HERBERT SPENCER
´
O IDEOLOGO DA
LUTA PELA VIDA
Teórico inglês buscou
T endo vivido num tempo de gran-
des avanços científicos, o filósofo
inglês Herbert Spencer (1820-1903) foi
Maria Angélica Lucas, da Universidade
Estadual de Maringá (PR).
Para Spencer, havia uma lei funda-
no evolucionismo o principal representante do evolucio- mental da matéria, que ele chamou de
os mecanismos e nismo nas ciências humanas. Ele intuiu lei da persistência da força. Segundo
a existência de regras evolucionistas na ela, a tendência natural de todas as coi-
objetivos da sociedade, natureza antes de seu compatriota, o na- sas é, desde a primeira interação com
e defendeu o ensino da turalista Charles Darwin (1809-1882), forças externas, sair da homogeneida-
ciência para formar formular a revolucionária teoria da evo- de rumo à heterogeneidade e à varie-
lução das espécies. É ele o autor da ex- dade. À medida que as forças vindas
adultos competitivos
pressão “sobrevivência do mais apto”, de fora continuam a agir sobre o que
muitas vezes atribuída a Darwin. antes era homogêneo, maior se torna
O filósofo aplicou à sociologia idéias o grau de variedade.
que retirou das ciências naturais, crian-
do um sistema de pensamento muito Conhecer, só pela razão
influente a seu tempo. Suas conclusões Baseado nessa observação, Spencer de-
o levaram a defender a primazia do in- duziu um princípio para todo desen-
divíduo perante a sociedade e o Estado, volvimento, que é a lei da multiplica-
e a natureza como fonte da verdade, in- ção dos efeitos, causada por uma for-
cluindo a verdade moral. No campo pe- ça absoluta que não pode ser conheci-
dagógico, Spencer fez campanha pelo da pelo entendimento humano. Trata-
ensino da ciência, combateu a interfe- se, para Spencer, de uma lei da natu-
rência do Estado na educação e afirmou reza, uma vez que ele se recusava a le-
que o principal objetivo da escola era a var em conta, para efeito científico, a
construção do caráter (leia quadro na pá- possibilidade de forças sobrenaturais.
gina 48). “Ele dizia que os conhecimen- O filósofo, herdeiro da linhagem em-
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tos úteis, que serviriam para formar os pirista britânica e também influencia-
homens de negócios e produzir o bem- do pelo positivismo, era agnóstico e
estar pessoal, eram desprezados em fa- combatia a influência religiosa no en-
vor do ensino das humanidades, que sino e na ciência. O próprio termo ag-
davam mais prestígio”, diz a professora nosticismo, para se referir a uma pos-
adquiridas do ambiente. Essa era a teo- luem para se tornar civilizações cada peração espontânea.
ria do naturalista francês Jean-Baptis- vez mais complexas, nas quais espe- Um prolongamento da dicotomia
te Lamarck (1744-1829), derrubada cialização e cooperação avançam lado entre sociedades guerreiras e indus-
por Darwin. Ele mostrou que o meca- a lado. A história dos povos, segundo triais, para Spencer, seria o contraste
nismo da evolução é a seleção natural, Spencer, contrapõe sociedades guer- entre o despotismo, associado a está-
ENSINO DEPENDIA DA
INICIATIVA PRIVADA
Ao contrário do que acontecia na
Europa continental, na Grã-
Bretanha do início do século 19 o
ensino era um assunto privado. A
primeira ingerência pública na
educação foi uma resolução
aprovada pelo Parlamento em
1802, pedindo aos empregadores
que providenciassem instrução
para seus funcionários – como não
Escola britânica do fim
‘‘
havia obrigação atrelada, o efeito
do século 19: novidades
foi nulo. Quando não era paga, a
educação britânica dependia da
da ciência influenciam
uma nova mentalidade
A educação deve
filantropia. Só na década de 1830 o
governo passou a reservar uma
formar seres aptos
parte do orçamento para o ensino.
Na virada para o século 20, no
solidariedade faz com que o mais
apto ajude o menos apto,
para governar a si
entanto, quase toda a formação
elementar (equivalente ao Ensino
regulasse a sociedade, onde o que
conta é a luta pela vida”, diz a
mesmos e não para
Fundamental) já era provida pelo
Estado. Herbert Spencer defendeu
professora Maria Angélica.
Seguindo outra tradição britânica,
ser governados pelos
’’
a escola privada até o fim da vida,
porque considerava que a
Spencer acreditava que a função
principal da educação era formar
outros
interferência do Estado, sendo o caráter. Sua defesa do ensino QUER SABER MAIS?
igual para todos, poderia sustentar prioritário da ciência tinha o Maria Angélica Lucas, mangelicaofl@ibest.com.br
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estudantes que não estariam, por objetivo de fornecer aos jovens um Bibliografia
natureza, aptos a competir em conhecimento sobre o A História da Filosofia, Will Durant, 482
sociedade. “De acordo com a funcionamento da natureza que págs., Ed. Nova Cultural, tel. (11) 3039-0900,
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