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Mariaa José D. Maartins1 
F. V
Vicente Castro2 

INTRODU
N UÇÃO

O  tema  do  desenvolv vimento  moral 


m tem  sido  abordado  segu undo  difereentes 
perspectivas  teeóricas,  dass  quais  se  destacam:  a  perspecttiva  psican
nalítica,  a  teoria 
t
da  aprendizaggem  sociaal  e  a  perspectiva
p a  cognitivo‐desenvollvimentistaa  ou 
consstrutivista ((ver Lourennço, 1992; Vicente Castro, 1994)). 

mente as teeorias do desenvolvim
Trradicionalm mento moraal têm prettendido exp plicar 
os  actos  moraiis  e/ou  pró
ó‐sociais.  Os 
O estudos que  tentaaram  expliccar  as  cond dutas 
agressivas com m base nesses modeloss nem sempre foram conclusivo os (e.g., Fonnseca, 
1993 3;  Martinss,  2003).  Após  umaa  breve  revisão 
r daas  principais  teorias  do 
deseenvolvimen nto  moral,  apresentarremos  algu uns  modeloos  teóricoss  e  estudoss  que 
tentaaram  expllicar  as  reelações  en ntre  a  mo
oralidade  e  a  conduta  anti‐social, 
salieentando  aq
queles  que  mais  conttribuíram  para 
p esclarrecer  essass  relações  (e.g., 
Gibbbs, 1991b).  

Destacam‐see dois grandes contrib
butos teóriccos na expllicação da m
moralidadee:  

1 Escola Superior de  Educação de P
Portalegre. ma
ariajmartins@
@mail.esep.ipp
portalegre.ptt 
2 Facu
ultad de Educacción de la Univ
versidad de Exttremadura. fviicente@unex..es 
MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

‐ A teoria de Kohlberg que pressupõe a primazia da cognição, ao definir o acto 
moral  como  aquele  que  segue  um  processo  de  raciocínio  moral  baseado  em 
princípios  de  justiça,  propondo  seis  estádios  de  desenvolvimento  do  raciocínio 
moral (ver Kohlberg, 1984a; 1984b);  

‐ A teoria de Hoffman que define o acto moral mais em termos motivacionais do 
que cognitivos, enfatizando o papel da empatia, enquanto reacção afectiva perante 
o  sofrimento  ou  necessidade  do  outro,  que  predispõe  à  ajuda  ou  acto  moral  (ver 
Hoffman, 1987; 1991).  

A INTEGRAÇÃO DOS MODELOS DE HOFFMAN E


KOHLBERG NA EXPLICAÇÃO DA MORALIDADE – O
CONTRIBUTO DE GIBBS

Gibbs  (1991a,  1994,  1995b)  tem  vindo  a  propor  a  integração  dos  modelos  de 
Kohlberg e Hoffman a fim de melhor se explicar a conduta moral, ou seja, o autor 
considera que é a inter‐relação entre os princípios de justiça e os afectos empáticos 
que  melhor  permitirá  compreender  a  natureza,  não  apenas  das  condutas  morais, 
mas também das condutas anti‐sociais. 

Segundo Gibbs (1991a, p.183) «as teorias de Kohlberg e Hoffman proporcionam 
contributos  importantes  e  complementares  para  a  nossa  compreensão  do 
desenvolvimento  e  motivação  morais.  O  trabalho  de  Kohlberg  enfatiza  a 
construção  progressiva,  por  parte  do  indivíduo,  do  significado  da  moralidade 
madura,  e  explica  as  motivações  morais  em  termos  de  um  processo  de 
descentração que desencadeia prescrições de igualdade e reciprocidade, isto é, de 
justiça. O trabalho de Hoffman enfatiza a transmissão, por parte da sociedade, de 
normas morais através da interiorização e encara o afecto empático e as emoções 
com  ele  relacionadas  como  a  base  da  motivação  moral»  Por  isso,  Gibbs  (1991a; 
1994; 1995b) tem vindo a propor que se integrem os dois modelos a fim de se ter 
uma compreensão mais alargada e profunda do desenvolvimento sociomoral e que 
se leve em consideração essa integração em investigações e estudos futuros.  

Gibbs (1991a) começa por estabelecer uma comparação entre os dois modelos, 
no  que  se  refere  a  dois  aspectos  centrais:  «primeiro,  o  desenvolvimento  da 
moralidade  e  especificamente  o  significado  para  os  dois  autores  das  orientações 
morais  externas  e  internas;  e,  segundo,  as  interpretações  cognitiva  e  afectiva  da 
motivação moral» (p. 184). 

