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KONDURILÂNDIA
IDÉIAS E REGISTROS
NA GÊNESE DA NOVA
UNIDADE FEDERATIVA
NO OESTE DO PARÁ
KONDURILÂNDIA
3
Título: Kondurilândia – idéias e registros na gênese da
nova unidade federativa no oeste do Pará
Catalogação na Fonte
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
280 p.
CDD – 981.1
4
Aos meus pais,
pelas virtudes ensinadas;
aos meus filhos,
sementes lançadas,
e, à minha mulher
pela rega diária do saber
na família feliz que somos.
5
Ao povo feliz do baixo-amazonas,
especialmente na terra de Uraxá,
personagens das histórias engraçadas
de gente e cousas na Amazônia brasileira.
6
“Tenho podido viver de acordo com minhas convicções.
Politicamente acredito
que não pode existir uma sociedade decente sem
liberdade de crítica.
Filosoficamente, creio que a vida do homem se reduz,
em última análise, a uma fé – cujos fundamentos estão
além de qualquer prova.
Acho que todo homem é o verdadeiro pigmalião de si
próprio.
E em recriando a si próprio, bem ou mal ele recria a raça
humana e o futuro”
7
“Todo ser humano tem consciência do passado
(definido como o período imediatamente anterior aos
eventos registrados na memória de um indivíduo) em
virtude de viver com pessoas mais velhas.
Eric Hobsbawm,
In Sobre História
8
SUMÁRIO
9
URAXAMINA
12
Caco Konduri
10
PREFÁCIO
11
Oriximiná tem enfrentado tremendas batalhas
para manter sua identidade cultural. Cada ciclo
econômico, cada movimento social, cada grande projeto
perturbam e agridem este consenso harmonioso que é a
vida nesta comunidade de gentes pacíficas, porém,
combativas. Ordeiras, mas, que não aceitam
conformadas um destino que não lhes faça justiça.
12
agressões e transgressões ambientais em áreas de
exploração mineral, culminando na ousada proposta de
criação de um Mercado Comum para o vale do Rio
Trombetas, o livro propicia ao leitor conceber um
itinerário excitante sobre esta extraordinária região da
Amazônia, aliciando nossos desejos de repensar nosso
destino.
13
exemplo seguido do Governador Almir Gabriel, a
somatória de esforços de todos. Há também as
correntes de opinião e organizações sociais que geraram
a matéria-prima com a qual se haverá de construir um
futuro mais livre e mais consciente.
14
seriamente que leve a termo as alternativas plausíveis
norteadas no mesmo sentido e direção.
15
Capítulo 1
16
cultura local, sobre a história da nossa gente e
civilizações passadas?
17
Quem está sabendo do projeto Calha Norte e o
que tal projeto representa para os povos das áreas
fronteiriças desta nação? E o Plano Colômbia? E sobre
as pistas de pouso das aeronaves dos traficantes de
drogas que a Polícia Federal implode à vontade? O que
devemos fazer? Qual a senha da vida?
18
paraense é mais do que existencial motivação para viver
na região. É preciso desapaixonar o tema. Esta causa
quase sempre é desqualificada quando o interlocutor
assoma com argumentos emocionais, apelando para o
lado fraco do coração humano.
19
De repente, alguém aparentemente sem vínculo
com a região do baixo-amazonas paraense consegue
colocar a questão na marca do pênalti: iminente
aprovação na câmara federal do dispositivo que prevê
plebiscito em seis meses.
3
Vide capitulo A Democracia dos Konduris
20
Lembrem-se que já teve político de renome na
sociedade paraense que dormiu eleito na tese
separatista e acordou exilado do cargo, sem condições
de implementar suas ações comprometidas com a causa
separatista. Ficou manietado no exercício do cargo
vincendo. Se com eles acontece tal reverso, imaginem
para a gente do povo...
4
“...As causas da riqueza e pobreza de nações – eis o formidável
objetivo de todas as investigações em economia política. Apud
21
Nossas ações na sociedade quase sempre
podem ser interpretadas à luz das diretrizes políticas
dominantes. Muito pouco, por convicção e coerência de
teses comuns, para atender reclamos legítimos de uma
gente. Afinal, o grego já dizia da nossa inseparável
característica política. Portanto, você e eu escrevemos a
própria história, sem romantismos, sem paixões ou
sectarismo que impede a luz racional das verdadeiras
causas da diferenciação econômico-social da região e da
nação brasileira frente ao abismo que separa os ricos
dos pobres. 5
22
Assim, vamos tratar de temas diversos, como
direitos à terra negados pelo próprio governo do Pará
aos também legítimos possuidores, como é o caso da
luta ferrenha travada entre irmãos de sangue na disputa
pelas terras públicas do Trombetas e Cuminá; direitos a
ser conectado à federação brasileira por estradas e vias
logisticamente estruturadas, com o mínimo de segurança
e economia, para fomento da atividade produtiva
inibidora das misérias regionais; direito à distribuição da
justiça, via acesso e resposta do judiciário efetiva e
prontamente prestada para o cidadão; direitos básicos do
consumidor, sem falar no mais elementar direito da
humanidade como é o da autodeterminação dos povos.
23
porque raramente aparecem na região, duas ou três
vezes por décadas, reduzindo as oportunidades de
encontros e desforras mais pela inépcia do trato político,
menos pela sagacidade e astúcia; depois, o eleitor ainda
não é vigiado na imaginação, ainda não paga imposto
neste país a atividade que tem o pensamento como fato
gerador. A difícil e quase impossível subsunção da
atividade mental ao fato gerador de tal imposto é
bastante para frear tais asneiras.
24
Urge agir para registrar a marca histórica de
conquistar o espaço político, exercer o lugar na
sociedade como eterno agente de mudanças. Como
conseguiremos esse bem-estar almejado para nossas
gentes, que serão deles não por dádivas de cada um de
nós, mas somente pelo próprio esforço em buscar
saídas, não se corrompendo com verba alheia sem
precisar vender sua alma ao diabo da politicagem?
25
vai mudar a política”. É você mesmo, cidadão do baixo-
amazonas paraense o alvo deste ensaio político cultural
a começar agora...
26
Capítulo 2
27
história não contada por todos. Das diversas camadas
vêem sempre as floradas douradas, prateadas,
niqueladas, aluminizadas, cobreadas etc. etc.
6
Apud Acevedo & Castro, in Os Negros do Trombetas, “Em torno de
1823, as regiões de Belém e de Santarém constituíam os dois
semicírculos mais importantes do povoamento organizado no
segundo século de dominação portuguesa na Amazônia. A primeira
região abrangia uma extensão máxima de 200Km, a partir da Ilha
do Marajó, onde encontravam-se três quartos da população da
28
onde primeiro se deram os embates militares para
rechaçar a cobiça internacional que tinha sido eleita no
século XVII: a colônia portuguesa abandonada no novo
mundo para seus alvos de pirataria.
29
imaginário do povo de Uraxamina a partir da civilização
dos Konduris8.
8
Em artigo publicado após a pesquisa de campo no Lago Sapucuá e
rio Trombetas, Peter Paul Hilbert comenta que ao fazer a datação
em carbono 14 das peças arqueológicas coletadas ( caretas ) foi
constatado a idade de 8 a 10 mil anos A C. Se confirmada esta
idade da cerâmica arqueológica da região de Oriximiná, então
podemos falar de uma civilização Konduri e não apenas nominá-los
de indígenas ou nativos.
9
Ob. cit. Pág.1
30
Na área objeto do presente ensaio fica Oriximiná,
às margens do Rio das Trombetas10. Lá onde os sabiás
também cantam como os de qualquer lugar deste
enorme Brasil. Lá as areias são brancas, alvas, não
amareladas; são finas, travosas, barulhentas e não
grossas como as do Mosqueiro, em Belém. As águas
são límpidas e claras como as do rio Tapajós, outras são
púmbleas escuras como as do rio Trombetas, Xingu e
Parú, portanto, praia para um santareno ou
oriximinaense não tem o mesmo imaginário plástico que
se apresenta para o belenense.
10
Maurício de Heriarte, provedor-mor e auditor do governador,
publica por volta desse mesmo ano (1697), informações
pormenorizadas sobre o Trombetas.... diz ser “um rio mui povoado
de índios de diferentes nações: conduris, bobuis, aroaeses, tabaos,
curiatos e outras muitas; e todos possuem seus próprios ídolos,
cerimônias e governos, como têm os Tapajós... as terras deste rio
das Trombetas (que os portugueses lhe deram este nome pelas
muitas trombetas de que seus moradores usam) têm finíssimo
barro, de que fazem muito e boa louça de toda sorte, que entre os
portugueses he de estima, e a levam a outras províncias por
contrato, in A Cerâmica Arqueológica de Oriximiná, por Peter Paul
Hilbert, Museu Emílio Goeldi, Belém, 1967
31
pororoca. Marajó não é Lago Grande nem Sapucuá e
muito menos Matapi, Sacuri ou Iripixi. O antropólogo que
pesquisou a região no ano de 1955 ensina que “... o
aspecto da várzea, poucos metros acima do nível do rio,
é marcado pela multiplicidade de lagos e canais, terreno
em grande parte inundável no período hibernal das
enchentes. No verão, vastos campos por ela se
estendem, recobertos de ilhas de uma vegetação
peculiar, o que torna a várzea comparável a um
gigantesco parque que, não raro, se alonga numa
enorme extensão, até a linha do horizonte, para deter-se
apenas quando esbarra com a mata ciliar do Amazonas
ou, terra a dentro, quando se defronta com as elevações
da terra-firme já mencionada”11
32
vemos que “.... mesmo a olho nu a região da várzea é
bem diferenciada da terra firme. Enquanto nesta
predomina o acentuado sombreamento da floresta
contínua e espessa, onde só resteas de luz penetram,
naquela tudo é claridade e o descampado permite que
os detalhes se tornem visíveis até onde a vista alcança a
enorme planície verde e luminosa”.
33
cadeias de montanhas divisoras de águas para o Brasil e
para as Guianas Inglesas e holandesa. São seus
afluentes mais importantes os rios Cachorro e Mapuéra,
na margem direita e o rio Cuminá ou Erepecurú, na
esquerda. Ao contrário dos demais afluentes da margem
esquerda do Amazonas, abaixo do rio Negro, é o curso
inferior do Trombetas quase reto. No curso médio,
todavia, torna-se um pouco sinuoso e é em seu percurso
acompanhado por formações de lagos de maior ou
menor dimensão, separados do rio por diques esguios,
aqui e ali interrompidos pelos canaletes de ligação das
respectivas águas.”
34
determinado pelos seus políticos regionais, não pela
federação.
