Sei sulla pagina 1di 41

ANO 6 • Nº 60 • JAN/FEV 2009 • EDIÇÃO BRASILEIRA

MODA PROFISSIONAL

verão 2010

calçados&bolsas
+
CASA DE CRIADORES
RAOUDA ASSAF
O PIAUÍ É AQUI
RONALDO FRAGA

R$20,00
ISSN 1808-6829

VESTUÁRIO CALÇADOS&BOLSAS MALHARIA JEANS INFANTIL ACESSÓRIOS LOJISTA CULTURA COMPORTAMENTO


Muito mais que inspiração

A UseFashion é a mais completa fonte de informações estratégicas sobre


moda. Tudo que sua empresa precisa saber para inovar a cada dia, ampliar
negócios e gerar lucros. Pesquisando no portal usefashion.com e no
UseFashion Journal, a inspiração ganha cor, forma e valor.

www.usefashion.com vendas@usefashion.com 0800 603 9000


sumário da redação
dicas
5 DICAS DA REDAÇÃO 26 PING-PONG Quitanda

foto: divulgação
6 É MODA O estilista Ivan Aguilar responde às perguntas A marca de camisetas Quitanda nasceu
Looks comentados do Claro Rio Summer bate-e-volta da UseFashion da parceria entre os amigos Bruno Ost
8 ONLINE 27 EDITORIAL e Gustavo Werner. Criada em 2007, em
Saiba quais são as novidades do portal Como agir para não errar em momentos de crise Porto Alegre, a grife acaba de lançar a
usefashion.com para 2009 28 LOJAS segunda coleção com muito grafismo e
10 VESTUÁRIO A Adrenalina, em Miami, inova e coloca o surf pop art na estamparia.
Experimentações dão o tom das coleções apre- dentro do salão de vendas
sentadas na Casa de Criadores 30 RADAR INTERNACIONAL Veja: www.flickr.com/photos/estiloquitanda
12 MALHARIA O couro em destaque
Catherine Malandrino

foto: divulgação
Victoria’s Secret apresenta sua nova coleção 32 RADAR NACIONAL
14 JEANS As cores da estação A trajetória da estilista Catherine
Malandrino pode ser conferida
Os lançamentos da Denim Première Verão/2011 34 VISUAL MERCHANDISING CAPA: A GEOMETRIA SENSÍVEL ESTABELECE
REL AÇÕES DE CORES E EFEITOS GR ÁFICOS EM em um livro com ilustrações e
16 MASCULINO Confira como a Stefanel, em Florença, brinca com GR ANDE ESTILO NA COLEÇÃO DRIES VAN NOTEN.
FOTOS: © AGÊNCIA FOTOSITE
fotos do seu trabalho lança-
Como o público masculino consome moda a espacialidade em sua vitrine do recentemente pela editora
18 CALÇADOS & BOLSAS 35 COMPORTAMENTO Assouline. A designer sempre
A designer Raouda Assaf e suas criações
20 INFANTIL
A boneca Barbie completa 50 anos. Por Katia
Canton
EXPEDIENTE soube misturar o chic e o street
em sua moda, que além de ser
Onda setentista nas coleções infantis 36 PERFIL Diretor-Presidente superfeminina, é muito atual e
22 ACESSÓRIOS Ronaldo Fraga mostra por que é considerado um Jorge Faccioni sofisticada. Se você, assim como
Diretora
Veja o que as marcas de relógios estão preparan- contador de histórias Alessandra Faccioni
Madonna, Angelina Jolie e Halle
do para conquistar as mulheres na temporada 38 CULTURA Diretora de RH Berry, é fã da estilista, está aí um ótimo presente pra se
24 ACONTECE A moda feita no Piauí
Patrícia Santos dar de Natal.
Diretor de Redação
Minas Trend Preview se consolida no mercado de 42 CALÇADOS & BOLSAS Thomas Hartmann Mais em: www.assouline.com
Diretora de Pesquisa
moda brasileiro Verão 2010: Conheça as cores, os desenhos e os Patrícia Souza Rodrigues

foto: reprodução
26 OPINIÃO estilos que marcão o temporada
A pesquisadora Regina Machado fala da globali- 78 MEMÓRIA
NÚCLEO DE PESQUISA E COMUNICAÇÃO
zação e das relações de consumo O retorno da diva Grace Jones Editora-Chefe Journal
Inêz Gularte (Mtb 7.775)
Subeditora Portal
Aline Moura (Mtb 5.717)
20
Gerente de Inovação
Daniel Bender (Mtb 11.540)
African Textiles
Edição de Moda O continente Africano, com suas cores, aromas e paisa-
Eduardo Motta (consultoria)
Redação
gens, sempre foi alvo de curiosidade de todos nós. Tema
Aline Ebert (Mtb 13.687), Fernanda Maciel (Mtb 13.399) e Lisie de inspiração de vários artistas, incluindo Van Gogh,
Venegas (Mtb 13.688)
Produção de Arte
Picasso e Modigliani. A parceria entre o Metropolitan
Tiago Fioravante (design gráfico), Aline Romero (tratamento Museum de Nova York e o Britsh Museum de Londres
de imagens), Carine Hattge (revisão de imagens) e Jucéli Silva
(webdesigner)
resultou na exposição chamada de The Essential Art of
Assessora de Planejamento African Textile: Design Without End, que ficará até 22 de
Angelita Manzoni março em cartaz.
Equipe de Pesquisa
22 Nájua Saleh (moda), Aline Kämpgen, Carlos Paredes, Eduardo Nipper, Informações: www.metmuseum.org
Juliana Nascimento e Lisiane Ramos (classificação vitrines)
Consultores
Shoes Dacca

foto: Guillermo Gómez/reprodução


Angela Aronne (malharia retilínea, underwear e beachwear), Eduardo
Motta (calçados e bolsas), Juliana Zanettini (jeanswear), Paula Visoná
(malharia circular e vestuário masculino) e Renata Spiller (infantil) A marca de calçados Dacca
tem ganho destaque devido
Colaborou nesta edição
Regina Machado e Katia Canton
às suas criações ecofriendlies.
A estilista, a chilena Camila
Labra, preocupada com as
UseFashion Journal (ISSN 1808-6829) é uma
publicação mensal do Sistema UseFashion de Informações questões ambientais, deu início
a um projeto que usa como
Tiragem: 10.000 exemplares
Impressão: Gráfica Editora Pallotti matéria-prima as conhecidas
sacolinhas plásticas, que tanto
12 28 36
Vários dos conteúdos que abordamos nesta edição podem ser
complementados no portal usefashion.com. Alguns são de acesso poluem. A partir de um proces-
exclusivo para assinantes do portal. Ligue 0800 603 9000 e veja
como acessar.
so de fusão do material com calor é gerada uma lâmina

ao leitor
Os textos dos colunistas e colaboradores são de responsabilidade dos que ela utiliza como base para suas criações.
mesmos e não representam necessariamente a opinião da empresa.
Todos os produtos citados nesta edição são resultado de uma Conheça: www.botasdacca.blogspot.com
seleção jornalística e de consultoria especializada, sem nenhum
caráter publicitário.
Animados por um impulso criativo contagiante, Esta edição está a serviço dos melhores negócios no bARBARA í gONGINI

foto: divulgação
Todas as matérias desta edição são de responsabilidade do
Núcleo de Pesquisa e Comunicação da UseFashion.
os calçados e bolsas da estação exibem desenhos Verão 2010, para quem pesquisa, produz e comer- Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sejam quais forem bARBARA í gONGINI é uma
marcantes e materiais originais. Eles desequilibram a cializa a melhor moda. Ela também demonstra como os meios empregados, sem a autorização por escrito do Sistema
designer dinamarquesa que
UseFashion de Informações.
balança em favor dos complementos, que não ficam os produtos de verão podem atrair a atenção da chama a atenção pelo seu
na obscuridade no conjunto do look. consumidora, com novidades que encantam o olhar e trabalho diferenciado. Ela possui
A regra é ter estilo, como define o texto, na seleção estimulam a criatividade. Para Assinar Redação duas linhas de roupas femininas,
0800 603 9000 51 3037 9507
de imagens que identifica o potencial das coleções vendas@usefashion.com imprensa@usefashion.com uma chamada de I-rEguLar, que
internacionais. Boa leitura e ótimos negócios! abusa da criatividade e peças
De início, destacamos a intensidade da cartela de Para Anunciar conceituais, e a outra, a rEguLar,
Assine também o portal
cores, os efeitos visuais gráficos e os novos recursos
usefashion@usefashion.com
www.usefashion.com. mais comercial, mas não menos
0800 603 9000
Jorge Faccioni O melhor portal de criativa. A inspiração ela busca
de modelagem. Na continuidade é a geometria que moda do Brasil
Diretor-Presidente no minimalismo e no funcionalis-
renova os cabedais, e as estruturas das bolsas agluti- Atendimento ao cliente
nam todas as forças e as referências africanas. 0800 602 5221
0800 603 9000 mo do design japonês e nórdico.
vendas@usefashion.com
contato@usefashion.com Além disso, durante o processo de criação, conta com
Em seguida, cobrimos uma grande variedade de
a cooperação de profissionais de diversas áreas, como
aspectos, apresentando enfeites, metais, materiais e
música, artes, fotografia, o que torna seu trabalho ainda
fechamentos, até chegarmos à estrutura dos calçados,
mais especial.
com imagens e comentários sobre saltos e solados.
Site: www.barbaraigongini.dk
Copyright © 2008
Sistema UseFashion de Informações
Rua São Joaquim, 720 | Centro | São Leopoldo/RS
4 USEFASHION JOURNAL CEP 93.010-190 | Fone: (51) 3037 9507 JANEIRO/FEVEREIRO 2009 5
A!

R
É de
o
ir

io

M Ja
D
e
O

O ne
an
M

D
J
on
hi
as

A! iro
eF
Us
Óculos avia
É
de
s:

dor e lente
to
fo

Some isso a degradê.


o formato
io

e está aí tu gr
do que imp ande, Chapeuzinh
R

neste nicho. orta o de palha


inspirado n
o modelo
panamá. A
ormes de Maria Bonit
ó c u lo s e n Extra e a a
Os marrom Cantão
s d e g r a d ê colocaram
lente nos desfiles
clima de
reforçam o verão e che
gou às ruas
.
setentista.

nca com Cinto fino


T-shirt bra o. A couro e me
misturando
ret
coletinho p m clássico, é dos mais
tal. O mod
elo
ç ã o é u disputados
combina ã o t em como pelas garot
q u e n as.
do tipo o , o acerto
r . N o c a s
erra p orções da
n a s p r o
ficou s oltinha, e
c u r ta e
blusa, reduzido
c o let e b e m Excelente t
do
p e s a r n o conjunto. Shortinho m op tipo
para não ínimo, mas regata, em
ma
grudar no
corpo, em
sem com reminis lha listrada
de lavagem jeans cências
clara. náuticas. O
comprimen
mais longo to
é novidade.

A top Michelle Alves, a f u n c io n al de couro A garota criou para


entre um desfile e
Bolsa bem
coordenada Bols tamanho é si uma silhueta em dia
c a f é . O
a sandália e co na cor
outro, adota o uniforme com o cinto m d io e a a lça é fina. com a moda e com um
Nada de bo . m é pé nos anos 70.
inteligente da modelo lsas grande
Para quem s. O conjunto alonga a
que se preza. Conforto se alinha co
última tend m a silhueta e empresta uma
é a palavra de ordem. ência, ainda
sem fazer que boa dinâmica ao look.
Como é proibido ficar alarde.
out, sobram tendências Não tem afetação nem
excessos, mas assim
da estação em versão vagem
discreta. Uma boa Jeans de la a de sino. como no look ao lado,
oc
referência para a escura na b to é bem as tendências atuais
en
O comprim
maioria das mortais. u la d o p a r a ocultar o marcam presença forte.
calc o que eleva
t o d e s a lt
sapa a altura.
e ta m e n t e
discr Quase invis
íveis sob a
á lia d o mo mento: a dá prá ver
que os ded
calça,
A sand as
d ia d o r c o m tiras fin estão aprop
riadamente
os
gla ga
g á s p e a e pulseira lar Veja mais looks em Uso nas expostos. U
ma boa opç
na
lo. Atenção para comp ão
no tornoze . Ruas no portal usefashion.com. rimentos
alte escuro alongados.
para o esm Foram quase 7 mil imagens
(mais de 550 comentadas)
apenas em 2008!

