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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

"A Deus Nada é Impossi'vel!" {Le 1.37)

A Autenticidade do Sudario de Turim .

Karl Marx: Sim ou Nao?


UJ
O Existencia de Deus e Ciencia Contemporánea

«o Animismo e Religiosidade Primitiva


UJ
D O "Reino dé Deus" em Cuba?
a
A Albania se Abrirá?

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UJ

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■ -i v
ANO XXX MARQO 1989
RGUNTE E RESPONDEREMOS MARpO - 1989
Publicado rnensal N? 322

)irator-Responsável: SUMARIO :-
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia "A Deus nada é Impossível" (Le 1,37). . 97
publicada neste periódico
Ainda em questao:
A Autenticidade do Sudario de Turim... 98 ,
)iretor- Administrador:
D. Hildebrando P. Martins OSB Tese e antítese:
Karl Marx: Sim ou Nao? 104

Vdministraeáb e distribuicao: Um diálogo necessário:


Edicoes Lumen Christi Existencia de Deus e Ciencia
Dom Gerardo, 40 - 5? andar, S/501 contemporánea 118
Tel.: (021) 291-7122
As Grandes Religioes da Humanidade:
Caixa Postal 2666
Animismo e Religiosidade Primitiva ... 128 .
20001 - Rio de Janeiro - RJ
A Revolucao terá instituido
O "Reino de Deus" em Cuba? 138

Os jornalistas perguntam:
I -MAKQUES-SA1UIVA"
A Albania se Abrirá? 143
ontFcos f nnofttt *.*

ir>-*4*t -no kmmm i

NO PRÓXIMO NÚMERO:

323-Abril- 1989

"Antes que os demonios voltem" (Osear Quevedo S.J.). — "Do Santo Oficio
á LibertacSo" (Oliveira Soares). - "Fui espiao!" (Francesco Scalzotto). - A
Senhora Televisao. - As "Igrejas Eletrónicas".

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

5SINATURA ANUAL: NCzS 10,00


Pagamento (áeSCOlha).

1. VALE POSTAL á Agencia Central dos Correios do Rio de Janeiro.

2. CHEQUE BANCÁRIO

3. No Banco do Brasil, para crédito na Conta Corrente n? 0031, 304-1 em


nome do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, págável na Agencia da
Praca Mauá (n? 0435).
"A Deus nada é lmpossível!"<Lci,37,
Em meio as dificuldades da vida presente, precisamos de ouvir repeti
damente as palavras do anjo Gabriel a Maria por ocasiao do anuncio da En-
carnacío do Verbo: "A Deus nada é impossfvel!" {Le 1,37).

A Escritura compraz-se em incutir tal verdade. É o próprio Senhor


quem diz através do Profeta Jeremías: "Eis que sou o Senhor, o Deus de
toda carne; haverá para mim algo de impossível?" (Jr 32, 27). Especialmen
te quando refere a historia de AbraSo, o texto sagrado lembra o absoluto
poder de Deus. Assim, por exemplo, ao prometer um filho a Abraao é Sara,
andaos esteréis, o Senhor enfrentou o riso cético de Sara e replicou: "Acaso
existe algum portento superior ao poder de Javé?... No próximo ano Sara te-
rá um filho" (Gn 18,9-14). Esse filho, Deus, querendo provar Abraao, pediu-
I he que o entregasse á morte; o Patriarca, já doutrinado pelos feitos anterio
res, disp6s-se a ¡molar Isaac..., "pensando consigo mesmo: Deus é capaz de
ressuscitar os mortos. Por isto recuperou seu filho como símbolo" da vitória
que Deus daria aos homens sobre a própria morte (cf. Hb 11,19). Sao Paulo
aos Romanos escreve aínda: "Abraao acreditou em Deus, que faz viver os
mortos e chama a existencia as coisas que nao existem" (Rm 4,17).

0 episodio de Isaac, salvo da morte que o ameagava, nao foi senáo o


prenuncio da plena vitória de Cristo sobre a morte, obtida na man ha de Pás-
coa. A morte é o adversario inexorável que os homens por si nao t§m, nem
terao, possibilidade de debelar. 0 Senhor, porém, a venceu e promete a to
dos os fiéis o triunfo sobre a mesma.

"A Deus nada é impossível!" Esta mensagem significa que as aspira-


coes fundamentáis do coracao humano, por mais ousadas que parecam, te-
rao seu cumprimento: ao homem se rao dadas a Vida, a Verdade, o Amor, a
Felicidade plenas. "Aquele que nao poupou o próprio Filho, mas O entre-
gou por todos nos, como nao nos terá dado tudo com Ele?" (Rm 8,32).

A mesma mensagem despena também em todos os cristaos a confian-


ca de pedir ao Senhor queira resolver os casos "impossfveis" e as situacoes
desesperadas, que freqüentemente os acometem neste mundo. Ele tem o po
der de fazer do Nao endurecido um Sim alegre, da morte a vida, da doenca a
saúde, do desánimo o soerguimento, do emaranhado confuso urna conjuntu
ra simples é" clara. "Até agora nada pedistes em meu nome. Pedi e recebereis
para que a vossa alegría seja completa" (Jo 16,24).

Em poucas palavras, é isto que a celebracao de Páscoa nos transmite


neste mes de margo de 1989.
PUC RS. EB
BIBLIOTECA
97 CENTRAL
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS'
Ano XXX - N? 322 - Marco de 1989

Ainda em questao

A Autenticidade
do Sudario de Turim

Em síntese: Os testes di Carbono 14 realizados sobre o Sudario de


Turim sugeriram a nao autenticidade dessa peca. Todavía varios dentistas
comentam o fato, mostrando quio relativos sao os resultados dos exames
assim efetuados; as amostras extraídas da Mortalha nio parecem ter sido
aptas a fornecer conclusoes fidedignas. Ademáis é de notar que o teste do
Carbono 14 ven: a ser um ao lado de varios outros (exame fotográfico, exa-
me do tecido, descoberta de marcas de leptos ou de moedas do tem'po de
Pondo Pilatos.,.), que convergem em favor da antigüidade e autenticidade
da Mortalha. Se o teste do Carbono 14 diverge de tais testemunhos, póde
se admitir (e de fato se admite com fundamento) tenha havido alguma fa-
Iha na aplicacSo de tal método. Recomenda, pois, o bom senso científico
que se aguardem os resultados de ulteriores investigacdes, que ainda serao
feitas sobre a venerável peca. É certo, porém, que a fé católica nao está li
gada á autenticidade do S. Sudario.

* * *

Em PR 320/1989, pp. 34-42 já fo¡ abordada a questao do Sudario de


Turim submetido ao teste do Carbono 14 em tres Laboratorios de boa fa
ma; conforme o respectivo laudo, trata-se de peca medieval (sáculos XII1/
XIV). Ora os resultados de tais experiencias nao sá"o definitivos, como tém
observado dentistas de valor; a ciencia há de ser sempre cautelosa em suas
investigacoes, evitando conclusoes precipitadas.

A Igreja nao é preconcebidamente a favor da autenticidade do Suda


rio, pois a fé na ressurreicao de Cristo ná"o depende de tal documento; a Pa-

98
O SUDARIO DE TURIM

lavra de Deus oral e escrita, corroborada pela historia do Cristianismo, é sóli


do fundamento para a fé. Todavía em vista, da objetividade' da vérdade, pu
blicamos, a seguir, em traducao portuguesa, os depoimentos de alguns den
tistas, que apresentam sabias ponderales sobre o teste do Carbono 14.1

1. Tecido "rejuvenescido"?

Escreve o Dr. Jean Aulagnier, engenheiro:

"1. A imprensa relatou com prazer o embarapo da Igreja diante das


análises concordantes de tres Laboratorios (Zurich, Oxford e Tucfon nos
Estados Unidos), concluindo ser da Idade Media a reliquia de Turim.

Por certo, o trabalho desses Laboratorios é serio, é norir.al que te-


nham concordado entre si, pois o que eles analisaram foi a relacao existente
lioje entre a quantidade de Carbono 14 (radioativo) e a do Carbono 12 (nor
mal), contidos no mesmo tecido.

Todavía os Laboratorios ná*o mencionaran! que outras causas, além do


envelhecimento, podem ter influido sobre os resultados das análises.

A propósito convém tenhamos em conta as conclusó*es de um Colo


quio Internacional, realizado entre dentistas (físicos, bioquímicos, paleon-
tólcgos) sobre os métodos de datacao em Tautavel no ano de 1981. As con-
clusoes dos participantes alertam principalmente para interpretacoes precipi
tadas no tocante á datacao a partir de isótopos radioativos (entre os quais es
tá o Carbono 14). Recomendam que náb se fale de datacáb em termos abso
lutos, mas, sim, de datacáb ffsica, bioquímica ou biológica, dada a importan
cia das influencias extrínsecas anteriores á análise e aptas a falsificar os resul
tados.

2. Que é, pois, o Carbono 14?

É um núcleo de Carbono que comporta dois neutrónios a mais do que


o Carbono 12 normal e cujo teor em relacáb a este último é constante nos
seres vivos (plantas, animáis ou seres humanos). No momento em que mor-
rem, esse teor comeca a se modificar muito lentamente, na proporcáb de
cerca 0,012% ao ano; 7% em 600 anos; 22% em 200 anos. Mas bem lembra-
ram os participantes do Coloquio de 1981 que outras razoes podem intervir
na evolucáb desse teor, ocasionando falsa interpretacáb referente á idade do

1 Tais depoimentos sao extraídos do jornal L'Homme Nouveau, 4/12/1988,


pp. lOs.

99
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

objeto (tecido, osso, pedaco de madeira, etc.). Por isto, se o objeto a ser da
tado esteva muito tempo em lugar úmido ou corrosivo, pode-se ter produzi-
do uma dissolucáb do ácido carbónico contido sob forma de carbonato no
objeto, diminuindo a quantidade de Carbono 12 e 'rejuvenescendo' artifici
almente o objeto.

No caso do Sudario de Turim, sem excluir formalmente esta hipótese,


é mais provável que outro fator tenha intervindo. Com efeito; náb basta ra
ciocinar do seguinte modo: o teor averiguado foi o de 93'/ do teor de base,
por conseguinte a mortalha tem 600 anos e nao é o lencol de Cristo (como
fizeram os laboratorios). É preciso aínda explicar o que é mais difícil:

1) como a ¡magem (que toca apenas a superficie das moléculas de ce-


lulose do linho, do qual é feito o tecido) pode ser efetuada dentro das condi-
cóes técnicas conhecidas na Idade Media; as características dessa imagem
mostram claramente que náb se trata nem de uma pintura nem de uma rea-
pao química;

2) como as fotografías da mortalha trazem todas as características pró-


prias das fotografías de estrelas, em que a energía necessária á fixacáb de
uma imagem é fornecida pelo próprio objeto (no Sudario, o cadáver) e náb
por uma fonte extrínseca, como no caso das nossas costumeiras fotografías
terrestres;

3) corr.o, enfim, os pesquisadores americanos puderam em 1987 escre-


ver que 'a única explicacao humanamente concebível, para a imagem do teci
do, é que ela foi efetuada no decurso de uma duracáb infinitesimal, por uma
radiacáb desconhecida, oriunda do próprio corpo envolvido na mortalha e
isento de peso'.

Entáb em quem acreditaremos?

Para sairmos desse dilema, convém lembrarmos o principio fundamen


tal da pesquisa científica experimental: para obter um resultado válido, nun
ca o pesquisador se pode basear num único tipo de experiencia, aínda que
realizado sobre varios exemplares, n-.as deve considerar o conjunto de expe
riencias de diversos tipos realizadas sobre o respectivo objeto; se uma dentre
elas parece opor-se a todas as outras, é preciso procurar saber por qué. Ora é
justamente esta a questáb no caso: per que a experiencia do Carbono 14 leva
a um resultado diferente de todas as outras? Terá havido alguma interferen
cia que haja modificado o teor do Carbono 14 no decorrer da existencia do
tecido?

A resposta bem parece ser: SIM. Com efeito; que diziam em 1987 os
cientistas americanos?

100
O SUDARIO DE TURIM

'A imagem só pode ter sido produzida por uma radiacao desconhecida,
de duracáb infinitesimal'; por conseguinte,... num lapso de tempo ínfimo;
portanto essa radiacao deve ter sido muito poderosa e deve ter mobílizado'
uma energia do tipo 'explosáb atómica', ou, mais prudentemente, 'reacio
atómica'; esta é precisamente a que pode aumentar o teor do Carbono 14 do
tecido, por destacamento de neutrónios. Tal teor foi aumentado por ocasiao
dessa reacáb atómica, passando, no momento da Ressurreicao há dois mil
anos, de 1 a 1,2 núcleo de Carbono 14 para varias dezenas de milhares de
núcleos de Carbono normal (Carbono 12).

Em tal contexto era totalmente anormal que os tres Laboratorios pu-


blicassem um resultado bruto correspondente a um tecido de 2.000 anos,
pois a radiacao produtora da imagem fez rejuvenescer o tecido de varias cen
tenas de anos...

Tudo, portanto, se torna compreensível; uma vez mais, verificamos


que a ciencia e a fé se encontram em perfeita harmonía".

2. Amostragem deficiente

Eis as ponderacoes do Dr. Roger Modín, Engenheiro E.S.E., Licencia


do em Ciencias:

"A quanto sabemos, ninguém, nem o Sr. Jacque Evin, do CIMRS, se


preocupou, antes do teste do Carbono 14, com o estado ffsico da amostra
do Sudario; admitiram que estivesse isenta de impurezas, como consta do
protocolo de exame dos tres Laboratorios.

Ora esse tecido foi submetido

1) a numerosas exibicoes em Consiantinopla durante sáculos numa


atmosfera de igreja, prenhe do carbono de tochas, velas. . ., incensó! Até
o sáculo XIV;

2) a processos de conservacao, de arrumacáb e de transporte em am


bientes totalmente polufdos, em cofres evidentemente náb esterilizados, sob
a influencia de vetores portadores de parti'culas de carbono (hálito, mábs su-
jas, tochas. . .); tenha-se em vista especialmente a transferencia de Constan-
tinopla para Troves (Franca);

3) a alteracoes do tecido por ocasiáb do incendio da Cápela Santa em


Chambéry (1532); o paño foi deteriorado pelo calor, a ponto que as dobras
do Santo Sudario foram carbonizadas. As Clarissas do local o consertaram

101
j> "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

durante oito días na atmosfera da cápela, necesariamente iluminada por to


chas fumacosas e velas sebosas;

4) a novo acondicionamento de Santo Sudario em atmosfera fechada,


por certo, mas recebando infiltracáb de ar e partículas.

Como se pode crer que as amostras submetidas ao teste do Carbono14


estavam isentas de alteracoes em seu teor de Carbono?

Para nos, houve um erro. .. nao na aplicacáb do método do Carbo


no 14, mas no fato de se Ihe terem submetido amostras que, além da acáo
do tempo, sofreram a influencia de outros fatores varios.

O Santo Sudario nao é urna peca falsa".

3. Seria preciso examinar a trama do tecido

Segue-se o comentario do Or. J. de Poncharra, Engenheiro do Centre


de Estudos Nucleares de Grenoble (Franca):

"A prova do Carbono 14 nao deve ser questionada, mas sim a escolha
da amostra do tecido analisado, que pode muito bem resultar dos reparos
sofridos após o incendio de 1349 ou o de 1532. Para dissipar as dúvidas, bas
taría um exame, ao microscopio, da trama do tecido, que, como se sabe, é
muito característica.

