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Tecnologias sociais – caminhos para a sustentabilidade Texto e fotos: Nathália Kneipp (CQV, Secis-MCT)

Mostra de tecnologias sociais, organizada pela RTS, dissemina as informações sobre as atividades dos diversos parceiros da rede.
R
“ ede é comunicação”, sentenciou Gilberto Fujimoto (Sesc – RJ), na
2a Conferência Internacional de Tecnologia Social, realizada em
Brasília entre os dias 15 e 17 de abril, com o objetivo de aproximar os
elos da rede, criando novas oportunidades de comunicação, troca de
experiências e um desenho de agenda para ações futuras.
Fujimoto apresentou a experiência de sua instituição, com os seus sete
anos de atividades de mobilização e fortalecimento de redes
comunitárias no Rio de Janeiro. Nesses encontros mensais, descreve
que as pessoas são convidadas a se manifestar sobre “o que
procuram e o que têm a oferecer”. É com essa abordagem que muitas
parcerias bem-sucedidas começam, prosperam, são multiplicadas.
Lembrou o autor de “Making Democracy Work: Civic Traditions in
Modern Italy”, Robert Putman, para quem o sucesso da democracia
está atrelado aos elos horizontais que constróem o capital social.

Entre as características das redes, Fujimoto destacou: a


“articulação coletiva, intencional (com uma agenda), em que não
há centralidade, contando-se com fluxos horizontais de
informação”, descreveu.
Vivência da RTS
Aldalice Otterloo (Abong) narrou que a Rede de Tecnologia Social
(RTS), promotora da Conferência, surgiu com uma proposta de
mudança para o processo de desenvolvimento em que as Gilberto Fujimoto, Márcia Kumer (CEF) e Aldalice Otterloo
diferenças não são devidamente contempladas. Relatou os
desafios enfrentados para o fortalecimento de uma rede social em
ambientes onde não prevalece uma cultura do compartilhamento e
“Rede é um entrelaçamento de fios, uma
sim a da competição. nova forma de tecer o conhecimento nas
Citou a vivência da Rede em Belém, onde foi realizado o Fórum diversas áreas da ciência, espaço
Social Mundial, a interação com o Projeto Socioeducacional Inte- destinado a fortalecer processos, pois não
grado, que teve a participação de professores universitários e os existe apenas uma solução.”
da rede de ensino fundamental e médio, pais e alunos. Esses
atores conseguiram uma ação transformadora da realidade social Aldalice Otterloo
em que estavam inseridos, com ganho de qualidade de vida.
Cooperação internacional

Gustavo Crespi (International Development Research Institute – IDRC, Canadá)


descreveu os objetivos traçados para a Rede Latino-Americana para a Pesquisa
sobre Tecnologias Sociais, com ênfase na necessidade de incluir as agendas
sociais no sistema de pesquisa e desenvolvimento – “criar capacidades endóge-
nas em vez de fazer transferência de tecnologia entre Norte e Sul”, explicou.
Hernan Thomas (Universidade de Quilmes, Argentina) ressaltou que “as tecnolo-
gias são atores sociais, não são neutras e sim portadoras de sentido”. Defendeu
a necessidade de se estudar a “caixa preta da tecnologia e seu funcionamento”.
Questionou o porquê de algumas tecnologias darem certo e outras não. Citou os
exemplos do coletador de água em Chungungo, no Chile, e da rede Honey Bee
(proposta do indiano Anil Gupta), ambas iniciativas foram geradoras de expecta-
tivas que não puderam ser concretizadas. No processo de implantação e uso de
tecnologias sociais, “a cognição da sociedade em questão é imperativa”.
Gustavo Crespi, Luiz Eduardo Ruckert (Ipea), Hernan Thomas apontou a necessidade de se desenhar o mapa regional das tecnologias
Thomas e Helder Barbosa (substituto de Milton Rondó)
sociais no Brasil e observou que estas, por sua vez, ainda não são estudadas em
redes temáticas.
Helder Barbosa (MRE) expôs quais são as ações do governo brasileiro, na América
Latina e países de língua portuguesa, relacionadas ao tema do Fórum. Disse que essas
iniciativas se dão a partir das requisições feitas pelos 30 países parceiros. Lembrou que
“uma em cada 6 pessoas sobrevive com fome no mundo”. No governo Lula, com o
Programa Fome Zero, foi dada maior ênfase às estratégias estruturais, voltadas à
pesquisa e produção de alimentos e distribuição da merenda escolar gratuita nas escolas
públicas.

