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E como aprender com eles para controlar suas dívidas, fazer seu patrimônio crescer e
abrir um negócio de sucesso
Degustar um bom vinho e escolher uma roupa de grife já são hábitos incorporados à
rotina de muitos brasileiros. Aliás, comprar, gastar, consumir parecem não ter qualquer
mistério para a maioria. Mas, quando o assunto é controlar e administrar com
inteligência as próprias finanças, a situação muda completamente.
Muita gente erra. E não é difícil entender por que isso acontece. Decisões relacionadas a
dinheiro geralmente são complexas e envolvem o lado emocional das pessoas. Um
grande passo mal dado ou uma sucessão de equívocos menores pode colocar tudo a
perder. "Seja nas bolsas de valores, no mercado imobiliário ou no supermercado, nós
sempre cometemos erros financeiros que nos causam enormes perdas", afirma Thomas
Gilovich, professor da Cornell University, nos Estados Unidos, e autor do livro Why
Smart People Make Big Money Mistakes and How to Correct Them (Por que pessoas
inteligentes cometem grandes erros financeiros e como corrigi-los), ainda não traduzido
no Brasil.
Os enganos podem começar pelas pequenas economias que deixam de ser feitas no dia-
a-dia, passar pela falta de informação na hora de aplicar o dinheiro que sobra e chegar
às grandes decisões, como a compra de um imóvel ou a abertura de um negócio próprio.
Mesmo o investimento em imóveis, tido como um negócio incondicionalmente
lucrativo, pode não trazer o retorno esperado.
Endividar-se além das possibilidades também está entre os maiores pecados financeiros
que se podem cometer. Você certamente deve conhecer alguém que tem um bom carro,
uma casa confortável, freqüenta os melhores restaurantes, mas vive atolado em dívidas
(ou será você mesmo?). Pessoas assim não poupam um centavo sequer porque querem
manter o status. Pagam altos juros no cartão de crédito e no cheque especial e nem se
dão conta de quanto isso é prejudicial para o seu bolso. Outro engano comum é pensar
mais no curto prazo do que em planejamentos mais longos.
Muita gente ainda pensa como nos tempos de inflação alta - em que o importante era a
sobrevivência imediata - e acaba por tomar decisões erradas. "Não há problema em
cometer erros, isso acontece até com os especialistas", diz a americana Ilyce R. Glink,
consultora de finanças pessoais. "Mas você realmente terá dificuldades se não aprender
com eles ou se continuar a cometer os mesmos erros um dia depois do outro." Melhor
ainda do que aprender com os próprios erros, como sugere Ilyce Glink, é poder
antecipar-se e conhecer os erros dos outros para não repeti-los.
Você gasta tudo o que ganha mensalmente e não tem uma reserva, por menor que seja,
no banco? Se a resposta for positiva, cuidado! Você pode estar no fio da navalha. O que
você faria se precisasse de um dinheiro extra para cobrir acidentes de percurso: uma
doença, um falecimento na família, uma demissão ou um período de entressafra no seu
negócio? Provavelmente, ficaria na mão ou teria de recorrer a parentes ou amigos. Ou
pediria um empréstimo no banco a juros estratosféricos. Portanto, se você faz parte do
time dos sem-reserva, talvez seja conveniente começar a formá-la. Em princípio, essa
poupança deve ser feita para não ser usada. Mas, se for preciso, ela estará lá. Segundo
os especialistas, essa reserva não deve ser misturada com a sua poupança de longo
prazo. Deve ficar numa conta à parte. Como ela pode ser necessária quando você menos
espera, é recomendável que esteja investida em aplicações de alta liquidez, ou seja, que
permitam resgate a qualquer hora, como a velha caderneta de poupança ou um fundo de
renda fixa. O objetivo aqui não é conseguir a melhor rentabilidade do mercado. Apenas
preservar o valor do dinheiro. "Para a pessoa física, manter uma reserva para
emergências é uma obrigação, assim como uma empresa não pode viver sem capital de
giro", afirma Reinaldo Zakalski, ex-Deutsche Bank e hoje responsável pela Boutique de
Investimentos, com escritórios em São Paulo, Ribeirão Preto e Brasília. E qual é o valor
que você deve poupar para cobrir gastos inesperados? Os consultores geralmente dizem
que é preciso guardar o equivalente a, no mínimo, seis meses de despesas familiares. Ou
seja, se sua família gasta 3 000 reais por mês com alimentação, moradia e serviços
essenciais - como água, luz e telefone -, a reserva deveria somar, ao menos, 18 000
reais. Mas, na vida real, a conta nem sempre é igual para todos. Quem não possui um
seguro de vida, por exemplo, precisará poupar um capital adicional para cobrir as
necessidades de sua família se acontecer um imprevisto. Nesse caso, a reserva deve ser
suficiente para garantir o sustento da família por um período que gira em torno de dois
anos. E a renda mensal usada como base do cálculo deve levar em conta que as despesas
serão menores, caso você lhes falte. Se o desemprego lhe parecer uma situação remota,
é possível reduzir o valor da reserva. Quem está em ascensão na carreira, faz cursos de
atualização na sua área profissional e acredita que, no caso de ser demitido, não ficaria
sem trabalho por mais de três meses, pode pensar em diminuir o valor citado acima para
9000 reais. "O emprego é uma questão de mercado e de quanto você aceita ganhar", diz
Martelanc, da USP. No caso do profissional autônomo, é preciso levar em conta que
qualquer lesão que o impossibilite de trabalhar provocará uma redução imediata na
renda da família. Se um dentista machucar a mão, certamente recorrerá ao fundo
emergencial da família para cobrir suas despesas básicas habituais.
