Mecanica Quantica-Piza

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MECANICA
QUANTICA
A. F. R. de Toledo Piza
Vers~
ao A(2K+1)
ii
Prefa io.
Este livro foi on ebido, e assim utilizado em diversas vers~oes preliminares, omo base para o
urso de Me âni a Quânti a, om dura ~ao de dois semestres, ofere ido regularmente a estudantes de pos gradua ~ao do Instituto de Fsi a da Universidade de S~ao Paulo. A forma sob a qual
o seu onteudo e apresentado aqui resultou de um pro esso evolutivo paralelo a repetida ministra ~ao desse urso em duas epo as distintas, a primeira no nal da de ada de 70 e a segunda
obrindo a ultima virada de se ulo, que assinala ao mesmo tempo o entenario do trabalho de
Plan k que levou nalmente a teoria quânti a, na forma em que ela e entendida hoje. O texto
n~ao exige, a rigor, familiaridade previa da parte dos estudantes om a me âni a quânti a, alem
do que e parte integrante de urr ulos normais de gradua ~ao em fsi a e objeto de dis iplinas
usualmente identi adas omo \Fsi a Moderna". O objetivo dos primeiros três aptulos e, de
fato, onstruir o ar abou o formal da teoria quânti a em têrmos tanto quanto possvel gerais
e denitivos, embora desimpedidos da dis uss~ao mais pormenorizada de sutilezas te ni as que
possam obstruir a per ep ~ao do onjunto pelo estudante. Os três aptulos seguintes tratam
do desenvolvimento das te ni as de aproxima ~ao basi as utilizadas nas diversas apli a ~oes da
teoria, e de sua ilustra ~ao sobretudo aos problemas lassi os da estrutura atômi a. Esses seis
aptulos que integram a primeira parte do texto orrespondem ao primeiro semestre do urso
de pos gradua ~ao ministrado no Instituto de Fsi a da USP.
Elementos de natureza histori a s~ao utilizados para dar perspe tiva e realismo aos assuntos
tratados, sem preo upa ~oes maiores, no entanto, om quest~oes de rigor histori o. Observa ~oes
apresentadas em ara teres reduzidos em diversas alturas do texto assinalam a eventual ne essidade ou abimento de re ursos te ni os adi ionais, sem que a sua omiss~ao deva prejudi ar a
ompreens~ao do texto basi o.
Os in o aptulos que integram a segunda parte do texto orrespondem ao segundo semestre
do urso. Eles tratam de topi os tambem de uso geral porem mais dependentes de um maior
aparato te ni o, omo sistemas envolvendo part ulas idênti as e o seu tratamento em têrmos de
te ni as de \segunda quantiza ~ao", o tratamento perturbativo de pro essos eletromagneti os no
ontexto atômi o utilizando uma vers~ao quantizada do ampo eletromagneti o livre, e a teoria
quânti a formal do espalhamento de poten ial. O ultimo aptulo onsiste numa introdu ~ao a
iii
me âni a quânti a relativsti a, que se orienta no nal para a obten ~ao do espe tro dis reto
de uma part ula de Dira em um ampo externo Coulombiano. Essa orienta ~ao visa, em
parti ular, evitar superposi ~ao om a parte introdutoria de ursos ofere idos sobre a teoria
quânti a de ampos, que tratam a equa ~ao de Dira em têrmos de segunda quantiza ~ao.
Cada um dos aptulos e a ompanhado de uma ole ~ao de problemas que variam desde
simples apli a ~oes de resultados e pro edimentos dis utidos no texto ate a elabora ~ao de alguns
topi os mais espe os, desde que om interesse e apli a ~ao geral. As referên ias, seja as
in luidas ao longo texto, seja as de arater geral listadas ao nal de ada um dos aptulos, n~ao
pretendem ser exaustivas em qualquer sentido, mas apenas subsidiar o onta to tanto om os
trabalhos originais omo om apresenta ~oes alternativas ou diversamente on ebidas dos topi os
tratados.
O prolongado pro esso de elabora ~ao do texto aqui apresentado se bene iou enormemente
de ontribui ~oes e omentarios de um grande numero de pessoas, tanto estudantes omo olegas
de pross~ao, varias delas tendo in lusive transitado da primeira para a segunda dessas situa ~oes.
S~ao Paulo, 23 de fevereiro de 2001.
A. F. R. de Toledo Piza.
iv
Sumario
I Parte 1
1 Di uldades om as teorias lassi as e a solu ~ao quânti a.
1.1 Radia ~ao de orpo negro: ontexto lassi o e a

hipotese de Plan k. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.2 Trabalhos de Einstein e Bohr. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.2.1 A \velha Me âni a Quânti a" do atomo de hidrogênio:
frequên ias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.2.2 Intensidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.2.3 Einstein, os prin pios de Bohr e a radia ~ao de orpo negro. . . . . . . .
1.3 A nova me âni a de Heisenberg. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.3.1 A teoria de Heisenberg passada a limpo: as matrizes de Born e Jordan. .
1.3.2 O os ilador harmôni o unidimensional segundo a me âni a das matrizes.
1.4 Op ~oes determinantes e de orrên ias da teoria de Heisenberg, Born e Jordan. . .
2 Estrutura algebri a da teoria de Heisenberg. Postulados interpretativos.
2.1 Estrutura algebri a da teoria de Heisenberg:

dis uss~ao heursti a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2 Estrutura formal e interpreta ~ao da teoria quânti a. . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2.1 Espa os de Hilbert. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2.2 Operadores lineares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.2.3 Espe tro de operadores lineares e a interpreta ~ao da Me âni a Quânti a.
2.2.4 Compatibilidade de observaveis e rela ~oes de in erteza. . . . . . . . . . .
2.2.5 Muitos graus de liberdade, espa os produto e
sistemas ompostos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.3 Avatares da dinâmi a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.3.1 O operador de evolu ~ao e as des ri ~oes de Heisenberg, de S hrodinger e
\de intera ~ao". . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.3.2 Extens~ao para hamiltonianos que dependem expli itamente do tempo. . .
v
5
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13
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82
2.3.3 Rela ~oes de in erteza energia-tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

2.4 A \redu ~ao do pa ote de ondas". . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
2.4.1 Medidas reprodutveis, o \efeito Zeno" e a redu ~ao do pa ote de ondas. . 90
3 Sistemas quânti os simples.
3.1 O os ilador harmôni o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

3.1.1 Espe tro e autovetores do hamiltoniano do os ilador. . . .
3.1.2 Dinâmi a do os ilador for ado. . . . . . . . . . . . . . . .
3.2 Sistemas de dois nveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.2.1 Estados esta ionarios e o operador de evolu ~ao. . . . . . .
3.2.2 \Tunelamento" e interferên ia de estados esta ionarios. . .
3.3 A representa ~ao de S hrodinger. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.3.1 Propriedades gerais da dinâmi a de uma part ula em um
poten ial externo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.3.2 Fun ~oes de onda esta ionarias para o os ilador harmôni o.
3.3.3 Comportamento quânti o de uma part ula livre. . . . . .
3.3.4 Part ula sujeita a poten ial externo em uma dimens~ao. . .
4 Metodos de aproxima ~ao.
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4.1 Metodos perturbativos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4.1.1 Perturba ~ao de estados n~ao degenerados em espe tros
dis retos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4.1.2 Perturba ~ao de um estado degenerado ou quase-degenerado. . . . . .
4.1.3 Perturba ~ao da equa ~ao de movimento. . . . . . . . . . . . . . . . . .
4.1.4 Transi ~oes num espe tro ontnuo ou quase- ontnuo:
a \regra aurea" de Fermi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4.2 Formula ~ao varia ional do problema de autovalores para espe tros dis retos.
4.3 Aproxima ~ao semi- lassi a para a fun ~ao de onda. . . . . . . . . . . . . . . .
4.3.1 A aproxima ~ao de Wentzel, Kramers e Brillouin (WKB) . . . . . . .
4.3.2 Tratamento de regi~oes perigosas: formulas de onex~ao. . . . . . . . .
4.3.3 Uso das formulas de onex~ao: penetra ~ao de barreiras de
poten ial e regras de quantiza ~ao de Bohr. . . . . . . . . . . . . . . .
5 Momento angular, poten iais entrais.
107
107
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112
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202
212
215
218
223
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247
5.1 Momento angular na dinâmi a de uma part ula

sujeita a um poten ial entral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 250
5.1.1 Autovalores e autovetores do momento angular. . . . . . . . . . . . . . . 252
5.1.2 Part ula livre om momento angular bem denido. . . . . . . . . . . . . 254
vi
5.1.3 Po o de poten ial quadrado em três dimens~oes. . . . . . . . . . . . . . .

5.1.4 Espe tro ontnuo de um poten ial entral de urto al an e. Defasagens.
5.1.5 Condi ~oes de ontorno, amplitudes e se ~ao de hoque
de espalhamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5.1.6 Espalhamento a muito baixas energias. Expans~ao
de al an e efetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5.2 Problema de dois orpos om fôr as entrais. O atomo de hidrogênio. . . . . . .
5.2.1 Correla ~oes de dois orpos e raios de estados ligados. . . . . . . . . . . .
5.2.2 Propriedades empri as do espe tro do atomo de hidrogênio e insu iên ia
do modelo simples. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6 Estrutura na e ampos externos no atomo de hidrogênio.

6.1
6.2
6.3
6.4

Realiza ~ao expl ita das variaveis de spin. Algebra
das matrizes da Pauli. . . . .
6.1.1 Dire ~ao de polariza ~ao do vetor de estado geral de spin 1/2. . . . . . . .
6.1.2 Matrizes de Pauli omo base de operadores no espa o de spin. . . . . . .
Estados de uma part ula om spin 1/2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6.2.1 Momento angular de uma part ula om spin 1/2. Adi ~ao de momentos
angulares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Momentos magneti os e intera ~oes dependentes do spin. . . . . . . . . . . . . . .
6.3.1 Intera ~ao spin-orbita e estrutura na. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6.3.2 Intera ~ao spin-spin e estrutura hiperna. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Campos eletromagneti os externos. Efeitos Stark e Zeeman no hidrogênio. . . .
6.4.1 Efeito Stark no hidrogênio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6.4.2 Efeito Zeeman no hidrogênio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
258
261
263
268
272
278
279
285
286
289
291
292
294
300
300
309
313
315
331
II Parte 2
347
7 Sistemas de part ulas idênti as.
349
7.1 Fermions e bosons. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

7.1.1 Sistemas de muitas part ulas idênti as. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7.1.2 Exemplos simples. Indistinguibilidade quânti a e lassi a. . . . . . . . . .
7.2 A tabela periodi a. Aproxima ~oes auto onsistentes para a estrutura atômi a. . .
7.2.1 Poten iais medios auto- onsistentes. Aproxima ~ao de
Thomas-Fermi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7.2.2 Aproxima ~oes de Hartree e de Hartree-Fo k. . . . . . . . . . . . . . . . .
7.3 Metodos de \segunda quantiza ~ao" para sistemas de muitas part ulas idênti as.
vii
353
356
359
368
372
376
382
7.3.1 Estados no espa o de Fo k e fun ~oes de onda de muitas

part ulas idênti as. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 386
7.3.2 Variaveis dinâmi as no espa o de Fo k. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 392
7.3.3 Exemplos de apli a ~ao: gas de Fermi livre e om
for as de dois orpos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 399
8 Intera ~ao da materia om a radia ~ao.
8.1 O ampo de radia ~ao livre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

8.1.1 Quantiza ~ao do ampo de radia ~ao livre. . . . . . . . .
8.1.2 Energia, momento e momento angular do ampo livre.
8.2 Intera ~ao om um sistema de part ulas arregadas. . . . . . .
8.2.1 Espalhamento Thomson. . . . . . . . . . . . . . . . . .
8.2.2 Radia ~ao de freiamento (Bremsstrahlung). . . . . . . .
8.2.3 Transi ~oes radiativas em sistemas ligados. . . . . . . .
8.2.4 Analise multipolar das transi ~oes radiativas. . . . . . .
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9.1 Grupos de transforma ~oes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

9.1.1 Grupos ontnuos, geradores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.1.2 Representa ~oes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.2 Transla ~oes espa iais e momento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.3 Rota ~oes, momento angular e spin. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.3.1 Spin. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.3.2 Representa ~ao de rota ~oes gerais em termos de
ângulos de Euler. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.3.3 Matrizes de rota ~ao, tensores esferi os, teorema de Wigner-E kart.
9.4 Isospin. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.5 Paridade e paridade intrnse a. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.6 Invarian a por transla ~oes temporais
e a lei dinâmi a de evolu ~ao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.7 Invers~ao temporal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.7.1 Sistemas om spin. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9.7.2 Invarian a sob invers~ao temporal. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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10 Espalhamento por um poten ial de urto al an e.
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9 Transforma ~oes, simetrias e leis de onserva ~ao.
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479
483
529
10.1 A equa ~ao de Lippmann-S hwinger. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 530

10.1.1 A expans~ao de Born. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 532
10.2 Des ri ~ao dependente do tempo de um pro esso de espalhamento por um poten ial.534
viii
10.3
10.4
10.5
10.6
10.2.1 Es alas tpi as em pro essos de espalhamento. . . . . . . . . . . . . . . .

10.2.2 Tratamento dependente do tempo do espalhamento de um pa ote de ondas por um poten ial de urto al an e. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10.2.3 Conserva ~ao de norma e o teorema opti o. . . . . . . . . . . . . . . . . .
Estados de espalhamento no espa o de momentos. . . . . . . . . . . . . . . . . .
Equa ~ao de Lippmann-S hwinger formal e
operador de transi ~ao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10.4.1 A \formula de dois poten iais" de Gell-Mann e Goldberger. . . . . . . . .
Operador de espalhamento S. Propriedades
formais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Diagonaliza ~ao do operador de espalhamento para poten iais invariantes sob rota ~oes. Ondas par iais e defasagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10.6.1 Ingredientes inemati os. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10.6.2 Transforma ~ao de S e T (k) para a base esferi a. . . . . . . . . . . . . . .
10.6.3 Re onstru ~ao da amplitude de espalhamento e da forma
assintoti a da fun ~ao de onda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11 Equa ~oes relativsti as.
11.1 Sumario da inemati a da relatividade restrita. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

11.1.1 O eletromagnetismo de Maxwell omo exemplo de
\boa" teoria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.2 A equa ~ao de Klein-Gordon. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.3 A equa ~ao de Dira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.3.1 Forma hamiltoniana e solu ~oes da equa ~ao de Dira livre. . . . . . . . . .
11.3.2 Propriedades algebri as das matrizes gama. . . . . . . . . . . . . . . . .
11.3.3 Transforma ~oes de Lorentz e rota ~oes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.3.4 Invers~ao espa ial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.3.5 Momento angular na equa ~ao de Dira livre. . . . . . . . . . . . . . . . .
11.4 Propriedades eletromagneti as de uma part ula de Dira arregada. . . . . . . .
11.5 Estados ligados de um ele tron de Dira em um ampo oulombiano externo,
atrativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.5.1 Simetrias e fun ~oes angulares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.5.2 Equa ~oes radiais a opladas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11.5.3 Solu ~oes para o espe tro dis reto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
ix
535
539
547
549
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587
592
594
601
602
609
610
612
616
617
619
622
- II Meu duvidar e da realidade sensvel aparente - talvez so

um es amoteio das per ep ~oes. Porem, pro uro umprir.
Deveres de fundamento a vida, empri o modo, ensina:
dis iplina e pa iên ia.
- Tem-se que redigir um abreviado de tudo.
Tudo se nge, primeiro; germina autênti o e depois. Um

es rito, sera que basta? Meu duvidar e uma peti ~ao de
mais erteza.
(J. Guimar~aes Rosa, 4o prefa io de Tutameia).
xi
xii
Parte I
Captulo 1
Di uldades om as teorias lassi as e
a solu ~ao quânti a.
Como aparentemente voltou a o orrer no m do se ulo XX, a fsi a do m do se ulo XIX
hegou a sugerir aos pesquisadores da epo a a iminên ia de uma grande sntese (dizemos hoje
uma \teoria nal") que seria organizada, daquela vez, em torno da me âni a de Newton e da
eletrodinâmi a de Maxwell. O que efetivamente se viu a seguir, no entanto, foi um dos pro essos
mais extensos e radi ais de renova ~ao on eitual de toda a historia da fsi a. De fato, esse
pro esso n~ao se limitou aos me anismos dinâmi os envolvidos nas teorias lassi as, mas exigiu
uma revis~ao da propria base inemati a envolvida na sua formula ~ao. Em outras palavras, n~ao
so a estrutura ~ao dos fenômenos proposta pelas teorias lassi as se mostrou inadequada, mas
ate mesmo os termos usados na propria identi a ~ao e ara teriza ~ao dos fenômenos tiveram
que ser revistos. N~ao ha ent~ao exagero algum em des rever o que a onte eu durante as duas
ou três primeiras de adas do se ulo XX omo uma redeni ~ao bastante radi al daquilo que se
entende por realidade fsi a.
Esse pro esso radi al de re onstru ~ao da realidade pode ser visto omo tendo se dado ao
longo de duas frentes, ini ialmente independentes. Por um lado, a teoria espe ial da relatividade
reformulou a imagem do espa o-tempo que tinha sido admitida expli itamente pelo menos
desde a fsi a de Galileu. Em termos histori os, embora esquemati os, pode-se dizer que essa
reformula ~ao foi ne essaria para salvar o prin pio de relatividade, formulado por Galileu em
termos do espa o-tempo \ lassi o", de ertas ompli a ~oes inerentes a des ri ~ao de fenômenos
eletrodinâmi os. Alem da re-avalia ~ao on eitual geral, ligada a ela, que atingiu tambem a
eletrodinâmi a de Maxwell, ela a arretou, para a me âni a de Newton, mudan as essen iais na
propria estrutura da teoria. Essas mudan as alteram profundamente, em parti ular, resultados
quantitativos no aso de velo idades altas (proximas da velo idade da luz).
A me âni a quânti a, objeto deste urso, foi a segunda frente de revis~ao das teorias lassi as.
3
Como sera visto adiante, ela envolveu tambem uma redeni ~ao da inemati a que, sob varios
aspe tos, foi ainda mais surpreendente que a da teoria espe ial da relatividade. De fato, esta
ultima envolveu basi amente uma modi a ~ao das propriedades geometri as admitidas anteriormente para o espa o-tempo, que se traduz, por exemplo, na relativiza ~ao do on eito de
simultaneidade, devido a rela ~ao existente entre as es alas de tempo de dois referen iais que
se movem um om rela ~ao ao outro. A teoria quânti a, por outro lado, atinge ate mesmo o
sentido de objetividade que fora emprestado aos sistemas fsi os pelas des ri ~oes lassi as, e
que foi integralmente mantido uma vez feitas as altera ~oes pres ritas pela teoria espe ial da
relatividade. Na teoria quânti a, o que pode ser hamado \natureza objetiva" de um sistema
fsi o passa a trans ender o resultado de possveis observa ~oes feitas sobre ele. A des ri ~ao
quânti a e de tal natureza que da margem, em parti ular, a que um mesmo sistema tenha
omportamentos \ ontraditorios" em situa ~oes observa ionais diferentes, omo s~ao, por exemplo, manifesta ~oes de arater ondulatorio e manifesta ~oes de arater orpus ular. Dessa forma
pode-se dizer que a teoria quânti a impli a numa relativiza ~ao da \natureza" do sistema fsi o,
atraves da transforma ~ao do arater de suas manifesta ~oes om uma mudan a de dispositivo
de observa ~ao.
N~ao e possvel, portanto, \deduzir" a me âni a quânti a de no ~oes ou esquemas anteriores,
nem t~aopou o onstru-la omo alguma forma de extens~ao de teorias lassi as. O tema deste
primeiro aptulo deve ser visto, portanto, omo uma espe ie de parafrase do ompli ado e
geralmente ilogi o pro esso de inven ~ao de um esquema teori o novo. Apesar de uma erta
abundân ia de referên ias histori as, ele n~ao pretende ser historia. Em parti ular, do ponto
de vista da historia, e inadmissvel a omiss~ao das ideias e resultados devidos a de Broglie e
S hrodinger que levaram a onstru ~ao alternativa da me âni a quânti a que levou ao que foi
ini ialmente hamado me âni a ondulatoria, por exemplo. No entanto, o aminho seguido paralela e independentemente por Heisenberg pare e se prestar melhor ao proposito de enfatizar
o ponto essen ial em que se da a ruptura radi al om os esquemas lassi os, alem de mostrar
muito laramente o que se ganha (e o que eventualmente se perde) om uma tal ruptura. Um
panorama histori amente mais isento pode ser en ontrado em referên ias listadas no m do
aptulo, ou mesmo, e preferen ialmente, nos trabalhos originais itados nessas referên ias ou
ao longo do texto. O proposito das referên ias histori as usadas neste aptulo e na realidade
tratar de indi ar omo e porque posi ~oes teori as, t~ao des onfortaveis de um erto ponto de vista, vieram a se onsolidar da forma que o zeram. Para adiantar uma resposta talvez generi a
demais mas pelo menos posta em pou as palavras, a raz~ao para isso e que elas d~ao onta, e d~ao
onta de uma forma extremamente oerente, de uma vasta lasse de fenômenos que pare em de
outro modo in ompreensveis. Ainda mais, e pre isamente devido a esse enorme poder sintetizador que o muito que a popria me âni a quânti a possa ter ainda hoje de \in ompreensvel"
pare a antes um desao que uma in onveniên ia.
4
1.1
Radia
~
ao de orpo negro: ontexto l
assi o e a
hip
otese de Plan k.
Em 1900, supondo que a emiss~ao de energia sob a forma de radia ~ao eletromagneti a de
frequên ia por um orpo negro estivesse asso iada a por ~oes dis retas (\quanta") de magnitude h (isto e, de magnitude propor ional a frequên ia), Max Plan k obteve para a distribui ~ao
espe tral da radia ~ao de orpo negro a express~ao
3
;
(1.1)
h
1
exp kT
onde d e a energia da radia ~ao, por unidade de volume, om frequên ia ompreendida
entre e + d quando o orpo negro esta a temperatura T , que on orda extremamente
bem om resultados experimentais para uma es olha onveniente do valor da onstante de
propor ionalidade h.
A hipotese ru ial de Plan k ontradiz frontalmente o que se poderia esperar a partir da
me âni a e da eletrodinâmi a lassi as. No entanto, as onsequên ias dessas teorias lassi as
ontradizem frontalmente fatos empri os (no aso, os resultados experimentais para a distribui ~ao espe tral ), e a natureza da ontradi ~ao foi su ientemente grave para onduzir a
inven ~ao de uma estrutura teori a nova. O domnio de a ~ao de tendên ias onservadoras teve
que se retrair, nesse pro esso, a exigên ia de que essa nova estrutura se a omodasse a ondi ~ao
de onduzir a resultados de alguma forma equivalentes aos das teorias lassi as nos ontextos
em que estes se tivessem mostrado adequados.
O trabalho de Plan k n~ao realizou esse programa. Ele apenas teve o merito de forne er
o germe ini ial que resultou de isivo para a elabora ~ao da nova teoria. Esta so emergiu de
uma forma razoavelmente oerente dos trabalhos de Heisenberg e de S hrodinger, mais de duas
de adas depois do passo ini ial dado por Plan k.
Da teoria eletromagneti a e de prin pios gerais da termodinâmi a de orrem dois resultados
gerais para a radia ~ao eletromagneti a ontida numa avidade, mantida a temperatura T :
a) A energia por unidade de volume depende apenas de T e e propor ional a T 4 (lei de
Stefan-Boltzman).
b) A distribui ~ao espe tral da radia ~ao nessas ondi ~oes deve ter a forma
=
= 3 f

;
T
um resultado onhe ido omo lei de Wien. Ele pode ser obtido de onsidera ~oes termodinâmi as
gerais e do efeito Doppler que altera a frequên ia
~ao num pro esso adiabati o de
da radia

ompress~ao ou expans~ao. A forma da fun ~ao f T n~ao e xada por essas onsidera ~oes gerais,
5
mas pode ser obtida a partir de um modelo para a intera ~ao entre a radia ~ao e a avidade;
a

generalidade do argumento termodinâmi o mostra, no entanto, que a forma de f T n~ao deve
depender do parti ular modelo onsiderado. Deve-se esperar, ent~ao, que o resultado obtido
para um modelo espe o qualquer tenha validade geral.
Este ultimo resultado onsiste, na realidade, da ombina ~ao de duas leis obtidas por Wien
em 1893, utilizando omprimentos de onda em vez de frequên ias. Comparando a radia ~ao
antes e depois de um pro esso de ompress~ao (ou de expans~ao) adiabati a, Wien mostrou
que a) T = 0T 0 e b) I (; T )=T 5 = I (0; T 0 )=T 05 donde se pode on luir que
I (; T ) = T 5 F (T );
sendo o omprimento de onda da radia ~ao, I (; T )d a energia emitida pelo orpo negro
no intervalo de frequên ias entre e + d e F (T ) uma fun ~ao universal. A importân ia
desses resultados vem de que eles orrespondem a previs~ao, experimentalmente veri avel
independentemente do onhe imento da forma de F (T ), de uma propriedade de es alonamento das densidades espe trais orrespondentes a diferentes temperaturas. De fato, essa
propriedade pode ser veri ada gra ando a quantidade experimentalmente mensuravel
I (; T )=T 5 omo fun ~ao de T para diferentes temperaturas. Sendo ela orreta, os resultados orrespondentes a diferentes temperaturas aem sobre uma mesma urva, que forne e
ent~ao uma determina ~ao \experimental" de F (T ). E laro que uma analise equivalente
pode ser feita em termos de temperatura e frequên ia para obter experimentalmente a
forma de f T .
Um ponto que pode ser urioso observar e o de que a ombina ~ao T n~ao e, evidentemente, adimensional, o que torna algo embara osa a sua apari ~ao omo argumento de
uma fun a~o supostamente universal. No entanto, o embara o desapare e aso existam
onstantes, tambem universais, que permitam exprimir as dimens~oes de T (isto e, que
permitam es rever uma express~ao adimensional, envolvendo T alem de onstantes universais). Hoje isso efetivamente e feito es revendo T k=h = kT=h , sendo k a onstante de
Boltzmann, h a onstante de Plan k e a velo idade da luz, estas ultimas evidentemente
inexistentes omo onstantes universais a epo a destes a onte imentos. Com o benef io
dos desenvolvimentos posteriores, podemos ent~ao hoje re onhe er, ja na lei de Wien, uma
indi a ~ao da existên ia de uma es ala universal para quantidades om dimens~ao de a ~ao.
Um modelo simples para a intera ~ao de radia ~ao de frequên ia om a avidade onsiste
em representar a avidade, nessa intera ~ao, por um os ilador harmôni o arregado ( arga e e
massa m), de frequên ia . A energia radiada por segundo e dada pela express~ao onhe ida
omo formula de Larmor1 , que no aso do os ilador leva a
A referên ia original (J. J. Larmor, Phil. Mag. 1897, pag. 512) e itada em A. Sommerfeld, Ele trodynami s,
A ademi Press, N.Y. 1952, pag. 151. Esta formula e deduzida na maioria dos textos sobre eletrodinâmi a
lassi a, e.g. J. D. Ja kson, Classi al Ele trodynami s, John Wyley & Sons, N.Y. 1975 (2nd. edition).
1
2 e2 2
2 e2
h
q

i
=
(2 )2 hi
3 3
3 m 3
onde q e representam, respe tivamente, a oordenada do os ilador e a sua energia, e os
ol hetes indi am valores medios. Por outro lado, a taxa media de absor ~ao de energia pelo
os ilador, onsiderando o ampo eletri o da radia ~ao de frequên ia que age sobre a arga e,
e2
rad =
e2
:
3m
Se a radia ~ao de frequên ia esta em equilbrio om o os ilador rad = abs , o que da para a
densidade espe tral
abs =
8 2
hi:
3
Deve-se notar que essa express~ao independe de ara tersti as espe as do os ilador ( omo
arga e massa), envolvendo apenas a sua energia media. Tratando-se de um sistema (os ilador
mais radia ~ao) em equilbrio termi o a temperatura T , e fa il rela ionar hi om T atraves de
pro edimentos usuais da me âni a estatsti a. Classi amente, uma ole ~ao de os iladores se
distribui em energia , a temperatura T , om uma densidade de probabilidade de Boltzmann3
=
p( ) =
om a onstante de normaliza ~ao
Z=
1
e
Z

kT d

kT
= kT
de modo que
hi =
1 d Z1
p()d =
e
Z d( kT1 ) 0

kT d
= kT:
O que se obtem dessa forma para a distribui ~ao espe tral da radia ~ao e portanto
v. e.g. J. D. Ja kson, op. it.
Para uma introdu a~o a esta formula e as suas inumeras apli a o~es, in lusive a teoria quânti a, v. e.g. R.
P. Feynman, R. B. Leighton e M. Sands, The Feynman Le tures on Physi s, Addison-Wesley Publ. Co., muitas
edi o~es, Le tures #40-42.
2
=
8 2
kT
3
que orresponde, em termos da lei de Wien, a fun ~ao

8k T
f
= 3 :
T

Esse e o resultado lassi o para , onhe ido omo lei de Rayleigh-Jeans. Ele des reve
orretamente o omportamento observado da distribui ~ao espe tral da radia ~ao de orpo negro
no limite de baixas frequên ias ( ! 0), mas a propor ionalidade ao quadrado da frequên ia e
laramente atastro a no limite de frequên ias altas, no qual a densidade espe tral observada
tende, de fato, a zero, o que em parti ular e ne essario ate mesmo para que a potên ia total
irradiada a uma temperatura T dada (que e propor ional a densidade espe tral integrada
sobre ) seja nita. Trata-se ainda de uma atastrofe om ara tersti as embara osas de
\robustez", no sentido de que ela apare e omo onsequên ia de resultados bastante gerais
da fsi a lassi a (mais espe i amente da me âni a, eletrodinâmi a e termodinâmi a). Desse
modo, n~ao pare e razoavel pensar em evita-la sem questionar de alguma forma esses mesmos
resultados.
A proposta de Plan k onsistiu em tomar liberdades om rela ~ao a me âni a do os ilador
harmôni o. Como e bem sabido, a energia de um tal os ilador esta asso iada ao quadrado da
amplitude das os ila ~oes, podendo assumir portanto qualquer valor positivo (ou zero), o que
e efetivamente in orporado no al ulo da energia media do os ilador, hi. O resultado obtido
por Plan k, no entanto, orresponde a modi ar o al ulo anterior atraves da suposi ~ao de que
a energia de um os ilador de frequên ia assume apenas valores que s~ao multiplos inteiros de
uma quantidade elementar (ou \quantum") , que pode depender da frequên ia do os ilador.
Dessa forma, os valores possveis da energia de um os ilador de frequên ia s~ao n . Todos
os demais ingredientes do al ulo da distribui ~ao espe tral s~ao mantidos sem qualquer outra
altera ~ao. A distribui ~ao de probabilidades das diferentes energias a temperatura T e ent~ao
agora dis reta e dada por
Pn =
1
e
Z
n
kT
om a onstante de normaliza ~ao obtida agora em termos da soma de uma serie geometri a
Z=
1
X
n=0
n
kT
=
8
1
1 exp

kT
de modo que a energia media apare e omo
hi = Z1
1
X
n=0
n e
n
kT
1
1 d X
e
Z d kT1 n=0
n
kT
exp

kT
Usando esse resultado, os mesmos passos que levavam a lei de Rayleigh-Jeans d~ao agora
=
8 2

:
3

exp kT
1
(1.2)
Para que esse resultado satisfa a a lei de Wien, e pre iso que o \quantum" seja propor ional
a frequên ia, isto e, = h . Dessa forma, de fato, a densidade espe tral assume a forma
=
1
8h 3

3
h
exp kT
que orresponde a express~ao (1.1) om = 8h= 3 . Em termos da lei de Wien, esta densidade
espe tral orresponde a fun ~ao
8h
1

:
= 3
h
T
exp kT
1
Para frequên ias baixas (no sentido de que h kT ) re upera-se a lei de Rayleigh-Jeans
atraves de uma expans~ao em h=kT . Por outro lado, para frequên ias altas (isto e, h kT ),
a densidade espe tral se omporta omo
h
h
8h 3 kT
e = 3 e kT
(h kT );
(1.3)
3

que tende devidamente a zero, reproduzindo uma express~ao proposta em 1896 por Wien que se
mostrara adequada no limite de frequên ias altas, embora falhando no extremo de frequên ias
baixas.
A express~ao obtida por Plan k, portanto, \interpola" om su esso entre a distribui ~ao de
Rayleigh-Jeans (no extremo de frequên ias baixas, onde ela fun iona) e a express~ao de Wien,
empiri amente adequada para frequên ias altas. Mas ela e obtida lan ando m~ao de uma hipotese
que efetivamente introduz vn ulos entre a energia e a frequên ia de um os ilador harmôni o
que simplesmente n~ao abem no ontexto da teoria lassi a: os valores nh da energia de um
os ilador de frequên ia , sendo h uma onstante om dimens~oes de a ~ao (energia tempo),
s~ao \espe iais". Vale a pena notar que uma vin ula ~ao entre energia e frequên ia na realidade
!
apare e tambem no trabalho de 1896 de Wien (Ann. Physik 58, 662), sob a forma da suposi ~ao de que a frequên ia da radia ~ao emitida por um os ilador fosse propor ional a sua energia
ineti a. Devido a essa e outras hipoteses envolvidas na sua dedu ~ao, a formula de Wien n~ao
hegou a ser vista omo teori amente bem fundamentada, sendo frequentemente itada omo
\empri a", em eventual homenagem a sua por ~ao de su esso. A formula de Plan k, por outro
lado, n~ao so onsegue su esso total na des ri ~ao da distribui ~ao espe tral da radia ~ao de orpo
negro, mas o faz om apoio substan ial em bases quase t~ao robustas quanto as da formula de
Rayleigh-Jeans, o desvio orrendo ompletamente por onta da hipotese dos \quanta". Essa
hipotese tem ainda a ara tersti a importante de manter onta to om o resultado \ ompletamente lassi o" (de Rayleigh-Jeans) atraves de um pro esso bem denido de limite em que
h ! 0. De fato, a formula de Rayleigh-Jeans e re uperada para h kT o que, para qualquer
temperatura n~ao nula, vale sempre nesse limite.
O relato a ima in orre em um numero enorme de li ensas om rela ~ao ao possa ser a
verdade histori a do o orrido, e para per eber isso basta notar algumas datas: a lei de
Rayleigh-Jeans foi obtida por Rayleigh em 1900 (Phil. Mag. 49, 539) mas teve sua robustez mostrada apenas \tardiamente" por Jeans em 1909 (Phil. Mag. 17, 229,273; ibid 18,
209). Os trabalhos de Plan k, por outro lado, apare eram em Verh. Deut. Physik. Ges.,
2, 237 (1900) e em Ann. Physik 4, 553 (1901). Consistentemente om o ontexto da
resultante, as hipoteses efetivamente usadas por Plan k pare em ter pro urado ser tanto
quanto possvel onservadoras, n~ao hegando em parti ular a dis retizar ompletamente a
energia dos os iladores harmôni os. Elas foram na realidade as seguintes: 1) Um os ilador
arregado absorve energia ontinuamente da forma pres rita pela eletrodinâmi a; 2) Um
os ilador so pode radiar quando a sua energia e um multiplo inteiro de , e quando radia,
radia toda a sua energia; e 3) a radia ~ao ou n~ao de um os ilador quando a sua energia
passa por um valor n e determinada estatisti amente, sendo a raz~ao da probabilidade
de n~ao emiss~ao para a probabilidade de emiss~ao propor ional a intensidade da radia ~ao
que o ex ita. Ent~ao, tanto a su iên ia do passo que onsiste em dis retizar a energia
dos os iladores omo a men ionada robustez do resultado de Plan k s~ao histori amente t ias, embora si amente orretas; a a eita ~ao do resultado (que foi originalmente
es rito sob a forma (1.1) e rela ionado om o resultado de Wien para altas frequên ias
es rito omo na Eq. (1.3) sem expli itar a forma da onstante ) pode ser tida omo
motivada mais por seu su esso quantitativo que por suas eventuais virtudes estruturais.
O seu desenvolvimento posterior foi na realidade bastante arduo, pois teve tambem que
pro eder ao enxugamento e a radi aliza ~ao das hipoteses efetivamente utilizadas, ini ialmente por demais \ onservadoras". A posi ~ao do proprio Plan k om rela ~ao as suas
hipoteses pode ser elu idativa a esse respeito:
E verdade que n~ao provaremos que essa(s) hipotese(s) representa(m) a express~ao uni a, ou sequer mesmo a mais adequada, da lei dinâmi a da vibra ~ao
10
de os iladores. Pelo ontrario, tenho omo muito provavel que ela(s) possa(m)
ser melhorada(s) tanto na sua forma omo no seu onteudo. No entanto, n~ao
existe outro metodo de testar a sua admissibilidade que n~ao seja testar as suas
onsequên ias, e enquanto n~ao forem des obertas ontradi ~oes internas ou om
a experiên ia, enquanto n~ao for proposta para substitui-la(s) outra hipotese
mais adequada, ela(s) podem om justi a reivindi ar uma erta importân ia
(M. Plan k e M. Masius, The Theory of Heat Radiation, M Graw-Hill, N.Y.
1914, p. 154).
Por outro lado, e urioso notar o ingrediente de natureza probabilsti a na hipotese 3)
da formula a~o de Plan k, de erta forma \premonitorio" do que viria a ser efetivamente
introduzido na interpreta a~o da teoria madura que nalmente resultaria dela, quase três
de adas mais tarde, ate hoje objeto de grande numero de dis uss~oes e ontroversias.
1.2
Trabalhos de Einstein e Bohr.
O perodo que se seguiu ao tratamento da radia ~ao de orpo negro por Plan k pode ser pensado
omo um perodo de sondagens destinadas a avaliar as estranhas hipoteses de quantiza ~ao,
tanto no que diz respeito a sua natureza (sendo nesse aso importante ter em mente que
o trabalho de Plan k de erta forma pro ura evitar a dis retiza ~ao ompleta da energia do
os ilador harmôni o, deixando a \quantiza ~ao" numa espe ie de limbo, do qual nem mesmo
algum papel eventualmente desempenhado pela radia ~ao pare e poder ser ex ludo) quanto no
que diz respeito ao seu al an e, isto e, a sua relevân ia em situa ~oes diferentes daquela para a
qual foram formuladas.
Um passo absolutamente de isivo para expli itar a vin ula ~ao entre energia e frequên ia
utilizada por Plan k, refor ando ao mesmo tempo o seu arater fundamental, foi dado por
Einstein, em 1905, em sua teoria do efeito fotoeletri o. A ideia apresentada nesse trabalho e
t~ao simples quanto radi al e poderosa, e onsiste simplesmente em notar que o fato de que
a energia dos ele trons emitidos no efeito fotoeletri o depende da frequên ia da radia ~ao absorvida e n~ao de sua intensidade pode ser expli ado quantitativamente om a hipotese de que
a radia ~ao eletromagneti a de frequên ia se omporta omo se onstituda de \pa otes" indivisveis de energia h . Essa hipotese, ent~ao, dis retiza ompletamente a radia ~ao. Outro
passo, devido tambem a Einstein, que ontribuiu de forma muito importante para expandir o
al an e das hipoteses de Plan k, foi o tratamento, dado em 1907, para o omportamento dos
alores espe os de solidos a temperaturas muito baixas. Supondo que a energia de um solido
a temperatura T seja representada pela energia media de uma ole ~ao de 3N \os iladores de
Plan k" unidimensionais om frequên ia , para os quais vale
11
hi = kThh ;
e
a energia do solido deve ser algo omo
hE i ' 3N kThh
e
donde resulta imediatamente que
hE i
v =
T
h
' 3Nk kT
!2
h
e kT
h
e kT
2
Para h kT essa express~ao reproduz o resultado \ lassi o" 3Nk onhe ido omo lei de
Dulong e Petit, mas diverge dele para temperaturas baixas (na es ala h=k), indo a zero no
limite T ! 0. Esse omportamento reproduz razoavelmente os valores medidos de v para
diversos solidos, mediante um ajuste do valor de para ada aso.
O fato de que a adiabati idade, t~ao espertamente utilizada por Wien em sua analise geral da
radia ~ao de orpo negro, pode ter tido um papel tambem importante na quest~ao da dis retiza ~ao
ompleta da energia dos os iladores de Plan k, e indi ado laramente em uma dis uss~ao entre
Lorentz e Einstein registrada nos anais da Conferên ia Solvay de 1911. Nesse registro se lê que
(...) O Sr. Lorentz re orda uma onversa tida ha algum tempo om o Sr. Einstein,
na qual dis utiu-se um pêndulo simples ujo omprimento era diminudo tomando o o
entre dois dedos e deslo ando-os para baixo. Supondo que ini ialmente o pêndulo tivesse
exatamente um elemento de energia que orresponde a frequên ia de suas os ila ~oes (isto
e, energia h0 , sendo 0 a freq
uên ia ini ial do pêndulo), pare e que no m da experiên ia
sua energia sera menor que o elemento que orresponde a nova frequên ia (isto e, h1 ,
sendo a nova freq
uên ia 1 > 0 ).
Sr. Einstein - Se o omprimento do pêndulo for modi ado de forma innitamente
lenta a energia de os ila ~ao permane e igual a h se ela era ini ialmente igual a h ;
ela varia propor ionalmente a frequên ia. O mesmo a onte e para um ir uito eletri o
os ilante, sem resistên ia, e tambem para a radia ~ao livre.
Sr. Lorentz - Esse resultado e muito urioso e faz desapare er a di uldade (...)
A referên ia a \radia ~ao livre" sugere um dos possveis ingredientes que pode ter estado envolvido na elabora ~ao do trabalho sobre o efeito fotoeletri o. Alem disso, o argumento de Einstein
ontem ja essen ialmente o que viria a ser onhe ido, depois de 1913, omo a \hipotese adiabati a" de Ehrenfest (que de fato atribui essa denomina ~ao a Einstein). Essa hipotese seria
12
mais tarde elaborada por Sommerfeld para, admitindo de forma expl ita a dis retiza ~ao ompleta da energia dos os iladores de Plan k, estendê-la a outros sistemas, e se tornaria (em 1917)
um dos elementos ru iais invo ados por Bohr (sob a denomina ~ao de prin pio da transformabilidade me âni a) para a des ri ~ao do espe tro do atomo de hidrogênio. Essa hipotese foi o
ingrediente ru ial na montagem do esquema dinâmi o usado para estender a quantiza ~ao dos
os iladores de Plan k a sistemas mais gerais.
O tratamento de Bohr do atomo de hidrogênio permitiu obter orretamente as frequên ias
das linhas espe trais observadas, embora tenha mostrado limita ~oes de prin pio na des ri ~ao
das intensidades relativas dessas linhas.
1.2.1 A \velha Me âni a Quânti a" do atomo de hidrogênio:

frequên ias.
A \geometria" do atomo de hidrogênio adotada por Bohr foi a sugerida pelos trabalhos de
Rutherford envolvendo o espalhamento de part ulas por atomos mais pesados: uma arga
entral, pesada, distribuda om um raio da ordem de 10 13 m ir undada por uma distribui ~ao muito mais extensa e leve de arga de sinal oposto. No aso do hidrogênio essas duas
distribui ~oes orrespondem a apenas um proton e um ele tron, respe tivamente. Para des rever
o omportamento dinâmi o de um tal sistema, Bohr prop~oe dois \prin pios" fundamentais que
s~ao formulados do seguinte modo:
1. Um sistema atômi o pode existir, e somente pode existir permanentemente,
numa serie de estados que orrespondem a uma serie des ontnua de valores de
sua energia; onsequentemente, qualquer mudan a da energia do sistema, in luindo
emiss~ao e absor ~ao de radia ~ao, deve o orrer atraves de uma transi ~ao ompleta
entre dois desses estados, que ser~ao hamados estados esta ionarios do sistema.
2. A radia ~ao emitida ou absorvida durante a transi ~ao ompleta entre dois
estados esta ionarios e \unifrequênti a" e possui uma frequên ia dada pela rela ~ao
E0
E 00 = h
onde h e a onstante de Plan k e E 0 e E 00 s~ao os valores da energia nos estados

onsiderados.
O primeiro prin pio de lara, denitivamente, a dis retiza ~ao ompleta da energia de \sistemas atômi os", e o segundo e fortemente remines ente da quantiza ~ao da radia ~ao proposta em
1905 por Einstein, raz~ao pela qual ou onhe ido omo \rela ~ao de Einstein-Bohr". Ambos
ontrariam radi almente os resultados da fsi a lassi a. No entanto, e urioso observar o papel
13
mediador essen ial desempenhado por resultados puramente lassi os, atraves da hipotese adiabati a de Ehrenfest, na es olha dos estados esta ionarios men ionados no primeiro prin pio.
Esses estados s~ao determinados atraves do seguinte pro edimento: para um os ilador linear
de perodo a variavel de a ~ao I e
I=
Z
pq_ dt = 2
Z
p2
E
dt = E = :
2m

Entendendo as hipoteses de Plan k omo exigindo que a energia seja En = nh , segue que os
valores possveis da variavel de a ~ao para o os ilador s~ao In = nh. Essa tradu ~ao da ondi ~ao de
Plan k em termos da variavel de a ~ao e \util" porque I e um invariante adiabati o do os ilador.
Se o movimento de um sistema me âni o, lassi o, suposto ainda unidimensional e espa ialmente
limitado, e regido por uma hamiltoniana dependente de um parâmetro externo , quando esse
parâmetro e variado muito lentamente (ou \adiabati amente", no sentido que a sua varia ~ao
em um perodo do movimento e muito menor que ), existem determinadas variaveis
dinâmi as, hamadas invariantes adiabati os, ujo valor permane e imune a varia ~ao de .
Essas quantidades fazem parte do ferramental padr~ao mais sosti ado da me âni a lassi a4 ,
e na realidade est~ao presentes tambem na dis uss~ao entre Lorentz e Einstein trans rita na
pagina 12. Aqui, a sua utilidade se deve ao fato de que permitem identi ar propriedades que
devem ser iguais em sistemas diferentes (isto e, om hamiltonianas diferentes), sempre que as
diferen as possam ser pensadas omo introduzidas de forma su ientemente gradual e lenta.
No aso do os ilador, ele pode ser visto omo orrespondendo a um aso parti ular de uma
lasse de sistemas des ritos por uma hamiltoniana dotada de um parâmetro uja varia ~ao
altera o termo de energia poten ial, por exemplo
H (p; q; ) =
p2
m! 2 2
+
q + (1 )V (q )
2m
2
onde V (q ) e algum poten ial anarmôni o que admite tambem trajetorias periodi as (para garantir isso, no aso simples de sistemas unidimensionais, e su iente exigir que o movimento
seja sempre espa ialmente limitado). Essa hamiltoniana des reve um os ilador harmôni o de
frequên ia angular ! = 2 quando = 1, uma part ula de massa m no poten ial V (q ) para
= 0 e interpola entre esses dois limites para valores intermediarios de . Como a invarian a adiabati a de I signi a que o seu valor permane e onstante se, durante o movimento, o
parâmetro sofre uma varia ~ao muito lenta no sentido que
d
1
dt

V. e.g. L. Landau e E. M. Lifshitz, Me anique, Editions
en Langues Etrangeres, Mos ou, 1960, x49.
14
ela pode ser tomada omo um argumento em favor da suposi ~ao de que a ondi ~ao de quantiza ~ao In = nh, uma vez admitida para o os ilador harmôni o, pode ser tambem utilizada para
movimentos periodi os em poten iais unidimensionais mais gerais (isto e o que Bohr hama
prin pio da transformabilidade me âni a). Os estados esta ionarios do poten ial V (q ) s~ao os
que orrespondem as orbitas periodi as lassi as para as quais essa ondi ~ao de quantiza ~ao
esteja satisfeita, isto e
I=
Z
pq_ dt = nh:
(1.4)
Sommerfeld adotou uma generaliza ~ao desse pro edimento que fun iona, em parti ular, para
part ulas sujeitas a um poten ial entral em três dimens~oes. Nesse aso, usando oordenadas
polares (r; ') no plano do movimento, os momentos anôni os orrespondentes s~ao, no aso de
uma part ula de massa m, pr = mr_ e p' = mr2 '_ , sendo este ultimo (o momento angular) uma
onstante do movimento, p' = l. Como para estados ligados de um poten ial entral atrativo
o movimento de ada uma dessas variaveis e periodi o, existem duas ondi ~oes de quantiza ~ao,
uma para ada um dos graus de liberdade, que s~ao
Z r
mr_ 2 dt = nr h
Z '
l'_ dt = 2l = n' h
onde r e ' s~ao, respe tivamente, os perodos do movimento radial e do movimento angular.
Essas foram as ondi ~oes de quantiza ~ao usadas por Bohr para determinar os estados esta ionarios do atomo de hidrogênio, em que o poten ial entral e V (r) = e2 =r. Os estados
esta ionarios que tem nr = 0 orrespondem a uma famlia de orbitas ir ulares que podem
ser rotuladas pelo valor orrespondente do momento angular, dado pela segunda ondi ~ao de
quantiza ~ao omo l = n' h=2 . Um al ulo simples da para a energia5 dessas orbitas ir ulares
El = me4 =2l2 ou, em termos do \numero quânti o" n' ,
En' =
2 2 me4
:
n2' h2
Essa formula simples ontem na realidade um dos grandes triunfos da teoria de Bohr. De fato, usando a rela ~ao entre as energias dos estados esta ionarios e as frequên ias orrespondentes
a transi ~ao entre eles, o que se obtem para estas ultimas e
Como pode se imediatamente observado na express~ao seguinte, essa energia tende a 1 quando l (ou
0, omo resultado do fato de que o poten ial e singular para r = 0 e uma orbita ir ular de momento
angular zero tem raio tambem zero (isto e, se reduz a um ponto). Essas di uldades est~ao rela ionadas om as
que levar~ao Heisenberg a substitui a~o de (1.4) por algo omo I = hn, o que permite que se tenha I = I0 + nh,
om I0 independente de n, v. pag. 24.
5
n' )!
15
1
2 2 me4 1
;
n > n0 :
n!n0 =
3
0
2
2
h
n
n
0
No aso parti ular orrespondente a n = 2, essa express~ao reproduz a formula empri a montada
por Balmer em 1885 para representar os omprimentos de onda asso iados as linhas do espe tro
visvel do hidrogênio
3645:6 n2
= ' 2
10 8 m;
n = 3; 4; 5; :::

n 4
que foi rees rita por Rydberg, em 1890, sob a forma

1
1
1
= ' 109720 2
m 1 :

2 n2
Alem disso, ela da uma express~ao para a onstante empri a que apare e na formula de Rydberg
2
4
109720 m 1 ! 2h3me

que a reproduz quantitativamente para o valor empri o da onstante de Plan k h (obtido, por
exemplo, do espe tro da radia ~ao de orpo negro).
Outra propriedade notavel da formula de Bohr para as frequên ias e a de que ela satisfaz
ainda um outro \prin pio", este hamado por Bohr prin pio da orrespondên ia: ele onsiste
em que
pode-se esperar que qualquer teoria apaz de des rever este fenômeno de a ordo
om a experiên ia [Bohr fala dos espe tros atômi os deve ser algum tipo de generaliza ~ao natural da teoria omum ['teoria omum' signi a aqui a me âni a e a
eletrodinâmi a lassi as apli adas ao problema da radia ~ao.
Esse prin pio pode na realidade ser visto omo uma extens~ao ao problema dos espe tros
atômi os da virtude estrutural da formula de Plan k para a densidade espe tral da radia ~ao
de orpo negro, segundo a qual ela reproduz o resultado lassi o (de Rayleigh-Jeans) no limite de baixas frequên ias. O que se deve esperar aqui e que, no limite de baixas frequên ias
(que orresponde a transi ~oes n + 1 ! n om n 1, isto e, a numeros quânti os grandes) as
frequên ias de Bohr reproduzam as previstas pela 'teoria omum'. Esta prevê, omo e sabido,
que a frequên ia da radia ~ao seja igual a frequên ia de revolu ~ao dos ele trons. O que a formula
de Bohr da, para n0 = n + 1 1, e
4 2 me4
me4
n+1!n = 3 3 + O(n 4 ) ' 3 ;
hn
2l
que de fato oin ide om a frequên ia lassi a de revolu ~ao dos ele trons.
16
(1.5)
1.2.2 Intensidades.
Alem de seus respe tivos omprimentos de onda, ou frequên ias, as linhas dos espe tros atômi os
têm intensidades relativas que podem ser medidas e que devem tambem poder ser al uladas
a partir da teoria, e aqui a teoria de Bohr en ontra di uldades graves. O pro edimento
seguido por Bohr nessa quest~ao pode ser parafraseado da seguinte forma. Classi amente, a
energia radiada por unidade de tempo por uma arga e a elerada (n~ao relativsti a) e dada
pela formula de Larmor
2 e2 2
hjqj i:
3 3
No aso de um os ilador harmôni o de frequên ia angular ! = 2 a oordenada q pode
ser expressa em têrmos da variavel de a ~ao I e da variavel angular anoni amente onjugada
(t) = !t omo q (t) = q0 (I ) exp(i). Para tratar o aso mais geral do movimento periodi o de
um os ilador anarmôni o pode-se usar uma expans~ao em serie de Fourier
=
q (t) =
qk (I ) exp(ik)
de modo que a energia radiada pode ser es rita omo

2 e2 X
jqk (I )j2k4!4:
(1.6)
3
3

k
k
Bohr pro ura ent~ao obter uma vers~ao quânti a dessa express~ao, usando omo guia o prin pio de
orrespondên ia: no aso de radia ~ao de baixa frequên ia, a frequên ia lassi a k! e a variavel
lassi a de a ~ao I podem ser reinterpretadas omo 8 3 me4 =h3 n3 e nh respe tivamente. Para
frequên ias que n~ao s~ao baixas no sentido do prin pio de orrespondên ia, no entanto, apare e
a di uldade \de prin pio" de que a express~ao quânti a para a frequên ia envolve dois estados
esta ionarios om valores diferentes para a variavel de a ~ao, o que introduz uma ambiguidade
insuperavel na reinterpreta ~ao de qk (I ). Bohr observa nalmente que, na teoria quânti a, esses
oe ientes de Fourier est~ao asso iados a \probabilidades de transi ~ao espontânea" entre pares
de estados esta ionarios, e que \evidentemente", sem uma teoria detalhada do me anismo dessas
transi ~oes, n~ao se pode al ular essas probabilidades exatamente.
=
k =
1.2.3 Einstein, os prin pios de Bohr e a radia ~ao de orpo negro.

Na mesma epo a (1917) em que o longo e elaborado trabalho de Bohr sobre os espe tros
atômi os estava sendo es rito, apare e um trabalho de Einstein em que a formula de Plan k
para a densidade espe tral da radia ~ao de orpo negro e reobtida a partir dos \prin pios"
17
de Bohr e de resultados gerais de me âni a estatsti a. Um dos aspe tos mais importantes
desse trabalho e que nele intervêm expli itamente as \probabilidades de transi ~ao" referidas
por Bohr. Combinando hipoteses muito gerais sobre elas om ondi ~oes naturais sobre o limite
de altas temperaturas, Einstein obtem, em parti ular, rela ~oes gerais entre essas probabilidades
e as frequên ias de Bohr asso iadas a transi ~ao.
As hipoteses utilizadas por Einstein foram de fato as seguintes:
1) A avidade que onstitui o orpo negro e formada de objetos quânti os (\mole ulas"),
que podem existir, no sentido proposto por Bohr, em estados esta ionarios ara terizados por
ertos valores dis retos En de energia.
2) A uma dada temperatura T , a probabilidade de que uma das mole ulas esteja num estado
esta ionario de energia En e propor ional ao fator de Boltzmann

En
Wn = pn exp
kT
em que a onstante pn e um peso estatsti o ara tersti o do estado esta ionario.
3) O orrem transi ~oes espontâneas entre estados esta ionarios de energia Em e En (< Em )
om a emiss~ao de radia ~ao eletromagneti a. A probabilidade de o orrên ia dessas transi ~oes
depende, e depende apenas, dos dois estados esta ionarios envolvidos nela, sendo es rita omo
dWex = Amn dt;
onde a nota ~ao foi es olhida de forma que o ndi e superior orresponde ao estado ini ial e o
ndi e inferior ao estado nal da transi ~ao.
4) As mole ulas podem absorver radia ~ao presente no meio efetuando tambem transi ~oes
entre estados esta ionarios. Sendo ( ) a densidade espe tral da radia ~ao, a probabilidade de
absor ~ao asso iada a uma transi ~ao entre os estados En e Em tem a forma
dWabs = Bmn (mn ) dt

onde os oe ientes Bmn dependem apenas dos estados envolvidos na transi ~ao.
5) A presen a, no meio, de radia ~ao om densidade espe tral da lugar tambem a emiss~ao
induzida de radia ~ao entre nveis Em e En om probabilidade
dWei = Bnm (mn ) dt

onde os oe ientes Bnm tambem dependem apenas dos estados envolvidos na transi ~ao.
Enquanto as hipoteses 4) e 5) têm analogos diretos em um al ulo puramente lassi o, a
emiss~ao espontânea de radia ~ao introduzida na hipotese 3) e um fenômeno de natureza essen ialmente quânti a.
18
Embora os varios ingredientes envolvidos nessas hipoteses dependam da natureza detalhada

da dinâmi a das mole ulas e de sua intera ~ao om a radia ~ao, a densidade espe tral de equilbrio
deve ser independente disso. De fato, a ondi ~ao de equilbrio das mole ulas om a radia ~ao,
isto e, a igualdade das taxas totais de emiss~ao e de absor ~ao de radia ~ao de frequên ia mn se
exprime omo
Wn dWabs = Wm [dWei + dWex
Wn Bmn (mn ) = Wm [Bnm (mn ) + Amn :
ou
Por outro lado, no limite de altas temperaturas, T

! 1, donde se obtem a rela ~ao
! 1, Wn ! pn e tambem, pela lei de Wien,
pn Bmn = pm Bnm :
Usando essa rela ~ao e resolvendo a ondi ~ao de equilbrio para (mn ) resulta
(mn ) =
Amn =Bnm
exp EmkTEn 1
que reproduz a express~ao de Plan k na forma (1.1) desde que Em En = hmn (o que onstitui
m
3
na realidade uma dedu ~ao da rela ~ao de Bohr entre energias e frequên ia) e Am
n =Bn = mn .
Este ultimo resultado e um bonus extremamente importante da dedu ~ao, pois ele rela iona a
probabilidade, essen ialmente quânti a, de emiss~ao espontânea om a probabilidade de emiss~ao
induzida, que possui um analogo lassi o direto. In orporando a forma expl ita da onstante
obtida em (1.2) ele apare e omo
Amn 8h 3
= 3 mn
Bnm

onde o arater \essen ialmente quânti o" da emiss~ao espontânea e indi ado expli itamente pela
presen a da onstante de Plan k h omo fator.
Uma rti a t~ao interessante quanto importante a esse trabalho de Einstein, bem omo
a orrespondente reformula ~ao do ponto riti ado, foi a ele en aminhada em 1924 por
Satyendranath Bose, ent~ao na Universidade de Da a (India), e publi ada em Zeits hrift fur Physik 26, 178 (1924) om o ttulo Plan ks Gesetz und Li htquantenhypothese,
em tradu ~ao para o alem~ao feita pelo proprio Einstein, e na qual o autor e identi ado
simplesmente omo Bose, sem qualquer prenome ou ini ial. Nesse trabalho Bose riti a a utiliza ~ao da lei de Wien (um resultado lassi o) na re-dedu ~ao feita por Einstein
da formula de Plan k, e substitui o seu uso por um tratamento dentro dos ânones da
me âni a estatsti a dos \quanta de luz" introduzidos tambem por Einstein no seu tratamento do efeito fotoeletri o. Numa Nota do Tradutor, a res entada ao trabalho de Bose,
19
Einstein enfatiza a importân ia desse desenvolvimento, que \pode ser estendido de forma
a dar uma teoria quânti a dos gases ideais", omo promete fazer (e faz, efetivamente)
num trabalho futuro (Sitzber. Kgl. Preuss. Akad. Wiss. 1925, 3). E na extens~ao es rita
por Einstein do trabalho de Bose que apare e pela primeira vez o resultado onhe ido
omo \ ondensa a~o de Bose-Einstein" de um gas ideal a temperatura muito baixa. Esse fenômeno, frequentemente itado hoje omo um exemplo notavel de omportamento
quânti o a es ala ma ros opi a, foi portanto identi ado antes das primeiras formula ~oes
onsistentes da me âni a quânti a por Heisenberg e S hrodinger.
1.3
A nova me ^
ani a de Heisenberg.
O tratamento dado por Einstein, no trabalho sobre a radia ~ao de orpo negro, a quest~ao da
emiss~ao e absor ~ao de radia ~ao, representa uma atitude bastante diferente da adotada, por
exemplo, por Bohr, frente a mesma quest~ao. De fato, enquanto Bohr parte de resultados
lassi os, pro urando reinterpreta-los em termos quânti os om ajuda do prin pio de orrespondên ia, Einstein ome a por introduzir, omo objetos hipoteti os basi os, \probabilidades
de transi ~ao" entre estados esta ionarios. A existên ia e relevân ia de tais objetos e laramente
identi ada por Bohr omo uma onsequên ia de seus \prin pios", sem que no entanto isso
hegue a ser usado de forma ativa no desenvolvimento teori o. Nesse desenvolvimento, o di ionario forne ido pelo prin pio de orrespondên ia se mostra insu iente para al ula-los em
geral, devido, em ultima analise, justamente a in ompatibilidade entre a teoria lassi a e os
\prin pios" quânti os. No tratamento de Einstein, por outro lado, as probabilidades de transi ~ao s~ao tratadas simplesmente omo \novos" objetos a determinar, dotados desde o in io das
propriedades espe as essen iais ao ontexto quânti o, parti ularmente dependên ia dos dois
estados esta ionarios envolvidos na transi ~ao e a existên ia de uma probabilidade de emiss~ao
espontânea de radia ~ao, de natureza puramente quânti a, alem das probabilidades de absor ~ao
e de emiss~ao induzida, que tem analogos lassi os. O problema da densidade espe tral da
radia ~ao de orpo negro de fato dispensa, devido a sua natureza estatsti a e de equilbrio,
uma espe i a ~ao mais detalhada das diferentes probabilidades de transi ~ao, embora a abe por
dar indi a ~oes quantitativas bastante espe as sobre rela ~oes existente entre elas bem omo
sobre a adequa ~ao geral das hipoteses feitas. Desse modo, embora sem olo ar a quest~ao da
onstru ~ao de uma teoria quânti a onsistente, o trabalho de Einstein indi a laramente as
vantagens que podem resultar de um distan iamento ontrolado de ingredientes lassi os que
se mostrem em on ito om os prin pios quânti os.
Os passos de isivos para a onstru ~ao de uma teoria quânti a ompleta foram dados por
Heisenberg, em 1925, om base em dois pontos entrais. O primeiro e simplesmente o de que a
me âni a lassi a n~ao e valida na es ala atômi a. O segundo tem na devida onta a inegavel
20
adequa ~ao das teorias lassi as nos ontextos em que ela se apli a, e onsiste na observa ~ao de
que o prin pio de orrespondên ia de Bohr e uma ondi ~ao fundamental para a nova teoria.
Foi essen ial, no entanto, interpretar a n~ao validade da me âni a lassi a na es ala atômi a
num sentido muito mais radi al do que havia sido feito anteriormente por Bohr. Bohr, de
fato, modi ou o omportamento dinâmi o dos sistemas atômi os atraves de seus prin pios
quânti os, mas reteve o substrato inemati o da teoria lassi a. Heisenberg, no entanto, es reve
na introdu ~ao de seu trabalho de 1925 (que tem omo ttulo \Reinterpreta ~ao quânti a de
rela ~oes inemati as e me âni as") que
a ondi ~ao de frequên ia de Einstein-Bohr (que e valida em todos os asos) por
si mesma ja representa uma ruptura t~ao ompleta da me âni a lassi a, ou antes
(adotando o ponto de vista da teoria ondulatoria) da inemati a que serve de base
a essa me âni a, que mesmo para os problemas quânti os mais simples a validade
da me âni a lassi a simplesmente n~ao pode ser mantida.
A formula ~ao da nova teoria deve in luir portanto uma reformula ~ao tambem dos ingredientes
inemati os da teoria lassi a.
O aminho seguido por Heisenberg onsistiu, basi amente, em reter a equa ~ao de movimento
lassi a (o sistema tratado tendo um uni o grau de liberdade)
d2 q
f (q ) = 0
(1.7)
dt2
o que signi a reter de erto modo o esquema dinâmi o formal da me âni a lassi a, mas
sem que isso implique ne essariamente em interpretar q (t) omo uma fun ~ao do tempo om o
signi ado de posi ~ao. Pode-se dizer ent~ao que esse aminho vai onsistir basi amente numa
reformula ~ao inemati a apenas, que vai no entanto afetar profundamente os pro edimentos
envolvidos no seu uso e a interpreta ~ao dos resultados. Na realidade, Heisenberg prop~oe que
q (t) deva ser visto em geral omo um objeto asso iado a \quantidades atômi as observaveis",
omo nveis de energia, frequên ias de Bohr, intensidades.
O pro esso seguido na espe i a ~ao de tal objeto pode ser esquematizado da seguinte forma.
No aso de um movimento lassi o, periodi o, de perodo = 2=! e em geral anarmôni o, e
possvel extrair \elementos" de frequên ia bem denida expandindo q (t) em serie de Fourier
M
q (t) =
1
X
k=
qk eik!t
om a realidade de q (t), q (t) = q (t), garantida pela ondi ~ao qk = q k . Na \velha" teoria
quânti a de Bohr q (t), e portanto tambem ! e os qk , se referem a orbitas lassi as parti ulares
21
para as quais e satisfeita uma ondi ~ao de quantiza ~ao. Dessa forma a expans~ao de Fourier
apare e ali omo
q (n; t) =
1
X
k=
qk (n) eik!n t
(1.8)
onde o numero quânti o n provem da ondi ~ao de quantiza ~ao para a a ~ao, I = nh. Nesse
pro esso a interpreta ~ao de q (n; t) omo posi ~ao, fun ~ao do tempo, e mantida, e faz om que as
frequên ias que apare em na expans~ao sejam os multiplos k!n da frequên ia angular da orbita
quantizada. Como as frequên ias observadas n~ao s~ao em geral essas, mas sim as frequên ias de
Bohr asso iadas a transi o~es entre dois estados esta ionarios, Heisenberg substitui o onjunto
de termos da expans~ao de Fourier (visto omo \ onjunto de elementos de frequên ia bem
denida" que ara terizam o movimento lassi o) por um \ onjunto" alternativo, quânti o,
ujos elementos n~ao devem ne essariamente ser vistos omo termos de uma serie, rela ionado
om o primeiro atraves das substitui ~oes k!n ! ! (n; n k) e qk (n) ! q (n; n k), onde
agora as frequên ias orrespondem a frequên ias de Bohr para a transi ~ao entre dois estados
esta ionarios n e n k = m, isto e
2
! (n; m) = (En Em )
h
e as novas amplitudes q (n; n k) s~ao entendidas omo estando tambem asso iadas a transi ~oes
entre os estados esta ionarios n e n k. Dessa forma
qk (n) eik!n t
! q(n; n k) ei!(n;n k)t :
Os re exos dessas regras de substitui ~ao para o momento p(t) = M q_(t) (e seus \elementos" de
frequên ia bem denida) podem ser obtidos fa ilmente. Da expans~ao de Fourier para q (n; t)
obtem-se, de fato,
p(n; t) =
1
X
k=
pk (n) eik!n t
om pk (n) = iMk!n qk (n), o que leva a substitui ~ao
pk ( n )
! p(n; n k) = iM!(n; n k)q(n; n k):
Uma lasse importante de variaveis dinâmi as que deve ser onsiderada e a que envolve
produtos de varios fatores q (t) e p(t), omo q 2 (t), p2 (t), p(t)q (t) et . Classi amente (e supondo
ja implementadas regras de quantiza ~ao no sentido da es olha de orbitas lassi as parti ulares,
omo feito por Bohr) a expans~ao de Fourier
22
qn2 (t) =
1
X
k=
Qk (n)eik!nt
pode ser imediatamente rela ionada om a expans~ao orrespondente de q (t) usando a \regra de
omposi ~ao das frequên ias" k!n + k0 !n = (k + k0 )!n , que da
Q k (n) =
1
X
l=
qk l (n)ql (n):
Fazendo, por outro lado, as substitui ~oes Qk (n) ! Q(n; n

em onta a regra de omposi ~ao das frequên ias quânti as
(1.9)
k) e k!n ! ! (n; n
k), e tendo
! (n; n k) = ! (n; n l) + ! (n l; n k)
(1.10)
(que, na realidade, orresponde a hamada regra de ombina ~ao de Rydberg-Ritz, onhe ida
da analise fenomenologi a de espe tros atômi os), resulta que a tradu ~ao quânti a \natural"
da rela ~ao (1.9) e
Q(n; n k) =
1
X
l=
q (n; n l)q (n l; n k):
(1.11)
Uma ara tersti a importante desta \regra de multipli a ~ao quânti a" e a de que o produto
de variaveis dinâmi as diferentes, x(t) e y (t), deve ser visto em geral omo n~ao omutativo,
[xy (t) 6= [yx(t).
Resta agora determinar as frequên ias ! (n; n k) e as amplitudes q (n; n k) a partir da
equa ~ao de movimento (1.7). Para isso deve-se lembrar que a dependên ia om n de q (n; n k)
provem de uma reinterpreta ~ao da dependên ia om n de qk (n), que por sua vez resulta da
ondi ~ao de quantiza ~ao de Bohr (1.4). E pre iso portanto, antes de mais nada, reinterpretar
essa ondi ~ao em termos da inemati a quânti a, o que na realidade e uma das passagens ao
mesmo tempo mais \livres" e mais ru iais do trabalho de Heisenberg.
O primeiro ponto levantado onsistiu em enfraque er a ondi ~ao de quantiza ~ao de Bohr
(1.4), (a qual, nessa forma, \n~ao se en aixa bem no al ulo dinâmi o"), mantendo-a no entanto
onsistente om o prin pio de orrespondên ia. Em parti ular, para que o perodo lassi o das
orbitas de Bohr oin ida, para valores grandes da a ~ao I = nh, n 1, om as frequên ias de
Bohr (En En 1 )=h, basta que valha I = h para duas orbitas onse utivas. Isso leva a que,
desse ponto de vista, a ondi ~ao (1.4) possa ser substituda por algo omo
h=
d
d Z
p (t)q_ (t)dt
(nh) =
dn
dn 0 n n
23
ou, usando as expans~oes de Fourier de pn(t) e qn (t),
h = 2M
1
X
k=

d
k!n j qk (n) j2 :
1 dn
O sentido pre iso da deriva ~ao om rela ~ao a n nessas express~oes n~ao hega a ter maior relevân ia dado que elas servem apenas para motivar, de erta forma, a reinterpreta ~ao quânti a
da ondi ~ao de quantiza ~ao omo sendo
h = 4M
1 h
X
k=0
j q(n; n + k) j2 !(n + k; n) j q(n; n k) j2 !(n; n k)
(1.12)
om o entendimento de que, existindo um estado esta ionario \fundamental" rotulado por

n = n0 , uja energia En0 e menor que a de qualquer outro estado esta ionario, deve-se ter ainda
q (n0 ; n0
j ) 0;
j > 0:
para
E laro que a passagem de (1.4) a (1.12), passando pela deriva ~ao simboli a om rela ~ao a
n, n~ao deve ser vista de forma alguma omo uma dedu ~ao, mas sim omo uma proposta de
\adapta ~ao de postulado" no sentido da onstru ~ao de uma teoria quânti a onsistente.
O fun ionamento desse esquema pode ser ilustrado apli ando-o ao aso simples do os ilador
harmôni o. Nesse aso f (q ) = M!02 q na equa ~ao de movimento (1.7), onde agora q orresponde ao onjunto de objetos fq (n; n + k) exp[i! (n; n + k)tg. Como neste aso o movimento
lassi o e harmôni o e onsequentemente a expans~ao de Fourier (1.8) tem um uni o termo, e
razoavel supor que apenas as amplitudes do tipo q (n; n 1) s~ao diferentes de zero. Substituindo
esses objetos na equa ~ao de movimento resulta
h
! (n; n 1)2 + !02 q (n; n 1) = 0
o que mostra que ! (n; n 1) = !0 para qualquer n. As amplitudes q (n; n 1) s~ao agora
determinadas pela ondi ~ao de quantiza ~ao (1.12). Usando n = 0 para o estado fundamental
resulta que q (0; 1) deve se anular (por estar asso iado a uma transi ~ao para um estado que
estaria abaixo do estado fundamental). A ondi ~ao de quantiza ~ao al ulada para n = 0 da
portanto
h
j q(0; 1) j2= 4M!
:
0
A mesma ondi ~ao de quantiza ~ao al ulada para n = 1 da

24
h
j q(1; 2) j2 j q(1; 0) j2= 4M!
:
0
O termo j q (1; 0) j2 pode ser obtido notando que as amplitudes q (1; 0) e q (0; 1) est~ao asso iadas,
respe tivamente, as frequên ias ! (1; 0) = !0 e ! (0; 1) = !0 . Desse modo, uma \ ondi ~ao
de realidade" analoga a que deve ser imposta sobre os oe ientes de Fourier de (1.8) apare e
omo sendo q (1; 0) = q (0; 1) . Portanto j q (1; 0) j2 =j q (0; 1) j2 , donde segue que
h
:
j q(1; 2) j2= 2 4M!
0
Em geral, a ondi ~ao de quantiza ~ao estabele e uma rela ~ao de re orrên ia entre j q (n; n + 1) j2
e j q (n 1; n) j2 da qual se obtem
h
j q(n; n + 1) j2= (n + 1) 4M!
:
0
(1.13)
\Um passo seguinte obvio", omo es reveu Heisenberg em 1925, seria usar esse resultado
em onjun ~ao om a express~ao lassi a para a energia,
E=
M 2 M 2 2
q_ + !0 q ;
2
2
sendo no entanto ne essario lembrar que q_2 (n; n k) e q 2 (n; n k) s~ao agora objetos de dois
ndi es que devem ser al ulados usando a \regra de multipli a ~ao quânti a" (1.11). Desse
modo resulta que os uni os produtos n~ao nulos s~ao aqueles om k = 0 e k = 2 (isto e, do tipo
q_2 (n; n), q_2 (n; n 2), q 2 (n; n), q 2 (n; n 2)), os quais s~ao dados por
h!0
4M
h
q 2 (n; n) = q (n; n 1)q (n 1; n) + q (n; n + 1)q (n + 1; n) = (2n + 1)
4M!0
q_2 (n; n 2) = q_(n; n 1)q_(n 1; n 2) = !02 q (n; n 1)q (n 1; n 2) = !02 q 2 (n; n 2)
q_2 (n; n) = q_(n; n 1)q_(n 1; n) + q_(n; n + 1)q_(n + 1; n) = (2n + 1)
de modo que apenas os termos om k = 0 ontribuem para a energia total. Um ponto importante relativo a este al ulo \quânti o" e o de que, de forma semelhante ao que o orre no ontexto
lassi o, ele da um resultado independente do tempo para a energia total embora os termos orrespondentes a energia ineti a e a energia poten ial dependam do tempo quando onsiderados
25
separadamente. O resultado do al ulo quânti o para a energia total, vista tambem omo um
objeto quânti o de dois ndi es, pode portanto ser es rito
E (n; n
1 h!0
k) = n +
2 2 k;0

onde o delta de Krone ker k;0 indi a expli itamente que apenas os objetos do tipo E (n; n) s~ao
diferentes de zero. Esses valores orrespondem aos valores possveis da energia do os ilador
quânti o, e em parti ular diferem por uma onstante aditiva dos valores
h!0
2
obtidos usando diretamente a regra de quantiza ~ao de Bohr om a inemati a lassi a. A
inemati a quânti a, por outro lado, resolve ompletamente a ambiguidade existente na express~ao (1.6) para as intensidades das transi ~oes. Substituindo jqk (I )j2 pelos objetos quânti os
jq(n; n k)j2 resulta que no os ilador harmôni o havera apenas transi ~oes entre estados de
energia onse utivos, E (n; n) e E (n 1; n 1), e que suas intensidades s~ao propor ionais a n,
omo mostrado pela Eq. (1.13).
En = n
1.3.1 A teoria de Heisenberg passada a limpo: as matrizes de Born

e Jordan.
O trabalho de Heisenberg foi re ebido para publi a ~ao em Zeits rift fur Physik em 29 de julho
de 1925. Menos de dois meses depois, em 27 de setembro, o mesmo periodi o re ebeu um
trabalho de Born e Jordan, intitulado \Sôbre a Me âni a Quânti a" em uja intodu ~ao lê-se o
seguinte:
O tratamento teori o de Heisenberg publi ado re entemente neste periodi o, que
teve omo objetivo estabele er um novo formalismo inemati o e me âni o em onformidade om as exigên ias basi as da teoria quânti a, nos pare e ter um signi ado
poten ial onsideravel. Ele representa uma tentativa de fazer justi a aos novos fatos
estabele endo um sistema on eitual novo e realmente adequado em vez de adaptar
as ideias ostumeiras de forma mais ou menos arti ial e for ada. A argumenta ~ao
fsi a que levou Heisenberg a esse desenvolvimento foi t~ao laramente exposta por ele
que quaisquer observa ~oes suplementares pare em super uas. Mas, omo ele mesmo
observa, o seu tratamento esta apenas em seu estagio ini ial no que se refere aos
aspe tos formais, matemati os. Suas hipoteses foram apli adas apenas a exemplos
simples sem ser estendidas ompletamente a uma teoria generalizada. Tendo estado
26
na vantajosa posi ~ao de nos familiarizarmos om suas ideias ao longo de seu estagio
de elabora ~ao, bus amos agora (pois suas investiga ~oes foram on ludas) es lare er
o onteudo matemati amente formal de seu tratamento e apresentar aqui alguns de
nossos resultados. Eles indi am que e de fato possvel, a partir das premissas olo adas por Heisenberg, onstruir uma teoria matemati a fe hada da me âni a quânti a
que mostra analogias notavelmente proximas om a me âni a lassi a, mas que ao
mesmo tempo preserva os aspe tos ara tersti os dos fenômenos quânti os.
A formula ~ao geral de Born e Jordan adota um ponto de vista hamiltoniano, no sentido
de que utiliza oordenadas e momentos em vez de oordenadas e velo idades. Ela ome a por
re onhe er que, dentro das premissas de Heisenberg, um sistema dinâmi o (quânti o), om
um uni o grau de liberdade e lassi amente periodi o, deve ser des rito por uma oordenada
espa ial q e um momento p que devem ser representados por matrizes dependentes do tempo,
ujos elementos têm a forma
n
p pnm ei!nm t
q qnm ei!nm t ;
(1.14)
onde !nm s~ao as frequên ias asso iadas a transi ~oes entre estados des ritos pelos numeros
quânti os n e m. Essas matrizes devem ser hermiteanas, isto e, para qualquer t real, devem ser
iguais as omplexo- onjugadas de suas transpostas. Dessa forma
qnm qmn = jqnm j2
!nm = !mn :
A primeira dessas quantidades estara eventualmente asso iada a probabilidades de transi ~oes
n*
) m. A rela ~ao entre !nm e !mn , por outro lado, deve ser entendida omo ligada a existên ia
de quantidades En tais que
!
h nm = En Em
(1.15)
2
o que leva a regra de omposi ~ao de frequên ias (1.10). A \regra de multipli a ~ao quânti a"
(1.11) orresponde ent~ao simplesmente ao produto de matrizes:
q2
(
X
qnk ei!nk t qkm ei!km t
qnk qkm
ei!nm t
pois !nk + !km = !nm . Outras variaveis dinâmi as (fun ~oes de p e q) podem ser onstrudas
de forma semelhante, om a propriedade de que o elemento n; m da matriz resultante tera
sempre a dependên ia temporal dada pelo fator ei!nm t . Variaveis dinâmi as independentes
do tempo devem portanto orresponder a matrizes diagonais, isto e, a matrizes ujos uni os
27
elementos n~ao nulos sejam aqueles om n = m, pois !nn = 0. Em parti ular, para que a energia
total seja independente do tempo, e pre iso que a hamiltoniana (que e uma fun ~ao de p e q)
seja representada por uma matriz diagonal H fHn nm g, sendo ainda natural identi ar os
elementos diagonais Hn om as energias En envolvidas nas frequên ias !nm .
A propria ondi ~ao de quantiza ~ao (1.12) pode ser rees rita de forma muito simples em
termos de produtos de matrizes. De fato, usando o fato de que na ondi ~ao usada por Heisenberg
Mq (n + k; n)! (n + k; n) orresponde a ipn+k;n , e fa il ver que ela pode ser rees rita omo
X
(pnk qkn
qnk pkn ) =
h
:
2i
O lado esquerdo dessa rela ~ao orresponde a diferen a dos elementos diagonais n; n dos produtos
matri iais pq e qp respe tivamente. O fato de que essa diferen a n~ao e nula indi a a n~ao
omuta ~ao das duas matrizes p e q. Na realidade, Horn e Jordan argumentam ainda que o
omutador [p; q pq qp deve ser independente do tempo, e portanto diagonal, o que os leva
a substituir essa ondi ~ao por outra \ ondi ~ao de quantiza ~ao mais forte", que orresponde a
rela ~ao matri ial
h
1
(1.16)
2i
representa a matriz unidade, matriz diagonal ujos elementos diagonais s~ao
pq qp =
onde 1 fnm g
todos iguais a 1.
Resta ainda onsiderar as equa ~oes de movimento que devem ser satisfeitas pelas variaveis
dinâmi as. Essa quest~ao a rigor ja foi de idida om a espe i a ~ao da dependên ia temporal
adotada para as variaveis dinâmi as juntamente om a identi a ~ao das energias En om os
elementos da matriz diagonal orrespondente a hamiltoniana. Dessas suposi ~oes resulta, de
fato, para uma variavel dinâmi a representada por uma matriz g(p; q) om elementos da forma
gnm ei!nm t ,
d
2i
gnm ei!nm t = i!nm gnm ei!nm t =
(En Em ) gnm ei!nm t
dt
h
o que pode ser rees rito de forma matri ial, usando o fato de que H fEn nm g,
2i
dg 2i
=
(Hg gH)
[H; g:
(1.17)
dt
h
h
Equa ~oes de movimento para p e q orrespondem a asos parti ulares dessa equa ~ao de
movimento geral. E fa il veri ar a estreita rela ~ao dessas equa ~oes de movimento om as
equa ~oes de movimento lassi as no aso de uma hamiltoniana da forma H = K(p) + V(q), em
que K(p) e V(q) sejam exprimveis omo series de potên ias de p e q respe tivamente, isto e
28
K(p) =
aj pj
V ( q) =
b j qj ;
para isso basta usar uma propriedade algebri a geral de omutadores de matrizes (que pode ser
veri ada, por exemplo, por indu ~ao, ou re ursivamente)
[xj ; y =
j
X
k=1
xk 1 [x; y xj
que se reduz a j xj
[x; y se [x; [x; y = 0
a qual da, usando a \ ondi ~ao de quantiza ~ao mais forte" (1.16), equa ~oes de movimento
formalmente idênti as as equa ~oes lassi as de Hamilton:
dq
2i
2i X
ja pj
=
[K; q =
dt
h
h j j
2i
2i
dp
=
[V; p =
dt
h
h
jbj qj
[p; q =
[q; p =
H
p
H
:
q
(1.18)
Em resumo, o esquema proposto por Born e Jordan omo realiza ~ao mais geral e fe hada do
tratamento quânti o de Heisenberg para sistemas periodi os om um grau de liberdade, onsiste
em obter duas matrizes q e p, ujos elementos s~ao rotulados por ndi es asso iados aos \estados
esta ionarios" do sistema, satisfazendo a ondi ~ao \mais forte" de quantiza ~ao (1.16) e sendo
ainda tais que a matriz orrespondente a hamiltoniana, H(p; q), seja diagonal. A dependên ia
temporal das variaveis dinâmi as e dada pelas equa ~oes (1.14) e (1.15), onde as energias En s~ao
os elementos diagonais de H, que orrespondem portanto as energias dos estados esta ionarios.
Essa dependên ia temporal orresponde, ent~ao, a que e pres rita pelas equa ~oes de movimento
(1.18).
Um ponto que e importante notar om rela ~ao a esse esquema e o de que a substitui ~ao
das variaveis anôni as lassi as q e p pelas matrizes n~ao omutantes q e p na onstru ~ao
das matrizes que s~ao orrespondentes quânti as de variaveis dinâmi as lassi as g (p; q ) leva
em geral a ambiguidades quanto a ordena ~ao de fatores q e p. Por exemplo, uma quantidade
perfeitamente bem denida lassi amente omo p2 q , pode ser interpretada omo p2 q, pqp,
qp2 , (p2 q + qp2 )=2, et , que, devido a n~ao omuta ~ao de q e p, n~ao oin idem entre si. Uma
ondi ~ao que reduz essas ambiguidades (sem no entanto elimina-las ompletamente) e a ondi ~ao
. Como nos asos das matrizes q e p, essa ondi ~ao pode ser vista
de hermiti idade gnm = gmn
omo orrespondendo, na teoria quânti a, a ondi ~ao de realidade das variaveis dinâmi as
29
lassi as. Ela garante, em parti ular, que os elementos diagonais das matrizes que representam
variaveis dinâmi as sejam reais. No aso da hamiltoniana H ela garante a realidade das energias
En dos estados esta ionarios. E fa il veri ar que a ondi ~ao de hermiti idade ex lui, no aso
onsiderado a ima, ombina ~oes n~ao simetri as omo p2 q e qp2 , mas n~ao permite optar entre as
outras possibilidades simetri as, por exemplo. A ambiguidade remanes ente e uma di uldade
real na \quantiza ~ao" de um sistema a partir de sua des ri ~ao lassi a. Ela pode ser vista omo
uma indi a ~ao da pre edên ia da des ri ~ao quânti a do sistema, no sentido de que esta n~ao
pode, em geral, ser univo amente inferida da des ri ~ao de seu analogo lassi o.
1.3.2 O os ilador harmôni o unidimensional segundo a me âni a das

matrizes.
O tratamento de Heisenberg, na sua vers~ao onsolidada por Born e Jordan, pode mais uma
vez ser ilustrado om o aso simples, mas relevante, do os ilador harmôni o unidimensional. A
hamiltoniana tem nesse aso a forma onhe ida
1 2 M!02 2
H=
p +
q
2M
2
que em parti ular n~ao envolve problemas de ordenamento. Born e Jordan observam om rela ~ao
a ele que
mesmo para este problema simples e ne essario suplementar a analise de Heisenberg.
Esta ultima invo a onsidera ~oes de orrespondên ia para hegar a onsequên ias
importantes relativas a forma da solu ~ao: a saber, omo lassi amente so esta presente uma uni a omponente harmôni a, Heisenberg es olhe uma matriz que representa transi ~oes entre estados adja entes apenas, e que portanto [e tal que apenas
qn;n1 s~ao diferentes de zero. Nos aqui pro uramos onstruir toda a teoria de forma
auto-referente, sem invo ar a assistên ia da teoria lassi a om base no prin pio
de orrespondên ia. Vamos ent~ao investigar se [essa forma da matriz q pode ser
por sua vez deduzida das formulas basi as ou, aso isso se mostre impossvel, que
postulados adi ionais se fazem ne essarios.
O pro edimento a seguir difere nos seus detalhes do que foi seguido no trabalho de Born e
Jordan, mas no entanto preserva todos os pontos essen iais do pro edimento original, embora
om uma e onomia de re ursos importante. Ele e hoje amplamente usado para tratar o os ilador
harmôni o quânti o, e pode ser en ontrado ja na primeira edi ~ao, que data de 1930, dos The
Prin iples of Quantum Me hani s de Dira .
30
As matrizes p e q devem satisfazer a rela ~ao de omuta ~ao (1.16), a matriz H deve ser
diagonal, ontendo os valores possveis da energia do os ilador. Para tratar o problema de
determinar tais matrizes e util fazer a substitui ~ao linear
1
1
(M!0 q + ip);
ay = p
(M!0 q ip)
a= p
2hM!0
2hM!0
onde, e de agora em diante, h h=2 . A es olha de onstantes de propor ionalidade nessa

substitui ~ao torna as novas quantidades a e ay adimensionais. A nova matriz a n~ao e hermiteana,
e ay e na realidade sua hermiteana adjunta (isto e, a matriz omplexo- onjugada da transposta
de a). Usando a rela ~ao de omuta ~ao (1.16) e imediato veri ar que ela orresponde a rela ~ao
de omuta ~ao para as novas matrizes
[a; ay = 1:
A invers~ao dessa substitui ~ao permite es rever p e q em termos de a e ay omo
s
(1.19)
h M!0 y
h
p=i
( a a) ;
q=
( ay + a)
2
2M!0
e exprimir a hamiltoniana tambem em termos de a e ay :
(1.20)
i
1
h !0 h y
(a a)2 + (ay + a)2 = h !0 (ay a + 1):
(1.21)
4
2
Devido a n~ao omutatividade de a e ay , e pre iso preservar a ordem dos fatores no al ulo de
quantidades omo (ay a)2 . Expli itamente, por exemplo,
H=
(ay + a)2 = (ay + a)(ay + a) = ay2 + ay a + aay + a2 = ay2 + 2aya + 1 + a2

onde, na ultima passagem, foi feito uso da rela ~ao de omuta ~ao (1.19). O problema a assim
reduzido ao de en ontrar as matrizes hermiteano-adjuntas a e ay , satisfazendo essa rela ~ao de
omuta ~ao, e de forma que H seja diagonal.
Esse novo problema pode ser resolvido do seguinte modo: primeiramente, e fa il veri ar,
usando mais uma vez a (1.19), que
[H; a = h !0 a
[H; ay = h !0 ay
ou, usando H fEn nm g e exprimindo essas rela ~oes expli itamente em termos de elementos
de matriz,
(En
Em + h !0 )anm = 0
e
31
(Em
En
h !0 )aymn = 0:
A primeira dessas equa ~oes exige que anm = 0 a menos que En = Em h !0 ; a segunda, por outro
lado exige que aymn = 0 a menos que Em = En + h !0 . Isso signi a que os elementos de matriz
anm s~ao diferentes de zero apenas quando n e m orrespondem a estados esta ionarios tais que
Em En = h !0 , uma arma ~ao analoga valendo para aymn . Sendo q uma ombina ~ao linear de
a e ay , segue que os elementos de matriz qnm n~ao nulos orrespondem ne essariamente a estados
esta ionarios tais que Em En = h !0 . Isso mostra omo a ondi ~ao imposta por Heisenberg
om base em argumentos de orrespondên ia emerge na realidade da propria estrutura da teoria
quânti a. De fato, para hegar pre isamente a ondi ~ao imposta por Heisenberg, de que apenas
os elementos de matriz qnn1 s~ao diferentes de zero, e ne essario apenas rotular os estados
esta ionarios de forma onveniente. Isso se faz pondo
En = nh !0 + E0 ;
n inteiro
(1.22)
onde E0 e uma onstante ainda por determinar. Como observado por Born e Jordan, esta
es olha parti ular de rotulos \serve uni amente para estabele er a forma normal da solu ~ao.
Nada de novo e introduzido si amente".
Com esta parti ular \forma normal" de rotular os estados esta ionarios resulta ent~ao que
anm = am
1m n;m 1
aymn = ayn+1n m;n+1
e portanto
Em = h !0
1
1
aymn anm + = h !0 aymm 1 am 1m + = h !0
2
2
onde na ultima passagem foi usado o fato de que am

resulta nalmente que
1m
jay
mm 1
2+
1
2
= ay
mm 1 . Comparando om (1.22)
1
E0 = h !0 e jaynn 1 j2 = n; n = 0; 1; 2; :::
(1.23)
2
pois, neste ultimo aso, jaynn 1 j2 0. A matriz diagonal (e portanto independente do tempo)
que representa a hamiltoniana, em vista de (1.22) e (1.23), e dada expli itamente por
0
B
B
B
B
0B
B
B

H = h !
1=2 0 0 0
0 3=2 0 0
0 0 5=2 0
0 0 0 7=2
..
..
..
..
.
.
.
.
32
:::
:::
:::
:::
:::
1
C
C
C
C
C
C
C
A
(1.24)
e a matriz orrespondente a ay , om a dependên ia temporal pres rita por (1.14) e usando

tambem a transforma ~ao (1.20),
0
ay = e
B
B
B
i!0 t B
B
B
B

p0
1
0
0
..
.
0
p0
2
0
..
.
0
0
p0
3
..
.
0
0
0
0
..
.
:::
:::
:::
:::
:::
1
C
C
C
C
C
C
C
A
A matriz a e a omplexo- onjugada da transposta desta ultima. Todas essas matrizes têm
evidentemente dimens~ao innita, e e imediato veri ar expli itamente que elas satisfazem a
rela ~ao (1.21).
A forma expl ita da matriz

ay es rita a ima envolve a rigor uma parti ular es olha de
y
fases para os elementos ann 1. De fato, tudo o que e exigido pela segunda rela a~o (1.23)
e que
p
aynn 1 = n ein
onde as fases n s~ao onstantes arbitrarias. A forma es olhida para ay orresponde a
tomar n = 0 para todo n. E imediato veri ar que as rela o~es de omuta ~ao (1.19) e
(1.16) bem omo a forma de H e as quantidades observaveis asso iadas as intensidades das
transi ~oes jqnn1j2 n~ao dependem dessas onstantes, embora as matrizes orrespondentes
a p e q dependam delas. Essa ambiguidade de fase e na realidade um aso parti ular
bastante trivial de uma simetria da teoria quânti a analoga a simetria que permite efetuar
transforma ~oes anôni as na me âni a lassi a hamiltoniana, e sera tratada em detalhe
oportunamente.
1.4
Op
o
~es determinantes e de orr^
en ias da teoria de
Heisenberg, Born e Jordan.
A teoria quânti a de Heisenberg, na vers~ao onsolidada por Born e Jordan, ontem ja expl ita
ou impli itamente todos os ingredientes formais essen iais da teoria quânti a tal omo ela e
entendida hoje. Suas ara tersti as mais estranhas, omo a reformula ~ao inemati a segundo a
qual oordenada e momento devem ser representados por matrizes n~ao omutantes satisfazendo
equa ~oes de movimento formalmente idênti as as equa ~oes lassi as, resultaram na realidade da
op ~ao de exprimir a dinâmi a dos pro essos de emiss~ao e absor ~ao de radia ~ao a es ala atômi a
estritamente em termos de "quantidades observaveis", isto e, frequên ias e intensidades das
33
diferentes transi ~oes possveis. Sua apli a ~ao a sistemas simples, omo o os ilador harmôni o,
mostra que o novo esquema efetivamente gera, de forma ompletamente auto-referente, sem
ne essidade de re ursos mais ou menos arti iosos a hipoteses externas, tanto os valores possveis
da energia (e onsequentemente as as frequên ias da radia ~ao asso iada as transi ~oes possveis)
omo as quantidades que permitem al ular suas intensidades relativas.
Os aspe tos intuitivamente mais insolitos da teoria quânti a foram portanto gerados a partir
de uma ades~ao bastante estrita (bem mais estrita, em parti ular, que no aso da teoria quânti a
de Bohr, por exemplo) a riterios de observabilidade para a es olha dos objetos basi os a serem
onsiderados. Esses riterios s~ao extremamente pragmati os de fato 6 , e forne em efetivamente
um onjunto mnimo de ingredientes interpretativos, indispensavel para o desenvolvimento do
aparato formal. Desse modo, um erto nvel na elabora ~ao formal da teoria pôde (ou teve que)
ser atingido antes que mais aten ~ao fosse dada ao desenvolvimento sistemati o de esquemas
interpretativos mais amplos. Em parti ular, e bastante laro que temas 'loso amente' favoritos omo o prin pio de in erteza n~ao tiveram nenhum papel nos ru iais primeiros estagios
da elabora ~ao da teoria quânti a, tendo sido na realidade desenvolvidos apenas em uma fase
posterior. O trabalho de Heisenberg sobre o prin pio de in erteza, que tem omo ttulo "Interpreta ~ao da inemati a e da dinâmi a da teoria quânti a", apare eu apenas em 1927 (Z.
Physik 43, 172). Ao ontrario dos prin pios de Bohr, ujo papel foi o de forne er orienta ~ao
ne essaria no âmbito da situa ~ao riada pelas repetidas viola ~oes da onsistên ia interna das
teorias lassi as, esse prin pio deve ser entendido omo a expli ita ~ao de determinadas onsequên ias da nova teoria, omplementada por uma analise de situa ~oes observa ionais em que
elas se manifestam de forma mais expl ita. A quest~ao da interpreta ~ao geral da teoria quânti a,
no sentido em que e ainda hoje tida omo quest~ao em aberto, passou a ser tratada de forma
mais intensa a partir da Conferên ia Solvay de 1929. Antes desses dois mar os, ainda em 1925,
foi publi ado um trabalho onjunto de Born, Heisenberg e Jordan estendendo a teoria para
sistemas om mais de um grau de liberdade; e, em 1926, Pauli pode obter da nova teoria o
espe tro de Balmer do atomo de Hidrogênio, utilizando a onserva ~ao do vetor de Runge-Lenz
para resolver as equa ~oes relevantes no aso. O desenvolvimento dos aspe tos opera ionais da
teoria teve portanto pre edên ia de fato sôbre a maior elabora ~ao dos esquemas interpretativos.
Como ja men ionado, tanto o interesse omo tambem a ontroversia a er a da interpreta ~ao
da teoria quânti a ontinuam sendo bastante intensos um se ulo depois do trabalho de Plan k.
No entanto, e tambem bastante laro que tal interesse e ontroversia desempenham na realidade
um papel bastante limitado na apli abilidade e no uso efetivo da teoria. Poder-se-ia dizer que o
problema da interpreta ~ao da teoria quânti a se manifesta quase que apenas em ir unstân ias
Em que se deve pesar no entanto a posi a~o fortemente anti-pragmati a adotada por Heisenberg no relato
que faz de suas onversas om Barton e Dira , v. W. Heisenberg, Dialogos sobre Fsi a Atômi a, Editorial
Verbo, Lisboa-S~ao Paulo, 1975, Cap. VIII.
6
34
nas quais o interesse predominante re ai sobre a quest~ao da interpreta ~ao da teoria quânti a.
Essa situa ~ao pare e portanto n~ao diferir essen ialmente daquela que pode ter prevale ido imediatamente apos o apare imento do trabalho pioneiro de Heisenberg. Em ultima analise, os
aspe tos \problemati os" da teoria quânti a de orrem de um hiato de prin pio riado entre
a inemati a das teorias lassi as e a inemati a quânti a, e onstantemente exa erbado pelo
enorme su esso de ambas em seus respe tivos domnios. Em alguma medida, eles ser~ao abordados onde apropriado, em aptulos subsequentes.
Problemas.
1.1 - Com rela ~ao ao dialogo entre Lorentz e Einstein reproduzido naRpagina 12,
a) mostre expli itamente que a onstân ia da integral de a ~ao I = 0 pqdt
_ impli a, para um
os ilador harmôni o, a propor ionalidade entre a energia e a frequên ia;

b) al ule a amplitude das os ila ~oes, nas ondi ~oes des ritas por Lorentz, para um pêndulo
de 10 m de omprimento om massa de 1 g; estime a ordem de grandeza de efeitos anarmôni os
nesse aso;
) implemente a transposi ~ao do argumento para o aso de um ir uito os ilante, indi ando
uma possvel realiza ~ao do ir uito e uma varia ~ao de parâmetros que seja analoga a des rita
para o aso do pêndulo.
1.2 - Use a ondi ~ao de quantiza ~ao (1.4) para determinar os valores permitidos para a energia
de uma mole ula diatômi a, vista omo um sistema rgido de dois atomos de massa m separados
por uma distân ia d, apaz de girar em torno de um eixo perpendi ular a linha que une os dois
atomos passando pelo entro de massa da mole ula (v. gura 1.1).
d
Figura 1.1: Mole ula diatômi a.

m
a) Es reva o momento jp~j de ada atomo em termos da sua massa, da velo idade angular
! da mole ula e dos seus parâmetros geometri os. O integrando de (1.4) e neste aso 2p2 =m
e a integra ~ao e sobre um perodo do movimento, 0 t 2=! . A ondi ~ao de quantiza ~ao
restringe os valores permitidos !n para a velo idade angular ! .
b) Use os valores permitidos para a velo idade angular para deduzir os valores permitidos
En para a energia e In para o momento angular da mole ula. Verique que estes ultimos s~ao
multiplos de inteiros de h = h=2 , e portanto independentes de m e d.
35
) Mostre que os valores possveis da energia podem ser obtidos diretamente da express~ao
lassi a E = I 2 =2I , onde I e o momento de iner ia da mole ula, usando a \quantiza ~ao" do
momento angular obtida no item anterior.
1.3 - Mostre que o lado direito da rela ~ao (1.5) orresponde de fato, para o modelo lassi o
mais simples do atomo de hidrogênio, que onsiste de uma part ula de massa M sujeita ao
poten ial externo e2 =r, a frequên ia de revolu ~ao da orbita ir ular asso iada ao valor l do
momento angular.
1.4 - a) Mostre que, se uma matriz g satisfaz

dg i
= [H; g = 0
dt h
om H diagonal, isto e, Hnm = En nm , ent~ao segue que gnm = 0 sempre que En 6= Em ;
b) usando as equa ~oes de movimento de Heisenberg
dp i
dq i
= [H; q e
= [H; p
dt h
dt h
om
H=
p2
+ V ( q)
2M
V ( q) =
b j qj
mostre que dtd [q; p = 0;

) do resultado b), ombinado om a), tomando g = [q; p, Jordan inferiu que os elementos
n~ao diagonais do omutador [q; p devem ser zero. Essa inferên ia e sempre orreta?
1.5 - Obtenha expli itamente a matriz q para o os ilador harmôni o.

1.6 - Se g e uma matriz om elementos gnm , hama-se um autovetor de g um onjunto de
numeros n , dos quais pelo menos um e diferente de zero, tais que
X
gnm m = n
e nesse aso (que e um numero n~ao ne essariamente real que pode, em parti ular, ser igual a
zero) e hamado autovalor asso iado a esse autovetor.
a) Use essa deni ~ao de autovetor para mostrarpque os autovetores da matriz a(t) s~aopdenidos pela rela ~ao de re orrên ia n = e i!0 t n 1 = n , e que portanto n = ( e i!0 t )n 0 = n! ,
sendo qualquer numero omplexo;
36
b) mostre que a matriz ay n~ao tem autovetores.

1.7 - Mostre que a matriz que orresponde a hamiltoniana de um os ilador harmôni o de
frequên ia !0 pode ser es rita em termos das matrizes ay e a omo H = h !0 (ay a + 21 ). Lembre-
se que a forma dessas matrizes e

0
B
B
B
B
0B
B
B
B

H = h !
1=2 0 0 0
0 3=2 0 0
0 0 5=2 0
0 0 0 7=2
:
:
:
:
:
:
:
:
:::
:::
:::
:::
:::
:::
C
C
C
C
C
C
C
C
A
B
B
B
B
i!0 t B
B
B
B
B

ay = e
p0
1
0
0
:
:
0
p0
2
0
:
:
0
0
p0
3
:
:
0
0
0
0
:
:
:::
:::
:::
:::
:::
:::
1
C
C
C
C
C
C
C
C
C
A
e a e a transposta da omplexo- onjugada de ay (tambem hamada adjunta de ay ).

Um vetor j i representando um estado esta ionario om energia E = h !0 ( + 1=2) (na
verdade um auto-vetor de H) pode ser es rito omo um vetor oluna.
a) Represente esse vetor oluna para os estados j0i, j1i e j2i. Obtenha aj0i, aj1i, aj2i e
y
a j0i, ay j1i e ay j2i. Sugest~ao: fa a os al ulos envolvendo as matrizes ay e a tomando t = 0.
Os fatores exponen iais dependentes do tempo podem ser a res entados posteriormente sem
di uldade.
b) Dos resultados obtidos em a) es reva uma express~ao geral para aj i e ay j i em fun ~ao
de . Cal ule tambem ay (aj i).

) Obtenha a matriz ay a e mostre
que o vetor ay a j i reproduz o ultimo resultado obtido

em b), e portanto ay (aj i) = ay a j i.
1.8 - Usando a equa ~ao de movimento de Heisenberg

dg i
= [H; g
dt h
obtenha a dependên ia temporal da energia ineti a K(t) e da energia poten ial V(t) para um
os ilador harmôni o. Use para isso
H(t) = H(t = 0) = K(t = 0) + V(t = 0) = K(t) + V(t)

om
p2 (t)
K ( t) =
2M
M!02 2
V ( t) =
q (t):
2
e
37
Verique expli itamente, a partir do resultado, que H(t) = K(t) + V(t) = H(t = 0), isto e,
que H(t) resulta de fato independente do tempo. Mostre tambem que a diferen a K(t) V(t)
os ila harmoni amente om frequên ia 2!0 , e ompare esse fato om o resultado lassi o orrespondente. Sugest~oes: 1) Es reva equa ~oes para dtd K e para dtd V al ulando expli itamente os
omutadores, lembrando que [q(t); p(t) = ih 1 e independente do tempo; 2) derive essas duas
equa ~oes om rela ~ao ao tempo e mostre que as derivadas segundas podem ser re-expressas em
termos de K(t) e V(t); verique que da resultam equa ~oes diferen iais a opladas para K e
V que se desa oplam onsiderando ombina ~oes simples dessas duas variaveis dinâmi as; a he
essas ombina ~oes e resolva as equa ~oes.
Refer^
en ias gerais.
Os trabalhos lassi os de Einstein, Ehrenfest, Bohr, Heisenberg, Born, Jordan e outros, ligados a
origem da me âni a quânti a foram reunidos (em tradu ~oes para o inglês, quando originalmente
es ritos em outra lngua) no livro
? B. L. van der Waerden, Sour es of Quantum Me hani s, North Holland Publishing Company (Amsterdam) 1967.
Esse livro ontem ainda uma dis uss~ao do onteudo dos trabalhos bem omo um estudo a er a
das is unstân ias histori as relativas ao seu apare imento, in luindo depoimentos posteriores
obtidos de seus autores. Uma vers~ao apre iavelmente reelaborada da historia das origens da
me âni a quânti a ao longo dessa mesma linha e en ontrada em
? S. Tomonaga, Quantum Me hani s (Volume I) , North Holland Publishing Company (Amsterdam) 1968.
Um livro de ensaios n~ao te ni os de Heisenberg, muitos dos quais om arater de depoimentos
referentes aos primeiros tempos da me âni a quânti a e, na sua tradu ~ao portuguesa,
? W. Heisenberg, Dialogos sobre Fsi a Atômi a, Editorial Verbo (Lisboa-S~ao Paulo) 1975.
Um relato sôbre as ideias que levaram S hrodinger a formula ~ao da me âni a quânti a sob a
forma da me âni a ondulatoria pode ser lido, em português, em
? R. Koberle, Sobre a Gênese da Me âni a Ondulatoria, Revista Brasileira de Fsi a 9, 243-273

(1979).
38
Alguns textos mais antigos sôbre fsi a atômi a ontem informa ~oes didati amente elaboradas
muito mais ri as e abundantes que seus su edâneos mais re entes, em parti ular a er a dos
trabalhos de Wien, Rayleigh, Jeans, Plan k, et . Dois exemplos disso s~ao
? G. P. Harnwell e J. J. Livingood, Experimental Atomi Physi s, M Graw-Hill Book

Company (New York and London) 1933.
? Robert B. Leighton, Prin iples of Modern Physi s, M Graw-Hill Book Company (New
York Toronto London) 1959.
Esses livros ontem tambem referên ias bibliogra as ompletas aos trabalhos originais dos
autores itados.
39
40
Captulo 2
Estrutura algebri a da teoria de
Heisenberg. Postulados interpretativos.
O proposito deste aptulo e expli itar a estrutura formal geral da teoria quânti a, tomando
omo ponto de partida a teoria de Heisenberg na sua vers~ao onsolidada por Born e Jordan. Isso
vai tambem permitir estabele er ontato om outras realiza ~oes da mesma teoria, espe ialmente
a que resultou do pro esso paralelo de inven ~ao que ulminou om a teoria publi ada em 1926
por S hodinger. A equivalên ia dessa teoria om a de Heisenberg, n~ao advertida ini ialmente,
foi provada nesse mesmo ano tambem por S hrodinger. A onsolida ~ao do ar abou o formal
omum as duas teorias se deve sobretudo a Dira , nas su essivas edi ~oes dos The Prin iples of
Quantum Me hani s, a primeira das quais data de 1930 e a quarta de 1958. Curiosamente, a
me âni a quânti a foi novamente reinventada por Feynman nos anos 40 (v. R. P. Feynman,
The Spa e-Time Approa h to Non-relativisti Quantum Me hani s, Revs. Mod. Phys. 20,
367 (1948)), numa forma su ientemente diferente das vers~oes anteriores para dar in io a
um ter eiro tipo de realiza ~ao que, embora seja te ni amente bastante mais ompli ado que
as realiza ~oes de Heisenberg e de S hrodinger, ofere e o asi~ao para pontos de vista novos,
interessantes e uteis.
A expli ita ~ao de um formalismo geral para a teoria quânti a resulta porem in ompleta,
no sentido que deixa em aberto a rela ~ao entre varios de seus ingredientes e o domnio mais
on reto dos resultados de medidas realizadas ou realizaveis. Na realidade, a propria teoria
de Heisenberg teve ne essariamente que in luir alguns elementos de natureza interpretativa,
omo a identi a ~ao dos elementos da matriz hamiltoniana em sua forma diagonal om os
valores da energia dos estados esta ionarios possveis do sistema des rito, e a identi a ~ao do
quadrado dos modulos dos elementos da matriz q orrespondente, jqnm j2 , omo os momentos de
dipolo asso iados a transi ~oes entre dois desses estados esta ionarios, asso iados a intensidade
da radia ~ao emitida nessas transi ~oes. A generaliza ~ao do formalismo exige no entanto tambem
41
uma extens~ao do aparato interpretativo da teoria. A forma orrente dessa extens~ao tambem sera
tratada neste aptulo. Seus ingredientes basi os apare eram pela primeira vez em um trabalho
de Born (M. Born, Z. Physik 38, 803 (1926)) e foram em seguida elaborados por Heisenberg
(Z. Physik 43, 172 (1927)) e Bohr (Naturwiss. 16, 245 (1928), ibid. 17, 483 (1929) e ibid. 18,
72 (1930)). Esses desenvolvimentos foram su ientes para dar a me âni a quânti a uma base
opera ional adequadamemente solida para sua apli a ~ao efetiva desde ent~ao. A elabora ~ao
do ar abou o interpretativo da me âni a quânti a, e ate mesmo o seu questionamento om
proposta de alternativas, ontinua de fato ate os dias de hoje, sem que no entanto os resultados
de suas apli a ~oes tenham tido que ser de qualquer forma revistos.
2.1
Estrutura alg
ebri a da teoria de Heisenberg:
dis uss~
ao heur
sti a.
Antes de passar a uma formula ~ao mais ompleta da estrutura formal subja ente a teoria de
Heisenberg, pode ser util ter um panorama geral do que esta envolvido e do que deve estar
ontido em tal formula ~ao. Os ingredientes ne essarios para ara terizar esse panorama fazem parte do arsenal padr~ao da algebra linear em espa os vetoriais sobre numeros omplexos.
De fato, matrizes omplexas omo as que a apare em representam operadores lineares nesses
espa os. Nesta se ~ao esse arsenal vai ser tratado de forma mais ou menos in idental e in ompleta, na estrita medida do indispensavel, para n~ao e lipsar o fo o prin ipal da dis uss~ao que
e a estrutura algebri a da teoria quânti a. Um tratamento mais ompleto apare e na se ~ao
seguinte.
Como ponto de partida, vamos supor portanto que a teoria seja formulada em termos de
um espa o vetorial (em geral de dimens~ao innita) sobre os numeros omplexos, no qual esta
denido um produto es alar hermiteano. Isso signi a que, designando os vetores desse espa o
omo ', et . o produto es alar de dois vetores ( ; ') e um numero omplexo que, em
parti ular, tem a propriedade
( ; ') = ('; ) ;
(2.1)
onde o asteris o indi a onjuga ~ao omplexa. Dessa propriedade resulta que o produto es alar
de um vetor onsigo mesmo e um numero real, que pode ser tomado omo o quadrado da norma
desse vetor. O anulamento do produto es alar de dois vetores, nenhum dos quais tendo norma
nula, orresponde a ortogonalidade dos dois vetores.
Qualquer vetor ' desse espa o pode ser expandido em uma base de (em geral innitos)
vetores fn g, n = 1; 2; :::, mutuamente ortogonais e de norma igual a 1, isto e, tais que
(n ; m ) = nm ;
42
omo
'=
n n
(2.2)
onde os oe ientes n s~ao numeros omplexos que podem ser expressos em termos do produto
es alar omo (n; '). Uma base desse tipo e hamada base ortonormal, o que signi a que ela
e onstituda de vetores ortogonais entre si e de norma 1.
Uma lasse de objetos de ru ial importân ia e a de operadores lineares denidos sobre o
espa o vetorial. Um tal operador age sobre vetores do espa o dando omo resultado outros
vetores do mesmo espa o, e satisfaz ondi ~oes de linearidade. Isso signi a que, se g e um tal
operador, ent~ao um objeto omo g' e um vetor, e que vale a propriedade
g (z1 '1 + z2 '2 ) = z1 g'1 + z2 g'2

onde z1 e z2 s~ao numeros omplexos quaisquer. Paralelamente ao fato de que a es olha de uma
base ortonormal permite exprimir um vetor ' em termos de uma ole ~ao de omponentes f n g
omo em (2.2), ela permite tambem exprimir um operador linear g em termos de uma matriz
fgnmg. De fato, a omponente n do vetor g' e dn = (n; g'), e es revendo ' tambem em
termos da base es olhida na forma (2.2) resulta, usando a linearidade de g , que
dn =
(n ; gm ) m
gnm m :
Um operador linear g e dito hermiteano se ele satisfaz

( ; g') = (g ; ')
para quaisquer dois vetores do espa o. Ela deve valer, em parti ular, para quaisquer dois vetores
de qualquer base ortonormal que seja es olhida. Usando a propriedade (2.1) do produto es alar,
e fa il veri ar que as matrizes que representam operadores hermiteanos em bases ortonormais
.
s~ao sempre tais que gnm = gmn
As matrizes de Born e Jordan podem portanto ser vistas omo representa ~oes de operadores
lineares hermiteanos de um erto espa o vetorial, numa erta base ortonormal, om o que a
revis~ao inemati a levada a abo por Heisenberg passa a ser vista omo a substitui ~ao das
variaveis dinâmi as lassi as (em geral fun ~oes reais das oordenadas e momentos que denem
o estado do sistema) por operadores lineares hermiteanos sobre um espa o vetorial omplexo,
representados numa determinada base. Esse ponto de vista deixa duas quest~oes em aberto, que
onsistem respe tivamente em espe i ar o espa o de que se trata, e a base a ser usada. Elas s~ao
porem de ordens diferentes, e podem ser tratadas independentemente uma da outra. Enquanto
43
espe i ar o espa o de que se trata deve signi ar entender de alguma forma os vetores de
que ele onsiste, espe i ar a base e uma quest~ao que pode ser tratada independentemente de
tal entendimento, e que de fato e prati amente respondida pela ondi ~ao de que a matriz que
representa a hamiltoniana seja diagonal. Sendo esta uma representa ~ao de um operador linear
hermiteano H , essa ondi ~ao signi a que os vetores n que onstituem a base ortonormal
es olhida s~ao na realidade, independentemente do sentido que possam ter, autovetores desse
operador, isto e
Hn = En n :
(2.3)
De fato, a propriedade de hermiti idade de H garante eventualmente a existên ia de um onjunto de tais autovetores que seja uma base ortonormal no espa o em que H age, alem de
garantir a realidade dos autovalores En .
Esse ponto de vista permite ent~ao formular o esquema de Heisenberg, Born e Jordan da
seguinte forma:
1. As variaveis anôni as lassi as devem ser substitudas por operadores lineares hermiteanos q e p, agindo sobre um espa o vetorial (de dimens~ao innita), os quais devem satisfazer a
rela ~ao de omuta ~ao [q; p = ih ^1, onde ^1 e o operador identidade do espa o vetorial (isto e, o
operador uja a ~ao sobre qualquer vetor ' do espa o leva ao proprio vetor, ^1' = ').
2. O hamiltoniano e um operador linear hermiteano obtido da hamiltoniana lassi a atraves
da substitui ~ao das variaveis anôni as lassi as pelos operadores q e p.
3. Os valores possveis da energia dos estados esta ionarios s~ao os autovalores En de H ,
obtidos da equa ~ao (2.3).

4. O \momento de dipolo" asso iado a transi ~oes entre os estados esta ionarios de energia
Em e En orresponde ao elemento de matriz qnm (n ; qm ), onde m e n s~ao autovetores
de H orrespondentes a esses dois autovalores.
O esquema de Born e Jordan orresponde a essa formula ~ao na situa ~ao parti ular em que
os operadores s~ao representados na base de autovetores de H . As matrizes que representam
q e p s~ao ent~ao qnm = (n ; qm ) e pnm = (n ; pm ) e a que representa o hamiltoniano e
diagonal, Hnm = En nm . A formula ~ao mais geral, em termos de operadores, tem no entanto
a ara tersti a importante de n~ao onter qualquer referen ia essen ial a uma base espe a.
Esta independên ia de base foi amplamente explorada na formula ~ao geral da me âni a quânti a
desenvolvida por Dira e utilizada onstantemente ate hoje.
E interessante estudar tambem a dinâmi a (isto e, a dependên ia temporal das variaveis
dinâmi as) dentro deste ponto de vista mais geral. A equa ~ao de movimento matri ial (1.17)
se torna uma equa ~ao de movimento para operadores
44
dg i
= [H; g
dt h
e e fa il veri ar que essa equa ~ao admite a solu ~ao formal
i
(2.4)
g (t) = e h Ht g (0)e h Ht
onde g (0) e a ondi ~ao ini ial para o operador g (t) em t = 0. Para dar sentido as exponen iais
que ontem o operador H no expoente basta interpreta-las em termos da serie de potên ias,
e.g.
i
1 i 2
i
e h Ht = ^1 + Ht +
Ht + :::
h
2! h
onde as potên ias do operador H s~ao tambem operadores interpretados de forma natural omo
H 2 ' = H (H'), et .
Nos asos em que g (0) n~ao omuta om H , n~ao e possvel rearranjar os fatores da solu ~ao
formal de modo a simplesmente an elar as duas exponen iais. Quando [H; g (0) = 0, no
entanto, esse an elamento e possvel, e a variavel dinâmi a orrespondente ao operador g (0) e
uma onstante do movimento (independente do tempo). O proprio hamiltoniano H e laramente
uma tal onstante do movimento, o que faz om que os seus autovetores e autovalores, Eq. (2.3),
sejam tambem independentes do tempo. A matriz de Born e Jordan orrespondente ao operador
g (t), in luindo a dependên ia temporal, pode, no aso geral, ser fa ilmente re uperada dessas
equa ~oes entre operadores usando a base onstituda pelos autovetores do hamiltoniano. De
fato,

gnm (t) = n; e h Ht g (0)e h Ht m = e h (En Em )t gnm (0)

(2.5)
onde, para obter a ultima express~ao, foi usada a expans~ao em serie das exponen iais e a propriedade de hermiti idade de H , alem da equa ~ao (2.3). Uma onsequên ia importante que
pode ser inferida dessa express~ao geral e que, no aso parti ular em que g (0) e uma onstante
do movimento (isto e, no aso em que esse operador omuta om H ), os elementos de matriz
gnm (0) = (n; g (0)m ) devem ser nulos sempre que En 6= Em , pois do ontrario a matriz
fgnm(t)g dependeria do tempo.
Finalmente, e interessante observar que, denindo a partir dos autovetores n de H os
vetores dependentes do tempo
i
i
~n(t) e h Ht n = e h En t n ;
45
(2.6)
e possvel obter os mesmos elementos de matriz gnm (t) omo

gnm (t) = ~n(t); g (0)~m(t) :

(2.7)
Enquanto em (2.5) eles apare em omo elementos de matriz do operador dependente do tempo
g (t) al ulados om os vetores independentes do tempo n , m , em (2.7) eles apare em expressos
omo elementos de matriz do operador independente do tempo g (0) al ulados om os vetores
dependentes do tempo ~n(t), ~m (t). Portanto, na medida em que quantidades observaveis
asso iadas a sistemas quânti os possam ser sempre expressas em termos de tais elementos de
matriz, existe uma forma de implementar a dinâmi a, alternativa a que foi efetivamente usada
por Heisenberg, Born e Jordan, e que leva aos mesmos resultados. Essa forma alternativa
onsiste em asso iar as variaveis dinâmi as a operadores independentes do tempo, e asso iar a
dependên ia temporal das quantidades observaveis a dependên ia temporal dos vetores. Esta
deve ser tal que os autovetores de H evoluem no tempo omo pres rito em (2.6). A evolu ~ao
temporal de uma ombina ~ao linear qualquer dos vetores dessa base, Eq. (2.2), deve ser ent~ao
'~(t) =
i
i
n e h En t n = e h Ht '~(0)
(2.8)
que orresponde a equa ~ao de movimento para os vetores
d'~(t)
= H '~(t):
dt
Esta forma de implementar a dinâmi a dos sistemas quânti os foi efetivamente a que foi adotada
por S hrodinger, evidentemente por aminhos muito diferentes do que foi usado aqui. Este tem
a ver mais om a estrutura geral omum, subja ente as teorias de Heisenberg e S hrodinger,
omo exposta por Dira .
A formula ~ao da teoria quânti a em termos de um espa o vetorial passa ne essariamente,
omo foi visto, pela introdu ~ao expl ita dos vetores omo uma lasse de objetos relevantes.
Esses objetos n~ao apare em expli itamente na formula ~ao de Heisenberg, Born e Jordan, e
por isso permane eram desprovidos de interpreta ~ao na dis uss~ao pre edente. A quest~ao de
'entender de alguma forma os vetores' de que onsiste o espa o vetorial utilizado e na realidade
uma quest~ao de natureza interpretativa que n~ao foi ainda respondida, e que sera tratada omo
tal na se ~ao seguinte.
ih
2.2
Estrutura formal e interpreta

~
ao da teoria qu^
anti a.
Esta se ~ao retoma a dis uss~ao da estrutura geral da teoria quânti a de forma mais ompleta e
pre isa que a se ~ao anterior, e trata tambem das quest~oes interpretativas que foram deixadas
46
ali em aberto. Suas três partes ini iais tratam dos aspe tos inemati os da teoria (isto e, de
quest~oes omo os operadores que representam variaveis dinâmi as e o espa o vetorial em que
eles s~ao denidos) bem omo da interpreta ~ao dos varios ingredientes e de onsequên ias gerais
da estrutura algebri a adotada, entre as quais est~ao, por exemplo, as hamadas rela ~oes de
in erteza. As duas partes seguintes tratam dos aspe tos dinâmi os da teoria, em parti ular de
diferentes formas de implementar a dinâmi a, de algumas onsequên ias gerais das equa ~oes de
movimento e nalmente de alguns aspe tos relativos a pro essos de medida no âmbito da teoria
quânti a.
2.2.1 Espa os de Hilbert.

Como na se ~ao anterior, ome amos por supor que a teoria quânti a seja formulada em termos
de um espa o vetorial omplexo, em geral de dimens~ao innita, munido de um produto es alar
hermiteano. A partir deste ponto, para es rever os vetores desse espa o vamos utilizar uma
nota ~ao muito onveniente, devida a Dira , na qual um vetor generi o e indi ado pelo smbolo
j i. Vetores espe os, designados por rotulos identi adores omo ', 1 , 2, et . apare em
ent~ao sob a forma j'i, j 1 i, j 2 i, et .
A estrutura de espa o vetorial signi a que est~ao denidas opera ~oes de soma de vetores e
de produto de um vetor por um numero omplexo z . A deni ~ao dessas opera ~oes e tal que
a) A soma de dois vetores asso ia a dois vetores quaisquer j'i e j i dados um ter eiro vetor
ji = j'i + j i e satisfaz as propriedades
a1) asso iativa: j'i + (j 1 i + j 2 i) = (j'i + j 1 i) + j 2 i;

a2) omutativa: j'i + j 1 i = j 1 i + j'i;
a3) existe um vetor nulo j;i tal que j'i + j;i = j'i para todo vetor j'i;
a4) para todo vetor j'i existe um outro vetor j 'i tal que j'i + j 'i = j;i.
b) O produto de um vetor j'i por um numero omplexo z tem omo resultado um vetor
z j'i e satisfaz as propriedades
b1) \asso iativa": (z1 z2 )j'i = z1 (z2 j'i);

b2) e b3) distributivas:
(z1 + z2 )j'i = z1 j'i + z2 j'i e z (j'i + j i) = z j'i + z j i;
b4) o produto de qualquer vetor por z = 1 reproduz o mesmo vetor, 1j'i = j'i
para qualquer j'i.
47
O espa o vetorial a ser usado e tambem munido de um produto es alar, que e uma opera ~ao
que asso ia a todo par de vetores j'i, ji, um numero omplexo, o qual sera indi ado pelo
smbolo ('; ), satisfazendo as propriedades
p1) o produto es alar de um vetor j'i om a soma de dois outros ji = j 1 i+j 2 i
e igual a soma dos produtos es alares desse vetor om ada um dos vetores envolvidos
na soma: ('; ) = ('; 1 ) + ('; 2 );
p2) ('; z ) = z ('; ), sendo z um numero omplexo;
p3) ('; ) = ( ; ') , onde o asteris o indi a onjuga ~ao omplexa;
p4) para todo vetor j'i, 0 ('; ') < 1, sendo que a igualdade a zero se da se
e somente se j'i = j;i.
E laro que as propriedades p2) e p3) impli am ainda no fato importante que (z'; ) =
z ('; ). Juntamente om a propriedade p1), elas impli am a linearidade do produto es alar
om rela ~ao ao segundo argumento e o que se hama a antilinearidade om rela ~ao ao primeiro,
o que orresponde as rela ~oes
('; z1
+ z2 2 ) = z1 ('; 1 ) + z2 ('; 2 ) e (z1
+ z2 2 ; ') = z1 ( 1 ; ') + z2 ( 2 ; ').
O onjunto dessas duas propriedades e usualmente designado omo a sesquilinearidade do produto es alar. A existên ia do produto es alar permite denir uma norma para os vetores do
espa o omo
norma de j'i k'k = ('; ')1=2 :
Uma norma para os vetores de um espa o vetorial e denida em geral omo uma fun ~ao
k'k om valores reais, tendo omo argumento um vetor j'i do espa o e satisfazendo as
propriedades
n1) 0 k'k < 1 para qualquer vetor j'i, sendo que a igualdade a zero
equivale a j'i = j;i;
n2) k' + k k'k + k k para quaisquer j'i, j i;
n3) kz'k = jz jk'k, onde z
e um numero omplexo e jzj e o seu modulo,
para qualquer j'i.
E fa il veri ar que todas essas propriedades de orrem das propriedades do produto es alar
quando se usa a deni ~ao (2.9) para a norma. Isso signi a que a existên ia de um produto
es alar sempre disponibiliza uma norma. A re pro a evidentemente n~ao vale, ja mesmo
porque o produto es alar esta denido para pares de vetores diferentes. Assim, o produto
es alar implementa, por exemplo, a ideia \geometri a" de ortogonalidade de dois vetores
48
(2.9)
(atraves do anulamento de seu produto es alar), o que e evidentemente ina essvel a

partir da deni ~ao de uma norma independentemente do produto es alar. Nesse sentido,
um espa o vetorial no qual esta denida apenas uma norma para os vetores e \menos
estruturado" que um espa o vetorial munido de um produto es alar.
Uma lasse importante de objetos que e possvel denir em um espa o vetorial omplexo
e a lasse de todas as fun ~oes lineares, om valores omplexos, ujo argumento e um vetor do
espa o. A nota ~ao generi a introduzida por Dira para esses objetos e h j. Fun ~oes lineares
espe as, designadas por rotulos identi adores omo a, b, et . apare em sob a forma haj, hbj,
et . Dessa forma, o resultado da a ~ao da fun ~ao linear haj sobre o vetor j'i sera um numero
omplexo, representado por haj'i. A linearidade das h j signi a que
h j (z1 j'i + z2 j i) = z1 h j'i + z2 h j i;

isto e, o numero omplexo que resulta da apli a ~ao de uma fun ~ao linear qualquer a uma
ombina ~ao linear de vetores e a mesma ombina ~ao linear dos numeros omplexos que resultam
da apli a ~ao dessa fun ~ao a ada um dos dois vetores separadamente.
Sobre o onjunto das fun ~oes lineares pode-se denir, de forma natural, a soma (asso iativa e omutativa) de duas fun ~oes e o produto de uma fun ~ao por um numero omplexo
respe tivamente atraves das rela ~oes
(haj + hbj) j'i = haj'i + hbj'i e (z haj) j'i = z haj'i;
e tambem possvel denir uma fun ~ao nula hj atraves da rela ~ao hj'i = 0 valida para
qualquer vetor j'i; e ainda asso iar a ada fun ~ao haj uma fun ~ao h aj atraves de h aj'i =
haj'i. Disso resulta ent~ao que haj + h aj = hj. Com essas deni ~oes resulta ent~ao que o
onjunto das fun ~oes lineares sobre o espa o vetorial onsiderado tem por sua vez uma estrutura
de espa o vetorial. Este novo espa o vetorial e hamado espa o dual do espa o de partida.
Um resultado importante e a possibilidade de estabele er uma orrespondên ia biunvo a
(isto e, de um para um) entre os vetores do espa o de partida e os vetores (fun ~oes lineares) do
espa o dual, atraves do produto es alar denido no espa o de partida. De fato, para estabele er
essa orrespondên ia basta asso iar a ada vetor j'i a fun ~ao linear, a ser designada omo h'j,
tal que o seu valor em qualquer vetor j i seja igual ao produto es alar de j'i e j i. Mais
formalmente, a orrespondên ia j'i $ h'j signi a que
('; ) = h'j
para qualquer vetor j i (nesta ultima rela ~ao, no primeiro membro ' denota o vetor j'i,
enquanto no segundo membro apare e a fun ~ao linear h'j asso iada a esse vetor). O fato
49
de que a fun ~ao h'j asso iada desse modo ao vetor j'i e uni a pode ser veri ado notando
que, se uma fun ~ao linear h'0 j e tambem tal que ('; ) = h'0 j i para qualquer j i, ent~ao
h'j h'0j = h'j + h '0j = hj, que orresponde a igualdade de h'j e h'0j. E fa il tambem
veri ar que a fun ~ao linear que orresponde ao vetor nulo j;i e a fun ~ao nula hj, isto e,
j;i $ hj h;j.
A orrespondên ia biunvo a entre vetores e fun ~oes lineares obtida atraves do produto
es alar de vetores permite o uso da nota ~ao h'j i para indi ar o produto es alar dos vetores
j'i e j i. Dira hamou \bras" os vetores do espa o dual e \kets" os vetores do espa o vetorial
de partida, de modo que usando essa nota ~ao os produtos es alares apare em representados
por \bra kets" (parênteses) do tipo h'j i, que orrespondem a numeros omplexos. Essa
orrespondên ia e antilinear, no sentido que a orrespondên ia entre ombina ~oes lineares de
\kets" e \bras" apare e omo
z1 j'i + z2 j
i $ z1 h'j + z2 h j;
o que pode ser fa ilmente deduzido da sesquilinearidade do produto es alar.

Para ilustrar o uso da nota ~ao de Dira vamos usa-la para enun iar e demonstrar uma
onsequên ia geral importante da deni ~ao de produto es alar, onhe ida omo desigualdade
de S hwartz. Ela arma que, para dois vetores quaisquer j'i e j i, vale a rela ~ao
jh'j ij2 h'j'ih j i

que orresponde a j('; )j2 ('; ')( ; ) na nota ~ao introduzida ini ialmente para o produto es alar. Para demonstrar essa desigualdade basta notar ini ialmente que, em vista da
propriedade p4),
h' + z j ' + z i 0;
o que se es reve tambem omo
h'j'i + zh'j i + z h j'i + jzj2h j i 0

onde foi feito uso da linearidade dos bras e da antilinearidade da orrespondên ia entre kets e
bras. Se j i e o vetor nulo, ent~ao a desigualdade de S hwartz e valida ( omo igualdade), pois
os seus dois lados se anulam. Se no entanto j i n~ao e o vetor nulo, tomando z = h j'i=h j i
e usando tambem h j'i = h'j i resulta
h'j 'i
jh'j ij2 + jh'j ij2 0

h j i
h j i
50
donde segue tambem a desigualdade de S hwartz.

Um espa o vetorial omplexo (de dimens~ao innita), munido de um produto es alar que
dene, em parti ular, a norma dos vetores que o onstituem, e hamado espa o de Hilbert
quando dotado ainda da propriedade adi ional de ompleteza. Essa propriedade onsiste em
que toda sequên ia innita de vetores fj i ig; i = 1; 2; ::: , tal que k j i i j j ik < , om
arbitrariamente pequeno, desde que i e j sejam maiores que algum N () (tais sequên ias s~ao
hamadas sequên ias de Cau hy), tem um limite j i que e um vetor perten ente ao espa o.
No que segue vamos supor tambem que o espa o a ser onsiderado e tal que admite bases
onstitudas de um onjunto enumeravel de vetores, fng; n = 1; 2; ::: , (que e uma propriedade
onhe ida omo separabilidade). Um espa o de Hilbert separavel sera ent~ao tomado omo
o substrato natural sobre o qual pode ser desenvolvida a inemati a e a dinâmi a da teoria
quânti a.
Alem da ara teriza ~ao abstrata de espa os de Hilbert que a aba de ser des rita, e util
dispor de um exemplo, realizado em termos de objetos relativamente familiares. Um exemplo
relevante no ontexto da Me âni a Quânti a e o espa o ujos vetores s~ao fun ~oes omplexas
f (x) de uma variavel real x e de quadrado integravel, isto e
Z +1
jf (x)j2 dx < 1 :
A soma de vetores e o produto de um vetor por um numero omplexo podem ser tomadas omo
as deni ~oes usuais de soma de fun ~oes e de produto de uma fun ~ao por um numero omplexo,
e um produto es alar pode ser denido omo
(f1 ; f2 )
Z +1
f1 (x)f2 (x) dx :
Esse produto es alar leva a deni ~ao da norma de uma fun ~ao f (x) omo
kf k2 =
Z +1
jf (x)j2 dx
e a desigualdade de S hwartz assume a forma

Z +1

1

f (x)f2 (x) dx
Z +1
jf1(x)j dx
2
Z +1
jf2(x)j2 dx :
2.2.2 Operadores lineares.

Em vista de que variaveis dinâmi as s~ao realizadas, na me âni a quânti a, em termos de operadores lineares parti ulares do espa o de Hilbert que serve de substrato a inemati a da teoria,
51
esta se ~ao e dedi ada ao exame das propriedades mais relevantes dessa lasse de objetos. O
tratamento desenvolvido a seguir e su ientemente geral apenas no aso de espa os vetoriais
de dimens~ao nita, que ja se revelou insu iente para tratar ate mesmo o problema simples do
os ilador harmôni o quânti o (v. se ~ao 1.3.2). Isso signi a que situa ~oes espe iais, exigindo
um tratamento mais ompleto e mais pre iso, podem o orrer no aso de espa os de dimens~ao
innita. Para evitar a parafernalia maior de deni ~oes e autelas, frequentemente dispensavel,
do tratamento mais ompleto, vamos nos limitar a indi ar ao longo do texto alguns dos pontos
rti os em que tal tratamento pode se tornar ne essario, indi ando entre as referên ias gerais
itadas no m do aptulo textos em que ele pode ser en ontrado.
Um operador linear g num espa o de Hilbert transforma vetores desse espa o em outros vetores do mesmo espa o, g j'i = j i, e se omporta om rela ~ao as opera ~oes lineares envolvendo
vetores omo
g (z1 j'1 i + z2 j'2 i) = z1 g j'1i + z2 g j'2i:

Uma base ortonormal enumeravel fjnig; n = 1; 2; ::: do espa o permite representar vetores do
espa o em termos da ole ~ao de suas omponentes nessa base e um operador linear em termos
de uma matriz determinada atraves da a ~ao do operador sobre ada um dos elementos da base.
De fato, usando as expans~oes
j 'i =
n jni e
j i=
dn jni;
que identi am as omponentes dos vetores j'i e j i, a a ~ao de g sobre j'i pode ser representada
omo
dn =
gnm m
onde os vetores j'i e j i s~ao representados por suas respe tivas omponentes na base ortonormal
es olhida, f n g e fdng; n = 1; 2; ::: e gnm = hnj(g jmi). Devido a ortonormalidade dos vetores
da base, a norma dos vetores pode ser expressa em termos de suas omponentes omo
k'k = h'j'i 21
j nj2
!1
e uma express~ao analoga para k k. A nota ~ao hnj(g jmi) usada para os elementos da matriz
que gnm indi a expli itamente que eles orrespondem a tomar o produto es alar do vetor que
resulta da apli a ~ao de g a jmi om o vetor jni. Ela e usualmente aliviada notando que a
a ~ao de um bra (fun ~ao linear) hn j dado sobre o resultado da apli a ~ao de um operador linear
52
g tambem dado a um ket generi o j i, na realidade dene uma nova fun ~ao linear sobre os kets,
pois resulta em um numero omplexo. Denotando essa nova fun ~ao linear por (hn jg ) resulta
que
(hn jg )j i hn j(g j i)
o que permite ignorar os parênteses. Dessa forma, os elementos da matriz que representa o
operador g na base es olhida podem ser es ritos simplesmente omo gnm = hnjg jmi.
No aso de um espa o vetorial de dimens~ao nita, a a ~ao de um operador linear sobre

qualquer vetor do espa o estara bem denida sempre que a sua a ~ao sobre ada um
dos vetores de uma base esteja bem denida. Isso no entanto pode n~ao ser verdade no
aso de um espa o de dimens~ao innita. Um exemplo do tipo de problema que pode
o orrer nesse aso pode ser dado usando a representa ~ao matri ial do hamiltoniano do
os ilador harmôni o omo es rita na Eq. (1.24), onstruda em termos da base ortonormal
(innita mas enumeravel) formada pelos autovetores do hamiltoniano.
Seja ent~ao o vetor
p
representado nessa mesma base pelas omponentes m = 6=[(m + 1); m = 0; 1; 2; ::: .
Esse vetor tem norma 1, o que de orre de que
1
X
1 = 2 :
2
6
n=0 (n + 1)
A a ~ao do hamiltoniano sobre esse vetor da
p
p

1
6
6
1
dn =
Hnm m =
h!0 (n + 2 )nm (m + 1) = h!0 1 2(n + 1)
m=0
m=0
1
X
1
X
o que n~aP
o orresponde
a um vetor do espa o, pois a quantidade orrespondente a norma
1
2
diverge, n=0 jdn j = 1. Operadores desse tipo, isto e, uja a a~o sobre vetores de norma
1 podem levar a imagens om norma arbitrariamente grande, s~ao hamados operadores
n~ao limitados. Uma ara tersti a importante desses operadores, que pre isa ser levada
em onta para que o seu tratamento seja tornado mais pre iso, e a lasse de vetores
sobre os quais sua a ~ao esta bem denida, que e em geral um sub onjunto de vetores que
n~ao oin ide om o espa o todo, e que e hamado domnio do operador. O vetor a ima,
representado pelas omponentes m , esta fora dessa lasse no aso do hamiltoniano do
os ilador harmôni o.
A soma e o produto de operadores lineares pode ser denida de forma natural atraves das
rela ~oes
53
(g + h)j'i = g j'i + hj'i e (gh)j'i = g (hj'i)

e orrespondem tambem a operadores lineares. O produto de operadores e n~ao omutativo,
pois em geral g (hj'i) 6= h(g j'i), o que equivale a dizer que o omutador de dois operadores
lineares (que e por sua vez um operador linear) e em geral diferente do operador nulo ^0 (que
leva qualquer vetor ao vetor nulo), [g; h gh hg 6= ^0. O produto de um operador por um
numero omplexo tambem e denido simplesmente omo (zg )j'i = z (jg'i).
Para alguns operadores g e possvel obter operadores orrespondentes g tais que g g = gg = ^1,
onde ^1 e o operador unidade, que asso ia qualquer vetor do espa o a si proprio. Nesses asos g
e hamado operador inverso de g , es rito omo g g 1 . E fa il veri ar que se g e h s~ao dois
operadores que admitem inversos g 1 e h 1 , ent~ao o produto gh tambem admite um inverso
(gh) 1 dado por
(gh) 1 = h 1 g 1 :
Em termos da representa ~ao por matrizes, a soma, o produto e o inverso de operadores s~ao
dados em termos das opera ~oes matri iais orrespondentes.
De forma ate erto ponto paralela a usada para estabele er uma orrespondên ia entre kets
e bras atraves do produto es alar, e possvel asso iar a ada operador g outro operador g y,
hamado operador adjunto de g , atraves da rela ~ao
h'jgyj i = h jgj'i
(2.10)
para quaisquer vetores j'i e j i. Em termos de uma representa ~ao matri ial, e laro que a
matriz que representa o operador adjunto g y e a omplexo- onjugada da transposta da matriz
. Com essa deni ~ao, o bra
que representa g , isto e, (g y)nm = hnjg yjm i = hm jg jni = gmn
h'0j asso iado ao ket j'0i = gj'i, e que portanto satisfaz om qualquer j i a rela ~ao
h'0j i = h j'0i = h jgj'i = h'jgyj i;

pode ser es rito omo h'0 j = h'jg y. A deni ~ao de operador adjunto permite ainda veri ar
fa ilmente as propriedades
1) (g y)y = g ; de fato, h'j(g y)yj i = h jg yj'i = h'jg j i para quaisquer vetores
j 'i e j i;
2) (g + h)y = g y + hy ;
3) (gh)y = hy g y; de fato, h'j(gh)yj i = h jghj'i = h'jhyg yj i para quaisquer
vetores j'i e j i;
4) (zg )y = z g y; o operador zg e denido de forma natural omo o produto do
operador \multipli a ~ao pelo numero omplexo z " om g .
54
Um operador g e dito hermiteano se g y = g , e anti-hermiteano se g y = g . Operadores

hermiteanos e anti-hermiteanos s~ao em muitos aspe tos semelhantes a quantidades reais e imaginarias puras, respe tivamente, o que signi a tambem que a deni ~ao de operador adjunto
e em muitos aspe tos semelhante a uma onjuga ~ao omplexa para operadores. Assim, por
exemplo, h'jg yj'i = h'jg j'i = h'jg j'i, onde o duplo sinal orresponde a g y = g .
A deni ~ao (2.10) de operador adjunto apresenta problemas no aso de operadores n~ao
limitados, quando a a a~o do operador g n~ao esta bem denida para todos os vetores
do espa o. De fato, nesse aso o lado direito de (2.10) n~ao estara bem denido para
qualquer vetor j'i do espa o, mas apenas para vetores perten entes ao domnio de g.
Essa di uldade pode ser ontornada onsiderando o operador adjunto gy denido apenas
para vetores j i tais que a equa ~ao
h jgj'i = hj'i
admita uma uni a solu ~ao ji para qualquer j'i perten ente ao domnio de g, sendo a
deni a~o de gy ompletada ent~ao om
gy j
i = ji:
Dessa forma, o operador gy estara por sua vez denido apenas em um erto domnio de
vetores j i ondi ionado pela existên ia da solu ~ao ji. Esses fatos devem ser levados em
onta tambem na deni ~ao de operadores hermiteanos, gy = g, pois embora oin idindo
na sua a a~o sobre vetores para os quais essa a ~ao esteja denida, esses dois operadores
poder~ao ainda diferir quanto aos respe tivos domnios. E omum reservar para o aso em
que tanto as a ~oes quanto os domnios de gy e g oin idam a denomina a~o de operador
auto-adjunto.
A deni ~ao do adjunto de um operador permite ara terizar duas lasses extremamente
importantes de operadores lineares. A primeira delas e a dos hamados operadores unitarios,
identi ados pela propriedade uy = u 1 ou equivalentemente
uuy = uyu = ^1:

A a ~ao de operadores unitarios preserva o produto es alar (e portanto tambem a norma) de
vetores. De fato,
(h juy)(uj'i) = h juyuj'i = h j'i:
55
Disso resulta, em parti ular, que um operador unitario transforma uma base ortonormal em
outra base ortonormal do espa o vetorial. E possvel tambem veri ar fa ilmente que o produto
de operadores unitarios e ainda um operador unitario.
A segunda lasse de operadores e a dos hamados operadores de proje ~ao, identi ados pelas
propriedades
P y = P e P 2 P P = P:
A segunda dessas propriedades e onhe ida omo propriedade de idempotên ia. E imediato
veri ar que, se P e um operador de proje ~ao, ent~ao Q ^1 P e tambem um operador de
proje ~ao. Este segundo operador de proje ~ao e omplementar a P , no sentido que P + Q = ^1
e P Q = QP = ^0. Usando esses dois operadores, um vetor qualquer j'i do espa o pode ser
de omposto na soma de dois vetores ortogonais omo j'i = P j'i + Qj'i.
Um exemplo muito simples de operador linear, mas de o orrên ia frequente, e um objeto do
tipo
g1 2 j1 ih2 j

onde nenhum dos dois vetores j1 i e j2 i e o vetor nulo. A a ~ao deste objeto sobre um vetor
qualquer j'i e denida omo
g1 2 j'i = j1 ih2 j'i:

A linearidade de tal operador de orre diretamente da linearidade da a ~ao dos bras sobre vetores.
O seu adjunto pode ser fa ilmente obtido a partir de
h jgy 12 j'i = h'jg12 j i = (h'j1ih2j i) = h j2ih1j'i;

que vale para quaisquer vetores j'i e j i, e que portanto o identi a omo sendo
gy 1 2 = j2 ih1 j:
Isso mostra que operadores do tipo g = jihj s~ao hermiteanos. Notando ainda que
2 = jihjihj = hjig
g

resulta que
P
jihj
g
=
hji hji
56
e um operador de proje ~ao. Se, em parti ular, ji e tomado omo sendo um dos vetores jni
de norma 1 perten ente a uma base ortonormal, ent~ao
Pn j'i = jnihn j'i
(2.11)
isto e, Pn asso ia a ada vetor j'i a sua omponente ao longo do vetor jn i da base. E imediato
veri ar que a soma de varios operadores Pn , isto e
Ps
ni fsg
Pni ;
onde fsg indi a um sub onjunto qualquer de vetores da base ortonormal que tenham sido
sele ionados, e ainda um operador de proje ~ao, ujo efeito sobre um vetor qualquer j'i e
P s j 'i =
ni fsg
jni ihni j'i
isto e, ele asso ia a qualquer vetor j'i a sua omponente perten ente ao sub-espa o vetorial
gerado pelos vetores jni i sele ionados. Em parti ular, a expans~ao de um vetor qualquer j'i
na base ompleta pode ser es rita omo
j 'i =
Pn j'i =
jnihnj'i
o que mostra que o operador unidade pode ser visto omo um \operador de proje ~ao sobre o
espa o todo" que pode ser es rito sob a forma
^1 =
Pn =
jnihnj
(2.12)
que e usualmente hamada resolu ~ao da unidade em termos da base ortonormal fjnig.
2.2.3 Espe tro de operadores lineares e a interpreta ~ao da Me âni a

Quânti a.
Dado um operador linear g , se existir um vetor n~ao nulo j' i tal que valha a rela ~ao
g j' i = j' i;
(2.13)
hamada usualmente equa ~ao de autovalores, onde e um numero (em geral omplexo), ent~ao
e um autovalor de g , e j' i e um autovetor asso iado a esse autovalor. E importante notar
57
que o autovalor pode eventualmente ser zero (e nesse aso o lado direito da rela ~ao se anula),
embora seja essen ial que o autovetor n~ao seja o vetor nulo. O onteudo dessa rela ~ao pode
ser expresso em palavras dizendo que o resultado da a ~ao do operador sobre um autovetor
do operador e um vetor propor ional ao proprio autovetor, e que o autovalor asso iado ao
autovetor e a onstante de propor ionalidade entre a imagem do autovetor e ele proprio. Em
vista do arater homogêneo da equa ~ao linear (2.13), e laro que ela ara teriza o autovetor
apenas a menos de uma onstante multipli ativa omplexa (que deve no entanto ser diferente
de zero). Parte dessa ambiguidade pode ser removida impondo sobre o autovetor uma ondi ~ao
de normaliza ~ao, tipi amente h' j' i = 1. Nesse aso a ambiguidade remanes ente se reduz a
um fator omplexo de modulo 1 (fator de fase, ei ), isto e, ondi ~ao de normaliza ~ao dene o
autovetor a menos de um fator de fase.
O espe tro de um operador linear onsiste no onjunto de todos os seus autovalores. Tomando omo exemplo o aso de um operador de proje ~ao P = P y = P 2 , n~ao e dif il ver que
seu espe tro onsiste apenas de dois numeros, 1 e 0. Isso resulta diretamente da propriedade de
idempotên ia desse operador, pois essa propriedade, juntamente om a equa ~ao de autovalores
P j' i = j' i
da a ondi ~ao 2 = , que tem omo solu ~oes apenas = 1 e = 0. Esse argumento vale
evidentemente para qualquer operador de proje ~ao e n~ao serve para identi ar os autovetores
orrespondentes a ada um dos autovalores num aso espe o que esteja sendo onsiderado.
Para identi ar tambem os autovetores no aso espe o do operador Pn es rito em (2.11),
por exemplo, basta notar que, usando o operador de proje ~ao omplementar Qn = ^1 Pn ,
qualquer vetor j'i pode ser de omposto omo
j'i = Pn j'i + Qn j'i

Desse modo a equa ~ao de autovalores a
Pn j' i = (Pn j' i + Qn j' i)

ujas solu ~oes s~ao Qn j' i = 0 om = 1 ou Pn j' i = 0 om = 0. No primeiro desses asos
j' =1i deve ser propor ional a jni, e no segundo j' =0i deve ser ortogonal a jni. Enquanto
no primeiro aso o autovetor e \uni o" (a menos das ambiguidades de normaliza ~ao e fase), no
segundo aso existe uma innidade de autovetores linearmente independentes asso iados ao autovalor 0, orrespondente a innidade de vetores da base ortonormal jm i, m 6= n, ortogonais a
jni. Um autovalor ao qual orrespondem varios autovetores linearmente independentes e dito
degenerado, om grau de degeneres ên ia igual ao numero N de autovetores linearmente independentes asso iados a ele. Como qualquer ombina ~ao linear desses autovetores independentes
58
ainda e um autovetor asso iado ao mesmo autovalor degenerado, e sempre possvel es olher um
onjunto de N autovetores ortogonais para um autovalor om degeneres ên ia N (alias isso
pode ser feito de innitas maneiras). No aso do operador de proje ~ao Pn , o autovalor 0 e
innitamente degenerado.
A obten ~ao do espe tro de um operador linear de um espa o de dimens~ao innita e um
problema que pode ser bastante ompli ado e que de qualquer forma tem que ser tratado aso
a aso. Como exemplos extremos da variedade de resultados que se pode obter, basta onsiderar
os operadores representados pelas matrizes a e ay introduzidas para o tratamento do os ilador
harmôni o atraves das rela ~oes (1.20). O espe tro do operador a, de fato, e todo o plano
omplexo, ao passo que o operador ay n~ao possui nenhum autovetor, e portanto t~aopou o possui
qualquer autovalor (v. Problema 1.5). Existem, no entanto, propriedades generi as relativas
seja ao espe tro omo um todo, seja a alguma ara tersti a que ele possua, que podem ser
demonstradas para lasses parti ulares de operadores. Um primeiro exemplo disso e o fato, ja
visto, que o espe tro de operadores de proje ~ao onsiste sempre apenas dos dois autovalores
reais 1 e 0. Os autovetores orrespondentes a ada um desses autovalores (e portanto o seu
respe tivo grau de degeneres ên ia) depende no entanto do parti ular operador que esteja sendo
onsiderado, e tem que ser obtidos tambem aso a aso. Uma segunda propriedade generi a que
pode ser demonstrada e a de que os autovalores de operadores unitarios s~ao numeros omplexos
de modulo 1 (fases). De fato, se u e um operador unitario e se j' i e um seu autovetor om
autovalor , isto e,
uj' i = j' i
segue que
h' juy = h' j ;

apli ando os bras da segunda equa ~ao sobre os kets da primeira
h' juyuj' i = jj2h' j' i

de onde resulta que j j2 = 1 em vista de que uyu = ^1 devido a unitariedade de U . Uma
lasse importante de operadores unitarios e a dos operadores do tipo eig onde g e um operador
hermiteano, g = g y. A unitariedade de tais operadores resulta de que

y
eig = e
igy
=e
ig
Se ent~ao j' i e um autovetor de g om autovalor

59
= eig
1
eig j' i = ei j' i

isto e, esse mesmo autovetor e tambem autovetor do operador unitario eig om autovalor ei .
Como este ultimo autovalor deve ser uma fase, os autovalores de operadores hermiteanos s~ao
reais. De uma forma inteiramente analoga e possvel veri ar que a exponen ial eg de um operador anti-hermiteano g = g y e tambem um operador unitario, e que os autovalores de um
operador anti-hermiteano s~ao numeros imaginarios puros. A natureza dos autovalores de operadores hermiteanos e anti-hermiteanos e portanto mais uma instân ia da analogia men ionada
anteriormente om quantidades reais e imaginarias.
Existe ainda uma propriedade generi a importante que se apli a aos autovetores de operadores hermiteanos, anti-hermiteanos e unitarios, que e a de que autovetores que orrespondem
a autovalores diferentes s~ao ortogonais. No aso de um operador hermiteano g = g y, supondo
que se tenha
g j' i = j' i e g j' i = j' i;

tomando o produto es alar da primeira equa ~ao om o autovetor j' i resulta
h' jgj' i = h' j' i;

usando a hermiti idade de g , o lado esquerdo dessa equa ~ao pode ser rees rito omo
h' jgj' i = h' jgyj' i = h' jgj' i = h' j' i

onde foi usado tambem o fato de que o autovalor e real. Desse modo resulta que
h' j' i = h' j' i ou
)h' j' i = 0;
portanto, se 6= segue que h' j' i = 0. Pro edimentos analogos estendem esse resultado
tambem a operadores anti-hermiteanos e unitarios, tendo em onta a natureza dos autovalores
(numeros imaginarios puros e fases, respe tivamente) em ada aso. Para operadores unitarios
e pre iso usar o fato de que, se e j' i resolvem a equa ~ao de autovalores
uj' i = j' i
para o operador unitario u, ent~ao
h' ju = h' j;
60
que resulta imediatamente da apli a ~ao de uy sobre a equa ~ao de autovalores. De fato, isso da,
em vista da unitariedade de u,
j' i = uyj' i;
que mostra que a a ~ao de uy sobre o autovetor j' i de u equivale a multipli a ~ao pelo omplexo
onjugado da fase .
Existe uma forma de denir o espe tro de um operador linear \sem falar em autovetores".
Para hegar ao espe tro do operador g, ela se baseia na onsidera ~ao do operador g z^1,
onde z e um numero omplexo, e o espe tro e denido em termos dos valores de z nos quais
laro que quando z e igual a um autovalor
a invers~ao desse operador e problemati a. E
orrespondente a um autovetor j' i esse operador n~ao tem um inverso, pois j' i e uma
solu ~ao diferente do vetor nulo de (g ^1)j' i = 0. Este tipo de problema na invers~ao de
g z ^1 de fato esgota o repertorio de problemas no aso de espa os de dimens~ao nita, de
modo que a equivalên ia om o ponto de vista usual, \falando de autovetores", e lara.
No aso de espa os de dimens~ao innita, pode o orrer outro tipo de problema, em que o
inverso n~ao existe omo operador limitado, isto e tal que sua a ~ao sobre qualquer vetor
de norma 1 tenha norma nita. Este tipo de problema esta asso iado a existên ia de um
espe tro ontnuo de autovalores, para quais a rigor n~ao existem autovetores, no sentido
de vetores de norma nita. A forma mais simples (e por isso bastante usual, mas menos
pre isa) de tratar esse tipo de espe tro onsiste em introduzir \autovetores improprios",
de norma innita.
A importân ia dessas varias deni ~oes e propriedades para a me âni a quânti a esta ligada
diretamente ao fato de que as variaveis dinâmi as da teoria s~ao implementadas omo operadores
hermiteanos parti ulares, num espa o vetorial, em geral de dimens~ao innita. Em parti ular,
no âmbito espe o da me âni a das matrizes de Born e Jordan os valores possveis da energia
dos estados esta ionarios do sistema quânti o s~ao identi ados om o espe tro do operador hermiteano asso iado a energia total do sistema (o operador hamiltoniano para o sistema quânti o,
H ). Essa identi a ~ao pode tambem ser pensada em termos de um postulado interpretativo,
eventualmente passvel de generaliza ~ao, segundo o qual o espe tro de H deve ser interpretado
omo o onjunto de valores possveis que a energia pode assumir em estados esta ionarios. Essa
interpreta ~ao n~ao faz men ~ao aos autovetores jn i asso iados aos autovalores En de H , mas em
vista do fato que os elementos de matriz qnm = hn jq jmi do operador q asso iado a posi ~ao
orrespondem a valores de um \momento de dipolo" asso iado a transi ~oes entre os estados
esta ionarios asso iados aos autovalores En e Em , os quais apare em a representados apenas
por seus respe tivos autovetores. Isso ent~ao sugere a interpreta ~ao dos autovetores de H omo
objetos quânti os que ara terizam os estados esta ionarios do sistema. Um obvio passo seguinte e interpretar vetores mais gerais obtidos utilizando a estrutura de espa o vetorial, ou seja,
61
vetores es ritos omo ombina ~oes lineares de vetores que representam estados esta ionarios,
do tipo
j 'i =
n jn i;
tambem omo ara terizadores quânti os de estados (em geral n~ao esta ionarios) do sistema
quânti o. A quest~ao que se olo a aqui e a de que energia atribuir a esses estados mais gerais. A
resposta a essa quest~ao n~ao esta ontida na estrutura formal montada para a teoria, mas depende
de um postulado interpretativo adi ional, formulado pela primeira vez por Born, em 1926. Para
motiva-lo, vale observar ini ialmente que a asso ia ~ao de jn i ao autovalor orrespondente En
de H pode ser feita atraves da rela ~ao
En = hnjH jni
om a normaliza ~ao hnjn i = 1. Es revendo a express~ao orrespondentePpara o estado mais
geral j'i, tambem normalizado de forma que h'j'i = 1 (que orresponde a n j n j2 = 1 quando
todos os autovetores s~ao normalizados da mesma forma), resulta
hE i' h'jH j'i =
n;m
m n hm jH jni =
j nj2En
(2.14)
onde foi usada tambem a ortogonalidade dos diferentes autovetores jni. A nota ~ao hE i' foi
introduzida para sugerir a ideia de uma energia media asso iada ao vetor j'i, que apare e
nalmente omo uma media ponderada das energias dos estados esta ionarios in luidos na
ombina ~ao linear que ara teriza esse vetor, om pesos dados pelo modulo quadrado dos oe ientes n . Segundo a interpreta ~ao proposta por Born, a) o resultado de uma medi ~ao da
energia do sistema quânti o e sempre um dos autovalores de H e b) a probabilidade de obter
um parti ular resultado En e j n j2 quando o estado do sistema e des rito pelo vetor j'i. Dessa
forma o valor medio al ulado orresponde de fato a media dos resultados de um numero muito
grande de medi ~oes da energia do sistema, quando ele se en ontra nesse estado. E laro, em
parti ular, que apenas quando uma so das probabilidades j n j2 e diferente de zero (e ela deve
ent~ao ser igual a 1 pela ondi ~ao de normaliza ~ao) o resultado da medi ~ao da energia pode ser
previsto \ om probabilidade 1". Nesse aso o sistema se en ontrara no orrespondente estado
esta ionario.
O al ulo dessas probabilidades quânti as pode ser manejado de forma muito onveniente
atraves do uso de operadores de proje ~ao. De fato, e fa il ver que
j nj2 = h'jnihnj'i = h'jPn j'i

62
om Pn = jnihnj
om todos os estados devidamente normalizados, sendo ent~ao Pn um operador de proje ~ao.
Essa quantidade orresponde a probabilidade de obter o autovalor En numa medi ~ao da energia, supondo que esse autovalor n~ao seja degenerado. No aso em que ele tiver degeneres en ia
N havera N autovetores jn;k i, k = 1; :::; N linearmente independentes (que podem ser tomados omo sendo ortogonais e devidamente normalizados) asso iados a En , e nesse aso a
probabilidade de obte-lo sera dada por
N
X
k=1
j n;k j2 = h'jPnj'i
onde agora
Pn =
N
X
k=1
jn;k ihn;kj;
(2.15)
ainda um operador de proje ~ao. Embora o onjunto de N vetores ortonormais jn;k i, k =

1; :::; N possa ser es olhido de innitas maneiras diferentes, isso n~ao afeta a uni idade do operador de proje ~ao Pn , e portanto t~aopou o a do quadrado da norma da proje ~ao Pn j'i, que
orresponde a probabilidade asso iada ao autovalor En nesse aso.
A hamada interpreta ~ao probabilsti a da teoria quânti a, devida a Max Born, onsiste
numa generaliza ~ao mais ou menos direta dessas ideias a todas as variaveis dinâmi as. Nela, o
espa o de Hilbert que serve de substrato a teoria desempenha um papel analogo ao espa o de
fases da teoria lassi a, no sentido que diferentes vetores desse espa o orrespondem a diferentes
estados do sistema quânti o. Eles s~ao por isso frequentemente hamados vetores de estado. Os
valores que e possvel obter numa medi ~ao de qualquer variavel dinâmi a g s~ao aqueles que
perten em ao espe tro do operador asso iado a variavel dinâmi a onsiderada. O arater hermiteano desse operador garante a realidade dos autovalores e portanto do resultado da medi ~ao.
A probabilidade de obter um determinado autovalor de g numa medi ~ao, quando o sistema
se en ontra em um estado des rito por um vetor de estado j i dado, pode ser al ulada omo
h jP j i, onde P e o operador de proje ~ao sobre o autovetor (ou autovetores independentes,
no aso de um autovalor degenerado) asso iado(s) a . E importante ter sempre em vista o
fato de que, no ontexto da interpreta ~ao de Born, os vetores de estado s~ao entendidos omo
devidamente normalizados, e que a modi a ~ao de um vetor apenas atraves de um fator de
fase n~ao afeta as quantidades si amente relevantes, que se exprimem em termos de modulos
quadrados. Assim, \vetores diferentes", no sentido de vetores de estado diferentes, signi a a
rigor vetores normalizados que diferem mais que por um fator de fase apenas. Isso em parti ular
torna a indetermina ~ao dos autovetores, devida ao arater linear e homogêneo das equa ~oes de
autovalores, irrelevante para ns da interpreta ~ao.
63
Uma outra forma de exprimir passagem a interpreta ~ao probabilsti a geral, tendo em vista
a asso ia ~ao de vetores a estados do sistema, e interpretar a quantidade j nj2 = jhnj'ij2 na
equa ~ao (2.14) omo a probabilidade de que o sistema esteja no estado jni (no qual a energia
tem o valor bem denido En ), dado que ele se en ontra no estado j'i (ou vi e versa). Essa forma
da interpreta ~ao pode ent~ao ser estendida a dois estados normalizados quaisquer j'i e j i, um
dos quais pode em parti ular ser um dos autovetores de alguma variavel dinâmi a, interpretado
por sua vez omo estado em que essa variavel tem um valor bem denido. Essa formula ~ao
exp~oe laramente a onsequên ia pe uliar de que, alem do fato de as variaveis dinâmi as n~ao
terem em geral valores bem denidos em estados quânti os ompletamente espe i ados pelos
respe tivos vetores de estado, as propriedades \estar no estado j'i" e \estar no estado j i" n~ao
se ex luem mutuamente para estados diferentes, a menos do aso parti ular em que eles sejam
ortogonais.
Para que essa interpreta ~ao probabilsti a da me âni a quânti a seja uma interpreta ~ao
ompleta, no sentido de poder ser apli ada a vetores de estado e variaveis dinâmi as quaisquer,
e laro que e pre iso que qualquer vetor de estado possa ser analisado em termos dos autovetores do operador orrespondente a qualquer variavel dinâmi a. Essa ondi ~ao n~ao apresenta
qualquer problema no aso espe ial de espa os vetoriais de dimens~ao nita D, pois nesse aso se pode mostrar que o espe tro de qualquer operador hermiteano onsiste sempre de um
onjunto dis reto de D numeros reais (n~ao ne essariamente diferentes devido a possibilidade
de o orrên ia de autovalores degenerados) aos quais se pode sempre asso iar uma base ortonormal de D autovetores. No aso de haver autovalores degenerados essa base apenas n~ao e
uni a (alem da ambiguidade irrelevante de fases), sem que no entanto isso afete o al ulo de
probabilidades de obten ~ao de ada um dos autovalores, as quais dependem na realidade de
operadores de proje ~ao omo (2.15). No aso de espa os de dimens~ao innita, a hermiti idade
do operador (ou mais pre isamente, seu arater auto-adjunto) n~ao e su iente para garantir a
existên ia de uma base de autovetores. Isso levou Dira a distinguir, omo uma lasse espe ial
de operadores hermiteanos de espa os de dimens~ao innita, aqueles que permitem a analise de
vetores de estado quaisquer em moldes essen ialmente iguais aos que se apli am a operadores
hermiteanos em espa os de dimens~ao nita, dando-lhes o rotulo espe ial de observaveis.1 Essa
distin ~ao por si so n~ao resolve porem ompletamente o problema pois, no aso de espa os de
dimens~ao innita, o espe tro dos observaveis pode ser par ial ou ate totalmente ontnuo (o
que orresponde a variaveis dinâmi as para as quais os possveis resultados de medi ~oes n~ao
se restringem a um onjunto dis reto de valores, mas pelo ontrario obrem intervalos reais
ontnuos), e nesse aso ha problemas espe iais de normaliza ~ao que afetam os 'autovetores'
orrespondentes.
A referên ia expl ita a observaveis om este sentido apare e pela primeira vez na segunda edi a~o dos The
Prin iples of Quantum Me hani s, datada de 1934, e e desde ent~ao amplamente adotada.
1
64
Para identi ar esses problemas de normaliza ~ao, e tambem para mostrar um modo efetivo
de ontorna-los (tambem devido a Dira ), e onveniente onsiderar ini ialmente o aso possvel
de um observavel g = g y om espe tro puramente ontnuo min < < max. Chamando j i
os 'autovetores' orrespondentes aos autovalores , da mesma forma que no aso do espe tro
dis reto pode-se ver que h 0 j i = 0 sempre que 0 6= . A ompleteza dos àutovetores'
apropriadamente normalizados do espe tro ontnuo exprime-se formalmente atraves de uma
resolu ~ao da unidade orrespondente a (2.12) que pode ser es rita omo
^1 =
Z max
j i d h j;
min
(2.16)
sendo o sentido dessa integral expli itado omo signi ando que o produto es alar de dois
vetores j'i e j i quaisquer do espa o vetorial pode ser es rito omo
h j 'i =
Z max
min
h j ih j'i d
o que mostra que as fun ~oes da variavel ontnua que apare em no integrando, ( ) h j'i
e d ( ) h j i efetivamente representam os vetores j'i e j i em termos dos àutovetores' do
espe tro ontnuo. Em parti ular, a norma de j'i e dada por
k'k2 =
Z max
min
j ( )j2 d ;
o que mostra que o arater nito da norma impli a que as fun ~oes representativas sejam fun ~oes
de quadrado integravel denidas sobre o espe tro ontnuo. Finalmente, e pre iso expli itar a
ondi ~ao de normaliza ~ao envolvida na validade de (2.16). Para identi a-la, basta utilizar essa
mesma resolu ~ao da unidade em
h j'i = h j^1j'i =
Z max
min
h j0 ih0 j'i d 0
onde a variavel de integra ~ao apare e es rita omo 0 . Dessa rela ~ao e laro que a normaliza ~ao
dos autovetores do espe tro ontnuo deve ser tomada omo sendo
h j 0 i ! ( 0 )
(2.17)
onde a ultima fun ~ao e a fun ~ao delta de Dira . Os àutovetores' j i n~ao têm, portanto, norma
nita, e portanto n~ao s~ao, a rigor, vetores do espa o de Hilbert, embora possam, n~ao obstante
seu arater \improprio", ser utilizados essen ialmente em pe de igualdade om os objetos de
65
melhor linhagem num grande numero de situa ~oes, algumas das quais s~ao exempli adas a
seguir2
E fa il veri ar que, usando a normaliza ~ao (2.17), o operador
P

j i d h j;
onde a integra ~ao e limitada a um sub-intervalo (ou onjunto de sub-intervalos) do espe tro
de g , e um operador de proje ~ao. O sentido dessa integral e inteiramente analogo ao da que
apare e em (2.16). Supondo que j'i seja um vetor de estado normalizado, isto e, k'k = 1, a
quantidade
h'jPj'i =
h'j ih j'i d =

j ( )j2 d
deve ser interpretada omo a probabilidade de obter valores de perten entes a numa medi ~ao
de g , dado que o sistema se en ontre no estado des rito por j'i. Isso mostra que, no aso do
espe tro ontnuo, jh j'ij2 = j ( )j2 tem o signi ado de uma densidade de probabilidade
O ponto de vista de Dira foi desde o in io riti ado por von Neumann, a quem se deve uma apresenta a~o
alternativa mas igualmente lassi a da \teoria das transforma o~es", dentro de padr~oes matemati amente \menos
objetaveis" (John von Neumann, Mathemati al Foundations of Quantum Me hani s, Trad. Robert T. Beyer,
Prin eton University Press 1955). No prefa io a esse livro von Neumann diz
2
Dira , in several papers, as well as in his re ently published book, has given a representation of
quantum me hani s whi h is s ar ely to be surpassed in brevity and elegan e, and whi h is at the
same time of invariant hara ter. It is therefore perhaps tting to advan e a few arguments on
behalf of our method, whi h deviates onsiderably from that of Dira .
The method of Dira ...in no way satises the requirements of mathemati al rigor { not even if
these are redu ed in a natural and proper fashion to the extent ommon elsewhere in theoreti al
physi s. ... There would be no obje tion here if these [\improper" on epts...were intrinsi ally
ne essary for the physi al theory. ... But this is by no means the ase. ... It should be emphasized
that the orre t stru ture need not onsist in a mathemati al renement and explanation of the
Dira method, but rather that it requires a pro edure diering from the very beginning, namely,
the relian e on the Hilbert theory of operators.
A edi a~o original, em alem~ao, do livro de von Neumann foi publi ada em 1932. O prefa io do autor (n~ao
datado) que apare e na tradu a~o de 1955, de onde foram extrados os tre hos a ima, faz referên ia, no entanto,
a edi a~o de 1936 do The Prin iples... de Dira , e deve ter sido portanto es rito posteriormente a essa primeira
edi a~o de 1932.
Um testemunho interessante das idas e vindas on eituais a que esta sujeito, inevitavelmente, o pro esso,
sempre aberto, de elabora a~o de uma teoria e en ontrado em uma arta de von Neumann ao matemati o Garret
Birkho, datada de uma quarta-feira, 13 de Novembro (presumivelmente de 1935), itada pelo seu destinatario
em artigo publi ado nos Pro . Symp. Pure Math., Ameri an Mathemati al So iety (1961), vol. II, pag. 155.
Nela von Neumann es reve, om rela a~o a me âni a quânti a:
66
denida sobre o espe tro ontnuo. Ao ontrario do que a onte e em geral no aso de espe tros
dis retos, a probabilidade de obter um valor dado e zero.
Em geral, o espe tro de um observavel g num espa o de dimens~ao innita e em parte
dis reto e em parte ontnuo. A ompleteza dos seus autovetores, proprios e improprios, que
o ara teriza omo observavel, pode ser expressa em termos de uma resolu ~ao da unidade do
tipo
^1 =
jnihnj + j i d h j
om as ondi ~oes hm jn i = mn e h j 0 i = ( 0 ) respe tivamente para os autovetores

proprios do espe tro dis reto e para os improprios do espe tro ontnuo. Na parte referente
ao espe tro ontnuo o domnio de integra ~ao e a parte ontnua do espe tro do observavel
onsiderado. Usando essa resolu ~ao da unidade, um vetor de estado qualquer j'i pode ser
expresso de forma simples e util em termos de uma 'fun ~ao', em parte dis reta e em parte
ontnua, denida sobre o espe tro do observavel g onsiderado. A orrespondên ia entre
estados e 'fun ~oes' e dada por
j 'i !
hnj'i = n
h j'i = ( )
(espe tro dis reto)

(espe tro ontnuo) :
I would like to make a onfession whi h may seem immoral: I do not believe absolutely in Hilbert
spa e any more. After all Hilbert spa e (as far as quantum-me hani al things are on erned) was
obtained by generalizing Eu lidean spa e, footing on the prin iple of ` onserving the validity of all
formal rules'....Now we begin to believe, that it is not the ve tors whi h matter, but the latti e of all
linear ( losed) subspa es. Be ause (1) The ve tors ought to represent the physi al states, but they
do it redundantly, up to a omplex fa tor, only, (2) and besides, the states are merely a derived
notion, the primitive (phenomenologi ally given) notion being the qualities, whi h orrespond to
the linear losed subspa es. But if we wish to generalize the latti e of all linear losed subspa es
from a Eu lidean spa e to innitely many dimensions, then one does not obtais Hilbert spa e, but
that onguration, whi h Murray and I alled ` ase II1 '. (The latti e of all linear losed subspa es
of Hilbert spa e is our ` ase I '.)
1
Birkho hega a sugerir em 1961, a proposito dessa ita a~o, alguma aproxima a~o de seu onteudo om o ponto
de vista de Dira , dizendo que
... many physi ists do not make any expli it te hni al use of the innite-dimensional hara ter of
Hilbert spa e. For example, though mathemati ians might like to interpret the \bras" and \kets"
of Dira as ve tors in Hilbert spa e and its dual, and his \observables" as self-adjoint operators,
there is no eviden e that Dira himself thinks them in this way. Thus, he makes no eort to t
his delta-fun tion onsistently into a Hilbert spa e framework - nor is it obvious how he ould.
67
Em termos dessas fun ~oes, o resultado da a ~ao do operador g sobre o estado j'i orresponde
a uma nova fun ~ao que pode ser fa ilmente identi ada al ulando hn jg j'i e h jg j'i. Tendo
em onta a hermiti idade de g , isso leva ao resultado
g j 'i
hnjgj'i = nhnj'i = n n
h jgj'i = h j'i = ( )
(espe tro dis reto)

(espe tro ontnuo)
que e usualmente expresso dizendo que o observavel que deu origem a resolu ~ao da unidade
age omo um operador de multipli a ~ao sobre as fun ~oes que representam os vetores de estado
atraves dessa mesma resolu ~ao da unidade.
2.2.4 Compatibilidade de observaveis e rela ~oes de in erteza.

