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ENCARTE ESPECIAL

Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20

mulher trabalhadora mãe profissional guerreira


estudante parteira josina ana paula juliana
ana leide ana lice conceição giselda carolina
denise lidiane luíza pedreira carpinteira
eletricista médica professora margarida
bela fêmea lavadeira jornalista escritora
aeromoça val amélia carmelita eva rosa
fortaleza simpatia arrojada simples humilde
batalhadora noêmia ariane nete cléia ana
mariana gentil corajosa vencedora protetora
anjo da guarda rainha do lar fada madrinha
advogada juíza promotora delegada
elizangela sensível sonhadora romântica
avó tia irmã prima amiga gostosa inteligente
dute maravilhosa formosa cheirosa
magra gorda lane maria clara feia branca
preta clara escura mulata índia amarela
parda linda dulcinéa karyne karen
fernanda karoline kauany beatriz
giovana assistente social conselheira
companheira janaina darci maria
evangelina moema regina elegante
única especial eterna luz esperança
maternidade carmela orieta assessora
publicitária maria sabrina jaqueline
nilza auxiliadora denilde maria josé
esmilda rossilda agricultora catadora
malenilce doméstica ducilene
caçadora patrícia priscila poliana
filha cozinheira policial salete
julieta liliane marlene sarah
elenira- siméia cámala raquel
eline raimunda giulliana gilcely luz
vida colo aconchego dadivosa
regiane fátima fotógrafa
alcidéa nílvia jamilsa websiter
webmaster angélica empresária
administradora executiva
marcenira nazaré delcides renata
laís marcela andréa lyslane raquel
vitória vitoriosa elizabete alice
thiely rosemeire cláudia
lisa dentista seringueira
castanheira adejane
maria ceci assistente
social religiosa evangélica
cantora poetisa ercília
antônia cheila flávia
teresa doutora competente
eliane exemplo emília aline
eunice fisioterapeuta deni
determinada modelo karmem elisa
perseverante fiel leninha aleuda lorena
deputada vereadora senadora governadora isabel

Para Laís, com todo nosso amor


2 Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20

Encarte Especial

O que as mulheres
comemoram no dia de hoje
Conquistas representam o incentivo necessário para a luta pelos direitos ainda não reconhecidos
Fotos regiclay saady
Lyslane Mendes e é por isso que não podemos
lysmendes@pagina20.com.br nos satisfazer com as conquistas

A
alcançadas”, argumenta.
s conquistas femi- Ela relata que, embora as
ninas comemoradas mulheres possuindo maior nível
no dia 8 de março de escolaridade que os homens,
são o marco da luta ainda não ocupam funções
de quase 100 anos das mulhe- compatíveis com sua formação,
res que buscam no dia-a-dia a além de terem remuneração
independência, a liberdade, a menor se comparada ao sexo
identidade própria, pela valori- oposto.
zação profissional e econômica. “As mulheres estão presen-
Por mais avanços conquistados tes nos mais variadores setores,
ao longo das últimas décadas, a porém, nos espaços de decisão
mulher segue enfrentando uma elas ainda são minoria. Nas deci-
série de constrangimentos e sões tanto no ponto de vista das
discriminações. O dia dedicado políticas públicas para mulheres
a elas também serve de incentivo como demais decisões sociais, os
para mantê-las firmes na luta pe- homens estão à frente. Elas con-
los direitos que ainda não foram tribuem expressivamente, mas
reconhecidos. a decisão é sempre masculina”,
Elas já alcançaram espaço no destaca.
mercado de trabalho, na política, De acordo com os relatos
assumiram poder em casa, na da assessora, a submissão ca-
sociedade, conquistaram direito racterizou a trajetória feminina
à educação, lazer e ao prazer e durante décadas. Sempre vistas
respondem pela exigência que es- como mães, esposas, donas de
sas conquistas implicam, sempre casa, eram criadas para cuidar de
buscando o equilíbrio sem perder esposos e filhos, deveriam viver
a feminilidade. unicamente por eles e para eles,
A assessora Especial da Mu- mas como a evolução da huma-
lher no Estado e vice-presidente nidade é constante, não poderia
do Conselho Estadual de Mulhe- ser diferente com os anseios
res, Leide Aquino, é militante do femininos.
movimento feminista há 22 anos “Não foi fácil chegar aonde
e diz que os avanços devem ser chegaram, foram muitas derro-
comemorados, mas não enca- tas, mas as vitórias prevaleceram
ramos com conformismo, pois e hoje não assumem somente as
ainda há muito a se conquistar mesmas funções de antes, como
na luta pela divisão igualitária também em alguns casos,elas to-
dos direitos. mam para si o papel do ‘homem
“O movimento feminista há da casa’, ocupando, inclusive,
muito não luta por uma causa cargos de chefia. Se antes eram
radical, da substituição do tra- identificadas pela submissão
balho ou atuação masculina por e dependência, agora a autos-
uma feminina. O que desejamos suficiência é a palavra perfeita
é uma divisão igual social de di- para definir a mulher moderna.
reito, já que de fato nunca será Queremos com isso provar para
possível porque as mulheres a sociedade que podemos contri-
possuem suas peculiaridades, buir para o desenvolvimento do
não podemos ignorar a natureza país em pé de igualdade com os
dos gêneros. Mas as imposições homens, nem mais nem menos,
culturais devem ser quebradas apenas igualmente”, enfatiza.

O movimento feminista há muito


não luta por uma causa radical, da
substituição do trabalho ou atuação
masculina por uma feminina
Leide Aquino tem uma história de luta de mais de 20 anos em defesa dos direitos femininos

História, avanços e conquistas


Oito de março foi declarado cia da atuação feminina para o com a manifestação o dono, man- ao Certificado de Pessoa Física femininos.
o dia em homenagem às mulhe- futuro da humanidade. dou atear fogo no local com as (CPF), onde poderia decidir suas “Já avançamos muito e muito
res depois de uma conferência A data foi escolhida para re- operárias no interior da fábrica. próprias vidas perante a lei. ainda tem que ser feito para que
realizada na Dinamarca, em lembrar o primeiro movimento Durante essa jornada de luta Além disso, conquistaram a tenhamos uma sociedade mais
1910. A partir disso, demais feminista da história realizado e reivindicações, as mulheres an- elaboração de um Plano Nacio- justa. Não lutamos somente por
países incorporaram o dia ao pelas operárias de uma fábrica tes tratadas como posse de seus nal de Políticas específicas para nós, mas por todos os grupos
calendário de datas oficiais, de tecido. Elas se reuniram no maridos, conquistaram o direito a mulheres, A lei Maria da Penha, excluídos e para que existam po-
formalizando a data como o interior da fábrica e organizaram educação, acesso as universidades As delegacias especializadas em líticas públicas diferenciadas, para
dia Internacional das Mulheres, um protesto para reivindicar de direito e medicina, antes só assunto da mulher e união entre que existe realmente um processo
como forma de reconhecimento melhores salários e condições de permitidas aos homens. Conquis- os grupos femininos que bus- efetivo de igualdade e cidadania”,
dos seus esforços e da importân- trabalho adequadas. Insatisfeito taram o direito ao voto direto, cam pela efetivação dos direitos enfatiza Leide Aquino.
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Encarte Especial
Os anseios e desejos da mulher moderna no novo milênio

