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SEMEDO, Alice – Práticas narrativas na profissão museológica: estratégias de exposição de

competência e posicionamento da diferença, in Alice Semedo e João Teixeira Lopes (Coord..)


Museus, Discursos e Representações, Edições Afrontamento: Porto. ISBN10:972-36-0818-9
pags.69-93, 2006.

Práticas narrativas na profissão museológica:


estratégias de exposição de competência e posicionamento da diferença

Alice Semedo

1. Introdução

Este artigo apresenta uma reflexão sobre as mudanças verificadas na forma como a profissão
museológica em Portugal como comunidade discursiva se representa nos seus textos durante
o período seleccionado para análise (1975-1998). As comunidades discursivas são aqui
entendidas, em larga medida, como auto-definidoras e auto-policiadas. Porquanto, como
Ellen Valle (1997: 70) já argumentou quando falava de comunidades científicas, é antes de
mais (i) a comunidade que decide (dentro dos constrangimentos impostos pela sociedade em
geral) quais são as preocupações legítimas do grupo e que tipos de questões podem legitimar
essas mesmas preocupações; (ii) que estabelece os critérios pelos quais a validade das suas
conclusões pode ser avaliada e (iii) que define o corpo de conceitos, entidades e preposições
aceites como válidas – até que evidentemente sejam substituídos por outros mais recentes –
como conhecimento de grupo. O mesmo pode ser dito em relação a este grupo. Os
mecanismos através dos quais a codificação de conceitos e informação se torna
conhecimento de grupo pode acontecer de uma forma explícita, por exemplo em situações
de educação formal (ex. cursos universitários), ou em declarações dos próprios profissionais.

Estas comunidades discursivas estabelecem, igualmente, critérios de admissão para os novos


membros, nomeando sentinelas que regulam este acesso (por exemplo através do acesso a
meios de publicação) e definindo o espaço de possibilidades (Bourdieu 1992: 268). O grupo
de profissionais de museologia não é porém monolítico. Pelo contrário, devido à própria
natureza das colecções, às diferentes localizações e tutelas dos museus, etc., o grupo é

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ricamente heterogéneo. Em relação à sociedade em geral, no entanto, o grupo tende a
manter uma frente unida apresentando problemas e aspirações comuns e utilizando um
vocabulário comum.

Tentaremos pois fazer uma análise do discurso da profissão museológica através dos textos
apresentados por membros privilegiados do grupo (privilegiados no sentido em que tiveram
acesso a meios de divulgação como os encontros do grupo podem ser considerados). Nesta
análise interessou-nos sobretudo a investigação do desenvolvimento dos conceitos que se
referem à identidade do grupo, apontando padrões, similitudes e diferenças, oferecendo
uma leitura dos mecanismos subjacentes e de como o discurso encarna estereótipos e
atitudes da profissão. Assume-se que o grupo de declarações definidos e delimitados que
constituem um discurso são eles mesmos expressivos de e organizados por uma ideologia
especifica do grupo.

Esta visão é também ancorada no trabalho de Bourdieu que vê o discurso como incorporando
formas de pensar e de agir. De acordo com esta tradição, os discursos não são só sistemas
referenciais ou representacionais mas sim parte da infra-estrutura que ordena, que organiza
as práticas de uma sociedade, de um grupo. É, portanto, sugerido que os textos analisados
incorporam estas infra-estruturas como partes do discurso e que podemos aprender algo
acerca das infra-estruturas através do estudo de formas discursivas. O conceito de infra-
estrutura de relações sociais tem também claras afinidades com o conceito de “schemata”
proposto por Bourdieu e Wacquant (1992: 7) que se refere às práticas de classificação mental
e física que funcionam como padrões simbólicos e que orientam as actividades práticas dos
agentes sociais: comportamentos, pensamentos, sentimentos e juízos.

Neste contexto, “discurso” refere-se então a um sistema de linguagem que se apoia numa
determinada terminologia e que codifica formas específicas de conhecimento (ex. linguagens
especializadas). Este tipo de linguagem especializada pode ser visto como tendo três efeitos
importantes: define um campo de conhecimento; concede admissão ao grupo; e, finalmente,
confere autoridade (Tonkiss, 1998: 248). Em primeiro lugar, os discursos especializados
estabelecem uma esfera de influência de especialização distinta, definindo o campo da
prática museológica e as questões com que se relaciona. Em segundo lugar, permite aos
profissionais de museus comunicar entre si de forma coerente e consistente. As convenções e
regras internas do discurso profissional funcionam como uma forma de socialização dos
membros na profissão, permitindo-lhes operar no grupo de uma forma competente. Em
terceiro lugar, o discurso profissional autoriza certas declarações e certos intervenientes.

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Finalmente, assume-se que estes discursos desempenham um papel muito importante no que
se denomina de “agenda-setting” política do grupo (Tonkiss, 1998: 240), influenciando o
debate, a tomada de decisões e outras formas de acção. Por outro lado, a linguagem é aqui
também entendida como um tipo de prática social entre muitas outras utilizadas nos
processos de representação e de significação que organizam e definem activamente a
relação dos seus membros com o mundo social. Ao considerarmos o discurso no seu contexto
social é útil sublinhar dois temas centrais. O primeiro destes diz respeito ao contexto
interpretativo em que o discurso se localiza. O segundo relaciona-se com a organização
retórica do próprio discurso. O termo “contexto interpretativo” refere-se à localização em
termos sociais de um determinado discurso. Por exemplo, podem ser desenvolvidos
argumentos relacionados com a relação do museu com o exterior que se podem relacionar
com os diferentes posicionamentos do produtor (ex. proveniência institucional, género,
etc.).

Para além disso, as abordagens retóricas escolhidas pelos textos dizem respeito aos
esquemas argumentativos que os organizam e que funcionam para estabelecer autoridade de
versões, descrições particulares enquanto contra-alternativas (Billig, 1987;Tonkiss, 1998:
250). Neste sentido, a análise retórica aqui desenvolvida não diz respeito, simplesmente, à
forma como as afirmações são reunidas mas é também – e que é talvez mais importante –
acerca dos efeitos que estas afirmações procuram ter e a sua inserção num contexto retórico
mais alargado no qual certas formas de conhecimento são privilegiadas, certas formas de
argumentação são persuasivas e certos autores são ouvidos como autoridades. “Retórica”
refere-se a situações em que o discurso pode moldar (modificar, limitar, definir) “efeitos”: o
discurso retórico é persuasivo na sua acção. Este tipo de análise procura formas nas quais os
sentidos sejam construídos – como é que os profissionais de museus são representados e
como é que atitudes profissionais são (re)produzidas e legitimadas através do uso da
linguagem.

2. Estudando os textos da comunidade: considerações metodológicas

Nesta análise optámos por estudar peças do discurso público e oficial produzidas por autores
com acesso a locais privilegiados de produção e regulação de representações e práticas,
como os encontros-colóquio do grupo podem ser considerados. Para além disso, esses

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encontros são compreendidos como locais simbólicos para aprender comportamentos, como
verdadeiros espaços de socialização.

