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Sexta-Feira, 3 de Abril de 2009 Director: Paulo Gaião

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acontecimento
Mito e arte em Santa Mónica de Goa
automóvel 2009-04-03 01:49
cultura

desporto
Teotónio R de Souza reconta a história do Mosteiro de Santa
Mónica e chama a atenção para as suas riquezas artísticas
economia

internacional Teotónio R de Souza reconta a história do Mosteiro de Santa Mónica e


opinião chama a atenção para as suas riquezas artísticas
política
O Professor Vítor Serrão, um distinto historiador português de arte,
sociedade proferiu uma palestra na passada segunda-feira, dia 23 de Março, em
edição impressa
Lisboa, na Academia de Belas Artes, relatando as suas descobertas
durante a sua primeira visita de investigação a Goa há um par de anos.
Pesquisa Ele fora convidado a participar num seminário para assinalar o quinto
ok centenário do nascimento de S. Francisco Xavier. Rentabilizou a visita
em sociedade
de investigação para visitar dois locais históricos que mais lhe
interessavam - nomeadamente - o Mosteiro de Santa Mónica
em Semanário.pt
(actualmente Instituto Mater Dei) e o Arquivo Histórico de Goa. Voltou
sondagem encantado com o que viu e encontrou. Tive o privilégio de dar alguns
José Sócrates poderá ser conselhos académicos e também amigáveis antes que ele partisse para
afectado politicamente
pelo Caso Freeport? Goa. Os meus conselhos tiveram por base a experiência adquirida em
Sim ambas as instituições. Tive o raro privilégio de ser professor visitante
de História da Igreja no Instituto Mater Dei, durante 15 anos até que
Não
deixei Goa. Eram cursos residenciais com uma semana de duração nas
Talvez instalações do mosteiro. Tive a rara oportunidade de apreciar a riqueza
Votar histórica da instituição, incluindo os seus tesouros arquitectónicos e
artísticos, além dos encantos da cozinha tradicional conventual. Estas
visitas permitiram-me verificar as minhas leituras acerca da história
fascinante deste convento agostiniano: desde os motivos da sua
fundação, passando pelos relatos sugestivos de esqueletos de crianças
no alegado túnel que ligava os mosteiros dos monges e das freiras, até
à escandalosa rebelião de 62 freiras que deixaram o claustro durante
alguns dias em protesto contra o comportamento de arcebispo Ignacio
de Santa Theresa em 1721-23. O protesto das freiras motivou a
mediação dos jesuítas e eu tive oportunidade de ler um relatório
detalhado do jesuíta Padre Francisco Maria del Rosso sobre alguns
desses alegados escândalos. Este relatório inédito encontra-se no
arquivo da Cúria dos jesuítas em Roma. Mais recentemente, em
meados do século XIX, Richard Burton, que passou três horas com as
freiras de Santa Mónica, tentando em vão entrar nos claustros, deu
largas à sua frustração pintando com o mesmo pincel as bailadeiras de
Shiroda e freiras do convento de Santa Mónica, no seu típico estilo
malicioso e provocador. O convento foi criado no dealbar do século
XVII, quando as fortunas de Portugal imperial entraram em declínio, e
os Portugueses eram confrontados pelos ingleses e pelos holandeses,
que também provocavam os reis locais a ganhar coragem para resistir
mais eficazmente. A dificuldade de se encontrar maridos para as filhas
solteiras foi agravada por esse declínio das fortunas do império. A
longo prazo os colonos portugueses, conhecidos como casados, tinham
as suas dificuldades agravadas pelas meninas órfãs que o rei de
Portugal enviava com regularidade para as possessões asiáticas com
instruções para as autoridades locais encontrarem parceiros para elas.
Portugal resolvia o seu problema em casa, mas foi acrescentando
desgraças aos colonos. Foi neste contexto sócio-económico que o
Senado de Goa apresentou ao rei o projecto do convento de Santa
Mónica. O município justificava o pedido "para permitir que as filhas
dos pobres e respeitáveis colonos portugueses que ficaram sem meios
para oferecer dotes decentes às suas filhas, poderem louvar a Deus
através da vida consagrada a virgindade e perfeição evangélica". O
arcebispo agostiniano D. Aleixo de Meneses, da triste fama do Sínodo
dos Diamper, estava particularmente interessado no projecto do
convento e duas outras casas de acolhimento para meninas órfãs e

http://www.semanario.pt/noticia.php?ID=4724 03-04-2009
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"arrependidas". Ele teve a oportunidade de por em execução o projecto