Para  Kohlberg  (1984)  o  facto  de  ser  possível  verificar‐se  uma  orientação 
progressivamente  interna  no  desenvolvimento  moral  não  deve  ser  interpretada 
como uma interiorização de dados do ambiente, mas antes como um progresso no 
sentido  da  maturidade.  Kohlberg  (1984)  salienta  mesmo  que  seria  mais  correcto 
falar‐se de uma progressão do juízo moral do superficial para o profundo, do que 
do exterior para o interior do indivíduo (ver Gibbs, 1991a, p.185). 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

A moralidade interna resultaria, assim, de um processo de construção, por parte 
do  indivíduo,  a  partir  das  oportunidades  de  descentração  (“role‐taking”)  que  lhe 
vão  sendo dadas  ao  longo  da  vida,  na  interacção,  quer  com  a  família,  quer  com  o 
grupo de pares. Kohlberg não nega a importância das práticas educativas parentais 
no  desenvolvimento  moral  da  criança,  tal  como  sugeridas  por  Hoffman,  mas 
considera  que  a  interacção  com  os  grupos  de  pares,  nas  diferentes  idades, 
desempenha um papel igualmente, senão mais importante, nesse desenvolvimento. 
A motivação para a conduta moral surge, assim, à semelhança do que acontecia no 
domínio  cognitivo  lógico,  como  uma  necessidade  de  restaurar  a  igualdade  e 
reciprocidade face a situações de injustiça. Gibbs (1991a) recorda a este propósito 
as expressões de Kohlberg e de Piaget, respectivamente, relativas ao mecanismo de 
actuação  da  motivação  para  as  condutas  sociomoral  e  puramente  cognitiva.  O 
primeiro  autor  afirmava  que  «violar  a  lógica  e  violar  a  justiça  despertam  os 
afectos» (Kohlberg, 1984, p.63) e o segundo disse que «a lógica é a moralidade do 
pensamento  tal  como  a  moralidade  é  a  lógica  da  acção»  (Piaget,  1932,  p.398).  A 
motivação  para  agir  é  pois  encontrada  no  desequilíbrio,  momentaneamente 
experimentado, ao nível das estruturas cognitivas ou sociocognitivas do indivíduo 
e  do  impulso  natural  para  a  restruturação,  em  um  nível  superior  de  maior 
integração  e  coordenação,  de  perspectivas,  no  caso  do  desenvolvimento 
sociomoral (ver Kohlberg, 1984; Gibbs, 1995b).  

Assim,  enquanto  para  Kohlberg  (1984)  a  orientação  moral  externa  (um  juízo 
moral  superficial)  reflecte  a  imaturidade  ou  o  atraso  do  desenvolvimento 
sociomoral,  para  Hoffman  (1984,1994)  a  orientação  moral  externa  (uma 
orientação para as sanções externas) reflecte uma história de práticas educativas 
parentais  predominantemente  afirmativas  de  poder.  A  moralidade  interna  seria 
autoconstruída para Kohlberg e auto‐adoptada para Hoffman (ver Gibbs, 1991a).  

Gibbs  (1991a,  p.207)  considera  que  é  plausível  que,  quer  os  processos  de 
construção cognitiva, propostos por Kohlberg, quer os processos de interiorização 
moral através da socialização, propostos por Hoffman, contribuam para a formação 
de  uma  orientação  moral  interna.  É  curioso  o  papel  que  a  cognição  e  o  afecto 
desempenham na motivação da conduta moral, nas duas teorias. Enquanto que na 
teoria de Kohlberg (1984) a cognição é uma fonte de motivação primária e o afecto 
é  secundário,  para  Hoffman  (1991)  o  afecto  empático  é  a  fonte  de  motivação 
primária, sendo a cognição a secundária. Ambos os teóricos têm afirmações válidas 
sobre a questão. A construção cognitiva da atribuição de significado moral a uma 
situação vista como injusta, pode bem gerar a motivação moral, tal como o afecto 
empático desencadeado por uma vítima em sofrimento o pode também fazer. Pode 
ainda  acontecer  que  as  duas  fontes  de  motivação  entrem  em  conflito,  isto  é,  a 
justiça  e  a  empatia  podem  impelir  a  comportamentos  opostos  em  situações  de 
conflito de justiça distributiva em que, por exemplo, um indivíduo merece mais e 
um  outro  indivíduo,  embora  menos  merecedor,  está  em  situação  de  maior 
necessidade (ver Gibbs, 1991a, pp. 207‐208). Para obviar a este tipo de problema, 
Frankena (citado por Gibbs,1 991a, p. 208) propôs mesmo que a «justiça deva ser 
temperada  pela  beneficência  quando  uma  decisão  justa  resulte  num  sofrimento 
grave,  tal  como  a  beneficência  deve  ser  temperada  com  a  justiça  quando  o  acto 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

beneficente  resulte  em  grande  desigualdade  moral».  Embora  as  duas  fontes  de 
motivação  possam  estar  em  conflito,  Gibbs  (1991a,  p.208)  considera  que  «elas 
estão intimamente ligadas e frequentemente são compatíveis, e embora a cognição 
tenha  um  importante  papel  na  motivação  para  corrigir  injustiças,  a  empatia  tem 
um  papel  crítico  na  intensidade  e  persistência  do  esforço  para  assegurar  o  bem 
estar  da  vítima/receptor  de  ajuda»  e  eventualmente  pode  ter  um  papel  no 
desencadear de emoções que poderão depois conduzir ao raciocínio por princípios.  