Desde 1975 que têm tido lugar, regularmente, um número razoável de encontros-colóquio do
grupo em Portugal. Optámos por analisar as actas publicadas pelos encontros organizados
pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM) e pela Associação Portuguesa de
Municípios porque (i) tiveram lugar mais regularmente durante as últimas décadas; (ii) são
frequentemente considerados representativas do grupo; (iii) e, naturalmente, porque
publicaram uma grande parte das actas destes encontros. Forçosamente tivemos que nos
restringir ao material publicado não incluindo também nesta análise quer sumários quer as
actas da encontro que teve lugar em Loures em 1998 por assumir um formato completamente
diferente dos outros textos.

Ao examinarmos estas práticas – que consideramos operar uma função social vital nas
relações intergrupo – esperávamos aprender mais sobre as percepções da elite e saber que
dimensões da identidade são afinal relevantes. Porque tem acesso ao discurso público, esta
elite tem uma responsabilidade e desempenha um papel específico na formação da ideologia
do grupo. Neste sentido, o prestígio social destes membros pode ser relacionado com o seu
poder para definir a realidade social para o grupo. Significativamente, estes textos são
também representativos das arenas morais em que a reputação dos autores é exposta. Para
além disso, foram também compreendidos como recursos e tópicos como definido por Seale
e Kelly (1998: 125).

Para além disso, ao estudar a construção do discurso científico Gunnarsson (1997) distinguiu
três níveis diferentes de análise que utilizámos também no exame dos textos analisados. Os
três níveis relacionam-se com três diferentes dimensões: cognitiva, social e societal. Estes
níveis serviram igualmente de base para a matriz desenvolvida.

Em relação ao nível societal, todo o grupo profissional tem uma estrutura interna de papel
que define a identidade do grupo, as suas atitudes e normas. Assume-se que a identidade
profissional desempenha um papel importante na construção do discurso do grupo,
motivando os seus membros para policiar as suas fronteiras, estabelecendo distância em
relação a elementos estranhos, a forasteiros a não-membros. Em segundo lugar, e no que diz
respeito ao nível social, cada grupo profissional também se coloca numa relação particular
em relação à sociedade na qual opera; exerce certas funções e é-lhe atribuído um
determinado lugar nessa sociedade. Os membros de uma profissão desempenham um papel

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em relação a outros actores em sociedade e o grupo profissional actua em relação a outros
grupos. Pode desempenhar um papel, por exemplo, no sistema educativo, na economia local,
etc. É através do discurso que os grupos profissionais exercem as suas funções sociais. Com
vista ao desempenho destas funções sociais o grupo tem de construir um comportamento
comunicativo adequado para atingir esse fim. Em terceiro lugar, o nível cognitivo está
claramente relacionado com o campo de verdades partilhado socialmente pelo grupo (como
o grupo apreende a realidade).

Concluiu-se que os três níveis estavam fortemente relacionados com a emergência e contínua
recriação do discurso profissional e, portanto, fazem parte desta mesma construção. Para
além disso, os textos são fortemente normativos e as características normativas foram
utilizadas como elementos de definição da profissão enquanto ao mesmo tempo fornecem
fronteiras para estabelecer domínio / soberania / autoridade e comunidade. Estes elementos
normativos encontram expressão no material investigado de diversas formas, por exemplo
quando os autores dos textos apontam problemas e privações ou quando pedem às tutelas
para agir e definir políticas concretas. Outras concepções normativas reflectem-se nas
descrições, nas histórias contadas dos seus próprios comportamentos ou de como seguiram
determinados princípios defendendo a sua actuação. A adesão a determinados princípios
significa aqui que os membros sabem que existem outras opções ou, por outro lado, podem
querer melhorar o seu comportamento preferido representando esse comportamento como
consistente, como estando de acordo com os seus princípios.

3. Categorias de análise

Antes de classificarmos o conteúdo preciso das categorias, vamos primeiro descrever


brevemente o corpus. O corpus é formado por dois grandes blocos de textos (I e II). O
primeiro contém 107 comunicações apresentadas em encontros organizados pela APOM de
1975 a 1989 e o segundo inclui 46 comunicações apresentadas em encontros organizados pela
Associação Portuguesa de Municípios em colaboração com diferentes Câmaras Municipais de
1993 a 1996. A maior parte destes encontros teve a duração de dois dias.

Todos estes textos pertencem ao mesmo género, o de uma comunicação apresentada num
encontro-colóquio, a audiência sendo formada maioritariamente por profissionais de museus.
Com algumas excepções todas as comunicações foram apresentadas em Português.

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Após ter apresentado o corpus vamos agora apresentar o que pensamos ser as formas
características essenciais que compõem – organizam no sentido gramatical – a cultura deste
grupo profissional. Este é um campo muito rico e portanto vamos manter a nossa análise
centrada muito claramente na “schemata” referida anteriormente e tentar relacioná-la com
os diferentes níveis da análise.

Ao lidarmos com estas questões e pressupostos, assumiu-se um grupo de categorias como


fulcrais. Primeiro, um grupo de categorias relacionadas com o melhoramento do
conhecimento do grupo: quais os temas preferidos? O que é considerado certo / errado dizer
acerca desses assuntos? Segundo, as relacionadas especificamente com a identidade de
grupo: quem somos? O que nos caracteriza? Quais são as atitudes certas, os valores certos? O
que é que alguém tem de fazer para se tornar um de nós? Como nos avaliamos? Quais são os
nossos problemas? A definição de quem somos implica obviamente a definição do outro e o
estabelecimento de meios de policiamento das nossas fronteiras. Terceiro, as categorias
relacionadas com o posicionamento social do grupo: qual é a nossa missão? Quais são os
nossos objectivos? Qual é o nosso papel em relação à sociedade? O primeiro grupo de
categorias pode ser relacionado com o nível cognitivo de análise ainda se é verdade que os
outros grupos também estão de alguma forma envolvidos neste nível; o segundo grupo está
mais relacionado com o nível societal enquanto que o terceiro se dirige mais ao nível social
da análise.

Neste artigo referimo-nos a discurso num sentido que de nenhuma forma está em conflito
com as abordagens socialmente orientadas da utilização da linguagem. No entanto, seguindo
teóricos como Foucault (1984) e Fairclough (1992), sublinhamos o papel dinâmico e
construtivo do discurso na estruturação de áreas do conhecimento e práticas sociais e
institucionais que lhe estão associadas. Para além disso, o discurso é aqui compreendido
como uma forma de falar acerca de e agir sobre o mundo; um discurso constrói e é
construído por um grupo de práticas sociais.

Ao compreendermos o discurso como constitutivo da prática museológica aceitamos o ponto


de vista de que as formações discursivas disponíveis para falar, por exemplo, acerca das
características que um profissional de museu ou mesmo um museu deve ter, ou ainda sobre
as funções e missões de museus estão imbuídas de pressupostos morais. Nos textos
analisados, os autores apresentam princípios para justificar, por exemplo, acções pessoais ou
institucionais articulando portanto “relações pré-estrutura” de tal forma que estas são
constitutivas da prática museológica (ver Bourdieu, 1977). Procuraremos pois formas pelas

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quais as opções discursivas e gramaticais disponíveis são utilizadas para construir, reforçar,
talvez mesmo questionar a identidade do grupo e sua relação com os diferentes níveis de
análise (cognitiva, societal e social).

