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SÃO PAULO
2008
As redes de relacionamento e afinidades são as principais responsáveis pela construção do
papel do cidadão na sociedade, pelo crescimento e desenvolvimento da cidadania individual e
coletiva. Entendem-se por redes de afinidades os grupos sociais que se formam em torno de um
propósito ou objetivo comum, podendo ser definidas a partir de dois pontos de vista distintos:
metodológico ou conceitual.
As duas principais diferenças entre ONG e uma rede de afinidade são, em primeiro lugar, a
desterritorialidade dessas redes de afinidades: em especial nos tempos atuais, em que as plataformas
eletrônicas possibilitam a comunicação e socialização entre seus atores independente da distância
geográfica entre eles, redes sociais podem formar-se facilmente a partir de websites na internet –
quando não se formam neles ou em função deles -, como é o caso das comunidades de interesses no
Orkut e das redes de relacionamento em função de posição e interesses profissionais do LinkedIn, ao
passo que às ONGs intensificam-se e caracterizam-se pela regionalidade, preocupando-se com
causas globais e locais, levantando a bandeira do “pense globalmente, aja localmente”.
Assim, as ONGs são a formalização das redes de afinidades, onde as primeiras são formadas
a partir grupamentos das segundas, agora não mais com objetivos apenas locais, mas sim com
objetivos locais interligados a ações coletivas globais. Importante, porém, perceber que na conjuntura
atual o homem, enquanto indivíduo sem identidade própria além das identidades que se lhe atribuem
pela sociedade de consumo em massa, não assume mais seu papel de cidadão responsável e
comprometido com necessidades do conjunto; ao contrário, o homem atual tende cada vez mais a
isolar-se física, política e culturalmente de seus semelhantes. Amedronta-se de todo e qualquer grupo
que rompa suas fronteiras de pretensa segurança – e essas fronteiras diminuem a cada dia, muitas
vezes limitando-se ao perímetro de seu lar.
Esse é, então, o maior desafio das ONGS nesse início de século XXI: não só atuar enquanto
atores sociais comprometidos com mudanças efetivas baseadas nos objetivos das entidades, como
também, e principalmente, construir uma consciência cidadã, política e participativa, resgatando a
identidade comunitária de dois grupos sociais: em primeiro lugar, de seus atores-associados, pois
deles depende a execução dos objetivos da entidade; e, por conseqüência dessa conscientização e
de suas práticas, da comunidade-alvo dessas ações que, uma vez trazidas para junto do ideal de
participação cidadã, podem vir a tornar-se atores-associados e, principalmente, atores-
disseminadores da formação que receberam.
a) o relacionamento da sociedade civil com o Estado no que diz respeito à análise sobre
a participação da sociedade civil (organizada mediante iniciativas cidadãs) na gestão
do poder local e na formulação de políticas públicas;
Em relação à atuação social ativa das ONGs, destacam-se três campos básicos possíveis
para sua organização e estruturação: a filantropia, o desenvolvimento e a cidadania; ressalva
importante que, nos dias de hoje, percebe-se a tendência destes referenciais entrecruzarem-se.
Não só a dinâmica desses movimentos são afetadas pelo histórico político de seus países,
como também seus objetivos. Dessa forma, assim como o avanço e a solidificação da imagem das
ONGs como representantes legítimas da sociedade, também seus objetos de luta e a forma como
estes são buscados modificam-se em função o momento sócio-político de cada país. A conquista da
cidadania no continente, por exemplo, passa por diversas etapas, caracterizando cada uma delas
como a conquista de novos direitos e a incorporação dos chamados direitos de “terceira geração”, o
reconhecimento do direito de ter direitos, especialmente entre determinados setores da sociedade,
como entre os denominados “excluídos sociais” e o cumprimento dos direitos, das leis estabelecidas e
não observadas.
Além disso, as ONGs incorporam em suas pautas diversos elementos dos ideários oriundos
da modernidade, tais como: o respeito à individualidade e às identidades específicas, a garantia da
participação na esfera pública e as conquistas no campo da justiça social. Assim, as idéias-força das
ONGs somente conseguem ser postas em prática se tiverem, antes de tudo e como base principal, o
desenvolvimento de um processo educativo da sociedade civil organizada ou em vias de organização,
buscando formas de participação na gestão pública das políticas sociais, resgatando os princípios de
ação social politicamente engajada e apontando algumas metas de ação coletiva e individual para
maior visibilidade social.
Para que se possa falar na construção de uma cidadania planetária, integrada aos problemas
sociais locais e globais ao mesmo tempo, é necessário avaliar se as práticas destas múltiplas redes
de movimentos estão caminhando para humanizar a natureza, garantindo a partir daí a
sustentabilidade do futuro, construindo direitos sociais e ambientais e articulando requisitos de
igualdade, de liberdade e de compromisso com o coletivo na gestão pública.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
3. BAUMAN, Zigmunt; Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.