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O vertiginoso

crescimento
dos escritórios
de Direito em São paulo
Cada vez mais a advocacia se aproxima da lógica empresarial, mas as normas não dão conta dessa
realidade. É hora de discutir uma nova regulamentação

Por Bruno Ramos Pereira

D
iretor da Escola de Direito da Northwestern Uni-
versity, em Illinois, nos Estados Unidos, David Van
Zandt publicou em 2000 um texto em que apon-
tava as mudanças na atuação do advogado como
justificativa para a necessidade de reformulação do
ensino oferecido pela escola que dirige até hoje. Segundo
ele – usando como exemplo a figura de Abraham Lincoln –,
o advogado tradicional seria alguém filiado a uma prática ge-
neralista, individual e em quem os clientes buscariam acon-
selhamento em função de seus conhecimentos jurídicos.
Aproximando esse conceito da realidade brasileira, pode-
riam ser mencionados alguns célebres advogados do século
passado, como Rui Barbosa ou Evandro Lins e Silva. Por
mais que alguém ainda acredite (e defenda) a descrição aci-
ma como satisfatória à realidade brasileira, não é possível
fechar os olhos para o fato de que muita coisa vem mudando
e há novas respostas para a seguinte pergunta: quais os perfis
dos advogados brasileiros hoje?
Não seria prudente se filiar automaticamente à visão do ad-
vogado do passado e defendê-la de modo intransigente. Quem
atua desse modo – com discursos no sentido de que “a corro-
são da tradição é prejudicial à sociedade” – na verdade tende
a não gostar do fato de que, como disse David Van Zandt, a
prestação de serviços jurídicos é um mercado muito competi-
tivo. E que hoje em dia, em muitas esferas, se aproxima mais
de um negócio que de um ideal romântico de advogado.

