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Seção VII B

Capítulo 90
Massa renal –
diagnóstico diferencial

Edson Luiz Moreira


Luiz Augusto Bendhack

Introdução (Tabela 1). A investigação da massa renal, sintomática


ou não, é de grande importância. Adenocarcinomas
O uso generalizado da ultra-sonografia e da tomo- pequenos podem apresentar evoluções distintas,
grafia computadorizada proporcionou aumento da permanecendo meses ou anos sem progressão ou
freqüência de massas renais. Tasaka e colegas avalia- com metástases precoces; cistos complexos devem
ram em estudo prospectivo com ultra-sonografia 41 ser diferenciados de adenocarcinomas, e lesões bem-
mil indivíduos assintomáticos, e em 0,9% encontraram definidas por métodos de imagem permitem segui-
algum tipo de massa renal; 10% desses tinham massas mento clínico.
sólidas e 5% destas eram carcinoma de células renais. Os sintomas e sinais clínicos, quando existentes,
Massas renais podem ser classificadas em: sólidas, freqüentemente não auxiliam no diagnóstico, assim
císticas ou complexas (mistas) e malignas ou benignas como os marcadores tumorais que apresentam baixa

Tabela 1: Massas renais - classificação

*Discutível na literatura

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especificidade. Linfomas hilares, tumores uroteliais, métodos de investigação, permitindo o diagnóstico


retroperitoneais e perinéfricos (lipossarcomas) podem correto em torno de 95% dos casos.
simular tumor renal.
Há necessidade de se estabelecer uma sistemática
para o diagnóstico diferencial (Figura 1). Quase sempre Massas renais císticas
a existência de massa renal é evidenciada pela ultra-
sonografia (US), e o diagnóstico é definido pela tomo- Cistos renais corticais simples são encontrados em
grafia computadorizada (TC) e/ou ressonância mag- aproximadamente 25% da população, aumentando
nética (RM). A urografia excretora (UIV), indicada na com a idade. Podem ser únicos ou múltiplos, quase
pesquisa de hematúria, apresenta baixa sensibilidade e sempre assintomáticos (Figura 2). Com os meios
especificidade; a arteriografia tem o inconveniente de disponíveis atualmente, diagnosticam-se 98% dos
ser invasiva e falha para tumores hipovasculares (carci- cistos renais simples, porém, quando complexos,
noma de células transicionais, sarcoma, lesões metas- bosselados ou hemorrágicos, o diagnóstico torna-se
táticas e cistoadenocarcinoma renal), além de sua mais difícil, necessitando de uma investigação mais
importância estar reduzida pela angiografia digital. A criteriosa para afastar a presença de cistoadenocarci-
punção percutânea de massas complexas é contro- noma papilar e adenocarcinoma. Na avaliação dessas
versa; sua principal utilidade é excluir a presença de massas com os métodos US ou TC, podemos utilizar
tumor necrosado com degeneração cística ou de neo- a classificação proposta por Bosniak (Tabela 2), que
plasia localizada no interior de um cisto seroso. A US, avalia os critérios morfológicos da parede e do septo
a TC e a RM aumentaram muito a sensibilidade dos (calcificações, espessura, contorno, número) e de

Figura 1: Fluxograma da massa renal

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Massas renais sólidas


No adulto, o tumor renal representa cerca de 2%
a 3% de todas as neoplasias. O adenocarcinoma renal
incide em cerca de 80% a 90% das massas renais
malignas. Na criança, o tumor renal tem incidência
relativamente maior; tumor de Wilms é a neoplasia
abdominal mais freqüente, correspondendo a 95%
dos tumores renais.
A US é menos eficiente na definição de massas
renais sólidas. Diagnostica apenas 26% das lesões me-
nores que 1 cm e 83% das lesões maiores que 3 cm.
A TC é o melhor método para diagnóstico dos tu-
mores renais, com eficácia semelhante à RM.
A RM é bem-indicada se há perda de função renal ou
quando o contraste não pode ser usado. Também é útil
na distinção entre carcinoma renal e oncocitoma, que
apresenta cápsula e cicatriz central estrelada à RM.
Lesões mesenquimais benignas do rim, incluindo
leiomiomas, fibromas, lipomas e hamartomas, são
relativamente incomuns. Os adenomas têm sido muito
discutidos: são considerados por muitos como benig-
Figura 2: Cisto renal simples nos, enquanto outros interpretam o termo “adeno-
carcinomas renais com baixo potencial metastático”.
Angiomiolipomas (Figuras 3a e 3b) contêm tecido
densidade e alteração da captação de contraste pelos vascular, muscular liso e gorduroso em proporções
cistos para a diferenciação das massas. Auxilia na variáveis. Quando o tecido gorduroso predomina,
indicação de seguimento clínico, se Bosniak I e II, ou o diagnóstico com TC é facilitado. Se há hemorragia
de exploração cirúrgica se Bosniak III e IV (45% e ou predomínio de tecido vascular, o diagnóstico pode
90% de possível malignidade, respectivamente). não ser possível.

Tabela 2: Classificação de Bosniak

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Figura 3a: Ecografia de angimiolipoma em rim direito

Figura 4: Oncocitoma renal. Extensa massa sólida bem-


delimitada de ecogenicidade homogênea na porção anterior do
rim esquerdo (RE). Características não-invasivas benignas

Figura 3b: TAC de angimiolipoma renal nódulo sólido exofítico


hipoecogênico

Alguns tipos de tumores benignos sólidos irão ne-


cessitar de estudo histológico. O oncocitoma renal
(Figura 4) é bem-circunscrito e uniforme, sem áreas
de necrose ou hemorragia, por vezes encapsulado, e
ocorre em aproximadamente 5% das massas sólidas.
No adenocarcinoma renal, a US tem apresentação
variada (Figura 5a). Tomando-se por referência o te-
cido renal normal, a massa pode ser isoecogênica Figura 5a: Ecografia de carcinoma de células renais. Massa sólida
(50%), hipoecogênica (30%) ou hiperecogênica (20%), relativamente isoecogênica ao parênquima renal
apresentar lobulações, áreas de degeneração cística ou
calcificações intratumorais. A interface tumor-tecido
renal pode ser nítida e bem-definida ou imprecisa. A
TC helicoidal (Figura 5b) é o método de escolha para localização facilitada pelo contraste com o ganho de
o estadiamento, com eficácia de 80% a 90%. O adeno- atenuação (acréscimo de 10 HU após administração
carcinoma renal costuma ser sólido, com valores de do contraste). O adenocarcinoma renal aparece me-
atenuação de 20 unidades Hounsfield (HU). A sua nos denso que o tecido renal que o circunda.
imagem à TC muda com o tamanho e a vascularização. A RM é o método ideal para determinar patência
Tumores maiores alteram o contorno renal e a vascular, origem da massa, detecção de linfonodos
arquitetura intra-renal. Lesões menores têm sua peri-hilares e invasão de órgãos adjacentes.

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Guia Prático de Urologia

Leitura recomendada
1. Bauab Jr T. Doença cística renal. In: Prando A, Prando D,
Caserta NMG. Urologia Diagnóstico por Imagem 1th
Ed. Sarvier, c. 7, p. 106, 1997.
2. Belldegrun A, deKerniom JB. Renal Tumors. In: Walsh PC et
al, Campbell Urology, 7th ed. Philadelphia W.B. Saunders,
1997, p. 2283.
3. Bosniak MA. Diagnosis and Management of Patients with
Complicated Cystic Lesions of the Kidney. J Urology, v.
159, pp. 1401-2, 1998.
4. Hreiak H, Whit SD. Radiologic Assessment of the Kidney.
In: Brenner & Rector, eds. The Kidney, 6th ed. Copyright
W.B. Saunders, 2000, c. 27; p. 1191.
5. Prando D. Tumores Malignos do Parênquima Renal. In:
Figura 5b: Tomografia computadorizada de adenocarcinoma renal Prando A, Prando D, Caserta NMG. Urologia Diagnóstico
por Imagem 1th Ed. Sarvier, c.10, p. 152, 1997.

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Capítulo 91
Tumores benignos do rim

Antonio Marmo Lucon

Os tumores benignos do rim que têm importância necrótica central que se expande para a periférica
clínica são os oncocitomas e os angiomiolipomas. Os como roda de carroça. Nesses casos, a biópsia intra-
adenomas corticais e os adenomas metanéfricos são operatória, é recomendada e, se confirmado o diag-
pequenas lesões nodulares encontradas em autópsias. nóstico de oncocitoma, a nefrectomia parcial deve
São muito pequenas para dar sintomas ou aparecer nos ser feita mesmo para tumores maiores que 4 cm.
exames de imagens, têm histologia com características
benignas por tratarem-se de lesão neoplásica que ainda
não evoluiu e, certamente, se progredirem, o farão como Angiomiolipoma
uma das formas de carcinoma de células renais.
Os lecomiomas, fibromas, lipomas, linfangiomas Tumor sólido constituído de vasos, músculo liso e
e hemangionas são raros e são tratados como carci- gordura, de comportamento benigno na grande maio-
nomas de células renais, porque os exames de imagem ria. Constitui 3% dos nódulos sólidos renais. Setenta
não fazem distinção entre eles. por cento dos casos ocorrem na forma esporádica
com pico de apresentação na quinta e sexta décadas.
Trinta por cento ocorrem associados à esclerose tube-
Oncocitomas rosa com apresentação aos 30 anos de idade, em geral
bilateral e multicêntrico. O diagnóstico por US, CT e
São tumores epiteliais benignos, derivados do RNM é praticamente certo e exclui carcinoma de células
epitélio dos túbulos distais dos néfrons. Compre- renais. Por isso, o tratamento preconizado tem sido
endem 3,2% a 10% dos nódulos sólidos renais e estão conservador, isto é, acompanhamento clínico. Entre-
associados à perda dos cromossomos 1 e Y. São tanto, lesões maiores que 4 cm, lesões que crescem ou
bem-circunscritos, não-encapsulados, marrons ou com tendência a sangramento devem ser removidas
amarelos pálidos. Em 7% a 32% dos casos, podem por meio de nefrectomia parcial ou, melhor ainda, de
coincidir com a presença de carcinoma de células enucleação. Essa conduta merece maior destaque nos
renais no mesmo rim. Os sintomas clínicos e o aspecto casos de lesões múltiplas, bilaterais, geralmente
nos exames de imagem não permitem diagnóstico associadas à esclerose tuberosa. É preferível enuclear
seguro de oncocitoma pré-operatório, por isso eles várias lesões, ainda que não seja possível enuclear todas,
são sempre tratados como se fossem carcinoma de antes que elas se tornem grandes demais e impossíveis
células renais, isto é, nefrectomia parcial para tumores de serem retiradas com a conservação do rim.
até 4 cm e nefrectomia radical para tumores maiores. O paciente deve ser advertido de que a cirurgia
Em 33% dos casos, a tomografia pode mostrar lesão proposta não vai curá-lo definitivamente, porque

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outras lesões vão aparecer, produto da evolução de Leitura recomendada


angiomiolipomas pequenos ou microscópicos que
já existem nos rins. A finalidade do ato cirúrgico é 1. Novick AC, Campbell SC. Renal Tumor in Walsh PC et al
(eds). Campbell’s Urology, Philadelphia, 8th ed. Saunders.
evitar que as lesões fiquem tão grandes que seu efeito
2. Reuter UE. Renal Tumors Exhibiting Granular Cytoplasm.
de massa possa comprimir outras vísceras abdo- Sem Diag Path 16: 135-45, 1999.
minais e até causar insuficiência respiratória. 3. Monteiro ES, Lucon AM, Figueiredo A, Rodrigues G, Arap
Existe uma forma de comportamento maligno do S. Bilateral Ciant Renal Angiomiolipoma Associated with
Hepatic Lipoma in a Patient with Tuberous Sclerosis. Rev
angiomiolipoma. Nessa ele é multicêntrico, atingindo
Hosp Clin 58: 103-8, 2003.
linfonodos, fígado, pâncreas e outros órgãos. O único
tratamento é a remoção cirúrgica, quando possível.

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Capítulo 92
Patologia, classificação e
estadiamento dos tumores renais

Antonio Augusto Ornellas


Maria Helena Faria Ornellas

Tumores renais são classificados em benignos e


malignos. Os tumores renais benignos (Figura 1), com
exceção do oncocitoma, são geralmente achados aci-
dentais com pouco significado clínico.

