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III Simpósio Internacional de Geografia Agrária 1

IV Simpósio Nacional de Geografia Agrária


“Jornada Orlando Valverde”
Campesinato em Movimento

10 a 14 de outubro de 2007
Londrina-Paraná-Brasil

O USO CORPORATIVO DO ESPAÇO RURAL PARANAENSE: A AÇÃO DE COOPERATIVAS E MULTINACIONAIS

ISSN 19804563

O USO CORPORATIVO DO ESPAÇO RURAL PARANAENSE: A AÇÃO DE


COOPERATIVAS E MULTINACIONAIS

SERGIO FAJARDO 1

RESUMO

O trabalho trata da territorialidade corporativa no espaço rural, resultante da ação de grandes


empresas ligadas às atividades agropecuárias e agroindustriais. Para tanto, utiliza-se, como
exemplo, dos casos das cooperativas agropecuárias e das empresas globais, as grandes
multinacionais do agronegócio (como as tradings agrícolas e as agroindústrias) que atuam
diretamente com commodities agrícolas desde o processo de produção até a comercialização e
industrialização dos grãos. A relevância do tema está no fato de que existe uma forte presença
dessas empresas no Centro-Sul brasileiro, em especial em Estados como o Paraná, que
possui o dinamismo do chamado “agronegócio” como uma das marcas dos discursos e ações
governamentais das políticas de desenvolvimento regional.

Palavras-chave: Espaço Rural; Territorialidade corporativa; Cooperativas Agropecuárias;


Agronegócio.

ABSTRACT

The work deals with the corporative territoriality in the agricultural, resultant space of the action
of great on companies to the farming and agro-industrial activities. For in such a way, it is used,
as example, of the cases of the farming cooperatives and the global companies, the great
multinationals of the agribusiness (as tradings agriculturists and the agroindústrias) that
agriculturists act directly with commodities since the production process until the
commercialization and industrialization of the grains. The relevance of the subject is in the fact
of that one strong presence of these companies in the Brazilian Center-South exists, in special

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UNICENTRO, Guarapuava -PR (Professor do Departamento de Geografia) – FCT-UNESP, Presidente Prudente –
SP (Doutorando em Geografia) sergiofajardo@hotmail.com
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in he Paraná State, that possesss the dynamism of “the agribusiness” call as one of the marks
of the speeches and governmental action of the politics of regional development.

Word-keys: Agricultural space; Corporative territoriality; Rural cooperatives; Agribusiness.

OBJETIVOS

O objetivo principal da pesquisa é investigar o papel das grandes empresas,


cooperativas agropecuárias e multinacionais do setor agroindustrial, na organização do espaço
regional paranaense. Essas corporações atuam como agentes ativos (na produção
agropecuária e agroindustrial). Compreendendo que a ação das grandes empresas interfere
nos direcionamentos produtivos e em toda a economia do espaço no qual estão inseridas, a
mesma resulta em uma territorialidade, que é estratégica segundo os propósitos de expansão
de cada empresa ou grupo.

Por sua vez os objetivos específicos são:: avaliar das estratégias de ação das
grandes empresas e cooperativas no território paranaense; distinguir os papéis diferenciados
das tipologias de empresas (cooperativas e multinacionais) na economia regional; identificar
alterações na paisagem rural resultantes do processo de territorialidade corporativa.

METODOLOGIA

Para atender as expectativas da pesquisa foram coletadas informações a


partir de entrevistas e dados obtidos junto às empresas, além de órgãos e instituições públicas
(como IPARDES, SEAB-PR, IBGE etc.). O aspecto empírico demonstrou-se muito valoroso no
sentido de exibir a visão estratégica das empresas encontradas nas auto-apresentações feitas
pelas mesmas, a visão dos dirigentes. Defrontadas com dados e informações obtidas ficam
mais claras as estratégias de ação das empresas.

