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Introdução:
O CENÁRIO:
O mundo do século XVII era aquele mapeado pela Igreja Católica. O Tratado das Tordesilhas já o havia
dividido entre Portugal e Espanha, fato que se faz atribuir a Francisco I de França indagar sobre o testamento de
Adão nesse sentido. O Brasil havia sido descoberto, conquanto sua exploração por piratas e corsários
persistisse, dado ao completo desinteresse pela colonização desta terra.
O Maranhão fora alvo dessa exploração. Aqui já estivera o capitão Riffaut (1594) que, por infortúnio,
deixou inúmeros franceses em terras brasileiras, dentre os quais o Sr. Des Vaux, principal responsável pelos
relatos entusiasmados a Sua Majestade Henrique, O Grande, cuja prudência enviou Daniel de La Touche para
verificação e constatação da narrativa.
*
Aqui passou seis meses, retornando,após, à França, onde se deparou com a morte do magnânimo rei. Só
em 1611, já no reinado de Luis XIII e da Rainha Regente, sua mãe, Maria de Medicis, foi possível o
empreendimento de fundar aqui uma colônia, o que contou com a sociedade do Sr. de Rasilly e do Barão de
Sansy (D’ABEVILLE: 1975, pág. 23).
Somente em 1612 veio a se concretizar o empreendimento, tendo como marco a fundação de São
Luís no dia 8 de setembro.
Discussões à parte acerca da fundação da cidade o que importa destacar é a contribuição
normativa (legislativa, modernamente) institucional elaborada em terras maranhenses, fato que, por si mesmo,
singulariza o acontecimento de tantas conquistas anteriores, quando as normas eram escritas e entregues aos
conquistadores empreiteiros da realeza. É esta circunstância singular que nos interessa aqui.
O conjunto de disposições transcritas se não é suficiente para identificar nas Leis Fundamentais
do Maranhão uma Constituição, com base nos elementos edificados pelo liberalismo, certamente importa, para
a época em estudo, uma conotação institucional das leis, dantes só vistas na “Magna Charta” de João Sem
Terra.
A instituição das bases religiosas, seguidas pelas disposições atinentes à honra do Rei dão a
composição fundamental das leis consignadas no seu próprio nome, alem de contar com a convergência de
vontades formalizadas no pacto contido na cláusula final das normas, a saber:
CONCLUSÃO:
De certo que se exigir a composição formal de uma Constituição com critérios só mais tarde
concebidos pelos revolucionários americanos seria impor à história um método estanque de conhecimento,
circunstância inapropriada para quem observa, reflete e escreve a história dos homens.
Ainda quando se não possa concordar com o argumento, ainda assim, é plausível compreender
que os franceses ofertaram contribuição significativa ao estudo do Direito Constitucional, uma vez ser possível
compreender, que houve na história o pré-constitucionalismo, como tal compreendido o estudo da formação do
Estado Constitucional em época anterior ao século XVIII.
A organização da colônia, a proteção da propriedade, da liberdade e da integridade física dos
índios, através do estabelecimento de normas jurídicas cujas conseqüências iniciavam pela declaração de
desobediência do sossego público chegando até a pena de morte - aplicáveis, inclusive, aos franceses -, revela a
natureza institucional e orgânica das Leis Fundamentais, que seriam, como foram, adotadas como princípios
fundamentais à organização do estado constitucional.
Assim sendo, em que pese a “imperfeição” utilizada àquela época, além de regras de conteúdo
iminentemente teológico - até porque a catequização era objetivo indissociável da colonização - vemos com
muita ênfase as normas penais destacadas, como forma de garantir, sobretudo em relação aos índios, os direitos
de liberdade e propriedade. Portanto, não observamos a presença de norma afirmativa de direito como as
declarações emergentes do séculos XVIII, mas constatamos a previsão de direitos a partir da advertência a uma
conduta firmada em critérios substancialmente morais. E a noção de ordenamento jurídico é que nos permite
chegar a tal conclusão.
Desse modo, a preocupação em dispor de um elemento normativo que estabelecesse um
relacionamento social e jurídico na colônia e político com a coroa, além de dimensionar um constitucionalismo
primário, por assim dizer, merece destaque pelo pioneirismo no continente americano. Portanto, sem que se
possa negar a natureza da Declaração da Virgínia como documento que estabelece direitos atendendo aos
critérios do constitucionalismo moderno, do mesmo modo reconhece-se que as Leis Fundamentais representam
a primeira e mais autêntica manifestação constitucionalista no continente americano, pois produzida em terras
maranhenses e para serem aqui aplicadas.
Portanto, concluímos por entender que as normas instituídas nas terras do Maranhão, ainda
carentes da feição constitucional presente na Declaração de Virgínia, quer sob sua ótica formal ou material,
dispõem de conteúdo jurídico-político suficiente para afirmar que as Leis Fundamentais podem ser
consideradas a primeira manifestação do que, por prudência, resolvemos chamar de pré-constitucionalismo no
continente americano.
Mais do que uma praça e um forte que dá nome à cidade, mais do quem uma história e lendas
que permeiam suas ruas, mais do que uma cruz e seus estandartes, os franceses, pioneiramente, firmaram nesta
terra valores e princípios que mais tarde seriam resgatados pelo constitucionalismo moderno e que ainda hoje
permeiam os textos constitucionais. Quisera tivessem deixado o sentimento de obediência e zelo, desvinculados
do personalismo que vulnera insensivelmente a Lei Fundamental atual.
BIBLOGRAFIA:
D’ABBEVILLE, Claude, História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras
circunvizinhas. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1975.
DOUGLAS, William O., Uma carta viva de direitos. São Paulo: IBRASA, 1976.
PIANZOLA, Maurice, Os papagaios amarelos – Os franceses na conquista do Brasil. São Luís: Alhambra,
1992.
SANTANA, José Cláudio Pavão, Pré-constitucionalismo na América: Uma abordagem acerca de
manifestações constitucionais nas terras do Maranhão do século XVII. São Luís: Ediceuma, 1997.
SEED, Patrícia, Cerimônias de posse na conquista européia do novo mundo. São Paulo: UNESP, 1999.
SWARTZ, Bernard, Os grandes direito da humanidade. Rio de Janeiro: Forense, 1979.
WILLIAMS, William Carlos, En la raiz de América. Madrid: Turner Fondo de Cultura Econômica, 2002.