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Editorial
J. Delgado Domingos
Professor Catedrático no IST, membro
do Conselho Editorial da Im))pactus
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008
Energia
e Crise Alimentar
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No âmbito dos debates públicos sobre a adesão à CEE, a revista geralmente em menor grau, o consumo directo em máquinas
“Vida Rural” convidou-me, em 1986, para escrever um artigo que agrícolas (incluindo equipamentos de bombagem). No seu conjunto
foi publicado sob o título de “Energia, Agricultura e a CEE”, no qual representam, todavia, a menor parcela do custo total em energia
alertava para as consequências de não ponderar devidamente as despendida para ter os alimentos na mesa do consumidor. A título
implicações do custo e da disponibilidade da energia na reconversão indicativo, valores recentes para Portugal e na Lezíria do Tejo [2]
da agricultura portuguesa aos paradigmas da PAC então vigente. variam entre os 0.14 Tep/ton (girassol) e os 0.08 Tep/ton (milho). Tendo
As questões “Energia, Produção de Alimentos e Sistema Alimentar” em conta as taxas de conversão em proteína animal, os tep/ton de
tinham já sido por mim abordadas em 1978 e muitos outros trabalhos carne são muito superiores (e variam acentuadamente com o animal
se lhe seguiram no Instituto Superior Técnico [1] sobre a situação considerado). Uma dieta rica em proteína animal é por isso muito mais
portuguesa. Se o refiro é apenas para sublinhar que a actual crise sensível ao custo da energia do que uma dieta vegetariana. O modo
alimentar (e as que irão seguir-se...) é uma inevitável consequência do como a subida do preço do petróleo se reflecte no custo em euros
modo como se estruturou e difundiu o sistema alimentar nos países sofre consideráveis distorções relativamente aos factores puramente
desenvolvidos. A população mundial é hoje sete vezes superior à que físicos devido às políticas fiscais e de subsídios que vigoram nos
existia há cerca de dois séculos e continua a crescer. Tal foi possível diferentes países. Retenha-se, todavia, que o efeito da subida do
pela utilização crescente dos combustíveis fósseis, sobretudo do custo da energia é diferido no tempo consoante o sector em causa
petróleo, mas tal sucesso tornou-a também criticamente dependente e só reflecte de imediato os custos directos. Por exemplo, o efeito
do seu custo. Sucede também que a generalização deste sistema indirecto através dos fertilizantes só surgirá na próxima cultura e o da
de produção e distribuição de alimentos aos países emergentes, maquinaria utilizada só quando ela for substituída o que ocorrerá, em
associado ao aumento da população mundial, fisicamente média, apenas uns anos depois.
incompatível, a prazo, com os recursos disponíveis sobretudo de
petróleo e gás natural. Em termos simples e genéricos, este tipo de O facto de a menor parcela do custo em energia ser na exploração
estrutura origina o consumo anual de cerca de 800 kg de petróleo (ou agrícola, põe em realce as outras parcelas, e nelas o transporte, no que
equivalente em energia) para alimentar cada habitante. Enquanto é comum a muitas outras actividades e remete para o problema básico
fonte primária de energia, o petróleo poderá vir a ser substituído do ordenamento do território e da espacialização das actividades
por outras fontes. Todavia, o petróleo é também uma matéria-prima económicas.
fundamental na produção de fertilizantes, herbicidas, fungicidas
e tantos outros produtos indispensáveis para o funcionamento do
sistema alimentar (industrial) tal como o conhecemos e no qual se Clarificada a influência directa e indirecta do preço do petróleo no
podem genericamente identificar três sectores fundamentais: a custo dos produtos alimentares é necessário ter em conta o efeito
exploração agrária, o processamento e transporte da sua produção, e de outros factores explicativos da crise actual, uns puramente
o consumo final. conjunturais, outros estruturais. Na crise actual, há certamente
movimentos especulativos, que exploram e amplificam desequilíbrios
Na exploração agrícola, são sobretudo importantes os consumos de mercado. Em termos de mercado, verificou-se nos últimos anos
originados a montante na produção dos fertilizantes. Acresce, uma acentuada procura de cereais e de produtos destinados a rações
“Em si mesma, a produção de biocombustíveis raramente
se poderá justificar em termos puramente energéticos ou
ambientais, salvo no caso de aproveitamento de resíduos
e mesmo então tendo em conta que a sua matéria
orgânica não retornará ao solo, onde contribuiria para
manter a sua fertilidade.”
| Editorial
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animais, provocada pela alteração da dieta alimentar de muitos (tal como em Portugal), a produção de electricidade é feita sobretudo
milhões de consumidores nas economias emergentes, associada a com base no carvão. Como as reservas de carvão existentes são ainda
um aumento do nível de vida, sobretudo na China, que se traduziu, enormes e geograficamente dispersas, a segurança do abastecimento
nomeadamente, no crescente aumento do consumo de carne. Este e as reservas existentes são um não problema, pelo que os pretextos
aumento não foi acompanhado pelo aumento correspondente da invocados não convencem apesar da cruzada contra o carvão inspirada
produção e traduziu-se na redução dos stocks mundiais de cereais na quase religião das alterações climáticas. Em rigor, a questão central
seguidamente agravada por quebras de produção devidas a situações não está na oferta de energia mas na sua procura, incluindo o tipo e
climatéricas desfavoráveis. Neste contexto, o crescente desvio origem geográfica dos alimentos. Mas actuar sobre esta vai contra a
de cereais para a produção de biocombustíveis foi sumariamente cultura vigente e os hábitos estabelecidos. Felizmente ainda existem
apontada como a principal responsável, mas sem justificação recursos em combustíveis fósseis em quantidade suficiente para
convincente, na situação actual, salvo em casos pontuais. que seja possível uma transição para novas formas de organização
económica e social que preservem e expandam o melhor que nos
Em si mesma, a produção de biocombustíveis raramente se poderá trouxe a civilização actual. A procura de energia que hoje temos não
justificar em termos puramente energéticos ou ambientais, salvo no é sustentável e a subida dos preços é um aviso muito sério. Seguindo-
caso de aproveitamento de resíduos e mesmo então tendo em conta se aos avisos do primeiro e segundos choques petrolíferos, este será
que a sua matéria orgânica não retornará ao solo, onde contribuiria porventura o último aviso antes do esgotamento físico das reservas
para manter a sua fertilidade. Como combustível de substituição de combustíveis. Por isso é preferível encarar desde já e a sério o
nos transportes, o seu contributo será sempre marginal, em termos problema da energia no seu multifacetado conjunto, em vez de
globais. Na maioria das vezes, a sua sustentabilidade económica semear ilusões com miragens tecnológicas ou condicionar as opções
é artificial pois depende inteiramente de subsídios directos ou invocando supostos cataclismos.
indirectos, nomeadamente de natureza fiscal. Acresce que, a vir a
expandir-se, irá inevitavelmente competir, como já sucede, com
terrenos necessários para produção alimentar. Politicas fiscais e de
subsídios, como as da PAC no passado, podem inspirar o fomento
dos biocombustiveis para escoar excedentes na produção agrícola,
mas tal irracionalidade económica, ditada por motivos políticos, é
insustentável a prazo.
