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RESUMO
Desde a década dos 40s que a análise de micronutrientes em solo vem sendo usada
no Brasil, como critério diagnóstico de disponibilidade. Os primeiros experimentos
conduzidos principalmente, no Estado de São Paulo e na região dos Cerrados mostraram
que as soluções ácidas concentradas eram ineficientes em avaliar a disponibilidade dos
micronutrientes. Foram iniciados, então, estudos usando ácidos diluídos, soluções
trocáveis tamponadas ou não, e agentes quelantes objetivando selecionar o melhor
extrator. Os resultados desses experimentos mostraram que a análise do solo pode ser
usada como critério diagnóstico da disponibilidade de B, Cu, Mn e Zn. A escolha do
extrator variou conforme a região do país. Atualmente, com critérios de interpretação dos
teores no solo definidos, existem os extratores Mehlich-1, DTPA e HCl para Cu, Fe, Mn e
Zn e a água quente ou o cloreto de bário para B. Já no fim da década dos 50s e início dos
60s, alguns trabalhos mostravam respostas positivas ao uso de micronutrientes em várias
culturas. A partir dos 70s, houve uma intensificação de trabalhos envolvendo
micronutrientes, tanto em casa de vegetação como no campo, tendo como vetor o início da
incorporação dos solos sob cerrado no processo produtivo, cuja carência de vários
micronutrientes, principalmente zinco e boro, já era conhecida na época. Fatos marcantes
que permitiram a aceleração desses estudos foram: a) a instalação do sistema de
pipetagem automática nas análises de solo no Brasil; b) o início da utilização do extrator
de Mehlich-1 para P e K, possibilitando, também, a determinação de Cu, Fe, Mn e Zn no
mesmo extrato; c) o início do uso da espectrofotometria de absorção atômica. O período
correspondente a década dos 80s e início dos 90s se caracterizou por um grande número
de revisões do estado da arte envolvendo micronutrientes no Brasil. Foram também
marcantes as contribuições procurando avaliar a eficiência de doses, fontes e métodos de
aplicação, e a inclusão dessas recomendações na maioria dos sistemas estaduais ou
regionais oficiais de recomendação de adubação para as mais diversas culturas. As
perspectivas futuras de pesquisas devem envolver: a) a avaliação dos extratores
convencionais para situações específicas; b) novos extratores, principalmente os
multinutrientes; c) calibração para as principais culturas; d) a avaliação dos limites de
toxicidade; e) o papel dos micronutrientes na qualidade dos produtos agrícolas e
tolerância a estresses bióticos e abióticos; f) o desenvolvimento de bases de dados para
estabelecimento de sistemas DRIS e outros; g) a avaliação da eficiência de fontes quando
incorporados em fertilizantes NPK; h) o estabelecimento de garantias mínimas de teores
(1)
Professor Titular Emérito, Departamento de Ciência do Solo, Universidade Federal de Lavras.
CEP 37200-000 Lavras (MG). Consultor Técnico da ANDA, São Paulo, SP.
(2)
Pesquisadora Científica, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Solos e Recursos
Agroambientais, Instituto Agronômico. CEP 130001-970 Campinas (SP). Bolsista do CNPq.
de micronutrientes que reflitam a solubilidade e a eficiência agronômica dos fertilizantes
contendo micronutrientes.