em 1606, quando foi chamado a funcionar como governador interino.
Mesmo quando deixou Goa em 1610, o projecto seguiu em frente e foi
completado pelo Frei Diogo de Santa Ana, desafiando a hostilidade dos
vereadores que ressentiam a entrada de viúvas ricas no convento,
deixando um crescente número de solteiros elegíveis sem esposas com
recursos. Obrigaram as freiras em 1634 a assinar uma escritura
obrigando-as a restringir o número de freiras para cem, e não
acrescentar os bens imobiliários com rendas que excedessem 8000
cruzados. Cada noviça poderia trazer até mil pardaus em dinheiro ou
outros valores. O vice-rei Conde de Linhares apoiou o Senado, mas o
arcebispo da Ordem agostiniana e protector das freiras recusou-se a
assinar o acordo ditado pelo município. Conforme relatado no diário
publicado do vice-rei Conde de Linhares, Frei Diogo de Santa Ana era o
mentor por trás da resistência das monjas. Ele redigiu uma Apologia
que enviou ao rei denunciado e refutando as acusações e as
pretensões do Senado. O Prof. Vítor Serrão e a sua assistente
pesquisadora Maria Adelina Amorim encontraram mais de um exemplar
da Apologia nos arquivos de Lisboa, e consideraram o texto a melhor
fonte para documentar a arquitectura e os tesouros artísticos deste
mosteiro, incluindo o famoso ostensório Pelicano, agora no Museu de
Arte Sacra de Goa. Talvez a mais importante descoberta do Doutor
Vítor Serrão é a identificação de Aleixo Godinho e João Peres como dois
pintores que trabalharam para os Agostinianos em Goa durante 1606-
1639. Até agora acreditava-se que Manuel Godinho Herédia referido
por Diogo do Couto seria um deles. Temos de aguardar mais
confirmação, que poderá vir dos arquivos de Goa ou outros. Quando
consultei no arquivo de Goa as contas do convento de Graça e de
Populo para o século XVII encontrei referência a um carpinteiro hindu a
quem se pagaram 9 xerafins para produzir um retábulo da sacristia, e
530 xerafins para pintar e ornar um retábulo de Santa. Ana (Julho de
1614). Existem várias outras entradas, mas sem nomes de artistas.
São referidos muitas vezes por designação profissional de chatim, ou
ourives. Frei Diogo de Santa Ana foi o grande planeador e executor do
projecto do mosteiro Santa Mónica. Era uma pessoa muito dinâmica e
empreendedora. Alegou ainda que, como deputado da Inquisição, os
seus superiores religiosos não tinham jurisdição sobre ele para dar
cumprimento às ordens de expulsão emitidas pelo Governador. O
governo recorreu à ameaça de confiscar todas as terras e leiloar os
bens do convento, privando as freiras do seu sustento. Foi neste
contexto que se produziu uma vaga de histeria e um incidente em
1636 que é recordado pelo "crucifixo que chorou" e é hoje venerado na
igreja do mosteiro. O milagre foi divulgado pelo Frei Diogo de Santa
Ana numa publicação em 1640. Parecia ser uma campanha
orquestrada para provocar as emoções públicas contra o Estado e as
autoridades municipais, a fim de proteger as freiras "injustamente"
perseguida. Em sua conferência de 23 de Março, Doutor Vítor Serrão
chamou especial atenção para a Capela da Santíssima Trindade, que
continua a ser utilizada pelas Irmãs no Instituto Mater Dei. Heta Pandit
já tinha referido à essa capela no seu livro recém-publicado In and
Around Old Goa em que incluiu uma pintura da Santíssima Trindade,
com todas as três Pessoas de aparência idêntica, uma verdadeira
tradução da Trimurti hindu. As três pessoas são identificáveis apenas
com símbolos (Sol, ovelha e pomba), representados em discos
dourados que detêm em mãos. A capela pertencia originalmente ao
noviciado do mosteiro. As paredes da capela eram enfeitadas com
pinturas de várias cenas da Sagrada Família com sabor local.
Noutra cena, por exemplo, no tecto do corredor coberto com cenas
bíblicas, vê-se o bezerro cevado substituído por um porco de Goa para
celebrar o regresso do filho pródigo. Vítor Serrão sugere influência
flamenga nas pinturas, desde Johannes Sadeler a Adriaen Collaert, e
desde Cornelis Cort aos irmãos Wierix. Embora muitos destes frescos
aguardem recuperação, a galeria de 48 frescos no tecto do refeitório
do convento tiveram mais sorte. A recuperação ficou incompleta
quando acabou o curso de um mês de duração organizado pela Escola
de Restauro de Lucknow! Talvez as fundações e os investigadores
portugueses pudessem aceitar o desafio lançado pelo Prof. Vítor
Serrão, de se preocupar mais pela dignificação do rico património
artístico português em Goa.

Por Teotónio R. de Souza

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