Sei sulla pagina 1di 67

A ESSÊNCIA

NA DUALIDADE DA EXISTÊNCIA HUMANA

JOSÉ CARLOS DE ARAÚJO ALMEIDA FILHO

Rio de Janeiro – 2009


Dedicado a dois anjos que conheci em minha caminhada
Com grande e enorme carinho à pessoa que me fez escrever sobre a essência, porque
por causa dela, voltei à minha
"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não
tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."

Bernardo Soares (Fernando Pessoa)


A ESSÊNCIA

NA DUALIDADE DA EXISTÊNCIA HUMANA

Os homens sempre tiveram a necessidade de classificar as coisas e as


situações. Sempre tiveram o desejo de materializar. Sempre houve necessidade de
explicação para tudo e para todos. O homem passa o dia explicando-se e tentando
explicar aos outros o que sente, o que pensa, o que existe e o que poderia existir.

Desde a remota antiguidade, tudo era explicado e teorizado. Os deuses!


Estes deuses que são natureza, como o sol, a lua, o fogo, o trovão. Mais tarde, discute-se
a existência dos quatro elementos e a quintessência. Mas estamos distante de nós
mesmos quando começamos a atribuir aos elementos, ou aos outros, o que
verdadeiramente somos? E o que verdadeiramente somos?

Somos fogo, água, ar, terra? Ou, na teoria da quintessência, o perfeito?


Somos isto tudo, nada disto, ou algo mais?

Somos algo mais: somos essência. A água possui a sua essência, assim
como o fogo, a terra e o ar. Tudo na vida depende, única e exclusivamente, da essência.
E a essência não muda. Ela se altera. Ainda que os termos possam parecer semelhantes,
não são idênticos. Mudança significa a passagem de água para fogo e isto é impossível.
Modificação. Contudo, alteração significa passagem de água para vapor. E o vapor, por
sua vez, volta a ser água. Se congelada, a água se transforma em sólido, mas uma vez
derretida a pedra, volta a ser água. Assim, a essência não se modifica, ela se altera. Eu
posso alterar o sentido de uma frase, mas não posso modificar o sentido da mesma.

Os quatro elementos, por exemplo, podem se transformar. Mas a essência


se modifica? Ou a essência se altera? A resposta parece simples, porque afirmamos
acima a impossibilidade da modificação da essência. Mas ela se transforma. A
mudança, para o que se pretende entender enquanto ser humano, é muito forte. A
transformação, por sua vez, não nos parece algo doloroso. Mesmo assim, na dualidade
da existência humana, podemos conviver com o mudar e o transformar.
Na Bíblia, em Eclesiastes 3:20, observamos a força da palavra, quando se
afirma que o homem veio do pó e ao pó voltará: “Todos vão para um lugar; todos foram
feitos do pó, e todos voltarão ao pó.”

Forte a concepção de pó, porque admitimos, dentro da análise dos quatro


elementos, que a madeira, após o seu estado sólido, se queimada pelo elemento fogo,
que, por sua vez necessita do elemento ar para existir, transmuta-se ao pó. Há extrema
modificação. A simbologia bíblica é muito forte.

Mas adotemos o pó como essência. E tentemos modificar a frase bíblica


para: todos vão para um lugar; todos têm sua essência, e todos retornam à sua essência.
A idéia do pó, diante do texto bíblico, está em Gênesis, 2:7: “E formou o SENHOR
Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi
feito alma vivente.”

O que seria, então, este pó, diante do Sopro Divino, senão a própria
essência? Essência se modifica? Transmuta-se? Como entender a nossa essência e o
nosso pensar de acordo com os dias que se passam? A questão se torna intrigante
quando ouvimos de alguém: - Você precisa mudar!

Mas será que este alguém, que de forma tão categórica, afirma que eu
preciso mudar, também não precisaria? Ou será que ninguém tem o direito de fazer ou
tentar fazer com que o seu semelhante mude?

Na verdade, a grande sabedoria reside no sentido de descobrirmos a


essência da pessoa e sabermos se é possível conviver com esta parte oculta. Quando
somos essência, não precisamos ser modificados, porque, adotando a teoria dos quatro
elementos, se sou água e me modifico, passo ao estado gasoso.

Vejamos, por exemplo, a sociedade e os tempos modernos: a sociedade


continua sendo sociedade. Os sociólogos atribuem termos à sociedade e hora é da
informação, hora da informação tecnológica, hora apenas sociedade. Mas é sociedade.
E, se estamos tratando de sociedade tecnológica, pensemos como as relações se
modificam com a informação. Não muda, mas se transforma.
Se há timidez profunda em uma pessoa, porque esta é sua essência, com a
informática e a idéia de Cibercultura, é bem provável que esta pessoa consiga enviar
uma mensagem eletrônica para a pessoa amada, ou para um amigo, a fim de dizer o que
realmente sente. Ele não mudou sua essência de timidez, mas conseguiu, através de uma
ferramenta que lhe deram, dizer algo que não diria.

Esta pessoa não deixou de ser tímida, mas conseguiu, de alguma forma,
demonstrar seus sentimentos. E precisamos entender a idéia de essência para
alavancarmos o pensamento que nos deixa tão inquietos: a mudança, a necessidade de
mudança, e a mudança que os outros querem ver em nós.

Precisamos mudar?

Esta é a questão mais complexa que devemos desenvolver. Qual a


necessidade de mudança? Por que precisamos ser “feitos à imagem e semelhança do
outro?” Não! Em verdade, precisamos descobrir a nossa essência.

E por que o outro não nos aceita da forma como somos? Esta questão é
de suma importância. Se alguém deseja tanto que nos modifiquemos ou que sejamos
reprimidos em nossos sentimentos mais profundos, em verdade, não nos querem, mas
desejam um espelho. E não podemos ser espelho de ninguém.

Mirar-se em alguém, seguir-lhe bons exemplos, admirar o próximo pelos


grandes feitos é uma forma saudável de comportamento. Invejar estas qualidades faz
parte de uma essência pouco vigorosa ou que se possa dizer bondosa. Mas, se
desejamos ser como o próximo, estamos abandonando a nossa essência.

Deixamos, mesmo, de ser como a água e nos esquecemos de voltar ao


nosso estado natural. A beleza da vida consiste em sermos e estarmos em nosso estado
natural.

Muitos relacionamentos não se desenvolvem ou se desgastam porque nos


tornamos espelhos, ou nos deixamos ser espelhos do companheiro ou da companheira.
Não podemos permitir que as pessoas tenham tanto domínio sobre nós e é por isto que a
separação e os descontroles nos lares se tornou uma coisa extremamente comum no
século XX. Não podemos ser “caramujos” de nossa própria existência e a imagem do
caramujo é porque ele se esconde na concha. Mas a concha se quebra.

Se adotarmos a simbologia, talvez a mais forte seja a da Idade Média,


muito provavelmente por ter sido o período mais longo da história. E, como cavaleiros
medievais, nos encerramos em armaduras e elmos. Nosso corpo e nossa cabeça se
encontram tão encobertos que não temos a possibilidade de penetrarmos no mais íntimo
pensamento de nosso ser – a essência.

Como damas da Idade Média, deixamos que nossas costelas sejam


quebradas para nos adaptarmos à moda. E sofremos com a dor, porque todos desejam
uma cintura mais fina.

Os homens com suas armaduras, as mulheres sem suas costelas. Todos


perdidos em sua mais nobre essência, porque o pensamento do outro nos parece mais
poderoso que o nosso próprio sentir.

E o sentimento faz parte da essência da mesma forma como a luz é a


fonte de todas as cores. Sem luz, não temos cor.

A física, a química, a sociologia, enfim, as ciências nos mostram o quão é


importante a essência. Os alquimistas tentaram, por anos a fio, transformar metais em
ouro e não conseguiram. Mas nos deixaram o grande legado que é saber ser possível
transformar, mas jamais modificar. Um metal que nasce impuro, jamais brilhará como o
mais puro ouro.

Se Alice não tivesse caído no país das maravilhas, talvez não tivesse a
oportunidade de viver em si toda a sua existência. Peter Pan nos mostra a necessidade
de sermos crianças.

Deixemos de lado as “síndromes” e passemos a enfrentar as personagens


dos clássicos como retorno à essência. Ser uma Alice ou um Peter Pan, e se os dois se
unirem em essência, não se pode conceber problemas. Peter Pan pode crescer e Alice
pode descobrir que em seu mundo real existe algo de mágico.

A essência é a magia do ser, que flui de dentro do mais íntimo despudor


da existência humana. Quando Einstein relativizou o tempo chamaram-no de louco.
Despudor ou pudor, relativizados, são o equilíbrio perfeito na magia da grande mágica
que é o viver.

Assim como a água, por mais que nos modifiquem ou nos transformem
em espelhos sem qualquer forma de agir, ainda que nos façam Pinóquio, algum dia
enfrentaremos a realidade do mundo dos sonhos e retornaremos à essência. Pinóquio se
transforma em ser humano, Peter Pan cresce e Alice aprende a viver seu mundo mágico.

No balanço da vida, quando estamos prestes a não mais entender o seu


sentido, conseguimos força e retornamos à essência. A água nos faz viver, o fogo nos
aquece, o vento nos ameniza e a terra nos faz viver a realidade.

Podemos sonhar com o vento, sentir o fogo no breve espaço do amar,


beber da pureza da alma e viver do pó da terra. Podemos ser o que somos. Devemos ser
o que somos.

Devemos ser essência. E, enquanto essência, entender o por que de nossa


existência.

OS QUATRO ELEMENTOS E A VIVÊNCIA HUMANA


A ÁGUA

Ergo logo sun. Bem, se penso, logo existo, existo porque existe uma
razão neste universo que se encontra ao nosso redor. Ao tratar dos quatro elementos,
concebemos a água como a maior fonte de vida. Enquanto fetos, vivemos embanhados
em água. Sem água, não sobrevivemos.

E a água nos parece a maior força para tratarmos da existência humana e


da essência. A essência... O que poderia ser a essência?
Assim como a água, podemos admitir a essência como pureza. Não que
não haja pessoas cuja essência seja ruim, mas ainda que se trate de ruim, é pura pela
própria natureza de essência. A pureza, aqui analisada, consiste no fato de ser algo
imanente ao ser humano em seu estágio mais primitivo.

A essência poderá ser boa ou ruim. Não visualizamos a possibilidade de


modificação da essência, mas de seu aperfeiçoamento. E a água é um exemplo clássico
desta idéia.

A água, em seu estado puro, é H2O. Já a água transformada em


oxigenada, sem que a fórmula essencial seja perdida, é H2O2. Houve uma transmutação,
mas não houve modificação na essência. A essência continua sendo H2O.

A essência humana, contudo, apesar de parecer uma unidade, é


dicotômica e podemos concebê-la diante dos mitos e das metáforas. Para os românticos,
a unidade é a união perfeita, o encontro da alma gêmea. Mas não apenas!

É preciso avançar na teoria da unicidade e entender a dicotomia sob o


símbolo ( ou mito) do duplo. A duplicidade própria de todo o ser humano e não existe
melhor simbologia para a explicação que o símbolo do TAO - ☯ -. Na dualidade
estamos vivenciando a própria unidade do ser. E não é de hoje que este conceito se
apresenta em nossas vidas.

Retornando à Bíblia, em Gênesis, ainda que o antropomorfismo seja a


base de toda a narrativa bíblica, ou seja, o homem foi feito à imagem e semelhança de
Deus – e, aqui, cabe um hiato, porque se assim o foi o homem seria uno e não dual,
diante da religiosidade empregada na forte concepção da Santíssima Trindade (Pai,
Filho e Espírito Santo) -, também é certo que o homem foi dividido: “E Adão pôs os
nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o
homem não se achava ajudadora idônea. Então o SENHOR Deus fez cair um sono
pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne
em seu lugar; E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma
mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da
minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada1.”

Ainda que feito a imagem e semelhança de Deus, o homem foi bipartido


e sua costela transforma-se em mulher. Na psique humana também vivenciamos esta
dualidade tão bem retratada no texto bíblico, porque animus e anima, nos arquétipos
jungianos, se completam, mas são duos. E da dualidade é que se pode conceber a
essência.

Conceber a essência e a dualidade é de grande importância, porque os


símbolos e os mitos nos fazem entender a personalidade e como podemos ser felizes se
deixarmos a verdadeira essência transbordar. Se em determinado momento de minha
vida me apaixono, parece que o medo da perda se faz presente. E, em assim agindo,
estou atribuindo ao outro a minha felicidade. O que não quer dizer que o outro, como
ser em essência possa ter elementos próximos ao meu e fazer-me feliz.

O que não posso é atribuir minha felicidade a quem quer que seja, a não
ser a mim. A partir do momento em que estou em essência, sou feliz e posso visualizar a
felicidade com a pessoa a quem desejo estar próximo. O medo, contudo, nos faz afastar
esta pessoa.

Para os românticos a questão está entre o amor e a morte. E a morte,


aqui, se apresenta como o medo de vivenciar experiências novas e mergulhar dentro de
nossa essência. Ainda que pareça um exercício de lógica, ao atribuir ao outrem a minha
felicidade, trabalho da seguinte forma: estou triste. Conheci Fulana e fiquei feliz. Então,
Fulana me faz feliz.

