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Brasília
Setembro - 2004
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva
A presente publicação expressa a opinião dos autores dos textos e não reflete
necessariamente a posição do Gabinete de Segurança Institucional.
CDD - 327.12
Sumário
I
Inteligência e Interesses Nacionais ................................................. 05
II
A Importância da Inteligência no Processo Decisório ................. 51
III
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil ....................... 73
Alexandre Martchenko
IV
Síntese do III Encontro de Estudos ................................................... 99
INTELIGÊNCIA E INTERESSES NACIONAIS
1
As considerações que se seguem sobre as vertentes tradicional, abrangente e crítica baseiam-se no trabalho
A Contribuição da Escola de Copenhague aos Estudos de Segurança Internacional, de Grace Tanno.
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
2
Citado em A Contribuição da Escola de Copenhague aos Estudos de Segurança Internacional, op.cit.
Inteligência e Interesses Nacionais
3
Lei n° 9.883, de 07 de dezembro de 1999. O Sisbin foi regulamentado, inicialmente, pelo Decreto n°
4.376, de 13 de setembro de 2002, e depois pelo Decreto nº 4.872, de 06 de novembro de 2003.
4
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), www.abin.gov.br.
10
Inteligência e Interesses Nacionais
11
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
5
Como em português – aliás, em quase todas as línguas latinas – só existe uma palavra para traduzir secu-
rity e safety – segurança – por decisão unânime do Grupo de Trabalho instituído pela Autoridade Marítima
para a aplicação do Código Isps aos navios, o security foi traduzido por proteção para que, a bordo dos
navios, não fosse confundido com a segurança. Por exemplo, a bordo, desde a instituição do Código ISM
– para gerenciamento da segurança nos navios – existe o oficial de segurança do navio (safety); o novo
código Isps exige a criação de um oficial de security que, para que não fosse confundido com o de safety,
passa a ser o oficial de proteção do navio. Entretanto, o Grupo de Trabalho instituído para a aplicação do
Código Isps aos portos e terminais, por não ter o mesmo problema, está usando a palavra “segurança” para
traduzir o safety, o que vai trazer alguns problemas futuros na inevitável interface entre navios e portos. A
padronização parece indispensável e ela deveria ser feita padronizando-se, no caso da aplicação do Código
Isps, a tradução de security por proteção. A ressalva é feita porque, em outras situações, já há expressões
padronizadas – como é o caso de Segurança Nacional que traduz o National Security – que dificilmente
serão modificadas.
12
Inteligência e Interesses Nacionais
6
“IC-21: The Intelligence Community in the 21st Century, part XIII, Intelligence and Law Enforcement.
13
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
14
Inteligência e Interesses Nacionais
7
“9/11 Panel Is Said To Urge New Post for Intelligence”, Philip Shenon.
15
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
8
“IC-21: The Intelligence Community in the 21st Century.
9
The CIA and the Cult of Intelligence, Victor Marchetti & John D. Marks, Introdução de Marchetti. Este
é o primeiro livro que levou os EUA a apelarem à Justiça a fim de levá-lo à censura pela CIA antes de sua
publicação. Todas as partes que, depois de longa batalha judicial, foram vetadas, foram deixadas em branco
no texto.
16
Inteligência e Interesses Nacionais
está engajado numa luta de morte contra algo como o terrorismo, não
relacionado especificamente a um determinado Estado nacional. Entre
os perigos, há o de imitar os métodos do inimigo e, portanto, colocar em
risco a própria democracia que se está pretendendo defender.9
A discussão sobre o Estado Democrático e os Serviços de In-
teligência leva, naturalmente, à questão das relações entre a Ética e a
Inteligência.
Num governo democrático é extremamente importante assegurar
a manutenção de um padrão ético pelos órgãos de Inteligência. Esta é,
indiscutivelmente, uma questão difícil mas inarredável numa discussão
pública.
O primeiro debate que se faz necessário diz respeito às relações
entre o governo e os órgãos de Inteligência, estes totalmente dependen-
tes daquele. Serem independentes na dependência – no sentido de que
os serviços de Inteligência devem estar voltados para os interesses do
Estado e não necessariamente do governo – eis o grande desafio.