Tumores benignos mais


comuns

Adenoma papilar renal


Tumores geralmente menores que 5 mm, origi-
nários de células dos túbulos renais e encontrados Figura 1: Tomografia computadorizada mostrando um tumor
freqüentemente em autópsias. Como não há critérios renal direito benigno de origem mesenquimal
morfológicos, imunistoquímicos e citogenéticos se-
guros para distinguí-los do carcinoma de células re- Oncocitoma
nais, a maioria dos autores os considera em con-
junto com este. Tumor epitelial composto de grandes células eosi-
nofílicas com núcleos pequenos, arredondados, de
Fibroma renal ou hamartoma aspecto benigno. Origina-se, possivelmente, das cé-
Geralmente menores que 1 cm, encontrados nas lulas intercaliciais dos ductos coletores. Ocorre em
pirâmides renais formando pequenos nódulos. O 5% das ressecções cirúrgicas. Na maioria dos casos
exame microscópico mostra células semelhantes a são encapsulados e não há invasão.
fibroblastos e tecido colágeno.

Angiomiolipoma Tumores malignos


Tumor constituído de vasos, músculo liso e gor- O mais comum é o carcinoma de células renais,
dura. Encontrado em 25% a 50% dos pacientes seguido do tumor de Wilms e do tumor de células
portadores de esclerose tuberosa. uroteliais do cálice e pelve.

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Adenocarcinoma renal
Constituem 1% a 3% de todos os cânceres vis-
cerais, representando 85% dos cânceres renais em
adultos. Acometem todas as idades, predominando
entre os 50 e 70 anos de idade. Originam-se do epitélio
tubular e são adenocarcinomas. Localizam-se prefe-
rencialmente no pólo superior. A maioria dos tumores
é esporádica, porém há tumores bilaterais (Figura 2) e
familiares em indivíduos portadores de síndrome de
Von Hippel-Lindau, carcinoma hereditário de células
claras e carcinoma hereditário papilar.
A classificação do carcinoma de células renais
sofreu recentemente revisão baseada nos estudos
histológicos, citogenéticos e moleculares.
Carcinoma não-papilar de células claras
Forma mais comum (70% a 80% de todos os
tumores). Composto de células com citoplasma
claro ou granular, não-papilar. De incidência espo-
rádica ou familiar. Alteração citogenética em 98%
dos casos envolvendo a região do braço curto do
cromossomo 3, que abriga o gene VHL, responsável
Figura 2: Ressonância magnética demonstrando adenocarcinoma
pela proteína elongina. renal bilateral
Carcinoma papilar
Representa de 10% a 15% dos cânceres renais.
Pode ser multifocal e bilateral, apresentando cresci-
mento papilar. Ocorre nas formas familiar e esporá- Grau 2 ou moderadamente diferenciado
dica. Anormalidades citogenéticas mais comuns:
Mais de 50% das células são imaturas e no estroma
trissomia dos cromossomos 7, 16 e 17 e a perda do
predominam células fusiformes.
cromossomo Y nos homens.
Grau 3 ou pouco diferenciado
Carcinoma renal cromófobo
Neoplasia constituída por células fusiformes com pou-
Representa 5% dos cânceres renais, manifestando-
ca ou nenhuma formação tubuliforme ou glomerular.
se por células com membranas celulares proeminentes
Alterações citogenéticas envolvem o braço curto
e citoplasma eosinofílico pálido com um halo ao
redor do núcleo. Inúmeras perdas cromossomiais e do cromossomo 11 e foram identificados três grupos
extrema hipodiploidia. de malformações congênitas distintas: síndrome de
WARG (aniridia, anomalias genitais, retardo mental),
Tumor de Wilms síndrome de Denys-Drash (pseudo-hermafroditismo
e nefropatia, levando à insuficiência renal) e a síndrome
Tumor renal embrionário, surgindo na infância, de Beckwith-Wiedemann.
formado por estruturas primitivas lembrando o blas-
tema nefrogênico. Geralmente é unilateral, diagnos- Carcinomas uroteliais da pelve renal
ticado entre 2 e 5 anos de idade, podendo atingir
grande volume. Cerca de 5% a 10% dos tumores renais primários
Segundo o grau histológico é dividido em: ocorrem na pelve renal variando desde papilomas
até carcinomas papilares. É difícil diferenciar o papi-
Grau 1 ou bem-diferenciado loma benigno do carcinoma papilar de baixo grau.
Parênquima formado por túbulos e glomérulos A infiltração da parede da pelve e cálices são comuns
bem-diferenciados, constituindo mais de 50% do teci- e, embora sejam pequenos e de aspecto benigno, o
do tumoral, predominando estroma mixomatoso. prognóstico não é bom.

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Estadiamento do adenocarcinoma renal quantifica e delimita a extensão da doença mais


explicitamente (Tabela 1).
Até 1990, o sistema de estadiamento mais utilizado
era a modificação de Robson para o sistema de Flo-
cks e Kadesky (Figura 3). O principal problema desse Tabela 1: Classificação e estadiamento TNM para adenocarci-
sistema é o estádio III, em que pacientes com metás- noma renal
tases linfáticas (mau prognóstico) são combinados a
pacientes com invasão venosa (passíveis de tratamento
cirúrgico curativo).
O sistema TNM (tumor, nodos e metástases) de
1997 separa tumores com invasão venosa e linfática,

Leitura recomendada
1. Storkel S et al. Classification of renal cell carcinoma. Cancer,
80: p. 987, 1997.
2. Eble, JN (ed.). Tumors of kidney. Semin Diagn Pathol, 15:
p. 1, 1998.
3. Holland JM. Cancer of the kidney: Natural history and staging.
Cancer, 32: p. 1030, 1973.
Figura 3: Estadiamento do adenocarcinoma renal proposto por 4. Grundy P et al. Another view of the clinical and molecular genetics
Holland of Wilms’ tumor. Med Pediatr Oncol, 27: p. 394, 1996.

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Capítulo 93
Como estadiar o tumor renal

Francisco Flávio Horta Bretas

Os avanços do diagnóstico por ultra-som (US) e individualmente, para cada caso, e avalie a presença de
radiológico das últimas duas décadas mudaram radi- alguns dos fatores prognósticos, ou seja:
calmente a abordagem pré e intra-operatória dos tu- ‹ Extensão a tecidos perirrenais;

mores renais, bem como seu seguimento. A avalia- ‹ Extensão a órgãos vizinhos;

ção clássica anterior desses pacientes, realizada para ‹ Extensão a linfonodos locorregionais;

o estadiamento do tumor renal (TR), incluía exames ‹ Metástases à distância.

como a urografia excretora, arteriografia renal seletiva O sistema atual de estadiamento, usado para o câncer
e cintilografia óssea, e já não mais se aplica aos dias de rim, e que substituiu o antigo sistema de Robson, é o
de hoje. Atualmente, cerca de metade das lesões renais TNM 1997, modificado em 2002 (ver Tabela 1). Como
sólidas são diagnosticadas incidentalmente nos gran- se vê, o tamanho tumoral é fator prognóstico impor-
des centros, com exames de US feitos por outros tante, define grupos com melhor sobrevida e aqueles
motivos, sendo estes tumores, em geral, de menor acessíveis à realização de nefrectomias parciais.
grau e estágio e, por conseguinte, de melhor prog-
nóstico do que aquelas grandes massas identificadas
em pacientes sintomáticos há vários anos. Exame clínico e laboratorial
Com o desenvolvimento das cirurgias preser-
vadoras de parênquima renal e minimamente inva- Perda de peso, dor óssea ou mal-estar geral e adina-
sivas, necessárias para o tratamento dos tumores de mia, todos estes dados sugerem doença avançada.
menor estágio, outra modalidade diagnóstica e de Quanto ao exame físico, a palpação de massa abdo-
estadiamento do TR surgiu, com a realização do US minal ou linfadenomegalia periférica também denota
intra-operatório, para detecção de multicentricidade, pior prognóstico, bem como a presença de varicocele
tamanho da lesão, extensão venosa e outras variáveis. ou edema de membros inferiores, que sugerem trom-
Para aqueles tumores maiores, com suspeita de trom- bo venoso intra-renal ou intracava. Provas de função
bo tumoral, intracava ou intra-atrial; o ecocardiograma hepática alteradas, elevação da fosfatase alcalina e da
transesofágico, outra forma de investigação não- velocidade de hemossedimentação e anemia também
invasiva, facilita a identificação da extensão do são fatores indicativos de doença avançada.
acometimento tumoral.
O correto estadiamento clínico do câncer renal per- Tomografia computadorizada
mite que o cirurgião, usando os métodos disponíveis,
que são o exame físico, exames laboratoriais e métodos Uma vez detectada a presença de lesão renal
de imagem, defina o melhor tratamento e abordagem, expansiva sólida, o correto estadiamento deve ser

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Tabela 1: Classificação e estadiamento TNM para tumores renais muito volumosos, possuem maior acometimento
da glândula supra-renal e doença locorregional
mais avançada;
‹ Linfonodos hilares ou retroperitoneais acima de
2 cm devem ser considerados metastáticos, en-
quanto aqueles menores que 2 cm são, em geral,
inflamatórios;
‹ Achados tomográficos de possível envolvimento
da veia renal incluem: alargamento da veia; mudança
súbita em seu calibre; defeitos de enchimentos intralu-
minais. A maioria dos exames falsos-positivos é do
lado direito, devido ao trajeto curto da veia renal e
efeito de massa do tumor próximo.

Ressonância nuclear magnética


O uso da ressonância nuclear magnética (RNM)
no estadiamento do TR é restrito a pacientes porta-
dores de insuficiência renal ou alergia ao contraste
iodado, uma vez que a TC helicoidal com recons-
trução em 3D é o melhor método de estudo –
mais rápida, mais barata, e permite o estudo de
pacientes com próteses metálicas, obesos etc. Os
iniciado com uma tomografia computadorizada TR aparecem heterogêneos em T1, e tipicamente
helicoidal. A tomografia computadorizada (TC) de com sinal hiperintenso quando comparados ao
abdome e pelve, que oferece nítida superioridade parênquima normal, em T2.
em relação ao US. Um maior número de lesões é Talvez as únicas situações em que a RNM é superior
detectado, particular mente pequenas lesões à TC no estadiamento sejam na identificação de
periféricas, e a comparação de imagens, antes e após trombo tumoral intracava (100% dos casos), trombo
contraste endovenoso, permite a identificação de em veia renal (88%) e intra-atrial (80%), e na avaliação
diferentes densidades do tecido. A reconstrução da invasão do tumor para órgãos adjacentes,
tridimensional (3D) das imagens da TC facilita a sobretudo para o fígado, quando a TC pode ser de
distinção de tumores renais de outras patologias e a mais difícil interpretação. De forma similar à TC,
visualização da árvore vascular extra e intra-renal também a angioressonância tem sido usada no
em mais de 90% dos casos, bem como mostra a estadiamento pré-operatório de pacientes, com
relação do rim com estruturas adjacentes e a detecção de 97% das artérias renais.
presença de lesões metastáticas e/ou extensão para
a supra-renal, fígado e outros órgãos. É fundamental
para o estadiamento e planejamento pré-operatório
Avaliação metastática
em cirurgias com preservação de parênquima, e A avaliação metastática rotineira, quando do
evita a necessidade de arteriografia renal seletiva. diagnóstico de um TR, deve incluir uma radiografia
Alguns dados: do tórax em duas incidências, a TC do abdome e
pelve e provas de função hepática. A cintilografia
‹ É pequena a taxa de detecção de envolvimento óssea deve ser realizada apenas em pacientes com
da gordura perirrenal pela TC, pois muitas vezes dor óssea e/ou elevação da fosfatase alcalina. Outros
esta extensão é microscópica; exames, como TC do tórax, RNM ou biópsia percu-
‹ Todos os pacientes com aumento da supra-renal tânea de linfonodos suspeitos devem ser pedidos em
na TC, tumores de pólo superior, ou tumores casos selecionados.

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Leitura recomendada Philadelphia, WB Saunders, pp. 2.672-731; 2002.


2. Northway RO, Ritenour CWM, Marshall FF. Renal Cell
1. Novick AC, Cambell SC. Renal Tumors. In: Walsh PC, Retik Carcinoma: An overview. In: Ball TP Jr. AUA Update Series,
AB, Vaughan ED Jr, Wein AJ. Campbell’s Urology. AUA, Office of Education, Lesson 25, vol. XX; 2002.