13
Não tendo sido publicados todos os manuscritos e notas deixados
por Curt Nimuendajú, torna-se impossível determinar até que
ponto, durante as suas pesquisas referentes aos Tapajó, se
preocupou com os sítios arqueológicos da região Trombetas-
Jamundá. É quase certo, todavia, que a designação “estilo
Konduri” é a ele devida.” Apud Hilbert ob. citada. Nimuendajú é
antropólogo alemão que em 1926 muito estudou a região do
Tapajós e Trombetas, sendo o primeiro a denominar com o termo
Konduri a cerâmica encontrada na região de Oriximiná e
adjacências. N. A
35
cerca de 600 índios dessa tribo para a aldeia do Tapará,
na margem direita do rio, quase na sua boca. Não houve
mais informação sobre eles. O Forte dos Pauxis foi
fundado em 1697, na margem esquerda do Amazonas,
onde presentemente se acha Óbidos, e Pauxis é ainda
hoje o nome de um lago abaixo desta cidade. Perto do
forte havia duas pequenas aldeias indígenas que, em
1758, segundo Moraes, se fundiram, bem como outra
mais distante na villa de Óbidos, mas nada mais se sabe
da tribo ou tribos que lá viveram. O padre Fritz fala da
tribo dos “Cunurizes” e no seu mapa de 1691 coloca-a
exatamente no ponto em que o forte iria ser construído 6
anos depois. Quando Olga Coudreau levantou o mapa
do rio Cuminá ou Erepecuru, em 1900, um descendente
de escravos fugitivos vivendo nesse rio, informou-a que
uma tribo denominada Pauxi habitava nas cabeceiras do
Água-Fria, Penecura e Acapú Bayous, tributários direitos
do rio Erepecuru, pouco acima da boca. De acordo com
essa informação, a tribo tinha primeiro vivido em Óbidos
mas, antes da chegada dos civilizados, retirara-se para o
Erepecuru, depois para a boca do Penecura e,
finalmente, para as cabeceiras deste rio. Depois de 1877
36
interromperam-se suas relações com os escravos
fugitivos. Do mesmo informante obteve Coudreau uma
lista de 38 palavras. A língua é caribe, mas difere do
dialeto dos Kasuená (Caschuená) do rio Cachorro, seus
mais próximos vizinhos, e do dialeto dos Pianocotó do
alto Erepecuru. Os Pauxi há muito tempo não mais
existem”14
14
Hilbet, Peter Paulo. Ob. cit. Pág. 8
15
Penna, Ferreira Domingos Sávio. A região Occidental da Província
do Pará, Belém, 1869
37
velhos conquistadores espanhoes exterminaram e
perseguiram a ferro e fogo, aviltando-os com o apelido
de Canibais... Grande número desses infelizes são hoje
escravos dos escravos16 refugiados nos Mocambos, e
suas filhas lhes são arrancadas para amazias desses
mesmos negros que dominam, como senhores
absolutos, naquela região”.17
38
(Faro), afirma ele que lá, primitivamente, os jesuítas
aldearam quatro tribos, Cunurys, Cherenas, Paracoianá
e Paracuatá , às quais mais tarde se reuniram os Uaboys
do Trombetas.
19
Terra firme que vai do Iripixi até o rio Parauacui, ou seja, o solo
onde está hoje a planta da cidade de Oriximiná. N.A
39
Há uma sensação de que o norte cultural da
nação konduri é base das gentes de Oriximiná. Ainda
que se passem os anos, ficaram os registros históricos,
as cerâmicas, os mitos e lendas para construir o
referencial do povo oriximinaense, vincado na
determinação e resistência das invasões de estrangeiros.
Quem sabe os espíritos dos konduris não continuam
habitando nossas florestas e pastagens das várzeas.
40
e de Faro, tendo a proveniência marcada com a letra de
Nimuendajú, da mesma maneira que outros com a
designação “cerâmica Konduri, rio Trombetas até
Jamundá”.21
41
formação de patrimônio especulativo de organização
financiada com dinheiro alheio, estrangeiro mesmo, sem
pátria, sem vínculo nativo.
22
Trecho da BR163, que após atravessar o rio Amazonas, segue do
Poção até Cachoeira Porteira, construída na década de 70 pelo 8º
Batalhão de Engenharia e Construção do Exercito - BEC
42
Pará e da União Federal, conforme o caso, seja área do
ITERPA ou do INCRA.
23
Lugar de diversão, danças e festas cerca de 15 minutos de
viagem da Vila de Porto Trombetas. É também chamado de “Brega
do 45”
43
transito em toda a sociedade oriximinaense, não sendo
apartado de nenhum grupo social.
24
“Mucambo é uma parage deserdado para pouca gente... é... É
uma parage deserdado que, a pouca gente mora lá, é, quer dizer
deserdado por falta de vizinho... Mocambo era onde paravam os
negros que vinham da Cabanagem. Onde eles paravam... eles se
apoderaram e aí trabalhavam. Dava-se o nome de pretos
mocambeiros... Viviam dentro da montanha, dentro daquelas
Serras Grandes. Então quer dizer uma paragem escondida, sem
visita de outras pessoas.... de brancos” . N.A in Os negros do
Trombetas, Acevedo & Castro, ob. citada.
25
Veja a propósito o capítulo A Farsa dos Quilombos
44
A polissemia da palavra quilombo fez várias vezes
este autor se manifestar pela inexistência dessa entidade
etnográfica na região do Trombetas que teria feito gerar
as minorias negras na sociedade oriximinaense
chamadas quilombolas.
45
quilombolas. É preciso entender o contexto histórico para
fazer as comparações necessárias.
26
Frase quase sempre presente nos discursos de Fernando Henrique
Cardoso quando faz doações e reconhecimentos de domínios de
terras tidas como devolutas no Brasil. N.A
46
no Império e de cada estado nascente na noviça
república que se fazia então.
47
particular, cada documento de posse existente neste
município e que apresenta o competente registro de
imóveis. A partir daí, sim, fazer os respectivos
reconhecimentos dominiais. Mas, alerta-se desde logo,
na devida proporção do mando constitucional da
utilidade e efetividade da propriedade rural.
27
Os negros do Trombetas, ob. citada ao final do livro
48
Como é sabido, grande parte dessas terras não
eram as terras públicas chamadas pela doutrina jurídica
brasileira de “terras devolutas”28, mas, já haviam sido
mapeadas pelos topógrafos e assim faziam parte do
patrimônio de algum senhor proprietário à época, na
forma da legislação imperial, a Lei de Terras de 1850.
28
Parte das terras que deviam ser devolvidas ao poder do Estado
para serem novamente tituladas. Isso ocorreu em todo território
brasileiro tendo como causa principal os critérios e instrumentos
utilizadas na demarcação das terras em geral. N.A
29
Jurista alemão que propôs a Teoria Objetiva da Posse, adotada
pelo Código Civil Brasileiro
49
Trombetas com a sociedade civil de Oriximiná. Respeito
e cerimônia sempre foram comuns entre os caciques dos
dois lados.
50
flagrante falta de atitude de ajudar nossos irmãos a
verem o futuro com seus próprios olhos e perspectiva
regional aliada a não menos cruel omissão da classe
política de Oriximiná.
51
Armados também de aparato tecnológico de
última geração, tal como o GPS30 os “coletivos”
assomavam com facões e espingardas nas casas e
roças dos “individuais” para, em não sendo convencidos
pela explicação técnica, coagi-los a ceder seu lote
individual para agregar ao todo coletivo. Com esse forte
argumento, a ARQMO31 conseguiu amealhar uma área
de mais de 400 mil hectares de terras públicas e
particulares nas margens esquerda do rio Trombetas.
30
Global Position System. Equipamento orientado por no mínimo
seis satélites que confere as coordenadas geográficas, traça rotas e
calcula distâncias com simples manuseio e fácil operação. N.A
31
Associação dos Remanescentes de Quilombos do Município de
Oriximiná que possui em seus quadros apenas 116 famílias de
negros no ano de 1998, enquanto que a ASTRO – Associação dos
Trabalhadores Rurais e Ribeirinhos do Trombetas congrega os
chamados negros e lavradores mestiços “individuais” contava em
seus quadros mais de 2.000 famílias, segundo dados obtidos junto à
Secretaria da ASTRO.
52
entre “individuais” e “coletivos”. Consultem-se os
arquivos policiais e se verá muito mais casos de
violência envolvendo essa cisão levada a cabo desde
quando a ARQMO iniciou o processo de arrecadação
das terras coletivas.
53
federal que cuidam da regularização das terras em
disputa.
32
Existem Atas de reuniões onde se registrou expressamente a
ausência dos vereadores e do prefeito de Oriximiná nas reuniões
preparatórias para o processo de demarcação das áreas Trombetas
e Erepecuru, objeto de disputa judicial entre os associados da
ARQMO e ASTRO. N A
54
outrora mãe, Óbidos. Á esquerda, o lado maior margeia
os municípios de Terra Santa e Faro, fechando com a
base maior até à fronteira norte do país.
55
Estrategicamente as terras de Oriximiná se esgotaram
abaixo do cinturão dos “quilombos”. Até parece vindita da
mãe África.
33
Veja capítulo “A Farsa dos Quilombos”
34
Principal nação indígena que recebeu o europeu e demais
imigrantes na região do Sapucuá e Uaraci – chapada à margem
esquerda do Trombetas que vai do Campo Grande até o Caipuru
56
fala de abertura35 dos políticos locais: “Nós.... que
estamos aqui no fim do mundo, neste cidade esquecida
pelo resto do Brasil... blá blá blá...”
35
Nas aberturas de reuniões e comícios é comum os oradores
iniciarem suas falas com essa premissa dantesca do fim do mundo.
O autor é regular em rechaçar tais afirmações repetindo o
pensamento orteguiano do “Yo soy yo y mi circunstancias... La
circunstancia es e mundo, las cosas em derredor... ”
36
Que es Filosofia? José Ortega Y Gasset, Madri, Espanha, 1973
57
deve continuar a ser todos justamente. A pátria da
kondurilândia.
Oriximiná
(Abílio e Grouxy37)
És meu encanto
Princesa do Trombetas
Tens as pérolas raras
De admiráveis belezas.
Tens as praias formosas
Onde a lua vive a brilhar,
És do Trombetas a sereia,
Que na branca areia
Se põe a cantar!...
Oriximiná,
Cidade de encantos mil,
És meu rincão elegante,
Cidade cabocla
Do meu Brasil!
37
Anthymio Wanzeler Figueira, popularmente conhecido como
Grouxy ou Guruxi, foi funcionário do IBGE, servindo como Agente
Municipal de Estatística de Oriximiná por quase 28 anos pela
década de 30 a 50, ao que se deduz da leitura do livro lançado em
1994.
58
Capítulo 3
59
as virtudes básicas do amor e da humilde caminhada:
aprender a aprender para ensinar o aprendido.
60
ideal de vida e como deles, podemos gerar riquezas e
qualquer parte desta federação.
61
como sempre virão, precisamos estar aptos a rechaçá-
los da discussão, dando vezo às análises mais apuradas
como é a geo-econômica, a identificação cultural, a
imaginação da região povoada de particularidades e
coisas bem próximas do povo vivente. Ocorre que agora,
podem ser outros os motivos que nos querem
separados.
38
PAROESTE – Falta de Paraensismo? . veja texto integral no
apêndice
62
Atualmente, o governador roda a fita repetindo o
epíteto da logomarca política por onde foi eleito para não
o permitir praticar nenhum ato que faça a divisão do
Pará. Isso é para aqueles que acreditam em papai Noel.
63
Das várzeas temos muito que pensar e falar.
Você, caro leitor, já viu alguém registrar várzea no
cartório de registro de imóveis e em seguida gravar uma
garantia para receber empréstimo bancário?
64
regularização da várzea. Talvez aqui também esteja forte
presença do vírus omissis ativus39.
39
Metáfora utilizada pelo autor para humorizar a omissão no
serviço público que tudo arranja para não fazer ou dar parecer em
casos que fogem da rotina.
65
resolvido a questão agrária deles? É o tamanho da área
que importa? Quanto menor, melhor a administração e o
controle, requisitos básicos de qualquer governo.