As premissas são tão falsas quanto a conclusão e a lógica não se


apresenta concebível na dualidade do ser. Para os românticos a morte tem o significado
de perda, mas podemos concebê-la como renascimento. Ousar, em determinadas
situações é tão saudável quanto recuar. Se eu temo algo que possa ser bom, com medo

1
Gênesis, 3:20-23
de que venha a sofrer, estou vivenciando a plenitude da dicotomia humana: viver e
morrer – aqui de forma simbólica, apenas.

Viver e morrer em determinadas situações não representa nada além do


que vivenciar o momento e deixar que o passado se afaste, de tal maneira que os
pensamentos ruins não nos abale mais.

O casal que se encontra em núpcias parece começar o dia com juras de


amor e promessas de um sem fim. Mas tudo tem início, meio e fim. E o fim pode ser
concebido como término ou como finalidade, objetivo de se alcançar alguma coisa. Se o
meu fim é a idéia de perda, este medo se faz tão presente que acabo por perdê-lo. Se
tenho medo de vivenciar um grande e novo sentimento e deixo-o escoar pelas mãos,
nada mais estou fazendo do que deixar de sentir o que mais importante existe em mim
que é a essência da vida.

Assim como a água necessita do oxigênio, todos os serem necessitam,


seja de forma real ou simbólica. Ainda que eu precise ser Alice no país das maravilhas,
ou Peter Pan na Terra do Nunca, eu sei que poderei encontrar um coelho ou uma fada.
Mas é preciso que eu não atribua ao coelho ou à fada a essência de minha felicidade.

Viver! Sentir! Não se arrepender!

São difíceis as ações, mas são necessárias.

Oxigenar as relações... mas, se as relações não se oxigenam, deixamos de


lado a nossa essência e começamos a procurar no outro a fonte de vida que à ele não
pertence, porque somente pertence a nós. Estou feliz ao lado de alguém e não por causa
de alguém. Se assim eu pensar, não restam dúvidas que sou dual, mas não perdi minha
essência.

EMOÇÕES E SENSAÇÕES NA DUALIDADE DO SER

A partir do momento em que percebemos nossa essência, não precisamos


temer o que somos. Não precisamos temer o que sentimos. Mas devemos estar atentos
aos movimentos provocados pelo sentir.
Entre a essência e o sentir existe um liame profundo e não raras às vezes
confunde-se o existir com a impulsividade. Mas o que seria impulsivo quando estamos
tratando de essência, de dual e de sentir?

Tentar pegar o telefone, ligar, falar horas? Controlar-se? Até que ponto
tem-se a idéia da impulsividade e distorção do verdadeiro sentir?

A essência, dual, por natureza, deve conviver com as idéias que nos
passam pela mente. E não podemos confundir sentimentos com neuroses2. Não afirmo
que exista total discrepância entre os dois, mas as neuroses são sentimentos destrutivos
(nem sempre, porque podem provocar sensações de conquista ou necessidade de
superação), ao passo em que o sentimento puro da essência, dês que boa, não é
destrutivo. E se o sentimento nasce da essência, ou se a essência reclama este
sentimento, então não podemos admitir haver algo de doente.

Podemos entender esta dualidade de sentimentos (neuroses não deixam


de serem emoções, e, por sua vez, sentimentos) como a água. Em determinado momento
nos prendem de tal forma que nos sentimos tão duros quanto o gelo. E somos obrigados
a conviver no ambiente transformado de nossa essência. Estou sólido, porque não me
permito. Estou duro, porque não me permito. Estou petrificado, porque não me permito.

Mas sinto!

Por outro lado, se deixar meu sentimento tomar conta de mim,


transformo-me em vapor e fico tão solto quanto as nuvens. É preciso entender a
essência e o meio termo.

2
A neurose, na teoria psicanalítica, é uma estratégia ineficaz para lidar com sucesso com algo, o que
Sigmund Freud propôs ser causado por emoções de uma experiência passada causando um forte
sentimento que dificulta reação ou interferindo na experiência presente. Por exemplo: alguém que foi
atacado por um cachorro quando criança pode ter fobia ou um medo intenso de cachorros. Porém, ele
reconheceu que algumas fobias são simbólicas e expressam um medo reprimido.
Na teoria da psicologia analítica, de Carl Jung, a neurose resulta do conflito entre duas partes psíquicas,
das quais uma deve ser inconsciente.
Quando me sinto solto, diante de um sentimento – o amor, por exemplo -,
preciso identificar, em minha essência, se estou solto porque sou solto, ou porque
alguém me soltou. Ora, se alguém me soltou, é certo que esta não é minha essência, mas
um momento etéreo e que se perde se o vapor não retornar ao seu estado natural que é a
água. Por outro lado, se o sentir é petrificante, estou encarcerado.

A idéia da essência é exatamente olhar para dentro de cada um de nós e


entender o que se passa, sem que possamos admitir tratar-se de impulsividade, neurose,
ou qualquer outro rótulo. Posso, neste momento, sentir-me Peter Pan ou Alice. O preço
devo avaliar e pagar pelo mesmo, mas não conseguirei fugir da minha essência.

Ouvindo uma música da Shakira, pude perceber a idéia de essência,


quando o coração está à flor da pele e o sentimento não se confunde com impulsividade:

Para amar-te necessito uma razão, e é difícil crer,


Que não existe nada mas, que este amor
Sobra tanto, dentro deste coração,
Que apesar do que dizem, que os anos são sábios,
Ainda se sente a dor,
Porque todo o tempo que passei junto a ti,
Deixo tecido seu fio dentro de mim

A poesia permite estas licenças, quando a razão de ser convive na outra


pessoa. E a poesia é um dos maiores fenômenos de vida, de viver, de sentir. Poesis é
criação, e, como tal, deve ser entendida como pura essência. Mas nem sempre a poesia,
com suas licenças, nos deixarão compreender a essência. Se “quando não existe mais
nada que este amor”, a vida deixa de ter sentido e deixamos de lado a nossa essência.

Sem dúvida, melancólica e bela a poesia, mas não pode ser entendida
como viver a essência.

Agora, a partir do momento em que somos detentores de fortes emoções,


a impulsividade está presente. Contudo, uma diferença entre sentir e ser impulsivo é
preciso. Se o amor se deixa estar no outro, posso, até, admitir existir impulsividade. Mas
se sinto, porque sou eu quem está sentindo, ou minha essência está sentindo, espero
enviar ao outro este sentimento e que ele sinta sem que a minha emoção interfira na
dele. Não é impulsividade, mas verdadeiro sentir: não dependo dele, mas gosto de estar
com ele.

Não é preciso ir muito além para tentar imaginar qual foi a sua primeira
sensação ao analisar a foto... Mas não vamos parar por aqui...
QUAIS FORAM SUAS SENSAÇÕES?
VONTADE DE ESTAR NESTE LUGAR?

Tente, de alguma forma, interpretar as imagens, seus sentimentos, suas


emoções. Tente, de alguma forma, misturar a vontade de estar, com o impulso de estar.
Sinônimos, sem dúvida, mas não termos idênticos. E, quando estamos diante de
essência, não podemos tratar de sinônimos ou assemelhados, mas de essência.

Mas, mesmo o impulso pode ser produtivo, porque:


IMPULSO = DESEJO = REALIZAÇÃO

Mas é preciso pensar nas conseqüências e avaliá-las. Eu admito que a


avaliação está na essência. Sim... em um primeiro momento posso estar dominado pelo
impulso, que se transforma, imediatamente, em desejo. Posso reprimir, como o gelo,
posso liberar, como o vapor. Mas se unir impulso, com desejo, na minha essência, o que
tenho é realização. Em outras palavras: medi as conseqüências e optei pelo que me
deixa, realmente, feliz, e não o que me deixa acomodado.

O FOGO

PODE ALGUÉM RESGATAR A SUA ESSÊNCIA?

Sim? Não? Não sei?

O fogo é elemento de força e vida. Assim como a água e os demais


elementos, o fogo é intenso e vivo.
O fogo, enquanto análise da essência, reporta-nos, de alguma forma, à
Phoenix. E não há um símbolo tão profundo quanto a Phoenix, se estamos tratando de
essência. Às vezes é preciso morrermos, pelo fogo, para voltarmos à essência e darmos
de alimentar aos filhos.
A Phoenix renasce das cinzas!

Apocalíptica imagem, a Phoenix reside em cada um de nós enquanto


essência. Quando não deixamos nossa essência ser dominada, ou, ainda que adormecida
por sermos obrigados a escutar verdades que não são nossas, é da imagem do fogo e de
sua transformação em pó que podemos reconstruir o Sopro Divino que reside em nós.

Através do mito da Phoenix, descobrimos que ela se reproduz sem


qualquer ato sexual, ainda que o fogo possa ser um grande símbolo da sexualidade,
porque sempre existirá apenas uma ave. E é admissível, porque se ela renasce das
cinzas, somente uma Phoenix pode existir.

E qual a grande simbologia entre Phoenix, Fogo e Essência? A unidade.


Ainda que a existência seja dual, por natureza, a essência, envolta nesta dualidade,
necessita, sempre, estar à mostra. Precisa apresentar-se. Encolhida pelo fogo, por
diversas vezes; escondida pela perversidade daqueles que não podem admitir o
crescimento; adormecida sobre o leito perverso da solidão...

Mas a essência renasce. E, como pelo fogo foi extirpada, pelo mesmo
fogo, ungida em água, símbolo de purificação, renasce a ave bela, que viaja por tempos
e caminhos longínquos, mas sempre tão perto de nós que não conseguimos visualizar:
esta é a nossa essência.

Escondida! Perdida! Adormecida!

A Phoenix é uma presença nas religiões. A mitologia e a simbologia,


muitas vezes, são desperdiçadas, porque as pessoas tendem a admitir serem pagãs. Mas
não são. A idéia da Phoenix, por exemplo, pode ser concebida no Cristianismo como a
ressurreição de Cristo, porque cada alma justa é uma Phoenix3.

Quando passamos a conceber o mito como análise e alegoria do viver,


temos no fogo a expressão do calor e da vida plena. Phoenix, segundo Brunel, afirma

3
BRUNEL, Pierre. Dicionário de Mitos Literários. José Olympio, RJ: 1988
que “não fazem parte da história da fênix pecados ou castigos. Nada de provas a serem
vencidas, a não ser uma única que talvez pudesse ser qualificada de glorificante: a morte
que irá resultar em ressurreição. A unicidade da fênix, sua beleza, sua privilegiada
ligação com o Sol, fonte de vida, tudo se congrega para dar-lhe qualidades positivas.”

E o que esperamos da essência, senão a vivência em unicidade conosco?


Admirar a beleza do Sol? Viver plenamente? Se morrermos, em determinado momento
de nossa vida, morte emocional embotada pelos sentimentos daqueles que em nada nos
acrescentam e até sentem prazer em destruir o que de bom possuímos, será pelo fogo da
vida, pela cinza – porque do pó veio e ao pó retornarás – que seremos sempre nós! E,
quando somos nós, somos essência.

A essência não se destrói, porque sua força é tão bela e forte com a ave
que sobrevoa mundos distantes, em mito, em sonho, mas que nos traz, sempre, de volta
à nossa bela e imaginável origem.

Afinal de contas, nascemos para ser felizes!


ENTRE A ÁGUA E O FOGO
COMO ENTENDERMOS A NECESSIDADE DE MUDAREM A NOSSA ESSÊNCIA?

Quantas vezes não ouvimos que precisamos mudar? Nossa estima se


perde quando ouvimos esta frase a partir do momento em que a admitimos como
verdadeira, ou seja, que precisamos mudar.

Estamos entre o fogo e a água quando uma frase desta é proferida. Mas
se admitimos a essência, não precisamos nos modificar. Não precisamos ser feitos à
imagem e semelhança do outro. Mas podemos, sim, respeitar o outro e conviver com
seus defeitos e qualidades.

Na dualidade do ser, somos a Lua e seu lado negro. Precisamos conceber


nossa dicotomia nesta existência e aprendermos a lidar com nossos lados: o melhor e o
pior de nós. Aceitar que somos fortes e fracos, bons e maus, saudáveis e doentes. Todos
somos um misto de água e fogo, terra e ar. Mas não somos rótulos. Não somos passíveis
de modificação em essência. Não pertencemos ao próximo, mas queremos estar ao lado
de alguém.

Heidegger, um dos mais complexos filósofos do Séc. XX, admitia esta


essência do ser. Para Heidegger4 o humanismo é a grande chave. E "que as mais altas
determinações humanísticas da essência do homem ainda não experimentam a
dignidade propriamente dita do homem"5. Neste texto o que se pretende demonstrar é
que a humanidade é dotada de uma essência, sem que haja necessidade de ser rotulada.

O ser humano, em sua essência, busca a verdade: a sua verdade! E não


nos compete atribuir a este sentir uma denominação ou um rótulo. O preconceito
existente no mundo ocidental moderno, muitas vezes, proporciona um afastamento do
homem de sua essência. Alguns exemplos, que envolvem sentimentos, podem ser bem
explicados:
4
HEIDEGGER, M. Introdução à Metafísica; trad. Emmanuel C. Leão. - Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1987.
____________, _. "Sobre o Humanismo", in Conferências e Escritos Filosóficos; trad. Ernildo Stein. -
São Paulo: Abril Cultural, 1983.
5
Idem
- uma pessoa que casou mais de uma vez não pode ser uma boa pessoa;
- é preciso doar-se, integralmente, para ser feliz;
- no casamento, no namoro, no amor, enfim, é preciso apagar parte de seu ser.