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Capítulo 94
Manifestações paraneoplásicas
do câncer renal

Luiz Antonio Corrêa


Aparecido Donizeti Agostinho

A denominação “síndromes paraneoplásicas” foi produção de complexos imunes ou auto-imunes,


cunhada pela primeira vez por Boudin, em 1962 e, permanecendo, em aberto, se citocinas iniciariam a
embora seja a mais empregada no nosso meio, não manifestação dos sinais. Trabalhos recentes mostram
foi universalmente aceita. que em várias síndromes paraneoplásicas do câncer
Considera-se síndrome paraneoplásica (SP) aquele renal são detectados elevados níveis de enzimas hepá-
sintoma, sinal, ou o conjunto de vários deles, que ticas, que podem estar relacionadas com o aumento
afeta de maneira sistêmica pacientes com neoplasia e dos níveis sistêmicos de interleucina-6.
que, à primeira vista, não parece ser causado pelo As SP em urologia não são freqüentes, com exce-
tumor maligno. ção dos tumores renais e prostáticos. Na verdade,
A SP aparece independentemente do momento poucas doenças possuem propensão para apresentar
do diagnóstico e só desaparece quando é realizado síndromes paraneoplásicas como o câncer renal. O
o tratamento efetivo do câncer, reaparecendo quando carcinoma de células claras do rim (também deno-
este, recidiva local ou metastaticamente. minado hipernefroma, tumor de Grawitz ou câncer
O reconhecimento da SP pode ser clinicamente renal) é o neoplasma maligno mais comum do parên-
importante, com uma utilidade prática que se quima renal, sendo o tumor urológico que apresenta
resumiria no seguinte: pode ser o sintoma inicial do o maior número de SP.
câncer, bem como orientar sobre a natureza da Inicia-se no epitélio do túbulo proximal, acomete
neoplasia e também se constituir em um “padrão de tanto homens quanto mulheres, na proporção 2:1, e
avaliação” da atividade e do comportamento tumoral, é, tipicamente, uma neoplasia que surge após os 50
podendo ser importante como indicador da eficácia anos de idade.
do tratamento utilizado (cura, progressão, recidiva, Freqüentemente, não produzem nenhum sintoma
remissão etc.). (em 60% dos casos, sua presença é uma descoberta
A freqüência em que ocorre é desconhecida, incidental). A tríade clássica de “hematúria, dor e massa
estimando-se que, em geral, 15% a 20% dos doentes no flanco” ocorre em apenas 10% a 15% dos pacientes
com câncer a apresenta. e, ocasionalmente, produz anemia e pode estar asso-
A etiologia é muitas vezes desconhecida, acre- ciada à síndrome von Hippel-Lindau (28% a 45% des-
ditando-se que os tumores elaboram substâncias, tes pacientes podem apresentar câncer renal).
podendo ser “auto-estimuladores do crescimento Neste contexto, as SP ganham grande importância.
tumoral”, e que estas produzem a SP. Alguns achados são pouco freqüentes, entretanto
Existem várias hipóteses para explicar a SP, todas outros se apresentam com alta freqüência. Hipercalcemia,
pressupondo a produção pelo tumor de substâncias eritrocitose, anemia, hipertensão, disfunção hepática
biologicamente ativas com efeito hormonal e/ou a aguda, amiloidose etc. têm sido associadas ao câncer

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Seção VII B

renal e, em algumas ocasiões, tornam-se uma carac- positividade é alto, porque a produção de renina pode
terística da moléstia na sua fase inicial. ser devida a outras causas.
Na Tabela 1 se enumeram as SP encontradas no No sangue, várias alterações podem ser encontradas.
câncer renal. Alguns dos sintomas mencionados são, Assim, os níveis de ferritina têm se mostrado significante-
por vezes, a primeira manifestação do câncer renal. mente elevados em casos de câncer renal, inclusive
Um bom exemplo é a chamada síndrome de Stauffer, aumentando quando existe progressão do tumor. A
que consiste em uma hepatopatia inespecífica aguda eritropoetina também pode estar elevada, o que se
que aparece no hipernefroma. verifica em 63% dos pacientes.
No restante dos tumores renais malignos, ocorre O número de plaquetas também tem sido usado
pouca ou nenhuma manifestação paraneoplásica. O como um parâmetro prognóstico. Verificou-se, por
hemangiopericitoma e o tumor de Wilms produzem exemplo, que pacientes portadores de tumor estádio
hipertensão arterial com mais freqüência e, no caso IV, e que apresentaram contagem normal de plaque-
deste último, a hipertensão pode ser encontrada em tas, tinham sobrevida maior que aqueles que apre-
até 60% das crianças. sentaram trombocitose.
Diversas questões permanecem em aberto, não se Anemia e teor de ferro sérico têm sido considerados
sabendo quais dos sintomas ou substâncias encontradas úteis como marcadores, seja em uma avaliação inicial,
se constituem em marcadores para o prognóstico ou seja para o seguimento dos pacientes, sendo a anemia
recorrência da moléstia. considerada a anormalidade hematológica mais comum
Vários “marcadores” sangüíneos e sorológicos têm associada ao câncer renal.
sido avaliados, e estudos vêm mostrando que diversos Caracteristicamente, é uma anemia normocítica,
deles possuem uma utilidade potencial. podendo ser normo ou hipocrômica, que usualmente
A hipertensão arterial tem sido observada em muitos se resolve após a retirada do tumor, acreditando-se que
pacientes. Um número significante de elevações da pres- seja um sinal da progressão ou reincidência da doença,
são arterial pode ser conseqüência da hipercalcemia. No quando se dá a recorrência da anemia.
entanto, outros fatores, como a secreção de renina, polici- A hipercalcemia vem sendo associada ao carcinoma
temia e obstrução ureteral, podem estar relacionadas à renal e, como na anemia, observou-se que, após a extir-
hipertensão. Observou-se, por exemplo, que elevados pação do tumor, o teor sangüíneo de cálcio retorna ao
níveis de renina estavam associados a tumores em estádio normal. A recorrência da hipercalcemia pode ser um
muito avançado. Entretanto, mesmo sendo a hipertensão sinal precoce de metástases ósseas ou indicar outros
uma característica bem-conhecida dos cânceres renais, locais secundários de progressão do tumor.
sua especificidade é baixa, isto é, o número de falsa Por último, a elevação aguda de enzimas hepáticas
(síndrome de Stauffer) tem sido descrita em alguns
pacientes que, na sua maioria, não apresentam evidências
de metástases no fígado. Com a exérese do tumor, as
Tabela 1 enzimas voltam a níveis normais e o decréscimo da
sobrevida tem sido correlacionado significantemente
com o não retorno ao normal da função hepática.

Leitura recomendada
1. Nathanson L. Remote effects of câncer on the host. In:
Clinical Oncology, Horton J and Hill G J eds, W.B.
Saunders Company, 1st ed., 1977, 3, pp. 49-85.
2. Arbej JAP, Gimeno MAN, Perez EM, Menor FA, Esteban
FA, Rosaens JF, Sevillano CG y Orgaz RE. Los síndromes
paraneoplásicos en Urologia. Arch Esp de Urol, 44 (8),
pp. 943-9, 1991.
3. Walter CM, Leach F, Ornsteir DK, Zambrano N, Linehar WM.
In: Adult and Pediatric Urology. Gillenwater JY, Grayhack
JT, Howards SS and Mitchell ME ed., Lippincott Willeams &
Williams, 4th ed., 2002, vol. 1, cap. 7, pp. 319-53.
4. The 5-Minute Urology Consult, Gomella LG ed, Lippincot
Williams & Williams, 1st ed 2000, pp. 452-3 (Renal Cell Carcinoma
-General) and pp. 456-7 (Renal Cell Carcinoma - Metastatic).

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Seção VII B

Capítulo 95
Tumor sólido renal –
há lugar para seguimento

Saul Gun
José Luis Ferreira Duque

Introdução peitas devem ser consideradas malignas até que se pro-


ve o contrário, e devem ser tratadas como tais por
O tratamento dos tumores renais tem sofrido impor- meio de intervenção cirúrgica (cirurgia aberta ou lapa-
tantes modificações nos últimos anos, tanto em virtude roscópica, dependendo do caso). O tratamento conser-
do aperfeiçoamento dos métodos diagnósticos, o que vador deve se limitar aos casos onde há um risco cirúr-
levou a um aumento considerável no número de casos gico muito alto ou idade avançada, com sobrevida
de lesões incidentais diagnosticadas cada vez mais preco- limitada por fatores mórbidos associados.
cemente, quanto à evolução dos métodos minimamente Os oncocitomas são lesões sólidas renais, normal-
invasivos, destacando-se a laparoscopia. mente bem-delimitadas, sendo a maioria diagnosti-
As massas sólidas renais podem ser de origem cada de forma acidental por exames de rotina. Radio-
benigna no caso, por exemplo, dos oncocitomas e logicamente, são característicos os sinais da “escara
angiomiolipomas; ou malignas, no caso do carci- central estrelada”, observada na tomografia compu-
noma de células renais, sarcoma, linfoma e tumo- tadorizada (TC), e a imagem em “raios de roda”,
res metastáticos. As mais comuns serão abordadas vista na angiografia. No entanto, nenhum desses sinais
neste capítulo. é patognomônico de oncocitoma. Sabe-se que, em
até 32% dos casos de oncocitoma, existe carcinoma
de células renais associado à lesão ou em outra região
Lesões benignas do rim. Portanto todas as lesões suspeitas devem ser
tratadas com nefrectomia parcial ou radical depen-
A grande maioria das lesões sólidas renais, bem- dendo do tamanho e localização do tumor. A idade
delimitadas e menores que 3 cm de diâmetro diagnos- e as condições clínicas do paciente devem ser levadas
ticadas por exame de imagem, foram consideradas em consideração, e o tratamento conservador com
como benignas (adenomas renais) durante muitos anos acompanhamento periódico (TC semestral ou anual)
e tratadas de maneira conservadora, apesar da incidên- pode ser empregado em casos selecionados.
cia de 5% de lesões metastáticas documentada em Os angiomiolipomas renais são lesões sólidas be-
estudos de autópsia. Não há, porém, um critério radio- nignas constituídas basicamente de tecido adiposo,
lógico, histopatológico ou imunistoquímico confiável células musculares lisas e vasos sangüíneos. A maioria
para se diferenciar essas lesões de natureza benigna de das lesões pequenas, menores que 4 cm, são assinto-
neoplasias malignas derivadas do epitélio renal, mesmo máticas; entretanto, lesões maiores podem cursar com
nas pequenas lesões. Portanto, o diagnóstico de ade- dor lombar, hematúria e massa palpável; em 10% a
noma renal é controverso; as lesões renais sólidas sus- 15% dos casos pode ocorrer sangramento retrope-