4. Representando museus e a prática profissional

Se começarmos por considerar o nível cognitivo, concluímos que cada profissão tem uma
certa forma de apreender a realidade, de realçar aspectos diferentes do mundo. Para além
disso e ao nível societal, a socialização numa profissão significa aprender a distinguir os
factos relevantes, como compreender as relações entre os diversos factores. Somos
ensinados a construir e utilizar um enquadramento para ver, apreender a realidade de uma
forma que seja profissionalmente relevante (Gunnarsson, 1997: 100).

Uma profissão é caracterizada por competências específicas através das quais os membros do
grupo se reconhecem e se nomeiam e que são associadas à sua identidade e,
consequentemente, uma parte importante do profissionalismo é construída em interacção
com outros membros do grupo. A questão do profissionalismo encontra-se assim no exercício
das competências, lembrando os actores da sua especificidade e portanto do significado
básico da sua profissão.

A socialização no grupo também significa estabelecer distância com outros actores fora do
grupo. Esta é uma forma particular de juízo normativo: que tipo de comportamento pode ser
esperado de um bom conservador? Esta é também uma forma de avaliação (ex. o que deve
ser a prática museológica / um museu; o que deve ser um comportamento apropriado; quem
somos) e portanto devíamos compreender a avaliação como uma prática social
desempenhando um papel estrutural no discurso.

Estes textos tanto no Bloco I como no II apresentam características normativas relacionadas


principalmente com questões acerca de como-fazer, definindo abordagens de conceitos
verdadeiros (por exemplo em relação a educação, conservação, etc.) ou definindo
actividades e características do grupo enquanto apontam alguns dos problemas que o
afectam. No entanto, tópicos como os que se relacionam com a admissão em termos de
critérios de formação para aceder à carreira ou tópicos de avaliação formal são aqui quase

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evitados, indicando talvez uma relativa falta de envolvimento neste nível por aqueles
responsáveis pela educação formal, como as universidades podem ser consideradas.

Imbuída nesta estrutura cognitiva existem também atitudes e normas que dizem respeito ao
que é relevante e certo, que ajudam a organizar o nível societal. Todo o grupo profissional,
como qualquer outro grupo, é formado pelo estabelecimento de uma estrutura interna do
papel, da identidade do grupo, das atitudes e das normas. Esta estrutura cognitiva é claro
que é dinâmica e permeável a outros domínios que também contribuem para a sua
construção.

Para definir a profissão é conveniente definir as suas funções e competências. É necessário


construir representações e desenvolver discursos, opiniões e teorias respeitantes à missão do
grupo bem como em relação às competências e qualidades necessárias para trabalhar nesta
profissão. Assim, as representações profissionais podem ser vistas da seguinte forma: a
actividade profissional é baseada em parte num sistema mais ou menos coerente e
consciencializado das representações profissionais que correspondem a um modelo
profissional; cada modelo é caracterizado pela sua missão, objectivos, crenças, conceitos,
valores, etc. que são a base para uma abordagem profissional e que orientam decisões. Dyer
(1977: 28) argumenta que estamos permanentemente a interpretar o sentido das coisas em
termos de categorias, tipos alargados: um tipo é aqui uma caracterização simples, vívida,
memorável, facilmente apreendida e amplamente reconhecida na qual as alterações ou
desenvolvimentos são mínimos.

Como todas as outras identidades, a identidade profissional museológica é, tomando


emprestada a frase de Week, uma categoria inventada (Week, 1991). É o produto de
significados culturais associados a certos atributos, capacidades, disposições e formas de
conduta em determinados contextos e momentos históricos. Aceitar o estatuto inventado, no
entanto, não significa diminuir a força desta categoria em relação ao grupo. As identidades
são construções ou ficções necessárias. Precisamos delas para operar no mundo para nos
situarmos em relação ao outro e para organizar um sentido de quem somos.

Enfatizar o carácter inventado das identidades, porém, dirige-nos para os processos através
dos quais as identidades são forjadas ou ficcionadas. Este empreendimento leva-nos ao
trabalho cultural ou simbólico envolvido neste processo. As linguagens culturais / ideológicas
ou sistemas de representação constroem activamente os significados que associamos aos
museus e à profissão museológica. Estas representações repetidas através do discurso dizem-

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nos como é que qualquer coisa, como é que algo se torna verdade e, como argumentado
anteriormente, isto pode ser relacionado com uma teoria ou ideologia de base, apesar da sua
invisibilidade ou transparência. As auto-caracterizações são neste sentido centrais para a
vida do grupo. O mundo social está imbuído de histórias, versões e representações cujo
tópico é o grupo ele mesmo. Para além disso, estas não são meras imagens imaginadas mas
são altamente organizadas e consequenciais; estas caracterizações existem para fazer algo.
Este ponto de vista deve ser relacionado com o importante conceito etnometodológico de
reflexividade. Esta noção chama a atenção para o facto de que as descrições não são apenas
acerca de qualquer coisa mas também estão a fazer qualquer coisa; isto é, não estão
meramente a representar um qualquer facto do mundo, estão também envolvidos nesse
mundo de uma forma prática (Potter, 1996: 47). Para além disso, um dos princípios que está
subjacente à presente investigação é o ponto de vista de que o discurso se relaciona
dialecticamente com a estrutura social: tanto como um modo de acção como um modo de
representação (Fairclough, 1989; 1992) assim como com a concepção da tarefa do analista
como uma em que se investigam as interacções sociais com vista à sua determinação pela – e
efeitos na – estrutura social (Fairclough, 1995: 36).

Os textos analisados indicam que qualidades, que programas, etc. são consideradas legítimas
e que tipo de coisas podem legitimamente ser ditas acerca deles. Em relação às questões
identitárias, elas tendem a concentrar-se num pequeno grupo de tópicos, reflectindo o alto
nível de integração destes conceitos pelo grupo estudado.

Naturalmente, em alguns casos as comunicações apresentadas tratam mais do que um


assunto. É no entanto claro que uma grande preocupação do grupo está relacionada com
políticas museológicas nas quais os seus aspectos organizativos, acções legislativas e
princípios gerais são discutidos. Este facto é compreensível dado o contexto geral de
profunda mudança estrutural combinada com uma verdadeira “explosão de museus” e com a
falta de oportunidades de educação formal especializada neste período que resultou numa
desorientação no campo em análise e, consequentemente, numa sentida necessidade de
orientações e regulação com vista ao estabelecimento positivo do sector museológico na
sociedade em geral. Como um dos autores do primeiro encontro da APOM diz (Firmino,
1975:111) o que “os museólogos necessitam é de mobilizar as suas atenções (e forças) na
grave tarefa de resolver os problemas de transformação e adaptação que as novas relações
Museu-Sociedade levantam”.

