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A grandeza cristã na Idade Média

Dr. Rafael Vitola Brodbeck

É preciso que as civilizações também se curvem a Jesus, Rei do Universo, que as cidades se
conformem à Cidade de Deus, eis que a “compenetração da cidade terrena com a cidade celestial, só
pela fé pode ser percebida; porém, é um permanente mistério da história humana.” (Concílio Ecumênico
Vaticano II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, de 7 de dezembro de 1965, nº 40) Nós, cristãos,
somos uma legítima família através da graça que de Cristo, pela Igreja, recebemos. E como vivemos em
sociedade e não isoladamente – salvo vocações específicas –, é a ela que devemos transformar. Não
temos que abandonar e satanizar a cultura, mas evangelizá-la, dialogar com ela para que seja meio de
propagação da verdade, da beleza, da unidade. O Papa Paulo VI já ensinava que evangelizar significa
precisamente “levar a Boa Nova a todos os ambientes da humanidade” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI.
Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, nº 18). Nosso dever é primar por uma autêntica civilização, e,
no ensino do Papa São Pio X, “a civilização do mundo é a Civilização Cristã, tanto mais verdadeira,
mais duradoura, mais fecunda em frutos preciosos, quanto é mais autenticamente cristã.” (Sua
Santidade, o Papa São Pio X. Encíclica Il Fermo Proposito, de 11 de junho de 1905, in “ASS”, vol. 37, p.
745) É obrigação dos crentes, sobretudo dos leigos católicos, “penetrar de espírito cristão as
mentalidades e os costumes, as leis e as estruturas da comunidade em que vivem.” (Concílio Ecumênico
Vaticano II. Decreto Apostolicam Actuositatem, de 18 de novembro de 1965, nº 13).
E qual é o conceito de civilização, sobre o que falávamos, senão a reunião da cultura própria de
um povo, das mentalidades, dos costumes, das leis e das demais estruturas? São estes os ambientes os
quais devemos cristianizar, ou melhor, recristianizar, vez que, como veremos, antes do advento deste
pensamento moderno, a cultura católica imperou em determinado momento da História – ainda que com
seus defeitos e abusos, naturais no percurso da peregrinação terrestre pela qual o homem passa;
lembremos que o Reino temporal deve ser reflexo do Reino celestial, porém só este último é perfeito e
livre de todo pecado!
Os homens precisam de Cristo, mesmo para a reforma da sociedade. O campo temporal não
escapa da influência do Espírito Santo, de Deus que se manifesta ordinariamente pela Sua Igreja. Somos
cidadãos do céu, mas vivemos na terra, e nela devemos nos santificar e construir estruturas que auxiliem
os outros a fazerem o mesmo. Inegável, insistimos, que os bens presentes e seculares, profanos, também
podem e devem nos convidar a Deus, mediante a contemplação da ordem, da natureza, da beleza, da
verdade, da unidade, do bem. Vivendo numa sociedade sacralizada torna-se mais fácil atrair os homens a
Cristo e, mais, realizar aquilo que é a própria vontade de Deus: atrair tudo a Si, “desígnio de reunir em
Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra.” (Ef 1,10) Auxilia-nos o compêndio
da doutrina católica: “O dever social dos cristãos é respeitar e despertar em cada homem o amor da
verdade e do bem. Exige que levem a conhecer o culto da única religião verdadeira, que subsiste na
Igreja católica e apostólica. Os cristãos são chamados a ser a luz do mundo. Assim, a Igreja manifesta a
realeza de Cristo sobre toda a criação e particularmente sobre as sociedades humanas.” (Catecismo da
Igreja Católica, 2105).
Que civilização é essa que devemos construir? “Não se deve inventar a Civilização, nem se deve
construir nas nuvens a nova sociedade. Ela existiu e existe: é a Civilização Cristã, é a sociedade católica.
Não se trata senão de a instaurar e restaurar incessantemente nas suas bases naturais e divinas, contra
os ataques sempre remanescentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: instaurar todas as coisas
em Cristo.” (Sua Santidade, o Papa São Pio X. Carta Notre Charge Apostolique, de 25 de agosto de
1910).