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Guia Prático de Urologia
Seção VII B

ritoneal e choque hipovolêmico, a complicação mais com tumores < 3 cm – que foram seguidos em média
temida dos angiomiolipomas. O diagnóstico é feito durante 42 meses –, constataram que o crescimento
através de exames de ultra-som e tomografia compu- desses tumores é lento (até 1,3 cm/ano). Em 65% (26)
tadorizada. Ao ultra-som, as lesões são tipicamente dos casos, o tumor cresceu além de 3 cm e foi extirpado.
hiperecóicas e bem-delimitadas. A tomografia computa- Todos os tumores foram diagnosticados como carci-
dorizada mostra lesões com densidade de gordura noma renal estádio 1 e a maioria era grau 1. Nenhum
(entre 10 e 80 unidades Hounsfield), que são consi- desenvolveu metástases, cuja incidência na literatura fica
deradas características de angiomiolipoma. entre 1% e 3%. Esses dados sugerem que pacientes
O tratamento dessas lesões depende diretamente idosos ou com risco cirúrgico elevado, apresentando
do seu tamanho. Lesões menores que 4 cm e assinto- tumores menores que 3 cm e bem-definidos, podem
máticas podem ser seguidas semestralmente com ser acompanhados com segurança por meio de exames
exames de imagem (TC). Lesões sintomáticas e maio- seriados (TC semestral).
res de 4 cm, pelo risco de complicações graves, de- Em resumo, as massas sólidas renais de natureza
vem ser tratadas com cirurgia – nefrectomia parcial benigna são, com raras exceções, dificilmente carac-
ou total dependendo do tamanho e da localização terizadas (com exceção do angiomiolipoma) antes da
da lesão. Quando um quadro de hemorragia grave excisão cirúrgica, e devem ser sempre tratadas como
se estabelece, a nefrectomia total de urgência é o carcinoma renal. O diagnóstico é definido apenas com
tratamento definitivo. o exame anatomopatológico da peça cirúrgica. Os
tumores menores que 3 cm em pacientes idosos
assintomáticos, ou com fatores mórbidos associados
Carcinoma de células renais e risco cirúrgico elevado, podem ser submetidos à
observação com relativa segurança devido ao cresci-
O carcinoma de células renais é o tumor maligno mento lento de tais lesões e ao baixo risco de metástases
mais comum encontrado no rim. Sua incidência au- associado a tais tumores.
mentou nas últimas duas décadas, devido ao avanço
nos métodos diagnósticos. A TC é o método radio-
lógico mais comumente empregado para o diag- Leitura recomendada
nóstico e o estadiamento clínico dessas lesões, sendo
a ressonância magnética reservada para os casos de 1. Novick AC, Campbell SC. In: Walsh PC, Retik AB, Vaughan
suspeita de envolvimento venoso, insuficiência renal Jr, DE, Wein AJ. Campbell’s Urology; 8th edition, chap.75;
ou alergia ao contraste. pp. 2672-731, 2002.
2. Bosniak MA, Birnhaum BA, Krinsky GA, Waisman J. Small
O tratamento de escolha do carcinoma renal é a
renal parenchymal neoplasms: Further observations of
nefrectomia radical ou parcial, de acordo com o tama- growth. Radiology, 197: pp. 589-97, 1995.
nho e localização tumoral. O tratamento conservador 3. Rendon RA, Stanietzky N, Panzarella T, Robinette M, Klotz
do carcinoma renal é limitado a um número pequeno LH, Thurston W, Jewett MAS. The natural history of small
de casos. Bosniak e colegas, em estudo com 40 pacientes renal masses. J Urol, 164: pp. 1143-7, 2000.

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Seção VII B

Capítulo 96
Cirurgia conservadora no
câncer renal

Marcelo Luiz Bendhack

Introdução centes demonstram que as NP apresentam baixo índice


de morbidade e recorrência, bem como boa manu-
Os tumores de rim representam 3% de todas as tenção da função renal.
neoplasias sólidas e se associam a 2% das mortes
por câncer. Cerca de 85% deles são adenocarcinomas.
Houve discreta melhora nos índices de sobrevida em Indicações e tamanho do tumor
cinco anos, com maior influência do aprimoramento
das técnicas diagnósticas e cirúrgicas que de avanços As indicações para NP podem ser absolutas (ou
na terapia sistêmica. imperativas), relativas e eletivas (Tabela 1).
O tratamento cirúrgico permanece como primeira O limite máximo do tamanho da massa a ser sub-
opção para o câncer de rim. metida a NP é ainda controverso. A indicação de
A cirurgia conservadora para o câncer renal, ressecção NP para tumores de até 4 cm de diâmetro é a que
parcial do rim, nefrectomia parcial (NP) ou nephron encontra suporte científico mais favorável.
sparing, tem como princípio a remoção completa do Zisman e colegas publicaram, em 2001, estudo
tumor renal, preservando a maior quantidade possível sugerindo a redução do ponto de corte na divisão
de parênquima funcionante do mesmo rim. Seus pri- T1/T2 de 7 para 4,5 cm. Foi demonstrado que indiví-
meiros relatos datam de 1884, quando Wells descreveu duos submetidos a ressecções parciais por lesões entre
a ressecção de um fibrolipoma perirrenal, evitando a 4,5 e 7 cm (T1 pela TMN 1997 – Tabela 2) apresen-
retirada do órgão. Três anos após, Czerny realizou a tavam maior correlação de grau histológico, índices
primeira NP para um tumor maligno. de recorrência à distância e sobrevida com os tumores
Em conseqüência do maior conhecimento da fisio- T2 que com os T1 menores de 4,5 cm.
patologia dos tumores renais, existe uma tendência Além das indicações em uroncologia, a NP pode
atual à preservação do maior volume de parênquima ser empregada no tratamento de várias afecções be-
funcionante possível. O crescente interesse em realizar nignas (exemplo: hidronefrose com atrofia do parên-
a NP está associado à melhoria dos métodos diag- quima ou pielonefrite atrófica em segmento renal
nósticos por imagem, ao aumento do número de casos duplicado; doença segmentar do parênquima renal
diagnosticados incidentalmente, ao avanço da técnica com drenagem urinária insuficiente; dano traumático
cirúrgica (como prevenção de lesão renal isquêmica e irreversível em parte do rim; remoção de tumor renal
técnicas de transplante), assim como ao aprimoramento benigno como angiomiolipoma, oncocitoma ou
dos cuidados pós-operatórios. Dados de estudos re- nefroma cístico).

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Guia Prático de Urologia

Tabela 1: Indicações de nefrectomia parcial

Tabela 2: Classificação e estadiamento TNM para câncer renal As ressecções parciais são, em geral, procedimentos
(UICC) (1997) tecnicamente mais delicados que as nefrectomias radi-
cais, necessitando conhecimento maior da relação do
tumor com o sistema coletor e com os vasos renais.
Em algumas situações, como presença de neoplasias
centrais e/ou grandes, torna-se necessária arteriografia
para evitar perda de sangue excessiva e lesão de
parênquima renal normal. Com o avanço tecnológico
dos métodos de imagem, um único exame, como a
angiotomografia ou a angioressonância, pode esclarecer
dúvidas tanto da anatomia dos tecidos perirrenais como
da vascularização do rim a ser abordado, substituindo
assim a arteriografia clássica. Venografia é solicitada na
suspeita de trombose intra-renal e avaliação da drenagem
venosa do tecido renal remanescente.
Em casos nos quais há possibilidade de abertura
do sistema coletor, a colocação endoscópica de cate-
ter ureteral está indicada. Este permite, no pré-opera-
tório, infusão de corantes para identificação de possí-
veis comunicações do sistema coletor com a cavidade
e auxílio no seu fechamento adequado, evitando
assim fístulas urinárias.
Considerações pré-operatórias
É de suma importância obter história clínica e exame Técnica operatória
físico detalhados, assim como exames laboratoriais
(creatinina, provas de função hepática e pesquisa de As variantes técnicas para a realização de NP estão
proteinúria). A exclusão de doença localmente avan- apresentadas na Tabela 3.
çada e metástases devem ser realizadas com o auxílio A técnica está sumarizada na Tabela 4.
de tomografia computadorizada (TC) de abdome Independente da opção da técnica cirúrgica, al-
superior e radiografias de tórax. A necessidade TC de guns princípios devem ser seguidos: controle vas-
tórax e crânio, assim como de cintilografia óssea, cular, prevenção de isquemia renal, excisão com
permanece restrita a casos selecionados. margens negativas, hemostasia criteriosa, fechamento

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Guia Prático de Urologia

Tabela 3: Variantes técnicas de nefrectomia parcial

do sistema coletor e do defeito da área ressecada. complicação mais freqüente [6,3% (variação de 0,7%
Habitualmente a NP estaria contra-indicada para a 7,3%)] da NP é a necrose tubular aguda (NTA),
tumores de células renais ou transicionais, na presença causada por isquemia e diminuição do volume de tecido
de metástases nos linfonodos, devido ao mau renal funcionante (associada ou não à falência renal). A
prognóstico associado. porcentagem de pacientes que necessita de diálise, tanto
temporária quanto permanente, é baixa (4%).
Outras complicações: hemorragia (2,4%), infecções
Complicações pós-operatórias em geral (3,2%) e lesões esplênicas (0,6%). Compli-
cações clínicas também podem ocorrer, sendo as
O índice de morbimortalidade após NP tem se pulmonares as mais freqüentes. O índice de re-ope-
mostrado decrescente. A mortalidade pós-operatória rações é baixo, não ultrapassando 3,1%, e pode ser
descrita na literatura varia de 1% a 2%, enquanto que reduzido por criteriosa hemostasia intra-operatória.
a fístula urinária, complicação mais comum, acomete
em média 6,5% (1% a 17%) dos pacientes. A grande
maioria das fístulas é autolimitada ou resolvida apenas Segmento
por instituição de medidas simples como o implante
de cateter ureteral ou uretral para descompressão do É imperativo o controle da creatinina sérica e uro-
sistema urinário. Em casos selecionados, a colocação grafia excretora em quatro a seis semanas após a
de stent ureteral (duplo J) e cistostomia podem ser cirurgia. Naqueles em que os níveis séricos de creati-
necessárias, no sentido de realizar drenagem mais nina se encontram elevados, ultra-sonografia e/ou
demorada. O urinoma, complicação secundária à fís- uroressonância está(ão) indicada(s).
tula, pode também ser tratado de maneira minima- Em grande série reportada pela Cleveland Clinic, com
mente invasiva através de drenagem percutânea 327 pacientes, 11,6% desenvolveram recidiva: 4% com
guiada por ultra-sonografia ou TC. A segunda recidiva local e 7,6% com metástases à distância.

Tabela 4: Técnica cirúrgica de nefrectomia parcial

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Guia Prático de Urologia
Seção VII B
Continuação Tabela 4: Técnica cirúrgica de nefrectomia parcial

O padrão de seguimento depende do risco de reci- 2. Fergany, A. F., Hafez, K. S., Novick, A. C.: Long-Term Results Of
diva da doença neoplásica, fato relacionado ao estádio Nephron Sparing Surgery For Localized Renal Cell Carcinoma:
10-Year Follow-Up. J Urol, 163: 442-5, 2000.
clínico inicial da doença. A identificação de recorrência 3. Ghavamian, R., Cheville, J. C., Lohse, C. M., Weaner, A. L., Zincke,
por métodos de imagem – TC ou ressonância nuclear H., Bente, M. L.: Renal Cell Carcinoma In The Solitary Kidney: An
magnética – deve ser abordada com nova ressecção Analysis Of Complications And Outcomes After Nephron
parcial ou nefrectomia total, dependendo da apre- Sparing Surgery. J Urol, 168: 454-9, 2002.
4. Guillonneau, H., Bermúdez, S., Gholami, H., El Fettouh,H., Cripta,
sentação da doença.
R., Adorno Rosa, J., Baument, H., Cathelineau, X., Fromont G.,
Vallancien, G. :Laparoscopic Partial Nephrectomy For Renal Tumor:
Single Center Experience Comparing Clamping And No Clamping
Leitura recomendada Techniques Of The Renal Vasculature. J Urol, 169: 483-6, 2003.
5. Richter, F.; Schnorr, D.; Deger, S.; Türk, I.; Roigas, J.; Wille, A.; Loening,
1. Bendhack, M.L.; Camargo, A.H.L.A.: Quando E Por Quê Indicar S.A.: Improvement Of Hemostasis In Open And Laparoscopically
Nefrectomia Parcial. Em: Urologia: Princípios E Prática. Ed.: Barata, Performed Partial Nephrectomy Using A Gelatin Matrix-Thrombin
H.S. E Carvalhal, G.F. Segunda Edição. Artmed, Porto Alegre, em impressão. Tissue Sealant (Floseal). Urology, 61(1): 73-7, 2003.