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Os estudos de colecções, investigação, exposições, arquitectura e profissionalismo são outros
dos temas recorrentes nestes textos mas com uma extensão inferior. A atenção dada aos
públicos, à gestão de colecções, à conservação, à gestão, à segurança, ao marketing e às
relações públicas é quase inexistente.

Os temas educacionais parecem ter tido um lugar mais importante no Bloco I, tendo sido
mesmo especialmente organizado um encontro sobre este tema (A escola vai ao museu,
Lisboa 1987) enquanto assuntos relacionados com a história dos museus e a sua missão estão
também presentes. A cooperação com os campos adjacentes da arquitectura de museus foi
também realçada com a organização do encontro de Aveiro em 1989 que se centrou na
arquitectura de museus. O Bloco II não apresenta alterações profundas em relação à escolha
das temáticas das comunicações ainda que os assuntos relacionados com a conservação
tenham aqui mais relevo.

É interessante notar que ainda que a educação seja apontada como uma das principais
actividades profissionais e um tema preferido de comunicação pelo menos no primeiro Bloco
as temáticas relacionadas com o estudo dos públicos não são entendidas como prioritárias
revelando os conceitos de comunicação adoptados. De facto as comunicações apresentadas
sobre este tema são muito escassas.

Vamos agora olhar mais atentamente alguns dos textos apresentados e os pontos de vista que
sugerem. Algumas das comunicações apresentadas no primeiro encontro analisado (Figueira
da Foz, 1975) oferecem a noção “educação-animação” repetida por vários títulos e
frequentemente associada à “acção cultural” para a “elucidação das massas” ecoando o
contexto do tempo. No período pós-revolucionário este conceito de educação-animação –
associado ao par acção-serviço – expressa o carácter interventivo que o grupo gostaria de
imprimir às actividades e missões de museus, participando inteiramente na reestruturação e
nascimento de uma nova identidade, desenvolvendo – o que pensam ser – uma política
correcta de re-colocação dos Museus portugueses ao serviço da cultura e da promoção social
do povo.

O próprio título de conferência “Museus para quê?” expressa o sentimento de uma


necessidade / urgência de uma revolução dentro do grupo, uma revolução que teria que
alterar a sua atitude em relação à sociedade e na qual o conceito educação-animação
desempenha um papel central. Destacam-se algumas comunicações muito emocionais que
utilizam abundantemente a ironia como um artifício provocativo e onde palavras-chave como

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radical, mutação, interrogação dão forma a estes textos, fornecendo um modelo coerente
para a mudança e discussão que advogam.

O segundo destes encontros continuou a desenvolver esta noção de educação como forma de
acção, de intervenção na sociedade. Se o museu não cumpria esta missão qual era a sua
utilidade? Para que servia um museu se permanecia insensível às necessidades do homem, às
suas ansiedades, frustrações e protestos?

Os museus universitários também não são poupados a estas críticas nas comunicações
apresentadas no encontro sobre Museus Universitários em Coimbra em 1978. A ideia de que
os museus só atingem completamente o seu potencial quando participam nos grandes
problemas da vida das sociedades contemporâneas é também articulada.

O encontro que teve lugar em Lisboa em 1987, “A Escola Vai ao Museu”, foi aberto à
participação de professores provenientes de diversos contextos e centrou-se sobretudo na
“infância” e “animação” através do desenvolvimento de projectos de “história-viva” e
“educação pela arte”1. O tema central das comunicações apresentadas maioritariamente por
professores é a noção de que o museu orienta a aprendizagem e de que o público é um
sujeito activo neste processo, reconhecendo-se, para além disso, não só o papel das emoções
na aprendizagem mas também os próprios contextos e heterogeneidade dos diversos grupos.
Adicionalmente, os museus são apresentados como sendo particularmente adequados para
uma comunicação intergeracional e como instituições que através da sua “intervenção”
aproximam pessoas de diferentes contextos sociais.

Estes conceitos relacionados com a “utilização social” e com o “bem estar dos cidadãos”,
que apresentam os museus como instituições sociais ao serviço da comunidade serão
discutidos e desenvolvidos mais detalhadamente no Bloco II, utilizando um vocabulário novo,
mais apropriado aos museus municipais e às problemáticas em que estavam envolvidos,
nomeadamente à “reordenação do território” e as suas preocupações ambientais e sociais.
Este novo interesse está provavelmente relacionado com a natureza “local” da maior parte
das colecções que salvaguardam e expressam um envolvimento mais forte de outros campos
científicos (por exemplo a antropologia) nomeadamente na construção do local. Fortemente
influenciados pela filosofia do ecomuseu e pelos princípios da museologia social do MINOM os
museus associavam-se à compreensão do “território” e da “identidade”, servindo para
promover a valorização social, económica e cultural da localidade numa perspectiva de
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De facto a maioria das comunicações foi apresentada por professores e não por profissionais de
museologia.

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desenvolvimento global e equilibrado do território. Esta abordagem era também
compreendida como uma forma de democratização, permitindo, para além disso, uma
abordagem multi, inter e transdisciplinar do território e apresentando os museus como sendo
componentes importantes do seu desenvolvimento. O trabalho de equipa será, doravante,
repetidamente enfatizado como uma característica fundamental do trabalho em museus. O
conceito de “identidade” assume um lugar central no campo de discussão, fazendo parte,
definitivamente, do vocabulário do grupo. Neste contexto, os museus são compreendidos
como “reserva de recursos identitários” e já não tanto como “recursos de animação”.

Para além do conceito de museu como “recurso identitário”, o que é também fortemente
proposto já não é tanto o “museu-animador” mas sim o “museu-curativo”, o “museu-útil”:
propõem-se projectos que deveriam tentar responder às ansiedades da sua comunidade,
apoiando-a na sua questionação e encorajando a descoberta de soluções para essas questões.

Para que estas missões fossem cumpridas era porém necessário de-fetishizar o significado
simbólico dos museus através da adopção de uma museologia dinâmica centrada na
comunicação de ideias e problemas. A intervenção cultural significava agora que a população
era envolvida no processo de criação e fruição, nomeadamente através da apropriação do
seu próprio património. Território e população, identidade e desenvolvimento começaram a
ser apresentados como fazendo parte integrante de alguns projectos museológicos
maioritariamente associados aos municípios.

A missão preferida aparente nos textos analisados em ambos os Blocos está, assim,
principalmente relacionada com os aspectos de comunicação dos museus localizando os
papéis preferidos desempenhados em relação à sociedade mais nas esferas do social
educacional.

Outra dimensão interessante das representações profissionais relaciona-se com as actividades


/ funções do grupo e com as características associadas ao profissional (aos seus membros).
No que diz respeito às actividades do grupo, os textos revelam algumas diferenças. Ambos os
Blocos apresentam a educação como a actividade principal dos profissionais de museologia,
seguida de actividades relacionadas com as exposições e investigação, confirmando análises
anteriores.

