaca-se o acordo de livre comércio com a
Tailândia, considerado por muitos como um país chave para acessar mercados do Sudeste Produção
Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE
asiático. A importância do Peru reside, igualmente, no dinamismo de sua economia, que Av. General Justo, 307/6o andar
apresentou, em 2005, taxa de crescimento da ordem de 6,5%. Os negócios relacionados Tel.: 55 21 3804 9289
e-mail: fcce@cnc.com.br
ao setor minerador e o Projeto Camisea, com suas gigantescas reservas de gás, ampliaram
Editor
o afluxo de investimentos estrangeiros para o Peru. O coordenador da FCCE
A corrente de comércio entre o Brasil e o Peru atingiu, em 2005, o montante de US$ Textos e Repor tagens
1,3 bilhão, e o Brasil gozou um superávit da ordem de US$ 910 milhões. O comércio Elias Fajardo
bilateral tende, efetivamente, a deslanchar na próxima década, por conta da integração Felipe Castro
José Antonio Nonato
física e dos acordos comerciais. É mister considerar que o Peru é um Estado associado ao Projeto Gráfico, Edição e Ar te
Mercosul e que o Acordo de Complementação Econômica no 58, ou ACE-58, tem Estopim Comunicação
apresentado resultados significativos. Tel.: 55 21 2518 7715
e-mail: estopim@estopim.com
Por tudo isso, a Federação das Câmaras de Comércio Exterior decidiu realizar, em 22 Revisão
de maio de 2006, o Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil- Maria Virgínia Villela de Castro
Peru. Trouxemos para o leitor, nesta edição, o acompanhamento dos trabalhos do Fotografia
seminário. Apresentamos o perfil e o potencial de duas das principais economias da Christina Bocayuva

América do Sul. Destacamos as oportunidades para os setores de infra-estrutura e Secretaria


Maria Conceição Coelho de Souza
construção no Peru, bem como os principais nichos do mercado peruano a serem Sérgio Rodrigo Dias Julio
explorados pelos exportadores brasileiros.
As opiniões emitidas nesta revista são de
Boa leitura. responsabilidade de seus autores. É permitida a
O EDITOR reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

6 E N T R E V I S TA 48 HOTELARIA
José Betancourt Rivera Hotéis-escola Senac
“Brasil e Peru estão no
centro físico, político e
econômico da América
do Sul”
Gustavo Assad
49 PARCERIA
“A economia e a área social
“Precisamos nos integrar com
caminham juntas”
toda a América Latina”

18 A B E RT U R A 5 1 C U LT U R A
Em busca da ligação bioceânica
A Escola cuzquenha de

21 PAINEL I pintura: um tesouro da


América colonial
A diversificação das
relações comerciais
entre Brasil e Peru
5 5 C I D A DA N I A
SESC:
25 PAINEL II De vento em popa

Parcerias entre países irmãos


5 6 E X P O RTA Ç Ã O
32 PAINEL III A importância do
comércio para a
A política de integração economia brasileira
amazônica e as relações
bilaterais Brasil-Peru Desburocratização do comércio exterior é um
caminho sem volta
A integração entre Brasil
e Peru

61 GASTRONOMIA
40 E N C E R R A M E N T O Ceviche, a maravilha
Cultivar novas propostas para colher suprema de uma
desenvolvimento culinária rica e variada

41 E M P AU TA 6 5 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S
Pavilhões da
FCCE

7 0 C U RTA S
42 TURISMO
Destino Peru
ENTREVISTA

“Brasil e Peru estão


no centro físico,
político e econômico
da América do Sul”
José Betancourt Rivera é ministro encarregado de negócios da
Embaixada do Peru no Brasil. Nesta entrevista exclusiva à revista
da FCCE, ele teceu comentários sobre a integração entre os dois
países, que considera um processo irreversível, tendo como base
um entendimento mantido entre os presidentes do Brasil e do Peru.
O entendimento se expressa na construção de estradas e de
hidrovias, cortando as fronteiras e aproximando o comércio, a eco-
nomia e, até mesmo, a cultura. Segundo José Betancourt Rivera,
com a integração física, o Brasil terá acesso garantido ao Oceano
Pacífico e o Peru terá acesso ao Oceano Atlântico por meio do ter-
ritório brasileiro. O ministro considera este um grande desafio que
os representantes do comércio e da política dos dois países preci-
sam assumir, não só nos próximos anos, mas também durante todo
o século XXI.

Como o senhor analisa, hoje, a cor- mas empresas brasileiras e peruanas já es-
rente comercial entre os dois países? tão iniciando as obras e esta estrada vai
JBR – A corrente comercial entre os dois conectar o Sul, o Centro-Oeste e parte
países é promissora, pois há uma tendên- do Norte do Brasil com o Sul do Peru. Os
cia de ampliação em muitos setores de estados do Mato Grosso do Sul, Mato
nosso comércio em muitos setores que Grosso, Rondônia e Acre e a região Sul do
ainda não haviam sido convenientemente Peru vão estar vinculados por intermédio
explorados. No momento atual, temos de uma rodovia que se constitui numa ver-
tido muitas possibilidades de incrementar dadeira via de integração física. Por meio
o comércio bilateral, especificamente por desta via, muitos produtos brasileiros te-
meio da Rodovia Interoceânica. Estamos rão acesso aos mercados asiáticos por meio
trabalhando na construção de uma integra- dos portos do Sul peruano no Oceano
ção física direta entre o Brasil e o Peru. A Pacífico.
Rodovia Interoceânica é um sonho que Por tudo isso, podemos afirmar que
logo vai tornar-se realidade, com expres- essa rodovia é um elemento importantís-
sivos benefícios em muitas áreas. Algu- simo dentro da nova concepção das rela-

6 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 7
ENTREVISTA

transportadas por terra possuem, como


única opção de escoamento, o Sul do
continente. Com a nova via, economiza-
remos tempo de viagem e poderemos
oferecer melhores condições para ativi-
dades de frete. Além disso, produtos pe-
ruanos como cimento, peixe e farinha de
peixe alcançarão as fronteiras brasileiras
com maior rapidez e eficiência. Eu acho
que as perspectivas do comércio bilate-
ral são muito amplas e promissoras e
estamos todos trabalhando na mesma di-
reção. Há muito tempo uma iniciativa
como esta se fazia necessária.

Qual a importãncia do Acordo de


Complementação Econômica entre
Brasil e Peru, no contexto do Mer-
cosul?
JBR – O Acordo de Complementação
Econômica, o ACE 58, cria expressivas
facilidades de circulação para os produtos
brasileiros e peruanos, o que está plena-
mente de acordo com os objetivos do
José Betancourt Rivera considera o Brasil e o Peru países estratégicos para a América do Sul. Mercosul, ao qual o Peru também é asso-
ciado. Este acordo, portanto, só vem so-
ções bilaterais entre Brasil e Peru, princi- Peru são cobre refinado, cobre em forma mar pontos aos esforços do Mercosul,
palmente no que diz respeito à região Sul bruta, zinco, prata bruta e bromo refina- uma vez que nossos produtos terão maior
do nosso país. Pelo lado Norte, está sen- do, todos eles minerais. Entre os produ- circulação entre os países do Cone Sul.
do criado o Eixo Multimodal do Amazo- tos alimentícios, temos de destacar as azei-
nas Norte, com a construção de uma via tonas, que são o principal produto de ex- O Embaixador Plenipotenciário
multimodal de integração física entre os portação peruana para o Brasil. do Peru no Brasil, Hernán A. Cou-
dois países. Por meio desta via, os produ- Em relação às importações, o Peru turier Mariátegui, que o senhor
tos do Norte peruano poderão chegar à compra do Brasil automóveis, chassis, está representando nesse seminá-
Amazônia brasileira e os produtos de tratores e muitos produtos químicos. Há, rio, afirmou em entrevista que,
Belém do Pará e de Manaus terão acesso entre os dois países, uma importante cor- hoje, as duas culturas mais fortes e
ao litoral norte do Peru, de onde seguirão importantes da América Latina são


de navio para o mercado asiático. a brasileira e a andina, que inclui o
A nossa corrente de
Atualmente, Peru e Brasil são dois Peru, a Colômbia, a Bolívia e o
países considerados estratégicos para o comércio será bastante Equador. O senhor acha que a cul-
desenvolvimento da Amazônia e, tam- ampliada por meio da tura tem algum reflexo no comér-
bém, para a própria América do Sul.
Eles têm um papel a cumprir e tudo
indica que o farão.
Rodovia Interoceânica

J O S É B E TA N C O U R T R I V E R A N
cio bilateral?
JBR – Concordo plenamente com esta
afirmação do Embaixador do Peru no Bra-
sil, Hernán A. Couturier Mariátegui. Se
Quais os produtos mais comer- rente comercial, mas estamos convenci- lançarmos um olhar bem amplo, de cará-
cializados entre os dois países e dos de que, por meio da Rodovia Intero- ter histórico e sociológico, sobre a Amé-
quais necessitam de mais atenção ceânica, o fluxo do comércio será incre- rica Latina, vamos verificar a presença de
por parte dos respectivos gover- mentado, porque a produção de soja dos duas grandes civilizações. A primeira de-
nos e do empresariado para se estados do Mato Grosso, Mato Grosso las é a cultura incaica, cujo centro político
tornarem mais viáveis comercial- do Sul e Rondônia chegará com facilida- e econômico ficava em Cuzco, no Peru, e
mente? de aos portos peruanos do Oceano Pací- a outra é a cultura ameríndia tupi-guarani
JBR – Os produtos mais vendidos pelo fico. Atualmente, nossas mercadorias cujo centro principal foi o Brasil.

8 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Essas duas culturas, essas duas impor- Como essa liderança política bra- Um dos pólos mais importantes nes-
tantes civilizações da América do Sul, têm, sileira e peruana poderia se obje- sa junção de interesses entre o Peru
hoje, amplas possibilidades de enrique- tivar na América do Sul, no cená- e o Brasil é justamente a Amazônia.
cer-se mutuamente, não só por meio do rio atual? Como tratar a Amazônia, comerci-
comércio, mas também por meio da JBR – Na medida em que avançamos por al, ecológica e cientificamente? O
interação cultural e política. É justamente meio da integração física, do desenvolvi- que nos une e o que nos afasta com
nesse sentido que o Peru e o Brasil estão mento do comércio, da promoção cultu- relação à Amazônia?
trabalhando. Nossos países firmaram um ral e da aproximação turística, fortalece- JBR – Com relação à Amazônia, tudo
acordo, uma aliança estratégica, e muitos mos ainda mais os laços políticos entre nos une. Somos os dois países mais im-
esforços estão sendo realizados para que a nossos países e nossos povos. portantes desta região e temos um com-
integração Peru-Brasil seja o motor da promisso firme, uma vontade engajada
integração de toda a América do Sul. Os
dois países têm uma localização privilegi-
ada, pois ocupam o centro geográfico des-
ta região e agora estenderam as mãos para
“ Na medida em que
avança a integração
física, crescem os laços
na organização de um tratado de coope-
ração. A região amazônica representa, tan-
to para os peruanos como para os brasi-
leiros, um setor com amplas possibili-
trabalharem juntos em busca da bi-
oceanidade. O que quero dizer é que o
Brasil terá seu acesso garantido ao Ocea-
entre os nossos povos

J O S É B E TA N C O U R T R I V E R A N
dades de desenvolvimento, de inovação
tecnológica, e de acordos comerciais. A
Amazônia é, pois, uma região que nos
no Pacífico e o Peru o seu acesso ao Atlân- vincula e da qual depende intensamente
tico por meio do território brasileiro. Esse Peru e Brasil estão mais próximos des- nosso futuro comum.
é o grande desafio que nós temos que as- de agosto de 2003, ano em que se formou O próprio Rio Amazonas, por meio
sumir para os próximos anos e durante a aliança estratégica. Os dois países estão do eixo multimodal que será construído,
todo o século XXI. engajados na construção de uma relação vai servir como um elo a unir ainda mais
Eu acho que as condições estão cria- intensa e ampla que não abrange só aspec- o Norte do Peru com Manaus e Belém
das: temos uma vontade política definida tos econômicos e comerciais, mas tam- do Pará. Estamos diante de um desafio
nesse sentido, as nossas culturas se apro- bém aspectos comuns de desenvolvimen- muito grande para nossas autoridades e
ximam, somos vizinhos e estamos no cen- to, de posições em matéria de política ex- para nossos povos. A Amazônia possui
tro geográfico da América do Sul. Nossa terna, de combate à pobreza e à fome. grande potencial de desenvolvimento. O
integração física vai nos aproximar ainda Estamos bastante próximos e queremos uso racional dos recursos energéticos de
mais e, penso que, nos próximos anos, ela continuar trabalhando juntos, pois há que dispõe pode provocar profundas re-
trará vantagens não só para nossos países, muito o que fazer. Até o momento, é o percussões para o meio ambiente e tra-
como para toda a América do Sul. que posso dizer. zer inovações tecnológicas e científicas.
Estamos alinhavando diversas parcerias
Alguns analistas da política e do entre institutos tecnológicos da Amazô-
comércio internacional dizem que A trajetória de nia brasileira e institutos tecnológicos da
o Brasil sempre esteve voltado para José Betancourt Rivera Amazônia peruana. Estamos investindo
a Europa e de costas para a América muito, nesses últimos anos, na integração
Latina. É possível que no seu país José Betancourt Rivera nasceu em desta região.
exista quem pense da mesma for- Lima em 14 de dezembro de 1957. É
ma, ou seja, que o Peru se volta mais diplomata de carreira e advogado. Es- O senhor é otimista com relação ao
para seus parceiros asiáticos. A nos- tudou Direito na Universidade San incremento das nossas relações co-
sa integração é uma questão de es- Martin de Porres de Lima e também merciais bilaterais?
tradas de rodagem ou ela passa, na Academia Diplomática do Peru, JBR – Eu sou muito otimista. Nós temos
também, por iniciativas políticas, graduando-se como diplomata em tudo para continuar na direção que temos
econômicas e culturais? dezembro de 1982. Desempenhou trilhado até agora. Temos, também, uma
JBR – A integração entre dois países re- funções diplomáticas nas embaixadas vontade política definida nesse sentido e
quer, evidentemente, o apoio dos setores do Peru na Holanda (1985-1988) e acho que nos próximos cinco anos a rela-
político, econômico e cultural. É nesta li- na Colômbia (1988-1991). Foi Côn- ção bilateral Peru-Brasil será redimen-
nha que Peru e Brasil têm trabalhado. No sul do Peru em Vancouver, no Cana- sionada, não só no comércio, mas tam-
plano político, por exemplo, os dois são dá, de 1994 a 1999. bém no que diz respeito aos programas
países democráticos, e exercem liderança Está servindo em Brasília desde 2002 conjuntos de desenvolvimento nas regi-
na América do Sul, o que facilita esta e, atualmente, é ministro encarregado ões fronteiriças. Brasil e Peru vão surpre-
integração. de negócios da Embaixada do Peru. ender todo o continente.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 9


ENTREVISTA

“A economia e a
área social
caminham juntas”
Gustavo Assad é Diretor-Adjunto da área internacional da Cons-
trutora Norberto Odebrecht.
Tem sob sua responsabilidade a obtenção de financiamentos para os
contratos da empresa no exterior e o apoio institucional à divulgação
do trabalho do grupo empresarial de exportação de serviços. Enge-
nheiro civil com pós-graduação em Administração em Finanças e
Administração de Negócios, trabalhou em Angola e no Peru, onde
morou vários anos.
Nesta entrevista, ele fala sobre a atuação da Odebrecht no exteri-
or, reafirma a preocupação da empresa com questões sociais e co-
munitárias e, por fim, revela a sua emoção diante dos resultados de
um projeto de irrigação realizado em território peruano. Segundo
Gustavo Assad, exportar serviços significa mostrar no exterior um
Brasil forte, competente e produtivo, capaz de atender a grandes
demandas em diferentes continentes.

Quais são os interesses e os negócios seminário, é tratarmos de duas obras de


que a Odebrecht mantém, hoje, no integração: o Eixo Multimodal Amazônia
Peru? do Norte e a Rodovia Interoceânica Sul.
GA – O mercado peruano é importante Elas se inserem dentro da Iniciativa para
para nós – e aí vai um pouco do forte a Integração da Infra-Estrutura Reginal
simbolismo que existe na presença da Sul-Americana – IIRSA, um projeto de
Odebrecht no Peru – porque começa- dimensões continentais que envolve vári-
mos nossa atuação internacional nesse os países. Esta é a razão pela qual nós te-
país. O nosso primeiro contrato interna- mos, hoje, duas obras de integração em
cional foi a central hidrelétrica em Char- desenvolvimento. Ambas foram contrata-
cani V, na Província de Arequipa, em das em 2005. Já iniciamos nossas ativida-
1979. Deste então, a empresa vem reali- des na região e a previsão de conclusão é
zando importantes projetos de desenvol- de quatro anos, aproximadamente.
vimento socio-econômico no território São projetos com grande importância
peruano. logística, econômica e social e estão mui-
Um dos motivos que nos leva a estar to afinados com a orientação da empresa.
aqui, hoje, participando de um painel do A Odebrecht tem 60 anos de existência –

10 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 11
ENTREVISTA

começou em 1944, trabalhando em ter- orientação estratégica da empresa? nosso negócio principal: a exportação de
ritório brasileiro. Há 25 anos, ela se lan- GA – A estratégia da empresa é baseada serviços. Isto envolve bem mais do que a
çou no mercado internacional. Durante no seguinte critério: onde houver a ne- questão do contato comercial. Se compa-
estas duas décadas e meia trabalhando fora cessidade, não de uma obra, mas, princi- rarmos friamente a exportação de serviços
do Brasil, não tivemos nenhum registro palmente, de projetos de infra-estrutura, e a exportação de bens, vamos ver que a
de obra inacabada e nenhum registro de lá nós estaremos, querendo participar. A parte comercial é praticamente igual: al-
inadimplência em qualquer país, ou re- Odebrecht está atuando em 19 países, nos guém demanda serviços, alguém demanda
clamação de instituições que não tenham quatro continentes. Em alguns, começa- um bem, e você vende.
ficado satisfeitas com nossos serviços. mos mais recentemente, como no Norte Os bens, normalmente, são monta-
da África, onde estamos avançando em dos no país em que são fabricados e já

“ Para nós, o importante é


trabalhar em programas
identificados com as necessidades
iniciativas importantes. É interessante es-
clarecer que nosso conceito estratégico
não é o de fazer apenas uma obra e depois
ir embora. Nosso interesse é permanecer
são exportados fechados. Quanto ao ser-
viço, nós exportamos partes desses nos-
sos produtos e os montamos lá fora. Isso
já determina algumas características di-
de toda a sociedade
G U S T AV O A S S A D N ” e colaborar com o país.Tanto que o tempo
médio de atuação nos países onde traba-
lhamos é de 14 a 15 anos.
ferentes. A primeira é a seguinte: quando
você exporta serviço, está exportando
tecnologia e inteligência; está exportan-
Para nós, é importante mostrar as ca- O que buscamos, então, é uma atuação do a capacidade de o Brasil trabalhar em
racterísticas da atuação da empresa. A em longo prazo. O que a Odebrecht quer ambientes adversos. Digo adversos não
Odebrecht não faz projetos para o gover- é a qualidade do trabalho e do serviço que porque sejam ruins, mas no sentido de
no, ela faz projetos para o país. A partir do ela presta, Os clientes entendem, de ma- serem diferentes da realidade local. É
momento em que é identificada a deman- neira geral, que quem nos contrata não é importante que o mercado externo iden-
da, e depois de passar pelos estudos inici- apenas uma instituição, mas é a própria tifique esta capacidade no Brasil. Além
ais, uma obra de porte precisa de cerca de sociedade e a comunidade que é atendida disso, todo esse processo também serve
três anos para começar o trabalho propri- por esse projeto. Por isso, costumamos como aprendizado, porque cada cultura
amente dito. Ora, os governos, normal- ter uma relação longa e sólida com eles. A tem realidades diversas. É preciso apren-
mente, têm mandato de quatro anos. Al- partir deste tipo de relacionamento é que der a se relacionar com elas. Isso signifi-
gumas vezes os governos latino-america- vamos conseguir uma vantagem competi- ca que a empresa deve ser capaz de se
nos são interrompidos antes disto. Imagi- tiva, porque uma coisa é abrir o mercado, reciclar, de se readaptar e de se reestru-
ne, então, um projeto que além da matu- trazendo praticamente tudo de fora, pro- turar para outros mercados. Quanto mais
ração leva mais uns quatro ou cinco para curando adaptar-se às condições locais. exporta, mais a empresa adquire conhe-
sua execução. Se não for uma necessidade Outra coisa é já estar instalado no país, cimento nesse setor.
grande do país e se for apenas uma inicia- conhecendo as necessidades e anseios das
tiva de interesse do governo, corre o risco
de, após uma eleição, não ter sua conti-
nuidade garantida.
pessoas que nele vivem. Entendemos a
América do Sul como um continente que
demanda muita infra-estrutura. A nossa
“ Tudo que veiculamos e
exportamos depende do
perfil da obra e da demanda
Um programa de obras identificado política é dar prioridade a ela. Tanto é as-
como uma necessidade da comunidade
não pertence apenas ao governo. Ele é um
programa priorizado pelo governo, mas
sim, que nós iniciamos no Peru nossa atu-
ação internacional. Hoje, fala-se muito, e
com razão, num grande esforço com rela-
das comunidades locais
G U S T AV O A S S A D N ”
tem um respaldo na necessidade da co- ção à integração regional. Nós já busca- Um outro aspecto é que os projetos
munidade. Para nós, é importante traba- mos isso há muito tempo. Estamos atuan- de infra-estrutura têm uma forte deman-
lhar para toda a sociedade. do nesses países há décadas, não só no da de integração regional. Assim, alguns
Peru, mas também no Equador, onde tra- bens brasileiros vão ser também exporta-
A Odebrecht é uma empresa de ex- balhamos há quase 20 anos. dos, dentro de um pacote de prestação de
celência internacional e consegue serviços. A Construtora Norberto Ode-
contratos importantes em Portugal, Dentro dessa linha de raciocínio que o brecht não fabrica nenhum bem. Nós te-
nos Estados Unidos e em países da senhor está construindo, o que signifi- mos que comprar tudo, e nada melhor do
Ásia. De onde vem esse interesse ca vender serviços e não produtos? que comprar de nossos parceiros brasi-
pela América Latina? Busca estar de GA – A exportação de serviços é funda- leiros que, nesses 25 anos de atuação no
acordo com o interesse do governo mental para nós, por isso consideramos exterior, já somam mais de 1.500.
brasileiro, que pretende fortalecer importante comparecermos a fóruns e se- Nós temos uma estrutura no Rio de
sua liderança na região, ou é uma minários como esse. A intenção é divulgar Janeiro que é o ramo da Odebrecht de

12 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


exportação. Já temos cadastrados algo em de Trujillo, numa região muito simpáti-
torno de 1.800 empresas brasileiras. En- ca do país.
tre elas estão desde uma grande siderúr- O primeiro ponto a destacar foi a recep-
gica que faz exportação de aço, até uma ção do povo peruano à nossa participação.
empresa que faz equipamentos de prote- Eles nunca nos enxergaram como alguém
ção individual. Um dado curioso: já ga- que estivesse ocupando seu espaço. Mui-
nhamos um prêmio de maior exportador to pelo contrário, nos viam como possibi-
de botas de segurança, por causa disso. lidades de soma e de conquista de benefí-
Tudo que veiculamos e exportamos de- cios para seu país.
pende do perfil da obra e da demanda. Depois da inauguração da obra, pude-
mos ver aqueles vales, que antes eram ex-
A preocupação da empresa com a tremamente secos, começarem a ser per-
segurança e com o meio ambiente é corridos pela água. A população local fi-
tão grande quanto a preocupação cou emocionada e os camponeses exul-
com a qualidade do serviço de en- taram. Três ou quatro anos depois, tive a
genharia que ela oferece? oportunidade de voltar à cidade, por ou-
GA – Hoje, não há mais como dissociar tros motivos, e vi, com satisfação, que a
meio ambiente e engenharia. Não existe região, hoje, está completamente diferente
nenhum projeto sem um bom estudo de do que era.
viabilidade econômica e ambiental. Daí, a
grande importância de uma empresa que Como foi essa sensação?
vende serviços estar sempre se alimen- GA – Quando voltei, pude perceber
tando de informações. Cada país tem sua que a região seca e árida se transformara
legislação específica e, em cima dela, nós
vamos trabalhando e cada vez aprenden-
do mais. Isso passa necessariamente pela
preocupação com a natureza: não tem
“ A vida das pessoas melhora
quando as obras têm
um caráter ao mesmo tempo
num lugar de grandes vales verdes,
onde são cultivados vários produtos para
exportação. A própria cidade ganhou
outra imagem, as pessoas passaram a in-
como montar um projeto que não respei-
te as normas ambientais.
social e econômico

G U S T AV O A S S A D N
vestir mais na região e o desenvolvimen-
to, finalmente, chegou. Essa é a grande
satisfação que podemos ter. São obras
Depois de muitos anos estabelecida nas quais se vê claramente um cunho
na Bolívia, a Petrobras se viu subita- A Odebrecht nunca viveu nenhuma de importância social e econômica,
mente envolvida numa questão li- situação parecida? porque a economia e a área social cami-
gada à nacionalização do gás natu- GA – Não. Com relação a contratos fir- nham juntas. Quando isso acontece,
ral e do petróleo. Como a Ode- mados, não. Temos uma rodovia de podemos constatar que a vida das pes-
brecht vê essa questão, uma vez que integração regional em construção, num soas, indiscutivelmente, melhora.
também atua no mercado latino- ambiente de fronteira bem difícil. O Bra-
americano? sil deu um apoio muito forte a esse proje- O senhor gostaria de dizer mais al-
GA – Sem querer parecer clichê, a forma to e a obra está em andamento de modo guma coisa?
como percebemos essa questão é a se- normal e tranqüilo. GA – Não. Basicamente eu queria agrade-
guinte: onde temos dificuldades é onde cer essa oportunidade que a FCCE está
enxergamos oportunidades. Quem traba- O que mais o emociona no seu tra- nos dando de participar desse seminário.
lha com infra-estrutura atua no terreno balho? Para nós, é muito importante a divulga-
básico em termos do desenvolvimento de GA – Eu tive oportunidade, por conta ção da nossa atuação, não só pela caracte-
que os países precisam. do meu trabalho, de morar três anos no rística de relacionamento entre os países,
A Petrobras é uma empresa muito gran- Peru, onde participei de um projeto mas, principalmente, pela própria essên-
de. Ela foi bem estruturada para instalar- muito importante: uma iniciativa de cia do nosso trabalho. Conforme já disse,
se na Bolívia. Na exploração do petróleo integração econômica e social por meio exportação de serviços significa exporta-
estão envolvidos grandes interesses eco- da irrigação. Ele recebeu o nome de ção de tecnologia; significa mostrar no ex-
nômicos, que passam, também, pela polí- Chavimochic, que é a junção do nome terior um Brasil forte, competente e pro-
tica. Acredito que uma empresa como a dos quatro vales onde ele se situa. O dutivo, que oferece produtos e serviços
Petrobras vai ter condições de negociar e mais interessante foi a possibilidade de para atender a uma demanda muito gran-
de contornar essa situação. residir durante três anos na cidadezinha de e em diferentes lugares.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 13


Pesquisa por produto, país de de
ou nome do exportador

Disponível em 4 idio
inglês,espanhol e f

Relação
atu
stino

mas: português,
rancês

de exportadores
alizada mensalmente
ABERTURA

Em busca da ligação bioceânica


Brasil e Peru constroem via integrada entre os oceanos Pacífico e Atlântico

José Betancourt Rivera; Marco Pólo Moreira Leite; Glorisabel Garrido Thompson-Flôres, Cônsul-Geral do Panamá no Rio de Janeiro; Franklin
Rivas, Cônsul-Geral da República Dominicana no Rio de Janeiro; e Pablo Jiménez Boada, Cônsul-Geral Adjunto da Bolívia no Rio de Janeiro.

