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E
RESPONDEREMOS
ON-LIME
1960
ERGUNTE
Responderemos
ANO ///
ÍNDICE
I. CIENCIA E RELIGIAO
II. DOGMÁTICA
IV. MORAL
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
I. CIENCIA E RELIGIAO
1. Esbógo biográfico
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nessa data convidou-o para a cátedra de Física na Academia
de Ciencias da Prússia ; no ano seguinte (1914) o mestre su-
cedeu a Jakob Van't Hoff na direcáo do Instituto de Física
de Berlim. Foi-se tornando membro eleito das grandes Aca
demias de Ciencias do mundo inteiro, enquanto as Universi
dades lhe iam conferindo o título de doutor «honoris causa».
Em 1921, Einstein foi condecorado com o premio Nobel de
Física. Exonerado de obrigagóes académicas, o sabio dedicava
seu tempo ao estudo, a conferencias e debates em diversas
nagóes sobre a teoría da relatividade. Apregoava ao mesmo
tempo a filantropia, o pacifismo, mostrando-se adversario de
todo imperialismo e grande fautor do movimento sionista ou
dos interésses do povo de Israel.
Em 1933 Einstein, que já vivía na Inglaterra ou nos Es
tados Unidos da América, rompeu com o regime nacional-
-socialista, pedindo sua demissáo as Academias de Ciencias
da Prússia e da Baviera ; nao perdeu a ocasiáo de censurar
entáo as sociedades de cientistas alemáes por condescenderem
com um govérno que arbitrariamente denegava a muitos es
tudiosos os meios de viverem e trabalharem na Alemanha :
«Eu nao poderia pertencer, dizia ele, a urna comunidade que
adota tal atitude, embora esta seja extorquida por pressáo».
Na mesma época (1933) Einstein aceitou o cargo de
Reitor da Universidade de Jerusalém; passou, porém, a residir
nos Estados Unidos, na qualidade de professor da Universidade
de Princeton. Após urna carreira de estudos cada vez mais
brilhante, foi nesta cidade que o cientista entregou a alma
ao Criador aos 18 de abril de 1955.
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porém, e em conseqüéncia separou-se também dos íilhos, contraindo
novas nupcias com sua prima Elza. Éste foi o episodio mais doloroso
da vida de Einstein.
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oposigáo entre Ciencia e Religiáo ; reconheceu contudo haver
dentistas que ainda em nossos dias abragam os pontos de
vista de seus predecessores em 1880. E, para firmar bem sua
oposigáo radical ao ateísmo, Einstein em 1950 nao hesitava
em asseverar que ja aos 18 anos «considerava as teorías evo
lucionistas de Darwin, Haeckel e Huxley como teorías irreme-
diávelmente antiquadas».
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SSo, sem dúvida, palavras do sabio consignadas em carta á
sua irma: «O fundamento de todos os valores humanos é a moralidades.
Em outra missiva, dirigida a Max Born, detentor do premio Nobel,
escrevia Einstein:
«O que cada individuo pode fazer, é dar o exemplo da retidáo
de vida, e conceber a coragem de sustentar seriamente as suas
convicc6es éticas em meio a urna sociedade de cínicos. Há muito
tempo que, com sucesso desigual, procuro comportar-me désse modo».
Ora nao resta dúvida de que o fundamento de toda a moralidade,
táo vivamente apregoada por Einstein, é Deus, e Deus distinto do
homem. Providente e Solicito para com a sua criatura.
II. DOGMÁTICA
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esfacelam cm partículas múltiplas, as quais entram na com-
posicáo de outros seres ?»
Por muito ardua que pareca, esta questáo se resolve com clareza
desde que o estudioso se disponha a raciocinar lealmente. É o que
vamos fazer, explanando em primeiro lugar alguns dos fundamen
tos revelados do dogma da ressurreicáo; feito isto, abordaremos as
duas explicares que hoje se propóem para as diíiculdades daí
resultantes.
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lizando tal inversáo de sortes em sua carne, Cristo a anunciou
a todos os homens.
A Igreja, no decorrer dos tempos, explicitou a mensagem
de Jesús :
2. As duas sentengas.. .
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com a carne que seus pais lhe tiverem comunicado ao nascer
(Suma c. Gentíos 4,81). — Sao Tomaz, Sao Boaventura
(f 1274), Scoto (t 1308), Suarez (t 1617) eram da opiniáo
de que, conforme Mt 24, 12, os anjos colaboraráo para a res-
surreigáo dos mortos, reunindo as cinzas dispersas e prepa
rando-as para a reintegragáo dos corpos.