Por  tudo  o  que  foi  exposto,  Gibbs  sugere  que  a  descentração  cognitiva  com  a 
aplicação dos princípios de justiça e o afecto empático são, provavelmente, ambas 
fontes de motivação primária no desencadear da conduta moral. Do mesmo modo, 
os  conceitos  de  construção  do  significado  moral  e  socialização  moral,  não  seriam 
incompatíveis mas dois aspectos que se interligam no desenvolvimento moral dos 
indivíduos (ver Gibbs, 1991a, 1995b). 

O  referido  autor  considera  ainda  que  os  dois  aspectos  discutidos  ‐  raciocínio 
moral baseado em princípios de justiça e empatia ‐ são importantes não apenas na 
compreensão  da  conduta  pró‐social,  mas  também  na  compreensão  da  conduta 
anti‐social.  Mais  ainda,  é  de  opinião  que  esses  dois  aspectos  devem  ser  ambos 
levados  em  consideração  quando  se  pensa  na  elaboração  de  programas  de 
educação moral ou reeducação social (ver Gibbs, 1987;1991b,1994, 1995a). 

Gibbs  (1987,  1991b)  estudou  especificamente  o  caso  de  adolescentes 


delinquentes  e  explicou  a  conduta  anti‐social  com  base  no  modelo  de 
desenvolvimento que integra os contributos de Kohlberg e Hoffman, tendo mesmo 
sistematizado  um  programa  de  intervenção  com  vista  ao  tratamento  de  jovens 
delinquentes (ver Gibbs, Potter & Goldstein, 1995). 

AS RELAÇÕES ENTRE A MORALIDADE E A CONDUTA


ANTI-SOCIAL

Gibbs  (1991b,  1994,  1995b)  salienta  a  importância  de,  quando  se  estuda  a 
relação  entre  juízo  e  conduta  morais,  considerar‐se  o  que  o  autor  designa  por 
distorções  cognitivas,  pois  estas  parecem  desempenhar  um  papel  crucial  no 
aparecimento e manutenção da conduta anti‐social em adolescentes.  

As  distorções  cognitivas  «são  atitudes  ou  crenças  não  verídicas  que  estão 
enraizadas  na  pessoa  e  na  sua  conduta  social.  O  viés  egocêntrico  constitui  com 
efeito uma distorção cognitiva natural na criança pequena (...) a persistência desta 
distorção egocêntrica na adolescência coloca o indivíduo em alto risco no sentido 
do  comportamento  anti‐social,  dado  o  tamanho,  força,  independência,  impulsos 
sexuais e capacidades do ego dos adolescentes» (ver Gibbs, 1995b, pp.43‐44). 

Assim,  Gibbs  (1991b,  p.95)  sugere  que  os  adolescentes  que  manifestam  o 
distúrbio da conduta anti‐social (no sentido da DSM IV) apresentam um atraso no 
seu  desenvolvimento  sociomoral,  no  sentido  em  que  evidenciam  um  grau  pouco 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

vulgar de viés egocêntrico, isto é, uma orientação moral centrada no eu e um juízo 
moral imaturo (do tipo previsto pelos estádios 1 e 2 de Kohlberg e de Gibbs). Este 
dado  apresenta  ainda  alguma  polémica,  pois  alguns  autores  não  encontraram 
diferenças  significativas  ao  nível  do  raciocínio  moral  de  delinquentes  e  não 
delinquentes.  Nomeadamente,  Fonseca  (1993)  em  um  estudo  com  a  escala  de 
Kurtines  &  Pimm  que  avalia  as  dimensões  Piagetianas  de  heteronomia  e 
autonomia  moral,  não  encontrou  diferenças  significativas  entre  jovens 
delinquentes e não delinquentes, e entre crianças com distúrbios da conduta anti‐
social  e  crianças  sem  esse  distúrbio.  O  esclarecimento  desta  questão  torna‐se 
pertinente quando pensamos nas implicações que tal facto pode ter no tratamento 
de jovens delinquentes e na prevenção das condutas anti‐sociais.  