O Brasil trabalha em conjunto com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO), buscando multiplicar centros de tecnologia social em segurança
alimentar. Haiti, Caribe e Bolívia estão entre alguns dos beneficiários dessas iniciativas.

No âmbito da Comissão Interna de Controle da Dengue do Mercosul foram definidas as


prioridades no combate à doença e as áreas onde devem ser intensificadas as ações.
Entre várias medidas, o governo brasileiro auxiliou a Bolívia e a Argentina com a logística
do combate ao mosquito e enviou, entre recursos humanos e produtos para esse fim,
velas de andiroba, que são consideradas uma tecnologia social no combate ao mosquito
transmissor da dengue.
Participação da Secis
Flávio Cruvinel (Secis/MCT) iniciou sua apresentação com uma
homenagem ao servidor, na pessoa de Luis Fumio (FBB), um dos
muitos pioneiros nas atividades que alçaram o tema em questão a
esferas de discussão como a da 2a Conferência Internacional de
Tecnologia Social.
Cruvinel apresentou as idéias centrais de sua dissertação de
mestrado sobre tecnologias apropriadas. Apontou Gandhi como o
primeiro “tecnólogo social”, distinguiu as idéias de Schumacher para
se alcançar uma compreensão da multiplicidade de adjetivações do
termo tecnologia que têm nas “tecnologias apropriadas” e nas
“tecnologias sociais”, dois marcos históricos de “militância”. Cruvinel
Joe Valle, Secretário de Ciência e defende a inserção
Tecnologia para Inclusão Social, da idéia de “desen-
participou da cerimônia de abertura volvimento susten-
da 2a Conferência Internacional de tável” na nova con- Flávio Cruvinel, Flávio Weinstein, Rodrigo Fonseca e
Tecnologia Social, realizada no Hotel ceituação de Lynaldo Cavalcanti.
Gran Bittar, em Brasília, no dia 15 de tecnologias sociais.
abril. Rodrigo Fonseca (Finep) propôs a idéia de se
O secretário valorizou as iniciativas da Rede de trabalhar a rede como um movimento político,
Tecnologia Social e a importância de uma sem o qual não se pomoverá o caráter contra-
Conferência que tem por tema a razão de ser do hegemônico que é engendrado pela natureza
surgimento da Secis no Ministério da Ciência e participativa e diferenciada das TSs.
Tecnologia. Ressaltou as perspectivas que
Orientando de Renato Dagnino em sua tese de
o Projeto de Lei 3.449/2008 oferece à sociedade ao
doutorado sobre políticas de C&T para o
instituir uma Política Nacional de Tecnologia
desenvolvimento social, Fonseca defende uma
Social: “Já foi aprovado pela relatora e vejo
mudança na forma de se pensar desenvol-
grandes chances de se tornar efetivamente uma
vimento, com profundas alterações na agenda
lei, o que nos trará ganhos enormes”, ressaltou.
política de C&T para a nação brasileira.
Quanto ao edital de R$34,6 mi para tecnologias
socias, lançado pela Finep, o secretário Lynaldo Cavalcanti (CGEE) comentou as transformações por que passa
assegurou que a intenção é a de que esse aporte a institucionalidade do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia,
de recursos seja constante a fim de garantir o ressaltando a importância de se investir em inclusão social.
apoio a iniciativas específicas, como é o caso da
economia solidária, contemplada nesse edital.
Paradoxos da tecnologia

