Sei sulla pagina 1di 7

Considerações sobre a

interdisciplinaridade como necessidade


no campo da Educação

Esméria de Lourdes Saveli1

RESUMO

O presente texto tem por objetivo discutir criticamente a posição assumida


por FAZENDA no seu livro: Interdisipinaridade: História, Teoria e Pesquisa.
Campinas:Papirus,1995.

Palavras-chave: interdisciplinaridade, educação

A professora Ivani Catarina autora.


Arantes Fazenda é autora de mais de O referido livro está organizado
uma dezena de livros na área da edu- por vários textos produzidos, pela
cação. A interdisciplinaridade e a autora, entre os anos de 75 a 94, apre-
metodologia de pesquisa educacional sentados em congressos, conferênci-
constituem o foco de suas investiga- as e ou publicados em revistas. Essa
ções. Coordena, desde 1986, o Nú- organização permite uma leitura não
cleo de Estudos e Pesquisas sobre seqüencial da obra, já que os textos
Interdisciplinaridade na PUC-SP, são independentes um do outro, e
onde já foram produzidos cerca de muitas discussões se repetem ao lon-
quarenta trabalhos, entre dissertações go dos diversos textos, o que compro-
de mestrado e teses de doutoramento. mete uma certa unidade do livro.
Interdisciplinaridade: História, Inicialmente, a autora delineia ao
Teoria e Pesquisa é o 13º livro da leitor a sua trajetória acadêmica in-

1
Docente do Deptº de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa e Doutoranda em
Educação/UNICAMP- Campinas

Olhar de professor, Ponta Grossa, 2 (2):207-213, nov. 1999.


formando-o que iniciou a pesquisa mais fundamentais e atuais. Para a
sobre a interdisciplinaridade no co- autora, o exercício da interdisci-
meço da década de 70 e que em 1990, plinaridade facilitaria o enfrentamento
debruçou sobre os caminhos percor- dessa crise do conhecimento e das
ridos, para uma reflexão crítica, que ciências.
lhe possibilitou perceber alguns gan- Ela propõe como caminho a ser
hos e a indicação de novas direções. percorrido, para compreender as incer-
Segundo a autora, o seu trabalho tezas e as dúvidas, revisitar Sócrates,
de pesquisa tem lhe indicado que é aquele que primeiro colocou a dúvi-
possível a construção de uma única, da: “Conhece-te a ti mesmo. Conhe-
absoluta e geral teoria da interdisci- cer a si mesmo é conhecer em totali-
plinaridade contudo, é fundamental dade, interdisciplinarmente.”(p.15).
compreender o movimento pelo qual A autora, constrói o seu discurso
os estudiosos da interdisciplinaridade argumentativo, partindo do princípio
têm convergido nas três últimas dé- de que a totalidade só é possível pela
cadas. Aponta que o objetivo do pre- busca da interioridade. Afirma: “Do
sente trabalho será explicitar as faces conhecimento de mim mesmo ao co-
e contradições desse movimento. nhecimento da totalidade.”(p.15).
A primeira preocupação, da auto- Aponta a interioridade como um exer-
ra, é esclarecer ao leitor que em to- cício de humildade onde o sujeito par-
dos os teóricos, pesquisados por ela, tindo do conhecimento interior busca
que tratam da interdisciplinaridade, o conhecimento exterior, do mundo.
foi encontrada a discussão sobre a Penso, que essa argumentação,
necessidade da superação da dico- reduz a interdisciplinaridade a uma
tomia ciência/existência, no trato da subjetividade voluntarista, caracterís-
questão. A categoria TOTALIDADE tica das filosofias do sujeito2 . Não é
é a explicitada, pela autora, como fun- gratuitamente que ela se apóia em
damental para pensar a interdis- Sócrates, nesse caso a interdisci-
ciplinaridade. Afirma, ainda, que plinaridade é tomada numa concepção
muitos estudiosos têm proclamado a-histórica onde se desconsidera a ten-
uma verdadeira crise das ciências. são entre o sujeito pensante e as con-
Essa posição exige que qualquer ati- dições objetivas para o pensamento.
vidade interdisciplinar, seja ela de É importante ter claro, que a cons-
pesquisa ou de ensino, requer o mer- trução histórica do conhecimento exi-
gulho nas questões epistemológicas ge a relação tensional entre o objeto,

2
A filosofia do sujeito não é articulada/elaborada por nenhuma escola/tendência/corrente filosó-
fica específica. Ela põe-se de fato, em várias acepções. Grosso modo caracteriza-se por privilegi-
ar a ação do sujeito sobre o objeto , de modo a tornar o sujeito um absoluto na construção do
conhecimento e do pensamento.