Ooutro lado, a ampliacao dos olhos da imagem do Sudario mostra a


presenca de duas pequeñas moedas Ueptos) cunhadas por Póncio Pilatos
(ver o laudo do Prof. F.L. Filas, da Universidade Loyola de Chicago); esta
descoberta já basta para indicar a data do Sudario, sem que haja necessi-
dade de Carbono 14".

4. O precedente de Hiroshima

Sao ponderacoes do Dr. Jean Dartencet:

"Pelo que sei, a datacáo pelo Carbono 14 é fundamentada sobre a pro-


porcáb segundo a qual vai diminuindo o teor de Carbono radioativo dos cor-
pos mortos, conforme a lei da desintegracáb radioativa.

Ora já se formulou a hipótese de que a inexplicável fotografía do Cor-


po de Cristo no Sudario poderia ser o resultado do flash da Ressurreicáb. Es
ta teria bombardeado o tecido com raios de energia comparável (dizem) á de
urna bomba atómica (em Hiroshima os corpos dos transeúntes foram 'foto-
grafados' sobre as paredes e no cháb).

102
O SUDARIO DE TURIM

Se tal foi o caso, nao.se poderia imaginar que o Sudario, no momento


da Ressurreicao, recebeu uma carga de Carbono radioativo suplementar, de
modo a perturbar as normas habituáis da datacáb pelo Carbono 14?

Leio na Enciclopedia Larousse que o valor dos resultados obtidos por


ésse método depende da validade da amostra á qual o teste é aplicado e que
é indispensável que esta provenha de um segmento estratigráfico náb pertur
bado.

Será que o tecido do Santo Sudario corresponde a estas condicdes?"

* * *

Estes depoimentos, significativos como sao, bem mostram quao rela


tivos sao os resultados do teste pelo Carbono 14. Este vem a ser um ao lado
de varios outros, que convergem em favor da antigüidade e autenticidade da
mortalha. Se o teste do Carbono 14 diverge de tais testemunhos, pode-se
admitir (e de fato se admite com sólido fundamento) tenha havido alguma
falha na aplicacao de tal método. - Ademáis deve-se notar a unanimidade
com que os observadores salientaram a deficiencia das amostras submetidas
ao teste; nao estavám em condip5es de fornecer um resultado corresponden
te á verdadeira idade do tecido do Sudario.

Aguardemos, pois, as conclusoes de ulteriores pesquisas, que ainda se-


rSo feitas sobre a venerável peca. É certo, porém, que a fé católica nao está
ligada i genuinidade do S. Sudario.

CORÉIA DO SUL, O PAÍS EM QUE O CATOLICISMO MAIS


CRESCE NO MUNDO

Introduzido na Coréia no secuto XVIII, o Catolicismo ai foi persegui


do ató os últimos decenios. Em 1933 contava apenas 150.000 adeptos. Nos
últimos vinte anos, porém, tem-se expandido de maneira quase milagrosa. A
Igreja naquele país goza de crédito e confianca. Isto se deve, em parte, aos
Bispos locáis, que tém á sua frente o Cardeal Kim; mas também ao compro-
misso dos leigos. Quando os adultos sao preparados para o Batisrno no de-
correr do catecumenato, muito se Ihes incute a necessidade do apostolado:
devem fazer brilhar a fé sobre todos aqueles com quem convivem no lar ou
no trabalho. Este testemunho tem levado inteiras familias a aderir á Igreja
Católica. Foi, alias, desta maneira ou pelo zelo apostólico dos fiéis leigos que
o Cristianismo se expandiu no Imperio Romano pagao até 313.
Possa a experiencia da Coréia contagiar positivamente outras nacoes
em que se achem núcleos de fiéis católicos!

103
Tese e antítese:

Karl Marx: Sim ou Nao?

Em síntese: O presente artigo considera as principáis teses do Marxis


mo e Ihes formula um comentario, tentando demonstrar a inepcia dessa dou-
trina para atender aos mais genuínos anseios do ser humano. A cosmovisao
marxista, materialista como é, nao atinge o ámago do ser humano, que tem
aspiracdes transmateriais, tendeado ao Absoluto e ao Infinito.

Muitos pensadores, inclusive russos, dizem (forjando um pouco as ex-


pressoes) que atualmente só há marxistas fora da Rússia; os russos mesmos
se iludiram e desiludiram a respeito do marxismo, ao passoque os cidadáos
de países nao comunistas ainda nutrem esperanzas a propósito. Este fato es-
tranho tem levado os estudiosos a considerar as principáis teses doutrinárias
do marxismo e procurar averiguar em que e como falham. É o que será feito
também ñas páginas subseqüentes, levando-se em conta modelos já existen
tes.1

É certo que muitos daqueles que se dizem marxistas, nunca estudaram


"0 Capital" de Marx; muito menos leram o grande acervo de obras que cer-
cam Karl Marx, como as de Hegel, Engels, Feuerbach. . . Trata-se de escritos
de diffcil leitura, redigidos no sáculo passado, para os quais se requer tempo
e certo preparo filosófico. Os marxistas geralmente professam o socialismo
de Karl Marx nao porque conhecam todo o seu pensamento, mas porque
aspiram á justica social e julgam que Marx é o arauto de urna sociedade justa
e digna.

1 Cf. Carlos Valverde, Tesis de Marx. Tesis sobre Marx. Cuadernos BAC
n° 65. Madrid (Mateo Inurria 15, Madrid 16) 1983.
Paul-Eugéne Charbonneau, Marxismo e Socialismo Real. Ed. Loyola,
Sio Paulo 1984.

104
KARLMARX:SIMOUNÁO?

Para facilitar o nosso estudo; proporemos sucessivamente sentencas


marxistas, fiéis á mente de Marx, Feuerbach e sua escola. A seguir, formula
remos um comentario a respeito de cada qual.

■ 1. A Materia

1.1. Marxismo: Tudo o que é real, é material. Existe somente a mate


ria. O que se chama 'espirito', náb é mais do que o produto supremo (super-
estrutura) da materia.

Comentario: Marx deixou-se impressionar excessivamente pela impor


tancia bruta da realidade material. Nao levou em conta suficiente o fato de
que, embora a materia condicione o modo de pensar de muitos homens,
em numerosos outros casos o pensar do homem é que plasma e condiciona
a materia. A carencia de bens materiais pode até suscitar um modo de pen
sar mais livre (menos obcecado pelas coisas visfveis); a grandeza e a nobreza
da pessoa podem desenvolver-se heroicamente na sobriedade de bens mate
riais - o que nem sempre acontece quando o homem é dominado pela
obsessato de valores materiais. Diz-se até popularmente: "Quase tudo se fez
de quase nada", isto é: as grandes faganhas e empresas da historia nasceram
em berco pobre e foram construidas a partir do ideal ou das idéias de seus
respectivos autores; as idéias foram anteriores á materia e a plasmaram.

Com isto nao se quer dizer que o ideal do hornem seja a penuria de
bens materiais (deve-se propugnar a suficiencia); mas quer-se dizer que exis-
tem valores ¡materiais, espirituais (o amor, a bondade, a dedicacao a urna
causa nobre, a gratuidade. . .), que dao feito á materia e a condicionam em
vez de ser condicionados por ela. Muitas vezes na historia o idealismo de um
homem, de urna mulher ou de um grupo sobrepujou a forca bruta de estru-
turas materiais.

Passando para o plano da Filosofía, podemos dizer:o homem é capaz


de conceber nocoes imateriais (que abstraem da materia), como sao as de
justipa, direito, amor, bondade, verdade. . .; tais conceitos correspondem a
realidades, mas nfo sao conceitos materiais, visto que nao representam obje
tos quantitativos e dimensionais.

Ora, seo homem é capaz de produzir nocoes imateriais, ele deve pos-
suir dentro de si um principio ¡material ou espiritual, dado que efeito e cau
sa sao proporcionados entre si. Tal principio espiritual é o que se chama
alma humana. Esta nao é materia, mas está unida á materia do corpo, de mo
do a formar com este um só principio de acato. Mais precisamente: a alma
humana, tendo o seu intelecto, serve-se do cerebro para pensar, mas nao é o
cerebro.

105
10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

1.2. Marxismo: A materia á eterna, incriada e indestrutível.

Comentario: Se a materia é eterna e incriada, ela é absoluta ou inde-


pendente de qualquer outro ser; ela, portanto, 6 divina. Recai-se assim na
afirmacáo de existencia de Deus (no sentido pantefsta).

Todavía tal afirmacáo é falsa, pois contém em si urna contradicho: o


Absoluto nao evolui, nao muda, pois toda evolucao e mudanca supoe ¡m-
perfeicao: é sempre perda ou aquisicao de alguma perfeicao, pois o que evo
lui, evolui ou para pior ou para melhor.

Ademáis a ciencia do sáculo XX já ultrapassou a dos tempos de Marx


(1818-1883); é freqüente hoje admitir-se o big bang ou urna explosao inicial,
que deve ter ocorrído há 18 bilhdes de anos aproximadamente. Além disto,
verifica-se que o universo tende á neutralizado ou á morte térmica de todas
as suas energías (lei de entropia). O big bang ocorrído na materia inicial sus
cita algumas perguntas: Por que existe a materia? Donde vem ela, já que a
materia é imperfeita e evolutiva? Quem Ihe deu as leis da sua evolucao? Por
que essa evolucao segué urna linha sempre ascendente? - A evolucao é fina
lista ou obedece a urna finalidade, que a polariza.

Estas perguntas nos levam a admitir um Ser Inteligente e Sabio, res-


ponsável pela existencia e a evolucáo da materia; este Ser é distinto da ma
teria, como o Absoluto e Eterno é distinto do relativo e temporal.

Mais: se a materia mesma fosse absoluta e eterna, ela deveria conter


em suas mínimas partículas originarias inteligencia e liberdade de opcáo,
pois ela teria programado com suma sabedori a e precísao o gigantesco pro-
cesso de sua evolucáb. Este, tendo comecado há 18 bilhoes de anos, passou
pela origem da vida há 3 bilhoes de anos, pela dos vertebrados há 500 mi-
Ihoes de anos, pela dos primatas há 70 milhoes de anos e pela do homem in
teligente e livre há 2 milhdes de anos. - Ora é totalmente inadmissfvel que
a própria materia seja inteligente e livre, de modo a produzir o cosmos har-
monioso. Basta lembrar o que acontece em computacao: a materia é progra
mada pela inteligencia do homem; ela nao se programa, nem se corrige quan-
do está mal programada.

2. Religiao e Moral

2.1. Marxismo: "A religiáb é o opio do povo" (Marx). É elemento


ideológico, que as classes dominantes impoem ás dominadas para que se con-
solem na sua miseria material. Favorecer a religiáb significa alienar os homens
e impedi-los de lutar por urna sociedade terrestre mais justa e feliz.

106
KARL MARX:SIM OU NAO? 11

Comentario: A religiáo é aatitude que-decorre dn tomada de conscién-


cia de que a existencia de seres relativos, volúveis e contingentes exige a de
um Ser Absoluto e Necessário. Este Ser Absoluto é Inteligencia e Amor, fon-
te da inteligencia e do amor encontrados ñas criaturas.

A tomada de consciéncia de que esse Ser Absoluto {Deus) existe, sus


cita um relacionamento chamado religiáb. Esta nao é alienante nem destrui
dora dos valores humanos; ao contrario, é a única atitude capaz de dar ao
homem um sentido de vida ou razdes sólidas para viver, trabalhar, amar e ter
esperanca. Ote o Concilio do Vaticano II:

"A Igreja sustenta que o reconhecimento de Deus nao se opoe de


modo algum é dignidade do homem, já que esta se fundamenta e se aperfei-
coa no próprio Deus. . . . A Igreja ensina, além disto, que a esperanza esca-
tológica nao diminuí a importancia das tarefas terrestres, mas, antes, apoia
o seu cumprimentó com motivos novos. Faltando, ao contrario, o funda
mento divino e a esperanca da vida eterna, a dignidade do homem é preju-
dicada de modo gravíssimo, como se vé hoje com freqüéncia; e os enigmas
da vida e da morte, da culpa e da dor continuam sem solucSo; assim os ño-
mens muitas vezes sao ¡aneados ao desespero" (Const Gaudium et Spes
n°. 21).

A concepcao de que a religiao é opio do povo baseia-se em deforma-


poes ou caricaturas de religiao, que infelizmente tém ocorrido na prática de
pessoas religiosas.

2.2. Marxismo: As normas moráis fazem parte de superestrutura ideo


lógica e sao funcao da economía. Por isto existe a Moral dos capitalistas e
a doi proletarios: esta última ensina que é Kcito tudo que leve á luta de das-
ses, á revolucáb. á instaurado do socialismo sem classes. Tal fim justifica
todos os meios.

Comentario: As normas moráis se baseiam, em última análise, nao no


sistema económico, mas na própria dignidade da pessoa humana. Esta traz
en si a lei natural ("nao mates, nao roubes, respeita pai e mSe..."), que dita
os principios aptos a garantir a realizacáo e evitar a destruicSo da pessoa hu
mana. Essa lePnatural existe em todos os homens igualmente, sem referencia
as respectivas condicoes económicas ou sociais; assim será sempre moralmen-
te mau violar o direito do homem á vida, á boa fama, a livre ¡nformacao, a
locomocao... A lei natural está impregnada no próprio ser do homem por
obra daquele que o criou (Deus) e o chama, desta maneira, á plenitude da
vida e da felicidade.

107
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"322/1989

Por mais nobre que seja o ideal acariciado por alguém, o f'im nao justi
fica todos os meios, pois há meios que sao, em si mesmos, ¡moráis e indig
nos; o seu emprego desfigura a pessoa humana como tal.

3. O Homem

3.1. Marxismo: A evolucao da materia leva ao surto do homem. Este


fato tornou-se possível grapas ao trabalho. Trabalhando, os macacos toma
ra m urna posicáb erecta, ficando com as mábs livres. O trabalho coletivo
provocou a necessidade da linguagem. Os homens fabricaram ferramentas;
' tornaram-se carnívoros; donde resultou o desenvolvimento do cerebro. Pos
teriormente domesticaran! os animáis, instituiram a agricultura, a pequeña
industria, o comercio, a navegacáb, a arte, a ciencia, a religiáb, a política, o
direito, o idealismo...

Comentario: Deve-se reconhecer que as diferencas morfológicas exis


tentes entre os primeiros homens e os antropóides sao de pouca monta. Mas
o homem, desde o limiar de sua existencia na pré-história, tem expressoes
psicológicas inéditas, que bem o distinguem dos náo-homens: assim a produ-
cáo do fogo, a fabricacao de instrumentos aptos á sua finalidade (pedra las
cada, machados, armas), o sepultamento dos mortos... Tais manifestacoes
nao sao apenas instintivas e cegas (como instintiva e cega é a fabricacáo da
teia de aran ha, do favo de mel da abelha, da galería subterránea da formiga);
elas provém da reflexao ou do raciocmio, da capacidade de conhecer o obje
to como objeto, distinto do sujeito; ... capacidade nao só de conhecer...,
mas também de conhecer-se;... nao só de saber, mas de saber que sabe. Essa
capacidade permite ao homem corrigir-se, melhorar suas obras e assim pro-
gredir indefinidamente, coisa que nao ocorre entre os seres infra-humanos.

Mais: o homem — e só o homem - é capaz de formular conceitos abs-


tratos e universais (justica, honestidade, amor...); ele pode realizar racioci
nios, estabelecer relacóes e proporcoes, deduzir e induzir, inventar, produzir
a ciencia, as artes, o direito, a política..., em suma: a civilizacá*o. Além disto,
possui a faculdade de ser livre ou a possibilidade de autodeterminacao entre
diversas propostas.

