A Unificação da Língua Portuguesa – Vale a Pena o Acordo Ortográfico?
As novas regras da ortografia tornaram-se um assunto muito debatido nos
círculos mais informados de nossa sociedade. Como tudo, tem seus adeptos e inimigos, gerando os mais diversos argumentos de ambas as partes. Entretanto, não se pode discorrer sobre tal tema esquecendo de qual, talvez, seja a maior questão, “Como será feita a adaptação da população?”.Pergunta essa que poderia ser adaptada, “Como se diria a um advogado de cinquenta e sete anos que ele terá de revisar a ortografia de seus processos?” ou ainda “Como dizer a uma mãe que tenta ajudar seu filho em fase de alfabetização que ela o esta ensinando errado?”. Assim, antes das questões financeiras e políticas temos de pensar nas humanas. Ao contrário do pretendido este texto poderá transformar-se em uma mistura de pergunta sem respostas. Mas quantas dissertações não seriam necessárias para explicarmos tudo? Mas esqueçamos um pouco das outras e nos apeguemos a uma nova pergunta “Qual a real finalidade dessa decisão?” Uns afirmam que é para o fortalecimento da língua, pois o risco do português se fragmentar em diferentes dialetos nos países onde é usado tornou-se eminente. Outros dizem que foi por questões econômicas, pois isso facilitará a troca de livros e materiais didáticos. É necessário pensar que, em um país como o Brasil, onde grande parte da população mal possui condições para comprar alimento, a venda de livros não aumentará. É preciso lembrar também que, a pequena parcela da população que usufrui de condições para aquisição desses materiais, já as possuíam antes do acordo e encontravam problemas maiores de compreensão do que um simples hífen. Continuemos a usar por base nossa população, em meio à crise econômica, em meio ao risco de cada vez mais famílias verem seus chefes desempregados, é realmente aconselhável usar o dinheiro que poderia estar criando empregos para a impressão de novas gramáticas? Vendo por outra ótica, o acordo não unificará o modo de escrever dos países, uma vez que algumas mudanças não são iguais a todos. E não venha me dizer que todo brasileiro que pegar um texto português e nele ler “receção” entenderá que se trata de “recepção”. Seria muito mais fácil ele olhar e dizer “Nossa! Esse português não sabe escrever.” A princípio, a idéia era apresenta-lhes os dois lados da reforma para então tomar partido por um, entretanto não vejo lados positivos. Para a atual geração, será um tema bastante discutido e alvo das mais diversas críticas, mas como a reforma de 1911 será assimilada depois de certo tempo. Atualmente, mostra-se desnecessário em todos os pontos que se possa apresentar. Entretanto “o homem é fruto do meio”, assim sendo, adaptar-se-á como sempre fez. Nas atuais circunstâncias não se pode afirmar com total certeza se “valeu a pena” ou se foi uma decisão certa ou errada. Por hora, só nos cabe acatar, pois qual credibilidade será dada a uma língua onde seus próprios falantes não a dominam, ou pior ainda, não a adotam? Pode acontecer de haver outra reforma daqui cem anos, pode ser que um dia o português seja igual entre seus falantes e altamente difundido entre os países que não o adotam. Mas não nos cabe julgar se isso realmente ocorrerá. O único que poderia julgar a validade e eficácia desse acordo seria um homem, talvez daqui a 300/400 anos, quando tentasse expressar seus sentimentos (com seu português reformado) recitando Camões. Atestaria assim, que não o conseguiria expressar com a mesma verdade de outro alguém 600 anos antes de seu tempo. Não que ele não fosse tão verdadeiro quanto seu antepassado, mas suas palavras não seriam sentidas com a mesma intensidade, entretanto o tornariam o único a poder dizer se as reformas “valeram a pena”.