O uso pelo governo dos Serviços de Inteligência para investigar
e perseguir desafetos políticos, como parte de uma luta pelo poder, é
inaceitável sob o ponto de vista ético. Sendo o objetivo dos Serviços
de Inteligência a segurança nacional e o bem público, o seu emprego
para a manutenção do poder não se justifica, por não se coadunar com
o sistema democrático de governo. O caso Watergate, que acabou por
levar o Presidente Nixon à renúncia, é um exemplo recente do uso da
Inteligência com propósitos político-partidários.
O espectro das possibilidades de ingerência indevida do governo
sobre a Comunidade de Informações é, porém, ainda mais amplo. As
justificativas dos EUA para irem à guerra contra o Iraque, e as do Reino
Unido para apoiá-los, basearam-se em informações que atribuíam ao
Iraque a posse de armas químicas e biológicas e o desenvolvimento ace-
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Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
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“Ex-Inspector Says C.I.A. Missed Disarray in Iraq Arms Program”, James Risen e, Ex-Arms Monitor
Urges an Inquiry on Iraqui Threat, Richard W. Stevenson e Tom Shanker.
11
“Choque, mas não surpresa”, O Globo.
18
Inteligência e Interesses Nacionais
12
“O procedimento padrão do governo Bush” e “Negação e Fraude”, de Paul Krugman, e “Pentágono torna
submissas agências de inteligência”, Nicholas D. Kristof.
13
“As visitas de Cheney à CIA”, Walter Pincus e Dana Priest.
14
Kristof, op.cit.
19
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
15
Agência Brasileira de Inteligência, op. cit.
16
Marchetti & Marks, op. cit., p. 11-2.
20
Inteligência e Interesses Nacionais
17
Ibidem, p. 11.
18
Ibidem, p. 373.
19
Ibidem, p. 4.
21
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
20
Ibidem, p. 5. Proprietaries, de proprietary corporation, são instituições ostensivamente privadas e negó-
cios que são de fato financiados e controlados pela CIA (p. 534).
22
Inteligência e Interesses Nacionais
21
James Risen, op. cit., Stevenson & Shanker, op. cit. e Modern modes of assassination, Daniel Schorr.
Em 1976, o Presidente Ford assinou uma ordem executiva dizendo que, ninguém trabalhando para os EUA
“engajar-se-á ou conspirará em assassinato”, em decorrência de uma investigação do Senado que apontou
a ocorrência de seis tentativas de assassinato de Fidel Castro e a existência de planos em diversos estágios
para o assassinato de líderes de esquerda em países do Terceiro Mundo: Lumumba, no Congo; Duvalier, no
Haiti; Sukarno, na Indonésia e Trujillo, na República Dominicana, entre outros.
Ao longo dos anos, a proibição foi sofrendo “interpretações” como a de que líderes envolvidos em ações
de terrorismo não estariam incluídos na proibição: Reagan autorizou o bombardeio da residência de Kadafi,
em 1986, e Bush (pai) o bombardeio do palácio de Saddam, em 1991. Em 1998, Clinton, após um fracas-
sado ataque com mísseis a um campo no Afeganistão contra Osama Bin-Laden, autorizou o uso de “força
letal” contra a Al-Qaeda. O atual presidente Bush apresentou à CIA uma lista de cerca de duas dúzias de
terroristas aos quais não se aplicará a proibição de assassinato. Em novembro de 2002, mísseis Hellfire,
lançados por um avião teledirigido Predator, mataram um líder da Al-Qaeda quando ele estava dirigindo
numa faixa de deserto no Iêmen. Cinco outros pessoas no carro foram mortas, talvez inocentes.
22
Unrestricted Warfare, Qiao Liang & Wang Xiangsui
24
Inteligência e Interesses Nacionais
23
“O Serviço Secreto”, Reinhard Gehlen, p. 68-69.
24
Marchetti & Marks, op. cit. p. 9.