Apesar  de  tudo,  tal  como  avaliados  pelas  medidas  de  produção  do 
desenvolvimento moral (com a M.J.I. de Kohlberg & Colby, 1987; ou com o SRM‐SF 
de Gibbs, Basinger & Fuller, 1992), encontram‐se percentagens significativamente 
mais elevadas de delinquentes ou jovens com desordem da conduta anti‐social nos 
estádios 1 e 2, por comparação aos estádios mais maduros e por comparação aos 
restantes  jovens.  Porém,  segundo  Gibbs  (1991b,1994),  o  atraso  no 
desenvolvimento sociomoral, só por si, pode não conduzir a conduta criminosa ou 
anti‐social  severa,  a  menos  que  certos  processos  defensivos  desempenhem  o  seu 
papel. Assim, associadas ao atraso de desenvolvimento sociomoral, aparecem certo 
tipo  de  distorções  cognitivas  que  reforçam  a  centração  no  eu  e  inibem  os 
mecanismos da empatia e da culpa de actuarem no sentido da inibição da conduta 
anti‐social e da desactivação da conduta pró‐social. Nas palavras de Gibbs (1991b, 
p. 98): «É preciso considerar que, teoricamente, todos os indivíduos, mesmo os que 
evidenciam  atraso  no  desenvolvimento  sociomoral  possuem:  algum  grau  de 
predisposição  empática  (uma  vez  que  esta  seria  uma  predisposição  com  raízes 
biológicas  e  inata);  e  uma  motivação  para  manter  a  autoconsciência  ou  evitar  a 
dissonância cognitiva entre o autoconceito e o comportamento. E particularmente, 
quando o dano infligido aos outros é óbvio e difícil de ignorar, os jovens envolvidos 
na  conduta  anti‐social  podem  sentir  tensão  psicológica  proveniente  da:  a)  culpa 
incipiente,  sentida  a  partir  da  empatia  despertada  pelas  pistas  salientes  do  mal‐
estar  da  vítima;  e  b)  dissonância  cognitiva  entre  a  conduta  que  é 
injustificadamente prejudicial aos outros e um autoconceito que prescreve que não 
se  deve  prejudicar  os  outros  sem  justificação.  É  precisamente  na  defesa  contra  a 
tensão  provocada  por  estes  inibidores  potenciais  da  conduta  anti‐social,  que  o 
jovem anti‐social congela o seu atraso no desenvolvimento, através da elaboração 
e recurso a certas distorções cognitivas que servem os interesses do eu egoísta»  

De  facto,  o  criminologista  Stanton  Samenow  (citado  por  Gibbs,  1994,  p.17) 
verificou  que  «mesmo  o  mais  severo  e  duro  dos  criminosos  evidencia  alguns 
sentimentos de empatia genuínos pelos outros, embora superficiais e ocasionais». 
Assim,  apesar  de  ser  provável  que  o  desenvolvimento  da  empatia  também  tenha 
algum  atraso  no  seu  próprio  desenvolvimento  (tal  como  conceptualizado  por 
Hoffman  e  para  além  do  atraso  decorrente  da  associação  com  o  atraso  moral), 
Gibbs  (1991b)  sugere  que  o  processo  das  distorções  cognitivas  actua  como 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

mecanismo  inibidor  quer  da  empatia,  quer  da  responsabilização  pelos  actos  nos 
jovens delinquentes.  

O  viés  egocêntrico  e  o  pensamento  centrado  nas  necessidades  do  eu 


frequentemente  encontrados  em  jovens  com  desordem  da  conduta  anti‐social 
podem  considerar‐se  distorções  cognitivas  primárias  (com  pensamentos  do  tipo: 
desejo algo, logo é legítimo que o obtenha), mas logo surgem, associadas a estas, as 
distorções cognitivas secundárias, ou racionalizações, ou erros de pensamento, ou 
falsas  crenças  ou  falsas  concepções,  segundo  expressões  já  utilizadas  por  outros 
autores (e.g., Ellis, citado por Gibbs, 1991b).  

Aliás,  outros  autores  já  tinham  constatado  algo  de  semelhante  à  ideia  das 
distorções cognitivas. Nomeadamente, Dodge & Frame (1982) constataram que as 
crianças mais agressivas tendiam a atribuir exagerada e excessivamente intenções 
hostis aos seus pares, mesmo em circunstâncias nas quais essa atribuição não era 
lógica,  nomeadamente  em  situações  ambíguas.  Crick  e  Dodge  (1994)  consideram 
que as crianças agressivas reactivas cometem um erro atribucional de hostilidade, 
relativamente  às  intenções  dos  pares,  numa  situação  de  interacção  social  não 
ameaçadora.  

No  seu  trabalho  com  jovens  delinquentes,  Gibbs  (1991b,  p.  95)  encontrou 
predominantemente  duas  categorias  principais  de  distorções  cognitivas 
secundárias: a exteriorização e deslocação da culpa (“externalization of blame”) e a 
etiquetagem ou categorização (“mislabing”), com minimização da  humanidade do 
outro.  

A  exteriorização  da  culpa  consiste  num  processo  de  racionalização  defensivo 


que atribui a culpa do dano infligido à própria vítima. Gibbs (1991b, pp.100‐101) 
apresenta alguns exemplos esclarecedores do modo de actuação desse mecanismo: 
quando  um  jovem  justifica  o  assalto  a  uma  loja,  dizendo  que  a  culpa  foi  do 
proprietário  que  não  tinha  activado  o  alarme;  ou  justifica  o  assalto  a  uma  casa 
particular,  dizendo  que  a  porta  da  mesma  não  estava  bem  trancada,  atribuindo 
também  neste  caso  a  culpa  ao  próprio  proprietário,  vítima  do  assalto.  Este 
mecanismo,  de  exteriorização  da  culpa,  é  frequentemente  também  utilizado  em 
casos  de  violação,  em  que  a  vítima  é  vista  como  tendo  feito  algo  que  justifica  a 
violação,  ou  como  tendo  provocado  a  conduta  agressiva.  O  processo  visa  inibir 
quer  mecanismos  cognitivos  (e.g.,  responsabilização  pelos  próprios  actos)  quer 
mecanismos  afectivos  (e.g.,  empatia  pela  vítima),  que  são  inibidores  da  conduta 
agressiva mesmo quando não se verifica um atraso do desenvolvimento. A conduta 
anti‐social não é um corolário imediato do atraso de desenvolvimento sociomoral, 
pois  ser  deficiente  mental  não  implica  envolvimento  em  conduta  anti‐social, 
porque  nesse  caso  existe  a  actuação  dos  mecanismos  afectivos  da  empatia.  Só 
quando  o  atraso  no  desenvolvimento  se  associa  às  distorções  cognitivas,  que 
inibem  os  mecanismos  afectivos  de  actuar,  se  manifesta  a  conduta  anti‐social. 
Gibbs  (1991b)  verificou  mesmo  que  alguns  delinquentes  eram  capazes  de 
apresentar  raciocínio  do  estádio  3  e,  eventualmente,  do  estádio  4  do 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

