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1. Éramos jovens e queríamos saber a verdade do universo e a sua beleza. Por isso, à
medida que se iam publicando os heterónimos de Pessoa, Álvaro de Campos tornava-
se nosso profeta e nosso guia. Ficou-nos na memória essa perfeita equivalência entre
a ciência e a arte - aporia pura, destituída de artifícios. Sabíamos que havia «pouca
gente para dar por isso». Passaram os anos. E não é que hoje parece haver cada vez
menos gente para dar por isso?! Pois como explicar de outro modo que, ao saber-se
que em cada dez alunos do 12.° ano sete têm nota negativa a Matemática, não nas-
ça um grande clamor? Estarão a descer os «valores» na «bolsa do espírito»? E nin-
guém se assusta com esta «recessão»? Como dizer o paradoxo do país que se consi-
dera parte da «sociedade de informação» e em que 70% dos que querem seguir um
curso superior não sabem Matemática ao nível mais elementar? Há quem faça estra-
das e estádios, quem pactue com a construção maciça, assassina da paisagem, para
um número de habitantes que nunca existirá. Mas quem revelará às novas gerações o
que Eugénio Lisboa diz no seu poema Pitágoras: «Do número, tudo nascia:/ outros
números, a verdade,/ a curva que o astro seguia,/ a beleza, a vida, a cidade». Quem?
Quem?
Razão tem a Ordem dos Engenheiros ao não aceitar conferir a possibilidade de exer-
cer a profissão aos diplomados por «escolas de Engenharia» que aceitam estudantes
com nota negativa a Matemática, no 12° ano.