Ora, como dito, grande parte de tais funcóes sao imateriais, nao sujei-
tas ao determinismo material ou ao espaco e ao tempo. Por isto nao podem
ser produzidas por um principio material. Só podem ser explicadas pela pre-
senca do espirito ou de urna alma espiritual no homem.

... Por.sija vez, o espirito, sendo ¡material, nao pode ser oriundo da mate
ria, pois o efeito é sémpre proporcionado á causa; a materia é um ser deter-

:.''■ ios
KARLMARX:SIMQUNAO? 13

minado, limitado, essencialmente diverso do espirito. Por conseguinte, con-


clui-se que a alma humana é criada diretamente por Deus.

Na base destas ref lexoes, deve-se dizer que o homem comecou a exis
tir na face da Térra quando Deus criou o espirito ou a alma humana e a in-
fundiu nos primatas ¡rracionais.1 O ser humano assim constituido foi to
mando contato com o mundo e desenvolvendo suas numerosas possibilida-
des de conhecer, querer e amar.

Somente por recurso a este raciocinio filosófico se podem explicar o


aparecimento e a implantagao do homem com suas potencialidades sobre a
Térra. Os marxistes apresentam apenas urna descríelo dos fenómenos ou
das expressoes progressivas do homem sem explicar adequadamente por que
apareceram tais fenómenos específicamente humanos.

3.2. Marxismo: O homem é essencialmente um ser de necessiciades ma-


teriais (comer, beber, vestir-se, defender-se...). Para satisfazer-lhes, elabora
seus produtos e assim procura saciar-se. Vai memorando cada vez mais a
qualidade de seus artefatos materiais - o que explica o progresso da civiliza-
pío.

Comentario: Nao se pode adequadamente definir o homem apenas co


mo "um ser de necessidades materiais". É claro que todo ser humano, desde
que nasce, experimenta carencias materiais básicas, como as de comer, be
ber... Mas, aínda que tenha essas lacunas preenchídas, ele é inquieto e se-
quíoso de algo mais; ele quer sempre superar-se ou ultrapassar a si mesrno
em demanda do desconhecido (urna expressao deste anseio sao as viagens de
exploracáo do Universo através de foguetes espaciáis).

Conforme bons psicólogos, a necessidade mais fundamental do ser hu


mano é a de conhecer o sentido da vida, os porqués e para qués do existir,
do trabalhar, do sofrer, do ter esperanca...; quem nao sabe por que vive, por
que trabalha e sofre, pode também desinteressar-se do comer e beber ou da
tionservacao da própria existencia; nos campos de concentrapao muitos dos
prisioneiros que nao viam sentido em sua vida ou que haviam perdido toda
esperanca, deixavam-se morrer ñas pranchas de dormir sujas e anti-higiéni-
cas, ainda que espancados e maltratados...

Os homens primitivos podem ter tardado em descobrir suas exigencias


mais profundas; nisto assemelhavam-se ás enancas. Estavam numa fase ini
cial de desenvolvimento. Todavía já se Ihes aplicava a definigá*o de Aristóte-

Verpp. 123s. 126S deste fasdeuto.

109
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

les (t 322 a.C), o grande pensador grego, conforme o qual o homem é ani
mal racional, ou se¡a, um vívente sensitivo, que traz em si as propriedades e
exigencias do mundo racional (espiritual). Ñas grutas da pré-história encon-
tram-se pinturas e artefatos que exprimem o pensamento racional do pró-
prio homem das cavernas.

Os cristá'os sabem que o vívente racional foi por Deus chamado a ser
"Filho de Deus" (cf. Gl 4,6; Rm 8,15). Isto quer dizer: a pessoa humana
tem um componente corpóreo com suas qualidades próprias; tem outrossim
um componente espiritual (ao qual se há de subordinar o corpóreo) e a vo-
cacao a viver segundo o modelo do Filho de Deus. Desta realidade estrutural
decorrem direitos e deveres do ser humano, assim como a sua supremacía so
bre os outros seres visíveis.

4. O Trabalho

4.1. Marxismo: O trabalho 6 o elemento primario gerador de humanis


mo. E isto por dois motivos: 1) cria produtos que saciam as necessidades hu
manas; 2) desenvolve as faculdades do homem. Por isto o trabalho é o feito
primario, radical e originante da historia.

Comentarios: Sem dúvida, o trabalho é um dos elementos mais impor


tantes para a auto-realizacao da pessoa. É, sim, mediante o trabalho que o
homem coopera para a evolucao e o aperfeicoamento da Térra e da humani-
dade. Impoem-se, porém, duas observacSes:

a) por trabalho nao se deve entender apenas o produtivo, industrial ou


comercial, mas também toda atividade que encaminhe a elevacáo e ao aper
feicoamento dos homens;

b) o trabalho é um dos fatores criadores da historia, mas nem sempre


o mais importante. Deve-se dizer que o elemento mais profundamente gera
dor de verdadeiro humanismo é o amor, entendido como atitude de ajuda
e servíco desinteressado aos demais homens. Ora é de notar que a palavra
"amor-servico" nao faz parte do vocabulario marxista típico, ao passo que
"luta, odio, guerrilha, revolucáo violenta..." sSo termos clássícos do lingua-
jar marxista.

4.2. Marxismo: A familia é conseqüencia do impulso sexual, que pro


cura seu objeto natural. No estadio mais antigo da humanidade, existía pro-
miscuidade sexual. Depois originou-se a familia poligámica e comunitaria.
Quando comecou o regime da propriedade particular, apareceu o matrimonio
monogamia), pois o homem quis saber exatamente quem eram seus filhos
para transmitir-lhes as suas riquezas como heranca. O homem fez da mulher

110
KARL MARX:SIM QU NAO? 15

a sua propriedade particular, Constituiu-se assim a familia patriarcal, em


que o homem era o senhor e os demais membros, inclusive a esposa, eram es-
cravos. Quando a propriedade particular desaparecer, extinguir-se-á a fami
lia monogamica e as untóos sexuais duraráo apenas enquanto durar o amor.

Comentario: As pesquisas antropológicas modernas refutam a tese áci


ma, que data do sáculo passado. Demonstram que a familia apareceu de for
mas múltiplas, nao podendo ser reduzida a um só modelo para todos os po-
vos. Deve-se até dizer que a familia monogamica é, em muitas tribos, ante
rior á poligamia e independente de fatores económicos; nlb está ligada á
propriedade particular.

Alias, a antropología filosófica, levando em conta todos os dados da


realidade humano-social, verifica que o matrimonio monogamico é a moda-
lidade natural da familia; somente na familia monogamica e estável sá"o ga
rantidas a auto-realizacao dos conjugas e a devida educacáo dos filhos. O
amor que une os esposos, há de ser entendido nSb apenas como atracffo mu
tua instintiva, mas principalmente como atitude de ajuda e servico de pessoa
a pessoa; neste tipo de amor se acha a raíz da grandeza da familia como es
cola de aperfeicoamento dos cdnjuges e da prole.

4.3. Marxismo: Se um homem tira de outro os produtos do seu traba-


Iho e os acumula, dá origem á propriedade particular e á conseqüente divisáb
da sociedade em dominadores e dominados. Disto decorrem todos os males
da sociedade capitalista. O proletario é reduzido á miseria ou á condicao de
máquina, ao passo que o capitalista se aliena na posse do dinheiro.

Comentario: Deve-se reconhecer que a propriedade particular, em va


rios casos, teve e tem origem na apropriacao injusta de bens alheios. Disto,
porém, nao se segué que a propriedade particular tenha sido e seja sempre
injusta. Ao contrario, a propriedade particular, quer de bens de consumo,
quer de meios de producáo, é direito natural da pessoa, a varios títulos:

a) é a expressao e o produto próprio da inteligencia e do engenho do


individuo, que é anterior á comunidade;

b) é fator necessário para estimular o trabalho e a criatividade; sem o


qué, pode o trabalhador perder o interesse pelo que faz;

c) é penhor de líberdade e independencia da pessoa humana;

d) é garantía de seguranca da pessoa, da familia e da sociedade;


e) por direito natural também, a propriedade particular há de ser ori
entada ao servico do bem comum; sobre e'a pesa urna hipoteca social.

111
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

Em nossos dias, a posse particular de bens é minuciosamente regula


mentada por leis do Estado para que nao gere os abusos verificados no sácu
lo XIX. Onde as leis sao observadas com honestidade, náío se pode dizer que
a sociedade se divide em duas classes: dominantes e dominados. Os impos-
tos, a Previdencia Social, a apao dos Sindicatos sao salvaguardas da sociedade
contra as tentativas de opressao. Nos países económica e socialmente mais
evo luidos, verifica-se que grande parte da classe operária elevou seu nivel de
vida a ponto de poder ser considerada classe media.

5. Economía

5.1. Marxismo: O regime capitalista está baseado na mais-valia. Com


efeito; o capitalista aluga a forca de traba I ho do proletario e Ihe paga um sa
lario X, suficiente para que o operario possa continuar a viver e trabalhar
{salario de sobrevivencia). Acontece, porém, que o trabalho produz X + m.
Ene m (mais) ou excedente de producto náb é devolvido ao trabalhador,
mas, sim, absorvido pelo capitalista. Por isto o regime de capitalismo e sala
rio 6 essencialmente injusto.

Comentario: A teoría marxísta da mais-valia nao resiste a um exame


mais atento. Com efeito; o valor de determinado produto nao se deve apenas
ao trabalho, mas também a natureza ou a materia bruta sobre a qual o ho-
mem trabaIha; há mesmo valores independentes do trabalho. O próprio
Marx reconhece: "O trabalho nao é a única fonte dos valores de uso produzi-
dos por ele ou na riqueza material. Ele é o pai, e a térra é a mae" (O Capi
tal). Por conseguinte, o valor de determinada mercadoria deve ser distribui
do entre o trabalho e o capital.

Para mostrar que a teoría da mais-valia (ou teoría de que o lucro é ex-
torquido injustamente do trabalho humano) é falsa, pode-se imaginar o se-
guinte caso:

Um capitalista fornece agua a um estabelecimentó. Para acionar a


bomba que Ihe pertence, emprega dois homens, que abastecen) o estabeleci-
mentó com x litros de agua por dia. Neste contexto, conforme a teoría mar-
xista, há urna mais-valia que representa precisamente o lucro do capitalista.
Se, porám, este substituir os dois empregados por dois cávalos, que conse-
guem, grapas ao seu maior vigor, fornecer duas vezes mais litros de agua, o
lucro obtido pelo capitalista será mais elevado; apesar disto, nSo havendo
mais trabalho humano, nao haverá mais-valia no sentido marxista. Contudo
o servico prestado será indubitavelmente mais útil; por isto terá um valor de
troca (preco) superior, embora a mais-valia tenha desaparecido. - Donde se
vé que o valor de troca nSo está necessariamente ligado ao trabalho e pode

112
KARL MARX:SIM OU NAO? 17

existir sem que haja qualquer mais-valia. É certo também que o capital se
pode aumentar sem exploracao do trabalhador; isto se dá mediante conve
nios que complementam duas ou mais industrias ou tojas entre si, mediante
o aperfsi coamento dos instrumentos de traba I ho, pelo engenho, a constan
cia e a perspicacia dos proprietários, pelo aproveitamento de oportunidades.

De resto, os próprios Governos comunistas, embora neguem o regí me


da mais-valia, praticam-na de forma velada, caindo assim em evidente con-
tradicao.

Verifica-se, alias, que nos países comunistas continua a vigencia do ca


pitalismo, com a diferenca, porém, de que o grande capitalista é o Estado;
este dispóe, de maneira absoluta, de todos os meios de producüb, extinguin-
do a liberdade e a iniciativa dos cidadáos, que assim ficam privados do exer-
cfcio de seus direitos naturais. É mais agressivo o capitalismo do Estado do
que o dos particulares, porque nao há poder que o controle, ao passo que o
capitalismo dos particulares é regulamentado pelas leis sociais, que o podem
tornar útil á coletividade, sem Ihe tirar a livre iniciativa e a criatividade.

Note-se também que nos países comunistas se restaura a classe domi


nante, que é a dos governantes e seus colaboradores. Na Rússia Soviética,
chama-se Nomenklatura, cujo funcionamento é descrito por Michael Vos-
lensky no livro Nomenklatura. O» privilegiados na URSS, comentado em PR
265/1982, pp. 483-498. Ver também a obra de Milovan Djillas, A nova Clas
se. Ed. Agir, Rio de Janeiro.

5.2. Marxismo: A concorrSncia de capitalistas contra capitalistas fará


que os mais poderosos destruam os mais fracos. Assim diminuirá cada vez
mais o número de capitalistas. Em conseqüáncia, também aumentará o núme
ro de proletarios explorados, que, tornando-se multidó*es, ganharáb enorme
poder para derrubar o capitalismo. Por conseguinte, este se autodestruirá
por efeito de sua própria lógica.

Comentario: A historia ou o processo de desenvolvimento industrial ca


pitalista seguiu exatamente um curso oposto ao que previu Marx. Os países
ocidentais, que, segundo Marx, estavam fadados a cair sob regime comunis
ta, conseguiram, de modo geral, elevar o seu nivel económico em beneficio
da grande maioria dos seus concidadSos. 0 regime capitalista af nao se auto-
destruiu, mas modificou-se e corrigiu suas falhas: em varios casos registra-se
ou preconiza-se a participacáto dos operarios na propriedade e nos beneficios
da empresa, assim como na gestao da mesma. Assim, em vez de antagonismo
de classe, verifica-se colaboracáo solidaria entre empregadores e empregados;
as Cooperativas sá*o formas de atendimento a interesses comuns de produto-
res e trabajadores.

113
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

O fato de que as previsoes marxistas relativas á autodestruipSo do capi-


talismo e a outros pontos nSo se cumpriram, evidencia que a chamada "aná-
lise socio-económica" marxista ná*o pode ser tida como urna proposicao
"dentffica".

5.3. Marxismo: A sociedade 6 superior á pessoa. O homem só alcanca a


sua realizacffo como membro de urna sociedade civil. O sujeito de direitos e
deveres é a sociedade; á também ela o sujeito da liberdade. O individuo rece
be da sociedade seus direitos, seus deveres e sua liberdade.

Comentario: Aqui temos urna expressao típica do coletivismo marxis


ta, que é capaz de sufocar o individuo em beneficio, presumidamente, da so
ciedade. O coletivismo faz que no marxismo o cerceamento dos direitos do
individuo (á informac?o, á locomoca*o, ao associar-se com outros, á criativi-
dade...} seja algo de lógico e normal. Segundo o marxismo, a Moral e o Direi-
to sao essencialmente relativos; o que hoje é licito e justo, amanha poderá
nao o ser, pois oscilará segundo os interesses da classe proletaria, que sao in
teresses económicos. É ao Partido Comunista que cabe definir a verdade, o
bem, o mal, o justo e o injusto... — o que redunda em certo maquiavelismo
(o fim justifica os meios, vale tudo o que leve ás metas almejadas...).

Em perspectiva cristf, afirma-se que a pessoa humana é anterior e su


perior á sociedade. Independentemente da sociedade, ela é o sujeito primei-
ro da liberdade, dos direitos e dos deveres. Estes ná"o Ihe sao outorgados pela
coletividade, mas derivam-se da própria Índole da pessoa, que o Cristianismo
diz ser imagem e semelhanca de Deus. Verdade é que a pessoa precisa da so
ciedade para se auto-realizar; o homem é animal social por sua própria natu-
reza. Pos ¡sto ele tem deveres para com a sociedade a fim de que ele possa
ser ajudado por esta. Dai a necessidade de que os direitos e deveres do indi
viduo se harmonizem com os dos demais homens e ná"o se hipertrofiem com
detrimento do bem comum.

