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Andréaa Senra Cou
utinho1 

A  revisão  da 
d condiçãão  de  ser  mulher  no o  mundo  estará  esggotada?  Esttarão 
descconstruídoss  os  velho os  e  engessados  paadrões  socciais  de  m masculinidaade  e 
feminilidade?  Bourdieu 
B (
(2003,  p.18
8)  afirma  que 
q “A  forçça  da  ordem m  masculinna  se 
evidencia no faato de que eela dispenssa justificaçção: a visão o androcên ntrica  impõ
2 õe‐se 
como o  neutra  e 
e não  tem  necessidad de  de  se  enunciar 
e em
m  discurso os  que  visem  a 
legittimá‐la.”.  Enterrados 
E como  esttamos  em  uma  “imeensa  máqu uina  simbó ólica” 
(Bouurdieu,  200 03:18)  quee  ratifica  a 
a dominaçãão  masculina,  devem mos  admitirr  que 
mesm mo  depoiss  das  conq quistas  alccançadas  pelas 
p mulh heres,  nos  mais  diveersos 
setorres da sociiedade, quee alargaram m consideravelmente  a sua visib bilidade so
ocial ‐ 
de  “rrainha  do  lar”  a  umaa  “mulher  pública” 
p (Samara,  199 nda  há  questões 
97:7)  ‐  ain
pend dentes?  

E  a escola?  Qual tem s
Q sido o papeel dos proffessores, aq
qui especifi
ficamente, o
os da 
área artística,  nesta empr
n reitada? Têêm sido repensadas eem suas prráticas diárrias e 
coloccadas em aação certas questões q
que envolveem gênero e arte? 

1 IEC –
– Universidadee do Minho – Braga. andreassenra@bol.com
m.br 
undo  o  autor,  a  visão  andro
2  Segu ocêntrica  “é  a 
a divisão  sociaal  do  trabalho,,  distribuição  bastante  estriita  das 
atividaades atribuídaas a cada um do os dois sexos, de seu local, seeu momento, sseus instrumen ntos, e a estruttura do 
espaçoo,  opondo  o  lugar  de  asseembléia  ou  de  mercado,  reeservado  aos  homens,  e  aa  casa,  reservaada  às 
mulheeres...” e ainda  “que levam a  classificar tod das as coisas d
do mundo e todas as práticas segundo disttinções 
redutííveis à oposiçãão entre o mascculino e o femiinino. Cabe aoss homens, situados ao lado d do exterior, do oficial, 
do púb blico, do direitto, do seco, do
o alto [...] As mulheres, pelo ccontrário, estaando situadas ddo lado do úmido, do 
baixo,, do curvo [...], vêem ser‐lhes atribuídos tod dos os trabalhoos domésticos,, ou seja, privaados e escondid dos, ou 
até meesmo invisíveis e vergonhoso os [...]” (2003:4
41e 42) 
COUTINHO, A. (2007) A produção artística das mulheres e suas implicações no ensino 
de  arte.  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do 
Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 
 
 
Segundo Loponte quando se refere à escolha, por exemplo, de obras de arte para 
os livros didáticos e livros de história da arte, “no discurso dominante sobre arte, 
as  imagens  selecionadas  afirmam  a  invisibilidade  da  mulher  como  criadora  [...] 
(Loponte,  2004),  a  própria  história  da  arte  oficial  negligencia  em  citá‐las.  Têm 
estado  os(as)  professores(as)  atentos(as)  à  esta  tendência  de  naturalização  e  ao 
condicionamento sofrido pela visão androcêntrica no ensino de arte? 

Não seria, então, tarefa da(o) professora(r) – consciente e sensibilizada(o) por 
estas questões ‐ propiciar ou facilitar a entrada da produção feminista na sala de 
aula,  intencionando  contribuir  com  a  formação  do  ser  humano  pautada  nas 
diferenças e não nas desigualdades de gênero? Não seria importante dar um ponta‐
pé inicial nesta direção? 