O Reino de Deus é nos céus. Achar que é na terra seria cair na utopia e injustiça comunistas, ou no
milenarismo gnóstico – raiz cultural daquele, e inspirador de movimentos comunais semelhantes, como a
revolta dos anabatistas alemães, dos cátaros albigenses, dos espirituais que deturparam a regra de São
Francisco de Assis, dos montanistas que desdenhavam da autoridade episcopal, dos iluministas
favorecedores de uma burguesia atéia etc. Todavia, na terra, os homens refletem seu Deus, e as
sociedades devem refletir o Reino. Das civilizações, deve-se procurar instaurar uma que seja cristã,
católica, i.e., governada pelo espírito do Evangelho. E ela já teve uma expressão histórica concreta,
mesmo com seus defeitos: foi o período medievo. Tempo houve em que a filosofia do Evangelho
governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam
as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil.
Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é
devido, em toda a parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos
Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela
permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a
expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que
artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.” (Sua Santidade, o Papa Leão XIII.
Encíclica Immortale Dei, de 1 de novembro de 1885, in “AAS”, vol. XVIII, p. 169).
O Papa João Paulo II reitera esse ensino tradicional da Santa Igreja de Cristo: “Nós somos ainda
os herdeiros de longos séculos nos quais se formou na Europa uma Civilização inspirada pelo
cristianismo. (...) Na Idade Média, com certa coesão do continente inteiro, a Europa constrói uma
Civilização luminosa da qual permanecem muitos testemunhos.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II.
Discurso à CEE, em Bruxelas, 21 de maio de 1985, in “L´Osservatore Romano”, 22 de maio de 1985)
A Europa, vemos, é uma realização temporal do primado cristão sobre a matéria social. Digamos mais, é
a Europa medieval a verdadeira guardiã da divina religião, pois foi dela que partiram, intrépidos, os
valorosos conquistadores da América, território dado pela Providência justamente no momento em que os
ventos terríveis da Reforma Protestante varriam cantões outrora católicos – princípio de uma nova onda
gnóstica que inauguraria, junto com o pagão Renascimento e com o humanismo sem Deus, o pensamento
moderno, que explodiria, mais tarde, com o absolutismo, com a Revolução Francesa, com o marxismo e
todas as formas de social-comunismo, com os nazismos e fascismos dos anos 30-40, e com os
fundamentalismos e liberalismos de matriz revolucionária que caracterizariam os anos 70 e a década de
80. De uma Espanha banhada de glória pelos séculos da Reconquista cristã aos mouros islâmicos, emerge
a expedição de Colombo.
Se olharmos, aliás, para o mapa, veremos que as fronteiras que delimitam a Europa com a Ásia
são, geograficamente, de um artificialismo bastante visível. O território é contínuo. Não está separada a
Europa da Ásia como está, por exemplo, da Oceania ou da América. Europa e Ásia formam uma só
unidade no plano geográfico natural: a Eurásia. Não são os Urais, na Rússia, que separam os europeus dos
asiáticos, porém a cultura que com os primeiros se formou. A Europa é o resultado de anos de experiência
de um unificado Império Romano, com as valiosas contribuições gregas, recebendo, outrossim, os
costumes germânicos dos bárbaros que, unidos aos povos celtas já submetidos às legiões de César,
souberam construir um mundo todo próprio.
Pela influência da religião cristã e da Igreja Católica dela depositária, todos esses elementos se
mesclaram e formaram a Europa medieval – prova inequívoca da capacidade católica de abstrair, dentre
as culturas, os elementos bons e maus, e valorizar os primeiros mesmo quando não diretamente cristãos.
Convertidos os bárbaros invasores, os reinos germânicos foram tomando o lugar das antigas nações celtas
e províncias romanas, e aqueles, por sua vez, pela fragmentação hereditária, favoreceram o aparecimento
de um modelo de harmônica e justa desigualdade, o regime feudal. Tudo isso é básico para entendermos a
vocação da Europa, tão esquecida pelos dirigentes da hodierna Comunidade Européia. “A conversão dos
povos ocidentais não foi um fenômeno de superfície. O gérmen da vida sobrenatural penetrou no próprio
âmago da sua alma, e foi paulatinamente configurando à semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo o
espírito outrora rude, lascivo e supersticioso das tribos bárbaras. A sociedade sobrenatural - a Igreja - a
estendeu assim sobre toda a Europa a sua contextura hierárquica, e desde as brumas da Escócia até às
encostas do Vesúvio foram florindo as dioceses, os mosteiros, as igrejas catedrais, conventuais ou
paroquiais, e, em torno delas, os rebanhos de Cristo. (...) Nasceram por essas energias humanas
vitalizadas pela graça, os reinos e as estirpes fidalgas, os costumes corteses e as leis justas, as
corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestréis.”
(OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. A grande experiência de 10 anos de luta).
Pois essa ordem sacral que refletia a realidade celeste e, guardadas as devidas proporções,
manifestava, na terra o Reinado de Cristo, se foi deteriorando, pela introdução do orgulho, da vaidade
humana, da tentação de Satanás que se traduziu numa nova visão do homem sem Deus – pseudo-
humanismo italiano, aspectos renascentistas etc. Quando decaiu a Alta Idade Média, as universidades
católicas iniciaram a cultuar o pensamento clássico sem o tempero filtrador das lições de Santo Tomás de
Aquino; junto com as artes gregas e romanas do período áureo, introduziram-se, até mesmo no Vaticano,
costumes que as acompanhavam – bebedeiras, orgias, assassinatos por interesse. Desse declínio,
acompanhado da releitura social de que o homem pode e deve se libertar de tudo – até de Deus! –, vai-se
repetindo o lema “Cristo sim, a Igreja não” (Reforma Protestante), mais tarde mudado em “Deus sim,
Cristo não” (Revolução Francesa), que finalmente culminará em “Nem Cristo, nem Deus” (Revolução
Russa).
O pensamento moderno é o caos pela tentativa, radical em Nietzsche, de matar Deus e de celebrar
o homem – no positivismo de Augusto Comte, “a religião da humanidade”, percebemos quão ridícula foi
tal tentativa. Toda a desordem moral, liberalismo de costumes, ecumenismos desviados, ódio ao
catolicismo, críticas infundadas à Idade Média, preguiça mental, e modo de pensar notadamente
protestante, romanticamente doentio e filosoficamente cripto-socialista, provém dessa estrutura que
resolveu expulsar Deus e Sua Igreja da influência que exercia, sadiamente, sobre o Estado e as
sociedades. A Europa, com a filosofia defendida por seus atuais líderes políticos, ameaça romper com seu
passado e fazer triunfar esse modernismo social e cultural. “Nos nossos dias, percebe-se uma crise
cultural de proporções insuspeitáveis. Certamente o substrato cultural de hoje apresenta bom número de
valores positivos, muitos dos quais fruto da evangelização; mas ao mesmo tempo, eliminou valores
religiosos fundamentais e introduziu concepções enganosas, que não são aceitáveis do ponto de vista
cristão.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Discurso Nueva Evangelización, Promoción Humana,
Cultura Cristiana. Jesucristo ayer, hoy y siempre, em Santo Domingo, a 12 de outubro de 1992, in
“suppl. a L´Osservarore Romano”, nº 238, de 14 de outubro de 1992, IV, pp. 21-22).
Não se quer, com isso, pregar que a sociedade medieval foi perfeita. Abusos houve –mesmo que
tenhamos a defesa do brocardo jurídico abusum non tollit usum. Se essa sociedade terminou, somos
chamados a estar atentos agora, quando o mundo moderno e o conceito de Estados-Nação estão
desaparecendo. Dialogando com a modernidade, queremos sua conversão. E mais do que isso, vigiemos e
denunciemos as explosões típicas do término de um determinado período histórico – e é exatamente o que
estamos vivendo. Precisamos construir uma nova sociedade, uma nova cultura, aproveitando tudo de bom
que na atual existe, mas filtrando-a com o bom senso católico. Ao passado não se volta, tradição não é
isso: é passar adiante o que há de bom. Da Idade Média, ainda guardamos aquilo que nem mesmo é
exclusivo dela, a Fé católica e apostólica e aspectos de sua influência nas comunidades humanas. O Reino
não terminou com sua máxima expressão terrena! Aliás, foi máxima até agora, pois nossa vocação é
construir uma nova, em que o amor volte a reinar!
