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ESCALAPB 2% 5% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 95% 98% 100% PB ESCALACOR 2% 5% 10%

98% 100% PB ESCALACOR 2% 5% 10% 15% 20% 30% 40% 50% 60% 70% COR
80% 85% 90% 95% 98% 100%

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DOMINGO, 18 DE MARÇO DE 2007 DOMINGO, 18 DE MARÇO DE 2007


J4 ALIÁS O ESTADO DE S.PAULO O ESTADO DE S. PAULO ALIÁS J5

LUIZFELIPEPONDÉ
0 Vaticano
EXPLICAÇÃO MISSA CONFLITO
ENTREVISTA
“Regressão,recuo, “Acham o culto em “Quando houve a
Professor de Ciências da Religião na retrocesso,nenhum hebraico lindo, os confusão com o
PUC-SP e de Filosofia na Fundação destestermos mantras em Islã, falaram que o
Armando Álvares Penteado (FAAP)
explicaoqueestá
acontecendo”
sânscrito idem. Por
que não o latim?”
papa se desculpou.
Entenderam mal” retorna ao
Um papa na contracorrente sagrado
Documento papal pode ser visto apressadamente
como retrocesso. Mas reafirma valores nunca abolidos
Segundo Pondé, Bento XVI acha que ultrapassados somos nós, os modernos. E equivocados, os religiosos que misturam fé e política, Jesus Cristo e Che Guevara
MONALISA LINS/AE

Aureliano Biancarelli institucional na América Lati- cha o olho, porque sabe que tem sessordedomOscarRomero,arce- pitalista, moderno, antigo, José de Souza Martins entre sagrado e profano. Ela
e Laura Greenhalgh na. Para alguém como Bento muitagente sofrendo... A Igreja bispo de San Salvador, assassina- heterossexual, homosse- apontaváriossinaisdebanaliza-
XVI,éinconcebívelqueestateo- temessarespiração...Nãohave- do em 1980. Teria Bento XVI esco- xual, corintiano, não faz dife- No correr da semana, o papa ção nos próprios rituais, na mú-
Quando a fumaça branca con- logia tenha desembocado na rá operação-desmanche. E lhido o alvo a dedo? rença, é um problema. É cla- Bento XVI divulgou ao episco- sica,naarquitetura, no abando-
tou ao mundo que o cardeal Jo- fundação de um partido políti- nem uma caça aos descasados. Não causa estranheza alguma ro que, com bons médicos, pado,aoclero,àspessoas consa- no da arte religiosa. As exten-
sephRatzingerseria onovoche- co, o PT, mas não tenha conse- esta notificação. O desafio do hospitais e postos de saúde, gradas e aos fiéis leigos a sua sas referências em favor da ar-
fe da Igreja católica, sob o nome guido criar as condições para Masaspessoasvãose sentirviven- ConselhoEpiscopalLatinoame- poderemos viver mais. Mas Exortação Apostólica “Sacra- TERÇA,13 DE MARÇO te, desde a arquitetura do tem-
de Bento XVI e substituindo enfrentar a expansão do neo- do em pecado... rino (Celam), no encontro do issonãoresolve, porqueoser mentum Caritatis” sobre a Eu- plo até o canto litúrgico, consti-
João Paulo II, as primeiras rea-
ções ficaram por conta do im-
pentecostalismo. Eis uma frase perfeitamente
possível em se tratando de um
mês de maio, em Aparecida, se-
rá duplo: ao mesmo tempo não
humano é um animal cuja
consciênciadetermina opró-
caristia. A Exortação retoma a
riqueza de reflexões e propos-
Polêmica no tuem um dos mais belos e sur-
preendentesaspectosdessedo-
pactonaturaldo anúncio. Oteó-
logo alemão linha dura, que em
A politização do clero vem da “op-
ção preferencial pelos pobres”?