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Seção VII B

Capítulo 97
Laparoscopia e procedimentos
minimamente invasivos no
tratamento do câncer renal
Nélson Gattás
Mardhen Bezerra Araújo

Introdução o que torna o procedimento ainda menos invasivo


que a técnica laparoscópica.
Os tumores renais clinicamente localizados são tra-
tados tradicionalmente com remoção cirúrgica total
(nefrectomia radical). Na última década, ampliou-se o Radiofreqüência
espectro de indicações de cirurgia renal poupadora
de néfrons, principalmente para os tumores renais me- A radiofreqüência provoca necrose celular do tecido
nores que 4 cm, chamada de nefrectomia parcial eletiva. alvo como resultado da fricção aquecida, induzida pela
A principal razão para esta tendência foi a demons- agitação iônica criada pela passagem da corrente alter-
tração clínica que neoplasias renais malignas menores nada de radiofreqüência. A agulha é introduzida no
que 4 cm apresentam sobrevida próxima de 100% tecido alvo estando conectada ao gerador de radio-
em cinco anos, além do fato destes tumores serem freqüência, que causa a destruição de proteínas intra-
celulares e membrana da célula, promovendo uma
cada vez mais freqüentes.
autodestruição celular (Figuras 1 e 2).
Desde a primeira nefrectomia laparoscópica reali-
O tecido necrótico, avascular, que sofre ação da
zada por Clayman e colegas em 1990, as vantagens
radiofreqüência, é reabsorvido espontaneamente,
de métodos de cirurgia minimamente invasiva, tais
resultando em auto-amputação. No entanto, existem
como menos dor pós-operatória, menor tempo de
relatos de que, após ablação renal por radiofreqüência,
internação hospitalar, menor sangramento, menor
permaneçam células viáveis no local previamente tra-
tempo de convalescença e melhor aspecto cosmético, tado, o que torna controverso o tratamento de tumo-
são cada vez mais valorizados. Atualmente, a nefrec- res renais por esta técnica.
tomia parcial laparoscópica apresenta estes fatores
de vantagem em relação à cirurgia aberta conven-
cional e tem sido gradualmente substituída nos maio- Crioterapia
res centros de todo o mundo. Contudo, técnicas ainda
menos invasivas têm sido reportadas com sucesso, Na crioterapia, após a agulha ser introduzida no
baseadas em ablação renal por agulha, tais como centro do tumor, o congelamento é iniciado reali-
radiofreqüência, crioterapia e Nd: YAG laser. Todas zando rápido resfriamento in situ (com temperatura
essas técnicas consistem na introdução de uma agulha variando entre -180ºC e -195ºC), guiado por ultra-
dentro do tumor renal, que pode ser feita sob visão som laparoscópico, em tempo real, atingindo uma
direta laparoscópica ou guiada através de tomografia zona de 2 a 4 cm de congelação, dependendo do
computadorizada ou ressonância nuclear magnética, tamanho do tumor. A desvitalização tecidual é

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Guia Prático de Urologia

Figura 3: Modelo de crioablação guiada por ultra-som laparoscópico


Figura 1: Gerador de radiofreqüência

Na ablação de tumores renais o Nd: YAG laser causa


um processo de vaporização do tecido renal. Ao entrar
em contato com o tumor, ele provoca uma lesão teci-
dual com zona de coagulação limitada. Contudo, a expe-
riência com o Nd: YAG laser para ablação de tumores
renais é limitada e necessita de maiores estudos.

Nefrectomia radical
laparoscópica
A nefrectomia radical laparoscópica pode ser reali-
zada pela via transperitoneal ou pelo acesso retrope-
Figura 2: Agulha de LeVeen ritoneal. A nefrectomia radical transperitoneal é a mais
utilizada nos diversos centros do mundo, devido à
melhor identificação das estruturas anatômicas e por
acompanhada pelo ultra-som, sendo o ciclo de res- possibilitar uma maior área de trabalho, facilitando a
friamento repetido novamente. Este resfriamento dissecção do urologista.
ocasiona uma hemorragia intersticial, necrose de Para esta abordagem, o paciente é posicionado em
coagulação e morte celular irreversível (Figura 3). decúbito lateral a 45º. O pneumoperitôneo é criado e
No entanto, apesar de vários estudos clínicos e os trocartes são inseridos de acordo com a Figura 4.
laboratoriais indicarem boa eficácia da ablação renal A linha de Toldt é incisada e o colo rebatido medial-
por crioterapia, este equipamento tem acessibilidade mente. A dissecção é iniciada medialmente ao pólo
limitada devido ao seu alto custo. inferior do rim, na superfície externa da fáscia de
Gerota. Após mobilização do pólo inferior, este é
elevado, o pedículo dissecado e controlado por meio
Nd: YAG laser de clipes ou nós; então o ureter é seccionado, o rim
mobilizado e a peça cirúrgica é introduzida em saco
Nas neoplasias malignas do rim, o Nd: YAG laser apropriado, sendo retirada intacta, por uma extensão
tem sido usado como forma de terapia no controle da incisão do trocarte mais inferior.
local de tumores do epitélio transicional do trato uri- Quanto aos princípios oncológicos, o tumor deve
nário alto, e no carcinoma de células renais, em algu- ser retirado dentro de saco plástico impermeável,
mas situações específicas como tumores bilaterais ou para evitar o implante tumoral no sítio do trocarte,
doença multifocal e em pacientes portadores de co- como já descrito por alguns autores.
morbidades que tornem grande o risco cirúrgico para A nefrectomia radical laparoscópica retroperitoneal
realização de uma nefrectomia radical. apresenta alguns fatores que limitam a sua utilização,

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Guia Prático de Urologia

B
C
A

Figura 6: Modelo esquemático da introdução dos trocartes na


abordagem pelo retroperitôneo. A: trocarte de 10 mm introduzido
abaixo da ponta da 12ª costela. B:Trocarte de 5 mm colocado na
Figura 4: A: Trocarte de 10-12 mm, onde será inserida a óptica. junção entre a borda inferior da 12ª costela e o músculo eretor da
B: Trocarte de 10-12 mm. C: Trocarte de 5 mm. Para proce- espinha. C: Trocarte de 10/12 mm inserido 3 cm, no sentido cefálico,
dimentos à direita, pode ser necessário um trocarte mediano da crista ilíaca, entre a linha axilar média e a linha axilar anterior
infraxifóide para retração do fígado

como o espaço de trabalho reduzido e a dificuldade de o ureter e os vasos gonadais são identificados e
identificação das estruturas anatômicas. Portanto a controlados. O espécime cirúrgico é retirado intacto
experiência com o acesso retroperitoneal no tratamento em um saco plástico impermeável, através de uma
do câncer renal é limitada, tendo sido utilizado em tu- extensão de uma das incisões dos trocartes.
mores renais menores e por alguns centros com expe-
riência neste tipo de abordagem cirúrgica. As principais
vantagens deste método são o controle precoce do Conclusão
pedículo renal e a não-violação da cavidade abdominal.
Para iniciar o procedimento, cria-se o espaço para se A nefrectomia radical laparoscópica é um trata-
colocar o balão dissector (Figura 5), e se introduz os mento efetivo no controle do câncer renal, tanto por
trocartes conforme o modelo da Figura 6. A fáscia de via transperitoneal como por via retroperitoneal. A
Gerota é incisada na região do hilo renal, com abordagem terapêutica desta patologia por outros
identificação e clampeamento da artéria renal e veia renal. tipos de modalidades cirúrgicas minimamente inva-
O rim é mobilizado, externamente à fáscia de Gerota; sivas, citadas anteriormente neste texto, estão ainda
em fase de experimentação, necessitando de um
maior tempo para validar a eficácia das mesmas.

Leitura recomendada
1. Gattás N, Andreoni C. Aplicações da videolaparoscopia em
urologia. In: Tópicos em clinica médica. Lopes LC.
MEDSI Editora Médica e Científica Ltda. pp. 537-41.
2. Gill IS, Schweizer D, Hobart MG, Sung GT, Klein EA, Novick
AC. Retroperitoneal Laparoscopic Radical Nephrectomy: The
Cleveland Clinic Experience. The Journal of Urology, 163:
pp. 1665-70, 2000.
3. Allan JDD, Tolley DA, Kaouk JH, Novick AC, Gill IS.
Laparoscopic Radical Nephrectomy. European Urology,
40: pp. 17-23, 2001.
4. Gill IS, Novick AC, Soble JJ, et al. Laparoscopic renal
Figura 5: Dilatação com balão do retroperitôneo. Posicionado crioablation: initial clinical series. Urology 52: 543-51, 1998.
entre a fáscia do psoas, posteriormente, e a fáscia de Gerota, 5. McGovern FJ, Wood BJ, Goldberg SN, Mueller PR. Radio
anteriormente, com distensão de aproximadamente 800 cm3 de frequency ablation of renal cell carcinoma via image guided
ar ou SF (0,9%) needle electrodes. J Urol 161: pp. 599-600, 1999.

337

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Seção VII B

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Seção VII B

Capítulo 98
Papel da linfadenectomia
e adrenalectomia associadas
à nefrectomia
Stênio de Cássio Zequi
Rodrigo Souza Madeira Campos

Introdução 8 cm), que acometam o pólo superior ou o rim na sua


totalidade, com estádio T3 ou maior, a adrenalectomia
A nefrectomia radical clássica para tratamento do deve ser indicada. A tomografia computadorizada tem
carcinoma de células renais (CCR), conforme pro- elevada sensibilidade (87,5%), especificidade (92,9% a
posta de Robson e colegas, compreendia a remoção 97,7%) e valor preditivo negativo (98,4% a 99,4%) e
em monobloco de todo o conteúdo da fossa lombar entre 35% a 80% de valor preditivo positivo. Portanto,
(rim, ureter, adrenal e gordura perirrenal ipsilaterais) sempre que a TC for sugestiva, a glândula deve ser
associada à realização de uma linfadenectomia retro- ressecada. Quando normal, na ausência de doença
peritonial extensa, desde a crura diafragmática até a avançada local, a glândula deve ser poupada.
bifurcação aórtica (na época, 22,7% de pacientes ti- Nos tumores pequenos de pólo inferior e meso-
nham linfonodos positivos). Posteriormente, a linfa- renal, de estádios T1 e T2, a adrenalectomia pode
denectomia hilar regional passou a ser realizada na ser evitada com segurança.
maioria dos centros.
Recentemente o diagnóstico incidental do CCR
em estádios iniciais tem se intensificado. Cada vez
mais se empregam cirurgias conservadoras de né-
frons, o que nos faz pensar sobre a indicação siste- Tabela 1: Adrenalectomia – indicações
mática da adrenalectomia ou mesmo sobre a neces-
sidade e extensão da linfadenectomia.

A adrenalectomia
O envolvimento da adrenal ipsilateral é raro,
ocorrendo em 3% (2% a 8%) dos casos. Não cos-
tuma ser um fato isolado. Ocorre em neoplasias
avançadas localmente ou com fatores de mau prog-
nóstico associados.
O acometimento adrenal é verificado em 0,9% a
1,3% dos estádios T1-T2, em 13,4% a 16,7% dos T3-
T4. Nos casos de tumores de grandes dimensões (6 a

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Guia Prático de Urologia

A linfadenectomia Argumentos favoráveis

A linfadenectomia retroperitonial é discutível. Tan- ‹ Pela falta de adjuvância efetiva, a única oportu-
to quanto à indicação, como extensão (regional ou nidade de tratamento para os N+ seria a cirurgia.
‹ Em alguns estudos, pacientes N+ e M0 ao estadia-
estendida).
mento clínico e com bom estado geral podem ter
ganho de sobrevida com a linfadenectomia (ex-
tensa?) associada à imunoterapia adjuvante.
Tabela 2: Linfadenectomia – indicações e extensão
‹ Uma minoria de pacientes com acometimento

linfonodal microscópico mínimo exclusivo,


talvez possa se beneficiar com a linfadenectomia
(a abordagem hilar regional seria suficiente para
englobá-los).

Técnica e extensão cirúrgica


Ao contrário de outras neoplasias, no CCR não
‹

há um padrão de disseminação linfática previsível


definido. Os rins apresentam múltiplas vias linfá-
ticas para quase todo o retroperitôneo.
‹ Uma completa dissecção retroperitonial exige a

remoção do tecido linfático hilar, dos grandes


vasos ipsilaterais e do sulco intercavo aórtico,
desde a crura diafragmática até a bifurcação dos
grandes vasos. Nos tumores à direita pode ser
necessária a dissecção retrocava e paraórtica.
Argumentos desfavoráveis Nos tumores à esquerda não é necessário se en-
‹ Pacientes N+ têm sobrevida reduzida, similar aos globar tecidos à direita.
pacientes com metástases sistêmicas (0 a 30% em ‹ Esta amplitude de dissecção incrementa a morbi-

cinco anos). Talvez a linfadenectomia não aumen- mortalidade e dificulta sua reprodutibilidade além
te as taxas de sobrevida. dos serviços de referência.
‹ Entre 34% a 100% dos pacientes N+ já apresen- Embora existam estudos favorecendo a realização
tam metástases sincrônicas (disseminação hema- de linfadenectomias extensas com melhor sobrevida
togênica). Em autópsias e em séries recentes apenas a estes pacientes, em geral são trabalhos retrospectivos
5% dos pacientes N+ não apresentam doença não-controlados contando com vieses de seleção, favo-
sistêmica. Portanto um contingente mínimo de recendo pacientes em bom estado geral ou compa-
pacientes (< 5%) se beneficiaria de um tratamento rando pacientes operados com não-operados.
local como a linfadenectomia. Outro fator que desfavorece a linfadenectomia é
‹ Em 30% dos pacientes M+ não há acometi- o crescente diagnóstico incidental do CCR, com re-
mento linfonodal. dução da incidência e acometimento linfonodal. Em
‹ Pacientes N0 não têm aumento de sobrevida com um estudo comparativo europeu (EORTC-30881),
a linfadenectomia, configurando duas situações apenas 3,3% dos casos eram N+.
em que a linfadenectomia seria desnecessária. Seria adequado estender os limites do procedi-
‹ Não se dispõe de uma adjuvância eficaz para mento às custas de um benefício ainda não compro-
os pacientes N+. O que reduz o entusiasmo vado e com a possibilidade de favorecer menos de
pela linfadenectomia. 5% dos portadores de CCR?
‹ Pacientes M+ e com doença linfonodal macros- Nas nefrectomias parciais eletivas e imperativas,
cópica aos exames de imagem não apresentam a linfadenectomia não deve ser realizada por prin-
benefício com qualquer tipo de linfadenectomia, cípio, uma vez que a probalidade de positividade
principalmente se estiverem em mau estado geral. é desprezível.