A sessão solene de abertura do Negócios da Embaixada do do Departamento de Comércio


Seminário Bilateral de Comér- Peru, representando o Embai- Exterior do Ministério do De-
cio Exterior e Investimentos xador Plenipotenciário Hernán senvolvimento, Indústria e Co-
Brasil-Peru foi presidida por Lú- A. Couturier Mariátegui. Com- mércio Exterior – MDIC; Pro-
cia Maldonado, Vice-Presidente puseram a mesa o Ministro Mar- fessor Theóphilo de Azeredo
Executiva da Associação de Co- co Carreón, Cônsul-Geral do Santos, Presidente da Câmara
mércio Exterior do Brasil – Peru no Rio de Janeiro; Marco de Comércio Internacional –
AEB. Contou, com o pronunci- Pólo Moreira Leite, Presidente ICC, além dos cônsules gerais da
amento do Ministro José Betan- da Câmara de Comércio Brasil- República Dominicana, do Pa-
court Rivera, Encarregado de Peru; Arthur Pimentel, Diretor namá e da Bolívia.
18 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U
úcia Maldonado iniciou sua fala rais, uvas, aspargos e páprica. O governo

L afirmando ser uma honra presidir a


sessão, pois considera que os se-
minários da Federação das Câmaras de Co-
tem desenvolvido diversos acordos para
colocar os produtos peruanos em novos
mercados. Um deles foi o de livre comér-
mércio Exterior – FCCE têm sido de gran- cio com a Tailândia, um país chave no Su-
de importância. “Não que um encontro deste Asiático, visto como porta de aces-
como esse vá resolver todos os nossos so ao mercado de outros países da região.
problemas, mas ele chama a atenção para “Em 2005, a iniciativa privada perua-
a importância do mercado externo. Nos- na cresceu 17%, quer dizer, três vezes
so objetivo é formar uma cultura de co- mais do que o total da economia. Temos,
mércio exterior que o Brasil nunca teve. também, indicadores que apontam para
Eu gostaria de destacar a presença do Peru breve a troca de nossa matriz energética.
nas nossas relações comerciais. Em 2005, Atualmente, o petróleo é o produto mais
este país foi o 27o mercado de destino das usado, mas estamos trabalhando para
importações brasileiras. Isso se torna mais mudar esta matriz, substituindo-a pelo
relevante quando observamos que ele gás natural. Hoje, muitas empresas pe-
ocupava a 30a posição no ano anterior e ruanas já usam o nosso gás, uma forma
apresentou um crescimento de 48% em
um ano, o que é realmente expressivo. As
exportações do Peru para o Brasil conti-
“ Nosso objetivo é ajudar
a formar uma cultura de
comércio exterior que o
de energia mais limpa. Agora, estamos de-
senvolvendo uma segunda etapa, que
consiste em exportar gás líquido para o
nuam estáveis. Em 2005, ficou em 32o lu- México e para os Estados Unidos; inicia-
gar, sendo que, em 2004, ocupou a 34o
posição no ranking dos países que expor-
tam para o Brasil”.
Brasil nunca teve
LÚCIA MALDONADON ” tiva que demanda investimentos na or-
dem de US$ 2,5 bilhões.”

Relação bilateral
Lúcia Maldonado afirmou, também, ção das relações comerciais entre o Brasil
que o Peru é um Estado associado ao e o Peru. O ministro da Embaixada do Peru in-
Mercosul, o que indica uma perspectiva “Historicamente, os dois países têm formou, ainda, que, em 2005, o intercâm-
de ampliação do comércio entre os dois políticas externas muito parecidas, no en- bio comercial entre o Peru e o Brasil so-
países. tanto, enquanto o Brasil se voltou para o mou US$ 1,3 bilhão, sendo que US$ 452
“Gostaria, também, de chamar a aten- Oceano Atlântico e para a Europa, o Peru milhões corresponderam a exportações
ção para um outro fato extremamente im- se voltou em direção ao Pacífico e para os peruanas e US$ 909 milhões correspon-
portante: quando falamos em mercado Estados Unidos. Desde agosto de 2003, deram às exportações brasileiras para o
exterior sempre pensamos apenas em nós temos uma aliança estratégica. Foi Peru. Isto significa que a balança comercial
mercadoria. Para nós, os serviços ainda se acordado durante a visita do presidente é deficitária para o Peru em cerca de US$
situam num mercado futuro e, nesse cam- Luiz Inácio Lula da Silva ao Peru, que os 457 milhões.
po, as relações do Brasil com o Peru são dois países se propõem a manter uma re- As exportações peruanas para o Brasil
muito importantes. Nós temos empresas lação bilateral comercial intensa e defi- incluem, principalmente, minérios como
brasileiras fazendo obras de vulto no Peru nem uma estratégia na qual não só aspec- zinco, cobre, prata, prata refinada e cobre
e, também, estamos investindo bastante tos comerciais possuem relevância, mas refinado. A eles se juntam produtos agríco-
no turismo. Todos devem prestar muita também se priorizam trocas culturais e las cultivados no Sul do Peru, que encon-
atenção aos painéis que virão, em que se- políticas.” tram demanda nos estados brasileiros que
rão expostas e definidas algumas metas Segundo José Betancourt Rivera, o fazem fronteira com aquela região. Entre
para o aumento dos intercâmbios com o Peru, hoje, apresenta índices positivos de eles destacam-se aspargos, uvas e páprica.
Peru. Agradeço a todos e vamos passar ao crescimento sustentado. A sua taxa em “Temos possibilidades para incre-
pronunciamento especial de José Betan- 2005 foi de 6,7%, uma das mais altas da mentar significativamente o comércio bi-
court Rivera”. América do Sul. Para 2006, é esperado lateral nos próximos anos. O intercâm-
um índice de 7%. A taxa de inflação é de bio comercial entre os nossos países tem
Perfil peruano 1,5%, uma das mais baixas da região. O aumentado a partir da entrada em vigor
O ministro da Embaixada do Peru in- país exporta anualmente mais de US$ 6,8 do acordo de complementação econômi-
formou estar representando o embaixa- bilhões. Estados Unidos, China, Japão e ca entre Peru e Mercosul, o ACE-58. Por
dor, pois este precisou viajar em caráter Europa são os principais mercados para meio deste acordo, o comércio com os
de emergência para Lima. José Betancourt os produtos peruanos, entre os quais des- países do Sul tem-se intensificado nota-
Rivera introduziu uma breve apresenta- tacam-se peixes, farinha de peixe, mine- velmente. Junto com estas novas frentes

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 19


ABERTURA

de comércio, nós temos também, um sig- se das autoridades políticas e empresariais


Destino dos investimentos
nificativo setor de investimentos”. nesta integração é crescente.”
brasileiros no Peru
Em seu pronunciamento, José Betan- (em US$ bilhões)
court Rivera citou diversas empresas bra- Agronegócio
Comércio 8,70
sileiras que estão trabalhando no Peru, Um outro setor importante da relação
entre elas o banco Sudameris Brasil, as Construção civil 3,42 bilateral é o agronegócio, que inclui um
construtoras Odebrecht, Camargo Cor- convênio básico assinado entre a EMBRAPA
rêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, Finanças 2,60 e o Instituto de Pesquisa Agropecuária Pe-
além de empresas de produtos naturais, Indústria 1,11 ruano. Ele prevê o desenvolvimento da
confecções e calçados que já realizam in- Fonte: Ministro José Betancourt Rivera utilização de cana-de-açúcar como fonte
vestimentos no Peru há muitos anos. de energia, através da produção do etanol.
“É importante destacar que, em maio O Peru e o Brasil têm grandes plantações
de 2006, a Petrobras assinou um contrato de cana-de-açúcar e esta complemen-
com o governo para a exploração do pe- taridade de produção poderá ser utilizada
tróleo e do gás natural em um lote na re- no futuro.
gião de Loreto. Esta é uma notícia impor- Uma missão do Ministério da Agricul-
tante não só para o comércio bilateral, mas tura do Brasil visitará o Peru e técnicos
também para o setor de serviços, possibili- peruanos visitarão o Brasil para fixar as
tando a geração de novos empregos e dina- propostas desta cooperação.
mizando a economia. O investimento esti- “O programa do biocombustível bra-
mado da Petrobras, no país, é de aproxima- sileiro é pioneiro no mundo e o Peru,
damente US$ 35 milhões. Vários outros A Amazônia peruana (acima) é como sócio e parceiro do Brasil, quer con-
lotes já estão sendo explorados pela em- uma área estratégica que abriga
tribuir neste processo. Para isso, estamos
presa, mas consideramos que o novo acor- realizando um programa de cooperação
projetos como o de exploração de
do assinado vai promover um grande im- técnica para trocar conhecimentos sobre
fosfato, pela Vale do Rio Doce. A
pacto no desenvolvimento comercial. Essa a produção deste tipo de combustível.”
nova situação demonstra que o Peru pode integração Brasil-Peru inclui, Finalmente, José Betancourt Rivera
oferecer boas condições em matéria de in- também, convênio com a Embrapa voltou a afirmar a importância da aliança
vestimentos e comércio aos países amigos, para a produção de etanol a partir estratégica entre os dois países, na qual o
como o Brasil. Elas são favorecidas por uma de cana-de-açúcar. elemento central é a o corredor bioceâ-
situação política estável, na qual os contra- nico, que proporcionará ao Brasil ligação
tos são respeitados e amparados por uma comercial com a Ásia.
segurança jurídica constitucional”. tro do Peru, ao município de Cruzeiro “Peru e Brasil estão estrategicamente
do Sul, a segunda maior cidade do Acre, posicionados no centro da América do Sul.
Integração física com grande potencial de complemen- Para nós, esta relação representa maior fa-
O Ministro José Betancourt Rivera tação com o centro do Peru. Em médio cilidade de integração, por meio de ferro-
passou, em seguida, a tratar da integração prazo, deverá ser construída uma ligação vias e sistemas fluviais. Assim, poderemos
física entre os dois países, que se desen- terrestre entre as duas regiões. Essa via exportar nossos produtos para a Europa.
volve em torno de três eixos. O primeiro vai integrar os estados de Rondônia e do Finalmente, gostaria de dizer que as pos-
e mais avançado deles é o eixo do Norte, Acre ao centro do Peru. A previsão é sibilidades e desafios são imensos, e que
na região amazônica, que vai do Peru até o conectá-las por meio de uma linha fer- estamos trabalhando com muita imagina-
Pará, seguindo o trajeto dos rios, conec- roviária ligada à malha rodoviária exis- ção neste novo contexto, buscando uma
tando diretamente o Norte brasileiro ao tente no Peru. Finalmente, o terceiro eixo nova concepção da relação bilateral que
Norte peruano. Este trecho de 1.200 km de integração física é o da rodovia que só será possível com a colaborção dos di-
está praticamente concluído e abre as ex- deverá ligar Brasil, Bolívia e Peru. Segun- plomatas, das autoridades políticas e em-
portações para os dois oceanos: o Pacífi- do o ministro, calcula-se que, em dois presariais. Nossa relação será muito mais
co e o Atlântico. O ministro lembrou, tam- ou três anos, este trecho estará pronto. sólida se envolvermos também a socieda-
bém, que a Vale do Rio Doce ganhou a “Companhias como a Odebrecht es- de civil, as forças sociais, os estudantes, os
licitação para exploração de fosfato na tão envolvidas no projeto e estamos segu- profissionais e técnicos. Muito obrigado”.
Amazônia Peruana, o que favorece o de- ros de que, por meio desta via, estaremos Após o pronunciamento de José
senvolvimento da região. ligando de forma definitiva os estados do Betancourt Rivera, Lúcia Maldonado
O segundo é o eixo central, que bus- Sul do Peru com o Acre, Rondônia, Mato considerou encerrada a Sessão Solene de
ca vincular a cidade de Pucalpa, no cen- Grosso e Mato Grosso do Sul. O interes- Abertura.

20 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


PAINEL I

A diversificação das relações


comerciais entre Brasil e Peru
Os dois países estabeleceram aliança estratégica para estreitar seus laços
O painel I do Seminário Bilate-
ral de Comércio Exterior e In-
vestimentos Brasil-Peru teve
como tema “O estado atual das
relações comerciais Brasil-Peru
e as possibilidades de diversifi-
cação e incremento”. Seu presi-
dente foi o Cônsul-Geral do
Peru no Rio de Janeiro, Minis-
tro Marco Carreón, que abriu a
sessão declarando-se honrado
em presidi-la e passou a palavra
ao moderador, Rogério Fer-
nando Lot, Gerente de Comér-
cio Exterior do Banco do Bra-
sil. O moderador declarou, en-
tão, que faria algumas conside- O Ministro Marco Carreón, Cônsul-Geral do Peru no Rio de Janeiro, presidiu o painel I.

rações a respeito do tema em


arco Pólo Moreira Leite iniciou O expositor chamou a atenção dos par-
pauta ao final dos debates e con-
cedeu a palavra ao primeiro ex-
positor do painel, o Presidente
M sua participação declarando-se
emocionado por ver na platéia do
seminário alguns estudantes e, confessan-
ticipantes do seminário para o momento
excepcional por que passa, atualmente, a
integração sul-americana. Declarou-se
do usar mais o coração do que a razão, solidário com a Bolívia, que, a seu ver, tem
da Câmara de Comércio Brasil- recordou sua primeira viagem aérea, quan- sido massacrada pela mídia brasileira por
do ainda era estudante, e que teve como haver assumido posições legítimas em fa-
Peru, Marco Pólo Moreira Lei- destino o Peru. O país o encantou pela vor de uma riqueza natural que lhe per-
te. O segundo expositor foi o hospitalidade. Ressalvou, ainda, que, ape- tence, no caso o petróleo e o gás natural
sar de se encontrar em missão comercial, encontrados em território boliviano. Ape-
Diretor de Comércio Exterior foi acolhido pelos peruanos como um ir- sar de reconhecer a possibilidade de
do Ministério do Desenvolvi- mão brasileiro. Pôde perceber o grande discordância em torno do assunto, reite-
interesse e a admiração despertados pelo rou a opinião de que o Brasil deve encarar
mento, Indústria e Comércio Brasil no exterior, constituindo-se, por- o problema sob a perspectiva daquele país
Exterior, Arthur Pimentel. tanto, essa viagem, na sua primeira e ines- irmão. Para ele, é preciso compreender a
quecível aula de “sulamericanidade”. importância da adoção de medidas que

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 21


PAINEL I

ses norte-americanos no continente. Esse


exemplo, que o expositor considerou um
fato simples, tem, em sua opinião, extre-
ma gravidade.
O estabelecimento definitivo dos
objetivos perseguidos por essa aliança
estratégica, parece-lhe, pois, imperati-
vo. Marco Pólo Moreira Leite lembrou,
ainda, que as obrigações do gigante bra-
sileiro em relação a seus irmãos latino-
americanos – com quem, de um modo
geral, obtém sempre superávits na ba-
lança comercial – podem ser contra-
balançadas pelo estabelecimento de
parcerias humanas e de conhecimento.
Em seguida, afirmou que persistem
motivos para uma expectativa favorável
em relação ao futuro da integração com
nossos países vizinhos da América.
Mencionou o fato de que o Brasil pos-
sui, atualmente, uma tecnologia agrope-
cuária de altíssimo nível, e que o mun-
do inteiro, não apenas a América do Sul,
está de olho no trabalho da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
Marco Pólo Moreira Leite realçou parcerias com o Peru na área de pesquisa agrícola. EMBRAPA. Segundo ele, esta institui-
ção tem se destacado em vários setores,
merece um destaque especial graças à ali- seja no aprimoramento da produção e
ança estratégica que vem costurando com da utilização do etanol, seja na produ-
o Brasil, no sentido de proporcionar-lhe a ção do biodiesel, especialmente do que
tão sonhada saída para o Oceano Pacífico, é obtido a partir de plantas oleaginosas.
que facilitará e barateará o comércio com A seu ver, esses produtos podem servir
a Ásia e a Oceania. Esta ligação por terra de matrizes energéticas para nossos vi-
com o Pacífico também vai permitir aos zinhos carentes ou impossibilitados de
peruanos alcançarem o Atlântico, com evi- desenvolverem a exploração de petró-
dentes vantagens para o incremento co- leo. Ao enfatizar, mais uma vez, a priori-
mercial daquele país andino com a Euro- dade de nossas obrigações com os paí-
pa e a África. ses latino-americanos, o expositor re-
conheceu que a realização do seminário
Aliança estratégica se insere nessa órbita e cumprimentou
Marco Pólo Moreira Leite reafirmou a o Presidente da Federação das Câmaras
importância dessa aliança estratégica e de Comércio Exterior, João Augusto de
mencionou o que, há alguns anos, ouviu Souza Lima, pela iniciativa de sua orga-
do General Baima Diniz, que considera nização.
um homem aberto, progressista e pro-
fundo conhecedor dos problemas brasi- Mudança de foco
Rogério Lot defendeu o incremento do leiros. Disse-lhe o general, que, quando Em seguida, o moderador Rogério
comércio com os países andinos. desempenhava as funções de Chefe da Fernando Lot usou da palavra para co-
Casa Civil da Presidência da República, mentar brevemente a palestra do primei-
levarão melhorias ao povo boliviano, a ouviu de deputados e senadores, em uma ro expositor. Lembrou que o seminário
partir da nacionalização do seu petróleo. reunião social em Brasília, que a saída bra- atesta a mudança do foco de interesse do
O expositor, em seguida, lembrou que, sileira para o Pacífico jamais seria alcan- comércio exterior brasileiro, que, até
entre todos os países do continente, o Peru çada, porque isso contrariava os interes- hoje, supervalorizava as relações com os

22 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


países do Mercosul, em detrimento do
comércio com os países andinos. A situ-
ação lhe parecia não apenas injusta, como
economicamente prejudicial a nossos in-
teresses. Em seguida, passou a palavra ao
segundo expositor do painel, o Diretor
de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Arthur Pimentel.
O segundo expositor iniciou sua par-
ticipação no painel com a exibição de um
quadro demonstrativo da evolução das
exportações brasileiras para o Peru, no pe-
ríodo de 1996 a 2005. Observou que, de-
pois de vigorar um certo equilíbrio entre
as duas balanças comerciais, a partir de
2003 começou a existir um superávit por
parte do Brasil, tendência que tem per-
manecido até hoje.

“ Persistem motivos para uma


expectativa favorável
em relação ao futuro
da integração com nossos
países vizinhos da América
MARCO PÓLO MOREIRA LEITEN ” Arthur Pimentel afirmou que o Brasil deverá exportar US$ 132 bilhões em 2006.

período de 2005 a 2006, as exportações turados e de 5% na de semi-manufatura-


Ao analisar as respectivas importações, brasileiras cresceram cerca de 17%, e as dos. Cerca de 4% se devem a compras
salientou que elas têm perfil semelhante. importações 25%, resultando em cres- dos Estados Unidos, vindo, em seguida,
O Brasil passou a comprar mais os pro- cimento de 20% da corrente comercial Argentina, Chile e Alemanha, o que, em
dutos peruanos, o que, a seu ver, denota brasileira. sua opinião, retrata fielmente a situação
um amadurecimento por parte do mer- O expositor alertou para o fato de que, otimista porque vem passando a balança
cado brasileiro. Essa situação precisa ser ainda hoje, ouvimos dizer que o nosso país comercial brasileira no setor.


observada pelo governo, pois é necessá- não passa de um exportador de produtos
rio que o nosso país adquira mais matéri- primários, o que não é uma verdade por Os corredores de exportação
as-primas, mais produtos diversificados e inteiro. Se é fato que vendemos ao exteri- entre o Pacífico e o Atlântico
mais componentes, para poder dar segui- or nosso café, nossa soja, nossos produtos vão mudar o perfil do comércio


mento ao cumprimento dos contratos. oriundos do agronegócio, estamos expor-
Arthur Pimentel comentou, em se- tando, também, nossos manufaturados e entre o Brasil e o Peru
guida, que o crescimento do saldo co- semi-manufaturados – que incluem ma- ROGÉRIO FERNANDO LOTN
mercial brasileiro com o Peru e com teriais de transporte, veículos, tratores,
outros países é o resultado de uma soma máquinas de terraplanagem, autopeças e Outra informação trazida pelo exposi-
de esforços que não é recente, já que as outros – para os Estados Unidos, para a tor disse respeito ao crescimento de 50%
modificações que ocorrem no comércio União Européia e para outros tantos paí- nas importações brasileiras de matéria-
exterior não se dão de um dia para o ou- ses dos quatro continentes com que te- prima. Segundo Arthur Pimentel, isso é
tro. Ele lembrou, também, que os países mos laços de comércio. muito importante para a economia brasi-
mais maduros e mais afeitos às práticas Ao referir-se ao desempenho desse leira, uma vez que tais insumos estão com-
do comércio exterior começam a enten- tipo de exportações, informou, a título de pondo bens exportáveis. Finalmente,
der a importância da corrente de comér- exemplo, que no período de janeiro a abril Arthur Pimentel mostrou aos participan-
cio e já não falam apenas de compras e de de 2006, época considerada morna e sem tes do painel um quadro demonstrativo
vendas, mas referem-se ao somatório. movimento nessa área, verificou-se um do crescimento da corrente de comércio
Exemplificando, ele lembrou que, no crescimento de 15% na venda de manufa- exterior brasileiro. Avaliou que o país de-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 23


PAINEL I

Potencialidades de exportação do Brasil para o Peru


Valores em US$ 1.000 Fonte: SECEX/MDIC – Radar Comercial

Produto Importações Exportações Exportações do


Peru Brasil Brasil para o Peru
Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos 1.099.951 2.527.691 30.622

Outros óleos de petróleo, exceto desperdícios 537.599 1.242.053 76

Aparelhos transmissores c/apar.receptor,p/radiofonia,


radiotelegrafia, radiofusão ou televisão 182.211 881.288 6.155

Milho, exceto p/semeadura 157.153 581.869 71

Tortas e outros resíduos sólidos da extração de óleo de soja 152.333 3.270.888 0

Óleo de soja, em bruto, mesmo degomado 131.303 1.155.756 0

Aparelhos receptores de televisão, a cores 86.838 129.310 10.737

Automóveis e outros veículos c/motor pistão alternativo 86.369 2.489.802 15.960

Tereftalato de polietileno 83.893 69.229 1.084

Unidades de processamento digitais 68.618 80.508 1.250

Polipropileno, em forma primária 63.767 100.622 9.225

Dumpers concebidos para serem utilizados fora de rodovias 62.977 86.587 0

Algodão, não cardado nem penteado 60.883 406.070 14.426

Polietileno de densidade < 0,94 em forma primária 60.703 259.930 1.212

Policloreto de vinila 53.906 29.947 22

verá alcançar a meta de exportar US$ 132 elementos referentes a 52 países em todo o plos, Arthur Pimentel terminou sua parti-
bilhões até o fim de 2006. mundo, que representam 98% do movi- cipação mencionando o fato de que há, tam-
mento comercial internacional. bém, uma série de produtos brasileiros
Relações bilaterais passíveis de serem adquiridos pelo Peru e
Em seguida, o expositor passou a referir-
se às relações bilaterais entre o Brasil e o
Peru, começando pelo crescimento das ex-
“ Estamos exportando cada
vez mais manufaturados
e semi-manufaturados
que não constam de nossa pauta de expor-
tações para lá. O expositor concluiu com
um apelo final aos nossos exportadores
portações brasileiras, que aumentaram 48%, para que acessem os dados gratuitamente
de 2004 para 2005, enquanto as importa- para os Estados Unidos fornecidos pelos diferentes órgãos ligados
ções cresceram 31%. Como principais pro-
dutos exportados, citou óleos, aparelhos ce-
lulares, chassis de automóveis, tratores, equi-
e a União Européia

ARTHUR PIMENTELN
à exportação no Brasil, inclusive na
Internet, para que eventuais barreiras e gar-
galos possam ser vencidos e o nosso co-
pamentos off road para terraplanagem etc. O “radar” informou, por exemplo, a mércio exterior continue a crescer para o
Mencionou, ainda, os principais bens impor- existência de um entrave comercial em re- bem do desenvolvimento geral do Brasil.
tados: zinco, cobre e produtos do setor ali- lação a um dos principais produtos expor- Retomando a palavra, o moderador Ro-
mentício. Concluiu que as duas economias tados pelo Brasil, que é a soja. “Não conse- gério Fernando Lot fez votos de que os cor-
possuem um excepcional potencial de in- guimos vender nem um litro de óleo de redores de exportação para o Pacífico e o
cremento em suas trocas comerciais, por soja para o Peru, um país que tem uma ca- Atlântico, que devem resultar da política de
serem complementares. Explicou, ainda, pacidade de compra na ordem dos US$ 172 aproximação entre os dois países, tornem-
que a aferição desses produtos e dos seus milhões. Por quê?”, perguntou, sugerindo, se, em breve, uma realidade que irá dinami-
números se deve ao chamado “radar comer- em seguida, que esse é um tema a ser pen- zar as duas economias. Encerrando os traba-
cial”, ferramenta de prospecção de oportu- sado pelos experts em comércio exterior lhos do painel, o cônsul-geral do Peru agra-
nidades no comércio exterior que levanta brasileiro. Sem mencionar outros exem- deceu aos participantes e ouvintes.