São frases feitas, verdadeiros clichês, que devem ser analisados, sob pena
do ser humano ficar tão preso a uma falsa essência, que sequer conseguirá livrar-se das
garras de sua própria existência (ou inexistência). A partir do momento em que
deixamos nossa essência passamos a viver na inexistência. E, neste ponto, lembra-me
Nietzsche, que admite a niilidade. Heidegger não fica atrás, já que a idéia é
contemporânea.

A niilidade de Nietzsche, assim como a de Heidegger, apesar de seu


humanismo, não podem ser concebidas como a perda da essência. Antes de analisarmos
os três nortes de preconceito lançados, porque não se resumem, apenas, a eles, mas que
servem de base para a compreensão da existência da essência, será necessário
entendermos o ponto nodal da filosofia moderna:

“Uma filosofia que não tenha em si qualquer princípio passivo; uma


filosofia que especula sobre a existência sem tempo, sobre a existência
sem duração, sobre a qualidade sem sensação, sobre o ser sem ser, sobre
a vida sem vida, sem carne e sangue – uma tal filosofia, como a
filosofia do Absoluto em geral, tem necessariamente como seu
contrário, na sua unilateralidade plena, a empiria.
Espinosa fez da matéria um atributo da Substância, não porém como um
princípio de afecção, mas justamente porque ela não sofre, porque é
única, indivisível e infinita, porque possui exactamente as mesmas
determinações que o seu contrário, o atributo do pensamento, em suma,
porque é uma matéria abstracta, uma matéria sem matéria, da mesma
maneira que a essência da lógica hegeliana é a essência da natureza e do
homem, mas sem essência, sem natureza, sem homem.6
(...)
A verdadeira relação entre pensamento e ser é apenas esta: o ser é
o sujeito, o pensamento o predicado. O pensamento provém do
ser, mas não o ser do pensamento. O ser existe a partir de si e por
si – o ser é só dado pelo ser. O ser tem o seu fundamento em si
mesmo, porque só o ser é sentido, razão, necessidade, verdade,
numa palavra, tudo em todas as coisas. – O ser é, porque o não ser
é não ser, isto é, nada, não-sentido. A essência do ser enquanto ser é

6
Ludwig Feuerbach – teses provisórias para a revolução da filosofia (1842) -
http://www.lusosofia.net/textos/feuerbach_teses_provisorias_de_reforma_da_filosofia.pdf
a essência da natureza. A génese temporal estende-se apenas às formas,
não é essência da natureza.”

A frase “o ser existe a partir de si e por si – o ser é só dado pelo ser” deve
ser destacada porque nela reside a idéia de essência e da própria dualidade da
existência humana. Entre o bem e o mal vivemos todos, mas a ética, a verdadeira ética,
como conhecida pelos filósofos, deve ser concebida a partir do ponto em que somos. E
nada seremos se perdermos a essência.

Quando afirmamos que uma pessoa não pode casar mais de uma vez,
concebemos um pré-conceito muito grande. Os mitos, os símbolos, estão de tal forma
inseridos em nosso ser, que a ritualística do casamento se faz marcante em nossas vidas.
O vestido, a impossibilidade de o noivo ver a noiva antes do sacramento, enfim, são
diversas concepções que não nos permitem a morte do rito. Mas se Nietzsche matou
Deus – e aqui precisamos entender a idéia da niilidade e os conceitos filosóficos -, por
que não se pode ser essência?

- UMA PESSOA QUE CASOU MAIS DE UMA VEZ NÃO PODE SER UMA BOA PESSOA

Será? Por que a sociedade nos cobra de forma tão audaciosa e insensata a
niilidade do ser?

Por que será que somos obrigados a misturar em nossa essência as frases
feitas? Não quero, sob qualquer hipótese, admitir a existência sem a essência. Mas
também não estou afirmando, aqui, que devemos agir pelo simples agir. Na moral e na
ética não se encontram tamanhas proibições.

Se a essência do meu eu não coincidir com a essência do seu eu, o que


acontece é a idéia de que água e fogo podem conviver sem que um interfira no outro. E
isto é impossível, pelo menos, por enquanto. A partir do momento em que analisamos a
concepção de existência e essência sob o ponto de vista de não interferência, afirmo que
é impossível água e fogo estarem juntos. A água tentará, de qualquer maneira, apagar o
fogo. O fogo, por sua vez, tentará de qualquer maneira evaporar a água. Faz parte da
essência destes elementos.
Mas água e fogo podem conviver pacificamente, a partir do momento em
que têm consciência de que suas essências são diversas e que uma pode completar a
outra, dependendo da ocasião e da maneiras como interagem.

Se um casamento não deu certo, é porque a água tentou, de alguma


forma, transformar o fogo em água, ou vice-e-versa. Pretendeu-se modificar a essência,
ao invés de com ela conviver e transmutar-se.

A idéia de modificação do ser conduz à total falta de sentimento. A falta


de sentimento conduz à inexistência do próprio ser. A inexistência conduz à morte
(simbólica, ao menos).

A manutenção de relacionamentos fracassados conduz à total


inexistência. Conduz à perda da essência. E não se pode atribuir culpa. Culpa, aliás, é
um grande mal da civilização. Somos temidos e sofremos temores. Por que a
necessidade de sermos tidos e concebidos com culpas e medos? Os preconceitos nos
fazem temer e ser temidos.

Mas a essência não precisa do medo para sobreviver. A essência


necessita, ao contrário, da chama viva. E se por algum motivo uma pessoa tenta por
dezenas de vezes encontrar o par perfeito, a sua alma gêmea, ser feliz, por que taxar-lhe
de incompetente no casamento? Se for homem, a sociedade, de uma certa forma,
perdoa. Mas se estamos falando de uma mulher, os mais variados adjetivos lhes serão
imputados.

É, então, preferível manter um relacionamento para que a sociedade não


nos crucifique (e, aqui, temos outro símbolo de enorme grandeza, que é a cruz), a
vivenciarmos e experimentarmos a nossa essência.

Mas não podemos deixar de avaliar as conseqüências, porque enquanto


essência não podemos agir por condicionamentos. Devemos avaliar, sempre, a nossa
postura. O que não podemos é chegar ao ponto da anulação da felicidade.
Imaginemos, então, que vivemos mundos paralelos! Suponhamos que as
máquinas dominam a humanidade, com o avanço tecnológico e estamos aqui e em outro
lugar, simultaneamente. Admitamos, para fins de compreensão, que é possível viver em
mundos paralelos, simultaneamente. Temos, aqui, uma idéia de essência e dualidade.

Eu posso estar vivendo neste mundo, aonde as letras são escritas desta
forma, mas posso estar, ao mesmo tempo, no etéreo, ou em outro mundo, tendo as
sensações do meu outro ser, que carrega em si a mesma essência. E convivo,
bilateralmente com estas idéias. De um lado de minha existência estou triste, porque
desejam modificar minha essência, mas o meu outro ser, de tão feliz que se encontra,
provoca-me uma sensação de retornar à origem.

Em mundos paralelos eu posso admitir a possibilidade de novas regras e


novos conceitos. E posso admitir que existo por existir e minha essência é a mesma em
qualquer mundo em que viva. Tenho a nítida sensação de poder estar vivendo mundos
paralelos de forma ampla. Então, como necessito de um rótulo, não tenho a menor
dúvida que serei taxado de psicótico7.

Criaram-me um rótulo porque pretendo admitir a existência do ser em


sua dualidade, entre o bem e o mal, entre o ser e o não ser, entre o existir e o não existir.
A essência... Esta a palavra mestra para podermos conceber nossa visão de universos
paralelos dentro de nosso próprio ser e eliminar, de alguma forma, a idéia de que não
podemos ser felizes.

Em um mundo paralelo posso sentir-me culpado de um lado e feliz de


outro. A minha dualidade permite-me os dois sentimentos. Mas é certo que não posso
conviver com esta dualidade no mundo físico em que me encontro. Uma digressão entre
o ser e o estar é preciso. Eu posso ser feliz sentindo-me culpado? Mas se estou feliz e

7
Psicose é um termo psiquiátrico genérico que se refere a um estado mental no qual existe uma "perda de
contacto com a realidade". Ao experienciar um episódio psicótico, um indivíduo pode ter alucinações ou
delírios, assim como mudanças de personalidade e pensamento desorganizado. Tal é frequentemente
acompanhado por uma falta de "crítica" ou de "insight" que se traduz numa incapacidade de reconhecer o
carácter estranho ou bizarro do seu comportamento. Desta forma surgem também dificuldades de
interacção social e em cumprir normalmente as actividades de vida diária.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicose>
me culpo? Por que é preciso matar o meu sentimento de felicidade pela atrocidade da
culpa?

Não tenho a menor dúvida que é pelo rótulo. Mas retorno ao meu mundo
paralelo e vivo essências diversas, com pensamentos e sensações diversas. Culpado...
Feliz... Estou, sim, culpado, porque não tive a coragem de manter um casamento que
não deu certo, porque a sociedade me impõe uma neurose coletiva. E se posso estar em
um mundo paralelo, por que não posso admitir a psicose daqueles que me rotulam?
Quem será mais louco que eu nesta existência dual?

Por outro lado, estou feliz! E querem arrancar-me esta felicidade em


detrimento da própria sociedade psicótica! Os rótulos são para a média das pessoas e
nem todos os doentes precisam estar doentes. No meu mundo paralelo, não estou
doente, porque estou feliz. Mas em meu mundo real, estou doente pela tristeza causada
pela culpa.

Meu casamento não deu certo, então não posso ser uma boa pessoa e não
tenho o direito de tentar, e tentar e tentar... Então, que fique a culpa!

A essência não admite a culpa por esta razão, como não admite a
existência de mundos paralelos. A essência admite a verdade do meu sentimento e da
vontade de extirparem-se os rótulos e as mágoas que os mesmos geram.

A essência procura a felicidade. E, quando se está diante de tamanho


preconceito, a impossibilidade de sermos felizes, ainda que os relacionamentos não
estejam tão perfeitos, nada melhor que Coríntios. Como dito antes, a Bíblia é profunda e
forte em suas palavras e símbolos.

1 Coríntios 13
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria
1
como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a
2 ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e
não tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me
aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com
4
leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita
5
mal;
6 Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas,
8
cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10 Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como
11
menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora
12
conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é
13
o amor.

- É PRECISO DOAR-SE, INTEGRALMENTE, PARA SER FELIZ;

A doação faz parte do ser humano. Não tem como não admitirmos a
doação. A essência se doa. Mas qual o limite da doação?

O limite da doação está na doença da essência. Quando a essência


adoece, de nada adianta a doação, que se transformará em um grande e imenso vazio da
existência. Nada de dual: apenas o ser em sofrimento. A doação pode ser pura, mas
pode ser fruto de egoísmo. Entender o dual, na essência, é a grande chave para a
conquista do que concebemos como felicidade.

Para amar, para sentir, é preciso conceber a essência e aprofundar-se no


seu mais puro sentido. É preciso saber viver a essência. Quando se doa, apenas por doar,
ou na intenção de querer fazer outra pessoa bem, não se está doando, mas necessitando
de aplauso e não se está diante da pura essência do ser humano.

Muitas vezes a doação é um duplo egoísmo: para conosco e para aquele a


quem doamos, porque esta se transformará em cobrança futura.
A essência não precisa de aplauso externo. Nós precisamos nos conhecer
de tal maneira, que os argumentos e sensações externos não afetem o verdadeiro ser.
Quando deixamos que os outros afirmem sermos desta ou daquela maneira, criamos um
laço simbiótico a ponto de anularmos o nosso verdadeiro ser. E quando assim deixamos
os outros agirem, estamos permitindo que a essência seja perdida. A conseqüência será
a necessidade de aplauso e reconhecimento externo.

O reconhecimento deve partir de nós. Devemos estar bem conosco e


descobrir nosso verdadeiro EU para a felicidade brotar. A felicidade não está em poder
de ninguém. A felicidade está na realização da essência e do sentir. O verdadeiro sentir.

O externo, as sensações que nos transmitem, a necessidade que temos de


deixar o outro afirmar sermos assim ou daquele jeito, mata a beleza do existir humano.
Quando não precisamos mais do aplauso daquela pessoa, ou de quem quer que seja,
estamos vivendo a nossa existência em sua plenitude. Estamos deixando que brote de
nosso interior a maior beleza do universo: a doação plena pelo amor e não a doação por
doar.

Quando a doação frutifica do mais puro sentimento, não há cobrança.


Mas quando a doação se faz quando precisamos dos aplausos, podemos esquecer que a
bilheteria do teatro da vida não foi suficientemente farta para nos alimentar. E quando
não se consegue uma casa cheia, o espetáculo não tem sentido.

A essência, plena, doa sem necessitar retorno. Mas o doar para fazer o
outro feliz é o maior erro que se pode cometer, porque estamos afugentando a platéia da
vida. E nesta platéia existem espectadores que não podem sofrer pelo egoísmo de
alguém que nada entende de arte e apenas sentou-se em uma das cadeiras para poder
vaiar.

