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Uma das respostas a estas questões tem sido proposta pelo trabalho desenvolvido no
âmbito do que poderíamos apelidar de contra-memória ou ainda de memória-
alternativa e que tem aberto caminho a inesperadas formas de narrativas criativas.
Numa abordagem decididamente mais provocadora, a marginalidade de versões e de
lugares tornados-invisíveis tem suscitado verdadeiras guerrilhas urbanas de
intervenção por parte, nomeadamente, de artistas contemporâneos e historiadores;
guerrilhas que nos remetem para questões que se relacionam com os conceitos de
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apropriação, representação e identidade, conceitos tão caros à museologia
contemporânea e que vale a pena aqui referir.
Estas são algumas das experiências de verdadeira guerrilha que têm também
acontecido no seio do museu e que muito têm contribuído para um intensivo trabalho
de reflexão e re-posicionamento da instituição. Se é verdade que estas provocações
partiram, na maior parte das vezes, de campos adjacentes, hoje fazem parte dos
novos paradigmas museológicos. Através do trabalho inovador destes artistas e de
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muitos museólogos, os museus têm reflectido abertamente sobre as suas próprias
práticas de representação e de preservação. A relação histórica dos museus com o
colonialismo, com determinadas classes sociais, a sua cumplicidade na reprodução de
ideologias de raça e género, a sua dependência em relação a determinadas práticas
de coleccionar consideradas hoje invasivas, a arbitrariedade das políticas de
aquisição e as formas através das quais as histórias podem ser construídas e
reconstruídas através das colecções, têm sido exploradas através de novas
abordagens e práticas de expor. Estas são questões que se inscrevem num novo
paradigma museológico e que, se por um lado, se relacionam com uma cultura
profissional profundamente reflexiva, por outro, fazem parte da poética do próprio
museu contemporâneo. Explorarei, seguidamente, alguns dos aspectos desta
metamorfose que julgo afectarem a sua configuração.
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informar, os museus começam então a operar – conscientemente e por vezes
criticamente – em histórias de contacto.
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Apesar desta organização expositiva poder ser vivida pelos visitantes como mais flexível e aberta que o modelo
clássico evolucionista que ainda domina a maior parte dos museus, esta flexibilidade de interpretação não é sempre
experimentada como algo libertador. Na verdade, em alguns casos, pode mesmo ser considerada como um
elemento de desorientação. Se o conhecimento necessário para compreender os antigos lay-outs pode ser
compreendido como uma forma de capital cultural, no sentido de Bourdieu de um sistema de distinção estável e
mantido institucionalmente, a abertura de novas possibilidades de interpretação através de novas formas de expor
pode funcionar quer como um desafio deste sistema estável de distinção, quer como uma outra forma de distinção
na qual a posição social é mantida através da capacidade de se manter a par das últimas tendências culturais.
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cafetarias. São híbridos também, na sua utilização de técnicas e tipos de exposições,
eventos que oferecem, etc. Por outro lado, as especialidades disciplinares tendem,
em termos profissionais, a ser menos significativas e assistimos a transferências de
profissionais, por exemplo, de museus etnográficos para centros de ciência e de
museus locais para museus de arte. No entanto, se esta mobilidade parece traduzir
uma maior centralidade da missão de cada museu e uma maior diversidade em cada
museu também pode traduzir uma maior homogeneidade entre eles (ainda que,
logicamente, cada um enfatize e procure o seu carácter distinto!).
4. Outro aspecto que aqui gostaria de focar e que é quer condição quer efeito da
agenda anterior, diz respeito à transformação destes museus de oásis em zonas de
contacto e à sua afirmação como lugares cívicos e relevantes. Embora muitos museus
se revejam como lugares separados do mundo, lugares que são apreciados por
pessoas ”cultas e sofisticadas”, a metáfora do museu-oásis não é mais viável e –
como penso, aliás, ter sugerido – os museus nunca foram oásis: só aparentemente. Os
valores que pressupõem as práticas profissionais destes museus-oásis são
essencialmente os de preservação e conservação, investigação e exposição partindo
de meras abordagens estéticas de apresentação do conhecimento. Destes museus
espera-se que sejam autoritários, informativos e que sejam, eles próprios, os
melhores juízes, os melhores avaliadores, em relação ao que conta como prática
profissional adequada e ao papel que a instituição deve desempenhar. Apesar das
provocações e reflexões que têm levado a metamorfoses profundas do lugar museu,
este museu-oásis ainda é o museu mítico que existe na imaginação de muitos
profissionais. Esta orientação profissional tende a olhar exclusivamente para o
passado e para o seu interior, apoiando-se em atitudes, valores e percepções que se
desenvolveram em isolamento em relação a outras instituições culturais e sociais e
que partem do pressuposto de que as definições de civilização, cultura e
comunicação, que estes valores preservam, são valores absolutos e conferem uma
função social que justifica os museus por si.
Como tenho sugerido, esta é uma atitude que não faz parte dos novos paradigmas
museológicos. Os valores acima descritos já não são suficientes para justificar a
instituição. Hoje testemunhamos uma enorme mudança cultural. Metamorfoses em
estruturas sociais, alianças culturais e identidades pessoais aliam-se a mudanças na
natureza, controle e funções do conhecimento. Actualmente os museus estão sujeitos
a muitas exigências que lhes permitem desempenhar papéis válidos em novos
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mundos. Têm, para além disso, que demonstrar a sua visibilidade e argumentar o seu
valor em novos contextos onde valores anteriores não podem mais ser tidos como
garantidos.
O título deste pequeno artigo reflecte a minha convicção que estamos a participar
(não só a assistir a) numa revolução conceptual, uma revolução que questiona as
premissas fundamentais nas quais o museu (e o nosso trabalho) se alicerça e que se
relaciona com o seu valor intrínseco e indiscutível. Acredito que esta reinvenção tem
consequências significativas. Especialmente em relação ao distanciamento da
centralidade dos objectos em direcção a uma ênfase na promoção da experiência;
ênfase que revela novos horizontes éticos, epistemológicos e estéticos. A procura de
relevância fora dos seus contextos habituais é, sem qualquer dúvida, um dos eixos
desta metamorfose museológica.
Talvez este seja um tempo de construir não só comunidade entre museus mas
também entre os museus e outras instituições, um tempo de reorganizar recursos e
competências culturais.