Segundo  a  historiadora  Joan  Scott,  na  efervescente  década  de  60,  “[...]  as 
ativistas feministas reivindicavam uma história que estabelecesse heroínas, prova 
da atuação das mulheres, e também explicações sobre a opressão e inspiração para 
a  ação”  (Scott,  1992:64).  Assim  se  fortaleceu  a  discussão  sobre  a  condição  da 
mulher,  motivada  pelos  crescentes  estudos  que  se  seguiram  ao  movimento 
feminista,  que  assinalou  o  início  da  luta  pelos  direitos  da  mulher  ocidental.  Os 
hábitos  e  costumes  femininos,  as  questões  de  gênero  de  lá  para  cá,  tornaram‐se 
objetos de pesquisa de inúmeras investigações, estando também incluídas, aquelas 
pesquisas que se interessam pela produção artística realizada particularmente por 
mulheres.  

Esta  área  de  pesquisa  nas  artes  plásticas  vem  dialogando  com  as 
transformações ideológicas provenientes das mudanças sociais nas últimas quatro 
décadas do século passado, com influências recíprocas entre a produção artística e 
o  feminismo.  Os  resultados  destas  investigações  têm  deixando  muitas 
contribuições para a sociedade num todo e não somente para o circuito artístico, 
entre elas, podemos citar: a recuperação histórica de nomes de mulheres artistas 
ocultos,  marginalizados  ou  esquecidos,  através  de  publicações  e  exposições  (a 
partir  dos  anos  70);  o  crescimento  da  produção  de  obras  de  arte  que  revelam  a 
preocupação  com  a  desconstrução  dos  padrões  tradicionais  e  estereótipos  de 
feminilidade/masculinidade (anos 80); a adoção de estratégias para potencializar 
a voz e dar maior visibilidade às mulheres, em busca de novos paradigmas através 
da arte (anos 90) (Martinez, s/d:16‐23). 

As  artistas  feministas3,  como  ficaram  conhecidas  a  partir  da  década  de  60  do 
século XX, são mulheres engajadas na crítica ao poder falocrático também na arte.  

“Nos museus e academias, as mulheres artistas protestavam, requerendo 
direitos  iguais.  Elas  organizavam  as  suas  próprias  exposições,  galerias 
auto­geridas  e  aulas  de  arte  autônomas.  Além  disso,  buscavam  meios 

  Arte  Feminista  é  uma  das  correntes  de  produção  da  contemporaneidade.  Tendo  como  precursoras  Frida 
3

Kahlo,  Judy  Chicago,  Eva  Hesse  e  Louise  Bourgeois.  Atualmente,  esta  tendência  possui  adeptas  por  todo  o 
mundo. Estas artistas feministas objetivam alertar e dar voz às mulheres através de suas obras de arte. 

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COUTINHO, A. (2007) A produção artística das mulheres e suas implicações no ensino 
de  arte.  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do 
Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

políticos  de  romper  com  as  estruturas  dominadas  pelo  homem” 


(Grosenick, 2001:7).  

Passaram,  então,  a  formar  um  grupo  coeso  de  pensamento  e  produção, 


direcionando suas obras para as questões do feminino e do feminismo, produzindo 
imagens  e  representações  do  universo  singular  da  mulher  pelo  ponto  de  vista 
feminino, criando uma arte feita por e a propósito de mulheres. 

O  tema  mulher  por  vezes  quer  representar  ou  evocar  simbolicamente  as 
experiências  corporais  e  rituais  femininos  (artistas  sensualistas  como  Antoni, 
Sylvie Fleury, etc), outro grupo, de ordem mais conceitual, direciona sua produção 
para as questões políticas e sociais, sendo contra o racismo, a violência e todas as 
imposições  sofridas  pelas  mulheres  (Beecroft,  Paula  Rego,  Adrian  Piper,  Beth 
Moysés, Rosana Paulino, etc). Na linha autobiográfica, as obras revelam a história 
de vida da própria artista, as vivências pessoais e a intimidade são transformadas 
em experiência estética (Calle, Marina Abramovic e outras). Os meios expressivos 
mais utilizados são o vídeo, as instalações, fotografia, novas tecnologias, realização 
de performance, além dos tradicionais como a gravura, a escultura, o desenho e a 
pintura. 