Quase todo mundo costuma se preocupar com os grandes gastos, como a compra de um
carro ou de um imóvel, mas acaba se esquecendo das pequenas despesas do dia-a-dia.
Não há dúvida de que um negócio de 20 000, 50 000 ou 100 000 reais pode afetar o
orçamento de qualquer um. Mas quantas operações desse porte alguém fará no ano ou
na vida? Uma? Talvez duas? Três? Certamente, para a maioria, não muitas vezes mais.
Mas, quando o que está em pauta são as compras no supermercado, a coisa muda de
figura. Como as compras, em geral, são semanais ou mensais, cada ida ao supermercado
oferece uma infinidade de possibilidades de economizar preciosos trocados. Quem
conseguir economizar 10 reais uma vez por semana a cada ida ao supermercado terá
acumulado no final de um ano 540 reais, o suficiente para passar, no mínimo, dois fins
de semana com a família na praia. O mesmo princípio vale para as idas ao restaurante, à
padaria, a consultas médicas e a outras atividades corriqueiras. "O importante não é
poupar muito, mas poupar sempre", afirma Vieira, da Planner. É claro que ninguém vai
quebrar porque paga uma tarifa de 20 reais por um pacote de serviços de um banco,
enquanto poderia estar gastando apenas 5 reais em outra instituição. Ou até na mesma,
muitas vezes, dependendo do pacote de serviços que contratar. Mas, ao longo de um
ano, esses 15 reais de diferença se transformarão em 180 reais. E se você somar os 180
reais que poderiam ser economizados em tarifas bancárias com os 540 reais do
supermercado, já seriam 720 reais num ano. Isso para ficar em apenas dois exemplos
banais. A compulsão pelas compras com cheque pré-datado, essa instituição nacional
que se popularizou na era da superinflação, é mais uma armadilha que consome valiosos
reais que poderiam estar reforçando sua poupança. Muita gente pensa que um desconto
de 5% nas compras à vista é desprezível. Mas é preciso levar em conta que, num cenário
de economia relativamente estável como o atual, representa muito. A maioria das
aplicações financeiras hoje em dia não rende nem 1% ao mês. O mesmo vale para os
pagamentos em três, quatro, cinco ou até dez vezes "sem juros" oferecidos por muitas
lojas. O dinheiro, como qualquer outra mercadoria, tem um custo, e ne- nhum
comerciante, absolutamente nenhum, vai cobri-lo para você de graça. Na verdade, o que
costuma acontecer nesses casos é que o lojista, que deveria viver da venda de suas
mercadorias, acaba atuando como se fosse um banqueiro. Com a diferença de que você
acha que ele está sendo "bonzinho".
Eis aqui outro erro clássico do brasileiro. É difícil, mas é fundamental deixar a emoção
de lado na hora de aplicar seu dinheiro. "O investimento deve ser racional", afirma o
investidor americano Warren Buffet. Em razão do sucesso de Buffet, o segundo homem
mais rico dos Estados Unidos, sua afirmação pode e deve ser vista como uma espécie de
mantra por qualquer aplicador do planeta. Em geral, por medo ou desconhecimento, as
pessoas agem precipitadamente e acabam perdendo dinheiro por isso. "Para se sentir
livre em relação ao dinheiro, é essencial perder o medo que se tem dele", diz Suze
Orman, uma das consultoras financeiras americanas de maior prestígio atualmente,
autora de diversos livros, entre eles A Coragem para Ser Rico, a ser lançado no ano que
vem pela editora Rocco (leia um trecho do livro na pág. 76). O mercado acionário
costuma ser um dos melhores testes para avaliar o lado emocional dos investidores. O
sobe-e-desce faz parte da dinâmica das bolsas, sujeitas a turbulências provocadas pela
variação de resultado das empresas e pelas expectativas de investidores em relação ao
desempenho econômico do Brasil e de outros países. Quem investe em ações sabe (ou
deveria saber) que bolsa não é o lugar apropriado para cardíacos. Mesmo assim, é
comum encontrar investidores que se desesperam nos piores momentos do mercado.
