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Alberto Vieira
As ilhas são um universo à parte. São o fascínio das lendas e dos sonhos em todos os
tempos. Desde a Antiguidade que as ilhas Atlânticas são as principais protagonistas
disso. Ilhas de utopia ou de sonho acabam por se revelar de forma extasiada aos
navegadores do século XV. A literatura de Antiguidade clássica mediterrânica fez do
Atlântico o seu lugar de sonho e ilusão. Aí fez nascer ilhas paradisíacas; os jardins das
Hespérides, como também se desfizeram algumas, como a testemunha a mítica
atlântica. Foi este fascínio que acompanhou os navegadores peninsulares que desde o
século XIV as demandaram obstinados pela sua conquista e ocupação. O seu objectivo
era trazer o paraíso ao seu mundo e fazer dele a sua morada. A ilusão, a obstinação do
paraíso bíblico domina a chegada dos navegadores portugueses às ilhas, como Colombo
às Antilhas e os colonos de Mayflower às costas americanas1.
Aqui aportaram os primeiros europeus e aquilo que identifica o mundo natural desses
bravos aventureiros. A descoberta é também um acto de transformação do meio natural,
adaptado às exigências dos novos habitantes. A arca de Noé acompanha os
navegadores-povoadores e faz com que tudo se transforme num ápice.
1 Barbara Novak, Nature and Culture- american landscape painting. 1825-1875, N. Y., 1980, p.4, 18; Richard Grove, Ecology,
climate and Empire. Studies in colonial environmental. History 1400-1940, Cambridge, 1997, p.184.
2 J. Prest, The Garden of Eden: The Botanic Garden and the Re-creation of Paradise, New Haven, 1981.
3 Cf. David Arnold, The Problem of Nature: environment, culture and European Expansion(new perspectives on the past), Oxford,
1996, p.165
O acto dos descobrimentos europeus não é apenas uma forma de afirmação do mundo
europeu no novo mundo, que vai do Atlântico ao pacífico. É também uma descoberta do
meio natural. Flores, plantas, animais exercem um fascínio especial na prosa desses
aventureiros e, por vezes, homens de ciência. Primeiro os animais exóticos, que afluem
à Europa como troféu. Depois as plantas que assumem valor económico4. Feitas as
contas a permuta foi favorável ao europeu. A cana-de-açúcar, vinha, cereal e alguns
legumes serviram de troca ao cacau, café, tabaco e a inúmeros frutos, sementes e raízes
exóticas que rapidamente nos conquistaram. Em ambos os sentidos o protagonismo das
ilhas nesta permuta foi deveras relevante. O chão das ilhas oferece condições especiais
para a sua aclimatação. Mais uma vez a posição geográfica e o papel que jogam nos
diversos momentos das relações da Europa com as colónias foi fundamental para esse
papel das ilhas como jardins de aclimatação.
Conhecer o mundo das ilhas, em mais de cinco séculos de História, é o mesmo que
acompanhar a par e passo o devir da expansão europeia e o processo de mundialização
da economia que o mesmo provocou. Também deverá ter-se em conta que esse
protagonismo atingiu o campo da Ciência, nomeadamente do relacionamento do
Homem com o meio envolvente. O interesse pelo conhecimento do mundo envolvente,
desde a Fauna à Flora, cativou também os insulares de modo que toda a realização das
ilhas a esse nível está intimamente ligada a esse processo.
4 Cf. José E. Mendes Ferrão, A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1992; António Luís Ferronha,
Mariana Bettencourt e Rui Loureiro Alfredo, A Fauna Exótica dos Descobrimentos, Lisboa, 1993; Margarido, As Surpresas da
Flora no Tempo dos Descobrimentos, Lisboa, 1994.
5 . Cf. Urs Bitterli, Los"Selvajes" y los "civilizados". El Encuentro de Europa y Ultramar, México, 1981.
6 . Cf. Antoni Maczak, Viajes y viajeros en la Europa Moderna, Barcelona,1996;
7
. William D. Phillips, JR, Africa and the Atlantic Islands Meet the Garden of Eden. Christopher Columbu's view of America, in
Journal of World History, vol.3, nº2, 1992, pp.149-164; Henri Baudet, Paradise on Earth, Londres, 1965..
A imagem bíblica do Éden está presente na maioria dos que visitaram ou nos legaram
escritos sobre as ilhas. O Paraíso está teimosamente presente e domina todos ou quase
todos os testemunhos daqueles que tiveram o privilégio de redescobrir as ilhas a partir
do século XVIII. Aliás, na Antiguidade Clássica, o paraíso confundia-se com as ilhas e
para o mundo grego elas eram sinónimo das Afortunadas, Hespérides, que é o mesmo
que dizer as ilhas do Atlântico Oriental8. A primeira visão é quase sempre
complementada de outras reveladoras da forma como se delineou a relação do homem
com o meio. A sua presença e influência no cenário do mundo natural é o motivo de
atenção. Ele é o centro de tudo e evidencia-se na expressão dominadora e domadora do
quadro natural, por isso, o deslumbramento da paisagem, agreste e florida confunde-se
obrigatoriamente com a exaltação da presença humana.