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Guia Prático de Urologia

Conclusões Leitura recomendada


Na prática diária recomenda-se a linfadenectomia 1. Moudouni SM, En-Nia I, Patard JJ et al .Real Indications
for adrenalectomy in renal cell carcinoma Scand J Urol
peri-hilar regional, em monobloco com o produto
Nephrol 2002; 36 (4): pp. 273-7.
da nefrectomia radical. São removidos os tecidos 2. Kobaiashy T, Nakamura E, Yamamoto S et al .Low incidence
dos vasos renais e do grande vaso ipsilateral, em uma of ipsilateral adrenal involviment and recurrences in patients
extensão cefálica e caudal de cerca de 3 cm cada with renal cell carcinoma undergoing radical nephrectomy: a
retrospective analysis of 393 patients. Urology. 2000 3; 62
(entre artéria mesentérica superior e artéria esentérica (1): pp. 40-5.
inferior). Nestas situações, a maioria dos casos poten- 3. Pantuck A J, Zisman A, Dorey F et al .Renal cell cancer with
cialmente curáveis com micrometástases estarão retroperitonial lymph nodes role of lymph node dissection.
contemplados. Se houver suspeita macroscópica intra- J Urol 2003. 169, pp. 2076-83.
4. Srougi M. Lymph node dissection in the treatment of renal
operatória, o linfonodo deve ser removido. cell carcinoma. In Vogelzang NJ, Shipley W U, Scardino
A linfadenectomia extensa deve ser investigacional, PT& Coffey D S eds. Comphrensive Textbook of
reservada a protocolos de pesquisa. A juízo clínico, pode Genitourinary Oncology 2nd ed. Lippincott Willians&
Wilkins 1999 pp. 201-6.
ser postulada em casos selecionados de pacientes em 5. NovicK A, Campbell S C. Renal Tumours In Walsh PC,
bom estado geral com alto risco para metástases linfo- Retik A B, Vaughan E D& Wein A J, eds Campbell’s Urology
nodais: estádio T3 (trombos tumorais, invasão da 8th ed. Saunders Philadelphia 2002 pp. 2672-719.
gordura perirrenal), tumores 6,5 cm, tumores de alto
grau (3 e 4), ou com arranjo histológico sarcomatóide.

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Seção VII B

Capítulo 99
Câncer renal avançado –
tratamento cirúrgico

Luciano João Nesrallah

Os adenocarcinomas renais têm uma história locais da recorrência, quando o tratamento cirúrgico
natural imprevisível, manifestando-se clinicamente não pode ser empregado.
sob formas bem diversas. Cerca de 70% dos paci-
entes apresentam-se, inicialmente, sem evidências de
metástases e, aproximadamente, metade desses tem Neoplasias renais com
doença localmente avançada, incluindo 5% a 10% invasão da veia cava inferior
com extensão para a veia cava inferior.
O adenocarcinoma renal tem propensão a invadir
o sistema venoso, com envolvimento da veia renal em
Doença localmente invasiva 20% a 35% dos casos e extensão para a veia cava
inferior em 5% a 10% dos pacientes. Clinicamente,
O envolvimento de órgãos adjacentes, como o menos de 20% dos pacientes com envolvimento da
pâncreas, o colo, o duodeno, o baço e a musculatura veia cava podem apresentar varicocele, edema de
abdominal posterior, representa situação de mau membros inferiores, proteinúria, circulação colateral
prognóstico e, na maioria das vezes, o tratamento cirúr- na parede abdominal, embolia pulmonar recorrente e
gico é insuficiente para controlar a doença. A disfunção hepática. A maioria dos pacientes não
imunoterapia é o tratamento de escolha nesses casos. apresenta sinais ou sintomas relacionados ao acome-
O papel da cirurgia para reduzir o volume tumoral timento tumoral da veia cava, mesmo em casos com
antes da imunoterapia ainda não está bem-definido. envolvimento extenso.
A extensão venosa do tumor pode representar a
propagação intraluminar do carcinoma renal para a
Recorrência local solitária veia renal e veia cava inferior, sem invadir essas estru-
após nefrectomia radical turas, mas também pode ocorrer do trombo tumo-
Recorrência na loja renal, sem metástase associada, ral infiltrar a parede desses vasos. A classificação da
representa situação rara. Tumores primários volu- extensão venosa é baseada na posição cranial do
mosos e presença de linfonodos acometidos pela trombo (Tabela 1), que é o fator mais importante no
neoplasia são os principais fatores que aumentam o planejamento cirúrgico. O estudo por ressonância mag-
risco de recorrência local isolada. O tratamento prefe- nética é de grande importância, pois é o exame que
rencial é a ressecção cirúrgica da lesão, o que pode melhor demonstra a extensão cranial do trombo
possibilitar ao paciente remissão da doença. A radio- (Figura 1), tendo a vantagem de ser um método não-
terapia representa opção para controlar os sintomas invasivo, ao contrário da venocavografia.

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Guia Prático de Urologia
Seção VII B

Tratamento
Os pacientes com neoplasias renais envolvendo a
veia cava inferior devem ser tratados cirurgicamente
sempre que possível. Quando esses casos são tratados
de forma conservadora, evoluem inexoravelmente
para o óbito. Embora a ressecção cirúrgica completa
represente intervenção de certa complexidade, é a
única opção de cura para esses pacientes. Os índices
de sobrevida em cinco anos variam entre 40% e 69%.
O envolvimento neoplásico dos linfonodos é fator
de mau prognóstico, diminuindo consideravelmente
esses índices de sobrevida.
A estratégia cirúrgica nesses casos deve ser plane-
jada em função do lado envolvido, da extensão cra-
nial do trombo tumoral e da presença ou não de Figura 1: Ressonância magnética – neoplasia renal à direita
volumosa (seta tracejada) e trombo na veia cava cujo limite
invasão da parede da veia cava. Nos casos em que a cranial está apontado pela seta
lesão situa-se ao nível da emergência da veia renal, o
trombo é removido através de cavotomia ou da
ressecção em cunha da veia cava. Se o trombo esten-
de-se cranialmente, sem ultrapassar o diafragma, a renal direita e tornam necessária uma drenagem
mobilização do fígado através da dissecção dos liga- venosa alternativa do rim direito, que pode ser feita
mentos triangular e coronário e da ligadura das veias através de autotransplante renal para a fossa ilíaca,
infra-hepáticas expõe o segmento retro-hepático da de anastomose da veia renal com a veia hepática ou
veia cava e pode-se realizar o clampeamento da mes- de reimplante da veia renal no segmento rema-
ma logo acima do limite cranial do trombo, passo nescente cranial da veia cava. Quando a neoplasia
fundamental para removê-lo. Quando o trombo envolve o rim direito, pode-se fazer uma ligadura
invade a parede da veia cava, torna-se necessária a definitiva da veia renal esquerda, pois ele apresenta
ressecção segmentar da veia. Nessa situação, as neo- ramos colaterais que permitem a drenagem venosa.
plasias do rim esquerdo obrigam a ligadura da veia Nos casos em que o trombo tumoral estende-se
acima do diafragma, torna-se necessária a instalação
de circulação extracorpórea, permitindo a remoção
Tabela 1: Classificação dos trombos tumorais em função de sua segura do trombo.
extensão

Leitura recomendada
1. Vaidya A, Ciancio G, Soloway M. Surgical techniques for
treating a renal neoplasm invading the inferior vena cava. J
Urol 169: pp. 435-44, 2003.
2. Srougi M. Neoplasias renais com invasão da veia cava. In:
Srougi M & Simon S: Câncer Urológico, São Paulo, Ed.
Platina, p. 111, 2002.

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Seção VII B

Capítulo 100
Tratamento complementar
do câncer renal

Sérgio Daniel Simon


Paula Cíntia Machado Sampaio

O uso cada vez mais freqüente, e de certo modo estudos prospectivos, retrospectivos e análises multi-
indiscriminado, de exames complementares de ima- variadas destes fatores prognósticos visa a seleção
gem, tem contribuído para a detecção acidental de de um subgrupo de pacientes sob maior risco para
tumores renais em estádios precoces. Ainda assim, recidiva, e portanto com maior probabilidade de
cerca de 25% dos pacientes ao diagnóstico já se apre- benefício com tratamento complementar.
sentam com doença localmente avançada (T ≥ T3
e/ou N+). Nestas circunstâncias, ainda que comple-
tamente ressecado, o câncer renal está associado a Tratamento adjuvante –
prognóstico desfavorável. A literatura revela que em evitar recidiva local?
cinco anos aproximadamente 37% a 41% destes
pacientes terão recidiva da doença e que apenas 51% Recidiva local após refrectomia radical é rara, ocor-
a 62% dos doentes estarão vivos após tal período. rendo em até 16% dos pacientes. Um estudo retros-
A morte pelo câncer renal localmente extenso pectivo publicado em 2002 avaliou o papel da radio-
ocorre devido à progressão para doença metastática terapia complementar em 86 pacientes operados com
distante, em razão de neoplasia residual microscópica neoplasia renal localizada ou localmente avançada. No
não-aparente no momento da cirurgia. Diversos mo- pequeno grupo analisado, 37% dos doentes evoluíram
delos experimentais sugerem que é justamente neste com recidiva, sendo 84% destas recaídas sistêmicas e
cenário de doença mínima que o tratamento adju- apenas 16% locorregionais. Em dez anos, a sobrevida
vante teria sua maior eficácia, podendo modificar a global e a sobrevida livre de doença foi de 42% e
história natural da doença. 40% respectivamente, não diferindo em nada dos da-
Para a indicação de qualquer modalidade de trata- dos apresentados na literatura para grupo similar sem
mento complementar à cirurgia, é necessário que este tratamento radioterápico adjuvante. Radioterapia
seja suficientemente eficiente para resgatar pacientes complementar não se traduz em ganho de sobrevida
destinados a desenvolver recorrência, e ao mesmo não devendo, portanto, ser recomendada.
tempo seguro, uma vez que estará sendo adminis-
trado a uma parcela considerável de indivíduos já
curados com refrectomia radial apenas. Tratamento adjuvante -
A história natural do câncer renal é complexa e evitar recidiva à distância?
influenciada por diversos fatores prognósticos, alguns
relacionados a características do tumor, como, por No final dos anos de 1970, teve início um estudo
exemplo, estadiamento TNM e grau histológico, prospectivo de hormonioterapia adjuvante, com 136
outros a características do paciente (idade, performance, pacientes elegíveis sem doença metastática, randomi-
status etc.). A identificação e validação por meio de zados para receber medroxiprogesterona por um

