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FRANCA
2003
ROGER DUARTE SOPRANI
Orientadora: __________________________________________________
Nome: Profa. Isabela Ribeiro de Figueiredo.
Instituição: Universidade de Franca.
Examinador(a):_________________________________________________
Nome:
Instituição:
Examinador(a):_________________________________________________
Nome:
Instituição:
Franca, ____/____/____
DEDICO este estudo aos meus pais, por seu amor, dedicação e
possibilidade de concluir um curso superior;
Despite the complexity and the dimension of the subject "The FTAA and its Opposition" to
the sovereignty, the Liberty, the rights and the social conquests", the study of this theme
becomes essential; and it is not relevant to only one nation, but for several. Because it is a
complex subject, which involves economy, politics and international law, the society put out
of their mind. It is common not to value the unaware things, mainly when the subject deals
with something that the collective judges not to be of its interest. This is a great mistake,
therefore the FTAA (Free Trade Area of the Americas), has everything to see with the interests
of the country, to be more accurate, not only of this, but of all America continent and it will
determine the modification of a great part of the national financial system, modifying not only
the economy, but also many legal rules. It is possible that the population will become aware of
the gravity of the situation when it will so late. The initiatives should be taken to attenuate
what is possible from what is looked like inevitable. But the Brazilian government does not
seem worried about this question; there are bigger and urgent interests, specially concerning
to the question of the current economic conjuncture and the fact of the Brazilian government
is becoming more dependent of international aid, mainly of The International Monetary Fund
(IMF). It is without any doubt, a sovereign country, depending a lot upon international aids,
and it is possible to raise a question, until when? The society must have to be aware to the
things that could be happen to the country. And there is time, it could be prevented, depends
on the courage and the goodwill of the elect representatives to say no to FTAA.
LISTA DE SIGLAS.................................................................................................................09
INTRODUÇÃO......................................................................................................................10
METODOLOGIA..................................................................................................................12
HISTÓRICO ..........................................................................................................................13
CONCEITO ..........................................................................................................................16
1 A ALCA E SUA “OPOSIÇÃO” À SOBERANIA, LIBERDADE, DIREITOS E
CONQUISTAS SOCIAIS..........................................................................................18
1.1 A ALCA E SUA “OPOSIÇÃO” À SOBERANIA.......................................................21
1.2 A ALCA E SUA “OPOSIÇÃO” À LIBERDADE.......................................................25
1.3 A ALCA E SUA “OPOSIÇÃO” AOS DIREITOS E CONQUISTAS SOCIAIS.........33
CONCLUSÃO........................................................................................................................39
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................42
LISTA DE SIGLAS
Este estudo tem como meta a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e
sua relação com a soberania, liberdade, direitos e conquistas sociais, constituindo, portanto,
estudo de inegável importância, seja para o equilíbrio da sociedade, seja para assegurar aos
Estados a igualdade de oportunidades num mercado altamente competitivo, principalmente
quando estão em jogo princípios, direitos e garantias fundamentais assegurados pelos artigos
primeiro ao quinto da Constituição da República Federativa do Brasil.
Um tratado internacional deve envolver no mínimo dois países, tendo reflexos
diretos e indiretos nas leis internas de cada um, tornando-se difícil escrever sobre tais
contratos internacionais sem mencionar os interesses nacionais que serão afetados,
principalmente quando esses interesses colidem com os dos idealizadores do projeto.
Os norte-americanos são os maiores interessados na consignação dos demais
países ao futuro tratado, visto que a ALCA, ainda é apenas um projeto audacioso. Há um
grande esforço, por parte dos norte-americanos, para se antecipar as negociações, tanta pressa
tem uma explicação, o acordo é imprescindível para que a economia norte-americana não
fique atrás na disputa pelos mercados emergentes, além disso, precisam fazer frente aos
poderosos blocos econômicos que se fundam por toda a Europa.
Porém, há um grande obstáculo às pretensões norte-americanas, a razão
principal do fracasso em antecipar as negociações são as inúmeras controvérsias entre os
interesses brasileiros e os norte-americanos, sobretudo, ao que se refere ao protecionismo
norte-americano quanto aos seus produtos, o que irá acarretar ao acordo um desequilíbrio tão
imensurável que praticamente tornará inviável a sua aceitação.
Os idealizadores do projeto ALCA deram pouca importância às questões
sociais, pelo próprio nome, Área de Livre Comércio das Américas, ressaltando a sua primária
intenção, o comércio, e por conseqüência as enormes cifras macro-econômicas, o lucro, é uma
prova desta assertiva.
Mesmo conscientes do grande número de desempregados que a ALCA irá
gerar, dos inúmeros direitos que os trabalhadores irão perder, do enorme transtorno que
sofrerá a soberania dos países membros, dentre outros, tudo será válido, afinal, trata-se do
controle sobre todo um continente.