8
. Sobre este tema temos extensa bibliografia para as Canárias: António Cabrera Perera, Las Islas Canarias en el Mundo Clássico,
Islas Canarias, 1988; Soray Jorge Godoy, Las Navegaciones por la Costa Atlántica Africana y las Islas Canarias en la Antiguidad,
Canarias, 1996; Marcos Martinez, Canarias en la Mitologia, S. C. Tenerife, 1992; IDEM, Las Islas Canarias de la Antiguidad al
Renacimiento. Nuevos Aspectos, S. C.Tenerife, 1996; F. Diez de Velasco, Realidad y Mito, S. C. Tenerife, 1997.
9
. Victor Morales Lezcano, Los Ingleses en Canarias. Libro de Viajes e Historias de Vida, Las Palmas de Gran Canaria, 1986, p.124
10. É uma criação do botânico alemão Adolfo Gustavo Henrique Engler(1844-1930). No livro Die Pflanzenwelt Afrikas
Insbesondere Seiner Tropischen Gebiete, publicado em 1910 apresenta no primeiro volume um capítulo sobre Das Afrika
Benachbarte Makaronesien. Cf. Eberhard Axel Wilhelm, Visitantes e Escritos Germânicos da Madeira. 1815-1915, Funchal, 1997.
11
. Mary L. Pratt, Imperial Eye.Travel Writing and Transculturation, N.Y., 1993; STAFFORD, B. M., Voyage into Substance -
Science, Nature and the Illustrated Travel Account 1770-1840, Cambridge, Mass., 1984, pp. 565-634
Algumas colecções de gravuras foram feitas para deleite dos apreciadores, que figuram
em lista que antecede a publicação12.Através das estampas e gravuras é possível
descortinar a presença de algumas espécies arbóreas. No caso madeirense dominam as
que assumem valor alimentar dominam - como a vinha e a bananeira - seguindo-se o
dragoeiro. Já o último é o grande motivo de atracção na ilha de Tenerife. Toda a tenção
estava desviada para a natureza selvagem que se afirmava como o cúmulo da beleza13.
No grupo de textos científicos o interesse reparte-se entre a flora, destacando-se a
variedade de flores e as formações geológicas14.
Na Madeira aquilo que mais impressionou os europeus foi a densa floresta que
encontraram. Aliás, foi isto que esteve na origem do nome dado à ilha. Pois como
comenta o historiador das ilhas foi assim designada "por causa do muito, espesso e
grande arvoredo que era coberta...". Nos Açores todo o empenho estava virado para os
fenómenos vulcânicos. E nas Canárias toda a atenção parece estar concentrada no Teide
em Tenerife e na população autóctone. Se a Madeira fazia crer na mente dos
navegadores a proximidade do Paraíso, os Açores mais se aproximavam do Inferno.
12
. Assim sucede, no caso madeirense, com os desenhos de James Bulwer (1827), Andrew Picken (1842), W. S. Pitt Springett
(1843), Frank Dillon (1850), J. Eckersberg (1853-1855; vide Estampas, Aguarelas e desenhos da Madeira Romântica, Funchal,
1988.
13
. Confronte-se K. Thomas, Man and the Natural World. A history of the Modern Sensibility, N.York, 1980, pp. 260.
14. As últimas surgem com grande evidencia para a Madeira em Edward Bowdich (1825).
15. Neste caso é de salientar a aluvião de 1803, que pelos efeitos devastadores nas culturas e espaços urbanos tornou premente a
consciência pré-ecológica. Paulo Dias de Almeida em 1817 e Isabella de França na década de cinquenta traça-nos o retrato.
16. Na Madeira o principal alvo era os carvoeiros. Também a necessidade de regulamentação do pastoreio conduziu à lei das
pastagens de 23 de Julho de 1913. Depois sugiram as vozes clamando por um reordenamento dos pastos é o caso de José Maria
Carvalho em 1942 ou de arborização defendida por J. Henriques Camacho (1919) e posta em prática por Eduardo Campos Andrade
na década de cinquenta.
17. O Regimento das Madeiras de 1562 pode ser considerado um dos primeiros manifestos ambientalistas. Na Madeira as
preocupações das autoridades avolumaram-se em 1804 aquando da aluvião. Na carta régia de 14 de Maio de 1804 estão bem
expressas as razões do sucedido e a pouca atenção dada à carta de 17 de Junho de 1800 que recomendava o lançamento de sementes
nos cumes da ilha. Neste contexto é de realçar a actividade da Junta de Melhoramentos de Agricultura, criada em 18 de Setembro de
1821.