40
Gabriel Guerreiro, então deputado federal.N.A
66
Óbidos, além de alguns associados de Oriximiná.41
Também nós, ainda neófitos na política, percebemos as
divergências entre a chamada bancada paraense no
almoço que fizemos com eles no restaurante do Senado
Federal.
41
João Giordano e Ludilson Silva integraram a comitiva de
empresários de Oriximiná que ao lado do então presidente João
Bosco Almeida, foi a maior representação municipal do Pará no
Congresso Nacional das Associações Comerciais, Brasília, 1987. N.A
67
Elas são boa terra, como aquela dos chineses
para o plantio do arroz. Nelas, nossos antepassados
indígenas colhiam o arroz nativo para dele fazer seus
banquetes. Já disse isso em outros escritos tirados dos
registros do Ferreira Penna42. Hoje, os arrozais são
vastos e a cada cheia ficam alimentandos os patos e
marrecos, mas o homem regional ainda prefere o arroz
ensacado lá no Rio Grande do Sul. Isso é globalização e
falta de bom senso nas políticas agrícolas praticadas na
região, se é que existe tal planejamento.
42
Ferreira Penna, Domingos Sávio, in Viagem à Região Ocidental da Província do
Pará, 1852
68
canaranas43 que brotam às margens do rio Cachoery
que davam aquele peso e cor ótimas aos bovinos.
43
tipo de capim muito nutritivo e de bom apetite para o gado da região
69
Capítulo 4
O PRIMEIRO FÓRUM
70
senhores da cidade44, porém mescladas com reuniões
preparatórias semanais com jovens aspirantes,
aportaram no dia 15 de Junho de 1985 a bordo do
Oriente as lideranças empresariais de Santarém45, para
numa seleta reunião na sede do Bancrévea,
apadrinharem o nascimento da noviça associação dos
comerciantes da Kondurilândia.
44
José Diniz, José Miléo, Mario Giordano, João Oliveira e José Luiz
Ferreira de Almeida, dentre outros, foram os empresários que mais
incentivaram o nascimento da Associação Comercial de Oriximiná.
N.A.
45
Hélcio Amaral e Manoel Chaves de Lima sempre estiveram
comprometidos com a causa associativista dos empresários de
Oriximiná.N.A
71
Com vigor, essa agremiação rebateu críticas,
propôs soluções para o Vale do Trombetas, articulou
visitas para esclarecimentos de autoridades fiscais, e fez
um fato merecedor de registro quando organizou a
primeira leva de empresários nativos à visitar a esfinge
do Trombetas. Era tempo dos chamados “fiscais do
Sarney”, anjos do povo na caça aos demoníacos
comerciantes que remarcavam preços. Em polvorosa, as
gentes da SUNAB46 rapidamente se espalharam pelo
Brasil, em busca da caça ao boi, armados pela Lei
Delegada nº 04.
46
Superintendência Nacional de Abastecimento. N A
47
A reunião a ACO que mais compareceu comerciantes ao lado da
também concorrida reunião onde foi entregue ao Governador do
Pará uma pequena sugestão de projeto de Desenvolvimento para o
Vale do Trombetas.N.A.
72
A vila de Porto Trombetas era o templo sagrado e
estratégico do governo militar e empresas estrangeiras,
onde se instalava a Mineração Rio do Norte S A,
empresa mito e sucesso de administração para seus
acionistas. Porto Trombetas era indecifrável e
inacessível nessa época da pós-ditadura. Dizem que até
o prefeito do município tinha que pedir licença para
desembarcar.
73
Depois da apresentação, um passeio pela área
industrial e mina fez os empresários oriximinaenses
virem pela primeira vez as enormes máquinas
assustadoras a escavar o solo extraindo as riquezas,
originariamente em prazo estimado para quatro séculos.
Hoje tarefa ajustada para pouco mais de quatro décadas,
tal o esforço exigido pelo mercado mundial de alumínio.
74
empresarial da região continua com os cálculos do
século passado, estimado em safras e os anos das
eleições.
75
Vale dizer que a Imprensa paraense pouco o
quase nada registrava sobre o Projeto Trombetas. As
vezes que saiam comentários era para comparar com o
Projeto Carajás e dizer da tranqüilidade e prosperidade
que a Mineração Rio do Norte conseguir implementar
seus objetivos empresariais, sem devastar, sem
tumultos, como as greves que já se iniciavam no sul do
Para.
76
Por outro lado, a agremiação de empresários
atravessou esses anos reivindicando sempre soluções a
cada gestão, que quase sempre guardaram o perfil de
cada presidente.
77
reformas estruturais da sociedade civil, do governo
municipal e das gentes.
78
alguns políticos de Oriximiná não pretendem permanecer
vítimas da história, eles precisam desenvolver
perspectivas históricas para justificar a presença da
direção da MRN em nosso município, não aceitar como
hoje placidamente é publicado o termo Porto Trombetas
como sede municipal em todos os documentos da MRN.
Por que não agir no sentido de ter a sede municipal
como mais um fator inibidor dos insucessos econômicos-
sociais, erradicando o quanto possível as mazelas
sociais. Não podemos evitar a sensação que de há muito
por fazer nessa questão do desenvolvimento regional.
48
Galpão do Trapiche. Foi por lá que entrou mercadorias e saíram
as riquezas de Oriximiná. Lugar que deve ser memorializado pelos
presentes como referência cultural, histórica e econômica.
79
abrigar um auditório, museu e espaço para eventos de
arte sob a batuta da Associação Comercial, Industrial e
Agropastoril de Oriximiná.
80
aos carros modernos que pisoteando o corredor do
passado pode nos condenar eternamente à cegueira
hodierna, prejudicial e temerária para o futuro das
gentes.
81
Capítulo 5
UM PALPITE INFELIZ
82
estilo dos ditadores para desqualificar o discurso
adversário, fazendo calar na fonte qualquer idéia alheia.
83
pensamento naquilo que elegeu para seu futuro
desenvolvimentista.49
49
“A liberdade não depende da lei; requer que o público entenda e
aprecie o pensamento racional. A razão é a alma da ciência.
Quando ela é suprimida ou abandonada, o totalitarismo ou a
anarquia rapidamente preenchem a lacuna deixada e influenciam
toda a comunidade, e não apenas a ciência.” Apud David Eliot
Brody e Arnold R. Brody in As Sete Maiores Descobertas Científicas
da História.
50
Discurso de Jader Barbalho na reunião da ACO realizada no
Bancrévea no dia 22.10.85, em Oriximiná. N.A.
84
da reunião para a réplica. O Secretário da ACO,
Francisco Florenzano falou após a fala do Governador
para contesta-lo e dizer que não aceitaríamos tão
facilmente as respostas dadas a cada ponto da sugestão
apresentada. O que a gente não faz quando não é do
ramo, mas acredita que foi ludibriado na gênese...
85
Então, você já foi ofendido? Já precisou da justiça
em Oriximiná ou qualquer outro município da região do
baixo-amazonas?
86
tais como mandados de segurança, hábeas corpus,
reintegração de posse, etc, etc... Digo à vontade dos
marasmos judiciais porque sofro os revezes na pele,
como se diz nos corredores dos fóruns.
51
Participante do Congresso Mundial de Direito Processual, Civil,
Penal, Trabalhista e Administrativo, realizado no Centro de
Convenções da Cidade do Recife, de 19 a 22 de maio de 1999.
87
pelos juízes, muito menos pelos juristas, como foram as
propostas do passado...”52
52
Trecho do discurso do Ministro do STF Nelson Jobim
88
E não adiantou muito a festa da Comarca para
receber os egrégios desembargadores que anunciaram à
um biênio que já podíamos distribuir no fórum ações para
duas varas. Ainda jejuamos na fila para obter um leve
despacho que seja diferente do “paralisação do presente
feito devido ao acúmulo do serviço eleitoral em ....”.
89
Inglaterra na idade média, os degredados portugueses
na Colônia Brasil e hoje em dia, os promotores e juízes
do Pará.
90
Capítulo 6
NA CALHA DO RIO
91
Para começar é bem dizer que só fazemos
alguma coisa nos 15 a 20 por cento do espaço territorial
do município de Oriximiná. Não falemos de Òbidos,
Alenquer e outros, porque, o exemplo já basta. A menor
distância dos Tiriós (aldeamento indígena dirigido por
religiosos estrangeiros no norte do país) é medida em
horas de avião, como aferíamos no passado a distância
de Belém a Oriximiná: cinco dias de viagem de barco.
92
base para propor mudanças no marasmo da
despovoação da fronteira norte do país ainda ficaram
adiadas na ignorância da maioria dos presentes, rio
abaixo.
93
Fica a pergunta: não seria melhor educar a
população a se defender das drogas e evitar os acessos
mencionados? A educação é processo dinâmico do
saber alimentado pela informação básica, contínua e
orientada para as defesas da fronteira.
94
do equipamento do SIVAM do que as estratégias
estabelecidas para a região da Calha Norte.
53
Pessoa erudita, acadêmicos com tese nas faculdades.N.A.
95
Assim que chegamos ao contexto histórico da
independência política dos países da América Latina54 e
de cara se depara com fatos parecidos. Falta muita
convicção política nas ações do políticos de hoje e de
ontem. As coisas se ajeitam, pode-se dizer, de uma
maneira em que ganham todos no primeiro momento do
acordo e perdem todos tudo o que ganharam ao longo
do tempo.
54
Na América Latina, a independência não resultou de ideologia
colonial e iniciativa política, mas das fraquezas e infortúnios da
Espanha e Portugal na metrópole, no contexto das rivalidades e
guerras européias. Quando a Espanha provou ser incapaz de
governar suas possessões ultramarinas, figuras importantes do Novo
Mundo exploraram o vazio e tomaram o poder, encontrando apenas
uma resistência esporádica. A independência foi instaurada quase
sem ser percebida – uma surpresa para as incipientes entidades que
não tinham outro objetivo senão trocar de senhores. Esse tipo de
negativismo anárquico propiciou o caudilhismo macho. Não admira
que a história da América Latina no século XIX seja uma novela
barata de conspiração, cabalas, golpes e contragolpes – com tudo o
que isso acarretou de insegurança, mau governo, corrupção e
atraso econômico” , in David Landes, ob. cit. Pág. 352
96
de uma plataforma política. E tem votos. Por que tal fato
ainda acontece?
97
míngua de votos dos ex-prefeitos da cidade nas últimas
eleições como leves sinais de reação da sociedade no
limiar do pensamento político positivo.
98
Capítulo 7
ABUNDÂNCIA E DESPERDÍCIO
99
A partir de denúncias lançadas na Câmara
Municipal, recebi alguns dados que precisam ser
analisados à luz da ecologia, da economia e pelos
políticos locais.
100
em Porto Trombetas. Fica, desde logo, a necessidade
de se oficiar para o IBAMA, para que a Requerimento
desta casa, o IBAMA informe os números das áreas
indenizadas, anualmente, desde o início da atividade,
e o que a MRN fez com estes recursos florestais....
para onde foram todas essas toras de madeira???
101
Sabe-se que há um rendimento médio de 40m³ de
madeira comercializável por hectare nas florestas
desta região. Assim, fazendo uma pequena conta
chega-se a 800 metros cúbicos de madeira de lei (20
há x 40m³) por mês... anualizando esses valores,
vamos ter cerca de 9.600 metros cúbicos de toras por
ano.