Maria Kadlecikova
Representante para a Europa
e Ásia Central da FAO
uma resposta global e multifacetada mais de 100 milhões de pessoas através pobreza...
de todos os continentes estarão em risco de não poderem comer o mínimo Pelo menos 135 milhões de pessoas sofrerão dramaticamente com a subida
necessário para sobreviverem . Esta situação afecta milhões da população dos preços e entrarão na categoria daqueles vivendo em extrema pobreza
urbana mais pobre em particular nos países mais frágeis economicamente. defendida como aqueles que vivem com menos de 1 dólar por dia. Esta
Esta situação também afecta dezenas de milhões de habitantes de zonas categoria de pessoas gasta mais de 50% do seus rendimentos em alimentação
rurais onde vivem 75% da população mais pobre do mundo. A subida e extremamente vulnerável as alterações dos preços de alimentação. Medidas
do preço dos produtos alimentares conjugada com a subida do preço do imediatas para estabilizar a situação e reduzir o impacto da subida dos preços
petróleo esta a levar a uma grande pressão inflacionista em todos os países nas camadas mais vulneráveis da população são necessárias e urgentes. O
e a aumento nos desequilíbrios na balança de pagamentos dos países mais não introduzir estas medidas urgentemente pode levar a um instabilidade
pobres e importadores de produtos alimentares e combustível . Embora os generalizada em muitos países e ter como consequencias perturbações serias
preços de alguns produtos alimentares tenham recentemente estabilizado no crescimento económico destes países e consequente seria instabilidade
a um nível alto , em médio termo o custo do petróleo, mudanças de clima politica e social. Esta instabilidade pode gerar novos conflitos e tensões afectar
e degradação dos recursos naturais manterão os preços dos produtos a paz e segurança em muitas regiões com efeitos em todos os países do
alimentares altos por um longo período. A dramática subida de preços dos mundo.
produtos alimentares não resulta dum choque climático imediato ou de uma
emergência. Ela é devida ao efeito acumulativo ao longo dos últimos anos de Que medidas a curto prazo para estabilizar a situação e reduzir a
varias variáveis entre as quais são de realçar a crescente aumento da procura consequencias nos países mais frágeis?
destes produtos devido ao crescimento da população, a melhoria do nível de A resposta imediata a crise passa por um conjunto de medidas . A combinação
8 vida em países como a China e a Índia e consequente diversificação das dietas destas medidas poderá criar o espaço político para as soluções de longo prazo
e aumento to consumo de carne e proteínas, progressiva redução de stocks mencionadas antes. Quais as medidas necessárias:
a nível mundial, crescente uso de cereais para a produção de combustível e 1) Aumentar a assistência alimentar as camadas em risco de entrarem numa
estagnação do aumento da produtividade na produção agricultura devido a situação de fome em países que já tenham uma situação humanitária
redução de investimentos na investigação agronómica. Mais recentemente extrema. Caso da Somália Afeganistão, Etiópia , Haiti etc.. Isto significa
o aumento do preço dos produtos petrolíferos tem um grande impacto no duplicar a assistência alimentar durante o ano de 2008 e manter esse nível
preço de fertilizantes combustíveis e outros produtos críticos para a produção nos próximos anos;
de produtos alimentares agravando a situação. Este impacto ainda não se fez 2) Introduzir ou alargar esquemas de protecção social dirigidos as camadas
sentir na sua extensão máxima e restringe a resposta que seria de esperar de mais vulneráveis , Contrariamente aos países mais desenvolvidos os sistemas
um aumento rápido da produção por parte dos produtores como resposta de assistência social ou não existem ou são bastante reduzidos nos países
aos preços mais altos ao produtor. Só em 2008 a FAO prevê que o mundo mais afectados. Este e o momento de introduzir um mínimo de programas
gastara US $ 1,035 em importações de Alimentação isto e US $ 215 biliões mais de assistência social que em primeiro lugar devem ser dirigidos as crianças
do que em 2007. com menos de dois anos e as suas mães mas que podem ser alargados
através do uso das cantinas escolares as crianças em idade escolar em
A subida dos preços dos produtos alimentares trás consigo o perigo de particular das escolas primarias. Estas medidas podem incluir programas de
instabilidade politica em alguns países onde manifestações e distúrbios já apoio nutricional, transferências financeiras ,cantinas escolares e programas
tiveram lugar em grande escala. Este perigo e particularmente agudo em de criação de emprego com mão de obra intensiva (plantação de arvores,
países de frágeis democracias acabados de sair de situações de conflito onde limpeza de lixo, recuperação de infra-estruturas escolares degradadas
as instituições políticas e sociais são frágeis e terão dificuldades financeiras de etc..).O objectivo destes programas devera ser proteger as camadas mais
responder rapidamente com medidas que acalmem o pânico social derivado vulneráveis e deste pode reduzir medidas de subsídios globais que não
da subida rápida dos preços. Outros países que serão bastante afectados distinguem aqueles que mais necessitam daqueles que não necessitam e
são aqueles que já se encontram devido a conflitos seco ou outros desastres que custam imenso ao Estado e não podem ser mantidos por muito tempo
em situações Humanitárias precárias . Exemplo deste tipo de países são a não ser com o risco de destabilizar os balanços macroeconómicos;
a Somália ou a Etiópia ou conflitos prolongados caso da Somália ou secas 3) Promover a produção agrícola dos pequenos camponeses das zonas mais
consecutivas caso da Etiópia reduziram significativamente a capacidade do afectadas através de subsídios a sementes melhoradas acesso a fertilizantes
pais alimentar a sua população. Vários relatórios das Nações Unidas indicam e outros insumos agrícolas;
que se a ajuda alimentar não duplicar nos próximos meses iremos assistir a 4) Rever taxas que penalizam o comercio de produtos agrícolas alimentares;
fomes em alguns destes países. Medidas de restrição das exportações ou 5) Tornar disponível aos países mais pobres grandes importadores de petróleo
estabelecimento de novas taxas de exportação de produtos alimentares por e produtos alimentares meios financeiros concessionais de apoio a balança
parte de países tradicionalmente exportadores de cereais e outros produtos de pagamentos e a importação de produtos alimentares;
alimentares vieram aumentar as dificuldades e criar pânico nos mercados 6) Restringir o uso de cereais para a produção de biocombustível .
internacionais de comercio de produtos alimentares levando a especulação
nos mercados de cereais deste modo aumentando as dificuldades dos países
mais frágeis de terem acesso a compra de produtos alimentares. Este conjunto de medidas urgentes pode ser financiada pelos governos dos
países afectados com o apoio dos países que hoje beneficiam da escalada de
Como enfrentar o problema da subida dos preços? preços que são essencialmente os países produtores de petróleo em particular
Não há soluções mágicas para o problema já que como explicamos antes e os países do Médio Oriente e os países grande exportadores de produtos
uma combinação de problemas complexos que se acumularam e levaram agrícolas nomeadamente a União Europeia e Estados Unidos. Se não houver
ao rebentar da crise. Apenas um aumento rápido da produção alimentar uma acção concertada mundial que ajude a estabilizar a situação podemos
e consequente oferta no mercado internacional poderá levar a uma estar a entrar numa década de grande instabilidade com consequencias
estabilização dos preços. Como vimos o crescimento da população que imprevisíveis na paz a nível mundial.
continuara nas próximas décadas – apenas por volta de 2050 a população
tendera a estabilizar a um nível de cerca de 9 biliões de habitantes cerca de por Manuel Aranda da Silva, WFP Senior Advisor, Ex-ministro do Governo
40% mais do hoje. E de esperar também que o melhoramento do nível de vida Moçambicano
energia e produção alimentar no mundo - banco mundial
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crise alimentar.”
alimentar.” Donald O. Mitchell
Economista no departamento de
Economia e Desenvolvimento do Banco
Mundial
Felix Fischer
Representante do FMI
em Maputo, Angola
alimentar e petrolífera?