Cristo, Rei do Universo não quis só reinar na terra na Idade Média, e sim hoje o quer. E quer se nos
utilizar, Seus membros, Seus instrumentos, através do apostolado, de nosso desempenho dos deveres de
estado, do cultivo da oração, em suma, da gana por fazer a Solenidade de Cristo Rei perpetuar-se no
campo secular. “Se bem que a Idade Média tenha sido uma época de Cristandade, e o foi por excelência,
é preciso deixar bem claro que a Cristandade não se identifica com a Idade Média. A Cristandade é uma
vocação permanente da Igreja e dos políticos cristãos. Nem sempre se poderá realizar hic et nunc, por
exemplo nos países comunistas, ou inclusive nos países liberais, enquanto sigam sendo tais. Todavia,
nem por isso a Igreja e os cristãos que atuam na ordem temporal renunciarão definitivamente a dito
ideal. (...) Também hoje, a Igreja, se bem que viva em um regime não-cristão ou, como queria Péguy,
pós-cristão, não pode renunciar para sempre ao ideal da Cristandade, que não é outra coisa que a
impregnação social dos princípios do Evangelho. E se, porventura, aparecesse uma nova Cristandade,
seria substancialmente igual à da Idade Média, ainda que acidentalmente diferente, atendendo à
diversidade de condições que caracteriza a época atual em comparação com aquela, tanto no campo
econômico como no social. Todo o resgatável deverá ser salvo. Porém, o ideal segue de pé.” (SÁENZ,
Pe. Alfredo, SJ. La Cristiandad. Una realidad histórica. Pamplona: Gratis Date, 2005, p. 16).
A Europa é um sinal de onde estamos. Cristã na sua origem, como demonstramos, está
contaminada de paganismo e gnose – ecologismo radical, feminismo, e todos os tipos de igualitarismos
religiosos, sociais e políticos, todos violadores do culto à justiça, à vida (vide o aborto e a eutanásia na
legislação da União Européia). É o aviso de um Cardeal da Santa Igreja: “Deus está a ser obstinadamente
afastado da nova constituição da Europa. Assim se quereria que, do fundamento jurídico da nova Europa
unida, Deus estivesse ausente, o que a reconduziria ao abismo do qual a Europa sem Deus se libertou em
1989 e 1990. Com certeza, isto não vai passar de um bumerangue, que não trará qualquer progresso
para o caminho de uma Europa unida.” (Sua Eminência, D. Joaquim Cardeal Meisner, Arcebispo de
Colônia, Alemanha. Homilia na Santa Missa, Santuário de Nossa Senhora de Fátima, Portugal, em 13 de
maio de 2002).
A reforma das estruturas temporais – as quais, na Idade Média e em certos ambientes da
modernidade, estavam submetidas a Cristo Rei – identifica-se com a expansão do Reinado de Jesus sobre
a sociedade civil, e é, na prática, um projeto que visa “chegar a atingir e modificar, pela força do
Evangelho, os critérios de juízo, os valores que decidem, os centros de interesse, as linhas pensamento,
as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade que se apresentam em contraste com a
Palavra de Deus e os desígnios de salvação.” (Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Exortação Apostólica
Evangelii Nuntiandi, de 8 de dezembro de 1975, nº 19) Causa dos problemas contemporâneos é a
Revolução cultural anticristã, de caráter gnóstico, laicista, liberal, antropocêntrico e igualitário, que
desvincula fé e razão, sociedade religiosa e sociedade civil, Igreja e Estado, esfera espiritual e temporal,
culto privado e culto público. “Duas potências vivem e se acham em luta no mundo moderno: a
Revelação e a Revolução. Esses dois poderes negam-se reciprocamente, e aqui está o problema
fundamental.” (VEUILLOT, Louis. A ilusão liberal, XXIII) Negando-se à benéfica submissão a Jesus
Cristo, Rei do Universo, o mundo afunda na loucura em que tudo passa a ser permitido e a natureza é
violentada, com leis abortistas e pró-gay, v.g.. “A ruptura entre a ordem espiritual e a ordem racional é o
maior problema que o mundo moderno tem a enfrentar.” (DAWSON, C. Religione e Cristianesimo nella
Storia della Civiltà, Roma: Paoline, 1984, p. 152).