desenvolvimento moral (embora fosse uma percentagem reduzida), sendo nestes 
casos específicos que a actuação das distorções cognitivas era mais acentuada. 

A  etiquetagem  ou  categorização  consiste  também  num  processo  de 


racionalização  defensivo,  que  faz com  que  se  considere a  outra  pessoa  (potencial 
vítima) como pertencendo a um grupo à parte, minimizando a sua humanidade ou 
merecimento  a  ser  bem  tratado.  O  mecanismo  actua  também  através  de  uma  re‐
interpretação  dos  dados  dos  acontecimentos;  por  exemplo,  numa  situação  de 
tráfico de droga, um jovem re‐interpreta a situação, afirmando que estava apenas 
ajudar um amigo, ignorando a ilegalidade do acto e os danos que poderá causar aos 
consumidores (ver Gibbs, 1991b, p.101).  

Em  suma,  o  atraso  do  desenvolvimento  sociomoral  dos  jovens  delinquentes 


consiste na persistência do viés egocêntrico, bem como de um juízo moral imaturo, 
radicados  numa  atitude  que  visa  servir  exclusivamente  os  interesses  do  eu. 
Quando  o  atraso  no  desenvolvimento  sociomoral  está  associado  a  conduta  anti‐
social  séria  é  provável  que  a  ela  estejam  associadas  as  distorções  cognitivas 
secundárias – exteriorização da culpa e etiquetagem. Estas têm um efeito inibidor 
dos  mecanismos  de  responsabilização  pelos  próprios  actos  e  da  empatia  pelas 
vítimas,  provocando  assim  um  efeito  de  congelamento  ou  fixação  do  atraso  no 
desenvolvimento sociomoral nos estádios 1 e/ou 2. Estes dois aspectos – atraso no 
desenvolvimento sociomoral e distorções cognitivas – caracterizam não só o jovem 
anti‐social  mas  também  o  grupo  de  pares  ou  gang  ao  qual  ele  se  pode  associar  e 
filiar (ver Gibbs, 1991b).  

Barriga e Gibbs (1996) desenvolveram e validaram um questionário para medir 
as  distorções  cognitivas  centradas  no  eu.  Trata‐se  do  questionário  «Como  eu 
penso?» («How I think?» ‐ HIT), que engloba itens distribuídos por quatro grandes 
tipos  de  distorções  cognitivas:  viés  egocêntrico;  exteriorização  da  culpa  ou 
culpabilização do outro; etiquetagem com minimização da humanidade do outro; e 
atribuição de hostilidade ao outro. Os itens foram também redigidos com base nos 
sintomas descritos na DSM – IV a respeito dos síndromas do distúrbio de conduta e 
do distúrbio desafiante de oposição.  

O  questionário  HIT  foi  aplicado  a  três  grupos  de  adolescentes:  um  primeiro 
grupo  que  cumpria  pena  num  colégio  de  reeducação  de  menores;  um  segundo 
grupo de jovens de uma escola pública que apresentava problemas disciplinares; e 
um  terceiro  grupo  de  adolescentes  de  uma  escola  pública  bem  considerada  na 
comunidade.  Os  resultados  obtidos  com  o  HIT  permitiram  discriminar  entre  o 
primeiro  e  o  terceiro  grupo.  Contudo  no  que  se  refere  ao  segundo  grupo  este 
apresentava  níveis  baixos  de  delinquência  (similares  aos  do  terceiro  grupo)  mas 
apresentava  níveis  elevados  de  distorções  cognitivas  (similares  aos  do  primeiro 
grupo).  De  qualquer  modo,  a  validade  de  constructo  do instrumento  foi  razoável, 
pois  o  HIT  correlacionava  com  duas  medidas  de  comportamento  anti‐social 
registado  pelo  próprio  e  foi  parcialmente  eficaz  na  discriminação  dos  grupos  de 
critério.  Em  suma,  os  resultados  obtidos  com  o  HIT  foram  globalmente 
consistentes com o modelo teórico atrás descrito (ver Barriga & Gibbs, 1996).  

