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Afranio Campos
econômico (considerado como o ‘ouro azul’ do século XXI), ao mesmo tempo carregou
para o Estado e para as políticas públicas tanto a responsabilidade da tutela como da sua
consumo desse recurso e sua necessária regulação, em função de sua natureza de bem
racionalidade econômica acomodar sua natureza aos desígnios das leis do mercado, mas,
1
“A fabricação, que é o trabalho do homo faber, consiste em reificação. A solidez, inerente a todas as coisas,
até mesmo às mais frágeis, resulta do material que foi trabalhado; mas esse mesmo material não é
simplesmente dado e disponível, como os frutos do campo e das árvores, que podemos colher ou deixar em
paz sem que com isso alteremos o reino da natureza. O material já é um produto das mãos humanas que o
retiraram de sua natural localização, seja matando um processo vital, como no caso da árvore que tem que ser
destruída para que se obtenha a madeira [...] O trabalho de fabricação propriamente dito é orientado por um
modelo segundo o qual se constrói o objeto. [...] A reificação, termo costumeiramente usado por Arendt
(2001, p.156), destaca o fato de que o homem dissocia o produzir, que lhe é próprio, do produto, de tal modo
que o pode conhecer, tornando-o objeto da sua consciência.” (ARENDT, 2001, p. 152-153, citado em
FARIAS, Paulo J. L. A cobrança pelo uso da água no Brasil: Integração Normativa das Dimensões
Protetivas Ética e Econômica do Meio Ambiente, Brasília, 2003, p.135).
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“Globalismo designa a concepção de que o mercado mundial bane ou substitui, ele mesmo, a ação política;
trata-se, portanto da ideologia do império do mercado mundial, da ideologia do neoliberalismo. O
procedimento é monocausal, restrito ao aspecto econômico, e reduz a pluridimensionalidade da globalização a
uma única dimensão – a econômica -, que por sua vez, ainda é pensada de forma linear e deixa as outras
dimensões – relativas à ecologia, à cultura, à política e à sociedade civil – sob o domínio subordinador do
mercado mundial.” (BACK, Ulrich. O que é Globalização? Equívocos do globalismo, respostas à
globalização. São Paulo, Paz e Terra, 1999, p.27).
sobretudo de tentar solucionar um problema sistêmico, “uma segunda contradição do
O tratamento destrutivo dado à natureza pelo sistema tornou-se cada vez mais
evidente com o recrudescimento das mudanças climáticas, na poluição do ar, rios, mares, e
mais seriamente no efeito estufa para o planeta, bem como na extinção de espécies e a
exigência da necessária adequação dos bens ambientais renováveis / não renováveis aos
nacionais que tornam-se fortes “aliados” em seus papel de suporte legal aos capitais
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O'CONNOR, J. ''The Second Contradiction of Capitalism''. In: O'CONNOR, J. Natural Causes: Essays in
Ecological Marxism. New York: Guilford Press, 1998.
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LEFF, Henrique. Racionalidade Ambiental: a reapropriação social da natureza. Tradução de Luís Carlos
Cabral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p.66.
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“Segundo Godard, a solução de internalização das externalidades atenua certamente a pressão exercida sobre
o meio ambiente e neste sentido marca um progresso indiscutível, mas ela participa por construção do
processo pelo qual um sistema econômico degrada e esgota seu meio ambiente até arruinar toda possibilidade
de produção. Designa-se pelo termo externalização o processo pelo qual um sistema ignora e altera as
condições de reprodução de seu meio ambiente; então pode-se dizer que o modo de internalização proposto
pela teoria neoclássica inscreve a externalização no coração mesmo da internalização proposta. Longe de ser a
base de definição de um processo de desenvolvimento sustentável compatível com o meio ambiente, esta
linha de conduta é parte mesmo do problema.” (TOLMASQUIM, Economia do Meio Ambiente: Forças e
Fraquezas in Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável, INPSO/FUNDAJ, 1994,
p.323-334).
voláteis e especuladores. A criação do mercado da água é uma condição essencial para a
econômicos para definir a cobrança da água um meio para se chegar a uma aproximação
pela sua caracterização como bem de valor econômico, a sua adequação aos fundamentos
sobretudo do lucro essencial esperado; é incontestável que sem esses parâmetros então
“precificação” 8 dos recursos hídricos que atenda a uma consciência, ética, de equilíbrio
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“Do lado da produção, a tradição neoclássica tem por costume colocar uma hipótese de substituição entre os
recursos naturais e capital.” (TOLMASQUIM, op. cit., 1994).