Bento XVI: “É normal que o ser
humano se sinta em pecado.
subestimar o problema social
na América Latina, mas tam-
prio sofrimento. E aqui entra
o Vattimo: a religião parece
tas surgidas na recente Assem-
bléia Geral Ordinária do Sínodo
texto do papa cumento. Bento XVI pensa a ar-
te como sendo ela própria um
1985 impôs o silêncio ao francis- Pois é, Bento XVI não entende Porque ele está.” bém relembrar aos bispos que a ser o sistema de sentido mais dosBispos,no intuitodeexplici- dos momentos do sagrado, o sa-
cano brasileiro Leonardo Boff, assim. Jesus falou que os ricos salvação passa por Cristo e pela poderoso que já existiu na fa- tar algumas linhas fundamen- ●●●Documento reafirmacondena- grado contido na obra de arte,
chegava ao topo da hierarquia não entrarão no reino dos céus, O Vaticano não se preocupa com a reforma interior. Nem tudo de- ce da Terra. E não é à toa que tais de atuação para despertar çãoaosegundocasamento, àsrela- como referência integrante dos
católica. Meses depois, aqui e mas ele também falou “dai a Cé- perda de fiéis? pende da transformação sócio- muitaspessoas religiosasen- na Igreja novo impulso e fervor çõeshomossexuais, aoaborto, e elementos do culto.
ali, registraram-se manifesta- saro que é de César”. A Teologia Provavelmente, sim. Ao mes- política do mundo. contram maior sentido na vi- eucarístico. O longo documen- defendeavoltado sagradoaosuge- Énoâmbitodo retornoao sa-
çõesdealtaspatenteseclesiásti- da Libertação escorrega ao motempo,busca-se ocristão no da. A religião é um perigo? A to tem todas as características riro retornodo latim edo canto gre- grado que o papa pede que se
cas – inclusive no Brasil – suge- achar que os pobres são uma es- entendimento católico. O que a IssonãovaiabalaroencontrodoCe- espécie humana, esta sim, é de uma aula magistral, em que goriano.Texto não surpreendeu, distinga a hierarquia dos parti-
rindo que o pontificado poderia pécie de classe messiânica, ou Igreja de Bento XVI está dizen- lam e irritar o clero daqui? perigosa. Nós, que nos adap- SuaSantidadeconvidaseusdis- mas no Brasil vem dividindo opi- cipantes do culto e revaloriza o
abrandar o velho Ratzinger. E que a graça só está nos excluí- do? Um discurso assim: “Nós Bento XVI vem canonizar em tamos a tudo, que resistimos cípulos, com firmeza, ao apren- niões entre o clero e fiéis católicos. carisma do sacerdote, justa-
mais:que asólida formação teo- dos, quando na realidade está não vamos mais fazer acordo solo brasileiro. Ao mesmo tem- aos piores, aos mais agressi- dizado e revalorização de re- mente em função do caráter sa-
lógicadoex-chefe daCongrega- em todo mundo. Nós, os intelec- com cristão meia-boca. Você po que faz o primeiro santo no vos, aos mais devoradores, grasfundantes da Igreja Católi- crificial da celebração da missa
ção para a Doutrina da Fé, alia- tuais, formamo-nos basicamen- quer ser católico? Você é sepa- País,sinalizaà Igreja:“Vou con- nósquehoje integramos aes- ca, centrando todo o edifício e da investidura sacerdotal na
da ao “peso do manto”, poderia te no universo marxista, de es- rado? Tudo bem, você vai conti- tinuar dizendo que a Teologia pécie, somos perigosos. Não eclesial no constitutivo sacra- tação hispano-salvadorenho, função de agente desse sagra-
resultarnumsurpreendentepa- querda, entendendo a democra- nuar a ser católico, mas vai sa- da Libertação acabou. Ela não somos carneirinhos. mentodaEucaristia. Essencial- de ensinar em seminários e es- do. Espaços do sagrado restri-
pado de renovação. ciacomo algumacoisa insuperá- berquefracassounoestabeleci- vai formar ninguém, vocês vão mente,odocumentoéumelabo- colas católicas, justamente por tosaoacessodoscelebrantesor-
Na semana passada, Bento vel.Mas, insisto, para Bento XVI mento da família. Nós não va- ter que abandonar esse negó- O Vaticano reconhece Estados rado manifesto em favor de suas idéias a respeito da huma- denados reafirmam algo muito
XVI desnorteou quem fez essa e João Paulo II as demandas mo- mosdeixarvocêpensar quedes- cio”. Claro, haverá a indignação laicos. Quando Bento XVI vem uma volta ao sagrado. nidade de Cristo. difícil de entender no mundo
aposta. Ao divulgar sua primei- dernasnãonecessariamenteim- casar é legal porque, afinal, vo- dos bispos, como haverá silên- com uma exortação apostólica É um documento pedagogi- É evidente que o papa reafir- contemporâneoqueéofatosim-
ra exortação apostólica, um do- plicamemsucessonavidaoume- cê partiu para outra”. O cristão cio de outra parte. Depois, tudo na qual fala do segundo casa- camente claro, atraente e inte- ma valores e orientações que ples de que no sagrado não há
cumentode131páginas intitula- lhoria das pessoas. Para eles, a católicoterá dealcançaracons- se acalma e o mundo segue em mentocomoumapragaentreos ressante.Interessante,sobretu- nunca foram abolidos nem sus- nem pode haver democracia.