O Brasil é um país muito importante, é uma peça fundamental nesse complexo
jogo de interesses, os norte-americanos sabem muito bem disso e tentarão de todas as formas
incentivar, seja por meios idôneos ou não, a entrada do Brasil “no jogo”. Não terão muito
trabalho, pois os Estados Unidos são, juntamente com o Fundo Monetário Internacional
(FMI), os maiores credores do Brasil, razão pela qual o país de praxe acaba seguindo seus
preceitos.
Por ser um assunto de extrema relevância, importante se torna demonstrar se
este acordo que provavelmente, mais cedo ou mais tarde, tanto o Brasil como os demais
países vão acabar aderindo, será bom ou ruim, especialmente é claro, para o Brasil. Será que
se está diante de uma enorme ameaça, ou de uma excelente oportunidade? O que poderá advir
ao Brasil caso este projeto seja concretizado? E como fica a soberania, a liberdade, os direitos
e conquistas sociais? Será que serão respeitados? Das três Américas, a mais privilegiada será a
América do Norte ou essa assertiva é um equívoco?
São vários os questionamentos sobre o assunto, e é justamente por apresentar
tantas divergências, que se elaborou o presente estudo, com o intuito de amenizar as
obscuridades que o circundam e obter o melhor posicionamento possível quanto ao tema, e
outras questões inerentes ao mesmo que possam surgir no seu transcorrer.
METODOLOGIA
Foi com a globalização, processo típico da segunda metade do século XX, que
surgiu por volta da década de 80, e que é uma realidade no mundo contemporâneo, que
eclodiu, por todo o mundo, os blocos econômicos, dentre os quais, o da União Européia (UE),
o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e o Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL).
Há também aqueles precedentes ao processo de globalização, e que podem ser
considerados, de certa forma, os precursores dos blocos da década de 80, mesmo porque,
guardavam em sua essência os princípios que regem os blocos atuais, como o Mercado
Comum do Caribe (CARICOM) (1973), cuja intenção era criar uma zona de livre comércio
na região, e a Comunidade Econômica Européia (CEE) (1957), que, conforme descreve a
Encyclopaedia Britannica Barsa:
[...] pretendia criar um mercado comum e aproximar progressivamente as políticas
econômicas dos membros, a fim de promover um desenvolvimento harmônico de
toda a Comunidade, sua expansão equilibrada e contínua, estabilidade crescente,
elevação do padrão de vida da população e relações mais estreitas entre os
membros.1
CONCEITO
3
LIMA, José Alfredo Graça. Entrevista concedida à Revista Leader. Revista Leader, 15. ed. 20 jun. 2001.
Disponível em: <http://www.iee.com.br/leader/edicao_15/entrevista_01.htm>. Acesso em: 19 mar. 2003.
A Encyclopaedia Britannica Barsa conceitua a área de livre comércio como
“Forma elementar de complementação econômica que se caracteriza pelo compromisso de
eliminação das restrições tarifárias, cambiais e monetárias.” 4
Segundo Ferreira, “área de livre comércio é a associação de países
caracterizada pela eliminação de obstáculos ao comércio recíproco, como tarifas
alfandegárias”.5
A concepção dada pelos norte-americanos ao termo ALCA é em parte
semelhante ao de mercado comum, que conforme preceitua Ferreira, é a “Associação de
países que visa a estimular o comércio recíproco, pela eliminação de tarifas alfandegárias
entre eles, e pelo estabelecimento de política comercial comum quanto aos demais países.”6
É um projeto internacional, uma integração continental que interessa
principalmente aos Estados Unidos, e que segundo este, irá facilitar e estimular a permuta de
mercadorias e serviços entre os países das três Américas, com exceção de Cuba. O acordo irá
abranger uma área que vai desde o Estado do Alasca, nos Estados Unidos, até a Terra do
Fogo, no sul do Chile.
Conforme preceitua Acquaviva, o tratado internacional é uma “Convenção ou
acordo entre dois ou mais Estados Soberanos. Sua motivação é variada: acerto de fronteiras,
comércio, isenção de tarifas aduaneiras, intercâmbio cultural.”7
A Encyclopaedia Britannica Barsa, assim descreve sobre tratados:
As relações que necessariamente devem manter entre si os países, sujeitos ao
direito internacional em virtude de sua soberania plena, exigem uma regulação
entre as partes interessadas, para que os litígios não sejam resolvidos por
improvisação, arbitrariedade ou guerra. A essa regulação respondem os tratados.
Em seu sentido mais amplo, o termo tratado abrange os acordos concluídos entre
dois ou mais sujeitos de direito internacional (países e organismos aos quais se
reconhece personalidade jurídica internacional), com a finalidade de criar,
modificar ou extinguir relações jurídicas correspondentes àquele direito. É
portanto, um ato jurídico em expressão plena. No uso diplomático moderno, o
termo tratado se reserva para acordos internacionais mais importantes, enquanto
outros acordos de menor importância se denominam convênios, protocolos e atas.8
11
PIRES, Waldir. Acordo violenta a Constituição. Jornal da campanha contra a Alca. n. 2, p. 3, ago. 2002.