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
orienta os países na resposta política
macroeconómica a um nível optimizado
10 Os preços elevados dos alimentos são actualmente uma entraves à necessária distribuição mundial de alimentos e estimulam
preocupação humanitária e ameaçam impedir que se alcancem o aumento do preço do petróleo. No entanto, todos os países
os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. São também uma dependem do comércio livre para alimentar as suas populações.
fonte de desafios macroeconómicos que afectam os orçamentos, as A conclusão da Agenda de Doha poderia desempenhar um papel
balanças comerciais e, obviamente, os rendimentos a nível mundial. fundamental a este respeito, pois permitiria reduzir as barreiras e
Mesmo que recentemente os preços tivessem baixado dos valores distorções comerciais e promover o comércio de produtos agrícolas.
mais altos de sempre, estes teriam permanecido substancialmente A liberalização agrícola conduziria à estabilização mundial dos
acima dos níveis registados nos últimos anos. O resultado é um preços dos produtos o que levaria a investimentos de longo prazo na
golpe devastador para os pobres espalhados por todo o mundo, produção agrícola.
que gastam frequentemente metade dos seus rendimentos em
alimentação. Para além de preocupações humanitárias os preços elevados
dos produtos agrícolas são também responsáveis por desafios
O problema dos preços elevados dos bens alimentares irá muito macroeconómicos. Estima-se que o preço elevado dos alimentos e
provavelmente acompanhar-nos durante os próximos tempos. Esta do petróleo tenha um impacto directo nas balanças comerciais dos
subida dos preços resulta, em parte, de um forte crescimento do países da África subsaariana que poderá atingir, em média, cerca
lado da procura que não é mais do que um reflexo do crescimento de 1% do PIB em 2008, enquanto que em alguns países, como por
do rendimento per capita nos mercados emergentes. Há já alguns exemplo o Malawi, esse impacto negativo poderá atingir 4% do
anos que o mundo tem vindo a consumir mais alimentos do que PIB. O impacto inflacionista dos recentes aumentos dos produtos
produz, fazendo com que os preços tenham aumentado e as reservas alimentares é uma preocupação especialmente para os países em
atingido níveis historicamente baixos. Além disso, o ciclo do preço desenvolvimento e para as economias emergentes, onde o aumento
dos bens alimentares está irrefutavelmente correlacionado com do preço dos alimentos foi responsável por cerca de 70% da inflação
o ciclo do petróleo. O custo dos fertilizantes e do transporte são global, em 2007. Os decisores políticos têm que definir o ritmo a que
afectados pelo preço do petróleo que aumentou de forma dramática aumentam os preços dos produtos alimentares, a forma de prevenir
num curto espaço de tempo, e mesmo que baixasse dos máximos que estes aumentos conduzam a expectativas inflacionistas cada vez
históricos já registados, o preço do petróleo permaneceria elevado. mais elevadas, e como solucionar qualquer falta de financiamento
resultante da balança de pagamentos e do saldo orçamental.
A subida dos preços dos alimentos foi agravada pelo ressurgimento
de restrições ao comércio. É também, em parte, resultado do O FMI recomendou, de uma forma geral, que as respostas políticas
aumento da produção de biocombustíveis. O FMI estima que os sigam alguns princípios gerais, começando pelos mais urgentes:
biocombustíveis tenham sido responsáveis por quase metade proporcionar alimentos àqueles que mais deles necessitam e
do aumento do consumo das principais culturas alimentares em reforçar as redes de segurança social através de transferências e
2006 e 2007. A quantidade de bens alimentares armazenados subsídios dirigidos aos grupos mais vulneráveis. Para além disso,
a nível mundial é suficiente para suprir a procura actual, mas as a transição para preços domésticos mais elevados tem de acabar
restrições ao comércio, o açambarcamento por parte dos governos, por ser permitida, podendo no entanto ser gradual. A primeira fase
o controlo de preços e outras políticas proteccionistas criam de aumento do preço dos alimentos e do petróleo não necessita
“A subida dos preços dos alimentos
foi agravada pelo ressurgimento de
restrições ao comércio. É também,
em parte, resultado do aumento
da produção de biocombustíveis. ”
A segurança alimentar é um dos principais objectivos de qualquer No entanto, a margem orçamental necessária para permitir o
governo e as políticas recomendadas pelo FMI pretendem apoiar financiamento sustentável de medidas compensatórias. Para muitos
este objectivo. No entanto, os países não devem ter como meta a países pobres a ajuda necessária será proveniente da comunidade
auto-suficiência alimentar. Devem, pelo contrário, ter como objectivo internacional que satisfará essas necessidades. O financiamento
a produção onde as vantagens comparativas sejam maiores. As externo suplementar pode desempenhar um papel fundamental,
políticas de auto-suficiência são na maioria dos casos ineficazes, ajudando a financiar importações indispensáveis e concedendo
provocam a distorção dos mercados e consomem recursos escassos alguma margem de manobra para os países implementarem os
que, caso contrário, poderiam ser aplicados nas áreas da saúde e ajustes necessários e permitir o aumento das despesas com a
educação. A segurança alimentar pode ser alcançada de uma forma agricultura e as redes de segurança social.
mais barata através de estratégias de seguros, incluindo estratégias
que envolvam a comercialização de futuros sobre mercadorias. Para um país como Moçambique que possui uma imensidão de
terrenos férteis inutilizados, a actual crise alimentar afigura-se
A maioria dos países recorre a algum tipo de subsídios. claramente como uma janela de oportunidade para aumentar a
Recomendamos a eliminação de subsídios generalizados, tais produção agrícola. As políticas a implementar devem ser capazes
como os subsídios aos combustíveis, pois são tendencialmente de solucionar as limitações dos agricultores de forma a aumentar a
regressivos e dispendiosos. Ao invés, as políticas adequadas para dar produção.
resposta a este problema devem incluir transferências direccionadas
sobretudo para os mais pobres. A maioria dos países tem numerosas Quando se define um conjunto de respostas políticas e o seu
necessidades sociais e económicas e recursos escassos, assim seria ritmo de implementação para fazer face à actual crise alimentar
inapropriado utilizá-los para apoiar o consumo dos ricos. e petrolífera é importante ter em consideração as implicações em
termos de desenvolvimento e redução da pobreza. A comunidade
O FMI, em cooperação com outros parceiros de desenvolvimento, internacional deve trabalhar em conjunto para assegurar que a
respondeu rapidamente à crise disponibilizando aconselhamento subida dos preços não provoca dificuldades excessivas seja em
político, avaliação do impacto da crise na balança de pagamentos, que parte do mundo for, mas ao mesmo tempo é necessário que
assistência técnica e apoio financeiro. Os programas apoiados os mercados respondam produzindo mais alimentos e fazendo-os
pelo FMI são concebidos para facultar rápido apoio financeiro que chegar aos mais necessitados.
permita fazer face às necessidades da balança de pagamentos e
para proporcionar margem de manobra orçamental que permita
por Felix Fischer, Representante Permanente do Fundo Monetário Internacional
identificar as despesas prioritárias dos governos, não colocando em Maputo, Moçambique. As opiniões expressas neste artigo são as do autor e
em perigo a estabilidade macroeconómica. No final do mês de não representam necessariamente as do FMI ou políticas do FMI.
energia e produção alimentar no mundo - união europeia
Ferran Tarradellas
Porta-Voz do Comissário
Europeu de Energia
Andris Piebalgs
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008
I.: 6. Como será possível, a longo prazo, atingir o equilíbrio Logicamente, devem existir outras causas para os aumentos dos preços dos
entre a oferta e a procura de bens alimentares e de bens alimentares. Os especialistas sugerem que o aumento dos preços, a
combustíveis ecológicos? nível mundial, se deve a vários factores: o principal é o dólar fraco (a ajuda
F.T.: A Comissão considera que os benefícios de longo prazo dos alimentar é comprada com dólares… uma das razões para o menor poder
biocombustíveis em termos de emissões de CO2, de segurança de de compra do PAM este ano, quando comparado com anos anteriores); o
fornecimento e de novas oportunidades agrícolas (na UE e a nível aumento da população mundial; as baixas colheitas em muitas regiões do
mundial) pode ser alcançado adoptando os seguintes princípios: um planeta; o aumento da procura na Ásia oriental – à medida que se alteram
objectivo limitado (10%); critérios de sustentabilidade robustos e o os hábitos de alimentação (aumento do número de refeições diárias e
último, mas não menos importante, uma aposta dos biocombustíveis aumento do consumo de carne); restrições às exportações na Ucrânia e 13
de segunda geração. Se não se perderem de vista estes princípios, creio na Rússia (são habitualmente dos maiores fornecedores mundiais) e por
que não haverá lugar a desequilíbrios nos mercados dos biocombustíveis último, mas não menos importante, o aumento do preço do petróleo (com
e de bens alimentares. No entanto, comprovar se este facto é, ou não, efeitos indesejáveis nos custos dos transportes). Não nos esqueçamos que
verdadeiro será o papel do sistema de monitorização que a directiva uma das poucas ferramentas ao dispor da Comissão para fazer baixar os
Renováveis implementará. preços do petróleo é, precisamente, os biocombustíveis.