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

IMPLICAÇÕES DAS TEORIAS COM VISTA À


IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE INTERVENÇÃO
COM JOVENS DELINQUENTES

Estas  descobertas  conduziram  Gibbs  (1991b,  1994)  a  sistematizar  algumas 


implicações  da  teoria  descrita  para  o  tratamento  de  jovens  delinquentes.  Aliás, 
conduziram  o  referido  autor  a  trabalhar,  em  conjunto  com  outros  autores 
especialistas  nesse  domínio,  na  elaboração,  implementação  e  aplicação  de  um 
programa ‐ o programa EQUIPAR ‐ que visa o tratamento e recuperação de jovens 
delinquentes (ver Gibbs, Potter & Goldstein, 1995).  

Gibbs (1991b,1994) considera que, uma vez que os jovens delinquentes têm um 
atraso  no  desenvolvimento  sociomoral  (relativamente  àquilo  que  era  esperado 
para  a  sua  idade),  ao  qual  se  associam  as  distorções  cognitivas  já  descritas, 
qualquer programa de reeducação de jovens com desordem anti‐social deve levar 
em consideração esses aspectos e tentar remediá‐los ou ultrapassá‐los de alguma 
forma.  

O facto dos jovens terem um atraso no desenvolvimento sociomoral implica que 
precisam  de  vivenciar  um  meio  sobre‐enriquecido  com  oportunidades  de 
descentração  social  (“role‐taking”),  de  modo  a  estimulá‐los  a  avançar  para  níveis 
mais  profundos  e  elaborados  de  raciocínio  moral.  Isto  é,  aos  sujeitos  devem  ser 
dadas  oportunidades  de  considerar  as  perspectivas  dos  outros  e  de  coordená‐las 
com  a  sua  própria  perspectiva.  Isso  implica  adaptar  duas  estratégias  importadas 
dos estudos de Kohlberg: uma micro‐intervenção ao nível da discussão de dilemas 
hipotéticos e de vida real; e uma macro‐intervenção no sentido de reestruturar a 
instituição  de  modo  a  permitir  a  participação,  de  todos  os  que  nela  vivem,  nos 
processos  de  elaboração  e  cumprimento  de  regras,  isto  é,  uma  abordagem  de 
comunidade justa (ver Gibbs, 1991b, p. 102‐103).  

A respeito desses aspectos, Gibbs (1991b) cita as investigações de Arbuthnote e 
Gordon, e de Niles (citado também por Sprinthall & Collins, 1994), que consistiram 
em  micro‐intervenções  com  jovens  delinquentes  e  que  conduziram  a  ganhos 
sobretudo ao nível do raciocínio moral. Porém, os ganhos ou melhorias ao nível da 
conduta eram mais controversos e, por vezes, inexistentes. Esse dado tem levado 
Gibbs  (1991b,1994)  a  enfatizar  a  importância  de  combater  ou  corrigir  as 
distorções  cognitivas,  no  âmbito  dos  programas  de  reeducação  de  jovens 
delinquentes.  

Para  combater  as  distorções  cognitivas  secundárias,  o  autor  recomenda 


fundamentalmente duas técnicas (aliás, já utilizadas por Vorrath & Brentro, citados 
por  Gibbs,  1991b),  a  saber:  reverter  ou  inverter,  isto  é,  recolocar  a 
responsabilidade  pela  acção  no  próprio  indivíduo,  em  vez  de  se  permitir  que  ele 
exteriorize a culpa e a atribua às vítimas da sua própria acção; e recategorizar ou 
re‐etiquetar,  isto  é,  contrapor  à  tendência  do  jovem  anti‐social  para  as 
representações e interpretações ao serviço de si próprio, outras interpretações da 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

realidade  mais  ajustadas.  Isto  significa,  por  exemplo,  conduzir  o  jovem  a  atribuir 
valor de força e maturidade ao acto de dar e receber ajuda, em vez de atribuir esse 
valor às condutas agressivas, como é típico desses jovens (ver Gibbs, 1991b; Gibbs, 
Potter & Goldstein, 1995). 

Deve‐se  ainda  combater  as  distorções  cognitivas  primárias,  confrontando  os 


jovens  com  o  efeito  das  suas  acções  sobre  os  outros,  de  modo  a  torná‐los 
conscientes  do  dano  que  provocam  nas  vítimas  (uma  técnica  similar  à  indução, 
sugerida  por  Hoffman  para  uma  educação  parental  eficaz).  O  confronto  dirige  a 
atenção  do  jovem  para  a  mágoa  que  inflige  aos  outros,  possibilitando,  assim,  o 
reaparecimento  de  respostas  empáticas  inibidoras  da  conduta  agressiva  (ver 
Gibbs, 1991b; Gibbs, Potter & Goldstein, 1995). 

Gibbs, Potter & Goldstein (1995) elaboraram um programa de intervenção que 
inclui  as  ideias  e  técnicas  já  descritas,  complementando‐as  com  abordagens  e 
técnicas que têm vindo a ser utilizadas na reeducação de jovens delinquentes, por 
vários especialistas desse domínio. O programa foi designado: Programa EQUIPAR, 
no  sentido  em  que  os  autores  pretendem  motivar  e  equipar,  ou  apetrechar,  os 
jovens delinquentes a ajudar‐se uns aos outros e a si próprios e, também, a viver 
em sociedade de forma social e emocionalmente ajustada. 

