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Diego FLORES

REDES DE AFINIDADES, ONGs E A GLOBALIZAÇÃO


A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO SÉCULO XXI

SÃO PAULO

2008
As redes de relacionamento e afinidades são as principais responsáveis pela construção do
papel do cidadão na sociedade, pelo crescimento e desenvolvimento da cidadania individual e
coletiva. Entendem-se por redes de afinidades os grupos sociais que se formam em torno de um
propósito ou objetivo comum, podendo ser definidas a partir de dois pontos de vista distintos:
metodológico ou conceitual.

Na análise antropológica o termo redes sociais refere-se, usualmente, a redes locais ou


geograficamente limitadas, tendo dois pontos a serem destacados: a rede como parte constituinte do
próprio sistema / estrutura social; e a rede como relação entre indivíduos, em decorrência de
conexões preexistentes (como vizinhança, parentesco, amizade, trabalho, classe, etc.). Além disso, e
mais importante, é o caráter multiplicador das redes, seu poder irradiador do ideal de democratização
proposto pela sociedade atual, a partir do qual passa a ser particularmente relevante no plano
simbólico e na disseminação de uma nova utopia de democratização da sociedade civil.

“Cada grupo de afinidade tem um número limitado de participantes


para garantir o maior grau de intimidade possível entre seus membros.
Autônomos, comunitários e francamente democráticos, os grupos combinam
as teorias revolucionárias a um estilo de vida e um comportamento
igualmente revolucionários, criando um espaço livre onde os seus integrantes
podem reestruturar-se, tanto individual quanto socialmente, como seres
humanos.” (BOOKCHIN, 1974)

As ONGs – Organizações Não-Governamentais – são entidades responsáveis e identificadas


com a formação da cidadania local, sem fins lucrativos e com alguma participação voluntária. Seus
formatos básicos organizacionais podem ser tanto de atuação em movimentos populares como ONGs
de ação em nome de uma identidade própria, organizando-se em torno de uma causa comum.
Essencial, porém, é ressaltar o fato de que em ambos os formatos tem como característica principal a
participação ativa em questões sociais. Tais entidades ligam-se a um conjunto de acontecimentos que
merecem atenção: a revisão paradigmática, os fatores históricos circunstanciais envolvidos e a
renovação das utopias.

“...as utopias nasceram junto com a modernidade e só na atmosfera


moderna puderam respirar.
[...]
Para nascer, o sonho dos utopistas necessitava de duas condições.
Primeiro, um sentimento irresistível (mesmo que difuso e ainda não
articulado) de que o mundo não estava funcionando de maneira adequada e
de que era improvável consertá-lo sem uma revisão completa. Segundo, a
confiança na capacidade humana de realizar essa tarefa, a crença de que
‘nós, humanos, podemos fazê-lo’, armados como estamos da razão capaz de
verificar o que está errado no mundo e descobrir o que usar para substituir
suas partes doentes, assim como da capacidade de construir as armas e
ferramentas necessárias para enxertar esses projetos na realidade humana.
Em suma, era necessária a confiança que, sob a administração humana, o
mundo poderia ser colocado numa forma mais adequada à satisfação das
necessidades do homem – não importa quais fossem ou pudessem vir a ser
essas necessidades.”. (BAUMAN, 2007).

As duas principais diferenças entre ONG e uma rede de afinidade são, em primeiro lugar, a
desterritorialidade dessas redes de afinidades: em especial nos tempos atuais, em que as plataformas
eletrônicas possibilitam a comunicação e socialização entre seus atores independente da distância
geográfica entre eles, redes sociais podem formar-se facilmente a partir de websites na internet –
quando não se formam neles ou em função deles -, como é o caso das comunidades de interesses no
Orkut e das redes de relacionamento em função de posição e interesses profissionais do LinkedIn, ao
passo que às ONGs intensificam-se e caracterizam-se pela regionalidade, preocupando-se com
causas globais e locais, levantando a bandeira do “pense globalmente, aja localmente”.

Em segundo lugar, é importante perceber que enquanto as redes sociais formam-se em


função de laços estabelecidos entre seus participantes, limitados no tempo, resultantes de interesses
pessoais e individuais e, muitas vezes, sem qualquer caráter de ação prática e atuação social, as
ONGs caracterizam-se pela atuação permanente em busca de objetivos que atendam às
necessidades da sociedade ou de segmentos da sociedade ao qual pretendem atender, rompendo
com os interesses exclusivos da rede e de suas necessidades individuais enquanto grupo-entidade,
buscando o apoio e o respaldo não só do setor privado da sociedade, mas também da esfera pública.