A pesquisa foi estruturada a partir de uma base conceitual referente ao


territórorioopõe duas tipologias de empresas: cooperativas e empresas globais. De um lado as
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cooperativas, representando um capital nacional, historicamente vêm atuando na produção


agropecuária paranaense. Sua participação torna-se evidente na medida em que se avalia em
termos da observação dos dados inerentes a produção econômica estadual. Por outro lado, é
cada vez maior a presença de grandes empresas de capital estrangeiro na comercialização e
industrialização da produção agropecuária. Muitas dessas corporações internacionais
funcionam principalmente como “tradings”, que operando com commodities agrícolas são
responsáveis pela maior parte da comercialização brasileira e mundial. Estas, expandiram suas
atividades no setor agroindustrial, e com o objetivo de ampliar os ganhos operam processando
os produtos primários, hoje destacam-se no ramo agro-alimentar, atuando ainda no mercado de
insumos agrícolas.

Empresas multinacionais, como a Bunge, Cargill, ADM2, Coinbra (Louis


Dreyfuss), concorrem em cadeias produtivas extremamente importantes como a da soja, tanto
na comercialização (em grande parte com a exportação de commodities agrícolas) como no
beneficiamento e industrialização. A competição entre essas empresas resultou num cenário
interessante, de uma acirrada briga por mercados e produtores, num mercado oligopólico.

Essa competição mercadológica entre cooperativas, tradings e agroindústrias,


nacionais e estrangeiras, acaba gerando também, uma espécie de disputa territorial. Nos seus
propósitos de expansão efetiva na abrangência “espacial”, ou seja, na área de atuação das
mesmas, elas fixam-se em várias regiões do Paraná, estabelecendo unidades.

Entre as cooperativas, algumas têm se destacado como o caso da Coamo3, a


maior empresa cooperativa do Brasil. Essa pesquisa buscou avaliar a competição entre as

2 2
Archer Daniels Midland.
3
A Coamo inicialmente tinha a denominação de “Cooperativa Agropecuária Mouraoense” mas desde 2003 passou a
adotar a razão social de “Coamo Agroindustrial Cooperativa”. Segundo o superintendente administrativo da Coamo,
Sr. Antonio Sergio Gabriel, em entrevista realizada no dia 22/08/2005, essa alteração foi necessária com a expansão
da área de atuação que extrapola o território paranaense. No mesmo sentido, a Cocamar, antes denominada
“Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá – PR, adota a denominação “Cocamar Cooperativa
Agroindustrial”. Importante lembrar que a Ocepar (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná)
não distingue uma tipologia “agroindustrial” para as cooperativas que atuam no setor produtivo rural, sendo
enquadradas como “cooperativas agropecuárias”.
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cooperativas e entre estas e as corporações multinacionais4 do setor agroindustrial, com o


intuito de compreender como essa competição assume as características de disputa por
território. Como estudo de caso, foram selecionadas duas cooperativas e duas corporações
multinacionais (que funcionam como tradings agrícolas e agroindústrias) representativas,
inicialmente eleitas a própria Coamo e a Cocamar, e entre as multinacionais, a Cargill e a
Bunge.

Uma das hipóteses para tentar explicar a ação dinâmica dessas empresas no
meio rural está na forma diferenciada em que são constituídos os capitais das mesmas
(cooperativas agropecuárias e multinacionais do setor agroindustrial). Algumas questões podem
ser levantadas: Haveria um diferencial nas estratégias territoriais que coloque cooperativas
numa posição vantajosa em relação às demais empresas, sobretudo as multinacionais do
agronegócio? O Estado teria perdido seu papel como agente do desenvolvimento regional para
essas empresas na última década? Estes e outros questionamentos levariam à compreensão
da reestruturação territorial paranaense, com novas realidades e elementos ativos e dinâmicos
no espaço rural.

À primeira questão, a resposta à hipótese levantada é positiva, ao menos


parcialmente, já que as propostas de atuação das empresas sustentam os discursos do
chamado “compromisso” com o desenvolvimento regional. Pelo lado das cooperativas
agropecuárias essa posição é explicita, basta observar os argumentos sustentados nas suas
estratégias e políticas de ação e objetivos das cooperativas. Ao Estado, então, fica o papel de
dar condições para que isso se processe.

Na prática, aparentemente, isso significa que, de forma indireta, o Estado


continua orquestrando o desenvolvimento, mas permite que os grupos econômicos (no caso
das empresas multinacionais e cooperativas) tenham plena liberdade de atuação no sentido de
implementar no território os encaminhamentos das políticas públicas. Ou seja, passam a
atender aos interesses do Estado (sendo seus agentes) na medida em que atendem os

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Deve ficar claro que o foco de atenção nesse estudo são as multinacionais que, ao mesmo tempo, constituem
tradings agrícolas e agroindústrias, como nos casos selecionados da Bunge e da Cargill.
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próprios objetivos (de acumulação e crescimento).