As  inúmeras  facetas  de  ser  mulher  estão  eternizadas  nas  obras  de  pioneiras 
como  Frida  Kahlo  (México),  Eva  Hesse  (Alemanha),  Ana  Mendieta  (Cuba),  Judy 
Chicago  (USA),  Louise  Bourgeois  (França),  hoje  somadas  às  obras  de  Cindy 
Sherman  (USA),  Maya  Goded  (México),  Vanessa  Beecroft  (Itália),  Sophie  Calle 
(França),  Janine  Antoni  (Bahamas),  Grupo  Guerrilla  Girls  (USA),  entre  outras  do 
cenário  artístico  atual.  Fazendo  parte  do  perfil  eclético  do  pensamento  feminista 
na  arte  contemporânea,  estão  também  as  artistas  brasileiras  Beth  Moysés  (SP), 
Rosana Paulino (SP) e Paula Rego (Portugal), as quais este estudo quer enfocar. 

No entanto, mesmo que a produção dessas artistas e muitas outras não citadas 
neste  trabalho  já  estejam  legitimadas  ou  reconhecidas  pela  crítica  e  o  circuito 
artístico  oficial,  mesmo  que  o  currículo  previsto  para  o  ensino  de  arte  não 
determine  quais  artistas  devam  ser  mencionados  e/ou  trabalhados  com  alunos  e 
alunas,  as  artistas  parecem  estar  passando  à  margem  das  salas  de  aula.  Se  na 
formação acadêmica se faz notar que estas produções feministas estão geralmente 
à  deriva,  isto  é,  são  pouco  ou  nada  discutidas,  todo  este  antecedente  acaba  por 
reforçar  e  naturalizar  a  invisibilidade  das  obras  produzidas  pelas  artistas 
mulheres. 

Assim, nos deparamos aqui com uma ausência e uma necessidade de revisão na 
área da formação educacional. Segundo Loponte (1998: 14), 

“(...) um estudo relacionando gênero e ensino de arte pode contribuir de 
forma relevante à pesquisa sobre ensino de arte e formação docente nesta 
área, bem como aos estudos relativos às questões de gênero e educação, já 
que este enfoque pouco ou nunca foi utilizado por pesquisadores (...)”. 

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COUTINHO, A. (2007) A produção artística das mulheres e suas implicações no ensino 
de  arte.  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do 
Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 
 
 
Há uma carência comprovada no contexto brasileiro, e daí, a necessidade de se 
investigar  nesta  direção,  buscando  novas  frentes  que  propiciem  uma  maior 
abrangência do ensino de arte.  

Entendendo que, se a Escola é “responsável pela reprodução efetiva de todos os 
princípios de visão e de divisão fundamentais, e organizada também em torno de 
oposições  homólogas  poderá,  a  longo  prazo,  sem  dúvida,  [...]  contribuir  para  o 
desaparecimento  progressivo  da  dominação  masculina”  (Bourdieu,  2003:139)  e 
que se “[...] a história da arte e a apreciação artística, isto é, o ensinar a ver, não são 
mais  encaradas  na  escola  como  um  desvirginamento  da  expressão  infantil,  mas 
como um dos modos de iniciá‐la no conhecimento, na fruição e na comunicação do 
e com o mundo” (Barbosa, 1988:58), alicerçados por estes dois pilares, não caberia 
aos(as) professores(as) de arte, proporem uma mudança de paradigma?  