As relacoes que ligam os homens entre si, sSo dos mais diversos tipos:
relacóes de amor, familia, defesa, expressáfo artística, expressao religiosa, es
portes, producao industrial, comercio... Por isso nao se devem reduzir as re-
lacdes interpessoais a termos de producSo económica e comercio. Com ou-
tras palavras: o fator económico ná"o basta para explicar os diversos tipos de
atividade e intercambio existentes entre os homens, pois há atividades cujo
interesse ultrapassa o meramente económico: assim a ¡nvestigacao científica,
a reflexao filosófica, o cultivo do direito, da religiao, a assisténcia sanitaria
e outros servicos... tém um cunho de gratuidade, que une e enobrece as
pessoas.

5.4. Marxismo: A estrutura do homem e da sociedade consta única


mente de bens materiais. Essa estrutura gera as suas superestruturas, que sáb

114
KARL MARX:SIM OU NAO? 19

os bens da consciéncia: a filosofía, a religiío, a Moral, a arte... Essas superes-


truturas sao todas relativas e oscilam em funcao da distribuicáb dos bens
materiais ou da economía.

Comentario: Os fatores económicos, como dito, ná*o sSo necessaria-


mente decisivos na vida da sociedade. Esta nao tem urna causa única do seu
desenvolvimento. Pode-se dizer que a sociedade e a historia sá*o movidas por
vasto complexo de elementos, ora dependentes, ora independentes uns dos
outros. Muitos movimentos "revolucionarios" da historia tiveram na sua orí-
gem um ideal humano ou religioso, caracterizado pelo desprendimiento e o
altruismo.

Em última análise, a sociedade e a historia tém como ator básico o ser


humano, que nao está sujeito ao determinismo ou a leis necessárías, mas é
criativo e livre; o homem é um sistema de fatores múltiplos, que se combi-
nam ¡mprevisivelmente. Por isto torna-se difícil — se nao ¡mpossível — esta-
belecer leis fixas e determinantes do processo histórico.

Contra o relativismo jurídico, moral e religioso (relativismo devido á


oscilacá'o dos fatores económicos), deve-se afirmar que mu ¡tos dos princi
pios éticos, jurídicos e religiosos da humanidade tém valor universal, porque
decorrentes da própria natureza humana; esta é a mesma em todos os con
tinentes e tempos, independentemente das condicSes de producto e comer
cio vigentes. Testemunho disto é a Declaracao dos Oireitos Humanos pro
mulgada pela Organizado das Napoes Unidas em 1949: proclamou normas
jurídicas válidas para todos os modelos de sociedade, qualquer que seja o seu
regime sócio-económico.

A inteligencia humana é precisamente a faculdade de intus-legere ou


de ler as linhas essenciais e permanentes da realidade; na base deste exercí-
cio, ela formula principios objetivos, necessários e universais, que explicitam
os valores permanentes do homem. Sirva de exemplo, como dito, a. Declara-
cá"o dos Direitos Humanos.

5.5. Marxismo: A historia, movida por fatores económicos, desenvol-


ve-se em cinco grandes etapas, que sáb: coletivismo pré-histórico, escravatu-
ra, feudalismo, capitalismo, comunismo. Esta última etapa está por reali-
zar-se; quando ocorrer, os homens estaráb regenerados e náb haverá mais ne-
cessidade de Estado, policía, tribunais, exército...; desaparecerá o dinheiro,
símbolo da propriedade particular. O trabalho será um fator de auto-realiza-
cao, sobre o qual ninguém exercerá o mínimo controle.

Comentario: A historia humana tem-se desenvolvido de modos muito


diversos nos varios continentes, visto que depende de fatores múltiplos e

115
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

complexos. Por ¡sto nenhuma sistematizacao teórica tem valor geral. A divi-
sfo marxista em cinco etapas é excesivamente simplificadora da realidade
apoiando.se, em última análise, num falso determinismo económico. O cursó
atual da historia, nos países mais desenvolvidos em todos os sentidos, leva a
crer que a humanidade nao caminha para o comunismo, mas para sistemas
sócio-económicos que procuram conjugar a liberdade e a dignidade da pes-
soa humana com formas de colaboracao social e comunitaria.

De resto, a etapa comunista assinalada por Marx nao parece ser senío
um sonho romántico absolutamente inexeqüfvel. Os pafses que tém feito a
experiencia do marxismo, em vez de se encaminharem mais e mais para o
comunismo, distanciam-se progressivamente deste e reassumem ¡nstituicSes
rejeitadas por Marx; tenham-se em vista a Rússia, a China, a Hungría... A
abolicáb da propriedade particular, a supressáo das classes, o desaparecinien-
to do Estado, a supressáo do dinheiro, da policía, dos tribunaís... sao teses
utópicas, ñas quais ninguém acredita com seriedade. A natureza humana,
boa como tal, é marcada por tendencias a desordem (pecado original!) - or-
gulho, avareza, odio, ¡njustica -, das quais só os mais santos conseguiram
líbertar-se. Os bens materiais e os fatores económicos excitam a cobíca, o he
donismo, a ganancia... É, antes, a elevacáo do homem no plano espiritual
que o torna morigerado e santo.

Ademáis pergunta-se: conforme Marx, a historia procede segundo o


ritmo de tese, antftese e sfntese (que é o da dialética da materia), pois a rea
lidade é essencialmente díalética. Ora nao será que a própría etapa comunis
ta, urna vez atingida, será superada pela leí da dialética? Esta nao deverá re-
comepar o processo de antftese e sfntese (nova)? Caso alguém responda que
nao, concluir-se-á que a realidade ná"o é essencialmente díalética.

6. Conclusao

Acabamos de percorrer os trapos principáis do marxismo ortodoxo,


verificando que nao se sustentam, como, alias, a própria experiencia de mais
de setenta anos evidencia. Ñas raizes da ideología marxísta existe a sadia as-
pirapáo á justica social. O Cristianismo compartidla este mesmo anseio, mas
desenvolve-o em direpao diferente, penetrando mais fundo dentro da pro
blemática: sim, o homem é um misterio, um ser material que nao é apenas
materia, mas tem um qué de transcendente ou de espiritual. Somente quem
respeita este aspecto da pessoa, pode responder satísfatoriamente aos seus
anelos. Por isto a Igreja elabora a sua Doutrina Social (formulada ñas Encf-
clicas papáis), que procura tirar diretamente do Evangelho as normas do au
téntico comportamento do homem em sociedade. A religiao, longe de ser

116
KARL MARX:SIM OU NAO? 21

opio do povo, é o fator mais dinamizador que se possa conreber, porque


ela fala e age em nome do próprio Deus. Por isto o crístao nao fica inerte
diante dos problemas sociais, mas também ná"o recorre ao marxismo sufo-
cador da liberdade; ele procura, sim, no Evangelho, comentado pela Igreja,
as grandes linhas doutrinárias para ser um genuino construtor do Reino
de Deus na térra.

(continuado da pág. 144)

as comunidades religiosas. A Igreja Ortodoxa da Bulgaria e da lugoslávia, por


exemplo, insiste em que seja reconhecida a contríbuicüo cultural da Religiao
para estruturar o país; o mesmo apelo promana da Turquia, da qual o Gover-
no é aconfessional, mas o povo, em grande maioria, muculmano; pede que
reabram as mesquitas.

Parece que para estas interpelares se pode esperar, na Albania, urna


resposta, por ora ainda tímida e discreta, a fim de nao destoar demasiada
mente do próximo passado. O país tende a se abrir, após tongo perfodo de
desconfianza e agressividade, ao mundo que o cerca, propiciando assim me-
Ihores dias aos cidadaos fiéis aos seus principios religiosos. "O sangue dos
mártires é sementé de novos cristaos" (Tertuliano, f 220 aproximadamente)

A propósito ver PR 310/1988, pp. 142s (a Albania hoje).

Estévao Bettencourt O.S.B.

* * *

PASSATEMPO CONSTRUTIVO...

Terminado o ano dé 1988, é interessante passar os olhos ñas previsoes


dos astrólogos, videntes, cartomantes... que se pronunciaran! no fim de 1987:
A mais romántica de todas as profecías se referia a Mikhail Gorbat-
chev: um vidente anunciou que se apaixonaria loucamente por urna aeromo
za de 19 anos e abandonaría sua esposa Rafssa!
Quando a Roña Id Reagan, já no dia seguinte ao da sua primeira elei-
cáb, Sidney Omarr predisse a sua morte antes do fim do mandato. Giséle
Flavie viu-o morto em 1982. Cecilia Sunn e Maria Gadrine avistaram-no em
perigo de morte em 1984 com sua esposa Nancy... Todavía Ronald Reagan
ainda está vivo depois de haver passado o Governo ao seu sucessor.
É na base da autoridade de tais "profecías" que nos anunciam o fim
do mundo para 16 de Janeiro de 2013 ás 8 h 30 min! E há quem queira acre
ditar! Realmente vulgus vult decipi, o povo quer ser engañado!

117
Um diálogo necessário:

Existencia de Deus e
Ciencia Contemporánea

Ecn síntese: Os dados da ciencia contemporánea (cosmología, antropo


logía, paleontología...), em vez de afastar de Deus o estudioso, aproximam-
no cada vez mais. Com efeíto; verifícase que a massa cósmica nSo pode ser
eterna, mas teve um comeco, de certo modo, insinuado pelo big bang. Póde
se perguntar: que houve antes deste? £ chega-se naturalmente á conclusao
de que Deus é o Criador, responsável pela existencia e a harmonía da massa
inicial. Quanto ao ser humano, a sua constituícSo psicossomática mostra que
ele transcende a materia (embora se/a corpóreo); por conseguinte, há no ho-
mem um principio de vida ¡material, que com a alma espiritual integra o
ser humano. A alma, nSo sendo corpórea, nSo tem origem por evoiucao, mas
existe por um ato criador de Deus; visto que a sua origem é ¡ndependente,
ela também subsiste sem a materia ou é ¡mortal por sua própria natureza; as-
sim verificase que o núcleo da pessoa humana ou o seu eu consciente é cha
mado a ver a Deus após deixar este corpo, se vive na presenca de Deus du
rante esta vida.

* * *

Nos sáculos XVII/XVIII o físico inglés Isaac Newton (1642-1727) ex-


plicou fenómenos físicos do universo segundo as leis da mecánica. Houve en-
tao quem afirmasse que o nosso sistema planetario fora totalmente explana
do em termos seculares ou arrelig¡osos;daí perguntarem muitos se ainda res-
tava lugar para Deus nessa cosmovisao.

Passaram-se sáculos... Ainda há quem faca eco ao modo de pensar do


sáculo XVIII. É o caso, por exemplo, do astronauta russo Yuri Gagarin, que,
após a primeira viagem feita pelo homem a 100 km de altitude no Sputnik,
declarou que nao encontrara Deus nos espacos cósmicos... Foi este um teste-
munho de total carencia de cultura religiosa; é claro que Deus nao se acha
localizado "lá no alto".

Grande, porém, é o número de cientistas que, nos nossos días, profes-


sam a fé em Deus precisamente por conhecerem melhor o universo do que

118
EXISTENCIA DE DEUS E CIENCIA 23

os antepassados. Entre outros, seja aquí citado o Dr. Manuel María Carreira
Verpz, Professor de Filosofía da Ciencia na Pontificia Universidade de Co-
millas (Madrid) e no Departamento de Física da Universidade John Carroll
(Cleveland. Estados Unidos); escreveu o livro "El Creyente ante la Cien
cia' , que o autor apresenta nos seguintes termos:

"Ao escrever estas páginas, recordo-me com prazer de dois grandes


dentistas e homens de fé, que tive a honra de contactar durante os meus
anos de estudo para obter o Doutorado em Física: o Doutor Kart Herzfeld
físico eminente, que abracou a fé católica a partir do judaismo e a viveu até
* morte com sinceridade e profundidade, que sempre admire/. E o Doutor
Clyde Cowan, co-descobridor do neutrino e Moderador da minha tese cuto
entusiasmo pela harmonía entre a ciencia e~a fé se manifestava com toda a
naturalidade em suas interessantfssimas conversas e no seu costume de dei-
xar diariamente o Laboratorio para assistir é Missa numa igreja próxima
Estes dois mestre e amigos, atualmente já na vida eterna, que e/es tib firme
mente esperavam, sao prova real de que a pouca ciencia afasta de Deus e a
muita ciencia eleva a Ele" (4a capa do livro).

Examinemos, pois, alguns dados atuais de cosmología e antropología,


e refutamos sobre o que possam significar para o homem que pensa.

1. 0 Universo: configuracao

0 universo que nos cerca nao é algo de caótico e confuso, mas um


conjunto extremamente complexo dotado de ordem prodigiosa. Alias, dizía
Einstein: "0 incompreensrvel do universo é que ele seja tSo compreens'fvel".

Os cientístas modernos, com seus radiotelescopios, conseguem sondar


urna extensao de 20 bilhóes de anos-luz2; dentro deste espaco descobriram '
15 milhoes de galaxias, distantes urnas das outras como ¡Ihas ou arquipélagos
muito densos, que se movem a velocidades vertiginosas.

A nossa galaxia - a Via Láctea - tem, como as demais. a forma de um


disco achatado; dois bracos gigantescos a envolvem, cercando um núcleo
central. O seu tamanho, comparado com o das outras galaxias, é medio ca
racterizado pelos seguintes dados:

1 Cuadernos BACn? 57. Madrid 1982.


2O ano-luz é a distancia percorrida pela luz em um ano; equivale a
9.500.000.000 de km.

119
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

- no interior da Via Láctea brilham 100 bilhoes de sois como o nos-


so, entre os quais se estendem nuvens, luminosas ou escuras, de gases e de
poeira cósmica;

- o diámetro da Via Láctea é tao extenso que a luz, tendo a velocida-


de de 300.000 km por segundo, ou nove bilhoes e meio de km por ano, leva
100.000 anos-luz para percorré-lo de urna extremidade á outra;

- o conjunto de estrelas da Via Láctea gira em torno do núcleo da


mesma como urna roda de fogos de artificio; é um conjunto tao gigantesco
que o nosso Sol, tendo a velocidade de 220 km por segundo, leva 240 mi
lhoes de anos para dar urna volta.

A fim de avaliarmos a extensao do universo que conhecemos, conside


remos nao só que a Via Láctea é urna entre 15 milhoes de galaxias descober-
tas até agora, mas também ten hamos presente que a distancia entre urnas e
outras é tao longa que parecem ilhas e arquipélagos perdidos no océano do
cosmos. A galaxia mais próxima da nossa - Andromeda - dista da Via Lác
tea dois milhoes e trezentos mil anos-luz e a distancia entre as diversas gala
xias se avalia em centenas e milhares de milhoes de anos-luz.

Cada estrela tem sua energía, luz e calor, que nao se devem á combus-
tao da respectiva materia, mas as ¡ncessantes explosoes termonucleares (se-
mediantes as da bomba de hidrogénio), que desprendem grandes quantida-
des de energía. A temperatura do Sol, na sua superficie, é de 6.000 graus
Celsius (em outras estrelas chega a 80.000 °C), e é de 15 milhoes de graus
Celsius no seu núcleo central. Apesar disto, o universo está as escuras, como
o contemplamos em noites estreladas;é também de baixCssima temperatura,
pois esta oscila entre a máxima de 173° negativos e a mínima de 272° abai-
xo de zero (pouco superior ao zero absoluto).