doSacramentumCaritatis(OSa- modernidade não é um pilar, ciência de que não conseguiu frente.Ele age no planosimbóli- católicos, pode desnortear mui- do, porque Joseph Ratzinger é pensos, como é o caso do veto à As resistências gratuitas ao
cramento do Amor), espécie de nemumpontodepartidaobriga- manter a família, que ela é sa- co. Com o gesto em relação ao ta gente. Afinal, no Estado laico, o único filósofo contemporâneo comunhão dos divorciados que documento papal, divulgadas
síntese do Sínodo de 2005, o pa- tório,masum momento comple- grada porque os filhos não são Sobrino, com a exortação apos- o casamento é um contrato civil cujo magistério encerra a con- estejam em segundo casamen- apressadamente, tentaram su-
pa mandou ver na caneta. Pre- xo na história da humanidade. seus, mas são de Deus. tólica, com a vinda ao Brasil, en- e tem suas regras. versão das idéias em regras de to. Mas não deixa de haver su- gerir que se trata de manifesta-
gou o retorno do latim e do can- Ummomentoquevemsedesgas- fim, com tudo isso, Bento XVI Para o papa, o casamento é conduta, como é próprio de gestões de compaixão em rela- ção de arcaico conservadoris-
to gregoriano na celebração da tando. Achamos que é melhor É necessário, como diz o papa, que está dizendo “você, deputado umobjetodeDeus,nãodoEs- uma monarquia absoluta. No ção aos que se afastam do pa- mo. Sequer levaram em conta
missa, desqualificou a confis- distribuir camisinha para nos- os descasados cumpram penitên- católico, honre o sentido de ser tado. É um sacramento. entanto, a combinação de refle- drão de família que a Igreja re- os porta-vozes da banalização
são comunitária, criticou pa- sosfilhosdoqueenfrentarafamí- cias e façam obras de caridade? católico”. Ou: “Casamento ho- conhece e aceita. E é mesmo in-
dres que se coloquem como lia que está em desequilíbrio, on- Éoqueelerecomendariaaqual- mossexual, não me venha com MasoEstadoexiste,asleisexis- teressante, e até intrigante, que
“protagonistas da ação litúrgi- deaspessoasjánãomaiscuidam quer pecador. essahistória.”“Paradagay?De- tem. ELE APONTA SINAIS DE o papa insista na importância É DIFÍCIL DE ENTENDER
ca”, fincou pé no veto ao aborto, das pessoas. Também continua- sencane.”Ouentão:“JesusCris- O próprio Bento XVI repisou BANALIZAÇÃO DOS devalorizare ampliar onúmero QUE NO SAGRADO NÃO
à eutanásia, às uniões entre ho- SEM PRESSA - “O papa entende que a Igreja é uma instituição que contempla a eternidade”, diz Luiz Felipe Pondé, estudioso de Ratzinger mos a acreditar que a felicidade Quando diz que está interessado to não é Che Guevara.” em um dos seus livros que “o dos tribunais eclesiásticos que
mossexuais,ecomparouadisse- é a coisa mais importante da vi- em qualidade, não em quantidade reino de Deus não é desse RITUAIS E ABANDONO possamexaminare decidiranu- HÁ, NEM PODE HAVER,
minação do segundo casamen- queoJoãoPauloIItambémpen- ta. Tudo lindo... Então por que da, a felicidade imediata, o gozo. mundo”, como diz Jesus no DA ARTE RELIGIOSA lações de casamentos. DEMOCRACIA
toentre oscatólicosa uma“pra- sou. Faz parte de um movimen- “Ao mesmo Não é estranho que um místico te-
nhaaberto portas e janelas da Igre- não podemos ter uma parte da Somos os fiéis da modernidade.