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“A água como um bem econômico tem um valor de uso e um valor de troca. O valor de uso da água é
caracteristicamente variável, pois depende fundamentalmente da utilidade ou satisfação que os diversos
usuários atribuem à água, pela múltipla capacidade desta em satisfazer suas necessidades. O valor de troca
depende das condições da oferta e demanda. Na ausência de mercados de águas, não se dispõem de dados
estatísticos que possibilitem estimar diretamente o valor que os seus usuários estariam dispostos a pagar por
cada unidade de água utilizada. O problema que se apresenta é, então, como determinar o valor da água para
cada modalidade de uso.” (CARRERA-FERNANDEZ e GARRIDO, 2002, p.156, citado em ARANHA,
Vivian de Azevedo. Estudo de condições necessárias para a eficácia da cobrança na gestão dos recursos
hídricos. UnB, Brasília, 2006, p.27).
8
“E, sem duvida, mesmo que o signo monetário pareça liberar-se de todo referente como valor de uso e
flutuar no gozo pleno de uma espetacular especulação sem uma ancoragem real, não consegue desprender-se
de seu vinculo com a natureza.” (LEFF, 2006, op. cit., p.64).
Embora as bases teóricas tradicionais sejam, em sua maioria, aceitas
destaca Tolmasquim:
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TOLMASQUIN, Maurício Tiomno. Economia do Meio Ambiente: Forças e Fraquezas in Desenvolvimento
e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. INPSO/FUNDAJ, p.323-334, 1994).
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“Para Schmidt, a chave do processo de intercâmbio em Marx estaria no conceito de Stoffwessel; [...]
Schmidt ‘descobre’ na noção de Stoffwessel um conceito central de O Capital – que, na realidade, apenas
entre o meio ambiente e a economia, e, historicamente explícita na expressão de
pelo homem e da natureza (“uma dupla exploração”), que estão dados inegavelmente
sua forma (única) de mercadoria com valor de troca12, “criada” e “aceita”, enquadrada pelo
sistema de mercado.
inadequado ou perdulário pela sociedade, assim como, esclarece ser um bem sem clara
sinaliza o aspecto geral de transformação da matéria no processo de trabalho – para adjudicar a Marx uma
concepção ecológica da sociedade.” (LEFF, 2006, op. cit., p.52-53).
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“Do lado do consumo, as hipóteses-padrão sobre as funções de utilidade supõem uma equivalência geral de
todos os bens: não importa qual a variação de quantidade sobre um bem; ela pode ser compensada, do ponto
de vista do bem-estar, por uma variação apropriada da quantidade de um outro bem. A aplicação de um tal
quadro às decisões sobre o meio ambiente conduz a procurar o nível de consumo suplementar de produtos de
consumo que poderiam compensar uma degradação do meio ambiente: uma água de mar poluída, mas mais
piscinas; um ar menos respirável, mas mais automóveis... Esta lógica procura maximizar as compensações
comerciais para uma destruição do meio ambiente, e não assegurar que o modo de desenvolvimento se
inscreva prudentemente na biosfera, o que muitos crêem ser a essência do desenvolvimento
sustentável.” (TOLMASQUIM, op.cit.,1994).
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“É patente que o fato de se atribuir um valor monetário a bens não comerciais, notadamente a fauna, a flora,
as amenidades, seja mesmo a vida humana, suscita violentas oposições de ordem ética e filosófica. Kapp
(1970) ataca o reducionismo monetário como fundamentalmente inapropriado para considerar os riscos com a
saúde e sobrevivência dos homens. Sagoff (1981) considera que o valor monetário mede apenas a intensidade
de nossos desejos ou necessidades, mas não a sua justificação política ou social; ele introduz uma distinção
entre preferências do consumidor e as aspirações do cidadão: só as primeiras podem ser objeto de avaliação
econômica. Outras objeções se dirigem à incompatibilidade entre o processo econômico e a realidade
ecológica, aos problemas dos efeitos de irreversibilidade e das gerações futuras.” (TOLMASQUIM,
op.cit.,1994).
ambiental, fazendo sua regulação através de instrumentos da economia tradicional; ainda
que na criação do mercado de água seja necessário a obtenção de dados estatísticos do seu
estabelecidos por estarem aliados aos custos sociais imprevisíveis, como parâmetros de um
verdadeiro mercado, mesmo que para o bem ambiental apareçam como uma incógnita
natureza existem os custos privados e, com relevância, os custos sociais. Então, os agentes
econômicos nesse quadro estarão produzindo ou consumindo tendo a água como insumo ou
mercadoria (bem de uso) fazendo a utilização desse recurso pela oferta/procura no mercado,
e em se tratando de um bem ambiental, em mercado que não existia efetivamente, seja por
de mercado, bem como uma contradição própria das relações sociais de produção e o modo
de exploração da natureza, que prospecta a sua completa realização pelo ethos capitalista.