O estudo do espectro da luz procedente das galaxias mostra que as li-


nhas de absorcao, características dos diversos elementos químicos que ¡nte-
gram as estrelas, se deslocam em di re pao do vermelho.1 Disto se concluí que
as galaxias se vá*o afastando segundo velocidades diretamente proporcionáis
á distancia; as mais afastadas movem-se a 150.000 km por segundo. Donde
também se depreende que o universo está em expansáo.

É sobre esta base que se formula a teoría do big bang (ou da grande
explosao): segundo esta conjetura, a materia cósmica toda concentrada num

1 Segundo a leí de Christian Doppler (1803-53), as ondas de qualquer natu-


reza (luminosas, sonoras, eletromagnéticas...) tornam-se maiores ao se afas-
tarem do seu ponto de orígem. As ondas maiores se refletem no espetro na
faina do vermelho.

120
EXISTENCIA DE DEUS E CIENCIA 25

único núcleo ou numa nebulosa primitiva, há 18 bilhSes de anos, explodiu


e comepou a entrar em expansáío. No ano de 1978 ganharam o Premio Nobel
de Física os Professores Arno Perozias e Robert Wilson por terem recolhido,
pela primeira vez, um ruido homogéneo extendido por todo o universo, que
é o murmurio decorrente da gigantesca explosao dos tempos iniciáis. Os re
sultados dos estudos ffsico-qufmicos das estrelas indicam que a maior parte
délas nao podem ter mais do que 8 ou 9 bilh.Ses de anos de existencia.

Á teoria do universo em expansSo corresponde, segundo alguns auto


res, a do "universo pulsante". Com efeito; na medida em que aumenta a fu
ga das galaxias, diminuí a forca centrífuga das mesmas por causa da forca da
mutua atracá'o gravitacional; quando a forca centrípeta for mais poderosa do
que a centrífuga, as galaxias comecarao a se aproximar urnas das outras;
deverao unir-se e contrair-se até se concentrar em nova nebulosa, que, segun
do julgam, explodirá de novo em tempo oportuno.

Após expor estes dados sobre a configuracao do universo, estudemos a


sua expansao.

2. O universo: evolucao

2.1. Evoluca"o atómica. Na massa gasosa originaria, a temperatura e a


densidade eram tao elevadas que, em virtude dos continuos choques, era im-
possível formarem-se átomos; havia apenas partículas pré-atomicas, ou seja,
neutrónios, protón ¡os, eletrfmios... A expansao, porém, foi reduzindo a tem
peratura e a densidade, de modo que as partículas constituiram os primeiros
átomos de hidrogénio e de helio, semelhantes, em sua estrutura interna, a
um micro-sistema solar; tém um núcleo integrado por neutronios e proto-
nios, com carga elétrica positiva, e os eletrónios, de carga elétrica negativa,
girando ao redor daqueles1. Foi este o primeiro tipo de expansáío: a expan
sao atómica.

Ainda a respeito dos átomos, notemos que sao incrivelmente peque-


nos . O seu diámetro mede a décima millonésima parte de um milímetro; re-
querem-se 602.470 trilhoes de átomos, para que pesem urna grama-átomo.
Apesar disto, os átomos nao sfo maricos; sao vazios. ocos como o nosso sis
tema solar, as galaxias e o universo. Sabe-se que 99,9% da massa atómica es
tá concentrada no núcleo; todavía o diámetro deste mede a centésima milési
ma parte do átomo. — Imaginemos que se comprimam todos os núcleos ato-

1 Os átomos de hidrogénio tém um so elétron, ao passo Que os de helio tém


dois; por isto sSo os primeiros átomos a formarse. Atualmente 90% da ma
teria do universo é hidrogénio e 9% é helio; o restante 7% consta principal
mente de oxigénio, nitrogénio, neón, enxofre, silicio e ferro.

121
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

micos, de modo a formar um todo compacto; a Térra entáo caberia numa es


fera de 130 metros de diámetro; o Sol, numa de 13,7 km, e toda a massa do
universo estaria no espapo delimitado pelo cinturSo de asteroides que, entre
Marte e Júpter, giram em torno do nosso Sol. Esta seria a extensao da nebu
losa primitiva. Para se ter urna idéia da energia acumulada e neutralizada nos
átomos, tenha-se em vista o poder destruidor das bombas atómicas; numa só
gota de agua está condensada urna energia equivalente a 20 milhoes de tone
ladas de carbono.

2. Evolucáb cósmica. Cada qual dos conglomerados gasosos dispersos


pela explosao foi-se concentrando sobre si mesmo por gravitapáo no espapo;
e, ao girarem sobre si, essas massas foram-se partindo em fragmentos turbu
lentos. Estes, por sua vez, mediante rotáceo, se condensaram ñas estrelas
(com seus planetas e seus satélites, em alguns casos). Assim tiveram origem
as galaxias como produto da evolupao cósmica. Entre elas está a Via Láctea,
a qual pertence o nosso Sol, com seus nove planetas, formados há cerca de
4.600.000.000 de anos.

Esta idade é calculada mediante a avaliapáo do grau de desintegrapao


dos isótopos radioativos

— dos meteoritos róenosos caídos sobre a Térra e procedentes dos as


teroides ou da desintegrapao dos cometas;

- bem como dos fragmentos e elementos trazidos da Lúa pelos astro


nautas.

Estes diversos tipos de materia, submetidos ao referido método, indi-


cam ter a mesma idade de 4.6000.000.000 de anos.

A Térra possui no equador o diámetro de 12.075 km; o diámetro do


Sol é de 1.392.000 km; o Sol por si tem 750 vezes a massa toda do nosso
sistema solar. A distancia da Térra ao Sol é de 149.598.000 km, que a luz
percorre em 8,31 minutos.

O diámetro do sistema solar é de 11.824.225.800 km, que a luz atra-


vessa em 10,95 horas. Isto dá a ver que o nosso sistema solaré poeira insig
nificante perdida na Via Láctea, já que a luz necessita de 100.000 anos para
atravessar o diámetro desta.

3. Evolucáb química. No planeta Térra deu-se a evolucá"o química,


pré-biológica. O planeta estava envolto numa atmosfera rica de hidrogénio
e seus compostos e pobre em oxigénio; conseqüentemente essa atmosfera
era penetrada pelos raios solares ultra-violetas, portadores de energia. Isto
provocou a producao de moléculas simples, elementares, que se foram com
binando entre si, de modo a dar moléculas mais complexas. Oestas algumas

122
EXISTENCIA DE DEUS E CIENCIA 27

sao os antecedentes das proteínas e dos ácidos nucleicos, essenciais nos pro-
cessos vitáis.

O bioquímico británico J.B.S. Haldane e o russo A.l. Oparin estuda-


ram a composicao da primitiva atmosfera da Térra. O Prof. Stanley J. Miller,
da Universidade de Chicago, em seu laboratorio, tentou reconstituir as con-
dicoes vigentes na superficie da Térra primitiva. Demonstraram esses estu
diosos que as fontes de energía disponíveis podiam induzir a sin tese de com-
postos orgánicos a partir dos gases presentes naquela atmosfera.

4. Evolucáb biológica. Quando a Térra tinha aproximadamente um bi-


Iháo de anos - há cerca de 3.500 milhoes de anos - comecou a evolucao
biológica. No fundo dos mares devem ter aparecido os primeiros seres vivos:
organismos microscópicos, unicelulares, sem núcleo definido (procariotas),
semelhantes ás bacterias atuais1.

Dois bilhoes de anos depois, ou seja, aos tres bilhóes de anos da Térra
e há cerca de 1.500.000.000 de anos, apareceram as células dotadas de nú
cleo diferenciado (eucariotas). Estas marcam o inicio de nova era da evolu
cao biológica, pois deram origem aos tecidos de todos os organismos pluri
celulares - vegetáis e animáis - com diferenciacao funcional de suas célu
las.

Ainda mais tarde, no comeco da era que chamamos "Primaria", ou


no periodo cámbrico, há cerca de 600 milhóes de anos, comecou a diversi-
ficacao das especies vegetáis e animáis ñas aguas, na térra e nos ares. A va-
riedade de viventes assim oriunda é brevemente insinuada pelo Prof. Ri
chard C. Lewontin, da Universidade de Harvard, nos seguintes termos:

"Atualmente existen) cerca de 2 milhdes de especies. Dado que se ex-


tinguiram 99,9% ao menos, das especies que alguma vez e;<istiram sobre a
Térra, pódese imaginar que, desde o comeco do período cámbrico, foram
aparecendo sobre a Térra dois bilhoes de especies".

No fim da era secundaria e no comeco da terciaria, há cerca de 67 mi


lhoes de anos, apareceram os primeiros primatas ou simios conhecidos. Di-
versificaram-se em ramos paralelos sobre os continentes da Térra. Há dez
milhoes de anos aproximadamente, um desses ramos se bifurcou: de um
lado, evoluiu até o tipo dos macacos superiores antropomorfos: o orangu-
tango, o gorila, o chimpanzé; do outro lado, esses primatas desenvolveram-

1 Na África do Sul, em Fi Tree e Onverwacht encontramse as rochas mais


antigás da Térra, tendo 3.200 a 3.400 milhóes de anos respectivamente; ne-
las foram achados microfósseis de algas verde-azuis semelhantes ás atuais.

123
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

se até formar o corpo humano extremamente complexo1. O surto do homo


sapiens deve ter ocorrido há cerca de 2.000.000 de anos; os fósseis foram-se
aperfeicoando ató chegar ao tipo do homem atual. As características da pre-
senca do homem na pré-história sfo o uso de instrumentos burilados ou
lascados, o do fogo, o sepultamento dos mortos, sinais de inteligencia que
sabe avahar as proporcSes entre os meios e os fins, concebe a nocao do
Além e possui o senso artístico. A inteligencia do homem permitiu a este
adaptar-se aos ambientes mais diversos desde as regides árticas até os deser-
tos trapicáis, produzindo armas, instrumentos de capa, pesca, colheita, con
feccionando vestes e moradas convenientes.

É gratuito dizer que a especie humana tende pela evolucao a produzir


um Super-homem. Verdade é que o homem progride cada vez mais em cul
tura e civilizacSo, mas deve-se dizer que o homo sapiens da Idade da Pedra
já era da mesma especie que o homem de hoje; o que a historia registra, é o
desabrochamento (a principio lento e, depois, acelerado) das virtualidades
já existentes nos primeiros representantes da especie humana.

P6e-se agora a questSo filosófico-religiosa: como explicar esse univer


so que, gigantesco e harmonioso como é, tende a seu cume, que é o ser
humano?

3. O Universo e Deus

Tudo tem que ter sua razáo suficiente ou sua explicacáo satisfatória
aos olhos de quem reflete. Ora qual será a razio suficiente ou a explicacáo
deste nosso universo?

2.1. Oarrazoado

Eis algumas ponderacóes oportunas:

Sabemos que as estrelas, inclusive o Sol, produzem energía pela trans-


formacáo do hidrogénio em helio, e do helio em carbono, oxigénio e demais
elementos. Isto significa que o Universo teve comeco, e um comeco relativa
mente recente; em caso contrario, já se teria esgotado o hidrogénio, ao passo

A filosofía e a fé completam estes dizeres, como veremos mais adianto,


afirmando que Deus críou e infundio a alma humana espiritual nesses corpos
organizados, de modo a dar origem aos primeiros país. Por conseguirte, a al
ma humana, principio vital do homem, nao é fruto da evolucao, mas é cria
da diretamente por Deus para cada ser humano que vem ao mundo.

124
EXISTENCIA DE DEUS E CIENCIA 29

que o uso do espectroscopio permite afirmar que 90% de todos os átomos


do universo sáb hidrogénio. Dar deduzir-se que o universo é relativamente
"jovem", tao jovem que apenas usou urna pequeña parte do seu combustível
nuclear.

Retrocedamos, no tempo, até a explosao inicial ou o big bartg. Há


quem admita um universo (ou urna massa) em contracao antes dessa grande
explosao e da conseqüente expansáo. Exploremos essa hipótese, cientes de
que é hipótese.

Perguntamos entao: que havia antes dessa contracto da massa?

Nao se pode dizer que essa massa condensada nSo teve comeco ou é
eterna. Diga-se, poís, que antes ela estava em expansáo, como atualmente es
tá; terfamos assim um universo cíclico, com fases de condensacao e outras
de expansáo. Essa sucessáo de ciclos, porém, nfo pode ser infinita ou sem
fim, por diversos motivos. Com efeito; a energía cinética ou motora se trans
forma em térmica ou em energia motora, de modo que o universo tende a
imobilidade com temperatura estável. £ forcoso, pois, recónhecer que a mas
sa cósmica teve um comeco e que esse comeco se deve á obra criadora de
Deus.

2.2. Objecoes

Diante da conclusfo ácima alguns cientistas levantam duas objecoes:

1) "E donde vem Deus? NSo adianta dizer que Ele é infinitamente an-
tigo ou é presente a todas as épocas". — Em resposta, observamos: Deus nao
é material nem sujeito ás leis físicas da evolucao. Por conseguinte, o concei-
to de tempo nao se pode aplicar a Deus; Deus nao conhece nem sofre mu-
dancas nem evolucao, porque, por definicao. Ele é absoluto e eterno. Deus
está fora do tempo ou é anterior ao tempo, porque o tempo é a medida do
movimento da materia mutável, ao passo que Deus, por definicao, nao é ma
teria mutável. Quem concebe um Deus que evolui, nao está concebendo
Deus, mas urna criatura.

2) "A criacao é inadmissfvel aos olhos dos físicos, pois este sabem que
'no universo nada se cria e nada se destrói' (Leí de Lavoisier)". — Responde
mos que esta lei física tem em vista a materia já existente, ná"o a origem da
materia. É certo que, ñas reacoes físico-químicas provocadas pelo homem,
eixste depois da reacáo a mesma quantidade de massa-energia que havia an
tes da reacao; nenhuma criatura pode criar ou aniquilar coisa alguma; apenas
consegue transformar. A criacao, mesmo que de um só átomo, requer um
poder infinito capaz de atingir as raizes do existente, passando do ná*o-ser ao

125
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

Hí -P
eí de Lavoisier. ' P°r defini^°- Porta"to na-o se
Assim vé-se que, para a pergunta: "Qual é a causa do universo?" ou
nao se dá resposta ou só se pode responder apontando para Deus como Ser
Supremo e Criador.

O ffsico V.R. Jastrow, que trabalha para a NASA e se diz agnóstico


escreveu o l.vro "Deus e os astrónomos", no qual afirma: "No momento
atualparece que a ciencia nunca poderá levantar a cortina do misterio da
cnacao .Termina, porém, a obra imaginando um pesadelo: um cientista
que vai difícilmente escalando as montanhas do saber está a ponto de
conquistar o pico mais elevado; quando, porém, atinge a última e mais
alta rocha é saudado por um grupo de teólogos, que lá se acham sentados
há sáculos!

4. O ser humano e Deus

Pergunta-se também: qual a explicacao que a Filosofía pode dar Dara a


origem do homem sobre a Térra?

O homem é um ser que, no plano ffsico, se distingue por seus órgaos


altamente complexos e especializados, como sao os olhos os ouvidos o co-
racao. Verdade é que existe urna afinidade de estruturas e de compásielo
bioquímica entre o homem e os outros primatas; isto o torna, de certo mo
do, ligado aos demais vívenles, mas essa afinidade é acompanhada por re
quintes e finuras de complexidade que distanciam muito dos primatas o ser
humano. No plano psicológico, o homem também é singular; é consciente de
si (faz e sabe que faz...); é livre, podendo optar pelas mais imprevistas alter
nativas; é cnativo no plano das artes e da industria; é dotado de linguagem
que Ihe permite entrar em comunhao com os seus semelhantes.