24 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


P A I N E L II

Parcerias entre países irmãos


Desenvolvimento de infra-estrutura portuária e de serviços turísticos é um
caminho para aproximar ainda mais Brasil e Peru

Fernando Vasconcelos de Sá, José Luiz Lopes Teixeira Filho, Oswaldo Trigueiros Jr, José Betancourt Rivera e Marco Carreón.

presidente d Conselho de Turis-


O painel II, que teve como te-
mas o desenvolvimento do setor
de turismo e a modernização
ções sobre a Companhia Docas
do Rio de Janeiro, que enviou ao
seminário os seguintes represen-
O mo da CNC assumiu o comando
dos trabalhos chamando os ex-
positores para tomarem seus lugares à
mesa. Logo em seguida, fez uma aprecia-
portuária, foi dirigido pelo Pre- tantes: o Superintendente de ção sobre o turismo, atividade por ele con-
sidente do Conselho de Turismo Marketing da companhia, José siderada como a maior indústria do mun-
do. Oswaldo Trigueiros Jr. explicou que o
da Confederação Nacional do Luiz Lopes Teixeira Filho; o Chefe intercâmbio entre os dois países neste se-
tor seria a matéria discutida com mais in-
Comércio – CNC, Oswaldo Tri- da Divisão de Mercado e Ação
tensidade no painel, introduzindo o tema
gueiros Jr. O moderador foi o Comercial, Fernando Vasconce- em seus aspectos mais gerais.
Chefe de Gabinete do Secretário los de Sá; e o Assessor Técnico da Turismo global
de Estado de Turismo do Rio de Divisão de Mercado e Ação Co- O representante da CNC registrou a
importância da atividade turística para as
Janeiro, Sérgio de Mello Ferreira. mercial, Luiz Guilherme Soares economias no contexto da globalização.
Os presentes ouviram exposi- Bonfim. Nesse cenário, analisou ainda o paradoxo

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 25


P A I N E L II

entre as possibilidades oferecidas pelo gia, eletroeletrônicos e a agricultura como comunicação, e é exótico. As pessoas não
avanço da tecnologia e o fortalecimento as de maior musculatura comercial no querem mais saber de viajar para ver paí-
das culturas locais. “Quanto mais univer- mundo, ou seja, aquelas com maior con- ses adiantados ou arranha-céus. Elas que-
sais nos tornamos, mais tribalmente nós tribuição para a economia global. Segun- rem conhecer culturas locais, diferentes
agimos”, afirmou. do Oswaldo Trigueiros Jr., neste panora- e que ainda estão por se desenvolver. Esse
Logo em seguida, Oswaldo Trigueiros ma deveria, também, ter sido incluída a é o interesse geral do cidadão que sai dos
Jr. lembrou o papel decisivo que a ativida- atividade turística. países adiantados”, explicou. Essa também
de possui na economia de diversos países é a opinião do Presidente do Conselho de
e ressaltou que, em algumas, o turismo Futuro promissor Agências de Viagens, Geoffrey Lipman.
representa a maior fonte de receita. Em Os horizontes para a atividade estão Segundo Oswaldo Trigueiros Jr., Lipman
sintonia com este raciocínio, apresentou cada vez maiores. Apesar de ameaças, guer- afirmou que neste século haverá um sur-
estatísticas reveladoras sobre o setor. Afir- ras no Oriente Médio, furacões e outros to de viajantes asiáticos por todo o mundo
mou que ele emprega 240 milhões de obstáculos localizados, o futuro do turis- e, por outro lado, os países asiáticos serão
pessoas no mundo, o que significa 10,6% mo é considerado promissor. Nesse sen- os destinos preferidos dos visitantes.
da força de trabalho mundial. A fatia de tido, Oswaldo Trigueiros Jr. analisou a de- Nesse ponto de sua análise, Oswaldo
contribuição da atividade para a economia manda de visitantes para lugares que não Trigueiros Jr. deteve-se diante da pergun-
é de 10,2% do Produto Interno Bruto – ta inevitável: “se tem contribuído de for-
PIB, levando-se em conta todas as econo-
mias do planeta.Trata-se, também, de acor-
do com as estatísticas apresentadas, do
“O cidadão dos países
adiantados procura os países
emergentes, onde encontra
ma tão significativa para a economia mun-
dial, por que o turismo ainda recebe uma
atenção tão pequena de governantes e dos
maior gerador de receitas e impostos, mo- acordos no âmbito internacional?”
bilizando algo em torno de US$ 655 bi-
lhões.
De uma maneira global, a atividade tu-
muita história e cultura

O S WA L D O T R I G U E I R O S J R . N
O representante da CNC explicou,
com base em um artigo publicado no pe-
riódico The Economist, que a importância
rística representa aproximadamente eram freqüentes na pauta das viagens in- do setor é de difícil compreensão por pelo
10,9% dos gastos dos consumidores; ternacionais e citou o exemplo do menos três razões: “primeiro, não existe
10,7% de todos os investimentos de ca- Camboja, um país ainda carente de infra- uma definição precisa e unânime dos ele-
pital; e 6,9% de todos os gastos governa- estrutura turística ideal, mas que recebe mentos que constituem esta indústria.
mentais. Com base nestes dados, o repre- um número cada vez maior de visitantes. Qualquer tentativa neste sentido corre o
sentante da CNC lançou dúvidas sobre “O Camboja ainda não tem prepara- risco de superestimar ou subestimar os
uma pesquisa feita com 400 articuladores ção, mas tem história. É um país de mo- aspectos econômicos”. O segundo moti-
políticos e formadores de opinião em 20 numentos milenares, com uma popula- vo está relacionado à informalidade: “ati-
países: eles citaram as indústrias de ener- ção que apresenta fantástica facilidade de vidades como as dos guias de turismo e

Mesmo sem grande


infra-estrutura turística,
os templos milenares,
a natureza exuberante e a
população comunicativa do
Camboja atraem visitantes
de todo o mundo.

26 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


dos vendedores de souvenires, além de um dos setores que mais tem-se desen- podemos ajudá-lo a desenvolver um tu-
trocos e gorjetas, se prestam bem à eco- volvido no mundo é justamente o de tu- rismo complexo e de fácil acesso”, afir-
nomia informal”, disse. A terceira razão rismo de negócios. mou. Em seguida, Oswaldo Trigueiros Jr.
tem a ver com o fato de que “o turismo encerrou sua participação e passou a pala-
internacional sofre diferenças espantosas Custos da aviação vra ao Chefe de Gabinete do Secretário de
com relação aos dados divulgados pelos Outra área mencionada por Oswaldo Estado de Turismo do Rio de Janeiro, Sér-
diferentes países”. Trigueiros Jr. foi a aviação comercial. Além gio de Mello Ferreira.
Mesmo assim, Oswaldo Trigueiros Jr. de destacar a sua importância para o in-
demonstrou confiança nos estudos em- cremento das atividades do turismo, lem- Cidade maravilhosa
preendidos por duas organizações mun- brou que neste setor o Brasil atravessa uma Sérgio de Mello Ferreira começou
diais – o Conselho Mundial de Viagens e fase difícil. “Os custos dos aeroportos do mostrando estatísticas referentes aos dois
Turismo, com sede em Bruxelas, e a Or- mundo inteiro estão muito elevados e as países em foco no seminário. Elas mos-
ganização Mundial do Turismo, uma orga- empresas brasileiras que exploram o tu- tram que, em 2003, 38.900 turistas peru-
nização do Programa de Desenvolvimen- rismo ganham em real, mas têm seus cus- anos visitaram o Brasil e, em 2004,
to da ONU – que se dedicam à tarefa de tos todos em dólar. É por isso que a avia-
tentar reconhecer o turismo como a mai- ção brasileira vive, hoje, no setor interna-
or indústria do mundo. cional, um momento delicado”, analisou. Machu Picchu (à esquerda)
Na segunda parte de sua exposição, Ele lembrou também que empresas in- e o Pelourinho (abaixo),
Oswaldo Trigueiros Jr. apresentou o con- ternacionais, como a United Airlines, que (patrimônios da humanidade);
ceito de “viagem total”. Explicou que, com enfrentou recentemente outro tipo de o rico artesanato peruano e
o advento das novas tecnologias, muitos problema, costumam receber ajuda do a exótica culinária brasileira
empresários não precisam mais viajar com governo de seus países.
são atrativos singulares para
grande freqüência. É possível resolver Finalmente, o representante da CNC
muitas questões de trabalho utilizando o constatou a modificação que o setor vem o turismo nessa região.
computador e suas ferramentas, hoje in- fazendo para atender às novas necessida-
dispensáveis. No entanto, ressaltou a im- des de viajantes e de homens de negócio.
portância do contato humano. “Nem sem- Destacou que Brasil e Peru são exemplos
pre um negócio se realiza sem a presença de países que podem explorar com mais
do homem. Os processos de negociação intensidade suas relações de turismo, ci-
exigem grandes câmaras de comércio, tando o enorme interesse que patrimôni-
como acontece aqui, pois é preciso que os históricos da humanidade, como
haja troca e interação pessoal; é preciso Machu Picchu, podem representar para a
que haja o get together”, avaliou. Por isso, dinâmica de viagens entre as regiões. “Os
turistas estrangeiros estão indo ao Peru
para conhecer de perto este passado e esta
história. Nós, que somos um país vizinho,

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 27


P A I N E L II

Em 2004, o fluxo de visitantes


peruanos para a cidade do Rio
de Janeiro aumentou em 80%.
A variedade de atrações que o
Estado do Rio oferece explica
essa grande procura,
direcionada tanto para o mar
quanto para a região serrana.
O governo pretende dotar todo
o território fluminense de uma
infra-estrutura adequada.
Cabo Frio está ampliado seu aeroporto internacional. Tendo como atrativo

Sérgio de Mello Ferreira elogiou o co-


mentário de Oswaldo Trigueiros Jr. so-
bre a necessidade de acordos comerciais
na área de turismo e destacou o projeto
Rio de Vocês, coordenado pelo Subse-
cretário de Turismo do Rio de Janeiro,
Nilo Sérgio Alves Felix. O trabalho con-
siste na realização de workshops para agen-
tes de turismo, levando-os a conhecer
de perto as atrações do próprio país e,
também, de outros, como o Peru. O ob-
jetivo é incrementar o intercâmbio entre
as duas nações. Ele alertou que, para
viabilizar iniciativas como essa, é preciso
formar parcerias. “Tem que existir uma
via de duas mãos. É importante que os
operadores peruanos possam vir ao Bra-
sil e ao Rio de Janeiro. Estamos à dispo-
Sérgio de Mello Ferreira realçou as grandes potencialidades turísticas do Rio de Janeiro. sição para ajudar neste trabalho. Ao mos-
trarem seus produtos, fluminenses, ca-
56.600, o que significou um aumento de Petrópolis e de Teresópolis. Foram, tam- riocas e brasileiros passarão a conhecer
40% em apenas um ano. Do total de visi- bém, lembradas as cidades ricas em belezas melhor os destinos peruanos”.
tantes em 2003, 2.065 peruanos foram naturais da Costa Verde, como Angra dos Finalmente, Sérgio de Mello Ferreira
para a cidade do Rio de Janeiro e, no ano Reis e Parati. A lista parecia não ter fim. colocou a Secretaria de Estado, da qual faz
seguinte, 5.015, o que significou um in- “Temos Agulhas Negras, uma área de co- parte, à disposição de todos que desejam
cremento de 80% no fluxo. lonização finlandesa. Entrando pelo Vale do ampliar o turismo entre as diversas regi-
Segundo Sérgio de Mello Ferreira, a Paraíba, encontram-se as fazendas históricas ões. O convite foi prontamente agradeci-
variedade das atrações explica o aumento do ciclo do café. Trata-se de uma grande di- do por Oswaldo Trigueiros Jr., em nome
do número de visitantes. Além da capital versidade de produtos a poucas horas do da CNC. Ele concorda que os produtos
do estado, ele citou cidades de praias des- centro receptivo do país”. Ressaltou, ainda, brasileiros e peruanos devam ser mais aces-
lumbrantes como Arraial do Cabo, Cabo que o Governo do Estado do Rio de Janei- síveis e mais divulgados entre os repre-
Frio e Búzios – esta última considerada, atu- ro vem realizando obras de infra-estrutura sentantes de cada país.
almente, o sétimo destino brasileiro que para aumentar ainda mais o fluxo turístico,
mais recebe turistas. Destacou, em segui- como é o caso da ampliação do aeroporto Futuro dos portos
da, as belezas e a riqueza histórica da serra internacional de Cabo Frio, em conjunto Apresentado pelo moderador Sérgio
imperial, em especial, as cidades de com o Ministério da Aeronáutica. de Mello Ferreira, o Superintendente de

28 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


o Pico das Agulhas Negras, o turismo se desenvolveu em Itatiaia. Espetáculo de luz e som no Museu Imperial, em Petrópolis.

Marketing da Companhia Docas do Rio satlântico do mundo, o Queen Mary, que Porto de Sepetiba
de Janeiro, José Luis Lopes Teixeira Fi- por questões de calado pouco profundo Após o discurso do superintendente
lho, agradeceu em seu nome e no do Pre- não podia fundear na cidade do Rio de de marketing, foi apresentado ao plenário
sidente da Companhia, Antônio Carlos Janeiro antes das melhorias introduzidas o Chefe da Divisão de Mercado e Ação
Soares Lima, ausente em virtude de uma em seu porto. Comercial da Companhia Docas do Rio
viagem à China, o convite de João José Luiz Lopes Teixeira Filho lem- de Janeiro, Fernando Vasconcelos de Sá,
Augusto de Souza Lima para participar brou, também, um entendimento esta- que iniciou sua apresentação com um bre-
do painel II. belecido entre diferentes esferas da ad- ve resumo das atividades da Companhia.
Elogiou o povo peruano “pela capaci- ministração pública para gerar melhorias Segundo ele, os portos de Angra dos Reis
dade de desenvolver o turismo, sem per- no setor. “Foi firmado, com a presença e Niterói estão arrendados, sendo que o
der em momento nenhum as suas carac- de Niterói opera, basicamente, com mo-
terísticas individuais e sociais. É um exem-
plo para o mundo de como conciliar a
cultura do país com o recebimento de vi-
“ O Peru poderá usar alguns
dos portos fluminenses como
base para lançar seus produtos
vimentação offshore, com a Petrobras e com
o fluxo em direção ao Norte Fluminense.
“Angra dos Reis tinha uma vocação an-
sitantes.” tiga para movimentação siderúrgica e, hoje,
Em seguida, analisou a evolução e a na Costa Leste dos Estados já está bem inserida na movimentação
melhoria dos portos no Brasil, em espe-
cial no Rio de Janeiro, e passou a especi-
ficar algumas ações que podem ser de-
senvolvidas em prol do turismo. José
Unidos, na África e na Europa
JOSÉ LUIS LOPES TEIXEIRA FILHON ” offshore. Acreditamos promover o arrenda-
mento de mais um berço em Angra, que
seria para um terminal de passageiros, apro-
veitando a beleza da região Sul do estado”,
Luiz Lopes Teixeira Filho explicou que a do Presidente da República, um convê- revelou Fernando Vasconcelos de Sá.
companhia administra os seguintes por- nio entre o município do Rio de Janeiro, Com base em slides, o chefe da Divisão
tos fluminenses: o do Rio de Janeiro, o o Ministério das Cidades e a Companhia de Mercado e Ação Comercial identificou
de Itaguaí – antigo porto de Sepetiba –, o Docas do Rio de Janeiro para revitalização as rotas ferroviárias e rodoviárias entre os
de Angra dos Reis, e o de Niterói. Desta- da área portuária na região onde localiza- portos e os destinos do Norte Fluminense e
cou principalmente o Porto do Rio de se o terminal de passageiros. Esperamos do interior de São Paulo e Minas Gerais. Em
Janeiro, em razão de estar recebendo um contribuir, assim, com a melhoria das relação ao Porto do Rio de Janeiro, fez al-
número crescente de passageiros, atin- relações turísticas do Rio de Janeiro e, guns comentários sobre o funcionamento
gindo, este ano, a marca de 160.000, e o também, com os intercâmbios entre Bra- dos terminais de contêineres na região do
de Angra dos Reis, que será ampliado sil e Peru”. Segundo ele, um novo hori- Caju e da Gamboa e sobre o terminal de pas-
para receber mais turistas. O superinten- zonte de possibilidades se abre a partir sageiros, arrendado pelo Píer Mauá. “Esta-
dente ressaltou a participação do gover- desta parceria. “O Peru poderá usar os mos em fase de negociação, porque a movi-
no e o apor te de investimentos na portos de Itaguaí e do Rio de Janeiro mentação de passageiros tem crescido mui-
melhoria dos portos. Citou como resul- como base para lançar seus produtos no to e queremos ver se nos estruturamos me-
tado de boa aplicação dos recursos a pre- mercado da costa Leste dos Estados Uni- lhor, junto com o arrendatário, com o pró-
sença, em águas brasileiras, do maior tran- dos, da África e da Europa.” prio estado, e com a prefeitura”, explicou.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 29


P A I N E L II

Porto de Itaguaí Porto de Niterói Porto de Angra dos Reis

Terminal de Sepetiba

ção de anéis rodoviários são alguns alicer-


ces para este desenvolvimento.

Docas e correios
O representante da Companhia Docas
do Rio de Janeiro mencionou outro proje-
Luiz Guilherme Soares Bonfim, Fernando Vasconcelos de Sá e José Luiz Lopes Teixeira Filho. to que pode alavancar o desenvolvimento
portuário. “Há uma iniciativa da própria
Fernando Vasconcelos de Sá informou, terminal de alumina, administrados pela Companhia, capitaneada pelo nosso presi-
ainda, que existe um protocolo de inten- Companhia Vale do Rio Doce.” dente, que é a criação do Centro de Negó-
ções para aumentar a capacidade de passa- Fernando Vasconcelos de Sá observou cios e Logística. Trata-se de um trabalho
geiros, uma vez que todas as novas condi- que este porto acolhe navios de até 50 mil que a Docas está fazendo para o atendimen-
ções de atracamento e melhoria do calado toneladas de porte bruto, o que faz dele to ao pequeno e médio exportador”, reve-
já foram realizadas. Em seguida, o convida- uma instituição portuária ímpar. E foi além: lou. Em dezembro de 2005, foi assinado
do citou a relação dos operadores portuá- “Vamos arrendar uma nova área para ex- um convênio com a Empresa de Correios
rios que trabalham no Porto do Rio de Ja- portação. A Companhia e o país acreditam e Telégrafos – que já desenvolve o projeto
neiro. Cada um com uma carga específica. que esse será o porto do futuro em nosso Exporta Fácil aéreo – para retomar, como
O Porto de Sepetiba também foi des- estado”, apostou. fazia há alguns anos, o Exporta Fácil maríti-
taque, pois pode vir a ser “o futuro dos O expositor mostrou também estatísti- mo. “A exportação pelos Correios tem uma
portos do Brasil”. Ele acredita que a cons- cas sobre a situação portuária do Estado do limitação tanto de peso quanto de volume.
trução do ramo norte de uma ferrovia Rio de Janeiro. No ano passado, foram Assim, a empresa deseja utilizar a infra-es-
para dar cobertura de transporte à cidade movimentadas 37,5 milhões de toneladas. trutura dos portos do estado”.
de São Paulo é um fator determinante A previsão é de que, até 2009, o volume José Luis Lopes Teixeira Filho pediu a
neste processo. “O Porto de Sepetiba já é seja aumentado em 100 milhões de tone- palavra, por um instante, para fazer obser-
realidade, com terminais de contêineres ladas. Como exemplo, citou o fato de os vações em relação ao contrato entre a Com-
com grande movimentação; um terminal portos fluminenses terem aumentado sua panhia Docas do Rio de Janeiro e a Empre-
com importação de carvão, administrado movimentação em 70%, nos últimos três sa Brasileira de Correios e Telégrafos. “A
pela Companhia Siderúrgica Nacional; um anos. O início do projeto da duplicação da parceria significa a possibilidade de expor-
terminal de exportação de minério e um estrada que liga São Paulo a Santos e a cria- tar ou, considerando a via inversa, a possi-

30 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Porto do Rio de Janeiro

Nos últimos três anos, os


portos fluminenses
aumentaram sua
movimentação em 70% e em
2005 movimentaram 37,5
Sérgio de Mello Ferreira e Cláudio Chaves no painel II do Seminário Brasil-Peru.
milhões de toneladas.
A Companhia Docas do Rio de sença no plenário do Vice-presidente da Colômbia tem um aeroporto internaci-
Janeiro está realizando Federação das Câmaras de Comércio Ex- onal em Letícia, mas que o Peru não dis-
terior em Manaus, Cláudio Chaves, ex- põe de aeroportos na fronteira.
melhorias na logística dos
deputado com grande vivência na área de Outra questão abordada foi a ligação
portos do estado. Uma das turismo, especialmente na região Norte entre os países. De acordo com o Vice-pre-
iniciativas é a criação do do país. Cláudio Chaves compareceu ao sidente da FCCE, a partir de Manaus, é
Centro de Negócios e Logística seminário na condição de representante possível criar um grande canal integrando
para atender ao pequeno e do Senador Bernardo Cabral. O Presidente Brasil,Venezuela e Peru; algo que equivale-
da FCCE pediu-lhe, então, que registras- ria, em sua opinião, a um segundo Canal do
médio exportador. se seu posicionamento sobre os temas de- Panamá. Cláudio Chaves sugeriu, ainda, a
batidos, por exemplo, a respeito da diver- realização de um desdobramento do Semi-
bilidade de importar e dotar de capacidade sificação da atividade turística brasileira em nário Bilateral de Comércio Exterior e In-
logística o médio e o pequeno empresá- relação ao Peru. vestimentos Brasil – Peru, na Amazônia,
rio”, explicou. “O exportador que não tem Com base em seu conhecimento da com representações da Zona Franca de
volume suficiente para lotar um contêiner, Amazônia brasileira e peruana, por meio Manaus, do governo do Acre e das autori-
pode participar de um pool”, ponderou. de sua experiência como médico e po- dades peruanas das regiões fronteiriças. “O
“Estamos juntando a força dos correios – lítico, Cláudio Chaves chamou a aten- Peru deve fazer investimentos nas suas ci-
que pode fazer a captação e a distribuição ção para um grave problema. “A Ama- dades e a tripla fronteira deve competir para
em razão da sua capilaridade – com a possi- zônia, hoje, é alvo de grande cobiça in- trazer turistas do exterior para os três paí-
bilidade de serem obtidas tarifas mais bai- ternacional,” afirmou. Lembrou que a ses. Dividir riqueza: este é o ponto mais
xas no transporte marítimo”, afirmou. Con- tripla fronteira amazônica, com limites importante para se debater”. Concluiu, agra-
cluiu elogiando a iniciativa pioneira desse entre Brasil, Peru e Colômbia, é pouco decendo a oportunidade de se pronunciar.
projeto que poderá acontecer no Rio de explorada. “Nesta região, há uma cidade João Augusto de Souza Lima agrade-
Janeiro. Fernando Vasconcelos de Sá brasileira em desenvolvimento chama- ceu e disse que, na condição de Presiden-
retornou a palavra e concluiu sua apresen- da Benjamin Constant, e outra se de- te da FCCE, aceitava e aprovava a sugestão
tação colocando o escritório da Superin- senvolvendo lentamente graças a uma do vice-presidente. “Agora, será apenas
tendência de Marketing à disposição dos base militar, que é Tabatinga. Ali tam- uma questão logística, para que façamos
interessados em esclarecimentos. bém se encontram dois vilarejos perua- num futuro bem próximo um seminário
nos de população reduzida: Islândia e equivalente sediado e focado naquela re-
Amazônia Santa Rosa”, conta. Segundo Cláudio gião”. Desta forma, devolveu a condução
O Presidente da FCCE, João Augusto Chaves, a área necessita de investimen- do painel ao moderador. Sérgio de Mello
de Souza Lima, agradeceu as palavras de tos em turismo, já que há um grande Ferreira agradeceu a todos os palestrantes
Fernando Vasconcelos Sá e registrou a pre- fascínio pela Amazônia. Lembrou que a e abriu caminho para o painel seguinte.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 31