O fato de que nao é mero nada, se pode ilustrar por urna, ana-
logia, que, embora nao seja de todo adequada, como nao o sao em
geral as analogías, concorre para elucidar a nogáo. Tenha-se em
vista um pedaco de mármore; néle dizemas que há potencia para
receber as cinzeladas artísticas ou a atuacüo que um escultor lhe
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quelra dar, a fim de o tornar bela estatua (de César, por exemplo).
Esta mesma potencia, porém, nao pode ser atribuida a uma quantia
de agua; esta é de todo incapaz de receber a atuacáo ou a determina-
c3o que um artista, mediante o cinzel, lhe deseje imprimir. Assim,
embora o mármore bruto e a agua nao representem os tragos de
César, contudo nSo podem ser equiparados entre si: no mármore
há, sim, uma potencia real a se tornar estatua de César, coisa
que nao há na agua.
Tal analogía serve ao menos para ilustrar como a potencia
(na distincáo aristotélica entre «potencia» e «ato» ou «materia» e
«forma») nao é mero nada, mas é parte constitutiva de um ser
completo: a estatua de César nunca se concretizaria se so houvesse
a arte do artista, e nao existisse a potencia que o mármore oferece
(e que a ágüa nao oferece).
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um organismo, pela morte deixam de possuir suas notas indi
viduantes, características de tal organismo; conseqüentemente
qualquer potencia, qualquer materia primeira poderá desem-
penhar com igual resultado o papel de receptáculo da alma,
dando o mesmo corpo, portador das mesmas notas individuáis,
características do corpo anterior á morte e á ressurreigáo.
Basta, para a identidade do conjunto, que a alma (de Pedro,
de Maria...) se conserve a mesma no intervalo que medeia
entre a morte do ser humano e a ressurreigáo ; ora, na ver-
dade, a alma nao perde sua identidade ou suas notas determi
nantes, quando se separa do corpo, de sorte que ela pode per-
feitamente reconstituir o mesmo corpo, caso o Senhor Deus
no dia da ressurreigáo a queira de novo associar á materia
ou á pura potencia receptiva.
Em conseqüéncia destas nogóes, verifica-se que o dogma
da identidade numérica de corpo mortal e corpo ressuscitado
de modo nenhum implica que, por ocasiáo do juízo universal,
a Onipoténcia Divina se ponha a congregar a materia déste
ou daquele ser, de preferencia á materia de outros seres, a
fim de reconstituir o corpo de Joáo, Pedro, Maria, etc.. Nao;
a reconstituigáo dar-se-á simplesmente desde que o Senhor
una de novo a alma de Joáo, Pedro, Maria a urna pura poten
cia (qualquer que tenha sido a historia anterior dessa poten
cia), a fim de que tal alma reproduza a individualidade carac
terística do corpo de Joáo, Pedro, Maria...
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Apenas com relagáo as reliquias dos santos (fragmentos dos
corpos ou dos ossos) se poderia notar que, conforme julgam os
teólogos, o Senhor Deus aproveitará as que subsistirem no dia da
ressurreicáo final, a fim de reconstituir diretamente com elas os
corpos dos respectivos justos. Daí especial motivo de veneracao as
reliquias sagradas!
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recebe. Com efeito, por sua natureza a alma se destina a
«informar» um corpo e a viver num corpo, sem o qual ela
deve ser dita «substancia incompleta» ; é sómente mediante
o corpo que ela preenche todas as suas fungóes e adquire per-
feigáo (mesmo as suas duas facuidades típicas, a inteligencia
e a vontade, a alma nao as desenvolve normalmente senáo em
uniáo com o corpo ; sem os sentidos é incapaz de adquirir
idéias, raciocinar e, por conseguinte, inclinar-se para deter
minado bem). Ora, dependendo do corpo no desenvolvhnento
de suas atividades, a alma humana nao pode deixar de receber
déle certos tragos que concorrem para definir o semblante
esp'ritual dessa alma ; falamos, sim, de um ánimo ou tempe
ramento sanguíneo, biliar, nervoso ou apático e flegmático,
de acordó com a influencia que o corpo exerce sobre a alma
á qual ele está unido. Em outros termos, diremos : embora
seja pura potencia, a materia, urna vez informada pela alma
humana, influencia o ritmo de vida e as afirmagóes dessa
alma ; marca-lhe de certo modo a fisionomía espiritual, assim
como, reciprocamente, a alma determina a fisionomía sensível
e as atitudes do corpo.