Se atentarmos agora às características preferidas do profissional podemos concluir (mesmo


se lhes é dado um peso diferente) que existem similitudes nos dois os blocos. Ambos
apontam como características-chave as de cooperação, dinamismo, abertura, dedicação,

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responsabilidade e capacidade de intervenção que devem ser relacionadas como o conceito
de museu “integrado”, “curativo” e “útil” que, afinal, promovem.

No entanto, parece que os textos no segundo Bloco optaram por não se apoiarem tanto em
características mais do foro emocional como são as de “amor” ou “paixão” que poderiam ser
compreendidas como atributos de um trabalho menos “profissional”.

A importância dada ao fenómeno do profissionalismo resulta do facto de que esta noção


constitui um modelo de referência positivamente valorizado no imaginário social. Se é
verdade que em muitas circunstâncias o poder dos profissionais é contestado e a sua
autoridade não é aceite sem discussão, também é verdade que o modelo associado ao
profissionalismo tem sido largamente publicitado como um valor positivo oposto ao de
amadorismo; o profissionalismo assumindo-se cada vez mais como uma aspiração do grupo
devido ao poder, prestígio e autonomia que lhe estão associadas, como aliás foi já defendido
por Carapinheiro e Rodrigues (1998:147).

O ideal do profissional de museologia e os atributos que lhe estão geralmente associados


vão-se estabelecer gradualmente entre o grupo e ainda que em termos de número de textos
apresentados poucos formalmente consideram as questões relacionadas com o acesso à
profissão (em termos de educação formal requerida), um programa coerente emerge
relacionado com as noções acima apresentadas. Os desafios da sociedade contemporânea, a
maior complexidade, a “explosão de museus” e o desenvolvimento de uma “ciência
museológica” são algumas das razões apresentadas para uma mudança em direcção a uma
especialização técnica. As funções do museu podem apenas ser cumpridas apropriada por
profissionais treinados: “os desafios da sociedade contemporânea exigem que os museus
dediquem cada vez mais atenção à educação de técnicos especializados de museologia. Os
museus são instituições sociais, que intervêm activamente em sociedade, requerem
indivíduos qualificados que possam definir, coordenar e executar planos e programas. O
sucesso das instituições museológicas depende do desempenho das suas equipas, que têm
que ser competentes e eficientes em todas as funções desempenhadas” (Nabais, 1989 b:101-
105).

É também sublinhado que “a educação dos profissionais de museologia“ deveria


essencialmente assumir um carácter multi e interdisciplinar, desenvolvendo no estudante um
vasto grupo de aptidões nomeadamente técnicas, humanas e conceptuais. Qualquer curso de
formação em museologia deve ser fortemente experimental e estabelecer um contacto

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permanente com as realidades e práticas museológicas contemporâneas” (Nabais, 1989
b:105). Os cursos de pós-graduação e de mestrado em museologia são compreendidos como
vias preferidas de acesso à profissão de conservador-museólogo ainda que a formação
contínua em exercício seja apresentada como essencial no desenvolvimento da carreira. A
defesa de um corpus específico de conhecimentos, de um título profissional e de um campo
de actividades correspondentes são também aqui ideias desenvolvidas, constituindo um
importante elemento para o reforço e institucionalização da profissão.

Em relação aos conteúdos funcionais da profissão, as tarefas a executar cobrem todo o


campo museológico: os profissionais devem conceber e planear os serviços do Museu e os
seus sistemas de informação; investigar, seleccionar, classificar e organizar colecções;
desenvolver e adaptar diversas técnicas de manuseamento de acordo com as necessidades
dos utilizadores; definir procedimentos de conservação, recuperação e restauro das
colecções; apoiar e orientar utilizadores desses serviços; promover acções de comunicação a
vários níveis com os objectivos de promover a acessibilidade das colecções; coordenar e
supervisionar os recursos humanos e materiais necessários para o desenvolvimento das
actividades; conduzir avaliação (Pereira, 1998 b:246).

Ainda que as actividades educacionais sejam constantemente apresentadas como uma das
principais funções de museus podemos detectar, porém, uma frustração palpável daqueles
que trabalham directamente no campo e que provem da “inexistência de um reconhecimento
formal de uma carreira específica nesta área”. Entre outros os atributos relacionados com a
personalidade são apresentados como essenciais para trabalhar nesta área: facilidade de
comunicação, sociabilidade e capacidade de improviso (Costa, 1998:259). De qualquer
forma, um curso de pós-graduação em museologia é também visto como a via preferida de
acesso para a profissão de educador-museólogo (Costa, 1998:259).

Em relação aos problemas que afectam os museus e a profissão as críticas abundam nestes
textos ainda que não variem muito. Usualmente concentram-se na falta de recursos
financeiros e humanos, na falta de uma clara política museológica para o sector e na falta de
incentivos institucionais para os profissionais.

Adjectivos como caótico, desorganizado, imóvel ou abandonado são por exemplo utilizados
num grupo de textos produzidos em 1975 (ex. Porfírio e tal 1975: 84), que não são muito
diferentes dos utilizados em textos mais recentes. Podemos também sentir um
descontentamento no grupo no que diz respeito à formação e treino bem como ao seu
desenvolvimento da carreira. O Estado porém apenas assumiu um papel de regulação

14
indirecta através da criação de estudos pós-graduados e de forma mais directa através do
Dec. Lei de 15 de Fevereiro de 2001. A análise do sistema de educação e dos curricula
disponíveis poderá ser também um campo rico do estudo para demonstrar a
interdependência desta regulação indirecta com as estratégias de profissionalização. O
sector privado tem também intervindo neste sector com o desenvolvimento de diferentes
cursos. Estes cursos têm também apoiado estas estratégias, tornando-se locais privilegiados
de aprendizagem do comportamento do grupo, definindo o campo de conhecimento,
metodologias e valores ao mesmo tempo que servem como vias de integração na profissão.

5. Estrutura e estratégia retórica. Práticas de ‘contar’ em museologia – expor


competência e situar a diferença.

Em termos da sua estrutura retórica, estes textos não são particularmente complexos;
muitos, senão a maior parte, apresentam descrições ou narrativas com pouca discussão ou
apenas uma discussão muito breve e raramente argumentativa. Acima de tudo, à maior parte
dos textos falta-lhes um dos indicadores mais importantes de acumulação dos textos
científicos como por exemplo pode ser considerada a intertextualidade aberta na forma de
referências a textos anteriores sobre os mesmos assuntos. Com algumas excepções, as
observações raramente são colocadas num contexto teórico mais amplo. Normalmente,
descrevem casos individuais de que retiram, algumas generalizações indutivas.

Uma das preocupações centrais destes textos é proporcionar descrições de situações no


sector museológico que requerem intervenção, determinando razões, análises e planos. Ao
fazê-lo, estas descrições justificam e reproduzem a razão de ser da profissão. Estes textos
são tipicamente pragmáticos, ancorando-se no trabalho desenvolvido mas com pouca, se
alguma, base teórica. Não quer dizer que não existem alguns exemplos de textos científicos
modernos que se iniciam com uma declaração de conhecimentos partilhados, descrevem os
resultados do autor e discutem a seu significado (finalizando com algumas sugestões para
posterior investigação). De facto Coutinho Gouveia (1998b: 17) já tinha apontado que estas
comunicações raramente eram apoiadas por um trabalho de investigação consistente e
alargado, indicando uma clara e significante deficiência do panorama museológico
português.