25
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
25
Marchetti & Marks, op. cit., p. 108-9
26
Inteligência e Interesses Nacionais
26
Gehlen, op.cit., p. 177
27
Risen, op. cit., e Stevenson & Shanker, op. cit.
27
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
28
“A Condição Humana”, Hannah Arendt.
29
No final de agosto, dois ataques terroristas destruíram dois ônibus em Israel, com a morte de dezesseis
pessoas. O Hamas responsabilizou-se pelos atentados. Como seria de esperar, a estratégia de Sharon não é a
adequada para dar uma solução definitiva ao problema. Só uma paz justa dará fim ao terrorismo palestino.
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Inteligência e Interesses Nacionais
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Marchetti & Marks, op. cit., p. 249
29
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
31
“EUA admitem que guerra ao terror maltratou presos”, Philip Shenon, e “Relatório aponta abusos nos
EUA”, ibid.
32
“EUA investigam a morte de afegãos”, José Meirelles Passos.
33
Abuses at Prison Tied to Officers in Intelligence, Eric Schmitt.
30
Inteligência e Interesses Nacionais
34
Ibidem.
31
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
O Profissional de Inteligência
35
Report of the International Committee of the Red Cross (Icrc).
36
Guantánamo: desespero e desejos de morte, Carlotta Gall e Neil Lewis.
37
O Ataque ao Iraque no Contexto do Pós-Modernismo Militar, Marcos Henrique Camilo Côrtes.
32
Inteligência e Interesses Nacionais
38
Gehlen, op. cit., p. 26
33
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
39
Ibidem, p. 67
34
Inteligência e Interesses Nacionais
40
Marchetti & Marks, op. cit., p. 159
41
Ibidem, p. 160
35
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
42
Gehlen, op. cit., p. 121.
43
Gehlen, um gênio da informação, Charles Whitting, p. 80.
44
Marchetti & Marks, op. cit., p. 96 e 209.
36
Inteligência e Interesses Nacionais
45
Ibidem, p. 100.
37
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
46
“A Agência Brasileira de Inteligência”, op. cit.
38
Inteligência e Interesses Nacionais
47
Gehlen, op. cit., p. 165
48
“A Agência Brasileira de Inteligência”, op. cit.
39
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
49
Gehlen, op. cit., p. 160
50
Ibidem, p. 165
40
Inteligência e Interesses Nacionais
51
Ibidem, p. 231
41
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
Legislação
42
Inteligência e Interesses Nacionais
52
Marchetti e Marks, op. cit., p. 295
53
Gehlen, op. cit., p. 225
54
Ibidem, p. 230
55
Ibidem, p. 27
56
Ibidem, p. 213
43
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
for um segredo aberto a quem está do lado de fora, em pouco tempo o inimigo
chegará até dentro dela.”57;
● “por questão de Segurança, deve-se manter o número de elementos
operacionais em um nível mínimo, pois quanto menor a estrutura, mais
fácil será mantê-la sob vigilância e maior será a chance de detectar,
rapidamente, os ‘vazamentos’”;58
● a segurança do Sistema está na adoção do princípio de “compartimen-
tos estanques” de forma que “nenhum membro de qualquer rede deve
conhecer alguém pertencente ao Serviço de Informações, que atue fora
de seu respectivo Órgão de Informações”;59 ou “por si só, as conside-
rações de segurança exigem que a estrutura interna de um Serviço de
Informações possua tantos compartimentos estanques, que, em certas
ocasiões, problemas podem ser mantidos sob minuciosa observação por
dois órgãos diferentes. Estes, agem de maneira totalmente independente e
desconhecendo-se mutuamente, como interessados no mesmo problema,
para que se possa, dessa forma, fazer luz sobre possíveis erros;”60
● também o setor externo da organização de Informações, o que trabalha
no campo, deve ser organizado com grande número de células peque-
nas e não em poucas redes de grandes proporções: “as grandes redes se
ressentem da flexibilidade necessária. Quanto menores e mais versáteis
as agências, maior será a sua segurança;”61
● o uso de material ostensivo, que se encontra em livros, revistas e jor-
nais, é uma fonte preciosa de informações;
● é fundamental a existência de um processo contínuo e sistemático
57
Ibidem, p. 228
58
Ibidem, p. 160
59
Ibidem, p. 177
60
Ibidem, p. 228
61
Ibidem, p. 228
44
Inteligência e Interesses Nacionais
62
Ibidem, p. 121
63
Ibidem, p. 165
64
Ibidem, p. 209
45
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
65
Ibidem, p. 213
66
Ibidem, p. 225
67
Ibidem, p. 229
68
Ibidem, p. 230
46
Inteligência e Interesses Nacionais
69
Ibidem, p. 237
70
Marchetti & Marks, op. cit., p. 26-7
47
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
BIBLIOGRAFIA
48
Inteligência e Interesses Nacionais
49
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
SHENON, Philip. 9/11 panel is said to urge new post for Intelligence.