Since the 1940’s soil micronutrient analyses have been used as a criteria for
determining micronutrient availability in Brazil. The first experiments conducted in the cerrado
region and in the state of São Paulo have shown that acid concentrated solutions were
inefficient for evaluation of micronutrients availability. Several studies were than initiated
involving diluted acids, buffered or unbuffered exchangeable solutions and chelate agents
aiming to select the best extractant. The results of these experiments demonstrated that soil
analysis can be used as a criterion for B, Cu, Mn and Zn availability. The extractant selection
varied according to country region. Today, the following extractant solutions have defined
criteria for interpretation of micronutrients soil availability: Mehlich-1, DTPA and HCl for Cu,
Fe, Mn and Zn and hot water or barium chloride for B. In the late 50’s and early 60’s, some
studies have shown positive responses to micronutrients in several crops. In the 70’s, there was
an intensification in the number of studies regarding micronutrients, both under greenhouse
and field conditions, pushed by the beginning of the incorporation of the cerrado soils in the
crop production process. Micronutrient deficiencies in the cerrado soils, mainly that of Zn and
B, where well known by that time. Three important facts led to the acceleration of these studies
in Brazil: a) the installation of automatic pippeting devices for soil analysis; b) the use of the
Mehlich-1 extractant solution for P and K analyses, allowing also the determination of Cu, Fe,
Mn, and Zn in the same extract; c) the use of atomic absorption spectrophotometry. The 1980’s
and early 90’s period was characterized by a great number of state of the art reviews involving
micronutrients in Brazil. There were important contributions on evaluation of sources, rates,
and methods of application. Most of these recommendations were incorporated in the great
majority of regional and state official fertilizer recommendation systems. Future research
perspectives should focus on: a) the evaluation of conventional extractant solutions under
specific situations; b) the development of new extractant, especially the ones with a
multinutrient approach; c) field calibration for the main crops; d) the evaluation of toxicity
limits; e) the role of micronutrients in agricultural products quality and tolerance to biotic and
abiotic stresses f) the development of data base for establishment of DRIS and other integrated
systems; g) the evaluation of the efficiency of different micronutrients sources, especially when
incorporated into NPK fertilizers; and h) the establishment of minimum guaranties of
micronutrient concentrations sources that really reflects the solubility and agronomic efficiency
of the fertilizer.
2. ANÁLISE DE SOLO
A análise de micronutrientes em solos vem sendo usada, desde muito tempo, para
diagnosticar a disponibilidade desses elementos às plantas por diferentes técnicas e
procedimentos. Avaliando-se, criticamente, o desenvolvimento analítico de tais elementos em
solos brasileiros, chega-se a três importantes fases.
Uma das primeiras menções sobre a análise química de micronutrientes em solos data
de 1940, tendo como referência a análise de Mn em solos paulistas (Setzer, 1940a, b). Essa
análise era considerada tão importante como critério diagnóstico da fertilidade do solo que
existia uma tabela de limites de interpretação dos teores de Mn em solos, divididos em cinco
faixas, em mmolc dm-3 , a saber: muito fraco (até 0,8); fraco (0,8 a 1,5); regular (1,5 a 2,5); bom
(2,5 a 4) e muito bom (> 4) (Setzer, 1940a). Nessa época, os extratores utilizados eram o HCl 1
mol L-1 ou HNO3 0,01 mol L-1.
Na década dos 50s, com o início dos trabalhos de levantamento de solos no Estado de
São Paulo, outros micronutrientes, como B e Cu, foram também determinados mediante o
extrator HNO3 0,01 mol L-1 (Paiva Neto et al., 1950), sem utilização de critérios de
interpretação dos seus teores nos solos.
As soluções ácidas concentradas mostraram-se ineficientes em avaliar a
disponibilidade dos micronutrientes. Iniciaram-se, então, estudos em solos paulistas e da região
dos Cerrados visando determinar os teores de B, Cu, Fe, Mn, Zn e Mo, usando diversas soluções
extratoras, tais como ácidos diluídos, mistura de ácidos (Mehlich-1), soluções trocáveis,
tamponadas ou não, e agentes quelantes (Catani & Gallo, 1951; Brasil Sobrinho, 1965; Küpper
et al., 1968; Jacintho et al., 1969; Catani et al., 1970; Horowitz & Dantas, 1973; Ribeiro, 1974;
Lopes, 1975; Casagrande, 1978; Valadares & Camargo, 1983). Nesses experimentos, não se
levou em consideração a extração de micronutrientes pelas plantas.
Termina a primeira fase, com um bom suporte de dados sobre o “status” de
micronutrientes em tais solos, informações essas de grande valia para a seleção de extratores
(segunda fase).
A segunda fase compreendeu o final da década dos 70s até a dos 80s, e os trabalhos de
pesquisa enfocaram a seleção de extratores químicos para B, Cu, Fe, Mn e Zn, empregando-se
como critério básico os valores de coeficientes de correlação obtidos entre os teores dos
micronutrientes no solo e as quantidades absorvidas e acumuladas nas plantas. Os métodos
testados em solos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil foram, principalmente,
aqueles que se destacaram na região temperada, como a água quente e o cloreto de cálcio para B
(Bartz & Magalhães, 1975; Cruz & Ferreira, 1984; Bataglia & Raij, 1990); a solução de
Mehlich-1 e de DTPA pH 7,3 para Cu, Mn e Zn (Casagrande et al., 1982; Lantmann & Meurer,
1982; Muraoka et al., 1983a; Ribeiro & Tucunango Sarabia, 1984; Galrão & Sousa, 1985;
Ritchey et al., 1986; Abreu et al., 1987; Galrão, 1988b; Barbosa Filho et al., 1990), e o acetato
de amônio, sobretudo para Mn (Muraoka et al., 1983b; Borket et al., 1984).