Michael Hopkins
Director, MHC International Ltd.
Um e-mail que recebi recentemente estava imbuído da mesma A preocupação com o ambiente não é algo de novo. Os avisos de
linha de raciocínio. No grupo de discussão de RSE, CSR Chicks, catástrofe mundial vieram da equipa liderada por Donella Meadows
a Ulrika escreveu “Olá membros do grupo de discussão, será no livro “Os Limites do Crescimento” publicado em 1971. Mas os seus
que algum de vocês me saberá aconselhar relativamente a um autores tiveram o cuidado de referir que existiam outras catástrofes
seminário ou conferência de boa qualidade sobre Investimento e a falecida D. Meadows, com quem tive o privilégio de trabalhar, era
Socialmente Responsável (ISR)? O ISR parece estar muito centrado nessa altura uma entusiasta defensora da redução da pobreza na
em “Investimentos Ecológicos” e em questões ambientais. O que eu Índia.
procuro é uma conferência acerca de ISR, mas centrada em direitos
humanos, direitos laborais, corrupção e também sobre ambiente.” As questões ambientais são algo sobre o qual é fácil entusiasmarmo-
nos. Durante a Guerra Fria, nos anos 70, a única instituição
internacional criada para estabelecer uma ponte entre o Ocidente
Tendências e o Oriente foi o Instituto Internacional para a Análise de Sistemas
Num recente inquérito mundial às empresas sobre questões político- Aplicados (IIASA) [3]. Ficou sedeada nos arredores de Viena, com o
sociais, da autoria da McKinsey [1], mais de metade dos participantes objectivo de aplicar a técnica de análise de sistemas aos problemas
escolheu o ambiente, incluindo as alterações climáticas, como ambientais transfronteiriços – um sector considerado, na época,
um dos três temas que mais irá atrair a atenção dos políticos e como não político! Actualmente, como é óbvio, esta instituição
do público nos próximos cinco anos, em comparação com 31% no trabalha na criação de modelos de aquecimento global e 17 cientistas
anterior inquérito. do IIASA foram os autores e revisores do Quarto Relatório de
“As empresas e o público são bombardeados com a
necessidade de se tornarem mais ecológicos – reduzir
as emissões de dióxido de carbono, comprar produtos
orgânicos e produzidos localmente, poupar água – e,
sem surpresa, a parte “social” da RSE não está a ser alvo
de toda a atenção que merece. ”
EfIciência Energética
A eficiência energética tem de ser vista como uma necessidade, 6 anos, a economia Portuguesa tem tido periodos de recessão
como algo inerente ao desenvolvimento e crescimento sustentável. económica e abrandamento, o que tem implicações muito concretas
É por isso que assistimos a países, empresas e particulares, por na diminuição do poder de compra do cidadão.
todo o Mundo, a dar o próximo passo em busca de uma importante
transformação energética. Ao nível das empresas encontramos o Manual de boas práticas de
eficiência energética, publicado pelo BCSD, bem como estudos de
17
Esta transformação terá que se assumir como um compromisso privados que analisam a eficiência energética em PME’s; em Portugal
mundial, onde os Estados devem estabelecer metas e objectivos conclui-se que a manutenção e exploração de equipamentos
delineando um plano; onde as empresas e privados devem antecipar- consumidores de energia são as áreas com maior potencial de
se e por elas promover a sua eficiência energética reduzindo custos e poupança.Temos ainda análises aos lares Portugueses onde
transformando a sua energia; e onde cada um de nós pessoalmente percebemos que os mais jovens demonstram ter hábitos energéticos
tem de assumir responsabilidades e encontrar soluções adequadas. mais eficientes e que quanto maior o nível socio-económico,maior a
São já muitos os estudos, planos ou manuais de eficiência energética eficiência energética do lar.
que podemos encontrar. Da Comissão Europeia temos o Livro Verde
sobre eficiência energética [1] procurou identificar opções e facilitar A eficiência e poupança energética é vista por muitos como a
planos de acção concretos a nível comunitário, nacional, regional e ‘’4ª energia’’, ganhando às renováveis, combustiveis fósseis e
local. Pretendeu promover a eficiência energética pelos vários países nuclear considerando o desempenho energético, sustentável e
Europeus, fornecendo aos Estados os ‘’incentivos e instrumentos que o económico. Temos depois outra variante, a dimensão social do
estes necessitem para avançar para as acções’’. Mais recentemente tema, onde será imprescindivel a criação de uma cultura de hábitos
a International Energy Agency lançou um documento com comportamentais de eficiência energética, ainda distante, talvez
recomendações, inserido no plano de acção do G8, que não podia ser fruto das circunstâncias económicas adversas.
mais claro ao afirmar:’’Saving energy is the most rapid, least costly
way to reduce energy demand, CO2 emissions and energy supply Impõe-se então às empresas, particulares e sociedade de uma forma
investment needs’’ [2]. geral , que analisem as ineficiências energéticas, que ajam perante
elas, modificando a forma como consomem energia, reduzindo
Estamos numa fase de aprendizagem e de experiência, entenda-se: assim a sua factura energética e emissões associadas. É possível hoje
boas práticas energéticas, e identificação de formas inovadoras de realizarem-se auditorias energéticas, que permitem a identificação
poupar energia reduzindo as emissões e os custos. Encontramo-nos de mecanismos e tecnologias que permitirão reduzir a factura
assim em plena transformação\evolução energética. Exemplo disso de energia da sua empresa, condomínio e habitação. Que esta
é o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética(PNAEE), revolução energética já iniciada nos leve a uma nova era de energia,
que Quercus e LPN classificaram de “pouco ambicioso”, e que assegurando um futuro verdadeiramente sustentável.
prevê a redução do consumo de energia em 10% até 2015 partindo
de 4 áreas: transportes, residencial e serviços, indústria e Estado,
apostando também fortemente nas renovavéis. Temos por outro
lado estudos de empresas privadas que analisam o consumidor
europeu ,e o Português em particular, onde facilmente se conclui
que existe uma preocupação e intenção de tomar medidas, mas
existe ainda uma grande discrepância entre atitude e verdadeiro by Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt).
comportamento, sendo que os custos financeiros prevalecem sobre
as preocupações ambientais como principal razão para a redução [1] (http://ec.europa.eu/energy/efficiency/doc/2005_06_green_paper_book_pt.pdf ).
do consumo energético. Não podemos esquecer que, nos últimos [2] (http://www.iea.org/textbase/papers/2008/G8_EE_2008.pdf ).
desafIos da energia - visão portuguesa
As energias
renováveis
e o impacto na
Agostinho Miguel economia mundial
e João Saraiva
Portal das Energias Renováveis
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008
Todos nós já ouvimos falar no “…dá-lhe uma cana de pesca e ensina-o solar fotovoltaico e dos biocombustíveis. No entanto a abordagem
a pescar…” em oposição a “…dá-lhe peixe para comer…” como sendo tem sido economicista e portanto todo o investimento tem vindo
uma metáfora de que é muito mais interessante aprender a resolver de fora com os dividendos a não ficarem em Portugal, nem o know
os problemas do que a ter a solução na mão sem qualquer esforço. how associado. Os portugueses não têm qualquer relação com as
As energias renováveis permitem a todas as comunidades agir de renováveis e os grandes problemas da nação actualmente: aumento
acordo com o ecossistema em que estão inseridos. O conceito de do preço dos combustíveis fósseis (todos estão indexados ao
desenvolvimento sustentável pode resumir-se no seguinte conceito: petróleo), desemprego, aumento do custo de vida podiam todos ter
não usar o que não temos. Esta forma de pensar levanta grandes uma resposta diferente caso o investimento nos recursos nacionais
18 questões aos padrões de vida actuais em que estamos habituados tivesse sido feito a par de formação de quadros nestas áreas.
a viver independentemente do ecossistema que nos rodeia. O facto
de passarmos a utilizar os recursos energéticos que nos rodeiam, Mesmo neste panorama sombrio as Energias Renováveis começam
apostando na descentralização, no equilíbrio ecológico, respeito pelo a fazer parte do léxico dos portugueses. Os “painéis solares” no
meio ambiente e sustentabilidade (por oposição a monopólios e a Alentejo, “as ventoinhas” na zona do oeste e norte do País são já
centralização) são a aposta clara para podermos viver em verdadeira citados por muitos, mas vejamos a real evolução da produção de
harmonia. energia eléctrica de acordo com a DGEG:
Fonte: DGEG.