102
onde e como foram aplicados tais recursos durantes
todos esses anos que ela está desmatando a floresta
para retirar a bauxita....
103
E a partir de julho deste ano, não mais está sendo
aproveitada tal madeira... De novo a pergunta???? O
que a MRN está fazendo com tais recursos??? Para
onde vai toda essa madeira??? E se está sendo
estocada, seria o caso de esta casa fazer aprovar
uma comissão de parlamentares para uma visita no
local de estoque, devidamente acompanhado de
técnicos ou pessoas com experiência da área para
que se cumpra nossa missão fiscalizadora da
sociedade.
55
Art. 171 da Lei Orgânica de Oriximiná “Incumbe ao Município:
..........., VI – assegurar que os grandes projetos localizados no
território do Município sejam responsáveis pelo financiamento de
ações e serviços que visem compensar e a atender ao aumento
significativo da demanda de infra-estrutura social, sanitária,
urbana e educacional decorrente de sua implantação a ser
considerada como custo social consectário, assim como sejam eles
responsáveis por ações voltadas para evitar a solução de
continuidade de auto-sustentação econômica dos núcleos
populacionais criados ou ampliados no interesse desses projetos.
N.A
104
missão que temos como parlamentar oriximinaense,
posto que encarregado da fiscalização de nossos
recursos. Até porque, tal postura, só fortalece nossa
ação política no sentido de ajudar a auferir cada vez
mais recursos para nosso município e nossa gestão
executiva cumprir com seu papel, ora referendado
pelo povo oriximinaense!
105
Deve-se explorar com paciência e interesse na
solução dos problemas tais informações contidas nesse
pequeno trecho do discurso. Extrair detalhes e propor
sugestões que possam ajudar na reflexão é missão
daqueles que não se contentam com simples
explicações da mineradora. Afrontando a legislação
ambiental vem alforriada no balanço, fazendo ver às
autoridades que os valores investidos na restauração da
floresta e a indenização das árvores seria bastante para
sua remição.
57
Sir Wiston Churchil, primeiro ministro inglês durante a 2ª guerra
mundial, afirmava que “...para arruinar o mundo bastava que cada
um cumprisse apenas o seu papel na sociedade.” N A
106
A legitimidade genuína da tese municipal é
baseada no princípio da responsabilidade civil. Quem dá
causa ao dano deve ser o responsável pela sua
reparação. Nada mais do que evidenciada está a
causadora de danos ambientais, no gênero e danos
específicos como esses sobre os recursos florestais.
107
A questão posta é sobre o retorno e a
responsabilidade dos danos, que as empresa instaladas
na região devem proporcionar ao seu meio, aos nativos,
à gente de Oriximiná e região, enfim.
108
SOCIAL CONSECTÁRIO, ASSIM COMO SEJAM ELES
RESPONSÁVEIS POR AÇÕES VOLTADAS PARA
EVITAR A SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE DE AUTO-
SUSTENTAÇÃO ECONÔMICA DOS NÚCLEOS
POPULACIONAIS CRIADOS OU AMPLIADOS NO
INTERESSE DESSES PROJETOS”.
109
Capítulo 8
110
danos à parte remanescente. Pior, se é bom ou ruim
para o Pará... Afastadas as emotivas, restam aquelas
mais exigentes para satisfazer uma percuciente análise
do por que nós faremos nascer mais uma unidade da
federação. Muitas, diversas e necessárias são as razões,
porém, todas elas devem tocar uma nota em acorde
principal: a vontade popular.
111
na geografia, nas gentes, na economia produtiva e nas
vontades da região.
112
Talvez porque nós ainda não dissemos com vigor,
com expressiva necessidade vital o quanto elas, as
várzeas, são elementos essenciais da vida no baixo-
amazonas. Milhares de hectares de várzeas jazem
férteis sem o financiamento produtivo da lavoura, porque
não têm registro imobiliário válido pelo sistema bancário,
ou seja, elas não existem como patrimônio valioso como
uma terra, como um ativo, para garantir recursos e
desenvolvimento. Talvez, por essa razão, poderíamos
nos autodenominar de “Varzelândia”....
113
metropolitana que na falta de uma idéia melhor, sugere o
absurdo centralizador a partir de Belo Monte. Não é
assim, porque diversos e diferentes são os caminhos
para lá se chegar e de lá sair...
114
para trás, de não pertencer a este “Novo Progresso” que
assola o resto do Pará. É a proximidade do centro das
decisões que faz o desenvolvimento de uma região,
porque coerente e eficaz nas soluções de problemas em
cada área.
115
Capítulo 9
116
projetos de manejo é posto sob intervenção federal. E
piora, quando os jornais noticiam a intervenção
internacional como é a proposta de moratória para a
atividade madeireira no Pará, feita pela turma do
Greenpeace, não respeitando uma essencial atividade
econômica dos paraenses em geral. O quadro exige uma
reflexão pela sociedade civil e órgãos governamentais
para evitar injustiças irreparáveis sem deixar de punir os
responsáveis pelos atos denunciados.
117
É fato que o IBAMA não é eficiente na fiscalização
e controle das florestas no nosso território, haja vista as
freqüentes denúncias do próprio órgão em afirmar não
dispor de pessoal e recursos para tal finalidade. Em
passado recente essa carência era suprida pela MRN
que disponibilizava combustível e logística básica para
as operações de fiscalização com fins outros no rio
Trombetas, qual seja o de manter afastados quaisquer
intrusos que porventura fossem bisbilhotar suas
atividades mineradoras, tais como os garimpeiros e
faiscadores. Até hoje tem muita gente jura de pé junto
que esse investimento se justificava para a proteção das
inofensivas e menos ainda defendidas tartarugas do
Tabuleiro58.
58
Praia de areia natural que aflora no centro do rio Trombetas na
época da vazante. Lá os quelônios fazem a desova anual para
reprodução da espécie.
59
In Oriximiná, ob. Citada. Pág. 16
118
O Tabuleiro das Tartarugas
119
uma grande com tolda e duas pequenas que serviam
para os pescadores que seguiam na viagem.
60
Tartaruga pequena ou peixe assado num buraco feito na praia,
onde se faz o fogo. Espécie de piquenique a noite, apud Grouxy.
120
recebeu muito bem e tudo fez para passarmos uns dias
em sua companhia. Não prometemos, mas ficamos para
pasar a noite e ver se virávamos alguma tartaruga, caso
“saltassem” nessa noite, pois os pretos que faziam a
guarda da praia haviam visto o “sinal” de que um grande
cardume estava preparando-se para subir.
61
Colocar a tartaruga de peito para cima para poder carrega-la,
apud Grouxy
62
Macho da tartaruga, apud Grouxy
121
desova, fazendo uma nuvem de areia que não se vê
mais nada. É interessante, e contando não se acredita,
elas não se afastam do terreno demarcado.
122
para não titular terras63 sem contar as queimadas
danosas ao meio ambiente.
63
Há um consenso nos órgãos estaduais do Pará que é melhor
titular terras coletivas para ONGs do que individualizar a
propriedade para os ribeirinhos e agricultores que dela necessitam
pelo temor não escondido de que essa gente vai derrubar a floresta
para fazer roçado.
64
I Seminário Internacional sobre Aplicações e Usos da Madeira,
julho de 1998, Fundação Ferreira de Almeida, no Auditório da
Câmara Municipal de Oriximiná
123
A platéia ficou sabendo, por exemplo, das
resistências e durabilidade da madeira bem protegida
das intempéries. Mas, um fato curioso que chamou à
atenção foi quando o professor suíço comentou das
vantagens em plantar árvores no Brasil, especialmente
na faixa equatorial iluminada pelo sol o ano inteiro.
Segundo o suíço as árvores da nossa região crescem o
ano inteiro de volume, muito melhor do que as plantadas
na Europa que só crescem no verão.
124
animadores para as quase duzentas mil mudas que
estão crescendo anualmente lá no Jatuarana.65
65
Sadiemla Madeiras é a empresa que mantém um reflorestamento
de 180 mil árvores plantadas no Reflorestamento Jatuarana, km 15
da Estrada Oriximiná-Óbidos. N A
125
vistos pela sociedade como vilões, como responsáveis
pelos desmatamentos da Amazônia, como
aproveitadores das florestas dos índios etc.; também é
sabido que essa gente não se filiou a nenhuma
congregação religiosa, nenhum de santinhos... são
atividades econômicas como as demais e como nestas
também há os maus empresários, ineficientes gestores,
corruptos fiscais etc .
66
Apud Prof. Maria do Socorro de Almeida Flores, in O Meio
Ambiente e a Proteção dos Recursos Florestais no Pará: uma
abordagem jurídica. UFPA, Belém, 1999.
126
Mas, isto só será possível com a inarredável
participação do município na gestão desse instituto, que
assume as verdadeiras funções em secretarias criadas
para essa finalidade. Minas Gerais já resolveu esse
problema porque entenderam os mineiros, sem
trocadilhos, que a atividade florestal é fundamental para
a vida econômica de suas regiões.
67
Seminário sobre “Resgate de Carbono – uma saída para
Oriximiná”, proferida por João Bosco Almeida, em agosto de 1999.
127
forma de resolver o problema do controle de emissão de
gases poluentes.
128
recurso disponível. É órgão municipal que gera receita
com taxas de licenciamento e indenização da floresta
manejada, diferente da maioria das demais secretarias
que por natureza precisam gastar verbas no atendimento
de suas finalidades. Portanto, a desculpa da falta de
verbas não é aceita para não fazer mais esta boa ação
governamental. Ademais, nossos fiscais estarão mais
vigilantes porque saberão onde está acontecendo o fato,
pela distância e pelo saber locais.
129
Capítulo 10
130
Sem fantasmas, tanques ou metralhadoras está
em formação um latifúndio da ordem de 371 mil
hectares, correspondentes a cerca de 3,4% do território
do município de Oriximiná, um dos maiores do mundo
em extensão de terras. O mecanismo pode estar numa
brecha legal deixada pelos constituintes ao apagar das
luzes, hoje diligentemente manipulada por grupos
alienígenas em detrimento dos interesses locais da
população oriximinaense, regados por uma boa dose de
omissão dos governantes locais.
131
No ano de 1998 a ARQMO recebeu 85 mil
hectares de florestas nativas na Área Trombetas em ato
suspeito de irregularidades, ora sub judice. Em 1999,
mais 55 mil hectares na Área Erepecuru, afluente do rio
Trombetas, foram reconhecidos em favor dessa gente
autodenominada de quilombolas, um neologismo
convenientemente criado pelos mentores da farsa,
visando caracterizar como remanescentes de
quilombos68 negros que comerciam com os nativos
68
“A vida quilombola, fosse na forma (geralmente passageira) de
fugitivos individuais (petit marronage) ou de comunidades mais
amplas de escravos fugidos (grand marronage), era conseqüência
inevitável da sociedade escravagista da plantation...Ora o
Suriname, ex-colônia holandesa na costa da Guiana e hoje uma
decepcionante republiqueta independente, possui seis antigas
comunidades quilombolas que ainda constituem 10% da população
de um país pequeno e de extraordinária mestiçagem. Isso é
notável, já que as comunidades quilombolas encontravam
dificuldades para sobreviver, ainda que o último escravo autêntico
fugido tenha vivido o bastante para relatar sua autobiografia a um
escritor cubano na década de 60. Uma vez que os escravos eram
mais propensos à evasão logo após sua chegada da África,
comunidades quilombolas livres e fora dos limites da sociedade
colonial estabeleceram-se com mais facilidade nos estágios iniciais
dessas sociedaes, nos séculos XVI e XVII. O maior dos quilombos
brasileiros, Palmares, estava em seu apogeu na década de 1690,
pouco antes de sua queda após sessenta anos de guerra. Mesmo
onde os poderes coloniais foram obrigados a firmar tratados
reconhecendo a independência quilombola, como aconteceu de
tempos em tempos em uma série de países, esses tratados
132
desde tempos imemoriais na rota caribe-trombetas-
amazonas.
