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Capítulo 90
Massa renal –
diagnóstico diferencial
*Discutível na literatura
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Leitura recomendada
1. Bauab Jr T. Doença cística renal. In: Prando A, Prando D,
Caserta NMG. Urologia Diagnóstico por Imagem 1th
Ed. Sarvier, c. 7, p. 106, 1997.
2. Belldegrun A, deKerniom JB. Renal Tumors. In: Walsh PC et
al, Campbell Urology, 7th ed. Philadelphia W.B. Saunders,
1997, p. 2283.
3. Bosniak MA. Diagnosis and Management of Patients with
Complicated Cystic Lesions of the Kidney. J Urology, v.
159, pp. 1401-2, 1998.
4. Hreiak H, Whit SD. Radiologic Assessment of the Kidney.
In: Brenner & Rector, eds. The Kidney, 6th ed. Copyright
W.B. Saunders, 2000, c. 27; p. 1191.
5. Prando D. Tumores Malignos do Parênquima Renal. In:
Figura 5b: Tomografia computadorizada de adenocarcinoma renal Prando A, Prando D, Caserta NMG. Urologia Diagnóstico
por Imagem 1th Ed. Sarvier, c.10, p. 152, 1997.
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Capítulo 91
Tumores benignos do rim
Os tumores benignos do rim que têm importância necrótica central que se expande para a periférica
clínica são os oncocitomas e os angiomiolipomas. Os como roda de carroça. Nesses casos, a biópsia intra-
adenomas corticais e os adenomas metanéfricos são operatória, é recomendada e, se confirmado o diag-
pequenas lesões nodulares encontradas em autópsias. nóstico de oncocitoma, a nefrectomia parcial deve
São muito pequenas para dar sintomas ou aparecer nos ser feita mesmo para tumores maiores que 4 cm.
exames de imagens, têm histologia com características
benignas por tratarem-se de lesão neoplásica que ainda
não evoluiu e, certamente, se progredirem, o farão como Angiomiolipoma
uma das formas de carcinoma de células renais.
Os lecomiomas, fibromas, lipomas, linfangiomas Tumor sólido constituído de vasos, músculo liso e
e hemangionas são raros e são tratados como carci- gordura, de comportamento benigno na grande maio-
nomas de células renais, porque os exames de imagem ria. Constitui 3% dos nódulos sólidos renais. Setenta
não fazem distinção entre eles. por cento dos casos ocorrem na forma esporádica
com pico de apresentação na quinta e sexta décadas.
Trinta por cento ocorrem associados à esclerose tube-
Oncocitomas rosa com apresentação aos 30 anos de idade, em geral
bilateral e multicêntrico. O diagnóstico por US, CT e
São tumores epiteliais benignos, derivados do RNM é praticamente certo e exclui carcinoma de células
epitélio dos túbulos distais dos néfrons. Compre- renais. Por isso, o tratamento preconizado tem sido
endem 3,2% a 10% dos nódulos sólidos renais e estão conservador, isto é, acompanhamento clínico. Entre-
associados à perda dos cromossomos 1 e Y. São tanto, lesões maiores que 4 cm, lesões que crescem ou
bem-circunscritos, não-encapsulados, marrons ou com tendência a sangramento devem ser removidas
amarelos pálidos. Em 7% a 32% dos casos, podem por meio de nefrectomia parcial ou, melhor ainda, de
coincidir com a presença de carcinoma de células enucleação. Essa conduta merece maior destaque nos
renais no mesmo rim. Os sintomas clínicos e o aspecto casos de lesões múltiplas, bilaterais, geralmente
nos exames de imagem não permitem diagnóstico associadas à esclerose tuberosa. É preferível enuclear
seguro de oncocitoma pré-operatório, por isso eles várias lesões, ainda que não seja possível enuclear todas,
são sempre tratados como se fossem carcinoma de antes que elas se tornem grandes demais e impossíveis
células renais, isto é, nefrectomia parcial para tumores de serem retiradas com a conservação do rim.
até 4 cm e nefrectomia radical para tumores maiores. O paciente deve ser advertido de que a cirurgia
Em 33% dos casos, a tomografia pode mostrar lesão proposta não vai curá-lo definitivamente, porque
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Capítulo 92
Patologia, classificação e
estadiamento dos tumores renais
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Adenocarcinoma renal
Constituem 1% a 3% de todos os cânceres vis-
cerais, representando 85% dos cânceres renais em
adultos. Acometem todas as idades, predominando
entre os 50 e 70 anos de idade. Originam-se do epitélio
tubular e são adenocarcinomas. Localizam-se prefe-
rencialmente no pólo superior. A maioria dos tumores
é esporádica, porém há tumores bilaterais (Figura 2) e
familiares em indivíduos portadores de síndrome de
Von Hippel-Lindau, carcinoma hereditário de células
claras e carcinoma hereditário papilar.
A classificação do carcinoma de células renais
sofreu recentemente revisão baseada nos estudos
histológicos, citogenéticos e moleculares.
Carcinoma não-papilar de células claras
Forma mais comum (70% a 80% de todos os
tumores). Composto de células com citoplasma
claro ou granular, não-papilar. De incidência espo-
rádica ou familiar. Alteração citogenética em 98%
dos casos envolvendo a região do braço curto do
cromossomo 3, que abriga o gene VHL, responsável
Figura 2: Ressonância magnética demonstrando adenocarcinoma
pela proteína elongina. renal bilateral
Carcinoma papilar
Representa de 10% a 15% dos cânceres renais.
Pode ser multifocal e bilateral, apresentando cresci-
mento papilar. Ocorre nas formas familiar e esporá- Grau 2 ou moderadamente diferenciado
dica. Anormalidades citogenéticas mais comuns:
Mais de 50% das células são imaturas e no estroma
trissomia dos cromossomos 7, 16 e 17 e a perda do
predominam células fusiformes.
cromossomo Y nos homens.
Grau 3 ou pouco diferenciado
Carcinoma renal cromófobo
Neoplasia constituída por células fusiformes com pou-
Representa 5% dos cânceres renais, manifestando-
ca ou nenhuma formação tubuliforme ou glomerular.
se por células com membranas celulares proeminentes
Alterações citogenéticas envolvem o braço curto
e citoplasma eosinofílico pálido com um halo ao
redor do núcleo. Inúmeras perdas cromossomiais e do cromossomo 11 e foram identificados três grupos
extrema hipodiploidia. de malformações congênitas distintas: síndrome de
WARG (aniridia, anomalias genitais, retardo mental),
Tumor de Wilms síndrome de Denys-Drash (pseudo-hermafroditismo
e nefropatia, levando à insuficiência renal) e a síndrome
Tumor renal embrionário, surgindo na infância, de Beckwith-Wiedemann.
formado por estruturas primitivas lembrando o blas-
tema nefrogênico. Geralmente é unilateral, diagnos- Carcinomas uroteliais da pelve renal
ticado entre 2 e 5 anos de idade, podendo atingir
grande volume. Cerca de 5% a 10% dos tumores renais primários
Segundo o grau histológico é dividido em: ocorrem na pelve renal variando desde papilomas
até carcinomas papilares. É difícil diferenciar o papi-
Grau 1 ou bem-diferenciado loma benigno do carcinoma papilar de baixo grau.
Parênquima formado por túbulos e glomérulos A infiltração da parede da pelve e cálices são comuns
bem-diferenciados, constituindo mais de 50% do teci- e, embora sejam pequenos e de aspecto benigno, o
do tumoral, predominando estroma mixomatoso. prognóstico não é bom.