Nas Canárias e nos Açores a situação das diversas ilhas não foi uniforme. Os problemas
de desflorestação fizeram-se sentir com maior acuidade no primeiro arquipélago, Assim
em Gran Canaria já em princípios do século XVI a falta de madeiras e lenhas era
evidente, como o testemunham as posturas e intervenção permanente das autoridades
locais e a coroa18. A solução estava no recurso às demais ilhas, nomeadamente Tenerife
e La Palma. Mas mesmo nestas começaram a fazer-se a sentir dificuldades. Nos Açores
o facto de a cultura da cana não ter alcançado igual sucesso ao da Madeira e Canárias
salvou o espaço florestal do efeito depredador.
A Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação
em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois,
utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago
foi, assim, o centro de irradiação dos sustentáculos da nova sociedade e economia do
mundo atlântico: primeiro os Açores, depois os demais arquipélagos e regiões costeiras
onde os portugueses aportaram. Daqui resultou para a Madeira o papel fundamental de
difusão das culturas existentes na Europa e que tinham valor para assegurar a
subsistência ou a exportação. Depois com a revelação de novos espaços do Atlântico e
Índico tivemos o retorno de novas culturas e produtos que vieram enriquecer o cardápio
europeu. E de novo as ilhas da Madeira e Cabo Verde voltaram a assumir papel
disseminador19.
A aclimatação das plantas com valor económico, medicinal ou ornamental adquiriu cada
vez mais importância. Aliás, foi fundamentalmente o interesse medicinal que provocou
desde o século XVII o desusado empenho pelo seu estudo20. Assim, em 1757 o inglês
Ricardo Carlos Smith fundou no Funchal um dos jardins onde reuniu várias espécies
com valor comercial. Já em 1797 Domingos Vandelli (1735-1816) e João Francisco de
Oliveira no estudo sobre a flora apresentou no ano imediato um projecto para um
viveiro de plantas. que foi criado no Monte e manteve-se até 1828. O naturalista
francês, Jean Joseph d'Orquigny, que em 1789 se fixou no Funchal foi o mentor da
criação da Sociedade Patriótica, Económica, de Comércio, Agricultura Ciências e
Artes. Também na ilha de Tenerife, em Puerto de La Cruz, Alonso de Nava y Grimón
criou em 1791 um jardim de Aclimatação de Plantas.
18
. Francisco Morales Padron, Ordenanzas del Concejo de Gran Canaria (1531), Las Palmas, 1974; José Peraza de Ayala, Las
Ordenanzas de Tenerife, Madrid, 1976; Pedro Cullen del Castilho, Libro Rojo de Gran Canaria o Gran Libro de Provisiones y
Reales Cédulas, Las Palmas, 1974. Alfredo Herrera Piqué, La Destrucción de los Bosques de Gran Canaria a comienzos del siglo
XVI, in Aguayro, nº.92, 1977, pp.7-10; James J. Pearsons, Human Influences on the Pine and Laurel Forests of the Canary Islands,
in Geographical Review, LXXI, nº3, 1981, pp.253-271.
19. Cf, G. Lapus, Les Produits Coloniaux d'Origine Végétale, Paris, 1930; J. E. Mendes Ferrão, Transplantação de Plantas ee
Continentes para Continentes no Século XVI, Lisboa, 1986; IDEM, A Difusão das Plantas no Mundo através dos Descobrimentos,
in Mare Liberum, nº. 1, 1990, 131-142; IDEM, A Aventura das Plantas, Lisboa, 1992.
20
K. Thomas, Man and the Natural World. Changing attitudes in England. 1500-1800, Oxford, 1983, p. 27, 65-67.
Em França, por iniciativa de G. Saint-Hilaire (1805-1861), foi criada em 1854 a Societé
Nationale de Protection de la Nature et D'Acclimatation. Os franceses a partir da obra
de Buffon e Lamarck foram os principais difusores da noção e prática de aclimatização.
Tudo isto liga-se directamente com o processo de colonização africana, assinalando-se
no caso francês o processo em curso na Argélia21. Auguste Hardy é peremptório na
aproximação: "it may be said that the whole of colonization is a vast deed of
acclimatization"22. Esta opção ganhou adeptos em toda a Europa, merecendo o seguinte
comentário de Michael Osborne23: "The proliferation of acclimatization societies and its
empires at mid-century indicates that acclimatization studies were tied to the pan-
European phenomenon of settler colonies".