3. Disto se segué que alma e corpo sao duas substancias
correlativas entre si, destinadas a se prestar complemento
mutuo e a constituir o homem própriamente dito. Éste, com
sua personalidade e sua individualidade, só se define pela
uniáo de alma e corpo. Seja licito repetir: a criatura humana
consta nao sómente de alma (doutrina esta professada pelo
platonismo), mas de alma e corpo ; e tal homem consta de tal
alma e tal corpo. Disto decorre ulteriormente que tal individuo
ou pessoa nao pode existir pela encarnacáo de tal alma em
outro corpo ; com isto a individualidade ou personalidade se
destruiría.
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diversos, conservará as diversas configuragSes, mesmo depois de
extraído dos recipientes. Ora a alma humana se comporta desta
segunda maneira. Ela continua a existir depois da dissohicáo do
corpo, guardando as notas que a individuam e tornam distinta das
demais almas, proporcionada ao respectivo corpo» (cf. S. Tomaz,
In II Sent., dist. XVII, qu. II a. 2c e ad 4).
A alma humana é, pois, de certo modo como a cera, que, uma
vez unida a determinado carpo, guarda indelévelmente os sinais da
uniáo com éste e s6 é apta a se unir de novo com o mesmo iorpo
(ou com materia que, uma vez «informada», dá um corpo igual
ao anterior), e nao com outro.
2. Ressurreicáo e reencarnacáo
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2. A ressurreigáo, ou seja, a restauragáo definitiva da
uniáo da alma e do corpo, está bem na linha das aspiragóes
naturais da alma, como lembra Sao Tomaz no texto seguinte :
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sdbre o humano c reconhece o caráter indébito e gratuito da sal-
vagáo.
Eis, porém, que nao se poderia dizer o mesmo da mentalidade
reencarnacionista. Com eíeito; quem aceita a reencarnagáo, sem
deixar de professar urna religiáo, engana-se a si mesmo, pois forzo
samente toma urna atitude religiosa falsa, ou melhor, urna atitude
que simplesmente nao é religiosa. Na verdade, a ideología da reencar
nagáo atribuí ao homem o poder de se remir, de se tornar perfeito
por seus esforgos, íazendo práticamente abstragáo do auxilio divino.
Pouco ou nada entra em linha de conta de um reencarnacionista
a auténtica nogáo de Deus, que é a de um Pai Bondoso e Providente,
o qual deu existencia aos homens, quis compartilhar e consagrar
o sofrimento e a morte do homem, e sem o qual a criatura nada
absolutamente pode. Nao admira, pois, que a reencarnagáo tenha sido
outrora, e aínda hoje seja, proíessada dentro de urna ideología
panteísta ou monista. Sim, as crengas hindus, que inspiram muitos
reencarnacionistas, cancelam a distingáo entre o Divino e o humano,
entre o Infinito c o finito, ensinando que a Divindade (a qual nesses
sistemas é concebida como substancia impessoal, neutra, «a Mente
Cósmica») «se realiza» no homem, «vai tomando consciéncia de si»
no homem, á medida que éste evolul ou se aperfeigoa. Esta tese
parece explicar que a criatura possa por si chegar á uniáo com
a Divindade; todavía constituí insustentável aberragáo nao sómente
religiosa, mas também filosófica, pois coloca o finito e o Infinito
na mesma linha, no mesmo plano: Deus, que por definigSo é o
Ilimitado, nao pode vir a identificar-se com o finito e o contingente,
nem mesmo transitoriamente; há um hiato intransponível entre o
homem e Deus, hiato tal que o homem só se aproxima de Deus,
caso o Todo-Poderoso se digne tomar a iniciativa de chamar e
amparar continuamente a sua criatura.
J. V. M. (Cipotánea) :
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mesmo irreal. As dificuldadcs levantadas no caso se resolvem em
principio mediante a observacáo seguinte: a Biblia, embora seia
um Livro divino, foi redigida por autores humanos (Moisés, Davi,
Isaías,...), que Deus se dignou, sim, utilizar, sem, porém, derrogar
ao costumeiro modo de escrever désses homens; a Sagrada Escritura,
por conseguinte, foi composta coníorme as regras de estilo usuais
no periodo que vai do séc. XIII a. C. (Moisés) até o fim do séc. I d.C.