Em  posse  de  uma  proposta  de  leitura  de  imagens4  com  conteúdo 
feminino/feminista,  que  de  certa  forma  desconstrói  a  chamada  pedagogia  do 
feminino5,  é  possível  pensar  em  incluir  nas  práticas  diárias  “alternativas 
democráticas  que  poderão  dispor  para  divulgar  e  lutar  por  valores  ideais 
emancipatórios  e  não  discriminatórios”  (Mendes,  2005:9).  Propondo  “modos  de 
ver  menos  assépticos  [...]  ainda  pouco  explorados  no  ensino  de  artes  visuais”( 
Loponte,  2004),  o(a)  professor(a)  estaria,  através  das  obras  de  arte  das  artistas 
feministas,  possibilitando  aos  alunos  e  alunas  em  primeira  instância  uma 
aproximação com esta produção específica e logo, abrindo um espaço de discussão 
e reflexão sobre as desigualdades, criando uma interlocução entre arte e vida. 

Dando  conta  destes  instrumentos  que  abarcam  conhecimentos  sobre  Arte 


Feminista, Ensino de Arte e Relações de Gênero, indago: Quais dentre as imagens 
de obras de arte, que se configuram dentro da chamada Arte Feminista, poderá ser 
tema  de  aula  de  arte?  Quais  artistas  mulheres  articulam  em  seus  trabalhos 
questões que podem auxiliar alunas e alunos na reconstrução de certos padrões? 
Quais  dessas  abordagens  poderão  efetivamente  criar  fissuras  ou  quem  sabe,  até 
mesmo, proporcionar um novo olhar e uma mudança de comportamento, que é a 
intenção  de  todo  processo  educativo?  Como  fazer  esta  transposição  da  teoria  e 
história da arte para a sala de aula? 

Mesmo  que  arte  contemporânea  seja  provocativa,  por  vezes  violenta  e  cruel, 
nada inofensiva, mesmo que esteja a acontecer...quais ganhos podemos tirar desta 
produção  inquietante  e  engajada,  tão  aproximada  do  cotidiano,  repleta  de 
intenções  de  transformações,  de  esperanças  de  um  mundo  melhor,  com  mais 
justiça  e  igualdade  nas  diferenças?  A  produção  dessas  artistas  toca  em 
experiências concretas, elas se utilizam da arte para tecer uma série de reflexões 
pautadas  na  vida  real.  Esta  realidade  já  não  é  percebida  e  vivenciada  por  muitas 
crianças e jovens que encontramos sentados nos bancos das escolas?  
4
 Proposta Triangular de Ensino de Arte: fazer, conhecer e criticar arte. 
5
  Segundo  Loponte  (2002,  p.2),  pedagogia  do  feminino  é  “uma  pedagogia  visual  que  naturaliza  e  legitima  o 
corpo feminino como objeto de contemplação [...]”. 

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COUTINHO, A. (2007) A produção artística das mulheres e suas implicações no ensino 
de  arte.  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do 
Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

Na  tentativa  de  travar  um  diálogo  com  as  inúmeras  questões  apresentadas, 
proponho  algumas  metas  norteadoras  diante  do  problema  levantado,  que 
poderiam ser sintetizadas da seguinte forma: 

1‐ Selecionar  as  imagens  produzidas  por  mulheres  artistas  na  atualidade  ‐ 


cuja  temática  das  obras  estejam  diretamente  relacionadas  com  algumas 
questões  do  universo  feminino‐,  tentar  traçar  o  “como”  inseri‐las  no 
contexto escolar e, simultaneamente, valorizar o papel social das mesmas 
e  o  seu  potencial  educacional  junto  aos  professores  de  Arte.  Com  a 
catalogação e a contextualização das obras de arte das artistas, será dada 
maior  visibilidade  a  esta  importante  produção  da  contemporaneidade, 
quando sistematizada para o contexto escolar. 
2‐ Esta  gama  de  conhecimentos,  ao  chegar  à  sala  de  aula,  objetiva  tocar  e 
sensibilizar  as  crianças/jovens  e  abrir  espaço  para:  discussão  dos  papéis 
engessados de mulheres e homens, a importância das mulheres artistas e 
de suas práticas, quais as relações existentes entre as imagens produzidas 
por  elas  e  a  vida  cotidiana,  quais  interseções  consistentes  coabitam  a 
produção artística de mulheres e a própria realidade. 
3‐ Utilizar  a  Proposta  Triangular  de  Ensino  de  Arte  que  segundo  Ana  Mae 
Barbosa (1997:10 e 11)  