Por outro lado, a configuração regional na atualidade está envolta por


elementos que se realizam nas relações entre um lugar e fatores longínquos. Nessa ótica, a
divisão do trabalho, acelerada na lógica global das decisões produtivas de um determinado
espaço, pela ordem vigente (que é internacional) afeta diretamente as características funcionais
dos espaços. Novas e complexas territorialidades se apresentam. O melhor esclarecimento de
como se processam essas transformações regionais constituem também objetivo deste
trabalho. Para tal é necessário investigar o nível de participação das grandes empresas
(cooperativas agropecuárias e multinacionais) na configuração do espaço regional paranaense.

Na perspectiva de alcançar a investigação das territorialidades de grandes


empresas no espaço rural e o resultado na organização territorial no Paraná, deve-se
inicialmente considerar a força dessas mesmas empresas na economia regional. Pode-se,
desse modo, chegar ao entendimento destas como agentes de organização do espaço. Assim,
o uso corporativo do território promove a territorialização das empresas no espaço. Como o foco
das cooperativas agropecuárias e das multinacionais do agronegócio é justamente a produção
agropecuária, por meio deste pode ser identificado o espaço em questão: o espaço rural.
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RESULTADOS

A “territorialidade econômica” no espaço rural paranaense é percebida na


análise dos casos estudados. As cooperativas Cocamar e Coamo e as multinacionais Bunge e
Cargill, materializam a ação empresarial no campo por meio do uso corporativo (SANTOS;
SILVEIRA, 2004, p. 291), que fazem do território. A reflexão teórico-conceitual abordando a
territorialidade econômica resultante da ação de grandes empresas no espaço rural (conceito
também enfocado) e os reflexos dessa ação manifestados na paisagem rural paranaense foram
percebidos na pesquisa.

Os casos estudados, com isso, permitem uma avaliação da dinâmica do


processo de territorialidade econômica no contexto regional, característico de uma economia
regional voltada para agricultura de exportação vinculada às cadeias produtivas agroindustriais.

Compreender somente a repartição das atividades em lugares (divisão


territorial do trabalho) não leva à compreensão do território. O funcionamento deste é entendido
se captado o movimento, que por sua vez leva em conta os circuitos espaciais da produção,
definidos pela circulação de bens e produtos, o que indica o modo como os fluxos perpassam o
território (SANTOS; SILVEIRA, 2004, p. 143). As grandes multinacionais atuando como tradings
agrícolas ou como agroindústrias exercem sua territorialidade estabelecendo seus fixos e
criando seus fluxos, seja com a compra e exportação de commodities, seja com o seu
processamento industrial e posterior comercialização. Em geral há integração entre os
processos. As grandes cooperativas paranaenses, atuando nas mesmas cadeias produtivas
que as multinacionais, também se territorializam em nível local (estadual) e mesmo fora das
fronteiras nacionais (quando, por exemplo, operam em larga escala com exportações).

Foi, portanto, necessário expor uma discussão inicial relativa aos aspectos
conceituais do trabalho, tais como território, territorialidades, espaço e paisagem rurais,
derivadas do processo produtivo, indicou que atividades agropecuárias e agroindustriais no
território representam uma das vertentes mais importantes na análise da espacialidade: a
econômica. Sob a ótica produtiva o território é alvo da ocupação econômica. O uso do
território no Brasil traduz em grande parte a ocupação de extensas áreas afastadas dos
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núcleos urbanos: o espaço rural.

Ao analisar a caracterização territorial do Paraná destaca-se o papel da


agricultura e a ação de empresas no desenvolvimento de uma estrutura produtiva voltada às
atividades agroindustriais. Isso significa que a dinâmica territorial paranaense está em grande
parte organizada pela territorialidade econômica resultante da ação corporativa no espaço
rural. “As grandes empresas organizam suas atividades criando circuitos espaciais de
produção. Para funciona, elas devem regular seus processos produtivos – hoje dispersos no
território -, sua circulação, sua contabilidade etc.” (SANTOS; SILVEIRA, 2004, p. 153).