Estas expressoes do ser humano sup6em a inteligencia, que permite ao


homem ultrapassar o plano dos objetos materiais e sensfveis (esta rosa esta
enanca, este cao...), a fim de atingir o abstrato, universal e ¡material (a rosa
como tal, a cnanpa como enanca, o cafo como cao...). Ora o principio vital
intelectivo nSo pode ser fruto da evolucíTo da materia; tem origem indepen-
dente desta ou é criado ¡mediatamente por Deus. Em símese, pode-se dizer
quando o corpo do primata eslava bastante evoluído ou organizado Deus
cnou e infundiu-lhe a alma espiritual, donde resultou o primeiro homem
A S. Escritura nao se opSe a esta explicacSo, pois nao foi redigida pa
ra ensinar ciencias naturais, mas para transmitir aos seus leitores urna
mensagem religiosa, ou seja, a noticia de que o homem, como tal é depen-

126
EXISTENCIA DE DEUS E CIENCIA 31

dente de Deus e por Ele amado, como o.barro é dependente do sen oleiro,
que muito o estima.

A alma humana, que ná"o é proveniente da materia, também nao pere


ce com a materia; nao se destrói, mas ó ¡mortal por sua própria natureza.
Assim o núcleo dá pérsohalidade humana ou o próprio eu consciente é cha
mado a se encontrar com Deus quando pela morte é separado do corpo; a
alma, que nao é materia, poderá usufruir dá visao de Deus, que também nao
é materia, se no decorrer da vida presente souber viver na presenca de Deus.

Eis o que um confronto entre a ciencia e a fé permite dizer em nossos


dias. Realmente verifica-se que a pouca ciencia afasta de Deus, ao passo que
a muita ciencia leva a Deus ou, como diz C.F. von Weizsacker: "O primeiro
trago da taca da ciencia nos separa de Deus..., mas no fundo da taca Deus
espera aqueles que O procuram".

A propósito:

JUAN LUMBRERAS, Dios Existe. Cuadernos BAC n? 39. Madrid


1981.

MANUEL CARREIRA VEREZ, El Creyente ante la Ciencia. Cuader


nos BAC n? 57. Madrid 1982.

* * *

CURSOS POR CORRESPONDENCIA

A Escola "Mater Ecclesiae" oferece os seguintes Cursos por Corres


pondencia:
1) S. Escritura: Introducao Geral e Especial (45 Módulos);
2) Iniciapáo Teológica, desde a Introducao á Teología até a Escato-
lopia (35 Módulos);
3) Teología Moral: principios gerais e questSes especiáis (28 Módulos);
4) Historia da Igreja: percurso completo (57 Módulos);
5) Liturgia e Espiritualidade: estudo das grandes fontes e nocoes da
piedade (38 Módulos);
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tantes (32 Módulos).
A duracáb de cada curso fica a criterio do aluno. As inscricSes podem
ser feitas em qualquer época do ano. Ao final de cada curso é fornecido um
Certificado.

IrrformacSes a inscricoes podem ser solicitadas á sede da Escola: Rúa


Benjamín Constant, 23 - 20241 Río (RJ) ou Caixa Postal 1362 - 20001
Rio (RJ).

127
As Grandes Religides da Humanidade:

Animismo e Religiosidade
Primitiva

Em síntese: O artigo descreve a religiSo dos povos primitivos com suas


diversas manifestacdes: as do animismo, da magia, do totemismo, do xama-
nismo... Concluí mencionando.* tese da Escola Etnológica "Anthropos" de
Viena, segundo a qual a forma originaria da ReligiSo nao é o politeísmo, mas
o monoteísmo. Este tere cedido ao politeísmo em muitos povos, pois o pro-
gresso da dvilizacao levou os homens a sentir sua dependencia do Sol, da
térra, do fogo, dos ríos...; donde o endeusamento dessas criaturas sob forma
de politeísmo.

* * *

"Animismo" designa grupos religiosos cuja idéia fundamental é a de


que todos os seres da natureza sao movidos por urna anima ou um principio
vital ou urna forca universal; esta, animando todos os entes, estabelece urna
comunhao multiforme entre o mundo ¡nfra-humano, o homem e os seres su
periores ao homem. Tal crenca religiosa, com modalidades diversas, á profes-
sada tradicionalmente por populacSes simples, geralmente analfabetas, de
mentalidade pré-crítica, de regime tribal, na Asia, na Oceania, na África e na
América, perfazendo um total de 200 ou 300 milhoes de adeptos: as tempes
tades, as secas, as doencas... sao interpretadas como elementos hostis, provo
cados por um Principio vivo e inteligente, de modo que o crente se julga
obrigado a captar a benevolencia ou desviar a ira de tais "espfritos" median
te ritos mágicos.

Examinemos os trapos principáis de tal conceppao religiosa.

1. Cosmovisáo animista

1. Esta corrente religiosa admite um Ser Supremo — Deus —, tido co


mo poderoso, e também misericordioso. É o Plasmador ou o Artesfo que fez
o homem (talvez como oleiro, trabalhando com materia preexistente); é
tambám o Senhor ou o Patrao de tudo o que existe, inclusive da vida e da
morte. Mora muito longe do homem. Embora ¡nvisfvel, é representado por

128
ANIMISMO E RELIGIOSIDADE PRIMITIVA 33

símbolos como o do céu, o do sol, o do firmamento... As vezes, é concebido


como o Ser Celeste masculino, que tem como contra-parte e Térra, ser femi-
niño. Ná"o está ausente da historia do mundo nem é indiferente ás vicissitu-
des dos homens; ele tem urna certa providencia, o que sugere aos homens a
¡nvocacáo da Divindade ou a ora<pá*o. Em certas tribos presta-se culto coleti-
vo aó Oeus Supremo e se Ihe oferecem sacrificios.

Eis algumas fórmulas que exprimem o conceito de Deus existente en


tre os primitivos:

"Voces nao podem ver o Grande Espirito. Vocé nSo consegue ver nem
mesmo os seus vestigios... Su nio ve/o o Grande Espirito, nem sei a que é
que ele se assemelha. Mas todos voces sabem que existe um Grande Espiri
to... É aquele que sentimos em nos quando cumprimos os nossos deveres.
Se seguimos tal caminho, sentimos que o Grande Espirito é realmente gran
de" (Um Algonquino da América do Norte).

"Antes dos prímeiros homens, existia Temaulk. Ele nSo possui corpo;
Ele fez o céu e a térra, mas sobre a térra nunca veio... Permanece longe,
atrás das estrelas; ii está o seu universo; é lá que ele fica sempre... Ele sabe o
que acontece aqui, Ele vé todos os habitantes da Térra do Fogo... O que ele
pede, nos devemos fazé-lo... Ele é o espirito;existe sempre..." (Um indio da
Térra do Fogo").

Para o negrito, o Grande Deus se chama Khmvoum (o Patrao do Céu),


Mounga (Aquele que cria), Bali (Aquele que pensa).

2. Apesar do relacionamento que o homem possa ter com a Divindade,


esta fica sendo sempre misteriosa e inatingi'vel, de modo que os devotos se
voltam muito mais freqüente e férvidamente para os seres intermediarios en
tre a Divindade e os homens. Entre estes intermediarios, acham-se os ante-
passados, que ocupam lugar de importancia ñas concepcSes e no. culto das
tribos primitivas; tomam parte na existencia das famClias residentes na térra e
respondem aos ritos e ao culto que se Ihes tributam; de certo modo conti-
nuam a exercer funcdes que Ihes cabiam outrora quando viviam na térra (pa
triarca, chefe de tribo, amigo, inimigo...}. Estao, pois, em comunháo com os
vivos deste mundo.

3. Além da Divindade Suprema e dos antepassados, encontram-se, áci


ma dos homens, seres espirituais que regem elementos e fenómenos da natu-
reza (bosques, montanhas...); alguns sao benévolos, ao passo que outros
se mostram malévolos em relacao ao homem. é preciso, portantó, atrair os
favores ou afastar a ira desses entes superiores, pois influem poderosamente
sobre a saúde, a habitacao e as atividades dos homens... Esses seres superio-

129
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

res nao sao tidos como criaturas do Deus supremo, de modo que os primiti
vos professam um certo monoteísmo mesclado de politeísmo.

No conjunto de tais seres superiores, conta-se a Máe Térra, que, por


sua fecundidade inesgotável, sustenta a vida das plantas, dos animáis e dos
homens; além disto, recolhe os mortos e os antepassados no seu reino.

4. Mais: os povos primitivos julgam que a saúde, o éxito dos empre-


endimentos, a felicidade ou a desgraca dependem outrossim de forcas mis
teriosas, que alguns homens, dotados de conhecimentos e energías especiáis,
conseguem controlar mediante ritos próprios. O exercfcio desses ritos se
chama "magia". O mago ou o detentor dos segredos e das receitas que maní-
pulam essas forcas misteriosas, vem a ser figura de grande importancia entre
os primitivos. Os magos podem ser, muí tas vezes, curandeiros.

0 nome "mago" vem do vocábulo Magoi, que designa urna tribo dos
Medos. Nesta tribo alguns homens, talvez da classe sacerdotal, devem ter
hostilizado Zoroastro, que no sáculo VI a.C. tencionava reformar a antiga re-
ligiao meda. Posteriormente foram chamados "magos" os sacerdotes da reli-
giá*o babilonia (caldeus), que cultivavam a astrologia e a adivinhacao. Em
conseqüéncía, o nome "mago" ficou sendo sinónimo de taumaturgo e cu-
randeiro.

Há dois tipos de magia: a simbólica ou imitativa e a contagiante ou


simpática. No primeiro caso, o mago faz urna imagem (imitacao) da pessoa
ou da coisa que ele deseja destruir ou atingir; depois destrói essa imagem
(esse boneco, por exemplo), na certeza de que tal destruicao afetará a pró-
pria pessoa ou coisa visada. No caso da magia simpática ou contagiante, o
mago julga que, atetando algo da pessoa ou da coisa em mira, afetará o todo
ou o conjunto; assim, por exemplo, quem quer matar alguém, escreve o no
me desse alguém e vai apagando sucessivamente cada letra de tal nome. O
efeito produzido no nome contagiará a própria pessoa, segundo os magos...

Na verdade, qualquer prática de magia é inspirada por mentalidade in


fantil. Se produz algum efeito, este se deve ná*o ao artificio aplicado, mas á
sugestao que pode causar na pessoa visada; sim, quem eré que está sendo ¡n-
falivelmente perseguido, acabará por se entregar, talvez inconscientemente, á
desgraca ou á derrota na vida.

Bem entendida, a magia sup&e, da parte dos homens, urna atitude


oposta á que a religiao apregoa. Com efeito; esta reconhece a dependencia
do homem em relacáo á Divindade e faz preces aos seres superiores para que
ajudem o orante necessitado. Ao contrario, na magia o homem tenta, medi
ante segredos revelados a pessoas privilegiadas, dominar os seres superiores;

130
ANIMISMO E RELIGIOSIDADE PRIMITIVA 35

nao cultua a Divindade, mas poe-na aservico do homem, fazendo que os


deuses se dobrem aos intentos do ser humano.

2. Expressoes religiosas particulares

A religiao dos primitivos toma certas formas especiáis em alguns po-


vos, geralmente sem perder as características atrás enunciadas. Ei-las:

1) Fetichismo. É o culto de um fetiche ou feítico, objeto animado ou


inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribuí
poder portentoso. Pode ser um amuleto (figa, medalha, figura qualquer...)
ou um talisma (também medalha, figa...).

2) Totemismo. Tótem é um animal ou um vegetal considerado como


ancestral ou como pai de um grupo humano (tribo, cía); é cultuado como
protetor desse grupo, que toma tal animal ou planta como símbolo da sua
identidade. Daf o totemismo ou o culto do tótem. As pessoas filiadas a um
tótem se julgam aparentadas entre si e obrigadas a casar-se fora do respecti
vo cía. Nao é permitido matar e comer o tótem animal ou vegetal (urso,
leéo, foca, formiga, I Crio, rosa...). Tal proibicao se chama tabú (do polinesio
tabú, sagrado invulnerável, através do inglés taboo); na verdade, tabú é
qualquer proibicao, aos profanos, de se aproximarem de pessoas, lugares ou
objetos tidos como sagrados, sob pena de ¡ncorrer no castigo da Divindade.
0 animal totémico ou o vegetal é, as vezes, invocado antes da caca como se
fosse um Ser Superior ou urna Divindade.

O pai da Psicanálise, Sigmund Freud, na sua obra Tótem und Tabú


(1913) explorou os dois conceitos, construindo urna fantasiosa e arbitraria
teorías sobre a origem da religiao. Eis o mito do Velho Gorila:

Freud, movido pela doutrina de Darwin, admitía que, no decorrer da


evolucao dos animáis, existiu primitivamente urna horda de gorilas (seres
pré-humanos) dominada por um Macaco Velho. Este monopolizava todas as
ffimeas do grupo e, por isto, perseguía e expulsava os fMhos, visando assim
manter o monopolio das mulheres.

Todavía, em dada fase da evolucao, os filhos se transformaran! em no-


mens; reuniram-se entáo num ato de rebeliao contra o Velho Gorila; mata-
ram este seu pai e o comeram num festim canibalesco. A seguir, estipularam
o "contrato social": os irmá"os homens viveríam em sociedade... sociedade
em que o incesto (ou a uniao sexual entre ¡rma'os e irmás, entre filhos e
maes) seria banido como um tabú e os matrimonios deveriam ser exógamos
(ou seja, concluidos entre membros de diversas familias). Tal é a sociedade
em que hoje vivemos, diz Freud: ela está baseada sobre o tabú do sexo e re-.

131
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

prime o livre uso da vida erótica: o "Superego" (ou as regras de honestidade


sexual) controlam o "Id" ou os instintos cegos, o "Eros" (Amor sensual) e a
"Libido" (a concupiscencia) do individuo. O complexo de culpa, que fácil
mente se apodera do homem que cede aos instintos sexuais, explicar-se-ia
como vestigio, persistente até hoje, do crime de rebeliao e assassinato come
tido pelos primeiros homens que procuraram satisfazer seus desejos carnais.
Tal crime (motivado por razdes sexuais) terá delxado traeos mnemdnicos
inconscientes em todo homem até hoje, e sobre estes traeos se te rao funda
do a Religiao, a Moral e toda a estrutura mental da sociedade humana.

Freud desenvolve ulteriormente o seu pensamento nos seguintes ter


mos: os homens que se libertaram do dominio tiránico do velho Pai Gorila
mediante o assassinio, nao conseguíram emancipar-se, por completo, do do
minio de uma autoridaderesta foi restaurada na instituicSo do Estado ou do
poder governamental. Este continua a manter as proibicoes do Pai; é repres-
sor em relacáfo aos homens. Freud, porém, julga que a sociedade se deve con
servar sob o regí me de tais repressSes: a livre satisfágalo das necessidades ins
tintivas do homem seria incompatfvel com a civilizacao; a renuncia aos ins
tintos cegos constituí um dos pré-requisitos do progresso.

3) Manismo. É o culto dos antepassados (manes) considerados como


divinos entre os romanos.

