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Clube de Teatro

O Moniz–

Carlos Varela
Astronomia e Teatro
Ciência no Palco

Muitas das peças de teatro que abordam a ciência possuem um carácter


didáctico; nelas o teatro é um instrumento para abordar conteúdos científicos.
Contudo, algumas peças, como A vida de Galileu de Brecht e Copenhaga de
Michael Frayn, demonstram preocupações éticas e sociais com a ciência e os
seus dilemas. O teatro, com a sua a capacidade de envolver, emocionar,
questionar, provocar, desestabilizar, expandir horizontes e abordar vários
pontos de vista, poderá despertar o público para as responsabilidades e
consequências dos avanços científicos na sociedade. Ao possibilitar pensar a
ciência, permitirá construir novas dimensões na cabeça do público, tornando-o
consciente da sua necessidade de interferir no futuro do planeta.
“Os Físicos” de Friedrich Dürrenmat
e “A vida de Galileu” de Berthold Brecht

O trabalho que o Clube de Teatro O Moniz-


Carlos Varela apresenta no ano lectivo
2008/2009, é uma adaptação da peça “Os
Físicos”, de 1962, do dramaturgo e autor
suíço Friedrich Dürrenmat, com a introdução
do personagem Galileu de “A vida de Galileu”
do dramaturgo, poeta e encenador alemão
Berthold Brecht, cuja última versão data de
1953 e pretende ser o seu contributo para o
Ano Internacional da Astronomia, que se
comemora em 2009.
Na peça “Os Físicos”,
Dürrenmat tratou com
agudeza um dos temas mais
sérios, surgido com o
desenvolvimento dos meios
de extermínio em massa,
sobretudo das armas
atómicas e termonucleares.
Após a Segunda Guerra
Mundial, houve um
desequilíbrio entre o
progresso dos conhecimentos científicos e o desenvolvimento da organização
política, de modo que as energias tremendas postas à disposição do homem
pela Física Moderna não estavam suficientemente controladas pelas débeis
estruturas internacionais existentes, podendo ser utilizadas sem restrições
pelos governos das potências detentoras das armas nucleares e de outras
armas de destruição maciça.
Os progressos da
técnica dos mísseis e
da astronáutica
agravaram ainda
mais a situação. A
paz mantinha-se, de
modo imperfeito, em
parte devido ao medo
mútuo das duas
superpotências,
Estados Unidos e
União Soviética.
Actualmente a
estrutura política mundial está diferente, mas estas questões continuam
pertinentes. A peça permite também discutir a ética na ciência. Até que ponto
são os cientistas responsáveis pelas suas descobertas e pelo uso e abuso que
as sociedades e o poder político delas fazem?
De todas as peças de Brecht, a peça A vida de Galileu foi a mais trabalhada,
são disso prova os vários artigos escritos por Brecht acerca da mesma, bem
como as várias
versões pelas quais
passou. Com efeito,
a peça ocupou os
últimos nove anos da
sua vida, sofrendo
alterações tão
drásticas, quantas as
alterações na vida do
próprio Brecht e na
história mundial
(antes, durante e
após a Segunda
Guerra Mundial).
A peça desenrola-se numa
casa de saúde mental de
luxo, um sanatório, como o
próprio mundo parece por
vezes ser. No original de
Dürrenmatt, um dos
pacientes, Herbert Georg
Beutler julga ser Newton,
outro, Ernst Heinrich Ernesti
pensa que é Einstein e um
terceiro Johann Wilhelm
Mobius, o físico mais famoso do mundo, que imagina que fala com o Rei
Salomão. Cedo tornar-se-á evidente que estes três não são lunáticos tão
inofensivos como aparentam. Sucedem-se vários assassinatos e nem tudo o
que aparenta ser é. A directora do Sanatório terá uma palavra final a dizer.
Newton é o mais
pragmático. Ele
obedecerá a qualquer
sistema, desde que
este o deixe continuar
com as suas
investigações. Einstein
considera que os
físicos deverão ter
uma palavra a dizer no
mundo do poder
político.
Mobius, provavelmente o que traduz o pensamento do autor, deseja impedir
que o seu conhecimento caia nas mãos daqueles que abusaram dos
conhecimentos que a ciência propicia, mas finalmente apercebe-se, e esta
talvez seja a principal mensagem da peça, que “aquilo que foi pensado certa
vez, não pode ser esquecido”.
O paciente que julga ser
Galileu surge, em vários
momentos da peça, em
várias fases da vida do
físico. Galileu personifica a
“inocência” da ciência e dos
cientistas, perante o abuso
que o poder faz das suas
descobertas. O único
verdadeiramente louco, o
único inocente.
Shakespeare e a Astronomia

É inegável a influência que a astronomia exerceu sobre


William Shakespeare (1564-1616) e os seus escritos. Aos
olhos deste dramaturgo esta era a ciência da previsão.
São inúmeras as referências a objectos astronómicos (Sol,
Lua, planetas, estrelas, constelações zodiacais) as
metáforas, as analogias e personificações nas suas
peças. Shakespeare era um homem com muitos
conhecimentos em várias áreas, que consultava
frequentemente os escritos de cientistas e outros
estudiosos da época para a construção dos seus enredos, de modo a torná-los o mais
precisos e exactos quanto possível.
Citam-se alguns extractos de algumas das obras de Shakespeare, que exprimem a
importância que dedicava à Astronomia, mesmo quando os temas das suas peças
eram o amor, o ódio, as guerras, as rivalidades, as grandes tragédias. Refira-se que as
traduções podem não ser fiéis à ideia que o dramaturgo pretendeu transmitir.