(S. Joáo Evangelista). Torna-se entao evidente que nao se pode
perceber o significado auténtico das páginas sagradas sem se apli-
carem ao texto estudado os criterios de interpretacüo usuais na
análise de qualquer documento da literatura humana; ora entre estes
criterios se acham a consideracáo da mentalidade do autor respectivo,
da época em que escreveu, a veriíicagáo das fontes que usou, do
circulo de leitores que teve em mira... A exegese bíblica, por muito
que isto surpreenda, nao dispensa ésses recursos usuais em qualquer
exame literario; donde se vé que nao basta simplesmente a piedade
para se entender a Biblia (embora a piedade tenha partes preponde
rantes, sem dúvida), mas requer-se um pouco de cultura humana.
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1) Já numa primeira aproximacáo chamam nossa aten-
cao o ritmo muito burilado e o estilo polido da pega. O con-
ceito de Deus que ai transparece, é assaz elevado ou filosó
fico : o Criador nao é descrito antropomórficamente, á guisa
de «Oleiro» nem de «Jardineiro», nem de «Cirurgiáo», nem
de «Arquiteto», nem de «Alfaiate», como na passagem se-
guinte (cf. Gen 2,7.8.21; 3,21). Ao contrario, o autor dá a
ver que, Cínicamente pela expressáo de sua vontade ou pela
sua palavra, o Senhor Deus comunica existencia a todos os
seres. Ora tais características manifestam urna fase da men-
talidade de Israel, humanamente falando, já bem amadurecida
na escola do Senhor.
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a termo feliz, coisa que nao sempre se dá nos empreendimentos
humanos.
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Sagrada Escritura que narram, também éles, a criagáo do
mundo. Embora aludam aos mesmos elementos mencionados
pelo «hexaémeron» (caos inicial, estrélas, aguas e térra, ani
máis irracionais e homem), de modo nenhum referem o es
quema de seis dias e a ordem de aparecimento das criaturas
que ocorrem no texto de Gen 1. Ora, se ésse esquema e essa
ordem fóssem realmente históricos, é de pressupor que os
outros textos os apresentassem ou ao menos insinuassem ; já,
porém, que isto nao se dá, conclui-se que a moldura dos seis
dias e a sucessáo de obras que éles enquadram, sao mero ar
tificio do autor do «hexaémeron».
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meiros días ele quis descrever o Senhor a constituir as regióes
ou os compartimentos como tais ; a seguir, na segunda serie
ou nos tres últimos dias, mostrou o Senhor a colocar os habi
tantes ñas respectivas regióes.
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b) o intuito de inculcar a lei do repouso semanal. Em
toda e qualquer fase da historia, é necessário que o homem
periódicamente se distancie de seus afazeres terrestres e, de
simpedido, eleve o espirito a Deus ; ora o próprio curso da
natureza sugere que tal distanciamento se dé de sete em sete
días, pois cada semana representa urna fase nova da Lúa,
fase que nao raro provoca mudanca no ritmo da vida terrestre.
Consciente, pois, da vantagem de que o povo de Deus obser-
vasse o descanso semanal, consagrando-o ao Senhor, Moisés
o formulou expressamente entre os preceitos da Lei; mais
tarde, visando dar o máximo de autoridade a tal mandamento,
um escritor sagrado de Israel, representando talvez a menta-
lidade dos levitas e sacerdotes, houve por bem (sob a mogáo
do Espirito Santo) apresentar em Gen l,l-2,4a o próprio Deus
á semelhanga de Operario Modelo,... Operario Modelo que
enquadra sua atividade dentro da moldura de seis dias de
fadiga seguidos por um sétimo de descanso. Por conseguíate
retenha-se que o esquema de seis dias de trabalho e um de
repouso, em Gen l,l-2,4a, foi influenciado pela leiydo sábado
já anteriormente vigente em Israel; nao se julgue que, ao
contrario, o mundo foi primeiramente criado em seis dJas e
que, por causa disto, Moisés instituiu o repouso do sétimo dia.
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ora entre os característicos dessa linguagem estava a mencáo das
tres clássicas reglSes que constituiam o arcabouco do universo: a
regiáo dos ares, a das aguas e a da térra...;
2) convinha, segundo a mentalidade simbolista do autor, enqua-
drar a obra do Criador dentro do esquema 6 + 1, para inculcar
que era e é muito boa;
3) tornava-se oportuno dar o máximo de autoridade a lei do
repouso semanal; daí a apresentacáo meramente literaria do Ope
rario Divino a dar o exemplo de observancia da semana...