O
Fotos regiclay saady
destaque alcançado com todos aqueles que buscam a
pelas mulheres na melhora conjunta para todos.
sociedade moderna “A mulher moderna tomou
vem despertando o para si as decisões de sua vida.
interesse de psicólogos, econo- Ela busca sua independência
mistas e da sociedade como um financeira, profissional e pessoal,
todo. Elas viraram alvo de teorias conquistou o direito de não ser
e especulações que caracterizam vista como posse masculina. A
seus comportamentos e suas mulher contemporânea quer ser
pretensões. livre e também quer casar, mas,
A psicóloga Viviane Aníbal, no momento que lhe convier fa-
que definiu sua atuação profis- zer”, enfatiza a psicóloga Viviane
sional para as questões ligadas Anibal.
ao universo feminino, defende Para ela, o novo espaço ocu-
que a mulher na sociedade atual pado pelas mulheres na sociedade
já tem tomado consciência de atual impõe às mulheres uma so-
sua tarefa no mundo político brecarga de atividades e esse nunca
em que está inserida. Nos dias foi o objetivo das reivindicações
atuais, ela participa cada vez mais femininas. “As mulheres buscam
nos movimentos políticos que por igualdade de direitos e deveres.
dizem respeito a suas questões, Buscamos dividir não somente o
em todos os aspectos possíveis, espaço no mercado de trabalho,
tais como ser vista como um ser mas também as atividades domés-
humano e não ser tratada como ticas. Não podemos ser iguais aos
um ser inferior. homens, pois temos limites físicos Psicóloga Viviane Aníbal disse que a mulher moderna busca o respeito
Ela argumenta que o mo- para isso. O que buscamos é igual-
vimento pela participação da dade social com respeito.” quantos parceiros terá ao longo Para ela, a classe feminina pelo controle da própria vida. “O
mulher na sociedade é antigo Viviane relata ainda suas de sua vida, sem ser apontada por conquistou um espaço no qual espaço conquistado pelas mulhe-
e precisa de mais esforço, para considerações sobre os anseios isso. Escolher quanto filhos vai as mulheres estão mais livres e res na sociedade atual, com um
que não exista o diferencial entre da mulher moderna. “A principal ter e em que momento, e poder mais atentas para as diferenças. dia dedicado a elas e aos assuntos
homem e mulher, mas que todos busca da mulher desse século é ainda optar por não ter filhos. Não buscam ocupar o lugar de de interesse delas, também deve
devem ser iguais como seres pelo respeito. Respeito pelo seu Isso é viver com liberdade social nenhum homem, mas decidir promover a reflexão para que ava-
humanos que pensam, que pro- corpo, do companheiro para po- e moral, isso é ser valorizada junto com eles; não quer com- liem as conquistas e os objetivos
duzem e que querem seu espaço der ter uma vida sem violência, como ser que pensa e que pode petir capacidades, mas divisão de para continuar lutando e cada vez
na sociedade moderna, para direitos sexuais e reprodutivos, tomar suas próprias decisões”, direitos e deveres. Elas lutam pela mais ter os homens como aliados
poder avançar conjuntamente onde a mulher poderá escolher argumenta. liberdade dos padrões estéticos e para essa evolução”, conclui.

Nossa homenagem às mulheres acrianas


Tião Vitor ou de infraestrutura. Acima de mais do que a experiência das gina 20 há menos de um ano e, Spock e Tiago Daniel e o aval

N
tudo, ele é o resultado de um redações, mas, principalmen- de lá para cá, vem mostrando-se nos textos foi dado pelo grande
a maioria das vezes, um esforço meu, pois, como editor, te, uma história de superação competente, responsável e uma revisor Beneilton Damasceno, a
bom salário satisfaz um tenho incentivado os colegas a e sucesso que a torna ímpar. profissional com um belo futuro quem todos reverenciamos como
jornalista. Mas o dinheiro buscar materiais diversificados Também se integrou Charlene pela frente. “Professor”.
não é suficiente para bons profis- para fugir do factual das pautas Carvalho, esta com uma atuação Esta edição, porém, não foi O resultado de todo esse
sionais. Eles buscam o bom texto, do dia-a-dia. em todas as áreas do jornalismo feita apenas por mulheres. Há trabalho está aqui publicado
a manchete da página principal, a O caderno surgiu a partir do acriano, da política à polícia, do três anos um jovem universitário, nesta edição especial. Trata-se
repercussão da matéria trabalhada trabalho de uma colaboradora, social ao cotidiano. concludente do curso Comuni- de uma homenagem do Página
e a certeza de que seu ofício está Lane Valle, que há poucos dias cação Social com habilitação em 20 às mães, às profissionais, às
contribuindo para a formação de se integrou à equipe do Página Publicidade pela Uninorte, tor- meninas e senhoras, às brancas
leitores ou para mudar uma reali- 20 produzindo textos es- nou-se colaborador do Pá- ou negras, ou seja, a todas as
dade deformadora da sociedade, pecíficos sobre a atua- gina 20. Whilley Araújo mulheres acrianas.
corrigir uma injustiça ou mesmo ção profissional das cresceu na qualidade Com ele, espero que eu e to-
contribuir para a melhoria da qua- mulheres acria- dos seus textos dos os meus colegas de redação
lidade de vida. Às vezes o salário nas. Os textos e ganhou des- estejamos contribuindo para
alto é até dispensável. de Lane Valle taque pelo declarar que homens e mulhe-
Como editor, tenho me man- foram publi- res são iguais, dentro das suas
tido longe da produção de textos. diferenças, e que são elas as que
Apenas vez por outra saio para tornam o mundo mais humano
a externa para produzir uma ou e mais belo.
outra matéria. Tenho me resumi- Caros amigos leitores. Con-
do mais a um ou outro artigo que cluir este texto e essa edição
publico aqui no Página 20 ou em especial é como receber um che-
um modesto blog que mantenho que polpudo em pagamento pela
na internet. Mas me rejubilo ao labuta mensal. Ver o resultado
ver o meu jornal produzindo nas bancas e o retorno positivo
bons textos e boas imagens. se igualam em satisfação ao rece-
Quando uma boa capa se desta- cados em uma material pro- bimento de uma grande mesada,
ca, encho-me de orgulho do meu curta série, sem- duzido. O me- em suma, é o gás que oxigena o
trabalho e quando o resultado pre nas edições de nino, novo ainda, sangue e que nos renova como
de uma boa matéria se define domingo, e tiveram com apenas 23 anos jornalistas e profissionais.
com um prêmio como o Chalub grande repercussão, prin- se mostrou determinado Por fim, este encarte é uma
Leite de Jornalismo, declaro-me cipalmente na versão on line a também contribuir com homenagem à menina Laís (foto),
o profissional mais realizado do do jornal, já que esta conta com essa homenagem às mulheres filha a colega Renata Brasileiro.
mundo, mesmo o texto vencedor a possibilidade da inserção de Poucos são os nomes tão co- e, portanto, assina os textos que Ela nasceu no dia 15 de feverei-
não tendo sido meu. comentários. Mulher e mãe, Lane nhecidos em uma área profissio- tratam das atividades esportivas ro de parto normal para fazer a
Na edição de hoje do Página soube com maestria, apesar da nal quanto o de Charlene. Falar deste caderno. As fotos levam o felicidade de uma família feliz.
20 está sendo veiculado mais um pouca experiência, traduzir um sobre ela e sobre sua competên- crédito de Regiclay Saady, um dos É para essa pequena mulher do
grande orgulho da minha carreira pouco do que é a mulher atual e cia é redundância. Seu nome qua- profissionais mais premiados do novo milênio que escrevemos,
profissional. Este caderno espe- sua atuação profissional. lifica uma edição especial como Estado. A diagramação e o traba- na esperança de que o mundo
cial dedicado à mulher é o resul- Para o caderno especial jun- esta. A mais jovem do grupo é lho de arte-final são de Wescley dela seja de igualdade e tolerância
tado de um esforço conjunto de tou-se inicialmente Val Sales, Lyslane Mendes. Recém-formada Camelo, competente e paciente entre homens e mulheres e com
uma equipe pequena, mas coesa grande profissional do jornalis- pela Universidade Federal do como ninguém. Ele recebeu o paz para todos.
e que não se dobra diante das mo com quase duas décadas de Acre (Ufac), a menina se integrou apoio de dois outros grandes
dificuldades da falta de recursos atuação. Val traz consigo muito perfeitamente à equipe do Pá- bons profissionais: Ronaldo * Editor-chefe
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Encarte Especial

O cheiro
doce da
história
de Arlete
Charlene Carvalho mente o professor Gerson Albu-