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Leitura recomendada
1. Storkel S et al. Classification of renal cell carcinoma. Cancer,
80: p. 987, 1997.
2. Eble, JN (ed.). Tumors of kidney. Semin Diagn Pathol, 15:
p. 1, 1998.
3. Holland JM. Cancer of the kidney: Natural history and staging.
Cancer, 32: p. 1030, 1973.
Figura 3: Estadiamento do adenocarcinoma renal proposto por 4. Grundy P et al. Another view of the clinical and molecular genetics
Holland of Wilms’ tumor. Med Pediatr Oncol, 27: p. 394, 1996.
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Capítulo 93
Como estadiar o tumor renal
Os avanços do diagnóstico por ultra-som (US) e individualmente, para cada caso, e avalie a presença de
radiológico das últimas duas décadas mudaram radi- alguns dos fatores prognósticos, ou seja:
calmente a abordagem pré e intra-operatória dos tu- Extensão a tecidos perirrenais;
mores renais, bem como seu seguimento. A avalia- Extensão a órgãos vizinhos;
ção clássica anterior desses pacientes, realizada para Extensão a linfonodos locorregionais;
como a urografia excretora, arteriografia renal seletiva O sistema atual de estadiamento, usado para o câncer
e cintilografia óssea, e já não mais se aplica aos dias de rim, e que substituiu o antigo sistema de Robson, é o
de hoje. Atualmente, cerca de metade das lesões renais TNM 1997, modificado em 2002 (ver Tabela 1). Como
sólidas são diagnosticadas incidentalmente nos gran- se vê, o tamanho tumoral é fator prognóstico impor-
des centros, com exames de US feitos por outros tante, define grupos com melhor sobrevida e aqueles
motivos, sendo estes tumores, em geral, de menor acessíveis à realização de nefrectomias parciais.
grau e estágio e, por conseguinte, de melhor prog-
nóstico do que aquelas grandes massas identificadas
em pacientes sintomáticos há vários anos. Exame clínico e laboratorial
Com o desenvolvimento das cirurgias preser-
vadoras de parênquima renal e minimamente inva- Perda de peso, dor óssea ou mal-estar geral e adina-
sivas, necessárias para o tratamento dos tumores de mia, todos estes dados sugerem doença avançada.
menor estágio, outra modalidade diagnóstica e de Quanto ao exame físico, a palpação de massa abdo-
estadiamento do TR surgiu, com a realização do US minal ou linfadenomegalia periférica também denota
intra-operatório, para detecção de multicentricidade, pior prognóstico, bem como a presença de varicocele
tamanho da lesão, extensão venosa e outras variáveis. ou edema de membros inferiores, que sugerem trom-
Para aqueles tumores maiores, com suspeita de trom- bo venoso intra-renal ou intracava. Provas de função
bo tumoral, intracava ou intra-atrial; o ecocardiograma hepática alteradas, elevação da fosfatase alcalina e da
transesofágico, outra forma de investigação não- velocidade de hemossedimentação e anemia também
invasiva, facilita a identificação da extensão do são fatores indicativos de doença avançada.
acometimento tumoral.
O correto estadiamento clínico do câncer renal per- Tomografia computadorizada
mite que o cirurgião, usando os métodos disponíveis,
que são o exame físico, exames laboratoriais e métodos Uma vez detectada a presença de lesão renal
de imagem, defina o melhor tratamento e abordagem, expansiva sólida, o correto estadiamento deve ser
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Tabela 1: Classificação e estadiamento TNM para tumores renais muito volumosos, possuem maior acometimento
da glândula supra-renal e doença locorregional
mais avançada;
Linfonodos hilares ou retroperitoneais acima de
2 cm devem ser considerados metastáticos, en-
quanto aqueles menores que 2 cm são, em geral,
inflamatórios;
Achados tomográficos de possível envolvimento
da veia renal incluem: alargamento da veia; mudança
súbita em seu calibre; defeitos de enchimentos intralu-
minais. A maioria dos exames falsos-positivos é do
lado direito, devido ao trajeto curto da veia renal e
efeito de massa do tumor próximo.
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Capítulo 94
Manifestações paraneoplásicas
do câncer renal
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renal e, em algumas ocasiões, tornam-se uma carac- positividade é alto, porque a produção de renina pode
terística da moléstia na sua fase inicial. ser devida a outras causas.
Na Tabela 1 se enumeram as SP encontradas no No sangue, várias alterações podem ser encontradas.
câncer renal. Alguns dos sintomas mencionados são, Assim, os níveis de ferritina têm se mostrado significante-
por vezes, a primeira manifestação do câncer renal. mente elevados em casos de câncer renal, inclusive
Um bom exemplo é a chamada síndrome de Stauffer, aumentando quando existe progressão do tumor. A
que consiste em uma hepatopatia inespecífica aguda eritropoetina também pode estar elevada, o que se
que aparece no hipernefroma. verifica em 63% dos pacientes.
No restante dos tumores renais malignos, ocorre O número de plaquetas também tem sido usado
pouca ou nenhuma manifestação paraneoplásica. O como um parâmetro prognóstico. Verificou-se, por
hemangiopericitoma e o tumor de Wilms produzem exemplo, que pacientes portadores de tumor estádio
hipertensão arterial com mais freqüência e, no caso IV, e que apresentaram contagem normal de plaque-
deste último, a hipertensão pode ser encontrada em tas, tinham sobrevida maior que aqueles que apre-
até 60% das crianças. sentaram trombocitose.
Diversas questões permanecem em aberto, não se Anemia e teor de ferro sérico têm sido considerados
sabendo quais dos sintomas ou substâncias encontradas úteis como marcadores, seja em uma avaliação inicial,
se constituem em marcadores para o prognóstico ou seja para o seguimento dos pacientes, sendo a anemia
recorrência da moléstia. considerada a anormalidade hematológica mais comum
Vários “marcadores” sangüíneos e sorológicos têm associada ao câncer renal.
sido avaliados, e estudos vêm mostrando que diversos Caracteristicamente, é uma anemia normocítica,
deles possuem uma utilidade potencial. podendo ser normo ou hipocrômica, que usualmente
A hipertensão arterial tem sido observada em muitos se resolve após a retirada do tumor, acreditando-se que
pacientes. Um número significante de elevações da pres- seja um sinal da progressão ou reincidência da doença,
são arterial pode ser conseqüência da hipercalcemia. No quando se dá a recorrência da anemia.
entanto, outros fatores, como a secreção de renina, polici- A hipercalcemia vem sendo associada ao carcinoma
temia e obstrução ureteral, podem estar relacionadas à renal e, como na anemia, observou-se que, após a extir-
hipertensão. Observou-se, por exemplo, que elevados pação do tumor, o teor sangüíneo de cálcio retorna ao
níveis de renina estavam associados a tumores em estádio normal. A recorrência da hipercalcemia pode ser um
muito avançado. Entretanto, mesmo sendo a hipertensão sinal precoce de metástases ósseas ou indicar outros
uma característica bem-conhecida dos cânceres renais, locais secundários de progressão do tumor.
sua especificidade é baixa, isto é, o número de falsa Por último, a elevação aguda de enzimas hepáticas
(síndrome de Stauffer) tem sido descrita em alguns
pacientes que, na sua maioria, não apresentam evidências
de metástases no fígado. Com a exérese do tumor, as
Tabela 1 enzimas voltam a níveis normais e o decréscimo da
sobrevida tem sido correlacionado significantemente
com o não retorno ao normal da função hepática.