3. A mensagem do «haxaémeron»
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1) A respeito de Deus :
a) Deus é Um só. Os astros, os bosques e os animáis,
freqüentemente cultuados pelos povos antígos, sao meras cria
turas de um só Criador, destinadas a servir ao homem, que
é o imediato lugar-tenente de Deus neste mundo. Por conse-
guinte, também nao há fato nem inelutável destino;
b) Deus é eterno. Nisto distingue-se radicalmente do
mundo, que comegou no tempo e foi tirado do nada (contra
riamente ao que pretendem o panteísmo e o monismo) ;
c) Deus é perfeito, pois tudo que Ele cria é muito bom.
Cria nao por necessidade, nem por aventura (comió ñas nar
rativas da mitología), mas únicamente a fim de derramar a
sua bondade. OmaLno mundo, porjeonseguinter-náo^yem de
Deus, mas é ocasionado pela criatura mesma, como refere o
texto sagrado no documento justaposto ao «hexaémeron» (cf.
Gen 2,4b-3,24 e «P. R.» 5/1957, qu. 1).
2) A respeito do mundo :
a) O mundo nao é eterno. Exclui-se, portante, qualquer
dualismo de principios — o Principio do Bem (Espirito) e o
Principio do Mal (Materia) — que disputem entre si as sortes
da historia;
b) o mundo nao se originou por si mesmo nem por
acaso, mas teve um inicio, que Deus Ihe deu. Urna vez criada,
a materia pode ter evoluído dos graus inferiores para os graus
superiores dos seres materiais, segundo as leis que o Criador
Ihe incutiu. Naohá, pois, dilema entre, criagao e eyolngao.;
c) as criaturas~s!o originariamente boas, destinadas a
reproduzir, cada qual do seu modo, urna faceta da infinita
perfeicáo divina.
3) A respeito do homem:
a) o ser humano é algo de totalmente novo entre os
demais. O autor nada diz sobre a maneira como o corpo do
primeiro homem se originou ; nem sequer menciona o barro
(cf. Gen l,26s). Pode-se admitir, portante, para o corpo hu-
l'mano, qualquer teoría fixista on evolucionista que reconheca
a criacáo da materia inicial por parte de Deus. Quanto á alma
humana, o autor sagrado insinúa a sua transcendencia sobre
a materia. Com efeito ; o homem é dito imagem e semelhanca
de Deus ; ora tal dignidade — exclusiva da criatura humana —
nao Ihe compete por parte do corpo (pois Deus nao tem corpo),
mas, sim, por parte da alma intelectiva, espiritual. Esta, por-
tanto, nao sendo corpo, nao se pode ter originado do corpo
ou da materia ; só pode ter sido diretamente criada por Deus;
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b) igual dignidade convém ao varáo e a mulher, pois
ambos foram feitos á imagem e semelhanga de Deus;
c) o matrimonio é algo de santo, instituido e abengoado
pelo próprio Deus, nao simplesmente para que o homem sa
tisfaga a si, mas a fim de que cumpra um designio divino.
Eis as verdades perenes que o texto sagrado, sob vestes
literarias anteriores á era crista, tem a dizer ao homem do
sáculo XX! Nessa escola, sem dúvida, muitos estudiosos con
temporáneos teráo algo que aprender.
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elementos, em sua origem primaria, sumariamente... em sua exis
tencia, essa página se tornava divina, garantida por Deus, inserida
no livro de Deus, por especial efeito de sua vontade» (Lagrange,
L'inspiration des livres saints, em «Revue biblique» 1896, 215s).
IV. MORAL
ENFEBMEIBA (Itajubá) :
AGALIÉME (Salvador) :
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sua, o autor tornava-a também obra de Deus. Humana em seus
evidente que também a um organismo enfermo se podem aplicar
processos terapéuticos que sao meras provas ou ensaios.
. A. As restrigoes
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personalidade, seja sadia, seja doente, seja de raga branca,
seja de raga negra, tem algo de sagrado e intangível aos inte-
résses temporais, anida que sejam os interésses da cultura e
da ciencia.
b) As vantagens do enfermo
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facilidades e das fórcas da sua natureza humana. Pois que é usufru-
tuário e nao proprietário, nao tem poder ilimitado de por atos de
destruicao ou de mutilacáo de caráter anatómico ou funcional...