6 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 7


portal usefashion.com
conteúdo para assinantes

DESTAQUE NOVIDADES

Novas
Fashion Rio e SPFW

foto: © Agência Fotosite


Como sempre, a UseFashion publica neste
mês os desfiles das duas principais semanas de

possibilidades
moda nacionais acompanhados das já tradicio-
nais resenhas de especialistas.
Na foto ao lado, o desfile da Neon para o
verão 2009.

em 2009

foto: reprodução
Jovens demais para crescer

foto: divulgação
O artigo de Tribos Urbanas de janeiro trata
sobre os kidults (kids + adults), ou seja, aquele
pessoal com mais de 30 anos que ainda joga
Atari e adora personagens infantis como Betty
Boop e Hello Kitty.

TOP 5 DE 2008

Ranking dos links mais acessados do portal UseFashion:

Notícias: Misturar novidades da moda para profissionais com

1º temas variados como ecologia, cinema, negócios e internet provou


ser uma boa fórmula para a seção. Em 2008, 13% das exibições
de páginas ocorreram lá;

Vitrines: Praticamente um hors concours desde a inauguração


2º do Portal, as visitas às fotos de vitrines nacionais e internacionais
correspondem a 9,75% do total do site;

Desfiles: Com metade das visitas das notícias, as fotos em alta

3º resolução de desfiles ficaram no terceiro lugar no ranking do ano.


Destaque para as muitas novidades do período, como a Semana
de Buenos Aires, Los Angeles, Barcelona e Madri;

4º Feiras: A equipe da UseFashion cobriu mais de 60 eventos em


2008. Ou seja, mais de uma por semana;

Reports: As análises mensais de moda de vários segmentos manti-


5º veram uma boa visitação durante o ano todo e merecem este lugar
na lista.

CALENDÁRIO
Em breve, novidades no layout do Portal UseFashion JANEIRO FEVEREIRO
12 a 15 3a6
Couromoda Milano Unica
Tendo como meta manter o crescimento próximo de 100% em acessos 11 a 16 8 a 10
Fashion Rio Margin
registrado em 2008, o Portal UseFashion entra em uma nova fase em
18 a 23 8 a 10
2009. A grande mudança, que deve ser percebida logo no início do São Paulo Fashion Week Pure
ano, irá aliar o melhor conteúdo às melhores práticas da internet. Entre 28 a 30 13 a 20
as novidades, se destacam três. Pitti Filati Semana de Moda de Nova York

A primeira delas é um novo layout mais clean e com mais conteúdo. 30 a 2 de fevereiro
Bijorhca
Nele, as páginas destacarão o conteúdo mais relevante e atualizado
do Portal em todas as seções, permitindo que o leitor navegue pelo site
com mais facilidade e menos cliques. Com o novo portal, será possível
acessar qualquer parte do site com apenas um clique.
A segunda novidade será a velocidade do Portal. Nosso novo sistema, SURPREENDA-SE COM O QUE O
aliado ao layout mais clean, permitirá navegar com maior rapidez e PORTAL USEFASHION.COM
em qualquer browser - inclusive os disponíveis em aparelhos celulares. PODE LHE OFERECER!
A terceira novidade será o incremento da interatividade com a cria-
ção de espaços para a participação do leitor. Será possível participar ASSINE! LIGUE:
do Portal publicando comentários e avaliando conteúdo em tempo
real. O assinante que gostou das últimas Megatendências Infantil, por
exemplo, poderá deixar um elogio na página em forma de estrelas ou
0800 603 9000
comentário. VENDAS@USEFASHION.COM

8 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 9


vestuário
verão 2010

Casa de Criadores
EXPERIMENTAÇÃO E MASCULINO FORTE
Por Fernanda Maciel
Consultoria: Eduardo Motta

A Casa de Criadores antecede as semanas de moda do MASCULINO- JOÃO PIMENTA


Rio e São Paulo em um mês. Um exercício consistente e surpreendentemente maduro
Esta edição, encerrada dia 10 de dezembro com mais com proporções e silhuetas. O estilista submeteu o corpo
de 20 marcas apresentando coleções, é a de Inverno e masculino a uma série de distorções, sugestivas o sufi-
aconteceu em São Paulo. ciente para fazer a realidade parecer monótona e colocou
Colocadas estas informações, vamos ao recheio da coisa. na pauta a pergunta: por que não?
O nome já diz, e o line up confirma, estão lá estreantes
e indomados de longa data, neste que é mesmo um DER METROPOL
espaço mais generoso para a experimentação do que Mais contida, viável e ainda assim com algumas sacadas
as semanas “oficiais”. O menor compromisso com o corajosas, as propostas da marca tangenciam o esporte
sistema comercial – as marcas têm estruturas menores, e revelam a influência crescente do experimentalismo do
poucos funcionários, e somas menores estão em jogo Aitor Throup no masculino contemporâneo.
- favorece à Casa de Criadores, que deveria funcionar
como um laboratório de idéias. Como em toda situa-
ção de potencial criativo estimado, cumpre-se a pro- MASCULINO- MARCELU FERRAZ
messa em parte, mas o resultado oxigena e compensa. O repertório é do hip hop, o truque é alterar as propor-
Em geral, os talentos brasileiros que estão chegando ções para o maior e criar áreas de cores contrastantes

fotos: © Agência Fotosite


ao mainstream são bem informados e aculturados que aproveitam bem estes novos espaços.
pelos quase 20 anos de escola de moda no Brasil. Eles
recheiam as apresentações com citações à história da
moda, dominam tecnicamente a roupa que pretendem FEMININO- GUSTAVO SLVESTRE
fazer e estão naquele pronto crítico em que é preciso Uma coleção interessante. Tem elementos regionais, e
imprimir uma gestão eficiente às suas grandes vontades consegue nem ser difícil enquanto é original e atual.
e quase sempre pequenos negócios.
Destaca-se a gritante presença de propostas para o ESTILOS
masculino, minguadas em quantidade na SPFW e no João Pimenta Der Metropol Marcelo Ferraz
Dramáticos e retrôs bateram ponto mais vezes.
Fashion Rio, e em alguns momentos que fazem a festa
em um evento de moda que se preze.
A entrada final de Walério Araújo, sobre saltos altos e
exibindo um corpão feminino caricatural, tipo cinturi-
nha de pilão e bunda de vênus calipígia, é um deles.
Também é do Walério a menção exuberante ao velho ALGUNS TORMENTOS
new look. Ele e outros escancaram debochadamente a A marca só faz camisetas, com cuidados na mode-
enorme zona de vida entre o que é masculino e o que lagem e estampas muito boas.
é feminino.
Ganhou uma espécie de retrospectiva dos seus
As idéias de como conceber uma outra roupa para os cinco anos de vida no mesmo espaço e durante a
rapazes são especialmente bem sucedidas. Não custa da Casa de Criadores, o shopping Frei Caneca.
dizer que a maioria passa longe do usável. Contudo, O talentoso Eduardo Biz (que começou a carrei-
elas nos fazem considerar a possibilidade do diferente, ra aqui no UseFashion) também se exercita no
o que já é muito. Também trazem um tanto de humor masculino e vai abrindo caminho no mercado com
e destempero para um terreno onde isso é quase uma propostas personalíssimas.
heresia.
Além destas vantagens intangíveis detectadas na com-
Site: www.algunstormentos.com
paração com a tradição, ainda sobram outras, relativas
a ganhos técnicos e funcionais destinados a uma pro-
vável renovação da roupa masculina.
A cobertura completa com resenhas e imagens das
coleções pode ser conferida no www.usefashion.com.
foto: divulgação

O estilista Walério Araújo O New Look segundo Walério Araújo Gustavo Silvestre O dramático de Roberto Dognanii O retrô da Ianire Soraluze

10 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 11


malharia
fotos: © Agência Fotosite

Adriana Lima Ana Beatriz Barros

Beldades, lingerie
e fetiche
O DESFILE KITSCH E PODEROSO DA VICTORIA´S SECRET
Por Fernanda Maciel
Consultoria: Angela Aronne

O mais esperado desfile-show de lingerie, como se sabe, é realizado ao som do rapper Usher, exibiu 68 conjuntos que dos pela duplicidade do painel, deixando o modelo com
o da Victoria´s Secret. Depois de congestionar a internet no extrapolaram o status de roupa íntima, ressaltando estam- acabamento limpo. Na mistura de materiais, destaque para
passado, ele agora é transmitido pela televisão e atrai mi- pas e detalhes luxuosos, com a aplicação de cristais. Como o brilho do lurex, usado de forma delicada, e ainda vale
lhares de telespectadores em todo o mundo. Pudera! Sem- alternativa ao tradicional modelo de duas peças, bodies, citar a sutileza dos acabamentos hand made em crochê.
pre recheado de corpos perfeitos, ele é prato-feito para a corpetes e macacões justíssimos em renda entraram em O momento mais aguardado do desfile foi a apresentação
curiosidade das garotas, que querem conferir a forma física cena. do Fantasy Bra, que ficou por conta da estonteante Adriana
do time de beldades, e para o deleite dos rapazes, pelo A modelagem grande para as partes de baixo foi bem Lima. O sutiã da linha é assinado pelo joalheiro Martin
mesmo motivo, só que com outras variáveis de interesse. explorada nas cuecas femininas e nas peças de cintura alta Katz, e foi cravejado com 34 rubis e milhares de diamantes
A ambientação e os adereços do espetáculo da Victoria´s com recortes e amarrações modelando o corpo. A mesma negros com valor estimado em US$ 5 milhões. Em outras
Secret são de gosto pra lá de duvidoso, mas quem é que receita de medidas maiores serviu para as peças delicadas edições do Victoria’s Secret, Tyra Banks (apresentadora do
se importa, se as belas garotas obscurecem todo o resto. estilo Lolita com babados no cós e rendas sofisticadas. America’s Next Top Model) e Gisele Bündchen já desfila-
A cada edição, o esperado show kitsch é reeditado com Para apimentar o conjunto, a Victoria´s Secret investiu em ram versões do milionário Fantasy Bra.
sucesso, grandiosidade e brilho, como pano de fundo todo um arsenal fetichista, com luvas, boleros, miniblusas, Heidi Klum encerrou o desfile em um conjunto vermelho
para um grupo seleto de modelos, que inclui as brasileiras robes transparentes e tecidos metalizados. com babados no decote e calcinha de modelagem com
Alessandra Ambrósio, Adriana Lima, Ana Beatriz Barros, Na linha teen da marca, a Pink, a aposta foi na malha cintura baixa, usada com fio lateral e detalhes em pedras.
Isabeli Fontana, Izabel Goulart, e a estreante Emanuela de retilínea para as peças de moda praia, tendência detectada O Victorias’s Secret aconteceu no hotel Fontainebleau em
Paula, de apenas 19 anos. Completam o time Heidi Klum, também nas semanas de moda internacionais. Modelos Miami Beach, na Flórida, atraindo a imprensa mundial
Karolina Kurkova, Lara Stone, Selita Ebanks, Miranda Kerr, divertidos e multicoloridos foram bem representados em e uma platéia recheada de celebridades do cinema e do
Marisa Miller entre outras beldades. Neste contexto, e com engana-mamãe, maiô comportado e opção de duas mundo da moda como Sean Diddy Combs, Gwyneth Pal-
esta concorrência poderosa, a lingerie é quase que apenas peças. Para as misturas de padronagens com o logo da trow, Russell Simmons, Michelle Trachtenberg, John Stamos,
um detalhe. marca, motivos lúdicos e geométricos, os pontos escolhidos Kim Kardashian e Kourtney, Martha Stewart, Paris Hilton e
Com o tema previsível “A volta do glamour”, o desfile, foram o jacquard e o intársia. Atente aos bojos estrutura- Sylvester Stallone.

