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Umuarama, domingo, 5 de julho de 2009 15

CRÔNICA
O Exercício
da Crônica
O Clássico encontra o popular
por Vinícius de Moraes

Duo Bogo Parpinelli

Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz
um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado
meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou
porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino.
Senta-se ele diante de sua máquina, acende um cigarro, olha
através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato
qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da
véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa
injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de
olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo,
surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua
vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então,
em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já
bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o
inesperado.
Alguns fazem-no de maneira simples e direta, sem caprichar “Danilo ao violão e Duany”
demais no estilo, mas enfeitando-o aqui e ali desses pequenos
achados que são a sua marca registrada e constituem um tópico A noite de sábado passado, dia 27 de junho foi surpreendente. Tive a Benjamin Britten, Johannes Brahms e Georges Bizet. O violão de Danilo
infalível nas conversas do alheio naquela noite. Outros, de modo inusitada honra de assistir um recital de música clássica sem sair de Umuarama. e a voz de Duany, que não usou microfones e foi ouvida por todo teatro,
lento e elaborado, que o leitor deixa para mais tarde como um Mas seria simplório dizer que era simplesmente música clássica, o que o Duo impressionavam pela técnica apurada, e mesmo assim não deixavam de
convite ao sono: a estes se lê como quem mastiga com prazer Bogo Parpinelli apresentou no espetáculo Duas Canções foi uma ótima e lado as intenções e sentimentos da interpretação que cada canção pedia.
grandes bolas de chicletes. Outros, ainda, e constituem a maioria, criativa aplicação da estética clássica em músicas populares de vários países. Fiquei imaginando o trabalho que a Duany teve pra aprender a cantar
“tacam peito” na máquina e cumprem o dever cotidiano da crônica E foi com essa apresentação de muito bom gosto que se encerraram os eventos músicas em 4 línguas diferentes, e nenhuma delas sendo a sua língua
com uma espécie de desespero, numa atitude ou-vai-ou-racha. em comemoraçãos dos 54 anos de nossa cidade. materna, e ainda por cima cantá-las bem. Fabuloso.
Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir vida e alegria O Duo é composto pelo o violonista Danilo Bogo, natural daqui de No começo da apresentação, os ouvidos desacostumados
em seus leitores e há os tristes, que escrevem com o fito exclusivo Umuarama, bacharel em violão pela Escola de Belas Artes de Curitiba e pela assustaram com a combinação entre violão e vocal lírico, mas isso durou
de desanimar o gentio não só quanto à vida, como quanto à soprano Duany Parpinelli, paulista, formada em canto na mesma instituição. apenas alguns segundos até que tudo fizesse sentido e ganhasse o meu
condição humana e às razões de viver. Há também os modestos, Hoje ambos são alunos do mestrado em interpretação da Universidade de coração. Então a apresentação correu perfeita, até o final, quando deu
que ocultam cuidadosamente a própria personalidade atrás do Montreal, no Canadá. Isso sem contarmos o farto currículo musical dos vários vontade de pedir o bis. E mesmo sem o bis, o evento valeu cada minuto.
que dizem e, em contrapartida, os vaidosos, que castigam no anos de estrada individual deles. Foi uma felicidade ver o teatro quase cheio de pessoas, ainda mais num
pronome na primeira pessoa e colocam-se geralmente como a No repertório constaram canções populares espanholas, inglesas, evento desses. E todas saíram satisfeitas, querendo mais, eu garanto,
personagem principal de todas as situações. Como se diz que é francesas e alemãs de Fernando Sor, Joaquín Rodrigo, Willian Walton, querendo muito mais.
preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos estes
“marginais da imprensa”, por assim dizer, têm o seu papel a
cumprir. Uns afagam vaidades, outros, as espicaçam; este é lido
por puro deleite, aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o
público não dispensa a crônica, e o cronista afirma-se cada vez