de fiéis, isso pressupõe uma sele-
ção no rebanho. Por outro lado, o
Ele investe contra a Teologia da Li-
bertaçãonummomentoemque,pe- Evangelho. O Estado rege o Os detalhados cuidados com
ga social”. Armou tal confusão to contínuo que a Igreja vem fa- ja,no Concílio Vaticano II,como fez missa rezada em latim? Por que Brasil está se tornando o grande lo menos no Brasil, seus melhores tempo, a conduta dos cida- a ordem e o decoro na liturgia
no mundo católico que traduto- zendo ao longo dos tempos. tempo que JoãoXXIII,equeumteólogodesóli- temos de privar as pessoas do Na exortação, o papa condenou o país pentecostal... E então? defensores saíram de cena: dom dãos, os contratos, controla a xão aberta e de exortação tem podem parecer reacionários que o papa não recomendou a
res se embolaram para dizer da base intelectual, como Bento deleite de ouvir o canto grego- segundocasamento.Nãoécompli- Um católico como Bento XVI le- HelderCâmaraedomIvoLorschei- violência,organizaotrânsito, maisointuitodecorreçãoderu- aos olhosdos quevão ocasional- obrigatoriedade do retorno ao
que, no contexto, “praga” signi-
ficaria“chaga”,“ferida”,“mácu-
O encaminhamento das questões faz o primeiro XVI,proponhaoretornoàtradição? riano? Por que achamos com- cado Bento XVI discriminar mi- vaasérioofatodequeomalexis- ter, que morreram, dom Pedro Ca- mas,dopontodevistadadou- mos do que de ordem impositi- mente à Igreja, sobretudo por latim e ao canto gregoriano co-
tratadasnosínodode2005teriasi- O que diriam hoje João Paulo II preensível o celibato do Dalai lhões de fiéis? tenomundo.Elenãoécomonós, saldáliga e dom Paulo Evaristo trina católica, o Estado não va que, sem dúvida, Bento XVI uma obrigação social, muito molinguagensdamissa.Aocon-
la”– mas,ao queparece, opontí-
fice quis dizer “praga” mesmo.
dodiferentefosseopapaJoãoPau-
lo II e não Bento XVI?
santo no País, e Bento XVI sobre o Vaticano
II, hein? Diriam que houve ex-
Lama, mas criticamos o celiba-
to dos padres? Essa é a grande
Importanteé perceberas nuan-
ces disso. Muitas pessoas, espe-
modernos, que achamos que o
mal é uma invenção psicológica,
Arns,maisidososemenosativos....
De fato, os expoentes saíram de
temo direito de legislar sobre
osvaloresdafamília.Nãotem
estava em condições de adotar.
Em vários pontos da Exorta-
mais ao que entendem ser um
espetáculo,doque propriamen-
trário, Bento XVI apenas reco-
mendou que, nas grandes cele-
Retrocesso no catolicismo?
Voltaremosasituaçõesanterio-
Dizem que, nos últimos anos de
João Paulo II, já era Bento XVI
o papa cesso, houve enganos na leitura
do que era a intenção primor-
tragédiado cristianismo:eleen-
gendrou a modernidade e ela o
cialmente nas classes mais sim-
ples,estãosemantendonocasa-
porque você apanhava muito na
escola, por exemplo. O mal está
cena. E não se fez uma geração
brilhante. O problema atual é
o direito de estabelecer que o
seufilhopeguecamisinhasno
ção, o papa “pede” ou “sugere”
abispos e padresqueprocedam
te ao rito sacramental, como
nos casos de casamentos, bati-
brações próprias de encontros
internacionais, cada vez mais
res ao Concílio Vaticano II, que
deu novos ares à Igreja? É disso
que reinava. A relação de am-
bos era estreita, teologicamen-
sinaliza: ‘Vou dial do Concílio, uma melhor
compreensão da modernidade.
devora, o tempo todo. mento de origem, mesmo so-
frendo,porqueaunião éindisso-
posto no mundo, não é uma cria-
çãohumana. Eopapanãoéfreu-
de outra ordem: não existe, no
Brasil,nenhumcanaldeinterlo-
banheiro da escola para tran-
sar com segurança.
deste modo ou daquele. Mas,
mesmo que não queira, suas re-
zados e funerais. Isso atinge
não só os fiéis, mas também os
comuns, seja usado o latim, co-
mo língua de comunicação uni-
que trata a entrevista que se se-
gue do filósofo Luiz Felipe Pon-
te falando. Do ponto de vista da
personalidade, Bento XVI é um
continuar Só que o cardeal Ratzinger foi um
Bento XVI também começa a dizer
a que veio no enquadramento de
lúvel. Digo sofrendo, porque ca-
samento não é uma coisa fácil.
diano, nem marxista. Segundo
teologias ortodoxas, para as
cução entre Igreja e Bento XVI.
Não há no mundo teológico bra- Quandoumgovernodistribuica-
flexões serão lidas e interpreta-
das como regras absolutas.
celebrantes. Não há como não
concordar com Sua Santidade
versal, e o canto gregoriano co-
mo opção litúrgica universal
dé, professor do Departamento
de Teologia da PUC-SP e da Fa-
homemdeidéias,intelectual ca-
paz de enfrentar um debate
dizendo que a dos formuladores do Concílio...
Sim, mas em seguida ele diria
teologias que se afastem da “ofi-
cial”.É o caso da condenaçãoao si-
SeaIgrejaabrisseaporteirapa-
ra a separação, o que acontece-
quais ele se volta, o mal é da or-
dem da decomposição do ser.
sileiro um interlocutor para en-
cararestepapa.Asmelhoresca-
misinhas para evitar a aids e
quando se dispõe a incentivar o
Não vamos nos iludir. O pa-
pa personifica a multiplicidade
quando humilde e divertida-
mente fala na “necessidade de
em situações de culto que reú-
nem celebrantes de distintas
culdade de Comunicação da
Fundação Armando Álvares
com Habermas (Jürgen Haber-
mas, filósofo alemão, ligado à
Teologia da quehouve máinterpretaçãodas
decisõesconciliaresequefoium
lêncio do bispo Jon Sobrino, de El
Salvador,ligadoàTeologiadaLiber-
ria? Se eu já entro no casamen-
to achando que posso sair dele
Claro, há o risco de perder fiéis,
mas Bento XVI entende que não
beças continuam sendo forma-
das na Teologia da Libertação,
planejamento familiar...
...do ponto de vista da Igreja
de vontades que na Igreja se in-
quietamcomacomplicadarela-
melhorar a qualidade da homi-
lia”, não sem antes ter chamado
origens. Recomenda mesmo,
no fundo, às novas gerações de
Penteado. Pondé há anos vem
estudando a vereda teológica
EscoladeFrankfurt). João Pau-
lo II, em contrapartida, era um
Libertação equívoco supor que a Igreja de-
vesse se submeter às demandas
tação.Ratzinger,quepuniuLeonar-
do Boff no passado, não mudou de
emalgunsanos, vivereiumcoti-
diano sem solidez. E isso leva a
deve ter medo do mal e nem fa-
zeracordocomele.Quandohou-
ou seja, nosso clero ainda vive
sob o impacto de uma visão só-
Católica, está agindo fora do
seu território. Essa é a res-
çãoentre ocatolicismoea socie-
dade contemporânea, “em um
reiteradamente a atenção para
o fato de que o celebrante não
sacerdotesquesepreparem pa-
ra o sacerdócio no mundo mo-
de onde saíram pelo menos dois
papas, João Paulo II e Bento
místico. Diferentes na persona-
lidade, assemelhavam-se de-
acabou.’ Mas, da modernidade. Bento XVI en-
tendequeaIgrejaéumainstitui-
convicções?
Há um casamento entre tradi-
um processo de degeneração.
Quando a Igreja diz “não se se-
ve aquela confusão do papa com
o mundo islâmico, acharam que
cio-analítica do mundo. Logo, o
Bento XVI não tem com quem
postaqueoBentoXVI prova-
velmente daria. A solução
mundoem queaonomedeDeus
vem,àsvezes,relacionadaavin-
está ali para mostrar sua pes-
soa, mas como sacerdote, como
derno,cadavezmaisinternacio-
nalizado (e globalizado), apren-
XVI – semelhantes nas concep-
ções doutrinárias, embora com
mais em termos teológicos. as melhores ção que contempla a eternida-
de, enquanto a gente está mais
ção e mística, que não é lá muito
fácil. Imagine o encontro de
para, se não a gente manda em-
bora”, ela já acena com a puni-
ele tinha pedido desculpas. No
meu entender, não pediu. Foi e
conversar... É preciso conhecer
muito da obra de Von Baltazar
não é usar o preservativo,
mas evitar a promiscuidade.
gança ou até mesmo o dever do
ódio e da violência”. O convite à
personificação do sagrado.
Todo o texto está claramen-
dendoolatimeocantogregoria-
no.São reiteradasasmanifesta-
biografiastão distintas. “Nãose
pode estranhar o conteúdo da
Isso explicaria o retorno às tradi-
ções e aos ritos católicos, expresso
cabeças do preocupado com o que vai acon-
tecer no mundo nos próximos
João XXIII com João Paulo II no
céu. O italiano deve ter dito ao
ção, que é, para muitos católi-
cos, o sofrimento de quem não
continuou sendo mal entendido.
Ele queria dizer que, toda vez
(teólogo suíço alemão morto
em 1988) ou de Henri de Lubac Promiscuidade,segundo a Igre-
volta ao sagrado é, portanto,
uma recusa da mescla de reli-
te orientado no sentido de uma
exortação pelo reconhecimen-
ções de reconhecimento da di-
versidade cultural e até mesmo
exortação. É exatamente a con-
tinuidade do papado de João
na exortação? Ou seja, os dois últi-
mospapadossecolocamdeacordo
nosso clero dez anos. Sendo uma instituição
de olho no eterno, para que ter
polonês: “As pessoas entende-
ram tudo errado, João Paulo. A
conseguiu manter o que deve-
riaser mantido.Isso nãosignifi-
que se rompe o diálogo entre ra-
zão e fé, as vocações religiosas
(teólogo francês), decisivos na
formação do Bento XVI, mas
ja, seria qualquer forma de sexo
que não tenha a finalidade da
gião e política e suas tensões. O
território do sagrado fica preci-
to e reafirmação do espaço e
dos ritos do sagrado. E esse é,
de culto e as sugestões para que
os bispos se esmerem em ter
Paulo II”, garante o professor,
autor de Crítica da Profecia – Fi-
numa posição mais regressiva?
Regressão, recuo, retrocesso,
ainda são pressa? Isso introduz a variável
temporal, que para nós é estra-
Igrejaprecisavaseabrirparaes-
cutar os fiéis, para entender
ca perder espaço na Igreja. tornam-se sombrias. quase desconhecidos por gran-
de parte da formação teológica
procriação. É isso?
Não. A doutrina fala que o se-
samente marcado no documen-
to, em todos os detalhes, sem
sem dúvida, o seu sentido mais
importante.AExortaçãopós-si-
em conta a centralidade do sa-
grado e da tradição nas incultu-
losofia da Religião em Dostoie-
vski(Editora 34)eDo Pensamen-
nenhum destes termos explica
o que está acontecendo. João
formadas nha. Entre o Vaticano II, que au-
torizou a missa celebrada em
suas angústias, e acharam que
era preciso transformar Marx
Como,seatéacomunhãolheséne-
gada?
Naexortação, trata como questões
inegociáveis o aborto, a eutanásia,
brasileira. Logo, falta recurso
para entender de onde veio o
xo deve ser feito num hori-
zonte onde a procriação não
margem a qualquer interpreta-
çãoalternativa. Nãoé,pois, sur-
nodal do papa é motivada pelo
reconhecimento da banaliza-
rações, sem desconsiderá-las.
A manifestação do papa, longe
to no Deserto ( a sair pela
Edusp). Com uma diferença na-
PauloIIe BentoXVIformaram-
se na tradição católica que bus-
sob uma idiomas vernaculares, e Bento
XVI, que vai botar a moçadinha
em profeta”. João Paulo II pode
ter-lhedito:“Eeuquetivedecon-
Não significa perder a piedade
da Igreja. Como não significa
odivórcio,uniõeshomossexuaiseo
ensino da religião católica.
pensamento deste papa. É raso
dizer que ele é um conservador.
é a priori excluída. Outra coi-
sa é dizer que o sexo só pode
presa que na mesma semana o
Vaticanotenha proibidoojesuí-
ção do sagrado e orientada ine-
quivocamente em favor da pre-
deserconservadora,énaverda-
de uma espantosa manifesta-
da desprezível: com a bagagem
teórica do papa alemão, a mo-
ca a reforma interior do ser. Se-
gundo essa tradição, é preciso visão sócio- para estudar latim de novo, sen-
timos uma longa respiração, es-
sertar as coisas, especialmente
lá na América Latina, quando os
que o padre vá negar cuidados
espirituais. A Igreja não odeia o
É um pacote clássico. E um ato
de enorme coragem. O filósofo italiano Gianni Vattimo
ser feito quando a procria-
ção é possível. Então, os jo-
ta Jon Sobrino, teólogo da liber- cisa demarcação da distinção ção de pós-modernidade. ●
DOMENICO STINELLIS/AP - 30/09/2003
dernidade que se cuide. Ga-
nhou um crítico contumaz. Um
investigar a fundo a natureza
humana,comofezSantoAgosti- análitica do se vai-e-volta que é o entendi-
mentoqueaIgrejatemdesimes-
caras já estavam achando que
Jesus e Che Guevara eram a
pecador. Odeia o pecado.
E diz isso logo no início do papado.
diz que a pós-modernidade trouxe
consigo o pessimismo e que a reli-
vens transam o tempo intei-
ro com camisinha, fazem se-
demolidor da sociedade de con-
sumo que, com suas conexões
nho.Ora,BentoXVIéumagosti-
niano por excelência. Ele consi- mundo” ma. Quando um teólogo fala em
retrocesso, ou quando alguém
mesma pessoa.” Hámilhõesde“descasados”católi-
cos que estabelecem uma espécie
Ratzinger tornou-se papa já
com idade. Portanto, ele pode
giãopodeajudaraspessoasaresis-
tiremaostempostristes.Nessesen-
xo com o sentido de não pro-
criar. Isso é errado do ponto
mediáticas e tecnológicas, joga dera que a natureza humana é diz que é caretice rezar em la- Mas João Paulo II chegou a dizer de “linha direta” com Deus, sem imprimir uma certa velocidade tido,asidéiasdoBentoXVIganham de vista da igreja... Por isso
o ser humano num vazio de pes- imperfeita e padece com uma tim,BentoXVIapenasdirá:“Vo- que a Teologia da Libertação era passar pelo padre, pelo bispo, pelo ao pontificado. Mesmo assim, ressonância? aborto é crime e não há nego-
simismo e desesperança. desordemqueprecisaserconti- que tem valor a priori. O que na cê está mesmo contagiado pelo moralmente aceitável na América papa. E comungam. A condenação jamais devemos perder de vista Podemos pensar como Pascal, ciação possível.
da. Isso soa de forma antipática nossa formação é estranho. Fo- mundo secular”. Ele entende Latina... deBentoXVIaosegundocasamen- que a Igreja tem 2 mil anos e apostar que Deus não existe.
Para começar, o que é uma exorta- aos ouvidos dos “modernos”, moscriados noscânonesda mo- que a Igreja é uma instituição E Bento XVI, também! Ele não to não aumenta o fosso entre Igreja uma tradição girando dentro Mas, se Ele existir e a gente não O fim das utopias pode promo-
ção apostólica? gente como nós. Mas, vejam dernidade, crescemos acredi- com uma temporalidade pró- condena a inspiração teológica e sociedade? de si mesma. Trata-se de um tiver feito nada do que Ele que- ver o retorno às religiões?
É uma manifestação papal que bem: dentre as idéias que defi- tandoqueademocraciaresolve- pria,determinadapelaintersec- deGustavoGutierrez (fradedo- Bento XVI deixa patente que campodeexperiência muitoan- ria, vamos encarar uma eterni- Sim. Bento XVI entende que
nasce do sínodo. Deve orientar nem a modernidade está a de ria tudo, e não é bem assim. O ção entre o “mundo transcen- minicano nascido no Peru, con- não está tão preocupado com a tigo,aopasso quenossasensibi- dadedeproblemas.Contudo,in- a experiência religiosa deve
não só os bispos, mas todo o cle- que o homem é auto-regulado. regime democrático não resol- dente” e o “mundo mundano”. siderado o fundador da Teolo- quantidade, mas com a qualida- lidade é voltada para o futuro. dependentemente das nossas dialogar com a razão. A ra-
ro, sobre questões cotidianas. Que tem condições de tomar ve os impasses da família, por gia da Libertação). Tanto João de dos fiéis que povoam seu re- Quando (o pensador político apostas, talvez Deus exista. No zão, sozinha, se degenera em
Como se fosse um documento consciência de seus limites e exemplo. Nem funciona a con- A missa voltará mesmo a ser reza- Paulo II como Bento XVI enten- banho. A lógica dele é a seguin- francês) Aléxis de Tocqueville fundo, é essa a variável que pai- ceticismo e niilismo. Talvez
construído a partir da reunião aprimorar-se. A noção do “ser tento em uma sala de aula. Por- da em latim? dem que a Teologia da Liberta- te:aotornarclaroqueessemon- vai para os EUA, em 1831, ele já ra o tempo inteiro sobre nossas isso seja o grande beco sem
pedagógica de uma escola, feito perfectível”, que pode melho- quesão estruturashierarquiza- Ou parte dela será rezada em ção é corretamente inspirada tão de descasados “sofre”, pas- percebe a desconexão entre cabeças. Deus é uma variável saída das utopias: a crença
para que o professor saiba os rarcomotempo,surgiunosécu- das. Por isso estranhamos este latim, não sei. Seria simplista no carisma profético da Igreja, sarei para os jovens o exemplo passadoefuturonajovemsocie- sem controle epistemológico. A de que a razão, apenas ela,
princípios que vão guiá-lo. Por- lo 13. Porém, a visão de Agosti- teólogo duro, capaz de quebrar achar que isso é apenas retro- porsuavez herança do profetis- do que não deve ser feito. Ba- dade democrática. E tendemos única teoria que ousa enfrentar não consegue administrar a
tanto, tende a tocar temas pre- nho, bem como a posição de um protocolose queestápreocupa- cesso político. Não é, até por- mo hebraico. E que, portanto, a seia-senumaconvicçãoinabalá- a esquecer que a Igreja católica issoé odarwinismo,masnãoex- vida. Talvez uma das gran-
mentes, como de fato aconte- papa como Bento XVI, é a de do com a desordem do mundo. que o que guia a Igreja é a busca Igreja tem a missão de comba- vel: o ser humano tem proble- atravessou guerras, pragas, plicacomo surgiua matéria que des coisas que a gente terá
ceu no sínodo de 2005. Sendo que natureza humana tem difi- do homem para entender seu ter a injustiça no mundo, assim mas, cabe a mim cuidar deles. pestes, cismas, rupturas, atra- acabou depois evoluindo. Dito de enfrentar nos próximos
assim, a exortação apostólica culdades estruturais. Se você Numbeloperfilqueescreveusobre destino final, que é Deus. Ago- como os profetas de Israel com- vessou o nazismo, o comunis- isso,chegamosao seguintepon- anos seja a percepção de que
deBento XVI nada temde novo. não a corrige, ela se degenera. João XXIII, a cientista política ale- ra, todo mundo sabe de cultos batiam. O erro da Teologia da Dentrodapastoraldafamília,háca- mo...Issocontémumaexperiên- to: o ser humano está em cons- o Estado moderno, em si, é
É fruto desse processo. mã Hanna Arendt (1906-1975) li- em línguas estranhas. Muita Libertação foi ter feito do mar- sais em segunda união que a Igreja cia humana incrível. tantepânicocomrelaçãoaosen- uma utopia. Bento XVI acha
EntãoBentoXVIéumcríticodamo- dou com a hipótese de que ele só gente vai à sinagoga e se com- xismoahermenêutica pararea- acolhe... Tudo isso se desmorona tido da vida. Não sabe de onde que a razão, sem a angústia
O sínodo já apontava tais diretri- dernidade? conseguiuserograndereformador praz ouvindo aquelas cerimô- lizar essa transformação. Rat- agora? Na última quarta-feira, o Vaticano veio, nem para onde vai. A gen- religiosa, acaba se transfor-
zes? Sem dúvida. O que boa parte da Igreja católica porque acredita- nias em hebraico, sem enten- zinger falou isso em 84, repetiu A Igreja tem uma temporalida- divulgou notificação impondo o si- te está morrendo aos poucos, a mandoem algo risível, banal,
Sim. Tudo o que está sendo dito das pessoas tem dificuldade de vapiamentequeDeuseraochefe.E der palavra. Ou se delicia com em 86.... E o que se viu? A Teolo- de. De repente, existe um padre lêncioparaopadreespanholJonSo- gente vai se frustrando, e no fi- niilista. E que o ser humano
agora é o que Bento XVI pensa, entenderéqueopapanãoconsi- que ele próprio, papa, seria mero os mantras, com a musicalida- gia da Libertação sucumbindo lá na Zona Leste que trabalha brino, ligado à Teologia da Liberta- nal,vamosvirarpó.Eisoproble- sempre foi um bicho que ca-
o que o Ratzinger já pensava e o dera a modernidade como algo executor de ordens superiores. dedosânscritonumcultobudis- a um contexto de luta político- com esses casais, daí o bispo fe- ção. Como se sabe, Sobrino foi as- ma. Você pode ser marxista, ca- minha pelo chão e pelo céu. ● CONTINUIDADE - O então cardeal Ratzinger (à direita) saúda João Paulo II: preparando a passagem

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