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A terceira vez, a terceira edição. Cá estamos nós novamente, caros leitores, e muito gratos com as
participações, críticas e diferentes opiniões que têm surgido. Algumas pessoas têm perguntado o que
queremos com o Outras Farpas, quais são nossos “verdadeiros” objetivos, vertentes políticas, etc, etc.
O Outras Farpas, no entanto, está do “outro lado”, pertence a uma outra coisa, momento e proposta,
não precisa de rótulos, não anseia por um “perfil”, não carece de armaduras.
E é por isso, leitores e amigos, que cá ecoamos um “outro” grito:
Transcodificação...
Definir alguém é estuprá-lo em suas múltiplas possibilidades indefiníveis. Se definir é assassinar em si mesmo essas
possibilidades. Não sei ao certo o que sou, mas certamente o que penso que sou não condiz com o que as outras pessoas
pensam de mim, nesse ponto lembro da máxima de Pessoa que diz “pensar é estar doente dos olhos”. Os homens
costumam orgulhar-se de “ser algo”, mas esse “algo” é apenas uma construção, não pode ser outra coisa senão uma
construção. Não sou fraco o suficiente para forjar uma personalidade e apresentá-la de pronto “eis o homem!”. Estou
aberto a todas as interpretações, nenhuma me é agressiva e inaceitável, sei bem tolerar todas as impressões com relação a
mim, elas me revigoram, me fortalecem! Escarneço das certezas humanas, tudo que há de mais seguro na humanidade me
parece vazio e sem sentido, duvido profundamente de todas as “verdades” canonizadas pelo tempo e pela cultura... a
própria definição de homem me parece uma construção absurda e desinteressante. Quando pensamos na palavra HOMEM
nos remetemos inevitavelmente à idéia de HUMANIDADE, duas mentiras atraentes, mas não suficientemente poderosas
para me convencer. Para além das palavras e seus significados há a vida em si, que não é nada mais que um fragmento sem
passado nem futuro! Portanto, vivamos sem medidas nem fronteiras, deixemos os conceitos e as definições pros tiranos e
seus escravos, conscientizemo-nos que não somos absolutamente nada e talvez assim cheguemos mais próximos de uma
definição apropriada de nós mesmos!
Quando te quis ali já não sabia ter de mim qualquer movimento. O não - agir é um espelho submerso em águas conhecidas onde
meus desejos se turvam até mesmo para mim que procuro imagem refletida... Narciso às avessas, brinco, canto e dissimulo. Encontro
outros, entre passos e palavras, em qualquer espaço de relances e descuidos, realizando longos passeios em mim.
Mas, como se de súbito precisasse viver, evanesço em agonias, e nesse desvelamento de alma, penso (gratuito, verdade
insuficiente!) nesse teu olho que por hora perpassa meu corpo como uma carícia desejada... Desço novamente degraus de ineficiências
e, nesta sombra densa, me observas. Misturo-me às arestas de luz que saem de teus olhos como um farol refratando minha matéria e
dissolvo-me entre pigmentos nossos, pedaços de vidas silenciosas que se tocam ali, numa dança em cadência de poeira de corpos
quietos à espreita.
Ainda elimino do mundo qualquer porção de superfície convencional de aparência. Cá onde reino.
Abençoai as Hienas Por Cristiane Puridade
para fazer suas pós-graduações e coletivo naquele período - e que parece
E u disse que voltaria, pois bem
conseguirem suas vagas nas instituições
de ensino superior, a preocupação com o
durar até hoje -, essa canção foi
imortalizada na voz do saudoso cantor
eis aqui. Outubro está chegando, mês das desempenho do aluno não existe, após Jessé, apesar de ter sido composta há
crianças - não precisam mudar de página almejarem seus objetivos dão uma quase quarenta anos, se faz atual, é uma
não vou escrever sobre infância e “banana” para o ensino básico, a maior “homenagem” às “hienas da
bonecas novamente, risos! -, mas, existe educação”,mas, é sabido que as “hienas”
outra data no calendário escolar que parte tornam-se sindicalistas na estão em todos os segmentos sociais do
apesar de não gerar lucro para os Academia e levantam a bandeira do nosso país, que podemos considerar um
comerciantes, é muito “Ensino superior Laico, verdadeiro “Paraíso das hienas”.