Avaliando a participação das cooperativas e multinacionais na organização


produtiva agropecuária e agroindustrial, por meio dos casos estudados, constrói-se uma
interpretação da realidade regional do espaço paranaense, calcada na territorialidade
econômica no meio rural. A dinâmica dos circuitos espaciais das cooperativas, Cocamar e
Coamo e das multinacionais Bunge e Cargill, são processadas de forma diferenciada. Cada
empresa define e redefine suas topologias segundo estratégias e objetivos traçados no
planejamento da mesma.

A Cocamar desde cedo (alguns anos depois de sua fundação na década de


1970) optou pela diversificação (basta lembrar dos primeiros passos, em que, de cooperativa
de cafeicultores partiu para outros produtos como algodão, milho e depois soja). Esse
processo se pautou primeiro na necessidade de modernização para ampliar os rendimentos
da produção agrícola dos cooperados, e, mais tarde, (meados dos anos 1970) para uma
conotação de alteração na base da cooperativa, que se insere nas atividades agroindustriais
mais fortemente.

Por sua vez, a Coamo nasce no momento em que os anseios de


crescimento tinham a modernização como estímulo e anseio de muitos produtores. A região
de Campo Mourão, diversificada em termos de variedades de produtos, mas economicamente
fraca em termos de significado para o conjunto estadual.

Considerando uma empresa multinacional como a Cargill, a realização de


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seus circuitos espaciais produtivos, atuando na compra e comercialização de três


commodities (distintas entre si) ao mesmo tempo: soja, laranja e cacau (TOLEDO, 2005, p.
127). Em razão dessa característica particular (que não ocorre com a Bunge, por exemplo) a
política territorial da Cargill é mais ampla e complexa que suas concorrentes, por envolver um
conjunto de relações heterogêneas (mas simultâneas, articuladas e coordenadas) de objetos,
logística, políticas etc.

No entanto, no território paranaense, a Cargill opera somente com


comercialização e processamento de grãos (sobretudo soja e em menor proporção o milho).
Isso significa que o eixo do processo nesse caso é especializado. O circuito produtivo em
questão tem como base uma estrutura de fixos arranjados e localizados estrategicamente no
território, como silos, armazéns e indústrias. O exemplo o caso da unidade de processamento
em Ponta Grossa é ilustrativo para compreender como os “movimentos”, como os fluxos
exigem uma estrutura de capital fixo para sua sustentação (SANTOS; SILVEIRA, 2004, p.
132).

No caso da Bunge, a estratégia de especialização no setor alimentício


parece direcionar as políticas territoriais da empresa, mas o esforço recente de diversificação,
por exemplo, no caso da entrada no setor de processamento de carnes com a compra da
Seara, tem demonstrado uma escolha para aumento da competitividade incorporando
empresas agroindustriais diversas. A expansão dos fixos da Bunge no Paraná (e em boa
parte do território brasileiro) se fundou nessa estratégia de aquisições. O caso mais evidente
e relevante foi a compra da Ceval em 1997. A estrutura já estava pronta, o arranjo formado e
os fluxos (na cadeia da soja) articulados.

Deve-se se considerar ainda a discussão em torno do desenvolvimento


regional, que envolve além da discussão teórico-conceitual, aspectos diretamente
relacionados com a funcionalidade das grandes empresas (tradings-agroindústrias e
cooperativas agropecuárias) no espaço rural. A territorialidade econômica tem como resultado
a própria relação e o jogo de interesses entre as empresas, o poder público em todas suas
esferas, os grupos econômicos e interesses locais e regionais, além de todo discurso que
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permeia qualquer ligação que se tente construir entre os objetivos da ação empresarial no
campo e as políticas de desenvolvimento.

Mas essas grandes multinacionais do agronegócio, mesmo realizando


grandes operações financeiras, atreladas ao fornecimento de insumos, adubos, como pauta
de atuação, mas que via de regra, [...] não realizam acompanhamentos técnicos, somente
entregando o adubo, e em menor escala, a semente, que representa um custo
proporcionalmente menor frente a outros insumos.” (MARINO, SCARE e ZYLBERSZTAJN,
2002, p. 5-6). Isso significa que as “gigantes” do setor agroindustrial, podem atender
interesses do Estado relativos ao que representam quantitativamente para a composição das
exportações brasileiras (ver tabela 14, com perfis da Cargill e Bunge Alimentos) mas não
estabelecem relações que as aproximem mais com o interesse dos produtores.

