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Octave MIRBEAU

A GREVE DOS ELEITORES

[…] Eis, pois, que durante todos os séculos que o mundo tem
durado, em que as sociedades se têm desenvolvido e sucedido umas após
outras, um único facto tem prevalecido através da História : a protecção
dos grandes e o esmagamento dos pequenos. O eleitor não consegue
compreender que não há senão uma razão de ser histórica : pagar por
uma série de coisas das quais jamais virá a desfrutar, e morrer por
arranjos políticos que nada têm a ver consigo.
Que lhe importa que se chame Pierre ou Jean quem lhe exige o seu
dinheiro ou lhe tira a vida, quando ele é obrigado a despojar-se de um e a
dar a outra ? Mas… bem… Não ! Entre os seus ladrões e os seus carrascos,
ele tem preferências, e vota nos mais rapaces e mais ferozes. Votou
ontem, votará amanhã, votará sempre. Os carneiros caminham para o
matadouro. Nada dizem, estes, nada esperam. Mas pelo menos não votam
no carniceiro que os vai matar, nem no burguês que os vai comer. Mais
besta que as bestas, mais carneiro que os carneiros, o eleitor nomeia o
seu carniceiro e escolhe o seu burguês. Fez revoluções para conquistar
esse direito.
Oh eleitorzinho, inexprimível imbecil, pobre coitado, se em vez de te
deixares levar pelas lengalengas absurdas que te debitam, todas as
manhãs, por um tostão, os jornais grandes ou pequenos, azuis ou negros,
brancos ou vermelhos, que são pagos para obter a tua pele ; se em vez
de acreditares nas quiméricas lisonjas com que afagam a tua vaidade e
envolvem a tua lamentável soberania em farrapos ; se em vez de te
deteres, eterno paspalho, perante as pesadas patranhas dos programas ;
se em vez disso, lesses de vez em quando, ao canto da lareira,
Schopenhauer e Max Nordau, dois filósofos que muito sabem sobre os
teus chefes e sobre ti, talvez aprendesses então coisas espantosas e úteis.
Talvez assim, depois de os teres lido, tivesses menos pressa em pôr o teu
ar grave e vestir o belo redingote e ir a correr às urnas homicidas, onde,
seja qual for o nome que lá depositares, é o nome do teu mais mortal
inimigo. […]
Lembra-te, sobretudo, que o homem que solicita os teus sufrágios é,
por isso mesmo, um homem desonesto, porque em troca da situação e da
fortuna a que o conduzes promete-te uma série de coisas que não te irá
dar, além de que nem sequer estaria na sua mão poder dar-tas. O homem
que eleges não representa nem a tua miséria, nem as tuas aspirações,
nem nada de ti ; não representa senão as suas próprias paixões e os seus
próprios interesses, que são contrários aos teus. Não imagines, nem para
te reconfortares, nem para reanimares esperanças que depressa cairão
desiludidas, que o deplorável espectáculo a que assistes hoje é inerente a
uma época ou a um regime, e que tudo passará. Todas as épocas se
equivalem, tal como todos os regimes, ou seja, nada valem.
Vai, pois, para casa, homenzinho, e faz greve ao sufrágio universal.
Não tens nada a perder, digo-to eu ; até pode ser que isso te divirta
durante algum tempo. Da entrada da tua porta, fechada à pedinchice de
esmolas políticas, verás desfilar a algazarra, enquanto fumas silencioso o
teu cachimbo.
E se existir, num lugar desconhecido, um homem honesto capaz de
te governar e de gostar de ti, não sintas pena dele. Seria demasiado cioso
da sua dignidade para se misturar na luta enlameada dos partidos,
demasiado orgulhoso para obter de ti um mandato através da audácia
cínica, do insulto e da mentira.
Já te disse, homenzinho : vai para casa e faz greve.

A Greve dos Eleitores (1888), tradução de Carlos Ramos,


Coimbra, Nihil Obstat edições, 1998

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