The New York Times, July 17, 2004.
50
A IMPORTÂNCIA DA INTELIGÊNCIA NO
PROCESSO DECISÓRIO
INTRODUÇÃO
54
A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
55
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
56
A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
57
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
58
A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
damental por parte daqueles que não desejam que seus conhecimentos,
atividades ou ações sejam descobertos.
Em relação a isso se convencionou dizer que o que distingue a
atividade de Inteligência de outras atividades é exatamente a busca do
dado negado, o que exige o emprego de métodos e equipamentos espe-
ciais. Obviamente essa assertiva é válida apenas para a Inteligência go-
vernamental, pois, no ambiente coorporativo, a Inteligência Competitiva
preconiza a utilização de fontes abertas e desaconselha-se o emprego da
espionagem, ou de qualquer ação ilegal.
Assim sendo, pelo amplo espectro de sua atuação, a Inteligência
necessita de profissionais especialmente preparados, já que o adversário
irá se proteger por todos os meios através de Contra-Espionagem e outras
medidas de Contra-Inteligência.
Felizmente parece que a sociedade começa a entender a seriedade
e o alcance do trabalho desses profissionais, diferentemente da ignorân-
cia ou má-fé usada por alguns setores que procuram desacreditá-los, de
todas as formas, referindo-se a eles sob a denominação depreciativa de
“arapongas”, como se exercessem atividades ilegais, antidemocráticas
ou trapalhonas. Assim, em Seminário sobre a atividade de Inteligência
realizado no Congresso Nacional, referências elogiosas ao trabalho desses
profissionais foram feitas por vários palestrantes despidos de contami-
nações ideológicas, sendo as mais enfáticas as realizadas pelo Deputado
Aldo Rebelo, então presidente da Comissão de Relações Exteriores e
Defesa Nacional.
Por outro lado, infelizmente, à medida que a atividade vai se
firmando junto à sociedade, o termo vai sendo promiscuído por parte de
alguns órgãos que querem, a todo custo, dizer que fazem Inteligência.
Assim é comum se ouvir, nos noticiários da mídia, informações referen-
tes a atividades de pura investigação policial que são anunciadas como
atividade de Inteligência.
60
A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
61
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
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A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
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A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
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A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
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Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
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Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
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A Importância da InteligêncIa no Processo Decisório
CONCLUSÃO
71
PERSPECTIVAS PARA A INTELIGÊNCIA
EXTERNA DO BRASIL
Alexandre Martchenko
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
76
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
78
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
81
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
82
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
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Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
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Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
88
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
89
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
90
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
91
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
92
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
94
Perspectivas para a Inteligência Externa do Brasil
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Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
CONCLUSÃO
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SÍNTESE DO III ENCONTRO DE ESTUDOS
Síntese do III Encontro de Estudos
APRESENTAÇÃO
101
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
102
Síntese do III Encontro de Estudos
103
Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
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Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI
Estados Unidos ganharam a Guerra Fria sem dar um tiro contra a União
Soviética e com isso conseguiram afastar uma possibilidade histórica de
uma potência ser hegemônica em toda a Eurásia.