Na Madeira José Silvestre Ribeiro, governador civil, avançou em 1850 com um plano
de criação do Gabinete de História Natural, a partir da exposição inaugurada a 4 de
Abril no Palácio de S. Lourenço. Mas foi tudo em vão porque à sua partida em 1852
tudo se desfez. A 23 de Setembro, surge a proposta de Frederico Welwistsch26 para a
criação de um jardim de aclimatação no Funchal e em Luanda27. A Madeira cumpriria o
papel de ligação das colónias aos jardins de Lisboa, Coimbra e Porto. Este botânico
alemão que fez alguns estudos em Portugal, passou em 1853 pelo Funchal com destino
a Angola. Já a presença de outro alemão, o Padre Ernesto João Schmitz, como professor
do seminário diocesano, levou à criação em 1882 um Museu de História Natural, que
hoje se encontra integrado no actual Jardim Botânico.
Nos Açores foi também evidente a aposta nos jardins de aclimatação. Um dos principais
empreendedores foi José do Canto que desde meados do século XIX criou diversos
viveiros de plantas de diversas espécies que adquiriu em todo o mundo. Na década de
21
Michael Osborne, Nature, the exotic, and the Science of French Colonialism, Bloomington, 1994
22
L'Algerie Agricole, Commerciale, Industrielle, Paris, 1860, p.7
23
Ibidem, p.176
24
The Botanizers-amateur scientits in nineteenth century America, Chapel Hill, 1992.
25
. Ibidem, p.45
26
. Cf. Eberhard Axel Wilhelm, "Visitantes de língua Alemã na Madeira(1815-1915)", in Islenha, 6, 1990, pp.48-67.
27
. "Um Jardim de Aclimatação na ilha da Madeira", in Das Artes e da História da Madeira, nº. 2, 1950, pp.15-16
28
César A. Pestana, A Madeira Cultura e Paisagem, Funchal, 1985, p.65
29
Cf Boletim da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, Abril de 1960; Rui Vieira, "Sobre o 'Jardim Botânico' da Madeira ",
in Atlântico, 2, 1985, pp.101-109.
setenta as suas propriedades enchiam-se de criptomérias, pinheiros, eucaliptos e
acácias30. Tenha-se em conta os contactos com as sociedades científicas e de
aclimatação, nomeadamente francesas, as visitas que fez aos mais considerados jardins
europeus. Podemos associar ainda António Borges que em 1850 lançou o parque das
Sete Cidades e oito anos após o jardim de Ponta Delgada que ostenta o seu nome. Outro
entusiasta da natureza foi José Jácome Correia que nos legou o jardim de Santana.
Tenha-se em consideração o facto de António Borges ter permanecido desde 1861 oito
anos em Coimbra onde trabalhou no Jardim Botânico e manteve contactos estreitos com
a universidade, mercê do apoio do patrício Carlos M. G. Machado. Daqui resultou uma
estreita cooperação como envio à ilha de Edmond Goeze31 com a finalidade de recolher
espécies arbóreas para a estufa do jardim coimbrão. Tudo isto permitiu que o mesmo e
alguns dos compatriotas micaelenses transformassem a paisagem da ilha em densos
arvoredos e paradisíacos jardins de flora exótica.
30
. Fernando Aires de Medeiros Sousa, José do Canto. Subsídios para a História micaelense (1820-1898), Ponta Delgada, 1982,
pp.78-113
31. A Ilha de S. Miguel e o Jardim Botânico de Coimbra, in O Instituto, 1867, pp.3-61.
32. Jose de Viera y Clavijo, Extracto de las Actas de la Real Sociedad Económica de amigos del Pais de las Palmas (1777-1780),
Las Palmas de Gran Canaria, 1981.
33
. A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, p.173, 178
corsários europeus. A área definida pela Península Ibérica, Canárias e Açores foi o
principal foco de intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam
açúcar ou pastel ao velho continente.
O protagonismo das ilhas não se fica só pelos séculos XV e XVI, pois as navegações e
explorações oceânicas nos séculos XVIII e XIX levaram-nas a assumir uma nova
função para os europeus. De primeiras terras descobertas passaram a campos de
experimentação e escalas retemperadoras da navegação na rota de ida e regresso.
Finalmente, no século XVIII desvendou-se uma nova vocação: as ilhas como campo de
ensaio das técnicas de experimentação e observação directa da natureza. A afirmação da
Ciência na Europa fez delas escala para as constantes expedições científicas dos
europeus. O enciclopedismo e as classificações de Linneo (1735) tiveram nas ilhas um
bom campo de experimentação. Tenha-se em conta as campanhas da Linnean Society e
o facto de o próprio presidente da sociedade, Charles Lyall, ter-se deslocado em 1838 de
propósito às Canárias
O homem do século XVIII perdeu o medo ao meio circundante e passou a olhá-lo com
maior curiosidade e, como dono da criação, estava-lhe atribuída a missão de perscrutar
os segredos ocultos. É este impulso que justifica todo o afã científico que explode nesta
centúria. A ciência é então baseada na observação directa e experimentação. As
expedições científicas aliam-se e imbricam-se de forma directa no traçado das rotas
coloniais. As missões científicas atribuem uma mais-valia ao conhecimento que por sua
vez contribui para a afirmação colonial, progresso da navegação e comércio e prestígio
da própria coroa. A expedição do Cap. Cook conta com instruções expressas da
coroa34. Esta expedição pode ser considerada como um laboratório ambulante pelo
aparato científico que a envolveu35. As instituições de França a Inglaterra são fruto de
uma intervenção régia como se pode verificar do seu nome36. Ainda, neste contexto
poderá considera-se os arquipélagos da Madeira e Canárias, bem posicionados nas rotas
que ligavam as instituições científicas europeias aos espaços de investigação em África,
Índico e América central e do Sul, que actuam como laboratórios de experimentação das
técnicas de estudo e recolha.