P A I N E L II I

A política de integração amazônica


e as relações bilaterais Brasil-Peru
O projeto de eixos de transporte multimodais vai mudar o perfil da região
ovelino Gomes Pires começou sua

J apresentação analisando questões re-


lativas à ligação terrestre do Brasil com
o Peru, que implica em obras como cons-
trução de pontes e abertura de estradas
de rodagem. Quando se trata de uma ini-
ciativa que prevê a ligação com outros pa-
íses, como a Rodovia Interoceânica, a si-
tuação fica ainda mais complexa, pois é
preciso haver interesse bilateral para a
execução das obras. No exemplo citado,
obstáculos físicos monumentais como a
Cordilheira dos Andes, que atravessa toda
a América do Sul, precisam ser vencidos.
Segundo Jovelino Gomes Pires,
hoje, as exportações brasileiras para o
Peru seguem, na sua grande maioria, por
via marítima. O restante, um percentual
pouco expressivo em relação ao total
das transações, segue por via aérea ou
terrestre, deixando claro que e a maior
dificuldade reside justamente no trans-
porte rodoviário.
“Como conclusão, podemos observar
Jovelino Gomes Pires analisou o transporte rodoviário entre os dois países. que a escassez de rodovias entre os prin-
cipais centros de comércio do Peru e as
A presença brasileira em territó- mentos Brasil-Peru, dirigido pelo áreas fronteiriças do Brasil obriga ao trans-
porte fluvial, que tem baixo custo
rio peruano se dá, principalmen- Presidente da FCCE, João Augus- operacional, mas sofre restrições de vo-
te, por meio da construção civil, to de Souza Lima. Os exposito- lume, de carga e de peso. Por isso, a con-
tinuação da ligação terrestre precisa ser
com a Rodovia Interoceânica e o res foram Jovelino Gomes Pi-
priorizada. A continuação das obras é ne-
Eixo Multimodal Amazonas do res, Presidente da Câmara de cessária para podermos nos conectar com
Norte. Como reflexo desta po- Logística da AEB (que também outros pontos do território peruano.”

lítica de aproximação, a inte- foi o moderador do painel); Fronteira agrícola


gração sul-americana se torna Gustavo Assad, Diretor Adjun- O presidente da Câmara de Logística
da AEB lembrou, também, que hoje exis-
mais factível. Estes foram os te- to da Área Internacional da te um movimento de transporte bastante
mas expostos e discutidos no pa- Odebrecht; e Carlos Sánchez expressivo pelos rios, pois a fronteira do
setor agropecuário brasileiro encostou no
inel III do Seminário Bilateral de Del Aguila, Cônsul-Adjunto do sul do Pará. Assim, com o objetivo de
Comércio Exterior e Investi- Peru no Rio de Janeiro. viabilizar novas saídas para a exportação e

32 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


dar fluidez à produção brasileira, princi- Atuação da Odebrecht no Peru
palmente de grãos, várias obras estão sen- Os números
do realizadas ao longo dos rios. Um exem-
plo é o Porto de Santarém, que hoje per- 710 km Rodovias Pavimentadas
mite o atracamento de navios Panamax, 65 km Túneis
pois tem profundidade suficiente para su-
portar cargas mais pesadas. 5 un Planta de Tratamento de Água
“Isso pode ser uma iniciativa a ser estu-
3 un Tomadas d’água
dada com autoridades peruanas, para que
o país possa transportar carga pelo Rio 242 km Canais de Irrigação
Amazonas, até Santarém. Eu digo mais: na-
1 un Sistema de Água Potável
vios que não encostam no Porto do Rio
de Janeiro vão poder atracar em Santarém”. 4 un Central Hidrelétrica
Em seguida, foi a vez de Gustavo Assad
41 km Redes de Distribuição de Água
fazer o pronunciamento em nome da
Odebrecht, representando o Presidente 2 un Represa para Armazenamento
Marcelo Odebrecht e o Diretor da Área de Água
Internacional, André Amaro da Silveira. 3 un Projeto em Mineração
“Para nós, esta é uma excelente opor-
tunidade de falar sobre atuações no exte- As principais obras
rior, principalmente no Peru, porque foi
em 1979, por meio da construção de uma
central hidrelétrica em território perua-
“ Nos nossos contratos,
realizamos programas sociais
voltados para a educação,
•Hidrelétrica de Charcani V
marco da internacionalização

•Projeto Chavimochic
no, que a Odebrecht deu início à sua atu-
ação internacional. Avaliamos nossa atua-
ção externa como bem sucedida, porque,
desde aquela época, estamos neste mer-
a saúde e o meio ambiente
G U S T AV O A S S A D N ” •Rodovia Tingo Maria-Aguaytía
•Rodovia Ilo-Desaguadero
cado de forma ininterrupta e, também, educação, saúde e meio ambiente. Áreas •Interceptor Norte
porque ela representa 85% de nosso carentes são sempre nossa prioridade,
faturamento”. para onde buscamos levar desenvolvi- •Sistema de Água Potável de Chimbote
mento”. •Projeto Olmos
Perfil da empresa Em seguida, o representante da Ode-
A Odebrecht foi fundada em 1944 e brecht exibiu um vídeo mostrando a im- •Corredor Viário Interoceânico Sul
Peru/Brasil
atua em dois segmentos: engenharia e cons- plantação de três projetos no Peru: a cons-
trução, liderada pela Construtora Norberto trução de uma hidrelétrica, de um projeto •Eixo Multimodal Amazonas Norte - IIRSA
Odebrecht. No setor petroquímico, atua
por meio de uma empresa fundada mais
recentemente e que, hoje, já conquistou
liderança na América Latina.
“Temos, ainda, duas instituições auxi-
liares: a Odebrecht Corretora e a Ode-
prev. Participando da área social, nós te-
mos a Fundação Odebrecht. O grupo
todo se norteia por princípios éticos que
conduzem sua atuação. O cliente é nos-
so foco, é ele quem encomenda a obra,
mas também nos preocupamos com a
comunidade que será atendida pela mes-
ma obra. Desenvolvemos programas na
área social, e isso fica sob a responsabili-
dade de cada contrato nosso, que prevê
aproximação com as comunidades, rea-
lizando programas sociais focados em Inaugurada em janeiro de 2006, a ponte sobre o Rio Acre liga o Brasil ao Peru.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 33


P A I N E L III

“Na realidade, quem determina a ne-


cessidade é a economia do país e os as-
pectos sociais da nação. Isso é importan-
te porque, nos 25 anos de atuação inter-
nacional da Odebrecht, nós não tivemos
nenhum único caso de obra não conclu-
ída devido à mudança de governo. Temos
que considerar que obras desse tipo le-
vam de dois a três anos de maturação, ou
seja, só se encerram num governo pos-
Odebrecht Peru terior. Dificilmente o mesmo governo Odebrecht Peru
Energia: Hidrelétrica Charcani V (125 MW), começa e conclui uma obra. Se for uma Irrigação: Projeto Especial Chavimochic,
Arequipa, 1980-1988, 1.200 integrantes, iniciativa de governo, ela corre o risco de etapas I e II, La Libertad, 1988-1997,
US$ 250 milhões. não ter continuidade. Sendo uma neces- 5.580 integrantes, US$ 574 milhões.

sidade do país, ela é independente e tem


de irrigação e de uma rodovia. Esses proje- a continuidade garantida”. suas obras internacionais. A empresa é
tos não foram consideradas propriamente A Odebrecht se orgulha de informar reconhecida mundialmente, principal-
programas de governo, mas sim empreen- que não tem nenhum caso de falta de mente no item saneamento, sendo que,
dimentos priorizados pelo governo. pagamento relativo a financiamentos de em matéria de construção de hidrelétri-

A integração
entre Brasil e
Peru
O Cônsul-Adjunto do Peru no Rio
de Janeiro, Carlos Sánchez Del
Aguila fez o pronunciamento final
do painel II e tratou dos processos
de integração comercial e física em
curso entre os dois países, elabora-
dos a partir de uma aliança estraté-
gica entre seus governantes. Segun-
do ele, esses processos têm como
antecedente a longa história de re- Carlos Sánchez Del Aguila: “aproximação entre Brasil e Peru muda a face do continente”.

lacionamentos diplomáticos do Bra- processo de integração peruano- Projeto IIRSA


sil com os países vizinhos. Em 1909, “O brasileiro é recente, e as relações
entre o os dois países se caracterizaram
Mais recentemente, como parte de
uma política de aproximação entre os pa-
Rio Branco concluiu seu trabalho sempre pela cordialidade. Acidentes geo- íses da América do Sul, foi criada a Inici-
para definir as fronteiras amazôni- gráficos, como a Cordilheira dos Andes e ativa de Integração Regional Sul-Ameri-
a Floresta Amazônica, além das grandes cana – IIRSA, que consiste na constru-
cas brasileiras e iniciou a integração distâncias entre os principais centros ur- ção de eixos multimodais com rodovias
por meio do Rio Amazonas. banos e econômicos, sempre foram obs- e hidrovias para a integração física do
táculos que impossibilitaram maiores in- continente. A IIRSA é uma iniciativa volta-
tercâmbios”. da para a estrutura regional sul-americana

34 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


cas, é considerada a primeira do mundo. dois trechos da obra (um total de 703
“Atuamos em quatro continentes, em quilômetros) participando de uma con-
19 países e temos 28.000 colaboradores. corrência internacional para constru-
Na área internacional, começamos em ção, reabilitação, operação e manuten-
1979 no Peru, e na América Latina já exe- ção da estrada.
cutamos 396 projetos. Com grande ale- Gustavo Assad citou, ainda, o projeto
gria, informamos que esse número cres- do Eixo Multimodal da Amazônia do Nor-
ce a cada ano e, no Peru, especificamente, te, também conquistado em 2005 por
temos 710km de rodovias e 65km de tú- meio de uma concessionária constituída
nel construídos. As obras de maior im- pela Odebrecht, Andrade Gutierrez e as
pacto no mercado peruano são o Corre- Odebrecht Peru empresas peruanas Gran e Montero. Tra-
dor Viário Internacional e Interoceânico Mineração: Desenvolvimento da Mina ta-se de um contrato de construção, rea-
Pacífico-Atlântico Sul e o Eixo Multi- Yanacocha, Cajamarca, 1996-2001, 1,050 bilitação, operação e manutenção de uma
modal Amazônia do Norte.” integrantes, US$ 82,7 milhões. estrada que ligará o porto de Paica, no
Esses eixos foram definidos pelos Oceano Pacífico, a um porto na Amazô-
governos dos dois países e, portanto, Assis Brasil, no Acre, foi um projeto
vêm sendo priorizados em matéria de contratado em 2005, por meio de um
apoio creditício. A ligação do território consórcio entre a Odebrecht e empre- Os passos da aproximação
peruano com a fronteira brasileira em sas peruanas. O consórcio conquistou sul-americana
Carlos Sánchez Del Aguila consi-
dera que, na segunda metade do sé-
culo XX, o relacionamento bilateral
com projetos de desenvolvimento ade- mento sustentável; convergência dos pro- girou em torno do papel desempe-
quados aos padrões físicos da América cessos de integração com o Mercosul; nhado pelo Brasil como garantidor dos
do Sul, visando a uma evolução equitativa combate ao tráfico de drogas e luta contra acordos de paz assinados no Rio de
e sustentável. a pobreza. Janeiro, que tiveram como objetivo
Os conceitos orientadores da IIRSA são O marco jurídico da aliança estratégica é equacionar as relações do Peru com
o regionalismo aberto e a construção de uma série de acordos que vão possibilitar a o Equador.
eixos de integração e desenvolvimento; integração e a complementação econômi- Em 1998, quando foi assinado o
conceitos mais amplos e mais potentes ca. Os mais importantes são: o Acordo de Acordo de Brasília, esta função teve
que o de corredor econômico, porque Complementação Econômica entre o Peru fim, fazendo com que o relaciona-
procuram gerar valor ao longo de todo o e o Mercosul, mais conhecido como ACE- mento entre Brasil e Peru adquirisse
percurso, privilegiando não só o ponto de 58; memorando sobre os entendimentos um novo caráter. O primeiro passo
saída e o ponto de destino, mas o percur- na relação física e econômica; memorando no caminho de aprofundar o relaci-
so total. A sustentabilidade econômica, com o entendimento sobre a vigilância onamento foi o Plano de Ação de
social, político-institucional e ambiental amazônica; acordo que facilita o trânsito de Lima, uma iniciativa que se concreti-
do projeto; o aumento do valor agregado produtos de ambos os países entre seus ter- zou em 1999. No ano seguinte, uma
da produção; a aplicação das tecnologias ritórios; e memorando para a promoção de reunião de presidentes da América
de comunicação e informação; a conver- comércio e investimentos, assinados pelos do Sul, em Brasília, marcou a gênese
gência pública e privada são alguns de seus ministros das relações exteriores de am- de uma política de aproximação sul-
princípios. bos os países, em fevereiro de 2005. americana, que se objetivou em 2004,
“O processo se sustenta nos esforços em Cuzco. Esta reunião teve como
Aliança estratégica de integração física, sendo este um ele- objetivo principal impulsionar a
A aliança político-estratégica entre o mento chave na procura de compe- integração política, econômica e so-
Brasil e o Peru surgiu no ano de 2003, titividade de nossos países, além de pôr cial sul-americana, por meio da mo-
com as visitas dos presidentes Alejandro em contato as regiões interiores, favore- dernização da estrutura física na re-
Toledo e Luiz Inácio Lula da Silva. Segun- cendo sua integração. Peru e Brasil estão gião, com investimentos nas áreas de
do o cônsul-adjunto do Peru no Rio de localizados no centro da América do Sul, transportes, telecomunicações e
Janeiro, sua base de sustentação reside nos sendo peças fundamentais nas conexões energia; elementos essenciais para o
seguintes pontos: complementaridade das biocêanicas e em toda articulação do con- desenvolvimento econômico e so-
economias, acesso do Peru ao Sistema de tinente”. cial e para o aumento da competi-
Vigilância da Amazônia; promoção do co- Carlos Sánchez Del Aguila afirmou, tividade de suas economias.
mércio e dos investimentos; desenvolvi- também, que o entendimento entre os

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 35


P A I N E L III

uma altitude de 3 a 4 mil metros para che-


gar ao nível do mar.
“Neste exemplo, podemos ver, tam-
bém, como funciona a transitabilidade.
Nossa idéia é melhorar as pistas da es-
trada e, a cada trecho recuperado, va-
mos liberando outro, de forma que não
haja interrupção total do trânsito em
momento algum. Inclusive, em curto
prazo, a transitabilidade já deve dar um
Odebrecht Peru início de retorno do investimento. De Odebrecht Peru
Infra-estrutura viária: Carretera Ilo- agosto de 2005 a janeiro de 2006, o trân- Saneamento: Estação de Tratamento de
Desaguadero, Puno, 1999-2000, 900 sito dos dois trechos que cuidamos Esgoto de San Bartolo, 1999-2000, 700
integrantes, US$ 71 milhões. melhorou. No primeiro, houve uma di- integrantes, US$ 27,6 milhões.

minuição de cerca de duas horas no tem-


nia brasileira. A estrada tem 900km, e ape- po de percurso e, no segundo, em cerca O representante de Odebrecht tam-
nas 103km serão construídos. O restante de três horas, o que significa economia bém revelou algumas inovações utiliza-
implica em manutenção de estradas já exis- não só de tempo, mas também de re- das nesta obra. Uma delas foi a topogra-
tentes. O maior desafio técnico é sair de cursos.” fia por laser, que permite observar deta-

Eixo Multimodal
Amazonas do Norte
“O primeiro é um multimodal que
conecta alguns portos da Colômbia, do
Equador e do Peru, no Oceano Pacífico,
com portos brasileiros de Manaus, Belém
e Macapá, voltados para o Atlântico. Este
eixo amazônico procura conseguir a união
bioceânica utilizando os principais rios da
bacia do Amazonas nos quatro países. Sua
área de influência abrange 4,5 milhões de
km2, uma população de 52 milhões de
habitantes e um PIB estimado de US$ 93
milhões. Manaus é o maior pólo industri-
al e o maior fornecedor da região e, além
disso, tem mais de 20 mil km de vias de
navegação, o que lhe permite conexão
com todo o território sem impactos
ambientais significativos”.
As principais mercadorias desse eixo
dois países gira em torno de processos amazônico são produtos eletrônicos, pe-
O Eixo Multimodal Amazonas do complementares, que passam pela inte- tróleo, gás natural, pesca, produção de
Norte acompanha a Linha do gração regional descentralizada. Uma ten- alumínio, papel, cosméticos, madeira,
Equador e vai ligar Macapá e tativa de incluir as regiões de interior que móveis, produtos do setor agro-florestal,
Belém ao Norte do Peru e ao possuem um nível de desenvolvimento fosfatos, além de material de construção,
muito inferior ao das cidades costeiras. confecções, artesanato e, também, ecotu-
litoral do Equador. Por ele serão Os eixos IIRSA que vinculam o Peru ao rismo. Segundo o cônsul-adjunto, o eixo
transportados produtos Brasil são três, mas, em sua exposição, Carlos amazônico é estratégico porque possui
eletrônicos e agroflorestais; Sánchez Del Aguila tratou principalmente uma grande quantidade de recursos não
petróleo; gás natural; e pescado. de dois deles: o Eixo Multimodal Amazonas renováveis, como petróleo e gás, urânio,
do Norte e o Eixo Peru, Brasil e Bolívia. ouro e ferro. Além disso, contém 20% da

36 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


lhes muito apurados da região, viabi- pecificamente a uma demanda feita por tividade e a capacidade brasileira na solu-
lizando um traçado da estrada muito mais um contrato comercial, mas ela tem todo ção de negócios.
interessante em matéria de dirigibilidade o envolvimento com a sociedade e a co- “Ao reforçar a imagem de um país de
e de economia. munidade. Uma obra só pode ser com- produção diversificada e competitivo, va-
pleta se ela atender a todos os requisitos loriza-se basicamente a engenharia e a
Benefícios sociais de tecnologia e engenharia e se trouxer tecnologia nacionais, porque as empre-
Gustavo Assad fez questão de ressaltar, benefícios sociais às comunidades com ela sas de engenharia não produzem bens.
em sua exposição, os benefícios sociais e envolvidas. No caso específico, há uma Em qualquer obra nossa, precisamos ad-
econômicos da integração entre os dois melhoria da infra-estrutura de transpor- quirir bens para que o serviço contrata-
países. te, pois a obra percorre parte expressiva do seja entregue ao cliente. Essa aquisi-
“Nós temos certeza de que, ao conse- do território peruano. Facilitará, também, ção, em sua grande maioria, é feita no
guirmos remover os gargalos da infra-es- o desenvolvimento turístico da região”. Brasil, razão pela qual, volto a dizer, adi-
trutura, estabelecendo uma melhor co- cionamos valor agregado à pauta de ex-
municação entre os países, com o estabe- Exportação de serviços portação brasileira. Não existe como
lecimento da ligação entre o Atlântico e o O último item abordado pelo diretor desvincular exportação de serviços de
Pacífico, vamos obter grandes benefícios da Odebrecht foi a exportação de servi- exportação de bens. Nessas duas áreas,
de ordem econômica. Procuramos, tam- ços. Ele considerou que, ao exportar um existem, hoje, 1800 empresas atuando,
bém, enfatizar os benefícios sociais do pro- serviço, a empresa está exportando e nós mantemos negócios com pratica-
jeto. Uma obra de engenharia atende es- tecnologia nacional, mostrando a competi- mente 1500 durante todo o ano.”

reserva de água doce do planeta. Tem um


grande potencial para a geração de energia
elétrica e concentra a biodiversidade da
floresta amazônica.

Eixo Peru, Brasil, Bolívia


O eixo Peru, Brasil, Bolívia, por onde
passará a Rodovia Interoceânica, engloba
sete departamentos da região Sul peruana,
dois departamentos amazônicos da Bolívia
e quatro estados brasileiro: Acre, Rondônia,
Amazonas e Mato Grosso.
Nesta região da tripla fronteira vivem
pequenas populações. Estas comunidades
são o centro de uma economia de frontei-
ra que encontra dificuldade geográfica para
o abastecimento e escoamento de produ-
tos. O objetivo do eixo é inserir estas po-
pulações no circuito econômico regional
e internacional. Ele tem uma área de in-
fluência de 3,5 milhões de km2, uma po- como a batata, o kiwi e a páprica, que já
pulação de 12,3 milhões de habitantes e tem demanda certa, identificada no Cen- O Eixo Peru Brasil Bolívia ligará
um PIB estimado de US$ 30 milhões. tro Oeste brasileiro. Porto Velho e Rio Branco a sete
As principais atividades econômicas “Temos, ainda, o negócio de gado, a departamentos da região Sul
deste eixo são a indústria de aço, o petró- construção, o negócio de pedras (escassas
leo, as atividades florestais e o turismo. na fronteira brasileira), o artesanato e a peruana e a dois departamentos
Cuzco é o maior pólo de atração turística aqüicultura. Em 2005 e 2006, duas mis- amazônicos da Bolívia. Por ele
da região. A agroindústria da soja, no Mato sões comerciais visitaram este eixo. Inici- passarão petróleo, a soja
Grosso, também é muito importante. Por ativas deste tipo permitem aprofundar o brasileira e os produtos
sua vez, a agricultura na região Sul do Peru conhecimento das possibilidades de ne-
agrícolas do Sul do Peru.
conta com uma diversidade de produtos, gócios e de intercâmbio na região”.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 37


P A I N E L III

A Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana – IIRSA, tem como objetivo o desenvolvimento físico e sustentável do continente.

Segundo Carlos Sánchez Del Aguila, um limitações provocadas pela dívida externa o Brasil para a implementação da IIRSA é fun-
outro marco importante foi a inauguração que lhes impedem de destinar novos re- damental para o desenvolvimento do interior
da ponte binacional sobre o rio Acre, em 21 cursos para esta iniciativa. dos dois países e do próprio continente.
de janeiro de 2006, com a presença dos pre- “A integração peruano-brasileira é fun-
sidentes do Peru e do Brasil. A Rodovia
Interoceânica já está concluída pelo lado bra- “ É preciso regulamentar
normas que facilitem
damental para os países andinos e para o
Mercosul. Oferece, também, uma proje-


sileiro, ficando pendente ainda sua constru- ção para o Oceano Pacífico, especialmen-
ção no território peruano. Os desafios no os fluxos de comércio te para mercados como a costa Oeste dos
processo de integração estão ligados, sobre- CARLOS SÁNCHEZ DEL AGUILAN Estados Unidos, a China, o Japão e a Aus-
tudo, à tentativa de manter a dinâmica da trália. As economias do Peru e do Brasil
integração física, seguindo a agenda de metas “É preciso continuar explorando me- são complementares. As prospecções co-
de 2005 a 2010 do projeto IIRSA. Nesta canismos financeiros inovadores. É impor- merciais mostraram isso. Temos que se-
agenda estão priorizadas as implementações tantíssimo, também, desenvolver um sis- guir avançando para aumentar o número
de centros binacionais de atenção fronteiriça tema de transporte aéreo transfronteiriço, de negócios e, finalmente, entrarmos na
que facilitem o fluxo comercial de pessoas, que facilite o desenvolvimento dos negó- segunda etapa do processo de integração,
a continuação das obras da Rodovia Intero- cios e do turismo entre nossas regiões. É que é a articulação de transportes trans-
ceânica no lado peruano, a estrada no Eixo preciso, também, insistir na regulamenta- fronteiriços e a harmonização das normas
Multimodal Amazônia do Norte, a imple- ção das normas que orientam e facilitam que permitam o fluxo comercial. Isso é
mentação de centros logísticos avançados e os fluxos de comércio nas áreas terrestre, tudo, muito obrigado”.
a modernização dos portos das cidades de aérea e marítima, e na aplicação das O moderador Jovelino Gomes Pires
Paitas e Iurimaltas. tecnologias de informação e comunica- ressaltou, então, a importância de se esti-
Outro desafio a ser enfrentado é a aqui- ção a serviço da competitividade da mular a iniciativa privada a investir no trans-
sição de novos recursos via financiamen- integração sul-americana.” porte da região, sobretudo no fluvial. Ele
tos. Os países envolvidos no projeto en- Finalmente, o cônsul-adjunto concluiu agradeceu a participação de todos e con-
frentam restrições fiscais ou sofrem com que o processo de cooperação entre o Peru e siderou encerrado o painel.

38 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


FCCE
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimentos


Calendário 2006

20 de fevereiro RÚSSIA

20 de março ÁFRICA DO SUL

24 de abril FRANÇA

22 de maio PERU

19 de junho PORTUGAL

17 de julho CHINA

21 de agosto PANAMÁ

18 de setembro SUÉCIA

23 de outubro ESPANHA

13 de novembro FINLÂNDIA

11 de dezembro ALEMANHA

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 39


ENCERRAMENTO

Gustavo Assad, José Betancourt Riveta, Marco Carreón, Marco Aurélio Andrade e Arthur Pimentel participaram do encerramento do seminário.