133
martirizar o próximo, daqueles que estão sempre à
procura de cadáveres e desgraças sociais para forçar o
governo a cumprir suas obrigações na distribuição da
terra. É o caso de se perguntar aos negros do
Trombetas, hoje mesclados com a sociedade dominante
na região se querem ver os filhos chefes de quilombos
ou engenheiros, “pretos velhos” ou pastores, curandeiros
ou médicos, enfim, que horizonte ideológico querem para
seus descendentes?
69
Eric Hobsbawm em artigo analisando a situação dos quilombos no
Suriname, país vizinho ao município de Oriximiná, no artigo
intitulado “Pós-Modernismo na Floresta”, pág. 209
134
mais gerais, como as sociedades são fundadas a partir
do zero? Quais as relações entre as sociedades de ex-
escravos, que rejeitam a servidão, e a sociedade
dominante em cujas margens elas vivem, em uma
curiosa espécie de simbiose, já que a marronage, como
explica Price em outra obra, não era uma simples fuga,
uma reversão à vida camponesa no sertão, mas
também, de um modo curioso, “uma espécie de
ocidentalização”. O que exatamente essas comunidades
de refugiados – pelo menos no tempo em que a maioria
dos seus membros eram africanos nativos – deduziam
ou poderiam deduzir do velho continente? Ora, se as
comunidades quilombolas aparecem aos observadores
como africanas em sentimento – e talvez, o que é uma
novidade história, na consciência de uma africanidade
comum, que não teriam condições de possuir no Velho
Mundo – não se podem rastrear modelos e antecedentes
africanos específicos para suas instituições.”
Perguntamos nós, oriximinaenses, aos próprios irmãos
negros: como vamos conviver em nosso território
sagrado das terras pretas do índios, sem nosso próprio
imaginário de brasilidade, de convivências em folguedos
135
e festas miscigenadas das culturas indígenas, religiosas,
européias e negras?
70
caboclos de origem indígena e negra que acompanhavam o
religioso nas viagens ao Cuminá. N A
136
é igual ao costume, sabedoria dos mais velhos, em
sociedades iletradas; os documentos que consagram
esse passado e que, como isso, adquirem certa
autoridade espiritual, fazem o mesmo em sociedades
letradas ou parcialmente letradas.”71
71
Eric Hobsbawm, sobre “O Sentido do Passado”, ob. Cita., pág.
23
137
parecer legal atos eivados de ilegalidades e lesividade
ao patrimônio público.
138
na tradição agrária brasileira que é o título individual com
a propriedade rural. É instituição nacional e motivo de
festa no interior quando o lavrador veste a roupa de
domingo para ir receber seu documento de propriedade
da mão do Governador, o seu título definitivo da terra,
que lhe dá rumo e futuro no campo, impedindo-o de
ingressar nas levas que mendigam nas periferias das
cidades.
139
inexistência de registros históricos de quilombos na
região do Trombetas, resultando na impossibilidade de
haver remanescentes daquilo que não existiu.
140
colonizadores europeus formou a nação oriximinaense e
convive com os negros, pardos, brancos, índios do
Trombetas sem discriminação.
141
*
72
in Curso de Direito Civil Brasileiro, Direito das Coisas, vol.4º, pág.
32
142
região, gerando riquezas e fixando o homem à terra,
como acontece em qualquer parte do mundo. É a tal
relação econômica falada pelo jurista alemão ao explicar
a posse via instituto civilista do direito romano.
73
idem, idem, ob. Citada pág. 32
143
Isto também ocorre nos castanhais do Trombetas
e do Cuminá ou seja lá em que parte for do território
nacional. O sistema jurídico brasileiro adota a sistemática
civilista onde a posse não requer nem a intenção de
dono nem o poder físico sobre o bem, apresentando-se
como uma relação entre a pessoa e a coisa, tendo em
vista a função econômica desta. Caracteriza-se com a
exteriorização da conduta de quem procede como
normalmente age o dono.74
74
apud Maria Helena Diniz, ob. Cit. P. 33
144
Ocorre que o governo federal aliado às mazelas
de um grupo financiado pelos chamados ecologistas de
fora, fez cair por terra toda essa tradição de posse e
propriedade na região de Oriximiná, não reconhecendo a
existências dessas relações jurídicas embasadas na
teoria objetiva da posse, adotada pelo direito positivo
brasileiro.
145
mantém com aqueles vícios da posse ( violência,
clandestina ou precária).
146
de terras públicas com área superior a dois mil e
quinhentos hectares.
147
dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias é
gizar a lei às avessas. Não se admite a subsunção da
hipótese autorizativa pelos congressistas, pois da
extensão da área não se cogitava, vez que o atributo da
antecipação da aprovação, invoca razões históricas que
visam sanar a prática malsã da formação de grandes
áreas de terras nas mãos de particulares.
148
artigo constitucional da racionalidade75 no uso da terra
exigindo o atingimento do grau de utilização da terra e
eficiência na exploração específicos, dentre outros.
75
“Lei 8.629/93, art. 9º, §1º - considera-se racional e adequado o
aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e da
eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do artigo 6º
desta Lei.
Art. 6º - considera-se propriedade produtiva aquela que,
explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente,
graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo
índices fixados pelo órgão federal competente.
§ 1º - o grau de utilização da terra, para efeito do caput
deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento),
calculado pela relação percentual entre a área efetivamente
utilizada e a área aproveitável total do imóvel.
149
ocultar o incremento da tensão social nos imóveis objeto
da demarcação entre irmãos de sangue forçados a optar
entre “coletivos” e “individuais”. Esta luta revela a
dissensão ideológica, o descompasso no atendimento
das carências sociais, o despreparo dos responsáveis
pela decisão, que poderia ser evitado se a lei fosse
cumprida, posto que no Congresso Nacional não
passaria tamanho absurdo!
150
Compete a nós, meros mortais o uso da palavra para
buscar de volta às boas trilhas do estado de direito o
respeito às leis e costumes de um povo humilhado.
151
Capítulo 11
A MODERNIDADE E O CONSUMIDOR
152
Recentemente a empresa prestadora
encarregada do serviço de telefonia fixa no Pará, lacrou
o atendimento pessoal ao público na capital e demais
cidades do interior, em frontal violação ao direito de
informação do consumidor, comprometendo as metas
assumidas pelo Plano Geral de Metas de Qualidade –
PGMQ na forma da Resolução nº 30 da ANATEL.
153
permita ao usuário efetuar qualquer interação relativa à
prestação do serviço”.
154
pagamento de serviço como se fora prestado dentro das
normas do plano de qualidade total de atendimento aos
usuários.
155
O fardo contábil usurário que os bancos públicos
da região impingiram ao consumidor é motivo de grita
geral e matéria prima para estudo de caso para
financista em todo o planeta. Ativos podres e títulos
fraudados são supedâneo para petições absurdamente
decuplicadas para majorar impiedosamente o mísero
capital emprestado em época que cessaram os
pagamentos de salários da prefeitura municipal. Mas isso
já é uma história que merece capítulo próprio.
156
financeiras nos tomadores de crédito. A responsabilidade
civil não é afastada nesses casos, porque as instituições
de crédito são entidades equiparadas como fornecedores
e prestadoras de serviço, portanto obedientes a
chamada lei geral dos consumidores, obrigando-os a
reparar danos ou ressarcir prejuízos causados por suas
ações.
157
os mastodontes públicos geraram ativos acumulando a
memória inflacionária aos descuidos das gentes que
firmaram títulos de créditos em branco. Feitos após a bel
prazer e conveniência das instituições financeiras, estes
aparentes requisitos de certeza das dívidas não passa
na menor e mais infantil análise grafoscópica eivados
que são das tintas extemporâneas, não condizentes com
a boa fé.
158
Como disse o então presidente da secular casa
financeira onde aprendi a lição básica da cobrança
usurária, de que “com esses juros abusivos que o banco
pratica, nem plantando maconha se consegue pagar
uma dívida”.76
76
Alcir Caliari, presidente do Banco do Brasil N. A
77
Joaquim Borges Gomes, presidente da Federação das Associações
Comerciais do Pará
159
Este capítulo foi escrito antes da resolução federal
para exigir de todos aqueles contribuintes que tiverem
imposto de renda a receber a obrigatória “abertura de
conta” na casa bancária mais próxima.
160
sobre sua legalidade, até porque, diferente do cidadão
comum, àquele só é permitido palmilhar o trilho legal.
161
que uma vez inoculados faz adormecer todas as reações
naturais da pessoa física ou jurídica contra o Imposto de
Renda - se vê agora contaminado pela praga da
Correntite(2), a mais nova doença financeira do milênio.
Há que se esclarecer sobre o aparecimento dos
sintomas destes males financeiros.
162
qualquer pessoa, seja rica ou seja pobre, via débitos
ordinários deixando de lado os princípios da legalidade.
Mesmo não se contentando com a extorsão semanal os
clientes bancários, público alvo dessa doença, se
comportam achando que tais mordidas semanais não vai
lhes prejudicar o orçamento posto que parece só um
pouquinho de cada vez.
163
políticos, e na hora que mais precisam lá estão eles
discutindo a obviedade de seus interesses (deles), em
processo alheio aos interesses do chamado povo,
sempre disponível para os ataques dos vírus virtuais
emanados da Receita Federal.
164
2 - Doença da Correntite é nova na moderna medicina financeira.
O mais provável é que seja provocada pelo vírus correntius
bancárius isolado pelos pesquisadores do FMI, mas ainda não
estudado pelas faculdades dos países do terceiro mundo.
165
Capítulo 12
78
Terra dos Konduris, espaço imaginário da gênese do povo de
Uraxá, ou seja, Oriximiná. Uraxá, Uxamina, Uradimina era as
denominações que os indígenas deram ao rio das Trombetas à
época do descobrimento do Brasil. Há uma cartografia na biblioteca
da sede da Primeira Comissão Brasileira Demarcadora de Limites
166
soluções de consenso para uma aparente dissensão
intestina. A verdade79, essa busca incessante para
entender a realidade de acordo com sua própria
convicção, nasce da divergência entre amigos que ficam
a raciocinar80 sobre os acontecimentos ao seu redor.
167
que ensinam a divergência de idéias como necessárias
para produzir o caminho traçado pelas lideranças. Nada
demais se gastar horas em conversas informativas com
vistas a perceber os reais motivos e possíveis saídas
honrosas para o imbróglio.
168
vivência diária, alimentadas pela divergência de idéias e
posicionamentos dos fatos. Estes, revelados na
concretude das ações de todos, líderes e liderados. É o
convencimento da causa que fortalece a crença na tese
vencedora!
169
permitam a cessação da ignorância das gentes, mãe de
todos os males políticos, e assim, fazer nascer gente
com orgulho e amor próprios, incapazes de trocar voto
por dinheiro, por cargos etc.