Aos 68 anos morre Pina Bausch,
revolucionária coreógrafa alemã
mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro, que
tanto prazer dão depois que se come.
Coloque-se porém o leitor, o ingrato leitor, no papel do cronista.
Dias há em que, positivamente, a crônica “não baixa”. O cronista
levanta-se, senta-se, lava as mãos, levanta-se de novo, chega por Caroline Guimarães Gil
à janela, dá uma telefonada a um amigo, põe um disco na vitrola,
relê crônicas passadas em busca de inspiração - e nada. Ele sabe Terça-feira (30/06) deixa o “mundo dos mortais” Josephine Bausch (seu verdadeiro nome),
que o tempo está correndo, que a sua página tem uma hora certa que segundo a porta-voz do Teatro Wuppertal, Ursula Popp, “morreu no hospital e teve uma morte
para fechar, que os linotipistas o estão esperando com impaciência, repentina e rápida, cinco dias depois de ter um câncer diagnosticado”. No domingo (28/06), Pina
que o diretor do jornal está provavelmente coçando a cabeça e esteve em cena com sua companhia Tanztheather Wuppertal, e ao sair para ser agraciada pelos
dizendo a seus auxiliares: “É... não há nada a fazer com Fulano...” aplausos do público, mal sabiam eles que seria uma despedida definitiva. Internada no hospital para
Aí então é que, se ele é cronista mesmo, ele se pega pela gola e realizar exames, por causa de uma “fatiga intensa” não saiu mais de lá.
diz: “Vamos, escreve, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre Pina nasceu em 27 de julho de 1940 na cidade de Solingen, na Alemanha. Estudou na escola
esta cadeira que está aí em tua frente! E que ela seja bem-feita e Folkwang, em Essen. Posteriormente prosseguiu estudando a dança nos Estados Unidos, onde
divirta os leitores!” E o negócio sai de qualquer maneira. viveu três anos e estudou na Juilliard School of Music, em Nova York, de 1959 a 1962.
O ideal para um cronista é ter sempre uma os duas crônicas Polêmica, precursora de um estilo expressionista, desfez as barreiras da dança, estabelecendo
adiantadas. Mas eu conheço muito poucos que o façam. Alguns não somente um vaivém de silhuetas e movimentações, mas um jogo teatral particularmente sensitivo.
tentam, quando começam, no afã de dar uma boa impressão ao Os que ainda não assistiram as coreografias desta talentosa artista, certamente irão se espantar de
diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é um verdadeiro imediato. Talvez, irão se perguntar: em que parte do espetáculo que eles “realmente” dançam?
cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas estará Para quem espera ver piruetas e saltos com pernas esticadas, que já fiquem advertidos, esse
gastando a metade do seu ordenado em mandar sua crônica de tipo de episódio é quase que nulo nas danças de Pina Bausch. Os dançarinos riem, correm, sujam
táxi - e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo o palco com água e terra e etc. Mais do que a metodologia que a arte da dança permite, ela irá trazer
prazer em imaginar o suspiro de alívio e a correria que ela causa, ao palco, os sentimentos humanos, o que se abriga por traz do olhar do homem, os anseios, medos,
quando, tal uma filha desaparecida, chega de volta à casa paterna. contradições, o amor, o ódio, a interação masculina e feminina. Afirma a artista que o que lhe interessa
“não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move” – a motivação.
Este termo, Motivo-Ação, ou seja, os motivos que levam determinado sujeito a ter um específico
comportamento, muito estudado pela Psicologia, em diversas linhas de pensamento, causam
ERRATA: certamente uma curiosidade à cima de o simples FAZER em cena. Assim, o AGENTE causador do
O texto Feito não significa concluído: estamos em constante movimento - o que nos faz seguir por aquele e não este caminho? o que nos faz tomar uma decisão
humanização, publicado no domingo passado, sobre o livro “Assim e não outra? – é a peça chave das coreografias de Pina Bausch. Ousado de sua parte, dedicar-
Falou Zaratrusta” do filósofo Alemão Friedrich Nietzche também é de se por meio da dança - uma arte corporal e visual - aspectos que são quase invisíveis aos olhos,
autoria da escritora Caroline Guimarães Gil. mas que podem ser captados pelos outros sentidos que nos é permitido perceber o mundo. Profunda
e intensa, certamente Pina Bausch incentivou a dança a tomar novos rumos.

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