(PCH – Pequenas centrais hídricas > 10MW)
Mas temos de ir aos menos falados: biomassa sem co-geração de 8 para 24, 3 vezes em 7 anos, biogás de 1 para 12,4, 12 vezes.
Comparemo-nos com a Europa:
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Fonte: DGEG
Estamos perto do topo e devemos estar contentes, mas pense-se em sustentável é um slogan e não um estilo de vida. Pode custar,
quantos de nós estiveram e estão ligados ao sector das renováveis; mas temos de ser capazes de perceber que existem limites!
Que o consumo energético não é electricidade apenas; Quantos Tecnologicamente precisamos de evoluir, necessitamos de nos
colectores solares térmicos temos instalados no nosso país? Que uso especializar e crescer numa vertente de independência e sermos
fazemos da geotermia? Porque continuamos a negligenciar as ondas capazes de nos sustentar e progredir em termos da nossa qualidade
do nosso mar? E as marés? de vida.
Fala-se também no aumento da fome e escassez de alimentos Ou seja podemos resolver o nosso problema com os nossos recursos
(cereais) a nível mundial e uma das formas de energia renovável – os e ao mesmo tempo poder ter algo em que podemos exportar
biocombustíveis – estão na sua origem, mas se observarmos o que conhecimento e tecnologia, bem como partilhar a nossa experiência
se passa na realidade vemos que os países desenvolvidos querem com outros povos.
irredutivelmente continuar agarrados aos seus estilos de vida e
os pobres têm de ver o seu milho e outras culturas alimentares
serem utilizadas para produzir combustível para os automóveis dos por Agostinho Miguel e João Saraiva, Portal das Energias Renováveis
norte-americanos e europeus. Mais uma vez o desenvolvimento (www.energiasrenovaveis.com).
desafios da energia - visão portuguesa
“Energia nuclear em
Portugal continua e ser uma
possibilidade real, e eu diria
agora uma inevitabilidade face
à evolução do contexto (...)”
Im))pactus.: 1. Pode-nos dar uma ideia do estado actual em chuvosos em 2009 e 2010. A chamada correcção da hidraulicidade que
que se encontra a energia nuclear em Portugal? é realizada para os valores reais que referi, é feita de forma incorrecta
Pedro Sampaio Nunes.: A energia nuclear em Portugal continua mesmo em relação à declaração sueca anexa a essa directiva que a
e ser uma possibilidade real, e eu diria agora uma inevitabilidade prevê, e está a induzir a opinião pública em erro.
face à evolução do contexto energético mundial, que se encontra
devidamente estudada desde o Plano Nuclear que culminou com
o Livro Branco dirigido ao Governo em 1983, e sobre o qual acabou I.: 3. Estamos a assistir a uma reactivação de centrais por
por não haver nenhuma decisão na altura. Esse Livro Branco foi o parte de alguns países, nomeadamente os ingleses. Como
culminar de um processo em que o País se preparou durante décadas, entende este facto?
e de que resultou hoje ainda em funcionamento o Instituto de P.S.N.: Estamos a assistir a uma reactivação do interesse pela energia
Tecnologia Nuclear, onde funciona o Reactor de Sacavém para fins de nuclear em todo o Mundo. No Reino Unido está em curso o processo
investigação. de substituição das centrais nucleares em fim de vida, nomeadamente
as de tecnologia mais obsoleta, como as centrais Magnox, por centrais
20 Mais recentemente, e desde 2004 um grupo privado decidiu investir de terceira geração, como nos EUA e em França. Na Ásia o ritmo de
na possibilidade de construir e operarar reactores nucleares de construção nunca abrandou, nomeadamente no Japão, China, Índia e
potência.Para tal fim foi criada uma empresa, a ENUPOR, Energia Coreia do Sul. Este país, com uma superfície semelhante á de Portugal,
nuclear de Portugal SA, que promoveu o estudo de pré-viabilidade de e uma situação geográfica parecida – numa península e apenas com
um reactor comercial em Portugal. um fronteira – tem 20 reactores em funcionamento e planeados mais
oito.
Em 2005 estavam em construção 24 reactores nucleares em todo o
I.: 2. Existe uma clara ruptura deste Governo com o Mundo, estavam encomendados 40 e planeados 73. Hoje estão em
nuclear, as opções pelas renováveis parecem-lhe acertadas? construção 36, estão encomendados 93 e planeados 218. Se há uma
P.S.N.: As opções pelas renováveis seriam acertadas na medida verdadeira revolução industrial e energética no Mundo hoje em dia,
em que houvesse uma noção tecnicamente correcta do seu real ela está em curso na energia nuclear e nos biocombustíveis. É por essa
potencial e custo, com as tecnologias disponíveis actualmente, e via que a Humanidade vai resolver o forte aperto em que se encontra
do seu contributo para ajudar a solucionar a grave dependência durante as próximas três décadas.
que o País tem de importação de energia primária. Ora essa noção
infelizmente não existe, e o que estamos a assistir é uma mobilização
maciça de recursos que se vão buscar à economia, onerando de forma
hoje já dificilmente recuperável a competitividade do nosso tecido I.: 4. A energia nuclear, é em sua opinião e ainda, um tabu?
produtivo, peloapoio indiscriminado dado a essas forma de energias, Como se compreende se a nível energético e económico é
partindo do principio que se poderia cobrir de forma significativa a uma opção viável?
nossa dependência por uma produção endógena não-nuclear. Ora P.S.N.: Em Portugal não é já um tabu, mas existe um forte preconceito
isso deveu-se à grande influência de uma escola de pensamento baseado na falta de informação e de conhecimento sobre esta
em temas de energia activamente anti-nuclear, e que foi já em 1983 matéria, e no receio dos políticos de abordarem um tema em que
determinante para o abandono do Plano Nuclear. receiam uma discussão aberta, devido à influência da escola de
pensamento de que fiz já referência, de velhos lutadores contra o
Ora a realidade mostra-nos que apesar deste enorme esforço em nuclear assentes numa concepção ideológica e não científica, das
prol das renováveis, com um reflexo cada vez mais impportante na questões energéticas.
factura eléctrica nacional, as renováveis têm vindo sistematicamente
a diminuir a usa presença no “mix” eléctrico, pelo que Portugal tem
continuado a depender cada vez mais da sua geração fóssil, e também I.: 5. Quanto a localizações de uma possível central
de forma crescente de importações de Espanha – e esta de origem nuclear em Portugal, quais seriam as possíveis? O ideal
nuclear. seria uma proximidade com água e com Espanha. Existe
abertura por parte das autarquias e condições de
A contribuição das renováveis era de 80% noa anos 70, passou para aceitação social para um projecto deste nível?
