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Impossível ler Clarice impassível. É que ela lida com a matéria prima, com o que
claricemamente: “Tem uma passagem estreita dentro de mim, tão estreita que
Deus. Nem sempre tenho força para atravessar esse deserto sangrento, mesmo
sabendo que se me forçar a me doer todo entre as paredes, mesmo sabendo que
desembocarei para a luz aberta de um dia trêmulo de sol macio.” (Um Sopro de
O conto começa por uma conjunção adversativa, que já nos remete ao espaço
de uma dúvida. Um 'mas' inicia a história, e já não sabemos onde, porque e como
indeterminação é reiterado: a mesma conjunção é usada mais três vezes nos três
parágrafos iniciais.
“Onde aprender a odiar para não morrer de amor?”(pg 163). A luta entre Eros
e Thanatos, amor e ódio, vida e morte pulsa durante todo o tempo do conto. O
dói”(pg 163). O espaço do conto é muito conhecido pela autora, e ela mesma diz
que vi numa mulher ou em várias, ou em homens, em uma das mil visitas que fiz a
jardins zoológicos. Nessa, um tigre olhou para mim, eu olhei para ele, ele
sustentou o olhar, eu não, e vim embora até hoje. O conto nada tem a ver com
tudo isso, foi escrito e deixado de lado. Um dia reli-o e senti um choque de mal-
dia desses tive um ódio muito forte, que eu nunca me permiti; era mais uma
necessidade de ódio. Então escrevi um conto chamado “O Búfalo”, tão, tão forte,
que por experiência fui ler para Mafalda, Arnaldo Pires..., eles sentiram até um
mal estar. O rapaz disse que o conto todo parece feito de entranhas...”2. Assim, já
Esse conto é uma descida aos infernos, sete círculos mais um, cada círculo
que a mulher foi buscar. A mulher, Orfeu outro, não desce para buscar o amor,
russa como signo maior da viagem sem saída, do carma. Um labirinto onde ela,
1Sá, Olga de. Clarice Lispector Atravessia do Oposto,1993, Anna Blume ed., pg 198
2idem, pg 197
2
“rodeada pelas jaulas, enjaulada pelas jaulas fechada”(pg 157) continua a andar
procurando a saída, até descobrir que não existe saída porque “A jaula era
sempre do lado onde ela estava” (pg 162). Um labirinto sem fio de Ariadne, mas
com outro fio, “dentro dela escorria enfim um primeiro fio de sangue negro” (pg
166). Um Teseu sem espada, mas com um punhal. Um mimnotauro que precisa
ser morto.
Mais uma das fábulas grotescas de Clarice nos esclarece quem somos. De
maneira lancinante, como numa punhalada, ficamos sabendo com pavor, de uma
outra noite escura da alma, desse breu que também nos compõe, e saímos da
Então percebemos: fomos tão fundo que acabamos vendo do outro lado da
gerson dudus/97
bibliografia consultada
3
1. ARTAUD,Antonin. O Teatro e seu Duplo. Trad. Teixeira Coelho. SP, Ed. Max
Limonad,1987.
3.a edição.
13.a edição.
edição.
Campinas/SP, 1989.
9.SÁ, Olga de. Clarice Lispector A travessia do Oposto. SP, ANNABLUME Ed.,
1993.