“As  metodologias  que  orientam  o  ensino  de  arte  nos  anos  80, 
denominadas  ensino  pós­moderno  [...]  ou  ensino  de  arte  contemporâneo 
[...],  consideram  a  arte  não  apenas  como  expressão,  mas  também  como 
cultura, apontando para a necessidade da contextualização histórica e do 
aprendizado da gramática visual […]” 

A proposta didática escolhida requer atividades que perpassam por três etapas: 
o Conhecer, o Criticar e o Fazer arte (não necessariamente na ordem apresentada). 
O núcleo das teorias sobre ensino de arte, hoje, está em torno da idéia de arte como 
experiência  cognitiva,  isto  significa,  que  influir  ou  afetar  o  desenvolvimento 
cultural  (o  Conhecer)  do  alunado,  potencializando  sua  produção  (o  Fazer)  e  sua 
recepção/capacidade  de  análise  (o  Criticar),  são  as  metas  almejadas  nesta 
proposta. Segundo Barbosa (2005: 100) “Através da Arte, é possível desenvolver a 
percepção  e  a  imaginação  para  apreender  a  realidade  do  meio  ambiente, 
desenvolver  a  capacidade  crítica,  permitindo  analisar  a  realidade  percebida  e 
desenvolver  a  capacidade  criadora  de  maneira  a  mudar  a  realidade  que  foi 
analisada”. 

Sob esta perspectiva teórica, serão inseridas as obras das artistas selecionadas e 
sua aplicação didática em sala,  quando pretendo observar para depois descrever, 
interpretar, na tentativa de apresentar alguns dados que auxiliem na compreensão 
do impacto das mesmas num grupo de alunos e alunas. 

A  partir  deste  confronto  esperamos  ser  possível,  junto  de  um  público  muito 
jovem, tirar substratos para o incremento de uma nova consciência acerca do que é 

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COUTINHO, A. (2007) A produção artística das mulheres e suas implicações no ensino 
de  arte.  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do 
Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 
 
 
feminino  e  masculino,  das  diferenças  e  das  desigualdades  entre  gênero,  além  de 
fomentar para aquilo que a crítica da arte feminista vem lutando desde a década de 
60: desestabilizar os lugares fixos, aquecer o debate frente ao poder patriarcal na 
arte  e  na  vida,  corrigir  e  reformular  pendências  e  principalmente  fortalecer  o 
“olhar” próprio da mulher sobre o mundo.  

Portanto, é imprescindível à realização do estudo de campo desta investigação, 
alguns procedimentos anteriores que comportam a catalogação e seleção junto ao 
acervo de obras das artistas brasileiras Beth Moysés e Rosana Paulino e da artista 
portuguesa  Paula  Rego  (produção  da  arte  contemporânea  selecionada  para  esta 
pesquisa), avaliando que imagens poderão de fato ser utilizadas para alcançar os 
objetivos  propostos.  Através  de  entrevistas,  visitas  aos  ateliês,  uso  de  material 
impresso sobre a produção das mesmas (folders, catálogos, impressos, citações em 
revistas,  livros,  jornais)  para  a  elaboração  da  biografia  das  artistas,  será  possível 
fazer  uma  observação  mais  direta  do  processo  de  construção  das  obras  de  arte 
além  do  contato  com  as  reais  intenções,  inquietações  inerentes  ao  processo  de 
concepção e criação das artistas, permitindo uma contextualização desta produção 
artística. 

As  artistas  Paula  Rego  (1935),  Beth  Moysés  (1962)  e  Rosana  Paulino  (1967) 
encontram‐se  em  plena  produção  e  são  hoje,  exemplos  de  engajamento  pelas 
causas  femininas/feministas  nas  artes,  quando  em  suas  obras  discutem 
abertamente  os  tabus  sociais  fortalecidos  pelo  engessamento  dos  papéis 
estereotipados do feminino (Rego), a violência sofrida pelas mulheres (Moysés) e a 
discriminação racial (Paulino). 