208
o sujeito pensante e as condições ob- a questão da produção do conheci-
jetivas. Para resolver a questão do mento científico.
conhecimento objetivo a autora anco- O movimento vivido pela inter-
ra a sua posição no pensamento de disciplinaridade é apresentado, pela
Descartes, na assertiva: Penso, logo autora, subdividido em três décadas:
existo. Justifica que a busca da totali- 1970, 1980, 1990.
dade leva o conhecimento ao caos. • 1970, momento em que se par-
Esse todo caótico precisa ser ordena- tiu para uma construção epis-
do, as dúvidas precisam ser compro- temológica da interdisciplinaridade,
vadas, testadas e avaliadas, o que exi- caracterizado pela busca de uma
ge a busca de um paradigma filosófi- explicitação filosófica.
co, onde a razão para olhar o real é Neste período, os pesquisadores
ponto fundamental e não há espaço procuravam uma definição de inter-
para a subjetividade que permanece disciplinaridade e esta década pode ser
adormecida. Nessa abordagem filosó- grosseiramente indicada como a déca-
fica o mim mesmo, o eu, o sou são da da estruturação conceitual, cuja pre-
reduzidos ao penso, o que quer dizer ocupação fundamental era a explici-
que somente conheço quando penso. tação terminológica que implicava em
A autora diz que a subjetividade compreender a palavra “interdis-
é despertada pela Psicologia, ciência ciplinaridade” nos seus aspectos se-
criada no início do século XX, que mântico e ortográfico.3
não dá conta de resolver o impasse • 1980, momento para a
da crise da ciência pois ela é explicitação das contradições episte-
construída a partir de critérios clássi- mológicas decorrentes da construção
cos da objetividade, assim radicaliza do período anterior, caracterizado
a polaridade ciência/existência. Con- pela busca de uma matriz sociológi-
tudo, afirma que a superação dessa ca. Os pesquisadores tentavam
dicotomia já se anuncia como possi- explicitar um método para a interdis-
bilidade em alguns segmentos das ciplinaridade.
novas ciências, apesar da permanên- • 1990, momento atual em que se
cia de alguns equívocos teóricos. Na tenta construir uma nova episte-
medida em que as ciências avançam, mologia, a própria interdiscipli-
mais explícitas vão se tornando as hi- naridade. Caracterizado pela busca de
póteses da interdisciplinaridade. Nes- um projeto antropológico, onde se
se ponto, é interessante observar que parta para a construção de uma teoria
a interdisciplinaridade é colocada, da interdisciplinaridade.
pela autora, como saída para resolver Apesar da autora, para fins didáti-

3
No Brasil a palavra aparece escrita de duas formas: interdisciplinaridade (traduzida do IngLês
e Francês) e interdisciplinariedade ( traduzida do Espanhol).