Cultivar novas propostas para


colher desenvolvimento
Sessão Solene de Encerramento do nhia Docas do Rio de Janeiro; e José Luiz sidente da primeira filial da Federação das

A Seminário Bilateral de Comércio


Exterior e Investimentos Brasil-
Peru foi presidida pelo Diretor de Comér-
Lopes Teixeira Filho, Superintendente de
Marketing da Companhia Docas do Rio
de Janeiro.
Câmaras de Comércio Exterior, no Ama-
zonas, com quem tivemos a honra de con-
viver durante a inauguração.”
cio Exterior do Ministério do Desenvol- O presidente da sessão iniciou sua fala Finalmente, o presidente da sessão fez
vimento, Indústria e Comércio Exterior destacando a contribuição de todas estas um agradecimento especial ao Secretário-
– MDIC, Arthur Pimentel, representan- personalidades ao seminário e falou so- Geral da Câmara de Comércio Brasil-Peru,
do o Ministro de Estado, interino, do bre a atuação da Odebrecht no exterior: Marco Aurélio de Andrade e, também, ao
MDIC, Ivan Ramalho. “É isto mesmo, nós devemos insistir em Presidente da mesma câmara, Marco Pólo
Ele chamou para compor a mesa o exportação de serviços, pois é no vácuo Moreira Leite.
Ministro José Betancourt Rivera, encar- da exportação de serviços que o país está “Eu gostaria de dizer que este tipo de
regado de negócios da Embaixada do construindo os números e a realidade da evento, um fórum desta natureza, pode
Peru no Brasil; o Ministro Marco Car- sua política de exportações”. parecer um encontro meramente insti-
reón, Cônsul-Geral do Peru no Rio de O Diretor de Comércio Exterior do tucional, mas cada um de nós, tanto da
Janeiro; Gustavo Assad, Diretor da Área MDIC, Arthur Pimentel, fez questão de esfera do governo quanto da esfera em-
Internacional da Construtora Norberto deixar registrada a presença, no seminá- presarial, sai daqui com uma idéia nova
Odebrecht; Luiz Guilherme Soares rio, do secretário de desenvolvimento e ou uma boa sugestão. Seminários como
Bomfim, Assessor Técnico da Divisão de turismo do Maranhão, “porque sabemos esse, realizado pela FCCE, têm dado um
Mercado e Ação Comercial da Compa- o interesse dos estados no comércio ex- retorno direto e é com isso que nos
nhia Docas do Rio de Janeiro; Fernando terior e na atração de investimentos. Gos- aproximarmos ainda mais dos países da
Vasconcelos de Sá, Chefe da Divisão de taria, ainda, de agradecer a participação do América Latina, que consideramos
Mercado e Ação Comercial da Compa- médico e amigo Cláudio Chaves,Vice-Pre- como irmãos.”

40 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


EM PAUTA

Pavilhões da FCCE
Histórico e origens
Federação das Câmaras de Comér-

A cio Exterior possui, desde a sua cri-


ação, no ano de 1.950, seu Pavilhão,
sua “Bandeira”, a qual representa as tradições
e os objetivos maiores de nossa FCCE;
incrementar o Comércio Bilateral, por meio
do apoio às câmaras de comércio filiadas. O
“Pavilhão” original, gironado de verde e bran-
co, apresenta, no centro, a representação do
Globo Terrestre identificando assim o cará-
ter internacional do comércio (fig. A). Esse Fig. A: O pavilhão original, utilizado a partir
Globo é ladeado por ramos de café e cana- de 1.932, e “restaurado” em 1.950.
de-açúcar, sugerindo a nacionalidade,
encimados pelo caduceu do deus grego Figs.B e C: propostas finalistas do concurso
Hermes, conhecido na mitologia romana de 1.980.
como o Deus Mercúrio, filho bastardo de
Júpiter, patrono de todas as atividades co- mesma concepção, porém com fundo
merciais. prata, predominando as cores ouro e ne-
Esse primeiro pavilhão foi herdado pela gro (fig. E). Esse “pavilhão de honra” é,
FCCE de sua antecessora, a Federação das de acordo com o Estatuto da FCCE, pri-
Câmaras de Comércio Estrangeiras, que havia vativo do Presidente, e dos Diretores-
sido criada no ano de 1.932, desativada Conselheiros titulares do Conselho Su-
durante a II Guerra Mundial, e que depois Fig. D: Pavilhão vencedor do concurso. perior. Somente pode, e deve ser utiliza-
deu lugar à atual Federação das Câmaras do, quando na presença de um desses
de Comércio Exterior, reativada pelo membros, ou seja, é privativo dos mes-
empresário João Daudt de Oliveira, no ano mos. Essa foi a forma que a direção da
de 1.950. FCCE encontrou para homenagear e di-
Na década de 80, a diretoria da FCCE ferenciar, sobretudo, os componentes do
decidiu atualizar e modernizar esse Pavi- Conselho Superior, vitalícios, em núme-
lhão, tendo, então, promovido um “con- ro de 15, e que são, não só o orgulho da
curso” entre diversos desenhistas profis- FCCE, como principalmente a história
sionais, sobretudo aqueles com conheci- do Comercio Exterior Brasileiro. Con-
mentos sólidos em heráldica. forme dito, esse Conselho Superior é
Foram finalistas 3 propostas, (figs. B, C Fig. E: Pavilhão de honra, privativo do composto de membros vitalícios, inde-
e D) bastante parecidas, por sinal. Foram Conselho Superior e do Presidente. pendentes de mandato ou eleição e, para
submetidas ao julgamento do plenário do ele, por proposta do presidente e apro-
Conselho Deliberativo da FCCE e seus to, com as iniciais da Federação em bran- vação da Assembléia Geral, serão con-
membros decidiram pela composição atu- co, ou prata. duzidos novos membros somente quan-
al, que é: em fundo vermelho, uma estrela Na vertical, partindo do meio da estre- do da vacância por falecimento.
raiada de ouro bordada de prata (branco), la raiada, temos uma faixa preta carregada O nosso “pavilhão” é , portanto, a re-
carregada de um circulo contendo a esfera de 2 palas de branco ou prata, carregada presentação viva das tradições e do traba-
armilar em preto o branco e, em abismo, o de uma faixa menor, em vermelho. lho realizado pela FCCE ao longo de todas
desenho atualizado, modernizado, do Essa é a versão atual, oficial, do Pavi- essas décadas, e esperamos que ele conti-
caduceu-simbolo, já usado, porém de for- lhão da FCCE, que pode ser utilizado tan- nue assim representando a seriedade, a ho-
ma arcaica, no pavilhão anterior (fig.D). to na forma de bandeira como galhardete. nestidade, e a dignidade que são os princí-
O novo Pavilhão possui, ainda, nascen- A Federação utiliza, também, um “pa- pios básicos da atuação de nossa Federação
do lateralmente, uma larga faixa, em pre- vilhão de honra” que tem exatamente a das Câmaras de Comércio Exterior.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 41


TURISMO

Destino Peru
Uma diversidade impressionante de atrações seduz os visitantes brasileiros
Abrir o baú de tesouros peruanos pode
ser uma experiência encantadora para o
turista. Além da cidade perdida dos Incas,
Machu Picchu, a 2.400 metros de altura,
e rodeada por um silêncio místico, o visi-
tante pode se deslumbrar com os misté-
rios das linhas de Nazca; com as tumbas
de ouro do complexo arqueológico de
Huaca Rajada; com a antiga metrópole de
barro, próxima à cidade de Trujillo; ou,
ainda, conhecer o centro histórico e as igre-
jas da capital, Lima.
Segundo dados da Embratur, entre
1996 e 2003, o número de brasileiros que
visitou o país andino aumentou mais de
100%, passando de 19.357 para 52.812
pessoas.

As Linhas de Nazca As linhas de Nazca formam desenhos só percebidos a grandes alturas, como este beija-flor.
Em maio de 2006, arqueólogos pe-
ruanos anunciaram a descoberta do cor- Entre as fascinantes atrações peruanas de San José, a 100 km ao Sul da cidade de
po de uma jovem guerreira, mumificada destacam-se as misteriosas Linhas de Ica, uma das mais importantes do país,
há mais de 1.500 anos, pertencente à Nazca. Essas linhas são rachaduras ou sul- onde se desenvolveram algumas das mais
extinta dinastia moche. Apesar de contar cos de 20cm de profundidade, que for- representativas civilizações do antigo Peru,
com um patrimônio arqueológico rico mam imagens com cerca de 500m de ex- como Paracas e Nazca.
em tesouros já descobertos e estudados, tensão, em uma área de aproximadamen- Foram feitas há séculos, numa época em
novos achados como este estão sempre te 350km2. Entre os desenhos, podem ser que não existia avião. Como puderam ser
surgindo. É como se o Peru estivesse identificadas representações de animais desenhadas de modo a formar figuras gi-
sempre se descobrindo. Esta presença como a aranha, o macaco, o cachorro e, gantescas, identificáveis apenas de cima?
constante de surpresa e magia desperta a também, figuras de plantas e vegetais. O Houve quem levantasse a hipótese de te-
curiosidade e o instinto arqueológico de mais curioso é que ninguém sabe exata- rem sido realizadas por extra-terrestres. A
muitos turistas. mente como elas surgiram nas planícies alemã María Reiche dedicou meio século

42 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


A monumental Plaza de Armas de Cuzco é cenário para danças folclóricas (abaixo) e procissões.

Cuzco: destino preferido


O destino mais conhecido e procura-
A cerâmica (na página ao lado) impressiona do pelos turistas que visitam o país é
pela elegância, estilização dos motivos e Cuzco, a capital arqueológica da América.
diversidade.
Perto de Cuzco, na região Sudeste da Cor-
As lãs produzidas em teares manuais, com
padronagem e colorido característico,
dilheira dos Andes, fica Machu Picchu. O
podem ser encontradas em todo o país. nome é de origem quéchua e quer dizer
umbigo ou centro do mundo, para evi-
ao estudo das linhas e concluiu que se trata denciar que ali era a capital do império
de um calendário astronômico. Em 1994, Tawantinsuyo, um dos maiores centros de
depois de sucessivos trabalhos empreen- poder pré-colombianos. Durante séculos,
didos desde o início do século XX para as ruínas ficaram perdidas na selva e pu-
pesquisar e entender as origens e a maneira deram se conservar.
utilizada para produzi-las, as Linhas de Nazca Como toda cidade mística, Cuzco tam-
formam declaradas Patrimônio Cultural da bém é cercada de lendas. Uma delas con-
Humanidade pela Unesco. ta que um casal, Manco e Mama, emergiu

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 43


TURISMO

das águas do lago Titicaca a fim de mostrar


ao seu povo a melhor maneira de cultivar
a terra. Com a chegada dos espanhóis, em
1533, a região se transformou num dos
pólos do poder colonial. A arquitetura do
país ibérico se sobrepôs às pedras incas e
é impressionante ver igrejas católicas
erguidas sobre templos ancestrais. Ape-
sar disso, ainda restaram zonas arqueoló-
gicas de imenso valor. Assim, a cidade con-
ta, também, com edificações de estilo bar-
roco e renascentista. Em 1983, a região
de Cuzco foi considerada Patrimônio Cul-
tural da Humanidade.
Visitar Cuzco é como fazer uma via-
gem no tempo, em direção a uma época
na qual poesia e conflitos se juntavam em
histórias e lendas. A cidadela de Ollan-
taytambo, por exemplo, homenageia o ca-
cique Ollanta, famoso por ter conquistado
uma princesa inca, filha de Pachacútec. No Anfiteatro de Moray, civilizações pré-colombianas cultivavam 250 espécies vegetais.
Neste sítio arqueológico estão o Templo do
Sol e um local onde a amada de Ollanta queriam descobrir formas de irrigação e simbólica e magnífica das ruínas da cidade
tomava seus banhos: Los baños de la princesa. cultivo em diferentes altitudes. Segundo histórica do império inca.
Em Tipon, não muito distante do cen- os especialistas, nesta região foi testado o Para aqueles que têm mais fôlego e
tro de Cuzco, é possível entender porque cultivo de mais de 250 espécies diferen- adoram uma caminhada, uma boa manei-
os historiadores celebram as habilidades tes de vegetais. ra de alcançar a cidade é pela Estrada do
do povo inca, principalmente no trato com Inca. O percurso, de 40 km, normalmen-
a agricultura. Impressiona o domínio da Em direção à Machu Picchu te é feito em quatro dias. O visitante avan-
técnica do escoamento de água por meio Além de mapas, guias ou dicas de via- ça por diferentes níveis de altitude e passa
de aquedutos, para citar apenas uma faça- gens, muitos turistas gostam de levar na pelas cidades de pedra de Phuyupatamarca
nha da engenharia. É importante ter em mochila as impressões de poetas ou cro- e Wiñay Wayna, além de outros 16 sítios
mente que a tecnologia utilizada pelos nistas sobre as regiões visitadas. O poema arqueológicos. Este é, sem dúvida, um dos
incas remonta há mais de quinhentos anos. “Alturas de Machu Picchu”, faz parte do roteiros de trekking mais festejados da
Outro lugar fascinante é Moray e seu livro “Canto General”, publicado original- América Latina.
anfiteatro rebaixado. Estudiosos afirmam mente em 1950 pelo poeta chileno Pablo Além do poeta chileno, que usava as pa-
que o local era largamente utilizado para Neruda, Prêmio Nobel de Literatura. Es- lavras para lutar pelo povo e pelo amor, ou-
experimentações agrícolas. Os nativos tes versos dão bem a medida da dimensão tros se encantaram com a cidade perdida dos

Na Isla de los Uros, no Titicaca, aterros e barcos de junco. O Templo do Sol (acima) é uma das atrações de Machu Picchu (à direita).

44 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 45
TURISMO

Em Chan Chan, casas, palácios e labirintos

ta, uma planta que foi cultivada pelos anti- ba também foram encontrados corpos de
gos peruanos. A outra é considerada urba- três mulheres, um chefe militar, um por-
na e tem templos, praças e mausoléus. ta-estandarte, um sentinela, um guardião
Bingham descobriu nela até um cemitério e uma criança. Ao todo, oito pessoas, além
de mulheres, o que o levou a pensar que a do soberano que foi sepultado coberto
A luxuosa tumba do Senhor de Sipán e cidade tivesse como finalidade principal o de ouro, prata e símbolos de autoridade.
seus tesouros fazem parte do Complexo culto à religião. Alguns estudiosos acredi- O museu que abriga as tumbas de ouro
Arqueológico de Huaca Rajada. tam que a região também era amplamente fica a 35 km da cidade de Chiclayo e é
utilizada como posto privilegiado para a considerado um dos principais centros de
incas. Ernesto Che Guevara também alcan- observação astronômica. arqueologia da América.
çou este destino com seu amigo Alberto Além da Estrada do Inca, pode-se, tam-
Granada, em 1952, quando tinha 23 anos, bém, chegar à cidadela a partir de Cuzco A cidade de barro
durante sua primeira viagem pelas veias aber- em uma viagem de trem que dura três O que dizer, por exemplo, de uma me-
tas da América Latina. No filme “Diários de horas. Depois, vans conduzem o visitante trópole de barro? Ela ainda existe, no Peru,
Motocicleta”, do diretor brasileiro Walter a Machu Picchu. Para os mais apressados, próximo à cidade de Trujillo. Naturalmen-
Salles Jr., é possível perceber o impacto e com maior poder aquisitivo, um heli- te, não mantém a mesma exuberância de
emocional que a vista da herança arqui- cóptero reduz bastante o tempo de subi- tempos idos, mas o que dela restou dá
tetônica dos incas causou nos dois aventu- da. Logo em frente à cidade, se descortina, para entender por que motivo o Rei Chan
reiros. soberana, a montanha Huayna Picchu. Chan (Sol Sol) decidiu ali ficar por toda a
Machu Picchu foi descoberta em 1911 eternidade. Segundo os especialistas, a ci-
por Hiran Bingham, um explorador nor- Relíquias por toda parte dade abrigava mais de 100 mil pessoas de
te-americano. Está localizada no alto de O Peru é um país que tem relíquias em diferentes classes sociais. Esta descoberta
uma montanha, a 2.400 metros de altitu- todo o seu território. Ao Norte, por exem- é justificada pelas características das
de, no centro de um cânion do rio plo, localiza-se a luxuosa tumba do Se- edificações encontradas: desde casas po-
Urubamba. Impressiona o fato de ser uma nhor de Sipán, patrimônio de destaque no pulares, até palácios. As ruínas mostram,
cidade totalmente construída com pedras complexo arqueológico de Huaca Rajada. ainda, moradias, praças, depósitos, ofici-
encaixadas, com aproveitamento de todos As escavações e o trabalho de especia- nas, ruas e labirintos. A beleza está nos
os espaços. Pode ser dividida em duas listas revelaram uma história de mais de detalhes, pois até nos muros é possível
grandes áreas. Uma delas é destinada ao 1700 anos. O Senhor de Sipán era consi- identificar minuciosas decorações em re-
armazenamento de alimentos e à agricul- derado um semi-deus e, por isso mesmo, levo, com figuras geométricas e de ani-
tura e possui escadarias e terraços própri- sua morte foi acompanhada de rituais mís- mais. A cidade foi construída a partir do
os para o cultivo de vegetais, como a bata- ticos e de sacrifícios religiosos. Na sua tum- século XII, no reinado do Grande Chimu.

46 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


mação da República do Peru, já no século A presença colonizadora do país ibé-
XIX. Lima voltaria, então, à vanguarda das rico deixou marcas e costumes em ter-
cidades da América. Atualmente, a capital ras americanas. Um exemplo é o bairro
reúne 25% de toda a população do país, de Rímac, um dos mais tradicionais de
além de concentrar dois terços de sua ati- Lima. Na região foi construída uma das
vidade econômica e industrial. Por tudo primeiras arenas de touros da América
isso, a capital é conhecida como pequeno que leva o nome de Praça de Touros de
Peru. Acho. É comum os maiores toureiros do
Uma das características marcantes do mundo se apresentarem na Feira Taurina
país é a mestiçagem. Essa mistura de raças e do Senhor dos Milagres, que acontece
crenças reflete-se na culinária e na arquite- no bairro.
tura. A igreja de La Merced é um bom Como se não faltassem motivos para
exemplo. Construída no século XVII, ela visitar as cidades peruanas, os dois gover-
se ergue majestosa no centro da cidade e nos aprovaram a isenção da apresentação
homenageia a Virgem das Mercedes, pa- de passaporte entre Brasil e Peru, como
droeira do exército peruano. A igreja abriga acontece entre os países pertencentes ao
uma das mais importantes coleções de Mercosul. Assim, fica facilitado, para os
obras de arte da época em que Lima estava brasileiros, um mergulho cultural e his-
sob o domínio dos espanhóis. tórico em terras peruanas.
feitos de barro, com detalhes em relevo.

Lima, a capital A Catedral de Lima abriga em seu interior


Conhecida como cidade dos reis e dos uma admirável coleção de pinturas e
vice-reis, Lima é cercada por templos bar- esculturas dos séculos XVII e XVIII.
rocos e renascentistas. Originalmente uma
área de pescadores, a atual capital do Peru
foi fundada em 1535. A privilegiada loca-
lização no litoral do Oceano Pacífico foi
fundamental para que a cidade concen-
trasse atividades comerciais, culturais e
políticas, tendo tornado-se a metrópole
mais importante da América espanhola.
Com a criação do Vice-Reino do Rio
da Prata, ao Sul do continente, o novo cen-
tro de poder passou a gerenciar as minas
de Potosi, no atual território boliviano. Isto
levou Lima a um processo de decadência
que só seria revertido depois da procla-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 47


HOTELARIA

Hotel Senac Grogotó. Hotel Grande Hotel São Pedro.

Grande Hotel Campos do Jordão. Hotel Ilha do Boi.

Hotéis-escola Senac Os Hotéis-Escola do Senac


• Hotel Ilha do Boi
Vivência de trabalho em ambiente de ensino Vitória – Senac/ES
• Hotel Senac Grogotó
Barbacena – Senac/MG
O crescimento e a modernização da dar esse crescimento, o Senac, além de
• Hotel Grande Hotel São Pedro
rede hoteleira nacional são hoje pilares do algumas centenas de cursos de qualifica-
Águas de São Pedro – Senac/SP
desenvolvimento do turismo no Brasil. Ao ção, habilitação e aperfeiçoamento, man-
lado de grandes complexos hoteleiros, tém seis hotéis-escola. • Grande Hotel Campos do Jordão
multiplicam-se no país estabelecimentos São instalações de primeiro nível, onde Campos do Jordão – Senac/SP
de pequeno e médio portes, financiados o aluno tem oportunidade de aprender ao
• Hotel Senac Guaramiranga –
por empreendedores nacionais. mesmo tempo em que vivencia situações
Escola de Turismo e Hospitalidade
O sucesso desses novos empreendi- reais de trabalho. Para o cliente, os hotéis-
Guaramiranga – Senac/CE
mentos hoteleiros está condicionada à escolas representam uma oportunidade
qualidade dos recursos humanos empre- de desfrutar serviços de qualidade, com • Hotel-Escola Senac Barreira Roxa
gados. Disposto a acompanhar e respal- padrão Cinco Estrelas. Natal – Senac/RN

48 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


PARCERIA

“Precisamos nos integrar com


toda a América Latina”
“Voltar os olhos para os países-irmãos; extremamente importante. Um passo mai-
estabelecer parcerias que visem ao equilí- or é a abertura do corredor bioceânico, ou
brio da região; incentivar a transferência seja, a ligação terrestre do Pacífico com o
de conhecimento; e encontrar maneiras Atlântico. Há um estudo claro de saída para
para salvaguardar as riquezas nacionais sem o Pacífico, por exemplo, pelo porto de
danos à relação comercial.” Estas são al- Cajal, no Peru, criando uma ligação que pode
gumas idéias do Presidente do Conselho ser estendida até o Porto de Sepetiba (RJ),
de Comércio Exterior da Associação Co- integrada por rotas que incluem vias ter-
mercial do Rio de Janeiro e Presidente da restres e fluviais. Enfim, esta é uma saída
Câmara de Comércio Brasil-Peru, Marco extremamente interessante, que vai per-
Pólo Moreira Leite, para o desenvolvi- mitir-nos um ganho de escala para a nossa
mento de uma América Latina vigorosa produção de soja e de minério. É uma
no cenário do comércio internacional. integração fundamental e tem que ser feita.
Nesta entrevista, ele comenta as vanta- O senhor poderia desenvolver um
gens de facilitar o acesso terrestre aos oce- pouco este tema do corredor bio-
anos Pacífico e Atlântico, para o Brasil e o ceânico? Quais são as vantagens prá-
Peru respectivamente. Ressalta, ainda, o ticas, para o Brasil, ter uma saída
papel que a Empresa Brasileira de Pesqui- Marco Pólo Moreira Leite. para o oceano Pacífico?
sa Agropecuária – Embrapa tem a desem- MPML – Haverá um escoamento da pro-
penhar no comércio entre os dois países. gócio. Por meio da Embrapa, o Brasil tem dução do Centro-Oeste brasileiro, com
possibilidades de dar uma grande ajuda custo reduzido, fretes mais baratos, saídas
Qual o panorama da relação comer- àquele país, na área das fazendas marinhas. menores e tempo de viagem mais curto
cial entre Brasil e Peru e quais as Hoje, o Brasil tem uma Secretaria de Pes- para os países da Ásia, que é um grande
perspectivas de entendimento en- ca extremamente desenvolvida e poderia, mercado nosso. A China, hoje, é um dos
tre os dois países? inclusive, fazer esta ligação. É por aí que grandes parceiros comerciais do Brasil e,
MPML – Nossa relação comercial está temos que caminhar. certamente, existindo saídas pelo Pacífi-
como sempre esteve nos últimos anos. A que modelos de interação o senhor co mais fáceis do que pelos portos tradi-
Houve, entretanto, uma melhoria e um se refere? O Acordo de Livre-Comér- cionais do Atlântico, você pode imaginar
crescimento. Há uma balança comercial cio Mercosul-Peru, por exemplo, é o que isso significaria, em termos de agili-
extremamente favorável ao Brasil. No ano uma dessas formas? dade, para esta rota do nosso comércio
passado, se não me engano, foi para mais MPML – Sem dúvida. Hoje, há um acordo exterior. Hoje, o principal é o tempo e o
de US$ 400 milhões em favor do Brasil. de livre comércio, por exemplo, assinado custo. Essas duas equações estarão resol-
Acho que o Brasil tem um papel extre- entre Estados Unidos e Peru. Esta é uma vidas com o corredor bioceânico.
mamente importante no sentido de equi- estratégia que está sendo desenvolvida cla- O senhor citou, durante o seminá-
librar sua relação com os países sul-ame- ramente pelo governo norte-americano: fa- rio, a intenção do presidente da
ricanos e de buscar uma forma mais equ- zer acordos em separado. Eu não digo que Bolívia, Evo Morales, de nacionali-
ânime de lidar com este processo. isto vá minar o Mercosul, mas dificulta nos- zar o gás boliviano. Gostaria que o
O que digo não se expressa em núme- sa integração por esta via. Por isso acho ne- senhor explicitasse um pouco mais
ros que a balança vai mostrar, porque é cessária uma ampliação das relações comer- sua posição sobre esse tema.
impossível comparar o grau de adianta- ciais entre o Mercosul, propriamente dito, e MPML – Esta é uma posição particular,
mento do Brasil, que tem um grande par- o Pacto Andino, onde questões como essas volto a dizer. Acho que temos que olhar a
que industrial, com o de nossos vizinhos. podem e devem ser aprofundadas. Bolívia como um país-irmão; um país com
Nós podemos, sim, desenvolver parceri- A construção da ponte Assis-Brasil, uma extrema pobreza, mas um país altivo e
as estratégicas que permitam o crescimen- ligando o Brasil ao Peru é um marco altaneiro. A Bolívia passa por grandes difi-
to de uma relação mais próxima com o no estreitamento das relações? culdades. Sempre passou. Isto vem desde
Peru. Vejamos, por exemplo, o agrone- MPML – Sem dúvida. Este é um passo a época da exploração do estanho, na déca-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • PERU 49