Manes eram, para os latinos, os espíritos dos antepassados que viviam no


mundo subterráneo. Eram tidos como benévolos se fossem respeitados os
seus direitos, inclusive o culto respectivo; era necessário oferecer-lhes sacri
ficios, que eram iguais aos que se prestavam a Térra Mae, Tellus, que os ti-
nha recolhido. Tres vezes por ano, o mundo inferior se abria para dar passa-
gem aos Manes. Caso os vivos nao prestassem o devido culto, os Manes volta-
riam á superficie da Térra sob forma de fantasmas para atormentá-los. 0
mesmo acontecería se nao se desse sepultura aos mortos.

Nos días 9,11 e 13 de maio, os Manes safam dos seus recantos fúne
bres e reapareciam ñas casas onde tinham vivido; para apaziguá-los, era preci
so observar minucioso ritual realizado pelo pai de familia a meia-noite e de
pés descalcos; competia-lhe distribuir favas aos Manes até que estes se sacias-
sem e fossem embora.

4) Xamanismo. Xaman, numa lingua asiática, significa "esconjurador,


exorcista". E Xamanismo é o culto derivado da conviccao de que certos ho
mens (xamas, magos) tém o poder secreto de dirigir ou dominar espiritos
superiores bons ou maus.

5) As Sociedades Secretas. Ñas sociedades matriarcais, em que a mu-


Iher predominava ou chefiava, os homens se organizavam em sociedades se-

132
ANIMISMO E RELIGIOSIDADE PRIMITIVA 37

cretas para impor sua autorida.de ou contrabalancar o poder das mulheres.


Sua finalidade era mais política do que religiosa. Como querque seja, algu-
mas Sociedades Secretas praticavam a "capa das cabecas", atividade ambi
gua, pois tanto podía assumir sentido religioso (o culto dos eramos) como
um cunho esportivo, sen/indo de ocasiSo para premiar o jovem que conse-
guisse matar o priméifo homem (¡nimigo ou réu) em sinal de virilidade.

Digamos ainda urna palavra sobre

3. A origem da Religiáo

Há quem julgue que a humanidade comecou sua historia sem religiáo


ou atéia. Aos poucos, porém, sentindo-se dependente de elementos que con-
dicionavam a civilizado (Sol. fogo, térra. Monarca...), comecou a cultuar re
ligiosamente esses elementos; donde surgiu o politeísmo. Posteriormente a
grosseira religiáo politeísta terá cedido á monoteísta, que é a única forma ló
gica de Religiáo.

Esta concepcáo é posta em xeque por serias pesquisas feitas ultima-


mente no campo da Etnología.

a) A Pré-história nao oferece numerosos vestigios de Religiáo; ela ape


nas apresenta fósseis, que sao fragmentos inanimados do corpo humano, ao
passo que a Religiáo está essencialmente arraigada na atividade psíquica do
homem, atividade que nao fica necessariamente consignada em destrocos
materiais. Contudo é-nos suficientemente comprovada a existencia de Reli
giáo na era das cavernas mediante dois tipos de documentos: as sepulturas e
as obras de arte.

As sepulturas da Pré-história atestam especial deferencia para com os


mortos: o cadáver era geralmente deitado na direcáo LO. e acompanhado de
múltiplos instrumentos que deviam servir ao defunto na vida postuma. Acre-
ditava-se, pois, na sobrevivencia da alma; ora esta crenca está intimamente
associada á Religiáo, como ensinam os psicólogos:

"A prímeira conseqüéncia de toda ¡déia religiosa é a de fazer temer a


morte ou. ao menos, os mortos. Daf resulta que, desde que as idéias religio
sas se afirmam, as práticas funerarias se introduzem" (G. de Mortillet, Le
Préhistorique 1883).

Em confirmacáo disto, verificase que os animáis irracionais, os quais


nao tém Religiáo, também nao praticam a deferencia para com os mortos;
nem o mais industrioso desses viventes sepulta seus defuntos.

133
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

De resto, o simples fato de que os amigos homens orientavam os tú


mulos na direcao do Sol pode ser tomado como indicio de crenca em Deus,
pois o Sol entre os povos primitivos é nao raro considerado como "o Olho
amável" do Ser Supremo.

Quanto a arte das cavernas pré-históricas, apresenta espécimens de ca-


ráter nitidamente religioso: tais sao as chamadas "estatuetas de Venus", a
significar a Vida personificada;... recintos em que ná"o há vesti'gios de habita-
pao humana, mas onde se encontraram desenhos a lembrar certo ritual sagra
do (tais recintos terSo sido santuarios ou "celas" de culto).

b) Muito mais ricos do que os resultados da Paleontología, sá"o os da


Etnología, pois este campo de observaca~o oferece dados mais vivos e varia
dos do que o dos fósseis.

Com efeito, ainda hoje existem certos cías de selvagens que, como jul-
gam os observadores, representam o primeiro género de vida do homem so
bre a térra: alguns, infra-civilizados como sá"o, nem sabem fazer uso do fogo
nem construir habitacoes estáveis, vivendo conseqüentemente sob o abrigo
de folhagens da floresta. Tais seriam:

os pigmeus da África central e ocidental, de SE da Asia (Malaca), das


Filipinas,

algumas tribos de aborígenes de SE da Australia (os tasmanianos, ex


tintos em 1877, pareciam representar o homem de Neanderthal),

algumas tribos de Indios norte-americanos (algonquins e habitantes


da California),

certos Indios da Térra do Fogo (Yamanas ou Yaghas e Alakalufs),

algumas populacoes árticas do Estreito de Behring, esquimos ¡solados


a O. da Bafa de Hudson.

Note-se bem: as manifestapSes culturáis desses povos, por muito sim


ples que sejam, se mostram tao afins entre si que levam a crer, tenham esses
ciáis em tempos remotos constituido urna única populacho, a qual se disper-
sou, conservando, porém, ñas mais desconexas regiSes do globo as idéias e
práticas características do seu agrupamento primitivo. Por conseguinte, ñas
tribos ácima recenseadas vamos encontrar as primeiras manifestacóes cultu
ráis do homem, anteriores mesmo á expansao dos povos pela superficie do
orbe.

134
ANIMISMO E RELIGIOSIDADE PRIMITIVA 39

E que atestam tais tríbos no tocante á-Religiao?

Verificou-se que professam a crenpa num só Deus bom, Autor de tudo


e todos, a quem os homens devem obediencia e prestacao de contas dos seus
atos. Esta afirmacSo está hoje assentada sobre denso material colhido pelos
exploradores.

Tenha-se em vista por exemplo, a tribo dos pigmeus Efés, estudada pe


lo etnólogo Paulo Schebesta, o qual relata um diálogo seu com dois dos an
daos do cía:

"Quem fez o que nos cerca?", perguntou o europeu.

Calaram-se os aborígenes. Mas o explorador continuou:

"Por que oferecemos as prímeiras frutas a Toré?"

A nova pergunta foi suficiente para provocar a manifestado de propo-


sicoes muito caras aquela gente. Respondeu um dos interpelados:

"Tudo pertence a Toré. Toré tudo fez, Toré fez as árvores. Fez Puco-
puco (o ancestral da tribo); Toré vé tudo; Toré nos vé; ouve o que dizemos.
Ele sabe de todo o mal que se comete; castiga oj culpados, e até mesmo os
magos, pois Toré fez também os magos".

A seguir, o velho falou do poder de Toré sobre o raio, a morte, as al


mas, etc. Cf. P. Schebesta, Die Bambuti, die Zwerge vom Congo. 1933.

Outro episodio significativo é narrado por M. Briault, que passou quin-


ze anos entre os negros Pamués, habitantes do Gabao francés (África). Estes
aborígenes cultuam um Oeus só, denominado Nzame (da raiz bantu mba,
que significa "fazer, arrumar, plasmar"). Deus assim aparece, na espirituali-
dade daquela gente, como o Grande Artífice, do qual dizem os seus devotos:
"É aquele que nos fez, nosso Pai".

Um dia Briault sugeriu a um grupo de maiorais da térra a idéia de exis-


tirem dois de uses supremos; responde ram, porém, decididamente:

"Dois deuses iguais, isso é coisa impossfvel; fariam a guerra um ao ou


tro, e o mundo estaría destrocado".

Há aqui autentica sabedoria em vestes muito simples: os conceitos de


dois deuses iguais pugnam um contra o outro, excluindo-se mutuamente.

135
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

"Deus tere fim? Morrerá um día?"

- "E quem colocarías em seu lugar?"

Esta resposta equivale a dizer que Deus é o Ser absolutamente neces-


sário.

Os selvagens acrescentavam: "Nzame na*o é um homem como nos".


E como explicavam isto? Ardua questáo, sem dúvida... Afirmavam sentir
a presenca de Nzame em toda parte, embora ele permaneca invisCvel; com-
paravam-no ao ar, sem o qual nenhum ser pode viver, o qual (ar), porém,
nao tem figura sensível. Asseguravam também que Deus é soberanamente
poderoso e bom, nao podendo ser constrangido por encantamentos nem
conjurares mágicas. Merece respeito e piedade. Cf. M. Briault, Polythéisme
et fét¡chisme. París 1928.

Encontram-se em grau vari ave I entre essas tribos primitivas elementos


de magia e superst¡cao; parecem, porém, importados de outros povos, seus
vizinhos mais adiantados, com os quais os infra-civilizados tém que entrar
em contato, para se prover de fogo (quando necessário) ou para realizar cer-
to comercio. Verifica-se, cornudo, que, quanto mais rude e fechada em si é
determinada tribo, tanto mais pura e simples é a sua religiSo, permanecendo
fiel ao monoteísmo.

As observacoes até aqui propostas sugerem mais esta conclusao: foi


com o progresso da cultura que o homem comecou a deturpar o seu mono
teísmo inicial, caindo nos tipos de religiSo grosseiros que os evolucionistas
julgavam anteriores á crenca num só Deus.

Entende-se bem tal roteiro da historia das re I ¡gi oes. Á medida que se
desenvolve a civilizacSo, o homem entra em contato com a natureza e seus
misterios; percebe a sua dependencia frente aos grandes fatores da prosperi-
dade e da desgrapa: o sol, a lúa, a térra fecunda, a chuva, o trovao, etc. Daí
surge-lhe a tentaca*o de transferir para estas criaturas o conceito de Deus, o
qual é entáo esface lado.

Mais ainda: para explicar a diversificacao da religiao inicial, levar-se-á


em conta o seguinte. Todo homem traz em si duas aspiracóes espontáneas:
a de saber e a de poder ou dominar. Ora a religiao primitiva era muito sim
ples, ensinando ao homem apenas o essencial a respeito de Deus e da vida
moral; em conseqüéncia, o desejo de saber ou de explicar os misterios levou
muitos dos amigos a tentar suprir, com o bom senso ou com a fantasía, as
lacunas deixadas pela sua crenca religiosa; assim tiveram origem os mitos,
historias fantasistas concernentes á Divindade e aos homens, ñas quais o
conceito de Deus é geralmente rebaixado. - Outros individuos, impelidos
pela ambicáfo ou pelo desejo inato de dominar, comecaram a explorar a Re-

136
ANIMISMO E RELIGIOSIDADE PRIMITIVA

ligiao (fator certamente poderoso) para obter prestigio junto aos seus seme-
Ihantes; apresentaram-se como detentores de segredos (fórmulas e artes) ca-
pazes de forpar a Oivindade a ¡ntervir em favor dos homens. Tais slo os ma
gos, que, como se vé, também derrogam aos conceitos de Deus e Religiao,
pois pretendem colocar a Oivindade a servico do homem.

Em conclusSo, dir-se-á: a Religiao, longe de ser artificio convencional,


é t3o espontanea quanto espontaneo é o brado do homem em demanda de
um termo que nao aprésente lacuna nem deficiencia: o Absoluto.

E nao poderia ser vao esse brado?... va a Religiao?

Tenha-se em mente a agulha magnética de urna bússola: agita-se irre


quieta em torno do seu eixo até encontrar o Norte. E por que gira? Porque
na realidade há fora déla um polo que a atrai e a impede de repousar en-
quanto nao se dirija para ele. Assim também há fora da alma humana um
polo que a atrai incessantemente; provoca nela avidez e sede, garantindo-lhe,
porém, repouso e paz, desde que se dirija para Ele mediante fiel observancia
religiosa.

"Através de todas assuas aberracóes, o espirito humano sempre se orí-


entou para a Divindade. Houve quem de tetnpo em tempo tentasse imprí-
mir-fhe a direcao oposta. Contudo ele sempre protestou e retomou, logo que
o pode, a sua orientacao habitual. O espirito humano, á semelhanca da agu
lha magnética, poderia dizer-nos no caso: 'Tal é a minha natureza'.' " (A.
Réville. Prolegómenos de l'histoire des Religión* 90¿

Bibliografía:

KOENIG, FRANZ, Cristo y las Religiones de la Tierra. Manual de


Historia de la Religión, 3 vols. — Biblioteca de Autores Cristianos (BAC)
Madrid 1960 el 961.

LINDER Y COSTELLO S.J., Los Fundamentos de la Religión. Va


lencia 1959.

PIAZZA. WALDOMIRO OTAVIO, ReligiSes da Humanidade. Ed. Lo-


yola, Sao Paulo 1977.

ÍDEM, Introducto á Fenomenología Religiosa. Ed. Vozes, Petrópo-


lis 1976.

PR 306/1987, pp. 444-447 (sepulturas na pré-história).

137
A Revolupao terá instituido

O "Reino de Deus" em Cuba?

Em símese: Mons. Karl Lehmann, Bispo de Mogúncia e Presidente da


Conferencia Episcopal da Alemanha Ocidental, esteva visitando Cuba em no-
vembro de 1988, onde manteve contatos com os sete Bispos do país, com
sacerdotes. Religiosos e leigos diversos; procurou assim colher o maior volu-
me de informagdes possfvel.

De volta á sua diocese, expds as impressdes de viagem ao repórter de


Glaube und Leben (edicáode 11/12/1988). Reconhece alguns pontos positi
vos aparentes aos olhos do visitante (assistSncia médica, escolas, baixa da cri-
minalidade juvenil...), mas verifica outrossim que a carencia de géneros ali
menticios e, especialmente, de liberdade afligem profundamente a popula-
cSo, em particular os jovens. A Igreja está restrita a exiguos espacos físicos,
sem direito aos meios de comunicacSo social e é restauracao de templos e
edificios deteriorados. Todavía é urna fonte de esperanca para osjovens que
procuram o sentido da vida e urna razao para existir, sem encontrar resposta
no regime marxista. Os valores espirituais e moráis da /groja em Cuba conser-
vam-se vivos, aguardando a oportunidade de poder expandirse livremente
sobre a nacao.

** *

A imprensa de 20/01/89 publicou famosa carta de um prelado brasilei-


ro a Fidel Castro, cumprimentando o estadista cubano pelo 30? aniversario
da ñevolupao marxista na ilha. Entre outras coisas, dizia:

"A fé cristS descobre ñas conquistas da Revolucao os sinais do Reino


de Deus, que se manifesta em nossos coracoes e ñas estruturas que permitem
fazer da convivencia política urna obra de amor".

Ora nao se poderia deixar de comparar esta afirmacSo com o depoi-


mento de Mons. Karl Lehmann, Bispo de Mogúncia (Alemanha) e Presidente
da Conferencia Episcopal da Alemanha Ocidental. Este prelado esteve em
Cuba no mas de novembro de 1988, tomando contato atento com a realida-

138
0"REINODEDEUS"EMCUBA 43

de daquele país. A seguir, foi entrevistado pelo representante do jornal


Glaube und Leben (Fé e Vida), da diocese de Mogúncia, a respeito das inv
pressSes de sua visita a Cuba. O texto das respostas de Mons. Lehmann foi
publicado na edicao de 11/12/1988 daquele periódico á p. 3.