No  programa  citado,  Gibbs  conjuga  as  suas  técnicas  de  promoção  do 
desenvolvimento  moral  e  correcção  das  distorções  cognitivas  (que  equipam  o 
jovem,  segundo  expressão  de  Gibbs),  com  abordagens  que  utilizam  o  grupo  de 
pares  enquanto  grupo  de  ajuda  mútua,  nomeadamente  através  da  promoção  de 
uma  cultura  positiva  do  grupo  de  pares  (PPC)  para  motivar  os  jovens  para  a 
mudança, transformando a influência negativa do grupo de pares numa influência 
positiva.  Esta  última  abordagem  havia  sido  utilizada  por  Potter  com  resultados 
limitados,  na  medida  em  que,  embora  motivados  para  mudar,  nem  sempre  os 
jovens estavam preparados (equipados, na expressão de Gibbs) com as estratégias 
e competências sociais que lhes permitiam ajudar‐se uns aos outros eficazmente, 
reduzindo‐se,  por  vezes,  essas  tentativas  a  ameaças,  gritos  e  intimidação.  A 
conjugação  das  estratégias  propostas  por  Gibbs  (promoção  do  desenvolvimento 
moral  e  correcção  das  distorções  cognitivas)  com  a  prática  de  Potter  (utilizar  o 
grupo  de  pares  enquanto  grupo de  ajuda  mútua,  para induzir  uma  mudança  pela 
positiva  nos  jovens)  permitia,  respectivamente,  equipar  os  jovens  no  sentido  de 
serem  capazes  de  se  ajudar  entre  si,  e  motivá‐los  para  a  mudança  ao  nível  das 
condutas.  O  programa  EQUIPAR  incluiu  ainda  o  ensino  de  técnicas  de 
desenvolvimento  e  utilização  de  competências  (“skills”)  sociais  para  lidar  com 
situações  interpessoais  tensas  e  problemáticas,  técnicas  de  gestão  da  raiva  e 
controlo  pessoal  (um  contributo  específico  de  Goldstein  ‐  um  dos  autores  que 
participaram na elaboração do programa) (ver Gibbs, Potter & Goldstein, 1995). 

O programa desenrolava‐se ao longo dos cinco dias da semana, em sessões que 
oscilavam  entre  a  uma  hora  e  a  uma  hora  e  meia,  com  seis  a  nove  jovens,  e 
orientadas  por  um  adulto.  Abordavam  em  alternância  várias  componentes 
curriculares:  educação  moral,  correcção  de  distorções  cognitivas  ou  erros  de 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

pensamento,  gestão  da  raiva,  treino  de  competências  (“skills”)  sociais  para  lidar 
eficazmente com situações interpessoais problemáticas. Incluíam também sessões 
de  ajuda  mútua,  baseando‐se  no  registo  de  problemas  específicos  e  tentativa  de 
contribuir  para  a  sua  resolução  em  grupo  de  auto‐ajuda  (ver  Gibbs,  Potter  & 
Goldstein, 1995). 

O  programa  EQUIPAR  consiste  pois  numa  abordagem  multifacetada, 


enfatizando  múltiplas  componentes  e  integrando‐as  num  todo  coerente.  O 
programa foi objecto de uma avaliação sistemática e controlada, numa instituição 
correctiva  com  57  jovens  delinquentes  e,  segundo  os  seus  autores,  provou  ser 
bastante  eficaz.  Os  ganhos  obtidos  com  o  programa  situavam‐se  quer  ao  nível de 
uma melhoria significativa das condutas no interior da instituição de reeducação, 
quer  ao  nível  de  uma  diminuição da  taxa  de reincidência  para  menos  de  metade, 
nos jovens que tinham sido libertados um ano depois de participarem no programa 
(Gibbs, Potter & Goldstein, 1995).  

O  programa  inclui  dois  instrumentos  de  avaliação  principais  (para  além  de 
várias “check lists” utilizadas no seu decorrer), a saber: 

‐  O  Social  Reflection  Questionnaire  of  the  Sociomoral  Reflection  Measure  – 


Short‐form (SRM‐SF), para avaliar a maturidade do juízo moral; 

‐ O Inventory of Adolescent Problems ‐ Short‐form (IAP‐SF) que foi construído 
para  avaliar  as  competências  sociais  dos  adolescentes  face  a  situações 
interpessoais problemáticas ou tensas. 

