Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Introdução:
As reações inflamatórias e imunológicas à placa bacteriana representam as características
predominantes da gengivite e da periodontite. A reação inflamatória é visível, microscópica e
clinicamente, no periodonto afetado e representa a reação do hospedeiro à microbiota da placa e
seus produtos. No capítulo anterior encontramos uma abordagem acerca dos componentes e
características da placa microbiana. O presente capítulo enfatizará o mecanismo pelo qual o
hospedeiro responde a esta agressão microbiana e as alterações patológicas resultantes nos
tecidos periodontais, as quais são clinicamente diagnosticadas; como doença periodontal.
Os processos inflamatórios e imunológicos agem nos tecidos gengivais para proteger
contra o ataque microbiano e impedem os microrganismos de se disseminarem ou invadirem os
tecidos. Em alguns casos, essas reações de defesa do hospedeiro podem ser prejudiciais porque
também são passíveis de danificar as células e estruturas vizinhas do tecido conjuntivo. Além
disso, as reações inflamatórias e imunológicas cuja extensão alcança níveis mais profundos do
tecido conjuntivo, além da base do sulco, podem envolver o osso alveolar nesse processo
destrutivo. Assim, tais processos defensivos podem, paradoxalmente, responder pela maior parte
da lesão tecidual observada na gengivite e na periodontite.
Embora as reações inflamatórias e imunológicas no periodonto possam parecer
semelhantes às observadas em outras partes do corpo, há diferenças significantes. Isto ocorre, em
parte, devido a uma conseqüência da anatomia do periodonto, ou seja, a permeabilidade
característica do epitélio juncional resulta em um processo notavelmente dinâmico envolvendo
células e fluidos, preservando todo o tempo a integridade epitelial através da interface tecido
duro e tecido mole. Além disso, os processos inflamatórios e imunológicos nos tecidos
periodontais não representam respostas a uma espécie microbiana simplesmente, mas a um
grande número de microrganismos e seus produtos, agindo durante um período de tempo
relativamente longo. As bolsas periodontais podem conter mais de 400 espécies diferentes de
microrganismos, cada uma apresentando potenciais diferentes para a indução de doença, os quais
vão variar de acordo com o meio e o estágio de colonização. A doença periodontal tem sido
referida algumas vezes como uma "infecção bacteriana mista" para assinalar que mais de uma
espécie microbiana contribui para o desenvolvimento da doença. As espécies microbianas
interagem e, embora algumas possam não ser patógenos suspeitos, ainda influenciam o processo
da doença, participando através de fatores específicos de crescimento ou defesa que aumentam o
potencial de virulência de outros microrganismos. A microbiota, nas bolsas periodontais,
encontra-se em um estado de fluxo contínuo; espécies que são relevantes em uma fase da doença
podem não ser importantes para uma outra. Em outras palavras, a destruição periodontal pode ser
o resultado da combinação de fatores bacterianos que variam com o tempo, Esta situação
contrasta com a maioria das demais doenças infecciosas clássicas (p. ex., tuberculose, sífilis,
gonorréia), nas quais o hospedeiro enfrenta apenas um, em vez de vários microrganismos, e o
diagnóstico de uma fase ativa da doença está relacionado à presença ou à ausência do patógeno,
sendo, portanto, muito mais simples. Os eventos moleculares que desencadeiam e mantêm as
reações inflamatórias e imune na doença periodontal podem estar sofrendo alterações
constantemente e isso pode ser devido a múltiplas espécies microbianas, muitas das quais são
considerados organismos comensais.
É provável que os atributos de virulência dos microrganismos também estejam
relacionados a um estado inflamatório ou imune próprio do hospedeiro tanto quanto à ação direta
das próprias bactérias. A destruição periodontal poderia ser causada pelas enzimas virulentas
produzidas pelas bactérias que induzem a inflamação, por uma reação imunológica que libera
produtos, ou pelo lipopolissacarídeo, componente da membrana externa dos microrganismos
Gram-negativos.