PARCERIA

da de 50. A grande riqueza deles, hoje, é o pensar, Getúlio Vargas nacionalizou o pe- cuidado com as suas fronteiras. É o ponto
gás natural. Com o gás, há uma tentativa e tróleo na época da campanha “O petróleo número um. Nós temos que ter cuidado,
um caminho para sair da pobreza e o Brasil é nosso!”. O minério do Brasil também é porque hoje há um inimigo grande e forte
deveria colaborar com isso. nosso. Não tem jeito, minério de ferro é que se chama narcotráfico. E voltamos en-
Nesse cenário, é óbvio que os interes- da Vale do Rio Doce. Isso é claro, por que tão à discussão da necessidade de que esses
ses brasileiros devem ser defendidos. Eu não? É uma forma de os países em desen- nossos países vizinhos possam melhorar
não tenho dúvida de que serão e de que volvimento se protegerem. Os países ri- sua condição de vida, a condição de vida do
haverá acordos entre o Presidente Luiz cos se protegem de outra maneira. Os seu povo. É na pobreza que se insere o
Inácio Lula da Silva e o Presidente Evo Estados Unidos subsidiam grande parte narcotráfico, esse cancro que existe em
Morales. Eu não vejo a menor possibilida- de sua produção agrícola, por exemplo, todo o mundo. Muitas grandes cidades lati-
de de isso não acontecer. O Brasil é um como a Europa também faz. no-americanas são depositárias dessa infe-
grande parceiro e um grande comprador liz ligação pobreza-narcotráfico-traficantes
do gás boliviano. Não há por que não exis-
tir uma sólida parceria entre os dois países,
e as coisas estão caminhando neste sentido.
“O Brasil é um grande
comprador do gás boliviano.
Não há por que não existir uma
e tudo mais. Até por uma questão de inteli-
gência, não podemos deixar isso aconte-
cer. E não podemos deixar isso acontecer
Acho que é preciso, também, verificar o simplesmente por causa de nosso futuro.
momento político em que essa atitude foi sólida parceria. As coisas estão Como o comércio de produtos le-
tomada. Há uma grave crise política na Bolí-
via, que Evo Morales está buscando enfren-
tar. Ele passou por um período de declínio
caminhando para isso
MARCO PÓLO MOREIRA LEITEN ” gais pode ajudar nesse cenário?
MPML – Em algumas regiões da Bolívia
foi introduzido o cultivo da soja. No Peru,
em sua popularidade, e teve que tomar uma Conversei recentemente com um em- por exemplo, a Embrapa está presente, de-
atitude. De uma forma ou de outra, não va- presário francês e ele me disse que o grau senvolvendo o plantio de cana-de-açúcar,
mos discuti-la aqui, mas não tenho a menor de financiamento da agricultura francesa é para melhorar a produção local. Isso tudo
dúvida de que a Bolívia chegará a um bom terrível. São justamente esses produtos sub- pode ser feito. São vários os caminhos.
termo na relaçãocom o Brasil e com a sidiados que vão chegar aos mercados para Nós temos, atualmente, no Peru, a
Petrobras. Não tenho a menor dúvida. competir com os nossos. Há uma compe- presença da Embrapa, da Petrobras,
O senhor considera que deve haver tição muito nítida. A maneira pela qual os da Vale do Rio Doce, da Odebrecht.
uma colaboração do governo bra- países da América do Sul estão enfrentando Que outras empresas brasileiras o
sileiro no sentido de aceitar essa na- essa questão é, a meu ver, absolutamente senhor citaria?
cionalização? correta, procurando nacionalizar seus bens MPML – Eu falo especificamente da
MPML – O governo brasileiro já acei- e seus recursos naturais. Embrapa por ela ser gestora de uma trans-
tou. Isso é irreversível. Havia uma discus- Mesmo que isso implique na expro- ferência de conhecimento que vai permi-
são sobre os interesses brasileiros que te- priação de algumas empresas? tir aos países atendidos melhorar sua pro-
rão de ser, de alguma forma, ressarcidos. MPML – Mesmo que isso implique na dução. A melhoria da produção peruana,
Está sendo discutido, não passionalmente, expropriação de uma empresa. Essa é a por exemplo, promove sua condição fi-
como foi no início, o pagamento em gás regra do jogo. É a forma como eles po- nanceira, seu nível de vida e, certamente,
ou em dinheiro. A Petrobras já demons- dem se defender. Isso nunca quer dizer tem rebatimento positivo sobre a econo-
trou que esse entendimento é do seu in- abrir mão do que foi investido. Nem isso mia brasileira, pois estimula o comércio
teresse e pode ser alcançado de diversas foi colocado pelo Presidente Evo Morales bilateral.
formas. Para mim, volto a dizer, não há ou por qualquer outro presidente latino- O Brasil dever investir, então, nos
conflito. Há um estremecimento, vamos americano. Ele pode ter se manifestado países da América do Sul?
dizer, há um tremor na relação, mas não de forma um pouco mais intempestiva, MPML – Qualquer país da América do
há nenhuma crise Brasil-Bolívia. Muito mas, em muitas ocasiões, ele demonstrou Sul vale o investimento brasileiro. É im-
menos entre a Petrobras e a sua necessi- que quer a Petrobras e que quer o Brasil portantíssimo que estejamos unidos. Sem-
dade de ser ressarcida, de continuar man- como parceiro. pre estivemos de costas para a América
tendo o gás boliviano como sua fonte de Como o senhor vê a questão das Latina e isso foi um erro histórico. Temos
abastecimento. fronteiras brasileiras na região Ama- que nos integrar. Só assim vamos conse-
Existe, hoje, um movimento de na- zônica? O senhor acha que a região guir fazer frente a um comércio internaci-
cionalização na América Latina. O é bem explorada? Ali pode ser um onal com alto grau de competição. Nesse
que isso muda na relação comercial centro de desenvolvimento brasilei- contexto, não há mais criança, nem brin-
entre Brasil e Peru? ro e dos países-irmãos? cadeira, nem amigo. É um jogo pesado. Se
MPML – Acho que esse movimento co- MPML – Eu acho que sim. Mas em pri- quisermos ter bons resultados, temos de
meçou com o próprio Brasil. Se formos meiro lugar, o Brasil precisa tomar muito estar juntos e integrados.

50 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


CULTURA

A Escola Cuzquenha de pintura:


um tesouro da América colonial
O Peru trabalha para assegurar a sobrevivência de um acervo valioso

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 51


CULTURA

A o empreenderem a colonização
da América do Sul, portugueses
e espanhóis, além da descoberta
e da exploração das riquezas mi-
nerais das diversas regiões do continente,
tinham objetivos catequéticos e visavam a
converter os povos indígenas que por ali
encontraram. Uma das ferramentas mais
utilizadas para trazer as almas pagãs à reli-
gião católica foi o ensino das artes. Desta-
cam-se a pintura e a escultura, pois privile-
giavam a imagem, recurso valioso e que
transcendia o conhecimento das línguas
locais pelos colonizadores.
Na América portuguesa, ficou famosa a
imaginária criada pelos guaranis, sob orien-
tação dos jesuítas, e cujos remanescentes
constituem o rico acervo do Museu das
Missões, localizado em Santo Ângelo, no
Rio Grande do Sul. Nada se compara, no
entanto, à pujança e à alta qualidade da cha-
mada arte cuzquenha, escola de pintura
hispano-americana que vicejou em grande
parte da costa do Pacífico, na região que
constituía o imenso Vice-Reino do Peru.
Foi com a conquista de Cuzco, em 1534,
que os espanhóis iniciaram a evangelização
dos povos incaicos, enviando para o vice-

(Página 51) Sagrada Família


com São João menino
Séc. XVI
Óleo sobre tela, 1,90m x 1,00m.
Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa
Esse tema, ao mesmo tempo sacro e
familiar, tão caro aos pintores da
Renascença, é retomado aqui por um pintor
anônimo da Escola Cuzquenha do século
XVIII. A disposição das figuras não difere
muito dos modelos europeus, mas a cortina
entreaberta, a profusa e luminosa decoração
das auréolas e das vestes das personagens
constituem-se em marca registrada da
escola. Esse óleo sobre tela pertence ao
acervo do Mosteiro de Santa Rosa, de Lima.

(Página 52) Cristo Ressuscitado


Séc. XVII, circa 1603
Óleo sobre tela, 1,90m x 1,90m.
Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa

(Página 53) Virgem com o Menino


Séc. XVI
Óleo sobre tela, 1,90m x 1,00m.
Igreja da Companhia de Jesus, Arequipa
Essas duas excelentes pinturas do padre
jesuíta italiano Bernardo Bitti, que, vindo da
Espanha, viveu 35 anos no Peru e é
considerado o primeiro mestre da Escola
Cuzquenha, ressentem-se da influência do
maneirismo europeu e atestam a alta
qualidade da arte praticada pelos
professores que a metrópole designou para
o ensino da pintura no vice-reino. São óleos
sobre tela e pertencem ao acervo da Igreja
da Companhia de Jesus, em Arequipa.

52 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


reino um grupo de religiosos artistas – tais
como o jesuíta Bernardo Bitti. O grupo de-
dicou-se à criação de obras de caráter dou-
trinário, formando escolas de pintores índi-
os e mestiços, a quem foram ensinadas a arte
do desenho e a técnica do óleo. O termo
“cuzquenho” , entretanto, não se restringe a
Cuzco – que, atualmente, é uma cidade pe-
ruana – e dá nome à produção pictórica de
vários países andinos, como Peru, Bolívia e
Equador, entre os séculos XVI e XVIII. A
denominação, que acabou batizando a pri-
meira e mais importante escola de pintura
das Américas, generalizou-se porque a cida-
de de Cuzco era a capital e o centro do Im-
pério Inca.

Uma pintura religiosa


Os temas da pintura cuzquenha são ex-
clusivamente religiosos e, curiosamente,
exploram uma temática já trabalhada pelos
pintores italianos da Idade Média, como a
dos mestres das cidades de Pisa e Siena, e a
de Fra Angélico, na primeira metade do sé-
culo XIV. Seus temas são, principalmente, as
cenas bíblicas da tradição católica, como as
que glorificam e exaltam as figuras de Jesus
Cristo, de Maria Santíssima e dos santos. São
abordadas, com freqüência, cenas que regis-
tram as glórias do Paraíso e da corte celestial,
assim como as danações e castigos verifica-
dos nas profundezas do Inferno.
Os cuzquenhos – assim como os pin-
tores da Europa pré-renascentista – igno-
ram a perspectiva e, para dar ênfase à beleza
física das figuras religiosas, agigantam os san-
tos, enquanto reduzem seus devotos a pon-
tos minúsculos nas suas telas. Para criar uma
idéia de monumentalidade, imprimem
grande volume aos mantos suntuosos que
caem dos ombros de Cristo, da Virgem e
dos santos, cujas figuras são contornadas,
ainda, por cortinas e colunas.

A Europa revisitada
Assim como ocorreria na torêutica da
Ouro Preto colonial portuguesa, os mode-
los das pinturas cuzquenhas eram estampas
gravadas e livros ilustrados que os coloniza-
dores faziam vir da Europa, o que, curiosa- esses modelos sofrem todo o tipo de meta- as cores vivas e, em obediência aos cânones
mente, aproxima suas produções das esco- morfose, resultando em obras de artes ori- do barroco, em voga na Europa seiscentista,
las bizantina, flamenga e pré-renascentista ginais, que exibem uma liberdade desconhe- as imagens distorcidas que configuram mai-
italiana. Nas mãos dos nativos, entretanto, cida dos europeus. Não dispensam, também, or dramaticidade às cenas expostas. Marca

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 53


CULTURA

A beleza que ressurge


A pintura cuzquenha corresponde,
cronologicamente, à vigência do manei-
rismo e do barroco na Europa. Com o
advento da escola neoclássica, que em-
polgou a pintura ocidental, a partir do fi-
nal do século XVIII, a temática cuzquenha,
a que não faltam os exageros e meneios
do barroco, cai em desuso e sai de moda.
É, então, que muitas de suas obras mais
representativas sofrem repinturas que as
descaracterizam e mutilam, em busca de
uma sobriedade e de proporções geomé-
tricas que nunca foram uma preocupação
de seus artistas.
As autoridades culturais do Peru, pre-
ocupadas com a sobrevivência, em boas
condições de integridade e visibilidade, de
todo o seu tesouro cuzquenho, iniciaram,
a partir da década de 80 do século XX,
um vasto programa de restauração dessas
obras. O esplêndido resultado dessa ação
meritória pode ser observado na publica-
ção “Pintura en el Virreinato del Peru”. A
obra consta de ensaios de autores sul-
americanos, espanhóis e americanos e
enfoca os diferentes momentos da evolu-
ção daquela pintura e o imenso trabalho
de fazer com que ela retornasse ao seu
esplendor original. Patrocinada pelo Ban-
co de Crédito do Peru, essa ação garantiu
a permanência, em ótimas condições, do
mais rico e mais importante acervo de pin-
tura colonial das Américas.

ÁRIES: São José e a Virgem em busca de


pousada. Evangelho de São Lucas, capítulo 2.
(Detalhe).
registrada dessa pintura é, também, a orna- gem índia, que viveu e produziu no século Séc. XVII, circa 1681
Óleo sobre tela, 1,40m x 1,84m.
mentação profusa dos seus quadros, cujos XVII, e seu contemporâneo, Juan Espinoza.
Catedral de Cuzco, Cuzco
fundos são, quase sempre, ilustrados com Eles são considerados os primeiros expo-
figuras relativas à fauna e à flora andinas, mis- entes da escola e sua pintura influi decisiva- O autor desse quadro, Diego Quispe Tito,
nasceu em Cuzco, em 1611, e é tido como
turadas a estrelas, anjos e arcanjos. mente na pintura colonial, que aumenta,
um dos expoentes da escola no século XVII.
A grande maioria dos trabalhos de pin- paulatinamente, sua celebridade e deman- É, sobretudo, famosa a série de quadros que
tura da escola cuzquenha pertence a auto- da, gerando a criação de “ateliers” que rapi- produziu relacionando os signos do Zodíaco
res cujo nome se ignora, dada a tradição damente conhecem uma etapa de prospe- com os episódios da vida de Jesus Cristo,
recebida dos povos pré-colombianos, cuja ridade e apogeu. Seja nas imagens piedosas, como nesse óleo sobre tela que está na
arte era essencialmente comunitária, ritual seja nas paisagens, esse estilo pictórico ofe- catedral de sua cidade natal. As feições
quase ameríndias do santo patriarca e a
e anônima. Os historiadores dessa arte, no rece uma gama muito particular de valores vegetação tropical do fundo do quadro
entanto, ressaltam a importância de auto- expressivos que combinam fantasia, misti- demonstram que a influência européia já
res cuja obra revela forte influência cismo, emoção e idealização de tipos, em havia sofrido uma reinterpretação por parte
flamenga, como Diego Quispe Tito, de ori- busca de uma beleza terrestre. dos artistas da colônia.

54 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


CIDADANIA

De vento em popa
Números comprovam sucesso do Mesa Brasil SESC

Principais Resultados do Programa


Mesa Brasil em 2005
14.700.095 kg de alimentos distribuídos

Atingida 123% da meta de 12.000.000 kg

riado com o desafio de combater a 495.741 pessoas atendidas por dia

C fome e o desperdício de alimen-


tos, o Programa Mesa Brasil SESC
transformou-se em um importante veícu-
2.547 empresas parceiras (doadores sistemáticos)

2.894 entidades assistidas permanentemente


lo no qual o SESC viabiliza ações sociais, 2.109 ações educativas realizadas no ano
facilitando o engajamento de diversos se-
tores nessa rede nacional de solidariedade 77.867 multiplicadores treinados nas ações
educativas no exercício
e cidadania. “O Mesa Brasil, além de com-
plementar as refeições das instituições, atua 133.099.048 atendimentos
numa perspectiva de desenvolvimento co- 137 cidades
munitário, uma vez que propõe ações soli-
dárias e socialmente responsáveis. É um Principais metas para 2006
instrumento de transformação de compor- 16.800.000 quilos de alimentos mil empresas são parceiras do SESC e do-
tamento e hábitos, em relação às empresas, distribuídos no ano adores sistemáticos do Programa. Graças
instituições sociais, voluntários e comuni- 120.000.000 refeições a uma grande mobilização o desafio de es-
dade em geral”, diz o Coordenador do Pro- tar presente em todas as capitais brasilei-
Atender 700.000 pessoas/dia
grama Willian Dimas Bezerra. ras foi cumprido em apenas oito meses, o
E os números comprovam. Só em Atender a 170 cidades que rendeu ao SESC o certificado de enti-
2005, mais de 14 mil toneladas de alimen- dade parceira do Fome Zero, entregue pelo
Capacitar 80.000 multiplicadores que
tos foram distribuídas, duas mil ações atuam nas Instituições atendidas pelos Presidente Lula em outubro de 2003.
educativas realizadas e cerca de três mil Programas nos Estados. “Quando vejo uma entidade importante
instituições beneficiadas.Tantos resultados como o SESC transformar experiências
positivos fizeram do Programa uma refe- Mesa: os produtores rurais. E a estru- regionais bem sucedidas de combate à
rência nacional no cenário de bancos de turação de uma logística própria para ar- fome em uma tarefa nacional, fico mais
alimentos e, em 2004 foi iniciada a segun- recadação de alimentos no campo ajudou otimista do que quando saí de casa hoje de
da fase do Programa, denominada “Fase a potencializar os resultados do Programa manhã”, afirmou o Presidente na ocasião.
de Interiorização”. Neste momento, o em todo o país. E as metas continuam ambiciosas: a ex-
Mesa Brasil SESC expandiu suas ativida- pectativa para o biênio 2006/2007 é supe-
des para as cidades do interior com po- Parceira que dá certo rar em 100% o resultado obtido em 2005.
tencial e infra-estrutura para o desenvol- Em todos os estados, a parceria sem- Nesta perspectiva, para este ano propõe-se
vimento de suas ações. Uma nova frente pre foi uma das mais importantes estraté- alcançar o número de dezesseis milhões e
de trabalho também foi priorizada pelo gias do Mesa Brasil SESC. Mais de duas oitocentos mil quilos de alimentos.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 55


EXPORTAÇÃO

A importância do comércio para


a economia brasileira
O ideal é compatibilizar os mercados interno e externo, afirma Lúcia Maldonado

Considerada pelos especialistas


em comércio exterior como um
dos melhores quadros de que o
Brasil dispõe nessa área, a Vice-
Presidente Executiva da Associ-
ação de Comércio Exterior do
Brasil – AEB, Lúcia Maldonado,
compareceu ao seminário pro-
movido pela Federação das Câ-
maras de Comércio Exterior.
Antes de presidir a Sessão sole-
ne de abertura do Seminário
Bilateral Brasil-Peru, ela nos
concedeu uma entrevista em
que, além de tecer considera-
ções técnicas sobre a situação
atual da nossa balança comerci-
al, falou, também, de como é
atuar em um meio predominan-
Vice-Presidente Executiva da AEB analisou a exportação de serviços para o Peru.
temente masculino.
exceção nesse universo quase intei- estar atuando nessa área desde o dia 19 de
ramente masculino. Sente-se con- fevereiro de 1973, data em que – eu ainda
Estamos aqui, na Federação das Câ- fortável? era uma estagiária – começou a minha pai-
maras de Comércio Exterior, pou- LM – Não me sinto mais como uma ex- xão pelo tema. Como se vê, foi mesmo
co antes de começarem os traba- ceção no meio ainda masculino do comér- uma paixão, porque só um sentimento
lhos do seminário dedicado ao in- cio exterior. Veja, por exemplo, quantas assim tão forte justifica o fato de eu ter
vestimento e ao comércio bilateral estagiárias dos cursos de Economia, Ad- guardado até mesmo o dia em que essa
Brasil-Peru. Uma leitura do pro- ministração e Relações Exteriores estão, relação começou. Outro privilégio é o de
grama, ou uma simples olhada no hoje, aqui. Além disso, outras mulheres, jamais ter sofrido discriminação, constran-
plenário, faz constatar que se cons- cada vez mais, têm passado a fazer parte gimento, ou qualquer outro tipo de im-
titui de homens a grande maioria desse universo, embora eu possa, reivin- pedimento para exercer plenamente o
dos participantes. A senhora é uma dicar, como um certo privilégio, o fato de meu trabalho, pelo fato de ser mulher.

56 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Fale um pouco mais dessa paixão. Diz-se das mulheres que exercem expressividade, pois, como se sabe, no
LM – Acho que ela começou quando eu uma vida profissional que, em suas mundo, exportação de serviços já é uma
me deparei, pela primeira vez na vida, vidas, ocorre uma dupla jornada realidade, mas, no Brasil, ainda é uma ex-
com um enorme relatório estatístico da de trabalho, pois, ao chegarem em pectativa, uma aspiração para o futuro.
CACEX, de mais de dez palmos de altu- casa, sempre há muito o que fazer.
ra. Meu primeiro trabalho foi o de seg- É o seu caso? A eleição de um novo presidente da
mentar a pauta de exportação brasileira. LM – Minha jornada é tripla. Primeiro república, no Peru, pode, de algu-
Eu não sabia, sequer, o que era FOB (a porque adoro cozinhar; sou apaixonada ma forma, alterar as relações comer-
expressão Free On Board, que significa que por culinária. Não é raro que eu chegue ciais entre os dois países?
o exportador deve entregar a mercado- em casa e vá para a cozinha preparar algu- LM – Não acredito. O povo e as autorida-
ria, desembaraçada, a bordo do navio in- ma coisa para incrementar o jantar. Agora, des peruanas têm demonstrado sempre
dicado pelo importador, no porto de estou tentando entender um pouco de vi- uma perfeita consciência do papel que o
embarque). Em 1982, já profissional, nhos, que é outra aventura fascinante. Peru deve desempenhar na integração lati-
passei a trabalhar na CACEX. Daí para Como você vê, nem todas as jornadas du- no-americana, da qual, naturalmente, o
frente, a paixão só aumentou. Para mim, plas ou triplas são, assim, tão trágicas como Brasil, por seu tamanho e pujança econô-
o comércio exterior é como uma cacha- se apregoa. mica, é parte muito importante. Aliás, na
ça. Para se ter uma idéia da força desse campanha eleitoral, bastante acirrada, os
vício, confesso que, por duas vezes na
minha vida, tentei dar não exatamente
uma saída, mas uma pequena derivada,
só para provar a mim mesma que eu não
“ Brasil e Peru tem papel
fundamental a desempenhar
na integração da
candidatos não têm hostilizado o nosso país,
e acredito que não haverá surpresas na po-
lítica externa peruana.

era uma economista que só entendia de


comércio exterior e de mais nada. Dedi-
quei-me, então, por um breve tempo, à
área financeira, mas devo confessar que
América Latina
LÚCIA MALDONADON ” Seu conhecimento da realidade pe-
ruana, além de acadêmico e estatís-
tico inclui uma visita ao país. Con-
te-nos um pouco.
foi apenas por um breve tempo, pois Quais são as suas expectativas em re- LM – Eu visitei o Peru, que é um país
morri de saudade e voltei rapidinho. Tra- lação ao nosso seminário, que vai lindo. Machu Picchu é um deslumbra-
balhei muito, a vida inteira. Agora me examinar as relações comerciais e mento e a riqueza da arte cuzquenha é im-
aposentei e faço o que eu amo. financeiras entre o Brasil e o Peru? possível de avaliar e descrever. Uma re-
LM – Este seminário tem características gião magnífica, da qual pouco se fala, é a
Que tipo de atividade a senhora de- bastante interessantes. O Peru, nosso vizi- do litoral do Pacífico. E a comida? Fantás-
senvolve em sua vida profissional, nho de América Latina, sempre foi um tica! Adoro o ceviche, que é uma delícia;
atualmente? parceiro tradicional do Brasil. Em 2005, o um peixe curtido no limão, com especia-
LM – Sempre atuei na área de estudos Peru foi o vigésimo mercado mais impor- rias. Um manjar dos deuses! Há, também,
econômicos. Trabalhei na CACEX, no tante para as exportações brasileiras. Se como em toda a América Latina, uma in-
setor de promoção comercial de expor- levarmos em conta que, no ano anterior, finidade de delícias à base de milho; en-
tação, que é uma coisa gostosíssima. ele estava colocado em trigésimo segun- fim, o país tem uma culinária rica, diver-
Todo mundo fala dos Encontros de Co- do lugar, vamos verificar que houve um sificada e deliciosa.
mércio Exterior – ENCOMEX, que grande crescimento, da ordem de 48%,
hoje são considerados como uma inici- em apenas um ano. Não ocorreu, apenas, Espectadora privilegiada que sem-
ativa de pleno sucesso. O próximo – o crescimento das exportações brasilei- pre é e, muitas vezes, como agora,
que vai ser o centésimo sexto - já está ras para lá: em 2005, o Peru era o nosso parte integrante dos trabalhos de
programado para se realizar em Niterói. trigésimo segundo mercado fornecedor nossos seminários, como avalia essa
Pois bem, no primeiro encontro, eu es- e, no mesmo período de um ano, deu um série de encontros bilaterais?
tava lá; sou mãe dessa realização tão bem grande salto e passou a ser o trigésimo, LM – Bom, em primeiro lugar, gostaria
sucedida, cujo crescimento acompanhei tendo as suas vendas para o Brasil cresci- de registrar o absoluto sucesso desse um
com atenção e carinho, e que me enche do 30%. Essa balança comercial vai ser ano de atividades em que estivemos sem-
de orgulho. Para mim, portanto, co- objeto de nossa análise durante o seminá- pre juntos, passando em revista as rela-
mércio exterior é um mundo fascinan- rio, mas já podemos destacar, aqui, a cres- ções comercias brasileiras com tantos pa-
te. Ao longo do tempo eu fui me dedi- cente importância que vem assumindo o íses do mundo. Acredito que, em termos
cando um pouco mais à área tributária setor de exportação de serviços para o de resultados, não devemos ser ansiosos,
e, atualmente, na AEB, posso dizer que Peru. É uma estrada que vem sendo nem precipitados. Não devemos esperar
faço de tudo. construída, mas que já tem alguma por resultados imediatos, pois, a meu ver,

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 57


EXPORTAÇÃO

o importante é chamar a atenção para de- minimizar essa crise, porque, como se segurada firme na economia brasileira. Deu
terminados aspectos. Temos visto muita sabe, ainda existem uma série de barreiras mesmo “A César o que é de César”. Pode
gente nesses seminários promovidos pela internas ao nosso comércio exterior: um ser a conjuntura, o alinhamento favorável
Federação das Câmaras de Comércio Ex- sistema tributário muito ruim, a maior ta- dos astros, o que for, mas temos que con-
terior, que nem de longe suspeitava do xação do mundo civilizado e uma burocra- vir que deu certo e foi isso que segurou o
potencial de comércio de alguns países cia inenarrável e cujo custo, muitas vezes, emprego. O problema é que, como não
em relação ao Brasil, seja quanto à expor- ultrapassa até o do tributo. Diz-se que as havia um mercado interno bem desenvol-
tação ou à importação. Essa série de en- exportações, hoje, estão desoneradas, mas vido, e como as taxas de juros estavam estra-
contros foi, portanto, de grande impor- isso virou uma falácia. As empresas estão tosféricas, onde é que as empresas foram
tância, até mesmo para desmistificar algu- carregando créditos tributários, principal- buscar compensação? No mercado exter-
mas dessas idéias. Eu ainda espero bastan- mente na área do semi-árido. Ora, toda vez no. Ora, se matarmos nossa galinha dos
te dos que serão realizados até o final do que o governo não os devolve, está tirando ovos de ouro, haverá uma repercussão ne-
ano. Pessoalmente, posso garantir que es- capital de giro. O que é importante ressal- fasta sobre o emprego do brasileiro. Aten-
tarei aqui, atenta e disposta a aprender tar, a toda hora, é que o comércio exterior, ção: vamos continuar dando emprego para
sempre mais sobre o meu adorado cam- nesses últimos três anos, tem dado uma o nosso povo!
po do comércio exterior.