Mas no hemisfério ocidental os EUA sempre exerceram a he-
gemonia, particularmente em relação aos países da América Sul, o que
foi feito em torno de dois consensos. Era um alinhamento fundado em
uma doutrina comum que é a doutrina de segurança nacional, o que faz
a nossa doutrina de segurança nacional, em qualquer época, ser igual à
de qualquer país latino-americano. Em torno dessa doutrina buscaram o
consenso ideológico, do anticomunismo, e o consenso estratégico, que
era deter o expansionismo soviético.
Mas como os países sul-americanos não tinham condições de deter
o avanço soviético, suas forças armadas foram colocadas no combate à
subversão comunista. O alvo era o “inimigo interno”, o agente da insur-
gência interna, de formação marxista. No início da primeira metade da
década de 1980, o inimigo interno já estava destruído há muito tempo
e se passou a questionar a hegemonia dos Estados Unidos nos nossos
negócios internos e externos.
Com o colapso do Império Soviético, inicia-se uma nova ordem
que se esperava mais justa, mais simétrica e mais pacífica. Mas com os
primeiros movimentos que se fizeram logo após a queda da União Sovi-
ética, essa nova ordem mostra que não seria mais justa, mais simétrica e
nem mais pacífica. Continuaria conflituosa, assimétrica e injusta. O que
é da natureza do sistema internacional.
Foi quando se acertou que os problemas de segurança surgidos
seriam submetidos ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e as
decisões desse conselho deveriam ser obedecidas. Nessa aposta mul-
tilateralista a intervenção militar contra um país recalcitrante, com o
emprego da força, se faria no contexto da segurança coletiva, aprovada
e legitimada pelo Conselho de Segurança.
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Síntese do III Encontro de Estudos
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Síntese do III Encontro de Estudos
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Síntese do III Encontro de Estudos
argentino não pagou nada do que foi gasto, o Governo brasileiro atrasou
os repasses e a Embraer quase foi à falência, porque bancou com os seus
recursos.
Ele disse que ainda não via confiabilidade nesses países para
participarem de empreendimento dessa natureza e sugeriu que o Brasil
pode se associar a outro país para produzir determinados componentes
como os Estados Unidos fazem.
O Coronel também acha que devemos deixar um pouco de lado
arroubos de liderança ou sonho de hegemonia, que podem criar proble-
mas com os EUA.
Quanto à pergunta do Professor Martchenko, ele acha que temos
que participar com forças de manutenção da paz, e depois de imposição.
Repetiu que participar do Conselho de Segurança com o poder de veto
é participar das decisões mais cruciais no que diz respeito à segurança
internacional. Só as grandes potências que pertencem ao Conselho de Se-
gurança têm Forças Armadas com capacidade de prontidão imediata. Os
Estados Unidos, a França, a China, a Rússia, a Grã-Bretanha têm forças
armadas de Imposição de Paz. Só participam de Forças de Imposição.
Sugeriu que a Austrália, que ainda não pertence ao Conselho de
Segurança, é uma séria candidata. Justificou porque naquela região do
Pacífico Central ela é a maior potência, com alcance sobre o arquipélago
das Filipinas e o arquipélago da Indonésia que são massas territoriais
significativas, principalmente populacionais e depois tem uma área al-
tamente sensível que é a existência de um forte contingente muçulmano
que está na Indonésia, num país de duzentos milhões de habitantes.
No terceiro bloco de perguntas o Comandante Luiz Gusmão, do
GSI, pediu ao Coronel Geraldo Cavagnari que fizesse uma reflexão den-
tro do tema proposto “Desafios da Atividade de Inteligência do Século
XXI”, diante dos acontecimentos de 11 de Setembro quando, na sua
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época. O suporte teórico era dado pela Escola Superior de Guerra (ESG),
com seu conceito de Poder Nacional. Esse suporte teórico incluía os temas
segurança e desenvolvimento, que era o binômio daquela época e em relação
ao qual ele não observa nenhuma diferença: hoje como ontem, a sociedade
quer segurança e desenvolvimento.
Bessa disse que a ESG era o grande centro do pensar estratégico do
País, já que o mundo civil não se preocupava muito com essa visão. Já os
militares, por tradição, por necessidade da profissão, tinham obrigatoriamente
que ter essa visão estratégica. E através da ESG, participando dos seus cursos,
os civis começaram a desenvolver a visão estratégica.