Somos levados pelos inimigos da Igreja a criticar o período em que a doutrina de Cristo inspirava
toda a sociedade. A falsificação da História é das manobras aquela que mais ajudou a que tantos “torçam
o nariz” quando se fala na Idade Média. “Na Idade Média os Papas haviam realizado a unidade da
Europa sob o regime da Cristandade. No final do século XVIII, a França reúne os homens em torno de
um novo tripé fantástico: liberdade, igualdade e fraternidade. É o triunfo da burguesia. A declaração dos
direitos do homem, emanada aos 26 de agosto de 1789, condena os velhos abusos e institui o catecismo
filosófico da nova ordem. A sociedade se declara oficialmente não-cristã. Começa-se, a partir deste
momento, a falar em época pós-cristã.” (GRINGS, D. Dadeus).
A Cristandade foi progressivamente sendo atacada desde o fim da Idade Média. Com o
Renascimento, pagão, gnóstico, caracterizado pelo humanismo autônomo – tão condenado pelos Papas e
pela Gaudium et Spes –, e a Reforma Protestante, a primeira etapa de um mesmo processo revolucionário.
Segunda etapa será a Revolução Francesa, com todas as funestas teorias iluministas sendo aplicadas e um
novo passo igualitário inaugurado. Este estado de coisas conduz ao liberalismo do século XIX e às
grandes perseguições do início do século XX.
Por fim, terceira etapa inaugura-se na Revolução Russa de 1917, quando o comunismo –
transposição das idéias igualitárias da Reforma e da Revolução Francesa ao campo social e econômico –
saiu-se vitorioso. A mesma e única Revolução prepara sua quarta etapa, com a total dessacralização da
sociedade e a exclusão completa do Reino de Deus – vide a União Européia sem referência a suas raízes
cristãs, o movimento homossexual, a terceira via do socialismo, a Nova Era, o progressismo teológico, o
relativismo moral (condenado por João Paulo II na Veritatis Splendor, em reiteração de condenações
anteriores), certas tendências panteístas e igualitárias na idéia ecológica, o aborto, o feminismo etc.
Essa idéia de Revolução como uma doutrina, um sistema, já foi demonstrada por Joseph De Maistre, para
quem ela era não um acontecimento, mas uma época. Outros pensadores, todos muito católicos e
autorizados, sustentam o mesmo. “A Revolução foi um vasto empreendimento premeditado de
descristianização e de hostilidade ao Reinado Social de Cristo Rei e de sua Igreja. E os dois séculos que
se seguiram continuaram esta obra nefasta: revolta contra Deus e contra os verdadeiros direitos do
homem.” (RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer
Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 113) “Ela é uma doutrina, ou, se se preferir, um conjunto de
doutrinas, em matéria religiosa, filosófica, política, social.” (FREPPEL, Mons. Apud RIFAN, D.
Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos:
ed. do autor, 1999, p. 113). “A Revolução é o ódio de toda ordem social que o homem não estabeleceu e
na qual ele não é rei e deus ao mesmo tempo. Ela é a proclamação dos direitos do homem sem
preocupação com os direitos de Deus. É a fundação do estado religioso e social sobre a vontade do
homem no lugar da vontade de Deus. Ela é a Revolução, quer dizer, destruição, desordem.” (GAUME,
Mons. Apud RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer
Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, pp. 113-114).
“Em outros termos, a Revolução é uma revolta contra Deus e contra Jesus Cristo. Em conseqüência, é
revolta contra a Igreja, contra seus ministros, contra o Rei. Como disse o Cardeal Pie, ela tende ‘para
uma completa secularização, isto é, para uma ruptura absoluta entre a sociedade leiga e o princípio
cristão.’ (...) E porque ela não foi apenas um acontecimento do passado mas um certo estado de espírito,
uma doutrina ainda presente nos espíritos e instituições, o combate continua ainda entre a verdadeira
Igreja e a Revolução.” (RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer
Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 114) “Se a Revolução é a desordem, a
Contra-Revolução é a restauração da Ordem. E por Ordem entendemos a paz de Cristo no Reino de
Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e
antiliberal.” (OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Revolução e Contra-Revolução, 2ª ed., São Paulo: Diário
das Leis, 1982, p. 42).