34. J. C. Beagle, The Journals of Captain Cook on this Voyage of Discovery, t.I, Cambridge, 1955.
35. H. C. Cameron, Sir Joseph Banks, Londrres, 1966.
36. Cf. T. Thomson, The History of The Royal Society, Londres, 1822; M. Penver, The Royal Society, Concept and Creation,
Cambridge, Mass., 1967.
37
Cf. "Algumas das Figuras Ilustres Estrangeiras que Visitaram a Madeira", in Revista Portuguesa, 72, 1953; A. Lopes de Oliveira,
Arquipélago da Madeira. Epopeia Humana, Braga, 1969, pp. 132-134.
Instituições seculares, como o British Museum, Linean Society, e Kew Gardens,
enviaram especialistas às ilhas para proceder à recolha das espécies, enriquecendo os
seus herbários. Os estudos no domínio da Geologia, botânica e flora são resultado da
presença fortuita ou intencional dos cientistas europeus. Esta moda do século XVIII
levou a que as instituições científicas europeias ficassem depositárias de algumas das
colecções mais importantes de fauna e flora das ilhas: o Museu Britânico, Linnean
Society, Kew Gardens, a Universidade de Kiel, Universidade de Cambridge, Museu de
História Natural de Paris. E por cá passaram destacados especialistas da época, sendo
de realçar John Byron, James Cook, Humbolt, John Forster. Darwin esteve nas
Canárias e Açores (1836) e mandou um discípulo à Madeira. Mas no arquipélago
açoriano o cientista mais ilustre terá sido o Príncipe Alberto I do Mónaco que aí aportou
em 1885. James Cook escalou a Madeira por duas vezes em1768 e 1772, numa réplica
da viagem de circum-navegação apenas com interesse científico. Os cientistas que o
acompanharam intrometeram-se no interior da ilha à busca das raridades botânicas para
a classificação e depois revelação à comunidade científica. Em 1775 o navegador estava
no Faial e no ano imediato em Tenerife.
Diferente foi a atitude do homem do século XVIII. Aliás, desde a segunda metade do
século XVII que o seu relacionamento com as plantas mudou. Em 1669 Robert Morison
publicou Praeludia Botanica, considerada como o princípio do sistema de classificação
das plantas, que tem em Carl Von Linné (Linnaeus) (1707-1778) o principal
protagonista. A partir daqui a visão do mundo das plantas nunca foi a mesma.
Contemporâneo dele é o Comte de Buffon que publicou entre 1749 e 1804 a "Histoire
Naturelle, Générale et Particuliére" em 44 volumes. Perante isto os jardins botânicos do
século XVIII deixaram de ser uma recriação do paraíso e passaram a espaços de
classificação botânica. O Kew Gardens em 1759 é a verdadeira expressão disso. Note-se
que Hans Sloane (1660-1753), presidente do Royal College of Physicians, da Royal
Society of London e fundador do British Museum, esteve na Madeira no decurso das
expedições que o levaram às Antilhas inglesas42.
Os jardins, através da harmonia arvoredo e das garridas cores das flores, tiveram nos
séculos XVII e XVIII um avanço evidente e adquiriram a dimensão de paraíso bíblico e
como tal de espaço espiritual e são a expressão do domínio humano sobre a Natureza43.
A Inglaterra do século XIX popularizou os jardins e as flores44. A ambiência chegou às
ilhas através dos mesmos súbditos de Sua Majestade. As ilhas exerceram um fascínio
especial em todos os visitantes e parece que nunca perderam a imortal característica de
jardins à beira do oceano e de espaços exóticos onde as espécies indígenas convivem
com as europeias e as oriundas do Novo Mundo. A cidade do Cabo, pelas ligações às
rotas comerciais, foi o centro de divulgação no espaço Atlântico e de forma especial na
Madeira45. Tenha-se ainda em conta idêntico papel das ilhas de Cabo Verde para as
espécies de ambos os lados do Atlântico. Deste modo poderemos afirmar que as ilhas
foram jardins e que os jardins continuam a ser o encanto dos que a procuram, sejam
turistas ou cientistas.