Leitura recomendada
1. Nathanson L. Remote effects of câncer on the host. In:
Clinical Oncology, Horton J and Hill G J eds, W.B.
Saunders Company, 1st ed., 1977, 3, pp. 49-85.
2. Arbej JAP, Gimeno MAN, Perez EM, Menor FA, Esteban
FA, Rosaens JF, Sevillano CG y Orgaz RE. Los síndromes
paraneoplásicos en Urologia. Arch Esp de Urol, 44 (8),
pp. 943-9, 1991.
3. Walter CM, Leach F, Ornsteir DK, Zambrano N, Linehar WM.
In: Adult and Pediatric Urology. Gillenwater JY, Grayhack
JT, Howards SS and Mitchell ME ed., Lippincott Willeams &
Williams, 4th ed., 2002, vol. 1, cap. 7, pp. 319-53.
4. The 5-Minute Urology Consult, Gomella LG ed, Lippincot
Williams & Williams, 1st ed 2000, pp. 452-3 (Renal Cell Carcinoma
-General) and pp. 456-7 (Renal Cell Carcinoma - Metastatic).
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Capítulo 95
Tumor sólido renal –
há lugar para seguimento
Saul Gun
José Luis Ferreira Duque
329
ritoneal e choque hipovolêmico, a complicação mais com tumores < 3 cm – que foram seguidos em média
temida dos angiomiolipomas. O diagnóstico é feito durante 42 meses –, constataram que o crescimento
através de exames de ultra-som e tomografia compu- desses tumores é lento (até 1,3 cm/ano). Em 65% (26)
tadorizada. Ao ultra-som, as lesões são tipicamente dos casos, o tumor cresceu além de 3 cm e foi extirpado.
hiperecóicas e bem-delimitadas. A tomografia computa- Todos os tumores foram diagnosticados como carci-
dorizada mostra lesões com densidade de gordura noma renal estádio 1 e a maioria era grau 1. Nenhum
(entre 10 e 80 unidades Hounsfield), que são consi- desenvolveu metástases, cuja incidência na literatura fica
deradas características de angiomiolipoma. entre 1% e 3%. Esses dados sugerem que pacientes
O tratamento dessas lesões depende diretamente idosos ou com risco cirúrgico elevado, apresentando
do seu tamanho. Lesões menores que 4 cm e assinto- tumores menores que 3 cm e bem-definidos, podem
máticas podem ser seguidas semestralmente com ser acompanhados com segurança por meio de exames
exames de imagem (TC). Lesões sintomáticas e maio- seriados (TC semestral).
res de 4 cm, pelo risco de complicações graves, de- Em resumo, as massas sólidas renais de natureza
vem ser tratadas com cirurgia – nefrectomia parcial benigna são, com raras exceções, dificilmente carac-
ou total dependendo do tamanho e da localização terizadas (com exceção do angiomiolipoma) antes da
da lesão. Quando um quadro de hemorragia grave excisão cirúrgica, e devem ser sempre tratadas como
se estabelece, a nefrectomia total de urgência é o carcinoma renal. O diagnóstico é definido apenas com
tratamento definitivo. o exame anatomopatológico da peça cirúrgica. Os
tumores menores que 3 cm em pacientes idosos
assintomáticos, ou com fatores mórbidos associados
Carcinoma de células renais e risco cirúrgico elevado, podem ser submetidos à
observação com relativa segurança devido ao cresci-
O carcinoma de células renais é o tumor maligno mento lento de tais lesões e ao baixo risco de metástases
mais comum encontrado no rim. Sua incidência au- associado a tais tumores.
mentou nas últimas duas décadas, devido ao avanço
nos métodos diagnósticos. A TC é o método radio-
lógico mais comumente empregado para o diag- Leitura recomendada
nóstico e o estadiamento clínico dessas lesões, sendo
a ressonância magnética reservada para os casos de 1. Novick AC, Campbell SC. In: Walsh PC, Retik AB, Vaughan
suspeita de envolvimento venoso, insuficiência renal Jr, DE, Wein AJ. Campbell’s Urology; 8th edition, chap.75;
ou alergia ao contraste. pp. 2672-731, 2002.
2. Bosniak MA, Birnhaum BA, Krinsky GA, Waisman J. Small
O tratamento de escolha do carcinoma renal é a
renal parenchymal neoplasms: Further observations of
nefrectomia radical ou parcial, de acordo com o tama- growth. Radiology, 197: pp. 589-97, 1995.
nho e localização tumoral. O tratamento conservador 3. Rendon RA, Stanietzky N, Panzarella T, Robinette M, Klotz
do carcinoma renal é limitado a um número pequeno LH, Thurston W, Jewett MAS. The natural history of small
de casos. Bosniak e colegas, em estudo com 40 pacientes renal masses. J Urol, 164: pp. 1143-7, 2000.
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Capítulo 96
Cirurgia conservadora no
câncer renal
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Tabela 2: Classificação e estadiamento TNM para câncer renal As ressecções parciais são, em geral, procedimentos
(UICC) (1997) tecnicamente mais delicados que as nefrectomias radi-
cais, necessitando conhecimento maior da relação do
tumor com o sistema coletor e com os vasos renais.
Em algumas situações, como presença de neoplasias
centrais e/ou grandes, torna-se necessária arteriografia
para evitar perda de sangue excessiva e lesão de
parênquima renal normal. Com o avanço tecnológico
dos métodos de imagem, um único exame, como a
angiotomografia ou a angioressonância, pode esclarecer
dúvidas tanto da anatomia dos tecidos perirrenais como
da vascularização do rim a ser abordado, substituindo
assim a arteriografia clássica. Venografia é solicitada na
suspeita de trombose intra-renal e avaliação da drenagem
venosa do tecido renal remanescente.
Em casos nos quais há possibilidade de abertura
do sistema coletor, a colocação endoscópica de cate-
ter ureteral está indicada. Este permite, no pré-opera-
tório, infusão de corantes para identificação de possí-
veis comunicações do sistema coletor com a cavidade
e auxílio no seu fechamento adequado, evitando
assim fístulas urinárias.
Considerações pré-operatórias
É de suma importância obter história clínica e exame Técnica operatória
físico detalhados, assim como exames laboratoriais
(creatinina, provas de função hepática e pesquisa de As variantes técnicas para a realização de NP estão
proteinúria). A exclusão de doença localmente avan- apresentadas na Tabela 3.
çada e metástases devem ser realizadas com o auxílio A técnica está sumarizada na Tabela 4.
de tomografia computadorizada (TC) de abdome Independente da opção da técnica cirúrgica, al-
superior e radiografias de tórax. A necessidade TC de guns princípios devem ser seguidos: controle vas-
tórax e crânio, assim como de cintilografia óssea, cular, prevenção de isquemia renal, excisão com
permanece restrita a casos selecionados. margens negativas, hemostasia criteriosa, fechamento
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do sistema coletor e do defeito da área ressecada. complicação mais freqüente [6,3% (variação de 0,7%
Habitualmente a NP estaria contra-indicada para a 7,3%)] da NP é a necrose tubular aguda (NTA),
tumores de células renais ou transicionais, na presença causada por isquemia e diminuição do volume de tecido
de metástases nos linfonodos, devido ao mau renal funcionante (associada ou não à falência renal). A
prognóstico associado. porcentagem de pacientes que necessita de diálise, tanto
temporária quanto permanente, é baixa (4%).