O resumo da doação: cumplicidade. O resumo do egoísmo: morte da


essência. A verdadeira intenção: participar do espetáculo da vida e se alguém desejar
assistir o nosso desenvolvimento no palco, que a vaia não nos afete!
Na oração de São Francisco verificamos uma autopoeisis fantástica, que
resume a idéia de doação e felicidade:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.


Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

Estamos todos à procura da paz. E São Francisco propõe-se ser este


grande mensageiro de amor e paz. Dispõe-se a falar de amor, como os anjos. Propõe-se
eliminar a discórdia. Quando passei a sentir a oração de São Francisco, e deixei de
tentar entendê-la – porque arte não se entende, se sente -, vi que a autopoiesis da mesma
é verdadeira e plena. E não há em seu contexto uma sofrer para que o outro seja feliz.
Existe, ao contrário, um mergulho na essência.

Se dou, receberei. E, se recebo, acabo doando. Amo, mas serei amado.


Perdôo e serei perdoado. Ao morrer, para viver a vida eterna, posso sentir esta parte da
oração como morte física ou emocional. E, em qualquer que seja a hipótese, será através
da paz, do amor, do perdão, da LUZ, que terei a essência de meu ser. Quero muito amar.
Mas é preciso dar amor para ser amado. Então, amo!
E amo sem esperar nada em troca. Sou, então, amado. Eu dou sem querer
receber, então recebo.

Este milagre da vida é imperceptível, mas é de enorme profundidade. Na


autopieisis eu não posso admitir inputs e outputs. Ao contrário, a vida é gerada por ela
mesma. A teoria biológica de Humberto Maturana e Francisco Varela afirma que o
organismo vive circularmente, ou seja, por ele e através dele, sem que se possa admitir a
inserção de qualquer elemento estranho a interagir no corpo humano. A teoria avançou
de tal forma, que no Direito se estuda o sistema autopoiético.

Poesia tem seu radical em poesis. E, poesis é criação. Autopoiesis é auto-


criação. É a essência do ser. Vivo porque vivo! A frase, em si, é autopoiética. Fui criado
e mantenho-me em criação.

Este circular de nossas vidas é que nos faz entender a essência. De que
adianta, por exemplo, um perfume sem essência? De nada! Trata-se de álcool com água.
E ambos evaporam-se. Mas a essência permite que se dê odor.

Diante desta concepção autopoiética da oração de São Francisco,


concebemos a essência como amor, poesia e sentimento.

Não se pode deixar morrer a essência pela doação impensada, ou pelo


egoísmo desenfreado. O egoísmo reside na perda de contato com a essência. Então
podemos admitir que existe o auto-egoísmo quando pensamos mais nos outros do que
em nós mesmos. Muito poderão afirmar que esta frase é egoísta!

Einstein revolucionou o mundo com a sua teoria da relatividade8. Ao


desenvolver a teoria da relatividade, Einstein consegue provar que a relação entre
espaço e tempo não é de tal maneira imutável, quanto antes se admitia. Espaço e tempo
são relativos.

Para entendermos esta concepção de relatividade, imaginemos que


estamos dentro de um avião, sem saber que lá estamos. Não temos a idéia se nossos pés
se encontram em solo firme ou não. Mas é certo estarmos a mais de 10.000 metros de
altura. Relatividade!

Analisando a Biologia de Maturana e Varela e a Física de Einstein,


quando penso em mim não estou sendo egoísta. Quando penso no outro, estou sendo
egoísta. A partir do momento em que deixo de pensar em mim, sequer estou pensando
no outro. Anulo-me para fazer o outro feliz. A concepção ocidental moderna afirmará
que esta é a forma correta de viver: pensar no outro. Mas como conceber o pensar no
outro anulando minha essência?

A conseqüência é a imensa tristeza e a morte simbólica de minha


essência. Esta morte poderá ser perpétua se não conseguir olhar internamente e
descobrir minha essência. Então, se não penso em mim, não enxergo a essência e estou
sendo profundamente egoísta. A poesis perdeu-se. Perdendo-se a poesis, não posso,
sequer, admitir a autopoiesis. A poesia se foi. A criação se perdeu nela mesma. E então
tenho uma autopoeisis destrutiva: mato-me e acabando anulando tudo à minha volta.

O egoísmo como forma de atribuir aos outros a nossa insegurança é o


maior erro da concepção ocidental moderna. Somente serei egoísta se não amar minha
8
Em Física, a relatividade geral é a generalização da Teoria da gravitação de Newton, publicada em
1915 por Albert Einstein e cuja base matemática foi desenvolvida pelo cientista francês Henri Poincaré. A
nova teoria leva em consideração as idéias descobertas na Relatividade restrita sobre o espaço e o tempo e
propõe a generalização do princípio da relatividade do movimento de referenciais em movimento
uniforme para a relatividade do movimento mesmo entre referenciais em movimento acelerado. Esta
generalização tem implicações profundas no nosso conhecimento do espaço-tempo, levando, entre outras
conclusões, à de que a matéria (energia) curva o espaço e o tempo à sua volta. Isto é, a gravitação é um
efeito da geometria do espaço-tempo. < http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_Geral_da_Relatividade>
essência. Serei, sim, egoísta, se fizer algo pelo próximo, sem admitir o alto preço que
pagarei, porque, desta forma, estarei cobrando do outro o meu ceder.

E esta é a gênese da oração de São Francisco:


Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

Compreender: sou eu quem compreendo e não o próximo.


Amar: sou eu quem amo.
Dando: sou eu quem dou.
Perdoar: sou em quem perdôo.

E, desta forma, tudo faço sem egoísmo. Compreendo minha essência,


para amar e dar. Quando compreendo minha essência, perdôo sem que haja uma futura
cobrança.

Então, a partir do momento em que penso em mim enquanto essência e


até em que ponto posso doar-me, não estou sendo egoísta, mas altruísta.

Luís de Camões mostra-nos a autopoesis do amor em seus versos. E não


existe amor maior que o amor à essência.

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;


É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Não tente compreender. Apenas sinta!

O TRÁGICO DILEMA

“Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é
burro.”

Mario Quintana

- NO CASAMENTO, NO NAMORO, NO AMOR, ENFIM, É PRECISO APAGAR PARTE DE SEU SER.

E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de


Gênesis
ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua
17:7
descendência depois de ti.

Ao casarmos criamos uma aliança com a pessoa amada. E aliança é


união. União é compartilhar. Compartilhar é trocar. A essência pode ser transformada,
mas jamais modificada. Casamento não é mudança, mas transformação. Quando esta
química não existe, não se pode falar em aliança.

Desta forma, não se pode conceber a morte ou modificação da essência


pelo casamento. A palavra-chave é cumplicidade. E cumplicidade é entender e aceitar
as mutações de cada um. Admitir que fogo e água podem se misturar sem que um anule
o outro, mas que promovam transformações saudáveis. Se o vapor e o gelo são
necessários, dependendo da situação em que nos encontremos, assim deve ser o
casamento: uma alquimia!

Mas nem sempre este sonho se consegue realizar, porque no casamento


temos a idéia do egoísmo impregnada. Temos a exata sensação de que devemos nos
anular, em benefício do outro. E esta não é a essência. Se um dos dois se anula, a
conclusão será uma progressão geométrica: anulação vezes anulação. Não se trata de
uma simples progressão aritmética!

A anulação é de tal forma prejudicial à essência que a anulação de um


provoca uma reação em cadeia de extrema anulação da própria aliança. E assim vai até a
extinção total do casamento e dos pactos que se firmaram de juras e promessas.

Mas como manter um relacionamento já impregnado pelas anulações?


Será possível?

Tudo é possível. Para Fernando Pessoa, “tudo vale à pena quando a alma
não é pequena”. E, como essência e poesia têm muito em comum, Fernando Pessoa, ou
Alberto Caeiro9, demonstram a dualidade da essência:

O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

9
Pessoa foi um gênio. Entre seus pseudônimos conseguia traduzir diversas formas de pensar.
Fernando Pessoa

Ser poeta não é uma ambição minha.


É a minha maneira de estar sozinho

Alberto Caeiro

Em Fernando Pessoa temos a idéia do poeta, que de tão profundo,


consegue mentir a sua dor. O mesmo pessoa, com o nome de Caeiro, justifica a busca da
essência, porque nada melhor que estar sozinho para poder fazer parte da criação.

E o casamento, muitas vezes, não permite este estar sozinho. É o egoísmo


dado. O egoísmo de olhar o outro e para o outro, esquecendo-se de olhar para nós. O
auto-egoísmo. Na aliança o que se pretende é a união. Mas o doar-se, integralmente,
fruto de um pensamento ocidental extremamente massacrante e doentio, nos faz viver
em função de, e não em função para.

Quando vivemos em função de, estamos vivenciando a plenitude da


inexistência. Quando vivemos para, ou em função para, caminhamos lado a lado e esta é
a essência do casamento. Olhar juntos para frente!

A pior frase já criada pelo ser humano é a de que atrás de um grande


homem sempre tem uma grande mulher. Por que esta concepção?

O homem não pode ser grande por ele? E se a mulher é grande, ela não
pode demonstrar esta grandeza, mas servir-se de sombra ao homem? Isto não é
casamento e não há orgulho para o homem que assim se vê ou para a mulher que assim
se sente. ANULARAM-SE!

Não existe poesia na frase, ainda que queiram justificar ser um grande
elogio à mulher e forma de reconhecimento do homem! Mas que egoísmo profundo se
encontra na frase. Se a mulher faz de seu homem grande, será que ela serviu de escada?
E por que a frase não foi escrita de forma diversa?
Por que a mulher não pode ser grande? Ou será que pode?

Onde está a aliança? A união? A essência?

A frase revela uma simbiose. E, nesta simbiose, água e fogo são


destrutivos um para o outro: a água tentará apagar o fogo e o fogo tentará evaporar a
água. Quando o casamento finda, talvez até por esta troca egoísta, as cobranças serão as
mais violentas possíveis. Sempre um terá “mais razão” que o outro. Sempre um “deu
mais que o outro”. Sempre um “foi melhor que o outro”. Sempre um “foi
incompreendido”.

Quantas frustrações se revelam na concepção moderna de união e


quantas separações temos vivenciado pela perda da essência? Lembro-me bem do meu
casamento, e, apesar de ser católico, foi um pastor protestante quem o celebrou. Ele
disse: - O casamento, para dar certo, a mulher deve ser submissa ao homem!

Confesso ter sentido um arrepio naquela frase.

O que o pastor quis dizer? – Mulher, mate a sua essência. Assuma o seu
casamento e esqueça-se da sua essência. Anule-se!

E é neste anular-se ou tentar anular o outro que o casamento se perde. De


aliança, cisão! E da cisão, os grandes conflitos, as grandes dores e a sensação de perda.
O casamento se tornou tão importante na cultura ocidental que ele não pode ser desfeito,
mesmo que a essência esteja morrendo, dia a dia. Mate-me, mas não deixe que o
casamento termine!

Minta a dor, seja um poeta sem poesia. Anule-se!

Anulando-se, você está perdendo a sua essência e matando a essência


daquele a quem se fez juras de amor, de permanência na doença, na alegria e na tristeza.
Então, a miséria toma conta e a promessa de estar presente na bonança e na pobreza se
perde, porque a pobreza que resta é da alma e a bonança que sobra é a do egoísmo.
Mas a sociedade impinge esta necessidade de anulação. Se o pensamento
for anárquico, que o seja. Mas eu afirmo que o pensamento não pode ser rotulado, assim
como não se pode rotular o sentir!

Sinta! Viva! Essencialize-se.

Minta a morte que deveras sente! Seja poeta na poesia! Se mentires a


morte, talvez encontres a essência. Se mentires a vida, também pode ser que encontres a
essência. Mas se mentires o sentimento, jamais conseguirá alcançar a aliança.

E a aliança, pelo fogo, se derrete. Pela água, machuca a mão. Pela terra,
arranha. Pelo vento se perde!

Pela quintessência, se perfeito for, algo de errado pode estar acontecendo,


porque a perfeição não existe e não pode ser cobrada. Perfeição... o que será?

ACRÓSTICO DA ESSÊNCIA

Este meu pensar, perdido nos ventos da noite, para a lua que
Sorri ao poeta. E este canta seus versos, procura a musa.
Sobressai-se porque escreve, mas prefere os ensinamentos dos
Essênios: pensar, refletir e viver. Iniciar uma jornada,
Nadar no mais belo oceano,
Cantar a poesia e não sentir-se pequeno diante de uma
Ilha perdida, ou do grande
Amor que se espera, porque o maior amor está na essência!
A TERRA

Estamos tão presos a conceitos e pré-conceitos que fixamos nosso


pensamento na terra, como sementes plantadas e raízes profundas que nos prendem ao
solo. Enquanto essência não podemos perder a noção de fixação, porque, caso contrário,
também a perderíamos, mas a idéia de termos a planta e a raiz podem ser de extrema
complexidade.

A fixação de pensamentos, comparando-a com a raiz que se aprofunda, é


um dos maiores problemas para a libertação da essência. Precisamos compreender o
nosso ser para identificar a nossa origem. Ou identificar a nossa origem para a
compreensão do ser. Não posso imputar a minha existência a quem quer que seja a não
ser, biologicamente a meus pais, e metafisicamente, a Deus.