No ontexto da interpreta ~ao probabilsti a exposta na se ~ao 2.2.3, um observavel so tem um
valor bem denido para um dado estado de um sistema quando o vetor que ara teriza esse
estado e um autovetor do observavel em quest~ao. Isso signi a que, para que dois observaveis
possam ter simultaneamente valores bem denidos, e pre iso que o estado do sistema seja
laro que a existên ia de
simultaneamente um autovetor desses dois variaveis observaveis. E
estados parti ulares om essa propriedade relativamente a dois (ou mais) observaveis dados
depende dos observaveis que estejam sendo onsiderados e deve ser estudada aso a aso. No
entanto, e possvel obter ondi ~oes simples sob as quais dois (ou mais) observaveis admitam um
onjunto ompleto de autovetores omuns. Observaveis om essa propriedade s~ao hamados,
por raz~oes obvias, observaveis ompatveis.
Sejam, de fato dois observaveis g e h (que, por simpli idade, ser~ao supostos omo tendo
espe tro puramente dis reto) dotados de um onjunto ompleto de autovetores omuns jni,
isto e
g jni = njn i e hjn i = n jni:

Nesse aso
ghjni = gn jni = n n jni = h n jni = hg jni

de modo que (gh hg )jni = 0 para todos os autovetores jni. Como esses autovetores formam
um onjunto ompleto, segue que g e h omutam, isto e, [g; h = 0.
Re ipro amente, se g e h omutam, e usando o onjunto ompleto de autovetores de h om
autovalores n ,
hg jni = ghjni = n g jni;

68
isto e, g jni e tambem um autovetor de h om o mesmo autovalor n . Para analisar ompletamente as impli a ~oes disso e pre iso onsiderar três asos:
i) g jni e o vetor nulo j;i. Dado que jni n~ao e nulo, pois e autovetor de h, segue que esse
vetor e tambem autovetor de g om autovalor zero.
ii) g jni n~ao e nulo, e o autovalor n de h n~ao e degenerado. Isso signi a que o autovetor
jni asso iado a esse autovalor e uni o, e portanto gjni deve ser propor ional a esse autovetor,
sendo ent~ao tambem um autovetor de g .
iii) g jni n~ao e nulo, e o autovalor n de h tem degeneres ên ia n. Nesse aso existem
n autovetores ortogonais jnk i; k = 1; :::; n om esse mesmo autovalor, e os vetores g jnj i
podem ser es ritos, para ada um dos valores de j , omo ombina ~oes lineares dos jnk i, isto e
g jnj i =
n
X
k=1
jk jnk i:
Os oe ientes jk denem ent~ao uma matriz hermiteana de dimens~ao n de uja diagonaliza ~ao
resultam n autovetores simultâneos de h e g . Os autovalores orrespondentes de h s~ao evidentemente todos iguais a n , enquanto os autovalores de g s~ao os autovalores da matriz f jk g. Isso
mostra portanto que dois observaveis g e h têm um onjunto ompleto de autovetores omuns
(isto e, s~ao ompatveis) se e somente se eles omutam, [g; h = 0.
Com rela ~ao ao aso iii), em que o autovalor n de h e degenerado, deve ser notado que
os autovalores nk da matriz f jk g, que orrespondem aos autovalores de g para os autovetores
omuns dos dois operadores poder~ao ter graus de degeneres ên ia menores que n , ou poder~ao
ate mesmo ser todos distintos. Neste ultimo aso, a espe i a ~ao dos autovalores n de h e nk
de g identi am ompletamente um uni o vetor de estado, pois a espe i a ~ao do autovalor de
g remove ompletamente a ambiguidade devida a degeneres ên ia de n .
Esse resultado pode evidentemente ser estendido para mais de dois operadores. Uma famlia
de observaveis g; h; l; ::: e dita ompatvel se os observaveis que a onstituem omutam entre si
quando tomados dois a dois em todas as possveis ombina ~oes. Nesse aso existe um onjunto
ompleto de autovetores omuns a todos os observaveis da famlia. Se a espe i a ~ao dos autovalores orrespondente a ada um dos observaveis identi a ompletamente um uni o vetor de
estado (isto e, a espe i a ~ao dos autovalores dos diferentes observaveis elimina ompletamente
as eventuais ambiguidades asso iadas a degeneres ên ias presentes em ada um dos espe tros),
ent~ao a famlia e designada omo onjunto ompleto de observaveis ompatveis ou ainda omo
observa ~ao maximal. Um uni o observavel om espe tro n~ao degenerado onstitui por si so
uma observa ~ao maximal: o vetor de estado do sistema esta univo amente determinado se o
observavel tem um valor bem denido.
Quando um dado observavel g n~ao tem um valor bem denido para um determinado vetor
de estado j'i, isto e, esse vetor se exprime omo uma ombina ~ao linear de varios autovetores
69
jni de g asso iados a autovalores n diferentes, e onveniente dispor de uma quantidade que
expresse quantitativamente a indeni ~ao do valor de g em j'i. De a ordo om a interpreta ~ao
estatsti a, a indeni ~ao provem da asso ia ~ao de probabilidades n~ao nulas pn jhn j'ij2 a
autovalores n diferentes. Desse modo, alem do valor medio do observavel que, supondo o vetor
de estado normalizado, k'k = 1, se exprime omo
hg i'
pn n = h'jg j'i;
e possvel al ular tambem o desvio quadrati o medio
g(')2
pn n2
pn n
!2
= h'j g 2 j 'i
h'jgj'i2
(2.18)
omo medida da indeni ~ao de g no estado j'i. Essa e uma quantidade n~ao negativa, omo pode ser veri ado a partir da desigualdade de S hwartz, que permite es rever, usando a
hermiti idade de g ,
h'jgj'i2 = jh'jgj'ij2 h'j'ih'jg2j'i:

O desvio quadrati o medio se anula quando essa desigualdade vale omo igualdade. Para ver o
que isso signi a, introduzindo os operadores de proje ~ao P' j'ih'j e Q' ^1 P' e possvel
es rever em geral
h'jg2j'i = h'jgP'gj'i + h'jgQ'gj'i

o que mostra que para que a desigualdade valha omo igualdade deve-se ter
h'jgQ'gj'i = h'jgQ2'gj'i = 0
ou seja, Q' g j'i, que e a omponente de g j'i ortogonal a j'i, tem norma nula, e portanto
g j'i = j'ih'jg j'i, isto e, j'i e autovetor de g .
Uma forma util de exprimir o desvio quadrati o medio g(') onsiste em introduzir o operador
'deslo ado'
g(') g
h'jgj'i ^1
pois isso permite es reve-lo simplesmente omo
g(')2 = h'jg(2') j'i:

70
Considerando agora os desvios quadrati os medios no estado j'i, g2(') e h2(') , de dois observaveis g e h, n~ao ne essariamente ompatveis, resulta, usando mais uma vez a desigualdade
de S hwartz, que o produto g2(') h2(') satisfaz a desigualdade es rita em termos dos operadores
deslo ados
g(')2 h(')2 = h'jg(2') j'ih'jh2(') j'i jh'jg(')h(') j'ij2:

O valor esperado do produto g(') h(') e em geral omplexo se esses operadores n~ao omutam,
donde segue que
jh'jg(')h(') j'ij2 =
2
2
Reh'jg(') h(') j'i + Imh'jg(') h(') j'i
2
Imh'jg(') h(') j'i : (2.19)
Usando a hermiti idade de g e h, esta ultima quantidade pode ser expressa em termos do
omutador desses dois operadores. De fato

1
h
'jg(') h(') j'i h'jg(') h(') j'i
2i

1
h
'jg(') h(') j'i h'jh(') g(') j'i
=
2i
h'j[g('); h(') j'i = h'j[g; hj'i
=
2i
2i
Imh'jg(') h(') j'i =
donde se obtem a desigualdade
g(') h(')

h'j[g;2ihj'i :
(2.20)
Essa rela ~ao da um limite inferior para o produto dos desvios quadrati os medios asso iados a
dois observaveis num estado quânti o j'i em termos do valor medio nesse estado do omutador
dos operadores asso iados a esses observaveis, e pode portanto ser vista omo uma rela ~ao
geral de in erteza. E importante notar que esse limite inferior em geral depende do estado
onsiderado. Ele pode, em parti ular, ser zero mesmo no aso em que os observaveis n~ao
sejam ompatveis, omo o orre, por exemplo, no aso em que j'i e autovetor de um dos
observaveis. Existe porem uma situa ~ao em que essa rela ~ao geral de in erteza impli a numa
limita ~ao independente do estado onsiderado para o produto dos desvios quadrati os medios.
Ela orresponde ao aso em que o omutador [g; h e um multiplo da unidade. Isso o orre
notadamente no aso dos operadores asso iados a oordenada e ao seu momento onjugado,
que devem satisfazer a rela ~ao de omuta ~ao de Heisenberg, Born e Jordan
71
h
[p; q = ^1
i
que leva a rela ~ao de in erteza de Heisenberg
h
p q
2
que signi a que para qualquer vetor de estado o produto p q e sempre maior que h =2. Os
estados para os quais essa ultima desigualdade vale omo igualdade s~ao por isso hamados
estados de in erteza mnima.
O leitor atento podera ter sentido um erto des onforto om a arbitrariedade envolvida
na elimina ~ao do quadrado de uma parte real na quantidade('dada
pela
desigualdade de
)2
(')2
S hwartz omo limite inferior para o produto das varian as g e h na ultima passagem de (2.19), e notado que, a rigor, esse passo de fato restringe o onjunto de estados de
in erteza mnima, pois para que a rela ~ao de in erteza de Heisenberg valha omo igualdade
e pre iso n~ao apenas que a desigualdade de S hwartz valha omo igualdade mas tambem
que o quadrado de parte real desprezado se anule. Pre isamente esse mesmo passo foi
dis utido de forma mais ompleta por S hrodinger em uma omuni a ~ao pou o onhe ida
a A ademia de Ciên ias da Prussia, datada de 19303 . Nessa omuni a ~ao S hrodinger
onserva a ontribui ~ao da parte real, sendo portanto levado a desigualdade

12
0

j
'
i
h
'
j
g
h
+
h
g
h'j[g; hj'i 2
(
'
)
(
'
)
(
'
)
(
'
)
(')2
(
'
)2

A
+ 2
g h
2
que interpreta omo estabele endo uma rela a~o entre três quantidades, a saber 1. o
produto dos quadrados dos desvios quadrati os medios, 2. o modulo quadrado da metade
do valor medio do omutador e 3. \uma quantidade que pode ser denida omo o quadrado
do desvio medio do produto, om a ondi ~ao de que a n~ao omutatividade seja levada em
onta, isto e, o desvio medio do produto deve ser denido omo a media aritmeti a de
h'jg(') h(') j'i e h'jh(') g(') j'i
que s~ao as express~oes `mistas' ompletamente analogas a g(')2 e h(')2 ". Esta ter eira
quantidade re ebe hoje o nome de ovarian a de g e h em j'i. Designando-a omo gh(')2
e denindo a matriz de ovarian a
E. S hrodinger, Pro eedings of the Prussian A ademy of S ien es XIX, pp. 296-303 (1930), reproduzida em

Erwin S hrodinger, Gesammelte Abhandlungen, Band 3, Verlag der Osterrei hs hen
Akkademie der Wissens3
haften, Wien, pp. 348-356 (1984). Uma tradu a~o para o inglês, anotada, dessa ontribui a~o foi preparada por
A. Angelow e M.-C. Batoni, \em honra ao septuagesimo aniversario da Rela a~o de In erteza de S hrodinger".
72
g;h
(')
g(')2 gh
(')
h(')2
hg
1
A
e fa il veri ar que a rela ~ao geral de in erteza de S hrodinger pode ser es rita em termos
do determinante de g;h omo
det(g;h) h'j[g;2hj'i
(2.21)
e a forma geral dessa rela ~ao, no aso das variaveis p e q, satisfazendo as rela ~oes de
omuta ~ao de Heisenberg, Born e Jordan, e dada por
det (g;h) h2 :
Essa rela ~ao difere da rela ~ao de in erteza de Heisenberg por termos que envolvem a ovarian a pq(') . S hrodinger observa ainda que na teoria lassi a das utua ~oes estatsti as
o anulamento da ovarian a e uma ondi ~ao ne essaria (mas n~ao su iente) para a independên ia estatsti a das utua ~oes de ada uma das variaveis, e que mesmo no aso de
variaveis dinâmi as quânti as anôni amente onjugadas (isto e, satisfazendo rela o~es de
omuta ~ao do tipo da rela ~ao de Heisenberg, Born e Jordan para p e q), existem vetores
de estado j'i para os quais a ovarian a n~ao e nula, indi ando a presen a de orrela ~oes
entre as respe tivas utua o~es quânti as. Um exemplo on reto disso sera en ontrado e
dis utido mais adiante, v. se ~ao 3.3.3.
2
Finalmente, e importante n~ao perder de vista o fato de que o grau de indeni ~ao do valor
de um observavel num dado estado j'i, medido pelo desvio quadrati o medio (') , exprime
uma ara tersti a da distribui ~ao de probabilidades sobre o espe tro do observavel, al ulada
a partir desse estado e dos autovetores jni do observavel omo fpn jhnj'ij2 g. Segundo os
postulados interpretativos, o valor obtido em ada medi ~ao deve ser sempre um dos autovalores
do observavel. No aso de um estado om desvio quadrati o medio su ientemente pequeno e
de um observavel om espe tro dis reto ele podera diferir do valor medio (que, por outro lado,
em geral diferira dos autovalores) por uma quantidade ne essariamente maior que o desvio
al ulado. O fato de que o desvio e, nesse sentido, pequeno, re ete apenas o fato de que a
probabilidade predita para a obten ~ao de autovalores muito dis repantes da media e tambem
pequena.
73
2.2.5 Muitos graus de liberdade, espa os produto e

sistemas ompostos.
A situa ~ao onsiderada nas se ~oes pre edentes orresponde, a rigor, a de um sistema quânti o
ujo analogo lassi o tem um uni o grau de liberdade, ao qual est~ao asso iadas as variaveis
anôni as de posi ~ao q e momento p. O espa o de fases quânti o orrespondente e um espa o
de Hilbert no qual essas variaveis anôni as s~ao implementadas omo operadores hermiteanos
satisfazendo as rela ~oes de omuta ~ao de Heisenberg, Born e Jordan [q; p = ih . Os estados
j'i desse sistema quânti o s~ao representados por vetores de norma 1 desse espa o, podendo ser
expressos em termos de um onjunto ortonormal e ompleto de vetores de base fjnign=1;2;:::
omo
j 'i =
n jn i;
j nj2 = 1:
Para tratar sistemas ujo analogo lassi o envolve mais que um grau de liberdade e pre iso,
portanto, estender de forma apropriada o tratamento onsiderado ate aqui. Um ponto de vista
alternativo, que em muitas situa ~oes pode ser n~ao apenas onveniente mas tambem natural,
onsiste em onsiderar esses sistemas omo onstitudos de varios sub-sistemas. Isso e analogo
a possibilidade de onsiderar, por exemplo, o problema ( lassi o) de uma part ula em duas
dimens~oes omo um problema de duas part ulas em uma uni a dimens~ao, tomando ada uma
delas omo um \sub-sistema"; alternativamente, o problema de duas part ulas em três dimens~oes pode tambem ser visto omo o problema de uma uni a part ula em seis dimens~oes.
A eventual arti ialidade da separa ~ao em subsistemas no primeiro aso apare e, no segundo
aso, asso iada ao tratamento dos dois subsistemas de uma part ula omo um sistema uni o.
Alem disso, a propria identi a ~ao dos subsistemas envolve arbitrariedades, omo pode ser
visto des revendo o sistema de duas part ulas em termos de variaveis de entro de massa e
relativas, e notando que estas ultimas variaveis podem tambem ser utilizadas para denir os
subsistemas. O tratamento que segue sera, por simpli idade, limitado a dois subsistemas, ou
graus de liberdade, apenas. As ideias gerais envolvidas nesse aso se estendem imediatamente,
no entanto, para o aso de um numero nito qualquer de graus de liberdade.
Para um sistema quânti o om dois graus de liberdade (ou onstitudo de dois sub-sistemas
de um grau de liberdade) existem duas variaveis anôni as de posi ~ao, q1 e q2 , as quais est~ao
asso iados respe tivamente momentos p1 e p2 . Essas variaveis devem ser implementadas em
termos de operadores hermiteanos em um espa o de Hilbert H que desempenha o papel de
espa o de fases do sistema. Uma quest~ao a ser onsiderada, portanto, e a rela ~ao existente
entre esse espa o de fases e os espa os de Hilbert H1 e H2 que orrespondem a ada um
dos sub-sistemas quando onsiderado isoladamente. Outra quest~ao diz respeito as rela ~oes
de omuta ~ao que devem ser impostas entre os operadores qj e pj , orrespondentes as que se
74
apli am ao aso de um uni o grau de liberdade, mas que agora envolvem os dois pares de
variaveis anôni as.
Quanto a primeira quest~ao, e razoavel supor que o espa o de Hilbert orrespondente ao
onjunto de dois subsistemas in lua entre os seus vetores alguns que orrespondem a estados
quânti os bem denidos de ada um deles, des ritos respe tivamente por parti ulares vetores
j'i de H1 e j i de H2. Esses vetores parti ulares ser~ao es ritos omo j'i
j i, e designados
omo produto tensorial dos dois vetores j'i e j i. E laro, no entanto, que o onjunto de todos
os objetos desse tipo n~ao onstitui um espa o linear, pois ombina ~oes lineares de produtos
tensoriais de dois vetores em geral n~ao s~ao, por sua vez, produtos tensoriais de dois vetores. De
fato, onsiderando, por exemplo, a ombina ~ao linear
j 1;2i z1 j'1i
j 1i + z2 j'2i
j 2 i;
j'1i 6= j'2i; j 1 i 6= j 2i; z1 ; z2 6= 0

n~ao orresponde a nenhum objeto do tipo j'i
j i om j'i em H1 e j i em H2 . Na realidade, a
om
forma mais simples de onstruir um espa o de Hilbert que ontenha, em parti ular, os produtos
tensoriais de vetores de H1 e H2 omo vetores e tomar alguma base (por onveniên ia ortonormal) fn gn=1;2;::: de H1 e tambem alguma base (ortonormal) fk gk=1;2;::: de H2 , e tomar para
o espa o de Hilbert H do sistema onjunto o espa o gerado pela base formada pelos produtos
tensoriais
fjn;k ign;k=1;2;::: fjni

jk ign;k=1;2;::::
O espa o assim onstrudo e hamado produto tensorial dos espa os H1 e H2 , o que e designado
pela nota ~ao H = H1
H2 , e a base fjn;k ign;k=1;2;::: e hamada a base produto das duas bases
fngn=1;2;::: e fk gk=1;2;:::. Os vetores do espa o produto H s~ao expressos em termos da base
produto omo
j i=
n;k
n;k jn;k i =
n;k
n;k jni
jk i;
n;k
j n;k j2 = 1
(2.22)
e um produto es alar em H pode ser denido a partir dos produtos es alares de H1 e H2 atraves
da rela ~ao
hn0;k0 jn;k i hn0 jnihk0 jk i = n0 nk0 ;k :

Isso da, para o produto es alar de dois vetores j 1 i e j 2 i ( ujos oe ientes de expans~ao na
(2)
base produto s~ao respe tivamente (1)
n;k e n;k )
h 1j 2i
X (1) (2)
n;k
75
n;k n;k :
E fa il veri ar, de fato, que essa deni ~ao satisfaz todas as ondi ~oes requeridas para um
produto es alar hermiteano no espa o produto H.
A segunda quest~ao a ser tratada diz respeito as rela ~oes de omuta ~ao a serem impostas sôbre
as variaveis anôni as qj e pj (j = 1; 2), onsideradas omo operadores hermiteanos no espa o
produto H. Tomando omo ponto de partida as variaveis de ada um dos dois subsistemas,
q1 ; p1 e q2 ; p2 , denidas respe tivamente nos espa os H1 e H2 , extens~oes naturais para o espa o
produto podem ser obtidas atraves das deni ~oes
q1 j i
n;k
n;k (q1 jni)

jk i;
q2 j i
n;k
n;k jn i
(q2 jk i)
alem de duas rela ~oes analogas para p1 e p2 . Desse modo q1 e p1 agem da mesma forma que
q1 e p1 sobre os fatores da base produto que orrespondem ao espa o H1 enquanto agem omo
o operador identidade sobre os fatores que orrespondem ao espa o H2 . Isso e usualmente
expresso atraves da nota ~ao
q1 q1
^12 ;
q2 ^11
q2
om duas rela ~oes analogas para p1 e p2 . Os operadores 1^1 e 1^2 s~ao os operadores identidade
dos espa os H1 e H2 respe tivamente. E fa il veri ar que os operadores qj e pj assim denidos
satisfazem, omo operadores em H, as rela ~oes de omuta ~ao
[qj ; pl = ih jl :
Essas rela ~oes de omuta ~ao impli am, em parti ular, na ompatibilidade de variaveis de posi ~ao
e de momento asso iadas a graus de liberdade diferentes do sistema omposto.
Uma ara tersti a fundamental dessa extens~ao para sistemas om mais de um grau de liberdade (ou, equivalentemente, para sistemas que podem ser vistos omo sendo onstitudos
de varios sub-sistemas) e a de que o espa o de fases do sistema omposto resulta onsideravelmente maior, devido a presen a da estrutura linear (isto e, ombina ~oes lineares de estados s~ao
tambem estados possveis do sistema), que o onjunto de estados obtidos espe i ando o estado
de ada um dos subsistemas envolvidos. Este ultimo onjunto ontem apenas os estados que s~ao
produtos tensoriais de estados bem denidos de ada um dos subsistemas, que n~ao e fe hado
om rela ~ao a estrutura linear, no sentido de que ombina ~oes lineares de estados deste tipo
n~ao s~ao, em geral, tambem estados deste mesmo tipo. Em um trabalho de 1935, S hrodinger4
armou que esse fato \n~ao e um, mas o tra o ara tersti o da me âni a quânti a, que obriga
o seu afastamento ompleto das linhas de pensamento lassi as". Para ter uma ideia do seu
E. S hrodinger, Dis ussion of probability relations between separated systems, Pro . Camb. Phil. So .
555 (1935).
4
76
31
signi ado, pode-se notar, primeiramente, que a quantidade Pn;k = j n;k j2 (v. equa ~ao (2.22))
deve ser interpretada omo a probabilidade de que no estado j i do sistema omposto o primeiro sub-sistema seja observado no estado jn i e o segundo subsistema seja observado no estado
jk i. Por outro lado, a probabilidade de que nesse estado o primeiro sub-sistema sejaPobservado no estado jn i independentemente do estado do segundo sub-sistema sera Pn;x = k j n;k j2 ;
enquanto a probabilidade de que o segundo sub-sistema sejaPobservado no estado jk i indepen fa il ver ent~ao que, em
dentemente do estado do primeiro sub-sistema sera Px;k = n j n;k j2 . E
geral, Pn;k 6= Pn;xPx;k , o que signi a que as probabilidades Pn;x e Px;k n~ao s~ao independentes,
indi ando a presen a de orrela ~oes entre os dois sistemas. S hrodinger exprimiu esse fato dizendo que, nessas ondi ~oes, os dois sub-sistemas est~ao emaranhados (\entangled"). Isso pode
ser visto fa ilmente tomando o exemplo
j i = p12 (j1i
j1i + j2i
j2 i) ;
pois nesse aso P1;1 = 1=2 e P1;x = Px;1 = 1=2, de modo que P1;x Px;1 = 1=4, e indi a a
existên ia de orrela ~oes de natureza quânti a entre os dois subsistemas. Por outro lado, se
j i e um estado que e o produto tensorial j'i
j i de estados bem denidos de ada um dos
subsistemas, segue que
j 'i
j i =
n;k
(2)
(1)
n jn i
k jk i;
2
j (1)
n j =
2
j (2)
k j =1
(2)
(2) 2
2
e portanto n;k = (1)
uentemente Pn = j (1)
n k e onseq
n j e Pk = j k j , de modo que Pn Pk =
Pn;k , isto e, as probabilidades Pn e Pk s~ao independentes e os dois subsistemas n~ao est~ao
emaranhados.
2.3
Avatares da din^
ami a.
A des ri ~ao da evolu ~ao no tempo das propriedades observaveis de um sistema quânti o apare e
en arnada5 em varias formas diferentes, duas das quais foram adotadas respe tivamente por
Heisenberg e por S hrodinger ja por o asi~ao da dupla inven ~ao da teoria ha três quartos de
se ulo. O proposito desta se ~ao e apresentar essas duas des ri ~oes e mais uma ter eira, de
Avatar. [Do s^
ans r. avatara, 'des ida' (do Ceu a Terra), pelo fr. avatar. S. m. 1. Filos. Reen arna a~o
de um Deus, e, espe ialmente, no Hinduismo, reen arna a~o do deus Vixnu. 2. Transforma a~o, transgura a~o,
metamorfose: \Aqui era a laranjeira- ravo junto da qual o vira, omo em um a v a t a r , omo em uma
transgura a~o, risonho, fran o, omuni ativo, sob o aspe to que em um momento a ativara."(Julio Ribeiro, A
Carne, p. 91.) (Di ionario Aurelio).
5
77
uso tambem bastante orrente, enfatizando ao mesmo tempo o seu nu leo omum, que e um
operador unitario dependente do tempo que rege, em ultima analise, a evolu ~ao temporal do
sistema quânti o. A sub-se ~ao nal trata ainda de uma rela ~ao importante existente entre
as es alas de tempo envolvidas na evolu ~ao de um determinado estado do sistema e o grau
de indetermina ~ao da energia nesse estado, sendo este grau de indetermina ~ao entendido no
sentido utilizado na dis uss~ao das rela ~oes de in erteza.
2.3.1 O operador de evolu ~ao e as des ri ~oes de Heisenberg, de

S hrodinger e \de intera ~ao".
Como indi ado na se ~ao 2.1, om base na dis uss~ao da equa ~ao de movimento postulada no
ontexto da me âni a das matrizes, na des ri ~ao de Heisenberg a evolu ~ao temporal dos operadores hermiteanos que representam as variaveis dinâmi as (observaveis) de um sistema quânti o
e denida atraves de um operador tambem hermiteano H (o operador hamiltoniano do sistema
fsi o onsiderado) por meio da equa ~ao de movimento
dg (t)
= [g (t); H
(2.23)
dt
que, tendo em onta a rela ~ao de omuta ~ao postulada para oordenadas e momentos anoni amente onjugados, leva a equa ~oes de movimento para essas variaveis que mantem uma
analogia formal ompleta om as equa ~oes anôni as de Hamilton da me âni a lassi a.
Supondo que H n~ao dependa expli itamente do tempo, a equa ~ao de movimento (2.23),
suplementada pela ondi ~ao ini ial de que g (t = t0 ) = g , admite a solu ~ao formal
ih
i
i
g (t) = e h H (t t0 ) ge h H (t t0 ) U y (t; t0 )gU (t; t0 )
(2.24)
que revela expli itamente o fato de que a evolu ~ao temporal e efetivamente regida pelo operador
de evolu ~ao
(2.25)
U (t; t0 ) e h H (t t0 ) :
Dada a hermiti idade de H , U (t; t0 ) e um operador unitario dependente do tempo. Esse operador pode ser denido, alternativamente, omo a solu ~ao da equa ~ao diferen ial
i
dU (t; t0 )
= HU (t; t0 )
(2.26)
dt
om a ondi ~ao ini ial U (t0 ; t0 ) = ^1. A sua forma expl ita, alem de satisfazer essa ondi ~ao
ini ial, mostra que ele satisfaz tambem as rela ~oes de unitariedade
ih
78
U y (t; t0 ) = U 1 (t; t0 ) = U (t0 ; t)

alem da \lei de omposi ~ao"
U (t; t0 )U (t0 ; t0 ) = U (t; t0 );

o que ara teriza o onjunto de transforma ~oes denidas pelos operadores U (t; t0 ) omo um
grupo ontnuo (dado que o tempo e uma variavel ontnua) de transforma ~oes unitarias.
Nesta des ri ~ao da dinâmi a, os observaveis s~ao os objetos en arregados de dar onta da evolu ~ao temporal do sistema, sendo para isso asso iados a operadores hermiteanos que dependem
do tempo da forma indi ada pela equa ~ao (2.24). Como visto na se ~ao anterior, quantidades
essen iais para a interpreta ~ao estatsti a da teoria s~ao objetos do tipo jhnj'ij2 , onde os jni
s~ao autovetores do observavel onsiderado e j'i e o vetor de estado do sistema. Esses objetos
s~ao interpretados omo probabilidades de obten ~ao de autovalores n numa medi ~ao de g . Para
al ular as probabilidades para um observavel g no tempo t e pre iso ent~ao, dado o vetor de
estado do sistema, determinar autovetores e autovalores de g (t).
A forma parti ular (2.24) de g (t) permite rela ionar fa ilmente esses autovetores e autovalores om os que orrespondem ao tempo ini ial de referên ia t0 , atraves do operador de evolu ~ao.
De fato, supondo que autovetores jni e autovalores n tenham sido obtidos para g (t = t0 ), isto
e
g jni = n jni
ent~ao a unitariedade de U (t; t0 ) permite es rever imediatamente
U y (t; t0 )gU (t; t0 )U y (t; t0 )jni = nU y (t; t0 )jni

ou seja
g (t) U y (t; t0 )jni = n U y (t; t0 )jni:

Isso mostra que g = g (t = t0 ) e g (t) tem o mesmo espe tro, e que os autovetores de g (t)
podem ser obtidos dos autovetores de g atraves do operador unitario U y (t; t0 ). Desse modo, a
probabilidade al ulada no tempo t0 omo
pn (t0 ) = jhnj'ij2
evolui dinami amente para a probabilidade, no tempo t,
79
pn (t) = jhn jU (t; t0 )j'ij2 :

(2.27)
E importante notar que o vetor de estado e o mesmo nos dois asos, dado que, na des ri ~ao de
Heisenberg, os agentes dinâmi os s~ao os observaveis.
A express~ao obtida para pn (t) sugere imediatamente uma realiza ~ao alternativa da dinâmi a
que leva a resultados idênti os para as probabilidades. Ela onsiste em tratar os observaveis
omo operadores independentes do tempo e en arregar o vetor de estado da atribui ~ao de dar
onta da evolu ~ao temporal do sistema. Nesse aso a equa ~ao de movimento para o vetor de
estado deve ser
dj'(t)i
= H j'(t)i
(2.28)
dt
uja solu ~ao formal satisfazendo a ondi ~ao ini ial j'(t = t0 )i = j'i, no aso de um hamiltoniano
H que n~ao depende expli itamente do tempo, e
ih
j ' ( t) i = e
i
h H (t t0 )
j'i = U (t; t0 )j'i:
E ent~ao evidente que se obtem o mesmo resultado para p(t) seja analisando o vetor de estado xo
j'i em termos dos autovetores dependentes do tempo U y(t; t0 )jni, seja analisando o vetor de
estado dependente do tempo j'(t)i em termos dos autovetores xos jn i. Esta ultima des ri ~ao
da dinâmi a quânti a e onhe ida omo des ri ~ao de S hrodinger.
Existe uma forma, om utilidade prati a onsideravel, de rees rever quantidades omo pn (t)
uma vez que o problema de autovalores para H tenha sido ompletamente resolvido. Ela tem de
fato um peso onsideravel na importân ia frequentemete atribuda a resolu ~ao desse problema.
Supondo por simpli idade que o espe tro seja puramente dis reto, isso signi a que se onhe a
os autovalores de H juntamente om o onjunto ompleto de autovetores orrespondentes aos
autovalores, isto e, que se tenha obtido todas as solu ~oes do problema de autovalores
H jEk i = Ek jEk i:
O onhe imento dos autovetores permite es rever a resolu ~ao da unidade
^1 =
jEk ihEk j
em termos da qual e possvel es rever o operador de evolu ~ao omo
U (t; t0 ) =
X
i
i
e h H (t t0 ) jEk ihEk j = jEk ie h Ek (t t0 ) hEk j:
80
Usando esta ultima express~ao em (2.27) o que se obtem e
pn (t) =
hnjEk ie
i
h Ek (t t0 )
hE k j 'i
que exprime pn (t) em termos dos oe ientes de expans~ao dos vetores jn i e j'i na base fjEk ig
e de fases dependentes do tempo e dos autovalores Ek . De uma forma ompletamente analoga se
vê que a solu ~ao da equa ~ao de movimento para o vetor de estado na des ri ~ao de S hrodinger
pode ser expressa omo
j ' ( t) i =
jEk ie
i
h Ek (t t0 )
hEk j'i
e tambem que a solu ~ao da equa ~ao de movimento para o observavel g (t) na des ri ~ao de
Heisenberg a
g (t) =
kk0
jEk ie hi (Ek
Ek0 )(t t0 )
hEk jgjEk0 ihEk0 j:
As des ri ~oes de Heisenberg e de S hrodinger n~ao esgotam as alternativas de formula ~ao
para a dinâmi a quânti a. Tambem de uso frequente s~ao formula ~oes \intermediarias", em
que o papel de agentes dinâmi os e de erta forma repartido entra as variaveis dinâmi as e os
vetores de estado. A situa ~ao tpi a em que essas des ri ~oes s~ao utilizadas e aquela em que
o operador hamiltoniano, n~ao dependente expli itamente do tempo, e es rito omo a soma de
duas partes que tambem n~ao dependem expli itamente do tempo
H = H0 + H1 :
Isso permite introduzir, alem do operador de evolu ~ao denido omo em (2.25), um operador
de evolu ~ao tambem unitario mas asso iado somente a H0
i
U0 (t; t0 ) e h H0 (t t0 ) :
Com isso o objeto relevante para o al ulo de pn (t) pode ser rees rito sob a forma
hnjU (t; t0 )j'i = hnjU0(t; t0 )U0y(t; t0)U (t; t0 )j'i

que pode ser interpretada em termos do produto es alar om o vetor de estado dependente do
tempo j'(I ) (t)i U0y (t; t0 )U (t; t0 )j'i do autovetor tambem dependente do tempo U0y (t; t0 )jni.
Este orresponde porem ao autovetor da variavel dinâmi a dependente do tempo g (I ) (t)
U0y (t; t0 )gU0 (t; t0 ), que satisfaz a equa ~ao de movimento
81
enquanto o vetor de estado satisfaz
dg (I ) (t)
= [g (I ) (t); H0
ih
dt
(2.29)
dj'(I ) I (t)i
= U0y (t; t0 )H1 U0 (t; t0 )j'I (t)i H1(I ) (t)j'I (t)i:
(2.30)
dt
A dependên ia temporal do hamiltoniano H1(I ) (t) provem dos operadores U0y e U0 e e portanto
tambem a pres rita por uma equa ~ao omo a (2.29). Desse modo, nesta des ri ~ao todos os
operadores evoluem no tempo omo numa des ri ~ao de Heisenberg, mas om rela ~ao apenas
a H0 . Por outro lado, o vetor de estado evolui omo em uma des ri ~ao de S hrodinger, mas
apenas om a parte H1 do hamiltoniano, modi ada de forma a in luir a dependên ia temporal
ara tersti a da des ri ~ao de Heisenberg relativa a H0 . Este tipo de des ri ~ao e hamado
des ri ~ao de intera a~o, pelo fato de que on entra todos os efeitos da parte \de intera ~ao" H1
do hamiltoniano na evolu ~ao temporal do vetor de estado.
ih
2.3.2 Extens~ao para hamiltonianos que dependem expli itamente do

tempo.
Com alguns uidados de natureza essen ialmente te ni a, as diferentes formas de implementa ~ao
da dinâmi a des ritas a ima podem ser estendidas para asos em que o hamiltoniano e um
operador hermiteano que depende expli itamente do tempo. Isso permite des rever sistemas
quânti os sujeitos a \for as externas" uja dependên ia om o tempo e pres rita a priori,
independentemente do omportamento do sistema quânti o sujeito a sua a ~ao. Alem disso, em
vista de que o hamiltoniano H1(I ) (t) que apare e na equa ~ao de evolu ~ao do vetor de estado na
des ri ~ao de intera ~ao (2.30) depende do tempo, os aspe tos te ni os envolvidos nesta extens~ao
s~ao relevantes tambem no tratamento dessa equa ~ao.
No aso de um hamiltoniano H (t) dependente do tempo, um operador de evolu ~ao U (t; t0 )
pode ser denido generalizando trivialmente a equa ~ao diferen ial (2.26) para
dU (t; t0 )
= H (t)U (t; t0 );
(2.31)
dt
mantendo inalterada a ondi ~ao ini ial U (t0 ; t0 ) = ^1. A equa ~ao (2.31) pode tambem ser es rita
sob a forma da equa ~ao integral, que in orpora a ondi ~ao ini ial,
ih
U (t; t0 ) = ^1
iZt 0
dt H (t0 )U (t0 ; t0 ):
h t0
82
(2.32)
A equivalên ia dessa equa ~ao integral om a equa ~ao diferen ial (2.31) pode ser veri ada
imediatamente por simples diferen ia ~ao om rela ~ao a t. Neste aso, no entanto, n~ao e possvel
es rever uma solu ~ao formal expl ita sob forma exponen ial omo no aso independente do
tempo. A di uldade para este passo provem de que, em geral, [H (t); H (t0 ) 6= 0 se t 6= t0 , isto e,
em geral o hamiltoniano H (t) n~ao omuta onsigo mesmo em tempos diferentes. Para per ebela melhor basta onsiderar, omo exemplo, um aso em que o hamiltoniano e independente do
tempo e igual a H1 no intervalo t0 < t < t0 + t, e igualmente independente do tempo e igual
a H2 no intervalo subsequente t0 + t < t < t0 + 2t, mas om H1 6= H2 e [H1 ; H2 6= 0. Os
operadores de evolu ~ao para ada um desses intervalos de tempo podem ser es ritos omo
i
i
U1 (t0 + t; t0 ) = e h H1 t e U2 (t0 + 2t; t0 + t) = e h H2 t :
Eles des revem a evolu ~ao temporal do sistema de t0 a t0 + t e de t0 + t a t0 + 2t respe tivamente, de modo que a evolu ~ao no intervalo todo de t0 a t0 + 2t e des rita por
U (t0 + 2t; t0 ) = U2 (t0 + 2t; t0 + t)U1 (t0 + t; t0 )

i
i
i
= e h H2 t e h H1 t 6= e h (H2 t+H1 t)
onde a inequivalên ia das duas ultimas formas exponen iais provem da n~ao omutatividade
de H1 e H2 , e pode ser fa ilmente veri ada atraves de expans~oes em serie de potên ias, que
levam a ordenamentos diferentes desses operadores nos dois asos. Isso mostra que uma solu ~ao
formal ingênua da equa ~ao (2.31), es rita possivelmente omo
U (t; t0 )
! e
i Rt
h t0 H (t)dt
(?) ;
o que seria de fato a solu ~ao orreta no aso em que H (t) fosse uma fun ~ao numeri a, e na
realidade ex essivamente ingênua neste aso. A solu ~ao que tem devidamente em onta a n~ao
omutatividade do hamiltoniano em tempos diferentes pode porem ser pensada, omo no aso
do exemplo a ima, em termos de uma su ess~ao de transforma ~oes unitarias innitesimais, que
avan am o tempo em intervalos dt durante os quais a varia ~ao de H (t) e desprezvel:
i
H (t)dt + O(dt2 ):
h
A unitariedade (ate termos de ordem dt in lusive) dessa transforma ~ao innitesimal de orre
diretamente da hermiti idade de H (t), e a unitariedade da transforma ~ao nita, vista omo
uma su ess~ao de tais transforma ~oes innitesimais, de orre de que o produto de operadores
unitarios e por sua vez um operador unitario.
U (t + dt; t) = ^1
83
Portanto, no aso de um hamiltoniano expli itamente dependente do tempo a equa ~ao (2.31),
juntamente om a respe tiva ondi ~ao ini ial, dene tambem um operador de evolu ~ao unitario.
E imediato tambem que esse operador satisfaz propriedades e obede e a uma \lei de omposi ~ao"
idênti as as que valem para o aso em que H e independente do tempo. Desse modo, todos os
resultados obtidos nesse aso que dependem apenas da existên ia de um operador de evolu ~ao
unitario s~ao validos tambem para o aso em que o hamiltoniano depende do tempo. Mais
expli itamente, a evolu ~ao temporal dos observaveis na des ri ~ao de Heisenberg e dada por
g (t) U y (t; t0 )gU (t; t0 ), omo na ultima forma da equa ~ao (2.24). A equa ~ao de movimento
orrespondente pode ser obtida usando a equa ~ao (2.31) e sua adjunta
dU y(t; t0 )
ih
= U y (t; t0 )H (t);
dt
o que leva a

dg (t)
= U y (t; t0 )g (H (t)U (t; t0 )) U y (t; t0 )H (t) gU (t; t0 ) = [g (t); HH (t)
(2.33)
dt
onde HH (t) U y (t; t0 )H (t)U (t; t0 ) e a \vers~ao Heisenberg" do hamiltoniano dependente do
tempo H (t). Ela difere da \vers~ao S hrodinger" por onter os operadores de Heisenberg p(t),
q (t) onde esta ultima ontem os operadores independentes do tempo p e q . E importante notar
que, devido a unitariedade da transforma ~ao que rela iona esses dois onjuntos de operadores,
eles satisfazem as mesmas rela ~oes de omuta ~ao ( om tempos iguais, no aso dos operadores
de Heisenberg), isto e, [q; p = [q (t); p(t) = ih ^1.
E possvel tambem formular uma des ri ~ao de S hrodinger na qual o vetor de estado satisfaz
a equa ~ao diferen ial de evolu ~ao
dj'(t)i
ih
= H (t)j'(t)i
dt
bem omo uma representa ~ao de intera ~ao em que os observaveis satisfazem a equa ~ao de
movimento
dg (I ) (t)
ih
= [g (I ) (t); H0 (t)
dt
enquanto os vetores de estado evoluem de a ordo om a equa ~ao
dj'(I ) (t)i
= H1(I ) (t)j'(I ) (t)i
ih
dt
om H1(I ) (t) = U0y (t; t0 )H1 (t)U0 (t; t0 ). Desde que H0 e H1 sejam sempre hermiteanos, e possvel
que eles sejam tomados omo dependentes do tempo.
ih
84
2.3.3 Rela ~oes de in erteza energia-tempo.

Se um observavel g e ompatvel om o hamiltoniano H (independente do tempo) que determina
a evolu ~ao temporal do sistema quânti o, no sentido denido anteriormente de que [g; H =
0, e fa il ver que o desvio quadrati o medio de g n~ao depende do tempo. A forma mais
simples de obter esse resultado e usar a des ri ~ao de Heisenberg, que da nesse aso g (t) =
U y (t; t0 )gU (t; t0 ) = g , pois nesse aso g e U omutam. Portanto
g(')2 (t) = h'jg (t)2j'i
h'jg(t)j'i2 = h'jg2j'i h'jgj'i2:
Os observaveis desse tipo s~ao hamados onstantes do movimento. No aso em que g n~ao e
uma onstante do movimento, a rela ~ao geral de in erteza (2.20) imp~oe a limita ~ao
g(') (t)H(')

h'j[g(t2)i; H j'i
que, usando a equa ~ao de movimento de Heisenberg, pode ser es rita omo

dg
(
t
)
h

(
'
)

j
'i :
g(') (t)H h'j
2
dt
Essa rela ~ao ontem, por um lado, o desvio quadrati o medio asso iado ao observavel g (t) e,
por outro lado, uma taxa media de varia ~ao do valor medio de g (t). Essas duas quantidades
podem ser ombinadas para denir um tempo ara tersti o para a evolu ~ao do observavel o
intervalo de tempo g(') durante o qual o seu valor medio sofre uma varia ~ao da ordem do seu
desvio quadrati o medio, isto e
g(')
g(') (t)
:
h'j dgdt(t) j'i
Essa deni ~ao leva ent~ao a rela ~ao de in erteza energia-tempo
h
(2.34)
2
que exprime uma limita ~ao para g(') dependente da in erteza na energia H(') . Essa limita ~ao
onsiste em que a es ala de tempo ara tersti a para a evolu ~ao do valor medio de um observavel que n~ao e uma onstante do movimento deve ser ne essariamente maior que h =2H(') , o
que signi a, em parti ular, que quanto mais proximo for o estado j'i de um autovetor de H , no
sentido de orresponder a in ertezas H(') menores, mais lentamente evoluir~ao os valores medios
dos observaveis que n~ao s~ao onstantes de movimento. No aso em que j'i e um autovetor de
H , esses valores medios se tornam independentes do tempo.
H(') g(')
85
O uso da rela a~o (2.20) pode ser substitudo, no tratamento a ima, pelo uso da rela ~ao
mais ompleta (2.21), em que o termo orrespondente a ovarian a de g e H e preservado.
O que se obtem desse modo e, usando a equa ~ao de movimento de Heisenberg,
2
2

(')2
j
'i
det(gH ) = g(')2 H(')2 gH
h4 h'j dg
dt
de onde se obtem, introduzindo nessa ultima rela ~ao o tempo ara tersti o g(') ,
v
u
u
u (')2
t
(')2
gH
h
(')
(')2 g 2 :
g
(2.35)
Essa rela ~ao mostra que o efeito de uma

ovarian a n~ao nula de g e H e aumentar o
(')
limite inferior para a es ala de tempo g , orrespondente a um valor dado da dispers~ao
quadrati a em energia, H(')2 .
E importante observar que, ao ontrario de rela ~oes de in erteza omo a de Heisenberg ou a
de S hrodinger, que provem diretamente da estrutura inemati a da teoria quânti a, as rela ~oes
de in erteza energia-tempo tem um onteudo dinâmi o. Em termos qualitativos, elas mostram
que pro essos de evolu ~ao rapidos requerem ne essariamente o envolvimento de autovetores de
H om energias muito diferentes e, re ipro amente, que pro essos que o orrem em sistemas uja
energia e restrita a intervalos estreitos s~ao ne essariamente demorados. Quantitativamente, um
pro esso ( omo, por exemplo, uma transi ~ao radiativa) que se desenvolve num dado tempo
(tempo medio de vida do estado que sofre a transi ~ao) envolve uma in erteza na energia que
e limitada inferiormente por ' h =2 (essa in erteza apare e sob forma da \largura natural
de linha" no aso da transi ~ao radiativa); um pro esso muito bem denido em energia ( omo,
por exemplo, uma transi ~ao radiativa de \linha na", de largura ) ne essariamente envolve
estados ujo tempo medio de vida e maior que ' h =2 .
2.4
A \redu
~
ao do pa ote de ondas".
Os postulados interpretativos de Born, tratados na se ~ao 2.2.3, permitem a previs~ao (em termos
estatsti os) de resultados de medi ~oes feitas num dado sistema quânti o, om base nos diversos
ingredientes da teoria (vetor de estado, propriedades espe trais dos observaveis de interesse,
evolu ~ao dinâmi a do sistema antes da medi ~ao). Eles deixam, no entanto, ompletamente
aberta a quest~ao de omo des rever o estado do sistema quânti o depois de uma medi ~ao ter
sido efetivamente ompletada, produzindo um resultado determinado.
86
Essa quest~ao tem um onteudo inequivo amente dinâmi o, pois se refere aos efeitos da
intera ~ao entre o sistema quânti o observado e o dispositivo de medida, que e por erto indispensavel para que o dispositivo de medida possa efetivamente fun ionar omo tal, e que pode
alterar o estado do sistema submetido ao pro esso de medi ~ao. Um tratamento nesses termos
envolve, no entanto, problemas serios de diversas ordens. Por um lado, a dinâmi a do dispositivo de medida e de sua intera ~ao om o sistema observado devem ser tratadas, por raz~oes de
onsistên ia, tambem em termos da teoria quânti a; ent~ao, n~ao so essa des ri ~ao tende a ser
proibitivamente ompli ada, devido a natureza ma ros opi a do dispositivo de medida, mas se
defronta tambem, por outro lado, om quest~oes graves e n~ao inteiramente resolvidas, ligadas
em ultima analise a pe uliaridades da inemati a quânti a. Para per eber a natureza dessas
quest~oes basta observar que os estados nais do sistema de medida s~ao omumente entendidos
omo de erta forma \imunes ao prin pio de superposi ~ao", no sentido de que uma ombina ~ao
linear de estados nais, tipo \posi ~oes do ponteiro", do dispositivo de medida n~ao s~ao por sua
vez estados possveis, ou pelo menos n~ao possveis no mesmo sentido em que o s~ao ada uma das
\posi ~oes do ponteiro" tomada individualmente. Isso e frequentemente expresso dizendo que o
dispositivo de medida deve ter \ ara tersti as lassi as". Raz~oes de onsistên ia exigem que a
emergên ia de tais ara tersti as lassi as seja dedutvel da teoria quânti a, o que novamente
remete a um problema que n~ao pode ser resolvido em geral.
Um tratamento padr~ao dessas quest~oes onsiste na introdu ~ao de um postulado adi ional
que, numa de suas vers~oes orrentes, efetivamente \pres reve" o estado do sistema quânti o
apos a on lus~ao do pro esso de medida. Se o sistema que se en ontra num estado des rito pelo
vetor de estado j'i e submetido a uma medi ~ao do observavel g , ujos autovetores ortonormais
s~ao fjnk ig (supondo, por simpli idade, que o espe tro seja puramente dis reto), asso iados a
autovalores n e sendo k um ndi e para dar onta da eventual degeneres ên ia dos autovalores
n , o efeito do pro esso de medi ~ao sobre o estado do sistema medido, apos a obten ~ao de um
parti ular autovalor n , sera
X
X
j'i = nk jnk i n! qP 1 2 nk jnk i = q 1 Pnj'i
h'jPnj'i
nk
k j nk j k
om
Pn
jnk ihnk j
isto e, j'i e reduzido a sua proje ~ao normalizada sobre o sub-espa o dos autovetores degenerados
de g asso iados ao autovalor obtido. No aso em que o autovalor n n~ao e degenerado, o estado
do sistema apos a medida sera ent~ao dado simplesmente por jn i. Este \postulado", que a rigor
deve en ontrar apoio na dinâmi a da intera ~ao do sistema medido om o aparato de medida, e
frequentemente designado omo \redu ~ao do pa ote de ondas".
87
A pres ri ~ao ontida nesse postulado tem omo alegada virtude garantir a reprodutibilidade
dos resultados de medi ~oes quânti as, no sentido de que a repeti ~ao imediata de uma medi ~ao
que produziu um determinado resultado om erteza produzira novamente o mesmo resultado.
No entanto, e pre iso ter em onta o fato de que medi ~oes feitas sobre sistemas quânti os
em geral n~ao s~ao reprodutveis nesse sentido (v. Landau e Lifshitz, op. it. x7), de modo
que a pres ri ~ao so pode ser tomada omo valida em situa ~oes parti ulares que e importante
identi ar mais pre isamente.
O onjunto formado pelo sistema submetido a medi ~ao mais o dispositivo de medida pode
ser pensado omo um sistema maior, omposto de dois subsistemas, ada um dos quais tem seu
proprio espa o de fases. Se fjnig e a base do espa o de fases do sistema a ser medido formada
pelos autovetores do observavel que se pretende medir, g (ignorando agora, por simpli idade,
quest~oes ligadas a degeneres ên ia), e se fjn ig e uma base onveniente no espa o de fases
do dispositivo de medida, uma base do espa o produto que desempenha o papel de espa o
de fases para o sistema omposto e formada pelos produtos distintos envolvendo um vetor de
ada base, fjr i
js ig fjr s ig. No estagio ini ial da medida,
esse sistema omposto se
P
en ontra num estado que pode ser es rito omo j'i
j0 i n n jn0 i, o que signi a que
o sistema a ser medido e o dispositivo
de medida devidamente \ini ializado" tem omo vetores
P
de estado, respe tivamente, j'i n njn i e j0 i. Para que o dispositivo de medida fun ione
omo tal, e su iente que a dinâmi a da intera ~ao entre os dois subsistemas P
de que e formado
o sistema omposto fa a om que ele evolua para um estado nal do tipo n njn i
jn i,
em que os oe ientes n s~ao os mesmos que apare em na expans~ao do estado ini ial a ser
medido e os estados jn i s~ao estados normalizados quaisquer do sistema que esta sendo medido,
uja natureza pode depender do fun ionamento do dispositivo de medida utilizado6. De fato,
de a ordo om os postulados interpretativos de Born, a probabilidade de que o dispositivo de
medida se en ontre ent~ao no estado jn i sera dada por j nj2 , de modo que a sua observa ~ao
orresponde efetivamente a medida do autovalor de g asso iado a jn i no sistema submetido
a medi ~ao. O estado nal orrespondente deste sistema sera no entanto, em geral, um estado
jni determinado pelo fun ionamento do dispositivo de medida, que podera em parti ular ser
ate mesmo ortogonal ao estado ini ial j'i. Neste aso, o estado ini ial para uma nova medi ~ao
de g sera jni
j0 i e o seu resultado sera em geral diferente do obtido na primeira medi ~ao.
A \redu ~ao" se dara da forma pres rita pela forma padr~ao do \postulado" apenas nos asos
parti ulares em que os estados jni forem na realidade idênti os aos estados jn i.
Um aso efetivamente en ontrado na literatura experimental re ente (M. Brune et al, Phys.
Rev. Letters 77, 4887 (1996)) ilustra on retamente a o orrên ia de tais medi ~oes n~ao sequenO pro esso des rito e na realidade uma hipotese dinâmi a (no sentido que presume efeitos da evolu a~o
temporal do sistema omposto onstituido pelo sistema submetido a medi a~o e pelo dispositivo de medida) uja
onsistên ia om a dinâmi a quânti a foi demonstrada por von Neumann (op. it, se a~o VI-3).
6
88
ialmente reprodutveis. Trata-se aqui, de fato, essen ialmente de medir a energia de um atomo
ujo vetor de estado e uma ombina ~ao linear de dois estados esta ionarios de energias diferentes, j'i = 1 je1 i + 2 je2 i, om e1 < e2 . O dispositivo de medida e formado por um par
de detetores de ioniza ~ao, que onsiste basi amente de duas regi~oes I1 e I2 em que ha ampos eletri os E~ 1 e E~ 2 respe tivamente. A intensidade do ampo E~ 1 e su iente para ionizar o
estado je1 i e portanto tambem o estado menos ligado je2 i, ao passo que E~ 2 e su iente para
ionizar o estado je2 i mas n~ao o estado mais ligado je1 i. O pro esso de medida onsiste em fazer
om que o atomo atravesse as regi~oes I2 e I1 nessa ordem, dete tando o ele tron resultante
da ioniza ~ao onde ela o orra. Desse modo, a dete ~ao de um ele tron em I2 , que o orre om
probabilidade j 2 j2 , identi a o estado anterior do atomo omo je2 i, ao passo que a dete ~ao
de um ele tron em I1 ( uja probabilidade e j 1 j2 ) o identi a omo je1 i. Em qualquer dos dois
asos o atomo e ionizado durante o pro esso de medi ~ao, de modo que seu estado posterior a
medi ~ao e ertamente ortogonal a ombina ~ao linear ini ial. Uma re onrma ~ao do resultado
da primeira medi ~ao esta portanto ex luida neste tipo de pro edimento, ao qual portanto a
des ri ~ao padr~ao da redu ~ao do estado n~ao se apli a.
Finalmente, onvem notar expli itamente que, apezar de o \postulado da redu ~ao" n~ao ser
valido em geral na sua forma padr~ao, existem situa ~oes numerosas e importantes em que sua
utiliza ~ao nessa forma e valida e onveniente. A onveniên ia de orre espe ialmente de que,
quando a apli a ~ao do postulado e valida, o pro esso de medi ~ao pode ser visto omo um
me anismo e az para a prepara ~ao de estados quânti os, pois o resultado obtido na medi ~ao
determina, nesse aso, o estado subsequente do sistema que foi submetido a medi ~ao. A mesma
referên ia itada a ima, na qual s~ao usados os detetores de ioniza ~ao aos quais o postulado
laramente n~ao se apli a, faz um uso essen ial desse postulado numa situa ~ao algo diferente
e pre isamente om esse intuito. De uma forma esquemati a, nesta outra situa ~ao o sistema
submetido a medi ~ao e por sua vez onstituido de dois subsistemas que interagiram entre si
durante um erto tempo e desse modo se tornaram orrela ionados um ao outro. No momento
da medi ~ao, no entanto, ja n~ao ha intera ~ao entre os subsistemas e um deles e submetido a um
pro esso de medida que, em parti ular, e n~ao sequen ialmente reprodutivel no sentido dis utido
a ima. O resultado desta medida, no entanto, pode ser onsiderado, atraves do postulado de
redu ~ao (K. Fonse a Romero et al. Phys. Rev. A58, 3205 (1998)), omo uma prepara ~ao do
estado do segundo subsistema, devido as orrela ~oes estabele idas durante o tempo de intera ~ao
entre eles.
89
2.4.1 Medidas reprodutveis, o \efeito Zeno" e a redu ~ao do pa ote

de ondas.
Medidas reprodutveis s~ao medidas que orrela ionam estados sele ionados fjnig do sistema
medido om estados respe tivamente orrespondentes fjn ig do medidor sem alterar os estados
sele ionados do sistema medido, isto e, medidas em que a rela ~ao geral
j 'i =
n jni
j0 i
n jn i
jn i
assume na realidade a forma parti ular
j 'i =
n jni
j0 i
n jn i
jn i;
(2.36)
onde os estados nais jni permane em idênti os aos jni ini iais. Como sera visto pou o mais
adiante, ate mesmo nesses asos o pro esso de medida pode interferir de forma importante na
evolu ~ao posterior do sistema medido. Independentemente das di uldades que possa haver
em realizar experimentalmente, e om pre is~ao su iente, pro essos de medida desse tipo, intera ~oes entre subsistemas que se omportem de modo a produzir resultados on ordantes om
a rela ~ao (2.36) podem ser es ritas formalmente sem di uldade. Um exemplo simples nesse
sentido envolve um sistema de dois nveis omo \sistema medido", o qual, quando onsiderado
isoladamente, e des rito pelo hamiltoniano

H0 = j+i h+j + j
2
i 2 h j
e um \medidor" que onsiste de um sistema de três nveis des rito, tambem quando isolado,
pelo hamiltoniano
Hm =
+1
X
j= 1
jj ijhj j:
Os autovalores asso iados aos autovetores ji de H0 s~ao portanto =2, enquanto os autovalores
asso iados aos três autovetores jj i; j = 1; 0; +1 de Hm s~ao respe tivamente , 0 e + .
Esses dois sistemas podem ser a oplados atraves de um hamiltoniano adi ional H 0 de modo a
efetuar uma medida reprodutvel, por exemplo, dos estados
ji j+ip j i :
2
90
Esses estados est~ao sendo es olhidos por onstituirem uma parti ular base de estados n~ao esta ionarios do sistema des rito por H0 . O operador de evolu ~ao orrespondente a esse hamiltoniano,
representado em termos da base de seus autovetores normalizados ji, e dado por
i
U (tf ; ti ) = e h H0 (tf
ti )
= j ie 2h (tf
i
ti )
h j + j+ie
i
2h (tf ti ) h+j
de modo que a evolu ~ao temporal dos estados ji, determinada por H0 , a partir do tempo
ini ial ti e ate o tempo nal tf , leva a

i
1 i
U (tf ; ti )ji = p e 2h (tf ti ) j+i e 2h (tf ti ) j i :
2
Sempre que onveniente, esse resultado pode ser fa ilmente re-expresso em termos dos estados
sele ionados ji. A evolu ~ao temporal de um estado qualquer do sistema de três nveis,
determinada pelo hamiltoniano Hm , pode, evidentemente, ser obtida de forma inteiramente
analoga a essa.
A ideia da medida reprodutvel e a de que a intera ~ao entre os dois subsistemas transforme
um estado que, antes da medida, e dado por
j'i
j0 i = ( + j+i + j i)
j0i
(2.37)
no estado dado, a menos de uma fase global, por
+ j+ i
j+1 i + j i
j 1 i:
(2.38)
Desse modo, o estado j0 i fun iona omo um estado \neutro" do medidor, que se transforma em
j+1i ou em j 1i onforme o sistema medido esteja no estado j+i ou j i, respe tivamente,
sem que as omponentes sele ionadas do estado do sistema de dois nveis sofram qualquer
altera ~ao. N~ao e dif il ver que uma intera ~ao entre os dois subsistemas que tem esse tipo de
efeito e a que e dada por

h (t t0 ) (j+1 i+ h0 j + j 1 i h0 j + hermiteano onjugado)
2
2 h (t t0 )
onde s~ao os operadores de proje ~ao = jih j. Essa intera ~ao e uma intera ~ao dependente do tempo, impulsiva, uja a ~ao se limita ao instante t = t0 (o \instante em que e feita a
medida"). De fato, a evolu ~ao do sistema omposto dos dois subsistemas sob a a ~ao de H 0 se
restringe ao intervalo de tempo innitesimal t0 ! t0 + , om 0 < ! 0, sendo dada pelo
operador unitario
H 0 (t) =
91
U 0 (t0
t0 + 0 0

; t0 + ) = e i 2 t0 dt (t t0 ) = e i 2 :
R
A exponen ial envolvendo o operador
pode ser al ulada notando que
3=
= j0 i^10 h0 j + j+1 i+ h+1 j + j 1 i h 1 j
e
(2.39)
de modo que, ole ionando potên ias pares e mpares de na expans~ao da exponen ial, resulta

U 0 (t0 ; t0 + ) = ^1 2 + 2 os
i sen = ^1 2 i :
2
2
A unitariedade desse resultado pode ser veri ada expli itamente usando tambem as propriedades (2.39)7 . Portanto, se o estado do sistema onjunto em t0 e dado por (2.37), ele sera,
em t0 + ,
2
U 0 (t0
; t0 + )j'i
j0 i = i ( + j+ i
j+1 i + j
i
j 1 i)
que orresponde as propriedades desejadas de \n~ao demoli ~ao".

Um exer io relativamente simples e interessante onsiste em al ular a evolu ~ao temporal
do sistema onjunto, des rito pelo hamiltoniano ompleto H0 + Hm + H 0 (t), a partir do estado
ini ial j 0;m (t = 0)i = j+i
j0 i ate um tempo T > t0 . A evolu ~ao temporal de t = 0 ate
t = t0 e dada por H0 + Hm apenas, pois nesse intervalo de tempo H 0 (t) = 0. Um al ulo
simples mostra que
lim j (t
!0 0;m 0
i
)i = e h (H0 +Hm )t0 j+i
j0 i

t0
t0
= os j+i i sen j i
j0 i:
2h
2h
Para al ular a evolu ~ao temporal desse estado de t0 a t0 + , os efeitos devidos a H0 e a
Hm podem ser ignorados, devido ao arater impulsivo da intera ~ao H 0 (t). De fato o operador
de evolu ~ao ompleto, orrespondente a esse intervalo de tempo, e

i

U (t0 + ; t0 ) = exp
(H + Hm ) 2 i
h 0
2

O valor parti ular h=2 es olhido para o oe iente de H (t) tem o efeito de anular o termo propor ional a 2
do operador de evolu a~o. O n~ao anulamento deste termo impli a na existên ia de uma omponente propor ional
a j0 i no estado posterior a intera a~o, o que pode ser interpretado em termos de um pro esso de medida uja
e iên ia e menor que 100 %.
7
92
de modo que, no limite ! 0, apenas o ultimo termo do expoente sobrevive, e U (t0 + ; t0 )

se reduz a U 0 (t0 + ; t0 ). Desse modo o estado sera, em t = t0 + ,

t0
t0
lim j (t + )i = i os j+ i
j+1 i i sen j i
j 1 i :
!0 0;m 0
2h
2h
A evolu ~ao subsequente, de t0 + a T > t0 , e novamente determinada por H0 + Hm apenas, e
leva o estado nalmente a
j 0;m(T )i
ie
i
h (H0 +Hm )(T t0 )
t
t
os 0 j+ i
j+1 i i sen 0 j
2h
2h
i
j 1 i
t
(T t0 )
(T t0 )
= i os 0 os
j
+i i sen
j i
j+1 ie i(T t0 )
2h
2h
2h
!
(T t0 )
(T t0 )
t0
i sen
j+i + os 2h j i
j 1 iei(T t0 ):(2.40)
sen
2h
2h
Esse resultado permite al ular a probabilidade P+ (T ) de que o sistema medido esteja no
estado j+i no tempo T (para T > t0 , e independentemente do estado do \medidor") omo
P+ (T ) = h 0;m (T )j (j+ih+j)
^1m j 0;m (T )i =
(2.41)
!
t
(T t0 )
(T t0 )
t
(T t0 ) 1
t
:
+ sen2 0 sen2
= 1 + os 0 os
= os2 0 os2
2h
2h
2h
2h
2
h
h
Caso a intera ~ao representada por H 0(t) n~ao tivesse o orrido, o estado do sistema omposto no
tempo T (e para qualquer T > 0 )seria dado simplesmente por

T
T
j (0)
i
=
os
j

i
i
sen
j

i
j0 i
0;m
2h +
2h
e a probabilidade orrespondente a P+ (T ) seria
T
T 1
:
(2.42)
= 1 + os
=
2h 2
h
A ompara ~ao das express~oes (2.41) e (2.42) mostra imediatamente que a interven ~ao da intera ~ao H 0 (t) asso iada a medida reprodutvel no instante t = t0 n~ao e ino ua no que se refere a
evolu ~ao temporal ulterior do sistema quânti o omposto. A diferen a resultante dos efeitos da
intera ~ao pode ser vista na gura 2.1, onde as duas probabilidades, P+ (T ) e P+(0) (T ) s~ao mostradas omo fun ~ao de T > t0 no aso em que t0 = h =2, e portanto t0 =h = 0:5, e onsiste numa
lara inibi a~o da evolu ~ao temporal om rela ~ao a evolu ~ao livre P+(0) (T ) da probabilidade.
P+(0) (T )
os2
93
(0)
P+(x), P+ (x)
Figura 2.1: P+ (x) (linha heia, x > 0:5) e

P+(0) (x) (linha heia, x < 0:5 e tra ejada,
x > 0:5), om x = T=h . A evolu ~ao om
a interven ~ao de H 0 (t) em x = 0:5 orresponde a linha heia, de x = 0 a x = 1.
0.9
0.8
0.7
0.25
0.5
x
0.75
O me anismo responsavel pelo efeito da intera a~o asso iada a medida reprodutvel,
itamente notando que a taxa de varia ~ao dessa probabilidade om o tempo e dada em
geral por
h
dP+ i
^m i j 0;m i
=
h

0;m j H (t); j+ ih+ j
1
dt
h
om H (t) = H0 + Hm + H 0(t). Para qualquer t 6= t0 o termo impulsivo de intera ~ao e nulo
e a express~ao se reduz a
H 0 (t), sobre a evolu ~ao ulterior da probabilidade P+ (T ) pode ser identi ado mais expli-
dP+
dt
= 2ih h 0;mj (j ih+ j j+ih j)

1^m j 0;mi =
= 2h Im h 0;m j (j ih+ j)
^1m j 0;mi;
t 6= t0 :
(2.43)
Como o vetor de estado j 0;mi envolve os dois subsistemas, isto e, o sistema \medido"
de dois, e o sistema \medidor" de três nveis, essa express~ao pre isa ser analisada om
algum uidado. Quando esse vetor de estado e do tipo (2.37), o que quer dizer um estado
produto de uma ombina ~ao linear de j+i e j i om um estado normalizado qualquer
do sistema de três nveis, a taxa de varia ~ao da probabilidade se reduz simplesmente a
estado (2:37) ! dPdt+ = 2h Im + :
Essa express~ao se anula para t = 0 (pois ent~ao = 0) e res e para 0 < t < t0 , a medida
que res e devido a evolu a~o temporal do estado ini ial. E importante aqui per eber
que a taxa de varia ~ao da probabilidade envolve um \termo ruzado" dos oe ientes de
94
expans~ao do estado do sistema de dois nveis na base fj ig. Por outro lado, para um
vetor de estado do tipo (2.38), no qual as omponentes j+i e j i se orrela ionam om
estados do sistema de três nveis que s~ao ortogonais entre si, os termos ruzados ne essarios
para levar a um valor n~ao nulo da taxa de varia ~ao da probabilidade s~ao ex ludos devido
ao fato de que h1j^1m j1 i = 0. Desse modo
estado (2:38)
dP+
dt
= 0:
Como a intera ~ao H 0(t) transforma um estado tipo (2.37) em um estado tipo (2.38), podese ver que ela na realidade leva ao anulamento da taxa de varia ~ao da probabilidade atraves
da destrui ~ao dos termos ruzados ne essarios para que seu valor seja diferente de zero. O
me anismo responsavel por esse anulamento e justamente o estabele imento de orrela ~oes
entre as omponentes j+i e j i do estado (2.37) om estados do sistema medidor que
s~ao ortogonais entre si. O pro esso sofrido pelo sistema de dois nveis atraves da intera a~o
H 0 (t) e hamado de oerên ia, e pode ser portanto apontado omo o ingrediente basi o que
leva ao omportamento de P+(T ) mostrado na gura 2.1. A o orrên ia desse pro esso
mostra que a intera ~ao asso iada a medida reprodutvel na realidade produz estragos
apre iaveis no estado do sistema medido.
Cabe observar ainda que, para T > t0, a evolu a~o unitaria devida a H0 volta a produzir
omponentes j+i e j i para ada uma das omponentes do estado (2.38), omo pode ser
visto expli itamente na express~ao (2.40), levando novamente a valores diferentes de zero
da taxa de varia ~ao da probabilidade.
A inibi ~ao da evolu ~ao livre P+(0) (T ) da probabilidade pela intera ~ao H 0 , omo mostrada na
gura 2.1, pode ser vista, por assim dizer, omo uma forma embrionaria do hamado \efeito
Zeno quânti o", apontado e assim denominado por Misra e Sudarshan em 19778. Na sua sua
vers~ao original, esse efeito foi apresentado omo uma onsequên ia do postulado de redu ~ao do
pa ote de ondas para sistemas quânti os uja evolu ~ao temporal para tempos urtos tem um
omportamento semelhante ao obtido a ima para o estado j+i, isto e, a probabilidade P (t) de
en ontrar o sistema no estado ini ial apos um intervalo de tempo t tem derivada nula em t = 0.
No aso do modelo tratado a ima P (t) depende quadrati amente de t para tempos urtos t,
isto e P (t) / 1 (t= )2 (v. Eq. (2.42)). Nessas ondi ~oes, uma su ess~ao rapida de medidas
apazes de de idir sobre a permanên ia ou n~ao do sistema no estado ini ial inibe a evolu ~ao
temporal, e a impede ompletamente no limite de \observa ~ao ontnua". De fato, utilizando o
postulado da redu ~ao, o estado do sistema apos uma medida ujo resultado indi a que o estado
e j+i sera novamente j+i. Como a probabilidade de obter esse resultado um tempo t apos
B. Misra e E. C. G. Sudarshan, J. Math. Phys. 18, 756 (1977). V. tambem C. B. Chiu, B. Misra e E. C.
G. Sudarshan, Phys. Rev. D16, 520 (1977) e Phys. Lett. B117, 34 (1982).
8
95
a prepara ~ao do estado e 1 (t= )2 , a probabilidade de obter o mesmo resultado ao longo de

uma serie de N medidas separadas por intervalos de tempo t sera
2
P+(N )
= 1
4
t

!2 3N
5
t
=1 N

!2
N (N 1) t
+
2

!4
::: :
(2.44)
Se a sequên ia de N medidas e efetuada em um tempo total T , t = T=N e ent~ao
P+(N )
T2
= 1 N 2 2 + ::: = 1
N
o que, mantendo T xo e tomando o limite N

leva a
1
N
T 2
+ :::

! 1 (que orresponde a \observa ~ao ontnua"),
(N )
lim
P
= 1;
+
N !1
isto e, o estado do sistema permane e igual ao estado ini ial om probabilidade 1. E laro que
o postulado da redu ~ao desempenha um papel entral nessa formula ~ao, pois e usado de forma
essen ial para es rever a rela ~ao (2.44).
A reavalia ~ao do efeito Zeno omo um pro esso puramente dinâmi o, independente da pres ri ~ao dada pelo postulado da redu ~ao, seguiu-se a realiza ~ao, por Itano et al., de uma experiên ia ao longo de linhas propostas pou o antes por Cook9 . O al ulo que leva ao resultado da
gura 2.1 e evidentemente um al ulo puramente dinâmi o, que pres inde, em parti ular, da
informa ~ao registrada pelo \aparelho de medida", dado que a probabilidade P+ (T ) e al ulada
de forma in lusiva, somando sobre todos os estados possveis do sistema des rito por Hm . Com
algum trabalho algebri o adi ional, e possvel al ular a probabilidade in lusiva P+ (N t) orrespondente a uma serie de N intera ~oes H 0 agindo em tempos n t, n = 1; 2; :::; N e envolvendo
sequen ialmente N sistemas independentes de três nveis. O resultado desse al ulo e
!
1
t
P+ (N t) = 1 + osN
(2.45)
2
h
que se reduz tambem a 1 nas mesmas ondi ~oes que (2.44).
E pre iso omentar ainda o fato de que as probabilidades (2.44) e (2.45) levam a resultados
diferentes no aso de uma su ess~ao nita de N medidas ou intera ~oes, separadas por intervalos
W. H. Itano, D. J. Heinzen, J. J. Bollinger e D. J. Wineland, Phys. Rev. A41, 2295 (1990); R. J. Cook,
T21, 49 (1988). A respeito da elabora
a~o desse outro ponto de vista, v. S. Pas azio e M. Namiki,
A50, 4582 (1994) e as refer^
en ias a itadas, espe ialmente L. E. Ballentine, Phys. Rev. A43, 5165
(1991).
9
Phys. S r.
Phys. Rev.
96
de tempo urtos mas tambem nitos t. De fato, utilizando a evolu ~ao temporal denida para
o modelo, a equa ~ao (2.44) apare e sob a forma
t
(2.46)
2h
que difere de (2.45) para N 2. Essa diferen a se deve ao arater in lusivo da probabilidade
dada por (2.45), em que s~ao s~ao omputadas tambem as probabilidades asso iadas as omponentes j+ i resultantes da evolu ~ao unitaria da omponente j i presente imediatamente
apos a intera ~ao pre edente, e que s~ao ex ludas pelo argumento que envolve o postulado da
redu ~ao. Isso faz om que se tenha P+ (N t) > P+(N ) para N 2 e, quando N ! 1 ( om
t xo), P+ (N t) ! 1=2 enquanto P+(N ) ! 0. A partir de (2.45) e de (2.46) pode-se veri ar
tambem que o efeito de uma medida ou intera ~ao adi ional sobre as probabilidades, apos uma
sequên ia de N medidas ou intera ~oes anteriores, e o de alterar essas probabilidades de a ordo
om as rela ~oes
P+(N ) = os2N
P+[(N + 1) t
t
t 1 P+ (N t) 2 t P+(N +1)
= os2
+
sen
> (N ) = os2 :
P+ (N t)
2h
P+ (N t)
2h
2h
P+
Problemas.
2.1 - a) Mostre que os oe ientes n que apare em na Eq. (2.2) s~ao dados por n = (n ; ')
quando o onjunto de vetores fn g, n = 1; 2; ::: ; formam uma base ortonormal. Como deve
ser es rita a expans~ao de ' em termos de uma base f^ng, ortogonal mas ujos vetores n~ao
s~ao normalizados, isto e, tal que (^n ; ^m ) = n nm om os n n~ao nulos, dependentes de n e
diferentes de 1?
b) Mostre que os elementos gnm da matriz que representa um operador hermiteano g na
, e que os oe ientes da expans~ao
base ortonormal fng s~ao gnm = (n; gm), que gnm = gmn
P
da imagem g j'i de um vetor qualquer j'i nessa base s~ao dados por hm jg j'i = n gmn n , om
n = hnj'i. Como se modi a esta ultima rela ~ao no aso em que se use a base ortogonal de
vetores n~ao normalizados f^ng?
) Mostre que a matriz que representa o produto gh de dois operadores g e h numa base
ortonormal e o produto (matri ial) das matrizes que representam ada um deles na mesma
base, isto e
(gh)nm =
gnp hpm :
d) Verique a express~ao (2.5) usando as expans~oes em serie das exponen iais e a hermiti idade de H .
97
e) Usando as expans~oes em serie de potên ias das exponen iais em (2.4) mostre que g (t)
pode ser es rito em termos da serie de potên ias de t envolvendo multiplos omutadores
1 i 2
i
[H; [H; g (0)t2 + :
g (t) = g (0) + [H; g (0)t +
h
2! h
Cal ule tambem o termo seguinte dessa serie. i
f) Verique a equa ~ao (2.8) mostrando que e h Ht n = e hi En t n , dado que Hn = En n . Use
para isso a expans~ao da exponen ial em serie de potên ias.
Esse resultado depende da norma
i Ht
de n ? Qual e a rela ~ao entre a norma de n e a de e h n ?
2.2 - Usando a deni ~ao de norma (2.9) mostre que

a) dados dois vetores j'i e j i quaisquer, vale a igualdade do paralelogramo
2k'k2 + 2k
k2 = k' + k2 + k' k2
onde k' k denota a norma dos vetores j'i j i.
b) dada uma famlia ortonormal de N vetores, fjn ig, n = 1; :::; N , e um vetor qualquer j'i
em um espa o de dimens~ao maior que N (possivelmente innita), vale o teorema de Pitagoras
k'k2 =
N
X
n=1
jhnj'ij2 + k'
N
X
n=1
n hnj'ik2
N j ih j'i. Sugest~

onde o ultimo termo denota o quadrado da norma do vetor j'i
ao:
n
n=1 n
es reva o vetorP j'i omo a soma de dois vetores ortogonais entre si usando o operador de
proje ~ao P Nn=1 jnihnj e seu omplementar Q ^1 P .
Use as propriedades da norma para obter, a partir do teorema de Pitagoras, a desigualdade
P
de Bessel
k'k2
N
X
n=1
jhnj'ij2:
Em que ondi ~oes essa desigualdade vale omo igualdade?
2.3 - Des reva os autovetores do operador de proje ~ao Qn = ^1 Pn , om Pn jnihnj,
hnjni = 1, asso iados a ada um dos autovalores possveis, 1 e 0 bem omo o grau de
degeneres ên ia de ada um dos autovalores. Compare o resultado om o que orresponde
ao operador de proje ~ao omplementar Pn Sugest~ao: use uma base ortonormal do espa o
vetorial que ontem jni omo um de seus vetores.
98
2.4 - Considere uma famlia de N vetores n~ao ortogonais mas linearmente independentes j'j i;
ent~ao
a) mostre que a matriz N N (n~ao diagonal)

de produtos es alares sij h'i j'j i e uma maP
triz hermiteana positiva denida, isto e, ij i sij j 0 para qualquer onjunto de oe ientes
f ig; i = 1; :::; N , sendo que a igualdade a zero impli a que todos os i s~ao nulos (sugest~ao:
use a independên ia linear dos vetores j'j i e as propriedades de positividade da norma);
b) onsidere o problema de autovalores
N
X
j =1
sij fj(n) = n fi(n)
(2.47)
em que ffj(n) g; j = 1; :::; N s~ao autovetores da matriz fsij g om autovalores n ; mostre que os
autovalores podem ser obtidos omo as N razes da equa ~ao ara tersti a det(sij ij ) = 0;
use a hermiti idade da matriz para mostrar que os autovalores s~ao reais (a positividade da
matriz impli a que todos os autovalores s~ao positivos);
) supondo todas as razes distintas (isto e, supondo que n~ao haja razes multiplas), mostre
que os autovetores satisfazem a ondi ~ao de ortogonalidade
N
X
j =1
fj(m) fj(n) = 0 se m 6= n;
d) supondo tambem que os autovetores sejam normalizados omo

que os N vetores
jni
jfj(n)j2 = 1, mostre
p1 fj(n) j'j i

n
s~ao ortonormais, isto e hm jni = mn ; P

e) mostre nalmente
que, se j i = j j j'j i e uma ombina ~ao linear qualquer dos vetores
P
de partida e P n jnihnj, ent~ao P e um operador de proje ~ao e P j i = j i.
Observa ~ao: no aso em que a equa ~ao ara tersti a tenha razes multiplas, a hermiti idade
de fsij g garante que a indetermina ~ao do sistema de equa ~oes lineares (2.47) e sempre su iente
para que haja um numero de autovetores ffj(n;k) g independentes igual a multipli idade n da
raiz multipla orrespondente n (isto e, k = 1; :::; n), os quais podem ser es olhidos de forma
a serem ortogonais entre si. Essa es olha n~ao e porem uni a, ao ontrario do que o orre no
aso em que todas as razes da equa ~ao ara tersti a sejam distintas. No entanto, vale a
pena observar tambem que o pro edimento usado a ima para gerar uma famlia ortonormal da
qual resulte um operador de proje ~ao om a propriedade expressa em e) por sua vez n~ao e o
99
uni o possvel, e que pro edimentos diferentes forne em em geral famlias ortonormais tambem
diferentes. A existên ia de uma innidade de famlias ortonormais orrespondendo ao mesmo
projetor P resulta de que transformando qualquer famlia parti ular (por exemplo, a obtida em
d) a ima) por meio de uma matriz unitaria qualquer de dimens~ao N resulta outra famlia que
leva ao mesmo P .
f) Verique a ultima arma ~ao da observa ~ao a ima:P se fuim g; i; m = 1; :::; N e uma
matriz unitaria, isto e, (u 1 )nj = (uy)nj = ujn e portanto i uim uin = mn , ent~ao os N vetores
j~ii Pm uimjmi s~ao ortonormais (supondo que os jni tambem sejam, tendo sido obtidos,
por exemplo, omo em d) a ima) e
N
X
i=1
X
j~iih~ij = jnihnj P:
n=1
2.5 - a) Se fjn ig; n = 1; 2; ::: e uma base em um espa o de Hilbert e g e o operador linear,
representado nessa base pela matriz gmn = hm jg jni, mostre que o g pode ser es rito omo
g=
mn
jmigmnhnj:
b) Considere outra base ortonormal fjn ig; n = 1; 2; :::. Mostre que a matriz u tal que
umn hm jn i e unitaria, isto e
uuy = uy u = 1 ou seja
uml unl =
ulm uln = mn :
) O tra o de um operador linear g , Tr [g , pode ser denido omo a soma dos elementos de
matriz diagonais gnn = hn jg jni, isto e
Tr [g =
gnn:
Mostre que Tr [g e independente da base ortonormal es olhida.

d) Mostre que o elemento de matriz gmn = hm jg jni pode ser obtido omo
h
gmn = Tr g (Umn )y
onde Umn jmihn j.
2.6 - Um operador linear 1 agindo sobre um espa o vetorial de duas dimens~oes e representado
numa erta base ortonormal fj1 i; j2ig pela matriz
100
1 =
0 1
1 0
a) Esse operador e hermiteano? Obtenha seus autovalores s1 e s2 e tambem os autovetores

normalizados orrespondentes nessa mesma base fj1 i; j2ig.
b) Usando ainda a mesma base, es reva as matrizes que representam os operadores de
proje ~ao Psi ; i = 1; 2 sobre ada um dos dois autovetores de 1 . Usando essas matrizes,
verique expli itamente as rela ~oes Ps1 Ps2 = Ps2 Ps1 = 0 e Ps1 + Ps2 = 1 onde 0 e a matriz nula
e 1 e a matriz identidade 22.
) Mostre que a matriz orrespondente ao operador ei1 , onde e um numero real, pode
ser es rita omo
ei1 = 1 os + i1 sen :
Sugest~ao: Verique que 12 = 1 e use esse fato na expans~ao da exponen ial em serie de
potên ias.
2.7 - Seja o hamiltoniano de os ilador unidimensional

p2
+ q k = H y; > 0; k par 2;
H=
2M
e sejam En e jni seus autovalores e autovetores normalizados, isto e
H jni = En jni; hnjn i = 1:
a) Se g e uma variavel dinâmi a qualquer, mostre que
hnj[g; H jni = 0
para qualquer autovetor jn i de H .

b) Cal ule os omutadores [q; H , [p; H e [pq + qp; H em termos de p e q , usando [p; q =
h ^1=i. Verique em parti ular que o ultimo deles pode ser expresso em termos de K = p2 =2M e
de V = q k . Use ent~ao esses omutadores e o resultado a) para mostrar as seguintes rela ~oes,
validas para qualquer autovetor jni:
i) hn jpjni = 0;
ii) hn jq k 1jni = 0;
2
iii) hn j 2pM jni = k2 hn jq k jni (teorema do virial);
2
n
e hnjq k jni = k2E+2n .
iv) hn j 2pM jn i = kE
k+2
101
) No aso dePum os ilador anarmôni o ujo poten ial pode ser expandido em serie de
potên ias V (q ) = k vk q k , mostre que o teorema do virial apare e sob a forma mais geral
2
hnj 2pM jni = 21 hnjq Vq(q) jni:

2.8 - Usando os resultados do problema 2.7 no aso k = 2, al ule o valor do produto de
in ertezas p q para o estado esta ionario de energia En = (n +1=2)h!0 do os ilador harmôni o.
Verique, em parti ular, que o estado de menor energia e um estado de in erteza mnima..
2.9 - Um \sistema de dois nveis" e des rito por um hamiltoniano uja matriz, numa erta base
ortonormal fj1 i; j2ig, e
H=

a) Determine as energias dos estados esta ionarios desse sistema e os vetores de estado
normalizados que os representam, em termos da mesma base ortonormal.

b) Tratando a dinâmi a do sistema na des ri ~ao de S hrodinger, determine a forma do vetor
de estado num instante generi o t > 0 a partir da ondi ~ao ini ial de que em t = 0 o vetor de
estado e j1 i.
) Cal ule a probabilidade de que o sistema esteja no mesmo estado j1 i no tempo t > 0.
Existem valores de t para os quais essa probabilidade se anula? Em aso positivo, qual o vetor
de estado orrespondente a des ri ~ao de S hrodinger nesses tempos?
d) Para resolver esse mesmo problema na des ri ~ao de Heisenberg, obtenha o operador P1 (t)
dessa des ri ~ao que em t = 0 e o operador de proje ~ao P1 (t = 0) j1 ih1 j, al ule o valor
medio desse operador no vetor de estado independente do tempo j1 i e ompare o resultado
om o obtido em ).
e) O operador P1 (t) e ainda um operador de proje ~ao para t > 0? Obtenha os autovetores
desse operador e determine a sua rela ~ao om o resultado do item b).
2.10 - Mostre que o hamiltoniano n~ao one ta dois autovetores de uma onstante de movimento
asso iados a autovalores diferentes, isto e: se g e uma onstante de movimento e se g jii =
i jii; i = 1; 2 om 1 6= 2 , ent~ao h1 jH j2i = 0.
2.11 - O hamiltoniano de um sistema de três nveis e representado numa erta base ortonormal
fjiig; i = 1; 2; 3 pela matriz
102
B
B
B
0B
B
B

H =e
0
0
0
3
C
C
C
C
C
C
A
onde e0 e uma onstante real om dimens~oes de energia.

a) Verique que o observavel representado na mesma base pela matriz
0
B
B
B
0B
B
B

g=
2 3
2 3
1
C
C
C
C
C
C
A
onde 0 e tambem uma onstante real om dimens~oes apropriadas, e uma onstante de movimento, e portanto ompatvel om H .
b) Obtenha um onjunto de autovetores omuns as duas matrizes (sempre em termos da
base ortonormal fjiig; i = 1; 2; 3) e os autovalores orrespondentes, para ada uma delas.
Esses dois observaveis formam um onjunto ompleto de observaveis ompatveis para o sistema
de três nveis?
2.12 - a) Com referên ia a dis uss~ao do \efeito Zeno" quânti o na se ~ao 2.4.1, al ule a probabilidade in lusiva
^
P+ (2 t) = lim
!1h 0;m (2 t + )j (j+ ih j)
1m j 0;m (2 t + )i
onde j 0;m (2 t + )i e o estado que evolui a partir do estado ini ial
(2)
j 0;m(t = 0)i = j+i
j(1)
0 i
j 0 i
atraves do hamiltoniano H = H0 + Hm + H 0 , om

H0 = j+i h+j + j
2
i 2 h j;
Hm =
e
103
2 X
+1
X
n=1 j = 1
j(jn) ijh(jn)j
2
h X
0
(t
H =
n=1
n t)
(n) ;
(n)
n)
= j(+1
i+h0(n) j + j(n1) i h(0n) j + h: : :
Sugest~ao: Note que existem dois sistemas \medidores" independentes, distinguidos pelo ndi e
superior n = 1; 2, que s~ao respe tivamente a oplados ao sistema de dois nveis nos tempos n t.
Nessas ondi ~oes, a evolu ~ao temporal ate o instante t = 2 t e dada pela express~ao (2.40),
o que permite obter rapidamente o resultado desejado.
b) Cal ule a probabilidade ex lusiva
P+(N =2)
lim
!1h 0;m (2 t + )j
2
X
n=1
(n)
+1
ih
(n)
+1
j
^10j 0;m(2 t + )i
n)
que orresponde a en ontrar os sistemas medidores nos estados j(+1
i no instante t = 2 t + .
Compare essa probabilidade om o resultado orrespondente obtido utilizando o postulado da
redu ~ao omo na se ~ao 2.4.1.
Refer^
en ias gerais.
O formalismo geral e a interpreta ~ao da me âni a quânti a s~ao tratados em prati amente todos
os numerosos textos sobre o assunto, om varia oes eventuais de ênfase e sosti a ~ao. Tratamentos que podem ser vistos omo \padr~ao" se en ontram, por exemplo, em
? A. Messiah, Quantum Me hani s, John Wiley, 1961, Captulo VII.

? C. Cohen-Tanoudji, B. Diu e F. Laloe, Me anique Quantique, Hermann, 1973, Captulos
II e III.
? J. J. Sakurai, Modern Quantum Me hani s, Addison-Wesley Publ. Co., 1985, Captulos 1
e 2.
Um texto padr~ao dedi ado a formula ~ao de Feynman e
? R. P. Feynman e A. R. Hibbs, Quantum Me hani s and Pth Integrals, M Graw-Hill Book
Co., 1965.
O tratamento lassi o (e muito legvel), uja in uên ia pode ser fa ilmente per ebida nos textos
posteriores, se en ontra no entanto em
104
? P. A. M. Dira , The Prin iples of Quantum Me hani s, 4th. Edition, Oxford U. Press,
1958, Captulos I a IV.
Um tratamento ompa to mas profundo, que in lui alguns pontos raramente abordados, omo
a n~ao reprodutibilidade, em geral, de medi ~oes feitas sobre sistemas quânti os, en ontra-se em
? L. Landau e E. Lifshitz, Quantum Me hani s, Pergamon Press, 1958

do qual existem tambem edi ~oes posteriores aumentadas, notadamente em tradu ~oes fran esas
publi adas pela Editora MIR, Mos ou.
O tratamento matemati amente mais pre iso do problema espe tral para operadores lineares
em espa os de dimens~ao innita (isto e, um tratamento \na linha von Neumann", v. nota a
pag. 59) pode ser en ontrado, por exemplo, em
? A. N. Kolmogorov e S. V. Fomin, Elementos de la teoria de fun iones y del analisis

fun ional, Editorial MIR, Mos ou, 1972, Captulo IV
e espe ialmente em
? M. Reed e B. Simon, Methods of Modern Mathemati al Physi s, Volume I, A ademi Press,

1972
do qual vale a pena itar a epgrafe da se ~ao preliminar: \The beginner...should not be dis ouraged if...he nds that he does not have the prerequisites for reading the prerequisites. (P.
Halmos)"
Ao longo da ultima de ada houve um re rudes imento do interesse em quest~oes relativas a
interpreta ~ao da me âni a quânti a, fortemente apoiado pela realiza ~ao e analise experimental
de algumas situa ~oes mais exoti as preditas pela teoria. Um tratamento bastante extenso
dessas quest~oes, bem omo um rol onveniente de referên ias a literatura periodi a, pode ser
en ontrada em
? Roland Omnes, The Interpretation of Quantum Me hani s, Prin eton Series in Physi s,
Prin eton U. Press, 1994.
105
106
Captulo 3
Sistemas quânti os simples.
Este aptulo trata do uso da teoria desenvolvida no aptulo pre edente para o tratamento de
sistemas quânti os simples e ompletamente soluveis. A solubilidade ompleta n~ao pode hegar
a ser vista omo uma ara tersti a \tpi a" de sistemas quânti os, o que alias e revelado pela
grande importân ia e onsideravel sosti a ~ao de metodos de aproxima ~ao desenvolvidos no
ontexto da me âni a quânti a. Ela permite, no entanto, ilustrar o fun ionamento efetivo da
teoria e alguns aspe tos ru iais do omportamento de sistemas quânti os independentemente
das ompli a ~oes e in ertezas de ordem mais te ni a ligadas ao uso de metodos aproximados de
solu ~ao. As duas primeiras se ~oes dis utem solu ~oes de problemas em termos \abstratos", isto
e, em termos de operadores e vetores de estado tratados independentemente de representa ~oes
parti ulares. As se ~oes seguintes introduzem e usam e hamada \representa ~ao de S hrodinger", na qual os vetores de estado s~ao representados por fun ~oes omplexas da posi ~ao. Uma
ara tersti a importante desta representa ~ao parti ular e a de permitir uma analise \lo al"
(em termos de posi ~ao) de propriedades gerais, omo a unitariedade da dinâmi a quânti a.
Esse tipo de analise e parti ularmente relevante para ompreender alguns aspe tos do hamado
regime semi- lassi o da teoria quânti a.
3.1
O os ilador harm^
oni o.
O tratamento dado na se ~ao 1.3.2 ao problema do os ilador harmôni o baseou-se fortemente
no esquema geral da me âni a das matrizes tal omo formulado por Born e Jordan. Nesse
esquema os vetores de estado orrespondentes aos estados esta ionarios do os ilador (isto e,
os autovetores do hamiltoniano do os ilador) n~ao apare em expli itamente, embora estejam
impli itamente presentes no arater diagonal exigido para a matriz que representa o hamiltoniano. Esta se ~ao trata em primeiro lugar, portanto, de expli itar a natureza e propriedades dos
107
estados esta ionarios de um os ilador harmôni o unidimensional.

Um problema mais geral, e que ilustra o uso de hamiltonianos que dependem expli itamente
do tempo, e o do os ilador harmôni o for ado, isto e, sujeito a a ~ao de uma for a externa
dependente do tempo. O hamiltoniano a ser onsiderado nesse aso e
p2 M!02 2
+
q f (t)q
(3.1)
2M
2
onde p e q s~ao entendidos omo operadores satisfazendo a rela ~ao de omuta ~ao [p; q = h =i e
f (t) e uma fun ~ao real do tempo que representa uma for a externa agindo sobre o os ilador.
A realidade de f (t) garante o arater hermiteano de H (t) em qualquer tempo, e o signi ado
dessa fun ~ao, que e o de uma for a externa dependente do tempo que age sobre o os ilador, se
torna laro al ulando expli itamente a equa ~ao de movimento de Heisenberg para p ( f. Eq.
(1.18))
H (t) =
H (t)
dp
=
= M!02 q + f (t):
dt
q
3.1.1 Espe tro e autovetores do hamiltoniano do os ilador.

O problema a ser tratado aqui onsiste em obter os autovalores e autovetores do hamiltoniano
(3.1) no aso em que f (t) 0. Para xar ideias, isso sera feito numa des ri ~ao de S hrodinger,
em que os varios operadores a serem onsiderados ser~ao tratados omo sendo independentes
do tempo, sendo a dinâmi a nalmente implementada atraves de uma dependên ia temporal
do vetor de estado pres rita pela equa ~ao de movimento (2.28). O onta to om a des ri ~ao
de Heisenberg sera re-estabele ido posteriormente, fazendo uso do operador de evolu ~ao do
os ilador livre.
Atraves das transforma ~oes (1.20) o hamiltoniano (3.1) pode novamente ser posto sob a
forma (tomando aqui f (t) 0)
H = h !0
1
ay a +
onde os operadores a e ay satisfazem a rela ~ao de omuta ~ao [a; ay = 1. Desse modo, o problema
de autovalores para o hamiltoniano a reduzido ao problema de autovalores para o operador
hermiteano n aya, isto e, ao problema de identi ar numeros e vetores j i normalizados de
forma que h j i = 1 tais que
nj i ayaj i = j i:
108
Supondo ini ialmente que algum vetor om essa propriedade tenha sido identi ado, usando
a rela ~ao de omuta ~ao de a e ay pode-se ver fa ilmente que
aya(ay j i) = ay (ay a + 1)j i = ( + 1)(ay j i)

e tambem que
ay a(aj i) = (aay
1)aj i) = (
1)(aj i)
de modo que os vetores ay j i e aj i s~ao tambem autovetores de n om autovalores + 1 e 1

respe tivamente. Supondo que o vetor j i seja devidamente normalizado, a forma normalizada
dos autovetores deduzidos j 1i pode ser obtida al ulando onstantes de normaliza ~ao ( )
tais que
1 = j + ( )j2 h jaayj i = j + ( )j2 h j(ay + 1)j i = j + ( )j2 ( + 1)
e
1 = j ( )j2 h jay aj i = j ( )j2 :
Como o orre normalmente na determina ~ao de onstantes de normaliza ~ao para autovetores,
essas rela ~oes determinam ( ) a menos de um fator de fase. Fazendo a es olha mais simples,
que onsiste em tomar essas onstantes omo reais e positivas (supondo > 0), resulta que de
um autovetor normalizado j i asso iado a um autovalor pode-se deduzir os novos autovetores,
tambem normalizados, j 1i, asso iados a autovalores 1,
j + 1i = p1+ 1 ayj i
j
1i =
p1 aj i:
N~ao e dif il ver, em seguida, que os valores possveis de devem ser limitados inferiormente.
De fato, se e um autovalor, ent~ao 1 tambem sera um autovalor sempre que a norma do
vetor aj i seja positiva, pois o vetor nulo n~ao e a eitavel omo autovetor. Por outro lado, essa
norma pode ser al ulada expli itamente om o resultado
h jayaj i = :
que 0, e para que
A positividade da norma exige ent~ao

isso seja sempre verdade, os
valores admissveis de s~ao os inteiros n~ao negativos. De fato, qualquer autovalor n~ao inteiro
levaria a um vetor de norma negativa apos um numero su iente de apli a ~oes do operador a
ao respe tivo autovetor. Se, por outro lado e um inteiro positivo, a apli a ~ao do operador
109
a ao autovetor j i, repetida + 1 vezes, leva ao vetor nulo, e onsequentemente a termina ~ao

da sequên ia des endente de autovalores e autovetores. O menor autovalor do os ilador e
laramente aquele em que = 0, pois o vetor aj = 0i tem norma nula. O autovetor j = 0i
orrespondente ao estado fundamental e portanto denido pela ondi ~ao aj = 0i = 0.
Dessa forma, o espe tro de n ay a onsiste dos inteiros n~ao negativos = 0; 1; 2; ::: e o
espe tro do hamiltoniano e dado por

E = h !0 +
1
;
2
os autovetores normalizados orrespondentes podem ser designados omo j i, = 0; 1; 2; :::, s~ao

ortogonais (pois s~ao autovetores de um operador hermiteano asso iados a autovalores diferentes)
e satisfazem as propriedades
ay j i = + 1 j + 1i
aj i = j
1i
que de fato permitem al ular elementos de matriz para qualquer variavel dinâmi a. Tomando
omo exemplo o operador q , usando a transforma ~ao que o exprime em termos de a e ay
s
q=
h
(ay + a)
2M!0
e imediato que
h 0 j q j i =
p
h p
+ 1 0 ; +1 + 0 ;
2M!0
Em parti ular, elementos de matriz diagonais h jq j i s~ao nulos. Resultados semelhantes valem
tambem para os elementos de matriz de p, dado que este operador e tambem uma ombina ~ao
de a e ay.
O anulamento dos valores medios de q e p nos autovetores do hamiltoniano permite al ular
os produtos de in erteza desses dois operadores, nesses estados, simplesmente a partir dos
valores medios dos quadrados dos operadores p e q
p2 =
h M!0 y2 2
(a + a
2
2aya
1)
q2 =
h
(ay2 + a2 + 2ay a + 1)
2M!0
o que leva a

p2( ) q2( ) = h jp2 j ih jq 2 j i = h 2 +

110
1 2
2
mostrando que os produtos de in erteza res em om e que o estado fundamental = 0 e na

realidade um estado de in erteza mnima.
Finalmente, e util dis utir o uso dos autovalores e autovetores em onex~ao om a dinâmi a
do os ilador harmôni o. O elemento essen ial, omum as diferentes realiza ~oes da dinâmi a do
os ilador harmôni o, e o operador de evolu ~ao
i
y 1
U (t; t0 ) e h H (t t0 ) = e i!0 (t t0 )(a a+ 2 ) :
Como observado na se ~ao 2.3.1, introduzindo a resolu ~ao da unidade em termos dos autovetores
de H
1
X
^1 = j ih j
esse operador pode ser es rito sob a forma
U (t; t0 ) =
1
X
=0
=0
j ie
i( + 21 )!0 (t t0 )
h j
que e muito util para exprimir os mais diversos objetos dinâmi os, seja na des ri ~ao de S hrodinger seja na de Heisenberg. Por exemplo, a solu ~ao do problema de ondi ~oes ini iais na des ri ~ao
de S hrodinger, que onsiste em determinar a solu ~ao da equa ~ao de movimento (2.28) que em
t = 0 se reduz a um vetor de estado j'(0)i dado, pode ser es rita imediatamente omo
j'(t)i = U (t; 0)j'(0)i =
1
X
=0
j ie
i( + 21 )!0 t
h j'(0)i:
Por outro lado, os observaveis dependentes do tempo da des ri ~ao de Heisenberg podem ser
obtidos a partir de a(t) e de seu hermiteano adjunto ay(t), e estes por sua vez podem ser obtidos
fa ilmente a partir do operador de evolu ~ao. De fato,
a(t) = U y (t; 0)a(0)U (t; 0) =

donde resulta que ay (t) = ei!0 t ay (0) e
1 X
1
X
j 0iei0!0 t h 0ja(0)j ie
0 =0 =0
e i!0 t ^1 a(0) ^1
s
=e
i!0 t
h j
i!0 t a(0)

h i!0 t y
h M!0 i!0 t y
q (t) =
e a + e i!0 t a ; p(t) = i
e a e i!0 t a :
2M!0
2
Quando os operadores p(t) e q (t) (ou, equivalentemente, a(t) e ay (t)) s~ao substitudos no
hamiltoniano, a dependên ia temporal, asso iada a representa ~ao de Heisenberg, se an ela,
ilustrando o fato geral de que um hamiltoniano que n~ao depende expli itamente do tempo e
independente do tempo, isto e, uma onstante do movimento.
111
3.1.2 Dinâmi a do os ilador for ado.

O problema da dinâmi a de os ilador quânti o for ado, envolve o hamiltoniano dependente do
tempo (3.1), agora om f (t) diferente de zero. A sua solu ~ao e dada, portanto, em termos de um
operador de evolu ~ao que satisfaz a equa ~ao diferen ial (2.31) om a respe tiva ondi ~ao ini ial
ou, equivalentemente, a equa ~ao integral (2.32). Na des ri ~ao de S hrodinger, esse operador
de evolu ~ao determina a evolu ~ao temporal do vetor de estado a partir de um vetor de estado
ini ial dado em t = 0, isto e
j'(t)i = U (t; 0)j'(t = 0)i:

Esse vetor de estado dependente do tempo permite em seguida al ular as propriedades dos
varios observaveis que sejam de interesse. A substitui ~ao de p e q pelos operadores a e ay e
tambem util para simpli ar a forma do hamiltoniano, que apare e ent~ao sob a forma

1
y
H (t) = h !0 a a +
2

h
1
y
y
F (t)(ay + a):
f (t)(a + a) h !0 a a +
2M!0
2
(3.2)
Alternativamente, o problema pode ser tratado (e om maior simpli idade, neste aso) na
des ri ~ao de Heisenberg, em que o vetor de estado e sempre aquele orrespondente a ondi ~ao
ini ial dada, enquanto os observaveis de interesse s~ao dependentes do tempo, satisfazendo a
equa ~ao de movimento (2.33). Como os varios observaveis s~ao exprimveis em termos de p(t) e
q (t), e portanto tambem em termos de a(t) e ay (t), basta onsiderar a equa ~ao de movimento
para a(t), que pode ser es rita expli itamente omo
da(t)
= [a(t); HH (t) = h !0 a(t) F (t)^1
dt
uja solu ~ao tambem pode ser expressa em termos do operador de evolu ~ao omo
ih
a(t) = U y (t; 0)a(t = 0)U (t; 0)
(3.3)
(3.4)
onde a(t = 0) pode ser identi ado om o operador que apare e na des ri ~ao de S hrodinger.
Nessa equa ~ao, o hamiltoniano HH (t) tem a mesma forma que H (t) em (3.2), mas om a
e ay substitudos pelos orrespondentes operadores de Heisenberg a(t) e ay (t), que tambem
satisfazem a rela ~ao de omuta ~ao em tempos iguais [a(t); ay (t) = 1. Isso orresponde a
deni ~ao geral para as variaveis dinâmi as na des ri ~ao de Heisenberg
HH (t) = U y (t; 0)H (t)U (t; 0)

112
que leva agora a um resultado que difere do hamiltoniano H (t) orrespondente a des ri ~ao
de S hrodinger devido a n~ao omutatividade de H (t) om U (t). De fato, o operador de evolu ~ao, denido pelas equa ~oes (2.31) ou (2.32), envolve o hamiltoniano em tempos t0 6= t, e
[H (t); H (t0) 6= 0 sempre que f (t) 6= f (t0 ).
Um modo simples de resolver esse problema dinâmi o, sem ne essidade de obter o operador
de evolu ~ao expli itamente, onsiste em onsiderar diretamente a equa ~ao (3.3) para o operador
a(t). Esta equa ~ao pode ser fa ilmente resolvida observando que
d i!0 t
da(t)
e a(t) = i!0 ei!0 t a(t) + ei!0 t
dt
dt
o que permite rees reve-la sob a forma
d i!0 t i i!0 t
e a(t) = e F (t)^1
dt
h
que pode ser imediatamente integrada om o resultado
Z t

i
0
a(t) = e i!0 t a(0) + e i!0 t dt0 ei!0 t F (t0 )^1 e i!0 t a(0) + v (t)^1
h
0
onde foi introduzida por onveniên ia a abrevia ~ao
(3.5)
(3.6)
i Z t 0 i!0 t0 0
dt e F (t ):
h 0
Varias observa ~oes devem ser feitas om rela ~ao a este resultado. Em primeiro lugar, o primeiro
termo da solu ~ao para a(t) provem da onsidera ~ao da ondi ~ao ini ial de que para t = 0 o
operador de Heisenberg a(t) deve se reduzir a a(0), ao resolver a equa ~ao diferen ial (3.5). Esse
termo e independente da for a externa F (t) e de fato oin ide om o operador de Heisenberg
a(t) para o os ilador livre. Em segundo lugar, deve ser observado que todos os efeitos da for a
externa est~ao ontidos no ultimo termo da solu ~ao, que tem a forma bastante espe ial de um
multiplo (dependente do tempo) do operador unidade. Essa forma garante, em parti ular, que
a rela ~ao de omuta ~ao [a(t); ay (t) = 1 valha sempre, isto e, qualquer que seja a for a externa
apli ada ao os ilador. De fato, a equa ~ao (3.6) resolve ompletamente o problema do os ilador
for ado, no sentido de que permite al ular propriedades relativas a quaisquer observaveis,
para qualquer vetor de estado que seja espe i ado em t = 0. Como exemplos simples do uso
dessa solu ~ao, os valores medios da posi ~ao e do momento do os ilador for ado, quando ele esta
ini ialmente no estado fundamental j = 0i s~ao dados respe tivamente por
v (t)
h
i
h
2h
hq(t)i = 2M!
h0j(ay(t) + a(t))j0i = M!
Re e i!0 t v (t)
0
0
113
q
h
0
hp(t)i = i h M!
h
0j(ay(t) a(t))j0i = 2hM!0 Im e
2
i!0 t v (t)
Para essa ondi ~ao ini ial parti ular (os ilador ini ialmente no estado j = 0i) e possvel
obter expli itamente a solu ~ao do problema na des ri ~ao de S hrodinger, a partir da equa ~ao
(3.6), do seguinte modo. Como a(0)j = 0i = 0, apli ando o operador a(t) sobre o estado
fundamental obtem-se
a(t)j = 0i = e i!0 t v (t)j = 0i:

Por outro lado, o operador de Heisenberg a(t) pode ser es rito em termos de a(0) e do operador
de evolu ~ao U (t; 0) omo na equa ~ao (3.4), de modo que, usando a unitariedade de U (t; 0),
U (t; 0)a(t)j = 0i = a(0)U (t; 0)j = 0i = e i!0 t v (t)U (t; 0)j = 0i:
(3.7)
No entanto, o estado U (t; 0)j = 0i e a solu ~ao da equa ~ao de movimento, orrespondente a
ondi ~ao ini ial onsiderada, para o estado do os ilador for ado na des ri ~ao de S hrodinger,
e a ultima equa ~ao mostra que esse estado e, no tempo t, um autovetor do operador a(0)
om autovalor e i!0 t v (t). Vetores de estado om essa propriedade s~ao onhe idos omo estados
oerentes do os ilador harmôni o e podem ser fa ilmente expressos, por exemplo, em termos
dos autovetores fj ig do hamiltoniano do os ilador livre. De fato, impondo a rela ~ao
ajz i = z jz i
onde z e um numero omplexo, e introduzindo a expans~ao
jz i =
1
X
=0
j i
resulta, usando a forma expl ita da a ~ao de a sobre os autovetores normalizados j i, que se
deve ter
1
X
=1
j
1i = z
1
X
=0
j i:
Comparando os oe ientes de um dado autovetor j i das duas expans~oes resulta ent~ao que
+1 =
pz
+1
ou ainda
114
=
pz 0
!
de modo que se obtem para o autovetor de a
jzi = 0
1
X
=0
pz j i:
!
O valor de 0 pode ser determinado pela ondi ~ao de normaliza ~ao hz jz i = 1 que da, em vista
da ortonormalidade dos j i,
1 = j 0 j2
1
X
=0
jzj2 = j j2 ejzj2 :
0
!
Com a es olha mais simples da fase de 0 , a forma nal normalizada dos estados oerentes e
portanto ( f. problema 1.5)
jz i = e
1
jz j2 X
2
=0
pz j i:
!
Esse resultado mostra que qualquer numero omplexo z e autovalor do operador (n~ao hermiteano) a, tendo omo autovetor normalizado o estado oerente onstrudo om esse autovalor. E
fa il veri ar que estados oerentes om valores diferentes de z n~ao s~ao ortogonais. Em vista do
resultado (3.7), a solu ~ao da equa ~ao de movimento, na des ri ~ao de S hrodinger, para o vetor
de estado de um os ilador for ado que se en ontra ini ialmente em seu estado fundamental e
na realidade o estado oerente
jz = e
i!0 t v (t)
i=e
1
jv(t)j2 X
2
=0
i!0 t v (t)
!
j i:
Os estados oerentes têm uma serie de outras propriedades notaveis, algumas das quais s~ao
tratadas nos problemas deste aptulo. Em parti ular, eles s~ao estados de in erteza mnima
para qualquer valor de z , uja evolu ~ao temporal, pres rita pela equa ~ao de movimento da
des ri ~ao de S hrodinger para o os ilador livre, permane e um estado oerente. Nesse aso, a
dependên ia das partes real e imaginaria de z om o tempo obede e as equa ~oes de Hamilton
para um os ilador harmôni o lassi o.
3.2
Sistemas de dois n
veis.
Sistemas quânti os omplexos om espe tro de energia dis reto s~ao frequentemente en ontrados
em situa ~oes dinâmi as espe iais nas quais apenas dois estados esta ionarios têm parti ipa ~ao
signi ativa. Em tais asos e frequente o uso de uma aproxima ~ao esquemati a em que todos os
115
outros estados esta ionarios s~ao ignorados e o sistema a portanto reduzido a um \sistema de
dois nveis". O interesse desse tipo de aproxima ~ao vem de que ela permite tratar a dinâmi a
quânti a resultante de forma exata e ompleta, em termos analti os. Um exemplo frequentemente esquematizado dessa forma e o da mole ula de amônia (v. The Feynman Le tures on
Physi s, Addison-Wesley Publ. Co., 1965, vol. III, Le ture 9). Outra situa ~ao que se presta, e
om razoavel realismo, a um tratamento nesses termos e a que envolve a intera ~ao ressonante de
dois estados esta ionarios atômi os om o ampo eletromagneti o de uma avidade, permitindo
ignorar a parti ipa ~ao de outros nveis n~ao ressonantes (v. S. Haro he e P. Raymond, em Cavity
Quantum Ele trodynami s, P. R. Berman (ed.), A ademi Press, N.Y., 1994).
A dinâmi a quânti a de um sistema de dois nveis se da em um espa o vetorial omplexo de duas dimens~oes, que pode portanto ser tratado em termos de uma base ortonormal de
dois vetores fj1i; j2 ig. Nesse espa o, qualquer operador linear pode ser es rito omo ombina ~ao linear de quatro operadores que, em termos dessa base, podem ser tomados omo sendo
jiihj j; i; j = 1; 2. Desse modo, um operador linear qualquer g pode ser representado omo
g=
2
X
i;j =1
gij ji ihj j
ou, equivalentemente, em termos da matriz 2 2
g11 g12
g21 g22
enquanto um vetor geral do espa o pode ser es rito omo uma ombina ~ao linear dos dois
vetores de base, j'i = 1 j1i + 2 j2 i, que pode ser tambem expressa sob a forma
j 'i !
1
2
Para que o estado j'i esteja devidamente normalizado e pre iso ainda impor sobre os oe ientes
dessa expans~ao a ondi ~ao j 1 j2 + j 2 j2 = 1.
Adotando omo vetores de base os vetores asso iados aos dois estados esta ionarios relevantes, o hamiltoniano H0 do sistema de dois nveis e representado por uma matriz diagonal que,
denindo a es ala de energia de forma que o estado de energia menor tenha autovalor zero,
pode ser es rita omo
H0
0 0
0
onde = h2 jH0 j2 i 0 e a energia do segundo estado. O aso = 0 orresponde evidentemente ao aso de dois nveis degenerados. A matriz orrespondente ao operador de evolu ~ao,
116
denido pela equa ~ao (2.26) om a ondi ~ao ini ial U0 (t0 ; t0 ) = 1, tem elementos hi jU0 (t; t0 )jj i
e e portanto dada por
U0 (t; t0 )
1
0
i (t t0 )
0 e h
que de fato resolve ompletamente o problema dinâmi o do sistema de dois nveis om o hamiltoniano H0 .
Uma modi a ~ao da dinâmi a do sistema de dois nveis (atraves da introdu ~ao de ampos
externos independentes do tempo, por exemplo) tal que ela ontinue restrita ao espa o de duas
dimens~oes gerado pela base fj1 i; j2ig, pode sempre ser representada adi ionando a H0 um
termo H1 que, para que a hermiti idade do hamiltoniano ompleto H H0 + H1 seja mantida,
deve ser da forma
H1
1
2
onde em geral pode ser omplexo, mas 1 e 2 s~ao reais. Isso de fato dene uma nova dinâmi a,
governada pelo hamiltoniano modi ado
!
1

H = H0 + H1 !
(3.8)
+ 2 :
Como foi dito, essa dinâmi a pode ser, por sua vez, tratada exatamente de forma analti a e,
apesar de sua extrema simpli idade, usada para ilustrar uma serie de propriedades quânti as
presentes tambem em sistemas mais omplexos. As se ~oes seguintes s~ao dedi adas a essas
quest~oes.
3.2.1 Estados esta ionarios e o operador de evolu ~ao.

O fato de que H n~ao e diagonal na base fj1 i; j2ig signi a que os vetores dessa base n~ao
s~ao autovetores de H , e que novos estados esta ionarios devem ser determinados atraves da
diagonaliza ~ao da matriz (3.8). Os autovalores dessa matriz orrespondem as energias dos
estados esta ionarios do sistema de dois nveis modi ado, e s~ao as razes da equa ~ao se ular
E2
(1 + 2 + )E + 1 ( + 2 )
j j2 = 0
que s~ao dadas por
E =
q
1
1 + 2 + (2 +
2
117
1 )2 + 4j j2 :
Uma primeira observa ~ao que pode ser feita om rela ~ao a esse resultado e a de que a
diferen a de energia entre os novos estados esta ionarios e
q
E = (2 + 1 )2 + 4j j2
E+
que se anula apenas se = 0 e tambem 1 = 2 +, o que equivale a dizer que a degeneres ên ia
dos dois nveis so o orrera quando a matriz H for um multiplo da matriz unidade. Tal propriedade e na realidade independente da base es olhida para representar H , e portanto em qualquer
outro aso os autovalores n~ao ser~ao degenerados, independentemente do arater diagonal (em
que isso e na realidade obvio) ou n~ao diagonal de H na base es olhida. A \propens~ao a n~ao
degeneres ên ia" representada pelo fato de que os autovalores de qualquer matriz hermiteana
2 2 diferente de um multiplo da matriz unidade s~ao distintos e de fato um aso parti ular de
uma propriedade de hamiltonianos mais gerais onhe ida omo \repuls~ao de nveis".
Conhe idos os autovalores de H , e fa il determinar analiti amente tambem os autovetores
orrespondentes. Embora n~ao haja maiores di uldades para se tratar o aso geral do hamiltoniano (3.8), para simpli ar as express~oes algebri as e tambem a dis uss~ao, os resultados
expl itos dados a seguir ser~ao limitados ao aso parti ular em que 1 = 2 = 0. Com uma
es olha natural para os fatores de fase arbitrarios na determina ~ao dos autovetores, eles podem
ser representados, na mesma base utilizada para a representa ~ao matri ial de H , pelos vetores
0
jE+i ! N BB
2
+
2
+ 4j j
C
C
A
e jE
i ! N BB
+
2
+ 4j j
2
1
C
C
A
; 1 = 2 = 0 (3.9)
onde N e o oe iente de normaliza ~ao
N=
"
+ 2 + 4j j2
2
+ 4j j2
1
2
Essas express~oes s~ao su ientemente pou o transparentes para que valha a pena estudar
alguns limites em que elas se reduzem a formas mais simples, para avaliar melhor o seu onteudo. No aso em que ! 0, a matriz H e diagonal e, omo pode ser veri ado, os estados
esta ionarios jE i e jE+ i se reduzem respe tivamente a j1 i e a j2 i. Outro limite interessante
e aquele em que ! 0 om 6= 0, isto e, os nveis de H0 s~ao degenerados. Nesse aso os novos
estados esta ionarios se reduzem a
jE+i = p12

j j j1i + j2i
1
e jE i = p j1 i
2
118

j j j2i ; 1 = 2 = = 0: (3.10)
E imediato veri ar que eles s~ao ortogonais para qualquer valor, em geral omplexo, de . Vale
a pena observar que a fase relativa das duas omponentes desses estados na base es olhida
depende da fase do elemento de matriz n~ao diagonal de H . Em parti ular, para real e
positivo, o estado de menor energia jE i orresponde a ombina ~ao antissimetri a de j1 i e
j2i, ao passo que quando e real e negativo ele orresponde a ombina ~ao simetri a.
Da mesma forma que no aso simples envolvendo apenas o hamiltoniano H0 , a determina ~ao
dos autovalores e autovetores de H resolve ompletamente a dinâmi a do sistema des rito por
esse hamiltoniano modi ado. De fato a resolu ~ao da unidade em termos dos autovetores de
H , ^1 = jE ihE j + jE+ ihE+j, permite es rever o operador de evolu ~ao sob a forma
i
U (t; 0) = e h Ht (jE
ihE j + jE+ihE+j) = jE ie
hE j + jE+ie hi E+t hE+j : (3.11)

Por outro lado, omo a expans~ao dos autovetores na base de referên ia fj1 i; j2ig e onhe ida,
as quantidades hE j'i podem ser al uladas para qualquer vetor de estado j'i espe i ado
i
h E t
em termos de suas omponentes nessa mesma base, o que permite obter, por exemplo, o vetor
j'(t)i = U (t; 0)j'(0)i que ara teriza ompletamente o omportamento dinâmi o na des ri ~ao
de S hrodinger.
Como exemplo on reto do uso desse pro edimento, a probabilidade de observar o sistema
no estado j2 i no tempo t, dado que ele se en ontra no estado j1 i em t = 0, e dada por
p1!2 (t) = jh2 jU (t; 0)j1 ij2 . A probabilidade p1!1 (t) = jh1 jU (t; 0)j1ij2 de que o sistema
permane a no estado j1 i no tempo t e evidentemente dada por p1!1 (t) = 1 p1!2 (t), pois
a unitariedade de U (t; 0) garante que o estado U (t; 0)j1 i tem a mesma normaliza ~ao de j1 i
e os dois vetores j1 i e j2i onstituem uma base ortonormal para o sistema de dois nveis.
Utilizando a forma (3.11) do operador de evolu ~ao, p1!2 (t) pode ser al ulada, fazendo uso da
ortogonalidade de j1 i e j2 i, da resolu ~ao da unidade em termos dos autovetores de H e da
normaliza ~ao dos estados jE i, omo
p1!2 (t) =
=
=
h2jE ie hi E t hE j1i + h2jE+ie hi E+t hE+j1i2

h2jE+i e hi (E+ E )t 1 hE+j1i2

E+ E
2
2
t
4 jh2 jE+ ihE+ j1 ij sen
2h

= 4 jh1 jE+ ij 1
2
jh1jE+ij
sen2
E+
2h
t :
(3.12)
Essa probabilidade se anula em t = 0 omo onsequên ia da ortogonalidade de j1 i e j2 i e

tem um omportamento os ilatorio para t > 0 om a frequên ia de Bohr orrespondente a
119
diferen a de energia entre os dois estados esta ionarios. A amplitude das os ila ~oes depende
da onstitui ~ao dos estados esta ionarios em termos dos estados j1 i e j2 i e de fato e maxima
(e igual a 1) no aso em que jh1 jE+ ij2 = 1=2, que orresponde ao limite (3.10), em que
1 = 2 = = 0 om 6= 0. No aso mais geral em que 6= 0 a amplitude pode ser al ulada
usando os autovetores (3.9), e e dada por
A(j j; ) 4 jh1jE+ij2
jh1jE+ij2
16j j2 + 2 + 4j j2

+
2 + 4
j j
2
2
+ 4j j
2
de onde se pode extrair ainda a aproxima ~ao, valida no limite em que j j ,

!
4
2
A(j j; ) = 4 j j2 + O j j4 :
(3.13)
Lembrando tambem da rela ~ao simples existente entre p1!1 e p1!2 , esses resultados mostram
laramente que o arater n~ao esta ionario, sob a dinâmi a de H , dos autovetores j1 i e j2 i de
H0 tende a ser inibido por um aumento da diferen a de energia entre eles, para um dado valor
do termo n~ao diagonal , no sentido que a amplitude A(j j; ) diminui quando res e om
xo. Isso e, na realidade, a ontrapartida dinâmi a do fato de que, nessas ondi ~oes, as superposi ~oes de j1i e j2 i que orrespondem aos novos autovetores se tornam mais assimetri as,
om predominân ia do autovetor de H0 ujo autovalor e mais proximo do autovalor do novo
autovetor onsiderado. A expans~ao (3.13) sugere que o uso de metodos aproximados de al ulo
pode ser util para des rever os efeitos da modi a ~ao de H0 quando j j= for su ientemente
pequeno. Embora a existên ia de uma solu ~ao analti a exata torne tais metodos dispensaveis
no aso simples de sistemas de dois nveis, eles s~ao de utilidade onsideravel em situa ~oes mais
ompli adas nas quais solu ~oes exatas n~ao s~ao prati as ou simplesmente n~ao podem ser obtidas. Existe, por isso um onjunto extenso de metodos sistemati os de aproxima ~ao apli aveis
em situa ~oes razoavelmente gerais, hamados generi amente metodos perturbativos, que ser~ao
tratados no Captulo 4. Esses metodos permitem, por exemplo, obter resultados omo o da
equa ~ao (3.13) diretamente a partir dos autovetores j1 i e j2 i de H0 e do hamiltoniano (3.8)
( om 1 = 2 = 0), independentemente do onhe imento dos seus autovalores e autovetores
exatos.
3.2.2 \Tunelamento" e interferên ia de estados esta ionarios.

Uma situa ~ao on reta que ilustra o uso dos resultados gerais obtidos a ima e a um sistema
que onsiste em um grupo \mole ular" de muitos atomos, que se omporta omo um objeto
magneti o de spin S alto (S = 10h para Mn12 O12 ) que, devido a sua intera ~ao om o meio
120
em que se en ontra, prefere se orientar paralela ou anti-paralelamente a uma dire ~ao dada, que
e identi ada om o eixo z de um sistema de oordenadas1 . Uma primeira modelagem desse
sistema onsiste em onsidera-lo des rito por um hamiltoniano do tipo
h0 = A Sz2
onde A e uma onstante positiva e Sz e o operador que orresponde a omponente do spin
ao longo da dire ~ao z . Como sera dis utido mais adiante (v. se ~ao 5.1.1), esse operador tem
um espe tro dis reto om 2S + 1 autovetores jmi e autovalores m = S h ; ( S + 1)h; ( S +
2)h; :::; S h . Desse modo, os vetores jmi s~ao tambem autovetores de h0 om autovalores Am2 ,
de modo que os pares de autovetores jmi e j mi s~ao degenerados. Em parti ular, o nvel de
menor energia de h0 e tambem duplamente degenerado, om autovetores jS h i e j S h i. Esses
autovetores des revem o spin orientado paralela e anti-paralelamente ao eixo z , respe tivamente.
Essa des ri ~ao do sistema e no entanto ainda ex essivamente simpli ada. Uma des ri ~ao
melhor e obtida tendo em onta outros efeitos do meio em que o omplexo mole ular se en ontra,
adi ionando a h0 outro termo h1 que tem a propriedade ru ial de n~ao ser diagonal na base
dos autovetores de h0 , isto e, hm0 jh1 jmi 6= 0 para m0 6= m, e de ter elementos de matriz
diagonais nulos nessa base, hmjh1 jmi = 0. Esse termo adi ional e no entanto su ientemente
pequeno para que o seu efeito seja desprezvel sempre que onsiderada om rela ~ao a estados
esta ionarios de h0 om energias diferentes. Essa situa ~ao e semelhante a en ontrada na equa ~ao
(3.13), entendendo a quantidade que apare e ali omo a diferen a de energia dos autovetores
de h0 e j j omo o elemento de matriz relevante envolvendo h1 . Nessas ondi ~oes, e possvel
estudar os efeitos de h1 sobre ada um dos dubletos degenerados de h0 separadamente, e em
parti ular para o dubleto orrespondente ao estado fundamental. Isso reduz o problema a um
onjunto de problemas envolvendo apenas dois nveis. No aso do estado fundamental, que sera
onsiderado a seguir, os dois nveis orrespondem aos autovetores j S h i, degenerados para h0
mas modi ados por um termo n~ao diagonal2 = h S h jh1 jS h i. O modelo resultante e neste
aso des rito por um hamiltoniano om a forma (3.8), om = 1 = 2 = 0.
Os resultados obtidos na se ~ao anterior s~ao su ientes para resolver ompletamente esse
modelo. Os autovetores do hamiltoniano h0 modi ado por h1 e restrito ao dubleto que onstitui
o estado fundamental de h0 s~ao dados por (3.10). Devido aos efeitos de h1 (representados pelo
elemento de matriz ) eles n~ao s~ao degenerados, e seus autovalores s~ao tais que E+ E = 2j j.
V. e.g. a se a~o \Sear h and Dis overy" de Physi s Today, Janeiro de 1997, pag. 17.
De uma forma mais pre isa, o termo n~ao diagonal que deve ser a res entado ao problema trun ado de um
dos dubletos de h0 n~ao envolve diretamente o elemento de matriz da modi a a~o h1 apropriada para o problema
ompleto, mas um hamiltoniano efetivo h~ 1 que se anula quando h1 se anula mas in lui efeitos \intermediarios"
que podem depender da parte trun ada do espa o de fases de h0 e h1 . Dessa forma, deve ser entendido mais
pre isamente omo um elemento de matriz efetivo ligando os dois estados do dubleto, e n~ao apenas omo o
a oplamento \direto"entre eles atraves de h1 .
1
121
Um ponto importante a ser notado e que tanto o novo estado fundamental jE i omo o segundo
estado jE+ i s~ao ombina ~oes lineares om oe ientes de mesmo modulo dos dois estados jS h i,
que orrespondem a orienta ~oes opostas do spin. Em outras palavras, a orienta ~ao do spin a
ompletamente \deslo alizada" dentro do espa o de dois nveis onsiderado. Um estado no qual
a orienta ~ao e \lo alizada" na dire ~ao paralela a z , por exemplo, pode ser onstrudo omo
!
1

jS h i = p2 jE i + j j jE+i ;
mas esse estado n~ao e esta ionario. A evolu ~ao temporal desse estado pode ser al ulada
fa ilmente usando o operador de evolu ~ao (3.11). A probabilidade de que o spin seja observado
na dire ~ao anti-paralela ao eixo z no tempo t sera dada ent~ao por

E E
j j
pS ! S (t) = sen2 +
t = sen2 t
2h
h
e tem portanto um omportamento os ilatorio de amplitude 1 e perodo h =j j, que aumenta
a medida que a separa ~ao em energia dos dois nveis diminui. Essa mudan a de orienta ~ao
e usualmente hamada \tunelamento" do spin S , devido ao fato de que as orienta ~oes intermediarias do spin (que na realidade n~ao intervem expli itamente nesta des ri ~ao) envolvem
energias maiores que a energia disponvel nos dois estados onsiderados e s~ao portanto \ lassi amente proibidas".
Uma interpreta ~ao mais simples, que alias adere estritamente a maneira de fun ionar do pro edimento de al ulo utilizado, onsiste em onsiderar a reorienta ~ao do spin omo um efeito
quânti o de interferên ia entre os estados esta ionarios do sistema de dois nveis. Esses estados
esta ionarios têm, omo visto, a propriedade ru ial de serem \deslo alizados" quanto a orienta ~ao do spin. O estado \tunelante" jS h i onstroi a lo aliza ~ao dire ional do spin atraves de
uma superposi ~ao parti ular dos estados esta ionarios na qual as omponentes orrespondentes
a orienta ~ao segundo a dire ~ao oposta a desejada se an elam por interferên ia destrutiva. Para
que isso a onte a, e pre iso ajustar adequadamente as amplitudes e a fase relativa dos estados
esta ionarios ao onstruir a superposi ~ao apropriada. Devido a diferen a de energia entre os
dois estados esta ionarios, a fase relativa entre as duas omponentes do estado tunelante varia
om o tempo, om o resultado de que a lo aliza ~ao ini ial por interferên ia e progressivamente
destruda durante um semi-perodo h =2 e subsequentemente re onstruda a medida que a
varia ~ao a umulada da fase relativa se aproxima de 2 . Deste ponto de vista, o tunelamento
pode ser visto omo resultante de uma perda da lo aliza ~ao dire ional do spin devida a evolu ~ao
temporal da fase relativa entre estados esta ionarios n~ao degenerados e deslo alizados.
O tunelamento do spin S pode ser estudado tambem na situa ~ao mais geral em que existe um
ampo magneti o externo, uniforme e paralelo a dire ~ao z , que pode ser des rita a res entando
ao hamiltoniano um ter eiro termo
122
hext = BSz :
Para que o problema resultante possa ainda ser tratado em termos de um sistema de dois nveis,
e pre iso que a quebra da degeneres ên ia de h0 por hext seja muito menor que o espa amento em
energia dos diferentes dubletos de h0 . Mais espe i amente, no aso do dubleto orrespondente
ao estado fundamental de h0 e pre iso que
j2B h S j jAh 2 [S 2
(S
1)2 j = jAh 2 (2S
1)j:
Nesse aso o modelo de dois nveis a ser onsiderado envolve o hamiltoniano (3.8) ainda om
1 = 2 = 0 mas om 6= 0. Os estados esta ionarios s~ao dados por (3.9), o \estado tunelante"
n~ao esta ionario e novamente jS h i e a probabilidade de en ontrar o spin no estado j S h i no
tempo t tem novamente um omportamento os ilante dado pela equa ~ao (3.12). Neste aso a
frequên ia angular das os ila ~oes da orienta ~ao de S e
q
2 + 4j j2
h
h
e portanto maior que no aso em que = 0. A amplitude das os ila ~oes e no entanto agora
menor que 1, o que signi a, em parti ular, que a probabilidade de en ontrar o spin ainda om
a orienta ~ao ini ial e diferente de zero em qualquer tempo. A situa ~ao de amplitude maxima e
igual a 1, orrespondente a = 0, e usualmente hamada tunelamento ressonante.
E+
3.3
A representa
~
ao de S hr
odinger.
Enquanto a vers~ao da me âni a quânti a desenvolvida originalmente por Heisenberg onfere

um papel espe ial a energia (atraves da ondi ~ao de que a matriz que representa a energia seja
diagonal), a vers~ao devida a S hrodinger privilegia, de uma forma ate erto ponto analoga, as
variaveis de posi ~ao q . O papel desempenhado na formula ~ao de Heisenberg pela base onstituda pelos autovetores do hamiltoniano e, \mutatis mutandis" (o que in lui, em parti ular, a
forma de tratar a dinâmi a) substitudo por uma \base" de autovetores de q
q jxi = xjxi; x real

os quais, tratando-se de um operador om espe tro ontnuo (o que signi a que qualquer
numero real pode resultar de uma medida de posi ~ao em uma dimens~ao), s~ao na realidade
vetores \improprios", uja ortogonalidade e normaliza ~ao e denida por hxjx0 i = (x x0 ),
123
onde a ultima fun ~ao e a fun ~ao delta de Dira . Desse modo, um vetor de estado qualquer j'i
e representado3 por uma fun ~ao omplexa da variavel real
j'i ! '(x) hxj'i:

O produto es alar de dois vetores pode ser traduzido para essa representa ~ao fazendo uso da
resolu ~ao da unidade em termos dos autovetores improprios fjxig
^1 =
Z +1
dx jxihxj
que da
h j 'i =
Z +1
dx h jxihxj'i =
Z +1
dx (x)'(x):
O aso parti ular em que (x) = '(x) da o quadrado da norma do vetor j'i, donde segue que
os vetores do espa o de Hilbert s~ao representados por fun ~oes de (modulo) quadrado integravel.
De a ordo om a interpreta ~ao padr~ao da me âni a quânti a, a quantidade
p =
x
dx jhxj'ij2 =
x
dx j'(x)j2
orresponde a probabilidade de obter um valor da posi ~ao no intervalo numa medi ~ao feita
sobre o estado j'i, de modo que o integrando j'(x)j2 deve ser interpretado omo uma densidade de probabilidade para os valores da posi ~ao no estado j'i. As fun ~oes '(x) = hxj'i que
representam vetores do espa o de Hilbert s~ao usualmente hamadas fun ~oes de onda.
A a ~ao do operador de posi ~ao se torna parti ularmente simples nessa representa ~ao. De
fato, a representa ~ao de S hrodinger do vetor resultante da a ~ao de q sobre j'i pode ser obtida
al ulando
hxjqj'i = xhxj'i = x'(x)

que mostra que a fun ~ao de onda que representa o vetor resultante e a fun ~ao de onda que
representa o vetor de partida multipli ada por x. Em outras palavras, no espa o de fun ~oes de
onda o operador q e realizado omo o operador \multipli a ~ao por x".
E importante n~ao onfundir a express~ao representa ~ao de S hrodinger om a des ri ~ao de S hrodinger da
dinâmi a quânti a, em que a dependên ia temporal e realizada fazendo o vetor de estado depender do tempo.
A express~ao representa ~ao de S hrodinger n~ao se refere a uma parti ular forma de realizar a dinâmi a quânti a,
mas a uma forma de representar os vetores de estado e as variaveis dinâmi as independentemente de omo venha
a ser realizada a dinâmi a.
3
124
E pre iso ainda obter uma representa ~ao para o operador asso iado ao momento, p. Isso
signi a obter um operador pS , agindo sobre fun ~oes de onda, que seja tal que
hxjpj'i = pS '(x)
onde p satisfaz a rela ~ao de omuta ~ao de Heisenberg, Born e Jordan om o operador de posi ~ao
q
[q; p = ih :
Para identi ar uma es olha possvel para pS basta notar que, para qualquer vetor j'i (e
portanto para qualquer fun ~ao de onda '(x)), deve-se ter
hxj[q; pj'i = xpS '(x) pS x'(x) = ih '(x);

donde segue que pS pode ser tomado omo o operador de diferen ia ~ao

:
x
O arater hermiteano desse operador no espa o de fun ~oes de onda pode ser veri ado por meio
de uma integra ~ao por partes. De fato,
pS = ih
Z +1
dx (x)
"
'(x)
ih
x
=
=
#
(x)
'(x)
dx ih
x
1
#)
(x)
ih
x
ih (x)'(x) j+1

1+
(Z
+1
dx ' (x)
"
Z +1
"
onde o anulamento do termo integrado resulta de que as fun ~oes de onda s~ao fun ~oes de quadrado integravel.
Dessa forma, a equa ~ao de movimento para os vetores de estado, orrespondente portanto a
des ri ~ao de S hrodinger, para o aso de um hamiltoniano que des reve uma part ula de massa
M num poten ial V (q )
"
dj'(t)i
p2
ih
=
+ V (q ) j'(t)i
dt
2M
adquire, no espa o de fun ~oes de onda, a forma de uma equa ~ao linear de derivadas par iais
125
h 2 2 '(x; t)
'(x; t)
=
+ V (x)'(x; t)
ih
t
2M x2
onde '(x; t) = hxj'(t)i. Essa equa ~ao e na realidade uma equa ~ao de movimento para a fun ~ao
de onda que des reve o estado da part ula, a \equa ~ao de S hrodinger dependente do tempo".
Para es rever o termo envolvendo o poten ial V (q ) foi usada a rela ~ao V (q )jxi = V (x)jxi, que
permite es rever o operador V (q ) no espa o de fun ~oes de onda omo o operador \multipli a ~ao
por V (x)".
A extens~ao desse esquema para o aso de um espa o de posi ~oes tridimensional e simples.
Nesse aso, a posi ~ao esta asso iada a um onjunto de tres operadores que podem ser onvenientemente tomados omo as tres proje ~oes artesianas qx , qy e qz , que sera mais onveniente
designar por q1 , q2 e q3 , de um operador vetorial ~q. E importante observar que o arater vetorial de ~q se refere ao fato de que as suas omponentes artesianas se transformam omo as
omponentes de um vetor no espa o tridimensional de posi ~oes por uma mudan a do sistema
artesiano adotado. Da mesma forma, o momento esta asso iado a um operador vetorial p~ que
pode ser de omposto em tres omponentes p1 , p2 e p3 tambem om propriedades de transforma ~ao de omponentes de um vetor por uma mudan a do sistema artesiano de referên ia. Esse
onjunto de operadores deve satisfazer as rela ~oes de omuta ~ao
[qi ; qj = 0;
[pi ; pj = 0 e [qi ; pj = ih ij
que ara terizam as três omponentes artesianas omo graus de liberdade independentes ( f.
se ~ao 2.2.5). Vale a pena notar que fij g; i; j = 1; 2; 3 pode ser visto omo um tensor artesiano
de segunda ordem, onsistentemente om o arater vetorial de fqi g; i = 1; 2; 3 e fpj g; j =
1; 2; 3. Desse modo, toda a dis uss~ao anterior do aso unidimensional se apli a a ada uma
das omponentes artesianas onsiderada separadamente. Os autovetores simultâneos das tres
omponentes de ~q (improprios) s~ao designados pela nota ~ao j~ri. Dessa forma, es revendo as
omponentes de ~r omo x1 , x2 e x3 ,
qi j~ri = xi j~ri;
a fun ~ao de onda que representa o vetor de estado j'i e agora a fun ~ao omplexa de tres
variaveis reais
'(~r) = h~rj'i
e o vetor resultante da a ~ao de qi sobre j'i e representado por h~rjqi j'i = xi '(~r). Da mesma
forma a a ~ao das omponentes do momento e representada em termos das fun ~oes de onda
pelos operadores diferen iais
126
h~rjpij'i = ih 'x(~r) :

i
O arater de vetores no espa o tridimensional de posi ~oes dos operadores ~q e p~ permite es rever
essas rela ~oes de uma forma que n~ao faz referên ia expl ita a um sistema de oordenadas
determinado, que e
h~rj~qj'i = ~r'(~r)
h~rjp~j'i = ih r'(~r)
onde r e o operador diferen ial asso iado ao gradiente. Nessas express~oes, ~r'(~r) e ih r'(~r)
devem ser entendidos omo vetores no espa o tridimensional, que podem portanto ser es ritos em termos de tres omponentes ( omplexas), asso iadas as omponentes respe tivas dos
operadores vetoriais envolvidos.
Finalmente, a equa ~ao de S hrodinger dependente do tempo que des reve a dinâmi a de
uma part ula de massa M em um poten ial V (~q) tem a forma
'(~r; t)
h 2 2
ih
=
r '(~r; t) + V (~r)'(~r; t)
(3.14)
t
2M
em que e importante notar o arater es alar do operador diferen ial asso iado a energia ineti a,
representado pelo operador lapla iano r2 . Essa equa ~ao de movimento e uma equa ~ao de
derivadas par iais linear para quatro variaveis. Sendo uma equa ~ao de primeira ordem no
tempo, o problema de ondi ~oes ini iais em que '(~r; t = 0) e dada determina univo amente a
solu ~ao para outros valores de t.
3.3.1 Propriedades gerais da dinâmi a de uma part ula em um

poten ial externo.
A propriedade mais geral da dinâmi a quânti a e a onserva ~ao de norma do vetor de estado.
Ela de orre, omo foi visto, da unitariedade do operador de evolu ~ao U (t; t0 ), por sua vez ligada
a hermiti idade do hamiltoniano. Na des ri ~ao de S hrodinger (vetor de estado dependente do
tempo, variaveis dinâmi as independentes do tempo) e na representa ~ao de S hrodinger (vetores
de estado tratados em termos de fun ~oes de onda) a equa ~ao de movimento e uma equa ~ao
diferen ial tambem nas variaveis espa iais. A onserva ~ao de norma pode ent~ao ser expressa,
em forma diferen ial, por uma equa ~ao de ontinuidade para a densidade de probabilidade
dependente do tempo
(~r; t) j'(~r; t)j2 :

127
De fato, diferen iando (~r; t) om rela ~ao ao tempo e usando a equa ~ao de movimento (3.14)
resulta
'(~r; t) ' (~r; t)

(~r; t)

= ' (~r; t)
+
'(~r; t)
t
t
t
1
=
[' (~r; t)H'(~r; t) '(~r; t) (H' (~r; t))
ih

i
1 h 2 h
' (~r; t)r2 '(~r; t) '(~r; t) r2 ' (~r; t)
=
ih 2M
onde foi usada a hermiti idade de H e, na ultima passagem, a realidade de V (~r). A partir da
ultima express~ao a ima e fa il ver nalmente que
(~r; t)
+ r ~j (~r; t) = 0
t
om a deni ~ao da densidade de orrente de probabilidade
~j (~r; t) = h [' (~r; t)r'(~r; t) '(~r; t) (r' (~r; t)) :
(3.15)
2Mi
A densidade de probabilidade (~r; t) e laramente independente da fase da fun ~ao de onda,
mas e interessante analisar o papel essen ial que essa fase desempenha para a densidade de
orrente ~j (~r; t). Para isso e onveniente separar expli itamente a amplitude e a fase da fun ~ao
de onda '(~r; t) es revendo-a sob a forma
i
'(~r; t) = A(~r; t) e h S (~r;t)

onde A(~r; t) e S (~r; t) s~ao fun ~oes reais e a onstante h foi introduzida na deni ~ao de S por
onveniên ia, dando a essa fun ~ao dimens~oes de a ~ao. Substituindo essa forma de '(~r; t) na
equa ~ao de movimento (3.14) e igualando a zero separadamente as partes real e imaginaria da
equa ~ao resultante se obtem, respe tivamente
#
"
h 2 2
S (~r; t) (rS (~r; t))2
+
+ V (~r) =
r A(~r; t)
A(~r; t)
t
2M
2M
(3.16)
A(~r; t)
1
1
=
A(~r; t)r2 S (~r; t)
rA(~r; t) rS (~r; t):
(3.17)
t
2M
M
A equa ~ao (3.17), orrespondente a parte imaginaria, pode ser fa ilmente reduzida a equa ~ao
de ontinuidade. Multipli ando-a, de fato, por 2A(~r; t) ela pode ser rees rita sob a forma
128
"
A2 (~r; t)
rS (~r; t) = 0:
+ r A2 (~r; t)
t
M
Nessa equa ~ao A2 (~r; t) e evidentemente a densidade de probabilidade. Da de orre que a densidade de orrente e dada por
~j (~r; t) = A2 (~r; t) rS (~r; t) = (~r; t) rS (~r; t)

(3.18)
M
M
que identi a S (~r; t)=M omo um poten ial de velo idades para o uxo da densidade de
probabilidade pres rito pela equa ~ao de movimento, no sentido que ~j (~r; t) = (~r; t)~v(~r; t) onde
o ampo de velo idades ~v(~r; t) e dado omo
~v (~r; t) =
S (~r; t)
:
M
Por outro lado, as duas fun ~oes reais A(~r; t) e S (~r; t) est~ao ligadas em sua evolu ~ao temporal
pela equa ~ao (3.16), proveniente dos termos reais da equa ~ao de movimento. Essa equa ~ao pode
ser rees rita sob a forma
h 2 r2 A(~r; t)
S (~r; t) (rS (~r; t))2
+
+ V (~r)
=0
(3.19)
t
2M
2M A(~r; t)
que, a menos do ultimo têrmo, orresponde a equa ~ao lassi a de Hamilton-Ja obi, em que
S (~r; t) e a fun ~ao prin ipal de Hamilton, para o problema de uma part ula de massa M sujeita
ao poten ial V (~r). Essa equa ~ao pode portanto ser usada para identi ar um limite lassi o do
tratamento quânti o do problema de uma part ula em um poten ial externo. De fato, sempre
que os efeitos do ultimo termo puderem ser ignorados quantitativamente na determina ~ao de
S (~r; t) pela equa ~ao (3.19), essa fun ~ao sera tal que estar~ao satisfeitas as rela ~oes lassi as
rS (~r; t) = ~p (~r; t) = M~v (~r; t)

onde p e ~v s~ao respe tivamente um momento e uma velo idade lassi a. Se a energia total
tiver um valor bem denido vale ainda a rela ~ao
S (~r; t)
= E:
t
Nesse limite, as linhas de velo idade asso iadas a densidade de orrente de probabilidade se
reduzem as trajetorias lassi as. E importante notar que a des ri ~ao do sistema permane e
129
omo sendo feita em termos de uma distribui ~ao ontnua de probabilidades, de modo que
a situa ~ao lassi a a que este limite se refere deve ser entendida omo sendo realizada em
têrmos de propriedades medias em uma ole ~ao de sistemas idênti os om uma distribui ~ao de
ondi ~oes ini iais dada. As ondi ~oes em que um tal limite pode ser usado omo aproxima ~ao
para o problema quânti o podem ser ara terizadas da seguinte forma. Supondo que a energia
tenha uma dispers~ao pequena em torno de E , a equa ~ao (3.19) pode ser aproximada por
(rS (~r; t))2 ' 2M (E
V (~r)) +
h 2 r2 A(~r; t)
:
2M A(~r; t)
Uma \aproxima ~ao lassi a", onsistindo em ignorar o ultimo termo, sera valida quando
r2A(~r; t) 2M (E V (~r)) 2
A(~r; t)
(~r)
h 2
!2
onde (~r) e o hamado omprimento de onda de de Broglie. Essa ondi ~ao mostra, em termos
qualitativos, que efeitos de urvatura na dependên ia espa ial da amplitude A(~r; t) devem ser
pequenos na es ala do omprimento de onda de de Broglie.
Esse tratamento das ondi ~oes de validade para o limite lassi o da dinâmi a quânti a na
representa ~ao de S hrodinger ontem na realidade uma analogia opti a frequentemente usada.
De fato, onsiderando agora estados de energia total bem denida E , a equa ~ao para S (~r) pode
ser es rita, no limite lassi o, omo
"
!#2
0
S (~r)
2h
20
2 (~r)
n2 (~r)
onde 0 e um \valor de referên ia" es olhido para o omprimento de onda de de Broglie (por
exemplo, 20 = (2h )2 =2ME ). Essa equa ~ao diferen ial e onhe ida omo \equa ~ao do Eikonal"
(que, no aso, e a fun ~ao 0 S (~r)=2h ). A quantidade adimensional n(~r) tem o sentido de
um ndi e de refra ~ao relativo no ponto ~r. As superf ies S = onstante s~ao superf ies de
fase onstante, e as normais a essas superf ies (que orrespondem as linhas de velo idade da
me âni a lassi a) s~ao os \raios" da opti a geometri a. Dessa forma, varia ~oes do poten ial
V (~r) podem ser interpretadas em termos de varia ~oes de um ndi e de refra ~ao.
Outro resultado geral interessante para o movimento de uma part ula em um poten ial e
o hamado Teorema de Ehrenfest, que da uma express~ao para a varia ~ao no tempo do valor
esperado do momento
Z
hp~i(t) = ' (~r; t)p~'(~r; t)d3r

130
onde as fun ~oes de onda s~ao supostamente normalizadas. A derivada temporal desse valor
medio pode ser obtida usando a equa ~ao de movimento de S hrodinger
#
"
h Z '
' 3
d
dr
h
p~i(t) =
r
' + ' r
dt
i
t
t
Z
i
h 2 Z h 2

2
3
=
r
' r' ' rr ' d r
' (rV )'d3 r:
2M
A primeira integral se anula, omo e fa il veri ar fazendo uma dupla integra ~ao por partes, e
a segunda e o valor medio do gradiente do poten ial. Portanto
d
hp~i(t) = hrV i(t):
dt
A dependên ia temporal nos dois termos provem da dependên ia temporal da fun ~ao de
onda, determinada pela equa ~ao de S hrodinger dependente do tempo. Esse resultado e exato,
e n~ao esta ligado a aproxima ~oes lassi as. E importante notar, porem, que a \for a"que age
sobre o valor medio do momento e a media da for a lassi a no estado quânti o onsiderado, que
em geral difere substan ialmente da for a lassi a al ulada, por exemplo, na posi ~ao media
h~ri(t). Apenas nos asos em que a part ula sujeita a um poten ial linear (for a onstante,
possivelmente nula, rV = onstante) e de os ilador harmôni o (rV = k~r) e possvel es rever
hrV i(t) = rV (h~ri(t)) ;

isto e, que a for a que age sobre o momento medio da part ula e a for a lassi a orrespondente
a posi ~ao media da part ula.
3.3.2 Fun ~oes de onda esta ionarias para o os ilador harmôni o.

As fun ~oes de onda (x) hxj i orrespondentes aos autovetores do hamiltoniano de um
os ilador harmôni o unidimensional podem ser obtidas omo as solu ~oes de quadrado integravel
da equa ~ao diferen ial de autovalores
h 2 d2 (x) M!02 2
+
x (x) = E (x):
2M dx2
2
Alternativamente, essas fun ~oes de onda esta ionarias podem ser al uladas diretamente a partir
dos autovetores obtidos de forma \abstrata" na se ~ao 3.1.1 atraves da introdu ~ao da representa ~ao de S hrodinger. Para simpli ar as express~oes envolvidas, e onveniente introduzir
ini ialmente as vers~oes adimensionais dos operadores asso iados a posi ~ao e ao momento
131
Q=
q
M!0
q=
h
b
1
bp
P=p
p=
h
h M!0
obtidas introduzindoq onvenientemente a es ala de omprimento dada pelo hamado \parâmetro

do os ilador" b = h =M!0 . Como e imediato veri ar a partir das rela ~oes de omuta ~ao
satisfeitas por q e p, satisfazem a rela ~ao de omuta ~ao [Q; P = i, e numa representa ~ao de
S hrodinger em que o operador Q e realizado omo operador de multipli a ~ao pela posi ~ao
adimensional X = x=b, o operador P pode ser realizado em termos do operador diferen ial
i =X .
Em termos desses operadores, o operador a, que aniquila o estado fundamental do os ilador
harmôni o, isto e, aj = 0i = 0 (v. se ~ao 3.1.1), pode ser es rito omo
1
a = p (Q + iP )
2

p1 X + X
:
2
Dessa forma, se 0 (X ) = hX j0i e a fun ~ao de onda esta ionaria orrespondente ao estado
fundamental j = 0i, segue que, nessa representa ~ao de S hrodinger ela deve satisfazer a equa ~ao
diferen ial
!

p1 X + X
0 (X ) = 0
2
0 (X )
= X0 (X );
X
ou
uja solu ~ao e fa ilmente re onhe vel omo

2
X
0 (X ) = Ne 2
onde N e uma onstante de normaliza ~ao a ser es olhida de forma onveniente. Para isso, o
que e feito usualmente envolve uma volta a variavel de posi ~ao x = bX e o uso da ondi ~ao de
normaliza ~ao de que a integral em x do quadrado de 0 seja igual a 1. Disso resulta
"
0 (x) =
#1
p e
b
x2
2b2
que orresponde a uma densidade de probabilidade gaussiana, de varian a b, em torno da origem

x = 0.
A fun ~ao de onda (x) orrespondente ao -esimo estado ex itado j i do os ilador pode
ser obtida fa ilmente
da fun ~ao de onda que representa o estado fundamental por apli a ~ao do
p
y

operador a = !. Esse operador e representado por
132
p1 ay
!

X
p 1 X
2 !
!
de modo que
!

X2
1

(X ) = N p X
e 2:
(3.20)
X
2 !
A menos dos oe ientes de normaliza ~ao apropriados, essas fun ~oes tem portanto a forma de
produtos da gaussiana que apare e no estado fundamental por polinômios em X que podem
ser es ritos omo
!
X22
(3.21)
H (X ) e 2 X
e
X
que s~ao os hamados polinômios de Hermite. As fun ~oes normalizadas em termos da variavel
x = bX s~ao dadas pela express~ao (3.20) om a onstante de normaliza ~ao N obtida para o
estado fundamental, e s~ao portanto expressas em termos dessa variavel omo
X2
"
(x) =
#1
b

2
1
p H xb e 2xb2 :
2 !
O uso dessas fun ~oes de onda para o al ulo de elementos de matriz na base dos estados
esta ionarios do os ilador harmôni o envolve integrais ontendo produtos de polinômios de
Hermite no integrando. Integrais desse tipo podem ser onvenientemente al uladas utilizando
a fun a~o geratriz dos polinômios de Hermite, denida omo a soma da serie
G(z; X ) =
1
X
z
H (X ):
=0 !
Essa fun ~ao geratriz pode ser obtida em forma fe hada notando que ela e a solu ~ao da equa ~ao
diferen ial
1 z
1 z
X
G(z; X ) X
2XH (X )
=
H +1 (X ) =
z
=0 !
=0 !
dH (X )
= 2XG(z; X )
dX
G(z; X )
X
om a ondi ~ao de ontorno G(0; X ) = H0 (X ) = 1, que e dada simplesmente omo
G(z; X ) = e
133
z 2 +2zX :
Na obten ~ao da equa ~ao diferen ial para a fun ~ao geratriz foi feito uso de uma formula de
deriva a~o para os polinômios de Hermite que e fa ilmente obtida da deni ~ao (3.21). De fato,
X2
H +1 (X ) = e 2
X
= e2
X
X
X2 X2

X22
2
2
e e
e
X
X
X
!
X2

dH (X )
e 2 H (X ) = 2XH (X )
;
X
dX
que pode ser vista omo forne endo uma express~ao para a derivada de H (X ) em termos de
H (X ) e de H +1 (X ).
Como exemplo do uso da fun ~ao geratriz para o al ulo de integrais envolvendo polinômios
de Hermite, seja o problema de determinar a solu ~ao da equa ~ao de S hrodinger dependente do
tempo para o os ilador harmôni o
h 2 2 '(x; t) M!02 2
'(x; t)
+
x
'
(
x;
t
)
=
i
h

2M x2
2
t
om a ondi ~ao ini ial
"
'(x; 0) =
#1
p e
b
(x x0 )2
2b2
(3.22)
que e uma fun ~ao de onda semelhante a que orresponde ao estado fundamental, mas deslo ada
da origem de uma distân ia x0 . O pro edimento padr~ao para obter a solu ~ao bus ada atraves
das autofun ~oes do hamiltoniano e resumido na express~ao
'(x; t) =
1
X
=0
(x)e
i(n+ 12 )!0 t
dx0 (x0 )'(x0 ; 0)
que pode ser des rita omo o resultado da apli a ~ao do operador de evolu ~ao exp( iHt=h sobre
a expans~ao da ondi ~ao ini ial em termos das autofun ~oes de H . Os oe ientes dessa expans~ao
s~ao obtidos atraves das integrais sobre x0 , que podem ser es ritas expli itamente no aso em
quest~ao omo

1
1
p
p
b
2 !
x02 (x0 x0 )2
x0
dx0 H ( ) e 2b2 2b2 :
b
Essa integral envolve um polinômio de Hermite e pode ser al ulada substituindo-o pela fun ~ao
geratriz. Com isso o resultado apare e omo uma fun ~ao de z uja expans~ao em serie de
134
potên ias permite identi ar a integral de partida omo o oe iente de z = ! nessa expans~ao.
Utilizando, por simpli idade de nota ~ao, a variavel adimensional X = x=b, a nova integral a
ser al ulada e ent~ao
2
2
X2
1 Z
p dXe z2+2zX e X2 (X 2X0) = p 1 ezX0 40
2 !
2 !
onde X0 = x0 =b. Da expans~ao da exponen ial envolvendo z em serie de potên ias resulta
nalmente
x2
X0 e 40
= p
2 !
de modo que a solu ~ao desse problema de ondi ~oes ini iais e dada pela serie
'(X; t) =
1
X
=0
(bX )e

0e
i(n+ 21 )!0 t Xp
X02
2 !
"
#1
1
2X
b
=0
i(n+ 12 )!0 t H (X )e

X2
X0 e 40
2
:
2 !
X2
E fa il ver ainda que a soma dessa serie pode ser obtida em forma fe hada utilizando mais
uma vez a fun ~ao geratriz dos polinômios de Hermite. De fato, ole ionando os ingredientes
independentes de , ela pode ser rees rita omo
"
'(X; t) =
#1
p e
b
i !0 t
1
X2 X
X02
=0
X0 e i!0 t
2
!
H (X )
!
onde a soma pode ser re onhe ida omo a fun ~ao geratriz al ulada para z = X0 e
!
X e i!0 t
G 0
; X = exp
2
X02
e
4
2i!0 t
+ X0 X e
i!0 t
i!0 t =2
Usando esse resultado, a solu ~ao '(x; t) pode ser fa ilmente reduzida a forma fe hada
"
'(x; t) =
por
#1
p e
b

x20
0
i !20 t + xx
b2 sen !0 t b2 sen 2!0 t
2
1
e 2b2 (x x0 os !0 t) :
A densidade de probabilidade no tempo t orrespondente a essa solu ~ao e dada simplesmente
(x; t) = j'(x; t)j2 =
1
p
e
b
135
2
1
b2 (x x0 os !0 t)
que tem a mesma forma que j'(x; 0)j2 mas os ila harmoni amente, om a frequên ia do os ilador, em torno de x = 0 om amplitude x0 . A parte imaginaria do expoente identi a o poten ial
do ampo de velo idades asso iado ao uxo de probabilidade, omo dis utido na se ~ao anterior,
equa ~ao (3.18). Neste aso o ampo de velo idades e espa ialmente uniforme e dado por
h x0
sen !0 t:
b2
O fato de ele ser espa ialmente uniforme e onsistente om a preserva ~ao da forma da distribui ~ao de probabilidades ao longo do tempo, e desempenha um papel essen ial na determina ~ao
do valor medio do momento omo fun ~ao do tempo, que tambem os ila em torno de zero om
a frequên ia !0 .
Essas ara tersti as s~ao as que orrespondem a evolu ~ao temporal de um estado oerente
do os ilador (v. Problema 3.6), e e fa il veri ar que a ondi ~ao ini ial (3.22) e de fato um
estado oerente. Para isso basta al ular
~v =
p1 (Q
2
d
1
iP )'(x; 0) = p X +
dX
2
!"
#1
p e
b
(X
20
X
)2
X0
p
'(x; 0)
2
que mostra que '(x; 0) e uma autofun ~ao do operador

que orresponde, na representa ~ao de
p
S hrodinger, ao operador a, om autovalor x0 = 2. Da mesma forma se pode veri ar que a
solu ~ao '(x; t) e tambem um estado oerente ( om autovalor em geral omplexo) para qualquer
t.
3.3.3 Comportamento quânti o de uma part ula livre.

A dinâmi a de uma part ula livre e ara terizada pelo hamiltoniano
p~2
2M
que depende apenas do momento ~p, e portanto pode ser diagonalizada simultaneamente om
p~. A equa ~ao de autovalores para esta variavel dinâmi a e
H=
p~j~ki = h~kj~ki
que, na representa ~ao de S hrodinger, es revendo a fun ~ao de onda h~rj~ki omo ~k (~r), apare e
sob a forma
ih r~k (~r) = h~k~k (~r):

136
O autovalor foi es rito, por onveniên ia, omo h~k, de modo que as omponentes artesianas
do vetor ~k têm dimens~ao de inverso de omprimento. Essa equa ~ao admite omo solu ~oes as
"ondas planas"
~k (~r) = h~rj~ki = N~k ei~k~r
(3.23)
que devem ser ainda onvenientemente normalizadas atraves da es olha da onstante N~k .
Essas fun ~oes n~ao têm norma nita, e de fato orrespondem, na representa ~ao de S hrodinger, aos autovetores improprios j~ki do operador om espe tro puramente ontnuo p~, isto e,
~k (~r) = h~rj~ki. As ondas planas ~k (~r) podem portanto ser vistas, a menos da quest~ao de normaliza ~ao, tambem omo elementos de uma transforma ~ao unitaria que leva da representa ~ao
de S hrodinger, na qual o operador ~q e realizado omo um operador de multipli a ~ao (sendo
portanto diagonal), para uma representa ~ao de momento, na qual o operador ~p e aquêle que desempenha papel analogo ao do operador ~q na representa ~ao de S hrodinger. De fato, a "fun ~ao
de onda no espa o de momento" asso iada a um vetor de estado qualquer j'i orresponde a
amplitude
'~(~k) h~kj'i =
d3 r
h~kj~rih~rj'i = N~k d3 re i~k~r'(~r);
(3.24)
o que mostra que essa transforma ~ao onsiste de fato numa transforma ~ao de Fourier da fun ~ao
de onda de S hrodinger. Para assegurar a sua unitariedade formal, no sentido que os elementos
da transforma ~ao inversa sejam os omplexo onjugados dos elementos da transforma ~ao direta
transposta, a es olha apropriada da onstante de normaliza ~ao e, ent~ao,
1
:
(3.25)
(2 )3=2
Essa es olha permite es rever a transforma ~ao inversa (do espa o de momento para a representa ~ao de S hrodinger) omo
N~k =
'(~r) =
1 Z 3 i~k~r ~
d ke '~(k);
(2 )3=2
que, ombinada om a (3.24), orresponde a uma resolu ~ao formal da unidade es rita omo
1 Z 3 i~k(~r ~r 0 )
d ke
:
(3.26)
(2 )3
A validade dessa express~ao formal esta ligada a validade da invers~ao ponto a ponto da transforma ~ao de Fourier.
(~r ~r 0 ) =
137
As fun ~oes (3.23) ( om a normaliza ~ao (3.25)) s~ao tambem solu ~oes da equa ~ao de autovalores para o hamiltoniano da part ula livre
em que os autovalores s~ao dados por
h 2 2
r ~k (~r) = Ek ~k (~r)
2M
h 2 k2
:
2M
Ao ontrario do que o orre om o espe tro do momento, os autovalores do espe tro ontnuo
de H s~ao innitamente degenerados. De fato, eles dependem apenas do modulo do vetor ~k,
o que impli a (para ada ~k 6= 0) numa degeneres ên ia tambem ontnua, orrespondente as
diferentes orienta ~oes possveis de ~k.
O problema da dinâmi a da part ula livre, utilizando a des ri ~ao de S hrodinger formulada
em termos de fun ~oes de onda dependentes do tempo, onsiste em obter solu ~oes da equa ~ao
de movimento
'(~r; t)
h 2 2
r
'(~r; t) = ih
2M
t
satisfazendo ondi ~oes ini iais '(~r; t = 0) dadas. Tais solu ~oes podem ser obtidas atraves
da representa ~ao de S hrodinger do operador de evolu ~ao, es rita em termos das autofun ~oes
simultâneas de ~p e H ,
Ek =
2
1 Z 3 i~k(~r ~r 0 ) i hk
2M t
(3.27)
d
ke
(2 )3
De fato, a solu ~ao do problema de ondi ~oes ini iais para a part ula livre e dada em termos
desse operador simplesmente omo
i
U (~r; t; ~r 0 ; 0) h~rje h Ht j~r 0 i =
'(~r; t) = h~rje
i
h Ht
hk
d3 kh~rj~kie i 2M t h~kj~ri =
j'(t = 0)i = d3r0U (~r; t; ~r 0 ; 0)'(~r 0 ; 0):
(3.28)
Na realidade, existem duas formas de implementar esse esquema em situa ~oes on retas. A
primeira segue passo a passo o pro edimento usado na se ~ao anterior para resolver o problema
analogo para o os ilador harmôni o. De fato, a integra ~ao sobre ~r 0 em (3.28) orresponde a apli ar uma transforma ~ao de Fourier a ondi ~ao ini ial, o que efetivamente a reduz a representa ~ao
em que o hamiltoniano e diagonal. Desse modo a solu ~ao desejada e obtida al ulando
1 Z 3 i~k~r i h2kM2 t ~
'(~r; t) =
d ke
'~(k; 0)
(2 )3=2
138
(3.29)
onde '~(~k; 0) e a transformada de Fourier da ondi ~ao ini ial. Alternativamente, e possvel fazer
a integra ~ao sobre ~k na equa ~ao (3.27) independentemente da ondi ~ao ini ial, e depois usar o
resultado omo indi ado em (3.28). Esta ultima estrategia tem a vantagem de que sua primeira
etapa pode ser implementada de uma vez por todas, independentemente da ondi ~ao ini ial,
sendo esta introduzida posteriormente, atraves da integra ~ao sobre ~r 0 em (3.28). O que se
obtem desse modo para U (~r; t; ~r 0 ; 0) e (v. problema 3.13)
3
M 2 iM (~r2ht~r 0 )2
:
(3.30)
e
2ih t
Esse objeto e a representa ~ao de S hrodinger do operador de evolu ~ao (tambem eventualmente
hamado propagador de S hrodinger para a part ula livre), e onsiste na realidade de um
"elemento de matriz" desse operador, tomado om os autovetores impoprios do operador de
posi ~ao, que pode ser interpretado omo a amplitude da probabilidade de que uma part ula
livre lo alizada na posi ~ao ~r 0 em t = 0 seja en ontrada na posi ~ao ~r no tempo t. A rela ~ao
(3.28) pode ent~ao ser vista omo uma onsequên ia imediata do arater linear da equa ~ao de
movimento quânti a. As duas estrategias de al ulo para '(~r; t) s~ao evidentemente equivalentes,
e a preferên ia por uma ou outra deve ser de idida por eventuais raz~oes de onveniên ia.
Um exemplo que envolve al ulos relativamente simples, mas que e bastante util para ilustrar
varias propriedades da dinâmi a quânti a de uma part ula livre, e o de uma ondi ~ao ini ial
que onsiste de um estado des rito pela fun ~ao de onda gaussiana normalizada (usualmente
hamada \pa ote de ondas gaussiano")
U (~r; t; ~r 0 ; 0) =
"
'(~r; 0) =
#3
p ei~k0~r e
b
(~r ~r0 )2
2b2 :
Os valores medios da posi ~ao e do momento nesse estado s~ao fa ilmente obtidos omo
h~qi = ~r0
hp~i = h~k0
e a densidade de orrente (3.18) envolve um ampo de velo idades uniforme ~v0 = h~k0 =M . A
transformada de Fourier, que orresponde a fun ~ao de onda no espa o de momento h~kj'(t = 0)i
do estado tomado omo ondi ~ao ini ial, e
#3
"
2b 2
~
e
'~(k; 0) = p

i(~k ~k0 )~r0 e 2b2 (~k ~k0 )2
que mostra que a distribui ~ao de probabilidade desse estado no espa o de momento e tambem
gaussiana, om largura 1=2b em termos dos vetores de onda ~k. A ondi ~ao ini ial e portanto
um estado de in erteza mnima.
139
Uma primeira forma de hegar a fun ~ao de onda no tempo t e dada pela equa ~ao (3.29), na
qual apare e a transformada de Fourier da ondi ~ao ini ial. Essa forma leva, no aso que esta
sendo onsiderado, a uma express~ao envolvendo uma integra ~ao sobre o espa o de momento
#3
"
1
2b 2 Z 3 i~k~r i h2Mk2 t
p
'(~r; t) =
dke
e
(2 )3=2
i(~k ~k0 )~r0 e 2b2 (~k ~k0 )2
que pode ser al ulada em termos de tres integrais gaussianas envolvendo as omponentes
artesianas de ~k. Alternativamente, '(~r; t) pode ser obtida usando as equa ~oes (3.28) e (3.30),
o que leva a uma express~ao que envolve uma integral em ~r 0
#3
3"
M 2 1 2 Z 3 0 iM (~r2ht~r 0 )2 i~k0 ~r 0 (~r 02b~r20 )2
p
e
e
dr e
'(~r; t) =
2ih t
b

que pode ser simpli ada introduzindo variaveis de posi ~ao deslo adas ~s ~r ~r0 ,
#3
3"
M 2 1 2 i~k0 ~r0 Z 3 0 iM (~s2ht~s 0 )2 i~k0 ~s 0 2sb022
p e
e e :
ds e
'(~r; t) =
2ih t
b

Essa integral pode tambem ser al ulada em termos de integrais gaussianas nas omponentes
artesianas de ~s 0 . O resultado que se obtem nos dois asos e
"
'(~r; t) =
1
p
B (t)
#3
exp 64
~k0 t
~r r~0 hM
2 B 2 ( t)
2
ih t
Mb2
ih k02 t
2M
+ i~k0 ~r75
(3.31)
onde B (t) e dado por

s
h 2 t2
t2
B (t) = b 1 + 2 4 = b 1 + 2
M b

onde foi denida a es ala de tempo, dependente da massa e da largura ini ial do pa ote gaussiano, = Mb2 =h .
A densidade de probabilidade asso iada a '(~r; t)
"
(~r; t) =
1
p
B (t)
#3
exp 64
140
~k0 t
~r r~0 hM
B 2 ( t)
2 3
7
5
orresponde a uma distribui ~ao espa ial gaussiana, om largura dependente do tempo B (t), ujo
entro se deslo a a partir da posi ~ao ini ial ~r0 om velo idade onstante h~k0 =M = ~v0 . A largura
aumenta om o tempo de uma forma n~ao linear tal que dB=dt res e monotoni amente de zero,
para t = 0, ate o valor assintoti o h =Mb = b= , para t ! 1. E importante notar tambem
que, sendo o momento p~ uma onstante do movimento para a part ula livre, a distribui ~ao de
probabilidade no espa o de momento j'~(~k; t)j2 e independente do tempo. De fato, a apli a ~ao
do operador de evolu ~ao sobre '~(~k; 0) introduz apenas fatores de fase dependentes de ~k. Desse
modo, a evolu ~ao temporal destroi a ondi ~ao de in erteza mnima que se apli a ao estado
ini ial.
Uma imagem mais lara desse pro esso de alargamento espa ial do pa ote gaussiano pode
ser obtida estudando tambem a distribui ~ao de orrente de probabilidade ou, equivalentemente,
o ampo determinado pelo gradiente da fase de '(~r; t)

2
~k0 t
~r ~r0 hM
t

+
:
2
t
2
2M
2b 1 + 2
h k02 t
S ~
= k0 ~r
h
O ampo de velo idades asso iado a distribui ~ao de probabilidade (~r; t) e, nesse aso, dado
por
1
rS = h~k0 + ~r ~r h~k0 t A t = ~v + (~r ~r ~v t) t :

~v(~r; t)
0
0
0
0
M
M
M 2 + t2
2 + t2
Essa express~ao mostra que, para t > 0, o ampo uniforme ini ial ~v0 e modi ado por uma
omponente adi ional que tem a propriedade de ser isotropi a e linearmente res ente om
rela ~ao ao entro do pa ote ~r0 + ~v0 t, om uma taxa de varia ~ao om a distân ia que depende
do tempo. Introduzindo a distân ia ao entro do pa ote ~r ~r ~r0 ~v0 t essa omponente
"intrnse a" do ampo de velo idades, determinada apenas pela massa M da part ula e pela
largura ini ial b do pa ote, e dada por
t
~v (~r; t) = 2 2 ~r
+t
e da lugar a uma omponente orrespondente da orrente de probabilidade
#3
r2
t
1
p
e B2 (t) 2 2 ~r
~j (~r; t) =
B (t)
+t
"
que mostra que os efeitos do res imento om a distân ia r da omponente intrnse a da

velo idade s~ao na realidade limitados pelo de res imo gaussiano da densidade de probabilidade.
141
Dessa forma, a ordem de grandeza dos seus efeitos pode ser estimada al ulando ~v (~r; t) para
distân ias ao entro do pa ote da ordem do seu tamanho no tempo t, ~r = B (t)^r, onde r^ e o
vetor unitario na dire ~ao de ~r. Essa quantidade
~v (B (t)^r; t) =
b

p 2t
+ t2
r^
de fato reproduz a taxa de varia ~ao da largura om o tempo, dB (t)=dt. Um ponto importante
a ser dis utido e o me anismo responsavel pela dependên ia dessa quantidade om o tempo.
Em outras palavras, e pre iso elu idar as raz~oes que fazem om que a tendên ia a expans~ao
espa ial do pa ote de ondas se instale progressivamente, sendo nula em t = 0 e se aproximando
assintoti amente do limite b= para t ! 1.
Para tratar essa quest~ao e pre iso observar ini ialmente que a es ala de tempo e determinada fundamentalmente pela rela ~ao de in erteza de Heisenberg. De fato, a dispers~ao
quadrati a media de qualquer
das omponentes artesianas do operador posi ~ao na ondi ~ao
p
ini ial e q (t = 0) = b= 2. Dado que se trata de um estado de in erteza mnima, isso impli a
em uma dispers~ao p
orrespondente em qualquer das omponentes artesianas do momento que e
dada por p = h =b 2. Como o momento e uma onstante do movimento, esta ultima dispers~ao
e preservada ao longo do tempo. Essas dispers~oes s~ao propriedades intrnse as do estado ini ial
onsiderado, e a es ala de tempo pode ser es rita em termos delas omo
=
(q (t = 0))

p
M
O numerador nessa raz~ao representa a es ala das dimens~oes espa iais do pa ote ini ial, ao passo
que o denominador representa a es ala das diferen as de velo idade impostas pelas rela ~oes de
in erteza. Dessa forma orresponde essen ialmente ao tempo durante o qual uma distân ia
da ordem da extens~ao espa ial do pa ote ini ial e per orrida om a velo idade orrespondente a
dispers~ao de velo idades, e deve ser visto portanto omo um "tempo de matura ~ao" do estado
ini ial, durante o qual as omponentes om velo idade relativa ao entro do pa ote om maior
modulo tendem a se on entrar na regi~ao super ial do pa ote. Isso impli a num pro esso de
orrela ionamento de posi ~ao e momento, e leva nalmente a expans~ao assintoti amente linear
em t (sempre om referên ia ao entro do pa ote), e om a taxa determinada pela dispers~ao
em momento p .
Para quanti ar essas ideias e possvel (embora n~ao seja usual) introduzir um "parâmetro
de maturidade" (t) para o estado gaussiano dependente do tempo, denido omo
sen (t) =
M ~v (B (t)^r; t) r^
t
p
=p 2 2:
2 p
+t
142
Esse parâmetro mede a dispers~ao do ampo intrnse o de velo idades em extremidades opostas
do pa ote em unidades da dispers~ao de velo idades orrespondente a rela ~ao de in erteza.
Essa quantidade exprime portanto em que medida essa dispers~ao de velo idades, de origem
inemati a, se realiza em termos de orrela ~oes entre posi ~ao e momento. E fa il ver que, om
essa deni ~ao, tan = t= orresponde a "idade" do pa ote expressa em unidades de .
A orrela a~o entre posi ~ao e momento obtida a ima, no pa ote om \idade" diferente de
zero, e apturada tambem pela ovarian a das omponentes de p~ e ~q, in luda na rela ~ao
geral de in erteza devida a S hrodinger (v. se ~ao 2.2.4). De fato, onsiderando por
simpli idade o aso de um pa ote gaussiano unidimensional entrado em x = 0 e om
momento medio nulo4, a ovarian a de p e q e dada por
= 12 h'(t)j(pq + qp)j'(t)i = 21 h'(t)j(2pq + ih)j'(t)i =
Z +1
h2t :
= i2h + hi 1 ' (x; t) dxd x'(x; t) dx = 2Mb
2
A express~ao para '(x; t) a ser usada para o al ulo da integral e fa ilmente deduzida de
(3.31) anulando ~r0 e ~k0 e reduzindo a uma uni a dimens~ao, o que leva ao resultado
"
#

1
2
x2
1
ih t
p exp 2B 2(t) 1 Mb2 :
'(x; t) =
B (t )
(') (t)
pq
As dispers~oes q(')2 (t) e p(')2 (t) al uladas om essa mesma fun ~ao de onda d~ao, por outro
lado,
B 2 (t)
h 2
q(')2 (t) =
e
p(')2 (t) = 2
2
2b
de modo que o determinante da matriz de ovarian a e
B 2 (t)
2
B
0
det
h2 t
2Mb2
h 2 t
2Mb2 C
1
h2
2b2
h 2
A=
4
B 2 (t)
b2
h 2 t2
h2
=
M 2 b4
4
Usando argumentos de paridade e fa il ver que, no aso de um pa ote gaussiano tridimensional, ovarian as
do tipo r('i r)j , p('i p)j e r('i p)j om i 6= j se anulam, de modo que esse aso pode ser tratado omponente por
omponente om o mesmo resultado obtido no aso unidimensional. A restri a~o a momento medio e posi a~o
media nulos tambem n~ao impli a em perda de generalidade, pois apenas serve para dispensar as subtra o~es que
de outra forma seriam ne essarias para o al ulo dos elementos da matriz de ovarian a.
4
143
mostrando que o pa ote gaussiano satura a rela ~ao de in erteza de S hrodinger em qualquer tempo. Isso permite ainda a vin ula ~ao do pa ote, mesmo em t 6= 0, a um tipo
generalizado de estado de in erteza mnima, e pode ser interpretado omo indi ativo de
que o res imento om t do produto das in ertezas (segundo Heisenberg) e na realidade
um re exo do pro esso de orrela ~ao posi ~ao-momento que se instala atraves da dinâmi a
quânti a.
Uma apli a a~o adi ional da rela ~ao geral de in erteza de S hrodinger onsiste no estudo
do tempo ara tersti o asso iado a varia a~o da dispers~ao quadrati a do pa ote gaussiano
livre. Considerando ainda o aso do pa ote unidimensional entrado na origem e om
momento medio nulo, ela onsiste em al ular, para esse aso, os varios termos da rela a~o
(2.35) tomando g = x2 . Para isso e pre iso primeiramente onstruir os operadores ujo
valor medio no pa ote de ondas e nulo no tempo t
p2
h 2
B 2 (t)
e
H(') H h'(t)jH j'i =
g(') x2 h'(t)jx2 j'i = x2
2
2M 4Mb2 :
Esses operadores permitem al ular os elementos da matriz de ovarian a omo
B 4 (t)
2 2 2
= h j j'i = 2 = 2 1 + Mh 2tb4
h4
H(')2 = h'jH(2') j'i =
e
8M 2 b4
2 B 2 (t )
2 2
2 2
(')
gH
= h'jH(') g(') 2 g(') H(')j'i = h'jp x 4+Mx p j'i h8Mb
2
!
2
2
2
= 4hM 1 Mh 2tb4
Levando esses ingredientes a rela ~ao (2.35) resulta, apos alguns passos algebri os simples,
v
u
u
2h4t2 (') 1
u
t
2 (x2 )
h 2 t2 + M 2 b4
ou seja
!
M 2 b4
1
(')
:
(3.32)
(x2 ) p t + 2
h t
2
Para a obten ~ao da rela ~ao (2.35), o tempo ara tersti o g(') foi denido omo

h g(')

(
'
)
g
h'j[g; H j'i ;
g(')2
' g(2')
b2
144
e essa quantidade pode ser al ulada diretamente neste aso para g = x2 om o resultado
!
1
M 2 b4
(')
(x2 ) = p t + 2
(3.33)
h t
2
o que mostra que a desigualdade (3.32) e tambem saturada neste aso (isto e, ela vale omo
igualdade em qualquer tempo). Para entender o omportamento singular da express~ao que
apare e em (3.32) e (3.33) para t ! 0 e t ! 1 basta notar que, para t ! 0, a velo idade
hd(x2 )=dti = h 2 t=M 2b2 ) se anula enquanto a dispers~ao x('2 ) e diferente de zero; e que para
t ! 1 o res imento linear om t da velo idade e dominado pelo res imento quadrati o
da dispers~ao. As duas singularidades de ((x'2)) têm portanto signi ados de erta forma
diferentes, pois enquanto a singularidade em t = 0 se deve a esta ionaridade ini ial da
dispers~ao, a singularidade em t ! 1 re ete apenas as taxas diferentes de varia ~ao om o
tempo de x('2 ) e de hd(x2 )=dti = dx('2 ) =dt, e e portanto apenas um artefato da deni a~o
de ((x'2)).
Finalmente, e interessante omparar esses resultados om o que de orre do uso da
rela ~ao (2.34), proveniente da rela a~o de in erteza que ignora a ontribui ~ao da ovarian a,
que da simplesmente
p 2
2 Mb :
h
(')
(') (')
ou
seja
(x2 )
H (x2 )
2
h
O valor mnimo de ((x'2)) pode ser obtido de (3.33) omo sendo
p 2

2 Mb ; para t ! t0 = Mb2
(')
(x2 ) min =
h
h
mostrando
que essa desigualdade e saturada apenas no instante
t0 , em que a ovarian a
(')
(')
gH se anula. O fato de que nesse instante a ovarian a pq e diferente de zero (pois
se anula apenas para t = 0) ilustra o fato de que as orrela ~oes expressas pela ovarian a dependem ru ialmente n~ao apenas do estado mas tambem das variaveis dinâmi as
onsideradas.
Com alguns passos adi ionais e possvel tambem identi ar pa otes gaussianos om maturidade e idade negativas. De fato, onsiderando um novo problema de ondi ~oes ini iais em que
o estado ini ial (~r; 0) e denido em termos do onjugado omplexo de um pa ote gaussiano
\maduro", isto e
(~r; t = 0) ' (~r; T )
onde T e um tempo grande na es ala de , e fa il ver que a solu ~ao da equa ~ao de S hrodinger
dependente do tempo satisfazendo essa ondi ~ao ini ial e
145
(~r; t) = ' (~r; T
t):
De fato, a derivada om rela ~ao ao tempo dessa fun ~ao e dada por
(~r; t)
' (~r; t0 )
=
jt0 =T t ;
t
t0
omo, por outro lado, H'(~r; t0 ) = ih ' =t0 , resulta que (~r; t) satisfaz a equa ~ao
(~r; t)
= H (~r; t):
t
A densidade de probabilidade asso iada ao pa ote (~r; t) e dada por
ih
"
(~r; t) =
B (T
#3
t)
"
exp
(~r ~r0 0 + ~v0 t)2

B 2 (T t)
onde ~r0 0 = ~r0 + ~v0 T e a posi ~ao ini ial do entro desse pa ote. Para tempos no intervalo
0 t T , portanto, o orre uma ontra ~ao das dimens~oes espa iais do pa ote ate que, para
t = T , ele volta a ser representado por '(~r; t = 0). Para t > T a evolu ~ao temporal deste
ultimo estado e reproduzida om as propriedades dis utidas anteriormente.
O ampo de velo idades obtido a partir da analise da fase de (~r; t) e dado por
~v (~r; t) = ~v0
(~r ~r00 + ~v0 t)
2
T t
+ (T t)2
que orresponde ao ampo de velo idades \intrnse o", relativo ao entro do pa ote,
~v (~r; t) =
2
T t
~r
+ (T t)2
onde agora ~r = ~r ~r0 0 + ~v0 t. Para t < T esse ampo radial e dirigido para dentro do pa ote,
dando lugar portanto a valores negativos do parâmetro de maturidade e da \idade" tan .
Ambas essas quantidades s~ao porem res entes, omo no aso tratado anteriormente.
O pro esso que leva da solu ~ao '(~r; t) a solu ~ao (~r; t) e laramente um pro esso de invers~ao temporal. De fato, a onjuga ~ao omplexa apli ada a '(~r; t) mantem a densidade de
probabilidade inalterada e tro a o sinal do poten ial do ampo de velo idades, de modo que
a evolu ~ao de (~r; t) repete, em sequên ia inversa, a evolu ~ao de '(~r; t). Como a invers~ao
temporal impli a na invers~ao de todas as velo idades do sistema, a sua apli a ~ao a um pa ote
146
gaussiano om orrela ~oes posi ~ao-momento inverte os momentos envolvidos nessas orrela ~oes
e dessa forma inverte o sinal de . Com isso a expans~ao quase linear do pa ote \maduro" e
substituda por uma ontra ~ao que o leva de volta a situa ~ao de \idade zero" ( ampo intrnse o
de velo idades nulo). Ao ontrario do que o orre om a expans~ao, a ontra ~ao de um pa ote
gaussiano so pode o orrer durante um tempo nito.
Ainda outra forma de expor a orrela ~ao entre posi ~ao e momento no pa ote de ondas
gaussiano onsiste em utilizar uma representa ~ao do estado quânti o num espa o de fases
lassi o, introduzida por Wigner (Phys. Rev. 40, 749 (1932)). Considerando, por simpli idade, o aso de um pa ote unidimensional (na oordenada x), om k0 = 0 e x0 = 0, (a
dis uss~ao pre edente mostra que esse aso ontem na realidade uma des ri ~ao ompleta
do movimento intrnse o de um pa ote tridimensional om momento medio diferente de
zero) essa representa ~ao tem omo ponto de partida a forma "n~ao diagonal" da densidade
de probabilidade
(x; x0 ; t) '(x; t)' (x0 ; t) = hxj'(t)ih'(t)jx0 i
onde esta ultima nota ~ao foi introduzida para justi ar a denomina ~ao "matriz densidade"
usualmente dada a esse objeto. No aso espe o do pa ote gaussiano
"

#
2
02
x
x
i

h
t
i

h
t
1
p exp 2B 2 (t) 1 Mb2 + 2B 2(t) 1 + Mb2 :
(x; x0 ; t) =
B (t )
Os "elementos diagonais" dessa matriz densidade orrespondem laramente a densidade de probabilidade na representa ~ao utilizada. A transformada de Wigner de (x; x0 ; t)
e denida, em primeiro lugar, rees revendo essa densidade em termos das oordenadas
x + x0
e = x0 x
X=
2
ou seja

e
x0 = X +
2
2
e tomando em seguida a transformada de Fourier om rela a~o a om um oe iente
apropriado
1 Z de ik (X; ; t):
W (X; k; t) =
2
A distribui ~ao de Wigner W (X; k; t) esta denida no "espa o de fases lassi o" X k e
e uma fun ~ao real, mas n~ao ne essariamente positiva, o que prejudi a a sua interpreta ~ao
x=X
147
simplesmente omo uma distribui ~ao de probabilidades no espa o de fases lassi o. No

entanto, n~ao e dif il veri ar que as integrais
(X; t) =
dkW (X; k; t)
e ~(k; t) = dXW (X; k; t)

(3.34)
orrespondem efetivamente as distribui ~oes de probabilidade respe tivamente no espa o de
posi ~ao e de momento, segundo a pres ri ~ao padr~ao da teoria quânti a. A es olha do oe iente 1=2 na deni ~ao de W (X; k; t) tem na realidade o sentido de uma normaliza a~o
que garante essas propriedades.
No aso do pa ote gaussiano, a transformada de Wigner da matriz densidade pode ser
obtida fa ilmente e tem a forma simples
)2
1 2 2 (X+hbkt=M
2
W (X; k; t) = e b k

na qual e possvel veri ar expli itamente as propriedades anun iadas a ima. Neste aso
a distribui ~ao de Wigner e no entanto uma fun ~ao positiva de X e k. Para a ondi ~ao
ini ial (t = 0) ela assume valores iguais sobre urvas do plano X k que, alibrando o
eixo X em unidades de b e o eixo k em unidades de 1=b, s~ao r ulos entrados na origem.
Os pontos dos semiplanos superior e inferior se deslo am respe tivamente para a direita e
para a esquerda, paralelamente ao eixo X e om velo idades propor ionais a sua distân ia
a esse eixo. Desse modo os r ulos da ondi ~ao ini ial se deformam quando t > 0 para
elipses ujos eixos maiores est~ao ini ialmente ao longo da bissetriz do primeiro quadrante
e se alongam om o tempo, tendendo assintoti amente a se alinhar om o eixo X . A
orrela ~ao momento-posi ~ao orresponde ao fato de que, de a ordo om as rela o~es (3.34)
e para t > 0, as ontribui ~oes para a distribui ~ao de probabilidade em posi ~oes X > 0 e
X < 0 provem predominantemente de regi~oes om k > 0 e k < 0 respe tivamente.
O espe tro do momento p~ foi tratado ate aqui omo um espe tro ontnuo e portanto asso iado a autofun ~oes improprias (de norma innita) sujeitas a normaliza ~ao espe ial em termos de
fun ~oes delta de Dira . Uma forma frequentemente utilizada de evitar a onsidera ~ao de "autofun ~oes" de norma innita e impor ondi ~oes de ontorno periodi as em um volume V = L3
sobre as solu ~oes da equa ~ao de autovalores para o momento. Isso signi a que as solu ~oes
(3.23) dessa equa ~ao devem satisfazer a ondi ~ao de periodi idade
~k (~r + ~nL) = ~k (~r)

onde ~n = fn1 ; n2 ; n3 g e um vetor de omponentes inteiras, negativas, positivas ou nulas. Essa
ondi ~ao restringe os valores de ~k = fk1 ; k2 ; k3g de modo que
(~k ~n)L = 2N;
148
om N inteiro, o que orresponde a vetores ~k do tipo
~k = 2 ~
L
onde ~ f1 ; 2 ; 3 g e tambem um vetor de omponentes inteiras, que tambem podem ser
negativas, nulas ou positivas. A ondi ~ao de periodi idade impli a portanto na dis retiza ~ao
do espe tro do momento.
O onjunto de autofun ~oes periodi as ~k (~r) permite representar fun ~oes igualmente periodi as de ~r no sentido em que tais fun ~oes podem ser representadas por series de Fourier. Isso
impli a, por outro lado, em redenir o produto es alar de fun ~oes periodi as do tipo onsiderado
omo
h j 'i !
~r V
d3 r (~r)'(~r)
onde a integra ~ao e restrita ao volume de periodi idade V = L3 , de modo que as autofun ~oes
periodi as do momento têm de fato norma nita e a onstante de normaliza ~ao N~k pode ser
es olhida de forma a satisfazer a ondi ~ao
Z
~r V
d3 r ~k (~r)~k 0 (~r) = ~k;~k 0
onde ~k;~k 0 deve ser entendido omo um delta de Krone ker, onsistentemente om o arater
dis reto do espe tro. Com essa normaliza ~ao, as autofun ~oes periodi as do momento têm a
forma
1
~k (~r) = p ei~k~r :
(3.35)
V
As situa ~oes tpi as em que o uso de ondi ~oes de ontorno periodi as para as autofun ~oes
do momento e onveniente n~ao exigem qualquer propriedade de periodi idade orrespondente
para o sistema onsiderado. De fato, a ideia de um volume de periodi idade e usualmente
entendida de forma que esse volume seja su ientemente grande para onter essen ialmente
todo o sistema de interesse Dessa forma o trabalho pode ser desenvolvido sem os eventuais
in onvenientes de orrentes da onsidera ~ao de autovetores improprios. O resultado nal obtido
para quantidades fsi as deve evidentemente ser independente de V . Um re urso de al ulo
bastante util para express~oes que envolvem somas sobre o espe tro dis reto do momento, om
ondi ~oes de ontorno periodi as, onsiste em \passar ao limite do ontnuo", o que signi a
fazer L ! 1, om o que o espe tro dis reto do momento se torna progressivamente mais denso e
somas sobre o espe tro dis reto podem ser substitudas por integrais sobre ~k. Essa substitui ~ao
envolve um \ja obiano" dn=d~k que tem o sentido de uma densidade de estados (dis retos) por
149
unidade de volume do espa o de momento. Como o \volume por estado dis reto" no espa o ~k
e (k1 )3 = (2=L)3 , essa passagem de somas a integrais deve ser feita de a ordo om
X
~k
!
F (~k) V !1
d3 k
Z
dn
3
~k) = V
~
F
(
3 d k F (k ) :
~
(2

)
dk
Em parti ular, e imediato veri ar que essa pres ri ~ao transforma elementos de matriz al ulados om as fun ~oes de onda (3.35) nos elementos de matriz orrespondentes, al ulados om
a normaliza ~ao do ontnuo (3.25).
A dedu ~ao das rela ~oes de in erteza feita no aptulo anterior envolve impli itamente
algumas hipoteses que podem n~ao ser satisfeitas quando se usa autofun o~es do momento
om ondi ~oes de ontorno periodi as, onduzindo eventualmente a situa ~oes paradoxais.
Por exemplo, no aso mais simples da rela ~ao de in erteza posi ~ao-momento
h
q p
2
uma dispers~ao nula do momento a arreta q ! 1. No entanto, as autofun ~oes do momento om ondi ~oes de ontorno periodi as e normaliza ~ao (3.35) d~ao, em uma dimens~ao,
q L.
A origem desta di uldade pode ser en ontrada reexaminando, neste aso, a dedu ~ao
feita ali da rela ~ao de in erteza. Como antes, e onveniente denir os operadores deslo ados
q(') = q h'jqj'i e p(') = p h'jpj'i
onde hxj'i = '(x) e uma fun ~ao de onda derivavel satisfazendo agora as ondi ~oes de
periodi idade
d'(x) d'(x + nL)
=
:
'(x) = '(x + nL) e
dx
Desse modo,
dx
q2 p2 = h'jq(2') j'ih'jp2(') j'i:
Introduzindo as fun ~oes

'q (x) = q(') '(x) e 'p (x) = p(') '(x)
e usando as ondi ~oes de periodi idade impostas sôbre '(x) (que s~ao ne essarias para
garantir o anulamento de termos integrados em integra o~es por partes), e fa il ver que
150
h'jq(2') j'i =
xL
dx j'q (x)j2
e uma rela a~o analoga para h'jp2(') j'i envolvendo 'p(x). A desigualdade de S hwartz da,
ent~ao
Z
2
Z
2
Z

h'jq(2') j'ih'jp2(') j'i dx 'p(x)'q (x) 41 dx 'p (x)'q (x) dx 'q (x)'p (x) :
No aptulo anterior, o ultimo termo foi reduzido a uma express~ao envolvendo o omutador de q(') e p(') usando
Z
Z
Z

dx 'q (x)
'p (x) = dx q(') '(x) p(') '(x) = dx '(x) q(') p(') '(x)
e Z
Z
Z

dx 'p (x)
'q (x) = dx p(') '(x) q(') '(x) = dx '(x) p(') q(') '(x) (?)
A ultima rela ~ao, porem, n~ao e orreta neste aso. O produto es alar ('p; 'q ) pode, de
fato, se al ulado expli itamente om o resultado
Z

('p ; 'q ) = ih (x h'jqj'i) j'(x)j2 jL0 + dx '(x) p(')q(') '(x)
onde o primeiro termo, proveniente da integra ~ao por partes envolvida no remanejamento
de p(') , e ih Lj'(L)j2 . Esse termo se anula apenas se '(L) = '(0) = 0, o que n~ao foi
exigido. Em parti ular, esta ultima ondi a~o n~apo e satisfeita pelas autofun ~oes periodi as
do momento, para as quais ~k (L) = ~k (0) = 1= L. A ontribui ~ao do termo integrado e
ent~ao ih e an ela a ontribui a~o vinda do omutador de q(') e p(') .
O problema en ontrado no in io, portanto, pode ser rela ionado om uma quebra de
hermiti idade de p('). A hermiti idade desse operador depende, pelo visto, da periodi idade das fun ~oes de onda, e a fun ~ao 'q (x) = q(') '(x) n~ao e periodi a. Por outro lado, a
rela ~ao
Z
2
Z

1
2
2

h'jq(') j'ih'jp(') j'i 4 dx 'p(x)'q (x) dx 'q (x)'p (x)
tem validade geral. Para que uma rela ~ao de in erteza om a forma es rita no in io seja
valida e pre iso que valha a rela ~ao
Z
Z
Z

dx '(x) p(') q(') '(x) = ih dx j'(x)j2
dx q(') '(x) p(') '(x)
que e a \forma fra a" do omutador de q(') e p(') . Essa rela a~o n~ao e veri ada no aso
de ondi ~oes de ontorno periodi as quando '(x) n~ao se anula nos extremos do perodo
de integra a~o.
151
3.3.4 Part ula sujeita a poten ial externo em uma dimens~ao.