Uma mensagem final aos nossos lei-


tores.
LM – Gostaria de reiterar o quanto o co-
mércio exterior é extremamente impor-
Desburocratização do comércio
tante para nossa conjuntura. Não posso, exterior é um caminho sem volta
também, deixar de mencionar que esta-
mos atravessando um momento extrema-
mente delicado, e que é preciso rever essa Gerente de Comércio Exterior do Banco do Brasil, Rogério Fernando Lot
situação, sobretudo no que toca à valori- foi o moderador do painel I do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e
zação do real. A receita, a meu ver, não
passa pela desvalorização, pois câmbio é Investimentos Brasil-Peru. Seu conhecimento dos meandros da exportação
uma coisa muito delicada, em que não se
pode mexer de uma hora para a outra.
e da importação permite-lhe esclarecer aos nossos leitores algo dessa siste-
Prefiro, portanto, propor que se adotem mática, que já foi bem mais complicada e, agora, caminha decisivamente
medidas para compensar essa valorização
do real. Algumas delas, embora ainda não para a desburocratização e a simplicidade, com ganhos em eficiência e
tenham sido adotadas, já estão sendo co- lucratividade. Sua entrevista é marcada pelo otimismo em relação ao futuro
gitadas pelo governo, como é o caso da
utilização dos recursos do Fundo de Apoio do nosso comércio exterior e pelo papel crescente que nele desempenha o
ao Trabalhador – FAT, para fornecer capi-
tal de giro àqueles setores que foram mais Banco do Brasil.
atingidos e perderam bastante competiti-
vidade. O próprio Ministro Guido Mante-
ga já mencionou que as grandes empre- Que resultados o senhor espera do sentações que são realizadas traz à tona
sas, os expoentes do nosso comércio ex- Seminário Bilateral de Comércio importantes questões que, principalmen-
terior, como a Petrobrás e a Vale do Rio Exterior e Investimentos Brasil- te para pessoas como eu que trabalham
Doce, por exemplo, poderiam trabalhar Peru? nessa área, permitem identificar os obstá-
com compensação cambial, ou seja, elas RFL – Esses seminários promovidos pela culos ao incremento das relações com as
não precisariam trazer as divisas, porque, Federação das Câmaras de Comércio Ex- diferentes nações do mundo com que re-
cada vez que entram dólares em nosso país, terior têm demonstrado ser um instru- alizamos transações comerciais. Acredito,
a relação e a taxa caem. Essas megaem- mento muito eficaz para a discussão da portanto, que também essa experiência
presas trazem muitos dólares, porque são relação comercial entre o Brasil e os di- que estamos tendo, agora, com o Peru
obrigadas a isso pela legislação atual. Isso, versos países que são nossos parceiros. será muito positiva e que, por meio das
sem falar das entradas que são promovi- Tenho acompanhado com muita atenção palavras dos expositores brasileiros e pe-
das pelo capital especulativo. A compen- a sucessão dessas discussões, país por país. ruanos, possamos diagnosticar e resolver
sação cambial ajudaria um pouco a Pude constatar que o alto nível das apre- os eventuais problemas que afligem a re-

58 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


lação comercial com esse nosso vizinho e
amigo sul-americano, com quem deve-
mos operar em perfeita sincronia.

A integração dos países latino-ame-


ricanos tem sido um sonho muito
perseguido e igualmente ameaça-
do. Como o senhor avalia os recen-
tes movimentos políticos ocorridos
na América Latina?
RFL – Confesso que tenho visto com uma
certa preocupação os recentes movimen-
tos políticos que têm ocorrido na Améri-
ca Latina. O mais importante, até então, é
que toda atividade e todo o trabalho que
vinham sendo desenvolvidos pelos diver-
sos países do continente tinham como
base um plano de integração regional da
América do Sul. Isso independia de go-
vernos, de partidos políticos, ideologias
ou facções, porque visava ao bem estar Rogério Fernando Lot: “corredores de exportação e de progresso para a América Latina”.
comunitário das populações – principal-
mente das populações que não tinham res de exportação. Essas iniciativas envol- O Banco do Brasil tem atuado na
acesso às condições econômicas mais po- vem tanto o Projeto Intermodal do Ama- conscientização do empresário bra-
sitivas em nosso continente – e estava aci- zonas, quanto o chamado Projeto Bioceâ- sileiro sobre as vantagens de expor-
ma das convicções políticas de a, b, ou c. nico, que pretende facilitar o acesso de tar seus produtos, ou age apenas
Daí a minha preocupação. Eu gostaria real- bens brasileiros ao Pacífico e de peruanos quando essas exportações já estão
mente de acreditar que movimentos polí- ao Atlântico. consumadas?
ticos desse gênero não abalassem esse pro- O Banco do Brasil tem uma presença RFL – Muito boa pergunta. O grande de-
jeto que visa a integrar toda a infra-estrutu- muito forte em nosso comércio exterior safio, atualmente, para todos os órgãos de
ra continental, com a criação de corredo- e não atua apenas no apoio ao exportador governo e para todos os órgãos formado-
res de exportação e de progresso para co- brasileiro. Consegue, também, atuar jun- res de opinião, como, por exemplo, a Fe-
munidades. to ao importador brasileiro, ou seja, aju- deração das Câmaras de Comércio Ex-
dando a exportação de países estrangei- terior que hoje nos acolhe, é o de mostrar
Que papel vem desempenhando o ros. Torna-se, portanto, fundamental que esse potencial de crescimento. Por isso, o
Banco do Brasil no nosso comércio os importadores brasileiros passem a co- banco tem-se esforçado no sentido de de-
exterior? nhecer os mecanismos de apoio de que monstrar às empresas brasileiras, por meio
RFL – A atuação internacional do Banco podem vir a dispor, para que, por exem- de treinamento – eu diria mesmo que o
do Brasil, digamos assim, confunde-se plo, importem produtos peruanos. Dis- banco tem “pegado as empresas pela mão”
com a atuação internacional de um banco pomos de escritório em Lima e conhece- – o que é câmbio; o que é comércio exte-
na América Latina. Nossa primeira agên- mos localmente os empresários do país e rior; que linhas são mais convenientes; se o
cia fora do país, no continente, foi a de suas melhores opções de crédito e finan- produto está adequado, se não está; se a
Assunção, no Paraguai. Hoje, no Peru, te- ciamento. Assim, podemos, também, ofe- embalagem satisfaz;, se o produto se encai-
mos um escritório de representação em recer nossas instalações físicas aos empre- xa nas necessidades do país a que pretende
Lima que é um dos mais atuantes de toda sários brasileiros, para que possam desen- ser exportado, ou se convém escolher um
a nossa gama de operações. Ele tem parti- volver negociações comerciais. O banco outro mais receptivo.
cipado fortemente de todas essas opera- tem feito um bom trabalho e estou muito Todo esse trabalho de formação e de
ções de financiamento aos investimentos satisfeito, pois é evidente que nós temos preparação para atuar no comércio exteri-
que visam à integração da América do Sul. um papel preponderante nesse grande or é uma das atividades básicas e fundamen-
Tem atuado fortemente no que diz res- crescimento do comércio exterior do tais que o Banco do Brasil tem desenvolvi-
peito à concessão de crédito por parte do país. O que não quer dizer, é claro, que do. Eu queria mesmo fazer um reconheci-
governo brasileiro ao governo peruano, não haja, ainda, muito por fazer. Estamos mento, aqui, de público, à Federação das
para a construção dos famosos corredo- trabalhando. Câmaras de Comércio Exterior, na pessoa

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 59


EXPORTAÇÃO

do nosso Presidente João Augusto de Sou- dos demais agentes financeiros estar pre- empresas o fato de que elas irão exportar
za Lima. Aos seminários são, também, sentes, constantemente, em eventos uma fatia de sua produção. Assim, elas vão
convidados estudantes para participarem como este, no sentido de dar divulgação compor melhor os seus custos; vão dimi-
desses fóruns de debates. Isso é que é for- e transparência a todas as possibilidades nuir seu custo unitário; vão ter melhor
mação, e só assim teremos uma cultura de de financiamento. Espera-se que as em- percepção de seus fluxos de caixa e, se o
exportação contínua em nosso país e o co- presas tenham um custo financeiro cada mercado interno melhorar, elas devem
mércio exterior deixará de ser uma pauta vez menor e, principalmente, aumentem aumentar sua produção dirigida a esse mer-
esporádica nas preocupações das nossas sua competitividade. Devemos reconhe- cado, sem deixar de cumprir seus com-
empresas. Parabéns, portanto, ao Presi- cer que ocorre, também, o desconheci- promissos com a exportação. O ideal é
dente Souza Lima por essa iniciativa tão lú- mento do empresário, que deve buscar, que aprendam a compatibilizar os merca-
cida e patriótica. junto ao Sebrae, as melhores formas de dos interno e externo.
gestão. Deve, também, reivindicar ao

“ O Banco do Brasil financia


corredores de exportação
para levar bens brasileiros
Banco do Brasil o treinamento adequado
para entender o mercado externo e seus
meandros de acesso. Torna-se nítido que,
O Banco do Brasil tem agido no sen-
tido de promover a desburocra-
tização das exportações? Ficou mais
quando a empresa compreende essa fácil exportar, de uns tempos para
ao Pacífico e peruanos soma de fatores, ela obtém um enorme cá? Por quê?
ao Atlântico
ROGÉRIO FERNANDO ” LOTN
ganho de produtividade. Ela passa a dis-
por de uma alavancagem de negócios que
resulta em um ganho de faturamento e
RFL – Estamos desburocratizando, sim.
Acho que esse é um movimento sem vol-
ta. O Banco do Brasil tem apostado mui-
O que no comércio exterior mais compensa o esforço realizado. A experi- to em soluções que passam diretamente
assusta nossos empresários e poten- ência nos diz que todas as empresas que pela internet, o que facilita bastante o tra-
ciais exportadores: a burocracia, a executaram bem esse dever de casa obti- balho, pois chega-se a todos os exporta-
insegurança quanto ao retorno, ou veram crescimento e lucratividade. dores e a empresas de qualquer nível.
a sedução do mercado interno, que Além disso, o próprio exportador inte-
é mais próximo e poderia parecer Esse boom de crescimento das expor- rage melhor e mais diretamente; passa a
bem mais seguro? tações brasileiras, ocorrido de al- fazer cotações sem intermediação e pode
RFL – A resposta a essa pergunta é com- guns anos para cá, ameaça, de algu- fechar negócios pela internet. O banco
plexa e envolve uma soma de fatores. Pri- ma forma, o abastecimento do nos-
meiramente, eu acredito, no que toca à
pequena e média empresa – não vou fa-
lar das mega-empresas, em que a cultura
so mercado interno? Chegaremos à
situação dos noruegueses, de quem
se diz que não comem bacalhau, só
“ Desburocratizar significa,
entre outras coisas, fazer
cotações sem intermediação
exportadora já está introjetada – que o o exportam?
principal gargalo é representado pelo RFL – Não. O mercado interno brasileiro e fechar negócios
desconhecimento, ou seja, elas não co-
nhecem os trâmites. Não conseguiram,
até agora, receber a massa de informa-
é muito grande e temos um PIB em torno
de US$ 700 a 800 milhões, o que repre-
senta um mercado muito forte. Não acre-
pela internet
ROGÉRIO FERNANDO ” LOTN

ções necessárias para adquirir tranqüili- dito que estejamos nem perto de qual- agregou agora a assinatura eletrônica, o
dade em seu processo de exportação. quer risco de desabastecimento. Isso po- que permite ao exportador cotar; fechar
Isso ocorre não apenas por culpa do derá ocorrer com um ou outro produto o negócio; enviar os documentos neces-
empresário, mas também indica um des- sazonal, o que vem a ser uma questão de sários digitalmente, via fax, e-mail, ou
conhecimento por parte dos órgãos re- característica pontual. scanner; assinar do seu próprio escritó-
guladores. Por exemplo: a questão tri- Há casos como o do etanol e do açúcar, rio, digitando sua senha com toda a segu-
butária é muito complexa e exige das por exemplo, cujos estoques devem ser rança – isso é criptografado e reconheci-
empresas um grau de aprofundamento uma preocupação do governo e de seus do por todas as entidades. Assim, ele re-
que lhes permita conhecer a legislação agentes, mas não há nada que ameace o cebe seu dinheiro sem precisar se en-
relativa à exportação, o que se constitui suprimento de nosso mercado interno. volver com aqueles trâmites kafkianos
em um problema que está muito acima Não vejo isso como uma preocupação e da burocracia de antigamente. Ou seja,
do dia-a-dia dessas empresas. Reconhe- acho que o que as empresas devem fazer é esse é um processo sem volta, que já ado-
ço, também, que as empresas, muitas o inverso, ou seja, não achar que só por- tamos na exportação e está em vias de ser
vezes, desconhecem até mesmo as linhas que o mercado interno melhorou um implementado nas importações. Nossa
de financiamento de que podem dispor. pouco elas devem deixar de exportar. meta é a de chegar ao maior número de
Ora, é, então, papel do Banco do Brasil e Deve fazer parte do planejamento das exportadores, e ao menor custo.

60 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


GASTRONOMIA

Ceviche
viche
A maravilha suprema de uma culinária rica e variada

variada
Se você gosta de comer bem,
nem sempre precisa ir a Paris.
Do outro lado dos Andes,
A escola de culinária francesa Cordon Bleu, a mais
prestigiada em todo o mundo, escolheu o Peru para
estabelecer sua sede na América do Sul. Surpresa? Só
para quem não conhece a gastronomia peruana, cujo
requinte e diversidade surpreendem agradavelmente os visitan-
tes desavisados, principalmente aqueles que, erroneamente, pen-
sam que toda a cozinha da América de língua espanhola se resu-
o Peru oferece uma gastronomia me aos chillis e às apimentadas tortillas, típicas do México e dos
países da América Central.
Ao contrário do que ocorre em muitos dos famosos centros
de primeira ordem. gastronômicos internacionais – como Nova Iorque – onde, para

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 61


GASTRONOMIA

comer bem, é preciso re-


correr aos grandes res-
taurantes, em Lima se
come bem em qual-
quer parte: nos res-
taurantes típicos de
comida criolla do
Sul do país; nas
cebicherias popula-
res, que se dedicam
aos frutos do mar; nas
chifas, que são restau-
rantes de comida chinesa;
ou nas parrilladas, onde se prepa-
ram assados à vista do cliente, importadas
da Argentina.

A ave que ensinou


os peruanos a cozinhar
Em todas as principais mitologias da
Diz a lenda que o história existe a figura do “mensageiro dos
Chiwake, pássaro deuses”. São importantes personagens do
mitológico da cultura mundo mágico que têm, quase sempre,
características similares: são seres simpá-
nazca, representado no vaso acima, foi
ticos, “do bem”, que possuem desenvol-
quem ensinou aos peruanos a arte de vido senso social e são extrovertidos e sen-
escolher os ingredientes e de combinar síveis. Essas qualidades tornam-nos
aromas e sabores para produzir uma confiáveis tanto aos deuses quanto aos ho-
mens que habitam a Terra. O exemplo mais
culinária “dos deuses”.
significativo no universo mítico do Oci-
dente é o do deus Hermes, da mitologia
grega. Filho de Zeus e da náiade Maia, des-
de o seu nascimento, no cume da monta-
nha Cilino, na Arcádia, deu sinais de
criatividade e empatia, tendo sido o inven-
tor da lira, com que deleitava a todos os
que o escutavam. Além disso, valendo-se
de seu dom de adivinhação, ajudava a to-
dos com sagacidade e prudência, ensinan-
do ofícios e saberes relacionados à agri-
cultura. Sendo um dos filhos prediletos
do deus supremo, a missão de Hermes
como interlocutor oficial entre os deuses
e os homens realizou-se à perfeição.
Na mitologia peruana ocorrem algu-
mas diferenças substantivas no que diz res-
peito ao mensageiro dos deuses. Embora
não lhe faltem também loquacidade, sim-
patia e inteligência, esse mensageiro não
assume uma forma humana, mas é uma
ave – de nome Chiwake – mais exatamen-
te um colibri, marcado, ainda, por ligeiros
toques de um estilo bem pessoal. Sua le-

62 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


genda remonta à região de Nazca, ao Sul quase se cozinha graças ä ação cáustica do um guisado de papas, carne e milho; o chu-
do Peru e tem cerca de 2500 anos de tra- tempero e do azedume da laranja”. pe de camarões - um caldo a que se acres-
dição oral. Conta-se que, em uma manhã Como se vê, não é um prato dos mais centa leite, grãos de milho, pedaços de
de forte inverno, quando os deuses esta- antigos da culinária do país e remonta não batata e de queijo; e as inúmeras variantes
vam formando o antigo Peru, resolveram aos primeiros tempos da conquista espa- de pratos à base de charque. Atribui-se a
atender ao pedido de seus habitantes, que nhola, como se pensava até pouco tempo, descoberta do ceviche aos soldados repu-
solicitavam maior quantidade e qualidade mas às guerras da independência, no sé- blicanos, que teriam trazido a iguaria, do
de alimentos. Os Deuses lhes enviaram, culo XIX, ao contrário de outros famosos Norte do país, às tendas onde se vendia
por intermédio de Chiwake (o mensagei- e intraduzíveis acepipes dos tempos colo- comida, em Lima.
ro dos deuses) um caldeirão mágico de niais, como a carapulca – um ensopado de Alguns gastrônomos, equivocadamen-
onde sairiam as sopas mais deliciosas já batatas, às vezes desidratadas –, o locro – te, tentam atribuir a invenção do ceviche
preparadas. Chiwake, no entanto, era tra-
vesso e brincalhão e, no caminho, perdeu
esse presente tão precioso.
Cheio de remorsos pelo seu descui-
do, a ave apresentou-se diante dos
homens e lhes disse que os
deuses queriam que eles
mesmos preparassem
seus alimentos. Ensi-
nou-lhes, então, como
escolher os ingredien-
tes, como combinar os
sabores e aromas de
mil maneiras diferentes
e como apresentá-los
com a devida harmonia. Foi
assim que os peruanos apren-
deram a cozinhar com a mesma
arte e a mesma tecnologia dos deu-
ses. Essa seria a explicação para a exce-
lência da gastronomia peruana, que seria,
afinal de contas, uma arte dos deuses...

Ceviche, o prato nacional


A abundância do pescado na costa pe-
ruana teria, forçosamente, que levar a essa
direção a gastronomia do país. Além dis-
so, o Peru não possui as vastas extensões ao povo Moche, que habitava o Norte pe-
planas onde, na Argentina e no Sul do Bra- ruano, alegando que há inúmeros regis-
sil, criam-se bovinos. Entre todos os pra- tros de que esse povo se alimentava
tos oriundos do generoso mar do Pacífi- freqüentemente com pescado cru. Esque-
co, o ceviche é a iguaria mais famosa e que O ceviche, prato mais cem-se de que o peixe cru ainda não é
é reconhecido por cerca de 70% da po- importante da rica e ceviche, pois falta-lhe importante compo-
pulação como seu prato mais representa- diversificada culinária nente, que é o limão ( ou a laranja muito
tivo. O primeiro cronista a falar dele, em peruana, segundo alguns azeda), frutos que não existiam na Améri-
1867, foi Manuel Atanásio Fuentes, que ca e, como todos os cítricos, foram trazi-
disse: “Consiste de pedaços miúdos de gastrônomos, tem origem dos pelos colonizadores espanhóis e por-
pescado ou de camarões que se deixam na cultura moche e assume tugueses, provavelmente do cabo africa-
curtir em sumo de limões ou laranjas aze- novo paladar ao incorporar no de Ceuta, e eram utilizados nas viagens
das, com muita pimenta e muito sal. Con- transoceânicas, como preventivos do ter-
o limão, trazido pelos
servam-se, assim, por algumas horas, até rível escorbuto. Certamente, algum ilu-
que o pescado se impregna da pimenta, e colonizadores espanhóis. minado pescador indígena do litoral Nor-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 63


GASTRONOMIA

te peruano aplicou sobre seu habitual peixe ção estaria bem próxima do que chama- achar que melhor mesmo será deixar o
cru o caldo do limão ou da laranja – talvez mos atualmente de marinado. Até mesmo preparo do prato para as experientes mãos
para impedir que o pescado se estragasse já se aventurou que o ceviche, em verdade, do povo que o inventou, a solução, no Rio
sob o clima muito quente da região – e não passa de uma corruptela dos vocábu- de Janeiro, pode ser prová-lo no único
inventou a iguaria, já com seus ingredien- los ingleses sea beach . Talvez, por causa de restaurante inteiramente dedicado à co-
tes básicos: peixe ou camarão, sumo de tanta polêmica, a Real Academia Espanho- mida típica peruana da cidade, o Intihuasi,
limão ou laranja, pimenta e sal. la, que é tão ciosa da pureza do idioma que fica na Rua Barão do Flamengo, 35D.
Se existe uma receita básica, incremen- castelhano, resolveu aceitar e registrar em Quanto ao acompanhamento, a pedi-
tada ou não com centenas de outros mo- seu vocabulário variadas formas de se da é preceder os generosos pedaços do
lhos e temperos, há muitas controvérsias grafar o quitute: cebiche, seviche, ceviche, petisco com goles da puríssima bebida
quanto à origem da palavra ceviche. Há ou sebiche. nacional, o pisco, uma aguardente de
quem diga que provém do espanhol cebo , Controvérsias filológicas à parte, o uvas fermentadas que pode ser tomada
que significa isca, atribuindo-lhe, portan- ceviche é mesmo o prato mais importante como aperitivo; ou, no decorrer da re-
to, uma origem ligada à pesca. Para ou- da rica e diversificada culinária peruana. feição, degustá-los intercalados com do-
tros, deriva do quíchua sipich, cuja tradu- Receita fácil de ser feita em casa, não tem ses do pisco sour – considerada a bebida
muitos mistérios, requerendo, apenas, um nacional peruana – e que tem em sua fór-
peixe de carne consistente e que não re- mula, o pisco, como base, a que se acres-
cenda a maresia, e uma boa mão na admi- centam limão, xarope de goma, clara de
nistração da pimenta e do sal. Para quem ovo, angostura e gelo.

Pisco Sour tradicional


Ingredientes:
02 doses de pisco puro
02 doses de suco de limão
01 dose de xarope
01 clara de ovo
Gelo
Angostura
Modo de Fazer:
Prepara-se o Pisco Sour colocando as
claras de ovo no liquidificador e
batendo bastante. Quando as claras
já estiverem bem batidas, adicione o
gelo até cobrir a metade do copo do
liquidificador. Depois, bata novamente
para remover um pouco e adicione o
resto dos ingredientes, exceto a
angostura, batendo até que o gelo se
desmanche. Se for necessário,
adicione um pouco de água ou corrija
a quantidade de pisco, de acordo com
o seu gosto.
Na hora de servir, coloque por cima de
cada copo três gotas de angostura

64 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


RELAÇÕES BILATERAIS

A partir do ano de 2001, a corrente de comércio peruana vem


crescendo cerca de 20% ao ano, sendo que as exportações têm
aumentado de forma mais vigorosa do que as importações.