S
querque, um dos seus melhores
e você estudou na Uni- amigos - a quem conheceu aluno
versidade Federal do Acre recém-aprovado no curso de
nos últimos 30 anos, com História da Ufac - é muito mais
certeza conhece comprou que isso. “A Arlete ‘Cheiro Doce’
uma caneta, um chocolate, um está na instituição há mais de 30
amendoim ou - por que não? - um anos. É um verdadeiro e intocável
creme ou um perfume na banca patrimônio para todos nós”. Não
mais famosa do pedaço: Cheiro é formada na faculdade tradicio-
Doce, da Arlete. Acriana de Feijó nal, não tem diploma de bacharel
- nasceu no Jurupari -, Arlete tem mas é licenciada, com louvor, na
63 anos, 31 deles vividos na Ufac. universidade da vida.
Primeiro no antigo prédio da Facul- Neste Dia Internacional da
dade de Direito, no Centro, depois Mulher, nada melhor que conhe-
do campus universitário. Tempos di- cer um pouco melhor de Arlete
fíceis aqueles, quando vendia apenas Souza Lima, 63, essa figura emble-
bombom, chiclete e cigarro numa mática, mulher de fibra, batalha-
“banquinha de bribotes” dessas que dora e que construiu, sozinha, um
nem existem mais. legado de honra e dignidade como
Tomou assento ao lado do tantas mulheres espalhadas pelos
Diretório Central dos Estudan- 22 municípios acrianos e que em
tes (DCE) e está lá até hoje. datas como estas são sempre pre-
Nem uma força-tarefa federal teridas em detrimento de outras
conseguiu - se bem que tentou - - não menos merecedoras que ela
demovê-la de lá. de homenagens, é verdade - mais
Mas Arlete é maior que isso. lembradas por serem conhecidas
Como bem escreveu recente- do grande público.
sor da Ufac] me convidou para ir Apesar de ter desistido do preparava até chá para curar os
Como você chegou aqui tinha refrigerante, nem iogurte, com os alunos para um Jubs (as curso de História, não pensou porres deles depois do fim de
na Ufac? mas dei a eles uma boa educação. olimpíadas universitárias). Ele me em fazer outro? semana.
Cheguei em 1979. Meu ex- São ótimos filhos. Não me dão disse assim: ‘Arlete, nós vamos Eu passei por todos os cursos
marido já vendia na rua, daí eu trabalho. O mais novo se formou para o Maranhão, tu não tem daqui. Fiz um pouco de cada Os alunos de hoje mantêm
decidi colocar uma banca lá na em Geografia e Economia e uns parentes lá? Quer conhecer? um deles. Sou formada na uni- esse vínculo?
Ufac Centro, onde hoje é o Colé- agora tá terminando o mestrado. Então vem com a gente’. Viajei versidade da vida, mas estou na Não. Hoje tudo é muito
gio de Aplicação. Quando trans- Minha neta Débora esta semana com R$ 50 e fui e conheci meus Ufac há muito tempo. Passei por diferente. Os alunos são mais
feriram a universidade para cá, eu me deu um presente: passou no parentes. Mantenho contato com seis reitores. Alguns deles foram ausentes. Passam aí do lado, as
vim junto. Tô aqui até hoje. vestibular de Ciências Sociais. É eles até hoje. Nas últimas férias estudantes e depois viraram reito- vezes compram alguma coisa,
a terceira geração da família na fui lá visitá-los. res, como é o caso do Carlitinho conversam, mas não é mais
Naquela época o campus Ufac. Somos uma família forte. (Carlito Cavalcanti, professor como era antes. Tudo mudou.
era muito longe da cidade... Não tenho do que reclamar. Tanto tempo na Ufac ga- de Economia e ex-reitor) e do Mas continuo conhecendo de
É verdade. Era tudo muito rante muitas histórias para Jonas (Jonas Filho, professor de tudo aqui. Conheço do vigilante
longe, mas não me Como é criar os contar? paleontologia e reitor por dois à reitora e me dou bem com
arrependo. Antes filhos, educá-los e Sou do tempo da Marina mandatos). Fiz muitos amigos todo mundo.
de ter a banca na
Ufac eu costurava Criei
meus filhos passar tanto tempo (senadora Marina Silva) do
Marcos Afonso (ex-deputado
entre professores, reitores e pró-
reitores. E, sabe qual a diferença? E a banca, ela continuará
bem criados com
no trabalho, já que
e lavava roupa para você fica aqui até federal e articulista do Página Eles, os alunos, se formaram, fo- fechada?
fora. Fiz muitos os recursos tarde? 20), do Taboada, da Gisela, do ram embora e eu fiquei. A banca Eu tô aqui, tô esperando os
aqui da banca.
amigos aqui. Valeu Não é fácil, mas Carioca, do Gerson, da Salete é o meu mundo. Meus amigos documentos. Tantos anos aqui
Maia. Fiz muitos amigos aqui. O estão aqui. Aqui eu sei de tudo e nunca incomodei ninguém,
a pena. o
Era um temp - Hoje meus filhos
a gente dá um jeito.
Gerson é um grande amigo. O e as pessoas vêm sempre aqui nunca tive necessidade. A tur-
Tantos anos de d if ícil. Criei to estão criados, já Marcos Afonso também. Mui- me ver. ma do DCE me deixou ficar
dos num berço só orgulho do meu
Ufac e nunca se tenho netos. Me tos deles continuam vindo aqui aqui e eu fui ficando. Fiquei.
formou? até hoje. Outros moram fora É verdade que você foi ma- Quando teve esse problema,
Pois é. Eu prestei trabalho, de tê- e quando posso vou lá vê-los. drinha de muitos alunos? me chamaram lá na reitoria,
vestibular para Histó- los criado com o meu São muitas histórias. Aqui eu já É verdade. Eles (os alunos) pediram desculpas, me abra-
ria, uma vez. Tava decidida a fazer trabalho aqui na Ufac. Não posso ouvi de tudo. viviam aqui. Jogavam bola e çaram e foi quando se iniciou
o curso, mas quando olhei para reclamar. deixavam as coisas aqui, con- o processo da papelada para
os meus quatro filhos pequenos, Que tipo de histórias? versavam, conviviam muito. eu ter o documento, o alvará
decidi que precisava cuidar deles, É verdade que você en- De todo tipo: mulher que Fui madrinha de muitos deles. de funcionamento. Não tenho
aí desisti do curso. controu parentes seus no brigava com o marido, vinha aqui, Ia lá na formatura e entregava intenção de sair daqui. Gosto
Maranhão graças aos alunos conversava, pedia opinião e eu o diploma, o anel de forma- do que faço. Como disse, a
Foi uma decisão difícil da Ufac? dava, gente querendo namorar, tura, principalmente daqueles banca é o meu mundo. Eu fui a
abrir mão da própria educação É verdade, sim. Eu sempre todo o tipo. Tenho uma amiga cujas mães moravam fora e não uma audiência lá no Ministério
para criar os filhos? viajava com os alunos nos con- que fez Enfermagem aqui. Tinha podiam vir para a formatura. Público. O moço disse que eu
Acho que não. Criei meus gressos. Não tinha dinheiro, mas dois filhos e estudava o dia todo. Fui madrinha do Pacífico (ex- tinha direito a uma indeniza-
filhos bem criados com os re- eles sempre me chamavam e eu Eu ficava com as crianças para ela deputado Manoel Pacífico, hoje ção. Eu não quero. Quero viver
cursos aqui da banca. Era um ia, com ou sem dinheiro. Um estudar. Somos amigas até hoje. assessor do deputado federal do meu trabalho. Aqui tenho
tempo difícil. Criei todos num dia, o Gerson [Albuquerque, ex- Ela mora em Brasília, mas nunca Nilson Mourão), viajava com meus amigos, uma verdadeira
berço só. Naquele tempo não presidente do DCE, hoje profes- perdemos o contato. os alunos para os congressos, família. Sou feliz assim.
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Encarte Especial