12
HOFFMANN, José Hermeto. A adesão do Brasil à Alca será positiva? Não. In: Revista Leader. 15. ed. 20 de
Jun. 2001. Disponível em: <http://www.iee.com.br/leader/edicao_15/debate2_nao.asp> Acesso em: 18 mar.
2003.
13
A DÍVIDA e(x)terna e a Alca: ameaça à soberania do Brasil. Jornal da campanha contra a Alca, n. 2, p. 2,
ago. 2002.
A liberdade de ir e vir entre os países membros do acordo também será
colocada de lado, visto que o projeto tem como principal objetivo a comercialização de
produtos e serviços, combatendo a migração de mão-de-obra, com isso, nenhum brasileiro
poderá ir trabalhar nos Estados Unidos. Não é de hoje que eles tentam manter os estrangeiros
a distância. Por fim, o futuro tratado irá eliminar diversos direitos e conquistas sociais
previstos na Constituição Federal bem como na Consolidação das Leis Trabalhistas.
Um grande impulsionador da aderência do Brasil a ALCA é o FMI (Fundo
Monetário Internacional). O FMI tem pressionado o governo brasileiro a aceitar o acordo sem
impor condições, sob pena de não renovar o contrato com o Brasil. O Canadá e o México já
estão nas mãos dos Estados Unidos, uma vez que assinaram o Nafta. Se o Brasil assinar a
ALCA, será mais um nas mãos dos Estados Unidos, juntamente com todos os outros que o
assinarem.
A ALCA é em sua essência uma cópia do Nafta. A intenção dos Estados
Unidos era realizar a ampliação do Nafta, mas como isso não foi possível, criou-se a ALCA.
Veja a explanação de Castro acerca do assunto:
Outro ponto polêmico que gerou divergências foi a forma de criação da ALCA.
Inicialmente, os Estados Unidos imaginavam fazê-lo por meio da ampliação do
NAFTA, atual Zona de Livre Comércio que reúne Estados Unidos, Canadá e
México. Essa alternativa, porém, se choca com a política brasileira de
fortalecimento do Mercosul, bloco que engloba Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai, além dos aliados Chile e Bolívia.15
14
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. ALCA: integração ou submissão? Disponível em:
<http://www.pcb.org.br/alca.html>. Acesso em: 17 jan. 2003.
15
CASTRO, Carlos Roberto de. ALCA: Temeridade ou oportunidade? Disponível em:
<http://www.alcamerc.hpg.ig.com.br/governo_e_politica/72/index_pri_1.html>. Acesso em: 11 jan. 2003.
16
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. 2003, loc. cit.
“Trata-se de um dos elementos formais do Estado, ao lado da Ordem Jurídica,
e pode ser definida como a qualidade do poder do Estado que o situa acima de qualquer outro
no âmbito interno, e que o coloca no mesmo plano do poder de outros Estados.”17
“[...] soberania [...] poder absoluto, indivisível e incontrastável de organizar-se
e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo, e de fazer cumprir as suas decisões
inclusive pela força, se necessário.”18
[...] um poder político supremo e independente, entendendo-se por poder supremo
aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna e por poder
independente aquele que, na sociedade internacional, não tem de acatar regras que
não sejam voluntariamente aceites e está em pé de igualdade com os poderes
supremos dos outros povos;19
17
SOBERANIA. Disponível em: <http://207.21.196.110/constitucional/soberania.htm>. Acesso em: 15 mar.
2003.
18
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 55.
19
CAETANO, Marcelo. Direito constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. p. 169. v. 1.
20
MATTOS, Adherbal Meira. Direito internacional público. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. p. 68.
21
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 48.
22
O BRASIL e suas Forças Armadas. Disponível em:
<http://www.defesa.gov.br/Publicacoes/IndOBrasil01.Html>. Acesso em: 19 mar. 2003.
fundamentais da Nação, elencados pela Constituição Federal em seu art. 1º, inciso I, assim
prescrevendo: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos: I – a soberania;”23
Como referido supra, vige no Brasil o Estado Democrático de Direito, ou seja,
o povo se submete a uma Constituição criada pelos seus legisladores, a qual também, o
próprio Estado, deve se submeter. Com a entrada da ALCA, o Estado continuará a ter a sua
Constituição, com a diferença, de que na prática, quem irá dar as ordens é um terceiro que não
estará preocupado com as conseqüências advindas de suas imposições para o país que terá o
dever de executá-las.