12 USEFASHION JOURNAL Emanuela de Paula Alessandra Ambrósio


jeans

fotos: UseFashion
fotos: UseFashion
Rústicos em alta
Kuroki Haussmann Vip Lounge All in one

DENIM PREMIÈRE APOSTA NA LINHA VINTAGE


PARA O VERÃO 2011
Por Fernanda Maciel
Consultoria: Juliana Zanettini

Com o slogan Flame on (Em chamas) e a ave Fênix como bambu e seda em tecidos ultraleves (de 3 oz a 6 oz) e no
símbolo, a Denim Première inaugurou a temporada prima- outro extremo tecidos de 18 oz a 21 oz com acabamentos
vera-verão 2010 para o setor no hemisfério norte (2011 encerados e impregnados de óleo. Acessórios são feitos
para o hemisfério sul). em materiais pesados e pedras em contraste com etique-
Embora o estilo vintage, reforçado pelas lavagens des- tas em couro com impressões vazadas à laser.
gastadas já tenha mostrado a cara nas últimas tempo- “Over Lightened” mostra índigos com tonalidades páli-
radas, dessa vez o conceito predomina, enriquecido por das, como marrom e cinza, revelando tramas de brancos
beneficiamentos que reproduzem o aspecto surrado e e crus. Também entram o abuso nas lavagens, uniformes
envelhecido sobre a base do denim. Além disso, acaba- ou intermitentes, e as transparências de silicone nos
mentos como pespontos em linhas rústicas, reprodução de acessórios.
patches e cerzidos, bem como a escolha por aviamentos De apelo rústico, o “Hard Work” trabalha com o conceito
de aspecto enferrujado e de banhos envelhecidos con- de uma roupa usada, velha e gasta. Neste caso específi-
tribuíram para esta temática entre a grande maioria dos co, as tecelagens presentes apostam nas gramaturas pesa-
expositores. das, inclusive confeccionados em teares de lançadeira.
A energia, através da luminosidade dos tecidos e das Nesta terceira edição, realizada entre os dias 3 e 4 de de-
cores, reforçou os quatro conceitos-chave do evento: zembro, o evento contou com 64 expositores selecionados
Extremist, Ultra Weight, Over Lightened e Hard Work. entre os segmentos de tecelagem, aviamentos, acabamen-
O “Extremist” denota contrastes vibrantes nas cores do tos, lavanderia e acessórios que fornecem para marcas de
fogo, com tonalidades queimadas. Transparências e peso como Marithé et François Girbaud, Diesel, Miss Sixty,
opacidades, combinações contrastantes e contraditórias. Hugo Boss, Armani, Louis Vuitton, Closed e Pepe Jeans.
Tecidos com tecnologia bi-strecth e acabamentos que Quer saber mais sobre a Denim? Acesse o portal
levam à transformação do tecido ao limite. usefashion.com no link Feiras e confira 21 textos e 609
“Ultra Weight” conta com mesclas de algodão/lyocell, fotos. Boa pesquisa! Cadica Group Pullman Hall

14 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 15


masculino
fotos: divulgação

���������������������������

Closet

O culto à roupa
COMO O NOVO PÚBLICO
MASCULINO CONSOME MODA
Por Fernanda Maciel
Consultoria: Paula Visoná
Iódice uMa

Uma nova geração de consumidores se forma, quase que vezes ao ano. “Eles compram para resolver um problema, produto e adquira confiança para comprar apenas pela
de modo silencioso, e trata de modificar a configuração elas compram porque é prazeroso”, reforça o consultor. Internet, sozinho. O cliente já tem as medidas e opções
do cenário de moda na atualidade. Esta nova geração Mas será que com a proliferação de lojas online, o cha- cadastradas e só precisa escolher o tecido, e qualquer
de homens está deslocando o culto ao corpo para outro mado e-commerce, o comportamento masculino diante pequeno ajuste é fácil de fazer e o cliente já sabe que a
foco: o vestuário. Porém, não estamos falando de uma do consumo não está sendo alterado? camisa vestirá bem”, comenta.
roupa qualquer. O estilo predominante é limpo, beira Desde 1999 como a primeira camisaria virtual do Brasil, Isso vai ao encontro do que argumenta o consultor
o clássico, mas, permite intervenções próprias, em uma no site da Closet (www.closet.com.br), o cliente pode Antônio César: “o conhecimento prévio da loja e/ou do
espécie de customização discreta, quase imperceptível. É comprar sua camisa sob medida sem sair do conforto produto, além das migrações das pessoas para outras
uma forma de vestir que, sem dúvida, bebe muito na cul- de casa ou sem precisar se deslocar do trabalho para a cidades, devido à globalização, são os principais motivos
tura contemporânea urbana, porém, também possui fortes loja. Além de escolher a cor e o modelo, também pode que levam à compra pela internet”.
indícios de valorização de aspectos intelectuais. Não se adquirir gravatas, suspensórios, abotoaduras e barbata- Com a proposta de oferecer oportunidades de compras
trata de pedantismo, mas de um novo entendimento sobre nas. “A camisa é o produto mais vendido, representando a seus sócios, o site Coquelux (coquelux.com.br) foi lan-

��
o ser/estar do homem na sociedade. atualmente 79% das vendas, e leva 15 dias úteis mais


çado há menos de um ano pelos franceses Pierre-Em-


Para Antônio César Carvalho de Oliveira, engenheiro, postagem para ser entregues. A entrega de acessórios manuel Joffre e Laurent Zago, profissionais experientes


professor e diretor da empresa de consultoria comercial (gravatas, abotoaduras, barbatanas e suspensórios) de- no mercado de luxo internacional. O site é um clube


e pesquisas de mercado Acomp, um dos motivos do mora dois dias úteis mais postagem”, afirma André José fechado para membros convidados, que buscam as


aumento da preocupação dos homens com a aparência é da Silva, Analista Desenvolvedor de Sistemas.

��
marcas mais desejadas de roupas, acessórios, beleza,

� �
a competitividade do mercado de trabalho que exige uma A loja da Closet foi inaugurada somente após quatro design e art de vivre. Toda semana, a Coquelux disponi-

� ��
boa apresentação pessoal. anos operando apenas na web, diferente do que acontece biliza novas oportunidades de compra – uma marca de
“Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, normalmente. “O site é a principal ferramenta da empre- cada vez, durante dois dias.

�� � �� �
� �
houve uma simbiose: o homem assumiu algo da mulher sa. Afinal, as vendas da loja ou de consultores externos
��
Para Pierre-Emmanuel Joffre, a falta de padronização das

�� �
e vice-versa. Assim como elas estão tomando posições têm os mesmos procedimentos de uma venda online, roupas é um dos grandes responsáveis pelo receio da com-
� �
� � � ����

e atitudes, que até então eram do homem, por outro a única diferença é que têm um consultor responsável


pra pela internet aqui no Brasil. Diante disso, o Coquelux

����� � �
lado o homem se permitiu ser mais vaidoso”, acredita. identificado”, explica André.
“Apesar dessa vaidade, o vestuário masculino está mais
criou uma ferramenta exclusiva, um manequim virtual. “Os
� �
A Closet possui clientes de todas as faixas etárias, mas 38 sócios podem criar até quatro manequins e, junto com o

despojado. Os jovens da Internet trouxeram para o meio anos é a idade média dos atuais consumidores da marca. guia de medidas, que inclui comprimento das mangas, com-
� ��
empresarial um jeito menos formal de se vestir, principal- Segundo André, as compras são feitas em sua maior par- primento interno das pernas, cintura, tórax, ombro, circunfe- �
��
mente nas sextas-feiras, o casual day. “Hoje, executivos te pelos próprios homens, porém, existem mulheres que rência do pescoço, entre outros, para garantir que o produto
sem terno e gravata negociam milhões de dólares”,
aponta Oliveira.
compram para seus maridos, chefes, irmãos, por exem-
plo. “Estatisticamente, as mulheres fazem, atualmente,
comprado sirva perfeitamente” ressalta Joffre. Segundo
Pierre-Emmanuel, o site tem público na faixa etária de 20 a � �
No entanto, mesmo com essas mudanças no comporta- apenas 8,98% das compras. Nossa experiência comprova 40 anos, sendo que as mulheres ainda se interessam mais �� ���
� ���� �
mento masculino, o consumo deles não pode ser compa- que os homens têm preferido comprar sozinhos, porém pelas compras. “80% do nosso consumidor é feminino, em-
�����
��������


rado aos gastos femininos. A freqüência dos homens nas ainda é muito comum que o homem leve a esposa até a bora comprando também para eles”. O site vende marcas

��
��
lojas é menor do que a das mulheres. A maioria dos con- loja para opinar sobre a camisa”, revela. “Nossa intenção masculinas renomadas como Dior, Yves Sant Laurent, uMa,
sumidores do sexo masculino afirma que compra poucas é que o cliente conheça a loja, fique satisfeito com o Iódice, Zapping, O Estilista, Poko Pano, entre outras.

16 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 17


calçados & bolsas

foto: © Agência Fotosite


fotos: divulgação
A arquiteta
de sapatos Basso and Brooke | Londres

RAOUDA ASSAF: TALENTO A SERVIÇO DO MERCADO DE LUXO


Por Lisie Venegas
Colaboração: Inêz Gularte

Os traços do rosto assim como o desenho dos produtos “O que é grandioso não nasce grandioso, somente las com a festejada dupla Basso and Brooke, que desfila
não escondem sua origem. Nascida no Líbano, Raouda com o tempo ganha esse status e é, nesse instante, em Londres e é formada por um brasileiro e um inglês.
Assaf veio aos 11 anos para o Brasil junto de seus pais que nasce a identidade, a construção de um trabalho Na sua linha, com modelos limpos, empregando couro
e irmãos, fato que determinou o rumo de sua vida e autoral e formador de opinião”, afirma ela, que com de vaca e cabra, e primor no acabamento e nos de-
carreira. Conhecida internacionalmente e respeitada entusiasmo conta o resultado de sua primeira coleção, talhes, ela atinge o nicho do luxo, mas tem planos de
como designer de calçados de luxo, Raouda recebeu a desenvolvida em 2005. “Minha primeira coleção foi expandir o alcance da marca.
UseFashion em sua passagem pelo sul do Brasil e con- uma explosão de criatividade, mas devo confessar que
“Tenho a intenção de desenhar sapatos masculinos
tou para nossa reportagem, em primeira mão, sobre não era nada exeqüível, vendo-a hoje, consigo abstrair
e também de criar uma linha anexa que vá para o
sua coleção de inverno que está sendo desenvolvida infinitas referências e dali criar outras tantas coleções”.
lado oposto da marca Raouda Assaf, contemplando o
por aqui. Também falou sobre a opção pela moda e a Mesmo com os impedimentos que ela mesma iden- mercado do fast fashion. Esse acesso só será possível
experiência internacional. tifica, a coleção chamou a atenção do público e da quando a marca já existente crescer, já que é o fato
Formada no Brasil em arquitetura, ela conviveu com a mídia ganhando destaque na Vogue inglesa, na ala da empresa ser pequena e produzir em baixa escala
cultura árabe dentro de casa e com a brasileira na ci- “International Designers” da maior feira do setor, a que torna meu poder de negociação menor e acaba
dade de Santos, onde a família Assaf se fixou. A curio- Micam, e na vitrine da Selfridges. E não é para menos, resultando em sapatos mais caros e exclusivos”.
sidade e o talento plural levaram Raouda a questionar sua estética e seu método de trabalho exploram toda a
Por outro lado, pondera. “Contudo, penso que é nos
se a arquitetura era realmente o que queria fazer. bagagem cultural que ela acumulou pelo mundo. “O
momentos de crise, como o que estamos vivendo atu-
árabe sempre morou no deserto, que é monocromá-
Depois de ganhar uma bolsa de estudos para aprimo- almente, que você cresce e aprende a trabalhar melhor
tico, portanto, abusa das cores para deixar sua vida e aperfeiçoar seu core business. Esses são alguns
ramento em arquitetura no Egito, ela foi para Itália
mais rica e alegre. Para mim, todas as cores combinam projetos que só devem ser postos em prática quando a
cursar Design. Em seguida, saiu em viagem pelo mun-
entre si e se completam”, declara. situação estiver estabilizada”.
do chegando até a Austrália. As andanças pelo planeta
despertaram a vontade de cursar Moda e foi então que A designer conta que as dificuldades por vezes se Para sua coleção de inverno 2009, a designer apos-
ela começou a fazer calçados e bolsas. Trabalhou para sobressaíam em seu processo de produção. “Sempre tou em uma cartela com 10 cores. Entre elas, verde,
algumas marcas internacionais até que criou a sua. O que queremos fazer algo inexistente no mercado e roxo, azul intenso, além dos metalizados e tecidos de
ecletismo de referências e a qualidade dos produtos enfrentamos resistência dos que trabalham de forma tapeçaria que importou da Síria. “O salto é um detalhe
que ela cria não tardaram a conquistar o público fe- convencional. Não é fácil desconstruir algo que está à parte. Este que acabo de desenvolver, todo torcido e
minino. Hoje, Raouda vende em mais de 70 pontos no sedimentado e começar o novo. O sabor de realização que me faz lembrar muito as curvas de um corpo femi-
mundo, entre eles Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda, após essa busca é muito maior”. nino e traduz um desejo da mulher atual: além de ser
Itália, Austrália, Jordânia, Líbano, Dubai e Japão. A visibilidade lhe rendeu parcerias importantes, uma de- prática e moderna, ela precisa resgatar o romantismo”.