Em  Rego,  encontraremos  um  trabalho  de  raízes  portuguesas,  repleto  de 
memórias  pessoais,  onde  a  artista  também  coloca  seu  ponto  de  vista  feminino 
sobre  um  grande  tabu  social  que  envolve  e  gera  inúmeros  sofrimentos  às 
mulheres: o aborto. A clandestinidade, a angustia, a vergonha, a solidão, o medo e a 
humilhação  são  alguns  dos  sentimentos  que  provocam  grande  impacto  nas 
imagens  que  a  artista  produz.  Soam  como  gritos  de  alerta  e  revolta.  Já  Moysés 
afirma  que  suas  obras  estão  em  torno  do  universo  feminino,  da  discriminação  e 
violência  dirigidas  contra  a  mulher.  Ela  entende  que  a  arte  é  uma  forma  de 
confrontar  estas  questões.  Busca  não  apenas  transformar  seu  trabalho  em 
denúncia  social,  mas  uma  forma  de  modificar  as  consciências.  Paulino,  artista 
negra, encara e trata os temas como violência, racismo, sexo e feminilidade através 
de  desenhos,  objetos  e  instalações,  num  processo  de  reflexão  sobre  a  escravidão 
que envolve os padrões de beleza socialmente impostos e a discriminação por raça, 
ainda forte pelo mundo.  

Sendo  estas  representações  do  feminino/feminismo  ‐  na  pluralidade  da 


produção  artística  contemporânea  ‐  entendidas  como  um  efeito  de  reverberação 
recíproca entre mulher‐sociedade, estas passam a se constituir como referência de 
um  contexto  vivido,  experimentado  ou  simplesmente  observado  em  nosso 
cotidiano. Estas produções inseridas como estão na cena social e cultural, podem 

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COUTINHO, A. (2007) A produção artística das mulheres e suas implicações no ensino 
de  arte.  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do 
Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

ser  consideradas  como  representantes  de  uma  visão  coletiva,  feminina  ou  não. 
Logo,  as  obras  de  arte  engajadas  às  questões  da  mulher  nas  obras  de  Rosana 
Paulino, Beth Moysés e Paula Rego “elaboram um código específico que possui um 
significado  dentro  de  um  contexto  social  e  histórico  circunstancial  e  tecem  a 
cultura artística de uma cidade, de uma região ou de um país” (Ribeiro, 1993: 128‐
136). 

Estas  produções  artísticas  foram  produzidas  por  artistas  mulheres  e  são  a  re‐
apresentação  das  inúmeras  facetas  de  ser  e  estar  no  mundo  como  mulher.  São 
imagens  que,  intrinsecamente,  revelam  a  relação  das  artistas  com  a  realidade  de 
seu tempo, de onde tiram o substrato, o entusiasmo e a coragem para a criação.  

Segundo  o  filósofo  Gaston  Bachelard  (1997:2)  “[...]  tentar  encontrar,  por  trás 
das imagens que se mostram, as imagens que se ocultam [...]”, é tentar entender a 
produção artística mais como resquícios da experiência e da própria vida do que 
como um objeto tangível apenas aos olhos.  

Esta  produção  feminista  da  arte  e  suas  implicações  e  usos  no  ensino  de  arte 
podem ser encaradas como uma potente “arma simbólica”6, capaz de colaborar na 
minimização  dos  conflitos  de  gênero  ainda  existentes,  na  vida  e  na  arte.  Para  a 
artista feminista brasileira Beth Moysés a arte é um meio de comunicação coletiva 
e pode servir como um veículo de conscientização.  

Definidos,  pois,  as  artistas,  imagens  de  obras  de  arte  e  contextualização  das 
mesmas,  segue  o  trabalho  de  campo  que  nos  servirá  à  verificação  dos  efeitos  da 
arte  feminista  sobre  os(as)  professores(as)  e  posteriormente,  desta  sobre  as 
crianças e/ou jovens.  