Portanto o paciente nao tem o direito de comprometer a sua inte
gridade física e psíquica em experiencias ou investigacóes médicas,
quando estas intervenc8es acarretem consigo ou após si destruigóes,
mutilacSes, ferimentos ou perigos serios» (transcrito da «Revista
Eclesiástica Brasileira» XII [1952] 948s).
c) O bem da sociedade
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os individuos entre si, é a tendencia para os mesmos objetivos ou
fins; disto se depreende que a autoridade pública, encarregada de
promover o bem social, pode, sim, exigir a colaboracáo dos indi
viduos em demanda dos fins da sociedade, mas carece de poder
direto sobre o físico ou sobre a personalidade dos individuos; qual-
quer atentado contra esta última vem a ser um abuso de autoridade;
equivale a destruir um bem particular, quando justamente a socie
dade tem por fim promover o bem comum, completando e aperíei-
coando os bens particulares.
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da pena, em reconhecimento dos servigos prestados á sociedade
no ato de se sujeitar as experiencias (tais servigos equivalem
a urna reparagáo dos crimes cometidos pelo réu). A razáo
por que os referidos moralistas assim pensam, é que pela en
trega do réu as máos dos estudiosos apenas se faz mudar a
modalidade pela qual se executa a sentenga capital. — A rigor,
nada se pode objetar contra os autores que. deféndem ésse
parecer. Na prática, porém, será preciso absolutamente evitar
que dé ocasiáo ao proferimento de sentengas injustas, inspira
das pelo desejo de fornecer material humano aos laboratorios
médicos.
B. O lícito e o ilícito
a) Em pessoas enfermas
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Estas cláusulas nada mais sao do qué aquilo que a Moral sempre
exige para a liceidade de urna acSo que tenha duplo efeito. É ao
médico que, em última análise, compete avaliar as circunstancias
próprias de cada caso e julgar, diante de Deus, a moralidade da
referida terapéutica.
b) Em cadáveres
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Contudo, em se tratando do aproveitamento de cadáveres para
ílns medicináis, os familiares dos deíuntos ou outras pessoas legíti
mamente vinculadas a estes teráo sempre o direito de se pronunciar
e até de se opor a tal uso; os sentimentos de tais pessoas deveráo
merecer todo o acato, de modo que nao será licito aos médicos
contrariá-los. Semelhantemente, ás autoridades civis compete o direito
de legislar a respeito da utilizacáo medicinal dos cadáveres, respei-
tando ou protegendo os afetos de parentes e amigos, impedindo a
mutilacáo antes de estar verificado, o respectivo desenlace, vedando
sejam entregues aos experimentadores os corpos de quem haja
morrido de marte criminal ou de quem acarrete perigo para a
saúde pública.
A consciéncia crista julga outrossim injusto serem os cadáveres
dos pobres falecidos em clínicas públicas e hospitais destinados aos
servicos da medicina, ficando isentos disto os corpos dos menos
pobres.
Ainda a tal propósito, será preciso irisar bem que um cadáver
humano, principalmente de um fiel batizado, deverá sempre ser
tido como digno de todo o respeito e consideracáo.
c) Em individuos sadios
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Píalz no ano de 1855 um dentista enviou seu relatório descre-
vendo como inoculara a sífilis em 23 pessoas; fez questao, porém,
de silenciar a sua identidade (donde o titulo de «Anónimo de Píalz»
que lhe íoi atribuido). — Tudo isso sao aberragóes.
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10) O experimentador deve estar disposto a interrompé-la em
caso de possível perigo».
V. HISTORIA DO CRISTIANISMO
1. Peregrinaeao em miniatura
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a urna verdadeira peregrinacáo. É o que se dá justamente no exercício
da Via Sacra.
A éste vamos agora voltar nossa atengáo, considerando esque
máticamente
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duraría a viagem á Térra Santa. Diante disto, a Religiosa, tendo obtido
o consentimento da sua Superiora, resolveu empreender o itinerario
espiritual: um belo dia despediu-se das Irmas e cessou o intercambio
com elas; doravante pelo prazo de um ano pós-se a peregrinar dentro
da clausura de um altar ou de um oratorio para outro, identifican-
do-os com os lugares santos que os peregrinos da Palestina costuma-
vam percorrer; tomava suas frugáis refeicdes depois que a comuni-
dade saia do refeitório, deixando para os pobres a mor parte dos
alimentos que lhe eram destinados; a noite dormía no chao, no
lugar mesmo em que se encontrava quando tocava o sino para o
repouso.
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forma de versos mnemotécnicos (Wey, alias, é o primeiro autor a
designar como «stationes», estacoes, as etapas da Via Dolorosa):
«Lap strat di trivium flent sudar sincopizavit
Por pis lapque schola domus her Symonis Pharlsey».