Outras complicações: hemorragia (2,4%), infecções
Complicações pós-operatórias em geral (3,2%) e lesões esplênicas (0,6%). Compli-
cações clínicas também podem ocorrer, sendo as
O índice de morbimortalidade após NP tem se pulmonares as mais freqüentes. O índice de re-ope-
mostrado decrescente. A mortalidade pós-operatória rações é baixo, não ultrapassando 3,1%, e pode ser
descrita na literatura varia de 1% a 2%, enquanto que reduzido por criteriosa hemostasia intra-operatória.
a fístula urinária, complicação mais comum, acomete
em média 6,5% (1% a 17%) dos pacientes. A grande
maioria das fístulas é autolimitada ou resolvida apenas Segmento
por instituição de medidas simples como o implante
de cateter ureteral ou uretral para descompressão do É imperativo o controle da creatinina sérica e uro-
sistema urinário. Em casos selecionados, a colocação grafia excretora em quatro a seis semanas após a
de stent ureteral (duplo J) e cistostomia podem ser cirurgia. Naqueles em que os níveis séricos de creati-
necessárias, no sentido de realizar drenagem mais nina se encontram elevados, ultra-sonografia e/ou
demorada. O urinoma, complicação secundária à fís- uroressonância está(ão) indicada(s).
tula, pode também ser tratado de maneira minima- Em grande série reportada pela Cleveland Clinic, com
mente invasiva através de drenagem percutânea 327 pacientes, 11,6% desenvolveram recidiva: 4% com
guiada por ultra-sonografia ou TC. A segunda recidiva local e 7,6% com metástases à distância.
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O padrão de seguimento depende do risco de reci- 2. Fergany, A. F., Hafez, K. S., Novick, A. C.: Long-Term Results Of
diva da doença neoplásica, fato relacionado ao estádio Nephron Sparing Surgery For Localized Renal Cell Carcinoma:
10-Year Follow-Up. J Urol, 163: 442-5, 2000.
clínico inicial da doença. A identificação de recorrência 3. Ghavamian, R., Cheville, J. C., Lohse, C. M., Weaner, A. L., Zincke,
por métodos de imagem – TC ou ressonância nuclear H., Bente, M. L.: Renal Cell Carcinoma In The Solitary Kidney: An
magnética – deve ser abordada com nova ressecção Analysis Of Complications And Outcomes After Nephron
parcial ou nefrectomia total, dependendo da apre- Sparing Surgery. J Urol, 168: 454-9, 2002.
4. Guillonneau, H., Bermúdez, S., Gholami, H., El Fettouh,H., Cripta,
sentação da doença.
R., Adorno Rosa, J., Baument, H., Cathelineau, X., Fromont G.,
Vallancien, G. :Laparoscopic Partial Nephrectomy For Renal Tumor:
Single Center Experience Comparing Clamping And No Clamping
Leitura recomendada Techniques Of The Renal Vasculature. J Urol, 169: 483-6, 2003.
5. Richter, F.; Schnorr, D.; Deger, S.; Türk, I.; Roigas, J.; Wille, A.; Loening,
1. Bendhack, M.L.; Camargo, A.H.L.A.: Quando E Por Quê Indicar S.A.: Improvement Of Hemostasis In Open And Laparoscopically
Nefrectomia Parcial. Em: Urologia: Princípios E Prática. Ed.: Barata, Performed Partial Nephrectomy Using A Gelatin Matrix-Thrombin
H.S. E Carvalhal, G.F. Segunda Edição. Artmed, Porto Alegre, em impressão. Tissue Sealant (Floseal). Urology, 61(1): 73-7, 2003.
334
Capítulo 97
Laparoscopia e procedimentos
minimamente invasivos no
tratamento do câncer renal
Nélson Gattás
Mardhen Bezerra Araújo
335
Nefrectomia radical
laparoscópica
A nefrectomia radical laparoscópica pode ser reali-
zada pela via transperitoneal ou pelo acesso retrope-
Figura 2: Agulha de LeVeen ritoneal. A nefrectomia radical transperitoneal é a mais
utilizada nos diversos centros do mundo, devido à
melhor identificação das estruturas anatômicas e por
acompanhada pelo ultra-som, sendo o ciclo de res- possibilitar uma maior área de trabalho, facilitando a
friamento repetido novamente. Este resfriamento dissecção do urologista.
ocasiona uma hemorragia intersticial, necrose de Para esta abordagem, o paciente é posicionado em
coagulação e morte celular irreversível (Figura 3). decúbito lateral a 45º. O pneumoperitôneo é criado e
No entanto, apesar de vários estudos clínicos e os trocartes são inseridos de acordo com a Figura 4.
laboratoriais indicarem boa eficácia da ablação renal A linha de Toldt é incisada e o colo rebatido medial-
por crioterapia, este equipamento tem acessibilidade mente. A dissecção é iniciada medialmente ao pólo
limitada devido ao seu alto custo. inferior do rim, na superfície externa da fáscia de
Gerota. Após mobilização do pólo inferior, este é
elevado, o pedículo dissecado e controlado por meio
Nd: YAG laser de clipes ou nós; então o ureter é seccionado, o rim
mobilizado e a peça cirúrgica é introduzida em saco
Nas neoplasias malignas do rim, o Nd: YAG laser apropriado, sendo retirada intacta, por uma extensão
tem sido usado como forma de terapia no controle da incisão do trocarte mais inferior.
local de tumores do epitélio transicional do trato uri- Quanto aos princípios oncológicos, o tumor deve
nário alto, e no carcinoma de células renais, em algu- ser retirado dentro de saco plástico impermeável,
mas situações específicas como tumores bilaterais ou para evitar o implante tumoral no sítio do trocarte,
doença multifocal e em pacientes portadores de co- como já descrito por alguns autores.
morbidades que tornem grande o risco cirúrgico para A nefrectomia radical laparoscópica retroperitoneal
realização de uma nefrectomia radical. apresenta alguns fatores que limitam a sua utilização,
336
B
C
A
como o espaço de trabalho reduzido e a dificuldade de o ureter e os vasos gonadais são identificados e
identificação das estruturas anatômicas. Portanto a controlados. O espécime cirúrgico é retirado intacto
experiência com o acesso retroperitoneal no tratamento em um saco plástico impermeável, através de uma
do câncer renal é limitada, tendo sido utilizado em tu- extensão de uma das incisões dos trocartes.
mores renais menores e por alguns centros com expe-
riência neste tipo de abordagem cirúrgica. As principais
vantagens deste método são o controle precoce do Conclusão
pedículo renal e a não-violação da cavidade abdominal.
Para iniciar o procedimento, cria-se o espaço para se A nefrectomia radical laparoscópica é um trata-
colocar o balão dissector (Figura 5), e se introduz os mento efetivo no controle do câncer renal, tanto por
trocartes conforme o modelo da Figura 6. A fáscia de via transperitoneal como por via retroperitoneal. A
Gerota é incisada na região do hilo renal, com abordagem terapêutica desta patologia por outros
identificação e clampeamento da artéria renal e veia renal. tipos de modalidades cirúrgicas minimamente inva-
O rim é mobilizado, externamente à fáscia de Gerota; sivas, citadas anteriormente neste texto, estão ainda
em fase de experimentação, necessitando de um
maior tempo para validar a eficácia das mesmas.