15
A análise dos textos revelou que a narração destas histórias é então uma característica
intrínseca do discurso dos textos analisados e o que realmente faz é levar-nos a pensar que é
exactamente através destas práticas de contar que o trabalho museológico é criado e se
pode tornar consequente. De certa forma o trabalho em museus apresentado por estes
textos, envolve um discurso defensivo em que as histórias sugerem mudanças potenciais.

Assim, a negociação das intervenções destes profissionais implica necessariamente a


exposição de competência profissional que depende da justificação destas histórias. O
trabalho em museus, neste sentido, é então uma aptidão invisível que implica a exposição de
competência através de uma forma adequada de contar. Estas histórias estão também
ligadas a cada membro, fazendo com que a sua competência – como membro do grupo – seja
visível. Esta exibição de pertença ao grupo de membership pode ser também compreendida
não só como uma transmissão de informação mas também como uma moção para se tornar
um membro efectivo do grupo.

Estas narrativas constroem o discurso profissional e estabelecem e re-estabelecem


legitimidade e controle profissional (Hall; Sarangi e Slembrouck, 1997). Desta forma, e
através da narrativa, da demonstração de competência, estes discursos funcionam como
instrumentos legitimadores da profissão. Giddens (1991) também sublinha o papel da
narrativa na construção e manutenção da identidade do self / do grupo. Ao contarmos
histórias acerca de nós mesmos, do grupo, tentamos compreender o que fazemos,
produzimos reflexivamente um sentido mais ou menos coerente do self / de nós mesmos.

Uma outra forma de abordar a estratégia retórica dos textos é explorar a estrutura de
oposições e diferenças que os caracterizam. Ao procurarmos os grupos de oposições ao longo
dos textos, como um instrumento analítico, e a um nível muito simples (o da repetição de
grupos-chave de oposições), foi revelada uma consistência muito clara. De facto, o discurso
que emerge destes textos está basicamente organizado à volta de grupos binários de
oposições. Ao nível local das relações semânticas, podemos concluir que os autores utilizam
normalmente estratégias específicas como o positivo e o negativo. Esta abordagem, este
ensemble, significa não tanto através de similitudes mas mais através de uma série de
oposições que estão inscritas no capital simbólico do grupo. Como foi vivamente apontado
por Bourdieu (1997:96), estes grupos podem ser comparados às categorias sociais objectivas
(estruturas estruturantes) que constituem a base do museu, da ideologia profissional, como
uma categoria social subjectiva (estrutura estruturada); categoria mental que é a origem de
centenas de representações e práticas que contribuem para a (re)produção de categorias

16
sociais objectivas. E é exactamente este acordo, quase-que-perfeito, que é estabelecido
entre as categorias objectivas e subjectivas que estabelece uma experiência do mundo como
evidente.

Nada parece mais natural que essas verdades: essas construções sociais arbitrárias parecem
situar-se lado a lado, com o natural e o universal. Bourdieu chama a atenção para o facto, de
que se estas categorias aparecem como naturais, como exemplares, é porque elas
trabalham, funcionam no habitus como esquemas de classificação e como princípios de
construção do mundo social, do imaginário profissional museológico, da poética profissional
museológica, e, esta competência, é adquirida precisamente no interior do grupo como uma
ficção social. Estes elementos simbólicos são, efectivamente, ficções, artefactos sociais –
uma ilusão no sentido mais corrente do termo. A illusio a que se refere Bourdieu (1997:107)
é exactamente esta relação encantada que é o produto de uma relação de cumplicidade
ontológica entra as estruturas mentais e objectivas no espaço social.

Estas listas de oposições podem ilustrar o que queremos dizer aqui. Ainda que simplificadas
no esquema binário da oposição, estas antinomias reflexivas marcam o horizonte do que
pode ser dito. No entanto, o objectivo deste exercício não foi o de fixar significados em
oposição permanente mas sim descobrir um padrão, os termos do qual podem ser baralhados
para produzir um sentido diferente. É este baralhar dos valores ideológicos e culturais
através dos termos de oposições que nos permite localizar os processos de lutas sobre os
significados. O que define um bom profissional, por exemplo, é a sua localização numa
relação particular com outros elementos – uma relação que gera significados simbólicos
diferentes e verdadeiros sistemas simbólicos. Mais importante é que este poder simbólico é
efectivamente o poder invisível que pode apenas ser exercido com a cumplicidade daqueles
que não querem saber que lhe estão sujeitos, ou, ao contrário, aqueles que o exercem
(Bourdieu, 1989: 7-8). Podemos mesmo dizer, que o poder está inscrito nestes códigos
culturais. Mais ainda, estes significados simbólicos actuam como instrumentos de integração
social: como instrumentos de conhecimento e comunicação constroem consenso em relação
ao mundo social possível que, fundamentalmente, contribui para a reprodução da ordem
social. Aliás esta integração lógica, é a condição de integração moral (Bourdieu, 1989: 8). É
como instrumentos de comunicação e conhecimentos estruturados e estruturantes que os
sistemas simbólicos cumprem a sua função política de instrumentos de legitimação que
contribuem para assegurar o domínio de um segmento do grupo sobre outro (violência
simbólica) (Bourdieu, 1989:11). Parece assim que o significado da construção da identidade
só se realiza em relação a qualquer outra coisa. Neste contexto e nestas condições todas as

17
identidades são fracturadas. No entanto, também podemos concluir que não existem
identidades essenciais na profissão museológica: tudo é potencialmente fluído e
transformável em qualquer outra coisa.

No primeiro Bloco (fig. 1) encontramos persistentemente uma oposição poderosa entre o


“velho” e o “novo” museu e o “velho” e o “novo” conservador, polarizado nos seus opostos.
Para além disso, encontramos ricas distinções reunidas à volta de parte do par, permitindo
uma leitura diagonal que dá uma maior consistência aos textos como um todo. A definição de
conceitos, valores, e atitudes é conseguida através da negação de qualidades negativas em
oposição às características positivas do grupo. Estas oposições culturais proliferam através
dos textos a partir da perspectiva dos autores que associam o “velho” museu / conservador a
qualidades inerentemente negativas enquanto, logicamente, se colocam ao lado dos valores
caracterizados como positivos.