Admitir que fixo-me em virtude de uma outra pessoa é a morte da


essência pela raiz. Então, estamos tratando de ego10. Pior ainda quando lidamos com o
superego, que é a morte plena da essência. Ao admitirmos o superego, que é o controle
dos impulsos pelos padrões societários, matamos a nossa essência, porque dependemos
da aprovação. E estamos tão presos ao solo, que não dissociamos a idéia do elemento
terra.

O superego “faz parte do aparelho psíquico da psicanálise freudiana de


que ainda fazem parte o ego (eu) e o id. Representa a censura das pulsões que a
sociedade e a cultura impõem ao id, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus
instintos e desejos. É a repressão, particularmente, a repressão sexual. Manifesta-se à
consciência indiretamente, sob forma da moral, como um conjunto de interdições e

10
Ego é o centro da consciência inferior, diferente do Eu que é centro superior da consciência. O Ego é a
soma total dos pensamentos, idéias, sentimentos, lembranças e percepções sensoriais. É a parte mais
superficial do indivíduo, a qual, modificada e tornada consciente, tem por funções a comprovação da
realidade e a aceitação, mediante seleção e controle, de parte dos desejos e exigências procedentes dos
impulsos que emanam do indivíduo. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de
encontrar objetos que possam satisfazer ao id sem transgredir as exigências do superego. Quando o ego se
submete ao id, torna-se imoral e destrutivo; ao se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois
viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter ao mundo, será destruído por ele. Para Jung, o
Ego é um complexo; o “complexo do ego”. Diz ele, sobre o Ego: “É um dado complexo formado
primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa
memória”. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ego>
deveres, e por meio da educação, pela produção do "eu ideal", isto é, da pessoa moral,
boa e virtuosa “11.

A sociedade é um conjunto, um todo. A sociedade da informação


tecnológica ampliou imensamente este conceito e uma nova sociedade vem sendo
moldada (ou já se moldou). Vivemos a Cibercultura de forma ampla. São novos
conceitos e novos desafios. A Internet proporcionou o intercâmbio imediato e
globalizado de idéias e pensamentos.

Os conceitos – ou dogmas – de repressão vêm se perdendo. A


criminalidade, por outro lado, aumenta na mesma proporção. São novos tempos e novas
formas de pensar. A Cibercultura modifica o pensamento ocidental. Na China, por
exemplo, a Internet é censurada. Então, diante desta nova concepção de sociedade, com
torpedos12, e-mail, conversas em tempo real e pelo mundo, videoconferência, enfim,
diversos mecanismos tecnológicos dispostos ao homem, também perdemos um pouco o
contato com a essência.

A rapidez com que nos comunicamos e mudamos de pensamento, afasta


do ser a busca de sua essência. A tecnologia deve ser concebida para auxiliar o homem
e não para modificar o homem. Mas o superego começa a se desenvolver de forma
diversa. Se os conceitos societários se modificam, tratamos da ética de forma diversa.
Então, devemos pensar novos conceitos e novas idéias para mantermos a essência.

A Cibercultura neste ponto pode ser revolucionária: quebrar


determinados conceitos que nos impõem busca pelo superego = necessidade de aplauso
externo. E o que seria dentro desta necessidade de aplauso externo a impulsividade?
Em determinados momentos o impulsivo é aquele que diz o que pensa e faz o que
deseja, sem qualquer freio.

Mas a pergunta é: em determinados momentos isto não é saudável?

11
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Superego>
12
SMS – short message system (serviço de mensagens curtas)
Sim. Dês que eu tenha a plena consciência do preço que pagarei. Se o
preço for a mantença de minha essência não vou conceber o controle do que denominam
impulso. Estarei preso a terra, com raiz profunda e uma tristeza inconsolável. Mas se o
preço for a morte de minha essência, posso controlar meu impulso.

Não existe uma fórmula para identificarmos o preço a ser pago, mas em
termos de sentimentos, o controle extremo por conta do superego é causa de tristezas.
Quando nos libertamos dos pensamos impostos pelos outros, somos mais felizes. Ora,
se eu sou um escritor técnico e desenvolvo obras na minha área de conhecimento, por
que preciso temer e escrever sobre essência? Em determinadas comunidades as críticas
serão acirradas, porque um escritor técnico deve ser um escritor técnico = superego.

Mas, por outro lado, esta mesma comunidade não me dá a oportunidade


de libertar a minha essência através da escrita. Então, não admito como impulsividade
escrever. E escrever em áreas que não são as que escrevo tecnicamente. Liberto a minha
essência, em sua plenitude, quando aventuro-me pelas linhas da escrita. E isto faz-me
bem. Não me importa, então, as críticas. Não pago um preço por isto.

Contudo, se meu impulso é a necessidade de conter meu semelhante, não


estou tratando de superego, porque, apesar de ser passível de crítica pela sociedade,
estou matando a essência do ser.

A dicotomia impulso x sentimento ainda é uma grande descoberta que


compete aos poetas da psicologia. E sentimento, aqui, deve ser lido como essência. A
idéia de termos um preço a pagar não é mentirosa, mas precisamos saber se o nosso
caixa tem suporte para este preço.

Admito que o preço mais caro seja o embotamento da essência!

A terra, então, pode ser o símbolo de prisão, ou de criação. A terra, com a


água, germina. A terra, com o fogo, perde a essência, os nutrientes e nada mais nasce.
Qual a terra onde desejamos estar? A da criação, que faz parte da própria essência.
Em algumas sociedades iniciáticas pode-se ler, em determinado momento
da iniciação, o anagrama VITRIOL, transportado da Alquimia. Em verdade,
V.I.T.R.I.O.L. que é a abreviação de VISITA INTERIOREM TERRAE
RECTIFICANDOQUE INVENIES OCCULTUM LAPIDEM - Visita o Interior da
Terra Retificando Encontrarás a Pedra Oculta – procura a busca da pedra oculta. No
Cristianismo a busca do Santo Graal.

A terra, ou o elemento terra, não precisa ser símbolo de prisão, pelas


raízes que provoca. E é porque a partir do momento em que visito o interior da terra e
retificando-me encontrarei a pedra oculta, ainda mais quando se está diante de um
drama iniciático, o que procuro é a minha essência. Preciso morrer para o mundo
profano e renascer para uma nova realidade. Esta a idéia passada pelos mais diversos
cerimoniais de iniciação.

Os bantus são negros da África. A denominação bantus deriva da


necessidade de distinção entre dois grupos étnicos africanos. Nos bantus há um
cerimonial de iniciação e o iniciado é inserido em uma pedra com o formato do útero.
Fica o iniciado em posição fetal, em determinado momento da cerimônia, até que, para
ser aceito nos mistérios, uma parte é aberta e a pessoa cai. O símbolo presente é o do
nascimento. O iniciado, enquanto preso na pedra, em formato de útero, morrera para o
mundo profano dos bantus, até nascer para os rituais e símbolos próprios da sociedade.
Sempre teremos a imagem de busca do ser. A iniciação, o batismo – que
limpa o pecado original, no catolicismo -, a primeira comunhão, enfim, sempre estamos
à busca de nossa essência.

Aprofundar-se na terra e procurar a pedra oculta nada mais é que um


forte símbolo de busca interior. O homem vive nesta busca incessante pela felicidade. E
a felicidade, pela cultura imposta pelo próprio homem, aprisionando o ego pelo
superego, é possuir muito dinheiro, ser realizado profissionalmente etc. Diversos livros
de auto-ajuda estão à venda para ter sucesso sozinho ou em conjunto, para enriquecer,
para neutralizar o pensamento do ser humano e pela neurolinquística o fazer repetir
tantas vezes uma determinada frase que o superego aceitará e parecerá que está feliz.

Determinar a alcançar metas! Quais metas? As minhas ou as que a


sociedade impõe?

Repito que o discurso não é anarquista. O discurso é mais profundo. O


discurso é a busca do eu, da essência, de quem eu sou. Não preciso saber de onde vim e
para onde eu vou, porque isto é a morte da essência. E perco muito tempo em tentar
entender estas questões que transcendem qualquer conhecimento. Mas eu posso
procurar – e encontrar – a minha essência. E não precisarei buscar dinheiro, realização
profissional etc. Quando encontrar a essência, a felicidade será plena e a conseqüência
serão as necessidades básicas que possuímos.

Trata-se, novamente, da autopoiesis. Se eu não encontro minha essência,


não consigo ser feliz, e, se não consigo ser feliz, não tenho como realizar-me
profissionalmente, e, desta forma, não consigo manter minha família, ou comprar aquele
carro que eu quero. O dinheiro, a realização profissional e os demais bens que o
superego me impõe não são a necessidade básica. Será apenas conseqüência! E a
essência, esta sim, não pode ser conseqüência.

Um problema a ser enfrentado pela psicanálise moderna. Por que tantas


pessoas se encontram infelizes? O mundo cresceu com o advento da tecnologia e da
modificação societária. Mas, por outro lado, informação e contatos em excesso
acabaram por provocar um efeito interessante na Cibercultura: a desinformação e a
desmaterialização das relações. A essência não se apresenta tão importante, porque o
externo é mais importante: meu computador, meu celular, meu tênis... meu... meu...

E o eu? Esta a grande pergunta que todos deveria fazer.

Ser!

Esta a necessidade.

Ter!

Uma mera conseqüência.

Em texto intitulado Entre a Psicanálise e a Arte, Noemi Moritz Kon


afirma que “é, portanto, contra a noção geral de latência, que nos impele a pensar numa
essência a ser desvendada, que nos propomos, quando admitimos, sem ambigüidades, a
força criadora do imaginário. O fazer psicanalítico perde, então, o seu caráter de
tradução de sentidos dissimulados, tornando-se, assim, desde esta perspectiva, um fazer
criador, que não está para decifrar um código de ocultamento de um conhecimento
presente, mas esquecido, mas sim, para criar, num encontro psicanalítico fundante, os
múltiplos sentidos de realidades singulares inéditas. O encontro com a produção
artística atual, e com a crítica que lhe segue, pode nos permitir, então, que
vislumbremos, como que em câmera lenta, este gesto criador presente, mas tantas vezes
temido, na própria experiência psicanalítica. É Paul Klee, pintor suíço, quem nos
permite, quase que num mantra, ressaltar sinteticamente o que viemos propondo até
então. Diz ele: "A arte não reproduz o visível, faz visível"13 .

A frase pode ser transmutada, porque: a essência não se reproduz. Ela


precisa estar visível. E a partir do momento em que concebemos a arte, pela teoria
freudiana, como sendo um marco para os mais profundos mergulhos no interior da terra,
em busca da pedra oculta, admitimos o belo como fonte. E do belo extraímos a nossa
essência. As doenças podem ser curadas se enfrentarmos a essência.

13
http://www.antroposmoderno.com/textos/Entre.shtml
Pela essência, pela fórmula básica de nossa criação, não somos um rótulo
ou uma condição. Não podemos estar à frente de uma neurose coletiva, a imputar
termos como impulsividade para tratar de sentimento. Ou de pânico para tratar
determinados distúrbios de ansiedade, ou, mesmo, admitir que a bipolaridade é um foco
de distorções sensitivas.

A essência faz com que caminhemos em busca da pedra oculta, do Santo


Graal, do mergulho interior à terra. Necessitamos de água, de ar, de terra e de fogo.
Unindo os quatro elementos, teremos parte do que seja a essência. Mas não podemos
admitir a quintessência como fonte, porque a perfeição não existe nem mesmo na
essência.

No recanto profundo da alma existe a essência. No recanto de nossos


mais sórdidos pensamentos, reside a essência.

Mas na beleza da demonstração de nosso ser, aqui, sim, está a pura


essência. Ela não precisa ser bela, mas precisa ser vivenciada e sentida. A essência
embotada é a doença aflorada.

A impulsividade, a neurose ansiosa, enfim, males da alma e da mente


podem ser embotamento da essência.

OS MALES E O SUPEREGO

A sociedade se apresenta como a grande vilã para o embotamento da


essência. A semente, quando devidamente plantada, cuidada, com os elementos vívidos:
água, terra, ar e fogo (aqui, leia-se calor), produzirá a mais bela planta ou o mais
gostoso dos legumes. Assim somos nós. Se tratados, na essência, como devemos,
podemos ser belos. Contudo, se vivermos para os conceitos da sociedade, estamos
impregnando de agrotóxico a nossa plantação.

Na Idade Média as mulheres cortavam costelas para poderem caber em


vestidos. Os espartilhos causavam as dores mais insuportáveis, porque a cintura deveria
ser de tal forma fina, para agradar aos gostos, que a moda passou a ditar, inclusive, o
bem estar das pessoas.

O espartilho, hoje, se visualizado como símbolo de desejo e fantasia, não


causa dor, mas gozo. Quanto às costelas, não dá para conceber tamanho sacrifício. Mas
a sociedade é esta geradora de conceitos e pré-conceitos que nos impedem de
aprofundarmo-nos em nosso ser. Ir ao centro da terra. Procurar a pedra oculta.

Os Cavaleiros Templários, por séculos, cuidaram do caminho sagrado, e,


simbolicamente, protegiam o Santo Graal, até não interessarem mais para a Igreja
Católica e serem queimados como hereges. Em momentos graves das cruzadas, os
Templários foram a força da Igreja, até o ponto em que chegaram próximo de sua
perfeição enquanto cavaleiros. A morte dos Templários deve ser concebida como um
símbolo. A perfeição, para o modelo de sociedade que se prega em determinado
momento, é causador de dores e sacrifícios.