O depoimento do Sr. Bispo merece solícita consideracao, nao só pela


envergadura da pessoa que o profere, mas também porque é testemunho
ocular e auricular, e nao se baseia apenas em ¡nformacóes recebidas de visi
tantes. Reproduzimo-lo, a seguir, em traducao brasileira.

I. O DEPOIMENTO DE MONS. KARL LEHMANN

Repórter: "Sr. Bispo, V. Ex.cia acaba de chegar de uma viagem a Cu


ba. Qual foi o motivo dessa visita?"

Mons. Karl Lehamann: "A visita de uma delegacáb da Conferencia dos


Bispos da Alemanha á Igreja que está em Cuba, já estava planejada havia al-
gum tempo. Nosso objetivó era exprimir, mediante essa viagem, a mutua
uniáb dos católicos, e mesmo dos cristaos, esparsos pelo mundo inteiro. De
modo especial queríamos dizer claramente á Igreja em Cuba que nos interes-
samos em particular pela sua situacáb e estamos solidarios ao seu lado.

A grande importancia da nossa visita se prende também a uma even


tual evolucao das relacdes entre Estado e Igreja, ainda muito tensas em Cu
ba. Era outrossim nosso intuito informar-nos a respeito das possibilidades de
que a Igreja naquele país venha a gozar de mais liberdade".

R.: "Como 6 que V. Ex.cia em Cuba pode colher informacó'es?"

K.L.: "Conversamos tongamente com os sete Bispos do país, cujas dio-


ceses nos visitamos todas. Isto nos deu ocasiao de nos encontrar com mais
da metade dos 245 sacerdotes e dos 330 Religiosos (Irmábs e Irmas) que tra-
balham na ilha; também com mu ¡tos leigos foi-nos dado conversar após as
celebracfies da Liturgia, é verdade que em poucos dias náb se pode fer uma
imagem definitiva nem formular um juízo peremptório, mas é certo que os
freqüentes contatos com as pessoas nos proporcionaram grande volume de
informacoes. Além do mais, nossas impressdes foram completadas por en-
contros com personalidades ligadas á política".

R.: "Entre nos quase só temos noticias a respeito da política e das vet-
dadeiras ou falsas conquistas sociais de Cuba. Mal sabemos como a Igreja vi
ve ou pode viver naquele país regido pelos principios marxistas-leninistas.

139
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

Que balando V. Ex.cia apresenta no tocante ás condicoes socio-económicas


e á vida dos católicos daquele país?"

K.L.: "Em poucas palavras, a respeito dessas importantes e comple


xos aspectos da realidade, podo-so dizer o seguinte:

— Em comparacao com os países da América do Su I, nao há em Cuba


— ao menos aparentemente — miseria no tocante áj primeiras necessidades;
a assisténcia médica é boa, e o Estado i nveste grandemente na educacao e no
aprimoramento profesional dos cidadábs. Nao se v§em criancas a mendigar
e a criminalidade da juventude é baixa em relacao ao que acontece nos paí
ses da América do Sul.

— A situacSb económica é milito tensa. É insuficiente o abastecimento


de víveres para a populacáb; principalmente falta carne. Muitos dos produ-
tos do país sáb, quase na totalidade, exportados para o estrangeiro. Isto gera
urna certa amargura. Numerosos géneros alimenticios sao racionados, de mo
do que só se podem adquirir mediante cupons. No que diz respeito ao abas
tecimento em geral, Cuba tem o aspecto típico de um país socialista: predo
mina a carencia.

— Mais impressionante do que esta penuria é a limitacáo da liberdade.


Ná*o se pode praticar a religiSb com liberdade. A ideología marxista-leninista
orienta a educacáb e o aprimoramento profissional em todos os níveis; é a
ideologia do Estado. As liberdades individuáis sáb coibidas; as pessoas se sen-
tem vigiadas e cerceadas. A monotonía da vida e a falta de liberdade, assim
como o ¡solamento em relacSo aos outros países, pesam principalmente so
bre os jovens. Muitos destes procuram valores e o sentido da vida. Neste afa
deparam-se náb raro com a Igreja, embora na escola nada oucam sobre reli-
giáb e fé. Esses jovens estao prontos a responder por suas conviccdes. Em
Cuba verifica-se aquilo que ocorre em outros países socialistas: nao se con-
segué extirpar a fé de um povo.

— A Igreja permanece nos seus estreitos espacos sem ser molestada;


mas ná*o I he é lícito penetrar dentro da sociedade. Também nao I he é permi
tido dispor livremente dos seus templos e edificios; muitas igrejas amoscadas
de cair em ruinas, e até mesmo monumentos arquitetónicos, náb podem ser
restaurados. Nos territorios recém-urbanizados náb é lícito até agora cons
truir igrejas.

Muitos cristSbs se queixam de sofrer pressoes e represalias. Aos estu-


dantes que professam abertamente a sua fé, é praticamente fechado o acesso
a determinadas carreiras. Os pais náb raro mandam batizar os f ilhos clandes-

140
O "REINO DE DEUS" EM CUBA 45

finamente, pois temem sancoes. O medo § freqüente tema de conversa em


Cuba.

- Até agora a Igreja nao teve entrada nos meios de comunicacao so


cial. Nao Ihe é permitido ter seus jomáis ou boletins de noticias. Eis, porém,
que comeca á brílh'ar pálida luz de esperanca. Com doacóes dos católicos ale-
máes poder-se-á instalar urna tipografía. Esperamos calorosamente que esta
possa funcionar.

— Nao 6 permitido imprimir escritos que nao sejam de orientacao mar-


xista-leninista, nem é lícito introduzi-los de fora no país. Recentemente foi
autorizada a entrada de 30.000 exemplares da Biblia; mas, para um povo de
quase onze milhoes, isto é insignificante. Ñas livrarias nao se encontra a Bi
blia á venda. Os sacerdotes sofrem pesarosamente este ¡solamento espiritual."

R.: "Deve-se entáb falar de urna Igreja condenada ao silencio?"

K. L.: "Nao, em absoluto nao, de modo nenhum (Nein, ganz und gar
nicht). Verdade é que a Igreja é um pequeño rebanho, mas está viva. A
opressao fez que ela mais se voltasse para as suas raizes; ela vive fortemente
das fontes da fé. Utiliza os exiguos espacos de I ¡bardada de que dispoe.
Era gratificante considerar a confianca e a estima mutuas que predominam
nesse pequeño rebanho. Os católicos que permanecem fiéis á Igreja, irra-
diam esperanca, apesar de todas as dif ¡culdades. A Igreja em Cuba está viva
e pronta para dar testemunho de Cristo. Existem também modestas iniciati
vas de atividade social em favor dos anciaos e dos deficientes. O Governo
prometeu á Igreja que em breve Ihe será permitido praticar a pastoral dos
prisioneiros. Estes sáb tímidos sinais de melhora de condicoes".

R.: "V. Ex.cia também tratou de ulterior colaboracao com a Igreja em


Cuba?"

K.L.: "Outrora houve diversos contatos entre os católicos da Alema-


nha e os de Cuba. Mediante as Organizacóes Adveniat e Misereor, os católi
cos alemáes ajudaram os de Cuba com treze milhóes de marcos aproximada
mente. Sempre me agradeceram por isto durante a visita. Esta gratidád, eu a
transmito aos nossos fiéis. Tenham consciéncia de que podem avivar a espe
ranca de pessoas que em situacao penosa professam corajosamente a sua fé.
A coleta de Adveniat nos chama sempre de novo ao exercício prático dessa
solidariédade. Quando vemos como essa ajuda é aproveitada e como é rece-
bida com gratidáb, nos, os doadores, nos sentimos quase envergonhados.

Bem concretamente, combinamos que os Bispos de Cuba viráo dentro


de dois anos á Alemanha retribuir a nossa visita".

141
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

II. COMENTANDO...

Mons. Karl Lehmann fo¡ objetivo, comecando por registrar o que, ao


menos em aparéncia, impressiona bem o visitante: assisténcia escolar (embo-
ra unidirecional ou massif¡cante marxista), assisténcia médica, assim como
atendimento as primeiras necessidades da populacao sao objeto de atencao
da parte do Governo. Logo a seguir, porém, aponta os grandes males que
afligem o povo: além da carencia de géneros alimenticios, o medoe a sufo
cado da liberdade afligem cidadáos e camponeses. Os mais prejudicados sao
os jovens, que véem seus talentos e sua criatividade cerceados; a vida Ihes pa
rece insípida. Daf a procura do sentido da existencia humana, procura para
a qual a Igreja traz a resposta do Evangelho. - É por isto que, embora redu-
zida á míngua, a Igreja se torna, de modo especial, valiosa naquelas circuns
tancias e conserva sua vitalidade corajosa.

As esperanzas de alivio da situacao ainda sao pálidas, mas é de crer


que se tornará, com o tempo, insustentável o achatamento ou a massificacáo
de onze milhoes de pessoas, como, alias, a experiencia de países marxistas de
outros continentes tem ensinado. "Nao é possfvel extinguir a fé de um po
vo", como nao é possível anular a humanidade de milhoes de pessoas no
mundo contemporáneo; afinal de contas, os homens vivem numa a Ide i a glo
bal, em que as noticias e os incentivos se transmiten!, mesmo á revelia do
mais severo controle.

Mons. Lehmann nao se referiu a outros pontos que exigem atencao ao


se abordar a realidade cubana: a sorte desumana dos prisioneros políticos.
Existem varios campos de concentragSo e prisoes-sepulcros na ¡Iha, como
referem os que conseguiram escapar de tais red utos. Entre outros, merece
ser citado o poeta Armando Valladares, que, após 22 anos de Gulag, em
1982 foi libertado mediante ¡ntervenclo do Presidente Francois Mitterand;
registrou suas memorias no livro "Contra toda Esperanca" (a traducáo brasi-
leira condensada foi publicada pela Editora Intermundo, Sao Paulo). Cf.
PR 288/1986, pp. 201-216.

Também citamos Sergio Bravo, Humberto Noble Alexander e Miguel


Ángel Loredo, duramente torturados e maltratados nos cárceres de Cuba.
Seu depoimento proferido em Paris perante o Juri da "Internacional da
Resistencia" foi transcrito em traducáo brasileira em PR 293/1986, pp.
446-457.

O odio, a violencia e mesmo a bestialidade aplicados pelo regime de


terror cubano estáo longe de integrar o que a fé chama "o Reino de Deus".

142
Os jornalistas perguntam:

A Albania se Abrirá?

Em síntese: A Albania, o país oficialmente ateu por excelencia, parece


estar no fim de sua fase de fechamento ao mundo que o cerca, e éprópria
Religiao, Numa reuniao de Ministros dos países balcánicos, os representan
tes albaneses mostraram-se receptivos a propostas e apelos dos países vizi-
nhos. que Ihes apresentaram a Religiao como elemento cultural pertencente
¿ estrutura nacional.

* * *

A Albania é o único país confessadamente ateu no mundo inteiro. A


Constituido de 1976 reza no seu artigo 37: "0 Estado nao reconhece reli
giao alguma e desenvolve a propaganda atéia para criar na humanidade urna
visSo do mundo científica e materialista".

Já em 24/06/67 o jornal do Partido Comunista Zeri i Popullit anuncia-


va triunfalmente que "todas as igrejas e os lugares de culto haviam sido fe
chados espontáneamente pelo povo". O ano de 1967 foi decisivo para em-
preender o combate á Religiao, pois o Secretario do Partido Henver Hoxha
conclamou todos os cidadlos, especialmente os jovens, a extinguir "as su-
persticoes religiosas"; naquele ano foram fechados, e em parte.deteriorados,
2.000 santuarios (igrejas, cápelas, mesquitas, mosteiros e outros edificios
religiosos). O decreto n? 4337 de 22/11/67 proibiu todos os ritos religiosos,
ameacando penas aos transgressores. Os poucos sacerdotes sobreviventes fo
ram encerrados em campos de concentracSo.

Em 1974 foram encarcerados os tres últimos Bispos católicos, sob pre


texto de que realizavam celebrares litúrgicas clandestinas. Trágico foi o fim
do arcebispo Ernest Coba de Scutari. Varias vezes condenado a trabalhos
forcados, internado em hospitais psiquiátricos, finalmente exausto, retirou-
se para a casa de urna de suas irmas em Scutari. Ali celebrava a Missa as es
condidas. Certo dia, quando oficiava, entrou um grupo de jovens e o espan-
cou, deixando-o desacordado no chao; pouco depois morreu.

143
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 322/1989

O único Bispo católico ainda vivo é Mons. Nicola Troshani, nascido


em 1915, Administrador Apostólico de Durazzo e Lezhe; foi recentemente
dispensado do campo de trabalhos toreados mediante a intervencao de per-
sonagens políticos alemaes, como parece.

Os últimos acontecímentos na Albania sao tidos como alvissareiros por


alguns observadores.

Com efeito. A populacáo católica era outrora de 13% sobre o total dos
habitantes do país. Concentravam-se na regiáo de Scutari, onde ainda há jo-
vens católicos. Verdade é que as catedrais, igrejas e mesquitas mais belas fo-
ram transformadas em Museus; as outras, reduzidas a cinemas, salas de con
ferencias, lojas comerciáis... A religiao parece extinta, de modo que nao exis
te mais propaganda ant¡-religiosa e antieclesiástica. Os cidadáos acompa-
nham a televisao e o radio da Italia com seus programas de cancSes popula
res e esportes; os albaneses sabem que o jogador italiano de futebol Vialli,
muito estimado por eles, faz o sinal da Cruz antes de comecar o jogo; ouvem
cantores que falam de Deus. Os turistas, cujo número aumenta sempre, tra-
zem medalhas e cruzes pendentes ao pescoco, perguntam pelas igrejas e ma-
nifestam surpresa indignada diante da repressao religiosa.

Em 1988 um pope (sacerdote) ortodoxo norte-americano, de origem


albanesa, circulava pelas rúas de Tirana, vestido de clergyman. A populacao
o observava; abordava-o, e notava que falava o mesmo idioma, enquanto a
Policía espreitava. Já se concede também a jornalistas declaradamente cató
licos viajar pela Albania e contactar as pessoas, especialmente os jovens; es
tes aceitam falar de religiao e por vezes revelam ter fé.

Abrem-se novas perspectivas para a Religiao na Albania? - Há síntomas


de que talvez sim. A nacáo vai tomando consciéncia de que precisa de sair
do gueto no qual a colocou Hoxha. De 24 a 26 de fevereíro de 1988, reuni-
ram-se em Belgrado (lugoslávía) os Ministros do Exterior dos países balcáni
cos (Albania, Bulgaria, Grecia, lugoslávia, Ruménía e Turquía). Conforme
um jornal albanés, foí esta a primeira reuniao da historia para tentar melho-
rar o clima político, favorecer a distensao e criar condícóes para a colabora-
cao entre esses povos; os cronistas julgaram-na construtiva, apta a despertar
a esperanca de "um trabalho útil": estiveram em foco interesses comuns e
recíprocos nos setores do comercio, dos transportes, das f ¡naneas, da tecno
logía, da informática e da cultura. Segundo o mesmo jornal, a Albania "se
mant'eve em posicao construtiva e aberta - o que foi muito apreciado tanto
pelos participantes como pela imprensa estrangeira". Sabe-se que, sem que
rer interferir, os países dos BálcSs pedem á Albania que se abra á Religiao e

(continua na p. 117)

144
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