Em relação às estrelas, ao Sol e à discussão latente geocentrismo versus


heliocentrismo podemos citar Polónio, em Hamlet:

Polonius -Doubt thou the stars Polónio (lendo uma carta de Hamlet a Ofélia) –
are fire; Duvida que do céu a abóbada azulada

Doubt that the sun doth move; Tenha esferas de luz de um mágico esplendor

Doubt truth to be a liar; Duvida seja o Sol o facho da alvorada,

But never doubt I love. Duvida da verdade em tua alma gravada,

Mas não duvides nunca, oh! Nunca, deste amor.

Hamlet (Acto II, Cena II)


Em Tróilo e Créssida, Ulisses afirma que os céus mostram à humanidade os méritos
de uma nova ordem geocêntrica e harmoniosa:
Ulysses - The Heavens themselves, the Ulisses – Os próprios céus, os
Planets, and his center (the Earth), observe, planetas, e este centro, reconhecem
degree, priority, and place. graus, prioridade, classe, constância,
Insisture, course, proportion, season, form, marcha, distância, estação, forma,
Office and custom, in all line of order; função e regularidade, sempre iguais;
eis porque o glorioso astro Sol está em
And therefore is the glorious planet Sol In nobre eminência entronizado e
noble eminence enthroned and sphered centralizado no meio dos outros, e o
Amidst the other; whose medicinable eye seu olhar benfazejo corrige os maus
Corrects the ill aspects of planets evil, And aspectos dos planetas malfazejos, e,
posts, like the commandment of a king, qual rei que comanda, ordena sem
Sans cheque to good and bad: but when the entraves aos bons e aos maus. Mas se
planets os astros, em horrível confusão, erram
desordenados, que flagelos e que
In evil mixture to disorder wander,
portentos!
high designs, Then enterprise is sick!
Tróilo e Créssida (Acto I, Cena III)
Era comum na época acreditar-se na influência dos astros sobre a vida das
pessoas. Shakespeare coloca com frequência as suas personagens a
aludirem a essas influências com sentido crítico, como podemos constatar
nesta passagem de O Rei Lear:
Edmund - This is the excellent Edmundo - Eis a suprema loucura do
foppery of the world, that, when we mundo: quando a nossa sorte não vai
are sick in fortune,--often the surfeit of bem, muitas vezes devido aos
our own behavior,--we make guilty of excessos do nosso comportamento, as
our disasters the sun, the moon, and culpas dos nossos desastres vão para
the stars: as if we were villains by o Sol, a Lua e os astros; como se
necessity; fools by heavenly fôssemos vilões por necessidade,
compulsion; knaves, thieves, and loucos por imposição dos céus,
treachers, by spherical velhacos, ladrões e traidores por força
predominance; drunkards, liars, and das esferas, bêbados, mentirosos e
adulterers, by an enforced obedience adúlteros por força da obediência à
of planetary influence; and all that we influência dos planetas; e tudo aquilo
are evil in, by a divine thrusting on: an que em nós é mau o fosse por
admirable evasion of whoremaster imposição divina. É uma desculpa
man, to lay his goatish disposition to admirável do putanheiro acusar um
the charge of a star! My father astro da sua inclinação para a lascívia!
compounded with my mother under O meu pai arranjou-se com a minha
the dragon's tail; and my nativity was mãe por baixo da cauda do Draga, e o
under Ursa major; so that it follows, I meu nascimento deu-se sob o signo da
am rough and lecherous. Tut, I should Ursa Maior, daí se segue que eu sou
have been that I am, had the rude e lascivo. Ora, bolas! Eu haveria
maidenliest star in the firmament de ser o que sou nem que a minha
twinkled on my bastardizing. mais casta estrela tivesse cintilado
sobre a minha bastardia.
O Rei Lear (Acto I, Cena II)
Meteoros e eclipses do Sol e da Lua como sinais dos céus são também
referidos:
Horácio - The graves stood Horácio – Nos tempos mais gloriosos e
tenantless and the sheeted dead florescentes de Roma, pouco antes da
Did squeak and gibber in the morte do grande Júlio, abriram-se os
Roman streets: As stars with túmulos, e os mortos, nas suas mortalhas,
trains of fire and dews of blood, divagaram pela cidade, soltando gritos
Disasters in the sun; and the ameaçadores; viram-se estrelas deixar
moist star Upon whose influence após si rastos luminosos, choveu sangue,
Neptune's empire stands Was desastrosos sinais apareceram no céu, e o
sick almost to doomsday with astro húmido, sob cuja influência está o
eclipse: And even the like império de Neptuno, eclipsou-se; todos
precurse of fierce events, As julgavam ser o fim do mundo. Estes
harbingers preceding still the fates mesmos sinais precursores de
And prologue to the omen coming acontecimentos terríveis, correios de maus
on, Have heaven and earth destinos, prelúdios de grandes catástrofes,
together demonstrated Unto our o Céu e a terra os fizeram aparecer nos
climatures and countrymen.-- But nossos climas, aos olhos impressionáveis
soft, behold! lo, where it comes dos nossos compatriotas.
again! Hamlet (Acto I, Cena I)
Captain - 'Tis thought the king is Capitão – Parece que o rei morreu; não
dead; we will not stay. The bay- esperaremos mais. Na nossa terra todos os
trees in our country are all loureiros secaram, e os meteoros assustam
wither'd And meteors fright the as estrelas fixas do céu; a pálida lua lança
fixed stars of heaven; The pale- olhares ensanguentados sobre a terra,...
faced moon looks bloody on the Ricardo II (Acto II, Cena IV)
earth...