Agem de forma emocional e tiram o dinheiro justamente quando a ação chega ao seu
nível mais baixo, teoricamente o melhor momento para comprar. Se agissem
racionalmente, provavelmente manteriam seus investimentos até que passasse o pânico
e o cenário clareasse (faça o teste da pág. 28 para medir sua tolerância ao risco). "As
reações emocionais causadas pela perda são enormes e muitos investidores comuns não
conseguem suportá-las", diz William Eid Jr., professor de finanças da FGV de São
Paulo e coordenador do Centro de Estudos de Finanças da instituição. Pular de galho em
galho na tentativa de sempre acertar o melhor alvo também é uma atitude emocional. A
probabilidade de ser bem-sucedido é mínima - nem os experts costumam conseguir essa
proeza. De acordo com um estudo feito pela Corretora Souza Barros, uma das mais
tradicionais de São Paulo, o investidor assíduo, que aplica sempre, com consciência e
sob o império da razão, tem mais chance de se dar bem do que aquele que está sempre
em busca do melhor momento para entrar e sair do mercado. O levantamento da
corretora mostra que quem tivesse investido mensalmente numa carteira semelhante à
do índice Bovespa, que reflete o desempenho médio dos papéis mais negociados na
Bolsa de São Paulo, teria ganho 384,6% nos últimos 20 anos (em dólar). No mesmo
período, de acordo com o estudo, os investidores que tivessem procurado acertar os
momentos de baixa para comprar e de alta para vender teriam obtido um lucro bem
menor, de 284,9%. Obviamente, ser racional não significa ser omisso. Quem fica parado
é poste. Mas muita gente acaba por avaliar seus investimentos pelo que eles eram
quando foram feitos, e não pelo que valem hoje ou pelo seu potencial futuro de
valorização. E isso vale para tudo, não apenas para o mercado financeiro. Um prédio no
centro de São Paulo, por exemplo, poderia ser muito valioso nos anos 30, mas hoje, com
a desvalorização da região, é quase um mico. Mesmo assim, muitos proprietários de
escritórios na região central da cidade não se desfazem do imóvel por uma questão
sentimental, seja porque o receberam de herança, seja porque passaram boa parte de
suas vidas por lá. "As pessoas casam com o mau resultado para não admitir que
erraram", diz Ronaldo Magalhães, da Sul América Investimentos.
Desde pequeno, todo mundo aprendeu a evitar riscos. "Cuidado com o escorregador,
não brinque perto do carro", diziam e dizem as mamães. A lição começou em casa,
continuou na escola e entrou na vida das pessoas - a insegurança, o medo de trocar o
certo pelo duvidoso, ainda é muito forte para a maioria, principalmente na carreira e nos
assuntos relacionados a dinheiro. Não é raro encontrar quem se acomode numa posição
na qual o salário não parece bom e o trabalho não satisfaz. Afinal, para que arriscar? "É
difícil evoluir profissionalmente sem correr riscos", afirma o headhunter Guilherme
Velloso, diretor da PMC Amrop, uma das principais empresas de recrutamento do país.
"Na carreira, assim como nos investimentos, as grandes oportunidades embutem risco,
por isso as recompensas são maiores", diz Velloso. Com as aplicações financeiras não é
diferente. A maioria não suporta a idéia de investir suas economias e não tê-las de volta
integralmente. Uma máxima do mercado financeiro, no entanto, diz justamente que,
quanto maior for o risco de uma aplicação, maior a possibilidade de ganho.
"Essencialmente, toda decisão que nós tomamos é um risco, de uma forma ou de outra",
afirma o consultor econômico americano Peter L. Bernstein, autor do livro Desafio aos
Deuses: A Fascinante História do Risco (editora Campus), considerado o livro de
negócios mais inovador e criativo dos Estados Unidos em 1996. Em razão do que diz
Bernstein, talvez convenha aprender a gerenciar o risco, em vez de evitá-lo. No dia-a-
dia, já fazemos isso sem nos dar conta. Quando deixamos de ir a um caixa eletrônico à
noite, num lugar escuro, por exemplo, estamos minimizando o risco de ser assaltados.
Se não fizermos esportes radicais, também teremos menor probabilidade de morrer ou
de nos acidentar (toc, toc, toc). Que tal aplicar esse princípio para fazer a gestão de risco
de seus investimentos? Ao diversificar as suas aplicações, por exemplo, você poderá
diminuir o risco de ver o seu patrimônio minguar. "A idéia do gerenciamento de riscos é
não ser surpreendido", diz Bernstein. "Se estiver errado, não quero ser eliminado, quero
estar seguro de que vou sobreviver."