significativa, o dia 15 Peço licença aos Gratuito e de Qualidade”;
de outubro - Dia do Os COMERCIANTES: Paraíso das Hienas
Professor. Não serei verdadeiros usam a educação como Abençoai as hienas
piegas, romântica, mestres do saber atividade exclusivamente Principalmente as morenas
sonhadora - como comercial colocando o Tricampeãs mundiais
costumam rotular-me - para demonstrar a conhecimento como Pois desse lado do muro
e não escreverei aqui
sobre meus colegas
minha indignação e mercadoria e os O jogo é tão duro, meu pai
estudantes como meros Que só ter piedade de nós não vale a
que como Eu, repúdio àqueles que depositários deste pena
acreditam na conhecimento; Oração não voga quando não há vaga
educação como se titulam Os “TAPA- Coração não roga quando só a raiva
instrumento de professores e que BURACOS”: Não são E a roupa do corpo três vezes ao dia
transformação do ser licenciados, profissionais Novena não paga ao homem da venda
humano, que não passam de de outras áreas, Não adianta nada, não enche barriga
trabalham com afinco usurpadores do geralmente Subir de joelhos as escadarias
e dedicação, que desempregados, que Abençoai as hienas
auxiliam na formação aparelho ensinam só para poder ter Principalmente as “da Silva”
não de meros uma “graninha” no final do Campeãs de carnavais
reprodutores de
educacional.
mês, enquanto não Pois desse lado do beco
conhecimento e sim encontram “nada melhor”, O olhar é tão seco, meu pai
de cidadãos críticos e conscientes do seu pois acreditam que ser professor não Que só ter piedade de nós não vale a
papel como sujeitos sociais. Seria exige muito do seu tempo, e podem pena.
repetitiva se fizesse isso, pois acredito continuar procurando emprego;
que nós sabemos da nossa importância Os ACOMODADOS; são licenciados Há e eu volto, incomodando novamente,
social e a fazemos sem precisar de e tem preguiça de pensar, pesquisar e como dizia o dramaturgo Dias Gomes:
condecorações diárias, até porque o “ser planejar continuam reproduzindo o “Quem nasceu para não incomodar, não
professor” é um tema inesgotável e que conhecimento tradicional, não se deveria ter nascido”, este é meu slogan e
já recebeu todo tipo de homenagem no renovam, acreditam que a culpa da o das farpas. Até!
cinema, televisão, teatro, obras literárias, “educação pública, gratuita e de má
entre outros. qualidade” é exclusivamente do __________________
Peço licença aos verdadeiros “GOVERNO”. Existem outros tipos, mas, Cristiane Puridade
mestres do saber para demonstrar a para não deprimir vou parar por aqui. Licenciada em História pela
minha indignação e repúdio àqueles que Essas “hienas” que se auto- Universidade do Estado da Bahia -
se titulam professores e que não passam denominam PROFESSORES, deseducam, UNEB. É professora do Centro
de usurpadores do aparelho educacional. analfabetizam e alienam a si e as “hienas Educacional
Leciono há quase dez anos, e observando infanto- juvenis” que estão sob sua de Correntina, cidade em que
a postura dos colegas, identifiquei, tutela como educador. A esses seres reside.
“batizei” e selecionei tipos de Ignóbeis que contribuem para a
profissionais da educação - qualquer formação de cidadãos letárgicos, sem
semelhança com a realidade infelizmente nenhum senso crítico, político e social
não é mera coincidência... - que posso dedico uma canção - não caros leitores
denominar de qualquer outro termo não é “Ao mestre com carinho” - a essas
menos de PROFESSORES, são estes: criaturas o desprezo. A música do
Os APROVEITADORES: usam a compositor pernambucano Acciolly
educação para beneficio próprio, uma Netto, foi composta na década de 70
boa parte dos licenciados que hoje estão para “homenagear” nossa nação que
na escola publica a utilizam como ponte passava por um processo de bestialização
O olhar transcendental Por Acton Lobo
Algumas situações apresentam-se tão “normal” como qualquer outra: Trânsito indiferença transgressora ao mal-humor
cômicas e inusitadas que é quase congestionado, freiadas bruscas e do passageiros, do clima e tudo mais que
impossível não desejar eternizá-las através repetitivas, pessoas conversando, gente existisse. Qual poder emanava daquelas
de alguns breves parágrafos. A todo cochilando, tombos, empurrões, canções a ponto de atordoar tantos
instante as nossas retinas estão sendo solavancos. Situações corriqueiras em se indivíduos desconhecidos, mas, que
bombardeadas com informações sutis, tratando de um ônibus à caminho da comungavam da mesma ojeriza e asco?
carregadas por mensagens imperceptíveis, região mais movimentada de Salvador: A Que felicidade é essa que não pode ser
e que, após serem apresentadas, acabam região do Iguatemi. cantada em um ambiente coletivo?
sendo dissolvidas em cores, sons e Apesar da normalidade com que todo Cantar em público, para si mesmo,
imagens sem ao menos proporcionar uma aquele incômodo se apresentava, algo ali tornou-se um ato de subversão à ordem
sinapse ou um “lampejo” revelador para dentro contrastava com toda aquela constituída? Tive medo da minha
quem presencia, assiste, ouve, ou fatigante tensão, fornecendo um resposta e aprofundei-me com mais vigor
observa. inesperado ingrediente àquela indesejável em minha reflexões.