PATOLOGIA PERIODONTAL - DP-321, FOP/UNICAMP 2
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA
permanecem localizadas na porção marginal dos tecidos gengivais, enquanto outras progridem
envolvendo perda do tecido conjuntivo de inserção e osso alveolar de suporte. Os mesmos
argumentos são verdadeiros para algumas áreas no indivíduo suscetível. Obviamente, algum
desequilíbrio da relação hospedeiro-microrganismo está ocorrendo nas lesões destrutivas, o qual
pode ser único para aquela área, ou geral, nos indivíduos com suscetibilidade a doença
periodontal.
Gengiva normal
A gengiva normal é caracterizada clinicamente por sua coloração rósea, consistência
firme e contorno parabólico da margem gengival. As papilas interdentais são firmes, não
sangram a sondagem delicada e ocupam todo o espaço disponível abaixo das áreas de contato. A
gengiva exibe, freqüentemente, uma aparência pontilhada e há uma margem em ponta de faca.
As gengivas normais encontram-se, teoricamente, livres de inflamação histológica, porém, esta
condição ideal somente pode ser conseguida experimentalmente em humanos após o controle
diário da placa supervisionado meticulosamente durante várias semanas. Tais medidas raramente
são praticadas e, assim, as gengivas que são rotineiramente classificadas como gengivas
“clinicamente sadias” não são tão perfeitas do ponto de vista histológico quanto às descritas
como "gengivas normais". As gengivas clinicamente sadias seriam representadas tipicamente por
aquele nível de normalidade obtido por pacientes que mantêm um padrão satisfatório e regular
de controle de placa.
A gengiva normal que se encontra livre de acúmulo "significante" de células
inflamatórias pode ser mais bem descrita como gengiva primitiva. Portanto, há tipos de gengivas
sadias; uma que apresenta uma condição bastante saudável ou estágio "primitivo", que
histologicamente apresenta pouco ou nenhum infiltrado inflamatório, e a "gengiva clinicamente
sadia”, que parece semelhante do ponto de vista clínico, porém exibe um infiltrado inflamatório
como característica histológica. É esta gengiva sadia que encontramos nos exames clínicos das
situações diárias. A superfície da "gengiva primitiva" é revestida por um epitélio queratinizado,
que se fusiona com o epitélio juncional, sendo firmemente aderida à superfície dentária por meio
de hemidesmossomos. Até mesmo no estado primitivo podem ser observados leucócitos, por
exemplo, neutrófilos e macrófagos, no epitélio juncional. Abaixo dos epitélios oral e juncional
está o tecido conjuntivo, com fibras colágenas proeminentes, as quais mantêm a forma dos
tecidos e ajudam na união relativamente fraca dos hemidesmossomos do epitélio juncional ao
dente. Imediatamente abaixo do epitélio juncional, há um plexo microvascular que alimenta o
epitélio com vários nutrientes, células de defesa e moléculas. Um infiltrado inflamatório discreto
pode ser observado junto aos vasos. Análise morfométrica da gengiva primitiva revela que cerca
de 40% do seu volume são ocupados por estruturas epiteliais (epitélio oral 30%, epitélio
juncional 10%) e 60% por componentes do tecido conjuntivo, principalmente fibras colágenas,
matriz e células, vasos e nervos.