40
.Las islas Canarias, Escala Científica en el Atlántico Viajeros y Naturalistas en el siglo XVIII, Madrid, 1987.
41
. Richard Grove, Ecology, climate and Empire. Studies in colonial enviromental. History 1400-1940, Cambridge, 1997, p. 46; J.
Prest, The Garden of Eden: The Botanic Garden and the Re-creation of Paradise, New Haven, 1981.
42
Raymond R. Stearns, Science in the British Colonies of America, Urban, 1970
43
. Peter J. Bowler, Fontana History of environmental Sciences. N. Y., 1993.,p.111.
44
. Cf. K. Thomas, ibidem, pp.207-209, 210-260
45. Rui Vieira, Album Floristico da Madeira, Funchal, 1974; Miguel José Afonso, Funchal- Flora e Arte nos Espaços Verdes,
Funchal, 1993.
HISTÓRIA E MEIO AMBIENTE: Nos últimos anos a História tem sido enriquecida de
novos conteúdos. A Historiografia americana tem permitido esse arejamento temático e
metodológico. A história oral, que já aqui referimos, é exemplo disso. A par disso temos
ainda outra recente aportação que tanto tem entusiasmado a Historiografia inglesa e
norte-americana. Isto é, a História do Meio-ambiente.
O primeiro estudo que apela ao tema surge em 1847. Com o livro "Man and Nature" de
George Perkins Marsh, que é considerado um dos precursores da defesa do meio-
ambiente. O tema começou a ganhar interesse nos anos cinquenta, mas a actual
premência actual dos problemas do meio-ambiente cativou a historiografia que fez deste
um dos novos domínios de ponta do conhecimento e investigação histórica. A
publicação do livro "The historical roots of our ecologic crises "(1960) de Lynn White
Jr., um dos clássicos estudos sobre a História do meio-ambiente, marca o início de uma
nova era para a atenção da historiografia norte-americana, que nos últimos anos entrou
definitivamente nos currículos académicos e planos editoriais. Acrescem também as
revistas especializadas. Destas salienta-se Forest & Conservation History(1957), hoje
Environmental History Review, que se firmou como porta-voz dos historiadores em
defesa do meio-ambiente.
Da leitura dos clássicos e da produção recente releva-se uma situação particular que
toca de novo o arquipélago da Madeira. A Madeira não se posiciona apenas nos anais da
História universal como a primeira área de ocupação atlântica, pioneira na cultura e
divulgação do açúcar ao Novo Mundo.
Outro facto também insistentemente referido é o da própria ilha da Madeira. O nome foi
o atributo para referenciar a abundância e aspecto luxuriante do seu bosque. Mas em
pouco tempo, as queimadas para abrir clareiras de cultura e habitação, o desbaste para
fruição das lenhas e madeiras, fizeram-na desmerecer tal epíteto. Da Madeira quase só
ficou o nome…!
"Dificilmente se encontrarão formas de utilização dos recursos dos solos que se possam rivalizar
com a agro indústria canavieira quanto à capacidade de condicionar um tipo de sociedade e de
economia, de modelar um tipo de paisagem e de estruturar um tipo de arranjo económico do
espaço".(Mário Lacerda de Melo, O Açúcar e o homem, 1975)
"Já afirmou alguém, com muita razão, que o cultivo da cana de açúcar se processa em regime de
autofagia: a cana devorando tudo em torno de si, engolindo terras e mais terras, dissolvendo o
húmus do solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o próprio capital humano, do qual a
sua cultura tira toda a vida. E é a pura verdade... Donde a caracterização inconfundível das
diferentes áreas geográficas açucareiras, com seu ciclo económico, com as fases de rápida ascensão,
de esplendor transitório e de irremediável decadência. Ciclo este que se processa tanto mais
rapidamente quanto menores os recursos de terras disponíveis. Daí a semelhança de aspectos entre
áreas diferentes como o Haiti, Cuba, Porto Rico, Java e o Nordeste brasileiro".(Josué de Castro,
Geografia da Fome, R. Janeiro, 1952, p.73)
A cana de açúcar poderá ser considerada como a cultura agrícola mais importante da
História da Humanidade, pois provocou o maior fenómeno em termos de mobilidade
humana, económica, comercial e ecológica. A sua afirmação como cultura agrícola é
milenar e abrange vários quadrantes do planeta. É de todas as plantas domesticadas pelo
Homem aquela que acarreta maiores exigências. Ela quase que escraviza o homem,
esgota o solo, devora a floresta e dessedenta os cursos de água. A sua exploração
intensiva desde o século XV gerou grandes exigências em termos de mão-de-obra,
sendo responsável pela maior fenómeno migratório à escala mundial que teve por palco
o Atlântico: a escravatura de milhões de africanos. Ligado a tudo isso está também um
conjunto variado de manifestações culturais que vão desde a literatura à música e à
dança.