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8. Trata-se da Porta do Julgamento da antiga cidade de Jeru-
salém.
9. Referencia á piscina probática mencionada em Jo 5,2.
10. Alusáo as duas pedras talhadas que constituiam o arco do
«Ecce Homo».
11. Referencia á escola freqüentada por Maria Santíssima.
12. 13 e 14. Alusáo a casas que remotamente se prendem á
historia da Paixáo do Senhor.
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Assim, por exemplo, em fins do séc. XV se enumeravam:
1) o encontró de Jesús com su?. Máe Santíssima;
2) o encontró de Jesús com o Cireneu;
3) o encontró de Jesús com as mulheres de Jerusalém;
4) o encontró de Jesús com Verónica;
5) a queda de Jesús sob a cruz, a 780 passos da casa de Pila tos;
6) a prostracjio do Senhor sob a cruz, a 1000 passos da casa
de Pilatos;
7) a deposigáo de Jesús nos bracos da sua Máe Santissima.
Podiam-se enumerar na inconografia e na devoro dos Ocidentais
oito estacoes assim concebidas:
1) Jesús é condenado á morte;
2) Jesús cai pela primeira vez;
3) Simáo o Cireneu ajuda o Senhor a carregar a cruz;
4) a Verónica enxuga a face de Jesús;
5) o Senhor cai pela segunda vez;
6) Cristo encontra-se com as lilhas de Jerusalém;
7) Jesús cai pela terceira vez;
8) Jesús é despojado das suas vestes.
(Serie devida a Pedro Steckx ou Petrus Potens, de Lovaina, depois
que voltou de Jerusalém em 1505).
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A segunda estacáo íazia-se na casa de Ana, ao 193* dia;
a terceira estacáo, ao 196° dia, no lugar em que Jesús fóra
encarcerado e submetido ao escarnio da soldadesca;
a quarta estagao, ao 206* dia, se íazia no tribunal de Pilatos,
onde Jesús íóra condenado;
a quinta estacáo se detinha no lugar em que Jesús tomara a cruz;
a sexta estacáo considerava o encontró de Jesús com sua Máe
Santíssima, assim como a segunda queda do Salvador (a primeira
queda, nao explícitamente venerada, se dera logo após a tomada
de cruz por parte do Senhor);
a sétima estacSo se dava no lugar em que o Cireneu auxiliara
Jesús a carregar a cruz, tendo o Divino Mestre ai caido mais urna vez;
a oitava estacáo assinalava o encontró de Jesús com Verónica
e a quarta queda do Senhor;
a nona estacáo cultuava o encontró de Jesús com as íilhas de
Jerusalém;
a décima estacáo venerava a última queda do Senhor;
a undécima estacáo considerava o despojamento de Jesús;
a duodécima estacáo, a cruciíixáo;
a décima terceira estacáo, a morte de Jesús sdbre a cruz;
a décima quarta estacáo, a deposicáo da cruz;
a décima quinta estacáo, por íim, venerava o sepultamento do
Senhor.
Observe-se que as diversas etapas ácima sao acompanhadas de
tantas minucias topográficas e arqueológicas que certamente a obra
de Jan Pascha deve ter causado a impressáo de estar baseada em
documentacao sólida e abundante.
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tentando-se com urna prece ou meditagáo puramente interna.
Sendo assim, entende-se que em Lovaina e Nürnberg, ou na
Flándria e na Alemanha em geral, o exercício da Vía Sacra
fósse celebrado com muito mais aparato e minucias do que
na própria Cidade Santa; foi, pois, nestas regióes, e nao
no Oriente, que a referida devogáo tomou sua forma hodierna.
Estas circunstancias explicam outrossim que as cenas
atualmente comemoradas ñas estagóes do Caminho da Cruz
em parte sejam conjeturáis: principalmente o que se refere
as quedas de Jesús fica sujeito a dúvidas (lembramo-nos de
que a principio se assinalavam sete quedas, quatro das quais
estayam associadas aos encontros de Jesús respectivamente
com María Santissima, com o Cireneu, com as piedosas mu-
Iheres de Jerusalém, com Verónica). O próprio encontró de
Jesús com Verónica nao é atestado pelos documentos escritos
senáo a partir do séc. XV; também nao se tem certeza de
um encontró de Jesús com súa Mié Santissima. É preciso
observar ainda que a serie na qual se sucedem os diversos
episodios do. Caminho da Cruz é, por sua vez, hipotética.