O tratamento quânti o de uma part ula sujeita a um poten ial externo V (~r) geral, em três
dimens~oes, leva, na representa ~ao de S hrodinger, a uma equa ~ao diferen ial par ial linear envolvendo três variaveis espa iais. Estados n~ao esta ionarios envolvem tambem o tempo omo
quarta variavel. O tratamento, mesmo numeri o, desse tipo geral de equa ~ao e bastante trabalhoso. As di uldades podem no entanto ser bastante aliviadas aso existam propriedades de
simetria que possam ser exploradas para desa oplar algumas das variaveis envolvidas. O aso
espe ial de poten iais entrais V (~r) ! V (j~rj) sera tratado dessa forma no aptulo 5. Existem,
no entanto varias ara tersti as das solu ~oes da equa ~ao de S hrodinger geral que ja apare em no tratamento de problemas soluveis envolvendo o aso espe ial de uma uni a dimens~ao
espa ial. O objetivo desta se ~ao e apresentar e dis utir algumas dessas ara tersti as.
A equa ~ao de S hrodinger que des reve uma part ula quânti a de massa M em uma uni a
dimens~ao espa ial, sujeita a um poten ial V (x), e
h 2 2 (x; t)
(x; t)
+ V (x) (x; t) = ih
:
2
2M x
t
As solu ~oes esta ionarias dessa equa ~ao têm a forma
E (x; t)
iEt
= E (x)e h
que, substituda na equa ~ao de S hrodinger, mostra que as fun ~oes E (x) devem satisfazer a
equa ~ao diferen ial de autovalores
h 2 d2 E (x)
+ V (x)E (x) = EE (x)
2M dx2
que e laramente a equa ~ao de autovalores para o operador hamiltoniano es rita na representa ~ao de S hrodinger. Essa equa ~ao adquire uma forma mais onveniente om as deni ~oes
U (x)
2M
V (x)
h 2
k2
2ME
h 2
que permitem rees reve-la omo

i
d2 E (x) h 2
+
k
U
(
x
)
E (x) = 0:
(3.36)
dx2
As solu ~oes bus adas dessa equa ~ao devem satisfazer ondi ~oes de ontorno apropriadas. Autofun ~oes E (x) orrespondentes ao espe tro dis reto do hamiltoniano devem ser normalizaveis,
o que exige que se aproximem de zero de forma su ientemente rapida quando x ! 1.
152
V(x)
V0
Figura 3.1: Degrau de poten ial de altura

V0 em x = 0.
Autofun ~oes orrespondentes ao espe tro ontnuo n~ao s~ao normalizaveis, mas s~ao tambem espe i adas pres revendo o seu omportamento para valores muito grandes de x. Essas quest~oes
s~ao ilustradas a seguir em algumas situa ~oes tpi as.
1. Degrau de poten ial. Neste aso a dependên ia de x do poten ial se reduz a uma
des ontinuidade nita em um determinado ponto, que pode ser tomado omo orrespondendo
a x = 0 (v. gura 3.1):
8
>
<
V (x) = >
:
V0 > 0 para x 0
para x > 0:
Introduzindo a quantidade
k02 k2
2MV0
h 2
a equa ~ao de autovalores (3.36)pode ser es rita omo um par de equa ~oes, validas para x 0
e para x > 0 respe tivamente
d 2 E
+ k02 E = 0;
dx2
x0
d 2 E
+ k2 E = 0;
dx2
x>0
ujas solu ~oes gerais s~ao5

No aso em que k02 e k2 forem ambos positivos e onveniente denir k0 e k que apare em nas solu o~es gerais
omo a raiz quadrada positiva de k02 e k2 ; aso uma destas quantidades (ou ambas) seja (ou sejam) negativas,
a forma das solu o~es gerais permane e valida usando valores imaginarios puros para k0 e/ou k. Para manter a
asso ia a~o de A+ e B+ om as exponen iais positivas basta tomar k0 = i0 e k = i om 0 e positivos.
5
153
E (x 0) = A+ eik0 x + A e ik0 x
E (x > 0) = B+ eikx + B e
ikx :
Essa solu ~ao satisfaz a equa ~ao original (3.36) em qualquer ponto x 6= 0, mas a presen a da
segunda derivada e a des ontinuidade do poten ial em x = 0 exigem uidados adi ionais para
que essa equa ~ao esteja satisfeita tambem em x = 0. Como o poten ial V (x) e nito (embora
des ontnuo) nesse ponto, e pre iso que a segunda derivada esteja denida e seja tambem nita
em x = 0. Isso so sera possvel se estiverem satisfeitas as ondi ~oes
lim E (x + x)
x!0
E (x x) = 0
(3.37)
dE (x + x) dE (x x)
= 0;
x > 0
dx
dx
isto e, E (x) e sua primeira derivada devem ser ontnuas em x = 0. Essas ondi ~oes obrigam
as onstantes A e B a satisfazer as rela ~oes
lim
x!0
B+ + B = A+ + A
k(B+
B ) = k0 (A+
A ):
A determina ~ao ompleta das quatro onstantes A e B exige porem duas ondi ~oes adi ionais,
que s~ao obtidas impondo sobra a solu ~ao ondi ~oes de ontorno apropriadas.
Para dis utir essas ondi ~oes de ontorno para E > 0 (e portanto k2 > 0), e onveniente
tratar separadamente asos em que k02 > 0 (isto e, E > V0 ) e asos em que k02 < 0 (isto e,
0 < E < V0 ). No primeiro aso, tanto k omo k0 s~ao reais, e as solu ~oes têm um omportamento
os ilatorio om x dos dois lados do degrau de poten ial. Como a equa ~ao diferen ial e de segunda
ordem, existem duas solu ~oes independentes iE , i = 1; 2, para ada valor de E , que podem ser
espe i adas impondo duas ondi ~oes adi ionais independentes sobre as onstantes A e B .
Uma es olha usual para essas ondi ~oes adi ionais e
(1)
(1)
(1)
E (x) ! A+ = 1; B = 0;
(2)
(2)
(2)
E (x) ! A+ = 0; B = 1:
(2)
A es olha do valor 1 para A(1)
pode ser vista omo um riterio de normaliza ~ao. De
+ e B
fato, omo a equa ~ao de autovalores e linear e homogênea, as solu ~oes s~ao denidas apenas a
menos de uma onstante multipli ativa. Combinadas om as ondi ~oes exigidas pela equa ~ao
no ponto x = 0, essas ondi ~oes de ontorno levam as solu ~oes
154
(1)
E (x)
8
>
<
=>
:
eik0 x + kk+kk00 eik0 x ; x < 0

2k0 ikx
k+k0 e ;
x>0
(2)
E (x)
8
>
<
=>
2k
ik0 x ;
k+k0 e
: k k0 ikx
k+k0 e
+e
2M (V
h2 0
E)
ikx ;
x<0
x>0
No limite em que V0 ! 0 essas duas solu ~oes se reduzem simplesmente as solu ~oes independentes
eikx para uma part ula livre. Elas n~ao s~ao normalizaveis (a n~ao ser no sentido improprio, om
fun ~oes delta de Dira ) e o espe tro e ontnuo. Os autovalores na faixa de energia onsiderada,
E > V0 , s~ao duplamente degenerados.
No segundo aso, em que 0 < E < V0 , k0 < 0 e a solu ~ao geral para x < 0 e uma
ombina ~ao de exponen iais reais, uma res entes e outra de res ente. Para x > 0 a solu ~ao
geral e ainda os ilatoria. As solu ~oes om omportamento exponen ialmente res ente para x !
1 orrespondem a um res imento exponen ial da densidade de probabilidade nessa regi~ao
lassi amente proibida. Fisi amente, essa situa ~ao pode ser asso iada a presen a de fontes
arbitrariamente intensas de part ulas em ab issas arbitrariamente negativas. Situa ~oes desse
tipo s~ao usualmente ex ludas, o que leva a ex lus~ao on omitante da solu ~ao exponen ialmente
res ente. A solu ~ao que resta e portanto a que satisfaz a ondi ~ao de ontorno A = 0 om
o riterio de normaliza ~ao B = 1 que, juntamente om as ondi ~oes que devem ser satisfeitas
na origem, leva a solu ~ao
(0)
E (x)
8
>
>
<
=>
2k 0 x
k+i0 e ;
>
: k i0 ikx
k+i0 e
+e
x < 0; 0 = +
ikx ;
x>0
O espe tro e tambem ontnuo nessa regi~ao de energias, mas n~ao mais degenerado, devido
a ex lus~ao das solu ~oes n~ao limitadas em x ! 1.
Finalmente, no aso em que E < 0 as solu ~oes gerais envolvem apenas exponen iais reais,
e as ondi ~oes exigidas em x = 0 imp~oe sempre omportamentos exponen ialmente res entes,
seja para x ! 1 seja para x ! +1. A exemplo do que o orre om a solu ~ao desse tipo no
aso em que 0 < E < V0 , essas solu ~oes s~ao des artadas.
As ondi ~oes de ontorno es olhidas para obter as diferentes solu ~oes a ima da equa ~ao
de S hrodinger unidimensional têm interpreta ~oes fsi as bastante simples. Elas pres revem
uma omponente de amplitude normalizada a unidade e om vetor de onda dirigido para o
degrau de poten ial (o que pode ser realizado de dois modos quando E > V0 , orrespondendo
(2)
respe tivamente a in idên ias a partir da esquerda e da direita e as solu ~oes (1)
em de
E e E ) al
outras omponentes ne essarias para regularizar o omportamento da solu ~ao na origem. Para
(2)
as solu ~oes (1)
E e E essas outras omponentes se anulam no limite V0 ! 0, e orrespondem
portanto ao espalhamento da omponente in idente pelo degrau de poten ial. A solu ~ao uni a
155
(0)
E (x) no aso em que 0 < E < V0 deixa de existir no limite V0 ! 0. A omponente espalhada
ujo vetor de onda e paralelo ao da onda in idente e hamada onda transmitida, enquanto a
omponente ujo vetor de onda e anti-paralelo ao da onda in idente e a onda re etida. Por
exemplo, a solu ~ao (1)
E tem uma onda transmitida de amplitude 2k0 =(k + k0 ) e uma onda
transmitida de amplitude (k k0 )=(k + k0 ). A solu ~ao uni a no aso 0 < E < V0 , por outro
lado, tem apenas uma onda re etida de amplitude (k i0 )=(k + i0 ).
E instrutivo al ular a densidade de orrente de probabilidade asso iada a essas solu ~oes.
Tomando novamente omo exemplo a solu ~ao (1)
em para x < 0 e
E , o que se obt
j (1) (x
"
h
d (1)
(x) d (1) (x)
(1)
< 0) =
(x) (1)
E
E
E (x) =
2iM
dx
dx E
"
#
h k0
(k k0 )2
h k0
=
1

(1 R):
2
M
(k + k0 )
M
Para x > 0 o que se obtem de forma analoga e
j (1) (x
"
h k
> 0) = 0 1
M
4k02
(k + k0 )2
hMk T = hMk0 (1 R):
Essas rela ~oes in luem as deni ~oes dos oe ientes de re ex~ao R e de transmiss~ao T , omo o
quadrado dos modulos das amplitudes das ondas re etida e transmitida, quando a amplitude da
onda in idente e igual a 1. A orrente em x < 0 e propor ional a velo idade asso iada ao vetor
de onda da onda in idente e tem uma ontribui ~ao da onda in idente e outra (negativa) da onda
re etida. Deve ser notado que esta ultima, nas ondi ~oes deste aso, e nula na me âni a lassi a.
Em x > 0 a orrente e dada pelo produto da oe iente de transmiss~ao pela velo idade asso iada
ao vetor de onda da onda transmitida. Essa quantidade e na realidade igual a densidade de
orrente al ulada para x < 0 (isto e, ha onserva ~ao do uxo de probabilidade atraves do
degrau de poten ial em x = 0) e impli a na rela ~ao
R+
k
T =1
k0
entre o oe iente de re ex~ao e o oe iente de transmiss~ao. O es alonamento do oe iente

de transmiss~ao (denido em em termos da amplitude da onda transmitida) pelo fator k=k0 e
uma onsequên ia da onserva ~ao do uxo de probabilidade, pois tem em onta a diferen a das
velo idades asso iadas aos vetores de onda em ada uma das duas regi~oes.
Para a solu ~ao uni a orrespondente ao aso 0 < E < V0 e fa il veri ar que o oe iente
de transmiss~ao e zero e o oe iente de re ex~ao e igual a 1, enquanto a densidade de orrente
156
e nula tanto para x < 0 omo para x > 0. Como R=1, a amplitude da onda re etida difere
da amplitude da onda in idente por uma fase apenas, que e usualmente expli itada atraves das
deni ~oes

k i0
2
i
(
k
)

e

S (k );
tan
(k ) = 0
k + i0
2
k
om as quais a solu ~ao pode ser es rita, na regi~ao x > 0, omo
(0)
E (x > 0) = e
ikx
e2i(k) eikx :
O fato de que a defasagem da onda re etida om rela ~ao a onda in idente e uma fun ~ao de
k (ou, equivalentemente, da energia E ) tem onsequên ias fsi as importantes que podem ser
identi adas onstruindo em t = 0 um pa ote de ondas da forma
1 Z
dk u~(k k)(0)
(x; t = 0) =
E (x)
2
onde u~(k k) e uma fun ~ao real e positiva que difere de zero apenas em uma faixa de vetores
de onda su ientemente estreita, em torno de k = k, de forma que apenas solu ~oes do tipo
(0)
ao temporal livre desse pa ote da, no tempo t
E (x) estejam envolvidas na integral. A evolu ~
e na regi~ao x > 0,
1 Z
( x > 0 ; t) =
dk u~(k
2
1 Z
dk u~(k
=
2
om as fases ' (k; x; t) dadas por
ih 2 h
k)e 2M k t e
h
k) e
ikx
i' (k;x;t)
e2i(k) eikx
ei'+ (k;x;t)
h k2 t
h k2 t
+ kx
e
'+ (k; x; t) =
+ 2 (k) + kx:
2M
2M
Num dado tempo t, a regi~ao do espa o x em que a amplitude (x; t) do pa ote e maior e aquela
em que as omponentes om diferentes momentos tiverem a mesma fase. Isso a onte e, para
' (k; x; t), onde estiver satisfeita a rela ~ao

h k
d'
=

t x
ou
x ' vt:
0'
dk k'k
M
' (k; x; t) =
enquanto que, para '+ (k; x; t),

157
0'

h k
d
d'+
=

t + 2 + x
dk k'k
M
dk k'k
ou
d
x ' vt 2 :
dk k'k
Como x > 0, a primeira dessas ondi ~oes so pode ser satisfeita para t < 0, e representa um
, e em ondi ~oes
pa ote de ondas in idente, que se aproxima da origem om velo idade v = h k=M
de atingi-la em t = 0. N~ao ha, portanto, ontribui ~ao apre iavel do termo envolvendo ' (k; x; t)
para t > 0. A ondi ~ao envolvendo '+ (k; x; t), por outro lado, representa um pa ote de ondas
que se afasta da origem tambem om velo idade v. Para identi ar a sua posi ~ao omo fun ~ao
do tempo e onveniente rees rever o termo que ontem a defasagem omo

d dE
d
d
=
2
v
h

2 = 2
dk k'k
dE dk k'k
dE k'k
de modo que

d
x ' v t 2h
:
dE k'k
Essa posi ~ao orresponde a um pa ote que se deslo a na dire ~ao positiva x e que parte da
origem em t = 2h d=dE . Este pa ote pode ser visto omo resultante da re ex~ao do pa ote
in idente pelo degrau de poten ial, que sofre, durante o pro esso de re ex~ao, um atraso dado
por

d
' 2h :
dE k'k
Quando a defasagem (k) res e om a energia ( omo a onte e no presente aso), > 0.
Existem no entanto asos envolvendo outros poten iais que levam a < 0. Isso representa
um adiantamento do pa ote re etido, om rela ~ao ao tempo livre de trânsito de ida e volta a
origem.
O problema de um degrau de poten ial em uma dimens~ao e talvez a vers~ao mais

simples de um problema de espalhamento em me âni a quânti a. Ele envolve dois anais,
representados pelas regi~oes x > 0 e x < 0 respe tivamente, e a altura V0 orresponde ao
\valor Q" (0)
que ara teriza
a inelasti idade dos pro essos de transi ~ao entre os anais. As
(2)
solu ~oes E e E ontem uma onda in idente no anal x > 0. Na primeira delas, o
anal (2)x < 0 e um anal fe hado, isto e, energeti amente proibido, devido ao valor de Q.
Em E , porem os dois anais s~ao anais abertos (energeti amente permitidos) e a onda
158
in idente da lugar as ondas transmitida e re etida, que orrespondem a ondas emergentes
do poten ial espalhador nos anais inelasti o e elasti o, respe tivamente. Quando ha um
uni o anal aberto (0 < E < V0) o uni o pro esso possvel e o de espalhamento elasti o,
e a amplitude emergente so pode diferir da in idente por uma fase. Esse fato exprime a
onserva a~o do uxo de probabilidade, nesse aso. No aso em que ha dois anais abertos,
o uxo de probabilidade in idente e distribudo entre eles. A onserva ~ao do uxo de
probabilidade se exprime ent~ao em termos das amplitudes emergentes nos dois anais
atraves da rela a~o R + (k=k0 )T = 1.
A quest~ao da ompleteza das autofun ~oes do hamiltoniano, om as ondi ~oes de ontorno de espalhamento usadas a ima, e na realidade um aso parti ular do problema geral
de ompleteza en ontrado em problemas de espalhamento. Neste aso, ele pode tambem
ser abordado do ponto de vista das propriedades da equa ~ao diferen ial de autovalores.
Esse problema n~ao sera tratado aqui.
2. Po o de poten ial. O problema de uma part ula de massa M em uma dimens~ao espa ial,
sujeita a um poten ial dado por (v. gura 3.2)
8
>
<
V (x) = >
:
+1
para x 0
V0 (V0 > 0) para 0 < x a
0
para x > a
e util tanto para ilustrar a apli abilidade das ideias gerais introduzidas no tratamento do problema mais simples do degrau de poten ial omo para exempli ar o apare imento de uma
parte dis reta no espe tro do hamiltoniano. Como no aso do tem anterior, o pro edimento
onsistira em obter as autofun ~oes (eventualmente improprias) e autovalores do hamiltoniano,
em termos do que e possvel obter a solu ~ao de problemas dependentes do tempo, atraves de
argumentos de ompleteza das autofun ~oes.
A equa ~ao de autovalores e, neste aso,
d2 E
+ K 2 E = 0;
dx2
0<xa;
K2
2M
(E + V0 )
h 2
d2 E
2M
+ k 2 E = 0;
x>a;
k2 2 E
2
dx
h
uja solu ~ao geral e dada por ombina ~oes lineares do tipo6
E (0 < x a) = A+ eiKx + A e
6
iKx
V. nota a pagina 153.
159
E (x > a) = a+ eikx + a e
ikx :
V(x)
G
Figura 3.2: Po o de poten ial de largura

a e profundidade V0 . O omportamento da
fun ~ao de onda na parede innita em x = 0
pode ser obtida a partir do limite da fun ~ao
de onda para um degrau de altura G, fazendo G ! 1.
a
x
V0
As ombina ~oes admissveis das quatro onstantes s~ao limitadas por ondi ~oes que garantam a
adequa ~ao da solu ~ao nos pontos espe iais x = 0 e x = a. Essas ondi ~oes podem ser obtidas
a partir do que ja foi feito om rela ~ao ao tratamento do degrau de poten ial, onsiderando o
poten ial V (x) omo o limite, para G ! +1, do poten ial VG (x) dado por
8
>
<
VG (x) = >
:
G para x 0
V0 para 0 < x a :
0 para x > a
Este poten ial, tambem representado na gura 3.2, pode ser visto omo a ombina ~ao de dois
degraus de poten ial, nos quais deve ser imposta a ontinuidade da fun ~ao de onda e de sua
derivada. Alem disso, eliminando as solu ~oes exponen ialmente res entes para x ! 1, vem,
no limite em que G ! +1, E (x = 0) ! 0, omo pode ser fa ilmente veri ado a partir da
solu ~ao (0)
oes que devem sem impostas em x = 0 e x = a
E (x) do degrau de poten ial. As ondi ~
s~ao, ent~ao,
E (0) = 0
logo
A+ = A
A sen Ka = a+eika + a e ika

AK os Ka = ik a+ eika a e
2Ai
ika
Existem portanto duas ondi ~oes para as três onstantes remanes entes, A, a+ e a , apos a
implementa ~ao da ondi ~ao em x = 0. Da mesma forma que no aso do degrau de poten ial,
porem, uma delas e xada pelo riterio de normaliza ~ao que seja adotado, dado o arater
160
homogêneo da equa ~ao diferen ial, de modo que as duas ultimas ondi ~oes na realidade xam
univo amente a solu ~ao (a menos de uma onstante multipli ativa global).
Para obter efetivamente as solu ~oes e pre iso distinguir dois asos. No primeiro, E > 0,
de modo que as solu ~oes têm arater os ilatorio em todo o semi-eixo x positivo. Fixando a
normaliza ~ao om a ondi ~ao a = 1 (isto e, uma onda in idente om amplitude igual a 1),
existe uma uni a solu ~ao para ada valor de E > 0, dada pelas rela ~oes

e ika
A=
1 e2i'(k)
sen Ka
a+ = e2i(k)
om
tan '(k) =
k
tan Ka
K
(k) = '(k) ka:
om
Essas solu ~oes podem ser interpretadas nas mesmas linhas que as solu ~oes (0)
E (x) obtidas no
aso do degrau de poten ial. Elas des revem situa ~oes de espalhamento om onserva ~ao do
uxo de probabilidade, e a dependên ia om a energia da defasagem (k) afeta a evolu ~ao
temporal de pa otes de onda apos a sua olis~ao om o po o de poten ial. Deve ser notado que,
neste aso, a defasagem (k) in lui efeitos devidos a regi~ao interna, x < a, do po o de poten ial
atraves de '(k).
A onstante A representa a amplitude da fun ~ao de onda na regi~ao interna do po o, x < a,
e e interessante estudar o seu omportamento omo fun ~ao de E (ou K ). Pode ser veri ado
fa ilmente que
jAj2 = E + V4E os2 Ka :

0
Essa quantidade, vista omo fun ~ao de Ka, tem um omportamento os ilatorio, om maximos
(que orrespondem a maximos na probabilidade de en ontrar a part ula na regi~ao x < a) para
valores de Ka proximos de multiplos mpares de =2 e mnimos para valores de Ka proximos
de multiplos pares de =2.
O omportamento de jAj2 om Ka pode ser orrela ionado om o omportamento da defasagem (k) omo fun ~ao de k. De fato,
d
M d M d'
= 2
=
dE h k dk h 2 k dk
e

V0 sen 2Ka ajAj2 V0 sen 2Ka
aE
d'
=
+1 =
+1 :
dk E + V0 os2 Ka E 2Ka
4
E 2Ka
161
0.5
Figura 3.3: Quadrado da amplitude da

parte interna da fun ~ao de onda E (x),
jAj2, e tempo de atraso, , em unidades
de 0 = Ma2 =h , omo fun ~ao de k2 a2 =
2MEa2 =h 2 , para um po o quadrado om
2MV0 a2 =h 2 = 64.
0.5
2
|A| /4
/0
1.5
50
100
150
200
2 2
ka
Essas express~oes mostram que o atraso = 2h d=dE ontem uma ontribui ~ao negativa proveniente do têrmo ka da defasagem, alem da ontribui ~ao proveniente de '(k). A primeira
dessas duas ontribui ~oes tende a produzir um adiantamento do pa ote re etido, devido a re ex~ao que o orre na borda externa do poten ial, em x = a. A ontribui ~ao que envolve d'=dk
e positiva e tem um omportamento os ilatorio omo fun ~ao de k (ou de E ), e pode ser interpretado em termos da varia ~ao om k do \tempo medio de permanên ia" no interior do po o
de poten ial. Essa interpreta ~ao e orroborada pela propor ionalidade de d'=dk ao quadrado
da amplitude da fun ~ao de onda no interior do po o de poten ial, na medida que isso mostra
que um aumento na probabilidade de en ontrar a part ula na regi~ao x < a tende a aumentar
a ontribui ~ao positiva para o atraso do pa ote re etido. Um exemplo dos resultados para o
quadrado do modulo da amplitude interna jAj2 e para o tempo de atraso no aso de um po o
de poten ial om 2MV0 a2 =h 2 = 64 e mostrado na gura 3.3.
Como n~ao existem solu ~oes limitadas para E < V0 , resta apenas onsiderar o aso V0 <
E < 0. Aqui, para x < a as solu ~oes s~ao ainda os ilatorias, enquanto que para x > a elas
s~ao exponen iais reais, res entes e de res entes. Argumentos analogos aos usados no aso do
degrau de poten ial levam a elimina ~ao das solu ~oes exponen ialmente res entes, de modo que
as solu ~oes limitadas s~ao do tipo
8
>
x < a; K 2 = 2hM2 (V0 + E )
< A sen Kx;
E (x) = >
:
a e x ;
x > a; 2 = 2ME
h2
sendo que as ondi ~oes de ontinuidade em x = a levam as equa ~oes
A sen Ka = a e
162
a
15
10
Figura 3.4: Solu ~ao gra a da equa ~ao

(3.38), que determina os estados ligados do
po o de poten ial, para o mesmo aso usado na gura 3.3, em que 2MV0 a2 =h 2 = 64.
O gra o in lui as assntotas de tan Ka, e
a ! 0 para Ka ! 8, que orresponde a
E ! 0. Ha três estados ligados, om o ter eiro na parte direita e inferior da gura.
tan Ka
Ka/a
5
0
5
10
15
Ka
KA os Ka =
a e
a
Lembrando que uma das onstantes A, a e xada por uma ondi ~ao de normaliza ~ao, e
laro que essas duas equa ~oes so podem ser satisfeitas para valores parti ulares de E , ou,
equivalentemente, dos vetores de onda K e . O espe tro e portanto dis reto nesse intervalo de
energias, e os autovalores do hamiltoniano s~ao dados pelas solu ~oes da equa ~ao que resulta da
elimina ~ao de a =A entre as duas equa ~oes resultantes das ondi ~oes de ontinuidade em x = a
Ka
;
V 0 < E < 0:
(3.38)
a
A solu ~ao trivial Ka = 0 (que orresponde a E = V0 ) e ex luda por levar a uma fun ~ao de
onda identi amente nula. Para ada uma das solu ~oes positivas Kn a, n = 1; 2; ::: dessa equa ~ao
o valor da raz~ao a =A e dado por
tan Ka =
a
= en a sen Kn a
A n
e a normaliza ~ao e xada es olhendo o valor de An de modo a satisfazer a ondi ~ao

1=
jEn (x)j
2 dx
= jAn j
Z a
sen2 K
x dx + e2n a sen2 K
na
2n x dx
O lado direito da equa ~ao (3.38) e sempre negativo, e se aproxima assintoti amente de
1 quando (ou E ) tende a zero (v. exemplo na gura 3.4). Nesse limite, por outro lado,
K ! K0 (2MV0 =h 2 )1=2 . Tendo em onta o omportamento de tan Ka, resulta que o numero
163
de estados ligados admitidos pelo po o de poten ial e dado pelo numero de ramos negativos da
tangente quando o seu argumento varia de zero a K0 a. Portanto, para que haja pelo menos um
estado ligado e ne essario que K0 a > =2, ou seja
(K0
a)2
2
2M
= 2 V0 a2 >
4
h
V0
ou ainda
a2
2 h 2
>
:
8M
A ondi ~ao para que haja pelo menos n estados ligados e, analogamente, K0 a > (2n
ou
a2
V0 > (2n

1)2
2h
2
8M
1)=2,
Essas rela ~oes mostram tambem que o numero de estados ligados n~ao se altera quando a largura
a e a profundidade V0 do po o de poten ial s~ao variados de modo que V0 a2 permane a onstante.
Problemas.
3.1 - Es reva a energia ineti a e a energia poten ial de um os ilador harmôni o de massa M
e frequên ia !0 em termos de a e ay , na des ri ~ao de S hrodinger. Use esses resultados para
al ular os valores medios da energia ineti a e da energia poten ial em um autovetor j i do
hamiltoniano, e verique que eles satisfazem o teorema do virial ( f. problema 2.7).
3.2 - Resolva o problema de ondi ~oes ini iais para um os ilador harmôni o livre, de
p massa
M e frequên ia !0 , que se en ontra ini ialmente no estado jt = 0i = (j1 i + j2 i)= 2 onde
j1i e j2i s~ao autovetores do hamiltoniano om 1 6= 2. Cal ule o valor mp
edio do observavel
P1 (t = 0) j ih j, sendo o estado j i denido omo j i = (j1 i j2 i)= 2, em fun ~ao de t
para t > 0. Rela ione a es ala de tempo em que esse valor medio varia (obtida simplesmente por
inspe ~ao do valor medio de P1 omo fun ~ao do tempo) om a in erteza em energia do estado
onsiderado, e onfronte o resultado om a rela ~ao de in erteza energia-tempo. Sugest~ao:
a ttulo de exer io, trate o problema duas vezes, usando as des ri ~oes de S hrodinger e de
Heisenberg, respe tivamente.
3.3 - Obtenha a forma expl ita da solu ~ao do problema de ondi ~oes ini iais para o os ilador
for ado que se en ontra ini ialmente no seu estado fundamental para o aso de uma for a
externa impulsiva no instante t = t0 > 0 dada por f (t) = f0 (t t0 ), onde f0 e uma onstante
real e a fun ~ao (t t0 ) e a fun ~ao delta de Dira . Trate o problema tanto na des ri ~ao de
Heisenberg omo tambem na de S hrodinger.
164
3.4 - Mostre que a probabilidade de obter o valor ( + 1=2)h!0 numa medi ~ao da energia de
um os ilador harmôni o que se en ontra no estado oerente jz i tal que ajz i = z jz i tem uma
distribui ~ao poissoniana em (lembre-se que uma distribui ~ao poissoniana e uma distribui ~ao
do tipo e a a = !).
3.5 - a) Mostre que dois estados oerentes jz1 i e jz2 i, om z1 6= z2 , n~ao s~ao ortogonais, al ulando
expli itamente o produto es alar hz2 jz1 i.
b) Verique a resolu ~ao da unidade em termos de estados oerentes
^1 =
d2 z
j z i hz j
onde a integra ~ao e estendida a todo o plano omplexo z . Sugest~ao: es reva os estados
oerentes do integrando em termos dos autovetores j i do hamiltoniano e fa a a integra ~ao
usando P
oordenadas polares no plano omplexo. Verique desse modo que a integral se reduz
a soma j ih j.
) Mostre que a resolu ~ao da unidade estabele ida em b permite es rever um estado oerente jz i omo uma superposi ~ao de estados oerentes jz 0 i om valores de z 0 que podem ser
diferentes de z . Isso mostra que o onjunto de todos os estados oerentes n~ao e linearmente
independente, e por essa raz~ao a resolu ~ao da unidade men ionada em b) e hamada uma
rela ~ao de super ompleteza.
3.6 - a) Resolva o problema de ondi ~oes ini iais para um os ilador harmôni o om a ondi ~ao
ini ial jt = 0i = jz0 i, onde jz0 i e um estado oerente. Use a des ri ~ao de S hrodinger e mostre
que jt > 0i = jz (t)i, e um estado tambem oerente, dependente do tempo.
b) Cal ule os valores medios do momento p e da posi ~ao q em um estado oerente generi o
jzi. Use os resultados para obter os valores medios de p e q omo fun ~ao do tempo a partir
do estado jz (t)i obtido em a). Compare hpi(t) e hq i(t) assim obtidos om p(t) e q (t) de um
os ilador lassi o.
3.7 - Mostre que um estado oerente jz i e um estado de in erteza mnima para qualquer valor
de z . Sugest~ao: Cal ule os valores medios de (p hpi)2 e de (q hq i)2 no estado oerente,
om hpi = hz jpjz i e uma deni ~ao analoga para hq i, mostrando em parti ular que o produto
das in ertezas n~ao depende de z .
3.8 - Como os estados oerentes jz i s~ao estados de in erteza mnima, nos quais os valores
medios
q
dos operadores de posi ~ao e momento s~ao dados por hq i = bQ e hpi = h P=b, om b = h =M!0
p
e z (Q + iP )= 2, a quantidade f (Q; P ) jhz j'ij2 e util omo representa ~ao de omo a
165
densidade de probabilidade asso iada ao estado j'i se distribui num espa o de fase Q P
lassi o. A fun ~ao f (Q; P ) que representa vetores de estado j'i num tal espa o de fase lassi o
e onhe ido pelo nome de \fun ~ao-Q", ou tambem \fun ~ao de Husimi".
a) Cal ule a fun ~ao de Husimi f (Q; P ) = jhz j ij2 orrespondente ao estado esta ionario de
energia h !0 ( + 1=2) de um os ilador harmôni o unidimensional. Estude o perl dessa fun ~ao,
omparando-o om a orbita de mesma energia (no espa o de fase) de um os ilador lassi o.
b) Cal ule a fun ~ao de Husimi fz0 (Q; P ) = jhz jz0 ij2 orrespondente ao estado oerente jz0 i,
e ompare-a om a que orresponde ao estado fundamental j = 0i, obtida em a).
3.9 - Considere a probabilidade de transi ~ao

p1!2 (t) = jh2 jU (t; 0)j1 ij2
onde U (t; 0) e o operador de evolu ~ao asso iado ao hamiltoniano de um sistema de dois nveis
que tem a forma
H=
0

e fjiig; i = 1; 2 s~ao os vetores da base ortonormal usada para representar H . Mostre que
p1!2 (t) n~ao depende de para tempos muito urtos, no sentido que (E+ E )t=h 1, sendo
E os autovalores de H . Observa ~ao: Note que p1!2 (t) tem um omportamento os ilatorio no
tempo om uma amplitude que diminui e om uma frequên ia que aumenta quando aumenta.
O fato de que, para tempos urtos, p1!2 (t) n~ao depende de signi a ent~ao que, nessa es ala
de tempo, esses dois efeitos na realidade se ompensam.
Haveria um argumento apaz de dar onta desse omportamento om base na rela ~ao de
in erteza energia-tempo?
3.10 - Deduza o Teorema de Ehrenfest usando a des ri ~ao de Heisenberg da dinâmi a quânti a.
Nessa des ri ~ao os operadores dependentes do tempo ~q(t) e ~p(t) satisfazem equa ~oes de movi-
mento
d~q(t)
= [~q(t); H
dt
e uma equa ~ao analoga para ~p(t). Suponha que o hamiltoniano n~ao dependa expli itamente do
tempo e tenha a forma
ih
p~2
+ V (~q);
H=
2M
166
podendo ser portanto expresso om essa mesma forma em termos dos operadores da des ri ~ao
de Heisenberg ~q(t) e p~(t). Sugest~ao: Use o fato de que a unitariedade da transforma ~ao que
leva os operadores da des ri ~ao de S hrodinger aos da des ri ~ao de Heisenberg garante que
as rela ~oes de omuta ~ao entre eles e preservada. Dessa forma, n~ao e ne essario resolver as
equa ~oes de movimento de Heisenberg.
3.11 - O operador q pode ser representado em termos de seus \autovetores" improprios pela
\matriz" diagonal hxjq jx0 i = x (x x0 ), onde esta ultima fun ~ao e a fun ~ao delta de Dira .
Isso e onsistente om a representa ~ao de q pelo operador de multipli a ~ao por x no espa o de
fun ~oes de onda, pois
hxjqj'i =
Z +1
dx0 hxjq jx0 ihx0 j'i =
Z +1
dx0 x (x x0 )'(x0 ) = x'(x):
a) Mostre que a representa ~ao \matri ial" orrespondente para o operador p pode ser es rita
omo
hxjpjx0i = ih 0(x x0 )

onde 0 (x x0 ) e a derivada da fun ~ao delta de Dira om rela ~ao ao seu argumento, d (x x0 )=dx.
Sugest~ao: pro eda om o operador p de forma analoga a usada a ima para o operador q , e
fa a a integra ~ao envolvendo 0 (x x0 ) por meio de uma integra ~ao por partes. Note que a
fun ~ao delta de Dira e uma \fun ~ao par" no sentido que (x) = ( x) e que a sua derivada e
uma \fun ~ao mpar", 0 (x) = 0 ( x).
b) Tomando a representa ~ao \matri ial" nos autovetores improprios de q da rela ~ao de
omuta ~ao ih ^1 = [q; p o que se obtem e
ih (x x0 ) = hxj[q; pjx0 i = (x x0 )hxjpjx0 i = ih (x x0 ) 0 (x x0 ):

Mostre que essa rela ~ao e onsistente no sentido que, para qualquer fun ~ao de onda '(x)
ontnua no ponto x,
Z +1
dx0 ih (x x0 )'(x0 ) =
Z +1
dx0 ih (x x0 ) 0 (x x0 )'(x0 ):
3.12 - Para estudar a varia ~ao om o tempo da largura de um pa ote de ondas livre qualquer
em uma dimens~ao, que evolui portanto de a ordo om a equa ~ao de S hrodinger dependente
do tempo
dj'(t)i p2
ih
=
j'(t)i
dt
2M
167
a partir de uma ondi ~ao ini ial dada j'(t = 0)i, mostre, primeiramente, que valem as rela ~oes
i)
ii)
iii)
iv)
v)
dhq i hpi
=
dt
M
dhpi
=0
dt
dhq 2i 1
= h(qp + pq )i
dt
M
dh(qp + pq )i 2 2
= hp i
e
dt
M
dhp2i
= 0:
dt
medio tomado n0 estado dependente do tempo j'(t)i que
onde a nota ~ao h i indi a o valor

des reve o pa ote.
Mostre em seguida que, das rela ~oes iii) a v), de orre que a dependên ia om o tempo de
hq2i e dada por
hq2i = A + Bt + C2 t2
om A = hq 2 it=0 , B = (1=M )h(qp + pq )it=0 e C = (2=M 2 )hp2 i, enquanto das rela ~oes i) e ii)
de orre que hq i = hq it=0 + (1=M )hpit.
Use ent~ao a dependên ia temporal assim determinada de hq 2 i e de hq i para analisar a
dependên ia temporal da dispers~ao q2 (t) hq 2 i hq i2. Considere espe ialmente a dependên ia
da dispers~ao em momento do pa ote, p2 hp2 i hpi2 , e da ovarian a h(qp + pq )i. Note que
esta ultima quantidade depende do tempo!
3.13 - Mostre que a fun ~ao de onda de uma part ula livre no espa o innito pode ser expressa
em termos da fun ~ao de onda num ponto diferente do espa o-tempo omo
'(~r; t) =
d3 r0 U (~r; t; ~r 0 ; t0 ) '(~r 0 ; t0 )
onde
U (~r; t; ~r 0 ; t0 ) =
1 Z 3 i~k(~r
d ke
(2 )3
~r 0 ) i!k (t t0 )
om !k = h k2 =2M .
168
M 2 iM (~r2ht~r 0 )2
e
=
2ih t

Sugest~oes: i) '(~r; t) = e iHt=h '(~r; 0) ;

R
ii) '(~r; t) = d3 r0 (~r ~r 0 ) '(~r 0 ; t) ;
R
iii) (~r ~r 0 ) = (21 )3 d3 k ei~k(~r ~r 0 ) .
3.14 - Reduza a rela ~ao do problema anterior ao aso de uma part ula livre em uma dimens~ao.
Obtenha a fun ~ao de onda que des reve no tempo t uma part ula que, em t = 0, esta no estado
des rito pela fun ~ao de onda gaussiana
"
'(x; t = 0) =
#1
p
eikx e
b
x2
2b2 :
3.15 - Considere o problema unidimensional de uma part ula de massa M sujeita ao poten ial
dado por
8
>
<
V (x) = >
:
+1
V0 > 0
0
para
para
para
x0
0<x<a
x a:
Obtenha as autofun ~oes do hamiltoniano e estude o atraso = 2hd=dE tanto na regi~ao de

energia 0 < E < V0 quanto na regi~ao E > V0 .
Refer^
en ias gerais.
Os topi os tratados neste aptulo s~ao dis utidos tambem nos textos ja itados nos aptulos
anteriores. Um aptulo muito util sobre propriedades e usos da representa ~ao de Wigner se
en ontra num livro ujo fo o prin ipal n~ao e a me âni a quânti a:
? S. R. de Groot e L. G. Suttorp, Foundations of Ele trodynami s, North-Holland Publishing Company (Amsterdam) 1972, Captulo VI.
169
170
Captulo 4
Metodos de aproxima ~ao.
A possibilidade de obter a solu ~ao exata para um problema de me âni a quânti a e, em termos
prati os, uma situa ~ao bastante ex ep ional. Isso onfere importân ia onsideravel ao desenvolvimento, sistematiza ~ao e uso de metodos de aproxima ~ao adaptados a diversos tipos de
problemas. Este aptulo trata, da forma mais simples e direta possvel, de algumas te ni as de
aproxima ~ao de uso frequente, e da sua apli a ~ao tpi a a exemplos que ilustrem tanto as suas
virtudes quanto as suas limita ~oes. A existên ia, geralmente on omitante, de ambas, faz om
que a frase de Grin e Wheeler segundo a qual essas te ni as \n~ao onstituem uma maquinaria
magi a que pode ser operada sem o exer io de julgamento" (Phys. Rev. 108, 311 (1957))
seja sempre pertinente.
Os metodos de aproxima ~ao utilizados na me âni a quânti a podem ser divididos em dois
grandes grupos, geralmente hamados metodos perturbativos e metodos n~ao perturbativos. A
base omum aos metodos hamados perturbativos e uma expans~ao em serie de potên ias de
algum parâmetro que possa ser onsiderado omo \pequeno". A solu ~ao exata para o sistema
de dois nveis obtida na se ~ao 3.2.1, por exemplo, pode ser expandida em potên ias de =
j j=(2 + 1 ) quando j j (2 + 1 ), dando para as energias E e E+, do estado
fundamental e do estado ex itado
2
' 1 +j j
2
1
E+ ' 2 + +
j j2
2 + 1
mais termos de ordem superior em . Uma expans~ao orrespondente pode tambem ser es rita
para os autovetores. O proposito dos metodos perturbativos de aproxima ~ao e estabele er
um onjunto de pro edimentos que permita es rever expans~oes desse tipo independentemente
do uso da solu ~ao exata, e que portanto possam ser apli ados quando ela n~ao e disponvel.
No exemplo a ima, a onvergên ia da expans~ao pode ser inferida diretamente da forma (em
parti ular das propriedades de analiti idade) da solu ~ao exata. No uso tpi o desses metodos,
171
em situa ~oes em que n~ao se disp~oe de uma solu ~ao exata, essa quest~ao tende a ser bastante
problemati a.
O sub-grupo mais importante de metodos n~ao perturbativos e a dos metodos varia ionais.
Eles s~ao apli aveis tipi amente quando a solu ~ao exata do problema onsiderado pode ser ara terizada atraves de uma ondi ~ao de extremo, apli ada a um fun ional apropriado de variaveis
dinâmi as e vetores de estado, om rela ~ao a varia ~oes denidas dos ingredientes do fun ional. Solu ~oes aproximadas podem ent~ao ser obtidas restringindo o domnio das varia ~oes de
a ordo om ondi ~oes efetivas de al ulo, independentemente da identi a ~ao de parâmetros
\pequenos" para orientar a bus a. As limita ~oes omumente asso iadas ao uso de metodos de
aproxima ~ao varia ionais se rela ionam om a di uldade de avaliar quantitativamente a onabilidade dos resultados obtidos. Em parti ular, eles tipi amente n~ao forne em pro edimentos
gerais ou sistemati os para o al ulo de orre ~oes \mais nas". Em outras palavras, os metodos
varia ionais s~ao ara teristi amente poderosos mas de dif il ontrole.
Um exemplo t~ao simples quanto importante de um pro edimento varia ional e o que permite
obter uma aproxima ~ao para o menor autovalor 0 de uma variavel dinâmi a qualquer g . Ele
pode ser formulado onsiderando um vetor de estado qualquer j'i e utilizando a resolu ~ao da
unidade em termos dos autovetores j i de g para es reve-lo omo
j 'i =
j ih j'i
j i
onde o espe tro de g foi tomado omo sendo puramente dis reto. Essa suposi ~ao n~ao e no
entanto ne essaria, e pode ser eliminada simplesmente usando formas mais gerais da resolu ~ao
da unidade em que estejam in ludos eventuais autovetores improprios asso iados ao espe tro
ontnuo. O valor medio de g no vetor de estado j'i (n~ao ne essariamente de norma 1) pode
ent~ao ser es rito omo
h'j g j 'i = P 1 X j j 2

0
2
h'j 'i
j j
(4.1)
onde a ultima desigualdade resulta simplesmente do fato de que 0 , dado que 0 e o menor
autovalor de g . E fa il ver tambem que a igualdade valera apenas no aso em que j j2 = 0 para
6= 0 , ou seja, apenas no aso em que j'i seja autovetor de g om autovalor 0 . Desse modo,
a ondi ~ao de autovetor de g om o menor autovalor 0 orresponde ao mnimo (absoluto) do
fun ional
h'j g j 'i :
G[j'i
h'j 'i
Uma aproxima ~ao varia ional para 0 e obtida al ulando efetivamente o valor desse fun ional
para alguma famlia de vetores de estado ' e determinando o menor valor que ele assume para os
172
vetores dessa famlia. Devido a rela ~ao (4.1), esse valor sera sempre um limite superior para 0 ,
que sera de fato igual a esse autovalor se a famlia es olhida in luir o autovetor orrespondente.
Quando a natureza deste autovetor e o espe tro de g s~ao mal onhe idos, e laro que n~ao e
possvel avaliar quantitativamente a eventual dis repân ia entre o valor mnimo obtido para o
fun ional e o valor de 0 .
4.1
M
etodos perturbativos.
Os metodos perturbativos de uso orrente na me âni a quânti a se agrupam tambem em duas grandes famlias que orrespondem respe tivamente a problemas envolvendo equa ~oes de
autovalores e a problemas envolvendo equa ~oes de movimento. A famlia orrespondente ao
tratamento de equa ~oes de movimento tem, por raz~oes obvias, a designa ~ao omum de teoria
de perturba ~oes dependente do tempo. Como os metodos perturbativos de aproxima ~ao para
equa ~oes de autovalores s~ao usualmente desenvolvidos om referên ia a equa ~ao de autovalores
para o hamiltoniano (que identi a os estados esta ionarios do sistema onsiderado), eles s~ao
usualmente designados omo teoria de perturba ~oes independente do tempo.
Em termos um pou o mais espe os, a situa ~ao tpi a pode ser ara terizada da seguinte
forma. O hamiltoniano do problema a ser tratado (que sera tomado omo a variavel a ser
onsiderada, no aso de equa ~oes de autovalores) e es rito omo a soma de duas partes
H = H0 + H1 :
No aso da teoria de perturba ~oes independente do tempo, sup~oe-se que o problema de autovalores tenha sido resolvido para o \hamiltoniano n~ao perturbado" H0 , isto e, os autovalores
En(0) e autovetores j(0)
ao solu ~oes de
n i que s~
(0) (0)
H0 j(0)
n i = En jn i
s~ao supostamente onhe idos. A teoria desenvolve ent~ao pro edimentos sistemati os de expans~ao em serie para aproximar as solu ~oes de
(H0 + H1 )jni = En jn i
(0)
em termos dos vetores de estado j(0)
ao" H1 . A teoria de
n i, dos autovalores En e da \perturba ~
perturba ~oes dependente do tempo, por outro lado, al ula sistemati amente orre ~oes devidas
a H1 para o problema de ondi ~oes ini iais
(H0 + H1 )j'(t)i = ih
j'(t)i
;
t
173
j'(t = 0)i = j'0i
fazendo uso tambem dos autovalores e autovetores de H0 . Em sua forma mais simples, as
duas teorias s~ao desenvolvidas espe i amente para espe tros dis retos. Com uso su iente de
\julgamento", e om interpreta ~ao uidadosa de resultados, e possvel estender o seu uso a
situa ~oes envolvendo espe tros ontnuos, para as quais, no entanto, metodos mais adequados
s~ao desenvolvidos no ontexto da teoria dos pro essos de espalhamento.
4.1.1 Perturba ~ao de estados n~ao degenerados em espe tros

dis retos.
O tipo mais simples de expans~ao perturbativa e o que aproxima os efeitos de uma perturba ~ao
H1 sobre um autovetor j(0)
ao degenerado En(0)0 do hamiltoniano
n0 i orrespondente ao autovalor n~
n~ao perturbado H0 . A quantidade que fun iona neste aso omo \parâmetro pequeno" para
a expans~ao pode ser ara terizada, omo se vera em seguida, em termos da raz~ao entre o valor
absoluto de elementos de matriz de H1 que ligam esse autovetor a outros autovetores de H0 e
a diferen a entre En0 e os autovalores asso iados a esses outros autovetores, isto e
!
jh
(0)
j
H1 j(0)
ij
n
n
0
O
jEn(0)0 En(0) j
om os autovetores j(0)
ater n~ao degenerado de En(0)0 garante
n i devidamente normalizados. O ar
que o denominador dessa raz~ao n~ao seja nulo. Alem disso, para que a expans~ao possa ser util
e ne essario que a raz~ao seja pequena, 1. Quando essa ondi ~ao n~ao e satisfeita o autovalor En(0)0 e dito \quase-degenerado", para efeitos da perturba ~ao, exigindo ent~ao tratamento
espe ial, a ser dis utido adiante. Em vista da rela ~ao linear que existe entre e H1 , para
fa ilitar a ontabiliza ~ao das diferentes ordens da expans~ao perturbativa e onveniente es rever
o hamiltoniano ompleto omo
H = H0 + H1
onde o parâmetro de expans~ao e nalmente tomado omo igual a 1.
Nessas ondi ~oes, o efeito da perturba ~ao pode ser visto omo o de transformar a solu ~ao
de
na solu ~ao de
(0) (0)
H0 j(0)
n0 i = En0 jn0 i;
(H0 + H1 )jn0 i = En0 jn0 i;

174
(0)
h(0)
n0 jn0 i = 1
hn0 jn0 i = 1
(4.2)
(4.3)
(0)
tal que, se ! 0, o vetor jn0 i se reduz a j(0)
n0 i e o autovalor En0 se reduz a En0 . E onveniente
ent~ao es rever o autovetor perturbado sob a forma
jn0 i = Nn0 (j(0)

n0 i + jn0 i)
(4.4)
onde Nn0 e um oe iente de normaliza ~ao e a omponente adi ional jn0 i introduzida pela
perturba ~ao pode ser tomada, sem perda de generalidade, omo sendo ortogonal ao estado n~ao
perturbado, hn0 j(0)
n0 i = 0.
Substituindo a de omposi ~ao (4.4) na equa ~ao de autovalores (4.3) resulta
ou ainda, usando (4.2),
(0)
(H0 + H1 )(j(0)
n0 i + jn0 i) = En0 (jn0 i + jn0 i)
(0)
(En0 En(0)0 )j(0)
n0 i = H1 jn0 i + (H0 + H1 En0 )jn0 i:
O produto es alar dessa rela ~ao om j(0)
n0 i, tendo em onta a ortogonalidade desse vetor a jn0 i,
da
(0)
(0)
En0 En(0)0 = (h(0)
(4.5)
n0 jH1 jn0 i + hn0 jH1 jn0 i):
Por outro lado, o produto es alar da mesma rela ~ao om j(0)
m i, m 6= n0 , tendo em onta a
(0)
ortogonalidade desse vetor a jn0 i, da
h(0)
m jn0 i
!
(0)
(0)
h
(0)
m jH1 jn0 i + hm jH1 jn0 i

(0)
En0
(0)
h(0)
m jH1 jn0 i
+
Em
(4.6)
(0)
h(0)
m jH1 jm0 i h(0) j i;
m0 n0
(0)
m 6= n0 :
En0 Em(0)
m0 6=n0 En0 Em
Uma expans~ao para a omponente adi ional do autovetor perturbado pode agora ser obtida
iterando a rela ~ao (4.6)
=
jn0 i
m6=n0
=
(0)
j(0)
m ihm jn0 i =
m6=n0
+ 2
+ :::
hm jH1jn0 i +
j(0)
mi
(0)
(0)
(0)
En0
m6=n0 m0 6=n0
j(0)
mi
Em
(0)
(0)
(0)
h(0)
m jH1 jm0 ihm0 jH1 jn0 i
+
(En0 Em(0) )(En0 Em(0)0 )
175
(4.7)
e, substituindo essa serie em (4.5), resulta

(0)
En0 = En(0)0 + h(0)
n0 jH1 jn0 i +
X h(0) jH1 j(0) ih(0) jH1 j(0) i
n0
m
m
n0
+ 2
+
(4.8)
(0)
En0 Em
m6=n0
(0)
X X h(0)
j
H1 j(0)
ih
(0)
j
H1 j(0)
0 ihm0 jH1 j(0)
n0 i +
n
m
m
m
3
0
+
(0)
(0)
(En0 Em )(En0 Em0 )
m6=n0 m0 6=n0
+ ::: :
As duas series (4.7) e (4.8) onstituem a hamada expans~ao perturbativa de BrillouinWigner. Os elementos de matriz que apare em nos numeradores envolvem apenas os autovetores de H0 , e podem portanto ser al ulados uma vez que o problema de autovalores para
esse Hamiltoniano tenha sido resolvido, mas os denominadores envolvem o autovalor perturbado
En . O pro edimento para obter uma aproxima ~ao para esse autovalor utilizando esta expans~ao
onsiste em trun ar a serie (4.8) na ordem desejada e resolver a equa ~ao n~ao linear resultante
para En . O valor assim en ontrado e ent~ao utilizado na serie (4.7) para obter a aproxima ~ao
orrespondente para o autovetor perturbado. E importante notar que, sendo solu ~oes de uma
equa ~ao algebri a ujos termos ontem diferentes potên ias do parâmetro de expans~ao , as
aproxima ~oes obtidas para o autovalor e para o autovetor perturbado n~ao s~ao homogêneas em
, isto e, n~ao orrespondem a \ordens" denidas de uma expans~ao em potên ias de .
Uma alternativa a expans~ao de Brillouin-Wigner, de uso mais frequente e ujos termos s~ao
homogeneos no parâmetro de expans~ao , e a hamada expans~ao de Rayleigh-S hrodinger. Esta
expans~ao pode ser obtida da expans~ao de Brillouin-Wigner es revendo o autovalor perturbado
omo uma serie de potên ias em ,
En0 = En(0)0 +
1
X
p=1
pen(p0) ;
substituindo essa expans~ao nas series (4.7) e (4.8). e nalmente homogeneizando os termos no
parâmetro de expans~ao . Para isso os denominadores envolvendo o autovalor perturbado s~ao
rees ritos usando
En0
=
En(0)0
+ :::
1
1
Em(0)
Em(0)
1
=
En(0)0 + p=1 pen(p0) Em(0)
"
e(2)
e(1)
n0
n0
2

(0)
(0)
(0) 2
(En0 Em )
(En0 Em(0) )2
P1
176
e(1)2
n0
+
(0)
(En0 Em(0) )3
om o que a equa ~ao (4.8) se transforma em
En(0)0 +
1
X
p=1
+ 2
(0)
pen(p0) = En(0)0 + h(0)
n0 jH1 jn0 i +
X
(0) 2
jh(0)
n0 jH1 jm ij
+
En(0)0 Em(0)
2
(0)
X
h
(0)
j
H1 j(0)
ih
(0)
j
H1 j(0)
0 ihm0 jH1 j(0)
n0 i
n
m
m
m
3
0
4
+
(0)
(0)
(0)
(0)
(En0 Em )(En0 Em0 )
m;m0 6=n0

+ O 4
m6=n0
e(1)
n0
n6=n0
(0) 2
jh(0)
n0 jH1 jm ij 5 +
(En(0)0
Em(0) )2
que identi a as orre ~oes para o autovalor, ordem por ordem, omo
(0)
(0)
e(1)
n0 = hn0 jH1 jn0 i
e(2)
n0 =
m6=n0
e(3)
n0 =
(0) 2
jh(0)
n0 jH1 jm ij
En(0)0
m;m0 6=n0
Em(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
h(0)
n0 jH1 jm ihm jH1 jm0 ihm0 jH1 jn0 i e(1)
n0
(0)
(0)
(0)
(0)
(En0
Em )(En0
Em0 )
n6=n0
(0) 2
jh(0)
n0 jH1 jm ij 5
(En(0)0
Em(0) )2
::: :
As orre ~oes de ordens su essivas para o vetor de estado podem ser obtidas de modo semelhante,
usando a equa ~ao (4.7). De fato, fazendo uso da expans~ao em potên ias de do autovalor
perturbado, ela pode ser rees rita sob a forma
jn0 i
=
(0)
(0)
j(0)
m ihm jH1 jn0 i
+
En(0)0 Em(0)
2
(0)
(0)
(0)
(0)
X
j
(0)
m ihm jH1 jm0 ihm0 jH1 jn0 i
2
4
+
(En(0)0 Em(0) )(En(0)0 Em(0)0 )
m;m0 6=n0

+ O 3
m6=n0
e(1)
n0
m6=n0
(0)
(0)
j(0)
m ihm jH1 jn0 i 5
+
(En(0)0
Em(0) )2
que identi a ompletamente essas orre ~oes. Como pode ser notado, a orre ~ao de uma determinada ordem para o autovetor tem uma estrutura semelhante a da orre ~ao de ordem
177
imediatamente maior para o autovalor. A partir da segunda ordem para o vetor de estado
(e da ter eira para o autovalor), alem dos termos semelhantes aos da expans~ao de BrillouinWigner, apare em termos adi ionais, provenientes da expans~ao dos denominadores de energia,
que ontem omo fatores orre ~oes de ordens mais baixas para o autovalor. Esses termos adi ionais diferem dos primeiros (nos quais o estado j(0)
ao esta sendo estudada,
n0 i, uja perturba ~
apare e uma uni a vez em ada termo da serie orrespondente ao autovetor, e apenas no primeiro e ultimo elementos de matriz em ada termo da serie orrespondente ao autovalor) por
onterem sempre um ou mais retornos a esse estado apos uma sequên ia de intera ~oes H1 . E
pre iso lembrar ainda que o vetor de estado deve ser normalizado pelo fator
Nn0 = q
1
1 + hn0 jn0 i
que pode ser igualmente expandido em potên ias de . E fa il ver que a orre ~ao de normaliza ~ao
de ordem mais baixa e de ordem 2 .
Os termos da expans~ao de Rayleigh-S hrodinger podem ser al ulados ordem por ordem a
partir dos autovalores n~ao perturbados e dos elementos de matriz da perturba ~ao H1 al ulados
na base dos autovetores n~ao perturbados. A expans~ao sera tanto mais util quanto mais rapidamente as ontribui ~oes de ordens mais altas se tornem desprezveis. Para que isso a onte a
e ne essario que os elementos de matriz de H1 sejam sempre menores que os espa amentos
entre autovalores que os ompensam dimensionalmente nos denominadores de energia, omo
men ionado no in io desta se ~ao, no ontexto da identi a ~ao de um \parâmetro pequeno"
para a expans~ao perturbativa. Essa ondi ~ao n~ao e, no entanto, su iente para assegurar a
onvergên ia da serie perturbativa. Uma indi a ~ao de possveis problemas nesse sentido pode
de fato ser vista ja na expans~ao de Brillouin-Wigner, na qual os denominadores de energia envolvem o autovalor perturbado. Sempre que este se aproximar de autovalores n~ao perturbados
havera oportunidade para a manifesta ~ao de eventuais problemas de onvergên ia.
As orre ~oes perturbativas usadas om maior frequên ia s~ao as de Rayleigh-S hrodinger
de primeira ordem para o vetor de estado e de primeira e segunda ordens para o autovalor.
Corre ~oes de normaliza ~ao n~ao intervem nessas ordens. Uma forma onveniente para lembrar
o sinal dos denominadores de energia que apare em nessas express~oes de uso mais frequente e
notar que a orre ~ao de segunda ordem para a energia do estado fundamental e sempre negativa.
Como, nesse aso, En(0)0 e o menor autovalor e as quantidades que apare em no numerador s~ao n~ao
negativas, essa observa ~ao xa univo amente os denominadores orrespondentes as orre ~oes
de primeira ordem para o autovetor, e de segunda ordem para o autovalor, omo En(0)0 Em(0) ,
que s~ao sempre negativos para o estado fundamental. O uso da expans~ao perturbativa de
Rayleigh-S hrodinger e ilustrado nos tens abaixo em algumas situa ~oes simples, mas tpi as.
178
1. Os ilador arregado em um ampo eletri o externo. Um problema simples que
pode ser usado para ilustrar o uso da expans~ao a ima onsiste em avaliar a polarizabilidade
do estado fundamental de um os ilador harmôni o arregado quando submetido a um ampo
eletri o externo, uniforme. Mais espe i amente, uma part ula de massa M e arga eletri a e,
presa a um poten ial harmôni o no qual ela os ila om frequên ia !0 , e submetida ainda a um
ampo eletri o uniforme E~ 0 , e des rita pelo Hamiltoniano
p~2 M!02 2 ~
+
~q eE0 ~q:
2M
2
O problema de autovalores para esse Hamiltoniano pode ser fa ilmente separado em tres problemas independentes dos quais apenas um e \interessante", no sentido de onter efeitos do
ampo apli ado externamente. De fato, es olhendo um sistema de oordenadas artesianas tal
que as omponentes do ampo eletri o sejam dadas por E~ 0 f0; 0; E0g, o Hamiltoniano pode
ser es rito omo
!
3
X
p2j M!02 2
+
q eE0 q3 j 3 H1 + H2 + H3
H=
2 j
j =1 2M
H=
que orresponde a tres os iladores independentes (pois [qi ; pj = 0 para i 6= j ), apenas um dos
quais ( om Hamiltoniano H3 ) depende de E~ 0 . Os autovetores de H podem ent~ao ser vistos
omo produtos de autovetores de ada um desses tres os iladores, sendo que os autovetores
j1i e j2i de H1 e H2 respe tivamente s~ao independentes do ampo externo. O \estado n~ao
perturbado" sobre o qual se quer avaliar o efeito desse ampo e um estado n~ao degenerado
que pode ser visto simplesmente omo o produto dos estados fundamentais dos tres os iladores
om E~ 0 = 0 e, para uma avalia ~ao perturbativa, e su iente portanto estudar os efeitos da
\perturba ~ao" E~ 0 sobre o estado fundamental de H3 .
Considerando ent~ao a expans~ao de Rayleigh-S hrodinger para H3 H0 + H1 om
p23 M!02 2
+
q
e H1 = eE0 q3
2M
2 3
resulta que as orre ~oes de primeira e segunda ordens para a energia do estado fundamental
s~ao dadas por
H0 =
e(1)
=
0
eE0 h0jq3 j0i
e(2)
= 2 e2 E02
0
3
179
jh3jq3 j0ij2
E0(0)
E(0)3
onde os bras e kets orrespondem aos autovetores de H0 . Essas express~oes podem ser fa ilmente
al uladas. De fato, es revendo q3 omo
s
q3 =
h
(ay + a)
2M!0
e evidente que e(1)

ao perturbado j3 = 1i da uma ontribui ~ao
0 = 0 e que apenas o autovetor n~
(2)
n~ao nula para e0 . Esta ultima e, desse modo, dada por
jh3 = 1jq3 j0ij2 = 2e2 E 2 h
2 2
1
2 e E0 :
=

(4.9)
0
3h!0
h!0
2M!0 h !0
2M!02
2
2
A orre ~ao de primeira ordem para o vetor de estado e semelhante a orre ~ao de segunda ordem
para o autovalor e tambem pode ser fa ilmente obtida omo
2 2 2
e(2)
0 = e E0
h eE0
3 1 + O( 2 )
h3 j0i = eE0 h3 =h1!jq3j0i 3 1 + O( 2) = 2M!
h

!
0
0
0
de modo que o autovetor perturbado j~03 i orrespondente ao estado fundamental de H3 e dado
ate a primeira ordem em por
h eE0
j~03i ' j03i + j13i 2M!
:
(4.10)
!0
0 h
Como o estado n~ao perturbado j03 i e normalizado, a adi ~ao da orre ~ao de primeira ordem
introduz na realidade um erro na normaliza ~ao do estado perturbado. Devido a ortogonalidade

da orre ~ao ao estado n~ao perturbado, no entanto, essa orre ~ao e de segunda ordem em e
por isso e normalmente desprezada.
A polarizabilidade do os ilador arregado pode ser obtida, dentro desse esquema perturbativo, al ulando o valor medio do momento de dipolo eletri o do os ilador omo fun ~ao do
ampo eletri o apli ado. O operador que orresponde ao momento de dipolo eletri o e
d~ = e~q
ujo valor medio no estado fundamental perturbado j~0i do os ilador tridimensional e
hd~ i~0 h~0jd~j~0i = eh~03jq3j~03ix^3

onde x^3 e um versor na dire ~ao do eixo artesiano es olhido omo tendo a dire ~ao do ampo
eletri o. De fato, o estado fundamental perturbado e o produto dos estados fundamentais
180
perturbados dos tres os iladores unidimensionais independentes Hj , e os os iladores H1 e H2

s~ao imunes aos efeitos do ampo eletri o. Usando mais uma vez o fato de que q3 so tem
elementos de matriz diferentes de zero entre estados n~ao perturbados om valores de 3 que
diferem por 1, resulta ( om = 1)
2
e E0
hd~ i~0 ' M!
^3 E0 x^3
2x
0
onde
e2
M!02
e a polarizabilidade estati a do os ilador. Essa quantidade determina a magnitude do momento de dipolo induzido, que nesse aso varia linearmente om a magnitude do ampo eletri o
apli ado, no aso de ampos externos \fra os" (no sentido espe o de que efeitos de ordem
superior sejam desprezveis) e independentes do tempo.
Esse resultado pode ser entendido de forma simples em termos ompletamente lassi os. De
fato, a distân ia x3 da arga a posi ~ao de equilbrio do os ilador quando o ampo apli ado tem
magnitude E0 e dada lassi amente pela ondi ~ao de equilbrio da for a devida ao ampo om
a for a de restitui ~ao do os ilador
=
eE0 = M!02 x3 las:

que orresponde a um momento de dipolo eletri o
2
e E0
jd~ j = ejx3 las: j = M!
2
em a ordo om o resultado perturbativo quânti o.

O resultado lassi o que orresponde ao resultado quânti o perturbativo de primeira ordem,
porem, n~ao e perturbativo, e vale para qualquer intensidade do ampo externo. Por isso e
interessante averiguar se uma orre ~ao perturbativa quânti a de ordem maior introduz efeitos
novos na polarizabilidade do os ilador. A orre ~ao de segunda ordem para o vetor de estado
pode ser al ulada om relativa fa ilidade om o resultado
2 2
h e E0
j0i2a: ordem = 2j23i p1 2M!
2 !02
2
0 h
de modo que o autovetor perturbado ompleto e dado ate essa ordem por
0
j~03i ' N0 j03i + j13i
h eE0 2 p1 h e2 E02 A
:
+ j23 i
2M!0 h !0
2 2M!0 h 2 !02
181
Nesse aso e pre iso orrigir a normaliza ~ao ate a ordem apropriada al ulando o oe iente N0
tambem ate segunda ordem em . O resultado desse al ulo e
1 + 2
N0 =
h e2 E02
+ O ( 4 )
2M!0 h 2 !02
1
2
= 1
2
e2 E02
+ O ( 4 ) :
4M h !03
Com esses resultados o valor medio do operador dipolo eletri o e dado por
hd3i~0 '
2E
0
M!02
e
N02
2 2
e2 E0
e2 E02
2 e E0
=

1

2 M h !03
M!02
2M h !03
1
1 + 2
e2 E02
:
2 M h !03
1
1 + 2
Os termos em 2 que apare em dentro dos parênteses d~ao ontribui ~oes de ter eira e quinta
ordens para o momento de dipolo eletri o. A ontribui ~ao vinda do autovetor perturbado e no
entanto ainda an elada por uma ontribui ~ao igual mas de sinal ontrario proveniente do fator
de normaliza ~ao N02 , de modo que o resultado obtido em primeira ordem e mantido a menos
de ontribui ~oes n~ao signi ativas de quinta ordem. O resultado obtido em primeira ordem
para a polarizabilidade do os ilador n~ao e portanto modi ado quando se introduz a orre ~ao
de segunda ordem no vetor de estado.
O problema do os ilador quânti o arregado num ampo eletri o externo uniforme e na
realidade exatamente soluvel, de modo que o valor medio do momento de dipolo eletri o no seu
estado fundamental pode ser al ulado tambem exatamente. Para obter a solu ~ao exata, basta
notar que o termo de energia poten ial de H3 pode ser es rito omo
M!02 2
q
2 3
M!02
q3
eE0 q3 =
2
eE0
M!02
!2
e2 E02
2M!02
que orresponde ainda a um poten ial harmôni o om o ponto de mnimo deslo ado da origem e
om o valor dado por e2 E02 =2M!02 , que oin ide om a orre ~ao perturbativa de segunda ordem
para a energia do estado fundamental. N~ao e dif il veri ar expli itamente que a orre ~ao
perturbativa de ter eira ordem para essa energia e nula, e per eber ainda que o mesmo deve
o orrer, ordem por ordem, tambem em todas as ordens superiores de teoria de perturba ~oes. De
fato, ada ordem e ara terizada por uma potên ia diferente de E0 , de modo que n~ao pode haver
an elamentos envolvendo ordens perturbativas diferentes. Para obter o estado fundamental
exato na presen a do ampo externo, basta introduzir o operador deslo ado Q3 q3 eE0 =M!02 ,
ujas rela ~oes de omuta ~ao om os demais operadores anôni os s~ao idênti as as de q3 . Dessa
forma, es revendo Q3 omo
s
Q3 =
h
(Ay + A)
2M!0
182
resulta que o estado fundamental na presen a do ampo externo j03(E0 ) i e ara terizado por
Aj~03 i = 0
donde
(4.11)
eE0 ~
h~03jQ3 j~03i = h~03jq3 M!
2 j03 i = 0
0
e portanto o valor medio do operador de dipolo eletri o e dado por

2
e E0
h~03jeq3 j~03i = M!
2;
0
que oin ide om o resultado obtido em primeira ordem de teoria de perturba ~oes e tambem om
o resultado lassi o. A natureza do estado fundamental exato na presen a do ampo externo e
revelada observando que
!
1 q3
1 Q3 bp3
=p
A= p
+i
h
2 b
2 b
1 eE0
bp
+i 3 =a
2
b M!0
h
eE0
p1 M!
2
b 2
onde b = h =M!0 , e portanto a rela ~ao (4.11) impli a em
aj~03 i =
h eE0 ~
j0 i
2M!0 h !0 3
que mostra que j~03 i e um estado oerente do os ilador n~ao perturbado.

Como uma observa ~ao nal, vale a pena notar que, apesar da on ordân ia do resultado
quânti o para o valor medio do operador de dipolo eletri o om o resultado lassi o, a solu ~ao
quânti a para o estado fundamental do os ilador submetido ao ampo externo e muito diferente
da solu ~ao lassi a. De fato, enquanto lassi amente a ada valor da intensidade do ampo
apli ado orresponde um valor bem denido do momento de dipolo eletri o, a solu ~ao quânti a
da para os valores possveis dessa mesma quantidade uma distribui ~ao de probabilidades, uja
media oin ide om o valor lassi o. Essa distribui ~ao pode ser es rita expli itamente em termos
da fun ~ao de onda 0(E0 ) (x3 ) = hx3 j~03 i omo
2
1
(E0 ) (d3 ) = 0(E0 ) (d3 =e)) :
e
Essa densidade foi denida de modo que (E0 ) (d3 )d(d3 ) seja a probabilidade de que o valor do
momento de dipolo eletri o esteja no intervalo pequeno d(d3 ) em torno do valor d3 . O valor
medio que oin ide om o resultado lassi o e dado em termos dessa distribui ~ao omo
183
Z +1
d(d3 )
d3 (E0 ) (d3 ):
1 e
Ao ontrario da solu ~ao lassi a, a solu ~ao quânti a (exata) asso ia ao valor medio hd3 i~0 uma
dispers~ao dada por d3 = eb, onde b e o parâmetro do os ilador. Essa dispers~ao e determinada
pelo estado oerente que representa o estado fundamental na presen a do ampo externo, e
provem portanto da deslo aliza ~ao mnima da arga asso iada a rela ~ao de in erteza. Essa deslo aliza ~ao mnima e independente da intensidade do ampo apli ado e se torna relativamente
pou o importante para valores do momento medio de dipolo muito maiores que eb.
hd3i~0 =
2. Os ilador harmôni o om perturba ~ao ubi a. Muitas vezes um Hamiltoniano

de os ilador harmôni o e usado omo aproxima ~ao para a dinâmi a de pequena amplitude em
torno de um mnimo da energia poten ial V (q ), levando em onta apenas o primeiro termo n~ao
nulo de uma expans~ao desse poten ial em serie de potên ias em torno do ponto de mnimo
1
V (q ) = V (q0 ) + (q
2!
q0
2V
1 d3 V
(q ) +
(q )(q
dq 2 0 3! dq 3 0
d
)2
q0 )3 + :::
onde o termo linear esta ausente e d2 V dq 2 (q0 ) > 0 devido ao fato de que V (q ) tem supostamente
um mnimo em q0 . As modi a ~oes introduzidas no espe tro pelos termos anharmôni os da
expans~ao em serie de potên ias do poten ial s~ao geralmente avaliadas perturbativamente, ate
ordens perturbativas e graus de anharmoni idade apropriados. Com uma transla ~ao da oordenada q que leve o ponto de mnimo a origem, a in lus~ao da anharmoni idade ubi a onduz
a um Hamiltoniano do tipo
p2 M!02 2
+
q ; H1 = q 3
2M
2
onde a rela ~ao om a expans~ao do poten ial V (q ) e evidentemente
H = H0 + H1 ;
M!02 =
H0 =
d2 V
(q );
dq 2 0
(4.12)
1 d3 V
(q ):
3! dq 3 0
Ignorando por um momento o ontexto em que ele foi obtido, e fa il demonstrar varia ionalmente que o espe tro do Hamiltoniano (4.12) n~ao tem um limite inferior. Para isto basta
p tomar
omo estado de prova um estado oerente real do os ilador, jQi tal que ajQi = (Q= 2)jQi. O
valor medio da energia ineti a nesse estado n~ao depende de Q e tem o mesmo valor que no
estado fundamental do os ilador. O valor medio da energia poten ial tem duas ontribui ~oes,
que provem respe tivamente do poten ial quadrati o do os ilador e do termo de perturba ~ao
184
ubi o. Para valores su ientemente grandes de Q essas ontribui ~oes s~ao dominadas respe tivamente por termos propor ionais a Q2 e a Q3 , de modo que sua soma pode ser sempre tornada
t~ao negativa quanto se queira, es olhendo para isso um valor su ientemente grande de jQj,
om sinal apropriado (sinal oposto ao de ). De fato, para qualquer valor E da energia total do
sistema, o poten ial que onsiste na soma de um termo quadrati o e de um termo ubi o tem
uma regi~ao \ lassi amente permitida" de extens~ao innita, na qual a energia poten ial total
e menor que E . O espe tro exato do Hamiltoniano om a perturba ~ao ubi a e por isso de
fato ontnuo e seus autovetores s~ao autovetores improprios, normalizaveis apenas em termos
de fun ~oes delta de Dira . Os metodos adequados para o tratamento desses autovetores s~ao os
metodos da teoria do espalhamento.
Isso n~ao signi a, no entanto, que os resultados perturbativos que podem ser obtidos para
esse sistema sejam desprovidos de sentido. Um primeiro ponto a observar e o de que os estados
n~ao perturbados envolvidos no al ulo das primeiras varias ordens da expans~ao perturbativa
têm densidade de probabilidade apre iavelmente diferente de zero apenas em uma regi~ao espa ial que se on entra no \bolso" de poten ial riado pelo termo harmôni o, onde o termo ubi o
assume valores omparativamente pequenos, para valores tambem su ientemente pequenos de
. O al ulo dessas orre ~oes perturbativas leva ent~ao a resultados perfeitamente razoaveis.
Esses resultados s~ao ainda adequados ao problema anarmoni o ompleto, envolvendo o poten ial V (q ), desde que as ontribui ~oes anarmôni as de ordem superior sejam desprezveis om
rela ~ao ao termo ubi o na regi~ao espa ial relevante. Esta ultima observa ~ao faz ver ainda que
as on lus~oes obtidas por via varia ional a er a do espe tro de (4.12) podem n~ao ser relevantes para o problema ompleto envolvendo V (q ), pois e pre iso ter em onta as ontribui ~oes
anarmôni as de ordem superior na regi~ao em que o Hamiltoniano om termo ubi o e dominado
por este termo, e estas ontribui ~oes podem invalidar inteiramente as on lus~oes obtidas om
base na expans~ao trun ada de V (q ). Em outras palavras, om rela ~ao ao problema ompleto
envolvendo V (q ), a validade de uma des ri ~ao em termos do Hamiltoniano (4.12), e onsequentemente tambem a validade de resultados exatos relativos a esse Hamiltoniano, s~ao limitadas
pela validade do trun amento adotado.
Uma segunda observa ~ao, de outra natureza, e a de que mesmo no aso em que o problema
ompleto onsista apenas no Hamiltoniano ubi o (4.12), as orre ~oes perturbativas das primeiras varias ordens s~ao signi ativas, para valores su ientemente pequenos de , desde que
orretamente interpretadas. Nesse aso, de fato, as fun ~oes de onda do espe tro ontnuo ter~ao
amplitude apre iavel dentro do bolso de poten ial riado pelo termo harmôni o em intervalos
estreitos de energia em torno de determinados valores, que em termos da teoria de espalhamento orrespondem a ressonân ias nesse bolso de poten ial. O espe tro dis reto perturbado que
resulta da apli a ~ao de orre ~oes perturbativas ao espe tro harmôni o aproxima, nesse aso, o
\espe tro de ressonân ias" do problema exato. Em parti ular, as fun ~oes de onda perturbadas
aproximam as fun ~oes de onda ressonantes do espe tro ontnuo na regi~ao interna do bolso de
185
poten ial.
O pro edimento de al ulo para as orre ~oes perturbativas para o Hamiltoniano (4.12) n~ao
difere essen ialmente daquele dado para o aso da perturba ~ao linear. A perturba ~ao H1 pode
ser es rita sob a forma
s
H1 =
h
(ay + a)3
2M!0
om o que o al ulo dos elementos de matriz ne essarios para a obten ~ao das orre ~oes perturbativas de Rayleigh-S hrodinger para autovalores e autovetores n~ao apresenta maiores problemas.
Como no aso linear, as orre ~oes n~ao nulas de ordem mais baixa s~ao as de segunda ordem para
os autovalores e as de primeira ordem para os autovetores.
4.1.2 Perturba ~ao de um estado degenerado ou quase-degenerado.

O tratamento desenvolvido na se ~ao anterior deixa evidentemente de ser apli avel quando se
trate de avaliar os efeitos de uma perturba ~ao H1 sobre os estados asso iados a um eventual
autovalor degenerado de H0 , pois nesse aso os denominadores das express~oes obtidas poder~ao
ser nulos. Con omitantemente om este problema, no aso em que o autovalor En(0)0 tenha
degeneres ên ia N , existe uma ambiguidade unitaria na es olha do onjunto de N autovetores
ortonormais j(0)
n0 ;k i; k = 1; :::; N asso iados a esse autovalor ( f. Problema 2.4 f). Enquanto,
no aso n~ao degenerado, o autovetor de ordem zero e denido sem nenhuma ambiguidade,
neste aso existe o problema adi ional de denir esse autovetor, o que deve ser feito de forma
apropriada a natureza da perturba ~ao H1 a ser tratada. O problema da degeneres ên ia e
o problema da es olha dos autovetores de ordem zero s~ao de fato rela ionados, e podem ser
tratados onjuntamente, adaptando de forma apropriada o pro edimento utilizado para o aso
n~ao degenerado.
Em primeiro lugar, a ambiguidade na determina ~ao do vetor de estado em ordem zero e
levada em onta rees revendo a de omposi ~ao (4.4) do autovetor perturbado jn0 i numa forma
em que o autovetor n~ao perturbado e tomado omo uma ombina ~ao linear a determinar dos
autovetores degenerados. Desse modo essa de omposi ~ao e es rita agora sob a forma
jn0 i = Nn0
N
X
k=1
(0)
n0 ;k k
+ jn0 i
(4.13)
onde Nn0 e uma onstante de normaliza ~ao, os k s~ao oe ientes a determinar e o vetor jn0 i
e, sem perda de generalidade, ortogonal a todos os autovetores degenerados j(0)
n0 ;k i. Uma forma
onveniente de exprimir essa ondi ~ao e exigir que Pn0 jn0 i = 0, onde Pn0 e o operador de
proje ~ao sobre o sub-espa o asso iado aos autovetores degenerados
186
Pn0
N
X
k=1
(0)
j(0)
n0 ;k ihn0 ;k j:
As mesmas etapas seguidas no aso n~ao degenerado podem agora ser repetidas aqui. Substituindo a de omposi ~ao (4.13) na equa ~ao de autovalores (4.3) se obtem
En(0)0
(En0
H1 )
N
X
k=1
k j(0)
n0 ;k i + (En0
H0
H1)jn0 i = 0;
(0)
e tomando o produto es alar dessa rela ~ao su essivamente om um j(0)
ao
n0 ;l i e om jm i, que s~
(0)
(0)
autovetores asso iados respe tivamente ao autovalor degenerado En0 e ao autovalor Em 6= En(0)0
de H0 , resultam as express~oes orrespondentes a (4.5) e a (4.6)
(En0
En(0)0 ) l
h jn0 i =
(0)
m
1
X
(0)
(0)
h(0)
n0 ;l jH1 jn0 ;k i k = hn0 ;l jH1 jn0 i
k=1
N
X
(4.14)
(0)
h(0)
h(0)jH j i
m jH1 jn0 ;k i k
+ m 1 n0 :
(4.15)
En0 Em(0)
En0 En(0)0
Da mesma forma que no tratamento do aso n~ao degenerado, a segunda dessas duas express~oes
pode ser iterada de forma a gerar uma serie para as amplitudes h(0)
m jn0 i. Neste aso, no
entanto, todos os termos da serie dependem linearmente dos oe ientes k que denem as
amplitudes dos estados degenerados no autovetor perturbado. Os três primeiros termos da
serie s~ao, expli itamente,
h jn0 ;k i
(0)
m
=
k=1
N
X
(0)
h(0)
m jH1 jn0 ;k i k
+
Em(0)
N h(0) jH j(0)0 ih(0)0 jH j(0) i
X X
1 n0 ;k k
1 m
m
m
2
+
+
(0)
(0)
m0 6=n0 k=1 (En0 Em )(En0 Em0 )
+ 3 ::: :
k=1
En0
Usando essa serie para exprimir o ultimo termo de (4.14) resulta

187
(4.16)
(En0
En(0)0 ) l =
+
N
X
(0)
h(0)
n0 ;l jH1 jn0 i k +
k=1
N
X X
2

(4.17)
(0)
(0)
(0)
h(0)
n0 ;l jH1 jm ihm jH1 jn0 ;k i k
+
En0 Em(0)
N h(0) jH j(0) ih(0) jH j(0)0 ih(0)0 jH j(0) i
X X
1 n0 ;k k
1 m
m
n0 ;l 1 m
m
3
+
:
(0)
(0)
(En0 Em )(En0 Em0 )
m;m0 6=n0 k=1
m6=n0 k=1
As equa ~oes (4.16) e (4.17) orrespondem, no aso n~ao degenerado, a expans~ao perturbativa de
Brillouin-Wigner. O tratamento dado ao grupo de estados degenerados introduziu no entanto
as amplitudes k , que devem ser determinadas pela equa ~ao (4.17), juntamente om as aproxima ~oes para o autovalor perturbado En0 . Como a dependên ia de En0 e n~ao linear, o al ulo
de aproxima ~oes dentro de um esquema desse tipo n~ao e onveniente, alem de n~ao ser parti ularmente valioso. O pro edimento usual onsiste por isso em bus ar um esquema semelhante a
expans~ao de Rayleigh-S hrodinger, no sentido de poder ser al ulado ordem por ordem tanto
no que se refere as orre ~oes para o autovetor omo as orre ~oes para o autovalor. Isso pode
ser onseguido fa ilmente para as ordens mais baixas, que s~ao as que s~ao tipi amente usadas
neste ontexto.
Em primeiro lugar, as orre ~oes de primeira ordem para o autovalor degenerado s~ao obtidas
trun ando nessa ordem a serie (4.17). Disso resulta a equa ~ao
(En(1)0
En(0)0 ) l =
N
X
(0)
h(0)
n0 ;l jH1 jn0 ;k i k
k=1
que orresponde simplesmente a diagonaliza ~ao da perturba ~ao H1 no sub-espa o degenerado.

As orre ~oes de primeira ordem para En(0)0 s~ao portanto dadas pelos autovalores da matriz que
representa a intera ~ao H1 no sub-espa o dos autovetores degenerados. A solu ~ao desse problema
de diagonaliza ~ao determina tambem os autovetores de ordem zero adequados a perturba ~ao
H1 omo autovetores f (kj ) g; j = 1; :::; N dessa mesma matriz. Eles podem ser es ritos mais
expli itamente omo
(0)
n0 ;j
i=
N
X
k=1
(j )
j(0)
n0 ;k i k
e as orre ~oes de primeira ordem para o autovalor asso iado a ada um desses autovetores e
simplesmente o respe tivo valor medio de H1 , em ompleta analogia om o resultado obtido no
aso n~ao degenerado, isto e
188
En(1)0 ;j
(0)
En(0)0 = h(0)
n0 ;j jH1 jn0 ;j i:
Se a equa ~ao ara tersti a que determina os autovalores de H1 no sub-espa o degenerado

tiver razes multiplas, a diagonaliza ~ao de H1 n~ao removera ompletamente a degeneres ên ia
do problema n~ao perturbado. Em parti ular, se a perturba ~ao H1 tem elementos de matriz nulos
entre os autovetores degenerados j(0)
ao havera orre ~ao de primeira ordem para En(0)0 e a
n0 ;k i, n~
ambiguidade na es olha do autovetores de ordem zero n~ao e resolvida. Nesses asos e ne essario
tratar tambem termos de segunda ordem na serie (4.17). Como o autovalor perturbado En0
difere de En(0)0 por termos que s~ao pelo menos de primeira ordem, e possvel substitui-lo por este
ultimo no denominador de energia, donde resulta
(En(2)0
En(0)0 ) l =
N
X
2
4
k=1
(0)
h(0)
n0 ;l jH1 jn0 ;k i +
m6=n0
(0)
(0)
(0)
h(0)
n0 ;l jH1 jm ihm jH1 jn0 ;k i 5

En(0)0
Em(0)
(4.18)
que orresponde a diagonaliza ~ao da perturba ~ao H1 modi ada por uma intera ~ao efetiva de
segunda ordem
H1(2)ef : H1 +
(0)
H1 j(0)
m ihm jH1 :
En(0)0 Em(0)
m6=n0
X
Os autovetores f (kj ) g; j = 1; :::; N desse objeto denem novos autoestados de ordem zero em
termos dos quais as orre ~oes ate segunda ordem do autovalor degenerado s~ao dadas por
En(2)0 ;j
En(0)0 =
=
N
X
k;l=1
N
X
k;l=1
(2) (0)
(j )
(kj ) h(0)
n0 ;k jH1 ef : jn0 ;l i l =
(kj )
(0)
n0 ;k
j j
H1 (0)
n0 ;l
(l j )
(0)
(j )
(0)
(0)
(kj ) h(0)
n0 ;k jH1 jm ihm jH1 jn0 ;l i l
+
En(0)0 Em(0)
k;l=1 m6=n0
N
X
mais uma vez em ompleta analogia om a express~ao orrespondente para o aso n~ao degenerado.
A in lus~ao de efeitos de segunda ordem nos autovalores orresponde a in lus~ao de orre ~oes
de primeira ordem para os autovetores degenerados o que, de a ordo om as equa ~oes (4.17) e
(4.13), da
189
(0)
n0 ;j
i'
N
X
N
X X
(j )
(0)

+
n0 ;k k
k=1
m6=n0 k=1
(0) (j )
(0)
j(0)
m ihm jH1 jn0 ;k i k
En(0)0
Em(0)
+O( 2)
onde os oe ientes (kj ) s~ao os orrespondentes as solu ~oes da equa ~ao se ular de segunda ordem
(4.18).
A extens~ao do al ulo de orre ~oes perturbativas para ordens mais altas en ontra a quest~ao
adi ional dos termos provenientes da expans~ao dos denominadores de energia em torno dos
autovalores n~ao perturbados, que passam a estar presentes a partir da segunda e da ter eira
ordens, respe tivamente para os autovetores e para os autovalores. Elas podem ser obtidas
sempre que ne essario, mas s~ao de uso muito pou o frequente.
Os ilador bi-dimensional arregado num ampo magneti o externo. Um exemplo

simples da apli a ~ao dos resultados a ima onsiste no movimento de uma part ula arregada
ujo movimento e onnado a um domnio bi-dimensional no qual ela e sujeita a um poten ial
harmôni o e a a ~ao de um ampo magneti o externo, perpendi ular ao plano em que se da o
movimento da part ula. O Hamiltoniano que des reve essa situa ~ao e
p~ 2 M!02 2
+
q~ ; H1 = gl3
2M
2
onde ~p = fp1 ; p2 g, ~q = fq1 ; q2 g e l3 (q1 p2 q2 p1 ) e a omponente perpendi ular ao plano do
momento angular da part ula. Este ultimo termo representa a intera ~ao da part ula om o
ampo magneti o externo, que lassi amente e dada por ~ B~ , sendo ~ o momento magneti o
asso iado a part ula, que e propor ional ao seu momento angular. O Hamiltoniano H0 pode
ser es rito omo a soma de dois hamiltonianos unidimensionais de os ilador harmôni o, que s~ao
onstantes do movimento devido as rela ~oes anôni as de omuta ~ao
H = H0 + H1 ;
H0 =
[qj ; qj = [pj ; pj = 0;
[qj ; pj = ih jk :
Desse modo o problema de autovalores para H0 pode ser resolvido omo
H0 j1 ; 1 i = h !0 (1 + 2 + 1)j1 ; 2 i

onde os autovetores j1 ; 2 i s~ao produtos de dois autovetores de os ilador unidimensional h1 e
h2 orrespondentes respe tivamente as variaveis dinâmi as om ndi es 1 e 2. Como a energia
depende apenas da soma dos dois inteiros 1 e 2 , todos os autovalores s~ao degenerados, om
ex e ~ao do que orresponde ao estado fundamental.
190
Uma forma onveniente da perturba ~ao H1 para trabalhar nessa representa ~ao dos autovetores n~ao perturbados e obtida exprimindo os operadores pj e qj omo
b
ih
qj = p (ayj + aj ); pj = p (ayj
2
b 2
aj );
b
h
M!0
o que leva a
H1 = ih g (ay2 a1
ay1 a2 )
que mostra laramente que H1 n~ao e ompatvel om h1 e h2 , e portanto que a perturba ~ao n~ao
e diagonal na representa ~ao adotada para o sistema n~ao perturbado. Desse modo, onsiderando
para xar as ideias o autovalor 3h!0 , que orresponde a 1 + 2 = 2, as energias orrigidas ate
primeira ordem e os autovetores de ordem zero adaptados a essa perturba ~ao s~ao determinados
resolvendo o problema de autovalores para H1 restrito ao sub-espa o tridimensional gerado
pelos vetores degenerados j1 i = j2; 0i; j2 i = j1; 1i; j3 i = j0; 2i. Os elementos de matriz
ne essarios podem ser al ulados fa ilmente, levando a
0
B
e(j ) B

(1j )
(2j )
(3j )
C
C
A
=B

i 2hg
p0
i 2hg
p0
i 2hg
0
p0
i 2hg
0
10
CB
AB

(1j )
(2j )
(3j )
1
C
C
A
Nessa equa ~ao os autovalores e(j ) orrespondem as orre ~oes de primeira ordem para a energia
(1)
(0)
(j )
E3
E3
h!0 ;j
h!0 e os autovetores orrespondentes f k g determinam os autovetores de ordem
zero no subespa o degenerado onsiderado.
A equa ~ao ara tersti a para a matriz a diagonalizar e
3
4h2 g 2 = 0
ujas razes s~ao 0 e 2hg , o que mostra que a degeneres ên ia e ompletamente removida em
primeira ordem, neste aso. Os autovetores asso iados a ada um desses autovalores s~ao, por
outro lado
0
0
1
0
1
1
1
1
1
1 B C
1B p C
1B p C
( )
f (0)
f
(+)
k g = p 0 A;
k g = 2 i 2 A e f k g = 2 i 2 A
2 1
1
1
que orrespondem, na nota ~ao de kets, aos vetores de estado
e(0)
i = p12 (j2; 0i + j0; 2i)
e()
191
i = 21 j2; 0i pi2 j1; 1i
j 0; 2i :
O primeiro desses autovetores permane e a energia 3h!0 , enquanto a energia dos dois ultimos
e 3h!0 2hg . E fa il ainda veri ar que o operador l3 , e portanto tambem o Hamiltoniano
de perturba ~ao H1 , s~ao onstantes do movimento (isto e, omutam om H0 ). Isso e su iente
para garantir que esse resultado de primeira ordem e na realidade exato. O fato de que H1
e uma onstante do movimento garante que os elementos de matriz de H1 entre estados n~ao
degenerados de H0 se anulam, o que por sua vez leva ao anulamento de todas as orre ~oes
perturbativas de ordem superior.
4.1.3 Perturba ~ao da equa ~ao de movimento.

A quest~ao a ser examinada nesta se ~ao trata do desenvolvimento de te ni as sistemati as de
aproxima ~ao para a solu ~ao do problema de ondi ~oes ini iais para a equa ~ao de movimento
quânti a
dj'(t)i
;
(4.19)
dt
orrespondente a des ri ~ao de S hrodinger. O problema onsiste em obter a solu ~ao dessa
equa ~ao que satisfaz a uma ondi ~ao ini ial dada j'(t = 0)i = j'0 i, e as te ni as de aproxima ~ao
ser~ao desenvolvidas om base na suposi ~ao de que o problema de autovalores para H0
(H0 + H1 ) j'(t)i = ih
H0 jni = En jn i
foi ompletamente resolvido, isto e, os autovalores e autovetores1 de H0 s~ao onhe idos. Isso
ertamente impli a que H0 deve ser independente do tempo, mas o tratamento que segue e
tambem apli avel para perturba ~oes H1 que dependem expli itamente do tempo. As te ni as
a serem desenvolvidas têm utilidade para um grande numero de apli a ~oes, in luindo espe ialmente o al ulo perturbativo da evolu ~ao temporal de estados esta ionarios do hamiltoniano
n~ao perturbado sob a a ~ao dos termos adi ionais, tratados perturbativamente, e, em parti ular,
o al ulo de \taxas de de aimento" desses estados para outros estados do espe tro n~ao perturbado, a prepara ~ao de estados no sistema n~ao perturbado atraves da a ~ao de perturba ~oes
adi ionadas externamente, o tratamento perturbativo de problemas de espalhamento, et .
Como visto na se ~ao 2.3, o onhe imento dos autovalores e autovetores de H0 e su iente
para resolver ompletamente o problema de ondi ~oes ini iais na ausên ia da perturba ~ao H1 .
Nesse aso, de fato, a solu ~ao pode ser expressa por
j ' ( t) i =
i
e h En t jn i n;
( = 0)
Deve ser notada aqui uma simpli a a~o da nota a~o om rela a~o as se o~es anteriores, onde os autovalores e
autovetores de H0 foram designados omo En(0) e j(0)
n i respe tivamente.
1
192
onde os oe ientes n hnj'0 i s~ao determinados pela ondi ~ao ini ial. Por outro lado, usando
a ompleteza dos autovetores de H0 e possvel es rever as solu ~oes da equa ~ao (4.19) tambem
sob a forma
j'(t)i =
jniAn(t)
onde a dependên ia om o tempo dos oe ientes An (t) deve ser determinada usando a equa ~ao
de movimento, enquanto a ondi ~ao ini ial e levada em onta exigindo que An (t = 0) = n .
Uma forma mais onveniente de es rever esses oe ientes e
An (t) an (t)e h En t
(4.20)
om a ondi ~ao ini ial an (t = 0) = n , pois dessa forma os novos oe ientes an (t) se tornam
independentes do tempo no aso \n~ao perturbado" ! 0. Adotando, ent~ao, a forma
i
j ' ( t) i =
jnian(t)e
i
h En t
(4.21)
para a solu ~ao do problema de ondi ~ao ini ial perturbado, e fa il obter a partir de (4.19)
equa ~oes que determinam a dependên ia dos an (t) om o tempo. De fato, substituindo (4.21)
em (4.19) resulta, tendo em onta que os jni s~ao autovetores de H0 ,
X
(En + H1 ) jn ian (t)e
i
h En t
jn i
i
da (t)
ih n + En an (t) e h En t :
dt
Os termos que ontem En omo fator se an elam, onsistentemente om a observa ~ao ja feita
de que no limite ! 0 deve-se ter dan =dt 0. Tomando ainda o produto es alar dessa equa ~ao
om jm i, e tendo em onta a ortonormalidade desses autovetores, resulta o sistema de equa ~oes
diferen iais a opladas para os an (t)
dam (t) X
= hmjH1 jnian (t)ei!mn t
dt
n
onde foram introduzidas as frequên ias de Bohr
ih
!mn =
Em
h
En
(4.22)
A passagem dos oe ientes de expans~ao An(t) para os an(t) onforme a equa ~ao (4.20)
esta ligada a passagem de uma des ri a~o de S hrodinger da dinâmi a para uma des ri ~ao
de intera ~ao, apresentada na se ~ao 2.3. O vetor de estado j'I (t)i nesta ultima des ri a~o
193
esta rela ionado om o vetor de estado j'(t)i orrespondente a des ri ~ao de S hrodinger
atraves da rela a~o
j'I (t)i = e hi H0 tj'(t)i
e satisfaz a equa ~ao de movimento
dj' (t)i
(4.23)
H1I (t)j'I (t)i = ih I
dt
. De fato, usando a expans~ao (4.21) resulta que o vetor de

onde H1I (t) =
estado na des ri a~o de intera ~ao e dado simplesmente por
X
(4.24)
j'I (t)i = jnian (t)
n
enquanto que os elementos de matriz do termo de intera ~ao, es rito tambem na des ri ~ao
de intera ~ao, s~ao
hm jH1I (t)jn i = hm jH1 jniei!mn t:
(4.25)
As equa ~oes a opladas (4.22) podem portanto ser obtidas tambem a partir da equa ~ao de
movimento (4.23), usando a expans~ao (4.24) e os elementos de matriz (4.25). Os fatores
de fase envolvendo as frequên ias de Bohr resultam, nessa des ri ~ao, da transforma ~ao
unitaria envolvendo o operador de evolu ~ao n~ao perturbado que a rela iona om a des ri ~ao
de S hrodinger.
i
i
e h H0 t H1 e h H0 t
As equa ~oes a opladas (4.22) foram obtidas da equa ~ao de movimento (4.19) sem qualquer
aproxima ~ao, e s~ao portanto apenas uma representa ~ao alternativa da mesma dinâmi a, que e
no entanto util omo ponto de partida para um esquema de aproxima ~ao baseado na ideia de
uma hierarquiza ~ao dos efeitos da perturba ~ao em termos de potên ias de . Para implementar
um esquema desse tipo, ada um dos oe ientes an (t) e es rito sob a forma de uma serie de
potên ias de
an (t) =
uja substitui ~ao em (4.22) da
ih
k
1
X
k=0
a(nk) (t) k
(4.26)
da(mk) (t) X X k+1

=
hm jH1 jniei!mn t a(nk) (t):
dt
k n
Esse novo sistema pode agora ser analisado separando ordens su essivas no parâmetro de expans~ao . Os termos de ordem zero d~ao simplesmente
194
da(0)
m (t) = 0;
dt
o que signi a que os termos de ordem zero em nas series (4.26) s~ao independentes do tempo.
Eles orrespondem, de fato, ao problema de ondi ~ao ini ial n~ao perturbado, de modo que a
es olha natural para os valores dos a(0)
e
m
a(0)
m = m
om o que a ondi ~ao ini ial para os a(nk) (t) om k > 0 e simplesmente a(nk>0) (t = 0) = 0.
Cole ionando em seguida os termos de primeira ordem em se obtem a express~ao
ih
da(1)
m (t) = Xh jH j iei!mn t a(0)
m 1 n
n
dt
n
que pode ser integrada, om a ondi ~ao ini ial homogênea, dando
1 Z t 0X
0
dt hm jH1 jniei!mn t n :
(4.27)
ih 0
n
Essa express~ao determina as ontribui ~oes de primeira ordem em para os oe ientes am (t)
em termos da ondi ~ao ini ial. Os efeitos de H0 s~ao tratados atraves dos fatores de fase envolvendo as frequên ias de Bohr !mn do problema n~ao perturbado. Os termos orrespondentes
a uma potên ia generi a do parâmetro de expans~ao forne em, por outro lado, uma rela ~ao de
re orrên ia que permite obter as ontribui ~oes de ordens superiores em que, integrada om a
ondi ~ao ini ial homogênea, e dada por
a(1)
m (t) =
1 Z t 0X
0
dt hm jH1 jniei!mn t a(nk 1) (t):
(4.28)
ih 0
n
Utilizando essa rela ~ao re ursivamente e possvel exprimir as ontribui ~oes de uma ordem qualquer k tambem em termos da ondi ~ao ini ial atraves de k integra ~oes sobre o tempo e de k
somas sobre autovetores de H0 envolvendo produtos de k elementos de matriz de H1 om os
respe tivos fatores de fase ontendo frequên ias de Bohr. As ontribui ~oes de segunda ordem,
por exemplo, s~ao dadas por
a(mk) (t) =
a(2)
m (t) =
1 2 Z t Z t1 X X
dt
h jH j iei!mn1 t1 hn1 jH1jn2 iei!n1 n2 t2 n2 :
dt
ih 0 1 0 2 n1 n2 m 1 n1
195
(4.29)
A aproxima ~ao perturbativa de ordem k al ula os oe ientes an (t) ignorando as ontribui ~oes de ordem maior que k na expans~ao (4.26), em potên ias de . Uma ara tersti a
importante das ontribui ~oes de ordem k > 0 e a de que elas satisfazem ondi ~oes ini iais homogêneas, e s~ao portanto de fato pequenas (no sentido de serem muito menores que 1) para
tempos su ientemente urtos. Alem disso, a ontribui ~ao de ordem k e alimentada apenas
pela ontribui ~ao de ordem k 1, de modo que ontribui ~oes de ordem mais alta tendem a ser
pequenas por tempos mais longos que as de ordem mais baixa. Uma ondi ~ao ne essaria para
a validade de uma orre ~ao perturbativa num tempo T e a de que para qualquer t < T se tenha
ja(nk)(t)j2 1; k 1:
(4.30)
A rela ~ao estreita entre as equa ~oes a opladas (4.22) e a des ri ~ao de intera ~ao apontada a ima pode ser usada para estabele er a hierarquiza a~o em potên ias de de outro
modo. Es revendo a solu ~ao da equa ~ao de movimento (4.23), om a ondi ~ao ini ial
pres rita, sob a forma
j'I (t)i = UI (t; 0)j'I (t = 0)i = UI (t; 0)j'0 i;
(4.31)
o operador de evolu a~o da des ri ~ao de intera ~ao UI (t; 0) e determinado pela equa ~ao
diferen ial
dU (t; 0)
H1I (t)UI (t; 0) = ih I
dt
om a ondi ~ao ini ial UI (t = 0; 0) = 1^. Integrando os dois membros dessa equa ~ao
diferen ial e in orporando a ondi ~ao ini ial que deve ser satisfeita por UI (t; 0), ela se
transforma na equa ~ao integral
Z t
1
^
UI (t; 0) = 1 +
dt0 H1I (t0 )UI (t0 ; 0)
(4.32)
ih 0
que pode ser tratada re ursivamente levando a hamada serie de Dyson
UI (t; 0) = ^1
Z t
+ i1h 0 dt1H1I (t1) +
Z t
Z t1
+ (ih1)2 0 dt1H1I (t1 ) 0 dt2H1I (t2 ) +
Z t1
Z t2
Z t
1
+ (ih)3 0 dt1H1I (t1 ) 0 dt2H1I (t2 ) 0 dt3 H1I (t3) +
::: :
196
(4.33)
Usando agora a rela a~o (4.31) juntamente om esta expans~ao do operador de evolu ~ao, o
vetor de estado j'I (t)i apare e es rito sob a forma de uma serie que, omo pode ser fa ilmente veri ado introduzindo expli itamente a representa ~ao em termos dos autovetores
de H0 om o uso da resolu ~ao da unidade
^1 = X jn ihn j;
n
oin ide om a expans~ao (4.26). E laro que a passagem da equa ~ao (4.32) a equa ~ao
(4.33) e suas onsequên ias envolve quest~oes n~ao triviais de onvergên ia, omo a onte e
tambem quando as equa o~es a opladas (4.22) s~ao tratadas em termos da expans~ao (4.26).
1. Os ilador sujeito a uma for a externa onstante. O problema soluvel do os ilador harmôni o for ado tratado na se ~ao 3.1.2 pode ser util para ilustrar o uso da expans~ao
perturbativa para problemas de ondi ~ao ini ial. Tomando o termo do Hamiltoniano (3.2) orrespondente a for a externa omo perturba ~ao, e supondo ini ialmente, para maior simpli idade,
que essa for a externa seja onstante, isto e
1
H0 = h !0 (ay a + ); H1 = F0 (ay + a);
2
as ontribui ~oes perturbativas de primeira e segunda ordens para o vetor de estado dependente
do tempo s~ao fa ilmente obtidas das express~oes (4.27) e (4.29), tomando omo ondi ~ao ini ial
o estado fundamental j = 0i de H0 . Essa ondi ~ao ini ial orresponde a = 0 , e as
ontribui ~oes perturbativas podem ser al uladas sem di uldade dando
a(1)
(t)
F0 Z t 0 i!0 t0 F0 i!0 t
=
dt 1 e =
e
ih 0
h !0
1 1
a(2)
(t)

F0 2 Z t Z t1 p i!0 t1
dt1 dt2 2 2e
+ 0 ei!0 t1 ei!0 t2
ih
0
0
"
F2
= 2 0 2 p 2 ei!0 t
h !0 2
2
1 + 0 i!0 t + e
i!0 t
#

onde os deltas de Krone ker provem dos elementos de matriz de H1 , que s~ao diferentes de zero
apenas para autovetores de H0 ujas energias diram por h !0 . A aproxima ~ao perturbativa
ate segunda ordem para o vetor de estado dependente do tempo e portanto
197
jti '
(1)
(2)
(1 + a(2)
0 )j0i + a1 j1i + a2 j2i =
"
#

F02
1 + 2 2 i!0 t + e i!0 t
h !0
F
1 j0i + 0 ei!0 t
h !0
j1i + p F02
2h !02
ei!0 t
2
j 2i:
No aso da ontribui ~ao de primeira ordem para a omponente de jti que e propor ional ao
autovetor n~ao perturbado j1i a restri ~ao (4.30) assume a forma
2
F02
(1 os !0 t) 1:
h 2 !02
Para 1=!0 t o lado esquerdo dessa desigualdade se omporta omo F02 t2 =h 2 , o que orresponde
a limita ~ao t h =jF0 j. Essa limita ~ao prevale e sobre a suposi ~ao de que t 1=!0 quando
jF0j > h !0. Se, por outro lado, jF0 j h !0, o uso de (4.30) para o termo de primeira ordem
n~ao leva a qualquer ondi ~ao sobre t, devido ao arater limitado de os !0 t.
Uma dis uss~ao inteiramente analoga se apli a tambem a ontribui ~ao de segunda ordem
(2)
a2 (t). O mesmo n~ao a onte e, no entanto, om rela ~ao a a(2)
a o orrên ia de um
0 (t), devido
termo linear em t nessa amplitude. Nesse aso a ondi ~ao (4.30) da
4
F0
2
ja(2)
0 (t)j = 4 4 i!0 t + e
h !
i!0 t
1:
Para t 1=!0 essa quantidade se omporta omo F04 t4 =4h4 , mas para tempos maiores a
ontribui ~ao que se torna dominante e do tipo F04 t2 =h 4 !02 , que restringe t mesmo para valores
pequenos de F0 .
Esses resultados podem ser omparados om a solu ~ao exata obtida na se ~ao 3.1.2. Em
termos da des ri ~ao de S hrodinger, o vetor de estado dependente do tempo jti foi identi ado
ali omo sendo um estado oerente que, para a ondi ~ao ini ial e para a for a externa onstante
que foram onsideradas no tratamento perturbativo, e dado por
jti = jz(t)i = e
jz (t)j2
2
z (t)
p j i
!
om
e portanto
iF0 i!0 t Z t 0 i!0 t0 iF0 i!0 t ei!0 t 1

z (t) = e
dt e = e
h
h
i!0
0
198
(4.34)
jz(t)j2 = F02
(1 os !0 t):
h 2 !02
No tratamento dado na se ~ao 3.1.2, essa identi a ~ao se baseou na observa ~ao de que o vetor de
estado no tempo t e um autovetor do operador a om autovalor z (t), que no entanto determina
jti a menos de um fator de fase que pode depender do tempo. Para ns da ompara ~ao a ser
feita aqui e importante determinar expli itamente esse fator resolvendo a equa ~ao de movimento
djti
ih
= (H0 + H1 )jti
dt
om a ondi ~ao ini ial jt = 0i = j0i. Isso pode ser feito es revendo a solu ~ao sob a forma
2
zp(t)
j i; om N (t = 0) = 1; z(t = 0) = 0:
(4.35)
j ti = N ( t)
!

A substitui ~ao dessa express~ao na equa ~ao de movimento da equa ~oes para z (t) e A(t) que
podem ser resolvidas dando respe tivamente o resultado anterior (4.34) e
X
N (t) = exp
!t
F2
i 0 + i 2 0 2 [!0 t
2
h !0
sen !0 t
jz(t)j2 :
2
Alguns passos na obten ~ao da solu ~ao exata da equa ~ao de movimento por meio do \ansatz" (4.35) podem ser uteis. A substitui ~ao na equa a~o de movimento da, usando o fato
de que ajti = z(t)jti,
N_ (t)
jti
N (t)
( 1)
X
+ ih z_ (t)N (t) pz((t) 1)! p j i =

h !0
= 2 jti + h!0z(t)ayjti F0 z(t)ay jti + z(t)jti :
A soma que apare e no segundo termo om o respe tivo fator N (t) pode ser fa ilmente
identi ada omo ayjti. Usando o fato de que esse vetor e o vetor jti s~ao linearmente
independentes, para que essa equa ~ao seja satisfeita e pre iso que
N_ (t) h !0
= 2 F0 z(t) e ihz_ (t) = h!0z(t) F0 :
ih
N (t)
Esta ultima equa a~o pode ser integrada om a ondi a~o ini ial z(t = 0) = 0 reproduzindo
o resultado (4.34) para z(t), enquanto a equa ~ao que envolve N_ (t) om a ondi ~ao ini ial
N (t = 0) = 1 da
ih
199
N (t) = exp
!0 t
F0 Z t 0 0
+ i h 0 dt z(t )
2
que, om o resultado obtido para z(t), leva a express~ao dada para N (t).
A forma exata dos oe ientes de expans~ao do vetor de estado jti na base dos autovetores j i
de H0 e portanto
jti =
A (t)j i =
a (t)e
i( + 12 )!0 t
j i; A (t) = N (t) zp(t) ; a (t) = ei(+ 12 )!0 tA (t)

!
de modo que
0
a0 (t) = ei 2 N (t) ;
! t

!0 t
F
e
a1 (t) = ei 2 N (t) 0 ei!0 t 1
h !0
2
!0 t
F2
a2 (t) = ei 2 N (t) p 02 2 ei!0 t 1 :
2h !0
(2)
Os oe ientes perturbativos a(1)
1 (t) e a2 (t) oin idem om a1 (t) e a2 (t) expandidos respe tivamente ate primeira e segunda ordem, o que impli a apenas em ignorar termos dependentes de
F02 provenientes da expans~ao da gaussiana de normaliza ~ao exp( jz (t)j2 =2). Em parti ular, a
ausên ia de restri ~oes sobre t no aso em que F02 h 2 ! 2 pode ser re onhe ida omo proveniente
de que a amplitude de os ila ~ao da solu ~ao exata dada pelo estado oerente jz (t)i e nesse aso
su ientemente pequena. A expans~ao ate segunda ordem de a0 (t) da, por outro lado
F04
F02
a0 (t) = 1 + 2 2 (i!0 t + os !0 t i sen !0 t 1) + O 4 4
h !0
h !0
que tambem oin ide om o resultado perturbativo ate segunda ordem

(2)
a(0)
0 + a0 (t) = 1 +
F02
i! t + e i!0 t
h 2 !02 0
1 :
Vale a pena notar que os termos imaginarios, e em parti ular o termo linear em t, provem da
expans~ao do fator de fase da solu ~ao exata, ontido em N (t).
200
2. Os ilador sujeito a uma fôr a externa harmôni a. Um aso relevante de pertur-
ba ~ao expli itamente dependente do tempo que pode ser tratado no mesmo ontexto do aso
anterior e o da for a externa om dependên ia temporal harmôni a

H1 (t) = 2f0 os !t ay + a ;
uja frequên ia difere da frequên ia !0 do os ilador por uma dessintonia , ! = !0 +. Tomando novamente o estado fundamental j0i de H0 omo ondi ~ao ini ial, a orre ~ao perturbativa
de ordem mais baixa popula apenas o primeiro estado ex itado atraves da amplitude
!
Z t
f
ei(!0 !)t 1 ei(!0 +!)t 1
2f
0
:
+
= 0 1 dt0 ei!0 t os !t = 0 1
ih
h
!0 !
!0 + !
0
Os termos que ontem !0 ! = e !0 + ! nos denominadores s~ao usualmente hamados
2
respe tivamente termo ressonante e termo anti-ressonante, e a probabilidade ja(1)
em
1 (t)j ont
efeitos de interferên ia entre esses dois termos. A amplitude do termo ressonante domina no
aso em que a dessintonia e pequena na es ala de !0 , e no limite em que ! 0 deixa de
ter omportamento os ilatorio, adquirindo uma dependên ia linear om o tempo. A ondi ~ao
2
(4.30) apli ada a ja(1)
1 (t)j pode ser es rita em geral sob a forma
2

!0 i(2!0 +)t 2
2 = f0 !0 e it 1 +
ja(1)
(
t
)
j
e
1 1:
1
2!0 +
h 2 !02
Essa ondi ~ao n~ao traz nenhuma limita ~ao para t quando a raz~ao (f0 =h )2 for su ientemente
pequena. No aso em que = 0 ela da t h =f0 , supondo que f0 =!0 e onsequentemente as ontribui ~oes envolvendo o termo anti-ressonante sejam su ientemente pequenos e n~ao
pre isem ser levados em onta nesta estimativa.
A solu ~ao exata da equa ~ao de movimento om a ondi ~ao ini ial adotada tem novamente a
forma (4.35) de um estado oerente normalizado e om fatores de fase apropriados. A amplitude
z (t) e dada por
a(1)
(t)
ei(!0 !)t 1 ei(!0 +!)t 1

f
+
z (t) = 0 e i!0 t
h
!0 !
!0 + !
enquanto o fator de normaliza ~ao om a fase apropriada e
!
! 0 t 2f 0 Z t 0
0
0
dt os !t z (t ) :
i
N (t) = exp i
2
h 0
A dependên ia desse fator om f0 e pelo menos de segunda ordem devido a presen a de z (t0 )
no integrando. A expans~ao ate primeira ordem em f0 do resultado exato reproduz o resultado
do al ulo perturbativo de primeira ordem.
201
4.1.4 Transi ~oes num espe tro ontnuo ou quase- ontnuo:

a \regra aurea" de Fermi.
Uma espe ializa ~ao importante do tratamento perturbativo do problema de ondi ~oes ini iais
onsiste no al ulo da probabilidade de transi ~ao, induzida por uma perturba ~ao independente
do tempo, de um estado esta ionario n~ao perturbado ini ial para estados esta ionarios nais,
tambem n~ao perturbados, que fazem parte de um espe tro ontnuo ou "quase- ontnuo", no
sentido que a separa ~ao entre diferentes estados nais e pequena na es ala h = , sendo a
es ala de tempo em que se da a transi ~ao. A express~ao para essa probabilidade e a soma das
probabilidades de transi ~ao para ada um dos nveis do onjunto relevante de estados nais
ff g, que em primeira ordem de teoria de perturba ~oes pode ser es rita, usando a express~ao
(4.27), omo

4 sen2 !ji2 t
1
2
Pi!ff g = 2
jhj jH1jiij
:
!ji2
h j ff g
X
(4.36)
Essa express~ao mostra que a ontribui ~ao de ada estado nal j depende de dois fatores, que
s~ao respe tivamente o modulo quadrado do elemento de matriz que o a opla ao estado ini ial
atraves da perturba ~ao H1 e a fun ~ao dependente do tempo

4 sen2 !t2
(4.37)
f (!; t) =
!2
om ! ! !ji , que e a frequên ia de Bohr asso iada a diferen a de energia entre os estados
esta ionarios ini ial e nal. Essa fun ~ao ontem, atraves das frequên ias de Bohr, toda a
dependên ia da energia dos estados esta ionarios n~ao perturbados que apare e na probabilidade
de transi ~ao, e uma primeira observa ~ao que pode ser feita om rela ~ao a ela e a de que
para tempos urtos, no sentido que !ji t 1, ela se torna de fato independente de !ji. Em
outras palavras, para tais tempos a probabilidade de transi ~ao se torna independente da energia
dos estados n~ao perturbados envolvidos na transi ~ao. Isso pode ser interpretado em termos
da rela ~ao de in erteza energia-tempo, no sentido de que pro essos sensveis a diferen as de
energia da ordem de jEj Ei j s~ao ne essariamente asso iados a es alas de tempo maiores que
h =jEj Ei j = 1=j!jij.2
A validade da express~ao perturbativa (4.36) e limitada pela ondi ~ao de que Pi!ff g 1,
ujo umprimento depende portanto tambem de dois ingredientes distintos. Por um lado essa
ondi ~ao e satisfeita, para tempos su ientemente urtos, independentemente do valor dos
elementos de matriz que a oplam o estado ini ial aos estados nais. Por outro lado, ela pode
2
f. Problema 3.9.
202
Figura 4.1: Gra o da fun ~ao adimensional F (!t) f (!; t)=t2 omo fun ~ao de
!t. Quando f (!; t) e vista omo fun ~ao
de ! om t omo parâmentro, o valor de
f (0; t) depende de t omo t2 , e os zeros
mais proximos de ! = 0 apare em em
! = 2=t.
F(t)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
20
15
10
10
15
20
estar satisfeita tambem para tempos muito maiores que 2=j!jij, desde que os respe tivos
elementos de matriz de a oplamento sejam su ientemente pequenos. Neste ultimo aso se
torna relevante examinar o omportamento de f (!; t) omo fun ~ao de ! , para um valor xo
de t. Essa fun ~ao assume o valor maximo t2 para ! = 0, se anula para ! = 2n=t; n =
1; 2; ::: e tem maximos se undarios entre zeros onse utivos, ujo valor de res e omo 1=! 2.
Esse omportamento pode ser obtido a partir da gura 4.1, que mostra o gra o da fun ~ao
adimensional

2 !t
4
sen
f (!; t)
2
F (!t) = 2 =
:
2
2
t
!t
Portanto, se (4.36) permane e valida para tempos su ientemente longos, as ontribui ~oes
relevantes para a probabilidade de transi ~ao total s~ao dominadas por transi ~oes que alimentam
estados nais tais que j!jij < 2=t. Nesse intervalo, de fato, o fator (4.37) tem um pi o
pronun iado uja integral om rela ~ao a ! pode ser estimada omo 2t2 =t = 2t. Para um
espe tro de estados nais nessa regi~ao om uma densidade de dn=dE nveis por unidade de
energia, a rela ~ao (4.36) pode ser rees rita omo
!
!
dn
2
1 Z
dn
2
jhj jH1jiij f (!ji; t) = h jhj jH1jiij2 dE t
Pi!ff g ! 2 d!jih
dE Ei
h
Ei
onde a soma sobre estados foi substituda por uma integral em !ji e o valor medio do quadrado
do elemento de matriz de a oplamento entre estados ini iais e nais foi extrado da integral.
Esse resultado e usualmente expresso em termos de uma probabilidade de transi ~ao por unidade
de tempo dada por
1 2
= jhj jH1 jiij2

h
203
dn
dE
Ei
(4.38)

que e uma das formas da Regra Aurea
de Fermi. Essa express~ao e valida para tempos urtos
no sentido que W t 1. Esses tempos devem no entanto ser longos no sentido diferente de
que as ontribui ~oes para W provenham de uma faixa estreita de energia em torno da energia
Ei do estado ini ial devido as restri ~oes impostas por f (!; t). A rela ~ao de in erteza energiatempo permite estimar a largura dessa faixa omo sendo da ordem de h =t h =W , que deve
no entanto ser maior que a separa ~ao em energia dos estados nais envolvidos na transi ~ao,
dE=dn. E nesse sentido que os estados nais devem perten er a um espe tro \quase ontnuo".
Em diversas apli a ~oes da regra aurea o espe tro de estados nais n~ao perturbados e n~ao so
denso, mas tambem fortemente degenerado, e os elementos de matriz envolvidos na transi ~ao
dependem muito fra amente da energia na es ala h =W . Um aso simples mas tpi o em que
isso a onte e e o do tratamento perturbativo do espalhamento de um feixe de part ulas por um
poten ial, no qual o Hamiltoniano n~ao perturbado e o Hamiltoniano livre H0 = ~p 2 =2M . Nesse
aso a degeneres ên ia orresponde as diferentes dire ~oes do momento para um determinado
valor da energia, e uma forma onveniente de es rever a (4.38) e ignorar a dependên ia dos
elementos de matriz om a energia na faixa em que f (!; t) e importante e tomar para esta
fun ~ao o limite formal t ! 1 que da f (!; t) ! 2h t (Ej Ei ), onde esta ultima fun ~ao e uma
fun ~ao delta de Dira . O que se obtem desse modo e a express~ao alternativa
1 = 2h
j ff g
jhj jH1jiij2 (Ej Ei)
(4.39)
ujo uso e ilustrado nos exemplos abaixo.
A regra aurea (4.38) e (4.39) foi obtida a partir da express~ao perturbativa de primeira
ordem para Pi!ff g , equa a~o (4.36). Existem asos, no entanto, em que os elementos
de matriz de transi a~o hj jH1 jii se anulam para todos os estados nais dentro da faixa
relevante de energia, embora sendo diferentes de zero para estados om energia diferente
da energia ini ial Ei. Quando estes ultimos, por sua vez, se one tam om estados nais
om energia proxima a do estado ini ial, a transi ~ao pode o orrer em duas etapas, do
estado ini ial para os estados distantes em energia e da para os estados nais de energia
proxima a do estado ini ial (v. gura 4.2). Nesse aso e ne essario usar a segunda ordem
de teoria de perturba ~oes. A express~ao (4.29) para os oe ientes de segunda ordem da
!
X hj jH1 jk ihk jH1 jii ei!ji t
ei!jk t 1
1
1
(2)
:
aj (t) = 2
!ki
!ji
!jk
h k
De forma analoga ao que a onte e no al ulo de primeira ordem, os fatores
ei!t 1
!
204
|k
E
Figura 4.2: Situa ~ao em que transi ~oes entre jii e fjj ig s~ao \proibidas" em primeira
ordem mas permitidas em segunda ordem,
atraves de pro essos em duas etapas que
passam por estados intermediarios fjkig.
A energia e representada no diagrama omo res endo verti almente, de baixo para
ima.
j |H 1 | k
k |H 1 | i
|j
|i
X
so d~ao ontribui ~oes importantes (para t su ientemente grande na es ala 1=!) para !
su ientemente proximo de zero. Desse modo, o segundo termo entre parênteses sele iona
estados k om energia proxima a de j , para os quais o elemento de matriz hkjH1 jii,
que apare e omo fator, supostamente se anula. Nessas ondi ~oes, portanto, apenas o
primeiro termo entre parênteses ontribui para a transi ~ao de i para j , e a probabilidade
de transi ~ao no tempo t e dada por

X hj jH jk ihk jH jii 2
1
1
1

(2)
jaj (t)j2 = h 2
f (!ji ; t)

h !ki
k
que tem a mesma estrutura que ada um dos termos da (4.36), om a substitui ~ao
jhj jH1 jiij2 !
hj jH1 jkihkjH1 jii 2 :

h !ki
Dessa forma, nas mesmas ondi o~es em que foram obtidas as express~oes (4.38) e (4.39) se
obtem agora express~oes orrespondentes de segunda ordem om essa mesma substitui ~ao.
A express~ao (4.39), por exemplo, a substituda por

2
1
2
X X hj jH1 jkihkjH1 jii
(2)
W =
Ei ):
(4.40)

(Ej

h j ff g k
h !ki
No aso em que os elementos de matriz que ontribuem em primeira ordem n~ao se
anulam, essa express~ao tem uma singularidade em !ki = 0, ou seja para Ek = Ei. Ao
mesmo tempo, a ontribui ~ao envolvendo !jk da amplitude de segunda ordem n~ao se anula
e e tambem singular em !jk = 0. E possvel mostrar3 que o tratamento apropriado dessas
singularidades leva a express~ao
v. R. P. Feynman e A. R. Hibbs, Quantum Me hani s and Path Integrals, M Graw-Hill, 1965, Se a~o 6-5,
pag. 154.
3
205
W (2)
2
X hj jH1 jk ihk jH1 jii
X
1 = 2h
h j jH1 jii + lim
(Ej

!
0
h

!
i
ki
k
j ff g
Ei )
(4.41)
que in lui ontribui ~oes de primeira e de segunda ordem. Como pode ser notado, as
express~oes (4.40) e (4.41) têm ainda a mesma estrutura que a vers~ao de primeira ordem
da regra aurea de Fermi. A in lus~ao dos efeitos de segunda ordem apenas modi a a
express~ao para a amplitude de transi a~o.
1. Tratamento perturbativo do espalhamento por um poten ial externo (aproxima ~ao de Born). A a ~ao de um poten ial externo sôbre uma part ula ujo momento ini ial
e su ientemente grande para que essa a ~ao possa ser bem representada em primeira ordem de
teoria de perturba ~oes e uma apli a ~ao ao mesmo tempo simples e importante da regra aurea
de Fermi. Essa aproxima ~ao para o problema de espalhamento e onhe ida omo aproxima ~ao
de Born. O Hamiltoniano n~ao perturbado e o Hamiltoniano livre, e o termo perturbativo e o
poten ial externo que age sobre a part ula de massa m
p2
; H1 = V (~q)
2m
de modo que os estados n~ao perturbados s~ao ondas planas que sera onveniente tratar em termos
de ondi ~oes de ontorno periodi as num volume de quantiza ~ao L3 . Desse modo o espe tro do
momento e dis reto e as autofun ~oes de onda simultâneas de p~ e de H0 s~ao
H0 =
1
~k (~r) = p 3 ei~k~r
L
om autovalores h~k e h 2 k2 =2m respe tivamente.
Supondo que o estado ini ial da part ula seja o estado de momento h~k0 , os elementos de
matriz de transi ~ao para estados nais de momento h~k s~ao
Z
h~kjH1j~k0i = L13 d3r ei(~k0
~k)~r
V (~r) =
(2 )3=2 ~ ~ ~
V (k0 k)
L3
onde V~ (~k) e a transformada de Fourier do poten ial, denida omo
V~ (~k) =
1 Z 3 i~k~r
d r e V (~r):
(2 )3=2
206
A probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo do estado ini ial ~k0 para estados nais ~k e
ent~ao dada pela forma (4.39) da regra aurea omo
2 X (2 )3 ~ ~ ~ 2 h 2 k2
W~k0 !f~kg =
jV (k0 k)j 2m
h ~k L6
h 2 k02
:
2m
A soma sobre os estados nais pode ser transformada numa integral da forma usual, isto e,
usando
X
~k
L3 Z 3
dk
(2 )3
e a forma mais onveniente de tratar a integral e usando oordenadas esferi as no espa o de

momento. O que se obtem desse modo e
Z 1
2 1 Z
h 2 k2
2
2
~
~
~
W~k0 !f~kg =
d
k^
dk k jV (k0 k )j
h L3
2m
0
h 2 k02
2m
onde d
k^ e a integral sôbre os ângulos que denem a dire ~ao do momento nal. Essa express~ao
pode ser rees rita omo
W~k0 !f~kg =
d
k^
dW
d
k^
onde
dW 2 1 Z 1
2 k2
2 jV~ (~k
2 h
~
=
dk
k
k
)
j
0
d
k^ h L3 0
2m
h 2 k02
2m
da a distribui a~o angular da probabilidade de transi ~ao total W . Esta ultima integral pode
ser feita fa ilmente usando a fun ~ao delta de Dira . Para isso e importante que a variavel de
integra ~ao seja a variavel que apare e omo argumento nessa fun ~ao, o que e onseguido nesse
aso fazendo a transforma ~ao
dk
k2
h 2 k2 2m k
=d
2m h 2 2
que leva ao resultado
dW 2m ~ ~ ~ 2
k jV (k0 k)j~k=k0 k^
=
d
k^ h 3 L3 0
207
onde k0 k^ e um vetor de modulo k0 na dire ~ao k^. Essa express~ao ontem ainda o volume
de quantiza ~ao L3 , o que provem de que as ondas planas utilizadas foram normalizadas nesse
volume, e onsequentemente a orrente de part ulas in identes no poten ial depende do volume
de quantiza ~ao. Essa dependên ia e no entanto eliminada pela onsidera ~ao, em lugar de
dW=d
k^ , da probabilidade de transi ~ao por unidade de uxo in idente, o que orresponde a
se ~ao de hoque diferen ial d=d
k^ . De fato, o uxo in idente asso iado a onda plana de
momento ~k0 e o modulo da densidade de orrente de probabilidade dado pela equa ~ao (3.18),
que e h k0 =mL3 . Portanto
d=d
k^ =
2m2 ~ ~ ~ 2
jV (k0 k)j~k=k0k^ :
h 4
A onserva ~ao de energia impli a que o modulo do momento nal ~k seja igual ao do momento
ini ial ~k0 , e a dependên ia da se ~ao de hoque diferen ial om o ângulo entre esses dois vetores
provem da transformada de Fourier do poten ial responsavel pelo espalhamento.
Considerando, por exemplo, o poten ial oulombiano blindado (repulsivo ou atrativo) entre
uma arga eletri a e e outra, positiva, Ze
Ze2 r
e ;
r
onde e um \parâmentro de blindagem" que podera ser feito nulo no nal do al ulo ( f.
problema 4.8), e fa il obter a transformada de Fourier requerida para o al ulo da se ~ao de
hoque na aproxima ~ao de Born
V (~r) =
2 Ze2
Ze2 Z 3 i~k~r e r
~
~
d
re
=

:
V (k ) =
(2 )3=2
r
k2 + 2
Usando esse resultado, a se ~ao de hoque diferen ial adquire a forma
4m2 Z 2 e4
d=d
k^ =
h 4
(~k0
1
k0 k^)2 + 2
!2
que pode ainda ser modi ada de modo a expli itar a dependên ia om o ângulo de de ex~ao
sofrido pela part ula, que e na realidade o ângulo entre o momento ini ial ~k0 e o momento
nal k0 k^. Para isso basta al ular

(~k0 k0 k^)2 = 2k02 2k02 os = 4k02 sen2
2
que leva nalmente a
208
Z 2 me2
d=d
k^ =
4 h 2 k02
!2 0
12
1

A :

2
sen 2 + 4k202
No limite ! 0 essa express~ao se reduz a se ~ao de hoque de Rutherford.
2. De aimento dos pions arregados. Os pions arregados, + e , s~ao part ulas de

massa m = 139.6 MeV uja vida media e = 2.5510 8 segundos. O modo predominante de
de aimento (preferido em 99.99% dos asos) leva a estados nais ontendo um muon (+ e
respe tivamente, om massa m = 105.66 MeV) e um neutrino ( om massa zero)

! + :
Supondo que esse de aimento seja produzido por um termo de intera ~ao H1 que, num tratamento perturbativo, a opla estados ini iais jii ontendo apenas um pion livre a estados nais
jf i ontendo um muon e um neutrino tambem livres, e possvel es rever a taxa de de aimento
do pion, fazendo uso mais uma vez da regra aurea es rita sob a forma (4.39), omo
2 X
W=
jhf jH1jiij2(Ei Ef ):
h f
Os elementos de matriz que apare em nessa express~ao s~ao objetos que devem ter a forma geral
!
1 3 Z 3 i(~k +~k )~r

p
dre
h; jh1ji ei~k ~r = p1 3 h; jh1ji p~+p~ ;~p
hf jH1jii =
3
L
L
onde as ondas planas des revem os estados n~ao perturbados ini ial e nal, que dependem dos
momentos p~ = h~k de ada uma das part ulas envolvidas na transi ~ao e o elemento de matriz
h; jh1ji representa a parte de H1 responsavel pela onvers~ao do pion, que foi es rito omo
independente da posi ~ao em que esta o orre, onsistentemente om a onserva ~ao do momento
total, que de fato apare e expli itamente no delta de Krone ker resultante da integra ~ao sobre
~r. Substituindo essa express~ao em W , e supondo que h; jh1j i n~ao dependa dos momentos
envolvidos na transi ~ao, resulta
W=
q
2 1
2 X
jh
;

j
h
j

ij
(
m2 4 + p2 2
1
p
~
+
p
~
;~
p

h L3
p~ ;~p
m2 4 + p2 2
p )
(4.42)
onde foram utilizadas as express~oes relativsti as apropriadas para as energias ini ial e nal.
Esta ultima express~ao da a taxa de transi ~ao em termos de um fator dinâmi o, que envolve
209
o elemento de matriz responsavel pela onvers~ao do pion, e um segundo fator, orrespondente

a soma sobre ~p e p~ , que e essen ialmente uma ontagem dos estados nais ompatveis om
a onserva ~ao de momento e de energia, hamado fator de espa o de fase. Essa fatora ~ao da
taxa de transi ~ao depende essen ialmente da suposi ~ao feita de que o elemento de matriz de
transi ~ao n~ao depende (ou pelo menos n~ao depende apre iavelmente) dos momentos, pois uma
tal dependên ia n~ao permitiria que o elemento de matriz fosse extrado da soma.
Para al ular o fator de espa o de fase, o pro edimento padr~ao onsiste primeiramente em
usar a onserva ~ao de momento para eliminar um dos momentos nais, e em seguida transformar
a soma remanes ente em uma integral, que pode ser feita fa ilmente usando a fun ~ao delta de
Dira orrespondente a onserva ~ao de energia. Tomando o momento ini ial do pion omo
igual a zero (isto e, supondo que o \pion de ai em repouso"), a primeira dessas opera ~oes da
p~ = p~ p~ de modo que a soma se reduz a
X
p~
( m
m2 4
L3 Z d3 p
p ) !
(m 2
3
3
(2 )
h
+ p2 2
m2 4 + p2 2
p ):
Como o integrando n~ao depende dos ângulos de p~ (signi ando que, om as hipoteses feitas, o
de aimento deve ser isotropi o), a integra ~ao angular da simplesmente um fator 4 , om o que
a express~ao para o fator de espa o de fases a reduzido a integral simples
L3 4 Z 1
dp p2 (m 2
(2 )3 h 3 0
p )
m2 4 + p2 2
L3 4 Z 1
dp p2 (A(p))
(2 )3 h 3 0
que pode ser feita atraves de uma mudan a de variavel em que a nova variavel de integra ~ao
seja o argumento da fun ~ao delta de Dira , isto e
Z
dp
p2 (A(p))

dp 2
2 dp
p (A(p)) = p
dA(p)
dA(p)
dA(p)
A(p)=0
Levando nalmente esses resultados a rela ~ao (4.42) resulta

jh; jh1jij2 p2 dp
W=
dA(p)
h 4
A(p)=0
que e independente do volume de quantiza ~ao L3 . O ultimo fator pode ser al ulado fa ilmente,
pois
dp
dA(p)
=
dA(p)
dp
! 1
q
1 1
m2 4 + p2 2
;
E
=

1 + Ep
210
o que permite es rever a taxa de transi ~ao omo
W=
jh; jh1jij
h 4
p2
1 + Ep
1
A
E +p =m 2
(4.43)
Essa express~ao pode ser utilizada para extrair um valor para o modulo quadrado do elemento
de matriz responsavel pela onvers~ao do pion a partir do valor observado de sua vida media,
fazendo W = 1= . Um modo onveniente de exprimir o resultado e es rever esse objeto omo
o produto de um fator dimensional, expresso em unidades onvenientes, por um fator numeri o
ajustado para reproduzir o valor observado de . De fato, as dimens~oes de jh; jh1 j ij2 devem
ser, para que W seja o inverso de um tempo,
h
jh; jh1jij2
= M 2 L7 T
onde M , L e T indi am unidades de massa, omprimento e tempo respe tivamente. Um sistema

onveniente de unidades e aquele em que massas s~ao medidas em unidades de m , omprimentos
em unidades de h =m ( hamado o omprimento de onda Compton do pion) e tempos em
unidades de h =m 2 . Em termos dessas unidades o fator dimensional requerido se es reve
portanto omo
M 2 L7 T 4
m2
h 7 m4 8 h 3
=
m7 7 h 4
m
e portanto
3
jh; jh1jij2 mh g2

que, om os valores observados, da g 2 10 15 .

O modo de de aimento alternativo, es olhido pelo pion em apenas 0.01% dos asos, tem um
ele tron (ou positron) e um neutrino no estado nal

! e +
que, supondo que fosse produzido por um elemento de matriz omparavel ao que produz o
de aimento muoni o, deveria na realidade ser fortemente favore ido pelo fator de espa o de fase,
pois a massa muito menor do ele tron (me = 0.511 MeV) impli a num numero muito maior de
estados nais ompatveis om a onserva ~ao de energia e de momento. O fato experimental
de que o de aimento muoni o e na realidade o modo favore ido sugere a interven ~ao de um
me anismo dinâmi o que inibe o de aimento para ele tron e neutrino. Esse me anismo esta
211
de fato ligado a n~ao onserva ~ao da paridade nas intera ~oes responsaveis por esses pro essos,
asso iado a onserva ~ao do momento angular, tendo em onta os momentos angulares intrnse os
das part ulas nais e o momento angular intrnse o nulo do pion4 .
4.2
Formula
~
ao varia ional do problema de autovalores
para espe tros dis retos.
Uma variavel dinâmi a g dene, atraves da rela ~ao
G [j'i =
h'j g j 'i ;
h'j 'i
um fun ional real G de vetores de estado j'i, o que signi a que G assume um valor real para
ada vetor j'i do espa o de Hilbert. Como mostrado no in io deste aptulo, os valores
assumidos por esse fun ional s~ao limitados inferiormente pelo menor autovalor da variavel
dinâmi a g . No aso em que o espe tro de g seja pelo menos par ialmente dis reto, isto
e, no aso em que g tenha autovetores de norma nita, e possvel mostrar ainda que a) o
fun ional G e esta ionario para varia ~oes arbitrarias de j'i quando esse vetor e um autovetor
de g e re ipro amente; e ainda que b) o autovalor de g orrespondente a esse autovetor e o
valor esta ionario do fun ional G. Uma varia ~ao arbitraria de j'i signi a simplesmente a
substitui ~ao
j 'i ! j 'i + j i
onde j i e um vetor arbitrario do espa o de Hilbert om norma muito pequena em termos da
norma de j'i, isto e
q
hji h'j'i:
Como se vera em seguida, o proposito desta restri ~ao e permitir que, no al ulo da varia ~ao
do valor do fun ional, termos de segunda ordem na norma de j i, omo por exemplo os que
envolvem h j i, possam ser ignorados frente a termos de primeira ordem, omo os que envolvem
h'j i.
A varia ~ao G do fun ional orrespondente a uma tal varia ~ao de j'i pode ser al ulada
omo sendo
v. F. Halzen e A. D. Martin, Quarks and Leptons: An Introdu tory Course in Modern Parti le Physi s,
John Wiley & Sons, 1984, pag. 264.
4
212
G = G [j'i + j i G [j'i
=
hjgj'i + h'jgji G [j'i hj'i + h'ji

h'j 'i h'j 'i
h'j 'i h'j 'i
+ O j i2

1
(h j(g G [j'i)j'i + h'j(g G [j i)j'i) + O j i2 :
h'j 'i
A esta ionaridade de G signi a que a varia ~ao de primeira ordem G deve se anular para
qualquer j i de norma innitesimal, isto e
hj(g G [j'i)j'i + h'j(g G [ji)j'i = 0:
A arbitrariedade de j i permite, em parti ular, fazer a substitui ~ao j i

rela ~ao, o que leva a
(4.44)
ij i nessa ultima
hj(g G [j'i)j'i + h'j(g G [ji)j'i = 0

mostrando que na realidade os dois termos devem se anular independentemente. Da arbitrariedade de j i resulta ent~ao
h'j(g G [ji = 0
o que mostra que j'i e autovetor de g om autovalor G [j'i. Re ipro amente, se
g j 'i = j 'i;
segue imediatamente, para qualquer j i, que
h j ( g ) j 'i = h'j ( g ) j i = 0:
E tambem trivial veri ar que, nesse aso, G [j'i = , de modo que G = O (j i2 ), isto e, G e
esta ionario em j'i.
E importante notar que a substitui a~o ji ! iji, que permite on luir que os dois
termos de (4.44) devem se anular independentemente, de orre do fato de que o espa o de
vetores de estado e um espa o vetorial omplexo. Isso e, de fato, o que faz om que iji
seja tambem uma varia ~ao admissvel se ji for admissvel. A varia ~ao de valores medios
de operadores ou de normas de vetores num espa o vetorial omplexo pode por isso ser
obtida \variando 'bras' e ' kets' independentemente", ou seja, onsiderando ji e hj omo
varia ~oes independentes.
(g
G [j'i)j'i = 0
213
O problema de autovalores para o espe tro dis reto de uma variavel dinâmi a g pode portanto ser formulado em termos varia ionais atraves da equa ~ao
G [j'i = 0:
(4.45)
Essa formula ~ao permite a obten ~ao de aproxima ~oes para os autovetores e autovalores de g
restringindo o domnio de vetores de prova j'i e de varia ~oes admissveis j i de forma omputa ionalmente onveniente mas, tanto quanto possvel, tambem de forma a preservar as ara tersti as relevantes dos autovetores. E laro que o signi ado desta ultima ondi ~ao pressup~oe
um onhe imento pelo menos qualitativo das propriedades \relevantes" da solu ~ao exata, no
que reside ertamente um ponto rti o para a utilidade do metodo.
Alem dos metodos envolvendo estados de prova parametrizados de varias maneiras, itados
no in io do aptulo, um pro edimento bastante usual de aproxima ~ao, baseado na formula ~ao
varia ional do problema de autovalores, e o que onsiste em supor que j'i possa ser bem expresso
omo uma superposi ~ao linear de um onjunto nito de vetores ortonormais fjvn ig; n = 1; :::; N ,
isto e
j 'i =
N
X
n=1
n jvn i;
e usar (4.45) para determinar os oe ientes i . As varia

~oes admissveis s~ao nesse aso tambem
PN
restritas a vetores innitesimais da forma j i = n=1 n jvn i. Esse pro edimento e usado
frequentemente, por exemplo, para obter autofun ~oes e autovalores aproximados para uma
part ula sujeita a um po o anarmôni o de poten ial usando os primeiros N autovetores do
os ilador harmôni o omo vetores jvn i. O fun ional restrito G pode ser es rito nesse aso omo
uma fun ~ao dos oe ientes n
G [j'i ! G( n ) =
hvm jg jvni n
nm m
j k j2
Como os oe ientes n s~ao quantidades omplexas, e possvel \variar n e n independentemente" (o que orresponde a onsiderar varia ~oes n e i n ). Isso leva fa ilmente a ondi ~ao
de esta ionaridade
N
X
m=1
m
N
X
n=1
(hvm jg jvni G mn ) n = 0
que, tendo em vista a arbitrariedade dos m , leva por sua vez a

N
X
n=1
(hvm jg jvni G mn ) n = 0:
214
(4.46)
Os autovetores aproximados de g s~ao portanto dados nesse esquema omo os autovetores da

matriz dessa variavel dinâmi a nos vetores jvn i, e as aproxima ~oes orrespondentes para os
autovalores s~ao os autovalores dessa mesma matriz
N
X
hvmjgjvni = m:
n=1
O fato de que esses autovalores s~ao tambem os valores assumidos pela fun ~ao G al ulada om
os f n g orrespondentes aos autovetores de orre diretamente de que
N
X
m;n=1
m hvm jg jvni n =
N
X
m=1
j mj2
ou seja, = G( n ).
A ortonormalidade dos vetores fjvn ig que denem o sub-espa o varia ional, embora onveniente, n~ao e ne essaria. Ela pode ser substituda simplesmente pela independên ia linear
desses vetores (a es olha de um onjunto n~ao linearmente independente de vetores podendo
ser sempre substituda por uma es olha, equivalente para os ns da aproxima ~ao a ser obtida,
de vetores linearmente independentes, obtidos pela elimina ~ao de vetores redundantes). Nesse
aso o delta de Krone ker que apare e em (4.46) e substitudo pela matriz de produtos es alares
smn = hvm jvn i.
N~ao e fa il, em geral, avaliar a qualidade de aproxima ~oes para autovalores e autovetores obtidas atraves do uso de (4.45). No aso do ultimo pro edimento des rito, um riterio
frequentemente adotado e o de estudar o efeito da in lus~ao de vetores adi ionais no onjunto
fjvnig. Uma ondi ~ao ne essaria (mas n~ao su iente!) para a boa qualidade da aproxima ~ao
para determinados autovalores e autovetores e a sua insensibilidade a amplia ~ao do sub-espa o
varia ional. Em situa ~oes tpi as, diferentes autovetores mostram sensibilidade tambem diferente a essa amplia ~ao, e aos autovetores mais estaveis e usualmente atribudo um grau maior
de onabilidade que aos menos estaveis.
4.3
Aproxima
~
ao semi- l
assi a para a fun
~
ao de onda.
A dis uss~ao das propriedades gerais da dinâmi a de uma part ula quânti a sujeita a um poten ial externo, apresentada na se ~ao 3.3.1 pode ser adaptada no sentido de dar um esquema
de aproxima ~ao util no regime dito semi- lassi o, ou \de grandes numeros quânti os", no qual
o ultimo termo da equa ~ao (3.19) pode ser ignorado frente aos demais. Esta se ~ao trata de
desenvolver esse esquema em sua vers~ao usual, que se limita a onsidera ~ao de solu ~oes esta ionarias de problemas unidimensionais. Ele e no entanto apli avel tambem em situa ~oes mais
gerais, algumas das quais men ionadas na lista de referên ias ao nal do aptulo.
215
Um estado esta ionario de energia E para um problema unidimensional ujo hamiltoniano

e da forma
p2
+ V (x)
2M
pode ser des rito por uma fun ~ao de onda do tipo
H=
(x; t) = (x)e h Et A(x)e h [S (x) Et

(4.47)
onde as fun ~oes reais A(x) e S (x) orrespondem ao modulo e a fase da (x), respe tivamente.
O pro edimento usado anteriormente para se obter a equa ~ao (3.19) da, neste aso parti ular,
i
1 d2 A(x)
dS 2
(4.48)
= 2M [E V (x) + h 2
dx
A(x) dx2
enquanto a equa ~ao orrespondente a (3.17) e, tendo em onta o fato de que A=t = 0,
dA(x) dS (x)
d2 S (x)
+2
= 0:
(4.49)
2
dx
dx dx
Se, no entanto, a dinâmi a do sistema se da no regime semi- lassi o, o ultimo termo de (4.48)
e muito menor que o termo pre edente, isto e
A(x)
h 2
1 d2 A(x)
A(x) dx2
2M [E V (x)
ou seja
2M [E
h 2
1 d2 A(x)
V (x) A(x) dx2
1:
O primeiro fator desta ultima rela ~ao e na realidade o inverso do quadrado do vetor de onda
lo al, 1=k2 (x) ((x)=2 )2 , de modo que a ultima ondi ~ao impli a em \ omprimentos de onda
lo ais" (x) pequenos e/ou amplitudes A(x) de pequena urvatura, no sentido que
2 (x) d2 A(x)
A(x) dx2
(2)2:
E imediato que essa ondi ~ao e fatalmente violada nas proximidades de pontos de invers~ao
lassi os do movimento xI , nos quais V (xI ) = E . Numa regi~ao em que a ondi ~ao esteja
satisfeita e possvel, porem, usar a aproxima ~ao
dS
dx
' 2M [E V (x) = 2(xh)

q
da qual resulta
216
S (x) ' S (x0 )
Z x
x0
V (x0 ) = S (x0 ) 2h
dx0 2M [E
dx0
:
x0 (x0 )
Z x
A equa ~ao (4.49), por outro lado, pode ser resolvida para A(x) em termos de dS=dx omo
dS (x)
A(x) = C
dx
! 1=2
onde C e uma onstante rela ionada om a normaliza ~ao da fun ~ao de onda. Note que esta
ultima rela ~ao e exata. Usando a express~ao aproximada obtida no regime semi- lassi o para
S (x) ela da para a forma geral da fun ~ao de onda
s
(x) hi Et+2i Rxx0 dx(x00 )

(x) hi Et 2i Rxx0 dx(x00 )
0
0
e
e
(x; t) ' C+
+C
(4.50)
2
2
onde a dependên ia om S (x0 ) foi in luda nas onstantes C0 . A determina ~ao dessas onstantes
depende de ondi ~oes adi ionais apropriadas impostas sôbre (x; t). Elas s~ao xadas, por
exemplo, impondo o valor da fun ~ao de onda e de sua derivada em algum ponto do domnio de
validade da aproxima ~ao.
Essa express~ao tem propriedades intuitivamente razoaveis: tendo em vista que (x) e inversamente propor ional a raiz quadrada da energia ineti a lo al, a densidade de probabilidade
resulta inversamente propor ional a velo idade lo al. Por outro lado, S (x), em unidades de h ,
e a fase a umulada medindo distân ias em unidades do omprimento de onda lo al (x). Essa
fase pode ser vista omo uma extens~ao da fase da fun ~ao de onda de uma part ula livre eikx ,
tendo em onta que o vetor de onda k varia lentamente om x, o que orresponde a substitui ~ao
kx
Z x
dx0 k(x0 ):
A impli a ~ao dessa substitui ~ao e a de que o efeito dominante do poten ial V (x) e o de alterar
o momento da part ula, sem outras ompli a ~oes ondulatorias (re ex~oes, interferên ias, et .).
Uma restri ~ao seria sôbre a apli abilidade desses resultados e a de que A(x) e S (x) sejam
reais, o que impli a, em parti ular, que eles so possam ser usados em regi~oes lassi amente
permitidas, nas quais E > V (x). Essa restri ~ao pode, no entanto, ser eliminada introduzindo
modi a ~oes apropriadas no pro edimento de dedu ~ao. Essas modi a ~oes, que ser~ao dis utidas
a seguir, podem ser feitas de modo a permitir tambem sistematizar o esquema de aproxima ~ao,
identi ando uma hierarquia de orre ~oes a aproxima ~ao mais simples, que orresponde essen ialmente ao esquema des rito a ima.
217
4.3.1 A aproxima ~ao de Wentzel, Kramers e Brillouin (WKB)5 .

O ponto de partida para a obten ~ao da aproxima ~ao semi- lassi a (4.50) a ima foi a representa ~ao (4.47) de (x; t) em termos das duas fun ~oes A(x) e S (x), o que leva a substitui ~ao
da equa ~ao de S hrodinger pelo par de equa ~oes (4.48) e (4.49). No entanto, essas mesmas
equa ~oes podem ser obtidas atraves de um riterio para a determina ~ao de A(x) e S (x) que
n~ao imp~oe a realidade dessas duas fun ~oes. O novo riterio pode ser motivado observando
que a aproxima ~ao semi- lassi a para a equa ~ao (4.48) resulta independente de h , enquanto
orre ~oes devidas ao ultimo termo s~ao propor ionais a h 2 , pelo menos. Isso sugere substituir a
de omposi ~ao (4.47) por
(x; t) = e h W (x;t)
om
W (x; t) S (x; t) ih T (x; t)
(4.51)
onde as fun ~oes S (x; t) e T (x; t) s~ao denidas de modo a onter apenas potên ias pares de h .
Isso orresponde a de omposi ~ao da fun ~ao omplexa W (x; t) em duas partes, que envolvem
respe tivamente potên ias pares, S (x; t) e mpares, ih T (x; t), de h . Em parti ular, n~ao ha
agora qualquer restri ~ao de realidade sobre essas duas fun ~oes. Um tratamento que se limite
aos termos de ordem mais baixa em h deve assim oin idir om o tratamento anterior, nas
regi~oes em que ele seja apli avel, om uma amplitude A(x; t) dada por
i
A(x; t) = eT (x;t) :
(4.52)
Para implementar esse esquema basta agora substituir o ansatz (4.51) na equa ~ao de movimento
(x; t)
h 2 2 (x; t)
ih
=
+ V (x) (x; t)
t
2M x2
e es rever as duas equa ~oes que resultam da separa ~ao de potên ias pares e mpares de h . Este
ultimo passo na realidade substitui a separa ~ao de termos reais e imaginarios envolvida no
tratamento anterior, e leva ao par de equa ~oes
h 2 2 A A S
+
2M x2 2M x
2S
!2
+ V (x)A + A
A
A
1 A S
+
+
=0
2
M x x 2M x
t
S
=0
t
218
potên ias pares

(4.53)
potên ias mpares
G. Wentzel, Zeit. Phys. 38, 518 (1926); H. A. Kramers, Zeit. Phys.

183, 24 (1926).
A ad. S i. Paris
, 828 (1926); L. Brillouin, C. R.
39
onde a amplitude A(x; t) orresponde a express~ao (4.52). Essas equa ~oes s~ao na realidade
idênti as as (3.16) e (3.17) obtidas no aptulo anterior para a amplitude e fase reais da fun ~ao
de onda. A primeira delas pode ser re-es rita sob a forma ref.(3.19), e a parti ulariza ~ao para
um estado esta ionario de energia E orresponde a tomar S (x; t) e A(x; t) omo sendo da forma
S (x; t)
! Et + SE (x)
A(x; t)
! AE (x)
om SE (x) e AE (x) independentes do tempo mas ja n~ao ne essariamente reais. Nesse aso a
fun ~ao de onda tem a forma
(x; t)
! AE (x)e hi SE (x) e
i
h Et
E (x)e
i
h Et
e as equa ~oes (4.53) se reduzem a
dSE
dx
!2
= 2M [E
V (x) + h 2
1 d2 AE (x)
AE (x) dx2
(4.54)
d2 SE (x)
dA (x) dSE (x)
+2 E
=0
(4.55)
2
dx
dx
dx
que s~ao idênti as as equa ~oes (4.48) e (4.49), respe tivamente, sem que exista, no entanto, uma
ondi ~ao de realidade imposta sobre as fun ~oes SE (x) e AE (x). As equa ~oes (4.54) e (4.55) s~ao
exatamente equivalentes a forma esta ionaria da equa ~ao de S hrodinger. A segunda delas tem
por solu ~ao
AE (x)
dSE (x)
AE (x) = C
dx
! 1=2
que pode ser usada para eliminar a dependên ia da primeira om AE (x), levando dessa forma
a equa ~ao para SE (x)
dSE (x)
dx
!2
= 2M [E
2
V (x) +
h 2 3 d2 SE (x)
+ 4
2 2
dx2
!2
dSE (x)
dx
tambem uma equa ~ao exata.

219
! 2
d3 SE (x)
dx3
dSE (x)
dx
! 13
5
; (4.56)
Solu ~oes aproximadas podem ser obtidas atraves de uma \expans~ao semi- lassi a", que
exprime SE (x) omo uma serie de potên ias em h 2
SE (x) = S0 (x) + h 2 S2 (x) + h 4 S4 (x) + :::

e a aproxima ~ao de ordem mais baixa da novamente
dS0 (x)
dx
!2
= 2M [E
V (x):
No entanto, n~ao existe agora uma ondi ~ao de realidade imposta sobre S0 (x) e portanto, embora
a sendo essa aproxima ~ao invalida nas vizinhan as de pontos de invers~ao do movimento lassi o,
ela pode ser utilizada tambem em regi~oes lassi amente proibidas, nas quais E < V (x). Existem
portanto duas situa ~oes distintas a onsiderar:
1. E > V (x). Este e o aso ja tratado anteriormente, no qual

S0(>) (x)
S0(>) (x0 )
Z x
x0
dx0 2M [E
V (x0 ) = S (>) (x0 ) 2h
dx0
x0 (x0 )
Z x
om a aproxima ~ao orrespondente para a fun ~ao de onda
(E>) (x)
'
C+(>)
(x) 2i Rxx0 dx(x00 )

(x)
+ C (>)
e
e
2
2
R
0
2i xx dx
0 (x0) :
(4.57)
2. E < V (x). Este aso orresponde a regi~oes lassi amente proibidas, e leva a
S0(<) (x)
S0(<) (x0 )
i
Z x
x0
dx0 2M [V (x0 )
E =
S (<) (x0 )
2ih
dx0
x0 l(x0 )
Z x
onde
2h
2M [V (x)
l ( x) = q
V (x) > E
e a aproxima ~ao orrespondente para a fun ~ao de onda e em geral uma ombina ~ao linear de
exponen iais reais, res entes e de res entes
(E<) (x) ' C+(<)
0
l(x) 2 Rxx0 ldx
(x0 ) + C (<) l(x) e
e
2
2
220
R
0
2 xx ldx
0 (x0 ) :
(4.58)
As express~oes (4.57) e (4.58) s~ao as mais omumente usadas no ontexto da aproxima ~ao
WKB. Corre ~oes da ordem h 2 podem ser obtidas voltando a equa ~ao (4.56) e usando o resultado
obtido para a aproxima ~ao de ordem zero. A equa ~ao resultante para S2 (x) e
!
!
!
!
dS2 3 d2 S0 (x) 2 dS0 (x) 3 1 d3 S0 (x) dS0 (x) 2
=
:
dx 8
dx2
dx
4
dx3
dx
O segundo termo dessa equa ~ao pode ser al ulado sem di uldade usando as rela ~oes de ordem
zero
dS0(>)
2h
dS0(>)
2ih
=
e
=
dx
(x)
dx
l(x)
o que leva aos resultados
2
dS2(>)
1 4 d2 (x)
=
dx
8h dx2
i 4 d2 l(x)
dS2(<)
=
dx
8h dx2
ou ainda, fazendo uma integra ~ao em x,
1
d(x)
2(x) dx
1
dl(x)
2l(x) dx
!2 3
5
!2 3
! 3
dL(x0 ) 2 5
1 4 dL(x) 1 Z x 0 1
dx
S2 (x) =
8h dx
2
L(x0 ) dx0
onde os dois asos E > V (x) e E < V (x) orrespondem as deni ~oes de L(x)
(4.59)
L(x) = (x); E > V (x)

e
L(x) = il(x); E < V (x):
A rigor, a express~ao para S2 (x) deve onter uma onstante de integra ~ao, que pode no entanto
ser in orporada aos fatores multipli ativos que apare em nas amplitudes da fun ~ao de onda.
As amplitudes orrigidas pelos efeitos de ordem h 2 , de fato, têm a forma
AE (x)
'
'
dS0 (x)
dS2 (x) 1=2
2
C
+ h
dx
dx
! 1=2 2
2 dS (x) ! dS (x) !
dS0 (x)
h

2
0
41
C
dx
2
dx
dx
2
= A0 (x) 41
h 2 dS2 (x)
2
dx
221
dS0 (x)
dx
! 13
5
3
5
(4.60)
que representa na realidade quatro diferentes tipos de amplitude,

orrespondentes respe tiq
vamente as solu ~oes om ada um dos dois sinais de jE V (x)j, para os asos em que
E > V (x) e E < V (x).
Uma utilidade imediata das express~oes (4.59) e (4.60) para as orre ~oes de ordem h 2 e o
estabele imento de riterios de validade para a aproxima ~ao de ordem mais baixa. De fato, a
validade da aproxima ~ao de ordem zero
E (x) ' A0 (x)e h S0 (x)

i
depende de estarem satisfeitas as ondi ~oes
jh S2 (x)j 1
h
2
dS2 (x)
dx
dS0 (x)
dx
! 1

1;
que exprimem a irrelevân ia das orre ~oes de segunda ordem respe tivamente para o fator
exponen ial e para a amplitude da fun ~ao de onda aproximada.
Em vista da express~ao (4.59) para S2 , e laro que a primeira dessas duas ondi ~oes estara
satisfeita sempre que o modulo da derivada dL(x)=dx for su ientemente pequeno em toda a
regi~ao que esteja sendo onsiderada para a variavel x. Esse riterio pode ser expresso em termos
do poten ial e da energia E do estado esta ionario omo

dV (x)
2M h dVdx(x)
1 L(x) dx
dL(x)
=
1
!
1
(4.61)
dx
j2M [E V (x)j3=2 2 jE V (x)j
mostrando mais uma vez o olapso da aproxima ~ao nas vizinhan as dos pontos de invers~ao
do movimento lassi o. A segunda forma da express~ao tem ainda uma interpreta ~ao lara: a
estimativa linear para a varia ~ao do poten ial ao longo de um omprimento de onda lo al (ou,
no aso E < V (x), ao longo de uma distân ia igual ao modulo do omprimento de onda lo al
imaginario) deve ser muito menor que a energia ineti a lo al (ou que o seu modulo, no aso
E < V (x) em que ela e negativa).
A ondi ~ao referente a amplitude pode ser tambem ser es rita em termos de L(x) usando
as express~oes obtidas para dS0 =dx e para dS2 =dx. Disso resulta a ondi ~ao

1
d2 L(x)
L
(
x
)
32 2
dx2
1 dL(x)
2 dx
!2

1
que envolve expli itamente tambem a segunda derivada do omprimento de onda lo al (real ou
imaginario para E > V (x) ou E < V (x) respe tivamente). Isto introduz a restri ~ao adi ional
222
a expressa por (4.61), a saber, que a varia ~ao om x de dL=dx seja su ientemente suave.
Mesmo quando o valor absoluto desta derivada seja pequeno em toda a regi~ao examinada,
varia ~oes des ontnuas, ou quase des ontnuas, desta derivada a arretam valores muito grandes
de d2 L=dx2 . As propriedades do poten ial V (x) que levam a situa ~oes desse tipo podem ser
identi adas al ulando

L(x)
d2 L(x)
dx2
= jL(x)j
3
4 [E

dV (x) 2
dx
V (x)2
d2 V (x)
dx2
1
2E
que aponta omo ingrediente perigoso uma des ontinuidade ou quase des ontinuidade na derivada do poten ial (isto e, uma for a lassi a des ontnua ou quase-des ontnua), o que faz om
que a segunda derivada assuma valores absolutos muito grandes.
4.3.2 Tratamento de regi~oes perigosas: formulas de onex~ao.