Museu velho Museu novo

Indiferente Interventivo, atento ao presente,


provocador, estimulante

Mudo Comunicativo

Deposito, repositório, refugio, Vivo, dinâmico


túmulo, poeirento

Frio, morto Atractivo, agradável, habitável

Erudito Investigação

Cultura geral escola de conhecimento especializada

Não utilizável, sem sentido Utilizável, serviço público, instrumento

Contemplativo Educativo

Lugar de transmissão Lugar de encontro de culturas

Estático Activo

Elite Todos os sectores da população, acessível

Lazer Educação, aprendizagem

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A profissão

Sem amor Amor


Prazer

Desapaixonada Paixão, devoção, apostolado

Arbitrariedade Qualificação, profissionalismo

Erudição local, intuição, Conhecimento, especialização


Espontaneidade, instinto

Indiferença Dinamismo, curiosidade, auto-iniciativa

Fechado Aberto

Auto-sacrifício, altruísmo

Negativo Positivo

Fig. 1 – Pares de oposições, Bloco I

Para além disso, e como seria esperado, estes contrastes não são retoricamente neutros mas
foram desenhados para ilustrar os pontos fortes do self e os pontos fracos do outro. Cada par
torna-se um símbolo partilhado da ideologia / da cultura do grupo e é, consequentemente,
tratado muitas vezes pelos autores como um binário inquestionável no sentido em que são
entendidos como evidentes em que a realidade não pode ser compreendida de outra forma.

Esta estratégia retórica de modelar o discurso à volta de um grupo de oposições funciona não
só para justificar a necessidade de desenvolvimento de uma política clara e reguladora para
o sector mas também, e talvez de forma mais importante, para criar uma visão do que o
museu transformado e profissionalizado pode ser.

Se é verdade que em muitas circunstâncias a autoridade dos profissionais não é aceite sem
discussão também é verdade que o modelo associado ao profissionalismo no imaginário social
é visto como um valor positivo que diferentes grupos lutam para atingir. A profissão é

19
contraposta ao amadorismo, produzindo códigos deontológicos, conceitos e metodologias que
definem a sua actividade, garantindo-lhe autoridade, prestígio e a autonomia a que aspiram.

Todos estes pares são constantemente repetidos nos textos mas o centro da análise aqui
concentra-se menos no número de repetições e mais na repetição dos conceitos através do
discurso. Esta repetição, como a compreendemos, também serve funções informativas e
interactivas de disseminação de conceitos (e dos valores e atitudes que incorporam) e
apoiam as funções interactivas de estabelecer solidariedade entre os participantes. Estes
conceitos, muitas vezes numa forma repetitiva, mais enfática, são utilizados frequentemente
ao longo destes textos numa variedade de sequências do discurso e a sua repetição regular
funciona para alicerçar os temas do grupo, criando o que poderíamos apelidar de
constelações mitológicas que organizam as ideologias, as atitudes culturais do grupo.

Este aspecto simbólico das fronteiras da comunidade discursiva, este sentimento de


pertença, as experiências comuns sedimentadas e as formas culturais associadas ao grupo é
crucial para o conceito de poética profissional. No entanto, este conceito é relacional. A
definição de fronteira à volta de um espaço particular é um acto relacional que depende de
configuração de outras formas de ser significantes em relação às quais o grupo se procura
situar. Daí que as imagens de nós e do eles (Featherstone, 1993) que são geradas nas lutas
locais para formar uma identidade e excluir forasteiros não possa ser desligada da densidade
da rede de interdependências entre os membros. Estas lutas entre os campos estabelecidos e
o que lhe é exterior tornam-se pois mais comuns com a abertura dos museus e com os novos
papéis que são chamados a desempenhar no mundo contemporâneo.

Por outro lado, esta estratégia também serve outros fins mais relacionados com a esfera
política e pública em geral. Enquanto apresentam os problemas que afectam os museus e a
profissão museológica detalhadamente – na verdade muitas vezes estas narrativas são
verdadeiras histórias de queixas que funcionam como argumentos – também sublinham
fortemente e de uma forma algo abstracta, as qualidades inerentes a um museu. Esta
aparente contradição é um aspecto importante da função do que estas peças do discurso
museológico desempenham na realidade. Isto é, reúnem determinado discurso, por exemplo
um discurso de privação com o de desenvolvimento como é claro no segundo Bloco e com
vista ao apoio público e financeiro é necessário demonstrar que o investimento público é
essencial nestas áreas mas também é necessário garantir que não será um investimento
perdido e que terá efeitos benéficos reais em termos de desenvolvimento. O par “poder
central – poder local” com os pares que lhe estão associados desenham um padrão muito

20
forte ao longo dos textos no segundo Bloco. Alguns dos pressupostos construídos por estes
binários – ou uma combinação deles – sublinham a crescente afirmação dos Municípios
associada às qualidades positivas dos pares.

Pares de oposições binárias

Museu / neoliberalismo Intervenção social


(não tem consciência social) (consciência social – preocupado com as
pessoas)

Poder Central Poder Local

Museografia de coisas Museografia de ideias e de ideais

Preservação Revalorização e animação económica e social

Cristalização Investimento credível

Crescimento económico Ecomuseu – desenvolvimento integrado e


Sustentado do território

Museologia de gabinete Nova museologia

Imobilismo Dinamismo

Armazém Serviço

Thanatos Eros

Crescimento económico Ecomuseu – desenvolvimento sustentado e


integrado do território

Território –
população
– identidade

Racional

Contenção urbanística e industrial

Democratização – social, económica e cultural


Promoção das populações;

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– posse e fruição alargada
do património;
– agente;
– participação efectiva;
– população;
– comunidade;

Inter, multi, trandisciplinaridade – trabalho de


equipa
(investigação, educação, lazer, turismo)

Respeito

Intervenção

Imobilismo Dinamismo
Isolamento

Cooperação

Utilidade

Abertura

Construtivo

Regulação / ordenamento

Serviço

Rentabilização

Reabilitação

Promove a discussão / debate

Incentiva

Instrumento – museu

Processo

Parceiro social

Visão humanista – visão humanizada

Solidariedade – cidadania

Descentralização – Poder Local

Visão global
(problemas, necessidades e potencialidades)

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Política
Poder Central Poder Local

Imobilismo Dinamismo

Desastre Democracia – acesso generalizado à cultura

Não investe Intervenção

Investigação

Criatividade

Integrado

Multidisciplinar

Transdisciplinar

Trabalho de equipa

Museologia de gabinete Nova museologia

Armazém Desenvolvimento

Missão social

Serviço

Espaço pedagógico

Thanatos Eros

Museu novo

Complexidade

Conservação

Comunicação

Partilha

Fig. 2 – Pares de oposições, Bloco II

23
Não podemos esquecer que as transformações que a sociedade portuguesa conheceu durante
as últimas décadas criaram as condições para os Municípios readquirirem a importância
perdida e a possibilidade de se tornarem “espaços de liberdade e participação” associados à
crescente democratização do país (Fernandes, 1993: 35). Por outro lado, este processo pode
expor as próprias fragilidades da dicotomia poder central / local e tornar-se assim um local
de resistência / de luta através do qual o outro é constituído / e se constitui como poder
central enquanto que o poder local abandona agora a periferia para ocupar uma posição
central, actuando como contra / ou poder alternativo e defendendo o seu próprio espaço de
liberdade e de acção.