Gengivas sadias apresentam infiltrado de neutrófilos associados ao epitélio juncional e de
linfócitos no tecido conjuntivo subjacente. Mesmo neste estágio inicial da inflamação, que não é
detectável clinicamente, pode se observar depleção do colágeno na área infiltrada, juntamente
com aumento das estruturas vasculares. A região do sulco gengival recebe exsudato e transudato,
além de proteínas plasmáticas, que deixaram os vasos e se deslocam através dos tecidos para
criar o fluido gengival. Nesta fase, o infiltrado pode ocupar até 5% do volume do tecido
conjuntivo, sendo composto por monócitos, macrófagos, linfócitos e neutrófilos. Estas células
são encontradas tanto no epitélio juncional quanto no tecido conjuntivo das gengivas
clinicamente sadias. Os neutrófilos predominam na região sulcular e parecem migrar
continuamente através do epitélio juncional para o sulco. O recrutamento de leucócitos,
predominantemente PMNs, dos tecidos para a região do sulco gengival deve-se às ações
quimiotáticas dos sistemas do hospedeiro (interleucina 8, componente do complemento CSa,
PATOLOGIA PERIODONTAL - DP-321, FOP/UNICAMP 4
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA
leucotrieno 134, etc.) e aos produtos microbianos (fMet-Leu-Phe, lipopolissacarídeo, etc.). Com
posterior depósito de placa e o desenvolvimento da gengivite clínica, há um aumento acentuado
nos leucócitos recrutados para a área. Um efeito adicional da inflamação, que estimula o rápido
acúmulo de leucócitos, é a regulação das moléculas de adesão sobre as células endoteliais,
mediada pela citocina pró-inflamatória. Isto estimula os leucócitos, particularmente os PMNs,
nos estágios iniciais, a aderirem às vênulas pós-capilares e a iniciarem o deslocamento através do
vaso para o sulco gengival. Esta regulação das moléculas de adesão (ICAM-1 e ELAM-1) foi
demonstrada na gengiva sadia e durante a gengivite experimental com aumento concomitante no
infiltrado de leucócitos, que corresponde ao número de dias de acúmulo de placa.
A gengiva clinicamente sadia parece enfrentar a agressão microbiana sem progredir para
uma condição de doença, provavelmente devido a vários fatores defensivos, os quais incluem o
efeito antimicrobiano dos anticorpos; a função fagocitária dos neutrófilos e macrófagos; o efeito
destrutivo do complemento sobre os microrganismos; a descamação regular das células epiteliais
para a cavidade oral; a barreira epitelial intacta e o fluxo positivo do fluido do sulco gengival,
que pode remover os microrganismos e seus produtos nocivos. Todos esses fatores podem agir
simultaneamente para reduzir a carga bacteriana, prevenindo uma resposta excessiva dos
sistemas de defesa do tecido, o que resultaria na formação de uma lesão. A interação hospedeiro-
microrganismo, que constitui a situação da gengiva primitiva e da gengiva clinicamente sadia,
sofre alterações evidentes com o desenvolvimento subseqüente da gengivite e da periodontite.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Inflamação gengival
Após 10 a 20 dias de acúmulo de placa, sinais clínicos de gengivite se estabelecem na
maioria das pessoas, embora haja grandes variações, com alguns indivíduos sendo
intrinsecamente resistentes e outros mais propensos à gengivite clínica. Esta gengivite
caracteriza-se por vermelhidão e tumefação gengiva e uma tendência aumentada de sangramento
dos tecidos moles à sondagem delicada. Ainda nesta fase, os sinais clínicos são reversíveis, caso
a placa microbiana seja removida e medidas eficazes de controle da placa sejam instituídas.
As alterações clínicas podem parecer sutis nos estágios iniciais da gengivite, entretanto,
as alterações histopatológicas subjacentes são bastante acentuadas. Alterações na rede vascular
ocorrem com a abertura de muitos capilares. Os fluidos e as proteínas exsudativas causam a
tumefação dos tecidos, ocorrendo um influxo de células inflamatórias no tecido conjuntivo
subjacente ao epitélio juncional. O infiltrado de células inflamatórias compreende
principalmente os linfócitos, macrófagos e neutrófilos. À medida que o infiltrado celular se
desenvolve, as composições estrutural e celular dos tecidos sofrem alterações.