“Acordos como a ALCA representam um obstáculo para a consolidação
democrática. Canais democráticos são essenciais para a criação de mecanismos de
cumprimento efetivo dos direitos fundamentais”.24
A ALCA irá afetar, sem dúvida, a legislação brasileira. Com uma afirmação tão
categórica, provável o surgimento da dúvida: como isso irá ocorrer e o que trará de bom ou de
ruim para a legislação brasileira? Certo também é a incontestável alteração que a soberania irá
sofrer. Para Baptista “A criação do direito internacional representa um paradoxo na medida
em que sendo fruto da soberania, ela se vai esgotando à medida em que o gera.”25
Ao analisar a assertiva de Baptista, verifica-se que apesar de ser o Estado,
simultaneamente, criador e destinatário de suas normas, ao adotar tal projeto, acaba-se
submetendo a esse, diminuindo assim, sua soberania, sua autonomia. Vale ressaltar, que a
defesa da soberania, nos seus múltiplos aspectos, é responsabilidade de toda a sociedade, pois
exige um esforço global.
Outro ponto relevante, nessa complexa relação, é a alteração nos sistemas
econômicos, o que irá acabar repercutindo no ordenamento jurídico, já que é praticamente
impossível alterar a economia de um país sem tocar em seu ordenamento jurídico.
Existe a possibilidade do Estado não perder a sua soberania, mas isso implicará
em alterações substanciais no mecanismo estatal, o que não é difícil, visto que cada vez mais
o país se mostra receptível às normas internacionais.
Há um grande contra-senso no fato dos Estados Unidos propor o acordo de
livre comércio, pois que é ele “O mesmo país que, desde 1966, tem se recusado a aceitar todas
23
BRASIL. op. cit.
24
MARTINS, José Renato Vieira. ALCA: temeridade ou oportunidade? Disponível em:
<http://www.alcamerc.hpg.ig.com.br/governo_e_politica/72/index_pri_1.html>. Acesso em: 11 jan. 2003.
25
BAPTISTA, op. cit.
as convenções internacionais que tentaram estabelecer princípios morais e de direitos
humanos entre os povos, alegando que estas contrariam a sua soberania.”26 Não quer submeter
a sua soberania a um tratado internacional, mas quer submeter a de outros países ao seu
tratado.
O que se é percebido nestes tempos é que de nada vale o Direito Internacional
composto de preceitos descartados por um país que manda no mundo através de
ações antagônicas às suas ideologias, explicitando seu Poder Soberano Desumano.
O que assusta é o fato de a potência boreal ocidental prometer prosperidade e
cessação de injustiças, se a mesma comete atrocidades e desrespeita tratados
internacionais de extrema importância, como o Tratado de Quioto.27
Segundo Powell:
Nós queremos vender mercadorias, tecnologia e serviços norte-americanos, sem
obstáculos e restrições, para um mercado único de 800 milhões de pessoas, com
uma renda total de II trilhões de dólares anuais, num território que irá do Ártico até
o Cabo de Horn.28
Porém, na prática, não será bem isso que irá ocorrer, pois o projeto acabará
atingindo preceitos constitucionais.
A real intenção desse futuro tratado é a predominância da economia norte-
americana na economia mundial, ou não se tendo êxito em atingir esta, pelo menos garantir
26
QUEM está propondo esse acordo? Plebiscito nacional sobre a Alca, p. 4, [2002].
27
SOARES JÚNIOR, Sérgio. Poder soberano desumano. Jornal Universitário, Franca, Ano 1, n. 2, p. 6, 12 maio
2003.
28
General Colin Powell: Secretário de Estado do Governo Bush. In: QUEM está propondo esse acordo?
Plebiscito nacional sobre a Alca, p. 4, [2002].
29
William Jefferson Blythe III (Bill Clinton): In: QUEM está propondo este acordo? Plebiscito nacional sobre a
Alca, p. 4, [2002].
30
BRASIL. op. cit.
que aquela não fique para trás na disputa pelos mercados emergentes; eles não querem perder
a posição de maior do mundo: “O governo e as grandes empresas dos Estados Unidos querem
fazer do Continente um grande mercado para seus produtos, sob o pretexto de integrar os
diversos países.”31
Outro objetivo visado pela economia norte-americana é o de evitar um declínio
ainda maior de sua economia, perante o crescimento dos blocos econômicos, o que se tem
visto por todo o mundo.
A interferência norte-americana é tão audaciosa que chegou ao absurdo de
determinar ao governo brasileiro que sua população não poderia ultrapassar 200 milhões de
habitantes antes do ano 2000. Com certeza essa determinação deve ter sido empregada com
eufemismo, pois, caso contrário, ficaria evidente demais que estariam se sobrepondo à
soberania brasileira com tal afirmação. O governo norte-americano só não explicou o porquê
dessa determinação. Caso o Brasil chegasse a cifra de 200 milhões de habitantes, isso
representaria uma ameaça a economia externa deles.
O medo é tanto, que há investimentos externos dos Estados Unidos como de
outros países desenvolvidos para que o Brasil não cresça demograficamente, pois isso poderia
significar o domínio brasileiro da economia de grande parte da América Latina, o que
definitivamente não é interessante para os países desenvolvidos.