209
cos, caracterizar esses três momentos discussões permaneceram mais no
de forma distinta, penso que as bus- trato das questões à conceituação do
cas em cada período estão imbricadas, vocábulo do que à metodologia. Na
ocorrendo apenas a ênfase de deter- década de 80, havia inúmeras
minado aspecto o que leva um momen- dicotomias que, segundo a autora,
to a se diferenciar do outro. precisariam ser enfrentadas. Entre ela:
O movimento da interdisci- teoria/prática, verdade/erro, certeza/
plinaridade surge na Europa, especi- dúvida, processo/produto, real/simbó-
ficamente França e Itália, em meados lico, ciência/arte. Essas dicotomias
da década de 60, época em que ocor- constituíram–se em objeto de reflexão
rem os movimentos estudantis reivin- e pesquisa da autora. Foram elas que
dicando um novo estatuto de Univer- passaram a orientar todo o processo
sidade e de Escola. No bojo desse investigativo por ela produzido.
movimento, alguns professores pro- FAZENDA afirma que “os anos
põem o rompimento com uma forma 90 representam o ápice da contra-
de educação que privilegiava o “capi- dição para estudos e pesquisas so-
talismo epistemológico”, onde a Ci- bre interdisciplinaridade. “(p.34).
ência era multipartida o “que incita- Essa contradição é marcada pela pro-
va o olhar do aluno numa única, liferação indiscriminada das práticas
restrita e limitada direção”(p.19), intuitivas. O número de projetos edu-
postura denominada por .Japiassú de cacionais que se intitulavam interdisci-
“patologia do saber4 ”, é desse autor a plinares cresceu, numa progressão
primeira produção significativa sobre geométrica, surgiam da intuição ou da
o tema no Brasil. moda, sem intenções explícitas, apoi-
É importante registrar, que as dis- ando-se numa literatura provisória di-
cussões chegam no Brasil na década fundida. Para reversão desse quadro
de 60 com sérias distorções. A pala- um dos caminhos abertos, pela pesqui-
vra interdisciplinaridade, neste perí- sadora/autora, foi a criação do Núcleo
odo, virou modismo e o vocábulo de Estudos e Pesquisas composto de
passou a transitar por todos os textos mestrandos e doutorandos da PUC/
das reformas educacionais empreen- São Paulo. Neste espaço, há desen-
didas em 1968 e 1971. No entanto, volvimento de pesquisas que procu-
não houve um avanço da compreen- ram explicitar o caminho percorrido
são das implicações teóricas da em práticas interdisciplinares. A pro-
interdisciplinaridade. Ainda, na dé- dução acadêmica desse núcleo é apre-
cada de 70, aparece o trabalho de dis- sentada ao leitor no último capítulo do
sertação de mestrado da autora, cuja livro, que traz um resumo das pesqui-

4
Ver JAPIASSÚ, J. Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago,1976.

210
sas desenvolvidas pelo grupo. O leitor se profissional que luta por uma
lê o capítulo num fôlego só e se im- educação melhor, afirmando-a di-
pressiona , pelo jeito, muito singular, ariamente (p.49).
como Ivani Fazenda trata seus
orientandos e o seu objeto de estudo. Essas características trazem a mar-
O entusiasmo é tão eloqüente que dá a ca da subjetividade, parece que tudo
impressão que a questão “interdiscipli- tende a ficar na vontade do sujeito e
naridade” passou para a autora para o no esforço individual. Esse professor
campo da fé. A sua postura “holística” se diferencia dos demais por “seu
está prenhe de religiosidade. empenho pessoal”. Ele trabalha mui-
Esse holismo fica bem marcado to , e seu trabalho acaba por incomo-
quando a pesquisadora/autora sugere dar os que têm a acomodação por pro-
o mergulho no interior de cada um, pósito. Pergunto: e as condições ob-
para a busca da metáfora que vai per- jetivas? Não contam?
mitir traçar relações para compreen- Um outro ponto, que não descarta
der o real. Penso, que esse posi- essa marca, da vontade e do esforço
cionamento, é também um mergulho pessoal, é a crença da autora de que o
na filosofia do sujeito. Por mais que trabalho interdisciplinar exige a neces-
a autora defenda a posição de sidade de um projeto em parceria, co-
alteridade como saída da polaridade letivo e que leve em consideração pro-
entre objetividade e subjetividade, ela jetos pessoais de vida. Aqui, também,
tende, quase sempre, a valorizar o há o risco de transformar a interdis-
polo subjetivo. ciplinaridade num grande sopão
A professora Ivani Fazenda dis- epistemológico e metodológico, isto é,
cute a categoria IDENTIDADE, com numa mistura de conteúdos ou méto-
o intuito de delinear o perfil do pro- dos de diferentes disciplinas ou mes-
fessor que tem uma postura interdis- mo confundir interdisciplinaridade
ciplinar. Esse professor tem como com técnica didática.
características: Penso, que a base para ações
a) o gosto por conhecer; interdisciplinares, não pode estar na
b) o compromisso com seus alu- consideração de que as ciências são
nos; fragmentadas, mas na consideração de
c) a marca da solidão e da resis- que interdisciplinaridade é forma de
tência; organização do mundo. A linguagem
d) trabalhar muito. é que possibilita essa organização,
pois os homens na busca de satisfazer
Para a autora suas múltiplas e sempre históricas ne-
cessidades de natureza biológica, in-
Competência, envolvimento, com- telectual, cultural, afetiva, estética es-
promisso marcam o itinerário des- tabelecem as mais diversas relações