Mas não precisamos matar a nossa essência. Nem mesmo


simbolicamente.

Reprimimos os nossos desejos e quando os liberamos ganhamos o rótulo


da impulsividade.

Pisemos no solo, na terra, de pés descalços! Deixemos que a sensação do


formigamento nos tome conta, naquele momento. Esfreguemos os pés no chão e
deixemos que a energia da terra tome conta de nós. Uma brincadeira de criança. E,
como sempre nos perguntamos, por que crescemos? É o mito de Peter Pan que nos
assola, o tempo todo. Podemos, sim, ser Peter Pan nos momentos mais doces da vida,
como o simples esfregar do pé no chão e sentir o sal da terra.

Mas podemos nos perder, enquanto essência, se deixarmos Peter Pan


dominar nossas vidas e não nos permitir crescer, porque a essência, como a semente que
se planta em solo fértil, necessita crescer e se comunicar com outras essências. Temos a
transformação, mas não a mudança. A flor possui sua essência na semente e será esta
essência quem demonstrará se ela é bela ou não.
Os nossos pensamentos, de Alice, por exemplo, nos conduz a um país das
maravilhas, mas é preciso encararmos a vida pelos nossos pensamentos e nossas
vontades. Vontade... A verdadeira vontade, encontrada na essência, é a necessidade de
realização de encontro com a pedra oculta.

A vontade, por outro lado, de algo intangível ou imaginário, é a busca de


Peter Pan e Alice. São personagens fortes em nosso imaginário, que não precisam estar
escondidos, mas que precisam se apresentar em momentos de afloramento da essência.

Quando estou brincando com meus filhos, tenho que ser Peter Pan e
aqueles minutos são mágicos. Quando estou triste, preciso cair no país das maravilhas e
procurar meu grande amigo coelho. São mitos, são símbolos, mas são a fuga necessária
da essência em determinados momentos. Nestes momentos, podemos agir ou não com
impulsividade.

Mas a impulsividade não pode ser aquele padrão esteriotipado da


sociedade, porque, se assim o for, deveriam as mulheres continuar a quebrar suas
costelas para entrar no vestido. Eu admito ser mais fácil moldar o vestido a sacrificar o
meu corpo.

Os Templários não precisavam construir um enorme caminho, ligando a


Europa à Ásia. Mas fizeram, em amor à essência que os impulsionava. E os mitos
gerados contra os Templários fizeram com que a essência pura da busca pelo Graal se
perdesse.

Nós somos o Graal, a Pedra Oculta, Alice e Peter Pan.

Mas enquanto vivermos presos aos conceitos impostos, pelos


pensamentos de cada momento histórico, estaremos sempre em busca de nossa essência.
Ou, acaso sejamos dotados da coragem dos Templários, da pureza de Peter Pan14, ou do

14
Parece-me que Fernando Pessoa, em seu pseudônimo Bernardo Soares, traduz o meu sentir de Peter
Pan: “"O sonhador não é superior ao homem activo porque o sonho seja superior à realidade. A
superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador
encantamento de Alice, podemos dar um basta aos pensamentos ocidentais e
procurarmos no símbolo do taoísmo a nossa essência.


Como conceber o TAO como representação da essência? Ora, se o TAO,
em si, é dual, nossa essência também é. E é por esta razão que descartamos a
quintessência como existência do ser. Ou como interpretação para a transmutação do
quinto elemento.

A partir da imagem do TAO, enquanto essência, podemos ser bons e


maus. Amorosos e revoltosos. Amigos e inimigos. Em todo o ser existe a dualidade.
Sentir e não sentir. Mas, entre sentir e não sentir temos a grande inquietação do ser, e da
essência.

Por que tenho que sentir o que não me permitem sentir? E quando sinto,
o que apenas sinto, não me deixam apenas sentir? Por que é preciso sentir, sem sentir? E
por que não sentir se me mandam sentir?

Arte e poesia são parte de nossa essência. E Fernando Pessoa foi um


mestre. Alguns textos de Do Livro do Desassossego, com o pseudônimo Bernardo
Soares, Pessoa nos provoca uma enorme introspecção:

"O coração, se pudesse pensar, pararia."

"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre;


fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações
milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto,
estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção

extrai da vidaum prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de acção. Em melhores e
muito mais directas palavras, o sonhador é que é o homem de acção. Sendo a vida essencialmente um
estado mental, e tudo, quanto fazemos ou pensamos, válido para nós na proporção em que o pensamos
válido, depende de nós a valorização. O sonhador é um emissor de notas, e as notas que emite correm na
cidade do seu espírito do mesmo modo que as da realidade."
do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei.
Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de
novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro
palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me
não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a
narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a
distância – irmãos siameses que não estão pegados."

"Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições."

"Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta


noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou
sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê."

"Sou do tamanho do que vejo!"Cada vez que penso esta frase com toda a
atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir
consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande
posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas
estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos
céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando.
"Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa
a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte. Tenho vontade de
erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer
palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos
grandes espaços da matéria vazia. Mas recolho-me e abrando-me. "Sou
do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto
a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a
cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com
o anoitecer."

"Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo,


de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a
sensibilidade, e eu sinto com o pensamento.
Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim,
pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar."

"Meditei hoje, num intervalo de sentir, na forma de prosa de que uso. Em


verdade, como escrevo? Tive, como muitos têm tido, a vontade
pervertida de querer ter um sistema e uma norma. É certo que escrevi
antes da norma e do sistema; nisso, porém, não sou diferente dos outros.
Analisando-me à tarde, descubro que o meu sistema de estilo assenta em
dois princípios, e imediatamente, e à boa maneira dos bons clássicos,
erijo esses dois princípios em fundamentos gerais de todo estilo: dizer o
que se sente exactamente como se sente - claramente, se é claro;
obscuramente, se é obscuro; confusamente, se é confuso - ; compreender
que a gramática é um instrumento, e não uma lei."

Nós somos essência, e, como essência, precisamos de ar e “O vento


levantou-se...Primeiro era como a voz de um vácuo...um soprar no espaço para dentro
de um buraco, uma falta no silêncio do ar. Depois ergueu-se um soluço, um soluço do
fundo do mundo, o sentir-se que tremiam vidraças e que era realmente vento. Depois
soou mais alto, urro surdo, um chocar sem ser ante o aumentar nocturno, um ranger de
coisas, um cair de bocados, um átomo de fim do mundo.15"

A ESSÊNCIA E O AR

Não me parece haver, através dos quatro elementos, algo que me dê mais
liberdade que o ar. E entender o ar, como o último elemento a ser analisado na essência
e na dualidade do ser, parece-me a libertação de todo o sentir humano.

Estou muito preso! E estou sentindo-me preso. A sociedade está, a cada


dia, exigindo mais e mais de nossos sentidos e nos obrigando a nos afastar da essência.
Se não posso estar solto em minha existência, de nada me adianta pensar na essência. Se
a psicanálise não consegue explicar o sentir pelo sentir, ou se a arte não tem mais
importância, pergunto-me por que discutir tanto sobre a essência e o existir?

15
Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares - Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Por que a prisão na terra, pela raiz? Por que não conceber que a mesma
terra pode gerar-me a mais bela colheita de lírios do campo. Ah! Olhai os lírios do
campo e procure neles a sua essência. Se não encontrares a tua essência dentre os lírios
do campo, voe como Fernão Capelo Gaivota, que arriscou a sua vida em sociedade para
provar que poderia ser diferente e alçar vôos mais altos que as demais gaivotas. Ou,
então, apegue-se ao Pequeno Príncipe e viaje por universos desconhecidos.

Mas viva pelo ar!

Sinta pela terra!

Purifique-se pela água!

E ame como o fogo!

Em Mateus, 5, Jesus nos apresenta a grande sabedoria da existência.


Ainda que o drama bíblico seja deveras forte, não pretendo traduzir o pensamento, mas,
diante da essência, pretendo sentir o que Ele nos apresentou em seus ensinamentos:
1 E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele
os seus discípulos; 2 E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: 3 Bem-aventurados
os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; 4 Bem-aventurados os que
choram, porque eles serão consolados; 5 Bem-aventurados os mansos, porque eles
herdarão a terra; 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles
serão fartos; 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão
misericórdia; 8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; 9
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; 10
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus; 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e,
mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. 12 Exultai e alegrai-vos,
porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que
foram antes de vós. 13 Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de
salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. 14
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
15 Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a
todos que estão na casa. 16 Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que
vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. 17 Não
cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. 18 Porque
em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se
omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido. 19 Qualquer, pois, que violar um destes
mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor
no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no
reino dos céus. 20 Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e
fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. 21 Ouvistes que foi dito aos
antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. 22 Eu, porém, vos digo
que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e
qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser:
Louco, será réu do fogo do inferno. 23 Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te
lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 Deixa ali diante do altar a tua
oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua
oferta. 25 Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com
ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao
oficial, e te encerrem na prisão. 26 Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás
dali enquanto não pagares o último ceitil. 27 Ouvistes que foi dito aos antigos: Não
cometerás adultério. 28 Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher
para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. 29 Portanto, se o teu olho
direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca
um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. 30 E, se a tua
mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um
dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. 31 Também
foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de desquite. 32 Eu, porém, vos
digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que
ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério. 33
Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus
juramentos ao Senhor. 34 Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem
pelo céu, porque é o trono de Deus; 35 Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés;
nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; 36 Nem jurarás pela tua cabeça,
porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. 37 Seja, porém, o vosso falar: Sim,
sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna. 38 Ouvistes que foi
dito: Olho por olho, e dente por dente. 39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal;
mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; 40 E, ao que
quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; 41 E, se qualquer te
obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. 42 Dá a quem te pedir, e não te desvies
daquele que quiser que lhe emprestes. 43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo,
e odiarás o teu inimigo. 44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os
que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos
perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; 45 Porque faz que o
seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. 46 Pois, se
amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o
mesmo? 47 E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não
fazem os publicanos também assim? 48 Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso
Pai que está nos céus.

Do pai, a semente. Da semente, o fruto. O fruto: essência. A perfeição,


concebida pelo pensamento, não pode ser admitida como o não errar, mas como a busca
interior da própria essência, da pedra oculta, do Santo Graal. Não será pelo sacrifício
que nossa essência será perdoada, mas porque guardando o que há de melhor em nossa
essência, poderemos ser livres como o ar. “8 Bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus”, ou, porque estamos em essência, somos bem-aventurados
porque nos encontramos. Se, através de um antropomorfismo, somos feitos imagem e
semelhança de Deus, por que não concebermos o nosso encontro conosco? Limpo de
coração, mergulhado na minha essência, sou a presença de Deus. Ou, sou homem, feito
à sua imagem e semelhança. E se pelo sopro nascemos. Se do pó viemos e ao pó
retornaremos, o ar nos deixa flutuar por nossa existência.

A bem-aventurança está na conquista da liberdade da essência. E se


minha parceira pretende que minha essência se modifique, é porque nela não existe a
vontade de que o sol nasça para os bons e os maus. E se há maldade na essência, esta
vida poderá ser tão penosa quanto a própria maldade da existência. Mas mesmo os maus
possuem algo de bom e é importante compreender a essência para que a bondade aflore:
☯.
E não há beleza maior para nossos ser do que perdoar. A partir do
momento em que concebo o perdão, em essência, digo a mim mesmo que meu inimigo
não conseguiu atingir a minha essência. Ele pode ter provocado meu superego, mas
jamais conseguiu atingir-me nas profundezas da pedra oculta, porque a ele não pertence.
Então, sequer preciso perdoar ou compreender os atos de meu inimigo, porque se
inimigo é, ausente de minha essência ele se encontra.

Ao visualizar a multidão, Jesus apresentou, a todos, a essência. O drama


há de ser concebido pela época de pela forma como vivia o povo judeu, aprisionado
pelos imperadores. Jesus foi um revolucionário que trouxe à Terra o amor e as palavras
de amor. Ainda que embanhadas em certo temor Divino, as palavras nos remetem a um
grande pensar: as espadas contra os inimigos. A colheita, o sal da Terra. Quais são as
nossas concepções diante da existência humana?

Se dou tanta atenção ao meu inimigo,é porque estou encarando-o como


sendo superior a mim. Em Filipenses, 2:3, temos a noção de respeito: “ Nada façais por
contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores
a si mesmo.” Respeito à minha essência. Respeito à essência do outro. E uma exata
noção de que ao nos defrontarmos com o inimigo – e, aqui, vamos tratar de algumas
espécies de inimigos – não devemos nos sentir superiores. Mergulhemos em nossa
essência.

O ar, enquanto elemento, em sua integração com os demais elementos,


nos proporciona a liberdade do ser. E os nossos inimigos podem querem embotar o
nosso voar. Impedir que sejamos corajosos como Fernão Capelo Gaivota...

OS INIMIGOS E A ESSÊNCIA

Quem são nossos inimigos? Quem são os inimigos da essência?