170
do socialismo nos EUA, pertine ensaiar as razões que
impedem o desenvolvimento salutar da democracia na
kondurilândia,82 a partir de recente episódio castrador de
novas lideranças na política local.
82
Termo criado pelo autor para delimitar as terras dos Konduris –
principal nação indígena formadora do povo que habita as margens
do rio Trombetas. N.A.
171
Mas, não se abateram todas as aves! Reagiram
em ação legitimada porque partícipes das discussões
locais, carentes de ação política do poder encastelado,
no alto das barrancas hierárquicas. Às bases de narizes
arrebitados só restou cavar trincheiras para combate às
vicissitudes partidárias. Voz e morte aos pássaros
nativos!
172
falsas ONGs o mais sagrado solo Konduri83, e ainda se
pintar com as verdes cores ambientais. Fala-se, articula-
se, busca-se as saídas em todas as bíblias, mas, até o
momento a sociedade oriximinaense ainda há de sofrer
calada justamente pela não unção de líderes realmente
comprometidos com o futuro desta terras de Konduris.
Carpe Dien!
83
Nação indígena do grupo caribe formador do povo oriximinaense,
reconhecidos pela sua resistência e intrepidez
173
A capacidade de analisar fatos políticos tem
relação direta com a observação e vivência no meio das
gentes que produzem atos de governo em direção à
sociedade. Questão muito presente nestas últimas
eleições municipais de 2000 foi a conceituação do que
viria a ser uma ação política sem cor partidária.
174
diretórios se não estiverem de acordo com as vontades
da direção.
175
intelectualizada sua performance, mas lhe faltou ainda as
promessas eleitoreiras.
176
Estado e sustentaram o candidato do PMDB naquilo que
lhes falta. Estas são virtudes carentes nos políticos e
formam base moral para vitória nas urnas.
177
fato nacionalmente noticiado desde a sua eleição
majoritária para o cargo.
178
desvio de verbas, em malversação do dinheiro público.
Melhor, não se pode ficar vulnerável ao ponto de se
esfacelar a base do PSDB ao se admitir que fazer
política é usar o dinheiro público em vantagem pessoal.
179
alma com o benéfico da comunidade pelas ações de
partido e de governo que estão disponíveis para a
melhoria da sociedade. Portanto, a democracia dos
Konduris só tem a ganhar ao defender a ética, a
honradez e a seriedade das coisas públicas em
Oriximiná.
180
que deve votar, não naqueles que os deputados e
governadores “mandam” votar.
84
Ademar de Barros, político paulista que instituiu o ‘rouba, mas,
faz”
181
integrar um projeto de todos, o chamado projeto social,
ou seja, aquilo que a sociedade da Kondurilândia decidir.
182
desses jovens o que lhes aguarda o futuro. Basta de
produzir em Oriximiná é gastar em Belém ou Santarém.
É a mais cruel transferência de PIB das regiões menos
pobres para as mais desenvolvidas do estado. Pode ser
essa a causa maior da resistência das chamadas
lideranças dos grandes centros urbanos em não
quererem a separação. Perdem em arrecadação, em PIB
transferido pelas famílias que se deslocam em busca do
ensino superior, de empregos, de melhores vidas. É a
crença!
183
reação das autoridades da área. E logo se acabou com a
metafórica situação da luz em Oriximiná.
184
os gastos mensais de mais de 100 mil reais da Câmara
Municipal, o lixão na entrada da cidade, a poluição do
lago do Batata, e tudo o que mais já falamos neste
ensaio geral ficam à mercê da sorte grande. Será?
185
Capítulo 13
186
O asfalto é necessário e salutar para a economia,
reduz a manutenção otimizando quaisquer orçamentos,
sejam públicos ou particulares. Porém, cria necessidades
outras nem sempre bastantes para satisfaze-las as
atuais matrizes produtivas instaladas na região com base
no setor primário.
187
Falta para Oriximiná e principalmente para a
região do baixo-amazonas uma proposta de
desenvolvimento integrado que terá sido elaborada com
a participação de todos os setores da sociedade civil
organizada, onde se possa vislumbrar futuro auto-
sustentável garantidor de melhores dias para nossos
filhos.
188
Assim é que surgem algumas luzes em túneis não
tão perdidos e muito menos ainda no final deles. A
hipótese da formação de uma grande área de transação
comercial de produtos e serviços entre os municípios da
região convergentes para Porto Trombetas não pode ser
deixada de lado. É salutar pelo esforço do
congraçamento de todos por uma idéia de busca de
soluções integradas. Evita-se, com essa participação de
lideranças, o surgimento de competidores deletérios, da
chamada diferenciação profissional que gera o desgaste
e enfraquecimento da base competitiva, dando razão aos
desânimos e atavismos da fatalidade.
189
Estrategicamente conduzida pela liderança
oriximinaense pelo fato de a sede da principal
compradora estar nesse município localizada, deve ser
inicialmente financiada sua instalação com parte dos
chamados excedentes de arrecadação. Não deve haver
mistérios neste caso do financiamento, da organização
de um fundo mútuo de investimento a médio e longo
prazos. Organiza-se uma parceria de investimento
paritário, onde de um lados estarão os principais
municípios do entorno do mercado potencial da MRN e
de outro a própria MRN. Assim, para cada real
disponibilizado pelos prefeitos da região do
MERCOTROM a MRN disponibiliza outro.
190
associativismo nas atividades de mercado da própria
sociedade.
191
É o caso de um produto ou serviço jurutiense, por
exemplo, chegar a Porto Trombetas com vantagem
competitiva previamente discutida nas respectivas
câmaras municipais, através de protocolos firmados
garantidores de seus interesses locais, sem prejuízo das
regras de mercado. Não é subsídios nem são favores
fiscais. São medidas e mecanismos políticos de
investimentos diferidos praticados deste o início dos
tempos no desenvolvimento de uma região.
192
dos minguados negócios fechados pelo empresariado da
região.
85
A Mineração Rio do Norte é a 4ª maior empresa paraense e tem
sede na vila de Porto Trombetas no município de Oriximiná.
193
região tem um destino parecido com os remotos
espermatozóides. Poucos ou nenhum são os
contemplados que conseguem furar o cerco da ovular
burocracia de Porto Trombetas.
194
Capítulo 14
PADRE NICOLINO
– UMA LENDA ESQUECIDA
86
Gonçalves Tocantins publicou em 1890 “Rio Cumuná –
Recordações” nas páginas da Revista do Instituto Geográfico e
Histórico do Pará.
195
“Por ocasião da minha viagem ao Cuminá, visitei o
túmulo em que descansam os restos mortais do
piedoso clérigo, religiosamente guardado na modesta
igreja por ele erigida
à margem do Rio Trombetas, próximo à foz do
Nhamundá, no lugar em que existe a vila de
Oriximiná: nome indígena aliás, do rio a que os
portugueses denominaram das Trombetas”
196
foi o Pe. Nicolino, e seus feitos históricos, extraídas dos
relatos dos viajantes e daqueles que já deitaram tintas
sobre o tema ou fizeram depoimentos, como é o caso do
Arcebispo de Belém, D. Alberto Ramos, dentre outros.
197
personalidade paraense, desse herói oriximinaense a
quem devemos honrá-lo para a posteridade como
referência ideológica de caráter determinado nas suas
buscas e questões pessoais.
87
Leia a íntegra da carta: “Rio de Janeiro, 23 de Julho de 1942 –
Exmo.Sr. General Cândido Rondon - Respeitosas Saudações – O meu
ilustrado amigo Sr. Euclides Dias, Prefeito de Óbidos, Terra Natal
do meu finado pai o Dr. Herculano Marcos Inglez de Souza, que V.
Excia., certamente conheceu, pede-nos, na impossibilidade de o
fazer pessoalmente, mandar entregar a V. Excia. a carta inclusa,
cuja resposta, rogo a V. Excia., se sirva enviar ao seu grande
admirador que esta subscreve. – Aproveito o ensejo para explicar a
V. Excia. o interesse que me prende à história do Padre Nicolino
José Rodrigues de Souza. – Meu avô paterno, o desembargador da
Relação São Paulo, Marcos Antônio Rodrigues de Souza, era natural
de Faro, de antiga e conceituada família paraense. Juiz de Direito
198
Mariano da Silva Rondon, em 23 de Julho de 1942, que
199
ainda atribui nova origem ao Pe. Nicolino. Pior, revela
interesse desmesurado para atrair aquela não menos
ilustre família o reverendo faraense, de origem humilde
como se verificará ao término destes relatos. Mas, o que
assusta os oriximinaenses deve ser como os alheios
vêem nobreza nos feitos do religioso a ponto de não se
preocuparem com a fidelidade contida nos demais
registros para outra versão da história.
200
Curuá, novo unidade municipal desmembrada da terra
dos Ximangos. Ainda aguardo um dia para conversar...
88
Nicolino José ou José Nicolino. Não há uma certeza no pré-nomes
do Pe. Nicolino a ser citado no alegado parentesco.
201
produzidas a partir da igreja para criar o mito da capela
de ouro. Outros são os motivos para essa omissão!
89
“Foi um esforço de 27 anos e 11 meses de trabalho, tempo em
que estivemos à testa da Agência Municipal... do IBGE, em
Oriximiná. Desde então vínhamos concatenando dados, entretanto,
sem pensar em escrever um livro... com certeza haverá alguém que
o criticará, o que não afetará o orgulho de sermos os primeiros
filhos dessa linda terra que se chama Oriximiná, abençoada por
Deus e por Santo Antonio, seu padroeiro, que levará ao
conhecimento de seus filhos e de outros brasileiros o que é esta
cidade que há 45 anos teve a sua emancipação política e, agora, é
uma das mais desenvolvidas dentre as suas congêneres na região...
desejamos que outro oriximinaense, nosso descendente ou não,
mas com igual ou maior amor, procure, mais tarde melhorar o
nosso trabalho. A semente está lançada...” in Apresentação do
Livro Oriximiná, de Grouxy, em 1994
202
Santos90 e também por pessoa ligada a Frei Eduardo,
que andou algum tempo pela paróquia de Oriximiná e
que possuía um opúsculo, o qual não nos foi possível
angariar. Assim, damos a esta parte da história de
Oriximiná o título de lendária, narrando da maneira que
faremos a seguir”.
90
Historiador e religioso de Santarém, ao que me informou
D.Alberto Ramos e pelo que lembro parcialmente seria o genitor de
Pe. Sadeck, que hoje conserva em seu poder os documentos da
igreja católica sobre o Pe. Nicolino. N. A
203
Uaboys, habitantes daquelas glebas e, ao voltarem,
trouxeram daquela tribo um curumim e uma cunhatã. 91”
91
“menino e menina em tupi guarany. Nota de Grouxy”
204
Até porque é nas informações de próprio punho92
de Padre Nicolino, que a história retoma seu rumo ao
lado da verdade dos fatos. Escreve o Padre: “Dia 25 de
Novembro de 1876 (sabbado), pelas dez horas da
manhã partimos do Ageréua, propriedade do Sr. Tte.
Leonel da Silva Fernandes comigo, Pe. Vigário, em duas
canoas. Na mais possante vieram o Tenente Leonel, o
Padre José Nicolino de Sousa, o Filho do Tenente,
Manoel Marinho Fernandes, o gentio Pedro, o rapaz
Vicente...”