Foi o Oriente descobriu a doçura, tendo a Papua Nova Guiné como Berço. Os árabes
fizeram-no chegar ao ocidente e foram os principais arautos da sua expansão.
Genoveses e venezianos encarregaram-se do seu comércio e Europa. Mas é nas ilhas
que ela encontrou um dos principais viveiros da sua afirmação e divulgação no
Ocidente: Creta e Sicília no Mediterrâneo, Madeira, Açores, Canárias, Cabo Verde e S.
Tomé no Atlântico Oriental Puerto Rico, Cuba, Jamaica, Demerara(…) nas Antilhas.
A cana, tal como afirma Josué de Castro, é autofágica. A realidade histórica dos últimos
cinco séculos, em que ela assumiu um estatuto de produção em larga escala, assim o
confirma. Aquilo que aconteceu na Madeira dos séculos XV e XVI repetiu-se nas
Canárias, Caraíbas e só não atingiu idênticas proporções no Brasil, porque a mata
atlântica era extensa. Mesmo assim aqui os problemas, embora mais tarde, também
tiveram lugar. Gilberto Freire afirma que "o canavial desvirginou todo esse mato grosso
de modo mais cru pela queimada. A cultura da cana… valorizou o canavial e tornou
desprezível a mata". O processo é simples. Para plantar a cana derruba-se ou queima-se
a floresta. Depois para fabricar o açúcar essa floresta faz falta para manter acesa a
chama dos engenhos, ou construir estas infra-estruturas. A cana tem na floresta o seu
maior amigo e inimigo. Um exemplo apenas evidência a dimensão que assumiu este
processo.
É certo que a necessidade de lenhas como combustível para o dia а dia caseiro, para a
indústria de panificação, forjas e engenhos de açúcar levaram paulatinamente à
diminuição das reservas florestais. Mas foi sem dúvida o desbaste para a agricultura que
conduziu inevitavelmente ao processo destrutivo. A sentença estava dada: " In all new
countries covered with forests the setlers are apt to consider trees as their enemy. They
wage an implacable warfare agians them, until the whole face the land becomes naked,
the streams driedun, the summers made hotter, and the winters colder, by opening the
earth to the sun and winds. The succeedin generation labors as industriously to produce
shade as its predecessors did to destroyed it"53
Estas medidas poderão resumir-se à preservação daquilo que existe através de medidas
limitativas do abate de árvores e recuperação do coberto florestal com uma política de
reflorestação das zonas ermas ou em abate. A salvaguarda da floresta passava não sу
pelo estabelecimento de medidas rigorosas que controlassem o seu abate, que deveria
estar sujeito a licenças camarárias, mas também ao ataque em todas as frentes aos
agentes devastadores, onde se incluíam o fogo e o gado solto. As queimadas, tão
comuns desde o povoamento, foram um dos principais agentes devastadores e por isso
insistentemente proibidas. O gado é obrigatoriamente acantonado a espaços circundados
por um bardo. A floresta não era para os nossos avoengos um espaço de diversão mas
sim algo fundamental para a economia da ilha. Vedar-lhe o acesso era impossível. Daí
as medidas disciplinadoras do uso de acordo com um processo económico harmonioso.
A luta não permitia tréguas. Assim sucediam-se as medidas que procuravam assegurar a
preservação da floresta e a reposição do coberto vegetal. Mas a política de
reflorestamento da ilha sу assumiu uma dimensão adequada na segunda metade do
século XIX. A primeira indicação é de 1677, altura em que se recomendava o plantio de
amoreiras em Machico, Santa Cruz e Porto Santo62. O grande promotor da política foi o
corregedor Francisco Moreira de Matos. Em 1769 ele dava conta dos infractores de
Santa Cruz quanto à fiscalização das medidas que determinavam a obrigatoriedade de
plantar árvores nas terras baldias, o que prova estar já em execução63. Na Ponta de Sol
em 1789 explicita-se que este plantio deveria ser de árvores silvestres e de fruto64. A
56. ARM, C. M. Santa Cruz, n1291, novo caderno de posturas; Posturas do Concelho de Santa Anna, Funchal, 1837; ARM,
Governo Civil, n1.155, Posturas (1840); Posturas da Câmara Municipal da Cidade do Funchal, 1849 e 1895; Posturas da Câmara
Municipal da Villa de Machico, 1856; ARM, C. M. Funchal, n1.239, Registo de posturas (1869-1885); Código de Posturas da
Câmara Municipal do Concelho do Porto Moniz, 1890.
57. ARM, C. M. Machico, n1.5-6, livro de correições 1768-1808; ARM, C. M. Funchal, n1168 (1768); ARM, C. M. Porto Santo,
nº.54 (1780-1829); ARM, C. M. Santa Cruz, n1.171 (1808-1832).