Eu posso ter como inimigo o meu maior amigo, se ele pretender embotar
a minha essência. Amigo não é aquele que está ao meu lado para aplaudir-me quando
erro, mas ser crítico. A minha parceira pode ser uma grande inimiga quando tenta
sufocar a minha existência. O ciúme, ainda que no romantismo se traduza como símbolo
de amor, pode ser o inimigo da essência.
A essência vive da emoção, mas não pela emoção. Enquanto seres
viventes, somos plenos e capazes em emoções e nossas doenças, muitas vezes, são fruto
de emoções.

O budismo possui em um dos seus patamares de ensinamento o Jitai


Kensho, que, em breves palavras, significa: “O conceito budista de sabedoria e
individualidade indica uma real forma de conduzirmos a vida. Jitai se refere ao
indivíduo com as suas características próprias e Kensho se refere ao estado na qual este
ser brilha e se manifesta de forma clara.16”

Quais são as características próprias senão a própria essência? E este


estado que é a descoberta da essência. Conta uma determinada lenda que dois
peregrinos procuravam a luz. E, ao procurarem, descobriram que no alto de uma
montanha havia um monge, dotado de grande luz e sabedoria.

Os peregrinos alcançaram o alto do monte e passaram a seguir o mestre.


Em determinado dia, um dos peregrinos disse ao outro:

- Eu vou embora!
- Mas como? Nós encontramos a luz que tanto procurávamos e você vai
embora? – replicou o outro.
- Sim. Encontrei uma pessoa que ensinou-me a ver a minha luz. Então,
este é o momento de partir!

A luz está em nossa essência e não em uma determinada pessoa. E é por


isto que encontramos inimigos, ainda que o termo não seja apropriado para tratarmos de
pessoas tão próximas e que nos são muito caras.

O resumo: “quando a luz do Nam-myoho-rengue-kyo brilha


interiormente, as características individuais brilham de forma radiante. Em
contrapartida, quando não há luz suficiente, em algumas ocasiões os aspectos positivos
não se tornam aparentes ou em outros, o aspecto negativo é que se torna mais aparente.

16
http://www.vertex.com.br/users/san/jitai.htm - Fonte: Yasashi Kyogaku pg. 53
Por fim, como seguidores da filosofia budista de Nitiren, não podemos encerrar a nossa
existência no arrependimento de não ter sido possível manifestar todo o nosso potencial
e através da Lei Mística podemos fazer brilhar todas as nossas habilidades individuais e
edificar o mais elevado estado de vida17.”

Assim é que podemos ter na sociedade a grande inimiga da existência do


ser. A grande inimiga da essência. Mas não apenas nesta sociedade simbiótica,
manipuladora e extremamente consumista, que esquece o ser, para dar valor ao ter.

Também encontramos inimigos em nossos grandes amigos, na esposa ou


no marido, na família, no trabalho, enfim, sempre poderemos ter inimigos se assim nós
permitimos. E não são inimigos no sentido stricto da palavra, mas enquanto inimigos da
essência.

Ao embotarmos nossos mais puros sentimentos por pré-conceitos,


estamos dando tanto valor ao outro, que a nossa luz se apaga e passamos a viver a luz
do outro. Esta não é a busca da pedra oculta, ou da nossa essência. Esta é a aniquilação
de nosso ser. Mas não podemos ser egoístas, certo? E o que é ser egoísta? Imaginemos,
então, que estamos tratando de macros. A macro-economia pode nos apontar uma
tendência a aplicar na bolsa. Eu tenho duas opções: acompanhar ou macro ou optar por
outro investimento.

Se optar por outro investimento, estou trabalhando no micro e posso


perder tudo. Então, pelos conceitos vulgares da sociedade, estaria sendo chamado de
burro, ou outro termo do gênero. Mas eu quis seguir o micro e paguei o meu preço por
ele. Mas e se o micro der lucro e a tendência do macro for uma grande perda? Ah!
Passei a ser um gênio.

No campo dos sentimentos podemos agir da mesma forma, ou seja,


mantermos, por exemplo, um casamento falido, porque o macro age desta forma e não
me permitirão admitir que o micro, aquele sentimento que somente eu sinto, possa ser
aflorado. Eu prefiro, então, em prol do macro, deixar o micro de lado. Mas eu preciso

17
Idem
ter em mente que para investir no macro é preciso ter muito dinheiro. No campo das
emoções, investir no macro é seguir o controle que os pré-conceitos nos impõem. E eu
pago um preço por isto.

Investir no micro também possui seus riscos, mas eu estou disposto a


pagar o preço pela minha decisão. E esta decisão faz parte de minha essência. Preciso
analisar se meu investimento é para o macro ou para o micro.

E quando o meu micro está contra o macro, sou taxado de egoísta. E


quem é egoísta no grande espetáculo da vida? O artista que sobre no palco e precisa de
aplauso? A platéia que precisa rir ou chorar diante da minha peça que é a minha vida?
Ou minha essência que não precisa de nenhum dos dois?

Se eu depender da platéia, anulo-me. Se a platéia não quiser ver a vida,


mas a comédia ou a tragédia que ela suporta, então egoísta é a sociedade. Por isto eu
prefiro encarar-me diante do espelho, na solidão da minha existência e buscar a minha
pedra oculta. Se encontrá-la, cheguei à essência. E se cheguei à essência, posso ser
egoísta e extrair desta platéia que a tudo assiste milhões de aplausos. Mas eles estarão
aplaudindo tudo o que fui e fiz e não conseguiram compreender.

Então, que o palhaço se vista na noite no picadeiro e extraia da platéia os


mais belos sorrisos... Porque sou um palhaço feliz, um poeta apaixonado, uma essência
viva. Egoísta? Se fiz alguém feliz, não me importa o rótulo...

Mas o egoísmo pode ser extremamente positivo. E será pelo egoísmo


positivo que conseguiremos resistir a uma espécie dramática e contrária à essência: o
vampiro psíquico.

O EGOÍSMO POSITIVO EM BUSCA DA ESSÊNCIA

Precisamos tratar dos inimigos e do egoísmo. Se deixo de ser egoísta para


fazer alguém bem, estou sendo egoísta com minha essência. Então, este egoísmo será
meu e eu pagarei um caro preço. Doença, tristeza, melancolia... Sei lá... Não me importa
mais saber o rótulo, porque a embalagem não mudou.
Quero a felicidade e para isto, se preciso for, o egoísmo será a grande
salvação da minha essência e eu posso afirmar tratar-se de um saudável egoísmo.
Porque quando desejo ser altruísta, em oposição ao egoísmos e pretender fazer bem a
quem nos deseja e nos cobra tanto, posso estar aniquilando a essência daquele e por
conseqüência aquele aniquilando a minha essência.

Então o egoísmo pode, sim, ser positivo.

Ou será que o termo exato não será egoísmo, mas a verdadeira busca pela
pedra oculta? O mergulho interior mais profundo e belo da existência humana que é o
encontro com o ser, com a essência e com o que de bom ela pode nos trazer?

Mas se olharmos para a sociedade, como ela nos é imposta – com


modelos de roupa, de cabelo, de corpo etc. -, a partir do momento em que faço esta
minha viagem (e é só minha, então pode parecer egoísta), sou descartado do convívio
social e estou aberto a diversas críticas. Mas as críticas podem ser apenas críticas e que
o vento as leve.

O que não podemos deixar é nossa essência ser enfraquecida pelo desejo
oculto dos outros. A nossa essência está em busca, enquanto ser amante, da alma gêmea.
E nem sempre aquela a quem atribuímos a condição de alma gêmea, realmente é. Mas
existe, sim, uma alma gêmea e esta nos traz tanta felicidade e cumplicidade, que nos faz
mergulhar no mais íntimo buscar da pedra oculta.

V. I. T. R. I. O. L.

Faça sua viagem simbólica, porque estarás visitando o interior e


retificando-se procurando a pedra oculta. Procurando sua essência. Procurando a sua
razão de existir e fazer existir.
A TENTATIVA DE DESTRUIÇÃO DA ESSÊNCIA
O MÉDICO E O MONSTRO – A ADOÇÃO DA LITERATURA
COMO O PRÓXIMO PODE NOS QUERER MONSTRO

O oposto da criação é a destruição. O oposto da essência é a inexistência.


O oposto da felicidade é a tristeza... E quando alguém está triste, não se sabe o motivo,
tenta, de alguma forma, neutralizar a essência. E não há necessidade de buscarmos o
ocultismo para entendermos as formas de captação de energia e tentativa de destruição
da essência. A humanidade necessita acreditar ser possível vencer o mal!

O oposto da bondade é a maldade! A humanidade precisa acreditar,


repito, ser possível admitir a bondade. Não podemos perder a chama viva que se traduz
pelos quatro elementos: fogo, água, ar e terra. Mas o mal existe e não podemos repudiar
esta existência. Neste momento, a literatura pode nos ajudar, simbolicamente, entender
a maldade e a necessidade de destruição do belo que existe na essência.

Não sei qual o objetivo, mas há pessoas que desejam sejamos médico e
monstro, dependendo da vontade deles. E se estamos distante da essência, deixamos que
a imagem do monstro apareça. A essência é pura. E, como pura, pode sofrer pelo
manipular do outro. A pureza, assim como a terra, a água, o ar e o fogo, necessita de
proteção. Se a água se contamina, ela contaminará diversas pessoas; se o mundo não se
der conta dos malefícios das indústrias, nosso ar estará comprometido; se a terra viver
pela proteção dos agrotóxicos, ela se perde em essência; e se deixarmos a camada de
ozônio, pelo conjunto destrutivo da natureza, morreremos pelo fogo escaldante do sol.

Mas para todos os males existe um remédio. A água, o ar, a terra e o fogo
são puros. Nossa essência é pura. O que é preciso é voltarmos, sempre, à essência.
Enfrentarmos os males e procurar a cura. Médico e monstro... vampiros e estacas!

Entender como se proteger de nossa face monstro é o grande mistério da


essência. Se minha essência é boa, como posso entender um agir impulsivo e repulsivo
em termos societários?
Dr. Jekyll e Mister Hyde18. O Luar e o lado escuro da lua. A essência e a
sua inexistência. Se Freud utilizou-se da literatura para conceber diversas de suas
teorias, quando tratamos de essência, estamos lidando com lados obscuros do viver
humano. Podemos ser Dr. Jekyll e Mister Hyde. Mas podemos ser Dr. Jekyll e a
sociedade – ou apenas o outro – Mr. Hyde. Tudo depende de como concebemos a
sociedade e o outro.

Sem dúvida, quando a pessoa que se encontra ao nosso lado nos conhece
tão bem, ela consegue provocar a existência do Mr. Hyde em nós. Mas estas pessoas são
verdadeiros vampiros do ser. Os vampiros psíquicos conseguem neutralizar a energia
que existe em nós. A necessidade do vampiro emocional está no sentir-se seguro diante
da insegurança alheia.

Já tive a oportunidade de conversar com pessoas dotadas de um


pessimismo muito forte. E passei a identificar estas pessoas como neutralizadoras e
egocêntricas. Mas o que mais me chamou a atenção foi a constatação de que estas
pessoas têm um poder energético que consegue sentir o bem estar do outro e sugar-lhe
as energias. Há, na literatura, quem trate estas pessoas de psy-vamp19. E não se pode
descartar o mito.

O mais interessante é que estas pessoas têm verdadeiro pavor de lidar


com os mitos. Não sentem a beleza de uma letra de música, não entendem as metáforas.
Os vampiros emocionais conseguem sugar a energia e transportar ao outro a face oculta

18
O médico e o monstro. Obra de Robert Louis Stevenson, intitulada The strange case of dr. Jekyll and
mr. Hyde
19
Um ataque de psyvamp pode ser sentido freqüentemente enquanto está acontecendo, quando a vítima é
sensível o suficiente para sentir a própria energia. Se você está ao redor de uma pessoa que
constantemente o deixa sentindo "escoado", fraco ou cansado, aquela pessoa pode ser um psyvamp.
Eles podem ou não estar conscientes do que estão fazendo. (excluída a fonte).
N.A. O site aonde fiz a pesquisa, dentre tantos outros, não é produtivo, e, sinceramente, senti-me
extremamente esgotado ao pesquisar sobre vampirismo psíquico. Mas foi necessário. E estou recuperando
minhas energias, porque não admito o vampirismo e tenho fé na minha essência. Sei que existem milhões
de pessoas com pura essência para ajudar-me, sem que eu as prejudique. Mas não podemos descartar a
existência de vampiros da alma. Ainda que folcloricamente, eles existem, de alguma forma. A essência
possui o poder de expeli-los. Mas, para isto, procure sua pedra oculta. E não se entregue, jamais. Lute,
com todas as suas forças, contra as pessoas que desejam o mal, ainda que inconscientemente. Lute contra
a maledicência da sociedade. Lute pela vida. Gandhi diria que “a melhor forma de se vencer uma guerra é
evitando-a”. Mas há momentos em que a guerra é necessária. E, quando assim se faz, Sun Tzu afirma que
“o verdadeiro objetivo da guerra é a paz”. Então, guerreie pela paz.
que nele reside. Sim, porque se estamos nos sentindo abatidos, deixamos nosso ser mais
fraco ao vampirismo.

O vampirismo não pode ser visto apenas como a figura simbólica do


Drácula, mas, novamente, a literatura nos socorre para entendermos como nos
consomem e pretendem transformar nossa essência no mais tortuoso anoitecer eterno.