Com a vitória dos satânicos pressupostos da Revolução Francesa, o liberalismo triunfou contra a
sadia norma da Cristandade. Já estavam sendo demolidos os pilares da gloriosa Idade Média com o
nefasto absolutismo dos monarcas, que, destruindo as elites nobiliárquicas e aristocráticas, pecou contra a
subsidiariedade e a liberdade genuína. Em nome de uma falsa liberdade, propugnaram os revolucionários
a destruição da ordem estabelecida. Confundiram os abusos absolutistas – que eles mesmos ajudaram a
criar com a recuperação dos contra-valores pagãos no Renascimento – com o justo sistema feudal, e
assim, para acabar com os primeiros, destruíram o que restava do segundo.
Para destruir o Cristianismo medieval, os humanistas agnósticos fizeram o Renascimento, com o
fascínio pelo paganismo greco-romano. Desculpavam-se alegando que estavam apenas reinstalando os
valores culturais e artísticos do mundo clássico. Mentira! Tais valores não precisavam de resgate, pois
foram sempre preservados pela Igreja – a mesma que acusavam de obscurantismo. O movimento
renascentista quis trazer, isso sim, tudo aquilo que a evangelização do Império e a queda deste pela
invasão dos bárbaros germânicos – com sua posterior organização em reinos próprios, e, na unificação
destes em Império por Carlos Magno, rei dos francos, com o estabelecimento da vassalagem – tinha
sepultado com a luz do Evangelho: sexualidade desordenada, culto do corpo, dissociação entre fé e vida
privada, absolutismo monárquico, utilização do poder religioso para fins profanos, arte como
manifestação de vaidade e não mais de serviço ou de propagação do belo, métodos científicos alienados
da crença em Deus, mercantilismo, escravidão. Tudo o que não existia na Idade Média pelo primado da
Igreja foi recuperado por esses neopagãos.
Com efeito, apresentou-se como pretexto para o Renascimento a revalorização da cultura clássica.
Note-se que o motivo é descaradamente mentiroso. Muitos de boa-fé, concedemos, estavam realmente
interessados na promoção das artes. Todavia, a cultura clássica nunca esteve morta na Idade Média, como
falsamente alardeavam os renascentistas. Pelo contrário, a filosofia, a arte, a literatura, o Direito, a
estética do Medievo foram moldadas no classicismo – iluminado pela fé cristã. De Roma e da Grécia
mantiveram os bárbaros invasores costumes e instituições, e os medievais não cessaram de promovê-los.
O Pe. Alfred Sáenz, SJ, com muita propriedade, explica que não foram “os chamados ‘renascentistas’ os
que voltaram a descobrir a Antigüidade. A Idade Média já conhecia e admirava os tempos clássicos. A
diferença é que aqueles iniciaram um movimento de retorno à Antigüidade ‘pagã’, enquanto os
medievais a assumiram relendo-a à luz do cristianismo.” (SÁENZ, Pe. Alfredo, SJ. La Cristiandad. Una
realidad histórica. Pamplona: Gratis Date, 2005, p. 12).
O que, realmente, da Hélade e da România, não permaneceu foram certos institutos e hábitos
incoerentes em face do Cristianismo que triunfou e sabiamente governou a Idade Média. Podemos dizer
que os valores positivos greco-romanos permaneceram, ao passo em que os negativos foram logicamente
postos de lado, por sua evidente incompatibilidade com a doutrina de Cristo.
Em nome da ressurreição da cultura clássica – que, vimos, não morreu na Idade Média, o que
torna absurdo qualquer “renascimento” (só renasce quem morreu) –, a Renascença fez voltar, isso, os
contra-valores. O que era bom no classicismo não pereceu no Medievo, ao contrário do que alegam os
renascentistas. Tal perecimento inexistente foi criado por mentes perversas para, sob esta mentirosa
alegação, revitalizar o que de ruim há tinha sido morto pelo Cristianismo. Percebe-se, nisso, a
“coincidência” histórica: no Renascimento apareceram idéias típicas da Antigüidade, como o despotismo
dos monarcas, o centralismo estatal, a escravidão, o racismo, o nacionalismo exagerado, o mercantilismo.