18 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 19


infantil
foto: Henrique Gendre/divulgação

fotos: © Agência Fotosite


Campanha PUC de alto verão 2009 Nolita Pocket | Verão 2010 Nolita Pocket | Verão 2010

Ar setentista
COLEÇÕES APRESENTAM PEÇAS COM
ASPECTOS ARTESANAIS
Por Fernanda Maciel
Consultoria: Renata Spiller
Colaboração: Thomas Hartmann
Os anos 70 dão o tom das coleções de verão para a bem ao estilo hippie. Para incentivar a customização,
criançada. Antigas técnicas manuais ganharam novos a grife criou um kit que permite diversas criações com
processos, mantendo o aspecto artesanal e agora prome- apenas uma camiseta e tinta colorida para obter combi-
tem tomar conta da moda infantil no verão 2010. Para al- nações diferentes e criativas de estampas em tie-dye.
gumas marcas no Brasil, o estilo já acontece, antecipando Marcas como Nolita Pocket e Lu-Mà, desfiladas na Pitti
a tendência. É bom lembrar que as mães de agora eram Bimbo, mostraram forte aposta na tendência anos 70 no
as crianças dos anos 1970/1980. Esta vivência impacta verão 2010. Elas abusaram das hair bands para enfeitar
a memória afetiva e facilita a assimilação do estilo para

fotos: divulgação
os cabelos das meninas, com tiras em couro, borboletas
seus filhos no presente. O CLÁSSICO
aplicadas e tecidos florais. Nas roupas, ambas apresen-
Os detalhes ganharam força na estação, principalmen- taram modelagem setentista nas calças e batas. Já as Embora não produzindo coleções inspiradas nos anos
te o crochê, usado tanto nas roupas como também em sandálias ganharam cabedais mais simples com ar retrô e 70, a Ortopé traz de volta os clássicos dessa época.
acessórios. O patchwork e a técnica de tingimento tie-dye aparência mais rústica. As grifes Levi´s e Agatha Ruiz de A coleção Especial Ortopé foi remodelada e com uma
também foram adotado para realçar o ar setentista nas La Prada apontaram a referência estampas, com degra- tecnologia própria. Os modelos, que tiveram seu auge
produções. dês e ti-dye. nos anos 70 e também nos anos 80, agora trazem
silhuetas mais acentuadas, design de movimento, cores
A grife infantil PUC, na sua linha de alto verão, apostou Esta tendência já foi apontada em setembro na Megaten-
e detalhes que acompanham as tendências da tempo-
em modelagens mais longas e amplas, com peças reple- dência Imaginação. Para ver mais, acesse a Megatendên-
rada. As sandálias, nas cores verde, terra e marinho,
tas de aplicações e bordados que remetem à paz e amor, cia Infantil em www.usefashion.com. Lu-Mà| Verão 2010
têm fechamento em velcro ou fivela personalizada.

20 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 21


acessórios

fotos: divulgação e reprodução


Gucci
Fendi H.Stern

fotos: © Agência Fotosite


Marc by Marc Jacobs | Nova York Marc by Marc Jacobs | Nova York

Tempos modernos
RELÓGIOS MUDAM PARA CONQUISTAR PÚBLICO FEMININO
Zenith
Por Inêz Gularte Daniel Roth
Consultoria: Renata Spiller

Os relógios femininos estão no centro das atenções, os relógios funcionais (com cronógrafos, calendários de de avestruz. Mas, se perguntarmos se os modelos serão Patek Philippe
ocupando páginas e mais páginas de publicidade nas re- duplo fuso-horário, relógios digitais, à prova d’água e mais delicados, especialistas informam que a tendência
vistas internacionais, além de editoriais inteiros dedicados
ao assunto. O interesse pelo acessório está intimamente
com funções esportivas), relógios com design sofisticado
e atemporal, relógios com cores femininas, relógios com
de caixas e pulseiras grandes e largas deve continuar, no
entanto têm seus dias contados. “A indústria relojoeira
DÉCADAS SE PASSARAM
ligado à liberação feminina, à presença da mulher no pedras preciosas, principalmente diamantes, reedição deve levar cerca de uma década para se adaptar aos pa- Fonte: Christian Hallot/Embaixador H.Stern
mercado de trabalho e ao seu poder de decisão na hora de modelos antigos, relógios com autogratificação (com drões femininos, o que em joalheria é um médio prazo”,
da compra. Os tempos mudaram e os relógios também. segredos que só a usuária conhece) e relógios versáteis explica Christian. Ele acredita que, aos poucos, os novos
Para atender esse novo perfil de consumidora, o merca- (que permitem a troca de pulseiras ou de mostradores). relógios devem ficar mais delicados. No passado, as mulheres não precisavam ater-se aos samento, o relógio com o menor mecanismo do mundo, tempo dos hippies. Ali, a mulher começou a apoderar-se
do relojoeiro vem buscando especializar-se. Se antes os Para o consultor em relojoaria e editor do site português As caixas, apesar de ainda grandes, estão mais propor- horários, uma vez que as suas funções diárias se re- escondido em uma fina pulseira de ouro. A reputação da dos objetos masculinos e vice-versa. Surgiu a moda unis-
modelos masculinos eram adaptados para elas, hoje, os Relógios & Relógios, César A. A. Rovel, as grandes mar- cionais aos pulsos femininos. “Os tamanhos de 27mm a sumiam ao cuidado com o lar. No final do século XIX, “pontualidade britânica” não poderia falhar neste momen- sex. O jeans passou a ser o uniforme dos jovens e, mais
relógios são pensados levando em conta a pluralidade cas estão desenvolvendo modelos femininos tecnicamente 35mmm estão entre os mais procurados”, diz Christian. principalmente na Belle Époque, alguns pequenos relógios to tão importante e, coube à manufatura Jaeger LeCoultre tarde, de todos nós.
desta nova mulher: que trabalha, estuda, é mãe, esposa, mais sofisticados, com complicações antes vistas apenas Nos metais, destaque para o ouro amarelo e o rosé, que femininos começaram a aparecer sob forma de penden- a confecção deste minúsculo relógio de pulso. Passado este período na década de 70, a mulher retomou
cuida da casa e ainda encontra tempo para praticar em modelos masculinos. Mecanismos que trazem infor- estão de volta, depois da supremacia do metal branco, tes, relógio de lapela, ou na tradicional châtelaine, usada No pós-guerra, na década de 50 até meados dos 60, fôlego. As desigualdades foram desaparecendo e, no
esporte e se divertir. Uma mulher bem informada, que mações astronômicas, como as fases da lua em grandes na década de 90. Vale lembrar também as ligas especiais pelas donas de casa no final da época Vitoriana. Curiosa- a feminilidade da mulher foi materializada por Christian universo dos relógios, a mulher apoderou-se dos modelos
tem compromissos, cuida de si mesma e que valoriza seu dimensões, e também cronógrafos, especialmente em mais leves, de acordo com o consultor César. mente, os mostradores eram voltados para dentro, a fim Dior, Givenchy e Balenciaga entre outros grandes nomes masculinos por total falta de opção, uma vez que a posi-
estilo. modelos mais esportivos, são exemplos dessa novidade. de mostrar o verso como se fosse uma jóia (em muitos da moda. A mulher neste período se cuidava, vivia bem, ção feminina no âmbito profissional ainda estava se con-
Para Ana Paula Okamoto, gerente de relógios da Vivara,
O embaixador da H.Stern no Brasil, Christian Hallot, diz “Prova da valorização do funcionamento das máquinas, casos, com pedrarias e belas gravações em esmalte). e ficava próxima de sua prole nascida no fenômeno solidando. Mostrar poder naquele momento era, antes de
a peça se consolida como um acessório de moda que
que, normalmente, o homem leva mais em conta a tradi- é o lançamento de grande número de modelos femininos valoriza a produção, com destaque para os modelos No início do século XX, com o advento das duas Guerras conhecido como baby boom. O marido tinha o emprego tudo, parecer-se com o homem. Yves Saint Laurent criou
ção do que a moda na hora da compra. “Ele comprará com aberturas no mostrador para a exibição dos meca- clássicos e clean. Entre as pulseiras, Ana destaca as finas Mundiais, com os homens no front e as mulheres em casa dos sonhos e desfilava o seu automóvel “rabo de peixe”. para a mulher o smoking feminino. Vieram os mocassins,
um modelo e o usará por anos a fio”. Acontece que o nismos”, exemplifica César. O consultor comenta ainda e de cor branca. E avisa: os modelos clássicos de caixas com os filhos, mais uma vez, os relógios femininos não Era o “American Dream”, que privilegiava as posses, mais as camisas com abotoaduras, entre outros.
consumidor masculino coleciona relógios, escolhendo-os que os relógios-jóias têm a vantagem de poderem ser uti- redondas são trocados, nesta coleção, por caixas quadra- tiveram a mesma importância que as jóias. Neste período, do que a preocupação com o tempo. Mais uma vez para Nos anos 80, houve uma retomada da feminilidade.
pelos mecanismos sofisticados, sem se preocupar muito lizados em ocasiões mais informais, em que não convém das e retangulares. o crescimento da burguesia chegou ao seu auge. Novas elas, as jóias tinham mais peso que os relógios. Jackie O scarpin voltou, mas com toques bem masculinos. As
com o estilo. Enquanto isso, a mulher quer uma varie- o uso de uma jóia muito vistosa. “Cristais também têm minas de pedras foram encontradas e vieram ao encon- Kennedy é o retrato do final deste período que antecede ombreiras eram onipresentes nas roupas e, os relógios
Na Tissot, a tendência pede por relógios grandes e
dade de modelos para acompanhar o que é tendência, seu lugar, em modelos mais acessíveis”. tro destas consumidoras que se dedicavam mais às jóias uma verdadeira revolução no consumo. masculinos foram sendo apoderados. Nos anos 90,
largos. Laurent Tavares, gerente de marca, diz que os re-
para combinar o acessório com o seu guarda-roupa, sem Quando falamos em pulseiras, elas estão mais femininas, que aos relógios. Aqueles que existiam eram pequenos, A nova geração nascida do pós-guerra chega à maturida- outro importante fenômeno aconteceu: a globalização.
lógios mecânicos são os preferidos, pela longa duração.
abrir mão da funcionalidade. “A relojoaria tem de atender coloridas, feitas em materiais sofisticados como crocodilo apenas para lembrar os compromissos e, muitas vezes, de na segunda metade da década de 60. Revoltados com Com ela, as fronteiras caíram. As mulheres ganharam o
Modelos vintage, em madrepérola, mais clássicos e atem-
às necessidades das mulheres e ainda somar o gosto que tingido, telas com motivos florais, ou que remetem aos camuflados em belas pulseiras de ouro e pedras. Eram a guerra do Vietnã e as desigualdades raciais e sexuais, o mercado de trabalho. Hoje têm o seu próprio dinheiro,
porais, e também aqueles com jóias grandes, brilhantes e
elas têm de variar segundo a moda, que está enraizada símbolos de marcas de prestígio. Há ainda pulseiras em chamados de “Montres Bijoux” e, quanto menores, mais que deveria ser um pequeno festival de música do interior tem poder de compra e, melhor ainda, o poder de decisão
diamantes, são os destaques. “Não existe mais a ditadura
em seu hábito de consumo”. ouro e pedras preciosas e, até mesmo, modelos com pe- procurados. dos Estados Unidos, onde eram esperadas 20 mil pessoas, de compra do casal. A igualdade chegou e a indústria
do fino, os relógios são redondos e com caixas altas”.
Entre os modelos que estão em destaque, Christian elege les exóticas, como galluchat (de arraia), chinchila e couro A Rainha Elizabeth II, usou durante a cerimônia de ca- recebeu mais de 200 mil jovens. Era o Woodstock e o relojoeira está se adequando aos novos tempos.