Leitura recomendada
1. Gattás N, Andreoni C. Aplicações da videolaparoscopia em
urologia. In: Tópicos em clinica médica. Lopes LC.
MEDSI Editora Médica e Científica Ltda. pp. 537-41.
2. Gill IS, Schweizer D, Hobart MG, Sung GT, Klein EA, Novick
AC. Retroperitoneal Laparoscopic Radical Nephrectomy: The
Cleveland Clinic Experience. The Journal of Urology, 163:
pp. 1665-70, 2000.
3. Allan JDD, Tolley DA, Kaouk JH, Novick AC, Gill IS.
Laparoscopic Radical Nephrectomy. European Urology,
40: pp. 17-23, 2001.
4. Gill IS, Novick AC, Soble JJ, et al. Laparoscopic renal
Figura 5: Dilatação com balão do retroperitôneo. Posicionado crioablation: initial clinical series. Urology 52: 543-51, 1998.
entre a fáscia do psoas, posteriormente, e a fáscia de Gerota, 5. McGovern FJ, Wood BJ, Goldberg SN, Mueller PR. Radio
anteriormente, com distensão de aproximadamente 800 cm3 de frequency ablation of renal cell carcinoma via image guided
ar ou SF (0,9%) needle electrodes. J Urol 161: pp. 599-600, 1999.
337
338
Capítulo 98
Papel da linfadenectomia
e adrenalectomia associadas
à nefrectomia
Stênio de Cássio Zequi
Rodrigo Souza Madeira Campos
A adrenalectomia
O envolvimento da adrenal ipsilateral é raro,
ocorrendo em 3% (2% a 8%) dos casos. Não cos-
tuma ser um fato isolado. Ocorre em neoplasias
avançadas localmente ou com fatores de mau prog-
nóstico associados.
O acometimento adrenal é verificado em 0,9% a
1,3% dos estádios T1-T2, em 13,4% a 16,7% dos T3-
T4. Nos casos de tumores de grandes dimensões (6 a
339
A linfadenectomia retroperitonial é discutível. Tan- Pela falta de adjuvância efetiva, a única oportu-
to quanto à indicação, como extensão (regional ou nidade de tratamento para os N+ seria a cirurgia.
Em alguns estudos, pacientes N+ e M0 ao estadia-
estendida).
mento clínico e com bom estado geral podem ter
ganho de sobrevida com a linfadenectomia (ex-
tensa?) associada à imunoterapia adjuvante.
Tabela 2: Linfadenectomia – indicações e extensão
Uma minoria de pacientes com acometimento
cinco anos). Talvez a linfadenectomia não aumen- mortalidade e dificulta sua reprodutibilidade além
te as taxas de sobrevida. dos serviços de referência.
Entre 34% a 100% dos pacientes N+ já apresen- Embora existam estudos favorecendo a realização
tam metástases sincrônicas (disseminação hema- de linfadenectomias extensas com melhor sobrevida
togênica). Em autópsias e em séries recentes apenas a estes pacientes, em geral são trabalhos retrospectivos
5% dos pacientes N+ não apresentam doença não-controlados contando com vieses de seleção, favo-
sistêmica. Portanto um contingente mínimo de recendo pacientes em bom estado geral ou compa-
pacientes (< 5%) se beneficiaria de um tratamento rando pacientes operados com não-operados.
local como a linfadenectomia. Outro fator que desfavorece a linfadenectomia é
Em 30% dos pacientes M+ não há acometi- o crescente diagnóstico incidental do CCR, com re-
mento linfonodal. dução da incidência e acometimento linfonodal. Em
Pacientes N0 não têm aumento de sobrevida com um estudo comparativo europeu (EORTC-30881),
a linfadenectomia, configurando duas situações apenas 3,3% dos casos eram N+.
em que a linfadenectomia seria desnecessária. Seria adequado estender os limites do procedi-
Não se dispõe de uma adjuvância eficaz para mento às custas de um benefício ainda não compro-
os pacientes N+. O que reduz o entusiasmo vado e com a possibilidade de favorecer menos de
pela linfadenectomia. 5% dos portadores de CCR?
Pacientes M+ e com doença linfonodal macros- Nas nefrectomias parciais eletivas e imperativas,
cópica aos exames de imagem não apresentam a linfadenectomia não deve ser realizada por prin-
benefício com qualquer tipo de linfadenectomia, cípio, uma vez que a probalidade de positividade
principalmente se estiverem em mau estado geral. é desprezível.
340
341
342
Capítulo 99
Câncer renal avançado –
tratamento cirúrgico
Os adenocarcinomas renais têm uma história locais da recorrência, quando o tratamento cirúrgico
natural imprevisível, manifestando-se clinicamente não pode ser empregado.
sob formas bem diversas. Cerca de 70% dos paci-
entes apresentam-se, inicialmente, sem evidências de
metástases e, aproximadamente, metade desses tem Neoplasias renais com
doença localmente avançada, incluindo 5% a 10% invasão da veia cava inferior
com extensão para a veia cava inferior.
O adenocarcinoma renal tem propensão a invadir
o sistema venoso, com envolvimento da veia renal em
Doença localmente invasiva 20% a 35% dos casos e extensão para a veia cava
inferior em 5% a 10% dos pacientes. Clinicamente,
O envolvimento de órgãos adjacentes, como o menos de 20% dos pacientes com envolvimento da
pâncreas, o colo, o duodeno, o baço e a musculatura veia cava podem apresentar varicocele, edema de
abdominal posterior, representa situação de mau membros inferiores, proteinúria, circulação colateral
prognóstico e, na maioria das vezes, o tratamento cirúr- na parede abdominal, embolia pulmonar recorrente e
gico é insuficiente para controlar a doença. A disfunção hepática. A maioria dos pacientes não
imunoterapia é o tratamento de escolha nesses casos. apresenta sinais ou sintomas relacionados ao acome-
O papel da cirurgia para reduzir o volume tumoral timento tumoral da veia cava, mesmo em casos com
antes da imunoterapia ainda não está bem-definido. envolvimento extenso.
A extensão venosa do tumor pode representar a
propagação intraluminar do carcinoma renal para a
Recorrência local solitária veia renal e veia cava inferior, sem invadir essas estru-
após nefrectomia radical turas, mas também pode ocorrer do trombo tumo-
Recorrência na loja renal, sem metástase associada, ral infiltrar a parede desses vasos. A classificação da
representa situação rara. Tumores primários volu- extensão venosa é baseada na posição cranial do
mosos e presença de linfonodos acometidos pela trombo (Tabela 1), que é o fator mais importante no
neoplasia são os principais fatores que aumentam o planejamento cirúrgico. O estudo por ressonância mag-
risco de recorrência local isolada. O tratamento prefe- nética é de grande importância, pois é o exame que
rencial é a ressecção cirúrgica da lesão, o que pode melhor demonstra a extensão cranial do trombo
possibilitar ao paciente remissão da doença. A radio- (Figura 1), tendo a vantagem de ser um método não-
terapia representa opção para controlar os sintomas invasivo, ao contrário da venocavografia.
343
Tratamento
Os pacientes com neoplasias renais envolvendo a
veia cava inferior devem ser tratados cirurgicamente
sempre que possível. Quando esses casos são tratados
de forma conservadora, evoluem inexoravelmente
para o óbito. Embora a ressecção cirúrgica completa
represente intervenção de certa complexidade, é a
única opção de cura para esses pacientes. Os índices
de sobrevida em cinco anos variam entre 40% e 69%.