Assim, as ONGs são a formalização das redes de afinidades, onde as primeiras são formadas
a partir grupamentos das segundas, agora não mais com objetivos apenas locais, mas sim com
objetivos locais interligados a ações coletivas globais. Importante, porém, perceber que na conjuntura
atual o homem, enquanto indivíduo sem identidade própria além das identidades que se lhe atribuem
pela sociedade de consumo em massa, não assume mais seu papel de cidadão responsável e
comprometido com necessidades do conjunto; ao contrário, o homem atual tende cada vez mais a
isolar-se física, política e culturalmente de seus semelhantes. Amedronta-se de todo e qualquer grupo
que rompa suas fronteiras de pretensa segurança – e essas fronteiras diminuem a cada dia, muitas
vezes limitando-se ao perímetro de seu lar.
Esse é, então, o maior desafio das ONGS nesse início de século XXI: não só atuar enquanto
atores sociais comprometidos com mudanças efetivas baseadas nos objetivos das entidades, como
também, e principalmente, construir uma consciência cidadã, política e participativa, resgatando a
identidade comunitária de dois grupos sociais: em primeiro lugar, de seus atores-associados, pois
deles depende a execução dos objetivos da entidade; e, por conseqüência dessa conscientização e
de suas práticas, da comunidade-alvo dessas ações que, uma vez trazidas para junto do ideal de
participação cidadã, podem vir a tornar-se atores-associados e, principalmente, atores-
disseminadores da formação que receberam.

As ONGs caracterizam-se também pelo estabelecimento de um forte caráter político a partir


de uma ideologia social e comunitária. Em função de seu caracter ideológico e da necessidade de
respaldo por parte da esfera pública da sociedade estabelecida, surgem, de acordo com SCHERER-
WARREN, pressupostos relevantes para a constituição de um estudo das ações coletivas e do papel
das ONGs:

a) o relacionamento da sociedade civil com o Estado no que diz respeito à análise sobre
a participação da sociedade civil (organizada mediante iniciativas cidadãs) na gestão
do poder local e na formulação de políticas públicas;

b) o relacionamento da sociedade civil com o mercado, tratando da análise da


concepção dos modelos de desenvolvimento e da reação a este no plano local por
parte das redes de movimento;

c) o fortalecimento e autodeterminação da sociedade civil, verificando em que medida há


ações coletivas, na forma de redes, que são gestadoras de uma esfera pública mais
democrática, com participação cidadã mais efetiva.

Em relação à atuação social ativa das ONGs, destacam-se três campos básicos possíveis
para sua organização e estruturação: a filantropia, o desenvolvimento e a cidadania; ressalva
importante que, nos dias de hoje, percebe-se a tendência destes referenciais entrecruzarem-se.

A filantropia, sob o axioma ‘do assistencialismo à solidariedade’, caracteriza as ONGs


enquanto instituição de caridade e supridora das condições mais primárias de amplos contingentes
populacionais. O desenvolvimento, descrito em rápidas palavras por SCHERER-WARREN como
“ação do efeito de demonstração ao desenvolvimento sustentável e justo”, caracteriza as ONGs como
instituições comprometidas com o aperfeiçoamento e aprimoramento dos recursos humanos e sociais
da comunidade. As ONGs de desenvolvimento da cidadania, que tomam para si o slogan “das lutas de
libertação às lutas pela democracia”, caracterizam-se fundamentalmente pelas ONGs de luta social,
sindicatos e agremiações trabalhistas de classe, a exemplo das instituições de luta contra as ditaduras
latino-americanas.

Se levarmos em consideração o histórico-social das ditaduras na América Latina e da


importâncias das ONGs, núcleos sociais e redes de movimento e afinidade para a quebra e
resistência a estes modelos, perceberemos claramente o contraste do caráter de resistência dos
grupos existentes no período ditatorial e o atual caráter de luta pela moralização da política das
mesmas também é abordado. A crise das utopias tradicionais de esquerda e dos respectivos
paradigmas de interpretação, que atribuíam centralidade a um sujeito histórico privilegiado e agora
abrem espaço para a busca de novas formas de atuação política por intermédio de atores plurais
explicam o aumento significativo do número de ONGs na América Latina durante os últimos quinze
anos. Este fenômeno também pode ser justificado pelas transformações nos sistemas políticos latino-
americanos, que incenticam e viabilizam o interesse em ampliar a atuação da sociedade civil num
momento de democratização. Ademais, os fatos históricos relevantes com impacto social, que têm
estimulado a autodeterminação da sociedade civil em participar na solução de problemas sociais e
políticos, bem como o desenvolvimento tecnológico tem agilizado a comunicação e a formação de
redes informatizadas, permitindo o uso de correios eletrônicos, formação de bancos de dados e
publicações produzidas de forma mais rápida e econômica.