O filósofo canadense Andrew Feenberg ministrou uma palestra sobre o que


denomina “os cinco paradoxos da tecnologia” em relação às políticas de
desenvolvimento. Iniciou seu raciocínio com um questionamento de Heidegger: “o
pássaros voam porque têm asas ou têm asas porque voam?” Tal imagem serviu
para expressar o “paradoxo da parte e do todo”. “Os pássaros usam as asas da
mesma maneira que usamos as ferramentas? Não, eles usam as asas do mesmo
jeito que usamos a linguagem”. Nesse sentido, aproximou o conceito de tecnologia
ao da inter-relação entre animais e seus nichos. “Nicho e animal pertencem a um
todo indissociado”, mediante uma abordagem holística.
Citou o exemplo da China, em que a importação do modelo de transporte com
crescente produção de automóveis irá gerar o caos, pois nem tudo serve para todos
os contextos, destacando a dificuldade em se ver o que é mais evidente. Isso
corresponde ao “paradoxo do óbvio”, “o peixe não sabe que está molhado”, ironizou.
O “paradoxo da origem” corresponde à noção de que a tecnologia parece ter sempre
Andrew Feenberg, Escola de Tecnologia da existido. É explicada por sua função, o que embaça a visão de seu nicho e, por trás
Comunicação Simon Fraser, do Canadá. de tudo que é racional, reside uma história esquecida. Aspectos correlatos à idéia
falaciosa da tecnologia ser algo universal. O “paradoxo da ação” reporta-se à ilusão de que a ação
técnica poderia ser não-newtoniana, fugiria à terceira lei de Newton. ”A poluição retorna para
assombrar o poluidor; a nossa identidade é determinada pelo que fazemos”. O significado é alterado
pela tecnologia. Além do exemplo das mudanças do clima, citou a “tecnologização” de certos aspectos
da reprodução humana sob a ótica do paradoxo da ação. O “paradoxo do valor e do fato” tem a sua
essência na crença de que os valores são os fatos do futuro
“Os valores expressam aspectos da realidade e ao traduzi-los
em especificações as interações entre grupos se tornam mais
frequentes”. Usou uma ilustração do artista holandês Maurits
Cornelis Escher, de 1948, em que duas mãos se desenham
mutuamente e servem como analogia para mostrar o quão
interligadas estão a sociedade e a tecnologia em um processo
de co-construção, invocando um certo efeito bumerangue
(what goes around comes around). “Os grupos sociais se
formam em mundos tecnológicos e o que fazemos com a
natureza é o que fazemos para nós mesmos”, observou. Vários textos de Feenberg encontram-se
traduzidos para o português em seu site
Tecnologias sociais para o desenvolvimento rural
e combate à pobreza
Jacques Pena (FBB) apresentou as tecnologias sociais
para o desenvolvimento rural, com destaque para a
Produção Agroecológica Integrada e Sustentável
(Pais), o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e
saneamento básico para essas localidades.
Explicou que, em consonância com a missão da
Fundação Banco do Brasil, o apoio à economia
solidária entrelaçada às tecnologias sociais, visa
promover, no longo prazo, o desenvolvimento territorial
sustentável. Citou um de seus professores ao dizer
que “pobreza não é uma questão de falta de dinheiro, é
um pacote de problemas” e para resolvê-los o primeiro
passo é “estabelecer o diálogo com os atores locais
para organizar e fortalecer o capital social”.
Andrés Randazzo (Sanut, México) defendeu um
posicionamento político, um despertar de consciência
para combater a pobreza e o modelo capitalista que a
engen-
http://sanut.org/
dra. Jacques Pena, Ary Mergulhão Filho (Unesco) e Andrés Randazzo