Selecionados  e  organizado  o  grupo  de  professores  (as)  de  arte,  será  feita  uma 
formação específica sobre arte feminista, onde surgirão questões que envolvem a 
teoria,  a  prática  e a  história  da arte  contemporânea  atreladas  às  questões  sociais 
como:  gênero,  discriminação,  papéis  masculinos  e  femininos,  estereótipos, 
padronização,  etc.  Posteriormente  serão  observadas  algumas  aulas  que  estes 
professores(as)  formandos(as)  vão  lecionar,  para  análise  dos  resultados  obtidos 
com a formação de que foram alvo. 

No  campo  será  aplicada  uma  análise  qualitativa,  quando  se  pretende 
“compreender  o  processo  mediante  o  qual  as  pessoas  constroem  significados  e 
descrever  em  que  consistem  estes  mesmos  significados”  (Bogdan  &  Biklen, 
1994:70).  A  descrição  do  problema,  interpretação  dos  dados  observados  e 
colhidos,  fazem  parte  de  um  esforço  de  compreender  o  dinamismo  e  a 
multiplicidade  dos  grupos  sociais  e  mais,  contribuir,  com  certas  intervenções,  no 
processo de mudança e de transformação. 

 Bourdieu, 2003 
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COUTINHO, A. (2007) A produção artística das mulheres e suas implicações no ensino 
de  arte.  In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do 
Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 
 
 
Há  um  modo  diferente  de  investigar,  próprio  dos  estudos  feministas,  que 
segundo  Cao  (2002:148),  propõe  uma  metodologia  auto‐reflexiva,  orientada  pelo 
âmbito social, que incorpora uma crítica ao racismo, ao androcentrismo, intenta o 
fortalecimento das mulheres. Além de selecionar temas e métodos que assinalam 
problemas  ligados  à  experiências  do  imediato,  do  cotidiano,  valorizando  a 
interdisciplinaridade,  a  colaboração  inter‐pessoal  e  se  adaptam  a  outras 
metodologias já existentes. 

Em  termos  epistemológicos,  a  teoria  interpretativa  se  alia  a  teoria  crítica, 


quando  “enfatiza  a  abertura  à  novas  formas  de  conhecimento,  apóia  o 
desvelamento de modos ocultos de opressão, contesta a cultura positivista e aceita 
a idéia de que ações e valores são indissolúveis.” (Cao, 2005: 195) 

Como  estratégia,  optamos  neste  momento,  pelo  estudo  de  caso  por  ser  um 
“estudo  empírico  que  investiga  um  fenômeno  atual  dentro  do  seu  contexto  de 
realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente 
definidas  e  no  qual  são  utilizadas  várias  fontes  de  evidência.”  (Gil,  1999:73).  O 
estudo  de  caso  permitirá  uma  observação  detalhada  dos  indivíduos  envolvidos  e 
do  contexto  escolhido,  o  “como”  e  o  “por  quê”  destes  fenômenos  como 
acontecimentos atuais que fazem sentido dentro de uma realidade específica. 

Na parte documental deste estudo estão sendo realizadas buscas que envolvem 
Arte Feminista (Arte Contemporânea)/ Gênero / Educação. A partir dos binômios 
Arte/Feminismo,  Arte/Educação,  Educação/  Gênero,  serão  utilizados  na  área 
artística  os(as)  teóricos(as)  como  Griselda  Pollock,  Linda  Noclin,  Marília  Andrés, 
Kátia Canton, Lucy Lipard, Ronaldo Brito, e outros. Os autores e autoras com livros 
e artigos importantes sobre gênero e história das mulheres, entre eles, Maria Izilda 
Matos, Rachel Sohiet, Guacira Lopes Louro, Pierre Bourdieu, citando apenas alguns, 
buscas em revistas como Estudos Feministas e Cadernos Pagu (SP). Sobre Ensino de 
Arte:  Ana  Mae  Barbosa,  Lucia  Gouvêa  Pimentel,  Luciana  Loponte,  Marián  L.  Cao, 
Elliot Eisner, Edmund Feldman, Robert Saunders e outros (as). 

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