A quebra da validade da aproxima ~ao WKB de ordem mais baixa em determinados intervalos
da variavel x (notadamente nas vizinhan as dos pontos de invers~ao do movimento lassi o) e
uma limita ~ao seria do ponto de vista de suas apli a ~oes. As di uldades de orrentes disso
podem, no entanto, ser ontornadas atraves de um tratamento espe ial da fun ~ao de onda
nos intervalos perigosos. A ideia entral onsiste em utilizar, em ada um desses intervalos,
seja a solu ~ao exata, seja outra aproxima ~ao valida para a fun ~ao de onda, e em seguida ligar
ontinuamente essa solu ~ao espe ial as dadas pela aproxima ~ao WKB nas fronteiras do intervalo
perigoso onsiderado. Em varios asos de interesse o resultado desse tipo de pro edimento pode
ser expresso sob a forma de pres ri ~oes que rela ionam as fun ~oes de onda da aproxima ~ao WKB
nos dois extremos do intervalo. Tais pres ri ~oes s~ao onhe idas omo \formulas de onex~ao".
1. Ponto de invers~ao linear. A situa ~ao perigosa mais omum e a que envolve um \ponto
de invers~ao linear", que e um ponto de invers~ao x0 do movimento lassi o no qual o poten ial
V (x) pode ser bem aproximado por uma fun ~ao linear de x, isto e

dV
V (x) ' E + (x x0 )
E
dx x=x0
(x x0 )f0 :
Essa situa ~ao orresponde a ilustrada na gura 4.3 (note que neste aso f0 > 0), sendo a aproxima ~ao WKB supostamente valida tanto na regi~ao lassi amente permitida a direita do intervalo
sombreado omo na regi~ao lassi amente proibida a esquerda desse intervalo. A onstante f0
e laramente a for a que age lassi amente sobre a part ula no ponto de invers~ao x0 . Neste
aso, a equa ~ao de S hrodinger esta ionaria pode ser es rita nas vizinhan as de x = x0 omo
223
V(x)
Figura 4.3: Poten ial V (x) om ponto de

invers~ao linear no ponto x0 a energia E . O
intervalo em que a aproxima ~ao WKB deixa de ser valida orresponde a regi~ao sombreada no gra o.
Intervalo
perigoso
xo
d2 E 2Mf0
+ 2 (x x0 )E = 0
dx2
h
ou, introduzindo a variavel adimensional y =

2Mf0 1=3 (x
2
h
x0 ),
d2 E
+ yE = 0;
(4.62)
dy 2
onde a fun ~ao E e tratada omo uma fun ~ao de y . Essa equa ~ao pode ser resolvida exatamente.
As suas solu ~oes gerais podem ser expressas em termos das hamadas fun ~oes de Airy, que
podem por sua vez ser es ritas em termos de fun ~oes de Bessel ilndri as de ordem 1=3, J 31 .
Desse modo a solu ~ao geral da equa ~ao (4.62) pode ser es rita omo

2 3
p
E (y ) = y 1 J 13 ( y 2 ) + 2 J
3
2 23
1( y ) :
(4.63)
3 3
As onstantes arbitrarias 1 e 2 podem ser ajustadas de modo que a solu ~ao satisfa a ondi ~oes
de ontorno apropriadas.
Formulas de onex~ao apropriadas para este aso podem ser obtidas omparando essa solu ~ao
om aquela obtida atraves da aproxima ~ao WKB onde ambas sejam validas. Por exemplo, os
oe ientes 1 e 2 de (4.63) podem ser es olhidos de forma que
3
7
1 2

E (y ! 1) ! ( y ) 4 e 3 ( y) 2 + O( y 4 )
2
e
1
7
2 3
E (y ! +1) ! y 4 sen ( y 2 + ) + O(y 4 )
3
4
224
onde e um fator multipli ativo global, a ser determinado por um riterio de normaliza ~ao.
Utilizando a aproxima ~ao linear para o poten ial,
2h
(x) = q
2M [E V (x)
'
2h
h 2
q
= 2
2Mf0
2M (x x0 )f0
!1=3
p1y
de modo que
2
dx Z x x0 p
2 3
=
dy y = y 2
3
x0 (x)
0
Z x
e o termo dominante da express~ao assintoti a para y ! +1 se reduz a

s
Z x
(x)
dx
0
E (x x0 ) !
sen 2
+
2
4
x0 (x)

h
om 0 = 2Mf
0
valida para y !
1=6
. Um pro edimento inteiramente analogo para a express~ao assintoti a

1 da, por outro lado,
s
0 l(x) 2 Rxx0 ldx

(x) :
E (x x0 ) !
e
2 2
Esta ultima express~ao pode ser identi ada om a solu ~ao (4.58) da aproxima ~ao WKB, na
regi~ao lassi amente proibida6, para C (<) = 0 e C+(<) = 0 =2, ao passo que a express~ao valida
para x x0 orresponde a parti ular es olha dos oe ientes C+(>) e C (>) da express~ao WKB
(4.57), valida na regi~ao lassi amente permitida,
C+(>) = C (>) =
0
:
2i
Desse modo, o prolongamento para a regi~ao lassi amente permitida da fun ~ao de onda da
aproxima ~ao WKB que envolve a exponen ial de res ente na regi~ao lassi amente proibida (ou
vi e versa) deve ser feito segundo a pres ri ~ao
Note que a integral
esquerda do ponto x0 .
6
R x dx
x0 l(x)
e negativa nas ondi o~es representadas na gura 4.3, em que o ponto x esta a
225
x x0
x x0
(regi~ao proibida)
(regi~ao permitida)
E (x) =
Rx
0
l(x) 2 x 0 ldx
(x0 )
e
2
! E (x) =
(x)
2
(4.64)
0

sen 2 xx0 dx
(x0 ) + 4
que e uma das formulas de onex~ao relevantes para o aso de um ponto de invers~ao linear omo
o representado na gura 4.3.
Como indi ado na equa ~ao (4.58), a forma geral da aproxima ~ao WKB para a fun ~ao de
onda na regi~ao lassi amente proibida onsiste porem numa superposi ~ao de ontribui ~oes om
dependên ias exponen iais res entes e de res entes. Alem da formula de onex~ao para a omponente exponen ial de res ente, e pre iso portanto estudar tambem o prolongamento para a
regi~ao permitida da omponente res ente. Ele pode ser obtido repetindo o pro edimento a ima
om uma es olha diferente dos oe ientes 1 e 2 na equa ~ao (4.63), e leva a
x x0
x x0
(regi~ao proibida)
(regi~ao permitida)
E (x) =
Rx
0
l(x) 2 x 0 ldx
( x0 )
e
2
! E (x) =
(x)
2
(4.65)
0

os 2 xx0 dx
(x0 ) + 4
em que deve ser notada a ausên ia de um fator 1=2 na express~ao que orresponde a regi~ao
proibida, em ompara ~ao om o aso (4.64).
Um ponto que deve ser observado om rela ~ao a esse pro edimento para obter as formulas
de onex~ao e o de que as fun ~oes de onda na aproxima ~ao WKB foram omparadas as formas
assintoti as da solu ~ao da equa ~ao (4.62), que envolve a aproxima ~ao linear para o poten ial
nas vizinhan as do ponto de invers~ao. A impli a ~ao disso e que a validade das formulas obtidas
depende de que os parâmetros do problema sejam tais que a aproxima ~ao WKB seja valida
226
numa regi~ao em que tanto a forma assintoti a da solu ~ao para o poten ial linear quanto e
propria forma linearizada do poten ial sejam validas. Para que isso seja possvel, e pre iso
que em regi~oes su ientemente proximas do ponto de invers~ao para que efeitos de urvatura
do poten ial sejam desprezveis, os valores do argumento y se tornem su ientemente grandes
para permitir o uso das express~oes assintoti as e da aproxima ~ao WKB (v. equa ~ao (4.61)).
Isso o orrera se (x) e l(x) se tornarem su ientemente pequenos dentro da regi~ao em que a
aproxima ~ao linear para o poten ial possa ser usada.
As formulas de onex~ao (4.64) e (4.65) foram obtidas para um ponto de invers~ao linear
x0 om as ara tersti as da gura 4.3, em que a regi~ao lassi amente proibida se situa em
x < x0 . No aso em que essa regi~ao esteja a direita do ponto de invers~ao (v. gura 4.4),
f0 = dV=dxjx=x0 < 0, mas a mesma equa ~ao (4.62)
e obtida para a fun ~ao de onda E quando

2M jf0 j 1=3
onsiderada fun ~ao da nova variavel y =
(x x0 ). Isso permite adaptar fa ilmente
h2
os resultados (4.64) e (4.65) a essa situa ~ao. As solu ~oes de (4.62) relevantes para as formulas
de onex~ao s~ao, em termos da variavel x, simplesmente formas re etidas espe ularmente em
x = x0 das solu ~oes utilizadas no aso ilustrado na gura 4.3. Desse modo as formulas de
onex~ao num aso omo o ilustrado na gura 4.4 s~ao dadas no quadro abaixo.
x x0
x x0
(regi~ao permitida)
(regi~ao proibida)
E (x) =
E (x) =
(x)
2
(x)
2
R x0 dx0
R x0 dx0
sen 2
os 2
x (x0 )
x (x0 )

4

4
! E (x) =
Rx
0
l(x) 2 x0 ldx
0
(
x
)
2 e
! E (x) =
(4.66)
Rx
0
l(x) 2 x0 ldx
0
(
x
)
2 e
2. Pontos em que a for a lassi a e des ontnua. Como men ionado no nal da se ~ao
4.3.1, os riterios de validade para a aproxima ~ao WKB de ordem mais baixa baseados na
avalia ~ao da magnitude das orre ~oes de segunda ordem ex luem pontos ou regi~oes em que
a for a lassi a (isto e, a derivada do poten ial, dV (x)=dx) variam de forma des ontnua, ou
quase-des ontnua, pelo fato de que a orre ~ao a amplitude envolve a segunda derivada do
poten ial. Um exemplo simples de uma situa ~ao desse tipo e dado pelo poten ial
227
V(x)
Figura 4.4: Poten ial V (x) semelhante ao

da gura 4.3, mas om a regi~ao lassi amente proibida a direita do ponto de invers~ao x0 .
Intervalo
perigoso
xo
V (x) = f0 jxj;
f0 > 0
para o qual, a uma energia E > 0, o omprimento de onda lo al e dado por

2h
(x) = q
2M (E + f0 jxj)
' 0
f0
jxj ;
2E
0 (x = 0) =
p2h :
2ME
Esta situa ~ao e ilustrada na gura 4.5. A aproxima ~ao usada na ultima express~ao e valida para
f0 jxj=E 1. Por outro lado, jd(x)=dxj = 0 f0 =2E para x 6= 0. A ondi ~ao de que esta ultima
quantidade seja tambem muito menor que a unidade (ligada a validade da aproxima ~ao WKB)
e portanto de natureza a permitir que a expans~ao seja valida numa regi~ao extensa de x, quando
medida em unidades de 0 .
Uma apli a ~ao direta da aproxima ~ao WKB a esse problema leva a uma fun ~ao de onda
uja forma geral e (note que um fator (2 ) 1=2 da amplitude foi absorvido nas onstantes C )
E
Figura 4.5: Problema esta ionario a energia E om poten ial V (x) = f0 jxj. A
for a lassi a e des ontnua em x = 0.
V(x)
228
v
u
u
t
E (x) ' 0 1
!2
f0
jxj
2E
R
2i 0x
C e
4 +
0 (1
dx0
f
2E0 jx0 j)
+C e
R
2i 0x
0 (1
dx0
f
2E0 jx0 j) 5 :
(4.67)
E imediato veri ar, porem, que essa aproxima ~ao para a fun ~ao de onda tem uma derivada
des ontnua no ponto x = 0, no qual a derivada do poten ial n~ao e ontnua. Essa des ontinuidade na derivada da fun ~ao de onda e, na realidade, in onsistente om a equa ~ao de S hrodinger
esta ionaria
d2 E (x) 2M
(4.68)
+ 2 (E + f0 jxj)E (x) = 0 ;
dx2
h
a qual exige a ontinuidade da primeira derivada de E (x) n~ao apenas nesse ponto omo tambem
em qualquer ponto x0 , omo pode ser visto fa ilmente integrando a equa ~ao num pequeno
intervalo x0 < x < x0 + e tomando o limite ! 0.
Uma forma de ontornar o problema da quebra de validade da aproxima ~ao WKB em x = 0,
dada a sua validade tanto na regi~ao x > 0 omo na regi~ao x < 0, onsiste em es rever, em ada
uma dessas duas regi~oes, express~oes do tipo (4.67) para a fun ~ao de onda, rela ionando em
seguida as onstantes asso iadas as amplitudes de modo a garantir a ontinuidade da fun ~ao
de onda e tambem de sua derivada na origem. Este ultimo riterio orresponde, de fato, a
implementar na fun ~ao de onda uma ondi ~ao exigida pela equa ~ao de S hrodinger no ponto
problemati o. Desse modo, a forma geral da fun ~ao de onda passa a ser tomada omo sendo
8
r
>
>
>
>
>
0
>
>
>
<
1
E (x) ' >
>
r
>
>
>
>
>
>
0
:
R
2i 0x
f0
4
2E x C+ e

1 + 2fE0 x 4D+ e
dx0
0 (1 2fE0 x0 )
R
2i x0
+C e
dx0
0 (1+ 2fE0 x0 )
R
2i 0x
3
dx0
f
0 (1 2E0 x0 ) 5
R
2i x0
3
dx0
f
0
0
0 (1+ 2E x ) 5
+D e
om as ondi ~oes
E (0+) = E (0 )
dE (0+ ) dE (0 )

=
dx
dx
que, de forma expli ita, d~ao
C+ + C = D+ + D
229
para x > 0
(4.69)
para x < 0
0 f0
4E
2i C+
0 f0
f
f
+ 2i C = 0 0 + 2i D+ + 0 0
4E
4E
4E
2i D :
O signi ado das diferentes omponentes dessa fun ~ao de onda esta indi ado na gura 4.6: as
omponentes envolvendo C e D+ representam part ulas que se movem em dire ~ao a origem,
respe tivamente nas regi~oes x > 0 e x < 0, enquanto as demais representam part ulas que se
afastam da origem.
O fato de haver duas rela ~oes a serem satisfeitas por quatro amplitudes re ete a possibilidade
de obter solu ~oes aproximadas satisfazendo diferentes ondi ~oes de ontorno nas regi~oes x < 0
e x > 0. Tendo em onta que uma das onstantes e xada por um riterio de normaliza ~ao,
a liberdade remanes ente permite ainda a es olha arbitraria de uma das quatro onstantes.
Por exemplo, uma solu ~ao que ex lua part ulas in idindo sobre a origem pela direita pode
ser obtida fazendo C = 0. Es olhendo D+ = 1 omo riterio de normaliza ~ao (que xa a
amplitude da omponente que representa part ulas in identes pela esquerda), resulta ent~ao
C+ = 1 + D
0 f0
4E
f
f
2i C+ = 0 0 + 2i + 0 0
4E
4E
2i D
ou seja
0 f0
i 8E
1
e
D
=
(4.70)
0 f0
0 f0 :
1 + i 8E
1 + i 8E
O oe iente D nesse aso tem o signi ado de um oe iente de re ex~ao, pois apare e omo
o fator multipli ativo da omponente de E que se afasta da origem na regi~ao x < 0, enquanto
C+ tem o signi ado de um oe iente de transmiss~ao. A remo ~ao da des ontinuidade da
derivada da aproxima ~ao WKB para a fun ~ao de onda no ponto em que a for a lassi a tem
uma des ontinuidade de magnitude 2f0 leva, pois, ao apare imento de uma onda re etida de
C+ =
Figura 4.6: Signi ado das diferentes omponentes da aproxima ~ao (4.69) para a
fun ~ao de onda a energia E no poten ial
representado na gura 4.5.
D+
C+
C
0
V(x)
230
amplitude propor ional a 0 f0 =8E , e reduz a amplitude transmitida por um termo da mesma
ordem.
Alem de pres rever a ontinuidade da fun ~ao de onda e de sua derivada em x = 0, a equa ~ao
(4.68) pres reve ainda a ontinuidade da segunda derivada da fun ~ao de onda, bem omo da o
seu valor em x = 0 omo sendo

2ME
1 d2 E (x)
(2 )2
=

:
=
E (x) dx2 x=0
20
h 2
Cal ulando essa mesma quantidade usando a fun ~ao de onda aproximada, dada por (4.69) e
(4.70), o resultado que se obtem e

1 d2 E (x)
(2 )2
f02 20
'

1
+
E (x) dx2 x=0
20
(8 )2 E 2
que difere do resultado exato apenas por uma ontribui ~ao ligada ao ultimo termo da equa ~ao
(4.54), o qual e pequeno nas ondi ~oes de apli abilidade da aproxima ~ao WKB e simplesmente
trun ado no aso da aproxima ~ao de ordem mais baixa.
Como observa ~ao nal, abe notar que fun ~oes de onda exatas para o aso parti ular do
poten ial representado na gura 4.5 podem ser obtidas em termos das solu ~oes da equa ~ao
(4.62). A utilidade da aproxima ~ao WKB adaptada para garantir a ontinuidade da derivada
da fun ~ao de onda se limita, nesse aso, a eventual onveniên ia de sua forma analti a mais
expl ita. Por outro lado, essa aproxima ~ao pode ser imediatamente estendida a asos em que
o poten ial V (x), tendo uma derivada des ontnua em um determinado ponto x = xd , seja de
natureza n~ao linear para x 6= xd , embora sendo ainda su ientemente suave para permitir a o
uso da aproxima ~ao WKB.
4.3.3 Uso das formulas de onex~ao: penetra ~ao de barreiras de

poten ial e regras de quantiza ~ao de Bohr.
O uso mais omum das formulas de onex~ao para pontos de invers~ao lineares se rela iona om
o al ulo semi- lassi o da penetra ~ao de barreiras de poten ial. O interesse desse problema
remonta a um trabalho lassi o de 1928 de G. Gamow7 , em que ele e rela ionado om a forte
dependên ia das vidas medias observadas para o de aimento alfa de nu leos radioativos om a
energia das part ulas alfa emitidas.
O problema onsiste, de uma forma geral, em obter uma aproxima ~ao para a fun ~ao de
onda no aso de um poten ial omo o indi ado na gura 4.7. A energia E esse poten ial tem
G. Gamow, Zeits rift fur Physik 51, 204 (1928). Esse trabalho esta reproduzido em fa simile (n~ao traduzido!) na oletânea Foundations of Nu lear Physi s, Robert T. Beyer (ed.), Dover, N.Y., 1949.
7
231
V(x)
Figura 4.7: Barreira de poten ial om dois

pontos de invers~ao lineares x1 e x2 a energia
E . A aproxima ~ao WKB e supostamente
valida nas regi~oes I,II e III, ex ludos os
\intervalos perigosos" em torno dos pontos
de invers~ao.
II
x1
III
x2
dois pontos de invers~ao lassi os em x = x1 e x = x2 , que delimitam a regi~ao II, lassi amente
proibida. As formulas de onex~ao permitem determinar a aproxima ~ao WKB para a fun ~ao
de onda na regi~ao II em termos da aproxima ~ao orrespondente na regi~ao I, e em seguida a
aproxima ~ao WKB na regi~ao III em termos da orrespondente na regi~ao II. Isso permite ent~ao
rela ionar as aproxima ~oes WKB para as fun ~oes de onda nas regi~oes lassi amente permitidas
I e III, e om isso estimar a probabilidade de tunelamento atraves da regi~ao lassi amente
proibida II.
Para obter a probabilidade de tunelamento, e onveniente partir da ondi ~ao de ontorno
de que na regi~ao I ha apenas part ulas que se movem para a esquerda, omo indi ado pela
seta na regi~ao I da gura 4.7. A solu ~ao, na aproxima ~ao WKB, que tem essas propriedades
na regi~ao I pode ser es rita omo
s
(x) i 2 xx1 dx(x00 ) + 4

e
;
x x1
=
2
onde e uma amplitude arbitraria e a fase =4 foi introduzida expli itamente para onveniên ia
posterior, no uso das formulas de onex~ao. A ondi ~ao x x1 signi a que deve ser devidamente ex ludo o intervalo perigoso em torno do ponto de invers~ao linear x1 . Es revendo a
exponen ial em termos de seno e osseno, e usando as formulas de onex~ao (4.66), resulta que
a aproxima ~ao WKB para a fun ~ao de onda na regi~ao II tem a forma
(I)
E (x)
(II)
E (x)
0
l(x) 2 Rxx1 ldx
(x0 ) + i e
e
=
2
2
s
0
l(x) 2 Rxx12 ldx
0
(
x
) e
e
=
2
s
R
0
2 xx ldx
0
(
x
1 )
R
0
2 xx2 ldx
(x0 )
i
+ e
2
R x dx0
0
l(x) 2 Rxx12 ldx
(x0 ) e2 x2 l(x0 ) + i e
e
2
2
232
R
0
2 xx2 ldx
1 (x0 )
R
0
2 xx2 ldx
1 (x0 )
R
0
2 xx2 ldx
0
(
x
)
e
R
0
2 xx ldx
2 (x0 ) ;
x1 x x2 :
A primeira forma dessa express~ao resulta diretamente das formulas de onex~ao (4.66). Ela foi
em seguida transformada de modo que a dependên ia om x das integrais de fase tenha omo
ponto de referên ia o segundo ponto de invers~ao x2 , o que faz om que as amplitudes apare am
multipli adas por exponen iais das \integrais sob a barreira"
B exp
dx0
:
x1 l(x0 )
Z x2
A ultima das três formas permite a utiliza ~ao direta das formulas de onex~ao (4.64) e (4.65)
para obter a forma da aproxima ~ao WKB para a fun ~ao de onda na regi~ao III
s
(III)
E (x)
"
Z x
Z x
(x)
dx0
dx0
i
=
2B+ sen 2
+
+
B
os
2

+
2
4
2
4
x2 (x0 )
x2 (x0 )
!#
; x x2 :
Essa fun ~ao de onda pode ser re-es rita em termos de uma omponente que representa part ulas
in idindo pela direita sobre a barreira de poten ial
s
)
(III)(
(x)
E
B
(x)
B+ +
= i
2
4
R
0
i 2 xx dx
2 (x0) + 4
alem de uma omponente analoga que ontem o onjugado omplexo do fator exponen ial
que apare e nesta ultima express~ao, e que representa part ulas re etidas pela barreira e se
afastando dela
s
(III)(+)
(x)
E
(x)
B
= i
B+ +
2
4
R
0
i 2 xx dx
2 (x0 ) + 4
e
Nas ondi ~oes em que a aproxima ~ao WKB e util a integral sob a barreira que apare e no
expoente de B e tipi amente muito maior que a unidade, de modo que B+ = 1=B B e
os termos envolvendo B nestas ultimas express~oes s~ao desprezveis frente aos que ontem B+ .
Uma amplitude de transmiss~ao da barreira de poten ial a energia E pode ent~ao ser denida
atraves da raz~ao
TE (xI ; xIII )

(I)

E I

(III)( )

III
E
v
u
u
t

1

2
(x x )
1 (xI x1 )
=B
=

(x x ) B+ (xIII x2 )
v
u
u
t
(xI x1 )
:
(xIII x2 )
Essa amplitude depende, em geral dos pontos xI e xIII utilizados para deni-la, a menos que o
poten ial tenda a valores onstantes VI e VIII (independentes de x) nas regi~oes I e III. Es olhendo
ent~ao xI e xIII em tais regi~oes assintoti as, resulta que
233
TE !
E VIII 1=4
B :
E VI
A dependên ia dessa amplitude om a energia E e fortemente dominada pelo fator B , devido

a dependên ia exponen ial desse fator om a integral sob a barreira. Uma arma ~ao analoga
vale para a probabilidade de tunelamento, dada por
PE = jTE j2 =
E VIII 2
B :
E VI
Quando a energia da part ula e da ordem da altura da barreira de poten ial a ser
transposta o tratamento a ima deixa de ser valido, pois a distân ia entre os dois pontos de
invers~ao diminui e onsequentemente a aproxima a~o WKB para a fun ~ao de onda deixa
de ser apli avel na regi~ao lassi amente proibida.
Uma aproxima ~ao valida nesses asos foi des rita por D. H. Hill e J. A. Wheeler em
19538 . Ela onsiste em aproximar a barreira de poten ial por uma parabola ajustada ao
seu topo e fazer a onex~ao das solu ~oes orrespondentes a aproxima ~ao WKB \antes" e
\depois" da barreira as formas assintoti as da solu ~ao exata para a barreira paraboli a. O
resultado que de orre desse pro edimento para a probabilidade de tunelamento e (fazendo
o pre-fator rela ionado om (xI e (xIII igual a 1)
PE =
1 + e2
E Emax 1
h !0
onde Emax e !0 s~ao parâmetros que ara terizam o poten ial paraboli o ajustado ao topo
da barreira, lo alizado em x = x0,
V (x) V0 (x) = Emax
M!02
2
2 (x x0) :
Essa express~ao se apli a tanto para valores de E pou o abaixo omo tambem para valores
pou o a ima da altura da barreira, Ermmax . Ela da PE = 1=2 para E = Ermmax , enquanto
uma extrapola ~ao direta do resultado anterior ( om VI = VIII ) da PE = 1, nessa energia.
Esse resultado mostra que existe uma probabilidade apre iavel de re ex~ao mesmo para
energias pou o superiores a altura da barreira.
D. H. Hill e J. A. Wheeler, Phys. Rev. 89, pag. 1140, gura 44. Este trabalho lassi o de fsi a nu lear tem
o formato urioso de apresentar uma grande variedade de resultados em um numero orrespondente de guras,
om longas legendas.
8
234
V(x)
Figura 4.8: Po o de poten ial om dois

pontos de invers~ao lineares x1 e x2 a energia
E . A aproxima ~ao WKB e supostamente
valida nas regi~oes I,II e III, ex ludos os
\intervalos perigosos" em torno dos pontos
de invers~ao.
II
x1
III
x2
Uma segunda apli a ~ao padr~ao das formulas de onex~ao e a obten ~ao de aproxima ~oes semi lassi as para as energias de estados esta ionarios de uma part ula em um po o de poten ial.
Neste aso, a regi~ao lassi amente permitida, no interior do po o de poten ial, e limitada por
dois pontos de invers~ao. Nas regi~oes lassi amente proibidas, alem desses pontos de invers~ao,
a fun ~ao de onda deve ter um omportamento de res ente, e essas ondi ~oes de ontorno em
geral denem as energias em que a solu ~ao os ilatoria valida na regi~ao lassi amente permitida
pode ser one tada a solu ~oes om essa propriedade nas regi~oes proibidas. Uma situa ~ao desse
tipo esta representada na gura 4.8, em que a regi~ao II e lassi amente permitida e as regi~oes
I e III s~ao lassi amente proibidas a energia E , para a qual os pontos de invers~ao s~ao x1 e x2 .
Supondo que na regi~ao I a fun ~ao de onda seja puramente de res ente no sentido x x1 ,
isto e
s
0
l(x) 2 Rxx1 ldx
(x0 ) ;
(I)
(
x
)
=
e
E
2 2
x x1 ;
ent~ao, sendo x1 um ponto de invers~ao linear, a sua ontinua ~ao na regi~ao II e dada pela formula
de onex~ao (4.64) omo
s
Z x
dx0
(x)
;
x1 x x2 :
sen 2
+
=
2
4
x1 (x0 )
Por outro lado, se a solu ~ao na regi~ao III e tambem de res ente, isto e, da forma
(II)
E (x)
0 l(x)
(III)
(
x
)
=
e
E
2 2
R
0
2 xx ldx
2 (x0 ) ;
(4.71)
x x2 ;
sendo tambem x2 um ponto de invers~ao linear, a sua ontinua ~ao para a regi~ao permitida II e
dada pela primeira das formulas de onex~ao (4.66) omo
235
(II)
E ( x)
!
Z x2
(x)
dx0
0
=
sen 2
+ ;
2
4
x (x0 )
x1 x x2 :
(4.72)
Para que exista um estado esta ionario a energia E e pre iso que as express~oes (4.71) e 4.72)
oin idam. Portanto os valores de E para os quais existem estados esta ionarios s~ao tais que
s
Z x2
(x)
dx0
0

sen 2
+
2
4
x (x0 )
Z x
dx0
(x)
=
sen 2
+
2
4
x1 (x0 )
s
"
Z x2
(x)
dx0
sen 2
+
=
2
2
x1 (x0 )
2
Z x2
dx0
+
(x0 ) 4
!#
Essa ondi ~ao estara satisfeita para valores de E tais que

!
dx0
=0
+
sen 2
2
x1 (x0 )
Z x2
Z x2

dx0
=1
os
2

+
0
2
x1 (x0 )
ou seja

dx0
1
2
= N+
2
x1 (x0 )
Lembrando que
Z x2

= ( 1)N ;
0

0;
inteiro:
(4.73)
2M [E V (x) p(x)
2
=
=
(x)
h
h 2
a primeira dessas duas ondi ~oes pode ser es rita omo
Z x2
x1
1
p(x0 )dx0 = N + h
2
ou ainda omo
1
p(x0 )dx0 = N + h
2
onde a integra ~ao se estende sobre um perodo ompleto do movimento lassi o da part ula.
Essa ondi ~ao reproduz a ondi ~ao de quantiza ~ao usada por Bohr na velha teoria quânti a ( f.
eq. (1.4)), in luindo ainda a devida provis~ao para a energia de ponto zero atraves do termo
h=2. O inteiro N pode ser interpretado omo o numero de zeros da fun ~ao de onda, e a fase
( 1)N em (4.73) tem em onta o fato de que as audas de res entes da fun ~ao de onda nas
regi~oes lassi amente proibidas têm fases opostas quando se ligam a solu ~oes os ilatorias om
um numero mpar de zeros na regi~ao lassi amente permitida (v. gura 4.9).
236
N=1
x2
x1
Figura 4.9: Comportamento qualitativo

das fun ~oes de onda para estados esta ionarios om N = 1 e N = 2 mostrando a
diferen a de fase nas regi~oes proibidas I e
III nos asos em que N e mpar.
x
II
III
N=2
x1
x2
Da mesma forma que no aso da penetrabilidade de uma barreira de poten ial em

energias proximas a do topo da barreira, o uso da aproxima ~ao WKB para o al ulo
de energias de estados esta ionarios proximos ao mnimo do po o de poten ial n~ao e
a rigor justi avel, devido a diminui ~ao da distân ia entre os dois pontos de invers~ao
lineares e a onsequente viola ~ao das ondi ~oes de validade dessa aproxima ~ao agora na
regi~ao lassi amente permitida. E fa il veri ar, no entanto, que uma apli a ~ao direta da
ondi ~ao (4.73) a um poten ial quadrati o (os ilador harmôni o) leva ao espe tro quânti o
exato para esse poten ial. Devido a esse fato, sempre que o poten ial possa ser bem des rito
por uma aproxima a~o quadrati a numa regi~ao su ientemente extensa em torno de seu
mnimo, o espe tro obtido atraves de (4.73) dara uma boa aproxima ~ao para o espe tro
exato tambem para valores pequenos de N . No entanto, a validade da aproxima ~ao WKB
na regi~ao lassi amente permitida a rigor so se justi a para valores grandes de N , o que
esta rela ionado om o \prin pio de orrespondên ia" de Bohr.
Problemas.
4.1 - Expanda os autovetores exatos, dados na equa ~ao (3.9), para o sistema de dois nveis
tratado no aptulo anterior, ate segunda ordem em j j=. Existem termos lineares em j j?
Pro ure entender, em termos do resultado da expans~ao dos autovetores, a ausên ia de termos
lineares em j j na expans~ao dos autovalores asso iados a esses autovetores.
4.2 - Estude o fun ional
E [j'i =
h'j H j 'i
h'j 'i
237
ujo mnimo absoluto esta asso iado ao estado fundamental do sistema des rito pelo Hamiltoniano H , no aso de um os ilador harmôni o unidimensional, isto e
p2 M!02 2
+
q;
H=
2M
2
utilizando uma famlia de \estados de prova" ara terizada pelas fun ~oes de onda
8 q

15
>
>
<
' a ( x) = >
>
:
16a
0;
x2
a2
axa
x < a; x > a
onde a e um parâmetro real. Sugest~ao: verique que as fun ~oes de prova tem norma 1
para qualquer valor de a, utilize a representa ~ao de S hrodinger de H e obtenha o valor de
a que minimiza o fun ional. Determine a partir desse valor o limite superior varia ional para
a energia do estado fundamental do os ilador e a fun ~ao de onda da famlia onsiderada que
melhor representa a autofun ~ao orrespondente.
4.3 - Com referên ia a equa ~ao (4.1), supondo que os autovalores de g sejam limitados superiormente por um maior autovalor max tal que para qualquer autovalor valha a rela ~ao max,
mostre que vale tambem a rela ~ao G[j'i max. Mostre em seguida que o fun ional E ['i
do problema anterior assume valores arbitrariamente grandes na famlia de fun ~oes de prova
utilizada, e que isto garante que o espe tro do Hamiltoniano do os ilador harmôni o n~ao tem
um limite superior.
4.4 - Obtenha um limite superior varia ional para a energia do estado fundamental do os ilador
unidimensional perturbado
H=
p2 M!02 2
+
q
2M
2
eE0 q
utilizando vetores de prova dependentes do parâmetro varia ional que têm a forma
j'( )i = (1 + 2)
1=2 (
j0i + j1i)
onde j0i e j1i s~ao o estado fundamental e o primeiro estado ex itado do Hamiltoniano om
E0 = 0. Compare o resultado do al ulo varia ional om o resultado perturbativo de primeira
ordem para o vetor de estado, equa ~ao (4.10), e om o de segunda ordem para a energia, equa ~ao
(4.9).
238
4.5 - O modelo mais simples para um atomo de hidrogênio pode ser ara terizado por meio do
hamiltoniano
p~ 2 e2
2m r
onde ~p e o momento (tri-dimensional), m e a massa e e a arga do ele tron. As omponentes
artesianas de ~p s~ao anoni amente onjugadas as do vetor de posi ~ao do ele tron ~r, e r j~rj.
Obtenha o menor (e portanto o melhor) limite superior varia ional para a energia do estado
fundamental desse modelo que pode ser obtido usando uma fun ~ao de prova gaussiana om
simetria esferi a, da forma
H=
r
'b (~r) = Nb e 2b2 ;
onde b (o parâmetro de largura da gaussiana) e tratado omo um parâmetro a ajustar e Nb e

uma onstante de normaliza ~ao, que depende do valor de b. Lembre-se de que tudo se passa
em três dimens~oes, de modo que, por exemplo, a integral de normaliza ~ao de '(~r) e
Z
k'bk2 = jNbj2 d3r e
r2
b2
= 4 jNb j2
r
dr r2 e b2
e assim por diante. Sugest~ao: o valor medio da energia ineti a na fun ~ao de prova gaussiana
pode ser obtido omo o valor medio da energia ineti a do estado fundamental de um os ilador
harmôni o de frequên ia apropriada, a qual por sua vez e fa ilmente obtida da energia do estado
fundamental do os ilador via teorema do virial.
No nal ompare o resultado varia ional om o resultado exato para esse hamiltoniano
E0 =
e2
h
!2
m 2
;
2
e2
h
1
' 137
; m 2 ' 511 KeV:
4.6 - a) Repita o al ulo perturbativo de primeira ordem feito na se ~ao 4.1.2 para o os ilador
bidimensional arregado, perturbado por um ampo magneti o externo perpendi ular ao plano
das os ila ~oes, onsiderando porem o espa o degenerado bi-dimensional asso iado ao autovalor
2h!0 de H0 .
b) Trate em seguida o mesmo problema no aso de um os ilador tri-dimensional (isto e,
~q = fq1 ; q2 ; q3 g, et .) om o ampo magneti o externo na dire ~ao 3, de modo que a perturba ~ao
pode ainda ser es rita omo gl3 = g (q1 p2 q2 p1 ). Use omo autovetores n~ao perturbados
produtos de tres autovetores de os ilador unidimensional, j1 ; 2 ; 3 i para os quais os autovalores
de H0 s~ao h !0 (1 + 2 + 3 + 3=2). Trate espe i amente o autovalor triplamente degenerado
5h!0 =2.
239
4.7 - Uma part ula de massa M esta sujeita ao poten ial atrativo anharmôni o (em uma
dimens~ao)
V (x) =
V0
;
osh x
V0 > 0
que pode ser expandido em potên ias de x omo

2
V (x) = V0 41
1 x
2
!2
5 x
+
24
!4
: : :5 :
(4.74)
V(x) / V0
Aprox. harmonica
Figura 4.10: Poten ial V (x) e sua aproxima ~ao harmôni a.
0.5
1
1
0.5
x/
0.5
O estado fundamental desse sistema sera bem des rito pela aproxima ~ao harmôni a para o
poten ial, q
na qual as potên ias de x maiores que 2 s~ao ignoradas na expans~ao (4.74), se b ,
h o par^
sendo b = M!
ametro do os ilador harmôni o orrespondente a essa aproxima ~ao.
0
a) Mostre que a ondi ~ao b se traduz, em termos dos parâmetros do problema, omo
MV0 2 h 2
e es reva a energia do estado fundamental e do primeiro estado ex itado na aproxima ~ao
harmôni a.
b) Cal ule a orre ~ao perturbativa n~ao nula de mais baixa ordem a energia desses dois
estados devida ao termo anharmôni o envolvendo x4 . Exprima o resultado em termos dos
parâmetros M , V0 e . Sugest~ao: use x = pb2 (a + ay ) nesse al ulo.
4.8 - Um os ilador harmôni o unidimensional e perturbado por um ampo de for as externo

de forma que o Hamiltoniano e
240
p2 M!02 2
+
q + sen k0 q
2M
2
onde k0 e uma onstante om dimens~oes de inverso de omprimento. Obtenha o autovalor e o
autovetor (ou a autofun ~ao) para o estado fundamental, orrigidos ate a ordem n~ao nula mais
baixa em . Sugest~ao: trabalhe na representa ~ao de S hrodinger e fa a uso da fun ~ao geratriz
dos polinômios de Hermite para al ular os elementos de matriz ne essarios.
Observa ~ao: uma forma alternativa de obter o resultado desejado
p onsiste em expandir sen k0q
y
em serie de potên ias e usar o fato de que q = b(a + a)= 2 para al ular elementos de
matriz entre estados n~ao perturbados. Esse pro edimento, no entanto, pode resultar bastante
trabalhoso devido a ne essidade de ontabilizar devidamente as ontribui ~oes dos diferentes
ordenamentos de ay e a em (ay + a)n . Existe, no entanto, uma forma simples de fazer isso que
onsiste em exprimir primeiramente o seno em termos de exponen iais

1 i kp02b (ay +a)
i kp02b (ay +a)
e
sen k0 q =
e
2i
e em seguida es rever ada uma das exponen iais omo um produto de exponen iais envolvendo
apenas ay e a. O fato de que esses dois operadores n~ao omutam invalida o uso de uma rela ~ao
simples do tipo eA+B = eA eB . No entanto, ay e a omutam om o seu omutador, que e apenas
um numero, [a; ay = 1. Nesse aso a separa ~ao pode ser feita utilizando a identidade
H=
[A;B
eA+B = e 2 eA aB ; [A; [A; B = [B; [A; B = 0

p
p
que da, tomando A = ik0 bay = 2 e B = ik0 ba= 2,
(4.75)
k0 b y
k0 b y
k0 b
k02 b2
ei p2 (a +a) = e 4 ei p2 a ei p2 a :
Essa identidade, de fato, faz o ordenamento ne essario e leva a resultados espe ialmente simples
no al ulo de elementos de matriz envolvendo o estado fundamental, pois
k0 b
ei p2 a j0i = j0i
devido ao fato de que aj0i = 0.

A identidade (4.75) pode ser veri ada al ulando
d xA xB
e e = AexA exB + exA BexB = AexA exB + [exA ; B exB + BexA exB
dx
= (A + B )exA exB + [exA ; B exB :
241
O omutador que apare e no ultimo termo pode ser expandido omo

[exA ; B
"
1 xn
X
xn An
;B =
[An ; B
=
n
!
n
!
n=1
n=0
1
X
que, usando o fato de que A e B omutam om o seu omutador, se reduz a

[[exA ; B = x[A; B
1
X
xn An
= x[A; B exA :
n
!
n=0
O objeto F (x) exA exB , visto omo uma fun ~ao de x, satisfaz portanto a equa ~ao diferen ial
dF
= (A + B )F (x) + [A; B xF (x)
dx
om a ondi ~ao F (0) = 1. Isso leva a solu ~ao
x2
F (x) exAexB = ex(A+B) e 2 [A;B

a qual, para x = 1 leva a identidade (4.75).
4.9 - O poten ialReletrostati o (r) de uma distribui ~ao de arga esferi amente simetri a dada
por Ze(r), om d3 r (r) = 1, de modo que a arga total e Ze, satisfaz a equa ~ao de Poisson
2
(r) 2 d(r)
r2 (r) d dr
2 + r dr =
4Ze(r):
A energia de intera ~ao om uma part ula de arga e e portanto V (r) = e(r), de modo que
o espalhamento dessa part ula por esse poten ial al ulado na aproxima ~ao de Born envolve a
transformada de Fourier
s
Z 1
e Z 3
i~k~r = 2 e
d
r
(
r
)
e
dr(r)r sen kr:
V~ (~k) =
(2 )3=2
k 0
a) Tendo veri ado esta ultima express~ao, integre-a por partes duas vezes e use a equa ~ao de
Poisson para exprimir o resultado diretamente em termos da fun ~ao (r) que da a distribui ~ao
de arga. Para eliminar termos integrados envolvendo r(r) quando r ! 1 introduza no
integrando um \fator de blindagem" e r e fa a ! 0 no m dos al ulos. Verique desse
modo que
2 1 4Ze2 Z 1
V~ (~k) =
dr (r)r sen kr:
k k2 0
242
b) Use esse resultado para al ular a se ~ao de hoque de espalhamento por essa distribui ~ao
de arga e mostre que o resultado pode ser expresso sob a forma
d
d
=
d
Ruth:
Z 1

4
dr

(
r
)
r
sen
j~k0
j~k0 k0k^j 0
k0 k^jr

2

onde o primeiro fator no segundo membro e a se ~ao de hoque de Rutherford, orrespondente
ao espalhamento por uma arga puntiforme, e j~k0 k0 k^j = 2k0 sen =2, sendo o ângulo de
espalhamento. Essa rela ~ao e utilizada para determinar distribui ~oes de arga atraves da medida
de se ~oes de hoque de espalhamento de ele trons por nu leos9 .
4.10 - Um neutron (massa Mn = 939:505 MeV) de ai om uma vida media 15 minutos

para estados nais que ontem um proton (massa Mp = 938:211 MeV), um ele tron (massa
me = 0:511 MeV) e um (anti-)neutrino (massa zero). Suponha que esse de aimento seja
produzido por uma intera ~ao H1 tal que
h~kp; ~ke; ~k jH1j~kni = L13 hh1i ~k(Kp+)~ke+~k ; ~kn

onde L3 e o volume de quantiza ~ao om ondi ~oes de ontorno periodi as, (K ) e um delta de
Krone ker orrespondente a onserva ~ao de momento e hh1 i e uma onstante om dimens~oes
apropriadas.
a) Use a \regra aurea" de Fermi para es rever a probabilidade de de aimento por unidade
de tempo W de um neutron om momento ini ial nulo em termos de hh1 i, (K ) e de uma fun ~ao
delta de Dira orrespondente a onserva ~ao de energia.
b) Como Mn Mp me Mp , utilize a express~ao n~ao relativsti a Ep ' Mp 2 + ~p2p=2Mp
para a energia nal do proton. A onserva ~ao de momento da jp~pj = jp~e + ~p j, e omo Mp me ,
segue que ~p2p=2Mp Ee me 2 ; p . Desse modo e possvel desprezar a energia ineti a nal
do proton e fazer a soma sobre p~p usando o delta de Krone ker da onserva ~ao de momento.
Mostre que essa aproxima ~ao de desprezar a energia de re uo do proton leva a um fator de
espa o de fases om a forma
X
p~e ;~p
(Mn
Mp
) 2
m2e 4
+ ~p2e 2
jp~ j
) Transforme as somas remanes entes em integrais e fa a as integra ~oes angulares e tambem
a integra ~ao sobre jp~ j. Verique que desse modo a probabilidade de transi ~ao por unidade de
tempo pode ser posta sob a forma
9
v. L. R. B. Elton, Nu lear Sizes, Oxford University Press, 1961, pag. 10.
243
V(x)
Figura 4.11: Poten ial unidimensional que

simula a barreira oulombiana a que esta
sujeita uma part ula alfa em um nu leo
alfa-radioativo (problema 4.12). O interior
do nu leo orresponde a regi~ao x < a.
W=
E
a
V0
Z p(max)
e
x0
dW
dp
dpe e
om pe = jp~ej, e identique p(max)

em termos das massas das part ulas, bem omo a fun ~ao
e
dW=dpe. Essa fun ~ao da a distribui ~ao de energia dos ele trons resultantes do de aimento.
d) Para simpli ar esta ultima integral sobre pe , use a aproxima ~ao n~ao relativsti a Ee '
me 2 + p2e =2me para a energia do ele tron. Cal ule a integral e, usando W 1= , obtenha um
valor para hh1 i. Es revendo hh1 i = Fatores dimensionais g 2 obtenha o valor de g 2 es revendo
os fatores dimensionais em termos de h , e m = 139:6 MeV.
4.11 - A fun ~ao de onda na aproxima ~ao WKB para um problema unidimensional e es rita
omo
1 hi R p(x)dx ihS2 (x)

e
;
e
p ( x)
p(x) 2M [E
E (x) = q
Mostre que h S2 (x) 1 se
V (x):

p h [p(1x)3 dV
1:
dx
2M
4.12 - Use a aproxima ~ao WKB para al ular a probabilidade de tunelamento a energia E
=a do poten ial unidimensional
8
>
V0 se x < a
<
a > 0;
V (x) = >
:
se x a
x
por part ulas de massa M (v. g. 4.11). Esse poten ial simula a barreira oulombiana a que
esta sujeita uma part ula alfa em um nu leo alfa-radioativo.
244
Suponha que a energia seja su ientemente baixa para que a aproxima ~ao WKB para a
fun ~ao de onda seja valida na regi~ao lassi amente proibida a < x < x0 e na regi~ao lassi amente
permitida x > x0 , ex ludo um \intervalo perigoso" no entorno do ponto de invers~ao linear x0 .
Sugest~ao: use ondi ~oes de ontorno de part ulas se deslo ando para a direita na regi~ao
x > x0 , e ondas planas in idente e re etida na regi~ao x < a, onforme indi ado na gura.
Use a ontinuidade da fun ~ao de onda e de sua derivada em x = a e as formulas de onex~ao
apropriadas no ponto de invers~ao x = x0 . Note que V (x) ! 0 para x x0 .
4.13 - Mostre que a apli a ~ao das rela ~oes (4.73) a um os ilador harmôni o unidimensional de
frequên ia !0 leva ao espe tro quânti o exato do os ilador.
Refer^
en ias gerais.
A expans~ao perturbativa de Rayleigh-S hrodinger e apresentada e dis utida em prati amente

qualquer livro sobre a Me âni a Quânti a, bem omo o tratamento de nveis degenerados, e em
parti ular nas referên ias padr~ao
? A. Messiah, op. it., Captulo XVI, partes I e II.

? C. Cohen-Tannoudji, B. Diu e F. Laloe, op. it., Vol. II, Captulo XI.
? J. J. Sakurai, op. it.
A expans~ao de Brillouin-Wigner e raramente apresentada ou men ionada. Ela n~ao apare e em
nenhum dos textos itados a ima. Uma ex ess~ao e
? P. Roman, Advan ed Quantum Theory, Addison-Wesley, 1965, paginas 491-492 (exer ios!).
A teoria de perturba ~oes dependente do tempo apare e tambem, essen ialmente na forma apresentada aqui, em qualquer dos textos a ima. Uma dis uss~ao pormenorizada dos termos de

segunda ordem na Regra Aurea
e dada por
? R. P. Feynman e A. R. Hibbs, Quantum Me hani s and Path Integrals, Ma -Graw-Hill,

1965, paginas 154-158.
O tratamento varia ional do estado fundamental e tratado tambem nos textos padr~ao itados
a ima. O tratamento apresentadp da aproxima ~ao WKB e essen ialmente o que se en ontra
em
245
? A. Messiah, op. it., Captulo VI.

Um tratamento mais pormenorizado das formulas de onex~ao se en ontra em
? L. I. S hi, Quantum Me hani s (2nd. Edition), Ma Graw-Hill, 1955, x28.

? L. D. Landau e E. M. Lifshitz, op. it., Captulo VII.
A equa ~ao e as fun ~oes de Airy s~ao des ritas, por exemplo, em
? M. Abramowitz e I. A. Stegun, Handbook of Mathemati al Fun tions, Dover, 1965, pagina

446.
246
Captulo 5
Momento angular, poten iais entrais.
Na me âni a lassi a, o momento angular, visto omo variavel dinâmi a de um sistema Hamiltoniano, gera transforma ~oes anôni as innitesimais que podem ser identi adas om rota ~oes
innitesimais do sistema. Como onsequên ia disso, a invarian a rota ional da hamiltoniana
que des reve o sistema leva a onserva ~ao do seu momento angular total, isto e, a arreta o
fato de que o momento angular total e uma onstante do movimento. Esses resultados têm
uma ontrapartida exata na me âni a quânti a, omo pode ser fa ilmente veri ado no aso
parti ular de um sistema des rito por um operador Hamiltoniano da forma H (p~; ~q) onde ~q e
p~ s~ao operadores orrespondentes a posi ~ao e ao momento no espa o usual de três dimens~oes,
ujas omponentes artesianas satisfazem as rela ~oes de omuta ~ao anôni as
[qj ; pk = ih jk ;
j; k = 1; 2; 3:
Para veri ar isso e onveniente utilizar a representa ~ao de S hrodinger, na qual o vetor de
estado que des reve o sistema e dado omo uma fun ~ao de onda de quadrado integravel '(~r)
denida no espa o tri-dimensional de posi ~oes. Uma rota ~ao de um ângulo innitesimal d em
torno de um eixo dado pelo versor u^ leva o vetor de posi ~ao ~r a um vetor ~r 0 , e a rela ~ao entre
esses dois vetores pode ser expressa por

~r 0 = ~r + d u^ ~r + O d2
ou
~r = ~r 0
d u^ ~r 0 + O d2
onde o sinal indi a o produto vetorial. A rela ~ao entre a fun ~ao de onda '0 que des reve o
sistema rodado e a fun ~ao de onda original ' pode ser determinada notando que '0 deve ter no
ponto ~r 0 o valor que ' tem no ponto ~r, isto e
'0 (~r 0 ) = '(~r) = '(~r 0
d u^ ~r 0 ) = '(~r 0 ) d u^ ~r 0 r'(~r 0 ) + O d2 :

247
O operador diferen ial que apare e no segundo termo pode ser re-es rito omo
h
i
i
i
~
d u^ ~r 0 r = d u^ ~r 0 r = d u^ ~r 0 p~ = d u^ L
h
i
h
h
~ ~r 0 p~ e o momento angular do sistema. Como ~r 0 pode ser tomado omo um valor
onde L
generi o do argumento da fun ~oes de onda, resulta portanto que

i
~
d u^ L '(~r):
(5.1)
h
Essa rela ~ao mostra que a varia ~ao da fun ~ao de onda sob uma rota ~ao innitesimal do sistema
~ h sobre a fun ~ao de onda, e por isso esse
fsi o onsiderado e propor ional a a ~ao de u^ L=
operador e hamado gerador de rota ~oes em torno do eixo u^. O efeito sôbre a fun ~ao de onda
de uma rota ~ao de um ângulo nito em torno de u^, por outro lado, pode ser obtido omo o
limite, para N ! 1, de uma su ess~ao de N rota ~oes de ângulos =N ada uma das quais pode
ser tratada omo uma rota ~ao innitesimal, de modo que a transforma ~ao (5.1) se generaliza
nesse aso para

'0 (~r) = 1
i ~ N
i ~
0
h u^L '(~
1
' (~r) = Nlim
u
^

L
'
(
~
r
)
=
e
r) Ru^ ()'(~r):
(5.2)
!1
h N
O operador Ru^ (), denido na equa ~ao (5.2) e que tem a forma de uma exponen ial do gerador
de rota ~oes em torno de u^, des reve a mudan a da fun ~ao de onda do sistema quando ele e
rodado de um ângulo nito em torno do eixo u^. E fa il veri ar expli itamente a hermiti idade
~ para fun ~oes de onda de quadrado integravel,
de qualquer omponente do momento angular L
do que de orre, em parti ular, que este operador de rota ~ao e um operador unitario. O efeito
de uma rota ~ao sobre uma variavel dinâmi a g do sistema onsiderado pode ser obtido notando
que
(g')0 = Ru^ ()g' = Ru^ ()gRu^ 1 ()Ru^ ()' = Ru^ ()gRu^ 1()'0 g 0'0
que identi a a variavel dinâmi a para o sistema rodado omo g 0 = Ru^ ()gRu^ 1 (). No aso em
que a variavel dinâmi a onsiderada e o Hamiltoniano do sistema, resulta que o Hamiltoniano
que des reve o sistema rodado e
i
i
H 0 = e h u^L~ He h u^L~ :
O Hamiltoniano e invariante sob rota ~oes se H 0 = H para qualquer eixo de rota ~ao u^ e para
~ = 0 para qualquer eixo de rota ~ao u^, isto
qualquer ângulo , e nesse aso segue que [H; u^ L
248
e, a proje ~ao do momento angular sobre qualquer eixo e uma onstante do movimento, o que e
~ = 0.
usualmente expresso es revendo simplesmente [H; L
E fa il veri ar diretamente, usando as rela ~oes anôni as de omuta ~ao, que a energia
ineti a de uma part ula de massa M no espa o de três dimens~oes, K = p2 =2M , e invariante
~ = 0. Isso de orre na realidade de que K e um operador es alar, e omo
sob rota ~oes, isto e [K; L
tal invariante por rota ~oes espa iais. O mesmo resultado permane e valido se essa part ula
esta sujeita a um poten ial externo entral V (j~qj), e da mesma forma que na me âni a lassi a,
o uso do momento angular omo onstante de movimento e extremamente util no tratamento
quânti o desse problema.
~ = ~q p~ podem ser
As omponentes artesianas Lj ; j = 1; 2; 3 do momento angular L
es ritas expli itamente omo
L1 = q2 p3
p2 q 3 ;
L2 = q3 p1
p3 q1 e L3 = q1 p2
p1 q2
ou, em uma forma geral mais ompa ta, omo
Lj =
3
X
k;l=1
jkl qk pl
onde jkl e o \smbolo antissimetri o" denido omo sendo +1 ou 1 quando os ndi es j; k; l
s~ao respe tivamente uma permuta ~ao par ou mpar de 1; 2; 3, e zero se dois ou mais dos três
ndi es forem iguais. Usando as rela ~oes de omuta ~ao anôni as, e fa il veri ar ent~ao que
~ por sua vez satisfazem as rela ~oes de omuta ~ao
essas omponentes de L
[L1 ; L2 = ih L3 ;
[L2 ; L3 = ih L1 e [L3 ; L1 = ih L2
ou equivalentemente, em termos do smbolo antissimetri o jkl ,

[Lj ; Lk = ih
jkl Ll :
(5.3)
~ n~ao podem ser diagonalizadas simultaIsso mostra que diferentes omponentes artesianas de L
neamente (n~ao s~ao mutuamente ompatveis), e que apenas uma das três omponentes pode ser
simultaneamente diagonalizada om um hamiltoniano rota ionalmente invariante. Por outro
lado, usando as rela ~oes de omuta ~ao (5.3) e fa il veri ar que o operador
~ L~ = L21 + L22 + L23
L2 L
~ para qualquer u^ (e portanto, em parti ular, om qualquer das três ompo omuta om u^ L
nentes artesianas Lj ), o que novamente de orre do fato de que L2 e tambem um operador
249
es alar, e portanto invariante por rota ~oes espa iais. Desse modo, e possvel obter autovetores
~ , usualmente designada omo L3 .
simultâneos de L2 e de uma das omponentes artesianas de L
Um Hamiltoniano rota ionalmente invariante pode ser tambem diagonalizado simultaneamente
~ = 0 de orre que [H; L2 = 0, e om L3 .
om L2 , pois de [H; L
Vale a pena lembrar que todos esses fatos têm tambem uma ontrapartida lassi a bastante
direta. De fato, os parênteses de Poisson das omponentes artesianas do momento angular
lassi o s~ao
X
fLj ; Lk g = jklLl
l
dos quais segue ainda que fL2 ; Lj g = 0. Como os parênteses de Poisson de momentos e
oordenadas anôni os devem ser
fqj ; pk g = jk ; fqj ; qk g = fpj ; pk g = 0
resulta que n~ao e possvel atribuir a mais de uma das omponentes artesianas do momento
angular o papel de momento anôni o, embora L2 e uma das omponentes de L~ , por
exemplo L3, possam desempenhar simultaneamente esse papel.
5.1
Momento angular na din^

ami a de uma part
ula
sujeita a um poten ial entral.
O problema de autovalores para o Hamiltoniano que des reve uma part ula sujeita a um
poten ial entral orresponde, na representa ~ao de S hrodinger, a equa ~ao de derivadas par iais
h 2 2
r E (~r) + V (r)E (~r) = EE (~r)
(5.4)
2M
na qual E (~r) = h~rjE i s~ao autofun ~oes, asso iadas a autovalores E , que devem satisfazer ondi ~oes de ontorno apropriadas. No aso de autovetores perten entes ao espe tro dis reto, as
autofun ~oes devem ser de quadrado integravel, o que exige em parti ular um anulamento su ientemente rapido para r ! 1, enquanto no aso do espe tro ontnuo o orrer~ao autofun ~oes
\improprias", de norma innita, mas \normalizaveis" em termos de fun ~oes delta de Dira (v.,
por exemplo, a equa ~ao (3.26)). A invariân ia rota ional do Hamiltoniano permite tambem,
nesse aso, que as autofun ~oes E (~r) sejam es olhidas de forma a serem tambem autofun ~oes
das variaveis dinâmi as ompatveis L2 e L3 . As autofun ~oes simultâneas de H e desse dois
operadores podem ent~ao ser designadas por Em (~r), onde e m se referem aos autovalores de
L2 e de L3 respe tivamente, isto e
250
L2 Em (~r) = h 2 Em(~r) e L3 Em (~r) = h mEm (~r):

(5.5)
Os fatores h 2 e h foram introduzidos por onveniên ia, de forma a tornar e m adimensionais.
O problema simultâneo de autovalores, envolvendo as equa ~oes (5.4) e (5.5), pode ser tratado
de forma onveniente expli itando o momento angular na primeira dessas equa ~oes. Para isso,
um al ulo algo extenso mas sem maiores di uldades de L2 = ( ih~r r)2 em oordenadas
esferi as ~r fr; ; 'g leva ao resultado
L2
h 2
"
1

1 2
sen
+
sen

sen2 '2
que pode ser re onhe ido omo sendo propor ional a parte angular do lapla iano expresso
tambem nessas oordenadas, que pode ser es rito omo
r
2
"
1 2
r
r2 r
r
L2
:
h 2 r2
O operador L3 , por outro lado, e representado simplesmente por
h
:
(5.6)
i '
A equa ~ao (5.4), portanto, depende das oordenadas angulares apenas atraves de L2 . Na
realidade, uma dependên ia expli ita de L3 poderia ter sido ex luda \a priori" simplesmente
pela invarian a rota ional da energia ineti a. Devido a forma assumida por essa equa ~ao,
que permite a separa ~ao da variavel radial r e das variaveis angulares e ', as autofun ~oes
simultâneas de H , L2 e L3 podem ser es ritas sob a forma de produto
L3 =
Em (~r) = RE (r)Ym(; ')

onde os Ym (; ') satisfazem
L2 Ym (; ') = h 2 Ym (; ')
L3 Ym (; ') = h mYm (; ')
(5.7)
isto e, s~ao autofun ~oes, dependentes apenas das variaveis angulares, de L2 e L3 . A equa ~ao a
ser satisfeita pela fun ~ao radial RE (r) e, por outro lado,
"
h 2 1 d 2 d
r
2M r2 dr
dr

R (r) + V (r)RE(r) = ERE (r):
r2 E
251
(5.8)
Toda a dependên ia do poten ial V (r) esta ontida nessa equa ~ao, de modo que as autofun ~oes
angulares podem ser determinadas uma vez por todas, e s~ao apli aveis a qualquer poten ial
entral. Deve ser notado tambem que a fun ~ao radial depende do momento angular atraves
do autovalor de L2 . Antes de tratar da solu ~ao de (5.8) para diferentes poten iais entrais e
pre iso, portanto, estudar o problema de autovalores (5.7).
5.1.1 Autovalores e autovetores do momento angular.

Autovalores e autofun ~oes simultâneas de L2 e L3 podem ser obtidos expli itamente tratando
as equa ~oes (5.7) omo equa ~oes diferen iais nas variaveis angulares e '. O tratamento alternativo apresentado a seguir, de natureza algebri a e baseado apenas nas rela ~oes de omuta ~ao
(5.3), e na realidade mais geral, no sentido de n~ao depende da forma diferen ial expl ita pela
~ = ~r ~p s~ao realizados na representa ~ao
qual os operadores asso iados ao momento angular L
de S hrodinger.
Denindo os operadores n~ao hermiteanos
L L1 iL2
e imediato obter, a partir de (5.3), as rela ~oes de omuta ~ao
[L3 ; L = h L
[L+ ; L = 2hL3 :
Supondo ent~ao que jmi seja um autovetor simultâneo de L2 e L3 , isto e,
L2 jmi = h 2 jmi
L3 jmi = h mjmi
e pre iso notar, em primeiro lugar, que deve ser n~ao negativo, omo autovalor de um operador
que e uma soma de quadrados de operadores hermiteanos. Alem disso, as rela ~oes de omuta ~ao
envolvendo L d~ao
L3 L jmi = [L3 ; L jmi + L L3 jmi = h (m 1)L jmi;
(5.9)
que mostra que os vetores L jmi s~ao respe tivamente propor ionais a jm 1i. As onstantes
de propor ionalidade (a menos de um fator de fase) e, omo se vera, tambem a natureza
dos autovalores podem ser determinados pela ondi ~ao de normaliza ~ao hmjm0 i = mm0
juntamente om a ondi ~ao de positividade da norma. De fato, o quadrado da norma de
L jmi, tendo em onta o fato de que Ly+ = L , pode ser al ulado usando as deni ~oes e as
rela ~oes de omuta ~ao (5.3) omo
252
hmjLLjmi
= hmjL21 + L22 i[L1 ; L2 jmi

= hmjL2 L3 (L3 h )jmi = h 2 [
m(m 1):
(5.10)
Como quadrado da norma de um vetor, essa quantidade deve ser positiva denida. No entanto,
a rela ~ao (5.9) mostra que a a ~ao do operador L+ aumenta o valor de m de uma unidade,
de modo que m(m + 1) se tornara nalmente negativo a menos que o autovalor seja
por sua vez da forma l(l + 1) e que l 0 seja um valor possvel de m. Nessas ondi ~oes, de
fato, L+ j = l(l + 1) m = li sera o vetor nulo, levando a termina ~ao da sequên ia de valores
res entes de m. De modo analogo, a sequên ia de valores de res entes de m gerada pela a ~ao
de L leva a valores negativos da norma a menos que l 0 tambem seja um valor possvel de
m, pois nesse aso L j = l(l + 1) m = li e o vetor nulo que limita inferiormente a sequên ia
de valores de m. Por outro lado, a passagem de m = l a m = l se faz atraves de um numero
inteiro de passos unitarios, de modo que os valores possveis de m s~ao l; l 1; l 2; ::: ; l 2l.
O numero de passos e ent~ao laramente 2l, de onde se on lui que l 0 deve ser um numero
inteiro (para 2l par) ou semi-inteiro (para 2l mpar). Com esse resultado e onveniente mudar
a nota ~ao usada ate aqui para os autovetores pondo
j = l(l + 1) mi ! jlmi
om o que a (5.10) da
hlmjLLjlmi = h 2[l(l + 1) m(m 1)

que, om a ondi ~ao de normaliza ~ao proposta para os jlmi, leva nalmente as rela ~oes
q
(5.11)
L jlmi = h l(l + 1) m(m 1) jlm 1i:
A deni ~ao expl ita dos operadores de momento angular em termos de operadores diferen iais no espa o de ongura ~oes fr; ; 'g leva a uma restri ~ao adi ional sobre os possveis valores
de l. Uma forma simples de ver isso e notando que as autofun ~oes de L3 , quando este operador
tem a forma (5.6), s~ao exponen iais da forma eim' . Como o ângulo ' asso iado a uma determinada posi ~ao e denido apenas a menos de um multiplo de 2 , deve-se ter eim' = eim('+2n)
para que essas autofun ~oes sejam univo amente denidas no espa o de ongura ~oes, o que
ex lui valores semi-inteiros de m (e portanto tambem de l), pois nesse aso 2mn e mpar, levando a uma tro a de sinal para um a res imo de 2 no ângulo '. Realiza ~oes alternativas
do momento angular, que permitem a o orrên ia de valores semi-inteiros de l (em parti ular
o aso l = 1=2), s~ao essen iais para a des ri ~ao de fenômenos omo a estrutura na e o efeito
Zeeman no atomo de hidrogênio, e ser~ao dis utidas mais adiante, nesse ontexto.
253
Em termos de operadores diferen iais em oordenadas esferi as, n~ao e dif il veri ar que
os operadores L s~ao dados por
!

:
(5.12)
+ i ot
'
Usando as rela ~oes (5.11) esses operadores permitem determinar as autofun ~oes simultâneas
Ylm (; ') Y=l(l+1) m (; ') om m 6= 0 a partir de Yl0 . Estas ultimas s~ao as solu ~oes independentes de ' de
L = ei'
L2 Yl0 = h 2 l(l + 1)Yl0

que s~ao propor ionais aos polinômios de Legendre Pl ( os ), que podem ser al ulados a partir
da formula de Rodrigues
Pl (x) =
1 dl 2
(x
2l l! dxl
1)l :
Com a ondi ~ao de normaliza ~ao

Z 1
d( os )
Z 2
d'jYl0j2 = 1
e om a es olha mais usual de fases, essas fun ~oes s~ao dadas por
s
Yl0 () =
2l + 1
P ( os ):
4 l
A es olha usual de fases para as harmôni as esferi as Ylm (; ') orresponde a obter essas fun ~oes
por apli a ~oes su essivas de (5.11) a partir de Yl0 assim denida, usando a forma (5.12) dos
operadores L .
5.1.2 Part ula livre om momento angular bem denido.

O aso mais simples em que se pode obter autofun ~oes simultâneas do hamiltoniano e do
momento angular e o da part ula livre, em três dimens~oes espa iais. Nesse aso V (r) 0, e a
equa ~ao radial (5.8) orrespondente ao valor l do momento angular se reduz a
"
1 d 2d
r
r2 dr
dr
l(l + 1) 2ME
+ 2 REl (r) = 0:
r2
h
254
O apare imento de um termo envolvendo a primeira derivada om rela ~ao a r pode ser evitado
es revendo REl (r) sob a forma
uEl (r)
r
om a ondi ~ao de que uEl (r ! 0) ! 0 de forma a evitar que REl seja singular na origem.
Dessa forma a equa ~ao que resulta para essa nova fun ~ao radial e
REl (r) =
d2 uEl
+ k2
2
dr
l(l + 1)
uEl = 0
r2
onde foi introduzida a nota ~ao k2 = 2ME=h 2 .

Essa equa ~ao pode ser onvenientemente es rita em termos da variavel adimensional kr
omo
!
l(l + 1) d2
u g u = ul
(5.13)
2
d2 l l l
onde, por simpli idade e sem ris o de onfus~ao, o ndi e E da fun ~ao radial uEl foi omitido. As
solu ~oes dessa equa ~ao podem ser obtidas onvenientemente atraves do uso de duas fatoriza ~oes
possveis do operador gl , que apare e no primeiro membro dessa equa ~ao. Essas fatoriza ~oes
s~ao dadas por
gl
l(l + 1)
2
d2
l
=
2
d

d
d
l d
l+1 d
=
+
+
d

d
d
d
l+1

e o seu uso permite mostrar que
gl+1
l+1

d
u =
d l
=
=
l+1

l+1

l+1

l+1 d
d
+
d

d
!
d
gu
d l l
!
d
u
d l
l+1

d
u
d l
(5.14)
donde resulta, tendo em vista a equa ~ao (5.13),
l+1

d
u / ul+1 :
d l
255
(5.15)
Na primeira passagem de (5.14) foi usada a primeira forma da fatoriza ~ao para rees rever gl+1 ,
enquanto que, na segunda passagem, foi usada a segunda forma para re onstruir gl . A rela ~ao
(5.15) permite portanto obter solu ~oes om valores maiores de l a partir de qualquer solu ~ao ul
que seja onhe ida. Para ompletar a solu ~ao de (5.13) para qualquer valor de l basta ent~ao,
tendo em vista o arater inteiro e n~ao negativo de l, resolver essa equa ~ao para l = 0. Nesse
aso ela se reduz simplesmente a
d2 u0
+ u0 = 0
d2
uja solu ~ao geral pode ser es rita omo uma ombina ~ao linear de
u(1)
0 () = sen j0 ()
u(2)
0 () = os n0 ():
As fun ~oes j0 () e n0 () denidas dessa forma s~ao hamadas respe tivamente fun ~oes de Bessel
e de Neumann esferi as de ordem zero. No aso da part ula livre om momento angular zero,
a fun ~ao de Neumann n~ao satisfaz a ondi ~ao de regularidade na origem, e deve portanto ser
ex luda das solu ~oes admissveis, de modo que o fator radial RE 0 (r) da solu ~ao e, a menos de
uma onstante multipli ativa xada por uma ondi ~ao de normaliza ~ao, dado pela fun ~ao de
Bessel esferi a j0 (kr), om k2 = 2ME=h 2 .
As solu ~oes para l > 0 podem agora ser obtidas a partir de j0 e de n0 , usando a rela ~ao
(5.15). Fun ~oes de Bessel e de Neumann de ordem l > 0 podem ser denidas tomando a
onstante de propor ionalidade impl ita nessa rela ~ao omo sendo igual a 1, de modo que
(
ou ainda
jl ()
nl ()
jl+1 ()
nl+1 ()
l
=

d
d
l+1
=

l
d
d
d
d
!(
:::
jl ()
nl ()
(5.16)
d
d
1

!(
sen
os
O omportamento dessas fun ~oes para ! 0 e para ! 1 e dado por1
!0:
!1:
1
jl () !

l
1 + O(2 ) ;
(2l + 1)!!
jl () !
1
sen

nl () !

(2l 1)!!
2) ;
1
+
O
(

l+1
1
l
; nl () ! os
2

l
:
2
v. e.g. M. Abramowitz e I. A Stegun, Handbook of Mathemati al Fun tions, Dover, 1965, Se a~o 10.
256
(5.17)
A singularidade das fun ~oes de Neumann na origem mostra que essas fun ~oes devem ser ex ludas, para qualquer l, omo possveis solu ~oes para as fun ~oes radiais da part ula livre om
momento angular bem denido. A menos de eventuais fatores de normaliza ~ao, as autofun ~oes
simultâneas de H , L2 e L3 s~ao portanto dadas, para esse aso, por
Elm(~r) / jl (kr)Ylm (; ')

om k2 = 2ME=h 2 , ~r fr; ; 'g. O omportamento de jl (kr) para r grande mostra que as
Elm (~r) n~ao s~ao fun ~oes de quadrado integravel, onsistentemente om o arater ontnuo do
espe tro de H , que mostra ainda uma degeneres ên ia innita mas dis reta, orrespondente aos
diferentes valores de l e de m.
Uma quest~ao importante que pode ser olo ada aqui diz respeito a rela ~ao entre essas autofun ~oes e as ondas planas (3.23) om a normaliza ~ao (3.25), que s~ao autofun ~oes simultâneas
~ n~ao s~ao ompatveis, as ondas planas n~ao têm momento
de H e do momento p~. Como p~ e L
angular denido, mas podem ser expandidas nas autofun ~oes Elm(~r), isto e
1 X
l
X
1
~k~r
i
e =
C~klm jl (kr)Ylm (; ')
(2 )3=2
l=0 m= l
e os oe ientes C~klm , que devem depender expli itamente da dire ~ao do vetor ~k fk; k ; 'k g
que apare e no primeiro membro, podem de fato ser determinados omo sendo
1
( ; ' ):
C~klm =
4 il Ylm
k k
(2 )3=2
A express~ao
ei~k~r = 4
lm
( ; ' ) j (kr)Y (; ')

il Ylm
k k l
lm
(5.18)
e usualmente hamada expans~ao em ondas par iais ( om momento angular bem denido) da onda plana, e exprime a rela ~ao geral existente entre as duas famlias de autofun ~oes (improprias)
da part ula livre. Um aso parti ular importante da rela ~ao (5.18) e aquele em que o eixo z
(ou 3) e tomado omo sendo k^ ~k=k. Nesse aso, de fato, ~k ~r = kr os e, usando o teorema
da adi ~ao para as harmôni as esferi as
l
X
(k^) Y (^r) = 2l + 1 P (k^ r^);
Ylm
lm
4 l
m= l
onde Pl (k^ r^) e um polinômio de Legendre, a (5.18) se reduz a
eikr os =
1
X
l=0
(2l + 1) il jl (kr) Pl ( os ):

257
(5.19)
5.1.3 Po o de poten ial quadrado em três dimens~oes.

Um problema envolvendo um poten ial entral n~ao nulo, mas que pode ser resolvido ompletamente usando os resultados obtidos na se ~ao anterior para a part ula livre e o de uma part ula
sujeita a um poten ial entral om perl \quadrado", dado por
(
V (r ) =
V0 ; r < a0 :
0; r > a0
De fato, a equa ~ao radial que deve ser resolvida nesse aso pode ser es rita omo
!
r < a0 :
d2 ul
+ K2
dr2
l(l + 1)
u l = 0;
r2
K2 =
r > a0 :
d2 ul
+ k2
dr2
l(l + 1)
ul = 0;
r2
k2 =
2M
(E + V0 );
h 2
2ME
:
h 2
Nas duas regi~oes r < a0 e r > a0 essa equa ~ao tem a mesma forma que a equa ~ao ja resolvida, e
admite portanto omo solu ~ao geral uma ombina ~ao linear de fun ~oes de Bessel e de Neumann
esferi as. Na regi~ao r < a0 a ondi ~ao de regularidade na origem ex lui as fun ~oes de Neumann,
mas essa ex lus~ao n~ao se apli a agora a regi~ao r > a0 , ja que essa regi~ao ex lui a origem. A
fun ~ao radial ul (r), orrespondente ao valor l do momento angular, deve portanto ter a forma
r < a0 :
r > a0 :
ul (r < a0 ) = Cl Kr jl (Kr);
ul (r > a0 ) = kr[Al jl (kr) + Bl nl (kr):
E pre iso ainda, no entanto, impor sobre ul (r) ondi ~oes que garantam que essa fun ~ao seja
solu ~ao da equa ~ao radial tambem no ponto r = a0 . Para determinar essas ondi ~oes basta
usar os mesmos argumentos ja utilizados na pagina 154 om rela ~ao a resolu ~ao da equa ~ao
de S hrodinger para problemas unidimensionais. De fato, des ontinuidades de ul (r) ou de
dul (r)=dr em r = a0 d~ao origem a ontribui ~oes singulares para a segunda derivada nesse ponto
(propor ionais respe tivamente a d (r a0 )=dr e a (r a0 )). A des ontinuidade nita do
poten ial em r = a0 impli a porem apenas uma des ontinuidade tambem nita da segunda
derivada de ul (r) nesse ponto, de modo que e pre iso impor a ontinuidade de ul (r) e de
dul (r)=dr em r = a0 . Portanto ( f. eqs. (3.37))
"
lim
[u (a + )
!0 l 0
ul (a0
) = 0
dul
lim
( a + )
!0 dr 0
258
dul
(a
dr 0
) = 0:
(5.20)
1. Espe tro ontnuo. Para energias positivas, E > 0, as fun ~oes jl e nl têm omportamento
os ilatorio limitado para r > a0 e podem ser ambas admitidas na solu ~ao. Para determinar
as três onstantes Al , Bl e Cl existem as duas ondi ~oes de ontinuidade (5.20) alem de uma
ter eira ondi ~ao que onsiste num riterio de normaliza ~ao. Isso signi a que para todo valor
de E > 0 existe uma solu ~ao que e uni a a menos de um fator de normaliza ~ao, de modo que
o espe tro de H e ontnuo e om a mesma degeneres ên ia que o espe tro da part ula livre.
Para implementar as ondi ~oes (5.20) e onveniente rees rever as onstantes Al e Bl sob a
forma
Al = l os l ;
Bl = l sen l
om o que as (5.20) d~ao
Cl Ka0 jl (Ka0 ) = ka0 l [ os l jl (ka0 ) + sen l nl (ka0 )

Cl K 2 a0 jl0 (Ka0 ) = k2 a0 l [ os l jl0 (ka0 ) + sen l n0l (ka0 )
onde jl0 e n0l indi am derivadas om rela ~ao ao argumento das respe tivas fun ~oes. Dividindo
essas duas equa ~oes membro a membro resulta a equa ~ao para l
jl0 (Ka0 ) k os l jl0 (ka0 ) + sen l n0l (ka0 )

=
:
jl (Ka0 ) K os l jl (ka0 ) + sen l nl (ka0 )
Uma vez determinado o ângulo l , qualquer das duas equa ~oes determina Cl em termos de l ,
que por sua vez e determinado por riterios de normaliza ~ao.
O omportamento de ul (r) para r ! 1 pode ser determinado usando as express~oes assintoti as (5.17)
"
l
+ sen l os kr
2
!#
l
ul (r ! 1) ! l os l sen kr
= l sen kr
+ l :
2
(5.21)
O ângulo l e hamado defasagem da onda par ial l e, omo mostrado adiante, ara teriza o
espalhamento de part ulas om momento angular l pelo poten ial V (r).
2. Espe tro dis reto. Para energias negativas (E < 0) o numero de onda k se torna
imaginario na regi~ao r > a0 , o mesmo a onte endo portanto om o argumento das fun ~oes de
Bessel e de Neumann. Pondo k = i, om real e positivo, o omportamento para r ! 1
dessas fun ~oes e
259
l
2
jl (ir) !
1
sen ir
ir
1
l
=
e
2
2r
r il=2
nl (ir) !
1
os ir
ir
i
l
=
e
2
2r
r il=2 + er+il=2
er+il=2
que nos dois asos e dominado por termos exponen ialmente res entes om r. As solu ~oes
relevantes da equa ~ao radial s~ao no entanto as que se anulam no innito, orrespondendo a
estados ligados da part ula no po o de poten ial, e orrespondem portanto, na regi~ao r > a0 ,
a ombina ~ao linear de jl e nl que se anula no innito atraves do an elamento dos termos
exponen ialmente res entes, que e dada por
h(+)
l (ir ) = nl (ir ) + ijl (ir ) !
i
e
r
r il=2 :
As ondi ~oes de ontinuidade (5.20) em r = a0 d~ao ent~ao

0
h(+)
jl0 (Ka0 )
l (ia0 ) ;
(5.22)
=i
jl (Ka0 )
K h(+)
l (ia0 )
e omo n~ao ha onstantes livres que possam ser ajustadas de modo a satisfazer essa rela ~ao,
ela deve ser interpretada omo uma ondi ~ao sobre E para a existên ia de uma solu ~ao om as
propriedades requeridas. O espe tro e portanto dis reto, e os autovalores Enl s~ao determinados
pelas solu ~oes da equa ~ao trans endente (5.22). Esses autovalores s~ao laramente dependentes
de l, e o ndi e adi ional n distingue (quando for o aso) diferentes solu ~oes para um dado valor
de l.
No aso parti ular l = 0, a forma simples das fun ~oes radiais leva a ondi ~ao
K
+ tan Ka0 = 0

ujas solu ~oes podem ser obtidas numeri a ou gra amente. N~ao e dif il veri ar que essa
equa ~ao so pode ter solu ~oes para E > V0 , pois do ontrario K tambem se torna imaginario,
onvertendo a tangente em uma tangente hiperboli a e levando a uma express~ao que nun a se
anula; e tambem que para que exista pelo menos uma solu ~ao om V0 < E < 0 e pre iso que
V0 a20
h 2 2
:
8M
260
5.1.4 Espe tro ontnuo de um poten ial entral de urto al an e.

Defasagens.
O resultado (5.21) obtido para o espe tro ontnuo do po o de poten ial quadrado em três
dimens~oes mostra que o efeito do poten ial na regi~ao assintoti a r ! 1 e introduzir, nessa
regi~ao, defasagens l relativamente a solu ~ao livre nas fun ~oes radiais orrespondentes a ada
uma das ondas par iais. Uma quest~ao importante e delimitar a lasse de poten iais entrais
para os quais essa propriedade permane e valida.
Para estudar essa quest~ao e onveniente examinar a solu ~ao da equa ~ao radial para a onda
par ial l, envolvendo um poten ial V (r) que se anula para r ! 1,
d2 ul
+ k2
dr2
U (r )
l(l + 1)
u l = 0;
r2
onde k2 = 2ME=h 2 e U (r) = 2MV (r)=h 2 , utilizando uma parametriza ~ao da solu ~ao ul e de
sua derivada dul =dr em termos de uma amplitude A(r) e uma fase '(r) denidas atraves das
rela ~oes
dul (r)
= A(r)k os(kr + '(r)):
dr
Derivando a segunda dessas rela ~oes om rela ~ao a r e substituindo o resultado na equa ~ao
radial resulta
!
1 dA
d' U l(l + 1)
os(kr + ')
+ +
sen(kr + ') = 0:
A dr
dr k
kr2
ul (r) = A(r) sen(kr + '(r))
Por outro lado, derivando a parametriza ~ao proposta para ul (r) e omparando o resultado om
a parametriza ~ao de dul =dr segue que
d'
1 dA
sen(kr + ') =
os(kr + ')
A dr
dr
que pode ser usada para eliminar A da equa ~ao anterior, que a ent~ao reduzida a
!
d' 2
d' U l(l + 1)
os (kr + ') +
+ +
sen2 (kr + ') = 0
dr
dr k
kr2
ou ainda, nalmente,
!
d'
l(l + 1)
1
U+
sen2 (kr + '):
=
2
dr
k
r
261
(5.23)
Usando esse resultado em (5.23) resulta tambem que A(r) satisfaz

!
1 dA 1
l(l + 1)
U+
=
sen(2kr + 2'):
A dr 2k
r2
As duas ultimas equa ~oes s~ao equivalentes, atraves da parametriza ~ao adotada, a equa ~ao
radial de partida. A primeira delas da, fazendo a integra ~ao sobre r a partir de um ponto de
referên ia qualquer r0 ,
'(r) = '(r0 ) +
Z r
r0
l(l + 1)
sen2 (kr0 + '(r0)):
dr0 U + 02
r
O ultimo fator no integrando e uma fun ~ao n~ao negativa e menor que 1, e portanto uma ondi ~ao
su iente para que a integral onvirja para r ! 1 e que o poten ial U (r) se omporte de modo
que
lim rU (r) = 0:
r!1
Nesse aso a fase '(r) tende assintoti amente para um valor onstante. Poten iais satisfazendo
essa ondi ~ao ser~ao hamados poten iais de urto al an e. E importante notar que ela ex lui, em
parti ular, o poten ial oulombiano, para o qual de fato e possvel mostrar que o omportamento
assintoti o de ul (r) e
ul (r) ! l sen kr
ln 2kr
l
+ l
2
onde, para o poten ial =r, o parâmetro e dado por = M=h 2 k, e l e l s~ao independentes
de r. A equa ~ao para A(r) mostra que a ondi ~ao de que o poten ial seja de urto al an e e
tambem su iente para garantir que a amplitude A(r) tambem tenda assintoti amente para um
valor onstante. Como, porem, o integrando ontem nesse aso um fator limitado em modulo
mas n~ao positivo, a onstân ia assintoti a de A(r) permane e valida em ondi ~oes algo mais
gerais que as exigidas para a onstân ia assintoti a de '(r). Em parti ular, essa amplitude
tende para um valor onstante no aso do poten ial oulombiano.
Portanto, para poten iais de urto al an e as solu ~oes da equa ~ao radial para o espe tro
ontnuo se omportam assintoti amente omo
ul (r ! 1) ! l sen kr
l
+ l
2
onde l e l s~ao independentes de r. Como l depende de quest~oes de normaliza ~ao, toda a

informa ~ao relativa aos efeitos do poten ial de urto al an e disponvel no omportamento
262
assintoti o da fun ~ao de onda esta ontido nas defasagens l . Experiên ias de espalhamento
envolvem tipi amente medidas feitas a grandes distân ias do entro espalhador (em termos de
suas dimens~oes ara tersti as), de modo que o a esso que elas podem ter as propriedades do
poten ial espalhador deve se dar ne essariamente atraves dessas quantidades.
5.1.5 Condi ~oes de ontorno, amplitudes e se ~ao de hoque

de espalhamento.
As autofun ~oes simultâneas do Hamiltoniano rota ionalmente invariante e dos operadores de
momento angular L2 e L3 , embora importantes do ponto de vista da resolu ~ao do problema
tri-dimensional de autovalores, n~ao s~ao diretamente interpretaveis em termos experimentais
no aso do espe tro ontnuo. Classi amente, um valor denido do momento angular numa
situa ~ao de espalhamento signi a um valor denido do parâmetro de impa to e do momento
da part ula in idente om rela ~ao ao entro do poten ial. Quanti amente, no entanto, as
limita ~oes inerentes as rela ~oes de in erteza n~ao permitem a determina ~ao simultânea dessas
quantidades. Situa ~oes experimentalmente realizaveis envolvem estados que, longe do poten ial
espalhador, s~ao essen ialmente autoestados do momento linear, isto e, ondas planas.
Para uma part ula livre, tomando o eixo 3 do sistema de oordenadas paralelo ao momento
~
h k, vale a de omposi ~ao em ondas par iais
r)
~(0)
k (~
eikz
1
X
l=0
(2l + 1)il Pl ( os )jl (kr);
que, para valores su ientemente grandes de r, se reduz a
~(0)
r)
k (~
1
1 X
(2l + 1)il Pl ( os ) sen kr
kr l=0
z = r os
!
l
:
2
Em presen a de um poten ial de urto al an e V (r), por outro lado, o omportamento assintoti o da onda par ial l foi identi ado omo sendo
ul (r) ! l sen kr
l
+ l
2
que, no aso em que V (r) = 0 e portanto l = 0, reproduz o resultado orrespondente a onda

plana om l = 1. Uma solu ~ao de interêsse para a des ri ~ao de pro essos de espalhamento
envolve uma superposi ~ao de ondas par iais u(+)
l (r ), distor idas pelos efeitos do poten ial, om
a es olha de amplitudes
il
(+)
l =e
263
as quais se reduzem novamente a 1 no aso de poten ial nulo. A autofun ~ao orrespondente do
Hamiltoniano tem ent~ao o omportamento assintoti o
~(+)
r) =
k (~
1
1 X
(2l + 1)il Pl ( os )u(+)
l (r )
kr l=0
1
1 X
(2l + 1)il Pl ( os )eil sen kr
kr l=0
(5.24)
!
l
+ l :
2
Vale a pena notar que a fun ~ao ~(+)

r) esta sendo onstruda omo uma ombina ~ao linear
k (~
parti ular de diferentes autofun ~oes de H om o mesmo autovalor, embora asso iadas a valores
diferentes do momento angular. Os fatores de ada termo que orrespondem a forma assintoti a
da fun ~ao radial podem ser re-es ritos omo
eil sen
kr
l
+ l
2
1 2il i(kr
e e
2i
1 2il
e
=
2i
l=2)

1 (
i)l eikr
i(kr l=2)

!
+ sen kr
l
:
2
Substituindo essa forma na expans~ao assintoti a de ~(+)

r), o ultimo termo reproduz a forma
k (~
ikz
assintoti a da onda plana e , de modo que
~(+)
r) ! eikz +
k (~
1

eikr X
(2l + 1) e2il
2ikr l=0
1 Pl ( os ) eikz + fk(+) ()
eikr
r
onde foi introduzida a fun ~ao de
fk(+) ()
1

1 X
(2l + 1) e2il
2ik l=0
1
1X
1 Pl ( os ) =
(2l + 1)eil sen l Pl ( os ):
k l=0

(5.25)
Portanto a autofun ~ao ~(+)

r) de H se omporta assintoti amente omo a superposi ~ao de uma
k (~
onda plana om uma onda esferi a emergente do entro espalhador, modulada angularmente
pela amplitude fk(+) ().
Outras autofun ~oes do Hamiltoniano, satisfazendo ondi ~oes de ontorno diferentes dessa,
podem ser onstrudas de forma semelhante, superpondo om amplitudes diferentes as solu ~oes
orrespondentes as varias ondas par iais. Por exemplo, tomando a superposi ~ao
264
~k( ) (~r) =
1
1 X
(2l + 1)il Pl ( os )u(l ) (r)
kr l=0
(5.26)
onde agora as fun ~oes radiais u(l ) (r) s~ao denidas de forma que
u(l ) (r
! 1) ! e
il sen
l
+ l
2
kr
e repetindo nesse aso o desenvolvimento usado no aso de ~(+)

r), resulta que a autofun ~ao
k (~
(5.26) se omporta assintoti amente omo a superposi ~ao de uma onda plana om uma onda esferi a imergente para o entro espalhador, modulada angularmente por uma amplitude
fk( ) (), isto e
~(k ) (~r) ! eikz + fk( ) ()

om
fk( ) () =
1
1X
(2l + 1)( 1)l e
k l=0
ikr
il sen P ( os ):
l l
As ondi ~oes de ontorno assintoti as que ara terizam as autofun ~oes (5.24) e (5.26)
~(k) (~r) ! eikz + fk() ()
eikr
r
s~ao usualmente hamadas ondi ~oes de ontorno de espalhamento om ondas emergentes e imergentes respe tivamente. Essas autofun ~oes do espe tro ontnuo do Hamiltoniano desempenham
um papel entral na teoria geral do espalhamento. Suas ondas par iais est~ao rela ionadas por
2il ( )
u(+)
l (r ) = e ul (r )
e as fases Sl
e2il
s~ao na realidade autovalores de uma matriz unitaria hamada matriz de

espalhamento (ou \matriz S "), que e diagonal na representa ~ao em que o momento angular e
diagonal, no aso de poten iais entrais.
A forma assintoti a da autofun ~ao om ondas emergentes (5.24) esta diretamente rela ionada
om a se ~ao de hoque de espalhamento pelo poten ial entral V (r). Um argumento heursti o
que permite expli itar essa rela ~ao onsiste em interpretar o uxo da onda esferi a emergente,
na regi~ao assintoti a, omo o uxo de part ulas espalhadas pelo poten ial. Nesse tipo de
argumento s~ao ignorados efeitos de interferên ia entre a onda plana e a onda esferi a espalhada,
265
a pretexto de que a primeira e bloqueada por um sistema de olima ~ao montado de forma que
o uxo in idente n~ao atinja o dete tor. Isso impli a numa distor ~ao da onda plana, mas para
dimens~oes ma ros opi as do sistema de olima ~ao essa distor ~ao pode ser desprezada para efeito
da des ri ~ao do pro esso de espalhamento.
Dentro desse esquema, a se ~ao de hoque diferen ial d deve ser denida omo a orrente
da onda espalhada que passa atraves do ângulo solido d
dividida pelo uxo da onda plana
in idente. A densidade de orrente espalhada na dire ~ao r^ e dada por (3.15) omo
~j r^ = h 2 Im
2M
"
!
eikr
(+)
fk ( )
r
r r^
!#
eikr
(+)
fk ()
r
h k 1 (+) 2
jf ( )j :
M r2 k
A orrente dI atraves do ângulo solido d

sera portanto
h k
dI = ~j r^ r2 d
= jfk(+) ()j2 :
M
Por outro lado, omo o uxo in idente da onda plana om amplitude 1 e dado por h k=M ,
resulta que a se ~ao de hoque diferen ial e dada simplesmente por
d
= jfk(+) ()j2 :
(5.27)
d
Como a se ~ao de hoque e dada pelo modulo quadrado de fk(+) (), essa fun ~ao e hamada
amplitude de espalhamento asso iada ao poten ial V (r). Como foi visto, ela e ompletamente
denida pelas defasagens l para as diferentes ondas par iais, o mesmo a onte endo portanto
para a se ~ao de hoque diferen ial, que tem a forma de uma soma dupla
1 (2l + 1)(2l0 + 1)
d X
=
ei(l
d
l;l0 =0
k2
l0 ) sen
l sen l0 Pl ( os )Pl0 ( os )
onde e importante notar a existên ia de termos de interferên ia entre diferentes ondas par iais.
A se ~ao de hoque total e obtida integrando essa express~ao sobre o ângulo solido d
, o que
pode ser feito usando a propriedade de ortogonalidade dos polinômios de Legendre
Z
d
Pl ( os )Pl0 ( os ) =
4
0
2l + 1 ll
que ex lui os termos de interferên ia levando ao resultado
=
1
d 4 X
= 2 (2l + 1) sen2 l :
d
k l=0
266
Essa express~ao da a se ~ao de hoque total omo uma soma de ontribui ~oes de ada uma das
ondas par iais
l =
4
(2l + 1) sen2 l
k2
que tem portanto omo limite superior 4 (2l + 1)=k2 . Esse limite esta rela ionado om a
onserva ~ao da probabilidade total pela equa ~ao de movimento quânti a e tambem om a
unitaridade da matriz S , o que lhe vale a denomina ~ao de \limite de unitaridade".
Existe uma rela ~ao extremamente uriosa e importante entre a se ~ao de hoque total e a
amplitude de espalhamento na dire ~ao frontal, = 0. De fato, omo Pl (1) = 1,
fk(+) ( = 0) =
1
1
1X
1X
(2l + 1)eil sen l =
(2l + 1)( os l sen l + i sen2 l
k l=0
k l=0
e portanto
4
Im fk(+) ( = 0):
k
Essa e uma rela ~ao bastante pe uliar, no sentido que rela iona linearmente uma \probabilidade", , om uma \amplitude", fk(+) ( = 0). Ela e onhe ida omo teorema opti o, e esta
ligada, mais uma vez, a onserva ~ao da probabilidade total no problema de espalhamento. O
papel espe ial que esse resultado atribui a dire ~ao frontal = 0 esta ligado ao fato de que o
argumento de \n~ao interferên ia" da onda plana om a onda esferi a espalhada ertamente de
torna invalido nessa dire ~ao; a interferên ia dessas duas ondas em = 0 deve ent~ao an elar
uma parte da orrente in idente su iente para ompensar toda a orrente espalhada, medida
pela se ~ao de hoque total.
Finalmente, uma quest~ao de onsideravel importân ia prati a e a do numero de ondas
par iais que ontribuem apre iavelmente para a amplitude de espalhamento. Do ponto de vista
lassi o, uma part ula om momento angular h l e momento linear de modulo h k na regi~ao
assintoti a e ara terizada por um parâmetro de impa to b = l=k. Isso signi a que, para um
dado valor de h k, o parâmetro de impa to res e linearmente om o momento angular h l, de
modo que, para um poten ial ujo al an e pode ser estimado em termos de uma dada distân ia
R, havera um valor maximo do momento angular, que pode ser estimado omo lmax kR, alem
do qual os efeitos do poten ial sobre o movimento da part ula ser~ao desprezveis.
Uma situa ~ao semelhante pode ser identi ada tambem no ontexto da me âni a quânti a.
De fato, a equa ~ao radial para a onda par ial l ontem os efeitos efetivamente repulsivos do
poten ial entrfugo l(l + 1)=r2 , que se tornam mais importantes a medida que o valor de
l aumenta. Esses efeitos tendem a reduzir a amplitude radial ul (r) na regi~ao em que V (r)
=
267
atua, e se o poten ial tem um al an e que pode ser estimado em termos de uma distân ia R,
havera um valor lmax do momento angular a partir do qual os efeitos do poten ial sobre ul (r)
ser~ao desprezveis. Isso signi a que as amplitudes radiais para l > lmax ser~ao essen ialmente
amplitudes radiais livres, om l ' 0. Esse argumento indi a que, na de omposi ~ao em ondas
par iais da amplitude de espalhamento, apenas os termos om l < lmax ser~ao relevantes. A
express~ao lassi a lmax kR para o momento angular maximo e frequentemente util para uma
estimativa do numero de ondas par iais relevantes.
5.1.6 Espalhamento a muito baixas energias. Expans~ao

de al an e efetivo.
No limite de energias muito baixas, para um poten ial de urto al an e uja extens~ao espa ial e
ara terizada pelo omprimento R, kR 1, e apenas o termo l = 0 ontribui apre iavelmente
para a expans~ao em ondas par iais da amplitude de espalhamento, que se reduz ent~ao a
1
fk(+) () ! ei0 sen 0 kR 1:
k
Como Pl=0 () = 1 a se ~ao de hoque diferen ial se torna isotropi a (independente de ), sendo
dada por
d
1
!
sen2 0 :
d
k2
Embora baseado na estimativa lassi a, esse resultado e valido para uma lasse muito grande
de poten iais. E pre iso apenas ex luir poten iais que, embora sendo de urto al an e, tenham
audas atrativas do tipo r (1+) om 0 < 1, pois esses poten iais podem ompensar os
efeitos do poten ial entrfugo pelo menos ate algum valor de l.
No limite k ! 0, a se ~ao de hoque pode permane er nita. Nesse aso a defasagem 0
deve se anular linearmente om k, o que torna in onveniente a parametriza ~ao da amplitude de
espalhamento em termos de 0 . A quantidade relevante para ara terizar a se ~ao de hoque
em energias muito proximas de zero e ent~ao
sen 0 (k)
k
que tem dimens~oes de omprimento e e por isso hamada omprimento de espalhamento, em
termos do qual a se ~ao de hoque diferen ial e dada por
a
lim
k!0
d
= a2 :
d
268
O sinal na deni ~ao de a e onven ional. Uma interpreta ~ao \geometri a" do omprimento
de espalhamento que justi a, em parti ular, a onven ~ao de sinal adotada pode ser obtida da
seguinte forma. Seja v0 (r) uma solu ~ao da equa ~ao radial livre, para l = 0,
d 2 v0
+ k 2 v0 = 0
dr2
onstruda de forma a oin idir, na regi~ao assintoti a, om a solu ~ao u0 (r) da equa ~ao radial
que in lui o poten ial
d2 u0
+ [k2
2
dr
U (r)u0 = 0;
u0 (r = 0) = 0;
isto e
v0 (r) = sen(kr + 0 ) para u0 (r ! 1) ! sen(kr + 0 ):

(5.28)
E laro que, se 0 6= 0, a fun ~ao v0 (r) n~ao se anula na origem. Nesse aso e possvel xar uma
normaliza ~ao onveniente para essa fun ~ao impondo a ondi ~ao v0 (r = 0) = 1, que orresponde
a = 1= sen 0 e leva ao resultado
1
sen(kr + 0 ) = os(kr) + sen(kr) ot 0 :
sen 0
Tomando agora o limite k ! 0 resulta
v0 (r) =
r
:
a
A quantidade a introduzida na express~ao nal oin ide de fato om o omprimento de espalhamento denido anteriormente quando o limite entre parênteses for nito, pois nesse aso 0
deve tender a zero linearmente om k e
lim v (r) =
k!0 0
1 + klim
kr ot 0 = 1 + klim
k ot 0 r 1
!0
!0
1
1
= :
(5.29)
sen 0
a
No limite k ! 0 a fun ~ao v0 (r) se reduz, portanto, a uma reta que tem o valor 1 para r = 0 e que
orta o eixo das ab issas no ponto r = a. As guras 5.1 e 5.2 ilustram essa onstru ~ao geometri a
para o omprimento de espalhamento no aso de poten iais simples que s~ao respe tivamente
puramente atrativos e puramente repulsivos. A inspe ~ao dessas guras revela que existe, embora
apenas ate erto ponto, uma rela ~ao entre o sinal do omprimento de espalhamento a e o arater
repulsivo ou atrativo do poten ial orrespondente. De fato, a > 0 para poten iais puramente
repulsivos, e a < 0 para poten iais puramente atrativos quando n~ao haja nenhum estado ligado
lim k ot 0 = klim
k
k!0
!0
269
(b)
(a)
1
r
U(r)
U(r)
(d)
(c)
1
1
r
r
a
U(r)
U(r)
Figura 5.1: Fun ~oes u0 (r) (linhas heias) e v0 (r) (linhas tra ejadas) para quatro poten iais
atrativos U (r) de mesmo al an e mas om diferentes profundidades (representadas apenas qualitativamente, sem es ala) e k ! 0. Essas fun ~oes s~ao normalizadas de forma que v0 (0) = 1, e
u0 (r) = v0 (r) para valores de r para os quais U (r) ' 0. Em (a) o poten ial n~ao tem nenhum
estado ligado. Em (b) e ( ) ha apenas um estado ligado, enquanto em (d) ha dois estados
ligados om l = 0.
Figura 5.2: Fun ~oes u0 (r) (linha heia) e v0 (r) (linha tra ejada) para um poten ial repulsivo U (r) e k ! 0, f.
gura 5.1
270
U(r)
a
om l = 0. Esta ultima restri ~ao e indispensavel pois, omo pode ser visto nos asos (b), ( )
e (d) da gura 5.1, quando o poten ial atrativo admitir estados ligados om l = 0 n~ao existe
qualquer restri ~ao geral sobre o sinal de a.
A express~ao (5.29) pode ser vista omo rela ionando o omprimento de espalhamento om
o primeiro termo de uma expans~ao de k ot 0 em potên ias de k. Uma forma de renar a
des ri ~ao do espalhamento em energias proximas de zero onsiste em obter termos adi ionais
dessa expans~ao, onhe ida omo expans~ao de al an e efetivo
1
d
k2 d2
+ k (k ot 0 )k=0 +
(k ot 0 )k=0 + :::
(5.30)
a
dk
2 dk2
para o que e ne essario determinar a dependên ia de 0 om k para para valores proximos de
zero dessa variavel. Uma forma de fazer isso onsiste em onsiderar um par de solu ~oes v0(i) e
u(0i) , i = 1; 2 onstrudas exatamente omo em (5.28) mas para dois valores diferentes k1 e k2
(2)
do modulo do vetor de onda. Multipli ando a equa ~ao radial para u(1)
0 por u0 e vi e versa, e
em seguida subtraindo as express~oes resultantes, se obtem
k ot 0 =
d2 u(1)
0
u(2)
0
dr2
d2 u(2)
d (2) du(1)
0
0
u(1)
=
u
0
dr2
dr 0 dr

du(2)
0 A
u(1)
=
k22
0
dr
(2)
k12 u(1)
0 u0 :
(5.31)
Esse pro edimento elimina a interven ~ao expl ita do poten ial no resultado. Pro edendo da
mesma forma om rela ~ao as fun ~oes v0(i) se obtem tambem
0
d (2) dv0(1)
v
dr 0 dr

dv (2)
v0(1) 0 A = k22
dr
k12 v0(1) v0(2) :
(5.32)
As onstantes de normaliza ~ao de u(0i) e v0(i) s~ao es olhidas da mesma forma que no tratamento
anterior, isto e,
1
(i)
(i)
(i)
u0(i) (r ! 1) !
(i) sen(ki r + 0 ) = v0 (r ); v0 (0) = 1:
sen 0
Subtraindo as rela ~oes (5.31) e (5.32), e integrando o resultado sobre r usando o fato de que
= 0 e v0(i) (0) = 1
u0(i) (0)
dv (2)
0 A
dr r=0
dv (1)
0 A
= (k22
dr r=0
k12 )
em que as derivadas que apare em no primeiro membro s~ao

271
dr v0(1) v0(2)
(2)
u(1)
0 u0
d sen(ki r + 0(i) ) A
dv (i)

0 A
= ki ot 0(i) :
=
(
i
)
dr r=0
dr
sen 0
r=0
Fazendo ent~ao k1 = 0 e k2 = k e usando a deni ~ao do omprimento de espalhamento resulta
nalmente
i
h
1 k2 Z 1
k ot 0 (k) =
dr 2 v0(k) v0(0) u(0k) u(0)
+
0 =
a 2 0
i
h
1 k2 Z 1
=
dr 2 v0(0)2 u(0)2
+
0
a 2 0
Z
h
i
k2 1
(0)
dr 2 (v0(k) v0(0) )v0(0) (u(0k) u(0)
+
0 )u0 :
2 0
A integral que apare e no ultimo termo se anula para k ! 0, de modo que esse termo e de
ordem superior a k2 . Desse modo o termo linear em k na expans~ao de al an e efetivo (5.30) e
nulo, e o oe iente do termo quadrati o pode ser expresso omo
Z 1
i
h
d2
(0)2
(0)2
(
k
ot
)

r
=
:
dr
2
v
u
0
0
0
0
k
=0
dk2
0
O parâmetro r0 , que tem dimens~oes de omprimento, e hamado al an e efetivo do poten ial
V (r).
5.2
Problema de dois orpos om f^

or
as entrais.

atomo de hidrog^
enio.
Um sistema de dois orpos, de massas M1 e M2 , que interagem mutuamente atraves de for as

entrais derivadas de um poten ial, e des rito pelo hamiltoniano
H=
p21
p2
+ 2 + V (j~r1 ~r2 j)
2M1 2M2
onde as omponentes artesianas dos momentos p~i s~ao anoni amente onjugadas as omponentes artesianas respe tivas de ~ri . Esse Hamiltoniano atua num espa o de estados que pode
ser implementado omo o produto dos espa os de estados de ada um dos orpos onsiderados
(2)
isoladamente. Expli itamente, se fj(1)
ao bases (por onveniên ia ortonormais)
n ig e fjn ig s~
272
dos espa os de um orpo, ent~ao uma base do espa o do sistema de dois orpos pode ser es rita
(2)
(1) (2)
em termos dos produtos fj(1)
m i
jn ig fjm n ig, o que signi a que um vetor de estado
geral j'i do sistema de dois orpos pode ser es rito omo
j 'i =
m;n
(2)
mn j(1)
m n i:
Variaveis dinâmi as de um dos dois orpos, omo por exemplo ~p1 , s~ao estendidas ao espa o de
estados de dois orpos denindo a sua a ~ao sobre os vetores desse espa o de forma que atuem
omo o operador identidade no fator orrespondente ao outro orpo, isto e
p~1 j'i =
m;n
mn p~1 j(1)
mi
1^2j(2)
n i :
Essa extens~ao e as vezes expli itada es revendo o operador p~1 , visto omo operador no espa o produto, omo ~p1
1^2 . Com essa nota ~ao expl ita, o problema de autovalores para o
Hamiltoniano de dois orpos se es reve omo
!
p22
p21
^
^
12 + 11
2M + V (j~r1 ~r2j) jE i = E jE i:
2M1
2
Ao ontrario dos termos de energia ineti a, o termo de energia poten ial presente nessa equa ~ao
introduz orrela ~oes entre as variaveis dinâmi as dos dois orpos, o que torna dif il a solu ~ao
do problema, olo ado nessa forma.
De modo inteiramente analogo ao utilizado no ontexto da me âni a lassi a, e possvel no
entanto mudar a formula ~ao do problema de dois orpos de modo a ontornar esse tipo de
di uldade. De fato, introduzindo variaveis dinâmi as do entro de massa
M ~r + M2~r2
R~ 1 1
; P~ p~1 + ~p2
M1 + M2
bem omo variaveis dinâmi as referentes ao movimento relativo dos dois orpos
M ~p M2 p~1
~r ~r2 ~r1 ; p~ 1 2
M1 + M2
o Hamiltoniano de dois orpos assume a forma
H=
P 2 p2
+ + V (r) HR + Hr ; M
2M 2
M1 + M2 ; MM1+MM2
1
2
~ P~ g e f~r; p~g tambem orrespondem a pares de variaveis anoni amente onjugadas,

onde fR;
e portanto [HR ; Hr = 0: Com essa reformula ~ao, portanto, o problema de dois orpos om
273
for as entrais se reduz a um problema efetivo de dois orpos sem intera ~ao mutua. Um dos
orpos do problema efetivo orresponde de fato ao entro de massa de M1 e M2 , asso iado a
um Hamiltoniano livre de um orpo, enquanto o segundo orpo, orrespondente a dinâmi a
relativa, e asso iado a um Hamiltoniano de uma part ula om massa igual a massa reduzida
e submetida ao poten ial entral V (r). Nessas ondi ~oes, a forma onveniente de implementar
o espa o de estados onsiste em toma-lo omo o espa o produto dos estados do entro de massa
( om operador identidade 1^R ) pelo espa o dos estados do movimento relativo ( om operador
identidade 1^r ). O problema de autovalores a, portanto
"
P2
2M
!#
p2
+ V (r )
2
1^r + 1^R
jei = E jei:
Nesse aso a dinâmi a n~ao envolve orrela ~oes entre os dois onjuntos de variaveis, e e possvel
pro urar autovetores simultâneos de HR e de Hr sob a forma fatorada
jE i = jRi
jr i
onde
!
P2
HR jR i =
j i = ER jRi
2M R
p2
Hr jr i =
+ V (r) jr i = Er jr i
2
om ER + Er = E .
Estas ultimas equa ~oes ja foram tratadas nas se ~oes anteriores. Usando a representa ~ao de
S hrodinger, as autofun ~oes do problema referente ao entro de massa, tomadas omo autofun ~oes simultâneas do momento P~ , s~ao ondas planas
R (R~ ) hR~ jR i =
1 iK~ R~
e ;
(2 )2=3
ER =
h 2 K 2
2M
e as autofun ~oes do problema referente a dinâmi a relativa, tomadas omo autofun ~oes si~ = ~r p~, s~ao
multâneas de L2 e L3 om L
r (~r) h~rjr i =
uEr ;l (r)
Ylm (; ')
r
onde uEr ;l (r) satisfaz a equa ~ao radial

"
d2 uEr ;l
2Er
+
2
dr
h 2
l(l + 1)
r2
274
2V (r)
uEr ;l (r) = 0:
h 2
As autofun ~oes resultantes para o problema de dois orpos s~ao portanto
~ ~r) hR~ jR ih~rjr i =

E (R;
1 iK~ M1M~r11 ++MM22~r2

1 iK~ R~
e

(
~
r
)
=
e
r (~r2
r
(2 )2=3
(2 )2=3
~r2 )
(5.33)
onde as orrela ~oes dinâmi as entre os orpos M1 e M2 apare em sob a forma da n~ao fatorizabilidade desse resultado nas variaveis ~r1 e ~r2 .
Esses resultados permitem tratar um modelo simples para \atomos hidrogenoides", que s~ao
sistemas onsistindo de um nu leo puntiforme de massa M1 e arga +Ze interagindo eletrostati amente om um ele tron, tambem puntiforme, de massa M2 e arga e. Nesse aso
Ze2
V (r ) =
r
e a equa ~ao radial a ser resolvida para a dinâmi a relativa e
"
2Er
d2 uEr ;l
+
dr2
h 2
l(l + 1) 2Ze2
uEr ;l (r) = 0:
+ 2
r2
h r
O poten ial oulombiano se anula para r ! 1, mas n~ao e um poten ial de urto al an e no
sentido da se ~ao 5.1.4. Para valores positivos de Er o espe tro e ontnuo e o omportamento
assintoti o das amplitudes radiais uEr ;l (r) e
uEr ;l (r ! 1) ! l sen kr
ln 2kr
l
+ l
2
onde k = 2Er =h 2 , = Ze2 =h 2 k e o hamado \parâmetro oulombiano" e a \defasagem

oulombiana" l e dada em termos da fun ~ao gama por
l = arg (l + 1 + i ):
Para valores negativos de Er o espe tro e dis reto om um numero innito de estados
ligados para ada valor do momento angular l. Para obter a forma desse espe tro e onveniente
introduzir a variavel adimensional
s
2
2jEr j
r
h 2
bem omo re-es rever o poten ial oulombiano em termos do parâmetro, tambem adimensional
275
(Er )
Ze2
2jEr j h
(5.34)
om o que a equa ~ao radial adquire a forma
d2 u;l
d2
"
1 l(l + 1)
+
4
2

u = 0:
;l
As solu ~oes dessa equa ~ao que tem omportamento su ientemente regular na origem podem
ser es ritas sob a forma
u;l () = e
=2 s F ()
om F ( = 0) = A0 6= 0 e s 1. Substituindo essa forma na equa ~ao diferen ial se obtem
d
2
2F
d2
+ (2s
)
dF
+ [s(s 1) l(l + 1) + ( s)F = 0
d
que, para = 0, da s = l + 1. Com essa es olha para s a equa ~ao para F adquire a forma
2
dF
d2 F
+ (2l + 2 ) + ( l
2
d
d
1)F = 0:
Expandindo agora F () em serie de potên ias
F () =
k0
Ak k
e substituindo na ultima equa ~ao, resulta que os oe ientes Ak devem satisfazer a rela ~ao de
re orrên ia
k+l+1
Ak+1 =
A:
(k + 1)(k + 2l + 2) k
Para valores n~ao inteiros de a raz~ao dos termos su essivos da serie indi a um omportamento
exponen ialmente res ente do tipo e , de modo que para obter solu ~oes limitadas e pre iso
garantir a termina ~ao da serie es olhendo = n l + 1, om n inteiro. Nesse aso Ak = 0 para
k > n l 1 e as solu ~oes regulares da equa ~ao radial se reduzem a
u;l () ! unl () = e
n l 1
=2 l+1 X A
k=0
276
k;
k
l n 1:
(5.35)
l=0
l=1
l=2
l=3
...
n=4
n=3
n=2
...
E=0
n=1
Figura 5.3: Diagrama ilustrativo das energias relativas dos estados ligados do poten ial oulombiano, lassi ados segundo os valores do numero quânti o n e do momento angular l.
Os polinômios que apare em nessas solu ~oes s~ao polinômios de Laguerre asso iados e os autovalores dis retos do Hamiltoniano resultam da rela ~ao (5.34), atraves das restri ~oes impostas
sobre . De fato, usando = n > l nessa rela ~ao, e lembrando que Er < 0, segue que
Er (n; l) =
Z 2 e4
2h2 n2
2
mZn2 R; l < n; n 1
(5.36)
onde me e a massa do ele tron e R = me e4 =2h2 e a hamada onstante de Rydberg, ujo valor e
me 2 (e2 =h )2 1=2 = 511 103 eV (1=137)2 1=2 =13.61 eV. Segundo esse resultado, para
ada valor de n existem estados ligados om valores de l dados por l = 0; 1; :::; n 1 uja energia
depende apenas de n, sendo propor ional a n 2 (v. gura 5.3). A ada valor de l orrespondem
ainda os 2l + 1 autovalores possveis de L3 , l m +l. As autofun ~oes que des revem os
estados esta ionarios da dinâmi a relativa do atomo hidrogenoide s~ao portanto
nlm (~r) = nl
unl ()
Y (; ')
r lm
(5.37)
onde e ' s~ao as oordenadas angulares asso iadas ao vetor relativo ~r, a amplitude radial
unl () e dada por (5.35) e a onstante de normaliza ~ao nl e xada pela ondi ~ao
2nl
dr u2nl () = 1:
Essas autofun ~oes devem ainda ser substitudas omo ultimo fator na express~ao (5.33) para
que se obtenha as autofun ~oes do atomo hidrogenoide, visto omo sistema de dois orpos,
orrespondentes aos seus estados esta ionarios.
277
5.2.1 Correla ~oes de dois orpos e raios de estados ligados.

Uma propriedade simples desses estados esta ionarios que pode ser obtida dos resultados a ima
e o valor medio do modulo da oordenada relativa ~r, que serve para ara terizar o \tamanho"
do atomo no estado esta ionario onsiderado. Essa quantidade e, de fato
hrinl
d~r nlm (~r) r nlm (~r) =
h 2
[3n2
2
2Ze
l(l + 1):
Ela resulta independente do autovalor h m de L3 devido ao seu arater rota ionalmente invariante, omo media do modulo de ~r. Para o estado fundamental (estado de menor energia,
n = 1; l = 0) ela vale
2
3h
3 me
hril0 = 2Ze
2 2Z a0 ;
a0
h 2
= 5:2917706(44) 10 9 m
me e2
onde a0 e hamado primeiro raio de Bohr. Para estados ex itados, por outro lado, hrinl aumenta
rapidamente om n para todos os valores possveis de l, e limn!1hrinl = 1. Isso signi a
que existem, em prin pio, estados ligados do poten ial oulombiano om raio arbitrariamente
grande.
Finalmente, e util identi ar essa medida do tamanho do atomo hidrogenoide no ontexto da
fun ~ao de onda de dois orpos onstruda por exemplo, omo no aso da (5.33), omo autofun ~ao
simultânea do momento do entro de massa P~ . Para evitar os problemas te ni os ligados a
norma innita do fator de entro de massa om a normaliza ~ao do ontnuo, e onveniente
re-es rever a fun ~ao de onda de dois orpos utilizando para esse fator ondi ~oes periodi as de
ontorno num volume L3 su ientemente grande. Assim
1 iK~ M1M~r11 ++MM22~r2
e
nlm (~r2 ~r1 )
L3=2
onde o ultimo fator e obtido re-es revendo a (5.37) em termos das variaveis apropriadas. O
valor medio hrinl e agora dado por
ER ;nlm (~r1 ; ~r2 ) =
hrinl = L13 d~r1 d~r2 ER;nlm(~r1 ; ~r2)j~r1 ~r2 jER;nlm(~r1; ~r2 );

omo pode ser fa ilmente veri ado mudando as variaveis de integra ~ao para as variaveis de
entro de massa R~ e relativa ~r, e apare e laramente omo uma propriedade de orrela ~ao entre
os dois orpos no estado esta ionario ER;nlm (~r1 ; ~r2 ), no qual, em parti ular, o entro de massa se
distribui om densidade de probabilidade uniforme sobre todo o volume de quantiza ~ao L3 . Em
outras palavras, embora a simetria transla ional implementada atraves da es olha de um estado
278
esta ionario que e autofun ~ao tambem do momento total tenha o efeito de deslo alizar ada um
dos dois orpos onsiderado separadamente, o tamanho do atomo apare e ainda nesse estado
omo uma es ala de omprimento asso iada a probabilidade de en ontrar um dos orpos em
~r1 ondi ionada a presen a do segundo orpo em ~r2 . Probabilidades ondi ionais desse mesmo
tipo s~ao as que devem ser onsideradas para identi ar propriedades ru iais, por exemplo, para
propriedades qumi as de sistemas mole ulares mais omplexos ( omo a propriedade de uma
determinada \forma mole ular") em estados quânti os em que elas pare em ter sido de erta
forma dissolvidas pela implementa ~ao de simetrias globais do Hamiltoniano.
Os efeitos do tamanho atômi o, asso iados a orrela ~oes entre as suas part ulas onstituintes, se manifestam tambem numa ara teriza ~ao ompleta, dentro do ontexto quânti o,
do estado de uma delas. Devido a existên ia de orrela ~oes, tal estado n~ao pode ser
ara terizado em termos de um vetor de estado, ou de uma fun ~ao de onda. Para tal
m e introduzida uma matriz densidade (ou operador densidade) denida no espa o de
ongura o~es da part ula es olhida (e.g. a part ula asso iada ao ndi e 1) por
(~r1 ; ~r 01 )
d~r2 ER ;nlm (~r1 ; ~r2 )ER ;nlm (~r 01 ; ~r2 ):
Como pode ser notado, os elementos \diagonais" (~r1; ~r1 ) d~ao a densidade de probabilidade orrespondente a part ula 1 integrada sobre todo o espa o de ongura ~oes da
part ula 2. Esta densidade de probabilidade e insu iente para o estudo de efeitos, vistos
atraves da part ula 1, asso iados a orrela ~oes entre as part ulas 1 e 2, mas tais efeitos
podem ser estudados a partir da matriz densidade ompleta, in luindo seus elementos n~ao
diagonais. Uma dis uss~ao mais ompleta dessas quest~oes pode ser en ontrada em P. R. I.
Tommasini, E. Timmermans e A. F. R. de Toledo Piza, Am. J. Phys. 66, 881 (1998).
5.2.2 Propriedades empri as do espe tro do atomo de hidrogênio e
insu iên ia do modelo simples.
O modelo simples utilizado ate aqui para o atomo de hidrogênio, que onsiste em des reve-lo
omo sistema onstitudo de um proton e um ele tron vistos omo part ulas puntiformes e sem
estrutura, ligadas pela intera ~ao oulombiana, n~ao e su ientemente ri o para dar onta, sequer
qualitativamente, das propriedades mais nas do seu espe tro experimental. Essa des ri ~ao
reproduz orretamente propriedades desse espe tro apenas na es ala da onstante de Rydberg
me e4 1 e2
R= 2 =
2 h
2h
!2
1 1
1
510976 eV = 13:61 eV
me 2 2 me 2 =
2
2 1372
279
omo e, por exemplo, a serie de Balmer, ja reproduzida por Bohr no ontexto da velha teoria quânti a. O estudo experimental mais pre iso do espe tro do hidrogênio revela porem
outras propriedades. Por exemplo, o nvel n = 2; l = 1 ou, em termos da nomen latura
espe tros opi a, o nvel 2p, que no modelo simples e exatamente degenerado om o nvel 2s
(n = 2; l = 0), apare e na realidade omo um par de nveis uja separa ~ao e da ordem de 2 R,
o nvel inferior sendo essen ialmente degenerado om o nvel 2s. Essa \estrutura na" (notando
que 2 5 10 5 ) apare e tambem no aso de outros nveis om l 6= 0. Numa es ala de energia que e er a de 10 3 a es ala dessa estrutura na e possvel observar que o proprio estado
fundamental 1s, n~ao degenerado no modelo simples, apare e na realidade tambem omo um
dubleto (\estrutura hiperna"), do qual um dos nveis se separa ainda em três nveis diferentes
sob a a ~ao de um ampo magneti o externo.
A des ri ~ao desses efeitos, parti ularmente a presen a de varios nveis \hipernos" onde o
modelo simples prevê um uni o estado n~ao degenerado, exige a introdu ~ao de outros graus de
liberdade, alem da posi ~ao do proton e do ele tron, num modelo mais realsti o do atomo de
hidrogênio. Tanto a estrutura na omo a estrutura hiperna do espe tro podem, de fato, ser
des ritas em termos relativamente simples admitindo a presen a de graus de liberdade adi ionais
tanto no ele tron omo no proton om propriedades analogas as do momento angular e om
valores semi-inteiros em unidades de h (spin). Isso sera feito no aptulo seguinte.
Em 1947 Lamb e Retherford (Phys. Rev. 72, 241 (1947)) veri aram que a omponente
inferior do dubleto de estrutura na 2p se en ontra na realidade a uma energia h , om
109 s 1 ' 3 10 7 R, abaixo do estado 2s. Esse \deslo amento de Lamb" requer, para o
seu tratamento, a onsidera ~ao de um numero innito de graus de liberdade asso iados as
propriedades eletromagneti as do va uo.
Problemas.
5.1 - Seja L~ um operador de momento angular e jlmi os autovetores normalizados simultâneos

de L2 e de Lz , om autovalores h 2 l(l + 1) e h m respe tivamente. Cal ule
a) hl0 m0 jLx jlmi
b) hl0 m0 jL2x jlmi
) hl0 m0 j(L2x + L2y )jlmi
d) hl0 m0 j(L2x L2y )jlmi.
5.2 - Sejam a e b dois operadores n~ao hermiteanos, satisfazendo om os seus respe tivos adjuntos
ay e by as rela ~oes de omuta ~ao
280
[a; ay = [b; by = 1;
[a; b = [a; by = [ay ; b = [ay ; by = 0:
Mostre ent~ao que os operadores
J+ = ayb;
J = J+y = by a e J3 =
1 y
aa
2
by b
satisfazem rela ~oes de omuta ~ao de momento angular. Construa o operador orrespondente a
J 2 tambem em termos de a, b e de seus adjuntos e verique que ele omuta om J e om J3 .
Esses operadores foram utilizados por S hwinger para o tratamento do momento angular
quânti o (J. S hwinger, Quantum Theory of Angular Momentum, L. Biedenharn e H. Van Dam,
Eds., A ademi Press, N.Y. 1965.)
5.3 - a) Determine, para o aso de um po o de poten ial quadrado, em três dimens~oes
8
>
<
V (r ) = >
:
V0 ; r < R
0;
r>R
as ondi ~oes sobre os parâmetros (raio R e profundidade V0 do poten ial) para que
a) existam n estados ligados de momento angular l = 0. Rela ione n om o numero de zeros
no intervalo 0 < r < R da fun ~ao de onda radial al ulada para energia zero;
b) exista pelo menos um estado ligado de momento angular l = 1.
) Quantos estados ligados de momento angular l = 0 havera quando houver apenas um
estado ligado de momento angular l = 1?
d) Se a profundidade V0 do poten ial aumenta a medida que o raio R diminui, de forma
que a integral de volume do poten ial 4V0 R3 =3 permane e onstante, o numero de estados
ligados om l = 0 aumenta, n~ao se altera ou diminui a medida que o raio do poten ial diminui?
Qual o limite para a energia do estado fundamental quando R ! 0? Qual e, nesse aso, o limite
para a fun ~ao de onda do estado fundamental?
5.4 - a) Mostre que o Hamiltoniano de os ilador harmôni o tri-dimensional e isotropi o

p2 M!02 2
+
r
2M
2
omuta om as omponentes do momento angular ~l = ~r p~.
H=
281
b) Utilizando a representa ~ao de S hrodinger e oordenadas artesianas mostre que esse
Hamiltoniano pode ser es rito omo a soma de três Hamiltonianos de os ilador unidimensionais,
H = H1 + H2 + H3 que s~ao ompatveis e portanto podem ser diagonalizados simultaneamente.
) Mostre que ada um dos hamiltonianos unidimensionais Hi do item anterior, orrespondentes as omponentes artesianas das variaveis dinâmi as, omuta om a omponente respe tiva Li do momento angular mas n~ao omuta om as outras duas omponentes, e portanto n~ao
omuta tambem om L2 .
d) Trate o problema da determina ~ao das autofun ~oes simultâneas de H , de L2 e da omponente L3 do momento angular. Para isso onsidere o problema de autovalores na representa ~ao
de S hrodinger em oordenadas esferi as, determine a forma das autofun ~oes simultâneas dos
três observaveis e obtenha a equa ~ao radial a ser resolvida nesse aso.
e) Mostre que L2 e L3 têm elementos de matriz nulos entre autofun ~oes de H om energias
diferentes, e que portanto a degeneres ên ia de qualquer autovalor de H deve ser um numero
que pode ser es rito omo 2l + 1 ou omo uma soma de numeros dessa forma.
f) Mostre, a partir da solu ~ao em oordenadas artesianas, que o estado fundamental n~ao
e degenerado, e que isso impli a que a autofun ~ao de H orrespondente a esse estado deve ser
tambem uma autofun ~ao do momento angular. Qual e o valor do momento angular para esse
estado?
g) Considere o os ilador anisotropi o, mas om simetria axial, des rito por
H=
i
p2 M h 2 2
!?x3 + !k2 (x21 + x22 ) ;
+
2M 2
!? 6= !k :
Mostre que nesse aso L3 e uma onstante do movimento, mas o mesmo n~ao o orre om L1
e L2 . O operador L2 e uma onstante do movimento? Desenvolva um esquema para al ular
as autofun ~oes simultâneas de H e L3 usando a representa ~ao de S hrodinger em oordenadas
ilndri as, ~r f; '; x3 g.
5.5 - a) Deduza uma express~ao para a defasagem l da onda par ial l para o espalhamento por
uma esfera dura, isto e, um poten ial repulsivo V0 ! 1 de perl quadrado e raio R:
(
V (r ) =
V0 ! 1; r < R :
0
r>R
b) A he a forma assintoti a de l no limite em que a energia da part ula espalhada se
aproxima de zero.
) Expanda k ot 0 em potên ias de k, e identique o omprimento de espalhamento e o
al an e efetivo em termos do reio R da esfera dura.
282
5.6 - Mostre que a se ~ao de hoque total para o espalhamento por uma esfera dura de raio
R tende a 2R2 para kR 1. Explique a diferen a entre esse resultado e a se ~ao de hoque
lassi a R2 . Sugest~oes: i) as ondas par iais que ontribuem apre iavelmente para a se ~ao
de hoque s~ao as orrespondentes aos valores l kR do momento angular; ii) para kR 1
e possvel usar as express~oes assintoti as para argumento grande das fun ~oes de Bessel e de
Neumann esferi as:
jl () !
1
sen

l
;
2
nl () !
1
os

l
:
2
iii) termos propor ionais a kR s~ao desprezveis frente a termos propor ionais a k2 R2 .
5.7 - a)qUm ele tron esta ligado ao ampo oulombiano de um nu leo de arga positiva Ze.
Cal ule hv 2 = 2 i para o estado fundamental, sendo v a velo idade do ele tron. A fun ~ao de
onda normalizada para o estado fundamental desse sistema e
1s (~r) =
3=2
p1 aZ e
Zr=a0
onde a0 = h 2 =e2 , sendo = me M=(me + M ) a massa reduzida do sistema ele tron-nu leo.
b) Supondo que o nu leo tenha um raio nito R e que a distribui ~ao de arga nu lear
seja uniforme, al ule o efeito do raio nito da distribui ~ao de arga sobre a energia do estado
fundamental usando teoria de perturba ~ao de primeira ordem.
) Repita os al ulos dos dois itens anteriores para o aso de um atomo de muoni o, no
qual o ele tron e substitudo por um muon, tambem de arga e mas om massa m = 207 me.
Qual e, em termos da energia de liga ~ao do atomo hidrogenoide, a energia de liga ~ao do atomo
muoni o no estado fundamental? Qual e o tamanho do atomo muoni o nesse estado?
d) Considere em seguida as mesmas quest~oes do item ) para o aso do positrônio, visto
omo sistema onstitudo de um positron (massa me , arga +e) e de um ele tron.
5.8 - a) Mostre que, para os estados ligados de um atomo hidrogenoide om n = l + 1 (que s~ao
os estados de menor energia para o valor onsiderado do momento angular ou, alternativamente,
os estados de maior momento angular para a energia de liga ~ao onsiderada), os polinômios
que apare em nas fun ~oes radiais (5.35) se reduzem a uma onstante A0 .
b) Determine o valor dessa onstante normalizando as fun ~oes de onda n=l+1;lm(~r) de modo
que
Z
d~r jn=l+1;lm (~r)j2 = 1:

283
) A he o valor de r em que a densidade de probabilidade integrada sobre os ângulos

(r) =
Z +1
d os
Z 2
jn=l+1;lm(~r)j2
e maxima.
d) Compare o resultado de ) om os raios das orbitas ir ulares do atomo lassi o.
284
Captulo 6
Estrutura na e ampos externos no
atomo de hidrogênio.
A estrutura na e a estrutura hiperna observada nos estados esta ionarios do atomo de hidrogênio exigem uma amplia ~ao da inemati a utilizada no modelo simples, baseado em analogias lassi as, tratado no aptulo anterior. Isso e parti ularmente laro no aso da estrutura
hiperna do estado fundamental. No modelo simples, esse estado e um estado 1s, n~ao degenerado, e a existên ia de uma estrutura envolvendo quatro estados exige a introdu ~ao de graus
de liberdade adi ionais. Tratando-se de um sistema de dois orpos, e possvel onje turar que
tanto o proton quanto o ele tron sejam objetos que, alem dos graus de liberdade asso iados a
posi ~ao, têm propriedades intrnse as asso iadas a variaveis dinâmi as que agem num espa o
de estados om duas dimens~oes.
Essa ideia pode ser implementada em termos de graus de liberdade do tipo do momento angular, omo se pode ver utilizando as propriedades gerais obtidas na se ~ao 5.1.1, que de orrem
diretamente das rela ~oes de omuta ~ao satisfeitas por suas omponentes. Se o momento angular a ser onsiderado e asso iado a um operador vetorial S~ fS1 ; S2 ; S3 g ujas omponentes
satisfazem as rela ~oes de omuta ~ao ara tersti as desse tipo de variavel dinâmi a
[Sj ; Sk = ih jkl Sl
(6.1)
onde jkl e o smbolo antissimetri o, ent~ao os autovalores de S 2 s~ao da forma h 2 s(s + 1) onde
s e inteiro ou semi-inteiro. O numero de estados orrespondentes a um dado valor de s e
2s + 1, que se reduz a dois para s = 1=2. Asso iando ent~ao tanto ao proton omo ao ele tron
um momento angular intrnse o (ou spin) om s = 1=2, o espa o de estados do atomo de
hidrogênio passa a ser o espa o produto do que orresponde ao modelo simples pelo espa o de
quatro dimens~oes asso iado a esses novos graus de liberdade. Na medida em que o Hamiltoniano
285
seja independente dos spins, ada um dos estados esta ionarios do modelo simples da origem a
um grupo de quatro estados independentes (que e onveniente tomar omo sendo ortogonais) e
degenerados, que diferem entre si apenas pelo estado dos dois momentos angulares intrnse os.
Uma vez feita esse op ~ao inemati a, sera pre iso ainda determinar a forma da dependên ia
do hamiltoniano om as variaveis de spin que possa dar onta das propriedades nas e hipernas
do espe tro observado do atomo de hidrogênio. Uma observa ~ao importante, nesse ontexto, e a
de que o momento angular e momentos de dipolo magneti o s~ao quantidades om propriedades
de transforma ~ao analogas no espa o de tres dimens~oes. Desse modo, a introdu ~ao do spin
possibilita asso iar as part ulas momentos magneti os intrnse os. Os termos dependentes
dos spins que devem ser a res entados ao hamiltoniano s~ao identi aveis omo as energias
de intera ~ao mutua desses momentos magneti os, a sua energia de intera ~ao om os ampos
eletromagneti os asso iadas a estrutura orbital do atomo ou ainda om ampos eletromagneti os
externos. Os hamiltonianos resultantes, om os termos de intera ~ao dependentes dos spins, n~ao
se prestam fa ilmente a tratamentos exatos, e os efeitos devidos a esses termos s~ao exemplos
importantes do uso de metodos perturbativos.
6.1
Realiza
~
ao expl
ita das vari
aveis de spin.

Algebra
das matrizes da Pauli.
De forma mais espe a, a uma part ula om spin 1=2 est~ao asso iadas, alem das variaveis
dinâmi as om analogo lassi o (isto e, posi ~ao ~q e momento p~), tambem variaveis de spin S~
que devem realizadas em termos de operadores hermiteanos agindo em um espa o omplexo
adi ional de duas dimens~oes, satisfazendo as rela ~oes de omuta ~ao (6.1). Esta se ~ao dis ute
apenas as propriedades das variaveis de spin e de seus vetores de estado. A in lus~ao das variaveis
dinâmi as om analogo lassi o sera feita na se ~ao 6.2 abaixo.
Os vetores do espa o bi-dimensional das variaveis de spin podem ser expressos em termos
da base formada pelos autovetores simultâneos de S 2 e de S3
1
1 1
1
1
1
1 1 0
S 2 j ms i = h 2 ( + 1)j ms i; S3 j ms i = h ms j ms i;
h
m j m i = ms m0s (6.2)
2
2 2
2
2
2
2 s2 s
om ms ; m0s = 1=2. Em termos dessa base, um vetor generi o do espa o do spin 1=2 pode ser
es rito, a menos de um fator de fase global, sob a forma da ombina ~ao linear normalizada
j; i = os j 21 12 i + ei sen j 21 12 i:
Alternativamente, o vetor de spin j; i pode ser representado em termos de suas omponentes nessa base pela oluna de duas entradas
286
0
B

h 21 12 j; i
C
A
=B

os
C
A
:
(6.3)
ei sen
Usando esta ultima nota ~ao, um operador linear g qualquer desse espa o e representado pela
matriz 2 2
1
1
1
gms m0s h ms jg j m0s i;
ms ; m0s = :
2
2
2
Em parti ular, e imediato veri ar que os operadores S 2 e S3 orrespondem as matrizes
S2
h 21
3h2
4
j; i
1
2
1 0
0 1
h
S3 !
2
1 0
0 1
Para determinar as matrizes que orrespondem a S1 e a S2 basta onsiderar os operadores

S = S1 iS2 e as suas propriedades, de orrentes das rela ~oes de omuta ~ao (6.1),
11
1 1
11
11
1 1
1 1
i
= 0;
S+ j
i
= h j i; S j i = h j
i
; S j
i = 0:
22
2 2
22
22
2 2
2 2
Tomando o produto es alar dessas rela ~oes om ada um dos dois vetores da base,
S+ j
S+ ! h
0 1
0 0
0 0
1 0
! h
Exprimindo agora S1 e S2 em termos dessas matrizes resulta
h
S1 !
2
0 1
1 0
h
S2 !
2
0 i
i 0
:
!
O operador S 2 e portanto representado omo um multiplo do operador unidade no espa o

bidimensional, ao passo que as omponentes de S~ s~ao representadas, na base dos autovetores
de S3 , por S~ = (h=2)~ , onde ~ orresponde as matrizes
~ f1 ; 2 ; 3 g =
0 1
1 0
0 i
i 0
1 0
0 1
!)
Essas matrizes s~ao hamadas matrizes de Pauli. E fa il veri ar diretamente que elas satisfazem
as rela ~oes de omuta ~ao
[j ; k = 2ijkl l
287
(6.4)
que levam diretamente as rela ~oes de omuta ~ao (6.1) para as omponentes de S~ . Para veri ar
que S 2 = S12 + S22 + S32 de fato reproduz o multiplo da unidade obtido a ima, basta notar que
ada uma das três matrizes de Pauli tem omo autovalores +1 e 1, de modo que
12
22
32
= ^1 =
1 0
0 1
(6.5)
Como S~ = (h=2)~, segue que S 2 = (3h2 =4)^1.

Uma outra propriedade das matrizes de Pauli que pode ser obtida do resultado (6.5) e a
de que quaisquer duas matrizes diferentes anti- omutam, isto e, j k + k j = 0 para j 6= k.
De fato, omo j2 = ^1, e laro que [j2 ; k = 0 para qualquer k. Por outro lado, tomando por
exemplo j = 1 e k = 2 e usando as rela ~oes de omuta ~ao (6.4) resulta
0 = [12 ; 2 = 1 [1 ; 2 + [1 ; 2 1 = 2i(1 3 + 3 1 )
donde se on lui que 1 anti- omuta om 3 . Outras es olhas de j e k mostram, de forma
analoga, que
1 2 + 2 1 = 0
2 3 + 3 2 = 0:
Essa propriedade pode ser expressa simultaneamente om a (6.5) atraves da rela ~ao uni a
j k + k j = 2jk :
(6.6)
Uma onsequên ia importante desta ultima rela ~ao e que, se n^ e um vetor unitario qualquer,
ent~ao (~ n^ )2 = ^1. De fato,
(1 n1 + 2 n2 + 3 n3 )2 =
12 n21 + 22 n22 + 32 n23 +

(1 2 + 2 1 ) n1 n2 + (2 3 + 3 2 ) n2 n3 + (3 1 + 1 3 ) n1 n3
= ^1 n^ n^ = ^1:
Esta rela ~ao permite al ular fa ilmente operadores envolvendo potên ias de ~ n^ , ja que
potên ias pares se reduzem simplesmente a ^1 e potên ias mpares a ~ n^ . Um exemplo importante do uso desse fato e o al ulo de exponen iais de matrizes de Pauli omo o operador
unitario
ei(~n^) = ^1 os + i(~ n^ ) sen

para real. Essa rela ~ao pode ser veri ada fa ilmente expandindo a exponen ial em serie de
potên ias e ole ionando separadamente potên ias pares e mpares de ~ n^ . A unitaridade desse
operador exponen ial de orre da hermiti idade do operador ~ n^ .
288
6.1.1 Dire ~ao de polariza ~ao do vetor de estado geral de spin 1/2.
O vetor de estado geral (6.3) para um spin 1=2 pode sempre ser visto omo autovetor da proje ~ao
do operador vetorial S~ numa determinada dire ~ao, denida atraves de um vetor unitario p^. Isso
signi a que, para qualquer estado j; i e sempre possvel determinar um vetor unitario p^ tal
que
h
S~ p^j; i = j; i:
2
De fato, es revendo as omponentes artesianas de p^ em termos de ângulos esferi os e '
p^ fp1 ; p2 ; p3 g = f sen os '; sen sen '; os g
o operador S~ p^ pode ser es rito expli itamente omo
h
S~ p^ =
2
os e i' sen
ei' sen
os
e a ondi ~ao de que j; i seja autovetor desse operador om autovalor h =2 e
h
2
os e i' sen
i'
e sen
os
os
ei sen
h
=
2
os
ei sen
ou, equivalentemente,
os os + ei( ') sen sen = os ;
e i( ') sen os os sen = sen:
Es olhendo ' = e dividindo a primeira equa ~ao por os e a segunda por sen
os + sen tan = 1;
sen ot
os = 1:
A soma dessas duas equa ~oes permite eliminar os e da

sen (tan + ot ) = 2 ou
sen = 2 sen os = sen 2
que leva a = 2. O estado (6.3) e portanto autovetor da proje ~ao de S~ sobre a dire ~ao
denida pelos ângulos esferi os = 2 e ' = . Essa dire ~ao e a dire ~ao de polariza ~ao do spin
ara terizado por esse vetor de estado, e e fa il veri ar que que ela pode tambem ser obtida
289
al ulando os valores medios das omponentes artesianas do operador de spin. De fato, um

al ulo direto mostra que
h; jS~ j; i = h2 f sen 2 os ; sen 2 sen ; os 2g h2 p^:

O vetor p^ e frequentemente hamado vetor de Blo h asso iado ao estado de spin (6.3). O
argumento a ima mostra que, a menos de um fator de fase global que n~ao ontribui para o
valor medio de S~ , ele ara teriza ompletamente o estado de spin ao ao qual esta asso iado.
Uma primeira onsequên ia direta desse resultado e a de que o vetor de estado que representa
um spin 1=2 polarizado numa dire ~ao agora dada pelos ângulos esferi os e ' (isto e, o estado
de spin ujo vetor de Blo h e dado pelos ângulos esferi os e ') e, usando a representa ~ao
(6.3),
0
B

os =2
ei' sen =2
C
A
j=2; 'i
ujas omponentes, na base dos autovetores de S3 , s~ao
h 12 12 j=2; 'i = os 2
1

j
=2; 'i = ei' sen :
2
2
Portanto, a probabilidade de obter o valor +h=2 numa medida de S3 nesse estado e os2 (=2),
que somente se anula para = , isto e, se a dire ~ao de polariza ~ao (ou do vetor de Blo h)
e oposta ao eixo 3; e, de forma semelhante, a probabilidade sen2 (=2) de obter o valor h =2
somente se anula se = 0, isto e, se o spin esta polarizado na dire ~ao 3 (ou tem o vetor de
Blo h na dire ~ao 3).
Uma segunda onsequên ia importante e a possibilidade de veri ar expli itamente que
operadores unitarios do tipo

i
i
i~ n^ sen
R1=2 ( ) = e h S~ n^ = e 2 ~n^ = ^1 os
2
2
apli ados a um vetor de estado de spin d~ao omo resultado o vetor de estado om a dire ~ao de
polariza ~ao rodada de um ângulo em torno do eixo denido pelo vetor n^ . De fato, tomando
o eixo 3 na dire ~ao de n^ e al ulando o vetor de Blo h
e
h 21
h 0
~ 1=2 ( )j; i
p^ h; jR1y=2 ( )SR
2
resulta fa ilmente
290
p~0 = f sen 2 os( + ); sen 2 sen( + ); os 2g

que orresponde ao resultado men ionado. Como o vetor de Blo h e insensvel a um possvel
fator de fase global do estado de spin, e interessante examinar expli itamente o efeito desse
operador de rota ~ao sobre o proprio vetor de estado que des reve o spin. Nas mesmas ondi ~oes
usadas para o ultimo al ulo o que se obtem para o novo vetor de estado e
R1=2 ( )j; i =

e i 2 0
0 ei 2
os
ei sen
=e
i 2
os
ei(+ ) sen
O operador de rota ~ao introduz, portanto um fator de fase global e i 2 alem de girar a dire ~ao
de polariza ~ao do estado de spin. Esse resultado mostra o efeito pe uliar de que uma rota ~ao
de um ângulo 2 multipli a o vetor de estado por 1, o que e laramente uma onsequên ia
do valor semi-inteiro do spin. Isso evidentemente n~ao afeta os valores esperados, e portanto
n~ao apare e no al ulo do vetor de Blo h. A presen a desse fator de fase pode no entanto ser
onrmada experimentalmente atraves dos pro essos de interferên ia que produz. Tipi amente,
a propaga ~ao de um feixe de part ulas de spin 1=2 entre dois pontos A e B por dois aminhos
diferentes ( omo numa experiên ia de difra ~ao) mostrara interferên ia destrutiva em B ada
vez que os spins sofrerem uma rota ~ao de 2 ao longo de um dos dois aminhos1 .
6.1.2 Matrizes de Pauli omo base de operadores no espa o de spin.

Uma observa ~ao simples mas te ni amente importante e a de que qualquer matriz 2 2 pode
ser expressa omo uma ombina ~ao linear das tres matrizes de Pauli ~ e da matriz unidade de
dimens~ao 2, ^1. A forma mais simples de veri ar isso e notar que
a++
a+
a
a
v. H. Rau h et al., Phis. Lett.
(1975).
1

54A
1
0
0
0
0
1
0
0
0
0
1
0
0
0
0
1

1 ^
1 + 3 ;
2
!
1
= (1 + i2 ) ;
2
!
1
= (1 i2 )
2
!

1
= ^1 3 :
2
, 425 (1975) e tambem S. A. Werner et al., Phys. Rev. Lett.
291
, 1053
35
Como, por outro lado,
m++ m+
m + m
= m++ a++ + m+ a+ + m + a
++m
e laro que
M =
1
i
1
(m+ + m + )1 + (m+ m + )2 + (m++
2
2
2
^
M1 1 + M2 2 + M3 3 + M0 1:
1
m )3 + (m++ + m )^1
2
A utilidade desse tipo de de omposi ~ao esta ligada ao fato de que ela permite ontrolar fa ilmente as propriedades de transforma ~ao de M por uma mudan a do sistema de oordenadas espa iais fx1 ; x2 ; x3 g. De fato, as omponentes de ~ , da mesma forma que as do operador de spin S~ que
lhes s~ao propor ionais, têm propriedades de transforma ~ao iguais as das omponentes do mo~ = ~r ~p, que s~ao propriedades de transforma ~ao de um vetor axial, isto e,
mento angular orbital L
se transformam omo as omponentes de um vetor sob transla ~oes e rota ~oes do sistema de oordenadas, mas tro am de sinal por uma invers~ao espa ial, fx1 ; x2 ; x3 g ! f x1 ; x2 ; x3 g. Desse
modo, para que M seja, por exemplo, um es alar e pre iso que fM1 ; M2 ; M3 g se omportem
~ fM1 ; M2 ; M3 g
tambem omo omponentes de um vetor axial e que M0 seja um es alar; e se M
~ ~ sera um pseudo-es alar,
se omportarem omo as omponentes de um vetor (polar), ent~ao M
que tro a de sinal som uma invers~ao do sistema de oordenadas.
~ M0 que expandem uma matriz dada M e possvel utilizar as
Para obter os oe ientes M;
rela ~oes (6.6) bem omo a invarian a li a do tra o (v. Problema 6.1) que levam as rela ~oes
1
M0 = Tr M;
2
6.2
1
Mj = Tr (Mj ) ; j = 1; 2; 3:
2
Estados de uma part

ula om spin 1/2.
Uma part ula quânti a om spin 1/2 e um objeto que, alem dos graus de liberdade \internos"
asso iados as variaveis de spin, deve ser ara terizado tambem pelos graus de liberdade asso iados as variaveis dinâmi as om analogo lassi o, posi ~ao e momento. O espa o dos vetores
de estado de uma tal part ula pode ser onstrudo de forma semelhante a que foi usada na
se ~ao 5.2 para o espa o de duas part ulas a partir do espa o de estados de uma so part ula.
Ela onsiste em onstruir o espa o de vetores de estado da part ula om spin omo o produto
do espa o que orresponde a part ula sem spin pelo espa o bi-dimensional dos estados de spin
1=2, dis utido na se ~ao anterior.
292
A forma mais simples de fazer isso onsiste em onstruir uma base para o espa o produto a
partir de bases de ada um dos espa os fatores. Desse modo, se fjnig e uma base ortonormal
do espa o que orresponde as uma part ula sem spin, e utilizando a base (6.2) de autovetores
de S3 para o espa o de spin, uma base ortonormal do espa o produto que fun iona omo espa o
de fases" para a part ula om spin e formada pelos vetores

1
1
jn 2 msi jni
j 2 msi :
(6.7)
Cada vetor jn i da portanto lugar a dois vetores da base produto, que ontem respe tivamente
os dois autovetores possveis de S3 , asso iados aos autovalores h =2. Quando se utiliza a
nota ~ao (6.3) para os vetores de spin, esses vetores de base podem ser es ritos omo
jn 12 12 i !
jn i
jn 21
1
i!
2
0
jni
Um vetor geral j i do espa o produto (e portanto um vetor de estado geral para a part ula
om spin) pode ser es rito omo uma ombina ~ao linear dos vetores de base, o que orresponde
a
j i=
1=2
X
n ms =
1
nms jn ms i !
2
1=2
j
j
(+)
( )
i
i
"
n 1=2
P
jni
j i
j i
+ n
n 1=2 n
Pn
n n 1=2 n
1=2
0
jni
!#
Nessa express~ao j () i s~ao vetores do espa o da part ula sem spin, o que mostra que o estado de
uma part ula om spin 1=2 pode ser dado omo um par de vetores \sem spin" orrespondentes
a duas omponentes ortogonais no espa o bi-dimensional do spin (no aso as omponentes
orrespondentes aos dois autovetores de S3 ). O produto es alar de dois vetores j i i; i = 1; 2,
i) na base produto (6.7),
e dado por
om oe ientes de expans~ao (nm
s
h 2j 1i =
XX
(1) 0 1 0 1
(1)
(2)
(2)
nms nms
n0 m0s nms hn 2 ms jn 2 ms i =
n ms
nn0 ms m0s
X X
ou, na nota ~ao alternativa,

h 2j 1i = h
(+)
2
j h
( )
2
j
j
(+) !
1
( )
1
i
i
293
=h
(+)
2
(+)
1
i+h
( )
2
( )
1
i) .
que leva evidentemente ao mesmo resultado em termos dos oe ientes de expans~ao (nm
s
Operadores lineares g agindo no espa o produto, por outro lado, s~ao representados na base
produto em termos de matrizes onstrudas da forma usual, isto e g ! fGnms ;n0m0s g om
1
1
Gnms ;n0 m0s = hn ms jg jn0 m0s i:
2
2
Aqui e tambem possvel expli itar a estrutura matri ial orrespondente ao espa o de spin es revendo
G=
fGn 1=2;n0 1=2 g fGn 1=2;n0

fGn 1=2;n0 1=2 g fGn 1=2;n0
g G++ G+
g
G + G
1=2
1=2
Alternativamente, e possvel ainda denir os elementos de matriz de g no espa o de spin apenas,

que s~ao na realidade operadores no espa o da part ula sem spin
1
1
gms ;m0s h ms jg j m0s i:
2
2
Em termos desses objetos o operador g e representado pela matriz de operadores
g!
g++ g+
g + g
Em parti ular, se g e um operador independente do spin, a sua extens~ao ao espa o produto e

denida omo g
^1S , onde ^1S e o operador identidade no espa o de spin, isto e, g++ = g = g ,
g+ = g + = 0. Desse modo, a energia ineti a de uma part ula de spin 1=2, por exemplo,
pode ser representada omo
p2
K=
2M
^1S !
p2
2M
p2
2M
6.2.1 Momento angular de uma part ula om spin 1/2. Adi ~ao de
momentos angulares.
Para uma part ula om spin 1=2 existem dois operadores vetoriais ujas omponentes satisfazem rela ~oes de omuta ~ao de momento angular, que s~ao o momento angular orbital
L~ = (~r ~p)
^1S (um operador independente de spin estendido ao espa o produto) e o spin
S~ = ^1r
S~ (um operador independente dos graus de liberdade asso iados a posi ~ao, estendido
tambem ao espa o produto atraves do operador identidade do espa o da part ula sem spin, ^1r ).
Esses operadores omutam entre si, pois na realidade agem sobre fatores distintos do espa o
294
produto. As rela ~oes de omuta ~ao de momento angular permitem ent~ao que se onstrua uma
base produto, do tipo onsiderado na se ~ao anterior, em que os estados jn i s~ao tomados omo
autovetores simultâneos de L2 e de L3 . Expli itando esse fato om a nota ~ao jlm i, onde o
ndi e se refere a outros numeros quânti os, asso iados a variaveis dinâmi as ompatveis om
L2 e om L3 , que sejam eventualmente ne essarios para distinguir vetores diferentes (ortogonais)
om os mesmos valores de l e m,
L2 jlm i = h 2 l(l + 1)jlm i
L3 jlm i = h mjlm i:
A base produto formada a partir desses vetores e dos autovetores (6.2) de S3 , ujos elementos
s~ao portanto da forma
jlm 21 msi jlmi

j 12 msi
e uma base de autovetores simultâneos de L2 ; L3 ; S 2 e S3 .
~ e S~ estendidos ao espa o produto, no entanto, e possvel denir
A partir dos operadores L
tambem o momento angular total J~ da part ula om spin omo
J~ L~
^1S + ^1r
S~
~ + S~ , usando uma nota ~ao abreviada de uso frequente, que omite a
ou simplesmente J~ L
referên ia expl ita a a ~ao trivial dos operadores identidade sobre os respe tivos espa os. As
omponentes de J~ satisfazem tambem as rela ~oes de omuta ~ao ara tersti as de momento
angular
[Jj ; Jk = ih jkl Jl
donde segue portanto que [J 2 ; J~ = 0, de modo que J 2 e ompatvel om uma qualquer de suas
omponentes, por exemplo J3 . E pre iso, no entanto, obter ainda as rela ~oes de omuta ~ao
de J 2 e de J3 om L2 , L3 e om S 2 e S3 , em parti ular para veri ar a ompatibilidade ou
~ S~ = 0, bem omo as rela ~oes
in ompatibilidade dessas varias variaveis dinâmi as. Usando [L;
~ , S~ e J~, e fa il ver que
de omuta ~ao de momento angular para L
[J 2 ; L2 = [J 2 ; S 2 = [J3 ; L2 = [J3 ; S 2 = 0
mas
[J 2 ; L3 6= 0 e [J 2 ; S3 6= 0:
Como, por outro lado, [J 2 ; J3 = 0 e J3 = L3 + S3 , segue que [J 2 ; L3 = [J 2 ; S3 . Esses

resultados mostram que o momento angular total J 2 n~ao e ompatvel om as omponentes L3
e S3 do momento angular orbital e do spin, respe tivamente. Os vetores jlm 1=2 msi em geral
n~ao s~ao, portanto, autovetores de J 2 .
295
No entanto, omo esses vetores s~ao autovetores de L3 e de S3 , e lembrando mais uma vez
que J3 = L3 + S3 , eles s~ao tambem autovetores de J3 om autovalor h (m + ms ) h mj . Como
L2 , S 2 e J3 s~ao ompatveis om J 2 , o fato de que os vetores jlm 1=2 ms i n~ao sejam em geral
autovetores desse operador deve ser imputado ao fato de que existem diferentes ombina ~oes de
autovalores h m e h ms de L3 e S3 que levam ao mesmo autovalor h (m + ms ) = h mj de J3 . Isso e
su iente para indi ar que os autovetores simultâneos de L2 ; S 2 ; J 2 e J3 , jl 1=2 jmj i, podem
ser es ritos omo ombina ~oes lineares dos autovetores de L2 ; L3 ; S 2 e S3 om os autovalores
desejados de L2 e S 2 e om autovalores de L3 e S3 tais que a sua soma orresponda ao autovalor
desejado de J3 . Devido as restri ~oes gerais impostas pelas rela ~oes de omuta ~ao de momento
angular, os autovalores h j (j + 1) de J 2 devem ser tais que j mj j . Portanto
jl 1=2 jmj i =

1
m;ms
l2 j
Cmm
s mj jlm 1=2 ms i
(6.8)
l2 j
onde os oe ientes Cmm
em laramente o sigs mj , hamados oe ientes de Clebs h-Gordan, t^
ni ado das amplitudes de probabilidade
l2 j
(6.9)
Cmm
s mj = hlm 1=2 ms jl 1=2 jmj i
que se anulam a menos que m + ms = mj e j mj j o que impli a, em parti ular, numa
restri ~ao sobre os valores de m e ms na soma em (6.8). O fato de que essas amplitudes s~ao independentes de provem de que as variaveis dinâmi as asso iadas aos numeros quânti os adi ionais designados por esse parâmetro s~ao supostamente ompatveis om os diferentes operadores
de momento angular, e portanto n~ao s~ao afetados pela mudan a de representa ~ao envolvida em
(6.8).
A quest~ao de determinar os valores possveis de j , que dene o autovalor do momento angular
total J 2 , para um dado valor de l, pode ser respondida fa ilmente atraves de uma ontagem
apropriada dos estados jlm 1=2 msi. O aso em que l = 0 e na realidade trivial, pois nesse
aso m = 0 e havera apenas dois estados om mj = ms = 1=2 que orrespondem a j = 1=2.
Os oe ientes de Clebs h-Gordan que apare em em (6.8) s~ao portanto
1 1
C 00 21 21 = 1:
2
Os outros asos, em que l 1, podem ser tratados atraves da onstru ~ao da g. 6.1. No primeiro
diagrama dessa gura, os (2l +1) 2 estados jlm 1=2 msi orrespondentes aos diferentes valores
possveis de m (para um dado valor de l) e de ms est~ao assinalados no plano m ms (onde o
valor l = 3 e usado omo exemplo). Nesse diagrama e fa il ver que existe um uni o estado om
mj = m + ms = l +1=2 e tambem om mj = m + ms = l 1=2, enquanto existem dois estados
om valores de mj ompreendidos no intervalo l + 1=2 mj l 1=2. Essa ontagem de
296
# de estados
1/2
ms
-1 / 2
mj = - 7
2
-3
...
11111
000
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1
0
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1
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1
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11
000
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0 111
1
0 1
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0
0
1
0
1
0
1
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00
11
00
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11
0011
0011
000
111
00
5 7
2 2
- 7
2
- 3
2
...
mj 2
7
2
Figura 6.1: Inventario de estados em termos de m e ms e ontagem do numero de estados para

os diferentes valores possveis de mj .
estados lassi ados pelo valor de mj e representada no segundo diagrama da Fig. 6.1. O fato
de que os estados om mj = (l + 1=2) s~ao uni os mostra, atraves da rela ~ao (6.8), que eles
s~ao na realidade tambem autovetores de J 2 om autovalor orrespondente a j = l + 1=2, pois
j jmj j. Nesse aso os oe ientes de Clebs h-Gordan s~ao simplesmente
l+ 12
1
2 l+ 2
1
C ll 12
=C
l
l
1
1
21 l+ 21
2 l 2
= 1:
Os autovetores de J 2 orrespondentes a j = l + 1=2 om valores de mj tais que l + 1=2

mj l 1=2, por outro lado, ser~ao dados omo ombina ~oes lineares apropriadas dos dois
autovetores de L3 e de S3 om o valor apropriado de m + ms . Nesses asos, portanto, a soma
em (6.8) tera dois termos para ada um desses valores intermediarios de mj . Essa onstru ~ao
deixa ainda sem atribui ~ao de autovalor de J 2 as ombina ~oes lineares dos pares de estados om
valores intermediarios de mj ortogonais as que tenham sido atribudas a j = l + 1=2. Como
entre elas o orrem os autovalores mj = (l 1=2) de J3 , segue que j = l 1=2 orresponde
tambem a um autovalor possvel de J 2 dado por h 2 j (j + 1) om j = l 1=2.
A determina ~ao efetiva dos estados jl 1=2 jmj i para l + 1=2 mj l 1=2 envolve
a determina ~ao dos oe ientes de Clebs h-Gordan apropriados. Esse e um pro esso que n~ao
envolve di uldades maiores que o seu arater trabalhoso. De fato, o estado jl 1=2 j = l +
1=2 mj = l 1=2i pode ser obtido do estado de proje ~ao maxima mj = l + 1=2 ja identi ado
atraves do operador J = J1 iJ2 omo
297
1
1
1
J jl l + l + i =
2
2
2
=
3
1
1
1
1
1
1
) jl l + l
i
(l + )(l + ) (l + )(l
2
2
2
2
2
2
2
p
1
1
1
i:
2l + 1 jl l + l
2
2
2
Por outro lado, usando o fato de que o autovetor de proje ~ao maxima e simplesmente o produto
dos autovetores tambem de proje ~ao maxima de L3 e de S3 , bem omo a a ~ao de L e de S
sobre esses vetores, resulta que
11
1
1
1
11 p
1 1
J jl l + l + i = (L + S )jlli
j i = 2ljl l 1i
j i + jlli
j
i:
2
2
2
22
22
2 2
Comparando essas duas rela ~oes resulta ent~ao que
s
2l
1
i
=
jl l
2
2l + 1
jl 21 j = l + 21 mj = l
1
11
1
1i
j i +
j
lli
j
22
2l + 1
2
1
i (6.10)
2
que serve tambem para identi ar os oe ientes de Clebs h-Gordan

1
1
Cl l 1 21 ll+12
2 2
2l
=
2l + 1
1
1
C l l 21 ll+12
2 2
1
:
2l + 1
Uma vez determinada a de omposi ~ao nos autovetores de L3 e S3 do estado om j = l + 1=2

e mj = l 1=2 pela rela ~ao (6.10), o estado om j = mj = l 1=2 pode ser es rito omo a
ombina ~ao linear dos mesmos vetores que lhe e ortogonal, isto e
jl 21 j = l
1
m =l
2 j
1
i=
2
2l
11
1
1i
j i +
j
lli
j
22
2l + 1
2
1
jl l
2l + 1
1
i (6.11)
2
que determina os novos oe ientes de Clebs h-Gordan

1
Cl l 1 21 ll
2
1
12
2
1
2l + 1
1
C l l 21 ll
2
1
12
2
2l
:
2l + 1
Como pode ser fa ilmente notado, ha uma ambiguidade de fase na determina ~ao de (6.11), pois
a ondi ~ao de ortogonalidade xa apenas o modulo e a fase relativa das duas omponentes. Para
obter a forma mostrada a ima essa ambiguidade foi resolvida utilizando uma onven ~ao padr~ao,
segundo a qual os oe ientes de Clebs h-Gordan s~ao reais e o oe iente Cml l ss mjl s (que no
298
aso apare e no segundo termo, que envolve ms = 1=2) e positivo. Apli a ~oes su essivas de
J aos estados (6.10) e (6.11) permitem determinar de forma analoga os autovetores restantes
de J 2 e de J3 bem omo os respe tivos oe ientes de Clebs h-Gordan.
A expans~ao (6.8) dos autovetores de J 2 e J3 em termos dos autovetores de L3 e S3 pode
evidentemente ser invertida, o que leva a express~oes que d~ao os vetores de estado jlm 1=2msi
em termos dos jl 1=2 jmj i. De fato usando a express~ao (6.9) para os oe ientes de Clebs hGordan e adotando as onven ~oes de fase usuais, que tornam esses oe ientes reais, e imediato
que
jlm 1=2msi =
jX
max
j =jmin
jl 1=2 jmj ihl 1=2 jmj jlm 1=2msi =
jX
max
j =jmin
l2 j
Cmm
s mj jl 1=2 jmj i:
Os oe ientes que apare em nessa expans~ao s~ao portanto os mesmos que apare em na expans~ao
(6.8), embora a soma seja feita neste aso sobre os diferentes valores possveis de j . Esta ultima
rela ~ao pode ser veri ada expli itamente invertendo as rela ~oes (6.10) e (6.11) para obter, por
exemplo
s
2l
1
1
1
1
1
1
1
jl l
j
l l + l
i
j
l l
l
i
2l + 1 2
2
2
2l + 1 2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
i
+ Cl l 1 21 ll 12 jl l
l
i:
= Cl l 1 21 ll+12 jl l + l
2 2
2 2
2
2
2
2
2
2
O esquema, baseado na onstru ~ao da Fig. 6.1, que permite a identi a ~ao dos valores
possveis do momento angular total j para valores dados dos momentos angulares onstituintes
l e s, pode ser estendido de forma imediata para valores quaisquer, inteiros ou semi-inteiros, de
l e s. Em qualquer aso deve valer a rela ~ao
11
1
i =
22
(2l + 1)(2s + 1) =
que leva em qualquer aso a limita ~ao
jX
max
j =jmin
(2j + 1)
jmin = jl sj j l + s = jmax; j = inteiro:

Os valores possveis de j ser~ao inteiros se ambos os momentos angulares onstituintes s~ao
inteiros ou semi-inteiros, e ser~ao semi-inteiros se um dos onstituintes for inteiro enquanto o
outro e semi-inteiro. O oe iente de Clebs h-Gordan para o estado de maximo j = l + s e
maximo mj = j = l +s e sempre igual a 1, e os oe ientes restantes podem ser determinados por
apli a ~oes su essivas do operador J a esse estado e atraves do uso de rela ~oes de ortogonalidade,
fazendo uso, neste ultimo aso, da onven ~ao padr~ao para es olha de fases.
299
6.3
Momentos magn
eti os e intera
o
~es dependentes do
spin.
A in lus~ao de spins 1=2 omo graus de liberdade adi ionais do proton e do ele tron que onstituem o atomo de hidrogênio tem omo uni o efeito modi ar o grau de degeneres ên ia do
espe tro enquanto n~ao sejam introduzidas intera ~oes envolvendo esses novos graus de liberdade. Na ausên ia de novas intera ~oes desse tipo, de fato, o Hamiltoniano age omo o operador
identidade sobre os estados dos spins que portanto se manifestam apenas tornando ada um
dos estados \sem spin" quadruplamente degenerado. Em parti ular, os estados esta ionarios
desse Hamiltoniano podem ser es ritos sob a forma
jnljmi
j 12 m(se) i
j 12 ms(p) i
e os autovalores orrespondentes Enl s~ao independentes n~ao apenas do autovalor h m de L3 mas
tambem dos autovalores h m(se) e h ms(p) das omponentes S3(e) e S3(p) dos spins do ele tron e do
proton, respe tivamente.
As intera ~oes envolvendo os spins que s~ao relevantes no ontexto atômi o s~ao de natureza eletromagneti a, e est~ao ligadas ao fato experimental de que ao spin do ele tron e ao spin do proton
est~ao asso iados momentos de dipolo magneti o (ou simplesmente \momentos magneti os") ~e
e ~p que podem ser es ritos em termos dos respe tivos operadores de spin omo
~e = ge
e ~ (e)
S
2 me
~p = gp
e ~ (p)
S :
2mp
A arga eletri a do ele tron e do proton s~ao e e as respe tivas massas s~ao me e mp . As
onstantes ge e gp s~ao hamadas fatores giromagneti os e têm os valores experimentais
ge ' 2:00
gp ' 5:58 :
Esses momentos magneti os interagem entre si, interagem om ampos magneti os asso iados
a dinâmi a orbital das part ulas arregadas que onstituem o atomo e ainda om eventuais
ampos magneti os externos a que o sistema atômi o seja submetido. Esses tres tipos de
intera ~ao est~ao ligados respe tivamente a estrutura hiperna, a estrutura na e aos varios tipos
de efeito Zeeman do espe tro atômi o.
6.3.1 Intera ~ao spin-orbita e estrutura na.
A energia lassi a de intera ~ao entre um momento magneti o ~ e um ampo magneti o B~ e

300
~
H1 = ~ B:
No sistema de repouso de um ele tron que se move om velo idade ~v em um ampo eletri o E~
existe um ampo magneti o que e dado, atraves de uma transforma ~ao de Lorentz, por
~v ~
B~ =
E:

Desse modo, a energia de intera ~ao do momento magneti o ~e do ele tron om o ampo
magneti o gerado pela sua dinâmi a orbital relativa ao proton apare e sob a forma
H1 = ~e
e ~ (e)
~v ~
~

E = ge
S ~v E:

2me 2
O ampo eletri o a ser onsiderado neste aso e o ampo oulombiano do proton

e
E~ (~r) = 3 ~r
r
de modo que, usando ~v = p~=, onde e a massa reduzida do sistema ele tron-proton, resulta
H 1 = ge
e2 1 ~ (e)
e2 1 ~ (e) ~
S

p
~

~
r
=
g
S L
e
2me 2 r3
2me 2 r3
~ = ~r p~ = p~ ~r e o momento angular orbital do ele tron. A esse resultado deve ser

onde L
somada uma orre ~ao relativsti a des oberta em 1926 por Thomas2 que tem omo resultado
o an elamento de metade do seu valor. Como ge ' 2:00, isso orresponde essen ialmente a
substitui ~ao ge ! gLS = 1, e a energia de intera ~ao entre o momento magneti o do ele tron e a
sua dinâmi a espa ial se exprime atraves de um termo de a oplamento entre o spin do ele tron
e o seu momento angular orbital, dado por
H1 ! HLS =
1 1 dV ~ (e) ~
e2 1 ~ (e) ~
S L;
S

L
=
2me 2 r3
2me 2 r dr
V (r )
e2
:
r
Esse termo, que e laramente independente do spin do proton, e hamado termo de a oplamento
spin-orbita, e da origem a estrutura na do atomo de hidrogênio. Termos semelhantes existem
tambem no aso de atomos mais omplexos. Com a sua in lus~ao, o Hamiltoniano que des reve
o atomo de hidrogênio passa a ser dado por
2
L. H. Thomas, Nature 117, 514 (1926).
301
p2 e2
~ H0 + HLS :
^1S + 1 1 dV S~ (e) L
H=
(6.12)
2 r
2me 2 r dr
Enquanto o primeiro termo de (6.12) age omo o operador unidade no espa o de spin do
ele tron, o segundo termo pode ser representado omo
h 1 dV
1 1 dV ~ (e) ~
S L =
2
2me r dr
4me 2 r dr
L3 L
L+ L3
que, devido aos termos L = L1 iL2 , e laramente n~ao diagonal em m e ms na base produto
j lm 1=2 msi. Em outras palavras, L3 e S3(e) deixam de ser onstantes do movimento quando o
termo de intera ~ao spin-orbita e in ludo no Hamiltoniano.
Outra forma de ver isso e simplesmente notar que [L3 ; HLS 6= 0 e [S3 ; HLS 6= 0. Esse
mesmo al ulo mostra, no entanto, que [L3 ; HLS = [S3 ; HLS , de modo que [J3 ; HLS = 0.
Como J 2 tambem e uma onstante do movimento, e laro que a representa ~ao mais adequada
para tratar os efeitos do termo de intera ~ao spin-orbita e aquela em que L2 , S 2 , J 2 e J3 s~ao
~ pode ser es rito sob a forma
diagonais. De fato, o operador S~ (e) L

1
S~ (e) L~ = J 2 L2 S (e)2
2
que mostra imediatamente que HLS e diagonal nos numeros quânti os de momento angular na
base a oplada j l1=2 jmj i onstruida omo na equa ~ao (6.8), pois
h 2
3
(
e
)
~
~
(S L) j l1=2 jmj i =
j (j + 1) l(l + 1)
j l1=2 jmj i
(6.13)
2
4
enquanto o termo independente de spin H0 depende apenas de L2 , que e tambem diagonal nessa
base. Uma onsequên ia importante da equa ~ao (6.13) e a de que n~ao ha efeitos da intera ~ao
~ e zero.
spin-orbita para estados om l = 0, pois nesse aso j = 1=2 e o autovalor de S~ (e) L
Tratamento perturbativo. Os resultados a ima permitem tratar perturbativamente os efei-
tos da intera ~ao spin-orbita de forma bastante simples. Os estados n~ao perturbados s~ao autovetores do termo independente de spin H0 de (6.12) que, na representa ~ao em que L3 e S3 s~ao
diagonais, s~ao dados por
jnlm 1=2msi ! unlr(r) Ylm(^r)j1=2msi

onde r^ indi a as oordenadas angulares e ' de ~r e Ylm e uma harmôni a esferi a, autofun ~ao
normalizada de L2 e de L3 . Os autovalores n~ao perturbados dependem apenas de n e s~ao
302

e4
=
R
2
2
me n2
2h n
En(0) =
onde R e a onstante de Rydberg. Esses autovalores s~ao portanto degenerados, e ontem os

diferentes valores possveis de l, tais que l n 1, alem dos 2l + 1 valores possveis de m para
ada um desses valores de l e dos dois valores possveis de ms . Embora o termo de intera ~ao
spin-orbita n~ao seja diagonal nesse grupo de estados degenerados, ele pode ser diagonalizado
pela transforma ~ao unitaria que diagonaliza o quadrado do momento angular total, J 2 . Essa
transforma ~ao pode ser es rita em termos dos oe ientes de Clebs h-Gordan apropriados omo
em (6.8), que superp~oe apenas diferentes estados degenerados da representa ~ao desa oplada
jnlm 1=2msi. A matriz que representa o termo de intera ~ao spin-orbita no grupo de estados
degenerados e portanto diagonal na representa ~ao a oplada e tem omo elementos, usando a
rela ~ao (6.13),
hnl1=2 jmj jHLS jnl01=2 j 0 m0j i = 4m1 2 hnl1=2 jmj j 1r dV

(J 2 L2 S 2 )jnl0 1=2 j 0 m0j i =
dr
=
h 2
4me 2
j (j + 1) l(l + 1)
Z 1
3
1 dV
0
jj 0 ll0 mj mj
dr:
j
unl (r)j2
4
r dr
0

As orre ~oes perturbativas (de primeira ordem no termo de intera ~ao spin-orbita) para os
autovalores da energia dependem portanto expli itamente de l e de j . Os autovalores orrigidos
perturbativamente s~ao dados por
Enlj = En(0) +
h 2
j (j + 1) l(l + 1)
4me 2
3
R
4 nl
onde Rnl e a integral radial que apare e nos elementos de matriz do termo de intera ~ao spinorbita. A dependên ia de l e j e introduzida atraves do fator
j (j + 1) l(l + 1)
8
>
<
(l + 1) para j = l 1=2; l > 0

3
=
4 >
:
l
para j = l + 1=2:
Para estados om l = 0 (e j = 1=2) a orre ~ao e nula, e os estados om j = l 1=2, para

ada valor n~ao nulo de l, sofrem deslo amentos de sinais opostos. Como a integral radial e
positiva (pois dV=dr > 0), os estados om j = l 1=2 se tornam mais ligados, e os estados om
j = l + 1=2 se tornam menos ligados, que os estados n~ao perturbados de partida. Desse modo,
303
H0
H0 + HLS
2p3/2
2s, 2p
2s1/2
R
4
2p1/2
R (1- 2/ 12)
4
R
4
R (1+ 2/ 6)
4
Figura 6.2: Efeito perturbativo da intera ~ao spin-orbita sôbre os nveis n = 2 do atomo de
hidrogênio. O zero da es ala de energia e a energia de disso ia ~ao do hidrogênio, e as energias
dos nveis ligados in ludos na gura foram al uladas supondo =me ' 1.
o estado fundamental (n = 1) n~ao e afetado pelo termo de intera ~ao spin-orbita; o estado om
n = 2 e l = 0 t~aopou o e afetado, enquanto que os estados om n = 2 e l = 1 se quebram
em dois nveis, asso iados respe tivamente aos valores j = 1=2 e j = 3=2 do momento angular
total. A integral radial pode ser nesse aso al ulada expli itamente omo
Z
ju21(r)j2 er3 dr = m 3 24ea3

e
onde a0 e o raio de Bohr. Desse modo resulta que

!
2 2
2 2

1+ 2
R e E21 32 =
1
R
(6.14)
E21 12 =
4me
me 6
4me
m2e 12
onde = e2 =h ' 1=137 e a onstante da estrutura na. A energia do estado om n = 2 e
l = 0 permane e om o valor n~ao perturbado E20 12 = E2(0) = R=4me . A es ala de energias
asso iada aos efeitos da intera ~ao spin-orbita e de fato mais na por um fator 10 4 que a
es ala dos espa amentos dos nveis mais baixos do espe tro n~ao perturbado, dada pela onstante
de Rydberg R. O esquema de nveis resultante e ent~ao o que apare e na g. 6.2.
O tratamento perturbativo do termo de intera ~ao spin-orbita na realidade en obre uma

di uldade que se manifesta quando se pro ura uma solu ~ao exata do problema de autovalores asso iado ao Hamiltoniano (6.12). A parte angular e de spin da equa ~ao de
autovalores pode ser tratada na representa ~ao a oplada (em que J 2 e diagonal) levando,
na representa ~ao de S hrodinger, a uma equa ~ao ordinaria que envolve apenas a oordenada radial r. De fato, es revendo a solu a~o do problema de autovalores, para o valor Er
da energia relativa, sob a forma
304
uEr (r)
u (r)
h
r^jl1=2 jmj i Er
r
r
ms
Cmj l ms m2 s mj j Yl mj
ms
(^r) j 21 msi;
resulta que a fun ~ao radial uEr (r) deve satisfazer a equa a~o
"

#
d2 uEr lj (r)
2
Er l(l + 1) 2e2
3
e2
+ h 2
+ h 2r me 2 r3 j (j + 1) l(l + 1) 4 uEr lj (r) = 0
dr2
r2
ujas solu ~oes uEr (r) dependem de l e tambem de j , o que foi indi ado expli itamente
atraves dos ndi es adi ionados a essas fun ~oes. Como no aso do modelo simples, independente do spin do ele tron, a fun ~ao radial deve satisfazer as ondi ~oes u(r = 0) = 0
e de ser de quadrado integravel (no aso do espe tro dis reto) ou limitada (no aso do
espe tro ontnuo).
A di uldade onsiste em que, omo visto anteriormente no ontexto do tratamento
perturbativo, o termo de intera ~ao spin-orbita leva, no aso em que l 6= 0 e j = l 1=2, a um
termo de poten ial de arater atrativo e, no aso de uma arga puntiforme, propor ional
a 1=r3 . O al ulo da orre ~ao perturbativa de ordem mais baixa devida a esse termo
n~ao apresentou qualquer problema, pois o omportamento na vizinhan a da origem das
fun ~oes radiais n~ao perturbadas para l 6= 0 e su iente para garantir a onvergên ia das
integrais radiais relevantes, enquanto que no aso l = 0 o oe iente do termo em 1=r3 e
nulo. No entanto, um poten ial atrativo om a dependên ia radial 1=r3 nas vizinhan as
da origem e su ientemente forte3 para que a energia do estado de menor energia para
qualquer valor dado de l olapse para 1. Isso pode de fato der veri ado usando um
argumento varia ional para obter um limite superior para o menor autovalor da equa ~ao
radial, vista omo uma equa ~ao de autovalores
2E
hr u(r) = 2 r u(r)
h
para o operador

3
e2
d2 l(l + 1) 2e2
+ r2
j (j + 1) l(l + 1)
+
hr
dr2
4 :
h 2 r me 2 r3
De fato, usando a fun ~ao de prova normalizada, dependente do parâmetro b
s
Z 1
r2
8
2
2
2
b
u(r) = p 5 r e ;
u2 (r) dr = 1
3 b
0
e fa il veri ar que
v. L. D. Landau e E. M. Lifshitz, op. it., x14 e x35.
305
d2 u
u(r) 2 dr =
dr
jCK j
b2
1 u2 (r)
rn
dr =
jCnj ; n = 1; 2; 3
bn
e portanto se o oe iente de 1=r3 em hr e negativo, omo a onte e no aso em que

j = l 1=2, a quantidade
Z
u(r)hr u(r) dr
pode ser tornada arbitrariamente negativa, tomando b su ientemente pequeno, o que

impli a num limite superior tambem arbitrariamente negativo para Er .
Como essa di uldade esta asso iada a uma singularidade que de orre em ultima
analise do poten ial oulombiano de uma arga puntiforme, pare e natural supor que
para evita-la seja pre iso modi ar o poten ial entral para distân ias pequenas. Isso,
no entanto, n~ao e verdade, pois o tratamento relativsti o do poten ial oulombiano no
ontexto da equa ~ao de Dira (v. Captulo 11) evita a \queda para o entro" presente no
tratamento n~ao relativsti o.
Dis repân ias e onsertos. Os resultados para os estados esta ionarios do atomo de hidrogênio om n = 2 ontem uma dis repân ia importante om rela ~ao aos nveis observados
experimentalmente. De fato, embora a diferen a de energia experimental entre os nveis 2s1/2 e

(exp)
(exp)
2p1/2 seja apenas a do deslo amento de Lamb, o que orresponde a E20
1 E21 1 ' 310 7 R, o
2
2
resultado da in lus~ao dos efeitos da intera ~ao spin-orbita da E20 12 E21 12 = 2 R=24 ' 2 10 6 R,
que e prati amente uma ordem de grandeza maior que o valor observado. A origem dessa
dis repân ia pode ser determinada notando, em primeiro lugar, que o termo de intera ~ao spinorbita e uma orre ~ao relativsti a ao modelo mais simples do atomo de hidrogênio que e de
ordem v 2 = 2 , tomando para v um valor tpi o da velo idade do ele tron, que pode ser obtido
no ontexto da teoria quânti a omo
v
hpi
me
1 h
:
me a0
De fato, valores tpi os do termo de intera ~ao spin-orbita podem ser estimados omo
HLS
e2 1 h
1 e2 v 2
m
va

:
2m2e 2 a30 2 e 0 4 a0 2
Em segundo lugar, deve-se notar que existem outras orre ~oes relativsti as dessa mesma ordem
que est~ao sendo ate aqui ignoradas. A primeira delas, que pode ser obtida de forma simples, e
306
uma orre ~ao ao termo de energia ineti a, que resulta da expans~ao da express~ao relativsti a
para a energia ineti a
q
m2e 4 + p2 2
me
p2
=
2me
p4
v4
+O 4
8m3e 2

o que leva a identi a ~ao da orre ~ao
p4
HK =
:
(6.15)
8m3e 2
Para obter as ontribui ~oes perturbativas para os autovalores da energia devidas a esse novo
termo e util notar que
e2
2 p4
2
H
+
HK =
=
0
2m3e 2 42
2m3e 2
r
!2
que, sendo independente do spin e ompatvel om L2 , tem omo uni os elementos de matriz
n~ao nulos nos estados n~ao perturbados om n = 2
3 13
h20 1=2 1=2mj jHK j20 1=2 1=2mj i = m 3 64
2 R
3 7 2
h21 1=2 jmj jHK j21 1=2 jmj i = m3 192 R:
e
Existe ainda uma segunda orre ~ao relativsti a de mesma ordem para o poten ial entral,
onhe ida omo termo de Darwin, que e dada por
e2h 2
h 2 2
r
V
(
r
)
!
(~r)
(6.16)
8m2e 2
2m2e 2
onde a ultima passagem envolveu a suposi ~ao de um poten ial oulombiano e2 =r e o uso da
equa ~ao de Poisson. A ontribui ~ao perturbativa desse termo se restringe portanto aos estados
om l = 0, pois apenas estes estados têm fun ~ao de onda diferente de zero em ~r = 0. O elemento
de matriz relevante e, no aso dos estados om n = 2,
HD =
h20 1=2 1=2mj jHD j20 1=2 1=2mj i = m 3 18 2R:

e
307
H0 + HLS
2p3/2
2s1/2
2p1/2
+ HK
R (1- 2/ 12)
4
R
4
+ HD
2p3/2
-7 R/ 192
R (1+ / 6)
4
2s1/2
2p1/2
2
-13 R/ 64
2
+ R/ 8
Figura 6.3: Deslo amentos perturbativos dos nveis n = 2 do hidrogênio devidos a orre ~ao
relativsti a para a energia ineti a HK e ao termo de Darwin HD . As energias foram al uladas
supondo =me ' 1.
Adi ionando nalmente as novas orre ~oes ao resultado (6.14) o que se obtem para as
energias perturbadas dos estados om n = 2 e
E21 32 =
E21 12 =
E20 12 =

me

me

me
2 2
3 7 2
2 2
R
R
1
1
+

R
=
4
m2e 12
m3e 192
me 4
m2e 16
!
!
2 2
3 7 2
2 5 2
R
R
1+ 2
1+ 2
R=
4
me 6
m3e 192
me 4
me 16
!
2
3
3
5 2
1 2
R
R 13 2
1+ 2
:
R+ 3 R=
4 m3e 64
me 8
me 4
me 16
Esses resultados est~ao representados na gura 6.3. Os estados om l = 0 e l = 1 ujo momento

angular total e j = 1=2 apare em omo degenerados apos a in lus~ao da orre ~ao relativsti a
para a energia ineti a e do termo de Darwin, enquanto a separa ~ao entre esses estados e o
estado om j = 3=2, devida ao termo de a oplamento spin-orbita, se mantem (a menos do fator
proximo de 1, envolvendo a massa reduzida) om o valor 2 R=16.
308
6.3.2 Intera ~ao spin-spin e estrutura hiperna.