O envolvimento neoplásico dos linfonodos é fator
de mau prognóstico, diminuindo consideravelmente
esses índices de sobrevida.
A estratégia cirúrgica nesses casos deve ser plane-
jada em função do lado envolvido, da extensão cra-
nial do trombo tumoral e da presença ou não de Figura 1: Ressonância magnética – neoplasia renal à direita
volumosa (seta tracejada) e trombo na veia cava cujo limite
invasão da parede da veia cava. Nos casos em que a cranial está apontado pela seta
lesão situa-se ao nível da emergência da veia renal, o
trombo é removido através de cavotomia ou da
ressecção em cunha da veia cava. Se o trombo esten-
de-se cranialmente, sem ultrapassar o diafragma, a renal direita e tornam necessária uma drenagem
mobilização do fígado através da dissecção dos liga- venosa alternativa do rim direito, que pode ser feita
mentos triangular e coronário e da ligadura das veias através de autotransplante renal para a fossa ilíaca,
infra-hepáticas expõe o segmento retro-hepático da de anastomose da veia renal com a veia hepática ou
veia cava e pode-se realizar o clampeamento da mes- de reimplante da veia renal no segmento rema-
ma logo acima do limite cranial do trombo, passo nescente cranial da veia cava. Quando a neoplasia
fundamental para removê-lo. Quando o trombo envolve o rim direito, pode-se fazer uma ligadura
invade a parede da veia cava, torna-se necessária a definitiva da veia renal esquerda, pois ele apresenta
ressecção segmentar da veia. Nessa situação, as neo- ramos colaterais que permitem a drenagem venosa.
plasias do rim esquerdo obrigam a ligadura da veia Nos casos em que o trombo tumoral estende-se
acima do diafragma, torna-se necessária a instalação
de circulação extracorpórea, permitindo a remoção
Tabela 1: Classificação dos trombos tumorais em função de sua segura do trombo.
extensão
Leitura recomendada
1. Vaidya A, Ciancio G, Soloway M. Surgical techniques for
treating a renal neoplasm invading the inferior vena cava. J
Urol 169: pp. 435-44, 2003.
2. Srougi M. Neoplasias renais com invasão da veia cava. In:
Srougi M & Simon S: Câncer Urológico, São Paulo, Ed.
Platina, p. 111, 2002.
344
Capítulo 100
Tratamento complementar
do câncer renal
O uso cada vez mais freqüente, e de certo modo estudos prospectivos, retrospectivos e análises multi-
indiscriminado, de exames complementares de ima- variadas destes fatores prognósticos visa a seleção
gem, tem contribuído para a detecção acidental de de um subgrupo de pacientes sob maior risco para
tumores renais em estádios precoces. Ainda assim, recidiva, e portanto com maior probabilidade de
cerca de 25% dos pacientes ao diagnóstico já se apre- benefício com tratamento complementar.
sentam com doença localmente avançada (T ≥ T3
e/ou N+). Nestas circunstâncias, ainda que comple-
tamente ressecado, o câncer renal está associado a Tratamento adjuvante –
prognóstico desfavorável. A literatura revela que em evitar recidiva local?
cinco anos aproximadamente 37% a 41% destes
pacientes terão recidiva da doença e que apenas 51% Recidiva local após refrectomia radical é rara, ocor-
a 62% dos doentes estarão vivos após tal período. rendo em até 16% dos pacientes. Um estudo retros-
A morte pelo câncer renal localmente extenso pectivo publicado em 2002 avaliou o papel da radio-
ocorre devido à progressão para doença metastática terapia complementar em 86 pacientes operados com
distante, em razão de neoplasia residual microscópica neoplasia renal localizada ou localmente avançada. No
não-aparente no momento da cirurgia. Diversos mo- pequeno grupo analisado, 37% dos doentes evoluíram
delos experimentais sugerem que é justamente neste com recidiva, sendo 84% destas recaídas sistêmicas e
cenário de doença mínima que o tratamento adju- apenas 16% locorregionais. Em dez anos, a sobrevida
vante teria sua maior eficácia, podendo modificar a global e a sobrevida livre de doença foi de 42% e
história natural da doença. 40% respectivamente, não diferindo em nada dos da-
Para a indicação de qualquer modalidade de trata- dos apresentados na literatura para grupo similar sem
mento complementar à cirurgia, é necessário que este tratamento radioterápico adjuvante. Radioterapia
seja suficientemente eficiente para resgatar pacientes complementar não se traduz em ganho de sobrevida
destinados a desenvolver recorrência, e ao mesmo não devendo, portanto, ser recomendada.
tempo seguro, uma vez que estará sendo adminis-
trado a uma parcela considerável de indivíduos já
curados com refrectomia radial apenas. Tratamento adjuvante -
A história natural do câncer renal é complexa e evitar recidiva à distância?
influenciada por diversos fatores prognósticos, alguns
relacionados a características do tumor, como, por No final dos anos de 1970, teve início um estudo
exemplo, estadiamento TNM e grau histológico, prospectivo de hormonioterapia adjuvante, com 136
outros a características do paciente (idade, performance, pacientes elegíveis sem doença metastática, randomi-
status etc.). A identificação e validação por meio de zados para receber medroxiprogesterona por um
345
ano versus observação, após tratamento cirúrgico e requer investigação futura, não devendo influenciar
definitivo. Depois de seguimento mediano de cinco a prática atual.
anos, não se evidenciou benefício em favor do braço Interleucina-2 (IL-2) em altas doses é atualmente
experimental adjuvante (32,7% contra 33,9% de o único tratamento sistêmico aprovado pelo FDA
recaídas para os dois braços respectivamente) e com para tratamento de câncer renal metastático, baseado
56,9% dos pacientes experimentando efeitos cola- em uma pequena porcentagem de remissões com-
terais não desprezíveis. pletas duradouras, induzidas por tal terapêutica. Na
Nos últimos 15 anos uma variedade de tratamentos adjuvância, IL-2 600 mil U/kg a cada 8h nos D1 a
biológicos tem demonstrado respostas objetivas em D5 e D15 a D19, foi comparada com controle obser-
15% a 35% dos pacientes com câncer renal metas- vacional em estudo prospectivo de fase III.
tático. Em virtude da atividade reportada com inter- Dentre os 41 pacientes com doença localmente
feron em câncer metastático, o mesmo foi testado avançada analisados, 16 dos 21 pacientes do braço
em dois grandes estudos randomizados, que compa- investigacional, contra 15 dos 23 do braço observa-
raram interferon adjuvante com observação apenas, cional, recaíram (p = 0,73). Apesar de factível, IL-2
pós-nefrectomia radical em neoplasia renal localmente em altas doses não resultou em benefício de sobrevida
extensa (T1 T2 N0 M0 ou M1 eram excluídos). A livre de progressão ou em redução do número de
despeito das diferenças metodológicas entre os dois morte (P = 0,38).
estudos (quanto ao tipo de interferon utilizado, calen- Até que agentes terapêuticos biológicos ou cito-
dário de utilização e tempo de follow-up), ambos ti- tóxicos mais efetivos contra neoplasia renal sejam
nham em comum resultados negativos similares, ou desenvolvidos, nenhuma terapia adjuvante deve ser
seja, interferon não contribuiu com aumento da indicada a pacientes com doença ressecada, a não ser
sobrevida global ou da sobrevida livre de recidiva dentro de um contexto de protocolo de pesquisa.
em cinco anos, nestes grupos estudados (estudo
europeu: sobrevida global em cinco anos de 66%
para o braço controle versus 66% para o braço Leitura recomendada
adjuvante (p = 0,86) e sobrevida livre de eventos em
1. Pizzocaro G, Piva L, Colavita M, et al. Interferon adjuvant
cinco anos de 67% versus 56% para os dois braços to radical nephrectomy in Robson stages II and III renal cell
respectivamente (p = 0,10). Estudo americano: carcinoma: A multicentric randomized study. J Clin Oncol
sobrevida global em cinco anos de 62% versus 51% 19: 425-31, 2001.