Vó Adriana comemora cem anos de fé e amor ao próximo


D
eitada na rede, no como rezadeira se iniciou no se- de crianças, vendeu verdura de que minha mãe sempre em suas ços, a gente avisa que ela não
pequeno quarto ringal Antimari, onde ela morava porta em porta, doces, refresco e rezas, explicava para as pessoas ta mais rezando por conta da
ventilado pelo ar com os pais, oito irmãos e com trabalhou de domestica, parteira, que quem curava não era ela e idade avançada. Mas as pessoas
que entra pela janela sua madrinha de fogueira, dona além de rezar nos enfermos. sim, Deus. Sempre tive admiração sempre insistem então apresen-
do humilde ambiente, Adriana da Maria, de quem a vó Adriana e Hoje suas experiências já não pela fé dela, que acredito que foi tamos a criança à minha mãe,
Silva do Nascimento vê o tempo mais dois irmãos herdaram o saem de sua boa, como uma es- um dom que ela soube usar muito Ela entende o que é pra ser feito
passar. Ouve muito pouco e fala ofício. Sempre muito religiosa pécie de porta voz sua filha, Ma- bem durante os seus longos anos e estende a mão a mim, para que
menos ainda. A mulher conhe- ela começou a benzer as pessoas ria do Carmo de Almeida, relata de vida, por isso foi presenteada eu pegue um raminho verde, de
cida pelo ofício de rezar para com 12 anos e mantém o que ela com o orgulho estampado nos com vida longa e feliz”, relata. preferência vassourinha, concen-
quebranto e ventre caído, entre chama de ‘dom’ até hoje. olhos, a história da rezadeira mais Ela diz que herdou da mãe a trada, começa a rezar baixinho e
outros males, acaba de comple- Casou jovem e enviuvou mais famosa de Rio Branco, que agora força de vontade e a fé para não esquece do tempo. Aí tenho que
tar 100 anos. A centenária é um cedo ainda. Desde então deve que reza calada e com olhar fixo ao se limitar as barreiras da vida, lhe dá um beijinho na testa e re-
exemplo de mulher que teve for- trabalhar muito para sustentar céu, como se conversasse direto que hoje também viúva retribui tirar a criança de seus braços com
ça de vontade e não se prendeu os quatro filhos, dos quais ape- e intimamente com Deus. todo carinho e atenção que a mãe carinho, se não fizer isso acredito
às amarras do preconceito para nas dois são vivos e lhe fazem “Apesar da idade ela mantém a lhe dedicou. “Nunca nos faltou que ela passaria a tarde inteira
realizar seu trabalho, mesmo companhia. Ela cortou seringa, lucidez e recebe sempre com um nada, ela sempre trabalhou duro, conversando com Deus pela saú-
tendo ficado viúva tão jovem. carregou ouriço de castanha, sorriso, aqueles que ainda buscam fosse ao sol ou no serviço pesa- de daquela criança”, relata.
O trabalho de dona Adriana lavou roupa para fora, cuidou por suas palavras de fé. Lembro do ela nunca fez corpo mole ou A centenária já benzeu gran-
encarou qualquer oportunidade de parte da população de Rio
como algo que ela não pudesse Branco, com isso conquistou
realizar. Sua humanidade sempre a amizade e o respeito de ilus-
foi admirável, por quantas vezes tres personalidades do Estado.
vi minha mãe abrigando pessoas “Nossa casa sempre esteve cheia
em nossa casa, mesmo estando de visitas, quando as pessoas
desempregada, mas ela sempre não vinham em busca da reza,
dava um jeito, e tudo se ajeitava”, vinham agradecer as palavras de
conta a filha carinhosa sob o fé. Acho que recebíamos cerca de
olhar atento da mãe. 40 pessoas por dia, com ela não
Vó Adriana, que dedicou tinha hora certa, quando chegava
maior parte de seu tempo ao alguém ela sempre parava o que
longo de sua vida às pessoas que estivesse fazendo para atender
a procuravam em busca de rezas, aquela pessoa aflita. E ela não
geralmente mães com bebês, vive fazia descriminação de classe
hoje cercada pelo carinho dos ou idade, sempre dava a mesma
dois filhos, dos quatro netos, dos importância e atenção para todos
seis bisnetos, três tataranetos e os que a procuravam. Recebemos
dos poucos amigos que ainda aqui do senador ao varredor de
visitam a benzedeira em busca rua e nunca a vi aceitar nenhum
de suas palavras de fé, que agora pagamento por isso. Minha mãe
reza por instinto. sempre dizia que nunca ia cobrar
“Se chega uma mãe aflita pelas palavras de Deus”, pontua.
Dona Adriana vive há mais de um século se dedicando a ajudar o próximo com o filho doente nos bra- (Lyslane Mendes)

Eu acredito no potencial
das mulheres do Acre.
Parabéns pelo seu dia!
8 de Março - Dia Internacional da Mulher
Roberto da Princezinha
6 Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20

EncarteEspecial

Supremacia masculina no mercado de trabalho


Lane Valle trancadas dentro da fábrica, que foi in-
colaboradora cendiada, e cerca de 130 delas morreram

N
carbonizadas.
as cavernas, contam A história também registra que apenas
que elas tinham du- em 1910, durante uma conferência na Di-
pla missão na vida: namarca, ficou decidido que o 8 de março
alimentar as crias e seria considerado o “Dia Internacional
olhar em volta para protegê-las dos da Mulher”, em homenagem exatamente
possíveis predadores. Por isso, sua visão de àquelas que morreram na fábrica em 1857.
mundo se ampliou e elas passaram Como tudo que resulta em conquistas
a orientar os próprios homens para as mulheres é lento, somente no
para as adversidades da vida. ano de 1975, por meio de um decreto, a
Ana corre atrás dos Assim eram as mulheres data foi oficializada pela Organização das
seus sonhos em cima nos primeiros tempos. Depois, Nações Unidas (ONU).
de sua moto elas só se aprimoraram a passaram a Na vida das mulheres brasileiras,
ocupar todos os lugares antes ocupados muitas já foram as conquistas sacramen-
apenas pelos homens. Saíram de casa e tadas, entre elas o direito obtido em 1932
invadiram as fábricas, o comércio, a agri- de votarem e ser votadas, o que já lhes
cultura, os serviços e até a política, garantiu espaço considerável na política,
onde já colocam em prática sua vi- embora sejam ainda insatisfatórios os
são globalizada das coisas, obtendo percentuais de sua participação nesse
soluções simples, objetivas e comple- setor imprescindível e essencial para as
tas, tais quais aquelas que a natureza lhes mudanças do mundo.
proveu para amar e defender a vida. As conquistas também chegam às mu-
Mas nem tudo foi de graça na vida das lheres acrianas. Hoje muitas delas têm de
mulheres, que lutam sempre, não medem prover sozinhas a sobrevivência dos filhos
esforços e até perdem a própria vida no deixados para trás por pais irresponsáveis
avanço de seus direitos nas favelas, nas vilas, e sem compromisso com a família. Nas
nos seringais e nas pequenas, médias e gran- cidades, elas já são políticas, advogadas,
des cidades do mundo. E não foram poucos jornalistas, médicas, engenheiras, policiais,
os fatos que elas viveram para conquistar entre outras profissionais. E não param
o seu Dia Internacional, comemorado e de ocupar novos lugares no mercado de
festejado hoje em todo o planeta. trabalho.
O Dia Internacional da Mulher Um exemplo de superação e coragem
foi instituído em 1910 em alusão para encarar profissões não habituais está
ao trágico episódio envolvendo na vendedora de churros Maria Vilma, 52,
mulheres operárias nos Estados que tem uma árdua rotina de trabalho.
Unidos. Era 8 de março de 1857 Sozinha, ela sustenta as três filhas e duas
quando operárias de uma fábrica netas com a venda de churros no centro
de tecidos, situada na cidade de da cidade.
Nova York, começaram uma “Não é fácil exercer o trabalho que
grande greve. faço, passo o dia inteiro no sol quente, no
Elas ocuparam a fábrica final do dia tenho que guardar o carrinho
e começaram a reivindicar que é muito pesado de empurrar. Traba-
melhores condições de lhar fora de casa não é uma opção para
trabalho. Lutavam pela muitas mulheres, é uma questão de neces-
redução na carga diária de sidade! Estou há doze anos trabalhando
trabalho para dez horas na rua com meu carrinho, faça sol ou
(as fábricas exigiam 16 chuva não deixo de vir, pois é daqui que
horas), equiparação de retiro o sustento da minha família.”
salários com os homens Maria do Carmo é mais uma entre
(chegavam a receber tantas guerreiras que no anonimato fazem
até um terço do salário brilhar lindas historias de superação. Pico-
deles) e pelo tratamen- lezeira há mais de quatro anos, ela trilha
to digno dentro do na cidade um percurso de sobrevivência
ambiente de trabalho. nas ruas de Rio Branco.
A manifestação das Segundo a psicóloga Mariana Cane-
operárias foi reprimi- sin, do departamento de mobilização
da com uma violência do trabalho, da Secretaria de Estudo e
inominável. Elas foram Desenvolvimento de Ciência e Tecnolo-
Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20 7