A interferência norte-americana não cessa jamais, prova disso é que apesar do
acordo ainda não ter se concretizado, os norte-americanos já entram e saem do país com
cargas que sequer podem ser fiscalizadas, passando por cima da soberania do país:
Em 2000 o Governo FHC assinou um acordo com os Estados Unidos cedendo a
área da Base de Lançamento de Alcântara para os EUA. O acordo permite que a
área seja transformada em base militar dos americanos [A Base Militar de
Alcântara foi criada em 1980 com o fito de realizar o lançamento de foguetes, ela
está situada no município de Alcântara, interior do Maranhão], que passariam a ter
total controle da área. Inclusive o direito de decidir quem pode ou não entrar nela.
Pior: a alfândega brasileira não teria permissão nem de fiscalizar as cargas que
chegarem dos Estados Unidos para a Base. (grifo nosso).32
34
GARSCHAGEN, op. cit.
superiores, oriundas de um órgão internacional que prescreve as diretrizes que o mundo deve
tomar.
A menção supra se refere à doutrina criada por James Monroe quando
presidente dos Estados Unidos, doutrina esta que se tornou imortalizada pela frase “A
América para os americanos” e que pregava em síntese a não-intervenção americana na
Europa e vice-versa; mais uma vez protegendo interesses particulares, sendo que, se
realmente se importassem com o que ocorre no mundo, como afirmam, deveriam ter pregado
a não-intervenção seja em seu país ou em qualquer outro do mundo.
Em 1904 o então presidente norte-americano Theodore Roosevelt acrescentou
à doutrina Monroe uma disposição que:
“[...] concedia aos Estados Unidos o poder de polícia no continente. Para ele,
algumas nações latino-americanas não eram suficientemente civilizadas e poderiam
descumprir compromissos como o pagamento da dívida externa [...]”35
37
SEGUNDA minuta do acordo. Capítulo sobre investimentos. Disponível em: <http://www.ftaa-
alca.org/ftaadraft02/por/nginp_1.asp#art19>. Acesso em: 14 ago. 2003.
38
Os colchetes apontam que há divergências quanto ao texto neles contido; vale ressaltar que todas as menções
quanto ao texto da minuta são meras previsões, posto que o tratado ainda não entrou em vigor.
um colapso econômico, como ocorreu na Argentina, quando os investidores estrangeiros
retiraram o que haviam aplicado no país.
Outra liberdade que está sendo tolhida é o direito de entrar e sair dos Estados
membros do futuro tratado, principalmente é claro, por parte dos Estados Unidos, visto ser
evidente a insatisfação, para não dizer “discriminação” dos norte-americanos, com a presença
de indivíduos não natos em seu país, tendo verdadeira xenofobia a eles, especialmente àqueles
de países subdesenvolvidos, sendo apenas complacentes com os naturalizados. Como prova
do exposto, dispõe a minuta do acordo39 em seu capítulo sobre serviços, art. 8°, que:
[3. Nada neste capítulo deverá impedir que uma Parte aplique suas leis,
regulamentos e requisitos com relação à entrada e permanência, trabalho, condições
de trabalho e estabelecimento de pessoas físicas, entendendo-se que, se o fizer, não
se aplique de forma a anular ou limitar os benefícios obtidos por qualquer das
Partes em virtude de alguma disposição específica deste capítulo.]]40
39
SEGUNDA minuta do acordo. Capítulo sobre serviços. Disponível em: <http://www.ftaa-
alca.org/ftaadraft02/por/ngsvp_1.asp#Serviços>. Acesso em: 14 ago. 2003.
40
Os colchetes apontam que há divergências quanto ao texto neles contido; vale ressaltar que todas as menções
quanto ao texto da minuta são meras previsões, posto que o tratado ainda não entrou em vigor.
41
QUEM está propondo esse acordo? op. cit.
42
LITRENTO, Oliveiros. A ordem internacional contemporânea: um estudo da soberania em mudança. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991. p. 9.
Segundo Mineiro: “Os Estados Unidos estão a um passo de considerarem o
Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) como o inimigo número um nas Américas.”43 Com
essa assertiva, fica nítida a intenção dos norte-americanos de acabarem com a liberdade tanto
do Brasil como dos demais países do Mercosul de acolherem o acordo que melhor lhes convir.
O MERCOSUL estava tentando estabelecer uma certa preferencialidade no
interior dos seus países-membros, frente aos produtos de outras procedências, para
atender aos interesses das grandes empresas da Região, cujo capital é integrado
internacionalmente. Para os EUA, portanto, inviabilizar o MERCOSUL
significaria impedir uma integração própria, autônoma, na América Latina e
Caribe. Simultaneamente, os EUA tentam inviabilizar também a Comunidade
Andina, o Mercado Comum Centro-americano e o CARICOM, no Caribe. Com
isto, a ALCA restaria como única possibilidade de comércio no continente.44
Não estão querendo apenas tolher o direito de escolha, estão querendo acabar
com o Mercosul e impor o seu projeto. Apesar de toda pressão para que o Brasil integre a
ALCA, o governo brasileiro considera o Mercosul sua prioridade e fará o possível para que
ele exista com ou sem a ALCA.