São estas as dificuldades de um modelo de “mercado” que persiste em existir e que procura
precificação da água:
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DAMÁSIO, João; CARRERA-FERNANDEZ, José; SILVEIRA, Antônio Henrique; GARRIDO,
Raymundo-José;. Impactos da Cobrança Pelo Uso da Água: uma metodologia de avaliação. BAHIA
ANÁLISE & DADOS Salvador, v. 13, n. ESPECIAL, p. 497-513, 2003.
Em conseqüência da inexistência de mercados de águas, não se dispõem de dados
estatísticos que possibilitem estimar diretamente o valor que os seus usuários
estariam dispostos a pagar por cada metro cúbico de água bruta utilizada.
Ademais, na ausência de um mercado onde os direitos de uso pudessem ser
transacionados e seus preços revelados, não é possível ajustar diretamente através
de algum procedimento econométrico uma função de demanda por água em cada
modalidade de uso. O problema que se apresenta é, então, como determinar o
valor da água bruta para cada modalidade de uso, em uma situação onde inexiste
o mercado desse produto.
para essa corrente claramente antropocêntrica), e que tem sido um fator determinante para a
econômica) que nos remete a uma classificação ambígua de recurso econômico a despeito
da sua natureza (bem comum, difuso, ambiental). Outro fator que tem afetado essa situação
capitalistas e seu uso múltiplo indiscriminado pela sociedade, que revela ter sido
impactos dessa “superexploração” dos recursos naturais são assim expostos por Acserald:
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ACSELRAD, Henri. Externalidade Ambiental e Sociabilidade Capitalista in Desenvolvimento e Natureza:
Estudos para uma sociedade sustentável. Parte I - A Economia da Sustentabilidade: Princípios.
CAVALCANTI, Clóvis (Org.), 1994, p. 128-129.
Nesse contexto, da teoria econômica e a sua abordagem das externalidades,
vejamos como o desenvolvimento sustentável é colocado por alguns autores de acordo com
Tolmasquim:
(energia) e de riquezas cada vez mais em quantidades maiores e de fácil exploração, sejam
mostram que o planeta já chegou ao seu limite (ainda que seja considerada uma previsão,
alguns cientistas estimam ter ultrapassado em quase 30%17 dessa “fronteira da vida”), pois,
recursos dos países do primeiro mundo, e caso chegassem seriam necessários mais cinco
planetas iguais para esse nível de satisfação de consumo18, “fruto de moldes educativos e
15
TOLMASQUIN, Maurício Tiomno. Economia do Meio Ambiente: Forças e Fraquezas in Desenvolvimento
e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. INPSO/FUNDAJ, p.323-334, 1994).
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“O que as pesquisas socioambientais ou ecológicas mostram ao mundo hoje são dados altamente
sintomáticos: para que todos tenham um padrão de vida como o europeu, seria necessário 23 vezes mais
energia, 10 vezes mais produção de combustíveis fósseis, 90 vezes mais riquezas minerais, duas vezes a
quantidade de terra agricultável – ou seja, outro planeta Terra, outra camada de ozônio, outra atmosfera!.”
(PELIZZOLI, op. cit., p.96).
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DALY, Herman E. Beyond Growth: The economics of sustainable development. Boston: Beacon, 1996, p.
1-23.
18
“[...] a descontextualização política, a desarticulação do discurso com a prática, o utilitarismo, a
incompreensão das interações com o meio ambiente, os quais se ligam ao habitus da sociedade de cosumo,...”
(PELIZZOLI, op. cit., 2003).