Sendo o proton tambem uma part ula de spin 1=2 dotada de um momento magneti o ~p,
existe no atomo de hidrogênio uma intera ~ao spin-spin, asso iada a intera ~ao dos momentos
magneti os intrnse os do proton e do ele tron, e uma intera ~ao do momento magneti o intrnse o do proton om o momento magneti o orbital asso iado ao ele tron, alem da intera ~ao
do spin do ele tron om o ampo magneti o asso iado a dinâmi a orbital, que da origem ao
termo de intera ~ao spin-orbita. Os efeitos destas intera ~oes, envolvendo o momento magneti o
do nu leo, s~ao muito pequenos na es ala da estrutura na e d~ao origem a hamada estrutura
hiperna do espe tro atômi o.
Quando o momento angular orbital e nulo ( omo no aso do estado fundamental do modelo
simples para o atomo de hidrogênio) n~ao ha momento magneti o orbital, e a intera ~ao hiperna
se reduz a intera ~ao entre os momentos magneti os intrnse os do ele tron e do nu leo. Por
simpli idade a dis uss~ao que segue se restringe a este aso. A energia asso iada a intera ~ao dos
dois momentos magneti os pode ser es rita omo ~e B~ ~p (~r) onde B~ ~p (~r) e o ampo magneti o
devido ao momento magneti o do proton (suposto omo sendo puntiforme) a uma distân ia ~r
do proton. Uma express~ao lassi a para esse ampo e4
~ ~r 3^r(~p r^) ~p

B~ ~p (~r) = r p 3 =
+ 4 (1 d)~p (~r)
(6.17)
r
r3
na qual os dois primeiros termos orrespondem ao ampo externo a um momento de dipolo
magneti o ~p e o ultimo termo orresponde, no limite em que a distribui ~ao de magnetiza ~ao
responsavel por ~p e tratada omo sendo puntiforme, a um \ ampo interno" a essa distribui ~ao.
E bem sabido que o ampo magneti o B~ interno a uma distribui ~ao nita de magnetiza ~ao
~ , limitada por uma dada superf ie na realidade depende da forma de . O
uniforme M
problema de ondi ~oes de ontorno orrespondente pode ser resolvido analiti amente para o
aso de uma superf ie elipsoidal5 om o resultado que o ampo B~ interno a distribui ~ao de
magnetiza ~ao e dado por
~ + 4 M
~
B~ = H
om
~ = 4 d M
~
H
ou seja
v. e.g. J. D. Ja kson, Classi al Ele trodynami s, John Wiley & Sons, N.Y. 1962, p. 146; v. tambem o
tratamento dado a esta quest~ao na segunda edi a~o deste livro (1975, pp. 180-187), omparando espe ialmente
a eq. (5.58) da primeira edi a~o om a eq. (5.64) da segunda.
5
v. e.g. J. C. Slater e N. H. Frank, Ele tromagnetism, M Graw-Hill Book Co., 1947, pag. 73, ou ainda A.
Sommerfeld, Ele trodynami s (Le tures on Theoreti al Physi s, Vol III), A ademi Press, N.Y., 1952, pag. 95.
Em textos mais re entes, omo por exemplo J. D. Ja kson, Op. it. a referên ia ao fator de desmagnetiza a~o
pere e ter sido abandonada, embora um fenômeno analogo seja tratado no ontexto da eletrostati a em termos
de um fator de despolariza ~ao.
4
309
~
B~ = 4 (1 d)M
onde d e o hamado fator de desmagnetiza ~ao, que varia de valores proximos de zero para um
elipsoide extremamente alongado (isto e, om geometria tipo agulha) ate valores proximos de 1,
para um elipsoide extremamente a hatado (geometria tipo dis o). Para o aso intermediario de
uma distribui ~ao esferi a o fator de desmagnetiza ~ao tem o valor 1=3. No que segue esse termo
sera es rito, omo na equa ~ao (6.17), em termos de um fator de desmagnetiza ~ao d generi o, a
ser tratado oportunamente omo um parâmetro fenomenologi o.
Es revendo os momentos magneti os omo
S~ (e)
S~ (p)
e ~p p
(6.18)
h
h
onde S~ (e;p) = h ~e;p =2 s~ao os operadores de spin para o ele tron e para o proton, om ~
f1 ; 2; 3 g e sendo i as matrizes de Pauli, a energia de intera ~ao ~e B~ ~p adquire a forma
de uma intera ~ao spin-spin dada por
~e e
3(S~ (e) r^)(S~ (p) r^) S~ (e) S~ (p)

+ 4 (1 d)S~ (e) S~ (p) (~r)5 :
HSS = e 2 p 4
r3
h
Essa express~ao pode ser re-es rita em termos do spin total S~ S~ (e) + S~ (p) usando as identidades
1
S~ (e) S~ (p) S 2
2
e
(S~ (e)
r^)(S~ (p)
r^)
1h ~ 2
(S r^)
2
S (e) 2
(S~ (e)
r^)2
S (p) 2
(S~ (p)
3h2
2
1
= S2
2
r^)2
(6.19)
"
h 2
:
2
1 ~ 2
(S r^)
2
(6.20)
A ultima passagem envolveu o fato de que o quadrado de qualquer proje ~ao de ~ e igual a
matriz unidade ( f. Problema 6.2). Usando as rela ~oes (6.19) e (6.20) a intera ~ao spin-spin no
atomo de hidrogênio pode ser es rita omo
2
3(S~ r^)2
HSS = e 2p 4
r3
2h
S2
+ 4 (1 d) S 2
310
3h2
(~r)5 :
2
(6.21)
Essa parte da intera ~ao hiperna, sem ontribui ~oes provenientes do momento angular orbital do ele tron, e su iente para tratar a quebra de degeneres ên ia do estado fundamental
do modelo simples para o atomo de hidrogênio, no qual o estado relativo e des rito pela fun ~ao
de onda nl = 1s. In luindo as quatro ombina ~oes possveis de estados de spin para o proton
e para o ele tron na representa ~ao em que o spin total S 2 e diagonal
!1
3 2
e
m3e a30
j1s1=2 1=2 SMS i !
r
me a0
j1=2 1=2 SMS i
onde S = 0; 1 e S MS S , a0 e o raio de Bohr e ; me s~ao respe tivamente a massa

reduzida e a massa do ele tron. Esses quatro estados degenerados s~ao independentes dos ângulos
r^ f'g de ~r, de modo que as integra ~oes angulares no aso do termo dipolar de (6.21) no
al ulo dos elementos de matriz levam a um resultado nulo. De fato, usando
S~ r^ = S1 sen os ' + S2 sen sen ' + S3 os

um al ulo simples mostra que
Z +1
donde segue
d os
Z 2
4
d' (S~ r^)2 = S 2
3
i
d2 r^ 3(S~ r^)2
S 2 = 0:
Portanto, as ontribui ~oes n~ao nulas para os elementos de matriz se devem neste aso apenas
ao \termo de onta to", que ontem a fun ~ao delta de Dira , asso iada ao ampo magneti o
\interno" do proton. Como essas ontribui ~oes dependem do spin apenas atraves de S 2 , a
matriz da perturba ~ao e diagonal na representa ~ao em que S 2 e diagonal, seus autovalores sendo
propor ionais ao valor da fun ~ao de onda na origem. Eles podem ser al ulados expli itamente
sem di uldade de forma direta, dando
h1s1=2 1=2 S 0MS0 jHSS j1s1=2 1=2 SMS i =

=
=
3 Z 3
e p
4 (1 d) 3 3 d ~re
me a0
2h2
e p 2(1 d)
3
m3e a30
2 mr
e a0
8
>
<
SS 0 MS MS0 >
:
311
(~r)
1
2
h 2
S (S + 1)
para S = 1
3
2
para S = 0
3
0
0
2 SS MS MS
(6.22)
H0
H 0+ HSS
-R
-R + E SS /4
S=1
-R -3 E SS /4
S=0
E SS
Figura 6.4: Efeito perturbativo da intera ~ao hiperna para os estados n = 1 do hidrogênio. O
zero da es ala de energia e a energia de disso ia ~ao do hidrogênio.
Os autovalores assim obtidos d~ao as orre ~oes perturbativas de primeira ordem para as
energias dos estados om S = 1 e om S = 0. O efeito da intera ~ao hiperna entre os momentos
magneti os do ele tron e do proton no estado fundamental do hidrogênio levam portanto a uma
quebra par ial da degeneres ên ia dos quatro nveis n~ao perturbados, em que um estado om
S = 0 tem sua energia de liga ~ao aumentada enquanto tres outros estados, orrespondentes
aos tres valores possveis de S3 para S = 1, se tornam menos ligados. Esse resultado esta
representado na gura 6.4. Usando o fator de desmagnetiza ~ao d = 1=3 que orresponde a
supor uma distribui ~ao esferi a e uniforme de magnetiza ~ao para o proton, e introduzindo os
valores dos momentos magneti os
g eh
g eh
e p = p
e = e
2me
2mp
onde e e a arga eletri a do proton, e fa il ver que essas orre ~oes perturbativas podem ser
es ritas omo
8
1 para S = 1
>
3
< 2

2
E1Ss = gegp 2 R 2 >
3
me mp : 3 para S = 0
2
onde ' 1=137 e a onstante da estrutura na e R e a onstante de Rydberg. Como mp
2000me e portanto ' me a es ala de energia de separa ~ao entre os estados S = 0 e S = 1
difere por um fator ' me =mp 1=2000 da es ala orrespondente a estrutura na do espe tro.
A diferen a de energia entre os estados S = 0 e S = 1 e dada por
4gegp 2
3
R 2 ' 5:868 10 6 eV = h 1419 MHz: (6.23)
3
me mp
Essa frequên ia orresponde a um omprimento de onda de 21 m, que tem uma importân ia
onsideravel para a radioastronomia devido a presen a residual de hidrogênio no espa o interestelar.
ESS E11s
E10s =
312
6.4
Campos eletromagn
eti os externos. Efeitos Stark e
Zeeman no hidrog^
enio.
A dinâmi a de uma part ula lassi a de massa M e arga eletri a e num ampo eletromagneti o
externo, des rito em termos de um poten ial vetor A~ (~r; t) e de um poten ial es alar (~r; t)
atraves das rela ~oes usuais
E~ (~r; t) =
(~r; t)
r(~r; t) 1 At
B~ (~r; t) = r A~ (~r; t)
pode se denida atraves da lagrangeana6
M_2 e _ ~
~r + ~r A(~r; t) e(~r; t);
2

omo pode ser fa ilmente veri ado al ulando as equa ~oes de Euler-Lagrange orrespondentes
L=
e
e
d _ e A~
M ~r =
er + ~r_ r A~ = eE~ (~r; t) + ~r_ B~ (~r; t)
dt
t

em que o lado direito orresponde a for a de Lorentz que age sôbre a part ula. Vale a pena notar
expli itamente que, para obter esse resultado, o argumento ~r dos poten iais eletromagneti os
deve ser identi ado om o vetor de posi ~ao da part ula. O momento anoni amente onjugado
a ~r e
e
~p = M ~r_ + A~ (~r; t)

de modo que a hamiltoniana orrespondente a lagrangeana L e
2
1 e~
~p
A(~r; t) + e(~r; t):
2M

O adjetivo externo usado para os ampos eletromagneti os signi a que em todas as equa ~oes
pre edentes a dependên ia de A~ e de om ~r e t e dada a priori, sendo determinada por
dispositivos estranhos ao sistema, que por isso deixa de ser autônomo. E laro que situa ~oes
envolvendo ampos externos independentes do tempo est~ao in ludas nesse tratamento omo
asos parti ulares em que A~ e n~ao dependem de t.
A quantiza ~ao anôni a desse sistema se faz interpretando ~r e ~p omo operadores vetoriais
ujas omponentes artesianas satisfazem rela ~oes anôni as de omuta ~ao. Na representa ~ao
H ~p ~r_ L =
51.
v. e.g. E. J. Saletan e A. H. Cromer, Theoreti al Me hani s, John Wiley & Sons, In ., N. Y. (1971), pag.
313
de S hrodinger, as omponentes de ~r s~ao realizadas omo operadores de multipli a ~ao pelas

omponentes do vetor de posi ~ao enquanto o momento anôni o ~p e realizado em termos do
operador diferen ial h =ir, de modo que a equa ~ao de movimento quânti a para a fun ~ao de
onda de uma part ula sujeita a ampos eletromagneti os externos des ritos por A~ e e
2
!2
1 h
e~
(~r; t)
A(~r; t) + e(~r; t)5 (~r; t) = ih
r
:
(6.24)
2M i

t
Em orrespondên ia om o fato de que na equa ~ao de movimento lassi a os poten iais devem ser
al ulados para ~r orrespondente a posi ~ao da part ula no instante t onsiderado, na equa ~ao de
movimento quânti a o argumento ~r dos poten iais deve ser entendido omo a variavel dinâmi a
orrespondente a posi ~ao da part ula. E importante observar que isso faz om que o momento
p~ ! h r=i em geral n~ao omute om A~ (~r; t). De fato, para uma fun ~ao (~r; t) qualquer
4

h
h h
+ A~ r
~p A~ = r A~ = r A~
i
i
i
de modo que ~p A~ = A~ p~ apenas se r A~ = 0.
h ~
rA
i
+ A~ ~p
O fato de que os poten iais eletromagneti os apare em expli itamente na equa a~o de
movimento quânti a olo a a quest~ao do efeito de uma transforma ~ao de padr~ao (\gauge")
0
A~ (~r; t) ! A~ A~ r(~r; t);
(~r; t) ! 0 1 (~r; t) ;
(6.25)

t
onde (~r; t) e uma fun ~ao real arbitraria, sobre as solu ~oes da equa ~ao (6.24), ja que os
ampos E~ e B~ n~ao s~ao afetados por essa transforma a~o. N~ao e dif il veri ar que as
altera ~oes introduzidas na equa ~ao de movimento pela transforma ~ao de padr~ao (6.25)
podem ser ompensadas por transforma ~ao unitaria ujo efeito sobre as fun ~oes de onda
e multipli a-las por um fator de fase
(~r; t) ! 0 (~r; t) e hie (~r;t) (~r; t):
De fato, introduzindo o momento transformado
ie
ie
e
h
h
(r(~r; t)) ;
~p 0 e h (~r;t) re h (~r;t) = r
i
i

onde o ultimo termo e um operador
de multipli a ~ao, e notando que a apli a ~ao dessa
mesma transforma ~ao a ~r da ~r 0 = ~r, resulta que, se (~r; t) e solu a~o de (6.24), ent~ao
0 (~r; t) e solu ~ao da equa ~ao
#
"
1 p~ 0 e A~ 0 (~r; t)2 + e0(~r; t) 0 (~r; t) = ih 0 (~r; t) :
2M

t
314
Os efeitos de ampos eletromagneti os externos sobre sistemas mais omplexos, envolvendo

mais de uma part ula e for as internas, possivelmente tambem de origem eletromagneti a,
podem ser tratados dessa mesma forma, notando que os ampos externos agem sobre ada uma
das part ulas arregadas presentes no sistema. No aso do atomo de hidrogênio, por exemplo,
o Hamiltoniano de dois orpos \mnimo" a ser onsiderado quando em presen a de ampos
eletromagneti os externos e
1 h
H=
r
2mp i p
!2
e~
A(~r ; t)
p
!2
e~
1 h
(~r ; t)
r
+
e+ A
2 me i
e
+ e ((~rp ; t)
(r~e ; t))
e2
j~re ~rpj
onde os ndi es p e e se referem ao proton e ao ele tron respe tivamente. O ultimo termo provem
do ampo interno asso iado a intera ~ao oulombiana entre o proton e o ele tron. E importante
notar que as duas part ulas arregadas que onstituem o atomo de hidrogênio interagem om
os ampos externos des ritos por A~ e . Esse hamiltoniano e \mnimo" no sentido que, a rigor,
devem ser onsideradas ainda as intera ~oes envolvendo os spins do proton e do ele tron. Os
termos orrespondentes a intera ~ao spin-orbita (responsaveis pela estrutura na do espe tro)
bem omo os responsaveis pela estrutura hiperna perten em tambem a lasse de for as internas
e podem ser importados diretamente do tratamento anterior. Os termos externos envolvendo
spins devem ser mais uma vez a res entados expli itamente, ja que esse tipo de grau de liberdade
n~ao apare e no pro edimento que leva a equa ~ao (6.24). O que se supora no que segue e que
o a oplamento dos spins om os ampos externos se da atraves da intera ~ao dos momentos
magneti os asso iados a eles om o ampo magneti o externo. Isso pode ser representado por
termos do tipo

e ~
~
~s B;
~ B = g
2M
om B~ = r A~ , onde e e M s~ao respe tivamente a arga e a massa da part ula asso iada ao
spin, e g e o fator giromagneti o apropriado.
6.4.1 Efeito Stark no hidrogênio.

Um primeiro problema que pode ser tratado om os ingredientes expostos a ima e a perturba ~ao de um atomo de hidrogênio por um ampo eletri o externo E~ , espa ialmente uniforme e
independente do tempo, onhe ida omo efeito Stark. Nesse aso os poten iais eletromagneti os
podem ser es olhidos omo sendo
A~ 0
(~r) = E~ ~r
de modo que o hamiltoniano a ser onsiderado e

315
H = H0
eE~ (~rp ~re )
e(~rp ) + e(~re ) = H0
onde H0 e o hamiltoniano que des reve o atomo de hidrogênio na ausên ia do ampo externo.
Os sinais dos termos envolvendo o ampo externo (~r) s~ao determinados pelos sinais das argas
do proton e do ele tron respe tivamente.
A es olha mais simples para H0 e
H0 =
p2p
p2
+ e
2mp 2me
e2
j~re ~rpj
onde p~p e p~e orrespondem respe tivamente ao momento do proton e do ele tron. Essa parti ular
es olha ignora efeitos das intera ~oes internas envolvendo os spins (em parti ular a intera ~ao spinorbita), e pode portanto n~ao ser su ientemente realsti a em algumas situa ~oes. No entanto,
ela e relevante quando os efeitos do ampo externo s~ao muito maiores que os efeitos devidos a
essas for as, alem de ser util para ilustrar o esquema perturbativo para o tratamento do ampo
externo independentemente de ompli a ~oes te ni as n~ao essen iais. Os efeitos de spin a es ala
da estrutura na do espe tro ser~ao dis utidos mais adiante.
O termo perturbativo de H , asso iado ao ampo eletri o externo, depende das variaveis
dinâmi as do atomo apenas atraves do momento de dipolo eletri o
d~ = e(~rp ~re ) e~r

sendo ~r = ~re ~rp o vetor de posi ~ao do ele tron relativamente ao proton7 . Devido a essa propriedade, e onveniente utilizar os resultados ja obtidos tratando o Hamiltoniano n~ao perturbado
H0 em termos de variaveis relativas e de entro de massa
P 2 p2 e2
mm
+
;
M = me + mp ; = e p :
(6.26)
2M 2 r
me + mp
A parte referente ao entro de massa tem o espe tro ontnuo de part ulas livres de massa M
e n~ao e afetada pelo ampo eletri o externo, omo poderia ter sido ante ipado tendo em vista
a neutralidade do atomo omo um todo. O problema se reduz, portanto, a obter os efeitos
perturbativos do termo de intera ~ao
H0 =
O proton esta sendo usado omo origem para a deni a~o do vetor de posi a~o relativa do sistema protonele tron na suposi a~o de que a mesma onven a~o seja usada no tratamento da dinâmi a relativa n~ao perturbada
(v. eqs. (5.33) e (6.27) abaixo). Desse modo as variaveis angulares que apare em nas fun o~es de onda relativas
n~ao perturbadas ser~ao as mesmas que apare em em d~ atraves de ~r.
7
316
H 0 = E~ d~ = eE~ ~r
(6.27)
sobre o espe tro dis reto (5.36) e (5.37) do Hamiltoniano que des reve a dinâmi a relativa do
sistema proton-ele tron.
1. Perturba ~ao do estado fundamental. O estado fundamental j100 i e o uni o estado

n~ao degenerado do espe tro da parte de H0 referente ao movimento relativo. Ele orresponde
aos numeros quânti os n = 1, l = m = 0, om a nota ~ao usada nas equa ~oes (5.36) e (5.37). A
orre ~ao de primeira ordem a energia desse estado, devida a intera ~ao (6.27) e portanto
e(1)
100
= h100 jH 0j100 i = E~
d3 r 100 (~r)e~r100 (~r) E~ hd~i100 :
O valor medio hd~i100 e hamado momento de dipolo eletri o do estado j100 i, e e fa il ver que o
seu valor e zero. De fato, o integrando que apare e na deni ~ao desse valor medio tro a de sinal
om a substitui ~ao de ~r por ~r; omo a integral e estendida a todo o espa o, isso impli a que
hd~i100 = hd~i100 = 0. A onsequên ia imediata desse fato e a de que a orre ~ao perturbativa
de primeira ordem em H 0 ao autovalor do estado fundamental de H0 se anula, de modo que a
orre ~ao perturbativa n~ao nula de ordem mais baixa e pelo menos de segunda ordem, e portanto
pelo menos propor ional a E 2 , n~ao havendo orre ~ao que depende linearmente do modulo do
ampo externo apli ado.
O que deve ser feito nesse aso e, portanto, al ular a orre ~ao perturbativa de segunda
ordem e(2)
oes gerais de teoria de perturba ~oes para estados n~ao
100 . De a ordo om as express~
degenerados essa orre ~ao envolve uma soma sobre estados intermediarios jnlmi, e e dada por
e(2)
100 =
nlm6=100
jh100jH 0jnlmij2 =
E1
En
nlm6=100
jE~ hd~i100;nlmj2
E1
En
(6.28)
onde apare em agora os momentos de dipolo de transi ~ao
hd~i100;nlm =
d3 r 100 (~r)e~rnlm (~r):
Como no aso do momento de dipolo do estado fundamental, os momentos de dipolo de transi ~ao
ser~ao nulos sempre que o integrando tro ar de sinal om a substitui ~ao de ~r por ~r. Como
100 ( ~r) = 100 (~r), e tendo em onta a presen a do fator ~r proveniente do operador de dipolo
eletri o, as ontribui ~oes n~ao nulas para a orre ~ao de segunda ordem so podem provir de
estados nlm (~r) tais que nlm ( ~r) 6= nlm (~r). E fa il ver, por inspe ~ao direta das fun ~oes de
onda (5.37), que tais estados existem. Ja onsiderando os estados mais proximos em energia do
estado fundamental (e que s~ao portanto os estados para os quais o denominador de energia em
317
(6.28) tem o menor valor absoluto), que s~ao os estados om n = 2, j200 i e j21m i; m = 1; 0; 1,
resulta que
200 ( ~r) = 200 (~r)

devido ao fato de que essa fun ~ao de onda depende apenas de j~rj mas, por outro lado,
u21 ()
u ()
Y1m ( ; ' + ) = 21 Y1m (; ') = 21m (~r); / r = j~rj:
r
r
A fun ~ao de onda 21m (~r), portanto, tro a de sinal om a substitui ~ao de ~r por ~r, o que
permite que hd~i100;21m possa ser diferente de zero.
O problema de inventariar os estados jnlmi apazes de ontribuir para a orre ~ao de segunda
ordem (6.28) pode, na realidade, ser onsideravelmente simpli ado atraves da onsidera ~ao
expl ita de ertas propriedades de simetria do Hamiltoniano que des reve o movimento relativo
do sistema proton-ele tron. Seja, de fato, o operador de invers~ao espa ial P denido pela
propriedade
21m ( ~r) =
h~rjPj i = h ~rj i = ( ~r)

para qualquer j~ri e qualquer vetor de estado j i (asso iado a fun ~ao de onda h~rj i) do espa o
de Hilbert da dinâmi a relativa. Uma propriedade simples mas importante desse operador e
a de que P 2 = ^1, isto e, o quadrado de P e o operador identidade, o que signi a que esse
operador e igual ao seu inverso, P 1 = P , e impli a em que seus possveis autovalores s~ao
apenas +1 e 1. Para veri a-la basta notar que
h~rjP 2 j i = h ~rjPj i = h~rj i

para quaisquer j~ri e j i. A natureza dos autovetores j p i; p = 1 de P pode ser fa ilmente
re onhe ida notando que
h~rjPj pi
= ph~rj
= h ~rj
i
pi
logo
h ~rj pi = ph~rj pi
e as autofun ~oes h~rj p i s~ao fun ~oes pares (para p = +1) e mpares (para p = 1) om rela ~ao a
substitui ~ao de ~r por ~r. Alem disso, o operador de invers~ao e hermiteano (e portanto, devido
a propriedade anterior, tambem unitario). De fato, utilizando a deni ~ao de P e mudan as
simples de variavel de integra ~ao resulta que
318
0 jP yj
=
=
=
h jPj
Z
0i =
d3 r (h
d3 r
0 i) =
(h j~ri h~rjPj
Z
d3 r (h j~ri h ~rj 0 i)
j ~ri h~rj 0i) = d3r h 0j~ri h ~rj i
h 0jPj i
para quaisquer vetores de estado j i e j 0 i. O observavel asso iado ao operador P e hamado paridade, e os autovetores de P s~ao portanto estados de paridade denida. Autovetores asso iados
aos autovalores p = +1 e p = 1 s~ao estados de paridade positiva e negativa respe tivamente.
O efeito do operador de invers~ao espa ial sobre variaveis dinâmi as pode ser obtido atraves
das propriedades de transforma ~ao das variaveis anôni as
P ~qP y = ~r
P p~P y = p~
que podem tambem ser veri adas sem di uldade om as deni ~oes e resultados anteriores.
Para a segunda dessas rela ~oes, por exemplo,
~ ~rjPj i = h rh
~ ~rj i = h~rj ~pj i
h~rjP p~P yj i = h ~rjp~Pj i = hi rh
i
para quaisquer j~ri e j i. Em parti ular, o efeito de P sobre o Hamiltoniano relativo e
P
ou ainda
p2
2
"
e2
r
p2
2
e2
r
2
P ; 2p
e2
= 0;
r
o que signi a que P pode ser diagonalizado simultaneamente om o Hamiltoniano relativo ou,
em outras palavras, que as autofun ~oes Ek do Hamiltoniano relativo podem ser es olhidas de
forma a serem tambem autofun ~oes de P , ou seja, de modo que
P Ek (~r) = Ek ( ~r) = Ek (~r)
ou
P Ek (~r) = Ek ( ~r) = Ek (~r):
A presen a de degeneres ên ia no espe tro (5.36) e (5.37) do Hamiltoniano relativo n~ao permite,
a rigor, identi ar imediatamente as autofun ~oes nlm tambem omo autofun ~oes de P . No
entanto, a forma (5.37) dessas autofun ~oes, juntamente om a propriedade das harmôni as
esferi as
319
hr^jPjlmi = h r^jlmi = Ylm( ; ' + ) = (
1)l Ylm (; ')
(6.29)
mostra que, de fato,
h~rjPjnlmi = h ~rjnlmi = ( 1)l nlm(~r)

isto e, os autovetores jnlmi s~ao tambem autovetores de P om autovalor (
1)l . Vale a pena

notar expli itamente que os dois ângulos que servem de argumento as harmôni as esferi as em
(6.29) s~ao os ângulos polares esferi os de r^ ~r=r, o que justi a o efeito de P nessa rela ~ao,
pois os ângulos orrespondentes a r^ s~ao ; ' + .
Esse resultado generaliza para uma autofun ~ao qualquer nlm (~r) as propriedades obtidas
expli itamente para 200 e para 21m , mostrando que apenas autofun ~oes om l mpar podem
ontribuir para a orre ~ao de segunda ordem para a energia do estado fundamental (6.28).
Alem disso, ele permite obter um resultado mais geral om rela ~ao a elementos de matriz do
tipo hn0 l0 m0 jOp jnlm i, onde Op e um operador de paridade denida, isto e, tal que
POp P y = pOp ;
p = +1 ou
1:
O operador de dipolo eletri o e o momento ~p s~ao exemplos de operadores de paridade mpar, e

o Hamiltoniano relativo e um exemplo de operador de paridade par. Os resultados anteriores
permitem es rever tais elementos de matriz omo
hn0l0m0 jOpjnlmi = hn0l0m0 jP yPOp P yPjnlmi = p( 1)l+l0 hn0l0m0 jOpjnlmi;

de modo que hn0 l0 m0 jOp jnlmi = 0 a menos que p( 1)l+l0 = 1. Isso signi a que l + l0 deve ser
par para p = +1, e mpar para p = 1. Em parti ular, o valor medio de qualquer operador de
paridade mpar em um estado de paridade bem denida qualquer (por exemplo, o valor medio
do operador de dipolo eletri o em um estado jnlmi qualquer) e zero.

As restri ~oes devidas a onsidera ~oes de paridade n~ao s~ao, no entanto, as uni as relevantes
para determinar o n~ao anulamento dos elementos de matriz que apare em na orre ~ao de segunda ordem (6.28) para a energia do estado fundamental do hidrogênio. Neste aso parti ular
existem de fato restri ~oes mais fortes provenientes de quest~oes ligadas ao momento angular.
Elas podem ser obtidas de forma simples examinando a parte angular da integral que dene o
momento de dipolo de transi ~ao hd~i100;nlm . Esta envolve, alem da harmôni a esferi a Ylm (')
asso iada ao estado nlm i, a dependên ia angular impl ita no arater vetorial do operador
de dipolo eletri o d~. Uma forma de expli itar esta ultima dependên ia angular e es rever as
omponentes artesianas x; y; z de ~r em termos de j~rj e dos ângulos esferi os e '
x = r sen os ';
y = r sen sen ';

320
z = r os :
Outra forma mais onveniente onsiste em exprimir a dependên ia angular em termos de

harmôni as esferi as omo
s
rY11 (; ') =
3
(x + iy );
8
3
rY10 (; ') =
z;
4
rY1 1 (; ') =
3
(x iy ): (6.30)
8
Essas rela ~oes mostram que as omponentes artesianas de ~r podem ser es ritas omo ombina ~oes lineares das tres harmôni as esferi as Y1m (; '). Consequentemente, as omponentes
artesianas de hd~i100;nlm s~ao dadas em termos de integrais angulares que podem ser al uladas
simplesmente utilizando as propriedades de ortogonalidade das harmôni as esferi as
Z +1
d os
Z 2
Y1m (; ')Ylm0 (; ') =
Z +1
d os
= ( 1)m 1l
Z 2
0
mm0
( 1)m Y1 m (; ')Ylm0 (; ')
mostrando que apenas estados om l = 1 dar~ao ontribui ~oes n~ao nulas. E laro que esse
resultado depende ru ialmente do arater vetorial do operador de dipolo eletri o bem omo
fato de que a fun ~ao de onda 100 (~r) e independente das oordenadas angulares, e que ele in lui
a restri ~ao proveniente de onsidera ~oes de paridade. Este ultimo fato se rela iona a rela ~ao
estreita, indi ada na equa ~ao (6.29), existente entre a paridade e o valor de l. Formas mais
gerais das restri ~oes asso iadas a quest~oes de momento angular ser~ao dis utidas no aptulo 9.
Tendo em onta as restri ~oes devidas a quest~oes de paridade e momento angular, o al an e
das somas envolvidas na orre ~ao de segunda ordem para a energia do estado fundamental do
hidrogênio (6.28) pode, portanto, ser onsideravelmente reduzido. De fato, denindo a dire ~ao
z de forma que ela oin ida om a dire ~ao do ampo externo apli ado E~ , essa orre ~ao a
expressa em termos da omponente z do momento de dipolo de transi ~ao o que, de a ordo om
(6.30), sele iona apenas os estados jn10 i omo possveis estados intermediarios. Dessa forma
a soma tripla que apare e em (6.28) a reduzida a uma uni a soma, sobre o numero quânti o
prin ipal n
2
e(2)
100 = E
jhdz i100;n10 j2
n>1
E1
En
om hdz i100;n10 dados em termos de integrais radiais (v. equa ~ao (5.37))
e Z1
hdz i100;n10 = p3 0 dr u10() r un1();
321
/ r:
O deslo amento perturbativo da energia do estado fundamental e portanto propor ional a E 2 ,

e e por isso hamado efeito Stark quadrati o.
2. Perturba ~ao do nvel n = 2, efeito Stark linear. No modelo simples em que intera ~oes envolvendo os spins do proton e do ele tron s~ao ignoradas, o nvel n = 2 do atomo de
hidrogênio ontem estados degenerados om l = 0 e l = 1. Os spins podem ser ignorados ompletamente pois, nessas ondi ~oes, a uni a onsequên ia de sua existên ia e a de produzir quatro
repli as idênti as ( orrespondentes a ada um dos quatro estados independentes que podem ser
onstrudos om dois spins 1/2) do problema em que o proton e o ele tron s~ao onsiderados
part ulas sem spin, bastando portanto obter a solu ~ao deste ultimo problema.
De a ordo om as pres ri ~oes gerais de teoria de perturba ~oes, a presen a de degeneres ên ia exige a diagonaliza ~ao do termo perturbativo H 0 (eq (6.27) no sub-espa o de estados
degenerados, que no aso envolve quatro estados, a saber, o estado 200 i e os tres estados
j21m i; m = 1; 0; +1. Os elementos da matriz a ser diagonalizada s~ao portanto
h2l0m0 j E~ d~j2lmi
l; l0 m; m0 l; l0 . As restri ~oes ligadas a paridade, no entanto,
onde l e l0 s~ao 0 ou 1, e
impli am no anulamento dos elementos de matriz om l = l0 , de modo os elementos de matriz
diferentes de zero s~ao apenas
h200 j E~ d~j21mi
e seus ojugados omplexos. O problema se ular pode ainda ser simpli ado tomando o eixo z
na dire ~ao do ampo eletri o externo E~ , pois nesse aso
E~ d~ ! E dz
e, em virtude de (6.30), apenas h200 j E dz j210 i e seu onjugado omplexo s~ao diferentes de
zero. Esse elemento de matriz pode ser fa ilmente al ulado levando ao resultado
Ee Z 1
E h200 jdz j210 i = p
dr u20 () r u21 ():
(6.31)
3 0
Para evitar ompli a ~oes te ni as desne essarias, onvem observar que om a es olha usual de
fases ( f. equa ~ao (5.37)) as fun ~oes unl () s~ao reais8 , de modo que sem perda de generalidade
e possvel tomar omo sendo tambem real. O problema se ular resultante e portanto
A ondi a~o de que as fun o~es unl () sejam reais deixa ainda uma indeni a~o de sinal. O sinal de
dependera da parti ular es olha de sinais que tenha sido feita para estas fun o~es. Essa arbitrariedade no sinal
de e devidamente ompensada, no entanto, na solu a~o do problema se ular, atraves dos fatores =j j que
apare em nos autovetores perturbados, v. eq. (6.32) abaixo.
8
322
0
B
det B
B

0 0
0 0
0
0

0
0
0
0

1
C
C
C
A
= 2 (2
2) = 0
em que as linhas e olunas foram ordenadas de modo a orresponder aos estados 200 ; 210 ; 211
e 21 1 respe tivamente. A forma dessa matriz depende da es olha feita para o eixo z , que leva
ao desa oplamento dos estados orrespondentes as duas ultimas linhas e olunas. Fisi amente,
isso signi a que estados om l = 1 e m = 1 na dire ~ao do ampo eletri o externo n~ao s~ao
afetados em primeira ordem por esse ampo, o que faz om que a equa ~ao se ular possa ser
fatorada em duas equa ~oes quadrati as
2 (2
2 ) = 0 ! 2
2 = 0 ou 2 = 0
om as solu ~oes (que orrespondem as orre ~oes de primeira ordem para a energia n~ao perturbada E2 )
1 = j j; 2 =
j j; 3 = 4 = 0:
Os autovetores normalizados orrespondentes a esse autovalores s~ao respe tivamente

!
j1i = p12 j200i + j j j210i ;
j2i = p1 j200i
2

j j j210i ;
j3i = j211i; j4i = j21 1i:
(6.32)
O esquema de nveis perturbado e portanto aquele representado na gura 6.5. E importante

notar que, neste aso, o deslo amento em energia dos nveis afetados pelo ampo externo depende linearmente do modulo desse ampo pois, omo se vê na equa ~ao (6.31), e propor ional
a E , um efeito onhe ido omo efeito Stark linear. Ele e uma onsequên ia direta da degeneres ên ia dos estados de paridades diferentes j2 00i e j210 i no espe tro n~ao perturbado. Os
estados perturbados que sofrem deslo amentos em energia propor ionais a E s~ao ombina ~oes
lineares desses dois estados, e portanto n~ao tem paridade denida. O valor medio do operador
de dipolo eletri o dz nesses estados pode portanto ser diferente de zero, e um al ulo simples,
usando o fato de que o valor medio de dz em estados de paridade denida e zero, mostra que
1
2
h200 j j j h210 j dz j200i j j j210i = jE j :

323
(6.33)
p2
e2
+ r
2
+H
E2 + | |
1
2
200 ,
21m
E2
E2
E2 - | |
( 200
||
210 )
211 , 21-1
1
2
( 200
)
| | 210
Figura 6.5: Efeito perturbativo de um ampo eletri o externo na dire ~ao z sôbre os estados n = 2
do hidrogênio quando intera ~oes envolvendo os spins do proton e do ele tron s~ao ignorados.
Classi amente, a energia de intera ~ao de um dipolo eletri o de momento d~ l om um ampo
eletri o uniforme E~ na dire ~ao z e dada por E = E~ d~ l = Ed lz . Essa energia depende
linearmente do modulo do ampo eletri o apli ado, e positiva quando o dipolo tem sentido
ontrario ao do ampo, e negativa quando o dipolo tem o mesmo sentido que o ampo. No aso
dos estados j1 i e j2 i, por outro lado, E1;2 = j j = E hdz i1;2 , de a ordo om o resultado
(6.33), o que mostra que esses estados se omportam omo se dotados de dipolos lassi os
de momento j =E orientados anti-paralela e paralelamente ao ampo externo, respe tivamente.
Estados desse tipo s~ao hamados estados polares. De uma forma geral, no aso de Hamiltonianos
n~ao perturbados que omutam om o operador de invers~ao P , ujos autovetores podem portanto
ser es olhidos de forma a serem autovetores simultâneos de P (em outras palavras, estados de
paridade denida), a o orrên ia de estados polares depende essen ialmente da existên ia de
degeneres ên ia entre estados de paridades diferentes, que se superp~oe sob a a ~ao do ampo
externo, exatamente omo no aso dos estados om n = 2 do modelo simples do atomo de
hidrogênio. Um exemplo disso s~ao as hamadas mole ulas polares, omo e o aso bem onhe ido
da mole ula de agua, que se omportam omo se dotadas de momentos de dipolo eletri o quando
submetidas a a ~ao de ampos eletri os externos, embora seus Hamiltonianos sejam invariantes
sob a opera ~ao de invers~ao espa ial.
3. In lus~ao da intera ~ao spin-orbita no al ulo do efeito Stark linear dos estados n = 2. Mesmo ignorando intera ~oes hipernas, que envolvem a intera ~ao do momento
magneti o asso iado ao spin do proton om os momentos magneti os eletrôni os, as energias
dos estados om n = 2 do atomo de hidrogênio diferem su ientemente da energia omum E2
predita pelo modelo simples de forma a alterar de forma importante o efeito Stark asso iado a
ampos externos fra os, no sentido que a energia de intera ~ao j j, eq. (6.31), seja menor que os
deslo amentos tpi os da estrutura na do espe tro. Como indi ado nas guras 6.2 e 6.3, uma
324
des ri ~ao minimamente realsti a desses nveis na es ala da estrutura na exige, alem da in lus~ao dos efeitos da intera ~ao spin-orbita, a in lus~ao tambem de outras orre ~oes relativsti as
de mesma ordem em v= , que s~ao a orre ~ao ao termo de energia ineti a (6.15) e o termo de
Darwin (6.16). Isso leva, de fato a situa ~ao representada na gura 6.3, em que os nveis 2s1/2
e 2p1/2 s~ao degenerados. Como esses nveis têm paridades denidas mas diferentes, a introdu ~ao de um ampo eletri o externo produz um deslo amento Stark linear no ampo apli ado.
Para al ula-lo, no entanto, e pre iso levar em onta o a oplamento spin-orbita dos estados
envolvidos. Os demais estados om n = 2, devido a restri ~oes de paridade, sofrer~ao apenas
deslo amentos em segunda ordem de teoria de perturba ~oes, que dependem quadrati amente
do modulo do ampo externo apli ado, omo no aso do estado fundamental.
As orre ~oes perturbativas de ordem mais baixa para os estados degenerados j20 12 m i e
j21 12 m i s~ao obtidas diagonalizando a matriz ujos elementos s~ao
h20 12 m j E~ d~j21 21 m0 i mm0 :
(6.34)
Essa e tambem uma matriz 4 4, tendo em vista que tanto m omo m0 podem assumir os valores
1=2. Os seus elementos mm0 podem ser al ulados expli itando a estrutura das fun ~oes de
onda envolvidas
h~r; sj20 21 m i
h~r; sj21 12 m i
u20 12 (r)
Y00 (^r) 21 m (s)
r
u21 12 (r) X 1 12 21
Y (^r) 21 m0
=
C
r ml ml m0 ml m0 1ml
=
ml (s)
onde as unlj (r) s~ao fun ~oes radiais (possivelmente dependentes tambem de j ), Ylm (^r) s~ao
harmôni as esferi as, 21 m (s) s~ao fun ~oes de onda de spin 1=2 e os oe ientes C s~ao oe ientes de Clebs h-Gordan que a oplam o momento angular orbital l = 1 om o spin s = 1=2
dando o momento angular total j = 1=2. Analogamente ao que foi es rito no aso em que l = 1,
no aso l = 0 ha tambem que onsiderar a quest~ao do a oplamento do momento angular orbital
om o spin, dando o valor pretendido do momento angular
total. Neste aso, porem, e fa il
0 12 12
ver que os oe ientes de Clebsh-Gordan envolvidos C0 m0 m0 s~ao todos iguais a 1. Es olhendo,
omo anteriormente, o eixo z na dire ~ao do ampo externo apli ado, E~ = E z^, e substituindo
essas express~oes em (6.34) se obtem
s
mm0 = Ee
1 1
X
X
4
R20 12 ; 21 12 Cm1 l m2 0 m2 l m0 y1 m (s) 21 m0
3
ml
s 2
325
ml (s)
dr^ Y00 (^r)Y10 (^r)Y1ml (^r)
onde apare e a integral radial
R20 12 ; 21 12 =
dr u20 12 (r) r u21 12 (r)
e o operador de dipolo foi es rito em termos de Y10 (^r) usando (6.30). A soma sobre os valores
da variavel de spin s pode ser feita imediatamente, usando as propriedades de ortonormalidade
das fun ~oes de spin, om o resultado
X
y1 m (s) 12 m0
2
ml (s)
= m; m0
ml ;
a integra ~ao sobre os ângulos de ~r tambem pode ser feita nestep aso usando apenas propriedades
de ortogonalidade das harmôni as esferi as, pois Y00 (^r) = 1= 4 e na realidade independente
dos ângulos e portanto
Z
dr^ Y00 (^r)Y10 (^r)Y1ml (^r) =
p1
4
dr^ Y10 (^r)Y1ml (^r) =
p1 0ml :
4
Neste ultimo al ulo a mudan a de Y10 (^r) em Y10 (^r) e possvel sem qualquer outra altera ~ao
em vista da propriedade geral de onjuga ~ao omplexa das harmôni as esferi as Y1m (^r) =
( 1)m Y1 m (^r). O resultado nal para os elementos de matriz e portanto
1 1
Ee
mm0 = p R20 12 ; 21 12 C01 m2 m2 mm0 ;
3
o que mostra que apenas os elementos diagonais mm (onde m e a proje ~ao do momento angular
total sobre z^, denido omo tendo a dire ~ao e o sentido do ampo eletri o apli ado E~ , s~ao
diferentes de zero. Os oe ientes de Clebs h-Gordan que apare em na express~ao nal s~ao
1 1
C01 m2 m2
8
>
>
<
=>
>
:
p13 para m =
p13
1
2
para m =
1
2
de modo que
21 12 = 21 12 = 0
Ee
21 12 = 12 12 = R20 12 ; 21 21
3
326
:
No ontexto de um tratamento perturbativo de primeira ordem, as fun ~oes radiais a utilizar

para o al ulo da integral radial s~ao na realidade as fun ~oes unl (r) do modelo simplesputilizado
na se ~ao anterior. Desse modo, o valor de obtido neste aso difere por um fator 1= 3 do que
orresponde ao aso tratado anteriormente. Esse fator provem do oe iente de Clebs h-Gordan
responsavel pelo a oplamento do momento angular orbital l = 1 om o spin eletrôni o, dando
o valor j = 1=2 para o momento angular total. A intensidade faltante e a que esta asso iada
aos estados om momento angular j = 3=2, afastados do grupo degenerado pelos efeitos da
intera ~ao spin-orbita.
Com esses resultados, as orre ~oes perturbativas de primeira ordem a energia s~ao obtidas
omo solu ~oes da equa ~ao se ular
0
B
B
det B

0
0
0 0
0 0
0

0

1
C
C
C
A
= 2
2
2 = 0
onde as linhas e olunas orrespondem a ordena ~ao de estados (l; m) = (0; 1=2); (1; 1=2);
(0; 1=2) e (1; 1=2), es olhida por onveniên ia de forma que os estados a oplados atraves de H 0
o upem posi ~oes ontguas na matriz a ser diagonalizada. Essa equa ~ao se ular tem duas razes
duplas i = j j as quais orrespondem os autovetores
8
>
>
<
1 = +j j ! >
j j ! >>
:
j21 21 21 i
i
j 1 1 i
j j 21 2 2
j02i = p12 j20 12 12 i + j j j21 21 21 i
j01i = p12 j20 21 12 i

h
8
1 j 1 1 i
p
>
j

i
=
>
2
20 2 2
<
2
>
:
2 =
j1i = p12 j20 21 + 12 i + j j j21 21 + 21 i

j j
O ampo eletri o externo portanto remove apenas par ialmente a degeneres ên ia dos quatro
estados, dando lugar a um esquema de dois nveis duplamente degenerados uja separa ~ao
depende linearmente da magnitude do ampo. Os estados perturbados s~ao estados polares que
orrespondem a momentos de dipolo eletri o d l = j j=E paralelos e anti-paralelos ao ampo
externo para os estados asso iados aos autovalores 1 e 2 respe tivamente. Os dois estados de
ada tipo diferem entre si pela estrutura de spin.
Deve ser lembrado ainda que esses resultados sup~oe a degeneres ên ia dos nveis 2s1=2 e
2p1=2 e portanto devem ser modi ados devido ao deslo amento de Lamb ELamb quando os
327
valores do ampo externo sejam su ientemente baixos, no sentido de que j j < ELamb (v.
problema 6.8).
4. Efeito Stark e ioniza ~ao. E bem onhe ido o fato de que a apli a ~ao de um ampo
eletri o externo em um atomo pode levar a um rapido pro esso de ioniza ~ao quando o ampo
for su ientemente intenso. Ele e de fato utilizado ate mesmo para a onstru ~ao de dete tores de
ioniza ~ao, que s~ao apazes de dis riminar entre estados ex itados diferentes do atomo, atraves
dos diferentes tempos de ioniza ~ao que orrespondem a ada um deles ( f. se ~ao 2.4). Na
realidade, e muito fa il ver, atraves de um argumento varia ional simples, que qualquer ampo
externo uniforme permite a o orrên ia de pro essos de ioniza ~ao (embora nem sempre rapidos),
desde que mantido ate distân ias su ientemente grandes do atomo. O argumento e tambem
util para que se possa ter uma imagem n~ao perturbativa do que o orre nas situa ~oes usualmente
asso iadas ao efeito Stark.
Voltando a dinâmi a interna do atomo de hidrogênio submetido ao ampo eletri o externo
uniforme E~ , es rita em termos do Hamiltoniano relativo
H=
p2
2
e2
+ eE~ ~r K + V
r
e utilizando a fun ~ao de onda de prova gaussiana (n~ao normalizada), dependente do vetor ~a
omo parâmetro
h~rj'~ai = e
(~r ~a)2
2b2
e fa il veri ar que o valor medio do termo de energia ineti a de H
h'~aj 2p2 j'~ai

hK i'~a = h' j' i
~a ~a
e positivo e independente de ~a, que orresponde a lo aliza ~ao do maximo da gaussiana. Uma
forma simples de obter esse resultado e notar que hK i'~a e a energia ineti a media de um estado
oerente de um os ilador harmôni o de massa e parâmetro e b. Esta e, por sua vez, igual a
energia ineti a media do estado fundamental desse os ilador que, pelo teorema do virial,
e a
q
metade da energia do estado fundamental. Chamando ! a frequên ia do os ilador, b = h =!,
de modo que
2
hK i'~a = h4! = 4hb2 :

328
O valor medio da energia poten ial, por outro lado, e dado pela soma de dois termos, que
dependem respe tivamente do poten ial oulombiano do sistema ele tron-proton e do poten ial
asso iado ao ampo externo:
h
'~a j er2 j'~a i + h'~a jeE~ ~rj'~a i
hV i'~a =
:
h'~aj'~ai
Ao ontrario do que o orre no aso de energia ineti a, esses dois termos dependem de ~a. O
primeiro deles depende apenas de a = j~aj e tende a zero om 1=jaj a medida que jaj res e,
mas o segundo depende tambem da dire ~ao do vetor ~a. Uma forma simples de ver isso e tomar
a b, pois nesse aso, a menos da dispers~ao dos valores de ~r para os quais a gaussiana e
apre iavelmente diferente de zero (que e da ordem de b em torno de ~r = ~a) os dois termos
podem ser aproximados respe tivamente por
h'~aj er2 j'~ai e2
h'~ajeE~ ~rj'~ai eE~ ~a:
e
h'~a j'~ai
a
h'~a j'~ai
Portanto, es olhendo ~a na dire ~ao oposta a E~ , isto e, eE~ ~a = eEa, e possvel tornar arbitrariamente negativo o valor medio de H na fun ~ao de prova, hH i'~a = hK i'~a + hV i'~a , sempre que
a puder ser tomado omo sendo arbitrariamente grande. Como esse valor medio e um limite
superior para a energia do estado fundamental segue que, nessas ondi ~oes, o sistema des rito
por H n~ao possui um estado fundamental. A raz~ao disso e que a energia poten ial asso iada ao
ampo externo se torna arbitrariamente negativa na dire ~ao oposta ao ampo, o que permite o
es ape do ele tron nessa dire ~ao, tornando o espe tro de H na realidade puramente ontnuo
na regi~ao de energias negativas onde o orrem os estados dis retos do atomo n~ao perturbado.
Esse resultado evidentemente olo a em quest~ao o signi ado do al ulo perturbativo, que da
valores denidos para a orre ~ao de energia de nveis dis retos, juntamente om as respe tivas
fun ~oes de onda orrigidas. As diferen as radi ais existentes entre o espe tro ontnuo e o
onjunto dis reto de estados ujos parâmetros s~ao obtidos atraves de teoria de perturba ~oes
podem porem ser on iliadas atraves de argumentos baseados nas rela ~oes de in erteza. De fato,
a natureza ontnua do espe tro do atomo perturbado em energias negativas esta asso iada,
em termos qualitativos, a instabilidade do sistema atômi o omo sistema ligado, que se traduz
numa probabilidade de ioniza ~ao por unidade de tempo diferente de zero que e introduzida pela
dinâmi a do sistema para um estado ini ialmente preparado om ara tersti as de um estado
atômi o ligado (que deve, em parti ular, ser representado por um vetor de estado normalizado
jI i). Para valores pequenos do ampo externo apli ado, no entanto, o valor dessa taxa de
ioniza ~ao e extremamente pequeno ou, equivalentemente, o tempo medio de vida do estado
ini ial n~ao ionizado jI i e extremamente grande no sentido que h = e uma energia ate muitas
ordens de grandeza menor que os efeitos de estrutura na no espe tro atômi o.
329
Por outro lado, o estado normalizado jI i pode tambem em prin pio ser expandido nos
autoestados j E i exatos que onstituem o espe tro ontnuo do atomo perturbado, o que permite
es rever a sua evolu ~ao temporal sob a forma
i
h Ht
jI i = dEe
i
h Et
j E ih E jI i:
A ordem de grandeza do tempo ara tersti o asso iado a essa evolu ~ao temporal esta rela ionado om a dispers~ao em energia E da distribui ~ao jh E jI ij2, denida da forma usual
omo
E 2
dE
E2
jh E jI ij
Z
dE E jh
jI ij
2
atraves da rela ~ao de in erteza E h , ou seja
h
E :

Isso signi a, para grande no sentido espe i ado a ima, que apenas os estados do espe tro
ontnuo perten entes a uma estreita faixa de largura E , ate muitas ordens de grandeza menor
que os efeitos de estrutura na no espe tro atômi o, poder~ao ontribuir signi ativamente para
a expans~ao de jI i.
O que se vê desse modo e que pro essos de ioniza ~ao de vida media muito longa devem
poder ser asso iados a estados ini iais preparados jI i uja expans~ao em termos dos autoestados
exatos do espe tro ontnuo depende essen ialmente apenas dos estados lo alizados em faixas
muito bem denidas em energia, e que tem portanto, eles proprios, energia muito bem denida.
Permane e ent~ao aberta a possibilidade de que o al ulo perturbativo de autovetores e autovalores forne a aproxima ~oes para os estados do tipo jI i e para a sua respe tiva lo aliza ~ao em
energia, embora o argumento dado n~ao seja, evidentemente, uma prova de tal resultado.
Uma outra forma de exprimir o resultado do al ulo varia ional a ima e dizendo que o
pro esso de ioniza ~ao atraves da apli a ~ao de um ampo eletri o externo uniforme e um pro esso
\sem limiar", isto e, n~ao existe um valor mnimo, diferente de zero, do modulo do ampo apli ado
abaixo do qual a ioniza ~ao n~ao poderia o orrer. Estritamente falando, a ioniza ~ao e possvel
om qualquer ampo uniforme n~ao nulo, e efeito de um aumento do ampo apli ado e apenas
o de diminuir o tempo de ioniza ~ao, que e em geral diferente para diferentes estados ini iais.
E alias este ultimo fato que desempenha um papel entral no fun ionamento dos dete tores
de ioniza ~ao men ionados na se ~ao 2.4, nos quais diferentes estados atômi os s~ao distinguidos
atraves de seus diferentes tempos de ioniza ~ao. Como a o orrên ia ou n~ao de um determinado
pro esso de ioniza ~ao em ondi ~oes externas de ampo e num intervalo de tempo dados e,
segundo a me âni a quânti a, um pro esso intrinse amente estatsti o, o poder dis riminatorio
330
de tais dete tores e tambem intrinse amente limitado estatisti amente, e de uma forma t~ao
mais grave quanto menor seja a diferen a entre os tempos de ioniza ~ao envolvidos em seu
fun ionamento.
6.4.2 Efeito Zeeman no hidrogênio.

O hamado efeito Zeeman orresponde, em geral, aos efeitos de um ampo magneti o externo
uniforme sobre o espe tro atômi o. Um ampo magneti o externo, uniforme B~ pode ser des rito
por meio do poten ial vetor
1
A~ (~r) = B~ ~r
2
pois, omo pode ser fa ilmente veri ado, r A~ (~r) = B~ . Ignorando, por simpli idade, os
efeitos do re uo do proton, o hamiltoniano que des reve a intera ~ao do modelo simples (isto e,
ignorando efeitos de spin) do atomo de hidrogênio om esse ampo e
HB =
1 e ~ 2
~p + A
2me

e2
r
onde me e a massa do ele tron, de arga e. Como o poten ial vetor A~ (~r) satisfaz a rela ~ao
r A~ (~r) = 0, ele omuta om p~, de modo que o primeiro termo de H0 pode ser transformado
em
e2 ~ 2
1 e ~ 2
e ~
p2
~p + A =
B ~r ~p +
+
B ~r
2 me

2me 2me
8me 2
~
onde o termo linear no ampo B~ pode ser expresso em termos do momento angular orbital L
usando o fato de que
~
B~ ~r ~p = B~ ~r p~ = B~ L:
Desse modo a forma resultante para H0 e
HB =
p2
2 me
e2 ~ 2
e2
e ~ ~
BL+
+
B ~r H0 + HB0
r 2 me
8me 2
onde
H0 =
p2
2me
331
e2
r
e simplesmente o hamiltoniano orrespondente ao modelo simples do atomo de hidrogênio.

Como foi dito na se ~ao 6.4, para in luir efeitos asso iados aos spins e pre iso a res entar
a esse hamiltoniano, alem dos termos orrespondentes a intera ~ao spin-orbita HLS (in luindo
eventualmente a orre ~ao relativsti a a energia ineti a HK e o termo de Darwin HD ) e a
intera ~ao hiperna HSS , termos orrespondentes a intera ~ao dos spins do ele tron S~ (e) e do
proton S~ (p) om o ampo externo que, usando a nota ~ao (6.18) para os momentos magneti os,
s~ao dados por
HSext
B~ S~ (e)
= e
h

B~ S~ (p)
e ~ ~ (e)
B S
p
= ge
h
2me
gp
e
B~ S~ (p) :
2mp
Isso leva nalmente ao hamiltoniano
H = H0 + HLS + HK + HD + HSS + HB0 + HSext

que ontem um numero apre iavel de termos. Como dis utido a seguir, no entanto, esses termos
orrespondem a efeitos de ordem de grandeza bastante diferente, o que pode ser usado para
simpli ar o tratamento de situa ~oes espe as.
Os termos independentes do ampo externo ja foram dis utidos anteriormente, quando foi
observado que os efeitos das intera ~oes hipernas HSS s~ao desprezveis na es ala dos efeitos
de estrutura na introduzidos pela intera ~ao spin-orbita HLS . A raz~ao basi a disso e o valor
pequeno do momento magneti o do proton, propor ional ao magneton nu lear. Pelo mesmo
motivo, a raz~ao dos efeitos devidos aos termos de HSext orrespondentes respe tivamente ao
spin do proton e ao spin do ele tron ontem um fator me =mp 1=2000, o que torna os efeitos
asso iados a S~ (p) muito menores que os asso iados a S~ (e) , para um valor dado de B~ . Para valores
do ampo magneti o tais que os efeitos do termo eletrôni o de HSext tem a ordem de grandeza
dos efeitos de estrutura na, tanto o termo nu lear de HSext omo as intera ~oes hipernas s~ao
desprezveis.
Resta, portanto, neste aso, examinar os efeitos dos dois termos de HB0 . O termo que envolve
~ , tem laramente a mesma ordem de grandeza
o momento angular orbital, propor ional a B~ L
ext
que o termo eletrôni o de HS , e deve portanto ser onsiderado juntamente om este ultimo.
A ordem de grandeza dos efeitos do termo quadrati o em B~ pode ser estimada es revendo
e2 ~ 2 eh B
B ~r !
8me 2
me
eh B
me
1 hri2 me a20
8 a20 h 2
onde hri e o raio medio do estado atômi o onsiderado, e a0 = h 2 =me e2 e o primeiro raio de
Bohr do hidrogênio. O ultimo fator pode ser rees rito sob a forma mais onveniente
332
1 hri2 me a20 1 hri2 2

=
8 a20 h 2
8 a20 me 2
onde = e2 =h ' 1=137 e a onstante de estrutura na. Os dois primeiros fatores tem a ordem
de grandeza do termo linear em B~ para valores do momento angular orbital da ordem de h .
Quando os efeitos deste termo têm a ordem de grandeza dos efeitos asso iados a estrutura na,
isto e,
eh B
me
2R;
onde R e a onstante de Rydberg, resulta
e2 ~ 2
B ~r ! (2 R)2
8me 2
2
2
2
2
18 hari2 m 2 = 81 hari2 mR 2 2R ' 10 5 hari2 2R:
0
Portanto, para estados pou o ex itados, para os quais o raio medio n~ao e muito maior que o
raio de Bohr, e ujo momento angular orbital n~ao e muito maior que h , o termo quadrati o e
tambem desprezvel na es ala de energia dos efeitos de estrutura na. Essa estimativa mostra
ainda que, para tais estados pou o ex itados do atomo de hidrogênio, existem valores de B~
para os quais os efeitos do termo linear s~ao maiores que os efeitos da intera ~ao spin-orbita,
enquanto os efeitos do termo quadrati o ainda s~ao relativamente pequenos. Esse limite de
ampos intensos orresponde, de fato, ao hamado \efeito Pas hen-Ba k".
As situa ~oes espe as tpi as a onsiderar podem portanto ser lassi adas ini ialmente
em dois grupos distintos. No primeiro desses grupos, o valor do ampo magneti o externo e tal
que o termo linear de a oplamento ao momento angular orbital e su ientemente grande para
que as intera ~oes hipernas e os efeitos ligados ao spin do proton sejam desprezveis, mas ainda
su ientemente pequeno para que o termo quadrati o em B~ possa ser ignorado. Os termos de
H que e pre iso onsiderar nestes asos s~ao

e ~ ~
H ' H0 + HLS + HK + HD +
B L + geS~ (e) :
(6.35)
2me
A ara tersti a mais relevante deste hamiltoniano e a existên ia de termos perturbativos que
~ e do spin do ele tron S~ (e) na dire ~ao
envolvem as omponentes do momento angular orbital L
do ampo externo apli ado. Isso orresponde a um a oplamento dessas variaveis dinâmi as om
uma dire ~ao externa dada, que deve ompetir om o seu a oplamento mutuo atraves do termo
de intera ~ao spin-orbita, e leva a onsidera ~ao de duas situa ~oes distintas. A primeira delas
orresponde ao limite de \ ampos fra os", no sentido que os efeitos da intera ~ao spin-orbita
333
dominam os efeitos dos a oplamentos externos, ao passo que a segunda e a situa ~ao de \ ampos
fortes", dominada pelos a oplamentos externos, que orresponde ao efeito Pas hen-Ba k.
Um segundo grupo de situa ~oes, uja relevân ia res eu onsideravelmente nos ultimos anos
devido aos desenvolvimentos experimentais ligados ao aprisionamento de um gas de atomos
al alinos em armadilhas magneti as, envolve o efeito Zeeman da estrutura hiperna do estado
fundamental de atomos al alinos (in luindo o atomo de hidrogênio!). Os ampos magneti os
externos envolvidos nestas situa ~oes s~ao muito mais fra os, de modo que a sua intera ~ao om
o sistema atômi o ompete om os efeitos das intera ~oes hipernas. O hamiltoniano a ser
onsiderado no aso parti ular do estado fundamental do atomo de hidrogênio pode pres indir
tanto do termo de intera ~ao spin-orbita omo do termo linear de a oplamento ao ampo externo
~ , dado que nesse aso o momento angular orbital zero.
que envolve o momento angular orbital L
E essen ial, no entanto, in luir as intera ~oes hipernas, de modo que os termos de H a onsiderar
s~ao
B~ S~ (e)
B~ S~ (p)
p
:
(6.36)
h
h
O tratamento perturbativo das ara tersti as resultantes em ada um desses tres asos e desenvolvido nos itens seguintes.
H ' H0 + HSS + HK + HD
e
1. Campos fra os. No limite de ampos fra os das situa ~oes des ritas pelo hamiltoniano
(6.35), os efeitos do termo propor ional ao ampo externo s~ao pequenos na es ala de energia
da estrutura na. Neste aso e possvel partir do problema \n~ao perturbado" denido por
H1 H0 + HLS + HK + HD e in luir perturbativamente os efeitos devidos ao termo envolvendo
o ampo externo B~ . Es olhendo o eixo de quantiza ~ao do momento angular na dire ~ao do
ampo magneti o externo este termo assume a forma

eB
(6.37)
L3 + 2S3(e)
2me
onde foi usado expli itamente o valor ge = 2 do fator giromagneti o do ele tron.
Os autovetores de H1 podem ser es olhidos omo autovetores simultâneos de L2 , S 2 , de J 2
~ + S~ ) e de J3 , omo no tratamento da estrutura na na se ~ao 6.3.1. Os valores da
( om J~ = L
energia dependem portanto dos numeros quânti os l, s = 1=2 e j , alem do numero quânti o
prin ipal n, sendo que os dois valores possveis de j para ada valor de n e l orrespondem a
energias que diferem pelos efeitos do a oplamento spin-orbita. O aso dos nveis om n = 2
esta ilustrado na gura 6.3. As autofun ~oes orrespondentes a tais nveis tem portanto a forma
h0 =
h~r; sjnl 21 jmi =
unl 21 j (r) X
C
r ms m
334
l 12 j
r) 21 ms (s):
ms ms m Yl;m ms (^
(6.38)
Para obter as orre ~oes perturbativas de ordem mais baixa devidas a h0 e pre iso ter em onta
a degeneres ên ia desses estados. Como valores diferentes de n orrespondem a energias muito
diferentes na es ala da estrutura na, basta onsiderar um uni o valor do numero quânti o
prin ipal. Os elementos de matriz relevantes s~ao, desse modo,
hnl0 21 j0m0 jh0jnl 21 jmi = 2eB

h 0 1 0 0 jL + 2S3(e) jnl 21 jmi:
m nl 2 j m 3
e
Como h0 omuta om L2 , S 2 e J3 , esses elementos de matriz se anulam a menos que l = l0

e m = m0 , mas omo h0 n~ao omuta om J 2 , ha elementos de matriz diferentes de zero para
valores diferentes de j . No entanto, estados que diferem apenas pelo valor de j tem energias
diferentes na es ala da estrutura na, e podem ser tratados omo n~ao degenerados no aso
presente de ampos fra os. As orre ~oes de primeira ordem se reduzem portanto aos valores
medios
Enl 12 jm =

eB
eB
h m + hnl 21 jm jS3(e) jnl 21 jm i
h
nl 21 jm jL3 + 2S3(e) jnl 21 jm i =
2 me
2me
pois L3 + S3(e) = J3 , ujo autovalor e h m.

O elemento de matriz de S3(e) pode ser al ulado expli itamente usando a express~ao (6.38).
De fato
hnl 21 jmjS3(e)jnl 21 jmi
ms ;m0s
h
=
2
"
1
1
Cm lms m2 s mj Cm lm0s m2 0s mj
1 j 2
2
Cm 1 1 m
2 2

dr^Ylm

l 12 j 2
Cm+ 1 1 m
2 2
r)Ylm m0s (^r)hms ms ;m0s

ms (^
Os valores dos oe ientes de Clebs h-Gordan que apare em nessa express~ao s~ao dados pelas
express~oes analti as onhe idas
Cm
l 21 j
ms ms m
j =l+
1
2
j=l
1
2
ms = 21
:

ms =
1
l+m+ 21 2
2l+1

1
l m+ 21 2
2l+1
335
1
2
1
l m+ 21 2
2l+1
l+m+ 21 2
2l+1
1
que podem, em parti ular, ser obtidas sem di uldades ex essivas a partir do metodo indi ado
na se ~ao 6.2.1. Com esses valores resulta ent~ao
3
hnl 21 jmjS3(e) jnl 21 jmi = h2m j (j + 1)j (j +l(l1)+ 1) + 4
de modo que as energias do multipleto Zeeman s~ao dadas, no aso de ampos fra os e em
primeira ordem no ampo externo, por
"
j (j + 1) l(l + 1) + 43
eh B
1+
m:
Enl 12 jm ' Enlj +
2me
2j (j + 1)
O efeito do ampo externo e portanto separar uniformemente os diferentes valores de m orrespondentes a ada valor de j , de uma forma que depende de l e de j atraves do oe iente de
m no ultimo termo, onhe ido omo oe iente de Lande. Os estados orrespondentes a ada
valor de m s~ao frequentemente hamados, por esse motivo, sub-estados magneti os do nvel j .
2. Campos fortes: efeito Pas hen-Ba k. Quando o ampo externo e su ientemente
intenso para que os efeitos do termo (6.37) sejam maiores que os devidos a intera ~ao spin
orbita, um tratamento possvel e partir de um hamiltoniano \n~ao perturbado" dado por H2
H0 + HK + HD + h0 e tratar perturbativamente os efeitos de HLS . Essa situa ~ao e a que
orresponde ao hamado efeito Pas hen-Ba k. As autofun ~oes de H2 têm a forma
h~r; sjnlml 21 ms i = unlr(r) Ylml (^r) 12 ms (s)

e os seus respe tivos autovalores9 s~ao
eh B
(m + 2ms ) :
2me l
Em geral havera valores diferentes de ml e ms que onduzem ao mesmo valor de ml + 2ms , o
que impli a que esse espe tro ainda ontem estados degenerados (por exemplo, no aso de um
Enlml ms = Enl +
Na realidade existe, por assim dizer, uma ontamina a~o perturbativa na forma de es rever estes resultados,
que onsiste em es rever a fun a~o radial unl (r) e a parte Enl dos autovalores que n~ao depende expli itamente
de B omo dependendo apenas dos numeros quânti os n e l. O fato de que o ampo magneti o introduz uma
dependên ia expl ita de ml e ms nos autovalores impli a em que as fun o~es de onda radiais orrespondentes
aos estados ligados devam depender tambem desses numeros quânti os, e devem, a rigor, ser es ritas omo
unlml ms (r). Con omitantemente a esse fato, os valores da energia para os quais a fun a~o radial e normalizavel
adquirem uma dependên ia impl ita (isto e, alem da dependên ia expl ita que apare e no termo dependente
de B ) de ml e ms . Desse modo, Enl a rigor depende tambem de ml e ms . Estas dependên ias impl itas de
ml e de ms s~ao, nos regimes perturbativos onsiderados aqui, relativamente muito menores que a dependên ia
expl ita desses numeros quânti os, o que pode servir de justi ativa para que tenham sido ignoradas.
9
336
nvel orrespondente a l = 1, ml = 1 e ms = 1=2 levam a mesma energia que ml = 1 e

ms = 1=2).
O termo de intera ~ao spin-orbita pode ser es rito em termos de L2 , S 2 e de J 2 , que n~ao
omuta om L3 e om S3 e portanto tem elementos de matriz n~ao diagonais diferentes de zero
entre os estados jnlml 21 ms i. Ele omuta, porem, om J3 = L3 + S3 , de modo que os elementos
de matriz diferentes de zero s~ao aqueles que envolvem dois estados diferentes om o mesmo
autovalor de J3 . Como os estados n~ao perturbados degenerados s~ao aqueles que tem o mesmo
valor de L3 + 2S3 e portanto valores diferentes de L3 + S3 , todos esses elementos de matriz
n~ao diagonais envolvem estados n~ao perturbados de energias diferentes, e portanto ontribuem
apenas em segunda ordem de teoria de perturba ~oes. Os efeitos de primeira ordem se reduzem
portanto aos valores esperados
(1)
Enlm
l ms = hnlml 12 ms jHLS jnlml 21 ms i
que podem ser al ulados de forma simples es revendo o termo de intera ~ao spin-orbita omo
HLS =
1 1 dV
2m2e 2 r dr
S (e) L
+ +
(e)
+S L
+ S3(e) L3 A :
2
(6.39)
Os termos envolvendo S(e) e L mudam os valores de ml e de ms , e portanto n~ao ontribuem

para tais valores esperados. A uni a ontribui ~ao provem portanto do ultimo termo e e dada
por
(1)
Enlm
l ms =
Z 1
h 2
2 1 dV :
m
m
dr
j
u
(
r
)
j
l
s
nl
2m2e 2
r dr
0
Essas orre ~oes de primeira ordem removem apenas par ialmente a degeneres ên ia do espe tro
n~ao perturbado. De fato, as orre ~oes En(1)11 1 e En(1)1 1 1 que orrespondem, omo visto a ima,
2
2
a dois nveis degenerados, s~ao por sua vez iguais.
Os resultados do item anterior e os deste item se referem a duas situa ~oes limite, em que os
efeitos devidos ao ampo externo s~ao respe tivamente muito menores ou muito maiores que a
separa ~ao entre nveis da estrutura na om valores dados de n e l mas om valores diferentes
de j (embora, no segundo aso, os efeitos de B~ devam ser ainda muito menores que a separa ~ao
de nveis om valores diferentes de n). Eles n~ao des revem, portanto, o omportamento do
espe tro na regi~ao de valores intermediarios do ampo magneti o, na qual os seus efeitos s~ao da
mesma ordem que os efeitos de estrutura na. Um tratamento alternativo que obre tambem
essa regi~ao intermediaria, alem de permane er valido nos dois limites ja estudados, onsiste em
diagonalizar os dois termos de intera ~ao HLS e h0 (v. eq. (6.37)) no multipleto degenerado
onstitudo pelos auto-estados jnlml 21 ms i de H0 , om n e l xos. A intera ~ao que envolve o
337
ampo externo h0 ontribui apenas para a diagonal da matriz se ular, enquanto a intera ~ao spinorbita tem tambem elementos n~ao diagonais entre estados ml , ms = 1=2 e ml + 1, ms = 1=2
que orrespondem ao mesmo autovalor de J3 , e que podem ser fa ilmente al ulados usando
a forma (6.39) de HLS . A matriz se ular resultante pode ser montada de forma a ter apenas
blo os 2 2 ao longo da diagonal prin ipal, podendo portanto ser fa ilmente diagonalizada.
Esse pro edimento e explorado no Problema 6.9 e tambem no item seguinte, para o tratamento
do efeito Zeeman da estrutura hiperna dos estados n = 1 do atomo de hidrogênio.
3. Efeito Zeeman da estrutura hiperna dos estados n = 1. Os efeitos da apli a ~ao
de um ampo magneti o externo sobre os quatro estados de spin (tendo agora em onta n~ao
apenas o spin do ele tron, mas tambem o spin do proton) orrespondentes ao orbital n = 1,
l = 0 do atomo de hidrogênio s~ao des ritos pelo hamiltoniano (6.36). De uma forma analoga ao
~ e om o spin do ele tron S~ (e) no aso do efeito
que a onte e om o momento angular orbital L
Zeeman da estrutura na, existe neste aso uma ompeti ~ao entre o a oplamento mutuo dos
dois spins S~ (p) e S~ (e) atraves de HSS e o seu a oplamento om o ampo externo B~ , des rito pelos
dois ultimos termos de H . Usando os resultados da se ~ao 6.3.2 e possvel neste aso es rever
HSS omo
HSS =
ESS ~ (e) ~ (p)

S S
h 2
onde ESS e a quantidade al ulada em (6.23), que ara teriza a diferen a de energia entre
os estados de spin total S = 1 e S = 0 no aso em que B~ = 0. Os termos H0 , HK e HD em
(6.36) têm apenas o papel de determinar uma energia E~10 omum aos quatro estados de spin,
de modo que o hamiltoniano de interesse para esta aso pode ser reduzido a
E
H ' E~10 + 2SS S~ (e) S~ (p)
h
S3(e)
eB
h
S3(p)
p B
h
onde a dire ~ao de quantiza ~ao do momento angular foi tomada omo a dire ~ao do ampo
magneti o externo.
Ainda em analogia ao efeito Zeeman da estrutura na, existe neste aso um limite de ampos
fra os, no qual dominam os efeitos asso iados a ESS om orre ~oes perturbativas devidas aos
termos restantes, e um limite \Pas hen-Ba k", no qual dominam os efeitos do ampo externo,
om orre ~oes perturbativas devidas a ESS . Um tratamento que da onta n~ao so desses dois
limites mas tambem tambem das situa ~oes intermediarias onsiste em diagonalizar H no subespa o dos quatro estados de spin es ritos na representa ~ao em que S3(e) e S3(p) s~ao diagonais,
que podem ser denotados simplesmente omo jm(se) ; ms(p) i, om m(se) e ms(p) podendo ser 1=2.
O uni o termo de H que tem elementos de matriz n~ao diagonais entre esses estados e o termo
338
de intera ~ao spin-spin, que ontem o operador S~ (e) S~ (p) . De fato, esse operador pode ser es rito
omo
S (e) S (p) + S (e) S+(p)

+ S3(e) S3(p)
S~ (e) S~ (p) = +
2
de modo que
h 12 ;
1 ~ (e) ~ (p)
jS S j
2
1 1
h 2
; i=
2 2
2
hm(se) ; ms(p)jS~ (e) S~ (p) jm(se) ; ms(p)i = h 2 m(se) ms(p) :
Para es rever a matriz a ser diagonalizada e onveniente agrupar os estados om m(se) = ms(p) ,
que n~ao apare em em nenhum elemento de matriz n~ao diagonal diferente de zero. Adotando a
ordena ~ao de estados f( ); (++); ( +); (+ )g para as linhas e olunas da matriz, a equa ~ao
se ular resultante e
0
det
B
B
B
B
B
B
B
B
B
B
B

A + 21 B+
1 B
+
2

A+
1
2 B
2A
2A
1
2 B
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
C
A
=0
(6.40)
onde foram usadas as abreviaturas
A
ESS
4
eh ge gp
:
e p =

2 me mp
Devido ao desa oplamento dos estados ( ) e (++) e possvel identi ar imediatamente os

seus autovalores omo sendo
1
1
= A + B+
e
++ = A
B :
2
2 +
Esses autovalores se separam linearmente om B e s~ao degenerados para B = 0. Os outros dois
autovalores resultam da diagonaliza ~ao da sub-matriz 2 2 orrespondente ao a oplamento dos
estados ( +) e (+ ) e s~ao dados por
339
3000
++
2000
i (MHz)
1000
--1000
-2000
-3000
1000
2000
3000
B (gauss)
Figura 6.6: Efeito Zeeman dos estados n = 1, l = 0 do atomo de hidrogênio: autovalores i

(em megahertz) dos quatro estados i = ++; 1;
; 2 omo fun ~ao da intensidade do ampo
magneti o externo B (em gauss). As regi~oes a extrema esquerda e a extrema direita do gra o
orrespondem respe tivamente aos limites de ampos fra os e \Pas hen-Ba k".
B 2 2
B 2 2
e
2 = A
(6.41)
1 = A + 4A2 +
4A2 +
4
4
sendo que 1 oin ide om e om ++ no limite de ampo nulo. O exame dos autovetores
asso iados a esses tres estados no limite de ampo nulo revela que eles orrespondem aos tres
autovetores de S3 om spin total S = 1, enquanto o autovetor asso iado a 2 orresponde, no
limite de ampo nulo, ao autovetor om spin total S = 0.
O omportamento dos autovalores esta representado na gura 6.6 omo fun ~ao do ampo
magneti o externo B . O limite de ampo nulo reproduz o resultado da gura 6.4, e a regi~ao

em que B < 200 gauss orresponde laramente ao limite de ampos fra os, em que os efeitos
do ampo externo sobre os nveis hipernos pode ser tratada perturbativamente. O extremo
oposto da gura (B 3000 gauss) orresponde a um limite do tipo Pas hen-Ba k, em que os
efeitos do ampo externo dominam os da intera ~ao spin-spin. Os autovetores orrespondentes
340
aos autovalores que dependem linearmente de B , e ++ , s~ao autovetores tanto de S 2 e S3

omo de S3(e) e S3(p) , e portanto n~ao se alteram a medida que o ampo e aumentado. A estrutura
dos autovetores orrespondentes aos autovalores 1 e 2 , por outro lado, varia ontinuamente a
partir dos autovetores de S 2 e S3 om autovalores S = 1; 0 e mS = 0 no limite de ampo zero,
aproximando-se progressivamente dos estados jms(e) ; ms(p) = m(se) i para valores grandes de B .
E interessante analisar o papel desempenhado pelo momento magneti o do proton neste
ontexto. Por um lado, devido a diferen a de valor do magneton nu lear e do magneton de
Bohr, a sua energia de a oplamento ao ampo externo e muito menor que a energia de a oplamento do momento magneti o do ele tron, a qual apare e sempre asso iada seja na ombina ~ao
B+ (no aso de e ++) seja na ombina ~ao B (no aso de 1;2 ). Desse modo, os efeitos
resultantes da o orrên ia expl ita do momento magneti o do proton na equa ~ao se ular (6.40)
atraves dessas quantidades representam orre ~oes relativas da ordem de 10 3 do que se obteria ignorando p ompletamente. Por outro lado, o momento magneti o do proton da lugar
ao a oplamento spin-spin e intervêm tambem no problema se ular, embora de forma menos
expl ita, atraves de A = ESS =4, que e uma energia asso iada a intera ~ao mutua dos dois
momentos magneti os. O valor de ESS depende, no entanto, de uma quantidade adi ional,
que e o valor da fun ~ao de onda do estado n = 1, l = 0 na origem, o qual re ete, atraves
da ondi ~ao de normaliza ~ao, a es ala de tamanho do sistema atômi o (v. eq. (6.22)). Essa
es ala e tal que o valor resultante para A tem a mesma ordem de grandeza da intera ~ao de um
momento magneti o da ordem de um magneton de Bohr om um ampo externo da ordem de
um milhar de gauss, o que dene a es ala de B na gura 6.6. Desse modo, as ara tersti as
do efeito Zeeman da estrutura hiperna podem ser vistos omo resultando essen ialmente da
ompeti ~ao entre a intera ~ao do momento magneti o do ele tron om o ampo externo e om o
ampo magneti o produzido pelo momento magneti o do proton, enquanto este interage apenas
muito mais fra amente om o ampo externo.
Problemas.
6.1 - a) Se A e B s~ao duas matrizes quaisquer de dimens~ao N , hamando tra o de A a soma

dos elementos diagonais
TrA
n=1
NAnn
mostre que Tr(AB ) = Tr(BA).

b) Mostre que o resultado anterior se generaliza para um produto de varias matrizes A, B ,
C , ... de dimens~ao N , no sentido de que o tra o do produto das matrizes n~ao se altera por
qualquer permuta ~ao ir ular das matrizes, isto e
341
Tr(ABC :::) = Tr(BC ::: A) = Tr(C ::: AB ) = :::
) Se U e uma matriz unitaria tambem de dimens~ao N , mostre que Tr(U y AU ) = TrA, isto
e o tra o e invariante por transforma ~oes unitarias da matriz.
6.2 - Usando as propriedades gerais das matrizes de Pauli ~ f1 ; 2 ; 3 g mostre que vale a
identidade
(~ A~ )(~ B~ ) A~ B~ + i~ (A~ B~ )

onde A~ e B~ s~ao dois operadores vetoriais quaisquer, ujas omponentes omutam om as omponentes de ~ . Verique omo uma onsequên ia dessa identidade que (~ A~ )2 = A2 para
qualquer operador vetorial A~ ujas omponentes omutem om as matrizes de Pauli, e que, em
parti ular, (~ u^)2 = 1 sendo u^ um vetor unitario qualquer.
6.3 - a)qUm ele tron esta ligado ao ampo oulombiano de um nu leo de arga positiva Ze.
Cal ule hv 2 = 2 i para o estado fundamental, sendo v a velo idade do ele tron. A fun ~ao de
onda normalizada para o estado fundamental desse sistema e
1s (~r) =
3=2
p1 aZ e
Zr=a0
onde a0 = h 2 =e2 , sendo = me M=me + M a massa reduzida do sistema ele tron-nu leo.
b) Supondo que o nu leo tenha um raio nito R e que a distribui ~ao de arga nu lear
seja uniforme, al ule o efeito do raio nito da distribui ~ao de arga sobre a energia do estado
fundamental usando teoria de perturba ~ao de primeira ordem.
6.4 - !a) Num !#

dado sistema de oordenadas, o estado do spin de um ele tron e dado por
1 + 0 =p
2. Esse spin tem uma dire ~ao denida? Em aso positivo, determine a
0
1
"
dire ~ao.
b) Construa um estado de spin ortogonal ao estado anterior (isto e, seu produto es alar om
o estado anterior e nulo). Ele tem uma dire ~ao denida? Em aso positivo, determine tambem
a dire ~ao deste estado.
6.5 - a) Cal ule o elemento de matriz do momento de dipolo d3 = ez entre os estados 2s e 2p

do atomo de hidrogênio. Esses elementos de matriz s~ao relevantes para o efeito Stark.
342
b) Cal ule o elemento de matriz do operador r 3 em um estado 2p do atomo de hidrogênio.
Esta quantidade e relevante para a dis uss~ao da estrutura na do espe tro.

As fun ~oes de onda para os estados 2s e 2p do atomo de hidrogênio s~ao
1
2s (~r) = p e
8
2p;m (~r) =
p1 e
2 6
r=a0
r=a0
r
;
2a0
r
Y (; '):
a0 1;m
Nessas express~oes a0 e o raio de Bohr.
6.6 - Sejam jms = 1=2i os autovetores da omponente S3 do spin de uma part ula de spin
1=2. Determine expli itamente as todos os autovetores do spin total I 2 para o spin de duas
part ulas de spin 1=2, isto e, I~ = S~ (1) + S~ (2) , em termos dos estados jm(si) = 1=2i para ada
um dos dois spins 1=2.
6.7 - Estime o valor da magnitude do ampo eletri o externo E para o qual o deslo amento
Stark linear dado por (6.31) tem a ordem de grandeza dos deslo amentos de nvel asso iados a
estrutura na. Os resultados para o efeito Stark linear obtidos usando o modelo simples para
o atomo de hidrogênio ertamente n~ao s~ao realsti os para valores de E menores que o valor
estimado dessa forma.Sugest~ao: use omo ordem de grandeza dos efeitos de estrutura na
R2=40, f. gura 6.2.
6.8 - Considere um sistema de dois nveis j1i e j2i uja dinâmi a e des rita pelo Hamiltoniano
H = H0 + H1
om
H0 = j1i( + )h1j + j2i( )h2j;

H 1 = j 1i h2j + j 2i h1j :
> 0;
; reais;
a) Obtenha os autovalores de H em termos de , e .

b) Mostre que no aso em que = 0 os autovalores dependem linearmente de j j.
) Mostre que no aso em que 6= 0 e j j= 1 os autovalores dependem de j j de uma
forma que e aproximadamente quadrati a.
343
d) Ainda om 6= 0, mas supondo j j= 1, mostre que os autovalores dependem de j j
de uma forma que e aproximadamente linear.

e) Tomando 2 ' h , usando para o deslo amento de Lamb ( 109 s 1 ), e tomando
ainda
eE Z 1
dr u2s 21 (r)ru2p 21 (r)
=
3 0
onde e e a arga do ele tron, E e a intensidade do ampo eletri o externo e unlj s~ao orbitais
do atomo de hidrogênio, estime o valor de E a partir do qual a dependên ia do deslo amento
Stark om E apare e omo sendo aproximadamente linear.
6.9 - Estude o efeito de um ampo magneti o externo B~ onstante e uniforme, orientado na

dire ~ao ^3, sobre os estados n = 1, l = 1, 1 ml 1, 1=2 m(se) 1=2 do atomo de
hidrogênio seguindo um pro edimento analogo ao usado no item 3 a ima, para poder obrir
tambem a regi~ao intermediaria entre a regi~ao de ampos fra os e a do efeito Pas hen-Ba k.
Como naquele aso, a base onveniente e aquela em que L3 e S3(e) s~ao diagonais. Os seis estados
fjml ; ms(e)ig envolvidos levam a uma matriz se ular 6 6 uja estrutura e su ientemente
simples para que possa ser diagonalizada analiti amente sem di uldade.
a) Es reva o hamiltoniano de intera ~ao sob a forma
H0 =
(e)

L S +L
B B
Ls + geS3(e) + LS2 +
h
2
h

S+(e)
+ L3 S3(e) A
obtendo uma express~ao para a onstante LS a ser usada nesse aso, e rela ione seu valor om
a separa ~ao observada dos nveis da estrutura na orrespondentes a n = 1, l = 1 no atomo de
hidrogênio. A onstante B que apare e no primeiro termo e o magneton de Bohr.
b) Verique que os uni os elementos de matriz n~ao diagonais diferentes de zero de H 0 s~ao
aqueles que têm o mesmo valor de ml + m(se) , embora valores de ml e de m(se) diferentes, e
que isso permite ordenar as linhas e olunas da matriz se ular de modo que ela tenha uma
estrutura semelhante a da matriz (6.40). Sugest~ao: Um dos ordenamentos possveis dos
estados (ml ; m(se) ) e (1; +), ( 1; ), (1; ), (0; +), (0; ), ( 1; +).
) Obtenha os autovalores da matriz se ular e os respe tivos autovetores. Mostre que nos
limites de ampos fra os e de ampos fortes s~ao re uperados os resultados dos itens 1 e 2
respe tivamente.
d) Mostre o omportamento do efeito Zeeman na regi~ao intermediaria atraves de um gra o
semelhante ao da gura 6.6.
e) In lua no gra o os nveis n = 1, l = ml = 0, m(se) = 1=2, supondo que no aso em
que o ampo magneti o externo e zero o esquema de nveis e o indi ado a direita da gura
344
6.3. Porque o efeito Zeeman dos estados n = 1, l = 1 e n = 1, l = 0 podem ser tratados

independentemente, apezar da degeneres ên ia que o orre para B = 0?
Refer^
en ias Gerais.
O trabalho no qual foi introduzido o spin para dar onta das propriedades observadas dos
espe tros atômi os apare eu em Nature, em 1926, pou o antes do trabalho de Thomas (op.
it.):
? G. E. Uhlembe k e S Goudsmith, Spinning Ele trons and the Stru ture os Spe tra, Nature
117, 264 (1926);
Dis uss~oes das propriedades dos estados de spin 1/2 bem omo da algebra de momentos angulares podem ser en ontradas em
? A. Messiah, op. it., Vol II, Captulo XIII

bem omo em livros espe ialmente dedi ados ao tratamento quânti o do momento angular:
? M. E. Rose, Elementary Theory of Angular Momentum, John Wyley, 1957;

? A. R. Edmonds, Angular Momentum in Quantum Me hani s, Prin eton U. Press, 1957;
? U. Fano e G. Ra ah, Irredu ible Tensorial Sets, A ademi Press, 1959;
? D. Brink e G. Sat hler, Angular Momentum, Oxford University Press, 19XX.
Um tratamento informal e simples das orre ~oes relativsti as a estrutura na dos esper tros,
embora in ompleto no que se refere ao termo de Darwin, pode ser en ontrado nas notas manus ritas de Fermi
? E. Fermi, Notes on Quantum Me hani s, The University of Chi ago Press, 1961.
Um tratamento mais ompleto, feito no entanto a partir da equa ~ao de Dira , pode ser en ontrado em
? J. J. Sakurai, Advan ed Quantum Me hani s, Addison-Wesley Publishing Company, 1967,

p. 88.
Tratamentos dos efeitos Stark e Zeeman podem ser en ontrados na maioria dos textos, e em
parti ular em
? L. D. Landau e E. M. Lifshitz, Op. it.

? C. Cohen-Tanoudji, B. Diu e F. Laloe, Op. it.
345
346
Parte II
347
Captulo 7
Sistemas de part ulas idênti as.
A indistinguibilidade das part ulas onstituintes de um sistema fsi o, isto e, a inexistên ia de
propriedades intrnse as que permitam identi a-las individualmente, e um fato que tem onsequên ias muito mais radi ais no ontexto da me âni a quânti a que no da me âni a lassi a,
e as raz~oes para isso se ligam mais uma vez a diferen a existente entre os substratos inemati os
dessas duas teorias. De fato, a inemati a lassi a permite, em prin pio, estabele er sempre
uma \distinguibilidade relativa" de part ulas idênti as, atraves do fato de que, embora as
part ulas n~ao possam ser distinguidas individualmente om base em propriedades intrnse as,
e sempre possvel a ompanha-las individualmente atraves da ontinuidade de suas trajetorias
no espa o de fases lassi o, o que permite estender a qualquer tempo posterior alguma rotula ~ao onven ional que tenha sido estabele ida ini ialmente. Isso n~ao e em geral possvel,
porem, no ontexto da me âni a quânti a, onde o objeto inemati o basi o e um vetor de estado interpretado omo uma amplitude de probabilidade, pois neste aso ha limita ~oes para a
lo alizabilidade no espa o de fases lassi o expressas por rela ~oes de in erteza que inviabilizam
a ideia de trajetorias univo amente asso iadas as part ulas.
Em termos mais formais, onsiderando ini ialmente, por simpli idade, apenas um par de
part ulas idênti as, um estado lassi o no tempo t0 , a(t0 ), e dado em termos das posi ~oes e
dos momentos das part ulas nesse instante, o que pode ser representado omo
(
part: 1
a(t0 ) = qq1 ;; pp1 !
2 2 ! part: 2
onde os qi , pi , i = 1; 2 s~ao oordenadas do espa o de fases lassi o. A indistinguibilidade das
part ulas orresponde ao fato de que o estado obtido de a(t) simplesmente pela tro a das duas
part ulas, isto e
(
part: 2
0
a (t0 ) = qq1 ;; pp1 !
!
part: 1
2 2
349
e na realidade indistinguvel do primeiro. Os rotulos 1 e 2 atribudos as part ulas têm portanto
um valor puramente onven ional. As equa ~oes de movimento lassi as d~ao, para ondi ~oes
ini iais dadas por a(t0 ), uma solu ~ao uni a
(
a(t) =
q1 (t); p1 (t)
q2 (t); p2 (t)
! part: 1
! part: 2
enquanto para ondi ~oes ini iais a0 (t0 ) a solu ~ao, tambem uni a, sera
a0 (t) =
q1 (t); p1 (t)
q2 (t); p2 (t)
! part: 2
! part: 1
que difere da anterior apenas pela re-rotula ~ao das part ulas. Isso se deve a que a Hamiltoniana
que ara teriza a dinâmi a do par de part ulas idênti as deve ser ne essariamente simetri a
nas variaveis anôni as de ada uma delas. Este requisito se deve simplesmente ao fato de que
a n~ao simetria da Hamiltoniana, nesse sentido, forne eria um riterio dinâmi o para distinguir
as duas part ulas, que n~ao poderiam mais, por isso, ser onsideradas idênti as. Qualquer que
tenha sido a rotula ~ao onven ional adotada em t0 , no entanto, ela pode ser propagada para
outros valores de t atraves da solu ~ao das equa ~oes de movimento. Assim, no aso a0 (t), a
part ula \1" sera, em t a que se en ontra na posi ~ao q2 (t) om momento p2 (t).
Na me âni a quânti a, por outro lado, os estados de um sistema de duas part ulas s~ao
representados por vetores de estado no espa o produto dos espa os lineares que fun ionam omo
espa os de fase para ada uma delas. Designando respe tivamente por fjn(1) ig; n(1) = 1; 2; :::
e fjn(2) ig; n(2) = 1; 2; ::: bases ortonormais (dis retas) em ada um desses espa os, um estado
generi o (que pode em parti ular ser entendido omo des revendo o sistema num dado instante
t0 ) e um vetor da forma
jai =
n1 ;n2
(2)
an1 n2 jn(1)
1 i
jn2 i
n1 ;n2
(2)
an1 n2 jn(1)
1 n2 i:
(7.1)
A opera ~ao de tro a das duas part ulas apli ada a esse estado leva a um vetor que e em geral
diferente de jai e dado por
ja0i =
n1 ;n2
(1)
an1 n2 jn(2)
1 n2 i:
Essa opera ~ao de permuta ~ao do papel desempenhado por ada uma das part ulas pode ser
des rita introduzindo um operador P12 denido em termos da base produto omo
(2)
(2) (1)
P12 jn(1)
1 n2 i = jn1 n2 i:
350
A rela ~ao entre jai e ja0 i a, em termos desse operador,
ja0i = P12 jai:

Ele tem ainda as propriedades fa ilmente veri aveis
P122 = ^1
P12y = P12
que o ara terizam omo um operador hermiteano om autovalores 1, e portanto tambem
unitario, pois P12y = P121 .
A indistinguibilidade das duas part ulas quânti as n~ao foi utilizada ate aqui. Ela pode ser
introduzida na dis uss~ao atraves da exigên ia de que pares de estados diferindo apenas pela
tro a das duas part ulas sejam indistinguveis, no sentido que, qualquer que seja o estado jai,
se tenha, para todo observavel g ,
hajgjai = ha0jgja0i = hajP12y gP12jai:
(7.2)
Uma ondi ~ao ne essaria e su iente para que essa rela ~ao seja valida para um observavel g
dado e a de que ele seja simetri o om rela ~ao a tro a das duas part ulas, no sentido que
g = P12y gP12 = P121 gP12 ou seja [g; P12 = 0:

(7.3)
De fato, e imediato que essa ondi ~ao e su iente para a validade da rela ~ao (7.2) para g .
Para ver que ela e tambem ne essaria (isto e, que a validade de (7.2) para qualquer jai impli a
em (7.3)) basta onsiderar vetores de estado da forma N (jai + jbi), onde N e um fator de
normaliza ~ao, em (7.2), que da ent~ao
hajgjai + jj2hbjgjbi + hajgjbi + hbjgjai = ha0jgja0i + jj2hb0jgjb0i + ha0jgjb0i + hb0jgja0i:

Usando o fato de que os dois primeiros termos de ada um dos lados dessa rela ~ao s~ao tambem
iguais, segue que essa ondi ~ao equivale a
(hajg jbi
ha0jgjb0i) (hbjgjai hb0 jgja0i) = 0
donde segue que, fazendo su essivamente as es olhas = 1 e = i,
hajgjbi = ha0jgjb0i = hajP12y gP12jbi

para estados jai e jbi quaisquer, o que equivale a (7.3). A indistinguibilidade das duas part ulas
no sentido proposto a ima exige, portanto, que todos os observaveis sejam simetri os no sentido
351
da rela ~ao (7.3), isto e, o operador P12 deve ser ompatvel om todos os observaveis do sistema
de duas part ulas idênti as.
Esse fato tem onsequên ias importantes para a dinâmi a desse sistema, que podem ser
expli itadas notando que o operador identidade do espa o de estados pode ser de omposto,
usando o operador P12 , omo
^
^
^1 = 1 P12 + 1 + P12 A + S ;
2
2
sendo fa il veri ar que A e S s~ao operadores de proje ~ao omplementares, isto e
A = Ay = A2;
S = S y = S 2;
AS = SA = 0:
Para entender o signi ado desses projetores basta notar que um estado qualquer jai admite a
de omposi ~ao
jai = Ajai + Sjai

e que as omponentes satisfazem
P12 Ajai =
Ajai
P12 Sjai = Sjai
isto e, s~ao autovetores de P12 om autovalores 1 e +1, isto e, s~ao estados respe tivamente
anti-simetri os e simetri os om rela ~ao a tro a das duas part ulas idênti as. Um estado
qualquer de duas part ulas pode portanto ser sempre de omposto em uma omponente antisimetri a e uma omponente simetri a om rela ~ao a tro a das part ulas, e A e S projetam
respe tivamente sôbre a omponente antissimetri a e sôbre a omponente simetri a do estado.
No aso de part ulas idênti as, em vista da ompatibilidade de P12 om todos os observaveis,
segue que
AgS = S gA = 0
para qualquer g , isto e, nenhum observavel one ta vetores de simetrias diferentes. Essa de omposi ~ao do espa o de vetores de estado em dois setores ortogonais que n~ao s~ao one tados por
nenhum observavel e um exemplo do que se hama uma regra de super-sele ~ao. No aso, a regra
de super-sele ~ao permite onsiderar separadamente estados simetri os e anti-simetri os, ja que
nenhum efeito observavel provem da superposi ~ao oerente desses dois tipos de estado. Como
o Hamiltoniano, responsavel pela dinâmi a do sistema, deve ser tambem simetri o (sendo um
observavel), a evolu ~ao temporal das omponentes simetri a e anti-simetri a e independente,
e a simetria ou anti-simetria e onservada ao longo da evolu ~ao temporal. Isso signi a que
352
existem na realidade duas dinâmi as independentes para sistemas de duas part ulas idênti as,
asso iadas respe tivamente aos sub-espa os orrespondentes aos projetores A e S .
As propriedades fsi as de estados simetri os e anti-simetri os s~ao porem muito diferentes.
Tomando, omo exemplo, as proje ~oes do estado geral (7.1)

X
(2)
(2) (1)
jai SA jai = 12 an1 n2 jn(1)
n
i

j
n
n
i
1 2
1 2
n1 ;n2
e fa il ver que amplitudes do tipo hn(1) n(2) ja i ( ujo modulo quadrado se rela iona om a
probabilidade de en ontrar as duas part ulas no mesmo estado jni dos respe tivos espa os
fatores) s~ao ne essariamente nulas no aso da omponente anti-simetri a ja i mas n~ao no aso
da omponente simetri a ja+ i.
7.1
F
ermions e bosons.
A dis uss~ao pre edente mostra que existem essen ialmente duas situa ~oes independentes a onsiderar om rela ~ao a quest~ao do tratamento quânti o de um sistema de duas part ulas idênti as,
as quais envolvem respe tivamente o setor anti-simetri o e o setor simetri o do espa o produto
utilizado na express~ao (7.1). A quest~ao da realiza ~ao efetiva de ada uma dessas duas possibilidades em asos espe os n~ao pode ser respondida dentro dos limites da teoria quânti a n~ao
relativsti a. Existe, no entanto, uma orrela ~ao experimental ompleta entre a simetria dos estados quânti os e o spin das part ulas: part ulas de spin semi-inteiro est~ao sempre asso iadas
a estados anti-simetri os, enquanto part ulas de spin inteiro est~ao sempre asso iadas a estados
simetri os. Em outras palavras, o vetor de estado que des reve um sistema de duas part ulas
idênti as de spin semi-inteiro perten e sempre ao setor anti-simetri o do espa o produto, isto
e, hamando jf i esse vetor de estado
Ajf i = jf i; Sjf i = 0 e P12jf i = jf i:

Analogamente, hamando jbi um vetor de estado qualquer que des reve um sistema de duas
part ulas idênti as de spin inteiro, o que se tem e
Sjbi = jbi; Ajbi = 0
e P12 jbi = jbi:
No primeiro aso, diz-se que as part ulas obede em a estatsti a de Fermi-Dira , enquanto
no segundo aso obede em a estatsti a de Bose-Einstein. Part ulas de spin semi-inteiro s~ao
hamadas fermions, enquanto part ulas de spin inteiro s~ao hamadas bosons.
Utilizando os operadores de proje ~ao A e S e fa il onstruir expli itamente bases ortonormais
nos sub-espa os orrespondentes a partir da base produto utilizada na expans~ao (7.1). Os
353
vetores dessas bases s~ao, de fato, as proje ~oes normalizadas dos vetores da base produto geral,
isto e

p
1 (1) (2)
(2)
(2) (1)
p
jn1n2 i 2Ajn(1)
n
i
=
j
n
n
i
j
n
n
i
1 2
1 2
2 1 2
para o aso de fermions e
8
>
>
<
jn1n2 i+ >>
:
(2)
2Sjn(1)
1 n2 i
(2)
(1) (2)
Sjn(1)
1 n1 i = jn1 n1 i
se n1 6= n2
se n1 = n2 :
para o aso de bosons. Deve ser notada a ne essidade de introduzir um fator adi ional 1= 2
para a normaliza ~ao dos estados do setor simetri o quando n1 = n2 . Esse fator resulta do fato
de que
(2)
(1) (2)
P12 jn(1)
1 n1 i = jn1 n1 i
(2)
(2) (1)
(2)
enquanto, se n1 6= n2 , o estado P12 jn(1)
e ortogonal a jn(1)
1 n2 i = jn1 n2 i
1 n2 i. De erta forma
(2)
omo uma ontrapartida desse peso diferen iado, os estados \de o upa ~ao dupla" jn(1)
1 n1 i
est~ao ompletamente ausentes do setor anti-simetri o. Uma forma, embora um tanto pe uliar,
de es rever o estado simetri o jn1 n2 i+ que e valida tanto para n1 = n2 omo para n1 6= n2 e
jn1n2 i+ 1 + (p2
(2)
(2) (1)
(2)
p1
p1 jn(1)
Sj
n(1)
1 n2 i + jn1 n2 i ;
1 n2 i =
1)n1 n2
1 + ( 2 1)n1 n2 2

onde o pre-fator envolvendo n1 n2 da onta das normaliza ~oes apropriadas a ada um dos dois
asos.
Os vetores jn1 n2 i assim denidos s~ao normalizados e mutuamente ortogonais. Isso de orre
imediatamente da ortonormalidade das bases fjn(i) ig tomadas nos espa os fatores. As duas
famlias de vetores fjn1 n2 i g s~ao tambem ompletas nos sub-espa os asso iados aos projetores
A e S respe tivamente. De fato, a proje ~ao Ajai de um vetor geral do espa o produto e um
vetor geral do setor anti-simetri o e, utilizando a expans~ao (7.1) para jai, essa proje ~ao pode
ser es rita omo
X
X
1
(2)
Ajai = an1n2 Ajn(1)
an1 n2 p jn1 n2 i
1 n2 i =
2
n1 n2
n1 n2
e pode portanto ser sempre expandida em termos dos fjn1 n2 i . A ultima express~ao pode ser
es rita ainda da forma alternativa
354
Ajai =
n1 <n2
p1 (an1n2 an2n1 ) jn1 n2i

2
(7.4)
que faz uso da antissimetria dos vetores de base, jn1 n2 i = jn2 n1 i . Como a anti-simetria
ex lui os vetores de o upa ~ao dupla (n1 = n2 ) da expans~ao, e laro que para o vetor de estado
geral de dois fermions idênti os as amplitudes hnnjAjai s~ao sempre nulas, o que signi a que
dois fermions idênti os n~ao podem o upar simultaneamente o mesmo estado de uma part ula,
um resultado onhe ido omo \prin pio de ex lus~ao de Pauli".
De forma ompletamente analoga se pode mostrar que a omponente simetri a de um vetor
geral do espa o produto es rito sob a forma (7.1) admite a expans~ao
Sjai
=
an1 n2 Sj
i = an1 n2 1 + ( 2p 1)n1n2 jn1n2 i+
2
n1 n2
n1 n2
p
X 1+( 2
p 1)n1 n2 (an1n2 + an2 n1 ) jn1n2 i+
=
2
n1 n2
X
(2)
n(1)
1 n2
na qual, ao ontrario do que a onte e no aso do setor anti-simetri o, existem em geral termos
om n1 = n2 .
Existe uma forma simples e muito usada de es rever os vetores das bases anti-simetri a e
simetri a, jn1 n2 i , em termos dos vetores jn(i) i; i = 1; 2 das bases de uma part ula. Os vetores
da base anti-simetri a podem ser es ritos sob a forma de um determinante
jn1 n2i
1
(2)
= p jn(1)
1 n2 i
2
(1)
n(2)
1 n2
1
= p det
2
(2)
jn(1)
1 i jn1 i
(2)
jn(1)
2 i jn2 i
em que ndi es de linhas e olunas se referem a estados e part ulas respe tivamente. A antisimetria e realizada atraves da propriedade de determinantes de mudan a de sinal por uma
tro a de duas linhas ou de duas olunas. Analogamente os vetores da base simetri a podem ser
es ritos sob a forma de um \permanente"
jn1n2 i+ = p2[1 + (p12 1) perm

n1 n2
(2)
jn(1)
1 i jn1 i
(2)
jn(1)
2 i jn2 i
que e denido de forma semelhante a um determinante, mas om todos os termos positivos.

355
7.1.1 Sistemas de muitas part ulas idênti as.

A extens~ao do tratamento anterior para sistemas de três ou mais part ulas idênti as n~ao envolve
maiores di uldades, a menos da ompli a ~ao te ni a da existên ia de outros tipos de simetria
alem dos dois tipos que o orrem no aso de apenas duas part ulas. A simpli idade do aso de
apenas duas part ulas se deve basi amente ao fato de que o operador identidade ^1 e o operador
de tro a P12 esgotam as possibilidades de permuta ~ao das part ulas, o que n~ao o orre no aso
de três ou mais part ulas. Em geral existem N ! permuta ~oes distintas de N part ulas, e
ada uma dessas permuta ~oes pode ser asso iada a um operador Pi ; i = 1; :::; N ! (in luindo o
operador identidade ^1 para a \permuta ~ao idênti a"). Esse onjunto de N ! operadores forma
um grupo hamado grupo simetri o das permuta ~oes das N part ulas. No aso N = 2 esse
grupo e onstitudo apenas dos dois elementos P1 ^1 e P2 P12 = P121 = P12y . No aso N 3
os N ! operadores Pi s~ao tambem operadores unitarios (embora em geral n~ao hermiteanos), pois
a a ~ao de ada um deles sôbre os vetores da base produto equivale a uma re-rotula ~ao dos
vetores da base. O riterio de indistinguibilidade (7.2) deve agora ser estendido exigindo que
hajgjai = hajPiygPijai = hajPi 1gPijai

para qualquer permuta ~ao Pi , o que leva a ondi ~ao de simetria
[g; Pi = 0
para os observaveis. Utilizando te ni as de teoria de grupos e possvel identi ar, a partir dessa
ondi ~ao, sub-espa os ujas propriedades de simetria s~ao invariantes sob qualquer permuta ~ao
Pi , e que n~ao s~ao one tados por nenhum observavel. Alem de estados ompletamente antisimetri os e ompletamente simetri os, isto e, tais que a tro a de duas part ulas quaisquer
equivale a multipli a ~ao do estado por 1 ou por +1, respe tivamente, existem setores de
\simetria intermediaria", isto e, que s~ao simetri os om rela ~ao a algumas permuta ~oes, antisimetri os om rela ~ao a outras e que n~ao têm simetria denida om rela ~ao a ainda outras
permuta ~oes. No entanto, a orrela ~ao entre spin e estatsti a mostra que estados de muitos
fermions (bosons) idênti os devem ser sempre ompletamente anti-simetri os (simetri os). No
aso de duas part ulas idênti as esses dois tipos de simetria orrespondem aos projetores A e
S , que satisfazem a rela ~ao de omplementaridade om rela ~ao ao espa o produto ompleto
A + S = ^1:
No aso N 3 e fa il onstruir os operadores orrespondentes usando os N ! elementos do grupo
simetri o. Isso se faz pondo
356
A = N1 !
N!
X
i=1
( 1)Pi Pi
S = N1 !
N!
X
i=1
Pi
onde os Pi s~ao as diferentes permuta ~oes das N part ulas e ( 1)Pi e uma fase igual a +1 ou
1 para permuta ~oes pares e mpares respe tivamente. Alem de se reduzir, no aso N = 2, a
deni ~ao dada anteriormente, e possvel mostrar diretamente (embora isso seja algo trabalhoso)
que esses operadores s~ao tambem operadores de proje ~ao ortogonais no espa o produto de N
part ulas, isto e
A = Ay = A2;
Quando N
S = Sy = S2
AS = SA = 0:
3, no entanto, a existên ia de estados de simetria intermediaria impli a que

A + S 6= ^1
devido a existên ia de vetores no espa o produto geral que n~ao podem ser de ompostos em
omponentes ompletamente simetri as e ompletamente anti-simetri as apenas. Devido a
orrela ~ao observada entre spin e estatsti a, no entanto, tais estados de simetria intermediaria
n~ao s~ao realizados si amente, o que dispensa sua expli ita ~ao no presente ontexto.
De uma forma inteiramente analoga a empregada no aso N = 2, e possvel usar os operadores gerais A e S para onstruir bases nos setores anti-simetri o e simetri o do espa o produto
a partir de uma base de vetores do tipo
(N )
(1)
(N )
jn(1)
1 :::nN i jn1 i
:::
jnN i
onde os vetores jn(j ) i s~ao elementos de uma base ortonormal no espa o de vetores de estado
para a j -esima part ula. De fato, es revendo um vetor geral do sub-espa o ompletamente
anti-simetri o omo proje ~ao de um vetor geral do espa o produto
Ajai =
Os vetores anti-simetri os
N
n1 :::nN
(N )
an1 :::nN Ajn(1)
1 :::nN i:
(N )
Ajn(1)
ao
1 :::nN i podem ser es ritos omo determinantes de dimens~
1
(N )
Ajn(1)
1 :::nN i =
N!
(N )
jn(1)
1 i ::: jn1 i C
B
::: :::
det B
:::
(1)
jnN i ::: jn(NN ) i
357
C
A
Dois determinantes desse tipo (que s~ao frequentemente hamados determinantes de Slater) ser~ao
ortogonais quando eles diferirem pelo menos por um dos estados de uma part ula envolvidos
na sua onstru ~ao, e da ortonormalidade das bases de uma part ula fjn(j ) ig resulta que o
quadrado se sua norma e
1
(N )
(1)
(N )
hn(1)
1 :::nN jAjn1 :::nN i =
N!
sempre que os ni forem todos diferentes entre si. Se dois ou mais estados de uma part ula
forem iguais a norma e zero, o que orresponde ao prin pio de ex lus~ao de Pauli para o estado
de N fermions. Portanto um vetor geral do sub-espa o ompletamente anti-simetri o pode ser
expandido em termos dos vetores de base
jn1:::nN i
(N )
= N !Ajn(1)
1 :::nN i
nos quais todos os ni s~ao diferentes omo

X
1
Ajai =
an1 :::nN p jn1 :::nN i =
N!
n1 :::nN
n1 <n2 <:::<nN
X
N!
X
p1 ( 1)Pi anp1 :::npN
N ! i=1
jn1 :::nN i :
Esta ultima express~ao, em parti ular, generaliza a rela ~ao (7.4), e mostra que estados de N
fermions idênti os podem ser expandidos em termos de uma base de determinantes formados a
partir de N estados de uma part ula diferentes, identi ados pelos ndi es ni e om n1 < n2 <
::: < nN .
Um pro edimento ompletamente analogo se apli a ao aso de N bosons idênti os. A
expans~ao de um vetor geral do sub-espa o ompletamente simetri o, es rito omo a proje ~ao
apropriada de um vetor geral do espa o produto, e
Sjai =
n1 :::nN
(N )
an1 :::nN Sjn(1)
1 :::nN i
(N )
e os vetores ompletamente simetri os Sjn(1)
1 :::nN i podem ser es ritos omo permanentes de
ordem N
0
(N )
jn(1)
1 i ::: jn1 i C
B
1
(N )
::: ::: C
Sjn(1)
perm B
1 :::nN i =
A:
:::
N!
(1)
(N )
jnN i ::: jnN i
Para que dois vetores desse tipo sejam ortogonais e ne essario e su iente que eles diram pelo
menos por um dos estados de uma part ula envolvidos na onstru ~ao do permanente, e as
358
proje ~oes ompletamente simetri as de vetores da base produto que diferem apenas por uma
permuta ~ao dos estados de uma part ula s~ao iguais. A norma das proje ~oes ompletamente
simetri as dos vetores da base produto depende do numero de repeti ~oes existentes entre os
ni , generalizando o que foi en ontrado no aso N = 2, e os vetores normalizados da base
ompletamente simetri a s~ao
v
u
u
t
!
(N )
Sjn(1)
jn1:::nN i+ = !N!:::
1 :::nN i
!
1 2
q
onde foi suposto que os N vetores de uma part ula jni i; i = 1; :::; N s~ao de q tipos distintos
(q N ), om multipli idades 1 ; :::; q , de modo que 1 + ::: + q = N . Isso esta ligado ao
fato de que no aso do setor ompletamente simetri o a repeti ~ao de ndi es n~ao e ex luda.
Finalmente, utilizando a simetria destes ultimos vetores de base o estado geral ompletamente
simetri o admite uma expans~ao do tipo
0
1
q
Sjai =
N !1 !:::q !
n1 n2 :::nN
X
N!
X
i=1
anp1 :::npN A jn1 :::nN i+
de modo que o onjunto dos permanentes normalizados, formados a partir de N estados de

uma part ula identi ados pelos ndi es n1 n2 ::: nN .
Um ponto que exige aten a~o na onstru ~ao da base ompletamente anti-simetri a de
determinantes jn1 :::nN i ; n1 < n2 < ::: < nN , e a parti ular ordem em que os vetores
da base de uma part ula s~ao rotulados. Uma mudan a de onven ~ao de rotula ~ao pode
levar a uma mudan a no ordenamento das linhas do determinante que impli a numa
mudan a de sinal de vetores da base anti-simetri a. A rotula a~o dos vetores da base de
uma part ula e arbitraria, mas deve ser uidadosamente observada, uma vez denida,
bem omo a onven ~ao de ordena ~ao adotada para a olo a ~ao de linhas e olunas na
onstru ~ao dos determinantes, sob pena de erros de sinal.
No aso dos vetores da base ompletamente simetri a os problemas de ordena ~ao n~ao
existem. Um vetor dessa base e ompletamente ara terizado pelos estados da base de
uma part ula utilizados na sua onstru ~ao apenas, independentemente de riterios de
rotula ~ao.
7.1.2 Exemplos simples. Indistinguibilidade quânti a e lassi a.
1. As propriedades de simetria dos estados de sistemas quânti os de muitas part ulas idênti as
d~ao origem a alguns efeitos muito importantes, onhe idos generi amente omo \efeitos de
359
tro a". Um exemplo simples desse tipo de efeito apare e quando se onsidera os elementos de
matriz do poten ial oulombiano
e2
V =
j~r1 ~r2 j
numa base de determinantes de Slater para o setor anti-simetri o do espa o de estados para
um sistema de dois ele trons, que s~ao fermions de spin 1=2. Em primeiro lugar, abe observar
que uma forma mais ompleta de ara terizar a a ~ao desse operador e es reve-lo omo V
^1S ,
onde o fator ^1S enfatiza o fato de que ele age omo o operador identidade sobre os spins dos
ele trons. Em seguida, deve ser observado que [P12 ; V
^1S = 0, isto e, V
^1S e devidamente
simetri o sob a opera ~ao de tro a dos dois ele trons.
Os vetores ortonormais da base anti-simetri a podem ser representados por fun ~oes de onda
do tipo
!
h~r1s1; ~r2s2 jn1n2 i = p1 det hh~~rr11ss11 jjnn21ii hh~~rr22ss22jjnn21 ii ; n1 < n2

2
onde fh~rsjnig s~ao uma base ortonormal de fun ~oes de onda de um ele tron, dependentes portanto da posi ~ao ~r e da variavel de spin s = 1=2. Para xar ideias e onveniente onsiderar
fun ~oes de onda es ritas omo produtos de uma fun ~ao da posi ~ao por uma fun ~ao asso iada
ao spin e expli itar os rotulos n omo n fk; mg, onde k identi a a fun ~ao de posi ~ao e
m = 1=2 ara teriza o autovalor da ter eira omponente do spin. Desse modo
h~rsjni ! h~rsjk; mi = uk (~r)m (s)
onde
21 (s) =
1 para s = 1=2
0 para s = 1=2
12 (s) =
0 para s = 1=2 :
1 para s = 1=2
Os elementos de matriz hn1 n2 jV

^1S jn3 n4 i podem ent~ao ser es ritos expli itamente em
termos das fun ~oes de onda de um ele tron omo
hn1 n2jV
^1S jn3n4 i

1 XZ 3 Z 3
d r1 d r2 uk1 (~r1 )m1 (s1 )uk2 (~r2 )m2 (s2 ) uk1 (~r2 )m1 (s2 )uk2 (~r1 )m2 (s1 )
2 s1 s2
2
j~r e ~r j (uk3 (~r1)m3 (s1)uk4 (~r2)m4 (s2 ) uk3 (~r2 )m3 (s2)uk4 (~r1 )m4 (s1)) :
1
2
360
Os quatro termos dessa express~ao se reduzem na realidade a dois, pois os dois termos positivos
s~ao iguais entre si, o mesmo a onte endo om os dois termos negativos. Cole ionando os termos
iguais o fator 1=2 e an elado, levando ao resultado
hn1n2 jV
^1S jn3 n4i
XZ
s1 s2
(7.5)
d3 r1 d3 r2 uk1 (~r1 )m1 (s1 )uk2 (~r2 )m2 (s2 )
XZ
s1 s2
d3 r
e2
j~r1 ~r2j uk3 (~r1)m3 (s1)uk4 (~r2)m4 (s2 )
d3 r2 uk1 (~r2 )m1 (s2 )uk2 (~r1 )m2 (s1 )
e2
j~r1 ~r2j uk3 (~r1)m3 (s1)uk4 (~r2)m4 (s2 ):
O primeiro dos dois termos desta ultima express~ao e usualmente hamado \termo direto",
enquanto o segundo e hamado \termo de tro a". De um ponto de vista de tipo perturbativo,
eles podem ser entendidos omo asso iados a \transi ~oes" experimentadas pelos dois ele trons
entre os vetores da base produto, devidas a a ~ao de sua intera ~ao oulombiana. O elemento
de matriz ompleto orresponde, nesse ontexto, a amplitude que ara teriza uma transi ~ao
na qual os ele trons que o upam ini ialmente os estados de uma part ula fk3 ; m3 g e fk4 ; m4 g
passam a o upar os estados fk1 ; m1 g e fk2 ; m2 g. Devido ao fato de que os dois ele trons
s~ao fermions idênti os, essa amplitude e dada omo a diferen a de uma amplitude direta, em
que o estado fk3 ; m3 g da lugar ao estado fk1 ; m1 g, e o estado fk4 ; m4 g ao estado fk2 ; m2 g, e
uma amplitude de tro a, em que o estado fk3 ; m3 g da lugar ao estado fk2 ; m2 g, e o estado
fk4; m4g ao estado fk1; m1g. No aso de duas part ulas distinguveis, essas duas amplitudes
orrespondem a dois pro essos si amente distintos, no sentido de que existem observaveis do
sistema de duas part ulas que permitem distingui-los um do outro. A identidade dos dois
ele trons equivale porem a impossibilidade de distinguir entre os dois pro essos, de modo que
as respe tivas amplitudes devem ser ombinadas numa amplitude uni a. O sinal relativo obtido
entre os dois termos se deve ao arater anti-simetri o dos estados de dois fermions idênti os.
De fato, e fa il ver que um al ulo orrespondente para dois bosons idênti os tambem leva a
uma amplitude global es rita em termos de uma amplitude direta e a uma amplitude de tro a,
mas om sinal relativo oposto ao que resulta no aso fermiôni o.
Uma onsequên ia importante da o orrên ia de efeitos de tro a na intera ~ao oulombiana
de dois ele trons e o fato de que, embora a intera ~ao oulombiana seja independente de spin,
os elementos de matriz dependem dos estados de spin dos ele trons envolvidos. Isso pode
ser visto de forma parti ularmente lara no aso de elementos de matriz diagonais, isto e,
om fk1 ; m1 g = fk3 ; m3 g e fk2 ; m2 g = fk4; m4 g. De fato, usando o fato de que a intera ~ao
oulombiana age sobre os spins omo o operador identidade, o termo direto a nesse aso dado
por
361
Z
Z
2
hn1n2 jV
^1S jn3n4 i(dir) = d3r1 d3r2 juk1 (~r1)uk2 (~r2)j2 j~r e ~r j
1
2
(7.6)
enquanto o termo de tro a e dado por
hn1 n2jV
^1S jn3n4 i(tro a) =
Z
d3 r1 d3 r2 uk1 (~r1 )uk2 (~r2 )uk2 (~r1 )uk1 (~r2 )
e2
(7.7)
X
j~r1 ~r2j s1s2
m1 (s1 )m2 (s2 )m2 (s1 )m1 (s2 )
que depende dos estados de spin atraves do ultimo fator, que pode ser es rito simplesmente em
termos do quadrado de um produto es alar omo
j(m1 ; m2 )j2 = m1 m2

isto e, ele e igual a 1 para spins paralelos e igual a zero para spins anti-paralelos. Essa dependên ia de spin proveniente de efeitos de tro a e ru ial para as estudar as propriedades
magneti as dos materiais, por exemplo.
Um fato de importân ia prati a onsideravel para al ulos, omo o pre edente, de elementos de matriz de operadores simetri os entre estados ompletamente simetri os ou
anti-simetri os e que, a menos de fatores de normaliza a~o, basta que um dos dois estados envolvidos seja devidamente simetrizado ou anti-simetrizado. Isso provem de que um
operador simetri o omuta om o operador de proje ~ao sobre o sub-espa o simetri o ou
anti-simetri o. De fato, omo [g; A = 0 segue que
hajAgAjbi = hajgA2 jbi = hajgAjbi
sendo que rela ~oes analogas valem para o aso de S . No aso a ima dos elementos de
matriz da intera ~ao oulombiana entre dois ele trons, o al ulo pode ser feito de forma
mais simples atraves de (deve ser notada a n~ao anti-simetriza ~ao do bra)
hn1n2jV jn3 n4i =
!
hn1 j~r1s1ihn2 j~r2 s2i j~r ~r j p12 det hh~~rr11 ss11jjnn34ii hh~~rr22 ss22jjnn34ii
s1 s2
1
2
que reproduz o resultado ja obtido a menos de um fator de normaliza ~ao. Este pode
porem ser fa ilmente re uperado notando que
X
d3 r1
e2
d3 r2
362
u1
11111111
00000000
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000
11111111
00000000u3
11111111
00000000
11111111
u2
11111111111
00000000000
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
u4
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
00000000000
11111111111
Figura 7.1: Domnios em que as fun ~oes lo alizadas de uma part ula ui (~r) s~ao diferentes de
zero.
de modo que
p
jn1 n2i = 2Ajn1n2i
p
hn1n2jV jn3n4i = 2hn1n2jV jn3 n4i :
A importân ia quantitativa das ontribui ~oes de tro a em elementos de matriz envolvendo

part ulas idênti as depende tambem do grau de lo aliza ~ao ou deslo aliza ~ao das part ulas
nos estados envolvidos, e isso permite, em parti ular, fazer onta to om a distinguibilidade
relativa de part ulas lassi as referida ini ialmente. A forma mais simples de ver isso e atraves
de um exemplo on reto em que, na express~ao (7.5), os estados \ini iais" de uma part ula
u3 (~r) e u4 (~r) por um lado, e os estados \nais" u1 (~r) e u2 (~r) por outro lado, s~ao lo alizados em
regi~oes distintas do espa o da forma indi ada na gura 7.1. E fa il ver ent~ao que esse arranjo
de domnios e tal que o termo de tro a se anula quaisquer que sejam as fun ~oes de spin mi (s)
Z
d3 r1 d3 r2 u1 (~r2 )u2 (~r1 )
e2
j~r1 ~r2 j
u3 (~r1 )u4 (~r2 )
s1 s2
m1 (s2 )m2 (s1 )m3 (s1 )m4 (s2 ) = 0
pois, qualquer que seja ~r, tem-se que
u1 (~r)u4 (~r) = 0;
u2 (~r)u3 (~r) = 0:
O termo direto, porem, e diferente de zero, dado que

363
u1 (~r)u3 (~r) 6= 0;
u2 (~r)u4 (~r) 6= 0
o que permite identi ar, por exemplo, a part ula que o upa o estado nal u3 (~r) om a que
o upava o estado ini ial u1 (~r). Esse exemplo permite entender de que forma a inexistên ia, na
teoria lassi a, de qualquer limite para a lo alizabilidade das part ulas leva a n~ao existên ia
de efeitos de tro a, bem omo a distinguibilidade relativa de part ulas idênti as atraves da
ontinuidade de suas trajetorias no espa o de fases.
2. A existên ia de amplitudes de tro a tem onsequên ias importantes tambem para as se ~oes de
hoque de espalhamento de um par de part ulas idênti as. No aso de part ulas distinguveis,
o espalhamento devido a um poten ial que dependente da distân ia relativa entre as part ulas
e independente dos spins ( omo e o aso de V , por exemplo), ujos momentos ini iais (no
(1)
(2)
(1)
sistema de entro de massa) e estados de spin s~ao k~ i ; (1) (s) e k~ i = k~ i ; (2) (s), e ujos
(1)
(2)
(1)
momentos e estados de spin nais s~ao k~ f ; (1) (s) e k~ f = k~ f ; (2) (s), e des rito por uma
amplitude de espalhamento f () em termos da qual a se ~ao de hoque diferen ial e dada por
d
= jf ()j2
d
onde e o ângulo de espalhamento, dado por

(1)
(1)
k~ i k~ f
os = (1) (1) :
ki kf
Como foi suposto que a intera ~ao e independente de spin, os estados de spin nais s~ao iguais aos
estados ini iais. E importante notar que esses estados (1) (s) e (1) (s) n~ao s~ao ne essariamente
autoestados de s3 . Em geral eles s~ao estados de spin que dependem do parti ular pro esso de
prepara ~ao que a que tenham sido submetidos o projetil e o alvo.
Para passar ao aso do espalhamento de duas part ulas idênti as, e util es rever a amplitude
de espalhamento em termos de um operador de transi ~ao T denido por
(1) ~ (2) (2)
~ (1) (1) ~ (2) (2)
hk~ (1)
f ; k f jT jk i ; k i i f ( )
que, omo a intera ~ao responsavel pelo espalhamento, e tambem independente dos spins. Como
no aso de part ulas idênti as os estados ini ial e nal devem ser devidamente simetrizados
(para bosons) ou anti-simetrizados (para fermions), a amplitude de espalhamento adquire ontribui ~oes de tro a, sendo dada por
364
(1)
(2)
(2)
(1)
(2)
(1)
(2)
(1)
f () = hk~ f (1) ; k~ f (2) jT jk~ i (1) ; k~ i (2) i hk~ f (1) ; k~ f (2) jT jk~ i (2) ; k~ i (1) i
= f ( ) f (
) h(1) j(2) i
onde os sinais + e se referem ao aso de bosons e fermions respe tivamente, e foi usado o
(1)
(2)
fato de que a transi ~ao de k~ i para k~ f orresponde a um ângulo de espalhamento . A
se ~ao de hoque de espalhamento, tendo em onta os efeitos de tro a asso iados a identidade
das part ulas, e portanto dada por

2
d
() = f () f ( )jh(1) j(2) ij2
d
que mostra efeitos de interferên ia entre as duas amplitudes que, em parti ular, exp~oe a observa ~ao a sua fase relativa. Por exemplo, no aso do espalhamento oulombiano de dois ele trons
om spins paralelos (isto e, (1) = (2) ), a se ~ao de hoque diferen ial e dada por
d
() = jf () f ( )j2
d
onde f () e a amplitude de espalhamento oulombiana dada por
(7.8)
"

(7.9)
f ( ) =
exp i log sin2 + 2i0
2

2
2k sin 2
sendo o parâmetro de Sommerfeld, , e a defasagem oulombiana da onda s, 0 , dados respe tivamente por
e2
e 0 = arg (1 + i ):
h 2 k
Nessas express~oes k e o vetor de onda asso iado ao movimento relativo dos dois ele trons e
e a sua massa reduzida. A se ~ao de hoque (7.8) e mar adamente distinta da se ~ao de hoque
de Rutherford. De fato, devido aos efeitos de tro a ela se torna simetri a em torno de = =2
e adquire um termo de interferên ia
=
d
d
!(int)
"
2 2

= 2 2 os log tan2
2
k sin
!#
que tem um omportamento fortemente os ilatorio nas vizinhan as de = 0 e = . Por outro

lado, no aso de spins anti-paralelos (isto e, h(1) j(2) i = 0), n~ao ha ontribui ~oes de tro a para
365
a amplitude de espalhamento e a se ~ao de hoque se reduz a se ~ao de hoque de Rutherford.
Isso pode ser entendido notando que, sendo a intera ~ao oulombiana independente dos spins,
o estado de spin dos ele trons e preservado durante o pro esso de olis~ao, o que permite, nesse
aso, a identi a ~ao das part ulas atraves de seus estados de spin.
3. A natureza simetri a (anti-simetri a) dos estados de um sistema de muitos bosons (fermions)
idênti os impli a na existên ia de orrela ~oes entre as part ulas, mesmo na ausên ia de qualquer intera ~ao entre elas. Essas orrela ~oes se manifestam de forma parti ularmente onsp ua
no aso de um estado de muitos fermions idênti os, pois a amplitude de probabilidade orrespondente ao vetor de estado do setor anti-simetri o h~r1 s1 ; :::; ~rN sN Ajai se anula sempre que
dois (ou mais) fermions tiverem as mesmas oordenadas, isto e ~ri = ~rj ; si = sj , o que impli a
evidentemente que o estado ontem informa ~ao sobre as oordenadas relativas dos fermions.
Um sistema simples que exibe efeitos dessas orrela ~oes e um gas de fermions sem intera ~ao,
ujo Hamiltoniano e
H=
N
X
p2i
:
i=1 2M
O estado fundamental desse sistema, hamado \gas de Fermi degenerado", pode ser visto omo
um modelo simpli ado para os ele trons de ondu ~ao de um metal, no qual as intera ~oes
Coluombianas entre ele trons bem omo entre ele trons e ions positivos da rede atômi a s~ao
substitudas por intera ~oes de ada ele tron om poten iais medios uniformes devidos aos outros
ele trons e aos ions positivos da rede, balan eados de forma a garantir a neutralidade eletri a
do sistema. Os estados de um ele tron podem ent~ao ser tomados onvenientemente omo
autoestados de momento om ondi ~oes de ontorno periodi as num volume L3 e de s3 . As
fun ~oes de onda de um ele tron s~ao portanto
h~rsj~kmi = p1 3 ei~k~rm (s)

L
onde h~k e m = 1=2 s~ao autovalores do momento e de s3 respe tivamente. Os autovetores do

setor anti-simetri o do Hamiltoniano H que orrespondem a um sistema de N ele trons livres
no volume L3 podem portanto ser es ritos omo determinantes de Slater
0
h~r1s1 ; :::; ~rN sN j~k1m1; :::; ~kN mN i = p1
N!
det B

h~r1s1j~k1m1 i ::: h~rN sM j~k1m1 i
:::
:::
:::
~
h~r1s1jkN mN i ::: h~rN sN j~kN mN i
sendo que os autovalores orrespondentes s~ao dados por

366
1
C
C
A
h 2 ki2
:
E=
i=1 2M
N
X
Como todos os estados de um ele tron envolvidos na onstru ~ao do determinante devem ser
diferentes sob pena de seu anulamento, o estado fundamental orresponde ao determinante
onstrudo om os N estados de um ele tron de menor momento, levando em onta a possibilidade de ter dois ele trons om o mesmo ~k desde que om fun ~oes de onda de spin diferentes.
Isso leva ent~ao a utiliza ~ao de todos os estados de momento ate um determinado valor maximo
kF ( hamado momento de Fermi do gas de degenerado) que depende do numero de ele trons
N.
Para determinar kF em termos de N basta notar que deve-se ter, supondo que os estados
de um ele tron tenham sido rotulados em ordem res ente de k,
2
kF
X
1=N
onde o fator 2 tem em onta a existên ia de dois estados de spin para ada valor do momento.
Transformando essa soma numa integral om a pres ri ~ao usual para ondi ~oes de ontorno
periodi as resulta
N =2
kF
X
3
L3 Z
3 k = 2 L 4 k 3 :
1=2
1
d
(2 )3 kkF
(2 )3 3 F
Introduzindo a densidade de ele trons N=L3 resulta portanto a rela ~ao om o momento de
Fermi
N
kF3
=
:
L3 3 2
Essa rela ~ao pode ser entendida qualitativamente om um argumento que envolve as rela ~oes
de in erteza posi ~ao momento. De fato, a restri ~ao do momento dos ele trons a uma faixa
de largura h kF , a sua posi ~ao so podera ser denida dentro de intervalos uja dimens~ao e
da ordem de 1=kF . Por outro lado, omo as orrela ~oes impostas pela anti-simetria impedem
dois ele trons de se en ontrarem na mesma posi ~ao, e ne essario alo ar um volume espa ial da
ordem de 1=kF3 por ele tron do gas, o que orresponde a um volume total, para N ele trons,
=
kN3
ou seja
367
kF3 :
A energia ineti a de um ele tron om o momento de Fermi e hamada a energia de Fermi

EF . Ela esta rela ionada om a densidade de ele trons por
h 2 kF2
h 2 2 32
EF =
3 :
=
(7.10)
2M
2M
A energia E0 do estado fundamental do gas de ele trons livres pode ser tambem fa ilmente
expressa em termos do momento de Fermi (ou, alternativamente, da densidade ou da energia
de Fermi) al ulando a soma das energias ineti as por meio da integral
E0 = 2
L3 h 2 kF5 3
h 2 k2 3
L3 Z
d
k
=
= NEF
(2 )3 kkF 2M
5 2 2M
5
que mostra que a energia media por part ula e 3=5 da energia de Fermi e, em vista da rela ~ao
(7.10), depende da potên ia 2=3 da densidade. Essa dependên ia da energia do estado fundamental om a densidade pode ser interpretada em termos de uma press~ao exer ida pelo gas,
que pode ser al ulada atraves da rela ~ao
3 h 2 2 23 35
dE0
3
=
(7.11)
d(L3 ) 5 2M
obtida igualando a varia ~ao da energia do estado fundamental do gas ao trabalho efetuado
ontra a press~ao num pro esso adiabati o de ompress~ao. Essa press~ao de Fermi pode ser vista
omo um resultado do \prin pio de ex lus~ao", que for a a o upa ~ao de estados de momento
diferente de zero no estado fundamental (temperatura zero) do gas de Fermi.
PF =
7.2
A tabela peri
odi a.
Aproxima
o
~es auto onsistentes
para a estrutura at^

omi a.
Um atomo, visto omo um sistema omposto de um nu leo ompa to, arregado positivamente,
ao qual est~ao ligados ele trons arregados negativamente, e um sistema quânti o uja estrutura
e determinada de forma essen ial pela identidade e pelo arater fermiôni o dos ele trons, que
desempenha tambem um papel ru ial nos pro essos de intera ~ao entre varios sistemas atômi os
que d~ao origem, entre outras oisas, as estruturas mole ulares. Esta se ~ao se limita no entanto
a aspe tos qualitativos gerais da estrutura atômi a revelados nas regularidades que permitem a
onstru ~ao da tabela periodi a dos elementos, bem omo a aproxima ~oes que permitem tratar
quantitativamente essas regularidades.
Omitindo ompli a ~oes ligadas as intera ~oes dependentes de spin e outros efeitos de natureza
magneti a, o Hamiltoniano mais simples que se pode onsiderar para um sistema atômi o om
368
um nu leo de arga Ze e om Z ele trons envolve apenas intera ~oes oulombianas. Ignorando
efeitos de re uo om base na ordem de grandeza relativa das massas nu lear e eletrôni a, ele
pode ser es rito omo
H =
=
Z
X
i=1
Z
X
i=1
p2i
2me
Z
Ze2
1 X
e2
+
=
ri
2 i;j =1 j~ri ~rj j
!
Z
p2i
1 X
e2
+ V (ri ) + 4
2me
2 i;j =1 j~ri ~rj j
(7.12)
Z
X
Ze2
i=1 ri
Z
X
i=1
V (ri )5 :
Na segunda forma do Hamiltoniano foi introduzido um poten ial auxiliar de uma part ula
V (ri ) om a ideia que, quando onvenientemente es olhido, possa tornar \pequenos" os efeitos
do ultimo parênteses. E importante notar desde logo que esse objetivo deve ser fortemente
quali ado por raz~oes de prin pio, pois esse parênteses in lui intera ~oes oulombianas de dois
orpos (a repuls~ao oulombiana entre dois ele trons) que da lugar a orrela ~oes dinâmi as
entre os ele trons que n~ao podem ser des ritas por um poten ial de um orpo omo V (r).
A expe tativa deve se restringir portanto a de que propriedades atômi as que n~ao dependam
dessas orrela ~oes de forma essen ial possam ser bem des ritas onsiderando um poten ial
medio de um orpo V (r) apenas. As orrela ~oes inemati as devidas ao arater fermiôni o dos
ele trons devem, em qualquer aso, ser tratadas exatamente. A utilidade de um tratamento
aproximado desse tipo provem de que de fato existem varias propriedades atômi as de interesse
que sobrevivem ao trun amento das orrela ~oes dinâmi as.
Existem varios metodos desenvolvidos para a determina ~ao do poten ial medio V (r). Em
termos qualitativos, o que se deve esperar para o poten ial medio experimentado por um dos
ele trons de um atomo neutro e que o seu omportamento se aproxime do poten ial oulombiano nu lear Ze2 =r para valores de r pequenos om rela ~ao ao raio atômi o e do poten ial
oulombiano de uma uni a unidade de arga e2 =r para valores grandes de r, devido a blindagem de parte da arga positiva nu lear pelos Z 1 ele trons restantes (gura 7.2). Supondo
que o sistema atômi o seja esferi amente simetri o, esse poten ial sera entral e tera estados
esta ionarios de part ula independente rotulados por numeros quânti os n; l e ml , que s~ao
respe tivamente um \numero quânti o prin ipal" analogo ao introduzido no espe tro do atomo
de hidrogênio, o momento angular orbital e sua proje ~ao no eixo de quantiza ~ao em unidades
de h . Para ara terizar ompletamente os estados eletrôni os e pre iso introduzir ainda o estado de spin, ara terizado pelo autovalor ms = 1=2 de sua omponente ao longo do eixo de
quantiza ~ao, s3 (tambem em unidades de h ). O modelo mais simples para a estrutura de um
atomo de Z ele trons onsiste em trata-lo omo um sistema de Z ele trons independentes (isto e,
sem intera ~oes entre eles), que se movem em um poten ial medio entral om as ara tersti as
369
V(r)
r
- er
V(r)
- Ze
r
|nlm l
Figura 7.2: Propriedades qualitativas do poten ial medio para um ele tron de um atomo neutro.
indi adas. Os estados esta ionarios do atomo s~ao, nessa aproxima ~ao, os estados esta ionarios
do Hamiltoniano
H=
Z
X
i=1
p2i
+ V (ri )
2me
que, devido ao arater fermiôni o dos ele trons, s~ao determinantes de Slater formados a partir
de Z estados esta ionarios distintos de um ele tron no poten ial medio V (r)
h~rsjnlml 1=2 msi = nlml (~r)ms (s)
(7.13)
onde os hamados orbitais nlml (~r) satisfazem

!
p2
+ V (r) nlml (~r) = nl nlml (~r):
2 me
Devido ao spin do ele tron, ada um dos orbitais nlml (~r) pode ser o upado por ate dois
ele trons. Os autovalores de H orrespondentes a esses estados determinantais e simplesmente
a soma dos autovalores nl asso iados aos orbitais in ludos no determinante, de modo que o
estado de menor autovalor orresponde ao determinante formado a partir dos Z estados de um
ele tron (7.13) de menor autovalor nl .
Em termos tambem qualitativos, o espe tro de orbitais no poten ial medio tem as ara tersti as indi adas na gura 7.3. Como o poten ial medio se aproxima do poten ial oulombiano
370
00000000000000000000000000000000000000000000
11111111111111111111111111111111111111111111
00000000000000000000000000000000000000000000
Z=3611111111111111111111111111111111111111111111
00000000000000000000000000000000000000000000 Kr
11111111111111111111111111111111111111111111
4p
(6)
(10)
(2)
3d
4s
00000000000000000000000000000000000000000000
Z=1811111111111111111111111111111111111111111111
00000000000000000000000000000000000000000000 Ar
11111111111111111111111111111111111111111111
3p
(6)
(2)
3s
00000000000000000000000000000000000000000000
00000000000000000000000000000000000000000000 Ne
11111111111111111111111111111111111111111111
Z=1011111111111111111111111111111111111111111111
2p
(6)
(2)
2s
00000000000000000000000000000000000000000000
00000000000000000000000000000000000000000000 He
11111111111111111111111111111111111111111111
Z= 211111111111111111111111111111111111111111111
(2)
1s
Figura 7.3: Propriedades qualitativas dos orbitais de um poten ial medio om as ara tersti as
indi adas na gura 7.2.
do atomo de hidrogênio para valores grandes de r e e mais atrativo que esse poten ial para valores menores de r, os efeitos repulsivos do poten ial entrfugo faz om que orbitais om valores
menores de l (para os quais a regi~ao de maior atra ~ao e mais a essvel) sejam relativamente mais
ligados que no aso do atomo de hidrogênio. As ara tersti as importantes desse esquema de
nveis s~ao o grau de degeneres ên ia de ada nvel e a irregularidade dos espa amentos, que faz
om que apare am intervalos maiores (assinalados na gura 7.3 pelas faixas ha huriadas) entre
determinados grupos de nveis. Os numeros entre parênteses a esquerda de ada nvel indi am
a degeneres ên ia total (in luindo a que e asso iada ao spin dos ele trons) que orresponde ao
maior numero de ele trons que ele pode onter. Esses numeros s~ao totalizados ate ada uma
das faixas ha huriadas, e orrespondem aos elementos indi ados.
Essas propriedades d~ao onta, qualitativamente, do fato experimental de que as energias de
liga ~ao e as energias de ioniza ~ao dos estados fundamentais dos atomos n~ao variam suavemente omo fun ~ao de Z , mas apresentam des ontinuidades para valores parti ulares do numero
atômi o onhe idos omo \numeros magi os". Experimentalmente os numeros magi os s~ao 2,
10, 18, 36, ... que orrespondem a o upa ~ao total dos nveis abaixo de ada uma das faixas
ha huriadas. A existên ia dos numeros magi os esta portanto vin ulada a existên ia de \ amadas" disjuntas no espe tro de part ula independente do poten ial medio, bem omo ao arater
fermiôni o dos ele trons que impli a nas restri ~oes impostas pelo prin pio de ex lus~ao para a
o upa ~ao dos estados de uma part ula.
Correla o~es dinâmi as induzidas pelos termos de intera ~ao de dois orpos no Hamiltonia371
no, n~ao onsideradas na aproxima ~ao de part ulas independentes, têm em geral o efeito
de atenuar os \efeitos de amada" que d~ao origem, em parti ular, aos \numeros magi os",
de modo que a observa a~o de tais efeitos de amada pode ser tida omo uma evidên ia
importante em favor da validade de uma aproxima ~ao de part ulas independentes submetidas a um poten ial medio. Isso se apli a tambem a outros sistemas, alem dos atomos, em
que efeitos de amada s~ao tambem observados, notadamente aos nu leos atômi os, onde
o ampo medio e devido uni amente as intera o~es atrativas entre os nu leons. Devido ao
arater de urto al an e dessas intera o~es, bem omo a outros elementos interpretativos
que apontam na dire ~ao da importân ia de efeitos das orrela ~oes dinâmi as nesse aso
(notadamente o su esso da hipotese de \nu leo omposto" introduzida por N. Bohr para
des rever o omportamento do espalhamento de neutrons lentos por nu leos), a resistên ia
para a ado a~o de um modelo de part ulas independentes no aso nu lear foi onsideravel,
tendo se imposto apenas na de ada de 50, devido, em parti ular, a formula a~o por Mayer,
Jensen e Wigner de um poten ial medio apaz de dar onta de regularidades em propriedades nu leares interpretadas em termos de efeitos de amada.
7.2.1 Poten iais medios auto- onsistentes. Aproxima ~ao de
Thomas-Fermi.
A distribui ~ao de ele trons no atomo e um ingrediente essen ial para qualquer determina ~ao
que se pretenda fazer do poten ial medio V (~r). Por outro lado, na medida em que uma des ri ~ao em termos de um poten ial medio seja adequada, ele e um ingrediente essen ial para a
determina ~ao da distribui ~ao de ele trons. Essa interdependên ia mutua do poten ial medio e
da densidade eletrôni a onduz naturalmente ao riterio de auto- onsistên ia para a determina ~ao do poten ial medio, que onsiste na exigên ia de que a densidade eletrôni a resultante
do poten ial seja igual a densidade eletrôni a que o determina.
Para implementar esse riterio e ne essario portanto dispor, por um lado, de um pro edimento que permita determinar um poten ial medio a partir de uma distribui ~ao eletrôni a dada
e tambem, por outro lado, de um segundo pro edimento que determine a densidade eletrôni a
a partir de um poten ial medio dado. Uma forma simples de obter um poten ial medio a partir
de uma distribui ~ao de argas onsiste em utilizar a equa ~ao de Poisson da eletrostati a, enquanto a determina ~ao da distribui ~ao de argas no atomo pode ser feita a partir das fun ~oes
de onda de um ele tron determinadas pelo poten ial medio onsiderado. A ideia de obter um
poten ial medio auto- onsistente dessa forma onstitui a base do hamado metodo de Hartree
(e de Hartree-Fo k) que sera dis utido na se ~ao seguinte. Embora on eitualmente simples,
eles s~ao omputa ionalmente trabalhosos, pois dependem da obten ~ao expl ita e reiterada das
fun ~oes de onda de um ele tron no poten ial medio onsiderado, om o objetivo de satisfazer
372
o riterio de auto- onsistên ia. Existe, no entanto, um metodo devido a Thomas1 e a Fermi2
que, mediante ertas aproxima ~oes, permite simpli ar esse pro esso de forma substan ial.
O metodo de Thomas-Fermi pode ser formulado atraves da suposi ~ao de que a rela ~ao (7.10)
entre a energia de Fermi e a densidade de um gas de Fermi degenerado seja valida lo almente
para a nuvem eletrôni a do atomo. Dessa forma ela e re-es rita omo
h 2 2 32
3 (~r)
(7.14)
2me
o que orresponde a admitir que a densidade da nuvem eletrôni a num determinado ponto pode
ser asso iada a uma \energia de Fermi lo al" atraves dessa rela ~ao. Uma forma de justi ar
esse pro edimento e asso ia-lo a suposi ~ao de que os ele trons ontidos em um pequeno volume
dV em torno do ponto ~r, dentro do qual a densidade possa ser tratada omo prati amente
uniforme, se omportam essen ialmente omo os ele trons de um gas de Fermi degenerado om
a mesma densidade. Um ponto que limita a validade dessa suposi ~ao e o de que devem ser
levadas em onta restri ~oes impostas pelas rela ~oes de in erteza, segundo as quais as dimens~oes
dl asso iadas a dV impli am numa indeni ~ao dos vetores de onda da ordem de k = 1=dl). A
importân ia dessa limita ~ao pode ser medida pela rela ~ao entre essa indeni ~ao dos momentos e
o suposto momento de Fermi lo al kF (~r) = [3 2 (~r)1=3 , e sera menos grave quando k kF (~r)
ou seja 3 2 (~r)dV 1. Isso torna o metodo de Thomas-Fermi mais pre iso nas regi~oes de maior
densidade eletrôni a, e pou o onavel na regi~ao super ial do atomo, em que a densidade
eletrôni a se aproxima de zero.
Admitida a rela ~ao (7.14), no entanto, e possvel estabele er uma rela ~ao entre o poten ial
medio V (~r) e a densidade pondo, para um atomo neutro
EF (~r) '
V (~r) + EF (~r) = V (~r) +
h 2 2 32
3 (~r)
2me
'0
em qualquer ponto ~r da nuvem eletrôni a. Isso signi a supor que a energia total maxima em
ada ponto, dada pela soma da maxima energia ineti a lo al (representada por EF (~r)) om
a energia poten ial lo al (atrativa, representada por V (~r)) seja essen ialmente nula em todos
os pontos. O poten ial V (~r) esta sendo tomado portanto omo o poten ial mais fra amente
atrativo que, dentro das aproxima ~oes feitas, e ainda apaz de ligar todos os ele trons. O fato
de que o atomo neutro e ligado impli a tambem que V (~r) ! 0 e tambem EF (~r) ! 0 para
r ! 1, pois nessas ondi ~oes (~r) ! 1 para r ! 1. Esta ultima rela ~ao pode ent~ao ser
utilizada omo uma forma aproximada de obter a densidade eletrôni a a partir do poten ial
independentemente do al ulo de fun ~oes de onda eletrôni as. A densidade assim obtida e
1
2
L. H. Thomas, Pro . Cambridge Phil. So .

E. Fermi, Z. Physik 48, 73 (1928).
, 543 (1927).
23
373

2
1 2me
V
(
~
r
)
(~r) = 2
:
3
h 2
Por outro lado, o poten ial V (~r) pode ser obtido de uma densidade eletrôni a dada utilizando
a equa ~ao de Poisson. De fato, a densidade eletrôni a (~r) da lugar a uma densidade de arga
(~r) = e(~r)
om a qual a equa ~ao de Poisson para o poten ial eletrostati o (~r) devido a distribui ~ao de
argas no atomo e
r2(~r)
4 4Ze (~r)
2
4 4Ze (~r)
33

2
e 2me
V (~r) 5
2
2
3
h
33

2
e 2me e
(~r) 5
2
2
3
h
onde foi utilizada a rela ~ao V (~r) = e(~r) entre o poten ial eletrostati o e o poten ial medio
experimentado por um ele tron.
Supondo a simetria esferi a do poten ial (~r) (e onsequentemente tambem da distribui ~ao
eletrôni a), essa equa ~ao se reduz a
3

2
1 d 2 d(r)
4e 2me e
(
r
)
r
=
2
r2 dr
dr
3 h
om as ondi ~oes de ontorno
8
>
>
>
<
(r) ! >
Ze
r
para r ! 0
>
>
:
(7.15)
(7.16)
0
para r ! 1
que de orrem da presen a da arga nu lear Ze na origem e da neutralidade do atomo, respe tivamente. Como o atomo e um sistema n~ao apenas neutro, mas tambem ligado, o anulamento
do poten ial eletrostati o no innito deve na realidade ser tal que r(~r) ! 0 para r ! 1.
Essa ondi ~ao pode ser entendida omo indi ando que n~ao existe arga nu lear que n~ao tenha
sido blindada por arga eletrôni a a distân ias su ientemente grandes do nu leo.
374
Uma propriedade interessante da equa ~ao (7.15) e a de que ela possui propriedades de
es alonamento que permitem es rever a solu ~ao, para qualquer Z , em termos de uma mesma
\fun ~ao universal". Essa propriedade se torna manifesta introduzindo a variavel adimensional
1r
x = Z3
1 3 3 h 2
om b =
2 4 me e2
' :5 10
e es revendo o poten ial eletrostati o omo

(r) =
Ze
(x)
r
om o que a equa ~ao (7.15) adquire a forma
px d2(x) = 32 (x)
dx2
e deve ser resolvida om as ondi ~oes de ontorno, em vista de (7.16),
(x) !
1
0
para x ! 0 :
para x ! 1
A tabula ~ao da solu ~ao3 permite es rever o poten ial auto onsistente (no sentido de ThomasFermi) para qualquer numero atômi o Z atraves da es olha da es ala de distân ias b.
Essa enorme regularidade na varia ~ao do poten ial auto onsistente de Thomas-Fermi na
realidade re ete uma de suas grandes limita ~oes, que e a de eliminar ompletamente os efeitos
de amada responsaveis pela estrutura de tabela periodi a dos elementos. A origem dessa
limita ~ao e a substitui ~ao da ontribui ~ao para a densidade eletrôni a dos nveis eletrôni os
individuais por quantidades obtidas a partir das propriedades de um gas de Fermi degenerado,
que ignoram ompletamente as pe uliaridades do espe tro do poten ial medio. Para evita-la, e
pre iso ter essas pe uliaridades na devida onta, por exemplo, obtendo autofun ~oes eletrôni as
a partir de uma equa ~ao de autovalores om o poten ial de Thomas-Fermi. Esse pro edimento
n~ao e no entanto ompletamente auto onsistente, no sentido que a densidade eletrôni a obtida a
partir dessas autofun ~oes n~ao reproduz o poten ial de Thomas-Fermi utilizado para determinalas. Para obter efeitos de amada de forma auto onsistente e pre iso, portanto, re orrer aos
metodos menos esquemati os dis utidos a seguir.
3
v. e.g. V. Bush e S. Caldwell, Phys. Rev.
38
1898 (1931).
375
7.2.2 Aproxima ~oes de Hartree e de Hartree-Fo k.

Na aproxima ~ao auto- onsistente de Thomas-Fermi o poten ial medio e rela ionado a densidade eletrôni a utilizando express~oes gerais e simples, mas a rigor validas apenas para um gas
de Fermi degenerado. Uma forma lara de obter poten iais medios mais pre isos e asso iados
a atomos espe os onsiste em substituir esse pro edimento pelo al ulo efetivo da distribui ~ao de arga devida aos Z ele trons da espe ie atômi a onsiderada em termos dos estados
esta ionarios de uma part ula submetida ao poten ial medio onsiderado. Uma aproxima ~ao
baseada nesse pro edimento foi proposta por Hartree. Para implementa-la basta observar que,
uma vez feita alguma es olha para o poten ial medio V (~r) em (7.12) e possvel, ignorando o
ultimo parênteses nessa express~ao de H , resolver a equa ~ao de autovalores que determina os estados esta ionarios de uma part ula nesse poten ial, e asso ia-los a fun ~oes de onda (~r)m (s)
(in luindo as fun ~oes de onda de spin). Com essas fun ~oes de onda se pode ent~ao onstruir
uma fun ~ao de onda anti-simetrizada de Z ele trons sob a forma de um determinante de Slater
1
k1 (~r1 )m1 (s1 ) ::: k1 (~rZ )m1 (sZ )

1
C
B
(7.17)
:::
:::
:::
h~r1s1; :::; ~rZ sZ j Z i = p det
A
Z!
kZ (~r1 )mZ (s1 ) ::: kZ (~rZ )mZ (sZ )
que determina a distribui ~ao espa ial dos Z ele trons atraves da densidade de probabilidade
jh~r1s1; :::; ~rZ sZ j Z ij2. A anti-simetria da fun ~ao de onda determinantal impli a em que essa
densidade de probabilidade e simetri a nas variaveis eletrôni as. A densidade eletrôni a (~r)
em um dado ponto ~r do espa o pode ent~ao ser obtida omo a probabilidade de en ontrar um
ele tron em ~r independentemente da posi ~ao dos outros ele trons que, em vista da simetria da
densidade de Z ele trons, pode ser al ulada omo
(~r) =
X Z
s1 :::sZ
d3 r
2 :::
d3 rZ jh~rs1 ; ~r2 s2 ; :::; ~rZ sZ j Z ij2 =
Z
X
i=1
jki (~r)j2:
(7.18)
A redu ~ao das somas e integra ~oes multiplas a forma simples da ultima express~ao envolve apenas a ortonormalidade das diferentes fun ~oes de onda de um ele tron utilizadas na onstru ~ao
do determinante. Ela pode ser feita tambem utilizando o re urso de substituir um dos determinantes pelo produto n~ao anti-simetrizado das fun ~oes de onda de um ele tron e ajustando as
onstantes de normaliza ~ao, omo observado na se ~ao 7.1.2. Deve ser observado, porem, que
a mesma distribui ~ao eletrôni a e dada tambem por uma fun ~ao de onda es rita simplesmente
omo o produto n~ao anti-simetrizado das mesmas Z fun ~oes de onda de um ele tron utilizadas
na onstru ~ao do determinante. Portanto, o uni o ingrediente referente ao arater fermiôni o
dos ele trons que e preservado em (~r) e o fato de que essas Z fun ~oes de onda devem ser
diferentes, devido as restri ~oes ligadas ao prin pio de ex lus~ao. Efeitos de tro a, em parti ular,
est~ao ompletamente ausentes em (~r).
376
A densidade eletrôni a (~r) impli a numa distribui ~ao espa ial de arga (~r) = e(~r) que
pode ser usada para determinar um poten ial eletrostati o (~r) atraves da equa ~ao de Poisson
r2(~r) = 4 [Ze(~r) + (~r)
(7.19)
om as ondi ~oes de ontorno

8
>
>
>
<
(~r) ! >
>
>
:
Ze
r
para r ! 0
para r ! 1
A ondi ~ao de auto- onsistên ia para o poten ial V (~r) pode ent~ao ser expressa pela rela ~ao
e(~r) = V (~r)
(7.20)
isto e, o poten ial eletrostati o gerado pela distribui ~ao de argas resultante de V (~r) reproduz
esse mesmo poten ial.
A solu ~ao da equa ~ao de Poisson (7.19) om as ondi ~oes de ontorno requeridas pode ser
es rita omo
Ze Z 3 0 (~r 0 )
+ dr
(~r) =
r
j~r ~r 0j
que, usando a ondi ~ao (7.20) e exprimindo a densidade de arga (~r) em termos da densidade
eletrôni a (7.18) da, para o poten ial medio auto- onsistente de Hartree V (~r)
Z
Ze2 Z 3 0 e2 X
V (~r) =
j
ki (~r 0 )j2
(7.21)
+ dr
0
r
j~r ~r j i=1
que tem a forma intuitivamente transparente da soma do poten ial devido a arga nu lear om
um termo adi ional dado a media do poten ial oulombiano repulsivo entre ele trons tomada
sôbre a densidade eletrôni a. Esse poten ial determina, por outro lado, os estados de um
ele tron k (~r) atraves da \equa ~ao de autovalores"
#
"
Z
Ze2 Z 3 0 e2 X
p2
0 2
+ dr
(7.22)
2 me
r
j~r ~r 0j i=1 jki (~r )j k (~r) = k k (~r)
que dene na realidade um sistema de equa ~oes n~ao lineares a opladas devido a presen a dos
orbitais ki (~r) na ontribui ~ao eletrôni a para o poten ial medio de Hartree. Essas equa ~oes
de Hartree s~ao em geral tratadas apenas numeri amente e atraves de pro edimentos iterativos.
A partir de uma es olha ini ial para V (~r) (para o que e possvel utilizar, por exemplo, o
377
poten ial de Thomas-Fermi) e determinada uma vers~ao ini ial para os orbitais, om a qual um
novo poten ial e gerado usando a rela ~ao (7.21). Caso esse poten ial seja diferente do utilizado
ini ialmente, e possvel obter om ele novos orbitais e repetir o i lo ate obter auto- onsistên ia,
no sentido que o poten ial al ulado a partir dos orbitais atraves de (7.21) reproduza o poten ial
utilizado para gera-los.
As fun ~oes de onda de um ele tron que resolvem auto- onsistentemente as equa ~oes (7.22)
denem ao mesmo tempo um onjunto de \energias de Hartree" de um ele tron k que podem
ser es ritas tambem omo
k =
p2
d3 rk (~r)
2me
Z
Z
Z
X
e2
Ze2
3
0 2
k (~r) + d r d3 r0 jk (~r)j2
0 j jki (~r )j :
r
j
~
r
~
r
i=1
A soma das energias de Hartree orrespondentes aos estados o upados pode portanto ser es rita
Z
X
j =1
kj =
Z
X
hkj j 2pm
j =1
Z
X
e2
Ze2
h
ki kj j
j
kj i +
r
j~r ~r 0j jki kj i:
i;j =1
(7.23)
Os termos de um orpo dessa rela ~ao ( orrespondentes a energia ineti a e ao poten ial oulombiano do nu leo), omo pode ser veri ado pelo al ulo expl ito, podem ser es ritos omo
o valor medio de
H0 =
Z
X
i=1
Ze2
ri
p2i
2me
no estado determinantal (7.17) ou, equivalentemente, no estado produto, n~ao anti-simetrizado
~r1 s1 ; :::; ~rZ sZ (prod)

Z
i=
Z
Y
i=1
ki (~ri )mi (si );
isto e,
Z
X
h Z jH0j Z i = h (prod)
jH0j (prod)
i = hkj j 2pm
Z
Z
j =1
Ze2
j i:
r kj
(7.24)
O termo de dois orpos de (7.23) ( orrespondente a intera ~ao oulombiana entre ele trons), por
outro lado, pode ser es rito omo
Z
X
(prod)
Z
i;j =1
e2
jr~i r~j j j
(prod)
Z
i=
d3 r
d3 r0
378
Z
X
i;j =1
jki (~r)j2 j~r e ~r 0j jkj (~r 0)j2
(7.25)
e difere por termos de tro a ( f. equa ~oes (7.6) e (7.7)) da media orrespondente no estado
determinantal j Z i, que e dada por
h Z j
Z
X
e2
j Z i
i;j =1 jr~i r~j j
Z
X
i;j =1
Z
X
d3 r d3 r0
d3 r
d3 r0
i;j =1
jki (~r)j2 j~r e ~r 0j jkj (~r 0)j2

ki (~r)kj (~r 0 )
e2
(7.26)
0
j~r ~r 0 j kj (~r)ki (~r )mimj :
E importante notar que, omo observado anteriormente em onex~ao om a equa ~ao (7.7), o
termo de tro a in lui uma dependên ia de spins, que apare e aqui atraves do delta de Krone ker
das fun ~oes de onda de spin.
Usando esses resultados, a soma das energias de Hartree de uma part ula (7.23) pode ser
es rita em termos de um valor medio no estado produto j prod
Z i omo
Z
X
j =1
kj =
=
H0
prod
Z
Z
X
e2
j
prod
Z i
i;j =1 jr~i r~j j
1 prod
prod
h prod
Z jH j Z i + 2 h Z j
Z
X
e2
j prod
Z i
j
r
~
r
~
j
j
i;j =1 i
onde H e o Hamiltoniano atômi o es rito em (7.12). Isso mostra que a soma das energias de
Hartree orrespondentes aos estados de um ele tron in ludos na fun ~ao de onda produto difere
do valor medio do Hamiltoniano nessa mesma fun ~ao produto por uma dupla ontagem dos
termos provenientes da intera ~ao ele tron-ele tron.
Por outro lado, n~ao e dif il veri ar que os orbitais que satisfazem as equa ~oes de Hartree
(7.22) d~ao um extremo do fun ional de energia
prod
Z
jH j
prod
Z
Z
X
p2
Ze2
hkj j 2m
=
j i
r kj
e
j =1
Z
1Z 3 Z 3 0 X
e2
0 2
+
j
ki (~r)j2
dr dr
0 j jkj (~r )j :
2
j
~
r
~
r
i;j =1
De fato, variando ki (~r) (ou, equivalentemente, os bras hki j), e introduzindo multipli adores
de Lagrange ki para ter em onta a ondi ~ao de normaliza ~ao hki jki i = 1, da ondi ~ao de
extremo varia ional
379
prod
Z
jH j
prod
Z
ki hki jki i = 0
resultam as equa ~oes de Hartree (7.22). O an elamento do fator 1=2 do termo de dois ele trons
que leva a ontagem dupla da energia de intera ~ao ele tron-ele tron na soma das energias de
Hartree se deve a existên ia de duas fun ~oes ki (~r) nos elementos de matriz de dois ele trons.
A energia do atomo na aproxima ~ao de Hartree EH deve portanto ser identi ada om o valor
desse fun ional quando al ulado om as solu ~oes das equa ~oes de Hartree, e sua rela ~ao om
as energias asso iadas aos orbitais de um ele tron e dada pelas express~oes equivalentes
EH =
Z
1 prod X
e2
1
h
Z j
j
prod
i
=
Z
2
2
i;j =1 jr~i r~j j
ki
(prod)
Z
j j
H0 (prod)
Z
i+
k i :
Esse pro edimento varia ional para obter as equa ~oes de Hartree sugere imediatamente
uma forma de in luir na aproxima ~ao auto onsistente os efeitos de tro a asso iados a intera ~ao
ele tron-ele tron. Ela onsiste simplesmente em substituir o fun ional de energia al ulado
om a fun ~ao de onda produto pelo que se obtem utilizando a fun ~ao de onda determinantal
j Z i. A equa ~ao (7.24) mostra que os termos de um ele tron n~ao s~ao modi ados por essa
substitui ~ao, enquanto que a express~ao (7.25) deve ser substituda pela (7.26) no aso dos
termos que des revem a intera ~ao ele tron-ele tron. Esta ultima express~ao in lui os efeitos de
tro a, e a ondi ~ao varia ional ( om os devidos multipli adores de Lagrange para assegurar a
normaliza ~ao dos orbitais de um ele tron)
h Z jH j Z i
leva as equa ~oes de Hartree-Fo k

"
p2
2me
ki hki jki i = 0
(7.27)
Z
e2 X
0 2
(7.28)
j~r ~r 0j i=1 jki (~r )j k (~r)
!
Z
X
e2
0

0
3
0
ki (~r )
dr
0 j ki (~r)mi m k (~r ) = k k (~r):
j
~
r
~
r
i=1
Ze2
k (~r) +
r
d3 r0
para os orbitais de um ele tron. Essas equa ~oes oin idem om as equa ~oes de Hartree (7.22)
a menos do ultimo termo do lado esquerdo, proveniente das ontribui ~oes de tro a. Esse
termo traz uma dependên ia do spin atraves do delta de Krone ker das fun ~oes de onda de
380
spin. Segundo uma interpreta ~ao usual dessas equa ~oes, elas identi am um poten ial de um
orpo efetivo para os orbitais de um ele tron que in lui, alem do poten ial oulombiano nu lear
Ze2 =r, um poten ial medio proveniente da repuls~ao oulombiana entre ele trons que ontem
um termo direto idênti o ao que apare e nas equa ~oes de Hartree
Vd (~r) =
d3 r0
Z
e2 X
0 2
j~r ~r 0j i=1 jki (~r )j
(7.29)
e um termo de tro a n~ao lo al e dependente de spin

Z
X
e2 0 0
j~r ~r 0j ki (~r )mi (s )
i=1
uja a ~ao sobre um estado k (~r)m (s) e dada por
Vt (~r; ~r 0 ; s0 ) =
[Vt k (~r) =
XZ
s0
ki (~r)
(7.30)
d3 r0 Vt (~r; ~r 0 ; s0 )k (~r 0 )m (s0 )
A soma sobre a variavel de spin nesta ultima express~ao reproduz o delta de Krone ker das
fun ~oes de onda de spin que apare e em (7.28).
A dependên ia de spin que apare e nas equa ~oes de Hartree-Fo k (7.28) atraves dos
efeitos de tro a mere e alguns omentarios adi ionais. Em primeiro lugar, vale a pena
enfatizar que essas equa ~oes foram obtidas espe i amente para o Hamiltoniano (7.12)
que e, em parti ular, independente dos spins. No aso de atomos om um numero par
de ele trons, e em que o determinante (7.17) e onstrudo de forma que ada orbital
seja o upado por dois ele trons om fun ~oes de onda de spin diferentes (um tal estado
atômi o e as vezes hamado \estado om spin saturado") ent~ao o delta de Krone ker do
termo de tro a apenas ex lui a ontribui ~ao de um dos ele trons de ada orbital, de modo
que a dependên ia om ~r e ~r 0 e a mesma para as duas proje ~oes possveis do spin m.
No aso de spin \n~ao saturado", no entanto, essa dependên ia sera diferente para ada
um dos dois valores possveis de m. Nesse aso os orbitais k (r) que orrespondem a
solu ~ao auto onsistente (isto e, que resolvem as equa ~oes de Hartree-Fo k) adquirem uma
dependên ia de m, e estados om valores diferentes de m n~ao ser~ao em geral ortogonais,
pois s~ao nesse aso autofun o~es de Hamiltonianos om poten iais diferentes. Isso porem
n~ao prejudi a a onstru ~ao do determinante (7.17), dado que as fun ~oes de onda de spin
asseguram a ortogonalidade dos estados de um ele tron ompletos, isto e, in luindo o fator
de spin. Um exemplo on reto que envolve uma situa ~ao deste tipo apare e no problema
7.3.
Embora de uso orrente no ontexto da fsi a atômi a4 , estados de um ele tron om
dependên ia de spin fatorizada (v. equa a~o (7.17)), que levam a equa a~o (7.28), n~ao
v., e.g., H. P. Kelly, Phys. Rev.
131
, 684 (1963), parti ularmente a equa a~o (4.3).
381
orrespondem a es olha mais geral que pode ser feita e impli a, em prin pio, na introdu a~o
de um vn ulo restritivo que pode ser importante no aso de sistemas de spin n~ao saturado.
O tipo mais geral de estado de um ele tron orresponde, na realidade, a \spin-orbitais"
da forma
!
k+ (~r)
k (~r)
que n~ao s~ao em geral autovetores de S3 , ao ontrario do que o orre om os estados empregados em (7.17). A utiliza ~ao desses \spin-orbitais" mais gerais permite o apare imento
de dependên ias de spin tambem mais gerais no termo de tro a, o que permite des rever
efeitos mais gerais de orrela ~ao spin-posi ~ao.
A energia do sistema atômi o na aproxima ~ao de Hartree-Fo k e dada por
EHF = h Z jH j Z i
supondo o estado determinantal normalizado de a ordo om h Z j Z i = 1. Usando as equa ~oes
de Hartree-Fo k e as express~oes (7.24) e (7.26) essa energia pode ser rela ionada om as energias
de Hartree-Fo k k atraves das duas express~oes equivalentes
EHF =
ki
Z
X
e2
1
1
h
Z j
j
Z i =
2
2
i;j =1 jr~i r~j j
h Z jH0j Z i +
ki
que s~ao analogas as que valem para a aproxima ~ao de Hartree.
Finalmente, abe observar que o uso das aproxima ~oes de Thomas-Fermi, Hartree e de
Hartree-Fo k n~ao se restringe ao problema da estrutura atômi a. Aproxima ~oes de ampo
medio desse mesmo tipo s~ao de fato intensamente usada para outros sistemas que envolvem
muitas part ulas idênti as, notadamente estados eletrôni os em solidos e nu leos atômi os.
Metodos analogos s~ao tambem apli aveis a sistemas de muitos bosons idênti os, e têm um
papel importante no tratamento de ondensados de bosons aprisionados em poten iais externos
onnantes, a temperaturas muito baixas.
7.3
M
etodos de \segunda quantiza
~
ao" para sistemas de
muitas part
ulas id^
enti as.
O espa o de Hilbert que fun iona na me âni a quânti a omo espa o de fases para um sistema de N bosons ou fermions idênti os pode sempre ser realizado omo o setor simetri o ou
anti-simetri o do produto de N espa os de uma par ula. Dessa forma, o numero de part ulas
382
N entra na formula ~ao omo um ingrediente inemati o \a priori" asso iado ao sistema a ser
estudado. Em muitas situa ~oes (por exemplo, situa ~oes em que podem o orrer a ria ~ao e a
aniquila ~ao de part ulas, mas tambem, omo sera visto a seguir, para simpli ar determinados
aspe tos do tratamento da inemati a quânti a de sistemas de muitas part ulas ujo numero
e onservado) e ne essario ou pelo menos onveniente utilizar um tipo alternativo de tratamento em termos de \ ampos quantizados" no qual o numero de part ulas apare e n~ao dessa
forma, mas omo uma variavel dinâmi a, e as propriedades de simetria ou anti-simetria s~ao
implementadas algebri amente.
Respe tivamente nos asos de bosons e de fermions idênti os de spin s (inteiro no primeiro
aso, semi-inteiro no segundo), os ampos quantizados relevantes s~ao onjuntos innitos (de
fato, ontnuamente innitos) de operadores m (~r) onde o rotulo m se refere ao estado do spin
(e.g. m sendo o autovalor de S3 em unidades de h , s m s) e ~r se refere a uma posi ~ao no
espa o (e que n~ao deve ser onfundido om a variavel dinâmi a de posi ~ao da part ula usada
na formula ~ao usual). Cada um desses onjuntos ontnuamente innitos onsiste portanto de
uma ole ~ao de 2s + 1 operadores asso iada a ada ponto do espa o. Os operadores m (~r) s~ao
operadores lineares mas n~ao hermiteanos, isto e m (~r) 6= my (~r), que agem sobre vetores de
um espa de Hilbert, que sera hamado espa o de Fo k, ujos elementos v~ao ser designados
generi amente tambem por kets j i. Esses operadores s~ao ara terizados ainda pelas rela ~oes
de omuta ~ao
bosons :
0 )i = 0 (~r
mm
0
[ m (~r); m0 (~r ) = 0
y
r); m0 (~r
m (~
~r 0 )
(7.31)
e
fermions :
f
f
r); m0 (~r )
m (~
r); m0 (~r 0 )
m (~
g
g
= mm0 (~r ~r 0 )
= 0
(7.32)
onde o smbolo fa; bg indi a o anti omutador de a e b, ab + ba. Am de evitar quest~oes te ni as
ligadas a natureza singular das equa ~oes (7.31) e (7.32) impli ada pelas fun ~oes delta de Dira ,
e onveniente expandir a dependên ia de ~r dos operadores de ampo m (~r) em termos de um
onjunto ortonormal e ompleto de fun ~oes k (~r)
Z
d3 r k (~r)k0 (~r) = kk0 ;
es revendo-os sob a forma

383
k (~r)k (~r 0 ) = (~r ~r 0 )
r)
m (~
k (~r)akm :
(7.33)
Os oe ientes akm (que na realidade s~ao operadores) podem por sua vez ser expressos em
termos dos m (~r) omo
Z
akm =
d3 r k (~r)
r)
m (~
(7.34)
e as rela ~oes de omuta ~ao e anti omuta ~ao, (7.31) e (7.32) juntamente om as rela ~oes de
ortonormalidade e ompleteza das fun ~oes k (~r) mostram que eles, por sua vez, satisfazem
tambem as rela ~oes de omuta ~ao e anti- omuta ~ao
bosons :
akm ; ayk0m0 = kk0 mm0

[akm ; ak0 m0 = 0:
(7.35)
fakm ; ayk0m0 g
fakm ; ak0m0 g
(7.36)
e
fermions :
= kk0 mm0
= 0:
Tanto no aso de bosons omo no de fermions, uma lasse importante de operadores que e
possvel onstruir, seja a partir dos operadores de ampo m (~r) seja a partir de suas omponentes denidas em termos de uma base ortonormal omo na equa ~ao (7.34), e a dos hamados
operadores de numero. No primeiro aso os operadores interessantes s~ao
Nm =
d~r my (~r)
r)
m (~
N=
Nm
(7.37)
enquanto que, utilizando as omponentes denidas em (7.34), eles s~ao
Nkm = aykm akm ;
Nm =
aykm akm e N =
Nm :
E laro que as duas deni ~oes dos operadores Nm e N oin idem, em vista da rela ~ao (7.34). A
motiva ~ao para o nome dado a esses operadores apare e laramente quando se examina as suas
rela ~oes de omuta ~ao om os operadores de ampo ou om os aykm ; akm . Essas rela ~oes podem
ser obtidas fa ilmente a partir da deni ~ao dos operadores e das rela ~oes basi as de omuta ~ao
(7.31), (7.32) e (7.35), (7.36) do que resulta, tanto no aso de bosons omo no de fermions
384
[Nm ;
h
r)
m0 (~
= mm0
r);
m0 (~
Nm ; my 0 (~r) = mm0 my 0 (~r);
[N;
h
r)
m0 (~
r);
m0 (~
N; my 0 (~r) = my 0 (~r)
(7.38)
e ainda
[Nkm ; ak0 m0i = kk0 mm0 ak0 m0 ;
Nkm ; ayk0 m0 = kk0 mm0 ayk0 m0 ;
[N; akm0 = akm0 ;

i
h
N; aykm0 = aykm0 :
[Nm ; akm0 = mm0 akm0 ;

i
h
Nm ; aykm0 = mm0 aykm0 ;
(7.39)
Essas rela ~oes têm uma semelhan a lara om as que foram utilizadas na se ~ao 3.1.1 para
determinar o espe tro do os ilador harmôni o. Elas podem por isso ser usadas para obter, de
uma forma inteiramente analoga, o espe tro dos operadores Nm , Nm e N . Os ingredientes
ne essarios para isso s~ao, de fato, as rela ~oes de omuta ~ao e propriedades geometri as gerais
( omo a positividade da norma) dos vetores do espa o de Fo k. Uma primeira observa ~ao a ser
feita e a de que
y =N
Nkm
km
[Nkm ; Nk0 m0 = 0
(bosons ou fermions);
isto e, tanto Nm omo N s~ao es ritos omo uma soma de operadores hermiteanos que omutam entre si ( ompatveis) e que portanto podem ser todos diagonalizados simultaneamente.
Dessa forma, os autovalores desses dois operadores poder~ao ser sempre es ritos omo somas
de autovalores dos Nkm . Para obter estes ultimos basta observar, omo no aso do os ilador
harmôni o, que das primeiras duas rela ~oes (7.39), e supondo que jnkm i seja um autovetor de
Nkm om autovalor nkm , segue que
h
Nkm aykm jnkm i = aykm Nkm jnkm i + Nkm ; aykm jnkm i = (nkm + 1)aykm jnkm i se aykm jnkm i 6= 0
e
Nkm akm jnkm i = akm Nkm jnkmi + [Nkm ; akm jnkm i = (nkm
Por outro lado,
385
1)akm jnkm i se akm jnkm i 6= 0:
nkm = hnkm jNkmjnkm i = hnkm jaykm akm jnkm i 0
pois essa quantidade e a norma do vetor akm jnkm i. Dessas rela ~oes de orre portanto que os
autovalores nkm devem ser numeros inteiros n~ao negativos, e que
akm jnkm = 0i = 0:
Esses resultados s~ao validos tanto para bosons quanto para fermions. Neste ultimo aso, no
2
entanto, segue das rela ~oes de anti- omuta ~ao (7.36) que aykm
0, de modo que
2
aykm
jnkm = 0i = aykmjnkm = 1i = 0
de modo que os autovalores de Nkm s~ao apenas 0 e 1 no aso de fermions. Esse mesmo resultado
pode ser obtido notando que, no aso de fermions, os operadores Nkm s~ao na realidade operadores
de proje ~ao, que satisfazem portanto as rela ~oes (v. problema 7.5)
y
2 =N
Nkm
km = Nkm
(fermions):
Como onsequên ia desses fatos e da deni ~ao de Nm e de N omo soma dos Nkm , os
espe tros de Nm e de N onsistem dos inteiros 0, 1, 2, .... Esses operadores s~ao interpretados
omo asso iados respe tivamente ao numero de part ulas no estado de spin m e ao numero
total de part ulas. Isso na realidade torna essa quantidade uma variavel dinâmi a asso iada
a um operador no espa o de Fo k, omo men ionado ini ialmente. O autovetor de N om
autovalor 0, j0i, e o autovetor simultâneo de todos os Nkm om autovalor zero, o que de a ordo
om a interpreta ~ao de N orresponde ao \va uo", isto e, ao estado sem nenhuma part ula. Os
operadores aykm e akm , por outro lado, fun ionam omo operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao
de part ulas. A natureza bosôni a ou fermiôni a das part ulas e determinada pelas rela ~oes
de omuta ~ao ou anti- omuta ~ao satisfeitas pelos operadores de ampo. Autovetores de Nm
e de N om autovalores m > 0, > 0 s~ao obtidos atuando sobre j0i om operadores de
ria ~ao. No aso de fermions, esses operadores devem ser todos diferentes, ja que o produto de
dois operadores iguais e nulo devido a propriedade de anti omutatividade dos operadores de
ampo.
7.3.1 Estados no espa o de Fo k e fun ~oes de onda de muitas

part ulas idênti as.
Para ompletar a interpreta ~ao desse esquema e pre iso ainda expli itar a natureza dos estados
quânti os de muitas part ulas que s~ao obtidos apli ando su essivamente varios operadores de
386
ria ~ao sôbre o va uo. Isso pode ser feito interpretando o operador de ampo my (~r) omo
operador de ria ~ao de uma part ula om proje ~ao de spin m no ponto ~r, isto e
y
r)
s (~
j0i = j~rsi:
Consistentemente om isso, aykm ria um fermion om spin m no estado uja fun ~ao de onda
(amplitude de probabilidade) e k (~r) ( f. equa ~ao (7.34)):
jkmi = aykm j0i:

A onsistên ia dessas interpreta ~oes pode ser veri ada al ulando a fun ~ao de onda
h~rsjkmi = h0j s(~r)aykm j0i = k (~r)sm = k (~r)m(s)
(7.40)
o que resulta do uso da equa ~ao (7.34) e das rela ~oes (7.31) ou (7.32). Expli itamente
Z
h0j s(~r)aykmj0i = d~rh0j s(~r) my (~r 0)j0ik (~r 0) = d~r 0 (~r ~r 0 )smk (r~0) = k (~r)m(s)
onde foi usado o resultado s (~r)j0i = 0, que pode ser deduzido de que j0i e o autovetor omum
de todos os Nkm om autovalor zero. Desse modo aksj0i = 0 para quaisquer ks, e tambem
r)j0i = 0 para quaisquer s e ~r em virtude de (7.33). Isso mostra ainda que qualquer
s (~
operador de aniquila ~ao da um resultado nulo quando agindo sobre o va uo.
Essa orrespondên ia entre vetores do espa o de Fo k e fun ~oes de onda pode ser estendida
fa ilmente para estados om mais de uma part ula. Os vetores do espa o de Fo k a onsiderar
nesse aso s~ao vetores do tipo
(7.41)
aykn mn ::: ayk1 m1 j0i:
No aso da estatsti a de Fermi, e fa il veri ar que esses vetores têm norma 0 ou 1. De fato, se
dois ou mais operadores aykm s~ao iguais, as propriedades de anti- omuta ~ao desses operadores
garantem que a norma e nula. Se, no entanto, todos os operadores de ria ~ao utilizados s~ao
distintos, e possvel es rever
h0jak1m1 ::: akn mn ayknmn ::: ayk1m1 j0i =

1 aykn mn akn mn aykn 1 mn 1 ::: ayk1 m1 j0i:

O operador de aniquila ~ao akn mn pode porem ser levado neste aso a agir diretamente sobre o
va uo introduzindo apenas uma fase adi ional ( 1)n 1 , o que mostra que o termo que ontem
esse operador e nulo. Disso segue ent~ao que
=
h0jak1m1 ::: akn
1 mn 1
387
h0jak1m1 ::: aknmn ayknmn ::: ayk1m1 j0i = h0jak1m1 ::: akn
1 mn 1 akn 1 mn 1
::: ayk1 m1 j0i
que orresponde a norma de um vetor do mesmo tipo que o vetor de partida mas agora om
n 1 operadores de ria ~ao. O mesmo pro edimento pode portanto ser repetido outras n 1
vezes levando nalmente a
h0jak1m1 ::: akn mn ayknmn ::: ayk1 m1 j0i = h0j0i = 1
(fermions):
No aso de bosons, a quest~ao da normaliza ~ao dos estados do tipo (7.41) e ligeiramente mais
ompli ada devido a possibilidade de riar mais de um boson no mesmo estado de uma part ula.
Pro edendo omo no aso de fermions, mas tendo em onta as rela ~oes de omuta ~ao bosôni as,
a ontribui ~ao do termo envolvendo aykn mn akn mn n~ao e em geral nula, mas igual a nkn mn 1 onde
nkn mn e o numero de operadores de ria ~ao iguais a aykn mn no estado ini ialmente onsiderado.
Um pro edimento re ursivo semelhante ao utilizado no aso de fermions leva ent~ao a
h0jak1m1 ::: aknmn aykn mn ::: ayk1m1 j0i =
(q !) h0j0i =
(q !)
(bosons)
onde os q s~ao as multipli idades

da o orrên ia de ada tipo distinto de operador de ria ~ao no
P
estado onsiderado, om q q = n. Os vetores normalizados s~ao portanto
"
(q !)
1
2 y
a
kn mn
::: ayk1 m1 j0i:
Vale a pena observar que esse resultado se apli a tambem ao aso de fermions, dado que todos
os q devem ser ent~ao iguais a 1.
Fun ~oes de onda orrespondentes a tais estados do espa o de Fo k podem ser obtidas atraves
de uma extens~ao natural da rela ~ao (7.40). O objeto a ser onsiderado pode ser es rito, tanto
no aso de bosons omo no de fermions, omo
~ k1 m1 :::knmn (~r1 s1 ; :::; r~nsn ) = h0j s1 (r~1 ) :::

sn
(r~ )ay
n
kn mn
::: ay
k1 m1
j 0i
"
Y
(q !)
1
2
que orresponde ao produto es alar de um estado normalizado do tipo (7.41) om

sn (r~n )
y :::
s1 (r~1 )
y j 0i:
Em primeiro lugar, e pre iso veri ar as propriedades de normaliza ~ao dessas fun ~oes de onda
de muitas part ulas. Isso e feito al ulando
388
h ~ fkimig j ~ fkimig i
"
# 1
(q !)
XZ
si
h0jak1m1 ::: akn mn

"
# 1
(q !)
XZ
si
d3 r
sn (r~n )
XZ
si
d3 r1 :::
:::
~ k1 m1 :::knmn (~r1 s1 ; :::; r~n sn ) =

d3 rn
d3 rn
::: sy1 (r~1 )j0ih0j s1 (r~1 ) :::
d3 r1 :::
sn (r~n )akn mn
::: ayk1 m1 j0i
d3 rn
::: sy1 (r~1 ) s1 (r~1 ) ::: sn (r~n )aykn mn ::: ayk1 m1 j0i:
A elimina ~ao da proje ~ao sobre o va uo j0ih0j no integrando e possvel porque os n operadores
de ria ~ao que agem sobre o va uo do lado direito s~ao seguidos de n operadores de aniquila ~ao
(sob a forma dos operadores de ampo si (r~i )). Desse modo, a proje ~ao sobre o va uo pode ser
substituda por uma resolu ~ao da unidade do espa o de Fo k es rita omo
h0jak1m1 ::: akn mn
sn (r~n )
^1Fo k =
fnki mi g
jfnkimi gihffnkimi gj
pois a uni a ontribui ~ao provem, de qualquer modo, do termo de va uo, no qual todos os
nki mi s~ao nulos. Usando em seguida a deni ~ao (7.37) do operador numero N e as rela ~oes de
omuta ~ao (7.38), o valor esperado no va uo que apare e no integrando pode ser expresso omo
h0jak1m1 ::: aknmn N (N
1):::1 aykn mn ::: ayk1 m1 j0i = n!h0jak1 m1 ::: akn mn aykn mn ::: ayk1 m1 j0i =
= n!
(q !) :
Isso mostra nalmente que a forma normalizada das fun ~oes de onda de n part ulas deve ser
es rita, tanto no aso de bosons omo no de fermions, omo
"
k1 m1 :::knmn (~r1 s1 ; :::; r~n sn ) = n!
(q !)
1
2
h0j
389
s1 (r~1 )
:::
sn (r~n )akn mn
::: ayk1 m1 j0i:
(7.42)
No aso de fermions as multipli idades q s~ao todas iguais a 1, enquanto no aso de bosons a
uni a restri ~ao existente e a de que a soma dos q deve ser igual ao numero total de part ulas
n.
Resta, nalmente, examinar a natureza das fun ~oes de onda normalizadas. Para isso e
onveniente examinar antes um aso parti ular expl ito, que pode ser em seguida ser estendido
ao aso geral sem maiores di uldades. A fun ~ao de onda normalizada de duas part ulas
(bosons ou fermions)
p 1 h0j
2 !
s1 (r~1 ) s2 (r~2 )ak2 m2 ak1 m1
j 0i =
(7.43)
1 Z 3 0Z 3 0
d r1 d r2 h0j s1 (r~1 ) s2 (r~2 ) my 2 (~r2 0 ) my 1 (~r1 0 )j0i k2 (~r2 0 )k1 (~r1 0 )
= p
2 !
(onde = 2 para de dois bosons om k1 m1 = k2 m2 e = 1 em todos os outros asos) pode ser
al ulada, omo foi feito para a fun ~ao de uma part ula (7.40), usando as regras de omuta ~ao
(ou anti- omuta ~ao) para levar os operadores de aniquila ~ao a agirem sobre o va uo, om
resultado nulo. As ontribui ~oes n~ao nulas provem portanto das fun ~oes delta dos omutadores
ou anti- omutadores, que podem ser integradas imediatamente. De forma mais expl ita, e
onsiderando o aso de fermions para xar ideias, o produto de quatro operadores de ampo
pode ser re-es rito omo
y
r2
s1 (r~1 ) s2 (r~2 ) m2 (~
=
s1 (r~1 )
0 ) y (~r 0 ) =
m1 1
y r 0 )g y (~r 0 )
s2 (r~2 ) m2 (~
2
m1 1
~r2 0 )s2 m2 my 1 (~r1 0 )
y r 0 ) (r~ ) y (~r 0 )
s1 (r~1 ) m2 (~
2
s2 2 m1 1
y r 0 ) (r~ ) y (~r 0 );
s1 (r~1 ) m2 (~
2
s2 2 m1 1
= s1 (r~1 ) (r~2
o primeiro termo da ultima linha pode ser ainda transformado de a ordo om
(7.44)
(7.45)
(7.46)
(r~2 ~r2 0 )s2 m2 s1 (r~1 ) my 1 (~r1 0 ) =

= (r~2 ~r2 0 )s2 m2 (r~1 ~r1 0 )s1 m1 (r~2 ~r2 0 )s2 m2 my 1 (~r1 0 ) s1 (~r1 )
sendo que a ontribui ~ao deste ultimo termo e nula, pois ele ontem um operador de aniquila ~ao
a direita, que vai agir diretamente sobre o va uo. O ultimo termo de (7.44) pode ser tratado
da mesma forma, dando uma ontribui ~ao
390
(r~1 ~r2 0 )s1 m2 (r~2 ~r1 0 )s2 m1

mais termos nulos, por envolver operadores de aniquila ~ao agindo sobre o va uo. Levando os
termos n~ao nulos (produtos de fun ~oes delta) a equa ~ao (7.43) resulta nalmente
p1 h0j
2
s1 (r~1 ) s2 (r~2 )ak2 m2 ak1 m1
j0i = p12
det B

k1 (r~1 )m1 (s1 ) k1 (r~2 )m1 (s2 )
1
C
A
k2 (r~1 )m2 (s1 ) k2 (r~2 )m2 (s2 )

Esse resultado mostra expli itamente que a express~ao (7.43) e (no aso onsiderado, de fermions)
a fun ~ao de onda antissimetrizada de duas part ulas dada omo o determinante de Slater
formado pelas fun ~oes de onda de uma part ula k1 e k2 e om os estados de spin m1 e m2 .
De uma forma ompletamente analoga e possvel veri ar, no aso de dois bosons, que a fun ~ao
de onda e uma fun ~ao simetrizada das duas part ulas, des rita em termos de um permanente.
No aso geral de estados de n part ulas o que se obtem para as fun ~oes de onda normalizadas
e
1
k1 (r~1 )m1 (s1 ) ::: k1 (r~n )m1 (sn )

1
C
:::
:::
:::
k1 m1 :::knmn (~r1 s1 ; :::; r~n sn ) = p det B
A

n!
kn (r~1 )mn (s1 ) ::: kn (r~n )mn (sn )
X
p1 ( 1)P P k1 (r~1 )m1 (s1) ::: kn (r~n)mn (sn)
n! P
para o aso de fermions e
1
k1 m1 :::knmn (~r1 s1 ; :::; r~nsn ) =
n!
n!
q q !
perm B

X
q q !
k1 (r~1 )m1 (s1 ) ::: k1 (r~n )m1 (sn )

:::
:::
:::
kn (r~1 )mn (s1 ) ::: kn (r~n )mn (sn )
1
C
A
P k1 (r~1 )m1 (s1 ) ::: kn (r~n )mn (sn )
para o aso de bosons.