Uma das principais preocupações do Brasil é a preservação do Mercosul no
processo de construção da ALCA. E elas se centram não apenas nos efeitos das
importações provenientes dos EUA sobre o mercado regional, mas também nas
possibilidades de aumento das exportações dos países membros.45
43
MINEIRO, Procópio. Alca, nova doutrina Monroe. Cadernos do terceiro mundo, Rio de Janeiro, ano 22, n.
199, p. 40, abr./maio 1997.
44
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. op. cit.
45
MARTINS, op. cit.
46
BILLI, Marcelo. Argentina e Brasil negociarão juntos na Alca. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 fev. 2003.
Caderno Dinheiro, p. B 10.
produtos de fabricação nacional não têm condições de competir, em qualidade e
preços, com os de procedência norte-americana, seja no mercado interno, seja nos
mercados dos pequenos países já dominados pela presença dos produtos
importados dos Estados Unidos. A não ser por concessões generosas da potência
hegemônica. (grifo nosso).47
47
QUEIRÓZ, Álvaro. Alca, mercado continental sem equilíbrio. Cadernos do terceiro mundo, Rio de Janeiro,
Ano 26, n. 230, p. 24, jan. 2001.
48
POR QUE dizer não à ALCA. Plebiscito nacional sobre a Alca, p. 3, [2002].
49
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. op. cit.
ALCA não serão conduzidas em um clima de debate ideológico, mas levarão em
conta essencialmente o interesse nacional do Brasil.50
“Há que se levar em conta que a legislação que regula o comércio exterior dos
EUA é duramente protecionista e certamente não será amenizada somente porque o restante
do continente decidiu abrir-se ainda mais aos produtos ianques.”51
Os empresários norte-americanos temem pelos seus investimentos, mas os
idealizadores da ALCA não foram omissos nesse ponto:
A ALCA seria como um manto de proteção total e sem riscos para os investimentos
diretos norte-americanos, [...] protegendo, assim, qualquer tipo de atividade das
suas transnacionais e escamoteando, por outro lado, o controle exercido por esses
investimentos.52
Em que pese o Brasil tratar o capital estrangeiro com certas regalias, estas
parecem ser insuficientes, os grandes investidores sempre procuram os países que lhes
proporcionam as melhores vantagens, e de preferência que tenham um mercado desregulado,
para que possam movimentar suas aplicações como bem entenderem:
O capital especulativo precisa de um mercado desregulado que lhe permita correr
livremente para os lugares onde possa obter maior rentabilidade, maiores taxas de
juros, enfim, maior lucratividade. O Brasil já vem preparando esse caminho há
anos; foram extintos os instrumentos de controle sobre a movimentação do capital e
concedidas isenções tributárias para aplicações de residentes no exterior,
privilegiando o capital financeiro internacional.54
50
PARTIDO DOS TRABALHADORES. Programa de governo. Disponível em:
<http://www.lula.org.br/obrasil/programa_int.asp?cod=37>. Acesso em 19 mar. 2003.
51
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. 2003, loc. cit.
52
Ibidem.
53
Ibidem.
54
IMPLICAÇÕES e objetivos da ALCA. Plebiscito nacional sobre a Alca, p. 1, [2002].
55
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. op. cit.
avanços dos acordos. Somente grandes grupos empresariais norte-americanos
puderam atuar nas negociações. (grifo nosso).56
Nem mesmo os parlamentares dos países participantes estão tendo acesso ao
que está sendo discutido, saciando assim, a liberdade e os direitos do povo à informação e
participação na elaboração do projeto, principalmente no que diz respeito à participação,
porque com relação à informação, pode-se dizer que essa existe apesar de escassa e pouco
divulgada, principalmente pelos meios de comunicação de massa, que são as mídias
eletrônicas, digitais e as impressas.
Os acordos intergovernamentais não somente colocam em jogo a responsabilidade
do Estado em face dos demais signatários, como, também, aos seus cidadãos. É
aqui que o impacto da Alca pode-se fazer sentir de modo pungente. As pessoas não
estão sendo informadas suficientemente do vem sendo desenvolvido e como são
elaborados os textos. Trata-se de negociações que forçosamente se fazem num foro
que não é amplo e de participação restrita, razão pela qual as opções que se
oferecem não tem sido discutidas nem examinadas pelo homem comum, da rua.
Sem dúvida os grupos de interesse têm acompanhado e mesmo elaborado ou
influenciado na elaboração dos documentos de trabalho. Mas sua visão é
monocórdica.57
Em 1822 o Brasil conquistou sua liberdade política, mas é bem possível que
em 2005 perca sua autonomia para os norte-americanos, mediante o manto da ALCA.