Ele considera o suporte teórico da ESG fundamental na constituição
do Sisni, pois as condicionantes políticas exigiam que se atuasse dentro desse
aspecto ideológico. Disse que tem satisfação de ter participado desse embate
ideológico e que hoje se considera um vencedor da Guerra Fria, haja vista
que na Rússia, com o desmantelamento da União Soviética, nunca mais o
comunismo chegou ao poder pelo voto.
Para Bessa, acima de tudo esse sistema agia e trabalhava com um bri-
lhantismo ímpar. Disse que quem conheceu o Plano Nacional de Informações
e o seu detalhamento quanto às necessidades da informação, viu que era algo
primoroso e único. O SNI, com a sua agência central, detinha poder incomen-
surável como órgão central do sistema e ao qual todos deviam obediência.
Funcionava um pouco à base do medo, mas funcionava e bem.
Bessa contou que se vivia uma época boa, pois o SNI tinha poder,
dinheiro, importância. Seus funcionários tinham a auto-estima elevada,
trabalhavam ali com satisfação. Até que, de repente, a situação se altera e
a partir de 1985, com a eleição de Tancredo Neves, inicia-se o processo de
redemocratização do País.
Esse sistema continuava funcionando, ainda que num nível mais lento,
com outros condicionantes, e com outras preocupações. Tancredo Neves não
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assume, mas o chefe do SNI que ele havia escolhido imaginando todos os pro-
blemas que iriam advir desse processo gradual de redemocratização, General
Ivan de Souza Mendes, continuou e levou a bom termo esse processo.
Na opinião de Bessa, o grande problema vai acontecer com a eleição
do Presidente Collor e o cumprimento da sua promessa de campanha de
acabar com o SNI, que atingia de imediato vários segmentos que clamavam
há muito tempo por isso. Ele acha que foi uma atitude inteligente, mas trouxe
como conseqüência algo desastroso que foi a desintegração do sistema. Então
o todo poderoso SNI, a agência central que tinha toda aquela capilaridade,
que reunia todos os ministérios, onde as informações sempre fluíam tranqüila
e normalmente numa direção única, se esfacela e nunca mais consegue se
equilibrar. Esse período marca o momento negro da Inteligência, que ficou
como um filho enjeitado.
A nova Inteligência surge com a Lei 9.883/99 e é regulamentada por
dois decretos. Enquanto o antigo SNI era formado por todos os ministérios
e órgãos do Governo, esse novo sistema é formado por apenas treze órgãos,
onde se incluem a Casa Civil, através do Censipam, que cuida da proteção
da Amazônia e suas fronteiras, do crime organizado, do contrabando, do
narcotráfico; o GSI, como órgão coordenador; a Abin como órgão central, e
o Ministério da Justiça, com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, o
Departamento de Inteligência da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.
Para Bessa, essa visão é de segurança, de uso da Inteligência para o combate
à criminalidade.
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ainda perdemos muito tempo, cinco anos dos dois governos, tanto que
a Abin só foi promulgada em 1999.
O professor Martchenko relatou o prazo exíguo para a criação
da Abin, de 180 dias, em meio às dificuldades ainda herdadas da Era
Collor, como a extinção dos postos e a ausência da antiga capilaridade
e de comando para o pessoal existente. Disse que mesmo com esses
condicionantes a agência foi estruturada partindo do pressuposto de
que a Inteligência dentro desse contexto tem a parte externa e a contra-
espionagem, que é uma atividade intrínseca voltada, também, para o
exterior.
Foram feitos contatos com serviços de Inteligência dos países da
América do Sul e também com a África do Sul, que vivia a transição, o
fim do regime de apartheid e tinha uma estrutura de Inteligência seme-
lhante à nossa, inclusive quanto às preocupações com a segurança do
Atlântico Sul.