Estas lutas internas do grupo são arbitradas pelo mundo exterior no sentido em que o seu
resultado depende, em grande parte, da relação que conseguem manter com ele e do apoio
externo conseguido. O que quer dizer, por exemplo, que as transformações decisivas em
termos de poder e a consequente reorganização hierárquica interna que afecta toda a
estrutura do grupo, só podem ser possíveis pela correspondência entre as transformações
internas e externas, dando aos novos protagonistas a oportunidade para ocuparem no espaço
social do grupo posições que correspondem à sua idêntica posição no campo e, portanto,
apresentam disposições idênticas (neste caso dos Municípios). De facto, os elementos
heréticos do grupo que recusam entrar o ciclo de reprodução simples que se baseia no mútuo
reconhecimento dos velhos e novos elementos, afastam-se das normas de produção em
operação e podem apenas impor o reconhecimento das suas ideias em favor de
transformações externas. Destas transformações as mais importantes são sem dúvida as
rupturas políticas que modificam a relação de força / de poder no interior do campo ou o
aparecimento de novas categorias de profissionais (e consumidores) que possam garantir o
sucesso de novos projectos (cf. Bourdieu, 1992: 289-290).

Este envolvimento em direcção a uma “consciência social” e “desenvolvimento”, por


exemplo, torna-se aqui a base de um modo alternativo de ordenar as representações que
tem o efeito de contraste em relação às representações dominantes. O museu interventivo
rejeita o reino da neutralidade e da ambivalência social, por exemplo. Por outro lado, a
natureza heterogénea da “experiência do museu local” é mais abrangente em termos de
diferença e de “Otherness” e as suas fronteiras são pois mais difíceis de policiar, de vigiar,
permitindo diversas leituras bem como o desenvolvimento de uma multivocalidade. Não
podemos esquecer que estamos também a falar de uma revalorização das culturas locais com
uma ênfase especial nas noções de pluralidade e multivocalidade e que este facto é
espelhado na experiência museológica local (e nas práticas dos seus profissionais).

24
A mudança em direcção a experiências que promovem a trandisciplinaridade, por exemplo,
tentam destruir de certa forma os poderes disciplinadores do museu clássico e do modelo
profissional que lhes está associado. Abre também formas de resistência ao modelo de
ordenar representado por este tipo de museu, nomeadamente empregando novos tipos de
profissionais. Mais do que uma mera forma de resistência tem que ser compreendido como
um modelo, uma poética alternativa apresentada pelo próprio grupo.

Não podemos falar de diferenças profundas em termos de capital simbólico entre os dois
Blocos analisados o que implicaria uma revolução mais ou menos radical nas categorias de
conhecimento e percepção do campo. Este não é certamente o caso. De facto as estruturas
simbólicas e as estruturas de distribuição do capital simbólico são bastante estáveis em
ambos os Blocos. No entanto, esta estabilidade pode ser frágil – o fluxo que é a
multipolaridade de classificação pode fornecer o potencial para hibidrizações e para
realinhamentos entre os diferentes segmentos do grupo, transformando as regras de
classificação e admitindo novas construções, novos artefactos ao cânon.

De qualquer forma e ainda que ambos os Blocos apresentem a política museológica como
tema principal, reconhecendo a necessidade de regulação o sector através do
desenvolvimento e implementação de redes coerentes, cursos de formação e legislação
adequada, podemos detectar algumas diferenças entre eles. Enquanto o primeiro Bloco se
concentra essencialmente no grupo ele mesmo, na sua definição, actividades e
características, o Bloco II parece estar mais interessado em definir o seu papel em relação à
sociedade em geral.

Neste exercício de criatividade e contextualização de problemas, como estes textos podem


ser compreendidos, o discurso museológico apoia-se também nos recursos de outros
discursos, associados a outras práticas sociais. Este processo ocorre mais frequentemente
quando, como sugere Foucault (1984:134), existe uma correlação funcional ao longo dos
discursos que logicamente sugere o valor de incorporar elementos linguísticos de vários tipos,
de um tipo de texto para outro ou de um tipo de discurso socialmente situado para outro. Os
discursos são internamente variáveis pela incorporação destes elementos intertextuais e
interdiscursivos.

Neste sentido, estes textos contêm neles evidências de histórias de outros textos. Conceitos-
pivot como os de democracia, revolução, investimento, desenvolvimento, por exemplo,

25
emergem no discurso e podem eles mesmos ser entendidos como evidência de mudança
social e institucional. Ainda que ambos os Blocos apresentem estas características o Bloco II
parece ser mais permeável a estes elementos. A natureza destes elementos intertextuais e
interdiscursivos é principalmente económica, sociológica e geográfica incorporando
estratégias de outras áreas e discursos profissionais, adaptando-os aos requisitos do grupo.

Em conclusão, partimos do princípio que é através das práticas discursivas que o profissional
de museologia é criado e que as mudanças nessas práticas são parte essencial do seu
desenvolvimento. Estas mudanças reflectem mudanças no papel societal desempenhado por
estes profissionais em relação ao grupo e à sociedade em geral. Para além disso desempenha
um papel na formação de uma realidade e identidade cognitiva, societal e social,
desempenhando papéis importantes na construção da ideologia / da cultura de grupo, da sua
poética enquanto tenta criar um espaço para o seu ‘campo’ na sociedade (Gunnarsson, 1997:
99). O princípio de controlo sobre a produção do discurso foi também aqui reconhecido. Ao
mesmo tempo que fixa limites e vigia as suas fronteiras permite apenas a inclusão de certos
discursos como parte de um processo para manter a sua própria identidade e status.

Em segundo lugar, um discurso da necessidade de profissionalizar o sector é também


expresso nestes textos. O profissionalismo é compreendido como o nível de especialização
(conhecimento, competências e disposições mobilizadas pelo indivíduo no exercício do
trabalho) permitindo uma alta qualidade do seu trabalho bem como a adesão a normas
colectivas reconhecidas pelo sector museológico em Portugal.

Em terceiro lugar, a centralidade da auto-referência parece frutuosa ao mesmo tempo que a


dialéctica entre as oposições logocêntricas ganhou contornos diferentes em cada Bloco.
Ainda que o primeiro Bloco se preocupe com assuntos que questionam o papel das
instituições em relação à sociedade fá-lo principalmente em relação à definição do sujeito
imaginado e é pois mais centrado no grupo, os aspectos societais assumindo, assim, um lugar
central no discurso. Ainda que estes assuntos específicos da identidade sejam igualmente
relevantes no segundo Bloco, o seu discurso tende a centrar-se mais na sua relação com a
sociedade e, especificamente, em relação ao poder central. Os aspectos sociais são pois uma
característica essencial deste grupo. A narrativa de histórias-caso é um instrumento
estratégico preferido de persuasão utilizado pelo grupo, produzindo e legitimando o discurso
através da demonstração de competência enquanto produz um campo aparentemente
neutro, científico e apolítico (relacionado aqui com profissionalismo a com as suas
qualidades inerentes). Finalmente, a análise destes textos indica que o grupo partilha

26
tendências contemporâneas para se questionar e de-fetishizar a sua esfera de acção em
permanente tensão, no entanto, com a lógica da comunicação versus a lógica de
preservação.

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