EncarteEspecial

já era! As mulheres conquistaram o direito de igualdade entre as profissões


com uma cultura de que a mulher baixa remuneração. Conforme a
servia apenas para atividades pesquisa, as mulheres que assu-
domésticas, maridos e criação mem cargos de comando ou che-
dos filhos ainda não foram to- fia são minoria hoje no Acre.
talmente extintos na sociedade. A atual realidade não perde
As mulheres não estão sendo o mérito do reconhecimento
mais submissas aos homens, das mulheres que conquistaram
estão superando os obstáculos e o direito, ainda que desigual, de
hoje fazem parte, ainda que , de “igualdade”. A Constituição Fe-
espaços executivos em grandes deral determina que “todos são
empresas. iguais perante a lei”, mas a discri-
Infelizmente, o mesmo não minação ainda ultrapassa os limi-
acontece no interior do Estado, tes da Lei, atingindo os diferentes
na floresta, onde as índias, as âmbitos sociais. É necessário ter
seringueiras, as ribeirinhas, as o olhar mais sensível as lutas e
agricultoras, entre outras, assu- conquistas femininas, ter mais
mem funções ainda secundárias respeito e menos preconceito,
em relação aos homens. pois essa conquista no mercado
A última pesquisa realiza- de trabalho não anulou o papel
da pelo Instituto Brasileiro de delas na maternidade nem com a
Geografia e Estatística (IBGE) responsabilidade do lar.
comprovou que, em cada 130 Hoje, várias Marias, Margari-
mil mulheres empregadas hoje das ou não, muitas já têm o que
no Acre, apenas 59 mil delas comemorar, pois ao longo da
são remuneradas - 17 mil são histórias têm procurado novas
trabalhadoras domésticas, 14 mil formas de estar inseridas na so-
são autônomas e apenas duas mil ciedade, embora a maioria delas
mulheres ativas, que hoje no mer- ainda enfrente o preconceito e a
cado de trabalho exercem o cargo discriminação que as fazem so-
de empregadoras. Ou seja, as que frer com salários baixos, violên-
geram empregos no Estado. cia masculina, jornada excessiva
A pesquisa apontou também de trabalho e desvantagens em
que as mulheres aumentaram suas carreiras profissionais.
sua participação no mercado
de trabalho, acumularam mais
anos de estudo e ainda assim a
remuneração é menor - cerca de
30% comparada à dos homens.
Segundo o IBGE, a desigualdade
de salário decorre da inserção da
mulher no mercado de trabalho.
pois elas em sua maioria assumem
serviços menos qualificados e de

Serviço pesado não é mais barreira para a mulher no mercado de trabalho

gia (SDCT), as mulheres já estão foram capazes de redesenhar o mulher precisa trabalhar, porque
inseridas no mercado de trabalho itinerário da vida humana. Hoje tem que criar os filhos, porque
e muitas vezes assumem a função elas estão se equiparando aos são separadas, porque seus pais
do homem, não para se igualarem homens, não digo que seja pelo não tiveram condições de dar
a eles, mais pela necessidade de simples fato de competir, porque um estudo melhor e elas tiveram
trabalhar, exercendo ou não car- a mulher não está disputando que correr atrás para garantir Maria
gos masculinos. setores para ganhar do homem, o sustento da família”, ressalta do Carmo
“A mulheres do Norte são ela está competindo de igual para Mariana Canesin. adoça a
mais sofridas, mais guerreiras, igual pela mesma competência Conquistar esse espaço no vida dos
em especial as acrianas, sejam que possui. Não é uma questão de mercado de trabalho não foi tare- clientes com
elas seringueiras, camponesas, ‘guerrinha dos sexos’, é uma luta fa fácil de conseguir ao longo dos seu sorvetes
indígenas ou ribeirinhas, pois pela sobrevivência. Sendo que a anos, pois os desafios de romper
8 Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20

Encarte Especial

Determinação e disciplina
WHILLEY ARAÚJO de Educação Física Roselane vida para se tornarem pessoas
Colaborador Alves Jardim, 43, têm em comum realizadas.

A
uma grande determinação e força Conheça a seguir os caminhos
lém da paixão pelo es- de vontade. Elas enfrentaram que cada uma delas trilhou para
porte, a professora de uma série de dificuldades para alcançar seus objetivos, além
Educação Física pós- seguir a carreira no esporte e dos novos sonhos que passam
graduada Lucineide com bastante esforço consegui- a existir após cada obstáculo
Maria Martins, 36, e a acadêmica ram driblar as dificuldades da superado.

Paixão pelas artes marciais


Lucineide Maria Martins, sofria com a escassez de ativida- tras pessoas, independentemente
mais conhecida por Neide, desde des esportivas e não contava com de sexo. Por conta disso sempre
criança tinha como sonho pra- professores que ensinassem artes treinei pensando em ser uma das
ticar artes marciais. A primeira marciais na cidade. melhores, e para isso me dedi-
oportunidade surgiu há apro- Dessa forma, ela se deslocava, quei extremamente”, comenta a
ximadamente 14 anos, quando mesmo nos dias em que não havia professora.
ela era acadêmica do curso de aula na universidade (e também Ainda no ano de 2000, após
Educação Física da Universidade após a conclusão do curso de conseguir resultados importantes
Federal no Acre (Ufac). Educação Física), para Rio Bran- em sua modalidade, Neide reali-
A convite de uma colega, co a fim de dar continuidade ao zou um outro sonho. Já formada,
Neide foi assistir a uma aula de aprendizado de kung fu. “Quan- tanto em Educação Física como
kung fu no Ginásio do Sesi e logo do não dava para vir de ônibus eu em kung fu, abriu uma escolinha
percebeu que era aquilo que ela arranjava uma bicicleta. Depois de kung fu no Bujari, com apoio
queria fazer pelo restante da vida. adquiri uma moto, ou seja, eu da prefeitura local.
Apesar da certeza, não hesitou de dava um jeito, mas nunca perdi “Levei a proposta à prefeitura
logo em seguida conhecer outras uma aula de kung fu.”. e foi aprovada. Então divulgamos
modalidades de luta, como judô, Depois de um período de e abrimos as inscrições. Cerca
jiu-jitsu, kickboxer e outros. “Foi dedicação ao esporte, Neide de 80 alunos se inscreveram. O
no kung fu que encontrei meu começou a ver seu esforço ser número foi alto, por conta da dis-
desejo, foi amor à primeira vista”, recompensado com títulos. Ela tância com relação a Rio Branco.
assegura. venceu três campeonatos estadu- Assim, uni o útil ao agradável e a Neide realizou o sonho de praticar artes marciais
Desde aquela época, Lucinei- ais seguidos na categoria combate idéia deu certo, já que queríamos
de morava no Bujari e vinha todos (1997, 1998 e 1999) e outros dois formar atletas capazes de compe- competir profissionalmente em seletivas regionais para disputar
os dias à capital para estudar na estaduais (2000 e 2001) na cate- tir em nível nacional, internacio- função de problemas na coluna. o Campeonato Brasileiro, que
universidade, já que não existiam goria luta combinada. nal e mundial. Hoje tenho dois Mesmo assim não desanima. Ela será realizado aqui mesmo em
núcleos de instituições de ensi- “Primeiro, por ser mulher, atletas que participaram do Brasi- faz fisioterapia e diz que ainda Rio Branco, possivelmente em
no superior em sua terra natal. sempre quis mostrar e provar leiro e obtiveram bons resultados tem um sonho para realizar como setembro.” Alguém duvida de
Assim como a falta de estrutura para mim mesma que eu tinha nas disputas”, ressalta. atleta. “Quero voltar a competir que Neide será uma das lutadoras
educacional, o município também capacidade semelhante à de ou- Há dois anos a atleta parou de este ano e me credenciar nas acrianas na competição?
Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20 9