Infelizmente nem sempre é possível e convencional ordem das coisas. O olhar transcendental daquele
captar tudo que é colocado à disposição Estranhamente, a paz e a tranqüilidade de momento fez-me enxergar de como a
de nossos sentidos, sendo às vezes, cada um ali dentro, estava sendo sociedade pós-moderna, tem imposto
necessário transcender o olhar para níveis estremecida pelo nosso personagem perigosas condições para a convivência
de interpretação ousadamente mais anônimo. humana. O estado de tensão contínuo, a
amplos, libertando-nos com isso, dos Contrastando serenamente com os aversão ao outro e as suas atitudes, por
grilhões de uma demência lúcida, semblantes sisudos e funestos, ele cantava mais pacificas, serenas e não-ofensivas
sabiamente agregada às desafiadoras com uma paz advinda de uma serenidade que se apresentem, estão sempre sendo
limitações perceptivas que tanto nos indescritível, absorto em uma felicidade mal interpretadas, bloqueadas e
atordoam, principalmente, quando genuína e transgressora. O seu canto reduzidas à maliciosas especulações. Vi
estamos diante de algo aparentemente romântico e despretensioso separava-o naquele instante, o nascimento de um
banal, vulgar e comum. daquela realidade ignota e triste, servindo “novo” primitivismo: O primitivismo pós-
A “aparência das coisas” nos ludibria a como um imaginário e indestrutível moderno. Primitivismo este, onde todos
todo momento, levando-nos sem hesitar a escudo protetor em oposição aos olhares são potenciais inimigos, bastando
intuições imprecisas, deduções odiosos e abjetos, que, como lanças somente encontrar-se em um estado de
precipitadas e especulações maliciosas. virulentas, tentavam em vão destruí-lo. espírito elevado para se tornar um alvo
Vitimando-nos com pré-conceituações Quanto mais entoava as suas canções, de opróbrios injuriosos. Naquele exato
infames, reprodutoras do ódio e do temor proporcionalmente, revelava-se aos meus momento, o ato de cantar do anônimo
daquilo que vemos, mas, que sentidos como este personagem colocava personagem, tornava-o um “espírito
paradoxalmente não enxergamos. É, por à prova a paciência mal-humorada dos elevado” e para os demais aquilo era algo
conta dessas “limitações perceptivas”, passageiros. Bocas se “entortavam” grosseiro, inusitado e explicitamente
que, não raramente, ovacionamos o que violentamente, frenéticos movimentos ofensivo, e, que necessitava ser
há de mais estúpido em nossa natureza com os pés e pernas faziam surgir uma liquidado a todo custo.
humana. bizarra e insólita orquestra, olhares Levantei pronto para sair dali, pois
O personagem dessa história não tem corroíam-se de ódio e vozes sussurravam chegara o meu destino. Com bastante
nome, sendo que, parcamente lembro-me palavrões como se o próprio demônio, ali dificuldade fui equilibrando-me por entre
de sua feição. A sua voz, contudo, ecoa estivesse, divertindo-se com o seu prazer corpos tensos e semblantes sombrios.
em minha memória, fazendo-me recordar solitário. Todo esse espetáculo humano Caminhava para sair daquele ônibus, mas
de um acontecimento que tragou-me da estava diante dos meus olhos, que a esta antes disso, desejava unicamente ver
minha quietude pensativa e levou-me altura, transcendia o meu “olhar” a uma quem levava a paz à espíritos tão
suavemente, à densidade opressiva da velocidade atordoante, tornando perturbados. Então, à beira da saída do
vida em uma cidade, que fascinante, o suplício naquele ônibus ônibus, virei-me para visualizá-lo. Fiz um
progressivamente caminha em direção a lotado e hermeticamente fechado, devido sinal de positivo, lançando uma
um colapso estrutural e que assiste no agora, ao aguaceiro instantâneo e mensagem criptografada ao ar, e o que
presente, o futuro de seus cidadãos arrasador que convertia às ruas da cidade vi, foi a serenidade irradiante de um
afundar-se em um caos de imobilidade em piscinas imundas. sorriso. Um sorriso de alguém que
viária, insegurança e stress urbano, A uma certa altura, já não ouvia mais entendeu a mensagem. É, ele sabia que
semelhantes aos verificados em outras música alguma, e sim, um poderoso estava transcendendo tudo aquilo...