Por outro lado, as cooperativas agropecuárias (no caso Coamo e Cocamar)


além de ter obrigatoriamente a baliza dos produtores cooperados na suas decisões (que
podem até mesmo não traduzir a vontade de todos cooperados, mas a reação do conjunto
deles deve ser levada em consideração) tem um indiscutível vínculo regional, o que não
ocorre com as multinacionais.

Na sua territorialidade as multinacionais Cargill e Bunge atuam no sentido de


obterem maiores lucros por meio de melhor aproveitamento das vantagens (de mercado,
logística etc). Nesse sentido podem se desterritorializar conforme o contexto econômico
(nacional e internacional), transferindo-se para áreas do Brasil e do mundo, que sejam mais
propícias aos seus investimentos e estratégias de crescimento.

O conjunto de estratégias de ação utilizadas pelas empresas na construção


de sua territorialidade esclarecem os circuitos produtivos (SANTOS; SILVEIRA, 2004, p. 143),
resultantes destas. No caso da Coamo, a mesma adota claramente a estratégia de expansão
horizontal. E essa estratégia tem como base o recebimento e comercialização de grãos, tanto
que não há projetos de construção de unidades industriais fora da região da sede, Campo
Mourão. Pelo contrário, a expansão no sentido agroindustrial é justamente planejada com nas
unidades já existentes na sede.
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Já a Cocamar assume a postura de verticalizar-se cada vez mais. Na sua


expansão, por exemplo, no Noroeste paranaense, ela estabelece novas unidades
agroindustriais, e por outro lado, procura diversificar em termos de variedades de produtos do
varejo. Fica demonstrada aqui uma estratégia bem diferente da Coamo. A Cocamar não
demonstra, atualmente, intenção de expandir sua territorialidade em outros Estados, e sequer
em regiões mais distantes de sua sede em Maringá. Essa territorialidade só se processa via
mercados dos produtos do varejo, isto é, em termos de fluxos de comercialização, mas não
pretende estabelecer novos fixos em áreas longínquas.

Mas analisando Coamo e Cocamar em conjunto, chega-se a conclusão de


que as diferenças básicas entre a ação territorial das cooperativas e das multinacionais estão
nas seguintes situações: primeiramente, as cooperativas representam um capital nacional; em
segundo lugar: ainda que haja expansão horizontal, como no caso da Coamo, o vínculo
regional é muito forte, a sede é o referencial da cooperativa. Se futuramente essa condição for
alterada passaria a existir uma outra empresa, totalmente diferente, sendo extinta esta que se
conhece atualmente.

Obviamente, as estratégias de ação das cooperativas Coamo e Cocamar,


assim como a multinacionais Cargill e Bunge, obedecem as exigências impostas pela
competitividade. E, ainda, a lógica externa forçada pelo mercado internacional acaba por
provocar distorções com relação aos rumos que tomam as cooperativas. A racionalidade
empresarial há muito domina as gestões e ações das cooperativas agropecuárias no Paraná.
Atualmente, o fato da própria produção agropecuária e agroindustrial, a base produtiva das
cooperativas agropecuárias, estar sujeita à lógica global (dos mercados, das relações de
consumo etc), indica para um desvio considerável no comportamento das cooperativas
enquanto entidades associativas nos últimos 30 anos. Se a referência é global e o objetivo é
atingir cada vez mais o mercado para obtenção de mais e mais lucros, até mesmo a
caracterização civil de uma cooperativa deveria ser repensada (GONÇALVES, 2006).