211
sociais pela linguagem. Portanto, ela pressão do outro. “(p.58).
é categoria fundamental da interdis- Finalizando, penso que é indiscu-
ciplinaridade. tível a contribuição teórica-prática
A autora discute esse ponto, to- desta obra de Ivani Fazenda para a
mando a prática de leitura como for- educação em função do interesse e
ma de passar de um saber setorizado relevância que os professores e a pró-
a um conhecimento integrado, a uma pria pesquisadora dá ao tema. É im-
intersubjetividade. Assim, a leitura é portante registrar, ainda, que Ivani
tomada no sentido de comunicação, Fazenda é considerada a profissional
como uma intersubjetividade, que da educação, no Brasil, que tem mais
possibilita a troca de experiências. refletido em torno do objeto inter-
Afirma que estabelecemos disciplinaridade. No entanto, é preci-
so descartar a crença de que a interdis-
o valor da linguagem como elabo- ciplinaridade é a formula mágica para
radora da história e do próprio tirar a educação da caminhada em di-
homem, ressaltamos o papel da reção ao abismo ou até mesmo, a so-
leitura em tornar o homem mais lução para todos os seus problemas.
consciente, mais responsável, mais Isso vale dizer, que não se pode
dinâmico, interferindo no proces- considerar a interdisciplinaridade se-
so da vida. (p.59). parada da história. Não se pode es-
quecer que o processo de fragmenta-
O conceito de leitura, explicitado ção do conhecimento caminhou lado
pela autora, é bem abrangente, atual a lado com o processo de fragmenta-
ela não ignora que a leitura é uma ati- ção do trabalho. Na formação do pro-
vidade eminentemente polimorfa que fessor o conhecimento foi fragmen-
desencadeia processos interiores que tado em diversas áreas. Nesse senti-
permitem ao leitor penetrar nas entra- do, não se justifica lamentar a unida-
nhas dos fenômenos da realidade, de perdida, até porque o genérico e o
num processo de significação que pro- específico não são excludentes. A
voca mudanças nas representações do interdisciplinaridade pode ser con-
leitor. Nesse sentido, a leitura permi- quistada mediante uma atuação indi-
te relações entre o mundo subjetivo, vidual ou coletiva, tendo como ponto
isto é o conhecimento que está por trás de partida a criação de espaços de
dos olhos e o mundo objetivo que são pesquisa, seja na escola de ensino fun-
as informações diante dos olhos. Ca- damental ou na Universidade. Partin-
minhando nessa direção, a autora do desse ponto de vista, a interdis-
expressa o valor da leitura quando diz ciplinaridade é tomada como princí-
que “a leitura é o veículo por exce- pio válido para a produção do conhe-
lência por meio do qual o homem cimento e mais concretamente para a
pode se expressar e conhecer a ex- pesquisa, rompendo com a visão in-

212
gênua que trata a interdisciplinaridade
como método didático.

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

1 FAZENDA, Ivani C. Arantes.


Interdisciplinaridade: His-
tória, Teoria e Pesquisa.
Campinas: Papirus, 1995.
2 JANTSCH, Ari Paulo et BIAN-
CHETTI, Lucídio. (Orgs).
Interdisciplinaridade - Para
além da filosofia do sujeito.
São Paulo: Vozes, 1997.

213

Potrebbero piacerti anche