Gibbs,  Basinger  &  Fuller  (1992)  constataram  um  facto  curioso  ‐  era  possível 
diferenciar  delinquentes  de  não  delinquentes,  ao  nível  do  raciocínio  moral,  com 
testes  de  produção,  mas  não  com  testes  de  reconhecimento.  Este  dado  parece 
sugerir que os sujeitos seriam capazes de reconhecer juízos morais mais maduros 
do que aqueles que eram capazes de emitir espontaneamente, ou seja, do que eram 
capazes  de  produzir  por  si  próprios  sem  o  recurso  à  leitura  de  alternativas.  É 
preciso salientar a este respeito que nos testes de reconhecimento os sujeitos são 
confrontados com a leitura de alternativas representativas de todos os estádios, o 
que  os  poderia  levar  a  escolher  estádios  ligeiramente  acima  daquele  em  que 
funcionam.  Esta  interpretação  do  facto  parece,  aliás,  compatível  com  a  ideia 
Kohlbergiana  de  que  a  maioria  dos  sujeitos  é  capaz  de  compreender  o  estádio 
imediatamente acima daquele em que se encontra, e fundamenta a ideia de que a 
mera  exposição  a  argumentos  de  um  estádio  acima  daquele  em  que  os  sujeitos 
funcionam, pode conduzir a níveis mais avançados de raciocínio moral (ver Blatt & 
Kohlberg, 1977).  

Deste  modo,  pode  dizer‐se  que  Gibbs,  situando‐se  ainda  no  quadro 
Kohlbergiano sobre o desenvolvimento da moralidade, ao integrar vários modelos 
teóricos na explicação do desenvolvimento moral, deu um contributo válido para a 
compreensão e resolução de questões sociais práticas, como sejam a reeducação de 
delinquentes, permitindo antever formas de prevenção da conduta anti‐social nos 

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
Universidade de Évora. 

jovens,  em  contexto  escolar,  no  âmbito  das  abordagens  do  desenvolvimento 
sociocognitivo combinadas com elementos das teorias psicanalíticas.  

Diaz‐Aguado,  M.,  Royo;  P.,  Segura,  &  M.,  Andrés,  M.  (1996)  desenvolveram 
programas  de  prevenção  da  violência  escolar  com  adolescentes  que  levavam  em 
consideração  as  componentes  cognitiva  (raciocínios,  crenças  e  estereótipos 
associados  à  eficácia  das  condutas  agressivas  como  forma  de  resolver  conflitos); 
afectiva (atitudes e identificação com modelos adultos que valorizam a violência) e 
comportamental (falta de competência social para resolver conflitos de forma não 
violenta  e  experiência  da  violência)  que  pareceram  revelar  eficácia  na  prevenção 
das condutas agressivas e também apontam no sentido de uma maior eficácia dos 
programas que integram os contributos de diferentes modelos teóricos.  

CONCLUSÕES
Gibbs sugeriu que para compreender as relações entre a moralidade e a conduta 
anti‐social era necessário integrar os contributos das teorias sociocognitivas com 
os  contributos  teóricos  das  correntes  psicanalíticas  e  compreender  o  papel  que 
determinadas  distorções  cognitivas  ou  racionalizações  desempenham  no 
desencadear  das  condutas  agressivas.  Sistematizou  quatro  grandes  tipos  de 
distorções cognitivas como estando associadas à conduta anti‐social, a saber: viés 
egocêntrico  ou  centração  nas  necessidades  e  desejos  do  eu  de  um  modo  que  os 
direitos  e  necessidades  dos  outros  são  ignorados  ou  mesmo  desrespeitados; 
exteriorização da culpa e culpabilização dos outros pela sua má sorte, condição de 
vítima;  etiquetagem  e  minimização  da  humanidade  do  outro  desvalorizando  o 
dano  causado,  valorizando  os  actos  agressivos  e/  ou  negando  a  humanidade  do 
outro;  atribuição  de  hostilidade  às  intenções  do  outro,  pressupondo  o  pior  nas 
situações  sociais  e  nas  intenções  dos  outros  e  assumindo  a  impossibilidade  de 
mudar  o  comportamento.  Contribuiu  também  para  esclarecer  como  estes 
mecanismos  interferiam  com  a  inibição  da  empatia,  bem  como  da 
responsabilização  pelos  próprios  actos  e  eventualmente  do  raciocínio  sobre 
princípios de justiça (ver Barriga & Gibbs, 1996, pp. 333‐334).  

Esta  conceptualização  das  relações  entre  o  desenvolvimento  moral  e  as 


condutas agressivas permitiu uma melhor compreensão dos mecanismos que lhes 
estão  subjacentes,  bem  como  a  elaboração  de  programas  de  intervenção  com 
jovens delinquentes que parecem ser eficazes na redução das condutas agressivas 
e na prevenção da reincidência. Este dado parece relacionar‐se com o facto de tais 
programas  levarem  em  consideração  as  componentes  cognitiva,  afectiva  e 
comportamental  da  violência  e  integrarem  contributos  de  diferentes  modelos 
teóricos  (psicanálise,  aprendizagem  social  e  teoria  sociocognitiva).  Esta 
abordagem  integrada  parece  também  eficaz  na  prevenção  da  agressividade  em 
contexto escolar.  

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MARTINS, M. & Castro, F. (2007) Desenvolvimento moral e conduta anti‐social: que relações? 
In,  V.  Trindade,  N.  Trindade  &  A.A.  Candeias  (Orgs.).  A  Unicidade  do  Conhecimento.  Évora: 
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