Também foram estabelecidos contatos com os serviços que antes
combatíamos no Leste Europeu, o russo, o polonês, o ucraniano e assim
por diante, o que Martchenko considera uma das realizações mais posi-
tivas, porque logo em seguida o serviço passou a capitalizar uma série
de dados em maior profusão. Como nessa atividade ninguém sobrevive
sozinho, havia o reconhecimento de que tínhamos dados diferentes e pas-
samos a ter aquela moeda de troca. Além dessas realizações, ele destacou
a inauguração do posto dos Estados Unidos, o primeiro da nova fase.
Outra realização que reputa importante e que traz dividendos, até
hoje, para área de ciência e tecnologia, foi a criação de um simpósio na
área de tecnologia sensível muito criticado na época, mas que hoje em
dia uma vertente da Inteligência trabalha ainda com os dividendos dessa
iniciativa de dez anos atrás.
O professor colocou também o que chama de marco teórico.
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talvez não se saiba qual, mas ela tem que ser competente, estar amparada
no conhecimento, e considerar a necessidade fundamental de sistemas
de Inteligência no campo externo.
O primeiro bloco de debates sobre a palestra do Professor Alexan-
dre Martchenko constituiu-se de considerações e de observações sobre
o funcionamento do serviço de Inteligência.
O Brigadeiro-do-Ar Raul José Ferreira Dias, Chefe do Centro de
Inteligência da Aeronáutica, observou que o marco doutrinário, na sua
avaliação, que é também a posição da Inteligência da Aeronáutica, é a
gênesis do sistema. Para ele, só uma análise estratégica permite identi-
ficar os pontos fortes, os pontos fracos, as oportunidades e as ameaças.
Segundo o Brigadeiro, esse conjunto é que vai estabelecer claramente a
nossa política de Inteligência e em conseqüência a nossa estratégia – uma
vai dizer onde queremos chegar e outra vai dizer como deveremos chegar
lá. Ele acha que em função disso, um plano põe o sistema a funcionar
porque o que temos hoje é um relógio desmontado, que pode não ser o
ideal, mas que se for montado e receber corda começará a funcionar.
Na seqüência, Joanisval Brito Gonçalves, do Senado Federal,
opinou que o maior desafio para a Inteligência brasileira é sobreviver,
no sentido de conseguir fazer um trabalho eficiente e que tenha respaldo
da sociedade e dos tomadores de decisão.
Para ele, antes de se discutir quais são as ameaças a Inteligência
precisa saber o que é e do que precisa para existir. Joanisval disse que
também pensa sobre a necessidade de se reestruturar efetivamente o sis-
tema, de forma especial com relação ao orçamento e número de analistas.
Ele questionou, por exemplo, a capacidade da Abin enviar agentes ao
exterior caso fosse chamada a cumprir uma missão.
Considerando que a percepção da sociedade é que a Inteligência
está vinculada ao aparato repressor, ele acha que a legitimização da Abin
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fende que se os dados da área do Governo que faz a medição do nível dos
reservatórios não são confiáveis, que os responsáveis sejam substituídos,
pois o desvio de função desvirtua a atividade de Inteligência e faz com
que cada vez mais se confunda com uma atividade do Governo e não do
Estado. Para Ribas, foi exatamente por agir complementando as funções
dos Ministros de Estado, com um poder paralelo em cada ministério, que
o antigo SNI acabou se enfraquecendo.
Ribas também questionou a necessidade de uma unidade de
doutrina para o sistema, argumentando que os órgãos que integram esse
sistema têm atividades muito díspares. Ele também lembrou que a Inte-
ligência brasileira troca informações com outros países, sem que tenha
necessariamente a mesma doutrina.
O Professor Alexandre Martchenko começou a responder essas
colocações lembrando que em comparação com outros serviços, a pró-
pria estrutura de Inteligência norte-americana ajuda a definir sua missão.
Embora aceitando a colocação em relação à Creden, ele acredita que não
existe uma definição clara da missão da Inteligência brasileira, mas disse
que as suas iniciativas têm amparo na Constituição.
Quanto ao “alguém tem de dizer não”, afirmou que quando a
Inteligência mostrar conhecimento, competência, capacidade, poderá
evitar o que chamou de “fator de acomodação” do Governo.
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