metrópoles. mantra que separava quem estava bem de ____________________
O humor do céu tinha começado a se fato e quem estava fenecendo por algum *Acton Lobo é licenciado em geografia
decompor desde muito cedo, deixando mal, seja da mente, do corpo, ou do pela Universidade do Estado da Bahia
sobre a cidade, um espesso véu plúmbeo espírito. Um mantra que derretia a gélida UNEB Campus V. Atualmente reside em
e extremamente pesado. A viagem seria realidade e se distinguia por sua Salvador.
E-mail: actonlobo@hotmail.com
Aos olhos novos, àqueles que se permitem ao novo: “os olhos da Cuca”
fragmentos de experiências de uma República que existiu em ruas próximas à
UNEB e que hoje sobrevive na vida daqueles que a constituíram a Santas Frígidas
da Buarqueolândia.
É muito mais do que ser, ter ou aparentar
Do que experimentar
A palavra saudade, mesmo que unicamente se verifique em nosso idioma, não contempla esta coisa inominável
Sentir falta é uma expressão também muito vaga diante da lembrança de nossos passos em direções desordenadas, mas que se
entrecruzavam num horizonte imaginável nos nossos devaneios...
O que é o amor comparado ao entrelaçar de nossas existências?
Ah, talvez um deus saiba!
Ou ao menos compreenda esta coisa, a magnificência dos desejos realizáveis sem a lâmpada mágica do sobrenatural.
Ah como dói esta mistura de cores e sentidos antagônicos: Felicidade e infelicidade coexistem num encéfalo camarim!
Feliz pela benção ter vivido e infeliz - por ter sido extinto?
Buena vista social club hoje faz parte desta marcha implacável que me comove estridentemente
Nesse bailado cubano emergem memórias e lágrimas amalgamadas, nas quais estou submergida
Santas frígidas, paraíso reencontrado e estabelecido terrestremente em singelas casas santoantonienses:
Dionísio, Baco, Eros, Amochilê...
Estou esquartejada:
Como restituir minha alma se agora se encontra dissipada em Cachoeira, Salvador, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus e Valença?
Confetes pisoteados após a apoteose carnavalesca....
Ah, como amo e como me fustiga amar sem a correspondência de bobagens ditas...
Fomos sagrados quando intensamente profanos
Fomos água e fogo.
O som do trovão ecoa na microfonia do vivido, na convulsão misteriosa evocada na audição do Pink, do Led, dos Bobs, do Chico.
Virtudes e defeitos que nos foram legados destes olhos múltiplos e verdadeiros.
Amor...
Vocábulo simplório e medíocre quando penso....
Que somente a nós nos foi chancelado a onipotência de um sentimento muito maior.
Ai, como posso ter sido tão boba donzela ao ter me apaixonado dessa forma sem armaduras!
Me doado com tanta alma em nossas laranjeiras, nas conversas intermináveis da madrugada... Fofocas e injúrias inocentes...
Acreditando que poderia viver pa sempe protegida nas fortificações de nossa torre de marfim...
Que saudade de ser mãe, filha, irmã, mulher, amante, menina, aprisionada na plena Liberdade das frenéticas gargalhadas e no
Corpo, pele, abraços que não existiam antes dessa conspiração cósmica
Olhar e ver o outro como você, como outro, como seu e como dele;
Hoje, esfacelado e empalado nestas melancólicas malas prontas para um recomeço
Ininteligível para quem não foi: - Apenas arrogantes idiotas reunidos numa sociedade secreta para se suprirem do cotidiano
alucinógeno...
Sem saber que o entorpecente consistia no estar
Estar junto...
E querer estar...
Juntos...
Imbricados e indissociavelmente estando
Vivendo a leveza de amar e ser amado, materializada em expressões chulas ou homéricas,
A leveza do ócio, do se querer e se fazer bem, apenas no silêncio ou no respirar....
Como gostaria de voltar a sentir a respiração de cada um,
Algumas vezes ofegantes e eufóricas, as vezes apenas mecânica e necessária...
Mas de ambas as formas inebriantes e vitais,
Pois se fez minha.
Ao ouvir de cada vento emitido do peito a existência se tornava concreta
Ah, como sinto a falta de existir, apenas sentir esta presença que me fazia ter a certeza de não ser mais um esquizofrênico espectro a
vagar por entre sombras inertes,
da certeza de estar viva...