22 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 23


acontece

Evento se consolida como um dos

fotos: Marcio Madeira/divulgação


principais da moda no Brasil
MINAS TREND PREVIEW | INVERNO 2009
A 3ª edição da Minas Trend Preview, que ocorreu em
Belo Horizonte no mês de novembro, recebeu mais
de 6 mil visitantes, entre eles compradores de países
como França, Portugal, Austrália, Inglaterra e Angola.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria
de Calçados (Abicalçados), a expectativa de negócios
para o inverno 2009, temporada apresentada no
evento, é da ordem de US$ 383 mil.
Já para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (ABIT), que trouxe clientes de Dubai, Lon-
dres, Alemanha, Colômbia e Áustria, a expectativa é
de US$ 298 mil. O evento tem se destacado na moda
nacional já que antecipa muitas coleções que serão
apresentadas nas semanas de moda de São Paulo e
Rio de Janeiro.
Umas das boas notícias ressaltadas pela organização
do Minas Trend é que o setor de bolsas no mercado
brasileiro cresce cerca de 20% a cada edição da
feira. “Hoje, o volume de negócios já é comparável
às vendas efetuadas em eventos de lançamento como
Couromoda e Francal”, aponta o presidente do Sin-
dicato de Bolsas de Minas Gerais (Sindibolsas-MG),
Getúlio Guimarães.
As coleções de vestuário, que investem pesado em
vestidos de múltiplos modelos, confirmaram as Me-
gatendências de Inverno 2009 divulgadas há quase
um ano pelo Núcleo de Pesquisa e Comunicação
da UseFashion. A “Drama” recebeu ênfase sendo
representada pelas cores P&B, além da presença das
transparências em detalhes ou no look total.
No caso dos calçados e bolsas, os pêlos serão um
dos hits. Sua utilização é mais freqüente nos modelos
de salto alto fino, ou médio, neste com espessura
mais grossa. Já nas bolsas, os pêlos aparecem como
coadjuvantes, e no vestuário esbanjam ousadia ao
estar no look total. A cartela de cores é variada, e vai
desde tons naturais, especialmente nos pêlos de boi,
até estampas de leopardo e girafa. Quando tingidos,
as cores que têm predileção são preto, branco, rosa,
roxo e cinza, além dos terrosos.
A UseFashion cobriu 40 estandes no Minas Trend
Preview que estão disponíveis no link Feiras do portal
usefashion.com. Lá você também pode conferir os
desfiles. A próxima edição do evento, primavera-verão
2010, já tem data marcada: de 29 de abril a 2 de
maio de 2009.

Bolsa Rogério Lima Barbarella Santa Ephigênia

24 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 25


opinião editorial
REGINA MACHADO*

NA ROTA DE
Invista em
provocado pelas mercadorias das culturas distantes. Atu- cionais no Mercosul, assim como, inversamente, nossa
almente, trocamos o sentido da rota e, agora, a produção estranheza exótica suscita curiosidades irresistíveis no

MARCO PÓLO
brasileira tem se dedicado a apresentar as maravilhas do próspero mercado do mundo árabe. No cada vez mais
novo mundo a todo o mundo. global mapa geo-econômico do consumo contemporâ-

conhecimento para
O Oriente sempre foi o outro e a alteridade faz parte neo, não passa despercebido o potencial comercial do
supermarket da diversidade.
O NOVO MERCADO DAS MARAVILHAS do jogo da moda. A diferença cultural atiça a curiosida-
de e funciona como ingrediente sedutor para o espírito Muita coisa mudou em muito pouco tempo.

não errar na crise


romântico do consumo. No GPS ficcional de Marco Pólo Dubai, por exemplo, passou de um lugar que ninguém
podemos encontrar importantes pistas de um caminho nem lembrava que existia até o destino darling dos
“Senhores, imperadores e reis, duques e marqueses, condes, possível para a comercialização dos produtos brasileiros. viajantes menos aventureiros e mais hedonistas de todo o
cavalheiros e burgueses e todos vós que quereis conhecer as
No passado, na primeira etapa do mercantilismo, a mundo. Como isso se deu?
diferentes raças de homens e a variedade das diversas regi-
necessidade de aumento de clientela ajudou o desenvolvi- A receita dessa poção mágica é secreta e utiliza vários
ões do mundo e ser informado de seus usos e costumes...” Em tempos de incertezas, o papel dos sistemas de
mento da tolerância entre culturas. Hoje, com a partici- ingredientes em seu caldeirão. No entanto, podemos
Marco Pólo. informação cresce no Brasil. Em pesquisa sobre a crise,
pação das missões brasileiras nas feiras do mundo árabe, apostar que o elemento fundamental de sua alquimia é,
verificamos que o consumo se mantém como eficiente realizada com 748 profissionais de moda brasileiros
sem dúvida, o fator simbólico do consumo que aproxima
Ilustração: Jorge Gomes/reprodução

operador da troca entre diferentes estilos de vida. entre 28 de outubro e 4 de novembro, levantamos que
imaginários e possibilita a comunicação entre diferentes
76% consideram que as informações antecipadas por
A experiência do setor joalheiro nacional tem colhido culturas.
empresas de pesquisa como a nossa são relevantes ou
bons resultados através de uma atitude empresarial des- muito relevantes.
bravadora e perseverante.
NEOMERCANTILISMO PLANETÁRIO? Quase metade dos entrevistados concluiu que a crise já
A sabedoria de nossas avós nos aconselhou que “não impactou negativamente seu negócio (368 respostas).
Temos cada vez mais pensado a moda e o consumo
colocássemos todos os ovos numa mesma cesta”. Esta é A amostra foi composta por 318 fabricantes de produ-
dentro de um universo espacial planetário. O imaginário
a hora de pôr em prática esses ensinamentos. contemporâneo já se habituou - vale lembrar o conceito tos prontos, 172 prestadores de serviço, 171 varejistas,
A joalheria, que nunca menospreza o conhecimento do de habitus de Pierre Bourdieu - a pensar o planeta como 61 estudantes, 15 indústrias de matéria-prima e de
passado, ouviu os chamados e o design do luxo brasileiro seu território. O caminho para o Oriente já nem é tão maquinário e 11 indústrias de componentes. Cerca
não se descuidou. distante ou mesmo diferente. de 60% trabalham com vestuário feminino, 34% com
Apesar de todo o empenho que os fabricantes nacionais O olhar moderno buscou classificar culturas através da vestuário masculino, 23% com vestuário infantil. Além
têm dedicado ao mercado europeu e, sobretudo, ao identificação das diferenças. O olho contemporâneo disso, 34% indicaram atuação em acessórios, 20% em
mercado da América do Norte, várias outras rotas de estabelece semelhanças, sem abrir mão da riqueza da jeans, 25% em bolsas e 26% em calçados (foi possível
trocas têm sido implementadas. O flerte entre a produção diversidade. marcar mais de uma alternativa, por isso a soma das
brasileira e o mundo árabe é fruto de um empreendimen- porcentagens ultrapassa 100%).
to visionário e vem conquistando um bom posicionamento A idéia é não errar durante a crise. Estamos vivencian-
A chamada de Marco Pólo mantém até hoje a sua valida-

foto: divulgação
para nossas mercadorias. do um período em que é crucial as empresas terem
de e permanece promovendo a aventura cognitiva con-
Nossas jóias representam justamente uma outra joalheria. informações estratégicas sobre o futuro que se aproxi-
temporânea. A distância, o desconhecido e a diferença
Nosso design não tem o seu preço estabelecido pelos va- ma. O empresário precisa, mais do que nunca, buscar
continuam sendo os ingredientes fascinantes que estimu-
lores materiais das peças, mas pela inovação no próprio fontes confiáveis para aumentar a eficácia da criação
lam trocas simbólicas e ritos de passagem. O consumo é
conceito de joalheria. As jóias brasileiras comunicam um das suas coleções e maximizar seus lucros.
o operador mágico que faz desaparecer a distância entre
as culturas. jeito leve de estar no mundo e prometem rejuvenescer os Líder em pesquisa de moda no Brasil, nossa empresa
mais tradicionais dos looks. Por entre burcas e xadors os cresceu 20% em novembro de 2008 em comparação
* Regina Machado é doutoranda de comuni-
olhinhos das consumidoras entendem o recado e brilham. cação da ECO/UFRJ, pesquisadora do grupo
com o mesmo período de 2007, apesar da crise. A
BRASIL-DUBAI: O SUPERMARKET DA DIVERSIDADE atual situação cambial trouxe benefícios para nossos
de estudos de comportamento ETHOS e do
Em sua marcha, Marco Pólo ampliou o repertório de ima- IBGM, coordenadora de Design de Jóias da clientes, visto que os custos para adquirir informações
ginários que até os dias atuais povoa o mercado global. UM MUNDO DE HERMANOS E PRIMOS Universidade Veiga de Almeida/RJ e assina a de outras fontes se tornaram mais dispendiosos.
Mais do que nunca, o ambiente do consumo tem sido Nossa familiaridade hermana opera milagres comunica- coluna Faro Fino do site www.infojoia.com.br. Durante o mês de novembro, lançamos a campanha
“Sim, nós podemos te ajudar a enfrentar a crise”, em
uma alusão à estratégia adotada pelo presidente re-
ping-pong cém-eleito nos Estados Unidos Barack Obama. Juntos,
nós podemos antecipar tendências; incentivar o pro-
cesso criativo; criar algo novo todos os dias; aumentar
suas vendas; reduzir riscos; minimizar custos, ampliar o
O capixaba Ivan Aguilar desponta com suas criações em

fotos: © Agência Fotosite


valor de sua marca, maximizar seus lucros e a alcançar
alfaiataria. Ele reinventa o clássico no guarda-roupa masculino em o sucesso.
um misto de elegância com um certo ar despojado. Compondo o
Nossa idéia é mostrar à moda brasileira que os desa-
line up do Fashion Rio, é um dos grandes nomes da nova geração
fios impostos não são maiores do que a nossa capaci-
de estilistas brasileiros.
dade técnica e criativa. Nos próximos meses, veremos
queda de consumo de bens duráveis e novas janelas
de vendas para bens não-duráveis, como os da cadeia
da moda. Não é à toa que grifes como Hermès e Louis
Ícone de moda? Vintage: Yves Música do momento para você?
Vuitton estão se instalando por aqui.
Saint Laurent; atual: Marc Jacobs. Lounge para desenhar.
Esta crise durará cerca de dois anos, e avistaremos
Indispensável no guarda-roupa? Seu estilo? Livre e descompromissado.
possibilidade de maior exportação e também uma
Paletó. Um livro? Rumo ao farol de queda acentuada nas importações - notadamente

foto: popartmachine.com/reprodução
Sonho de consumo? Ano sabático. Virgínia Woolf. dos produtos asiáticos. Projeção do Credit Suisse, por
A melhor compra? Meu apê em SP. Uma frase? “A inquietação rouba exemplo, aponta para uma queda de 17% nas impor- Obama Manisfest Hope
Pior compra? Um sapato maravi- a paz”. tações brasileiras, abrindo novos negócios para as
lhoso, porém muito duro. Um filme? Yentl. empresas nacionais.
Não usaria? Calça boca-de-sino. Um lugar? Pedra Azul, a Campos Onde você estará, e o que estará fazendo quando es-
do Jordão do ES. tas oportunidades se abrirem no horizonte? Como você
Um presente marcante? Eu tinha
vai encarar este desafio? Conte conosco.
11 anos e estava com os dois dedi- Uma comida? Ravioli de Mandioqui-
nhos do pé quebrado e minha irmã nha do Valsugana, em Pedra Azul.
me deu meu primeiro sapato de O Brasil hoje? Esperançoso e pro-
couro. Outro presente marcante foi pício para quem quer trabalhar.
meu primeiro caderno de desenhos.
Uma mania? Trabalho.
Um aroma? Pode ser o cheirinho
Uma dica? Seja feliz com o que tem.
de alho queimado? Verão 2009 | Fashion Rio

26 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 27


lojas

Adrenalina: The
Extreme Store
SURF, DENTRO DA LOJA, PARA AMANTES DE ESPORTES RADICAIS
Por Inêz Gularte
Colaboração: Rita Azevedo