58. Paulo Dias Almeida, ob.cit.
59. Cf. testemunho de Assis Esperança, in Ilustração, 1929, puiu. Cabral do Nascimento, Lugares Selectos dos autores Portugueses
que Escreveram sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1949, p.185.
60. J. Freitas Branco, Camponeses da Madeira, Lisboa, 1987, pp.133-137; A. Marques da Silva, " Preocupações Ecológicas do
Estrela do Norte", in Atlântico, 19 (1989), 203-206.
61. Breve Noticia sobre a Ilha da Madeira, Lisboa, 1841, 34-35.
62. Excursão na Madeira, 1891, p.83.
63. ARM, C: M. Machico, n1.6, fl. 5v1, 7 de Abril de 1769.
64.ARM, C. M. Ponta Sol, n1.220, fl. 68v1-69, 19 Novembro 1789.
solução tornou-se extensiva a toda a ilha através da carta circular de 25 de Dezembro de
177065.
Em Santa Cruz sabemos que esta medida era fiscalizada pelos próprios moradores,
nomeando a vereação dois homens por cada localidade. Aos baldios juntam-se as
escarpas montanhosas e as áreas de cultivo. Assim em 1791 recomendava-se aos
lavradores das meias terras acima são obrigados a plantar meio alqueire ou uma quarta,
dependendo da extensão das terras, de castanheiros, enquanto os outros deveriam
plantar pelo menos duas laranjeiras e um limoeiro. Por outro lado as terras escalvadas e
do interior deveriam ser semeadas no decurso do mês de Setembro de pinheiros. Outra
das propostas era a amoreira, que "alimenta bicho da seda e distraem lagartixas não
comam uvas"66. Note-se que sу nos dois anos que antecederam a visita do corregedor
em 1795 a Ponta de Sol plantaram-se 35.000 бrvores67. Esta salutar medida teve
diversas formas de concretização. Assim em 1800 aquele que cortasse uma árvore era
obrigado a plantar outra no seu lugar768. Esta medida é aliás testemunhada por W.
Combe em 182169.
Para o Brasil no século XVIII cada kilo de açúcar equivale a 15 kg de lenha queimada,
dando média anual de 210.000 toneladas. A cada hectare deverá corresponder 200
toneladas. A evolução recente da mata atlântica no Brasil, passados mais de cem anos
sobre o incremento da máquina a vapor nos engenhos, continua a ser tragada por outros
agentes. Assim entre 1985 a 1990 ela perdeu 5.330 km2, ficando em 83.500km2, isto
cerca de 8% da floresta encontrada portugueses em 22 de Abril de 1500. Esta
continuada acção devastadora é assim descrita: "Durante quinhentos anos, a Mata
Atlântica propiciou lucros fáceis: papagaios, corantes, escravos, ouro, ipecacuanha,
orquídeas e madeira para o proveito de seus senhores coloniais e, queimada e devastada,
uma camada imensamente fértil de cinzas que possibilitavam uma agricultura passiva,
imprudente e insustentável. A população crescia cada vez mais, o capital "se
acumulava", enquanto as florestas desapareciam; mais capital então "se acumulava" -
em barreiras à erosão de terras de lavoura, em aquedutos, controle de fluxos e enchentes
As ilhas, pela limitação do seu espaço, são as primeiras a ressentir-se desta realidade.
Sucede assim em ambos os lados do Atlântico, apontando-se como única excepção as
ilhas de S. Tomé e Príncipe. Nas Caraíbas a situação é igual. A ilha de Santo Domingo,
hoje Haiti e Rep. Dominicana, a cultura da cana teve um apogeu curto de pouco mais de
cinquenta anos, pois que em 1550 a notória escassez de lenha conduziu ao abandono de
muitos engenhos desde 1570. Já em Jamaica, a promoção pelos ingleses da cultura,
levou à busca de soluções. Primeiro o trem jamaicano que terá sido a solução mais
eficaz . Com este sistema de fornalha o aproveitamento de lenha era evidente, pois
apenas com uma só fogueira se conseguia manter as três fornalhas. Concomitantemente
tivemos o recurso ao bagaço como combustível. Note-se que ambas as situações
difundem-se primeiro nas Antilhas inglesas a partir da década de oitenta do século XVII
e só depois atingem as demais áreas açucareiras. A generalização do sistema aconteceu
primeiro nas ilhas, carentes de lenha, e só depois chegou ao Brasil. A sua entrada
definitiva na industria açucareira do Brasil é de 1806, altura em que Manuel Ferreira da
Câmara, na Baía, adaptou o seu engenho a esta nova situação. Todavia nesta época a
grande inovação era já a maquina a vapor, que começou a ser usada no Brasil a partir de
1815. Entretanto a Caldeira de vacum, inventada em 1830 por Norbert Rillius de New
Orleans, foi a técnica que revolucionou o fabrico do açúcar e que mais contribuiu para a
economia de combustível.
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