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Guia Prático de Urologia
Seção VII B

ano versus observação, após tratamento cirúrgico e requer investigação futura, não devendo influenciar
definitivo. Depois de seguimento mediano de cinco a prática atual.
anos, não se evidenciou benefício em favor do braço Interleucina-2 (IL-2) em altas doses é atualmente
experimental adjuvante (32,7% contra 33,9% de o único tratamento sistêmico aprovado pelo FDA
recaídas para os dois braços respectivamente) e com para tratamento de câncer renal metastático, baseado
56,9% dos pacientes experimentando efeitos cola- em uma pequena porcentagem de remissões com-
terais não desprezíveis. pletas duradouras, induzidas por tal terapêutica. Na
Nos últimos 15 anos uma variedade de tratamentos adjuvância, IL-2 600 mil U/kg a cada 8h nos D1 a
biológicos tem demonstrado respostas objetivas em D5 e D15 a D19, foi comparada com controle obser-
15% a 35% dos pacientes com câncer renal metas- vacional em estudo prospectivo de fase III.
tático. Em virtude da atividade reportada com inter- Dentre os 41 pacientes com doença localmente
feron em câncer metastático, o mesmo foi testado avançada analisados, 16 dos 21 pacientes do braço
em dois grandes estudos randomizados, que compa- investigacional, contra 15 dos 23 do braço observa-
raram interferon adjuvante com observação apenas, cional, recaíram (p = 0,73). Apesar de factível, IL-2
pós-nefrectomia radical em neoplasia renal localmente em altas doses não resultou em benefício de sobrevida
extensa (T1 T2 N0 M0 ou M1 eram excluídos). A livre de progressão ou em redução do número de
despeito das diferenças metodológicas entre os dois morte (P = 0,38).
estudos (quanto ao tipo de interferon utilizado, calen- Até que agentes terapêuticos biológicos ou cito-
dário de utilização e tempo de follow-up), ambos ti- tóxicos mais efetivos contra neoplasia renal sejam
nham em comum resultados negativos similares, ou desenvolvidos, nenhuma terapia adjuvante deve ser
seja, interferon não contribuiu com aumento da indicada a pacientes com doença ressecada, a não ser
sobrevida global ou da sobrevida livre de recidiva dentro de um contexto de protocolo de pesquisa.
em cinco anos, nestes grupos estudados (estudo
europeu: sobrevida global em cinco anos de 66%
para o braço controle versus 66% para o braço Leitura recomendada
adjuvante (p = 0,86) e sobrevida livre de eventos em
1. Pizzocaro G, Piva L, Colavita M, et al. Interferon adjuvant
cinco anos de 67% versus 56% para os dois braços to radical nephrectomy in Robson stages II and III renal cell
respectivamente (p = 0,10). Estudo americano: carcinoma: A multicentric randomized study. J Clin Oncol
sobrevida global em cinco anos de 62% versus 51% 19: 425-31, 2001.
2. Messing EM, Manola J, Wilding G, et al. Phase III study of
(p = 0,09) e sobrevida livre de progressão em cinco interferon alfa-nl as adjuvant treatment for resectable renal
anos de 41% versus 37% (p = 0,33), para os braços cell carcinoma: An Eastern Cooperative Oncology Group/
observacional e investigacional, respectivamente). Intergroup trial. J Clin Oncol 21: 1214-22, 2003.
Há sugestão, no estudo europeu, de um efeito pro- 3. Clark JI, Atkins MB, Urba WJ, et al: Adjuvant high-dose
bolus interleukin-2 for patients with high-risk renal cell
tetor significativo do interferon, em um pequeno sub- carcinoma: A cytokine working group randomized trial. J
grupo de pacientes pN2 e pN3. Tal evidência é frágil Clin Oncol 21, 2003.

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Seção VII B

Capítulo 101
Genética e câncer renal

Álvaro Sadek Sarkis

Na última década, houve uma grande evolução no a 37%) e tumores (8% a 17%) pancreáticos, cistoa-
conhecimento da genética molecular relacionada às denomas de epidídimo (10% a 26%), tumores do
formas esporádicas e hereditárias do câncer renal, por seio endolinfático e tumores do ouvido interno, que
meio da identificação de alterações moleculares espe- podem ocorrer de maneira síncrona ou assíncrona.
cíficas, que ocorrem em genes supressores de tumor e Portanto, a avaliação clínica do VHL deve incluir
em oncogenes, responsáveis pela suscetibilidade gené- USG e CT do abdome indiferente à avaliação, RNM
tica à formação dos vários tipos histológicos dos do crânio e coluna espinal, avaliação metabólica,
tumores renais. palpação e USG dos epidídimos, avaliação periódica
As principais formas de câncer de rim ocorrem do oftalmologista e otorrinolaringologista.
tanto de maneira esporádica quanto familiar, e estão O gene do VHL foi identificado e localiza-se no
associadas às mesmas anormalidades genéticas. As for- cromossomo 3p25-26, contém três exons que codi-
mas hereditárias de câncer renal diferem da esporádica ficam 283 aminoácidos.
por se apresentarem em idade precoce e serem, em Implicações clínicas
geral, multifocal e bilateral, o que sugere uma predis-
posição genética para o desenvolvimento deste câncer. Em famílias com VHL, a identificação dos indi-
Estudos moleculares de várias famílias com câncer de víduos de risco pode ter o diagnóstico feito pela
rim possibilitaram a identificação de cinco formas here- análise de mutações germinativas do locos do VHL,
ditárias do câncer de rim e suas respectivas anorma- que pode ser feita logo após o nascimento. Os indi-
lidades genéticas. As formas hereditárias já identificadas víduos afetados apresentam tumores renais preco-
são responsáveis por cerca de 4% dos tumores renais ces, além de outras manifestações da doença. O
e são descritas a seguir. diagnóstico precoce das lesões renais nestes indi-
víduos melhora a sua sobrevida. Já a ausência de
mutações do gene VHL identifica os indivíduos sem
Von Hippel Lindau risco de desenvolver a doença.
Mutações com perda de função do gene VHL
O VHL é uma doença autossômica dominante caracteriza os tumores renais de células claras e nunca
em que os indivíduos afetados desenvolvem cistos foram descritos em tumores papilíferos. Este achado
renais e carcinomas múltiplos e bilaterais de células pode explicar, eventualmente, a grande discrepância
claras (24% a 45%), hemangioblastomas cerebelares que existe entre a resposta destes tipos de tumores à
e espinais (44% a 72%), feocromocitomas (7% a imunoterapia (não há casos de resposta descritos em
18%), angiomas de retina (41% a 60%), cistos (8% tumores papilíferos).

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Guia Prático de Urologia
Seção VII B

Em estudos clínicos no Instituto Nacional do Familiar associado com a síndrome de


Câncer Norte-Americano, em Bethesda (EUA), os Birt-Hogg-Dubé (BHD)
pacientes só são submetidos ao tratamento cirúrgico
dos tumores que atingem 3 cm de diâmetro, visto A síndrome de Birt-Hogg-Dubé é de transmissão
que cada rim desenvolve cerca de 600 tumores du- autossômica dominante. Os indivíduos afetados apre-
rante a vida. sentam fibrofoliculomas cutâneos pequenos, que podem
Até o momento, não há casos de pacientes que afetar a face, o pescoço e, anteriormente, o tronco. Os
desenvolveram metástases com essa estratégia tumores renais podem ser multifocais e bilaterais.
terapêutica. Outros achados associados à síndrome incluem
cistos pulmonares e pneumotórax espontâneo. Qua-
tro tipos histológicos podem se apresentar nesta sín-
Carcinoma renal drome: oncocitomas, tumores de células cromófobas
e tumores papilíferos e de células claras.
Papilífero tipo I hereditário (HPRC) Papilífero tipo II hereditário associado
Uma outra síndrome de câncer hereditário é for- à leiomiomatose (HLRCC)
mada por alterações genéticas do cromossomo 7q31- Esta síndrome de câncer renal hereditária é causada
3, locos do gene HPRC. Mutações do proto-oncogene por alteração no gene FH (fumarato-hidratase), que
MET foi identificado como sendo o gene HPRC, é uma enzima do ciclo de Krebs.
que causa a formação dos tumores papilíferos do Esta anormalidade genética causa a forma hereditária
tipo I, tanto na sua apresentação germinativa quanto do carcinoma renal papilífero tipo II associado à
somática. leiomiomatose cutânea e uterina, que pode ser multifocal
O gene MET é um oncogene cuja mutação e ocorrer precocemente, muitas vezes necessitando de
aumenta a proliferação celular por ativação da tiro-
histerectomia. Intervenção precoce das lesões renais deve
sina-quinase.
ser feita devido à agressividade destes tumores.
A apresentação e distribuição dos tumores renais
são semelhantes aos do VHL, com tumores múltiplos Familiar
e bilaterais de vários tamanhos acometendo os rins
dos indivíduos afetados. Forma recém-descrita na Islândia sugere que há
Mutações germinativas podem ser detectadas uma suscetibilidade genética para o desenvolvimento
precocemente com a finalidade de diagnóstico da do câncer de rim esporádico, sendo que cerca de
síndrome hereditária do câncer antes da fase sinto- 68% desses indivíduos com câncer de rim tiveram
mática. Da mesma forma, a ausência da mutação pelo menos um parente de segundo grau com a
do gene MET no teste genético exclui o indivíduo doença, porém a base genética deste tipo de câncer,
do risco de desenvolver a doença. ainda não está definida.

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Seção VII B

Capítulo 102
Câncer renal com invasão
da veia renal ou cava

Marcus Vinícius Sadi

Carcinoma de células renais com extensão para a tende a partir de um tumor localizado à direita, presu-
veia renal ocorre em 15% a 20% dos casos e é mais mivelmente, porque a veia direita é mais curta que a
comum à direita. Estes casos não apresentam maior esquerda. Raramente a parede da veia cava está
dificuldade técnica do que aquela já existente em uma comprometida, mesmo em trombos neoplásicos
nefrectomia radical convencional, bastando que se com grande extensão, favorecendo sua extração
faça a ligadura venosa com cuidado e distalmente ao cirúrgica. A sobrevida dos pacientes submetidos à
trombo neoplásico, para que o mesmo não se frag- ressecção completa de trombos tumorais é superior
mente ou se desloque, causando embolia pulmonar. a 50% em cinco anos. No entanto, dependendo do
Recomenda-se a colocação de uma pinça vascular nível de comprometimento vascular, o tratamento
posicionada lateralmente na veia cava, próximo ao desses pacientes representa um dos maiores desafios
óstio da veia renal. Assim, o trombo é extraído junto da cirurgia urológica contemporânea.
com o tumor após a secção da veia renal e o orifício O carcinoma de células renais que invade a veia cava
venoso é suturado de maneira convencional. A pre- inferior pode ser dividido em três grupos, de acordo
sença do trombo tumoral exclusivo, quando resse- com o nível da invasão tumoral, aspecto crítico para a
cado, não altera a sobrevida destes pacientes. indicação e a realização do procedimento cirúrgico
Em 4% a 15% dos casos há invasão da veia cava adequado (Tabela 1). Tomografia computadorizada
inferior. Em dois terços das vezes o trombo se es- e ressonância magnética são os melhores exames para

Tabela 1: Níveis de comprometimento da veia cava inferior por trombo tumoral

(Baseado em Libertino et al,1987)