2. Messing EM, Manola J, Wilding G, et al. Phase III study of
(p = 0,09) e sobrevida livre de progressão em cinco interferon alfa-nl as adjuvant treatment for resectable renal
anos de 41% versus 37% (p = 0,33), para os braços cell carcinoma: An Eastern Cooperative Oncology Group/
observacional e investigacional, respectivamente). Intergroup trial. J Clin Oncol 21: 1214-22, 2003.
Há sugestão, no estudo europeu, de um efeito pro- 3. Clark JI, Atkins MB, Urba WJ, et al: Adjuvant high-dose
bolus interleukin-2 for patients with high-risk renal cell
tetor significativo do interferon, em um pequeno sub- carcinoma: A cytokine working group randomized trial. J
grupo de pacientes pN2 e pN3. Tal evidência é frágil Clin Oncol 21, 2003.
346
Capítulo 101
Genética e câncer renal
Na última década, houve uma grande evolução no a 37%) e tumores (8% a 17%) pancreáticos, cistoa-
conhecimento da genética molecular relacionada às denomas de epidídimo (10% a 26%), tumores do
formas esporádicas e hereditárias do câncer renal, por seio endolinfático e tumores do ouvido interno, que
meio da identificação de alterações moleculares espe- podem ocorrer de maneira síncrona ou assíncrona.
cíficas, que ocorrem em genes supressores de tumor e Portanto, a avaliação clínica do VHL deve incluir
em oncogenes, responsáveis pela suscetibilidade gené- USG e CT do abdome indiferente à avaliação, RNM
tica à formação dos vários tipos histológicos dos do crânio e coluna espinal, avaliação metabólica,
tumores renais. palpação e USG dos epidídimos, avaliação periódica
As principais formas de câncer de rim ocorrem do oftalmologista e otorrinolaringologista.
tanto de maneira esporádica quanto familiar, e estão O gene do VHL foi identificado e localiza-se no
associadas às mesmas anormalidades genéticas. As for- cromossomo 3p25-26, contém três exons que codi-
mas hereditárias de câncer renal diferem da esporádica ficam 283 aminoácidos.
por se apresentarem em idade precoce e serem, em Implicações clínicas
geral, multifocal e bilateral, o que sugere uma predis-
posição genética para o desenvolvimento deste câncer. Em famílias com VHL, a identificação dos indi-
Estudos moleculares de várias famílias com câncer de víduos de risco pode ter o diagnóstico feito pela
rim possibilitaram a identificação de cinco formas here- análise de mutações germinativas do locos do VHL,
ditárias do câncer de rim e suas respectivas anorma- que pode ser feita logo após o nascimento. Os indi-
lidades genéticas. As formas hereditárias já identificadas víduos afetados apresentam tumores renais preco-
são responsáveis por cerca de 4% dos tumores renais ces, além de outras manifestações da doença. O
e são descritas a seguir. diagnóstico precoce das lesões renais nestes indi-
víduos melhora a sua sobrevida. Já a ausência de
mutações do gene VHL identifica os indivíduos sem
Von Hippel Lindau risco de desenvolver a doença.
Mutações com perda de função do gene VHL
O VHL é uma doença autossômica dominante caracteriza os tumores renais de células claras e nunca
em que os indivíduos afetados desenvolvem cistos foram descritos em tumores papilíferos. Este achado
renais e carcinomas múltiplos e bilaterais de células pode explicar, eventualmente, a grande discrepância
claras (24% a 45%), hemangioblastomas cerebelares que existe entre a resposta destes tipos de tumores à
e espinais (44% a 72%), feocromocitomas (7% a imunoterapia (não há casos de resposta descritos em
18%), angiomas de retina (41% a 60%), cistos (8% tumores papilíferos).
347
348
Capítulo 102
Câncer renal com invasão
da veia renal ou cava
Carcinoma de células renais com extensão para a tende a partir de um tumor localizado à direita, presu-
veia renal ocorre em 15% a 20% dos casos e é mais mivelmente, porque a veia direita é mais curta que a
comum à direita. Estes casos não apresentam maior esquerda. Raramente a parede da veia cava está
dificuldade técnica do que aquela já existente em uma comprometida, mesmo em trombos neoplásicos
nefrectomia radical convencional, bastando que se com grande extensão, favorecendo sua extração
faça a ligadura venosa com cuidado e distalmente ao cirúrgica. A sobrevida dos pacientes submetidos à
trombo neoplásico, para que o mesmo não se frag- ressecção completa de trombos tumorais é superior
mente ou se desloque, causando embolia pulmonar. a 50% em cinco anos. No entanto, dependendo do
Recomenda-se a colocação de uma pinça vascular nível de comprometimento vascular, o tratamento
posicionada lateralmente na veia cava, próximo ao desses pacientes representa um dos maiores desafios
óstio da veia renal. Assim, o trombo é extraído junto da cirurgia urológica contemporânea.
com o tumor após a secção da veia renal e o orifício O carcinoma de células renais que invade a veia cava
venoso é suturado de maneira convencional. A pre- inferior pode ser dividido em três grupos, de acordo
sença do trombo tumoral exclusivo, quando resse- com o nível da invasão tumoral, aspecto crítico para a
cado, não altera a sobrevida destes pacientes. indicação e a realização do procedimento cirúrgico
Em 4% a 15% dos casos há invasão da veia cava adequado (Tabela 1). Tomografia computadorizada
inferior. Em dois terços das vezes o trombo se es- e ressonância magnética são os melhores exames para
349
a confirmação diagnóstica. Na prática, pode dividir lares (manobra de Langenbech) e assim consegue-se
os pacientes em dois grandes grupos: aqueles com rodar o lobo direito do fígado medialmente, identi-
invasão da veia cava abaixo dos vasos supra-hepáticos, ficando-se a veia cava e palpando-se o trombo tu-
em que se necessita de uma abordagem cirúrgica por moral. A veia cava deve ser completamente disse-
via abdominal exclusiva e aqueles com trombos neo- cada do fígado, ligando-se todos os vasos comuni-
plásicos acima dos vasos supra-hepáticos, em que há cantes existentes. Não existe um número fixo de veias
necessidade de hipotermia profunda com parada circu- nesta região e este procedimento deve ser feito com
latória ou by-pass cardiopulmonar. cuidado, pois estes vasos são usualmente muito curtos.