Atualmente, 83% do Planeta é ocupado pelo homem e a depredação do
ecossistema já supera em 20% sua capacidade de regeneração. Em outras
palavras, pode-se dizer que o mundo consome mais recursos naturais do que a
própria capacidade de regeneração (Boff, 2003).
insuficientes para um solução dos conflitos e a valoração econômica dos recursos hídricos
pondo uma dúvida quanto a uma adequação do bem ambiental aos fundamentos
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“A criação cientifica e a inovação tecnológica não se convertem em novos princípios determinantes do
desenvolvimento sustentável nem fundam uma ética do conhecimento capaz de dirimir e solucionar os
conflitos em torno da apropriação produtiva da natureza. O que foi dito anteriormente implica a necessidade
de pensar e de construir uma nova racionalidade produtiva sustentada pelos princípios da entropia e da
complexidade ambiental, integrando as formações ideológicas, a produção cientifica, os saberes pessoais e
coletivos, os significados culturais e as condições ‘reais’ da sustentabilidade ecológica. A economia fundada
no tempo de trabalho foi substituída pela economia baseada no poder do conhecimento científico como meio
de produção e instrumento de apropriação da natureza.” (LEFF, op. cit., p. 60-61).
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“A própria dialética do modo de produção capitalista, objeto da economia política, chega ao limite de seu
poder explicativo; seus conceitos se desatam e evapora-se seu poder explicativo. O vinculo entre o valor de
uso e a demanda, assentados na necessidade e na utilidade, e o valor de troca, fundado na equivalência dos
trabalhos e das utilidades, se dissolve, ao mesmo tempo que a “lógica do valor de troca” se torna autônoma,
configura um código geral no qual se subsume ao ser de todas as coisas, e vai transmutando as necessidades,
os desejos e as utilidades em uma mesma substância etérea de valor, fora de todo referente e de todo sentido.
O código econômico gira vertiginosamente acima de toda lógica e de toda razão. É o império da lei estrutural
do valor sobre o valor de uso cingido a uma significação cultural.” (LEFF, op. cit., p.63).
21
PELIZZOLI, M. L. Correntes da ética ambiental. Petrópolis, Vozes, 2ª. edição, 2004.
foi e está, com tudo isto, impregnada de antivalores, de uma visão antiecológica de mundo.
privatista, para a apropriação e acumulação de bens e poderes como sentido maior do ser
resultantes do livre mercado, desde que haja uma consciência ambiental dos indivíduos;
O valor do ambiente é avaliado por sua utilidade para o ser humano, mas devem
ser consideradas as falhas do livre mercado na promoção da eqüidade na geração
contemporânea, ou seja, as diferenças de bem-estar entre pobres e ricos, e os
compromissos com as futuras gerações. Portanto, assume-se sempre uma
perspectiva humana nas questões de valoração e, por isto, tal posicionamento é
denominado de antropocêntrico. Posicionamento mais estrito de sustentabilidade
nota a dificuldade inerente da quantificação, nos mesmos termos, dos capitais
natural, humano, tecnológico e moral/cultural, o que dificultaria atingir-se um
quantitativo ideal para o estoque global. Além disto, existe a possibilidade de
subestimativa do valor primário do ecossistema, definido como o serviço
agregado de suporte à vida prestado pelo ambiente, que deve preponderar sobre
o valor secundário, relacionado às funções e serviços prestados ao ser humano.
Isso levaria ao risco de que a diminuição do capital natural resultaria no
comprometimento gradual dos processos e funções que suportam a diversidade
biológica, aumentando a vulnerabilidade, pela redução da estabilidade e da
resiliência ambientais, a futuros choques e stress. Devido a isto, o capital
natural, Kn, deveria ser mantido constante por que, pelo menos parcialmente,
ele é insubstituível. A escala de desenvolvimento não deveria declinar, mas
tampouco aumentar, e o aumento populacional também deveria ser zerado, de
forma a poder ser atingida a economia de estado estacionário. A hipótese Gaia,
com suas implicações é aceita por esta corrente. De acordo com ela, a vida e o
ambiente terrestre são partes de um mesmo sistema auto-regulador e reparador,
no sentido de que atividades humanas que afetem perigosamente o equilíbrio
ambiental poderiam ser acomodadas pelo próprio sistema. Entretanto, esta
capacidade garante apenas a sobrevivência deste sistema e não o de todas suas
formas de vida, inclusive a humana. Logo, há necessidade de uma visão
sistêmica do ambiente, cuja noção inclui o homem, e a imposição de padrões
ambientais normativos para espécies e processos relevantes, bem como de áreas
de conservação ambiental e práticas adequadas de disposição de resíduos no
ambiente. Devido a tais características esta posição é denominada ecocêntrica.
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LANNA, A. E. Economia dos Recursos Hídricos. Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental – IPH/UFRGS, 2000.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA