CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
Vida
Saúde&Ciência
A30
JORNAL DO BRASIL
MUNDO VIRTUAL I Ciberativistas promovem passeatas e atentados contra a exploração comercial
Terroristas
invadem o
‘Second Life’
Juliana Anselmo da Rocha
Inconformados com a explo-
ração comercial de Second Life,
com anúncios publicitários e
escritórios de grandes empre-
sas, usuários se organizam pa-
ra resistir e exigir mudanças no
mundo virtual. Com 200 inte-
grantes, o Second Life Libera-
tion Army (Exército pela Liber-
tação do Second Life) promove
passeatas, encontros e ataques
violentos – com direito a tiros e
bombas digitais – para forçar a
Linden Lab, criadora da plata-
forma, a dar aos residentes di-
reito de voto sobre a entrada de
novas marcas e usuários.
– Também discutimos o
acesso livre à terra e a explora-
ção de mão-de obra. Somos con-
trários às manifestações fascis-
tas no ambiente – explica a ava-
tar Solidad Sugarbeet, uma das
ativistas do movimento.
Para Erick Felinto, fundador
da Associação Brasileira de Pes-
quisadores em Cibercultura e
professor da Uerj, o “desapare-
cimento da diferença é uma ten-
Cyan MagentaYellow Black
dência dos mundos virtuais”.
– Todos querem e são boni-
tos, bem vestidos, integrados.
Mas o que adianta o sujeito ser
tolerante no Second Life e se
comportar com preconceito no
mundo real? – questiona.
Felinto lembra que o cla-
mor por democracia e liber-
dade está na origem da inter-
net, que também convive
com controles técnicos e go-
vernamentais da informação.
– É pouco provável que os
ativistas do Second Life atin-
jam seus objetivos, pelos in-
teresses econômicos envol-
vidos – observa.
O advogado e coordenador do
Centro de Tecnologia e Socieda-
de da FGV, Ronaldo Lemos,
completa que a empresa que cria
Três protestos virtuais: na mansão da Linden Lab (E), no Fórum Econômico Mundial (centro) ou em uma passeata contra uma possível invasão americana ao Irã
DOMINGO
11 DE MARÇO DE 2007
saude@jb.com.br
o jogo está “duplamente prote-
gida” pelo contrato de uso que
os usuários aceitam ao se cadas-
trarem e pelo controle do códi-
go-fonte do programa que man-
tém o sistema funcionando.
– Se, por um lado, a virtuali-
dade facilita a revolta pelos ris-
cos e custos menores, a torna
mais complicada pelos controles
técnicos – analisa. – As regras
podem sempre ser alteradas pa-
ra acabar com casos graves.
A Linden Lab informa não ter
banido nenhum dos integrantes
do Second Life Liberation Army
pois “seus protestos foram pací-
ficos ou não causaram prejuízo
duradouro às instalações”.
– Os integrantes caminham
numa linha tênue entre o vanda-
lismo e a expressão criativa. Os
casos são analisados um a um
para evitar abusos – esclarece a
diretora de marketing da em-
presa, Catherine Smith.
Os tiros e bombas que dei-
xam o Rio de Janeiro em pânico
são comparáveis no Second Life
às performances teatrais.
– Armas virtuais podem em-
purrar para longe um avatar ou,
no pior dos casos, provocar o tra-
vamento do software do usuário
– explica Solidad. – A idéia não é
cometer atrocidades, virtuais ou
não, mas aumentar a consciên-
cia sobre a invasão do mundo pe-
las grandes corporações e de-
monstrar nossa resistência.
Henrique Antoun, doutor
em comunicação e professor
da UFRJ, vê com bons olhos o
ciberativismo.
– As interações no Second Li-
fe se baseiam no consumismo –
pondera. – Os protestos podem
motivar uma maior abertura e a
chance de criação de novas for-
mas de expressão.
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TAB SAÚDE, CIÊNCIA & VIDA 30
‘Vivemos aqui. Queremos direito a voto’ diz slogan da placa carregada por manifestante
I Leão ameaça abocanhar
lucros na moeda do jogo
O crescimento de ambientes
virtuais como Second Life atraiu
a atenção do governo america-
no, que analisa suas economias.
– Podemos argumentar que
em certa medida a lei ficou defa-
sada. Embora seja possível con-
quistar lucros virtuais, não há
mecanismo para taxá-los – diz o
economista do Joint Economic
Committee, Dan Miller.
Para a professora de direito
tributário da Universidade de In-
diana, Leandra Lenderman, o
governo tem bons argumentos
para cobrar sobre as transações
feitas apenas em dólares linden
– a moeda do Second Life.
– Parecem comércio – avalia.
– E existe o risco de que trocas
no mundo virtual sejam uma
porta para a evasão de divisas.
Especialmente por frear as
economias virtuais e pela difi-
culdade de monitoração das
transações, Leandra não vê co-
brança de taxas a curto prazo.
– Encontrar a abordagem le-
gal correta para a cobrança de
imposto em mundos virtuais é
muito difícil e todas as respostas
atuais são incertas – completa o
professor de direito da Texas
Tech University, Bryan Camp.
Para a advogada Patrícia Pe-
ck, pelo dólar linden não ser re-
conhecido como moeda corren-
te – ou o Second Life como Esta-
A cobrança de
impostos é
impopular, mas
usuários já
estão alertas
do – não está previsto no direito
brasileiro a cobrança de impos-
tos sobre as operações feitas no
ambiente virtual.
– A medida é muito impopu-
lar – argumenta. – O mundo vir-
tual traz a oportunidade para re-
pensarmos o modelo sócio-eco-
nômico. Não precisamos come-
ter os mesmos erros, como apli-
Cruz pode ser a
pessoa mais velha
Cruz Hernandez morreu em
2005 com 127 anos em sua iden-
tidade deixando 13 filhos, 60 ne-
tos, 80 bisnetos e 25 trinetos. A
salvadorenha pode se tornar a
pessoa mais velha em registro,
de acordo com o Guinness.
DIVULGAÇÃO
car uma carga tributária excessi-
va, como ocorre no mundo real,
principalmente no Brasil.
Lemos lembra que já há taxas
que incidem sobre as transações
quando os ganhos em dólares
linden são convertidos para
moedas do mundo real.
Rogério Gomes, criador da
Ilha Brasil – uma da primeiras
comunidades nacionais dentro
do Second Life – deixaria de usar
a plataforma com a cobrança de
taxas pelo comércio interno.
– Certamente prejudicará o
jogo – aposta. – Se taxarem o
usuário desestimularão as tro-
cas. Se taxarem a Linden Lab,
afetará os lucros da empresa.
Mundos virtuais sem a pre-
tensão de imitar o real, como o
popular World of Warcraft, têm
as trocas por dólares banidas pe-
las empresas administradoras.
– Por seu design e modelo de
negócio, o Second Life é uma ex-
tensão da economia real, ao con-
trário do World of Warcraft, que
é um jogo de fantasia. Transa-
ções comerciais são boas para o
primeiro, mas destruiriam o se-
gundo – explica o economista e
professor da Universidade de
Indiana, Edward Castronova.