Othello - O insupportable! O heavy Otelo – Oh! Pensamento insuportável!


hour! Methinks it should be now a Oh! hora esmagadora! Parece-me que,
huge eclipse Of sun and moon, and perante esta desgraça, o Sol e a Lua
that the affrighted globe Should deviam eclipsar-se completamente e o
yawn at alteration. globo, aterrado, entreabrir-se.
Otelo (Acto V, Cena II)
Gloucester - These late eclipses Gloucester - Estes recentes eclipses do
in the sun and moon portend no Sol e da Lua não são prenúncios de boa
good to us: though the wisdom of coisa para nós. Embora a natureza
nature can reason it thus and thus, humana possa explicar os fenómenos
yet nature finds itself scourged by desta ou daquela maneira, a natureza,
the sequent effects... ela própria, acha-se flagelada pelos
efeitos consequentes...
O Rei Lear (Acto 1, cena 2)

Esta referência a eclipses em O Rei Lear


poderá ter a ver com a ocorrência de eclipses
reais em Setembro e Outubro do ano de 1605.
A primeira edição impressa desta tragédia data
de 1608.
As conjunções planetárias eram também conhecidas de Shakespeare. Por
exemplo:
Henry - Saturn and Venus this Principe Henrique – Saturno e Vénus
year in conjunction! what says the este ano em conjunção! Que diz a tal
almanac to that? respeito o almanaque?
El-Rei Henrique IV
(Parte II, Acto II, Cena IV)

Os cometas, corpos que não faziam parte as esferas das estrelas e que
apareciam “sem aviso prévio”, são também referidos. Em Júlio César, uma
aparição celestial súbita leva a que a mulher de César, Calfúrnia, afirme:
Calphúrnia - When beggars die, Calfúrnia – Quando os mendigos morrem,
there are no comets seen; The nenhum cometa anuncia a sua morte; mas a
heavens themselves blaze forth morte dos príncipes é anunciada pelo céu.
the death of princes. Júlio César (Acto II, Cena II)
Em Henrique VI, anunciaram a morte do Rei:

Bedford - Hung be the Duque de Bedford – Toldem-se os céus de


heavens with black, yield day luto, e venham as trevas substituir a claridade!
to night! Comets, importing E vós, cometas, que precedeis as mudanças
change of times and states, que transtornam os tempos e os Estados,
Brandish your crystal tresses sacudi no firmamento as vossas tranças de
in the sky, And with them cristal, e fustigai com elas as estrelas rebeldes
scourge the bad revolting que consentiram a morte de Henrique!
stars That have consented O Rei Henrique VI (Parte I, Acto I, Cena I)
unto Henry's death!
Em relação às alusões às estrelas e
constelações, as mais referidas são a Estrela
do Norte, a Ursa Maior (Wain), a Ursa Menor
(Bear). Em Júlio César, o ditador romano
compara-se à Polar do seguinte modo:

César - But I am constant as the César - ...mas eu sou firme como a estrela
northern star, do norte, leal, fixa e imóvel como outra não
Of whose true-fix’d and resting há no firmamento.
quality
There is no fellow in the
firmament. Júlio César (Acto III, Cena I)
Na primeira cena do primeiro acto de Hamlet, manifesta-se a tensão entre
aparência e realidade quando se fala de uma “aparição” que emergiu sem
aviso da direcção de uma estrela brilhante “that´s westward from the pole” que
Olson et al identificaram como sendo a supernova que apareceu subitamente,
em 1572, na constelação de Cassiopeia.
Bernardo - Last night of all, Bernardo – A noite passada, à hora
When yond same star that's westward em que esta estrela que vêem ao
from the pole Poente do Pólo, descreve o seu giro e
Had made his course to illume that vem iluminar esta parte do firmamento,
part of heaven em que ora brilha, no momento em que
Where now it burns, Marcellus and na torre soava uma hora,...
myself,
The bell then beating one…
Hamlet (Acto I, Cena I)
Imagem composta do que resta da supernova 1572, que combina dandos de
observações em Infravermelho e Raios –X obtidas pelos Observatórios Sptizer
e Chandra, da NASA, e Observatório de Calar Alto, em Espanha.

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