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Não devem ser muitos o que ainda artigos da Lei 8.906/94 que combatem regulação atual se dirigir à maioria dos Aqui, agora é o momento de iniciar- Legal Profession). Além disso, a tensão se pressupor que, quanto maior a base
acreditam que o bacharel, ao fim da a aproximação da atuação do advogado advogados brasileiros não impede o de- mos um debate sobre o lugar que os gran- decorrente da aproximação entre a prá- societária, maior o número de profissio-
graduação, deva alugar um escritório, de práticas empresariais. Segundo o ar- bate de avanços regulatórios para parce- des escritórios brasileiros querem ocupar tica advocatícia e a prática empresarial nais contratados. Entre as 20 maiores
comprar uma mesa, um computador, tigo 34, por exemplo, o profissional não la dos profissionais e instituições que se no mundo e o quão preparado estão para surgiu nos EUA no início do século pas- sociedades em número de advogados
contratar uma linha telefônica, afixar pode “angariar ou captar causas, com enquadrem em realidades diferentes. uma hipotética entrada de competidores sado – e resultou na criação do código de em 2007, 13 contavam com mais de
uma placa na frente do imóvel e esperar ou sem a intervenção de terceiros”. Ou estrangeiros no mercado brasileiro. ética profissional já em 1908. 20 sócios – em 2000 eram oito. Con-
os clientes aparecerem. Essa visão de seja, não pode atuar como prestador de Levando os escritórios a sério É comum o sócio de um escritório Sem dúvida, a compreensão sobre as siderando o pressuposto, é interessante
um tempo que não volta mais cedeu serviço com a pretensão de aumentar o O marco regulatório da profissão no achar que domina muitos campos do circunstâncias da profissão em outros perceber o crescimento das sociedades
espaço para uma percepção aparente- volume dos negócios que realiza. Para Brasil tende a se dissociar cada dia mais saber – até mesmo administração de países pode contribuir para outro olhar com mais de 20 sócios. Outro dado in-
mente mais desenvolvida – embora, na o sócio de um escritório, não vigora a da realidade, o que não traria benefícios empresas, ciência da qual raramente sobre o cenário brasileiro. No mínimo, teressante: em dezembro de 2000 eram
prática, não seja muito mais clara do responsabilidade limitada – como é na- para nenhum dos envolvidos na ques- se aproximou durante o ensino formal contribuirá para que sejam separados os sete os escritórios brasileiros com mais
que a caricatura antes mencionada. Em tural quando se atua por meio de pes- tão. Ele encara a prestação de serviços na graduação. A profissionalização de problemas comuns dos específicos. de 100 advogados; em 2007 eram 25.
outras palavras, rejeita-se o modelo ro- soa jurídica. Diz o artigo 17: “Além da jurídicos de acordo com a visão tradi- nossos escritórios é recente – e a figu- A despeito do muito que ainda pre-
mântico que ficou no passado, mas não sociedade, o sócio responde subsidiária cional do advogado generalista e que ra do administrador legal, profissional O boom de sociedades cisa ser descoberto sobre essa realida-
se sabe exatamente o que caracteriza e ilimitadamente pelos danos causados atua individualmente. Não contempla formado em administração de empresas Não há dados consolidados sobre o de, algumas percepções são claras: 1) as
o advogado atual, sua carreira e os ca- aos clientes por ação ou omissão no a realidade de parte dos escritórios bra- que dialoga com os sócios do escritó- número de sociedades de advogados ati- sociedades de advogados estão se tor-
minhos possíveis de serem percorridos. exercício da advocacia, sem prejuízo sileiros. Os limites do proibido e do per- rio de direito sobre aspectos técnicos vas no Brasil. O Provimento 103/2004 da nando cada vez mais uma opção pro-
Complementando esse cenário, pouco da responsabilidade disciplinar em que mitido devem ser debatidos claramen- da gestão da sociedade, também. Para OAB menciona o cadastro nacional das fissional para os operadores do direito;
se sabe sobre uma das principais ins- possa incorrer”. te, do contrário assistiremos à contínua ilustrar: nos Estados Unidos, a Associa- sociedades de advogados, mas ainda não 2) os maiores escritórios brasileiros cres-
tituições em que o advogado atua nos Do Código de Ética se extrai a mes- erosão das regras em vigor. tion of Legal Administrators foi fundada foi implantado. São as Comissões das So- ceram consideravelmente em número
dias de hoje, os escritórios de direito. ma lógica. Por exemplo, o artigo 5º: “O Enfrentar o desafio da regulação em 1971. No Brasil o Centro de Estudos ciedades de Advogados (CSA) da OAB, de advogados nos últimos anos; e 3) o
exercício da advocacia é incompatível dos escritórios brasileiros poderia trazer de Administração de Escritórios de Ad- localizadas em cada Estado brasileiro, crescimento no número de advogados
Advogado tradicional vs. prática em- com qualquer procedimento de mercan- benefícios como: conceder maiores li- vocacia (Ceae), associação análoga, foi que mantém o registro das sociedades não foi acompanhado de igual cresci-
presarial tilização”. O artigo 36 prescreve que os berdades empresariais para escritórios fundada há pouco, em 2003. ativas. As comissões de São Paulo, Rio de mento no número de sócios.
As sociedades que já são grandes Corroborando O panorama
advocatícias não empresas (atuali- a análise, pesqui- mostra uma rea-
são pauta de pes- Rejeita-se o modelo romântico do advogado zando o dogma de sa realizada em Em São Paulo, os números indicam uma lidade em trans-
quisa no Brasil e que escritório não 2006 pelo Grupo formação – e em
há poucas infor- do passado, mas não se sabe exatamente o é empresa), facili- de Excelência em explosão de sociedades ativas: em agosto de relação à qual