Por outro lado, para uma empresa global, a inexistência de um vínculo


regional (diferentemente das cooperativas), significa que uma área qualquer representa apenas
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um mercado a mais ou a menos. O Estado do Paraná pode estar sendo, num determinado
momento, rentável a certa empresa, portanto é parte de sua estratégias estar presente lá e
daquela forma (com seus fixos e fluxos), mas se alterada essa condição estratégica a empresa
pode deixar aquele espaço, aquele mercado, se desterritorializar a seu bel prazer. Essa posição
das grandes corporações agroindustriais multinacionais é a posição do Grupo Bunge e da
Cargill S/A. Por meio de estratégias empresariais, com referência e escala global, essas
multinacionais poderiam (hipoteticamente), deixar de atuar no Paraná, elegendo outros espaços
que atendam os seus propósitos, suas estratégias.

A territorialidade resultante das estratégias de atuação, tanto de cooperativas


como das multinacionais configura os espaços de ação das mesmas. Ou seja, pela instalação
dos fixos das atividades produtivas (armazéns, unidades industriais etc), e pela articulação dos
mesmos pelos fluxos (movimentação do circuito produtivo, comercialização no mercado interno,
exportação etc) é produzido o espaço, que por sua vez, a dinâmica espacial5 é refletida na
delimitação dos territórios corporativos.

Nesse sentido, o conceito de “território-rede” caberia perfeitamente na


compreensão desse tipo de territorialidade (HAESBAERT, 2004, p. 297). Obviamente, a
existência de várias territorialidades corporativas no espaço paranaense (no caso específico do
espaço rural do setor agroindustrial) indica a não existência de exclusividade no mesmo
(SOUZA, 2003, p. 94). Mas a disputa pelo mercado também é territorial, e isso se torna explicito
se exemplificarmos a disputa por produtores de grãos (sobretudo soja e milho) entre
cooperativas e multinacionais do agronegócio. Ora, se o próprio produtor (cooperado ou não)
está espacialmente localizado, a escolha do produtor pela empresa ou a opção da empresa
pela área significa possibilidades de alterações territoriais da produção.

5
Percebe-se uma relação intrínseca entre a dinâmica espacial e a territorialidade, uma produzindo materialidades da
outra. Mas a fim de evitar confusões conceituais, a territorialidade compreendida aqui é fruto das atividades
econômicas características do setor agroindustrial, na qual grandes corporações exercem domínio de áreas no
Estado do Paraná. A força e o potencial territorializador de cada empresa são influenciados diretamente por sua ação
que no caso das multinacionais tem escala mais global, diferentemente da ação regional das cooperativas
agropecuárias.
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A fluidez do território está condicionada pela combinação das estratégias


empresariais aliadas às governamentais, como por meio das políticas públicas, no caso do
papel decisivo do planejamento regional e das políticas de desenvolvimento. As estratégias
corporativas no território derivam assim, de um complexo jogo de interesses em que o
aproveitamento das oportunidades se dá em função das possibilidades de obtenção de maiores
vantagens competitivas. O embate entre cooperativas e multinacionais no mercado
agroindustrial acaba por constituir o reflexo da reorganização produtiva na qual cada uma das
empresas planeja suas estratégias segundo as potencialidades e diferenciais que apresentam.
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REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Marcos Rafael G. A utopia cooperativista regulada pelo direito: crítica para
uma filosofia jurídica transmoderna. 2006. 205 f. Dissertação (Mestrado em Direito). Setor de
Ciências Jurídicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à


multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertran Brasil, 2004.

MARINO, Matheus Kfouri; SCARE, Roberto Fava; ZYLBERSZTAJN, Décio. Selecta:


diferenciação e coordenação de redes no agribusiness brasileiro. SEMINÁRIOS PENSA DE
AGRONEGÓCIOS: redes estratégias compartilhadas (Seminário IV – Goiânia: 29/11/2002).
São Paulo: 2002, p. 01-26.

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século
XXI. 6ª ed. São Paulo: Record, 2004.

SOUZA, Paulo Marcelo de; LIMA, João Eustáquio de. Mudanças na pauta de produtos e efeitos
sobre o perfil agrícola nas regiões Sul e Sudeste: 1975-1995. Revista Paranaense de
Desenvolvimento, Curitiba, n. 104, p. 41-60, jan./jun. 2003.

TOLEDO, Marcio Roberto. Circuitos espaciais da soja, da laranja e do cacau no Brasil: uma
nota sobre o papel da Cargill no uso corporativo do território brasileiro. Dissertação (Mestrado
em Geografia). Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Instituto de Geociências.
Campinas, 2005, 142 p.

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