Ondas, gente surfando e muita adrenalina. Pela descrição, deixar que a umidade danifique os produtos expostos. A IDÉIA

fotos: divulgação
logo vem à cabeça o cenário de uma praia. Mas, acredite, As lojas da rede têm em média 789 m², e o custo para A Adrenalina nasceu a partir do sucesso de um pro-
estamos em uma loja. A Adrenalina Store, com matriz em a instalação do simulador é de US$ 1 milhão, enquanto grama de televisão sobre esportes radicais de mesmo
Miami, nos Estados Unidos, e mais três pontos-de-venda que o custo total de cada loja gira em torno de US$ 1,6 nome que vai ao ar no SITV, nos Estados Unidos, e
instalados em shopping centers, na Flórida, é, no mínimo, e 2 milhões. no Sun Channel, em alguns países da América Latina.
diferente. Dentro da tendência shop-o-tainment, que alia O foco principal da Adrenalina Store é a geração Y, Enquanto apresentava o programa, em 2004, Zalman
compra a entretenimento, todas as lojas da rede seguem perfeitamente ambientada e adepta das novas tecnolo- Lekach percebeu que a empresa tinha potencial para
o mesmo conceito: têm como centro das atenções e com gias, além de ligada aos esportes radicais. São aquelas investir em um poderoso conceito de varejo. Nenhu-
exclusividade um compacto simulador de ondas para a pessoas nascidas entre 1980 e 1990, ou como dizem ma loja reunia, em um mesmo local, equipamentos
prática de surf, o FlowRider®. Comum em cruzeiros de algumas vertentes, entre 1975 e 1985. Apesar de ter e roupas específicas para a prática dos mais diversos
luxo, resorts e parques de diversão, é a primeira vez que o como público-alvo principal esse segmento, o trabalho esportes radicais. Acrescentar o simulador de ondas,
simulador é instalado no varejo. Na Adrenalina, enquanto com marcas conceituadas como Billabong, Quiksilver, pela primeira vez dentro de uma loja, e permitir que os
escolhe o que vai levar, o cliente pode observar como os Zoo York e O’Neill, faz com que os produtos agradem usuários testassem os produtos, foi o diferencial.
equipamentos, as roupas especiais e os acessórios se com- a consumidores de diversas faixas etárias. O mesmo se O grupo de gerenciamento trabalhou para colocar em
portam em ação dentro da água. Pode, inclusive, experi- pode dizer sobre a grande atração da loja. Quem não se prática a idéia, pensando no mix de roupas, acessórios
mentar tudo o que comprou, ou apenas se divertir. Para os anima a testar suas habilidades no simulador, pode parti- e equipamentos para a prática de surf, skate, wakebo-
iniciantes, a loja oferece cursos ou aulas avulsas orientadas cipar também como expectador. E muitos se surpreendem ard, kitesurf, skimboard, mountain bike, entre outros.
por instrutores. com esse cenário pouco provável dentro de um shopping. Além disso, obteve os direitos de venda exclusiva do
Com projeto executado pelo Otto Design Group, a Adre- O sinal de que a estratégia está dando certo aparece nos FlowRider®.
nalina tem ambientação e expositores em madeira e aço planos de expansão da empresa no varejo. Estão sendo Além do programa e das lojas, a Adrenalina desenvol-
galvanizado. Tudo é projetado no sentido de atender às construídos pontos de venda no North Point Mall, em ve ainda três publicações especializadas com foco no
expectativas dos amantes de esportes radicais e também Alpharetta, na Georgia; no The Cherry Creek Shopping público jovem.
pensando naqueles que desejam saber mais sobre este Center, em Denver, no Colorado; e no The Shops Willow
estilo de vida. Na fachada e dentro da loja, troncos e Bend, em Plano, no Texas. Além disso, a empresa assinou
árvores naturais remetem ao clima outdoor. Grandes contratos de aluguel no The Galleria, em Houston, no
ADRENALINA STORE
janelas permitem que o FlowRider® seja visto de qualquer Texas, e no Meadowlands Xanadu, em East Rutherford,
ponto do ambiente. O simulador de ondas é cercado em New Jersey. As novas lojas devem ser maiores, com Miami International Mall
por vidro vedado para não molhar os expectadores nem cerca de mil metros quadrados cada. 1455 NW 107 Avenues

28 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 29


radar internacional
inverno 2009

TERRA COLOR
Uma cartela ligada às origens, às raízes, que evoca
a terra, às madeiras e toda a tradição do couro, que A excelência do couro somada à força da cor: esta
aparece no melhor das suas qualidades. Os acabamentos combinação poderosa é tiro certo para o próximo verão.
são transparentes, revelam nuances de tonalidade em um A passagem vermelho/laranja-amarelo aplicada a um
amplo espectro de tons claros, médio, e saturados como mesmo modelo , vai marcar presença. Uma alternativa é Burberry | Milão
um grão de café. O apelo das etnias, especialmente a introduzir roxo ou azul, justapostos na mistura. O rosa e o
África, país que alinha as referências visuais da Megaten- verde vão bem sozinhos. Os tons quentes, particularmente
dência Fusão, eclode em produtos de toques sugestivos e o vermelho ligam-se diretamente à Megatendência Trans-
inegável beleza, entre a sofisticação e o primitivo. Confira formers e instalam uma cartela “orgânica” no coração da
mais desta Megatendência no portal usefashion.com. moda de verão.

Burberry | Milão
Louis Vuitton | Paris

fotos: © Agência Fotosite


Louis Vuitton | Paris

VBH | Paris
Valentino | Paris

Christopher Kane | Londres

VBH | Paris Mulberry | Paris Mulberry | Paris Marni | Milão

Bottega Veneta | Milão Roger Vivier | Paris Bruno Frisoni | Paris Bottega Veneta | Milão Brian Atwood | Milão Christian Louboutin | Paris Lanvin | Paris

30 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 31


radar nacional
inverno 2009

CORES DE INVERNO
Nem só de preto vive a estação fria. Azuis, tons de rosa,
roxos e vermelhos estabelecem outra direção para a
cartela de inverno, puros ou misturados entre si. O fenô-
meno do inverno colorido foi detectado tanto na Minas
Trend Preview quanto na Casa de Criadores, até agora
os dois principais eventos que apresentaram previews do
inverno 2009 para o mercado nacional. Veja a cobertura
completa dos dois no portal usefashion.com.

Corso Como

Cláudia Mourão

Walter Rodrigues Fause Haten Patrícia Motta

Miezko Fause Haten Corso Como Cristófoli

Gustavo Silvestre | Casa de Criadores Corso Como Corso Como Débora Germani Margot Prints I Like | Casa de Criadores

32 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 33


comportamento
por Katia Canton*

BARBIE
A cada segundo, duas bonecas Barbie são vendidas em
algum lugar do planeta. A estatística, revelada numa pes-
quisa na internet, nos dá a idéia da potência desse mito,
que ao longo dos últimos 50 anos, tornou-se o paradig-
ma do ideal de beleza feminino.
Barbie foi criada no final dos anos 30, pelo casal Ruth
e Eliot Handler, cuja filha, Bárbara, gostava de vestir e
trocar suas bonecas.
O casal Handler, dono da empresa de brinquedos Mattel,
resolveu lançá-la na Feira Anual de Brinquedos de Nova
York, em 1959, vendendo-a ao preço de 3 dólares cada.
A tiragem inicial de 340.000 Barbies esgotou-se rapida-
mente e novos modelos se seguiram no tempo, aumen-
tando exponencialmente a popularidade da boneca.
Ironia do fato histórico: a boneca surgiu em plenos anos
1960, marcados pela reivindicação das liberdades pesso-
ais e pelo feminismo, que entre outras coisas, contestava
a passividade da mulher-objeto. Pois, enquanto feministas
norte-americanas queimavam sutiãs em praça pública, a
Barbie passava a ocupar locais privilegiados nas pratelei-
ras das lojas de brinquedos, com sua figura loira de olhos
azuis, sexy, magérrima e ao mesmo tempo curvilínea,
vestida com modelos exuberantes, preferencialmente na
cor rosa.
A grande particularidade, que gerou o sucesso imediato
da Barbie, é o fato dela não ser uma boneca-menina,
mas sim, uma boneca-mulher. Seus criadores perceberam

foto: reprodução
que, no contexto da sociedade moderna, as meninas
querem crescer e se tornar adultas e desejadas o quanto
antes.
Podemos pensar aqui na erotização da infância, que pro-
gressivamente assola as novas gerações. Apresentadoras
de programas televisivos destinados a crianças são loiras,
vestem roupas sexies, etc. Ao mesmo tempo, podemos
refletir também sobre uma infantilização da vida adulta.
Pois se o modelo de beleza feminina é uma boneca, cujas
proporções são impossíveis de serem reproduzidas em
mulheres reais, estamos todas projetando no espelho a
imagem idealizada de um ser plástico, vendido juntamen-
te com outros valores acoplados em seus acessórios e
modelos: a roupa de grife que ela usa, a Ferrari que ela
conduz, o sapato de salto altíssimo, o penteado blonde
alisado e brilhante, o iPod da moda.

visual
merchandising

foto: divulgação
A sugestão de objetos e espaços em 3D na vitrine é muito criativa e atra- * Katia Canton é PhD em Artes Interdisciplinares Playboy é a mais bem humorada e, ao mesmo tempo, incômoda
ente. A Stefanel, em Florença, está trabalhando com essa idéia na atual pela Universidade de Nova York e livre-docente das obras. A lendária revista vem cuidadosamente guardada numa
coleção em todas as suas lojas. Enormes estantes são na verdade planos em Teoria e Crítica de Arte pela ECA USP. É bela caixa, como se fosse um tesouro. A artista refez a própria
docente e curadora do Museu de Arte Contempo- edição, colocando a Barbie como a grande protagonista da
retos de fundo e trazem uma espacialidade muito interessante. Note ainda história.
rânea da USP e autora de vários livros.
que criativo os expositores: imensos livros feitos em madeira e revestidos de
um material cor de laranja que destacam os produtos menores e servem de
bancos para os manequins. Excelentes idéias para guardar e usar quando o
tema “Volta às aulas” surgir.
Em 2008, publicamos mais de 5,5 mil imagens em visual merchandising
(mais de 150 delas foram comentadas) no portal usefashion.com. Acesse!

34 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 35


perfil

foto: Bruno Magalhães/divulgação

fotos: © Agência Fotosite


Ronaldo Fraga
UM CONTADOR DE HISTÓRIAS
Por Inêz Gularte
Colaboração: Fernanda Maciel

Ser estilista nunca foi um desejo. Ele não teve mãe costureira ou imaginou
que seus desenhos um dia se transformariam em coleções. Mesmo assim, o
destino traçou seu caminho. A paixão pelo desenho fez com que Ronaldo Fra-
ga cursasse Estilismo na Universidade Federal de Minas Gerais, no início dos
anos 90. Depois passou por Londres, estudando na conceituada Central Saint
Martins. Também viveu em Nova York, onde estudou na Parson’s School.
No Brasil, foi vencedor do prêmio Estilista Revelação, organizado pelo
Phytoervas Fashion, e ganhou o cenário nacional. Logo ingressou na Casa de
Criadores e, em 2001, passou a integrar o line up do maior evento de moda
da América Latina, o São Paulo Fashion Week.
Suas coleções são conhecidas por não seguirem tendências, mas, baseadas
em referências regionais, trazerem contemporaneidade. Nesta entrevista, ele
conta sobre sua trajetória, sua paixão pelo desenho e a literatura, sobre a
valorização de nossa cultura e sobre como é manter o ateliê fora do eixo Rio-
São Paulo.
SPFW | Verão 2009