40 % nos anos 80, e para 30 % nos anos 90. Desde 2000 foi em média P.S.N.: Existem múltiplos factores que determinam a escolha da
de 28,5 % e actualmente é de 27%, embora se anuncie de uma forma localização ideal de uma central nuclear. O ideal seria fazê-la junto
enganadora que já tenhamos atingido os 39% da Directiva Renováveis ao mar para evitar a construção de torres de arrefecimento. Mas
o ano passado e que iremos cumprir os 45 % anunciados pelo considerações ligadas à realidade do mercado ibérico de energia
Governo para 2010. Parece-me totalmente impossível que isso venha apontam hoje para uma localização mais próxima dos grandes centros
a acontecer, a não ser que tivéssemos dois anos excepcionalmente de consumo nesse mercado, e por isso os estudos mais recentes
apontam para uma localização mais próxima da fronteira. Das várias continente, com um terço de toda a geração de electricidade. Existe
autarquias contactadas, algumas mostraram uma boa aceitação, a hoje na energia eléctrica uma Europa a duas velocidades: o centro do
exemplo do que se passa em Espanha ou em França, em que existe Continente fortemente nuclearisado – a França, a Bélgica, a Suiça, a
uma espécie de concurso para fazer a selecção de entre as várias Suécia, etc. - e depois os países da Peninsula Ibérica que estão a tentar
autarquias candidatas. resolver o problema com uma aposta muito forte nas renováveis.
Uma vez que a actividade económica depende sempre da energia
I.: 6. Entende esta fase das renováveis como de transição em maior ou menor grau, esse facto obrigou a que os países ibéricos
para o nuclear? tenham entrado numa subsidiação encapotada das tarifas eléctricas,
P.S.N.: Não, investir nas renováveis é absolutamente necessário para criando défices tarifários explosivos, e que em Espanha atingem já
manter um contacto com o desenvolvimento tecnológico em curso, e o valor inacreditável de 15 mil milhões de euros. Ora essa factura,
entrar em força quando a curva de aprendizagem dessas tecnologias quer venha a ser paga pelos consumidores quer pelos contribuintes,
lhes der capacidade competitiva. Agora, investir nas renováveis para representa um ónus tremendo para a economia desses países, e a meu
lhes dar escala e assim construir essa capacidade competitiva, é um ver, o principal obstáculo futuro à retoma económica do nosso País.
erro enorme de alocação de recursos, num País que os não tem em
abundância. Agora eu estou certo que o futuro se fará por um tandem
renováveis-nuclear, e dependendo da evolução tecnológica, sobretudo I.: 8. A segurança ainda é um factor problemático na
na área dos materiais, poderíamos eventualmente ver o nuclear energia nuclear?
como uma transição para as renováveis e não o contrário. No futuro P.S.N.: Se a segurança fosse um factor problemático na energia
tudo dependerá de como a tecnologia dos materiais poder resolver nuclear, não existiria seguramente interesse privado em investir nessa
as barreiras à larga disseminação do fotovoltaico e da viabilização da forma de energia. A realidade é que as estatísticas mostram que de
fusão nuclear. todas as formas de geração eléctrica com significado, a energia nuclear
é, de longe, a mais segura. O único acidente sério e com consequências
fatais em 50 anos de energia nuclear, Chernobil, está hoje bem
I.: 7. Podemos afIrmar que existem investidores nacionais conhecido quer nas suas reais consequências, muito inferiores ás
interessados neste projecto? propaladas na altura pela comunicação social, quer na impossibilidade
P.S.N.: Não só pode afirmar, como ter a certeza que existem vários de se repetir com a tecnologia actual.
investidores interessados na energia nuclear civil em Portugal, a
exemplo da Finlândia, onde o Governo terá que decidir entre os vários
candidatos ao 6º e 7º reactor naquele país. Esse interesse deriva da
enorme vantagem competitiva que tem actualmente a energia nuclear
na Europa, sendo a forma mais importante de geração eléctrica no por Pedro Sampaio Nunes, Administrador da GreenCyber, SA.
desafIos da energia - visão portuguesa
Im))pactus: 1.Energia verde proveniente da queima de Faz todo o sentido África ser um alvo para a implementação dos
cereais, constitui hoje uma das opções para a produção mecanismos de CDM e de mitigação de CO2. Neste contexto, faz
de energia com menos emissões de CO2. O continente sentido olhar para África , porque é realmente um continente onde o
Africano pode ser visto como um potencial ‘’Celeiro’’ solo está sub utilizadissímo do ponto de vista de potencial agrícola, e
Mundial ? portanto plantações, florestação, usos que sejam sorvedores de CO2
Nuno Ribeiro da Silva: Dois pontos prévios, não esqueçamos que tem todo o sentido. E todos ganham com esta abordagem.
os biocombustíveis sao um paliativo relativamente à problemática
dos combustíveis para os transportes, aparecem como um No que toca às soluções convencionais, África tem também um
sucedaneo aos derivados do petróleo. O problema fundamental dos potencial enorme e mal conhecido associado ao limitadissímo
transportes está associado ao anacronismo do motor de explosão. conhecimento aí existente - quando comparado ao da Europa ou da
Como tal a grande questão que hoje se coloca, sendo também uma Ásia -sobre “ onshore”, “offshore”, potencial de carvão, gás natural e
22
oportunidade ao fim de um século, é promover-se uma alteração ao petróleo. É um continente muito pouco explorado sobre o ponto de
nível dos transportes que têm vindo a utilizar o motor de explosão, vista do potencial de petróleo, gás e mesmo carvão. É precisamente
até porque, pelas leis da física e da termodinâmica, não pode ter nestes pontos que China essencialmente aposta. A China, nos
um rendimento superior a 15% . Para dar uma ideia, a eficiência do programas que tenta estabelecer com os governos africanos, aposta
Sr. Ford à cem anos é a mesma eficiência dos motores dos carros essencialmente nos combustíveis fosseis tradicionais.
modernos - sao leis da física, é a termodinâmica. Portanto não
esqueçamos que biocombustíveis é apenas um paliativo, é apenas
um interludio, um intervalo num problema crítico que está ligado ao
abandono definitivo do motor de combustão. E portanto continuar I.: 3. Existirá o perigo, de mais uma vez, África vir a ser
a apostar em combustíveis para motores de explosão é errado. Dito explorada para satisfazer uma necessidade dos países
isto, e ligando os biocombustíveis às questões do conflito com os ricos, sem que exista uma preocupação evidente prática
produtos alimentares, faz sentido produzir biocombustíveis nos com o factor humano e social? Se sim, quais são as medidas
sitios em que existem as condições bioclimáticas, disponiblilidade que têm necessariamente de existir?
de terra e as eficiências de processo, nomeadamente a fotossíntese, N.R.S.: Tem a ver com os dirigentes africanos. Nós temos hoje uma
que nao conflituem com a produção de produtos agrícolas com série de países em África que estão a viver dos combustíveis fosseis,
vocação alimentar. Nessas condições faz todo o sentido produzir como o Gabão, a Nigária e Angola. É expectável que surja uma
alcóol e gasolinas derivados da cana de açúcar. O que não faz Guiné Equatorial, estando São Tome e Moçambique a começar a
sentido é forçar, por razões meramente economicistas e no sentido concessionar, com bons prémios, zonas de prospecção e pesquisa no
de subsidiação, a produção de milho, por exemplo, no middle west offshore Moçambicano, na Tanzânia, etc. Há um problema de gestão
nos EUA. Resumindo, nao tenhamos a ilusão que os biocombustíveis interna. Não é apenas um problema do ocidente pois países que têm
são um adiar da questão crítica e decisiva para o Mundo, e que se rendas petrolíferas no médio oriente, independentemente de não
prende com a capacidade em abandonar, ao fim de um século, os serem propriamente transparentes, as populações usufrem muito
bons serviços que o motor de explosão produziu, e ir produzindo mais do que acontece na Nigéria em Angola ou no Gabão e do que vai
biocombustível em locais específicos sem se entrar em conflito com acontecer na Guiné Equatorial e por aí fora. Os países constituiram,
a produção alimentar e onde a eficiência do processo, sob o ponto de companhias nacionais, como acontece na Nigéria com a NNPC e em
vista energético, faz sentido. Para ter uma ideia, produzir alcóol com Angola com a Sonangol, portanto não é um problema dizer que as
base na cana do brasil tem uma relação de 1 para 8, produzir alcóol companhias trasnacionais e as multinacionais aparecem e apoderam-
com base no milho do middle west americano tem uma relação de 1 se dos recursos nacionais... é mal gerido, e os dirigentes locais sao
pra 2 , portanto não faz sentido. oportunistas, portanto não é tanto um problema ocidental e de séc
.19 conferência de Berlim como aconteceu, no quadro colonial, em
que se chegava e tirava o ferro os metais e as coisas da 1ª revolução
I.: 2. Poderá África constituir uma forte solução para os industrial. Agora é um problema deles.
problemas energéticos da economias desenvolvidas e em
grande crescimento como a China?