Encarte Especial

Correndo atrás dos objetivos


C
onhecida por grande parte da população acriana tanto pelos feitos obtidos como atleta como
pela realização de eventos esportivos, Roselane Alves Jardim enfrentou muitas dificuldades
na vida desde criança. Natural de Santa Maria do Suaçui, interior de Minas Gerais, aos nove
anos de idade ela já andava aproximadamente 12 quilômetros por dia para se deslocar da
colônia de seus familiares até a escola.
Ela diz que sempre gostou de praticar esporte e nos primeiros anos de colegial já figurava entre
as integrantes do time de voleibol do centro de ensino. Na época, Roselane e os demais alunos foram
convidados para participar de um evento de atletismo promovido pelo Sesc, oportunidade em que o
talento da corredora começou a despontar.
“Nesse primeiro campeonato venci todas as provas que disputei e a partir de então comecei a treinar
atletismo. Um mês depois consegui índice para os Jogos Escolares, participei de um revezamento e
também competi em um Campeonato Brasileiro Juvenil”, lembra Roselane.
Apesar do talento para o atletismo, ela conta que sempre gostou muito da cidade onde nasceu e,
após concluir o ensino médio, voltou e montou uma clínica de estética e consequentemente aban-
donou o esporte por um tempo.
Isso evitou que a atleta se destacasse nacionalmente, ainda mais depois de
“chutar o balde de vez” e se casar. Posteriormente, ainda morou em Rondônia
até chegar ao Acre, há mais de dez anos.
Desde que começou a praticar esportes, Roselane sempre teve o sonho
de se formar em educação física, mesmo tendo ciência de que a profissão
não era tão bem remunerada como outras. No entanto, o curto tempo
era tido como um empecilho para ingressar na universidade.
Enquanto se dedicava exclusivamente ao atletismo, Roselane con-
quistou vários campeonatos regionais e se credenciou a participar de
quatro corridas de São Silvestre, uma das provas mais importantes da
América do Sul. Em sua última participação no evento, obteve o 37º
lugar representando o Acre, feito que nenhum outro atleta do Estado
conseguiu alcançar até hoje.
A atleta também se destaca na promoção de corridas para crianças,
jovens, deficientes físicos e visuais e principalmente na realização de even-
tos esportivos voltados para pessoas de bairros carentes de Rio Branco.
Nessas atividades ela costuma fazer de tudo - inclusive colher inscrições -,
contando com alguns apoios que consegue.
Há quase quatro anos a atleta decidiu iniciar um de seus maiores sonhos e
ingressou em um curso de Educação Física em uma universidade local. Mesmo
com um filho de pouco de mais de um ano, ela sai de casa todos os dias cedo
da manhã em sua bicicleta em direção à faculdade, onde permanece até 11 ho-
ras. Em seguida retorna para casa e às 13 horas pega sua “magrela” novamente
para ir ao trabalho. Essa rotina é praticamente diária. No trajeto de ida e volta à
faculdade e ao trabalho, ela pedala pelo menos 30 quilômetros.
“É uma maratona diária, enfrentando sol e chuva e por isso não estou promo-
vendo corridas atualmente pela falta de tempo, o ano está apertado. Mas vou voltar
a fazer isso e ainda tenho um sonho como esportista, mas prefiro não revelar agora.
Só peço a Deus saúde para fazer minhas atividades, já que sempre trabalhei pensando
em superar meus limites e não outros atletas”, ressalta Roselane.
A esportista, que concorreu a uma eleição para vereadora em 2004 e acabou sendo
derrotada após realizar uma campanha humilde, vai terminar o curso de Educação
Física no fim de 2009. “Após esse curso, que é um verdadeiro sonho, espero ter con-
dições de um dia, quem sabe, conseguir sucesso em alguma eleição, se for da vontade
de Deus, e assim poder fazer ainda mais pelo esporte”, afirma. (Whilley Araújo)

Roselane é uma mulher


moderna que não desanima
diante das adversidades e está
sempre em busca de superar
os próprios limites
10 Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20

Encarte Especial

Violência contra a mulher


Rigor da Lei Maria da Penha não alivia a violência institucionalizada na cultura da posse
Val Sales
valsales@página20.com.br

brutalidade conti-
nua.” A frase bem
que poderia dar
nome a um filme
de ação e terror. Mas ela traduz a
violência contra a mulher na vida
real. Uma modalidade de crime
silencioso que continua se repe-
tindo no interior dos domicílios
e sendo “amparada” pela cultura
de posse dos maridos sobre as
companheiras.
A Lei Maria da Penha, cria-
da no Brasil em setembro de
2006, abriu perspectiva para
novos horizontes quando pas-
sou a tratar a violência contra a
mulher como crime hediondo,
ao mesmo tempo em que obri-
gou o Estado a tomar para si a
defesa delas. Em contraparti-
da, uma vez que a ocorrência
se torne pública, isto é, que o
fato seja levado à delegacia, a
vítima perde o direito de voltar
atrás na denúncia, que passa a
ser representada pela Justiça.
A severidade da legislação
ainda divide opiniões na socie-
dade - uns criticam a falta de
opção das mulheres e outros a
tratam como rígida demais ao
abolir a possibi-
lidade de acordo Justiça se
entre as partes: modernizou para
a que apanha e a atender as demandas
que bate. da mulher
Apesar da po-
lêmica, a maioria
das titulares da Delegacia Es-
pecializada da Mulher afirma
que a implantação da lei (sem elas, foi o crescimento dos aumentou. O que ocorreu é que De acordo com a delegada, elas pelo distrito. “É claro que
desprezar sua necessidade e registros feitos pelas vítimas, antes muitas vítimas não procu- tendo aumentado a procura por necessitamos de bem mais, po-
mérito) não fez diminuir o ín- que, contando com o amparo da ravam a delegacia”, enfatiza a parte das mulheres que optaram rém, muita coisa já mudou, até
dice de violência, também não nova lei, quebraram o silêncio titular da Delegacia da Mulher por quebrar o silêncio, assim porque a lei nos fornece mais
a fez aumentar. e passaram a denunciar seus no Acre, Mardhia El-Shawwa também melhorou a qualidade ferramentas de garantia de am-
O que ocorreu, segundo agressores. “A violência não Pereira. do atendimento oferecido a paro às vitimas.”