UseFashion: Você afirma em seu blog que nunca de- de Minas Gerais lhe forneceu material para diver- ria é que dá forma aos seus desfiles. Como você
sejou ser estilista. A aproximação com a moda veio sas coleções. Fale sobre a importância da relação trabalha moda e literatura?
por causa de seus desenhos. Como tudo começou? com a cultura do local de origem do estilista. RF: Tudo pode ser referência para a moda, desde mú-
Ronaldo Fraga: Sempre gostei muito de desenhar e RF: Minas Gerais é um estado cheio de histórias e ri- sica, histórias e, até mesmo, a literatura. Eu recorro
fazia todos os cursos gratuitos de desenho. Um dia, quezas que precisam ser contadas. E uma coleção de a ela por ser um elemento fantástico, com grandes
fiz um curso de desenho de moda, e aí tudo começou. moda tem que contar uma história, dizer algo. Dessa idéias, que podem ser expressas em um desfile e em
Foi o desenho mesmo que me levou por esse caminho forma, Minas é um prato cheio, por isso sempre busco toda a coleção. Principalmente se tratando de literatu-
da moda. nas tradições que escuto desde criança elementos ra brasileira, que é muito rica.
UF: No início de sua carreira, você morou e estu- que possam figurar em minha coleção. Mas eu não UF: Você, com freqüência, é convidado a pales-
dou em Londres. Como o ambiente experimental olho só para a cultura mineira, eu olho para a cultura trar em faculdades e cursos de moda e design.
da moda inglesa influenciou seu trabalho? brasileira, que, por acaso, tem grandes expoentes Como você vê esse crescimento do meio acadê-
aqui no estado. mico no Brasil?
RF: A experiência em Londres foi fundamental para o
início da minha carreira, foi lá que de certa forma me UF: O regional é mesmo universal? RF: Acho muito bacana essa profissionalização da
profissionalizei. Vendendo chapéus por lá, eu passei por RF: As pessoas costumam chamar aquilo que não moda, que tem seu início com os cursos acadêmicos que
uma verdadeira escola de pesquisa, desenho e venda conhecem de regional. O fato de uma cultura ser crescem em todo o país. Se for para agregar qualidade,
de moda, sem contar a influência do estilo de Londres, alocada em determinado lugar só a localiza, mas os inovação e campo profissional, acho muito válido.
fundamental para a escolha de uma identidade. valores, crenças e tradições são do mundo, repre- UF: Qual o seu olhar sobre a cópia no sistema da
UF: Como é sua rotina atualmente? sentam sociedades que fazem parte de uma grande moda?
colcha de retalhos, que conhecemos como cultura. O
RF: Tenho viajado bastante para dar palestras e tam- RF: No meio de tanta cópia, pela democratização da
ingresso no mundo moderno é a referência individual
bém acompanhando projetos sociais. Quando estou informação, ganha valor também a autoralidade.
que cada um traz de onde vem.
em BH, passo a maior parte do tempo no meu atelier, UF: Você foi convidado a desfilar sua próxima
cuidando das novas coleções, inclusive da Ronaldo UF: Você decidiu permanecer em Minas, ao con-
coleção de inverno nas semanas de moda do Mé-

foto: divulgação
Fraga para Filhotes. E nas pouquíssimas horas vagas, trário da maioria dos estilistas de trânsito nacio-
xico e da Colômbia. Comente essa participação
é o tempo dos meus filhos e de minha mulher, entre nal, que mudam para São Paulo e Rio. Conte-nos
internacional.
parques, jardins e campos de futebol. sobre esta escolha e sobre as implicações profis-
sionais dela. RF: Acho muito interessante e importante qualquer
UF: Você já afirmou que o estrangeiro valoriza convite que me possibilite um envolvimento com
muito mais nossa cultura do que nós mesmos. RF: Eu me considero um herói da resistência por não
países tão próximos e tão distantes para os brasileiros.
A que você atribui essa dificuldade do brasileiro ter cedido. E BH é a cidade que amo, onde tenho os
Vivemos de costas para a América Latina, onde muitas
com sua identidade? meus elementos de referência. Profissionalmente, eu
coisas preciosas e emocionantes estão acontecendo.
montei uma estrutura para que eu pudesse trabalhar
RF: O brasileiro acha que a grama do vizinho é sem- UF: Fale sobre o trabalho de algum estilista que
com a mesma qualidade de que se estivesse em São
pre mais verde. Isso é uma herança cultural, ou seja, você admira.
Paulo. E o melhor, com qualidade de vida. É uma for-
continuamos esperando que a metrópole faça para
ma de oxigenação, voltar para casa em uma cidade RF: Gosto muito de Machado de Assis, pois ele faz
irmos atrás. Então, só depois que o estrangeiro nos
que é um misto de metrópole e província. personagens bem vestidos, elegantes e exuberantes.
valorizar que faremos o mesmo.
UF: Outra recorrência é a literatura. Entendemos UF: Se não fosse estilista, você seria...
UF: A música e temas regionais estão muito pre-
que é essa aproximação com a narrativa literá- RF: Equilibrista.
sentes em sua trajetória como estilista. A cultura SPFW | Verão 2008 SPFW | Verão 2007 Ilustração Ronaldo Fraga

36 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 37


cultura
por Eduardo Motta*

O PIAUÍ É AQUI
O país do futuro, o país continental, a oitava economia nós”, é justo no momento em que a garota decidira que
do mundo, o país das balas perdidas, de todas as raças, não era bem assim. É quando ela vira as costas e vai-se
de Clarice Lispector, de Machado de Assis, das bossas embora.
cariocas, da Bienal do Vazio, também é o país da moda. Não tem moral da história. Apenas a constatação de
Nada de fashion weeks coalhadas de celebridades e que o mundo gira forte, gira rápido, e de que o Piauí
imprensa internacional, estou falando da moda que se é aqui. Assim como Nova York e o Oriente Médio, o
pratica em Caruaru, Divinópolis, Goiânia e Birigui. Piauí, agreste ou generoso é dentro de nós, arrogantes
Outro dia tomei um avião em Porto Alegre, sobrevoei a moradores da banda rica do Brasil, por sua vez a banda
Brasília de Niemeyer, de Lucio Costa e das cidades saté- pobre do mundo.
lites e pousei em Teresina. Era um dia “mais fresquinho” Viajei para Teresina a convite da Semana de Moda do
como disse o rapaz da van que me buscou no aeropor- Piauí, representando o UseFashion. Lá fiz uma pales-
to. Os termômetros marcavam 34 graus. tra sobre tendências de verão, enveredei por todas as
À noite, no Piauí Center Moda, as luzes se apagaram, considerações acima e fiz algumas visitas a fábricas e
o cara da técnica abriu o som e as garotas altas e lojas. Isentas como a decisão de falar da boa moda que
magras desfilaram as últimas criações de marcas que vi por lá.
eu, e talvez você, nunca ouvimos falar. Mas elas estão Sobretudo, fui extremamente bem recebido.
lá. Contratam estilista, modelista, costureira, pagam
cachê à modelo, ao maquiador, ao iluminador e pencas
de impostos. A top Shynaider é do Piauí e eu também ALGUMAS MARCAS DO PIAUÍ
não sabia. Os sítios arqueológicos do Estado abrigam Riggor
os vestígios do primeiro homem das Américas. Disso eu Betanea, a designer e proprietária, trabalha excepcio-
tinha conhecimento, mas nunca transformei as inscrições nalmente bem o algodão. As peças são descomplicadas,
rupestres piauienses em referência, embora já tenha leves, inteligentes. Cheias das últimas informações de
trabalhado com as francesas de Lascaux em um projeto moda, e todas muito bem adaptadas por ela ao contexto
de estamparia. tropical e industrial.
Mais tarde, no quarto de hotel, passei um bom tempo Lados opostos
pensando na Shynaider com Y, no primeiro homem, nos
A loja tem um jeito de residência, mas tem filiais em Brasí-
mistérios da genética e na máxima de que estar nos
lia e São Luís, no Maranhão. Lá dentro os irmãos Igor e
grandes centros, no coração dos acontecimentos, onde
Ingrid esbanjam sintonia com o planeta fashion. Começa-
foto: reprodução

circulam as idéias e o capital faz diferença. Mas que


ram com bolsas, incluíram o beachwear e agora o vestu-
qualidade de diferença? Quem não está lá, o provin-
ário. Acertam em quase tudo e com um tino comercial e
ciano, o caipira, como se diz pejorativamente, costuma
desenvoltura de fazer inveja ao lifestyle do Leblon.
sofrer com isso. É assim desde a antiguidade, quando os
gregos corriam para Atenas, os cristãos para Jerusalém Aline Souto
e os incas para Machu Pichu. E não é como brasilei- A receita da boa roupa casada com elementos regionais
ros, latinos, indianos ou congoleses, aqueles que não não é um clichê para esta estilista talentosa. Ela modela,
nasceram nem se mudaram para Nova York ou Paris corta e cria estampas com domínio completo do que
se sentem? Irremediavelmente periféricos em relação a faz. Aline dá aulas na escola de moda e também atende
europeus e americanos do norte? noivas dispostas a depurar o look tradicional em nome
De concreto mesmo é que enquanto fervemos no caldei- do bom gosto.
rão cool do internacionalismo, a moda se espalha insidio- Soma
sa pelos sertões do Brasil insular e apronta das suas. Põe Referência para moda festa na cidade. A roupa é comer-
comida na mesa, faz dinheiro, cultura e festa. Ás 21h30, cial e planejada para girar rápido, com especial cuidado
sem horário de verão e com os termômetros indiferentes nos acessórios e na cartela de cores. A modelagem é
marcando os mesmos 34 graus, o público da semana de eficiente e sem grandes complicações.
moda do Piauí aplaudia calorosamente um vestido cor-
de-rosa com enorme jabô igualzinho ao Lanvin.
De volta à capital gaúcha jantei em um restaurante
japonês, comprei um livro sobre design escandinavo,
um outro do sociólogo Georg Simmel, para repor o que
uma amiga me emprestou e esqueci no hotel de Teresi-

foto: Pedro David/divulgação


na. Depois, em uma espécie de paroxismo de delícias
urbanas entrei em uma sala de cinema. O filme era
Rede de Mentiras do Ridley Scott. Em uma das últimas
cenas, quando o personagem de Leonardo Di Caprio
avisa ao seu superior da CIA (Russel Crowe) que preten-
de ficar no Oriente Médio, porque quer, ele se surpreen-
de e retruca: “Mas ninguém gosta do Oriente Médio!” e
o Di Caprio, barbado e amadurecido responde: “Talvez
pensar assim seja exatamente o problema.”
* Eduardo Motta é designer, consultor de moda
Esta conversa me fez lembrar de outra. Quando em o da UseFashion, com formação em Artes
Diabo Veste Prada Miranda Priestley afirma categorica- Plásticas e autor do livro "O Calçado e a Moda
mente para a assistente que “todo mundo quer ser como no Brasil - Um Olhar histórico".

38 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 39


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Photo C. Chaize
Primeiro Salão Mundial de Tecidos para Vestuário / Parc d’Expositions Paris-Nord Villepinte
40 USEFASHION JOURNAL SPRING SUMMER 0 France / De terça-feira 10 a sexta-feira 13 de fevereiro de 2009 / MCR Communication Brasil
Tel.: (55.11) 6847.4943 / mcr-communication@ig.com.br / www.premierevision.fr
JANEIRO/FEVEREIRO 2009 41
CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

VERÃO 2010
Calçados
& Bolsas
fotos de desfile e still: © Agência Fotosite

Edição de moda: Eduardo Motta

UMA QUESTÃO DE MUITOS ESTILOS


Com desenhos marcantes, cores destemidas e materiais persona-
líssimos, os complementos desequilibram o status nos códigos do
look e comandam o jogo no verão.
Não espere modelos tímidos, conformados com a obscuridade. A
regra é ter estilo, e muitos deles. No mínimo, eles jogam de igual
para igual com a roupa, amplificam as tendências dominantes,
recusam o mimetismo com o vestuário, e tornam a experiência
de usá-los um exercício criativo e estimulante. Toda esta potência
tem muitas faces, que mapeamos nas páginas seguintes. Elas
estão a serviço dos melhores negócios para quem pesquisa,
produz e comercializa, e são um presente para a consumidora,
que se depara com modelos que ela seguramente ainda não tem
disponível em casa.

DRIES VAN NOTEN | PARIS

DRIES VAN NOTEN | PARIS

42 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 43


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Coloridos
A cor chega com intensidade à estação. As puras podem
ser misturadas sem medo, e as escalas copiam as passa-
gens do arco-íris, evoluindo de quentes para frias em tons
fortes. Observe as justaposições entre elas e as inteligen-
tes inserções de cinza e preto, anulando algumas áreas e
emprestando ainda mais brilho ao conjunto. SERGIO ROSSI | MILÃO

BRIAN ATWOOD | MILÃO

RENAUD PELLEGRINO | PARIS

SERGIO ROSSI | MILÃO

18-4252 TPX 17-4433 TPX 181547 TPX 18-1629 TPX 17-1563 TPX 13-1011 TPX 17-3812 TPX 18-1142 TPX 16-1336 TPX 12-0643 TPX 16-1364 TPX 14-4103 TPX
Pantone 872 C Pantone 8003 C Branco Preto
Pantone 3005 C Pantone 299 C Pantone 1815 C Pantone 1805 U Pantone 1788 C Pantone 4685 C Pantone 5285 C Pantone 7517 C Pantone 729 C Pantone 3945 C Pantone 1505 C Pantone 428 C

44 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 45


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Gráficos
Este é um efeito novo. Aqui, explorado em estampas e
em preto e branco, que oferecem um excelente resulta-
do visual. Há boas variações em que o preto entra em
contraste com cores ácidas. Além da possibilidade de
diferenciar com a cor, as áreas ainda podem ser constru-
ídas em recortes. São boas variáveis, mas é inegável o
impacto luminoso destes produtos em p&b.