Um estudo sobre a gengivite experimental em cães comparou a composição celular e
estrutural da área afetada antes e durante o desenvolvimento da gengivite, por um período de 28
dias. Neste estudo, permitiu-se o acúmulo de placa em dentes de cães com gengiva inicialmente
normal e biópsias foram realizadas durante vários intervalos de tempo. O tecido normal (Dia 0) é
referido abaixo como tecido conjuntivo não-infiltrado e a área alterada como tecido conjuntivo
infiltrado. No dia 0, a unidade gengival normal não exibe, virtualmente, células inflamatórias e é
composta de aproximadamente 40-45% de epitélio e 55-60% de tecido conjuntivo. A zona de
tecido conjuntivo não-infiltrado consiste em colágeno (60%), fibroblastos (13%), vasos (7%) e
outros componentes teciduais, tais como matriz intercelular e nervos (20%). Após a instalação
do acúmulo de placa, neutrófilos e leucócitos mononucleares se deslocam rapidamente para esta
área. Tem início a formação de tecido conjuntivo infiltrado, que aumenta de volume durante o
período de 28 dias, ficando infiltrado por linfócitos, plasmócitos e macrófagos, que aderem à
matriz de colágeno e permanecem, enquanto os neutrófilos continuam a se deslocar para o sulco
gengival. Hipóteses atuais sugerem que os linfócitos que são sensibilizados para os antígenos
periodontalmente relevantes serão preferencialmente mantidos nos tecidos periodontais. Com o
influxo extensivo de leucócitos, há redução acentuada na quantidade de colágeno e fibroblastos e
aumento no volume do tecido residual (matriz intercelular, colágeno decomposto, exsudato,
células degeneradas ou mortas) e dos vasos sangüíneos pequenos.
A progressão da inflamação gengival e periodontal pode ser classificada em quatro
estágios: inicial, precoce, estabelecido e avançado. As lesões inicial e precoce representam a
histopatologia das fases clinicamente "agudas" ou iniciais da gengivite, enquanto a lesão
estabelecida reflete a histopatologia da forma da gengivite "crônica". A descrição histopatológica
da lesão avançada reflete a progressão da gengivite para periodontite. Essas discussões foram
baseadas nas informações predominantes obtidas principalmente de material de biópsia de
animais e algumas amostras de adolescentes humanos. Em humanos, as situações da gengiva
primitiva ou não infiltrada histologicamente sadia são quase impossíveis de se obter. Por
conseguinte, a descrição sobre a progressão da lesão é predominantemente baseada em
experimentos com não-humanos. As fases clássicas da inflamação “aguda” e “crônica” não são
facilmente aplicadas na doença periodontal, provavelmente porque em muitas situações de saúde
clínica ocorre uma lesão similar a uma lesão aguda. Subseqüentemente, há superposição das
alterações inflamatórias crônicas, de tal modo que os elementos agudos e crônicos coexistem nas
lesões precoces, estabelecidas e avançadas.
PATOLOGIA PERIODONTAL - DP-321, FOP/UNICAMP 6
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA
disso, o papel das moléculas de adesão específicas, como, por exemplo, a ICAM-1, no epitélio
juncional, pode auxiliar os movimentos dos PMNs para o sulco e são, de fato, reguladas pela
ação direta dos produtos bacterianos e pelas citocinas produzidas pelo PMN. Assim, os PMNs
chegam ao sulco em grandes quantidades, iniciando a sua função de fagocitose de bactérias,
auxiliados pelo complemento e anticorpos (opsoninas). A presença dos receptores Fc para
moléculas de anticorpos nos PMNs é necessária para a função antimicrobiana dos anticorpos.
Variações nos receptores Fc podem causar predisposição à doença periodontal, assim como
qualquer redução no número ou função do PMN. Outro fator variável relativo ao acúmulo de
PMNs nos tecidos é a quantidade de moléculas de adesão endoteliais ou leucocitárias. A
importância destas moléculas é confirmada pela ampla destruição periodontal observada,
doenças tais como a Deficiência de Adesão Leucocitária, onde ocorre a perda literal dos dentes
assim que erupcionam e, embora os vasos possuam grandes quantidades de PMNs, eles são em
pequeno número nos tecidos e sulco.