92
Escrevo este capítulo cotejando as variadas informações
publicadas sobre a lendária história de Pe. Nicolino e o contido nos
Diários das 3 Viagens ao Cuminá Grande
205
parte de seu nome, portanto, José Nicolino de Sousa é
realmente seu nome completo, não se admitindo
agregação de outros patronímicos ou apelidos de família
como quer fazer crer o missivista paulista.
206
Há outro dado histórico que reforça a tese do não
parentesco do religioso com os “Rodrigues”, e serve
também para repelir de uma vez por todas a gravosa
ingerência alheia nos fatos históricos da região. É uma
nota constante no rodapé da referida publicação do
CNPI, que afirma: “Neste, como nos dois diários
subseqüentes, foi mantida a ortografia etimológica do
autor”. Ora, sendo o autor dos diários o próprio padre e
tendo a publicação sido fiel como diz a nota, é de se
supor que Padre Nicolino não poderia ter grafado seu
próprio nome erradamente.
207
É elucidativo contextualizar as décadas de 50 a 80
do século XIX, tempo das viagens e acontecimentos que
estamos tratando a partir do livro de Lilia Moritz
Schwarcz93 que nos fala da política indigenista do
Imperador D. Pedro II.
93
As Barbas do Imperador, D. Pedro II, um monarca nos Trópicos,
Companhia das Letras, São Paulo, 1999. Pág. 133
94
Estamos à poucas décadas do final das mais sangrentas
revoluções acontecidas no período da menoridade de D. Pedro II,
como é o caso da Cabanagem no Pará. Assim, não era muito bem
vista a condição de ser europeu na região, principalmente o
colonizador português. Dessa maneira, muitas famílias de origem
lusitana, se passavam como indígenas para fugir às implacáveis
perseguições de remanescentes cabanos do Pará. N. A
208
“Índio! Se amas a terra em que nasceste/ E se podes
amar o seu futuro/ A verdade da cruz aceita e adora”95
95
idem, idem, ob. Citada. Pág. 134
96
idem, idem, ob. Citada. Pág. 134
209
morre em aventura na selva. Nada mal para a
notoriedade.
97
Schwarcz, in Ob. Cita. Pág. 155
210
Em 1944, no Rio de Janeiro a 4 de dezembro, o
Conselho Nacional de Proteção aos Índios tomou a
importante resolução de mandar publicar os manuscritos
do Pe. Nicolino. Melhor é ler a íntegra da apresentação
dessa publicação que levou o nº 91, da Imprensa
Nacional, Rio de Janeiro, Brasil, 1946.
211
Quando me encontrava em serviço ativo no
Exército e dirigia os trabalhos da Inspeção de Fronteiras,
executei pessoalmente a exploração e o levantamento
do rio Cuminá (1928/29), desde a sua foz no Trombetas
(afluente este do Amazonas, pela margem esquerda,
logo a montante da cidade paraense de Óbidos), até
suas mais altas cabeceiras (Latitude 2º,17’,59”, Norte;
Longitude 55º,56’,47”, West de Greenwich). Nestes
trabalhos, serviram-me de guia os Diários de Viagens,
manuscritos, do Rev. Padre Nicolino José Rodrigues de
Sousa, judiciosamente organizados, sob escrupulosa
exatidão, e onde se encontram, como o leitor verá,
considerações de ordem filosófica e interessantes
pensamentos, que definem a arraigada fé católica do
autor e denunciam os seus sentimentos elevados e
filantrópicos.
212
influência ancestral do sangue indígena que lhe corria
nas veias.
213
Amazônia que eu vi” – ed. 1938 – Série Brasiliana – Cia.
Editora Nacional de São Paulo.
214
Como se prestam estas páginas para
esclarecimentos da nossa gente oriximinaense, achamos
por bem cansá-los um pouco mais com a leitura da
íntegra da apresentação dos Diários do Pe. Nicolino,
para então extrairmos nossas análises e conclusões com
a mais absoluta imparcialidade histórica, além de permitir
a outros estudiosos a tarefa de interpreta-la na devida
contextualização.
215
registrar os fatos e dar o caráter intelectual da expedição
do general, mencionado na sua apresentação dos
Diários do Pe Nicolino, aliás, publicados conjuntamente
na edição do CNPI, em análise.
98
A grafia confere com o que consta na transcrição dos Diários das
Três Viagens. N A
216
Em Belém, por bondade do Dr. Carlos Estevão ,
eu havia conseguido uma cópia da parte inicial desse
mesmo diário, cuja publicação fora começada pela
REVISTA DE ESTUDOS PARAENSES, em 1894. Na
mesma ocasião, aquele amigo deu-me também o
traslado de certo artigo do engenheiro Gonçalves
Tocantins, igualmente inserto na aludida revista e onde
obtenho alguns dados biográficos acerca do Padre
Nicolino.
99
Trechos do Livro “A Amazônia que eu vi”, de Gastão Cruls,
mencionado na apresentação do general Rondon quando fez a
abertura dos Diários das Três Viagens de Pe. Nicolino. N.A
217
não há informações fornecidas pelo escritor dos apelidos
de “Rodrigues” para o Pe. Nicolino, muito menos de
haver alguma dúvida acerca de suas origens. Que são
indígenas suas origens parece não haver reparos a
fazer, mas não das fronteiras do Brasil, e muito menos
de falta da identificação da mãe.
218
asterisco (*) que no rodapé da página diz que foi
“mantida a ortografia etimológica do autor”.
219
Pior do que a inexistência de documentos
probatórios expedidos por imaginários cartórios
indígenas é a fácil dedução do general. A
obrigatoriedade de ser indígena não respeita a
alternância inaceitável para uma ou outra tribo. Se fosse
este fato em época da ditadura militar não haveria mais
ninguém contestando, mas, hoje a ciência histórica não
se contenta com afirmações de patentes tais. É preciso
pesquisar, reler documentos, tirar a poeira do tempo e
busca nas narrativas orais o complemento que falta nos
papéis, quando existem.
100
Em recente palestra na Escola Estadual Padre José Nicolino
recebi a informação que esta lápide não existe mais no lugar
mencionado por Gonçalves Tocantins. N.A.
220
o que nos é duvidoso, pois, segundo temos
conhecimento, os índios da tribo Uaboys costumavam
registrar o nascimento de seus filhos somente com
amuletos, mesmo porque os índios daquela época
desconheciam calendário...”.
221
D. Alberto Ramos advertiu para não reproduzir as
blasfêmias do jornalista de A Província do Pará, mas não
respondeu com exatidão sobre a questão de ter a Igreja
contribuído para a criação do mito em torno do Pe.
Nicolino e nem sobre a mal contada história dos roteiros
lidos em Roma, sobre a possível busca de tesouros
deixados pelos jesuítas na expulsão da época
pombalina, sobre a lenda da capela de ouro podia estar
escondendo uma outra façanha da história.
222
Maria Domingas do Espírito Santo, tornou-se uma dama
da sociedade da época, contraindo núpcias com o
senhor José Joaquim de Figueiredo, de cujo consórcio
tiveram dois filhos – José Clementino de Figueiredo e
Inocêncio José de Figueiredo, pessoas que se tornaram
influentes e pioneiros no desenvolvimento do município e
cidade de Oriximiná, onde residiam e ocuparam os
maiores cargos públicos.”101
101
Grouxy, in Oriximiná, pág. 4
102
idem, idem, ob. Cit. Pág. 4
223
desencontradas, não ocorre o mesmo com a morte do
Pe. Nicolino, não, porém, sem passar despercebido um
fato curioso e mais um patronímico lhe associado,
certamente, por quem fez o registro na folha do
caderninho ( diário ) que marcava o dia 6 de Nov. de
1882. Assim é que se lê no diário: “ dia 6, (3ª f.) Padre
José Nicolino Pereira de Sousa deu conta a Deus no dia
8 de Novembro ás 7 horas da tarde, de um dor que lhe
deu no estomago e vomito, começou-lhe a dor as 5 da
manhã, e foi sepultado às 10 horas do dia 9. Foi
sepultado pelo seu mano Benedito Fragata, seu sobrinho
Francisco José Figueiredo, Possidônio, quatro
discípulos...”
224
de nome, pois é o próprio Pe. Nicolino que ao abrir o
diário da terceira e última viagem informa, de próprio
punho, o seguinte: “Ano de Nascimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo aos vinte de setembro de 1882, parti
para os centros do rio Trombetas a seguir o rio Cuminá,
seu afluente. A viagem se fez do Muratapera103 em duas
canoas: na igarité segui eu, tendo por companheiros o
meu mano Benedicto Fragata, meu sobrinho Francisco
de Figueiredo e Raymundo Escovar de Souza Brandão,
Possidõnio Guimarães de Souza, Casimiro Antonio da
Silva, Benedicto Cardoso da Silva, Pero da Rocha
Serrão e Manoel Trindade de Souza..”.
103
Curiosamente o Pe. Nicolino chama de Muratapera a velha Uruá
Tapera das outras viagens. São passados 5 anos desde a segunda
viagem realizada. Vale registrar que foi durante os preparativos da
2ª viagem em 1877 que o Pe. Nicolino ergueu a capela de orações
onde se originou a cidade de Oriximiná. N. A
225
Como se vê, os fatos estão mais para a origem
humilde e regional de família lusitana egressa da luta dos
mouros, à época da imigração européia para a
Amazônia, especialmente na segunda metade do séc.
XIX que vinha se instalar nas regiões entre Óbidos e
Faro, em busca da tão sonhada paz e enriquecimento no
Novo Mundo.
226
A roupeta de ouro
227
pusessem em açougue não ia faltar. Os religiosos
disputavam com o povo e governantes a posse dos
índios cativos, em guerra justa, no resgate ou pelo
descimento. Acumularam riqueza e ódio. Aquela feita de
adornos, fazendas de cacau e gado, igrejas e poder de
vida e morte sobre os nativos despojada quando partiram
na expulsão pombalina. Este paira por séculos e séculos,
gotejando nos espíritos inquietos que navegam por sobre
as florestas, especialmente nos castanhais do alto
Trombetas.
228
barrancas do Amazonas, indo bordejar as terras de
Uraxá. Nas centelhas e faíscas do amor e ódio nativo
presente no jugo indígena rebenta a placenta de uma
nova vida. Reduzido a um convento religioso na infância,
não demonstra sentimentos nativos; afeito aos estudos
das obras religiosas, logo pega gosto pelo latim, poder e
voz, informação e morte.
229
Os comerciantes de Óbidos não tardam em
financiar Padre Lino nos moldes do passado jesuítico
quando a alma indígena era monopólio da Companhia
de Jesus. Divididas pelas ordens religiosas as terras do
Estado, as de Uraxá pertenciam aos Capuchos da
Piedade e Franciscanos. Mas, o modus operandi era o
mesmo dos jesuítas. Travestidos de protetor dos índios,
chamavam a si a responsabilidade de chefiar os resgates
e com honra religiosa faziam a partição dos resultados
conseguidos na viagem.
230
redemoinho gigantesco. Gritos, rezas e pulos n’água não
bastaram para aplacar a fúria de Konduri. Ele sabia das
intenções do novo jesuíta...
231
dos nativos havia aprendido as mazelas dos brancos, a
maldade e astúcias do velho mundo, presente em
demasia nas gentes degredadas trazidas para povoar o
território de El Dorado.
232
exemplar recepção ao religioso, dar as boas vindas
àquele que vinha buscar algo mais do que novas almas...