N.R.S.: A questão aparece na sequencia da anterior. Faz sentido I.: 4. A União Europeia defIniu como meta que os
desenvolverem-se programas em África não numa óptica de biocombustíveis passem a representar 10% das necessidades
produção intensiva e de monocultura de biocombustíveis , mas de combustiveis para transportes até 2020. Não será uma
essencialmente associada aos mecanismos de Kyoto para o CO2. meta contraditória face à crise alimentar que se vive?
“Faz sentido produzir biocombustíveis nos sítios em que existem as condições
bioclimaticas, disponiblilidade de terra e as eficiencias de processo, nomeadamente
a fotossintese, que nao conflituem com a produçao de produtos agricolas com
vocação alimentar.... O que não faz sentido é forçar, por razões meramente
economicistas e no sentido de subsidiação, a produção de milho, por exemplo, no
middle west nos EUA”.
N.R.S.: É um pouco, mas na linha do que já falamos, na Europa, dos objectivos fundadores da ERSE em causa, quando o governo
que tem vindo a ser posta de parte o célebre setaside em termos de diz no diploma que define os preços em anos excepcionais, sem
terrenos e com a diminuição do uso de solos para produçao agrícola especificar o que sao anos excepcionais. E tem estado a criar anos
(até por produzirmos manteiga subsidiada e leite subsidiado, etc), excepcionais todos os anos, uma vez que quando, sob o ponto de 23
a reforma da PAC deu estímulos para diminuir a área agrícola. vista político, se sente desconfortável em actualizar os preços que
Quando a Europa coloca este objectivo de aumentar contributo reflitam o aumento dos custos de produção e electricidade. Portanto,
dos biocombustíveis, pode fazer todo sentido sob vários pontos de nomeadamente em Portugal, se é correcta a política que tem sido
vista. Quando a Europa pode aproveitar terrenos que não estão a seguida a nível dos preços dos derivados do petróleo e ao nível de
ser utilizados e, pelo contrário, estavam a ser subsidiados para ser preços da electricidade? Afirmo que não.
abandonada a actividade agrícola, pode introduzir nesses terrenos
culturas energéticas. E nessa caso faz todo o sentido. Estamos
por um lado a criar rendimento para as zonas rurais e por outro a
contribuir para uma autoprodução de combustíveis para mitigar I.: 6. Como vê a introdução de portagens nas cidades,
a dependência dos derivados do petróleo no quadro europeu. Em parece-lhe uma boa medida a tomar?
resumo, esse objectivo tem sentido , os terrenos que têm estado a N.R.S.: Claro, é uma medida correctíssima, é uma das medidas... há
ser desactivados no âmbito da reforma da PAC permite trasnportar muita experiência e muita prática no uso de dezenas de intrumentos
ou transferir rendimento para o espaço rural sem conflituar com as políticos, para mitigar o uso do transporte particular. No nosso caso
regras da OMC e contribuir para resolver um problema europeu. é escandaloso pois nas deslocações casa-trabalho-casa não deve
haver nenhum país na Europa que tenha taxas na ordem dos 90%
de um carro uma pessoa. Logo este tipo de medidas é essencial,
I.: 5. Concorda com as políticas actuais para fazer face ao nomeadamente se as portagens vão em abono de apoiar o uso dos
aumento do preço dos combustiveis? transportes públicos. Existem muitas medidas para desencentivar
N.R.S.: Os países produtores e países emergentes como a China, a o uso do trasnporte particular nas cidades e estimular o uso do
India, entre outros, estão a subsidiar os preços dos combustíveis, o transporte público e penalizar quem opta por levar o seu transporte
que é um disparate absoluto e os resultados sao dramáticos porque, particular para a cidade. É óbvio que é um ‘luxo’ que tem de ser pago
no fundo, o consumo continua a crescer de uma maneira colossal e - quem quiser paga quem não quiser não paga. É um ciclo vicioso,
não se transmite às pessoas os sinais, através do preço, que levem a por exemplo, no caso da CARRIS tem uma penalizaçao brutal pelo
um uso racional, nem se está a introduzir uma serie de mecanismos facto de ter as ruas de Lisboa completamente condicionadas, o que
que reflictam o que é efectivamente o custo das matérias primas e lhes dá uma velocidade comercial miserável, de 15 km\h . É todo
do consumo desses bens. Ao nível Europeu e até mesmo da OCDE, um efeito cascata, não só para as pessoas. Para o sector, diminui
mas para a Europa em particular, o reflexo de aumento dos custos enormemente o investimento, pois os autocarros passam a fazer
nos preços é correctíssimo, é a unica atitude a ter, embora os Estados muito mais serviço em menos tempo porque não estão parados no
estejam a ganhar mais dinheiro, como o nosso, porque como se trânsito. É todo um processo lógico, tirar os carros da cidade e por
sabe os impostos (quer o IVA quer o imposto sobre os produtos os transportes públicos rodoviários a funcionar e a circular. É uma
petrolíferos) são ad valorem. A partir do momento em que aumenta medida crucial e a grande oportunidade histórica de o fazer, porque
o custo do produto - embora a percentagem do IVA e do ISP seja as pessoas percebem isso.
muito próxima (que é cerca de 50% no gasoleo e 60% na gasolina)
- o valor aumenta porque é ad valorem. Mas é a política certa a ter
e não se deve mitigar e’’ tentar tapar o sol com a peneira’’. Energia I.: 7. Concorda com opinões que nos dão conta das
e preços não é só gasolina, gasóleo e gás natural. Aí, no plano da difIculdades em ganhar concursos à GALP e EDP por
electricidade, nomeadamente no nosso país comete-se um ‘crime’, e exemplo?
a lei da semana passada é a expressão desse crime, colocando alguns N.R.S.: Está no programa do governo e na resoluçao do conselho de
desafIos da energia - visão portuguesa
ministros de 2005 que a Galp e EDP serão os operadores relevantes não têm nuclear. Quando algumas pessoas dizem que a maior parte do
energéticos em Portugal, portanto não há mercado em Portugal. Aliás contributo da produção de electricidade na Europa vem do nuclear, isso
o diploma da semana passada é expressão disso. O governo decidiu é mentira. Basta olhar para os dados e número que se conhecem. E em
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008
proteger a EDP e a Galp, e os portugueses pagam para a EDP e Galp. Se ultima instância discuto o problema da segurança do nuclear...
do lado Espanhol houvesse uma retaliação não seria de surpreender,
pois o governo espanhol tem tido uma atitude perante a EDP e Galp
muito mais aberta do que o governo Português relativamente as I.: 8.2. A segurança ainda é um problema...
empresas espanholas. O governo Português, que tem ganho muito com N.R.S.: Sem dúvida claro, eu andei em Chernobyl 3 vezes... sob o ponto
a relação íntima que mantém com a EDP, optou por esta via. de vista económico e técnico o nuclear não cabe em Portugal. Mas
mesmo indo para a discussão esotérica da segurança, o que digo é
I.: 7.1. Relação com Espanha segundo governo é muito que num acidente de uma mina de carvão, explosão duma refinaria,
saudável... podem existir fatalidades, mas é um acidente que controlamos. Mas
N.R.S.: O governo Espanhol tem estado muito distraído mas sabe o que quando se dá um acidente nuclear embora a probabilidade seja muito
se passa, mas isso é entre governos. Para mim e eu posso parecer parcial, baixa, é algo que nos não temos anticorpos, mecanismos para controlar
o que acontece é que quer a EDP quer a Galp não são empresas públicas, esse acidente. Esse é um problema qualitativamente diferente. Mas
se o fossem formalmente em que o capital fosse público, ainda podia focalizando a questão no ponto de vista económico e técnico, e eu
dizer, como português, que perdia dum lado ganhava doutro. Mas não. tenho os números pois a minha empresa opera 8 centrais nucleares, o
A Galp tem 8% capital público directa ou indirectamente e a EDP tem nuclear não é barato e, tecnicamente, não entra no sistema eléctrico
24 um quarto. Portanto os portugueses estao a pagar para os previlégios portugues sem subsídios.
que Galp e EDP têm.