O medo impediu que o socorro Castigo para todas as


chegasse a tempo formas de violência
Márdhia El-Shawwa Pereira é de a Lei Maria da Penha entrar delegada. O segundo caso citado Antes da implantação da Lei para o juizado, hoje inúmeras
a delegada mais nova da Polícia em vigor. por Márdhia El-Shawwa envolve Maria da Penha, a mulher podia medidas de proteção podem
Civil do Acre, mas em seis anos O primeiro fato, segundo ela, uma jovem de 18 anos, também optar pelo que queria fazer no ser requisitadas pela autoridade
de profissão ela destaca alguns foi levado à delegacia em um dia vítima de agressão por parte do caso de lesão praticada pelo policial. Essas medidas vão des-
casos que demonstram o recuo de de domingo. O agressor era um companheiro e que optou por não companheiro. Se ela não qui- de o afastamento do agressor,
muitas mulheres que, por motivos mototaxista e estava preso por ter abrir processo contra ele. sesse dar prosseguimento, ele à proibição de contato com a
diversos, ainda optam por manter espancado a companheira. Mesmo “Na época não seria autua- vítima e os encaminhamentos
a defesa dos maridos agressores, com os hematomas expostos no ambos assinaram do. “Atualmente, para a juíza, a assistente social
mesmo correndo o risco de rosto e em outras partes do corpo, apenas um termo “Em um dos casos apenas o crime ou assessoria jurídica.
morte. As alegações vão desde a mulher não quis abrir processo de compromisso. que chegou a esta de ameaça conti- “A lei diz que, a partir do mo-
o amor que sentem por eles, os contra o marido, que foi liberado Em menos de uma
filhos, à dependência financeira e em seguida. Dois dias depois ele semana ele deu vá- delegacia, a mulher nua dependendo
d a vo n t a d e d a
mento em que a violência contra
a mulher passa a ser vista como
à pressão familiar. deu um tiro no pescoço dela no rias facadas nela se arrependeu de ter vítima de fazer um problema social, de saúde
“Em um dos casos que che- bairro Sobral. Ferida, a mulher e a estuprou. Fui denunciado o agressor ou não a repre- pública e com altos índices, a
gou a esta delegacia, a mulher se ainda conseguiu ligar para o 190 e vê-la no pronto-
arrependeu de ter denunciado pedir socorro, dizendo que havia socorro. A violên- e disse que preferia sentação contra
o a g r e s s o r. S e
mulher passa a não ter condições
de responder por si e o Estado
o agressor e disse que preferia acabado de receber um tiro, mas cia foi tanta que pagar o preço por ele” ela não quiser, a assume essa responsabilidade.
pagar o preço por ele”, lembra não resistiu e morreu. ela não conseguia gente não pode Nesse sentido, ao tomarmos
Márdhia El-Shawwa. A delega- “Fiquei chocada porque em a b r i r o s o l h o s. obrigar”, sinteti- conhecimento do crime, seja de
da ressalta algumas ocorrências menos de uma semana ela havia Essa moça, graças a Deus, não za Márdhia El-Shawwa. lesão corporal de natureza grave
brutais que ficaram marcadas em estado aqui comigo e não quis morreu, mas revela ainda um A delegada lembra que, ao ou leve, damos prosseguimento
sua carreira como profissional de levar à frente uma representação índice preocupante da violên- contrário do que ocorria em ao caso, independentemente da
polícia e como mulher. Ambos contra o agressor. Era a quarta vez cia causada por quem a deveria anos atrás, quando o distrito vontade da vítima”, garante a
os registros foram feitos antes que ele batia nela”, acrescenta a proteger”, enfatiza. apenas encaminhava as vítimas delegada.
Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20 11

Encarte Especial
Perfil da violência Agradeço por ser mulher
Do ponto de vista da delegada
Márdhia El-Shawwa, a origem da Agrada-me que digam que sou do e minhas mãos aprenderam
violência no Acre pode ser carac- histérica, porque então posso jogar a ser mais exatas que as de um
terizada pela sociedade machista os pratos na cabeça de quem me cirurgião.
constituída desde a colonização. causa sofrimento. Ceifei o trigo e colhi o milho,
Partindo desse princípio, o ho- Gosto que me chamem de porém me roubaram a comida e
mem enxerga a mulher como pro- bruxa, porque então posso mudar a com fome aprendi a viver.
priedade e acha que pode bater na direção dos ventos a meu favor. Sacrificaram-me aos deuses e
companheira por motivos fúteis. Gosto que me chamem de aos homens, e voltei a viver.
A problemática do uso do demônio, porque posso queimar Espancaram-me e perdi os
álcool e das drogas é citada como o leito onde me abusam. dentes, e voltei a viver.
sendo um ativador explosivo na Gosto que me chamem de Assassinaram-me e me ultraja-
elevação dos índices de agressão. puta, porque então posso fazer ram, e voltei a viver.
“Acredito que os índices somente amor com quem me dá vontade. Arrancaram de mim meus fi-
serão reduzidos quando diminuir Gosto que digam que sou lhos e, no pranto, voltei à vida.
a clientela de usuários dessas frágil, porque me lembram que a Agradeço por ser um animal,
substâncias. Mas, para isso, é união faz a força. porque os homens colocaram
preciso que haja uma mudança Gosto que digam que sou em perigo à sobrevivência do
de comportamento provocada fofoqueira, porque nada do que é planeta.
pela educação”, acentua. humano me será alheio. Agradeço por ser mulher por-
Para ela, a transformação teria Porém, o que mais agradeço, o que o homem não é o centro do
que envolver tanto os homens que mais me agrada, o que eu mais universo, e sim apenas mais um elo
que ainda desenvolvem a cultu- gosto e o que me faz mais feliz é perdido na cadeia da vida.
ra da posse quando as próprias que me digam que sou louca, por- Agradeço que me digam que
mulheres, que em virtude dos que então nenhuma liberdade me sou irracional, porque a razão
maus-tratos acabam perdendo a será negada. tem conduzido aos piores atos de
autoestima. “Alguns homens che- Agrada-me saber que meu barbárie.
gam a ponto de ver uma mulher cérebro é menor que o cérebro do Agradeço por não ter inven-
na rua e dizer para sua parceira, homem, porque então meu cérebro tado a tecnologia, porque ela tem
por exemplo, que a outra é que cabe em todos os lugares. envenenado a água e o ozônio.
é ‘gostosa’ e ela não. Isso não é Agrada-me que me digam que Agradeço que me tenham
normal.” careço de lógica, porque então colocado mais perto da natureza,
MÁrdhia El-Shawwa critica o uso do álcool e das drogas
posso criar uma lógica menos fria porque nunca estarei só.
e mais vital. Agradeço que me tenham con-
Como buscar ajuda Agrada-me que digam que sou finado ao lar e à família, porque
vaidosa, porque posso olhar-me no posso fazer de toda a Terra meu
As mulheres vítimas de vio- caminhamento para a chefatura de hoje pode ser o prenúncio espelho sem me sentir culpada. lar e minha família.
lência são aconselhadas a buscar responsável pelo setor. A busca de uma tentativa de homicídio Agrada-me que me digam que Estou feliz que me chamem
ajuda na delegacia especializada, de apoio também pode ser feita amanhã, tendo em vista que a sou emocional, porque posso cho- de dona de casa, porque posso
mas caso isso não seja possível pelos números 190 e 180. tendência desse tipo de abuso rar e rir à vontade. apoderar-me da minha.
no momento, elas devem buscar O alerta é que as vítimas não é aumentar. Esses profissionais Mil e uma vezes a Inquisição Estou feliz de não ser competi-
o distrito policial mais próximo deixem de denunciar as agres- lembram que o abuso começa me queimou e aprendi a nascer tiva, porque então serei solidária.
de suas casas. sões. Para os especialistas na área com uma ofensa moral, um em- das cinzas. Estou feliz de ser o repouso do
Ao tomar conhecimento dos de apoio às mulheres vítimas de purrão ou um puxão de cabelo. Prenderam-me em um harém e, guerreiro, porque posso cortar-lhe
fatos, o plantonista fará o en- violência, o tapa ou o empurrão E depois piora. enclausurada, não deixei de rir. o cabelo enquanto dorme.
Colocaram um cinturão de Estou feliz de ter sido excluída
Lei Maria da Penha castidade e adquiri a arte de um
serralheiro.
do campo de batalha, porque a
morte não me é indiferente.
A Lei Maria da Penha, criada vinte anos para ver o marido anos depois, Arredia foi condena- Carreguei fardos de lenha e me Estou feliz de ter sido excluída
sob o número 11.340 e sancionada agressor condenado e virou do a oito anos de prisão e usou os fiz forte. do poder porque, longe do poder,
pelo presidente da República em símbolo do combate à violência recursos jurídicos para protelar o Cobriram-me o rosto com véus me distancio da ambição e da
2006, obriga a Justiça brasileira a doméstica. cumprimento da pena. e aprendi a olhar sem ser vista. cobiça.
tratar a violência contra a mulher O marido, o professor uni- Depois da experiência, a pró- Os filhos me acordaram à Estou feliz que me tenham ex-
como crime hediondo. Junto com versitário Marco Antonio Arre- pria Maria da Penha garante que meia-noite e aprendi a manter-me cluído da arte e da ciência, porque
o endurecimento das penalidades dia, tentou matá-la duas vezes. a mulher não tem mais vergonha em vigília. as posso inventar de novo.
para os agressores, ela estabeleceu Na primeira, deu um tiro e ela de denunciar o agressor e que Não me enviaram à universi- Com tanta fortaleza acumulada,
medidas de assistência e proteção ficou paraplégica. Na segunda, não fazia antes por medo e por dade e aprendi a pensar por minha com tantas habilidades e destrezas
à classe feminina que sofre abuso tentou eletrocutá-la. se agarrar à preservação da vida. conta. aprendidas, mulher, se tentar con-
doméstico e familiar. A investigação sobre o caso Para ela, a partir da primeira Transportei cântaros de água e seguirá o mundo do avesso.
O nome da lei é uma ho- de Maria da Penha começou em agressão, não adianta conviver, soube manter o equilíbrio.
menagem à biofarmacêutica junho de 1983, mas a denúncia só pois a cada dia esse abuso vai Extirparam-me o clitóris e apren- (Texto de autoria desco-
Maria da Penha Maia, mãe de foi apresentada ao Ministério Pú- aumentar e terminar em assas- di a gozar com todo o corpo. nhecida. Supõe-se ser de uma
três filhas. Ela lutou durante blico em setembro de 1984. Oito sinato. Passei dias bordando e tecen- sindicalista da Guatemala)