Quanto ao Fe, geralmente, aproveitava-se o extrato usado para determinar o Cu, o Mn e
o Zn disponível nos solos. As soluções extratoras mais empregadas, portanto, foram Mehlich-1,
DTPA e HCl (Camargo et al., 1982). Além dessas, Cochrane & Sousa (1986) sugeriram o uso
da solução de cloreto de bário 0,05 mol L-1 contendo o indicador fenantrolina para detectar o Fe
ferroso e o Fe solúvel em água, em solos sob vegetação de cerrados. Nos poucos estudos
existentes, a planta não foi considerada como indicadora da disponibilidade de Fe.
Para o Mo, as pesquisas nos Estados de São Paulo e de Pernambuco tiveram como
enfoque o levantamento dos teores total e solúvel, utilizando diversas soluções, como oxalato de
amônio, ácido sulfúrico, ácido fluorídrico e ácido oxálico (Bataglia et al., 1976; Dantas &
Horowitz, 1976; Horowitz, 1978).
Existiam poucos estudos no Brasil, o que impediu a definição dos melhores métodos e,
principalmente, o estabelecimento de limites de teores para a interpretação da análise de
micronutrientes, à exceção dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que tinham
tabela de interpretação para Cu e Zn extraídos com HCl 0,1 mol L-1 e B pelo método da água
quente (Quadro 1).
Não obstante, diversos laboratórios do País incluíam, na sua prestação de serviços, a
análise de micronutrientes em solos. Entre 1982 e 1989, de um total de 56 laboratórios que
realizavam análise de micronutrientes no Brasil, 53% determinavam Cu, Fe e Zn; 56, Mn; 26,
B; 11, Cl; e 6, Mo (Cantarella et al., 1994). Existia uma diversidade de extratores, tais como
HCl, H2SO4, HCl + H2SO4, DTPA, H2O, CaCl2, KCl, Mg(NO3)2, NH4OAc, (NH4)2C2O4, HNO3
+ HCl. A opção por determinado extrator, muitas vezes, era devida a sua facilidade no
laboratório e, não, a sua eficiência analítica. Cita-se, como exemplo, a extração de Mo pela
solução de Mehlich-1, usada para extrair P e K (Cantarella et al., 1994). Com esse
procedimento, os laboratórios economizavam tempo e diminuíam os custos. Além disso, a
relação solução:solo era alterada com certa liberalidade, tornando-se mais larga, aumentando o
erro analítico para os teores baixos no solo, principalmente do B e do Cu. Portanto, a existência
de diferentes métodos e de suas variantes conduzia a resultados diferentes, prejudicando a
reputação da análise de micronutrientes.
A terceira fase, 1990-96, foi marcada pela vasta produção científica, estimulada em
grande parte, pela ocorrência mais freqüente da deficiência de micronutrientes e pelo esforço de
algumas instituições de pesquisa em padronizar técnicas de extração e adaptar, em condições de
rotina dos laboratórios, processos de extração de micronutrientes agronomicamente eficazes,
como o B extraído pelo cloreto de bário usando como fonte de aquecimento o forno microondas
caseiro (Abreu et al., 1994a).
Os resultados de pesquisa, vindos, principalmente, das regiões Sul, Sudeste e Centro-
Oeste, e alguns esparsos obtidos em outras regiões brasileiras, somados àqueles da fase anterior,
contribuíram com as seguintes informações. Para B, indicavam o método da água quente sob
refluxo e a solução de Mehlich-1 com eficiência bastante semelhante (Bartz & Magalhães,
1975; Vanderlei et al., 1988; Bataglia & Raij,1990). Questiona-se se tais resultados, obtidos em
experimentos que receberam doses crescentes de B, seriam reproduzidos em solos com baixos
teores nesse elemento, faixa de maior interesse agronômico. Devido a sua baixa concentração
no extrato, relação solução:solo (Mehlich-1) de 10:1, problemas analíticos são comuns e, os
resultados, muito variáveis. A faixa de teor na qual a deficiência de B ocorre indica que sua
determinação precisa e exata é de grande importância para diagnosticar sua disponibilidade no
solo.