Como se os biocombustíveis
Francisco Ferreira
QUERCUS, com contributos do Grupo
de Energia e Alterações Climáticas
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008
Im))pactus: 1.Energia verde proveniente da queima de cereais, transportes até 2020. Não será uma meta contraditória à
constituiu hoje uma das opções para a produção de energia crise alimentar que se vive?
com menos emissões de CO2. O continente Africano pode ser Q.: No passado dia 7 de Julho o Comité de Ambiente do Parlamento
visto como um potencial “Celeiro” mundial? Europeu reviu em baixa a meta dos biocombustíveis para 2020, isto
Quercus: A questão não pode ser colocada nestes termos, pois a mostra um sinal de viragem das próprias instituições europeias em
queima de cereais não é uma energia verde. A utilização de cereais relação a esta matéria.
para a produção de biocombustíveis – que é disso que estamos a falar
– pode ser sob determinados critérios, uma substituição parcial dos O Comité do Ambiente do Parlamento Europeu, acordou, por
combustíveis fósseis nos automóveis. votação em Estrasburgo, uma meta de 4% relativa à incorporação de
biocombustíveis em 2015, sendo que para 2020 o objectivo é alcançar
No passado dia 7 de Julho o Comité de Ambiente do Parlamento Europeu uma taxa entre os 8 e 10%. Na base desta medida estão os assumidos
aprovou novas metas mais contidas de utilização de biocombustíveis nos efeitos negativos associados a alguns destes combustíveis alternativos,
26 transportes. quer em termos ambientais, quer sociais.
A utilização de biocombustíveis não pode ser a forma a única ou grande Mais ainda, os deputados do Parlamento Europeu sustentaram ainda
aposta de redução de emissões nos transportes. O investimento no que a meta para 2020 de bio-energia deve prever uma incorporação
desenvolvimento tecnológico é um factor fundamental e o que contribui entre os 40 e os 50% de veículos eléctricos ou movidos a hidrogénio a
para um desenvolvimento mais sustentado ao médio-longo prazo. partir de energias renováveis, biogás e biocombustíveis de 2ª geração.
A eficiência deste sector verifica-se em todo o processo de construção de partem de nós e fazem a diferença.
uma habitação, em que logo no processo de concepção (fase de projecto)
devem ser adoptadas boas práticas tendo em atenção o lugar em que
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008
se insere, toda a sua envolvente e a exposição solar. Tendo em conta os I.: 11. Para as empresas que pretendem entrar no mundo das
princípios bioclimáticos, adoptando soluções passivas (sem consumo renováveis que condições encontram a nível de benefícios
de energia), o seu desenho, a forma do edifício, os materiais escolhidos fIscais? ( esta pergunta não é bem para a Quercus…)
(preferindo, por exemplo, materiais locais – diminuindo gastos e Q.: Para as empresas que pretendam investir em equipamentos de
emissões nas deslocações –, reutilizar materiais de outras construções, e energias renováveis, existem deduções em IRC, que podem ser feitas por
amigos do ambiente), investir numa envolvente construída bem isolada um período de 4 anos.
(quer ao nível das paredes, envidraçados e coberturas) são, entre outros
aspectos, factores determinantes para as necessidades de aquecimento/ As energias renováveis já têm diversas aplicações que podem ser
arrefecimento para alcançar o conforto no seu interior, e melhorando adquiridas por um consumidor final, ou cidadão: produzir águas quentes
assim o seu desempenho energético. Ainda neste processo, não sanitárias (solar térmico), ou produzir electricidade (fotovoltaico e/
podemos ignorar os resíduos produzidos ao longo das várias etapas. ou eólico). Actualmente um consumidor pode investir em energias
renováveis para produzir electricidade, principalmente no fotovoltaico, e
Sem dúvida que melhorando a eficiência no sector, através da este sistema pode tornar-se rentável se vender toda a energia produzida
implementação de boas práticas, será um factor dinamizador e à rede no regime bonificado do Programa Renováveis na Hora.
contribuirá para a diminuição da factura energética. http://www.renovaveisnahora.pt/ . Quem queira aderir a este programa
28 terá de ter um sistema solar térmico.
Sendo que o parque urbano tem um período de renovação relativamente
longo (ao contrário por exemplo do parque automóvel), a eficiência Também é possível a dedução em IRS, que este ano (IRS de 2008) é
energética neste sector tem um peso acrescido. de 777€ e separada do crédito à habitação (para as componentes de
energias renováveis com IVA a 12%).
Neste sentido, a criação da Etiqueta de Eficiência Energética para os
edifícios vem obrigar a uma maior eficiência energética, em que os Ainda é preciso que a taxa sobre equipamentos de energias renováveis
novos edifícios logo de raiz não podem ser de classe inferior à classe B-, seja equiparada às energias não renováveis. O consumo de electricidade
e procurar fomentar a melhoria da eficiência nos edifícios já existentes, e gás são taxados a 5% enquanto alguns componentes de energias
com a obrigação da existência do certificado sempre que um edifício seja renováveis – como a instalação dos equipamentos são taxados a 20% de
transaccionado. IVA. Não se compreende esta diferença numa altura em que há sinais da
parte do governo numa aposta das energias renováveis.
É responsabilidade de todos nós procurarmos a eficiência, fazendo as por Francisco Ferreira , QUERCUS, com contributos do Grupo de Energia e
escolhas certas e adoptando boas práticas no dia-a-dia. Estas alterações Alterações Climáticas.
desafIos da energia - visão portuguesa
Agência Municipal
de Energia de Cascais
As alterações climáticas, a escalada do preço do petróleo e o aumento da sensibilizar os seus alunos. Também a futura piscina municipal da Abóboda,
A produção de electricidade
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008
Antecipação
do futuro
A conversão da energia das ondas em electricidade tem sido alvo de intensos com esse mesmo objectivo. Para além disso, o Centro começou a ser um dos
Quercus Energia
http://www.quercus.pt Setembro 2008
Direcção Geral de Energia e Geologia
www.dgge.pt 16 e 17 BioEnergy World Americas 2008, Salvador da
Agência para a Energia Bahia, Brasil.
www.adene.pt
24 a 26 PowerExpo, Zaragoza, Espanha.
Portal das Energia Renováveis
www.energiasrenovaveis.com
Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
www.erse.pt Outubro 2008
Cogeração em Portugal
www.cogenportugal.com 7e 8 Conferência Energias Renováveis, Lisboa , Portugal.
Agência Cascais Energia RENEXPO 2008, Augsburg, Alemanha.
www.cascaisenergia.org 9 a 12
Associação de Energias Renováveis
34 www.apren.pt Novembro 2008
Associação Portuguesa de Energia
www.apenergia.pt Wind Energy Operations and Maintenance
11 e 12
Ministério da Economia e Inovação(Energia) Summit, Londres, Inglaterra.
http://www.min-economia.pt
Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial Dezembro 2008
www.ineti.pt
Sociedade Portuguesa de Energia Solar 11 e 12 II Congresso de Energias Renováveis, Alternativas
www.spes.pt e ambiente, Viana do Castelo, Portugal.
Centro de Energia das Ondas
www.wave-energy-centre.org Janeiro 2009
Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico
www.apve.pt
19 a 21 World Future Energy Summit, Abu Dhabi, Arabia.
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