A luta feminina
Ana Angélica Freire de Souza dádiva divina - não que essa dádiva seja o tortura do Filho; Joana D’Arc, revolu- seringueira, doméstica, em suma, toda
que a torna especial, pois a mulher é uma cionária francesa morta por se mostrar e qualquer mulher.
“Dizem que a mulher é sexo frágil, mas especial criatura. forte a ponto de ir contra o sistema de Somos frágeis quando das circunstân-
que mentira absurda...”. Inicio esta ho- A mulher está sempre na luta. Anita sua época; Olga Benário, mulher de fi- cias, mas somos fortes o suficiente para
menagem às mulheres evocando Erasmo Garibaldi foi uma guerreira inconteste, a bra que dedicou a vida à causa política suportar as adversidades da vida.
Carlos, cantor e compositor brasileiro, que mãe cidadã que protege suas crias com a e dos menos favorecidos (operários ex- Como ressalva, esta homenagem não
na letra de uma de suas canções enaltece a força de uma leoa é uma corajosa e hon- plorados pela força empregadora) e que tem a pretensão de se mostrar preconcei-
figura feminina. rosa guerreira. até a hora de sua morte não se curvou tuosa em relação ao sexo masculino, pois
Ao longo da história, a mulher sem- Mulheres que ao mostrarem sua à loucura Nazista. Não quero cometer as mulheres e os homens se completam,
pre lutou por seus direitos. Vejamos a delicadeza, sua inteligência, sua força e injustiças com tantas outras mulheres, deixando bem claro, também, que qualquer
luta empreendida pelo direito de votar, que se mostravam à frente de seu tempo públicas ou não. Toda mulher merece maneira de amor vale a pena.
como cidadã. Direito de ser reconhecida eram quase sempre incompreendidas. respeito como ser humano, como mãe,
como profissional, direito de exercer sua Exemplos? Alguns deles. A cantora esposa, empresária, dona de casa, pro-
sexualidade. A condição feminina não Maísa Matarazzo, uma mulher de per- fessora, pastora, política, jornalista, Historiadora, pós-graduada em
inferioriza a mulher. Pelo contrário, o ser sonalidade forte; Maria, mãe de Jesus, margarida, lavadeira, prostituta, negra, Psicopedagogia, e gerente adminis-
feminino gesta e dá à luz outra vida, uma que sofreu resignada ao testemunhar a índia, parda, médica, cantora, atriz, trativo do jornal Página 20
12 Rio Branco - Acre, domingo, 8, e segunda-feira, 9 de março de 2009 Jornal Página 20

Encarte Especial

Mulheres fazem diferença na


política e na administração pública
Charlene Carvalho Evangelista, primeira presidente

O
de uma corte estadual de justiça
s pessimistas diriam no país, mas que a elas deve muito
que são poucas, pou- da presença expressiva de mulhe-
quíssimas. Os otimis- res nos mais destacados cargos
tas diriam que amplia- do cenário político e jurídico do
ram seu espaço. O conformado Estado.
acredita que, do jeito que vai, está Um Estado que conta hoje
bom. O idealista acredita que é com duas prefeitas - Eliane Gade-
possível avançar mais. Em se tra- lha, de Assis Brasil, e Leila Gal-
tando de participação de mulheres vão, de Brasiléia -, dezenas de
na política do Acre, não é insensato vereadoras, quatro deputadas
dizer que no mínimo três das opi- estaduais (todas do Vale do
niões acima estão corretas. Juruá), além da deputada
Sim, a participação das mu- federal Perpétua Almeida;
lheres na política ainda é pouca, três desembargadoras -
pouquíssima, frente ao potencial uma delas, Izaura Maia,
que elas têm. É inegável que elas deixou em fevereiro a
ocuparam espaços importantes, presidência do TJ e a
mas está claro que é possível outra, Eva Evangelista,
avançar mais. Com pouco mais assumiu na quinta-
de 100 anos e uma história ma- feira a vice-presidência
triarcal - sim, o Acre é um Estado do Tribunal Regional
formado essencialmente por Eleitoral -, deze-
núcleos familiares que têm como nas de juízas,
mantenedores, em sua maioria, promoto-
mulheres que dobram a jornada ras, pro-
de trabalho para o suprimento curadoras
das necessidades de seus filhos, de justiça,
quem há de negar? -, o Acre se procurado-
consolida regionalmente como ras jurídicas e
um Estado em franco crescimen- defensoras pú-
to não só pelos bons índices de blicas, várias secretárias
desenvolvimento, mas também municipais e estaduais de
pela participação de suas mulhe- organismos importantes
res na vida pública. como a segurança públi-
A mais notória de todas é a ca e tantos outros cargos
ministra Marina Silva, escolhida importantes.
em 2008 pelo jornalão inglês Podem não ser o núme-
The Guardian como uma das ro ideal, mas são represen-
50 personalidades capazes de tantes dignas de suas classes e
salvar o mundo, ex-ministra extremamente ativas na defesa
do meio ambiente que deixou de suas causas, que não apenas
o cargo, entre outras coisas, as causas das mulheres, mas de
porque perde o “pescoço, mas toda a sociedade acriana, sem dei-
não perco o juízo”, mas há xarem de lado os filhos, maridos,
uma sem-número de mulheres mães, irmãs, irmãos e amigos.
importantes na política do Acre Eta, raça de mulher forte!
e hoje e de outrora.
Uma história que não co-
meçou com Laélia Alcântara, Marina Silva é um dos
primeira senadora negra do país, maiores expoentes da política
nem com Iolanda Lima, primei- no país
ra governadora de um Estado,
ou com a desembargadora Eva

A Ótica Ipanema e Ótica Popular


é n s M u l h er!!! 8 de Março
homenageamasmulheresnoseudia. Parab Dia Internacional da Mulher

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