Comércio Exterior do Peru


ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE Evolução da balança comercial do Peru
DO DEPARTAMENTO DE 1995 a 2005 – US$ bilhões

PLANEJAMENTO 18.000
E DESENVOLVIMENTO DO
16.000
COMÉRCIOEXTERIOR Exportação Importação Saldo
DA SECRETARIA DE COMÉRCIO 14.000
E XTERIOR DO MDIC 12.000

10.000
Em 2001, o Peru possuía uma cor-
rente de comércio de apenas US$ 14,3 8.000
bilhões e um déficit de US$ 303 milhões. 6.000
A partir desse ano, o comércio externo
4.000
peruano apresentou aumentos constan-
tes a uma taxa média de 20,4% ao ano. 2.000
Em 2005, a soma das importações e ex- 0
portações peruanas contabilizou US$
-2.000
29,7 bilhões, mais que o dobro da
alcançada em 2001. -4.000
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
No período citado, as exportações do Fonte: OMC
Peru cresceram de forma mais vigorosa
do que as importações. O movimento
gerou um saldo de US$ 4,7 bilhões em Exportações do Peru
2005. Esse saldo foi resultado de expor- Principais produtos – 2005 – participação %
tações de US$ 17,2 bilhões, 36,4% acima Fonte: Global Trade Atlas
do alcançado em 2004, e importações de Metais e pedras preciosas
US$ 12,5 bilhões, crescimento de 23,8% 20,2%
sobre o ano anterior. Cobre e suas obras
Em 2005, com uma participação de 12,6%
12,6 %
0,2% nas exportações mundiais, o Peru
foi o 61º maior exportador mundial. No
mesmo ano, a participação das importa-
Minérios Combustíveis
ções peruanas nas compras mundiais foi 22,6% minerais
de 0,1%, colocando o País como o 68º 9,1%
maior importador mundial.
Os minérios (cobre, molibdênio, zin-
co, chumbo, ferro dentre outros) foram Desperdícios e
resíduos alimentícios
os principais produtos exportados pelo
7,0%
Peru, com uma participação de 22,6% no.
O segundo produto mais exportado pelo Demais produtos Vestuário 5,7%
país foram os metais preciosos (ouro e 20,5%
Especiarias, café e chá 2,4%
prata), pedras preciosas e jóias, com 20,2%

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 65


RELAÇÕES BILATERAIS

Importações do Peru Importações do Peru


Principais produtos – 2005 – participação % Principais países fornecedores – 2005 – participação %

Maquinaria 20,0
Plástico Fonte: Global Trade Atlas
elétrica 6,2% Veículos 17,7
18,0
9,0% automóveis
5,3% 16,0
Máquinas e Cereais
equipamentos 4,0% 14,0
13,6%
Ferro e aço 12,0
3,4%
10,0 8,5 8,2
8,0 7,3
6,2 5,8
6,0 4,9
Demais 4,2
3,6 3,2
produtos 4,0
Combustíveis 38,8%
minerais 2,0
19,8%
0,0

sil

do r

ia

ela

ha
tina
Uni stados

Chil
Chin

ã
mb
Bra

Jap

an
ezu
a

n
dos

Equ

Alem
Colô

Arge

Ven
E
Fonte: Global Trade Atlas

do total, seguido de cobre e artigos de cobre, 12,6% do total; Exportações do Peru


combustíveis minerais, 9,1% do total; e resíduos alimentícios, Principais países de destino – 2005 – participação %
participação 7,0%.
35,0
Em 2005, 20,0% das compras peruanas foram de combustí- 30,4
Fonte: Global Trade Atlas
veis minerais. Os demais principais produtos importados pelo 30,0
país foram: máquinas e equipamentos mecânicos (participação
de 13,6% no total), máquinas e equipamentos elétricos (9,0% 25,0

do total), artigos de plástico (6,2%), veículos automotores (5,3%) 20,0


e cereais (4,0%).
O maior mercado de origem das importações peruanas são 15,0
10,9
os Estados Unidos. Em 2005, o país foi responsável por 17,7% 10,0
das compras do Peru, somando US$ 2,2 bilhões. O segundo 6,6 6,0
4,6
3,6
maior fornecedor é a China, com um total de US$ 1,1 bilhão 5,0 3,3 3,1 3,0 2,7
em exportações ao Peru. O Brasil está em terceiro e vendeu
0,0
US$ 933 milhões ao País. Em seguida, estão: Equador – res-
r

adá

ão

sil
ado

aixo
Chil
Chin

Suiç

anh

anh

Bra
Jap
Can
Equ

ponsável por US$ 914 milhões das compras peruanas, Colôm-


Esp

Alem
es B
País
bia – US$ 773 milhões, Argentina – US$ 724 milhões – e Chile
– US$ 616 milhões.
As exportações do Peru destinam-se, principalmente ao Equa- Participação do Brasil no comércio exterior do Peru
dor – 30,4% do total somando US$ 5,2 bilhões. Em seguida 2000 a 2005
estão: China – US$ 1,9 bilhão, Chile – US$ 1,1 bilhão, Canadá –
US$ 1,0 bilhão – e Suíça US$ 786 milhões. O Brasil foi o décimo Fonte: MDIC/SECEX e OMC

maior mercado de destino das exportações do Peru, totalizando


US$ 458 milhões. 2,7%
A participação das exportações brasileiras nas compras peru- 2,8%
2,8%
anas evoluiu significativamente nos últimos anos. Em 2000, o 2,6%
Brasil tinha sido responsável por 4,8% das importações do país. 3,0%
3,3%
No ano de 2005, essa participação foi de 7,5%.
Quanto às exportações peruanas, o Brasil foi destino de 2,7% 6,2%
7,5%
5,8% 5,8%
das vendas do país no último ano. Em 2001, havia participado
4,8%
com 3,3% do total das vendas do país. 3,9%

2000 2001 2002 2003 2004 2005


Importação do Peru Exportação do Peru

66 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Intercâmbio comercial entre Brasil e Peru – 2005
As vendas brasileiras para o mercado peruano cresceram subs- Intercâmbio comercial Brasil/Peru
tantivamente no comparativo 2005/2004. No ano de 2004, o Brasil 2005/ 2004 – US$ milhões FOB
exportou o equivalente a US$ 631 milhões, no ano seguinte foram
US$ 933 milhões, um aumento relativo de 47,9%. O crescimento Fonte: MDIC/SECEX
Variação % 2004/2005: 1.391
das exportações para o Peru foi muito superior ao aumento do total Exportação: 47,9%
Importação: 31,2%
das vendas brasileiras, proporcionando uma evolução, de 0,7% para Corrente de comércio: 41,9%

0,8%, na participação peruana nas exportações nacionais. 980


933
A importação brasileira de produtos peruanos também cres-
ceu de forma significativa no comparativo 2005/2004. Esse au-
631
mento foi de 31,2%, de US$ 349 milhões, em 2004, para US$
458 milhões, em 2005. Entretanto, na participação do Peru nas 458 475
349
compras nacionais permaneceu estável em 0,6%. 282
O saldo comercial bilateral, historicamente favorável ao Bra-
sil, foi de US$ 475 milhões em 2005, em termos relativos, ocor-
reu um aumento de 68,4%. Exportação Importação Saldo Corrente de
Em 2005, ocorreu pela primeira vez a superação da marca de Comércio
2005 2006
US$ 1 bilhão no comércio bilateral, chegando a registrar US$ 1,4
bilhão. Esse total representa uma expan-
são de 41,9% em relação ao alcançado no Evolução do intercâmbio comercial Brasil/Peru
ano anterior, de US$ 980 milhões. 1996/2005 – US$ milhões FOB
O crescimento da corrente de comércio
entre Brasil e Peru coincide com o período 1.000
de crescimento mais significativo das expor- Exportação Importação Saldo Comercial
900
tações e importações peruanas, ou seja, 2000
a 2005. Em 2000, o Brasil vendeu apenas 800
US$ 353 milhões ao país, em 2005, essa
soma foi quase o triplo, US$ 933 milhões. 700

O saldo comercial que havia sido de US$ 600


141 milhões, favorável ao Brasil, em 2000,
foi de US$ 475 milhões no último ano. 500
O aumento mais acentuado das expor-
400
tações destinadas ao Peru, em relação ao
total das exportações nacionais, propor- 300
cionou uma melhor colocação do País no
ranking de mercados compradores de 200

produtos brasileiros. Em 2004, o Peru foi 100


o 30º maior destino das vendas nacionais,
no ano seguinte, foi o 27º. 0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Na ALADI – Associação Latino-ame-
Fonte: MDIC/SECEX
ricana de Desenvolvimento e Integração,
exclusive países integrantes do Mercosul,
o Peru é o 5º maior comprador de produtos brasileiros, repre- Em 2005, as exportações brasileiras destinadas ao mercado
sentando 6,8% das vendas a região, de US$ 13,7 bilhões em peruano foram compostas por 84,2% de produtos industriali-
2005. O país está atrás de México, Chile, Venezuela e Colômbia. zados e 14,3% de básicos. O grupo de produto que mais cres-
Nas importações totais do Brasil, o Peru se posiciona como o ceu, no comparativo 2005/2004, foi o de itens básicos, au-
32º maior mercado de origem, duas posições acima da que ocu- mento de 125,2%, atingindo a cifra de US$ 133 milhões. Em
pou em 2004 (34º). Na ALADI, exclusive Mercosul, o País ocu- seguida vêm os manufaturados, com um crescimento de 38,7%
pa a 4ª colocação e responde por 10,1% das compras efetuadas à para um total de US$ 771 milhões. Os produtos semima-
região, de US$ 4,5 bilhões. O maior fornecedor ao Brasil nesse nufaturados apresentaram uma expansão de 5,3%, totalizando
bloco é o Chile, seguido de Bolívia e México. US$ 14 milhões em 2005.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 67


RELAÇÕES BILATERAIS

Ranking do Peru nas exportações brasileiras Ranking do Peru nas importações brasileiras
2005/2004 – US$ milhões FOB Fonte: MDIC/SECEX 2005/2004 – US$ milhões FOB

Ordem País Valor '% Part% Ordem País Valor '% Part%

2004 2005 2005/04 2004 2005 2005/04


1 1 Estados Unidos 22.741 11,8 19,2 1 1 Estados Unidos 12.851 11,6 17,5
2 2 Argentina 9.915 34,5 8,4 2 2 Argentina 6.239 12,0 8,5
4 3 China 6.834 25,6 5,8 3 3 Alemanha 6.144 21,1 8,4
3 4 Países baixos 5.283 -10,7 4,5 4 4 China 5.353 44,3 7,3
5 5 Alemanha 5,023 24,5 4,2 6 5 Japão 3.407 18,8 4,6
6 6 México 4.064 2,9 3,4 9 6 Argélia 2.838 45,9 3,9
9 7 Chile 3.612 41,9 3,1 7 7 França 2.700 18,0 3,7
8 8 Japão 3.476 25,6 2,9 5 8 Nigéria 2.652 -24,3 3,6
7 9 Itália 3.224 11,0 2,7 10 9 Coréia do Sul 2.327 34,5 3,2
30 27 Peru 933 47,9 0,8 34 32 Peru 458 31,2 0,6

Quanto aos principais itens que compõem a pauta de expor- Exportações brasileiras para o Peru por fator agregado
tações do Brasil com destino ao Peru, o mais importante é petró- 2005/2004 – US$ milhões FOB
leo em bruto. O produto representou 12,3% das vendas ao País
em 2005, US$ 115 milhões em valor. Em seguida, os principais Semimanufaturados
foram: aparelhos transmissores ou receptores, participação de Básicos 1,5%
14,3%
7,0% no total; veículos de carga, 5,2%; fio-máquina de ferro/
aço, 4,1%; polímeros de plástico, 4,0%; papel e cartão, 3,6%; Operações
especiais
chassis com motor, 3,5%; produtos laminados planos de ferro/ 1,5%
aço, 3,3%; máquinas e aparelhos para terraplanagem, 3,0%; tra-
tores, 2,5%; e automóveis de passageiros, 2,3%.
Alguns produtos apresentaram excepcional crescimento
nas vendas ao Peru e merecem destaque: máquinas e apare- Manufaturados
82,7%
lhos para fabricação de celulose (+1.583,4%, para US$ 5,1
milhões); aparelhos transmissores e receptores (+311,8%,
para US$ 65,6 milhões); petróleo em bruto (+274,4%, para
US$ 114,7 milhões); veículos de carga (+153,4%, para US$ Fonte: MDIC/SECEX
48,3 milhões); máquinas e aparelhos para terraplanagem
(+139,2%, para US$ 28,4 milhões); máquinas e aparelhos
para tratamentos de pedras (+116,2%, para US$ 6,4 milhões);
e falsos tecidos sintéticos ou artificiais (+102,5%, para US$ cam-se: preparações de produtos hortícolas (aumento de
5,4 milhões). 2.620,5%, para um total de US$ 4,8 milhões); carvão mineral
A pauta importadora brasileira de produtos peruanos é com- (de zero, em 2004, para US$ 1,3 milhão, em 2005); fios e fibras
posta por 76,2% de bens industrializados e 23,8% de básicos. O sintéticas ou artificiais (+134,1%, para US$ 2,2 milhões); catodos
grupo de produtos que mais cresceu, na comparação de 2005 de cobre (+107,0%, para US$ 152,8 milhões) e tecidos de algo-
com 2004, foi o de itens semimanufaturados, um aumento de dão (+79,5%, para US$ 481 mil).
39,9%. Os básicos cresceram 24,0%, enquanto que os manufa- São Paulo e Rio de Janeiro responderam por 62,2% das ex-
turados se expandiram em 11,4%. portações brasileiras para o Peru em 2005. A relevante participa-
Os principais produtos importados foram: catodos de co- ção do Rio de Janeiro nas vendas ao País – 19,0% do total – se
bre, participação de 33,3% na pauta; minério de zinco e con- justifica pela composição da pauta, já que o principal item expor-
centrados, 22,0%; prata em formas brutas 15,2%; chumbo em tado pelo Brasil a esse mercado é petróleo em bruto e o Estado é
formas brutas, 8,1%; chapas, fios e perfis de cobre, 6,6%; zinco o principal produtor. As exportações paulistas ao Peru – 43,2%
em bruto, 2,7%; cabos e fibras sintéticas, 1,9%; e produtos da pauta total – se concentram em produtos manufaturados. Os
hortícolas, 1,0%. principais são: máquinas e equipamentos mecânicos, veículos
Quanto aos produtos que apresentaram excepcional desem- automóveis, máquinas e equipamentos elétricos, ferro fundido e
penho no crescimento das importações advindas do Peru, desta- plástico e obras.

68 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Depois de São Paulo e Rio de Janeiro, o estado que mais ven- Principais produtos exportados pelo Brasil para o Peru
deu ao Peru foi o Rio Grande do Sul, o equivalente a 7,7% do 2005/2004 – US$ milhões FOB
total da pauta. Seguidamente estão: Paraná, com 7,0% do total;
115 Fonte: MDIC/SECEX
Amazonas, 6,6%; Minas Gerais, 3,9%; e Bahia, 3,5%.
As importações brasileiras provenientes do Peru são mais bem
distribuídas entre as unidades da federação. Entretanto, cinco es-
tados respondem pela quase totalidade da pauta, representando
94,4% do total das importações oriundas do Peru. Com uma 66

participação de 25,8%, São Paulo é o maior comprador de pro- 48


dutos peruanos, Minas Gerais está logo em segundo com 24,0% 38 37
34
do total, depois vem o Espírito Santo, com 17,6% da pauta; Santa 33 31 28
23
Catarina, 14,0%; e Amazonas, com 13,0%.
Considerando os dados de 2005, 2.459 empresas brasileiras
exportaram para o Peru. Comparando com 2004 (2.397 empre-

Laminados
Planos de
Ferro e Aço
Petróleo
em bruto

Apars. Trans./
Receptores

Veículos de
Carga

Polímeros de
Plástico

Chassis com
Motor

Máquinas para
Terraplanagem
Fio-máquina

Papel e Cartão

Tratores
sas), o número cresceu em 62 (+2,6%).
No mesmo comparativo, em 2005, 361 empresas brasileiras
importaram do Peru contra 351 em 2004 (+10 empresas, +2,8%).

Principais produtos importados pelo Brasil do Peru Estados brasileiros que mais exportam para o Peru
2005/2004 – US$ milhões FOB 2005 – US$ milhões FOB

153 Fonte: MDIC/SECEX 403 Fonte: MDIC/SECEX

101

70 178

37
30
72 65 61
12 9 5 36 36 33 32
3 3
9 8
Barras, Perfis,
Fios e Chapas
de Cobre

Cabos e Fibras
Sintéticas ou
Artificiais
Catodos de
Cobre

Minérios
de Zinco

Prata em
Formas Brutas

Chumbo em
Formas Brutas

Zinco em
Bruto

Couros e
Peles

Azeitonas em
Conserva
Preparações
de Produtos
Hortícolas

Rio Grande
do Sul

Paraná

Amazonas

Santa
Catarina
São Paulo

Rio de
Janeiro

Mato
Grosso
Minas
Gerais

Bahia

Ceará

Demais
Estados brasileiros que mais importaram do Peru Número de empresas brasileiras exportadoras e
2005 – US$ milhões FOB importadoras no comércio com o Peru
118 Fonte: MDIC/SECEX Fonte: MDIC/SECEX
110 2.459
2.397

81

64
60

351 361
6 5 4 4 4
3
Rio Grande
do Sul
Espírito
Santo
Santa
Catarina
São Paulo

Mato Grosso
do Sul

Bahia
Rio de
Janeiro
Minas
Gerais

Amazonas

Pernanbuco

Demais

2004 2005
Exportadores Importadores

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 69


CURTAS

Crédito e Cobrança no e Colômbia e propicia o o mundo. Serão debatidos, investigação da arte rupestre.
Peru desenvolvimento do turismo também, ainda este ano, Além disso, foi produzido
Nos dias 11 e 12 de de negócios. aspectos da política científica um inventário sobre a riqueza
outubro de 2006, o Peru será do país e a relação dos arqueológica local, que ainda
sede do Primeiro Congresso Ciência em Lima pesquisadores com as permanece preservada,
Nacional de Créditos e Outro evento importante universidades e com o apesar dos séculos. Um dos
Cobranças. A expectativa dos do semestre é o Encontro Estado. Outros temas já motivos que leva os
organizadores é de que esse Científico Internacional – consagrados em edições peruanos a se preocuparem
evento reúna os principais ECI, que será realizado na anteriores serão objeto de com os tesouros da
líderes da indústria peruana. capital do Peru, de 8 a 11 de debate, como ciência e humanidade, em seu
Entre as finalidades do agosto. Esta é a décima edição tecnologia da informação, território, deve-se ao fato
congresso estão a divulgação do encontro que tem como comércio exterior, destes serem um forte
das atuais tendências na área objetivos divulgar as novas comunicação, ciências chamariz turístico para o país.
de crédito e cobrança, bem descobertas do setor e agrárias, de materiais, ciência Visitantes de todas as partes
como a atualização dos mostrar à opinião pública a do mar, da saúde e ciência do mundo ali chegam para
profissionais do setor a importância da ciência. O empresarial. O evento é uma conhecer as belezas
respeito das melhores evento destaca, igualmente, forma de estimular novos ancestrais das civilizações
práticas em termos de as possibilidades na melhoria interesses e fomentar pré-colombianas.
análises financeiras, origem da qualidade de vida, além do investimentos no setor.
de créditos, administração e aumento no intercâmbio de
negociação. O evento teve idéias entre os engenheiros e Arte Rupestre
outras edições sediadas em cientistas peruanos e os De 12 a 17 de setembro
países como Brasil, Argentina profissionais da área em todo de 2006, a cidade peruana de
Trujillo será palco do
Segundo Seminário Nacional
de Arte Rupestre. Os
organizadores explicam que
o objetivo fundamental do Detalhe do motivo geométrico
simpósio é aumentar a superposto sobre um grupo de
lhamas em fuga. Macusani y
consciência da população
Corani, repositórios de Arte
sobre a importância desse Rupestre Milenar na Cordilheira
patrimônio histórico e, por de Carabaya, Puno, Peru.
conseqüência, sobre a
necessidade de implementar
A Revista dos Seminários Bilaterais de medidas de proteção. No
primeiro evento ocorrido no
Comércio Exterior e Investimento, país, com este propósito, em
organizados pela FCCE, é distribuída entre novembro de 2004, em
as mais destacadas personalidades, do Cuzco, foram reunidas mais
de 250 pessoas entre
Brasil e do exterior, que atuam no profissionais, estudantes e
Lhama de estilo naturalista
pintado na Cova Vicuñapintasha
comércio internacional. curiosos. Foram debatidas as IV. Santuário Nacional de Huayl-
diversas linhas de lay, Pasco.

Anunciar aqui é fazer chegar o seu


produto a quem realmente interessa, a
quem decide.
Procure-nos.
Tel.: 55 21 2221 9638
eduardo.teixeira@abrapress.com.br Grande Painel de Uquruyoc, dentro do Complexo Chaquicocha.
Santuário Nacional de Huayllay, Pasco.

70 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U


Expoplast Peru 2006 portos peruanos de Ilo, García, tem afirmado, em trabalho para incrementar a
O Expoplast Peru 2006 é Maratani e San Juan. A ponte pronunciamentos e corrente de comércio do
considerado o encontro mais já começou a mostrar entrevistas coletivas, que Brasil com vários países,
importante dos líderes de reflexos no comércio da acredita na formação de um inclusive o Peru.
indústrias de plástico da costa região, diminuindo o tempo bloco econômico e político Recentemente, os ministros
do Pacífico. O evento foi de transporte dos produtos na América do Sul, liderado das Relações Exteriores do
criado com a finalidade de locais. pelo Brasil. A região já tem Mercosul assinaram um
promover um movimento um projeto de integração acordo que prevê a
nacional em benefício da Energia lançado em 2004, no Peru, incorporação da Venezuela
competitividade do setor de Na solenidade de durante o mandato do ex- como membro pleno do
plásticos, mediante inauguração da ponte que liga presidente Alejandro Mercosul dentro de quatro
capacitação da mão-de-obra o Brasil e o Peru, o Toledo. Trata-se da anos. “A entrada da Venezuela
especializada para utilização Governador do Acre, Jorge Comunidade Sul- cria uma vértebra sul-
de novas tecnologias. Viana, lembrou a assinatura Americana das Nações, uma americana de integração
Previsto para acontecer entre do Termo de Compromisso união entre 12 países que muito grande”, disse o
24 e 27 de maio de 2006, o entre o seu governo e a prevê a derrubada de ministro.
evento é um marco do setor Eletronorte. O documento fronteiras econômicas e a
e já é considerado uma prevê obras de infra- criação de instituições Estudos andinos
verdadeira feira internacional. estrutura elétrica no valor de supranacionais num prazo A comunidade dos
A edição de 2004, por R$ 170 milhões que vão de 15 anos. O novo bloco países andinos tem hoje
exemplo, contou com 12 significar, na prática, mais de reúne nações com 120 milhões de
stands de diversos países, 500 quilômetros de rede de aproximadamente 360 habitantes. Usando este
entre eles Brasil, Argentina, energia. Um benefício para a milhões de pessoas, tem dado como um de seus
Portugal, México, Itália e infra-estrutura dos dois um Produto Interno Bruto principais argumentos, o
Taiwan. Segundo os países fronteiriços. total de US$ 1 trilhão, Embaixador do Peru
organizadores, o evento exportações acima de US$ Hernán-Couturier-
reuniu mais de 10 mil Parceria de sucesso 200 bilhões, e abriga cerca Mariátegui está propondo a
pessoas. A empresa brasileira de 27% da água doce de criação de uma cátedra de
Norberto Odebrecht, todo o mundo. Estudos Andinos na
Ponte entre Brasil e Peru fundada em 1945, em Universidade de Brasília
Em janeiro de 2006, foi Salvador, consta da lista das (UNB). Lauro Morhy,
inaugurada uma ponte entre 25 melhores empresas para Reitor da UNB, disse que
as cidades de Assis Brasil, no se trabalhar no Peru. A tem interesse em sediar a
Acre, e Iñapari, no Peru, a instituição iniciou sua atuação cátedra, que terá grande
primeira ligando os dois internacional justamente no impacto na aproximação
países. Presente na Peru, com a construção da acadêmica e científica entre
solenidade, o Presidente Luiz Hidrelétrica de Charcani V, os países da América
Inácio Lula da Silva afirmou em 1979. Nos anos 90, Latina. O embaixador
que a ligação sobre o Rio Acre desenvolveu a segunda etapa peruano ressaltou que o
é um símbolo da aliança do projeto Chavimochic, Brasil e o Peru detêm as
estratégica que torna realidade para irrigação de áreas áreas de floresta mais
o imenso potencial de desérticas do país. A lista das extensas da Amazônia e se
cooperação entre os países. 25 melhores empresas foi Alan García, Presidente do Peru. preocupam em conservá-
“Este é o primeiro passo para baseada em pesquisa realizada las e defendê-las: “A
a realização de um sonho pela instituição Great Place to América Latina Amazônia representa um
antigo, a ligação sul-americana Work Institute, em parceria “A América Latina e o grande desafio não só
entre o Pacífico e o Atlântico”, com o jornal peruano El Caribe representam hoje o ambiental, como também
afirmou o presidente. Com a Comercio. maior mercado para as pelas teorias de
construção da rodovia exportações brasileiras”, internacionalização da
interoceânica, será possível, Comunidade Sul- declarou o Ministro das floresta como patrimônio
por exemplo, escoar Americana das Nações Relações Exteriores Celso universal, que têm sido
produtos brasileiros pelo O novo Presidente da Amorim. Dentro desse defendidas por países do
Oceano Pacífico através dos República do Peru, Alan cenário, prioriza-se o Hemisfério Norte.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • P E R U 71


madnezz.com.br

A exportação de serviços de A atuação global da Odebrecht gera


engenharia traz divisas para o país, mais que benefícios para os países
promove exportações de pequenas e em que atua, traz desenvolvimento
médias empresas, reduz a vulnerabilidade para o Brasil. Operando há mais de 25
anos nos quatro continentes, a maior
externa nacional e, assim, colabora para
empresa de engenharia e construção da
desenvolvimento brasileiro. América Latina já acumula mais de
500 obras no exterior. São contratos
que geramexpor tações de bens eserviços
nacionais intensivos em tecnologia e,
assim, contribuem para o crescimento
econômico brasileiro.

Servindo ao desenvolvimento há mais de 60 anos

www.odebrecht.com

Potrebbero piacerti anche