À medida que a inflamação prossegue, o processo imunológico é iniciado (se esta for a
resposta inicial a esses antígenos) ou é reativado (resposta típica). Na iniciação da resposta
imune, as células de Langerhans no interior do epitélio apreendem o material antigênico
proveniente dos microrganismos, levando-o para o tecido linfóide, onde o apresentam para os
linfócitos. Esta apresentação provoca o retomo dos linfócitos envolvidos para a área de
exposição microbiana, onde as células B são transformadas em plasmócitos, produzindo
anticorpos, ou as células T começam a auxiliar esta resposta humoral e a desenvolver respostas
imunes mediadas pela célula contra esses microrganismos. A produção de anticorpos pode ser
local ou sistêmica e estes agem agregando ou formando grumos de microrganismos, evitando a
aderência destes últimos ao epitélio, atuando junto com o complemento para destruí-los, e, em
associação com os PMNs, aumentando a eficácia da fagocitose (opsonização). Tanto o número
de anticorpos quanto a sua função são importantes; indivíduos capazes de produzir resposta
imune efetiva podem ser mais resistentes à periodontite do que aqueles cujas respostas imunes
apresentam deficiência na quantidade ou na qualidade.
O acúmulo de PMNs e a atividade no sulco provocam a liberação de muitas enzimas, o
que produz efeitos nocivos para os tecidos do hospedeiro, assim como para os microrganismos.
Além disso, o infiltrado imunológico precisa de espaço no periodonto para iniciar sua função e
deve ocorrer a perda dos componentes estruturais para que se crie espaço físico para os
leucócitos infiltrantes. Adicionalmente, à medida que as camadas epiteliais vão sendo destruídas,
ocorre um novo crescimento epitelial em uma área mais apical, juntamente com a formação da
bolsa. Com a extensão do infiltrado, a reabsorção óssea ocorre a fim de criar mais espaço para as
células de defesa. Há formação de tecido de granulação, ricamente vascularizado e repleto de
plasmócitos que produzem anticorpos. Este tecido ocupa mais espaço e muitas células, no seu
interior, produzem enzimas e citocinas que degradam a matriz, e que causam também a
destruição direta ou indireta do tecido conjuntivo e do osso. Finalmente, se não houver controle,
os microrganismos continuarão a produzir material nocivo para o hospedeiro, este continuará
com sua resposta frustrada contra esses produtos, ocorre o aprofundamento da bolsa, expansão
do tecido de granulação, perda óssea e do ligamento periodontal, além de perda eventual das
estruturas de sustentação, causando a esfoliação.
A patogênese da doença periodontal provoca a destruição das estruturas de sustentação
de um dente, como resultado da ação ineficaz e frustrada do sistema de defesa do hospedeiro em
resposta ao acúmulo de placa microbiana. Este processo patogênico apresenta diferenças na
extensão e gravidade no próprio indivíduo e entre indivíduos diferentes, e as razões para isto são
multifatoriais. Entretanto, existe atualmente um reconhecimento crescente de que há um forte
componente genético na suscetibilidade à doença periodontal. A placa microbiana desempenha
um papel fundamental no processo patogênico, de modo que o único método universalmente
aceito para interromper a destruição periodontal é o emprego de uma estratégia antimicrobiana,
PATOLOGIA PERIODONTAL - DP-321, FOP/UNICAMP 10
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA
PROCESSOS PATOLÓGICOS
pró-inflamatórios adicionais, o que, por sua vez, causa o aumento da inflamação, com maiores
danos ao hospedeiro. Uma dificuldade importante no planejamento e desenvolvimento de uma
vacina eficaz para a prevenção da doença periodontal é a multiplicidade de patógenos
periodontais suspeitos. Embora se obtenha o sucesso na erradicação de uma espécie ou cepa
microbiana, outros membros da extensiva flora podem substituí-la, desempenhando o seu papel
no processo patogênico.
Em resumo, os microrganismos são capazes de produzir uma variedade de substâncias
que causam danos ao hospedeiro, direta ou indiretamente. O efeito prejudicial mais importante
pode ser da própria resposta imune do hospedeiro aos antígenos apresentados pelos
microrganismos.