Randazzo, cuja instituição tem por


missão a erradicação da desnutrição
infantil em áreas rurais no México,
apresentou os trabalhos referentes à
segurança alimentar, difusão de
ecotecnologias, trabalho comunitário
com tecnologias sociais para
habitação, represamento e
armazenamento de água, construção
Exemplo de casa popular, fruto de tecnologias de fogões, biodigestores e outras
sociais empregadas no México pela Sanut e estruturas que auxiliem o acesso aos
comunidades locais. As mulheres participam direitos básicos dos cidadãos em
Produção Agroecológica Integrada e
na construção dessas unidades. áreas rurais.
Sustentável (Pais)
Tecnologias sociais fazem a diferença no desenvolvimento urbano
Dalton Franco (Incubadora Afro-Brasileira - RJ) discorreu sobre as
diferenças notáveis entre o ecossistema rural, das apresentações que
antecederam a sua, e o ambiente em que se inserem as atividades do
Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH), em uma região das mais
populosas do Rio de Janeiro. “Em São João de Meriti, por exemplo, há 12 a
13 mil pessoas por Km2”, ressaltou.
Franco descreveu o público-alvo da instituição que é, preferencialmente,
composto por negros que se encontrem no universo da economia informal
urbana. “Tradicionalmente, trabalha-se com dez incubadoras, mas nós
tivemos uma demanda que correspondeu a 450 empreendimentos”,
descreveu. A instituição auxilia os participantes a desenvolverem um plano
de negócios, em que cada qual construa uma visão de mercado e
Dalton Franco, Antonio Spis e Lenart Nascimento estratégias de inserção e gestão para se conquistar e manter sua clientela.
Antonio Carlos Spis (Cut) apresentou as dimensões Lenart Nascimento (Petrobras) apresentou os trabalhos dos agentes
da Central Única dos Trabalhadores, maior ambientais, que buscam, selecionam e comercializam o lixo reciclável e
sindicato do Brasil e da América Latina e o quinto recebem, para tanto, o apoio da instituição. Entre 2005 e 2008, a Petrobras
maior do mundo. Valorizou as conquistas e investiu R$44 mi, o que resultou na formação de 98 organizações, em nove
iniciativas do governo Lula em prol do trabalhador estados e 85 municípios. Nascimento destacou a importância de fazer valer
brasileiro. o Decreto 5.940/2006 que prevê que os órgãos do governo direcionem o
material reciclável às cooperativas cadastradas.
Introduziu quais são as negociações que estão em
Foto: http://www.fomezero.gov.br/noticias/catadores-da-bahia-largam-lixao-para-trabalhar-com-reciclagem
curso para se concretizar uma parceria com a
Petrobras com um portifólio relacionado à economia
solidária. Visto que o maior gargalo dos
empreendimentos descritos na Conferência é o da
compra dos produtos produzidos, a Cut planeja
fazer uma Central de Comercialização em São
Paulo. Já compraram um prédio de três andares
para servir como sede dessa iniciativa. Estuda-se
qual seria a melhor forma de pessoa jurídica para
constituir essa empresa, bem como estão fazendo
um mapeamento sobre quais empreendimentos
teriam um perfil compatível com o dessa Central de Catadores do Pangea (Bahia) fazem a triagem do lixo reciclável.
Comercialização.
Agenda global para tecnologias sociais

Ladislau Dowbor (PUC – SP) iniciou sua apresentação com


a exibição de um gráfico em que mudança do clima, cresci-
mento populacional, emissões de CO2, abate das florestas
tropicais, extinção de espécies de animais, produção de
automóveis no mundo, uso da água, consumo de papel,
pesca, degradação da camada de ozônio, entre outras
variáveis, aparecem com um crescimento exponencial
jamais visto na história da humanidade. Sinalizações de um
porvir apocalítico. Porém, crise, para o professor da PUC
de São Paulo, é também sinônimo de oportunidade. Uma
ocasião para se repensar que tipo de desenvolvimento é
desejável no contexto mundial atual. Citou uma frase que
viu escrita por uma turma da qual foi paraninfo: “crescer
por crescer é filosofia de célula cancerosa”.

Para Dowbor, é chegado o momento de se discutir uma


democracia econômica, ou seja, o direito de todos a terem
o acesso à qualidade de vida. A crise demonstra também
que não se pode deixar nas mãos de um número reduzido
de pessoas as decisões sobre o mercado. Acredita na
Ladislau Dowbor e Juarez de Paula atuação em rede. Cita o movimento “Nossa São Paulo”,
que reuniu 530 organizações sociais e conseguiu criar
130 indicadores para a cidade de São Paulo. Para tanto, Dowbor valoriza a criação de sistemas de informação locais, para embasar
a tomada de decisão.

Juarez de Paula (Sebrae) defendeu uma prática democrática que vá além das sucessões de governo, “além da democracia para
gerir conflitos”, um aprendizado para se conviver bem uns com os outros. O tripé para que sejam aproveitadas as oportunidades do
momento de crise, na sua opinião, é a aliança estratégica entre economia solidária, tecnologias sociais e desenvolvimento local
participativo, ou seja, qualidade de vida nos territórios. Ao final do encontro, coube a Juarez ponderar sobre as ações prioritárias da
rede, que deve se fortalecer nos próximos anos, tanto em parcerias no país como no exterior. Entre os temas de destaque,
enumerou “água, energia limpa, alimentos saudáveis, habitação de baixo custo, emprego e renda”, com muita tecnologia social
nesse processo de construção de um futuro com qualidade de vida para todos os brasileiros.

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