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Guia Prático de Urologia

a confirmação diagnóstica. Na prática, pode dividir lares (manobra de Langenbech) e assim consegue-se
os pacientes em dois grandes grupos: aqueles com rodar o lobo direito do fígado medialmente, identi-
invasão da veia cava abaixo dos vasos supra-hepáticos, ficando-se a veia cava e palpando-se o trombo tu-
em que se necessita de uma abordagem cirúrgica por moral. A veia cava deve ser completamente disse-
via abdominal exclusiva e aqueles com trombos neo- cada do fígado, ligando-se todos os vasos comuni-
plásicos acima dos vasos supra-hepáticos, em que há cantes existentes. Não existe um número fixo de veias
necessidade de hipotermia profunda com parada circu- nesta região e este procedimento deve ser feito com
latória ou by-pass cardiopulmonar. cuidado, pois estes vasos são usualmente muito curtos.
Quando o trombo está localizado no segmento ve-
noso retro-hepático, mas abaixo dos vasos supra-
Técnica cirúrgica hepáticos, pode-se malaxar o trombo tumoral para
uma posição infra-hepática, o que minimiza a magni-
Os pacientes que serão submetidos à nefrectomia tude do procedimento. Caso contrário, após separar-
radical com extração de trombo tumoral na veia cava se a veia cava do fígado, realiza-se a manobra de
inferior devem ser preparados para uma cirurgia de Pringle e, após o controle vascular acima e abaixo
grande porte. Na maioria destes casos o tumor é gran- do trombo tumoral, completa-se a sua extração com
de, produz uma intensa reação desmoplásica junto ao um cavotomia infra-hepática ampla (Figura 1).
hilo renal e, especialmente nos casos de obstrução venosa Quando o trombo tumoral se estende para junto
completa, há uma rede de vasos colaterais de tal ou acima das veias supra-hepáticas, a indicação cirúr-
magnitude, que usualmente é impossível abordar-se o gica deve ser feita com critério, pois o procedimento
pedículo renal diretamente. Desta forma, a abordagem é de grande magnitude e muitos destes casos apresen-
clássica de ligadura da artéria renal seguida pelo controle tam comprometimento linfonodal, o que piora sobre-
venoso vascular no início da cirurgia fica muitas vezes maneira o prognóstico. Ainda, ao contrário dos trom-
prejudicada, e pode produzir grandes hemorragias. bos tumorais de localização infra ou retro-hepática,
O acesso cirúrgico pode ser realizado por diversas
incisões, na dependência do tamanho e localização
do tumor e experiência do cirurgião, mas três são as
mais utilizadas.
a) toracolaparotomia;
b)laparotomia mediana; ou
c) laparotomia transversa (chevron).
As duas últimas incisões podem ser complemen-
tadas por uma eventual esternotomia nos casos em
que o trombo tumoral tem extensão acima dos vasos
supra-hepáticos e necessita-se de uma abordagem
supra-diafragmática e/ou intrapericárdica.
Os pacientes que se apresentam com trombos tu-
morais nível 1 têm uma cirurgia simplificada. Após
o controle proximal e distal da veia cava inferior acima
e abaixo do trombo neoplásico, e da veia renal contra-
lateral, com torniquetes de Rummel, uma cavotomia
circular é realizada para extração do trombo neo-
plásico e o vaso, suturado com pontos contínuos de
prolene. Se necessário, pode-se obter cerca de 2 cm Figura 1: Manobras críticas na abordagem do trombo neoplásico
de veia cava superiormente com a liberação do lobo com invasão da veia cava retro-hepática
caudado do fígado. a) Rotação medial do fígado, como a página de um livro, após
A cirurgia dos pacientes com trombos tumorais liberação dos seus ligamentos triangular, coronal e falciforme;
b) Ligadura das veias curtas entre a veia cava e parte posterior
nível II é mais complexa. Para obter-se o controle do lobo hepático direito;
proximal da veia cava inferior, há necessidade de iden- c) Controle da veia cava retro-hepática acima do trombo e das
tificar-se a sua porção retro-hepática. Para isto, dis- veias renal e cava infra-renal;
d) Manobra de Pringle, se necessário.
seca-se os ligamentos hepáticos, coronais e triangu-

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Guia Prático de Urologia

que quase nunca são aderentes à parede da veia cava, Leitura recomendada
o mesmo não ocorre aos pacientes com trombos
extensos, que podem estar densamente aderentes ou 1. Marshall FF, Reitz BA. Technique for removal of renal cell
carcinoma with suprahepatic vena cava thrombus. Urol Clin
apresentarem invasão da parede venosa. Em geral,
North Am 1986;13: pp. 551-7.
estes pacientes necessitam by-pass cardiopulmonar, 2. Clayman RV, Gonzalez R, Fraley EE. Renal cell cancer
hipotermia profunda com parada cardiocirculatória invading the inferior vena cava: clinical review and
ou derivações venovenosas, para que estas cirurgias anatomical approach. J Urol 1980, 123: pp. 157-63.
sejam realizadas com segurança. 3. Skinner DG, Pritchett TR, Lieskovsky G, Boyd SD, Stiles
QR. Vena caval involvement by renal cell carcinoma. Surgical
Mortalidade peroperatória ocorre em até 13% dos
resection provides meaningful long-term survival. Ann Surg
casos e a complicação mais temida é o sangramento intra- 1989, 210: pp. 387-94.
operatório. Sepse, insuficiência renal e hepática são compli- 4. Novick AC, Kaye MC, Cosgrove DM, et al. Experience with
cações pós-operatórias graves, e surgem entre 10% a 30% cardiopulmonary bypass and deep hypothermic arrest in the
dos casos. Fatores adversos para uma sobrevida prolon- management of retroperitoneal tumors with large vena cava
thrombi. Ann Surg 1990, 212: pp. 472-7.
gada destes pacientes incluem a presença de invasão da 5. Libertino JA, Zinmman L, Watkins E. Long-term results of
parede do vaso pelo trombo neoplásico, linfonodos resection of renal cell cancer with extension into inferior
positivos ou micrometástases à distância. vena cava. J Urol 1987, 137: pp. 21-4.

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Seção VII B

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Seção VII B

Capítulo 103
Tumor renal bilateral

Nelson Garcia de M. Forjaz Junior

Tumor renal é a patologia de alta incidência, com ter pior sobrevida que T4 em 36 meses, não existindo
estimativa de 30 mil diagnósticos de novos casos em sobrevida além de 90 meses.
2003 nos EUA. Há um crescimento anual da incidência A sobrevida é também função do grau de diferen-
da ordem de 2,3% a 4,3% em todos os grupos etários, ciação tumoral.
em todos os estádios, inclusive metastáticos. Em função A sedimentação dos procedimentos cirúrgicos
dos diagnósticos incidentais, a incidência cresce mais com preservação de parênquima renal, a cirurgia
em tumores localizados. Atualmente, cerca de 60% laparoscópica, as cirurgias por radiofreqüência,
dos diagnósticos de tumor renal são incidentais, criocirurgia, associados à imunoterapia com IL-2 e
enquanto que em 1970 era de 10%. transplantes halogênios de stem cell, vêm propor-
Em torno de 11 mil pessoas deverão morrer de cionando novas esperanças de sobrevida.
câncer de rim em 2003, o que corresponde a cerca
Genética molecular
de 3% de todos os tumores.
Graças ao aumento dos diagnósticos precoces, Há que se considerar a existência de dois grupos
a sobrevida tem sido maior. Assim, em 1976, era genéticos, o familiar e o esporádico, sendo função
de 52% em cinco anos e, em 1998, de 62% em dos genes supressores tumorais de câncer de rim e
cinco anos. Hoje, pacientes que chegam ao urologista oncogênese. Estes tornam evidente a importância do
com tumor localmente avançado têm 65% de gene da doença de Von Hippel Lindau e genes Met,
chance de sobreviver por cinco anos e aqueles que tanto na gênese das formas hereditárias quanto para
se apresentam com doença avançada, somente 20% as não-familiares esporádicas de câncer de rim.
em dois anos. Como estes genes são considerados cancerígenos, o
Dos pacientes que desenvolvem metástases após seu encontro pode favorecer novos métodos prope-
a nefrectomia, somente 30% são encontradas dêuticos e terapêuticos e de prevenção.
propedeuticamente.
O estadiamento da doença é de fundamental
Oncogênese
importância no prognóstico e na orientação tera- Oncogênese é um fenômeno decorrente do au-
pêutica. mento da função do gene, resultante de mutação, le-
O critério universalmente aceito é o do TNM. vando ao crescimento não-controlado do tecido, for-
A análise de sobrevida confere a T1a os melhores mando o tumor.
resultados, de 85% em 72 meses. T1b apresenta Freqüentemente a oncogênese pode duplicar no
sobrevida de 50%, semelhante a T2. Peculiar é o fato câncer, resultando em três cópias em lugar de duas,
de T3 com comprometimento da glândula adrenal a chamada trisomia.

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Guia Prático de Urologia

A oncogênese c-Met e o gene do carcinoma pa- A ressonância magnética e a arteriografia são


pilar renal hereditário são exemplos clássicos de exames que contribuem para o melhor estadia-
oncogênese localizada no cromossomo 7. mento tumoral, e diagnóstico diferencial com cistos
Como o retinoblastoma e o câncer de colo, o câncer hemorrágicos.
renal tem duas formas, a esporádica e a familiar.
Estima-se que 4% dos tumores renais sejam here-
ditários. Há quatro tipos de tumores hereditários, Tratamento
como a forma hereditária de carcinoma papilar renal,
o carcinoma renal associado a VHL, o carcinoma O tratamento do tumor renal localizado (T1-T2,
renal familiar associado à síndrome de Birt-Hogg- N0, M0) é cirúrgico.
Dubé (BHDS), sendo o mais comum, e o de células A nefrectomia radical com propósitos curativos
claras familiar. surgiu, em 1969, com Robson. Em rim único e tumores
bilaterais à nefrectomia parcial. Clayman, em 1990,
Tumor de Von Hippel Lindau (VHL) obteve resultados idênticos comparando nefrectomia
radical laparoscópica com cirurgia a céu aberto.
São tumores multifocais, freqüentemente associado Com o aprimoramento técnico, as nefrectomias
a outros tumores. Em 35% a 40% dos tumores de parciais passaram a promover resultados semelhantes
VHL a morte acontece por complicações metastáticas aos das nefrectomias radicais, sendo hoje a primeira
de carcinoma de células renais. O estudo genético indicação a nefrectomia parcial por técnica laparos-
permitiu a classificação e a individualização dos cópica. A utilização de ultra-som intra-operatório tem
tumores renais. permitido a ressecção de tumores localizados mais
‹ VHL – células claras (crescimento sólido) – 75%
profundamente no parênquima renal.
a 85%; A nefrectomia parcial deve ser feita em tumores
‹ Met – tipo I (padrão de crescimento papilífero)
de até 4 cm, em tumores maiores há possibilidade
– papilar ou cromófilo – 15%; de ocorrência de tumores satélites multifocais.
‹ BHD – carcinoma renal cromófobo (onco-
A sobrevida é de 87% a 90% e a recorrência local
citoma) – 4%; é de 4% a 6%.
‹ FH – tipo II (padrão de crescimento papilífero)
Tumores localmente avançados (T3, T4, N0-N1,
– ductos coletores – raros. M0) são tratados por nefrectomia radical e esvazia-
Os subgrupos comportam-se de maneira peculiar, mento ganglionar bem como embolectomia intracava
sendo os cromofobos de melhor prognóstico, segui-
quando necessário.
dos pelos tumores papilíferos e a seguir pelos tumores
Segundo Zisman no envolvimento da veia cava,
de células claras. Tumores ductais, indiferenciados e
33% não têm metástases (N0, M0), 77% N1, M1.
sarcomatóides têm prognóstico pobre.
Os tumores com trombo fazem metástases em 54%
Em estudos na Islândia, evidenciou-se que 68%
dos casos, os sem trombo em 33%. A sobrevida de
das pessoas com câncer renal têm na família até pri-
tumores localizados com trombo é de 72% contra
mos de segundo grau com história tumoral renal.
81% dos sem trombo em cinco anos.
As metástases de carcinoma renal ocorrem em
Trabalho recente da UCLA sugere melhores resul-
40% a 60% no pulmão, em 20% a 30% nos linfo-
tados com esvaziamento ganglionar, não confirmado,
nodos hilares, seguidos dos paraórticos e intera-
porém, por trabalhos de outros autores. O esvazia-
ortocava, em fígado e esqueleto de 20% a 30% e em
mento ganglionar melhora efetivamente o prog-
menor incidência em cérebro.
nóstico quando há evidência clínica de compro-
metimento ganglionar.
Diagnóstico A criocirurgia tem sido utilizada em idosos e com
fito citorredutor.
O diagnóstico baseia-se nos exames por imagem. A radiofreqüência é uma alternativa para excisão
O ultra-som tem sido extremamente importante no de tumores múltiplos, entre 0,5 cm e 3 cm. Com
encontro fortuito incidental de tumores, proporcio- 50 watts falha em 42% e tem resposta completa
nando mais estádios precoces. com 200 watts. Laparoscopicamente demonstrou-
A tomografia computadorizada, pela riqueza de se que, apesar da diminuição tumoral, permanecem
detalhes, proporciona melhor estadiamento. os focos tumorais.

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Guia Prático de Urologia

Nos tumores renais metastáticos, a nefrectomia Leitura recomendada


citorredutora e utilizada como preparativo para o
tratamento com interleucina-2, quimioterapia ou 1. Prognostic factors of renal cell carcinoma. Méjean A, Oudard S,
terapia antiangiogênese. Thounn N. The Journal of Urology, vol 169, 821-7, march 2003.
2. Zisman A, Pantuck AJ, Dorey F, Said JW, Quintana D. J Clin
A interleucina-2 proporciona resposta completa Oncol 19: 1649-2001.
em 10% em dez anos de sobrevida e 9% parcial em 3. Flanigan RC, Yonover P. Urol Oncol 19: 98-2001.
cinco anos de sobrevida. 4. Naitoh J, Kaplan, Adorey F, Figlin R, Belldegrun A. J Urology
Novas técnicas calcadas em biologia molecular 162: 46, 1999.
são esperanças de tratamento complementar em
estádios avançados.

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Seção VII B

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