Segundo Hoffmann: “[...] esta não é uma proposta de integração e, tampouco, mera abertura
econômica, pois atende a interesses comerciais que põem em risco a autonomia do Brasil
como nação.”60
56
POR QUE dizer não à ALCA. op. cit.
57
BAPTISTA, op. cit.
58
MARTINS, op. cit.
59
QUEIRÓZ, op. cit.
60
HOFFMANN, op. cit.
1.3 A ALCA E SUA “OPOSIÇÃO” AOS DIREITOS E CONQUISTAS SOCIAIS
Não é de hoje que o país passa por dificuldades no seu quadro econômico,
social e político, isso se deve principalmente a má distribuição de renda e a má administração
do país pelos seus governantes. Uma prova disso é o fato do Brasil enviar constantemente
bilhões de reais ao exterior para pagar juros de dívidas que crescem como uma “bola de
neve”, o que vem sendo feito desde o século passado: “Para garantir o pagamento dos juros da
dívida externa, o governo tira do povo os serviços básicos.”61
Inúmeros são os feitos norte-americanos que evidenciam a sua negligência
quanto aos direitos e conquistas sociais, que facilmente podem ser demonstrados e provados
mediante o repúdio de tal nação a diversas convenções internacionais como:
Pacto sobre direitos econômicos, sociais e culturais de 1966; Protocolo adicional de
1988 à Convenção americana de direitos humanos em matéria de direitos
econômicos, sociais e culturais; Convenção criadora do Tribunal Penal
Internacional, de 1998, cuja incumbência é julgar os responsáveis pelos crimes de
genocídio, crimes contra a humanidade, os crimes de guerra e o crime de agressão
(Cabe observar que apenas 6 países se negaram a assinar a Convenção, além dos
Estados Unidos: China, Iraque, Israel, Qatar e lêmen [sic]).62
Para que o futuro tratado atinja sua eficácia plena, será necessária uma reforma
nas leis trabalhistas, essa reforma vai influir diretamente em muitos direitos e conquistas
sociais, alterando de modo substancial muitos preceitos contidos na Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), tais como: eliminação do 13º salário, do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS), das férias, da licença maternidade, do pagamento de horas extras, entre
outros direitos que terão que ser revogados ou derrogados:
Degradará mais ainda os direitos trabalhistas. A fim de assegurar a mais absoluta
liberdade para o capital, as leis trabalhistas deverão ser “flexibilizadas”, salários
rebaixados e as jornadas de trabalho poderão ser ampliadas.63
Pelo exposto, fica claro que o acordo não demonstra muito interesse pela parte
social, visto que essas modificações irão afetar substancialmente as condições de vida do
trabalhador brasileiro, que já não são boas, tendo que sobreviver com um salário mínimo.
Os trabalhadores brasileiros têm motivo para se preocupar quando se trata de livre
comércio. Desde que teve início a abertura indiscriminada do país, milhares de
postos de trabalho foram eliminados, os salários arrochados e as relações de
trabalho tornaram-se ainda mais precárias e inseguras.64
61
A DÍVIDA e(x)terna e a Alca: ameaça à soberania do Brasil. op. cit.
62
QUEM está propondo esse acordo? op. cit.
63
POR QUE dizer não à Alca. op. cit.
64
MARTINS, op. cit.
As modificações nas leis trabalhistas serão essências para a vigência do
acordo, visualizando isso e temendo represálias do FMI, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso tratou logo de modificar a CLT, com vistas a flexibilizar o mercado de trabalho,
seguindo, assim, o que determinou o FMI:
Esta medida é fundamental para o sucesso da ALCA, pois as normas trabalhistas
não podem servir de empecilho para que o capital consiga impor seu projeto. É por
isso que o governo FHC está tão empenhado em aprovar as alterações da CLT no
Brasil. Ele está comprometido com o FMI, que condicionou a renovação do
contrato com o governo brasileiro à adesão irrestrita à ALCA.65
65
IMPLICAÇÕES e objetivos da ALCA. op. cit.
66
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. op. cit.
67
MARTINS, op. cit.
68
AS CONSEQÜÊNCIAS da Alca em sua vida. Jornal da campanha contra a Alca, n. 2, p. 2, ago. 2002.
69
Ibidem, p. 2.
70
POR QUE dizer não à ALCA. op. cit.
Para se ter uma idéia de quanto os direitos e conquistas sociais serão afetados
com o acordo, basta verificar o que as políticas econômicas neoliberais71, difundidas pelo
Banco Mundial, pela OMC e pelo FMI, acabam acarretando aos países que as seguem, são
elas: desemprego, condições inadequadas de ensino e tratamento médico, fome e destruição
do meio ambiente.