7. Tais afirmagóes talvez suscitem perplexidade em um
ou outro dos fiéis cristáos. A perplexidade, porém, se dissipará
sem demora após urna reflexáo serena sobre o assunto.
O cenário do Caminho da Cruz é proposto aos fiéis nao
á guisa de ensinamento histórico, para que os cristáos, mediante
ésse documento, enriquegam o seu cabedal de cultura e saber.
Nao ; as estagóes da Via Sacra sao propostas únicamente
para mover a piedade, fomentar o amor a Deus e a chama
da oragáo. Ora parece que, dentre todas as tentativas medie-
vais de elevar as almas a Deus mediante a meditagáo da Via
Dolorosa de Cristo, a que mais se prestou e presta a esta nna-
lidade é a que prevaleceu e hoje está em uso. Esta serie; em-
bora nao possa reivindicar para si fidelidade histórica apoiada
numa documentado critica adequada, nao implica em detur-
pagáo dos valores ou dos personagens postas em cena. Sendo
assim, a autoridade da Igreja pode aprová-la ; do seu lado,
o cristáo do séc. XX pode perfeitamente aceitá-la, nao para
estudar historia, mas para acender o seu amor na contem-
placáo dos atributos do Redentor que os diversos quadros da
Via Dolorosa póem, do seu modo, em realce ; por conseguirte,
nao queira o discípulo de Cristo deduzir conclusoes de histo
riografía ao folhear o seu manual de Via Sacra (tais conclusoes
seriam precarias; além do que, um tal trabalho contradiría as
intengóes dos autores de tais manuais, assim como as da Santa
Igreja) ; procure, antes, prorromper em atos de fé, esperanca
e caridade, mediante o percurso do Caminho da Cruz (tais
atos seráo certamente robustos, pois o alimento sugerido pelas
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estagóes é substancioso e comprovado pela experiencia dos
sáculos). Assim fazendo, os fiéis já nao teráo motivo de in-
quietude e escrúpulo por causa do caráter conjetural desta
ou daquela estagáo da Vía Sacra.
Ademáis note-se o seguinte: para se ganharem as indul
gencias anexas á Via Sacra (das quais falaremos pouco adian-
te), requer-se que os fiéis percorram as estagóes assinaladas
por imagens ou cruzes devidamente bentas e instaladas. É
necessário, outrossim, que meditem a Paixáo do Senhor, sem,
porém, estarem obligados a seguir os quatorze episodios co-
memorados pelas respectivas estagóes (qualquer maneira de
meditar os sofrimentos de Cristo satisfaz as exigencias, no
caso).
8. Por fim, merece ser realcado o papel importante dos RR.PP.
Franciscanos na difusáo do exercicio da Via Sacra. Desde o séc.
XIV os filhos de Sao Francisco sao, sim, os guardas oficiáis dos
lugares santos da Palestina; entende-se, pois. que de modo especial
se tenham dedicado á propagacáo da veneracáo á Via Dolorosa do
Senhor; em suas igrejas e junto aos seus conventos, desde íins da
Idade Media, tomaram o hábito de erguer as estacSes da Via Sacra;
adotando a serie sugerida por Jan Pascha e Adrichomius, fizeram
que esta prevalecesse sobre todas as congéneres; íoram também os
filhos de S. Francisco que obtiveram dos Papas a concessáo das
numerosas indulgencias anexas a tal exercicio de piedade. — Grande
benemérito da devocáo á Via Sacra é Sao Leonardo de Porto Mauricio
O.F.M., que, por ocasiao de sua atividade missionária em toda a
Italia, de 1731 a 1751, conseguiu erguer 572 «Vias Sacras»; foi a
cedido désse santo oue n Papa Clemente XII. aos 3 ü<*. abril de 1731.
baixou o decreto intitulado «Mónita ad recte ordinandum devotum
exercitium Viae Crucis», decreto cujas normas concernentes á erecáo
da Via Sacra e as respectivas indulgencias foram, com poucas modi-
ficacdes, confirmadas pela Penitenciaria Apostólica aos 13 de marco
de-1938.
Nao hesitem, pois, os fiéis em usufruir dos beneficios da
Paixáo do Senhor tais como sao propostos pela Via Sacra, Via
Sacra que deve ser realizada segundo a mentalidade dos fer
vorosos peregrinos da Térra Santa !
D. ESTÉVAO BETTENCOURT O. S. B.
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