Quando perco o contato com minha essência e deixo de estar em busca


da pedra oculta, por vezes deixo meu espírito livre aos vampiros. Se mantenho a busca
pelo interior, o vampirismo não me atacará. Mr. Hyde não brotará. E não terei como dar
satisfações à sociedade do que fiz ou deixei de fazer. Apenas estou em busca de algo
que não pertence a mais ninguém a não ser a mim.

No vampirismo literário existe uma necessidade de embotar a essência do


próximo, e, aqui, temos o egoísmo destrutivo. Querem sugar minha essência e
transformar-me em um ser odioso. E quanto prazer os histéricos20 conseguem encontrar
nesta nossa sensação.

O histérico e o vampiro não são diferentes em termos de sentimentos e


sensações. São paralíticos. São inúteis. São a inexistência em pessoa. São egoístas e
egocêntricos. Necessitam que os outros sejam aprovados. São “professores” dos grandes
males e tentam aniquilar a essência. Sem dúvida, quando os histéricos vampiros nos
encontram, procuram que sejamos de tal forma submissos que suas palavras sejam
dotadas de grande valor e aprovação. Não passam de sugadores da alma!

Dr. Jekyll pode ser a nossa essência. Mr. Hyde pode ser o próximo ou a
sociedade. Quando nos deixamos, de alguma forma, perder o contato com Dr. Jekyll,

20
Na história da Humanidade os sintomas de alterações no sistema nervoso foram comparados à casos de
possessão demoníaca e efeitos da feitiçaria. Segundo Freud são manifestações de sintomas histéricos,
onde temos quadros psicopatológicos que vão desde ataques convulsivos até paralisias de membros e
contraturas musculares. Juntamente com os sintomas físicos da histeria, pode-se observar uma série de
distúrbios psíquicos: alterações no curso e na associação de idéias, inibições na atividade da vontade,
exagero e repressão de sentimentos. As modificações psíquicas, que são o fundamento do estado
histérico, ocorrem na esfera da atividade mental inconsciente. Como fatores capazes de propiciar o
desenvolvimento de uma disposição histérica, podem ser mencionados: criação cheia de mimos, o
despertar prematuro das atividades mental e sexual na criança, excitamentos freqüentes e violentos,
trauma, intoxicação ( drogas e alcool ), luto, enfim tudo que é capaz de exercer um efeito prejudicial. <
http://www.mortesubita.org/psico/textos/histeria-e-feiticaria>
cujo objetivo era a cura dos males do Séc. XIX na Inglaterra, sem querer transformou-se
naquilo que ele mais odiava: o criminoso.

E, quando estamos tão distantes, assim, de nossa essência, sem dúvida


abrimos a porta para os vampiros psíquicos. E a nossa intenção aqui não é que esta
assertiva te impeça de viver. Ao contrário, tua essência é capaz de destruir o psy-vamp.
Nem sempre estes seres obscuros, que podem estar ao nosso lado, têm a exata noção de
estarem nos sugando.

Ao pesquisar sobre o tema, o site da Internet mais sério que se apresente


é o do grupo CEPPAR – Centro de Estudos Parapsicológicos. E, através dele, podemos
ver como o aflorar da essência causa uma inveja no outro. Este, sem querer, nos capta a
energia e nos transforma em Mr. Hyde. O que precisamos fazer é eliminar a existência
de Mr. Hyde e voltar ao Dr. Jekyll.

No CEPPAR há uma frase de abertura que justifica tudo o quanto


tentamos expressar neste livro que trata da essência e de sua beleza: “A verdade não
está fora, mas sim dentro de nós mesmos”. 21

O grupo de estudos procura identificar os tipos de psy-vamp, mas o que


mais causou-me interesse foi a classe daqueles a quem a essência incomoda. Segundo os
estudiosos do centro:

“As pessoas invejosas, fracassadas, que possuem energia negativa, que invejam
tudo o que temos de melhor. Invejam a nossa vida pessoal, nossa vida
profissional, nossa vida amorosa, nosso corpo e mente .São pessoas cujo tempo
já passou, algumas estão velhas, outras frustradas, mal amadas, que não gostam
da sua própria vida e não conseguem aceitar alguém feliz ao seu lado. Invejam
tanto aquilo que temos , aquilo que somos , que querem ter as mesmas coisas
,ser como o objeto do seu desejo. Tentam acabar com a nossa identidade, para
ficarmos ao seu lado , no seu nível prânico. Ficam sempre por perto, nos
observando, esperando uma oportunidade para atacar. Esperando uma queda na
nossa resistência , um momento de fraqueza. Se fingem de amigas, estão sempre

21
http://www.geocities.com/ceppar/
por perto para nos ouvir. Estão sempre dispostas a dar um conselho, um palpite,
embora sempre pareça que não querem se envolver. Nos contam coisas e fatos
que nos levam por analogia a refletir sobre a nossa situação e assim somos
influenciados a pensar como eles querem que pensemos.Querem nos deixar
num plano psicológico que chamamos de Zonas Fantasmas. Nesse plano já
perdemos toda a nossa identidade, já não somos nós mesmos, nossa energia foi
sugada, estamos fracos , debilitados, sem forças, vivemos isolados do mundo
real.Estamos tão fracos que somos facilmente influenciados pelas suas idéias.”

Interessante é que no mesmo site, ampliando a verificação destas


pessoas, encontramos o seguinte:

“COMO IDENTIFICAR UM VAMPIRO PSIQUICO?

Como já abordamos em outras partes deste texto, essas pessoas são invejosas,
muito solitárias e depressivas. Vão nos sugando, tirando nossa energia e
acabando com nossa identidade. Se você acredita ter sido vitima de um
Vampiro Psíquico comece a observar o mundo a sua volta, as suas relações
pessoais e profissionais. Inicialmente comece observando as pessoas invejosas,
aquelas que invejam a sua vida, seus êxitos, sua profissão, seus amores, enfim,
aquelas que no fundo queriam mesmo ser você.
Observe as pessoas que te imitam, tanto na maneira de falar, se vestir, observe
se você tem um clone.
Observe as pessoas depressivas, aquelas que só te procuram quando tem
problemas.
Observe as pessoas solitárias, aquelas que estão sempre nas sombras.
Faça um balanço da sua vida, veja com quantas pessoas realmente felizes você
convive, e quantas pessoas tristes fazem parte do seu dia a dia.
Quantas pessoas solitárias você conhece?
Você já se sentiu muito fraco na presença de alguma dessas pessoas?
Já se sentiu muito cansado só de falar com algumas dessas pessoas?
Existe alguma pessoa que você sempre procura , mas que antes não tinha tanta
intimidade?
Quais são os lugares em que você se sente realmente bem e quais aqueles que te
deixam mal? Analisando diversos fatores da sua vida, você pode identificar
claramente quem esta te sugando e te mantendo na zona fantasma.
COMO ME DEFENDER DE UM ATAQUE?

Acreditamos que a melhor defesa é o conhecimento . Quando temos a


consciência que esses seres podem nos prejudicar, eles se tornam inofensivos.
Quando temos a consciência que somos responsáveis por nossas vidas, pela
nossa felicidade ou infelicidade, que somos responsáveis por tudo aquilo em
que acreditamos, temos o poder em nossas mãos. Quando acreditamos em nós
mesmos, quando confiamos no nosso discernimento para decidir a nossa vida,
quando temos uma atitude positiva perante a vida nossa energia sempre
permanecerá alta. Quando somos positivos, já temos uma defesa natural contra
esses seres, que aliada aos nossos conhecimentos, nos garantem defesa
inexpugnável contra ataques psíquicos de qualquer natureza. Assim como o Sol
é golpe mortal para os tradicionais vampiros sequiosos por sangue, a clareza
emocional e espiritual são verdadeiros antídotos a um ataque vampirismo
psíquico.”

Um dos autores mais respeitados do espiritismo, J. Herculano Pires,


possui uma obra inteira destinada ao vampirismo. Em sua sinopse, podemos verificar
que os vampiros psíquicos são aqueles que “agem sobre nós por indução mental e
afetiva. Induzem-nos a fazer o que desejam e que não podem fazer por si mesmos.
Quanto mais os obedecemos, mais submissos nos tornamos. Este livro nos mostra que a
resistência ao "Vampiro" é um momento decisivo da nossa vida. Nesse momento é que
se revela na prática o nosso livre-arbítrio, a nossa liberdade individual, a nossa
capacidade de querer e fazer.22”

Eu traduzo os textos como busca pela essência. A essência, quando


aflorada, nos faz sentir bem... viver... sorrir... gozar... sentir prazer... EXISTIR. Mas,

22
Titulo: Vampirismo -
Autor: J. Herculano Pires
Categoria: Doutrina Espírita
Idioma: Portugues Brasileiro
Data da Primeira Publicação: 15/8/1980
Edição: 9º edição
Dimensões: 14 X 21
Quantidade de Paginas: 148
muitos, mesmo que sem querer, não conseguem esta expressão de vida. São eles, então,
o Mr. Hyde!

Seja Dr. Jekyll!

Que sua essência sobreviva. Esta é a grande lição da vida.

Que a luta pela paz, ainda que diante da guerra, seja a conquista da
essência. Nem tudo o que desejamos é tão fácil quanto parece. Mas também não é tão
difícil que não possa ser alcançado.

Vampiros, monstros etc., são mitos e fantasmas. E mitos se desfazem.


Fantasmas nós espantamos.

A essência nós conquistamos e não perdemos!


PARA ENCERRAR

"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida."


Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

Não tente compreender. Apenas sinta!

E se viver, essência se tornará. Se sentir, não compreenda. Se


compreender, não conte a ninguém!

POEMA PARA DESPEDIDA

SE ESCREVI PARA TI, PERDI-ME EM TODA ESSÊNCIA,


MAS SE ESCREVI PENSANDO EM TI, MINHA ESSÊNCIA SE ENCONTRAVA PRESENTE
NÃO SEI O QUE POSSO SENTIR, PORQUE NÃO ME PERMITES A SENSAÇÃO
MAS SEI DO QUE MINHA ESSÊNCIA NECESSITA!

E SE DE AMOR PRECISA PARA FORTIFICAR-SE, SOU APENAS UM POETA,


E COMO POETA, MINHA LOUCURA SE ESPALHA NAS LETRAS E NO PENSAR,
MAS TAMBÉM COMO POETA, TIVE A CORAGEM DE DIZER QUE MINHA ESSÊNCIA EXISTE

JUNTO À SUA

MUSA DISTANTE, PERDIDA EM TEUS SONHOS E MEDOS,


CATIVA-ME NA ALMA, PROFUNDA IMENSIDÃO DE VIVER

O QUE QUERIA DIZER-TE, AMADA MUSA, É QUE NÃO PRECISO DE TI PARA VIVER,
MAS QUE VIVER MINHA ESSÊNCIA PARA PODER CANTAR-TE FAZ-ME BEM

E, SE PORVENTURA, NÃO SENTIRES MINHA ESSÊNCIA, É PORQUE NOSSOS ELEMENTOS NÃO


SE ENCONTRAM

MAS DE NADA FOI EM VÃO, ENQUANTO DISTORCIA AS LETRAS QUE CAIAM SOBRE O

COMPUTADOR...
AS NOITES FICARAM MAIS BELAS ENQUANTO PROCURAVA A IDÉIA DA ESSÊNCIA
E QUANTO MAIS BELAS ERAM AS NOITES, MAS PROFUNDAS MINHAS REFLEXÕES SOBRE A
ESSÊNCIA

E, SE POR ACASO PERMITIRES, RECEBA MINHA ESSÊNCIA COMO INEXISTÊNCIA DE

QUALQUER EGOÍSMO, PARA QUE ELA ANDE AO LADO DA SUA

MAS NÃO PERMITA QUE AS NOSSAS ESSÊNCIAS SE ANULEM

PERMITA QUE A MINHA ESSÊNCIA SE UNA À SUA E QUE POSSAMOS CAMINHAR LADO A

LADO

NÃO QUERO A MINHA ESSÊNCIA À FRENTE OU ATRÁS DE QUALQUER OUTRA ESSÊNCIA,

MAS QUERO A PRESENÇA DA ESSÊNCIA DA MULHER AMADA AO LADO DA MINHA ESSÊNCIA

PERMITO QUE VOCÊ VISITE O MEU INTERIOR E BUSQUE A MINHA ESSÊNCIA, E QUE A MINHA
ESSÊNCIA SE TRANSMUTE COM A SUA. MAS NÃO PERMITO QUE TENTES MUDAR A MINHA

ESSÊNCIA, PORQUE JAMAIS TENTAREI MUDAR A SUA

VIVA A SUA ESSÊNCIA, E, SE DEIXARDES, QUE A MINHA ESSÊNCIA POSSA ACOMPANHAR A


SUA

CONTUDO, SE NA IMENSIDÃO DA VIDA, NÃO FOR POSSÍVEL ESTE ENCONTRO ALQUÍMICO,

MINHA ESSÊNCIA CONTINUARÁ EXISTINDO... TRANSFORMAR-SE-Á E PROCURARÁ UM

OUTRO AMOR, MAS JAMAIS DEIXARÁ DE SER A MINHA ESSÊNCIA, PORQUE A SUA TAMBÉM

NÃO SE DESFEZ!

FIM

NÃO DA ESSÊNCIA...

ENTÃO, ESTE É O SEU INÍCIO...

Potrebbero piacerti anche