Na se ~ao 7.1.1 foram onstrudas bases, respe tivamente no setor simetri o e anti-simetri o
do espa o de estados de sistemas de muitas part ulas, sob a forma de permanentes e de determinantes de estados de uma part ula. Os resultados a ima permitem ent~ao asso iar esses estados
de base a vetores dos espa os de Fo k de bosons e de fermions de a ordo om a pres ri ~ao
391
v
u
u
tQ
n!
g g !
Sjk1 m1 ; :::; knmni $
n! Ajk1 m1 ; :::; knmn i
qQ
g g !
aykn mn :::ayk1 m1 j0i
$ ayknmn :::ayk1 m1 j0i
(bosons)
(fermions):
(7.47)
Um estado qualquer de muitos bosons ou fermions idênti os pode portanto ser representado em
termos de um vetor do espa o de Fo k es rito omo uma ombina ~ao linear de vetores do tipo
(7.47).
7.3.2 Variaveis dinâmi as no espa o de Fo k.

Para ompletar a transi ~ao do espa o produto para o espa o de Fo k e pre iso ainda obter a
representa ~ao das variaveis dinâmi as tambem em termos de operadores denidos nesse espa o.
A ondi ~ao que dene a representa ~ao no espa o de Fo k g^ de uma variavel dinâmi a g denida
no espa o produto e a de que os elementos de matriz al ulados no espa o de Fo k devem ser
iguais aos elementos de matriz orrespondentes al ulados no espa o produto. Como estados
do tipo (7.47) s~ao bases em termos das quais e possvel es rever estados gerais, basta veri ar
a equivalên ia para elementos de matriz envolvendo estados desse tipo, isto e
Q
1
h0jak10 m1 :::akn0 mn g^ ayknmn :::ayk1m1 j0i h fki0 m0ig jgj fkimig i:

!
q q
Para determinar a forma dos operadores g^ no espa o de Fo k e onveniente lassi ar as

variaveis dinâmi as de sistemas de muitas part ulas idênti as em operadores de um orpo, de
dois orpos, et . Como ja'foi dis utido, a identidade das part ulas exige que esses operadores
sejam sempre simetri os em todas as part ulas. Um operador tpi o de um orpo e a energia
ineti a
n
X
n
X
p2i
(7.48)
= Ki
i=1 2M
i=1
que satisfaz obviamente a essa ondi ~ao de simetria. O que ara teriza um operador de um
orpo e o fato de ele ser es rito omo uma soma de termos ada um dos quais se refere a apenas
uma part ula. Um operador de dois orpos e o que se es reve omo uma soma de termos, ada
um dos quais se refere a duas part ulas, e essa lassi a ~ao se estende de maneira analoga a
um numero qualquer de orpos. Um exemplo tpi o de um operador de dois orpos e o que
des reve um poten ial agindo entre pares de part ulas
K=
392
V =
n
1 X
v (i; j )
2 i;j =1
(7.49)
onde os argumentos i; j de v indi am as variaveis apropriadas das duas part ulas envolvidas
(posi ~ao, spin, et .), v (i; j ) = v (j; i) e o fator 1=2 evita ontagem dupla, dado que ambos os
ndi es s~ao somados de 1 a n. A forma tpi a de um operador de três orpos e
W=
n
1 X
w(i; j; k)
3! i;j;k=1
onde w(i; j; k) deve ser simetri o sob permuta ~oes de seus argumentos e o fator 1=3! evita
ontagens multiplas. O numero n de part ulas que onstituem o sistema apare e em ada uma
dessas express~oes atraves do limite superior para os ndi es das somas.
Uma propriedade geral importante de elementos de matriz de operadores de p orpos entre estados da base orrespondente a n (n p) part ulas (es ritos omo determinantes ou
permanentes de n estados de uma part ula) e a de que eles se anulam sempre que os dois
determinantes ou permanentes envolvidos diferirem por mais que p estados de uma part ula.
Isso signi a, em outras palavras, que a a ~ao de um operador de p orpos sobre um estado
dado omo um determinante ou permanente pode alterar o estado de no maximo p part ulas,
abendo as restantes o papel de simples \espe tadoras". No aso de operadores de um orpo,
tomando omo exemplo a energia ineti a (7.48), um elemento de matriz tpi o tem a forma
h 0jK j i
n Z
P0 Y
1

(7.50)
Q
q ! q0 !
sj n!
j =1
PP0
X
P 0 k10 (r~1 )m01 (s1 ) ::: kn0 (r~n )m0n (sn ) Ki P k1 (r~1 )m1 (s1 ) ::: kn (r~n )mn (sn )
X
(1)P (1)
d3 rj
qQ
em que as fases (1)P orrespondem respe tivamente ao aso de permanentes e de determinantes. Cada termo desta dupla soma sobre permuta ~oes P e P 0 ontem um uni o operador
Ki , de modo que n 1 das n integra ~oes (e somas sobre variaveis de spin) orrespondem na
realidade a simples produtos es alares de estados de uma part ula, e que portanto se anulam
sempre que os estados envolvidos forem diferentes, devido as suas propriedades de ortonormalidade. Eles orrespondem nesse aso as part ulas espe tadoras, que s~ao portanto em numero
de n 1 e devem ne essariamente o upar os mesmos estados de part ula independente nos
dois determinantes ou permanentes. A integra ~ao restante leva ao elemento de matriz de uma
part ula
393
d3 ri
si
ki0 (~ri )m0q (si )Ki ki (r~i )mi (si ) hki0 m0i j
p2
jk m i
2M i i
que sera em geral diferente de zero mesmo que ki0 m0i 6= ki mi . Desse modo, no aso em que
j i difere de j 0i por um estado de uma part ula, fkimi g ! fki0 m0ig, o elemento de matriz
(7.50) e dado por
2
h 0jK j i = i i0 hki0 m0i j 2pM jkimii

q
onde i e i0 orrespondem ao numero de vezes que os estados ki mi e ki0 m0i o orrem respe tivamente em e em 0 (no aso de fermions esses dois numeros s~ao ne essariamente iguais a 1).
Isso se deve a que o operador de um orpo deve agir ne essariamente entre esses dois estados.
No aso em que j i = j 0i, por outro lado,
h jK j i =
p2
i hkimi j jki mi i
2M
onde os pesos i orrespondem ao numero de vezes que o estado ki mi o orre em . Uma

ara tersti a importante desses resultados e a de que os elementos de matriz de um operador
de um orpo entre determinantes ou permanentes e dado sempre em termos de elementos de
matriz de uma part ula.
O aso de operadores de dois ou mais orpos pode ser tratado de forma ompletamente
analoga. Para um operador de p orpos havera em ada termo da soma sobre permuta ~oes n p
part ulas espe tadoras que dever~ao ne essariamente o upar os mesmos estados de part ula
independente nos determinantes ou permanentes ini ial e nal para que sua ontribui ~ao seja
diferente de zero, e sempre que isso a onte e o resultado nal se exprime em termos de elementos
de matriz de p part ulas do tipo
hk1m1 :::kpmpjw!jk10 m01 :::kp0 m0pi =

=
p
Y
i=1
d3 ri
si
k1 (~r1 )m1 (s1 ):::kp (~rp )mp (sp) w k10 (~r1 )m01 (s1 ):::kp0 (~rp )m0p (sp ):
Uma propriedade ara tersti a de elementos de matriz de operadores dois ou mais orpos
entre estados de muitas part ulas idênti as que n~ao existe no aso de elementos de matriz de
operadores de um orpo e o apare imento de efeitos de tro a. Para entender o me anismo que
da origem a esses efeitos e su iente onsiderar um elemento de matriz de um operador de
394
dois orpos omo (7.49) entre dois determinantes j i e j 0 i que diferem em dois estados de
uma part ula, fkimi ; kj mj g ! fki0 m0i ; kj0 m0j g. Nesse aso ha n 2 part ulas espe tadoras que
devem o upar os mesmos estados de uma part ula para que o elemento de matriz n~ao se anule.
As duas fun ~oes de onda de uma part ula que sofrem a a ~ao do operador de dois orpos d~ao
origem, no entanto, ontribuem atraves de diferentes permuta ~oes P e P 0 levando a dois tipos
distintos de ontribui ~ao que diferem por uma permuta ~ao de variaveis. Expli itamente
h 0jV j i =
=
Z
Z
S1 s2
d 3 r1 d 3 r2
d 3 r1 d 3 r2
S1 s2
ki0 (~r1 )m0i (s1 )kj0 (~r2 )m0j (s2 ) v (1; 2) ki (~r1 )mi (s1 )kj (~r2 )mj (s2 )
ki0 (~r1 )m0i (s1 )kj0 (~r2 )m0j (s2 ) v (1; 2) ki (~r2 )mi (s2 )kj (~r1 )mj (s1 )
onde o duplo sinal orresponde respe tivamente aos asos de bosons e de fermions. Esses dois
termos provem na realidade da ontribui ~ao de quatro ombina ~oes distintas de permuta ~oes P
e P 0 que d~ao resultados iguais duas a duas, levando ao an elamento do fator 1=2 que apare e
em (7.49).
Os operadores do espa o de Fo k que levam a esses mesmos resultados quando al ulados
om os estados (7.47) s~ao dados por
K ! K^ =
k1 m1 k2 m2
hk2m2j 2pM jk1m1 iayk2 m2 ak1m1
(7.51)
para um operador de um orpo omo (7.48) e
! V^ = 12
k1 m1 k2 m2 k3 m3 k4 m4
hk3m3 k4m4 jvjk1m1 k2m2 iayk3m3 ayk4 m4 ak2 m2 ak1m1
(7.52)
para um operador de dois orpos omo (7.49). Os elementos de matriz que apare em nessas
express~oes s~ao os elementos de matriz de uma e duas part ulas das variaveis dinâmi as orrespondentes que apare em nos resultados al ulados em termos de determinantes ou permanentes,
isto e
Z
X
p2
p2
3

hk2m2 j 2M jk1m1 i = d r k2 (~r)m2 (s) 2M k1 (~r)m1 (s)
s
e
395
hk3m3 k4m4 jvjk1m1 k2m2 i =

=
d3 r1
d3 r2
s1 s2
k3 (~r1 )m3 (s1 )k4 (~r2 )m4 (s2 ) v (1; 2) k1 (~r1 )m1 (s1 )k2 (~r2 )m2 (s2 ):
N~ao e dif il veri ar expli itamente a adequa ~ao dessas pres ri ~oes. Tomando omo exemplo
o elemento de matriz de operador de um orpo (7.50), o que deve ser al ulado no espa o de
Fo k e
h 0jK j i ! qQ 1 Q 0 h0jak10 m01 :::akn0 m0n K^ aykn mn :::ayk1 m1 j0i
q ! q !
om K^ dado por (7.51), ou seja
2
X
1
0 m0 j p jkmih0ja 0 0 :::a 0 0 ay 0 0 a ay :::ay j0i:
h
k
kn mn k m km kn mn
k1 m1
Q
k1 m1
2M
q ! q0 ! km;k0 m0
(7.53)
Essa express~ao tem a forma de uma ombina ~ao linear de elementos de matriz de uma part ula
om pesos determinados pelo ultimo fator, dado omo valor esperado no va uo de um produto
de operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao. O al ulo desse objeto e feito, em ultima analise,
utilizando as rela ~oes de omuta ~ao desses operadores, juntamente om o fato de que a a ~ao de
um operador de aniquila ~ao sobre o va uo da um resultado nulo.
O pro esso, frequentemente longo, envolvido num pro edimento desse tipo, pode ser abreviado em asos parti ulares atraves do uso de outras propriedades, omo as propriedades de
ortogonalidade e normaliza ~ao de estados do tipo (7.47). Como ilustra ~ao do uso dessas outras
propriedades, o ultimo fator que apare e em (7.53) pode ser ini ialmente re-es rito, usando as
rela ~oes de omuta ~ao, omo
h 0jK j i ! qQ
h0jak10 m01 :::akn0 m0n ayknmn :::ayk1 m1 j0ikk0 mm0 h0jak10 m01 :::akn0 m0n akm ayk0m0 ayknmn :::ayk1 m1 j0i
onde os sinais superiores e inferiores se referem respe tivamente aos asos de bosons e de
fermions. O primeiro dos dois termos assim obtidos e, a menos apenas de fatores de normaliza ~ao, o produto es alar h 0j i que se anula se o onjunto dos fki mi g for diferente do onjunto
dos fki0 m0i g. No aso em que esses dois onjuntos forem iguais seu valor e dado pela norma
Q
q !. O segundo termo, por outro lado, orresponde ao produto es alar de dois vetores do tipo
(7.47) no setor de n + 1 part ulas. A ondi ~ao para que ele n~ao se anule e que o onjunto
396
dos operadores de ria ~ao seja (a menos de permuta ~oes) igual ao onjunto dos operadores de
aniquila ~ao. Essa ondi ~ao so pode ser satisfeita em dois asos: a) o onjunto dos fki0 m0i g e
igual ao onjunto dos fki mi g, e nesse aso deve-se ter tambem k = k0 e m = m0 , ou b) esses
dois onjuntos diferem apenas por um estado de uma part ula, kj mj 6= kj0 m0j , e ent~ao k = kj0 ,
m = m0j e k0 = kj , m0 = m0j . O valor das ontribui ~oes do segundo termo depende ainda da
parti ular estatsti a que esteja sendo onsiderada. Para a estatsti a de Bose
aso a)
h0jak1m1 :::akn m0n akm aykmayknmn :::ayk1 m1 j0i = ( + 1) Qq q !
aso b)
h0jak1m1 :::akj0 m0j :::aknm0n akj mj aykj0 m0j ayknmn :::aykj mj :::ayk1 m1 j0i = Qq q !q0 ! j j0
onde, no aso a), e a multipli idade de km no onjunto fkimi g e, no aso b), j e j0 s~ao
respe tivamente as multipli idades de o upa ~ao dos estados kj mj e kj0 m0j em fki mi g e fki0 m0i g.
Para a estatsti a de Fermi, por outro lado, todas as multipli idades de o upa ~ao s~ao limitadas
a1e
aso a) h0jak1 m1 :::akn m0n akm aykm aykn mn :::ayk1 m1 j0i =
aso b)
1 se j = 0
0 se j = 1
h0jak1m1 :::akj0 m0j :::akn m0n akj mj aykj0 m0j ayknmn :::aykj mj :::ayk1 m1 j0i =
onde o sinal negativo no ultimo aso provem da diferen a de ordenamento dos operadores de
ria ~ao e aniquila ~ao. Levando todos esses resultados a rela ~ao (7.53) o que se obtem e
8
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
<
h 0jK j i = >>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
:
Bose :
a)
b)
Fermi : a)
b)
P
q
i i
hkimij 2pM2 jkimii

2
j j0 hkj0 m0j j 2pM jkj mj i
i i
hkimij 2pM2 jkimii
hkj0 m0j j 2pM2 jkj mj i
o que reproduz os resultados obtidos em termos de permanentes e determinantes.

Um al ulo analogo para o operador (7.52) mostra a adequa ~ao dessa pres ri ~ao para a
representa ~ao de operadores de dois orpos no espa o de Fo k. A extens~ao da pres ri ~ao
para operadores de tres ou mais orpos tambem pode ser obtida sem di uldade. No aso de
operadores de tres orpos, por exemplo, a pres ri ~ao orrespondente a (7.52) e
397
! W^ = 3!1
ki ;mi
hk4m4 k5m5 k6m6 jwjk1m1 k2m2 k3m3 iayk4m4 ayk5 m5 ayk6m6 ak3m3 ak2 m2 ak1 m1 :
Finalmente, utilizando a rela ~ao (7.34) e possvel exprimir as variaveis dinâmi as no espa o
de Fo k em termos dos operadores de ampo m (~r). A transforma ~ao da express~ao (7.51) para
a energia ineti a da
K^ =
=
=
d3 r d3 r0
XZ
m1
XZ
m1
k1 m1 k2 m2
k1 (~r)hk1 m1 j
p2
d3 r d3 r0 my 1 (~r)h~rj j~r 0 i
2M
h 2 r2
(~r)
d3 r my 1 (~r)
2M m 1
p2
jk m i (~r 0) my 1 (~r)
2M 2 2 k 2
r
m1 (~
r
m2 (~
0)
0)
onde foi usada a ompleteza das fun ~oes k (~r) e a independên ia de spin de p2 =2M para es rever
p2 0
p2 0
p2

0
k1 (~r)hk1 m1 j jk2 m2 ik2 (~r ) = h~rm1 j j~r m2 i = h~rj j~r im1 m2 :
2M
2M
2M
k1 k2
X
A elimina ~ao da integra ~ao sobre ~r 0 pode ser justi ada tendo em vista que o elemento de
matriz de p2 =2M entre os vetores improprios j~ri e j~r 0 i pode ser es rito sob a forma
h 2 00
(~r ~r 0 )
2M
onde 00 (~r ~r 0 ) representa a segunda derivada da fun ~ao delta de Dira . Uma dupla integra ~ao
por partes om rela ~ao a ~r 0 leva ent~ao ao resultado indi ado.
Um operador de dois orpos independente de spin e lo al se es reve, de forma analoga, omo
2
h~rj 2pM j~r 0 i =
V^ =
X Z
m1 m2
d3 r
d3 r2 v (~r1 ; ~r2 ) my 1 (r~1 ) my 2 (r~2 )
r1 ):
m2 (r~2 ) m1 (~
^ a ima
Uma propriedade importante (e fa ilmente veri avel) de operadores omo K^ , V^ e W
^ N = [V^ ; N = [W
^ ; N = 0.
e que eles omutam om o operador numero de fermions N , isto e [K;
Portanto um Hamiltoniano de muitos orpos que ontem energia ineti a e intera ~oes de dois
orpos des ritas por um poten ial, H = K + V , tambem omuta om N , [H; N = 0. Esta
398
ultima rela ~ao signi a que para tais sistemas o numero de part ulas e uma onstante do
movimento, isto e, uma quantidade onservada.
Como um balan o nal dos resultados desta se ~ao e da se ~ao anterior, e interessante notar
que, enquanto o espa o produto de N espa os de uma part ula que fun iona omo espa o de
fases para um sistema de N part ulas ontem sub-espa os asso iados a diferentes estatsti as
(sub-espa o simetri o para bosons e anti-simetri o para fermions) para o mesmo numero de
part ulas, o espa o de Fo k ontem sub-espa os asso iados a diferentes numeros de part ulas
para uma dada estatsti a. A diferentes numeros de part ulas est~ao asso iados diferentes
espa os produto, e a diferentes estatsti as est~ao asso iados, para um dado numero de part ulas,
diferentes sub-espa os do mesmo espa o produto. Inversamente, a diferentes estatsti as est~ao
asso iados diferentes espa os de Fo k, e a diferentes numeros de part ulas om uma dada
estatsti a est~ao asso iados diferentes sub-espa os de um mesmo espa o de Fo k.
Na medida em que todas as variaveis dinâmi as de um dado sistema omutem om N
havera, no espa o de Fo k, uma regra de supersele ~ao analoga a asso iada a simetria no aso
de part ulas idênti as, e na medida em que uma tal regra de supersele ~ao exista, o tratamento
em termos do espa o de Fo k e exatamente equivalente a des ri ~ao em termos de espa os
produto. No espa o de Fo k, no entanto, ha a possibilidade de que se onsidere operadores,
n~ao traduzveis em termos de uma des ri ~ao envolvendo espa os produto, que n~ao onservam
o numero de part ulas. Um exemplo de operador desse tipo sera en ontrado no aptulo 8
om rela ~ao a intera ~ao da materia om o ampo de radia ~ao eletromagneti a. Nesse aso ha
operadores asso iados a emiss~ao e a absor ~ao de fotons pelas fontes do ampo eletromagneti o
que impli am na n~ao onserva ~ao do numero de fotons no sistema.
7.3.3 Exemplos de apli a ~ao: gas de Fermi livre e om

for as de dois orpos.
1. Gas de Fermi livre. As propriedades, ja dis utidas anteriormente (v. pagina 366), do
estado de menor energia de um gas de Fermi livre podem ser obtidas tambem atraves do uso das
te ni as de segunda quantiza ~ao, omo uma primeira ilustra ~ao do uso dessas te ni as. Para
esse m, e onveniente onstruir operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao fermiôni os asso iados
a base de autofun ~oes do momento om ondi ~oes de ontorno periodi as no volume L3 . Neste
aso, a equa ~ao (7.34) assume a forma parti ular
Z
a~k;m = 3
L
d3 r
epi~k~r
L3
r)
m (~
onde agora o ndi e ~k se refere ao autovalor do momento, e os operadores a~k;m e a~yk;m , que
respe tivamente aniquilam e riam um fermion om momento h~k e om o estado de spin ara 399
terizado por m, satisfazem as rela ~oes de anti- omuta ~ao (7.36). O hamiltoniano do sistema de
fermions livres e um operador de um orpo uja vers~ao segundo-quantizada e
H=
p2i
2M
X X
~k;m ~k0 ;m0
h~k0; m0j 2pM j~k; mia~yk0;m0 a~k;m :
Como os estados envolvidos no elemento de matriz s~ao autoestados do momento ~p, e imediato
que
2 2
h~k0; m0j 2pM j~k; mi = h2Mk ~k0;~k m0 ;m

de modo que a vers~ao segundo-quantizada do hamiltoniano livre se reduz simplesmente a
H=
h 2 k2 y
a~k;m a~k;m :
2
M
~k;m
X
Como dito anteriormente, os operadores N~km = a~yk;m a~k;m que intervêm na soma orrespondem
ao numero de fermions no estado j~k; mi, de modo que esse hamiltoniano pode ser visto omo
uma soma das energias ineti as de ada um dos estados da base ponderada om o numero de
fermions presentes nesse estado. O numero total de fermions presentes no sistema orresponde,
por outro lado, ao operador
N=
~k;m
N~km =
~k;m
a~yk;m a~k;m :
Vale a pena notar expli itamente que esse operador, bem omo ada um dos operadores N~km ,
omutam om o hamiltoniano e tambem omutam entre si, de modo que o numero total de
fermions, o numero de fermions em ada um dos estados de momento e de spin e a energia
do gas de Fermi livre s~ao observaveis ompatveis. Desse modo, os autovetores de H podem
ser es olhidos de forma a serem autovetores simultâneos de ada um dos N~km . Estes s~ao, no
2 ), de modo que seus autovalores
entanto operadores de proje ~ao (isto e, N~km = N~kym = N~km
s~ao 1 ou 0, orrespondendo respe tivamente a presen a ou a ausên ia de um fermion no estado
j~k; mi. Com essas ideias omo guia, e fa il ver que os autovetores simultâneos de H e de ada
um dos N~km s~ao dados omo um produto de operadores de ria ~ao agindo sôbre o va uo de
Fo k, isto e, s~ao dados por
j~k1m1; :::; ~knmni = a~yknmn ::: a~yk1 m1 j0i:

400
(7.54)
Das propriedades de anti- omuta ~ao dos operadores de ria ~ao fermiôni os resulta imediatamente que todos os a~yki mi que apare em nesse produto devem ser distintos para que o estado
resultante n~ao tenha norma nula. Essa ondi ~ao orresponde evidentemente as restri ~oes impostas pelo prin pio de ex lus~ao de Pauli, implementadas no formalismo de segunda quantiza ~ao
atraves das propriedades algebri as dos operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao. As fun ~oes
de onda orrespondentes a esses estados de muitos fermions s~ao na realidade determinantes
de Slater de dimens~ao n onstrudos a partir das autofun ~oes do momento ( om ondi ~oes de
ontorno periodi as) e dos autoestados de s3 e devidamente normalizados. A ambiguidade de
sinal envolvida na possibilidade de diferentes ordenamentos das linhas e olunas desses determinantes orresponde a ambiguidade de sinal asso iada a diferentes ordenamentos dos operadores
de ria ~ao envolvidos no produto.
Os autovalores dos operadores N e H asso iados ao estado (7.54) podem ser imediatamente
identi ados omo sendo n e
h 2 k2
E=
n~km
~k;m 2M
X
(7.55)
onde
8
>
>
<
1 se a~ykm apare e em (7:54)
>
:
0 se a~ykm n~ao apare e em (7:54)
n~km = >
Desse modo, o estado fundamental do sistema de n fermions orresponde ao estado da forma

(7.54) em que os operadores de ria ~ao envolvem os menores valores possveis de ~k, tendo em
onta a ondi ~ao de que eles devem ser todos distintos, seja no valor de ~k, seja no valor de m. O
maior valor de j~kj que intervem no produto de operadores de ria ~ao, nesse aso, e o momento
de Fermi kF . As rela ~oes obtidas anteriormente da densidade = n=L3 e da energia do estado
fundamental por part ula E0 =n om o momento de Fermi resultam agora das express~oes
=
1 X
1
L3 kkF ;m
E0 1 X h 2 k2
=
n n kkF ;m 2M
que podem ser reduzidas transformando as somas em integrais da forma usual, om resultado
idênti o ao obtido anteriormente.
Uma outra forma de obter a express~ao (7.55) para a energia do sistema de fermions livres
onsiste em al ular o valor esperado
401
E = h~k1 m1 ; :::; ~knmn jH j~k1m1 ; :::; ~knmn i

= h0ja~k1 m1 ::: a~kn mn Ha~ykn mn ::: a~yk1 m1 j0i
Xh
2 k2
h0ja~k1m1 ::: a~knmn a~ykm a~km a~yknmn ::: a~yk1 m1 j0i
=
2
M
~k;m
que tem a forma ara tersti a de uma soma de elementos de matriz ponderados om valores
esperados de um produto de operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao no va uo. Estes pesos podem
ser al ulados utilizando apenas as propriedades algebri as desses operadores, em parti ular a
de que a a ~ao direta sobre o va uo de um operador de aniquila ~ao qualquer da um vetor de
norma nula, juntamente om as rela ~oes de omuta ~ao. Uma forma de abreviar o al ulo neste
aso espe o onsiste em repetir aqui o pro edimento adotado anteriormente om rela ~ao
a equa ~ao (7.53). De fato, das rela ~oes de anti omuta ~ao dos operadores de ria ~ao e de
aniquila ~ao resulta
a~ykm a~km = 1 a~km a~ykm

de modo que
h0ja~k1m1 ::: a~kn mn a~ykma~km a~yknmn ::: a~yk1m1 j0i =

h0ja~k1m1 ::: a~kn mn a~yknmn ::: a~yk1 m1 j0i h0ja~k1m1 ::: a~knmn a~kma~ykm a~yknmn ::: a~yk1 m1 j0i =
= 1
n
X
i=1
~km;~ki mi :
De fato, o primeiro dos dois termos em que o peso a assim de omposto e simplesmente a norma
do estado onsiderado, enquanto o segundo termo e a norma de um estado antissimetri o que
resulta da ria ~ao, sôbre esse estado, de um fermion adi ional no estado de uma part ula j~k; mi.
Se esse estado de uma part ula ja n~ao for o upado no estado onsiderado, essa norma e tambem
1, mas ela sera nula sempre que esse estado de uma part ula ja estiver o upado. Desse modo os
pesos a serem utilizados no al ulo da energia ser~ao iguais a 1 quando, no estado onsiderado,
houver um fermion om numeros quânti os ~k; m (pois nesse aso o parênteses ontendo a soma e
nulo) e zero quando n~ao houver no estado onsiderado um fermion om esses numeros quânti os
( aso em que o parênteses e igual a 1), reproduzindo portanto o resultado (7.55).
2. Gas de Fermi om for as de dois orpos. Um sistema de muitos fermions idênti os

que interagem entre si atraves de for as que podem ser representadas por um poten ial de dois
402
orpos, e na realidade um sistema (muito) mais ompli ado que o gas de Fermi livre tratado
no item anterior, e tem a sua dinâmi a ara terizada por um hamiltoniano da forma
H=
1X
p2i
v (i; j )
+
2M 2 i;j
h 2 k2 y
1X
a~k;m a~k;m +
h
jv j ia~ykm a~yk m a~k m a~k m
2
~k;m 2M
X
onde os operadores de ria ~ao e aniquila ~ao s~ao os mesmos que foram denidos anteriormente
em termos das autofun ~oes do momento om ondi ~oes periodi as de ontorno para os diferentes
autovalores de s3 , e a nota ~ao abreviada usada para o elemento de matriz do poten ial de dois
orpos orresponde mais expli itamente a
h jvj i h~km ; ~k m jv(1; 2)j~k m ; ~k m i

sendo que os estados rotulados por e orrespondem a part ula 1 enquanto os estados rotulados por e orrespondem a part ula 2. O problema de obter autovetores desse hamiltoniano
(e mesmo o de obter apenas o seu estado fundamental, em asos nos quais ele exista) n~ao pode
ser resolvido, de modo que o tratamento desse tipo de sistema envolve tipi amente o uso de
metodos perturbativos ou varia ionais para obter aproxima ~oes reveladoras de propriedades
tidas omo relevantes.
O al ulo da orre ~ao perturbativa de ordem mais baixa da energia do estado fundamental
do gas livre, devida a intera ~ao de dois orpos, pode servir omo exemplo do uso de te ni as
de segunda quantiza ~ao. Essa orre ~ao e dada simplesmente omo o valor medio do termo de
intera ~ao de H no estado de menor energia do gas livre, obtido no item anterior. Desse modo
E0(1) = hE0 j
onde
1X
h
jv j ia~ykm a~yk m a~k m a~k m jE0 i
2
(7.56)
jE0 i = a~yknmn ::: a~yk1m1 j0i
e osndi es ~ki ; mi orrespondem aos n estados de uma part ula om os menores valores possveis
do momento, estando satisfeita a ondi ~ao de que eles sejam todos distintos. Substituindo essa
express~ao para o estado fundamental do gas livre em (7.56), a orre ~ao perturbativa apare e
novamente som a forma padr~ao de uma soma de elementos de matriz do poten ial de dois
orpos ponderada om valores esperados no va uo de produtos de operadores de ria ~ao e de
aniquila ~ao. De fato,
E0(1) =
1X
h
jv j ih0ja~k1m1 ::: a~kn mn a~yk m a~yk m a~k m a~k m a~ykn mn ::: a~yk1 m1 j0i:
2
403
(7.57)
Uma forma de al ular os pesos a partir das propriedades dos operadores de ria ~ao e de
aniquila ~ao ( f. Problema 7.7) onsiste em usar mais uma vez um pro edimento analogo ao
adotado om rela ~ao a equa ~ao (7.53). Os operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao provenientes
do termo de dois orpos de H podem ser re-es ritos omo
a~yk m a~yk m a~k m a~k m = a~k m a~k m a~yk m a~yk m
a~k m a~yk m a~k m a~yk m + a~k m a~yk m + a~k m a~yk m

+
onde os ndi es dos deltas de Krone ker foram es ritos usando a mesma nota ~ao abreviada usada
para os elementos de matriz de dois orpos. O termo om quatro operadores da ontribui ~ao
n~ao nula quando
=
=
=
=
ou
om 6= e om sinal negativo no segundo aso, devido a invers~ao na ordem de um par

de operadores. Esses operadores devem orresponder ainda a estados de uma part ula n~ao
o upados no estado fundamental n~ao perturbado. De forma semelhante, os dois operadores
dos quatro termos seguintes devem ser tambem iguais, orrespondendo a um estado de uma
part ula n~ao o upado no estado fundamental. Juntando esses resultados a orre ~ao de primeira
ordem para a energia adquire a forma
E0(1) =
1
1X
[h jv j i
2
1
X
;>n
n
1X
[h jv j i
[h jv j i
h jvji
h jvji + 12
h jvji
1
X
;>n
[h jv j i
h jvji =
(7.58)
As restri ~oes es ritas nas somas omo ; > n e ; < n se referem respe tivamente a estados
de uma part ula n~ao o upados e o upados no estado fundamental n~ao perturbado.
Uma forma alternativa de obter esse mesmo resultado e notar que, para que o valor esperado
no va uo do produto de operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao, tal omo es rito ini ialmente
em (7.57), seja diferente de zero e pre iso que
404
= <n
=<n
=<n
= <n
ou
om 6= , e om sinal negativo no segundo aso, devido a invers~ao na ordem de um par de

operadores.
O passo seguinte onsiste em expli itar os elementos de matriz de dois orpos que apare em
na express~ao (7.58). O primeiro deles e dado simplesmente por
1 Z 3 Z 3
h jvj i = L6 L3 d r1 L3 d r2 e i(~k~r1+~k ~r2) hmm jv(1; 2)jmm iei(~k ~r1+~k ~r2)
onde os bra's e ket's que apare em no integrando se referem aos estados de spin. O segundo
elemento de matriz ontem as ontribui ~oes de tro a
h jvji = L16
d 3 r1 3 d 3 r2 e
L
L3
i(~k ~r1 +~k ~r2 )
hm m jv(1; 2)jm m iei(~k ~r1+~k~r2 ):
O al ulo dessas express~oes depende evidentemente da forma espe a do poten ial de dois
orpos v (1; 2). No aso mais simples em que esse poten ial e um poten ial entral e independente
dos spins, da forma
v (1; 2)
! v(j~r1 ~r2j)
^1S
esses elementos de matriz poder ser al ulados re-es revendo as ondas planas em termos das
oordenadas relativa ~r = ~r1 ~r2 e do entro de massa, R~ = (~r1 + ~r2 )=2 do par de part ulas e
notando que
Z
d3 r1 3 d3 r2 = 3 d3 R 3 d3 r:
3
L
L
L
L
O elemento de matriz direto se reduz simplesmente a5

1 Z 3
h jvji = L3 L3 d r v(r)
enquanto o termo de tro a apare e omo
1 Z 3
h jvji = m m L3 L3 d r e
i(~k ~k )~r v (r )
Essa express~ao mostra que, para que o resultado do al ulo perturbativo de primeira
R 3 ordem seja pelo menos
d r v (r) < 1.
nito, e pre iso exigir que o poten ial entral de dois orpos satisfa a a ondi a~o
405
de modo que a orre ~ao perturbativa de primeira ordem para a energia do estado fundamental,
devida ao poten ial de dois orpos, e dada por

Z
n Z
1 X
3 r e i(~k ~k )~r v (r ) :
3 r v (r )
d
(7.59)
d
m m 3
2L3 L3
L
Essa express~ao depende da densidade do gas de Fermi atraves das somas, que envolvem todos
os valores do momento ate o momento de Fermi. Alem disso, embora o poten ial tenha sido
tomado omo dependente de j~r1 ~r2 j apenas, o termo de tro a introduz uma dependên ia om
os spins, bem omo uma dependên ia om o momento relativo h (~k ~k ) do par de part ulas
envolvido na intera ~ao. O termo direto pode ser al ulado imediatamente substituindo da forma
usual as somas por integrais sobre os momentos, o que leva a
E0(1) =
n Z
1 X
d3 r v (r)
2L3 L3
Z
Z
L3 Z
3
3
! 4 2(2)6 k k d k k k d k d3r v(r)
F
F

Z
N Z 3
4 3 2 3
L3
d r v (r ) = d r v (r )
k
= 4
2(2 )6 3 F
2
onde o fator 4 provem das somas sobre os estados de spin (supondo que os fermions tenham
spin 1/2),
N =2
L3 4 3
k
(2 )3 3 F
e o numero total de fermions no volume L3 e = N=L3 e a densidade do gas de Fermi. O termo

de tro a, por outro lado, pode ser al ulado omo
Z
n
1 X
m m 3 d3 r e
3
2L
L
i(~k ~k )~r
v (r ) !
Z
Z
L3 Z
3
3
d k
d k d3 re
6
(2 ) k kF
k kF
i(~k ~k )~r
v (r ):
E onveniente fazer antes as integra ~oes sobre os momentos usando os resultados

Z
kkF
d3 k ei~k~r
= 4
Z kF
dk k2 j0 (kr) =
4 3 j1 (kF r)
k
3 F kF r
onde j0 e j1 s~ao fun ~oes de Bessel esferi as (v. pag. 256 e Problema 7.10), om os quais o
termo de tro a a reduzido a forma
N Z 3 j1 (kF r)
dr
4
kF r
406
!2
v (r ):
A orre ~ao perturbativa de primeira ordem por part ula para a energia do estado fundamental
do gas de Fermi e portanto, no aso de um poten ial de dois orpos da forma v (j~r1 ~r2 j),
2
E0(1) 4Z 3
=
d r v (r )
N
2
1 Z 3 j1 (kF r)
dr
2
kF r
!2
v (r )5 :
O valor medio da energia total por part ula (isto e, in luindo a energia ineti a) no estado
fundamental n~ao perturbado do gas de Fermi livre om densidade dada atraves do momento
de Fermi kF pode ser es rito agora omo
2
hE i = K + E0(1) = 3 h 2 kF2 + 4Z d3r v(r)

N
N
N
5 2M 2
1 Z 3 j1 (kF r)
dr
2
kF r
!2
v (r )5 :
Essa express~ao envolve, na realidade, o valor medio do hamiltoniano do gas de Fermi om

intera ~oes de dois orpos no estado fundamental do gas de Fermi livre om a densidade orrespondente ao valor utilizado de kF , e pode ser tambem vista, portanto, omo um limite superior
varia ional para a energia por part ula do estado fundamental exato do gas de Fermi om
intera ~oes de dois orpos, qualquer que seja o valor do momento de Fermi kF . O termo proveniente da energia ineti a e sempre positivo e depende de kF omo kF2 , enquanto a dependên ia
dos termos de energia poten ial e dominada pela dependên ia om kF3 do termo direto (pois
j1 (kr)=kr tem um omportamento os ilatorio e e em modulo sempre menor que 1) quando a
densidade, e portanto tambem kF , s~ao su ientemente grandes. Portanto, quando o poten ial
de dois orpos e puramente atrativo no sentido que v (j~r1 ~r2 j) 0, o limite superior para a
energia por part ula do estado fundamental vai a 1 para kF ! 1. Esse omportamento revela o olapso do sistema nesse aso, isto e, a ausên ia de um estado fundamental om
densidade e energia por part ula nitas.
Problemas.
7.1 - Considere o estado de menor energia de um gas de fermions livres, de spin 1/2, em duas
e em uma dimens~ao espa ial, respe tivamente. Cal ule para ada um desses dois asos
a) o momento de Fermi kF e a energia de Fermi EF omo fun ~oes da densidade;

b) a energia total por part ula do gas omo fun ~ao da energia de Fermi e omo fun ~ao da
densidade do gas; e
) a derivada da energia total por part ula om rela ~ao a densidade. No aso tri-dimensional
esta ultima quantidade se rela iona om a press~ao do gas. Obtenha essa rela ~ao, e tambem
obtenha e interprete as rela ~oes analogas em duas e uma dimens~ao.
407
7.2 - Correla ~oes de Pauli. Dois ele trons o upam os estados livres
h~rsj~k1i = p1 3 ei~k1 ~r 12 (s)
h~rsj~k2i = p1 3 ei~k2 ~r 12 (s):
L
L
Note que os dois estados envolvem a mesma fun ~ao de onda de spin. Tendo em vista que os
dois ele trons s~ao fermions idênti os, al ule
a) a densidade de probabilidade para que o entro de massa dos dois ele trons esteja num
ponto dado R0 , no interior do volume de quantiza ~ao L3 ;
b) a densidade de probabilidade para que um ele tron esteja a uma distân ia d~ do outro;
) a densidade de probabilidade para que haja um ele tron na posi ~ao ~r0 .
Sugest~ao: nos asos a) e b), re-es reva a fun ~ao de onda dos dois ele trons em termos das
oordenadas relativa e de entro de massa
~r + ~r
R~ = 1 2 :
2
~r = ~r2 ~r1 ;
d) Repita o mesmo problema substituindo os dois estados anteriores por
h~rsj~k1i = p1 3 ei~k1~r 12 (s)
h~rsj~k2i = p1 3 ei~k2 ~r
os 12 (s) + ei' sen 12 (s) :
L
L
7.3 - Três part ulas de massa M se movem independentemente num poten ial de os ilador
harmôni o isotropi o de frequên ia !0 . Dê, para um tal sistema,
a) o Hamiltoniano;
b) todas as suas autofun ~oes e
) todos os seus autovalores e degeneres ên ias
em ada um dos seguintes asos
a) as part ulas s~ao bosons idênti os de spin zero;
b) as part ulas s~ao fermions idênti os de spin 1/2;
) as part ulas s~ao bosons distinguveis de spin zero e
d) as part ulas s~ao fermions distinguveis de spin 1/2.
As autofun ~oes devem ser dadas em termos das autofun ~oes de uma part ula no os ilador
harmôni o, n1 n2 n3 (~r) ujos autovalores s~ao n1 n2 n3 = h !0 (n1 + n2 + n3 + 3=2).
7.4 - Supondo que dois nu leons ( ada um dos quais e um proton ou um neutron) interagem
~ e o spin total
apenas atraves de um poten ial entral, o momento angular orbital relativo L
408
S~ = ~s1 + ~s2 s~ao onstantes do movimento, e e ent~ao onveniente lassi ar os estados de dois
nu leons em usando os autovalores h 2 l(l + 1) (ou simplesmente l) de L2 e h 2 S (S + 1) (ou
simplesmente S ) de S 2 . Dado que dois protons ou dois neutrons s~ao fermions idênti os de spin
1/2, e que protons e neutrons s~ao distinguveis, fa a uma lista das ombina ~oes possveis de l
e S para
a) dois protons;
b) dois neutrons;
) um proton e um neutron.
Sugest~ao: use o fato que estados om l par (mpar) s~ao simetri os (anti-simetri os) pela tro a
das oordenadas de posi ~ao das duas part ulas. (Vo ê sabe justi ar isso?)
d) O deuteron e um estado ligado de um proton e de um neutron que tem S = 1. Dentro da
suposi ~ao feita a ima para a intera ~ao dessas duas part ulas, o que se pode dizer do momento
angular relativo nesse aso?
7.5 - Aproxima ~ao de Hartree-Fo k para o atomo de ltio. O atomo de ltio tem
três ele trons que, de a ordo om a distribui ~ao esperada dos nveis de part ula independente
eletrôni os (v. gura 7.3) e onsistentemente om o spin eletrôni o observado desse atomo, deve
orresponder a uma ongura ~ao de ele trons independentes na qual dois ele trons preen hem o
nvel nlj 1s 1=2 e um ele tron adi ional o upa o nvel 2s 1=2. A ausên ia de momento angular
orbital (1s; 2s $ l = 0) faz om que a ontribui ~ao desses orbitais para o ampo medio seja
esferi amente simetri a. Aproximando o Hamiltoniano que des reve esse atomo omo
!
3
3
X
p2
1 X
3e2
e2
H=
+
ri
2 i;j =1 j~ri ~rj j
i=1 2me
e es revendo os estados 1s 1=2 e 2s 1=2 expli itamente em termos de amplitudes radiais unl (r)
omo
u20 (r)
10 (r )
h~rsj10 1=2mi = urp
m (s) e h~rsj20 1=2mi = p
(s)
4
r 4 m
a) es reva a fun ~ao de onda anti-simetrizada para os três ele trons que orresponde ao
estado fundamental do atomo sob a forma de um determinante de Slater onstrudo om esses
estados. Suponha que o spin do ele tron 2s 1=2 esteja no estado om proje ~ao +h=2 no eixo 3.
Essa suposi ~ao e relevante dinami amente, dentro da aproxima ~ao adotada para H ?
b) Cal ule o valor medio de H nessa fun ~ao de onda anti-simetrizada.
) Atraves da varia ~ao das amplitudes radiais un0(r); n = 1; 2, obtenha as equa ~oes integrodiferen iais a opladas para essas duas amplitudes que orrespondem a aproxima ~ao de HartreeFo k. Quais as ondi ~oes de ontorno que devem ser satisfeitas pelas solu ~oes? Sugest~oes: i)
409
A varia ~ao se da num espa o vetorial omplexo, de modo que as varia ~oes de unl e de unl podem
ser onsideradas independentes. ii) Para dar onta da normaliza ~ao dos estados de um ele tron
submetidos a varia ~ao, introduza as ondi ~oes subsidiarias hn0 1=2mjn0 1=2mi = 1; n = 1; 2
atraves de multipli adores de Lagrange.
d) Identique os termos direto (lo al) e de tro a (n~ao lo al) do poten ial de Hartree-Fo k.
Como vo ê faria para tentar obter uma solu ~ao dessas equa ~oes?
7.6 - Repita o item b) do problema anterior re-es revendo H na linguagem de segunda quantiza ~ao e usando a representa ~ao apropriada dos estados anti-simetrizados de tres ele trons no
espa o de Fo k. Verique que a forma resultante para o valor esperado de H e idênti a a que
se obtem usando determinantes de Slater.
7.7 - Supondo o operador de ampo fermiôni o
dis reta de fun ~oes fn (~r)g; n = 1; 2; ::: omo
r)
m (~
r)
m (~
expandido numa base ortonormal e
k (~r)akm
a) mostre, usando as rela ~oes de (anti-) omuta ~ao para os operadores akm ; aykm , que os
operadores de numero
Nkm = aykm akm

2 = N , e que s~
ao portanto operadores de proje ~ao.
s~ao idempotentes, isto e, Nkm
km
b) Diante desse fato, quais s~ao os seus possveis autovalores? Rela ione isso om o \prin pio
de ex lus~ao" de Pauli e verique que essas propriedades n~ao se apli am no aso bosôni o.
) Mostre que
P
km km akm akm
km
ekm akm akm =
Y
km
ekm aykm akm + akm aykm :
7.8 - Supondo o operador de ampo m (~r) expandido, omo no problema anterior, numa base
ortonormal e dis reta de fun ~oes fn (~r)g; n = 1; 2; :::, isto e
r)
m (~
k (~r)akm ;
mostre que, no aso da estatsti a de Bose, valem as rela ~oes

h
r); akm0
m (~
= k (~r)mm0
410
r); akm0
m (~
=0
enquanto que, no aso da estatsti a de Fermi, valem

n
r); aykm0 = k (~r)mm0

m (~
r); akm0
m (~
g = 0:
7.9 - Aproxima ~ao de Hartree-Fo k e ex ita ~oes de part ula-bura o. O hamiltoniano
segundo-quantizado que des reve um sistema de muitos fermions idênti os ontem termos de
um e de dois orpos e e es rito omo
X
1X
h
jv j iayay a a :
H = hjh0 j iay a +
2

om os operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao denidos em termos de uma base de referên ia
de fun ~oes de onda de uma part ula f (~r; s)g.
Considerando o estado
j N i = ayN ayN 1:::ay1 j0i

a) al ule o valor esperado de H nesse estado.
b) Obtenha as equa ~oes de Hartree-Fo k para esse sistema atraves da ondi ~ao varia ional
h N jH j N i = 0 apli ada ao resultado anterior. Sugest~ao: os estados (ou fun ~oes de onda)
de uma part ula s~ao vetores de um espa o vetorial omplexo e podem portanto ser variados
independentemente. Introduza multipli adores de Lagrange para ter em onta a ondi ~ao de
normaliza ~ao para os estados de uma part ula.
Considere em seguida o estado
j (NaA) i = aya aAj N i

onde o ndi e maius ulo denota um dos estados de uma part ula o upados em j N i, e o ndi e
minus ulo denota um estado n~ao o upado nesse mesmo estado. Estados omo j (NaA) i s~ao
hamados \ex ita ~oes de part ula-bura o" de j N i.
) Cal ule o elemento de matriz
MaA h (NaA) jH j N i
que pode ser pensado omo a amplitude de probabilidade para que H produza a ex ita ~ao de
part ula-bura o em j N i.
d) Mostre que, se j N i e o estado de Hartree-Fo k e a base f (~r; s)g e a base de HartreeFo k, ent~ao MaA 0, isto e, o estado de Hartree-Fo k e tal que a amplitude de ex ita ~ao de
part ula-bura o pelo hamiltoniano e zero.
411
e) Obtenha uma amplitude de transi ~ao diferente de zero devida a H a partir do estado de
Hartree-Fo k que mostre que esse estado n~ao e, em geral, um autoestado de H .
7.10 - Usando a expans~ao em ondas par iais (5.18) da onda plana mostre que
Z
kkF
d3 k
Z kF
~k~r

i
e
= 4
dk k2 j0 (kr):
Mostre em seguida que o resultado da integra ~ao sobre k pode ser expresso omo
4
Z kF
dk k2 j0 (kr) =
4 3 j1 (kF r)
k
:
3 F kF r
7.11 - a) Exprima em termos da densidade a energia do estado fundamental de um gas de
fermions de spin 1/2 n~ao interagentes mas onstrangidos a se moverem em uma dimens~ao
espa ial apenas. Rela ione a densidade om o momento de Fermi desse sistema.
b) Cal ule a orre ~ao perturbativa de primeira ordem para a energia al ulada no item a)
devida a uma intera ~ao entre os fermions representada por um poten ial de dois orpos que
e independente dos spins e do tipo v (1; 2) = v (jx1 x2 j). Sugest~ao: podem ser seguidos os
passos utilizados nas pags. 402 e seguintes, om as altera ~oes abveis devido a mudan a de
dimensionalidade.
) Utilizando os resultados de a) e b) es reva um limite superior varia ional para a energia
por part ula no estado fundamental do gas unidimensional om intera ~oes. Utilizando o aso
espe o de um poten ial de dois orpos gaussiano e puramente atrativo, isto e
v (jx1
x2 j) = V0 exp
(x1
b2
x2 )2
V0 > 0
obtenha uma express~ao para o limite superior para a energia por part ula omo fun ~ao do
momento de Fermi. Mostre que, diferentemente do que a onte e no aso tri-dimensional, essa
express~ao tem um mnimo. Determine o momento de Fermi e a densidade orrespondentes a
esse mnimo.
Refer^
en ias gerais.
Um trabalho legvel sobra a quest~ao da identidade de part ulas e sua rela ~ao om a simetria
de vetores de estado no ontexto da me âni a quânti a e
* A. M. L. Messiah e O. W. Greenberg, Phys. Rev. B136, 248, 1964.
412
Sistemas de muitas part ulas idênti as s~ao tratados em prati amente todos os textos de
me âni a quânti a. Dis uss~oes de sistemas atômi os om muitos ele trons, in lusive as aproxima ~oes de Thomas-Fermi, Hartree e Hartree-Fo k podem ser en ontradas em
* A. Messiah, op. it., Captulo XIV.
* L. D. Landau e E. M. Lifshitz, op. it., Captulo X.
O aptulo IX desta ultima referên ia ontem um tratamento das te ni as de segunda quantiza ~ao, apli adas no ontexto da me âni a quânti a n~ao relativsti a. Um tratamento mais
detalhado dessas te ni as se en ontra tambem em
* A. L. Fetter e J. D. Wale ka, Quantum Theory of Many-Parti le Systems, M Graw-Hill
Book Co, 1971, Captulo 1.
413
414
Captulo 8
Intera ~ao da materia om a radia ~ao.
As intera ~oes eletromagneti as desempenham um papel essen ial na estrutura da materia usual.
Os modelos estudados para o atomo de hidrogênio e tambem para atomos mais omplexos d~ao
exemplos laros desse fato. As argas e orrentes asso iadas aos seus onstituintes s~ao ainda,
por outro lado, as fontes do ampo de radia ~ao eletromagneti a, que portanto esta tambem
essen ialmente a oplado a materia. O proposito deste aptulo e apresentar um esquema perturbativo simples para tratar a intera ~ao da materia om o ampo de radia ~ao. Para isso a
des ri ~ao lassi a do ampo de radia ~ao livre sera brevemente revista om vistas a sua quantiza ~ao. Uma dis uss~ao do a oplamento do ampo de radia ~ao quantizado om sistemas materiais
arregados levara ent~ao ao esquema perturbativo men ionado, que permite tratar problemas de
espalhamento, emiss~ao radiativa, et .
8.1
O ampo de radia
~
ao livre.
O ampo de radia ~ao livre, isto e, as propriedades eletromagneti as do va uo na ausên ia
de fontes (densidade de arga e densidade de orrente ~j nulas), pode ser representado de
forma parti ularmente ompa ta e onveniente em termos apenas de um poten ial vetor A~ (~r; t)
rela ionado om os ampos eletri o E~ (~r; t) e magneti o B~ (~r; t) atraves das rela ~oes (em unidades
Gaussianas)
1 A~ (~r; t)
E~ (~r; t) =
e B~ (~r; t) = r A~ (~r; t):
t
Nessa representa ~ao o poten ial es alar e identi amente nulo, (~r; t) 0, e a dinâmi a do
ampo, regida pelas equa ~oes de Maxwell sem argas ou orrentes, pode ser reduzida a equa ~ao
de ondas
415
"
1 2 ~
A(~r; t) = 0
2 t2
om a ondi ~ao de \padr~ao" (ou 'gauge')
r A~ (~r; t) = 0;
que dene o hamado \padr~ao de Coulomb". Como os ampos E~ e B~ s~ao s~ao quantidades
ne essariamente reais e s~ao obtidas do poten ial vetor simplesmente por diferen ia ~ao, resulta
que, nessa representa ~ao, A~ (~r; t) deve ser tambem real, isto e
A~ (~r; t) = A~ (~r; t):

A solu ~ao geral da equa ~ao de ondas para esse ampo, om ondi ~oes de ontorno periodi as
num volume L3 , pode ser es rita omo superposi ~ao de solu ~oes \elementares" A~~k (~r; t) que têm
a forma de ondas planas es ritas omo
s
4 2
A~~k (~r; t) =
~~k q~k (t) ei~k~r
(8.1)
3
L
onde os oe ientes in ludos na raiz quadrada s~ao introduzidos para xar onvenientemente
unidades e es alas das amplitudes q~k (t). O arater vetorial de A~ e determinado pelo vetor de
polariza ~ao ~~k . A rela ~ao geral entre o poten ial vetor e o ampo eletri o mostra, de fato, que
o ampo eletri o E~ ~k asso iado a solu ~ao elementar e anti-paralelo a ~~k .
O fato de que os A~~k (~r; t) devem satisfazer tanto a equa ~ao de ondas omo tambem a ondi ~ao
de padr~ao introduz varias restri ~oes para os diferentes objetos que apare em nessas solu ~oes
elementares. A ondi ~ao de padr~ao r A~~k (~r; t) = 0 de fato onduz imediatamente a
~~k ~k = 0
o que signi a que o vetor de polariza ~ao deve ser perpendi ular ao vetor de onda ~k. A
ondi ~ao de padr~ao apare e dessa forma omo uma ondi ~ao de transversalidade para o ampo,
que permite asso iar dois estados linearmente independentes de polariza ~ao, ~~k; ; = 1; 2 a
ada vetor de onda ~k. A gura 8.1 mostra uma forma onveniente de es olher esses estados.
Ela onsiste em 1. dado um vetor de onda ~k , tomar omo vetores basi os de polariza ~ao dois
vetores unitarios perpendi ulares a ~k e tambem perpendi ulares entra si e 2. asso iar os mesmos
vetores basi os de polariza ~ao a vetores de onda de mesmo modulo mas de sentidos opostos, ~k
e ~k. Desse modo
416
k1
-k1
k
-k
-k2
k2
Figura 8.1: Conven ~ao para es olha de vetores de polariza ~ao para os vetores de onda ~k e ~k .
~~k = ~
~k
= 1; 2:
A equa ~ao de ondas, por outro lado, dene a dependên ia temporal das amplitudes q~k (t) das
solu ~oes elementares, es ritas agora tendo em onta as possveis diferentes polariza ~oes omo
s
4 2
~~k q~k (t) ei~k~r :
A~~k (~r; t) =
3
L
Da equa ~ao
"
r2
1 2 ~
A (~r; t) = 0
2 t2 ~k
resulta, de fato, que
d2 q~k (t)
1 d2 q~k (t)
=
0
ou
+ !k2 q~k (t) = 0
(8.2)
2 dt2
dt2
om a frequên ia !k denida omo !k = k . Essa equa ~ao mostra que as amplitudes das
solu ~oes elementares os ilam harmoni amente om frequên ia !k .
E importante notar ainda que, n~ao obstante a ondi ~ao de realidade que deve ser satisfeita
pelo poten ial vetor, as amplitudes q~k (t) podem em geral ser omplexas. De fato, uma solu ~ao
geral da equa ~ao de ondas pode ser es rita omo
k2 q~k (t)
X
A~ (~r; t) = A~~k (~r; t)
~k;
e o que e exigido pela ondi ~ao de realidade e que

X
~k;
X
A~~k (~r; t) = A~~k (~r; t)
~k;
417
ou seja
X
~k;
~~k q~k (t) ei~k~r =
~k;
(t) e i~k~r = X ~
~~k q~k
~k;
~k
q ~k (t) ei~k~r :
Da independên ia linear das ondas planas no volume de periodi idade L3 resulta portanto que
a realidade do poten ial vetor exige que se tenha
X
~~k q~k (t) =
~
~k
q ~k (t):
Fazendo uso da onven ~ao mostrada na gura 8.1 para a es olha dos vetores basi os de polariza ~ao, essa ondi ~ao se reduz a
q~k (t) = q ~k (t):
(8.3)
8.1.1 Quantiza ~ao do ampo de radia ~ao livre.

O tratamento pre edente permitiu reduzir o ampo de radia ~ao livre a uma ole ~ao innita
de os iladores harmôni os omplexos, asso iados as solu ~oes elementares A~~k . A quantiza ~ao
desse ampo pode portanto ser feita simplesmente quantizando essa ole ~ao de os iladores
harmôni os. No aso de um os ilador real, uja dinâmi a lassi a e dada em termos de uma
equa ~ao de Newton
d2 x
+ !2x = 0
2
dt
isso pode ser feito denindo ini ialmente um momento p anoni amente onjugado a x omo
dx
dt
o que orresponde a dizer que a dinâmi a do os ilador e governada pela hamiltoniana
p
p2 ! 2 2
+ x:
2
2
A quantiza ~ao se faz ent~ao reinterpretando a amplitude x e o momento p omo operadores
hermiteanos de um espa o de Hilbert que satisfazem a rela ~ao de omuta ~ao anôni a
h=
[x; p = ih :
418
Com isso, a equa ~ao de Newton original se torna a equa ~ao dinâmi a do os ilados quânti o na
des ri ~ao de Heisenberg. Os operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao a e ay do os ilador ser~ao
dados nessa des ri ~ao por
s
i
h h i!t y i!t i
h ! h y i!t
dx(t)
e p(t) =
x(t) =
ae + a e
ae
ae i!t :
=i
2!
dt
2
Eles s~ao independentes do tempo e satisfazem a rela ~ao de omuta ~ao usual [a; ay = 1. Os
operadores independentes do tempo x e p da des ri ~ao de S hrodinger, por outro lado, podem
ser identi ados om os operadores de Heisenberg em t = 0.
Esse mesmo esquema pode ser fa ilmente adaptado para a quantiza ~ao dos os iladores omplexos que orrespondem as solu ~oes elementares para o ampo de radia ~ao livre. De fato, a
amplitude omplexa que obede e a equa ~ao de movimento (8.2) pode ser de omposta em duas
amplitudes reais separando suas partes real e imaginaria

1 (R)
(I )
q~k p q~k
+ iq~k
2
ada uma das quais satisfaz uma equa ~ao de movimento idênti a a (8.2) mas real, e que portanto
pode ser quantizada da mesma forma que o os ilador real x. Os momentos anoni amente
(R)
(I )
onjugados a q~k
e q~k
s~ao denidos omo
dq~k(R)
dq~k(I)
(I )
dt
e p~k
dt
e em seguida re-interpretados omo operadores hermiteanos satisfazendo as rela ~oes de omuta ~ao
p~k(R)
q~k(R) ; p~k(R0 ) 0
q~k(R) ; p~k(I0)0
=
=
q~k(I) ; p~k(I0)0 = ih ~k~k 0 ;0 ;

i
q~k(I) ; p~k(R0 ) 0 = 0;
q~k(R) ; q~k(I0)0 = p~k(R) ; p~k(I0)0 = 0
om o que as equa ~oes de movimento s~ao re-interpretadas omo equa ~oes de Heisenberg para as
amplitudes quantizadas do ampo. E fa il veri ar expli itamente que o mesmo resultado pode
ser obtido denindo um momento omplexo anoni amente onjugado a amplitude omplexa
q~k omo
p~k
(R)
p1 4 dqdt~k
2
dq~k(I) 5 dq~k dq ~k
i
=
=
;
dt
dt
dt
419
onde, na ultima passagem, foi utilizada a ondi ~ao de realidade (8.3), e quantizando atraves
das rela ~oes de omuta ~ao
h
q~k ; p~k 0 0 = ih ~k~k 0 ;0 ;
p~k ; p~k 0 0 = 0:
q~k ; q~k 0 0 = 0;
Esta ultima forma de quantiza ~ao e tambem onveniente por permitir denir operadores de
ria ~ao e de aniquila ~ao asso iados as solu ~oes elementares atraves das rela ~oes
s
h h
q~k (t) =
a e
2!k ~k
i!k t + ay
i!k t
~k e
p~k (t) = i
h !k h y i!k t
a e
2 ~k
~k e
i!k t
(8.4)
que satisfazem as ondi ~oes de realidade (hermiti idade) do ampo q~k = q y ~k , p~k = py ~k e
das quais seguem as rela ~oes de omuta ~ao
[a~k ; a~yk 0 0 = ~k~k 0 0
[a~k ; a~k 0 0 = 0:
A quantiza ~ao do ampo de radia ~ao livre, om algumas simpli a ~oes te ni as mas
de outro modo seguindo um esquema semelhante ao utilizado a ima, foi onsiderada ja em
1925 por Heisenberg, Born e Jordan1 e representa uma es alada importante na expans~ao
dos domnios da teoria quânti a. De fato, as ideias dessa teoria foram implementadas
pela primeira vez no ontexto da me âni a de part ulas, na qual as variaveis dinâmi as
s~ao tipi amente variaveis anôni as de posi ~ao e momento. A quantiza ~ao onsistiu em
reinterpretar essas variaveis dinâmi as em termos de operadores lineares agindo sobre
amplitudes de probabilidade, subvertendo dessa forma a inemati a lassi a ompletamente. No ontexto de uma teoria lassi a de ampos, as variaveis dinâmi as s~ao os
valores assumidos pelo(s) ampo(s) ( omo fun ~oes do tempo) em ada posi ~ao do espa o,
e a quantiza ~ao onsiste em reinterpretar esses valores em termos de operadores lineares
agindo sobra amplitudes de probabilidade. A li ~ao que se pode tirar desses fatos e a de
que o onteudo essen ial da teoria quânti a admite ser implementado em diferentes ontextos, e n~ao apenas no ontexto me âni o no qual foi pela primeira vez formulado. Em
outras palavras, existe uma \teoria quânti a" om abrangên ia maior que a da me âni a
quânti a propriamente dita.
Para simpli ar a nota ~ao e util introduzir as abrevia ~oes
f~k; g;
f ~k; g;
!k ! = !
W. Heisenberg, M. Born e P. Jordan, Zeit. f. Physik 35 557 (1925). Este trabalho esta in ludo no livro de
van der Waerden (op. it.).
1
420
om as quais as amplitudes q~k passam a ser es ritas omo

s
q (t) =
h h
ae
2!
i! t + ay
e
i! t
e o poten ial vetor quantizado A~ (~r; t) e dado por

s
4 2
~ q ei~k~r =
3
L

s
s
i
1 X 2h h
i! t + ay ei! t ei~k~r =
~

a
e
=

L3
k
s
s
1 X 2h h i(~k~r !t) y i(~k~r ! t) i
:
~ a e
+ a e
=
L3
k
A~ (~r; t) =
(8.5)
Para obter a ultima express~ao a onven ~ao relativa aos vetores de polariza ~ao foi utilizada
para substituir o ndi e mudo por . Vale a pena notar mais uma vez que esta express~ao
orresponde a des ri ~ao de Heisenberg do ampo quantizado, e que o operador de S hrodinger
para o poten ial vetor pode ser denido omo A~ (~r; t = 0), o que equivale a es olher t = 0 omo
o instante em que os operadores das duas representa ~oes oin idem. Como onsequên ia da
ondi ~ao de realidade sobre as amplitudes q esta express~ao para A~ (~r; t) e hermiteana.
8.1.2 Energia, momento e momento angular do ampo livre.

1. Energia. O fato de ter sido possvel reduzir o ampo de radia ~ao livre a uma ole ~ao
(innita) de os iladores harmôni os independentes sugere imediatamente que o Hamiltoniano

do ampo livre possa ser es rito omo a soma dos Hamiltonianos dos diferentes os iladores, e
ainda que os autovetores de energia do ampo possam ser realizados em termos de produtos de
autovetores dos os iladores individuais. Isso leva a um Hamiltoniano da forma
Hrad =
1
h ! ay a +
2
(8.6)
e aos autovetores e autovalores
jfngi jn1i
jn2i
:::
jni
:::
()
421
Efn g =
h ! n +
1
:
2
(8.7)
Os n s~ao numeros inteiros que indi am o numero de ex ita ~oes presentes no os ilador orrespondente f~k;~g, isto e
ay a jn i = n jn i
e ainda
ay a jn1 ; n2 ; :::; n ; :::i = n jn1 ; n2 ; :::; n ; :::i:
(8.8)
A ontribui ~ao de ada ex ita ~ao para o autovalor de energia do estado do ampo e portanto
h ! , o que sugere a sua interpreta ~ao em termos de fotons om
vetor de onda ~k e polariza ~ao ~.
P
! =2, que pode ser re onhe ida
Todos os autovalores ontem uma soma divergente omum h
omo o autovalor do estado no qual todos os n = 0, isto e, do estado sem nenhum foton.
Para evitar a in onveniên ia dessa onstante innita orrespondente a energia do estado de
zero fotons (o \va uo"), e onveniente e omum redenir o zero da energia do ampo omo a
energia do va uo, o que equivale a eliminar as ontribui ~oes de ponto zero de todos os modos
do ampo, redenindo o Hamiltoniano e os seus autovalores simplesmente omo
Hrad
h ! ay a
Efn g
h ! n :
Uma forma de veri ar que essas es olhas s~ao de fato apropriadas onsiste em al ular a
express~ao lassi a para a energia eletromagneti a
Urad =
1
8
1
d3 r E~ 2 + B~ 2 =
8

2
~ 2
6 1 A A
3
dr4 2
+ r A~ 75
t
utilizando a express~ao quantizada (8.5) para o poten ial vetor A~ (~r; t). A derivada om rela ~ao
ao tempo que orresponde ao ampo eletri o e
s
4 2 X dq i~k~r
4 2 X
A~
=
e
=
~

~ p ei~k~r

3
3
t
L dt
L
onde a ondi ~ao de realidade de A~ e a deni ~ao do momento anôni o p foram utilizadas para
es rever
dq
= py = p :
dt
Vale a pena notar ainda que a onven ~ao da gura 8.1 tambem foi utilizada para obter a ultima
~ . O termo orrespondente ao ampo magneti o pode ser transformado
express~ao para A=t
usando as identidades
422

h

i
r A~ r A~ r A~ r A~ + A~ r r A~
e

r r A~ r r A~
h
~
r2A:
i
O termo r A~ r A~ envolve um divergente e sua integral de volume pode ser reduzida

a uma integral de superf ie que se anula devido as ondi ~oes de ontorno periodi as impostas
sobre A~ . A ondi ~ao de transversalidade impli a, por outro lado no anulamento do termo que
ontem r A~ , de modo que a ontribui ~ao do ampo magneti o para a energia do ampo se
reduz a A~ r2 A~ . O lapla iano do poten ial vetor e al ulado fa ilmente omo
r2 A~ =
4 2 X 2 i~k~r
~ k q e
L3
de modo que a energia do ampo e dada por

1
1 4 2 X
~ ~0 2 p p
Urad =
3
8 L 0

2
0 + k q q0
Z
d3 r ei(~k+~k )~r :
As ondi ~oes de ontorno periodi as impostas sobre as ondas planas d~ao agora
Z
d3 r ei(~k+~k )~r = V ~k;~k 0
e, usando a onven ~ao da gura 8.1 para os vetores de polariza ~ao,
~~k ~
~k0
= 0 :
Portanto
Urad =

1 X
1 X y
p p + !2 q q =
p p + !2 qy q
2
2
o que orresponde a uma soma de Hamiltonianos de os iladores ( omplexos) independentes.

Re-es revendo os p e os q em termos dos operadores a e ay resulta nalmente
Urad =

X
h ! y
1
a a + a ay = h ! ay a + = Hrad :
2
2

423
Esse resultado mostra, em parti ular, que Urad resulta ser uma quantidade independente do
tempo, embora seus ingredientes sejam expressos em termos da vers~ao de Heisenberg, e portanto
dependente do tempo, de A~ (~r; t). A raz~ao paira isso e que dependên ia temporal dos operadores
de Heisenberg asso iados ao ampo e justamente a que e gerada por Hrad = U . Assim, por
exemplo, a dependên ia temporal de q (t) satisfaz, omo se pode veri ar fa ilmente,
dq (t)
= [q (t); Hrad = [q (t); U :
dt
O fato de que Urad resulta ser independente do tempo e portanto apenas um aso parti ular do
resultado geral de que um hamiltoniano (visto omo gerador da evolu ~ao temporal do sistema
em quest~ao) que n~ao depende expli itamente do tempo, e independente do tempo (isto e, uma
onstante do movimento).
2. Momento. O momento P~rad asso iado ao ampo de radia ~ao livre pode ser identi ado
de uma forma semelhante a utilizada no aso da energia total Urad , partindo da express~ao
lassi a
1 Z 3 ~
d r E (~r; t) B~ (~r; t)
P~ l =
4
e al ulando-a em termo das express~oes quantizadas para os ampos
ih
1 4 2 X
E~ (~r; t) =
~ p (t)ei~k~r
3
L
4 2 X ~
B~ (~r; t) =
ik ~ q (t)ei~k~r :
3
L
Uma di uldade que apare e aqui e a de que as express~oes quânti as para E~ (~r; t) e B~ (~r; t) n~ao
omutam, o que ompromete a hermiti idade do operador que resulta da substitui ~ao direta
dessas express~oes em P~ l . Essa di uldade pode ser ontornada usando para o momento total
a express~ao simetrizada

1 Z 3 ~
d r E (~r; t) B~ (~r; t) B~ (~r; t) E~ (~r; t)
8
Z
i 4 2 X
0 ~ 0 )p q 0 d3 r ei(~k=~k0 )~r + h: :
~
~

(
k
=

8 2 L3 ;0
i XX
=
~ (~k ~ ~k0 )p ~k q ~k0 + h: : :
2 ;0 ~k ~k
P~rad =
Nessas express~oes h. . signi a o hermiteano onjugado do termo pre edente. Deve ser notado o
sinal negativo do termo B~ (~r; t) E~ (~r; t), que resulta da propriedade de antissimetria do produto
424
vetorial. O duplo produto vetorial que apare e na ultima forma dessa express~ao pode ser es rito
omo
~~k (~k ~
~k0 )
= (~~k ~
~k0 )~k
~~k (~k ~
~k0 )
sendo que o ultimo termo se anula devido ao arater transverso do ampo. Desse modo resulta
i X~
P~rad =
k p q
2
py q y =
i X~
k (p q
2
p q ) :
Os p e q podem ser es ritos em termos dos operadores a e ay usando as rela ~oes (8.4), o que
leva nalmente a express~ao para o momento total do ampo de radia ~ao

X
X
1
P~rad = h~k ay a + = h~kay a :
2

(8.9)
Como os operadores n = ay a orrespondem ao numero de fotons em ada modo , a soma

P
~k=2 orresponde ao momento total do va uo (estado de zero fotons), e foi tomada omo
h
sendo igual a zero. Para ada termo f~k; g essa soma ontem de fato um termo igual e
oposto, orrespondente a f ~k; g.
A express~ao nal (8.9) mostra que a ada foton no modo f~k; g esta asso iada uma ontribui ~ao h~k para o momento total. Disso de orre, em parti ular, que a energia orrespondente
a esse foton esta rela ionada om o modulo do momento atraves de
E = h ! = jh~kj
que ara teriza a rela ~ao entre energia e momento para objetos relativsti os de massa zero.
3. Componente intrnse a do momento angular. A express~ao para o momento total

do ampo de radia ~ao estudada no item anterior pode ser vista omo denindo uma densidade
~ rad dada por
de momento G

~ rad (~r; t) = 1 E~ (~r; t) B~ (~r; t) B~ (~r; t) E~ (~r; t)
G
8
a partir da qual se pode es rever uma densidade de momento angular, relativamente a origem
a que s~ao referidos os vetores de posi ~ao ~r,
h

i
~ rad = 1 ~r E~ (~r; t) B~ (~r; t) ~r B~ (~r; t) E~ (~r; t) :
~r G
8
425
Essas express~oes s~ao obtidas diretamente de express~oes lassi as orrespondentes, tendo em onta a n~ao omutatividade dos ampos quantizados E~ (~r; t) e B~ (~r; t). Uma propriedade importante
desta ultima express~ao para a densidade de momento angular e que ela pode ser de omposta
em duas partes, uma das quais n~ao depende expli itamente de ~r. Essa parte representa uma
ontribui ~ao das propriedades intrnse as do ampo para o momento angular, e orresponde
portanto ao spin ampo. De fato, o duplo produto vetorial pode ser transformado omo

~r E~ B~ = E~ ~r B~
~r E~ B~ = E~ ~r r A~
~r E~
~
r A:
Nessas express~oes a ordem dos ampos E~ e B~ foi mantida em ada um dos termos, o que e
essen ial devido a sua n~ao omutatividade. O segundo termo pode ainda ser transformado
omo

~r E~
i
h
r A~ = r ~r E~ A~ r ~r E~ A~
= (~r r) E~
h
A~ + E~ A~ r ~r E~ A~ :
N~ao e dif il veri ar diretamente que a ontribui ~ao nal do ultimo termo depende expli itamente de ~r, apesar da presen a do operador diferen ial r, de modo que, juntando os
resultados anteriores,

~r E~ B~ = E~ ~r r A~ + (~r r) E~
h
A~ r ~r E~ A~
+ E~ A~
e o ultimo termo e o uni o que da ontribui ~oes que n~ao dependem expli itamente de ~r. O
termo em que as posi ~oes de E~ e B~ s~ao tro adas leva a hermiteana onjugada dessa quantidade,
levando nalmente a forma para a omponente intrnse a do momento angular do ampo
i
1 Z 3 h~
I~rad =
d r E (~r; t) A~ (~r; t) + h: : :
8
O operador I~rad pode ser expresso sem di uldade em termos da expans~ao do ampo em
ondas planas (8.5), seguindo as mesmas linhas dos itens anteriores. De fato,
Z
d3 r
E~ (~r; t) A~ (~r; t) =
=
1 4 2 X
(~ ~0 ) p q0 L3 ~k;~k0
3
L ;0
4
X X
;0 ~k
~k
~ ~
~k0
~k q ~k0 :
Esta ultima express~ao ontem o produto vetorial de dois vetores de polariza ~ao e, ao ontrario
do que o orre no aso do al ulo da energia e do momento do ampo, so n~ao se anula quando
426
6= 0 . Expli itando a soma sobre polariza ~oes, e fazendo uso da anti-simetria do produto
vetorial resulta
Z
h
i

X
~~k1 ~~k2 p~k1 q~k2 p~k2 q~k1 :
d3 r E~ (~r; t) A~ (~r; t) = 4
~k
O passo nal onsiste em exprimir os p~k e q~k em termos de operadores de ria ~ao e de
aniquila ~ao, isto e
p~k1 q~k2
p~k1 q~k2 =
ih h y i!t
a e
~k1

a~yk2 ei!t
i!t
~k1 e
~k2 e
i!t

a~k2 e

i!t
a~k1 e
i!t + ay
i!t
~k2 e
i
+ ay ~k1 ei!t :
Os termos dependentes do tempo ( ontendo dois operadores de ria ~ao ou dois operadores de
aniquila ~ao) apare em nessa express~ao aos pares e om sinais opostos. Da segue portanto que
Z

X
~~k1 ~~k2 a~yk2 a~k1
d3 r E~ (~r; t) A~ (~r; t) = 4i
~k
a~yk1 a~k2 :
Devido ao arater anti-simetri o do produto vetorial esse operador e de fato hermiteano, o

que torna a adi ~ao do hermiteano onjugado super ua, neste aso. Es olhendo os vetores de
polariza ~ao de modo que se tenha
~~k1 ~~k2 = ~
~k1
~
~k2
~k
= k^ ~
jk j
resulta nalmente que a omponente intrnse a do momento angular do ampo e uma quantidade independente do tempo (e portanto tambem uma onstante do movimento) dada por
X
I~rad = ih k^ a~yk2 a~k1
~k
a~yk1 a~k2 :
(8.10)
Esse resultado mostra imediatamente que I~ n~ao e diagonal nos estados de polariza ~ao des ritos pelos vetores ~~k . De fato, os termos de I~ aniquilam fotons de uma polariza ~ao linear
dada e riam fotons linearmente polarizados numa dire ~ao perpendi ular a da polariza ~ao do
foton aniquilado. Esse arater n~ao diagonal na polariza ~ao pode porem ser eliminado atraves
da transforma ~ao

1
i
a~k1 = p b~k1 + b~k2 ;
a~k2 = p b~k1 b~k2
2
2
427
que pode ser fa ilmente invertida, dando

1
1
b~k1 = p a~k1 ia~k2 ;
b~k2 = p a~k1 + ia~k2 :
2
2
Essa e uma transforma ~ao anôni a, no sentido que as rela ~oes de omuta ~ao satisfeitas pelos
novos operadores b , by s~ao idênti as as que s~ao satisfeitas pelos operadores a , ay , isto e
i
[b ; b0 = 0:
b ; by0 = 0 ;
Em termos desses novos operadores a express~ao (8.10) assume a forma
X
I~rad = h k^ b~yk1 b~k1
~k
b~yk2 b~k2 :
(8.11)
A expans~ao em ondas planas do poten ial vetor A~ (~r; t) tambem pode ser expressa em termos
de b e by omo
A~ (~r; t) =
~k

4h h
~

b
+
~

b
ei(~k~r
~
~
~
~
k
+
k
1
k
k
2
3
2kL
!k t) + h: :
onde foram introduzidos os novos vetores de polariza ~ao

1
~~k p ~~k1 i~~k2 :
2
Esses vetores de polariza ~ao omplexos orrespondem aos estados de polariza ~ao ir ular \a
esquerda" (sinal +) e \a direita" (sinal ) da opti a ondulatoria, respe tivamente. A express~ao
de A~ (~r; t) mostra ent~ao que o operador b~yk1 ria um foton de momento h~k ir ularmente polarizado a direita, enquanto b~yk2 ria um foton ir ularmente polarizado a esquerda. De a ordo
om (8.11), ada foton de momento h~k ir ularmente polarizado a esquerda ontribui om h k^
para I~, enquanto ada foton de momento h~k ir ularmente polarizado a direita ontribui h k^.
^ h para um estado de um foton e hamada heli idade do foton, e portanto
A quantidade I~ k=
os estados de polariza ~ao ir ular a esquerda (direita) orrespondem a estados de heli idade
positiva, +1 (negativa, 1).
Como alternativa aos estados de Fo k jfn gi om fotons linearmente polarizados, eq. (8.7),
e possvel tambem usar estados de Fo k onstrudos om fotons om polariza ~ao ir ular, om
o que os operadores a , ay s~ao substitudos por b , by em (8.8). As propriedades da energia
total e do momento total do ampo om rela ~ao a polariza ~ao permitem es rever os operadores
orrespondentes simplesmente omo
X
X
Hrad = h ! by b
e
P~rad = h~k by b :

428
8.2
Intera
~
ao om um sistema de part
ulas arregadas.
O a oplamento da vers~ao des rita a ima do ampo de radia ~ao quantizado om um sistema
de part ulas arregadas que fun ionar~ao omo fontes para o ampo pode ser feito usando o
pro edimento ja utilizado na se ~ao 6.4. Formalmente, o a oplamento e implementado atraves
da substitui ~ao
e
~pi ! ~pi i A~ (~ri )
(8.12)

onde o operador p~i e o momento anoni amente onjugado a posi ~ao ~ri da i-esima part ula do
sistema uja arga e ei e A~ (~r) e o poten ial vetor que des reve o ampo de radia ~ao quantizado na
des ri ~ao de S hrodinger, obtida fazendo t = 0 na express~ao (8.5), que orresponde a des ri ~ao
de Heisenberg. O argumento de A~ (~r) e identi ado, no a oplamento, om o operador de posi ~ao
~ri da part ula onsiderada. Isso orresponde ao fato de que, lassi amente, a intera ~ao entre
o ampo eletromagneti o e uma arga puntiforme e dada em termos do valor do ampo na
posi ~ao da arga.
Uma situa ~ao bastante geral, que pode ser tomada omo exemplo desse pro edimento, e a
de um sistema de muitas part ulas, sujeitas a um poten ial externo de um orpo V (~ri ) (onde ~ri
e o operador de posi ~ao da i-esima part ula), e que interagem entre si atraves de um poten ial
de dois orpos v (~ri ; ~rj ). O hamiltoniano orrespondente a esse sistema de part ulas tem a
forma
!
X
p2i
1X
Hpart =
+ V (~ri ) +
v (~r ; ~r )
2mi
2 i;j i j
i
e, em presen a do ampo de radia ~ao, o hamiltoniano total a ser onsiderado e
H = Hrad + Hpart + Hint

onde Hpart + Hint resultam da substitui ~ao (8.12) feita em Hpart , que da
Hpart
!
=
"
ei ~ 2
1X
Hpart + Hint =
A(~ri ) + V (~ri ) +
v (~r ; ~r )

2 i;j i j
i

X e2
X ei
1 A
~ 2 ri ):
~pi A~ (~ri ) + A~ (~ri ) p~i +
Hpart
2 (~
2
m

2
m

i
i
i
i
X
1
p~
2mi i
(8.13)
Como o poten ial vetor orrespondente ao padr~ao de Coulomb tem divergên ia zero, ele na
realidade omuta om os momentos p~i anoni amente onjugados as posi ~oes ~ri , de modo que
ao hamiltoniano de intera ~ao pode ser es rito omo
429
Hint =
onde
X e2
ei
1 A
~ 2 (~ri )
~pi A~ (~ri ) +
2
mi
2
m

i
i
(8.14)
4 2 X
h
y :
i~k~r
A~ (~r) =
a
+
a
(8.15)
~

q
e
om
q
=

L3
2!
A intera ~ao oulombiana entre as part ulas arregadas e, nessa formula ~ao, representada pelo
poten ial de dois orpos
ee
v (~ri ; ~rj ) = i j
j~ri ~rj j
que esta supostamente in ludo no termo de dois orpos de Hpart .
Uma propriedade importante do hamiltoniano (8.13) e a de que ele n~ao e ompatvel om o
operador orrespondente ao numero total de fotons
N=
ay a
isto e, [H; N 6= 0. Isso signi a que, em geral, os estados esta ionarios de H n~ao ser~ao
autovetores de N , isto e, n~ao onter~ao um numero denido de fotons. Re ipro amente, estados
om um numero denido de fotons n~ao ser~ao, em geral, esta ionarios. Em parti ular, e fa il
ver que estados da forma
jE (0) ; 0i j(0)
E i
j 0i
onde j(0)
e um estado esta ionario de Hpart e j0i e o \va uo" (estado om zero fotons) de
E i
Hrad , isto e
(0)
Hpart j(0)
E i = E jE i
N j0i = Hrad jE (0) ; 0i = 0;
n~ao s~ao esta ionarios, pois
H jE (0) ; 0i = (Hrad + Hpart + Hint ) jE (0) ; 0i = E jE (0) ; 0i + Hint jE (0) ; 0i

e o ultimo termo ontem omponentes om zero, um e dois fotons. As omponentes om um
foton resultam dos termos de Hint que s~ao lineares em A~ (~ri ) e ontem um operador de ria ~ao
ay (v. equa ~oes (8.14) e (8.15)), enquanto os termos om zero e dois fotons provem do termo
quadrati o em A~ (~ri ), que pode ser es rito expli itamente omo
430
e21
2
i 2mi
A~ 2 (~ri ) =
4 2 X
L3 i
e21 X
~
2mi 2 ;0
v
u
u
i(~k +~k0 )~ri t
~0 e

h 2
a + ay a0 + ay 0 :
4! !0
Essa express~ao ontem termos de quatro tipos, envolvendo respe tivamente os operadores a a0 ,
ay a0 , a ay 0 e ay ay 0 . Os dois primeiros aniquilam o va uo j0i, por onterem operadores
de aniquila ~ao agindo diretamente sobre esse estado. A a ~ao do ter eiro sobre j0i da omo
resultado

a ay 0 j0i = [a ; ay 0 + ay 0 a j0i = ;
0
j 0i;
onde foram usadas as rela ~oes de omuta ~ao satisfeitas pelos operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao. A \sobrevivên ia" do va uo pode ser interpretada omo resultante da ria ~ao de um
foton 0 seguida da aniquila ~ao desse mesmo foton, omo indi ado expli itamente pelo delta
de Krone ker. Finalmente, da a ~ao do quarto termo sôbre o va uo resulta um estado de dois
fotons, que da lugar a omponente de dois fotons de Hint jE (0) ; 0i.
Esse resultado mostra que os estados esta ionarios de Hpart ombinados om o va uo de Hrad
deixam de ser esta ionarios quando s~ao levados em onta os efeitos dos termos de a oplamento
Hint , devido a possibilidade de emiss~ao de fotons, introduzida atraves desses termos. De uma
forma inteiramente analoga e possvel ver tambem que os estados esta ionarios de Hpart ombinados om estados de n (um ou mais) fotons de Hrad tambem n~ao s~ao esta ionarios, pois a
a ~ao de Hint sobre esses estados da lugar a omponentes n~ao apenas om n fotons, mas tambem
om n 2 (para n 2), n 1 e n + 2 fotons. Nesses asos, alem da emiss~ao de fotons, pode
o orrer tambem a absor ~ao de fotons atraves de Hint .
A dinâmi a de sistemas des ritos por hamiltonianos do tipo (8.13) n~ao pode, em geral,
ser tratada exatamente. Um pro edimento tpi o seguido nesse ontexto envolve a in lus~ao
de efeitos devidos a Hint atraves de te ni as de teoria de perturba ~oes, tomando omo ponto
de partida os estados esta ionarios de H0 = Hpart + Hrad . Ao ontrario do que a onte e om
H = H0 + Hint , H0 e ompatvel n~ao apenas om o operador orrespondente ao numero total
de fotons N , mas tambem om todo o onjunto de operadores N = ay a , de modo que os seus
autovetores podem ser tomados omo autovetores simultâneos de Hpart e dos N . Uma base
onveniente de autoestados de H0 pode de fato des es rita usando o fato de que Hpart e Hrad
s~ao ompatveis. Ela e a base produto formada por vetores de estado do tipo
jEn(0) ; fngi j
(0)
En
i
jfngi;
H0 jEn(0) ; fn gi = En +
h ! n jEn(0) ; fn gi
onde os j(0)
ao os estados esta ionarios de Hpart e jfn gi s~ao os autoestados (8.7) de Hrad .
En i s~
O uso de te ni as de teoria de perturba ~ao dependente do tempo permite al ular dessa forma
431
varios pro essos de interesse, entre os quais taxas de emiss~ao, absor ~ao e espalhamento de
fotons. Alguns exemplos disso ser~ao tratados nas se ~oes seguintes.
A observa ~ao feita na se ~ao 6.4 om rela ~ao a intera ~ao de propriedades eletromagneti as
asso iadas a spins om ampos eletromagneti os externos abe igualmente no ontexto da obten ~ao de Hint atraves da substitui ~ao (8.12). De fato, esse hamiltoniano de intera ~ao t~aopou o
in lui efeitos de intera ~ao om o ampo de radia ~ao de graus de propriedades eletromagneti as
asso iadas a graus liberdade sem analogo lassi o, omo e o aso dos momentos magneti os
asso iados aos spins. Para tratar esses efeitos e pre iso adi ionar expli itamente novos termos
a Hint . Um tratamento que evita esse pro edimento, de erta forma \ad ho ", envolve o uso da
equa ~ao de Dira para tratar part ulas de spin 1=2, e sera dis utido no aptulo 11.
8.2.1 Espalhamento Thomson.

Uma primeira apli a ~ao do esquema geral montado na se ~ao anterior onsiste no espalhamento
de fotons por uma part ula arregada (espalhamento Compton). Um aso parti ular espe ialmente simples o orre no aso em que a frequên ia dos fotons in identes e muito baixa, no
sentido que o re uo da part ula espalhadora e desprezvel, e o espalhamento e onsequentemente elasti o (espalhamento Thompson).
O pro esso geral a ser onsiderado envolve portanto transi ~oes que podem ser representadas
omo
+P
! 0 + P
onde e 0 representam o foton in idente e emergente, respe tivamente, e P representa a

part ula de massa M e arga Q. O hamiltoniano que des reve esse pro esso pode ser es rito
omo
H = Hrad +
p2
+ Hint
2M
onde o segundo termo orresponde a energia ineti a da part ula e
Hint =
Q2 ~ 2
Q ~
p~ A +
A:
M
2M 2
Tratando o problema no \sistema de laboratorio", no qual a part ula P tem ini ialmente
momento zero, as energias e momentos ini iais e nais s~ao dados omo no quadro abaixo.
432
Ei = h k + M 2
h~k
0
Energia :
Momento :
P
02
Ef = h k0 + M 2 + 2pM
h~k0
~p 0
A energia nal da part ula foi es rita na aproxima ~ao n~ao relativsti a. Em parti ular, no
limite do espalhamento Thompson, deve-se ter
p02
h k0 ' h k
2M
ou seja, j~k0 j ' j~kj, o que orresponde ao espalhamento elasti o do foton.
A se ~ao de hoque para esse pro esso de espalhamento e al ulada, perturbativamente,
atraves de uma apli a ~ao direta da \regra aurea" para obter a probabilidade de transi ~ao por
unidade de tempo entre o estado ini ial e os estados nais ff g apropriados, atraves do termo
de intera ~ao Hint . In luindo expli itamente termos de primeira e de segunda ordem em Hint , a
express~ao para a probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo e

2
X hf jHint jI ihI jHint jii
2 X
W=
+ (Ef
hf jHint jii +
h ff g
E
E
+
i
i
I
I
Ei )
Como o numero de fotons no estado ini ial e nos estados nais onsiderados e o mesmo, sendo
o poten ial vetor linear nos operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao de fotons, ay e a , e laro
que o elemento de matriz
Q
hf jp~ A~ jii
M
e nulo para este pro esso. O termo de Hint envolvendo A~ 2 , por outro lado, ontem um termo
propor ional a ay a0 e outro propor ional a a0 ay , alem de termos que riam e que aniquilam
dois fotons. Os dois primeiros ontribuem para o pro esso de espalhamento atraves do elemento
de matriz
Q2
hf jA~ 2jii:
(8.16)
2M 2
No tratamento perturbativo de pro essos eletromagneti os envolvendo argas eletri as que
s~ao multiplos pequenos da arga elementar, um parâmetro de expans~ao adequado e a onstante
433
de estrutura na = e2 =h ' 1=137, onde e representa a arga elementar. Supondo que essa
restri ~ao se aplique a arga Q da part ula espalhadora, e notando que a probabilidade de
transi ~ao depende do quadrado do elemento de matriz de transi ~ao, resulta que a ontribui ~ao
do elemento de matriz (8.16) da ontribui ~oes de ordem 2 para a probabilidade de transi ~ao.
Para manter a onsistên ia da expans~ao em potên ias de e ne essario no entanto onsiderar
ontribui ~oes de segunda ordem no termo envolvendo ~p A~ , que s~ao da mesma ordem em que
as ontribui ~oes de primeira ordem no termo envolvendo A~ 2 . As amplitudes de segunda ordem
relevantes nesse ontexto s~ao dadas por
Q2 hf jp~ A~ jI ihI jp~ A~ jii
M 2 2
Ei EI + i
onde jI i e um estado intermediario apropriado. Em geral, amplitudes deste tipo n~ao s~ao nulas
quando jI i ontem zero fotons ou dois fotons, dado que os estados ini ial e nal ontem um
foton. Na parti ular situa ~ao onsiderada aqui, no entanto, o elemento de matriz que ontem
o estado ini ial jii e nulo, pois esse estado e um autoestado do momento p~ om autovalor zero.
A referên ia expl ita ao referen ial de laboratorio para o anulamento das amplitudes
de segunda ordem a ima pode a primeira vista pare er estranha, om o argumento de que
e sempre possvel utilizar o referen ial em que a part ula espalhadora esteja ini ialmente
em repouso para al ular essas amplitudes, e que portanto elas devem se anular \sempre".
O argumento e de fato orreto, e foi na realidade utilizado no al ulo apresentado, mas a
on lus~ao tirada dele n~ao e orreta se \sempre" in lui o uso de outro referen ial qualquer.
E pre iso ter em onta que a des ri ~ao do ampo eletromagneti o no padr~ao de Coulomb
n~ao e \manifestamente ovariante", estando ligada a um referen ial denido, no sentido
que, por exemplo, a ondi a~o de divergên ia nula que ara teriza esse padr~ao assume uma
forma distinta quando se faz uma mudan a de referen ial (transforma ~ao de Lorentz) para
outro em movimento om rela a~o ao primeiro. O pro edimento de quantiza ~ao do ampo
de radia ~ao adotado aqui faz uso expl ito das ondi o~es que denem o padr~ao de Coulomb,
e portanto deve ser entendido sempre em rela ~ao a um referen ial denido. Desse modo, a
es olha de um referen ial apropriado deve pre eder o pro esso de quantiza ~ao. Desse modo,
no al ulo apresentado, o poten ial vetor e denido em termos do padr~ao de Coulomb
onstrudo para o referen ial em que a part ula espalhadora esta ini ialmente em repouso.
Os fotons resultantes da quantiza a~o utilizando o padr~ao de Coulomb s~ao diferentes para
es olhas tambem diferentes do referen ial, e a amplitude que se anula e a que orresponde
a ria ~ao ou aniquila a~o de fotons do referen ial de repouso ini ial da part ula atraves
do termo p~ A~ .
O elemento de matriz relevante para o pro esso de espalhamento onsiderado em ordem

perturbativa mais baixa e portanto dado por (8.16). Ele pode ser al ulado es revendo expli itamente os estados ini ial e nal omo
434
jii j~k~; p~i = 0i = a~yk~j0i p1 3

L
jf i j~k0~ 0; p~f = ~p 0 i = a~yk0~ 0 j0i p1 3 e hi p~ 0~r
L
onde j0i e o va uo de fotons, e os estados da part ula foram es ritos omo autofun ~oes do
momento, usando ondi ~oes de ontorno periodi as no volume L3 . Os vetores ~ e ~ 0 representam
os estados de polariza ~ao do foton ini ial e do foton nal, respe tivamente. Desse modo

Z
2
2
Q2
~ 2jii = Q 4 X ~ ~0 1 d3 r e hi p~ 0 ~r ei(~k +~k0 )~r h0ja~k0~ 0 q q0 a~y j0i:
h
f
j
A
k~
2M 2
2M 2 L3 ;0
L3
A integral sobre ~r pode ser feita imediatamente, dando uma fun ~ao delta de Krone ker que
imp~oe a onserva ~ao do momento total
i 0
1 Z 3
d r e h p~ ~r ei(~k +~k0 )~r = K ~k + ~k0 0
3
L
p~ 0
h
enquanto, usando a deni ~ao

s

h
a + ay ;
2k
o elemento de matriz no espa o de Fo k dos fotons a
q =
h0ja~k0~ 0 q q0 a~yk~j0i
ph
2 k k0
h0ja~k0~ 0 a ay 0 a~yk~j0i + h0ja~k0~ 0 ay a0 a~yk~j0i

i
+ h0ja~k0~ 0 a a0 a~yk~j0i + h0ja~k0~ 0 ay ay 0 a~yk~j0i :

As duas ultimas ontribui ~oes s~ao laramente nulas, sendo valores esperados no va uo de um
numero desigual de operadores de ria ~ao e de aniquila ~ao. As duas primeiras s~ao fa ilmente
al uladas usando as rela ~oes de omuta ~ao desses operadores, dando

h0ja~k0~ 0 qq0 a~yk~j0i = 2 phk k 0 ;~k~0; ~k0~ 0 + ; ~k0~ 0 0 ;~k~ :

Cole ionando os varios resultados par iais a forma nal da amplitude de transi ~ao para o
pro esso de espalhamento (8.16) apare e omo
435
00
11
100110
11
00
10
k
11
00
00
11
11
00
00
11
110
00
1
11
0
01
0
k
Figura 8.2: Diagrama \gaivota" para o espalhamento de fotons por uma part ula arregada.
Mg
2
2
Q2
~ 2jii = Q 4 2~ ~ 0 K ~k ~k0
h
f
j
A
2M 2
2M 2 L3
2h Q2
1
= p 0
~ ~ 0 3 K ~k ~k0
2
L
kk M
p~ 0
h
ph
2 kk0
p~ 0
:
h
Esse resultado pode ser interpretado omo orrespondendo a absor ~ao do foton ini ial ~k;~ por
um dos fatores A~ om a emiss~ao on omitante do foton nal ~k0 ;~ 0 pelo outro fator A~ . Como
ambos esses fatores envolvem o mesmo valor de ~r, esses pro essos de absor ~ao e de emiss~ao
o orrem \no mesmo ponto", e a amplitude al ulada pode ser representada pelo diagrama da
gura 8.2 que, eventualmente por sua aparên ia, e as vezes hamado diagrama \gaivota" (sea
gull). As duas partes em que e dividida a linha reta desse diagrama representam os estados
ini ial e nal da part ula, as linhas tra ejadas representam os fotons ini ial e nal e o verti e
representa a a ~ao do termo de intera ~ao envolvendo A~ 2 .
O elemento de matriz \gaivota" Mg deve agora ser usado na regra aurea para al ular a
probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo omo
2 X
W=
(E Ei )jMg j2 :
h ff g f
A espe i a ~ao do onjunto de estados nais a serem in ludos na soma depende da espe i a ~ao
do pro esso uja probabilidade se queira al ular. Para o al ulo da se ~ao de hoque diferen ial
de espalhamento do foton in idente om polariza ~ao ~ para o elemento de ângulo solido d
na dire ~ao nal k^0 = ~k0 =k0 sendo ainda a polariza ~ao do foton nal es olhida omo ~ 0 , a soma
deve in luir todos os valores possveis do modulo k0 = j~k0 j dentro do elemento de ângulo solido
onsiderado, bem omo todos os valores possveis do momento nal da part ula, p~ 0 . O que se
obtem desse modo e
436
2 1 X X
h k h k0
dW =
h L6 k0 p~ 0
p02
~k ~k0
2M K
p~ 0 4 2 h 2 2 Q4
(~ ~ 0 )2 : (8.17)
h
kk0 M 2 4
Essa express~ao in orpora as ondi ~oes de onserva ~ao de energia e momento na forma sugestiva
das \propriedades orpus ulares da luz", que primeiro atraiu a aten ~ao sobre o efeito Compton.
Ela se simpli a no limite de fotons de baixa energia (espalhamento Thompson), no qual a
energia de re uo da part ula p02 =2M e desprezvel para os valores de ~p 0 ompatveis om a
onserva ~ao do momento. Isso permite desprezar o termo de energia ineti a da part ula no
delta de Dira de onserva ~ao de energia, e fazer a soma sobre p~ 0 usando o delta de Krone ker
orrespondente a onserva ~ao de momento, o que leva a
dWTh =
p02
2M
2 2 Q4
2 1 X
0 ) 4 h
(~ ~ 0 )2 ;
(
h
k
h

k
6
2
2
0
h L k0
M kk
h k ;
p0 = h j~k ~k0 j: (8.18)
Os passos seguintes na redu ~ao das express~oes (8.17) ou (8.18) seguem os padr~oes usuais:
substitui ~ao da(s) soma(s) sobre o(s) espe tro(s) dis reto(s) do(s) momento(s) resultante(s)
das ondi ~oes de ontorno periodi as por integrais e mudan a da variavel de integra ~ao para o
argumento da fun ~ao delta de Dira . Apli ando, por exemplo, esse pro edimento a express~ao
(8.18), resulta
dWTh =
Z 1
2 1 L3
0 k 02 1 ( k
d
dk
h L6 (2 )3
h
0
k0 )
4
4 2h 2 Q4
0 )2 = d
Q (~ ~ 0 )2
(
~

~

M 2 2 kk0
L3 M 2 3
enquanto a se ~ao de hoque diferen ial orrespondente e

!
dTh
1
dWTh L3 dWTh
Q2 2
=
=
=
(~ ~ 0 )2 :
(8.19)
d
uxo in idente d
M 2
O uxo in idente de fotons foi al ulado omo o produto da densidade de fotons no estado ini ial,
1=L3 , pela velo idade asso iada aos fotons, . A se ~ao de hoque Thompson diferen ial, Eq.
(8.19), resulta ser uma quantidade \ lassi a", no sentido que nela n~ao intervem a onstante
de Plan k h. Na forma em que foi es rita, ela se refere ao aso do espalhamento de fotons
polarizados, om polariza ~ao ~, dando fotons espalhados om polariza ~ao tambem denida ~ 0 .
A dependên ia angular da se ~ao de hoque diferen ial provem, na realidade, uni amente do
produto es alar das polariza ~oes ini ial e nal. A geometria envolvida nesse produto es alar
pode ser melhor entendida fazendo referên ia a gura 8.3. O plano dessa gura oin ide om
o plano de espalhamento, isto e, om o plano denido pelos vetores de onda ini ial e nal, ~k e
437
~k 0 . Para ada um desses vetores de onda, os dois vetores de polariza ~ao basi os s~ao denidos
omo estando ontidos nesse mesmo plano (~1 , ~1 0 ) e perpendi ulares a ele (~2 , ~2 0 = ~2 ),
respe tivamente. Para um foton in idente linearmente polarizado, o vetor de polariza ~ao ini ial
~ estara em geral fora do plano de espalhamento, podendo der expresso em termos do ângulo
' que ele faz om esse plano omo
~ = ~1 os ' + ~2 sen ':
Analogamente, o vetor de polariza ~ao linear ~ 0 observado apos o espalhamento (n~ao in ludo
na gura) pode ser expandido omo
~ 0 = ~1 0 os '0 + ~2 0 sen '0 = ~1 0 os '0 + ~2 sen '0
onde '0 e o ângulo existente entre esse vetor e o plano de espalhamento. Tendo em onta que
o ângulo entre os vetores basi os de polariza ~ao ~1 e ~1 0 e o ângulo de espalhamento ,
~ ~ 0 = os ' os '0~1 ~1 0 + sen 'sen '0 = os ' os '0 os + sen 'sen '0 :
Quando o foton in idente e linearmente polarizado numa dire ~ao ~ mas o dete tor do foton
espalhado n~ao e sensvel a polariza ~ao, a se ~ao de hoque relevante e a se ~ao de hoque al ulada
a ima somada sobre uma base ortogonal qualquer de estados de polariza ~ao nais. Essa se ~ao
de hoque in lusiva pode ser al ulada, por exemplo, omo
(~! qqr: pol:)
2 d
X
dTh
Q2
Th
=
=
d
M 2
i=1 d
!2 2
X
i=1
(~ ~i 0 )2
Usando o fato de que (v. gura 8.3)
~ ~1 0 = os ' os
~ ~2 0 = sen '
e fa il ver que

(~! qqr: pol:)
dTh
Q2 2
=
(1 os2 ' sen2 ):
(8.20)
d
M 2
Um feixe in idente n~ao polarizado, por outro lado, deve ser visto omo uma mistura de dois
feixes polarizados em dire ~oes ortogonais e om pesos iguais. A se ~ao de hoque para um
feixe in idente de fotons n~ao polarizado, no aso de um dete tor insensvel a polariza ~ao nal,
orresponde a media de duas express~oes omo a (8.20) para duas polariza ~oes ini iais ortogonais
quaisquer. Es olhendo essas polariza ~oes ini iais omo ~1 e ~2 e fa il veri ar que
!
438
1
k
2 = 2
k
0011P
Figura 8.3: Vetores de polariza ~ao para o espalhamento Thompson.

(n~ao pol:! qqr: pol:)
dTh
1 Q2 2
=
(1 + os2 ):
(8.21)
d
2 M 2
O fator 1=2 nesta ultima express~ao provem da media tomada sobre as duas polariza ~oes ini iais.
Como pode ser notado, a se ~ao de hoque (8.20), orrespondente a fotons in identes linearmente
polarizados mas sem sele ~ao da polariza ~ao nal, depende n~ao so do ângulo de espalhamento
mas tambem do ângulo ', entre a dire ~ao da polariza ~ao dos fotons e o plano de espalhamento.
Uma outra forma de interpretar esta ultima dependên ia e ilustrada na gura 8.4. Aqui o plano
da gura orresponde n~ao mais ao plano de espalhamento mas ao \plano de in idên ia", denido
pelo momento do foton in idente h~k e pelo seu vetor de polariza ~ao ~. O vetor de polariza ~ao
quebra a simetria axial em torno da dire ~ao de in idên ia, resultando na dependên ia da se ~ao
de hoque diferen ial om ', que agora pode ser re onhe ido omo o ângulo azimutal em que
e observado o foton emergente. No aso da se ~ao de hoque envolvendo fotons in identes n~ao
polarizados a simetria em torno da dire ~ao de in idên ia e restabele ida, e a se ~ao de hoque
diferen ial depende apenas do ângulo de espalhamento .
Finalmente, a se ~ao de hoque total para o espalhamento Thompson, no aso de um feixe
n~ao polarizado e sem dis rimina ~ao da polariza ~ao nal, se obtem integrando a ultima express~ao
sobre todo o ângulo solido. Portanto
!
Th =
(n~ao pol:! qqr: pol:)

dTh
8 Q 2
d
=
d
3 M 2
O valor dessa se ~ao de hoque envolve o omprimento
r0
Q2
M 2
439
!2
11P
00
Figura 8.4: Diagrama ilustrando a dependên ia azimutal da se ~ao de hoque diferen ial (8.20),
em que os fotons in identes s~ao polarizados linearmente e a polariza ~ao nal n~ao e sele ionada.
que da uma medida da arga da part ula espalhadora, no aso em que sua massa (ou o valor
da rela ~ao Q=M entre a arga e a massa) seja onhe ida. O valor desse parâmetro para um
ele tron, em que Q e M s~ao respe tivamente a arga e a massa do ele tron, e hamado raio
lassi o do ele tron, e tem o valor r0 = 2:81785 10 13 m.
Convem observar expli itamente que a se ~ao de hoque in lusiva, sem observa ~ao de
polariza ~ao nal, e a se ~ao de hoque envolvendo feixe in idente n~ao polarizado foram
al uladas a ima em termos de somas ou medias de se o~es de hoque em que todas as
polariza ~oes s~ao onsideradas. Em outras palavras, as somas ou medias foram al uladas
no nvel das probabilidades, e n~ao no nvel das amplitudes quânti as referentes aos diferentes pro essos. Somas ou medias desse tipo s~ao usualmente hamadas \in oerentes" para
distingui-las da soma (dita \ oerente") de amplitudes quânti as. As probabilidades resultantes de somas oerentes diferem da soma in oerente das probabilidades orrespondentes
as varias amplitudes por onterem termos ruzados, ou de interferên ia, adi ionais.
As somas in oerentes envolvidas no al ulo de se ~oes de hoque (ou probabilidades de
transi ~ao) in lusivas podem ser entendidas no ontexto da interpreta ~ao estatsti a usual
da Me âni a Quânti a, tal omo exposta na se ~ao 2.2.3. De fato, no aso de um sistema
uja dinâmi a e regida por um hamiltoniano es rito omo H = H0 + H1, a probabilidade
de transi ~ao de um estado esta ionario jEi i de H0 (no qual o sistema se en ontra em
t = 0) para um estado estado nal jEf i, tambem estado esta ionario de H0 , no tempo t,
e dada em geral e de forma exata pela express~ao formal
Ti!f (t) = jhEf jUI (t; 0)jEi ij2 = hEi jUIy (t; 0)PEf UI (t; 0)jEi i
onde UI (t; 0) e o operador de evolu ~ao na representa ~ao de intera ~ao, que satisfaz a
equa a~o ( f. Eq. (2.30))
d
UI (0; 0) = ^1; H1(I ) (t) U0y(t; 0)H1 U0 (t; 0)
ih UI (t; 0) = H1(I ) (t)UI (t; 0);
dt
440
om U0(t; 0) = e
i
h H0 t
, e PEf e o operador de proje a~o

PEf
jEf ihEf j:
Caso o autovalor Ef de H0 seja degenerado, a espe i a a~o unvo a do estado nal onsiderado pode ser feita espe i ando tambem os autovalores de um onjunto ompleto de
observaveis ompatveis om H0. Denotando esses parâmetros adi ionais oletivamente
por , isso orresponde a al ular uma probabilidade de transi a~o Ti!f;(t) substituindo
PEf pelo operador de proje ~ao PEf ; jEf ihEf j. Alem disso e possvel onsiderar probabilidades de transi a~o in lusivas, extendendo esse operador de proje a~o omo no aso
da equa ~ao (2.15), isto e
PEf ; ! PEf ;fg
PEf ; =
jEf ihEf j
onde foi utilizado o fato de que hEf jEf 0i = 0 , resultante de terem esses estados sido
espe i ados pelos autovalores de um onjunto ompleto de observaveis ompatveis. A
probabilidade de transi ~ao in lusiva resultante e ent~ao
Ti!f;fg (t) = hEi jUIy(t; 0)PEf ;fg UI (t; 0)jEi i =
Ti!f; (t)
(8.22)
isto e, a soma in oerente das probabilidades de transi ~ao para ada um dos estados jEf i.
A ortogonalidade dos estados envolvidos no al ulo da probabilidade in lusiva, de orrente de serem eles autovetores simultâneos de um onjunto ompleto de observaveis
ompatveis, foi essen ial para que se obtenha esse resultado. Por outro lado, se
X
jEf ; i = jEf i

e um autoestado de um observavel g, ompatvel om H0 mas n~ao om os observaveis

utilizados para denir os estados jEf i, a probabilidade de transi ~ao para esse estado
sera dada por
2

X
Ti!f; (t) = jhEf ; jUIy (t; 0)jEi ij2 = hEf ; jUIy (t; 0)jEi i
que envolve uma soma oerente das amplitudes asso iadas aos estados jEf i om os oe ientes . Essa probabilidade n~ao pode, portanto ser obtida a partir das probabilidades
n~ao in lusivas Ti!f;(t) apenas, pois nela intervem tambem termos de interferên ia entre
as diferentes amplitudes. Isso mostra que o que se pode al ular variando a extens~ao da
soma in oerente sobre estados nais s~ao na realidade probabilidades de transi ~ao mais
441
ou menos in lusivas om
rela a~o aos autovalores do onjunto ompleto de observaveis

ompatveis utilizado para espe i ar ompletamente ada um dos estados nais, apenas.
A media sobre estados ini iais envolvida, por exemplo, no al ulo de se o~es de hoque
para feixes n~ao polarizados, pode ser tratada formalmente de modo idênti o a êsse, embora
sua interpreta ~ao seja algo diferente. De fato, essa media envolve, em parti ular, uma
soma in oerente sobre diferentes estados ini iais espe i ados por um onjunto ompleto
de observaveis ompatveis om H0, no aso em que o autovalor Ei seja por sua vez
degenerado, o que onfere um arater \in lusivo" ao estado ini ial, ja que a probabilidade
orrespondente pode ser es rita, em analogia om a equa a~o (8.22),
1
Ti;fg!f = hEf jUI (t; 0)PEi ;fg UIy(t; 0)jEf i
n
sendo PEi ;fg o operador de proje a~o in lusivo sobre os estados ini iais espe i ados por
Ei e por um onjunto ompleto de numeros quânti os adi ionais asso iados a observaveis
ompatveis, denotados oletivamente por , e sendo n o numero de estados in ludos no
projetor. Na vers~ao in lusiva, a representa a~o do estado ini ial e portanto estendida de
para
PEi ; jEi ihEi j
1P
n
Ei ;fg
X
= n1 jEi ihEij:
Essas express~oes representam o estado ini ial atraves de sua matriz densidade, denida
omo na pagina 147. No primeiro aso, o estado ini ial pode igualmente ser ara terizado
pelo vetor de estado jEii e orresponde por isso ao que se hama um estado \puro",
ao passo que no segundo aso a representa a~o atraves de um uni o vetor de estado n~ao
existe, omo no aso en ontrado anteriormente na pagina 279. Este tipo de estado e aqui
interpretado omo des revendo uma ole ~ao de sistemas idênti os ujos estados ini iais
s~ao preparados em estados (por exemplo, de polariza a~o) diferentes, mas om pesos iguais.
A onstante omum 1=n representa portanto a probabilidade \a priori" de que o estado ini ial de um dos sistemas seja um dado estado jEi i. Em geral, as probabilidades
asso iadas a diferentes estados ini iais na ole ~ao de sistemas onsiderada n~ao pre isam
ser iguais. Estados ini iais \n~ao puros" menos parti ulares podem portanto ser representados por matrizes densidade do tipo P jEiip hEij onde as probabilidades \a priori"
s~
ao dadas pelos numeros positivos p que devem satisfazer a ondi ~ao de normaliza ~ao
P
ltimo tipo
p = 1. Quando rotula diferentes estados de polariza ~ao, estados deste u
des revem feixes par ialmente polarizados.
As probabilidades de transi ~ao al uladas em teoria de perturba o~es omo W t, onde
W e a probabilidade de transi a~o por unidade de tempo dada pela regra aurea om op ~oes
442
apropriadas om rela a~o a soma sobre estados nais e media sobre estados ini iais, nada
mais s~ao que vers~oes aproximadas de express~oes omo as onsideradas a ima, as quais se
apli am portanto todas as onsidera ~oes feitas om rela ~ao a essas somas e medias. O
al an e dessas onsidera o~es n~ao e, no entanto, limitado a al ulos de tipo perturbativo.
No aso espe o das se o~es de hoque Thompson al uladas, os rotulos utilizados para
identi ar univo amente estados ini iais e nais, orrespondentes a e a ima, s~ao, nos
dois asos, o vetor de onda ~k (ou o momento h~k) do foton e seu estado de polariza ~ao.
Dessa forma, a matriz densidade que des reve o feixe in idente polarizado de fotons e
j~k~ih~k~j; o feixe in idente n~ao polarizado orresponde, por outro lado, a matriz densidade

feixe n~ao polarizado ! 12 j~k~1 ih~k~1j + j~k~2ih~k~2j
onde ~1 e ~2 representam um par qualquer de estados de polariza ~ao ortogonais do foton
de momento h~k. No aso de um feixe polarizado numa dire ~ao ~ diferente desses estados
de base es olhidos, a se a~o de hoque sera dada em termos de uma soma oerente de
amplitudes que tenham sido al uladas om os estados ini iais de polariza ~ao ~1 e ~2 , om
oe ientes 1 e 2 tais que ~ = 1~1 + 2~2.
8.2.2 Radia ~ao de freiamento (Bremsstrahlung).
A amplitude para um pro esso em que um ele tron interage om o ampo de radia ~ao dando
lugar a ria ~ao de um foton e em geral diferente de zero, na ordem mais baixa de teoria de
perturba ~ao, atraves do termo envolvendo ~p A~ . De fato, o elemento de matriz desse termo
entre um estado em que o ele tron tem momento p~ e no qual n~ao ha fotons, e outro estado
em que o ele tron tem momento p~ 0 e ha um foton om momento h~k e polariza ~ao ~ pode ser
fa ilmente al ulado omo sendo
hp~ 0 ; ~k~j
0
e 4h
e
~k + ~p
p~ A~ jp~ ; 0i =
~

p
~
K
me
me 2kL3
h
p~
:
h
Utilizando as mesmas onven ~oes da gura 8.2, esse elemento de matriz pode ser representado
pelo diagrama da gura 8.5. O delta de Krone ker que apare e omo ultimo fator representa a
onserva ~ao do momento total
h~k + ~p 0 = ~p;
e isso impli a no anulamento da probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo al ulada
atraves da regra aurea, pois essa rela ~ao e in ompatvel om a ondi ~ao de onserva ~ao de
energia
443
h k +
p2
p0 2
=
:
2me 2me
Desse modo, embora estando asso iada a uma amplitude n~ao nula, a emiss~ao de um foton por
um ele tron que interage apenas om o ampo de radia ~ao e ex luda pelo anulamento do espa o
de fase para esse pro esso.
A emiss~ao do foton se torna possvel, no entanto, quando o ele tron interage tambem om
outra part ula. Nesse aso a outra part ula pode tambem tro ar momento om o ele tron, do
que resulta um espa o de fase n~ao nulo para a emiss~ao do foton. O mesmo o orre no aso em que
o ele tron interage om um ampo externo, que pode ser visto omo o limite do aso anterior
quando a massa da outra part ula e muito maior que a massa do ele tron, de modo que o seu
re uo pode ser desprezado. Devido ao papel essen ial desempenhado pela outra part ula (ou
pelo ampo externo) nesse pro esso de emiss~ao, ele e onhe ido omo radia ~ao de freiamento
(Bremsstrahlung), e pode ser representado omo
e+Z
! e0 + Z 0 + :
A part ula adi ional e representada por Z . Sua massa M pode eventualmente ser muito
maior que a massa do ele tron. Tipi amente ela pode ser um nu leo de arga Ze que interage
om o ele tron atraves de seu ampo oulombiano. Os parâmetros inemati os relevantes para o
al ulo perturbativo do pro esso de radia ~ao de freiamento est~ao resumidos no quadro abaixo.
Nesse quadro, por simpli idade o ele tron e a part ula Z s~ao tratados em termos de uma
inemati a n~ao relativsti a, o que e permissvel quando p2 =2me me 2 = 510 KeV e M > me .
O spin das part ulas e ignorado.
01
11
00
011001
11
00
k
Figura 8.5: Diagrama que representa o

pro esso de emiss~ao de um foton por um
ele tron de momento p~.
11
00
00
11
01
p
444
01
10
0110
01
p
e
Energia :
Momento :
+ Z
2
Ei = 2pme + 0
~p
e0
Ef =
+ Z0 +
p02
2me
p~ 0
P2
2M
+ h k
P~
h~k
Uma outra forma de en arar esse pro esso, a qual e relevante para o desenvolvimento que
segue, e onsidera-lo omo um espalhamento inelasti o do ele tron pela part ula Z , a ompanhado da emiss~ao de um foton. Ainda por simpli idade, a massa de Z sera tomada omo sendo
muito maior que me . Nessas ondi ~oes, a energia de re uo P 2=2M e desprezvel em ompara ~ao om os outros termos de Ef para todos os valores de P~ ompatveis om a onserva ~ao
de momento. Isso permite ignorar a energia ineti a de Z e des rever a dinâmi a do pro esso
atraves do hamiltoniano
p2
e
e2 ~ 2
VZ (~r) +
~p A~ +
A:
(8.23)
2 me
me
2me 2
O poten ial VZ (~r) des reve a intera ~ao de Z om o ele tron, e sera tomado omo o poten ial
oulombiano blindado
Ze2 r
VZ (~r) =
e
r
om vistas ao seu tratamento na aproxima ~ao de Born, fazendo o parâmetro tender nalmente
a zero ( f. tratamento da pagina 208). Na realidade, seria possvel partir do hamiltoniano \n~ao
perturbado"
H = Hrad +
p2
VZ (~r)
2me
e tratar perturbativamente apenas os termos de intera ~ao om o ampo de radia ~ao. Para
evitar a ompli a ~ao te ni a do uso das fun ~oes oulombianas, que s~ao as autofun ~oes de H00 ,
a op ~ao feita a seguir parte do hamiltoniano n~ao perturbado livre
H00 = Hrad +
p2
2me
e trata perturbativamente tambem a intera ~ao Vz (~r), isto e
H0 = Hrad +
445
(a)
0
1
00
1
10
10
1
(b)
00
11
1101
00
00
11
00
11
11
00
11
00
11
00
00
11
00 00
11
110
1
1
0
0
1
00
11
11
00
p
Z
I
00
1
1
p
Figura 8.6: Diagramas que representam as amplitudes de segunda ordem que ontribuem para
a radia ~ao de freiamento.
Hint =
Ze2
e
r
r
e
e2 ~ 2
~p A~ +
A:
2me
2me 2
Tendo em vista o arater essen ial do poten ial VZ (~r) para o pro esso de emiss~ao de radia ~ao,
e fa il ver que as amplitudes de ordem mais baixa que ontribuem para ele s~ao de segunda
ordem, e envolvem uma intera ~ao do tipo p~ A~ alem da intera ~ao do ele tron om Z . Elas
podem ser lassi adas em dois tipos segundo a natureza dos estados intermediarios envolvidos,
e orrespondem aos dois diagramas da gura 8.6. Em (a) a intera ~ao om Z , representada
pela linha ha hureada verti al, pre ede a intera ~ao p~ A~ responsavel pela emiss~ao do foton.
Consequentemente, os estados intermediarios I ontem o ele tron num estado de momento p~I
e zero fotons. Em (b), por outro lado, a ria ~ao do foton pre ede a intera ~ao om Z , e os
estados intermediarios I 0 ontem o foton om momento h~k e polariza ~ao ~ alem do ele tron
om momento p~I 0 .
A probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo e dada pela regra aurea omo
2 X
W=
(E
h ff g f
Z 2 e6
Ei ) 2 2
me

X

I
hf jp~ A~ jI ihI j e rr jii + X hf j e rr jI 0ihI 0jp~ A~ jii 2 :

Ei
EI + i
EI 0 + i
Ei
I0
(8.24)
Os elementos de matriz que apare em nessa express~ao podem ser al ulados fa ilmente. Os
estados envolvidos s~ao, expli itamente,
jii = j0i p1 3 ei hp~ ~r; jI i = j0i p1 3 ei hI ~r; jI 0i = j~k~i p1 3 ei hI ~r
p~ 0
~p
446
jf i = j~k~i p1 3 ei p~h ~r :

L
Portanto
hI 0jp~ A~ jii =
e
4h
~p 0
~ p~ K ~k + I
3
2kL
h
p~
h
h
p~ 0
~
~

p
~
k
+
hf jp~ A~ jI i = 24kL
I K
3
h
p~I
:
h
Por outro lado

lim hI j
!0
r
1
j
ii = lim
!0 L3
r
d3 r e h (p~I
3
p~)~r
r
4
h 2
L3 (p~I ~p)2
e, de uma forma inteiramente analoga,

limhf j
!0
r
h 2
:
L3 (p~ 0 p~I 0 )2
j I 0 i = 4
Usando esses resultados juntamente om os denominadores de energia
Ei
EI + i =
p2
2 me
p2I
+ i
2me
Ei
EI 0 + i =
p2
2me
p2I 0
2me
h k + i
as amplitudes de segunda ordem que apare em na regra aurea, orrespondentes respe tivamente
aos pro essos (a) e (b) da gura 8.6, podem ser es ritas sob a forma
X
hf jp~ A~ jI ihI j e rr jii = 4

Ei
EI + i
L9=2
4h
2k
~ ~pI
(p~I
h 2
p~ 0
2me
~
k
+
p~)2 p2 p2I + i K
h
p~I
h
e
X
I0
hf j e rr jI 0ihI 0jp~ A~ jii

Ei
EI 0 + i
4 4h
= 9=2
~ ~p
L
2k
2
X
(p~ 0 h p~ 0 )2 p2 p20 22mme h k + i K ~k + ~phI 0
e
I
I
I0
p~
:
h
Como os deltas de Krone ker efetivamente reduzem as somas sobre estados intermediarios a
um uni o termo, a probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo (8.24) a reduzida a
447
W=
om
1
M= ~
(hk + ~p 0
p02
(4 )4 Z 2h 4 e6 X
(
h
k
+
L9
k ff g
2me
p2
) jM j2
2me
1
~ (h~k + p~ 0 )

+
p~)2 p2 (h~k + p~ 0 )2 + i p2
(8.25)
(h~k
~ p~
A:
~p)2 2meh k + i
Desse modo o objeto jM j2 que apare e em (8.25) e dado na realidade omo a soma de três
termos om dependên ias diferentes dos parâmetros inemati os nais p~ 0 , ~k e ~.
A express~ao (8.25) para W pode ser utilizada para obter varias quantidades fsi as de
interesse atraves de diferentes restri ~oes impostas sôbre a soma sobre estados nais. De fato,
medindo a probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo em unidades do uxo in idente de
ele trons, v=L3 = p=me L3 , o que se obtem e uma se ~ao de hoque
d =
me L3 (4 )4 Z 2h 4 e6 X X X
p02
(
h
k
+
p
L9 k fp~ 0 g f~kg f~g
2me
p2
) jM j2
2me
da qual e possvel obter, restringindo ou n~ao de forma apropriada as somas sobre ~p 0 , ~k e ~, a
distribui ~ao angular de fotons om ou sem sele ~ao da polariza ~ao, a distribui ~ao angular dos
ele trons emergentes, se ~oes de hoque duplamente diferen iais que d~ao a orrela ~ao angular
entre fotons e ele trons emergentes, et . Enquanto as quantidades mais in lusivas levam a
resultados de visualiza ~ao mais simples, no sentido de dependerem de um numero menor de
variaveis inemati as nais, o seu al ulo envolve por outro lado de um numero maior de
integra ~oes para as quais pode ser ne essario (ou pelo menos mais onveniente) re orrer a
te ni as numeri as. Uma dessas quantidades in lusivas e a se ~ao de hoque d=dk, que da a
distribui ~ao em energia dos fotons emitidos, independentemente de sua polariza ~ao e da sua
dire ~ao de emiss~ao. A sua obten ~ao envolve uma integra ~ao tri-dimensional sobre o momento
nal do ele tron e uma integra ~ao bi-dimensional sobre os ângulos do vetor de onda do foton,
k^, alem da soma sobre os estados de polariza ~ao dos fotons. Transformando, da forma usual,
as somas sobre p~ 0 e ~k que apare em na ultima express~ao a ima em integrais se obtem
d (4 )4 Z 2 h 4 e6 me L6 Z d3 p0 Z 2 ^ 2
p02
= 6
d
k
k
(
h
k
+
dk
L
pk
(2 )6 h 3
2me
p2 X
) jM j2 :
2me f~g
A integra ~ao sobre o modulo de p~ 0 pode ser feita imediatamente usando a fun ~ao delta de Dira
de onserva ~ao de energia, o que leva a
448
d 4Z 2 e6 m3e h k
=
dk
2p
s
p 2
me
2hk
me
d2 p^0
d2 k^
~
jM j2p02=p2+2me hk
onde a nota ~ao introduzida no ultimo fator indi a que jM j2 deve ser al ulado om a substitui ~ao
q
! p^0 p2 + 2meh k :
p~ 0
Este ultimo resultado envolve ainda quatro integrais angulares, alem da soma sobre polariza ~oes.
A dependên ia do integrando om as variaveis angulares a serem integradas apare e atraves de
termos ontendo p~ p^0 , ~p k^ e k^ p^0 , e a integra ~ao deve ser feita numeri amente. O omportamento
qualitativo de d=dk pode no entanto ser inferido do fato de que e possvel veri ar que a fun ~ao
de k denida por
X (k )
m4e 4h 2 k2
d2 p^0
d2 k^
~
jM j2p02 =p2+2me hk
se aproxima de um valor nito quando k ! 0, de modo que o resultado das integrais om

a soma sobra as polariza ~oes se omporta omo k 2 nesse limite. Os fatores m4e 4 h 2 foram
introduzidos om o objetivo de tornar a fun ~ao X (k) adimensional. Usando essa deni ~ao, a
se ~ao de hoque d=dk pode ser es rita
d
4Z 2 e6 m3e h
1
=
dk
2p
m4e 4h 2
4Z 2 e2
=
2 h
4Z 2
r02
=
2
e2
me 2
v
u
u
t
s
!2
p 2
me
2hk
me
me
p
p 2
me
h k
p2
2me
! s
X (k )
k
2hk
me
X (k )
k
X (k )
k
onde = e2 =h e a onstante de estrutura na e r0 = e2 =me 2 e o raio lassi o do ele tron.

Essa se ~ao de hoque portanto se anula quando a energia h k do foton se torna igual a energia
ineti a do ele tron in idente (pois nesse limite o fator envolvendo a raiz quadrada se anula) e
diverge omo k 1 quando k ! 0.
A divergên ia de d=dk para k ! 0 impli a que a se ~ao de hoque total a que esta sujeito
o feixe in idente de ele trons, que e dada por
449
=
p2
2me h
d
dk;
dk
(8.26)
diverge logaritmi amente no limite inferior da integra ~ao sobre k. Essa divergên ia, hamada
divergên ia, ou \ atastrofe" infra-vermelha (por o orrer no limite em que k ! 0), n~ao e no
entanto real, mas e um artefato espurio do al ulo perturbativo da probabilidade de emiss~ao de
um foton, omo argumentado ja em 1937 por Blo h e Nordsie k2 . De fato, para que o resultado
do al ulo perturbativo que leva a (8.26) possa ser relevante, e pre iso que a probabilidade de
emiss~ao de dois fotons seja muito menor que a probabilidade de emiss~ao de apenas um foton,
a probabilidade de emiss~ao de três fotons muito menor que a de dois, et . Uma estimativa
das raz~oes dessas probabilidades e no entanto (p=me )2 log(p2 =2meh k ), que e a ordem de
grandeza da raz~ao da se ~ao de hoque om emiss~ao de um foton de vetor de onda k pela se ~ao de
hoque orrespondente sem a emiss~ao de nenhum foton. Essa quantidade deixa de ser pequena
quando k ! 0. O modo padr~ao de onsertar o tratamento perturbativo nesse limite onsiste
em al ular a se ~ao de hoque de espalhamento sem emiss~ao de fotons ate a mesma ordem
perturbativa Z 2 e6 , o que envolve os pro essos representados na gura 8.7. O primeiro desses
pro essos e simplesmente a amplitude de Born, propor ional a Ze2 , orrespondente a intera ~ao
Z , enquanto o segundo, que leva a uma amplitude propor ional a Ze4 , envolve a emiss~ao de um
foton atraves do termo em ~p A~ antes da intera ~ao Z , e a posterior reabsor ~ao do mesmo foton
atraves de uma nova intera ~ao ~p A~ . O termo de Born de Z da uma ontribui ~ao para a se ~ao
de hoque propor ional a Z 2 e4 , mas o termo ruzado das duas amplitudes da gura 8.7 d~ao
uma ontribui ~ao propor ional a Z 2 e6 . A ontribui ~ao para a se ~ao de hoque sem emiss~ao de
fotons que envolve o quadrado da segunda amplitude e propor ional a Z 2 e8 e deve ser ignorada
por ser de ordem superior a onsiderada no al ulo da se ~ao de hoque om emiss~ao de fotons.
A ontribui ~ao do termo ruzado e tambem divergente para k ! 0 de forma que a soma das
se ~oes de hoque om e sem a emiss~ao de um foton n~ao mais diverge. A soma das duas se ~oes
de hoque e entendida omo a \se ~ao de hoque observavel", no sentido que um pro esso om
a emiss~ao de um foton de energia muito baixa e efetivamente indistinguvel dos pro essos sem
emiss~ao de fotons representados gura 8.7. E possvel mostrar tambem que an elamentos deste
tipo o orrem em todas as ordens de teoria de perturba ~oes.
F. Blo h e A. Nordsie k, Phys. Rev. 52, 54 (1937). Esse trabalho esta in ludo na oletânea Sele ted Papers
on Quantum Ele trodynami s, Julian S hwinger (ed.), Dover, N.Y., 1958, pag. 129. Tratamentos progressiva2
mente mais modernos dessa quest~ao (utilizando uma formula a~o ovariante) se en ontram, por exemplo, em F.
Mandl e G. Shaw, Quantum Field Theory, John Wiley & Sons (1986) Se a~o 9.7 e em S. Weinberg, The Quantum
Theory of Fields, Vol. I, Cambridge University Press (1995), Cap. 13.
450
Ze
00
11
1
0
p
Ze
00
11
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0001
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11
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11
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11
0001
11
p
Figura 8.7: Pro essos sem emiss~ao de fotons que an elam a divergên ia de (8.26).
8.2.3 Transi ~oes radiativas em sistemas ligados.

Nas duas se ~oes anteriores os sistemas arregados uja intera ~ao om o ampo de radia ~ao foi
tratada em termos de teoria de perturba ~oes s~ao sistemas \simples", des ritos omo onstitudos
de uma uni a part ula. No aso da radia ~ao de freiamento foi ne essario, a rigor, introduzir
na des ri ~ao tambem a intera ~ao dessa part ula \ativa" om uma outra part ula, am de
identi ar pro essos ujas probabilidades n~ao se anulem por raz~oes inemati as, isto e, ligadas
essen ialmente a argumentos de espa o de fases. A simpli idade do tratamento foi porem
mantida notando, em primeiro lugar, a equivalên ia entre a intera ~ao om a part ula adi ional
e a intera ~ao om um poten ial externo, no aso em que essa part ula adi ional tenha massa
su ientemente grande quando omparada om a massa da part ula ativa; e, em segundo lugar,
tratando os efeitos do poten ial externo equivalente tambem de forma perturbativa, o que reduz
a dinâmi a n~ao perturbada da part ula ativa a uma dinâmi a de part ula livre.
O tratamento n~ao perturbativo da part ula ativa om o poten ial externo que representa a
segunda part ula pesada na quest~ao da radia ~ao de freiamento, uja possibilidade foi men ionada mas des artada na se ~ao anterior, tipi a o problema a ser onsiderado agora. Em parti ular,
no aso em que a part ula ativa e um ele tron e a part ula pesada e um nu leo atômi o de
dimens~oes desprezveis e arga positiva Ze, a dinâmi a n~ao perturbada da part ula ativa deixa
de ser a dinâmi a de uma part ula livre e se torna a dinâmi a de um atomo hidrogenoide, om
seu espe tro par ialmente dis reto e par ialmente ontnuo. Transi ~oes perturbativas entre dois
estados do espe tro ontnuo om emiss~ao de fotons des revem ent~ao a radia ~ao de freiamento
que a ompanha o espalhamento oulombiano dos ele trons. O tratamento da se ~ao anterior e
na realidade um tratamento simpli ado deste problema, no qual a intera ~ao oulombiana e
tratada na aproxima ~ao de Born, apenas. O tratamento n~ao perturbativo do poten ial externo leva no entanto a possibilidade de pro essos que n~ao podem ser des ritos dessa forma, por
envolverem estados do espe tro dis reto do atomo hidrogenoide, para os quais a aproxima ~ao
de Born n~ao e relevante. Esses pro essos novos in luem a aptura radiativa do ele tron, que
451
pode ser vista omo um pro esso de radia ~ao de freiamento em que o ele tron, ini ialmente
em um estado n~ao perturbado do espe tro ontnuo, sofre uma transi ~ao radiativa para um
estado nal ligado, perten ente a parte dis reta do espe tro n~ao perturbado, e ainda as transi ~oes radiativas entre diferentes estados do espe tro dis reto. Da mesma forma que no aso
da aptura radiativa, e possvel estabele er rela ~oes de anidade tambem destes pro essos om
o da radia ~ao de freiamento, embora envolvendo agora apenas estados ligados do ele tron no
poten ial oulombiano. Como foi dis utido no aptulo 1, este foi um dos problemas- have para
a elabora ~ao da Me âni a Quânti a em sua forma atual por Heisenberg e S hrodinger ha agora
três quartos de se ulo, e e o que sera tratado a seguir.
Para isso sera onsiderado novamente o hamiltoniano (8.23) usado para tratar o pro esso
de radia ~ao de freiamento
H = Hrad +
Ze2
e
e2 ~ 2
+
p~ A~ +
A:
r
me
2me 2
p2
2me
onde agora, no entanto, apenas os dois ultimos termos
e
e2 ~ 2
~
Hint =
~p A +
A
me
2me 2
ser~ao tratados perturbativamente. Como pode ser notado, para es rever esse hamiltoniano
foram ignorados efeitos da massa nita do nu leo bem omo os spins das part ulas. Desse
modo as fun ~oes de onda que representam os estados esta ionarios n~ao perturbados do ele tron
s~ao autofun ~oes do hamiltoniano que des reve o atomo hidrogenoide
Hp =
p2
2me
Ze2
r
ujo espe tro dis reto foi obtido na se ~ao 5.2. As autofun ~oes do espe tro dis reto foram es ritas
na equa ~ao (5.37), e ser~ao aqui abreviadas omo
r)
nlm (~
= Rnl (r)Ylm(^r);
l < n; n 1; n; l inteiros
onde as fun ~oes radiais Rnl (r) s~ao normalizadas de modo que
Z
2 (r ) = 1
dr r2 Rnl
e os Ylm (^r) s~ao harmôni as esferi as dos ângulos do vetor ~r. Os autovalores de Hp asso iados a
essas autofun ~oes dependem apenas do numero quânti o n e s~ao dados por
452
Z 2 e4 me
:
2h2 n2
A es ala da extens~ao espa ial dessas autofun ~oes pode ser ara terizada pelo primeiro raio de
Bohr para o atomo hidrogenoide
En =
a0 1 h 2
=
:
Z Z me e2
Uma transi ~ao radiativa entre dois estados ligados om emiss~ao de um foton envolve portanto um estado ini ial j0i nlm (~r) jnlm; 0i, onde j0i e o va uo de fotons, e um estado nal
j~k~i n0l0 m0 (~r) jn0l0 m0 ; ~k~i, onde j~k~i e um estado ontendo um foton de momento h~k e polariza ~ao ~ (v. gura 8.8). As energias n~ao perturbadas asso iadas ao estado ini ial e ao estado
nal s~ao ent~ao, respe tivamente
a(0Z ) =
Ei = En
Ef = h k + En0
e a probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo devida aos termos de intera ~ao do atomo
om a radia ~ao e dada pela regra aurea, em ordem mais baixa de Hint , omo
W=
2
2 X 0 0 0 ~
hn l m ; k~
jHint jnlm; 0i (Ef
h ff g
Ei ):
(8.27)
Como o estado nal ontem um foton mais que o estado ini ial, apenas os termos lineares no
poten ial vetor ontribuem para os elementos de matriz que apare em nessa express~ao. De fato,
o têrmo envolvendo A~ 2 pode apenas, seja n~ao alterar o numero de fotons, seja riar ou aniquilar
dois fotons. Desse modo
hn0l0 m0; ~k~jHintjnlm; 0i
e 00 0~
hn l m ; k~jp~ A~ jnlm; 0i =
me
En
Figura 8.8: Transi ~ao do estado ligado

jnlmi para o estado ligado jn0 l0m0 i om
emiss~ao de um foton de momento h~k e polariza ~ao ~.
00
11
00
11
00
11
1
0
0
1
00
11
00
11
0
1
nlm
E n
453
nlm
e 4h Z 3
d r n0 l0 m0 (~r)e i~k~r ~ ~p
3
me 2kL
s
om
r)
nlm (~
4h ~
0 0 0 (~k )
~ J
2kL3 nlm; n l m
(8.28)
p~
d3 r e i~k~r n 0 l0 m0 (~r)
(~r):
(8.29)
me nlm
Note que o denominador me in ludo em (8.29) torna esse objeto adimensional. O elemento de
matriz (8.28) pode ser representado omo na gura 8.9, onde as linhas duplas representam os
estados ligados ini ial jnlmi e nal jn0 l0 m0 i do ele tron, respe tivamente. Ele orresponde a um
pro esso que difere daquele representado na gura 8.5 apenas pela natureza dos estados ini ial
e nal do ele tron. Essa diferen a tem, no entanto, onsequên ias radi ais, pois omo agora os
estados ini ial e nal n~ao s~ao autovetores do momento ~p, a integra ~ao sobre ~r n~ao mais onduz
ao delta de Krone ker de onserva ~ao do momento total obtido naquele aso, mas a quantidade
J~nlm; n0 l0 m0 (~k), que pode ser vista omo a omponente de Fourier ~k da densidade de orrente de
J~nlm; n0 l0 m0 (~k)
transi a~o
p~
(~r):
J~nlm; n0 l0 m0 (~r) n 0 l0 m0 (~r)
me nlm
Em onsequên ia disso, o on ito inemati o que leva ao anulamento do espa o de fases para
a emiss~ao de um foton no aso do pro esso representado pela gura 8.5 deixa de existir, e a
probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo (8.27) e em geral diferente de zero.
Como nos outros asos tratados ate aqui, diferentes quantidades de interesse podem ser
obtidas de (8.27) adotando diferentes tipos de restri ~ao para a soma sobre estados nais. Em
parti ular, a probabilidade de transi ~ao total se obtem somando sobre todos os momentos e
polariza ~oes do foton emitido. Transformando a soma sobre momentos em uma integral da
11
00
1
0
00
11
1
0
00
11
11
00
11
00
Figura 8.9: Diagrama que representa a

transi ~ao de um ele tron atômi o do estado
jnlmi para o estado jn0l0m0 i, a ompanhada
da emiss~ao de um foton de momento h~k e
polariza ~ao ~.
nlm
454
11
00
nlm
forma usual e expli itando as energias ini ial e nal no delta de Dira da regra aurea, isso leva
a
2 L3 Z 3 4e2h
W=
dk
(En0 + h k
h (2 )3
2k L3
2
En ) ~ J~nlm; n0 l0 m0 (~k) :
A distribui ~ao angular da radia ~ao emitida om uma dada polariza ~ao, por outro lado, e obtida
xando a polariza ~ao desejada e a dire ~ao de emiss~ao do foton k^ ~k=k. A integra ~ao sobre o
modulo de ~k e portanto a uni a que deve ser feita nesse aso. Ela pode ser feita imediatamente
utilizando a fun ~ao delta de onserva ~ao de energia, om o resultado
!

En En0 ^2
dWk^~
1 e2 En En0 ~
Jnlm; n0 l0 m0
=
k =
~
d
k
2 h
h
h

E ^2
E ~
0
0
0
~ J
k
=
2 h nlm; n l m h
(8.30)
onde e a onstante de estrutura na e E = En En0 e a diferen a de energia entre os dois

estados ligados envolvidos na transi ~ao (v. gura 8.8). Esse resultado mostra expli itamente
que a energia do foton emitido e dada por h k = h ! = En En0 . As transi ~oes radiativas entre
estados do espe tro dis reto do atomo leva portanto a um \espe tro de linhas" de fotons om
frequên ias bem denidas, determinadas pelo espa amento em energia dos estados do espe tro
dis reto do atomo.
E importante lembrar que rela a~o h! = En En0 que xa a frequên ia dos fotons emitidos
na transi ~ao jnlmi ! jn0l0 m0i foi obtida usando a aproxima a~o que onsiste em ignorar
a energia de re uo do nu leo, tratado a rigor simplesmente omo um poten ial externo.
Quando isso n~ao e feito, essa energia de re uo deve ser in luda omo parte da energia
nal, o que faz om que na realidade h ! seja ligeiramente menor que a diferen a de energia
entre os estados ligados envolvidos. A energia E perdida quando o nu leo de massa M
re ua om momento P pode ser estimada simplesmente usando P ' h k, o que da
P 2 (hk )2
E =
2M ' 2M 2
que, para h k ' E da ordem de eV, orresponde a E 10 9 eV para M da ordem da
massa do proton. Esse valor e omparavel om a in erteza na energia E devida a vida
media nita dos estados atômi os, a qual pode ser estimada omo h = ' h W onde W e a
probabilidade de transi a~o por unidade de tempo al ulada a ima, que resulta da ordem
de 107 s 1 ( 10 7 s).
455
Resta, nalmente, tratar do al ulo de (8.29), que onstitui o ingrediente dinâmi o entral da
probabilidade da transi ~ao radiativa no atomo, dada pela express~ao (8.30). Como os estados
ini ial e nal têm aqui um momento angular bem denido, uma expans~ao util onsiste em
es rever a onda plana que apare e no integrando tambem em termos de autofun ~oes do momento
angular. Isso sera tratado de forma mais ompleta na se ~ao seguinte, in luindo na expans~ao
o vetor de polariza ~ao que apare e tambem em (8.30). Um pro edimento mais simples, que
e no entanto su iente em muitos asos, onsiste em notar que os valores do argumento ~k ~r
da exponen ial que ontribuem signi ativamente para o valor da integral s~ao limitados pela
extens~ao espa ial dos estados ligados envolvidos. Esta pode ser estimada em termos do raio
medio hrinl para o estado de numeros quânti os fn; l; mg que foi obtido na se ~ao 5.2.1 omo
hrinl = 2aZ0 [3n2 l(l + 1);
onde a0 e o primeiro raio de Bohr. Em parti ular, para os estados ir ulares, para os quais
l = n 1, hrin;l=n 1 = (2n2 + n)a0 =2Z . Por outro lado, a diferen a de energia En En 1 dene
o modulo do vetor de onda do foton emitido nessa transi ~ao omo
k=
En
En
h
Z 2 R 2n 1
h n2 (n 1)2
de modo que, para transi ~oes desse tipo os maiores valores de kr s~ao da ordem de
khrinl
Za0 R (2n 1)(2n2 + n) Z 4n2 1

=
2h
n2 (n 1)2
4 n(n 1)2
onde = 1=137 e a onstante de estrutura na. Para a transi ~ao n = 2 ! n = 1 essa

quantidade e portanto da ordem de Z, e diminui a medida que n aumenta. Isso signi a
que, para transi ~oes desse tipo (ou para qualquer outra transi ~ao para a qual tambem se tenha
khrinl 1) e valores de Z pequenos om rela ~ao a 137, o omprimento de onda da radia ~ao
emitida e muito maior que a extens~ao espa ial dos estados atômi os envolvidos, sugerindo que
a exponen ial no integrando de (8.29) possa ser simplesmente substituda pelo primeiro termo
de sua expans~ao em serie de potên ias, isto e, e ikr ' 1. Por raz~oes que se tornar~ao laras em
seguida, essa aproxima ~ao e hamada a aproxima ~ao de dipolo eletri o3, na qual a densidade
de orrente de transi ~ao e dada simplesmente por
Mais pre isamente, essa aproxima a~o orresponde ao limite de grandes omprimentos de onda da amplitude
de dipolo eletri o, que pode ser extrada independentemente dessa aproxima a~o, omo mostrado na se a~o seguinte. Tambem na se a~o seguinte ser~ao identi ados na expans~ao da onda plana em autofun o~es do momento
angular os outros multipolos eletri os e magneti os. E usual designar a transi a~o de 2L-polo eletri o por EL,
bem omo a de 2L -polo magneti o por M L. Desse modo o rotulo onven ional para a omponente de dipolo
eletri o e E 1.
3
456
E1
J~nlm;
n0 l0 m0 =
p~
d3 r n 0 l0 m0 (~r)
me
r ):
nlm (~
De fato, essa express~ao pode ser re-es rita notando que
i
p~
= [Hp; ~r
me h
om o que, dado que
r)
nlm (~
r)
n0 l0 m0 (~
s~ao autofun ~oes de Hp , ela adquire a forma
i Z 3
d r n0 l0 m0 (~r)[Hp; ~r nlm (~r) =
h
E ~
E 0 En Z 3
00 0
d r n0 l0 m0 (~r) ~r nlm (~r) i
d
= i n
h
h nlm; n l m
E1
J~nlm;
n0 l0 m0 =
onde d~nlm; n0 l0 m0 e (a menos da arga do ele tron, e) o momento de dipolo eletri o de transi ~ao
( f. eq. (6.28)). A probabilidade por unidade de tempo da transi ~ao radiativa e dada portanto,
na aproxima ~ao de dipolo eletri o, por
2
dW~kE~1 E 3 ~

0
0
0

~

d
=
nlm; n l m :
d
k
2 h 3 2
Esta express~ao e essen ialmente a que resulta do tratamento de Heisenberg do problema

da intensidade das linhas espe trais do atomo de hidrogênio (v. Captulo 1, paginas 17 e
23). Note que a probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo W se rela iona om a
express~ao da pagina 17 por
= E
onde e a energia radiada por unidade de tempo e E = hk = h! e a energia da
transi ~ao. E de erta forma urioso que o passo ru ial para a inven ~ao da me âni a
quânti a teve omo ponto de apoio um tratamento perturbativo do problema da radia ~ao,
na aproxima ~ao de dipolo eletri o. Longe de di ultarem o passo, essas limita o~es efetivamente expuseram para um tratamento mais adequado as variaveis de posi ~ao, diante
da inadequa ~ao de sua interpreta a~o lassi a.
W
Existem situa ~oes em que a probabilidade de transi ~ao na aproxima ~ao de dipolo eletri o
dW E 1 se anula identi amente, devido a propriedades de simetria dos estados ini ial e nal
457
envolvidos no al ulo do momento de dipolo de transi ~ao. O onjunto de ondi ~oes que esses
estados devem satisfazer para que transi ~oes de dipolo eletri o sejam possveis onstitui as
\regras de sele ~ao" para esse tipo de transi ~ao.
Uma primeira regra de sele ~ao envolve a paridade dos estados ini ial e nal. De fato, as
fun ~oes de onda nlm têm paridades bem denidas, isto e
nlm (
~r) = ( 1)l
r)
nlm (~
e, em onsequên ia disso, a integral
d~nlm; n0 l0 m0 =
d3 r n 0 l0 m0 (~r) ~r
r)
nlm (~
se anula identi amente sempre que as duas fun ~oes de onda tiverem a mesma paridade (pois
nesse aso o integrando e uma fun ~ao mpar devido ao fator ~r). Transi ~oes de dipolo eletri o
so s~ao possveis, portanto, entre estados de paridades diferentes.
Ha tambem regras de sele ~ao relativas ao momento angular dos estados ini ial e nal, que
podem ser obtidas diretamente (embora n~ao da forma mais geral, v. nesse sentido o tratamento
da se ~ao seguinte) expli itando a dependên ia angular dos varios ingredientes de que dependem
as amplitudes de transi ~ao ~ d~nlm; n0 l0 m0 . Para isso onvem tratar separadamente a emiss~ao de
fotons om polariza ~ao ir ular e om polariza ~ao linear, respe tivamente.
O aso da emiss~ao de um foton ir ularmente polarizado pode ser tratado es olhendo o
sistema de eixos representado na gura 8.10, no qual z^ = k^, isto e, o eixo z aponta na dire ~ao
de emiss~ao do foton. Usando os vetores de polariza ~ao ir ular
1
~ = p (^x iy^)
2
as amplitudes de transi ~ao s~ao propor ionais a
z
Figura 8.10: Sistema de referên ia para a

emiss~ao de um foton ir ularmente polarizado.
458
x^
^
y
E1
~ J~nlm;
n0 l0 m0 =
d3 r n 0 l0 m0 (~r) ~ ~r
x^ iy^
d3 r n 0 l0 m0 (~r) p
2
Z
43 d3 r
r)
n0 l0 m0 (~
r)
nlm (~
r) =
nlm (~
r Y1;1 (^r)
r)
nlm (~
onde Y1;1 (^r) e uma harmôni a esferi a. Como a parte angular das fun ~oes de onda s~ao tambem
harmôni as esferi as, resulta que as amplitudes de transi ~ao s~ao propor ionais as integrais
angulares
Z
3
2l + 1 l 1 l 0 l 1 l 0
C
C
(8.31)
0
4 2l0 + 1 0 0 0 m 1 m
onde os dois ultimos fatores s~ao oe ientes de Clebs h-Gordan. A integral envolvendo três
harmôni as esferi as pode ser al ulada sem di uldade fazendo uso da identidade
dr^ Yl0m0 (^r)Y1;1(^r)Ylm (^r) =
Yl1 m1 (^r)Yl2 m2 (^r)
v
u
Xu
t
LM
(2l1 + 1)(2l2 + 1) l1 l2 L l1 l2
C0 0 0 Cm1 m2
4 (2L + 1)
L
M
YLM (^r)
e das propriedades de ortonormalidade das harmôni as esferi as. As regras de sele ~ao de momento angular para esse tipo de transi ~ao est~ao ontidas nos oe ientes de Clebs h-Gordan
que apare em em (8.31). De fato, as ondi ~oes para o n~ao anulamento desses oe ientes s~ao,
respe tivamente
a)
b)
0
C0l 10 0l
6= 0 ()
0
Cml 11 ml 0
6= 0 ()
jl
1j l 0 l + 1
l + 1 + l0 par;
jl
1j l 0 l + 1
m0 = m 1:
As ondi ~oes a) na realidade ex luem a possibilidade de que se tenha l = l0 , pois nesse aso
l + 1 + l0 e mpar. As transi ~oes de dipolo eletri o so podem o orrer, portanto, para
j l l 0 j = 1:
459
Essa regra de sele ~ao in lui a regra de sele ~ao de paridade, dado que a paridade de
Alem disso, as ondi ~oes b) exigem ainda que
nlm
e ( 1)l .
m0 = m 1
onde o duplo sinal se refere aos dois estados possveis de polariza ~ao ir ular, e o eixo z om
rela ~ao ao qual s~ao denidos os numeros quânti os m e m0 oin ide om a dire ~ao de emiss~ao
do foton ir ularmente polarizado.
Para tratar a emiss~ao de fotons polarizados linearmente o sistema de oordenadas mais
onveniente e o da gura 8.11, em que agora o eixo z oin ide om a dire ~ao do vetor de
polariza ~ao ~ e a dire ~ao de emiss~ao do foton e identi ada om o eixo x. Neste aso
~ ~r = z =
4
Y (^r)
3 10
e a integral angular que apare e na amplitude de transi ~ao e

Z
3
dr^ Yl0 m0 (^r)Y10 (^r)Ylm (^r) =
4
2l1
0
0
C0l 10 0l Cml 10 ml 0
0
2l + 1
que sera diferente de zero somente quando estiverem satisfeitas as ondi ~oes
jl l 0 j = 1
m0 = m:
Em resumo, transi ~oes de dipolo eletri o so podem o orrer entre estados ujos momentos
angulares diram por uma unidade. O numero quânti o magneti o m, por outro lado, podera
variar de uma unidade, impli ando nesse aso na emiss~ao de um foton ir ularmente polarizado,
ou se manter onstante, aso em que o foton emitido tem polariza ~ao linear. A apli a ~ao dessas
regras de sele ~ao as transi ~oes entre alguns dos nveis de menor energia do espe tro do atomo
de hidrogênio (sem in lus~ao de efeitos de spin) e ilustrada na gura 8.12. O diagrama do lado
z

emiss~ao de um foton linearmente polarizado.
k
x
y
460
l=0
l=1
l=2
n=3, l=0
n=4
n=3
n=2
Pol. linear
n=2, l=1
x
m=1
m=0
m=1
Pol. circular
n=1
Figura 8.12: Transi ~oes de dipolo eletri o orrespondentes as linhas de maior frequên ia das
series de Balmer (linhas tra ejadas), Pas hen (linhas tra o-ponto) e Lyman (linhas heias). As
linhas pontilhadas e ruzadas s~ao exemplos de transi ~oes proibidas na aproxima ~ao de dipolo
eletri o. O lado direito da gura expli ita as três omponentes magneti as da linha de Balmer
3s ! 2p, m = 1; 0; 1 e indi a a polariza ~ao da radia ~ao emitida em ada aso. Note que o
estado 3s tem ne essariamente m = 0.
direito mostra as três omponentes de uma transi ~ao da serie de Balmer asso iadas aos subestados magneti os do estado nal om l = 1, indi ando os respe tivos estados de polariza ~ao.
Um problema estreitamente ligado om o da emiss~ao de radia ~ao, omo tratado a ima, e
evidentemente o problema de absor ~ao de radia ~ao. As amplitudes de transi ~ao envolvidas nele
diferem das amplitudes rela ionadas om o pro esso de emiss~ao apenas pela tro a dos estados
ini ial e nal. As intensidades (i.e., as probabilidades de transi ~ao) asso iadas ao pro esso de
absor ~ao diferem, no entanto, das intensidades de emiss~ao por efeitos ligados a diferen as dos
fatores de espa o de fases apropriados a ada um dos dois asos.
8.2.4 Analise multipolar das transi ~oes radiativas.

No tratamento das regras de sele ~ao envolvendo o momento angular para as transi ~oes de dipolo
eletri o foi possvel ver expli itamente que a dependên ia angular asso iada a polariza ~ao do
foton emitido desempenha um papel essen ial. Isso pode ser entendido fa ilmente a vista das
express~oes (8.10) e (8.11), que mostram que as propriedades de polariza ~ao est~ao rela ionadas
diretamente om a parte intrnse a (spin) do momento angular do ampo de radia ~ao. Desse
modo, a quantidade que deve ser analisada em termos de omponentes om momento angular e
paridade bem denidos para generalizar o tratamento anterior n~ao e apenas a onda plana asso iada ao vetor de onda do foton emitido, mas a quantidade vetorial que apare e nas amplitudes
de transi ~ao
~ ei~k~r :
461
A quest~ao a ser examinada em seguida e portanto a expans~ao dessa quantidade vetorial em uma
serie ujos termos tenham propriedades bem denidas de momento angular e paridade. No aso
de transi ~oes radiativas entre estados ligados om momento angular e paridade denidos, apenas
um numero limitado de termos dessa expans~ao dara ontribui ~oes n~ao nulas, sendo as demais
ex ludas por regras de sele ~ao que generalizam as que foram obtidas na se ~ao anterior.
O ponto de partida para a obten ~ao de uma expans~ao desse tipo e ompletar a base bidimensional de vetores de polariza ~ao de modo a ter um onjunto ompleto de três vetores,
e a forma natural e adequada de fazer isso e introduzir, alem dos dois vetores de polariza ~ao
linear ~1 e ~2 asso iados ao vetor de onda ~k, um ter eiro vetor unitario na dire ~ao do vetor de
onda. Na realidade, omo visto na obten ~ao da equa ~ao (8.11), para tratar de propriedades de
momento angular e mais onveniente trabalhar om vetores de polariza ~ao ir ular, o que leva
a onsiderar os três vetores
~k
1
~1 = p (~1 i~2 )
e
~0 = k^ = :
(8.32)
k
2
De fato, usando um sistema de oordenadas tal que ~1 = x^, ~2 = y^ e ~0 = z^, e fa il ver que, se
u^ e um vetor unitario qualquer, vale a rela ~ao
~ u^ =
4
Y (û);
3 1
= 1; 0; 1:
de modo que as omponentes de um vetor qualquer s~ao propor ionais a harmôni as esferi as
om l = 1 e se omportam portanto omo autofun ~oes do momento angular.
Como no sistema de oordenadas adotado o eixo z tem a dire ~ao de ~k, as amplitudes de
para transi ~oes radiativas podem ser es ritas em termos de
~
eikr os
X q
il 4 (2l + 1)jl (kr) ~ Yl0 (^r)
(8.33)
om = 1, onde foi usada a expans~ao da onda plana em ondas par iais om momento angular
bem denido. Usando agora o fato de que os ~ se omportam omo as Y1 , os produtos desses
vetores por harmôni as esferi as que apare em nessa expans~ao podem ser tratados da mesma
forma que fun ~oes de onda envolvendo dois momentos angulares independentes. Em parti ular,
e possvel mudar de representa ~ao de forma a tornar diagonal o operador orrespondente ao
quadrado da soma desses dois momentos angulares, alem de sua omponente z . Os objetos
a oplados, orrespondente a esta nova representa ~ao s~ao dados da forma usual, omo
Y~ l1JM (^r)
m
Cml 1 Jm ~ Ylm (^r)
462
onde os oe ientes om três momentos angulares s~ao oe ientes de Clebs h-Gordan. Esses
objetos s~ao hamados harmôni as esferi as vetoriais, e se omportam omo autofun ~oes do
momento angular total om numeros quânti os J; M , resultantes do a oplamento do momento
angular l; m om o \spin" representado pelos ~ . A ortogonalidade da transforma ~ao representada pelos oe ientes de Clebs h-Gordan permite inverter trivialmente a ultima rela ~ao,
dando
~ Ylm (^r) =
Cml 1 MJ Y~ l1JM (^r)
de modo que a expans~ao (8.33) a es rita omo
~ eikr os =
XX
il 4 (2l + 1)jl (kr) C0l 1 J Y~ l1J (^r):
Para o al ulo das amplitudes de transi ~ao, os valores relevantes de s~ao 1 apenas, o que
ex lui o termo J = 0 da soma sobre J . Por outro lado, para ada valor de J a soma sobre l
tem apenas três termos, isto e, l = J e l = J 1. Introduzindo express~oes expl itas para os
oe ientes de Clebs h-Gordan orrespondentes a esses asos resulta
eikr os
~=1
8
<
J 1
iJ
4 (2J + 1)
2
2s
: jJ (kr)Y~J 1J(^r) i 4
J +1
j (kr)Y~ J
2J + 1 J 1
r)
1 1J (^
39
=
J
jJ +1 (kr)Y~ J +1 1J (^r)5;
2J + 1
que pode ainda ser transformada fazendo uso da identidade
r jJ (kr)Y~J 1J(^r)
2
i4
d
dr
(8.34)
s
d J +1
J
J ~
J +1 ~
jJ (kr)
Y
r) +
jJ (kr)
Y
+
J +1 1J (^
r
2J + 1
dr
r
2J + 1 J
r )5
1 1J (^
bem omo das rela ~oes ( f. equa ~ao (5.16))
d
dr
J
j (kr) = kjJ +1 (kr)
r J
e
463
d J +1
jJ (kr) = kjJ 1 (kr)
+
dr
r
levando nalmente ao resultado
~=1 eikr os =
J 1
iJ 2 (2J + 1)

1
r

jJ (kr)Y~ J 1J (^r) :
k
jJ (kr)Y~ J 1J(^r)
(8.35)
A de omposi ~ao multipolar de amplitude de transi ~ao resulta diretamente da substitui ~ao
dessa expans~ao em (8.28). De fato, introduzindo a nota ~ao abreviada J~IF , I nlm, F n0 l0 m0
para a densidade de orrente de transi ~ao, e usando a propriedade de onjuga ~ao omplexa das
harmôni as esferi as vetoriais
Y~J1J=1(^r) = Y~J 1J (^r)

resulta
q
X
EJ;
MJ;
(k) + TIF
(k )
~=1 J~IF = ( i)J 2 (2J + 1) TIF
J 1
(8.36)
onde foram introduzidas as amplitudes orrespondentes aos 2J -polos eletri os

EJ;
TIF
(k )
i
1Z 3 h
d r r jJ (kr)Y~ J 1J(^r)
k
"
(~r) ~p
me
r)
I (~
(8.37)
e aos 2J -polos magneti os

MJ;
TIF
(k )
d3 r
jJ (kr)Y~ J 1J (^r)
"
(~r) p~
(~r) :
(8.38)
me I
O que distingue os multipolos eletri os dos magneti os, para um dado valor de J , e a paridade.
De fato, e possvel mostrar4 que os operadores
r jJ (kr)Y~J 1J(^r) mp~

e
p~
jJ (kr)Y~ J 1J(^r)
me
têm, respe tivamente, paridades ( 1)J e ( 1)J +1 . Uma forma frequentemente usada para
exprimir isso e dizer que os multipolos eletri os têm paridade \natural", enquanto os multipolos
magneti os têm paridade \n~ao natural". Alem disso, os multipolos de ordem J se omportam
omo autofun ~oes do momento angular om autovalores J; . Essas propriedades permitem
obter fa ilmente regras de sele ~ao para transi ~oes de multipolaridade arbitraria, usando as
te ni as de momento angular que ser~ao desenvolvidas na se ~ao 9.3.3.
4
V. e.g. A. R. Edmonds, itado na lista de referên ias gerais.
464
Para fazer onta to om o tratamento da se ~ao anterior, e interessante examinar o omportamento dos diferentes multipolos da expans~ao geral (8.36) no limite de grandes omprimentos
de onda. O fator que envolve fun ~oes de Bessel e as harmôni as esferi as vetoriais do termo de
dipolo eletri o, om o uso da identidade (8.34) pode ser es rito omo
s
i
J ~
J +1 ~
Y
r) + j0 (kr)
Y (^r):
r

j1 (kr)Y~ 111 (^r) = j2 (kr)
111 (^
k
2J + 1
2J + 1 011
No limite de grandes omprimentos de onda, kr ! 0 e o termo envolvendo j2 (kr) vai a zero

omo (kr)2 , enquanto j0 (kr) = sen kr=kr ! 1. A harmôni a esferi a vetorial que a ompanha
j0 (kr) e, por outro lado,
Y~011 (^r) = C00
1 1
r)~
Y00 (^
p~
4
pois o oe iente de Clebs h-Gordan que a apare e e igual a 1. De forma analoga, resulta
que todos os demais multipolos (eletri os e magneti os) se anulam quando kr ! 0, pois todos
eles ontem fun ~oes de Bessel jn (kr) om n 1, e essas fun ~oes s~ao propor ionais a (kr)n
nesse limite. A parte remanes ente do termo de dipolo eletri o reproduz o resultado obtido
antes diretamente da aproxima ~ao e i~k~r ' 1. Isso mostra que a amplitude al ulada na se ~ao
anterior orresponde, de fato, ao limite para grandes omprimentos de onda do termo de dipolo
eletri o ompleto. Em situa ~oes mais gerais, alem de onsiderar as possveis ontribui ~oes de
outros multipolos, a ontribui ~ao do termo de dipolo eletri o deve ser al ulada om a express~ao
ompleta, dada por (8.37) om J = 1.
Problemas.
8.1 - a) Mostre que a transforma ~ao

a
ia
b~k+ = ~k1 p ~k2 ;
b~k =
a~k1 + ia~k2
p
2
preserva as rela ~oes de omuta ~ao [a ; a0 = 0; [a ; ay0 = 0 , isto e, as mesmas rela ~oes de
omuta ~ao valem para os b ; b0 , om f~k; g, = 1; 2 ou .
b) Se j0i e o va uo, onsidere os estados de um foton
j~k;~1;2 i = a~yk; 1;2j0i;
j~k;~i = b~yk;j0i
e al ule as \fun ~oes de onda" orrespondentes a eles, denidas omo h0jA~ (~r; t)jestadoi, onde
465
A~ (~r; t) =
~k;
2h h
~~k; a~k; ei(~k~r
kV
!t)
+ a~yk; e
i(~k~r !t)
Mostre que os dois tipos de estado orrespondem respe tivamente a fotons polarizados linearmente e ir ularmente. Identique o foton ir ularmente polarizado a direita.
8.2 - a) Cal ule, a partir da express~ao (8.19), a se ~ao de hoque Thompson para um feixe
in idente de fotons n~ao polarizados mas para uma polariza ~ao dada ~ 0 do foton emergente. Sugest~ao: utilize os vetores basi os de polariza ~ao ~i , ~i 0 omo denidos na gura 8.3, es revendo
a polariza ~ao nal omo ~ 0 = ~1 0 os '0 + ~2 0 sen '0 .
b) Verique que essa se ~ao de hoque depende, em geral, da dire ~ao do vetor de polariza ~ao
0
~ , de modo que os fotons emergentes s~ao par ialmente polarizados. Denindo o grau de
polariza ~ao p(), para um valor dado do ângulo de espalhamento omo
p( ) =
dmax dmin
dmax
onde dmax =d
e dmin=d
s~ao respe tivamente o valor maximo e o valor mnimo de se ~ao de
hoque diferen ial omo fun ~ao de '0 , om xo, verique que p( = =2) = 1 (polariza ~ao
ompleta) e p( = 0) = 0 (fotons emergentes n~ao polarizados).
) Pro ure justi ar a deni ~ao dada do grau de polariza ~ao. Sugest~ao: a probabilidade
de observar um foton om polariza ~ao ~ em um feixe de fotons de momento h~k par ialmente
polarizado, denido pelos pesos p1 e p2 = 1 p1 para os estados de polariza ~ao ~1 e ~2 , e
P2
2
i=1 pi (~i ~) .
d) Em que dire ~ao est~ao polarizados os fotons espalhados de = =2? Vo ê saberia omo
entender essa polariza ~ao, bem omo a polariza ~ao par ial dos fotons no aso geral, em termos
lassi os?
8.3 - Espalhamento Rayleigh. Resolva o problema do espalhamento elasti o de fotons n~ao

polarizados de frequên ia muito baixa por um os ilador harmôni o em seu estado fundamental.
Use

H=
h ! ay a +
~p
2
A~
1
+ M!02 r2
2M
2
e fa a as seguintes aproxima ~oes:

a) Use apenas um estado intermediario, isto e um primeiro estado ex itado do os ilador.
466
^
3

emiss~ao do foton no problema 8.4. O eixo
de quantiza ~ao do momento angular e ^3.
^
1
^
2
b) Para al ular os elementos de matriz use o qfato de que kb 1, onde k e o numero de

onda do foton e b e o parâmetro do os ilador, b = h =M!0 .
Obtenha a se ~ao de hoque diferen ial e total. Note que n~ao ha onserva ~ao de momento.
8.4 - Linha de Balmer no Hidrogênio. Um atomo de Hidrogênio sofre uma transi ~ao de
dipolo eletri o do nvel 3s para o nvel 2p om m = 0, sendo m o \numero quânti o magneti o"
(autovalor de L3 em unidades de h , v. gura 8.12). Es olha um eixo de quantiza ~ao ^3 xo
~ e dena a dire ~ao do foton emitido atraves dos ângulos e
para o momento angular orbital L
' indi ados na gura 8.13.
a) A he a distribui ~ao angular do foton emitido, no aso em que a sua polariza ~ao n~ao e
observada.
b) Cal ule a vida media (em segundos) do estado 3s relativamente a esse tipo de transi ~ao.
Sugest~ao: nas ondi ~oes propostas a quantidade ~ ~r que apare e na amplitude de transi ~ao
pode ser espe ializada para ~ ^3 r os devido ao fato de que m = 0 para a transi ~ao onsiderada.
Refer^
en ias gerais.
Um tratamento do ampo de radia ~ao semelhante ao dado aqui pode ser en ontrado em
? J. J. Sakurai, Advan ed Quantum Me hani s, Addison-Wesley 1967, Captulo 2.