233
Começa a agonia da missão. Konduri mudava as
embocaduras dos rios a cada manhã. Ao final da tarde,
Padre Lino marcava no seu mapa o percurso do dia,
tendo o cuidado de registrar as referências geográficas e
pontos cardeais. Conferia com os sinais discretamente
codificados nas páginas da sua inseparável bíblia. Havia
um roteiro a seguir desde o início da viagem. Pela
manhã, qual era o desespero do Padre Lino e seus
acompanhantes quando encontravam à esquerda uma
ilha que no dia anterior estava à direita da praia onde
acampavam.
234
imaginação. Afastou-se do grupo alegando precisar orar
sozinho.
235
Mapas dos quais viu cópias nos seminários
europeus por ocasião dos estudos religiosos. Vinha a
sua mente a conversa que teve com o velho mestre
francês... Era tudo verdade. Pensou em remover uma
pedra que estava à sua direita. Mas, antes, precisava
conferir uma informação na sua bíblia. Procurou e achou
que nada tinha sido em vão. Rezou e pediu perdão mais
uma vez pelas vidas perdidas na falsa missão religiosa,
agora revelada.
236
O macaco de tiro certeiro obedece fielmente às
ordens de Konduri. Até hoje faz o ritual todos os anos,
tocando os sinos e soltando os fogos nos castanhais.
237
APÊNDICE
238
Índice do Apêndice
239
UM PACTO PARA ORIXIMINÁ104
240
empregadoras de pessoal da região, Mineração Rio do
Norte S A e Sadiemla Madeiras Ltda., o evento se
desenvolveu nas duas noites da Quinta e Sexta-feira
últimas, reunindo mais de uma centena de participantes
em cada uma delas.
241
Só no setor de informática, está programado
investimento na ordem de 4 milhões de dólares, mais 25
milhões no housekeeping etc. .
242
sempre em conta a necessidade de planejar o futuro com
as discussões fundadas em dados, pesquisas, e
informações confiáveis. Para Gabriel Guerreiro, eventos
dessa natureza precisam se repetir, pois só assim se
impedirá a presença de “ aventureiros que descem de
pára-quedas prometendo de tudo para todos”.
243
PAROESTE: FALTA DE PARAENSISMO?105
244
Contudo, em recente artigo publicado na
imprensa, este mesmo senador que já esteve ocupando
o palácio “Lauro Sodré” e sabe como é governar um
Estado de dimensão continental como este Pará – onde
o governador, invariavelmente, só se desloca para a
região oeste em tempos de eleições – deixa transparente
uma face desconhecida de sua postura política. Chamar
de “falta de paraensismo” para atitudes daqueles que
estão consolidando uma aspiração local e antiga do povo
do oeste paraense, traduzida na concretização do
Estado do Paraoeste (uma contribuição de Oriximiná), é
classificar historicamente D. Pedro I como alienado do
lusitanismo.
245
que se leva daqui. Nossa região já possui homens
identificados com a realidade amazônica, portanto
habilitados na discussão de seus problemas, sem
precisar de decisões alienígenas. Assim, observa-se nos
planos energéticos –aproveitamento do potencial hídrico
ímpar no mundo- a classificação provinciana, passando
de ciclo extrativista mineral para algo como “colonialismo
hidrelétrico”. Aliás, na fase anterior foi necessária a
armazenagem nas laterais de estradas americanas a
parte de nossas reservas minerais não consumidas de
pronto, ficando aqui no seu lugar grandes “crateras
reflorestadas”.
246
qualquer cidadão precisar de um documento ou
necessitar registrar uma pequena micro-empresa na
capital, em tempo e custo de despesas com viagem.
Seria, no mínimo, três dias de disposição para ir até à
Capital. Então, tomamos como exemplo a situação de
um cidadão daqui de Oriximiná, ir até à capital para
resolver um simples problema burocrático, como os tem
um prefeito deste “interland”. Seria, bem contado, uma
semana!
106
Trecho de discurso do Representante do Presidente José Sarney,
na abertura do 1º Encontro da Amazônia, auditório do BASA, em
abril de 1985. Aliás, essa afirmação presidencial foi mote de quase
toda a política federal naquela década, nada se agregando de valor
às já combalidas finanças da região no que diz respeito a
247
Em princípio defendemos a necessária e tão
anunciada desestatização em alguns setores da
economia nacional, por ser a Iniciativa Privada107 a
grande força geradora da economia livre em países
democráticos.
248
ESTADO DO TAPAJÓS: UMA QUESTÃO DE
GOVERNO108
108
Artigo publicado em 19.06.88, em O Liberal
249
Estado, em aceitando esta proposição do ilustre
parlamentar, nos esforcemos ainda mais em nossa luta
para a divisão do Estado do Pará, pois pela situação
econômica expressa em dólares, tão cedo não
deixaremos de ser região esquecida e “pobre” , como
frisou o deputado.
250
profissionais; povo que não pode se auto-administrar e
isto não se dá por falta de bons governadores locais,
mas sim pelas condições geopolíticas, vê seus
representantes adiarem sempre nossas condições de
desenvolvimento, diferirem para um futuro de “decênios”
nossas possibilidades de auto-sustentação.
251
Continua o Professor Themístocles Brandão
Cavalcanti “no primeiro caso temos de incluir todos os
órgãos legislativos, executivos e judiciários, que exercem
os poderes inerentes à soberania, diretamente ou por
delegação popular, segundo o regime político. (Ob. cit.).
252
do direito público internacional, na nossa administração
estadual no tocante ao Baixo-Amazonas e regiões afins?
Não seria essa a verdadeira razão pela qual nossos
representantes legítimos tanto no Congresso como na
Constituinte sua luta para a aprovação da criação deste
nosso Estado do Tapajós? O povo daqui também é
paraense, e como paraense quer continuar se
desenvolvendo. Quem sabe uma ação efetiva do
governo tivesse sido mais objetiva...
253
MINERAÇÃO RIO DO NORTE
Responsabilidade Pública
e Cidadania
Relatório Interativo
Fundação Ferreira de Almeida
254
“Viemos aqui para viver ou para chorar, estamos por morrer
ou por nascer?”
Carlos Fuentes
Poeta
255
Prefácio
256
nessa atividade administrativa que muito tem ajudado a obtenção dos
lucros otimizados lá em Porto Trombetas, revelando a seriedade na
gestão da empresa.
109[1]
WOMACK, J.P. et alli, A Máquina que mudou o mundo, Editora
Campus, Rio, 1992, p.47
110[2]
CAMPOS, Vicente Falconi, Gerenciamento da Rotina do
Trabalho no dia-a-dia, 2ª ed. ,1996
257
quais seus principais mercados, quanto custa um navio cheio de
bauxita, quantas viagens por ano, e se integre em ações que visem
beneficiar cada vez mais a empresa e o município e sua gente.
O Coordenador
258
Apresentação
111[3]
Fonte Gazeta Mercantil Latino Americana, Setembro de 1999,
página 112
112[4]
Gazeta Mercantil de 03.05.00
113[5]
Site da CVRD www.cvrd.com.br
259
Apesar dos números positivamente merecidos pela atividade
econômica desenvolvida no município de Oriximiná, muito pouco se
sabe e quase nada se tem em retorno social, econômico e
comunitário para a sociedade que lhe empresta a boa hospitalidade,
convivência e porque não dizer a própria urbe aos moradores e
habitantes de Porto Trombetas e a cidade de Oriximiná.
260
Para tentar responder estas indagações a Fundação Ferreira
de Almeida elaborou este Relatório que visa levantar dados,
informações, opiniões, coletar os números junto aos órgãos públicos,
organismos econômicos, político, comunitário, e principalmente,
mapear dados e informações que permitam aferir o grau da
responsabilidade pública da MRN no seu contexto de influência
operacional, além de medir o grau de cidadania praticado pela
empresa no desempenho de suas atividades.
Pior do que não fazer nada é ficar lamentando o que não foi
feito!
261
Introdução
114[6]
Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade, in Critérios de
Excelência , pág. 10
262
devem ser registrados para aferição dos critérios eleitos nesta
pesquisa.
115[7]
idem, idem
116[8]
idem, idem
117[9]
idem, idem pág. 11
263
Quais as atividades de cidadanias praticadas pela MRN na
sede do município?
264
2. Exercício da cidadania pela MRN na sociedade oriximinaense
ALUMÍNIO118[10]
118[10]
Fonte www.cvrd.com.br
265
Do lado da oferta, houve limitações derivadas de problemas na
produção de alumina, os quais provocaram a quase duplicação de
seus preços spot.
266
anuais de alumina. Ao mesmo tempo, a Hydro manifestou interesse
em participar em projeto de expansão de capacidade da Alunorte de
1,5 milhão de toneladas por ano para 2,3 milhões.
267
A Aluvale apresentou prejuízo de R$240,9 milhões, derivado
principalmente de resultado de equivalência patrimonial negativo em
R$214,6 milhões, em virtude de perdas registradas na Alunorte e
Albras.
268
A Albras produziu em 1999 a quantidade recorde de 357.681
toneladas de alumínio primário. Vendeu 356.013 toneladas, sendo
346.630 toneladas no mercado externo. Suas receitas operacionais
líquidas atingiram R$837,6 milhões, com a geração de EBITDA de
R$331,9 milhões, o que contribuiu para reduzir a relação dívida
bruta/EBITDA de 10,2x em 1998 para 5,1x em 1999. O resultado
líquido do ano foi negativo, com prejuízo de R$102,2 milhões,
fortemente influenciado pelo efeito da desvalorização do real sobre o
endividamento em moeda estrangeira.
a. Indicadores Ambientais
(não disponíveis pela empresa no site de pesquisa)
b. Indicadores Financeiros
269
Demonstrações Contábeis Acompanhadas do Parecer dos Auditores
Independentes
270
investimento em 31 de dezembro de 1999 corresponde a 6% do ativo
total (6% em 1998) e a 100% do resultado de equivalência
patrimonial (100% em 1998), foram auditadas por outros auditores
independentes, e nossa opinião, no que se refere aos montantes
incluídos relativos à Alunorte – Alumina do Norte do Brasil S.A.,
baseia-se exclusivamente na opinião desses auditores
independentes.
271
MINERAÇÃO RIO DO NORTE S.A.
NOTAS EXPLICATIVAS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
EM 31 DE DEZEMBRO DE 1999 E 1998
(Em milhares de reais)
1. CONTEXTO OPERACIONAL
272
2. PRINCIPAIS PRÁTICAS CONTÁBEIS
273
3. DISPONIBILIDADES
-
Aplicações financeiras-
Fundos de investimento financeiro 33.641
30.695
Certificados de Depósito Bancário 74.407
36.253
-
-
Total das aplicações financeiras 108.048
66.948
--------- ---------
Total das disponibilidades 108.073 66.979
=
..............................................
274
prima básica é o minério de bauxita, iniciou suas operações em 15 de
julho de 1995.
....................................................
275
montante de R$1.466 (R$687 em 1998), e Provisão para
Reflorestamento, no exigível a longo prazo, no montante de R$6.069
(R$3.319 em 1998). Em função das operações de lavra e
beneficiamento, certas áreas demandam cerca de cinco anos para
estar disponíveis para reflorestamento.
8. PENDÊNCIA JUDICIAL
276
4. Conclusão
Mãos à obra!
O Coordenador
277
BIBLIOGRAFIA
278
HOBSBAW, ERIC J. Sobre História. São Paulo.
Companhia das Letras, 1998
279
280