Quanto ao Zn, pela comparação somente dos coeficientes de correlação entre Zn-solo e
Zn-planta, obtidos por vários autores (Corá, 1991; Paula et al., 1991; Buzeti, 1992; Almeida,
1993; Galrão, 1995, 1996), fica difícil concluir, entre os extratores mais testados (Mehlich-1,
EDTA, HCl e DTPA), qual seria o melhor, uma vez que os valores dos coeficientes de
correlação estão muito próximos uns dos outros. Existiu uma tendência de o extrator DTPA ser
mais eficiente que o Mehlich-1 e o HCl para discriminar o efeito da calagem na disponibilidade
de Zn (Machado & Pavan, 1987; Bataglia & Raij, 1994; Abreu & Raij, 1996).
No que se refere à análise de Cu, verificou-se ligeira superioridade dos métodos HCl e
DTPA sobre o Mehlich-1 (Cruz & Ferreira, 1990; Gimenez et al., 1992; Abreu et al., 1996a).
As soluções salinas, tamponadas ou não, foram eficientes em avaliar a disponibilidade
de Mn às plantas (Rosolem et al., 1992; Abreu et al., 1994b, c). Entre as ácidas e quelantes, os
coeficientes de correlação foram muito parecidos, impedindo uma definição conclusiva sobre o
melhor extrator. Entretanto, analisando situações mais específicas, em solos que receberam
adubação usando óxidos de Mn, observou-se uma tendência de o DTPA ser boa opção
(Rosolem et al., 1992; Abreu et al., 1996b).
As pesquisas no Brasil visando à seleção de extratores para avaliar a disponibilidade de
Fe às plantas foram muito incipientes, impedindo uma avaliação conclusiva.
Apesar do êxito de alguns trabalhos em quantificar o Mo em solos, desenvolvidos na
fase anterior (Bataglia et al., 1976; Dantas & Horowitz, 1976; Horowitz, 1978), há ainda sérias
restrições ao uso da análise de solo para avaliar sua disponibilidade em condições de rotina.
A terceira fase foi marcada pelos ensaios de calibração procurando estabelecer níveis
críticos, sobretudo para Zn e B. Para o Zn, as culturas testadas foram: sorgo (Ritchey et al.,
1986); soja (Silva et al., 1986; Galrão, 1993;); arroz (Silva & Andrade, 1986); milho (Ritchey et
al., 1986; Buzetti et al., 1991; Galrão, 1996). Quanto ao B, as culturas foram: soja (Buzetti et
al., 1990) e algodão (Silva et al., 1982).
Houve um avanço em termos de definição de métodos e tabelas de interpretação dos
resultados analíticos. Além do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que já tinham seus
métodos e tabelas de interpretação definidos desde o período anterior (Quadro 1), houve uma
oficialização, no Estado de São Paulo, dos métodos do DTPA pH 7,3 para extração de Cu, Zn,
Mn e Fe, e do cloreto de bário para B (Quadro 2). Verifica-se que a interpretação da análise de
solo para micronutrientes é incluída somente em tabelas de adubação (SP), quando, para uma
determinada cultura, têm sido constatadas deficiências freqüentes de micronutrientes. Para solos
da região dos Cerrados, adotaram-se as soluções de Mehlich-1 para extração de Cu, Zn, Mn e Fe
e de água quente na de B (Quadro 3).
Quadro 3. Classes de interpretação dos teores de micronutrientes para solos sob vegetação de
Cerrado
Classe de
Interpretação Boro(1) Cobre(2) Manganês(2) Ferro(2)
do Teor no Solo
mg dm-3
Baixo 0-0,20 0-0,4 0-1,9 0-1,0
Médio 0,3-0,5 0,5-0,8 2,0-5,0 1,1-1,6
Alto >0,5 >0,8 >5 >1,6
(1)
Água quente; (2) Mehlich-1.
Fonte: Galrão et al. (Encaminhado para publicação).
4. FUTURO
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