mações disponíveis tar a transição dos A d mi ni s t r a ç ã o existem poucos
sobre a realidade que caracteriza o atual, sua carreira e os escritórios fami- Legal, do Conse- 2001 eram 4.990; em junho de 2008 saltaram dados sistematiza-
dos escritórios de liares para que se lho Regional de dos. A prestação
direito. O marco caminhos possíveis de serem percorridos tornem empresas A d mi ni s t r a ç ã o para 8.459 – um crescimento de 69,51% de serviços jurí-
regulatório em vi- consolidadas, per- do Estado de São dicos por meio de
gor teve origem em 1994, por meio da honorários devem ser fixados com mo- mitir novos arranjos quanto à responsabi- Paulo, junto a escritórios de vários Es- Janeiro e Minas Gerais disponibilizam sociedades de advogados deve ser com-
Lei federal número 8.906. O Estatuto deração. Ou seja, a norma é um sinal lidade dos sócios e, por que não, atualizar tados brasileiros, indicou que em 46,8% alguns dados. Em São Paulo, por exem- preendida como qualquer outro setor
da Advocacia foi aprovado numa época claro de que não há liberdade plena para a regulação brasileira para que os escritó- dos casos era ainda um advogado quem plo, os números indicam uma explosão da economia. É preciso acompanhar os
de transição para os principais escritórios a fixação de preços – podem ser conside- rios possam, inclusive, se aproximar das executava atividades de gerenciamento de sociedades ativas: em agosto de 2001 números de profissionais contratados e
brasileiros – naquele momento o país rados antiéticos em algumas situações. práticas e posturas dos escritórios ameri- administrativo e financeiro do escritório. eram 4.990; em junho de 2008 o número dispensados, saber onde se localizam,
abria a economia, a moeda se estabiliza- A despeito dessas normas, a realida- canos e britânicos de atuação global. Esse quadro de recente valorização do saltou para 8.459 – aumento de 69,51%. como se organizam, quais são as práti-
va e a inflação começava a ser contida. de de parcela dos escritórios brasileiros Na Inglaterra e no País de Gales, administrador legal é um indício das al- A CSA da OAB/SP classifica as so- cas de destaque, como se dão as subs-
A percepção do mercado é a de que é outra. por exemplo, foi aprovado recentemen- terações pelas quais passaram alguns es- ciedades de advogados de acordo com tituições de profissionais entre socieda-
as privatizações da década de 1990 im- A partir desses elementos, a hipóte- te um novo marco regulatório para a critórios brasileiros. Quanto maior o es- o número de sócios. Em junho de 2008 des de advogados e destas com outras
pulsionaram a modernização de parte se é: a regulação da profissão trata de profissão. Trata-se do Legal Services critório, maiores as chances de os sócios as sociedades com maior número de empresas/carreiras.
dos grandes escritórios brasileiros. Dos modo uniforme diferentes realidades da Act 2007, que, entre outras medidas, terem percebido antes a necessidade de sócios (a partir de seis) representavam É urgente que os escritórios de di-
20 maiores em 2007, sete foram criados prestação de serviços jurídicos no Bra- permite o desenvolvimento de novas contar com um administrador legal. apenas 4,3% das sociedades ativas no reito entrem de modo mais intenso na
a partir de 1990. São eles: Mattos Fi- sil. Regulação que poderia ser traduzi- formas de organização para os escritó- Alguém pode questionar: mas por Estado de São Paulo (em agosto de pauta das instituições de ensino e pes-
lho, Veiga Filho, Marrey Jr. E Quiroga da pela expressão “tudo ou nada”. Ou rios de direito, investimentos de não- que referências americanas se os escritó- 2001 representavam 2,72%). A esmaga- quisa no Brasil. Conhecer as sociedades
(1992); Barbosa, Müssnich & Aragão seja, diante de uma realidade complexa, advogados no escritório, participação de rios são brasileiros? A resposta é simples: dora maioria das sociedades no Estado de advogados mais profundamente ape-
(1995); Martinelli Advocacia Empresa- que conta, em um dos pólos, com uma sócios não-advogados e o oferecimen- nos Estados Unidos, tanto o advogado conta com até cinco sócios. São Paulo nas trará benefícios para todos os inte-
rial (1997); Leite, Tosto e Barros (1991); minoria de escritórios atuando como to em conjunto de serviços jurídicos quanto os escritórios são há tempo ob- passou a contar, no mínimo, com mais ressados: OAB, advogados, sociedades
Gaia, Silva, Rolim e Associados (1990); verdadeiras empresas e, no outro, com e não-jurídicos. O pressuposto é o de jetos de estudo consolidados em impor- 8.805 sócios entre agosto de 2001 e ju- de advogados, faculdades de direito e
Pellon e Associados (1991); Danne- milhares de advogados atuando indivi- que isso gerará mais competitividade tantes universidades, como o Center for nho de 2008. Os perfil, a distribuição – claro – clientes.
mann Siemsen (2000). dualmente, temos um marco regula- e, conseqüentemente, maior qualida- the Study of the Legal Profession (Ge- geográfica e a carreira desses profissio-
O surgimento e o desenvolvimento tório que não consegue lidar com as de, opções de escolha e menor preço orgetown Law), Law Firms Working nais não são conhecidos. Bruno Ramos Pereira é advogado
dos grandes escritórios brasileiros fo- mudanças vividas pela profissão. Não para quem contrata serviços jurídicos. Group (Indiana Law) e Harvard Center Não passam pela comissão dados formado pela PUC-SP, mestrando em
ram acompanhados de uma regulação se trata de uma crítica à Ordem dos O novo marco estará plenamente im- on Lawyers and the Professional Services sobre o número de advogados em cada Direito do Estado pela USP e pesqui-
alheia a esse cenário. Não são poucos os Advogados do Brasil. Mas o fato de a plementado em 2010. Industry (Harvard Law, Program on the uma das sociedades. No entanto, pode- sador do GVlaw.

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