Como prova do exposto, vale lembrar o que aconteceu ao México, quando este
passou a seguir os preceitos oriundos do FMI: mais de 12 mil empresas mexicanas falidas e
milhões de pessoas passando a viver na pobreza. É claro que o FMI negou responsabilidade
pelo fato, declarando que houve falências e pobreza em razão da má administração da
economia pelos mexicanos, e não em razão de seguirem suas metas. Acontece que os
mexicanos seguiram fielmente as metas estabelecidas pelo FMI, portanto, não houve má
administração, houve sim, confiança dos mexicanos no plano receitado pelo “conselheiro”
FMI.
Em se tratando de meio ambiente, é pouco provável que os Estados Unidos
combatam a poluição ambiental com toda ênfase que é abordada no projeto do tratado, pois
isso “[...] afetaria a economia americana (os Estados Unidos, sozinhos, emitem 36% dos gases
poluentes que estão provocando os buracos na camada de ozônio que envolve o nosso
planeta).”72
A ALCA privilegia o mercado acima de tudo e representa enorme risco de
biopirataria para a nossa rica biodeversidade (o Brasil detém 23% da biodiversidade
do planeta). Os Estados Unidos concedem patentes a espécies vegetais e são contra
a legislação que visa proteger a propriedade intelectual ligada às pesquisas
realizadas nessa área.73
71
São aquelas que dentre outras coisas pregam a privatização, a abertura comercial plena para a invasão de
importados e a ausência de interferência governamental.
72
QUEM está propondo esse acordo? op. cit.
73
POR QUE dizer não à Alca. op. cit.
74
NEGOCIAÇÃO de última hora tenta salvar tratado sobre o clima. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2000/001124_clima.shtml>. Acesso em: 14 ago. 2003.
O governo norte-americano com certeza não irá prejudicar o seu lucrativo
negócio industrial, e nem colocar o seu sistema financeiro em colapso por uma causa como
essa, por mais relevante que seja. “Com a ALCA, qualquer norma nacional destinada a
preservar o meio ambiente ou a saúde poderá ser contestada judicialmente se as empresas
entenderem que estas ferem suas expectativas de lucro.”75
Os textos da ALCA colocam, ainda, exigências descabidas aos governos da
Região, pois legislam sobre o direito das transnacionais de recorrerem a tribunais
internacionais à sua escolha, como a OMC, por exemplo, para se ressarcirem de
eventuais prejuízos ou mesmo por não terem auferido as taxas de lucro previstas,
impedindo os governos de exercerem o mesmo direito. A ALCA visa, também, a
garantir não só mais liberdade para os investimentos como a eliminar todo tipo de
barreiras ao seu livre trânsito.76
Se é verdade que nenhum país pode viver isolado, isto não significa que o livre
comércio seja a única ou melhor forma de promover a inserção na globalização.
Sobretudo quando ela se dá por meio de acordos como a ALCA, essencialmente
comerciais, sem qualquer compromisso com o desenvolvimento sustentável, o
meio ambiente, os direitos humanos, sociais e sindicais.
O desprezo pelos compromissos sociais
Dos quatro compromissos assumidos na I Cúpula das Américas (Miami, 1994)
apenas o livre comércio foi motivo de preocupação permanente e
encaminhamentos. Nada se fez sistematicamente para cumprir os demais: avançar
no processo de democratização, erradicar a pobreza, promover o respeito pelos
direitos humanos e garantir um desenvolvimento sustentável.
A exclusão do tema do desenvolvimento sustentável da agenda oficial da II Cúpula
das Américas (Santiago, 1998) mostra a falta de seriedade por parte dos governos
no tratamento desses temas. Nada garante que o mesmo não venha a ocorrer com o
tema da educação, introduzido na conferência de Santiago. O alargamento da
legitimidade da ALCA não se dará pelo tratamento superficial
de temas sociais, utilizados como moeda de troca nas negociações comerciais.
A rigor, o desprezo pelos compromissos sociais não é exclusivo das
negociações da ALCA. Nossos governos não fizeram quase nada para implementar
os compromissos da Conferência de Desenvolvimento Social de Copenhague ou
mesmo para respeitar a Carta da Organização dos Estados Americanos,
especificamente no que concerne ao capítulo sobre "Desenvolvimento Integral".
Não há nenhuma garantia de que os compromissos sociais assumidos em Santiago
venham merecer a mesma atenção que os governos conferem à liberalização
comercial.77
80
SOARES, op. cit.
81
SEGUNDA minuta do acordo. Obstáculos técnicos ao comércio. Disponível em: <http://www.ftaa-
alca.org/ftaadraft02/por/ngmap_6.asp#OBSTÁCULOS>. Acesso em: 14 ago. 2003.
82
POR QUE dizer não à ALCA. op. cit.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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QUEIRÓZ, Álvaro. Alca, mercado continental sem equilíbrio. Cadernos do terceiro mundo,
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QUEM está propondo esse acordo? Plebiscito nacional sobre a Alca, p. 4, [2002].
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