Todos esses pontos da cultura clássica, tremendamente imorais, negativos, não existiam na Idade Média,
justamente pela ação da Igreja, que soube separar o bem do mau dentre as manifestações da
Antigüidade.Assim, em vez de despotismo, havia, em geral, a consciência da monarquia como serviço; ao
centralismo opôs-se a subsidiariedade no seu modelo máximo: o feudalismo; à escravidão a sociedade
hierárquica mas harmônica; ao racismo a fraternidade cristã em sua igualdade essencial (embora desigual
nos acidentes, no que se baseia a hierarquia); ao nacionalismo o universalismo europeu; ao mercantilismo
a idéia de solidariedade. Claro que isso tudo num plano ideal, eis que, como em qualquer agrupamento
humano, houve abusos – em número muito menor, diga-se de passagem, do que os propalados pelos
detratores da Idade Média.No período medieval, os valores clássicos positivos foram preservados. A
partir da Renascença somam-se a estes os negativos, trazidos pelo antropocentrismo e pelo nascente
racionalismo.
Da Renascença ao absolutismo monárquico foi um passo. Idéia clássica, ausente na Idade Média –
essencialmente descentralizadora e fiel à subsidiariedade, haja vista o sistema o feudal –, o poder absoluto
dos reis é um pensamento que obviamente foi gerado pela intelectualidade renascentista. E quando,
descontentes com essa imoralidade que fazia do rei uma espécie de dono da sociedade, e do Estado uma
extensão da propriedade privada, alguns iniciaram suas justas críticas a esse status quo, não permitiram os
liberais que se voltasse ao regime da Cristandade , que tantos benefícios patrocinara. A contrário senso,
conduziram tudo para que a sociedade desse outro passo em direção ao abismo: e venceu a Revolução
Francesa, a qual não apenas removeu o nefasto absolutismo. Senão, com ele, muitos traços da ordem
social católica que ainda persistiam, teimosamente, a despeito de todos os malefícios renascentistas que se
lhe infligiam. “Laicizar o Evangelho e conservar as aspirações humanas do cristianismo suprimindo a
Cristo: tal é o essencial da Revolução. Rousseau consumou a operação inaudita, começada por Lutero,
de inventar um cristianismo separado da Igreja de Cristo; ele é quem acabou de naturalizar o
Evangelho; é a ele a quem devemos esse cadáver de idéias cristãs cuja imensa putrefação envenena hoje
o universo.” (MARITAIN, Jacques. Tres reformadores, Buenos Aires: Ed. Santa Catalina, 1945, pp. 171-
172) Por isso é que a Joseph de Maistre denomina a Revolução de essencialmente satânica (cf. DE
MAISTRE, Joseph. Du Pope, in “Oeuvres choisies”, Paris: A. Roger et F. Chernoviz Éditeurs, 1909, pp.
41). E Mons. Freppel, ao explicar a Revolução Francesa, demonstra como, mais do que uma ação política,
“é uma doutrina e uma doutrina radical, uma doutrina que é a antítese absoluta do cristianismo.”
(FREPPEL, D. Charles Emile. La Révolution Française, Paris: Editions du Trident, réédition, 1997, p.
21).
Por meio de sucessivos atos, foram se desenvolvendo os tentáculos da Revolução. Da queda dos
valores medievais pelo Renascimento foi-se ao estabelecimento de um igualitarismo racionalista, que
odiava a fé, e que, por sua vez, favoreceu a terrível descristianização que vemos hoje. O “Cristo sim,
Igreja não” de Lutero mudou-se em “Deus sim, Cristo não” dos iluministas, e este, por sua vez, em “Nem
Igreja, nem Cristo, nem Deus” dos marxistas. “Sabeis que tal impiedade não amadureceu num único dia,
mas há muito tempo estava incubada nas vísceras da sociedade. Na verdade, começou-se por negar o
império de Cristo sobre todos os povos: negou-se à Igreja o direito – que emana do direito de Jesus
Cristo – de ensinar os povos, de fazer leis, de governar os povos para os conduzir à eterna felicidade. E
pouco a pouco a religião cristã foi igualada a outras religiões falsas e indecorosamente rebaixada ao
nível destas; em conseqüência, foi submetida ao poder civil e foi deixada quase ao arbítrio dos príncipes
e magistrados; indo mais além, houve quem pensasse substituir por certo sentimento religioso natural a
religião de Cristo. Não faltavam Estados os quais julgaram poder dispensar-se de Deus, pondo a sua
religião na irreligião e no desprezo do próprio Deus.” (Sua Santidade, o Papa Leão XIII, Encíclica
Annum Sacrum, de 15 de maio de 1889).