BRUNO FRISONI | PARIS FENDI | MILÃO SERGIO ROSSI | MILÃO

DRIES VAN NOTEN | PARIS

DRIES VAN NOTEN | PARIS VIKTOR & ROLF | PARIS SERGIO ROSSI | MILÃO

46 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009


JANEIR 47
CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Étnicos
Como havíamos identificado ao abordar as Megaten-
dências do verão 2010, a força dos elementos africanos
toma de assalto o décor e o aspecto dos materiais.
Também como fora assinalado, as referências se fundem,
evitando a descrição literal e evocando a força de origem.
As contas redondas, as misturas de estampas e os répteis
têm um papel determinante na caracterização deste estilo.

LOUIS VUITTON | PARIS

LOUIS VUITTON | PARIS

DRIES VAN NOTEN | PARIS

JIMMY CHOO | MILÃO

LOUIS VUITTON | PARIS

CHLOÉ | PARIS

48 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 49


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Orgânicos
Da mesma maneira que no vestuário, as formas
orgânicas são usadas para modelar excêntricos vo-
lumes. Folheados exuberantes, pregas que inflam e
arredondam o shape, ou linhas de contornos de so-
lados e saltos, fazem a diferença. Há uma incidência
de cores quentes, vermelho sobretudo, ressaltando a
semelhança com formas do corpo humano.

SERGIO ROSSI | MILÃO

SONIA RYKIEL | PARIS

ROGER VIVIER | PARIS

MARNI | MILÃO

MIU MIU | PARIS


VALENTINO | PARIS

50 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 51


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Geométricos
Os efeitos mais interessantes provêm dos planos
recortados na modelagem, que podem ser conferi-
dos nos modelos de Roger Vivier e nas moldagens
inovadoras na gáspea do scarpin Nina Ricci. Mas as
possibilidades não param por aí. Na Jil Sander é a
linha do corte do cabedal e a planta angulosa que
assumem o papel de representar a geometria. Toda
a coleção Marni trabalha com recortes e planos
de cores que privilegiam a idéia de construção. Na
Balenciaga o efeito é explorado diretamente na
estampa.

BALENCIAGA | PARIS

NINA RICCI | PARIS ROGER VIVIER | PARIS

JIL SANDER | MILÃO

MARNI | MILÃO JIL SANDER | MILÃO ROGER VIVIER | PARIS

52 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 53


CALÇADOS & BOLSAS CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris ny | londres | milão | paris

Art Déco
Fonte de influência determinante na estação, a Art Decó
empresta formas e conteúdos para os produtos de verão.
É interessante ver como os estilistas trabalham a referên-
cia, que também tem fundo geométrico, mas é tratada
em ritmos criados por formas angulosas, como na san-
dália Valentino, e em camadas arquitetônicas no salto da
Chanel. Em alguns casos, as citações ficam distantes, mas
preservam a essência dos contornos arredondados alter-
nados com linhas retas, e o efeito lapidado, que pode ser
conferido no fecho da bolsa Lanvin.

MISSONI | MILÃO

LANVIN | PARIS

CHANEL | PARIS

ROBERTO CAVALLI | MILÃO

LANVIN | PARIS BALENCIAGA | PARIS BALENCIAGA | PARIS VALENTINO | PARIS

54 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 55


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Depurados
A relação aqui é com a Megatendência Grau Zero. É sob
sua influência que assistimos a entrada destes produtos
despretensiosos no que diz respeito à ostentação fácil,
coisa que eles deixam de lado em favor do bom shape,
da função exata e da qualidade da matéria-prima. É luxo
para poucos. Perceptível apenas para quem lê a qualida-
de sob tamanha discrição.

MARNI | MILÃO VBH | PARIS CHRISTIAN LOUBOUTIN | PARIS

PRADA | MILÃO

BALENCIAGA | PARIS DRIES VAN NOTEN | PARIS BRUNO FRISONI | PARIS

56 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009


009 57
CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Estampas FOLHAGEM E ANIMAL PRINT

LANVIN | PARIS JIMMY CHOO | MILÃO CHLOÉ | PARIS

STELLA MCCARTNEY | PARIS

GIVENCHY | PARIS DIOR | PARIS MANOLO BLAHNIK | NOVA YORK

58 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 59


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Recortes

MARNI | MILÃO GIVENCHY | PARIS MIU MIU | PARIS

VBH | PARIS

MIU MIU | PARIS

RENAUD PELLEGRINO | PARIS

60 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 61


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Tramas e Tressês

MISSONI | MILÃO

LANVIN | PARIS

MARC JACOBS | NOVA YORK

GIORGIO ARMANI | MILÃO

VBH | PARIS

MIU MIU | PARIS

LANVIN | PARIS

62 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 63


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Metais

ROGER VIVIER | PARIS MIU MIU | PARIS

VERSACE | MILÃO

BALENCIAGA | PARIS
MIU MIU | PARIS

LOUIS VUITTON | PARIS

CHRISTIAN LOUBOUTIN | PARIS ROGER VIVIER | PARIS

64 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 65


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Materiais
CAMURÇA NEOPREME VERNIZ MISTURAS:
COBRA/PLÁSTICO

REBECCA TAYLOR | NOVA YORK PIERRE HARDY | PARIS BURBERRY | MILÃO

COURO AMASSADO TELA/TRANSPARÊNCIA JUTA

CHLOÉ | PARIS

PRADA | MILÃO PIERRE HARDY | PARIS MIU MIU | PARIS

66 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 67


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Metalizados

BOTTEGA VENETA | MILÃO BURBERRY | MILÃO MIU MIU | PARIS

PRADA | MILÃO

BRUNO FRISONI | PARIS BRIAN ATWOOD | MILÃO CHRISTIAN LOUBOUTIN | PARIS GUCCI | MILÃO

68 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 69


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Réptil

CHRISTIAN LOUBOUTIN | PARIS CHRISTIAN LACROIX | PARIS VBH | PARIS

PRADA | MILÃO

CHRISTIAN LOUBOUTIN | PARIS MISSONI | MILÃO MISSONI | MILÃO

70 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 71


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Fechamentos
Os cabedais cheios, que dominaram as últimas esta-
ções, e permanecem com a cotação alta, aumentam a
área de trabalho e acionam uma série de alternativas de
fechamento também para os produtos de verão. As telas
transparentes ajudam na refrigeração e dão impulso extra
a estas opções. Com velcros, zíperes e elásticos, que se
alinham com as idéias de ajustes da modelagem das
roupas, as curvas do corpo se repetem, valorizadas em
menores proporções nos contornos dos pés.

PIERRE HARDY | PARIS SERGIO ROSSI | MILÃO

PIERRE HARDY | PARIS STELLA MCCARTNEY | PARIS SERGIO ROSSI | MILÃO EMILIO PUCCI | MILÃO

72 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 73


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris

Alças

VBH | PARIS VBH | PARIS YVES SAINT LAURENT | PARIS BURBERRY | MILÃO

CHLOÉ | PARIS

GUCCI | MILÃO VBH | PARIS

DOLCE & GABBANA | MILÃO

74 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 75


CALÇADOS & BOLSAS
ny | londres | milão | paris
paris

Saltos e Solados
Há muitas frentes de desenhos, muitos estilos. De prepon-
derante apenas a inventividade e as alturas. No primeiro
caso, não faltam experimentações: volumes grandes,
forrações exóticas, contrastes com o cabedal, etc. No
segundo, ou se está no topo ou rente ao chão. Rasteiras
e saltos muito altos não fazem concessão para tamanhos
médios. Na hora do lançamento, pelo menos, já que no
giro de mercado é outra coisa. Mas este não é apenas
um detalhe, ele diz respeito à forma como se trabalha a
comunicação e a imagem, atraindo a atenção no geral
para oferecer o comercial no particular. As plataformas
não são mais blocos maciços, a meia pata é quase um
imperativo e o desenho e o décor dos saltos incorporam a
estação, ora geométricos, ora étnicos e assim por diante.
Acrílico e madeira voltam a falar alto no verão 2010.

MARC JACOBS | NOVA YORK GUCCI | MILÃO D&G | MILÃO

ZAC POSEN | NOVA YORK

MARNI | MILÃO DKNY | NOVA YORK MARNI | MILÃO

76 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 77


CALÇADOS & BOLSAS
memória
ny | londres | milão | paris
foto: reprodução

foto: Livro Moda - O século dos Estilistas - Editora Könemann/reprodução


Capa do álbum Island Life produzido pelo artista Jean-Paul Goude

Grace Jones
is Perfect
O RETORNO DA DISCO DIVA
O visual andrógino e geométrico de Grace ajudou a definir o dress code da década de 80
“Grace is Perfect”. É assim que Andy Warhol define que foi um grande sucesso.
Grace Jones em um de seus clipes. Nascida Grace Na década de 80, Grace adotou o visual que lhe
Mendoza, esta jamaicana de 60 anos não passa traria fama e fortuna: andrógino, geométrico, sexual
despercebida onde quer que vá. Personalidade forte, e poderoso. Foi esse estilo que ajudou a torná-la um
estilo, vozeirão. Atributos reunidos em um corpo elei- ícone pop, ao lado de Boy George e David Bowie.
to, por muitos, como um dos mais belos do mundo. Nesta mesma época, ela casou-se com o produtor,
Grace ficou conhecida pela figura exótica e andrógi- artista gráfico e fotógrafo Jean-Paul Goude, com
na que agitou o mundo durante as décadas de 70 e quem veio a ter um filho. Neste período ela viveu a
80. Das polêmicas festas no Studio 54 às passarelas fase mais criativa de sua carreira.
de Paris, seu estilo inspirou gerações e ajudou a defi- Com o nome associado à irreverência, foi adotada
nir o dress code dos anos 80. como musa por ninguém menos que Andy Warhol.
Aos 12 anos mudou-se com sua família para Nova Junto com o produtor musical Tom Moulton, Warhol
York, e aos 20 anos passou a trabalhar como modelo. deu-lhe a visibilidade que a transformou na Diva má-
Azzedine Alaïa, com seus vestidos bandagem mode- xima da discotheque scene de Nova York.
lando exageradamente o corpo, encontrou em Grace Paralelo à carreira de cantora, ela levava a carreira
a modelo perfeita, elegendo a bela como uma de de atriz. Atuou em Conan, O Bárbaro (1984) onde
suas favoritas. Ele não foi o único que viu em Grace o viveu Zula, uma guerreira amazona, como a Bond girl
visual ideal. Ela também era a predileta de Jean Paul May Day em 007 - Na Mira dos Assassinos (1985), e
Gaultier, Philip Treacy e Issey Miyake. na pele da vampira Katrina em Vamp (1986).
Sua carreira de cantora teve início na década de No mês de novembro, Grace foi capa da revista
70, durante um desfile de Kenzo Takada. O estilista londrina, Dazed & Confused em um polêmico ensaio,
convidou a então modelo para cantar. Grace subiu ao clicado pelo ainda mais polêmico Chris Cunningham.
palco e não fez feio. Para ajudar no orçamento, ela Seu recente retorno à cena musical foi marcado pelo
passou a se apresentar em pequenos bares e festas lançamento do novo álbum, “Hurricane”, e pela apre-
em Paris, onde morava. Um contrato com a Island sentação no Meltdown Festival de 2008, que dedicou Azzedine Alaïa encontrou em Grace o corpo ideal
Records lhe valeu o primeiro álbum, Portfolio (1977), uma edição inteiramente a eterna Disco Diva. para exibir seus vestidos extremamente sensuais

78 USEFASHION JOURNAL JANEIRO/FEVEREIRO 2009 79

Potrebbero piacerti anche