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Textos Interativos
last update: 16/02/2004
Universidade de Caxias do Sul - UCS
Departamento de Física e Química - DEFQ
Caxias do Sul - RS - Brasil
Água e óleo não se misturam! Quem duvidaria de uma afirmação como essa, atestada, como se vê, por empresários
políticos, sociólogos, religiosos e cientistas? No entanto, foi esse o resultado - uma mistura de água e óleo - de uma pesquisa
realizada pelo físico-químico Ric Pashley, da Universidade Nacional da Austrália, conforme noticiou em 19 de fevereiro de 2003
a New Scientist, revista norte-americana de divulgação científica.
http://www.ucs.br/ccet/defq/naeq/material_didatico/textos_interativos_17.htm 26/9/2007
NAEQ - Textos Interativos - Óleo e água se misturam? Page 2 of 3
A segunda explicação baseia-se em conceitos de termodinâmica e física estatística: água e óleo não se misturam porque a
entropia do sistema água e óleo não misturados é máxima. Ou seja, a desordem desse sistema prevalece por ser maior do que
a desordem do sistema água e óleo misturados. Explicando melhor: de acordo com a segunda lei da termodinâmica, todo
fenômeno natural espontâneo tende a atingir um estado estatisticamente mais provável -o estado de entropia máxima. É por
isso que o calor sempre passa do corpo mais quente para o mais frio, assim como o perfume de um frasco aberto sempre
evapora. O contrário não ocorre de forma espontânea porque são estados estatisticamente menos prováveis, nos quais a
entropia diminui em vez de aumentar. Assim, a mistura de água e óleo seria tão improvável como, espontaneamente, o calor
passar do corpo mais frio para o mais quente, ou o perfume difundido no ar condensar-se e voltar ao interior do frasco.
São explicações de bases conceituais muito sólidas. Para a física, a polarização elétrica das moléculas da água é uma
certeza quase tão firme quanto o princípio da atração e repulsão de cargas elétricas. E ambas explicam a forma como se
agrupam as moléculas de água e as propriedades resultantes, entre as quais os altos pontos de ebulição e fusão da água e o
aumento de volume ao congelar-se (o que contraria o comportamento da maioria das substâncias). De resto, a segunda lei da
termodinâmica é um dos pilares da física e de toda ciência moderna.
Imaginar que misturar água e óleo abale essas estruturas conceituais pode parecer absurdo, mas não é. Foram
experimentos igualmente simples que provocaram a revolução da física no início do século XX e deram origem à física
quântica.
Na busca de indicações para descrever e explicar essa interação no óleo, Pashley passou a examinar amostras de
superfícies retiradas de misturas, ou melhor, de não-misturas, de água e óleo. Nessas superfícies ele descobriu inúmeros
pontos semelhantes a bolhas microscópicas que não eram água nem óleo. Sabendo que sempre há certa quantidade de gases
dissolvidos na água exposta ao ar, Pashley supôs que esses pontos deveriam ser bolhas microscópicas desses gases,
expulsos da água pelo óleo. Imaginou que, assim como a interação elétrica entre as moléculas polarizadas da água
"marginaliza" as moléculas de óleo, obrigando-as a agrupar-se na forma de gotas esféricas espalhadas na água, a interação
hidrofóbica entre as moléculas do óleo deveria "marginalizar" as moléculas dos gases dissolvidos na água que, como as do
óleo, seriam forçadas a se agruparem nessas microbolhas. Um jogo de cão, gato e rato.
Foi para testar essa hipótese e verificar como se comportariam a água e o óleo sem os gases dissolvidos que Pashley os
extraiu e, para sua surpresa, obteve a improvável mistura. Curiosamente, essa mistura mostrou-se bastante estável - não mais
se desfez, mesmo quando Pashley reintroduziu os gases retirados. No jogo do cão, gato e rato, retirado o rato, cão e gato se
uniriam e passariam a viver em eterna harmonia, mesmo com a volta do rato...
Do ponto de vista tecnológico, porém, essa descoberta apresenta novas e promissoras possibilidades. A mistura, ou melhor,
a emulsão de água e óleo, sempre foi possível com o auxílio de uma substância intermediária, chamada de tensoativa. As
substâncias tensoativas têm uma estrutura molecular que lhes dá afinidade tanto com a água quanto com o óleo. O exemplo
mais comum é a gema do ovo, substância tensoativa que permite uma apreciada emulsão de água e óleo: a maionese. Se a
técnica resultante dessa pesquisa for confirmada, será possível misturar água e óleo sem o auxílio de substâncias tensoativas;
ou seja, será possível fazer maionese sem gema de ovos. É provável que essa não seja uma boa aplicação, mas certamente
há outras. Muitos medicamentos, cosméticos, alimentos e outros produtos químicos baseados na emulsão de água e óleo se
beneficiarão com essa nova técnica.
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Agora novas pesquisas estão sendo realizadas em laboratórios de todo mundo. Se o resultado se confirmar,certamente os
cientistas saberão enfrentar mais essa armadilha da natureza. E espera-se que os políticos, talvez os mais entusiasmados
apreciadores desse bordão, encontrem um substituto a altura...
Alberto Gaspar
(Doutor em Educação pela USP,
Prof. de Física da Unesp
Guaratinguetá e autor da Ática)
Sobre a notícia:
http://www.newscientist.com/news/news.jsp?id=ns99993408
http://www.sambal.org/archives/2003_02_23.html
http://www.abc.net.au/science/news/scitech/SciTechRepublish_790660.htm
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