O grande pensador espanhol Ortega y Gasset faz lúcida análise da crise que se abateu sobre a
Cristandade, a qual se estende até os dias de hoje com a imoralidade e o ateísmo prático. No seu “Em
Torno a Galileu” demonstra a referida crise como situada concretamente no Renascimento, a partir do
qual “à figura do mundo vigente em uma geração, sucede uma outra figura do mundo algo diferente. Ao
sistema de convicções para agir, sucede um outro.” (ORTEGA Y GASSET, J. Obras Completas, tomo V,
Madri: Revista de Occidente, 1962, p. 69). Com a modernidade começa a gastar-se no mundo ocidental a
cosmovisão antropocêntrica que, há mais de dois séculos, vem configurando uma cultura de tipo
prometeico, cujo objeto é a autolibertação absoluta do homem frente à natureza e Deus. A cosmovisão
antropocêntrica absolutiza a totalidade do homem enquanto realidade criadora do mundo e se apóia na
primazia do progresso técnico-científico, que, por sua vez, se impõe como único critério do processo
cultural.” (CHEUICHE, D. Fr. Antônio do Carmo, OCD. Cultura e Evangelização, Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1995, p. 122) .
Para a Igreja, a Idade Moderna, caracterizada sobretudo pelo Renascimento e pela Reforma
Protestante, foi uma época de crise, pela qual, à semelhança de uma ponte, o mundo caminhou ao
Iluminismo e à vitória dos liberais na Revolução de 1789. É bem verdade que a Idade Moderna ainda
conservaria traços de cristianismo bem vivos, como se nota na evangelização da América, nas grandes
espiritualidades que se desenvolveram no período – os jesuítas de Santo Inácio de Loyola, a reforma do
Carmelo por Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, a popularização da devoção ao Coração de Jesus
por São Cláudio de la Colombière, as famílias espirituais fundadas por São Francisco de Sales, por Santa
Joana de Chantal, por São Vicente de Paulo e por Santa Luísa de Marillac etc –, na arquitetura
eclesiástica. A Renascença não tinha perdido, de todo, o ethos católico. “Poder-se-ia dizer que a Idade
Média”, pontifica Berdiaeff, “havia preservado as forças criadoras do homem e preparado o florescer
esplêndido do Renascimento. O homem penetrou no Renascimento com a experiência e a preparação
medievais. E tudo o que houve de autêntica grandeza no Renascimento, estava vinculado com a Idade
Média cristã.” (BERDIAEFF, NICOLAS. Una nueva Edad Media, Barcelona: Apolo, 1934, p. 25).
Todavia, tais traços de fé cristã iam pouco a pouco se apagando nos ambientes temporais, ao
mesmo tempo em que os verdadeiros católicos a eles se apegavam para explicitar sua adesão plena à
Igreja, em um combate que será travado amplamente no século XIX. “O novo espírito que inicia a
descristianização moderna da Europa traz também consigo uma admiração nova pela Antigüidade pagã
greco-romana. A Idade Média, evidentemente, conhecia e apreciava a Antigüidade, porém, ainda que a
assumisse em boa parte, considerava-a superada pelas grandes sínteses da Cristandade posterior. O
Renascimento, pelo contrário, estima a Antigüidade como uma era de ouro, ao mesmo em que
desvaloriza a Idade Média.” (IRABURU, Pe. José Maria. Hechos de los Apóstoles de América, 3ª ed.,
Pamplona: Fundación Gratis Date, 2003, p. 101) Daí surge a lenda negra, tentativa anticatólica de
falsificação da Idade Média, e de considerar eventuais abusos em tal período cometidos como normais e
corriqueiros – e mesmo como aceitos. Tempo tão pleno do Evangelho, que, segundo os Papas, governava
os Estados , precisava ser alvo de campanhas difamatórias e mentirosas por parte dos que odiavam a
Igreja, se quisessem estes ver seus planos vitoriosos.

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