Outros textos \ lassi os" que usam esse mesmo tipo de tratamento s~ao
? P. A. M. Dira , Quantum Me hani s, 4th Edition, Oxford 1958, Captulo X.

? W. Heitler, The Quantum Theory of Radiation, Oxford 1936, Captulo II.
467
Um trabalho de revis~ao sobre a intera ~ao de sistemas n~ao relativsti os om a radia ~ao e
? P. W. Miloni, Semi lassi al and Quantum-Ele trodynami al approa hes in Nonrelativisti

Radiation Theory, Phys. Lett. C25 (1976), pags. 1-81.
As te ni as de expans~ao em multipolos s~ao dis utidas em muitos textos sobre o momento
angular na me êni a quânti a. Uma referên ia frequentemente usada para esses assuntos e
? A. R. Edmonds, Angula Momentum in Quantum Me hani s, Prin eton U. Press 1957.

Um tratamento simples das harm^ni as esferi as vetoriais e dado na referên ia antiga mas
tambem \ lassi a" de fsi a nu lear
? J. Blatt e V. Weisskopf, Theoreti al Nu lear Physi s, Wiley 1954 (re-publi ada por Dover
em 1991), Apêndi e B.
468
Captulo 9
Transforma ~oes, simetrias e leis de
onserva ~ao.
As leis gerais de onserva ~ao de energia, momento e momento angular para um sistema fsi o des rito em termos da me âni a lassi a est~ao asso iadas a propriedades de invarian a da dinâmi a
do sistema sob a a ~ao geral das transforma ~oes espa io-temporais que s~ao, respe tivamente,
transla ~oes temporais, transla ~oes espa iais e rota ~oes espa iais. O objetivo deste aptulo e
examinar os resultados orrespondentes para a me âni a quânti a e estende-los para outros
objetos ou propriedades quânti as, eventualmente sem analogo lassi o, de que um exemplo e
o spin.
Uma quest~ao de natureza algo buro rati a, mas om impli a ~oes prati as importantes, e a
de que as transforma ~oes espa io-temporais podem ser des ritas de dois pontos de vista alternativos, as vezes hamados de ativo e passivo, respe tivamente. Uma transforma ~ao espa iotemporal e dita do tipo ativo quando ela e entendida omo apli ada ao proprio sistema fsi o
em quest~ao, isto e, o sistema fsi o e onsiderado em outro instante de tempo, levado a outra
posi ~ao ou orienta ~ao enquanto des rito em termos de um referen ial espa ial e uma es ala de
tempo xos. Por outro lado, uma transforma ~ao e dita do tipo passivo quando entendida omo
apli ada ao referen ial ou es ala de tempo em termos dos quais o sistema e des rito. Embora
equivalentes, esses dois pontos de vista devem ser uidadosamente distinguidos no trabalho formal, pois a passagem de um a outro impli a em mudan as de fase, geralmente de aparên ia sutil
mas ru iais para a onsistên ia geral do tratamento. Para ter um exemplo simples disso basta
onsiderar uma transla ~ao espa ial denida por um dado vetor ~a para um sistema onstitudo
de uma uni a part ula na posi ~ao ~r, om rela ~ao a uma dada origem O. Se a transla ~ao e
entendida dentro do ponto de vista ativo, ela leva a part ula a nova posi ~ao ~r0 = ~r + ~a om
rela ~ao a mesma origem O, enquanto que, do ponto de vista passivo, a origem e deslo ada para
O0 = O + ~a, om rela ~ao a qual a posi ~ao da part ula passa a ser ~r0 = ~r ~a. Isso faz ver
469
tambem que a transforma ~ao passiva que onsiste na transla ~ao denida pelo vetor ~a leva a
um vetor de posi ~ao uja express~ao e idênti a ao da transla ~ao ativa denida por +~a. Qualquer
mistura dos dois pontos de vista ao longo de algum desenvolvimento formal pode portanto levar
a erros irre uperaveis de sinal.
No que segue, salvo men ~ao expressa em ontrario, sera adotado o ponto de vista passivo. Uma forma geral de es rever uma transforma ~ao A qualquer das transforma ~oes espa iotemporais men ionadas (e ate mesmo uma ombina ~ao delas) e portanto
fqi; tg ! fqi0 ; t0g Afqi; tg
i = 1; 2; 3
onde fqi ; tg representa posi ~oes e instantes identi ados no referen ial ini ial e fqi0 ; t0 g representa as mesmas posi ~oes e instantes identi ados no referen ial transformado. As transforma ~oes
a serem onsideradas s~ao ainda independentes do tempo, o que ex lui, em parti ular, transforma ~oes para sistemas que se movem om rela ~ao ao sistema de partida. Mais formalmente, isso
signi a que a rela ~ao entre os qi0 e os qi e independente do tempo.
9.1
Grupos de transforma
o
~es.
Um fato importante a er a das transforma ~oes espa io-temporais onsideradas e o fato de que
elas onstituem famlias ara terizadas pelas seguintes propriedades:
1) A apli a ~ao su essiva de duas transforma ~oes A e B quaisquer da famlia e

equivalente a uma outra transforma ~ao D = BA tambem da famlia, isto e
B (Afqi ; tg) = fqi00 ; t00 g = Dfqi ; tg (BA)fqi ; tg:
A transforma ~ao D e hamada produto, ou omposi ~ao da transforma ~ao A om
a transforma ~ao B (nessa ordem). Esse produto, ou lei de omposi ~ao, deve ser
asso iativo, o que quer dizer que se C e tambem uma transforma ~ao, (C (BA)) =
((CB )A), mas em geral pode ser n~ao omutativo, isto e, em geral BA 6= AB .
Quando BA = AB para quaisquer dois elementos A e B o grupo e dito omutativo,
ou abeliano.
2) Existe uma transforma ~ao \idênti a" 1 tal que 1fqi ; tg = fqi ; tg.
3) Para ada transforma ~ao A da famlia existe uma outra transforma ~ao A 1 ,
tambem da famlia, tal que A 1 A = AA 1 = 1, onde 1 e a transforma ~ao idênti a.
Famlias de transforma ~oes om essas propriedades s~ao hamadas grupos de transforma ~oes. Um
exemplo extremamente simples de um grupo de transforma ~oes que tem apenas dois elementos
e a famlia formada pela transforma ~ao P de re ex~ao espa ial, denida por
470
P fqi ; tg = f qi ; tg;
onde os qi s~ao entendidos omo omponentes artesianas de um vetor de posi ~ao, alem da
transforma ~ao idênti a. De fato, e imediato que P P = 1 e 1P = P 1 = P . Portanto P 1 = P e
as três propriedades est~ao satisfeitas. Um exemplo ainda mais simples (embora trivial) de grupo
e o que e formado pela transforma ~ao idênti a apenas. Esta pode ser omposta onsigo mesma
dando novamente a transforma ~ao idênti a, que e portanto sua propria inversa, satisfazendo
sozinha as três propriedades que ara terizam um grupo. Esse grupo de um uni o elemento
e, por outro lado, parte do grupo de dois elementos f1; P g, e e portanto o que se hama um
sub-grupo do grupo maior. A transforma ~ao idênti a e alias um sub-grupo (trivial) de qualquer
grupo de transforma ~oes.
9.1.1 Grupos ontnuos, geradores.

Ha grupos que têm uma innidade ontnua de elementos. Um exemplo simples de um tal
grupo e o das rota ~oes em torno do eixo 3, denidas por t0 = t e
1
1
0
10
1
0
0
q1
q1
os ' sen ' 0
q10
C
C
B
B
B
B 0 C
sen ' os ' 0 C
A q2 A A' q2 A :
q2 A =
q3
q3
0
0 1
q30
Para essas transforma ~oes e fa il veri ar diretamente que
A'2 A'1 = A'1 +'2 = A'1 A'2 :

Por outro lado, e imediato que A'=0 = 1, logo A' 1 = A ' , o que veri a as três propriedades que ara terizam os grupos. Da lei de omposi ~ao do grupo de orre, em parti ular, que
esse e um grupo omutativo, ou abeliano. Como apropriado para o ponto de vista passivo, o
parâmetro ' e o ângulo de rota ~ao do sistema de oordenadas em torno do eixo 3, no sentido
anti-horario, e pode portanto variar de forma ontinua. Para tais grupos e onveniente onsiderar transforma ~oes \innitesimais", no sentido que s~ao muito proximas da transforma ~ao
idênti a 1, pois elas permitem, em ondi ~oes razoavelmente gerais, re onstruir todas as demais
transforma ~oes usando a lei de omposi ~ao que dene o grupo. Para este ultimo exemplo, uma
transforma ~ao innitesimal e uma rota ~ao de um ângulo innitesimal d! , que pode ser es rita
omo
0
Ad! = 1 + d! B

0 1 0
1 0 0
0 0 0
1
C
A
+ O(d! 2 ) 1 + d!3 + O(d! 2 ):

471
(9.1)
A rota ~ao de um ângulo nito ' pode ser es rita usando a lei de omposi ~ao do grupo omo

A' = A 'n
n
2
'
'
= 1 + 3 + O
n
n
!n
Tomando o limite n ! 1 e possvel ignorar os termos de ordem superior a primeira em '=n e

usar a rela ~ao
n
lim 1 +
=e
n!1
n

para obter o resultado
A' = e'3 :
N~ao e dif il veri ar que uma expans~ao em serie de potên ias dessa exponen ial reproduz a
expans~ao da express~ao original de A' , que pode portanto ser obtida desse modo em termos da
matriz 3 que ara teriza as transforma ~oes innitesimais do grupo. Por isso 3 e hamado
gerador do grupo de rota ~oes em torno do eixo 3.
Um grupo ontnuo geral tem um numero de geradores igual ao numero de parâmetros
ontnuos que rotulam seus elementos. As transforma ~oes nitas do grupo podem ser expressas
em termos de seus geradores atraves de re ursos analogos aos usados nesse exemplo. E importante notar desde logo, porem, que para grupos ontnuos n~ao omutativos uidados espe iais
s~ao ne essarios para ter em onta quest~oes de ordenamento no uso da lei de omposi ~ao.
9.1.2 Representa ~oes.

A a ~ao das transforma ~oes onsideradas ate aqui se da na realidade ao nvel das oordenadas
espa io-temporais em termos das quais de faz a des ri ~ao dos sistemas fsi os. O proximo passo
onsiste ent~ao em estudar os efeitos dessas transforma ~oes sobre os objetos inemati os basi os
envolvidos na des ri ~ao da dinâmi a desses sistemas.
No ontexto da me âni a quânti a, os estados de um sistema fsi o podem ser representados
por fun ~oes de onda (q ) denidas sobre o espa o de ongura ~oes do sistema. Nessa nota ~ao,
q designa oletivamente todas as oordenadas de posi ~ao ne essarias para identi ar um ponto
desse espa o. No aso de um sistema om N part ulas em três dimens~oes espa iais, por
exemplo, esse argumento envolve 3N oordenadas. Dada uma transforma ~ao
Afqi g = fqi0 g
472
em que fqi g e fqi0 g, i = 1; 2; 3 designam agora as antigas e novas oordenadas de um ponto no

espa o de três dimens~oes, e possvel denir uma transforma ~ao orrespondente RA no espa o
de fun ~oes de onda atraves de
RA = 0
onde as novas fun ~oes 0 s~ao denidas omo tendo, para os valores q 0 , transformados por A,
das oordenadas, o mesmo valor que as fun ~oes assumem nos valores originais q , isto e
0 (q 0 ) = (q ):
Em geral 0 (q ) 6= (q ), isto e, as fun ~oes 0 e assumem valores diferentes para argumentos
iguais, e s~ao portanto fun ~oes diferentes. No entanto elas assumem, por deni ~ao, o mesmo valor
para argumentos rela ionados atraves da transforma ~ao A. A transforma ~ao RA e portanto um
operador que age no espa o de fun ~oes de onda denido de forma que se tenha, para qualquer
fun ~ao de onda (q ),
(RA )(Aq ) = (q )
ou; equivalentemente;
(RA )(q ) = (A 1 q )
(9.2)
onde a nota ~ao usada no primeiro membro indi a o valor assumido pela fun ~ao transformada
RA no ponto transformado do espa o de ongura ~oes Aq , et .
Considerando agora um grupo de transforma ~oes espa io-temporais, e possvel veri ar que
o onjunto asso iado de operadores denidos desse modo no espa o de fun ~oes de onda onstitui
tambem um grupo, ujos elementos podem ser postos em orrespondên ia om os elementos do
grupo de partida. De fato, usando rela ~oes omo a (9.2) para denir operadores RA , RB e RBA
asso iados respe tivamente as duas transforma ~oes espa io-temporais A e B e a sua omposi ~ao
BA, resulta
(RBA ) (q ) =
(BA) 1 q =
A 1 B 1 q = (RA ) B 1 q = (RB (RA )) (q );
mostrando que a lei de omposi ~ao do grupo para as transforma ~oes A e B orresponde a lei
de omposi ~ao analoga para os operadores
RBA = RB RA :
Com pro edimentos semelhantes a esse e possvel veri ar que as demais propriedades que
ara terizam o grupo de transforma ~oes espa io-temporais tambem se transferem para os operadores denidos omo em (9.2). O grupo assim formado por esses operadores e hamado uma
representa a~o do grupo de transforma ~oes espa io-temporais onsiderado.
473
A representa ~ao do grupo de transforma o~es fAg em termos dos operadores fRA g onstruda a ima n~ao e uni a. De fato, a rela a~o (9.2) que dene o operador RA pode, por
exemplo, ser generalizada para

U R A (Aq) = U (q)
onde U e um operador unitario qualquer no espa o de Hilbert das fun o~es de onda, sem
que isso afete as propriedades de grupo dos novos operadores RA. E laro que para U = ^1
RA = R A . Para obter a rela ~ao geral entre RA e R A , basta notar que, segundo a deni ~ao
(9.2),
(RAU ) (Aq) = U (q)
para qualquer fun ~ao de onda (q). Comparando essa rela a~o om a deni a~o de RA,
resulta que
U R A = RA U
ou
R A = U yRA U
isto e, os operadores RA s~ao obtidos dos RA atraves da transforma a~o unitaria U , o que
impli a, em parti ular, na preserva ~ao das propriedades de grupo.
Uma representa ~ao fRAg e hamada redutvel quando existirem sub-espa os proprios
do espa o de Hilbert em que ela e denida (isto e, sub-espa os diferentes do espa o todo)
que s~ao invariantes sob a a a~o de todos os operadores que onstituem a representa ~ao em
quest~ao. Os operadores que onstituem a representa a~o do grupo podem ser expressos
tambem em termos de matrizes (RA )ij , denidas om rela ~ao a uma base dada fk g do
espa o de Hilbert apropriado ao sistema onsiderado. Quando a representa ~ao e redutvel,
existe uma mudan a de base fk g ! f g (equivalente a uma transforma a~oPunitaria dos
RA ) tal que os sub-espa os invariantes s~ao asso iados a projetores I 2I e
as matrizes que representam os RA s~ao todas tais que (RA ) 0 sempre que e
perten am a sub-espa os diferentes. Isso signi a que todas as matrizes que representam
os RA na nova base de de omp~oes em blo os independentes, ada um dos quais orresponde
a restri ~ao da a a~o dos RA sobre os vetores de um dos sub-espa os invariantes. Cada uma
dessas restri o~es dene, por sua vez, uma outra representa a~o do grupo. A dimens~ao de
uma dessas representa o~es e o numero de vetores linearmente independentes do sub-espa o
em que ela e denida (isto e, e a dimens~ao do sub-espa o invariante onsiderado). Uma
representa ~ao e hamada irredutvel quando n~ao existirem sub-espa os invariantes menores
que aquele no qual ela e denida. E possvel mostrar que representa ~oes irredutveis de
grupos omutativos (ou abelianos) s~ao unidimensionais.
A a ~ao dos operadores que onstituem a representa ~ao do grupo sôbre as variaveis dinâmi as
g (operadores hermiteanos no espa o de Hilbert) e denida da forma usual omo
474
RA g (q ) = RA gRA1 RA (q ) g 0 RA (q ) = g 0 0 (q )
ou seja
g 0 = RA gRA1:
Em parti ular, o hamiltoniano que ara teriza a dinâmi a do sistema fsi o onsiderado se
transforma omo
H 0 = RA HRA1 :
(9.3)
O sistema fsi o e dito invariante por um dado grupo de transforma ~oes se H 0 = H para
todos os operadores que onstituem a representa ~ao do grupo. A invarian a sob um dado
grupo de transforma ~oes impli a que a forma da equa ~ao de movimento e preservada sob as
transforma ~oes do grupo. De fato, a forma transformada da equa ~ao de movimento
H = ih

t
e, em geral,
0

H 0 0 = ih
t
e, quando H 0 = H , a solu ~ao transformada 0 satisfaz a mesma equa ~ao que a solu ~ao .
A ondi ~ao de invarian a H 0 = H , om H 0 dado por (9.3), pode ser expressa tambem atraves
da rela ~ao
[RA ; H = 0;
valida para todos os operadores RA que onstituem a representa ~ao do grupo. Essa rela ~ao mostra expli itamente que a invarian a de um sistema fsi o por um dado grupo de transforma ~oes
leva a existên ia de onstantes do movimento (v. se ~ao 2.3.3) asso iadas as transforma ~oes do
grupo. Em parti ular, no aso de grupos ontnuos, as variaveis dinâmi as relevantes podem
ser asso iadas aos geradores do grupo.
Para on retizar esses fatos gerais om um exemplo simples pode ser util onsiderar a sua
apli a ~ao ao grupo de dois elementos formado pela transforma ~ao de invers~ao espa ial P e
pela transforma ~ao idênti a, ja onsiderado na pagina 471. Os operadores que representam
esse grupo no espa o de Hilbert das fun ~oes de onda (q ) de um dado sistema podem ser
475
onstrudos usando diretamente a rela ~ao (9.2) para ada um dos elementos do grupo. No aso
da transforma ~ao idênti a

(R1 ) (q ) = 1 1 q = (q )
para qualquer fun ~ao de onda (q ). Isso signi a que R1 asso ia qualquer fun ~ao de onda a si
mesma, e portanto e o operador identidade ^1 do espa o de Hilbert onsiderado. Para o operador
de invers~ao P , por outro lado

(RP ) (q ) = P 1 q = (P q ) = ( q )
o que identi a o operador RP om o operador de invers~ao espa ial P introduzido na dis uss~ao
do efeito Stark (v. pagina 318). O grupo de transforma ~oes f1; P g e portanto representado no
espa o de Hilbert onsiderado pelos operadores f^1; Pg. Um sistema e invariante om rela ~ao a
esse grupo de transforma ~oes se o hamiltoniano H que ara teriza sua dinâmi a omuta om
esses dois operadores. Como a omuta ~ao om o operador identidade ^1 e trivial, a ondi ~ao de
invarian a se reduz na realidade, neste aso a ondi ~ao
[H; P = 0:
(9.4)
Como foi observado anteriormente, o operador P e tanto hermiteano quanto unitario. A ondi ~ao de invarian a e na realidade tambem a ondi ~ao de ompatibilidade om H , de modo que
as autofun ~oes de H podem ser sempre es olhidas de modo a serem tambem autofun ~oes da
onstante do movimento P (estados esta ionarios de paridade denida). De fato, da omutatividade de H om P segue em geral que, se H E = E E ,
PH
= H P E = H E0 = E E0
isto e, E0 = P E e tambem uma autofun ~ao de H om o mesmo autovalor E . Com rela ~ao ao
operador P ha ent~ao dois asos possveis a onsiderar:
a) a fun ~ao E e tambem autofun ~ao de P . Como P 2 = P os autovalores possveis s~ao 1
e portanto
E
0 =P = ;
E
E
b) a fun ~ao E n~ao e autofun ~ao de P , isto e, E0 = P E n~ao e propor ional a E . Neste
E
aso, usando o fato que P 2 = P e imediato veri ar que as duas fun ~oes ortogonais denidas
por
E() E P E = E E0
s~ao autofun ~oes n~ao apenas de H mas tambem de P , om autovalores 1 respe tivamente.
A n~ao propor ionalidade de E0 a E , juntamente om a simetria (9.4), impli a portanto na
degeneres ên ia pelo menos dupla do autovalor E de H .
476
9.2
Transla
o
~es espa iais e momento.
Uma transla ~ao espa ial (passiva) pode ser ara terizada por um deslo amento da origem do
referen ial de um vetor d~ fd1 ; d2 ; d3 g de modo que ela orresponde a transforma ~ao do vetor
de posi ~ao ~q fq1 ; q2 ; q3 g dada por
qi0 = Td~qi = qi
di ;
i = 1; 2; 3
ou
~
q~ 0 = Td~~q = ~q d:
E imediato veri ar que essas transforma ~oes formam um grupo ( ontnuo) omutativo, om a
lei de omposi ~ao
Td~2 Td~1 = Td~1 +d~2 = Td~1 Td~2

para quaisquer d~1 e d~2 . A identidade do grupo orresponde a tomar para d~ o vetor nulo, e
Td~ 1 = T d~ .
A a ~ao desse grupo sôbre as fun ~oes de onda que representam os estados de um sistema
quânti o envolve a onstru ~ao da representa ~ao apropriada fRd~ no espa o de Hilbert orrespondente. Para um sistema de N part ulas as fun ~oes de onda podem ser es ritas omo
(~r1 ; :::; ~rN ) (~r ). Essas fun ~oes podem onter tambem variaveis de spin. Estas n~ao s~ao, no
entanto, relevantes neste aso, e por isso n~ao ser~ao exibidas expli itamente. Usando a rela ~ao
geral (9.2) a representa ~ao e denida por
0 (~q ) (R ~ )(~q ) = (T ~ ~q ) = (~q + d~):

d
d
Como este e um grupo ontnuo, e vantajoso obter a representa ~ao de seus geradores e em
seguida exprimir os Rd~, para d~ nito, em termos desses geradores. Para isso basta onsiderar
transla ~oes innitesimais, para as quais se pode es rever
0 (~q ) = (~q + ~) = (~q ) + X ~ r (~q ) + O(2 )

ou seja
"
0 (~q ) = 1 + X ~ r

(~q ) + O(2 )
de modo que
R~ = 1 +
i
~ r + O(2 ) = 1 + ~ P~ + O(2 )
h
477
onde
Xh

r
P~ =
i
e o operador asso iado ao momento total do sistema. Isso mostra portanto que os três geradores
da representa ~ao do grupo de transla ~oes espa iais s~ao essen ialmente as três omponentes do
momento total do sistema onsiderado.
A representa ~ao das transla ~oes nitas no espa o de Hilbert das fun ~oes de onda podem
agora ser obtidas usando a lei de omposi ~ao do grupo para es rever
0
1n
i d~ ~ A
i
1 +
Rd~ = nlim

P = e h d~P~ :
!1
h n
(9.5)
Dessa forma resulta nalmente que

0 (~q ) = (~q + d~) = R ~ (~q ) = e hi d~P~ (~q ):

d
(9.6)
A invarian a transla ional do sistema, por outro lado, e expressa pela ondi ~ao [H; Rd~ = 0
para qualquer d~. Tendo em vista a express~ao (9.5), essa ondi ~ao e equivalente a
[H; P~ = 0
isto e, o momento total do sistema e uma onstante do movimento. Isso signi a tambem que
H e P~ possuem um onjunto ompleto de autofun ~oes omuns E;K~ (~q ),
HE;K~ (~q ) = EE;K~ (~q )
~ E;K~ (~q ):
P~ E;K~ (~q ) = h K
Isso na realidade impli a em ondi ~oes sobre a estrutura geral dessas autofun ~oes omuns,
que podem ser expli itadas notando que, em vista da rela ~ao (9.6) e do fato de que elas s~ao
autofun ~oes do momento total,
E;K~ (~q + d~) = e h d~P~ E;K~ (~q ) = eid~K~ E;K~ (~q ):

i
Como o momento total P~ e anoni amente onjugado a posi ~ao do entro de massa
1 X
m ~q ;
X~ = P
m
onde m s~ao as massas das part ulas, segue que E;K~ (~q ) deve ter a forma
478
E;K~ (~q ) = eiK~ X~ 'E;K~ ( )

onde as variaveis dependem apenas das posi ~oes relativas das part ulas1 de modo que a
~ . Esse fator
fun ~ao 'E;K~ ( ) seja independente do vetor de posi ~ao do entro de massa, X
\intrnse o" e portanto tambem uma autofun ~ao do momento total P~ om autovalor zero. A
~
invarian a transla ional n~ao permite ex luir, por si so, que ele dependa do momento total h K
do sistema. Isso de fato o orre, no entanto, para hamiltonianos da forma H = P 2 =2M +
Hint , onde Hint e um hamiltoniano intrnse o que omuta om P~ , que garante a invarian a
por transforma ~oes mais gerais que as do grupo das transla ~oes espa iais (transforma ~oes de
Galileu).
O grupo das transla o~es espa iais e um grupo omutativo ujas representa o~es irredutveis s~ao unidimensionais, omo armado anteriormente om rela ~ao a tais grupos.
Os operadores Rd~ , eq. (9.5), que onstituem a representa ~ao desse grupo no espa o de
Hilbert das fun ~oes de onda (~q ) s~ao operadores unitarios, e a base ortonormal que dene as representa o~es irredutveis unidimensionais e formada por autofun ~oes do momento
total (alem de outras variaveis dinâmi as que sejam ne essarias para a onstitui ~ao de um
onjunto ompleto de observaveis ompatveis). De fato, para qualquer vetor de base que
seja autofun a~o do momento total vale Rd~ K~ = eid~K~ K~ , de modo que os elementos da
representa a~o orrespondem simplesmente a multipli a ~ao pelos fatores de fase eid~K~ , que
s~ao na realidade matrizes unitarias de dimens~ao 1, om elementos de matriz nulos entre
vetores distintos da base.
9.3
Rota
o
~es, momento angular e spin.
O grupo de rota ~oes em três dimens~oes e mais omplexo que o grupo de transla ~oes, dis utido
na se ~ao anterior, por ser um grupo n~ao omutativo. De fato, e bem onhe ido o fato de que
rota ~oes espa iais nitas em geral n~ao omutam, isto e, produzem resultados diferentes quando
exe utadas em ordens diferentes. Como o grupo de transla ~oes, no entanto, este e um grupo
ontnuo, ujos elementos podem ser onvenientemente expressos em termos de geradores.
Os geradores do grupo de rota ~oes em três dimens~oes podem ser obtidos onsiderando
ini ialmente os efeitos para um vetor de posi ~ao ~q de uma rota ~ao de um ângulo innitesimal
~ , isto e as posi o~es das part ulas tomadas
Uma es olha possvel para as variaveis intrnse as e ~ = ~q X
~

om rela a~o ao entro de massa. E fa il ver que a transforma a~o ~q ! ~q + d~ n~ao altera
P os vetores assim
~
denidos. Esses vetores n~ao s~ao, porem, independentes, pois da sua deni a~o segue que m = 0.
1
479
d
ux q
d ^
Figura 9.1: Rota ~ao d~! = u^ d! que leva o

vetor ~q ao vetor ~q 0 .
^
u
d! em torno de um eixo denido pelo vetor unitario u^. Para isso e onveniente des rever a
rota ~ao em termos do vetor
d~! u^ d!
em termos do qual o vetor resultante ~q 0 pode ser es rito da forma simples (v. gura 9.1)
~q 0 = ~q + d~! ~q + O(d! 2):

A partir dessa express~ao e fa il obter os efeitos de uma rota ~ao rd~! do referen ial (o que orresponde a des ri ~ao de tipo passivo) sôbre as omponentes artesianas fqj g, j = 1; 2; 3 do vetor
~q. Eles podem ser es ritos
qj0 = rd~! qj = qj
kl
jkl d!k ql + O(d! 2)
(9.7)
onde jkl e o smbolo antissimetri o, denido omo sendo igual a +1 ou 1 quando jkl forem
respe tivamente uma permuta ~ao par ou mpar de 1 2 3 e zero aso dois ou mais ndi es forem
iguais, e d~! fd!1; d!2 ; d!3 g. Expli itamente
0
B

q10
q20
q30
C
A
=B

d!3
1
d!1
1
d!3
d!2
d!2
d!1
1
10
CB
A
q1
q2
q3
1
C
A
+ O(d! 2 )
que se reduz a rela ~ao (9.1) no aso em que u^ = ^3 e portanto d!3 = d! , om d!1 = d!2 = 0.
Outras espe ializa ~oes do versor u^ permitem identi ar os geradores de rota ~oes em torno dos
eixos 1 e 2 respe tivamente omo
0
1 = B

0 0 0
0 0 1
0 1 0
1
C
A
e
480
2 = B

0 0 1
0 0 0
1 0 0
1
C
A
(9.8)
O passo seguinte onsiste em obter representa ~oes dessas rota ~oes innitesimais no espa o
de Hilbert de fun ~oes de onda (~q ) que des revem estados de um sistema de part ulas sem
spin. Isso se faz seguindo o esquema padr~ao resumido na equa ~ao (9.2), que neste aso e
0 (~q ) = (R )(~q ) = (r 1 ~q ):

d~!

d~!
Como a transforma ~ao inversa rd~!1 e simplesmente a rota ~ao innitesimal r d~! , essa rela ~ao pode
ser es rita expli itamente em termos das omponentes artesianas qj , j = 1; 2; 3 dos vetores
de posi ~ao ~q omo
(Rd~! )(~q ) =
qj +
0
=
=
kl
XX
1+
j kl
1 + d~!
jkl d!k ql + O
A
jkl d!k ql
(~q ) + O(d! 2)
qj
(d! 2)
~q r~q
(~q ) + O(d! 2 ):
Na ultima passagem a ima foi usada a express~ao geral para o produto vetorial em termos do
smbolo antissimetri o ijk
X
kl
jkl ak bl = ~a ~b
bem omo o fato de que o smbolo antissimetri o n~ao se altera por permuta ~oes li as dos seus
ndi es. O operador diferen ial r~q pode ser expresso em termos dos momentos p~ , de modo
que o operador Rd~! que representa a rota ~ao innitesimal pode ser nalmente identi ado omo
sendo
X
i
i
~
Rd~! = 1^ + d~! (~q p~ ) = 1^ + d~! L
h
h

onde
~ = X(~q ~p )
L

e o momento angular total do sistema de part ulas sem spin.

O gerador da representa ~ao das rota ~oes espa iais no espa o de Hilbert onsiderado e portan~ que orresponde ao momento angular orbital total do sistema.
to essen ialmente o operador L
481
Esse e um operador vetorial om três omponentes em termos das quais e possvel es rever o
operador que representa rota ~oes em torno de qualquer eixo. O gerador de uma rota ~ao em
~ u^, e rota ~oes nitas ~! = u^! em torno do eixo u^ podem
torno do eixo u^ e a omponente Lu = L
ser es ritas em forma exponen ial usando
~
^ i !~ L
R~! = nlim
!1 1 + h
n
!n
= e h !~ L~ = e h !Lu :
i
O arater n~ao omutativo do grupo de rota ~oes se manifesta laramente, por exemplo, nas
~
rela ~oes de omuta ~ao das omponentes artesianas do gerador L
[Lj ; Lk = ih
jkl Ll ;
pois elas impli am que rota ~oes nitas em torno de eixos diferentes em geral n~ao omutam, isto
e, em geral
e h !1 u^L~ e h !2 v^L~ 6= e h !2 v^L~ e h !1 u^L~

i
se u^ 6= v^.
A invarian a rota ional de um sistema de part ulas sem spin uja dinâmi a e determinada
pelo hamiltoniano H e expressa pela ondi ~ao [H; R~! = 0 para qualquer ~!, o que signi a
qualquer eixo e tambem qualquer ângulo. Essa ondi ~ao pode ser expressa em termos do
~ omo
gerador L
~ = 0:
[H; L
~ , isso leva a situa ~ao de que uma
Tendo em onta as rela ~oes de omuta ~ao das omponentes de L
~
das omponentes de L (usualmente tomada omo sendo L3 ) e o operador L2 = L21 + L22 + L23 , que
e ompatvel om qualquer das omponentes (e portanto om L3 ), podem ser diagonalizados
simultaneamente om H . Em outras palavras, os operadores ompatveis L2 e L3 s~ao onstantes
do movimento e existe um onjunto ompleto de autovetores simultâneos de H , 2 e L3 ujos
elementos podem ser designados omo jELM i. Alem disso, omo
[H; L = 0
L jELM i / jELM 1i
segue que
HL jELM i = L H jELM i = L E jELM i = EL jELM i:

482
Portanto o autovalor de H n~ao depende do valor de M , e os nveis de energia tem pelo menos
a degeneres ên ia 2L + 1 asso iada ao momento angular.
E possvel ainda ter situa ~oes om simetria mais restrita omo, por exemplo, sistemas ujo
hamiltoniano e invariante por rota ~oes em torno de um eixo u^ dado, apenas. Isso signi a que
o sistema tem simetria axial em torno desse eixo, embora n~ao sendo invariante por rota ~oes
mais gerais. Nesse aso o que se tem e
[H; Ru^! = 0
para qualquer ângulo ! , mas para u^ xo. Ent~ao
i
[H; e h !Lu = 0
para qualquer ! , e portanto
[H; Lu = 0
~ ao longo do eixo de simetria e uma onstante do movimento. O

isto e, a proje ~ao Lu de L
autovalor de H agora depende, em geral, do autovalor de Lu devido a n~ao omutatividade de
H om as outras omponentes de L~ .
9.3.1 Spin.
~ e na realidade
No aso de um sistema de part ulas sem spin, o momento angular orbital total L
o tambem momento angular total do sistema. Como esse e o operador que apare e omo gerador
da representa ~ao do grupo de rota ~oes no espa o de Hilbert orrespondente, e natural que se
dena, o operador asso iado ao momento angular total J~ de um sistema em geral, omo o
gerador da representa ~ao do grupo das rota ~oes espa iais no espa o de Hilbert dos estados
desse sistema. Mais formalmente, o momento angular total J~ de um sistema ujos estados s~ao
representados pelos vetores de estado j i pode ser denido omo sendo o operador que apare e
na representa ~ao de rota ~oes espa iais em termos desses vetores de estado
j 0i = R~! j i = e hi ~!J~j i:
(9.9)
Essa deni ~ao evidentemente n~ao envolve qualquer ondi ~ao de simetria sobre o sistema. Ela
no entanto utiliza propriedades de transforma ~ao dos estados para delas extrair a deni ~ao do
operador a ser asso iado a uma variavel dinâmi a.
A natureza expl ita do operador assim denido depende, e laro, da natureza dos estados do
sistema onsiderado. No aso de part ulas sem spin onsiderado anteriormente, os operadores
483
de posi ~ao f~q g onstituem um onjunto ompleto de observaveis ompatveis, os vetores de

~ . Se, por
estado podem ser representados por fun ~oes de onda (~q ) e, omo visto, J~ = L
outro lado, outros operadores tiverem que ser onsiderados juntamente om os f~q g para que se
tenha um onjunto ompleto de observaveis ompatveis, as fun ~oes de onda que representam
os vetores de estado envolver~ao variaveis adi ionais fs g
h~q ; s j i = (~q ; s)

~ sempre que os graus de liberdade adi ionais ontriburem para as
e o gerador J~ diferira de L
propriedades de transforma ~ao dos estados (ou das fun ~oes de onda) do sistema sob rota ~oes
espa iais. A rela ~ao (9.9) deve ser implementada nesse aso om um gerador da forma
J~ = L~
^1S + ^1L
S~
(9.10)
P
~ = (~q ~p ) e o segundo termo, age n~ao trivialmente apenas sobre os graus de liberdade
onde L
adi ionais. Ele orresponde a omponente do momento angular total que esta asso iada om
esses graus de liberdade, e e portanto o spin total do sistema. Como os dois termos desta ultima
express~ao agem n~ao trivialmente sobre grupos distintos de graus de liberdade e laro que
~
^1S ; ^1L
S~ = 0
[L
ou simplesmente
~ S~ = 0:
[L;
Para que a rela ~ao (9.9) om um gerador om a forma (9.10) seja de fato uma rela ~ao bem
~.
onstruda e pre iso que o operador S~ tenha propriedades ongruentes om as do operador L
Em parti ular, ele deve ser tambem um operador vetorial ujas omponentes se omportam sob
~ . O omportamento das
rota ~oes da mesma forma que as omponentes orrespondentes de L
omponentes artesianas de um vetor para uma rota ~ao passiva d~! e dado pela rela ~ao (9.7),
~ omo tambem para as do
e essa rela ~ao deve portanto valer n~ao so para as omponentes de L
operador ainda por determinar S~ . Chamando respe tivamente Sj e Sj0 as omponentes desse
vetor no sistema original e no sistema resultante da rota ~ao d~!, deve-se ter portanto
X
Sj0 = Sj
kl
jkl d!k Sl + O(d! 2):
Por outro lado, se S~ e uma variavel dinâmi a do sistema para o qual os efeitos da rota ~ao s~ao
des ritos pelos operadores de rota ~ao R~! , equa ~oes (9.9) e (9.10), deve valer tambem a rela ~ao
de transforma ~ao geral para variaveis dinâmi as
i
i
Sj0 = e h d~!S~ Sj e h d~!S~ =

i
1 + d~! S~ + ::: Sj 1
h
484

i
d~! S~ + :::
h
i
ih
~ Sj + O(d! 2)
d~! S;
h
iX
= Sj +
d! [S ; S + O(d! 2):
h k k k j
= Sj +
Para que essas duas transforma ~oes sejam onsistentes e pre iso portanto que
X
iX
d! [S ; S
jkl d!k Sl =
h k k k j
kl
ou seja
X
d!k [Sk ; Sj + ih
jkl Sl = 0:
Essa rela ~ao deve valer para qualquer d~!, e portanto o parênteses deve ser nulo. Para isso e
pre iso que se tenha
[Sj ; Sk = ih
jkl Sl ;
isto e, as omponentes artesianas de S~ devem satisfazer as mesmas rela ~oes de omuta ~ao que
~ . As mesmas rela ~oes de omuta ~ao s~ao portanto satisfeitas
as do momento angular orbital L
tambem pelas omponentes do momento angular total J~.
As onsequên ias gerais dessas rela ~oes de omuta ~ao ja foram obtidas na se ~ao 5.1.1. Os
autovalores de S 2 s~ao da forma h 2 S (S +1), o fator h 2 tendo sido introduzido por raz~oes dimensionais, om S inteiro ou semi-inteiro. Esse operador e ompatvel om qualquer das omponentes
Si (por exemplo S3 ) ujos autovalores s~ao h MS om S MS S . Valores semi-inteiros do
~ , que e dada em termomento angular orbital s~ao ex ludos pela forma expl ita do operador L
mos dos operadores de momento e posi ~ao, mas podem o orrer no aso de S~ e de J~. As rela ~oes
~ , S~ e J~ s~ao determinadas pelas regras relativas a soma de momentos
entre os autovalores de L
angulares, dis utidas na se ~ao 6.2.1.
A ondi ~ao geral para a invarian a rota ional do hamiltoniano, obtida de forma inteiramente
analoga a que foi utilizada para o aso de sistemas sem spin, e dada por
[H; J~ = 0
o que, em vista das rela ~oes de omuta ~ao dos operadores envolvidos, impli a na ompatibilidade
de H om L2 , S 2 , J 2 e J3 , bem omo na independên ia do autovalor de H om rela ~ao ao
485
autovalor h M de J3 . Isso leva a uma degeneres ên ia de ordem pelo menos 2J + 1 dos nveis
de energia om momento angular J . Essa degeneres ên ia e uma onsequên ia ara tersti a
da invarian a rota ional.
O sistema mais simples para o qual existe uma ontribui ~ao puramente quânti a para o
momento angular e onstitudo por uma part ula de spin 1=2 (v. se ~ao 6.2). Nesse aso,
onsistentemente om as ondi ~oes agora obtidas a partir da analise dos efeitos das rota ~oes
espa iais, os operadores de spin s~ao usualmente representados em termos das matrizes de Pauli,
S~ h~ =2 e os estados podem ser des ritos por fun ~oes de onda om duas omponentes
0
(~r; s = +1=2)
h~r; sj i = (~r; s) B
C
A
(~r; s = 1=2)
onde os valores s = 1=2 da variavel de spin est~ao usualmente asso iados aos dois autovalores
de S3 . No espa o de Hilbert dessas fun ~oes de onda o operador que representa uma rota ~ao
(passiva) de um ângulo ! em torno de uma dire ~ao u^ fu1 ; u2; u3 g e, portanto,
R!u^ =
ei!u^J~
i
ei!u^L~ e 2 !u^~
0
= ei!u^L~ B

ei!u^L~
^1 os ! + iu^ ~ sen ! =
2
2
1
os !2 + iu3 sen !2
i(u1
iu2 ) sen !2
i(u1 + iu2 ) sen !2
os !2
iu3 sen !2
C
A
~ age sobre a dependên ia

A exponen ial ontendo o operador do momento angular orbital L
om ~r da fun ~ao de onda, enquanto a matriz orrespondente a parte de spin do operador de
rota ~ao re ombina as duas omponentes da fun ~ao de onda de partida. Desse modo,
0
0 (~r; s) = R
!u^
(~r; s) = B

os !2 + iu3 sen !2
i(u1 + iu2 ) sen !2
i(u1
os
!
2
iu2 ) sen !2
iu3 sen
!
2
10
CB
AB

ei!u^L~ (~r; s = +1=2)

ei!u^L~
(~r; s = 1=2)
1
C
C
A
Em parti ular, para uma rota ~ao em torno do eixo 3, u3 = 1 e u1 = u2 = 0 e essa express~ao se
reduz a
0
0 (~r; s) = B
B

ei 2 ei!u^L~ (~r; s = +1=2)

!
!
e i 2 ei!u^L~ (~r; s = 1=2)
486
1
C
C
A
que, para ! = 2 , da

0 (~r; s) =
(~r; s);
que reproduz o resultado obtido anteriormente2 , segundo o qual uma rota ~ao de um ângulo 2
leva a uma tro a de sinal da fun ~ao de onda da part ula de spin 1=2.
O aso de spin maior que 1=2 pode ser tratado de forma semelhante, notando que os estados
de uma part ula om spin S s~ao representados por fun ~oes de onda om 2S + 1 omponentes
asso iadas (por exemplo) aos diferentes autovalores do operador S3 . A primeira quest~ao a ser
onsiderada e portanto a de determinar uma representa ~ao om a dimens~ao apropriada para os
operadores de spin S~ . Tomando omo exemplo o aso S = 1, o problema onsiste em determinar
três matrizes (a serem asso iadas as omponentes do operador S~ ), de dimens~ao 2S + 1 = 3, que
satisfa am as rela ~oes de omuta ~ao de momento angular. Esse problema pode ser resolvido
onsiderando as matrizes j , j = 1; 2; 3, obtidas no ontexto das propriedades de transforma ~ao
sob rota ~oes das omponentes de um vetor no espa o de posi ~oes,(9.1) e (9.8). De fato, e
imediato veri ar que essas três matrizes satisfazem as rela ~oes de omuta ~ao
X
[j ; k =
jkl l
de modo que uma es olha possvel para as omponentes de S~ nesse aso e
Sj ih j :
Essas matrizes s~ao hermiteanas, e foram obtidas em termos de uma base artesiana no espa o
de posi ~oes. Mais expli itamente, as omponentes artesianas de um vetor (por exemplo, o
vetor de posi ~ao ~q) se transformam sob uma rota ~ao innitesimal d~! de a ordo om a rela ~ao
qj0 = qj +
X
d~! ~
q = qj +
jk k

i X
d~! S~ jk qk :
h k
Nessa parti ular representa ~ao nenhuma das três matrizes e diagonal. E imediato, no entanto, diagonalizar a matriz hermiteana S3 , ujos autovalores s~ao h MS , MS = 1; 0; 1 os quais
orrespondem aos autovetores uMS dados respe tivamente por
0
1
u1 = p B

2
2
1
i
0
1
C
A
V. pagina 291.
487
u0 = B

0
0
1
1
C
A
que orrespondem a base onsiderada, por exemplo, na equa ~ao (8.32). Nessa nova base as
matrizes Sj s~ao dadas por
0
1 0 0
0
1 0
0 1 0
h
ih
0 C
1 0 1C
1 0 1C
S1 = p B
S2 = p B
S3 = h B
A;
A;
A;
0 0

2 0 1 0
2 0 1 0
0 0 1
para as quais as rela ~oes de omuta ~ao podem ser mais uma vez veri adas expli itamente.
Esta forma de obter uma representa ~ao para o operador de spin no aso S = 1 mostra, por
outro lado, que as três omponentes de spin de uma fun ~ao de onda (~r; s), s = 1; 0; 1 que
des reve o estado de uma part ula de spin 1 se misturam entre si sob uma rota ~ao espa ial
da mesma forma que as omponentes de um ampo vetorial, e que quando a variavel de spin
s esta asso iada aos autovalores de S3 , as omponentes (~r; s) orrespondem as omponentes
ditas esferi as (8.32) do ampo vetorial.
9.3.2 Representa ~ao de rota ~oes gerais em termos de

ângulos de Euler.
Uma rota ~ao nita qualquer de um sistema de eixos f1; 2; 3g que mantem xa a origem O pode
ser sempre des rita omo uma rota ~ao de um ângulo dado ! em torno de um eixo tambem dado
u^ que passa por O. Ela e portanto espe i ada em termos de três parâmetros que s~ao, nesse
aso, os dois ângulos que denem o versor u^ no sistema ini ial e mais o ângulo de rota ~ao ! . Uma
forma alternativa de ara terizar as rota ~oes que e de uso mais omum onsiste parametriza-la
em termos de outros três ângulos f; ; g, hamados ângulos de Euler, denidos da seguinte
forma (v. gura 9.2). A passagem do sistema ini ial f1; 2; 3g para o sistema nal f1000 ; 2000 ; 3000 g
e feita atraves das seguintes três opera ~oes:
a) uma rota ~ao de um ângulo em torno do eixo 3, que leva o sistema ini ial ao
sistema 30 = 3, 10 e 20 ;
b) uma rota ~ao de um ângulo em torno do eixo 20 (isto e, em torno da nova posi ~ao
do eixo 2), que leva o sistema de f10; 20 ; 30 g para f100 ; 200 = 20 ; 300 g; e nalmente
) uma rota ~ao de um ângulo em torno do eixo 300 , pela qual o sistema f100 ; 200 ; 300 g
e levado a f1000 ; 2000 ; 3000 = 300 g.
Desse modo, a rota ~ao !~ ! u^ e de omposta em três rota ~oes, que podem ser resumidas omo
~! ! f^3; ^20; ^300 g:
Essas três rota ~ao s~ao apli adas nessa ordem (da esquerda para a direita) e no sentido antihorario, em torno dos eixos espe i ados.
488
3=3
3=3
^
Figura 9.2: Angulos
de Euler f; ; g
que levam o sistema de eixos f1; 2; 3g a
f1000; 2000; 3000g. A rota ~ao do ângulo e feita
em torno do eixo 1; a rota ~ao do ângulo
e feita em torno de 20 e a rota ~ao do ângulo
e feita em torno de 300 .
2=2
Por envolver a espe i a a~o de três rota ~oes de ângulos apropriados ; ; em torno
de três eixos distintos, a parametriza ~ao de rota ~oes em termos de ângulos de Euler
pode pare er mais ompli ada, e talvez por isso menos onveniente, que a parametriza ~ao
alternativa em termos de uma uni a rota ~ao ! em torno de um eixo apropriado u^. A
onveniên ia da parametriza ~ao de Euler e melhor ilustrada om rela ~ao ao problema de
determinar a rota a~o que leva o sistema de eixos de partida f1; 2; 3g a um sistema nal
dado f1000 ; 2000 ; 3000 g. Para isso e util notar que a passagem do eixo 3 ao novo eixo 3000 e feita
atraves da etapa b), que envolve a rota ~ao do ângulo em torno do eixo 20. Esse ângulo
nada mais e, portanto, que o ângulo formado entre os eixos 3 e 3000 , e o eixo 20 para
essa rota ~ao deve ser perpendi ular ao plano formado por eles. O proposito da etapa a),
portanto, e levar o eixo 2 a posi ~ao 20 , perpendi ular ao plano formado por 3 e 3000 , e essa
e a ondi ~ao que determina o ângulo . Uma vez orretamente posi ionado o eixo 3000 ,
as posi ~oes de 1000 e 2000 podem ser a ertadas atraves da ter eira rota ~ao . Como pode
ser visto, em ada uma das etapas o eixo de rota ~ao e onhe ido (eventualmente omo
resultado da implementa ~ao da etapa anterior), e o ângulo de rota ~ao orrespondente e
determinado por uma ondi ~ao simples.
Embora levando a um resultado que pode ser visto omo mais ompa to, a determina ~ao dos elementos da parametriza ~ao alternativa para o mesmo problema envolve
onstru ~oes geometri as menos transparentes. De fato, a determina ~ao de u^ e ! pode ser
feita do seguinte modo. Em primeiro lugar e pre iso observar que, para uma rota ~ao de
um ângulo n~ao nulo, pelo menos dois dos novos eixos f1000 ; 2000 ; 3000 g ser~ao diferentes dos
eixos de partida. Sejam ent~ao 1000 6= 1 e 2000 6= 2 (o eixo 3000 podendo oin idir ou n~ao om
o eixo 3). Todos os eixos de rota ~ao apazes de levar 1 a 1000 est~ao ontidos no plano,
perpendi ular ao plano denido por esses dois eixos, que passa pela bissetriz do ângulo
489
formado por eles. Uma onstru ~ao analoga vale para os eixos 2 e 2000 . O eixo de rota ~ao
u^ e portanto denido pela interse ~ao dos dois planos assim onstrudos. Caso tambem
3000 6= 3, a mesma onstru ~ao apli ada a esse ter eiro par de eixos dara um ter eiro plano
que ontem a interse a~o dos dois outros planos ( aso 3000 = 3 a interse a~o dos dois primeiros planos se dara ao longo de 3, que oin idira portanto om o eixo de rota a~o u^). O
ângulo de rota a~o ! pode ent~ao ser determinado a partir da posi a~o relativa das dire o~es
u^, 1 e 1000 (ou u^, 2 e 2000 ), em geral mutuamente oblquas.
O operador R~! que representa a rota ~ao ~! no espa o de Hilbert dos estados de um sistema
quânti o dado e portanto expresso em termos dos ângulos de Euler omo
i 00
i 0
i
i
R~! = e h ~!J~ = e h ^3 J~e h ^2 J~e h ^3J~ = R ^300 R^20 R^3 R(; ; ):
(9.11)
Essa express~ao pode ser simpli ada usando, por um lado, o fato de que o eixo ^20 que e usado
na segunda das três rota ~oes e obtido apli ando a rota ~ao ^3 ao eixo ^2, de modo que
R^20 = R^3 R^2 R^31 = e h ^3J~e h ^2J~e h ^3J~:

(9.12)
Por outro lado, a rota ~ao que envolve o ângulo pode ser es rita, por motivos analogos, omo
i
R ^300 = R^20 R ^3 R^210 = R^3 R^2 R^31 R ^3 R^3 R^21 R^31 =

i
i
i
i
i
= R^3 R^2 R ^3 R^21 R^31 = e h ^3J~e h ^2J~e h ^3J~e h ^2J~e h ^3J~
(9.13)
onde foi usada a omutatividade de rota ~oes em torno de um mesmo eixo. Levando agora os
resultados (9.12) e (9.13) a rela ~ao (9.11) resulta, apos an elamentos obvios,
(9.14)
R(; ; ) = e h ^3J~e h ^2J~e h ^3J~ = R^3 R^2 R ^3
onde intervem apenas rota ~oes em torno dos eixos originais 2 e 3. A ordem em que apare em
os três ângulos de Euler e no entanto inversa a ordem da equa ~ao de partida, (9.11).
i
E bastante omum adotar o ponto de vista ativo para es rever os operadores de rota ~ao.
Dentro desse ponto de vista, os ângulos de Euler orrespondem a três rota o~es ativas que
levam o sistema fsi o de sua orienta ~ao ini ial a sua orienta ~ao nal. Rota ~oes ativas
em torno de um eixo diferem das passivas orrespondentes por uma mudan a de sinal do
ângulo de rota ~ao. Desse modo, a express~ao que orresponde a (9.14) e
i
i
i
(at) (at)
R(at) (; ; ) = e h ^3J~e h ^2J~e h ^3J~ = R(at)
^3 R ^2 R ^3 :
490
9.3.3 Matrizes de rota ~ao, tensores esferi os, teorema de WignerE kart.
As matrizes que des revem os operadores de rota ~ao R(; ; ) em uma base qualquer do
espa o de Hilbert dos estados do sistema quânti o que esteja sendo onsiderado onstituem
tambem, omo ja dito, uma representa ~ao (em geral redutvel) do grupo de rota ~oes. Uma lasse
parti ularmente importante de representa ~oes matri iais desse tipo e a que se obtem quando a
base e formada por autovetores simultâneos de J 2 e de J3 , alem de outros observaveis que sejam
ne essarios para que se tenha um onjunto ompleto de observaveis ompatveis. Designando
os vetores dessa base omo jJM i, onde denota oletivamente os numeros quânti os, alem
de J e M , que sejam ne essarios para espe i ar univo amente os vetores de estado,
J 2 jJM i = h 2 J (J + 1)jJM i;
J3 jJM i = h M jJM i:
Rela ~oes de ompleteza e ortonormalidade para a base s~ao expressas respe tivamente atraves
de
X
JM
jJM ihJM j = ^1
hJM j0J 0 M 0 i = 0 JJ 0 MM 0 :
O efeito do operador de rota ~ao R(; ; ) sôbre os vetores dessa base pode ser re-expandido
na mesma base dando
R(; ; )jJM i =
0 J 0 M 0
j0J 0M 0 ih0J 0M 0 jR(; ; )jJM i
que identi a os elementos da matriz de transforma ~ao relevante omo sendo
h0J 0 M 0 jR(; ; )jJM i = hJM 0 jR(; ; )jJM i0 JJ 0 :

O fato de que essa matriz e diagonal em J e nos numeros quânti os resulta de que o operador
de rota ~ao e uma fun ~ao de omponentes do momento angular total J~ que omutam tanto om
J 2 omo om os outros observaveis do onjunto ompleto utilizado para determina ~ao unvo a
dos estados da base. Alem disso, os elementos de matriz s~ao independentes de , o que de orre
das express~oes expl itas para os elementos de matriz das omponentes de J~
hJM 0 jJ3jJM i = h M MM 0
e
hJM 0 j(J1 iJ2 )jJM i = J (J + 1) M (M 1) M 1 M 0 :

491
Os efeitos do operador de rota ~ao sobre os elementos da base onsiderada podem portanto ser
es ritos sob a forma
R(; ; )jJM i =
M0
jJM 0 iDMJ 0M (; ; )
(9.15)
onde, para ada um dos valores possveis de J ,
J (; ; ) hJM 0 jR(; ; )jJM i

DM
0M
s~ao matrizes de dimens~ao 2J + 1, dependentes dos ângulos de Euler. A express~ao expl ita do
operador de rota ~ao em termos das omponentes de J~ permite es rever ainda
0
J (; ; ) = hJM 0 je h ^3J~ e h ^2J~e h ^3J~jJM i = ei(M + M ) dJ

DM
0M
MM 0 (; ; )
i
om a deni ~ao
dJM 0 M (; ; ) hJM 0 je h ^2J~jJM i:

i
J 0 (; ; ), vistas omo fun ~

As matrizes DM
oes dos ângulos de Euler para um valor dado de
M
J , s~ao representa ~oes irredutveis de dimens~ao 2J +1 do grupo das rota ~oes. De fato, apli ando
um segundo operador de rota ~ao R(0 ; 0; 0 ) sôbre a equa ~ao (9.15),
R(0 ; 0; 0 )R(; ; )jJM i =
=
M0
J (; ; ) =
R(0 ; 0; 0 )jJM 0 iDM
0M
M 0 M 00
jJM 00 iDMJ 00M 0 (0; 0; 0)DMJ 0 M (; ; ):
Usando a lei de omposi ~ao do grupo, as duas rota ~oes apli adas su essivamente equivalem
), de modo que, usando mais uma vez a equa ~ao (9.15)
ainda a uma uni a rota ~ao R(; ;
resulta
X
X
jJM 00 iDMJ 00 M 0 (0; 0; 0)DMJ 0 M (; ; )
jJM 00 iDMJ 00M (; ; ) =
M 00
M 0 M 00
de onde segue a lei de omposi ~ao de grupo para as matrizes de rota ~ao
J (; ; ):
J
J
) = X DM
DM
; ;
0M
00 M 0 (0 ; 0 ; 0 )DM
00 M (
M0
J 0 (; ; ) signi a que
O arater irredutvel da representa ~ao de dimens~ao 2J + 1 dada por DM
M
n~ao existe nenhum sub-espa o do espa o gerado pelos 2J + 1 vetores jJM i ( om e J xos
492
e J M J ) que seja invariante sob a a ~ao de todas as rota ~oes possveis. A existên ia de
representa ~oes irredutveis de dimens~ao maior que 1 e uma onsequên ia do arater n~ao omutativo do grupo das rota ~oes. A dimens~ao de uma dada representa ~ao irredutvel orresponde a
degeneres ên ia ara tersti a que resulta da invarian a rota ional do hamiltoniano, de ordem
2J + 1 para um nvel de energia om momento angular J .
Alem da lei de omposi ~ao de grupo, outra rela ~ao util entre matrizes de rota ~ao pode ser
obtida onsiderando a transforma ~ao dos estados de um sistema onstitudo de dois subsistemas,
aos quais est~ao asso iados os operadores de momento angular total ~j (1) e ~j (2) (por exemplo, omo
geradores das representa ~oes R(1) (; ; ) e R(2) (; ; ) do grupo das rota ~oes nos espa os de
Hilbert apropriados a ada um dos subsistemas). A base interessante do sistema omposto e a
base produto onstituda dos autovetores simultâneos de j (1)2 ; j3(1) ; j (2)2 e j3(2) , alem de outros
observaveis ne essarios para a identi a ~ao unvo a dos vetores j j1 m1 i
j j2 m2 i. Uma base
alternativa e aquela que resulta do a oplamento dos momentos angulares dos subsistemas, de
modo que o quadrado do momento angular total J~ = ~j (1) + ~j (2) e sua ter eira omponente
s~ao diagonais. A rela ~ao entre essas duas bases e dada portanto em termos de oe ientes de
Clebs h-Gordan omo
j j1j2 JM i =
m1 m2
J
j j1 m1i
j j2 m2 i:
Cmj11 mj22 M
Efetuando uma rota ~ao denida pelos ângulos de Euler ; ; se obtem
R(; ; )j j1 j2 JM i =
m1 m2
J (1)
Cmj11 mj22 M
R (; ; )j j1 m1 i
R(2) (; ; )j j2 m2 i
que pode ser re-es rita em termos das matrizes de rota ~ao omo
X
M0
j j1 j2 JM 0 iDMJ 0M (; ; ) =
X
m01 m02 m1 m2
J
Cmj11 mj22 M
j j1 m01 i
j j2 m02iDmj101 m1 (; ; )Dmj202m2 (; ; ):
(9.16)
As propriedades de ortogonalidade da transforma ~ao des rita pelos oe ientes de Clebs hGordan permite es rever os estados da representa ~ao produto em termos dos estados a oplados
omo
j j1 m01 i
j j2m02 i =
J0
Cmj101 mj202 m01J+m02 R(1) j j1 j2 J 0 m01 + m02 i
om o que a rela ~ao (9.16), projetada sôbre o vetor j j1 j2 JM 0 i, da

493
J (; ; ) =
DM
0M
m01 m02 m1 m2
J j1
Cmj101 mj202 MJ 0 Cmj11 mj22 M
Dm01 m1 (; ; )Dmj202 m2 (; ; )
(9.17)
que e a rela ~ao bus ada entre as matrizes de rota ~ao. As três matrizes de rota ~ao que apare em
nessa express~ao têm os mesmos argumentos. Os oe ientes de Clebs h-Gordan a oplam os
momentos angulares par iais j1 e j2 dando o momento angular total J om os numeros quânti os
magneti os orrespondentes respe tivamente aos primeiros e segundos ndi es das matrizes de
rota ~ao. Usando novamente as propriedades de ortogonalidade da transforma ~ao des rita pelos
oe ientes de Clebs h-Gordan essa mesma rela ~ao pode ainda ser transformada na rela ~ao
equivalente
X X
J MM 0
J J
DM 0 M (; ; ) = Dmj101 m1 (; ; )Dmj202m2 (; ; ):
(9.18)
Cabe observar ainda que, projetando a rela ~ao (9.16) sobre estados j j1 j2 J 0 M 0 i om J 0 6= J , a
ontribui ~ao do lado esquerdo e nula, levando portanto a ombina ~oes lineares nulas de produtos
de matrizes de rota ~ao do tipo
X
m01 m02 m1 m2
J j1
Dm01 m1 (; ; )Dmj202 m2 (; ; ) = 0;
J 0 6= J:
J 0 (; ; ) permitem denir uma

As representa ~oes irredutveis do grupo de rota ~oes DM
M
lasse importante de objetos atraves de suas propriedades de transforma ~ao sob rota ~oes. Os
objetos dessa lasse, hamados tensores esferi os ou tensores de Ra ah de ordem k, s~ao onstitudos de 2k + 1 omponentes Tkq , q = k; k + 1; ::: ; k 1; k ( om k inteiro ou semi-inteiro)
que sob uma rota ~ao denida pelos ângulos de Euler ; ; se transformam segundo a rela ~ao
Tkq0 =
q0
Tkq0 Dqk0 q :
O onjunto dos 2J + 1 vetores de estado j JM i, para e J xos e J M J s~ao, nesse

sentido, um tensor de ordem J . Os objetos Tkq podem ser porem tambem operadores lineares
sobre o espa o de Hilbert, aso em que os objetos transformados s~ao denidos omo
Tkq0 R(; ; )Tkq R 1 (; ; ):
Exemplos simples de operadores que têm propriedades tensoriais desse tipo s~ao operadores
invariantes por rota ~oes, que s~ao tensores esferi os de ordem zero, as omponentes do momento
angular denidas por ( f. equa ~ao (8.32))
494
1
Jq=1 p (J1 iJ2 )
2
Jq=0 = J3
onde J1 ; J2 e J3 s~ao as omponentes artesianas de J~. As três omponentes Jq onstituem um

tensor esferi o de ordem 1, bem omo as omponentes analogas de qualquer outro operador
vetorial.
A relevân ia desses objetos de orre de uma serie de propriedades que eles tem em de orrên ia
da sua rela ~ao om as representa ~oes irredutveis do grupo de rota ~oes. Uma dessas propriedades e a de que produtos de tensores esferi os podem ser reduzidos om o uso dos mesmos
pro edimentos envolvidos no a oplamento de momentos angulares. De fato, o produto dos
tensores esferi os Tk1 q1 de ordem k1 e Sk2 q2 de ordem k2 se transforma de a ordo om a rela ~ao
Tk0 1 q1 Sk0 2 q2 =
=
q10 q20
Tk1 q10 Sk2 q20 Dqk101q1 (; ; )Dqk202q2 (; ; ) =
XX X
K QQ0 q10 q20
Tk1 q10 Sk2 q20 Cqk101 qk202 QK0 Cqk11 qk22 QK DQK0 Q (; ; )
onde o produto de duas matrizes de rota ~ao foi re-es rito usando a rela ~ao (9.18). Usando a
ortogonalidade da transforma ~ao representada pelos oe ientes de Clebs h-Gordan resulta
X
q1 q2
Tk0 1 q1 Sk0 2 q2 Cqk11 qk22 QK =
XX
QQ0 q10 q20
Tk1 q10 Sk2 q20 Cqk101 qk202 QK0 DQK0 Q(; ; )
Como o lado esquerdo dessa rela ~ao e a vers~ao transformada de

[Tk1 Sk2 KQ
q1 q2
Tk1 q1 Sk2 q2 Cqk11 qk22 QK
(9.19)
resulta que as 2K + 1 omponentes desse objeto onstituem por sua vez um tensor esferi o de
ordem K . Isso mostra que o \a oplamento" de tensores esferi os om oe ientes de Clebs hGordan produz novos tensores esferi os uja ordem orresponde a quantidade que nesses oe ientes esta asso iada ao momento angular total. Em parti ular, se K = 0 (o que exige k1 = k2
para que o resultado n~ao seja nulo) o produto a oplado, nesse aso hamado produto es alar
dos dois tensores esferi os, e invariante sob rota ~oes. Um aso parti ular da deni ~ao (9.19) e
aquele em que o segundo tensor e o onjunto de sub-estados magneti os de vetores de estado
om momento angular J
[Tk1 j J iKQ =
q1 M
J K :
Tk1 q1 j JM iCqk11 M
Q
495
(9.20)
O resultado, nesse aso, e um novo vetor de estado om momento angular K para o qual o
autovalor de J3 e h Q.
Uma segunda propriedade importante diz respeito a elementos de matriz de operadores
tensoriais esferi os entre autovetores do quadrado do momento angular J 2 e de sua ter eira
omponente J3 . Usando mais uma vez a ortogonalidade da transforma ~ao representada pelos
oe ientes de Clebs h-Gordan, agora apli ada a rela ~ao (9.20), e possvel es rever
h0 J 0M 0 jTkq j JM i = h0 J 0 M 0 j [Tk j J iKQ Cqk MJ KQ = h0 J 0 M 0 j [Tk j J iJ 0M 0 Cqk MJ JM0 0
X
onde foi feito uso da ortogonalidade de autovetores de J 2 e de J3 asso iados a autovalores

diferentes. O fato importante aqui e que o produto es alar que apare e no ultimo termo e, na
realidade, independente de M 0 . De fato, usando as rela ~oes
[jTk J iJ 0 M 0 1 =
J [jTk J iJ 0 M 0
J 0 (J 0 + 1) M 0 (M 0 1)
bem omo o fato de que JJ = J 2
J j0 J 0 M 0 i
;
J 0 (J 0 + 1) M 0 (M 0 1)
j0 J 0 M 0 1i = q
J3 (J3 1), resulta que
h0 J 0M 0 1j [Tk j J iJ 0M 0 1 = h0 J 0M 0 j [Tk j J iJ 0M 0 :

Isso mostra que toda a dependên ia do elemento de matriz onsiderado om rela ~ao aos numeros
quânti os M 0 ; q e M esta ontida no oe iente de Clebs h-Gordan. Esse resultado e onhe ido
omo teorema de Wigner-E kart, e e usualmente expresso es revendo o elemento de matriz sob
a forma
h0 J 0 M 0 jTkq j JM i = p2J10 + 1 CMJ kq MJ 0 0 h0 J 0 kTk k J i
(9.21)
onde o ultimo fator, hamado elemento de matriz reduzido, e independente de M; q e M 0 . O

oe iente de Clebs h-Gordan que apare e nesta ultima express~ao difere do anterior apenas por
uma fase independente desses numeros quânti os. De fato
CMJ kq
J0
M0
= ( 1)J +k
J0Ck J J0
q M M0
Vale a pena notar expli itamente que a rela ~ao (9.21) serve omo deni ~ao do elemento de
matriz reduzido. O al ulo desse elemento de matriz e feito na realidade invertendo a rela ~ao
(9.21), isto e, al ulando
h0 J 0 kTk k J i =
2J 0 + 1 0 0 0
J 0 0 h J M jTkq j JM i
CMJ kq M
496
e o onteudo essen ial do teorema de Wigner-E kart e o fato de que o resultado independe dos
parti ulares valores de M; q e M 0 que tenham sido utilizados no al ulo.
Um exemplo importante e tpi o do uso do teorema de Wigner-E kart e a obten ~ao de
regras de sele ~ao de momento angular para transi ~oes as transi ~oes multipolares ujas amplitudes foram obtidas nas equa ~oes (8.37) e (8.38). De fato, os operadores que intervem nessas
amplitudes
TJE k1 r jJ (kr)Y~J 1J mp~

e
h
TJM jJ (kr)Y~J 1J mp~
s~ao omponentes de tensores esferi os de ordem J . Para estados ini iais e nais om momento
angular JI ; MI e JF ; MF respe tivamente, as amplitudes de transi ~ao podem ser es ritas em
termos de elementos de matriz reduzidos omo
E;M J;
E;M
TIF
= hF JF MF jTJ
jI JI MI i = p2J1 + 1 CMJII J MJFF hF JF kTJE;M kI JI i
F
o que expli ita as regras de sele ~ao de momento angular atraves das ondi ~oes que devem ser
satisfeitas para que o oe iente de Clebs h-Gordan n~ao se anule, isto e
jJI J j JF JI + J
MF = MI + :
Na expans~ao multipolar que leva as express~oes (8.37) e (8.38) deve-se ter = 1. Essa restri ~ao
se deve a es olha da dire ~ao de propaga ~ao k^ do foton emergente omo eixo de quantiza ~ao que
dene a omponente J3 do momento angular. Atraves das regras de sele ~ao ela impli a que o
numero quânti o magneti o do sistema que sofre a transi ~ao radiativa muda ne essariamente
de uma unidade quando denida om rela ~ao e esse eixo de quantiza ~ao. Esse mesmo resultado
foi obtido de forma mais direta no limite de grandes omprimentos de onda (v. pagina 460).
A integral sobre o produto de três harmôni as esferi as (8.31), utilizada para determinar
as regras de sele ~ao de dipolo eletri o no limite de grandes omprimentos de onda, forne e um
exemplo de al ulo expl ito de um elemento de matriz reduzido. Essa integral pode ser vista
omo o elemento de matriz do tensor esferi o Y1 (^r) entre as autofun ~oes do momento angular
orbital Ylm (^r) e Yl0 m0 (^r). Desse modo
s
3
2l + 1 l 1 l 0 l 1 l 0
dr^Yl0 m0 (^r)Y1 (^r)Ylm (^r) hYl0 m0 jY1 jYlm i =
C C
0=
4 2l 0 + 1 0 0 0 m m
1
0
= p 0
Cml 1 ml 0 hYl0 kY1 kYl i
2l + 1
o que da para o elemento de matriz reduzido
497
3(2l + 1) l 1 l0
C 000
4
que, omo arma o teorema de Wigner-E kart, e independente de m; e m0 .
hYl0 kY1kYli =
9.4
Isospin.
As propriedades intrnse as ( omo massa e spin) e as propriedades relativas as intera ~oes fortes
de famlias de part ulas omo, por exemplo, os nu leons (protons e neutrons) e os pions ( + ; 0 e
) revelam semelhan as que sugerem que tais famlias possam ser vantajosamente des ritas em
termos de \multipletos de arga", de multipli idade 2t +1, analogos aos multipletos onstitudos
pelos diferentes estados magneti os de um sistema om spin, om t = 1=2 no aso dos nu leons
e t = 1 no aso dos pions. A adequa ~ao dessa des ri ~ao se estende ainda a sistemas ompostos
de varias dessas part ulas, ujos estados podem ser lassi ados em termos de multipletos
de arga analogos aos que s~ao onstitudos pelos diferentes estados magneti os do spin total
de um sistema omposto de varios spins. No ontexto da espe tros opia nu lear esse tipo de
tratamento foi dis utido ja em 1936 por Cassen e Condon3 , onde se originou a denomina ~ao
spin isotopi o, posteriormente substituda por isospin.
Nesse esquema, os 2t +1 onstituintes de uma mesma famlia de part ulas s~ao tratados omo
diferentes estados de arga uma uni a espe ie de part ula dotada de propriedades intrnse as
des ritas em termos de variaveis dinâmi as adimensionais t1 ; t2 e t3 satisfazendo rela ~oes de
omuta ~ao analogas as do momento angular, isto e
[tj ; tk = i
jkl tl :
A ausên ia do fator h , presente nas rela ~oes de omuta ~ao do momento angular, se deve ao
arater adimensional dos tj . Essas rela ~oes de omuta ~ao s~ao ara tersti as das omponentes
artesianas de um gerador de rota ~oes ~t (o isospin da famlia de part ulas) denido em um espa o abstrato de três dimens~oes, hamado espa o de arga, independente do espa o de posi ~oes.
Em parti ular, as omponentes desse vetor omutam om o gerador J~ das rota ~oes espa iais.
O aso dos nu leons orresponde a um dubleto de isospin 2t + 1 = 2 ou seja, t = 1=2, e
uma representa ~ao possvel dos operadores tj pode ser es rita em termos das matrizes de Pauli,
omo
1
tj = j ;
j = 1; 2; 3
2
3
B. Cassen e E. U. Condon, Phys. Rev.
, 846 (1936).
50
498
om
1 =
0 1
1 0
0 i
i 0
2 =
1 0
0 1
3 =
Nessa representa ~ao o operador t3 (que orresponde a ter eira omponente do vetor ~t no espa o de arga) e diagonal, e e usual asso iar os estados de proton e de neutron do nu leon
respe tivamente aos seus autovetores om autovalor +1=2 e 1=2, isto e
proton $
1
0
j 21 12 i
neutron $
0
1
j 21
1
i:
2
Com isso a arga do nu leon e a variavel dinâmi a asso iada ao operador

e
1
QN (1 + 3 ) = e + t3
2
2
enquanto a a ~ao dos operadores t t1 it2 sobre os autovetores de t3 e
1
t j
2
8
>
<
21 i = >:
j 12
1
2
1
t+ j
2
8
>
<
0
1
2 i = >:
j1 1i
2 2
isto e, t transforma um proton em um neutron e aniquila um estado de neutron, enquanto

t+ transforma um neutron em um proton e aniquila um estado de proton. Os operadores t
s~ao por isso hamados operadores de tro a de arga. O isospin total T~ de um sistema de varios
nu leons e denido omo
X
T~ = ~t(k)
k
onde ~t( k) e o isospin do k-esimo nu leon. E laro que todas as regras de adi ~ao de momentos
angulares se apli am tambem a adi ~ao de isospins. Em parti ular, o quadrado do isospin total
T 2 omuta om qualquer de suas omponentes Tj bem omo om os quadrados dos isospins
onstituintes t(k)2
[T 2 ; Tj = [T 2 ; t(k)2 = 0
mas n~ao omuta om as omponentes dos isospins onstituintes, [T 2 ; t(3k) 6= 0. No aso de apenas
dois nu leons existem portanto duas representa ~oes possveis em que os operadores diagonais
(2)2 (2)
(1)2 (2)2 2
s~ao respe tivamente (t(1)2 ; t(1)
oes s~ao
3 ; t ; t3 ) e (t ; t ; T ; T3 ). Essas duas representa ~
rela ionadas uma a outra atraves de oe ientes de Clebs h-Gordan
499
j 21 21 T T3i =
1 1 T 1 (1) 1 (2)
2 2
Ct(1)
(2) j t3 t3 i
3 t3 T3 2 2
(1)
(2)
t ;t
X
(9.22)
3 3
e a sua inversa
1 (2)
j 21 t(1)
3 t3 i =
2
1 1
2 2(2) T j
Ct(1)
t T3
3 3
11
T T i:
22 3
A arga eletri a total desses estados pode ser expressa em termos da ter eira omponente T3
do isospin total omo
QNN = e(1 + T3 ):
No aso de um tripleto de isospin, 2t + 1 = 3 ou t = 1, omo e o aso dos pions, uma
representa ~ao expl ita pode ser es rita tomando por emprestimo as matrizes que representam
os estados de spin 1, obtidas no nal da se ~ao 9.3.1. Usando a representa ~ao em que a matriz
t3 e diagonal
t1 =
p1
0
1 0
1 0 1
0 1 0
B

1
C
A
t2 =
pi
B

0 1 0
1 0 1
0 1 0
1
C
A
t3 = B

1 0 0
0 0 0
0 0 1
1
C
A
os três estados de arga + ; 0 e podem ser asso iados aos autovetores de t3

0
+ $ B

1
0
0
1
C
A
j11i;
0 $ B

0
1
0
1
C
A
j10i;
$ B
0
0
1
1
C
A
j1
1i
om o operador de arga dado por
Q et3
e operadores de tro a de arga t = t1 it2 . Agora e possvel onsiderar tambem, por exemplo,
os estados de isospin de um sistema pion-nu leon. O operador que orresponde ao isospin total
desse sistema e
T~ = ~t(N ) + ~t()
onde ~t(N ) e ~t() s~ao respe tivamente os isospins do nu leon e do pion. O operador T~ pode ser
tratado om as regras de omposi ~ao usuais de momentos angulares. Os valores possveis do
500
isospin total s~ao portanto T = 1=2 e T = 3=2, que orrespondem respe tivamente a um dubleto
de arga e a um quadrupleto de arga. Os autovetores simultâneos de t(N )2 ; t()2 ; T 2 e T3 s~ao
dados por
j 21 1T T3i =
1
1
Ct(2N ) t1() TT3 j t(3N ) 1t(3) i
2
3 3
t(N ) ;t()
X
e têm uma arga eletri a total dada por
QN = e
(9.23)

1
1 (N ) ()
+ t3 + t3 = e + T3 :
2
2
O dubleto T = 1=2 onsiste portanto de dois estados ujas argas totais s~ao zero e e, enquanto
o quadrupleto T = 3=2 ontem quatro estados ujas argas totais s~ao e; 0; e e 2e.
E importante notar que nos estados estados envolvendo varias part ulas que têm isospin
total bem denido a arga de ada uma das part ulas onstituintes n~ao e, em geral, bem
denida. Esse fato e uma onsequên ia da n~ao omutatividade do isospin total T~ om as
ter eiras omponentes dos isospins onstituintes, que s~ao as variaveis dinâmi as que determinam
a arga de ada uma das part ulas. Os estados om isospin total bem denido ser~ao, em geral,
expressos omo ombina ~oes lineares de estados em que as part ulas onstituintes apare em
em estados de arga diferentes. Como a arga total e determinada pela variavel dinâmi a om
valor bem denido T3 , no entanto, a soma das argas das duas part ulas em ada uma das
omponentes sera a mesma.
Isso pode ser visto expli itamente tanto no aso do sistema de dois nu leons omo no aso
do sistema pion-nu leon. Para o primeiro desses sistemas o estado om isospin total igual a
zero e dado por
j 12 21 T = 0 T3 = 0i = p12 (jproton1
neutron2 i
jneutron1
proton2 i)
obtido simplesmente substituindo os valores numeri os dos oe ientes de Clebs h-Gordan apropriados em (9.22). omo indi ado pela nota ~ao, o nu leon que esta no estado de arga de proton
(neutron) na primeira das duas omponentes esta no estado de neutron (proton) na segunda.
O mesmo o orres om o estado om T = 1 e T3 = 0, o qual e dado por
j 21 12 T = 1 T3 = 0i = p12 (jproton1
neutron2 i + jneutron1 proton2 i) :
Este ultimo estado e um dos estados de um tripleto de isospin que in lui tambem os estados
om T = 1 e T3 = 1
501
j 21 12 T = 1 T3 = 1i = jproton1
proton2 i e
j 12 21 T = 1 T3 =
1i = jneutron1 neutron2 i:
O fato de que a arga dos nu leons onstituintes nesses dois estados esta tambem bem denida
resulta de que eles s~ao os uni os estados de dois nu leons om arga eletri a total 2e e 0
respe tivamente. Desse modo a soma em (9.22) tem nesses asos um uni o termo, no qual o
oe iente de Clebs h-Gordan e igual a 1.
Para o sistema pion-nu leon, o estado om T = 1=2 e arga total nula (isto e, T3 = 1=2)
pode ser es rito expli itamente, a partir de (9.23), omo
s
j 12 1 T = 21 T3 = 21 i = 32 j protoni
p1 j0 neutroni:
3
A ombina ~ao linear ortogonal a essa, das mesmas duas omponentes, orresponde ao estado
om T = 3=2 e T3 = 1=2. Por outro lado, o estado de arga maxima 2e tem T3 = 3=2, o que
impli a que T = 3=2. Esse estado orresponde ao estado de uni o em que a soma das ter eiras
omponentes t3(N ) e T3() e maxima. Portanto
j 21 1 T = 23 T3 = 23 i = j+ protoni:
De forma analoga ao que o orre no aso do grupo das rota ~oes espa iais, o operador T~
orrespondente ao isospin total e o gerador de rota ~oes innitesimais no espa o de argas. A
invarian a da dinâmi a sob esse tipo de rota ~ao, usualmente hamada simplesmente invarian a
de arga, e expressa atraves da omutatividade do hamiltoniano om esse gerador, isto e
[H; T~ = 0:
Tendo em onta as rela ~oes de omuta ~ao das omponentes do isospin total, isso signi a
que os operadores T 2 e T3 s~ao ompatveis om H e tambem omutam entre si, o que leva a
existên ia de um base de autovetores simultâneos desse três operadores, fjET q ig, T q T .
Consequên ia ara tersti a da invarian a de arga e o fato de que os autovalores de H n~ao
dependem do autovalor q de T3 , de modo que o espe tro de energia onsiste de multipletos de
arga om 2T + 1 estados degenerados para isospin total T .
Intera ~oes ele tromagneti as violam a invarian a de arga devido a sua dependên ia expl ita om a arga eletri a das part ulas que onstituem o sistema. Por exemplo, a intera ~ao
oulombiana em um sistema de muitos nu leons pode ser es rita em termos dos operadores de
isospin omo
502
VC
1 X e2 1 (j ) 1 (k)
=
+t
+t
=
2 jk j~rj ~rk j 2 3
2 3
1 X e2
1 X e2 (j ) (k) 1 X e2 (j ) (k)
=
t + t3 +
+
t t :
8 jk j~rj ~rk j 4 jk j~rj ~rk j 3
2 jk j~rj ~rk j 3 3
O primeiro termo desta ultima express~ao e independente do isospin e e portanto invariante por
uma rota ~ao no espa o de arga, mas o mesmo n~ao a onte e om os outros dois termos. Como
os operadores vetoriais (no espa o de arga) ~t(j ) orrespondem a tensores esferi os de ordem
1 (nesse espa o), o segundo têm o arater de omponente de um tensor esferi o de ordem 1,
enquanto o ter eiro pode ser es rito omo a soma de um es alar om uma omponente de tensor
esferi o de ordem 2 no espa o de argas. De fato
t(3j ) t(3k)
t(qjj)=0 t(qkk)=0
C 01 01 K0
t(j ) t(k)
2 h (j ) (k) i
1 h (j ) (k) i
p
t t 20
=
+
t
t
K0
00
3
3
onde foi usado o valor expl ito dos oe ientes de Clebs h-Gordan (que e nulo no aso K = 1)
e os ol hetes s~ao as omponentes de tensores esferi os a oplados de ordem K
h
t(j ) t(k)

K0
qj qk
Cq1j q1k K0 t(qjj) t(qkk) :
Usando o teorema de Wigner-E kart resulta portanto que a intera ~ao oulombiana VC em geral
tem elementos de matriz n~ao nulos entre estados om isospins que diferem de modo que T = 1
(para os termos tensoriais de ordem 1) ou T = 2 (para os termos tensoriais de ordem 2). E
laro, no entanto, que
[VC ; t(3j ) = [VC ; T3 = 0
pois apenas as ter eiras omponentes dos operadores de isospin apare em em VC . O anulamento
do primeiro desses omutadores exprime a onserva ~ao da arga de ada um dos nu leons
envolvidos na intera ~ao oulombiana, enquanto o anulamento do segundo exprime a onserva ~ao
da arga total do sistema de nu leons.
Esses fatos mostram que o isospin total n~ao pode ser um bom numero quânti o (isto e, o
operador T 2 n~ao e uma onstante do movimento) para sistemas de muitos nu leons, omo s~ao os
nu leos atômi os, devido a presen a de intera ~oes oulombianas entre os protons. Na medida em
que a dinâmi a desses sistemas seja dominada por intera ~oes fortes, invariantes por rota ~oes no
espa o de arga, o isospin total e no entanto uma quantidade aproximadamente onservada. Na
503
5.37
2.00
Be
10
5.17
5.11
4.77
3.59
5.36
+
+
+
1
+
0
2.15
1.74
0.717
T 3= 1
+
+
1.60
C 10
T 3= 1
10
T=0
3
Figura 9.3: Diagrama isobari o para três nu leos om A = Z + N = 10. As diferen as de
energia oulombiana foram devidamente subtradas. A esquerda de ada um dos nveis esta
indi ada a energia de ex ita ~ao em MeV ( om rela ~ao ao estado fundamental do B10 ), e a direita
o momento angular e a paridade do nvel (quando onhe idos). As linhas tra ejadas ligam os
nveis perten entes a tripletos de isospin. Os nveis restantes, no B10 , orrespondem a estados
om T = 0.
realidade, subtraindo diferen as de energia asso iadas as intera ~oes oulombianas, os multipletos
de isospin se tornam laramente visveis nos espe tros de nu leos om numeros de massa iguais
mas om numeros atômi os diferentes. Um exemplo disso pode ser visto na gura 9.3, que
mostra os nveis de menor energia dos nu leos Be10 (N = 6, Z = 4 e portanto T3 = 1),
B10 (N = Z = 5) e C10 (N = 4, Z = 6, T3 = 1) apos subtra ~ao das diferen as de energia
oulombiana. S~ao laramente visveis varios nveis do B10 que n~ao têm ontrapartida nos outros
dois nu leos, e que orrespondem portanto a singletos de isospin, bem omo dois tripletos que
orrespondem a T = 1. O arater aproximado da lassi a ~ao em termos do isospin total e
revelado pela degeneres ên ia apenas aproximada dos nveis orrespondentes aos tripletos.
Outro exemplo que mostra a utilidade do isospin em pro essos dominados por intera ~oes
fortes provem da analise de algumas propriedades do espalhamento pion-nu leon. A intera ~ao
pion-nu leon in lui ertamente efeitos eletromagneti os (em parti ular, efeitos oulombianos
no aso de espalhamento -proton), que violam a onserva ~ao do isospin total. No entanto,
na medida em que os efeitos devidos as intera ~oes fortes sejam dominantes, a suposi ~ao da
onserva ~ao do isospin total pode servir omo uma primeira aproxima ~ao util para simpli ar
a des ri ~ao da dinâmi a do pro esso de espalhamento. Como onsequên ia dessa suposi ~ao, a
504
amplitude de espalhamento deve ser diagonal no isospin total T e na sua ter eira omponente T3 .
Desse modo, o espalhamento pion-nu leon deve poder ser bem des rito em termos de amplitudes
de espalhamento fT T3 , om T = 3=2 e T = 1=2 e om os valores de T3 ompatveis om ada
um desse valores do isospin total. Alem disso, se a intera ~ao responsavel pelo espalhamento
e invariante por uma rota ~ao no espa o de arga, o operador de transi ~ao T deve ser um
es alar nesse espa o, ou seja, um tensor esferi o de ordem zero. Nessas ondi ~oes o teorema de
Wigner-E kart permite es rever as amplitudes de espalhamento omo
hT kT kT i :
fT T3 = hT T3 jT jT T3 i = CTT3 00 TT3 p
2T + 1
O oe iente de Clebs h-Gordan que apare e nessa express~ao e independente de T3 e igual a
1, de modo que as amplitudes de espalhamento s~ao na realidade independentes da arga total
do sistema, determinada por T3 . O espalhamento e portanto determinado ompletamente em
termos de duas amplitudes apenas, f 32 e f 12 .
Essas amplitudes de espalhamento orrespondem a estados om isospin total bem denido.
Como visto anteriormente, nesses estados as argas das part ulas n~ao e em geral bem denida.
Invertendo a rela ~ao (9.23) e possvel porem exprimis estados envolvendo part ulas om argas
bem denidas em termos de estados om isospin total bem denido. Em parti ular
s
2 1
1
+
2
3 2
1 3
j protoni = p 2
3
1
2
donde segue que o pro esso a essvel a experiên ia
+ proton
!
+ proton
e des rito pela amplitude
h
protonjT j protoni =
1 3
3 2
1
3
j
T
j
2
2
1 2 1
+
2
3 2
1
1
j
T
j
2
2
2
1 1
= f 32 + f 21 :
2
3
3
pois a onserva ~ao do isospin total impli a no anulamento dos termos ruzados envolvendo
estados ini iais e nais om isospins diferentes. Analogamente, o pro esso
+ + proton
! + + proton
505
e des rito pela amplitude
f+ = f 32
e o pro esso om tro a de arga
! 0 + neutron
+ proton
pela amplitude

2
f 23 f 12 :
3
para obter este ultimo resultado e ne essario usar a express~ao do estado nal em termos de
estados om isospin total bem denido
ft =
2 3
j0 neutroni = 3 2
1
2
1 1
p 2
3
1
:
2
As se ~oes de hoque orrespondentes a ada uma das três amplitudes de espalhamento
a essveis a experiên ia s~ao ent~ao

+ = jf+ j2 = f 23
2

1 2
= jf j2 = f 23 + 4 f 21 + 4 Re f 32 f 12
9
2
2

1
t = jft j2 = 2 f 23 + 2 f 21 4 Re f 32 f 21 :
9
Dessas rela ~oes resulta que
2
1
t + = 3+ + 6 f 12
9
que pode ser resolvida para o termo envolvendo a amplitude f 12 dando
3( + t ) +
2
que permite obter essa quantidade diretamente do valor de se ~oes de hoque elasti as e om
tro a de arga medidas, para pions in idindo sobre nu leons. Experimentalmente, para energias

f 12 =
506
dos pions entre 100 MeV e 300 MeV no sistema de laboratorio, tem-se que + 3( + t ).
Isso signi a que a se ~ao de hoque total de espalhamento de + por protons e, nessas energias,
essen ialmente igual a três vezes a se ~ao de hoque total de espalhamento
(in luindo nesse aso
2

o anal de tro a de arga) de por protons, indi ando que f 21 0.
A onsequên ia desse resultado e que as três se ~oes de hoque, + , e t s~ao essen ialmente
determinadas por uma uni a amplitude f 23 , e devem portanto manter entre si as rela ~oes
+ : : t = 9 : 1 : 2
se, omo suposto, esses pro essos de espalhamento s~ao dominados nessas energias por intera ~oes
invariantes por rota ~oes no espa o da arga. Os valores experimentais para essas rela ~ao s~ao, a
energia de 120 MeV
+ : : t = 93 : 11 : 22
e, a energia de 144 MeV
+ : : t = 158 : 17 : 31:
As se ~oes de hoque + e + t mostram uma ressonân ia muito pronun iada em torno
da energia de 200 MeV no laboratorio. Essa ressonân ia ( hamada \ressonân ia delta") foi
des oberta no sistema + +proton por Anderson, Fermi e olaboradores em 19534 . Em termos
de isospin, o anal + +proton orresponde a T3 = 3=2, e portanto a um aso puro de isospin
T = 3=2. A analise pre edente mostra no entanto que a mesma ressonân ia, omo observada
no anal +proton, e tambem onsistente om o valor do isospin total T = 3=2. A invarian a
(aproximada) por rota ~oes no espa o de arga impli a que a ressonân ia delta seja de fato um
quadrupleto de isospin om 3=2 T3 3=2, o que in lui os anais 0 +proton, 0 +neutron e
+ neutron, dos quais os dois ultimos s~ao menos a essveis em termos experimentais.
9.5
Paridade e paridade intr

nse a.
A representa ~ao do grupo onstitudo pela opera ~ao de invers~ao espa ial e pelo seu quadrado
(que oin ide om a identidade) no espa o de Hilbert de fun ~oes de onda ja foi tratada na se ~ao
9.1.2 omo um exemplo simples de implementa ~ao do pro edimento geral a ser utilizado. Tendo
em vista o tratamento subsequente dos grupos de transla ~oes e de rota ~oes espa iais, abe, em
primeiro lugar, rever os resultados obtidos anteriormente para a opera ~ao de invers~ao de modo
a sublinhar os elementos omuns presentes nos dois ontextos.
4
H. L. Anderson, E. Fermi, R. Martin e D. E. Nagle, Phys. Rev.
507
, 155 (1953).
91
A representa ~ao dada pelos operadores do espa o de Hilbert R1 e RP , denidos por
R1 ( q ) = ( q )
RP ( q ) = ( q )
permite identi ar dois onjuntos distintos de fun ~oes, que s~ao o onjunto das fun ~oes pares
oes mpares (q ), ara terizados pelos efeitos de RP atraves das rela ~oes
+ (q ) e o das fun ~
RP ( q ) = ( q ) :
Esses dois onjuntos podem ser asso iados, por sua vez, a duas outras representa ~oes do mesmo
grupo, denidas respe tivamente por
R1(+) = ^1; RP(+) = ^1
R1( ) = ^1; RP( ) = ^1:
Na primeira, tanto a opera ~ao de invers~ao espa ial quanto a identidade s~ao representadas pelo operador identidade do espa o de Hilbert, enquanto na segunda a opera ~ao de invers~ao e
representada pelo operador ^1, enquanto a identidade e representada tambem pelo operador
identidade do espa o de Hilbert. Embora a primeira dessas representa ~oes seja a representa ~ao
trivial, e laro que todas as opera ~oes do grupo s~ao mapeadas orretamente nos dois asos. Essas duas representa ~oes s~ao unidimensionais, e portanto irredutveis. As fun ~oes de onda pares
se transformam segundo a representa ~ao irredutvel (RP(+) ; R1(+) ) enquanto as fun ~oes mpares se
transformam segundo a representa ~ao (RP( ) ; R1( ) ). Da mesma forma que uma fun ~ao de onda
om momento angular J pode ser ara terizada pela propriedade que ela se transforma sob roJ 0 (; ; ) do grupo de rota ~
ta ~oes segundo a representa ~ao irredutvel DM
oes, fun ~oes de onda
M
om paridade positiva e negativa podem ser ara terizadas omo aquelas que se transformam
sob invers~ao espa ial segundo as representa ~oes (+) e ( ), respe tivamente.
Para sistemas invariantes por invers~ao espa ial e que sejam onstitudos de um onjunto xo
de part ulas, a lassi a ~ao das autofun ~oes do hamiltoniano em termos de sua transforma ~ao
por uma dessas duas representa ~oes irredutveis e su iente para dar onta de todos os fatos
experimentais. O mesmo a onte e no aso de um sistema envolvendo um onjunto xo de
part ulas arregadas interagindo om o ampo de radia ~ao, em que pode o orrer a emiss~ao ou
absor ~ao de um ou mais fotons. Existem, no entanto, situa ~oes em que o onjunto de part ulas
n~ao e xo e que exigem a amplia ~ao desse esquema simples.
Um pro esso que ilustra situa ~oes desse tipo e a desintegra ~ao do deuteron d (estado ligado
de um proton e um neutron) pela absor ~ao de um pion
+d
! neutron
+ neutron:
De fato, esse pro esso de aptura do e observada a partir de estados em que o seu momento
angular orbital e zero (estado fundamental do deuterio piôni o, que e um atomo de deuterio
508
no qual o ele tron e substitudo por um pion negativo). Alem disso, o deuteron e sabidamente
um objeto om momento angular total I = 1 e paridade positiva, de modo que o estado ini ial
para o pro esso de aptura tem segundo a lassi a ~ao simples a ima, momento angular total
J = 1 e paridade positiva.
A onserva ~ao do momento angular total impli a portanto que o estado nal de dois neutrons
deve ser tambem um estado om momento angular total J = 1. As situa ~oes possveis para que
essa ondi ~ao esteja satisfeitas s~ao listadas no quadro abaixo, que in lui tambem a paridade de
ada um dos estados nais onsiderados.
Spin total
Simetria
Paridade
0
1
1
1
0; 2
1
( 1) ( 1)l = +1
(+1) ( 1)l = +1
(+1) ( 1)l = 1
( 1)l = 1
( 1)l = +1
( 1)l = 1
A primeira oluna do quadro mostra o valor do spin total dos dois neutron. Os estados de
spin s~ao antissimetri os pela tro a dos dois neutrons para S = 0 e simetri os para S = 1. A
segunda oluna mostra valores possveis do momento angular orbital relativo dos sois neutrons,
ompatveis om o valor suposto para o spin total e om o valor exigido J = 1 para o momento
angular total. Estados om valores pares e mpares do momento angular orbital s~ao respe tivamente simetri os e antissimetri os pela tro a dos dois neutrons. A ter eira oluna mostra a
simetria ou antissimetria global do estado nal, tendo em onta a simetria ou antissimetria tanto da fun ~ao de onda de spin quanto orbital, e a ultima oluna identi a a paridade do estado
onsiderado, que e dada em termos do valor do momento angular orbital. Como o estado nal
envolve dois fermions idênti os, ele deve ser antissimetri o pela tro a dos dois neutrons, o que
ex lui as duas primeiras linhas do quadro. A uni a ombina ~ao de spin total e momento angular
orbital ompatvel om a estatsti a de Fermi-Dira e portanto a que apare e na ultima linha,
mas ela orresponde a um estado de paridade negativa. Em vista das propriedades do estado
ini ial, isso impli aria numa mudan a de paridade na transi ~ao em que o pion e absorvido. Como uma enorme variedade de fatos experimentais indi a que as intera ~oes fortes, responsaveis
pelo pro esso de absor ~ao do pion, s~ao intera ~oes que onservam a paridade, uma solu ~ao para
essa quest~ao pode ser bus ada nas propriedades intrnse as do pion, presente no estado ini ial
mas n~ao no estado nal dessa transi ~ao. De fato e possvel preservar a paridade nesse pro esso
atribuindo uma paridade intrnse a negativa ao pion, o que torna tambem negativa a paridade
do estado ini ial.
Essa ideia pode ser formalizada atraves de uma extens~ao simples da representa ~ao (RP ; R1 )
do grupo de invers~ao espa ial onsiderada a ima e tambem na se ~ao 9.1.2. Ali o operador RP
509
foi denido pela rela ~ao

(RP )(q ) = (P 1q )
(9.24)
valida para qualquer fun ~ao (q ) do espa o de Hilbert. A deni ~ao do operador que representa
a opera ~ao de invers~ao pode no entanto ser modi ada substituindo a rela ~ao (9.24) por
RP(I ) (q ) = I (P 1q )
(9.25)
onde I ^1. Essa rela ~ao na realidade dene dois operadores RP(I ) , orrespondentes a ada uma
das alternativas adotadas para I . Compara ~ao om a deni ~ao (9.24) mostra imediatamente
que esses novos operadores se rela ionam om RP atraves de
RP(I ) = IRP ;
I = ^1:
Mantendo a deni ~ao R1(I ) = R1 = ^1, e imediato veri ar que (RP(I ) ; R1(I ) ) s~ao representa ~oes
do grupo de invers~ao espa ial para ambas as es olhas de I . O fator I pode ser asso iado a
paridade intrnse a do sistema. O fato de que o no pro esso onsiderado se omporta omo
tendo paridade intrnse a negativa leva a atribui ~ao I = ( 1)n ^1 para um sistema ontendo
n pions. Isso n~ao apenas da onta da onserva ~ao da paridade no pro esso de desintegra ~ao
de deuteron por aptura de pions, mas impli a em rela ~oes de paridade em outros pro essos
envolvendo pions que podem ser experimentalmente testadas.
Finalmente, a deni ~ao (9.25) leva agora as quatro representa ~oes irredutveis
R1(I +) = ^1; RP(I +) = I
R1(I ) = ^1; RP(I +) = I;
I = ^1
que, respe tivamente, ara terizam as fun ~oes de onda de paridade positiva e negativa de sistemas om paridade intrnse a positiva (I = +^1) e negativa (I = ^1). Um esquema de lassi a ~ao envolvendo a paridade das fun ~oes de onda e a paridade intrnse a do sistema envolve
portanto quatro tipos de estados. Ha, de fato dois tipos de estado de paridade positiva, estados asso iados a fun ~oes de onda pares de sistemas om paridade intrnse a positiva e estados
asso iados a fun ~oes de onda mpares de sistemas om paridade intrnse a negativa, bem omo
dois tipos de estado de paridade negativa.
9.6
Invarian
a por transla
o
~es temporais
e a lei din^
ami a de evolu
~
ao.
Na me âni a quânti a de part ulas as variaveis espa iais e o tempo desempenham papeis laramente diferentes, pois enquanto as variaveis espa iais est~ao diretamente asso iadas a variaveis
510
dinâmi as quantizadas (operadores de posi ~ao), o tempo apare e omo um parâmetro externo
asso iado a des ri ~ao da evolu ~ao dinâmi a do sistema onsiderado5 . Em ada tempo t o estado
do sistema e des rito por um vetor de estado j'(t)i que pode ser representado, na base dos
autovetores (improprios) fjq ig dos operadores de posi ~ao relevantes para o sistema onsiderado, por fun ~oes de onda dependentes do tempo '(q; t) hq j'(t)i. A dependên ia do vetor de
estado (ou da fun ~ao de onda) om o tempo e dada pelo operador de evolu ~ao unitario U (t; t0 )
que e a solu ~ao da equa ~ao diferen ial
ih
dU (t; t0 )
= H (t)U (t; t0 )
dt
om a ondi ~ao ini ial U (t0 ; t0 ) = 1, onde H (t) e o hamiltoniano (que em geral pode depender
expli itamente do tempo) que des reve a dinâmi a do sistema ou, equivalentemente, da equa ~ao
integral
iZt 0 0
dt H (t )U (t0 ; t0 ):
(9.26)
h t0
A unitaridade dos operadores U (t; t0 ) garante a existên ia dos seus respe tivos inversos
omo U 1 (t; t0 ) = U y (t; t0 ). Alem disso existe uma lei de omposi ~ao para intervalos de tempo
onse utivos, U (t1 ; t)U (t; t0 ) = U (t1 ; t0 ). Para ver isso basta es rever a equa ~ao (9.26) para este
ultimo operador separando a integral em duas partes
U (t; t0 ) = ^1
U ( t1 ; t0 ) = 1
iZt 0 0
dt H (t )U (t0 ; t0 )
h t0
i Z t1 0 0
dt H (t )U (t0 ; t0 )
h t
e notar que os dois primeiros termos orrespondem a U (t; t0 ). Por outro lado
U (t1 ; t) = 1
i Z t1 0 0
dt H (t )U (t0 ; t)
h t
donde segue que
U (t1 ; t)U (t; t0 ) = U (t; t0 )
i Z t1 0 0
dt H (t )U (t0 ; t)U (t; t0 ):
h t
E laro que esta assimetria no tratamento de variaveis espa iais e do tempo e extremamente problemati a
para uma formula a~o relativsti a. Ela e fortemente atenuada, porem, no ontexto de uma teoria de ampos
quantizada, em que o pro esso de quantiza a~o e apli ado aos valores assumidos pelos ampos, dando as variaveis
espa iais um papel de rotulos externos semelhante ao que e desempenhado pelo tempo. Esse fato determina,
em ultima analise, a preferên ia por teorias de ampo quantizadas, no ontexto relativsti o, em detrimento de
uma me âni a quantizada de part ulas.
5
511
Portanto os operadores U (t1 ; t)U (t; t0 ) e U (t1 ; t0 ) satisfazem a mesma equa ~ao integral (ou,
equivalentemente, a mesma equa ~ao diferen ial om a mesma ondi ~ao ini ial), e portanto s~ao
iguais. A restri ~ao a intervalos de tempo onse utivos da lei de omposi ~ao a torna evidentemente insu iente para denir uma estrutura de grupo sobre o onjunto de operadores de
evolu ~ao.
A rela ~ao entre o vetor de estado ini ial j'0 i do sistema, quando esse estado e preparado
no instante t0 , e o vetor de estado no tempo t e dada em termos do operador de evolu ~ao omo
j'(t)i = U (t; t0 )j'0i:

Para uma es olha generi a do estado ini ial j'0 i, o vetor de estado j'(t)i depende em geral
n~ao apenas do tempo trans orrido desde a prepara ~ao do estado ini ial, t t t0 , mas
tambem do valor tomado para o tempo ini ial t0 . De fato, devido a dependên ia expl ita do
hamiltoniano om o tempo, os operadores de evolu ~ao U (t0 +t; t0 ) dependem tanto de t omo
de t0 . Uma quest~ao relevante e portanto determinar ondi ~oes sobre a dinâmi a do sistema que
garantam que a evolu ~ao temporal de um estado ini ial generi o dependa uni amente do tempo
trans orrido desde a prepara ~ao, e n~ao do parti ular instante em que a prepara ~ao o orre.
Essa propriedade e na realidade a analoga temporal da propriedade de invarian a transla ional,
que exige que as propriedades do sistema dependam apenas das posi ~oes relativas de seus
onstituintes. Ela e expressa pela ondi ~ao
U (t0 + t; t0 )j'0 i = U (t; 0)j'0 i

para quaisquer valores de t0 e de t, e para qualquer estado ini ial j'0 i. Isso signi a que os
operadores de evolu ~ao devem ser iguais para quaisquer t0 e t. Tomando um intervalo de
tempo t = t innitesimal

dU (t; t0 )
U (t0 + t; t0 ) = 1 + t
+ O(t2 ) = 1

dt t=t0
i
t H (t0 ) + O(t2 ) =
h
i
t H (0) + O(t2 );
= 1
h
que deve valer para qualquer t0 , o que impli a que o hamiltoniano n~ao deve depender expli itamente do tempo, sendo portanto uma onstante do movimento (v. eq. (2.24)). Neste aso a
equa ~ao (9.26) admite a solu ~ao formal
i
U (t; t0 ) = e h H (t t0 )
na qual a dependên ia apenas da diferen a do tempo ini ial e do tempo nal e expl ita.
512
9.7
Invers~
ao temporal.
A evolu ~ao temporal de um sistema fsi o pode ser des rita lassi amente dando a ongura ~ao
(isto e, a lo aliza ~ao espa ial) de seus onstituintes j em fun ~ao do tempo, qk (t). Neste ontexto,
a opera ~ao de invers~ao temporal T pode ser ara terizada simplesmente omo onsistindo na
invers~ao do sentido do tempo nessa des ri ~ao, isto e
qk (t) T! qk0 (t) qk (t0 t)

(9.27)
onde t0 e um instante qualquer que seja es olhido para denir a origem dos tempos para o
movimento temporalmente invertido. A evolu ~ao alternativa qk0 (t), resultante dessa opera ~ao,
pode ser ou n~ao, por sua vez, uma solu ~ao possvel das equa ~oes de movimento do sistema.
Quando a vers~ao temporalmente invertida de qualquer evolu ~ao onsistente om as equa ~oes de
movimento tambem for onsistente om essas equa ~oes (isto e, quando ela for tambem uma das
possveis evolu ~oes temporais do sistema), este e dito invariante sob invers~ao temporal.
Por outro lado, as equa ~oes de movimento lassi as s~ao tipi amente equa ~oes de segunda ordem no tempo (ou, em uma formula ~ao hamiltoniana, pares de equa ~oes a opladas de
primeira ordem), e por isso exigem mais que a espe i a ~ao da ongura ~ao do sistema num
dado instante (por exemplo, qk (t0 )) para a determina ~ao unvo a de uma dada evolu ~ao temporal. Uma espe i a ~ao do estado do sistema que e su iente para esse m e aquela que
in lui tambem os valores das velo idades nesse mesmo instante, q_k (t0 ), onde o ponto indi a diferen ia ~ao om rela ~ao ao argumento. Como a opera ~ao de invers~ao temporal inverte tambem
as velo idades presentes no sistema, a quest~ao da invarian a sob invers~ao temporal deve ser
examinada omparando evolu ~oes determinadas por ondi ~oes subsidiarias envolvendo a mesma ongura ~ao mas velo idades opostas no instante onsiderado (por exemplo, qk0 (0) = qk (t0 )
e q_k0 (0) = q_k (t0 )). A espe i a ~ao da evolu ~ao temporal atraves das fun ~oes do tempo qk (t)
permite implementar essa ompara ~ao sem maiores problemas, atraves do al ulo das derivadas
temporais pertinentes.
A evolu ~ao temporal de um sistema quânti o, no entanto, e dada em termos da dependên ia
temporal de um vetor de estado j'(t)i, o qual deve satisfazer uma equa ~ao de movimento que e
de primeira ordem no tempo. Desse modo, a espe i a ~ao da ondi ~ao ini ial j'(t = 0)i = j'0 i
determina ompletamente a sua evolu ~ao temporal subsequente. De fato, o vetor de estado em
um instante dado ontem n~ao apenas informa ~ao a er a da ongura ~ao do sistema, atraves
da distribui ~ao de probabilidade jhq j'(t)ij2, onde q designa oletivamente os autovalores dos
operadores de posi ~ao pertinentes, mas ontem tambem informa ~ao a er a da densidade de
orrente de probabilidade, atraves das quantidades ( f. eq. (3.15))

pk
jk (q; t) = Re h'(t)jq ihq j j'(t)i
mk
513
onde os jk s~ao omponentes da densidade de orrente de probabilidade, os pk s~ao operadores

de momento e os mk as massas asso iadas aos pk . Uma deni ~ao razoavel do que se deva
entender por invers~ao temporal no ontexto da me âni a quânti a deve in luir a tro a de sinal
de todas as densidades de orrente de probabilidade sem alterar as densidades de probabilidade,
que orrespondem as ongura ~oes espa iais do sistema. Isso exige evidentemente modi a ~oes
mais profundas da sequên ia temporal de estados j'(t)i que a simples invers~ao do sentido do
tempo ao longo da sequên ia.
Para hegar a uma formula ~ao satisfatoria da opera ~ao de invers~ao temporal na me âni a
quânti a e onveniente onsiderar ini ialmente o aso de mais simples de um sistema om
analogo lassi o, ujas variaveis dinâmi as podem ser es ritas em termos de operadores de posi ~ao qk e seus momentos anoni amente onjugados pk , os quais satisfazem as rela ~oes anôni as
de omuta ~ao
[qj ; pk = ih ^1jk :
A dinâmi a desse sistema sera tomada omo sendo determinada por um hamiltoniano que n~ao
depende expli itamente do tempo, de modo a assegurar a invarian a por transla ~oes temporais,
omo dis utido na se ~ao anterior. Nessas ondi ~oes, a deni ~ao (9.27) dada para o aso lassi o
deve ser substituda, no aso quânti o, por
j'(t)i T! j'0(t)i K j'(t0 t)i
(9.28)
onde K e um operador a determinar uja fun ~ao sera a de inverter o sinal das densidades de
orrente de probabilidade sem no entanto alterar as densidades de probabilidade, qualquer que
seja o estado onsiderado do sistema.
A ondi ~ao de que a a ~ao de K n~ao altere as densidades de probabilidade para qualquer
estado j'(t)i, isto e
jhqjK j'(t)ij2 = jhqj'(t)ij2 ;
q e j'(t)i quaisquer
impli a n~ao apenas que K preserva a norma (dada pela integral da densidade de probabilidade)
mas tambem que as duas amplitudes de probabilidade que intervem nessa rela ~ao so podem
diferir por um fator de fase, eventualmente dependente de q , isto e
hqjK j'(t)i = eiq hqj'(t)i:

Essa ondi ~ao pode ser satisfeita tomando para K um operador unitario que e diagonal na base
dos autovetores (improprios) dos autovetores dos operadores de posi ~ao, isto e
K y = K 1;
K jq i = e
514
iq
j q i;
o que impli a que ele omuta om os operadores de posi ~ao. No entanto, essa es olha para
o operador K e in onsistente om a ondi ~ao de que ele deve tambem inverter o sinal das
densidades de orrente. De fato, as densidades de orrente para o estado transformado por K
s~ao, nessas ondi ~oes,

p
Re h'(t)jK yjq ihq jKK y k K j'(t)i = Re
mk
K y pk K
h'(t)jqihqj m j'(t)i
k
o que exige, para tro a de sinal, que K ypk K = pk . Essa ondi ~ao e porem in ompatvel om
as rela ~oes de omuta ~ao anôni as, pois ela exige que
[qj ; K y pk K = ih ^1jk
enquanto a apli a ~ao direta da transforma ~ao K sobre essas rela ~oes mantem o sinal do segundo
membro.
Essa in onsistên ia pode ser evitada se o operador K for es olhido n~ao omo sendo um
operador linear, mas um operador anti-linear. Operadores anti-lineares diferem dos operadores
lineares quanto a propriedade
K (z1 j'1 i + z2 j'2 i) = z1 K j'1 i + z2 K j'2 i

que difere da propriedade orrespondente dos operadores lineares pela onjuga ~ao omplexa dos
oe ientes da ombina ~ao linear de estados onsiderada. Essa diferen a exige, por onsistên ia,
que o adjunto K y do operador anti-linear K seja denido pela rela ~ao
h'1jK j'2i = h'2jK yj'1i K
anti linear; quaisquer j'1 i; j'2 i

que difere da deni ~ao usual do adjunto g y de um operador linear g
(9.29)
h'1jgj'2i = h'2jgyj'1i g
linear; quaisquer j'1 i; j'2 i

(9.30)
por uma onjuga ~ao omplexa adi ional. Um operador anti-linear que tem a propriedade
KK y = K yK = ^1
e hamado antiunitario. E imediato veri ar que operadores antiunitarios preservam a norma, mas introduzem uma onjuga ~ao omplexa adi ional no produto es alar de dois vetores
diferentes. De fato, supondo K anti-unitario,
h jK j'1i = h'1jK yj i
515
e, tomando j
dada por
i = K j'2 i, essa quantidade se torna o produto es alar desse vetor por K j'1i e e
h'1jK yK j'2i = h'2j'1i:

A norma de K j'1 i e porem obtida fazendo j'2 i = j'1 i, o que reproduz a norma deste ultimo
vetor.
A onsistên ia da deni ~ao (9.29) om a anti-linearidade pode ser veri ada apli andoa ao elemento de matriz
h jK (z1 j'1 i + z2 j'2 i) = z1 h jK j'1 i + z2 h jK j'2 i
onde a onjuga ~ao omplexa de z1 e z2 resulta da anti-linearidade de K . Usando agora
a deni ~ao modi ada (9.29) para K y, os dois elementos de matriz do lado direito dessa
rela ~ao podem ser es ritos omo
h jK j'1 i = h'1 jK yj i e h jK j'2 i = h'2 jK yj i:
(9.31)
Usando essas express~oes, o elemento de matriz ini ial a dado em termos de K y omo
h jK (z1 j'1 i + z2 j'2 i) = z1h'1 jK yj i + z2 h'2 jK yj i =
= hz1 '1 + z2 '2 jK yj i
onde hz1 '1 +z2'2 j e o bra asso iado ao ket z1j'1 i+z2j'2 i e foi feito uso da anti-linearidade
do produto es alar om rela ~ao ao seu primeiro argumento. Esta ultima rela ~ao e onsistente om a deni ~ao modi ada (9.29) do operador adjunto K y. Se esse operador tivesse
sido denido utilizando a rela ~ao (9.30), haveria uma onjuga ~ao omplexa adi ional nas
rela ~oes (9.31), o que levaria a
h jK (z1 j'1 i + z2 j'2 i) = hz1 '1 + z2 '2 jK yj i :
Esse resultado e in onsistente om a deni ~ao (9.30) devido a onjuga ~ao omplexa das
onstantes z1 e z2.
A opera ~ao de invers~ao temporal pode ent~ao ser ara terizada, no ontexto da me âni a
quânti a de sistemas om analogo lassi o, pela rela ~ao (9.28), na qual o operador K e um
operador anti-unitario om as propriedades
K y qj K = qj
e
516
K y pk K = pk
que, em vista da antilinearidade de K , e agora onsistente om as rela ~oes de omuta ~ao

anôni as. A primeira dessas rela ~oes garante a ompatibilidade de K om os operadores de
posi ~ao e atraves disso garante tambem a preserva ~ao das densidades de probabilidade. A tro a
de sinal dos momentos, por outro lado, garante a tro a de sinal das densidades de orrente.
Desse modo, ada um dos estados da sequên ia temporalmente invertida j'0(t)i tem, por sua
vez, densidades de probabilidade iguais mas distribui ~oes de oerente invertidas em rela ~ao aos
estados da sequên ia original.
A determina ~ao expl ita da transforma ~ao anti-unitaria K depende da parti ular representa ~ao adotada para os operadores e vetores de estado. No aso da representa ~ao de S hrodinger,
em que os operadores de posi ~ao s~ao representados por operadores de multipli a ~ao (reais) e os
operadores de momento s~ao representados por operadores diferen iais da forma
pk
! hi q
a es olha mais simples e usual e tomar K omo sendo o operador de onjuga ~ao omplexa
K0 = K0y. Nesse aso, de fato
K0 qj K0 = qj
K0
h
h
K0 =
:
i qk
i qk
9.7.1 Sistemas om spin.

A transforma ~ao antiunitaria do operador orrespondente ao momento angular orbital, no aso
de sistemas om analogo lassi o, e dada por
~ = Ky
K y LK
(~rj p~j )K =
~rj ( p~j ) = L~
onsistentemente om a transforma ~ao do momento angular lassi o sob invers~ao temporal. No

aso em que o sistema onsiderado envolver part ulas om spin, e pre iso, por onsistên ia,
que o omportamento sob invers~ao temporal dos operadores asso iados ao spin seja igual ao do
momento angular orbital, isto e
~ =
K ySK
K y~sj K =
( ~sj ) :
Essa rela ~ao deve de fato ser vista omo uma ondi ~ao adi ional a ser satisfeita, no aso, pelo
operador anti-unitario K . Ela garante tambem propriedades de transforma ~ao adequadas para
~ + S~ . A determina ~ao expl ita de K depende tambem neste aso
o momento angular total J~ = L
517
da representa ~ao adotada tanto para as variaveis dinâmi as om analogo lassi o omo para os
operadores de spin. No aso de ser usada a representa ~ao de S hrodinger, e para part ulas de
spin 1/2 om operadores de spin es ritos em termos das matrizes de Pauli ~ (j ) f1(j ) ; 2(j ) ; 3(j ) g
omo
Xh
X
(j )
S~ = s~j =
~
j 2
j
esse operador pode ser realizado omo K = K0 T , onde K0 e o operador de onjuga ~ao omplexa
e T e um operador unitario agindo sobre os spins. Desse modo o que se exige e que
T y K0
~ (j ) K0 T =
X
~ (j ) :
Como as matrizes de Pauli 1 e 3 s~ao reais e a matriz 2 e puramente imaginaria,
K0 1 K0 = 1 ;
K0 2 K0 = 2
K0 3 K0 = 3
de modo que a a ~ao do operador T deve ser tal que
T y1 T = 1 ;
T y2 T = 2
T y3 T = 3
o que orresponde a uma rota ~ao de um ângulo em torno do eixo 2, isto e

P (j )
j 2
T = e h ^2S~ = ei 2
i
(j )
ei 2 2 =
i2(j ) :
(9.32)
Casos em que ha part ulas om outros valores do spin, ou quando se utilize representa ~oes
alternativas para as variaveis de spin, podem ser tratados de forma semelhante. Tambem
semelhante e o aso de part ulas envolvendo outros graus de liberdade internos alem do spin.
No aso de part ulas om isospin t = 1=2, om operadores de isospin representado em termos de
matrizes de Pauli agindo no espa o de arga, ~tj = ~ (j ) , a suposi ~ao de que a invers~ao temporal
n~ao afeta esse espa o se traduz em termos das ondi ~oes sôbre K
K y~ (j ) K = ~ (j ) :
realizando esse operador novamente omo K = K0 T~ as ondi ~oes a serem exigidas de T~ s~ao
agora
T~y1 T~ = 1 ;
T~y 2 T~ = 2
T~y 3 T~ = 3
que podem ser realizadas em termos de uma invers~ao no espa o de arga seguida de uma rota ~ao
de em torno do eixo 2 desse mesmo espa o.
518
9.7.2 Invarian a sob invers~ao temporal.

A quest~ao da invarian a da dinâmi a sob a opera ~ao de invers~ao temporal denida omo na
equa ~ao (9.28), om a realiza ~ao apropriada do operador anti-unitario K , depende da natureza
do hamiltoniano em termos do qual e es rita a equa ~ao de movimento. A forma geral dessa
equa ~ao e (no aso de um Hamiltoniano que n~ao depende expli itamente do tempo)
dj'(t)i
dt
donde segue que a equa ~ao de movimento satisfeita pela solu ~ao temporalmente invertida e
dj'0 (t)i
:
KHK y j'0 (t)i = ih
dt
A forma do segundo membro dessa equa ~ao e igual a da equa ~ao de partida devido a uma dupla
tro a de sinal, devida respe tivamente a transforma ~ao da variavel temporal t ! t0 t e a
antilinearidade da transforma ~ao anti-unitaria K . O sistema onsiderado sera dito invariante
sob a opera ~ao de invers~ao temporal sempre que essas duas equa ~oes de movimento oin idirem,
isto e
H j'(t)i = ih
KHK y = H
ou
[K; H = 0:
Nesse aso, portanto, tanto a solu ~ao j'(t)i omo a solu ~ao temporalmente invertida j'0(t)i =
K j'(t0 t)i s~ao solu ~oes da mesma equa ~ao de movimento, satisfazendo ondi ~oes ini iais
rela ionadas entre si por
j'0(0)i = K j'(t0)i:
Uma forma parti ularmente sugestiva de exprimir esse fato e onsiderar a quantidade

2
i
Pa!b (t) h'b je h Ht j'a i
que representa a probabilidade de que o sistema uja dinâmi a e des rita pelo hamiltoniano
(independente do tempo) H , quando preparado no estado j'a i no instante zero seja en ontrado
no estado j'b i no instante t. Se a dinâmi a determinada por H for invariante sob invers~ao
temporal, o elemento de matriz que apare e nessa express~ao pode ser re-es rito su essivamente
omo
h'b j e
i
h Ht
j'ai
=
=
h'bjK ye hi Ht K j'ai = h'bjK ye hi Ht j'0ai =

h'0aje hi HtK j'bi = h'0a je hi Ht j'0bi
519
onde foi usada a rela ~ao que dene o adjunto de um operador anti-linear e foram introduzidas as
deni ~oes j'0a;b i K j'a;b i. Estes estados orrespondem a vers~oes temporalmente invertidas (no
sentido que densidades de orrente e spins s~ao invertidos) dos estados ini ial e nal envolvidos em
Pa!b (t), de modo que a invarian a sob invers~ao temporal garante a igualdade das probabilidades
(9.33)
Pa!b (t) = Pb0 !a0 (t)
que orrespondem respe tivamente a probabilidade de obter o estado b um tempo t apos a
prepara ~ao do estado a e a probabilidade de obter o inverso temporal do estado j'a i um
tempo t apos a prepara ~ao do estado temporalmente invertido de j'b i. Deve-se notar que os
papeis dos estados ini ial e nal s~ao invertidos nessas duas probabilidades. A rela ~ao (9.33) e
onhe ida omo prin pio de mi ro-reversibilidade, e e na realidade equivalente a invarian a sob
invers~ao temporal. O prin pio de mi ro-reversibilidade se apli a aos quadrados dos modulos
dos elementos de matriz e n~ao a probabilidades de transi ~ao nas quais intervenham fatores de
espa o de fases, omo por exemplo se ~oes de hoque em problemas de espalhamento. De fato,
a tro a de papeis dos estados ini ial e nal impli a em mudan as de espa o de fases que em
geral tornar~ao estas probabilidades de transi ~ao desiguais.
A invarian a sob invers~ao temporal equivale a ompatibilidade do operador K om o hamiltoniano, e portanto tem onsequên ias tambem para o espe tro de energia do sistema. No
aso de um sistema om spin total inteiro o operador anti-unitario K satisfaz a rela ~ao K 2 = ^1.
Essa propriedade e imediata para sistemas om analogo lassi o tratados na representa ~ao em
que K pode ser realizado omo o operador de onjuga ~ao omplexa K0 , e pode ser veri ada
fa ilmente para sistemas om um numero par de part ulas de spin 1/2, tratadas em termos do
operador K = K0 T , om T denido por (9.32). Nesse aso os possveis autovalores de K s~ao
= 1, e existe um onjunto ompleto de autovetores omuns de H e K
H jEi = E jEi;
K jEi = jEi; = 1:
Os autovetores de K om autovalores = +1 e = 1 s~ao ditos respe tivamente temporalmente

pares e temporalmente mpares, ou \reais" e \imaginarios". Estas ultimas denomina ~oes s~ao
motivadas pelo fato de se poder ver o operador anti-unitario K0 T omo uma \ onjuga ~ao
omplexa generalizada". No entanto, se jE= 1i e um vetor temporalmente mpar, e laro que
ijE= 1i e temporalmente par, o que signi a que todos os autovetores de um hamiltoniano
invariante sob invers~ao temporal de um sistema om spin total inteiro podem ser es olhidos de
forma a serem vetores de estado temporalmente pares.
As quest~oes relativas a invers~ao temporal em um sistema sem spin s~ao bem ilustradas
pela evolu ~ao temporal de um pa ote de ondas gaussiano determinada pelo hamiltoniano
livre H = p2=2M , que foi extensamente dis utida na se ~ao 3.3.3, e parti ularmente pela
520
obten ~ao de ondi ~oes ini iais uja evolu ~ao temporal leva a um estreitamento do pa ote
(v. pag. 145 e seguintes). Na representa ~ao de S hrodinger, o operador anti-unitario
apropriado pode ser tomado omo o operador de onjuga ~ao omplexa K0 , e a realidade
de H impli a portanto na invarian a sob invers~ao temporal. A base de ondas planas,
autofun o~es simultâneas do momento p~ e do hamiltoniano, envolve fun ~oes de onda omplexas, mas o espe tro do hamiltoniano e fortemente degenerado e permite a onstru ~ao
de uma base alternativa de autofun ~oes de H reais (ou temporalmente pares)
r
r
2
2 sen ~k ~r:
(
)
(+)
os ~k ~r
e
(~r) =
(~r) =
~k
~k
L3
L3
A ondi ~ao ini ial gaussiana om momento medio h~k0 e posi ~ao media ~r0
3

2 i~k0 ~r (~r ~r20 )2
1
e e 2b
'(~r; t = 0) = p
(9.34)
e tambem uma fun ~ao omplexa, da qual a inversa temporal K0'(~r; t = 0) = ' (~r; t = 0)
difere apenas pela invers~ao do momento, ~k0 ! ~k0. E fa il ver que essa transforma a~o
inverte a densidade de orrente do pa ote original. A evolu ~ao temporal da ondi a~o
ini ial invertida temporalmente difere da evolu ~ao temporal da ondi ~ao ini ial original
apenas por uma invers~ao na dire ~ao do deslo amento do pa ote. Em parti ular, nos dois
asos ha um alargamento idênti o da distribui ~ao espa ial de probabilidade.
Quando uma nova ondi ~ao ini ial e denida pela invers~ao temporal do pa ote de
ondas evoludo ate o tempo t0 = T a partir da ondi a~o ini ial (9.34), isto e
'0 (~r; t = 0) = K0 '(~r; T ) = ' (~r; T );
a sua respe tiva evolu ~ao temporal re apitulara, durante um tempo tambem igual a T e em
sequên ia temporal inversa, a evolu ~ao temporal do pa ote original, onsistentemente om
o prin pio de mi ro-reversibilidade. O alargamento do pa ote original da lugar portanto a
um estreitamento na dinâmi a temporalmente invertida. Neste aso a opera a~o de invers~ao
temporal representada por K0 impli a n~ao apenas na mudan a de sinal no expoente da
onda plana mas tambem na tro a de sinal dos demais termos omplexos que apare em na
forma evoluda do pa ote gaussiano, dada pela equa ~ao (3.31). Isso e ne essario, de fato,
para que a densidade de orrente seja efetivamente invertida em todos os pontos.
b
No aso de um sistema om spin total semi-inteiro, no entanto K 2 = 1, omo pode ser

visto, por exemplo, no aso de um sistema ontendo um numero mpar de part ulas de spin
1/2, em que ha portanto um numero tambem mpar de fatores no operador T denido em
(9.32). Uma onsequên ia da anti-unitaridade de K e, nesse aso
K y = K 2K y = K
521
de modo que
h'jK j'i = h'jK yj'i = h'jK j'i

o que impli a em
h'j K j 'i = 0
para qualquer vetor de estado j'i. Isso signi a que o vetor K j'i, uja norma e igual a norma
de j'i, e ortogonal a esse vetor. Ent~ao, dado um autovetor qualquer de H om autovalor E ,
isto e
H jE i = E jE i
a invarian a sob invers~ao temporal impli a em que se tenha tambem
KH jE i = HK jE i = EK jE i;

isto e, o vetor K jE i e tambem autovetor de H om o mesmo autovalor E . Como esse vetor e
ortogonal a jE i, segue que os autovalores de H s~ao pelo menos duplamente degenerados. Alem
disso, se existe um ter eiro autovetor j0E i de H asso iado ao mesmo autovalor, ortogonal tanto
a jE i omo a K jE i, ent~ao e fa il veri ar que K j0E i e tambem autovetor de H , asso iado ao
mesmo autovalor E , e ortogonal a ada um do três vetores onsiderados. Isso mostra portanto
que a degeneres ên ia dos autovalores do hamiltoniano e, nas ondi ~oes onsideradas, sempre
par. A degeneres ên ia par, de orrente da invarian a sob invers~ao temporal de sistemas om
spin total mpar e hamada degeneres ên ia de Kramers.
Problemas.
9.1 - Considere as transforma ~oes de oordenadas, orrespondentes a rota ~oes do referen ial de
ângulos ' em torno do eixo z , des ritas por
0
B

x0
y0
z0
C
A
=B

os '
sin '
0
sin ' 0
os ' 0
0
1
10
CB
A
x
y
z
C
A

z (') B
x
y
z
1
C
A
a) Verique a lei de omposi ~ao de grupo

z ('2 )
z ('1 ) =
z ('1 + '2 ) para essas transforma ~oes.
b) Mostre que o grupo dessas transforma ~oes e omutativo (abeliano).
522
) O gerador !z desse grupo e denido atraves da rela ~ao
z (d') = 1 + d' !z + O(d'2 ):

Verique que
0
!z = B

0 1 0
1 0 0
0 0 0
1
C
A
e mostre, expandindo a exponen ial, usando a forma espe ial do gerador e re-somando a expans~ao, que
z (') = e'!z :
Sugest~ao: !z3 = !z .
d) Considere a representa ~ao desse grupo de transforma ~oes no espa o de Hilbert de fun ~oes
de onda (~r), om ~r fx; y; z g, obtida pondo
[R
z (') (
z (')~r) = (~r):
Mostre que o gerador dessa representa ~ao e dado por iLz =h , isto e
i
R
z (d') = 1
d'Lz
h
onde Lz hi (~r r)z e o operador asso iado a omponente z do momento angular orbital.
i
Mostre tambem que o operador orrespondente a uma rota ~ao nita e R
z (') = e h 'Lz .
9.2 - Uma part ula esta em um estado uja parte angular 10 (; ') e um autovetor de L~ 2 e de
Lz (sendo L~ ~r p~ o momento angular orbital da part ula) om autovalores h 2 l(l + 1) e h m,
respe tivamente, om l = 1 e m = 0. Considere uma rota ~ao do sistema de oordenadas de um
ângulo em torno do eixo y^, om o que f; 'g ! f0 ; '0 g, onde e ' s~ao os ângulos esferi os
de ~r no sistema original, e 0 e '0 seus orrespondentes no novo sistema.
a) Exprima 010 (; ') = eiLy 10 (; ') em termos de 1m (; '); m = 1; 0; 1. Sugest~ao:
expanda a exponen ial e de omponha Ly em termos de L+ e L .
b) Cal ule 010 (0 ; '0 ).
!
9.3 - A fun ~ao de onda de spin de uma part ula e u = 10 . Qual e a nova fun ~ao de onda
u0 quando o sistema de oordenadas e rodado de um ângulo em torno do eixo y^?
523
9.4 - Supondo onserva ~ao de isospin mostre que a se ~ao de hoque para o pro esso
! d + +
p+p
e o dobro da se ~ao de hoque para o pro esso
! d + 0:
p+n
Sugest~ao: es reva os estados ini ial e nal em termos de estados de isospin total bem denido.
Esses pro essos podem ent~ao ser asso iados a amplitudes que dependem apenas do isospin total
dos estados ini ial e nal, isto e, que n~ao dependem da arga dos sistemas ini ial e nal. Isto
resulta do teorema de Wigner-E kart, quando se sup~oe que o operador de transi ~ao e um es alar
no espa o de isospin (isto e, um operador isoes alar), pois nesse aso
hI (f )I3(f ) jT jI (i)I3(i) i = CII3((ff)) 00 II3((ii)) hI (f )kT kI (i) i

onde o oe iente de Clebsh-Gordan e simplesmente I (f ) I (i) I3(f ) I3(i) .
9.5 - O operador anti-unitario K asso iado a invers~ao temporal de um sistema onstitudo de
part ulas sem spin deve satisfazer as rela ~oes
K y qj K = qj
K y pk K = pk :
Mostre que, na representa ~ao de momentos, em que os pk s~ao realizados omo operadores de
multipli a ~ao, e os qj s~ao realizados pelos operadores diferen iais
qj
! ih p
de modo que [qj ; pk = ih ^1jk e os vetores de estado s~ao representados por fun ~oes dos momentos,
~(pk ), K pode ser realizado omo K = K0 P , onde K0 e o operador de onjuga ~ao omplexa e
P e o operador de invers~ao espa ial, denido por P (qj ) = ( qj ).
9.6 - Considere, sob o ponto de vista da opera ~ao de invers~ao temporal, os seguintes sistemas
e hamiltonianos:
a) uma part ula de massa M e arga eletri a e sujeita a um ampo magneti o externo,
onstante (isto e, independente do tempo) e uniforme B~ . Para este sistema
Ha =
1
p~
2M
e ~ 2
A(~r)

om
524
1
A~ (~r) = B~ ~r;
2
b) um spin 1/2, ao qual esta asso iado um momento magneti o ~ = g0~s, onde 0 e o
magneton apropriado, g e o fator giromagneti o e ~s = h~ =2, sendo ~ as matrizes de Pauli,
imerso em um ampo magneti o externo onstante e uniforme B~ . Para este sistema
Hb = ~ B~ ;
e, nalmente,
) o ion He+ (que onsiste de um nu leo de spin zero e arga +2e om um uni o ele tron
externo), in luindo um termo de intera ~ao spin-orbita, na aproxima ~ao em que a massa do
nu leo e onsiderada innita. Para este sistema
H =
p2
2 me
2e2
~
+ VLS (r)~s L
r
om
~ = ~r ~p:
L
Mostre que, nos dois primeiros asos, os hamiltonianos n~ao s~ao invariantes sob invers~ao
temporal (supondo que esta opera ~ao n~ao modique o ampo magneti o externo), mas que H
e invariante sob invers~ao temporal. Tendo em vista que o termo de intera ~ao spin-orbita esta
rela ionado om a intera ~ao do momento magneti o asso iado ao spin do ele tron om o ampo
magneti o resultante de seu movimento orbital, dis uta a diferen a entre os asos b) e ) om
rela ~ao a invers~ao temporal.
9.7 - Considere os dois pro essos

~k~ +1 H
! p + e~k 0
~k 0
+p
!1 H +
~k ~
(isto e, respe tivamente a foto-disso ia ~ao do hidrogênio e a aptura radiativa de um ele tron
por um proton) que s~ao rela ionados por invers~ao temporal. Supondo a invarian a do operador
de transi ~ao por invers~ao temporal, rela ione as se ~oes de hoque para os dois pro essos.
Sugest~ao: use a invarian a para rela ionar os dois elementos de matriz de transi ~ao, sem tentar
al ula-los expli itamente.
Refer^
en ias gerais
A literatura espe a dedi ada a quest~ao de transforma ~oes e simetrias na me âni a quânti a
e muito extensa. Referên ias lassi as (possivelmente dif eis) s~ao
525
? H. Weyl, The theory of groups and Quantum Me hani s, tradu ~ao para o inglês publi ada
por Dover, sem data.
? E. P. Wigner, Group Theory and its appli ations to the Quantum Me hani s of atomi
spe tra, A ademi Press, 1959 (tradu ~ao ameri ana).
Textos espe os menos lassi os s~ao, por exemplo
? M. Hamermesh, Group Theory and its appli ation to physi al problems, Addison-Wesley,
1962,
? L. M. Fali ov, Group Theory ans its Physi al Appli ations, U. of Chi ago Press, 1966.
Uma apresenta ~ao simples da teoria de grupos ontnuos, in lusive de sua apli a ~ao a lassi a ~ao das part ulas elementares, em pleno ores imento a epo a de sua publi a ~ao, pode ser
en ontrada em
? H. J. Lipkin, Lie Groups for Pedestrians (Se ond Edition), North Holland, 1968.
Da mesma epo a e o artigo de revis~ao a ompanhado de reprodu ~oes de trabalhos originais
lassi os e/ou importantes para as areas de fsi a nu lear e fsi a das part ulas elementares
? F. J. Dyson, Symmetry Groups in Nu lear and Parti le Physi s, Benjamin, 1966.

Alem disso a maioria dos textos gerais dedi a aptulos espe os a essas quest~oes. Exemplos
disso s~ao
? A. Messiah, op. it., Captulos XIII (sobre rota ~oes e momento angular, v. tambem o
Apêndi e C), XIV (que ontem uma dis uss~ao do isospin) e XV (que trata de outras simetrias,
notadamente da simetria sob invers~ao temporal).
? L. Landau e E. M. Lifshitz, op. it., espe ialmente Captulos IV (momento angular e
rota ~oes), VIII (spin) e XII (que in lui um tratamento de grupos nitos relevantes para a teoria
quânti a dos solidos).
Existe tambem um grande numero de textos espe i amente dedi ados a quest~ao do grupo de
rota ~oes e momento angular, dos quais os mais frequentemente itados s~ao
? R. A. Edmonds, op. it.

526
? M. E. Rose, Elementary Theory of Angular Momentum, Wiley, 1957.

? D. M. Brink e G. R. Sat hler, Angular Momentum, Uxford U. Press, 1962.
? J. S hwinger, Quantum Theory of Angular Momentum, L. Biedenharn e H. Van Dam, Eds.,
A ademi Press, 1965.
? U. Fano e G. Ra ah, Irredu ible Tensorial Sets, A ademi Press, 1959.
527
528
Captulo 10
Espalhamento por um poten ial de
urto al an e.
O espe tro ontnuo do Hamiltoniano de uma part ula sujeita a a ~ao de um poten ial entral
de urto al an e V (r) foi rela ionado, no aptulo 5, om os pro essos de espalhamento da
part ula por esse poten ial. Como foi tambem men ionado ali, o problema de dois orpos que
interagem atraves de um poten ial que depende apenas da sua posi ~ao relativa pode ser reduzido
a esse aso, atraves de uma mudan a de variaveis para oordenadas relativas e oordenadas de
entro de massa. O arater de urto al an e do poten ial foi denido atraves da ondi ~ao
lim rV (r) = 0
r!1
que garante que, na regi~ao assintoti a r ! 1, as autofun ~oes do espe tro ontnuo do Hamiltoniano que s~ao autofun ~oes simultâneas do momento angular da part ula (\ondas par iais")
diferem das solu ~oes livres orrespondentes apenas por defasagens l (E ). Se ~oes de hoque
de espalhamento, em parti ular, puderam ser expressas em termos dessas defasagens. As autofun ~oes do espe tro ontnuo de parti ular interesse nesse ontexto s~ao as que satisfazem as
ondi o~es de ontorno de espalhamento
ikr
e
ei~k~r + fk() (^r)
2ME
(10.1)
r
h 2
para r ! 1, onde r^ indi a as oordenadas angulares de ~r. A fun ~ao fk(+) (^r) e hamada
amplitude de espalhamento, e se rela iona om a se ~ao de hoque diferen ial simplesmente
omo
d (+) 2
= fk (^r) :
d
~k (~r)
529
k=
Ela foi expressa em termos das defasagens das diferentes ondas par iais omo
fk(+) (^r) =
1

1X
(2l + 1)eil sin l Pl ( os ) = fk (^r) :
k l=0
O objetivo deste aptulo e estender esse tratamento de duas formas de erto modo omplementares. Por um lado, a rela ~ao do espe tro ontnuo om os pro essos de espalhamento sera
examinada de uma forma si amente mais pre isa, om base em um tratamento dependente
do tempo, no qual se estuda e evolu ~ao de um pa ote de ondas sob a a ~ao do poten ial. Nesse
ontexto e possvel examinar, em parti ular, as ondi ~oes fsi as em que um tratamento omo o
dado anteriormente e valido. Por outro lado, o tratamento esta ionario sera desenvolvido formalmente atraves da introdu ~ao e manipula ~ao de equa ~oes integrais equivalentes a equa ~ao de
S hrodinger e que in orporam tambem as ondi ~oes de ontorno de espalhamento. Isso permite
obter de forma simples e transparente uma serie de propriedades gerais das fun ~oes de onda e
de observaveis relevantes nos pro essos de olis~ao. As duas extens~oes ser~ao tratadas em parte
on omitantemente, devido ao fato de que a reformula ~ao da equa ~ao de S hrodinger em forma
integral e bastante util para o desenvolvimento do tratamento dependente do tempo.
10.1
A equa
~
ao de Lippmann-S hwinger.
A equa ~ao de autovalores relevante para o espalhamento de part ulas de massa M por um
poten ial de urto al an e V (~r) (o qual, a menos de men ~ao expl ita em ontrario, n~ao pre isara
ser tomado aqui omo sendo um poten ial entral) pode ser es rita omo
!
p2
E
jE i = V jE i
(10.2)
2M
ou, utilizando a representa ~ao de S hrodinger em que ~r e realizado omo um operador de
multipli a ~ao
2MV (~r)
~k (~r)
(10.3)
h 2
onde k2 2ME=h 2 e a rotula ~ao da fun ~ao de onda ~k (~r) h~rj~k i foi adaptada de forma a
indi ar mais expli itamente que ela devera eventualmente satisfazer ondi ~oes de ontorno de
espalhamento do tipo (10.1). Uma forma extremamente util de tratar o onteudo da equa ~ao
diferen ial (10.3) e transforma-la em uma equa ~ao integral fazendo uso das fun ~oes de Green

k2 + r2 ~k (~r) =
eikj~r ~r 0 j

0
Gk (~r; ~r ) =
j~r ~r 0 j
530
que satisfazem a equa ~ao

k2 + r2 Gk (~r; ~r 0 ) = 4 (~r ~r 0 )
e diferem entre si por suas propriedades assintoti as, para valores grandes de j~rj e om j~r 0 j
nito, omo dis utido a seguir. Utilizando essas fun ~oes, de fato e possvel es rever
M Z 3 0
d r Gk (~r; ~r 0 )V (~r 0 )~k (~r 0 )
2
2h
~k (~r) = ei~k~r
(10.4)
M Z 3 0 eikj~r ~r 0 j
0 0
dr
j~r ~r 0 j V (~r )~k (~r )
2h 2
= ei~k~r
Essa e uma equa ~ao integral inhomogênea (note a presen a do fun ~ao a determinar ~k (~r)
omo um dos fatores do integrando), onhe ida omo equa ~ao de Lippmann-S hwinger1, que
desempenha um papel entral na teoria formal do espalhamento. A sua solu ~ao laramente
satisfaz a equa ~ao diferen ial (10.3) bem omo as ondi ~oes de ontorno de espalhamento, (10.1).
De fato, o termo inhomogêneo de (10.4) satisfaz

k2 + r2 ei~k~r = 0
enquanto o termo integrado reproduz o lado direito da equa ~ao (10.3). No que se refere as
ondi ~oes de ontorno, notando que o modulo da variavel de integra ~ao ~r 0 e limitado pelo
al an e do poten ial V (~r 0 ), e possvel usar na regi~ao assintoti a j~rj ! 1 a expans~ao
j~r
p
~r 0 j = r2 + r02
2~r ~r 0 ! r 1
r0
~r ~r 0
+
O
r2
r
!2 1
A
' r r^ ~r 0;
om r^ ~r=r, que permite es rever, nas mesmas ondi ~oes,
eikj~r ~r 0 j
j~r ~r 0j
ikr
! e r eikr^~r 0 :
ou ainda, levando esse resultado a equa ~ao (10.4),
(~r) ! ei~k~r
~k
eikr M Z 3 0 ikr^~r 0
d re
V (~r 0 )~k (~r 0 ):
2
r 2h
B. A. Lippmann e J. S hwinger, Phys. Rev.
, 469-480 (1950).
79
531
Isso n~ao apenas mostra que as fun ~oes ~k (~r) satisfazem as ondi ~oes de ontorno de espalhamento mas ainda permite identi ar as amplitudes de espalhamento fk() (^r) omo sendo dadas
por
M Z 3 0 ikr^~r 0
M
(10.5)
=
d re
V (~r 0 )~k (~r 0 )
h
kr^jV j~k i:
2
2
2h
2h
Nesta ultima forma foi usada a nota ~ao jkrî para o autovetor do momento uja fun ~ao de onda
e
fk() (^r)
h~r 0jkrî eikr^~r 0 ;

uja normaliza ~ao difere por um fator da usual, h~rj~ki ei~kk~r =(2 )3=2 , que orresponde a
h~k 0 j~ki = (~k ~k 0). E laro que a equa ~ao (10.5) tem a utilidade apenas formal (embora
onsideravel) de exprimir as amplitudes de espalhamento diretamente em termos de elementos
de matriz do poten ial envolvendo os autoestados exatos j~k i. Como pro edimento para o
al ulo efetivo das amplitudes de espalhamento ela e no entanto de utilidade restrita, pois o
problema da obten ~ao desses autoestados e equivalente, seja em termos de di uldade, seja
em termos dos pro edimentos envolvidos, ao problema da obten ~ao das proprias amplitudes de
espalhamento.
10.1.1 A expans~ao de Born.

O arater inhomogêneo da equa ~ao de Lippmann-S hwinger permite obter expans~oes para as
fun ~oes de onda ~k (~r) simplesmente iterando re ursivamente a equa ~ao integral. Introduzindo,
para simpli ar a nota ~ao, a deni ~ao
M
V (~r)
2h 2
o resultado desse pro esso pode ser expresso omo
U (~r)
~k (~r) = ei~k~r +

+
Z
Z
d3 r0 Gk (~r; ~r 0 )U (~r 0 )ei~k~r
(10.6)
00
d3 r0 Gk (~r; ~r 0 )U (~r 0 ) d3 r00 Gk (~r 0 ; ~r 00 )U (~r 0 )ei~k~r + :::
ou ainda na forma mais ompa ta e um pou o mais abstrata
j~k i = j~ki + Gk U j~ki + Gk UGk U ~ki + ::: :

532
Essa serie e onhe ida omo serie de Born para a fun ~ao de onda ~k (~r) (ou para o vetor de
estado j~k i. A substitui ~ao dessa serie na express~ao (10.5) para as amplitudes de espalhamento
fk() (^r) da a expans~ao de Born para essas amplitudes
fk() (^r)
=
+
Z
Z
d3 r0eikr^~r U (~r 0 )ei~k~r
00
d3 r0eikr^~r U (~r 0 ) d3 r00 Gk (~r 0 ; ~r 00 )U (~r 00 )ei~k~r + :::
que pode ser es rita tambem omo

(10.7)
fk() (^r) = hkr^jU j~ki + hkr^jUGk U j~ki + hkr^jUGk UGk U j~ki + ::: :
Ela tem a forma de uma expans~ao perturbativa das amplitudes de espalhamento exatas em
potên ias do poten ial U (~r) (ou, equivalentemente, V (~r)). E fa il veri ar, em parti ular, que
o trun amento dessa expans~ao no seu primeiro termo (o que onstitui a hamada \primeira
aproxima ~ao de Born" para a amplitude de espalhamento) reproduz o resultado perturbativo
de primeira ordem obtido na se ~ao 4.1.4. A express~ao orrespondente para a se ~ao de hoque
e de fato
2
d (+)
M 2 Z 3 0

~
= fk (^r) ' hkr^jU jki = 2 4 d r e
d
4 h
2
i(kr^ ~k)~r 0 V (~
r 0 )

2
2M 2 ~

~

V
(
k
r
^
k
)
4
h
om a deni ~ao utilizada anteriormente para a transformada de Fourier do poten ial, V~ (~k).
Vale a pena notar expli itamente que a primeira aproxima ~ao de Born para a amplitude de
espalhamento
fk+(Born)
2M ~
V (kr^ ~k)
h 2
e dada essen ialmente pela transformada de Fourier do poten ial, e depende portanto dos
ângulos de r^ apenas atraves do momento transferido ~q kr^ ~k. Por outro lado, diferentes
valores de j~kj orrespondem a diferentes ângulos de espalhamento para um dado momento
transferido, de modo que, em situa ~oes nas quais a amplitude de espalhamento e fortemente
dominada pelo primeiro termo da expans~ao de Born, e proveitoso e usual onsiderar a se ~ao
de hoque diferen ial de espalhamento n~ao omo fun ~ao dos ângulos r^, mas omo fun ~ao do
momento transferido ~q.
A utilidade da expans~ao de Born para o al ulo de amplitudes de espalhamento e de se ~oes
de hoque depende evidentemente das propriedades de onvergên ia dessa expans~ao. A quest~ao
533
geral da onvergên ia da serie de Born foi tratada por Jost e Pais2 e posteriormente revisitada
por Weinberg3 . Condi ~oes gerais de onvergên ia podem ser expressas em termos do espe tro do nu leo Gk V da equa ~ao de Lippmann-S hwinger (10.4), visto omo um operador (n~ao
hermiteano) no espa o de Hilbert, mas seu uso e pou o frequente.
As apli a ~oes mais usuais se restringem quase sempre a primeira aproxima ~ao de Born
apenas. Uma forma de avaliar a qualidade dessa aproxima ~ao onsiste em usar a express~ao
formal (10.5) para a amplitude de espalhamento fk(+) (~r) e es rever a fun ~ao de onda om
ondi ~oes de ontorno de espalhamento que a apare e omo a soma de uma onda plana e de
uma \onda espalhada", isto e
~+k (~r) = ei~k~r +
esp
r ):
k (~
Desse modo

M
h
kr^jV j~ki + hkr^jV j kesp i
2
2h
onde o primeiro termo orresponde a primeira aproxima ~ao de Born e o segundo termo deve
ser relativamente pequeno para que essa aproxima ~ao seja boa. E laro, porem, que a onda
espalhada representa a distor ~ao da onda plana produzida pelo poten ial V (~r), e que a sua
ontribui ~ao para o segundo termo provem da regi~ao em que esse poten ial e diferente de zero.
Uma situa ~ao tpi a em que a primeira aproxima ~ao de Born n~ao da bons resultados e a de
espalhamento ressonante, que impli a em distor ~oes onsideraveis da fun ~ao de onda na regi~ao
sensvel, envolvendo todos os termos da expans~ao de Born.
fk(+) (~r) =
10.2
Des ri
~
ao dependente do tempo de um pro esso de
espalhamento por um poten ial.
Um ingrediente essen ial para uma des ri ~ao \realsti a" da evolu ~ao temporal de um pro esso
de espalhamento e a lo aliza ~ao das part ulas envolvidas nele. De fato, o arranjo tpi o envolve
um estagio ini ial, em que as part ulas s~ao preparadas a uma distân ia su ientemente grande
do poten ial para que os efeitos deste sejam desprezveis, om um momento ini ial experimentalmente bem denido, es olhido de forma que se elas aproximem do poten ial espalhador; e
ainda, apos a evolu ~ao temporal durante a qual se da a intera ~ao om o poten ial, um estagio
nal, em que o momento nal da part ula espalhada e medido tambem a uma distân ia em que
R. Jost e A Pais, Phys. Rev. 82, 840 (1951). V. tambem W. Kohn, Rev. Mod. Phys. 26, 292 (1954).
S. Weinberg, Phys. Rev. 130, 776 (1963) e ibid. 131, 440 (1963), espe ialmente a ultima destas duas
referên ias.
2
534
os efeitos do poten ial tenham se tornado novamente desprezveis. A teoria quânti a imp~oe,
no entanto, limita ~oes intrnse as para a lo aliza ~ao e para a determina ~ao simultânea do momento de part ulas, expressas em termos das rela ~oes de in erteza posi ~ao-momento. Por isso
e importante examinar ini ialmente as diversas ordens de grandeza envolvidas numa situa ~ao
experimental tpi a om o objetivo de, por um lado, avaliar a importân ia dessas limita ~oes e,
por outro lado, identi ar os parâmetros relevantes para o resultado da experiên ia.
10.2.1 Es alas tpi as em pro essos de espalhamento.

Um estado quânti o tpi o de uma part ula om posi ~ao e momento experimentalmente denidos pode ser representado por meio de um pa ote de ondas do tipo
1 Z 3 ~ ~ i~k(~r ~r0 ) ei~k0 (~r ~r0 ) Z 3 0 ~ 0 i~k 0 (~r ~r0 )
r ~r0 ) =
d k u~(k k0 ) e
=
d k u~(k ) e
0 (~
(2 )3=2
(2 )3=2
(10.8)
onde a amplitude u~(~k ~k0 ) e uma fun ~ao normalizada do momento ~k que difere apre iavelmente
de zero apenas numa vizinhan a de ~k0 . Na segunda forma dada a integral foi introduzido omo
variavel de integra ~ao o vetor ~k 0 ~k ~k0 , que e efetivamente limitado pelo al an e da fun ~ao
u~(~k ~k0 ) = u~(~k 0 ). Exemplo de um tal pa ote de ondas e o pa ote gaussiano tratado na se ~ao
3.3.3, para o qual essa amplitude e dada por
#3
2
2
b
2
2
u~(~k ~k0 ) = p
e 2b (~k ~k0 ) ;

"
d3 k ju~(~k ~k0 )j2 = 1:
Com essa parti ular es olha, a equa ~ao (10.8) da

"
#3
1 2 i~k0 (~r ~r0 ) (~r 2b~r20 )2

p
e
e
(10.9)
(
~
r
~
r
)
=
0
0
b
que orresponde a um pa ote de ondas de in erteza mnima, de largura b em torno do ponto ~r0 ,
ujo momento medio e h~k0 . Para a dis uss~ao que segue n~ao sera ne essario, porem, usar uma
forma expl ita para u~(~k ~k0 ), bastando notar que a lo aliza ~ao men ionada dessa amplitude
no espa o de momentos impli a numa (des)lo aliza ~ao omplementar de 0 (~r ~r0 ) no espa o
de posi ~oes em torno de ~r0 , e que as limita ~oes impostas pelas rela ~oes de in erteza s~ao tipi amente muito menores que as de orrentes de limita ~oes experimentais. Em parti ular, n~ao sera
ne essario supor que o pa ote tenha in erteza mnima.
A evolu ~ao temporal de um pa ote de ondas livre, representado ini ialmente pela equa ~ao
(10.8), e dada por
535
2
1 Z 3 ~ ~
i h2kM t ei~k(~r ~r0 ) =
d
k
u
~
(
k
k
)
e
0
(2 )3=2
i
(~r; t) = e h H0 t 0 (~r ~r0 ) =
1 Z 3 0 ~0
h
0
2
0
d k u~(k ) e i 2M (~k +~k0 ) t ei(~k +~k0 )(~r ~r0 )
3
=
2
(2 )
onde H0 = p2 =2M e, na ultima express~ao, a variavel de integra ~ao foi tomada omo sendo
~k 0 ~k ~k0 . Os argumentos das exponen iais que a apare em podem ser reagrupados omo
h~k0
t)
M
h k02 ~
t + k0 (~r ~r0 )
2M
onde o primeiro termo orresponde ao deslo amento do pa ote om velo idade uniforme h~k0 =M ,
o segundo da origem a um fator de fase global e o ter eiro e responsavel pela dispers~ao do pa ote.
O ultimo termo e, omo o que orresponde ao fator de fase global, independente da variavel
de integra ~ao, e da origem ao fator de onda plana a ser modulada pela amplitude do pa ote
no espa o de posi ~oes, exatamente omo no aso do pa ote gaussiano de in erteza mnima (v.
equa ~ao (10.9)). E fa il ver da express~ao para o ter eiro termo que os efeitos de dispers~ao ser~ao
na realidade desprezveis quando
h ~ 0 ~ 2
(k + k0 ) t + (~k 0 + ~k0 ) (~r ~r0 ) = ~k 0 (~r ~r0
2M
h k02
t1
2M
h k02
t
2M
2M
h k02
~k 0 ) seja apre iavelmente diferente
para todos os valores de k0 para os quais a amplitude u~(p
de zero. Usando a dispers~ao em momento k (que vale 1= 2 b no aso do pa ote gaussiano)
para ara terizar os maiores valores de k0 que satisfazem essa ondi ~ao, a ondi ~ao para que a
dispers~ao do pa ote seja desprezvel pode ser es rita omo
t
ou
t k
2M
h k2
onde o tempo k pode ser visto omo um tempo ara tersti o para o pro esso dispersivo. Vale
a pena observar expli itamente que esse tempo n~ao depende do momento medio ~k0 do pa ote
(que dene a velo idade do deslo amento), mas apenas de sua largura no espa o de momentos.
Num pro esso tpi o de olis~ao, o pa ote de ondas in idente e preparado a uma distân ia
L do alvo, que deve ser per orrida antes que a olis~ao o orra. O tempo L envolvido nesse
deslo amento e ent~ao dado por
L '
ML
h k0
536
uja ompara ~ao om o tempo ara tersti o de dispers~ao da
k
L
h k0 2k0
h2M
=
:
2
ML 2 L
k
Alguns exemplos espe os s~ao uteis para avaliar quantitativamente o onteudo dessa rela ~ao.
No aso de um proton preparado om energia ineti a de 1 MeV, o momento medio k0 e dado
por
2mpE
= 0:0478 1026 m 2
h 2
ou seja, k0 ' 0:22 1013 m 1 . Tomando k 100 m 1 , o que orresponde a uma lo aliza ~ao
espa ial na es ala de 0:01 m para um pa ote mnimo, e L 100 m, o que se obtem e
k
108:
L
k02 =
Para um ele tron om energia ineti a de 1 eV, por outro lado,

2me E
= 0:260 1016 m 2
h 2
ou seja k0 ' 0:51 108 m 1 que, para os mesmos valores de k e de L da
k
102:
L
k02 =
Isso mostra que, mesmo na situa ~ao desfavoravel de projeteis leves e energia ineti a pequena,
o \tempo de trânsito" L e tipi amente muito menor que o tempo ara tersti o de dispers~ao
k , de modo que os efeitos de dispers~ao podem ser desprezados durante a propaga ~ao livre do
pa ote de ondas.
O ponto seguinte a ser onsiderado e o de que uma experiên ia de espalhamento tpi a envolve um feixe ontendo um grande numero de part ulas in identes, o qual e dirigido para um
alvo que ontem, por sua vez, um grande numero de entros espalhadores. Parâmetros normalmente utilizados para ara terizar as propriedades de um feixe externo de part ulas arregadas
produzido por um a elerador in luem a intensidade, usualmente dada em termos de uma orrente eletri a, e a resolu ~ao em energia, usualmente expressa atraves de uma por entagem da
energia media.
Quanto a multipli idade de pa otes e a dispers~ao instrumental de energia no feixe, omo a
lo aliza ~ao das part ulas impli a por sua vez, atraves da inemati a quânti a, numa dispers~ao
n~ao nula no momento e portanto tambem na energia, e interessante omparar resolu ~oes em
537
energia tpi as dos feixes utilizados om esta dispers~ao \intrnse a", que pode ser estimada
omo

h 2 k2
k 2
Ek
=E
2M
k
onde E e a energia media. Para os exemplos onsiderados a ima, o ultimo fator e respe tivamente da ordem de 10 20 e de 10 11 , o que mostra que a indeni ~ao instrumental da energia
do feixe e muitas ordens de grandeza maior que a dispers~ao intrnse a asso iada a lo aliza ~ao
dos pa otes de onda. Nessas ondi ~oes, diferentes pa otes presentes no feixe tendem a estar
asso iados a valores da energia que s~ao su ientemente diferentes para serem em prin pio distinguveis, tornando os efeitos de ada um dos pa otes tambem distinguvel dos efeitos dos
demais. Os efeitos medios resultantes das olis~oes produzidas por uma tal ole ~ao de pa otes
podem portanto ser obtidos ombinando in oerentemente (isto e, ao nvel das probabilidades,
e n~ao das amplitudes quânti as) os efeitos dos pa otes onsiderados individualmente. Um feixe
om essas ara tersti as e por isso dito in oerente, e esta propriedade e a que permite, em
ultima analise, reduzir o problema do espalhamento envolvendo o feixe ao problema do espalhamento de um uni o pa ote de ondas. A multipli idade de entros espalhadores no alvo,
por outro lado, pode ser ara terizada por meio de uma distân ia media entre eles denida
omo d 1=3 , onde e a densidade de entros espalhadores. A propriedade das part ulas
in identes que e relevante neste ontexto e o omprimento de onda medio de de Broglie
0
2
h 2
1
=
:
k0
2ME
Considerando mais uma vez os dois exemplos ja utilizados, os valores de 0 s~ao respe tivamente
da ordem de 10 13 m e de 10 8 m. Para um alvo om a densidade tpi a de um solido ou
lquido normal 1023 m 3 e portanto d 10 8 m o que e, em parti ular, muito menor que
as dimens~oes admitidas para o pa ote de ondas. No aso em que d=0 1, no entanto, as ondas
espalhadas provenientes de entros diferentes hegar~ao ao dete tor om diferen as de fase muito
grandes de modo que efeitos de interferên ia tendam em media a se anular. O resultado disso e
que a intensidade observada sera dada essen ialmente pela soma das intensidades devidas a ada
um dos entros espalhadores onsiderado individualmente, o que permite reduzir o problema
de espalhamento por muitos entros tambem a um problema de espalhamento por um uni o
alvo. A situa ~ao e no entanto laramente outra no aso do feixe de ele trons, e nesse aso de
fato ha efeitos de interferên ia su ientemente importantes para que sejam usados para estudar
propriedades da distribui ~ao espa ial de entros espalhadores no alvo (difra ~ao de ele trons).
O problema que sera onsiderado no restante desta se ~ao e o do espalhamento in oerente
de um feixe tambem in oerente. Ele abrange, pelo menos, um grande numero de situa ~oes de
538
interesse na fsi a atômi a e nu lear pode, omo visto, ser reduzido ao problema do espalhamento
de um uni o pa ote de ondas por um uni o entro espalhador.
10.2.2 Tratamento dependente do tempo do espalhamento de um

pa ote de ondas por um poten ial de urto al an e.
A estrategia geral a ser seguida para estudar a evolu ~ao temporal de um pa ote de ondas
in idente sôbre um entro espalhador representado por um poten ial de urto al an e V (~r)
e na realidade a mesma que foi utilizada no Captulo 3 para estudar de uma forma geral a
evolu ~ao temporal de sistemas quânti os. O primeiro passo onsiste em expandir o estado
ini ial do pa ote em estados esta ionarios do Hamiltoniano, isto e, determinar os oe ientes
n em
(~r; t = 0) =
n n (~r)
onde as fun ~oes de onda n (~r) satisfazem

"
p2
+ V (~r) n(~r) = En n (~r)
2M
o que determina o estado quânti o no tempo t simplesmente atraves de
(~r; t) =
(10.10)
iEn t
n e h n (~r):
No aso do problema de espalhamento ha ompli a ~oes ligadas ao espe tro ontnuo, o que
impli a em substituir o ndi e que apare e nas somas por ndi es ontnuos e as somas por
integrais. As autofun ~oes envolvidas na expans~ao (e onsequentemente tambem os oe ientes
da expans~ao) dependem ainda, nesse aso, da es olha de ondi ~oes de ontorno que denam
ompletamente as autofun ~oes a serem utilizadas, de modo que o problema da determina ~ao
dos oe ientes da expans~ao deve ser tratado onjuntamente om o da es olha mais onveniente
de ondi ~oes de ontorno para as autofun ~oes do espe tro ontnuo.
A solu ~ao desse problema duplo, de es olha de ondi ~oes de ontorno e determina ~ao de
oe ientes de expans~ao, pode porem ser obtida de forma simples utilizando um resultado
que pode ser expresso da seguinte forma. Se ~k (~r) s~ao as solu ~oes da equa ~ao de LippmannS hwinger respe tivamente om onda espalhada emergente e imergente, e se u~(~k ~k0 ) e a
transformada de Fourier do pa ote de ondas tal qual foi utilizada na equa ~ao (10.8), ent~ao
a) se ~k0 ~r0 < 0, no limite assintoti o j~r0 j ! 1 vale a rela ~ao
539
1 Z 3
(10.11)
r ~r0 ) '
(2)3=2 d k e i~k~r0 ~+k (~r)~u(~k ~k0 ):
0 (~
A ondi ~ao ~k0 ~r0 < 0 e satisfeita, em parti ular, para pa otes de onda ujo momento medio tem
sentido oposto ao seu vetor medio de posi ~ao, ou seja, para pa otes de onda que se aproximam
da origem, e se apli a portanto aos pa otes de onda in identes (ou pa otes \pre- olis~ao") do
problema de espalhamento; e ainda
b) se ~k0 ~r0 > 0, no limite assintoti o j~r0 j ! 1 vale a rela ~ao
+ (~r)
1 Z 3
d k e i~k~r0 ~k (~r)~u(~k ~k0 );
(10.12)
(2 )3=2
onde se pode notar que ondi ~ao ~k0 ~r0 > 0 se apli a agora a pa otes que se afastam da origem
(ou pa otes \pos- olis~ao"). Como os pa otes de onda ini iais no pro esso de espalhamento s~ao
pa otes pre- olis~ao preparados na regi~ao assintoti a j~rj ! 1, o resultado a) resolve o problema
de sua expans~ao em autofun ~oes do Hamiltoniano, representadas nesse aso pelas solu ~oes da
equa ~ao e Lippmann-S hwinger om ondas emergentes ~+k (~r), de modo que a sua evolu ~ao
temporal apare e sob a forma
r ~r0 ) ' (~r)

0 (~
2
1 Z 3
i~k~r0 e i h2kMt + (~
~r0 ) '
u(~k ~k0 ):
(10.13)
(~r; t) = e
d
k
e
~k r )~
(2 )3=2
A aproxima ~ao envolvida nessa rela ~ao provem daquela existente na express~ao (10.11), e sera
expli itada a seguir atraves de sua demonstra ~ao.
i
h Ht 0 (~
r
A veri a ~ao dos resultados (10.11) e (10.12) pode ser feita al ulando as fun ~oes (~r)
da seguinte forma. Usando a equa a~o de Lippmann-S hwinger (10.4) para as autofun ~oes
~k (~r) que apare em no integrando essas fun o~es podem ser rees ritas omo
#
"
Z
1
M Z 3 0 eikj~r ~r 0 j
~k~r0 i~k~r
0 0
3
i
~ ~
= (2)3=2 d k e
e
2h2 d r j~r ~r 0j V (~r )~k (~r ) u~(k k0 )
= 0 (~r ~r0)
1 Z d3 k M Z d3 r0 e i~k~r0 eikj~r ~r 0 j V (~r 0)(~r 0 )~u(~k ~k0 ):
~k
j~r ~r 0 j
(2)3=2
2h2
O termo inhomogêneo da equa ~ao de Lippmann-S hwinger simplesmente re onstroi o pa~k e
ote ini ial, enquanto o termo que ontem a fun ~ao de Green envolve integra ~oes em

0
~r . Este ultimo termo pode ser simpli ado sempre que a dependên ia om ~k de ~k (~r 0 ),
em pontos ~r 0 onde V (~r 0) seja signi ativamente diferente de zero, possa ser desprezada
(~r)
540
para o intervalo de valores de ~k em que u~(~k ~k0 ) seja, por sua vez, signi ativamente
diferente de zero. Nessas ondi ~oes e possvel utilizar a aproxima ~ao
~k (~r 0 ) ' ~k0 (~r 0 )
om a qual esse objeto pode ser ex ludo da integra ~ao sobre ~k, dando ent~ao
(~r) '
0 (~r
onde
~r0 )
M Z 3 0
0 0
0
2h2 d r V (~r )~k0 (~r )I (~r; ~r )
1 Z d3 k e i~k~r0 eikj~r ~r 0j u~(~k ~k0 ):

j~r ~r 0 j
(2)3=2
Como no tratamento do pa ote livre, essas integrais podem ser re-es ritas usando ~k 0
~k ~k0 omo variavel de integra a~o e usando o urto al an e da fun a~o u~(~k 0 ) para introduzir
a expans~ao
k = j~k 0 + ~k0 j ' k0 + ~k 0 k^0
onde k^0 ~k0 =j~k0 j. Isso permite nalmente es reve-las em termos do pa ote ini ial omo
I (~r; ~r 0 ) =
I (~r; ~r 0 )
'
ei~k0 (k^0 j~r ~r 0 j ~r0 ) Z 3 0 i~k 0 (k^0 j~r ~r 0 j ~r0 ) ~ 0

dk e
u~(k ) =
j~r ~r 0 j
(2)3=2
= j~r 1 ~r 0 j 0 (k^0 j~r ~r 0 j ~r0):

A fun ~ao 0 (~r) e no entanto, por onstru ~ao, signi ativamente diferente de zero apenas
numa regi~ao de dimens~oes da ordem de b em torno de ~r = 0. Para veri ar a rela ~ao (10.11)
basta ent~ao notar que, se ~k0 ~r0 < 0 e ~r0 ! 1 o argumento de 0 na ultima express~ao
sera sempre diferente de zero e muito grande no aso de I +(~r; ~r 0), devido ao sinal, nesse
aso positivo, do termo do argumento que envolve k^0 . No aso em que ~k0 ~r0 > 0, por
outro lado, o argumento de 0 sera sempre n~ao nulo e su ientemente grande no aso de
I (~r; ~r 0 ), o que leva a rela ~ao (10.12).
As rela ~oes (10.11) e (10.12) podem ser interpretadas dizendo que estados de espalhamento om ondi o~es de ontorno de ondas emergentes s~ao adequados para a expans~ao
de pa otes pre- olis~ao, ao passo que estados om ondas imergentes s~ao adequados para
a expans~ao de pa otes pos- olis~ao. Essa diferen a pode ser entendida notando que, em
ambas as situa ~oes, o pa ote e re onstitudo apenas pela onda plana da solu ~ao de espalhamento esta ionaria, e que portanto as ontribui ~oes das ondas espalhadas se anulam por
541
interferên ia destrutiva na integra ~ao sobre ~k. Admitindo omo intuitivamente razoavel
que a interferên ia onstrutiva de ondas espalhadas emergentes so possa o orrer depois da
olis~ao, e que a de ondas imergentes so possa o orrer antes da olis~ao, segue ent~ao que
o uso de ondi o~es de ontorno \n~ao naturais" (ondas emergentes e imergentes, respe tivamente para pa otes pre- e pos- olis~ao) permite efetivamente ignorar a ontribui a~o de
ondas espalhadas no pro esso de re onstru ~ao do pa ote atraves de suas omponentes de
Fourier.
O passo seguinte onsiste em al ular a express~ao (10.13) om t su ientemente grande para
que os produtos da olis~ao atinjam o sistema de dete ~ao, lo alizado a uma distân ia do alvo
que e su ientemente grande para que a fun ~ao ~+k (~r) possa ser substituda pela sua forma
assintoti a
ikr
! ei~k~r + fk(+) (^r) er :
~+k (~r)
O termo de (10.13) ontendo a onda plana orresponde simplesmente a propaga ~ao livre do
pa ote de ondas ini ial. Na aproxima ~ao em que o alargamento do pa ote durante a propaga ~ao
livre e desprezado, essa rela ~ao pode ser expressa omo
h k2 t
0
(~r; t) ' e i 2M
r
0 (~
onde ~v0 h~k0 =M , om o pa ote espalhado
r; t) =
esp (~
'
~v0 t ~r0 ) +
r; t)
esp (~
r; t);
esp (~
dado por
2
eikr ~ ~
1 Z 3
i~k~r0 e i h2kMt f (+) (^
r
)
u~(k k0 ) '
d
k
e
k
(2 )3=2
r
2 ikr
1 Z 3
(+)
i~k~r0 e i h2kMt e
d
k
e
u~(~k ~k0 ):
fk0 (^r)
(2 )3=2
r
Na ultima passagem, a substitui ~ao da amplitude de espalhamento para momento de modulo

k pela quantidade orrespondente para o momento medio, de modulo k0 , e justi avel sempre que o intervalo de momentos em que u~(~k ~k0 ) e signi ativamente diferente de zero for
su ientemente pequeno para que a varia ~ao da amplitude de espalhamento om k possa a
ser desprezada. Nessas ondi ~oes, a integral resultante sobre ~k pode tambem ser expressa em
termos do pa ote de ondas ini ial, substituindo mais uma vez a variavel de integra ~ao por
~k 0 ~k ~k0 e usando a expans~ao
k ' k0 + ~k 0 k^0 :
542
Desse modo se obtem, apos algumas transforma ~oes algebri as simples,
r ; t)
esp (~
' e
h k2 t f (+) (^
r)
i 2M0
h k2 t (+) r)
i 2M0 fk0 (^
ei~k0 (k^0 r ~v0 t ~r0 ) Z 3 0 i~k 0 (k^0 r ~v0 t ~r0 ) ~ 0

dk e
u~(k ) =
(2 )3=2
^0 r ~v0 t ~r0 ):
0 (k
r
O resultado nal para o pa ote de ondas, num tempo t su ientemente grande para que a regi~ao
de interferên ia onstrutiva esteja ja su ientemente afastada do alvo para que as express~oes
assintoti as das autofun ~oes do hamiltoniano sejam validas, e dado portanto pela express~ao
= e
(~r; t) ' e
h k2 t
i 2M0 4 (~
0 r
f (+) (^r)
~v0 t ~r0 ) + k0
r
^0 r
0 (k
~v0 t ~r0 )5 :
(10.14)
Os dois termos que a apare em podem ser fa ilmente interpretados da seguinte forma (v. g.
10.1). A menos de uma fase global irrelevante, o primeiro termo representa o pa ote in idente
propagado livremente sem distor ~ao (devido as aproxima ~oes feitas nesse sentido) e portanto
deslo ado de uma distân ia ~v0 t de sua posi ~ao ini ial. Esse termo orresponde portanto a uma
amplitude de probabilidade que difere de zero apenas numa regi~ao de dimens~oes da ordem de b
na dire ~ao frontal denida por ~k0 . O segundo termo, por outro lado, representa uma amplitude
espalhada uja dependên ia om a oordenada radial r e dada em termos do perl do pa ote
ini ial ao longo da dire ~ao de in idên ia. De fato, a amplitude em ~r
^0 r
0 (k
~v0 t ~r0 )
e dada (a menos do fator geometri o 1/r) pela amplitude do pa ote ini ial al ulada no ponto
k^0 r ~v0 t. A dependên ia angular da amplitude espalhada e dada porem pela amplitude de
espalhamento fk(+)
r). Desse modo, os dois termos de (10.14) s~ao simultaneamente diferentes
0 (^
de zero apenas numa regi~ao de dimens~oes da ordem b em torno da dire ~ao frontal. Para
dire ~oes diferentes dessa a amplitude orrespondente ao pa ote transmitido se anula, e a uni a
ontribui ~ao para a amplitude total e a que provem de esp . Na dire ~ao frontal, porem, a
amplitude total apare e omo a soma de duas ontribui ~oes n~ao nulas, devidas respe tivamente
ao pa ote transmitido e ao pa ote espalhado, sendo que esta ultima tem omo fator a amplitude
^
de espalhamento na dire ~ao frontal fk(+)
0 (k0 ).
A interferên ia, na dire ~ao frontal, entre a amplitude transmitida e a amplitude espalhada
tem o papel importante de garantir a preserva ~ao da norma da fun ~ao de onda ao longo do
tempo, o que e uma onsequên ia do arater hermiteano do Hamiltoniano que gera a evolu ~ao
temporal. Isso indi a ainda que a amplitude de espalhamento na dire ~ao frontal deve onter
543
vo t
o (r-r )
o
t=0
t>0
1111111111111111
0000000000000000
000
111
000
111
z
0000000000000000
1111111111111111
000
111
000
111
0000000000000000
1111111111111111
000
111
0000000000000000
1111111111111111
V(r)
ko
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
r
o (r-v t-r )
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
o
o
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
000
111
00000000000000000
11111111111111111
000
111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
z
000
111
00000000000000000
11111111111111111
000
111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
000
111
00000000000000000
11111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
00000000000000000
11111111111111111
V(r)
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
f (r) (k r-v t-r )
o
o
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
o o
r
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
0000000000000000000000000000000
1111111111111111111111111111111
+
ko
Figura 10.1: Parte superior (t = 0): pa ote in idente lo alizado em torno de ~r0 . Parte inferior
(t > 0, su ientemente grande): representa ~ao esquemati a do pa ote de ondas espalhado e do
pa ote de ondas transmitido, om interferên ia na dire ~ao frontal.
544
informa ~ao sobre a probabilidade espalhada total, dado que esta e a quantidade envolvida na
onserva ~ao da norma da fun ~ao de onda. De fato, omo sera mostrado na se ~ao seguinte, a
ondi ~ao de onserva ~ao de norma, apli ada a express~ao (10.14), onduz diretamente ao teorema
opti o, que rela iona a se ~ao de hoque total a amplitude de espalhamento na dire ~ao frontal
(v. se ~ao 5.1.5).
Resta, nalmente, rela ionar o resultado (10.14) om a se ~ao de hoque de espalhamento.
Em termos experimentais, o elemento de se ~ao de hoque diferen ial d para espalhamento
in oerente de um feixe in oerente, orrespondente ao elemento de ângulo solido d
na dire ~ao
de observa ~ao r^, e denido omo
numero de pa otes espalhados medidos em d
d =
:
(numero de pa otes in identes) (numero de alvos por unidade de area)
O segundo fator do denominador orresponde ao numero de alvos por unidade de area, numa
proje ~ao sobre um plano perpendi ular a dire ~ao de in idên ia4. Dado o arater in oerente do
feixe e dos pro essos de espalhamento envolvendo diferentes alvos, d pode ser expresso em
termos de quantidades al uladas para um uni o pa ote e de um uni o alvo omo
d =
probabilidade em d
para um pa ote
probabilidade in idente por unidade de area
ND :
Tanto o numerador N quanto o denominador D dessa rela ~ao podem ser al ulados a partir de
(10.14). O numerador pode, de fato, ser al ulado omo
N=
Z +1
dt ~j (~r; t) r^ r2 d
om a densidade de orrente de probabilidade
~j (~r; t) = h [ (~r; t)r (~r; t) (r (~r; t)) (~r; t) :

2Mi
Para al ular essa quantidade e onveniente es rever o pa ote de ondas ini ial expli itamente
omo
~r0 ) = ei~k0 r u(~r ~r0 )
(10.15)
onde o ultimo fator orresponde a distribui ~ao espa ial da amplitude do pa ote, rela ionada
om u~(~k ~k0 ) por uma transforma ~ao de Fourier. Desse modo a fun ~ao de onda (~r; t) na
regi~ao assintoti a r ! 1 e dada por
r
0 (~
O habito de espe i ar a \espessura do alvo" em unidades de gramas por entmetro quadrado esta rela ionado om este fator.
4
545
(~r; t)
!e
h k2 t
i 2M0
"
ei~k0 r u(~r
eik0 r ^
u(k0 r
~r0 ) + fk(+)
(^
r
)
0
r
~v0 t
~v0 t ~r0 ) :
Em qualquer dire ~ao diferente da dire ~ao frontal r^ = k^0 apenas o segundo termo e diferente de
zero, e a omponente radial do gradiente que apare e na express~ao da orrente e
r^ r (~r; t) ! e
"
h k2 t (+)
i 2M0
eik0 r ^
u(k0r ~v0 t ~r0 ) ik0
fk0 (^r)
r
1 1 d ^
+
u(k r ~v0 t ~r0 ) :
r u dr 0
O segundo termo, 1=r, n~ao so e muito menor que o primeiro na regi~ao assintoti a mas na
realidade n~ao ontribui para a orrente por ser real. Se a amplitude u e real o ter eiro termo
t~aopou o ontribui para a orrente, mas mesmo no aso em que essa amplitude seja omplexa
a sua ontribui ~ao deve ser da ordem da in erteza k k0 introduzida no momento do pa ote
pela sua lo aliza ~ao espa ial, e portanto muito menor que a do primeiro termo. Nessas ondi ~oes
apenas a ontribui ~ao desse primeiro termo e relevante, e e possvel es rever
h k jf (^r)j
ju(k^0r ~v0 t ~r0)j2;
r^ ~j (~r; t) ! 0 k0 2
M
r
(+)
o que leva a express~ao para o numerador da se ~ao de hoque
N=
h k0 (+) 2 Z +1
jf (^r)j d
1 dt ju(k^0r ~v0t ~r0 )j2:
M k0
O al ulo do denominador D pode ser feito de uma forma semelhante ao do numerador. A
probabilidade in idente por unidade de area e dada por
D=
Z tmax
dt k^0 ~j (~r; t)
onde a densidade de orrente e agora al ulada na regi~ao pre- olis~ao, em que ~k0 ~r < 0, durante
o tempo em que apenas o primeiro termo de (~r; t) e diferente de zero. A limita ~ao da integral
temporal a tmax e introduzida para evitar a in lus~ao em D da ontribui ~ao \pos- olis~ao" do
pa ote espalhado para ângulos traseiros. A omponente relevante do gradiente que apare e na
express~ao da orrente e portanto

h k02 t
1
k^0 r (~r; t) ! e i 2M ei~k0 ~r u(~r ~v0 t ~r0 ) ik0 + k^0 ru(~r ~v0 t ~r0 )
u
546
onde mais uma vez o termo envolvendo o gradiente de u e de ordem k e portanto desprezvel
om rela ~ao ao primeiro termo. Isso leva a express~ao para o denominador
h k0 Z tmax
dt ju(~r ~v0 t ~r0 )j2 :
D=
M 1
Combinando os resultados obtidos para N e D resulta portanto
d =
h k0
M
R
jfk(+)
r)j2 d
+11 dt ju(k^0r ~v0 t ~r0 )j2
0 (^
= jfk(+)
r)j2 d
hk0 R tmax dt ju(~

0 (^
2
r
~
v
t
~
r
)
j
0
0
1
M
dado que as duas integrais temporais abrangem toda a extens~ao do pa ote de ondas e s~ao
portanto iguais. O que se obtem para a se ~ao de hoque diferen ial e portanto
d
= jfk(+)
r )j2
0 (^
d
que reproduz o resultado (5.27), obtido anteriormente. Em termos prati os, portanto, o problema da obten ~ao de se ~oes de hoque para pro essos de espalhamento in oerente de feixes
in oerentes de reduz ao problema do al ulo da amplitude de espalhamento fk(+)
r).
0 (^
10.2.3 Conserva ~ao de norma e o teorema opti o.