Com a abertura política do continente, a redemocratização da sociedade e a abertura dos


países ao capital extrangeiro e, por conseqüência, a incorporação da globalização como regra-geral, a
dinâmica dos movimentos sociais encontra-se cada vez mais relacionada à utopia de fortalecimento
da sociedade civil e de desenvolvimento de uma racionalidade ética, de valorização da justiça social,
de eliminação das discriminações, de respeito ao meio ambiente, etc.. Juntamente a essa ética
desenvolvida no seio da sociedade civil, as ONGs também assumem o papel de virem a atuar como
uma força de regulamentação de outros setores, mercado e Estado, chegando, então, à plenitude
humanista.

“É em torno de lugares que os seres humanos experimentam as


tendências a serem formadas e coligadas, que tentam administrar a vida que
compartilham, que os significados desta são consebidos, absorvidos e
negociados. E é nos lugares que os impulsos e desejos humanos são
gerados e incubados, que eles vivem na esperança de realização e correm o
risco da frustração – e de fato são, com extrema freqüência, frustrados e
sufocados.
[...]
Os verdadeiros poderes que modelam as condições sob as quais
agimos atualmente fluem num espaço global, enquanto nossas instituições de
ação política permanecem amplamente presas ao solo – elas são, tal como
antes, locais.
[...]
Os moradores das cidades e seus representantes eleitos tendem a
se confrontar com uma tarefa que nem pela força da imaginação poderiam
realizar: a de encontrar soluções locais para problemas e dilemas concebidos
globalmente.” . (BAUMAN, 2007).

Não só a dinâmica desses movimentos são afetadas pelo histórico político de seus países,
como também seus objetivos. Dessa forma, assim como o avanço e a solidificação da imagem das
ONGs como representantes legítimas da sociedade, também seus objetos de luta e a forma como
estes são buscados modificam-se em função o momento sócio-político de cada país. A conquista da
cidadania no continente, por exemplo, passa por diversas etapas, caracterizando cada uma delas
como a conquista de novos direitos e a incorporação dos chamados direitos de “terceira geração”, o
reconhecimento do direito de ter direitos, especialmente entre determinados setores da sociedade,
como entre os denominados “excluídos sociais” e o cumprimento dos direitos, das leis estabelecidas e
não observadas.

Nos processos de participação cidadã na esfera pública, os indivíduos tendem a se constituir


como sujeitos a partir de duas dimensões da vida social, uma construída em torno da defesa e
identidades específicas e outra em torno da subjetivação em torno de valores éticos comuns. É o
entrelaçamento entre essas duas dimensões construtivas do sujeito que permite mobilizações cidadãs
inovadoras e, por isso, maior engajamento, conforme proposto. Se, por um lado, a construção dos
sujeitos coletivos em torno de identidades específicas e do reconhecimento das diferenças pode gerar
uma fragmentação do tecido social, por outro, a convergência em torno de determinados princípios
éticos comuns tem permitido a múltiplos sujeitos conectarem-se na forma de redes ou parcerias para
o encaminhamento de inúmeras políticas sociais, buscando a criação de uma ética e de um plano de
ação coletivo, baseado na individualidade conjugada ao consenso do grupo.

Além disso, as ONGs incorporam em suas pautas diversos elementos dos ideários oriundos
da modernidade, tais como: o respeito à individualidade e às identidades específicas, a garantia da
participação na esfera pública e as conquistas no campo da justiça social. Assim, as idéias-força das
ONGs somente conseguem ser postas em prática se tiverem, antes de tudo e como base principal, o
desenvolvimento de um processo educativo da sociedade civil organizada ou em vias de organização,
buscando formas de participação na gestão pública das políticas sociais, resgatando os princípios de
ação social politicamente engajada e apontando algumas metas de ação coletiva e individual para
maior visibilidade social.

Para que se possa falar na construção de uma cidadania planetária, integrada aos problemas
sociais locais e globais ao mesmo tempo, é necessário avaliar se as práticas destas múltiplas redes
de movimentos estão caminhando para humanizar a natureza, garantindo a partir daí a
sustentabilidade do futuro, construindo direitos sociais e ambientais e articulando requisitos de
igualdade, de liberdade e de compromisso com o coletivo na gestão pública.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. SCHERER – WARREN, Ilse. Cidadania sem Fronteiras: ações coletivas na era da


globalização. São Paulo: Hucitec, 1999.

2. BOOKCHIN, Murray; “Redes de Afinidades” in Anarquismo pós-escassez. 1974.

3. BAUMAN, Zigmunt; Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

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