Quando o trombo está localizado no segmento ve-
noso retro-hepático, mas abaixo dos vasos supra-
Técnica cirúrgica hepáticos, pode-se malaxar o trombo tumoral para
uma posição infra-hepática, o que minimiza a magni-
Os pacientes que serão submetidos à nefrectomia tude do procedimento. Caso contrário, após separar-
radical com extração de trombo tumoral na veia cava se a veia cava do fígado, realiza-se a manobra de
inferior devem ser preparados para uma cirurgia de Pringle e, após o controle vascular acima e abaixo
grande porte. Na maioria destes casos o tumor é gran- do trombo tumoral, completa-se a sua extração com
de, produz uma intensa reação desmoplásica junto ao um cavotomia infra-hepática ampla (Figura 1).
hilo renal e, especialmente nos casos de obstrução venosa Quando o trombo tumoral se estende para junto
completa, há uma rede de vasos colaterais de tal ou acima das veias supra-hepáticas, a indicação cirúr-
magnitude, que usualmente é impossível abordar-se o gica deve ser feita com critério, pois o procedimento
pedículo renal diretamente. Desta forma, a abordagem é de grande magnitude e muitos destes casos apresen-
clássica de ligadura da artéria renal seguida pelo controle tam comprometimento linfonodal, o que piora sobre-
venoso vascular no início da cirurgia fica muitas vezes maneira o prognóstico. Ainda, ao contrário dos trom-
prejudicada, e pode produzir grandes hemorragias. bos tumorais de localização infra ou retro-hepática,
O acesso cirúrgico pode ser realizado por diversas
incisões, na dependência do tamanho e localização
do tumor e experiência do cirurgião, mas três são as
mais utilizadas.
a) toracolaparotomia;
b)laparotomia mediana; ou
c) laparotomia transversa (chevron).
As duas últimas incisões podem ser complemen-
tadas por uma eventual esternotomia nos casos em
que o trombo tumoral tem extensão acima dos vasos
supra-hepáticos e necessita-se de uma abordagem
supra-diafragmática e/ou intrapericárdica.
Os pacientes que se apresentam com trombos tu-
morais nível 1 têm uma cirurgia simplificada. Após
o controle proximal e distal da veia cava inferior acima
e abaixo do trombo neoplásico, e da veia renal contra-
lateral, com torniquetes de Rummel, uma cavotomia
circular é realizada para extração do trombo neo-
plásico e o vaso, suturado com pontos contínuos de
prolene. Se necessário, pode-se obter cerca de 2 cm Figura 1: Manobras críticas na abordagem do trombo neoplásico
de veia cava superiormente com a liberação do lobo com invasão da veia cava retro-hepática
caudado do fígado. a) Rotação medial do fígado, como a página de um livro, após
A cirurgia dos pacientes com trombos tumorais liberação dos seus ligamentos triangular, coronal e falciforme;
b) Ligadura das veias curtas entre a veia cava e parte posterior
nível II é mais complexa. Para obter-se o controle do lobo hepático direito;
proximal da veia cava inferior, há necessidade de iden- c) Controle da veia cava retro-hepática acima do trombo e das
tificar-se a sua porção retro-hepática. Para isto, dis- veias renal e cava infra-renal;
d) Manobra de Pringle, se necessário.
seca-se os ligamentos hepáticos, coronais e triangu-
350
que quase nunca são aderentes à parede da veia cava, Leitura recomendada
o mesmo não ocorre aos pacientes com trombos
extensos, que podem estar densamente aderentes ou 1. Marshall FF, Reitz BA. Technique for removal of renal cell
carcinoma with suprahepatic vena cava thrombus. Urol Clin
apresentarem invasão da parede venosa. Em geral,
North Am 1986;13: pp. 551-7.
estes pacientes necessitam by-pass cardiopulmonar, 2. Clayman RV, Gonzalez R, Fraley EE. Renal cell cancer
hipotermia profunda com parada cardiocirculatória invading the inferior vena cava: clinical review and
ou derivações venovenosas, para que estas cirurgias anatomical approach. J Urol 1980, 123: pp. 157-63.
sejam realizadas com segurança. 3. Skinner DG, Pritchett TR, Lieskovsky G, Boyd SD, Stiles
QR. Vena caval involvement by renal cell carcinoma. Surgical
Mortalidade peroperatória ocorre em até 13% dos
resection provides meaningful long-term survival. Ann Surg
casos e a complicação mais temida é o sangramento intra- 1989, 210: pp. 387-94.
operatório. Sepse, insuficiência renal e hepática são compli- 4. Novick AC, Kaye MC, Cosgrove DM, et al. Experience with
cações pós-operatórias graves, e surgem entre 10% a 30% cardiopulmonary bypass and deep hypothermic arrest in the
dos casos. Fatores adversos para uma sobrevida prolon- management of retroperitoneal tumors with large vena cava
thrombi. Ann Surg 1990, 212: pp. 472-7.
gada destes pacientes incluem a presença de invasão da 5. Libertino JA, Zinmman L, Watkins E. Long-term results of
parede do vaso pelo trombo neoplásico, linfonodos resection of renal cell cancer with extension into inferior
positivos ou micrometástases à distância. vena cava. J Urol 1987, 137: pp. 21-4.
351
352
Capítulo 103
Tumor renal bilateral
Tumor renal é a patologia de alta incidência, com ter pior sobrevida que T4 em 36 meses, não existindo
estimativa de 30 mil diagnósticos de novos casos em sobrevida além de 90 meses.
2003 nos EUA. Há um crescimento anual da incidência A sobrevida é também função do grau de diferen-
da ordem de 2,3% a 4,3% em todos os grupos etários, ciação tumoral.
em todos os estádios, inclusive metastáticos. Em função A sedimentação dos procedimentos cirúrgicos
dos diagnósticos incidentais, a incidência cresce mais com preservação de parênquima renal, a cirurgia
em tumores localizados. Atualmente, cerca de 60% laparoscópica, as cirurgias por radiofreqüência,
dos diagnósticos de tumor renal são incidentais, criocirurgia, associados à imunoterapia com IL-2 e
enquanto que em 1970 era de 10%. transplantes halogênios de stem cell, vêm propor-
Em torno de 11 mil pessoas deverão morrer de cionando novas esperanças de sobrevida.
câncer de rim em 2003, o que corresponde a cerca
Genética molecular
de 3% de todos os tumores.
Graças ao aumento dos diagnósticos precoces, Há que se considerar a existência de dois grupos
a sobrevida tem sido maior. Assim, em 1976, era genéticos, o familiar e o esporádico, sendo função
de 52% em cinco anos e, em 1998, de 62% em dos genes supressores tumorais de câncer de rim e
cinco anos. Hoje, pacientes que chegam ao urologista oncogênese. Estes tornam evidente a importância do
com tumor localmente avançado têm 65% de gene da doença de Von Hippel Lindau e genes Met,
chance de sobreviver por cinco anos e aqueles que tanto na gênese das formas hereditárias quanto para
se apresentam com doença avançada, somente 20% as não-familiares esporádicas de câncer de rim.
em dois anos. Como estes genes são considerados cancerígenos, o
Dos pacientes que desenvolvem metástases após seu encontro pode favorecer novos métodos prope-
a nefrectomia, somente 30% são encontradas dêuticos e terapêuticos e de prevenção.
propedeuticamente.
O estadiamento da doença é de fundamental
Oncogênese
importância no prognóstico e na orientação tera- Oncogênese é um fenômeno decorrente do au-
pêutica. mento da função do gene, resultante de mutação, le-
O critério universalmente aceito é o do TNM. vando ao crescimento não-controlado do tecido, for-
A análise de sobrevida confere a T1a os melhores mando o tumor.
resultados, de 85% em 72 meses. T1b apresenta Freqüentemente a oncogênese pode duplicar no
sobrevida de 50%, semelhante a T2. Peculiar é o fato câncer, resultando em três cópias em lugar de duas,
de T3 com comprometimento da glândula adrenal a chamada trisomia.
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