A evolu ~ao temporal do pa ote de ondas 0 (~r ~r0 ) denido pela equa ~ao (10.8) e determinada
i
pelo operador unitario de evolu ~ao U (t) = e h Ht , e esse fato por si so garante a preserva ~ao
da norma do pa ote ao longo do tempo. Por outro lado, para valores su ientemente grandes
de t, foi possvel es rever o pa ote de ondas temporalmente evoludo sob a forma (10.14), que
onsiste da soma de um termo que representa uma amplitude transmitida, dada essen ialmente
omo uma vers~ao transladada do pa ote ini ial, 0 (~r ~v0 t ~r0 ), om outro termo que representa uma amplitude espalhada, uja dependên ia angular e determinada pela amplitude de
espalhamento fk(+)
r). A uni a regi~ao em que ha superposi ~ao espa ial dessas duas amplitudes e
0 (^
a regi~ao frontal, que orresponde ao ângulo de espalhamento 0 (v. gura 10.1). A forma da
amplitude transmitida mostra imediatamente que, onsiderada isoladamente, ela tem a mesma
normaliza ~ao que o pa ote ini ial. Ent~ao, para que a densidade de probabilidade adi ional, asso iada a onda espalhada (e portanto a se ~ao de hoque total de espalhamento) seja ompatvel
om a onserva ~ao de norma, e pre iso que ela seja ompensada pelos termos de interferên ia
entre as duas amplitudes, que existem apenas na regi~ao frontal 0. E pre iso, portanto, que
a amplitude de espalhamento, na regi~ao frontal em que o orre a interferên ia, ontenha informa ~ao su iente a er a da se ~ao de hoque total de espalhamento para garantir a preserva ~ao
da norma do estado evoludo ompleto. O que sera feito a seguir e tratar de expli itar, em
547
termos quantitativos, a rela ~ao entre a amplitude de espalhamento na dire ~ao frontal e a se ~ao
de hoque total que garante preserva ~ao de norma no pro esso de espalhamento.
A imposi ~ao da onserva ~ao de norma sobre a fun ~ao de onda (10.14) leva a rela ~ao
1 =
d3 r j 0 (~r ~v0 t ~r0 )j2 + d3 r

Z
d3 r 0 (~r ~v0 t ~r0 )

(+)
k0
fk(+)
r)
0 (^
(^r)
r2
(k^0 r ~v0 t ~r0 ) +
^0 r ~v0 t ~r0 );
0 (k
r
em que o primeiro termo do lado direito e tambem igual a 1, enquanto o segundo termo pode
ser es rito omo
+2Re

(+)
k0
dr^ f
(^r)
2 Z

dr
2
(k^0 r ~v0 t ~r0 ) = tot
dr 0 (k^0 r ~v0 t ~r0 )
onde tot e a se ~ao de hoque total. Juntando esses resultados a ondi ~ao de onserva ~ao de
norma a reduzida a
R
R
2Re 01 dr dr^ rfk(+)
r) 0 (~r ~v0 t ~r0 ) 0 (k^0 r ~v0 t ~r0 )
0 (^

2
R1

^
dr

(
k
r
~
v
t
~
r
)

0
0
0
0
0
tot =
(10.16)
que rela iona a se ~ao de hoque total (que e uma quantidade dada em termos do quadrado
do modulo da amplitude de espalhamento) om uma express~ao que e apenas linear em fk+0 (^r),
por ser proveniente do termo de interferên ia entre a amplitude transmitida e a amplitude
espalhada. Utilizando novamente a express~ao (10.15) para a fun ~ao 0 (~r ~r0 ) e fazendo uso
da deni ~ao
F (^r; r) r eik0 r fk+0 (^r)u(~r ~v0 t ~r0 )u(k^0r ~v0 t ~r0 );

a integral que apare e no numerador pode ser es rita omo
Z
dr dr^ e
i~k0 ~r F (^
r; r )
dr
Z 2
d'
Z +1
d( os )e ik0 r os F (^r; r) :
As ontribui ~oes relevantes dessa integral podem ser extradas fazendo integra ~oes por partes
sobre a variavel angular os . Uma primeira integra ~ao da
Z +1
d( os )e
ik0 r os F (^
r; r)
+1

e ik0 r os
F (^r; r)
=
ik0 r
1
548
Z +1
d( os )
e ik0 r os dF (^r; r)
:
ik0 r d( os )
O termo integrado se anula para os = 1, que orresponde a = , pois nesse aso ~r = ~k0 r
e os argumentos dos dois fatores u s~ao tais que eles nun a s~ao simultaneamente diferentes de
zero. Por outro lado, quando os = +1 (o que orresponde a = 0), ~r = ~k0 r, a fun ~ao F (^r; r)
se torna independente de ' e a ontribui ~ao para a integral e
2
Z 1
h
i2
e ik0 r
2i +
^
dr
dr u(k^0 r ~v0 t ~r0 ) :
F (^r = k0 ; r) =
fk0 ( = 0)
ik0 r
k0
0
(10.17)
A integral remanes ente da primeira integra ~ao por partes pode ser novamente integrada por
partes, dando lugar a termos integrados que ontem um fator r 2 e que portanto se tornam
desprezveis para os valores grandes de r para os quais as amplitudes u(k^0 r ~v0 t ~r0 ) s~ao
diferentes de zero. Do mesmo modo, a nova integral pode ser submetida a uma ter eira integra ~ao por partes dando ontribui ~oes integradas om um fator r 3 , et . Dessa forma a uni a
ontribui ~ao relevante na regi~ao assintoti a r ! 1 e que e dada por (10.17), de modo que a
rela ~ao (10.16) a reduzida a
tot =
2Re
2i f + (
k0 k0
R1
= 0)
dr
R1
dr u(k^0 r ~v0 t ~r0 )

2

0
(k^0 r ~v0 t ~r )
i2
4
Im fk+0 ( = 0)
k0
pois, em vista da rela ~ao (10.15), as integrais radiais que apare em no numerador e no denominador s~ao iguais. Esse resultado onstitui o teorema opti o, ja obtido anteriormente na se ~ao
5.1.5, a partir da expans~ao em ondas par iais da amplitude de espalhamento. A pe uliaridade
que onsiste em que esse resultado exprime uma \probabilidade" (a se ~ao de hoque total) em
termos de uma express~ao linear na amplitude de espalhamento pode ser vista agora, no entanto,
omo uma sinaliza ~ao bastante lara de que ele envolve de forma essen ial fenômenos quânti os
de interferên ia.
10.3
Estados de espalhamento no espa

o de momentos.
A representa ~ao no espa o de momentos da equa ~ao de S hrodinger (10.2), em termos da qual
e des rito o espalhamento de part ulas de massa M pelo poten ial de urto al an e V pode ser
obtida rapidamente projetando-a sobre o autovetor (improprio) do momento j~ki, rela ionado
om os autovetores da posi ~ao j~ri atraves da transforma ~ao
h~rj~ki = (21)3=2 ei~k~r:

549
Esses autovetores satisfazem as rela ~oes de ompleteza

^1 =
d3 r j~rih~rj =
d3 k j~kih~kj
as quais impli am nas ondi ~oes de normaliza ~ao (improprias) es ritas em termos de fun ~oes
delta de Dira
h~kj~k 0 i = (~k ~k 0);
h~rj~r 0i = (~r ~r 0 ):
Desse modo se obtem, usando o fato de que a energia ineti a e diagonal na representa ~ao de
momentos,
h~kj E
p2
2M
h 2 k2
(~k) = h~kjV jE i
2M E
jE i = E
(10.18)
onde E (~k) h~kjE i e a fun ~ao de onda no espa o de momentos.

Usando a rela ~ao de ompleteza dos autovetores do momento, o segundo membro dessa
equa ~ao pode ser es rito omo
h~kjV jE i =
d3 k0 h~kjV j~k 0 iE (~k 0 );
o que mostra que a equa ~ao de S hrodinger no espa o de momentos tem a forma de uma equa ~ao
integral homogênea para E (~k). A sua transforma ~ao em uma equa ~ao integral inhomogênea,
equivalente a equa ~ao de Lippmann-S hwinger (10.4), envolve uma \invers~ao" do operador de
multipli a ~ao
!
h 2 k2
h 3 k2
h 2 2 2
E
E 0

k0 k ;
(10.19)
2M
2M
2M
que apare e no primeiro membro, e a adi ~ao de uma solu ~ao livre adequada as ondi ~oes de
ontorno de espalhamento.
Estritamente falando, o operador (10.19) n~ao pode ser invertido por se anular para k = k0 .
Esse problema, no entanto, e a manifesta ~ao, na representa ~ao de momentos, da ambiguidade
existente na determina ~ao da fun ~ao de Green para o operador diferen ial que apare e no
primeiro membro da equa ~ao diferen ial orrespondente (10.3), a qual e resolvida ali atraves
da espe i a ~ao de ondi ~oes de ontorno apropriadas. No espa o de momentos esse problema
pode ser ontornado fazendo uso do estratagema, devido a Dira , que onsiste em es rever
E
h 2 k2
2M
! 1
h 2 k2
2M
550
+z E
h 2 k2
2M
(10.20)
onde o smbolo P signi a que, numa integra ~ao sobre k, deve-se tomar o valor prin ipal nas
singularidades do integrando e o oe iente z da fun ~ao delta de Dira que apare e no ultimo
termo e uma onstante, em geral omplexa, a ser determinada atraves da espe i a ~ao de
ondi ~oes de ontorno. Esse ultimo termo e tal que
!
h 2 k2
z E
2M
h 2 k2
2M
(~k) = 0
(10.21)
para quaisquer z e (~k), pois o primeiro fator se anula no uni o ponto em que a fun ~ao delta
e diferente de zero.
Para es rever a equa ~ao orrespondente a equa ~ao de Lippmann-S hwinger no espa o de
momentos e pre iso ainda espe i ar o termo inhomogêneo, que deve orresponder a uma
solu ~ao do problema livre
!
h 2 k2
' (~k) = 0:
(10.22)
E
2M ~k0
A es olha natural orresponde a solu ~ao de onda plana usada na representa ~ao de S hrodinger,
que pode ser es rita no espa o de momentos omo
'~k0 (~k) = (2 )3=2 (~k ~k0 );
onde a dire ~ao do vetor ~k0 orresponde a dire ~ao da onda in idente da ondi ~ao de ontorno de
espalhamento. A equa ~ao integral inhomogênea que orresponde a equa ~ao (10.18) e, portanto,
2
~k(z0) (~k) = (2 )3=2 (~k ~k0 ) + 4
+z E
h 2 k2
2M
!3
h~kjV j~k(z0) i:
(10.23)
E
Manipulando os operadores singulares que apare em nessa express~ao om uso das rela ~oes
(10.21) e (10.22), e fa il veri ar que a fun ~ao ~k(z0) (~k) satisfaz a equa ~ao (10.18) para qualquer
es olha de z . As es olhas que orrespondem as ondi ~oes de ontorno de espalhamento usuais
(10.1) podem ser identi adas transformando a equa ~ao (10.23) de volta para a representa ~ao
S hrodinger, o que pode ser feito notando que
k(z0) (~r) = h~rjk(z0) i =
h 2 k2
2M
d3 k h~rj~kik(z0) (~k) =
d3 k i~k~r (z) ~
e k0 (k):
(2 )3=2
O elemento de matriz que envolve o poten ial V no segundo membro de (10.23) pode, por sua
vez, ser es rito tambem em termos de k(z0) (~r)
551
h~kjV j~k(z0)i =
Z
d3 r0 i~k~r 0
d3 r0 i~k~r 0 0
(z )
e
h
~
r
j
V
j

i
=
e
V (~r 0 )~k(z0) (~r 0 )
~k0
(2 )3=2
(2 )3=2
o que permite reduzir a equa ~ao a forma
~k(z0) (~r)
ei~k0 ~r +
d3 r0 Z d3 k i~k(~r
e
(2 )3=2 (2 )3=2
~r 0 ) 4
h 2 k2
2M
+z E
h 2 k2
2M
!3
5
V (~r 0 )~k(z0) (~r 0 ):
A transforma ~ao pode ser ompletada al ulando as integrais sobre ~k , o que pode ser feito
sem di uldade atraves de pro edimentos usuais. A integral envolvendo o valor prin ipal do
operador invertido e
d3 k ei~k(~r ~r 0 )
=
(2 )3=2 E h22Mk2
p M
2
os k0 (j~r ~r 0 j)
j~r ~r 0j
h 2
enquanto a integral que envolve a fun ~ao delta de Dira leva ao resultado
Z
d3 k i~k(~r
e
(2 )3=2
~r 0 ) z
2 M sen k0 (j~r ~r 0 j)
h 2 k2
z
=
2M
h 2
j~r ~r 0j :
A equa ~ao (10.23), transformada para a representa ~ao de S hrodinger, tem ent~ao a forma
~k(z0) (~r)
ei~k0 ~r
"
M Z 3 0 os k0 (j~r ~r 0 j)
dr
j~r ~r 0j
2h 2
z sen k0 (j~r ~r 0 j)
V (~r 0 )~k(z0) (~r 0 )

j~r ~r 0 j
que oin ide om a equa ~ao de Lippmann-S hwinger (10.4) om ondi ~oes de ontorno de
espalhamento (10.1) om as es olhas
z = i
~k(z0) (~r) ! ~k0 (~r):
para
A equa ~ao integral (10.23), om essas mesmas es olhas de z , onstitui portanto a vers~ao da
equa ~ao de Lippmann-S hwinger no espa o de momentos. Ela pode ser es rita omo
~k0 (~k) = (2 )3=2 (~k ~k0 )
onde a fun ~oes de Green Gk0 (k) s~ao
M Z 3 0 ~ ~0 ~0
G (k) d k hkjV jk i~k0 (k ):
2h 2 k0
552
(10.24)
2h 2 4
M E
G (k) =
k0
h 2 k2
2M
h 2 k2
2M
i E
!3
5
As integrais sobre momentos usadas para transformas a equa ~ao (10.23) de volta para a
representa ~ao de S hrodinger podem ser usadas novamente aqui para veri ar que essas fun ~oes
de Green se rela ionam om as fun ~oes de Green usadas para obter a equa ~ao de LippmannS hwinger (10.4) atraves da rela ~ao
Z
d3 k
Gk0 (k)ei~k(~r
3
(2 )
~r 0 )
eik0 j~r ~r 0 j
0
=
j~r ~r 0 j = Gk0 (~r; ~r )
que pode ser vista simplesmente omo a rela ~ao de transforma ~ao de volta para a representa ~ao
de S hrodinger de um operador Gk0 que e diagonal no espa o de momentos, onde sua forma e
h~kjGk0 j~k 0i Gk0 (k)(~k ~k 0);

pois, de fato,
Z
h~rjGk0 j~r 0i = d3 k d3k0h~rj~kih~kjGk0 j~k 0ih~k 0j~r 0 i =
d3 k
G (k)ei~r(~r
(2 )3 k0
~r 0 ) :
Esse operador pode ser es rito sob a forma ompa ta

1
2h 2
lim
M !0 E i
Gk0 =
p2
2M
om > 0, omo pode ser visto separando as partes real e imaginaria

1
E + i
p2
2M
p2
2M
p2 2
2
2M +

i

p2 2 + 2
2M
e notando que, no limite em que ! 0, os elementos de matriz desses objetos entre autovetores
do momento se omportam omo
2
p
h~kj E p2 2M2 2 j~k 0 i !
E
E 2M +
e
553
h 2 k2
2M
(~k ~k 0 )
h~kj
E

p2 2 + 2
2M
j~k 0i ! E
h 2 k2 ~ ~ 0
(k k ):
2M
Isso e frequentemente resumido em termos da \identidade"

1
lim
!0 E i
p2
2M
p2
2M
i E
p2
2M
om o auxlio da qual a equa ~ao (10.24) pode ser posta sob a forma
(~k) = (2 )3=2 (~k

~k0
~k0 ) +
1
E i
h 2 k2
2M
d3 k0 h~kjV j~k 0 i~k0 (~k 0 ):
(10.25)
onde esta subentendido o limite ! 0 por valores positivos. Uma ompara ~ao om a equa ~ao
equivalente (10.4) mostra que, no espa o de momentos, a fun ~ao de Green apare e sob a forma
de um operador singular mas diagonal, estreitamente rela ionado om o hamiltoniano livre
H0 p2 =2M . O poten ial, que foi tomado omo um poten ial lo al V (~r) na representa ~ao
de S hrodinger para es rever a equa ~ao (10.4), apare e omo um operador n~ao diagonal na
representa ~ao de momentos, eq. (10.25). Uma expans~ao de Born no espa o de momentos
pode evidentemente ser obtida iterando essa equa ~ao, de forma analoga ao que foi feito na
se ~ao 10.1.1. A amplitude de espalhamento na primeira aproxima ~ao de Born e dada agora
diretamente em termos dos elementos de matriz do poten ial no espa o de momentos, enquanto
aproxima ~oes de ordem superior envolvem integra ~oes sobre estados intermediarios de momento
e denominadores de energia singulares, mas om uma pres ri ~ao denida para o tratamento das
singularidades dada pela presen a das quantidades i.
A equivalên ia das duas representa ~oes sugere, por outro lado, que seja possvel tambem
tratar a equa ~ao de Lippmann-S hwinger diretamente em termos de operadores (eventualmente singulares) de forma abstrata, i.e., sem introduzir expli itamente qualquer representa ~ao
espe a. O arater diagonal da fun ~ao de Green obtida na representa ~ao de momentos e, de
fato, extremamente util para determinar a forma abstrata da equa ~ao. Um tratamento desse
tipo, a ser desenvolvido na se ~ao seguinte, evita ompli a ~oes te ni as inerentes a uma ou outra representa ~ao espe a, e dessa forma fa ilita onsideravelmente manipula ~oes formais que
permitem expli itar me anismos importantes do pro esso de espalhamento.
554
10.4
Equa
~
ao de Lippmann-S hwinger formal e
operador de transi
~
ao.
Com uso dos re ursos desenvolvidos na se ~ao anterior e muito simples obter uma vers~ao da
equa ~ao de Lippmann-S hwinger sem que seja ne essario introduzir uma representa ~ao espe a, omo foram, anteriormente, a representa ~ao de S hrodinger e a representa ~ao de momentos. O ponto de partida e a vers~ao formal da equa ~ao de S hrodinger
(E H0 )j~k0 i = V j~k0 i
(10.26)
onde H0 = p2 =2M , E = h 2 k02 =2M e V e o poten ial de urto al an e responsavel pelo espalhamento. O feixe in idente e representado por um autovetor j~k0 i de H0 om momento bem
denido h~k0 , que satisfaz portanto a equa ~ao
(E
H0 )j~k0 i = 0;
de modo que a equa ~ao integral formal que equivale a equa ~ao de S hrodinger (10.26) om
ondi ~oes de ontorno de espalhamento pode ser es rita sob a forma
j~k0 i = j~k0i + E i1 H V j~k0 i:

0
(10.27)
h~rj~k0i = (21)3=2 ei~k0 ~r
(10.28)
Estritamente falando, essa equa ~ao difere das equa ~oes (10.4) e (10.23) por um fator de normaliza ~ao (2 )3=2 , omo pode ser fa ilmente veri ado notando, por exemplo, que o termo
inhomogêneo e aqui dado, na representa ~ao de S hrodinger, por
que difere do termo orrespondente de (10.4) por esse fator. O mesmo fator apare e na representa ~ao de momentos, na qual o termo inhomogêneo de (10.27) e simplesmente h~kj~k0 i = (~k ~k0 ),
enquanto um fator adi ional (2 )3=2 apare e em (10.23). As solu ~oes das equa ~oes integrais s~ao,
no entanto, solu ~oes da equa ~ao homogênea (10.26), de modo que diferentes riterios de normaliza ~ao podem ser trivialmente implementados a posteriori, e a forma adotada para (10.27)
pode ser mantida, por simpli idade, sem qualquer perda de generalidade. A forma da fun ~ao
de Green que foi utilizada nessa equa ~ao se justi a fa ilmente a partir dos resultados obtidos
na representa ~ao de momentos. Em parti ular, a nota ~ao usada subentende o limite ! 0 por
valores positivos, o que permite tambem utilizar a identidade formal
1
=
E i H0 E
H0
555
i (E H0) :
(10.29)
As fun ~oes singulares de operadores que apare em nessa identidade podem ser entendidas, por
exemplo, utilizando os autovetores de H0 que s~ao autovetores simultâneos do momento, para
os quais se pode es rever, por exemplo
P j~ki = P j~ki
2
E H0
E h2Mk2
e uma express~ao analoga para o termo envolvendo a fun ~ao delta, o que permite fazer onta to
direto om as express~oes obtidas na representa ~ao de momentos.
A serie de Born pode agora ser obtida iterando a equa ~ao (10.27), o que leva fa ilmente ao
resultado
j~k0 i
1
1
1
V j~k0 i +
V
V j~k0 i + ::: =
E

i
H
E

i
H
E

i
H
0
0
0

1
1
1
= 1+
+
V
V + ::: j~k0 i:
(10.30)
E i H0 E i H0 E i H0
= j~k0 i +
A serie de operadores que apare e entre ol hetes pode ser porem somada formalmente, dando

1
1
1
+
V
V + ::: =
1+
E i H0 E i H0 E i H0
1
1
E i H0 V
e este ultimo objeto pode ser por sua vez re-es rito omo
1
1

1
1
V
=
(E i
1
E i H0
E i H0
E i H0 V
1
=
(E i H0 )
E i H0 V
H0
1
V)
=
(10.31)
onde, na ultima passagem, foi usado o fato de que o inverso de um produto de operadores e o
produto dos operadores inversos em ordem ontraria. O resultado deste al ulo representa a
soma da serie que apare e entre ol hetes em (10.30), de modo que os vetores j~k0 i podem ser
es ritos sob as formas alternativas
j~k0 i = E i 1 H V (E i H0) j~k0i = E i iH V j~k0i
0
0
pois (E
H0 )j~k0 i = 0, e ainda
556
j~k0 i = E i 1 H V (E i H0 V + V ) j~k0i = j~k0i + E i1 H V j~k0i (10.32)

0
om H = H0 + V . Esses dois resultados exprimem os estados de espalhamento j~k0 i em termos
de operadores que agem sobre o estado livre j~k0i, e devem ser vistos portanto omo solu ~oes
formais da equa ~ao de Lippmann-S hwinger. A sua utilidade prati a e limitada pelo fato de
que nelas intervem a fun ~ao de Green ompleta, na qual apare e n~ao so o hamiltoniano livre H0
mas o hamiltoniano ompleto H = H0 + V , e a obten ~ao dessa fun ~ao de Green e um problema
uja di uldade e equivalente a do problema de resolver a equa ~ao de S hrodinger (10.26).
A solu ~ao formal (10.32) permite, no entanto, obter uma express~ao interessante para a amplitude de espalhamento, e portanto para a se ~ao de hoque diferen ial. De fato, o estudo da
equa ~ao de Lippmann-S hwinger na representa ~ao de S hrodinger permitiu exprimir as amplitudes de espalhamento fk0 em termos de elementos de matriz do poten ial que envolvem os
estados de espalhamento j~k0 i e ondas planas na dire ~ao nal de observa ~ao, eq. (10.5). Essas
express~oes foram obtidas, no entanto, om a normaliza ~ao dos estados de espalhamento determinada por um termo inhomogêneo es rito simplesmente omo ei~k0 ~r e tambem om uma op ~ao
analoga para a onda plana que representa o estado nal. Por e pre iso ajustar os oe ientes
numeri os de modo a ter em onta os fatores adi ionais 1=(2 )3=2 que orrespondem a normaliza ~ao adotada aqui para o termo inhomogêneo j~k0i da equa ~ao de Lippmann-S hwinger formal
e para os estados nais j k0 rî. O ajuste onsiste de um fator adi ional (2 )3 , o que leva a
fk(0) (^r) =
(2 )2 M
h
k0 r^jV j~k0 i:
2
h
Usando ent~ao a solu ~ao formal (10.32) resulta

(2 )2 M
1
h
k0 r^jV + V
V j~k i
(10.33)
2
E i H 0
h
que agora envolve elementos de matriz entre vetores de estado livres dos operadores de transi ~ao
fk(0) (^r) =
1
V:
(10.34)
E i H
Esses operadores dependem de k0 atraves da energia E que apare e na fun ~ao de Green, e a
se ~ao de hoque diferen ial pode ser obtida diretamente de fk(+)
r) omo
0 (^
T (k0 ) V + V

d (+) 2 (2 )4 M 2
+ (k )j~k i2 :

h
k
r
^
j
T
= fk0 (^r) =
0
0 0
d
h 4
557
(10.35)
Essa express~ao para a se ~ao de hoque diferen ial e exata. E interessante notar que ela
pode ser obtida de uma probabilidade de transi ~ao por unidade de tempo, do estado ini ial j~k0 i
para estados nais j~ki es rita sob a forma da regra aurea de Fermi, mas na qual o poten ial e
substitudo pelo operador de transi ~ao. Essa probabilidade de transi ~ao, tendo em onta que
os estados nais de interesse s~ao aqueles em que a dire ~ao do vetor de onda nal ~k esta ontida
no elemento de ângulo solido d
e
2

h 2 k2
2 Z 1
dk k2 h~kjT +(k0 )j~k0 i
dW = d
h
2M
0
2
2 k M
h 2 k02
= d
0 2 hk0 r^jT +(k0 )j~k0 i :
2M
h
h
De fato, a se ~ao de hoque orrespondente, obtida da forma usual

1
d
dW (2 )3 M dW
=
=
d
uxo in idente d
h k0 d
oin ide om a express~ao (10.35). O valor usado para o uxo in idente orresponde a onda plana
(10.28). E laro que, se o operador de transi ~ao e substitudo simplesmente pelo poten ial V , o
que se obtem e simplesmente a se ~ao de hoque al ulada em teoria de perturba ~ao de primeira
ordem, o que orresponde a aproxima ~ao de Born. O ponto que deve ser salientado aqui e
o de que o resultado exato e ompatvel om a estrutura da regra aurea de Fermi, mediante
uma deni ~ao apropriada do operador responsavel pela transi ~ao. Neste aso a deni ~ao apropriada resulta da solu ~ao formal (10.32) da equa ~ao de Lippmann-S hwinger, da qual de orre
imediatamente que
V j~k0 i = T (k0 )j~k0 i:
(10.36)
Uma onsequên ia relevante dessa rela ~ao e a de que a amplitude de espalhamento fk(+)
r)
0 (^
tambem pode ser es rita omo
(2 )2 M
hk0r^jV j~k0i:
(10.37)
h 2
De fato, para o estado nal om a ondi ~ao de ontorno de ondas imergentes jk0rî vale a
rela ~ao
fk(+)
r) =
0 (^
V jk0 rî = T (k0 )jk0 rî

que, tendo em vista que

y
T (k0 ) = T + (k0 );
558
mostra que (10.37) e equivalente a express~ao (10.33) para fk(+)

r).
0 (^
Os operadores de transi ~ao (10.34) podem ser denidos, de forma geral, em termos das
equa ~oes integrais formais equivalentes
1
1
T (k0 )
ou
T (k0 ) = V + T (k0 )
V:
T (k0 ) = V + V
E i H0
E i H0
Isso pode ser veri ado iterando ada uma dessas equa ~oes, o que leva a serie geometri a formal
1
1
1
V +V
V
V + ::: =
E
i H0
E i H0 E i H0

1
1
V + :::
V=
= V +V 1+
E i H0
E i H0
1

1
1
V
V:
= V +V 1
E i H0
E i H0
O operador inverso que apare e nesta ultima express~ao ja foi al ulado em (10.31)
T (k0 ) = V + V
1
1
1
V
=
E i H0
E i
(E i H0 )
H
e esse resultado leva nalmente a express~ao (10.34) para T (k0 ). As equa ~oes integrais formais
poder ser tambem realizadas em termos de alguma representa ~ao espe a. Usando, por
exemplo, a representa ~ao de momentos para es rever a primeira das duas equa ~oes integrais,
resulta
Z
1

0
0
~
~
~
~
h~k jT (k0)j~k 0i
hkjT (k0)jk i = hkjV jk i + d3k1h~kjV j~k1i
h2 k12 1
E i 2M
1
de uja itera ~ao podem ser obtidas \series de Born" para as matrizes que representam os
operadores de transi ~ao no espa o de momentos. E importante ressaltar o ponto de que a
determina ~ao de T (k0 ) envolve o onhe imento dessas matrizes para todos os valores de ~k e
~k 0 . A se ~ao de hoque de espalhamento (10.35), por outro lado, depende apenas dos elementos
de matriz em que esses dois vetores têm o mesmo modulo, o qual e por sua vez igual ao
argumento k0 do operador de transi ~ao T + (k0 ). Essa restri ~ao provem em ultima analise da
onserva ~ao de energia no pro esso de espalhamento, e por isso esses elementos de matriz s~ao
usualmente hamados \elementos de matriz do operador de transi ~ao na superf ie de energia",
entendida omo denida pela restri ~ao j~kj = j~k 0 j = k0 . Portanto, a parte da matriz de transi ~ao
h~kjT +(k0)j~k 0i que esta fora da superf ie de energia, n~ao e diretamente a essvel a medida
atraves de pro essos de espalhamento.
559
10.4.1 A \formula de dois poten iais" de Gell-Mann e Goldberger.

Um resultado que pode ser obtido de forma relativamente simples em termos da teoria formal
desenvolvida a ima e que e extremamente util para tratar problemas de espalhamento e a
hamada \formula de dois poten iais", obtida originalmente por Gell-Mann e Goldberger5 Ela
da uma express~ao para o operador de transi ~ao na superf ie de energia, no aso em que o
poten ial V e tomado omo dado pela soma de dois poten iais V = V1 + V2 , em termos do
operador de transi ~ao orrespondente ao poten ial V1 apenas, mais um termo adi ional que
des reve os efeitos de V2 no pro esso de espalhamento.
O estado j~+k0 i que des reve o espalhamento apenas pelos dois poten iais V1 + V2 e dado em
termos da solu ~ao formal (10.32) da equa ~ao de Lippmann-S hwinger omo
j~+k0 i = j~k0i + E + i H1 V V (V1 + V2)j~k0i:

0
1
2
(10.38)
Essa express~ao pode ser transformada om uso da identidade

1
1
1

+
V
E + i H0 V1 V2 E + i H0 V1 E + i H0 V1 2 E + i
1
H0
V1
As manipula ~oes envolvidas na veri a ~ao da identidade a ima s~ao tpi as dos pro edimentos utilizados no ontexto da teoria formal do espalhamento. Para veri ar essa
identidade, o passo ini ial onsiste em es rever o primeiro membro sob a forma da serie
1
E + i H0 V1 V2
E + i H0
+ E + i
+ :::
e, em seguida, re-somar a serie omo
1
E + i H0 V1
1
+
V1 E + i H0
1
V2
V1 E + i H0
H0
+ E + i 1H V V2 E + i 1H
0
1
0
1
= E + i H0 V1 +
+ E + i 1H V V2 E + i 1H
0
M. Gell-Mann e M. L. Goldberger, Phys. Rev.
V1
V1
1 + V2 E + i 1H
1
, 398 (1953).
91
560
V1 E + i H0 V1
1
V2
V1 E + i H0 V1
V2
V2
V1
E + i H0 V1
+ ::: =
1
(10.39)
V2
O operador inverso que apare e entre ol hetes nesta ultima express~ao pode agora ser
re-es rito sob a forma

V2
E + i H0 V1
1
= (E + i
= (E + i
H0 V1 V2 )
H0 V1 )
que, substituda em (10.39), da a identidade bus ada.
E + i H0 V1
1
E + i H0 V1 V2
Essa identidade tem o efeito imediato de permitir que a fun ~ao j~+k0 i seja es rita sob a forma
j~+k0 i
= j~k0 i +
(V + V )j~k i +
E + i H0 V1 1 2 0
1
1
V2
(V + V )j~k i
+
E + i H0 V1 E + i H0 V1 V2 1 2 0
que, tendo em vista a rela ~ao (10.38), e tambem a sua orrespondente para o espalhamento
apenas pelo poten ial V1 , dada por
j~+k0 i = j~k0i + E + i 1H V V1j~k0i;

0
1
leva a equa ~ao integral para j~+k0 i
j~+k0 i = j~+k0 i + E + i 1H V V2j~+k0 i:

0
1
(10.40)
Esta ultima equa ~ao e uma equa ~ao de Lippmann-S hwinger ujo termo inhomogêneo e o estado
om ondi ~oes de ontorno de espalhamento pelo poten ial V1 apenas. Os efeitos do poten ial V2
est~ao todos ontidos no ultimo termo, no sentido de que este termo se anula quando o operador
V2 ! 0. Ela pode tambem ser iterada dando origem a uma serie analoga a serie de Born,
eventualmente hamada de serie de Born om ondas distor idas (pelo poten ial V1 ), que e uma
serie em potên ias de V2 na qual os efeitos de V1 s~ao tratados exatamente.
A hamada formula de dois poten iais de Gell-Mann e Goldberger e o resultado orrespondente a essa equa ~ao de Lippmann-S hwinger om ondas distor idas formulado em termos do
operador de transi ~ao. Ela pode ser obtida partindo da express~ao para o elemento de matriz
na superf ie de energia do operador de transi ~ao para os dois poten iais
hk0r^jT +(k0)j~k0i = hk0r^j(V1 + V2 )j~+k0 i

561
e usando a equa ~ao (10.40) para re-es reve-la omo
hk0r^jT +(k0)j~k0i
=
=
hk0r^j(V1 + V2)j~+k0 i + hk0r^j(V1 + V2) E + i 1H V V2j~+k0 i

0
1
1
+
+
hk0r^jV1j~k0 i + hk0r^jV1 E + i H V V2j~k0 i +

+hk0 r^jV2 j~+k0 i +

E + i
H0
V1
V2 j~+k0 i :
Tendo em vista a equa ~ao (10.40), o ultimo termo se reduz na realidade a hk0r^jV2 j~+k0 i. O
segundo termo, porem pode ser reduzido introduzindo o estado om a ondi ~ao de ontorno
assintoti a de ondas imergentes
jk0rî = jk0rî + E i 1H V V1 jk0rî

0
1
pois dessa rela ~ao segue que
hk0r^jV1 E + i 1H V = hk0r^j hk0r^j

0
1
o que leva nalmente a express~ao para o operador de transi ~ao total na superf ie de energia
hk0r^jT +(k0)j~k0i
= hk0 r^jV1 j~+k0 i + hk0 r^jV2 j~+k0 i =

= hk0 r^jT1+ (k0 )j~k0i + hk0 r^jV2 j~+ i
k0
(10.41)
onde T1+ (k0 ) e o operador de transi ~ao para o poten ial V1 apenas. E muito importante notar
que essa express~ao exata envolve, no ultimo termo, um estado de espalhamento pelo poten ial
V1 om ondi ~oes de ontorno assintoti as de ondas imergentes. Em parti ular, a hamada
aproxima ~ao de Born om ondas distor idas e obtida simplesmente substituindo nesse ultimo
termo o estado de espalhamento exato j~+k0 i por sua aproxima ~ao de ordem zero em V2 , isto e,
j~+k0 i. A express~ao resultante
hk0r^jT +(k0)j~k0i hk0r^jT1+(k0)j~k0i + hk0r^jV2j~+k0 i

tambem envolve de modo essen ial um estado de espalhamento om ondas imergentes no termo
linear em V2 .
562
10.5
Operador de espalhamento S. Propriedades

formais.
Embora os operadores de transi ~ao T (k0 ), eq. (10.34), sejam su ientes para determinar
todas as quantidades que podem ser medidas em pro essos de espalhamento, eles n~ao s~ao, em
geral, determinados por essas quantidades. Isso signi a que a restri ~ao do operador T + (k0 )
a superf ie de energia e em geral insu iente para determinar ompletamente esse operador.
Devido a esse fato, para a analise de pro essos de espalhamento e onveniente dispor de um
operador alternativo que seja ompletamente determinado pela restri ~ao de T + (k0 ) a superf ie
de energia. Isso e feito denindo um operador de espalhamento S que pode ser ara terizado
formalmente atraves da rela ~ao, valida para qualquer par de vetores de onda ~k e ~k 0 ,
h~kjS j~k 0i = h~k j~+k 0 i:

Uma justi a ~ao, em termos qualitativos, dessa deni ~ao formal, pode ser dada em termos das
rela ~oes (10.11) e (10.12), segundo as quais os autovetores j~+k 0 i e j~k i s~ao apropriados para
expandir respe tivamente pa otes de onda pre- olis~ao (isto e, pa otes de onda que se aproximam
do alvo) e pos- olis~ao (pa otes que se afastam do alvo). Desse modo, superposi ~oes apropriadas
dos elementos de matriz do operador S h~kjS j~k 0 i orrespondem a probabilidade de que um dado
pa ote pre- olis~ao evolua para um tambem dado pa ote pos olis~ao.
A rela ~ao formal existente entre os operadores S e T pode ser obtida a partir da solu ~ao
(10.32) da equa ~ao de Lippmann-S hwinger es rita om o auxlio de uma identidade semelhante
a (10.29) sob a forma
j~k i = j~ki + E P H V j~ki i(Ek H )V j~ki

k
onde Ek h 2 k2 =2M e H = p2 =2M + V . Essa express~ao permite rela ionar os autovetores do

espe tro ontnuo de H om ondi ~oes de ontorno assintoti as de ondas emergentes e de ondas
imergentes atraves de
j~k i = j~+k i + 2i(Ek H )V j~ki

que, levada a deni ~ao de S , da
h~kjS j~k 0i = h~+k j~+k 0 i
2i (Ek
Ek0 )h~kjV j~+k 0 i:
Tendo em onta a ortonormalidade dos autovetores j~+k i de H e a rela ~ao (10.36) resulta
nalmente
563
(10.42)
2i (Ek Ek0 )h~kjT + (k0 )j~k 0 i:
A presen a do fator (Ek Ek0 ) mostra expli itamente que os elementos de matriz de S s~ao
denidos pelos elementos de matriz de T + na superf ie de energia apenas.
A propriedade, geralmente admitida, de ompleteza dos estados de espalhamento om ondi ~oes de ontorno de ondas emergentes j~+k i (a res idos, quando for o aso, dos estados ligados
jii de H ), no sentido que existe a resolu ~ao da unidade
h~kjS j~k 0i = (~k ~k 0)
^1 =
d3 k j~+k ih~+k j +
jiihij;
bem omo da arma ~ao orrespondente para os estados om ondi ~oes de ontorno de ondas
imergentes j~k i, que leva a resolu ~ao alternativa da unidade
^1 =
d3 k j~k ih~k j +
jiihij;
impli a em que o operador de espalhamento S e um operador unitario. Nessas duas resolu ~oes
da unidade os estados ligados ji i s~ao estados ortonormais
hijj i = ij
e ortogonais a qualquer dos estados do espe tro ontnuo
hij~+k i = hij~k i = 0;
para os quais valem, por outro lado, as rela ~oes de ortogonalidade e normaliza ~ao
h~+k j~+k 0 i = (~k ~k 0 );
h~k j~k 0 i = (~k ~k 0):
Para obter a unitaridade de S basta al ular, de fato,
h~kjSS yj~k 0 i =
=
=
Z
Z
d3 k1
h~kjS j~k1ih~k1jS yj~k 0 i =
h j ih j
h~k j^1j~k 0 i = (~k ~k 0):
d3 k1
~k ~+k1
~k 0 ~+k1
A substitui ~ao
564
i =
Z
Z
d3 k1 h~kjS j~k1 ih~k 0 jS j~k1i

d3 k1 h~k j~+k1 ih~+k1 j~k 0 i
d3 k1 j~+k1 ih~+k1 j ! ^1
e possvel devido a ortogonalidade dos estados ligados aos estados do espe tro ontnuo, e
orresponde a hamada \ ompleteza assintoti a" dos estados de espalhamento j~+k i. Essa denomina ~ao faz referên ia ao fato de que as fun ~oes de onda orrespondentes aos estados ligados
devem se aproximar de zero su ientemente depressa a grandes distân ias do poten ial. De modo inteiramente analogo, e fazendo uso da \ ompleteza assintoti a" dos estados j~k i, resulta
tambem que
h~kjS yS j~k 0i = (~k ~k 0)

de modo que SS y = S y S = 1^ e portanto S y = S 1 .
A rela ~ao de unitaridade para o operador de espalhamento pode tambem ser expressa em
termos do operador de transi ~ao T + (k) utilizando a rela ~ao (10.42). De fato
(~k ~k 0 ) =
=
d3 k1 h~kjS yj~k1 ih~k1 jS j~k 0 i =
d3 k1 h~k1 jS j~ki h~k1 jS j~k 0 i =

i
d3 k1 (~k ~k1 ) + 2i (Ek Ek1 )hk~1 jT + (k)j~ki

i
h
(~k1 ~k 0 ) 2i(Ek1 Ek0 )h~k1jT +(k0 )j~k 0i =
= (~k ~k 0 ) 2i (Ek

+(2 )2
d3 k1 (Ek
Ek0 ) h~kjT + (k0 )j~k 0 i h~k 0 jT +(k)j~ki +

Ek1 ) (Ek1 Ek0 )h~k1 jT +(k)j~ki h~k1 jT +(k0 )j~k 0 i:
Nessas express~oes o operador de transi ~ao e al ulado sempre na superf ie de energia. O ultimo
termo pode ser al ulado fazendo uso da identidade
(E k
Ek0 ) (Ek
Ek1 ) (Ek1
Ek0 ) (Ek1
Ek0 )
o que leva nalmente a

h
i h~kjT +(k0 )j~k 0 i
h~k 0jT +(k)j~ki = 2 d3k1(Ek1 Ek0 )h~k1jT +(k)j~kih~k1jT +(k0 )j~k 0i (10.43)
que e a rela ~ao de unitaridade do operador de espalhamento expressa em termos do operador

de transi ~ao. No aso parti ular em que ~k = ~k 0 , essa express~ao se reduz a
565
2 Im h~kjT + (k)j~k 0 i = 2 d3 k1 (Ek1
2
Ek ) h~k1 jT +(k)j~ki
ujo signi ado pode ser identi ado utilizando a rela ~ao (10.33) entre os elementos de matriz
do operador de transi ~ao na superf ie de energia e a amplitude de espalhamento. Segundo essa
rela ~ao, de fato
h 2
f (+) (0)
(2 )2 M k
h~kjT +(k)j~ki =
e tambem

h~k1jT +(k)j~ki
"
h 2
=
(2 )2 M
#2

(+)
k
f (k^1 )
onde fk(+) (0) e fk(+) (k^1 ) s~ao respe tivamente a amplitude de espalhamento na dire ~ao frontal
e a se ~ao de hoque diferen ial na dire ~ao k^1 . O aso parti ular ~k = ~k 0 da rela ~ao (10.43)
orresponde portanto ao teorema opti o
2

h 2 Z 3
k
d k1 (Ek1 Ek ) fk(+) (k^1 ) = tot :
2M
2
Na se ~ao 10.2.3 o teorema opti o foi rela ionado a onserva ~ao de norma no problema do
espalhamento de um pa ote de ondas, e este resultado permite ent~ao rela ionar essa onserva ~ao
de norma a ompleteza assintoti a dos estados de espalhamento e a onsequente unitaridade
do operador S .
2 Im fk(+) (0) =
10.6
Diagonaliza
~
ao do operador de espalhamento para
poten iais invariantes sob rota
o
~es. Ondas par iais
e defasagens.
Ate aqui tanto o operador de espalhamento S omo o operador de transi ~ao T (k) foram tratados na representa ~ao de momentos, e.g. h~kjS j~k 0 i, na qual eles n~ao s~ao diagonais. A utilidade
da representa ~ao de momentos esta em que ela permite um onta to direto om a parametriza ~ao usual da amplitude de espalhamento em termos do modulo e da orienta ~ao relativa dos
momentos assintoti os ini ial e nal (ou seja, em termos da energia in idente e do ângulo de
566
espalhamento). Outras representa ~oes para esses operadores s~ao tambem uteis e onvenientes
para ertas apli a ~oes, espe ialmente a representa ~ao que diagonaliza o operador de espalhamento S . Sendo esse um operador unitario, seus autovalores s~ao numeros omplexos de modulo
1 (fatores de fase), de modo que a equa ~ao de autovalores pode ser es rita omo
S j' i = e2i j' i:

O ângulo e usualmente hamado defasagem ara tersti a asso iada ao anal ara tersti o
j'i. Na representa ~ao dos anais ara tersti os o operador S e portanto diagonal, e ara terizado pelas defasagens ara tersti as para ada um dos anais ara tersti os
h' jS j' i = e2i :

O objetivo desta se ~ao e expli itar a representa ~ao dos anais ara tersti os no aso do
espalhamento por um poten ial esferi amente simetri o de urto al an e. Como sera visto, eles
se reduzem neste aso as ondas par iais om momento angular bem denido tratadas na se ~ao
5.1.5, enquanto as defasagens ara tersti as se reduzem as defasagens orrespondentes as ondas
par iais. Isso servira para estabele er uma onex~ao entre o desenvolvimento formal envolvendo
o operador S e o tratamento anterior, em termos da separa ~ao de variaveis em oordenadas
esferi as da vers~ao diferen ial da equa ~ao de S hrodinger esta ionaria, asso iada ao problema
de espalhamento por um poten ial esferi amente simetri o.
10.6.1 Ingredientes inemati os.

O hamiltoniano que des reve o pro esso de espalhamento sera tomado omo sendo
H=
p2
+V
2M
onde, por simpli idade, o poten ial V sera tomado omo sendo independente de spins. Desse
~ orrespondente
modo, a simetria esferi a se exprime pela omutatividade de V om o operador L
ao momento angular orbital, isto e,
~ = 0
[V; L
donde segue tambem que
~ = 0
[S; L
e
567
~ = 0
[T (k); L
pois esses operadores s~ao denidos em termos de V e de outros operadores invariantes por
rota ~oes, omo a energia ineti a p2 =2M , apenas. Isso signi a que S e T (k) podem ser diagonalizados simultaneamente om os operadores L2 e L3 , que s~ao tambem ompatveis entre
si. Desse modo, uma base onveniente que pode ser onsiderada em substitui ~ao a base de
autovetores do momento fj~kig, e a \base esferi a", formada pelos autovetores simultâneos dos
operadores L2 , L3 e p2 , fjklmig, que satisfazem as equa ~oes de autovalores
L2 jklmi = h 2 l(l + 1)jklmi

L3 jklmi = h mjklmi
p2 jklmi = h 2 k2 jklmi:
As autofun ~oes simultâneas desses três operadores, h~rjklmi, ja foram en ontradas na expans~ao em ondas par iais de uma onda plana, no aptulo 5, eq. (5.18). Deixando por ora em
aberto uma onstante de normaliza ~ao Ckl , a ser xada onvenientemente em seguida, elas s~ao
h~rjklmi = Ckljl (kr)Ylm(^r):

Ao ontrario do que a onte e om L2 e L3 , o espe tro de p2 e ontnuo. Um riterio de
normaliza ~ao onveniente para essas autofun ~oes onsiste em es olher Ckl de modo que se
tenha
hklmjk0 l0m0 i = ll0 mm0 (E E 0 )
(10.44)
om E = h 2 k2 =2M e E 0 = h 2 k02 =2M . Usando as propriedades de ortonormalidade das
harmôni as esferi as Ylm (^r), o produto es alar a ima a expresso omo
hklmjk0 l0m0 i = Ckl Ck0l0
(^r)Y 0 0 (^r) =
d3 rjl (kr)jl0 (k0 r)Ylm
lm
= Ckl Ck0 l0 ll0 mm0
dr r2 jl (kr)jl0 (k0 r):
Usando agora a rela ~ao

2Z1 2
(k k 0 )
dr r jl (kr)jl0 (k0 r) =
0
k2
resulta
hklmjk0 l0m0 i = Ckl Ck0l0 ll0 mm0 2k2 (k k0 )

568
o que mostra que as onstantes de normaliza ~ao devem ser es olhidas de forma que se tenha
dk
(k k 0 ):
jCklj2 2k2 (k k0) = (E E 0) = dE
Portanto
2 dk
2kM
2k 2 M
jCkl j2 = 2k dE
= 2:
=
2
h k h
Adotando a es olha mais simples de fases, as autofun ~oes simultâneas de L2 , L3 e p2 om a

normaliza ~ao (10.44) s~ao, expli itamente,
s
h~rjklmi = 2Mk
j (kr)Ylm(^r):
h 2 l
A resolu ~ao da unidade em termos dos autovetores jklmi om essa normaliza ~ao e ent~ao es rita
omo
^1 = X dE jklmihklmj:
lm
Essa rela ~ao pode ser trans rita para a representa ~ao de S hrodinger fazendo uso da forma
expli ita das fun ~oes de onda. Nesse aso ela assume a forma onhe ida da representa ~ao da
fun ~ao delta de Dira em termos de harmôni as esferi as e de fun ~oes de Bessel esferi as
(~r ~r 0 ) =
XZ
lm
dE h~rjklmihklmj~r 0 i =
2M X Z
(^r0 ) =
dE jl (kr)jl (kr0 )Ylm (^r)Ylm
=
2
h lm
0
2 XZ 1
(^r0 ) = (r r ) (^r r^0 )
=
dk k2 jl (kr)jl (kr0 )Ylm (^r)Ylm
lm 0
r2
As fun ~oes de onda dos estados da base esferi a no espa o de momentos, h~k 0 jklmi, tambem
s~ao uteis e podem ser al uladas fa ilmente a partir dos resultados anteriores e da expans~ao da
onda plana em ondas par iais, eq. (5.18). De fato
Z
h~k 0 jklmi = d3r h~k 0j~rih~rjklmi = (21)3=2 Ckl d3r e

que, usando a expans~ao
569
i~k 0 ~r j
r)
l (kr )Ylm (^
ei~k~r = 4
lm
(k^)
il jl (kr)Ylm (^r)Ylm
e tambem as rela ~oes de ortonormalidade das harmôni as esferi as bem omo a integral en ontrada anteriormente sobre o produto de duas fun ~oes de Bessel esferi as, leva a
s
h~k 0jklmi = ( i)l 2 Ckl 2k2 (k
k0 )Ylm (k^0 ) = ( i)l
h 2
(E
Mk
E 0 )Ylm (k^0 ):
Esse resultado pode ser ontrolado veri ando a express~ao

XZ
lm
dE h~k 0 jklmihklmj~k 00 i = (~k 0 ~k 00 );
que e a resolu ~ao da unidade expressa na representa ~ao de momentos.
Cabe notar aqui que e possvel, e mesmo frequente, usar outros riterios de normaliza ~ao para os estados da base esferi a que n~ao aquele expresso na ondi ~ao (10.44).
Notadamente, e omum o uso do riterio alternativo
(10.45)
hklmjk0 l0m0i = ll0 mm0 (k k0 )
q
que leva a onstante de normaliza ~ao Ckl0 = 2 k. Devido a presen a de fun o~es delta
de Dira nos diversos riterios de normaliza ~ao envolvendo o espe tro ontnuo, diferentes
riterios levam em geral a estados jklmi om propriedades dimensionais tambem diferentes. Em parti ular, os estados normalizados segundo o riterio (10.44) têm dimens~ao
[E 1=2 , ao passo que a dimens~ao dos estados normalizados segundo o riterio (10.45) e
[L 1=2 .
10.6.2 Transforma ~ao de S e T (k) para a base esferi a.
Os elementos de matriz do operador S na base esferi a podem ser obtidos a partir da representa ~ao desse operador no espa o de momentos usando omo elementos de transforma ~ao as
fun ~oes de onda dos vetores da base esferi a no espa o de momentos. De fato
hklmjS jk0l0m0 i =
d3 k1
d3 k2 hklmj~k1 ih~k1 jS j~k2ih~k2 jk0 l0 m0 i:
A rela ~ao geral entre os elementos de matriz de S e de T (k) no espa o de momentos, eq. (10.42),
no entanto, pode ser es rita omo
570
h~k1j(S
^1)j~k2 i = 2i (E1 E2 )h~k1jT (k2 )j~k2 i

(10.46)
~
^1)j~k2 i, e portanto
que, em vista do fator (E1 E2 ), mostra

expli itamente que hk1 j(S

tambem h~k1 jS j~k2i, se anulam para ~k1 6= ~k2 . Em outras palavras, o operador S e diagonal
no modulo dos momentos, e omo e tambem diagonal nos numeros quânti os asso iados ao
momento angular ( omo onsequên ia da invarian a rota ional do poten ial V ), e diagonal na
base esferi a. Os vetores dessa base s~ao portanto os anais ara tersti os, neste aso. Em vista
da unitaridade de S e possvel es rever ent~ao, usando a normaliza ~ao (10.44) para os vetores
da base esferi a,
hklmjS jk0l0m0 i = e2ilm (k) ll0 mm0 (E E 0):

~ = 0,
Na realidade, a invarian a rota ional de S , expressa pela rela ~ao de omuta ~ao [S; L
identi a esse operador omo um tensor de Ra ah de ordem zero, o que permite utilizar o
teorema de Wigner-E kart ( f. eq. (9.21) para es rever
hklmjS jk0l0m0 i = p2l1+ 1 Cml00 00 ml hklkS kk0l0i:
O oe iente de Clebs h-Gordan que apare e nessa express~ao e simplesmente ll0 mm0 , e portanto
o elemento de matriz n~ao nulo e independente de m. Isso impli a que a defasagem ara tersti a
lm (k) e na realidade independente de m, e pode portanto ser es rita simplesmente omo l (k).
Desse modo a rela ~ao (10.46), transformada para a base esferi a, a reduzida a
hklmj(S
^1)jk0 l0 m0 i = e2il (k)
1 ll0 mm0 (E
E 0 ) = 2i (E
E 0 )hklmjT (k0 )jk0 l0 m0 i
o que signi a que
hklmjT (k0 )jkl0m0i = Tl (k)ll0 mm0

om
Tl (k) =
e2il (k) 1
1 il (k)
=
e
sen l (k):
2i

10.6.3 Re onstru ~ao da amplitude de espalhamento e da forma

assintoti a da fun ~ao de onda.
A amplitude de espalhamento fk(+) (^r) e dada em termos dos elementos de matriz do operador
T (k) na base de momentos e na superf ie de energia atraves da express~ao (10.33). Essa
571
express~ao pode ser rela ionada om os elementos de matriz Tl (k) atraves de uma transforma ~ao
simples para a base esferi a usando mais uma vez as fun ~oes de onda dos vetores dessa base no
espa o de momentos, o que da
fk(+) (^r)
4 2 M
h 2
XXZ
lm l0 m0
dE1 dE2 hkr^jk1lmihk1 lmjT (k)jk2l0 m0 ihk2l0 m0 j~ki =
Z
h
2
4 2 M X X Z
dE1 dE2 p
(E
=
h 2 lm l0 m0
M k1 k2 1
ll0 mm0 hk1lmjT (k)jk2lmi =
4 2 M
h 2
lm
E ) (E2
E )Ylm (^r)Yl0 m0 (k^)
2
h 2
(k^)T (k) = 4 X T (k) X Y (^r)Y (k^):
Ylm (^r)Ylm
l
Mk
k l l m lm lm
A soma sobre m pode ser feita usando o hamado teorema da adi ~ao para as harmôni as
esferi as
X
(k^) = 2l + 1 P (^r k^)
Ylm (^r)Ylm
4 l
m
onde r^ k^ os , sendo o ângulo de espalhamento. Introduzindo a express~ao dos Tl (k) em
termos das defasagens l (k) resulta nalmente
fk(+) () =
1X
(2l + 1)eil (k) sen l (k)Pl ( os )
k l
que reproduz a express~ao (5.25), obtida no aptulo 5 a partir da forma assintoti a da fun ~ao
de onda ~+k (~r). Essa forma assintoti a pode ser por sua vez re onstruda a partir de
~+k (~r)
ikr
! ei~k~r + fk(+)() e r ;
r!1
e utilizando a expans~ao da onda plana em ondas par iais juntamente om a express~ao de fk(+) ()
em termos das defasagens ara tersti as, o que leva a
~+k (~r)
il (2l + 1)eil (k)
sen (kr
l=2 + l (k))
Pl ( os ):
kr
Se a fun ~ao de onda ~+k (~r) e de omposta em ondas par iais da forma usual, omo
572
~+k (~r) =
il (2l + 1)Rl+ (r)Pl ( os )
o omportamento assintoti o das fun ~oes radiais Rl+ (r) e dado em termos das defasagens ara tersti as l (k) omo
2 + l (k))
=
! eil (k) sen (kr l=
kr
1 i(kr l2 ) 2il (k) i(kr l2 )

e
(10.47)
e
e
2ikr
mostrando que as defasagens ara tersti as oin idem om as obtidas anteriormente atraves da
solu ~ao das equa ~oes diferen iais para ada uma das ondas par iais. O fato de que as diferentes
ondas par iais satisfazem equa ~oes diferen iais independentes, em parti ular, e orrelato ao
arater diagonal do operador S na base esferi a, e essas duas ara tersti as de orrem, por sua
vez, da invarian a rota ional do poten ial V .
Em termos prati os, a forma de obter o operador S para um poten ial rota ionalmente invariante V dado e resolver a equa ~ao de S hrodinger para o espe tro ontnuo om ondi ~oes de
ontorno de espalhamento, extraindo as defasagens do omportamento assintoti o da solu ~ao.
Isso exp~oe tambem o fato de que o poten ial determina o operador S , e portanto os observaveis
assintoti os asso iados ao pro esso de espalhamento. Por outro lado, a partir do onhe imento
desses observaveis (asso iados em ultima analise as defasagens l (k)) e possvel, em geral e em
prin pio, onstruir o operador S e o omportamento assintoti o das fun ~oes de onda de espalhamento, mas n~ao o poten ial, que depende de informa ~ao adi ional, referente notadamente
ao espe tro dis reto.
Rl+ (r)
Problemas.
10.1 - Considere o espalhamento de ondas s (L = 0) pelo poten ial entral (que orresponde a
uma amada repulsiva muito na na superf ie de uma esfera de raio a)
h 2
V (r ) =
(r a)
2M
onde e uma onstante om dimens~ao de inverso de omprimento, a fun ~ao (r a) e a fun ~ao
de Dira , ujo argumento envolve a oordenada r j~rj e a > 0. A equa ~ao de S hrodinger
esta ionaria a ser resolvida e portanto
!
d2
+ k2 u(r) = (r
2
dr
573
a)u(r)
om as ondi ~oes de ontorno u(0) = 0 e, para r ! 1 (a rigor neste aso simples basta r > a),
u(r > a) = sin kr + fk(0) eikr

( ertique-se disto em aso de qualquer duvida!).
a) Verique que a fun ~ao
1
sin kr< eikr>
k
onde r< e r> orrespondem respe tivamente ao menor e ao maior dos dois argumentos r; r0
satisfaz a equa ~ao
gk (r; r0 ) =
d2
+ k2 gk (r; r0 ) = (r
dr2
r0 )
e e portanto uma fun ~ao de Green da equa ~ao de S hrodinger a ser resolvida. Sugest~ao: se
u0 (r) e v0 (r) s~ao duas solu ~oes da equa ~ao homogênea (d2 =dr2 + k2 )w(r) = 0, o determinante
da matriz 22 ujas linhas s~ao respe tivamente fu0(r); v0 (r)g e fdu0 (r)=dr; dv0 (r)=drg e
hamado Wronskiano W (r) dessas duas solu ~oes; verique em primeiro lugar que para essa
parti ular equa ~ao o Wronskiano, visto omo fun ~ao de r, na realidade n~ao depende de r.
Verique ent~ao que os fatores de g (r; r0) orrespondem a duas solu ~oes da equa ~ao homogênea
om Wronskiano diferente de zero; e em seguida que essa fun ~ao, vista omo fun ~ao de r
om parâmetro r0 , satisfaz a equa ~ao homogênea sempre que r 6= r0 , e que para r = r0 ha
uma des ontinuidade na derivada om valor 1, independentemente do valor de r0 , devido a
propriedade de que o Wronskiano n~ao depende de r.
b) Use a fun ~ao de Green gk (r; r0 ) para rees rever a equa ~ao de S hrodinger para a onda s
omo uma equa ~ao de Lippmann-S hwinger, usando sin kr omo termo inhomogêneo. Verique
que a solu ~ao dessa equa ~ao satisfaz as ondi ~oes de ontorno para r = 0 e r > a (por exemplo,
estudando o omportamento da fun ~ao de Green na regi~ao apropriada) e mostre que a amplitude
fk(0) da onda espalhada admite a representa ~ao formal
fk(0) =

sin ka u(a)
k
em termos da solu ~ao u(r) no ponto r = a.

) Resolva ompletamente a equa ~ao de Lippmann-S hwinger. Sugest~ao: note que a integra ~ao pode ser feita usando as propriedades da fun ~ao delta, dando u(r) em termos do termo
inhomogêneo e de u(a). O resultado permite exprimir u(a) em termos do termo inhomogêneo
al ulado em r = a, o que forne e a solu ~ao da equa ~ao.
574
d) Use a solu ~ao da equa ~ao de Lippmann-S hwinger para obter fk(0) substituindo o fator
u(a) que apare e na rela ~ao formal itada no item b). Mostre em seguida que a solu ~ao na
regi~ao assintoti a u(r > a) pode ser posta sob as formas alternativas ( f. eq. (10.47))

u(r > a) = onst: e
S0 eikr = onst:0 sin(kr + 0 )
ikr
onde S0 e2i0 e um fator de fase (a matriz S para a onda s) e 0 e a defasagem da onda s.

Es reva express~oes para S0 e 0 omo fun ~oes de k. Mostre ainda que a amplitude fk(0) e dada
em termos de 0 omo
fk(0) = ei0 sin 0 :
10.2 - O efeito de uma ressonân ia na onda par ial l = 0 pode ser representado por um poten ial
n~ao lo al, separavel, dependente da energia, da forma
v (j~rj)v (j~r 0 j)
E ER
onde E e a energia do sistema, ER > 0 e um parâmetro om dimens~ao de energia que determina
a energia em que a ressonân ia o orre e v (r) e um \fator de forma" om dimens~ao de energia
tal que
VR (~r; ~r 0 ) =
d3 rjv (r)j < 1:
Para veri ar essas arma ~oes onsidere o problema de espalhamento asso iado ao hamiltoniano
h 2 k2
p2
+ VR
isto e
H~+k = E~+k ; E =
:
H=
2M
2M
a) Use a expans~ao de ~+k em ondas par iais para mostrar que apenas a omponente l = 0 e
afetada pelo poten ial VR . Sugest~ao: a a ~ao do poten ial n~ao lo al sobre a fun ~ao de onda e
dada por

VR ~+k (~r) =
d3 r0 VR (~r; ~r 0 )~+k (~r 0 ):
Em vista disso, qual e o valor das defasagens l (k) para l 6= 0?

b) Es reva a equa ~ao diferen ial para a onda par ial l = 0 e use a fun ~ao de Green gk (r; r0 )
do problema anterior para onverte-la numa equa ~ao integral do tipo da equa ~ao de LippmannS hwinger.
575
) Resolva
essa equa ~ao utilizando o arater separavel do poten ial VR para al ular a
R 3
quantidade d r v (r)u0 (r), onde u0 (r) e a amplitude radial orrespondente a onda par ial
l = 0.
d) A partir da solu ~ao obtenha a defasagem 0 (k) para a onda par ial l = 0. Verique que
ela aumenta rapidamente om a energia nas vizinhan as de E = ER . Cal ule a se ~ao de hoque
diferen ial omo fun ~ao da energia nessa regi~ao de energia.
10.3 - Este problema e uma vers~ao \formal" do problema anterior. Considere o problema de
espalhamento de part ulas de massa M por um poten ial separavel, dependente da energia E ,
da forma
vEjuihEujv
R
onde jui e um vetor de estado normalizado (hujui = 1) e ER e uma onstante real. A equa ~ao
de S hrodinger esta ionaria para os estados de espalhamento e portanto
"
H0
v juihujv +
j i = 0
E ER ~k
onde H0 = p2 =2M e o hamiltoniano livre.

a) Es reva a equa ~ao de Lippmann-S hwinger para esse problema em termos do operador
de Green
1
:
GE =
E + i H0
b) Utilizando a forma espe ial do poten ial, mostre que vale a rela ~ao
hujvj ~k+i = (2)3=2 E E EhujvER 1 vjui hujvj~ki:

R
E +i H0
) Use esta ultima express~ao para obter a solu ~ao formal da equa ~ao de Lippmann-S hwinger
2
j~+k i = (2)3=2 4j~ki + E + i1 H E

0
v juihujv j~ki
5
ER hujv E +i1 H0 v jui
onde j~ki e um autovetor do momento p~ e portanto tambem do hamiltoniano livre H0 .

d) Usando a express~ao formal
576
f~k+(k^0 ) = (2 )3=2 h~k 0 jV j
+
~k
i = (2)3=2 h~k 0j vEjuihEujv j~+k i

R
para a amplitude de espalhamento mostre ainda que
f~k+ (k^0 ) = (2 )3
h~k 0 jvjuihujvj~ki
:
E ER hujv E +i1 H0 v jui
e) Verique que se h~rjui = u(r), independente dos ângulos de ~r, e se o operador v e invariante
por rota ~oes, ent~ao a se ~ao de hoque
d + ^0 2
= f~k (k )
d
e independente de ângulos. Sugest~ao: a possvel dependên ia angular provem do numerador da

amplitude de espalhamento ( ertique-se disto!); es reva os elementos de matriz que apare em
nesse denominador omo (por exemplo)
hujvj~ki =
d3 r
d3 r0
huj~rih~rjvj~r 0ih~r 0j~ki =
d3 r
d3 r0 u (r)h~rjv j~r 0 i
1 i~k~r 0
e
(2 )3=2
notando que a invarian a rota ional de v impli a que h~rjv j~r 0 i so pode depender de r, r0 e de
r^ r^0 onde r^ e r^0 s~ao vetores de modulo 1 na dire ~ao de ~r e de ~r 0 respe tivamente.
Refer^
en ias gerais.
Os textos gerais sobre me âni a quânti a geralmente trazem aptulos espe os sobre a teoria
do espalhamento, espe ialmente espalhamento por poten iais. Um tratamento mais extenso e
detalhado que a media se en ontra em
? A. Messiah, op. it., Captulos X e XIX.

O primeiro desses aptulos in lui uma dis uss~ao dependente do tempo do pro esso de espalhamento usando pa otes de onda, enquanto o segundo trata da teoria formal. Outros textos s~ao,
por exemplo
? L. I. S hi, Quantum Me hani s (Third Edition), M Graw Hill Book Co. 1968, Captulo 9.
577
? C. Cohen-Tanoudji, B. Diu e F. Laloe, op. it., Captulo VIII (trata-se, neste aso, de
uma apresenta ~ao breve, na es ala de dois volumes do texto).
Existem dois textos substan iais e de erto modo \ lassi os", dedi ados inteiramente a teoria
do espalhamento. Eles s~ao
? R. G. Newton, S attering of Waves and Parti les, M Graw-Hill Book Co., 1966.
? M. L. Goldberger e K. M. Watson, Collision Theory, John Wiley, 1967 (third printing).
Outros textos tratando espe ialmente das propriedades de analiti idade dos operadores de transi ~ao e de espalhamento e de suas onsequên ias in luem
? V. de Alfaro e T. Regge, Potential S attering, North-Holland Publ. Co., 1965.

? H. M. Nussenzveig, Causality and Dispersion Relations, A ademi Press, 1972.
578
Captulo 11
Equa ~oes relativsti as.
Depois do trabalho de Einstein de 1905 que, atraves da teoria da relatividade restrita, estabele eu a estrutura inemati a basi a do espa o-tempo asso iando mudan as de referen ial iner ial
a transforma ~oes de Lorentz, um requisito mnimo para uma \boa teoria" passou a ser o de
que seus resultados fsi os n~ao dependam do parti ular referen ial que tenha sido usado para
obte-los, tendo em onta que as oordenadas relativas a diferentes referen iais iner iais se rela ionam entre si atraves de tais transforma ~oes. A me âni a quânti a \n~ao relativsti a", tal omo
formulada por Heisenberg, S hrodinger e Dira , n~ao satisfaz esse requisito por raz~oes bastante
profundas. De fato, posi ~oes e momentos s~ao realizados nessa teoria em termos de operadores
agindo sobre um espa o linear, omplexo, de amplitudes de probabilidade, enquanto o tempo e
tratado apenas omo um parâmentro \externo", asso iado a evolu ~ao dinâmi a das amplitudes
de probabilidade. A diferen a de \status" de variaveis espa iais e da variavel temporal e na
realidade irre on iliavel om o prin pio da relatividade restrita. Uma \boa" teoria quânti a
deve tratar variaveis espa iais e temporais de forma mais simetri a, o que e onseguido notadamente no ontexto de uma teoria de ampos, omo observado de passagem no aptulo 8,
om rela ~ao a quantiza ~ao do ampo de radia ~ao livre, tratando as variaveis espa iais tambem
omo parâmetros.
Existe, no entanto, um ponto de vista menos radi al, dentro do qual e possvel bus ar
modi a ~oes da me âni a quânti a n~ao relativsti a no sentido de aproxima-la dos requisitos
da relatividade restrita. Ele onsiste em observar que a equa ~ao de movimento dessa teoria,
para uma part ula livre, por exemplo, pode ser es rita, na representa ~ao de S hrodinger,
omo uma equa ~ao a derivadas par iais que e de segunda ordem om rela ~ao as oordenadas
espa iais mas de primeira ordem om rela ~ao ao tempo. Essa assimetria entre oordenadas
espa iais e temporais e in ompatvel om os requisitos mnimos para o que poderia ser visto
omo uma \boa" equa ~ao de movimento, e leva diretamente a quest~ao da possibilidade de
substitui-la por outra que trate variaveis espa iais e temporais de forma mais simetri a. O
579
objetivo entral deste aptulo e justamente o de formular equa ~oes de movimento que sejam
ompatveis, nesse sentido, om a inemati a da relatividade restrita, e dis utir propriedades
de suas solu ~oes. Em parti ular, e possvel desse modo formular um modelo para o atomo de
hidrogênio que in orpora automati amente os efeitos relativsti os introduzidos apenas sob a
forma de orre ~oes perturbativas nas se ~oes 6.3 e 6.4.
E laro que as di uldades mais basi as, asso iadas ao tratamento diferen iado das variaveis
de posi ~ao por um lado, e do tempo por outro, n~ao s~ao resolvidas om a formula ~ao de equa ~oes
de movimento relativsti as, em substitui ~ao a equa ~ao de S hrodinger. Essa formula ~ao, no
entanto, e tambem relevante para o ontexto mais geral, pois as equa ~oes relativisti amente
bem formuladas podem eventualmente ser reinterpretadas omo teorias de ampo \ lassi as"
(isto e, perten entes ao mesmo nvel, por exemplo, que as equa ~oes de Maxwell para o ampo
eletromagneti o) e podendo portanto ser, por sua vez, quantizadas, levando a uma formula ~ao
mais onsistente em termos de teorias quânti as de ampo.
11.1
Sum
ario da inem
ati a da relatividade restrita.
No ontexto da relatividade restrita, um \evento", lo alizado em um ponto do espa o espe i ado pelo vetor de posi ~ao ~r fx1 ; x2 ; x3 g, onde os xi ; i = 1; 2; 3 s~ao omponentes
artesianas de ~r, e o orrendo no tempo t, e rotulado pelo objeto de quatro omponentes
x fx g; = 0; 1; 2; 3, om x0 = t. Esse objeto ontem as quatro omponentes ontravariantes (o que e indi ado pela posi ~ao superior dos ndi es) de um quadrivetor sob transforma ~oes
de Lorentz, que deixam invariante a quantidade
xx

x g x
onde a metri a e denida pelo tensor
x
0
B
fg g BB
g x
1 0 0 0
0 1 0 0
0 0
1 0
0 0 0
1
x x invariante
(11.1)
1
C
C
C
A
E omum, neste ontexto, a omiss~ao dos smbolos de soma em express~oes omo a (11.1), om
o entendimento de que, salvo men ~ao expressa em ontrario, ndi es repetidos s~ao sempre
somados, e ndi es gregos variam sempre de 0 a 3. Essa onven ~ao sera portanto utilizada
daqui por diante. Ela permite re-es rever a (11.1) simplesmente omo
x x x g x x x :
580
As omponentes x g x s~ao hamadas omponentes ovariantes do quadrivetor x. Tendo

em vista a forma do tensor metri o g , elas se rela ionam om as omponentes ontravariantes
atraves de
fx0 ; x1; x2 ; x3 g fx0 ; x1 ; x2 ; x3 g

de modo que o invariante x x e dado expli itamente omo
x x = (x0 )2 (x1 )2 (x2 )2 (x3 )2 = 2 t2 ~r ~r:
A vers~ao ontravariante do tensor metri o, g , pode ser obtida de x = g x que, em vista
do arater diagonal desse objeto, leva simplesmente a g = g . Existe tambem uma vers~ao
\mista" do tensor metri o, dada por
g = g g =
onde o ultimo objeto e simplesmente um delta de Krone ker usual, igual a 1 se = e igual a
zero em outros asos.
As transforma ~oes de Lorentz s~ao transforma ~oes lineares, reais (para preservar o arater
real das oordenadas espa io-temporais) que mantem a quantidade x x invariante, isto e
x
! x0 = x ;
x x = x0 x0 :
Uma onsequên ia importante dessa ondi ~ao pode ser obtida es revendo
x0 x0 = x0 g x0 = x g x = g x x
onde foram usadas as rela ~oes
= g
e = g :
Para que x0 x0 seja igual a x g x e pre iso que se tenha, portanto,
= :
(11.2)
Essa rela ~ao tem impli a ~oes diretas para o determinante da transforma ~ao f g. De fato
det f g = det f(y) g = det f(y) g = 1
donde segue que det f g = 1, pois o determinante do produto de duas matrizes e o produto
dos determinantes da ada uma delas e os determinantes de f(y) g e de f g s~ao iguais.
581
As transforma ~oes de Lorentz formam um grupo (no sentido das deni ~oes dadas na se ~ao
9.1) ujos elementos mantem invariante a quantidade (11.1), ou seja, x x 2 t2 r2 . A rela ~ao
geral (11.2) a, no aso parti ular em que = = 0,
1 = 0 0 = 0 g 0 = (0 0 )2
(1 0 )2
(2 0 )2
(30 )2
donde segue que (0 0 )2 1. Isso permite lassi ar as transforma ~oes em dois tipos, que
orrespondem respe tivamente a 0 0 1 e a 0 0 1. Para ada um desses dois tipos e
possvel ainda ter det f g = 1, de modo que ha a onsiderar na realidade quatro lasses
distintas de transforma ~oes, identi adas pelos sinais de 0 0 e de det f g. As transforma ~oes
do tipo ++ s~ao as hamadas transforma ~oes proprias orto ronas, e in luem a transforma ~ao
idênti a = . Essas transforma ~oes onstituem na realidade um sub-grupo do grupo
de Lorentz ompleto. Os outros tres tipos podem ser obtidos das transforma ~oes proprias
orto ronas atraves de uma invers~ao temporal T : x00 = x0 ; x0i = xi ; i = 1; 2; 3 (que tro a o sinal
de tanto de 00 omo tambem o sinal do determinante, levando ao tipo
), de uma invers~ao
0
0
0
0
i
i
espa ial P : x = x ; x = x ; i = 1; 2; 3 (que tro a o sinal do determinante sem mudar o
sinal de 0 0 , levando ao tipo + ) ou de ambas (o que tro a o sinal de 0 0 sem tro ar o sinal do
determinante, levando ao tipo +). As transforma ~oes T e P est~ao asso iadas respe tivamente
a invers~ao temporal e a invers~ao espa ial. No que segue, salvo men ~ao expressa em ontrario,
as transforma ~oes de Lorentz que ser~ao onsideradas ser~ao transforma ~oes proprias orto ronas.
A forma expli ita de uma transforma ~ao de Lorentz propria e orto rona, para um referen ial
que se move om velo idade v , na dire ~ao x1 , om rela ~ao ao referen ial de partida e
x0 v x1
x1 v x0
x00 = q v2 ; x01 = q v2 ; x02 = x2 ; x03 = x3
1 2
1 2
ou, em forma matri ial
0
B
B
B

om as deni ~oes
x00
x01
x02
x0 3
C
C
C
A
B
=B

osh '
osh '
senh '
0
0
1
;
v2
2
senh '
osh '
0
0
0
0
1
0
0
0
0
1
10
CB
CB
CB
A
x0
x1
x2
x3
senh '
1
C
C
C
A
v=
1 v 22
(11.3)
de modo que tanh ' = v= . Os elementos dessa matriz ligam as omponentes x0 as
omponentes x , e orrespondem portanto aos . O arater proprio e orto rono dessa transforma ~ao e evidente, pois 0 0 = osh ' 1 e det f g = osh2 ' senh2 ' = 1. As matrizes
582
f g fg g e f g fgg para essas transforma ~oes parti ulares s~ao ent~ao dadas
por
0

f g = f
y

g = BB
osh '
senh '
0
0
senh ' 0 0
osh ' 0 0
0
1 0
0
0
1
1
C
C
C
A
para as quais e imediato veri ar expli itamente a validade da rela ~ao (11.2).
O arater quadrivetorial de fx g om rela ~ao as transforma ~oes de Lorentz impli a em
propriedades de transforma ~ao bem denidas tambem para uma serie de outras quantidades
diretamente rela ionadas om esse objeto, notadamente:
a) a derivada par ial =x se omporta omo a omponente de um quadrivetor ovariante, enquanto =x se omporta omo a omponente de um quadrivetor ontravariante.
Isso e usualmente expresso atraves das nota ~oes abreviadas

x

x

e pode ser veri ado notando, por exemplo, que x = x = 4 s~ao invariantes. A rela ~ao
entre essas duas derivadas par iais e, por outro lado = g .
b) Como onsequên ia direta desse ultimo ponto, o operador diferen ial
= = g = 02
12
22
32 =
1 2
2 t2
r2
e invariante sob transforma ~oes de Lorentz.

Objetos om n ndi es que se transformam om rela ~ao a ada um deles omo vetores, e.g.,
para n = 2
A0 = A

s~ao tensores de ordem n (de segunda ordem, para o exemplo a ima). Do ponto a) a ima de orre
portanto tambem que
) os onjuntos de derivadas par iais segundas f g e f g se omportam respe tivamente omo tensores de segunda ordem. O primeiro desses onjuntos e um tensor ovariante de
segunda ordem, enquanto o segundo e ontravariante. E possvel onsiderar tambem o tensor
de segunda ordem misto f g, que e ovariante om rela ~ao ao ndi e e ontravariante om
rela ~ao ao ndi e . As omponentes desses diferentes tipos de tensores se rela ionam entre si
tambem atraves do tensor metri o g , por exemplo = g = g g .
583
d) Se uma part ula ( om massa de repouso M ) se move em um dado referen ial om

velo idade ~v , a sua posi ~ao ~r varia, num intervalo de tempo innitesimal dt, de d~r = ~v dt.
Como dx0 dt e as omponentes dxi de d~r se omportam sob transforma ~oes de Lorentz omo
omponentes de um quadrivetor, a quantidade dx dx e um invariante, e portanto tambem
d 2
dt2
(d~r)2
= dt2 1
2
v2
:
2
O tempo denido dessa forma, que e um invariante de Lorentz, e hamado tempo proprio da
part ula. A invarian a de garante, por outro lado que
8
u
dx < q
~v =
q
=:
;
d
1 v22 1 v22 ;

se transforma omo um quadrivetor ( ontravariante), hamado quadrivelo idade da part ula.

E imediato veri ar que as quatro omponentes da quadrivelo idade n~ao s~ao independentes,
pois u u = 2 . O produto Mu da massa pela quadrivelo idade e, dada a invarian a de M ,
tambem um quadrivetor (o quadrivetor momento), ujas omponentes s~ao
9
8
<

=
M~
v
E
M

; ~p
Mu = : q v2 ; q v2 ;

1 2 1 2
(11.4)
onde E e p~ s~ao as express~oes relativsti as para a energia e para o momento da part ula,
respe tivamente.
e) Uma transforma ~ao de Lorentz transforma o elemento de volume quadridimensional
d4 x = dx0 dx1 dx2 dx3 se a ordo om
d4 x0 = dx00 dx01 dx02 dx03 =
(x00 ; x01 ; x02 ; x03 ) 4

dx
(x0 ; x1 ; x2 ; x3 )
onde o ja obiano e o determinante da transforma ~ao de Lorentz
x0 = x ;
o que identi a o elemento de volume omo um invariante sob transforma ~oes de Lorentz
proprias.
584
11.1.1 O eletromagnetismo de Maxwell omo exemplo de

\boa" teoria.
Um ponto de partida onveniente para formular o eletromagnetismo de Maxwell omo uma
\boa" teoria, isto e, omo uma teoria orretamente adaptada ao prin pio da relatividade
restrita, onsiste em onsiderar a arga eletri a total Q omo um invariante, ou omo uma
quantidade es alar. Como ela se exprime em termos da densidade de arga (~r; t) atraves da
integral
Q=
d3 r (~r; t);
segue que a densidade de arga (~r; t) deve se transformar omo dx0 , e a densidade de orrente ~j (~r; t) = (~r; t)~v(~r; t) deve se transformar omo as três omponentes espa iais de um
quadrivetor. Com os ne essarios ajustes dimensionais, isso leva a onsiderar o objeto
fj g f ; ~j g
(11.5)
omo um quadrivetor ( ontravariante), hamado quadrivetor densidade de orrente. A onserva ~ao da arga total, expressa em forma diferen ial pela equa ~ao de ontinuidade
~ ~
+rj =0
t
pode ent~ao ser es rita simplesmente omo a ondi ~ao de anulamento de um invariante, omo
j = 0:
(11.6)
As equa ~oes de Maxwell, que rela ionam o ampo eletromagneti o om as argas e orrentes
podem ser resumidas onvenientemente em termos das equa ~oes para o poten ial es alar e
para o poten ial vetor A~
1 2 A~
1 2
2
r = 4
e
2 t2
2 t2
quando esses poten iais satisfazem a ondi ~ao de Lorentz
r2A~ = 4 ~j
1 ~ ~
+ r A = 0:
t
Como o operador diferen ial que apare e nas equa ~oes que rela ionam os poten iais om as
fontes do ampo ( argas e orrentes) e invariante, as propriedades de transforma ~ao de e
585
de A~ dever ser respe tivamente iguais as de e de ~j = . Desse modo e possvel introduzir um
poten ial quadrivetor fA g denido omo
fAg = f; A~ g
(11.7)
em termos do qual essas equa ~oes podem ser es ritas, usando tambem a deni ~ao do quadrivetor
orrente, omo
A =
enquanto a ondi ~ao de Lorentz assume a forma
4
j

(11.8)
A = 0:
(11.9)
Desse modo, o eletromagnetismo de Maxwell a reduzido simplesmente as equa ~oes (11.8)
om a ondi ~ao de Lorentz (11.9) e om as deni ~oes (11.5) e (11.7). A onserva ~ao da arga
eletri a total, por outro lado, e expressa pela ondi ~ao (11.6), a ser satisfeita pelas omponentes
do quadrivetor densidade de orrente. As propriedades de transforma ~ao dos ingredientes dessas
equa ~oes sob transforma ~oes de Lorentz garante expli itamente a sua validade, nessa mesma
forma, em qualquer referen ial de Lorentz.
Vale a pena ainda re-es rever nessa linguagem as equa ~oes de Maxwell para os ampos E~
e B~ . Esses ampos s~ao dados em termos do poten ial vetor e do poten ial es alar atraves das
rela ~oes
~ A~
B~ = r
~
E~ = r
1 A~
:
t
Como e A~ est~ao rela ionados om as omponentes de um quadrivetor, as derivadas espa iais

e temporais desses poten iais est~ao rela ionados om as omponentes de um tensor de segunda
ordem. De fato, denindo o tensor de segunda ordem, anti-simetri o
F A
A = F
om fA g dado por (11.7), e fa il veri ar que

0
0
E1
B
1
fF g = BB EE 2 B03
E3 B2
Em termos desse tensor, as equa ~oes de Maxwell
586
E2
B3
0
B1
E3
B2
B1
0
1
C
C
C
A
(11.10)
~
r~ B~ = 1 tE + 4 ~j
r~ E~ = 4
podem ser es ritas sob a forma ompa ta

4
j :

Para re-es rever as outras duas equa ~oes de Maxwell
F =
~
r~ E~ = 1 tB
r~ B~ = 0;
que s~ao semelhantes a vers~ao homogênea das duas equa ~oes anteriores, om a substitui ~ao de
B~ por E~ e vi e-versa, e onveniente denir o tensor dual
0
B
1
B
F~ F = B

2
B1
0
E3
E2
0
B1
B2
B3
B2
E3
0
E1
B3
E2
E1
0
1
C
C
C
A
que leva diretamente a
F~ = 0:
O objeto envolvido na transforma ~ao de F no seu dual F~ e o smbolo anti-simetri o
denido omo sendo 1 ou -1 onforme seja uma permuta ~ao par ou mpar de 0,1,2,3.
Esse objeto se omporta omo um tensor ontravariante de quarta ordem, e e fa il veri ar que
= .
11.2
A equa
~
ao de Klein-Gordon.
A equa ~ao de movimento de S hrodinger para a amplitude de probabilidade (~r; t) que des reve
o estado de uma part ula livre
h 2 2
r
2M

ih
t
(~r; t) = 0
n~ao dene uma \boa teoria", no sentido da se ~ao anterior, pois o operador diferen ial envolvido
nela n~ao e tensorialmente onsistente sob transforma ~oes de Lorentz. Uma equa ~ao onsistente
587
sob esse ponto de vista pode ser obtida notando que os valores do momento ~p e da energia E
para a onda plana que des reve o estado de uma part ula livre quânti a
p~
(~r; t) = ei h ~r i h t
(11.11)
podem ser obtidos omo autovalores dos operadores asso iados a esses observaveis atraves de
~p
! hi r~
! ih t :
Com essa reinterpreta ~ao de p~ e E , a rela ~ao relativsti a entre a energia e o momento
p2 2 + M 2 4 = E 2
(11.12)
que exprime a invarian a do quadrado da norma do quadrivetor fE; ~p g = M u , onde u e a
quadrivelo idade, leva a equa ~ao

h 2 2 r2 + M 2 4
(~r; t) = h 2
2 (~r; t)
t2
que pode ser tambem es rita omo

!
M 2 2
(x) = 0
(11.13)
+
h 2
om x f t; ~rg. A equa ~ao (11.13), que e laramente uma \boa" equa ~ao, envolvendo um
operador diferen ial invariante e um operador de multipli a ~ao tambem invariante, expresso em
termos da massa de repouso M , alem das onstantes e h , e onhe ida omo equa ~ao de KleinGordon (ou, eventualmente, equa ~ao de Klein-Fo k para os russos)1 . Ela foi porem onsiderada
pela primeira vez por S hrodinger, antes mesmo da formula ~ao da teoria n~ao relativsti a, sob
uma forma mais interessante, que in lui os efeitos de um ampo eletromagneti o externo des rito
pelos poten iais e A~ , para estudar o espe tro do hidrogênio. Essa forma parte da rela ~ao
invariante, que estende a rela ~ao (11.12),
e
(p~ + A~ ) 2 + M 2 4 = (E + e)2

onde a arga do ele tron foi es rita omo e. O arater invariante dessa rela ~ao resulta do fato
de que f; A~ g tambem se transformam omo as omponentes de um quadrivetor ontravariante.
Mediante as mesmas substitui ~oes que levam a equa ~ao (11.13), esta ultima rela ~ao leva a

O. Klein, Zeit. f. Physik 37, 895 (1926); V. Fo k, Zeit. f. Physik 38, 242 (1926) e ibid 39, 226 (1926); W.
Gordon, Zeit. f. Physik 40, 117 (1926).
1
588
"
2
e ~ 2 2

2
4
~
ih r + A + M (~r; t) = ih + e
(~r; t):
(11.14)

t
Os estados esta ionarios do atomo de hidrogênio poderiam ent~ao ser obtidos fazendo A~ = 0 e
= e=r. Supondo que a dependên ia temporal das fun ~oes de onda esta ionarias seja e iEt=h ,
a equa ~ao a ser resolvida ( om ondi ~oes de ontorno apropriadas) e
!
e2 2
r) = E +
r
r ):
E (~
E (~
r
As solu ~oes obtidas por S hrodinger para essa equa ~ao d~ao resultados orretos para o espe tro do
atomo de hidrogênio na ordem 2 ( sendo a onstante de estrutura na e2 =h ), que orresponde
ao espe tro de Bohr (pois a onstante de Rydberg pode ser es rita omo 2 me 2 =2), mas os
efeitos de ordem 4 , asso iados a estrutura na do espe tro, s~ao grandes demais por um fator
proximo de três. S hrodinger atribuiu orretamente essa dis repân ia ao fato de que a equa ~ao
usada n~ao in lui o spin do ele tron (proposto por Uhlembe k e Goudsmit em 1925), tendo
sido eventualmente levado a abandonar essa equa ~ao e a explorar o seu su esso na ordem 2
desenvolvendo a equa ~ao n~ao relativsti a. O fato de que as equa ~oes (11.13) e (11.14) des revem
part ulas sem spin esta diretamente ligado a natureza da fun ~ao de onda (~r; t), tomada omo
uma fun ~ao omplexa de ~r e t, e portanto sem qualquer dependên ia possvel de graus de
liberdade internos. Um dos pontos entrais do trabalho de Dira foi, de fato, generalizar essa
equa ~ao para fun ~oes de onda om mais de uma omponente, de forma a possibilitar a in lus~ao
do spin.
Existe ainda outra pe uliaridade asso iada a equa ~ao (11.13). Uma ondi ~ao mnima para
poder rela ionar a interpreta ~ao das solu ~oes (~r; t) om a adotada om su esso na teoria n~ao
relativsti a onsiste em obter em termos delas uma densidade (~r) (interpretada na teoria
n~ao relativsti a omo uma densidade de probabilidade) e uma densidade de orrente de ~j (~r; t)
(interpretada na teoria n~ao relativsti a omo uma densidade de orrente de probabilidade)
que satisfa am uma equa ~ao de ontinuidade, exprimindo a onserva ~ao da integral espa ial
de (~r; t). Uma tal equa ~ao de ontinuidade pode ser obtida fa ilmente a partir da equa ~ao
(11.13) e de sua omplexo- onjugada

2 h 2 2
+ M 2 4
M 2 2
+ 2
(~r; t) = 0:
h
De fato, multipli ando esta ultima equa ~ao por (~r; t), e subtraindo o resultado da equa ~ao
(11.13) multipli ada por (~r; t), se obtem

= [ ( )
589
(
) = 0
que e uma equa ~ao de ontinuidade para uma densidade de orrente quadri-vetorial ujas omponentes ovariantes s~ao
j = N [( )
(
onde N e um fator invariante introduzido a ttulo de normaliza ~ao. As omponentes ontravariantes espa iais dessa quadri- orrente s~ao ent~ao
~j = N
(r
~ )
~ )
(r
Essa densidade de orrente oin ide om a express~ao para a densidade de orrente de probabilidade da teoria n~ao relativsti a para a es olha N = h =2Mi, o que da, para a quantidade
orrespondente a densidade de probabilidade, asso iada a omponente 0 da quadri- orrente
j0
h
= =
2M 2 i
"

t

!#
t
A equa ~ao de ontinuidade pode ent~ao ser es rita omo
(~r; t) ~ ~
+ r j (~r; t) = 0
t
e exprime a onserva ~ao da quantidade denida por
Z
dP
= 0:
dt
Aqui, no entanto, a densidade (~r; t) n~ao e, omo no aso n~ao relativsti o, uma quantidade n~ao
negativa, o que ex lui a possibilidade de interpreta-la omo uma densidade de probabilidade, e
portanto tambem a possibilidade de interpretar P omo a probabilidade total.
A origem dessa pe uliaridade pode ser identi ada al ulando (~r; t) para as solu ~oes esta ionarias om a forma de ondas planas. eq. (11.11). De fato, o que se obtem nesse aso
e
E
(~r; t) = 2
M
onde a energia E e a massa de repouso M est~ao rela ionadas atraves de (11.12), ou seja
P
d3r (~r; t);
isto e;
E = p2 2 + M 2 4
Essas rela ~oes mostram que a existên ia de valores negativos de esta ligada ao arater quadrati o da rela ~ao (11.12), que introduz a possibilidade de solu ~oes de energia negativa. E ainda
590
esse mesmo arater quadrati o que leva a uma equa ~ao de segunda ordem em t, para a qual
(~r; t = 0) e (~r; t = 0)=t s~ao ondi ~oes ini iais independentes. Isso signi a que o estado da
part ula e determinado dando, num determinado instante, n~ao apenas uma, mas duas fun ~oes
de ~r, que podem ser tomadas omo sendo e =t. Alternativamente, e possvel usar para
esse m duas ombina ~oes lineares independentes quaisquer dessas duas fun ~oes. Um parti ular
par de ombina ~oes lineares que permite fazer onta to om a teoria n~ao relativsti a e
ih (~r; t)
t
em termos do qual se pode denir o estado atraves da fun ~ao de duas omponentes
(~r; t) (~r; t) M 2
(~r; t) B

r; t)
+ (~
(~r; t)
C
A
=B

ih
(~r; t) + M
2
(~r; t)
(~r;t) 1
t C
ih (~r;t)
M 2 t
A equa ~ao de Klein-Gordon adquire assim a forma de um par de equa ~oes a opladas om
estrutura semelhante a da equa ~ao de S hrodinger n~ao relativsti a
#
"
(~r; t)
p2
+ 3 M 2 (~r; t) = ih
;
(3 + i2 )
2M
t
onde 2 e 3 s~ao matrizes de Pauli. No limite n~ao relativsti o a energia da part ula difere
muito pou o de M 2 (ou, em outros termos, p2 2 M 2 4 ), de modo que, tendo em onta
que ih =t ! E , ih (~r; t)=t difere muito pou o de M 2 (~r; t), e onsequentemente
e
tipi amente muito menor que + . Nesse aso as equa ~oes tendem a se desa oplar, om +
satisfazendo
!
p2
(~r; t)
2
r; t) ih +
+ M
:
+ (~
2M
t
Apenas nesse limite, portanto, a quantidade +
+ pode ser interpretada omo uma densidade

de probabilidade. Por outro lado a laro tambem que, no aso geral, a onsidera ~ao de uma
part ula relativsti a sem spin leva a uma situa ~ao envolvendo dois tipos de graus de liberdade,
que podem ser asso iados, por exemplo, a + (~r; t) e a (~r; t). Como visto, isso se rela iona
om o fato de que a equa ~ao de movimento e de segunda ordem no tempo, e a onsequente
introdu ~ao de solu ~oes om energia negativa.
Esse fato pre isa ser levado em onta para obter uma interpreta ~ao para a onstante do
movimento P . A presen a de dois tipos de graus de liberdade sugere, desde logo, que a equa ~ao
de Klein-Gordon n~ao possa em geral ser vista omo uma equa ~ao de movimento para o estado quânti o de uma uni a part ula, diferentemente do que o orre no aso da equa ~ao de
591
S hrodinger n~ao relativsti a. A solu ~ao geral da equa ~ao pode ser es rita omo uma soma om
oe ientes arbitrarios das ondas planas (11.11). Usando ondi ~oes de ontorno periodi as num
volume L3 e separando expli itamente as omponentes om energia positiva e negativa, uma
solu ~ao desse tipo pode ser es rita omo
i
X
1 h
(~r; t) = p 3 a~k ei(~k~r !k t) + b~k ei(~k~r+!k t)
!k L
~k
q
onde !k = + h 2 k2 2 + M 2 4 =h . Os termos envolvendo os oe ientes a~k e b~k orrespondem

portanto a estados de energia positiva e negativa, respe tivamente, e o fator !k 1=2 foi introduzido
expli itamente nesses oe ientes por onveniên ia. Usando as propriedades de ortogonalidade
das ondas planas om ondi ~oes de ontorno periodi as e ent~ao fa il veri ar que a quantidade
onservada P e dada por
h Z 3
dr
P=
2M 2 i L3
t

t
h X 2
ja j
M 2 ~k ~k
jb~k j2 :
A ara tersti a importante dessa express~ao e a de que ela e dada omo a diferen a de dois
termos positivos, asso iados respe tivamente a parte de energia positiva e a parte de energia
negativa de (~r; t). O termo orrespondente aos estados de energia negativa pode ser interpretado em termos da presen a de anti-part ulas no sistema, om o que P passa a ter o sentido do
numero de part ulas menos o numero de anti-part ulas presentes no sistema. Com essa interpreta ~ao, no entanto, a fun ~ao (~r; t) deixa de poder ser asso iada a um sistema onstitudo de
uma part ula apenas, omo no aso das solu ~oes da equa ~ao de S hrodinger n~ao relativsti a.
Um tratamento mais satisfatorio desta equa ~ao deve portanto onsistir em trata-la omo uma
teoria envolvendo um ampo es alar, omplexo, (~r; t) que deve ser trabalhado om te ni as de
segunda quantiza ~ao em um espa o de Fo k, de forma analoga a que foi utilizada para tratar o
poten ial vetor do ampo eletromagneti o livre na se ~ao 8.1.1.
11.3
A equa
~
ao de Dira .
Para in luir a des ri ~ao de graus de liberdade internos omo o spin do ele tron e pre iso, pelo
menos, onsiderar solu ~oes om mais de uma omponente da equa ~ao de Klein-Gordon. Ao
tratar dessa quest~ao, Dira pro urou resolver tambem o problema das densidades negativas
postulando que as solu ~oes relevantes, alem de satisfazerem a equa ~ao de Klein-Gordon, devem
satisfazer tambem uma equa ~ao linear, invariante e de primeira ordem no tempo. A invarian a
sob transforma ~oes de Lorentz exige ent~ao que ela deva ser tambem de primeira ordem om
rela ~ao as variaveis espa iais. A forma mais simples de uma tal equa ~ao e
592

K (~r; t) (i K ) (~r; t) = 0
(11.15)
x
onde os f g f 0 ; ~ g devem ter propriedades de omponentes de um quadrivetor ontravariante e K e invariante.
A ondi ~ao de que (~r; t) deve satisfazer tambem a equa ~ao de Klein-Gordon imp~oe ertas
restri ~oes sobre os oe ientes e sobre K . Essas restri ~oes podem ser determinadas onsiderando a equa ~ao de segunda ordem que resulta da apli a ~ao do operador i K sôbre a
equa ~ao (11.15), o que leva a
i
0 = ( i K ) (i K ) (~r; t) = + K 2 (~r; t) =

1

2
(~r; t)
( + ) + K
=
2
onde foi usado o fato de que = . Essa equa ~ao reproduz a equa ~ao de Klein-Gordon
se K for es olhido omo M =h e
1
( + ) = g :
(11.16)
2
Com essa ondi ~ao, portanto, o operador que apare e na equa ~ao de Klein-Gordon pode ser
fatorizado omo
M 2 2
M
M
M 2 2

i
:
+ 2 = g + 2 = i
h
h
h
h
As solu ~oes de (11.15) ser~ao ent~ao automati amente solu ~oes tambem da equa ~ao de KleinGordon, embora esta possa admitir solu ~oes adi ionais que n~ao satisfazem a equa ~ao (11.15).
A ondi ~ao (11.16) mostra porem que os n~ao podem ser tomados omo sendo numeros,
mas que podem ser implementados em termos de matrizes. De fato, ela impli a na anti omutatividade desses objetos para 6= , isto e
6= ! + = 0
alem das rela ~oes orrespondentes aos asos em que =
( 0 )2 = 1
(11.17)
( k ) 2 = 1; k = 1; 2; 3:
E tambem imediato que 0 = 0 e k = k , k = 1; 2; 3, e portanto = = 1 (sem

soma sobre ) o que signi a, em parti ular, que ( ) 1 = . Multipli ando ent~ao a rela ~ao
(11.17) por (ainda sem soma sobre o ndi e repetido )
593
0 = ( + ) = +
e, tomando o tra o,
Tr = Tr ( ) = Tr ( ) = Tr
donde segue que as matrizes devem ter tra o nulo. Por outro lado, omo 0 = 0 , ( 0 )2 = 1,
os autovalores de 0 devem ser 1. Para que o seu tra o possa ser nulo, e pre iso ent~ao que a
sua dimens~ao, e portanto tambem a dimens~ao das demais matrizes , seja par.
E fa il ver que os n~ao podem ser realizados em termos de matrizes de dimens~ao 2. De
fato, omo visto na se ~ao 6.1.2, as três matrizes de Pauli e mais a matriz unidade de dimens~ao 2
onstituem um onjunto ompleto de matrizes em termos das quais e possvel es rever qualquer
matriz de dimens~ao 2. As três matrizes de Pauli obede em, de fato, a rela ~oes de anti- omuta ~ao
iguais as exigidas para os , mas a uni a outra matriz que e independente dessas três matrizes
omuta om qualquer uma delas e tem tra o diferente de zero. Isso mostra que n~ao existem
quatro matrizes de dimens~ao 2 satisfazendo a ondi ~ao (11.17). Os devem portanto ser
realizados em termos de matrizes de dimens~ao pelo menos igual a 4. A es olha dessa dimens~ao
e a que leva a equa ~ao relativsti a de primeira ordem adotada por Dira . Existe uma innidade
de representa ~oes possveis das matrizes nesse aso. Uma das representa ~oes possveis, e que
e de uso frequente, e a que e dada por
!
0 = 102 01 ;
~ = 0~ ~0
(11.18)
2
onde 12 e a matriz identidade de dimens~ao 2, 0 representa uma matriz nula tambem de dimens~ao
2 e ~ s~ao as matrizes de Pauli. A amplitude (~r; t) e portanto um objeto de quatro omponentes
e a equa ~ao de Dira (11.15) e na realidade um sistema de quatro equa ~oes a opladas para as
omponentes de (~r; t).
11.3.1 Forma hamiltoniana e solu ~oes da equa ~ao de Dira livre.

Separando expli itamente as omponentes espa iais da omponente temporal na equa ~ao (11.15)
ela assume a forma, de estrutura semelhante a da equa ~ao de S hrodinger n~ao relativsti a
~
i~ r

t
1
+ i 0
M
h
(~r; t) = 0:
Multipli ando ainda essa equa ~ao pela esquerda pela matriz h 0 , e lembrando que ( 0 )2 = 1
resulta
594
~ ~p + M 2
(~r; t) = ih
onde foram introduzidas as deni ~oes
= 0;
(~r; t)
t
(11.19)
~ = 0~ = ~
~ =i e o operador asso iado ao momento. A equa ~ao (11.19) e a forma hamiltoniana

e ~p = h r
da equa ~ao de Dira para uma part ula livre. O operador hamiltoniano, que tem o papel de
gerador da evolu ~ao temporal, e linear no momento. Ele e dado por
H = ~ ~p + M 2
ou, usando expli itamente a representa ~ao (11.18) para as matrizes ,
H=
M 2 12
~ p~
~ ~p
M 2 12
(11.20)
Esse hamiltoniano e evidentemente uma matriz hermiteana de dimens~ao 4. Na representa ~ao

adotada, ela foi es rita em termos de blo os de dimens~ao 2, que envolvem seja a matriz identidade de dimens~ao 2, 12 , seja as matrizes de Pauli ~ . Por outro lado, a hermiti idade de H
deve ser preservada independentemente da parti ular representa ~ao que seja adotada para as
matrizes . Isso signi a que devem ser satisfeitas em geral as ondi ~oes
~ = 0~ = ~ y = ~ y 0y
= 0 = y = 0y
ou seja,
0y = 0
e
ky = 0 k 0 = k :
(11.21)
Uma interpreta ~ao simples para as três matrizes hermiteanas ~ (de dimens~ao 4) resulta da
equa ~ao de Heisenberg
d~r
= [~r; H = ih ~;
dt
que mostra que ~ fun iona omo o operador asso iado a velo idade da part ula, em unidades
de , isto e
ih
~ =
1 d~r ~v
= :
dt
595
(11.22)
Como as omponentes de ~ n~ao omutam entre si, e tambem n~ao omutam om H , as diferentes omponentes da velo idade n~ao podem ser simultaneamente bem denidas, e tambem as
solu ~oes esta ionarias para a part ula de Dira livre, que s~ao da forma
r; t)
E (~
E
= E (~r)e i h t
om

~ ~p + M 2 E (~r) = EE (~r)
em geral n~ao podem ser asso iadas a um valor bem denido da velo idade. Na realidade, omo
os autovalores das omponentes de ~ s~ao 1, os autovalores das omponentes do operador
asso iado a velo idade s~ao . Uma interpreta ~ao para a matriz , por outro lado, pode ser
obtida a partir de
~ p~
:
M 2
Tomando o valor medio dessa rela ~ao entre operadores numa fun ~ao de onda normalizada
=
hE i
h i = M 2
h~v p~i ! 1 q M 2
M 2
M 2
1 v 2 = 2
Mv 2 A
q
= 1
1 v 2 = 2
v2
2
(11.23)
onde os valores medios da energia E e de ~v ~p foram interpretados em termos das express~oes

relativsti as lassi as orrespondentes (v. eq. (11.4)). Isso indi a que no limite n~ao relativsti o
v a matriz tende a fun ionar omo a matriz identidade para estados de energia positiva.
Tendo em vista a forma de = 0 na representa ~ao parti ular (11.18), deve-se esperar que
a ter eira e quarta omponentes de (~r; t) sejam pou o importantes (i.e., \pequenas") nesse
limite, quando seja usada essa representa ~ao.
N~ao e dif il obter solu ~oes esta ionarias expl itas para a equa ~ao de Dira livre, es rita
na forma (11.20), utilizando a representa ~ao (11.18). As solu ~oes devem ser objetos de quatro
omponentes, om valores bem denidos para o momento, h~k e para a energia, E . Introduzindo
o ansatz
(~r) = ei~k~r
iEt=h u(~k; E )
onde u(~k; E ) e entendido omo um objeto om quatro omponentes, possivelmente dependentes

dos valores do momento e da energia, resulta para esse objeto a equa ~ao
596
M 2 12
h ~ ~k
h ~ ~k
M 2 12
u(~k; E ) = E u(~k; E ):
Es revendo tambem u(~k; E ) em termos de duas partes de duas omponentes omo
u(~k; E ) =
U
V
e expli itando as opera ~oes matri iais envolvendo os blo os de dimens~ao 2 resultam as duas
rela ~oes
M 2 U + h ~ ~k V = E U
Isolando V na segunda equa ~ao resulta
h~ ~k U
V=
M 2 V = E V:
(11.24)
h~ ~k
U
E + M 2
que, apos substitui ~ao na primeira equa ~ao, da

(E
M 2 )U =
2 h 2 (~ ~k)2
2h 2~k2
U
=
U:
E + M 2
E + M 2
Note que nesta ultima passagem foi usada a identidade (~ A~ )(~ B~ ) A~ B~ + i~ (A~ B~ ).
Da ultima rela ~ao segue que
(E 2
M 2 4
2 h 2~k2 ) U = 0
e portanto qualquer objeto de duas omponentes U sera solu ~ao desde que se tenha
E 2 = M 2 4 + 2 h 2~k2
ou seja
E = M 2 4 + 2h 2~k2 :
Isso mostra que ha solu ~oes de energia positiva e tambem solu ~oes de energia negativa. Por
outro lado, da arbitrariedade de U segue que para ada um dos sinais de E ha duas solu ~oes
independentes, que podem ser es olhidas, por exemplo, tomando U omo
U1 =
1
0
ou
597
U2 =
0
1
Em ada um desses asos V e determinado pela es olha de U , de modo que ha em geral quatro
solu ~oes independentes para ada valor h~k do momento.
Para es rever expli itamente (a menos de um eventual fator de normaliza ~ao) as duas solu ~oes de energia positiva basta obter as omponentes V1 e V2 orrespondentes a U1 e a U2
respe tivamente. Isso e feito simplesmente usando a rela ~ao entre U e V
h ~ ~k
h
Vi =
U
=
i
E + M 2
E + M 2
k3 k
k+ k3
~k fk1 ; k2 ; k3 g; k k1 ik2
Ui ;
onde E = + M 2 4 + 2h 3~k2 , que da
h
V1 =
E + M 2
k3
k+
h
V2 =
E + M 2
k
k3
Essas express~oes mostram, em parti ular, que V1 e V2 tendem a zero quando h~k ! 0. Esse
mesmo pro edimento pode ser usado para obter (tambem a menos de um eventual fator de
normaliza ~ao) as duas solu ~oes de energia negativa, para o que na realidade basta substituir
E por E no resultado nal. Desse modo, no entanto, as omponentes V divergem no limite
h~k ! 0. Essa divergên ia e apenas um efeito de normaliza ~ao, asso iado ao fato de que as
omponentes U das solu ~oes de energia negativa se tornam desprezveis nesse limite. Para
evita-la, no entanto, e possvel adotar um pro edimento de solu ~ao simetri o ao usado para as
solu ~oes de energia positiva, isto e, resolver a primeira das equa ~oes (11.24) para U , o que leva
a
h ~ ~k
U=
V
M 2 E
obtendo em seguida, por substitui ~ao na segunda equa ~ao,
E 2 + 2h 2~k2 )V = 0:
(M 2 4
Fazendo ent~ao as es olhas para V
V3 =
1
0
V4 =
0
1
resulta, para as orrespondentes omponentes U ,
h
U3 =
M 2 E
k3
k+
e
598
h
U4 = 2
M E
k
k3
que desta forma se anulam no limite h~k ! 0. E fa il veri ar expli itamente que as solu ~oes
U1 ; V1 e U2 ; V2 , bem omo as solu ~oes U3 ; V3 e U4 ; V4 s~ao mutuamente
ortogonais, e que o mesmo
q
vale para qualquer das primeiras duas, al uladasqpara E = + M 2 4 + h 2 k2 2 om rela ~ao a
qualquer das segundas, al uladas para E =
M 2 4 + h 2 k2 2 . Nessas mesmas ondi ~oes,
essas solu ~oes formam um onjunto ompleto de solu ~oes, no sentido que qualquer objeto de
quatro omponentes pode ser expresso omo uma ombina ~ao linear delas.
Existe forma rapida de obter as solu ~oes da equa ~ao de Dira livre em termos de uma
representa ~ao qualquer das matrizes . Partindo da equa ~ao es rita sob a forma (em
unidades tais que h = = 1)
(i M ) (x) = 0;
x fx g = f t; ~rg
(11.25)
e fazendo para (x) o ansatz
(x) = e ipxu(p) = e ip x u(p);
fp g = fE; p~g
resulta para u(p) a equa a~o
( p M ) u(p) (p= M ) u(p) = 0
(11.26)
onde foi introduzida a nota ~ao (devida a Feynman) p= p . As solu o~es u(p) dessa
equa ~ao podem ser obtidas notando que
(p= M )(p= + M ) = p=p= M 2 = pp M 2 = g pp M 2 = E 2 p~2 M 2 :
E importante n~ao esque er que esse objeto e uma matriz de dimens~ao 4. O ultimo resultado
a ima indi a portanto um multiplo da matriz identidade de dimens~ao 4. Para E 2 p~2
M 2 = 0, essa matriz se anula, e as solu ~oes de (11.26) s~ao as olunas da matriz (p= + m),
pois
(p= M )(p= + M ) = 0
se
E 2 p~2 M 2 = 0:
Esse resultado geral pode ser parti ularizado para a representa ~ao (11.18). Nesse aso
!
(
E
+
M
)1
~

p
~
2
(p= + M ) =
~ ~p
(M E )12
ujas olunas reproduzem (a menos de fatores de normaliza ~ao) as solu o~es obtidas anteriormente de outro modo. Nesta ultima express~ao a matriz de dimens~ao 4 foi es rita em
termos de blo os de dimens~ao 2, envolvendo a matriz identidade 12 e as matrizes de Pauli
~.
599
As solu ~oes obtidas a ima mostram que o hamiltoniano livre de Dira tem um espe tro
ontnuo bipartido, de E = M 2 a E ! +1 e de E = M 2 a E ! 1, e n~ao e portanto
limitado inferiormente. A exigên ia de que, alem de satisfazer a equa ~ao de Klein-Gordon,
as solu ~oes a eitaveis de quatro omponentes satisfa am tambem a equa ~ao de primeira ordem (11.19) (ou equivalentemente, a equa ~ao (11.15)) n~ao e portanto su iente para evitar as
solu ~oes de energia negativa.
A equa ~ao de primeira ordem, no entanto, de fato leva a uma equa ~ao de ontinuidade envolvendo uma densidade positiva denida. De fato, es revendo a solu ~ao (~r; t) expli itamente
omo
0
B
(~r; t) = B
B

r; t)
1 (~
r ; t)
2 (~
(
~
3 r; t)
r ; t)
4 (~
C
C
C
A
tomando o produto matri ial da equa ~ao (11.19) om

y (~r; t) = ( (~r; t)
1
r; t)
2 (~
r ; t)
3 (~
r; t))
4 (~
pela esquerda, e subtrado a rela ~ao resultante de sua onjugada omplexa, resulta a equa ~ao
de ontinuidade
r~ ~j (~r; t) + (t~r; t) = 0
om
4
X
(~r; t) = y(~r; t) (~r; t) = j j (~r; t)j2 0
j =1
~j (~r; t) = y (~r; t) ~ (~r; t):
Essa equa ~ao pode ser expressa de uma forma mais simetri a denindo a solu ~ao adjunta
(~r; t) y (~r; t) = y(~r; t) 0
em termos da qual, usando o fato de que ( 0 )2 = 1, a densidade e dada por
1
1
(~r; t) = (~r; t) 0 (~r; t) j 0 (~r; t)

enquanto as três omponentes da orrente s~ao
j k (~r; t) = (~r; t) k (~r; t);

600
k = 1; 2; 3
(11.27)
(11.28)
de modo que a equa ~ao de ontinuidade a reduzida a
j = 0:
Para que essa equa ~ao possa ser vista omo invariante e ne essario ainda veri ar que as quatro omponentes fj g efetivamente se transformam omo as omponentes de um quadrivetor
ontravariante. Isso sera feito na se ~ao 11.3.3 abaixo.
11.3.2 Propriedades algebri as das matrizes gama.

A expans~ao de uma matriz qualquer de dimens~ao 2 omo ombina ~ao linear das três matrizes de
Pauli e mais a matriz identidade foi tratada na se ~ao 6.1.2. O resultado analogo para matrizes
de dimens~ao 4 deve envolver 4 4 = 16 matrizes, e o ponto a ser examinado aqui onsiste em
obter um onjunto de matrizes que permita essa expans~ao a partir das matrizes , utilizando
apenas as suas propriedades gerais dadas pela rela ~ao (11.16) e de tra o nulo. As matrizes a
serem utilizadas para esse m podem ser onstrudas do seguinte modo:
a) A matriz identidade de dimens~ao 4, 14 .

b) As quatro matrizes .
) Seis matrizes 2i ( ), om 6= .
d) Os quatro diferentes produtos de três matrizes gama. Tendo em onta que ( 0 )2 = 14
e que ( k )2 = 14 , k = 1; 2; 3, bem omo a anti omutatividade de matrizes diferentes, essas
quatro matrizes podem ser substitudas pelos produtos i 0 1 2 3 5 , om a deni ~ao
5 5 i 0 1 2 3 :
Assim, por exemplo, 0 2 3 = i 5 1 , et .
e) A matriz 5 , propor ional ao produto das quatro matrizes .
Com a ex e ~ao evidente da matriz 14 , essas matrizes têm tra o zero. Isso ja foi mostrado
para as matrizes , e e evidente para as matrizes , em vista da propriedade li a do tra o,
Tr (AB ) = Tr (BA). Usando ainda a propriedade li a do tra o e a anti omutatividade das
matrizes segue ainda que
Tr ( 0 1 2 3 ) = Tr ( 1 2 3 0 ) = Tr ( 0 1 2 3 ) = 0
e portanto 5 tem tra o zero. Finalmente e fa il ver que 5 = 5 , donde segue que as
matrizes d) tambem têm tra o zero, usando mais uma vez a propriedade li a do tra o.
Outra propriedade relevante e a de que um produto qualquer de duas matrizes diferentes
da matriz 14 e tambem diferentes entre si tambem tem tra o zero. Esta propriedade pode ser
601
veri ada a partir do fato de que um tal produto e sempre propor ional a uma das 15 matrizes
de tra o zero. Por outro lado,
Tr (14 )2 = 4; Tr ( )2 = 4g ; Tr ( )2 = 4g g ; Tr ( 5 )2 = 4g ; Tr ( 5 )2 = 4:
Dessas propriedades de orre, ent~ao, que as 16 matrizes onsideradas s~ao linearmente inde-
pendentes, no sentido que o anulamento de uma ombina ~ao linear do tipo
a 14 + b + + d 5 + e 5 = A = 0
impli a no anulamento dos oe ientes, isto e,
(11.29)
a = b = = d = e = 0;
e portanto qualquer matriz de dimens~ao 4 pode ser es rita omo uma ombina ~ao linear delas.
A independên ia linear pode ser veri ada multipli ando (11.29) su essivamente por ada uma
das 16 matrizes e tomando o tra o. No aso em que a ombina ~ao linear seja uma matriz n~ao
nula A, de dimens~ao 4, resulta que
A=
Tr A
Tr ( A) Tr A Tr ( 5 A) Tr ( 5 A)
1
+
+
+
+
:
4
Tr (14 )2
Tr ( )2
Tr ( )2
Tr ( 5 )2 5
Tr ( 5 )2 5
A onveniên ia de expans~oes em termos das 16 matrizes a ima, relativamente a expans~oes

em termos de algum outro onjunto de matrizes linearmente independentes, se deve a que ela
se rela iona de forma natural om objetos que têm propriedades de transforma ~ao tensoriais
bem denidas sob transforma ~oes de Lorentz. Esse ponto sera elaborado na se ~ao seguinte.
11.3.3 Transforma ~oes de Lorentz e rota ~oes.

Dois tipos de transforma ~ao interessantes para a equa ~ao de Dira livre s~ao transforma ~oes de
Lorentz e rota ~oes, que est~ao rela ionadas respe tivamente om o arater invariante da equa ~ao
sob transforma ~oes de Lorentz e ao momento angular da part ula de Dira .
Para uma transforma ~ao de Lorentz innitesimal (isto e, om v ) do tipo espe ial
onsiderado na equa ~ao (11.3), em que a velo idade relativa v dos dois referen iais tem a
dire ~ao x1 , e possvel es rever
(1 ) = + '(1 ) + O('2 )
om ' = v= + O(v 2 ) resultante da expans~ao ate primeira ordem de senh ', e onde foi
introduzido o gerador
602
0
B
f(1) g BB
0
1 0 0
1 0 0 0
0 0 0 0
0 0 0 0
1
C
C
C
A
Essa express~ao pode ser generalizada imediatamente para uma transforma ~ao innitesimal asso iada a uma velo idade relativa de dire ~ao arbitraria ~v fv1 ; v2 ; v3 g es revendo
x0 = x
om
~ + O('2 )
= + ~'
~ = f1 ; 2 ; 3 g, sendo os dois geradores adi ionais

onde ~' = fv1 = ; v2= ; v3 = g + O(v 2 ) e
dados por
0
B
f(2 ) g BB
0
0
1
0
0 1 0
0 0 0
0 0 0
0 0 0
1
C
C
C
A
f(3) g BB
0
0
0
1
0
0
0
0
0 1
0 0
0 0
0 0
1
C
C
C
A
Por outro lado, a matriz de r , de dimens~ao 4, que orresponde a uma rota ~ao espa ial innitesimal ~!, es rita omo
x0 = r x
pode ser posta sob a forma
r = + ~! ~ + O(! 2 )
onde as matrizes ~ = f1 ; 2 ; 3 g s~ao tais que (i )0 = (i )0 = 0 e as sub-matrizes de dimens~ao
3 ujos elementos s~ao (i )j k = (i )kj s~ao os geradores anti-simetri os que foram es ritos em
(9.1) e (9.8).
Portanto, a ombina ~ao de uma transforma ~ao de Lorentz innitesimal om uma rota ~ao
espa ial, tambem innitesimal, pode ser es rita de forma ompa ta omo
x0 = T x
onde a matriz fT g pode ser es rita, a menos de termos de segunda ordem, omo
~ + ~! ~
T = + ~
'
603
+ L + R
(11.30)
onde a matriz L e simetri a, om L0 0 = 0 e Li j = 0 para i; j = 1; 2; 3 e a matriz R e antisimetri a, om R0 = R0 = 0. Alternativamente, essa transforma ~ao pode ser ara terizada
pela matrizes
L = g L
ou
L = g L
que, tendo em vista a deni ~ao do tensor metri o g = g , s~ao matrizes anti-simetri as de
dimens~ao 4.
Para estudar as propriedades de transforma ~ao das solu ~oes da equa ~ao de Dira livre (11.25)
basta estudar as propriedades de transforma ~ao do onjunto ompleto de solu ~oes elementares
da forma
(x) = e ipx u(p);
obtidas anteriormente, sob transforma ~oes de Lorentz e rota ~oes innitesimais, dado que transforma ~oes nitas podem ser obtidas dessas usando a lei de omposi ~ao de grupo. Alem disso,
omo o fator exponen ial e expli itamente invariante tanto sob transforma ~oes de Lorentz omo
sob rota ~oes, e su iente, na realidade, estudar as solu ~oes u(p) da equa ~ao (11.26)
( p
M ) u(p) = 0:
Dado que os p s~ao omponentes ovariantes de um quadrivetor, essa equa ~ao e invariante se
os se transformam omo as omponentes ontravariantes tambem de um quadrivetor, isto e
0 = T :
Com isso 0 p0 = p e a equa ~ao transformada e satisfeita por u0(p0 ) = u(p), isto e

0 p0
M u(p) = ( p
M ) u(p) = 0:
(11.31)
No entanto, as matrizes 0 a serem usadas no novo referen ial s~ao diferentes das matrizes
originais . Para evitar esse in onveniente, o que se faz usualmente e asso iar a transforma ~ao
T uma mudan a de representa ~ao das matrizes , es olhida de modo tal que, no novo
referen ial as matrizes transformadas tenham a mesma forma que as matrizes originais no
referen ial antigo. Chamando S a matriz asso iada a essa mudan a de representa ~ao, supondo
que S seja inversvel (o que podera ser veri ado expli itamente a posteriori) e impondo a
ondi ~ao
S 1 S = 0 = T
604
(11.32)
resulta da equa ~ao (11.31) que

S 1 Sp0
M u(p) = S
p0
M Su(p) = 0
de modo que

p0
M Su(p) = 0:
Nessas ondi ~oes, as solu ~oes transformadas s~ao dadas por u0(p0 ) = Su(p), e
0 (x0 ) = e ip0 x0 Su(p) = S (x):
(11.33)
As matrizes S onstituem portanto uma representa ~ao do grupo de transforma ~oes onsiderado
(transforma ~oes de Lorentz e rota ~oes espa iais) no espa o linear das fun ~oes de onda de Dira .
Para transforma ~oes innitesimais T , a matriz S deve tambem diferir innitesimalmente
da matriz identidade de dimens~ao 4, e pode portanto ser es rita omo
S = 14 + + O(2 )
donde segue que
= 14
+ O ( 2 ) ;
e a rela ~ao (11.32) mostra que a matriz se rela iona om a matriz de transforma ~ao T
atraves de (a menos de termos de segunda ordem)
[; = T = + L + R ;
ou seja;
[ ; = (L + R ) :
Da mesma forma que qualquer matriz de dimens~ao 4, a matriz pode ser es rita fazendo uso da
expans~ao dada na se ~ao 11.3.2, (v. eq. (11.29)). Como, no entanto, das 16 matrizes linearmente
independentes ali onsideradas, apenas as seis matrizes d~ao resultados propor ionais as
proprias matrizes quando omutadas om elas, isto e,

[ ; = 2i g
g ;
e desde logo laro que apenas essas matrizes intervir~ao na expans~ao, que pode por isso ser
es rita

1
1
=
om
= g L + R = (L + R ) :
4i
4i
Note, em parti ular, que da anti-simetria de L e de R resulta tambem que = ,
onsistentemente om = . A transforma ~ao S innitesimal pode portanto ser es rita
omo
605
i
(L + R ) + O(2 ):
(11.34)
4
Essa express~ao pode ser espe ializada para transforma ~oes de Lorentz \puras" anulando a
parte orrespondente as rota ~oes espa iais, R = 0. Nesse aso, lembrando que os elementos
n~ao nulos de L s~ao L0j = Lj 0 = vj = ; j = 1; 2; 3,
S = 14
i vj 0j
i vj i 0 j
SLor ' 14 +
= 14 +
(
2
2 2
j 0)
= 14
j~vj v^ ~
2
om ~ = f 0 j g e v^ sendo um vetor unitario om a dire ~ao de ~v. Isso mostra que a matriz v^ ~ ,
sendo f~ g as matrizes introduzidas para es rever a equa ~ao de Dira sob forma hamiltoniana,
eq (11.19), e (a menos de um fator numeri o 1=2) o gerador da mudan a de representa ~ao SLor
asso iada a transforma ~oes de Lorentz om velo idade na dire ~ao v^. A mudan a de representa ~ao que orresponde a uma transforma ~ao de Lorentz nita, ara terizada pela velo idade ~v ,
e ent~ao dada por
1
SLor = e 2 'v^~
om tanh ' = j~v j= . Essa transforma ~ao tem laramente uma inversa, que e dada por uma das
formas equivalentes
1
SLor1 = e 2 'v^~ = 0 SLor 0 = 0 SyLor 0 :
E tambem importante analisar o aso de uma rota ~ao espa ial \pura", fazendo L = 0 em
(11.34). Este aso permitira identi ar os geradores da mudan a de representa ~ao SRot asso iada
a esse tipo de transforma ~ao. Em vista da rela ~ao geral existente entre geradores de rota ~oes e
momento angular, e dado que a presente analise ex lui a dependên ia espa io-temporal e ipx
das solu ~oes elementares da equa ~ao de Dira , esses geradores podem ser vistos omo asso iados
a uma omponente intrnse a (spin) do momento angular da part ula de Dira .
Usando os resultados obtidos na equa ~ao (11.30) para a rota ~oes innitesimais, e tendo em
onta a forma das matrizes ~, os R n~ao nulos podem ser identi ados omo sendo dados por
R23 = R32 = !1 ;
R13 = R31 = !2
e R12 = R21 = !3
onde os !j representam rota ~oes innitesimais em torno do eixo j . Com esses valores a rela ~ao
(11.34) da, a menos de termos de segunda ordem,
SRot
' 14 + 2i !1 23 + !2 31 + !3 12 :

606
Essa express~ao pode ser re-es rita de uma forma mais ompa ta e sugestiva denindo três novas
matrizes ~ = f 1 ; 2 ; 3 g omo
1
j; k; l = 1; 2; 3
(11.35)
j jkl kl ;
2
onde jkl e o smbolo anti-simetri o em três dimens~oes e se subentende a soma sobre os ndi es
repetidos k e l. Note que o fator 1=2 juntamente om a propriedade de anti-simetria das
matrizes , isto e, = , permitem es rever essa deni ~ao simplesmente omo
1 = 23 ;
2 = 31 e 3 = 12 :
E fa il veri ar expli itamente, usando as rela ~oes de anti- omuta ~ao das matrizes juntamente om as varias deni ~oes envolvidas, que 2j = 14 , e ainda que essas três matrizes satisfazem
rela ~oes de omuta ~ao iguais as que valem para as matrizes de Pauli, isto e
[ j ; k = 2ijkl l
(11.36)
Usando a deni ~ao das matrizes ~ e possvel es rever
i!
(û ~ )
SRot ' 14 +
2
onde u^ e um vetor unitario na dire ~ao do eixo da rota ~ao innitesimal ! , e o gerador da
mudan a de representa ~ao asso iada a uma rota ~ao innitesimal em torno de u^ a identi ado
omo sendo u^ ~ =2. A mudan a de representa ~ao que orresponde a uma rota ~ao nita ! em
torno do eixo u^ e portanto dada por
RRot = e 2 u^~ :
i!
Como no aso de transforma ~oes de Lorentz puras, essa transforma ~ao tem tambem uma inversa, que pode ser es rita sob as formas equivalentes
1 = e i!
2 u^~ = RyRot = 0 RyRot 0 :
RRot
A utilidade desta ultima forma, algo redundante para o aso de rota ~oes puras, vem de que ela
vale igualmente para as transforma ~oes de Lorentz puras, onsideradas anteriormente.
E fa il veri ar expli itamente que as matrizes de dimens~ao 4 ~ e ~ n~ao omutam. Isso signi a que, em geral, transforma ~oes de Lorentz nitas e rota ~oes nitas n~ao omutam. Usando
a representa ~ao parti ular (11.18) para as matrizes de Dira , um al ulo simples mostra que,
nesse aso, as matrizes ~ , de dimens~ao 4, que devem ser asso iadas ao spin da part ula de
Dira s~ao dadas por
607
~ =
~ 0
0 ~
(11.37)
onde ~ s~ao as matrizes de Pauli, de dimens~ao 2, e 0 representa a matriz nula, tambem de

dimens~ao 2. Usando essa mesma representa ~ao, as matrizes ~ s~ao
~ =
0 ~
~ 0
(11.38)
O uso desses resultados pode ser ilustrado om o al ulo das propriedades de transforma ~ao
da quadri- orrente fj g denida na se ~ao anterior, eqs. (11.27) e (11.28). Essas duas equa ~oes
podem ser resumidas pondo
j (x) = (x) (x)

onde (x) = y (x) 0 e a adjunta da solu ~ao (x) da equa ~ao de Dira . A orrente transformada
sera ent~ao
j 0 (x0 ) = 0 (x0 ) 0 (x0 )

que, usando a rela ~ao (11.33) e o fato de que ( 0 )2 = 1, pode ser re-es rita omo
j 0 (x0 ) = y (x) 0 0 Sy 0 S (x) = (x)S 1 S (x):

Usando agora a rela ~ao de deni ~ao da transforma ~ao S, eq. (11.31) se obtem
j 0 (x0 ) = (x)T (x) = T j (x)

mostrando que as omponentes da orrente se transformam omo as omponentes de um quadrivetor.
De uma forma inteiramente analoga e possvel mostrar tambem que as quantidades (x) (x)
e (x) (x) se transformam respe tivamente omo um es alar e omo um tensor de segunda
ordem. As quantidades (x) 5 (x) e (x) 5 (x), por outro lado, tambem se transformam
omo omponentes de um quadrivetor e omo um es alar sob transforma ~oes proprias (sem
invers~ao espa ial). Quando invers~oes espa iais s~ao permitidas, no entanto, ontrariamente ao
que a onte e om as quantidades analogas em que n~ao intervem a matriz 5 , elas ganham um
fator adi ional 1 proveniente do determinante da transforma ~ao onsiderada, e s~ao por isso
hamadas pseudo-(quadri)vetores e pseudo-es alares, respe tivamente.
608
11.3.4 Invers~ao espa ial.

Outra transforma ~ao relevante, que pode ser tratada de forma analoga a usada para as transforma ~oes de Lorentz e rota ~oes no que diz respeito as matrizes de Dira , e a invers~ao espa ial,
denida expli itamente por
10 0 1
0
0 00 1
x
1 0 0 0
x
CB 1 C
B
B 01 C
1 0 0 C
B x C
B 0
B x C
C
B
B 02 C = B
A x2 A
0
x A
0
1 0 C
x3
0 0 0
1
x03
ou seja,
x0 = I x
om
I 00 = 1; I jj = 1; j = 1; 2; 3 e I 6= = 0:
Se as matrizes s~ao tratadas omo omponentes de um quadrivetor, elas devem se transformar
sob essa opera ~ao de a ordo om
00 = 0 ; 0j = j ; j = 1; 2; 3
e, para manter a sua forma inalterada, e ne essario introduzir uma mudan a de representa ~ao
S satisfazendo as rela ~oes (11.32), que neste aso s~ao
e
S 1 j S = j ; j = 1; 2; 3:
Em vista das propriedades gerais das matrizes , es olhas possveis para S satisfazendo essas
ondi ~oes s~ao
S 1 0S = 0
= 0
ou
S = S 1 = 0:
(11.39)
A dupli idade de sinal esta rela ionada om a paridade intrnse a (v. se ~ao 9.5), e e irrelevante
num ontexto em que o numero de part ulas seja xo (em parti ular, quando se trate de uma
uni a part ula). Desse modo, o efeito de uma invers~ao espa ial sôbre uma fun ~ao de onda ( om
quatro omponentes) para uma part ula de Dira podera ser representado por
S=S
(~r; t) ! 0 RP (~r; t) = 0 ( ~r; t)

onde RP = RP 1 representa o operador que tro a o sinal das omponentes espa iais dos quadrivetores. E imediato veri ar que o hamiltoniano de Dira e invariante sob essa transforma ~ao,
isto e
0 RP HRP 0 = 0 RP ( 0~ ~p + 0 M 2 )RP 0 = H
o que signi a que suas autofun ~oes podem ser es olhidas de forma a serem autofun ~oes simultâneas do operador paridade P 0 RP .
609
11.3.5 Momento angular na equa ~ao de Dira livre.

O hamiltoniano n~ao relativsti o de uma part ula livre om spin e um operador invariante sob
rota ~oes que age sobre as variaveis de spin omo o operador identidade
Hnr =
p~2
2M
^1S :
Em onsequên ia disso, tanto as omponentes do momento angular intrnse o (spin) S~ omo as

~ omutam om H . O hamiltoniano de Dira livre, embora seja
do momento angular orbital L
igualmente um operador invariante sob rota ~oes, apresenta no entanto uma estrutura menos
trivial om rela ~ao as diferentes omponentes do estado uja transforma ~ao sob rota ~oes deve ser
asso iada, omo observado na se ~ao anterior, a uma omponente intrnse a do momento angular,
e isso modi a o resultado n~ao relativsti o de uma forma importante. De fato, al ulando o
omutador do hamiltoniano livre de Dira
H = ~ p~ + M 2
~ = ~r p~, o que se obtem e o resultado n~ao nulo
om o momento angular orbital L
~ = [ ~ p~; ~r ~p = ih ~ ~p
[H; L
(11.40)
~ , e portanto tambem L2 , n~ao s~ao ompatveis om H .
que mostra que as omponentes de L
Por outro lado, e possvel al ular tambem as rela ~oes de omuta ~ao de H om as matrizes
~ , obtidas na se ~ao anterior omo geradores dos efeitos de uma rota ~ao sôbre as matrizes de
Dira . Como a matriz 0 omuta om as matrizes jk , j; k = 1; 2; 3 que intervem na
onstru ~ao das matrizes ~ , o al ulo dessas rela ~oes de omuta ~ao se reduz na realidade ao
al ulo de
[H; j = ~p [~ ; j :
O ingrediente basi o a ser estudado e portanto o omutador das omponentes de ~ om as de
~
1
i
[k ; j = [ 0 k ; lmj lm = lmj [ 0 k ; ( l m
2
4
i
m l ) = lmj [ 0 k ; l m
2
onde k; l; m = 1; 2; 3. Os omutadores envolvendo quatro matrizes de Dira podem ser al ulados usando as rela ~oes de anti- omuta ~ao satisfeitas por essas matrizes
610
l m 0 k = 0 k l m l m k =

= 0 f k ; l g m l k m l f m ; k g + l k m =

= 2 0 g kl m g mk l
[ 0 k ; l m = 0 k l m
Desse resultado segue ent~ao que

[k ; j = ilmj 0 g kl m
g mk l = ilmj (mk l
kl m )
e nalmente, fazendo a soma sôbre os ndi es l e m,

[H; j = i lmj (l pm
m pl ) = 2i (~ ~p)j :
(11.41)
Portanto as matrizes ~ , propor ionais aos geradores dos efeitos de rota ~oes sôbre a estrutura
intrnse a das solu ~oes elementares da equa ~ao de Dira , tambem n~ao s~ao ompatveis om H .
Comparando as equa ~oes (11.40) e (11.41), no entanto, e evidente que
#
"
~ + h ~ = 0
H; L
2
isto e, o operador
h
~ + S~
J~ = ~r p~ + ~ L
2
e ompatvel om H . Em vista das rela ~oes de omuta ~ao (11.36), as omponentes do segundo
termo satisfazem as mesmas rela ~oes de omuta ~ao padr~ao de momento angular que as omponentes do momento angular orbital. Esse operador pode portanto ser identi ado omo o
momento angular total da part ula de Dira , e forne e as duas onstantes de movimento usuais,
mutuamente ompatveis, J 2 e J3 . Finalmente, do fato de que
S2
h 2 2 2 2 3h2
1 1
2
+ 2 + 3 =
=
1 = h
+ 1 14
4 1
4 4
2 2
segue que S 2 e uma onstante de movimento, ujo valor mostra que a equa ~ao de Dira des reve
part ulas de spin 1/2.
611
11.4
Propriedades eletromagn
eti as de uma part
ula de
Dira arregada.
Como a equa ~ao de Dira des reve part ulas de spin 1/2, no aso em que a part ula seja
arregada ela pode em parti ular ser dotada de um momento de dipolo magneti o. Dado que
o spin da part ula esta de fato in orporado na estrutura geral da equa ~ao, deve-se esperar que
uma forma de examinar essa quest~ao seja submeter a part ula a um ampo eletromagneti o de
prova, externo, fazendo isso simplesmente atraves do a oplamento mnimo, e estudar a natureza
da intera ~ao da part ula om esse ampo.
O a oplamento mnimo de uma part ula de Dira om arga eletri a e om um ampo
eletromagneti o externo des rito em termos do poten ial quadrivetor A e efetuado atraves da
substitui ~ao
e
e
ou
i ! i
A
! + i A
h
h
ou seja, expli itando a omponente temporal e as omponentes espa iais e introduzindo em
ada aso as onstantes multipli ativas apropriadas,

h
h
e k
ih
!
ih
e
e
!
A:
k
k
t
t
i x
i x

Note, om rela ~ao as omponentes espa iais, que Ak = Ak . Com essa substitui ~ao a equa ~ao
de Dira a ( f. eq. (11.25))
M
e
(x) = 0:
(11.42)
A
h
h
Uma forma simples de expli itar os termos de intera ~ao envolvendo os ampos externos E~
e B~ onsiste em transformar essa equa ~ao numa equa ~ao de segunda ordem, apli ando a ela o
operador
e
M
i
A +
h
h
o que da a equa ~ao
#
"
e 2 M 2 2

(x) = 0:
A
i
h
h 2
E laro que todas as solu ~oes da equa ~ao de primeira ordem (11.42) s~ao tambem solu ~oes desta
equa ~ao, que pode no entanto admitir solu ~oes adi ionais. Para expli itar nela os termos de
a oplamento eletromagneti os basta efetuar as transforma ~oes

i
612

e 2
e
e

A
A i
A =
= i
h
h
h

e
e

= (g
i ) i
A i
A =
h h

e
i
e
e
= i
A i
A
i
A ; i
h
h
2
h
nas quais foi usada a rela ~ao
i
1
1
f
; g + [ ; = g
2
2
e tambem a antissimetria das matrizes para es rever
=
e
A
h
i
1
= ( )
2
que permite exprimir o termo orrespondente da equa ~ao sob a forma de um omutador. Os A
s~ao de fato operadores de multipli a ~ao, de modo que o omutador pode ser reduzido apli andoo a uma fun ~ao generi a om o resultado

e
e
e
e
i
A ; i
A = i ( A A ) = i F
h
h
h
h
onde F e o tensor do ampo eletromagneti o, dado expli itamente em termos das omponentes
de E~ e B~ em (11.10). A dependên ia desses dois ampos pode ser expli itada es revendo
~
F = jk Fjk + 0k F0k + k0 Fk0 = 2~ B~ + 2i~ E:
Nessa express~ao os ndi es j e k assumem os valores 1,2 e 3, e foi feito uso da deni ~ao (11.35)
para as três omponentes da matriz ~ , da anti-simetria do tensor do ampo eletromagneti o e
ainda da rela ~ao
0k
k0 = 2i 0 k = 2ik :
Desse modo a equa ~ao de segunda ordem pode ser es rita omo
"
i
e
A i
h
e e ~
~ B
A +
h
h
613
i~ E~
M 2 2
h 2
(x) = 0:
(11.43)
Utilizando a representa ~ao parti ular (11.18) das matrizes de Dira , as matrizes ~ e ~ s~ao dadas
respe tivamente por (11.37) e (11.38). Nesse aso, portanto, as duas omponentes superiores e
as duas omponentes inferiores de (x) s~ao a opladas apenas pelo termo envolvendo ~ E~ .
O termo envolvendo ~ B~ representa laramente uma intera ~ao do spin da part ula om o
ampo magneti o externo pois, omo visto na se ~ao anterior, o spin da part ula e representado
por S~ = h ~ =2. Ele indi a portanto a existên ia de um momento magneti o asso iado ao spin,
ujo valor pode ser determinado a partir da energia de intera ~ao asso iada a esse termo. Uma
forma de identi ar tal energia de intera ~ao onsiste em onsiderar uma solu ~ao esta ionaria
da equa ~ao de segunda ordem, uja dependên ia temporal e da forma e i!t , no limite n~ao
relativsti o, ara terizado por
E = h ! = M 2 + ;
om
M 2
e de ampos externos fra os, no sentido que eA M 2 . Nessas ondi ~oes
!
! e 2
M 2 + e 2
i0
(x) =

(x) '
h
h
h
!
M 2 2 2M 2Me
(x)
' h 2 + h 2
h 2
enquanto os termos envolvendo as omponentes espa iais podem ser es ritos sob a forma

e 2
A
(x) =
h 0
i k
e k
A ik
h
e
A
(x) =
h k
p~
h
e ~
A
h
!2
(x):
Levando essas express~oes a equa ~ao (11.43) e multipli ando o resultado por h 2 =2M resulta
2
6
4
~p
2
eA
~

2M
+ e
eh
~ B~
2M

i~ E~
3

7
5
(x) ' (x):
(11.44)
Nesta ultima equa ~ao, a energia de intera ~ao do spin om o ampo magneti o externo e laramente representada pelo termo
eh
~ B~ ~ B~
2M
que identi a o momento magneti o ~ asso iado ao spin omo sendo

eh ~
e ~
~ =
S:

g
2M
2M
614
O valor do fator giromagneti o g asso iado ao spin da part ula de Dira e portanto g = 2.
E importante observar que, ao ontrario da equa ~ao (11.43), que e uma equa ~ao de segunda
ordem obtida apli ando um operador diferen ial sobre a equa ~ao de Dira sem qualquer aproxima ~ao, a equa ~ao (11.44) ontem aproxima ~oes nas quais foram desprezados termos envolvendo
2 , e e e2 2 frente a termos que dependem linearmente de e de e. Em parti ular, essas
aproxima ~oes foram essen iais para que a equa ~ao (11.44) assumisse a forma de uma equa ~ao
de autovalores. Esta, no entanto, ontem um termo n~ao hermiteano, propor ional a i~ E~ .
Tendo em vista a interpreta ~ao 11.22) das matrizes ~ , este termo depende expli itamente da
velo idade da part ula, ao ontrario do que a onte e om o termo de intera ~ao do spin om o
ampo magneti o externo. Para ter uma ideia do seu onteudo, onvem utilizar a representa ~ao
parti ular (11.18), na qual a equa ~ao (11.44), supondo por simpli idade B~ = 0 om A~ = 0 e
separando as omponentes \grandes" U e \pequenas" V , a es rita omo
0
p2
B 2M
B

+ e
ieh
2M ~
E~
ieh
2M ~
p2
2M
E~
+ e
10
CB
C
A
U
V
C
A
= B

U
V
1
C
A
O termo envolvendo ~ E~ a opla esses dois grupos de omponentes, omo mostrado expli itamente pela equa ~ao
!
p2
ieh
+ e U +
~ E~ V = U:
2M
2M
Essa equa ~ao pode ser reduzida a uma equa ~ao de duas omponentes para U , apenas, utilizando a rela ~ao entre U e V que resulta da equa ~ao esta ionaria de primeira ordem, es rita
expli itamente nessa mesma representa ~ao omo
0
B

10
e + M 2
~ p~
~ p~
e M 2
CB
A
De fato, dessa equa ~ao resulta em parti ular que

~ ~p
V =
U
E + M 2 e
U
V
C
A
=EB

U
V
1
C
A
~p
' 2 ~M
2 U
onde foi feito uso de que E = M 2 + e de que e e s~ao pequenos no limite n~ao relativsti o
e de ampo fra o. Com isso a equa ~ao para as omponentes U a
!
p2
ieh
+ e U +
(~ E~ )(~ p~) U = U:
2M
4M 2 2
615
Utilizando a identidade (~ A~ )(~ B~ ) A~ B~ + i~ (A~ B~ ) (v. problema 6.2) o segundo termo
do lado esquerdo dessa equa ~ao pode ser transformado em
eh
ieh
~ )(~ p~) = ieh E~ p~
(
~

E
~ (E~ ~p):
4M 2 2
4M 2 2
4M 2 2
O primeiro dos dois termos resultantes e um sub-produto in ompleto, n~ao hermiteano, da
parti ular redu ~ao n~ao relativsti a que foi utilizada, rela ionado om o termo de Darwin ( f.
eq. (6.16)). O segundo termo, por outro lado, representa uma intera ~ao spin-orbita. Ele pode
ser posto numa forma mais familiar parti ularizando o poten ial es alar externo omo sendo
um poten ial entral (r), que orresponde ao ampo eletri o
~ (r) = 1 d ~r:
E~ = r
r dr
Nesse aso, de fato, ele se reduz a
eh
~ (E~ p~)
4M 2 2
1
d ~ ~
~ (~r p~) =
e
SL
! 4Me2h 2 r d
2
2
dr
2M r dr
onde S~ = h~ =2. Essa forma do termo de intera ~ao spin-orbita reproduz a equa ~ao (6.12),
e in lui portanto os efeitos da pre ess~ao de Thomas. Ele orresponde, de fato, a intera ~ao,
om o ampo magneti o gerado pelo movimento do ele tron no ampo eletri o entral, de um
momento magneti o

e ~
~LS = gLS
S
2M
om gLS = 1, e n~ao 2, omo no aso da intera ~ao om o ampo magneti o externo.
11.5
Estados ligados de um el

e tron de Dira em um
ampo oulombiano externo, atrativo.
O modelo mais simples que pode ser feito no ontexto da equa ~ao de Dira para os estados
ligados de um atomo hidrogenoide (atomo de um ele tron ujo nu leo tem arga positiva Ze)
onsiste tratar o hamiltoniano de Dira num ampo externo, representado pelo poten ial es alar
(r) = Ze=r e om o poten ial vetor nulo, A~ 0. Desse modo a equa ~ao de autovalores a ser
estudada e
"
#
h ~
2
~ r + me + v (r) E (~r) = E E (~r)
i
616
om v (r) e(r) = Ze2 =r e E < me 2 . Essa equa ~ao representa na realidade um onjunto
de quatro equa ~oes de derivadas par iais a opladas para as quatro omponentes das fun ~oes de
onda E (~r). O operador diferen ial que ela ontem e simplesmente o hamiltoniano de Dira
es rito na forma usada na equa ~ao (11.19), expli itando a representa ~ao de S hrodinger do
~ =i e introduzindo o poten ial es alar externo (r) que interage om
operador momento, p~ = h r
o ele tron de arga e e massa me .
11.5.1 Simetrias e fun ~oes angulares.

De modo semelhante ao usado no aso da equa ~ao n~ao relativsti a, e possvel usar onstantes
do movimento do hamiltoniano para reduzir essas equa ~oes a um sistema de equa ~oes ordinarias
a opladas, envolvendo a oordenada radial apenas. As onstantes do movimento relevantes s~ao,
neste aso, o momento angular total (note que o poten ial V (r) e invariante sob rota ~oes)
h
J~ = ~r ~p + ~
2
e a paridade (o poten ial V (r) sendo tambem invariante sob uma invers~ao espa ial)
P = 0 RP = RP :
De fato, usando a representa ~ao parti ular (11.18) para as matrizes de Dira , a equa ~ao de
autovalores adquire a forma
"
h
i
~
~ r
~
~ r
0
0
me 2
0
0
me 2
v (r ) 0
0 v (r )
!#
U
V
=E
U
V
onde U e V ontem respe tivamente as duas omponentes superiores e inferiores de

autofun ~oes om momento angular e paridade bem denidos
r)
Ejm (~
Ujm (~r)
Vjm (~r)
devem portanto satisfazer
J2
r)
Ejm (~
= h 2 j (j + 1)
r );
Ejm (~
J3
r)
Ejm (~
= h m
e tambem
r)
Ejm (~
Ejm (
617
~r) =
r)
Ejm (~
r)
Ejm (~
(11.45)
r).
E (~
As
ou seja, em termos de Ujm (~r) e Vjm (~r),

1 0
0 1
Ujm ( ~r)
Vjm ( ~r)
Ujm ( ~r)
Vjm ( ~r)
Ujm (~r)
Vjm (~r)
=
o que signi a que Ujm (~r) e Vjm (~r) devem ter momento angular bem denido e paridades
opostas.
A parte angular dessas fun ~oes de onda pode ser implementada em termos das fun ~oes
angulares de duas omponentes
(^r; s)
Yjm
ms
Cmj m2 s m2 s mj Yj 21
r)ms (s)
m ms (^
onde s = 1=2 e uma variavel de spin, ms (s) = ms ;s s~ao fun ~oes usuais de spin 1=2 e os
oe ientes C s~ao oe ientes de Clebs h-Gordan. Note que j e semi-inteiro. Essas fun ~oes
angulares de duas omponentes podem ser es ritas expli itamente omo
0
B
(^r) = B
Yjm
B

1 1
Cmj 21 12 mj Yj 21
2 2
r) C
m 12 (^
1 j
21 Y 1
1 (^
r)
2 m j 2 m+ 2
1
Cmj + 21
2
C
C
A
onde as fun ~oes de spin foram representadas por
12 (s) !
1
0
0
1
21 (s) !
(^r; s) s~ao laramente autofun ~oes simultâneas de J 2 , J , L2 e S 2 , om autovalores dados

Os Yjm
3
respe tivamente por h 2 j (j + 1), h m, h 2 (j 1=2)(j 1=2 + 1) e h 2 3=4. As omponentes do
spin S~ s~ao representadas da forma usual por matrizes de Pauli (de dimens~ao 2). A paridade
(^r; s) e dada ent~ao por ( 1)j 1=2 , de modo que para um dado valor de j os dois tipos
de Yjm
() de fun ~ao angular têm paridades opostas. Existem portanto dois possveis ansatze para as
fun ~oes de onda om quatro omponentes e om momento angular total bem denido. Eles s~ao
Tipo 1 :
(1)
jm
Yjm(^r; s)g1(r)
+ (^
Yjm
r; s)if1 (r)
Tipo 2 :
(2)
jm
+ (^
Yjm
r; s)g2 (r) ;
Yjm(^r; s)if2 (r)
(11.46)
onde foram introduzidas amplitudes radiais gk (r) e fk (r), k = 1; 2. Os fatores i que a ompanham
as amplitudes fk foram introduzidos para onveniên ia posterior. Note que as fun ~oes radiais
618
n~ao dependem da variavel de spin s, pois essa dependên ia destruiria a propriedade de que
Ujm e Vjm sejam autofun ~oes do quadrado do momento angular total J 2 . E laro que os dois
tipos de fun ~ao de onda de quatro omponentes n~ao têm um valor bem denido do momento
angular orbital, pois ambos ontem omponentes tanto om l = j + 1=2 omo omponentes
om l = j 1=2. Na medida em que as omponentes Vjm sejam pequenas omparadas om as
omponentes Ujm , as solu ~oes de tipo 1 e 2 ter~ao predominantemente l = j 1=2 e l = j + 1=2
respe tivamente.
11.5.2 Equa ~oes radiais a opladas.

O desempenho desses ansatze pode ser avaliado substituindo a solu ~ao de tipo 1 (por exemplo)
na equa ~ao (11.45). Disso resultam as equa ~oes a opladas
0
B

me 2 + v ( r ) E
~ p~
~ p~
me 2 + v (r) E
10
CB
A
Yjm(^r; s)g1(r)
+ (^
Yjm
r; s)if1 (r)
1
C
A
=0
ou, expli itamente, e usando unidades tais que h = = me = 1 para simpli ar a nota ~ao,
8
>
<
+ (^
[1 + v (r) E Yjm (^r; s)g1 (r) + (~ ~p) Yjm
r; s)if1 (r) = 0
(11.47)
(~ p~) Yjm(^r; s)g1(r) [1 v (r) + E Y

= 0:
Essas equa ~oes envolvem, por um lado, operadores de multipli a ~ao propor ionais a matriz
identidade de dimens~ao 2, que apare em entre ol hetes, e, por outro lado, o operador diferen ial
~ , que envolve as matrizes de Pauli ~ . Este ultimo pode ser re-es rito fazendo
~ p~ = (1=i)~ r
uso da identidade
>
:
+ r ; s)if (r )
1
jm (^
(~ ~r)(~ ~r)

;
r2
onde 12 e a matriz identidade de dimens~ao 2, omo
12
(11.48)
!
(~ ~r)
1 i ~
(~ ~r)(~ ~r)
(
~

p
~
)
=
[
~
r

p
~
+
i~

(
~
r

p
~
)
=
(
~

r
^
)
+ ~ L :
~ p~ =
r2
r2
i r r
A derivada om rela ~ao a oordenada radial age apenas sobre as fun ~oes radiais g1 (r) e f1 (r),
(^r; s). Esta ultima a ~ao pode ser
~ age apenas sobre as fun ~oes angulares Yjm
enquanto que ~ L
expli itada lembrando que
~ + S~
~ = 2S~ L~ = J 2 L2 3
om
J~ = L
~ L
4
619
o que da imediatamente

(^r; s) =
~ )Yjm
(~ L
j + 12
(^r; s):
Yjm
Resta portanto estudar a a ~ao sôbre as fun ~oes angulares do operador ~ r^. Este operador e
um operador invariante sob rota ~oes (isto e, um tensor de Ra ah de ordem zero) e portanto
onserva o numero quânti o j , asso iado ao momento angular total. Por outro lado, omo ~
e uma das omponentes do momento angular, a ombina ~ao ~ r^ e mpar sob uma invers~ao
espa ial, de modo que sua a ~ao sôbre as fun ~oes angulares deve ne essariamente ser da forma
(^r; s) = Y (^r; s):
(~ r^)Yjm
jm
Por outro lado, em vista da identidade (11.48),

(^r; s) = (~ r^)2 Y (^r; s) = (~ r^) Y (^r; s) = Y (^r; s)
Yjm
jm
jm
jm
o que mostra que = 1=. O valor desses objetos pode na realidade ser al ulado expli itamente atraves do elemento de matriz
+ (^
hYjm(^r; s)j~ r^jYjm
r; s)i = + ;
o que pode ser feito elementarmente, por exemplo, usando a rela ~ao (9.19) om K = Q = 0
para es reverpo produto es alar ~ r^ em termos das omponentes esferi as 0 = 3 , =
(1 i2 )= 2 de ~ e das omponentes esferi as de r^, estas ultimas expressas em termos em
termos de harmôni as esferi as de ordem 1. O resultado desse al ulo e + = = 1, de
modo que as equa ~oes a opladas (11.47) para as solu ~oes de tipo 1 am reduzidas a
8
>
>
>
>
>
>
>
>
>
<
>
>
>
>
>
>
>
>
>
:
1 + j + 21
4
+
[1 + v (r) E g1 (r)
r
r
2
[1
v (r) + E f1 (r) + 4

+
r
3
j + 21
r
f (r ) = 0
5 1
3
g ( r ) = 0:
5 1
Uma simpli a ~ao util adi ional desse sistema de equa ~oes pode ser obtida introduzindo as
fun ~oes
F1 (r) rf1 (r);

620
G1 (r) rg1 (r)
em termos das quais, om uma re-ordena ~ao dos termos e das equa ~oes, ele pode ser es rito
omo
Tipo 1
8 "
>
>
>
>
>
>
<
j + 21
F1 (r) [1 + v (r) E G1 (r) = 0
+
r
r
"
>
>
>
>
>
>
:
j + 21
G1 (r) [1 v (r) + E F1 (r) = 0:
r

r
Um pro edimento inteiramente analogo leva ao sistema de equa ~oes que devem ser satisfeitas
pelas solu ~oes de tipo 2
Tipo 2
8 "
>
>
>
>
>
>
<

r
"
>
>
>
>
>
>
:
j + 21
G2 (r) [1 v (r) + E F2 (r) = 0
+
r
r
j + 12
F2 (r) [1 + v (r) E G2 (r) = 0
r
#
onde foram usadas as deni ~oes
F2 (r) rf2 (r);
e G2 (r) rg2(r):
As fun ~oes Fi (r) e Gi (r), i = 1; 2, podem ser vistas omo dependentes do parâmentro
j + 1=2. Es revendo-as ent~ao omo Fi() (r) e Gi() (r), a forma dos dois sistemas de equa ~oes
mostra laramente que
F1() = F2(
)
e G1() = G2( ) :
Com essa observa ~ao, os dois sistemas de equa ~oes podem ser reduzidos ao sistema uni o
Tipos 1 e 2
8 "
>
>
>
>
>
>
<
()
+ Fi (r) [1 + v (r) E Gi() (r) = 0
r r
"
>
>
>
>
>
>
:
()
G (r) [1 v (r) + E Fi() (r) = 0
r r i
om os valores do parâmetro dados por
1
Tipo 1 : = j +
2
Tipo 2 : =
e
621
1
j+ :
2
(11.49)
(11.50)
11.5.3 Solu ~oes para o espe tro dis reto.

Os estados ligados deste modelo para o atomo hidrogenoide orrespondem, omo ja dito, a um
onjunto dis reto de autovalores En < me 2 (ou seja, En < 1 nas unidades em que h = =
me = 1) e s~ao des ritos por suas respe tivas autofun ~oes, que devem ser fun ~oes de quadrado
integravel, de quatro omponentes. Isto signi a, em parti ular, que elas devem ser solu ~oes
regulares na origem e tendendo a zero para r ! 1 das equa ~oes a opladas radiais (11.49), para
os diferentes possveis valores do parâmetro , segundo (11.50). O poten ial v (r) sera daqui em
diante es rito expli itamente omo
Ze2
:
v (r ) =
r
As equa ~oes a opladas (11.49) podem na realidade ser reduzidas a equa ~oes diferen iais
onhe idas atraves de transforma ~oes apropriadas. Substituindo as fun ~oes Fi() e Gi() por
novas fun ~oes Ki() e Ii() denidas pelas rela ~oes (note que as solu ~oes bus adas devem ter
E < 1)
Ki()
()
Gi()
F
i
=p
+p
;
1+E
1 E
Ii()
()
G
i
=p
1+E
()
F
i
p
1 E
e introduzindo a nota ~ao p = 1 E 2 elas se es revem omo

8
>
>
>
>
>
>
>
<
dKi()
+ p
dr
Ze2 1 ()
Ze2 1 ()
Ki = +
I
p r
p r i
>
>
>
>
>
>
>
:
dIi()
dr
Ze2 1 ()
I =
p r i
Ze2 1 ()
K :
p r i
A elimina ~ao de Ii() entre essas duas equa ~oes leva a equa ~ao de segunda ordem para Ki()
d2 K () dK ()
r 2i + i + 2Ze2 E + p p2 r
dr
dr
2
Ki() = 0
r
onde ainda foi denido o parâmetro 2 Z 2 e4 . Finalmente, exprimindo a variavel r em

termos de x 2pr e efetuando a transforma ~ao adi ional
a equa ~ao resultante para Mi() (x) e
x
Ki() = e 2 x Mi() (x)
622
(11.51)
dMi() (x)
d2 Mi() (x)
+ (2 + 1 x)
x
dx2
dx
Ze2 E
Mi() (x) = 0
uja solu ~ao e a fun ~ao hipergeometri a on uente2
Mi() (x)
Ze2 E
=F
2 + 1 jx :
As propriedades da fun ~ao hipergeometri a on uente que s~ao de relevân ia mais imediata para o espe tro dis reto do atomo hidrogenoide s~ao as que garantem a normalizabilidade
das fun ~oes de onda (11.46). Para que isso o orra, e pre iso exigir ondi ~oes su ientes de
regularidade de Ki() , e portanto tambem de Mi() (x), atraves da rela ~ao (11.51). Dessa rela ~aopsegue, em primeiro lugar, que a regularidade de Ki() na origem imp~oe a ondi ~ao de que
= 2 Z 2 e4 > 0. Com rela ~ao a essa ondi ~ao, vale a pena observar que

2 = j +
1 2
1
2
enquanto
Z 2 e4 =
Z 2
137
de modo que o radi ando e sempre positivo para Z < 137. A exigên ia de positividade para
signi a que a raiz deve ser tomada om o sinal positivo, apenas. Em segundo lugar, o
anulamento su iente de Ki() no limite x ! 1 exige que o eventual res imento om x da
fun ~ao hipergeometri a on uente seja de fato dominado pela exponen ial de res ente, o que de
fato o orre apenas nos asos em que a fun ~ao hipergeometri a F(ajbjx) se reduz a um polinômio.
Para que isso a onte a e pre iso que o parâmetro a seja um inteiro n~ao positivo. Tendo em
vista a express~ao resultante para esse parâmetro em Mi() (x), essa ondi ~ao da
Ze2 E
p
= n0 ;
n0 0; inteiro:
Para ada um dos valores n0 > 0 existem duas solu ~oes normalizaveis das equa ~oes radiais,
orrespondentes respe tivamente a = (j + 1=2), mas no aso parti ular em que n0 = 0
apenas as solu ~oes om = +(j + 1=2) (isto e, as solu ~oes de tipo 1) sobrevivem. Lembrando
2
Uma nota a~o algo uriosa mas omum para essa fun a~o e F(ajbjx), onde a e b s~ao os parâmetros da equa a~o
x
d2 F
dx2
+ (b x)
dF
dx
aF = 0:
V. e.g. P. Morse e H. Feshba h, Methods of Theoreti al Physi s, M Graw-Hill Book Co., N.Y. 1953, pag. 551.
623
E
me c 2
2 2
(1 Z 2 )
+ 1/2 2
+ 3/2 1
1/2 2
+ 1/2 1
+ 3/2 0
1/2 1
+ 5/2 0
3/2 1
+ 1/2 0
me c 2
l~
0
l~
1
l~
2
Figura 11.1: Esquema semi-quantitativo do estado fundamental e dos primeiros nveis ex itados
do atomo hidrogenoide de Dira ( f. gs. 5.3 e 6.3). Cada um dos nveis mostrados e rotulado
pelo sinal de = (j + 1=2) e pelos valores de j e n0 (por exemplo, no estado fundamental o
sinal de e +, j = 1=2 e n0 = 0). As degeneres ên ias s~ao indi adas por linhas pontilhadas, e
abaixo de ada grupo de estados esta indi ado o valor dominante do momento angular orbital
l.
que p = 1 E 2 e possvel resolver esta ultima ondi ~ao para E em termos de n0 e dos demais
parâmetros, do que resulta
E=
me 2
r
=

2
1 + ( Z+2ne04)2
1 + Z
0
+n
(11.52)
onde, na ultima forma da express~ao, foram re-introduzidos os fatores dimensionais apropriados,

om
e2
1
= =
h 137
s

1 2
+ Z 2 2 :
j+
2
Os diferentes valores de E dados pela express~ao (11.52) s~ao os autovalores orrespondentes

ao espe tro dis reto do atomo hidrogenoide de Dira . Uma primeira observa ~ao om rela ~ao a
624
esse espe tro e a de que n~ao existem estados ligados de energia negativa. O estado de menor
energia e o estado de tipo 1 orrespondente aos valores n0 = 0, j = 1=2. Os demais estados
de tipo 1 om n0 = 0 (e valores de j > 1=2) orrespondem aos estados de menor energia para
ada um dos respe tivos valores do momento angular j . Outros estados para ada um dos
valores possveis de j existem, om n0 1, e apare em em pares degenerados, ontendo uma
solu ~ao de tipo 1 e uma de tipo 2. Os primeiros nveis do espe tro de energia resultante est~ao
representados na gura 11.1. Sempre que me 2 E me 2 as duas omponentes superiores
das fun ~oes de onda de Dira ser~ao muito mais importantes que as duas omponentes inferiores,
omo pode ser veri ado a partir das equa ~oes a opladas (11.45) ou (11.47). Isso signi a que,
embora o momento angular orbital n~ao seja um bom numero quânti o para as fun ~oes de onda
de quatro omponentes omo um todo, os valores do momento angular orbital l = j 1=2 e
l = j + 1=2 ser~ao dominantes respe tivamente para as solu ~oes de tipo 1 (que orrespondem a
> 0) e de tipo 2 (que orrespondem a < 0). Esses valores dominantes de l tambem est~ao
indi ados na gura 11.1.
Finalmente, e fa il estabele er onta to om o espe tro obtido da teoria n~ao relativsti a
fazendo uma expans~ao do espe tro relativsti o (11.52) em potên ias de Z 2 2 . Levando a
expans~ao ate a ordem Z 4 4 o resultado que se obtem pode ser es rito omo
E = me
"
Z 2 2
2n2
Z 4 4
n
2n4 j + 12
3
+ :::
4
onde o \numero quânti o prin ipal" n apare e omo uma abreviatura para n = n0 + j + 1=2.
O primeiro termo dessa expans~ao e simplesmente a energia de repouso do ele tron livre. O
termo propor ional a 2 reproduz o espe tro de Bohr, enquanto o termo propor ional a alpha4
ontem a estrutura na do espe tro. Em parti ular, a separa ~ao obtida nessa ordem entre os
nveis f+ 3=2 0g e f 1=2 1g e
me
Z 4 4
2 24
2
3+1
2
2
2
Z 2 4
2
1 + 1 = me 2 16
2
2
que, lembrando que a onstante de Rydberg e dada por R = me 2 2 =2, oin ide om o resultado
perturbativo obtido na pagina 308 (v. g. 6.3), apos a in lus~ao da orre ~ao relativsti a a
energia ineti a e do termo de Darwin.
No espe tro hidrogenoide de Dira , representado na gura 11.1, os estados f+ 1=2 1g e
f 1=2 1g s~ao exatamente degenerados. Como ja men ionado na on lus~ao do aptulo 5,
esse resultado esta em desa ordo om o resultado experimental obtido em 1947 por Lamb e
Retherford, que mostra o segundo desses dois estados omo tendo uma energia algo menor que
625
o primeiro. O primeiro tratamento teori o dessa dis repân ia e devido a Bethe3 , que obteve
uma estimativa quantitativamente orreta do efeito atraves de um tratamento n~ao relativsti o
em que as propriedades do ele tron s~ao modi adas perturbativamente devido a pro essos
virtuais de emiss~ao e re-absor ~ao de fotons. Tratamentos posteriores in luram a possibilidade
de onvers~ao dos fotons virtuais em pares ele tron-positron, tendo desempenhado um papel
importante na reformula ~ao da teoria quânti a relativsti a em termos de uma teoria quânti a
de ampos.
Problemas.
11.1 - Lembrando que qualquer matriz 2 2 pode ser es rita omo ombina ~ao linear das tres
matrizes de Pauli ~ e da matriz identidade 2 2, mostre que n~ao ha nenhuma matriz n~ao nula
2 2 que anti- omute om as tres matrizes de Pauli.
11.2 - Demonstre a arma ~ao feita na pagina 602 om rela ~ao a equa ~ao (11.29), isto e, que
o anulamento de A, juntamente om as propriedades das matrizes de Dira , impli a no anulamento dos oe ientes a, b , , d e e. Demonstre ainda, usando um pro edimento analogo,
a independên ia linear do onjunto de quatro matrizes formado pela matriz identidade de dimens~ao 2 e pelas três matrizes de Pauli.
11.3 - Sejam ei~k~r
iEt=h u (~k; E ),
n
n = 1; 2; 3; 4 as quatro solu ~oes da equa ~ao de Dira livre.

Usando a representa ~ao (11.18) para as matrizes de Dira , al ule
uyn (~k; E )~ un(~k; E )
uyn(~k; E )un(~k; E )
para n = 1; 2; 3; 4. Sugest~ao: Cal ule (p= y + M )~ (p= + M ) e tome omo resposta os elementos
de matriz diagonais. Interprete o resultado em termos das equa ~oes (11.22) e (11.23).
11.4 - Es reva uma solu ~ao da equa ~ao de Dira livre, que orresponde a uma onda plana se
propagando na dire ~ao z , em termos de ondas esferi as.
11.5 - Mostre que uma transforma ~ao de Lorentz preserva o sinal da energia de uma solu ~ao
da equa ~ao de Dira .
11.6 - Resolva a equa ~ao de Dira livre pelo seguinte metodo:

H. Bethe, Phys. Rev. 72, 339 (1947). Este trabalho esta reproduzido na oletânea Quantum Ele trodynami s, J. S hwinger (ed.), Dover, N. Y., 1958, pag. 139.
3
626
a) note que, para ~p = 0, as solu ~oes podem ser es olhidas omo sendo
0
B
B
B

1
0
0
0
1
C
C
C
A
B
B
B

0
1
0
0
1
C
C
C
A
B
B
B

0
0
1
0
1
C
C
C
A
B
B
B

0
0
0
1
1
C
C
C
A
b) Obtenha solu ~oes para um valor nito de p~ fazendo a transforma ~ao de Lorentz apropri-
ada.
Refer^
en ias gerais.
Os textos gerais sobre me âni a quânti a in luem, usualmente em sua parte nal, aptulos
sobre as equa ~oes relativsti as de Klein-Gordon e Dira . Um tratamento que utiliza as mesmas
onven ~oes para a inemati a relativsti a que as adotadas aqui se en ontra em
? A. Messiah, op. it., Captulo XX.

Uma introdu ~ao as equa ~oes relativsti as de Klein-Gordon e Dira se en ontra tambem nos
aptulos ini iais de textos sobre a teoria quânti a de ampos. Um tal texto que, alem disso,
usa as onven ~oes hoje \normais" para a inemati a relativsti a, e
? C. Itzykson e J.-B. Zuber, Quantum Field Theory, MgGraw-Hill, In ., 1980, Captulo 2,

espe ialmente se ~oes 2-1 a 2-4.
Ha, alem disso, textos \intermediarios" da de ada de 1960, que tratam das equa ~oes relativsti as em onsideravel detalhe. Um texto desse tipo, que usa no entanto a hamada metri a
pseudo-eu lideana para o espa o-tempo, e
? J. J. Sakurai, Advan ed Quantum Me hani s, Addison-Wesley Publishing Co., In ., 1967

(Tenth Printing, 1987), Cap. 3.
Outro, que utiliza as onven ~oes hoje tidas omo normais, e
? J. D. Bjorken e S. D. Drell, Relativisti quantum me hani s, M Graw-Hill, In ., 1964.
627

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^

1 Di uldades om as teorias lassi as e a solu ~ao qu^anti a.

1.1 Radia ~ao de orpo negro: ontexto lassi o e a

2 Estrutura algebri a da teoria de Heisenberg. Postulados interpretativos.

2.1 Estrutura algebri a da teoria de Heisenberg:

2.3.3 Rela ~oes de in erteza energia-tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

3 Sistemas qu^anti os simples.

3.1 O os ilador harm^oni o. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4 Metodos de aproxima ~ao.

4.1 Metodos perturbativos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5 Momento angular, poten iais entrais.

5.1 Momento angular na din^ami a de uma part ula

5.1.3 Po o de poten ial quadrado em tr^es dimens~oes. . . . . . . . . . . . . . .

6 Estrutura na e ampos externos no atomo de hidrog^enio.

7 Sistemas de part ulas id^enti as.

7.1 Fermions e bosons. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

7.3.1 Estados no espa o de Fo k e fun ~oes de onda de muitas

8 Intera ~ao da materia om a radia ~ao.

8.1 O ampo de radia ~ao livre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

9.1 Grupos de transforma ~oes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

10 Espalhamento por um poten ial de urto al an e.

9 Transforma ~oes, simetrias e leis de onserva ~ao.

10.1 A equa ~ao de Lippmann-S hwinger. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 530

10.2.1 Es alas tpi as em pro essos de espalhamento. . . . . . . . . . . . . . . .

11 Equa ~oes relativsti as.

11.1 Sumario da inemati a da relatividade restrita. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

- II Meu duvidar e da realidade sensvel aparente - talvez so

- Tem-se que redigir um abreviado de tudo.

Tudo se nge, primeiro; germina aut^enti o e depois. Um

que orresponde, em termos da lei de Wien, a fun ~ao

de modo que a energia media apare e omo

Trabalhos de Einstein e Bohr.

a energia do solido deve ser algo omo

donde resulta imediatamente que

1.2.1 A \velha Me âni a Quânti a" do atomo de hidrogênio:

onde h e a onstante de Plan k e E 0 e E 00 s~ao os valores da energia nos estados

l'_ dt = 2l = n' h

de modo que a energia radiada pode ser es rita omo

1.2.3 Einstein, os prin pios de Bohr e a radia ~ao de orpo negro.

dWabs = Bmn (mn ) dt

dWei = Bnm (mn ) dt

Embora os varios ingredientes envolvidos nessas hipoteses dependam da natureza detalhada

Wn dWabs = Wm [dWei + dWex

Wn Bmn (mn ) = Wm [Bnm (mn ) + Amn :

Por outro lado, no limite de altas temperaturas, T

! 1, Wn ! pn e tambem, pela lei de Wien,

! q(n; n k) ei!(n;n k)t :

om pk (n) = iMk!n qk (n), o que leva a substitui ~ao

! p(n; n k) = iM!(n; n k)q(n; n k):

Fazendo, por outro lado, as substitui ~oes Qk (n) ! Q(n; n

q (n; n l)q (n l; n k):

ou, usando as expans~oes de Fourier de pn(t) e qn (t),

j q(n; n + k) j2 !(n + k; n) j q(n; n k) j2 !(n; n k)

om o entendimento de que, existindo um estado esta ionario \fundamental" rotulado por

! (n; n  1)2 + !02 q (n; n  1) = 0

A mesma ondi ~ao de quantiza ~ao al ulada para n = 1 da

1.3.1 A teoria de Heisenberg passada a limpo: as matrizes de Born

qnm qmn = jqnm j2

qnk ei!nk t qkm ei!km t

[x; y se [x; [x; y = 0

1.3.2 O os ilador harm^oni o unidimensional segundo a me ^ani a das

onde, e de agora em diante, h  h=2 . A es olha de onstantes de propor ionalidade nessa

(ay + a)2 = (ay + a)(ay + a) = ay2 + ay a + aay + a2 = ay2 + 2aya + 1 + a2

1 Di uldades om as teorias lassi as e a solu ~ao qu^anti a.

1.1 Radia ~ao de orpo negro: ontexto lassi o e a

2 Estrutura algebri a da teoria de Heisenberg. Postulados interpretativos.

2.1 Estrutura algebri a da teoria de Heisenberg:

2.3.3 Rela ~oes de in erteza energia-tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

4 Metodos de aproxima ~ao.

4.1 Metodos perturbativos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5.1 Momento angular na din^ami a de uma part ula

5.1.3 Po o de poten ial quadrado em tr^es dimens~oes. . . . . . . . . . . . . . .

6 Estrutura na e ampos externos no atomo de hidrog^enio.

7 Sistemas de part ulas id^enti as.

7.1 Fermions e bosons. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

7.3.1 Estados no espa o de Fo k e fun ~oes de onda de muitas

8 Intera ~ao da materia om a radia ~ao.

8.1 O ampo de radia ~ao livre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

9.1 Grupos de transforma ~oes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

9 Transforma ~oes, simetrias e leis de onserva ~ao.

10.1 A equa ~ao de Lippmann-S hwinger. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 530

10.2.1 Es alas tpi as em pro essos de espalhamento. . . . . . . . . . . . . . . .

11 Equa ~oes relativsti as.

11.1 Sumario da inemati a da relatividade restrita. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

- II Meu duvidar e da realidade sensvel aparente - talvez so

Tudo se nge, primeiro; germina aut^enti o e depois. Um

que orresponde, em termos da lei de Wien, a fun ~ao

de modo que a energia media apare e omo

a energia do solido deve ser algo omo

1.2.1 A \velha Me âni a Quânti a" do atomo de hidrogênio:

onde h e a onstante de Plan k e E 0 e E 00 s~ao os valores da energia nos estados

l'_ dt = 2l = n' h

1.2.3 Einstein, os prin pios de Bohr e a radia ~ao de orpo negro.

dWabs = Bmn (mn ) dt

dWei = Bnm (mn ) dt

Embora os varios ingredientes envolvidos nessas hipoteses dependam da natureza detalhada

Wn Bmn (mn ) = Wm [Bnm (mn ) + Amn :

! 1, Wn ! pn e tambem, pela lei de Wien,

om pk (n) = iMk!n qk (n), o que leva a substitui ~ao

Fazendo, por outro lado, as substitui ~oes Qk (n) ! Q(n; n

om o entendimento de que, existindo um estado esta ionario \fundamental" rotulado por

! (n; n 1)2 + !02 q (n; n 1) = 0

A mesma ondi ~ao de quantiza ~ao al ulada para n = 1 da

onde, e de agora em diante, h h=2 . A es olha de onstantes de propor ionalidade nessa

onde na ultima passagem foi usado o fato de que am

A forma expl ita da matriz

os ilador harm^oni o, a propor ionalidade entre a energia e a frequ^en ia;

Figura 1.1: Mole ula diat^omi a.

se que a forma dessas matrizes e

e a e a transposta da omplexo- onjugada de ay (tambem hamada adjunta de ay ).

1.8 - Usando a equa ~ao de movimento de Heisenberg

? R. Koberle, Sobre a G^enese da Me ^ani a Ondulatoria, Revista Brasileira de Fsi a 9, 243-273

Um operador linear g e dito hermiteano se ele satisfaz

obtidos da equa ~ao (2.3).

gnm (t) = n; e h Ht g (0)e h Ht m = e h (En Em )t gnm (0)

e possvel obter os mesmos elementos de matriz gnm (t) omo

gnm (t) = ~n(t); g (0)~m(t) :

que orresponde a equa ~ao de movimento para os vetores

Estrutura formal e interpreta

2.2.1 Espa os de Hilbert.

(atraves do anulamento de seu produto es alar), o que e evidentemente ina essvel a

jh'j ij2 h'j'ih j i

h'j'i + zh'j i + z h j'i + jzj2h j i 0

jh'j ij2 + jh'j ij2 0

donde segue tambem a desigualdade de S hwartz.

No aso de um espa o vetorial de dimens~ao nita, a a ~ao de um operador linear sobre

Um operador g e dito hermiteano se g y = g , e anti-hermiteano se g y = g . Operadores

g1 2 j1 ih2 j

g1 2 j'i = j1 ih2 j'i:

h jgy 12 j'i = h'jg12 j i = (h'j1ih2j i) = h j2ih1j'i;

Pn j'i = jnihn j'i

jni ihni j'i

2.2.3 Espe tro de operadores lineares e a interpreta ~ao da Me ^ani a

j'i = Pn j'i + Qn j'i

Pn j' i = (Pn j' i + Qn j' i)

h' juy = h' j ;

h' juyuj' i = jj2h' j' i

Se ent~ao j' i e um autovetor de g om autovalor

hE i' h'jH j'i =

j nj2 = h'jnihnj'i = h'jPn j'i

ainda um operador de proje ~ao. Embora o onjunto de N vetores ortonormais jn;k i, k =

h j0 ih0 j'i d 0

h'j ih j'i d =