Proteinases e inibidores
A doença periodontal provoca a degradação tecidual e, portanto, as proteases, tanto do
hospedeiro quanto dos microrganismos, são fundamentais para o processo destrutivo. As
proteinases, como o nome sugere, são aquelas moléculas que dividem as proteínas através da
PATOLOGIA PERIODONTAL - DP-321, FOP/UNICAMP 13
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA
hidrólise de ligações peptídicas. Estas enzimas proteolíticas podem ser classificadas em dois
tipos principais: endopeptidases (proteinases) e exopeptidases, dependendo do local de atividade
da enzima no seu substrato. As enzimas da primeira categoria segmentam as ligações no seu
substrato dentro da cadeia de polipeptídios, enquanto as exopeptidases dividem o seu substrato
apenas um ou dois resíduos a partir do final da cadeia de polipeptídios. Nas duas últimas
décadas, numerosos estudos foram realizados a fim de se ter certeza sobre a atividade e
concentração da endopeptidase no sulco gengival. Esses estudos incluem a gengivite
experimental (nos quais voluntários se abstêm de realizar a higiene oral durante várias semanas),
estudos seccionais (com pacientes que apresentam periodontite) e estudos longitudinais antes e
depois do tratamento periodontal. Em muitos casos, tentou-se avaliara atividade da proteinase
medindo-se a atividade da enzima, embora tenham sido usados também imunoensaios. Em vários
destes estudos, tentou-se também fazer uma associação com a gravidade da doença, tendo-se
constatado, em muitos casos, uma associação positiva ou uma redução dos níveis de proteinase
com o tratamento. A atividade da endopeptidase, incluindo a colagenase, semelhante à elastase e
à tripsina, assim como proteinases serina e cisteina também foram detectadas em
homogeneizados do tecido gengival. Além disso, demonstrou-se recentemente a associação da
atividade ativadora do plasminogênio tissular com o revestimento epitelial do sulco.
A liberação das proteases na gengiva e na área do sulco promove reações inflamatórias e
contribuí para causar dano ao tecido conjuntivo por diversas vias. Ao contrário, os inibidores da
protease servem como moduladores da função da protease na área e minimizariam o processo
inflamatório. Todas as endopeptidases derivadas do hospedeiro que são liberadas no sulco
gengival podem ser inibidas pela função combinada da macroglobulina alfa-2 (α2-M) e da
antitripsina alfa-1 (α1-AT). De fato, demonstrou-se a inibição da colagenase gengival pela α2-
M, sendo a colagenase do leucócito polimorfonuclear (PMN) inibida pela α1-AT. As
colagenases bacterianas também podem ser inibidas pelos inibidores da proteinase humana,
entretanto, existem possibilidades também de que proteinases potentes de microrganismos tais
como P. gingivalis sejam capazes de destruir esses inibidores.
Em resumo; muitas enzimas microbianas e do hospedeiro encontram-se, provavelmente,
presentes no sulco. Em relação às características potencialmente destrutivas das enzimas
sulculares, devemos considerar a origem de tais enzimas, as suas proporções relativas e os
mecanismos inibitórios disponíveis no sulco. A principal atividade da enzima é derivada do
hospedeiro, havendo abundância de inibidores específicos e não-específicos no sulco; portanto, a
atividade enzimática será localizada e de curta duração.
Citocinas
As citocinas são proteínas solúveis, secretadas por células, que agem como mensageiras
transmitindo sinais para outras células. Elas realizam numerosas ações, as quais incluem a
iniciação e manutenção das respostas imune e inflamatória e a regulação do crescimento e
diferenciação das células. As interleucinas são membros importantes do grupo das citocinas e
encontram-se envolvidas, principalmente, na comunicação entre os leucócitos e outras células
que participam dos processos imune e inflamatório, como as epiteliais, endoteliais e os
fibroblastos. Estas moléculas são liberadas em pequenas quantidades e possuem ações variadas
sobre as células que carregam o receptor específico para esta citocina. As citocinas são
numerosas, muitas realizam funções que se sobrepõem e são encadeadas, formando uma rede
ativa que controla a resposta do hospedeiro. O controle da liberação e da ação da citocina é
complexo e envolve inibidores e receptores. Muitas citocinas são capazes de agir sobre a célula
que as produziu, auto-estimulando sua própria produção e a produção de outras citocinas.
Citocinas pró-inflamatórias
As citocinas interleucinas (IL)-1, IL-6 e o fator de necrose tumoral (TNF) estimulam a
reabsorção óssea e inibem a formação óssea in vitro e in vivo. Foram realizados estudos sobre a
atividade da IL-1, IL-6 e TNF em amostras do fluido do sulco gengival de áreas clinicamente
inflamadas em humanos. Estudos adicionais tentaram localizar as citocinas em tecidos sadios e
doentes. Estudos acerca do mecanismo de ação da IL-1 sobre os fibroblastos, in vitro, sugerem
PATOLOGIA PERIODONTAL - DP-321, FOP/UNICAMP 15
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA
que a IL-1 pode agir sobre os fibroblastos promovendo o reparo ou a destruição da matriz
celular. Demonstrou-se também que o material empregado no implante dentário pode induzir a
produção, pelas células mononucleares periféricas, da IL-1 e TNF, o que, teoricamente, resulta
em perda óssea e perda do implante; entretanto, as implicações clínicas não são tão claras.
Citocinas quimiotáticas
Uma série de mais de 20 moléculas foi identificada sendo, entre elas, a mais famosa e
mais bem caracterizada a interleucina 8 (IL-8), que possui funções quimiotáticas poderosas para
os leucócitos, particularmente para os neutrófilos, mas também para os linfócitos e macrófagos.
Estas moléculas agem para recrutar células de defesa para áreas onde elas são necessárias, e são
importantes nas respostas mediadas por células. O termo quimiocina é empregado para descrever
estas moléculas e é uma forma abreviada do termo "citocina quimiotática".
Prostaglandinas
Prostaglandinas são derivadas do ácido aracdônico e são mediadores importantes da
inflamação. Não surpreende, portanto, que tenham sido implicadas na patogênese da doença
periodontal. As citocinas pró-inflamatórias são capazes de estimular os macrófagos e outras
células para produzirem quantidades abundantes de prostaglandinas, particularmente as PGE2,
que são potentes vasodilatadores e indutores da produção de citocinas, por várias células. A
PGE2 age sobre os fibroblastos e osteoclastos, juntamente com as citocinas, induzindo a
produção de metaloproteinases da matriz, que é relevante para o processo de destruição
periodontal.
reexposição aos antígenos da placa, respondem com a proliferação e sintetização das citocinas.
Eles podem também produzir citocinas quando estimulados pelas substâncias mitogênicas
liberadas pela microbiota subgengival ou por outras células na reação inflamatória.
Diversos estudos foram realizados a fim de se determinar o papel das células T na
gengivite e na periodontite. Estudos empregando o modelo de gengivite experimental tentaram
esclarecer o papel desses linfócitos na reação inflamatória em desenvolvimento. O tecido
gengival histologicamente normal ou primitivo é encontrado apenas nas adjacências de dentes
totalmente livres de placa, sendo, conseqüentemente, raro em seres humanos. As biópsias de
gengivas humanas clinicamente sadias apresentam células inflamatórias, com predominância de
células T, poucas células B ou plasmócitos. Quatro a sete dias de acúmulo de placa resultam em
um influxo de linfócitos para o tecido e, após três semanas de acúmulo, a lesão é dominada
principalmente por células T. Quando este período ultrapassa os seis meses, a predominância
ainda é de linfócitos e PMN. Ocasionalmente, observaram-se plasmócitos nas lesões inicial e
precoce da gengivite induzida experimentalmente, onde a inflamação gengival ocorre após o
acúmulo de placa nos indivíduos que se abstêm de praticar medidas de higiene oral. Parece ser
necessário, entretanto, que o tempo de acúmulo de placa seja superior a seis meses antes que os
plasmócitos constituam uma proporção significante do tecido conjuntivo infiltrado. Constatou-se
serem os plasmócitos os principais componentes do tecido conjuntivo infiltrado na lesão
avançada, onde a perda óssea era evidente. A quantidade de plasmócitos parece aumentar com a
gravidade da lesão. A gengivite é usualmente dominada pelos linfócitos e a periodontite pelos
plasmócitos.
CONCLUSÃO
PATOLOGIA PERIODONTAL - DP-321, FOP/UNICAMP 19
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA