Sei sulla pagina 1di 21

ENCCONTROO

CIE
EP
TERNACIONAL
INT
Centro de Inve
estigação em
m
A UNICIDAD
U DE DO Edu
ucação e Pssicologia
CONHECIMMENTO

A FORM
F MAÇÃO O NA RESID
DÊNCCIA
M TIPRO
MULT OFISSIIONAL EM
M SAÚD DE DA
A
F
FAMÍÍLIA COMO
C O AÇÃ
ÃO EDDUCAT TIVA.
U
UMA QUES
STÃOO
INTEERPR
ROFISSIONA AL?1
Gilberto TTadeu Reiss da Silva2
Nildo Alves Battista3 
Sy
ylvia Helenaa Souza da Silva Batista4 
V
Vítor Manu uel de Sousaa Trindadee5 
Vitória Heelena Cunhaa Espósito6 

JUSTIFIC
U CATIVA

Emm abril de 2006, man nifestamos jjunto ao Ceentro de Deesenvolvim mento do Ennsino 


Supeerior  em  Saúde 
S ‐  CEDESS/Univversidade  Federal 
F dee  São  Paulo  –  UNIFE
ESP  o 

1  Projeto  de  Pós‐dooutoramento  apresentado 


a ao  Centro  de  Desenvolvimen
D nto  do  Ensino  Superior  em  Saúde 
(CEDE ESS) da Univerrsidade Federaal de São Paulo (UNIFESP). 
2  Enfe ermeiro,  Proffessor  Titularr  na  Faculdad de  Santa  Marcelina  –  Un nidade  de  Ensino  Itaqueraa,  pós‐
doutoramento,  em  desenvolvimeento,  junto  ao  Centro  de  Desenvolvimento  do  Ensino  Superior  em  Saúde 
(CEDE ESS)  da  Universidade  Federral  de  São  Pauulo  (UNIFESP))  a  Universidaade  de  Évora  ee  a  Faculdadee  Santa 
Marceelina, líder do NNúcleo de Ensiino, Pesquisa ee Extensão em Formação e Ed ducação em Saaúde (CNPq‐FA ASM). 
3 Médiico, Livre doce ente em Educaçção Médica, Diiretor do Camp pus Baixada Saantista/UNIFESSP e Coordenaador do 
Prograama de Pós‐graduação em En nsino em Ciênccias da Saúde C CEDESS‐UNIFE ESP. 
4 Psicóóloga, Professoora Adjunto I ddo Departamen nto de Ciênciass da Saúde no C Campus Baixad da Santista/UN NIFESP 
e doceente do CEDESS‐UNIFESP. 
5  Profeessor Catedráttico da Universsidade de Évorra – Portugal, D Diretor do Cenntro de Investiggação em Educcação e 
Psicologia. 
6  Proffessora  Titular
r  na  Faculdadee  de  Educação
o  da  Pontifícia  Universidadee  Católica  de  SSão  Paulo.  É  lííder  de 
grupo o de pesquisa ((CNPq/PUCSP)). Coordena o  Projeto de pesquisa interinsstitucional: A  formação com mo ação 
educaativa. Uma quesstão interdiscip plinar? Buscan ndo sentidos.
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

anseio de propor um projeto de pesquisa para a realização do pós‐doutoramento 
na  Universidade  Federal  de  São  Paulo,  para  tanto  foi  questionado  à  mim  da 
publicação  da  Tese  de  Doutorado  concluído  em  2003  e,  quais  atividades  foram 
desenvolvidas  durante  esse  período.  Foi  também  inquirido  sobre  qual  a  qual 
temática que estava refletindo para desenvolver a nova proposta e ainda, quais as 
expectativas  tinha  com  relação  ao  pós‐doutorado.  Assim,  iniciou  a  presente 
proposta na qual tive como interlocutores nesse diálogo os Professores Doutores 
Nildo  Alves  Batista  e  Sylvia  Helena  de  Souza  Silva  Batista,  docentes  do 
CEDESS/UNIFESP. 

Nesse  caminho  iniciei  uma  re‐olhar  para  as  minhas  atividades  laborativas  na 
Instituição de Ensino Superior onde desenvolvo papéis de docente, pesquisador e 
gestor.  Nessa  re‐visita  percebi‐me  enredado  em  uma  trama  que  envolvia  o  papel 
de professor de disciplinas da área de educação e saúde, tanto na graduação como 
no  programa  de  pós‐graduação;  desenvolvia  e  participava  de  grupos  de  pesquisa 
institucionais  e  inter‐institucionais  onde  discutíamos  temas  atinentes  a  pesquisa 
como ação educativa e na gestão desenvolvo, o referido papel, em um Programa de 
Residência Multiprofissional em Saúde da Família.  

Após  3  anos  de  conclusão  do  doutorado,  sob  orientação  da  Profa.  Dra.  Vitória 
Helena  Cunha  Espósito,  vi‐me  desenvolvendo  ações  que  se  tornavam 
indissociáveis da tríade ensino, pesquisa e extensão. 

Assim, com um percurso trilhado nesse sentido e, sempre buscando a integração 
de múltiplas propostas institucionais e interinstitucionais opto por compreender a 
trama e os sentidos da formação multiprofissional em uma Residência em Saúde da 
Família,  onde  participam  dez  categorias  profissionais  à  saber:  assistente  social, 
dentista,  enfermeiro,  farmacêutico,  fisioterapeuta,  fonoaudiólogo,  médico, 
nutricionista,  psicólogo  e  terapeuta  ocupacional.  O  desenvolvimento  da  proposta 
supra  citada  dá‐se  entendendo‐na  como  uma  ação  educativa  na 
interdisciplinaridade. 

A  continuidade  desse  fazer  se  justifica  por  vivenciar  vários  aspectos  desse 
processo de formação. Ao propor este projeto pretendo utilizá‐lo como âncora em 
um  pós‐doutoramento,  na  Universidade  de  Évora,  especificamente  no  Centro  de 
Investigação em Educação e Psicologia sob a direção do Prof. Dr. Vítor Manuel de 
Sousa Trindade. E, assim, integrá‐lo, para que ao me envolver com pesquisadores 
de  outras  instituições,  nacionais  e  internacionais,  com  certa  experiência,  de  uma 
forma ou de outra, a pesquisa se desenvolva e possibilite encontros e sentidos de 
nosso fazer. 

A FORMAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE


O  processo  de  gestão  e  formação  de  recursos  humanos  em  saúde  tem 
representado  uma  estratégia  de  fortalecimento  de  políticas  públicas, 
especialmente  em  conjunturas  de  mudança  na  organização  ou  modalidade 

______________________________________________________________________
2
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

assistencial.  Segundo  Vergara  (2004),  as  pessoas  são  identificadas  como 


instrumentos privilegiados para produzir (ou não) modificações no trabalho, quer 
sejam nos processos ou na gestão dos processos de formação. 

Com a implantação do Programa de Saúde da Família, na última década, como 
estratégia  de  implementação  da  atenção  básica,  ampliou‐se  não  só  a  oferta  de 
postos  de  trabalho  na  esfera  municipal  (TEIXEIRA7),  mas  evidenciou‐se  a 
necessidade  de  adequação  do  perfil  do  profissional  às  características  da 
organização da atenção à saúde na modalidade PSF. 

Nesse momento histórico ao dizer do perfil profissional é importante direcionar 
o olhar para as Políticas Públicas de formação para que compreendendo o “modus 
operandi”  dinamizado  pelas  instituições  de  ensino  superior  tenhamos  um  olhar 
para seus currículos. 

Assim,  denota‐se  a  relevância  de  desenvolver  incursões  para  a  mudança  do 


modelo  biológico  de  formação  nos  cursos  de  graduação  na  área  de  saúde  e  no 
desenvolvimento  das  reais  necessidades  de  qualificação  para  os  serviços  de 
atenção básica de saúde. 

A  partir  do  acima  exposto  resgatamos  parte  do  percurso  histórico  para  a 
contextualizar nossos estudos para tanto iniciamos tendo como ponto de partida a 
década de 70 havia sido aberta uma brecha no paradigma que orienta a atenção à 
saúde,  com  valorização  das  ações  de  promoção  da  saúde,  prevenção  da  doença  e 
atenção integral às pessoas, em contraposição à hipertrofia da medicina curativa, 
especializada e hospitalar, com excesso de procedimentos tecnológicos materiais e 
medicamentosos,  e  baseado  na  fragmentação  dos  cuidados.  O  tema  do  “modo  de 
fazer  saúde”  e  do  respectivo  perfil  do  profissional  mostrou  ser  recorrente  nos 
debates  sobre  a  reforma  sanitária,  aparecendo  nos  relatórios  das  Conferências 
Nacionais de Recursos Humanos de 1986 e 1993, bem como na Norma Operacional 
Básica de Recursos Humanos para o SUS (2002). 

Em  1994  com  a  implantação  do  PSF,  a  necessidade  de  adequar  o  perfil  dos 
profissionais  para  uma  atuação  voltada  para  uma  atenção  mais  integral  e 
integrada.  

Como trata Gil‐Monte8 (2005), para apoio à expansão do PSF, criou‐se em 1998, 
por meio do Departamento de Atenção Básica (DAB), do Ministério da Saúde, um 
projeto  dinamizador  para  a  implementação  da  modalidade  saúde  da  família:  os 
Pólos de Capacitação, Formação e Educação Permanente em Saúde da Família, com 
a responsabilidade de fortalecer a relação educação‐serviço em torno, basicamente 
das  necessidades  de  capacitação  dos  profissionais  de  saúde  constituintes  das 

7   Teixeira, C. F., Paim, J. S., & Vilasbôas, A. L. (1998). SUS: modelos assistenciais e vigilância da saúde / Unified 

Health System, assistance models and health surveillance. Inf. epidemiol. SUS, 2, 7‐28.  
8  “Formação  de  recursos  humanos  em  saúde  da  família:  paradoxos  e  perspectivas”.  Gil‐Monte,  P.  R.  (2005).  

Validação  fatorial  de  Maslach  Burnout  Inventory  (MBI‐HSS)  para  profissionais  espanhóis.  Revista  de  Saúde 
Publica, 1, 1‐8. 

______________________________________________________________________
3
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

equipes  do  PSF,  médicos,  enfermeiros,  agentes  comunitários  e  auxiliares  de 


enfermagem. 

Entre  as  modalidades  de  formação  destacaram‐se  os  chamados  cursos 


introdutórios  e  os  cursos  modulares  de  capacitação  em  assistência  básica  para 
médicos  e  enfermeiros.  A  partir  de  2000,  foram  concebidos  os  cursos  de 
Especialização  em  Serviço  de  Saúde  e  Residência  Multiprofissional  em  Saúde  da 
Família,  os  primeiros  tendo  como  público‐alvo  profissionais  já  inseridos  em 
equipes do PSF, os últimos para formação de recém‐egressos da graduação, tendo 
como objetivo uma formação adequada às novas características da atenção básica 
na modalidade saúde da família. 

CONTINUANDO A TRILHA INICIAL...


Os resultados dos trabalhos por nós desenvolvidos nos estimulam a, nesta nova 
fase, dar continuidade ao Projeto ora proposto. Entendemos que o cotejamento dos 
diferentes dados poderá propiciar um salto qualitativo, dando suporte a trabalhos 
de natureza prático‐poíetica, subsidiando nosso fazer no Programa de Residência 
Multiprofissional  em  Saúde,  e  na  continuidade  do  trabalho  de  orientação  de 
pesquisas  (projeto  integrado),  que  trabalha  a  formação  profissional  na  área  das 
Ciências Humanas e da Saúde. Poderá, ainda, avançar no que se refere à qualidade 
do  trabalho  que  temos  desenvolvido  junto  à  Faculdade  onde  temos  vínculo 
empregatício  e,  mais  ainda:  o  que  fazer  prático‐pedagógico,  tão  estudado  e 
igualmente  criticado  por  nossos  residentes  e  preceptores,  instiga‐nos  à 
continuidade com esta pesquisa de maneira mais sistematizada. 

Assim  sendo,  com  base  nas  temáticas  emergidas  das  pesquisas,  nos 
propusemos, na continuidade, a explicitar os sentidos da formação vista como ação 
educativa  explorando‐a  na  sua  dimensão  interprofissional  e  interdisciplinar. 
Sentidos,  aqui,  tomados  na  acepção  gadameriana  de  consciência  de,  para,  então, 
nos  debruçarmos  sobre  os  saberes  que  se  fazem  necessários  à  qualidade  do 
trabalho docente. 

Sobre  saberes,  muito  se  tem  dito.  Nossa  ênfase  se  difere  por  assumirmos  uma 
fundamentação ontológica e, a partir dela, nos debruçarmos sobre proposições de 
situações educativas de natureza prático‐poíetica, como aponta Martins (1992) em 
seu último livro: Um enfoque fenomenológico de Currículo. Currículo como poíesis, 
organizado pela Profa. Dra. Vitória Helena Cunha Espósito. 

Para  nos  inserirmos  no  trabalho,  e  a  partir  dos  resultados  já  apresentados  à 
comunidade  científica,  estabelecemos,  sob  o  título  A  formação  como  ação 
educativa: uma questão interdisciplinar? um ponto de intersecção entre o trabalho 
proposto para continuidade e o já posto em minha Tese de doutorado: Preceptoria 

______________________________________________________________________
4
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

como  ação  educativa:  uma  leitura  hermenêutica  fenomenológica9,  sob  orientação 


da Profa. Dra. Vitória Helena Cunha Espósito e co‐orientação da Profa. Dra. Dulce 
Maria  Nunes.  Para  isso,  reformulamos  os  objetivos  e,  nessa  nova  fase, 
apresentamos cronograma de trabalho. 

A CONTINUIDADE: O PROJETO INTEGRADO DE PÓS-


DOUTORAMENTO

A  formação  na  Residência  Multiprofissional  em  Saúde  da  Família  como  ação 
educativa. Uma questão interdisciplinar e interprofissional? Buscando sentidos. 

A origem da ação, sua causa eficiente, não final – é a escolha, o desejo e o 
raciocínio com um fim em vista... A boa ação e o seu contrário não podem 
existir  sem  uma  combinação  de  intelecto  e  caráter.  O  intelecto  em  si 
mesmo,  porém,  não  move  coisa  alguma;  só  pode  fazê­lo  o  intelecto 
prático, que visa a um fim qualquer. 

(cfe. Aristóteles [30]. Ética a Nicômaco 1973, p.342) 

Ao iniciar a apresentação do projeto integrado que insere‐se e interliga‐se a um 
projeto integrado mais amplo e complexo por sua natureza interinstitucional têm 
como  coordenadora  a  Profa  Dra.  Vitória  Helena  Cunha  Espósito  e  desenvolve 
estudos  e  pesquisas  na  área  de  educação.  A  inserção  do  pesquisador  deu‐se  a 
partir do projeto de doutoramento referenciado. A importância de apontar que o 
presente projeto é desdobramento de nossas pesquisas têm o objetivo de apontar 
a relevância da construção e consolidação de grupo de pesquisas e estudos inter‐
institucionais, como também, resgatar que projetos como este são uma construção 
coletiva de vários pesquisadores e instituições e, assim, apontar outros caminhos 
como  o  que  faremos  em  seguida.  a  partir  do  grupo  de  estudos,  já  apontado  e  de 
instituições de ensino superior brasileiras, buscamos com os contatos do grupo de 
estudos  estabelecer  parcerias  e  convênios,  para  difundir  nossos  estudos  e, 
aproximar  distâncias  entre  instituições  internacionais.  Nesse  contexto,  nos  foi 
indicado  o  Centro  de  Investigação  em  Educação  e  Psicologia  da  Universidade  de 
Évora,  dirigido  pelo  Prof.  Dr.  Vítor  Manuel  de  Sousa  Trindade,  catedrático  dessa 
universidade  portuguesa  com  o  qual  passamos  a  desenvolver  contatos  para  o 
estreitamento  de  vínculos  objetivando  um  aprendizado  conjunto,  coletivo,  inter‐
institucional  e  internacional.  Esta  fase  objetiva  e  descreve  o  início  do  projeto  e 
relata  a  trajetória  do  pesquisador.  Dessa  maneira  o  percurso,  a  partir  dos 
resultados já apresentados à comunidade científica, vislumbra um possível ponto 
de  intersecção,  para  buscar  a  continuidade  de  estudos  acadêmicos,  procurando 
investigar  as  potencialidades  e  os  desafios  da  interdisciplinaridade  na  pós‐
graduação em saúde a partir da perspectiva da interprofissionalidade. 

9 Silva, G. T. R., & Espósito, V. H. C. (2001). Preceptoria com ação educativa como possibilidade para a formação 

de  residentes  enfermeiros  e  médicos  no  municipio  de  São  Paulo.  Revista  da  Faculdade  Santa  Marcelina, 
n.especial, 131‐134. 

______________________________________________________________________
5
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

A  formação10,  ao  ser  vista  como  ação  educativa,  traz,  no  termo  ‘ação’,  alguns 
sentidos:  diz  de  relação,  de  idealizações,  de  valores.  Fala  de  diversidade.  Diz  de 
situações.  Acha‐se,  ainda,  ao  ser  assim  qualificada,  perpassada  por  uma 
intencionalidade  que  exige  vê‐la  dando‐se  no  movimento  e  inserida  no  mundo. 
Situado  no  lócus  do  acontecimento  vivo,  no  espaço  e  no  tempo,  esse  fazer 
confronta‐se diuturna e cotidianamente com o exercício de um pensar fundado na 
lógica  do  improvável,  que  solicita  escolhas  e  a  constante  tomada  de  decisões  em 
contextos de incerteza. 

Nessa  configuração,  indispensável  se  faz  a  contribuição  da  pesquisa  e  a 


consciência do papel político, que, de forma visível, ou não, delimita as diretrizes 
que  balizam  as  ações  que  se  propõem  como  formadoras.  Necessário  se  faz, 
também,  o  auxílio  da  filosofia  como  pensar  que  ilumina  a  construção  de  uma 
prática teórica. 

Assim,  o  presente  projeto  corrobora  com  as  Políticas  Públicas  de  formação  de 
profissionais  na  área  de  Saúde  quando  pretende  permitir  o  diálogo  entre  os 
residentes  e  preceptores/tutores  para  o  modelo  de  formação  desenvolvido  no 
Programa  de  Residência  Multiprofissional  e  a  Interdisciplinaridade  (BRASIL, 
2006). 

Neste desenho, assume‐se como  princípios orientadores a formação do profissional 


da área da saúde melhor preparado para o trabalho em equipe multiprofissional, 
com  ênfase  na  integralidade  no  cuidado  ao  paciente,  não  se  afastando  de  uma 
formação  técnico‐científica  e  humana  de  excelência  em  cada  área  específica  de 
atuação profissional (BATISTA, 2004). 

Os  autores  supra‐citados  referem  que  estes  princípios  integram‐se  com  a 


proposta  da  Educação  Interprofissional,  na  qual  investe‐se  na  potencialidade  de 
questionar  a  cultura  universitária  que  tem  sua  centralidade  nas  especializações 
científicas, disciplinares e profissionais, bem como de possibilitar a construção de 
cenários de aprendizagem em saúde que estejam coadunados com as políticas de 
integralidade  no  cuidado,  de  intersetorialidade  e  do  trabalho  em  saúde 
estruturado  a  partir  das  necessidades  dos  usuários  e  da  assistência  projetada  na 
equipe de saúde. 

A  interdisciplinaridade  não  existe  “a  priori”  –  é  preciso  construí‐la,  como 


princípio  na  formação  profissional  possibilitando  a  fundamentação  a  partir  da 
prática  cotidiana  e  de  uma  reflexão  dos  construtos  teóricos  do  processo  ensino‐
aprendizagem. 

É preciso enfatizar nas abordagens que os saberes disciplinares são abordados 
parcialmente,  de  maneira  segmentada  e  estanque,  que  estes  incorporam  a 
complexidade  dos  conhecimentos  científicos  com  saberes  tradicionais  e  não 

10 Espósito, V. H. C., & Pedra, J. (2001). A. A formação de professores como uma questão curricular: sentidos e 

relações. Revista da Faculdade Santa Marcelina, n.especial, 103‐107. 

______________________________________________________________________
6
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

científicos e ainda que há uma primazia das indagações de natureza ética, estética e 
sócio‐ambiental,  do  tipo  “para  quê,  para  quem?”  e  a  integração  nos 
procedimentos  interdisciplinares  de  pesquisa,  ensino  e  extensão  dos  saberes  e 
práticas dos atores sociais com aqueles dos pesquisadores e estudiosos. 

A  relevância  da  presente  temática  está  alicerçada  nos  aspectos  onde  a 


interdisciplinaridade  nos  remete  à  colaboração  entre  diversas  áreas  de  saber  e 
conhecimento  em  projetos  que  envolvem  tanto  as  diferentes  disciplinas 
acadêmicas  quanto  as  práticas  não‐científicas  que  incluem  atores  e  instituições 
diversos.  Assim,  dizer  da  interdisciplinaridade  no  ensino  nas  ciências  da  saúde 
torna‐se  um  objeto  de  estudo  singular  na  medida  em  que  este  tema  assume  um 
sentido  nuclear  no  campo  do  Ensino  das  Ciências  da  Saúde:  os  cruzamentos  e  as 
possibilidades  de  troca  no  contexto  do  binômio  saúde  e  educação,  sinalizam  que 
não há como lidar com a relação proposta nesse tema sem atentar para a dimensão 
histórica  que  perpassa  tanto  a  interdisciplinaridade  como  o  ensino  em  saúde, 
explicitando opções culturais, econômicas, políticas e educacionais. 

O  fato  de  propor  estudar  a  interdisciplinaridade  em  um  programa  de 


residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  surge  como  uma 
possibilidade de refletir a interdisciplinaridade como processo produtor  de 
novos  conhecimentos  (BOURGET11,  2006).  Ao  pretender  desenvolver  o 
estudo  na  ótica  da  residência  multiprofissional  é  estabelecer  uma 
possibilidade  de  intervir  na  formação  pós­graduada  de  10  categorias 
profissionais  e  assim,  intervir  de  maneira  que  a  formação  de  cada 
profissional  seja  vista  sob  uma  nova  ótica,  redefinindo  os  objetos  de  cada 
formação e possibilitando a integração de saberes para um diálogo entre: a 
práxis  tecnológica  e  a  ciência  teórica  de  maneira  que  essa  articulação 
produza novos saberes e transforme cada “ser” que passe por esse processo. 
Dessa maneira o que está em jogo não é somente a formação, produto final, 
mas sim, as estratégias de poder em torno do próprio processo de formação 
em saúde sustentável. 

A  interdisciplinaridade  é  a  busca  da  “reintegração”  do  conhecimento 


fracionado  pela  corrida  insana  de  controle  sobre  homens  e  natureza,  eliminando 
saberes não científicos e não ajustáveis às normas da ciência moderna.  

Assim, a interdisciplinaridade não significa o somatório e a combinação de 
diferentes  paradigmas  que  constituem  os  departamentos  e  disciplinas  das 
universidades.  A  complexidade  do  mundo  que  nos  rodeia,  nas  áreas  social, 
econômica,  de  saúde  e  do  meio  ambiente  exige  a  participação  de 
pesquisadores  especialistas  que  trazem  pontos  de  vista  complementares 
sobre  determinado  problema  ou  realidade.  Não  representa  um  simples 
somatório, mas a recriação e reconstrução do saber, além de departamentos 

11  Brasil.  Ministério  da  Saúde.  Secretaria  de  Gestão  do  Trabalho  e  da  Educação  na  Saúde.  Departamento  de 

Gestão da Educação na Saúde. (2006). Residência Multiprofissional em Saúde: experiências, avanço e desafios. 
Brasília: MS 

______________________________________________________________________
7
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

estanques da estrutura universitária, envolvendo pesquisadores de diversas 
áreas de conhecimento. 

Nesse  sentido,  propostas  curriculares  que  sinalizam  novos  lugares  para 


professor, aluno e conhecimento, apontando para o trabalho em saúde como algo 
que transcende os fazeres individualizados de cada profissão, têm sido assumidas 
como potencialmente importantes para a construção de caminhos formativos que 
lidem  com  as  ciências  como  elaborações  humanas  historicamente  condicionadas 
(Komatsu,  2003;  Feuerwerker,  2003;  Silva,  2005,  Delarroza  &  Vannuchi,  2005; 
Batista & Batista, 2004). 

Considerando as potencialidades desse modelo de formação em saúde, pretendo 
investigar os significados, possibilidades e desafios da interdisciplinaridade neste 
processo da Residência Multiprofissional em Saúde da Família. 

Para  tanto,  nesse  processo  supra  citado  situa‐se  o  objeto  de  estudo  dessa 
pesquisa  que  possibilitará  a  interface  da  interdisciplinaridade  e  da 
interprofissionalidade no debate do ensino superior em saúde, dialogando com as 
políticas públicas de saúde e de educação. 

O  saber  interdisciplinar  se  forja  no  encontro,  na  ação  educativa  que  se 
decodifica  em  uma  situação  educativa  e  no  enfrentamento  de  saberes 
diferenciados,  na  busca  de  sentido  dos  seres  humanos,  para  apreender  e 
compreender os processos através dos quais encontram sua identidade e superam 
as angústias frente ao esvaziamento dos sentidos existenciais. 

Em  uma  ação  educativa,  nem  sempre  se  quer  apenas  transmitir  determinados 
conhecimentos  ou  produzir  modificações  naquilo  que  ali  está;  o  que  se  pode 
pretender alcançar são transformações. Enquanto as modificações são de natureza 
qualitativa,  não  produzindo  alterações  substanciais,  as  transformações  visam 
atingir  estruturas,  buscam  constituir  um  outro  diferente  do  anterior,  algo 
substancialmente diferente. (GADAMER 1988, p.188). 

E  mais:  este  ver  considera  o  enraizamento  do  homem  na  mundaneidade  do 
mundo pela mediação da corporeidade de um corpo próprio, o corpo vivido, uma 
existência  encarnada.  A  existência  constitui,  decididamente,  não  apenas  uma 
matéria  de  significação  e  de  linguagem,  porque  a  verdade  é  aquilo  que  fala  pelo 
espelho e pela representação significativa – o próprio ato da existência.12  

Uma  reflexão  desse  porte,  ao  trazer  à  luz  o  caráter  de  intervenção  da  ação 
educativa, é o que a expõe em sua natureza prático‐poíetica desvelando seu caráter 
inter/transdisciplinar,  como  também,  interprofissional.  Mostra,  ainda,  o  caráter 
ético  que  reveste  essa  opção,  pois  a  intervenção  é  fruto  de  uma  ação  –  social  e 
individual  ‐  suas  decisões  se  apresentam  em  decorrência  de  determinada 

12 Lik juen Tong. “Acto, signo e consciência: pensando em conjunto com Ricoeur”. In: Hahn, L. E. (org.) (1995). 

A filosofia de paul ricoeur. Lisboa: Instituto Piaget. p. 18. 

______________________________________________________________________
8
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

concepção de mundo e com uma conotação de valor que ocorre como construção 
no bojo de uma determinada cultura. 

Visando a distinguir as decorrências de tal posição, necessário se faz retirar da 
ambigüidade  aquilo  que  se  propõe  no  fazer  educativo  como  uma  ação  dirigida  à 
intervenção: uma trans – forma – ção. 

Essa  escolha  solicita  uma  análise  conceptual  do  termo  para  melhor 
compreensão dos seus sentidos. Intervenção, do latim inter­vire13: ato ou efeito de 
intervir. Mediação, em que ‘intervir’ significa ‘pôr‐se de permeio’, ‘ingerir‐se’, essa 
palavra traz a idéia de uma ação que se dá no ‘entre’, dirigindo‐se à interioridade 
de  algo,  interpondo‐se‐lhe  ao  meio.  Intervenção  diz  de  gestos,  movimentos, 
ocupação, combate, projetos. 

Explicita‐se,  por  essa  análise  interpretativa,  a  natureza  ontológica  daquilo  que 


se  propõe  como  intervenção:  a  formação  como  ação  educativa  prático‐poíetica. 
Vivida na sua amplitude existencial (e/ducere) e considerando‐se o inacabamento 
humano, a ação educativa pode ser vista como movimento que leva o ser a sair de 
uma condição de impropriedade para outra, de maior apropriação. Como educare, 
indica ainda, intervenção, seja esta orquestrada pela cultura, pela família, escola ou 
por  outras  instituições.  Nessa  acepção,  aproxima‐se  do  termo  latino  colere  – 
cultivar, plantar ‐, termo que está na raiz de outra palavra significativa cultura14. 

Uma  ação  educativa  que  se  proponha  dirigida  à  transformação,  deixa  ver  a 
natureza plural e ontológica do homem como um ser que é, na visão arendiana, um 
ser  mundano  que  possui  o  poder  de  se  retirar  do  mundo,  sem  nunca  poder 
emancipar‐se completamente deste mundo. 

O pensamento está preso no mundo espácio­temporal e sonha libertar­se 
deste destino. Sonha desprender­se do seu invólucro carnal, sair da órbita 
fenomenal,  um  pensamento  que  desse  modo  se  vira  contra  si  próprio, 
destruindo sua própria condição de possibilidade. 

(Rovielo, 1983, p.103) 

13 Corrêa, R. A.(org.). (1991). Dicionário escolar francês‐português‐francês. s.l.: MEC/DNE.  

Como intèrvenir, no francês (v.i.), essa palavra forma‐se da conjugação do verbo venir empregado sempre com 
o  auxiliar  être.  Seus  sentidos:  intervir,  tornar‐se  mediador,  interpor‐se.  Como  verbo  transitivo  direto, 
aproxima‐se de: ‘produzir‐se incidentalmente’. 
O  verbo  venir,  parte  significativa  dessa  composição,  traz  os  sentidos  de:  vir,  ter  lugar,  crescer,  mediar, 
desenvolver‐se. O verbo être nos traz (v.i.): ser, estar, pertencer, ir. Na forma impessoal, como na expressão 
n’être plus, significa ‘não mais existir’, ou, ainda, em Y être pour quelque chose – ser responsável por alguma 
coisa. Consideramos interessante a acepção inglesa intervention, operation (v.t.), to intervene: to participate, 
tomar parte. 
14  Espósito, V. H. C. (1993). A escola: Um enfoque fenomenológico. São Paulo: Escrita. p.109. Veja‐se ainda em 

Maria Anita Viviani Martins.Em direção ´construção do discurso pedagógico como prático –poíetico, in  Martins 
e  Espósito  Pedagogo  –  Artesão.  Construindo  a  trama  no  cotidiano  da  escola.  SP.  EDUC,  1995,  (reimpressão: 
1997). 

______________________________________________________________________
9
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Mundo  em  que  a  diversidade,  a  complexidade,  a  facticidade,  bem  como  as 


desigualdades,  ao  gerar  (ou  não)  perplexidades,  solicitam  compreensões, 
interpretações,  explicações,  leituras  que  possam  conferir  sentido  para  que  uma 
trans/ação de natureza ética possa ser considerada. Esse caráter transformador é 
o que caracteriza a ação educativa como pro‐jeto, algo que se lança à frente e que 
pode ser concretizado pela ação engajada de uma pessoa ou de várias pessoas. 

Da  concepção  de  homem,  mundo,  sociedade  e  educação  que  já  anunciamos, 
decorre  a  metodologia  privilegiada:  a  hermenêutica  fenomenológica  de  Paul 
Ricoeur15. A esse movimento – que subentende a ambigüidade humana do ‘poder 
estar  ao  mundo  vivendo  na  inerência’,  e  que  caracteriza  um  ‘ceder  à  credulidade 
acrítica  próprio  de  uma  consciência  ingênua’  –  opõe‐se  outra  possibilidade:  a  de 
estar  perplexo,  de  dar  distanciamento,  ad‐mirar‐se  e,  então,  poder  interrogar. 
Como  lembra  o  hermeneuta,  a  realidade  é  fugidia,  a  verdade  se  esconde  e  a  fala 
humana é escorregadia. A interpretação é um dos recursos contra o enredamento 
das falsas aparências. Se tudo estivesse patente, a interpretação seria supérflua.  

Contudo,  mesmo  esse  falso  estado  de  consciência  fascinada  –  como  diria 
Heidegger,  estado  de  alienação,  forma  ôntica  de  pôr‐se  frente  ao  mundo  –  não  é 
uma  situação  desesperadora.  À  desconfiança,  opõe‐se  a  fé  e,  se  há  engano,  há 
também a possibilidade do acerto, pois há sempre um sentido profundo que pode 
ser  encontrado  nessa  forma  de  compreender‐se  na  existência,  sendo  essa  busca 
característica  de  uma  intenção  ética  que  permeia  a  construção  de  uma  prática 
teórica. (Hahn, 1995, p.205). 

Mas  que  ética  é  esta,  que  se  coloca  permeando  a  construção  de  uma  prática 
teórica? Qual o papel da filosofia nessa configuração? Mais: quais os saberes que se 
fazem necessários para que, no cotidiano do fazer da residência multiprofissional, 
a vinculação/desvinculação teoria/prática possa ser trabalhada ou enfrentada sem 
as constantes acusações de nossos residentes de que, na formação universitária a 
teoria foi mais valorizada em detrimento da prática, ou ainda que dizemos muito 
de  fazer  a  prática  multiprofissional  e  interdisciplinar  e  que,  na  realidade,  não 
tratamos  dos  “que  fazer?”  com  os  quais  eles  realmente  se  defrontam  em  seu 
mundo  vida  profissional.  Mais  ainda:  como  dar  forma  às  situações  vividas  na 
universidade  e  vivenciadas  na  concretude  da  prática  profissional,  convergem,  de 
tal maneira que se configuram como de natureza prático‐poíetica? 

Nesse  momento  de  objetivação  é  preciso  dizer  que  em  nossa  prática,  na 
residência multiprofissional em saúde da família, há a indissociabilidade da tríade 
ensino, pesquisa e extensão e o acima exposto, já indicam as possibilidades desse 
fazer.  Contudo,  muitas  vezes  não  a  percebemos  dessa  maneira,  assim,  indicamos 
essa  possibilidade  para  desvelar  o  fenômeno  da  interdisciplinaridade  e 
interprofissionalidade  no  lócus  da  residência  multiprofissional  em  saúde  da 
família,  a  partir  de  nossas  vivências  que  passaremos,  agora,  a  apontar  caminhos 
para sua consecução. 

15Franco, S. G. (1995). Hermenêutica e Psicanálise na obra de Paul Ricoeur. São Paulo: Loyola. 

______________________________________________________________________
10
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Organização do Trabalho e o Projeto de Pós‐doutoramento 

O presente trabalho, se configura formado por partes que se ligam subsidiando 
umas  às  outras,  a  teórica  que  vai  se  colocando  e  outra  a  configurar‐se  como 
pesquisa‐intervenção  e  que  se  constitui  no  processo.  Destacamos  que  o  nosso 
referencial  de  apoio  é  a  fenomenologia  hermenêutica  na  perspectiva  de  Paul 
Ricoeur. 

Esclareço  que  tenho  orientado  trabalhos  de:  iniciação  científica,  conclusão  de 
curso  de  graduação  e  de  pós‐graduação  lato‐sensu  e  co‐orientado  pesquisas  de 
mestrado acadêmico junto ao departamento de enfermagem dessa universidade. 

Os referidos estudos confluem e focam a formação e educação em saúde da qual 
sou líder do núcleo e grupo de pesquisas institucionalizado. O núcleo supra citado 
busca  desenvolver  ensino,  pesquisa  e  extensão  sobre  Políticas  Públicas  de 
Formação  Profissional  e  Diretrizes  Curriculares  em  Saúde;  Currículo,  Processo 
Ensino‐aprendizagem,  Avaliação  e  Educação  em  Saúde;  Tecnologia  Educacional, 
Interdisciplinaridade,  Formação  Docente  e  Multiprofissionalidade  na  Área  de 
Saúde. Deste emanam 5 objetos de pesquisa que são: 

Políticas  Públicas  de  Formação  Profissional  em  Saúde;  Diretrizes  Curriculares 


da  Área  de  Saúde  e  Currículo;  Processo  Ensino‐aprendizagem,  Avaliação  e 
Educação  em  Saúde;  Tecnologia  Educacional  e  Interdisciplinaridade;  Formação 
Docente e Multiprofissionalidade na Área de Saúde. 

A PESQUISA PROPRIAMENTE DITA


A Interrogação 

Ao propor‐me a adentrar as questões que se colocavam para mim neste projeto, 
a formulação da questão norteadora constitui‐se em momento que exigiu profunda 
reflexão. Nos livros de Joel Martins aprendi e apreendi a não interrogar apenas o 
mundo  vivido  pelos  sujeitos  da  pesquisa,  mas  interrogar  também,  as  minhas 
próprias perplexidades ao ver o mundo, perplexidades que emergiram das minhas 
inquietações  diante  do  fenômeno  a  ser  desvelado:  A  formação  na  Residência 
Multiprofissional  em  Saúde  da  Família  como  ação  educativa.  Uma  questão 
interdisciplinar  e  interprofissional?  Buscando  sentidos  como  um  desafio  a  ser 
compreendido. Mas, compreendido por quem? E, no silêncio de minhas angústias e 
devaneios,  volto  a  questionar‐me.  Recorro  às  lembranças  experienciadas  e 
desprendo‐me de meus valores e pré‐conceitos e, por um momento, vejo‐me como 
ser  docente,  pesquisador  e  gestor  preocupado  com  o  atendimento  das 
necessidades de residentes e preceptores/tutores. Assim, ao buscar uma forma de 
interrogar  a  interdisciplinaridade  e  interprofissionalidade,  tal  como  foi 
experienciada  pelos  sujeitos  deste  estudo,  pude  apreender  que  o  sentido  da 
palavra interrogação em uma pesquisa significa: 

______________________________________________________________________
11
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

“Andar  em  torno  dela,  em  todos  os  sentidos,  sempre  buscando  todas  as 
suas dimensões e, andar outra vez e outra ainda, buscando mais sentido, 
mais dimensões, e outra vez.”16 

Nesse contexto, compreendi que para formular uma questão é necessário que eu 
a verbalize em forma de uma pergunta clara, que me possibilite, não apenas uma 
resposta  simples  ou  definições,  mas  sim,  que  os  sujeitos  possam  dizer  de  uma 
forma  natural  e  espontânea  as  situações  vivenciadas  por  eles  e  presentes  no  seu 
mundo‐vida, isto é, que a descrição de suas experiências envolvam pensamentos e 
sentimentos  sobre  a  realidade  vivida,  bem  como  a  sua  percepção  da  residência 
multiprofissional e a interdisciplinaridade e interprofissionalidade. 

Assim  inicialmente,  mentalizei  a  questão  norteadora:  “o  que  isto  a 


interdisciplinaridade/interprofissionalidade  na  residência  multiprofissional  em 
saúde da família?” Após um ensaio prévio da pergunta norteadora aos residentes 
de  oito  categorias  profissionais,  pude  perceber  que  os  conteúdos  dos  discursos 
emergiram  de  forma  restrita,  simbolizando  apenas  definições.  Assim,  pretendo 
reformular a pergunta norteadora da seguinte forma: “como se mostra para você a 
interdisciplinaridade na residência multiprofissional em saúde da família?” E, esta 
emergiu  como  a  forma  de  linguagem  que  mais  se  aproxima  do  que  buscava 
desvelar  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família.  E,  novamente  após 
um prévio ensaio da questão, esta mostrou‐se de forma pertinente ao estudo. 

Portanto,  neste  projeto  de  pesquisa,  partindo  das  minhas  inquietações  a 


respeito da “interdisciplinaridade e interprofissionalidade”, perguntei a residentes 
e preceptores/tutores que vivenciam esse fenômeno, “como se mostra para você a 
interdisciplinaridade/interprofissionalidade  na  Residência  Multiprofissional  em 
Saúde da Família?” 

SUJEITOS DA PESQUISA E REGIÃO DE INQUÉRITO17


A escolha dos sujeitos desta pesquisa emergiu de critérios estabelecidos a partir 
de  bases  reflexivas  constituídas  ao  longo  de  meu  percurso  acadêmico  e 
profissional.  Desvelar  a  interdisciplinaridade  e  a  interprofissionalidade  na 
residência  multiprofissional,  a  partir  das  perspectivas  de  residentes  e  de 
preceptores/tutores  fez‐se  ponto  primordial  para  a  apreensão  do  processo  de 
compreensão da ação educativa na formação multiprofissional e sua interferência 
ou não nos processos formais de ensino‐aprendizagem. 

16  Fini,  M.  I.  (1994).  Sobre  a  pesquisa  qualitativa  em  educação,  que  tem  a  fenomenologia  como  suporte.In: 

Bicudo,  M.  A.  V.,  &  Espoito,  V.  H.  C.  (org.).  Pesquisa  qualitativa  em  educação.  Piracicaba:  Editora  UNIMEP. 
(pp.24). 
17  Região  do  Inquérito:  é  a  região  de  perplexidades,  é  o  local  transparente  das  minhas  preocupações.  Não  é 

portanto, um espaço mas um contexto conceitual onde pessoas agem. (Nota do Pesquisador a partir de diálogo 
com Espósito, V.H.C.) 

______________________________________________________________________
12
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Nesse  momento,  senti  a  necessidade  de  compreender  o  homem  e  o  mundo  de 


forma  fenomenológica,  assim,  procurei  voltar  ao  meu  mundo‐vida18  e  olhar  os 
sujeitos constituídos, não como um ser inerte, passivo, mas como um ser vivendo a 
facticidade de ser lançado no mundo. 

Assim, ao decidir‐me que os sujeitos da pesquisa se constituíram de residentes e 
preceptores/tutores,  elegi  como  região  de  inquérito  o  Programa  de  Residência 
Multiprofissional  em  Saúde  da  Família  desenvolvido  na  Instituição  de  Ensino 
Superior  na  qual  desenvolvo  minhas  atividades  laborativas.  A  escolha  do  local 
surgiu como forma de situar‐me, de “voltar as coisas mesmas”, ou seja, emergiu de 
um  universo  inserido  em  minha  história  de  vida,  como  docente,  pesquisador  e 
gestor administrativo. 

Nesse sentido, Dartigues considera que:  

“Voltar  as  coisas  mesmas  significa  voltar  ao  mundo  de  experiência 
considerando que, antes da realidade objetiva há um mundo pré­dado, e 
antes  de  todo  conhecimento,  há  uma  vida  que  a  fundamentou.  Significa 
que  todo  conhecimento  está  na  origem  da  experiência  que  é  o  pré­
reflexivo”.19 

ESTABELECENDO A REGIÃO DE INQUÉRITO


O  estabelecimento  de  minha  região  de  inquérito  ocorreu  após  contato  com  a 
direção  da  unidade  de  ensino  onde  o  programa  supra  citado  é  desenvolvido,  por 
meio  de  ofício  (em  anexo)  à  pró‐diretoria  acadêmica,  onde  a  residência 
multiprofissional  em  saúde  da  família  está  vinculada  e,  consecutivamente  os 
sujeitos da pesquisa se situam. 

No  documento  oficial  por  mim  encaminhado,  solicitei  a  autorização  para 


encontros  com  os  residentes  e  preceptores/tutores,  após  breve  explicitação  dos 
objetivos  da  pesquisa.  Míster  se  faz  ressaltar,  que  para  realizar  as  entrevistas 
obtive a anuência das Pró‐Diretoria Acadêmica e da Diretora da Unidade de Ensino 
a qual o programa está vinculado. 

A  escolha  da  região  de  inquérito,  deve‐se  ao  fato  de  que  a  Instituição  de 
Educação Superior onde desenvolve‐se a residência multiprofissional encontra‐se 
enredada  como  trama‐e‐reverso  em  meu  mundo‐vida,  quer  seja  por  meio  dos 
aspectos  acadêmicos  vinculados  a  tríade  ensino,  pesquisa  e  extensão  ou  pelos  de 
gestão  administrativa,  os  quais,  são  compatíveis  com  o  meu  pensar  e  que  os 
vivencio cotidianamente. 

18 Diz respeito ao mundo pré‐reflexivo, ou pré‐objetivo, ou seja, à experiência vivenciada pelo pesquisador que 

lhe permite interrogar o mundo dos fenômenos. (Martins, J. Op.cit. 1992). 
19 Dartigues, A. Op. Cit. 1992. p.20. 

______________________________________________________________________
13
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

BUSCANDO AS EXPERIÊNCIAS DOS SUJEITOS


Para  obtenção  dos  discursos,  inicialmente  fiquei  espreitando  atentivamente  o 
desenvolvimento  dos  diálogos  de  residentes  e  preceptores/tutores,  sempre  de 
maneira  informal  e  em  vários  ambientes  quer  fossem  de  sala  de  aula,  pelos 
corredores,  ou  até  mesmo  nos  momentos  de  descontração  de  almoço  ou  lanche. 
Contudo, buscando observar, com olhar atento, as mudanças ocorridas ao longo de 
dois anos, tanto no âmbito da faculdade, como nos momentos de atividade fora da 
estrutura  física  do  complexo  universitário.  Nesse  caminhar,  coloquei‐me  como 
pesquisador, buscando apreender o tempo, não como uma dimensão cronológica, 
mas  sim  como  horizonte  que  possibilitasse  o  emergir  de  respostas  às  minhas 
inquietações. 

Considerei,  apontamentos  e  diálogos  pessoais  de  Espósito  referindo‐se  a  Joel 


Martins20 

“O tempo não é uma dimensão cronológica medido em dias, meses e anos, mas 
sim horizonte de possibilidades do ser”. 

Nesse  caminhar,  procurei  aproximar‐me  das  pessoas  tanto  residentes  como 


preceptores/tutores,  buscando  em  cada  passo,  desvencilhar‐me,  tanto  quanto 
possível,  das  minhas  crenças,  teorias  e  explicações,  colocando,  desta  forma,  a 
residência  multiprofissional  em  suspensão  como  um  fenômeno  a  ser  percebido, 
para que pudesse compreendê‐lo na plenitude de seu mostrar‐se. 

“Perceber o fenômeno quer dizer que há um correlato e que a percepção 
não ocorre no vazio, mas em um estar­com­o percebido”.21 

Nesse  momento,  visualizei  a  possibilidade  de  achegar‐me  aos  seres  residentes 


para uma interação, buscando uma apresentação prévia, bem como solicitando que 
desses o Termo de Consentimento Livre Esclarecido para estar conversando sobre 
sua vivência na residência multiprofissional. 

O  contato  com  os  residentes  e  preceptores/tutores  ocorreram  em  um  tempo 


não  cronometrado  pelo  relógio,  mas  mensurado  pela  minha  vivência,  que  por 
vezes mesclava‐se como o orientador de seus trabalhos de conclusão de curso ou 
como  docente  em  sala  de  aula.  Assim,  inicialmente,  aproximei‐me  de  uma  forma 
exeqüível  de  manter  um  diálogo,  levando  em  consideração  o  estado  dos  sujeitos, 
pois meu receio era que por algum momento transparecesse algo que permitisse a 
inferência  da  perda  da  confidencialidade  ou  do  anonimato.  Nesses  encontros  por 
vezes  semanais,  procurei  inserir‐me  de  forma  natural,  atendendo  às  solicitações 
dos residentes e preceptores/tutores. 

20 Esposito, V. H. C. referindo‐se ao texto de Joel Martins Não somos cronos somos kairós em palestra proferida 

no Módulo: Pesquisa em Educação: uma Abordagem Fenomenológica. (Notas do Pesquisador). 
21  Bicudo,  M.  A.  V.  (1994).  Sobre  a  Fenomenologia:  pesquisa  Qualitativa  em  Educação.  Piracicaba:  UNIMEP. 

p.18. 

______________________________________________________________________
14
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Dialoguei com cada residente, preceptor ou tutor de meu contato muitas vezes, 
e  nesse  ir  e  vir,  fui  aos  poucos  percebendo  uma  disposição  mútua  de  abertura, 
embasada  na  empatia  e  confiança.  Neste  momento,  aproximei‐me  novamente  do 
indivíduo  e  expliquei  os  objetivos  de  meu  estudo  solicitando  sua  participação. 
Assim,  iniciei  cada  contato  pedindo  a  permissão  para  gravação  do  encontro.  Foi 
permitido, aos sujeitos falarem livremente sobre a residência multiprofissional em 
saúde  da  família  e  suas  nuances  com  a  interdisciplinaridade,  não  sendo 
estabelecido tempo de duração de nossos diálogos ou encontros de orientação. 

DEFININDO O NÚMERO DE SUJEITOS


O  número  de  sujeitos  da  pesquisa  será  definido  pelas  próprias  descrições. 
Coletarei  o número  de  discursos  até  perceber  a  repetitividade.  Destes,  passarei a 
trabalha‐los  ao  se  constatar  que  sejam  suficientes  para  responder  a  interrogação 
proposta.  Alguns  discursos  poderão  ser  excluídos  em  vista  de,  não  atenderam  à 
questão norteadora. 

OS DISCURSOS
A linguagem é uma das maneiras do ser‐no‐mundo e vê‐se absorvido por ele22. 
Pela articulação das palavras, o ser expressa a mundaneidade de seu mundo e se 
abre ao mundo dos entes envolventes. Assim, a linguagem é vista como o domínio 
em cujo interior qualquer forma de pensamento reside e se move. 

Heidegger  analisa  a  existência  humana  como  um  discurso  que  se  alimenta  de 
um contato prévio com um tempo de verdade e sentido. É um movimento no qual a 
originariedade é gerada na inteligibilidade23, compreensão e zelo do ser. 

O discurso é a articulação do compreensível para o ser, e é através da linguagem 
que o ser opera um desvelamento dos significados concretos do mundo. O discurso 
do  mundo  é  uma  palavra  do  ser  e  a  sua  existência  reflete  esta  linguagem 
fundamental,  ou  seja,  através  do  discurso  torna‐se  possível  compreender  a 
situação do homem no mundo.24 

O  ser‐aí  é,  portanto,  para  Heidegger  um  ser  situado  no  mundo,  realizando‐se 
como  ser  de  linguagem.  O  homem  se  mostra  como  ente  que  é,  no  discurso 
compreensível na ausência ou na presença de qualquer realização. Assim, o ouvir e 
o  silenciar  constituem‐se  em  momentos  do  discurso  de  possibilitam  ao  homem 
uma compreensão do que o ser lhe diz. 

22  Estar absorvido no mundo: quer dizer estar vivencialmente ligado ao mundo, interpenetrado nas coisas, nos 

entes‐envolventes. Heidegger, M. Op. Cit. 2002, p. 25. 
23 Relativo à inteligência, no seu movimento peculiar de articular sentidos e significados. 
24 Resweber, J.P. Op. Cit. 1982.p. 145. 

______________________________________________________________________
15
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Nesse  sentido,  é  necessário  que  o  homem  assuma  seu  verdadeiro  habitar,  ou 
seja, a responsabilidade de ouvindo o ser, torná‐lo palavra, pois é o próprio homem 
que  se  manifesta  através  da  linguagem  que  entendida  como  uma  dimensão 
essencial,  não  é  apenas  uma  atividade  do  homem,  mas  sim  um  desvelar  do  Ser‐
Homem. E, neste desvelamento, o Ser expressa seu sentido do mundo. 

“O  discurso  é  a  vivencia  expressa.  Lida­se  com  ela  para  se  obter  o 
significado. Este não está nas coisas, está no sujeito, que é o atribuidor dos 
significados”.25 

Na  pesquisa  fenomenológica  os  significados  relevantes  para  o  pesquisador 


emergem  através  das  “unidades  de  significado”,  ou  seja,  atribuindo  seu  modo  de 
vivenciar  o  mundo.  Para  buscar  apreender  esta  passagem,  procuro  colocar  o 
mundo que eu acredito “entre parênteses”, e direcionar a minha consciência para o 
objeto  visado,  iniciando,  assim,  a  redução  fenomenológica  ou  epoqué26,  como 
designado por Husserl. 

A  consciência  é  intencional  está  sempre  voltada  para  algo.  Ao  colocar  o 


fenômeno em suspensão, o que se busca é realizar a redução fenomenológica, ou 
seja, captar as características essenciais do fenômeno interrogado. 

AS UNIDADES DE SIGNIFICADO
Para  encontrar  as  unidades  de  significado,  tomarei  os  discursos,  lendo‐os 
atentamente,  tanta  vezes  quantas  se  fizeram  necessárias,  até  que  os  significados 
começaram a surgir aos meus olhos. Nesse momento, destacarei trechos para mim 
significativos  e  os  transformarei  em  unidades  de  significado,  mantendo‐os  como 
foram  expressos  pelos  sujeitos.  Neste  processo  de  redução  fenomenológica  não 
haverá preocupação em enumerar fatos, mas sim, em buscar o significado que os 
eventos  têm,  enquanto  fenômenos,  para  os  sujeitos  que  os  descreveram.  Para  o 
tratamento dos dados desta pesquisa, utilizarei além de análise fenomenológica do 
discurso  dos  sujeitos,  a  análise  compreensiva  e  interpretativa  das  proposições 
emergidas das unidades de significado. 

ANÁLISE COMPREENSIVA DAS PROPOSIÇÕES DOS


DISCURSOS
Em seqüência à retirada das unidades de significado, buscarei desvelar o velado, 
através  de  uma  análise  compreensiva  da  linguagem  do  sujeito.  Na  pesquisa 
fenomenológica hermenêutica de Martin Heidegger, o sentido velado no discurso é 

25 NUNES, D.M. Op. Cit. 1995. p.68. 
26 Redução fenomenológica ou epoqué: “é a operação pela qual a existência efetiva do mundo exterior é “posta 

entre parênteses”, para que a investigação se ocupe apenas com as operações realizadas pela consciência, sem 
que se pergunte se as coisas visadas por ela existem ou não realmente.” 

______________________________________________________________________
16
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

dado  em  perspectivas,  desvelando‐se  através  da  compreensão  que  interpreta. 


Assim, os significados expressam de um modo velado, o sentido da “presença” que 
discursa, isto é, diz no modo de ser segundo o qual o Ser constitui seu mundo, no 
espaço e tempo.27 

Deste  modo,  buscarei  aproximar‐me  do  “logos”  do  sujeito  para  apreender  o 
sentido  pelo  qual  eles  manifestam  sua  compreensão  da  interdisciplinaridade  e 
interprofissionalidade  para  residentes,  preceptores/tutores  da  residência 
multiprofissional em saúde da família. A totalidade significativa ali articulada e por 
mim,  apreendida  será  desmembrada  em  unidade  de  significados  que  permitirão 
aproximar‐me  da  concepção  que  os  seres  residente  e  preceptor/tutor  expressam 
ao vivenciarem situações de interdisciplinaridade no cotidiano do programa saúde 
da família. 

Segundo  Heidegger,  a  compreensão  não  se  mostra  de  imediato,  vai‐se 


constituindo no tempo através das articulações dos significados que a “presença” 
expressa  em  sua  linguagem,  pois,  enquanto  um  ser  no  mundo,  o  homem  atribui 
significados  às  coisas  com  as  quais  se  relaciona  no  horizonte  de  seu  mundo 
circundante. É este horizonte do sentido que se desvela ao pesquisador, através da 
compreensão das proposições dos discursos. 

A  análise  proporcional,  portanto,  refere‐se  às  estruturas  lógicas  da  linguagem 


manifestada  pelos  seres  residente  e  preceptor/tutor  nos  discursos.  Procurarei, 
aqui, identificar os sentimentos, emoções e os símbolos que os sujeitos expressam 
em seus “logos”, que reveste cada proposição, enquanto um estilo ou forma de se 
exprimir, buscando, desta forma, localizar a intenção do sujeito. 

Heidegger  manifesta  que  é  o  logos  hermenêutico  que  se  mostra  através  da 
compreensão  do  ser,  enquanto  somos  um  modo  de  compreender  e  interpretar  o 
conhecimento. Conhecimento do mundo é um modo de ser do estar‐aí, e um modo 
de  ser  que  está  onticamente  fundado  em  sua  constituição  fundamental,  o  ser‐no‐
mundo. 

O  método  fenomenológico  trata  daquilo  que  se  esconde  sob  o  “logos”,  que  é  a 
singularidade que tenta se expressas no “logos”, mas que o “logos” sempre oculta.28 

Portanto,  será  através  dessa  reflexão  que  buscarei  compreender  o  sentido 


velado  nas  proposições  dos  sujeitos.  Assim,  a  análise  compreensiva,  buscará  a 
concepção  dos  seres  residente  e  preceptor/tutor.  Para  tanto  procederei  as  três 
etapas descritas a seguir: 
 

27 Damasceno, M. M. C. (1997). O existir diabético da fenomenologia à enfermagem. Ceará: Fundação Cearense 

de Pesquisa. p. 65. 
28 Stein, E. (1988). Seis estudos sobre “Ser e Tempo”. Petrópolis, s.n. p.205. 

______________________________________________________________________
17
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Unidades de significados. Análise e explicitação do texto. 

Símbolos29 presentes no discurso do sujeito; 

Síntese. 

REFERÊNCIAS
Batista,  N.  A.  &  Batista,  S.  H.  (orgs.)  (2004).  Docência  em  Saúde:  temas  e 
experiências. São Paulo: Senac. 

Bicudo, M. A. V. (1994). Sobre a Fenomenologia: pesquisa Qualitativa em Educação. 
Piracicaba: UNIMEP. 

Brasil.  Ministério  da  Saúde.  Secretaria  de  Gestão  do  Trabalho  e  da  Educação  na 
Saúde.  Departamento  de  Gestão  da  Educação  na  Saúde.  (2006).  Residência 
Multiprofissional em Saúde: experiências, avanço e desafios. Brasília: MS. 

Corrêa,  R.  A.(org.).  (1991).  Dicionário  escolar  francês­português­francês.  s.l.: 


MEC/DNE. 

Dartigues,  A.(2005).  O  que  é  a  fenomenologia?  Almeida,  Maria  José  J.  G.  de, 
Tradução. São Paulo: Centauro. 

Damasceno,  M.  M.  C.  (1997).  O  existir  diabético  da  fenomenologia  à  enfermagem. 
Ceará: Fundação Cearense de Pesquisa. 

Dellaroza,  M.  S.  G.  &  Vannuchi,  M.  T.  O.  (2005).  O  curriculo  integrado  do  curso  de 
enfermagem da Universidade Estadual de Londrina: do sonho à realidade. São 
Paulo: Hucitec. 

Espósito, V. H. C. (1993). A escola: Um enfoque fenomenológico. São Paulo: Escrita. 

Feuerwerker,  l.  Além  do  discurso  de  mudança  na  educação  médica:  processos  e 
resultados. São Paulo: Hucitec. 

Fini,  M.  I.  (1994).  Sobre  a  pesquisa  qualitativa  em  educação,  que  tem  a 
fenomenologia  como  suporte.In:  Bicudo,  M.  A.  V.,  &  Espoito,  V.  H.  C.  (org.). 
Pesquisa qualitativa em educação. Piracicaba: Editora UNIMEP. 

29  O problema da compreensão para a fenomenologia, é relativo ao símbolo como característica essencial do 

mundo humano. A fenomenologia reconhece, no símbolo, a correspondência entre o homem e o sentido, aí, em 
termos mais técnicos, entre o significante e os significados; portanto, há sentido no símbolo, porque se trata do 
homem; há significantes, porque há significados existencialmente vividos. REZENDE, A. M. (1990). Concepção 
fenomenológica da educação. s.l: s.n. p.27. 

______________________________________________________________________
18
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Franco, S. G. (1995). Hermenêutica e Psicanálise na obra de Paul Ricoeur. São Paulo: 
Loyola. 

Gadamer,  H.  G.  (1988).  Verdad  y  método,  fundamentos  de  uma  hermenêutica 
filosófica.  Trad.  Ana  Aparício  &  Rafael  de  Agapito.  Salamanca,  Espanha: 
Ediciones Sígueme. 

Gil‐Monte,  P.  R.  (2005).  Validação  fatorial  de  Maslach  Burnout  Inventory  (MBI‐
HSS) para profissionais espanhóis. Revista de Saúde Publica, 1, 1‐8. 

Hahn, L. E. (org.) (1995). A filosofia de paul ricoeur. Lisboa: Instituto Piaget 

Heidegger,  M.  (2002).  Ser  e  tempo:  parte  II.  Cabral,  Álvaro,  Tradução.  São  Paulo: 
Vozes.  

Komatsu,  R.  S.  (2003).  Sensibilizando  nossos  olhares.  Interface  ­  Comunicação, 


Saúde, Educação, 13, 171‐6. 

Martins, J. (1992). Um enfoque fenomenológico de currículo. educação como poiesis. 
Organizadora Vitória Helena C. Espósito. São Paulo: Cortez. 

Nunes,  D.  M.  (1995).  Linguagem  do  cuidado.  Souza,  Mariana  Fernandes  de, 
Orientadora. São Paulo. 

Resweber, J. P. (1982). A filosofia da linguagem. São Paulo: Cultrix. 

REZENDE, A. M. (1990). Concepção fenomenológica da educação. s.l: s.n. 

Silva,  G.  T.  R.,  &  Espósito,  V.  H.  C.  (2001).  Preceptoria  com  ação  educativa  como 
possibilidade  para  a  formação  de  residentes  enfermeiros  e  médicos  no 
municipio  de  São  Paulo.  Revista  da  Faculdade  Santa  Marcelina,  n.especial, 
131‐134. 

Stein, E. (1988). Seis estudos sobre “Ser e Tempo”. Petrópolis, s.n. 

Teixeira,  C.  F.,  Paim,  J.  S.,  &  Vilasbôas,  A.  L.  (1998).  SUS:  modelos  assistenciais  e 
vigilância  da  saúde  /  Unified  Health  System,  assistance  models  and  health 
surveillance. Inf. epidemiol. SUS, 2, 7‐28. 

Vergara, S. C. (2004). Controle e coerção: a pedagogia do olhar na espacialidade do 
teatro e das organizações. Revista de Administração da USP, 3, 10‐9. 

REFERÊNCIAS CONSULTADAS
Basarab, N. (2000). Educação e transdisciplinaridade, Brasília: UNESCO. 

______________________________________________________________________
19
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Bicudo, M. A. V. & Belluzzo, R. C. B. (orgs.) (2002). Formação humana e educação. 
Bauru: EDUSC.   

Critelli, D. M. (1996). Analítica do sentido: uma aproximação do real de orientação 
fenomenológica. São Paulo: Educ/Brasiliense. 

Espósito,  V.  H.  C.  (1998).  Epistemologia  e  criatividade.  In:  Spinelli,  J.  (org.). 
Criatividade, para quê: conferências, palestras e artigos. São Paulo: UNESP.   

Espósito, V. H. C. et alli. (1993). A pesquisa qualitativa e o trabalho de formação do 
educador. In: Tavares, José (orgs.). Linhas de rumo e formação de professores. 
Portugal: Universidade de Aveiro.   

Espósito,  V.  H.  C.  &  Bicudo,  M.  A.  V.  (orgs.)  (1997).  Joel  martins...  um  seminário 
avançado em fenomenologia. São Paulo: EDUC.  

Esposito,  V.  H.  C.,  &  Pedra,  J.  (2001).  A.  A  formação  de  professores  como  uma 
questão curricular: sentidos e relações. Revista da Faculdade Santa Marcelina, 
n.especial, 103‐107. 

Fazenda,  L.  T.  (org.).  (1999).  Metodologia  do  trabalho  educacional:  o  lugar  dos 
sujeitos na pesquisa. Campo Grande: Ed. UFMG. 

Fazenda, I. (2003). A interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo. 

Foucault, M. (1989). Isto não é um cachimbo. Trad. Jorge Coli. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra. 

Foucault, M. (1993). Microfísica do poder. Trad.: Roberto Machado. Rio de Janeiro: 
Graal. 

Lyotard,  Jean‐François.  (1997).  O  inumano.  considerações  sobre  o  tempo.  Lisboa: 


Editorial Estampa. 

Manen,  M.  V.  (1990).  Researching  lived  experience.  human  science  for  na  action 
sensitive pedagogy. Canadá: Althouse Press, Faculty of Education. 

Martins, M. A. V. & Espósito, V. H. C. (1996). Pedagogo artesão: construindo a trama 
no cotidiano da escola. São Paulo: Educ. 

Merleau‐Ponty, M. (2002). A prosa do mundo. São Paulo: Cosac & Naify. 

Merleau‐Ponty, M.(1990). O primado da percepção e suas consequencias filosóficas. 
Campinas: Papirus. 

Merleau‐Ponty. M. (1945). Phènòmenologie de la perceptioN. Paris: Galimard. 

______________________________________________________________________
20
SILVA,  G.  et  al.  (2007)  A  formação  na  residência  multiprofissional  em  saúde  da  família  como 
ação  educativa.  Uma  questão  interprofissional?  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias 
(Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora 

Ricoeur,  P.  (s.d.).  Du  texte  à  l’action.  essais  d’herméneutique  II.  Trad.  Cartaxo  & 
Sarabando. Porto: Editions de Seuil/Rés Editora. 

Ricoeur, P. (1996). Leituras 2. a região dos filósofos. Trad. Marcelo Perine & Nicolás 
Nyimi Campanário. São Paulo: Loyola. 

Ricoeur, P. (1988). O discurso da acção. Trad. Artur Morão. Portugal: Edições 70. 

Roviello,  Anne‐Marie.  (1987).  Senso  comum  e  modernidade  em  hannah  arendt. 


Lisboa: Instituto Piaget. 

Severino,  A.  J.,  &  Fazenda,  I.  C.  A.  (orgs.).  (2001).  Conhecimento,  pesquisa  e 
educação. Campinas: Papirus. 

UNESCO/CRUB  (Conselho  de  Reitores  das  Universidades  Brasileiras). 


CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O ENSINO SUPERIOR (1998, Paris, França). 
TENDÊNCIAS  DA  EDUCAÇÃO  SUPERIOR  PARA  O  SÉCULO  XXI.  Brasília, 
Fogaça, 1999. 

______________________________________________________________________
21

Potrebbero piacerti anche