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Lide
Fonte: GARCIA, Luiz (ed. e org). Manual de redação e estilo. São
Paulo; Globo, 1992
A maioria dos jornalistas não está familiarizada com a grafia "lide" (toscamente
definida no Aurélio como resumo das informações contidas numa matéria); já a
palavra' 'abertura" é genérica demais: serve para qualquer texto. E lead, por significar
'guia", expressa exatamente a função das primeiras linhas do texto de jornal: guiar o
leitor, atraí-lo, num processo bem próximo da sedução.
Determinou-se, então, que as primeiras palavras da notícia deveriam dizer quem fez o
quê, como, onde, quando e por quê. Exemplo clássico: "João mordeu um cachorro
ontem na Avenida Rio Branco porque tinha fome" (omite-se o "como" porque as
dentadas são presumidas). Em notícias mais complexas, a regra admite deixar para o
parágrafo seguinte alguns itens do sexteto essencial.
Como receita, melhor será esta: o bom lead é aquele que faz o leitor continuar a ler.
Exige-se apenas que não haja fraude: o que o lead promete o resto da matéria precisa
apresentar.
reuniu para discutir soluções para o problema da febre amarela e decidiu contratar
cem mata-mosquitos' '. O certo: "Cem mata-mosquitos serão contratados para
combater a febre amarela".
• Ser negativo. Dificilmente o que não aconteceu constitui notícia; mesmo quando isso
ocorre, há diversas maneiras de se evitar o "não". Por exemplo, em vez de "um assalto
não aconteceu ontem devido a tal fato": "tal fato impediu ontem um assalto' '.
• Andar para trás, ou não sair do lugar. O lead que procura a originalidade através de
comentários banais (do gênero "ninguém esperava que ..." ou "foi um dia diferente
para Fulano .. .") é anzol sem isca.
Quanto mais sensacional o fato, mais se impõe a economia de palavras. Por exemplo,
imagine-se este lead, que não estaria fora dos padrões vigentes em abril de 1865 nos
Estados Unidos:
"Um trágico evento levou ontem a dor e o desespero a milhões de americanos, com os
quais certamente estão solidários todos os povos amantes da paz. O presidente dos
Estados Unidos, Abraham Lincoln, assistia, em companhia de sua esposa, à peça
'Nosso primo americano', no Teatro Ford, quando um assassino desconhecido, em
gesto execrável, desferiu-lhe um tiro à queima-roupa, causando ferimento que se teme
venha a ser fatal".
"Um tiro foi disparado contra o presidente Lincoln ontem num teatro e é possível que o
ferimento seja mortal' '.
Simples e direto: o resto vem depois. Foi exatamente assim, desta segunda maneira,
que o repórter Lawrence Gobright, da Associated Press, começou o seu relato, num
lead até hoje lembrado como modelar.
Organização do texto
É necessário conhecer essas fórmulas, mas com a consciência de que existem para
ajudar, não para escravizar o jornalista. Quando, por exemplo, há uma história a ser
contada, a narrativa, em seguida ao lead, deve seguir a ordem cronológica, ou o leitor
poderá se perder pelo caminho.
Com ou sem pirâmides, é necessário cativar o leitor assim como alguém que, ao contar
uma história, consegue prender a atenção de um grupo de pessoas. O narrador que
seduziu a platéia ao começar a falar pode perdê-la a qualquer momento se passar a
gaguejar, repetir-se, perder o fio, falar cada vez mais baixo. O jornalista não pode
esquecer que há outros assuntos a disputar o interesse do leitor no mesmo jornal - e
outros jornais tratando do mesmo assunto.